A Camara Municipal de Pelotas e Seus Vereadores (1863-)
A Camara Municipal de Pelotas e Seus Vereadores (1863-)
A Camara Municipal de Pelotas e Seus Vereadores (1863-)
PORTO ALEGRE
2013
Dúnia dos Santos Nunes
Banca examinadora:
____________________________________________________________________
Prof. Dr. Álvaro Antônio Klafke – UPF
____________________________________________________________________
Profa. Dra. Helen Osório – UFRGS
____________________________________________________________________
Profa. Dra. Martha Daisson Hameister – UFPR
AGRADECIMENTOS
Nas décadas de 1820 e 1830, o Estado imperial brasileiro passou por uma reestruturação
em seu sistema político-administrativo. As Câmaras Municipais, antigos sustentáculos
do império português na América, tiveram suas atribuições alteradas com o intuito de
enfraquecer o poder local e fortalecer o poder que emanava do imperador Dom Pedro I.
No início dos anos 1830, durante o período regencial, o âmbito provincial ganhou
espaço no sistema administrativo, como demonstra a submissão das Câmaras
Municipais ao Conselho Provincial (inicialmente), ao presidente da Província e à
Assembleia Provincial Legislativa. Frente a essa realidade, optamos por estudar a
Câmara Municipal de São Francisco de Paula (atual cidade de Pelotas) com o intuito de
demonstrar como funcionava a Câmara entre 1832 e 1836, além de, através da análise
das relações de compadrio dos vereadores, perceber como se davam os vínculos e como
se sustentava o poder local nessa vila sul-rio-grandense, que rapidamente se desenvolvia
graças ao enriquecimento de famílias ligadas ao comércio de charque. Para tanto, a
presente pesquisa foi realizada a partir da análise das atas das sessões da Câmara entre
1832 e 1836, assim como de registros de batismo da localidade entre 1812 e 1847.
In the 1820s and 1830s, the Brazilian Imperial State went through a restructuring in its
political-administrative system. The Town Councils, old fulcrums of the Portuguese
Empire in America, had their assignements changed in order to weaken the local power
and strengthen the emperor Dom Pedro I’s power. In the early 1830s, during the
Regency period, the provincial scope gained ground in the administrative system, as is
demonstrated by the Town Councils’ submission to the Provincial Council (initially), to
the Province President and to the Legislative Provincial Assembley. Facing this reality,
we chose to study the Town Council of São Francisco de Paula (current city of Pelotas),
in order to demonstrate, by analyzing the town councilors’ compadrazgo relations, how
the Council worked between 1832 and 1836, besides realizing how the bonds were tied
and how the local power was sustained in this Southern riograndense village, which
quickly developed, thanks to the enrichment of the families linked to beef jerky trading.
To do so, this research was conducted by analyzing the Council’s sessions minutes
between 1832 and 1836, as well as the baptismal records of the town between 1812 and
1847.
INTRODUÇÃO 11
CONCLUSÃO 131
Em dezembro do ano 1830 era assinado o decreto imperial que criava a vila de
São Francisco de Paula. Tendo se formado a partir da freguesia que possuía mesma
invocação, a recém-criada vila – denominada Pelotas em 1835 – havia se desenvolvido
rapidamente devido à instalação de charqueadas na região, o que ocorria desde o final
do século XVIII.2 As famílias enriquecidas pelo comércio do charque promoviam o
crescimento do povoado, que rapidamente se urbanizaria, o que por sua vez atraia cada
vez mais investimentos e pessoas. O estabelecimento de uma vila na localidade, além de
uma forma de reconhecimento imperial de seu desenvolvimento e de sua importância
econômica, permitiu à elite local acesso a um novo canal de representação política.
1
A denominação Pelotas foi adotada formalmente apenas em 1835 (quando a vila tornou-se cidade),
sendo anteriormente chamada de (vila) São Francisco de Paula. No entanto, antes dessa data o povoado já
era conhecido por Pelotas, como demonstram alguns documentos. Ao longo do presente trabalho, as
denominações “São Francisco de Paula” e “Pelotas” serão empregadas como sinônimos quando nos
referirmos à vila.
2
Sobre charqueadas no Rio Grande do Sul, ver: CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e
Escravidão no Brasil Meridional. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977; CORSETTI, Berenice. Estudo da
charqueada escravista gaúcha no século XIX. (Dissertação de Mestrado). Instituto de Ciências Humanas
e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, 1983; GUTIERREZ, op. cit; MAESTRI
FILHO, Mário. O escravo no Rio Grande do Sul: A charqueada e a gênese do escravismo gaúcho. Porto
Alegre: EST; Caxias do Sul: EDUCS, 1984; Recentemente, temos os artigos publicados por Jonas
Vargas, que tem se dedicado a pesquisar as famílias charqueadoras; ver: VARGAS, Jonas Moreira. “A
elite charqueadora de Pelotas (1850-1890): notas iniciais de pesquisa.” In: ARS historica, v. 2, pp. 1-20,
2010. Disponível em: <arshistorica.ifcs.ufrj.br/jornadas/IV_jornada/IV_29.pdf>. Acesso em: 14/04/2012;
______. “Os charqueadores de Pelotas, suas estratégias familiares e a transmissão de patrimônio (1830-
1890)”. In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, julho 2011. Disponível
em: <www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1308189449_ARQUIVO_TextoJonasVargas%28
Anpuh-2011%29.pdf.> Acesso em: 14/04/2012.
3
Antônio José Gonçalves Chaves, conhecido charqueador instalado em Pelotas, já havia sido eleito
vereador na vila de Rio Grande, instituição pela qual se tornou membro do Conselho Geral da Província.
BIBLIOTECA PÚBLICA PELOTENSE (BPP). SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da Câmara da
Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1835. Sessão de 05 de maio de 1832.
13
Mas, no caso dos vereadores de Pelotas, que estratégias seriam essas? Como foi
possível aos vereadores manterem-se integrantes da dinâmica interna das relações de
poder sem os atributos que possuíam anteriormente? Richard Graham aponta para uma
das possíveis estratégias utilizadas: aqueles eleitos no pleito local formavam os colégios
eleitorais que, por sua vez, definiam quem ocuparia os cargos disponíveis no Congresso.
Assim, ainda que indiretamente, as eleições locais estavam inseridas no jogo político
imperial.8
Apesar de não abordar a questão das Câmaras Municipais e das elites locais em
seus estudos, José Murilo de Carvalho é um autor indispensável na presente pesquisa,
pois analisa a formação do Estado Imperial brasileiro, concentrando-se nas questões
políticas que permitiram a unificação de todo o território luso-brasileiro sob o domínio
de um governo central. O autor utiliza o termo “construção” ao tratar do processo de
criação de uma “consciência nacional” desenvolvida pela elite política, o que só ocorreu
por volta de 1850. Tratando das estratégias utilizadas para a centralização do novo
Estado, em oposição à descentralização existente no momento, José Murilo de Carvalho
analisa os modelos políticos e administrativos adotados no Brasil – com clara influência
europeia – como tentativa de manter a unidade política.9 Quanto às forças políticas que
exerceram poder durante o período imperial, o autor trata da formação de uma elite
7
LEVI, Giovanni. “Usos da biografia”. In: FERREIRA, M. M.; AMADO, Janaína (orgs.). Usos & abusos
da história oral. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1996, p. 181. Sobre o termo estratégia
e “racionalidade limitada” utilizados por Levi, ver também LIMA, Henrique Espada Rodrigues.
“Questões de escala: Giovanni Levi” In: ______. A micro-história italiana: escalas, indícios e
singularidades. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, p. 225-276; especialmente pp. 261 e 262.
8
GRAHAM, Richard. Clientelismo e política no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,
1997; p. 16-17.
9
CARVALHO, José Murilo de. Pontos e bordados: escritos de história e política. Belo Horizonte:
UFMG, 1998.
15
10
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política imperial e Teatro de Sombras:
a política Imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, pp. 29-30. A análise que o autor faz da
consolidação do Estado Imperial, dando destaque à atuação de uma elite política nacional, altamente
treinada e homogênea, vem sofrido críticas.
11
KIRKENDALL, Andrew J. Class Mates – Male student culture and the making of a political class in
19th century Brazil. Lincoln & London: University of Nebraska Press, 2002.
12
O autor afirma que somente três pessoas naturais da província haviam estudado em Coimbra.
CHAVES, Antônio José Gonçalves. [1822] Memórias ecônomo-políticas sobre a administração pública
do Brasil. Porto Alegre: Companhia União de Seguros Gerais, 1978; p. 87. Contudo, deve-se destacar que
esse número não leva em consideração aqueles nascidos na Colônia do Sacramento e que tiveram suas
famílias instaladas no Rio Grande do Sul.
16
13
VARGAS, Jonas Moreira. Entre a paróquia e a Corte: a elite política do Rio Grande do Sul (1850-
1889). Santa Maria: Ed. UFSM, 2010.
14
LIMA, op. cit.; p. 265. (grifo do autor)
15
LEVI, Giovanni. A herança imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2000; p. 45.
17
Nesse contexto, uma análise das redes de sociabilidade dos vereadores se faz
necessária, pois, conforme Jonas Vargas (que analisa as carreiras políticas de senadores,
deputados provinciais e gerais, durante o Segundo Reinado), a reconstrução de “suas
trajetórias e a tentativa de compreender o seu comportamento social e familiar tem
muito a nos dizer sobre o ‘sistema político imperial’ – este gigante aparentemente tão
conhecido por fora, mas pouco observado por dentro”.17 O período e os cargos
estudados por Vargas diferem dos analisados neste trabalho, contudo, a mesma conexão
16
GRAHAM, Richard. “Clientelismo na cultura política brasileira: Toma lá dá cá.” In: Publicações
Braudel Papers, 15. ed., pp. 1-14, 2003. Disponível em: <http://www.braudel.org.br/paper15.htm>.
Acesso em: 04/10/2010.
17
VARGAS, op. cit.; p. 21.
18
pode ser utilizada para justificar o estudo da Câmara Municipal de Pelotas, uma vez que
pouco se sabe sobre a atuação dos poderes locais (representados pelas Câmaras
Municipais) durante a formação do Estado Imperial Brasileiro. Assim, identificar as
estratégias dos vereadores no momento de realinhamento de forças políticas parece ser
relevante para se compreender o processo de alteração dos mecanismos político-
administrativos durante o governo o período regencial. Para analisar o caso da Câmara
Municipal de São Francisco de Paula deve-se levar em conta – assim como em qualquer
estudo de instituições políticas – a atuação daqueles que a compunham. Quais as
origens sociais dos vereadores? Qual era a base econômica de cada uma deles? Em que
tipo de negócio estavam envolvidos? Quais eram suas redes de sociabilidade? Questões
como essas ajudam a explicar as motivações dos membros da Câmara, por que
tomavam as decisões que tomavam e quais suas estratégias políticas, além de
demonstrar a lógica das alianças internas do grupo.
18
STONE, Lawrence. “Prosopography”, In: ______. The Past and the Present, London & NY,
Routledge; 1987; p. 52.
19
Apesar de tratarmos do Brasil pós-Independência, percebemos aqui a categoria “família” como ela se
organizava no Antigo Regime, e que inclui outros laços de parentesco (como o compadrio) além do
consanguíneo. Durante o império e mesmo no início do período republicano, a família pode ser vista
como uma “quase-corporação”, um sistema onde os indivíduos atuam de acordo com estratégias que
levam em conta a solidariedade do grupo. Essa família constitui-se não apenas através de ligações
consanguíneas e matrimoniais, mas também por meio de “laços imaginários ou rituais”, como o
compadrio, por exemplo. Sobre esse assunto, destacamos a pesquisa de Maria Fernanda Martins, onde a
autora reconstrói as redes sociais dos Conselheiros de Estado do Brasil imperial, e de Linda Lewin
estudou o caso da Paraíba, demonstrando como questões políticas eram definidas por demandas
familiares. LEWIN, Linda. Política e Parentela na Paraíba: um estudo de caso da Oligarquia de base
familiar. Rio de Janeiro: Record, 1993; citações nas pp. 114-115. MARTINS, Maria Fernanda Vieira. A
19
velha arte de governar: um estudo sobre política e elites a partir do conselho de Estado (1842-1889).
Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2007; ______. “Os tempos de mudança: elites, poder e redes
familiares no Brasil, séculos XVIII e XIX”. In: Conquistadores e Negociantes. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2007, pp. 403-434.
20
Por melhor documentada que possa ser a vida de um personagem, sempre haverá aqueles momentos
íntimos que não podem ser registrados. Essa também é uma das críticas feitas por Lawrence Stone ao
emprego da prosopografia e que serve também para os biógrafos. BERTRAND, Michel. De La família a
La red de sociabilidad. Revista Mexicana de Sociologia, vol. 61, n. 2, abr./jun. 1999, pp. 107-135; sobre
o assunto ver pp. 120-121; STONE, op. cit., pp. 52-53.
21
CASTRO, Hebe. “História Social”. In: CARDOSO, Ciro F.; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da
História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997; pp. 45-59, p. 50.
22
Ibid., p. 51.
20
para análises um pouco mais complexas da sociedade. Mas foi na década de 60 que as
raízes da ação política, a estrutura e a mobilidade social tornaram-se preocupações
constantes nos estudos prosopográficos, que passaram a analisar também o
comportamento e as ideias dos grupos sociais.23 Christophe Charle afirma que
23
STONE, op. cit., p. 45.
24
CHARLE, Christophe. “A prosopografia ou biografia coletiva: balanço e perspectivas.” In: HEINZ,
Flávio (org.). Por outra história das elites. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2006, pp. 41-53;
citação na pp. 43-44.
25
“(...) las experiencias de los hombres y mujeres se convierten en el punto de partida y motor para
explicar no sólo procesos de cambio de gran complejidad, sino (...) para proponer nuevas formas de
abordar la historia política.” IMÍZCOZ, José Maria. “Actores, redes, procesos: reflexiones para una
historia más global.” In: Revista da Facultade de Letras- História, III Série, volume 5, Porto, 2004; p. 4;
tradução livre da autora.
26
Ibid., p. 7.; MOUTOUKIAS, Zacarías. “Narración y analisis en la observación de vínculos y dinámicas
sociales: el concepto de red personal en la historia social y económica.” In: BJERG, María & OTERO,
Hernán. Inmigración y redes sociales en la Argentina moderna. Tandil: CEMLA–IEHS, 1995, pp. 221-
241; citação na pp. 228-229.
21
27
FRAGOSO, João Luís Ribeiro. “Efigênia Angola, Francisca Muniz forra parda, seus parceiros e
senhores: freguesias rurais do Rio de Janeiro, século XVIII. Uma contribuição metodológica para a
história colonial.” In: Topoi, v. 11, n. 21, jul.-dez. 2010, pp. 74-106; p. 75.
28
GUDEMAN, Stephen. The Compadrazgo as a Reflection of the Natural and Spiritual Person. In:
Proceedings of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland; vol. (1971). Royal
Anthropological Institute of Great Britain, 1971; p. 56.
29
“The bonds occasionally are used to obtain economic or political favours”. Ibid., p. 57; Tradução livre
da autora.
22
30
IMÍZCOZ, José Maria. “Las redes sociales de las elites.” In: BARRADO, José Miguel Delgado;
CARO, Juan Jesús Bravo; MESA, Enrique Soria (eds.). Las élites en la época moderna: la monarquia
española. – Volume I: Nuevas Perspectivas. Cordoba: Servicio de Publicaciones, Universidad de
Cordoba, 2009; p. 83.
31
HEINZ, Flávio. “O historiador e as elites – à guisa de introdução”. In: ______ (org.). Por outra história
das elites. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, pp. 7-15; p. 9.
32
“La definición sectorial del ‘grupo’ a partir de um estatus, uma actividad, una institución o un espacio
limita a priori la percepción de los actores que se encuadran en dicho marco. Estos suelen formar parte de
redes sociales que atraviesan diversasinstituciones y espacios. Las dinámicas de estas redes desbordam
ampliamente esse marco de estúdio pero, al mismo tempo, tienen mucha incidência em él y pueden
resultar importantes para explicar su composición y cambio (...)”. IMÍZCOZ, op. cit., 2004, p. 83;
tradução livre da autora.
