COLAPIETRO, Vincent. Peirce e A Abordagem Do Self - Cap1 PDF

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Capitulo I A Teoria dos Signos de Peirce E Verdadeiramente Geral? Este capitulo nao é, obviamente, o espaco para apresentar um relato abrangente da teoria geral dos signos de Peirce, Nao obstante, se ‘quisermos entender cardter distintivo desua abordagem semistica do fendmeno mental em geral e da subjetividade humana em particular, devemos ter uma clara compreensio de como ele vé a ago do signo, pois é em termos de semiose (isto é, agio do signo) que Peirce tenta cexplicar mente e individualidade. ~~ Para atingir tal entendimento, vale a pena lembrat duas observagies do préprio Peirce. A primeira iz respeitoa um importante aspecto das diferenciagies filoséficas. Esta observagio € relevante porque, quando Peirce explica o que quer dizer com agao do signo, ele a distingue da ago dinémica, Por exemplo, em um manuscrito sobre pragmaticismo, lemos: ‘Toda acid dinamica, ou agdo de forga bruta, fsica ow pséquica, acontece entre dois sueites..ou, em alguma medida ¢resultante de tais agdes entre pares. Mas, por ‘semiose’ quero dizer ~ a0 contritio ~ uma ago ou influéncia que seja ou envolva uma cooperacio entre lrés sujeitos, ou seja: um signo, seu objeto, © ‘seu interpretante; esta influénea trirrlativa no sendo, deforma alguma, sokivel nas agies entre pares (5.484) avelpese 34 Pane EA aonoscen 90 sete Mas, como Peirce observa em um diferente contexto, “Uma distinggo filoséfica emerge gradualmente na consciéneia; ido hé qualquer momento na histéria anterior em que seja completamente desconhecida, ou apds em que seja perfcitamente luminosa” (2.392; cf. 5.263;5311). Uma distingao deste tipo ja esté sempre presentede alguma forma, ainda que jamais completamente clara. A tarefa fundamental do questionador filos6tico, entao, é de apropriacio e articulagio; a apropriagao daquilo que ja se tomnou claro e a articulagio daquilo que ainda nao foi esclarecido. Isto implica um respeito a tradigdo e abertura a inovacdo. Tal respeito e abertura s20 manifestos nos questionamentos de Peirce acerca da natureza da semiose. Foi precisamente este respeito que levou Peirce a abrir os empocirados félios dos escoldsticos rmedievais ¢ esta abertura que nos leva a recorrer continuamente 83 suas investigagdes dos signos para insight e orientagio. ‘A segunda observacio diz respeito a como as ideias alcancam clareza. Em um manuscritonao publicado Peirce escreveu: "Concepgses, cientificas fe, & crucial que aqui se esclareca que ele via a semistica como uma ciéncia de signos] sempre se tornam claras primeiro em debates. esta é uma importante verdade” (MS 586). A luz disto, parece mais apropriado apresentar a concepgao de semiose de Peirce no contexto de tum debate. & assim, na verdade, que devo proceder neste capitulo. De do presente estudo. Vamos agora nos voltar a uma discusséo relativa A generalidade da definigSo de semiose de Peirce, uma discussie que traz 0 foco para aquilo que impulsiona suas investigagies semidticas 1 Em um artigo intitulado “O quao geral éa teoria geral dos signos de Peirce?”, Max Fisch responde a questo explicitada em seu titulo afirmando que “a teoria geral dos signos de Peirce é tio geral que propicia que, qualquer outra coisa algo possa ser, é também um signo” (Fisch 1986, 357). Em outras palavras, qualquer coisa e tudo é um scent, COUR 35 signo em algum grau e sob algum aspecto. Contudo, o ser de qualquer coisa no se esgota em ser um signo; na verdade para que qualquer coisa seja um signo, ela deve ser outra coisa que nao um signo (ver, por exemplo, MS 7, 000004). Em um trabalho mais recente, “Signos, Interpretagao e Mundo Social”, Beth Singer afirma que ha uma falha fatal na definigao geral de signo de Peirce. A falha nesta definigao seria que ela nao é geral o bastante: ela define o termo signo no sentido de “signo de” e, deste modo, faz.com que seja essencial para um signo que le esteja no lugar de outra coisa (1987, 95; cf. B. Singer, 1983, 112 ff) Porém, “nem tudo o que significa se refere; nem todo signo é um’signo de’ [algo mais]” (1987, 95; cf. B. Singer, 114). Para mostrar isso, Singer 44 varios contraexemplos para a definicio de Peirce de que um signo é qualquer coisa que esté no lugar de algo (seu objeto) para algo mais (seu interpretante). Ties destes exemplos sio um conectivo gramatical (0, um comando imperativo (Pare!) e uma nota musical. Deste modo, a definicio de Peirce parece aplicar-se apenas a signos representacionais; esta limitacio a impede de ser uma verdadeira definigdo geral Mas uma definico abrangente é precisamente 0 que Peirce tentou formular. Por essa razéo, em MS 675, ele escreveu: “estou determinado em mostrar a unidade que pode haver em um estudo que abarca todos os signos ~ incluindo, talvez, comandos imperativos atmosferas musicals -, mas, mais particularmente, raciocinios” (MS 675, p. 24; 00038). Se David Savan estiver correto,o foco particular da teoria geral dos signos de Peitce no sio apenas essas organizagies de signos chamados raciocinios ou argumentos, como também um signo “deve ser aproximadamente 0 mesmo que uma premissa (de um argumento), qual ¢ ela propria, a conclusio de algum outro argumento” (Savan, 1976a, 180). Ainda assim, Peirce esforgou-se para articular uma nogao suficientemente geral de semiose - uma nogo que abarcaria todos os signos, “todo quadro, diagrama, choro natural, dedo apontando, piscadela, né em um lengo, meméria, fantasia, conceito, indicagio, sina, sintoma, letra, numeral, palavra, frase, capitulo, livro, biblioteca” (Peirce 1978, 149). Entretanto, sua concepgéo de um signo resiste a0 tipo de critica apresentada por Singer? 