TAUHATA Radioprotecao e Dosimetria - Fundamentos - Ed. 2014

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RADIOPROTEO E DOSIMETRIA:

FUNDAMENTOS

Luiz Tauhata
Ivan Salati
Renato Di Prinzio
Antonieta R. Di Prinzio

INSTITUTO DE RADIOPROTEO E DOSIMETRIA

COMISSO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR

RIO DE JANEIRO

10a - Reviso Abril/2014


Todos os direitos reservados aos autores

Tauhata, L., Salati, I. P. A., Di Prinzio, R., Di Prinzio, M. A. R. R.

Radioproteo e Dosimetria: Fundamentos - 10 reviso abril/2014 - Rio de


Janeiro - IRD/CNEN.
344p.

ISBN: 978-85-67870-02-1

1.Radiaes 2.Fontes de Radiao Ionizante 3.Interao da Radiao com a


Matria 4.Efeitos Biolgicos da Radiao 5.Grandezas Radiolgicas e
Unidades 6.Detectores de Radiao 7.Noes de Proteo Radiolgica
8.Gerncia de Rejeitos Radioativos 9.Transporte de Materiais Radioativos
10.Anexo A: Normas da CNEN 11.Anexo B: Radiaes Ionizantes e
Legislao para Trabalhadores 12.Anexo C: Determinao de Blindagens
em Radioterapia.

Comisso Nacional de Energia Nuclear

Instituto de Radioproteo e Dosimetria

Av. Salvador Allende, s/n - Barra da Tijuca


Rio de Janeiro - RJ
CEP: 22783-127

Tel.: (21) 2173-2885


(21) 2173-2833
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e-mail:
[email protected]
[email protected]
[email protected]
[email protected]

Nota: todos os conceitos emitidos e contidos nesta publicao, so de responsabilidade


exclusiva dos autores.

ii
APRESENTAO

Esta uma verso revisada da apostila Radioproteo e Dosimetria:


Fundamentos, preparada para atender aos cursos de treinamento oferecidos pelo
IRD e as pessoas interessadas no assunto.

Nesta 10a Reviso foram atualizados conceitos, principalmente no captulo


de Grandezas Radiolgicas, devido atualizao da Norma CNEN-NN-3.01
Diretrizes Bsicas de Proteo Radiolgica, publicada no Dirio Oficial da Unio
em 01 de setembro de 2011.

Foram includos um captulo relacionado Gerncia de Rejeitos, outro


relativo ao Transporte de Materiais Radioativos e trs anexos sobre Normas da
CNEN, Radiaes Ionizantes e Legislao para Trabalhadores e Determinao
de Blindagens em Radioterapia. Foram ainda adicionadas vrias tabelas de uso
em proteo radiolgica, para facilitar a consulta por parte dos usurios.

Na preparao da apostila, os autores desejam agradecer a todos os


colegas da Diviso de Metrologia de Radionucldeos, principalmente Estela
Maria de Oliveira Bernardes, pela pacincia e colaborao.

A todos que tiverem acesso ao texto, solicitamos sugestes, ementas e


correes, para que possamos elaborar um trabalho aperfeioado e com menor
nmero de falhas ou omisses.

Os autores

iii
NDICE

Relao de Figuras .................................................................................................... xix

Relao de Tabelas .................................................................................................. xxvi

CAPTULO 1

RADIAES ................................................................................................................ 1

1.1. COMPOSIO DA MATRIA E TEORIA ATMICA ............................ 1


1.1.1. Viso macroscpica da matria .......................................................................... 1
1.1.2. Substncias simples e compostas........................................................................ 1
1.1.3. Fases e estados da substncia ............................................................................. 1
1.1.4. Viso microscpica da matria ........................................................................... 1
1.1.5. A aceitao do tomo.......................................................................................... 2
1.1.6. Lei das propores definidas .............................................................................. 2
1.1.7. Lei das propores mltiplas .............................................................................. 2

1.2. ESTRUTURA DA MATRIA......................................................................... 2


1.2.1. Composio da matria....................................................................................... 2
1.2.2. Estrutura do tomo .............................................................................................. 2
1.2.3. Raio atmico ....................................................................................................... 2
1.2.4. Raio inico .......................................................................................................... 3
1.2.5. Estrutura eletrnica ............................................................................................. 3
1.2.6. Energia de ligao eletrnica .............................................................................. 4
1.2.7. Estrutura nuclear ................................................................................................. 5
1.2.8. Notao qumica ................................................................................................. 5
1.2.9. Organizao nuclear ........................................................................................... 5
1.2.10. Tabela de nucldeos .......................................................................................... 6
1.2.11. Istopos, isbaros e istonos ............................................................................ 7
1.2.12. Tabela Peridica ............................................................................................... 8
1.2.13. Preenchimentos das camadas eletrnicas ....................................................... 10
1.2.14. Regra de Hund ................................................................................................ 12

1.3. TRANSIES ................................................................................................ 12


1.3.1. Estados excitados .............................................................................................. 12
1.3.2. Transio eletrnica .......................................................................................... 12
1.3.3. Transio nuclear .............................................................................................. 13
1.3.4. Meia-vida do estado excitado ........................................................................... 13

1.4. ORIGEM DA RADIAO ........................................................................... 15


1.4.1. Ftons ............................................................................................................... 15
1.4.2. Raios X ............................................................................................................. 16

1.5. RADIOATIVIDADE ...................................................................................... 16


1.5.1. Constante de decaimento ............................................................................... 16
1.5.2. Atividade de uma amostra, A ........................................................................... 16
1.5.3. Atividade de uma amostra em um dado instante .............................................. 16

iv
1.5.4. Decaimento da atividade com o tempo ............................................................. 17
1.5.5. Unidades de atividade - o becquerel e o curie .................................................. 17
1.5.6. Mltiplos e submltiplos das unidades de atividade ........................................ 18
1.5.7. Meia-vida do radioistopo T1/2 ......................................................................... 18
1.5.8. Vida-mdia do radioistopo, .......................................................................... 18

1.6. RADIAES NUCLEARES ......................................................................... 19


1.6.1. Unidades de energia de radiao ...................................................................... 19
1.6.2. Radiao ........................................................................................................ 19
1.6.2.1. Emisso - ...................................................................................................... 20
1.6.2.2. O neutrino v e o anti-neutrino ..................................................................... 20
1.6.2.3. Equao da transformao do nutron na emisso - ..................................... 20
1.6.2.4. Emisso + ...................................................................................................... 20
1.6.2.5. Caractersticas da emisso beta ...................................................................... 20
1.6.2.6. Emisso de mais de uma radiao beta em um decaimento ........................... 22
1.6.2.7. Emissores puros........................................................................................... 22
1.6.2.8. Captura eletrnica, EC ................................................................................... 23
1.6.3. Radiao ........................................................................................................ 24
1.6.3.1. Equao da transformao no decaimento alfa .............................................. 24
1.6.3.2. Energia da radiao ..................................................................................... 25
1.6.4. Emisso gama ................................................................................................... 26
1.6.4.1. Caractersticas da emisso gama .................................................................... 26
1.6.4.2. Intensidade relativa de emisso I (branching ratio). .................................... 27
1.6.4.3. Valores de referncia para as energias das radiaes .................................. 28
1.6.5. Intensidade relativa das radiaes e atividade total .......................................... 30
1.6.6. Atividade e decaimento de uma mistura de radionucldeos ............................. 31
1.6.7. Esquema de decaimento de um radionucldeo .................................................. 32

1.7. INTERAES EM PROCESSOS DE DECAIMENTO ............................ 32


1.7.1. Raios X Caractersticos..................................................................................... 32
1.7.2. Eltrons Auger .................................................................................................. 33
1.7.3. Converso interna ............................................................................................. 33

1.8. RADIAO PRODUZIDA PELA INTERAO DE RADIAO


COM A MATRIA ........................................................................................ 35
1.8.1. Radiao de freamento (Bremsstrahlung) ........................................................ 35
1.8.2. Produo de pares ............................................................................................. 36
1.8.3. Radiao de aniquilao ................................................................................... 36

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................... 38

CAPTULO 2

FONTES NATURAIS E ARTIFICIAIS DE RADIAO IONIZANTE ............. 39

2.1. FONTES NATURAIS .................................................................................... 39


2.1.1. Origem dos elementos qumicos ....................................................................... 39
2.1.2. Composio qumica do homem referncia ..................................................... 40
2.1.3. Os elementos radioativos naturais .................................................................... 42

v
2.1.4. As famlias radioativas ..................................................................................... 42
2.1.5. O radnio e o tornio ........................................................................................ 44
2.1.6. A radiao csmica ........................................................................................... 47

2.2. FONTES ARTIFICIAIS ................................................................................ 47


2.2.1. Tipos de geradores de radiao ......................................................................... 48
2.2.2. Tubos de raios X ............................................................................................... 48
2.2.3. Aceleradores de partcula ................................................................................. 49
2.2.4. Aceleradores de eltrons ................................................................................... 49
2.2.5. Acelerador Van de Graaff ................................................................................. 50
2.2.6. Ciclotrons .......................................................................................................... 51
2.2.6.1. Ciclotrons para produo de radioistopos para medicina ............................. 51
2.2.6.2. O acelerador do Laboratrio Nacional de Luz Sincrotron ............................. 52
2.6.2.3. O Grande Colisor de Hadron (Large Hadron Collider) - LHC ..................... 53
2.2.7. Fontes de nutrons ............................................................................................ 54
2.2.8. Irradiadores com radioistopos......................................................................... 55
2.2.8.1. Bomba de Cobalto .......................................................................................... 55
2.2.8.2. Fontes para braquiterapia ............................................................................... 55
2.2.8.3. Irradiadores para gamagrafia .......................................................................... 56
2.2.8.4. Irradiador industrial ........................................................................................ 57
2.2.9. Efluentes e precipitaes .................................................................................. 57

2.3. INSTALAES NUCLEARES NO BRASIL ............................................. 59


2.3.1. Reatores nucleares ............................................................................................ 59
2.3.1.1. Reatores de potncia ....................................................................................... 60
2.3.1.2. Reatores de pesquisa ...................................................................................... 63
2.3.2. O ciclo do combustvel nuclear ........................................................................ 63
2.3.2.1. A minerao e extrao do urnio .................................................................. 63
2.3.2.2. Converso para hexafluoreto de urnio (UF6). ............................................... 65
2.3.2.3. O enriquecimento isotpico do urnio ........................................................... 65
2.3.2.4. A fabricao do elemento combustvel .......................................................... 66
2.3.2.5. O reprocessamento do combustvel................................................................ 67
2.3.2.6. Rejeitos radioativos no ciclo do combustvel ................................................. 68
2.3.2.7. Instalaes nucleares industriais do Ciclo do Combustvel no Brasil ............ 68
2.3.2.8. Instalaes nucleares de pesquisa no Brasil ................................................... 69

2.4. INSTALAES RADIATIVAS NO BRASIL ............................................ 72


2.4.1. Instalaes mdicas .......................................................................................... 72
2.4.1.1. Servios de Radioterapia ................................................................................ 72
2.4.1.2. Servios de Medicina Nuclear ........................................................................ 73
2.4.1.3. Instalaes de produo de radiofrmacos de meia-vida curta ...................... 73
2.4.2. Instalaes industriais ....................................................................................... 74
2.4.2.1. Instalaes de radiografia industrial ............................................................... 74
2.4.2.2. Indstrias que operam medidores nucleares ................................................... 74
2.4.2.3. Servios de perfilagem de petrleo ................................................................ 74
2.4.2.4. Irradiadores industriais de grande porte ......................................................... 74
2.4.3. Instalaes de pesquisa ..................................................................................... 75

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................... 76

vi
CAPTULO 3

INTERAO DA RADIAO COM A MATRIA ............................................. 77

3.1. IONIZAO, EXCITAO, ATIVAO E RADIAO DE


FREAMENTO ................................................................................................ 77
3.1.1. Excitao atmica ou molecular ....................................................................... 77
3.1.2. Ionizao ........................................................................................................... 77
3.1.3. Ativao do ncleo ........................................................................................... 77
3.1.4. Radiao de freamento ..................................................................................... 77

3.2. RADIAES DIRETAMENTE E INDIRETAMENTE


IONIZANTES ................................................................................................. 78
3.2.1. Interao ........................................................................................................... 78
3.2.2. Probabilidade de interao ou seco de choque .............................................. 78

3.3. INTERAO DA RADIAO ELETROMAGNTICA COM A


MATRIA ....................................................................................................... 79
3.3.1. Efeito Fotoeltrico ............................................................................................ 79
3.3.2. Pico de absoro K para o efeito fotoeltrico ................................................... 80
3.3.3. Efeito Compton ................................................................................................. 81
3.3.4. Espalhamento Compton coerente ou efeito Rayleigh ....................................... 83
3.3.5. Formao de par ............................................................................................... 83
3.3.6. Importncia relativa dos efeitos fotoeltrico, Compton e produo de pares ... 84
3.3.7. Coeficiente de atenuao linear total, ............................................................ 85
3.3.8. Coeficiente de atenuao linear em massa ....................................................... 86
3.3.9. Coeficiente de atenuao e seco de choque microscpica ............................ 87
3.3.10. Coeficiente de atenuao linear total de uma mistura ou composto ................. 88
3.3.11. Coeficiente de transferncia de energia ............................................................ 88
3.3.12. Coeficiente de absoro de energia .................................................................. 89

3.4. INTERAO DE NUTRONS COM A MATRIA ................................. 89


3.4.1. Classificao da energia dos nutrons .............................................................. 90
3.4.2. Tipos de interao com nutrons ...................................................................... 91
3.4.2.1. Ativao com nutrons ................................................................................... 92
3.4.2.2. Reao de fisso nuclear ................................................................................ 92

3.5. INTERAO DAS RADIAES DIRETAMENTE IONIZANTES


COM A MATRIA ........................................................................................ 94
3.5.1. Radiaes diretamente ionizantes ..................................................................... 94
3.5.2. Poder de freamento ........................................................................................... 95
3.5.3. Poder de freamento de coliso e de radiao .................................................... 96
3.5.4. Poder de freamento restrito ou LET ................................................................. 96
3.5.5. Alcance de partculas carregadas em um material (range) ............................... 96
3.5.5.1. Alcance mdio ................................................................................................ 96
3.5.5.2. Alcance extrapolado ....................................................................................... 97
3.5.5.3. Alcance mximo ............................................................................................. 97

3.6. INTERAO DE ELTRONS COM A MATRIA.................................. 97


3.6.1. Alcance para eltrons monoenergticos ........................................................... 98

vii
3.6.2. Atenuao das partculas beta ........................................................................... 99
3.6.3. Alcance das partculas beta ............................................................................. 100
3.6.4. Poder de freamento para eltrons de alta energia ........................................... 101
3.6.5. Valor efetivo de (Z/A) de um material ........................................................... 102

3.7. INTERAO DAS PARTCULAS COM A MATRIA ...................... 102


3.7.1. Alcance das partculas ................................................................................. 103
3.7.2. Alcance e atenuao das radiaes no ar e no tecido humano........................ 103

3.8. INTERAO DE FRAGMENTOS DE FISSO COM A MATRIA ... 104


3.8.1. Alcance de fragmentos de fisso .................................................................... 105

3.9. TEMPO DE PERCURSO ............................................................................ 105

3.10. PROCESSOS INTEGRADOS DE INTERAO: DISSIPAO DE


ENERGIA ...................................................................................................... 105

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................ 107

CAPTULO 4

EFEITOS BIOLGICOS DA RADIAO .......................................................... 108

4.1. ESTRUTURA E METABOLISMO DA CLULA ................................... 108


4.1.1. Estrutura bsica da clula ............................................................................... 108
4.1.2. Metabolismo celular ....................................................................................... 109
4.1.3. Fases da vida celular ....................................................................................... 109
4.1.3.1. O ciclo celular .............................................................................................. 109
4.1.3.2. Reproduo celular ....................................................................................... 110

4.2. INTERAO DA RADIAO COM O TECIDO BIOLGICO .......... 111


4.2.1. Formas e tipos de irradiao ........................................................................... 111
4.2.1.1. Exposio nica, fracionada ou peridica .................................................... 112
4.2.1.2. Exposio de corpo inteiro, parcial ou colimada ......................................... 113
4.2.1.3. Exposio a feixes intensos, mdios e fracos ............................................... 113
4.2.1.4. Exposio a ftons, partculas carregadas ou a nutrons ............................. 113
4.2.2. Danos celulares ............................................................................................... 114
4.2.3. Mutaes ......................................................................................................... 116
4.2.4. Modificao celular pela radiao .................................................................. 116
4.2.5. Morte celular ................................................................................................... 117
4.2.6. Curvas de sobrevivncia ................................................................................. 117
4.2.7. Detrimento ...................................................................................................... 118
4.2.8. Risco do efeito biolgico induzido pela radiao ionizante ........................... 118
4.2.9. Detectabilidade epidemiolgica...................................................................... 119

4.3. ETAPAS DA PRODUO DO EFEITO BIOLGICO PELA


RADIAO .................................................................................................. 119
4.3.1. Efeitos fsicos.................................................................................................. 119
4.3.2. Efeitos qumicos ............................................................................................. 120

viii
4.3.3. Efeitos biolgicos ........................................................................................... 121
4.3.4. Efeitos orgnicos - Doenas ........................................................................... 122

4.4. RADIOSSENSIBILIDADE DOS TECIDOS ............................................. 123


4.4.1. Efetividade biolgica relativa - RBE .............................................................. 123
4.4.2. Transferncia linear de energia - LET ............................................................ 124
4.4.3. Radiaes de baixo LET ................................................................................. 125
4.4.4. Induo de cncer pelas radiaes de baixo LET ........................................... 125
4.4.5. Radiaes de alto LET .................................................................................... 126
4.4.6. Induo de cncer pelas radiaes de alto LET .............................................. 126
4.4.7. Fator de eficincia da dose e da taxa de dose - DDREF ................................. 127
4.4.8. O fator de reduo DDREF ............................................................................ 127
4.4.9. Obteno do DDREF ...................................................................................... 127

4.5. CLASSIFICAO DOS EFEITOS BIOLGICOS ................................. 128


4.5.1. Denominao dos efeitos biolgicos .............................................................. 128
4.5.2. Efeitos estocsticos ......................................................................................... 128
4.5.3. Efeitos determinsticos.................................................................................... 129
4.5.4. Efeitos somticos ............................................................................................ 130
4.5.5. Efeitos genticos ou hereditrios .................................................................... 130
4.5.6. Efeitos imediatos e tardios .............................................................................. 131

4.6. REVERSIBILIDADE, TRANSMISSIVIDADE E FATORES DE


INFLUNCIA ............................................................................................... 131
4.6.1. Reversibilidade ............................................................................................... 131
4.6.2. Transmissividade ............................................................................................ 132
4.6.3. Fatores de influncia ....................................................................................... 132
4.6.3.1. Idade ............................................................................................................. 132
4.6.3.2. Sexo .............................................................................................................. 133
4.6.3.3. Estado fsico ................................................................................................. 133

4.7. EFEITOS BIOLGICOS PR-NATAIS................................................... 134

4.8. EFEITOS BIOLGICOS NA TERAPIA .................................................. 136


4.8.1. Radioterapia .................................................................................................... 136
4.8.2. Aplicaes oftalmolgicas e dermatolgicas .................................................. 136
4.8.3. Aplicao de radiofrmacos............................................................................ 136

4.9. SNDROME DE IRRADIAO AGUDA ................................................. 137


4.9.1. Exposies acidentais com altas doses ........................................................... 137
4.9.2. Exposio externa localizada .......................................................................... 138
4.9.3. Exposio de corpo inteiro de um adulto........................................................ 139
4.9.4. Sindrome de irradiao aguda......................................................................... 140
4.9.5. Dose letal para componentes da fauna e flora ................................................ 143

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................ 144

ix
CAPTULO 5

GRANDEZAS RADIOLGICAS E UNIDADES ................................................. 145


5.1. EVOLUO CONCEITUAL DAS GRANDEZAS .................................. 145
5.1.1. A quantificao da radiao ionizante ............................................................ 145
5.1.1.1. Campo de radiao ....................................................................................... 145
5.1.1.2. Grandezas dosimtricas ................................................................................ 145
5.1.1.3. Grandezas limitantes .................................................................................... 145
5.1.1.4. Grandezas operacionais ................................................................................ 146
5.1.1.5. Fatores de converso e condies de medio ............................................. 146
5.1.1.6. ICRP e ICRU ................................................................................................ 146
5.1.2. A notao diferencial ...................................................................................... 147

5.2. PROCEDIMENTO DE DEFINIO DAS GRANDEZAS


RADIOLGICAS......................................................................................... 147
5.2.1. Exigncia bsicas para a definio de uma grandeza ..................................... 147
5.2.2. Concepes estabelecidas pelas ICRP 26 e ICRP 60 ..................................... 148

5.3. GRANDEZAS RADIOLGICAS .............................................................. 149


5.3.1. Atividade, A .................................................................................................... 149
5.3.2. Fluncia, ...................................................................................................... 150
5.3.3. Exposio, X ................................................................................................... 150
5.3.4. Dose absorvida (Absorbed dose), D ............................................................... 151
5.3.5. Dose equivalente (Dose Equivalent), H, (ICRP 26). ...................................... 151
5.3.6. Dose equivalente num tecido ou rgo (Dose equivalent in a tissue or
organ) Dose HT (ICRP 26) e CNEN-NE-3.01 (1988). ................................... 153
5.3.7. Dose equivalente efetiva (Effective dose equivalent), HE (ICRP 26). ............ 153
5.3.8. Kerma, K......................................................................................................... 154
5.3.9. Dose absorvida comprometida (Committed absorbed dose), D() ................. 154
5.3.10. Dose equivalente comprometida num tecido (Committed equivalent dose
in a tissue), HT() (ICRP 26) .......................................................................... 154
5.3.11. Dose efetiva comprometida (Committed effective dose), HE) (ICRP 26). ... 155
5.3.12. Dose equivalente coletiva num tecido (Collective equivalent dose in a
tissue), ST ........................................................................................................ 155
5.3.13. Dose efetiva coletiva (Collective effective dose), S ........................................ 155

5.4. RELAES ENTRE AS GRANDEZAS ................................................... 155


5.4.1. Relao entre kerma (K) e dose absorvida (D) .............................................. 155
5.4.2. Relao entre kerma de coliso (KC) e a fluncia () .................................... 156
5.4.3. Relao entre exposio (X) e dose absorvida no ar (Dar)............................. 156
5.4.4. Relao entre dose absorvida no ar (Dar) e em outro material (Dm) ............. 156
5.4.5. Relao entre taxa de exposio () e atividade da fonte (A) ........................ 157
5.4.6. Relao entre dose efetiva (E) e atividade de uma fonte (A) puntiforme ...... 164
5.4.7. Relao entre dose efetiva (E) e atividade (A) por unidade de rea ............... 166
5.4.8. Relao entre dose absorvida na pele (DT) e atividade (A) por unidade de
rea de emissor beta ........................................................................................ 167
5.4.9. Relao entre dose efetiva (E) e atividade (A) de radionucldeo
incorporada ..................................................................................................... 170
5.5. GRANDEZAS OPERACIONAIS ............................................................... 173
5.5.1. Esfera ICRU .................................................................................................... 173

x
5.5.2. Campo expandido ........................................................................................... 174
5.5.3. Campo expandido e alinhado.......................................................................... 174
5.5.4. Grandezas operacionais para monitorao de rea ......................................... 174
5.5.4.1. Equivalente de dose ambiente (Ambient dose equivalent) H*(d)................. 174
5.5.4.2. Equivalente de dose direcional (Directional dose equivalent), H(d,) ...... 174
5.5.5. Grandeza operacional para monitorao individual ....................................... 175
5.5.5.1. Equivalente de dose pessoal (Individual dose equivalent), Hp(d) ............... 175
5.5.5.2. Equivalente de dose para ftons (Photon dose equivalent), HX ................... 175
5.5.6. Relaes entre as grandezas limitantes e operacionais ................................... 176

5.6. GRANDEZAS DEFINIDAS NA ICRP 60, EM SUBSTITUIO S


DA ICRP 26, E INCLUDAS NA NORMA CNEN-NN-3.01 (2011). ....... 177
5.6.1. Dose equivalente (Equivalent dose), HT ......................................................... 177
5.6.2. Dose efetiva (Effective dose), E ...................................................................... 177
5.6.3. Outras grandezas que mudaram de denominao ........................................... 178

5.7. COEFICIENTE DE RISCO, F .................................................................... 178

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................ 180

CAPTULO 6

DETECTORES DE RADIAO ........................................................................... 181

6.1. PRINCPIOS DE OPERAO DOS DETECTORES DE


RADIAO .................................................................................................. 181
6.1.1. Detectores de radiao .................................................................................... 181
6.1.2. Propriedades de um detector ........................................................................... 181
6.1.3. Eficincia de um detector ............................................................................... 182
6.1.3.1. Eficincia intrnseca do detector .................................................................. 182
6.1.3.2. Eficincia absoluta de um detector ............................................................... 182
6.1.4. Fatores que definem a escolha de detectores .................................................. 183
6.1.4.1. Tipo da radiao ........................................................................................... 183
6.1.4.2. Intervalo de tempo de interesse .................................................................... 183
6.1.4.3. Preciso, exatido, resoluo........................................................................ 183
6.1.4.4. Condies de trabalho do detector ............................................................... 183
6.1.4.5. Tipo de informao desejada ........................................................................ 184
6.1.4.6. Caractersticas operacionais e custo ............................................................. 184
6.1.5. Especificaes para monitores, dosmetros e sistemas de calibrao ............. 184
6.1.5.1. Monitor de radiao...................................................................................... 184
6.1.5.2. Dosmetro ..................................................................................................... 185
6.1.5.3. Sistema de calibrao ................................................................................... 185
6.1.5.4. Detector para medio de uma grandeza por definio ............................... 186

6.2. DETECO UTILIZANDO EMULSES FOTOGRFICAS .............. 186


6.2.1. Emulses fotogrficas ..................................................................................... 186
6.2.2. Mecanismo de interao da radiao com as emulses fotogrficas .............. 187
6.2.3. Interao de ftons e nutrons com a emulso fotogrfica ............................. 187
6.2.4. Aplicaes da dosimetria com emulses fotogrficas .................................... 187

xi
6.2.4.1. Monitorao pessoal de radiao X e gama ................................................. 187
6.2.4.2. Uso em raio X diagnstico ........................................................................... 188
6.2.4.3. Gamagrafia ................................................................................................... 189

6.3. DETECTORES TERMOLUMINESCENTES .......................................... 189


6.3.1. O mecanismo da termoluminescncia ............................................................ 189
6.3.2. Utilizao na deteco e dosimetria de radiao ............................................ 190
6.3.3. Principais materiais termoluminescentes ........................................................ 190
6.3.4. Leitor de TLD ................................................................................................. 190

6.4. DETECTORES GS ................................................................................ 191


6.4.1. Uso de gases como detectores ........................................................................ 191
6.4.2. Energia mdia para formao de um par de ons (W) em um gs .................. 191
6.4.3. Formao de pulso de tenso ou de corrente em detectores gs .................. 192
6.4.4. Regies de operao para detectores gs ..................................................... 192
6.4.4.1. Regio inicial no-proporcional ................................................................... 193
6.4.4.2. Regio de saturao de ons ......................................................................... 193
6.4.4.3. Regio proporcional ..................................................................................... 193
6.4.4.4. Regio de proporcionalidade limitada .......................................................... 194
6.4.4.5. Regio Geiger-Mller................................................................................... 194
6.4.4.6. Regio de descarga contnua ........................................................................ 194
6.4.5. Cmaras de ionizao ..................................................................................... 194
6.4.6. Detectores proporcionais ................................................................................ 198
6.4.7. Detectores Geiger-Mller ............................................................................... 199

6.5. DETECTORES CINTILAO .............................................................. 200


6.5.1. Caractersticas importantes de materiais cintiladores ..................................... 201
6.5.2. Eficincia de cintilao ................................................................................... 201
6.5.3. Emisso de luz em materiais cintiladores inorgnicos ................................... 201
6.5.4. A vlvula fotomultiplicadora .......................................................................... 202
6.5.5. Materiais cintiladores ...................................................................................... 204
6.5.5.1. O iodeto de sdio .......................................................................................... 204
6.5.5.2. O iodeto de csio .......................................................................................... 204
6.5.5.3. O germanato de bismuto............................................................................... 205
6.5.5.4. Sulfeto de zinco ativado ............................................................................... 205
6.5.6. Emisso de luz em materiais cintiladores orgnicos ...................................... 205
6.5.7. Materiais cintiladores orgnicos ..................................................................... 206
6.5.8. Cintiladores plsticos ...................................................................................... 206

6.6. DETECTORES CINTILAO LQUIDA............................................ 207


6.6.1. A soluo cintiladora ...................................................................................... 207
6.6.1.1. Solues cintiladoras comerciais.................................................................. 208
6.6.2. Processo de converso de energia em luz ....................................................... 208
6.6.2.1. A migrao de energia no solvente .............................................................. 209
6.6.2.2. A migrao de energia do solvente para o soluto ......................................... 209
6.6.2.3. A transferncia de energia do solvente para o soluto primrio .................... 210
6.6.2.4. A transferncia de energia para o soluto secundrio .................................... 210
6.6.3. Processo quantitativo de deteco com cintilao lquida .............................. 210
6.6.4. Agente extintor ............................................................................................... 213
6.6.5. Equipamento de cintilao lquida.................................................................. 213

xii
6.7. DETECTORES UTILIZANDO MATERIAIS SEMICONDUTORES ... 216
6.7.1. Formao de pulsos em materiais semicondutores ......................................... 216
6.7.1.1. Materiais isolantes, condutores e semi-condutores ...................................... 216
6.7.1.2. Pares eltrons-buracos .................................................................................. 216
6.7.1.3. Criao de doadores e receptores em um material ....................................... 217
6.7.1.4. Interao da radiao com o material semicondutor .................................... 217
6.7.1.5. Juno p-n..................................................................................................... 218
6.7.1.6. Regio de depleo ....................................................................................... 218
6.7.1.7. Polarizao reversa ....................................................................................... 218
6.7.2. Detectores de diodos de silcio ....................................................................... 218
6.7.3. Detectores de germnio .................................................................................. 219
6.7.3.1. Blindagem do detector.................................................................................. 219
6.7.3.2. Blindagem do Dewar .................................................................................... 220
6.7.4. Detector de barreira de superfcie ................................................................... 220
6.7.5. Detectores de silcio-ltio ................................................................................ 220
6.7.6. Detectores de telureto de cdmio .................................................................... 222
6.7.7. Detectores de telureto de zinco e cdmio - CZT ............................................ 222

6.8. CALIBRAO DE DETECTORES: RASTREABILIDADE ................. 223

6.9. TEORIA DE BRAGG-GRAY ..................................................................... 223

6.10. CADEIAS DE MEDIO - PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS


AUXILIARES ............................................................................................... 224
6.10.1. Processamento de sinais em uma cadeia de medio ..................................... 224
6.10.2. Padres de instrumentao ............................................................................. 224
6.10.3. Pulso linear e pulso lgico .............................................................................. 224
6.10.4. Fonte de tenso (detector bias voltage supplier). ........................................... 225
6.10.5. Pr-amplificador (preamplifier)...................................................................... 225
6.10.6. Amplificador linear (linear amplifier). ........................................................... 226
6.10.7. Discriminador integral (integral discriminator). ............................................ 226
6.10.8. Discriminador diferencial ou analisador monocanal (single-channel
analyzer) - SCA .............................................................................................. 226
6.10.9. Gerador de retardo (delay generator). ............................................................ 226
6.10.10. Gatilho (gate) ............................................................................................... 227
6.10.11. Coincidncia (coincidence unit). .................................................................. 227
6.10 12. Conversor tempo-amplitude (Time to amplitude converter) - TAC............. 227
6.10.13. Temporizador (timer) ................................................................................... 228
6.10.14. Contador (scalers ou counters). ................................................................... 228
6.10.15. Analisador multicanal (multichannel analyzer) - MCA ............................... 228
6.10.16. Diagrama de blocos ...................................................................................... 229
6.10.17. Sistema de calibrao absoluta (Triple to Double Coincidence Ratio) -
TDCR ........................................................................................................... 230
6.10.18. Hierarquia dos sistema metrolgicos ........................................................... 230

6.11. INCERTEZAS ASSOCIADAS S MEDIES ....................................... 231

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................ 233

xiii
CAPTULO 7

NOES DE PROTEO RADIOLGICA ...................................................... 234

7.1. SEGURANA E PROTEO RADIOLGICA ...................................... 234


7.1.1. Conceito de Proteo Radiolgica .................................................................. 234
7.1.1.1. Proteo Radiolgica do Ecossistema .......................................................... 234
7.1.1.2. Avaliao de Impacto Ambiental ................................................................. 235
7.1.1.3. NORM e TENORM ..................................................................................... 235
7.1.2. Conceito de Segurana Radiolgica ............................................................... 236
7.1.3. Segurana domstica e externa ....................................................................... 236

7.2. PRINCPIOS DE PROTEO RADIOLGICA .................................... 237


7.2.1. Justificao ..................................................................................................... 237
7.2.2. Otimizao ...................................................................................................... 237
7.2.3. Limitao da dose individual .......................................................................... 238
7.2.4. Limites primrios ............................................................................................ 239
7.2.4.1. Limites secundrios, derivados e autorizados .............................................. 240
7.2.4.2. Nveis de referncia ...................................................................................... 241
7.2.4.3. Classificao da reas de trabalho ................................................................ 242
7.2.4.4. Exposio crnica do pblico....................................................................... 243
7.2.4.5. Bandas de dose efetiva ................................................................................. 243

7.3. SITUAES DE EMERGNCIA .............................................................. 244


7.3.1. Sistema de triagem de pblico ........................................................................ 245

7.4. CUIDADOS DE PROTEO RADIOLGICA ...................................... 246


7.4.1. Tempo ............................................................................................................. 246
7.4 2. Distncia ......................................................................................................... 247
7.4.3. Blindagem ....................................................................................................... 247
7.4.4. Blindagem de uma instalao ......................................................................... 247
7.4.5. Blindagem para diferentes tipos de radiao .................................................. 248
7.4.5.1. Blindagem para nutrons .............................................................................. 248
7.4.5.2. Blindagem para partculas carregadas .......................................................... 248
7.4.5.3. Blindagem para raios X e gama ................................................................... 249
7.4.5.4. Camada semi-redutora .................................................................................. 250
7.4.5.5. Fator de reduo ou atenuao ..................................................................... 254
7.4.5.6. Fator de crescimento (build up).................................................................... 254

7.5. O PLANO DE PROTEO RADIOLGICA ......................................... 255


7.5.1. Responsabilidades do titular (direo) da instalao ...................................... 256
7.5.2. Responsabilidades do supervisor de proteo radiolgica - SPR ................... 256
7.5.3. Responsabilidades dos IOE da instalao....................................................... 257

7.6. ATIVIDADES DO SERVIO DE PROTEO RADIOLGICA ........ 257

7.7. REGRAS PRTICAS DE PROTEO RADIOLGICA ..................... 257


7.7.1. Equipamentos e instalaes ............................................................................ 257
7.7.2. Planejamento da atividade .............................................................................. 258

xiv
7.7.3. Procedimentos operacionais ........................................................................... 258
7.7 4. Gerncia de rejeitos ........................................................................................ 258
7.7.5. Segurana e acidentes ..................................................................................... 259

7.8. O SMBOLO DA RADIAO ................................................................... 259

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................ 261

CAPTULO 8

GERNCIA DE REJEITOS RADIOATIVOS...................................................... 262

8.1. REJEITOS RADIOATIVOS E DEPSITOS DE REJEITOS ................ 262

8.2. CLASSIFICAO DOS REJEITOS RADIOATIVOS............................ 263

8.3. REQUISITOS BSICOS DA GERNCIA DE REJEITOS


RADIOATIVOS ............................................................................................ 263

8.4. DISPENSA DE REJEITOS .............................................................................. 265


8.4.1. Rejeitos lquidos ............................................................................................. 265
8.4.2. Rejeitos slidos ............................................................................................... 265
8.4.3. Rejeitos gasosos .............................................................................................. 266
8.4.4. Dispensa de efluentes em instalaes nucleares e minero-industriais ............ 266

8.5. CONDIES PARA UM DEPSITO DE REJEITOS ........................... 266

8.6. REGISTROS E INVENTRIOS ................................................................ 267

8.7. TRANSFERNCIA DE REJEITOS RADIOATIVOS DE UMA


INSTALAO PARA OUTRA .................................................................. 267

8.8. PLANO DE GERENCIAMENTO DE REJEITOS RADIOATIVOS ..... 267

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................ 270

CAPTULO 9

TRANSPORTE DE MATERIAL RADIOATIVO ................................................ 271

9.1. INTRODUO............................................................................................. 271

9.2. NORMA CNEN-NE-5.01: TRANSPORTE DE MATERIAL


RADIOATIVO .............................................................................................. 271

9.3. ESPECIFICAES DOS MATERIAIS RADIOATIVOS PARA


TRANSPORTE ............................................................................................. 272

xv
9.3.1. Materiais radioativos em forma especial ........................................................ 273
9.3.2. Material radioativo em outras formas ............................................................. 273
9.3.3. Embalados para transporte de material radioativo .......................................... 273
9.3.4. Limite da atividade para transporte de material radioativo ............................ 273
9.3.4.1. Limite para embalados exceptivos ............................................................... 274
9.3.4.2. Limite para embalados do Tipo A ................................................................ 274
9.3.4.3. Limite para embalados do Tipo B ................................................................ 274

9.4. PARA EMBALADOS .................................................................................. 276


9.4.1. Embalados do Tipo A ..................................................................................... 276
9.4.2. Embalados do Tipo B ..................................................................................... 276

9.5. REQUISITOS DE CONTROLE DURANTE O TRANSPORTE ............ 277


9.5.1. ndice de transporte......................................................................................... 277
9.5.2. Categorias de embalados ................................................................................ 278
9.5.3. Rtulos, marcas e placas ................................................................................. 279
9.5.4. Requisitos especficos para transporte terrestre .............................................. 280
9.5.5. Documentao para transporte de material radioativo ................................... 281
9.5.6. Emergncia no transporte de material radioativo ........................................... 282

9.6. RESPONSABILIDADES DURANTE O TRANSPORTE ........................ 282

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................ 284

ANEXO A

NORMAS DA CNEN ............................................................................................... 285

A.1. GRUPO 1: INSTALAES NUCLEARES ............................................. 285

A.2. GRUPO 2: CONTROLE DE MATERIAIS NUCLEARES,


PROTEO FSICA E CONTRA INCNDIO ........................................ 286

A.3. GRUPO 3: PROTEO RADIOLGICA .............................................. 286

A.4. GRUPO 4: MATERIAIS, MINRIOS E MINERAIS NUCLEARES ... 287

A.5. GRUPO 5: TRANSPORTE DE MATERIAIS RADIOATIVOS ............. 288

A.6. GRUPO 6: INSTALAES RADIATIVAS............................................. 288

A.7. GRUPO 7: CERTIFICAO E REGISTRO DE PESSOAS .................. 288

A.8. GRUPO 8: REJEITOS RADIOATIVOS ................................................... 289


A.9. GRUPO 9: DESCOMISSIONAMENTO ................................................... 289

ANEXO B

RADIAES IONIZANTES E LEGISLAO PARA TRABALHADORES . 290

xvi
B.1. INTRODUO............................................................................................. 290
B.1.1. Aspectos histricos ......................................................................................... 290
B.1.2. Atividades com radiaes ionizantes na CLT ................................................ 291
B.1.2.1. Normas regulamentadoras as radiaes ionizantes ....................................... 292
B.1.2.2. Aposentadoria especial para IOE na CLT .................................................... 292
B.1.2.3. Acidente de trabalho e doena profissional na CLT .................................... 293
B.1.3. Atividades com radiaes ionizantes no Regime Jurdico nico ................... 293

B.2. NORMAS E DISPOSIES PARA AS RADIAES IONIZANTES .. 294


B.2.1. Consideraes em torno da Lei 8.270 ............................................................. 294
B.2.2. Compensaes cumulativas na forma de gratificao e adicional .................. 295
B.2.2.1. Orientao SEGEP/MPOG N 6 e Laudo Tcnico....................................... 296
B.2.2.1.1. Necessidade de Laudo Tcnico .................................................................. 296

B.3. RISCO POTENCIAL E O ADICIONAL DE IRRADIAO


IONIZANTE ................................................................................................. 297
B.3.1. A concepo do Decreto 877/93 ..................................................................... 297
B.3.2. Modelos propostos .......................................................................................... 297
B.3.2.1. Risco operacional e risco em situao de emergncia ................................. 298

B.4. CRITRIOS E DISCUSSES .................................................................... 299


B.4.1. Adicional de irradiao ionizante ................................................................... 299
B.4.1.1. Complicaes administrativas para enquadramento .................................... 300
B.4.2. Gratificao por trabalho com raios X ou substncias radioativas ................. 301
B.4.2.1. Gratificao para IOE ................................................................................... 301
B.4.3. Frias especficas ............................................................................................ 302
B.4.4. Aposentadoria especial para IOE no servio pblico ..................................... 303
B.4.4.1. Nova contagem ............................................................................................. 304
B.4.4.2. Requerimento ............................................................................................... 304
B.4.4.3. Acidente de trabalho no RJU........................................................................ 304

