Livro - Assis Brasil
Livro - Assis Brasil
Livro - Assis Brasil
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DEMOCRACIA
REPRESE.NT ATIVA
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Casa edil01a e de commisso
96, bould Montparnasse, 96 Filial : 242, r~a Aurea,, 'l 0
PARIS LISBOA
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Prin~ipae~ inq_orreces
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causa, .tendo cada vez mais viva a espe1anct de
volver um dia, no mui remoto, armado da mesma 1
f e da somma de m9dera e experiencia que o
conhecimen~o do mundo infund,e,., retoma'r o posto
em que outr'ora servi e que' no quero que se-consi-
dere abandonado.
A. B.
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EPIJ\fl-~ . -
- As pessoas' crue e-ram a pnme1ra edi0
_d' esta 0bra, e nella encontraram algum me-
rito, bem como . as que houverem vistq a se-
gunda publicada em .. ~uenos Aires, em
lngua cast~lhana, - devem examinar e ta
terc~ira . Ella contm o dobro do desep.-
volvimento da primeira e alguma co,usa
mais do que a segunda. No quer istodi-
zer qtre se - tenham amontoado palavras
sobre as mesmas primitivas obse~vaes ;
pelo contrario, seguinds> sempre o meu
methodo e tendencia de encerrar muitas
ideias em po~co discurso; tive de cortar
alguma superfluidade das outras edies.
O que ayolu.ma esta augmento de materia,
e no de frma : A obra cresceu~ no in-
chou.
A primeira edio foi muitssimo in co~, ~
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8 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA -
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JO DEM?CRACIA: RE!"RESENTATIVA
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14 DEMOCRACI REPRESENTATIVA
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20 DEMOCRACIA RPR~SENTATIVA
M. RUJz ZoRRILLA
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LI.VRO I
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.DEMOCRAC'IA REPRESENTATIVA
CAPITULO I
Fundamento do voto
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' 28 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
32 DEMOCRACIA REP~ESENTATIVA
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CAPITULO 11
I
lun 1_ - o~ democ-rtas -entide~os qe s a
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CAPITULO III
Compete.nc ia do p o vo
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46 ' DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
I
I
damente verdadeiro, mas s em relao aos
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povos democraticos. 'Estes so os unicos que
tm o bem ou o mal feito por suas proprias
mos. Os _otros podem ser felize~, ou desgra~
ados, por obra de extranhos. Cabe aqili escla-
recer, repetindo uma ideiaja consignada antes,
que eu considero mais ou menos democratico
um povo, segundo elle influe niais ou m~nos
nos proprios destinos, ainda que haja no meio
d'esse povo, no sua frente, alguma testa co-
roada. Sou republi~ano, em principio, por
entender que n'a -republica que democracia
se realisa melhor, e sou _republicano especial-
mente no Brasil, porque este paiz no tem
. condies seno para essa frma de governo.
No impulso primitivo, nq movimento inicial,
ql.!e outra causa no seno a funco eleitoral,
detem-se e termina a auctoridade concreta d~
povo, em circumstancias regulares. Digo cir-
cumsta:rrcias regulares, porque ;Preciso reco-
nhe(!.er, nas extraordinarias, a -suprema funco
revolucionaria, que lhe corresponde. Mas, fra
d'esses'casos de subverso da ordem, no fazer
1
aggravo ao povo dizer, com Montesquieu, que
' el~e s tem capaci!l-ade para escolher bons repre-
sentantes. O povo, .tomado em massa, mca-
A DEMOCRACJ E O VOTO I ' 47
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CAPITJJLO IV
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no a ma1or11.
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dade entre o numer e a razo; um homem -
-p de ter razo contra o mundo inteiro. )) .-
4- practica tem admittide e:r;n politica muitas '
expresses que, tomadas ao p da lettra, seriam
viciosas. Entre ellas esta- gove1no da maioria.
'Eu nego que a maioria governe .exclusivamente
.em uma demo~racia bem organisada, aip.da
que no seja modelo de bom funccionamento.
preciso distinguir na evoluo politica-o
facto actual do facto permanente. No ~omento,
como certs delibera-es se tomam pelo mai~~ ~
numero, claro q~e a maioria decide ; mas
a maioria, que teve .a faculdade ele fazer valer
50 })EMOCRACIA REPRESENTATIVA
,l
,~ \ que os factos isolados (ainda mais m socie-
,1 dades imperfeit'as, como a nossa) paream si-
gnifi.car o contrario ; uma-observao mais _p ro-
funda far ver que o governo de todos por
todos, e no de alguns pelo 'maior nuner~.
\ Demais, num systema 4e liberdade, em que o.
governo e a legistura: no exeram mais do que
a su acyo.limitada, ,no pde haver mal irre-
p(}rayel das decises da m~ioria. As boas ideias
podem estar: seguras de ter no dia seguinte o
maipr numero comsigo.
Nos povos regularmente organisados (e
'
" A DEMOCRACIA E O VOTO
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LIVRO li
Condies do voto
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CAPITULO I
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58 , DEMOCRACIA REPRESENTf.TIVA
-.
o
_CONDIES DO VOTO 59 '
'
destino cvico, direito inherente, no quali-
dade natwal de homem, mas ao caracter poli-
tico de cidado.
Dima;na logo cl'essas .fflrma.es qu o direito
ele voto eleve ser reconhecido em todos os cida-
dos, e isto equivale, da minha parte, a dizer que
sou resolutamente p,articlario elo suffragio -unj--
versal.
Suffragio ' universal outra expresso con-
demnada por preoccupaes ele .seita. Mas ainda
aqui a questo apena~ de palavras. O que faz
horror . o acljettivo 'universal, que traduzem
ao p da lettra, ,e d'ahi concluem que se trata
de reconj:lecer o exerccio elo sufl:ragio em toda
gente . Entretanto, mesmo sem excepo cl51-s
phansasias anarchicas ele algum revolucionario,
no h partidario do suffragio, universal que
possa propor, ou sustentat, tal interpretao.
Entra.pelos olhos que a express? ~ universal
- no 'tem neste caso um sentido material. Ha
evidentemente alguem incapaz ele exerce:r; o di-
reito ele voto . Para -no ctar seno casos elo-
quentes, baste dizer que os loucos e os-menores
de idade ninguem se lembraria de mandar (Ls
J .
urnas eleitoraes. A universalidade do direito,
no do seu exerccio.
'
60 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
' - .