36 Pence EA noRDAGEM 00 SELF E mister que se esclareca que a critica a Peirce & encontrada, igualmente, nao apenas nos estudos de Justus Buchler (por exemplo, 1966, 155), mas também no estudo da semidtica de Peirce feito por Douglas Greenlee (1973). Defensores de Peirce responderam a esta importante critica de vérias maneiras (ver, por exemplo, Ransdell 1976, 101 f£; Savan, 1976a, 15-16; Short, 1981a, 217), Todavia, jé que a objecio continua evidente, é provavel que tenha mérito ou a pposigio de Peirce néo tem sido suficientemente esclarecida, Sempre ‘que pesquisadores competentes discordam, uma diivida genuina se faz presente. Assim, a critica recorrente & definicéo de Peirce nos proporciona um convite a explorar mais profundamente 0 entendimento de Peirce sobre a natureza da semiose e, em particular, 2 relagio do signo com seu objeto. Além disso, focando-nos na versio desta critica de Singer ¢, na realidade, de Buchler, criamos @ oportunidade de uma confrontagao entre a teoria geral dos signos de Peirce e a teoria geral de julgamento de Buchler. Ambas sao teorias, cuidadosamente elaboradas e poderosamente sustentadas. Deste ‘modo, é altamente provavel que a investigagao sobre a natureza e variedades de significado seja bastante proveitosa a partir do didlogo entre Peirceanos e Buchelerianos. ‘Ainda assim, 0 principal propésito deste capitulo é defender Peirce contra 0 tipo de critica a ele dirigida por Buchler, Greenlee © Singer. Mas, para atingir este objetivo de maneira compreensivel para laqueles que podem nao estar totalmente familiarizados com a teoria de signos de Peirce, sera necessério descrever brevemente © projeto que Peirce se propos a desenvolver em sua investigacio dos signos. Consequentemente, a discussao que segue & dividida em trés partes: (a) uma breve descrigio da tarefa vitalicia de Peirce para formular uma teoria geral do fendmeno semistico; (b) uma apresentagao no apenas da critica de Singer mas também da perspectiva de onde ela provém (a saber, uma teoria geral do julgamento humano); e (6) uma defesa de Peirce tendo em conta uma sincera atragéo por sua classificacéo de interpretantes e uma matizada avaliagdo de seu entendimento do objeto da semiose acon. cower a u E claro que Peirce nao inventou a ideia de “signo”, mas Ihe foi herdada de uma diversidade de tradigées, nao menos importante do que a lingua inglesa e a religiao crista No inicio de sua carreira filos6fica, ele apropriou-se desta importante heranga e a submeteu 2 cuidadosa andlise. Seu objetivo em empreender essa anélise, do inicio a0 fim, nao era originalidade, mas exatidao. Pois, apesar de sua inegivel originalidade, Peirce, conscientemente, nio se empenhou em ser novo. Qualquer doutrina filoséfica que prove ser totalmente nova dificlmente no provaria ser completamente falsa. Considerando que Peirce herdou o “signo” (em parte) de sua lingua materna, & também importante frisar aqui que para ele “Uma lingua ¢ algo a ser reverenciado; e eu afirmo que um homem que ndo reverencia ‘uma dada lingua nio esté em estado de espirito adequado para seu aperfeigoamento” (MS 279) Em 1873, Peirce afirmout: “Um signo ¢algo que representa outra coisa para uma mente” (MS 380, “Da Légica como um Estudo de Signos”, ). Duas notaveis caracteristicas desta definigdo 80 @ ‘maneira como concorda e a maneira como difere da definigao cléssica de um signo como aligud proaliquo (Sebeok, 1979, vii). Peirce incorpora ‘a sua propria definicéo a nogo de que um signo é essencialmente algo que representa outra coisa. Contudo, a definigéo peirceana acrescenta tuma dimensio que falta & formula cléssica, ou seja, a referéncia 8 rente: um signo no apenas reprosenta outra coisa, representa para aiguém — para alguma mente. A implicagio disto é a de que 0 signo 6 um fendmeno mais complexo do que a definigao classica indica, Enguanto a definiglo cssica retrata osigno em termos de uma relagio difica, a definigdo peirceana a concebe como uma estrutura triédica A insistincia de Peirce sobre a estrutura trifdica da semiose distingue sua concepgio no apenas da definigdo clissica de signo, mas também daideiade Ferdinand deSaussure queretratao signocomouma correlagao entre significado (signif) e significante (significa), Deste ‘modo, a semiética de