B.5. CONCLUSES ............................................................................................. 304

B.6. GLOSSRIO DE TERMOS BSICOS UTILIZADOS EM


PROTEO RADIOLGICA ................................................................... 307

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................ 310

ANEXO C

DETERMINAO DE BLINDAGENS EM RADIOTERAPIA ......................... 312

C.1. CLASSIFICAO DE REAS .................................................................. 312

C.2. MONITORAO DE REAS ................................................................... 312

C.3. CLCULO DE BLINDAGEM EM INSTALAES DE


RADIOTERAPIA ......................................................................................... 313

xvii
C.3.1. Estabelecendo a dose para a rea ocupada (dose semanal) para a rea
ocupada ........................................................................................................... 314
C.3.2. Clculo das doses de radiao na rea ocupada, sem a blindagem................. 315
C.3.3. Atenuao do feixe de radiao pela blindagem ............................................ 316
C.3.4. Transmisso da radiao primria .................................................................. 318
C.3.4.1. Fator de transmisso da barreira primria .................................................... 318
C.3.4.2. Largura da barreira primria......................................................................... 319
C.3.5. Transmisso da radiao espalhada - Barreiras secundrias .......................... 320
C.3.6. Transmisso da radiao pela porta da sala - labirinto ................................... 329
C.3.6.1. Aceleradores com energia menor ou igual a 10 MeV .................................. 329
C.3.6.2. Consideraes para produo de nutrons em aceleradores de partculas
de alta energia ............................................................................................... 333
C.3.6.3. Aceleradores com energia maior ou igual a 10 MeV ................................... 334
C.3.7. Otimizao das barreiras ................................................................................. 339

C.4. EXERCCIOS ............................................................................................... 341

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................ 343

xviii
RELAO DE FIGURAS

Figura 1.1 - Representao de modelos atmicos: a) geomtrica, onde os orbitais


so trajetrias geomtricas percorridas por eltrons; b) quntica,
onde os orbitais so representados por nuvens envolvendo o ncleo,
onde para cada posio geomtrica existe uma probabilidade
associada de encontrar o eltron................................................................ 4
Figura 1.2 - Energia necessria para ionizao dos tomos em funo de Z ................ 4
Figura 1.3 - Ocupao dos nveis de energia de um ncleo representado por um
poo de potencial atrativo (energia negativa). .......................................... 5
Figura 1.4 - Energia de ligao nuclear por partcula. Os valores mais
proeminentes correspondem aos ncleos com camadas nucleares
completas de prtons ou de nutrons (nmeros mgicos)......................... 6
Figura 1.5 - Tabela de Nucldeos. ................................................................................. 6
Figura 1.6 - Representao de um segmento transversal da regio da superfcie
(Z,N) de distribuio dos nucldeos, onde no eixo vertical esto
representados os valores da energia de ligao dos nucldeos .................. 7
Figura 1.7 - Segmento da Tabela de Nucldeos mostrando istopos, isbaros e
istonos...................................................................................................... 8
Figura 1.8 - Tabela Peridica dos elementos qumicos. ............................................... 9
Figura 1.9 - Diagrama de Linus Pauling para distribuio dos eltrons segundo os
nveis de energia ...................................................................................... 12
Figura 1.10 - Representao de uma transio eletrnica, resultando na emisso de
um fton de luz ou raio X caracterstico. ................................................ 13
Figura 1.11 - Raios X caractersticos originados nas transies entre nveis
eletrnicos. .............................................................................................. 13
Figura 1.12 - Curva representativa do decaimento de um radiostopo em funo
do tempo e seus principais parmetros. ................................................... 17
Figura 1.13 - Emisso ................................................................................................ 19
Figura 1.14 - Espectro de distribuio em energia de um processo de emisso . ....... 21
Figura 1.15 - Esquema de decaimento para caminhos alternativos de decaimento . .. 22
Figura 1.16 - Representao do processo de captura eletrnica e da emisso de raio
X caracterstico. ....................................................................................... 23
Figura 1.17 - Representao da emisso de uma partcula por um ncleo. ............... 24
Figura 1.18 - Espectro das radiaes alfa com energias entre 5,389 MeV e 5,545
MeV, emitidas pelo 241Am, e obtido com detector de barreira de
superfcie ................................................................................................. 25
Figura 1.19 - Representao da emisso da radiao gama pelo ncleo. ..................... 26
Figura 1.20 - Espectro das radiaes gama do 60Co obtido com o detector de
germnio puro. ........................................................................................ 28
Figura 1.21 - Esquema de decaimento do radionucldeo X, indicando os valores
das probabilidades de emisso das radiaes beta e gama. ..................... 31
Figura 1.22 - Esquema de decaimento do 60Co. ............................................................ 32
Figura 1.23 - Representao do processo de converso interna ................................... 33
Figura 1.24 - Espectro de raios X de freamento com raios X caractersticos para
voltagem de pico de 60, 90 e 120 kV. ..................................................... 36
Figura 2.1 - Concentrao mdia dos elementos qumicos componentes da crosta
terrestre .................................................................................................... 40
Figura 2.2 - Srie radioativa do 232Th. ........................................................................ 43
Figura 2.3 - Srie radioativa parcial do 238U. .............................................................. 43

xix
Figura 2.4 - Exposio do homem radiao ionizante. ............................................ 44
Figura 2.5 - Variao da concentrao do radnio e tornio com a altura em
relao ao solo. ........................................................................................ 45
Figura 2.6 - Variao da concentrao de radnio e tornio durante o dia ................ 45
Figura 2.7 - Variao da concentrao de radnio e tornio durante o ano. .............. 46
Figura 2.8 - Concentrao de 222Rn no Rio de Janeiro, no vero de 1997. ................. 46
Figura 2.9 - Concentrao de 222Rn no Rio de Janeiro, no inverno de 1997. ............. 47
Figura 2.10 - Esquema de uma mquina geradora de raios X. ..................................... 48
Figura 2.11a - Esquema de um acelerador linear de eltrons. ...................................... 49
Figura 2.11b - Acelerador de eltrons usado em terapia de cncer em hospitais. ........ 50
Figura 2.12 - Esquema de um acelerador eletrosttico do tipo Van de Graaff: (1)
Fonte de tenso contnua; (2) Fita de isolamento; (3) Terminal de
alta voltagem; (4) Tanque pressurizado com gs isolante; (5) Fonte
de ons; (6) Tubo de acelerao e anis de equalizao do campo; (7)
Feixe de ons acelerados; (8) Bomba de vcuo; (9) Magneto para
reflexo e anlise do feixe; (10) Sistema de disperso do feixe
conforme a energia; (11) Amplificador de sinal; (12) Pontos de
efeito corona ............................................................................................ 51
Figura 2.13 - Esquema de um cclotron e equipamento instalado no Instituto de
Pesquisas Energticas e Nucleares - IPEN - utilizado para a produo
de radioistopos....................................................................................... 52
Figura 2.14 - Esquema do Grande Colisor de Hadrons (Large Hadron Collider) -
LHC - e vista interna com um segmento do tubo de acelerao de 3
m de dimetro. Quatro grandes experimentos so realizados nos
pontos: ALICE, ATLAS, CMS e LHCb ................................................. 53
Figura 2.15 - Coliso dos feixes de prtons para a possvel produo do Boson de
Higgs ....................................................................................................... 54
Figura 2.16 - Esquema de uma fonte de nutrons de Pu-Be de um medidor de
nvel. ........................................................................................................ 54
Figura 2.17 - Corte de um cabeote de uma bomba de 60Co - modelo Theratron 780
usado em radioterapia.............................................................................. 55
Figura 2.18 - Foto de um irradiador de 192Ir e esquema de guarda da fonte no
irradiador e respectiva blindagem ........................................................... 56
Figura 2.19 - Esquema de um irradiador industrial ...................................................... 57
Figura 2.20 - 543 testes nucleares atmosfricos e 1876 testes subterrneos
realizados nos perodos de 1945 a 1980 e 1955 a 1998
respectivamente, por diversos pases (UNSCEAR 2000). ...................... 58
Figura 2.21 - Concentraes de 137Cs e 90Sr na dieta alimentar dos habitantes dos
hemisfrios Norte e Sul. .......................................................................... 59
Figura 2.22 - Dose efetiva anual per capita para os indivduos da populao
mundial no perodo de 1945 a 2005. ....................................................... 59
Figura 2.23 - Esquema de um reator de potncia do tipo PWR .................................... 61
Figura 2.24 - Reator nuclear do tipo de Angra 2. ......................................................... 61
Figura 2.25 - Esquema do ciclo do combustvel. .......................................................... 64
Figura 2.26 - Elemento combustvel ............................................................................. 67
Figura 2.27 -Tipos de instalaes radiativas no Brasil ................................................. 72
Figura 3.1 - Modos de interao da radiao com a matria ...................................... 78
Figura 3.2 - Representao do efeito fotoeltrico ....................................................... 79
Figura 3.3 - Valores de seco de choque para efeito fotoeltrico para o chumbo,
em funo da energia da radiao. .......................................................... 81

xx
Figura 3.4 - Representao do efeito Compton........................................................... 82
Figura 3.5 - Valores de seo de choque para espalhamento Compton (e) em
funo da energia do fton; ea a seo de choque de absoro e es
de espalhamento da radiao no Efeito Compton. .................................. 83
Figura 3.6 - Representao do efeito de produo de pares. ....................................... 84
Figura 3.7 - Importncia relativa dos diversos processos de interao dos ftons
com a matria em funo da energia do fton e do nmero atmico
do material. .............................................................................................. 85
Figura 3.8 - Probabilidade relativa de diferentes efeitos para ftons de diferentes
energias no carbono e no chumbo. .......................................................... 85
Figura 3.9 - Atenuao de um feixe de ftons por um material de espessura X. ........ 86
Figura 3.10 - Contribuio relativa dos diversos efeitos produzidos pela interao
da radiao num material para o coeficiente de atenuao linear total. .. 87
Figura 3.11 - Representao da fisso em cadeia autossustentvel induzida pela
absoro de nutrons, num reator nuclear. .............................................. 93
Figura 3.12 - Variao do stopping power com a energia de partculas incidentes
no silcio e germnio. .............................................................................. 95
Figura 3.13 - Definio do alcance Re e Rm para partculas alfa e eltrons .................. 97
Figura 3.14 - Espalhamento de eltrons em um material. ............................................. 97
Figura 3.15 - Alcance de eltrons monoenergticos. .................................................... 98
Figura 3.16 - Relao alcance x energia para eltrons absorvidos no silcio e no
germnio. ................................................................................................. 98
Figura 3.17 - Alcance de eltrons no silcio ( = 2,33 g.cm-3) e no iodeto de sdio
( = 3,67 g.cm-3), materiais muito usados em detectores. ....................... 99
Figura 3.18 - Atenuao de partculas beta no alumnio, cobre e prata. ..................... 100
Figura 3.19 - Alcance de partculas beta em vrios materiais (com densidade, ,
em g.cm-3): (1) Ferro = 7,8; (2) Pirex = 2,60; (3) PVC = 1,38; (4)
Plexiglass = 1,18; (5) Ar = 0,0013. ...................................................... .101
Figura 3.20 - Perda de energia de eltrons na matria ................................................ 101
Figura 3.21 - Taxa de perda de energia de partculas alfa na interao com um
meio material. ........................................................................................ 103
Figura 3.22 - Alcance de partculas alfa em vrios materiais (com densidade, , em
g.cm-3): (1) Ar = 0,0013; (2) Tecido = 1,0; (3) Alumnio = 2,70; (4)
Cobre = 8,96. ......................................................................................... 103
Figura 3.23 - Processos integrados de interao. ........................................................ 106
Figura 4.1 - Diagramas tpicos de clulas animal e vegetal. ..................................... 108
Figura 4.2 - Representao das fases do ciclo celular e detalhamento da fase
Mittica ................................................................................................. 109
Figura 4.3 - Fases da mitose celular .......................................................................... 111
Figura 4.4 - Modelo de extrapolao linear (curva a) para a correlao entre dose-
efeito biolgico, onde no so contabilizados possveis efeitos de
aumento da probabilidade de ocorrncia na regio de doses baixas
(curva b) ou da existncia de limiares ou de fatores de reduo da
incidncia dos efeitos at ento desconhecidos (curva c). .................... 112
Figura 4.5 - Transformao de clulas expostas radiao do 60Co e nutrons do
espectro de fisso, com exposies nicas e fracionadas. ..................... 113
Figura 4.6 - Quadro representativo dos diversos processos envolvidos na
interao da radiao ionizante com as clulas do tecido humano e o
tempo estimado para sua ocorrncia. .................................................... 115
Figura 4.7 - Alguns tipos de alteraes no cromossoma que podem ser induzidos

xxi
por radiao ionizante. .......................................................................... 115
Figura 4.8 - Tipos de aberraes cromossomiais que podem ser induzidos pela
radiao ionizante. ................................................................................. 116
Figura 4.9 - Curvas de sobrevivncia para clulas de mamferos. ............................ 117
Figura 4.10 - Fases do efeito biolgico produzido pela radiao ionizante. ............... 122
Figura 4.11 - Visualizao do processo de transferncia de energia (dE) por uma
partcula carregada (eltron) em funo da distncia percorrida (dx)
num meio material. ................................................................................ 125
Figura 4.12 - Formas de curvas dose-resposta, para radiaes de baixo e alto LET,
para induo de efeitos estocsticos. ..................................................... 127
Figura 4.13 - Curva de resposta: probabilidade de induo de cncer versus dose
absorvida, do tipo Linear - quadrtica, p = D + D2 .......................... 128
Figura 4.14 - Tempo de latncia para aparecimento de cncer aps irradiao. ........ 129
Figura 4.15 - Relaes tpicas entre dose e gravidade do dano (severidade), para
efeitos determinsticos numa populao. .............................................. 130
Figura 4.16 - Variao da incidncia do cncer de pulmo em trabalhadores de
minas de urnio, fumantes e no fumantes. .......................................... 133
Figura 4.17 - Incorporao preferencial de radioistopos nos tecidos e rgos do
corpo humano, em funo do tipo de composto qumico utilizado,
para produo de imagens em gama-cmaras para diagnstico em
Medicina Nuclear. ................................................................................. 137
Figura 4.18 - Frequncia de cromossomos dicntricos para clulas submetidas
radiao gama do 60Co e a nutrons de vrias energias. ....................... 138
Figura 4.19 - Evoluo mdia de pessoas irradiadas em relao ao tempo e em
funo da dose ....................................................................................... 141
Figura 4.20 - Induo de cncer na tireide na Bielorrssia devido ao acidente
nuclear de Chernobyl, em 1986............................................................. 142
Figura 4.21 - Faixas aproximadas de dose aguda letal para vrios grupos
taxonmicos (UNSCEAR, 2008). ......................................................... 143
Figura 5.1 - Representao esquemtica do procedimento de definio das
grandezas e as relaes entre elas estabelecidas no ICRP 26 e
CNEN-NE-3.01 e ICRP 60 e Norma CNEN NN-3.01 de 2011 ............ 149
Figura 5.2 - Valores do fator de converso dose no ar para dose na gua e no
tecido muscular em funo da energia do fton. ................................... 157
Figura 5.3 - Geometria de irradiao da esfera ICRU e o ponto P na esfera, no
qual H*(d) determinado num campo de radiao expandido e
alinhado. ................................................................................................ 174
Figura 5.4 - Geometria de irradiao da esfera ICRU e o ponto P na esfera, no
qual o equivalente de dose direcional obtido no campo de radiao
expandido, com a direo de interesse. ............................................. 175
Figura 6.1 - Disposio dos filtros metlicos e do filme no monitor individual
utilizado pelo IRD ................................................................................. 188
Figura 6.2 - Emisso de luz na termoluminescncia ................................................. 190
Figura 6.3 - Esquema e fotografia de uma leitora TLD ............................................ 191
Figura 6.4 - Regies de operao para detectores gs ............................................ 193
Figura 6.5 - Esquema da cmara de ionizao tipo free-air ...................................... 195
Figura 6.6 - Caneta dosimtrica ................................................................................ 195
Figura 6.7 - Cmara de ionizao, porttil, tipo babyline, com faixa de medio
de 0,1 mR.h-1 a 50 R.h-1 (1 Sv.h-1 a 500 mSv.h-1), para deteco de
radiaes X, gama e beta, em instalaes nucleares, clnicas de

xxii
medicina nuclear, radiodiagnstico e radioterapia. ............................... 196
Figura 6.8 - Cmara de ionizao pressurizada, porttil, para medio de nveis
baixos de radiao X e gama, provenientes da radiao de fundo,
fugas de aparelhos usados em radiodiagnstico e radioterapia e
radiao espalhada................................................................................. 196
Figura 6.9 - (a)Vista interna da cmara de ionizao Centronic IG-11, do
LNMRI, (b) foto da cmara NPL-CRC-Capintec fabricada pela
Southern Scientific plc, do LNMRI ...................................................... 197
Figura 6.10 - Cmara de extrapolao modelo PTW 23391 ....................................... 197
Figura 6.11 - Dosmetro Farmer modelo 2570A da Nuclear Enterprise ..................... 198
Figura 6.12 - Esquema de um detector proporcional cilndrico. ................................. 198
Figura 6.13 - Detector proporcional porttil para medio de contaminao
superficial. ............................................................................................. 199
Figura 6.14 - Detectores G-M utilizados para medio de taxa de contagem ou
convertidos para .................................................................................... 200
Figura 6.15 - Detector Geiger, tipo pancake, para medio de contaminao
superficial com janela de mylar aluminizado, para radiao alfa, beta
e gama. .................................................................................................. 200
Figura 6.16 - Sonda G-M para deteco beta e gama, com janela metlica muito
fina ......................................................................................................... 200
Figura 6.17 - Estrutura de bandas de energias em um cintilador cristalino ativado ... 202
Figura 6.18 - Elementos bsicos de uma vlvula fotomultiplicadora ......................... 203
Figura 6.19 - Cintilmetro porttil Rad Eye PRD, de alta sensibilidade, utilizado
em atividades de triagem e localizao de fontes emissoras de
radiao gama. ....................................................................................... 203
Figura 6.20 - Espectrmetro gama, com NaI(Tl)+GM e analisador multicanal,
porttil, que permite determinar a energia da radiao, obter o
espectro e identificar o radionucldeo. .................................................. 203
Figura 6.21 - Gama-cmara de duas cabeas, com detector de NaI(Tl) planar de
grandes dimenses, utilizado em diagnstico com radiofrmacos em
rgos e corpo inteiro, em medicina nuclear......................................... 204
Figura 6.22 - Sondas de sulfeto de zinco para medio de contaminao superficial
(alfa). ..................................................................................................... 205
Figura 6.23 - Nveis de energia em uma molcula orgnica ....................................... 206
Figura 6.24 - Processo de formao do sinal no cintilador lquido ............................ 212
Figura 6.25 - Estimativa do nmero de fotoeltrons formados a partir da interao
de um eltron de 5 keV com o cintilador lquido .................................. 212
Figura 6.26 - Cintilador lquido .................................................................................. 214
Figura 6.27 - Diagrama de blocos do um cintilador lquido. ...................................... 215
Figura 6.28 - Estrutura de bandas em um material (Ei energia do intervalo). ............ 216
Figura 6.29 - Impurezas doadoras e receptoras em uma estrutura cristalina. ............. 217
Figura 6.30 - Detector de germnio de alta pureza, resfriado a nitrognio lquido,
utilizado em tcnicas de espectrometria X e gama, em medies de
laboratrio. ............................................................................................ 219
Figura 6.31 - Vista interna de um detector de barreira de superfcie e espectro das
radiaes alfa emitidas pelo 241Am ....................................................... 221
Figura 6.32 - Monitor individual com detector de diodo de silcio para radiao X
e gama, com leitura direta da dose equivalente, taxa de dose,
equivalente de dose pessoal Hp(10), com memria para estocagem
de dados, alarme sonoro e luminoso e identificao do usurio. .......... 221

xxiii
Figura 6.33 - Espectro das radiaes de baixa energia do 241Am obtido com o
CdTe ...................................................................................................... 222
Figura 6.34 - Dosmetro gama de terlureto de zinco e cdmio ................................... 223
Figura 6.35 - (a) Pulsos analgicos ou lineares, com seus parmetros de formato e;
(b) Pulso lgico (quadrado) de comando ou de sada, por exemplo,
de um gate ou discriminador ................................................................. 225
Figura 6.36 - Esquema do funcionamento da unidade de coincidncia para dois
pulsos de entrada ................................................................................... 227
Figura 6.37 - Esquema de operao de um ADC ........................................................ 229
Figura 6.38 - Diagrama de blocos de uma cadeia de medio utilizando o mtodo
de coincidncia 4- ............................................................................ 229
Figura 6.39 - Arranjo experimental do sistema TDCR e foto do mdulo MAC3 ...... 230
Figura 6.40 - Representao da hierarquia e rastreabilidade metrolgica das
medies realizadas pelos instrumentos dos usurios at aos padres
internacionais para cada tipo de grandeza ............................................. 231
Figura 7.1 - Descrio esquemtica do mtodo de anlise custo-benefcio para a
otimizao da proteo radiolgica ....................................................... 238
Figura 7.2 - Grandezas bsicas e derivadas utilizadas para a limitao da
exposio individual .............................................................................. 241
Figura 7.3 - Bandas de Dose Efetiva Individual, em mSv, que podem ser
utilizadas em situaes de operao normal ou de emergncia ............ 244
Figura 7.4 - Detectores portteis apropriados para uso em triagem de pblico
quando da ocorrncia de acidentes com disperso de material
radioativo no ambiente. Os detectores mostrados so: (a)
identFINDER, (b) Electronic Personal Dosemeter, (c) Thermo
RadEye PRD ......................................................................................... 246
Figura 7.5 - Valores dos parmetros a e b em funo da energia da radiao
da frmula de Berger para o clculo do fator de build up ..................... 255
Figura 7.6 - Triflio - Smbolo da radiao ionizante............................................... 260
Figura 9.1 - Etiquetas padronizadas para embalados. ............................................... 279
Figura 9.2 - Placa para tanques e contineres. A palavra RADIOATIVO pode ser
substituda pelo nmero de classificao de materiais da ONU,
conforme tabela 9.5 ............................................................................... 280
Figura B.1 - RJU e Legislao relativa s radiaes ionizantes ................................ 295
Figura C.1. - Esquema simplificado de uma sala de tratamento de radioterapia
com um acelerador linear de eltrons. O equipamento pode girar em
torno do isocentro, a 1 m do alvo (linha pontilhada). A figura
superior mostra o corte da sala passando pelo cinturo primrio
(paredes A, C e teto). Na figura inferior possvel visualizar as
barreiras A, B, C, D e D .................................................................... 314

Figura C.2 - Largura da barreira primria quando a protuberncia construda no


lado interno da sala (a) e no lado externo da sala (b) de tratamento
(NCRP, 2005). ....................................................................................... 320
Figura C.3 - Esquema da sala onde est instalado o acelerador do exemplo,
mostrando os pontos utilizados para o clculo da espessura da
barreira primria (cinturo). Note-se que os pontos calculados
situam-se a 0,3 m da parede .................................................................. 321
Figura C.4 - Distncias utilizadas para se determinar as barreiras secundrias
(NCRP, 2005). ....................................................................................... 323

xxiv
Figura C.5 - Esquema da sala onde est instalado o acelerador de exemplo,
mostrando os pontos utilizados para o clculo das espessuras das
barreiras secundrias. Note-se que os pontos calculados situam-se a
0,3 m da parede ..................................................................................... 325
Figura C.6 - Esquema do labirinto da sala onde est instalado o acelerador do
exemplo, mostrando as reas definidas para a determinao da dose
equivalente na porta devida ao espalhamento do feixe primrio na
parede A ................................................................................................ 329
Figura C.7 - Esquema do labirinto da sala onde est instalado o acelerador do
exemplo, mostrando as reas definidas para a determinao da dose
equivalente na porta devida ao espalhamento nico da radiao de
fuga do cabeote na parede A ............................................................... 331
Figura C.8 - Esquema do labirinto da sala onde est instalado o acelerador do
exemplo, mostrando as reas definidas para a determinao da dose
equivalente na porta devida ao espalhamento da radiao pelo
paciente na parede A ............................................................................. 332
Figura C.9 - Esquema do labirinto da sala onde est instalado o acelerador do
exemplo, mostrando as reas definidas para a determinao da dose
equivalente na porta devida radiao de fuga que atravessa a
parede interna do labirinto..................................................................... 333
Figura C.10 - Esquema geral para definio dos parmetros usados na blindagem
da porta do labirinto (NCRP, 2005). ................................................... 335

xxv
RELAO DE TABELAS

Tabela 1.1 - Denominao, smbolo e caractersticas dos elementos de Z = 97 a


118......................................................................................................... 10
Tabela 1.2 - Energias e intensidades relativas dos raios X emitidos pelos
elementos de nmero atmico de 20 a 109 ........................................... 14
Tabela 1.3 - Emissores beta puros............................................................................. 23
Tabela 1.4 - Radionucldeos alfa emissores, com energias bem conhecidas,
utilizados como padres para calibrao de detectores. ....................... 26
Tabela 1.5 - Valores padres recomendados para radiaes gama de alguns
radionucldeos ....................................................................................... 29
Tabela 1.6 - Caractersticas das radiaes em funo de sua origem ....................... 37
Tabela 2.1 - Composio qumica do Homem Referncia, que possui massa
total de 70 kg e densidade de 1,025 g.cm-3 ........................................... 41
Tabela 2.2 - Composio qumica de materiais tecido-equivalentes e do
msculo utilizada em proteo radiolgica, para clculos por
simulao, utilizando Mtodos de Monte Carlo, e para teste de
equipamentos de medio. .................................................................... 42
Tabela 2.3 - Reatores nucleares de potncia no Mundo............................................ 62
Tabela 2.4 - Irradiadores industriais de grande porte em operao, em 2013,
para esterilizao de materiais com radiao gama do 60Co ................. 74
Tabela 2.5 - Aceleradores de eltrons em operao no Brasil, em 2013 .................. 75
Tabela 3.1 - Denominao dos nutrons de acordo com sua energia ....................... 91
Tabela 3.2 - Componentes da energia liberada na fisso dos ncleos 233U, 235U e
239
Pu ...................................................................................................... 94
Tabela 3.3 - Valores de (Z/A)ef de alguns materiais utilizados em dosimetria das
radiaes ............................................................................................. 102
Tabela 3.4 - Exemplo de interao das radiaes ionizantes com o ar e tecido
humano................................................................................................ 104
Tabela 4.1 - Durao estimada das fases de um tipo de clula ............................... 110
Tabela 4.2 - Riscos de danos sade ...................................................................... 118
Tabela 4.3 - Detectabilidade epidemiolgica de efeitos biolgicos ........................ 119
Tabela 4.4 - Valores mdios do LET e RBE para a gua (ICRP-ICRU, 1963). ..... 123
Tabela 4.5 - Limiares de dose para efeitos determinsticos nas gnadas,
cristalino e medula ssea .................................................................... 131
Tabela 4.6 - Evoluo das caractersticas do feto em funo do tempo ................. 134
Tabela 4.7 - Valores das probabilidades de induo de efeitos biolgicos
induzidos por radiaes de baixo LET no feto ................................... 135
Tabela 4.8 - Risco de efeitos biolgicos pr-natais, deletrios sade humana,
induzidos pela radiao ionizante ....................................................... 135
Tabela 4.9 - Limiares estimados de doses absorvidas agudas gama para 1% de
morbidez e mortalidade, aps exposio de corpo inteiro de uma
pessoa (ICRP 103, 2007). ................................................................... 139
Tabela 4.10 - Sndrome de irradiao aguda ............................................................. 140
Tabela 4.11 - Sintomas de doena resultantes da exposio aguda radiao
ionizante, em funo do tempo. .......................................................... 140
Tabela 4.12 - Sintomas e sinais no estgio prodrmico e sndrome de irradiao
aguda em ordem aproximada de crescente gravidade......................... 141
Tabela 4.13 - Pessoas com sndrome de irradiao aguda irradiadas durante o
acidente nuclear de Chernobyl ............................................................ 142

xxvi
Tabela 5.1 - Valor de Q em funo do poder de freamento de coliso (L) .......... 152
Tabela 5.2 - Valores de Q(L) em funo do LET, na gua ..................................... 152
Tabela 5.3 - Valores do fator de qualidade efetivo (Effective quality fator) - Q -
para os diversos tipos de radiao - ICRP 26 (1977), CNEN-NE-
3.01 (1988). ......................................................................................... 152
Tabela 5.4 - Valores do fator de peso, wT, para tecido ou rgo definido na
ICRP 26 e ICRP 60 ............................................................................. 153
Tabela 5.5 - Valores de para alguns radionucldeos emissores gama em
(R.m2)/(h.Ci) ....................................................................................... 158
Tabela 5.6 - Valores da constante de taxa de exposio, , e do fator de
converso f de dose absorvida no ar para dose absorvida no tecido ... 159
Tabela 5.7 - Valores do fator de converso para a obteno da dose efetiva (em
mSv) devida exposio a uma fonte puntiforme (atividade em
kBq) para um tempo t (em h). ............................................................. 165
Tabela 5.8 - Fator de converso da atividade por unidade de rea para dose
efetiva E, em funo do perodo de permanncia no solo
contaminado ........................................................................................ 166
Tabela 5.9 - Fator de converso de atividade por unidade de rea (concentrao)
para dose absorvida na pele de radionucldeo emissor beta ............... 168
Tabela 5.10 - Coeficientes de dose efetiva comprometida e(g) por unidade de
incorporao ........................................................................................ 171
Tabela 5.11 - Uso das grandezas de acordo com o tipo de radiao monitorada ..... 176
Tabela 5.12 - Profundidade de determinao de dose efetiva em alguns tecidos. .... 176
Tabela 5.13 - Valores do fator de peso da radiao wR ............................................ 177
Tabela 5.14 - Coeficiente de probabilidade de mortalidade numa populao de
todas as idades por cncer aps exposio a baixas doses.................. 178
Tabela 5.15 - Estimativas das probabilidades de efeitos biolgicos induzidos
pelas radiaes ionizantes ................................................................... 179
Tabela 5.16 - Probabilidade de incidncia e mortalidade de cncer de pele
induzido por radiao ionizante .......................................................... 179
Tabela 6.1 - Energia mdia para formao de pares de ons em alguns gases ........ 191
Tabela 6.2 - Solues cintiladoras comerciais tpicas. ............................................ 208
Tabela 6.3 - Fases do processo quantitativo de deteco com cintilao lquida. .. 211
Tabela 6.4 - Componentes da expresso que calcula a amplitude do pulso de
tenso produzido em sistema de deteco com cintilao lquida. ..... 212
Tabela 7.1 - Limites primrios anuais de dose efetiva - CNEN-NN-3.01 (2011)
e BSS 115. ........................................................................................... 239
Tabela 7.2 - Coeficientes de probabilidade de detrimento fatal e fatores de peso
para vrios tecidos............................................................................... 240
Tabela 7.3 - Nveis de registro e de investigao para monitorao individual,
de indivduos ocupacionalmente expostos (IOE), estabelecidos pela
Posio Regulatria 3.01/004:2011 da CNEN.................................... 242
Tabela 7.4 - Comprimento de relaxao aproximado de alguns materiais, para
nutrons rpidos .................................................................................. 248
Tabela 7.5 - Camadas semi-redutoras (HVL) e deci-redutoras (TVL). .................. 250
Tabela 7.6 - Valores da camada semi-redutora (HVL) de vrios materiais, para
vrios radionucldeos emissores de radiao gama, numa condio
de boa geometria, onde a contribuio da radiao secundria de
espalhamento no importante. Ref. IAEA - TECDOC - 1162,
Vienna (2000). .................................................................................... 251

xxvii
Tabela 9.1 - Valores bsicos de limites de concentrao e atividade, para alguns
radionucldeos, em embalados Tipo A................................................ 275
Tabela 9.2 - Limites de atividade para embalados exceptivos ................................ 276
Tabela 9.3 - Fatores de multiplicao do IT para embalados de grandes
dimenses ............................................................................................ 278
Tabela 9.4 - Categoria de embalados ...................................................................... 279
Tabela 9.5 - Resumo da classificao da ONU para nomes apropriados ao
transporte de materiais radioativos e respectiva numerao ............... 281
Tabela B.1 - Definio de adicional de irradiao ionizante constante do Decreto
877/93 ................................................................................................. 305
Tabela C.1 - Valores tpicos para o fator de uso ...................................................... 317
Tabela C.2 - Valores sugeridos para o fator de ocupao (NCRP, 2005). .............. 317
Tabela C.3 - Propriedades de materiais usados em blindagem (Profio, 1979). ....... 319
Tabela C.4 - Camadas deci-redutoras para concreto, ao e chumbo com as
densidades mdias dadas na Tabela C.3 (NCRP, 2005). .................... 319
Tabela C.5 - Fator de espalhamento (a) a 1 m de um fantoma com dimenses
humanas, distncia alvo-superfcie de 1 m e tamanho de campo de
400 cm2 (McGinley, 2002; Taylor et al., 1999). ................................. 324
Tabela C.6 - Camada deci-redutora em concreto para radiao espalhada pelo
paciente em vrios ngulos (NCRP, 2005). ........................................ 325
Tabela C.7 - Valores sugeridos para camada deci-redutora em concreto para
radiao de fuga (NCRP, 2005). ......................................................... 326
Tabela C.8 - Valores sugeridos para o coeficiente de reflexo na parede A
(Figura C.6) para concreto (NCRP, 2005) Incidncia a 0 e 45 para
ftons de bremsstrahlung e monoenergticos. Cada valor
apresentado abaixo deve ser multiplicado por 10-3 ............................. 330

xxviii
CAPTULO 1

RADIAES

1.1. COMPOSIO DA MATRIA E TEORIA ATMICA

1.1.1. Viso macroscpica da matria

A observao simples da matria que compe todos os objetos, seres vivos e a


prpria Terra mostra, entre outras coisas, uma diferenciao na constituio, na cor, no
grau de dureza, na transparncia ou opacidade, na elasticidade e na estabilidade, ou no,
das suas caractersticas no tempo. Uma inspeo mais aguda permite identificar a mesma
natureza qumica, em objetos com caractersticas fsicas muito diferentes, como por
exemplo, o grafite, o diamante sinttico, o diamante natural e o carbono em p.
A busca da identificao e da caracterizao dos elementos bsicos que permitem
compor tais objetos invoca a necessidade de unificao dos conceitos e a crena na
simplicidade da Natureza.

1.1.2. Substncias simples e compostas

O simples fato de uma pea de ferro exposta umidade se enferrujar


gradativamente com o tempo mostra o surgimento de outra substncia, a ferrugem, em
cuja composio deve constar o ferro e algo proveniente do ar ou da gua. Isto implica
que uma substncia considerada simples, pode compor outras substncias ao combinar-
se com outra substncia.

1.1.3. Fases e estados da substncia

Uma substncia como a gua pode se apresentar sob a forma de lquido, de gelo
ou de vapor, conforme sua temperatura. Da mesma maneira, muitas outras substncias.
Outra caracterstica notvel das substncias o estado de organizao em que se
apresenta, ora de forma catica, amorfa, ora sob a forma de cristais regulares.

1.1.4. Viso microscpica da matria

Analisando um material com o microscpico percebe-se que tanto as substncias


simples como as consideradas compostas apresentam a mesma imagem, para as variadas
e possveis ampliaes. Mesmo utilizando um microscpio poderoso, como o
microscpio eletrnico, o cenrio pouco se modifica e s indica o modo de organizao
do material.
Isto sugere que os elementos bsicos continuam invisveis ao microscpio ptico
e at ao eletrnico e que, para identific-los, preciso utilizar modelos e procedimentos
hipotticos de trabalho. Por exemplo, pode-se supor que, ao cortar um pedao de ferro
em fragmentos gradativamente menores, deve-se chegar a uma frao que, se cortada,
deixar de ser ferro. Esta frao final foi denominada, pelos gregos, de tomo.

1
1.1.5. A aceitao do tomo

A necessidade de se invocar a hiptese da estrutura corpuscular da matria,


somente ocorreu no final do sculo XVIII, quando da descoberta das leis qumicas das
propores definidas por Proust (1754-1826) e das propores mltiplas por Dalton
(1766-1844). Essas leis conduziram, de forma natural, considerao de que quando
substncias elementares se combinam, o fazem como entidades discretas ou tomos.

1.1.6. Lei das propores definidas

Um determinado composto qumico sempre formado pelos mesmos elementos


qumicos combinados sempre na mesma proporo em massa, independentemente de sua
procedncia ou mtodo de preparao. Exemplo: 10 g de H + 80 g de O formam 90 g de
H2O, na proporo 1:8.

1.1.7. Lei das propores mltiplas

As massas de um elemento qumico que se combinam com uma massa fixa de um


segundo elemento, para formar compostos diferentes, esto entre si numa proporo de
nmeros inteiros, em geral pequenos. Exemplo:

71 g de Cl2 + 16 g de O2 = 87 g Cl2O
71 g de Cl2 + 48 g de O2 = 119 g Cl2O3

1.2. ESTRUTURA DA MATRIA

1.2.1. Composio da matria

Todos os materiais existentes no universo so constitudos de tomos ou de suas


combinaes. As substncias simples so constitudas de tomos e, as combinaes
destes, formam as molculas das substncias compostas. A maneira como os tomos se
combinam depende da sua natureza e das propriedades que as suas estruturas propiciam.

1.2.2. Estrutura do tomo

O conceito inicial de tomo indivisvel sofreu modificaes profundas com as


experincias realizadas por Ernest Rutherford (1871-1937) e seus colaboradores. O
modelo utilizado para representar o tomo, passou a ser concebido como tendo um ncleo
pesado, com carga eltrica positiva, e vrios eltrons, com carga eltrica negativa, cujo
nmero varia com a natureza do elemento qumico. O raio de um tomo da ordem de
10-7 cm e suas propriedades qumicas so definidas pelos eltrons das camadas mais
externas.

1.2.3. Raio atmico

Teoricamente, a distncia do centro do ncleo atmico at o ltimo orbital


ocupado por eltrons. Na prtica, ele determinado como sendo o valor mdio da
distncia entre ncleos de dois tomos vizinhos ligados e no estado slido.

2
O valor do raio depende da fora de atrao entre o ncleo e os eltrons e

expresso em angstron (1 A = 10-8 cm) ou em picmetro (1 pm=10-12m). Assim,
aumentando-se Z, o raio diminui; aumentando-se o nmero de camadas eletrnicas, o raio
aumenta. Para tomos com a ltima camada de eltrons completa, o raio tende a ser menor
devido alta energia de ligao das partculas. Assim, os raios do 40Ca, 222Rn e 207Pb

medem 2,23, 1,34 e 1,81 A , respectivamente, enquanto que o raio do 39K vale 2,77 A e o

raio do 127I, 1,32 A .

1.2.4. Raio inico

O acrscimo ou o desfalque de eltrons num tomo modifica o raio do sistema


restante, que o on. O on positivo, denominado de ction, possui eltrons a menos. O
on negativo, o nion, tem excesso de eltrons. O desfalque de eltrons faz com que a
carga nuclear atue mais intensamente sobre os eltrons restantes, reduzindo o raio. Este

o caso do 127I, cujo raio vale 1,32 A e raio inico vale 0,50 A . O efeito do emparelhamento
de eltrons significativo, como se pode perceber com o 40Ca cujo raio vale 2,23 e o raio

inico de Ca2+ = 0,99 A .
O excesso de eltrons aumenta o raio, devido a atenuao da fora de atrao pelo
ncleo e pelo aumento da repulso entre os eltrons. A deficincia de eltrons diminui o
raio conforme pode ser observado, comparando-se os raios dos ctions com carga (+1),

(+2) e (+3). Por exemplo, Ag+ com 1,26 e Ag2+ com 0,89 A , Bi3+ com 0,96 e Bi5+ com

0,74 A .

1.2.5. Estrutura eletrnica

Os eltrons se distribuem em camadas ou orbitais, de tal modo que dois eltrons


no ocupem o mesmo lugar ao mesmo tempo. Somente dois eltrons podem ocupar a
mesma regio no espao, mas eles devem ter caractersticas magnticas (spin) diferentes.
Esta restrio denominada de Princpio de excluso de Pauli. Quanto mais eltrons
possuir o elemento qumico, mais camadas ele deve ter ou mais complexa ser a maneira
como eles se acomodaro.
Cada orbital pode ser representado por um eltron se movendo segundo uma
trajetria circular (ou elptica) ou por uma nuvem envolvendo o ncleo e distribuda em
torno de um raio mdio, conforme ilustrado na Figura 1.1. O orbital um conceito
proveniente da teoria quntica do tomo e definido como uma regio do espao em
torno do ncleo onde os eltrons tm grande probabilidade de estar localizados. Cada
camada comporta um nmero definido de eltrons. Quando preenchida, denomina-se
camada fechada. O nmero de eltrons destas camadas denominado de nmero mgico
e, quando excedido, os novos eltrons devem ocupar novos orbitais, seno haver
repetio dos nmeros qunticos que caracterizam cada eltron (ver 1.2.13). Os nmeros
mgicos so: 2, 8, 18, 32, 32, 18 at 8.

3
Ncleo

Eltrons

Figura 1.1 - Representao de modelos atmicos: a) geomtrica, onde os


orbitais so trajetrias geomtricas percorridas por eltrons; b) quntica,
onde os orbitais so representados por nuvens envolvendo o ncleo, onde
para cada posio geomtrica existe uma probabilidade associada de
encontrar o eltron.