Neste trabalho so tomadas em considerao
questes de d~talhe smente quando lhes em-
presta algu~1a re1evancia a s~tuao actual l'o
pensamento politico no Bra~il. Abro uma quasi-,
excepo para -a elo voto feminino : ella .nunca
levantou grande agitao ' entre' ns e parece
estar longe de apresenta1'-se com caracter de
urgente pro~lema ser resolvido. Entretanto,_o
thcma deu logar a controversia -de alguma im-
portancia nas discusses do Congresso Consti-
/ tuinte da Repuhlica, e para mim fra ele clu-
. vida que, se no est.Y- pert o dia em que elle
ter de pedir so-luo, nem por isso menos
verdade que e~se dia ha de chega-r, por mais
que nQS dig;a O cont_rario essa confiana instinc-
tiva e cega que nos faz sempre, se no crer, ao
menos sentir que a ordem de cousas qo mo-
'I I .
I
, 72 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
.
naturalmente coin a totalidade. Tamhem essa
' incapacidade no est tanto na. falta. l.e cultura
intellectual cmo na: ndole da educao em
vigor.
!
Em .concluso, no Brasil, onde a mulher
ainda 1~o tem compete~ci~ para immiscuir-se
em eleies, o suffragw deve ser realmente
, universal, mas ... , s para 9s homens.
Entretanto, as situaes que parecem mais
inahalaveis transformam-se com facilidade e
' rapidez muito surreriores ao que aelmitte 0
suhstratum ele conservatorismo q~e reside. no
fundo ela intelligencia de cada um de ns, po_r
'mais liheraes e desroupaclos ele preconceitos
que nos supponha:mos . No Brasil mesmo, quan-
ta clifferen a entre a;s limitadas funces puhli-
c~s que outr'ora se ommettiarrr mais hella
II).etacle.elo genero humano, e aquellas para as
quaes hoj e se lhe reconhece aptido, com ver-
dadeiro proveito ! Seria. insensatez affirmar
que o que hoj e vemos ser sempre o mesmo.
n, pelo contrario, creio hem que, em epocha
mais proxima elo que a preyisia pelos n1ais
CONDIES DO VOTO 75
o~sados, a mulher brasileira ter mais imme-
diata influencia no governo da sociedad~, ter
mesmo, ao principio m certa medda e depois
com a mesma latiWde de ns outros, o exer.:
cicio do direito de' votar e srvotada. Bastaria
'
para inclinar-nos a pensr assim, a observao
do que se passa em todo o mundo civilisado e
especialmente nos Estados-Unidos , onde os
partidarios do movimento feminista tm reali-
sado verdadeiras conqliistas. '
Quanto s differeilas essenciaes que algns
querem enxergar entre o homem e a mulher,
buscando concluir d'ahi . que esta no deve ter .
opinio ,' nem servil-a, de modo algum as acl-
mitto com .essa significao. ' verdade qu a
mulher .bem differente do homem; mas no
menos verdade que no . ha duas cousas eguaes
na natureza e que tambem entre dis inclividu,os
do mesmo se~o ha bem grandes differenas.
Essa disparidade physiologica, porm, no obsta
a que todos os seres humanos formem uma
unidade mQral. Taes preoccupaes so res-
duos da r~sistencia roti~eira .que a tantos esp-
ritos no perrritte ver claro ao longe. J. houv'e
~empo em que se negou a legitimidade da
influencia que as mulheres exercem, hoje. Tempo
DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
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. '
CAPITULO IV
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84 , DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
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' ~
CONDIES DO VOTO ' 85 '
CAPITULO V
Um h o m e m, u":l v o to"
CONDIES DO VOTO 89
que cada accionista possa emittir 'tantos v9tos
quantas aces represente. Apenas, para evitar
absorpo possvel por parte dos grandes accio-
nistas, limitam-se -a uma prudente quantidade
os votos pluraes. Mas no licito applicar -
sempre esphera poltica princpios de ordem
.civil, ainda mais q~and? ; c~mo acontece no
presente caso, a analogia s apparente. Com-
prehende-se que o accionista, que no repre-
senta seno o seu interesse material, possa
influir tamnem materialment~ na medida d'esse '
interesse. Depois, tal interesse, pelo proprio
fact~ de ser material, pde ser d,eterminado
com preciso mathematica, como vemo fa-
zer-se pelo numero de aces possudas, pela
quantidade de papeis de que cada um p,orta-
dor; mas as a'ces da ~o.ciedade poltica, so -.
imp<;>nderaveis, intangveis, invisveis. Com que
fundamento se P?deria determinar com preci-
so a quantidade de interesse bem ente~dido
que cada cidado -toma no conjuncto complexo
de factos mitteriaes e moraes que formam oh- I
jecto da poltica nacional?
Entrtanto, certo que .com ,a ttribuir um
voto a c_a da_eleitor no se attenta de modo al-
gum contra a profunda diversidade entre todas
90 DEMOCRACIA REPRESENT~TIVA
'I
'I
\
CAPITULO VI
f
_sua. Quanto liberdade que se pre'tnde favo- ,
recer com o votp fecl_1ado, no vejo que eHa,.
1 tenha evitado o espectaculo que todos ns CR-
i nhecemos .ela arregimentao de rebanhos
' eleitoraes, desfilando p1,1blicamente diante elo
r chefe, on do _seu caixeiro de el.ei9es, de quem
6
98 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
'
sentativo, entre ellas a desRotica e a positivista.
M~inda para os . que~ acce.itam a instituio
do voto, pode chegar uma occasio em que a
absteno das urnas seja o meio mais eloquente
de manifestar-se . Os patriotas mais eminentes
que nos aponta a historia tm quasi todos uma
vez ou outra usado d'esse meio .
Tem~s~ procurado equiparar. a obrigato:6e-
da,de elo voto a utras coeres exercidas pelo
Estado e hoje quasi universalmente aceeitas,
'como a elo ensino primaria. Sou' tambem parti-
daria elo ensino primaria obrigatorio, mas n<;>
~vejo .nelle _analogia: alguma. com o voto obriga-
gatrio. Em primeiro logar; a oeroparaoen-
sino no se exerce sobre quem eleve aprender,
mas sobre o seu 'pai, tutor, ou curador; em
quantp que o obrigado ao voto o proprio v o
tante. D\'lpois, o Estado .no obriga propria
mente pessoa algm;na a aprender; obriga apena
os responsaveis pelos menores a no privai-o
' elo beneficio ela escola. Finalmente, a obrigato
rieclacle , no caso elo ;nsino, materialmente
perfeitamente realisavel, sendo sempre possiv
_coagir os . pais, tutores ou cu.raclores rebeldes,
. ainda arrebatar-lhe~ o menor de cuja felicidad
no cur~n, ao passo que a obrigao ele v.ota
CONDI<;:ES DO VOTO 99'
.I
obriga>rredade vexatoria e contraproducente.
