Serra Do Mel
Serra Do Mel
Serra Do Mel
RESUMO
A partir de uma leitura de que o fortalecimento das formas de produo locais poder
contribuir para o resgate social e a gerao de ocupaes e renda no meio rural busca-se avaliar a
importncia da agricultura familiar nesse processo e a necessidade do incentivo ao coletiva e
integrao de atividades no espao local. Assim, realizamos um estudo da evoluo do
desenvolvimento local do municpio de Serra do Mel, no Rio Grande do Norte, visando identificar os
fatores determinantes e os limites dessa estratgia de reproduo enquanto contribuio para o
desenvolvimento rural.
INTRODUO
1
Doutor pela Universidade de Crdoba (Espanha) e Professor Adjunto do Programa de Ps-Graduao do
Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlndia IE/UFU. E-mail : [email protected]
prpria economia local, onde o rural uma pea essencial, a partir da integrao de atividades
sem a separao entre a agricultura e a indstria.
Afirmativamente, a hiptese que estamos defendendo de que o desenvolvimento
rural pode e deve ser pensado no somente como alternativa de superao das dificuldades
econmicas e sociais dos produtores familiares, mas, sobretudo, como eixo fundamental e
estratgico para um desenvolvimento mais amplo, dinamizado a partir da contribuio de
aes localizadas desenvolvidas pelo segmento da agricultura familiar.
Entretanto, cabe perscrutar at que ponto a experincia do desenvolvimento local de
Serra do Mel tem cumprido o papel histrico de constituir-se numa estratgia de
desenvolvimento rural de resgate da agricultura familiar, marginalizada pela poltica de
modernizao conservadora da agricultura brasileira das ltimas dcadas, e eleva-la
condio de um setor estratgico para o desenvolvimento em geral. Nos termos da referida
questo, cabe avaliar se esta experincia, na forma como foi implementada e no seu alcance,
contribui de fato para servir de referncia nas discusses em torno de um projeto de
desenvolvimento rural.
2
de agentes com capacidade de deciso, envolvidos no projeto de colonizao e que atendiam
oligarquias locais e aliados do governador.
FIGURA 01: Mapa do municpio de Serra do Mel e distribuio espacial das agrovilas.
3
CIDA2, levando alimentos. Um segundo conflito ocorreu quando outras vilas formaram-se
pela iniciativa dos prprios trabalhadores.
Em 1980, ocorreram as ocupaes das vilas Esprito Santo, Minas Gerais e Rio de
Janeiro, promovidas por filhos de antigos colonos, com lotes improdutivos e trabalhadores
rurais da regio, com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores de Mossor.
Em 1981 novas vilas se formaram a partir de uma interveno direta do Governo do
Estado. Com a construo da Barragem Armando Ribeiro Gonalves, no municpio de Assu-
RN, o governo deslocou para Serra do Mel uma parte da populao atingida e expulsa pelas
guas do reservatrio. Formaram-se as vilas: Bahia, Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Entre 1983 e 1984 outras vilas so formadas na rea norte do projeto (Acre, Maranho, Par e
Amazonas) e no centro.
Em 1984 surgiu um movimento desencadeado por um grupo de engenheiros
agrnomos recm formados na Escola Superior de Agricultura de Mossor - ESAM, que
props ao Governo do Estado que destinasse uma rea de produo e formasse uma agrovila
para eles, com a finalidade desta servir de unidade demonstrativa para o projeto. Apesar de o
Governo no ter aceitado a proposta de imediato, a vila Amazonas foi ocupada pelos tcnicos
que, a partir da convivncia com os outros colonos, tentaram desenvolver e propagar
tecnologias de efeito demonstrativo. Apesar da proposta no ter tido xito, apenas um grupo
reduzido de agrnomos continuou nas atividades tcnicas e de organizao locais.
Em sntese, o processo de colonizao de Serra do Mel se deu de duas formas: de um
lado uma colonizao oficial, constituindo 17 vilas, e uma ocupao realizada por
trabalhadores com apoio do movimento sindical e da Igreja, que ocasionou a colonizao de
cinco vilas. A ltima vila, a Tocantins, foi formada na dcada de 1990, a partir da
incorporao de uma rea de assentamento de reforma agrria ao municpio.
No que diz respeito s questes organizacionais e econmicas, o desenvolvimento
rural do Projeto Serra do Mel apresenta dois perodos distintos: de 1972, data de sua criao
at 1983 e de 1984 at 2000. O primeiro perodo, de criao e formao, extremamente difcil,
caracterizado pela situao de submisso ao poder centralizado do Estado e a uma viso de
desenvolvimento do espao rural exclusivamente agrcola, alm das intempries climticas
como a seca. E o segundo, o qual passaremos a nos referir daqui por diante, representa o
incio de um processo de organizao poltica, social e produtiva e a aplicao da lgica do
desenvolvimento local que gerou importantes transformaes.