1.2.6. Energia de ligao eletrnica

Cada eltron est vinculado ao tomo pela atrao entre a sua carga negativa e
a carga positiva do ncleo e pelo acoplamento atrativo do seu momento magntico (spin)
com eltrons da mesma camada. A fora atrativa sofre uma pequena atenuao devido
repulso eltrica dos demais eltrons. A energia consumida neste acoplamento se
denomina energia de ligao. Para elementos de nmero atmico elevado, a energia de
ligao dos eltrons prximos ao ncleo bastante grande, atingindo a faixa de 100 keV
(ver Tabela 1.2), enquanto que a dos eltrons mais externos da ordem de alguns eV. Os
eltrons pertencentes s camadas fechadas possuem energia de ligao com valores bem
mais elevados do que os das camadas incompletas e, portanto, so os mais estveis.
A Figura 1.2 mostra a variao da energia de ligao dos eltrons da ltima
camada, ou energia potencial de ionizao, com o nmero atmico Z do elemento
qumico. Quanto maior o raio atmico, mais distante os eltrons estaro do ncleo e,
portanto, mais fraca ser a atrao sobre eles. Assim, quanto maior o raio atmico, menor
o potencial de ionizao. Os valores mximos correspondem a de elementos com a ltima
camada eletrnica completa.

Figura 1.2 - Energia necessria para ionizao dos tomos em funo de Z.

4
1.2.7. Estrutura nuclear

O ncleo atmico constitudo de A nucleons, sendo N nutrons e Z prtons. Os


prtons so carregados positivamente e determinam o nmero de eltrons do tomo, uma
vez que este eletricamente neutro. Os nutrons possuem praticamente a mesma massa
que os prtons, mas no tm carga eltrica. Prtons e nutrons so chamados
indistintamente de nucleons. O nmero de nucleons A = N + Z denominado de nmero
de massa e Z de nmero atmico.
Os nucleons se movem com uma velocidade mdia da ordem de 30.000 km.s-1,
num volume obtido por 4/3..R3, onde R = r0A1/3 (10-13 cm) o raio nuclear, com r0 =
1,15. A densidade nuclear tem um valor em torno de = 1015 g.cm-3, com uma densidade
de ocupao de 1,6.1038 nucleons.cm-3.

1.2.8. Notao qumica

A notao utilizada para identificao de um elemento qumico do tipo ZA X onde


A o nmero de massa e Z o nmero atmico ou nmero de prtons. O nmero de
nutrons obtido de N = A - Z. Exemplos: 24 He , 239 235
94 Pu e 92U .

1.2.9. Organizao nuclear

Os prtons e nutrons se organizam em orbitais, em nveis de energia, sob a ao


do campo de foras intensas e de curto alcance. No existe correlao entre orbitais e
trajetrias geomtricas, mas entre orbitais e energias das partculas. A base da
organizao dos nucleons no espao nuclear o Princpio de Excluso de Pauli. Estas
foras so denominadas de foras nucleares, ou interao forte, e a energia de ligao da
ltima partcula dentro do "poo de potencial" caracteriza a energia de ligao do
ncleo. O valor mdio da energia de ligao dos ncleos cerca de 7,5 MeV, muito maior
que a energia de ligao dos eltrons. Esses conceitos podem ser representados pelas
Figuras 1.3 e 1.4.

Figura 1.3 - Ocupao dos nveis de energia de um ncleo representado por


um poo de potencial atrativo (energia negativa).

5
Figura 1.4 - Energia de ligao nuclear por partcula. Os valores mais
proeminentes correspondem aos ncleos com camadas nucleares completas
de prtons ou de nutrons (nmeros mgicos).

1.2.10. Tabela de nucldeos

Registrando num grfico todos os elementos qumicos conhecidos, estveis e


instveis, tendo como eixo das ordenadas o nmero atmico Z e o das abscissas o nmero
de nutrons N, obtm-se a denominada Tabela de Nucldeos. Nesta tabela, observa-se
que, para os elementos de nmero de massa pequeno, o nmero de prtons igual ou
prximo do nmero de nutrons. medida que o nmero de massa A vai aumentando, o
nmero de nutrons aumenta relativamente, chegando a um excesso de quase 40% no
final da tabela. Esta tabela est representada na Figura 1.5.

Figura 1.5 - Tabela de Nucldeos.

6
Seccionando-se perpendicularmente a regio onde se distribuem os nucldeos na
superfcie (Z,N) da Figura 1.5, tem-se uma situao mostrada na Figura 1.6. Ou seja, a
superfcie (N,Z) no plana, mas apresenta um formato de um vale, onde se distribuem
nucldeos nas encostas da esquerda e da direita, e no fundo se situam os nucldeos
pertencentes linha de estabilidade beta.
Pela Figura 1.6, percebe-se que os nucldeos da encosta da esquerda decaem para
a linha de estabilidade, reduzindo o nmero de prtons por meio de decaimento + e, os
da encosta da direita por decaimento -, para reduzir o excesso de nutrons.

Z +
+
A
( - ) ENERGIA DE LIGAO

XN
-
Z
+ A
Y
Z-1
A
20
Y -
+ Ncleos - Z+1 N-1 A

estveis
Z
X

+
Linha de estabilidade beta
-
N

Figura 1.6 - Representao de um segmento transversal da regio da


superfcie (Z,N) de distribuio dos nucldeos, onde no eixo vertical esto
representados os valores da energia de ligao dos nucldeos.

Na Figura 1.7 apresentado um segmento da Tabela de Nucldeos. Nela aparecem


outros parmetros nucleares, tais como, a meia-vida do nucldeo, os tipos de radiaes
emitidas, a energia das radiaes mais intensas, a abundncia percentual de cada istopo,
e a seco de choque de reao nuclear.

1.2.11. Istopos, isbaros e istonos

Observando o segmento da Tabela de Nucldeos na Fig. 1.7 percebe-se que vrios


elementos simples, ou seja, quimicamente puros, no so nuclearmente puros.
Apresentam diferentes massas atmicas. So os denominados istopos. So nucldeos
com o mesmo nmero de prtons Z, mas diferentes nmeros de nutrons. Por exemplo,
do boro quimicamente puro, 80% constitudo de 115B e 20% de 105 B . Alguns nucldeos
possuem muitos istopos estveis, como o estanho com 8. Alm dos nucldeos estveis,
existem os instveis, que so radioativos, denominados de radioistopos ou
radionucldeos.
Os nucldeos de elementos diferentes, mas que possuem a mesma massa atmica
so denominados de isbaros. o caso do 34Cl, 34S, 34P e 34Si.
Os nucldeos que possuem o mesmo nmero de nutrons so denominados de
istonos, como por exemplo, 33Cl, 32S, 31P, 30Si, com N=16.

7
Figura 1.7 - Segmento da Tabela de Nucldeos mostrando istopos, isbaros
e istonos.

1.2.12. Tabela Peridica

Na histria da cincia, vrias propostas para classificar os elementos qumicos


conhecidos surgiram, em geral, acreditando haver semelhanas de comportamento nas
reaes qumicas. A classificao mais completa e criativa foi estabelecida por Dmitri
Mendeleiev, em 1869, ao mostrar que os elementos apresentavam uma periodicidade nas
propriedades qumicas, de acordo com o nmero de eltrons da ltima camada,
coadjuvada, em alguns casos, com os da penltima camada. Foi denominada, ento, de
Tabela Peridica dos elementos qumicos.
Nela, os elementos qumicos foram dispostos em 18 colunas e 9 linhas, em ordem
crescente de seus nmeros atmicos, e contm 7 perodos:

O 1o possui somente 2 elementos, o H (Z=1) e He (Z=2), com eltrons na camada 1s.


O 2 possui 8 elementos, vai de Li (Z=3) at Ne (Z=10), com eltrons em 2s e 2p.
O 3 possui 8 elementos, vai do Na (Z=11) at Ar (Z=18), com eltrons em 3s e 3p.
O 4 com 18 elementos, vai do K (Z=19) at o Kr (Z=36), com eltrons 4s, 3d e 4p.
O 5 com 18 elementos, vai do Rb (Z=37) at o Xe (Z=54), com eltrons 5s, 4d e 5p.
O 6 com 32 elementos, vai do Cs (Z=55) at o Rn (Z=86), com os ltimos subnveis
6s, 4f, 5d e 6p preenchidos.
O 7 com 17 elementos, os actindeos, vai do Fr (Z=87) at o Lr (Z=103), com os
ltimos subnveis 7s, 5f e 6d preenchidos.

Os elementos dispostos na mesma coluna tm propriedades qumicas similares e


constituem as famlias ou grupos. Por exemplo, He, Ne, Ar, Kr, Xe e Rn constituem o
grupo dos gases nobres; Li, Na, K, Rb, Cs e Fr, os metais alcalinos; F, Cl, Br, I e At, os
halognios; Be, Mg, Ca, Sr, Ba e Ra os metais alcalinos-terrosos. Na Figura 1.8
apresentada a Tabela Peridica dos elementos qumicos.

8
Atualmente existem mais 8 elementos com Z = 113 at 118, com smbolos ainda
no definidos pela Unio Internacional de Qumica Pura e Aplicada (IUPAC), mas que
em algumas tabelas so designados por: Uut, Fl, Uup, Lv, Uus e Uuo. Estes elementos
so metais sintticos obtidos por reaes nucleares com ons pesados, so radioativos e
os seus ltimos eltrons preenchem os subnveis 5f, 6d e 7s. Alm destes, existem mais
12 elementos pesados com Z = 104 at Z = 118, todos radioativos, cujas propriedades
qumicas e fsicas ainda no esto bem definidas.
Na Tabela 1.1 so apresentados os nomes, os mtodos de obteno e algumas das
caractersticas dos elementos Z = 97 a 115, todos radioativos.

Figura 1.8 - Tabela Peridica dos elementos qumicos.

9
Tabela 1.1 - Denominao, smbolo e caractersticas dos elementos de Z
= 97 a 118. (ver: IUPAC 2010, Pure Appl.Chem. v.83, pp.359-396,2011).
http://www.chem.qmvl.ac.uk/iupac/

Nmero Massa Mtodo de Configurao


Elemento Simbolo
Atmico Atmica Obteno Eletrnica
246
Berklio Bk 97 247,0703 Cm(,pn) [Rn] 5f9 7s2
Califrnio Cf 98 251,0796 245
Cm (,n) [Rn] 5f10 7s2
249
Eisteinio Es 99 252,083 Cf(d,3n) [Rn] 5f11 7s2
240
Frmio Fm 100 257,0951 Pu(12C,4n) [Rn] 5f12 7s2
241
Mendelvio Md 101 258,0984 Am(12C,5n) [Rn] 5f13 7s2
244
Noblio No 102 259,1011 Cm (12C,4n) [Rn] 5f14 7s2
205
Laurncio Lr 103 262,1098 Tl(50Ti,2n) [Rn] 5f14 6d1 7s2
242
Rutherfrdio Rf 104 261,1089 Pu(22Ne,4n) [Rn] 5f14 6d2 7s2
249
Dbnio Db 105 262,1144 Cf (15N,4n) [Rn] 5f14 6d3 7s2
248
Seaborgio Sg 106 263,1186 Cf(22Ne,4n) [Rn] 5f14 6d4 7s2
209
Bhrio Ns 107 262,1231 Pb (54Cr,n) [Rn] 5f14 6d5 7s2
208
Hssio Hs 108 265,1305 Pb(58Fe,n) [Rn] 5f14 6d6 7s2
209
Meitnrio Mt 109 266,1378 Bi(58Fe,n) [Rn] 5f14 6d7 7s2
208
Darmstadio Ds 110 281,162 Pb(269Ds,n) [Rn] 5f14 6d9 7s2
209
Roentgenio Rg 111 280,1645 Bi(64Ni,n) [Rn] 5f14 6d10 7s2
208
Copernicio Cn 112 285,174 Pb(70Zn,n) [Rn] 5f14 6d10 7s2
Ununtrio Unt 113 283,176 [Rn] 5f14 6d10 7s2 7p1
284,178
244
Ununquadrio Unq 114 288,186 Pu(48Ca,3n) [Rn] 5f14 6d10 7s2 7p2
289,187
Ununpentio Unp 115 287,191 [Rn] 5f14 6d10 7s2 7p3
288,192
Livermorio Lv 116 (293)
Ununseptio Uus 117 (294)
Ununoctio Uuo 118 (294)

1.2.13. Preenchimentos das camadas eletrnicas

Para distribuir os eltrons nos nveis e subnveis de energia, preciso adotar o


Diagrama criado por Linus Pauling, obedecer ao Princpio de Excluso de Pauli e a
Regra de Hund.
O diagrama provm da teoria quntica da matria, na qual, a energia no se
apresenta de modo contnuo, mas em pacotes discretos, em quanta. Esta teoria foi
necessria para explicar, dentre outros fenmenos, os orbitais estacionrios dos eltrons
e nucleons atmicos e as transies com emisso de radiaes com energia definida.
Nesta viso do tomo, os eltrons se distribuem ao redor do ncleo, em regies
privilegiadas, denominadas camadas, sendo que em cada camada s podem habitar
orbitais bem definidos pelos denominados nmeros qunticos. Assim, cada eltron
possui um conjunto de nmeros que o identificam.

Nmero Quntico Principal n

O nmero quntico principal n, representa o nvel principal de energia que, para


os eltrons, corresponderia a distncia deles em relao ao ncleo. Isto porque a
intensidade da fora de atrao entre as cargas positiva (Ze) do ncleo e negativa (e) do

10
eltron, varia com o inverso do quadrado da distncia (d) entre elas. Como esta fora deve
ser equilibrada pela fora centrfuga do eltron com determinada velocidade, a distncia
(d) fixa o valor de sua energia cintica, no estado estacionrio. Os valores de n so: 1, 2,
3, 4, 5, 6 e 7, e correspondem aos denominados nveis energticos K, L, M, N, O, P e Q.

Nmero Quntico Orbital l

O nmero quntico orbital ou secundrio l, equivale aos orbitais dos subnveis


energticos e descreve a forma dos orbitais. Para cada valor de n, l varia de 0 at n1.
Por exemplo:

n=1 l=0
n=2 l=0e1
n = 3 l = 0, 1 e 2

Existe uma nomenclatura para estes subnveis:


l = 0 subnvel s
l = 1 subnvel p
l = 2 subnvel d
l = 3 subnvel f

Como para os diversos valores de n, pode haver valores de l iguais, a notao


utilizada para diferenci-los a seguinte: para n =1, 1s; n =2, 2s e 2p; n = 3, 3s, 3p, 3d.

Nmero Quntico Magntico m

O nmero quntico magntico m, indica o nmero de orbitais dos subnveis e a


orientao em relao a uma direo estabelecida no espao. Ele varia, em nmero
inteiro, de (-l) at (+l), incluindo l=0. Isto significa que, para um valor do momento
angular orbital l, existem (2l+1) orientaes, ou meridianos possveis de serem
ocupados por eltrons. Por exemplo, para l=2, existem -2, -1, 0, 1 e 2.

Spin

O quarto nmero quntico denominado de spin. Corresponde, na viso


geomtrica clssica, ao sentido de rotao do eltron em torno de seu prprio eixo.
Constitui um momento magntico intrnseco do eltron. Pode assumir somente dois
valores: + e - , correspondentes s orientaes para cima e para baixo,
respectivamente.
Resumindo todos estes conceitos, v-se que n, l, e m tm variaes com valores
expressos por nmeros inteiros, indicando que a energia dos eltrons se diferencia em
valores inteiros, em quanta.
Na Figura 1.9 apresentado o diagrama de Linus Pauling, onde em cada clula
podem ser alocados 2 eltrons, um com spin para cima e outro para baixo. O valor da
energia de cada nvel ou subnvel negativo, para representar uma energia de campo
atrativo. Assim, quanto mais negativo, mais prximo do ncleo estar o eltron, e maior
ser sua energia de ligao.

11
Figura 1.9 - Diagrama de Linus Pauling para distribuio dos eltrons
segundo os nveis de energia.

1.2.14. Regra de Hund

Se dois orbitais de mesma energia esto disponveis, o eltron ocupar, de


preferncia, o orbital vazio, ao invs de ocupar um orbital onde j existe um eltron.

1.3. TRANSIES

1.3.1. Estados excitados

Quando o tomo se encontra em equilbrio, os seus eltrons e seus nucleons se


encontram em orbitais estacionrios. Se partculas ou ondas eletromagnticas forem
lanadas contra ele, sob certas condies fsicas, elas podero colidir com alguns de seus
eltrons ou com o seu ncleo. Devido disposio geomtrica, ao nmero, carga e ao
movimento, a probabilidade de coliso com os eltrons muitas vezes superior
probabilidade de coliso com o ncleo. No choque, a radiao transfere parcial ou
totalmente a sua energia que, se for superior energia de ligao, provocar uma
ionizao ou uma reao nuclear, no tomo ou no ncleo, respectivamente. Quando a
energia absorvida for inferior energia de ligao, ocorrer um deslocamento da
partcula alvo, para estados disponveis nas estruturas eletrnica ou nuclear, gerando os
denominados estados excitados eletrnicos ou nucleares.

1.3.2. Transio eletrnica

possvel classificar as transies eletrnicas em dois tipos. O primeiro tipo


envolve as transies de baixa energia (luz) que ocorrem entre os nveis ou subnveis de
energia prximos do contnuo. O segundo, envolvendo os nveis ou subnveis mais
internos, originando os raios X caractersticos, de alta energia, conforme so ilustrados
nas Figuras 1.10 e 1.11. Na Tabela 1.2 so dadas as energias e as intensidades relativas
dos raios X caractersticos emitidos pelos elementos de nmero atmico de 20 a 109.

12
Figura 1.10 - Representao de uma transio eletrnica, resultando na
emisso de um fton de luz ou raio X caracterstico.

Figura 1.11 - Raios X caractersticos originados nas transies entre nveis


e subnveis eletrnicos.

1.3.3. Transio nuclear

Quando nucleons so deslocados para estados disponveis, formando os estados


excitados, no restabelecimento do equilbrio eles emitem a energia absorvida sob a forma
de radiao gama, que ser descrita posteriormente.

1.3.4. Meia-vida do estado excitado

O tempo de permanncia da partcula no estado excitado depende das


caractersticas que definem os estados inicial e final que iro participar da transio, e
pode ser definido probabilisticamente em termos de meia-vida. O seu valor depende da
variao do momento angular e paridade do orbital do estado excitado, energia e tipo de

13
transio eletromagntica. Em geral, seu valor muito pequeno, variando entre 10-6 a 10-
15
segundos, principalmente para eltrons. Os estados excitados nucleares so de durao
semelhante, mas alguns ncleos possuem estados excitados com meia-vida bastante
longa e podem, em alguns deles, funcionar como estados isomricos. A meia-vida do
estado excitado no apresenta ligao direta com a meia-vida do ncleo.

Tabela 1.2 - Energias e intensidades relativas dos raios X emitidos pelos


elementos de nmero atmico de 20 a 109.

Ref.: J.A. Bearden Rev of Modern Physics


F.T. Porter, M.S. Freedman, J. Of Phys. And Chem. Reference Data 7,1276 (1978) E X: Z = 84 - 103
T.A. Carlson, C.W. Nestor, Atomic Data and Nucl. Data Tables 19, 153 (1977) EX: Z104
J.H. Scofield, Phys. Rev. A9. 1041 (1974) Ir : Z + 20 - 98
C.C. Lu, F.B. Malik, T.A. Carlson, Nucl. Phys. A 175, 289 (1975) Ir : Z99

Ex [keV] Ir* Ex [keV] Ir*

Elem. K K K K 1 2 Elem. K K K K 1 2

20 Ca 3,69 3,69 4,01 50,6 19,8 65 Tb 43,74 44,48 50,38 51,72 55,8 31,9 8,3
21 Sc 4,09 4,09 4,46 50,7 20,1 66 Dy 45,21 46,00 52,12 53,51 56,0 32,0 8,3
22 Tl 4,50 4,51 4,93 50,8 20,4 67 Hg 46,70 47,55 53,88 55,32 56,2 32,2 8,4
23 V 4,94 4,95 5,43 50,8 20,6 68 Er 48,22 49,13 55,68 57,21 56,3 32,4 8,4
24 Cr 5,41 5,41 5,95 50,9 20,2 69 Tm 49,77 50,74 57,72 59,09 56,5 32,6 8,5

25 Mn 5,89 5,90 6,49 51,0 20,9 70 Yb 51,35 52,39 59,37 60,98 56,7 32,7 8,5
26 Fe 6,39 6,40 7,06 51,1 21,0 71 Lu 52,97 54,07 61,28 62,97 56,9 32,9 8,7
27 Co 6,92 6,93 7,65 51,2 21,1 72 Hf 54,61 55,79 63,23 64,98 57,1 33,1 8,8
28 Ni 7,46 7,48 8,26 51,2 21,2 73 Ta 56,28 57,53 65,22 67,01 57,4 33,2 9,0
29 Cu 8,03 8,05 8,90 51,3 20,9 74 W 57,98 59,32 67,24 69,10 57,6 33,4 9,1

30 Zn 8,62 8,64 9,57 9,66 51,4 21,4 75 Re 59,72 61,14 69,31 71,23 57,8 33,5 9,3
31 Ga 9,22 9,25 10,26 10,37 51,5 21,8 76 Os 61,49 63,00 71,41 73,40 58,0 33,7 9,4
32 Ge 9,86 9,89 10,98 11,10 51,5 22,3 0,5 77 Ir 63,29 64,90 73,56 75,62 58,3 33,8 9,6
33 As 10,51 10,54 11,73 11,86 51,5 22,8 0,9 78 Pt 65,12 66,83 75,75 77,88 58,5 34,0 9,7
34 Se 11,18 11,22 12,50 12,65 51,6 23,3 1,3 79 Au 66,99 68,80 77,98 80,19 58,7 34,1 9,9

35 Br 11,88 11,92 13,29 13,47 51,8 23,7 1,8 80 Hg 68,90 70,82 80,25 82,54 59,0 34,3 10,0
36 Kr 12,60 12,65 14,11 14,32 51,9 23,8 2,4 81 Tl 70,83 72,87 82,58 84,95 59,2 34,4 10,2
37 Rb 13,34 13,40 14,96 15,19 52,0 24,2 2,8 82 Pb 72,80 74,97 84,94 87,36 59,5 34,6 10,4
38 Sr 14,10 14,17 15,84 16,08 52,1 24,6 3,2 83 Bi 74,81 77,11 87,34 89,86 59,8 34,7 10,6
39 Y 14,88 14,96 16,74 17,02 52,2 25,0 3,5 84 Po 76,86 79,29 89,81 92,39 60,1 34,9 10,8

40 Zr 15,69 15,78 17,67 17,97 52,3 25,4 3,7 85 At 78,95 81,52 92,32 94,97 60,3 35,0 11,1
41 Nb 16,52 16,62 18,62 18,95 52,4 25,8 3,9 86 Rn 81,07 83,79 94,87 97,61 60,6 35,2 11,3
42 Mo 17,37 17,48 19,61 19,97 52,5 26,2 4,0 87 Fr 83,23 86,11 97,47 100,30 60,9 35,3 11,5
43 Tc 18,25 18,37 20,62 21,01 52,6 26,5 4,2 88 Ra 85,43 88,47 100,13 103,04 61,2 35,5 11,7
44 Ru 19,15 19,28 21,66 22,07 52,7 26,8 4,4 89 Ac 87,68 90,89 102,84 105,83 61,5 35,6 11,9

45 Rh 20,07 20,22 22,72 23,17 52,8 27,1 4,5 90 Th 89,96 93,35 105,60 108,68 61,8 35,8 12,1
46 Pd 21,02 21,18 23,82 24,30 52,9 27,4 4,7 91 Pa 92,28 95,86 108,42 111,59 62,1 35,9 12,2
47 Ag 21,99 22,16 24,94 25,46 53,1 27,8 4,8 92 U 94,65 98,43 111,30 114,56 62,5 36,1 12,3
48 Cd 22,98 23,17 26,10 26,64 53,2 28,0 5,1 93 Np 97,07 101,06 114,23 117,58 62,8 36,2 12,5
49 In 24,00 24,21 27,28 27,86 53,3 28,3 5,4 94 Pu 99,53 103,73 117,73 120,67 63,2 36,4 12,6

50 Sn 25,04 25,27 28,49 29,11 53,4 28,6 5,6 95 Am 102,03 106,47 120,28 123,82 63,5 36,5 12,8
51 Sb 26,11 26,36 29,73 30,39 53,6 28,8 6,0 96 Cm 104,59 109,27 123,40 127,03 63,9 36,7 12,9
52 Te 27,20 27,47 31,00 31,70 53,7 29,1 6,3 97 Bk 107,19 112,12 126,12 130,31 64,2 36,8 13,0
53 J 28,32 28,61 32,29 33,04 53,8 29,3 6,6 98 Cf 109,83 115,03 129,82 133,65 64,6 38,0 13,2
54 Xe 29,46 29,78 33,62 34,42 54,0 29,5 7,0 99 Es 112,53 118,01 133,14 133,06 65,1 37,2 13,3

55 Cs 30,63 30,97 34,99 53,82 54,1 29,7 7,3 100 Fm 115,29 121,06 136,52 140,55 65,4 37,3 13,4
56 Ba 31,82 32,19 36,38 37,26 54,3 30,0 7,6 101 Md 118,09 124,17 139,97 144,10 65,8 37,3 13,5
57 La 33,03 33,44 37,80 38,73 54,4 30,2 7,7 102 No 120,95 127,36 143,51 147,74 66,2 37,6 13,7
58 Ce 34,28 34,72 39,26 40,23 56,4 30,4 7,7 103 Lr 123,87 130,61 147,11 151,45 66,7 37,7 13,8
59 Pr 35,55 36,03 40,75 41,77 54,8 30,6 7,8 104 126,85 133,95 150,80 155,25 67,1 37,8 13,9

60 Nd 36,85 37,36 42,27 43,33 54,9 30,9 7,9 105 129,88 137,35 154,56 159,12 67,5 38,0 14,1

14
Ex [keV] Ir* Ex [keV] Ir*

Elem. K K K K 1 2 Elem. K K K K 1 2

61 Pm 38,17 38,72 43,83 44,94 55,1 31,1 8,0 106 132,94 140,80 158,37 163,04 68,0 38,1 14,2
62 Sm 39,52 40,12 45,41 46,58 55,3 31,3 8,1 107 136,09 144,37 162,30 167,08 68,4 38,2 14,3
63 Eu 40,90 41,54 47,04 48,26 55,4 31,5 8,1 108 139,30 148,01 166,31 171,21 68,9 37,3 14,5
64 Gd 42,31 43,00 48,70 49,96 55,6 31,7 8,1 109 142,58 151,75 170,42 175,43 69,4 38,5 14,6

*Ir K = 100
EX
K: E ( K-LII ) K: I ( K-LII )
K: E ( K-LIII )K: I ( K-LIII )
K : E ( K-MIII ) 1: I ( K-MIII) + I ( K-MII) + I ( K-MIV+V)
1 ~0,5 < 0,05
: E ( K-NIII ) 2: I ( K-NIII) + I ( K-NII) + I ( K-NIV+V) + I ( K-O + ...)
1 ~0,5 < 0,05 ~0,2 - 0,4
(Z ~50 - 109)

1.4. ORIGEM DA RADIAO

As radiaes so produzidas por processos de ajustes que ocorrem no ncleo ou


nas camadas eletrnicas, ou pela interao de outras radiaes ou partculas com o
ncleo ou com o tomo.
Exemplos: radiao beta e radiao gama (ajuste no ncleo), raios X caracterstico
(ajuste na estrutura eletrnica), raios X de freamento (interao de partculas carregadas
com o ncleo) e raios delta (interao de partculas ou radiao com eltrons das camadas
eletrnicas com alta transferncia de energia).

1.4.1. Ftons

A radiao eletromagntica constituda por vibrao simultnea de campos


magntico e eltrico, perpendiculares entre si, originados durante a transio, pela
movimentao da carga e momento magntico da partcula, quando modifica seu estado
de energia, caracterizado pelo momento angular, spin e paridade. As radiaes
eletromagnticas ionizantes de interesse so os raios X e a radiao gama.
Para compreender como surge uma onda eletromagntica a partir da transio
entre dois estados de uma partcula ligada num orbital eletrnico ou nuclear, uma
explicao detalhada ser dada a seguir.
Pelo Eletromagnetismo, sabe-se que quando uma carga eltrica se move num
orbital fechado, ela gera um campo magntico , perpendicular ao seu plano de rotao.
Da mesma forma, uma carga magntica, gera um campo eltrico .
Quando uma partcula, que possui cargas eltrica e magntica (spin), faz uma
transio de estado, a sua energia varia de um valor inicial (Ei) para um valor final (Ef) ou
seja, libera uma energia E = Ei - Ef.
Como os estados inicial (i) e final (f) possuem frequncias de rotao de valores
(i) e (f), transio estar associada a uma diferena de frequncias = i - f, que
constitui a frequncia da transio de energia (E), expressa quanticamente por E = h,
onde h a constante de Planck.
Na transio, houve simultaneamente uma mudana nos valores dos campos
eltrico ( ) e magntico ( ) associados aos estados inicial e final da partcula. Isto
significa que as diferenas de valores de campos ( ) e ( ) sero simultaneamente

15
carregadas pelas diferenas de energia (E) e frequncia () da transio, ou seja, por uma
onda eletromagntica ou fton (E=h).

1.4.2. Raios X

Raio X a denominao dada radiao eletromagntica de alta energia que tem


origem na eletrosfera ou no freamento de partculas carregadas no campo eletromagntico
do ncleo atmico ou dos eltrons.

1.5. RADIOATIVIDADE

1.5.1. Constante de decaimento

Os tomos instveis, de mesma espcie e contidos numa amostra, no realizam


transformaes para se estabilizarem, ao mesmo tempo. Eles as fazem de modo aleatrio.
No se pode prever o momento em que um determinado ncleo ir se transformar por
decaimento. Entretanto, para uma quantidade grande de tomos, o nmero de
transformaes por segundo proporcional ao nmero de tomos que esto por se
transformar naquele instante. Isto significa que a probabilidade de decaimento por tomo
por segundo deve ser constante, independente de quanto tempo ele tem de existncia.
Esta probabilidade de decaimento por tomo por segundo denominada de Constante
de Decaimento e caracterstica de cada radionucldeo.

1.5.2. Atividade de uma amostra, A

A taxa de mudanas dos tomos instveis em um determinado instante


denominada de Atividade. Assim, chamando de n(t) o nmero de tomos existentes numa
amostra, no instante t, a atividade A(t), ser expressa por:

dn(t )
A(t ) n(t )
dt

Nota: O nmero n(t) de tomos radioativos obtido em funo da massa do istopo


contido na amostra, do nmero de Avogadro NA, da massa atmica A e do
percentual de tomos radioativos na massa do istopo.

1.5.3. Atividade de uma amostra em um dado instante

Integrando a equao diferencial e chamando de n0 o nmero de tomos


radioativos existentes na amostra no instante t = 0:

n(t ) n0 e t

A atividade da amostra pode ser obtida pela expresso:

A(t ) n(t ) n0 e t

A atividade da amostra no instante zero, A0, expressa por:

16
A0 n0
e, portanto:

A(t ) A0 e t

O nmero inicial n0 de tomos de massa atmica A numa amostra de massa m (em


g) obtido pela expresso:

.
0 =

onde NA = nmero de Avogadro= 6,02 .1023 tomos em A gramas do radionucldeo.

1.5.4. Decaimento da atividade com o tempo

Num ncleo radioativo existem vrios estados excitados. A maneira e o tempo


com que cada estado se transforma num estado mais estvel, depende de suas
caractersticas fsicas como: energia, momento angular, paridade, spin, etc. Cada estado
tem durao mdia e transio prprias. Globalmente, o ncleo se comporta como um
todo, estabilizando-se com uma probabilidade constante, caracterstica do nucldeo, que
a constante de decaimento .
A atividade de uma amostra depende do valor inicial da atividade no instante zero
e uma funo exponencial decrescente do tempo. A Figura 1.12 mostra a funo de
decaimento e os parmetros principais envolvidos no processo.

n =nmero de tomos radioativos no instante (t)

n0 = nmero de tomos radioativos no instante (t=0)

= constante de decaimento

T1/2 = meia-vida

= vida-mdia

Figura 1.12 - Curva representativa do decaimento de um radiostopo em


funo do tempo e seus principais parmetros.

1.5.5. Unidades de atividade - o becquerel e o curie

A atividade de uma fonte medida em unidades de transformaes por segundo,


denominada becquerel (Bq) = s-1 no Sistema Internacional.

17
A unidade antiga, ainda em uso em equipamentos antigos ou produzidos em
alguns pases (como os EUA.) o curie (Ci). Por sua definio inicial, equivale ao nmero
de transformaes por segundo em um grama de 226Ra, que de 3,7.1010 transformaes
por segundo. Portanto, 1 Ci equivalente a 3,7.1010.Bq.
A ttulo de informao, nos rtulos das garrafas de gua mineral, a radioatividade
expressa numa unidade denominada de mache. O mache equivale a uma concentrao
de 12,802 Bq L-1 associada, em geral, ao 226Ra.

1.5.6. Mltiplos e submltiplos das unidades de atividade

No registro do valor da atividade de uma amostra so utilizados, frequentemente,


mltiplos ou submltiplos destas unidades. Assim:

Mltiplos e Smbolos Submltiplos e Smbolos


Quilo k 103 kBq kCi Mili m 10-3 mBq mCi
Mega M 10 6
MBq MCi Micro 10 -6
Bq Ci
Giga G 109 GBq GCi Nano n 10-9 nBq nCi
12 -12
Tera T 10 TBq TCi Pico p 10 pBq pCi
15 -15
Peta P 10 PBq PCi Femto f 10 fBq fCi

Como as unidades becquerel e curie tem valores muito diferentes, em termos de


ordem de grandeza, alguns mltiplos do Ci no so utilizados, como GCi, TCi e PCi, e
da mesma forma, os valores abaixo de nBq.

1.5.7. Meia-vida do radioistopo T1/2

O intervalo de tempo, contado a partir de um certo instante, necessrio para que


metade dos tomos radioativos decaiam denominado de meia-vida, e pode ser
visualizado na Figura 1.12. A relao entre a meia-vida e a constante de decaimento
expressa por:
n2 0,693
T1/ 2

A meia-vida pode ter valores muito pequenos como os do 20F e 28Al, com 11 s e
2,24 min respectivamente, grandes como 90Sr (28,5 a), 60Co (5,6 a) e 137Cs (30 a), e muito
grandes como os do 232Th (1,405.1010 a) e 238U (4,46.109 a).

1.5.8. Vida-mdia do radioistopo,

O intervalo de tempo necessrio para que a atividade de uma amostra decresa


de um fator 1/e, onde e a base do logaritmo neperiano, denominado de vida-mdia e
vale:

1 1/2
= =
0,693

18
1.6. RADIAES NUCLEARES

Radiao nuclear o nome dado s partculas ou ondas eletromagnticas emitidas


pelo ncleo durante o processo de restruturao interna, para atingir a estabilidade.
Devido intensidade das foras atuantes dentro do ncleo atmico, as radiaes nucleares
so altamente energticas quando comparadas com as radiaes emitidas pelas camadas
eletrnicas.
bom salientar que as radiaes no so produtos da desintegrao nuclear,
como se os ncleos instveis estivessem se quebrando ou desmanchando. Ao contrrio,
elas so indicadores do resultado das transformaes do ncleo instvel, na busca de
estados de maior estabilidade e perfeio, ou seja, so produtos da otimizao de sua
estrutura e dinmica.

1.6.1. Unidades de energia de radiao

A energia da radiao e das grandezas ligadas ao tomo e ao ncleo geralmente


expressa em eltron-volt (eV).
Um eV a energia cintica adquirida por um eltron ao ser acelerado por uma
diferena de potencial eltrica de 1 volt.

1 MeV = 106 eV = 1,6.10-13 Joule.

1.6.2. Radiao

Radiao beta () o termo usado para descrever eltrons de origem nuclear,


carregados positiva (+) - psitrons - ou negativamente (-) - negatrons. Sua emisso
constitui um processo comum em ncleos de massa pequena ou intermediria, que
possuem excesso de prtons ou de nutrons em relao estrutura estvel correspondente.
A Figura 1.13 ilustra o processo de decaimento beta.

Figura 1.13 - Emisso .

19
1.6.2.1. Emisso -

Quando um ncleo tem excesso de nutrons em seu interior e, portanto, falta de


prtons, o mecanismo de compensao ocorre atravs da transformao de um nutron
em um prton mais um eltron, que emitido no processo de decaimento.
Nesse caso, o ncleo inicial transforma-se de uma configurao ZA X em Z A1 X
uma vez que a nica alterao o aumento de uma carga positiva no ncleo.

1.6.2.2. O neutrino e o anti-neutrino

A necessidade de conservao de energia e de paridade no sistema durante o


processo de decaimento beta levou Pauli formulao da hiptese da existncia de uma
partcula, que dividiria com o eltron emitido, a distribuio da energia liberada pelo
ncleo no processo de decaimento. A teoria foi posteriormente confirmada, sendo
verificada a presena do neutrino, na emisso + e do anti-neutrino, , na emisso -.
O neutrino uma partcula sem carga, de massa muito pequena em relao ao eltron,
sendo, por esse motivo, de difcil deteco.

1.6.2.3. Equao da transformao do nutron na emisso -

A transformao do nutron em um prton pelo processo da emisso - pode ser


representada por:


0
1n 1p 0e

A energia cintica resultante da diferena de energia entre o estado inicial do


ncleo ZA X e o estado do ncleo resultante Z A1Y distribuda entre o eltron e o anti-
neutrino. Aps o processo pode haver ainda excesso de energia, que emitido na forma
de radiao gama.

1.6.2.4. Emisso +

A emisso de radiao tipo + provm da transformao de um prton em um


nutron, assim simbolizada:


1p 10n 0e

O ncleo inicial, ZA X , aps a transformao do prton, resulta em Z A1Y .


O psitron tem as mesmas propriedades de interao que o eltron negativo,
somente que, aps transferir sua energia cintica adicional ao meio material de interao,
ele captura um eltron negativo, forma o positrnio, que posteriormente se aniquila,
gerando duas radiaes gama de energia 0,511 MeV cada, emitidas em sentidos
contrrios.

1.6.2.5. Caractersticas da emisso beta

Nas transies beta, que abrangem a emisso , + e captura eletrnica (EC),


ocorrem mudanas de um estado do ncleo-pai para um ou mais estados do ncleo-filho.
20
Tais estados so caracterizados por seus parmetros como: energia, momento angular
total e paridade.
Assim, as transies carregam diferenas de energia, momento angular e paridade.

a) Distribuio de energia na emisso

A energia da transio bem definida, mas como ela repartida entre eltron e o
neutrino, a energia da radiao beta detectada ter um valor variando de 0 at um valor
mximo, denominado de Emax. Assim, o espectro da radiao beta detectada ser contnuo,
iniciando com valor 0 e terminando em Emax como mostrado na Figura 1.14.

36
Ar

Figura 1.14 - Espectro de distribuio em energia de um processo de emisso .

O espectro + tem forma semelhante do espectro -, porm um pouco distorcido


para a direita, devido repulso da carga eltrica positiva concentrada no ncleo.

O espectro - detectado, difere um pouco do emitido, devido atrao eltrica do


ncleo e repulso dos eltrons atmicos, que o distorce para a esquerda, no sentido da
regio de baixa energia.

A energia de radiao beta normalmente representada por seu valor mximo,


embora uma melhor caracterizao seja dada pelo seu valor mdio e pela moda da
distribuio.

b) Paridade da transio beta

A paridade da transio beta obtida pelo produto das paridades dos estados
inicial do ncleo-pai e final do ncleo filho, podendo ser positiva ou negativa, ou seja,
trocar ou no de paridade.
A paridade de um estado de uma partcula est associada ao formato de sua
descrio pela funo matemtica que o descreve, denominada de funo de onda. Se, na
sua representao grfica, ela seccionar o eixo dos X um nmero par de vezes, ela possui
a paridade par ou positiva. Se seccionar um nmero mpar, paridade mpar ou negativa.

c) Classificao das transies beta

Conforme os valores do momento angular e da paridade associados transio


beta, as transies beta so denominadas de Permitidas e Proibidas.

21
Por exemplo, as transies com diferena de momento angular (J = 0 ou 1) e que
no mudam a paridade dos estados inicial do ncleo-pai e final do ncleo-filho, so
denominadas de Permitidas. As transies com valores de J = 1 ou 2 e que mudam a
paridade, so denominadas de 1 proibida ou 1 proibida nica. As com valores de J=2,3
que no trocam a paridade so denominadas de 2 proibida e 2 roibida nica, e assim
por diante. (ver: E. de Almeida e L. Tauhata, Fsica Nuclear, Ed. Guanabara 2 - 1981).
As transies permitidas tm maior probabilidade de emisso que as proibidas.

1.6.2.6. Emisso de mais de uma radiao beta em um decaimento

No processo de decaimento, a busca do estado fundamental pode ocorrer por meio


de processos alternativos, com probabilidades de ocorrncia de acordo com o grau de
facilidade ou de dificuldade para realizar a transformao.
A probabilidade de transio beta depende da diferena de energia e das
caractersticas fsicas (nmeros qunticos) entre os estados inicial e final.
Para alguns nucldeos possvel ocorrer a transio beta diretamente para o estado
fundamental do ncleo-filho. So os denominados emissores beta puros. Na maioria dos
casos, a transio beta gera o ncleo-filho em estado excitado e o estado fundamental
atingido por meio de transies gama, conforme ilustrado na figura 1.15. O espectro
beta observado na medio de uma amostra constitui a soma dos espectros das diversas
transies beta ocorridas e a sua energia mxima corresponde da transio de maior
Emax.

Figura 1.15 - Esquema de decaimento para caminhos alternativos de


decaimento .

1.6.2.7. Emissores puros

Na maior parte dos casos, a emisso ocorre deixando um excesso de energia no


ncleo-filho, que ento, emite radiao gama para descartar este excesso. Em alguns casos
a transio suficiente para o ncleo alcanar o estado de energia fundamental. Nesses

22
casos ocorre somente a emisso e o nucldeo emissor denominado de emissor puro.
A tabela 1.3 traz exemplos de alguns desses nucldeos.

Tabela 1.3 - Emissores beta puros.