33
“(…) prosopography is the investigation of the common background characteristics of a group of actors
in history by means of a colletive study of their lives”. STONE, op. cit., p. 45; tradução livre da autora.
23
como algo negativo, pois é justamente a padronização oferecida pela prosopografia que
permite ao historiador uma aproximação diferenciada do grupo analisado, mostrando
como os grupos “se definem por suas propriedades relacionais ou por suas imagens
recíprocas”.34
34
CHARLE, op. cit., p .44.
35
IMÍZCOZ, op. cit., 2004, pp. 8-9.
36
IMÍZCOZ, op. cit., 2004, pp. 14.
37
“(...) el contexto (...) está concebido como se confiriera a los actores sociales importantes espacios
intersticiales o de libertad que les ofrecen um margen real de ellección y de maniobra, aunque admitiendo
24
Ou seja, os homens agem de acordo com os padrões consentidos pela estrutura social
em que estão inseridos e, ao mesmo tempo, esses mesmos homens transformam os
códigos sociais que regulam seus atos.
também que sus decisiones actúan em retorno sobre este mismo contexto.” BERTRAND, op. cit., p. 114.
Tradução livre da autora.
38
HAMEISTER, Martha Daisson. Para dar calor à nova povoação: estudo sobre estratégias sociais e
familiares a partir dos registros batismais da vila do Rio Grande (1738-1763). Tese (Doutorado em
História). Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, RJ, 2006. KÜHN, Fábio. Gente da Fronteira: Família, sociedade e poder no sul da América
Portuguesa – século XVIII. Tese (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História
Moderna, Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, 2006.
39
FARINATTI, Luis Augusto Ebling. Confins meridionais: famílias de elite e sociedade agrária na
fronteira sul do Brasil (1825-1865). Santa Maria: Ed. da UFSM, 2010.
25
para saber em quais sessões o assunto foi discutido e assim ir direto à ata
correspondente.
41
Os livros referentes aos anos posteriores não puderam ser analisados, pois encontram-se indisponíveis
para pesquisa por decisão da Arquidiocese de Pelotas. Os livros de registros paroquiais aqui investigados
foram disponibilizados por Rachel Marques, doutoranda na Universidade Federal do Paraná que
disponibilizou uma reprodução das fotografias feitas por ela mesma quando a documentação estava
disponível. Ao longo do presente trabalho, as referências aos livros de batismo serão feitas utilizando a
denominação “Arquivo da Mitra Diocesana de Pelotas”, pois no momento em que a pesquisa foi
realizada, esta era a denominação da instituição.
42
FRAGOSO, op. cit.; p. 75.
27
dependentes de seus pais), além do nome dos maridos de suas filhas (quando casadas) e,
por vezes, os nomes dos netos.
Por fim, o terceiro capítulo tratará das relações de parentesco fictício existentes
entre os vereadores e seus compadres, tanto para os casos em que esses oficiais da
Câmara eram convidados, quanto para os convites realizados para apadrinhar seus
filhos. A análise dos compadrios permite que se verifiquem as relações de parentesco
fictício criadas entre vereadores, de forma a reforçar o vínculo entre as famílias da elite
política pelotense, indo além das questões econômicas.
Capítulo 1
43
HOLANDA, Sérgio Buarque de. “A herança colonial – sua desagregação”. In: ______ (dir.). História
geral da civilização brasileira. São Paulo: Difel, 1976 (Tomo II, Volume 1); DIAS, Maria Odila Leite da
29
estudos como o de Ilmar de Mattos, por exemplo, trouxeram uma nova perspectiva.44
Mattos percebe que o processo de construção do império do Brasil, mesmo tendo se
iniciado anos antes, somente após 1822, devido às experiências vividas pelos
“construtores” do novo Estado, sofreu uma ressignificação. No mesmo sentido, Andréa
Slemian e Wilma Peres Costa analisam em um artigo as modificações sofridas por
instituições (privilegiando o âmbito jurídico) no período inicial do Estado imperial
brasileiro. Transcendendo a ideia de ruptura ou continuidade, as autoras destacam o
caráter de reinvenção – sem excluir os elementos de construção e herança do passado
colonial – de instituições e práticas políticas que marcaram o processo de formação do
novo Estado.
Isso equivale a dizer que o Estado que aqui se construiu no século XIX não
pode ser “deduzido” do passado colonial, nem é tampouco um transplante do
aparelho estatal metropolitano que pudesse ser trazido na bagagem da Corte
portuguesa [...] ou uma resultante passiva de um processo de independência
negociado sob a égide da monarquia. Sem ignorar que as sinergias com
instituições longamente consolidadas, a experiência de sediar a governança
do Império durante o momento mais agudo da crise do Antigo Regime e a
viabilização de uma solução monárquica, são variáveis importantes para se
compreender a emergência desse Estado e sua configuração peculiar.45
Silva Dias. “A interiorização da metrópole”. In: ______. A interiorização da metrópole e outros estudos.
São Paulo: Alameda, 2005.
44
MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema. São Paulo: HUCITEC; Brasília: INL, 1987; ______.
“Construtores e herdeiros: a trama dos interesses na construção da unidade política”. In: Almanack
Braziliense, nº 01, maio/2005, pp. 8-26. Disponível em:
<www.almanack.usp.br/PDFS/1/01_forum_1.pdf>. Acesso em: 27/06/2012.
45
COSTA, Wilma Peres; SLEMIAN, Andréa. “Justiça, Guarda Nacional e controle da ordem pública:
Império do Brasil, primeiras décadas do século XIX”. p. 5. No prelo
46
JANCSÓ, István & PIMENTA, João Paulo G. “Peças de um mosaico (ou apontamento para o estudo da
emergência da identidade nacional brasileira)”. In: Viagem Incompleta – A experiência brasileira (1500-
2000). São Paulo: Senac, 2000; pp. 127-175.
47
DOLHNIKOFF, Miriam. O pacto imperial: origens do federalismo no Brasil. São Paulo: Globo, 2005.
30
Assim, não há como ignorar a participação das elites locais e regionais que
aderiram à ideia de Estado imperial, mesmo com a existência de divergências que as
levaram a modificar suas próprias identidades de forma a tornar possível sua integração.
Desde 1822, no momento em que a separação de Portugal passou a ser uma
possibilidade concreta, começou-se a discutir como ocorreria o alinhamento dos
interesses das diversas localidades brasileiras com os do centro do império. Era
necessário, também, estreitar os laços das províncias com Dom Pedro, a fim de
legitimar seu governo.
Nesse sentido, Iara Lis Souza destaca a adesão das Câmaras Municipais ao
governo de D. Pedro como fator legitimador do poder monárquico, mesmo não tendo se
configurado como um sistema homogêneo, pois houve Câmaras que se alinharam mais
prontamente (sobretudo as do Sul-Sudeste) e outras (Norte-Nordeste) que
49
permaneceram por mais tempo ligadas às cortes de Lisboa. A adesão das Câmaras
denotava o rompimento com o reino português e o compromisso com o novo governo.
Por terem sido as Câmaras importantes instituições políticas e jurídicas ao longo do
período colonial, a estratégia de fundamentar o poder de Dom Pedro no assentimento
desses órgãos administrativos, garantia o apoio das elites locais e regionais. Com a
adesão, as elites locais, sustentando um sistema já estabelecido, mantinham sua
importância dentro do novo sistema imperial. Conforme afirma Souza,
48
ANDRADE, Pablo de Oliveira. “As elites regionais e locais no processo de construção do Estado e da
nação brasileiros: um breve balanço historiográfico”. In: Anais do II Encontro Memorial do Instituto de
Ciências Humanas e Socais: nossas letras na história da educação. Ouro Preto: Editora da Universidade
Federal de Ouro Preto, 2009. Disponível em: <www.ichs.ufop.br/memorial/trab2/h562.pdf > Acesso em:
26/06/2012.
49
SOUZA, Iara Lis F. S. C. Pátria Coroada: o Brasil como corpo político autônomo – 1780-1831. São
Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1999; pp. 143-150.
31
Além da adesão das elites locais, o alinhamento das províncias ao novo governo
também foi problemática. Da mesma forma com o que ocorreu no caso das Câmaras, as
províncias do Norte e Nordeste tenderam a declarar seu apoio com menor facilidade, se
comparadas às do Sul e Sudeste.52 E, de acordo com Helga Piccolo, em meados de
1822, (quando os acontecimentos que levaram à separação entre Brasil e Portugal ainda
se desenrolavam) o posicionamento da província sul-rio-grandense era impreciso;
mesmo após declarações de apoio à causa do Brasil (e de Dom Pedro) proferidas pelo
governo provisório, a dúvida permanecia. A historiadora salienta que, na verdade, não
havia unanimidade “quanto aos poderes a serem conferidos a D. Pedro e quanto à ordem
político-institucional a ser implantada no Brasil.”53
50
Ibid..; pp. 147.
51
Ibid..; pp. 149.
52
Sobre o assunto, ver: NEVES, Lucia M. Bastos P. “Estado e política na Independência”. In:
GRINBERG, Keila & SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial, vol. 1: 1808-1831. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009; pp. 95-136; especialmente pp. 109-110.
53
PICCOLO, Helga Iracema Landgraf. “O fazer e o ‘pensar’ política em Porto Alegre na época da
independência do Brasil: experiências e expectativas.” In: Anais da XIX Reunião da SBPH/Sociedade
Brasileira de Pesquisa Histórica. Curitiba: SBPH, 1999, pp. 37-42; p. 39.
54
Helga Piccolo, por exemplo, afirma que “na documentação oficial produzida no Rio Grande do Sul em
1822, nada conste referente ao 07 de setembro como dia da proclamação da Independência do Brasil”; no
entanto, datas como a da aclamação de Dom Pedro como primeiro imperador foram bastante festejadas.
PICCOLO, op. cit.; p. 39.
32
Reinado foi marcado pela contenda entre o monarca e grupos que exigiam maior
autonomia às províncias. A Constituição deveria estabelecer alguns limites ao poder do
imperador e não conferir a ele um poder irrestrito; a ideia é que o poder Executivo
deveria agir em benefício da população, atuando de acordo com a vontade do povo.59
A questão que confrontava poder local e poder central estendeu-se por anos. As
discussões que precederam as leis de criação do cargo de juiz de paz, de 1827, e de
regulamentação do funcionamento das Câmaras Municipais, em 1828, estavam ligadas à
questão dos poderes locais.60 Outro ponto que acabou gerando insatisfação com o
governo de D. Pedro foi a Guerra da Cisplatina, que terminou com a assinatura de um
acordo em que o Brasil admitia a criação de um novo Estado (Uruguai) na região
Cisplatina. A insatisfação da população foi, ao longo da década de 1820, se
intensificando, juntamente com o descontentamento de diversos deputados. Conforme
explicam Gladys Ribeiro e Vantuil Pereira, com a aproximação entre Parlamento e o
povo que saía às ruas, suas contestações demonstravam que “a soberania e a
representação da nação deveriam ser alteradas. A opinião pública fundia-se em torno de
uma nova interpretação acerca da liberdade”.61 Frente a essa situação, em sete de abril
de 1831, Dom Pedro declinou do trono. No entanto, os impasses dos anos anteriores não
seriam ultrapassados tão cedo. O sete de abril acabou se transformando em um marco
para a independência do Brasil, ao menos para aqueles que viveram a década de 1830.
A importância da data estava no rompimento com a tirania atribuída a D. Pedro I. A
abdicação do imperador permitia o início de uma nova era, um tempo de liberdade que,
por sua vez, associava-se à ideia de independência.62
evento emblemático, [...] consagrou o espaço público como arena de luta dos
mais diversos grupos políticos e camadas sociais, marcando a emergência de
novas formas de ação política, em momento no qual, transbordando a
tradicional esfera dos círculos palacianos e das instituições representativas,
tornava-se pública, e se assistia a uma rápida politização das ruas.63
59
DOLHNIKOFF, op. cit., 2005; p. 56.
60
Ibid.; RIBEIRO; PEREIRA, op. cit.; pp. 155-157. O assunto será tratado mais detalhadamente adiante.
61
Ibid.; p. 164.
62
MATTOS, op. cit., 2009; p. 19.
63
BASILE, Marcello. “O laboratório da nação: a era regencial (1831-1840)”. GRINBERG, Keila &
SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial, volume II: 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2009; pp. 53-119; ver p. 59.
34
A dinâmica entre esses três grupos definiu a tônica dos debates e tensões
políticas até a ascensão de Dom Pedro II ao trono imperial. Conforme afirma Marcelo
Basile, em um
64
BASILE, op. cit.; p. 62.
65
MATTOS, op. cit., 2009; p. 20.
66
BASILE, op. cit.; p. 61.
35
67
Ibid., p. 68.
68
PESAVENTO, Sandra Jatahy. “Farrapos, liberalismo e ideologia”. In: DACANAL, José Hildebrando
(org.). A Revolução Farroupilha: história & interpretação. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1997; p. 8.
69
BASILE, op. cit.; p. 97.
70
Ibid.; p. 95.
36
72
Ibid., pp. 286-299; BICALHO, Maria Fernanda. “As Câmaras Ultramarinas e governo do Império”. In:
FRAGOSO, João; BICALHO, M. Fernanda; GOUVÊA, M. Fátima (orgs.). O Antigo Regime nos
Trópicos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
73
Ibid., p. 199.
74
O juiz de fora, “sendo um oficial letrado, fomentaria a aplicação do direito oficial, e com isso não
deixaria de ser um elemento de desagregação da autonomia do sistema jurídico-político local – fundado
em práticas consuetudinárias, marcado pelas disputas entre grupos...”. Ou seja, o juiz de fora estava
encarregado de tornar os padrões jurídico-administrativos portugueses uma prática hegemônica no
ultramar. Ibid., p. 200.
38
75
Ibid., pp. 202-203.
76
SOUZA, op. cit., p. 118.
39
através do apoio declarado das Câmaras; e estas, ao conceder seu apoio a Dom Pedro,
garantiam a manutenção das elites no poder local, assim como sua própria autonomia.77
Art. 167. Em todas as Cidades, e Vilas ora existentes, e nas mais, que para o
futuro se criarem haverá Câmaras, às quais compete o Governo econômico e
municipal das mesmas Cidades e Vilas.
Art. 168. As Câmaras serão eletivas e compostas do número de Vereadores
que a Lei designar, e o que obtiver maior número de votos será Presidente.
Art. 169. O exercício de suas funções municipais, formação das suas Posturas
policiais, aplicação das suas rendas, e todas as suas particulares e úteis
atribuições, serão decretadas por uma Lei regulamentar.79
77
Ibid., pp. 143-150.
78
A pesquisa desenvolvida por Andréa Slemian ressalta o papel dos legisladores, através de seus debates,
que pensaram a dinâmica do novo pacto político que organizaria o funcionamento do nascente Império.
79
BRASIL. Constituição (1824). Constituição politica do Império do Brasil (de 25 de Março de 1824).
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>. Acesso em:
15/02/2012.
80
DOLHNIKOFF, op. cit., ver especialmente pp. 86-87 e 118-120; GOUVÊA, Maria de Fátima Silva. O
império das províncias: Rio de Janeiro, 1822-1889. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008; p. 20-32;
SLEMIAN, Andréa. Sob o Império das Leis. São Paulo: Hucitec, 2009; pp. 191-195.
40
justamente como tentativa de restringir a autonomia dos poderes locais, além de suprir
necessidades do próprio campo jurídico, pois, conforme Andréa Slemian, “a aprovação
da lei de criação dos juízes de paz esteve inserida num ambiente legislativo onde existia
um sentimento comum de necessidade de reordenamento da estrutura judicial do
nascente Império”.81 Contudo, esses magistrados, assim como os vereadores, eram
eleitos em cada freguesia e não era exigido que tivessem formação na área jurídica, o
que possibilitou aos membros das elites locais a ocupação desses cargos.
81
SLEMIAN, op. cit., p. 191.
82
FLORY, Thomas. El juez de paz y el jurado en el Brasil Imperial, 1808-1871. México: Fondo de
Cultura Económica, 1986, p. 140.