2
Encarregada da comercializao da produo, a CIDA concentrava as aes do Projeto e obrigava todos os
colonos a entregar a safra, quase sempre pagando preos bem abaixo dos praticados no mercado, combinando
ainda o ressarcimento da diferena para perodo posterior.
4
2. O Processo de Organizao Social e Produtiva
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mquinas de porte industrial para o corte mecnico na extrao da amndoa da castanha e o
esmagamento na fabricao de suco a partir do pednculo.
A gesto vertical e a produo centralizada da COOPERMEL e a interveno do
estado na sua conduo passou a inibir gradualmente a participao dos produtores gerando
um estado de desconfiana e promovendo uma desarticulao entre sua diretoria e os
agricultores familiares. A situao era de descrena em toda a estrutura organizativa, o que
fez muitos agricultores se desvincularem tanto das cooperativas, como tambm das
associaes.
Em 1985 os agricultores familiares acreditaram em uma reverso da situao e, com a
ajuda de algumas instituies, dentre elas a Igreja, a Federao dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado FETARN e o Sindicato dos Trabalhadores de Mossor destituram a
diretoria da COOPERMEL e assumiram o poder. A situao da Cooperativa apresentou-se
catica no momento e, no ano de 1986, os agricultores resolveram colocar um gerente com
conhecimentos tcnicos na esperana de solucionar os problemas e salvar a Cooperativa, mas
este no conseguiu reverter a situao afastando-se da funo e com ele os trabalhadores.
Mesmo depois da experincia frustrada com a COOPERMEL, a crena na organizao
atravs do cooperativismo no foi totalmente abalada, pois esta forma se configurava na mais
adequada de organizar-se e organizar a produo. Assim, no ano de 1991 um grupo de
agricultores familiares com a ajuda da FETARN e outras instituies, criou e fundou em
Mossor-RN, a Cooperativa dos Beneficiadores de Castanha de Caju COOPERCAJU.
Mesmo impedida pela prefeitura de funcionar em Serra do Mel3, a COOPERCAJU passou a
atuar priorizando a construo de uma estrutura descentralizada em unidades familiares para
beneficiar a produo de castanha, distribudas por algumas associaes nas agrovilas e
procurou adquirir e ajustar mquinas de porte artesanal para o corte mecnico na extrao da
amndoa da castanha. A gesto manteve a lgica vertical, mas a ao da diretoria no mais
inibia a participao dos agricultores, o que gerou uma migrao da anterior para a nova. A
TABELA 02 demonstra que houve uma evoluo positiva do nmero de cooperados para a
COOPERCAJU e uma queda no quadro da COOPERMEL.
3
A COOPERCAJU foi aberta e passou a funcionar inicialmente na cidade de Mossor, pois o prefeito de Serra
do Mel era vinculado a COOPERMEL e contrrio s iniciativas dos agricultores familiares.
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As aes da COOPERCAJU passam a se basear numa gesto estimuladora da
participao atravs de tomadas de deciso em assemblias, como tambm desenvolver uma
integrao local, procurando homogeneizar o espao rural, sem a separao entre agricultura e
indstria das fases tecnologicamente diferentes: produo, agroindstria e comercializao.
Entretanto, a trajetria da COOPERCAJU em seu pouco tempo de operao no se resume
apenas ao melhor dos mundos. As dificuldades enfrentadas pelos agricultores no perodo mais
crtico de interveno estatal e a frustrao com a COOPERMEL, dentre outros fatos
marcantes, foram ingredientes favorveis construo de um quadro de desconfiana que
dificultava, como veremos a seguir, o andamento de um processo pleno de participao
atingindo, de certa maneira, a gesto da COOPERCAJU e do planejamento realizado para
reestruturar e retomar o desenvolvimento de Serra do Mel.
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foi fundamental articular a cooperao principalmente entre trs instituies: a Prefeitura
Municipal, a EMATER e a AACC, esta ltima sendo a coordenadora do processo.
Estudos de viabilidade para o aproveitamento do caju foram sugeridos inicialmente
pelo tcnico suo e realizados pelo Instituto Biodinmico de Desenvolvimento Rural de
Botucatu e por uma instituio holandesa, a AGRO ECO Holanda. Os resultados desses
estudos apontaram para o caminho da construo daquilo que GRAZIANO DA SILVA (1997)
classifica de um espao rural multifuncional, com maior descentralizao e diversificao das
atividades locais e otimizao no aproveitamento dos recursos.