Nucldeo Meia-vida Energia mxima (MeV)


3 (12,312 0,025) a
H (18,564 0,003)
14 (5.700 30) a
C (156,476 0,004)
32 (14,284 0,036) d
P (1710,66 0,21)
33 (25,383 0,040) d
P (248,5 0,11)
35 (87,25 0,15) d
S (167,33 0,030)
36
Cl (302 4)103 a (709,53 0,05)
45
Ca (162,64 0,11) d (258 0,7)
63
Ni (98,7 0,24) a (66,980 0,015)
90
Sr (28,80 0,07) a (545,9 0,14)
99
Tc (211,5 0,11)103 a (293,8 0,14)
147
Pm (2,6234 0,0004) a (224,1 0,3)
204
Tl (3,788 0,015) a (763,7 0,2)

1.6.2.8. Captura eletrnica, EC

Um processo que geralmente pode ocorrer junto com o decaimento o de


captura eletrnica. Em alguns ncleos, a transformao do prton em nutron ao invs de
se realizar por emisso de um psitron, ela se processa pela neutralizao de sua carga
pela captura de um eltron orbital das camadas mais prximas, assim representada (ver
Figura 1.16):


1p 0e 10n

Para ncleos de nmero atmico elevado, este tipo de transformao bastante


provvel e compete com o processo de emisso +.
Nesse caso no ocorre emisso de radiao nuclear, exceto a do neutrino. No
entanto, a captura do eltron da camada interna da eletrosfera, cria uma vacncia que, ao
ser preenchida, provoca a emisso de raios X caractersticos.

Figura 1.16 - Representao do processo de captura eletrnica e da emisso


de raio X caracterstico.

23
1.6.3. Radiao

Quando o nmero de prtons e nutrons elevado, o ncleo pode se tornar instvel


devido repulso eltrica entre os prtons, que pode superar a fora nuclear atrativa, de
curto alcance, da ordem do dimetro nuclear. Nesses casos pode ocorrer a emisso pelo
ncleo de partculas constitudas de 2 prtons e 2 nutrons (ncleo de 4He), que permite
o descarte de 2 cargas eltricas positivas (2 prtons) e 2 nutrons, num total de 4 nucleons
(ver Figura 1.17), e grande quantidade de energia. Em geral os ncleos alfa-emissores
tm nmero atmico elevado e, para alguns deles, a emisso pode ocorrer
espontaneamente.

Figura 1.17 - Representao da emisso de uma partcula por um ncleo.

1.6.3.1. Equao da transformao no decaimento alfa

As modificaes nucleares aps um decaimento alfa podem ser descritas como:

A 4
A
ZX Z 2Y 24He energia

Assim, por exemplo,

239
94 Pu 235
92 U 24He 5,2 MeV

A explicao da emisso de partculas alfa pelo ncleo se baseia no valor do


coeficiente de transmisso de uma partcula alfa, atravs de uma barreira de potencial
coulombiano com energia maior que a da partcula, num fenmeno conhecido como
Efeito Tnel. Este coeficiente determinado utilizando-se o mtodo WKB (G. Wentzel,
H.A. Kramers e L. Brillouin) com um formalismo tipicamente quntico. (ver: A. Messiah,
Quantum Mechanics, Vol.2 - North Holland, 1974; E. de Almeida e L. Tauhata, Fsica
Nuclear, Ed. Guanabara Dois, 1981 - Rio).
A partcula alfa pode ser emitida tanto dos estados fundamental ou excitado do
ncleo-pai, gerando o ncleo-filho em diversos estados excitados, que decaem por
emisso gama para o seu estado fundamental. Isto gera tambm radiaes alfa de vrias
energias.

24
1.6.3.2. Energia da radiao

A emisso representa transies com energias bem definidas e, portanto, com


valores discretos (no contnuo). De modo semelhante ao decaimento beta, o processo de
decaimento pode ocorrer por caminhos alternativos, emitindo partculas alfas com
diferentes energias. O espectro da contagem das partculas em funo da energia
apresenta, ento, vrios picos, cada um correspondendo a uma transio alfa.
Na figura 1.18, apresentado o espectro das radiaes alfa emitido pelo 241Am e
obtido por um detector de barreira de superfcie.
Sendo a energia de ligao da partcula extremamente alta (28 MeV) quando
comparada dos nucleons (6 a 8 MeV) na maioria dos ncleos, pode-se entender a razo
pela qual o ncleo excitado, com A > 150 no emite separadamente prtons e nutrons
por emisso espontnea.

Figura 1.18 - Espectro das radiaes alfa, com energias entre 5,389 MeV e
5,545 MeV, emitidas pelo 241Am, e obtido com detector de barreira se
superfcie.

Como a maior parte das partculas so emitidas com energia entre 3 e 7 MeV, a
sua velocidade da ordem de um dcimo da velocidade da luz. Obs.: a energia da partcula
chega a 11,65 MeV no 212Po.
Na Tabela 1.4 esto relacionadas as energias das radiaes alfa emitidas por
alguns radionucldeos, muito deles escolhidos como padres para calibrao de sistemas
de deteco.

25
Tabela 1.4 - Radionucldeos alfa emissores, com energias bem conhecidas,
utilizados como padres para calibrao de detectores.
(ver: www.nucleide.org/DDEP_WG/DDEPdata.htm)

Intensidade
Fonte Meia-vida Energia (keV)
Relativa (%)
241Am 432,6 0,6 a 5485,56 0,12 0,8445 0,0010
5442,86 0,12 0,1323 0,0010
242Cm 162,86 0,08 d 6112,72 0,08 0,7406 0,0007
6069,37 0,09 0,2594 0,0007
210Po 138,3763 0,0047 d 5304,33 0,07 0,9999876 0,0000004

239Pu (24100 11) a 5156,59 0,14 0,7079 0,0010


5143,82 0,21 0,1714 0,0004
5105,81 0,21 0,1187 0,0003
235U
(704 1)106 a 4397,8 1,3 0,5719 0,0020
4366,1 2,0 0,1880 0,0013
4596,4 1,3 0,0474 0,0006
4556,0 0,4 0,0379 0,0006
4322 4 0,0333 0,0006
4414,9 0,5 0,0301 0,0016
238U
(4,468 0,005)109 a 4198 3 0,7754 0,0050
4151 5 0,2233 0,0050
232Th
(14,02 0,06)109 a 4011,2 1,2 0,789 0,013
3948,5 1,4 0,210 0,013

1.6.4. Emisso gama

Quando um ncleo decai por emisso de radiao alfa ou beta, geralmente o


ncleo residual tem seus nucleons fora da configurao de equilbrio, ou seja, esto
alocados em estados excitados. Assim para atingir o estado fundamental, emitem a
energia excedente sob a forma de radiao eletromagntica, denominada radiao gama
(), conforme ilustrado na Figura 1.19.

Figura 1.19 - Representao da emisso da radiao gama pelo ncleo.

26
1.6.4.1. Caractersticas da emisso gama

a) Energia da Radiao Gama

A energia da radiao gama bem definida e depende somente dos valores inicial
e final de energia dos orbitais envolvidos na transio, ou seja:

E Ei E f h

onde h a constante de Planck (6,6252.10-34 J.s) e a frequncia da radiao.


Assim, por exemplo, as energias das radiaes gama emitidas pelo 60Ni, formado
pelo decaimento beta do 60Co, so:

E 1 2,50571 1,33250 1,17321 MeV


E 2 1,33250 0 1,33250 MeV

b) Paridade da transio

A paridade de uma transio gama definida pelo produto das paridades dos
estados nucleares, inicial e final, podendo ser positiva (+) ou negativa (-). A paridade de
um estado depende do seu momento angular orbital (l), ou seja, = (1) .

c) Classificao das transies gama

A diferena entre os momentos angulares totais dos estados, inicial e final, de um


nucleon, = , denominada de multipolaridade da transio. Para valores de l =
0, 1, 2, 3, 4 as transies gama so denominadas de monopolo, dipolo, quadrupolo,
octupolo, hexadecapolo, .
Se a paridade da transio puder ser expressa por = (1) , a transio
classificada como sendo do tipo eltrica E, (Dipolo eltrica=E1, Quadrupolo eltrica E2,
Octupolo Eltrica E3), se for expressa por = (1)+1 , ser classificada como do tipo
magntica M, (Dipolo magntica=M1, Quadrupolo magntica=M2, Octupolo
magntica=M3).
Em geral, as transies eltricas so mais intensas que as correspondentes
magnticas de mesma multipolaridade.
Alm das transies gama normais, cujas probabilidades de ocorrncia podem ser
estimadas pelos modelos de Partcula Simples e de Camadas, existem as transies gama
coletivas, oriundas das vibraes ou rotaes coletivas nucleares. Essas transies tm
intensidades muito maiores que as transies normais e suas probabilidades de ocorrncia
so previstas pelos Modelos Nucleares Coletivos. (ver: J.M. Eisenberg e W. Greiner,
Nuclear Models, Vol. 1 de Nuclear Theory, North Holland Publishing Company,
Amsterdam-London, 1970.)

1.6.4.2. Intensidade relativa de emisso I (branching ratio)

Um estado excitado, conforme sua energia, momento angular e paridade, pode


realizar uma ou mais transies para os estados excitados de menor energia, ou para o
estado fundamental.

27
Quanto mais semelhantes as caractersticas dos estados envolvidos, mais provvel
ser a transio. Como a soma das probabilidades de transio 1, o percentual de
emisso de cada radiao gama diretamente proporcional probabilidade de transio
envolvida.

60
Assim, por exemplo, para a transio de 1,17321 MeV do Ni, a intensidade
relativa ser:

I I 1 I 1 0,9988 1,00 0,9988 (99,88%)

Para a transio de 1,33250 MeV ser: 99,88% + 0,12% = 100%.


Para a transio de 2,1508 MeV o valor (desprezvel) ser = 0,0081%

1.6.4.3. Valores de referncia para as energias das radiaes

Na Tabela 1.5 so apresentados os principais radionucldeos, cujas energias e


intensidades relativas das radiaes gama so bem estabelecidas e, assim, muitas vezes
utilizados como fontes de calibrao de detectores e obteno de suas curvas de eficincia
de deteco. Na Tabela 1.5, Iabs(%) o percentual de decaimento absoluto para cada
radiao gama, e o termo entre parnteses o seu desvio padro.

1173 keV
1332 keV

Figura 1.20 - Espectro das radiaes gama do 60Co obtido com o detector de
germnio puro.

28
Tabela 1.5 - Valores padres recomendados para radiaes gama de alguns
radionucldeos (Marie-Martine B, Valery P. Chechev - Nuclear Intr. Meth., A,
728 (2013) p. 157-1712).

E Iabs E Iabs
Nucldeo T1/2 Nucldeo T1/2
(keV) (%) (keV) (%)
7 99m
Be (53,22 0,06) d 477,6035(20) 10,44(4) Tc (6,0067 0,0010) h 140,511(1) 88,5(2)
22 108
Na (2,6029 0,0008) a 511,00 180,7((13) Ag (2,382 0,011) min 632,98(5) 88,5(2)
1.274,547(7)
108m
Ag (439 9) a 79,131(3) 6,9(5)
24
Na (14,9574 0,0020) h 1.368,626(5) 99,9935(5) 433,938(5) 90,1(6)
2.754,00(11) 99,872(8) 614,276(4) 90,5(16)
722,907(10) 90.8(16)
40
K (1,2504 0,003).109 a 1.460,822(6) 10,55(11)
110m
Ag (249,78 0,2) d 446,812(3) 3,65(5)
620,3553(17) 2,72(8)
46
Sc (83,788 0,022) d 889,271(2) 99,9833(5) 657,7600(11) 94.38(8)
1.120,537(3) 99,986(36) 677,6217(12) 10,56(6)
687,0091(18) 6,45(3)
51
Cr (27,703 0,003) d 320,0824(4) 9,87(3) 706,6760(15) 16,48(8)
744,2755(18) 4,71(3)
763,9424(17) 22,31(9)
54
Mn (312,13 0,03) d 834,838 99,9746(11) 818,0244(18) 7,33(4)
884,6781(13) 74,0(12)
937,485(3) 34,51(27)
59
Fe (44,495 0,008) d 192,349(5) 2,918(29) 1.384,2931(20) 24,7(5)
1.099,245(3) 56,59(21) 1.475,7792(23) 4,03(5)
1.291,590(6) 43,21(25) 1.505,028(2) 13,16(16)
1.562,2940(18) 1,21(3)
56
Co (77,236 0,026) d 511,00 39,21(22)
123
846,7638(19) 99,9399(23) I (13,2234 0,0037) h 158,97(5) 83,31(20
977,363(4) 1,422(7) 528,96(5) 1,25(3)
1.037,8333(24) 14,03(5)
125
1.175,0878(22) 2,249(9) I (59,388 0,028) d 35,44925 6,63(6)
1.238,2736(22) 66,41(16)
131
1.360,196(4) 4,80(13) I (8,0233 0,001) d 80,1850(19) 2,607(27)
1.771,327(3) 15,45(4) 284,305(5) 6,06(6)
2.015,176(5) 3,017(14) 364,489(5) 81,2(8)
2.034,752(5) 7,741(13) 636,989(4) 7,26(8)
2.598,438(4) 16,96(4) 722,911(5) 1,96(20)
3.009,559(4) 1,038(19)
124
3.201,930(11 3,203(13) Sb (60,208 0,011) d 602,7260(23) 97,775(20)
3.253,402(5) 7,87(3) 645,8520(19) 7,442(15)
3.272,978(6) 1,855(9) 709,33(2) 1,363(5)
713,776(4) 2,273(7)
57
Co (271,80 0,05) d 14,41295(31) 9,15(17) 722,782(3) 10,708(22)
122,06065(12) 85,51(6) 968,195(4) 1,887(10)
136,47356(29) 10,71(15) 1.045,125(4) 1,852(14)
1.325,504(4) 1,587(7)
60
Co (5,2711 0,0008) a 1.173,228(3) 99,85(3) 1.355,20(2) 1,0412(38)
1.332,492(4) 99,9826(6) 1.368,157(5) 2,620(8)
1.436,554(7) 1,234(8)
65
Zn (244,01 0,09) d 511,00 2,842(13) 1.690,971(4) 47,46(19)
1.115,539(2) 50,22(11) 2.090,930(7) 5,493(24)
88 134
Y (106,626 0,021) d 898,036(4) 93,90(23) Cs (2,0644 0,0014) a 475,365(7) 1,479(7)
1.836,052(13 99,32(3) 563,246(3) 8,342(15)
569,330(2) 15,368(21)
95
Zr (64,032 0,006) d 724,193(3) 44,27(22) 604,720(3) 97,63(8)
756,729(12) 54,38(22) 795,86(1) 85,47(9)
801,950(6) 8,694(16)
99
Mo (2,7479 0,0006) d 40,58323(17) 1,022(27) 1.167,967(4) 1,791(5)
140,511(1) 89,61(17 1.365,194(4) 3,019(8)
181,068(8) 6,01(11)
137
366,421(15) 1,194(23) Cs (30,05 0,08) a 661,657(3) 84,99(20)
739,500(17) 12,12(15)
144
777,921(20) 4,28(8) Ce (284,91 0,05) d 80,120(5) 1,36(6)
133,515(2) 11,1(1)

29
E Iabs E Iabs
Nucldeo T1/2 Nucldeo T1/2
(keV) (%) (keV) (%)

152 182
Eu (13,522 0,016) a 121,7817(3) 28,37 Ta (114,61 0,13) d 65,72215(15) 46,31
244,6974(8) 7,51 67,7497(1) 14,23
344,2785(12) 26,58 84,68024(26) 6,95
411,1165(12) 2,234 100,10595(7) 3,09
443,965(3) 2,80 152,42991(26 3,64
778,9045(24) 1,70 156,3864(3) 35,30
867,380(3) 12,96 179,39381(25 16,44
964,079(18) 4,21 198,35187(29 27,17
1.085,837(10 14,62 229,3207(6) 11,58
1.089,737(5) 10,16 264,0740(3)
1.112,076(3) 1,710 1001,6856(12
1.212,948(11 13,56 1.121,290(3)
1.299,142(8) 1,397 1.189,040(3)
1.408,13(3) 1,626 1.221,395(3)
20,85 1.231,004(3)
1257,407(3)
170
Tm (127,8 0,6) d 84,2547(8) 2,48(9) 1289,145(3)
198
Au (2,6944 0,0008) d 411,80205(8) 95,54(7)
192
Ir (73,827 0,013) d 205,79430(9) 3,34(4)
203
295,95650(15 28,72(14) Hg (46,594 0,012) d 279,1952(10) 81,61(5)
308,45507(17) 29,68(15)
207
316,50618(17) 82,75(21) Bi (32,9 1,4) a 569,698(2) 97,7(3)
468,0688(3) 47,81(24) 1.063,656(3) 74,58(22
484,5751(4) 3,189(24) 1.770,228(9) 6,871(26
588,5810(7) 4,517(22)
226
604,41105(25) 8,20(4) Ra (1600 7) a 186,211(13) 3,555(19
612,4621(3) 5,34(8)
241
Am (432,6 0,6) a 26,3446(2) 2,31(8)
59,5409(1) 35,92(17

1.6.5. Intensidade relativa das radiaes e atividade total

Nas transformaes que ocorrem dentro do ncleo, para se atingir uma


configurao mais estvel ou organizada, radiaes sob a forma de partculas e ondas
eletromagnticas so emitidas, com intensidades que dependem de suas probabilidades
de emisso. Se os valores destas probabilidades de emisso so conhecidos, possvel
determinar a atividade total da amostra medindo-se a intensidade de emisso de somente
uma nica radiao.
Assim, por exemplo, no esquema de decaimento mostrado na Figura 1.21, o
radionucldeo X decai por emisso beta com as probabilidades:

p1 = 20% para o estado excitado de energia E1


p2 = 30% para o estado excitado de energia E2
p3 = 50% para o estado excitado de energia E0

Os estados excitados de energias E1 e E2 decaem para o estado fundamental


emitindo 3 radiaes gama, 1, 2 e 3, conforme mostra a Figura 1.22. As probabilidades
de desexcitao do estado E1 so de 80% para 1 e 20% para 2. A probabilidade de
desexcitao do estado E2 de 100% para E0, com 3.

30
Figura 1.21 - Esquema de decaimento do radionucldeo X, indicando os
valores das probabilidades de emisso das radiaes beta e gama.

Assim, a intensidade relativa da radiao 3 obtida por,

I 3 ( p1 p 1 ) ( p2 p 2 ) (0,20 0,80) (0,30 1,00) 0,46

Desta forma, o nmero de radiaes 3 emitidas, representa 46% das radiaes


resultantes da atividade total de X na amostra. Isto significa que, de 100 transformaes
nucleares em X, so emitidas 46 radiaes 3. Se 3 for o valor da eficincia do detector
para a energia da radiao 3, e se a amostra estiver sendo contada durante um intervalo
de tempo t, a atividade de X na amostra ser:

A cps /( I 3 3 t )

1.6.6. Atividade e decaimento de uma mistura de radionucldeos

Uma mistura de radionucldeos com atividades A1, A2, A3, ... , An com respectivas
constantes de decaimento 1, 2, 3, ... , n ter como atividade total AT, num certo instante
t0 :

n
AT Ai
i 1

Aps o tempo t, a atividade da mistura ser:

n
AT Ai e i t
i 1

31
1.6.7. Esquema de decaimento de um radionucldeo

A representao grfica de todas as transies e estados excitados do ncleo, com


os valores dos parmetros que os caracterizam, constitui o Esquema de Decaimento do
Radionucldeo.
A Figura 1.23 mostra o esquema de decaimento do 60Co, onde esto definidos os
valores da meia-vida do 60Co, as energias dos estados excitados, as transies beta, as
transies gama, as meias-vidas dos estados excitados e as intensidades relativas de cada
radiao emitida.
bom observar que, convencionalmente, as transies beta so associadas ao
ncleo-pai, isto , se emitidas pelo 60Co recebem a denominao usual de radiaes beta
do 60Co. J as transies gama provenientes das transies do ncleo-filho, por exemplo
o 60Ni, recebem a denominao de radiaes gama do ncleo-pai, ou seja, do 60Co.

Figura 1.22 - Esquema de decaimento do 60Co.

1.7. INTERAES EM PROCESSOS DE DECAIMENTO

1.7.1. Raios X caractersticos

Quando ocorre a captura eletrnica (EC) ou outro processo que retira eltrons da
eletrosfera do tomo, a vacncia originada pelo eltron imediatamente preenchida por
algum eltron de orbitais superiores. Ao passar de um estado menos ligado para outro
mais ligado (por estar mais interno na estrutura eletrnica), o excesso de energia do
eltron liberado por meio de uma radiao eletromagntica, cuja energia igual
diferena de energia entre o estado inicial e o final. A denominao caracterstico se
deve ao fato dos ftons emitidos, por transio, serem monoenergticos e revelarem
detalhes da estrutura eletrnica do elemento qumico e, assim, sua energia e intensidade
relativa permitem a identificao do elemento de origem.
Os raios X caractersticos so, portanto dependentes dos nveis de energia da
eletrosfera e, dessa forma, seu espectro de distribuio em energia discreto.
Como a emisso de raios X caractersticos um fenmeno que ocorre com energia
da ordem da energia de ligao dos diversos nveis da eletrosfera, as energias de emisso
dos raios X caractersticos variam de alguns eV a dezenas de keV.
32
1.7.2. Eltrons Auger

Num tomo excitado em sua eletrosfera, o excesso de energia, ao invs de ser


liberado pela emisso de raios X caractersticos, pode ser transferido diretamente para um
eltron de uma camada mais externa. O processo pode ser entendido como se, ao ser
emitido, o raio X caracterstico virtual colidisse com eltrons do prprio elemento,
retirando-os por efeito fotoeltrico. Estes eltrons so denominados de eltrons Auger.
Tais eltrons podem ser tambm emitidos no rearranjo dos eltrons nas camadas mais
externas do tomo, quando da ocorrncia de uma transio com raio X caracterstico.
Da mesma forma que os raios X caractersticos, os eltrons Auger so dependentes
dos nveis de energia da eletrosfera e portanto seu espectro de distribuio em energia
discreto. Como sua energia de emisso igual energia do raio X caracterstico, do qual
concorrente, menos a energia de ligao do nvel do eltron emitido, seu valor um
pouco menor, ou seja, tambm da ordem de alguns eV a dezenas de keV. Para nucldeos
com Z<80, a energia destes eltrons em torno de 56 keV.

Nota: A emisso de eltrons Auger permite observar, por outra via, a ocorrncia do
processo de captura eletrnica.

1.7.3. Converso interna

O processo de converso interna compete com a emisso de radiao gama e


consiste na transferncia da energia de excitao nuclear para eltrons das primeiras
camadas (K e L), por meio da interao coulombiana, retirando-os dos orbitais. Estes
eltrons so denominados de eltrons de converso, so monoenergticos e permitem
identificar o elemento qumico. Devido vacncia deixada pelo eltron, ocorrer
subsequentemente a emisso de raios X caracterstico (ver Figura 1.24). Assim, no
espectro de radiaes observa-se a presena de picos de contagem correspondentes aos
eltrons de converso, raios X caractersticos e radiao gama.
A energia dos eltrons emitidos pelo processo de converso interna igual
energia da radiao gama concorrente, menos a energia de ligao do eltron ao tomo.
Varia, portanto, de dezenas de keV a alguns MeV. Seu espectro de distribuio de energia
discreto.
Eltron Transio
Eltron de
Converso Raio X
Caracterstico

Ncleo Excitado Ncleo Estvel

Figura 1.23 - Representao do processo de converso interna.

33
Na converso interna, a energia e o momento angular da radiao gama prevista,
so transferidos para um eltron orbital. A energia cintica do eltron expelido igual
diferena de energia entre os estados inicial e final (Ei - Ef) menos a energia de ligao
do eltron ao orbital, por exemplo, a camada K, ou seja,

= ( )

Esta competio entre tipos de transio, pode ser expressa pela relao entre as
probabilidades de transio por segundo de converso interna (e) e emisso gama (),
denominada de Coeficiente de Converso Interna (), ou seja,

O eltron de converso pode ser proveniente dos orbitais K, L, M, N, etc., sendo


os da camada K os mais provavelmente emitidos devido maior energia de ligao.
Ento,

= + + + = = .

O valor experimental da probabilidade de emisso gama, pode ser


aproximadamente obtido do esquema de decaimento, usando a meia-vida do estado
excitado, ou seja,

2
=

A probabilidade de ocorrncia de uma converso interna, por exemplo na camada


K, pode ser obtida por meio dos valores dos coeficientes de converso interna
correspondentes, isto ,


=
1+

Da mesma forma,

1 + 2 + 3
=
1+

A probabilidade de converso interna para eltrons da camada M calculada de forma


semelhante, ou ento, utilizando a expresso,

( )
=
1+

Finalmente, a probabilidade de transio total (s-1) do estado inicial para o final


ser dada por,

= (1 + )

34
Os valores dos coeficientes de converso interna podem ser obtidos teoricamente
ou em tabelas ou grficos que fornecem valores em funo de Z, E e tipo de transio
gama (E1, M1, E2, M2, etc) (ver Table of Isotopes - Lederer e Hollander, ou Lederer e V.
Shirley, apndice 26). Tambm podem ser encontrados em tabelas que fornecem o
esquema de decaimento, as probabilidades de transio gama e os valores dos diversos
coeficientes para as vrias camadas eletrnicas.

1.8. RADIAO PRODUZIDA PELA INTERAO DE RADIAO COM A


MATRIA

Ao interagir com a matria, a radiao incidente pode tambm transformar, total


ou parcialmente, sua energia em outro tipo de radiao. Isso ocorre na gerao dos raios
X de freamento, na produo de pares e na radiao de aniquilao.

1.8.1. Radiao de freamento (Bremsstrahlung)

Quando partculas carregadas, principalmente eltrons, interagem com o campo


eltrico de ncleos de nmero atmico elevado ou com a eletrosfera, elas reduzem a
energia cintica, mudam de direo e emitem a diferena de energia sob a forma de ondas
eletromagnticas, denominadas de raios X de freamento ou bremsstrahlung.
A energia dos raios X de freamento depende fundamentalmente da energia da
partcula incidente. Os raios X gerados para uso mdico e industrial no passam dos 500
keV, embora possam ser obtidos em laboratrio raios X at com centenas de MeV. Como
o processo depende da energia e da intensidade de interao da partcula incidente com o
ncleo e de seu ngulo de sada, a energia da radiao produzida pode variar de zero a
um valor mximo, com espectro contnuo em energia.

Nota: Na produo de raios X so produzidos tambm raios X caractersticos


referentes ao material com o qual a radiao est interagindo (alvo ou
anodo). Esses raios X caractersticos somam-se ao espectro de raios X de
freamento e aparecem com picos destacados nesse espectro, conforme mostra
a Figura 1.25 (espectro de raios X de freamento com raios X caractersticos).

35
Raio X
Caracterstico

Intensidade da radiao

Energia Mxima

Figura 1.24 - Espectro de raios X de freamento com raios X caractersticos


para voltagem de pico de 60, 90 e 120 kV.

1.8.2. Produo de pares

Quando ftons de energia superior a 1,022 MeV passam perto de ncleos de


elevado nmero atmico, ao interagir com o forte campo eltrico nuclear, a radiao
desaparece e d origem a um par eltron-psitron (2mec2 = 1,022 MeV), por meio da
reao:

e e energia cintica

A energia cintica do eltron e do prton criados igual energia do fton


incidente menos 1,022 MeV necessrios para a criao das partculas. A distribuio
dessa energia entre as duas partculas no tem predominncia, variando de 20 a 80% da
energia disponvel. O espectro de distribuio de energia das partculas formadas ,
portanto, contnuo, variando entre essas duas faixas.

1.8.3. Radiao de aniquilao

Quando um psitron, aps perder sua energia cintica, interage com um eltron,
a matria toda transformada em energia, sendo emitidos dois ftons, em sentidos
opostos, com energia de 0,511 MeV (2 0,511 MeV= 2mec2). Seu espectro de
distribuio de energia , portanto, discreto.

e e 2 (0,511 MeV )

Essa radiao tambm denominada de radiao gama, embora no seja de


origem nuclear.

36
Tabela 1.6 - Caractersticas das radiaes em funo de sua origem.

ENERGIA
TIPO DESIGNAO EVENTO GERADOR
Valores Distribuio
Fton Raios X Desexcitao da eletrosfera, alterada por eV a Discreta
caractersticos captura eletrnica dezenas de
Desexcitao da eletrosfera, alterada por keV
interao com partculas carregadas externas
Desexcitao da eletrosfera, alterada por
converso interna
Desexcitao da eletrosfera, alterada por
interao com ftons externos
Raios X de Interao de eltron externo com campo eV a Contnua
freamento eltromagntico nuclear ou eletrnico centenas de
MeV
Raios gama Desexcitao nuclear keV a MeV Discreta
Aniquilao de psitron em interao com 0,511 MeV Discreta
eltron
Eltron Foto-eltron Eltron arrancado da camada eletrnica por eV a MeV Discreta
interao com fton, com transmisso total de (hv - B)
energia
Eltron-Compton Eltron arrancado da camada eletrnica por keV a MeV Contnua
interao com fton, com transmisso parcial
de energia
Radiao - Decaimento em ncleo instvel por excesso de keV a MeV Contnua
nutrons.
Eltron de Transmisso de energia de excitao nuclear Dezenas de Discreta
converso diretamente para a camada eletrnica; concorre keV a MeV (E - B)
com emisso gama.
Eltron Auger Desexcitao da eletrosfera por transmisso de eV a dezenas Discreta
energia a eltrons mais externos (menos de keV
ligados); concorre com raios X caractersticos.
Raios Eltrons arrancados da eletrosfera de tomos eV a MeV Contnua
por interao com partculas carregadas com os
tomos.
Eltron de Transformao de energia em matria por eV a MeV Contnua
formao de par interao de um fton de alta energia (> 1,022
MeV) com o campo eletromagntico do ncleo.
Psitron Radiao + Decaimento em ncleo instvel por excesso de eV a MeV Contnua
prtons
Psitron de Transformao de energia em matria por eV a MeV Contnua
formao de par interao de um fton de alta energia (> 1,022
MeV) com o campo eletromagntico do ncleo
Partcula Radiao Decaimento em ncleos pesados instveis MeV Discreta
Nutrons Nutrons Fisso espontnea MeV (pode Contnua
Reaes nucleares ser moderado
a eV)

37
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

IUPAC 2-10, Pure Appl. Chem., v. 83, pp. 359-396, 2011.


http://www.chem.qmvl.ac.uk/iupac

C. Michael Lederer, J.M. Hollander, I. Perlman, Table of Isotopes, Sixth Ed. John Wiley
& Sons, Inc., 1978.

K.C. Chung, Introduo Fsica Nuclear, Ed. UERJ, Rio de Janeiro, RJ, 2001.

R.D. Evans, The Atomic Nucleus, Mc Graw Hill, 1955.

K. Siegbahn, Alpha, Beta and Gamma-Ray Spectroscopy, North Holland, 1974.

E. de Almeida e L. Tauhata, Fsica Nuclear, Editora Guanabara Dois, Rio de Janeiro, RJ,
1981.

A. Messiah, Quantum Mechanics, Vol.2 - North Holland, 1974.

J.M. Eisenberg e W. Greiner, Nuclear Models, Vol. 1 de Nuclear Theory, North Holland
Publishing Company, Amsterdam-London, 1970.

M.M. B, V.P. Chechev, Nuclear Intr. Meth., A, 728, p. 157-1712, 2013.

38
CAPTULO 2

FONTES NATURAIS E ARTIFICIAIS DE RADIAO IONIZANTE

2.1. FONTES NATURAIS

2.1.1. Origem dos elementos qumicos

As teorias sobre a origem dos elementos qumicos no Universo e na Terra indicam


as estrelas como os locais onde se desenvolveram e desenvolvem os processos de sntese.
As estrelas, compostas inicialmente de hidrognio, nos diversos estgios de sua evoluo,
conseguem formar muitos elementos qumicos por meio de reaes nucleares de fuso,
induzidas por temperaturas na faixa de 107 a 1010 K provocadas por contraes
gravitacionais de suas massas e pela energia liberada nas reaes. O contedo e a massa
da estrela estabelecem o caminho de sua evoluo. A produo em larga escala de
elementos qumicos ocorre na fase de exploso de supernova, que algumas estrelas
atingem, se suas massas forem 4 a 8 vezes maiores que a massa do Sol. Neste evento
catastrfico, de durao mdia de 2 segundos, sintetizada a maioria dos ncleos
conhecidos.
Os ncleos sintetizados so dispersos no espao sideral, aps a exploso, e acabam
se incorporando ou depositando em planetas, asteroides, protoestrelas e estrelas, por
atrao gravitacional. A abundncia csmica destes elementos difere bastante da
abundncia deles na crosta de um planeta, pois muitos elementos no conseguem ser
retidos pelo seu campo gravitacional. Por exemplo, no caso da Terra, a fora da gravidade
no consegue superar o movimento de expanso dos elementos gasosos de pequena massa
atmica, provocado pela temperatura.
A abundncia relativa dos elementos qumicos no sistema solar e na crosta
terrestre constitui constante tema de pesquisa da astrofsica e geoqumica. Com base na
concentrao de elementos nos condritos carbonceos e nas estrelas novas, pode-se inferir
a abundncia relativa no sistema solar. Para a crosta terrestre as estimativas foram
baseadas na concentrao dos elementos nos meteoritos e em sequncias tericas de
condensao de gases nebulosos. Devido ao uso de mtodos de medio indireta, tais
estimativas contm muitas incertezas em seus valores.
A Figura 2.1 mostra os valores mdios das concentraes dos elementos qumicos
componentes da crosta terrestre em funo do nmero atmico Z. Observando os valores
das concentraes percebe-se que eles apresentam uma correlao direta com o valor da
energia de ligao dos nucleons. As espcies mais abundantes so as que apresentam
camadas fechadas de nmero de prtons Z e de nutrons N.
Observando os valores das concentraes dos elementos mais abundantes na
crosta terrestre, fcil entender porque as composies qumicas do homem, dos animais
e vegetais apresentam uma correlao direta entre si e com a crosta. Isto fica muito
evidente, quando se observa os processos de reproduo e crescimento destes indivduos,
uma vez que tais organismos necessitam captar os elementos qumicos necessrios para
sua composio nas imediaes de seu stio de vida e pela respectiva cadeia alimentar.

39
Figura 2.1 - Concentrao mdia dos elementos qumicos componentes da
crosta terrestre.

2.1.2. Composio qumica do homem referncia

Em muitos estudos associados proteo radiolgica, preciso conhecer a


composio qumica do corpo humano, devido ao fato das interaes das radiaes
ionizantes com tecidos e rgos ocorrerem, de fato, com os seus tomos componentes.
Por isso necessrio escolher um homem referncia para evitar escolhas arbitrrias de
sua composio. Na Tabela 2.1 apresentada a composio do Homem Referncia em
termos de massa e percentual de cada elemento qumico. Nela se observa a predominncia
dos elementos mais abundantes na crosta terrestre e que possuem nmero atmico Z
pequeno.
Em estudos envolvendo simulaes, por mtodos computacionais, da interao da
radiao com o organismo humano, utiliza-se uma composio simplificada do corpo ou
do tecido humano, conforme os seus objetivos. Por exemplo, para estimativas de dose em
pacientes submetidos radioterapia, a gua apresenta resultados de interao com a
radiao gama e X muito semelhantes aos obtidos com o tecido humano. Assim, para
cada tipo de estudo, pode haver um material tecido equivalente. A Tabela 2.2 mostra
alguns exemplos.

40
Tabela 2.1 - Composio qumica do Homem Referncia, que possui massa
total de 70 kg e densidade de 1,025 g.cm-3.

ELEMENTO QUANTIDADE PERCENTUAL EM


QUMICO (g) MASSA
01. Oxignio 43.000 61
02. Carbono 16.000 23
03. Hidrognio 7.000 10
04. Nitrognio 1.800 2,6
05. Clcio 1.000 1,4
06. Fsforo 780 1,1
07. Enxofre 140 0,20
08. Potssio 140 0,20
09. Sdio 100 0,14
10. Cloro 95 0,12
11. Magnsio 19 0,027
12. Silcio 18 0,026
13. Ferro 4,2 0,006
14. Flor 2,6 0,0037
15. Zinco 2,3 0,0033
16. Rubdio 0,32 0,00046
17. Estrncio 0,32 0,00046
18. Bromo 0,20 0,00029
19. Chumbo 0,12 0,00017
20. Cobre 0,072 0,00010
21. Alumnio 0,061 0,00009
22. Cdmio 0,050 0,00007
23. Boro 0,048 0,00007
24. Brio 0,022 0,00003
25. Prata 0,017 0,00002
26. Mangans 0,012 0,00002
27. Iodo 0,013 0,00002
28. Nquel 0,010 0,00001
29. Ouro 0,010 0,00001
30. Molibdnio 0,0093 0,00001
31. Cromo 0,0018 0,000003
32. Csio, Cobalto, 0,0015 0,000002
Urnio, Berlio, < 0,0015 < 0,000002
Rdio

41
Tabela 2.2 - Composio qumica de materiais tecido-equivalentes e do
msculo utilizada em proteo radiolgica, para clculos por simulao,
utilizando Mtodos de Monte Carlo, e para teste de equipamentos de
medio.

TECIDO TECIDO
MSCULO
ELEMENTO EQUIVALENTE EQUIVALENTE
(ICRP 1962)
QUMICO (DOSE EXTERNA) (DOSE INTERNA)
(%)
(%) (%)
Hidrognio 10,2 10 10
Carbono 12,3 14,9 18
Nitrognio 3,5 3,49 3
Oxignio 72,9 71,4 65
Sdio 0,08 0,15 0,15
Magnsio 0,02 - 0,05
Fsforo 0,2 - 1
Enxofre 0,5 - 0,25
Cloro - 0,1 0,15
Potssio 0,3 - 0,20
Clcio 0,007 - 1

2.1.3. Os elementos radioativos naturais

Devido ao processo de captura rpida de nutrons durante o processo de


exploso da supernova, a maioria dos ncleos dos elementos qumicos sintetizados so
instveis. Num intervalo pequeno de tempo muitos deles se tornam estveis ao emitir
radiaes, por terem a meia-vida muito pequena. Os nucldeos de meia-vida longa podem
compor, juntamente com os estveis, os objetos csmicos e a crosta terrestre, por
mecanismo de acumulao gradual. O 40K, o 238U e 232Th contribuem, juntamente com os
radionucldeos originados pelo seus decaimentos (ver Famlias Radioativas) e os
cosmognicos, para a radioatividade natural da crosta terrestre.

O urnio consiste de 2 istopos: 99,28% de 238U e 0,7% de 235U. A meia-vida do


238
U de 4,67.109 anos e a do 235U de 7.1.108 anos. Existem estudos mostrando que, h
cerca de 5 bilhes de anos, as quantidades de 238U e 235U deveriam ter sido iguais,
indicando que esses elementos foram formados entre 4 e 6.109 anos, que a idade
estimada de formao dos elementos na Terra e do sistema solar.

2.1.4. As famlias radioativas

Na busca incessante do equilbrio nuclear, o 238U emite radiaes alfa e se


transforma no 234Th que, sendo radioativo, emite radiaes beta formando um novo
elemento radioativo o 234Pa, que decai no 234U. Este processo continua por vrias etapas,
cujo ncleo formado melhor organizado que o anterior mas possui imperfeies que
necessitam ser corrigidas por emisso de radiao. Isto forma uma famlia ou srie de
elementos radioativos, a partir do ncleo-pai 238U, terminando no istopo 206Pb, estvel.
Isto ocorre tambm com o 232Th, que termina no 208Pb, conforme mostram as Figuras 2.2.
e 2.3.

42
Radionucldeos de meia-vida curta

Radionucldeos de meia-vida longa

estvel

Figura 2.2 - Srie radioativa do 232Th.

Radionucldeos de meia-vida curta

Radionucldeos de meia-vida longa 8,15 min

Figura 2.3 - Srie radioativa parcial do 238U.

43
2.1.5. O radnio e o tornio

Dentro dos radionucldeos descendentes do 238U destaca-se o 226Ra, que possui


meia-vida de 1.600 anos, e que, por emisso alfa forma o 222Rn, o radnio, de meia-vida
de 3,82 dias. Seus descendentes so o 218 Po (Ra A), 214 Pb (Ra B), 214Bi (Ra C) e 214Po,
todos com meias-vidas muito curtas. Na srie do 232Th ocorre um processo semelhante,
com o 220Rn, tambm chamado de tornio, de meia-vida de 55 segundos e seus
descendentes, 216 Po, 212Pb, 212 Bi, 208Tl e 212Po.
Como a maioria das rochas, solos, sedimentos e minrios contm concentraes
significativas de urnio e trio, como consequncia dos decaimentos, estes materiais
contm tambm os radionucldeos pertencentes s famlias radioativas. Como o radnio
e o tornio so gasosos, nos ambientes construdos por materiais como, cermica,
revestimento de pedra, granito, argamassa, concreto, gesso, etc., vai ocorrer o fenmeno
da emanao destes gases radioativos. Como eles possuem um peso atmico elevado, sua
concentrao maior em nveis prximos do solo, devido decantao gravitacional.
Assim, juntamente com os gases componentes do ar, o homem e os animais respiram
gases e aerossis radioativos.
Devido s meias-vidas curtas dos radionucldeos descendentes do radnio e do
tornio, compatveis com o tempo de metabolismo, a maioria dos radionucldeos
incorporados por inalao ou ingesto decai no interior de seus organismos, irradiando
os seus rgos e tecidos.
Na comparao dos dados publicados de 1982 e 2008 pela UNSCEAR, mostrados
na Figura 2.4, percebe-se a evoluo da Proteo Radiolgica. As exposies mundiais
do homem devido radiao natural em 1982 contribuam, em termos relativos, com
67,6% e, em 2008, com 79,68%. As exposies mdicas contribuam com 30,7% e
passaram para 19,92%. Da mesma forma as exposies ocupacionais de 0,45% para
0,01%. O ciclo do combustvel nuclear que contribuam com 0,15% passaram para
0,17%.