41
83
Miram Dolhnikoff ao afirmar que o projeto federalista foi vencedor do debate travado com os
defensores da centralização do poder e que, assim, o arranjo institucional empreendido na construção do
Estado Imperial Brasileiro seria marcado pelo federalismo, coloca sua pesquisa em oposição à corrente
dominante da historiografia brasileira. No entanto, para a pesquisa aqui desenvolvida, o que nos interessa
é avaliar a participação das elites provinciais que substituíram o papel antes exercido pelas elites locais. A
respeito do empoderamento das províncias e de seu papel no novo sistema político-administrativo
brasileiro, ver: DOLHNIKOFF, op. cit., especialmente capítulo 2, pp. 81-154; GOUVÊA, Maria de
Fátima Silva. “Política provincial na Formação da Monarquia Constitucional Brasileira: Rio de Janeiro,
1820-1850.” In: Almanack Braziliense, São Paulo, nº. 7, pp. 119-137, maio de 2008. Disponível em:
<www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/alb/n7/a07n7.pdf>. Acesso em: 22/06/2010; SLEMIAN, op. cit., 2009,
pp. 231-302.
84
DOLHNIKOFF, op. cit., pp. 86-87.
85
SLEMIAN, Andréa. “Os canais de representação política nos primórdios do Império: apontamentos
para um estudo da relação entre Estado e sociedade no Brasil (c. 1822-1834)”. In: Locus, Revista de
História. Juiz de Fora, v. 13, n. 1, pp. 34-51, 2007; p. 50.
42
86
DOLHNIKOFF, op. cit., pp. 119.
87
COMISSOLI, Adriano. Os “homens bons” e a Câmara Municipal de Porto Alegre (1767-1808). Porto
Alegre: Câmara Municipal de Porto Alegre/Ed. UFRGS, 2008; GOUVÊA, Maria de Fátima. “Redes de
poder na América Portuguesa: O caso dos homens bons do Rio de Janeiro, c. 1790-1822”. In: Rev. bras.
Hist. [online], 1998, vol. 18, n. 36, pp. 297-330. Disponível em:
<www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01881998000200013&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 22/06/2010.
43
levavam os homens que viviam nos territórios ultramarinos a almejar cargos camarários,
além de tratar, também da atuação dessa instituição. A presente pesquisa assemelha-se
ao trabalho do referido autor, na medida em que pretende analisar uma instituição
administrativa e seus membros, apesar de abordar os aspectos de uma localidade de
menor porte, fixada no interior da província, e em um momento posterior.
88
“[...] permiten un acercamiento no sólo a las estructuras de poder desde el punto de vista de lo que
determinaban las leyes para su funcionamiento, sino que hacen posible una compresión más amplía de
cómo las redes familiares y de interesses actuaban localmente y en el contexto del imperio, además de
dedicar más atención a los aspectos sociales involucrados en el ejercicio del poder.” SOUZA, George
Felix Cabral de. Elite y ejercicio de poder en el Brasil colonial: la Cámara Municipal de Recife (1710-
1822). Tese (Doutorado em História). Programa de Doctorado Fundamentos de la Investigación Histórica,
Universidad de Salamanca, Salamanca, 2007; p. 34. Tradução livre da autora.
89
Por tratar do sistema policial, Wellington acaba abarcando também aspectos administrativos do novo
regime, sobretudo a Câmara Municipal. SILVA, Wellington Barbosa da. Entre a liturgia e o salário: a
formação dos aparatos policiais no Recife do século XIX (1830-1850). Tese (Doutorado em História).
Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, 2003.
90
SOUZA, Williams Andrade de. Administração, normatização e civilidade: a Câmara Municipal do
Recife e o governo da cidade (1829-1849). (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-Graduação em
História Social da Cultura Regional, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE, 2012.
______; SILVA, Wellington Barbosa da. “A Câmara Municipal e a normatização no Recife do século
XIX.” In: I Colóquio Internacional de História da UFRPE - Brasil e Portugal: nossa história ontem e
hoje, 2007, Recife. ______. “Para vigiar e executar as Posturas e ordens da Câmara Municipal, o Fiscal:
44
Uma pesquisa que traz importantes reflexões sobre o tema (estratégias políticas)
foi realizada por Isnara Pereira Ivo que, ao tratar da questão do poder local na vila de
Vitória – atual cidade de Vitória da Conquista, na Bahia – em meados do século XIX,
analisa a atuação dos membros da elite proprietária local que, segundo a autora,
“ocuparam todas as funções da burocracia administrativa e judiciária” disponíveis no
período.91 A respeito do esvaziamento de poder das Câmaras Municipais durante o
período imperial, Ivo afirma que “o processo de centralização administrativa
implementado pelo Estado Imperial, apesar de prejudicar significativamente as
administrações locais, não impediu a política de potentados dos mandões locais”92.
Política essa que revelava sua força principalmente durante as eleições, quando as
disputas entre grupos afloravam. Por mais que se modificasse o sistema eleitoral, as
elites encaravam esse momento (a eleição) como uma possibilidade de se sobrepor a
outros grupos, com os quais disputava o poder local, instigando-os a agir
arbitrariamente, o que era facilitado pelo sistema eleitoral que encarregava as próprias
elites municipais da organização do pleito.93 As conclusões de Isnara Ivo abrem espaço
para que se analisem as Câmaras durante o período imperial de uma nova forma:
consciente de sua perda de poder e autonomia, mas também sabendo que havia brechas
que possibilitavam sua atuação no sistema político estabelecido.
uma autoridade no Recife imperial.” In: XIV Encontro Regional de História da ANPUH-Rio: Memória e
Patrimônio, 2010, Rio de Janeiro.
91
IVO, Isnara Pereira. Poder Local e Eleições na Imperial Vila da Vitória durante o Século XIX. Politeia:
História e Sociedade, Vol. 1, N. 1, pp. 201-223, 2001; p. 204. Disponível em:
<http://periodicos.uesb.br/index.php/politeia/article/viewFile/146/157>. Acesso em: 22/10/2011.
92
Ibid.; p. 207.
93
Ibid.; p. 212.
94
MARTINY, Carina. “Os seus serviços públicos e políticos estão de certo modo ligados à prosperidade
do município”. Constituindo redes e consolidando o poder: uma elite política local (São Sebastião do
Caí, 1875-1900). Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós-Graduação em História,
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, 2010.
45
95
BIBLIOTECA PÚBLICA PELOTENSE (BPP). SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da Câmara da
Vila de São Francisco de Paula. Livro 2. 1834-1844. Sessão de 9 de julho de 1835.
46
96
Sobre Colônia do Sacramento nesse período e a extração de couros, ver: PRADO, Fabrício Pereira. A
Colônia de Sacramento: o extremo sul da América portuguesa no século XVIII. Porto Alegre: F. P. Prado,
2002.
97
GUTIERREZ, Ester J. B. Negros, charqueadas & olarias: um estudo sobre o espaço pelotense. Passo
Fundo: Ed. UPF, 2011; p. 58.
47
Com a ida de Antônio e de José Pinto Martins para o Rio Grande do Sul, foi
fortalecida a região como produtora de charque e potencial consumidora de
sal. José Pinto Martins ainda hoje figura no rol de destacados nomes do Rio
Grande do Sul, o que talvez se justifique por sua importância na produção em
larga escala de charque em Pelotas. Com a presença de José e Antonio Pinto
Martins no arroio, uma rota envolvia o transporte do sal oriundo de Mossoró:
não nos esqueçamos de que José tinha uma embarcação que fazia com
regularidade viagens entre o Sul e a capitania de Pernambuco, e que Antonio
havia residido e explorado o comércio do sal potiguar. Proprietários de
barcos, os Pinto Martins procuravam navegar sempre com produtos, criando
uma rede comercial fundada no charque e no apoio familiar.99
102
MAGALHÃES, op. cit.; OSÓRIO, op. cit.; pp. 26-27.
103
Sobre o papel do Rio Grande do Sul como abastecedor do mercado interno para esse período, ver:
OSÓRIO, op. cit.; capítulo 7; pp. 183-223.
104
Ibid., p. 195.
49
105
GUTIERREZ, op. cit.; p. 82.
50
106
A respeito da fundação da freguesia de São Francisco de Paula, ver mais em: MAGALHÃES, Mário
Osório. Opulência e Cultura na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul: um estudo sobre a cidade
de Pelotas (1860-1890). Pelotas: UFPel/Livraria Mundial, 1993; pp. 24-27. MARQUES, Rachel dos
Santos. Por cima da carne seca: hierarquia e estratégias sociais no Rio Grande do Sul (c. 1750-1820).
Dissertação (Mestrado em História). Colegiado dos Cursos de Pós-Graduação do Departamento de
História da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, 2011. MENEGAT, Carla. O tramado, a pena e
as tropas: família, política e negócios do casal Domingos José de Almeida e Bernardina Rodrigues
Barcellos (Rio Grande de São Pedro, século XIX). Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós-
Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2009, pp. 81-88.
OSÓRIO, Fernando. A cidade de Pelotas. Pelotas: s/e, 1922; pp. 37-45.
107
Citações em: OSÓRIO, Fernando, op. cit.., Pelotas: s/e, 1922; pp. 37-38.
108
Felício era irmão de Hipólito José da Costa Pereira (conhecido por sua atuação na imprensa, foi
redator do Correio Brasiliense, publicado em Londres a partir de 1808) e de José Saturnino da Costa
Pereira (Ministro da Guerra em 1837), o que demonstra a proximidade da família com o governo
imperial. Seu tio, o padre Pedro Pereira Fernandes de Mesquita, de acordo com Arlindo Rupert, teve
extensa atuação na vila de Rio Grande e atuou como mentor do sobrinho. De acordo com Carla Menegat,
em 1810, esse pároco representou os moradores em viagem ao Rio de Janeiro quando se enviou uma
solicitação para fundar a freguesia. A historiadora ainda aponta que as relações entre o Antônio Francisco
dos Anjos e o padre Felício retrocediam à Colônia do Sacramento e envolviam o padre Mesquita; ver:
MENEGAT, op. cit., p. 85. A respeito do padre Pedro Pereira Fernandes de Mesquita e sua atuação, ver:
RUBERT, Arlindo. História da Igreja no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994.
109
Sobre a participação de Antônio Francisco dos Anjos na organização do espaço urbano pelotense, ver:
MONQUELAT, A. F; MARCOLLA, V. O processo de urbanização de Pelotas e a fazenda do arroio
Moreira. Pelotas: Editora Universitária/UFPEL, 2010.
110
MAGALHÃES, Mário; op. cit.; p. 25.
51
111
DREYS, Nicolau. [1839]. Notícia descritiva da província do Rio Grande de São Pedro do Sul. Porto
Alegre: IEL, 1961; SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Brasília: Senado
Federal, Conselho Editorial, 2002. Outro viajante, Arsène Isabelle quando de sua passagem por Pelotas
por volta de 1834, comentou a respeito do desenvolvimento da localidade, afirmando que “já rivaliza com
Porto Alegre pela atividade de seus habitantes, a importância de suas transações comerciais e o grande
número de edifícios que se constroem diariamente”. Sabemos que os relatos de viajantes devem ser
utilizados de forma crítica, uma vez que seus escritos refletem o modo como esses homens percebiam o
mundo a sua volta, ou seja, seu texto está impregnado com a visão de mundo da época. ISABELLE,
Arsène. Viagem ao Rio da Prata e ao Rio Grande do Sul. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial,
2010.
112
Algumas freguesias e/ou vilas erigidas ainda durante o século XVIII possuíam menos habitantes que
São Francisco de Paula, reforçando a ideia de crescimento acelerado da povoação. São os casos, por
exemplo, de Santo Amaro, com 1.661 habitantes, Mostardas, com 1.187 habitantes e Santo Antônio da
Patrulha, com 2.199 habitantes. Fundação de Economia e Estatística. De Província de São Pedro a
Estado do Rio Grande do Sul – Censos do RS 1803-1950. Porto Alegre: FEE/Museu de Comunicação
Hipólito José da Costa, 1981. p. 50.
113
ARQUIVO HISTÓRICO DO RIO GRANDE DO SUL (AHRS). Correspondência expedida. Câmara
Municipal de São Francisco de Paula. Maço 103, caixa 46. 1832-1836. Doc. n.º 59, anexo, 07/01/1834.
114
As informações fornecidas pelos recenseamentos nesse período são incompletas. Os dados eram
recolhidos sem que houvesse um método rígido aplicado a todos os censos; o questionário poderia sofrer
variações, o que facilita a existência de incoerências (por exemplo, a coleta de informações poderia
calcular o número de escravos libertos juntamente com o da população branca, enquanto que, em
recenseamento posterior, essa categoria social seria calculada separadamente, dificultando a análise).
Portanto, não se podem tomar os dados desses censos como absolutos.
52
115
A análise preliminar da ocupação dos vereadores indica que, em sua maioria, eles possuíam relações
com a economia charqueadora.
Capítulo 2
Ao longo dos noventa artigos que compõem essa Lei, às Câmaras Municipais
são atribuídas as funções de organização e fiscalização do bem estar no espaço urbano,
a execução de obras necessárias e a garantia do desenvolvimento técnico (rural).
Conquanto estivessem, de acordo com a lei, destituídos de poderes jurídicos e policiais,
a esses órgãos administrativos competiam tarefas importantes ligadas ao cotidiano da
localidade. Para dar conta dos afazeres da Câmara, os vereadores trabalhavam em
conjunto com outros empregados da Câmara, como o secretário, o procurador, os fiscais
das freguesias, além dos juízes de paz. Outro expediente muito utilizado pelos
vereadores em Pelotas foi a criação de comissões, compostas por vereadores e/ou
cidadãos, que avaliavam as questões que lhes cabiam resolver e apresentavam seu
116
BRASIL. Lei de 1º de outubro de 1828. Dá nova forma às Câmaras Municipais, marca suas atribuições
e o processo para sua eleição e dos Juízes de Paz. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1828 –
Primeira Parte. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1878; Art. 71; p. 85.
54
Art. 25. As Câmaras farão em cada ano quatro sessões ordinárias de três em
três meses, no tempo que elas marcarem, e durarão os dias que forem
necessários, nunca menos de seis.
Art. 26. Ocorrendo algum negócio urgente, e que não admita demora, o
presidente poderá convocar a Câmara extraordinariamente.118
117
SOUZA, Williams Andrade de. Administração, normatização e civilidade: a Câmara Municipal do
Recife e o governo da cidade (1829-1849). (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-Graduação em
História Social da Cultura Regional, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE, 2012; p.
174
118
BRASIL. Lei de 1º de outubro de 1828. Dá nova forma às Câmaras Municipais, marca suas atribuições
e o processo para sua eleição e dos Juízes de Paz. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1828 –
Primeira Parte. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1878; Art. 25 e 26; pp. 78 e 79.
55
Assim, deveriam ocorrer no mínimo dezesseis sessões ordinárias por ano, além
das extraordinárias quando fossem necessárias. Na prática, a Câmara pelotense reunia-
se quando necessário, por vezes antecedendo a data de alguma sessão ordinária. O
volume de documentos recebido era considerável, o que pode ser explicado por ser a
Vila uma localidade em pleno desenvolvimento econômico e social, além da própria
questão de organização de assuntos básicos a um município. Entre maio de 1832 e
fevereiro de 1836, ocorreram 166 reuniões, o que dá uma média de 3,6 sessões por
mês;119 por ano, se excetuarmos o ano de 1836 (quando a atividade camarária foi
interrompida em fevereiro), a média é de 39 reuniões anuais, ou seja, quinze a mais do
que o número exigido pela lei. Uma análise da soma do número de sessões realizadas
por mês entre 1832 e 1836, nos revela que os meses de janeiro, abril, julho e outubro
(ou seja, a cada três meses) concentraram as reuniões da Câmara, somando cada um
mais de vinte encontros no total dos quatro anos (quadro 1).
jan Fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
1832 12 5 5 4 8 3 3
1833 7 3 8 2 2 7 3 7 ?* ?
1834 4 2 6 1 1 4 3 2 5 1 3
1835 7 5 1 6 3 9 3 3 2 6 1
1836 7 2
Total por mês 25 9 4 20 18 3 25 14 9 22 10 7
* O sinal de interrogação corresponde aos meses em que, devido ao extravio de parte do livro de atas, não
sabemos se houve alguma reunião.