Apesar do planejamento elaborado com a participao dos agricultores, e estes
envolvidos diretamente no processo atravs das suas respectivas associaes, havia um
problema srio a ser resolvido: o crdito. At 1987 os agricultores no possuam o ttulo de
posse de seus lotes e, sem a capacidade de oferecer garantias, no podiam retirar recursos nos
bancos. Em 1988, com o Projeto na condio de municpio e os agricultores possuindo os
ttulos, realizado o primeiro custeio com vencimento dos contratos em um ano. Quando
chega o momento de saldar as dvidas com os bancos, os agricultores so orientados para o
no pagamento, pois tcnicos do Estado apontavam para a possibilidade de perdo por parte
dos bancos. O perdo no aconteceu e, entre os anos de 1988 e 1995, os agricultores de Serra
do Mel no tiveram acesso s fontes oficiais de financiamento, pois se encontravam
inadimplentes. Para financiar a produo nesse perodo, os agricultores passaram a se
submeter ao capital comercial e a financiamento informal como a agiotagem. Os comerciantes
maiores de Mossor, principalmente, com sua rede de prepostos locais faziam o vnculo entre
os agricultores e o mercado. Mantinha-se assim um vnculo, onde a estrutura competitiva
inexistia e, conforme ABRAMOVAY (1998), a integrao dos agricultores ao mercado se dava
parcialmente, realizando-se em condies tais que, existia a influncia individual de certos
agentes econmicos sobre a formao dos preos. Outra sada dos agricultores na obteno de
recursos acontecia em funo da venda de itens como leite e animais (porcos, galinhas, etc.).
o que ilustra o depoimento de um antigo agricultor, que reproduzimos abaixo:
[...] era um tempo muito ruim. O comprador de castanha vinha aqui e comprava toda a
produo nossa muitas vezes antecipada, na folha, a um preo que no valia a pena. Mas o
que eu digo aos meus amigos, o que a gente podia fazer? No tinha proteo de ningum, s
de Deus. Precisava do dinheiro para tocar o cajueiro e alimentar a famlia e no tinha outro
canto pra buscar. O jeito era tomar emprestado a agiota com juro alto, vender a castanha do
preo que o comprador queria e se virar com a venda de alguma criao. Isso quem tinha
criao pra vender. Era difcil. (J.B.S. Serra do Mel, agricultor familiar, 57 anos).
O acesso por parte dos agricultores a fontes oficiais de financiamento, como os
bancos, passou a ser uma realidade somente no ano de 1996 e submetido a algumas restries
e condies, depois do longo perodo de inadimplncia. Os recursos para as atividades rurais
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em Serra do Mel foram sendo liberados ainda sob ao cautelosa dos agentes financeiros,
principalmente do Banco do Brasil. Os bancos passaram a aumentar de forma considervel as
quantias e demonstrar maior confiana junto aos agricultores apenas nos anos de 1997 e 1998
liberando, no perodo de 1996 a 2000, um total de R$ 12.924.324,77 (Doze milhes,
novecentos e vinte quatro mil, trezentos e vinte quatro reais e setenta e sete centavos), a
maioria do Banco do Nordeste4, conforme dados da TABELA 03.
TABELA 03 Valores liberados em emprstimos realizados no mercado financeiro no perodo de 1991 a 2000
(em reais) e as principais fontes de financiamento.
ANO BANCO DO BRASIL BANCO DO NORDESTE TOTAL
1996 25.000,00 1.026.608,77 1.051.608,77
1997 1.100.000,00 2.484.536,41 3.584.536,41
1998 - 5.596.851,59 5.596.851,59
1999 1.268.170,00 530.216,18 1.798.386,18
2000 363.870,00 529.071,82 892.941,82
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A presena do Banco do Nordeste no perodo de elaborao do Plano Intgrado de Desenvolvimento Sustentvel
de Serra do Mel - PIDSSM, criou uma situao de euforia por parte de vrios produtores, os quais esperavam
que os recursos fossem liberados de forma imediata e em quantias desejadas. A ansiedade era tanta que muitos
no tiveram pacincia de esperar a finalizao do Plano pois, para alguns agricultores o carter imediatista no
acesso ao dinheiro era o que mais importava no momento e no a conversa fiada necessria no processo de
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um perodo decisivo na formao de uma estrutura que exigiu maior destino e finalidade dos
investimentos em bens de capital (mquinas de corte, estufas a gs, mesas de classificao,
etc.), objetivando maior agregao de valor e o aumento da renda dos produtores.
TABELA 04 - Crdito rural: valores contratados e liberados por finalidade (1991-2000)
PRODUO AGROINDSTRIA COMERCIALIZAO TOTAL
ANO
Investimento Custeio Investimento Custeio Investimento Custeio
elaborao do PIDSSM.
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produzidos pelos agricultores sem a preocupao comercial em sistemas de cultivos simples
no perodo das chuvas, se destinando principalmente para o autoconsumo das famlias (no
caso de alimentos) e poupana (animais).
Tabela 06: Evoluo dos principais produtos agropecurios de Serra do Mel.
1995 2000
PRODUTOS Unidade
Quantidade
Unidade
Quantidade
Produzida Produzida
Feijo Kg 38.000 Kg 22.000
Mandioca T 300 T 1.600
Leite L 100.095 L 291.600
Bezerros Cab. 1.000 Cab. 1.800
Sunos Cab. 200 Cab. 1.116
Mel de abelha Kg 2.500 Kg 25.000
Ovos de galinha caipira Dz. 6.870 Dz. 7.000
FONTE: PIDSSM (1995), COOPERCAJU e IDEMA (2001). Elaborao prpria.