Peirce e a semiologia de Saussure (sua ciéncia da 38 rece A seenonce 00 sete vida dos signos em sociedade, uma ciéncia que estudaria que fatores constituem signos e que leis os governam) so fundamentalmente diferentes (Saussure, 1915 [1966], 16). A esséncia desta diferenca pode ser facilmente exposta: 0 foco da semidtica de Peirce & a descoberta de tricotomias (por exemplo, icone, indice, simbolo), enquanto a preocupagio da semiologia de Saussure ¢ a deteccao de oposicées (por exemplo, langue e parole; diacronia e sincronia; paradigma e sintagma). A diferenca é evidente nas proprias definigSes de signo oferecidas por Saussure e Peirce; primeira apresenta uma nogio diddica (significante- significado), enquanto a segunda formula uma concepgio triddica (objeto-signo-interpretante) (cf. Silverman, 1983, 14). ‘A triade principal na semistica de Peirce ¢ exatamente objeto- signo-interpretante. Fica evidente, na passagem que se segue, que Peirce tomou esta triade como fundamental: “A maneira apropriada de desenvolver uma investigagio [sobre a natureza e as variedades da semiose] é comegar pela definicio... da relagdo triddica de Signo- Objeto-Interpretante” (8.361). Por volta de 1897, Peirce formulou a que é seguramente sua definigdo mais frequentemente citada: “Um signo, ‘ou representamen, € algo que esté para alguma coisa, sob certo aspecto ‘ou capacidade, para alguém” (2.228), Nesta definigdo, os componentes da semiose s40 0 proprio signo, seu objeto, seu interpretante, ¢ 0 fandamento (isto é, 0 aspecto no qual o objeto ¢ representado pelo signo). Entretanto, considerando que todas as relagdes de maior complexidade do que as triades sdo (de acordo com Peirce) reduziveis a estruturas triddicas (ver, por exemplo, 1.347), esta definigao de um signo ndo implica que Peirce tenha abandonado sua visio de que @ semiose é essencialmente triddica. Mesmo antes de formular a definigéo em 2.228, Peirce ja havia generalizado a ideia do signo de modo a desnudar a ideia de toda referéncia & mente (Kloesel, 1983, 116). Assim, em MS 381 (¢.1873) ele escreveu que um signo é “algo que tem uma relagdo com a mente € com um objeto de modo que conduz ambos a certa relagdo um com © outro”. Generalizando esta concepsa0 e rejeitando limitar nossa ‘concepcio unicamente & mente humana, imaginamos algo que esta co couarerno 39 em tal relago com um segundo ou um terceiro que conduz esse segundo ou terceiro a uma relagdo entre eles. Cerca de trinta anos mais tarde, Peirce declarou: “Logica seré aqui definida como semidtica Jormal, Uma definigao de signo seré dada sem mais referéncias a0 ensamento humano, como a definigéo de uma linha como o luger ‘ocupado por uma particula, parte a parte, durante um lapso de tempo” (NE 420). (© que encontramos em tais textos é uma definigéo puramente formal e altamente abstrata da cstrutura de semiose. E esclarecedor, neste contexto, comparar as diferencas entre Peirce e Royce na definicao de semiose, principalmente considerando que o contraste & a mae da clareza (Royce, 1913 [1968], 262). Em O Problema do Cristianismo, Royce dedlara que tum Signo, de acordo com Peirce, & algo que determina uma interpretagio, Um signo também pode ser chamado de uma ‘expressio de uma mente; e, em nossas relagbes sociais correntes 6, verdadeiramente, uma expresso dessa natureza. Ou ainda, pode-se dizer que um signo 6, em sua esséncia, uma mente oa ‘uma quas?-mente ~ um objeto que preenche as funcSes de uma mente ((1913] 1968, 282-83). {A abordagem dos signos de Peirce &na verdade,exatamente 0 0posto disso; para ele signos nao sio expressoes da mente, mas a realidade a ments 4-0 deemucivinmite de wn wig (rey por empl 5313), Em resumo, a mente & uma espécie de semiose (Savan,1976a, 35; Short, 1981a, 203; Shapiro, 1983, 47). Deste modo, a partir da perspectva de'Peire, a definigio de Royce coloca a carroga a frente dos bois (Savan,1976a, 35). Ea perspectiva de Peirce representa uma revoluglo conceitual de profunda importancia para o entendimento tanto da semiose quanto da mente. Nos quatro capitulos seguintes, devo considerar principalmente a abordagem semitica fita por Peirce da mente ¢ da individualidade; porém, neste capitulo, devo, especialmente, discutir sua teoria geal dos signose sibs. nde 40 rece € a apnea 00 SLE {A definigao puramente formal da semiose de Peirce manifesta a ‘verdadeira aspiracio geral de suas investigacbes semisticas. Pois,nela, nem a fonte, nem o resultado da semiose é necessariamente mental. Esta definigdo mostra forma de um processo sem especificar anatureza dos participantes messe processo, Nesta definigéo completamente formal, um signo “é um objeto que esté em relagio com o seu objeto por um lado e com um interpretante por outro, de tal maneira que leva o interpretante a uma relaglo com o cbjeto, correspondente & sua propria relagéo com aquele objeto” (8332; cf. 2.242). Seguem-se duas notéveis caracteristicas desta definiglo Primeiro, ointérprete do signo (isto é,a mente qual 0 signo