No entanto, a sequência mínima de seis sessões a cada três meses, conforme dita
o artigo 25 da Lei das Câmaras, acabou não sendo sempre respeitada. Em 1834, por
exemplo, somente no mês de abril os vereadores reuniram-se seis vezes consecutivas.
Esses dados apontam que as sessões ocorriam de acordo com a necessidade, ou seja, a
sessão seguinte podia ser marcada para determinada data. No entanto, o elevado número
de requerimentos recebidos ou a chegada de alguma instrução proveniente do âmbito do
poder provincial exigia do presidente uma convocação extraordinária dos vereadores.
119
Em um universo de 46 meses analisados, em somente cinco meses a Câmara não se reuniu. (junho de
1832, fevereiro e setembro de 1833, março de 1834 e junho de 1835).
56
120
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 07 de agosto de 1832.
121
Esses assuntos serão analisados adiante.
57
de Moraes, convocou uma sessão para “dar solução a dois ofícios dirigidos à Câmara
pelo excelentíssimo Presidente em conselho, por ser urgente a sua matéria”. Essa
urgência correspondia à necessidade de nomear o promotor e os juízes municipal e de
órfãos, de acordo com o Código de Processo Criminal, aprovado em novembro de 1832.
As listas tríplices solicitadas já haviam sido enviadas pela Câmara de São Francisco de
Paula para o presidente da província122 e a sessão extraordinária, uma vez que o
presidente comunicava a aprovação dos nomes indicados pelos vereadores pelotenses,
tinha por objetivo informar aos juízes nomeados (que já ocupavam interinamente os
cargos) o prazo para prestar juramento e ocupar a respectiva função.123
Com poucas exceções, as sessões ocorriam durante o período da manhã, seu
começo por volta das nove ou dez horas e seu término entre meio-dia e uma hora da
tarde. Nos primeiros meses de funcionamento da Câmara, as reuniões iniciavam com a
leitura de documentos (ofícios, requerimentos e outras correspondências) enviados à
Câmara desde o último encontro da vereança. A seguir, os assuntos eram discutidos e os
vereadores deliberavam a respeito do tema. Na prática, poucas eram as decisões finais
tomadas na mesma reunião em que o assunto era apresentado, sendo o assunto
prorrogado para ser resolvido após a avaliação de funcionários ou profissionais
detentores de maior conhecimento sobre o tema debatido.
A partir de sete de julho de 1832 o debate dos assuntos apresentados à Câmara
deixou de ocorrer de forma geral, envolvendo toda a vereança, para ser analisado por
uma comissão, seguindo sugestão do vereador João Batista de Figueiredo
Mascarenhas.124 De acordo com o texto das atas, após a leitura dos ofícios e outros
trabalhos que deveriam ser realizados pela Câmara, aqueles que não podiam ser
prontamente resolvidos, eram enviados à comissão permanente. Essa comissão (que não
deve ser confundida com a comissão permanente composta por cidadãos da localidade)
era formada por três vereadores que avaliavam as questões passadas em um intervalo
que ocorria no meio da sessão. Portanto, após a apresentação da pauta, a reunião era
interrompida, a comissão permanente examinava e deliberava sobre os temas expostos
e, cerca de meia hora depois, a sessão era retomada para que a comissão desse seu
122
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 30 de março de 1833.
123
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 24 de abril de 1833.
124
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 4 de maio de 1834. Embora a proposta para a criação da comissão permanente tenha sido
feita na segunda sessão da Câmara (e aprovada na mesma ocasião), somente em julho daquele ano se
implantou a ideia.
58
parecer, que poderia ou não ser aceito pelos demais vereadores. A cada três meses,
aproximadamente, eram nomeados novos membros para essa comissão. No entanto, a
presença de dois vereadores (João Alves Pereira e João Batista de Figueiredo
Mascarenhas) foi predominante entre 1832 e 1836. Somente a vaga de terceiro membro
era revezada entre os outros vereadores.125
125
João Alves Pereira foi nomeado para todas as comissões permanentes até janeiro de 1836, enquanto
João Batista de Figueiredo Mascarenhas não participou da comissão apenas em dois momentos durante o
período estudado.
126
De acordo com a Lei das Câmaras, deveria ser criada a cada sessão uma comissão composta por, no
mínimo, cinco indivíduos (“cidadãos probos”) que seriam encarregados de realizar visitas às prisões e
casas de caridade e informar à Câmara sobre as condições desses estabelecimentos. De fato, a comissão
foi criada, mas não era nomeada a cada sessão. BRASIL. Lei de 1º de outubro de 1828. Dá nova forma às
Câmaras Municipais, marca suas atribuições e o processo para sua eleição e dos Juízes de Paz. Coleção
das Leis do Império do Brasil de 1828 – Primeira Parte. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1878; Art.
56, p. 82.
59
que fosse levada a Câmara relacionada aos objetos dessa comissão, seria
automaticamente repassada aos seus membros127.
127
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessões de 02 de julho de 1834; 08 de abril de 1834.
60
dos estragos causados pela chuva na rua da Horta128, informados à Câmara por José
Bartolomeu Sandim129. Seu requerimento foi enviado ao fiscal da Vila para que este
averiguasse o que fora informado e, após alguns dias, foi resolvido que o fiscal,
aconselhado por Kretschmar, deveria fazer o possível para diminuir os danos causados
pelos alagamentos, até que a planta da Vila fosse aprovada e o nivelamento fosse
realizado para impedir nova ocorrência do fato.130
A abertura de ruas e estradas também foi alvo de debates nas sessões da Câmara.
Enquanto a abertura de ruas, ou ampliação destas, ocorria seguindo a planta da Vila ou,
antes de ser aprovada a planta, de acordo com a sugestão do engenheiro, as estradas
eram alvo de extensas discussões, uma vez que não havia um projeto que previsse a
localização dessas vias. Em junho de 1833, a Câmara recebeu um requerimento “de
diversos moradores da Rua do Poço desta Vila, pedindo a continuação da abertura da
131
mesma rua até o arroio Santa Bárbara”, ao qual determinou que o fiscal deveria
consultar o engenheiro com a finalidade de decidir a respeito da solicitação dos
suplicantes. Somente no mês seguinte os vereadores voltaram ao assunto para, após
analisar o parecer do fiscal, encaminhar os documentos referentes à questão ao juiz de
paz que, por sua vez, solicitou que o procurador da Câmara requeresse junto ao Juizado
de Paz a abertura da referida rua.132 Esse caso demonstra tanto a atuação do engenheiro
junto à Câmara, quanto a necessidade de recorrer a outros servidores (fiscais,
procurador e juiz de paz) para resolver o problema apresentado. Infelizmente, não
possuímos os requerimentos enviados à Câmara e, por isso, não sabemos os nomes dos
moradores que requeriam a abertura da rua que havia sido fechada por um dos
proprietários, nos impedindo de verificar se algum dos requerentes possuía relações de
parentesco com os oficiais da Câmara.
128
Atual rua Voluntários da Pátria.
129
Sandim era coletor da décima dos prédios.
130
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessões de 22 de março de 1833; 11 de abril de 1833; 12 de abril de 1833.
131
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 05 de junho de 1833.
132
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessões de 06 de julho de 1833 e 13 de julho de 1833.
61
estrada denominada Passo dos Carros é um exemplo emblemático dessas disputas entre
proprietários.
Com isso, diversos profissionais apresentaram à Câmara suas licenças, entre eles
o juiz de paz David Pamplona Corte Real (boticário) e o próprio procurador da Câmara
João Ferreira Paes (boticário), assim como o vereador João Batista de Figueiredo
Mascarenhas (médico).134
133
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessão de 07 de maio de
1832.
134
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessões de 11 de janeiro de
1833; 12 de janeiro de 1833; 22/03/1833.
135
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessão de 12 de janeiro de
1833.
62
136
BRASIL. Lei de 15 de outubro de 1827. Manda criar escolas de primeiras letras em todas as cidades,
vilas e lugares mais populosos do Império. Disponível em:
<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/3_Imperio/lei%2015-10-
1827%20lei%20do%20ensino%20de%20primeiras%20letras.htm>. Acesso em: 27/01/2012.
137
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessões de 08 de maio de
1832; 15 de maio de 1832; 09 de julho de 1832; 07 de agosto de 1832.
138
Nos colégios, além da alfabetização, se ensinavam outras disciplinas, como aritmética, desenho,
gramática portuguesa e latina, língua francesa e música. As então chamadas escolas de primeiras letras
eram dedicadas somente a esse tipo de ensino.
139
CORRESPONDÊNCIA expedida. Câmara Municipal de São Francisco de Paula. Maço 103, caixa 46.
1832-1836. Correspondência de 12 de julho de 1832.
140
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1 e 2. 1832-1844. Sessões de 07 de agosto
de 1832; 05 de junho de 1833; 10 de abril de 1834.
141
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 2. 1833-1844. Sessão de 11 de agosto de
1834.
63
aponta que, com a Revolução Farroupilha, todas as aulas (públicas e particulares) foram
fechadas, retornando à atividade somente ao término do conflito.142
146
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 2. 1834-1844. Sessão de 14 de abril de
1834.
147
BRASIL. Lei de 1º de outubro de 1828. Dá nova forma às Câmaras Municipais, marca suas atribuições
e o processo para sua eleição e dos Juízes de Paz. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1828 –
Primeira Parte. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1878; Art. 81; p. 87.
148
BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1.
1832-1833. Sessão de 12 de janeiro de 1833.
149
BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1.
1832-1833. Sessão de 06 de julho de 1833.
65
naquele juízo [Juizado de Paz] sobre o objeto do requerimento”, o que foi acatado pela
vereança.150 A primeira vista, pode parecer confusa a solicitação do juiz de paz, assim
como a resolução do assunto. No entanto, ao analisar mais atentamente o que foi escrito
nas atas e averiguarmos as atribuições do procurador segundo a Lei das Câmaras, assim
como as competências do juiz de paz, compreendemos que, embora o juiz tivesse
avaliado a situação e tomado uma decisão, ele necessitava do aval da Câmara
Municipal, que deveria ser oferecido pelo procurador desta, para tomar as providências
necessárias à abertura da rua.
150
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 13 de julho de 1833.
151
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessões de 12 de maio de 1832; 29 de maio de 1832; 06 de julho de 1833.
152
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 30 de março de 1833.
153
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 23 de agosto de 1832.
66
Os fiscais deveriam ser nomeados pelos vereadores por freguesias; para cada
uma delas, eram escolhidos um fiscal e um suplente. Assim como o que ocorria no caso
dos juízes de paz, os fiscais frequentemente solicitavam que a Câmara os liberasse do
cargo e, poucas vezes, o ocuparam até atingir o tempo máximo de serviço estabelecido
pela lei. Os motivos apresentados para receber licença do cargo eram variados: doenças,
longas viagens ou ocupação de funções incompatíveis com a de fiscal. Ainda em 1832,
Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos, posteriormente vereador suplente e sobrinho do
então vereador de mesmo nome, pediu “demissão do emprego de fiscal, por não se
achar com forças suficientes para o exercer”,155 o que lhe foi concedido. Na ata não
consta a explicação, embora dê a entender que Cipriano Joaquim padecia de alguma
enfermidade. No ano seguinte, o fiscal que havia substituído Rodrigues Barcellos, João
Manoel Soares, também solicitou licença para
154
BRASIL. Lei de 1º de outubro de 1828. Dá nova forma às Câmaras Municipais, marca suas atribuições
e o processo para sua eleição e dos Juízes de Paz. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1828 –
Primeira Parte. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1878; Art. 85; p. 87.
155
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 18 de setembro de 1832.
156
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 12 de janeiro de 1833.
67
157
SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 22 de março de 1833.
158
Williams de Souza explora de forma mais aprofundada a figura do fiscal, destacando sua importância
como autoridade municipal vinculada à Câmara em: SOUZA, Williams Andrade de. “Para vigiar e
executar as Posturas e ordens da Câmara Municipal, o Fiscal: uma autoridade no Recife imperial.” In:
XIV Encontro Regional de História da ANPUH-Rio: Memória e Patrimônio, 2010, Rio de Janeiro.
159
SOUZA, Williams; Administração…, op. cit.; p. 173.
68
estudo sobre a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, “era o próprio dia-a-dia da cidade
que se discutia e decidia, numa espécie de cidadania do cotidiano”.160 Com isso, os
Conselhos Municipais de Recife, Rio de Janeiro e Pelotas tinham em sua pauta questões
ligadas aos assuntos diários do munícipio, como descritos acima.
No entanto, isso não constitui uma novidade, visto que desde o período colonial
esses temas eram debatidos pelos Conselhos Municipais. Ainda para o caso de Recife,
George Cabral de Souza dividiu os assuntos discutidos na Câmara desta cidade entre o
século XVIII e 1822 em cinco grupos: defesa, fiscalidade, organização; festividades e
celebrações; higiene, saúde e assistência; ordenamento urbano; abastecimento.161 Os
mesmos temas continuavam como responsabilidade daquela Câmara no final da década
de 1820 e na década seguinte, conforme aponta Williams de Souza.162 Isso é um indício
de mais uma característica do sistema administrativo que se manteve após a
emancipação do Brasil.
160
ROSSATO, Jupiracy Affonso Rego. Os negociantes de grosso trato e a Câmara Municipal da cidade
do Rio de Janeiro: estabelecendo trajetórias de poder (1808-1830). Tese (Doutorado em História).
Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, 2007; p.
142.
161
Essa divisão é apresentada como subcapítulos da tese de doutorado de George de Souza, presente no
capítulo 8: SOUZA, George Felix Cabral de. Elite y ejercicio de poder en el Brasil colonial: la Cámara
Municipal de Recife (1710-1822). Tese (Doutorado em História). Programa de Doctorado Fundamentos
de la Investigación Histórica, Universidad de Salamanca, Salamanca, 2007; pp. 483-536.
162
SOUZA, Williams; Administração…, op. cit
163
COMISSOLI, Adriano. Os “homens bons” e a Câmara Municipal de Porto Alegre (1767-1808). Porto
Alegre: Câmara Municipal de Porto Alegre/Ed. UFRGS, 2008; pp. 25-26.
69
164
A comparação entre o texto das Ordenações Filipinas sobre a atuação dos vereadores e a Lei de 1º de
Outubro de 1828 corrobora com essa constatação. Ordenações Filipinas, Título LXVI - Dos vereadores.
In: PORTUGAL. Código Filipino ou Ordenações e Leis do Reino de Portugal. Brasília: Senado Federal,
2004 pp. 144-153. (Livro 1)
165
SILVA, Francisco Ribeiro da. “Instituições municipais no intercâmbio com o Brasil: expressão e
reprodução de identidade.” In: Estudos em homenagem ao Professor Doutor José Marques [online], vol.
2, 2006, pag. 99-115. Disponível em: <http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4849.pdf>. Acesso e:
05/05/2013.
70
166
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessão de 7 de agosto de
1832.
167
AHRS. Correspondência expedida. Câmara Municipal de São Francisco de Paula. Maço 103, caixa
46. 1832-1836. Doc. nº 22, 23, 24 e 25; 07/08/1832.
71
168
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 2. 1834-1844. Sessão de 30 de agosto de
1834.
169
A aprovação da planta da vila ocorreu em sessão de 9 de julho de 1834.
170
Sobre a criação das Guardas Nacionais, ver: RIBEIRO, José Iran. Quando o serviço os chamava:
milicianos e Guardas Nacionais no Rio Grande do Sul (1825-1845). Santa Maria: Editora UFSM, 2005;
RODRIGUES, Antônio E. M.; FALCON, Francisco J.C.; NEVES, Margarida de S. A Guarda Nacional
no Rio de Janeiro (1831-1918). Rio de Janeiro: PUC-RJ, 1981; URICOECHEA, Fernando. O minotauro
imperial: a burocratização do Estado patrimonial brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro/ São Paulo:
DIFEL, 1978.
171
PANDOLFI, Fernanda Cláudia. “Política, imprensa e a participação dos militares na Abdicação de
Dom Pedro I.” In: História Unisinos, São Leopoldo, v. 16, n 3, set/dez, pp. 283-293, 2012; p. 290.