Mostrarei em outro capit:ulo que o que mais
provoca a absteno falta de confiana que
tem o povo na verdade e na prO:ficuidade da elei-
, assim~ que o melhor remeclio est em
conseguir que o povo comprehenda que no
perder o seu tempo em acudir s u~nas. Uma
das primeiras condies para a obteno d' esse
resultado, veremos ,e nto que est no estabeleci-
mento e observancia de uma lei de eleies bem
distihcta de tucl~ o que temos tido at_hoje. _
. ,,
CAPITULO VII .
-
lar, baseada no dinheiro, na caudilhagem da
fora, ou na que _h..~ngeia o facil espirito das
turbf!,s e a~ a~nu~; a preoccupao de segu-
rar os vacillantes, de contentar os pretenciosos,
de soprar a tola vaidade dos fatuos. Eu e.!],)> em
j:nenino, quando t:vemos no Brasil a eleio
fm.direct!i mas a memoria fr~uadra
CONDIE S DO VOTO 105
feliz conserva bem gravados os nomes propri~s
dos cidados da terra natal a quem de orai.:.
nario os partidos conferiam a honra de fazer
p~rte do eleitorado: quanto figurfio incapaz de
fazer a mais escassa ideia do valor dos candida-
tos e do merito das opinies! q1.1anto ap:uro erp.
satisfazer vaidade .das. infiuencias reaes !
quam pouca atteno ,aos verdadeiros dotes de
intelligencia, de bom senso e at mesmo de,,
honra! Seria tudo, mesmo alguma cousa berp.
visinha de comedia; s no era o "que pretendia
o espirito da lei - uma prudente depurao da
massa popular.
O illustre Jos de Alencar no seu livro r>ri-.
'-- r
--
dume ppular. A multido mais facil de
engodar do que um cor~trado. Resurge
aqui o vicio cl dar como admittido precisa-
mente o que e.s t em debate. Nem ha multfd[o
em um caso, ilem tal corpo.illustrado no outro. ,
E' ainda oPro sr_mptoma da concepo ar.b i-
traria gm. da sociedade parecia s vezes ter_
este eminente escriptor o simile qU'e estabelece , .
/ '.
i06 DEMOCRACIA REP R ESENTATIVA
---
mas profup.da no seu alcance e intima signifi.-
-
reside n.Q_povo -
. cao : A fora iniCial do organismo -poltico
; o primeiro movimento deve
arrancar d'elle. ,A eieio indir.ecta manda que
. o povo commetta a outr'em a funco que a na-
' tureza lhe assignala. A titulo de uma purificao
que no est nos recursos legaes obter-se; ella
s consegue eliminar virtualmente o povo.~e~
pre que eu mando-fazer algo por .,.{enho-
me eximido de fazer e, se, alm d'isso, dei_xei a
quem agiu em meu logar livre deliberao
sobre o objecto, a minha nullificao a tal.
respeito completa. I-Ia, pois, -no principio
da elei.o indi!]_cta, um fa~sea~1e~u ~eg~
J o eV1dente .lli: de~ o cr.am.a. E tanto assim e,
--'- que na practica ' o principio democratico
reage ~ontra a lei, :imllificando-a, onde quer
que se pratique eleio .com alguma con-
sciencia popular: A eleiQ elo presidente dos
Estados-Unidos cTe: e se;.jnclirecta ; mas, .antes
da designao pel povo elos eleitores elo seg!ln-
do grau, as convenes dos partidos designam
)
os cndida~os presiclencia; o povo, pot:, ~nfere
aos eleitores l~ vercla~a m ~- img;ra-
ti~'2.z.._n~ganclo-lhes por esse modo o arbitrw ela
CONDIEs- DO VOTO 109
escolha e tornando- effectivamente directa .a / J
eleico. Quando se deicre a. eleio pri~ia J I f'
s~-;;~be quem 'ser. o_ presidente . : os ele~tores
secundarias tornam-se uma superfetao. O caso
egual na Republica Argentina e em muitas
outras p_artes . Na eleio -de dois g~aus s duas
hypotheses p0dem suppor-se quanto s relaes
entre o povo e os eleitores_do segundo grau: ~u
. estes reprsentam a -von~ade d'aquelle, ou no a
representam ; no primeiro caso so uma inutili-
dade, no segundo uma injustia . I!;' preciso que
todo o pov apparea, que se manifeste neste
movimento inicial, no pela escolha dos homens
bons de cada 1ocaliclacl.e (questo clirectamente
indifferente clemocr~ci~) , mjls pela seleco
das opinies e elos seus titulares. Esse o pro-
cesso de avaliao ela mdiaelo pensamento na-
cional. Sero trazidos a operar muitos incapazes
e inconscientes; mas, al~m ele que . uma justa
compensa h a ele ~roporcionalidacle
COID C}Ue ser~ribuidos pelas cliy.ersas cor-
---
~~a:ureza do voto, no ser
facil explicar como, tendo elle or fi~ consti-
~ ,.,..,.,... ,.. ..........~~ ..,..-.. ~ _.. -.~~
tuir uma delega~o, seja por sua vez uma dele-
.
-
vencer por poucos votos nos. collegios que deve-
rem dar muitos eleitores e pe~der por muitos nos
collegios que deverem dar pou~os . Tambem ha
de dar-se egual contrasenso ganhando o mesmo
partido pr poucos votos em pouco mais de
metade dos collegios e perdendo por muitos
nos outros. Qualquer esforo de meditao ff),r
ver que, nes'ses casos, quem teve menos votantes
fez mais eleitores. Factos eguaes tm sido mui-
tas vezes repticlos ; ms um elos que mais fize-
ram clamar, pela evidencia do escartdalo, foi o
que patentou a eleio presidencial dos Estados-
Unidos em 1876 . I-la uma voz universal de q~e
M. Hayes foi eleito pela fraude. No sei at que
poncto haver razo para af:firmal-o, em rela-
o aos escrupulcis observados nas operaes
eleitoraes; mas que a opinio publica, a maioria
elo povo foi: fraudada pela 'lei cousa que se
conclue ele um simples golpe de vista aos nu-
meros. Votaram pelo candidato republicano
'112 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
-
coFrer sangue.
O systema indirecto complica e demora o
processo eleitoral. Entretanto,' como adiante
mostrarei,. este processo deve ser o mais simples
e expedito de quantos exige a ac_tividade do
organismo poltico. Quem diz eleio in~lirecta
diz logo duas eleies, em vez de uma, traba-
lho pelo menos dobra~o. Tal duplicao de tra-
balho vem ainda offender os habitos e ndole do
povo. Este fatiga-se promptamente com ass-
duas sollicitlies agitao eleitoral. Deve
haver na concurrencia popular muito de refle- -
xo e inteno pat~iotica, mas inevitavel que
haja tambem um pouco de affan pelo rudo da . I
lucta, ardor pela victoria, interesse pela soluo
das incertezas do pleito, phenomenos emocio-
naes, ell,lfiin, que devem desapparecer com a
saciedade, sendo substitudos pelo tedio, que
a consequencia obrigada do q,buso das sensaes.