Figura 2.4 - Exposio do homem radiao ionizante.

Na Figura 2.5 tem-se a variao da concentrao do radnio e tornio com a altura


em relao ao solo e nas Figuras 2.6 e 2.7, as variaes da concentrao durante o dia e
durante o ano.

44
Figura 2.5 - Variao da concentrao do tornio e do radnio com a altura
em relao ao solo.

12

10

Figura 2.6 - Variao da concentrao de radnio e tornio durante o dia.

45
Figura 2.7 - Variao da concentrao de radnio e tornio durante o ano.

Os valores da concentrao de 222Rn dependem da poca do ano, do local e do


ambiente em que so determinados. Por exemplo, nas medies realizadas no Rio de
Janeiro, em 1997, por Masa Magalhes do IRD, observou-se que, no inverno, os valores
so 10 a 20 vezes maiores que os observados durante o vero e que, os valores so mais
significativos no ambiente externo. No vero, ocorre o contrrio. O ambiente interno
apresentou maiores concentraes que no externo, conforme pode ser observado nas
figuras 2.8 e 2.9.

Figura 2.8 - Concentrao de 222Rn no Rio de Janeiro, no vero de 1997.


46
Figura 2.9 - Concentrao de 222Rn no Rio de Janeiro, no inverno de 1997.

2.1.6. A radiao csmica

Raios csmicos so partculas altamente energticas, principalmente prtons,


eltrons, nutrons, msons, neutrinos, ncleos leves e radiao gama, provenientes do
espao sideral. A energia destas radiaes muito alta, da ordem de centenas de MeV a
GeV. Muitas so freadas pela atmosfera terrestre ou desviadas pelo cinturo magntico
de Van Allen. Os raios detectados na superfcie so, na maioria, partculas secundrias,
criadas nas colises com os ncleos da camada atmosfrica. Alm de interagir com os
raios csmicos, a atmosfera terrestre exerce um papel de blindagem para os habitantes,
atenuando e absorvendo bastante as radiaes. A quantidade de radiao aumenta com a
altitude e latitude, ou seja, as pessoas que habitam as montanhas recebem mais radiao
que as que vivem ao nvel do mar, os habitantes das regies prximas aos plos so mais
expostos que os da regio equatorial. Alguns raios csmicos se originam de distrbios
solares e so mais abundantes nos anos de alta atividade solar, que ocorre a cada 11 anos.
Um dos resultados do bombardeio constante da atmosfera superior pelos raios
csmicos, principalmente nutrons, a produo dos denominados radionucldeos
cosmognicos: 3H, 7Be, 14C, 22Na e 85Kr. Como quase todos os organismos vivos tm
grande quantidade de carbono e hidrognio, um pequeno percentual radioativo.

2.2. FONTES ARTIFICIAIS

As fontes artificiais de radiao mais importantes so os dispositivos de


diagnstico e terapia utilizados na rea mdica, os aparelhos de controle, medidores e
radiografia usados na indstria e comrcio, as instalaes do ciclo do combustvel nuclear
e as mquinas utilizadas na pesquisa cientfica.
No Brasil, nas instalaes industriais destacam-se os seis irradiadores de grande
porte, sendo que cinco so destinados para esterilizao e um para irradiao de
componentes para rao animal e de cosmticos.
Ressalta-se tambm o avano na rea de perfilagem de poos de petrleo onde j
constam 21 instalaes distribudas em diferentes regies do Pas.

47
Na rea mdica so 595 instalaes sendo 225 de radioterapia e 370 de medicina
nuclear. Nos servios de radioterapia esto instalados 260 aceleradores lineares, 78
equipamentos de braquiterapia de alta taxa de dose e 57 equipamentos de cobalto. Nos
servios de medicina nuclear alm das fontes como 131I, 99mTc, 67Ga, 201Tl, 153Sm, 92
servios do pas j contam com equipamentos de tomografia por emisso de psitrons
(PET/CT) que utilizam o 18F associado uma molcula de glicose (2[18F] fluoro-2-deoxi-
D-glicose) para o diagnstico ou mapeamento de tumores. Atualmente o 18F produzido
em 13 cclotrons instalados em diversas cidades brasileiras.

2.2.1. Tipos de geradores de radiao

Dentre os mais importantes tipos de geradores de radiao ionizante destacam-se


os tubos de raios X, os aceleradores de partcula, os irradiadores com radioistopos e as
fontes de nutrons. Os dois primeiros dispositivos utilizam a eletricidade como fonte de
energia para acelerar partculas e gerar radiao. Os irradiadores utilizam radioistopos
como fonte de radiao, acoplados a um sistema blindado de exposio e guarda da fonte.
As fontes de nutrons utilizam reaes nucleares produzidas por partculas alfa emitidas
por um material radioativo num determinado alvo.

2.2.2. Tubos de raios X

Quando eltrons, acelerados por um campo eltrico intenso, colidem com um alvo
metlico, eles reduzem sua energia cintica, mudam de direo e, alguns deles, emitem a
diferena de energia sob a forma de ondas eletromagnticas, os raios X. Os eltrons
sofrem espalhamento e reduo da velocidade devido atrao da carga do ncleo e
repulso dos eltrons dos tomos do material alvo. Por isso, esse tipo de radiao
tambm denominado de radiao de freamento (bremsstrahlung).
Num tubo de raios X, o feixe de eltrons gerado por emisso termoinica num
filamento aquecido. O campo eltrico obtido aplicando-se uma alta voltagem entre os
terminais do tubo de raios X, onde o alvo metlico, anodo, polarizado positivamente e
o filamento, catodo, negativamente. A emisso de raios X s ocorre, obviamente, quando
estiver ligada a alta tenso. Quanto maior a tenso aplicada ao tubo, maior ser a energia
dos raios X gerados e maior tambm o seu poder de penetrao. Aumentando-se a
corrente, aumenta-se a intensidade do feixe. A Figura 2.10 mostra o esquema bsico de
uma mquina de raios X.

Ampola de Vidro
Feixe de Eltrons
Alta Tenso Filamento

Catodo
Anodo
Copo focalizador
Alvo de Tungstnio
Janela

Feixe de Raios X

Figura 2.10 - Esquema de uma mquina geradora de raios X.


48
Os tubos de raios X, embora funcionem com o mesmo princpio fsico, sofrem
variaes no formato, tipo de alvo do anodo, faixa da tenso (kV) e corrente aplicadas e
sistema de refrigerao. As mquinas utilizadas para radiologia oral apresentam a tenso
na faixa de 60 a 80 kV; para mamografia entre 30 e 40 kV; para radiodiagnstico, de 100
kV a 150 kV e as utilizadas em radiografia industrial, de 150 a 500 kV. Os alvos so
constitudos por tungstnio ou molibdnio.

2.2.3. Aceleradores de partcula

Existem diversos dispositivos que permitem a gerao de feixes intensos de


partculas com energia varivel, utilizando processos de acelerao baseados em campos
eltricos, campos magnticos e ondas eletromagnticas. Dentre estes dispositivos, os
mais difundidos so os aceleradores de eltrons, os aceleradores Van der Graaf e os
cclotrons.

2.2.4. Aceleradores de eltrons

Os aceleradores de eltrons so utilizados nos hospitais, nas indstrias e nos


institutos de pesquisa. So muito versteis, pois, a partir do feixe de eltrons pode-se
produzir feixes de radiao de freamento (radiao eletromagntica de alta energia e
espectro contnuo), ou feixe de nutrons, utilizando reaes nucleares, para certas faixas
de energia.
Os eltrons, gerados por emisso termoinica nos filamentos aquecidos, so
injetados num tubo e carregados por uma onda portadora estacionria, por vrias seces
da mquina, at atingir a energia desejada, num mecanismo de transporte semelhante ao
surf. A onda portadora gerada por vlvulas tipo Klystron, de microondas, e introduzida
na mquina por meio de guias de onda. O feixe colimado por bobinas. As Figuras 2.11a
e 2.11b mostram o esquema de funcionamento e a viso de um acelerador linear de
eltrons utilizado em terapia de cncer em hospitais.

F ilam en to Bomba de vcuo F eixe pulsado de eltrons

Magneto quadripolar
Bob ina defletora Bobina defletora
Seletor de energia
Canho
de eletrons
Guia de onda
Sistema de
transporte do feixe

Janela de sada
Grade Anodo
Bobina focalizadora Bobina Alvo Colimador primrio
Bobina defletora
defletora
Carga
Janela
de cermica
F iltro achatador
Circulador Sistema de
pressurizao
Janela Cmara de
Modulador de cermica ionizao dual
de pulso
Colimador superior

F o n te d e m i c ro o n d a s Sistema Colimador inferior


(Klystron ou magnetron) de refrigerao
Colimador multifolhas
(Op cio n al)
Cabeote Eixo central do feixe
Eixo de rotao da mesa

F onte de alimentao
Unidade Mesa
de controle
de tratamento

Figura 2.11a - Esquema de um acelerador linear de eltrons.


49
Figura 2.11b - Acelerador de eltrons usado em terapia de cncer em
hospitais.

2.2.5. Acelerador Van de Graaf

O princpio de operao a acelerao de partculas carregadas por campos


eletrostticos de alta voltagem. Basicamente constitudo de 3 partes principais: um
tanque pressurizado, o gerador (rotor, fontes de alimentao, correia mvel, eletrodo de
alta tenso, etc.) e o acelerador propriamente dito, isto , a fonte de ons e o tubo de
acelerao. Na Figura 2.12 apresentado um esquema deste tipo de mquina, que pode
acelerar desde partculas leves, como eltrons, at partculas alfa e ons pesados.
A diferena de potencial gerada por cargas acumuladas num terminal de alta
tenso de formato cilndrico ou hemisfrico. As cargas so induzidas por descarga
corona, transportadas e coletadas no terminal de alta tenso por uma correia e escova
metlica. Os ons positivos produzidos no terminal de alta tenso so acelerados at o
potencial zero (terra). A diferena de potencial pode atingir 8 MV.
As mquinas com dois estgios de acelerao, onde ons pesados negativos so
produzidos ao potencial terra e posteriormente acelerados pelo terminal positivo, so
denominadas aceleradores tipo Tandem. Nelas um on de 16O pode ser acelerado at 6
MeV no primeiro estgio e atingir a energia final de 54 MeV, no segundo estgio.

50
Figura 2.12 - Esquema de um acelerador eletrosttico do tipo Van de Graaff:
(1) Fonte de tenso contnua; (2) Fita de isolamento; (3) Terminal de alta
voltagem; (4) Tanque pressurizado com gs isolante; (5) Fonte de ons; (6)
Tubo de acelerao e anis de equalizao do campo; (7) Feixe de ons
acelerados; (8) Bomba de vcuo; (9) Magneto para reflexo e anlise do
feixe; (10) Sistema de disperso do feixe conforme a energia; (11)
Amplificador de sinal; (12) Pontos de efeito corona.

2.2.6. Cclotrons

2.2.6.1.Cclotrons para produo de radioistopos para medicina

Os cclotrons ganharam grande importncia nos ltimos anos pela sua capacidade
de produo de radionucldeos de meia-vida curta, de uso crescente na medicina nuclear
diagnstica, principalmente nos dispositivos de tomografia por emisso de psitrons.
(PET). A diminuio de custo e de instalao desses equipamentos pelo uso de materiais
supercondutores e de geradores de campo magntico de grande intensidade, permitiu sua
rpida difuso para colocao em hospitais e centros mdicos.
So dispositivos que aceleram partculas carregadas, utilizando a diferena de
potencial eltrico, associada a campos magnticos para defletir o feixe. constitudo de
duas partes em forma de D separadas por um intervalo, conforme mostra a Figura 2.13.
O feixe de partculas injetado no centro da mquina e acelerado eletricamente
por uma voltagem alternada, quando atravessa o intervalo entre os D. Sob a ao de um
campo magntico, sincronizado, o feixe defletido at cruzar e ser novamente acelerado
no intervalo do outro lado do D. medida que a velocidade da partcula vai crescendo,
o raio do feixe vai aumentando, numa trajetria em espiral, at que atinja a energia final
e, ento, um extrator, desloca o feixe na direo do alvo a ser bombardeado. A condio
para o bom funcionamento destas mquinas o sincronismo entre a velocidade da
partcula e os campos de acelerao e deflexo. Todas as regies, no interior da mquina,
de percurso e acelerao do feixe, devem ser providas de alto vcuo para no perturb-lo.

51
As energias obtidas chegam a 15 MeV para prtons, 25 MeV para duterons e 50 MeV
para partculas alfa.

Figura 2.13 - Esquema de um cclotron e equipamento instalado no Instituto


de Pesquisas Energticas e Nucleares - IPEN - utilizado para a produo de
radioistopos.

2.2.6.2 O acelerador do Laboratrio Nacional de Luz Sincrotron

Fazendo a frequncia da voltagem aplicada modular periodicamente com o


tempo, obtm-se outro tipo de mquina denominada de sincrociclotron ou sincrotron.
Com isto podem ser produzidos feixes de prtons com energia muito alta, como por
exemplo, 730 MeV na Califrnia (U.S.A.), 680 MeV em Dubna (Rssia), 600 MeV em
Genebra (Suia), etc. Com o acoplamento de mquinas aceleradoras, pode-se chegar a
energias incrveis, como por exemplo, 10 GeV no synchrophasotron do Instituto de
Pesquisas Nucleares de Dubna (Rssia) e 12,5 GeV na mquina do Laboratrio Nacional
de Argonne (USA).

52
Em Campinas, estado de So Paulo, est instalado o Laboratrio Nacional de Luz
Sincrotron (LNLS) que utiliza um sincrotron para acelerar eltrons que vo gerar feixes
de ftons de alta energia e diferentes comprimentos de onda. O sincrotron existente
acelera eltrons com energia de at 1,37 GeV que vo gerar os feixes de ftons utilizados
em diversos ramos de pesquisa e estudo de materiais como estruturas moleculares,
cristalografia e em desenvolvimentos de materiais para a indstria.
Est prevista a construo de um novo sincrotron no mesmo local, com energia
de at 3 GeV. O novo projeto denomina-se Sirius.

2.2.6.3 O Grande Colisor de Hadrons (Large Hadron Collider) - LHC

Acelerando feixes de partculas e jogando um contra outro, obtm-se os


denominados anis de coliso, cuja energia de interao, para eltrons e psitrons,
atinge a 60.000 GeV no laboratrio.
O Grande Colisor de Hadrons (Large Hadron Collider) - LHC - do CERN foi
construdo num tnel a 100 metros de profundidade, com 27 quilmetros de
circunferncia e 8,6 km de dimetro.
Ele acelera prtons a uma energia de 7 TeV, com uma energia total de coliso no
centro de massa de 14 TeV. (1 TeV = 1012 eV).
Uma de suas pesquisas recentes foi a busca da deteco do Bson de Higgs,
partcula subatmica que seria responsvel por expressar a energia do Universo no
formato de massa. Por esta propriedade ele foi apelidada de partcula de Deus. A sua
massa prevista est entre 115 e 127 GeV (1 GeV = 109 eV).

Figura 2.14 - Esquema do Grande Colisor de Hadrons (Large Hadron


Collider) - LHC - e vista interna com um segmento do tubo de acelerao de
3 m de dimetro. Quatro grandes experimentos so realizados nos Pontos:
ALICE, ATLAS, CMS e LHCb.

O processo de acelerao dos prtons segue a sequncia. Os tomos de hidrognio


so obtidos de uma garrafa de hidrognio e os prtons so obtidos com a retirada dos
eltrons dos tomos.
Os prtons saem do acelerador linear LINAC 2 no injetor da Proton Synchrotron
(PS Booster, PSB) com uma energia de 50 MeV, que os acelera at 1,4 GeV.
O feixe injetado no Proton Synchrotron (PS), onde sua energia chega a 25 GeV
e a seguir enviado para o Super Proton Synchrotron (SPS), onde acelerado a 450 GeV.
Finalmente, ele transferido para o LHC com um tempo de carregamento de 4
min 20 s por anel, onde os prtons so acelerados por 20 minutos para atingir a energia

53
nominal de 7 TeV. A seguir um feixe jogado contra o outro (acelerado em sentido
contrrio) produzindo uma energia de coliso de 14 TeV.

Figura 2.15 - Coliso dos feixes de prtons para a possvel produo do


Boson de Higgs.

2.2.7. Fontes de nutrons

Utilizando o bombardeio do berlio com partculas alfa provenientes de um


radionucldeo com ele misturado, gera-se feixe de nutrons de alto fluxo, a partir das
reaes nucleares nele produzidas.
As fontes mais utilizadas so de: Am-Be, Po-Be, Ra-Be, Pu-Be, capazes de gerar
fluxos de mais de um milho de nutrons por cm2, por segundo. So dispositivos selados
e de pequeno volume, mas devido capacidade de penetrao e interao em vrios
materiais e no corpo humano, eles devem ser devidamente blindados com material de
pequeno nmero atmico. A reao nuclear do tipo: 9Be (,n) 12C.
A Figura 2.16 mostra, simplificadamente, a estrutura de uma fonte de nutrons
utilizada em medidores nucleares.

Figura 2.16 - Esquema de uma fonte de nutrons de Pu-Be de um medidor


de nvel.

54
2.2.8. Irradiadores com radioistopos

A obteno de feixes de radiao a partir de radioistopos permite a construo


de muitos aparelhos usados na medicina, indstria e pesquisa. Conforme a finalidade, o
tipo de radiao e intensidade do feixe, a mquina dispe de blindagem, colimadores,
sistemas de segurana ou mobilidade apropriados.
Os dispositivos mais utilizados na medicina so as bombas de cobalto-60 para
teleterapia, as fontes de radiao gama para braquiterapia e os aplicadores oftalmolgicos
e dermatolgicos com emissores beta.

2.2.8.1. Bomba de Cobalto

A bomba de cobalto constituda por um cabeote contendo uma fonte selada de


60
Co, com atividade de at 296 TBq (8000 Ci), no interior de uma blindagem de chumbo
ou urnio exaurido, encapsulada por ao. No cabeote, existe uma janela de sada do
feixe gama, com colimadores apropriados para estabelecer o tamanho de campo e um
sistema de abertura e fechamento que pode ser acionado por um sistema pneumtico ou
eltrico. Em alguns modelos, conforme mostra a Figura 2.17, a fonte deslocada de sua
posio de guarda, dentro da blindagem, para a posio de irradiao. Nesse modelo,
existe uma barra metlica indicadora da posio da fonte, se exposta ou recolhida.
Para a exposio do paciente durante um intervalo de tempo, o operador fixa, por
meio de um sistema de colimao da prpria mquina, o tamanho e o formato do campo
de irradiao em conformidade com o procedimento teraputico prescrito.

Figura 2.17 - Corte de um cabeote de uma bomba de 60Co modelo Theratron


780 usado em radioterapia.

2.2.8.2. Fontes para braquiterapia

As fontes utilizadas em braquiterapia so seladas, e tm istopos emissores gama


ou beta encapsulados no formato adequado com sua aplicao. Podem ser aplicadas
superficialmente, intracavitariamente para exposio localizada ou intersticialmente em
certas regies do corpo. A atividade varia de 37 MBq a 370 GBq (1 mCi a 10 Ci). Os
istopos mais utilizados so 137Cs, 60Co, 90Sr e 192Ir.

55
2.2.8.3. Irradiadores para gamagrafia

Os istopos 192Ir, 60Co, 75Se e 137Cs so utilizados na rea de gamagrafia


industrial, sendo que os irradiadores com 192Ir, do tipo porttil, constituem a maioria
deles.
Os irradiadores so classificados em duas categorias:

a) Categoria I: irradiador direcional, onde a fonte no removida da blindagem


durante a exposio. A irradiao feita abrindo-se um obturador ou movendo-se
a fonte dentro do prprio irradiador;
b) Categoria II: irradiador panormico, onde a fonte removida de sua blindagem,
por meio de um tubo guia, at a posio de irradiao.

Quanto s suas caractersticas fsicas de transporte e mobilidade eles so


classificados em:

Classe P: portteis, no excedendo a 50 kg;


Classe M: mveis, mas no portteis; podem ser deslocados de um lugar para
outro por meio de dispositivos prprios;
Classe F: fixos ou com mobilidade restrita dentro de uma rea controlada.

Os irradiadores mveis, da categoria II, so constitudos de um conjunto de discos


metlicos de 192Ir, encapsulados em ao inox e soldado a um porta-fonte flexvel,
denominado de rabicho. Ele conectado a um cabo de ao que o desloca dentro de um
tubo-guia, durante as operaes de exposio e recolhimento, na realizao de uma
radiografia.
A atividade da fonte vai de 0,74 a 1,85 TBq (20 a 50 Ci), podendo comportar at
3,7 TBq (100 Ci). A fonte guardada e transportada dentro de uma blindagem
constituda de urnio exaurido ou de chumbo, com um invlucro de ao inox,
mecanicamente resistente. A fonte movida por meio de uma manivela, a qual aciona
um cabo de ao para deslocar a fonte da posio de guarda at o ponto de irradiao,
dentro de um tubo-guia flexvel. Na Figura 2.18 mostrado um modelo de irradiador com
192
Ir, o esquema de guarda e blindagem da fonte e do procedimento tcnico de obteno
da radiografia.

192
Fonte de Ir Tubo em S

Caixa Tubo guia

Tubo guia

Blindagem
de Urnio
exaurido

Cabo Condutor
Engate
e
Chave Engate
Rabicho flexvel

Figura 2.18 - Foto de um irradiador de 192Ir e o esquema de guarda da fonte


no irradiador e respectiva blindagem.

56
2.2.8.4. Irradiador industrial

Dentre as mquinas que utilizam radioistopos, o irradiador industrial uma das


mais significativas, pois, utiliza o 60Co em grande quantidade e atividade. A atividade
total de 60Co atinge a 3,7.1016 Bq = 37 PBq (1.000.000 curies). Ele muito utilizado em
diversos tratamentos para desinfestao e conservao de produtos alimentares, como
frutas, especiarias, aves, peixes e carnes; esterilizao e reduo da carga microbiana de
produtos descartveis como seringas, luvas e alguns produtos mdico-cirrgicos.
A fonte constituda de cilindros metlicos contendo 60Co, encapsulados em
varetas de ao inox, dispostas verticalmente numa armao retangular, semelhante a um
secador de roupa.
A instalao constituda basicamente de um sistema de correia transportadora
que carrega, do exterior para dentro da mquina, as caixas e containeres apropriados para
a irradiao, fazendo-os passar diante da fonte exposta, com uma velocidade pr-
estabelecida. Cada caixa passa duas vezes pela fonte, expondo ora um lado ora outro, para
aplicar, o mais homogeneamente possvel, a dose nos produtos alocados em seu interior.
Para realizar a irradiao, um eletromecanismo suspende a fonte, a partir do fundo
de uma piscina cheia de gua pura, at a posio de operao. Em qualquer outra situao,
a fonte fica recolhida no fundo da piscina. Todo o conjunto contm um sofisticado e
redundante sistema de segurana e envolvido por uma espessa blindagem de concreto,
constituindo uma forte casamata, dentro da qual pessoa nenhuma pode permanecer, um
segundo sequer. As doses aplicadas no tratamento de frutas variam entre 0,2 e 0,4 kGy e
para produtos mdico-cirrgicos na faixa de 25 kGy. Na Figura 2.19 apresentado um
esquema de um irradiador industrial.

Figura 2.19 - Esquema de um irradiador industrial.

2.2.9. Efluentes e precipitaes

A presena ou a liberao de materiais radioativos no meio ambiente


potencialmente expe a populao radiao ionizante, aumenta o risco de efeitos
deletrios sade. Muitos compostos contendo radionucldeos podem ser provenientes
de instalaes nucleares, como reatores e unidades do ciclo combustvel, que

57
periodicamente liberam concentraes, permitidas por normas especficas, para o
ambiente em operao rotineira, ou se dispersam descontroladamente, numa situao de
acidente. Estas liberaes normalmente so constitudas de efluentes lquidos ou gasosos.
Os rejeitos slidos que so dispersos no ambiente so quase sempre de forma acidental.
Outros materiais radioativos, dispersos na atmosfera e em ambientes aquticos,
so os produtos dos testes nucleares (Fallout) realizados na atmosfera, principalmente os
realizados entre 1945 a 1980. Eles precipitaram em grande quantidade por ocasio dos
testes, mas at hoje, podem ser medidos em qualquer localidade do mundo.
Nos 543 testes realizados na atmosfera, com 189 megatons (Mt) por artefatos
fisso e 251 megatons por fuso, a atividade de trcio produzida foi estimada em: 251 Mt
(fuso) 7,4.1017 Bq Mt-1 =1,8.1020 Bq. Nos 1876 testes subterrneos realizados, foram
injetados na Terra 90 Megatons de material radioativo. Um Megaton (Mt) corresponde a
exploso de 1 milho de toneladas de dinamite (TNT).

Figura 2.20 - 543 testes nucleares atmosfricos e 1876 testes subterrneos


realizados nos perodos de 1945 a 1980 e 1955 a 1998 respectivamente, por
diversos pases (UNSCEAR 2000).

Os radionucldeos provenientes da fisso do urnio e plutnio (fragmentos de


fisso) se dispersaram por toda a superfcie da Terra, de tal modo que, hoje, muito difcil
encontrar um local ou um objeto, que no contenha os radionucldeos de meia-vida longa
como o 137Cs, 90Sr, 85Kr, 129I, remanescentes dos testes realizados no passado.
A quantidade de 90Sr difundida nos testes nucleares estimada em 6.1017 Bq e a
de 137Cs em 9,6.1017 Bq, sendo 76% no hemisfrio Norte e 24% no hemisfrico Sul. A
Figura 2.21 mostra as concentraes de 137Cs e 90Sr na dieta humana, nos hemisfrios
Norte e Sul.

58
Figura 2.21 - Concentraes de 137Cs e 90Sr na dieta alimentar dos habitantes
dos hemisfrios Norte e Sul.

Conforme a publicao do UNSCEAR 2008-Sources and Effects of Ionizing


Radiation, a dose efetiva total, em mSv, por ano per capita da populao mundial
causada pelos testes nucleares mostrada na figura 2.22. Para a dose efetiva total,
esto contabilizadas, as doses devido ingesto, inalao e exposio externa.

Figura 2.22 - Dose Efetiva anual per capita para os indivduos da populao
mundial no perodo de 1945 a 2005.

2.3. INSTALAES NUCLEARES NO BRASIL

2.3.1. Reatores nucleares

Reatores nucleares so instalaes que utilizam a reao nuclear de fisso em


cadeia, de forma controlada, para a produo de energia ou de fluxo de nutrons.

59
Quanto ao seu uso, os reatores nucleares podem ser divididos em dois grandes
grupos: os reatores de potncia, utilizados para a gerao ncleo-eltrica em usinas
nucleares ou como mecanismos de propulso naval, e os reatores de pesquisa, usados para
experimentos e ensino. A esses ltimos poderiam ser adicionados os que so utilizados
para a produo de radioistopos, denominados de reatores de multipropsito, e os para
testes de materiais.

2.3.1.1. Reatores de potncia

Os reatores de potncia contribuem com 13,4% da produo mundial de energia


eltrica e so instalaes que utilizam a energia nuclear para a produo de calor, que
ento transformado em energia eltrica. Existem diferentes projetos de reatores de
potncia, que criam condies para a realizao da reao em cadeia, seu controle e a
transmisso do calor gerado para um sistema que movimenta uma turbina a vapor, que
o dispositivo gerador da energia eltrica. Alguns reatores trabalham com o urnio
enriquecido, outros com o urnio natural. Nesse caso, para criar as condies para a
realizao da fisso, esses reatores utilizam o combustvel em um ambiente de gua
pesada, que a gua enriquecida em istopos mais pesados do hidrognio (deutrio e
trtio).
Os reatores de potncia utilizados no Brasil so do tipo PWR (Pressurized Water
Reactor) e utilizam a gua leve sob presso como meio de retirada do calor produzido. A
gua leve a gua na proporo natural dos istopos de oxignio e hidrognio, sendo
assim denominada para diferenciar da gua pesada. Os principais componentes desse tipo
de reator so:

O vaso do reator, onde fica o ncleo do combustvel;


O sistema primrio de refrigerao, que o sistema onde circula a gua que est em
contato com o ncleo;
O pressurizador, componente do sistema primrio que tem a funo de permitir o
adequado controle da presso;
O sistema secundrio, que o circuito onde circula a gua que recebe o calor do
circuito primrio e transformada em vapor para a movimentao da turbina;
O gerador de vapor, que o equipamento onde se d a troca de calor entre o sistema
secundrio e o sistema primrio, atravs da interpenetrao de suas tubulaes, sem
haver troca de gua entre eles.

Os circuitos primrio e secundrio so selados, isto , no se comunicam com o


ambiente. Existe ainda um circuito tercirio de refrigerao, para baixar a temperatura da
gua do circuito secundrio. Esta gua est em forma de vapor e, para condens-la,
necessria outra fonte de refrigerao. No caso das usinas brasileiras, a gua do circuito
tercirio a gua do mar. Em outros pases usada a gua de rios ou a refrigerao feita
pela circulao da gua do secundrio em altas torres, que se assemelham a grandes e
largas chamins.
A Figura 2.23 apresenta o esquema de um reator de potncia do tipo PWR e a
Figura 2.24 apresenta um corte de um reator do tipo de Angra 2.

60
Vaso de
Conteno
Torre de
Alta Tenso
Pressurizador Gerador
Vaso de de
Presso Vapor Turbina

Barras de Gerador
Controle Eltrico

Ncleo Condensador
Tomada
do dgua
Reator gua
Bomba Descarga

Bomba
Circuito Primrio Circuito de
Tanque de Alimentao Refrigerao
Circuito Secundrio

Figura 2.23 - Esquema de um reator de potncia do tipo PWR.

Figura 2.24 - Reator Nuclear do tipo de Angra 2.

O Brasil tem, em funcionamento, duas usinas nucleares de potncia, Angra 1 e


Angra 2, e uma em construo, Angra 3, constituindo a Central Nuclear Almirante lvaro
Alberto - CNAAA.
As usinas nucleares so operadas pela Eletronuclear, empresa do Ministrio de
Minas e Energia. Angra 1 uma usina de fabricao Westinghouse, americana, e tem 626
MWe de potncia. Angra 2 de fabricao Siemens-KWU, alem, e tem 1.300 MWe de
potncia. Angra 3 de fabricao Siemens-KWU, alem, e tem 1.405 MWe, e se encontra

61
em fase de construo. Embora sejam usinas relativamente antigas, principalmente Angra
1, so atualizadas sistematicamente com os desenvolvimentos de segurana, como ocorre
normalmente com os reatores de potncia em todo o mundo.
A Tabela 2.3 mostra os reatores de potncia utilizados para gerao nucleo-
eltrica em operao e em construo no mundo. Alm desses, existem os reatores
planejados.

Tabela 2.3 - Reatores nucleares de potncia no Mundo


http://www.world-nuclear.org/info/reactors.htm

REATORES NUCLEARES NO MUNDO 2013

Em operao Em construo
% Gerao Eltrica
Pas No o
Total MWE N Reatores Total MWE (em 2011)
Reatores
frica do Sul 2 1.800 - - 5,2
Alemanha 9 12.003 17,8
Argentina 2 935 1 745 5,0
Armnia 1 376 33,2
Blgica 7 5.943 54,0
Brasil 2 1.901 1 1.405 3,2
Bulgria 2 1906 32,6
Canad 19 13.553 15,3
China 173 13.955 28 30.550 1,8
Eslovnia 1 696 41,7
Emirados rabes 1 1.400
Espanha 79 7.002 19,5
Estados Unidos 103 101.570 3 3.618 19,2
Finlndia 4 2.741 1 1.700 31,6
Frana 58 63.130 1 1.720 77,7
Holanda 1 485 3,6
Hungria 4 1.755 42,2
ndia 20 4.385 7 5.300 3,7
Ir 2 2.111
Japo 50 44.396 3 3.036 18,1
Coreia do Sul 23 20.787 4 5.415 34,6
Mxico 2 1.600 3,6
Paquisto 3 725 2 680 3,8
Reino Unido 16 10.038 17,8
Rep. Checa 6 3.766 33,0
Romnia 2 1.310 19,0
Rssia 33 24.169 10 9.160 17,6
Sucia 10 9.399 39,6
Sua 5 3.252 40,8
Ucrnia 15 13.168 47,2
TOTAL 435 374.524 66 68.309

62
2.3.1.2. Reatores de pesquisa

Os reatores de pesquisa so normalmente reatores com potncia relativamente


baixa em comparao com os destinados gerao de energia. No Brasil existem quatro
reatores de pesquisa em operao:

a) Reator IEA-R1 no Instituto de Pesquisas Energticas e Nucleares - IPEN/CNEN


em So Paulo;
b) Reator IPEN-MB-01 no Centro Tecnolgico da Marinha em So Paulo -
CTMSP;
c) Reator Triga no Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear -
CDTN/CNEN em Belo Horizonte;
d) Reator Argonauta no Instituto de Engenharia Nuclear - IEN/CNEN, no Rio de
Janeiro.

O reator IEA-R1 tem 5 MWe de potncia e alm de ser usado para pesquisa,
usado para a produo de radioistopos. Os reatores Triga e Argonauta tem a potncia da
ordem de centenas de kWe. O reator IPEN-MB-01 usado principalmente para testes de
materiais e combustveis.

2.3.2. O Ciclo do combustvel nuclear

O Ciclo do Combustvel Nuclear compreende todos os processos e manuseios


pelos quais o combustvel nuclear tem que passar, desde a minerao at a disposio do
rejeito radioativo. O escopo do ciclo do combustvel pode variar consideravelmente
porque cada um dos muitos tipos de reator existentes no mundo tem seu combustvel
diferente, que requer um tratamento distinto em sua produo (Figura 2.25).
Os reatores gua pressurizada (pressurized water reactor - PWR) e reatores
gua fervente (boiling water reactor - BWR), que juntos constituem a grande maioria dos
reatores comerciais em funcionamento, tm, para todos os propsitos prticos, o mesmo
ciclo de combustvel, mudando somente o nvel de enriquecimento do combustvel e suas
dimenses. Reatores a gua pesada ou reatores refrigerados a gs, entretanto, no
requerem uma planta de enriquecimento do urnio em seu ciclo, pois trabalham com o
urnio natural, isto , na distribuio isotpica encontrada na natureza.

2.3.2.1. A minerao e extrao do urnio

O urnio um material relativamente abundante, presente em um grande nmero


de minerais e formaes geolgicas. Uma quantidade considervel de urnio explorvel
economicamente existe na Austrlia, no Canad, na Nigria, nos Estados Unidos e na
frica do Sul. Embora somente um quarto de seu territrio tenha sido devidamente
prospectado, o Brasil detm a sexta reserva mundial. O teor de urnio nas minas mais
ricas varia de 0,1% at quase 1%. Muitas minas de urnio contm o urnio associado a
outros minerais de interesse. No Brasil, o urnio de Itataia, Cear, est associado ao
fosfato. A definio de uma jazida em relao a ser economicamente explorvel depende
de um conjunto de fatores, como o tipo do minrio, a tecnologia disponvel e seu
rendimento, o preo do urnio no mercado internacional, e fatores ambientais que podem
dificultar sua extrao.

63
A minerao do urnio pode ser feita a cu aberto ou em minas subterrneas. No
Brasil, Poos de Caldas iniciou-se com minerao subterrnea, passando posteriormente
para minerao a cu aberto. A mina de Caetit, na Bahia, utiliza a minerao a cu aberto.

Mina e Usina de Beneficiamento de Urnio


(Caetit - INB)

reas
Selecionadas

Corpos
Mineralizados Minrio bruto

Produo de
Mina Concentrado de Urnio
Prospeco de Urnio Pesquisa
(Yellow-Cake)

Yellow-Cake
U3 O8

Converso
para UF6
Urnio
Natural

Enriquecimento
(Resende -INB) (Exterior)

Urnio Enriquecido
UF6
Urnio
recuperado
Centrais Nucleares
(Angra - Eletronuclear)

Fabricao do
Elemento Combustvel -FEC
(No realizado)
Elemento
Combustvel
gasto

Reator Nuclear UO2


Reprocessamento
(Resende -INB) UO2
Rede de
Energia Eltrica Resduos
Finais

Armazenamento
de
Rejeitos

Figura 2.25 - Esquema do ciclo do combustvel nuclear.

A extrao do urnio depende do minrio em que se encontra, a partir do qual


definido o processo de melhor economicidade para sua extrao. O minrio de urnio
normalmente modo para facilitar o ataque por agentes qumicos. O urnio ento

64
lixiviado com cido para ser extrado do minrio. A soluo obtida, denominada licor,
depois purificada por mtodos qumicos comuns. O produto final um concentrado de
urnio (U3O8), slido, de cor amarela, conhecido por yellow-cake, que contm
aproximadamente 70% do urnio do minrio.
Ainda que uma planta de minerao consuma uma quantidade razovel de gua
para sua operao, seu funcionamento no precisa se constituir em algo prejudicial para
os lenis de gua da regio, bastando somente o manejo adequado. Os acidentes
potenciais considerados na minerao so aqueles relacionados minerao convencional
de minrios com metais pesados. Os maiores cuidados so relacionados contaminao
ambiental. Em relao ao trabalhador, a maior preocupao para minas a cu aberto a
inalao de poeira e, para minas subterrneas, alm da poeira, a presena de radnio
acumulado no ambiente.

2.3.2.2. Converso para hexafluoreto de urnio (UF6)

O concentrado de urnio extrado do minrio consiste de xidos de urnio. Uma


planta qumica converte o xido de urnio em hexafluoreto de urnio (UF6). O
hexafluoreto de urnio uma substncia slida em temperatura ambiente, que sublima
para o estado gasoso na temperatura de 64C. Ele reage fortemente com gua e tambm
com o vapor de gua atmosfrico.
Durante o armazenamento e transporte, o urnio deve ser mantido em contineres
prova de ar. Esses contineres so cilindros robustos, de diversos tamanhos
padronizados e com qualidade controlada. Nesse estgio do ciclo do combustvel o
concentrado de urnio purificado e preparado para o processo de enriquecimento.

2.3.2.3. O enriquecimento isotpico do urnio

O processo de enriquecimento consiste em alterar a distribuio isotpica do


urnio existente na natureza, aumentando a proporo do istopo 235 do urnio, criando
condies para a realizao da reao em cadeia. Os combustveis de reatores comerciais
tipo PWR so enriquecidos em nveis de 3,5 -5,0%. Para reatores de submarinos nucleares
ou reatores de pesquisa, o nvel de enriquecimento da ordem de 20%.
O mtodo de enriquecimento utilizado no Brasil o da ultracentrifugao gasosa,
sendo o Brasil um dos oito pases no mundo a dominar a tecnologia do enriquecimento.
Nesse processo, o hexafluoreto de urnio, mantido em estado gasoso utilizando
parmetros de presso e temperatura, centrifugado em altssimas velocidades. A frao
mais pesada do gs, mais pobre nas molculas contendo o istopo 235U, concentra-se nas
regies mais externas do volume da centrfuga, enquanto que a frao mais leve
concentra-se junto ao eixo. Separando-se a extrao de cada regio pode-se obter uma
frao mais enriquecida no istopo 235U, que o que se deseja, e outra mais empobrecida
nesse istopo. A capacidade de separao de cada unidade isoladamente muito pequena
e necessria uma enorme quantidade de estgios trabalhando em paralelo e em srie.
Esses conjuntos constituem-se o que chamado de uma cascata de enriquecimento.
Existem outros mtodos de enriquecimento de urnio, como a difuso gasosa, o
enriquecimento por separao eletromagntica, o enriquecimento por jato centrfugo, o
enriquecimento por troca inica e o enriquecimento laser. Dos mtodos existentes,
somente a ultracentrifugao e a difuso gasosa so utilizados comercialmente nos dias
de hoje.
No processo de enriquecimento de urnio, alm do urnio enriquecido em 235U
resulta tambm o urnio empobrecido nesse istopo, que tambm chamado de urnio

65
depletado. Esse urnio, em funo de sua alta densidade especfica, tem sido usado como
blindagem para radiao gama e tambm na indstria blica, em blindagem pesada e em
pontas perfurantes de projteis.
O acidente potencial associado com o processo de converso e com o de
enriquecimento o vazamento de hexafluoreto de urnio. A toxidade qumica do urnio
e do flor so os principais eventos neste tipo de acidente. A liberao de hexafluoreto
resulta na formao de cido fluordrico e compostos de flor e urnio, mais pesados que
o ar. O efeito da radioatividade menos significativo que o efeito txico do cido
fluordrico e que o efeito qumico do urnio como metal pesado.