representa ‘um objeto) ¢ transformado no interpretante do signo (isto é, “efeito significative apropriado” ou resultado do signo [5.474]). Segundo, a relagdo do signo com o seu objeto no necessariamente parece ser a relagio de estar para aquele objeto, pelo menos em qualquer sentido simples e univoco dessa expressio. Fssas duas modificagbes me parecem ser tentativas deliberadas de generalizar suficientemente 1 nogio de signo. Se esta interpretacio estiver correta, temos, entdo, ‘uma definigdo bastante geral (a) deixando sem especificagao 0 tipo de intorpretante para o qual o signo cria (em particular, o interpretante ¢ deliberadamente nfo descrito como sendo necessariamente uma ideia ‘namente dealguém);e (b) deixando sem especificagéo 0 tipo de relagao entre osigno eseu objeto (em particular, o objeto é deliberadamente ndo caracterizado como sendo necessariamente algo que ¢ representado ou rmediado pelo signo). Enquanto (a) ¢ uma afirmagau bem estabelecida entre os estudiosos de Peirce, (b) sera mais provavelmente considerada como uma afirmagéo herege. [Em sua definigio geral do signo, Peirce deixa essas duas relagies no especificadas. Contudo, ele utiliza a especificagao dessas relagies como a base para a classificagao dos signos. Por exemplo, a tricotomia dos signos em icone, indice e simbolo ¢ uma classificagao baseada na relagio do signo com seu objeto, enquanto sua tricotomia de signos em ema, dicissigno e argumento se baseia na relaco do signo com seu interpretante (2.243). Deste modo, oentendimento de Peirce totalmente sce, couerto a geral da semiose adquire especificidade através de sua classificacao de signos surpreendentemente complexa Como afirmei anteriormente, a definigio de signo de Peirce & fundamento de sua semistica: a definigao completamente geral da estrutura puramente formal da semiose possui um status privilegiadlo na teoria geval dos signos de Peirce. Sem divida, ¢ precisamente por ‘causa dessa definigio que a teoria de signos de Peirce pode aspirar a ser uma teoria geral (Savan, 1976a, 9, 21). Nao obstante, a extensio e profundidade de suas investigagdes dos signos podem ser totalmente ‘apreciadas somente por meio de atengdo aos seus esquemas de lassificagdes, porque tais esquemas de classificagbes sio tentativas de mostrar as possiveis relagdes envolvidas no funcionamento do signo, am Para Singer a definigio mais suficientemente generalizada de signo & encontrada nos estudos de Justus Buchler. De acordo com Buchler, embora o signo possa ser tomado no sentido de algo que representa outra coisa, o termo possui um significado mais amplo: Um signoé“um meio de promoverjulgamento” (Buchler, 1955, 156)ou “um instrumento para nutri julgamento” (Buchler, 1955, 157). Por isso, a chave para uma verdadeira teoria geral dos signos é um entendimento de julgamento. Estamos julgando sempre que “estamos respondendo ativamenteaalgumcomplexo, discriminando-oseletivamenteelidando com ele de uma maneira que agregue atitude ou postura aprazivel” (B. Singer, 1987, p. 97). “Ao julgar, nos posicionamos em dirego 20 complexo com o qual lidamos; o tratamos seletiva e distintamente” (B. Singer, 1987, p. 98). Julgamentos agrupam-se em trés amplas classes: assertiva (“conversa¢i0” ou discurso no sentido mais amplo possivel), ativa (ago ou conduta) e expositiva (a organizagio de materiais em ‘um modelo ou estrutura). Estas classes de julgamento apontam para 9s trés campos do “fazer” humano: falar, agire fazer. Singer reinterpreta a nogio de interpretante de Peirce & luz da teoria do julgamento de Buchler. Assim, para ela, um interpretante € 42 Fence A AgoRoAGEN 00 SELF “um julgamento ~ ativo, expositivo ou assertivo ~ que é requerido por tum signo” (1987, p. 100). Mas ela observa que, para compreender a natureza da semiose, no basta considerar o signo (que cria algum tipo de julgamento) eo interpretante (que é requerido por um signo). Além disso, “a fungio-signo envolve um outro julgamento que medeia a relagdo entre interpretante e signo” (1987, p.101). Esta mediagio abre a possibilidade de que sejam requeridos ainda mais julgamentos. Singer propoe chamar ambos, os “julgamentos mediadores e o processo em sua totalidade, pelo mesmo nome: ‘interpretagao” (p. 101). Uma verdadeira teoria dos signos ndo pode ser uma teoria de signos simplesmente representativos. Hé mais na semiose além de representacao, como indicam os exemplos de comandos imperativos, notas musicaise conectivos. Isso demanda que revejamos ou rejeiternos a nogdo de objeto como uma parte essencial da triade semiética (signo-objeto-interpretante), Singer, seguindo Buchler (1955, 155-57), sugere que descartemos esta nogdo e a substituamos pelo conceito de interpretagio, preservando, deste modo, a estrutura triédica essencial da semiose, mas alterando a lista dos elementos desta estrutura (signo ~ interpretante — interpretagio) Vv Buchlere Singer oferecem uma critica da definiglo de Peirce nio apenas plausivel, mas fundamental, no sentido