S com fazer directa a -(lleio j se poupa
soberania nacional metade da despeza de fluido
nervoso, que no -ser tudo na sua actividade,
-<
1 '
'
,..,-{14
/
DEMOCRACIA REPRESENTAriVA
' '
CAPITULO VIII
Mandato in:tperativo
1
. A Republica Federal, Rio de Janeiro, 1881.
7.
fi8 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
----
dos por l!.ero luxo 2 mas como instrumeQto le
correco das opinies individuaes e _apill'f~-
---~-~ '" . - I
,,,
-.1
' /
LIVRO Ill'
A representao verdadeira
CAPITULO I
j
excluso. d~s outras . No r~ro d_~e ~ es~ o q~e
as constltme~ que a lei ordinar1a
- que se fizer para'. regu_lar o processo eleitoral ha
de respeitar o direito que "tm as minorias a
serem rep.resentaclas; vein no dia seguinte a tal
lei ordin"ria, : , ou 1olhe abertamente a repre-
sentao das minorias, ou, creando artificios
manhosos, facilita maioria fazer unanimidade.
,ste o_ nosso . caso, : a Constitio da Repu-
blica, no artigo 28 diz : << A representao, ela
minoria (devia dizer- elas minorias)_ ser garan-
tida )>; !:lntretanto, a ~ei que se fez em virtude da
I'
A REPRESENTAO VERDADEIRA 131
; 1
. '
-
cidas infelizmente na ' nossa Ainerica, o fran-
queamento da representao nacional a todas
as vozes. O que faz revo1ues o desespero.
Partido' que ti~ g~rantiia a:;alvula da repre-
sentao difficilmente planejar, rebellies. Se
as maiorias sempre observassem o que P,o seu
interesse bem entendido, longe de embaraar,
proporcionariam lealmente a representao das
minorias .
Ainda encarand? o assumptosob o poncto, de
vista mais elevado do destino dos varios orgams
da evoluo nacional, a maioria deve compre-
hender que uma opposi9o uma necessidade', .
pde se dizer physica, das assembleias delibera-
tivas, como a resistencia, como o po~cto de \
,apoio na harmonia do planet~. l Toda funco (I
tende a cr~ seu orgam proprw : se a funco
de_opposio no encontrar no Parlamento _o li
seu orgam proprio, ella surgir amanh do f '
134 DEMOCRAC~A REPRESENTATIVA
I
possivel, e pde::se mesmo dizer - inevitavel
q~e a~ sejam feitas pelo~ repr.esentantes ela '
mmor1a do povo. E ' hemfaxnl verifiGal-o. Onde
........... _...J
-,I. I
,,
8.
CAPITULO 11
u
CAPITULO IV
.
Facilitando-se a representao a todas as
I
opinie~, ning-uem ter mais necessidade de
forma r sem enthusiasme>, ou sem convico,
i
I
em partido cvjo prog-ramma integ-ro lhe no
t mer~a inteira approvao . . Em tal systema, a
ideia 1'\ervida pelo numero mais mdesto de
adherentes p de trabalhar com f seg-ura de que
amanh estar directa e leg-almente influindo
no organismo social. No poder deixar de
levantar-se o _valor moral do idado om a
consciencia d'essa esperanya. no poder
deixar de melhorar a ce>mposio dos partidos,
que ho de g-anhar em coheso e unidade o que
perderem em franco-atiradore~.
A preoccupao contra a existeneia de varios
partidos pde classificar-se entre os muitos res-
duos do pensamento antig-~ a que eu chamaria
- medo liberdade. A existencia de varios
partidos pode no ser' e na mioria dos casos
no , symptomg, de anarchia. Nem' devem -
f50 DEMOCRAC}A REPRESENTATIVA
Vantagens da representao
das opinies no funccionamento
do congresso
'.
. '
i5(,} ; DEMOCRACIA ~EPRESENTATIVA
' '
. \'
CAPITULO VI
Criter-io da pr:opor~ionalidade da
r~iJpreseritao .
-
A REPRESENTAO VERDADEIRA i69
es de nina exigencia vital. A maioria pre~isa
de ter coheso. de princpios, mas, tanto .como
isso, tem necessidade d_e nume~o. ~e a maioria
for apenas de algumas cabeas, 'ter de preoc-
cun.ar-se mais,.com a prp!'ia conservao do
que com o desmpenho das fuces que lhe
correspondem. Uma parede dos adversarios
pde negar-lhe quorum para deliberar. O
abandono de alguns amigos pde tirar-lhe a
propria existencia. Um.a maioria debil sempre
visinha ela corrupo : primeiro, no tomando
resolutamente a..iniciativa de realisar as suas
opinies; depois, agradando aos seus, para ~e
a no ~bandonm, e attrahindo os outros, para
que a venham engrossar . Quando as maiorias
so fortes, a:s proprias dissidencias que_d'ellas se -
desprendem tm explicao mais legitima :
devem have~-o feito por lguma .questo de prin-
cipias, desde que aba~donaram as ommodi-
dades do poder peJa situao difficil da oppo-
sio; no assim quando ellas so fracas, pois,
ento, qualque.r grupo de descontente~, na cer-
teza de dar-lhes mor~te com a sua retirada, foge-
. lhes na primeira 'occasio rem que no v satis-
' feitas suas indebitas eXigencias, Ficam tambem-
sem objecto, em presena de .uma numerosa ..
10
1'70 DEMCRACIA REPRJllSENTATIV
'f
10.
LIVHO IV
'na eleio
CAPITULO I
..
DA ELEIO 181
,-
186 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
processo e representa-o
. s
......_. opi'nies. Os seus
defeitos, porm, ~o ~uito consicleraveis. Por
tal modo, a eleio seria verdadeiro azar. Qual-
quer disperso . na votao ela mai'oria real
poderia dar-lhe derrota,-u deblital-a a pondo .
-
de no poder viver. Os nomes muito populares
teriam pletliora de votos, emquarito outras can-:
(!idaturas ela mesma parcialidade sossobrariam
se~ remisso. Em uma palavra, estaria garan-
tid a representao de toda opinio que tivesse.
obtido o _T:;9ciente eleitoral a, par da eleio de
muitos c;mdidatos que o no tivessem; mas _
ficaria em grande perigo a verdadeira repre-
sentao. .