72
dúvida, para um país cuja formação estatal ainda estava nos alicerces”.172 Além disso, a
base das Forças Armadas era majoritariamente composta por “negros, mulatos, homens
pobres, indivíduos, na maioria dos casos, sem nenhuma qualificação profissional”,173 o
que, somado à presença de estrangeiros nos altos postos de comando, criou um clima de
instabilidade. Nesse contexto, a saída encontrada pela regência foi instituir mecanismos
de descentralização do controle militar, de forma a substituir o aparato repressivo, antes
a cargo das Milícias, das Ordenanças e do próprio Exército, pela Guarda Nacional e
Guarda Municipal Permanente. Diferentemente do que ocorria até então, os novos
corpos policiais estavam subordinados às autoridades civis (Ministério da Justiça).174
172
SILVA, Wellington Barbosa da. Entre a liturgia e o salário: a formação dos aparatos policiais no
Recife do século XIX (1830-1850). Tese (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em
História, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, 2003; p. 54.
173
RIBEIRO, op. cit.; pp. 135-136.
174
CASTRO, Paulo Pereira de. “A ‘experiência republicana’, 1831-1840”. In: HOLANDA, Sérgio
Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira. Tomo II, 2.º volume. O Brasil monárquico. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1995; RIBEIRO, op. cit., especialmente pp. 136-139.
175
Era exigida a renda mínima de duzentos cem mil réis nas cidades mais importantes do Império e cem
mil réis nas demais localidades (caso de Pelotas). SILVA, Wellington Barbosa da. “Sob o império da
necessidade: Guarda Nacional e policiamento no Recife Oitocentista (1830-1850).” In: Revista CLIO,
Recife, v. 28.2, 2011; p. 3.
176
RIBEIRO, José Iran; FARINATTI, Luís Augusto. “Interesses em disputa: a criação da Guarda
Nacional numa localidade de fronteira (Alegrete, Rio Grande do Sul)”. In: MUGGE, Miquéias H.;
COMISSOLI, Adriano. Homens e armas: recrutamento militar no Brasil – século XIX. São Leopoldo:
Oikos, 2011; p. 111.
177
RIBEIRO, op. cit., pp. 140-141.
73
uma milícia atuando naquele território, era urgente a composição de um corpo policial,
além de não haver problemas em substituir um grupo por outro.
[...] alguns malévolos transitam impunes por alguns lugares, onde não há
força suficiente para os capturar, e entregá-los aos Magistrados [...]. A
Guarda Nacional deste Munícipio / única força que nele existe / está formada
desde o ano 1832, [...] mas nem um nem outro Corpo [companhias da Guarda
Nacional em Pelotas] tem armamento, nem instrução, para se considerar esta
força na atitude que lhe compete, o que por vezes tem a Câmara Municipal
desta Vila feito constar à Presidência da Província, e constando a dita Câmara
que V. Ex.ea se dignou mandar distribuir o armamento requerido e que não
fora recebido pelo encarregado desta comissão, por ser o armamento velho e
precisar de conserto o qual não se pode fazer nesta Vila pela falta de artífices;
deliberou em Sessão de hoje, rogar a V. Ex.ea o fornecimento do necessário
armamento para a Guarda Nacional, principalmente desta Vila, que se acha
sem o serviço de patrulhas.181
178
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessão de 11 de maio de
1832.
179
AL-ALAM, Caiuá Cardoso. A negra força da princesa: polícia, pena de morte e correção em Pelotas
(1830-1857). Pelotas: Edição do autor; Sebo Icária, 2008; p. 66.
180
O assunto foi apresentado à Câmara em 20 de fevereiro de 1835 e debatido pelos vereadores na sessão
seguinte. ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 2. 1834-1844. Sessões de 20 de
fevereiro de 1835 e 27 de fevereiro de 1835.
181
Nessa correspondência enviada ao presidente da província o assunto debatido na Câmara e registrado
nas atas citadas acima foi explicado com maiores detalhes. AHRS. Correspondência expedida. Câmara
Municipal de São Francisco de Paula. Maço 103, caixa 46. 1832-1836. Doc. nº 85, 27/02/1835.
74
182
AL-ALAM, op. cit., p. 66.
183
SILVA, Wellington, Entre a liturgia…, op. cit., p. 35.
184
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessões de 17 de dezembro
de 1832 e 7 de janeiro de 1833.
185
RIBEIRO; FARINATTI, op. cit., p. 99.
75
186
AL-ALAM, op. cit., p. 65
187
SILVA, Wellington, Entre a liturgia…, op. cit., p. 78.
76
vinte a trinta guardas municipais permanentes para esta vila”.188 Não foram registrados
os detalhes do debate sobre o assunto, se é que ocorreu, apenas que a proposta foi
aprovada. Não há também nenhuma menção à motivação que havia levado os
vereadores a fazer tal solicitação ou por que era necessário um número maior de guardas
municipais no povoado.
188
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessão de 11 de maio de
1832.
189
AHRS. Correspondência expedida. Câmara Municipal de São Francisco de Paula. Maço 103, caixa
46. 1832-1836. Doc. nº 3, 11/05/1832.
77
190
AL-ALAM, op. cit., p. 50
191
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessão de 7 de agosto de
1832.
78
192
Embora utilizemos aqui esse exemplo, em que a Câmara de Jaguarão e a citação ao general Fructuoso
Rivera confirmam que o “Estado vizinho” citado nas atas é a República Oriental do Uruguai, acreditamos
que mesmo em outros momentos quando é aventado o perigo de emissários estrangeiros, a referência é
feita em relação ao Uruguai.
193
O ofício enviado pela Câmara de Jaguarão à Câmara de Pelotas foi transcrito em correspondência
desta Câmara para o presidente da província. AHRS. Correspondência expedida. Câmara Municipal de
São Francisco de Paula. Maço 103, caixa 46. 1832-1836. Doc. n.º 71a, 28/08/1834.
194
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 2. 1834-1844. Sessão de 28 de agosto de
1834.
195
ATAS da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 2. 1834-1844. Sessão de 7 de outubro de
1834.
79
Lavalleja e Fructuoso Rivera (eleito presidente em 1830) que gerou uma guerra civil
entre 1832 e 1834.196
196
Sobre o assunto, ver: SALA DE TOURON, Lucía; TORRE, Nelson de la; RODRIGUEZ, Julio Carlos.
Después de Artigas (1820-1836). Montevideo: Ediciones Pueblos Unidos, 1972. Embora o foco central
do livro seja as relações de propriedade no campo, é feita uma relação desse assunto com as questões
políticas do Uruguai.
197
MONTEIRO, Victor Gomes. Um inventário do medo: a Pelotas escravista e a representação do medo
através das Atas da Câmara Municipal de Pelotas (1832-1850). Trabalho de Conclusão de Curso (Curso
de História). Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, 2012; p. 98.
198
Sobre a influência e o temor do “haitianismo” no Brasil imperial, ver: KLEIN, Herbert S. A escravidão
africana: América Latina e Caribe. São Paulo, Brasiliense, 1987; REIS, João José. “ ‘Nos achamos em
campo a tratar da liberdade’: a resistência negra no Brasil oitocentista”. In MOTA, Carlos Guilherme
(org.), Viagem incompleta: a experiência brasileira. São Paulo, SENAC, 2000; MOREL, Marco. “O
abade Grégoire, o Haiti e o Brasil: repercussões no raiar do século XIX.” In: Almanack Braziliense, São
Paulo, nº. 2, pp. 76-90, novembro de 2005. Disponível em:
<http://www.almanack.usp.br/PDFS/2/02_artigos_3.pdf>. Acesso em: 05/05/2013; NASCIMENTO,
Washington Santos. “Além do medo: a construção de imagens sobre a revolução haitiana no Brasil
escravista (1791 – 1840)”. In: Cadernos de Ciências Humanas, v. 10, n. 18, dez. 2007, pp. 469-488.
Disponível em: <http://rho.uesc.br/revistas/especiarias/ed18/4_washington.pdf>. Acesso em: 05/05/2013;
YOUSSEF, Alain El. “Haitianismo em perspectiva comparativa: Brasil e Cuba (sécs. XVIII-XIX)”. In:
Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, 4, Curitiba, maio 2009.
80
Esta Câmara, cumprindo as Ordens por V. Ex.ea dirigidas, oficia aos Juízes de
Paz de seu Município para determinarem aos respectivos Comandantes de
Companhias já organizadas, que convidem os Guardas Nacionais, afim de
voluntariamente se apresentarem para formar um Corpo de Destacamento, e
não pode deixar de levar ao Conhecimento de V. Ex.ea quanto seria
perigosa a marcha dos Guardas Nacionais deste Município para a
Fronteira na presente crise em que os do Estado Vizinho apenas fazendo
a guerra entre si, enviam Emissários disfarçados para revoltarem a
Escravatura, com a qual / segundo notícias verídicas / esperam reforçar
suas débeis fileiras, sendo bem constante, que [o] Distrito desta Vila tem
para mais de quatro mil escravos, quase unidos segundo a posição das
Charqueadas, e a única força para os conter são os Guardas Nacionais,
que fazem este Distrito respeitável, acrescendo terem chegado de
diversas Províncias pessoas desconhecidas, que apesar de se haverem
conservado em sossego, aproveitarão talvez algumas delas a ocasião de
199
ALVES, Andréia Firmino. “Reflexões sobre a escravidão no Brasil (1810-1830)”. In: FACITEC, v. 5,
n. 1, Art. 5, ago-dez. 2010; pp. 6-7.
200
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003; ______; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no
Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
201
MONTEIRO, op. cit., p. 83.
81
202
AHRS. Correspondência expedida. Câmara Municipal de São Francisco de Paula. Maço 103, caixa
46. 1832-1836. Doc. nº 20, 06/08/1832.
82
Capítulo 3
203
BRASIL. Lei de 1º de outubro de 1828. Dá nova forma às Câmaras Municipais, marca suas
atribuições, e o processo para sua eleição, e dos Juízes de Paz. Coleção das Leis do Império do Brasil de
1828 – Primeira Parte. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1878.
204
BRASIL. Lei de 1º de outubro de 1828. Dá nova forma às Câmaras Municipais, marca suas
atribuições, e o processo para sua eleição, e dos Juízes de Paz. Coleção das Leis do Império do Brasil de
1828 – Primeira Parte. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1878.
205
BRASIL. Lei de 1º de outubro de 1828. Dá nova forma às Câmaras Municipais, marca suas
atribuições, e o processo para sua eleição, e dos Juízes de Paz. Coleção das Leis do Império do Brasil de
1828 – Primeira Parte. Rio de Janeiro: Typografia Nacional, 1878; art. 67 e 68; pp. 84-85.
83
206
Antônio José Gonçalves Chaves aponta a existência, em 1822, de 22 charqueadas na freguesia de São
Francisco de Paula. A área urbana da freguesia, que havia sido instituída em 1812, contava, segundo
Chaves, com 217 prédios. CHAVES, Antônio José Gonçalves. [1822] Memórias ecônomo-políticas sobre
a administração pública do Brasil. Porto Alegre: Companhia União de Seguros Gerais, 1978, p. 179.
207
BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1.
1832-1835. Sessão de 05 de maio de 1832.
208
Embora na presente pesquisa o método prosopográfico não tenha sido aplicado completamente,
utilizamos de alguns de seus pressupostos para coletar e analisar as informações sobre os vereadores.
Conforme destaca Lawrence Stone, para compreender o funcionamento de uma instituição é necessário
estudar as pessoas que estavam ligadas a essa organização. Os atores sociais devem ser investigados
levando-se em conta sua individualidade, pois o fato de serem oficiais da Câmara Municipal e
responderem por ela não implica em um pensamento homogêneo dos vereadores. STONE, Lawrence.
“Prosopography”, In: ______. The Past and the Present, London & NY, Routledge; 1987, pp. 45-73.
84
209
Conforme informação oferecida por Helen Osório, o testamento de Antônio Soares de Paiva (pai) data
de 1825 e a partilha de seus bens foi realizada em 1827, o que comprova seu falecimento durante esse
período de 2 anos. Agradecemos a Helen Osório por disponibilizar essas informações.
210
BRASIL. Constituição (1824). Constituição politica do Império do Brasil (de 25 de Março de 1824).
Artigo 91. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm>. Acesso em:
15/02/2012.
211
BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1.
1832-1833. Sessões de 27 de agosto de 1833 e 15 de outubro de 1833.
212
Três das esposas de quem dispomos de informações foram esposas do vereador Joaquim José da Cruz
Secco.
213
Manuel Magalhães utilizou a grafia “Álvares” no lugar de “Alves”.
214
MAGALHÃES, Manuel Antônio. “Almanaque da Vila de Porto Alegre com reflexões políticas
interessantes sobre o estado atual da capitania do Rio Grande de São Pedro.” In: Revista do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, ano 88, nº 143, 2008, pp. 119-139.
85
Dos vereadores Joaquim Ribeiro Lopes da Silva e João Alves Pereira dispõe-se
de poucas informações. Encontramos Joaquim Ribeiro em 1831 apadrinhando Joaquina,
215
MENEGAT, Carla. O tramado, a pena e as tropas: família, política e negócios do casal Domingos
José de Almeida e Bernardina Rodrigues Barcellos (Rio Grande de São Pedro, século XIX). Dissertação
(Mestrado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, RS, 2009; p. 69. O mesmo padrão foi observado anteriormente em estudos sobre o
período colonial, ver: BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Os Senhores da Terra. Campinas:
CMU/Unicamp, 1997. KÜHN, Fábio. Gente da fronteira: família, sociedade e poder no sul da América
português – século XVIII. Niterói: UFF, 2006. (Tese de Doutorado); METCALF, Alida. Family and
frontier in colonial Brazil: Santana de Parnaíba, 1580-1822. Austin: University of Texas Press, 2005.
86
Quanto a João Alves Pereira, este foi registrado como padrinho em vinte e dois
assentos batismais (realizados entre 1824 e 1844),217 o que demonstra a grande inclusão
deste na localidade. Ele foi, ao lado de Domingos Rodrigues Ribas, membro da
Sociedade Promotora da Indústria Rio-grandense – localizada em Rio Grande –, da qual
também participaram João Francisco Vieira Braga218 (cunhado de Domingos Rodrigues
Ribas), Francisco Xavier Ferreira (tio de Domingos Rodrigues Ribas), João Jacinto de
Mendonça (juiz de paz em Pelotas, cunhado compadre de Alexandre Vieira da Cunha e
de João Antônio Ferreira Viana), Manoel Vieira da Cunha (irmão de Alexandre Vieira
da Cunha), Mateus Gomes Viana (cunhado de Guilherme Rodrigo de Carvalho), João
de Miranda Ribeiro e João Maria de Sá (testamenteiros de Manoel Alves de Moraes e
procuradores de Rita Leocádia de Moraes, quando viúva de Manoel) e Bento Gonçalves
da Silva (compadre de Domingos José de Almeida).219 A participação de dois
vereadores e de pessoais vinculadas a outros vereadores de Pelotas na Sociedade
Promotora demonstram que os vínculos entre os oficiais da Câmara estendiam-se para
além da esfera política.220
216
ECHENIQUE apud MÜLLER, Dalila. “Feliz a população que tantas diversões e comodidades goza”:
Espaços de sociabilidade em Pelotas. Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós-Graduação
em História, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo, RS, 2010; pp. 339-340.
217
Os registros de batismos serão analisados mais detalhadamente no item 2.3.
218
João Francisco Vieira Braga (1793-1887) foi comerciante, charqueador e estancieiro. Participou
também da política, sendo eleito vereador na vila de Rio Grande por três vezes (1818, 1824 e 1829), e
deputado provincial em 1835. Em 1854 recebeu o título de barão, em 1866 de visconde e em 1885 de
conde. FRANCO, Sérgio da Costa. Dicionário político do Rio Grande do Sul, 1821-1937. Porto Alegre:
Suliani Letra&Vida, 2010; p. 43. CARVALHO, Mario Teixeira de. Nobiliário sul-riograndense. Porto
Alegre: Livraria do Globo, 1937;199-200.
219
KLAFKE, Álvaro Antonio. O Império na província: construção do Estado nacional nas páginas de O
propagador da Indústria Rio-grandense – 1833-1834. Dissertação (Mestrado em História). Programa de
Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2006; p. 25-
26. De acordo com o autor, Domingos Rodrigues Ribas era capitão da Guarda Nacional e estancieiro,
também “vendia estâncias da República Oriental na província” (p. 25). Quanto a João Alves Pereira, este
também foi eleito deputado provincial suplente em 1835, ao lado de Domingos José de Almeida e João
Batista de Figueiredo Mascarenhas.