de que se ela estiver correta, hd, entdo, uma falha basica na abordagem geral de Peirce dos fendmenos semiéticos. Portanto, nio deve ser ignorada: Ou a definigdo de Peirce pode ser mostrada para evitar alimitacio arbitraria que Buchler e Singer veem nela, ou deve ser rejeitada como resultado dessa critica. Em esséncia, eles rejeitam a definicio de Peirce, uma rejeigdo que leva & eliminacio do objeto como parte da esséncia de um signo. Em oposiglo a eles, eu mantenho que o objeto é indispensével a0 processo e, consequentemente, &estrutura da semiose (cf, Ransdell, 1976, 105; Short, 1981a, 217) Hi duas maneirasnas quaisé possivel demonstrarqueadefinigio dePeircendoéarbitrariamente restrtiva ou, paraatestaro mesmo ponto nce a, cour 4 de uma maneira positiva, é suficientemente geral. A primeira maneira ‘édemonstrar como a prépria teoria dos signos de Peirce (em particular uma de suas classificagées de interpretantes) consegue lidar com os varios casos que Singer utiliza como contraexemplos da definigo de Peirce. A segunda maneira inclui adquirir uma apreciagao matizada do modo como Peirce concebe a relagao entre um signo e seu objeto. As criticas a Peirce o acusam, com efeito, pela extremada simplificagao da relacio-signo, Entretanto, se atentarmos cuidadosamente ao que Peirce fala sobre 0 objeto da semiose, a acusagdo de simplificagao extremada rio pode ser vista como precisa. ‘Ainda assim, antes de voltar a minha propria defesa de Peirce, seria relevante considerar duas formas de defender Peirce neste contexto que sio, a meu ver, equivocadas. A primeira maneira é sugerida por Savan, a segunda por Short. Ambas as linhas de defesa limitam, desnecessariamente, a extens3o da semiética de Peirce; de fato, a toma algo menos do que uma verdadeira teoria geral dos signos, Ainda que essas duas linhas sejam, em altima anélise, equivocadas, cada uma contém uma valorosa pista (embora diferentes) sobre como Peirce deve ser defendido. Em Uma Introducdo a Semidtica de C. S. Peirce (1976a), para demonstrar que todos 0s signos tém objetos, Savan cita uma das definigdes de Peirce do “Objeto de um Signo”, ou seja, “aquilo com © qual ele [0 signo] pressupde uma familiaridade para transmitir alguma informagio adicional relativa a ele [0 objeto]” (2.231). Savan continua citando conclusive do pardgrafo em que esta definicdo & oferecida: Mas, se hi algo que transmite informagio e, ainda assim, no tem absolutamente qualquer relagSo ou referencia a algo com fo que a pessoa para quem essa informacio é transmitida tem, {quando ele compreende essa informagio, a menor familiaridade, direta ou indireta ~e um tipo muitoestranho de informaglo que 4¢ja — 0 veiculo desse tipo de informagio nio é, nesta grandeza, chamado de Signo (bid). 44 ce A seeReNGeM 90 StL Savan discute esta passagem, nos lembra que “Peirce formulou sua teoria cos signos em um contexto cognitivo” (1976a, 16). Este lembrete, de fato, determina a dbvia e imediata objecdo a Peirce, em que nem todos os signos possuem objetos (p. 15). Contudo, se defendermos Peirce desta maneira, transformamos ‘sua semiética néo em uma teoria de signos em geral, mas numa teoria de signos cognitives. E Peirce & explicito quanto a sua intengao de formular uma teoria geral dos signos. Considere o seguinte texto: temos que admitir que a atmosfera musical e um comando dado ‘um soldado por seu superior sao signos, embora possa parecer que um légico dificilmente esteja preocupado com tais signos cemocionais ou imperativos além deste; desde que ninguém ‘mais se preocupe com a anilise da agio destes signos, 0 l6gico & obrigado a assumir 0 oficio sistematicamente por meio do auxilio de sea contraste com a asio de signos cognitivos para aperfeigoar a definigdo disso mais tarde. (MS 676, 5-6) Outro texto deste mesmo periodo da carreira de Peirce incorpora ‘muito mais claramente sua intengdo: “Nao seria, de qualquer forma, no atual estado da ciéncia, uma boa politica cientfica para aqueles que possuem tanto talento quanto paixao por eliciar a verdade sobre {ais questdes, declarar um ataque conoscépico sobre os problemas da natureza, propriedades e veracidades dos Signos, no espirito da ciéncia do século XX [2}" (MS 675, 00036). A luz de passagens desse tipo ndo se pode sustentar que a semidtica de Peirce limite sua atencao a signos cognitivos, aqueles signos cuja esséncia ¢ aquela que, conhecendo-0s, conhecemos algo mais (8.332). Enquanto Savan erroneamente restringe a teoria geral dos signos de Peirce a uma classe especifica de signos e, deste modo, destréi sua generalidade, ele apresenta um itil indicio sobre a natureza da relagéo entre um signoe seu objeto. Além disso, considerar que um pesquisador conhecedor e simpatico a Peirce pudesse estar errado acerca de tal: ponto fundamental talvez possa ser indicio de uma ambiguidade ou, sere. courerto 45 quem sabe, ambivaléncia do proprio Peirce. Permitam-me desenvolver brevemente cada um desses pontos. Savandeclara que "Peirce, pelo que ei, no