Este um dos systemas viciados pela preoc-
cupao de favorecer s minorias, sem impor-
- - >
.'
j
DA ELEIO 193
a de que se triwta. Vejamos agora o _que
o voto transferivel. -.
Eis o arcabouo do systema : O paiz deve for-
mar um circulo uni co ; cada eleitor vota em tan-
tos nomes quantos os l~es a preencher; para
que um candi<lato se considere eleito preciso
que obtenha o quociente resultante da diviso
do numero de votantes pelo de logares a prover;
.em cada lista, porm, s se conta um nome,-t i
o primeiro inscripto; se esse no alcana o quo-
ciente, ou se o excede, os votos que obtiver ou
que lhe sobrarem, passam ao segundo, e assim
por diante, at esgtarem-se as listas; isto feito,
se no estiverem designados todos os represen-
tantes, como de esperar~ os votos sobrantes
sero adjudicados aos cLndidatos mais votados
de qualquer lista, o que far com- que a eleio
fique sempre terminada em um s escrutinio.
Dois objectos esSenciaes tiveram em vista os
srs. Hare e Audrre : dar represento propor-
cional a todas as opinies e garantir a cada uma
d'ellas os suffragios dos seus sequazes, e por
isso que transfere-se succ.essivamente para os
outros nomes da mesma lista o voto que no
aproveitou ao anteriormente inscripto nella.
" No se p de negar que essas duas cousas seriam
. I
194 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
I~
DA ELEIO 195
t Q'-1anto ao primeiro, sempre ho de s9brar
alguns votos incominodos que ~ nenhum dos
candidatos que ganharam o quociente se diri-
giam; attribuil-os aos mais votados dos 'que no
foram eleitos romper com o .principio de que
devem ser garantidos opinio que suffragaram;
concedel-:os,. como prope um intelligente es-
criptor argen~ino, o sr. Luiz Va~ela, a um par- .
tido convencio1_1al a que ell) chama dos irJ,de~
pendentes, ser ~ortar o n gordio, mas . no
desatal-o, porque o tal partido dos l.ndepen-
dentes seria, p~imeiro, uma contrdico com
os proprios termos, depois uma creao arbi-
traria, anti~scientifi.ca e injustf!,. Pelo que res-
peita ideia da exacta proporo, ja mostrei
que ella mathematicamente irrealisavel, como
regra. E' uma preoccupao. platonica de poli-
ticos opposi.cionistas de indole ou de profisso,
que foi recolhida por escriptores imparciaes
sem maior exame. A proporcionalidade deve in-
teressar-nos, mas no a devemos ter cono ideia
fixa e condio sine qua non. O meu systema,
como se vai ver, respeita-a quanto possivl,
mas, ao passo que para Mr. Hare e seus susten-
tadores 'ella o eixo de-toda a concepo, para
mim o objecto essencial dl.).plo : a lei deve
196 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
I.
198 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
203
.
DA ELEIO
'
nem os erros da propria maioria pciderao falsear _ .
substancialmente o resuitado da eleio, fazendo .
com que o paiz seja governado por minorias.
S um caso se pde supp~r, em que isto succe-
deria, e o caso de dispersarem-se as fora~ da
maioria no. primeiro e no egundo turno de..-tal
modo que, nem Jllesmo neste ultimo, fossem
superiores s da mais forte das min..or~as ou s
de todas ellas cotligadas; mas, ento; tratar-
se-ia de um partido _por tal frma anarchisado,
que seria inapa~ de gove~nar e que melhor
era que desapparecysse desde lc;>go na prova
eleitoral. P01~ ultimo, mas no como o fa~to
menos importante, insistirei em que todos os .
votos desperdiados no primeiro turno sendo
aproveitados pt:lla maioria no segundo , nesse
reforo tem .ella, no s uma garantia -mais
contra os azares do numero, como seguro ele..:
mento de confiana, que a dispensar ae pensar '
em faz"er tricas, sophismas, ou violencias, para
avolumar-se. E' certo que a occc_tsio faz o lt;t-
d1o e tambem que a necessidade entra. por
muito. Assim coll! ha homens b.ons, s porque
nunca tiveram occasio, nem necessidade t.de
fazer mal, tambem a~s partid~s -~abio. pol-os
ao abrigo da contingencia . de ~ to perigosa
204 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
Intensidade de opinio,
lrnportancia do destino;
corno vou explicar j em duas palavras :Um dos -
partidos da minoria pdde fazer tantos represen-
tantes quantas vezes contiver o quooiente - e
ahi se d atteno q~wntz'dade de sectarios; o
mesmo partido perder alguns dos logare-s que
podia conquistar; ou mesmo todos .elles, se tiver
frouxa disciplina e dispersar os seus votos;. a:~
sirn como obter o maximo da representao _
que lhe correspondia, se estiver fortemente
agrupado pela fora centrpeta 9-e uma ideia,
que domine os appetites dispersivos dos ses
membros - e tudo isto ser fructo da maior
ou menor z'ntensidade de opinio que revelar
esse partido ; finalmente, a maioria real do elei-
torado, alm de tantos representantes quantas
vezes mostrar possur o quocie.nte, (!,inda ter
mais os que coTresp.o nderem aos votos extra-
viados no primeiro turno por ella propria e
pelas varias minorias, - e tal vantagem lhe
dada pela considerao da importancia do seu
destino, que 'tomar a responsabilidade .d a
actividade legislativa e cooperar na do ramo -
executiv? do poder,
O valor cl'este systerna provm de que elle
12.
'210 DEMOCRACIA REPRESENTATIV-A
I
213
compo'sta representaria a nwiorza de cada lo-
calidade, o que pode ser hem differente de repre-
sentar a opinio nacional.
Ao formular o meu projecto de lei, cedendo
ao imperio d'essas ideias, eu inclinava-me a pro-
pr que se fizesse elo Brasil um circulo unico.
Parece e realmente injusto que, todos os re-
presentantes podend9 decidir dos negocios de
todos os Estados da Unio, no seja licito ao elei-
tor habitante de qualquer poncto do territorio
nacional dar ou negar o seu assentimento no-
meao ele qualquer d'elles . Deteve-me, porm,
a considerao da vastssima extenso elo nosso .