220
Álvaro Klafke aponta que os membros da Sociedade Promotora formavam redes parentais e de
negócios (característica que herdada do Antigo Regime) e que “as ligações parentais atuariam como
reforço de coesão de uma atuação política em grande medida pautada por interesses concretos”.
KLAFKE, op. cit.; p. 30.
87
couros na fronteira, tendo o próprio comerciante confessado que “não apenas fizera
contrabando, como teria mesmo oferecido suborno a um oficial da Guarda”.221 Por volta
da década de 1780, José Vieira da Cunha e Rafael Pinto Bandeira, ambos
contrabandistas, tiveram algumas desavenças, provavelmente devido a uma dívida não
paga. Se naquele período José Vieira da Cunha aparece em uma situação de dificuldades
financeiras, isso se modifica nas décadas seguintes, pois quando de seu falecimento, em
1810, o negociante havia acumulado fortuna, conforme aponta Helen Osório ao analisar
as maiores fortunas no Rio Grande do Sul entre 1765 e 1825.222
Antônio Soares de Paiva era pai de Antônio Soares de Paiva Filho, vereador
suplente da Câmara de Pelotas. Em 1805, os três sócios (José Vieira da Cunha, José
Rodrigues Barcellos e Miguel da Cunha Pereira, além de José Tomás da Silva e Antônio
Soares de Paiva) deram um lance para arrematar um contrato, em concorrência com um
grupo de negociantes do Rio de Janeiro. Embora tivessem oferecido um valor maior que
o do grupo de negociantes fluminenses e seus sócios de Lisboa, a Junta da Fazenda
optou por negar a solicitação de José Vieira e seus parceiros, sob a explicação de que
não poderiam honrar o valor oferecido, pois os bens que serviam de garantia não eram
suficientes.225 Mais tarde, Antônio Soares de Paiva e José Vieira da Cunha arremataram
o contrato dos dízimos sobre os animais para o triênio 1810-1812 e, no triênio seguinte,
após o falecimento de José Vieira da Cunha, Antônio Soares de Paiva juntamente com
221
GIL, Tiago Luís. Infiéis transgressores: os contrabandistas da fronteira (1760-1810). Dissertação
(Mestrado em História). Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, RS, 2002; p. 172.
222
A respeito do conflito, ver: Ibid.; pp. 189- 190. Sobre fortuna de José Vieira da Cunha, ver: OSÓRIO,
OSÓRIO, Helen. O império português no sul da América: estancieiros, lavradores e comerciantes. Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2007; p. 274.
223
Sobre Antônio Soares de Paiva, “foi Capitão, negociante de grosso tracto [sic] no Rio Grande do Sul e
no Rio de Janeiro, e contractador [sic] dos dízimos das carnes e couros do Rio Grande durante vários
anos. Era natural da Colônia do Sacramento e faleceu em princípios de 1825.” CARVALHO, op. cit.; p.
128.
224
OSÓRIO, Helen, op. cit.; p. 322.
225
OSÓRIO, Helen, op. cit; pp. 322-323.
88
seus filhos, Antônio e Israel, arrematou novamente o contrato. Márcia Eckert Miranda
destaca que a arrematação de Antônio Soares de Paiva nesses dois triênios rompeu com
o “domínio de companhias formadas por negociantes não residentes”, marcando uma
alteração na política de concessão de contratos, em uma tentativa de aproximação da
Coroa com os negociantes residentes na província.226 Essas informações demonstram a
proximidade entre as famílias citadas, indicando a existência de relações anteriores ao
período de atuação dos vereadores por pelo menos uma geração.
226
MIRANDA, Márcia Eckert. Continente de São Pedro: a administração pública no período colonial.
Porto Alegre: CORAG, 2000; p. 129.
227
Domingos de Castro Antiqueira, nascido em Viamão, recebeu os títulos de barão (1829) e de visconde
de Jaguari (1846). Atuou junto às forças legalistas durante a Revolução Farroupilha e quando ocorreu a
chamada Campanha do Uruguai, contribuiu ao ceder grandes quantias de dinheiro ao governo imperial.
Faleceu em Pelotas, no ano de 1852. Sobre o visconde de Jaguari, ver: CARVALHO, Mario, op. cit., pp.
127-130.
228
Manuel nasceu em 1804, na vila de Rio Grande, e dedicou-se à atividade militar, na qual obteve
grande destaque. Seus serviços prestados ao Imperador lhe renderam diversas honrarias, dentre as quais
destacam-se os títulos de barão de Porto Alegre, em 1852, de visconde, em 1858, e, por fim, de visconde,
em 1868. Atuou também na política, sendo eleito deputado. Casou-se duas vezes: a primeira com Maria
Balbina Alvares da Gama, filha do barão de Saicã; a segunda com Bernardina Soares de Paiva. Sobre o
conde de Porto Alegre, ver: CARVALHO, Mario, op. cit., pp. 202-207.
229
CARVALHO, Mario, op. cit., p. 128.
89
e Rosa Perpétua de Lima, ambos naturais dos Açores.230 Juntamente com alguns de seus
irmãos, Cipriano instalou-se em Pelotas no início do século XIX onde se empenhou na
atividade charqueadora.231 Cipriano também é citado, como já foi visto, no Almanaque
da Vila de Porto Alegre, de 1808, como comerciante na vila de Rio Grande.232
Com Rita Bernarda da Silva de Bitancourt, Cipriano teve duas filhas, Cipriana e
Maria Cipriana. A primeira contraiu matrimônio com Domingos Pinto França
Mascarenhas, irmão de João Batista de Figueiredo Mascarenhas (também vereador) e a
segunda casou-se com Vicente José da Maia, importante advogado da cidade.
230
Ao chegarem ao Rio Grande do Sul, ambos se instalaram em Rio Grande, de onde fugiram para
Viamão em 1763, quando houve a invasão espanhola. NEVES, Ilka. Domingos José de Almeida e sua
descendência. Porto Alegre: EDIGAL, 1987; pp. 29-30.
231
Cipriano possuía duas charqueadas, conforme: GUTIERREZ, Ester J. B. Negros, charqueadas e
olarias: um estudo sobre o espaço pelotense. Pelotas: Editora UFPel, 2001; p. 123.
232
MAGALHÃES, Manuel; op. cit.
233
BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1.
1832-1833.
234
Sobre a instituição dos juízes de paz no Brasil, ver: FLORY, Thomas. El Juez de Paz y el Jurado en el
Brasil Imperial, 1808-1871. México: Fondo de Cultura Económica, 1986. Quanto à atuação destes no Rio
Grande do Sul, sobretudo em Porto Alegre, ver: CODA, Alexandra. Os eleitos da Justiça: a atuação dos
juízes de paz em Porto Alegre (1827-1841). Dissertação (Mestrado em História). Programa de Pós-
Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2012.
90
235
BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1.
1832-1833.
236
Como o período era de quatro anos, cada um exercia as funções por um ano. A ocupação do cargo não
era, necessariamente, realizada por ordem de quem recebia mais votos. Por vezes, o indivíduo que
recebera maior número de votos não podia assumir no primeiro ano, passando a responsabilidade ao
próximo e, posteriormente, em um dos três anos seguintes, assumia as funções de juiz de paz. Um
exemplo está em: BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de
Paula. Livro 2. 1834-1844. Sessões de 15 de julho de 1835 e 20 de Julho de 1835.
237
NEVES, op. cit., pp. 15-16; MENEGAT, op. cit., pp. 50-51.
91
Legislaturas
Vereadores 1833-
1832
1836
Alexandre Vieira da Cunha* Eleito Eleito
Antônio Soares de Paiva Filho ** Suplente
Bernardino José Marques Canarim Suplente
Cipriano Rodrigues Barcellos Eleito Eleito
Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos ** Suplente
Domingos José de Almeida Eleito Eleito
Domingos Rodrigues Ribas Suplente
Francisco Xavier de Faria Suplente
Guilherme Rodrigo de Carvalho Suplente
João Alves Pereira Eleito Eleito
João Antônio Ferreira Viana Substituto Eleito
João Batista de Figueiredo Mascarenhas Eleito Eleito
Joaquim José da Cruz Secco Suplente
Joaquim Ribeiro Lopes da Silva Suplente
Manoel Alves de Moraes** Eleito Eleito
Fontes: BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro
1. 1832-1835; Idem, Livro 2. 1835-1844.
* Presidente da Câmara Municipal entre 1833 e 1836.
** Em 1835, Antônio Soares de Paiva e Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos assumiram como
vereadores, devido ao aumento do número de representantes municipais.
*** Presidente da Câmara Municipal no ano de 1832.
238
Vicente José da Silva Chagas Maia nasceu em Caçapava do Sul, no ano de 1807. Formou-se bacharel
em Direito na Academia de São Paulo, em 1834. Além de vereador em Pelotas (eleito em 1845 e 1853),
Vicente elegeu-se deputado provincial em 1846 e 1848. FRANCO, op. cit.; p. 134.
239
Domingos José de Almeida foi eleito, novamente, nos anos de 1849, 1857 e 1861; Alexandre Vieira da
Cunha, em 1849.
92
Por lei, era proibida a eleição de membros da mesma família (pai e filho, irmãos
ou cunhados) para o cargo de vereador. Por esse motivo, em eleição realizada em sete
de setembro de 1832 (para legislatura de 1833 a 1836), Boaventura Rodrigues
Barcellos, irmão de Cipriano Rodrigues Barcellos, não pôde ser efetivado. Em casos
como esse, o critério para determinar quem ocuparia o cargo era o número de votos, e
Cipriano, com 230 votos (48 a mais que seu irmão), acabou sendo reeleito240. Contudo,
outras formas de parentesco consanguíneo e fictício eram permitidas: Cipriano
Rodrigues Barcellos, por exemplo, era tio de Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos e
da esposa de Domingos José de Almeida, Bernardina Rodrigues Barcellos241.
240
José Rodrigues Barcellos, Bernardino Rodrigues Barcellos e Inácio Rodrigues Barcellos, também
irmãos de Cipriano, figuraram entre os cidadãos que receberam votos no pleito, porém o número de votos
recebidos foi insuficiente para os eleger. BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila
de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessão de 18 de setembro 1832.
241
Bernardina aparece nas fontes com o sobrenome “Rodrigues Barcellos”, “Rodrigues de Lima” e
“Barcellos de Almeida”. Menegat aponta para o uso estratégico dos sobrenomes nesse caso. MENEGAT,
op. cit., 78-79.
242
MENEGAT, op. cit., p. 69.
93
envolvido com o comércio de gado muar, onde se instalou sob a “proteção” de João
Batista de Figueiredo Mascarenhas, também natural da província mineira.243
A trajetória de Domingos José de Almeida se assemelha ao padrão verificado
por Helen Osório ao tratar do recrutamento de comerciantes na vila de Rio Grande no
final do século XVIII e início do XIX. Osório destaca a importância das redes de
sociabilidade dos negociantes no momento em que estes chegavam ao Rio de Janeiro,
onde recebiam a educação necessária para o exercício das atividades mercantis e
recebiam seu primeiro trabalho como caixeiro. De acordo com a autora,
243
Carla Menegat apresenta as divergências entre os historiadores sobre os detalhes da ida de Almeida à
Pelotas. Ibid., pp. 58-59.
244
OSÓRIO, Helen, op. cit.; p. 290.
245
Essa possibilidade é aventada por Carla Menegat. Outro ponto a destacar é que Manoel Moreira
Figueiredo e o pai de Domingos José de Almeida, Domingos José de Almeida e Silva, eram naturais do
Minho, Portugal (o que reforça a proximidade com o padrão exposto por Osório). MENEGAT, op. cit.,
p.59.
246
MENEGAT, op. cit., p. 70.
94
247
Ibid., p. 70.
248
Sobre as estratégias da família Rodrigues Barcellos, Carla Menegat faz uma análise mais aprofundada
em sua dissertação.
249
Os assuntos mais complexos, que exigiam algum tipo de averiguação e análise antes de se determinar
o que deveria ser feito, eram encaminhados para comissões (de três, quatro ou cinco membros) nomeadas
pelos vereadores. Elas eram responsáveis por investigar o caso, decidir como seria resolvido e então
apresentar um parecer à Câmara. De acordo com o tema, as comissões podiam ser formadas somente por
vereadores, somente por cidadãos ou por esses dois grupos.
250
A Lei das Câmaras instituía a criação de uma Comissão (denominada “permanente”) encarregada de
supervisionar prisões, conventos e instituições públicas de caridade.
251
O convite para ser integrante de uma comissão formada pela Câmara não era obrigatório, embora o
que se veja nas atas das sessões é que aqueles que não podiam ou não queriam participar da comissão
sempre enviavam requerimentos à Câmara pedindo sua liberação e apresentando as motivações para tal
solicitação.
95
a escolha de quem ocuparia esses cargos, com exceção dos juízes de paz,252 era feita
pelos próprios vereadores, que selecionavam aqueles indivíduos com quem possuíam
alguma proximidade - um parente, um compadre, um sócio... Por exemplo, o cirurgião
João Ferreira Paes, nomeado em 1832 como procurador da Câmara, era sócio e
procurador de Domingos José de Almeida (vereador nessa mesma legislatura).253 Outro
procurador de Domingos, o boticário David Pamplona Corte Real, também foi indicado
a cargos, tendo sido membro da primeira comissão permanente instituída e escolhido
para juiz municipal em 1836; além disso, ele também foi eleito juiz de paz.254 Um
terceiro exemplo é o do Dr. José Vieira Viana, genro do vereador Manoel Alves de
Moraes e vereador em legislaturas posteriores, além de amigo pessoal e sócio de
Domingos José de Almeida255, que foi nomeado juiz de órfãos em 1832 e juiz municipal
em 1836. Em 1833, o filho de José Joaquim da Cruz Secco, graduado bacharel em
Direito pela Universidade de São Paulo em 1832, foi nomeador juiz municipal interino,
após Tomás Francisco Flores, detentor do cargo, informar que necessitava se ausentar
da cidade.256
Como bem assinalou Jonas Vargas para o caso de deputados provinciais, gerais,
senadores e ministros do Segundo Reinado, as ideias defendidas pelos representantes
políticos nem sempre eram as mesmas de seu partido. Da mesma forma, a atuação dos
vereadores não estava diretamente relacionada com as divisões entre grupos sociais e/ou
correntes ideológicas, como se pode perceber ao analisar as atas da Câmara de
Pelotas.260 As motivações dos representantes políticos respondiam a questões muito
mais complexas do que o simples alinhamento político-ideológico, como relações de
parentesco, amizade, clientela e negócios particulares. Domingos José de Almeida e
João Batista de Figueiredo Mascarenhas, por exemplo, apesar de serem liberal e
conservador, respectivamente, atuavam na Câmara muitas vezes apoiando as decisões
um do outro, possivelmente por serem amigos próximos ou apenas por possuírem a
258
Mais tarde Domingos de Castro Antiqueira recebeu o título de Visconde.
259
BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1.
1832-1833. Sessão de 22 de setembro de 1832.
260
Jonas Vargas defende que não havia uma relação direta obrigatória entre as ideias do partido (seja
Liberal, seja Conservador) e partidário. Durante o período regencial, os partidos políticos ainda não
haviam se organizado, por isso cabe a utilização de outros parâmetros para realizar a análise do caso dos
vereadores, como grupos socioeconômicos (charqueadores, estancieiros, etc) ou correntes ideológicas
(liberais ou conservadores, pois mesmo sem partidos institucionalizados havia grupos de indivíduos que
compartilhavam as mesmas crenças políticas). VARGAS, op. cit., p. 27.