Entretanto, mesmo possuindo a liderana absoluta a cultura do caju, segundo os
elaboradores do planejamento, se configurava insuficiente para assegurar a sustentabilidade
do municpio. Mesmo assim a maior parte da estrutura rural existente no municpio exceto a
estrutura de produo , como demonstra as informaes da TABELA 07, foi constituda a
partir do financiamento gerado pela dinmica em torno dessa cultura. E, como podemos
constatar, na integrao, estratgia de agregao de valor (beneficiamento da castanha), que
se evidencia a preocupao com a reestruturao de Serra do Mel. Como mostra a TABELA 07,
isto se afirma quando percebemos que a maioria das unidades de beneficiamento artesanal,
adquirida entre 1990 e 1998, e vinculadas a COOPERCAJU, e que aparece em funcionamento
no desenvolvimento das atividades rurais de Serra do Mel, surgiu no perodo de maior fluxo
de recursos oriundos do crdito oficial.
A insero e expanso dos financiamentos bancrios foram, a nosso ver, os mais
importantes fatores na acelerao e viabilizao das mudanas locais (produtiva, tecnolgica,
capacitao, etc), pois significou inicialmente o rompimento dos laos de dependncia ao
capital comercial e, posteriormente, a base para as aes necessrias ao cumprimento das
metas para a reestruturao do municpio constantes no Plano, o que fez resultar na
alavancagem e sustentao do desenvolvimento rural.
TABELA 07: Estrutura de patrimnio rural existente:
Ativos em Parados / Perodo de
PRODUO Quantidade
Produo Inativos Construo/Aquisio
Lotes agrcolas 1.196 1.196 - 1974 a 1984
Colmias 1.000 996 04 1998 a 2000
AGROINDSTRIA
Unidades beneficiamento castanha 400 100 300 1990 a 1998
Casas de farinha 14 - 14 1990 a 1996
COMERCIALIZAO
Cooperativas 02 01 01 1975 a 1991
FONTE: Questionrio de campo e COOPERCAJU 2002.
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Uma das constataes que chama a ateno a existncia das 14 casas de farinha
dispersas por algumas vilas e que se encontram desativadas. Essa estrutura foi formada com
recursos oriundos do Programa de Apoio ao Pequeno Produtor PAPP, numa parceria entre o
governo do estado e o Banco Mundial, no atendendo a um rigor especfico nos estudos
prvios de viabilidade econmica e de mercado. So produzidas em mdia no municpio, 300
toneladas da raiz/ano de mandioca, quantidade suficiente para funcionamento de pouco mais
de uma casa de farinha. Essa estrutura no despertou interesse de torn-la vivel em curto
prazo, tornando-se desprezada pelo Programa de Restruturao.
Foi com a criao da COOPERCAJU que se intensificou a reestruturao. E esta,
como visto, estava prevista para viabilizar a integrao a partir do beneficiamento artesanal da
castanha de caju, utilizando um equipamento de corte de porte familiar para a extrao da
amndoa. Entretanto, no existia equipamento como o desejado que se adaptasse realidade
de Serra do Mel, apenas as mquinas de porte industrial da COOPERMEL que no
interessavam para a lgica de desenvolvimento pretendida. A EMBRAPA Agroindstria
Tropical, de Fortaleza, foi procurada e passou a trabalhar na adaptao de um pacote que
atendesse a capacidade de produo de cada famlia. A estratgia do planejamento, como
veremos no tpico a seguir, era, desde o ano de 1994, integrar agregando valor produo
(beneficiando e comercializao), capitalizar e dotar a Cooperativa de uma estrutura a partir
das necessidades da cultura do caju e, com isso, facilitar e tornar efetivo o acesso a recursos
para o financiamento dos investimentos com a captao junto aos bancos.
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com a diviso interna do trabalho entre os membros da famlia ou a mo-de-obra
eventualmente contratada, etc. E, em nvel das relaes externas, com o grau de
mercantilizao da produo e a articulao com os sistemas de comercializao e
financiamento. Neste sentido, a idia do Plano de um desenvolvimento endgeno e com o
mnimo de subordinao5, onde as mudanas tecnolgicas introduzidas na produo acelerem
o processo que GRAZIANO DA SILVA (1982) classifica de diferenciao no sentido ascendente
e que seja capaz de fazer com que as rendas oriundas do excedente da atividade rural do
municpio no sejam transferidas intersetorialmente para outros setores fora do mbito local e
que os bons resultados da atividade sejam convertidos em investimentos na estrutura de
produo e em rendas cada vez maiores e mais remuneradoras do trabalho das famlias.