2.3.2.4. A fabricao do elemento combustvel

Os reatores gua leve, como Angra 1 e Angra 2, utilizam o combustvel


constitudo de xido de urnio encapsulado em tubos de zircaloy (liga especial, resistente
corroso, bastante permevel passagem de nutrons e boa condutora de calor).
O passo seguinte aps o enriquecimento a converso do hexafluoreto de urnio
em p de dixido de urnio. Esse processo comumente denominado reconverso. E
consiste em transformar o hexafluoreto de urnio em UO2 que um p de colorao cinza
escuro metlico.
O p ento comprimido em pequenas pastilhas cilndricas que so cozidas uma
temperatura da ordem de 1.700 oC. O material assim preparado um material cermico
e, pelas suas caractersticas, tem alta capacidade de reteno dos produtos de fisso
resultantes do processo de reao nuclear. Essas pastilhas recebem um acabamento e so
montadas dentro dos tubos de zircaloy. Por sua vez, esses tubos ou varetas so montados
em conjuntos sustentados por grades (assemblers), constituindo cada conjunto um
elemento combustvel. So utilizados 121 elementos combustveis em um reator do tipo
de Angra 1 e 193 elementos em Angra 2.
Na planta de reconverso e fabricao de elemento combustvel os acidentes
potenciais considerados mais relevantes, alm do vazamento de hexafluoreto de urnio,
so os acidentes de criticalidade. Esses acidentes ocorrem quando por algum motivo uma
quantidade de urnio enriquecido suficiente para iniciar uma reao em cadeia agregada
em uma geometria que crie as condies para essa reao. O resultado a emisso de
grande quantidade de radiao e calor.

66
Figura 2.26 - Elemento combustvel.

2.3.2.5. O reprocessamento do combustvel

Depois de utilizado, o combustvel queimado de um reator nuclear ainda contm


material fssil - valores tpicos para reatores gua leve so 0,7-0,8% de 235U e 0,6 a 0,7%
de plutnio. O aproveitamento desse material para a fabricao de novos elementos
combustveis pode ser feito por meio do seu reprocessamento. Alm do urnio, o plutnio
pode ser utilizado para a fabricao de combustvel, com xido misto de urnio e plutnio.
Nesse tratamento, os elementos combustveis so dissolvidos e, atravs de um conjunto
de operaes de separao, os materiais utilizveis so separados dos que so
considerados definitivamente rejeitos.
O reprocessamento tambm realizado com materiais provenientes dos arsenais
atmicos.
As plantas de enriquecimento e de converso so projetadas para trabalhar com
urnio com uma radioatividade muito pequena. Dessa forma so estabelecidos requisitos
muito restritivos para o trabalho com urnio reprocessado, que normalmente vem
contaminado com outros materiais provenientes das reaes de fisso.

67
Os acidentes potenciais previstos em uma planta de reprocessamento so os de
vazamento e de criticalidade, alm de exploses qumicas e incndio. As plantas de
reprocessamento merecem maior ateno em funo da quantidade de material altamente
radioativo que manipulam.

2.3.2.6. Rejeitos radioativos no ciclo do combustvel

Os rejeitos radioativos so constitudos por material no aproveitado produzido


em cada uma das fases do ciclo do combustvel. Em todas essas fases existe a produo
de certa quantidade de material contaminado, como roupas, luvas, ferramentas, filtros e
componentes dos equipamentos substitudos. Esses tipos de material fazem parte dos
rejeitos de baixa e mdia atividade.
O rejeito da extrao do urnio consiste do estril modo e lixiviado contendo
traos de urnio, algum trio, rdio e polnio. H tambm o radnio liberado na
atmosfera. Muitas vezes so adicionados aditivos para a neutralizao da massa de
rejeitos. O maior cuidado com os rejeitos da minerao evitar a contaminao do
ambiente com o restante do urnio que no foi retirado do material, mas que se encontra
mais disponibilizado depois dos tratamentos a que foi submetido.
Na fase de converso, o principal rejeito o proveniente da purificao do urnio.
No enriquecimento no existe rejeito do processo, exceto material contaminado.
Da mesma forma na reconverso e na fabricao de pastilhas e montagem do elemento
combustvel.
Nos reatores de potncia tipo PWR, a maior quantidade de rejeito constituda de
rejeitos de baixa e mdia atividade. Os rejeitos de alta atividade so os que provm do
reprocessamento do combustvel queimado. Alguns pases optaram por no reprocessar
o combustvel, como o caso dos Estados Unidos. Nesse caso, o rejeito de alta atividade
o prprio combustvel queimado.
O reprocessamento, alm do material contaminado, produz como rejeito o
material que separado daquele que ser reutilizado.

2.3.2.7. Instalaes nucleares industriais do Ciclo do Combustvel no Brasil

Caetit-BA

No interior da Bahia, na cidade de Caetit, encontram-se as instalaes da URA-


Unidade de Concentrado de Urnio das Indstrias Nucleares do Brasil - INB, que
envolvem a mina e o beneficiamento do minrio. Esse urnio extrado do minrio pelo
processo de lixiviao esttica e beneficiado no local, produzindo o yellow-cake, que
enviado ao exterior para purificao, converso em hexafluoreto de urnio e posterior
enriquecimento. A previso de produo de 400 t/ano de U3O8 na forma de diuranato
de amnio (DUA).

Resende

No acordo de Cooperao Nuclear com a Alemanha foi acertada a transferncia


de tecnologia de vrias etapas da fabricao do elemento combustvel nuclear. Assim,
foram construdas em Resende, com tecnologia alem, as instalaes das Indstrias
Nucleares do Brasil - INB - referentes fabricao de p e das pastilhas e fabricao de
componentes e montagem do elemento combustvel.

68
O urnio, aps o processo de enriquecimento, recebido nas instalaes da INB
ainda na forma de hexafluoreto de urnio e processado para a obteno do p e para a
confeco das pastilhas. Essas pastilhas so montadas em varetas, com sistemas de molas,
para pressionar as pastilhas e guardar espao para os gases radioativos e inertes, gerado
em seu interior.
As varetas so montadas em grades e cada conjunto constitui um elemento
combustvel para o reator. Parte do urnio enriquecido utilizado nas usinas Angra 1 e
Angra 2 produzida nas instalaes de Resende onde esto sendo construdas as cascatas
para enriquecimento em escala industrial, que utiliza a tecnologia nacional de
ultracentrifugao transferida pela Marinha do Brasil. No ano de 2014 est previsto a
concluso do Mdulo 2 da Usina de Enriquecimento, que ampliar a capacidade nacional
de enriquecimento de urnio. Nos anos de 2015 e 2016 est prevista a entrada em
operao dos Mdulos 3 e 4 da Usina de Enriquecimento.

Poos de Caldas

As atividades de minerao da antiga mina de urnio esto definitivamente


suspensas. Existem projetos de uso de suas instalaes para os laboratrios de anlise da
INB e para o desenvolvimento e estudos de processos envolvendo a minerao e o
beneficiamento de urnio.

2.3.2.8. Instalaes nucleares de pesquisa no Brasil

O Brasil um dos poucos pases do mundo a possuir o domnio completo da


tecnologia do Ciclo do Combustvel Nuclear. Esse desenvolvimento tecnolgico foi feito
principalmente nas instalaes do IPEN e do Centro de Tecnologia da Marinha de So
Paulo (CTMSP), antiga COPESP. Os demais institutos da CNEN e centros de pesquisa
de outras instituies tambm participaram deste programa como um todo.

IPEN-SP

O Instituto de Pesquisa Energticas e Nucleares IPEN, foi fundado como


Instituto de Energia Atmica em 1956, com a finalidade de abrigar o reator IEA-R1,
recebido naquele ano atravs do programa tomos para a Paz. Est localizado na Campus
da USP, em So Paulo. Em torno do reator, que ficou pronto apenas um ano depois, em
1957, foram desenvolvidas atividades diversas, criando o principal ncleo de pesquisas
na rea nuclear no Pas. Alm do IEA-R1, que teve sua potncia original aumentada de
3,5 MW para 5,0 MW, foi construdo no IPEN, em colaborao com a Marinha, o reator
MB-01, utilizado para testes de materiais e configuraes de combustveis no ncleo. O
IPEN mantm em funcionamento sua capacidade de produzir combustvel para reatores
de pesquisa, trabalhando principalmente com ligas de urnio metlico. Tem ainda
condies de produzir esse combustvel partir do hexafluoreto enriquecido. Alm de
produzir o combustvel para o IEA-R1, produz tambm para os outros reatores de
pesquisa do pas. Grande parte das instalaes, onde foram realizados muitos dos
trabalhos pioneiros do desenvolvimento nacional da tecnologia do ciclo do combustvel,
est hoje desativada. No IPEN existe tambm um irradiador de cobalto de grande porte,
de fabricao totalmente nacional e dois cclotrons para a produo de radiofrmacos de
meia-vida curta. So reas de pesquisa do IPEN a produo de radiofrmacos, as
aplicaes industriais da energia nuclear, o desenvolvimento de lasers, a aplicao de

69
tcnicas nucleares na rea ambiental, alm de pesquisas em outras reas correlatas, como
clulas de combustvel.
O IPEN o centro de preparao e distribuio de Molibdenio-99, que produz o
Tecncio-99m, radiofrmaco mais utilizado em medicina no Brasil e no mundo.
O IPEN tambm o responsvel pela coordenao do Projeto do Reator
Multipropsito Brasileiro - RMB, em desenvolvimento com o apoio de outros institutos
da CNEN, com o objetivo de produzir radioistopos para uso diverso (principalmente
Molibdnio-99), de permitir o testes de materiais e de disponibilizar feixe de nutrons
para atividades de pesquisa e desenvolvimento.

CTMSP

O Centro de Tecnologia da Marinha em So Paulo - CTMSP, tem suas principais


instalaes construdas no local denominado Aramar (de ara-terra e mar-Marinha),
situa-se em Iper, no estado de So Paulo. o principal centro de pesquisas da Marinha
do Brasil para a rea nuclear, e rene as principais pesquisas em andamento no ciclo do
combustvel nuclear no Brasil.
Neste local, est em construo o reator prottipo de propulso naval
(LABGENE), que servir de base para o reator para o futuro submarino nuclear.
No CTMSP, alm das instalaes piloto e de demonstrao de enriquecimento de
urnio por ultracentrifugao, esto instalaes voltadas para o desenvolvimento e
fabricao de elemento combustvel para reatores de pesquisa. Est tambm em
construo uma unidade de demonstrao de purificao de urnio e converso para
hexafluoreto de urnio.
O CTMSP possui tambm instalaes de pesquisa e desenvolvimento na Cidade
Universitria da USP, na cidade de So Paulo, junto ao IPEN, onde so realizadas
pesquisas complementares.

CDTN-BH

O Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear - CDTN, situado no campus


da UFMG, em Belo Horizonte, o sucessor do antigo Instituto de Pesquisas Radioativas
- IPR, primeiro instituto voltado para a rea nuclear no Pas, fundado em 1953. O CDTN
conta com um reator Triga para pesquisas e anlises radioqumicas, alm de um irradiador
de cobalto para desenvolvimento de trabalhos na rea de irradiao de materiais e estudos
com pedras semipreciosas.
Durante o Acordo Brasil-Alemanha, o CDTN foi o principal centro nacional de
suporte tcnico para as pesquisas de desenvolvimento do processo de enriquecimento por
jatocentrfugo, no tempo em que a Nuclebrs era a empresa responsvel pelas atividades
industriais nucleares no pas. Esse processo era desenvolvido em conjunto com a
Alemanha. O CDTN mantm pesquisas na rea de combustveis de reatores e de corroso
de materiais. tambm o principal centro nacional no estudo de gesto de rejeitos e de
projeto de repositrios para rejeitos de baixo e mdio nvel de atividade. Executa tambm
trabalhos e pesquisas na rea ambiental, envolvendo radionucldeos ou tcnicas nucleares.

IEN-RJ

O Instituto de Engenharia Nuclear - IEN localiza-se na Ilha do Fundo, no


Campus da UFRJ. Foi fundado em 1962 e seu incio foi marcado pela construo do reator
Argonauta, de um projeto feito em Argonne (EUA) e com fabricao totalmente nacional.

70
O reator, ainda em funcionamento, utilizado principalmente para atividades de ensino,
de radioqumica e de estudo de interao de nutrons com a matria.
No incio de sua existncia, o IEN dedicou a pesquisas na rea de reatores rpido.
Possui tambm looping de gua para estudos de tubulaes em reatores.
O IEN foi o pioneiro na implantao bem como na produo de radionucldeos
com cclotron no Pas.
Na fase de desenvolvimento do Programa Autnomo para o Ciclo do
Combustvel, o IEN participou principalmente do desenvolvimento de substncias
qumicas essenciais e estratgicas para as diversas etapas da produo do combustvel
nuclear e no desenvolvimento de instrumentao nuclear, sendo responsvel pela
atualizao de mesas de controle de vrios equipamentos de grande porte no prprio IEN
e em outras instalaes nucleares. Desenvolveu tambm pesquisas sobre o processo de
enriquecimento de urnio utilizando colunas de resina de troca inica. Atuou tambm na
rea de caracterizao do combustvel de reatores de pesquisa produzido com urnio
metlico.
Atualmente desenvolve trabalhos na rea de interao homem-sistema, com
estudos de simuladores e desenvolvimento de ambientes de trabalho.

IRD-RJ

O Instituto de Radioproteo e Dosimetria (IRD) teve sua origem na dcada de


1960 em um pequeno laboratrio de dosimetria do Departamento de Pesquisas Cientficas
e Tecnolgicas da CNEN, situado nas dependncias da PUC-RJ. Em 21 de maro de
1972, o Laboratrio de Dosimetria foi transferido para suas novas instalaes na Barra da
Tijuca, passou a integrar o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear da
Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear (CBTN) e, em 29 de janeiro de 1974, passou
a denominar-se Instituto de Radioproteo e Dosimetria. Em 16 de janeiro de 1974 a
CBTN foi sucedida pelas Empresas Nucleares Brasileiras (NUCLEBRS) que
incorporou o IRD e, em 26 de julho de 1979, ele foi reincorporado CNEN.
O IRD uma unidade da CNEN dedicada pesquisa, desenvolvimento e ensino
na rea de proteo radiolgica, dosimetria e metrologia das radiaes ionizantes, atua
em colaborao com universidades, agncias governamentais, hospitais e indstrias para
promover o uso seguro das radiaes ionizantes e da tecnologia nuclear. Alm disso,
possui cursos de divulgao, especializao, mestrado e doutorado, com a finalidade
bsica de formao de recursos humanos especializados nas suas reas de atuao. Possui
estreita ligao com setores de segurana e proteo radiolgica da Agncia Internacional
de Energia Atmica (IAEA), Comisso Internacional de Proteo Radiolgica (ICRP) e
United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation (UNSCEAR) e,
em metrologia com o Bureau International de Pesos e Medidas (BIPM). o laboratrio
designado pelo INMETRO para metrologia das Radiaes Ionizantes no Brasil e o
Laboratrio Padro Secundrio pela IAEA.

LAPOC-Poos de Caldas-MG

O Laboratrio de Poos de Caldas destacou-se como local de estudo dos processos


de extrao e beneficiamento de urnio das diversas jazidas do pas, com trabalhos sobre
o minrio de Poos de Caldas, da jazida de Lagoa Real, em Caetit, e de Itataia. Hoje atua
como laboratrio de apoio ao licenciamento e controle das instalaes nucleares, na rea
de remediao de reas degradadas e na avaliao de processos dentro do Ciclo do

71
Combustvel. Fornece tambm apoio analtico e suporte tcnico para as atividades de
inspeo e avaliao na rea mineral e de processamento do urnio.

2.4. INSTALAES RADIATIVAS NO BRASIL

As instalaes radiativas podem ser classificadas em 5 grandes reas conforme


mostrado na Figura 2.27. As instalaes mdicas, industriais, de ensino e pesquisa foram
agrupadas pelas prticas adotadas. As reas de distribuio e servios esto agrupadas
por equipamento ou operaes envolvendo fontes de radiao, conforme aplicvel. Em
2000, o cadastro nacional inclua 2.925 instalaes radiativas. Embora cerca de 70% das
instalaes estejam concentradas na regio Sudeste, esperado um crescimento nas
demais regies. Das instalaes existentes no cadastro, 1.202 operam na rea de medicina,
914 na rea de indstria, 628 na rea de pesquisa e as demais na rea de servios e
distribuio.

INSTALAES RADIATIVAS

Medicina Indstria Pesquisas Distribuio Servios

Controle de Manuteno de
Radioterapia Agricultura Radionucldeos
Processos Equipamentos

Medicina Irradiao Fsica Troca de


Equipamentos
Nuclear Industrial Nuclear Fontes

Densitometria Prospeco Qumica Calibrao de


Dispositivos
ssea Nuclear Instrumentos

Irradiador Ensaios no Biologia Monitorao


de Sangue Destrutivos Individual

Fabricao de Hidrologia Salvaguardas


Dispositivos

Produo de
Istopos

Figura 2.27 - Tipos de instalaes radiativas no Brasil.

2.4.1. Instalaes mdicas

2.4.1.1 Servios de Radioterapia

O pas segue a tendncia mundial de substituio de equipamentos de


telecobaltoterapia por aceleradores lineares e de fontes de braquiterapia convencional por
equipamentos de alta taxa de dose, alm da disseminao dos implantes temporrios e
definitivos principalmente com fontes de 125I. Em 2013, as 313 instalaes de Servios

72
de Radioterapia no pas operaram 78 fontes radioativas de braquiterapia de alta dose, 57
equipamentos de 60Co e 260 aceleradores lineares.

2.4.1.2 Servios de Medicina Nuclear

Os crescentes avanos do uso de radioistopos em Medicina, tanto devido


substituio dos mtodos de irradiaes externa por irradiao interna em terapia, como
ao emprego de novos radiofrmacos em diagnstico, tem refletido em um enorme
crescimento na disseminao e no uso dessas tcnicas.

2.4.1.3 Instalaes de produo de radiofrmacos de meia-vida curta

At o ano de 2006, a produo de radioistopos para uso mdico no Brasil era


monoplio estatal, sendo realizada em 4 cclotrons da CNEN: 2 localizados na cidade de
So Paulo e 2 na cidade do Rio de Janeiro. A crescente demanda por radiofrmacos
emissores de psitrons, cuja meia vida menor do que duas horas, levou mudana na
legislao e, em fevereiro de 2006, atravs da Emenda Constitucional 49, foi quebrado o
monoplio estatal para a produo e comercializao de radioistopos de meia-vida
inferior a 2 horas. Desde ento, o nmero de aceleradores cclotrons privados para a
produo de radiofrmacos vem crescendo acentuadamente. A partir de 2006 foram
instalados mais 9 cclotrons no pas: 1 em Braslia, 2 em Porto Alegre, 1 em Campinas, 1
em So Paulo, 1 em Salvador, 1 em Curitiba, 1 em Belo Horizonte (CNEN) e 1 em Recife
(CNEN). Atualmente duas novas instalaes esto em construo (So Jos do Rio
Preto/SP e Euzbio/CE).
Associadas aos cclotrons para a produo de radioistopos de meia-vida curta
para uso em medicina, esto instalaes de radiofarmcia, responsveis pela produo
das substncias que sero utilizadas nos diversos processos metablicos. Dentre os
istopos produzidos por cclotron para uso em medicina, o mais utilizado o 18F, de meia
vida inferior a duas horas, que decai por emisso de psitron. Esse psitron, ao ser
liberado, interage com um eltron livre, produzindo dois raios gamas de energia 0,511
MeV e direo opostas. Processando o sinal gerado pela radiao gama, possvel criar
imagens com grande preciso para processos diversos, utilizados principalmente para o
diagnstico de cncer e para a rea de cardiologia.
Os equipamentos que trabalham e formam a imagem proveniente do
processamento da radiao de aniquilao do psitron so os tomgrafos por emisso de
psitrons - PET, que, associados a imagens geradas pela tomografia computadorizada -
TC, formam os equipamentos e tcnicas conhecidas por PET/CT.
O PET/CT utiliza o 18F associado uma molcula de glicose (2[18F] fluoro-2-
deoxi-D-glicose) para o diagnstico ou mapeamento de tumores. Atualmente outros
compostos com o 18F esto em desenvolvimento, assim como o uso de outros emissores
de psitrons (11C, 13N) em instituies de pesquisa brasileiras.
No Pas, at meados de 2013, existiam 91centros utilizando equipamentos de
diagnstico por PET.

73
2.4.2 Instalaes industriais

2.4.2.1. Instalaes de radiografia industrial

A utilizao da radiografia industrial no Brasil voltou a ter um aumento de


demanda com a construo do gasoduto Brasil-Bolvia e depois com sua duplicao. A
radiografia industrial tem grande utilizao na verificao da qualidade das soldas nas
junes das tubulaes. tambm muito utilizada no controle da qualidade da produo
de peas metlicas ou estruturas de concreto.

2.4.2.2 Indstrias que operam medidores nucleares

As indstrias siderrgicas, petroqumicas, fabricantes de bebidas, de plsticos e


papel em geral utilizam equipamentos fixos com fontes radioativas incorporadas para
medio de nvel ou espessura, assim como medidores portteis para medio de
densidade e compactao de solos. Em junho de 2013 existiam 546 instalaes com 4.415
fontes radioativas utilizadas, sendo as principais: 137Cs, 241Am, 60Co, 90Sr e 85Kr.

2.4.2.3. Servios de perfilagem de petrleo

Em 2013, 6 empresas operaram 18 bases de prospeco de petrleo, localizadas


nas regies Norte e Nordeste e na Bacia de Campos com o total de 339 fontes radioativas
de 241Am, 60Co, 226Ra, 137Cs e fontes de nutrons de Am-Be.

2.4.2.4. Irradiadores industriais de grande porte

Em 2013 existem no pas cinco irradiadores industriais de grande porte, sendo


cinco em So Paulo, nas cidades de So Jos dos Campos, Campinas, Jarinu e Cotia Esses
irradiadores operam com fontes de 60Co e so utilizados para esterilizao de artigos
mdicos, de componentes de cosmticos, de rao animal, e em alguns casos, de
alimentos para exportao (Tabela 2.4).
Alm desses, existem 4 aceleradores industriais que produzem feixes de eltrons
utilizados principalmente para a polimerizao de cabos plsticos, com a finalidade de
melhorar suas propriedades mecnicas e de resistncia ao tempo (Tabela 2.5).

Tabela 2.4 - Irradiadores industriais de grande porte em operao, em 2013,


para esterilizao de materiais com radiao gama do 60Co.

ATIVIDADE
INSTALAO LOCAL/ESTDO
(kCi)
Unidade de Esterilizao de
Cotia/SP 780
Cotia (Embrarad I)
Unidade de Esterilizao de
Cotia/SP 2.060
Cotia (Embrarad II)
Companhia Brasileira de
Jarinu/SP 2.700
Esterilizao
So Jos dos
Johnson& Johnson 380
Campos/SP
IPEN So Paulo/SP 1.000

74
Tabela 2.5 - Aceleradores de eltrons industriais em operao no Brasil, em 2013.

ENERGIA
INSTALAO LOCAL/ESTADO FUNO
(keV)
Irradiao de
Aceltrica Rio de Janeiro/RJ 10.000
turfas
Reticulao de
Acome Irati/PR 550 polmero (cabos
eltricos)
Fazenda Rio Reticulao de
Sumitomo 500
Grande/PR polmero (pneus)
Reticulao de
Michelin Rio de Janeiro/RJ 600
polmero (pneus)
Reticulao de
IPEN So Paulo/SP 1.500 polmero (cabos
eltricos)

2.4.3. Instalaes de pesquisa

O uso de material radioativo em pesquisa se d principalmente em universidades


e centros especializados. As finalidades das pesquisas so as mais diversas: fsica nuclear,
biologia, agricultura, sade, meio ambiente, hidrologia e outras.
Em 2013, 578 instalaes de pesquisa estavam cadastradas na CNEN. As fontes
mais utilizadas so 3H, 14C, 22Na, 55Fe, 55Ni, 125I, 226Ra, 35S, 233U, 234U e 32P.

75
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

E. de Almeida e L. Tauhata, Fsica Nuclear, Editora Guanabara Dois, Rio de Janeiro, RJ,
1981.

Ya.B. Zeldovich and I.D. Novikov, Relativistic Astrophysics, Vol. I, Stars and Relativity,
The University of Chicago Press, USA, 1971.

NCRP REPORT No.160, Ionizing Radiation Exposure of the Population of the United
States, National Council on Radiation Protection and Measurement - 7910 Woodmont
Avenue, Suite 400, Bethesda, MD 20814-3095, 2009.

UNSCEAR, Report, Sources and Effects of Ionizing Radiation, 1993.


http://www.unscear.org/unscear/publications.html.

UNSCEAR, Report, Exposures to the public from man-made sources of radiation, Vol.
I, Annex C, 2000. http://www.unscear.org/unscear/publications.html.

UNSCEAR, Report, Sources and Effects of Ionizing Radiation, Vol. I, 2008.


http://www.unscear.org/unscear/publications.html.

76
CAPTULO 3

INTERAO DA RADIAO COM A MATRIA

3.1. IONIZAO, EXCITAO, ATIVAO E RADIAO DE FREAMENTO

Sob o ponto de vista fsico, as radiaes, ao interagir com um material, podem


nele provocar excitao atmica ou molecular, ionizao ou ativao do ncleo.

3.1.1. Excitao atmica ou molecular

Interao onde eltrons so deslocados de seus orbitais de equilbrio e, ao


retornarem, emitem a energia excedente sob a forma de luz ou raios X caractersticos.

3.1.2. Ionizao

Interao onde eltrons so removidos dos orbitais pelas radiaes, resultando


eltrons livres de alta energia, ons positivos ou radicais livres quando ocorrem quebra de
ligaes qumicas.

3.1.3. Ativao do ncleo

A interao de radiaes, com energia superior energia de ligao dos nucleons,


com um material, pode provocar reaes nucleares, resultando num ncleo residual e
emisso de radiao. A absoro de nutrons de baixa energia, denominados de nutrons
trmicos, pode ocorrer com certa frequncia dependendo da natureza do material
irradiado e da probabilidade de captura do nutron pelo ncleo (ver Figura 3.1), deixando-
o tambm em um estado excitado.

3.1.4. Radiao de freamento

As radiaes constitudas por partculas carregadas, como alfa, beta e eltrons


acelerados, ao interagir com a matria, podem converter uma parte de sua energia de
movimento, cerca de 5%, em radiao eletromagntica. Esta radiao, denominada de
raios X de freamento, o resultado da interao entre os campos eltricos da partcula
incidente, do ncleo e dos eltrons atmicos. Ocorre com maior probabilidade na
interao de eltrons com tomos de nmero atmico elevado. Devido ao mecanismo e
ao ngulo aleatrio de sada da partcula aps a interao, a energia convertida em raios
X imprevisvel, com valor variando de zero at um valor mximo, igual energia
cintica da partcula incidente.

77
Figura 3.1 - Modos de interao da radiao com a matria.

3.2. RADIAES DIRETAMENTE E INDIRETAMENTE IONIZANTES

No processo de transferncia de energia de uma radiao incidente para a matria,


as radiaes que tm carga, como eltrons, partculas e fragmentos de fisso, atuam
principalmente por meio de seu campo eltrico e transferem sua energia para muitos
tomos ao mesmo tempo, e so denominadas radiaes diretamente ionizantes. As
radiaes que no possuem carga, como as radiaes eletromagnticas e os nutrons, so
chamadas de radiaes indiretamente ionizantes, pois interagem individualmente
transferindo sua energia para eltrons, que iro provocar novas ionizaes. Este tipo de
radiao pode percorrer espessuras considerveis dentro de um material, sem interagir.

3.2.1. Interao

No contexto das radiaes indiretamente ionizantes (ftons e nutrons), a palavra


interao aplicada aos processos nos quais a energia e/ou a direo da radiao
alterada. Tais processos so aleatrios e, dessa forma, s possvel falar na probabilidade
de ocorrncia das interaes.

3.2.2. Probabilidade de interao ou seco de choque

Seco de choque para uma radiao em relao a um dado material a


probabilidade de interao por unidade de fluncia de partculas daquela radiao por
centro de interao do material. Fluncia o nmero de partculas que passa por unidade
de rea.
78
Seco de choque () para uma radiao em relao a um dado material pode ser
representada pela rea aparente que um centro de interao (ncleo, eltron, tomo)
apresenta para que haja uma interao com a radiao que o atinge. A dimenso da seco
de choque [L2] e a unidade no SI o m2. Como utilizada para dimenses da ordem do
raio do ncleo, adotada uma unidade especial, o barn (b), que vale 10-28 m2.

3.3. INTERAO DA RADIAO ELETROMAGNTICA COM A MATRIA

As radiaes eletromagnticas ionizantes de interesse so as radiaes X e gama.


Devido ao seu carter ondulatrio, ausncia de carga e massa de repouso, essas radiaes
podem penetrar em um material, percorrendo grandes espessuras antes de sofrer a
primeira interao. Este poder de penetrao depende da probabilidade ou seco de
choque de interao para cada tipo de evento que pode absorver ou espalhar a radiao
incidente. A penetrabilidade dos raios X e gama muito maior que a das partculas
carregadas, e a probabilidade de interao depende muito do valor de sua energia.
Quando a energia dos ftons ultrapassa o valor da energia de ligao dos nucleons,
cerca de 8,5 MeV, podem ocorrer as reaes nucleares. Assim, para radiaes
eletromagnticas com energia de valor no intervalo de 10 a 50 MeV podem ativar a
maioria dos elementos qumicos com os quais interagir. Nesta regio de energia ocorrem
as denominadas reaes fotonucleares por ressonncia gigante.
Os principais modos de interao, excluindo as reaes nucleares so o efeito
fotoeltrico, o efeito Compton e a produo de pares.

3.3.1. Efeito Fotoeltrico

O efeito fotoeltrico caracterizado pela transferncia total da energia da radiao


X ou gama (que desaparece) a um nico eltron orbital, que expelido com uma energia
cintica Ec bem definida,

E c h Be

onde h a constante de Planck, a frequncia da radiao e Be a energia de ligao


do eltron orbital.
Como Ec difere da energia do fton de um valor constante Be, com a sua
transferncia para o material de um detector, pode ser utilizada como mecanismo de
identificao do fton e de sua energia (Figura 3.2)

Figura 3.2 - Representao do efeito fotoeltrico.

79
Nota: Como a transferncia de energia do eltron de ionizao para o meio material
produz uma ionizao secundria proporcional, a amplitude de pulso de
tenso ou a intensidade de corrente proveniente da coleta dos eltrons ou
ons, no final do processo, expressam a energia da radiao incidente.

A direo de sada do fotoeltron em relao de incidncia do fton varia com


a energia. Para energias acima de 3 MeV, a probabilidade do eltron sair na direo e
sentido do fton alta; para energias abaixo de 20 keV a maior probabilidade a de sair
com um ngulo de 70. Isto se deve ao dos campos eltrico e magntico que, variando
na direo perpendicular de propagao do fton, exercem fora sobre o eltron na
direo de 90, e se compe com o momento angular do eltron.

Nota: O alcance de um fotoeltron de 1 MeV cerca de 1,8 mm no NaI(Tl) e 0,8 mm


no Ge, que so substncias utilizadas para a confeco de detectores de
radiao.

O efeito fotoeltrico predominante para baixas energias e para elementos


qumicos de elevado nmero atmico Z. A probabilidade de ocorrncia aumenta com (Z)4
e decresce rapidamente com o aumento da energia. Para o chumbo, o efeito fotoeltrico
predominante para energias menores que 0,6 MeV e para o alumnio para energias
menores que 0,06 MeV.
Para os eltrons do mesmo tomo, a probabilidade de ocorrncia do efeito
fotoeltrico maior para os que possuem maior energia de ligao, isto , os eltrons das
camadas K, L e M.
Na Figura 3.3 so apresentados os valores dos coeficientes de atenuao total para
radiao gama para o chumbo, em funo da energia, onde se pode observar a
contribuio do efeito fotoeltrico e das energias de ligao das camadas eletrnicas K e
L, nas faixas de energia de 10,4 a 59,8 keV e 74,8 a 89 keV.

3.3.2. Pico de absoro K para o efeito fotoeltrico

Para que o processo fotoeltrico ocorra com um eltron em particular, a energia do


fton no pode ser menor que a energia de ligao Be deste eltron no tomo. Para ftons
com energia maior que Be, a probabilidade decresce medida que cresce essa energia,
isto , a probabilidade de interao mxima quando a energia do fton for igual a energia
de ligao Be. Nessa regio de energia, a seo de choque atmica para o efeito
fotoeltrico varia aproximadamente com ()3. Mais de 80% das interaes primrias
so na camada K, quando a interao com essa camada permitida (h v > BK).
Quando a energia do fton atinge a energia de ligao da camada K, h ento uma
descontinuidade na curva que descreve a probabilidade de interao em funo da
energia, chamada de pico de absoro K. A probabilidade de interao, que vinha
decrescendo com o aumento da energia do fton, sofre um acrscimo repentino, para
depois cair novamente. Efeito similar ocorre com a camada L. A Figura 3.3 mostra essas
caractersticas para o chumbo.

80
Figura 3.3 - Valores de seco de choque para efeito fotoeltrico para o
chumbo, em funo da energia da radiao.

3.3.3. Efeito Compton

No efeito Compton, o fton espalhado por um eltron de baixa energia de ligao, que
recebe somente parte de sua energia, continuando sua sobrevivncia dentro do material
em outra direo e com menor energia. Como a transferncia de energia depende da
direo do eltron emergente e esta aleatria, de um fton de energia fixa podem resultar
eltrons com energia varivel, com valores de zero at um valor mximo.
Assim, a informao associada ao eltron emergente desinteressante sob o
ponto de vista da deteco da energia do fton incidente. Sua distribuio no espectro de
contagem aleatria, aproximadamente retangular. A energia do fton espalhado E
depende da energia do fton incidente E e do ngulo de espalhamento , em relao
direo do fton incidente, dada pela expresso,


=
1 + (1 )
onde


=
2

A energia do fton espalhado mxima para = 0o e mnima para = 180o. A


energia cintica do eltron ejetado mxima para este caso, e igual a,

2
= =
1 + 2

81

Figura 3.4 - Representao do efeito Compton.

Quando a energia de ligao dos eltrons orbitais se torna desprezvel face


energia do fton incidente, a probabilidade de ocorrncia de espalhamento Compton
aumenta consideravelmente.
O efeito Compton se torna mais provvel quando a energia da radiao gama
incidente aumenta de valor, ou quando a energia de ligao do eltron que sofre a
incidncia possui um valor comparativamente menor, a ponto de, consider-la desprezvel
em relao da radiao incidente.
O formalismo fsico-matemtico anteriormente descrito foi simplificado
semelhana de uma coliso mecnica e, assim, expresses para a energia do fton
espalhado, com um ngulo , e do eltron emergente, com um ngulo , puderam ser
obtidas facilmente.
Nesta descrio, assim como para o efeito Fotoeltrico, considera-se que o fton
se comporta como um corpsculo e o eltron como uma partcula livre.
Entretanto, sabe-se que isto constitui aproximaes pragmticas, sem o tratamento
quntico mais rigoroso.
Na descrio da Fsica Quntica, a interao do fton com o eltron, tratada no
formato de probabilidades de interao, que nada mais so que as seces de choque
microscpicas. Nesta descrio, so envolvidos o formalismo de Dirac (ver: C. Cohen-
Tannoudjii, B. Diu, F. Lalo, Mcanique Quantique, Herman 1973) e o modelo de Klein-
Nishina (O. Klein, Y. Nishina: Z. der Physik 52, p.863 (1929)).
O clculo da seco de choque de espalhamento Compton, descreve o evento
como resultado de dois processos, com diferentes estados intermedirios:

1) O fton incidente E = hvo totalmente absorvido pelo eltron, que ento atinge
um estado intermedirio de momento hvo/c. Na transio para o estado final, o
eltron emite o fton E = hv.
2) O eltron que emitiu o fton hv, atinge um estado intermedirio com momento (-
hv/c), ficando ento presentes, dois ftons hvo e hv. Na transio para o estado
final, o fton hvo ento absorvido pelo eltron.

82
Com esta descrio do processo de espalhamento Compton, a seco de choque
total de coliso c, fica composta de uma seco de choque de espalhamento (emisso)
da radiao gama sc e uma seco de choque de absoro de energia da radiao
eletromagntica ac. Na Figura 3.5 so mostrados os valores da variao da seco de
choque para espalhamento Compton em funo da energia da radiao.

Figura 3.5 - Valores de seo de choque para espalhamento Compton (e)


em funo da energia do fton; ea a seo de choque de absoro e es a
seo de choque de espalhamento da radiao no Efeito Compton.

3.3.4. Espalhamento Compton coerente ou efeito Rayleigh

Em interaes de ftons de baixa energia com eltrons muito ligados, pode ocorrer
uma interao onde o tomo todo absorve o recuo e o fton praticamente no perde
energia, mudando simplesmente sua direo. Esse tipo de interao denominado
espalhamento Compton coerente ou efeito Rayleigh, e a direo de espalhamento
predominante para a frente.
O efeito Rayleigh tem maior probabilidade de ocorrncia para baixas energias dos
ftons e para valores altos de Z. Para o carbono, o efeito Rayleigh ocorre na regio dos
20 keV de energia dos ftons e contribui com um mximo de 15% de participao na
atenuao total.
O efeito Rayleigh pode ser considerado como um caso particular do espalhamento
Compton.

3.3.5. Formao de par

Uma das formas predominantes de absoro da radiao eletromagntica de alta


energia a produo de par eltron-psitron. Este efeito ocorre quando ftons de energia
superior a 1,022 MeV passam perto de ncleos de nmero atmico elevado, interagindo
com o forte campo eltrico nuclear. Nesta interao, ilustrada na Figura 3.6, a radiao
desaparece e d origem a um par eltron-psitron (2mc2 = 1,022 MeV), por meio da
reao:
e e energia cintica

83
As duas partculas transferem a sua energia cintica para o meio material, sendo
que o psitron volta a se combinar com um eltron do meio e d origem a 2 ftons, cada
um com energia de 511 keV.

Nota: No caso de ocorrer a formao de par num detector, dependendo de suas


dimenses, a probabilidade de escape de um fton ou mesmo at dos 2 ftons
de 511 keV, pode ser significativa e, assim, no espectro, observam-se 3 picos
de contagem; o primeiro correspondente energia do fton incidente, o
segundo com energia desfalcada de 511 keV e o terceiro, desfalcado de 1,02
MeV, correspondentes, respectivamente, deteco total do fton, aos escape
simples e duplo.

Figura 3.6 - Representao do efeito de produo de pares.

3.3.6. Importncia relativa dos efeitos fotoeltrico, Compton e produo de pares

As interaes fotoeltricas predominam para todos os materiais em energias de


ftons suficientemente baixas, mas medida que a energia cresce, o efeito fotoeltrico
diminui mais rapidamente que o efeito Compton e este acaba se tornando o efeito
predominante. Continuando a aumentar a energia do fton, ainda que o efeito Compton
decresa em termos absolutos, continua aumentando em relao ao efeito fotoeltrico.
Acima da energia de alguns MeV para o fton, a produo de pares passa a ser a principal
contribuio para as interaes de ftons. A Figura 3.7 mostra a variao da participao
de cada um desses processos para a variao de Z e da energia dos ftons. A Figura 3.8
mostra essa contribuio para o caso do carbono e do chumbo.

84
Figura 3.7 - Importncia relativa dos diversos processos de interao dos
ftons com a matria em funo da energia do fton e do nmero atmico do
material.

Figura 3.8 - Probabilidade relativa de diferentes efeitos para ftons de


diferentes energias no carbono e no chumbo.

3.3.7. Coeficiente de atenuao linear total,

Quando um feixe de radiao gama ou X incide sobre um material de espessura


x, parte do feixe espalhada, parte absorvida pelos processos j descritos e uma frao
atravessa o material sem interagir. A intensidade I do feixe emergente est associada
intensidade Io do feixe incidente, pela relao:
85
I I 0 e x

onde a probabilidade do feixe sofrer atenuao devido a eventos de espalhamento


Compton, absoro fotoeltrica ou formao de pares, sendo denominado de Coeficiente
de Atenuao Linear Total.
Assim, negligenciando as reaes fotonucleares e o espalhamento Rayleigh, o
coeficiente de atenuao linear total pode ser escrito como:

onde
o coeficiente de atenuao linear Compton total (espalhamento e absoro),
que a probabilidade do fton ser espalhado para fora da direo inicial do feixe
pelo material absorvedor;
o coeficiente de atenuao devido ao efeito fotoeltrico; e
o coeficiente de atenuao linear devido formao de par.

A Figura 3.9 ilustra o processo de atenuao para um feixe de intensidade I0.

Figura 3.9 - Atenuao de um feixe de ftons por um material de


espessura X.

3.3.8. Coeficiente de atenuao linear em massa

O coeficiente de atenuao de um material para um determinado tipo de interao


varia com a energia da radiao, mas depende, para um mesmo material, de seu estado
fsico ou fase. Assim, por exemplo, a gua pode possuir valores diferentes de seus
coeficientes de atenuao conforme esteja no estado de vapor, lquido ou slido (gelo).
Da mesma forma, o carbono depende de suas formas alotrpicas de apresentao: grafite,
diamante ou p sinterizado.
Para evitar esta dificuldade, costuma-se tabelar os valores dos coeficientes de
atenuao divididos pela densidade do material, tornando-os independentes de sua fase.
O coeficiente de atenuao, assim tabelado, tem a denominao de Coeficiente Mssico
de Atenuao ou Coeficiente de Atenuao em Massa (/).

86
Figura 3.10 - Contribuio relativa dos diversos efeitos produzidos pela
interao da radiao num material para o coeficiente de atenuao linear
total.

3.3.9. Coeficiente de atenuao e seco de choque microscpica

Os efeitos fotoeltricos, Compton e formao de par, muitas vezes so expressos


pelas suas seces de choque microscpica de interao, em que os vnculos entre seus
valores e os coeficientes de atenuao so dado pelas expresses,

Efeito Fotoeltrico:

1
(cm 2 / g ) f N A
A

87
Efeito Compton:

Z
(cm 2 / g ) e N A
A

Formao de Par:

1
(cm 2 / g ) p N A
A

onde A o nmero de massa (em g/mol), NA o nmero de Avogadro = 6,02.1023 (em


tomos/mol) e Z o nmero atmico. f, e e p so as seces de choque microscpicas
(em cm2/tomo) para os efeitos fotoeltrico, Compton e formao de pares,
respectivamente.