97
Com o que foi mostrado até aqui, percebe-se a circulação de indivíduos nos
cargos indicativos e eletivos da Câmara. Em geral, os mais votados para as funções de
vereador eram os mesmos eleitos para juiz de paz, dentre os quais eles acabavam
escolhendo desempenhar suas colocações como representantes políticos. Não se pode
afirmar o porquê dessa opção, que à primeira vista parece incoerente, uma vez que – de
acordo com a legislação vigente durante o período regencial – o juizado de paz oferecia
maior “poder” sobre os cidadãos do que a Câmara. No entanto, pode-se apontar que a
ocupação de cargos – mesmo os eletivos – pode responder a uma estratégia dos grupos
sociais, em que os integrantes de uma rede de sociabilidade dividiam-se nos cargos
existentes. A “distribuição” dos cargos seria feita seguindo uma certa lógica: aqueles
que conseguiam ser eleitos vereadores ocupavam os cargos;262 normalmente, aqueles
que ficavam como suplentes dos vereadores também eram eleitos para a função de juiz
de paz, a qual assumiam; aqueles que eram jovens ou que não possuíam tanto prestígio
e reconhecimento na comunidade e, portanto, não eram eleitos (para vereador ou juiz de
paz), contavam com o apoio daqueles encarregados da vereança, que os indicavam para
colocações como membros de comissões ou fiscais, o que auxiliava a alavancar suas
carreiras políticas se esse fosse seu plano de carreira a longo prazo.
261
Conforme já foi dito, segundo Menegat, “foi sob a proteção do Dr. Mascarenhas que Domingos se
estabeleceu em Pelotas”; a ligação entre os dois parece retroceder ao Bispado de Mariana, local de
procedência de ambos. MENEGAT, op. cit., pp. 59, 94 e 165.
262
Por ano, ocorriam menos de quarenta sessões da Câmara e as decisões que exigiam maiores cuidados
eram repassadas para as comissões, dividindo, assim, o trabalho dos vereadores. Já os juízes de paz
trabalhavam de acordo com a demanda, podendo lidar com casos bem mais complexos e difíceis de
resolver, o que exigia maior dedicação de quem ocupava a função.
263
REVEL, Jacques. “Microanálise e construção do social.” In: ______ (Org.). Jogos de escalas: a
experiência da microanálise. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998; pp. 26-27.
264
“[...] existen reglas y normas vinculantes; pero se trata de uma selva de reglas y normas que son
contradictorias entre sí, que se plantean más bien como um quadro elástico que exige estratégias y
98
Assim, quando falamos das estratégias utilizadas pelos vereadores, estamos entendendo
as ações desses homens como suas escolhas perante sua realidade, uma escolha
demonstrada pela opção por um determinado padrinho e não por outro: por isso, uma
estratégia.
elecciones continuas, personales, de grupo, colectivas”. LEVI, Giovanni. “Un problema de escala”. In:
Relaciones: Revista de El Colegio de Michoacán, v. 24, n. 95, pp. 279-288, 2003; p. 283. Tradução livre
da autora.
265
Sobre compadrio, ver: HAMEISTER, Martha Daisson. Para dar calos à nova povoação: estudo sobre
as estratégias sociais e familiares a partir dos registros batismais da vila do Rio Grande (1738-1763). (c.
1738 - c. 1763). Rio de Janeiro: UFRJ 2006. (Tese de Doutorado); pp. 185-222; KÜHN, op. cit.; pp. 230-
234.
266
MENEGAT, op. cit., p. 81.
267
BRÜGGER, Silvia Maria Jardim. Minas patriarcal: família e sociedade. (São João Del Rei – séculos
XVIII e XIX). São Paulo: Annablume, 2007; p. 284.
99
268
LEWIN, Linda. Política e Parentela na Paraíba: um estudo de caso da Oligarquia de base familiar.
Rio de Janeiro: Record, 1993; p. 117.
269
Linda Lewin destaca a questão da fragmentação familiar, normalmente ocasionada pelo
distanciamento geográfico sem renovação de laços. Muitas vezes, essa renovação ocorria através de
enlaces matrimoniais entre primos, embora a fragmentação também pudesse ser uma estratégia para
manter a coesão de determinado ramo da família, garantindo sua manutenção e reprodução. Ver: LEWIN,
op. cit., pp. 124-128.
270
Embora a presente dissertação tenha como delimitação temporal os anos de 1832 e 1836, optamos por
ampliar o período de análise dos registros de batismo dos vereadores para os anos anteriores (sendo 1812
o ano de criação da freguesia e, portanto, o momento em que se inicia o registro de batismos em Pelotas)
e imediatamente posteriores ao de nossa delimitação por serem importantes para avaliarmos a inserção
dos vereadores na sociedade local. O corpo documental para a análise dos compadrios são cinco livros de
batismo: o primeiro (composto por dois volumes – denominados A e B) de 1812 a 1825; o segundo de
1825 a 1829; o terceiro (também divido em A e B) de 1829 a 1833; o quarto de 1833 a 1844; o quinto de
1844 a 1847.
100
ser anotados em 1843271; em 1844, por um curto período de tempo, os nomes dos avós e
a naturalidade dos pais não são armazenados.272
Uma análise das relações de compadrio dos vereadores pode clarear nossa
compreensão a respeito de seus interesses ou mesmo sua movimentação entre diferentes
grupos sociais como, por exemplo, o apadrinhamento de filhos de escravos e libertos.
Uma análise dos compadrios nos possibilita que se compreenda a relação entre os
vereadores e a sociedade de então, bem como sua inserção em diferentes redes de
sociabilidade por meio do parentesco fictício.
271
A ausência dessas informações deve-se, provavelmente, à mudança de pároco, tendo sido todos esses
registros (entre dezembro de 1840 e novembro de 1843) feitos pelo vigário Jerônimo José Espínola.
272
Também devido à troca de párocos, esses registros foram feitos pelo vigário Joaquim Inácio Freire
(substituto de Claudio José de Souza Mursa) durante seu primeiro mês como responsável pela tarefa.
273
HAMEISTER, op. cit., p. 238.
101
Josefa, dos quatorze padrinhos (contando, na verdade, doze indivíduos) somente três
são parentes da família paterna. A escolha desses três parentes de Alexandre pode ter
sido realizada por outras questões, como o status social, visto que, pelo menos dois
deles (Boaventura e Joaquim) eram ou se tornariam figuras eminentes da sociedade
pelotense e sul-rio-grandense.
Dentre os convites recebidos por Alexandre para apadrinhar filhos de casais com
os quais não possuía relação de parentesco consanguíneo consta o de Bernardino José
Marques Canarim. Em 1826, Maria foi batizada sem o registro do nome da mãe,
constando como incógnita. Sete anos mais tarde, seu pai, Bernardino José, apresentou-
se ao pároco solicitando que o registro de Maria fosse alterado, tendo incluído o nome
da mãe, a viúva Sebastiana Delfina Tarouco, natural de Mostardas. Seis anos mais tarde,
Alexandre e Bernardino José atuaram juntos na Câmara Municipal, o primeiro como
vereador eleito e o segundo como membro de comissões e, entre 1833 e 1836, como
suplente da vereança. O batismo de Maria demonstra que ambos possuíam uma relação
próxima, além de anterior à instalação da Câmara Municipal e à atuação de ambos na
instituição. Para madrinha de Maria, foi convidada Senhorinha Joaquina de Lima,
esposa de João Antônio Ferreira Viana, eleito vereador entre 1832 e 1836, ou seja, no
mesmo período em que Alexandre e Bernardino José também desempenhavam
atividades junto à Câmara. Dessa forma, esse batismo atesta a proximidade entre três
famílias que, anos mais tarde, teriam representantes eleitos para a instituição camarária.
103
Inácio Soares do Rego e sua esposa haviam convidado anos antes a Cipriano
Rodrigues Barcellos e Domingos Rodrigues Ribas para serem padrinhos de suas filhas,
ambas denominadas Maria. Assim, os batismos das filhas de Inácio e Cândida apontam
para a existência de uma rede de relações prévia à instalação da Câmara. Inclusive, em
1832, Inácio Soares (provavelmente charqueador)276 foi nomeado fiscal pelos
vereadores (dentre os quais se encontravam Alexandre e Cipriano).
O casal teve pelo menos cinco filhos, dos quais quatro foram registrados em
Pelotas. Além desses filhos, tiveram uma filha chamada Bernardina, que, em 1855,
casou-se com Manuel Marques de Souza, então barão de Porto Alegre.
274
Inácio foi nomeado fiscal pela Câmara Municipal. BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da
Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessão de 10 de outubro de 1832.
275
Maria Josefa já havia sido madrinha de Florinda, filha de sua irmã homônima com João Jacinto de
Mendonça, em 1818.
276
De acordo com o livro de atas da Câmara, Inácio possuía um “estabelecimento” próximo à estrada
denominada Passo dos Carros, por onde era conduzido o gado que chegava região da campanha e
destinado às charqueadas. BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da Câmara da Vila de São
Francisco de Paula. Livro 1. 1832-1833. Sessão de 27 de setembro de 1832.
104
Quadro 5: Convites de compadrio feitos por Antônio Soares de Paiva Filho e Clara
Joaquina de Castro Antiqueira.
Criança Batismo Padrinho Madrinha
Domingos de Castro Antiqueira
Ismael 08/01/1831 Leocádia Amália da Silveira
(avô materno)
Israel Soares de Paiva Maria Joaquina de Castro (tia
Clara 01/09/1833
(tio paterno) materna)
Domingos de Castro Antiqueira Maria Joaquina de Castro (tia
Domingos 24/08/1834
(avô materno) materna)
João de Castro Antiqueira
Antero 05/02/1836 Rosa Angélica da Silveira
(tio materno)
Fonte: ARQUIVO DA MITRA DIOCESANA DE PELOTAS. Livro de Batismo, nº 3A (1829-1833).
______. Livro de Batismo, nº 4 (1833-1844). CARVALHO, Mario Teixeira. Nobiliário sul-riograndense.
Porto Alegre: Livraria do Globo, 1937; pp. 127-130.
277
BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 2.
1833-1844. Sessão de 28 de janeiro de 1835.
278
BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA, Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1.
1832-1833. Sessão de 08 de maio de 1832.
105
filhas.279 Antônio também foi convidado por casais que ocupavam posições subalternas
na hierarquia social da época. Apadrinhou duas crianças declaradas pardas,
descendentes de escravos libertos: Sezefredo, neto de Rosa, africana, e Luiza, filha de
Francisco Mendes (apontado no registro pelo pároco como “preto forro”) e Sebastiana
Rosa, cujos avós (avó paterna e avô materno) eram escravos libertos.
279
Na verdade, há outros dois batismos de filhas do casal Vaz Baião em que Antônio Soares de Paiva é
padrinho, no entanto, nesses dois casos não sabemos o convite correspondia ao Antônio pai ou ao
Antônio filho.
280
Para identificarmos os batismos nos quais Antônio Soares de Paiva Filho foi padrinho, sendo ele
homônimo de seu pai, utilizamos os seguintes critérios: quando era acompanhado de Clara Joaquina de
Castro (sua esposa), quando no registro constava que o padrinho era solteiro ou ao nome seguia-se a
inscrição “Filho”. Também nos registros feitos a partir de 1827, ano em que se realizou a partilha de
Antônio Soares de Paiva (pai), por motivos óbvios, consideramos Antônio Soares de Paiva Filho como
padrinho.
106
humana de Sebastiana Delfina Tarouco” os dois haviam tido quatro filhos: Maria,
Henrique, Bernardino e Joaquim.281 Sebastiana e Bernardino ainda tiveram mais um
filho, chamado Luís, batizado como filho natural (por seus pais não serem casados) em
1836. Em 1846, Canarim enviou um requerimento ao vigário solicitando que, por ter ele
[Bernardino José] contraído matrimônio com Sebastiana Delfina, fosse alterado o
estatuto de seus filhos, agora legitimados perante a lei.282
Dos sete batismos a que Bernardino José foi convidado a ser padrinho (quadro
8), possuímos informações apenas sobre Antônio José Domingues (que já havia sido
padrinho de um dos filhos de Canarim) e Isaac Storme que, de acordo com o registro,
era natural de Nova Iorque. É possível que Storme se encontrasse em Pelotas devido a
interesses nos negócios de importação e exportação, sobretudo de couros, que atraíram
ingleses e norte-americanos para Rio Grande.283 O batismo de Maria Isabel estabelece
281
ARQUIVO DA MITRA DIOCESANA DE PELOTAS. Livro de Batismo, nº 4 (1833-1844), fl. 26v,
13/09/1833.
282
ARQUIVO DA MITRA DIOCESANA DE PELOTAS. Livro de Batismo, nº 5 (1844-1847), fl. 92,
22/04/1846.
283
Para saber mais sobre a presença de agentes mercantis estrangeiros em Rio Grande, ver: BERUTE,
Gabriel Santos. Atividades mercantis do Rio Grande de São Pedro: negócios, mercadorias e agentes
mercantis (1808-1850). (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2011.
107
Cipriano Rodrigues Barcellos e sua esposa tiveram apenas duas filhas, Cipriana
Justina e Maria Cipriana. A primeira casou-se com Domingos Pinto França
Mascarenhas, irmão de João Batista de Figueiredo Mascarenhas (vereador de Pelotas
entre 1832 e 1836), enquanto Maria Cipriana contraiu matrimônio com o advogado
Vicente José da Maia. O padrinho de Cipriana foi José, irmão de Cipriano (ver quadro
9); no caso do batismo de Maria, não sabemos muito a respeito de Manuel Albino,
apenas que, além de o mesmo sobrenome do vereador Guilherme Rodrigo de Carvalho
apontar para a possibilidade de parentesco, ele foi padrinho de seu primeiro filho.
108
Tendo apadrinhado vinte e uma crianças entre 1813 e 1847 (quadro 10),
Cipriano era parente consanguíneo de cinco desses: os dois filhos de João, seus
sobrinhos (o primeiro foi registrado no livro de batismo sem nome; a segunda se
chamava Cipriana); Cipriana e Rita, filhas de Maria Cipriana; Maria Teodora, filha de
109
Cipriana. As três afilhadas (Cipriana, Rita e Maria Teodora) eram, portanto, netas de
Cipriano Rodrigues Barcellos. Inversamente ao que ocorrera com Antônio Soares de
Paiva ao convidar seu sogro, o barão de Jaguari, para ser padrinho de seus filhos como
uma forma de revalidar as relações parentais, aqui são as filhas e genros de Cipriano
que, ao tornarem-no mais do que avô, pai espiritual de seus filhos, procuram renovar os
laços. Dispondo do título de Comendador, conhecido charqueador e negociante,
Cipriano foi uma figura influente na região pelotense. Outro convite de compadrio a
Cipriano foi feito por José Resende de Ayllon, natural da “cidade da Paz” (La Paz), no
vice-reinado do Peru.
A estratégia do casal parece ter sido a de ter como padrinho de seus filhos os
parentes consanguíneos de Carolina, enquanto o reforço de laços com a família de
Cipriano Joaquim se dava pelo apadrinhamento de primos paternos (quadro 12).
Cipriano Joaquim foi padrinho dos filhos de: Bernardino, seu tio paterno; Joaquim, seu
primo (filho de Bernardino); Bernardina (filha de Bernardino), sua prima, com
Domingos José de Almeida (vereador entre 1832 e 1835); seu primo Boaventura
284
Patrício José Corrêa da Câmara foi um militar português que , em 1822, optou pela nacionalidade
brasileira. Foi nomeado Comandante da fronteira de Rio Pardo e em retribuição aos serviços prestados em
defesa do território luso-brasileiro, recebeu o título de barão de Pelotas em 1825 e, no ano seguinte, o de
visconde de Pelotas. Estabelecido na província do Rio Grande do Sul, tornou-se proprietário de terras.
Sobre o visconde de Jaguari, ver: CARVALHO, Mario, op. cit., pp. 186-194.
285
Antero José Ferreira de Brito nasceu em Porto Alegre no ano de 1787. Serviu ao reino português e,
depois de 1822, ao Brasil em diversas campanhas militares, pelas quais recebeu condecorações. Foi
designado Comandante das Armas na Bahia, Pernambuco, Goiás, Santa Catarina e Rio de Janeiro, além
de ter sido ministro da Guerra e ministro interino da Marinha. Em 1837, durante a Revolução Farroupilha,
assumiu o cargo de presidente da província do Rio Grande do Sul. Foi agraciado, em 1855, com o título
de Barão de Tramandaí. Sobre o barão de Tramandaí, ver: CARVALHO, Mario, op. cit., pp. 334-336.