Percebendo a importncia da insero da agroindstria como processo contnuo da
produo, o PIDSSM apontava para a diversificao das atividades num cenrio onde
estivessem devidamente integradas na cadeia produtiva. Constatadas as deficincias e os
principais problemas do municpio em levantamentos efetuados pela equipe do planejamento,
passou-se a trabalhar no apontamento de solues a partir da identificao das maiores
potencialidades. Como j afirmado anteriormente, a fundamentao do Plano foi direcionada
para o desenvolvimento local, num projeto de desenvolvimento construdo desde sua base
privilegiando a cooperao entre agentes e instituies, mantendo relacionamento e
interdependncia do contexto regional, nacional e internacional. Entre os agricultores, mesmo
enfrentando dificuldades, a concepo do Plano fez com que estes passassem a ver uns aos
outros como parceiros e no como ameaa. De acordo com a TABELA 08, o PIDSSM, nos
ltimos seis anos, proporcionou a participao de diversas instituies pblicas e privadas que
passaram a contribuir no processo de desenvolvimento rural/local de Serra do Mel, juntando-
se s mais antigas (AACC, EMATER, SIPARN E FETARN).
A partir do enfoque no desenvolvimento local o PIDSSM, por sua vez, foi orientado
para a necessidade de construo do que vem sendo definido como capital social6, mediante a
a formao de uma rede de participao FRANCO (2000) entre Estado e Sociedade Civil.
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A caracterstica da agricultura familiar para vrios autores, dentre eles GRAZIANO DA SILVA (2000) e
ABRAMOVAY (1998, p. 193), de dependncia e subordinao ao capital. E , certamente, a atividade econmica
no capitalismo contemporneo mais fortemente submetida a constrangimentos coletivos. A concepo do
PIDSSM, neste caso, apresenta-se ousada quando busca em suas diretrizes, a combinao nas relaes internas e
externas de forma tal que promovessem o mnimo de submisso e dependncia da agricultura familiar de Serra
do Mel.
6
Nossa viso de capital social aqui tomada de PUTNAM (1993), sintetizada por MOYANO (2000), e que destaca
que a articulao da sociedade civil no depende da ( diferente a) ao de governos, e afirma que o capital
social path dependent, quer dizer, resultado de inrcias histricas e culturais; isso explicaria, na opinio de
Putnam, que ocorra uma grande diversidade de sociedades com diferentes graus de intervencionismo estatal. ...
v as relaes estado-sociedade como um jogo de soma diferente de zero, deduzindo que o Estado pode
promover um entorno adequado para que seja possvel o florescimento de uma sociedade civil dinmica.
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O Plano ento constitudo atendendo a lgica descendente de Programas e Projetos.
A preocupao com a criao de postos de ocupao para a fora de trabalho rural local foi
priorizada e ancorada na integrao dos trs principais eixos: a agropecuria, a agroindstria e
a criao de ocupaes no-agrcolas, alm do acesso a mercados.
TABELA 08 : Principais empresas e instituies parceiras e de relacionamento.
Nvel de Perodo de Contratos?
Empresa / Instituio Ramo de Atividade
Atuao Relacionamento (S ou N)
AACC Assistncia tcnica Local 12 anos S
BANCO NORDESTE/PNUD Crdito/capacitao Regional 06 anos S
BANCO DO BRASIL Crdito Nacional 06 anos S
BANCO MUNDIAL/PAPP Crdito Internacional 04 anos S
EMATER Assistncia tcnica Regional 12 anos N
EMPARN Pesquisa Regional 04 anos N
EMBRAPA Pesquisa Nacional 03 anos N
SEBRAE Assessoria empresarial Regional 06 anos N
FETARN Sindical Regional 07 anos N
VISO MUNDIAL Comrcio exterior Internacional 02 anos N
SIPARN Comrcio Exterior Internacional 12 anos N
FONTE: Questionrio de pesquisa de campo 2002.
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ponto principal. Tentou-se implementar, a partir de uma ao conjunta com a EMATER, um
processo caseiro de produo de derivados do pseudofruto (rapadura, doce, mel, licor, etc) em
algumas vilas (a Vila Piau, principalmente). O SEBRAE se inseriu logo aps contribuindo
com o apoio em marketing (embalagem, rtulo, identificao do produtor, etc.) para a entrada
dos produtos no mercado. Diante de dificuldades de regulao, muitas delas geradas pelo
oportunismo WILLIAMSON (1985) exacerbado de algumas instituies e da falta de
cooperao, no houve registro de sucesso considervel.
Em Serra do Mel a situao demonstrou, alm da inexistncia de contratos um
pequeno grau de aperfeioamento das instituies envolvidas e deficincia de regulao.
O quadro previsto para a diversificao via agroindstria teve pouca expresso na
criao e desenvolvimento de outras atividades no-agrcolas e, como veremos a seguir,
limitou-se apenas no beneficiamento da castanha do caju atravs do corte artesanal em
unidades de porte familiar vinculadas a COOPERCAJU.