3.3.10. Coeficiente de atenuao linear total de uma mistura ou composto

O coeficiente de atenuao linear em massa / para uma mistura ou substncia


qumica composta obtido pela relao:


i wi
i i

onde wi a frao em peso do elemento i na mistura ou composto, i o coeficiente de


atenuao do elemento i e i a densidade do elemento i.
Para compostos, esta expresso eventualmente pode falhar devido a efeitos de
absoro ressonante de ftons em certas faixas de energia.

3.3.11. Coeficiente de transferncia de energia

O coeficiente total de transferncia de energia para interaes com ftons,


desprezando qualquer reao fotonuclear, dado por:

tr tr tr tr

O coeficiente de atenuao linear total em massa / est relacionado com o


coeficiente de transferncia de energia em massa por meio de seus componentes,

tr a 2mc2
1 1
h h

onde

/h a frao emitida pela radiao caracterstica no processo de efeito fotoeltrico


( a energia mdia emitida como radiao de fluorescncia por fton
absorvido e h a energia do fton incidente);

88
a/ a frao de energia do efeito que efetivamente transferida, isto , que no
levada pelo fton espalhado;
/.(1-2mc2/h) a frao que resta no efeito de formao de pares, subtraindo-se a
energia dos dois ftons de aniquilao; e
h a energia do fton incidente.

3.3.12. Coeficiente de absoro de energia

A energia transferida dos ftons para a matria sob a forma de energia cintica de
partculas carregadas no necessariamente toda absorvida. Uma frao g dessa energia
pode ser convertida novamente em energia de ftons pela radiao de freamento. A
energia absorvida dada pelo coeficiente de absoro en dada por:

en tr
(1 g )

A frao g pode ser de um valor aprecivel para interao de ftons de altas


energias em material de nmero atmico elevado, mas normalmente muito pequena para
material biolgico.
Nas estimativas da dose absorvida nos materiais e tecidos, deve-se utilizar este
coeficiente de absoro de energia e no o coeficiente de atenuao total.
Valores dos coeficientes de atenuao em massa e de absoro de energia em
massa associados aos elementos qumicos e alguns compostos importantes utilizados em
dosimetria e blindagem so fornecidos pelo site do National Institute of Standards and
Technology (NIST) dosEstadosUnidos:
www.physics.nist.gov/PhysRefData/XrayMassCoef/ em Summary, Table 3 e Table 4.

3.4. INTERAO DE NUTRONS COM A MATRIA

O nutron possui grande massa e carga nula e por isso no interage com a matria
por meio da fora coulombiana, que predomina nos processos de transferncia de energia
da radiao com partculas carregadas para a matria. Por isso bastante penetrante e, ao
contrrio da radiao gama, as radiaes secundrias so frequentemente ncleos de
recuo, principalmente para materiais hidrogenados, com alto poder de ionizao. Alm
dos ncleos de recuo, existem os produtos de reaes nucleares tipo (n, ), altamente
ionizantes.
A atenuao de um feixe de nutrons por um material do tipo exponencial,

I I 0 etot x

onde I a intensidade do feixe aps a espessura x, I0 a intensidade do feixe de nutrons


incidente e tot a seco de choque macroscpica total para nutrons com energia E.
A seco de choque total obtida por:

tot N
onde

N = nmero de ncleos por cm3 (= NA./A);

89
= seco de choque microscpica do elemento do material para energia E do
nutron (em barn = 10-24 cm2);
NA = nmero de Avogadro (6,02.1023 tomos/tomo grama ou mol);
= densidade do material (em g.cm-3); e
A = nmero de massa expresso (em g).

A seco de choque macroscpica total a probabilidade do nutron sofrer


espalhamento ou captura, por unidade de comprimento. Desta forma, seu valor dado
pela soma das seces de choque de espalhamento e de captura.
Para um material alvo composto de massa molecular M, densidade , nmero N
de tomos da espcie i por cm3, a seco de choque macroscpica obtida pela soma
ponderada das seces de choque dos elementos que compem a molcula, ou seja,


= 1 1 + 2 2 + + = (1 1 + 2 2 + + )

onde ni o nmero de tomos da espcie i na molcula do composto.

O conceito inicial de seco de choque microscpica , era de carter geomtrico,


ou seja, sabendo-se que o raio nuclear da ordem de 10-12 cm, a sua rea de impacto para
uma partcula nele incidente seria da ordem de 10-24 cm2. Assim, o seu valor seria
adequadamente expresso por uma unidade denominada de barn (sendo que 1 barn = 10-
24
cm2).
Entretanto, apoiado nos dados experimentais e nos conceitos estabelecidos pela
mecnica quntica, sabe-se que ela representa somente uma probabilidade de interao, e
seu valor pode exceder, ou no, a correspondente rea geomtrica de impacto nuclear.
Isto fica bem explicito nos valores da seco de choque de reao nas regies de
ressonncia, por exemplo, de captura.
Ao contrrio das demais radiaes, o nutron tem facilidade de interagir com o
ncleo atmico e, s vezes, ativ-lo. O material para a sua blindagem deve ter baixo Z
para atenuar significativamente a energia do nutron no processo de colises sucessivas
ou apresentar reao nuclear de captura para absorv-lo.
Fluxos intensos de nutrons, mono e polienergticos, podem ser gerados por
reatores, artefatos nucleares, reaes nucleares do tipo (,n) com fontes de Am-Be, Po-
Be, Pu-Be, Ra-Be, etc., alm de reaes nucleares (,n), (p,n) produzidas em alvos
expostos a aceleradores de partculas, cclotrons, e outros tipos de mquinas.

3.4.1. Classificao da energia dos nutrons

Os nutrons apresentam propriedades de interao muito dependentes da sua


energia. Existem faixas de energia em que ocorrem ressonncias no processo de captura,
o que interfere fortemente na taxa de reaes nucleares. Estas ressonncias constituem
argumentos bsicos para o comportamento quntico das interaes entre partculas e
ncleos. Por isso, dependendo de sua faixa de energia ele recebe denominaes conforme
mostrado na Tabela 3.1.

90
Tabela 3.1 - Denominao dos nutrons de acordo com sua energia.

Denominao Energia
Trmico 0,025 eV
Epitrmico 0,025 eV E 0,4 eV
Lento 1 eV E 10 eV
Lento 300 eV E 1 MeV
Rpido 1 MeV E 20 MeV

3.4.2. Tipos de interao com nutrons

Reaes com nutrons podem ser, grosseiramente, classificadas em duas classes,


denominadas de espalhamento e absoro. Nas reaes de espalhamento, o resultado
final envolve uma troca de energia entre as partculas em coliso, e o nutron permanece
livre aps a interao. Nos processos de absoro, o nutron retido pelo ncleo e novas
partculas so formadas.
As reaes de espalhamento podem ocorrer em duas maneiras, denominadas de
espalhamento elstico e espalhamento inelstico.
O espalhamento elstico ocorre quando o nutron colide com um ncleo alvo de
massa igual ou prxima dele, como os materiais hidrogenados. Neste tipo de interao,
h a conservao da energia cintica, o nutron muda de direo e transfere parte de sua
energia para o ncleo alvo.
No espalhamento inelstico, o ncleo alvo tem massa maior que a dele, sendo por
ele capturado, formando um ncleo composto num estado excitado, que decai num outro
nutron de menor energia e com a emisso do restante de energia sob a forma de radiao
gama. Portanto, neste processo no h a conservao da energia cintica, pois parte da
energia de movimento do nutron inicial se converteu em energia gama.
Nas reaes de absoro ou de captura, os processos mais importantes so as de
captura radiativa e a fisso.
As reaes de captura radiativa, do tipo (n,) ou com a emisso de partcula
carregada do tipo (n,) e (n,p) e, alguns casos especiais, (n,f) ou seja, fisso nuclear,
ocorrem com muito mais frequncia com nutrons trmicos ou lentos. As reaes com
nutrons rpidos so de baixa probabilidade e ocorrem com poucos ncleos.
Uma das reaes de grande importncia na fsica de reatores, a reao (n,p) que
ocorre nos reatores refrigerados a ar ou gua, onde existe grande quantidade de oxignio
disponvel. Esta reao, gera o hidrognio nascente no interior do reator e o 16N de meia-
vida de 7,13 s, emissor beta e duas radiaes gama de alta energia E1=6,13 MeV (68%)
e E2 = 7,11 MeV (4,9%), ou seja,
16
8 + 10 ( 178) 11 + 167

As reaes (n,) ocorrem com quase todos os elementos qumicos, as (n,) com
poucos elementos, as (n,p) com poucos elementos e com massa pequena e, as (n,f) com
os elementos fsseis.
Desta forma, a seco de choque total, medida em cm2 ou em barns, pode em
primeira aproximao, ser expressa por:

= + +

91
3.4.2.1. Ativao com nutrons

A incidncia de nutrons em uma amostra de um elemento qumico simples ou


substncia composta pode provocar a ativao na maioria deles, por reaes de captura.
O nutron absorvido pelo ncleo e forma um novo istopo, na sua grande maioria,
instvel ou radioativo.
Este processo denominado de reao de ativao com nutrons. O radionucldeo
formado emite suas radiaes gama caractersticas, no processo de decaimento,
permitindo a sua identificao. Esta propriedade constitui a base de um dos mtodos de
anlise de materiais, no destrutivo, pois pela coleta das energias e intensidades relativas,
pode-se saber que elementos estveis a amostra era composta e com que proporo.
Se um feixe de nutrons com intensidade incidir sobre uma amostra com n0
tomos de um elemento com seco de choque , o nmero de radionucldeos formado
ser dado pela expresso:


= . . 0

Ento,

(1 )
() = . . 0 .

= . () = . . 0 . (1 )

onde,
= fluxo de nutrons (nutrons.cm-2.s-1);
= seco de choque microscpica (em cm2);
n0 = nmero de tomos da amostra = m.NA/AM;
m = massa da amostra (em g);
AM = nmero de massa do elemento da amostra
constante de decaimento do ncleo formado (s-1) =0,693/T1/2; e
T1/2 = meia-vida do ncleo formado (s).

A atividade A de saturao, ou seja, com t , ser,

= . () = . . 0

Pois,
(1 ) = 1

3.4.2.2. Reao de fisso nuclear

As reaes de fisso induzidas por nutrons ocorrem com maior frequncia em


alguns ncleos pesados, como por exemplo o 233U, 235U, 239Pu. Estes so denominados de
ncleos fsseis. Existem outros ncleos, como o 232Th e 238U, denominados de ncleos
frteis que, ao capturarem um nutron se transformam em 233Th e 239U, e decaem em 233U
e 239Pu, que so fsseis.

92
O nutron, aps ser absorvido pelo ncleo de 235U, forma o ncleo composto que
instvel e inicia um processo de vibrao coletiva, assumindo formas de elipsides com
excentricidades crescentes, at a atingir o formato de um oito, quando ento se fissiona
em dois fragmentos, na maioria das vezes, com massas atmicas diferentes.
A separao dos fragmentos ocorre devido crescente vibrao da massa nuclear
em crescente deformao, onde a repulso coulombiana entre as cargas dos futuros
ncleos exerce um papel fundamental, at que o potencial nuclear atinja o denominado
ponto de sela, quando a recomposio do formato inicial pela tenso superficial e foras
atrativas nucleares se torna fisicamente invivel.
Os fragmentos, denominados de fragmento leve com uma massa atmica da
ordem de 90 e o fragmento pesado da ordem de 140, so gerados sempre na forma esfrica
ou elipsoidal, nunca no formato hemiesfrico. Esta tendncia causada pela busca, pelos
fragmentos, por uma maior estabilidade nuclear, que seria alcanada com um nmero de
partculas prximo de um dos nmeros mgicos de camadas nucleares.
Alm dos fragmentos, so emitidos de 2 a 3 nutrons prontos, radiaes gama
prontas. Esta denominao de pronta est associada s partculas emitidas juntamente
com os fragmentos. As demais partculas emitidas, denominadas de partculas retardadas
so emitidas pelos fragmentos (j separados) que so altamente instveis.
No caso em que os nutrons originados numa fisso, aps apropriada moderao,
atingir outros ncleos de 235U, e fission-los, pode dar origem ao fenmeno denominado
de criticalidade e, ento, gerar uma reao nuclear de fisso em cadeia, numa quantidade
de urnio, denominada de massa crtica conforme mostrado na figura 3.11.

n

144
Ce
FISSO NUCLEAR n
236
REAO EM CADEIA U 89
Sr n

n
137
Cs
n
n n 120
Sb
235 236 n
U U 236
U
96
Nb n 113
Ag n

n
236

U 134
Cs
MODERADOR n
99
Tc n

Figura 3.11 - Representao da fisso em cadeia autosustentvel, induzida pela


absoro de netron, num reator nuclear.

93
Tabela 3.2 - Componentes da energia liberada na fisso nuclear dos ncleos 233U,
235
U e 239Pu.

233U 235U 239Pu


Produtos de fisso
(MeV) (MeV) (MeV)
Energia cintica do fragmento leve 99,1 1 99,8 1 101,8 1
Energia cintica do fragmento pesado 67,9 0,7 68,4 0,7 73,2 0,7
Energia dos nutrons prontos 5,0 4,8 5,8
Energia da radiao gama pronta ~7 7,5 ~7
Energia da radiao beta dos produtos de
~8 7,8 ~8
fisso
Energia da radiao gama dos produtos de
~ 4,2 6,8 ~ 6,2
fisso
Energia total da fisso 192 195 202
Neutrinos do decaimento beta 10 MeV/fisso

Conforme Tabela 3.2, a energia da fisso que utilizada na converso em calor


nos reatores nucleares, corresponde soma das energias cinticas dos fragmentos, cerca
de 87%, com pequena contribuio das energias dos nutrons e gamas prontos. As
energias das radiaes beta e gama dos fragmentos, pouco contribuem, pois muitos dos
fragmentos possuem meias-vidas mdias e longas, tempo suficiente para os elementos
combustveis sejam removidos do reator por estarem gastos. Alm disso, existe uma
perda de cerca de 5% da energia dos neutrinos por fisso.

3.5. INTERAO DAS RADIAES DIRETAMENTE IONIZANTES COM A


MATRIA

3.5.1. Radiaes diretamente ionizantes

As radiaes denominadas de diretamente ionizantes incluem todas as partculas


carregadas, leves ou pesadas, emitidas durante as transformaes nucleares e transferem
a energia interagindo com os eltrons orbitais ou, eventualmente, com os ncleos dos
tomos do material, por meio de processos de excitao, ionizao, freamento e, para
altas energias, de ativao.

Nota: A ionizao o processo mais dominante e absorve, para cada tipo de


matria, determinada energia para a formao de um par eltron-on. Por
exemplo, no caso do ar seco e nas condies normais de temperatura e
presso, em mdia, a radiao ionizante necessita gastar (33,85 0,15) eV
na formao de um par eltron-ion.

94
3.5.2. Poder de freamento

Ao atravessar um material, a partcula carregada transfere sua energia por meio


dos processos de coliso e freamento, de tal maneira que, ao longo de uma trajetria
elementar dx, a taxa de perda de energia pode ser expressa por:

dE 4e4 z 2
S N B
dx m0v 2

onde
m v2
B Z ln 0 ln(1 2 ) 2
I
= v/c;
c = velocidade da luz;
e = carga do eltron;
v = velocidade da partcula;
N = tomos/cm3 do material absorvedor = NA./A;
z = carga da partcula incidente;
Z = nmero atmico do material absorvedor;
I = potencial de excitao e ionizao, mdio [ I=18 eV (H), 186 eV (ar) e 820
eV (Pb)]; e
m0 = massa de repouso da partcula.

A relao S = dE/dx denominada de taxa especfica de perda de energia ou


poder de freamento linear (linear stopping power).
A perda especfica de energia depende do quadrado da carga da partcula,
aumentando quando a velocidade diminui, e a massa s afeta a forma de sua trajetria.
Na Figura 3.12 so apresentados valores calculados de S para diferentes partculas
incidentes no silcio e germnio.

Figura 3.12 - Variao do stopping power com a energia de partculas


incidentes no silcio e no germnio.

95
3.5.3. Poder de freamento de coliso e de radiao

Desprezando-se as perdas devido s reaes nucleares, existem dois componentes


principais: um devido a perdas por colises e outro devido a radiao de freamento, ou
seja,

dE dE dE dE E ( MeV ) Z
S com /
dx C dx R dx R dx C 700

O primeiro termo denominado poder de freamento de coliso e o segundo poder


de freamento de radiao. A importncia dessa separao que a energia perdida por
coliso normalmente absorvida prxima trajetria, enquanto que a energia perdida por
radiao utilizada para criar ftons que podem interagir a distncias grandes em relao
ao ponto em que foram gerados e, portanto, a energia dissipada longe do ponto da
interao primria.

3.5.4. Poder de freamento restrito ou LET

Para se obter o valor da energia depositada nas imediaes da trajetria de uma


partcula carregada, importante descontar as perdas que ocorrem longe dela. Eltrons
podem gerar, na interao, ftons de freamento que tem chance de serem absorvidos longe
da trajetria da partcula incidente. Por exemplo, um fton de 50 keV pode atravessar at
1 cm de tecido humano, antes de ser absorvido. Da mesma forma, eltrons de alta energia,
denominados de raios , gerados em colises com alta transferncia de energia podem
dissipar sua energia longe do local da interao.
Por isso, necessrio estabelecer limites para a contabilizao da energia
transferida no entorno da trajetria da partcula, inclusive o valor da sua energia cintica
final de corte. O poder de freamento, assim considerado, denominado de poder de
freamento restrito (restricted stopping power), que recebe a denominao de
transferncia linear de energia (LET = Linear Energy Transfer).

3.5.5. Alcance de partculas carregadas em um material (range)

Com as constantes colises e eventual emisso de radiao de freamento, as


partculas carregadas penetram num meio material at que sua energia cintica entre
em equilbrio trmico com as partculas do meio, estabelecendo um alcance R no meio
absorvedor, aps um percurso direto ou em zig-zag. As partculas pesadas, como alfa e
fragmentos de fisso, tm uma trajetria praticamente em linha reta dentro do material,
ao contrrio da dos eltrons que quase aleatria. Para cada tipo de partcula pode-se
definir um alcance, utilizando variaes da definio provenientes de dificuldades
experimentais em sua determinao.

3.5.5.1. Alcance mdio

Utilizando-se um grfico de representao da intensidade de feixe I aps uma


espessura x penetrada dentro de um material pela intensidade I0 de incidncia, em funo
de x, o alcance mdio definido como a espessura Rm, quando a razo I/I0 cai pela
metade, conforme mostra a Figura 3.13.

96
3.5.5.2. Alcance extrapolado

Na Figura 3.13, pode-se tomar o valor Re obtido no eixo X como o valor para o
alcance R, uma vez que a posio final da partcula no bem definida. O valor obtido
dessa forma denominado alcance extrapolado.

3.5.5.3. Alcance mximo

Alcance mximo Rmax corresponde ao maior valor penetrado dentro de um


material, por uma partcula, com uma determinada energia. Este valor constitui um
conceito estatstico, mas, no grfico da Figura 3.13, corresponde ao valor assinttico da
curva de I/I0 em funo da espessura x.

Figura 3.13 - Definio do alcance Re e Rm para partculas alfa e eltrons.

3.6. INTERAO DE ELTRONS COM A MATRIA

Eltrons perdem energia principalmente pelas ionizaes que causam no meio


material e, em segunda instncia, pela produo de radiao de freamento
(bremsstrahlung). Como so relativamente leves, sua trajetria irregular, podendo ser
defletidos para a direo de origem, conforme mostra a Figura 3.14.

Eltrons
retro-espalhados

Eltrons Eltrons
incidentes transmitidos
e espalhados

Eltrons
absorvidos

Figura 3.14 - Espalhamento de eltrons em um material.

97
3.6.1. Alcance para eltrons monoenergticos

Se um feixe colimado de eltrons monoenergticos incidir em um material


absorvedor, mesmo pequenos valores de espessura de absorvedor iro levar perda de
eltrons do feixe detectado, uma vez que o espalhamento de eltrons efetivamente os
remover da direo do fluxo que atinge o detector.
Dessa forma, a representao grfica do nmero de eltrons detectado versus
espessura do absorvedor ir decrescer imediatamente desde o incio, atingindo
gradualmente o valor nulo para espessuras maiores do absorvedor. Os eltrons que mais
penetram no absorvedor so aqueles cuja trajetria foi menos alterada com as interaes.
A Figura 3.15 mostra a variao da relao entre a intensidade I0 de um feixe de
eltrons monoenergticos incidente e a intensidade do feixe transmitido I para uma
espessura de material absorvedor.

Figura 3.15 - Alcance de eltrons monoenergticos.

O conceito de alcance menos definido para eltrons rpidos que para partculas
pesadas, uma vez que o caminho total percorrido pelos eltrons consideravelmente
maior que a distncia de penetrao na direo do seu movimento incidente.
Normalmente o alcance para os eltrons obtido pelo alcance extrapolado, prolongando-
se a parte linear inferior da curva de penetrao versus espessura, at interceptar o eixo
das abscissas. Essa distncia suficiente para garantir que quase nenhum eltron
ultrapasse a espessura do absorvedor. A Figura 3.1 mostra o alcance de eltrons em
materiais usados como detectores, como o iodeto de sdio e o silcio.

Figura 3.16 - Relao alcance x energia para eltrons absorvidos no silcio e no


germnio.

98
Quando o alcance expresso em distncia x densidade (densidade superficial ou
espessura em massa), os seus valores, para a mesma energia do eltron, praticamente no
se alteram, apesar da grande diferena entre os materiais, como mostra a figura 3.17, para
o alcance de eltrons no Si e no NaI, com densidades de 3,67 e 2,33 g/cm3,
respectivamente.

Figura 3.17 - Alcance de eltrons no silcio ( = 2,33 g/cm3) e no iodeto de


sdio ( = 3,67 g.cm-3), materiais muito usados em detectores.

3.6.2. Atenuao das partculas beta

As partculas beta so atenuadas exponencialmente na maior parte de seu alcance


num meio material, e o coeficiente de atenuao apresenta uma dependncia com a
energia mxima do espectro beta. A atenuao exponencial o resultado de uma
complexa combinao do espectro contnuo em energia da radiao beta, com a atenuao
isolada de cada eltron. A determinao da atenuao da radiao beta por um absorvedor
conhecido serve como modo preliminar de determinao de sua energia mxima.

Algumas vezes definido um coeficiente de absoro dado por:

I
e x
I0

onde I0 a taxa de contagem sem o absorvedor, I a taxa de contagem com o absorvedor


e x a espessura do absorvedor (em g.cm-2).

99
Figura 3.18 - Atenuao de partculas beta no alumnio, no cobre e na prata.

3.6.3. Alcance das partculas beta

Apesar das partculas beta no possurem um alcance preciso, existem vrias


relaes semi-empricas para determinao do alcance em funo da energia, tais como:

R = 0,542.E - 0,133 (g/cm2) para E > 0,8 MeV


R = 0,407.E1,38 (g/cm2) para 0,15 < E < 0,8 MeV
R = 0,530.E - 0,106 (g/cm2) para 1 < E < 20 MeV

Na Figura 3.18 so apresentados valores do alcance de eltrons em diversos meios


materiais. Na Figura 3.19 so apresentadas as perdas de energia por coliso e por radiao
para eltrons no ar, na gua e em grafite.
bom salientar que estas expresses semi-empricas para calcular o alcance das
partculas podem ter frmulas ou valores dos coeficientes diferentes em cada poca e para
cada autor da frmula. Isto se deve qualidade, quantidade e forma dos ajustes dos dados
experimentais disponveis at ento.

100
Figura 3.19 - Alcance de partculas beta em vrios materiais (densidade em
g.cm-3): (1) Ferro = 7,8; (2) Pirex = 2,60; (3) PVC = 1,38; (4) Plexiglass =
1,18; (5) Ar = 0,0013.

Figura 3.20 - Perda de energia de eltrons na matria.

3.6.4. Poder de freamento para eltrons de alta energia

So apresentados na Figura 3.19 os valores de S/ (mass stopping power) em


funo da energia de eltrons em diferentes meios absorvedores. Conforme se pode
observar, os valores do poder de freamento em massa dependem pouco da densidade dos
materiais.

101
3.6.5. Valor efetivo de (Z/A) de um material

Em muitos casos, necessrio obter o valor efetivo de (Z/A) de um material


composto, utilizando valores tabelados para cada um de seus elementos qumicos
componentes. A maneira mais simples de se obter por meio da mdia ponderada,
expressa por:

Z 1 Z1 Z Z
a1 a2 2 a3 3 ...
A ef (a1 a2 a3 ...) A1 A2 A3

onde ai a frao, em pso, de tomos com nmero atmico Zi e massa atmica Ai.

Na Tabela 3.3 so dados valores de (Z/A)ef para alguns materiais.

Tabela 3.3 - Valores de (Z/A)ef de alguns materiais utilizados em dosimetria


das radiaes.

Material Densidade (g.cm-3) (Z/A)ef


gua 1 0,557
Plstico Tecido-equivalente 1,055 0,556
Lucite 1,18 0,538

3.7. INTERAO DAS PARTCULAS COM A MATRIA

As partculas perdem energia basicamente por ionizao, e o perfil da curva de


ionizao versus a distncia percorrida se mantm praticamente o mesmo, nele
destacando 3 regies importantes:

a. A partcula , inicialmente com grande velocidade, interage por pouco tempo com
os eltrons envoltrios dos tomos do meio e, assim, a ionizao pequena e quase
constante;
b. medida que a partcula vai perdendo velocidade, ela passa a interagir mais
fortemente com os eltrons envoltrios dos tomos do meio e o poder de ionizao
vai aumentando at chegar a um mximo, quando captura um eltron do meio, e
passa do on +2 para um on +1;
c. A carga da partcula caindo de +2 para +1, faz o seu poder de ionizao cair
rapidamente at chegar a zero, quando o on +1 captura um outro eltron e se torna
um tomo de hlio, neutro.

A Figura 3.21 mostra a taxa de perda de energia (poder de freamento) de partculas


alfa de alguns MeV de energia inicial, em funo da distncia percorrida. Observa-se que
a taxa de perda de energia muito maior no final da trajetria da partcula.

102
Figura 3.21 - Taxa de perda de energia de partculas alfa na interao com
um meio material.

3.7.1. Alcance das partculas

A penetrao das partculas alfa muito reduzida, incapaz de ultrapassar a


espessura da pele humana. Pela Figura 3.22 pode-se avaliar o alcance no ar de partculas
alfa em vrios materiais, em funo de sua energia. Observa-se que o alcance menor
para materiais mais densos e que aumenta com a energia da partcula. O valor do alcance
no ar pode ser estimado semi-empiricamente por expresses do tipo:

R 0,318 E 3 / 2

onde <R> o valor mdio do alcance (em cm) e E a energia da partcula alfa (em MeV).
Esta relao vlida para a faixa de energia de 3 a 7 MeV, que abrange quase a
totalidade dos valores de energia das partculas alfa emitidas
Na Figura 3.22 so apresentados os valores de R e R para diferentes meios
absorvedores.

Figura 3.22 - Alcance de partculas alfa em vrios materiais (densidades g.cm-3):


(1) Ar = 0,0013; (2) Tecido = 1,0; (3) Alumnio = 2,70; (4) Cobre = 8,96.

3.7.2. Alcance e atenuao das radiaes no ar e no tecido humano

Conforme foi descrito, as partculas carregadas quando interagem com um


material, nele penetram at transferir toda sua energia, ou seja, possuem um alcance
(range), cujo valor depende da sua energia, da densidade e tipo de material. J as
radiaes eletromagnticas, tipo gama e X, no possuem alcance, mas atenuao

103
exponencial, dependente da sua energia e das caractersticas do material. A Tabela 3.4
mostra o alcance em (cm) ou o percentual de atenuao das radiaes em 100 cm de Ar e
1 cm de Tecido Humano.

Tabela 3.4 - Exemplo de interao das radiaes ionizantes com o ar e tecido humano.

Material de interao
Ar Tecido humano
Tipo de Energia
radiao (MeV) Atenuao Atenuao
Alcance Alcance
(%) (%)
(cm) (cm)
X=100 cm X=1 cm
Alfa 5,5 4 - 0,005 -
Beta 1 300 - 0,4 -
Gama 1 - 0,8 - 6,9
0,030 - 7,7 - 30
Raio X
0,060 - 4,2 - 17,5

3.8. INTERAO DE FRAGMENTOS DE FISSO COM A MATRIA

Fragmentos de fisso so ons de tomos de nmero de massa mdio, com alta


energia cintica e carga elevada, oriundos da fisso nuclear. Quando um ncleo de 235U,
absorve um nutron trmico e fissiona, gera dois ncleos e 2 a 3 nutrons. As massas dos
ncleos gerados em uma fisso com nutrons trmicos normalmente se distribuem em
torno de dois valores bem diferentes de nmero de massa A, um em torno de 90 e outro
de 140.
A perda de energia de um fragmento de fisso atravs da matria se efetua quase
que totalmente por coliso e ionizao. Apesar das energias cinticas serem elevadas,
atingindo 130 MeV, suas velocidades iniciais no so to altas devido sua massa. A
velocidade de um fragmento leve corresponde mais ou menos a de uma partcula alfa de
4 MeV.
Devido a alta carga inica, a ionizao especfica elevada, mas devido a sua
baixa velocidade, a ionizao decresce ao longo da trajetria, o que no ocorre com as
partculas alfa ou com os prtons. Isso consequncia do decrscimo contnuo da carga
inica do fragmento, que pode iniciar com +17e, ao capturar eltrons do meio material.
No processo de fisso, a energia cintica dos fragmentos apresenta valores
distribudos entre 40 MeV e 130 MeV, com dois picos proeminentes centrados em 68,1
MeV e 99,23 MeV para o 235U e 72,86 MeV e 101,26 MeV para o 239Pu correspondentes,
respectivamente, aos valores mdios das energias cinticas dos fragmentos pesado e leve
do ncleo fissionado.
Quando a velocidade dos fragmentos de fisso, num meio material, se aproxima
de 2 106 m.s-1, a perda mdia de energia por unidade de trajetria novamente aumenta,
ao contrrio do comportamento de -dE/dx da partcula alfa. Esse aumento est associado
a um novo mecanismo de perda de energia, que so as colises com os ncleos atmicos.
Tais colises so mais provveis para valores menores da energia do fragmento e valores
maiores de sua carga.
104
3.8.1. Alcance de fragmentos de fisso

A trajetria dos fragmentos num meio material linear, sofrendo distores


somente no seu final devido s colises com ncleos, que so a causa bsica da sua
difuso. O alcance de um fragmento leve maior do que o de um pesado devido maior
energia cintica mdia e menor carga inica.
O alcance do fragmento leve, de massa mdia, no ar cerca de 2,2 cm. Dentro do
prprio material, o fragmento leve (mdio) tem um alcance de 11,3 mg.cm-2, e o
fragmento pesado (mdio) da ordem de 9 mg.cm-2, correspondente a cerca de 0,006 mm
e 0,0047 mm, respectivamente.

3.9. TEMPO DE PERCURSO

O tempo requerido para uma partcula carregada parar num meio absorvedor pode
ser obtido do alcance e da velocidade mdia, usando

R R mc 2 mA
t 1,2 10 7 R
v Kv 2E E

onde R o alcance (em m), v a velocidade inicial da partcula (em m.s-1), K a constante
de proporcionalidade (= 0,5 ou 0,6), mA a massa da partcula em unidade de massa
atmica e E a energia da partcula incidente (em MeV).

3.10. PROCESSOS INTEGRADOS DE INTERAO: DISSIPAO DE


ENERGIA

Quando uma radiao muito energtica interage com a matria, ela desencadeia
um nmero grande de processos que envolvem a transferncia de energia para outras
partculas assim como a criao de outros tipos de partculas que, por sua vez, tambm
vo interagir com a matria.
Dessa forma, um fton muito energtico pode dar origem a um par eltron-
psitron, que pode gerar raios X de freamento, e assim por diante. A Figura 3.22 procura
esquematizar a descrio desses processos. A energia finalmente dissipada sob a forma
de calor e de alteraes no estado de ligao da matria.

105
Figura 3.23 - Processos integrados de interao.

106
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

Attix, Roesch, Tochilin, Radiation Dosimetry, Vol. I, Academic Press, 1966.

www.physics.nist.gov/PhysRefData/XrayMassCoef/ em Summary, Table 3 e Table 4.

K.C. Chung, Introduo Fsica Nuclear, Ed. UERJ, Rio de Janeiro, RJ, 2001.

Samuel Glasstone and Alexander Sesonske, Nuclear Reactor Engineering, D.Van


Nostrand Company, Inc., Princeton, New Jersey, USA, 1962.

G. Robert Keepin, Physics of Nuclear Kinetics, Addison Wesley Publishing Company


Inc., Massachusetts, USA, 1965.

107
CAPTULO 4

EFEITOS BIOLGICOS DA RADIAO

4.1. ESTRUTURA E METABOLISMO DA CLULA

4.1.1. Estrutura bsica da clula

Embora as clulas sejam muito diferentes na aparncia, tanto externa quanto


interna, certas estruturas so comuns s clulas animais e vegetais. Assim, elas so
envolvidas por uma membrana citoplasmtica e contm, na maioria dos casos, um ncleo
facilmente identificvel. No lquido que preenche a clula, o citoplasma, so vistas
organelas envolvidas por membranas, o retculo endoplasmtico e o complexo de Golgi.
As clulas vegetais tm, alm da membrana celular, uma parede mais rgida. Na Figura
4.1. so apresentados diagramas de clulas tpicas de animais e vegetais.
A funo da membrana, alm de proteger e estabelecer os limites fsicos da clula,
est associada ao fato de que todos os nutrientes, secrees e rejeitos precisam passar por
esta barreira. A membrana tem aproximadamente 7,5 nm de espessura, composta
primariamente de fosfolipdeos (20 a 30%) e protenas (50 a 70%). Ao contrrio das
paredes das clulas de muitos vegetais, que feita em 98% de celulose, a membrana
celular precisa de constante renovao qumica. Por meio de uma substncia denominada
de pectina, que uma mistura de polissacardeos, as clulas se acoplam s vizinhas, por
meio da membrana celular.

Figura 4.1 - Diagramas tpicos de clulas animal e vegetal.

No ncleo existem trs componentes: nucleoplasma, cromossomos e os nuclolos.


Os cromossomos consistem de cido desoxirribonucleico (DNA) e protena. Nas clulas
no reprodutivas, os cromossomos so finos filamentos que, durante a diviso celular,
formam uma massa espessa e podem ser facilmente identificados. Os nuclolos so
pequenos corpos que contm nucleoprotenas, a maioria na forma de cido ribonuclico
(RNA). O nucleoplasma contm protena e sais.
O complexo de Golgi consiste de sacos membranosos achatados com vesculas
esfricas nas extremidades, e o principal responsvel pelo transporte seguro dos
compostos sintetizados para o exterior da clula e pela proteo contra o ataque de suas
prprias enzimas.
108
4.1.2. Metabolismo celular

Embora as membranas tenham uma permeabilidade seletiva, seria incorreto supor


que grandes molculas ou partculas penetrem na clula. Existe um mecanismo
denominado de pinocitose, que permite que partculas e molculas inicialmente no meio
exterior, consigam habitar o interior da clula. Na pinocitose, formam-se inicialmente,
pequenos vacolos e canais no citoplasma, induzidos por aminocidos, protenas, sais e
enzimas, que envolvem a partcula, crescem e posteriormente se fecham, j com a
partcula no interior da clula. um mecanismo diferente do transporte ativo, em que o
movimento de molculas regido pelo gradiente de concentrao, ou seja, os solventes
passam de uma regio de baixa concentrao de soluto para uma com alta concentrao
de soluto, pelo mecanismo denominado de osmose. Em certos casos, o soluto atravessa a
membrana semipermevel permanecendo no lado de menor concentrao, num
mecanismo de difuso simples.

4.1.3. Fases da vida celular

4.1.3.1. O ciclo celular

As clulas dos organismos no tem estrutura e funcionamento permanentes. Elas


possuem um ciclo de vida, denominado de Ciclo Celular, ilustrado na Figura 4.2.

Figura 4.2 - Representao das fases do ciclo celular e detalhamento da fase


Mittica.

As modificaes bsicas da clula em cada fase so as seguintes:

G1 = perodo de biossntese (RNA, protenas, enzimas, etc.) no qual a clula


cresce de volume e sintetiza protenas, ribossomas, etc., at o ponto de
restrio, que aps avaliao, evolui para a fase seguinte ou caminha
para a fase G0.

109
S= fase de sntese do DNA. Cada cromossomo duplicado
longitudinalmente, passando a ser formado por 2 cromatdeos ligados
pelo centrmero.
G2 = fase que conduz mitose e que permite formar estruturas a ela
diretamente ligadas; sntese de biomolculas essenciais mitose
Fase Mittica = fase de reproduo da clula.

Assim a clula possui um perodo de vida denominado de interfase, constitudo


pelas fases G1, S e G2 e um perodo de reproduo denominado de fase mittica.
A durao do ciclo celular depende de cada tipo de clula. Para fins de
exemplificao e comparao entre os tempos de cada fase, a Tabela 4.1 ilustra os valores
de durao relativos.

Tabela 4.1 - Durao estimada das fases de um tipo de clula

Fases da clula
Interfase 12 a 30 h
Prfase 1a2h
Metfase 5 a 15 min
Mittica
Anfase 2 a 10 min
Telfase 10 a 30 min

4.1.3.2. Reproduo celular

As clulas se reproduzem pelo processo de mitose ou bipartio. Neste processo


podem ser identificadas 4 fases: prfase, metfase, anfase e telfase.
No incio da prfase, os cromossomos no aparecem duplicados, embora o DNA
seja duplicado antes do incio da mitose. No meio da prfase, os cromossomos aparecem
duplicados.
Na metfase, os cromossomos se alinham num plano e se acoplam s fibras do
fuso mittico.
Os cromossomos se separam e se movem para os polos da clula, durante a
anfase.
Ao final da telfase surgem duas clulas- filhas, ambas contendo cpia de todo o
material gentico da clula inicial. Estas fases podem ser ilustradas na Figura 4.3.

110
Figura 4.3 - Fases da mitose celular.

4.2. INTERAO DA RADIAO COM O TECIDO BIOLGICO

4.2.1. Formas e tipos de irradiao

A correlao entre a exposio radiao ionizante e os efeitos biolgicos


induzidos no homem foi estabelecida, inicialmente, pela observao de efeitos danosos
em pessoas nas primeiras exposies com raios X, e em exposies com radionucldeos
sofridas pelos pioneiros das descobertas sobre radioatividade.
Entretanto, para o seu detalhamento, foi necessria a adoo de modelos de
exposio e hipteses baseadas em extrapolaes, uma vez que dependia claramente, da
quantidade, forma e perodo de exposio, bem como de expectativas de concretizao
dos efeitos, em termos de sua observao, no tempo. Isto porque os dados experimentais
disponveis eram relacionados a exposies com doses elevadas, a acidentes radiolgicos,
s observaes nas vtimas de Hiroshima e Nagasaki ou a experincias com cobaias.
As concluses dos estudos iniciais poderiam ter comparaes e confirmaes
diretas em pacientes submetidos a tratamento de radioterapia ou em experincias em
cobaias, onde propositadamente as doses so elevadas. Entretanto, para o estabelecimento
de recomendaes de segurana para o trabalho rotineiro com a radiao ionizao em
suas diversas aplicaes, aonde as doses so mantidas duas a quatro ordens de grandeza
menores que as anteriormente citadas, a observao dos efeitos biolgicos fica ofuscada
pela ocorrncia de muitos outros efeitos, provocados por outros agentes fsicos ou
qumicos, inclusive ambientais.
Um modelo conservativo em termos de proteo radiolgica seria a correlao
linear entre dose e efeito, mesmo para baixos valores de dose. Este modelo, utilizado at
hoje, se baseia numa extrapolao para doses muito baixas, do ajuste da curva obtida entre
dose e efeitos biolgicos observados em valores elevados. Questiona-se, como bvio,
da sua validade cientfica, pois poderia estar ignorando possveis valores limiares para

111
certos efeitos, ou minimizando a ocorrncia de alguns outros efeitos, devido a influncia
e comportamento de outros fatores nesta regio de baixas doses.

Figura 4.4 - Modelo de extrapolao linear (curva a) para a correlao entre


dose-efeito biolgico, onde no so contabilizados possveis efeitos de
aumento da probabilidade de ocorrncia na regio de doses baixas (curva b)
ou da existncia de limiares ou de fatores de reduo da incidncia dos efeitos
at ento desconhecidos (curva c).

4.2.1.1. Exposio nica, fracionada ou peridica

A exposio do homem ou parte de seus tecidos radiao, pode ter resultados


bastante diferenciados, se ela ocorreu de uma nica vez, de maneira fracionada ou se
periodicamente. As exposies nicas podem ocorrer em exames radiolgicos, como por
exemplo, uma tomografia; de maneira fracionada, como no tratamento radioterpico; ou
periodicamente, como em certas rotinas de trabalho com material radioativo em
instalaes nucleares.
Para uma mesma quantidade de radiao, os efeitos biolgicos resultantes podem
ser muito diferentes. Assim, se ao invs de fracionada, a dose aplicada num paciente em
tratamento de cncer, fosse dada numa nica vez, a probabilidade de morte seria muito
grande. A exposio contnua ou peridica que o homem sofre da radiao csmica,
produz efeitos de difcil identificao. O mesmo no aconteceria, se a dose acumulada
em 50 anos fosse concentrada numa nica vez.
A Figura 4.5 mostra o percentual de sobrevivncia de clulas de mamferos
quando irradiadas com exposio nica ou fracionada.