110
Sua esposa, Carolina, o acompanhou à pia batismal apenas três vezes das oitos
que temos registros. No caso do batismo de Manoela, como madrinha esteve presente
Rita Bernarda, esposa de Cipriano Rodrigues Barcellos, cuja filha, Maria Cipriana
Justina, também acompanhou seu primo Cipriano Joaquim no batismo de Maria.
286
Entre Epaminondas e Abrilina, o casal teve outro filho, chamado Aristides, que faleceu ainda enquanto
criança.
113
Domingos e Mariana tiveram pelo menos nove filhos, dos quais oito estavam
vivos em 1870, ano em que Domingos faleceu. Temos informações sobre o batismo de
apenas dois deles (quadro 15), sendo que o primeiro, nascido em 1835 (afilhado de João
Rodrigues Ribas, irmão de Domingos, e da avó materna, Maria Clemência) parece ter
falecido ainda criança, pois nove anos após seu nascimento, o casal batizou outro filho
com o mesmo nome, Francisco.287
287
Além da duplicidade do nome, no inventário realizado em nome de Domingos, consta apenas um
descendente do casal chamado Francisco.
114
288
Para identificar a presença de Domingos como padrinho, utilizamos os mesmos critérios usados
anteriormente para o caso de Antônio Soares de Paiva Filho: quando estava acompanhado por sua esposa,
Mariana Alves Rodrigues, ou sua mãe, Luzia Firmiana do Pilar (com devida identificação de “mãe” e
“filho”) ou quando no registro constava que o padrinho era solteiro. Há quatro registros que, não se
encaixando em nenhum desses critérios, creditamos como de seu pai.
289
BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 2.
1833-1836. Sessão de 03 de dezembro de 1834.
115
290
ARQUIVO DA MITRA DIOCESANA DE PELOTAS. Livro de Batismo, nº 3B (1829-1833), fl. 74v,
03/08/1831.
116
291
Rachel Marques, através da análise de registros batismais, reflete sobre as estratégias da família
Silveira. Ela identifica Joaquina Francisca da Silveira como filha de Mariana Eufrásia da Silveira,
sobrinha de Isabel Francisca da Silveira e seu esposo Manuel Bento da Rocha, um dos primeiros
proprietários de terras na região onde se formou o povoado pelotense. MARQUES, Rachel dos Santos.
Por cima da carne seca: hierarquia e estratégias sociais no Rio Grande do Sul (c. 1750-1820).
Dissertação (Mestrado em História). Colegiado dos Cursos de Pós-Graduação do Departamento de
História da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, 2011; p. 102.
292
Em sua dissertação de mestrado, um dos casos que Natália Garcia Pinto acompanha é justamente o dos
pais de Lucrécia, Germano do Espírito Santo e Felícia Maria da Conceição, demonstrando como havia
“uma tradição familiar de investimento na alforria, já que a avó materna consta como liberta”, embora a
prática da oficialização do matrimônio tenha sido uma novidade adotada pelo casal, cuja motivação,
segundo Natália, pode ter sido parte de uma estratégia de inserção no mundo dos livres ou como uma
forma de assegurar a liberdade da filha recém-nascida. PINTO, Natália Garcia. A benção compadre:
Experiências de parentesco, escravidão e liberdade em Pelotas, 1830/1850. (Dissertação de Mestrado).
Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-Graduação, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São
Leopoldo, RS, 2012; pp. 89-90. Grifo da autora.
117
293
Embora o autor estude o século XVIII e algumas das práticas sociais daquele período já não fossem
utilizadas no século XIX (período aqui analisado), acreditamos que, para esse caso, a comparação é
pertinente, mesmo que feita com ressalvas. FRAGOSO, João Luís Ribeiro. “Fidalgos e parentes de
pretos: notas sobre a nobreza principal da terra do Rio de Janeiro (1600-1750).” In: FRAGOSO;
ALMEIDA E SAMPAIO (Orgs.). Conquistadores e negociantes. Histórias de elites no Antigo Regime
nos trópicos. América lusa, séculos XVI a XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007; p. 109.
Grifo do autor.
118
Nos registros de batismo de Pelotas, entre os anos 1812 e 1847, não encontramos
o nome da esposa (caso tenha sido casado) de João Alves Pereira. É possível que esses
registros tenham sido feitos em Rio Grande, caso a data seja anterior a 1812 ou por
preferência de João e sua esposa. O que se encontra em Pelotas é o assento batismal de
seu neto, Inácio, nascido em 1845, no qual obtemos a informação de que tinha um filho
294
HAMEISTER, op. cit.; p. 246.
295
Natália Pinto ainda identifica como um bando a família de Boaventura Rodrigues Barcellos, parente
consanguíneo dos vereadores Cipriano Rodrigues Barcellos e Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos;
PINTO, op. cit; pp. 131-132.
296
Também é possível que uma análise dos registros de batismos de escravos torne possível a obtenção de
informações sobre outros apadrinhamentos de Guilherme Rodrigo de Carvalho, uma vez que nossa
análise foi realizada com base nos livros de assentos batismais de livres.
297
PINTO, op. cit., p. 131.
119
(Cândido Alves Pereira, casado com Inácia Machado Alves Pereira). O mesmo registro
aponta que João já havia falecido quando seu neto foi batizado (1846).
Entre 1824 e 1844 (pouco antes de seu falecimento), João foi padrinho de vinte e
duas crianças no povoado de Pelotas (quadro 20), sendo vinte dos casos anteriores a
1836, ano em que a Revolução Farroupilha alterou as atividades cotidianas na província.
Dentre essas, batizou dois filhos do mais tarde também vereador, João Batista de
120
298
Para saber mais sobre Jerônimo de Ornelas e seu genro Manuel Gonçalves Meireles (avó de Francisco
Gonçalves Meireles), assim como para o familiar Francisco Corrêa Pinto, ver: KUHN, op. cit..
121
Quadro 21: Convites de compadrio feitos por João Antônio Ferreira Viana e
Senhorinha da Silveira.
Quadro 22: Convites de compadrio recebidos por João Antônio Ferreira Viana.
Do batismo de sete filhos (quadro 23), João Batista convidou dois vereadores
(João Alves Pereira, duas vezes, e Domingos José de Almeida), José Rodrigues
Barcellos (membro da comissão permanente da Câmara Municipal de Pelotas em 1832)
e seu irmão, Domingos Pinto França Mascarenhas, genro de Cipriano Rodrigues
Barcellos.
Joaquim José da Cruz Secco, Maria do Carmo Soares, Teresa Angélica de Sá Secco e
Balbina Jacobina Soares Secco
Joaquim José contraiu matrimônio por três vezes, sendo sua primeira esposa
Maria do Carmo Soares. Desse casamento, nasceu Maria do Carmo Secco – em 1796,
mesmo ano em que faleceu sua mãe –, posteriormente esposa de Antônio José
Gonçalves Chaves.
Quadro 25: Convites de compadrio recebidos por Joaquim José da Cruz Secco.
O casal teve três filhas (das quais não dispomos do assento de batismo): Rosália
Alves Viana (casou-se com José Vieira Viana)301, Augusta Manuela das Chagas Xavier
(viúva de Francisco das Chagas, uniu-se em segundas núpcias a Tomás José Xavier) e
Leonídia Leocádia de Moraes (casou-se com o italiano José Salsiccioni). Após o
casamento de suas filhas, Manoel apadrinhou quatro netos (quadro 26): três filhos de
Rosália e José Vieira Viana e um de Augusta Manuela e seu primeiro marido, Francisco
das Chagas.
Manoel foi escolhido como padrinho de duas filhas de Joaquim Luís de Lima e
Ana Felícia. Em meio a esses dois convites, Joaquim também foi padrinho de Henrique,
filho de Bernadino José Marques Canarim. Outro casal que convidou Moraes para
299
ARQUIVO DA MITRA DIOCESANA DE PELOTAS. Livro de Batismo, nº 2 (1825-1829).
300
De acordo com seu testamento, transcrito em seu inventário, consta o local de falecimento. APERS.
Inventário de Manoel Alves de Moraes. Vara de Família, Sucessão e Provedoria, n. 231, 1844.
301
José desenvolveu diversas atividades em Pelotas, atuando como juiz municipal e vereador em 1845.
125
apadrinhar suas filhas por duas vezes foi Bento José de Andrade e Antônia Maria de
Jesus. Bento José ainda convidou o vereador, uma terceira vez, para o batismo de seu
filho com Genoveva Silveira da Rosa.
302
LEVI, Giovanni. “Family and kin: a few thoughts”. In: Journal of Family History, v. 15, n. 4, 1990,
pp. 567-578; citação pp. 571-572.
126
Percebe-se [...] que os pais das crianças teceram laços verticais, uma vez que
os padrinhos livres foram mais expressivos do que os padrinhos escravos.
Além disso, é curioso salientar que os compadres e comadres do segmento
forro também tivessem pouca expressividade nos laços firmados pelo
compadrio na pia batismal da catedral de São Francisco de Paula.
Possivelmente, os pais dos infantes estariam almejando alianças sociais com
pessoas de condição social superior na tentativa de inserirem (e inserirem
seus filhos) no mundo dos livres, ficando distantes do mundo do cativeiro.303
303
PINTO, op. cit, p. 119.
127
foram contabilizados por Pinto), somada à questão da proteção social oferecida pelos
padrinhos, explica o porquê da elevada frequência de padrinhos livres.
304
FARINATTI, Luís Augusto. A espada e a capela: relações de compadrio dos oficiais de milícia na
fronteira meridional do Brasil (1816-1835). In: História Unisinos, nº 16, set./dez., 2012, pp. 294-306;
citação na p. 301. Essa configuração heterogênea já foi observada para o caso de outras localidades, como
mostram os estudos de João Fragoso, Martha Hameister, Daniel Santilli. FRAGOSO, João. “O Capitão
João Pereira de Lemos e a parda Maria Sampaio: notas sobre as hierarquias rurais costumeiras no Rio de
Janeiro do século XVIII.” In: M.R. de OLIVEIRA; C. ALMEIDA, Exercícios de micro-história. Rio de
Janeiro: FGV Editora, 2009, p. 157-207. HAMEISTER, op. it. SANTILLI, Daniel. Representación
gráfica de redes sociales: un método de obtención y un ejemplo histórico. Mundo Agrario, Revista de
Estudios Rurales, vol. 3, nº 6, 2003. Disponível em
<http://www.scielo.org.ar/pdf/magr/v3n6/v3n6a01.pdf>. Acesso em: 05/05/2013.
128
Número de Número de
Vereador
compadrios votos
Cipriano Rodrigues Barcellos 17 230
João Alves Pereira 14 158
Manoel Alves de Moraes 12 180
Domingos José de Almeida 11 224
Alexandre Vieira da Cunha 10 285
Guilherme Rodrigo de Carvalho 10 73
Antônio Soares de Paiva Filho 8 100
Francisco Xavier de Faria 7 122
Domingos Rodrigues Ribas 7 112
Joaquim José da Cruz Secco 7 94
João Antônio Ferreira Viana 6 124
Cipriano Joaquim Rodrigues Barcellos 4 97
João Batista de Figueiredo Mascarenhas 4 178
Bernardino José Marques Canarim 4 89
Joaquim Ribeiro Lopes da Silva 1 70
Fonte: ARQUIVO DA MITRA DIOCESANA DE PELOTAS. Livro de Batismo, nº 1 a 5 (1812-1847).
BPP. SÃO FRANCISCO DE PAULA. Atas da Câmara da Vila de São Francisco de Paula. Livro 1. 1832-
1833. Sessão de 18 de setembro de 1832.
O caso de João Batista de Figueiredo Mascarenhas pode ser explicado pelo fato
de sua esposa, assim como ele próprio, ser natural de outra localidade. Diferentemente
305
É importante salientar que os batismos contabilizados nesse quadro são referentes ao período de tempo
que se inicia em 1812 até 1836 e, por esse motivo, inclui diferentes temporalidades. Além da própria
diferença de idade entre os vereadores, havia o tempo em que estes se encontravam em Pelotas, muitos
deles tendo residência e negócios em Rio Grande por anos e/ou décadas antes de começarem a ter
interesses em Pelotas.
306
O único suplente que recebeu menos votos que Guilherme Rodrigo de Carvalho foi Joaquim Ribeiro
Lopes da Silva que, por sua vez, compareceu apenas uma vez à pia batismal na freguesia de São
Francisco de Paula entre 1812 e 1847.
129
do que ocorreu com outros vereadores que se estabeleceram em Pelotas, João Batista
não desposou uma mulher cuja família estivesse inserida na comunidade local, o que
proporcionaria ao noivo diversas possibilidades de reforçar os vínculos com a família de
sua esposa, incluindo a prática do compadrio.307 No entanto, o matrimônio com
Manuela Adelaide de Moreira possibilitou a Mascarenhas ampliar suas conexões
políticas, visto que seu sogro, Manuel Moreira de Figueiredo, havia sido Conselheiro de
Dom João VI, o que denota a relevância da família Figueiredo no âmbito político
nacional.308 Dito isso, é plausível que Mascarenhas tenha obtido sucesso em transferir,
ao menos em parte, o prestígio da família de sua esposa do Rio de Janeiro para Pelotas,
o que se pode ser verificado pelo número de votos recebidos por João Batista. Em
contrapartida, o número de batismos se mostra baixo (quatro convites até 1832 e sete se
forem contabilizados todos os convites recebidos até 1847), algo que, se comparado
com o número de votos recebidos, demonstra que a carreira política de Mascarenhas não
estava baseada na inserção social deste através do compadrio.
A respeito de João Alves Pereira, embora pelo número de votos tenha sido o
sexto mais votado, ressalta-se que essa distinção entre grupos de vereadores (mais
307
Como já foi visto, o compadrio entre cunhados era bastante frequente entre os vereadores.
308
De acordo com as informações de que dispomos, o sobrenome Figueiredo, presente na assinatura de
João Batista, provém de seu matrimônio. Casos como esse, em que o noivo adota o sobrenome da família
da noiva, são bastante incomuns. Linda Lewin em sua pesquisa encontrou uma ocorrência de tal fato, o
que ela explicou como sendo uma maximização da vantagem política, em que o “político, dependente das
influentes conexões com os parentes de sua esposa, (...) escolheu seu sobrenome de acordo com isso”.
LEWIN, op. cit., p. 122.
130
CONCLUSÃO
da Câmara era essencial para garantir a ordem na vila, pois regulava e fiscalizava a
abertura de estradas e ruas, além de conceder licenças para funcionamento de
estabelecimentos. Mesmo o funcionamento da Guarda Nacional e da Guarda
Permanente Municipal passava pelo aval dos vereadores.
governo provincial necessita de maior atenção em estudos futuros, nesse caso também
abarcando um período de tempo maior, capaz de demonstrar a permanência ou não das
famílias desses primeiros vereadores nos quadros da Câmara Municipal de Pelotas.
134
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* Carolina Josefina Corrêa da Câmara faleceu a 01/11/1838, em Rio Grande.
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Apêndice 2 – Relação nominal dos vereadores e suplentes (1832-1836), suas respectivas esposas e pais de suas esposas.
Nome Esposa Naturalidade Sogro Naturalidade Sogra Naturalidade
Maria Josefa Leopoldina Colônia do
Alexandre Vieira da Cunha Rio Grande José Tomás da Silva Rio de Janeiro Clara Maria da Cunha
da Silva Sacramento
Clara Joaquina de Castro Domingos de Castro Joaquina de Castro
Antônio Soares de Paiva Filho Rio Grande do Sul Viamão Bagé
Antiqueira Antiqueira Antiqueira
Bernardino José Marques Sebastiana Delfina Maria Francisca de
Mostardas João Antônio Tarouco Portugal Mostardas
Canarim Tarouco São José
Rita Bernarda da Silva Eugênia Ferreira da
Cipriano Rodrigues Barcellos Rio Grande Luís Pereira da Silva Alentejo, Portugal Rio Grande
de Bitancourt (1810) Conceição
Cipriano Joaquim Rodrigues Carolina Josefina Corrêa Bento Corrêa da Maria Bernarda
Rio Pardo Rio Pardo Porto Alegre
Barcellos da Câmara (1831) Câmara Ferreira de Brito
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