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Para obteno de informaes mais detalhadas ver : (EMBRAPA Agroindstria Tropical. Centro Nacional de
Pesquisa em Agroindstria Tropical CNPAT. Relatrio de Atividades 1996-1997. Fortaleza, 1999. 156p).
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O eixo da agroindstria contido no PIDSSM fazia parte de um conjunto de atividades
integradas, diferentes da lgica de KAUTSKY (1980) que separa agricultura e indstria, a
serem desenvolvidas no mbito produtivo e trazia, na sua concepo, um determinado grau de
complexidade para sua implantao. Dessa forma, os recursos necessrios ao financiamento
dos investimentos do plano produtivo foram negociados diretamente com a sede do Banco do
Nordeste em Fortaleza, por no se enquadrar nos parmetros convencionais de projetos
agrcolas. A apresentao de uma proposta que unia as trs fases (a produo, a agroindstria
e a comercializao), alm da inverso do sistema de cultivo tradicional para o orgnico,
tornava o Plano um caso particular nas rotinas das agncias locais de crdito,
impossibilitando-as de realizar a operao. O valor total do Plano foi estimado em
12.000.000,00 (Doze milhes de reais).
Diante da dificuldade com relao tecnologia de processamento do pseudofruto
apontada pela EMBRAPA no PIDSSM, o processo de reestruturao da COOPERCAJU foi
direcionado a partir do beneficiamento artesanal da castanha de caju. Surge ento a
necessidade de simplificar e ajustar a tecnologia para o corte artesanal e inserir de maneira
eficiente e descentralizada de forma que as prprias famlias operem at mesmo em suas
casas. Numa parceria entre os produtores, a AACC e a EMATER, foram realizadas discusses
que resultaram no desenvolvimento de uma mini-indstria familiar de beneficiamento de
castanha, com caractersticas rsticas. A partir disso, fazia-se necessrio uma srie de
adaptaes para ajustar s dimenses pretendidas.
Tendo em vista a necessidade de ajuste, a EMBRAPA conseguiu desenvolver um
equipamento de corte artesanal que inclua, alm do equipamento de corte da castanha, uma
estufa pequena que funciona com queima de gs em substituio as de alvenaria que queima
lenha, baldes para cozimento em vez de autoclaves, layout apropriado para a instalao, etc.
Com a insero e utilizao da estrutura de corte artesanal e de porte familiar,
constata-se um aumento expressivo na rentabilidade, pois alm do valor agregado com a
transformao, eleva o aproveitamento da produo, principalmente a destinada ao mercado
externo, a parcela possuidora de um preo superior. A injeo de crdito oficial a partir de
1996 e a castanha de caju sendo beneficiada com os equipamentos artesanais fez a produo
atingir os nveis dos nmeros constantes da TABELA 9.
Segundo afirmaes de um tcnico da COOPERCAJU, a amndoa beneficiada
representa, em mdia, 20% do total de frutos processados, ou seja, so necessrios 5 kg de
frutos para gerar 1 kg de amndoa. E no processo de seleo para a exportao, que se
submete a um maior rigor, o ndice de aproveitamento de amndoas inteiras chega a superar
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80% de toda a castanha beneficiada, e o restante de 15 a 20% em formas quebradias,
totalmente absorvido pelo mercado interno.
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Segundo informaes de tcnico da COOPERCAJU, apenas 10% (45 a 50 toneladas) de toda a castanha de caju
produzida pelos seus cooperados, em torno de 560 toneladas/ano, so beneficiadas pelas famlias atravs das
unidades de beneficiamento e apenas 1/3 destes 10% so destinadoa ao mercado internacional. Isso demonstra
que ainda expressivo o potencial local a partir da castanha de caju e h uma capacidade significativa de
expanso do processo de beneficiamento e exportao.
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gesto de negcios com caracterstica empresarial, a diretoria da Cooperativa passou a
cometer uma srie de equvocos que chegou a comprometer sua estratgia inicial de
estruturao.
No aceitando a condio de liderana do beneficiamento da castanha como principal
atividade econmica do municpio e instrumento de capitalizao da cooperativa, o gerente,
contrariando os apontamentos da EMBRAPA em relao s dificuldades de tecnologias para
o pseudofruto do caju, decidiu criar e desenvolver um produto novo a partir deste. Ignorando
diversas advertncias de pessoas experientes, contrariando a lgica do PIDSSM e desviando
recursos destinados estruturao da cooperativa, criou-se a rapadura de caju. A rapadura foi
fabricada e encaminhada ao mercado consumidor, sem passar por um teste fundamental: o
teste da prateleira. Principalmente para suas caractersticas de produto natural, sem aditivos e
conservante qumicos. Todo o produto foi comercializado, porm no resistiu ao tempo de
espera recomendado pelo mercado e apodreceu. Os compradores devolveram o produto,
levando a cooperativa a um prejuzo significativo. Outros problemas surgiram como
conseqncia e no teve outro resultado seno a inadimplncia da COOPERCAJU frente ao
Banco do Nordeste causada pelos erros de estratgia de mercado e gesto.