.grande paiz. Preferi a representao por Esta.:
elos, no sem comprehender que esta concessq
a unica jaa que a meus olhos Jpingua um
pouco o merito do plano. A lealdade manda
confessar que no impossvel o caso de no
coincidir a maioria dos Estados com a maioria
do povo. Felizmente a probabilidade hem re:.
mota e so muitos 'os contrapesos. Em todo
caso, tal defeito accompanhar qualquer outro
projecto que se proponha para o Brasil; ppis
no de esperar que jamais se estabelea uni-
dade de collegio neste incommensuravel colosso,
cujas provncias, federadas por um vinculo mais
214 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
DA ELI<JIO 221
m,onstrado no capitulo m que passei ligeira
reVista aos principaes planos de eleio, que a
diviso por districtos pde falsear _a maioria
nacional, mesmo independente de fraude do-s
partidos. Viu-se alli que o partido que vencer'-
na maioria. dos circulos p de no haver conse~ ,
g-uido a maioria do eleitorado, e esse defeito
evidenciar-se- tanto quanto fr minguando a
representao attribuida a cada districto,
podendo o viciochegar ao extremo de produZir
.nos clistridos de um s representante maioria
eleita pela tera parte do eleitorado. No ha,
pois, raz para os que se preoccupam com a
hypothese da frau_de repellirein o collegio .
grande. No pequ~no ella -, pelo ~enos, to
facil, mais effice~te e, o que peior, pde vir
por exclusiva influencia ele lei.
J disse pcir que razo tive de submetter-me,
no projecto .que apresentei Camara dos depu-
tados, a acceitar a diviso por Estados, ou pro-
vincias. Mas dentro dos Estados, para a eleio
das suas assembleias legislativas, no me parece
que possa offerecer cliffimildacle alguma a appli- _
cao inteira do systema. Entretanto, respei-
tando escrupulos ele quem pensasse ele modo
contrario, eu no me opporia a que os Estados
222 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
de
- maiore~ e zonas mais ou menos ~ivergentes,
no sentido de terem difficuldade para entrar em
accordo sobre a respectiva representao, como
poderim ser os de Mins, Bahia e So Paulo,
se repartissem em circumscripes relativamente
- grandes, podendo .dar cada uma dez ou quinze
representantes. Alg~ns d 'esses .Estados brasileiros
encerram territoro e populao mui extensos.
O d Minas conta j cerca de quatrp milhes. ele
habitantes. Os de So Paulo, .Bahia e outros
encaminham -se para egual prsperidade. Assim
que, mesmo divididos para .os fins eleitoraes,
ainda ficaria margem para a representao
. proporcional. Entretanto, estou seguro de que
.- taes limitaes desapparecero em breve : a pra-
ctica .do systema, a lico da experiencia mos-
traro logo que hem d!spensaveJ essa conces-
- so rotina.
- /
CAPITULO IV
r rectos o comparecimento - do
239
ma.i or numero de
J cidados ao local da eleio. Quantos no ficam
em casa por mera .falta de ' estimulo! Quantos
no so indiferentes s porque nunca tiveram
occasio de attricto -com os seus concidados,
que despertasse a vitalidade de .sl!as bpinies! .
Dizia ha pouco que tudo quanto o homem faz
em virtude de motivos, e grandes aces podem
ser motivadas por causas insignificantes. Se no,
vejamos o que pde occorrer no caso que nos
occupa : a considerao ele evitar o imposto,
ou ele paga r menos imposto, leva o eleitor a
encontrar-se com os seus pares no sitio em que
deve realisa r-se a eleio ; alli, uma conversa-
o orclinaria resvala facilmente para o assum-
pto elo _dia.e transforma-se em debate sobre o
merito elas opinies e elos seus sust~D.taclores;
em muitos accordar o ardor latente que havia
de jazer adormecido,' emquanto estas circum- -
stancias l.o tivessem logar. A lei no tem .o
dom de reformar os costumes, mas pode crear
motivos que provoquem as aces dos h~mens
em determinado sentido .
CA_PITULO VI
-
Da fraude e de como pde ser
prevenida
I'
DA ELEIO - 257
nadores. Mas, a renovao parcial ser to :qe-
cessana, ou mesmo conveniente - que no
deva ser sacrificada considerao da propor-
cionalidade ? Resolvo pela ngativa. Penso
mesmo que, ainda deixando de parte a ideia
da proporcionalidade na representao das opi-
nies, nenhum corpo legislativo deve ser reno-
vado por partes, e muito menos tractan-do-se de
um rntndato de ~o longa durao, como q
dos nossos senador-es. Raro ser que em nove
annos a ~pinio tenha deixado de soffrer algu-
ma alte~a9o formal, ou substancial. Eleitos
por todo o Estado e cada um pr sua ve~, .
presume-se que os senadores representaro
sempre a maioria do tprande circulo que os en-
viou. Ora, coma renova~nal, sendo muito
possivel que em cada eleio tenha preponderado
uma opinio differente, teremos o absurdo ele
tres maiorias em cado Estado. A ninguem ~s
capa a situao'falsa em que ficaro collocados
os senadores mais antigos, que virtualm-ente
estaro desauctorisados pela voz das.urnas. E-
o que se d a respeito de um senador -pde
verificar-se quanto aomaiornu~ero, desde.qu.e
-um determinado .partido nacional, a:t ento em
minoria, tiver revelado na ultima prova eleitoral
-.
258 DEMOCRACI,O.. REPR:ESENT:A.TIVA
-
exclusivamente de chefes de partido. Esta obser-
vao, ajudaQ.a pela preoccupao democratica
elos republicanos historicos e plos resaibos de
imperialismo dos n~ aclherentes. (no Imperio
os senadores eram eleitos por provncia epelo ~
260 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
l
tido do poder, no prgar a sua f parti daria
.. e menos servir os seus eorreligionarisCom o
prestigio moral e os 'meios materiaes elo go-
. verno ; , para dizer tudo em uma palavra,
_ distrih~stia, obra impessoal e jndepe~
. dente d~ esprito de partido. ~ confia ao
arbtrio popu~nomeao dos juizes, nem
a dos es;pecialistas dos varios ramos dos ser-
. vios puhlicos ; menos se lhe deve reconhecer
competencia para eleger o magistrado elos ma-
gistrados, o chefe de tclos o servios, o admi-
nistrador supremo da cousa publica. Nem se
confunda um eleitorado em que estej'am mais
ou menos representados todos os partidos com
um congresso legislativo nas mesmas condi-
es : o cnngresso, operando como tal, uin
organismo completo, discute e delibera ao in-
'fluxo ele todos os orgams que o constituem; ao
psso que.- da propria natureza elo eleitorado
DA ELEIO 265
popular que os seus movimentos sejam os _d e um
ser_inarticulado, que ha de manisfestar-se por
sim ou por no, pela unica, razo da pr~- _
ponderancia numerica, seja esta . de um par-
tido homgeneo, ou de uma coaliso : . No
preciso esclarecer que nie refiro aos eleitorado.S
que forem chamados a resolver uma dada.
questo, como, por exemplo, a nomeao de
funccionarios, e no ~os que tm de eleger re-:-
presentantes das opinies.