oferece uma definiio precisa de objeto. Eu sugeriria que 0 objeto de um signo pode ser definido como o item especifico dentro de seu contexto ao qual todas os interpretantes daquele signo estao colateralmente relacionados" (19762, 16). No funcionamento de qualquer signo, “hé um contexto que é ticito e no expresso pela comunidade dentro da qual o signo opera. O contexto & 0 meio através do qual alguma coisa, 0 objeto, que torna o signo verdadeiro ou falso, cortelo ou incorreto, ¢identificado” (p. 17). A especificacio do objeto de qualquer tipo de semiose deve, consequentemente, ser sempre determinado em referéncia ao contexto rno qual 0 processo da semiose esta ocorrendo. Isto é verdade no apenas no cognitive, mas em todos os signos:aplica-se a performance de uma pega musical no menos do que a ideia de um ‘quark’, & emissio dle um comando no menos do que ao conceito de um ‘fenstipo’. 0 objeto de qualquer signo, seja 0 que for, € sempre um item dentro de ‘um contexto, uma parte de um campo. Ha uma tensio na investigagio dos signos de Peirce que pode ser responsivel pelo tipo de engano cometido por Savan, Essa tensio € entre sua aspiragéo arquiteténica para encontrar uma verdadeira teoria geral dos signos e seu interessefocado na utilizasio dessa teoria para iluminar a natureza da investigacao. Em conformidade com isto, 1 teoria geral dos signos de Peirce deve ser vista como intimamente relacionada & sua busca pelas buseas, sua investigagio sobre anatureza ce variedades da investigagao (cf. Short, 19812, 217). Em outras palavras, asemidtica de Peirce, comode fatoarticulada porele,é verdadeiramente ‘uma teoria geral; entretanto, ela tem, caracteristicamente, um foco especificamente definido, ou seja, consideragdo sobre a ciéncia, do modo de investigacio no qual a fungao distintamente cognitiva dos signos é soberana (MS 675, p. 25; citada anteriormente). Usando a propria terminologia de Peirce, podemos dizer que, embora uma teoria geral dos signos esteja principalmente interessada no representamen, © proprio Perce estava mais profundamente interessado em lagons, um 46 roe € 4 ssonouae 00 SF tipo especitico de signo no sentido estrito desse termo, Um representaen “éum Primeiro que se coloca em uma genuina relagao triédica com um. ‘Segundo, chamado de seu objeto, tanto quanto é capaz de determinar tum Terceiro, chamado de seu interpretante” (2.274). “Um signo [no sentido estrito] é um Representamen com um interpretante mental” (ibid). Entretanto, se garantirmos que a todo estudo filosifico deve ser permitide uma margem generosa como um espaco para observagies que revelem seus limites pontuais, nos ‘comprometeremos em definir logica como a ciéncia, nto de todos os veiculos de influéneia psiquica [isto &, signos no sentido estritol, 0 que, afinal, cortaria monstruosos segmentos do dominio das outras duas reas criticas [ou normativas (MS 675, PP 1)] da ilosofia, mas como a céncia de um certo tipo exclusivo de signos, 20 qual, no momento, denominarei de ‘logons’. (MS 675, 0080) Nao obstante, a semistica de Peirce nio foi, de qualquer ‘maneira, limitada a ‘logons’ ela estendeu-se a ‘signos’ e, além disso, a ‘representamen’. O foco de seu interesse nao deve ser igualado a0 aleance de sua semistica Em “Semiose e Intencionalidade” (1981a), Short observa que: “Em um dia sem vento um cata-vento ainda aponta, mas nao significa 4 direcgo do vento; ‘unicémio’ refere-se a nada real; e assim por diante. Mas cada signo significa algo, real ou ireal,e isto & 0 objeto imediato” (p. 217). Pode-se dizer que, para que um signo perca sua marca, deve ter uma marca (isto é, um objeto) em primeiro lugar. Ou, nas palavras de Peirce, “Um signo no pode nem mesmo ser falso, a menos que, com algum grau de definicio, especifique objeto real do qual ele ¢ falso.” (MS 7, 000003-05). Mas, e quanto aqueles signos que no parecem ter a fungdo de significar objetos (por exemplo, palavras como “e")? De acordo com Short, “no ha razdo em insist que tais Palavras so signos, se de fato elas nao significam qualquer objeto heen COUPER ar ‘Signo’ e ‘palavra’ nio sio sindnimos” (p.225,n. 22) Isso implica que algumas palavras néo sio signos. Minha interpretagao & que, para Peirce, fades as palavras sio, em algum sentido, signos, embora nio necessariamente em um sentido pleno. A base deminha nterpretagio éMS7 (“SobreosFundamentos da Matemitica”), um texto no qual Peirce fala de um signo sufcientemente completo? Este manuscrito se nicia com afirmagies familiares todos os estudiosos de Peirce: “Tudo 0 que sabemos ou pensamos ser conhecido cou pensado por meio de signos, e nosso conhecimento, ele proprio, € um signo. A palavra e ideia de um signo ¢ familiar mas & vaga ‘Vamos nos esforcar para analisé-lo” (MS7, 600002). Muito antes desta analise Peirce afirma: “Um signo pode ser complexo;¢as partes de um signo, embora sejam signos, podem no possuir todas as qualiciades essenciais de um signo mais completo” (ibid). Palavras como 'e’ ndo do signos