A capitalizao adquirida ao longo dos ltimos anos com a comercializao da
castanha beneficiada, requisito para obter o acesso contnuo s linhas de financiamento no
Banco do Nordeste, foi comprometida. Com uma dvida crescente, sem capital de giro e com
a crise de gesto instalada, a COOPERCAJU precisou rever suas estratgias para continuar
funcionando.
A crise de gesto afetou uma das conquistas mais importantes: a garantia de
comercializao para o exterior. Quando da elaborao do PIDSSM foram realizados contatos
com compradores de pases da Europa e Estados Unidos. Estes firmaram interesse de
aquisio da produo, principalmente a castanha com Selo Orgnico. O no cumprimento na
plenitude dos compromissos desperdiou este importante mercado potencial, que passou a
necessitar de maior esforo posterior para reconquist-lo. O Certificado de Produo Orgnica
est suspenso e a ltima inspeo do Instituto Biodinmico foi em 04/11/1998.
Como a idia do PIDSSM era o plano de produo rural engendrar um processo
endgeno de desenvolvimento local a partir de uma estrutura de funcionamento integrada, a
efetivao incompleta deste eixo comprometeu as outras atividades previstas em outros
setores, entre elas a criao de atividades no-agrcolas. A diversificao tambm no ocorreu
como o previsto e a castanha de caju beneficiada passou a ser o nico produto
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agroindustrializado localmente, liderando as atividades econmicas, mesmo com a reduo do
nmero de unidades de beneficiamento de 400 para apenas 100 unidades de produo.
Numa avaliao feita pela AACC, esta instituio aponta que o trabalho desenvolvido
em Serra do Mel entre 1990 e 2000, apresenta uma falha importante: a questo da tica. Tanto
as instituies que atuaram durante a execuo do PIDSSM, quanto a maior parte dos
produtores e da parte da prpria AACC, constata-se um certo oportunismo.
Neste sentido, os problemas identificados no desenvolvimento rural de Serra do Mel
se apresentam tpicos do surgimento de uma economia local com as caractersticas de
economias regionais com aes localizadas e integradas ao esquema global de acumulao
capitalista. So embries, decorrentes de um novo padro de produo, o ps-fordismo,
representados pela possibilidade de flexibilizao das relaes de produo que, como
veremos a seguir, no decorrer do tempo, vem exercitando sua entrada ao esquema global de
acumulao capitalista a partir da experincia exercida pela prtica da comercializao da
castanha de caju para os mercados nacional e internacional.
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do Mel produz e registra como comercializados, a liderana se mantm absoluta por parte da
castanha de caju beneficiada e destinada exportao.
TABELA 10: Principais produtos de Serra do Mel comercializados e mercados de destino
MERCADOS DE DESTINO
PRODUTOS Quantidade Perodo Interno Externo
Unidade
Total/ano de Oferta
Local Regional Nacional
Castanha de caju 50.300 Kg Set/jun 2.500 7.500 20.000 16.896
Feijo 22.000 Kg Jun/ago 2.200 19.800 - -
Mandioca 1.600 Ton. Set/dez 80 1.520 - -
Leite de vaca 291.600 L Dirio 102.060 189.540 - -
Mel de abelha 25.000 Kg Jun/ago 2.500 22.500 - -
Ovos de galinha 7.000 Dz. Semanal 1.750 5.520 - -
FONTE: Questionrio de pesquisa de campo 2002.
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TABELA 11: Exportao de amndoas de castanha de caju e mercados de destino.
QUANTIDADE UNIDADES DE MERCADO
ANO BENEFICIAMENTO DESTINO
NO - ORGNICA ORGNICA
1991 3.000 Kg - - Sua
1992 4.500 Kg - 12 Sua
1993 4.500 Kg - 26 Sua
1994 7.000 Kg - 30 Sua
1995 15.000 Kg 4.700 Kg 70 Sua
1996 5.400 Kg 10.500 Kg 85 Sua
1997 3.600 Kg 14.800 Kg 85 Alemanha
1998 10.500 Kg - - EUA
1999 - - - -
2000 20.300Kg - 53 Sua
Fonte: Coopercaju 2000. Questionrio de pesquisa de campo 2002.
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Segundo avaliao de um tcnico da COOPERCAJU ainda mais fcil exportar que
comercializar para o mercado interno. O grande problema do mercado interno representado
pela burocracia do aparato institucional. Para o mercado externo, porm, necessita-se mandar
previamente uma amostra do produto que ser submetido a uma anlise rigorosa seguindo os
padres de classificao exigidos. Uma vez conseguido isso, recebe-se o Certificado de
Origem e o produto enviado ao exterior.