O sentimento intenso d'esta verdade levou -
certa escola poltica, p1ais respeitavel pelo fer-
vor dos seus adeptos do que pel,a pract.icabili-
dade das solues que offerece, a propr que a _.
designao do chefe do Estado fosse arrebatad
I
ao povo, para ser entregue ao alvedrio .singu-
lar: cada presidente _da Itepublica designa!'ia o
seu successqr. Isto, porm, seria escapar da-ty-
rannia anonyma elas massas, para cahir no
clespotism~ imipessoal, em.b ora com a melhor
elas intenes. Se inompativel com a natu-
reza elo suffragio popular a se ri e ele concles.
exigidas para reflectir e resolver sobre a nome a-: :
o elo funccionario el~vaclo chamado presi-
, dente ela: RepubJ.ica, tambem inseparavel ela . -.
natureza .humana a tendencia para o exclusi- "
.,
266 DE!IfOCRACIA REPRESENTATIVA
f
crise peculiar s. deniocracias : A commoo _
eleitoral, que deveria perturbar a: nao-intei-
ria, - por esse modo circunscripta a um campo
resumido, mas ao mesmo tempo to culminante,
- 270 DE:!viOCRACIA REPRESENTATIVA
' ..
DA , ELEIO 271
paiz, em analogas cir_cuinstancias, tendo-se de_
appellar pra o suffragio ~niversal em meio de
uma_crise aguda. ""
O suffragio_popular, arr~batando-se mais por
emoes do que deix~ndo-s~ levar por conside-
raeE! de bem entendida utilidade, J:ta de
levantar sempre um nome de guerra, o de um
chefe partidario que tenha sabido qeslum-
brar as turbas e formar uma roda de admira-
dores intelligentes_, qu Q de alguma nullidade
a quem esse caudilho ponha por diante, -para
que elle possa a seu gosto fazer o papel de lorcl
protector 1, A eleio pelas_camaras, com seu
salutar esprito de reflexo, conciliao e trans-
igencia, deu Frana os quatro 2 presl entes ~
da terceira Republica, recrutados, verdade,
ctada
,
nestB
I .
ultimo capitulo, 'sem. grande desen-
vo!vimento, porgue, de.eois 9e t~do o que tem
sido dicto torna-se, em sua maior parte , as- .
sumpto puramnte axiomatico.
~m duas occasies pde soffrer attentado o
direito de votar : - na de ser reconhecida a
capacidade do cidado e na de pl-a em exerci-
cio, isto , na' occasi<J de adquirir o titulo,de .
eleitor e na occasio de votar. Considerarei cada
urna d'estas hypothses 'p or sua 'vez .
J ficou estabelecido que o direito de votar
pertElnce a todos os cidados. O corollario mais
immediato que flue -d'esse asserto, que--: as
limitaes que se-estabelecerem 'na practica se-
ro puras excepes da regra.A regra que -
quem tem um direito, possua o respectivo exer-
ccio e, pois, qrre o idado possa exercer o seu
direito de voto, do mesmo modo que a regra
que o homem tenha o exerccio dos seus dire.itps
indviduaes . Estas ideias pdem condensar-se
no seguinte aphorsmo : Quem nasce cidado
nasce eleitor.
Continuemos o raciocnio e vejamos as suas
consequencias -no direito positivo. Quando o
homem attinge a edade da emancipao, o juiz
lhe defere por sentena uma carta que o habi-
DA ELEIQ 277
lita ao exercicio -dos direitos individuaes, que
sempre teve, mas de que no podia usar .clire-
ctamente antes de haver satisfeito s condies
l)aturaes marcadas na lei; quando o cidado
inteirar a eclacle prescripta para poder exercer
o direito ele voto, deve elo m-esmo modo ser-lhe
outorgado um titulo que lhe reconhea a eman-
cipao poltica. Ao emancipando civil no se
pede somente a prova. da idade, mas tambem
outros elementos de capacida,de; igualmente o,
regimem eleitoral estatue outros requisitosalm
da maioridade cvica. Satisfeitas, porm, taes _
exigencias, -a li deve dar' em um como em outro-
caso, um titulo de habilitao perman,ente:
Nada mais absurdo, nem mais perigoso para
a garantia da liberdade poltica do que o syste-
ma quasi universalmente usado ela refuso pe-
riodica dos registros de eleitores. De tempos em
tempos, quasi sempre ele anno em anno, decla- _
ra-se prescripto o direito de exercer o voto, que
se reconheia nos -cidados; . uma junta mf1s
ou menos escrupulosa se forma e passa a distri-
buir de novo a capacidade eleitora~. Nessa op-
rao deposita-se quasi sempre o rastilho da
mixtura de fraude e violencia que vai fazer
explos,- mais tarde, nos termos finae.s da elei-
16
278 DEMOCRACIA JlEPRESENTA'fiVA~
-,_
DA ELEIO 283
que no poderemos tamb~m enviar o vot -a~ c
.nosso candidato atnvez de um procurad0r, com
as garantias de veracidade que a magnitude
do objecto reclama?
A frma propost~ de reconhecimento da ca-:
pacidade eleitora"!, dispensa as qua?ifies,
no sentid'o em que as comprehende,rnos e pra-
cticamos actualmente; mas deve sempre haver
uma lista para a chamad- dos votri.tes, afim de _
evitar atropello . A lista deve ser to.mada elos li-
vros elos. notarios que houverem assentado as
sentenas de reconheciment_o da capaiclade ci-
. vica e nell~ eleve dominar a ordem de antigui-
dade elos eleitores. N .preciso esclareer que
. o eleitor que por qualq11er motivo-no estiver na
lista, nem por isso dever ser privado ele vo~
~f- .
Resta-me dizer da segunda occasio em que
pde soffrer offensa o' direito ele votar : esta a
da emisso elo voto. Muito pouco terei ele accre-
scentar s icleias conhecidas.
Par-a que o cidado vote com segurana e
tranqui!Jiclacle ~-' antes . ele tud9,, iecessario que
o elemento official esteja espiritual e material~ .,
!)lente au~ente dos actos da eleio: Pelo lado
material, quasi todas as legislaes .reconhecem
284 " DEMOCRACIA REPRESNTATIV
FIM
"
_.
.,.
APPE,NDICE
' .
I
Eleio presidencial
Eis aqui um resumo da frma adaptada pelas varias.
Republicas existentes .para a de~ig11ao dos chefes
do Estado. (Nos casos em que no pude dispr da
mais moderna constituio poltica de algmha das
Republicas, vali-me da obra de :!,: Charbonnier : C!.!fJjt-) ,./
nisation lectorale, etc ., edio de 1883~.e da do Sr. Aro- t;-
'zem~Estuws cons~itttcwnals;"'etc., edio de 1888. _
E' possvel que alguma modificao se haj a operado
d'essas datas para c em paizes de to instavel organi-
sao, como em sua maioria so as actuaes Republicas).