suficientemente completos; mas so, ainda assim, signos. Um importante ponto que é sempre negligenciado em referéncia ae’ & que, embora ela propria nlo se refere a nada, ‘e’ em contexto tem uma funcio indexical com relaglo a no um, mas dois ou mais objetos; para que ‘e’ associe X e Y, deve, de alguma maneira, apontar para esses itens. Fm contexto,‘e"caractersticamente tem, digamos, a forca das palavras de um capitio de um time ao escolher lados ("Voce € voc para i). Minha discordancia com Short beira a minicia; porém, iss0 ‘me proporciona a oportunidade de introduzir uma distingo que tem sido negligenciada na controvérsia relativa ao que é e no € um signo na perspectiva de Peirce, ou seja, a diferenga entre um signo suficientemente completo e um signo insuficientemente completo. Se notarmos esta distingao, podemos incluir todas as palavras no cescopo da semidtica de Peirce, mas com a consciéncia de que nem todas as palavras efetivam a fungio (Ses) essencial (ais) dos processos teleoligicos que os signos suficientemente completos si. Demos, em certo sentido, atengéo ao ‘e’ (cf. 5.165). E quanto as notas musicais e comandos imperativos? Neste ponto, permitam- me iniiar minha propria defesa de Peirce. Lembrem-se de que devo prosseguir adiante em duas linhas: a primeira, um apelo direto as declaragies do proprio Peirce e a segunda, uma apreciagio matizada da relacGo entre um signo e seu objeto. Enquanto a primeira linha de defesa sublinha o poder da concepgio de Peice do interpretante de um signo, a segunda revela a necessidade de uma mais ampla exploragao do entendimento de Peirce do objeto da semiose. Na explicacio do proprio Peirce do interpretante temos um tratamento explicito da melodia e comanclos imperatives. Recordem «que, para Peece,interpretantes em geral so 0s “efeitos significativos préprios” dos signos (5475). “O primeira feito significativo proprio de um signo € um sentimento produzido por ele” (jbid.; énfase acrescentada). Em alguns casos, tal sentimento (que Peirce chama de “interpretante emocional") ¢ o iinico interpretante que o signo produz. “Assim, a performance de uma peca de misica de concerto 6 um signo. Ela transmite, ¢ tem a intensio de transmitir, as ideias rmusicais do compositor; mas isto consiste meramente em ima série de sentimentos” (ibi.). A miisica enquanto tocada ¢ um signo das ideias’ do compositor para os sentimentos do ouvinte, sendo essas ‘delas’ 0 objeto da misica-como-signo e os sentimentos os interpretantes. A misica é um mediador entre 0 artista e a plaeia de tal maneica que coloca o insight artstico do primeiro em contato com as sensbilidades estéticas do segundo. No mesmo manuscrito que trata a musica como um caso de semiose, encontramos uma consideragio sobre imperativos. Peirce ros pede para imaginarmos 0 oficial de uma companhia de infant dando uma ordem como "Descansar armas!” (6473). “Esta ordem é, ‘obviamente, um signo. A coisa que causa um signo como tal é chamada de objeto (de acordo com o uso da fala o ‘real’, mas mais exatamente © objeto existent) representado pelo signo: 0 signo € determinado por algumas espécies de correspondéncia com esse objeto” (ibid; ef 8.178). O esforgo muscular (os movimentos dos soldados ent resposta ds palavras do oficial) é0 “interpretante energético” da ordem. © comando € um mediador entre o oficial e 0s soldados de tal maneira que coloca a conduta dos soldados em acordo com a intengéo do oficial. Assim ace M, COPED 49 como podemos dizer que a pega musical representa os pensamentos do compositor, podemos dizer que o comando representa o desejo do oficial. Embora a doutrina do interpretante de Peirce fornega uma forma direta e convincente de lidar com comandos imperativas e frases musicas, a relago entre um signo e seu objeto ainda pode ser problematica. E claro que, & luz do precedente, alguém pode insistir fem que, se a definicio do signo de Peirce em termos de objeto-signo- interpretante nao estiver quebrada, ndo hd por que conserté-a. Porém, ‘ki um problema no uso de ‘representagdo’ por Peirce como. nome para a relagio entre um signo e seu objeto. F um problema de terminologia; contudo, dada a prépria ética de terminologia de Peirce, nio deve ser tomado negligentemente. Na verdade, este problema pode sera fonte de parte das mis-compreensBes envolvendo sua definigao de semis JA que este problema se relaciona com a acuidade de ‘representagii como um nome para a relagdo entre um signo € seu objeto, sera relevante explorar os aspectos mais importantes desta relagio. Tal exploragao revelaré por que ¢ um equivoco (antiético?) descrever esta relagio como um caso de representagao (cf. 8201) ‘Como primeiro passo nesta exploragdo, eu devo observar que S Peirce recer deserigées contraditérias da maneira como u 1 i 0, by signo € relacionado com seu objeto. Por um lado, em incontiveis textos, & Peirce afirma que o objeto determina o signo e 0 signo, por sua vez, determina o interpretante (por exemplo, 1.541). O signo determina 0 interpretante como um resultado de ter sido, ele mesmo, determinado pelo objeto. Fm ontras palavras, “o Signo esta essencialmente em ‘uma relagio triddica, para com o seu Objeto, que o determina, e para com 0 seu interpretante, determinado por ele” (MS 793, 00002-08). 