Uma vantagem estratgica do relacionamento com o mercado externo a exigncia
deste em relao s condies de produo; exige-se o ISO 14.000 para produtos produzidos
sem agresso ao meio ambiente. Outra a garantia do recebimento, determinada pelo rigor na
forma de relacionamento de compra e venda. Tanto os compradores europeus como os
americanos adiantam 50% do valor total da mercadoria e o restante depositado em conta
imediatamente aps o ato da entrega pelos produtores. Isso determina um grau elevado de
responsabilidade pelo lado dos produtores a ponto que, se no cumprirem o compromisso,
desperdiam o mercado e sero eliminados de qualquer relacionamento futuro.
No mercado interno, alm de lutar contra a burocracia das instituies e vencer os
concorrentes como a Mossor Agroindustrial S A (MAISA) e a USIBRS oligoplio
formado por empresas de grande porte no estado , para os produtores da COOPERCAJU e
de Serra do Mel, h fragilidade ao estabelecer uma relao de confiana com os compradores
no Brasil, sendo grandes as possibilidades de calote.
Em relao aos aspectos econmicos e sociais como o surgimento de postos de
trabalho, a variao da renda e a melhoria dos nveis de condio de vida, constata-se que
com a integrao partir do beneficiamento da castanha de caju e a insero direta dos
agricultores de forma organizada em mercados competitivos, os postos de trabalho se
ampliaram e os rendimentos foram aumentados. disso que trataremos a seguir.
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salrio mnimo. O mel de abelha outro produto que inicia um processo ainda tmido de
diversificao com 42 postos na fase da produo.
TABELA 12: Ocupaes geradas ao longo da cadeia e principais produtos.
Nmero de Ocupaes Geradas
CULTURAS / PRODUTOS
PRODUO AGROINDSTRIA COMERCIALIZAO
Cajucultura 5.980 500 30
Mel de abelha 42 - -
Fonte: COOPERCAJU, 2002. Elaborao prpria
Verifica-se tambm que a qualidade de vida das pessoas inseridas no processo mudou
para melhor. Existem vilas onde a aquisio de bens de consumo durvel (automvel novo ou
seminovo, geladeira, fogo a gs, televisor, forno microondas, videocassete, etc) bastante
emblemtica, fruto da capitalizao dos agricultores. Em torno de 40% das famlias possuem
carro e 100% tm geladeira, fogo a gs e televisor.
Com base em dados do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento
PNUD, o Rio Grande do Norte, entre 1991 e 2000, avanou pouco em termos do ndice de
Desenvolvimento Humano - Mdio (IDH-M), passando de 0,618 para 0,702, o maior do
Nordeste, com uma elevao de 0,084. Dividido entre poucos ricos e muitos pobres o Estado,
ainda com srio subdesenvolvimento econmico, poltico, social e tico, deve encontrar
sadas que mudem sua cara. A anlise geral que se faz, segundo o PNUD, que onde imperou
a lgica de concentrao dos investimentos o IDH permanece baixo, e onde isto no ocorreu,
a sociedade reagiu e conseguiu mudar a realidade.
Para as Naes Unidas, o municpio de Serra do Mel se enquadra na segunda
observao pelo fato de se encontrar numa situao catica nos anos 1980, onde o municpio
era caracterizado pela alta indigncia, e emergir buscando superar seus problemas atravs da
aplicao correta de polticas pblicas que delineou, a partir do desenvolvimento local, uma
lgica diferente de desenvolvimento rural.
A TABELA 13 demonstra que entre 1991 e 2000, o municpio avanou em todos os
indicadores que medem a qualidade de vida da populao, e um deles chama a ateno: a
renda per capita. Esta, mesmo ainda pequena, dobrou no perodo de R$ 53,63 para R$
103,35, revelando um crescimento significativo do produto e elevando o indicador de nvel de
renda local de 0,437 para 0,623.
No que diz respeito ao IDH-M, o municpio conseguiu elevar de 0,509 em 1991,
considerado de baixo desenvolvimento pelo PNUD, para 0,619 em 2000, ndice que, segundo
este rgo, caminha para uma posio de mdio desenvolvimento.
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TABELA 13: Evoluo do IDH ndice de Desenvolvimento Humano no perodo 1991-20009.
Esperana de Taxa de Renda per ndice de
ndice de renda ndice de Desenvolvimento
Municpio Ano vida ao nascer alfabetizao de capita educao
(IDHM-R) Humano Municipal (IDH-M)
(em anos) adultos (%) (em R$ ) (IDHM-E)
1991 55,75 57,43 53,63 0,577 0,437 0,509
Serra do Mel
2000 62,83 68,53 103,35 0,704 0,623 0,619
Estado IDH-M 1991 IDH-M 2000 Variao no IDH-M Ranking 1991 Ranking 2000
Rio G. do Norte 0,618 0,702 0,084 19 18
Fonte: PNUD / IPEA / Fundao Joo Pinheiro (anos 1991 e 2000). Elaborao prpria.
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Dados obtidos atravs do site: http://www.undp.org.br/ . Acesso em: 20/11/2002.
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