~:__E' governada por um syndico e or um
cons elho Itl~o ue elegtaqJJ.eJ!g_g_p.e,.com~
poe e 2~ membios,. eleitos a razo de ~ por cada uma
das paro chias da Republica, pelo perodo d e~ annos e
reelegiveis. Destes 24, servem no conselho 12 cada
2 annos, emquanto os outros 12 administram as p.aro-
chias respectivas, na razo de 2 para cada uma. O
syndico deve ser extranho ao Illustre Conselho e pre-
~ ----
side a el!e, sem voto. H a mais dois Vigarios; um nomea@
pela Frana, outro ' p lo b_r sp ~ hesP,_anlfol d Urg.el,
_......
P ?.t~ncias ~ a ReJ2 ublic-"reconh.ee antis-a suzfu.
rania. Os vigarios tm apenas iWl.p.e.c._.o ~~Re ri ocwg...
288 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
.'
APPENDICE
"
297
presena da representao de dois teros dos Estados
Se ainda houver empate, -resolve-se pela sorte. Ha
dois vice-presidentes, chamados supplentes, nomeados
annualmente pelo Congresso. Havendo vaga presiden-
cial nos dois ultimos annos do periodo; os supplentes
assumem o poder na ordem da sua numerao. Se a
vaga der-se na primeira metade do periodo, o supplente '-
smente exerce a presidencia em quanto se faz nova -
eleio regular, a que o Congresso. de-ve mandar pro-
ceder immediatamente.
II
APPENDICE 305
deraes que entel).deu dever ad.duzir na sesso de
hontem, no intuito de justifi'cr a attitude assumida
pela Commisso de Constituio,, Legisla0 e Justia
em face do projecto n. 121,. do Senado, que dispe f?O-~
bre a futura eleio municip'al no Districto Federal.
A lel que regula a matria a lei n. 85, de 21 de
setembro de 1892, que deu organisau ao mesmo
districto; mas, essa lei, dispondo sobre a composio
do conselho, no capitulo das disposies transitarias,
estabeleceu,ipso facto de um modo apenas transitorio
a frma do p.racesso, ficando a legislatura immecliata
(a actual) encarregada de, no seu primeiro anuo ae
sesso, dar uma nova frma ao processo eleitoral.
E' o que vem fazer o projecto do Senado, mas por
um systema que bor.posto do systema do qociente
eleitoral e do systema qe simples pluralidade de vo-
tos, systema este preconisado pelo sr. Assis Brasil.
Em contraposio a esse projecto do Senado, o
Sr. Thomaz Delfino apresentou um substitutivo, esta:~
belecendo como sy-stema eleitoral para as eleies
municipaes o que o Congresso votou para as eleies
federaes e que cop.sta da lei n. 85 de 1892.
A commisso estudou ambos os projectos e escolheu
o substitutivo do Sr. Thomaz Delfino, adaptando
processo determinado naquella lei.
O systema <;lo projecto do Senaqo complicado de-
mais 1. ' -
'
306 D~OCRACIA REPRESENTATIVA
. r
.:.
- APPENDICE 317
serem preferidos candidatos menos votados aos mais
votado-s, no apparece assim patente e com escandalo
aos olhos. do eleitorado 1 Ninguem em consequencia
d'elle poder dizer que pe'rdeu a eleio, que foi' der-:-
rotado, porque teve ma.iS votos q_ue os eleitos, e ainda,
considerao que me parece valiosa e merecedor~:~ de
atteno, a legitimidade das corporaes . no soffrer
contestaes e protestos eternos, .que lhes tirariam por
inteiro a fora moral .e o prestigio, sua primeira sal-
vaguarda 2.
Mas, disse o nobre deputado paulista, se assim
como dizeis, o systema de t.u rnos teii). a vantagem de
reproduzir com a fidelidade de um espelho esse estado
de cousas, apanhand_o todos os agrupamentos
Se o nobre deputado quer ser implacavelmente lo-
gico e conduzir por um encadeamento rectilineo a sua
concluso deve chegar a quer-er que essa repres.enta-
o por migalhas e por esfarelamento das-opinies v
alcanar os grandes descobridores da- sciencia e da
arte, as 'grandes iniciativas-individuaes que, ellas m.is
do que todos os partidos do mundo juntos, tm con-
tribudo para impulsionar no progresso as fiaes e a
humanidade.
..
fra, se n o fica~:em ambas .
18.
318 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
,. ..
, .
PPENDICE 325
de suffragio dispersivo, d plena expanso 'politi-
~~gem. ,CompreheiJder e app1icar os turnos tornar-se-
uma verdadeira especialidale, .um novo baha-
relado, o privilegio de alguns habeis. As minorias sem
convices nem idas, s ellas tero a lucrar na con-..:
fuso e na desordem a q ue o~ votos bem intencionados
e independentes sero levados.
Antes de mais nada o eleitorado precisa saber como
que o voto vai ao seu destino, isto , como que a
sua vontade acatada. S assim a educao eleitoral
do povo .se poder encetar, os partidos receber orga-
nisao e a democracia conseguir _maiores triurriphos
e victorias. '
O systema do Sr. Assis Brasil, repito-o mais. uma
vez, um esforo de pensdor patriota, leal e- enth-"' -~
siasta; mas o processo l:lsual do voto proporcional
limitado, simples, claro, ao alcance de todos, nos , _
habitos das populaes, -lhe prefer~vel. (iltuito bem,
muito bem. O orador cumvrim(mtado.) 1
Parecer do Senado sobre as emendas da 'CamaTa.
L-se no Jornal do Comrriercio :
ELEIO MUNICIPAL
1
lilste discurso tmnscripto da Gzeta de Noticias.
No respondo pelas inconeces que possa conter.
19
32{ -DEMOCRACIA REPRESENTATIVA
r
' r
330
- -
O Senado reso'lver 'em sua sabedoria- .o que llre>pa-
recer mais acertado.
Sala das .Commisses do Senado, 1 d~ Dezembro
de 189ft.- Nogueira Ac~ioly.- Joo Barbdlho : .
. ELEIES MUNICIPAES .
' ( I _:
APPENJ)ICEl
Carta explicativa
Ir .
modo que estou hoje . muito ignorante ae homens . e
factos alheios . .
Com os mais ardentes _votos pela restaurao da sua
preciosa saude, subscrevo-me - . / _
de V. Ex~.
Am 0 , correlis-ionario admo,
J. F. DE Assis B11ASTL.
I'
r\:. rr ~,:~.
',
'
'
... \ . ,,
\,