0/5, signo & passio em relagio ao seu objeto; a correspondéncia do signo para com o seu objeto ¢ gerada por um efeito do objeto sobre o seu signo, com 0 objeto permanecendo nio afetado (ibid. cf. 1.538). Em contrast, 0 signo é atico em relacio a seu interpretante; ele determina ‘ interpretante sem com isso ser afetado (bid). Em MS 283 (‘A Base do Pragmaticismo”), um manuscrito que contém uma das mais brithantes discusses de Peirce sobre signos, ele . Possbilidade de um signo criar seu priprio objeto (por exemplo, en Peer Ek abonoaaen 90 er | declara: “Um signo€ claramente uma espe de meio de comunicagio, um meio de comunicagao é uma espécie de meio, e um meio é uma | espécie de terceiro” (00114-15). Um terceiro significa uma genuina relaglo triddica. Tl relagio ‘émaisapropriadamente expressa em uma proposigio.cyjo sjito Nominativo denota 0 mais ativo correlato, que podemos chamar de N, o qual atua sobre um correlato mais ou. menos familia, A, designado pelo objeto direto ou Acusativo da sentenga, © a0 mesmo tempo algo, D, de um tipo diferente, denotado pelo ‘objeto indireto, que serd mais apropriadamente atribuido 20 Dativo (00115-16), Deacordo com Peirce, o signo como um meio de comunicagao ocupa a posicio de A em tal proposigo, enquanto o objeto ocupa a posicio de \N. Isto torna o objeto “o correlato mais ativo” na relagio de semiose. Por outro lado, em diferentes passagens Peirce fala da lagio a este objeto, mas também que o signo é mais atico do que seu objeto. Pois é, em tais casos, 0 signo que invoca a existéncia do objeto. Além disso, em pelo menos um texto, MS 380, Peirce sugere trés possiveis maneiras nas quais a causagao pode operar na semiose: “a causacao pode ser do objeto para o signo, ou do signo para o objeto, ‘ou de uma terceira coisa para ambos” (000002) Para solucionar esta dificuldade, “temos que distinguir 0 Objeto Imediato, que & © Objeto como o priprio signo o representa, caja existéncia é, deste modo, dependente de sua representagio no Signo, do Objeto Diniimico, que é a Realidade pela qual alguns meios conseguem determinar 0 Signo para sua Representagdo” (4.536; énfase acrescentada).*Embora osignodetermineo seucbjetoimediato, objeto dinémico determina seu signo. Além disso, ao determinar seu objeto imediato, um signo cria a possibilidade de ser determinado por seu objeto dinmico. Com relagao ao préprio processo de semiose, o objeto OF 4 aighoa inewasies = yr kelaligion $y echtthok > pour fakes cen, couanermo ni de semiose é, portanto, imanente e transcendente: & medida que 6 uma meta imanente, deve ser identificado com o objeto imediato; enquanto, medida que & um ‘ser’ transcendente com poder e/ou forga (5.520) de restringir o signo de alguma forma, deve ser identificado com o objeto dindmico* O fato de que todos os signos tém objetos imedliatos e, por isso, objetivos imanentes tomam a semiose um processo teleokigico: «ada signo projeta para si mesmo um télos Short, 1981). fato de que todos 0s signos tém objetos dindmicos e, consequentemente, restrigbes ‘externas faz da semiose um processo falivel: qualquer signo € abesto 2 possibilidade de perder sua marca. De certo modo, a teleologia da semiose também torna possivel sua falibilidade; apenas na condigio da existéncia de uma marca & possivel perder a marca. Mesmo assim, & preciso que haja algo fora do préprio signo que, a principio, possa demonstrar o signo como errado ou, de alguma forma, inepto. Qualquer movimento que envolve a possibilidade de ser inepto é talvez, de alguma(s) forma(s) e em alguma medida, uma instancia de ssemiose (cf. Eco, 1979, 7). Comandos e notas musicais, fio menos que ‘05 casos paradigméticos de signos representacionais, envolvem tal possibilidade, precisamente porque eles podem ser restringidos por algo fora deles mesmos, este modo, se quisermos alcancar um entendimento nuancado da visio de Peirce sobre o objeto da semiose, deveros distinguir objeto imediato e 0 dindmico. Além disso, devemos considerar alguns outros pontos. O primeiro deles é como um signo pode estar relacionado ao seu objeto dindmico. A consideragdo dessa questio levou Peirce a formular sua mais famosa tricotomia semidtica: icone, {indice ¢ simbolo. Um icone é um signo que esté relacionado ao seu objeto dinamico em virtude de sua propria estrutura interna (8.335), Ele significa este objeto por meio de alguma semelhanca com ele; ou seja, hd algo dentro do signo que permite que ele funcione como tal “Qualquer coisa que seja,seja qualidade, individuo existente, ou lel, & ‘um {cone de alguma coisa, & medida que é igual aquela coisa e usada ‘como um signo dela” (2.247). Um indice é relacionado ao seu objeto

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