112
Figura 4.5 - Transformao de clulas expostas radiao do 60Co e nutrons
do espectro de fisso, com exposies nicas e fracionadas.

4.2.1.2. Exposio de corpo inteiro, parcial ou colimada

Um trabalhador que opera com material ou gerador de radiao ionizante pode


expor o corpo todo ou parte dele, durante sua rotina ou num acidente. Um operador de
gamagrafia sofre irradiao de corpo inteiro, na sua rotina de expor, irradiar a pea,
recolher e transportar a fonte. Em alguns acidentes, como a perda e posterior resgate da
fonte de irradiadores, pode expor mais as extremidades que outras partes do corpo. Uma
pessoa que manipula radionucldeos, expe bastante suas mos.
No tratamento radioterpico, a exposio do tumor a feixes colimados de radiao
feita com muita preciso e exatido.

4.2.1.3. Exposio a feixes intensos, mdios e fracos

Na esterilizao e conservao de frutas, especiarias, peixes e carnes, com


radiao gama, as doses aplicadas chegam a 10 kilograys (kGy) e em radioterapia, a 2 Gy
por aplicao. So feixes intensos e capazes de induzir morte uma pessoa, se aplicados
de uma nica vez e no corpo todo. Os feixes utilizados em radiologia so de intensidade
mdia, comparativamente, pois atingem alguns miligrays (mGy), e no devem ser
recebidos por uma pessoa com muita frequncia, sob pena de sofrer algum dano
biolgico. A radioatividade natural induz ao homem doses de radiao da ordem de 1
mGy por ano. Poucos so os efeitos identificveis e atribudos exclusivamente este tipo
de radiao.

4.2.1.4. Exposio a ftons, partculas carregadas ou a nutrons

A grande maioria das prticas com radiao ionizante envolve ftons provenientes
de fontes de radiao gama ou geradores de raios X como as de radiodiagnstico,
radioterapia, radiografia industrial e medio de nvel e densidade. Nas instalaes
nucleares, nos reatores, alm dos ftons, existem fluxos de nutrons gerados na fisso
dentro dos elementos combustveis e que atingem as reas de manuteno e operao da

113
mquina. Alguns medidores de nvel, de densidade e instrumentos para prospeco de
petrleo, utilizam fontes e geradores de nutrons. Os feixes de partculas carregadas tm
nos aceleradores lineares de eltrons, nos cclotrons com feixes de prtons e nos
radionucldeos emissores beta e alfa, os principais representantes.
Os ftons e nutrons constituem as radiaes mais penetrantes e causam danos
biolgicos diferentes conforme a taxa de dose, energia e tipo de irradiao. Os feixes de
eltrons tm um poder de penetrao regulvel, conforme a energia estabelecida na
mquina aceleradora. A radiao beta proveniente de radionucldeos em aplicadores
oftalmolgicos e dermatolgicos tem alcance de frao de milmetro no tecido humano.
As radiaes alfa so muito pouco penetrantes, mas doses absorvidas devido a
radionucldeos de meia-vida curta incorporados nos sistemas respiratrio ou digestivo de
uma pessoa podem causar danos 20 vezes maiores que iguais valores de doses de
radiao X, gama ou beta.

4.2.2. Danos celulares

O processo de ionizao, ao alterar os tomos, pode alterar a estrutura das


molculas que os contm. Se a energia de excitao ultrapassar a energia de ligao entre
os tomos, pode ocorrer quebra das ligaes qumicas e consequentes mudanas
moleculares. Da energia transferida pela radiao ao tecido, metade dela induz
excitaes, cujas consequncias so menores que as de ionizao.
Se as molculas alteradas compem uma clula, esta pode sofrer as consequncias
de suas alteraes, direta ou indiretamente, com a produo de radicais livres, ons e
eltrons. Os efeitos da radiao dependem da dose, taxa de dose, do fracionamento, do
tipo de radiao, do tipo de clula ou tecido e do indicador (endpoint) considerado. Tais
alteraes nem sempre so nocivas ao organismo humano. Se a substncia alterada possui
um papel crtico para o funcionamento da clula, pode resultar na alterao ou na morte
da clula. Em muitos rgos e tecidos o processo de perda e reposio celular, faz parte
de sua operao normal. Quando a mudana tem carter deletrio, ela significa um dano.
Na Figura 4.6 tem-se um quadro representativo dos diversos processos induzidos
pelas interaes da radiao ionizante no tecido humano e a estimativa de durao de cada
processo.

114
Figura 4.6 - Quadro representativo dos diversos processos envolvidos na
interao da radiao ionizante com as clulas do tecido humano, e o tempo
estimado para sua ocorrncia.

Dos danos celulares, os mais importantes so os relacionados molcula do


DNA. As leses podem ser quebras simples e duplas da molcula, ligaes cruzadas (entre
DNA-DNA, entre DNA-protenas), alteraes nos acares ou em bases (substituies ou
delees). Alguns tipos de alteraes que podem ser induzidas por radiao ionizante so
ilustrados na Figura 4.7.

Figura 4.7 - Alguns tipos de alteraes no cromossoma que podem ser


induzidos por radiao ionizante.

115
As aberraes cromossmicas so o resultado de danos no DNA, principalmente
devido s quebras duplas, gerando os dicntricos ou os anis, conforme ilustra a Figura
4.8.
As clulas danificadas podem morrer ao tentar se dividir, ou conseguir realizar
reparos mediados por enzimas. Se o reparo eficiente e em tempo curto, o DNA pode
voltar sua composio original, sem consequncias posteriores. Num reparo propenso
a erros, pode dar origem a mutaes na sequncia de bases ou rearranjos mais grosseiros,
podendo levar morte reprodutiva da clula ou a alteraes no material gentico das
clulas sobreviventes, com consequncias a longo prazo.

TIPO DE QUEBRA REJUNO METFASE


ABERRAO EM G1
REPLICAO
FRAGMENTO
ACNTRICO

ANEL COM
FRAGMENTO
ACNTRICO

DICNTRICO
COM
FRAGMENTO
ACNTRICO

TRICNTRICO
COM
FRAGMENTO
ACNTRICO

Figura 4.8 - Tipos de aberraes cromossomiais que podem ser induzidos


pela radiao ionizante.

4.2.3. Mutaes

As mutaes, nas clulas somticas (do corpo) ou germinativas (das gnadas)


podem ser classificadas em 3 grupos:

a. Mutaes pontuais (alteraes na sequncia de bases do DNA);


b. Aberraes cromossomiais estruturais (quebra nos cromossomos); e
c. Aberraes cromossomiais numricas (aumento ou diminuio no nmero de
cromossomos).

4.2.4. Modificao celular pela radiao

Observando-se o ciclo celular e as fases do ciclo mittico, compreensvel que a


clula no apresente a mesma resposta radiao, devido interferncia dos diversos
tipos de interao da radiao nos diferentes cenrios de vida da clula. As situaes de
maior complexidade ou que exigem acoplamentos finos de parmetros fsico-qumicos
ou biolgicos, devem ser mais vulnerveis s modificaes induzidas pela radiao. Isto
significa que, num tecido onde as clulas componentes vivem aleatoriamente diferentes
fases, as consequncias das interaes de uma mesma radiao, podem ser diferentes em
locais diferentes do mesmo tecido. Assim, quando se fala num determinado efeito
biolgico induzido por radiaes, est embutida uma avaliao estatstica da situao.

116
As mudanas na molcula de DNA podem resultar num processo conhecido como
transformao neoplsica. A clula modificada, mantendo sua capacidade reprodutiva,
potencialmente, pode dar origem a um cncer. O aparecimento de clulas modificadas,
pode induzir o sistema imunolgico a elimin-las ou bloque-las. Entretanto, as clulas
sobreviventes, acabam por se adaptar, devido a modificaes estimuladas por substncia
promotora. A multiplicao deste tipo de clula d origem a um tumor, num estgio
denominado de progresso.
Aps perodo de latncia, se as clulas persistirem na reproduo, superando as
dificuldades de diviso celular, os possveis desvios de percurso devido a diferenciaes
e mecanismos de defesa do organismo, originam o tumor cancergeno.

4.2.5. Morte celular

Quando a dose de radiao elevada (vrios Gy), muitas clulas de tecido


atingidas podem no suportar as transformaes e morrem, aps tentativas de se dividir.
O aumento da taxa de perda pode s vezes ser compensado com o aumento da taxa de
reposio. Neste caso, haver um perodo de transio, onde a funo do tecido ou rgo
foi parcialmente comprometida e posteriormente reposta. A perda de clulas em
quantidade considervel, pode causar prejuzos detectveis no funcionamento do tecido
ou rgo. A severidade do dano caracteriza o denominado efeito determinstico, uma vez
que o limiar de dose que as clulas do tecido suportam, foi ultrapassado. As clulas mais
radiosensveis so as integrantes do ovrio, dos testculos, da medula ssea e do cristalino.

4.2.6. Curvas de sobrevivncia

Utilizando radiaes de alto e baixo LET, com altas e baixas taxas de dose, pode-
se obter o percentual de sobrevivncia de clulas de um tecido ou rgo. Os pontos
experimentais podem ser ajustados matematicamente e, as diversas expresses obtidas
so denominadas de curvas de sobrevivncia. A Figura 4.9 mostra que, para o mesmo
valor da dose de radiao, as radiaes de alto LET (alfa, nutrons, ons pesados) resultam
em menor percentual de sobrevivncia que as de baixo LET (eltrons, beta, ftons).

Figura 4.9 - Curvas de sobrevivncia para clulas de mamferos.

117
4.2.7. Detrimento

O conceito de detrimento, utilizado em proteo radiolgica envolve a


combinao da probabilidade de ocorrncia, severidade (gravidade) e tempo de
manifestao de um determinado dano. Ele a estimativa do prejuzo total que
eventualmente seria experimentado por um grupo ou pessoa expostos radiao,
inclusive seus descendentes.

4.2.8. Risco de efeito biolgico induzido pela radiao ionizante

O conceito de risco muito amplo, pois pode estar associado simplesmente


probabilidade de ocorrncia de determinado efeito biolgico de qualquer tipo, induzido
pela radiao ionizante ou, frequentemente, probabilidade de efeitos srios ou letais,
particularmente a morte por cncer.
Em segurana de reatores, pode significar simplesmente uma expectativa
matemtica da magnitude de consequncias indesejveis.
Uma discusso detalhada, bem como o clculo dos diversos tipos de riscos de
efeitos biolgicos induzidos pelas radiaes ionizantes feito no Anexo C da publicao
60 da ICRP.

O risco total R pode ser obtido aproximadamente como sendo a soma dos riscos
de cada efeito induzido pi,

= =

onde F denominado, frequentemente, o fator ou coeficiente de risco, correspondente


probabilidade para um efeito fatal, por exemplo, um cncer, estimado em 10.000 pessoas
por sievert.

O detrimento G sade de um indivduo obtido pela expresso,

= = .

onde E = dose efetiva = dose equivalente de corpo inteiro HE = HWB.

Na Tabela 4.2, so dados alguns valores, em ordem de grandeza, dos riscos de


danos sade produzidos pelas radiaes ionizantes.

Tabela 4.2 - Riscos de danos sade.

Dano sade Dose Efetiva Risco


(mSv) (%)
Efeito clnico imediato >1000 ~100
Efeito pr-natal 1 0,05
Cncer 1 0,005
Efeito hereditrio 1 0,0005

118
4.2.9. Detectabilidade epidemiolgica

comum as pessoas atriburem certos tipos de efeitos em uma pessoa, ou grupo


de pessoas, radiao ionizante devido ao temor difundido que delas possuem ou muitas
vezes incrementado ambiguamente pelos meios de comunicao.
Entretanto, para se fazer uma atribuio com certo grau de confiabilidade,
preciso que o nmero de pessoas atingidas com certos valores de dose de radiao,
ultrapasse valores mnimos para cada tipo de ocorrncia, para se poder afirmar, em termos
epidemiolgicos, a possibilidade de ocorrncia. Estes valores de dose absorvida ou dose
efetiva recebida, e o nmero requerido para a garantia de ocorrncia de determinado tipo
de efeito denominado de Detectabilidade Epidemiolgica.
H que ressalvar situaes de singularidade em que pequenos valores de dose
podem induzir efeitos biolgicos indesejveis e at letais como o cncer em uma pessoa,
conforme definio de efeitos estocsticos. Em termos de populao e induo
epidemiolgica do efeito, isto requer estatisticamente um tamanho da amostra em funo
do tipo de efeito. Assim, na Tabela 4.3, so indicados os valores do nmero de pessoas
necessrias para a observao experimental da ocorrncia de cncer na tireoide de
crianas em funo da dose absorvida e da constatao de efeito hereditrio em funo
da dose efetiva.

Tabela 4.3 - Detectabilidade epidemiolgica de efeitos biolgicos.

Detectabilidade epidemiolgica
Cncer na tireoide em crianas Efeito hereditrio
Nmero de
Dose Absorvida Dose efetiva Nmero de pessoas
crianas
(mGy) (mSv) (N)
(N)
1 10.000 1 >1.000.000.000.000
10 1.000 10 >10.000.000.000
100 100 100 >100.000.000
1.000 >1.000.000

4.3. ETAPAS DA PRODUO DO EFEITO BIOLGICO PELA RADIAO

4.3.1. Efeitos fsicos

Quando uma pessoa exposta radiao ionizante, nos locais atingidos aparecem
muitos eltrons e ons livres, radicais produzidos na quebra das ligaes qumicas e
energia cintica adicional decorrentes da transferncia de energia da radiao ao material
do tecido, por coliso. Uma significativa frao desta energia produz excitao de tomos
e molculas, que pode ser dissipada, no processo de de-excitao, sob a forma de ftons.
Para radiaes, do tipo raios X e gama, estes efeitos ocorrem de uma maneira mais
distribuda devido ao seu grande poder de penetrao e modo de interao. Para radiao
beta, os efeitos so mais superficiais, podendo chegar a vrios milmetros, dependendo
da energia da radiao. J as radiaes alfa no conseguem penetrar nem um dcimo de
milmetro na pele de uma pessoa. Seus efeitos provocados por exposies externas so
pouco relevantes. Porm, no caso de inalao ou ingesto de radionucldeos alfa-

119
emissores, elas podem danificar seriamente clulas de alguns rgos ou tecidos, pelo fato
de serem emitidas em estreito contato ou no seu interior. Esta fase fsica tem uma durao
da ordem de 10 -13 segundos.
Esta energia adicional transferida pela radiao para uma certa quantidade de
massa de tecido atingido, permite definir algumas grandezas radiolgicas como, Dose
Absorvida e Kerma. A relao entre a parte da energia absorvida e a massa do tecido
denominada de Dose Absorvida, enquanto que a relao entre a quantidade de energia
cintica adicional e a massa de tecido define o Kerma (ver definio mais exata no
Captulo 7). Se o material irradiado for o ar, e se a radiao for ftons X ou gama, a
relao entre a carga adicional, de mesmo sinal, e a massa permite definir a Exposio.
Esta grandeza s definida para o ar e para ftons. Ela pode ser relacionada com as
demais grandezas mediante fatores de converso que levam em conta a energia necessria
para criar um par de ons e a influncia da diferena de composio qumica no processo
de transferncia e absoro de energia.

4.3.2. Efeitos qumicos

Como os tomos e molculas atingidos pela radiao esto dentro de clulas, que
possuem um metabolismo e uma grande variedade de substncias, a tendncia seria a
neutralizao gradual dos ons e radicais, no decorrer do tempo, ou seja a busca do
equilbrio qumico. Esta fase fisicoqumica dura cerca de 10-10 segundos, e nela, os
radicais livres, ons e os agentes oxidantes podem atacar molculas importantes da clula,
inclusive as substncias que compem o cromossomo.
Algumas substncias, como a gua, H2O, ao serem ionizadas podem sofrer
radilise:

radiao => H 2O H 2O e

onde H2O + o on positivo e e - o on negativo. O on positivo forma o radical hidroxil


ao se dissociar na forma:

H 2O H OH

O on negativo, que o eltron, ataca uma molcula neutra de gua, dissociando-


a e formando o radical hidrognio:

H 2O e H 2O H OH

Os radicais hidrognio e hidroxil podem ser formados tambm com a dissociao


da gua, numa excitao:

H 2O H 2O H OH

Alm disso, os eltrons livres podem polarizar as molculas prximas de gua,


formando um eltron-hidratado (e - ag) de vida relativamente longa. Os radicais H, OH
e estes eltrons se difundem e reagem com as biomolculas, podendo danific-las. No
rastro das radiaes de alto LET a densidade de radicais grande e ocorrem muitas
recombinaes, tais como:

120
H OH H 2O

H H H2

OH OH H 2O2

O rendimento de H2 e da gua oxigenada H2O2 na gua pura pequeno, devido



reao de recombinao de H com OH . Mas dentro da clula ou em presena de

oxignio, o H se combina para formar o radical peroxil, que se combina com outro para
formar o perxido de hidrognio H2O2,

H O2 HO2

HO2 HO2 H 2O2 O2

Os radicais e o perxido de hidrognio podem reduzir ou oxidar as molculas


biolgicas.
Reaes tpicas so:

MH + Ho MH20

MH + OH0 MHOH0

MH + H0 M0 + H2

MH + OH0 M0 + H2O

4.3.3. Efeitos biolgicos

Esta fase varia de dezenas de minutos at dezenas de anos, dependendo dos


sintomas. As alteraes qumicas provocadas pela radiao podem afetar uma clula de
vrias maneiras, resultando em: morte prematura, impedimento ou retardo de diviso
celular ou modificao permanente que passada para as clulas de geraes posteriores.
A reao de um indivduo exposio de radiao depende de diversos fatores
como:

Quantidade total de radiao recebida;


Quantidade total de radiao recebida anteriormente pelo organismo, sem
recuperao;
Textura orgnica individual;
Dano fsico recebido simultaneamente com a dose de radiao (queimadura,
por exemplo);
Intervalo de tempo durante o qual a quantidade total de radiao foi recebida.

bom salientar que o efeito biolgico constitui a resposta natural de um


organismo, ou parte dele, a um agente agressor ou modificador. O surgimento destes
efeitos no significa uma doena.

121
Quando a quantidade de efeitos biolgicos pequena, o organismo pode se
recuperar, sem que a pessoa perceba. Por exemplo, numa exposio radiao X ou
gama, pode ocorrer uma reduo de leuccitos, hemcias e plaquetas e, aps algumas
semanas, tudo retornar aos nveis anteriores de contagem destes elementos no sangue.
Isto significa que houve a irradiao, ocorreram efeitos biolgicos sob a forma de morte
celular e, posteriormente, os elementos figurados do sangue foram repostos por efeitos
biolgicos reparadores, operados pelo tecido hematopoitico.

4.3.4. Efeitos orgnicos - Doenas

Quando a quantidade ou a frequncia de efeitos biolgicos produzidos pela


radiao comea a desequilibrar o organismo humano ou o funcionamento de um rgo,
surgem sintomas clnicos denunciadores da incapacidade do organismo de superar ou
reparar tais danos, que so as doenas. Assim, o aparecimento de um tumor cancergeno
radioinduzido, significa j quase o final de uma histria de danos, reparos e propagao,
de vrios anos aps o perodo de irradiao. A ocorrncia de leucemia nos japoneses,
vtimas das bombas de Hiroshima e Nagasaki, teve um mximo de ocorrncia cinco anos
aps. As queimaduras originrias de manipulao de fontes de 192Ir, em acidente com
irradiadores de gamagrafia, aparecem horas aps. Porm, os efeitos orgnicos mais
dramticos, como a reduo de tecido, ou possvel perda dos dedos, podem levar at 6
meses para acontecer.
As fases descritas anteriormente podem ser ilustradas pela Figura 4.10.

Figura 4.10 - Fases do efeito biolgico produzido pela radiao ionizante.

122
4.4. RADIOSSENSIBILIDADE DOS TECIDOS

4.4.1. Efetividade biolgica relativa - RBE

A influncia da qualidade de radiao nos sistemas biolgicos pode ser


quantificada utilizando a Efetividade Biolgica Relativa, Relative Biological
Effectiveness (RBE).
Para um dado tipo de radiao A e supondo constantes todas as variveis fsicas
e biolgicas, exceto o tipo de radiao, a RBE definida pela relao adimensional:

Dosereferncia
RBE ( A)
DoseradiaoA

onde Dosereferncia a dose da radiao de referncia necessria para produzir um


especfico nvel de resposta e Doseradiao A a dose da radiao A necessria para produzir
igual resposta.
Nesta definio, a radiao usada como referncia, nem sempre bem
estabelecida. Em muitos experimentos, utilizou-se a radiao X, filtrada, de 250 kVp. A
relao parece clara, como definio, mas a dificuldade est em estabelecer o que
significa um especfico nvel de resposta.
Para superar possveis indeterminaes, utiliza-se a razo entre as inclinaes
das partes que podem ser consideradas lineares, das curvas de Dose x Efeito, para as
radiaes em estudo A e de referncia. Esta razo, presumivelmente, poder representar
o valor mximo de RBE, ou seja, a RBEM.
Para propsitos de proteo radiolgica, a RBE considerada como sendo funo
da qualidade da radiao, expressa em termos da Transferncia Linear de Energia
(LET). Em muitos sistemas a RBE aumenta com o LET at cerca de 100 keV m -1 e
depois diminui.
A rigor, a RBE para uma determinada radiao no somente dependente do LET,
mas tambm da dose, da taxa de dose, do fracionamento da dose e at da idade da pessoa
exposta. Seu valor s reprodutvel para um determinado sistema biolgico, tipo de
radiao e o conjunto de circunstncias experimentais. Seus valores dependem ento da
natureza e condio do material biolgico, do estado fisiolgico, temperatura,
concentrao de oxignio, condies de nutrio e estgio do ciclo celular.
A magnitude do efeito e tipo de resposta com a dose tambm influenciam, pois as
curvas de resposta nem sempre so semelhantes e regulares; assim, depende do intervalo
de dose em que so comparadas.
A Tabela 4.4 fornece alguns valores mdios da relao entre RBE e LET, na gua.

Tabela 4.4 - Valores mdios do LET e RBE para a gua (ICRP-ICRU,1963).

LET mdio na gua


RBE
keV m-1
3,5 1
3,5 a 7,0 1a2
7,0 a 23 2a5
23 a 53 5 a 10
53 a 175 10 a 20

123
4.4.2. Transferncia linear de energia - LET

O conceito de transferncia linear de energia (Linear Energy Transfer) - LET -


provm da simplificao do Poder de Freamento de Coliso Linear (Linear Collision
Stopping Power), como sendo a perda mdia de energia, por coliso, de uma partcula
carregada por unidade de comprimento. O poder de freamento (stopping power) expressa
o efeito do meio material na partcula, enquanto que o LET expressa o efeito da partcula
no meio, normalmente o tecido humano.
Para entender o significado do LET preciso observar como as partculas
carregadas interagem com o meio material. Por exemplo, um eltron, quer gerado aps
interao de um fton X ou gama com a matria, uma radiao beta ou uma partcula
proveniente de um acelerador linear, interage basicamente com o campo eltrico de sua
carga, influenciado pela sua massa.
Numa viso simples de uma coliso, parece se comportar como o choque de duas
esferas rgidas num mero evento mecnico. Entretanto, sob o ponto de vista fsico, o
eltron interage com vrios eltrons atmicos ao mesmo tempo e, na interao com o
eltron mais prximo, eles se afastam sem se tocar, devido ao aumento da repulso de
seus campos eltricos quando a distncia entre eles muito pequena. Neste evento, pode
haver transferncia ou converso de energia, resultando em excitao ou ionizao do
tomo, emisso de radiao de freamento (bremsstrahlung) e mudana de direo da
partcula.
Como num material existem muitos eltrons, quando um eltron nele incide,
haver uma srie de colises sequenciais, com correspondentes transferncias de energia
e mudanas de direo. A energia inicial do eltron incidente vai sendo gradativamente
transferida para o material, numa trajetria com a forma de linha quebrada. Supondo,
ento, que uma certa quantidade mdia de energia dE foi transferida entre um ponto A de
referncia e um ponto B de avaliao final, aps vrias colises, a relao entre a energia
dE, mdia, e a distncia dx entre os pontos A e B denominada de LET. Quando se fala
em energia localmente cedida pela partcula, est implcito que o percurso da partcula
carregada menor do que o seu alcance (range) no meio material.
Na definio do dE/dx, a partir da perda mdia de energia no espao percorrido,
existe ainda uma dificuldade no explicitada: como acompanhar o eltron incidente se,
aps a primeira coliso, podem sair dois eltrons com energias muito prximas, cada um
gerando uma sequncia semelhante de colises dentro do material. Assim, no
contabilizando as perdas de energia pelas partculas secundrias de alta energia (raios ),
o LET recebe a denominao de Transferncia Linear de Energia Irrestrito, denotado por
L, uma vez que no se fixou um valor de energia de corte no processo de degradao.
Alm disso, acompanhando o percurso de uma partcula carregada num meio
material e o processo de transferncia de sua energia, percebe-se que ela no possui um
valor fixo de LET. Aps cada interao, o valor da energia da partcula diferente e o
valor de dE/dx depende deste valor. O que chamado de LET constitui um valor mdio
obtido de um espectro largo de valores (ver Figura 4.11).
Assim, a separao de radiaes de baixo e alto LET muito arbitrria, embora
de utilidade prtica. Outra observao importante que o termo Linear nada tem a ver
com uma trajetria retilnea. Ele significa simplesmente que a estimativa mais simples
que se faz de dE/dx, supondo que ele possa ser calculado por um desenvolvimento em
srie de Taylor, onde se escolheu o seu valor at o segundo termo, ou seja, o termo linear.

124
Figura 4.11 - Visualizao do processo de transferncia de energia (dE) por
uma partcula carregada (eltron) em funo da distncia percorrida (dx) num
meio material.

Por outro lado, o fator de qualidade Q da radiao como funo do LET, com
seus valores mdios estabelecidos pela ICRP podem constituir guias administrativos de
importncia prtica, mas no de utilidade cientfica, pois muitas incertezas e
aproximaes foram embutidas. por isso que a ICRP, em seu lugar, estabeleceu um
fator de peso wR, obtido de uma reviso de uma grande variedade de tipos de exposio
e informaes biolgicas. Consequentemente, com a introduo do wR foi necessrio a
definio do Dose Equivalente (Equivalent Dose), em substituio ao Equivalente de
Dose (Dose Equivalent).

4.4.3. Radiaes de baixo LET

As radiaes consideradas de baixo LET so: raios X, raios , + e -. Como se


sabe, o LET s definido para radiaes constitudas por partculas carregadas. A
incluso dos raios X e da radiao se deve ao fato de que, aps a primeira interao
com a matria, aparecem eltrons por efeito fotoeltrico, por espalhamento Compton ou
por formao de pares. Por isso, tais radiaes so tambm denominadas de
indiretamente ionizantes.
Os eltrons Auger so tambm considerados radiaes de baixo LET, mas podem
apresentar valores de RBE maiores que os demais eltrons. Entretanto, se o radionucldeo
que os emite no penetrar na clula, os eltrons Auger so incapazes de produzir efeitos
biolgicos, devido ao seu pequeno alcance. Para os que penetram na clula, mas no se
incorporam ao DNA, o RBE de 1,5 a 8. Para os que se incorporam no DNA como o 125I,
o RBE de seus eltrons Auger fica na faixa de 20 a 40.

4.4.4. Induo de cncer pelas radiaes de baixo LET

Para fins de proteo radiolgica, as doses (e taxas de doses), normalmente tm


valores muito baixos, da ordem de mGy ou dezenas de mGy. Para estes valores de dose,
no existem estudos epidemiolgicos suficientes para estabelecer, com segurana, o
formato da curva dose-resposta, ou a existncia de um limiar. Como a maioria das
informaes sobre carcinognese radioinduzida foi obtida com doses acima de 0,1 Gy e

125
com taxas de doses muito altas, fazem-se extrapolaes das curvas de dose-resposta, para
a regio de doses baixas.
Dentre as frmulas matemticas para explicitar tais hipteses, a mais utilizada a
linear-quadrtica (E = D + D2). A denominao linear-quadrtica matematicamente
incorreta, pois, se for linear no pode ser quadrtica. Entretanto, ela muito usada, devido
ao fato de que, para doses baixas, o efeito proporcional dose, ou seja, responde
linearmente e, para doses elevadas, o efeito aumenta com o quadrado da dose.
O comportamento dos efeitos biolgicos que resultam em tumores cancerosos
descrito, matematicamente, da seguinte forma:

a. Para valores de dose muito baixos, por no se ter dados experimentais


inequvocos, supe-se que a probabilidade de incidncia de cncer seja
proporcional dose absorvida;
b. Na regio de doses elevadas, com dados obtidos das vtimas de Hiroshima e
Nagasaki, acidentes radiolgicos e experincias em laboratrio, a
probabilidade de incidncia de cncer varia, na maioria dos casos, com o
quadrado da dose; e
c. Para doses muito elevadas, a probabilidade de induo de cncer decresce
devido a alta frequncia de morte celular, que impede a evoluo para um
cncer.

Assim, a relao entre a dose e a probabilidade de induo de cncer


considerada linear, para radiaes de baixo LET, quando os valores de dose esto abaixo
dos limites recomendados pela ICRP.

4.4.5. Radiaes de alto LET

As radiaes consideradas de alto LET so aquelas que possuem um alto poder de


ionizao e uma alta taxa de transferncia de energia num meio material. Para o mesmo
valor da dose absorvida, so as que induzem maiores danos biolgicos. Partculas alfa,
ons pesados, fragmentos de fisso e nutrons so classificados como radiaes de alto
LET.
As partculas carregadas interagem com os tomos situados defronte linha de
incidncia e tambm nas proximidades, devido a ao da sua carga eltrica e sua massa.
So denominadas de radiaes diretamente ionizantes. As radiaes denominadas de
indiretamente ionizantes s so percebidas pelo material, aps a primeira ionizao,
quando liberam eltrons; caso contrrio, atravessam o material sem interagir.

4.4.6. Induo de cncer pelas radiaes de alto LET

Para as radiaes de alto LET, o fracionamento da dose produz o mesmo efeito ou


at o aumenta. Este fenmeno denominado de efeito reverso da taxa de dose, conforme
mostra a Figura 4.12.
As radiaes de alto LET causam mais danos por unidade de dose que as de baixo
LET. Para efeito de morte celular, o RBE de 2 a 3. Para efeitos determinsticos,
geralmente no excede a 10.

126
Figura 4.12 - Formas de curvas dose-resposta, para radiaes de baixo e alto
LET, para induo de efeitos estocsticos.

4.4.7. Fator de eficincia da dose e da taxa de dose - DDREF

A ICRP julga que quando se obtm coeficientes de probabilidade de induo de


cncer num dado rgo, obtidos com altas doses e altas taxas de dose de radiaes de
baixo LET, para aplic-los em estimativas com baixas doses ou baixas taxas de dose,
deve-se utilizar um fator de reduo, o DDREF (Dose and Dose Rate Effectiveness
Factor). Este fator no se aplica para dados obtidos com radiaes de alto LET.

4.4.8. O fator de reduo DDREF

Para fins de proteo radiolgica, a ICRP (60) recomenda a incluso de um fator


de reduo (DDREF) nos coeficientes de clculo da probabilidade de induo de cncer
devido a doses baixas (< 0,2 Gy) e baixas taxas de dose (<0,19 Gy/h) de radiaes de
baixo LET.
Devido variedade de tipos de tumor, nos diversos tecidos ou rgos, e
considerando que os valores atribudos ao DDREF dependem dos intervalos de valores
de dose e taxa de dose estudados, alguns organismos internacionais, como a NCRP e
UNSCEAR, sugeriram o uso de um valor entre 2 e 10, aps a reviso dos dados
experimentais disponveis. Por exemplo, para o 60Co, a reduo de expectativa de vida
devido a tumores, com exposies nicas, fracionadas e contnuas, o DDREF = 5. A ICRP
recomenda, para propsitos de proteo radiolgica, um valor conservativo e arbitrrio
de DDREF = 2.

4.4.9. Obteno do DDREF

O fator de reduo DDREF obtido, matematicamente, da curva de resposta


Probabilidade de Induo de Cncer versus Dose Absorvida, para o sistema biolgico
estudado, e nas faixas de dose e de taxa de dose de interesse. Assim, considerando uma
curva de resposta conforme mostra a Figura 4.13, o DDREF obtido pela expresso:

L
DDREF
1

127
onde L a inclinao da reta de ajuste dos dados experimentais dos pontos de altas doses
ou altas taxas de dose (DDREF tem valores altos) e 1 a inclinao da reta de ajuste dos
dados experimentais dos pontos (poucos pontos) de baixas doses ou baixas taxas de dose
(DDREF com valor prximo de 1).

Figura 4.13 - Curva de resposta: probabilidade de induo de cncer versus


dose absorvida, do tipo Linear-Quadrtica, p = D + D2.

4.5. CLASSIFICAO DOS EFEITOS BIOLGICOS

4.5.1. Denominao dos efeitos biolgicos

Os efeitos radioinduzidos podem receber denominaes em funo do valor da


dose e forma de resposta, em funo do tempo de manifestao e do nvel orgnico
atingido. Assim, em funo da dose e forma de resposta, so classificados em estocsticos
e determinsticos; em termos do tempo de manifestao, em imediatos e tardios; em
funo do nvel de dano, em somticos e genticos (hereditrios).

4.5.2. Efeitos estocsticos

So efeitos em que a probabilidade de ocorrncia proporcional dose de


radiao recebida, sem a existncia de limiar. Isto significa que doses pequenas, abaixo
dos limites estabelecidos por normas e recomendaes de proteo radiolgica, podem
induzir tais efeitos. Entre estes efeitos, destaca-se o cncer.
A probabilidade de ocorrncia de um cncer radioinduzido depende do nmero de
clones de clulas modificadas no tecido ou rgo, uma vez que depende da sobrevivncia
de pelo menos um deles para garantir a progresso. O perodo de aparecimento (deteco)
do cncer aps a exposio pode chegar at 40 anos. No caso da leucemia, a frequncia
passa por um mximo entre 5 e 7 anos, com perodo de latncia de 2 anos. Na Figura 4.14
apresentada uma estimativa do tempo de latncia para o aparecimento de cncer aps
exposio.

128
Figura 4.14 - Tempo de latncia para aparecimento de cncer aps irradiao.

4.5.3. Efeitos determinsticos

So efeitos causados por irradiao total ou localizada de um tecido, causando um


grau de morte celular no compensado pela reposio ou reparo, com prejuzos
detectveis no funcionamento do tecido ou rgo. Existe um limiar de dose, abaixo do
qual a perda de clulas insuficiente para prejudicar o tecido ou rgo de um modo
detectvel. Isto significa que os efeitos determinsticos so produzidos por doses
elevadas, acima do limiar, onde a severidade ou gravidade do dano aumenta com a dose
aplicada. A probabilidade de efeito determinstico, assim definido, considerada nula
para valores de dose abaixo do limiar, e 100%, acima.
Alm da severidade, os efeitos determinsticos variam com a frequncia em que
um dado efeito, definido como condio patolgica reconhecvel, aumentando em funo
da dose, em uma populao de indivduos com diferentes susceptibilidades (curvas a, b
e c), conforme ilustra a Figura 4.15.

129
Figura 4.15 - Relaes tpicas entre dose e gravidade do dano (severidade),
para efeitos determinsticos numa populao.

Exemplos de efeitos determinsticos na pele so: eritema e descamao seca para


dose entre 3 e 5 Gy, com sintomas aparecendo aps 3 semanas; descamao mida acima
de 20 Gy, com bolhas aps 4 semanas; necrose para dose acima 50 Gy, aps 3 semanas.
Na Tabela 4.5 so apresentados os limiares de dose para efeitos como esterilidade
temporria ou permanente, opacidade das lentes, catarata, e depresso do tecido
hematopoitico, para exposies nica e fracionada.

4.5.4. Efeitos somticos

Surgem do dano nas clulas do corpo e o efeito aparece na prpria pessoa


irradiada. Dependem da dose absorvida, da taxa de absoro da energia da radiao, da
regio e da rea do corpo irradiada.

4.5.5. Efeitos genticos ou hereditrios

So efeitos que surgem no descendente da pessoa irradiada, como resultado do


dano produzido pela radiao em clulas dos rgos reprodutores, as gnadas. Tm
carter cumulativo e independe da taxa de absoro da dose.

130
Tabela 4.5 - Limiares de dose para efeitos determinsticos nas gnadas,
cristalino e medula ssea.

LIMIAR DE DOSE
Dose Equivalente Total Taxa de Dose Anual
Dose Equivalente Total
TECIDO E EFEITO recebida numa exposio recebida em exposies
recebida em uma nica
fracionada ou fracionadas ou
exposio
prolongada prolongadas por muitos
anos
(Sv)
(Sv) (Sv)
Gnadas
- esterilidade temporria 0,15 ND 0,40
- esterilidade 3,5 - 6,0 ND 2,00
Ovrios
- esterilidade 2,5 - 6,0 6 > 0,2
Cristalino
- opacidade detectvel 0,5 - 2,0 5 > 0,1
- catarata 5,0 >8 > 0,15
Medula ssea
- depresso de hematopoiese 0,5 ND > 0,4

4.5.6. Efeitos imediatos e tardios

Os primeiros efeitos biolgicos causados pela radiao, que ocorrem num perodo
de poucas horas at algumas semanas aps a exposio, so denominados de efeitos
imediatos, como por exemplo, a radiodermite. Os que aparecem depois de anos ou mesmo
dcadas, so chamados de efeitos retardados ou tardios, como por exemplo, o cncer.
Se as doses forem muito altas, predominam os efeitos imediatos, e as leses sero
severas ou at letais. Para doses intermedirias, predominam os efeitos imediatos com
grau de severidade menor, e no necessariamente permanentes. Poder haver, entretanto,
uma probabilidade grande de leses severas a longo prazo. Para doses baixas, no haver
efeitos imediatos, mas h possibilidade de leses a longo prazo.
Os efeitos retardados, principalmente o cncer, complicam bastante a implantao
de critrios de segurana no trabalho com radiaes ionizantes. No possvel, por
enquanto, usar critrios clnicos porque, quando aparecem os sintomas, o grau de dano
causado j pode ser severo, irreparvel e at letal. Em princpio, possvel ter um critrio
biolgico e espera-se algum dia ser possvel identificar uma mudana biolgica no ser
humano que corresponda a uma mudana abaixo do grau de leso. Por enquanto, utilizam-
se hipteses estabelecidas sobre critrios fsicos, extrapolaes matemticas e
comportamentos estatsticos.

4.6. REVERSIBILIDADE, TRANSMISSIVIDADE E FATORES DE INFLUNCIA

4.6.1. Reversibilidade

A clula possui muitos mecanismos de reparo, uma vez que, durante sua vida,
sofre danos provenientes de substncias qumicas, variao da concentrao inica no
processo de troca de nutrientes e dejetos junto membrana celular, danos fsicos
produzidos por variaes trmicas e radiaes. Mesmos danos mais profundos,
produzidos no DNA, podem ser reparados ou compensados, dependendo do tempo e das
condies disponveis. Assim, um tecido atingido por uma dose de radiao nica e de

131
baixo valor, tem muitas condies de recuperar sua integridade, mesmo que nele haja um
certo percentual de morte de suas clulas. Em condies normais, ele repe as clulas e
retoma o seu ritmo de operao. Nestas condies, pode-se dizer que o dano foi reversvel.
Entretanto, para efeito de segurana, em proteo radiolgica, considera-se que o efeito
biolgico produzido por radiao ionizante de carter cumulativo, ou seja, despreza-
se o reparo do dano.

4.6.2. Transmissividade

Outra questo importante que o dano biolgico produzido numa pessoa no se


transmite. O que pode eventualmente ser transmitido um efeito de doses elevadas que,
lesando significativamente as clulas reprodutivas, pode resultar num descendente
portador de defeito gentico. No h relao nenhuma entre a parte irradiada numa pessoa
e o local de aparecimento do defeito no organismo do filho.
Uma pessoa danificada pela radiao, mesmo exibindo sintomas da sndrome de
irradiao aguda, pode ser manuseada, medicada e transportada como um doente
qualquer, pois sua doena no pega. O cuidado que se deve ter no tratamento destas
pessoas, o dos mdicos, enfermeiros, demais pessoas e instalaes de no contamin-
las por vrus ou bactrias por eles portados, uma vez que, a resistncia imunolgica dos
pacientes est muito baixa.
As pessoas que sofreram contaminao, interna ou externa, com radionucldeos
que precisam ser manuseadas com cuidado, pois tais radionucldeos podem estar
presentes no suor, na excreta e muco das vtimas. Por exemplo, as vtimas do acidente
com o 137Cs, em 1987 em Goinia, tiveram que ficar isoladas e, durante o tratamento
especial, os tcnicos tiveram que usar macaces, luvas, mscaras e sapatilhas para no se
contaminar radioativamente e no contaminar biologicamente os enfermos.

4.6.3. Fatores de influncia

4.6.3.1. Idade

Pessoas que recebem a mesma dose de radiao no apresentam os mesmos


danos e nem sempre respondem em tempos semelhantes. A relao dose-resposta o
resultado estatstico obtido de vrios experimentos, in vivo, in vitro e em acidentes com
radiao. Existem alguns fatores que modificam a resposta ou o efeito biolgico, como
por exemplo, a idade, o sexo e o estado fsico.
O indivduo mais vulnervel radiao quando criana ou quando idoso. Na
infncia, os rgos, o metabolismo, as propores ainda no se estabeleceram
definitivamente e, assim, alguns efeitos biolgicos podem ter resposta com intensidade
ou tempo diferentes de um adulto.
Por exemplo, com relao ao tempo de reteno de um radionucldeo como o
137
Cs, na forma de cloreto de csio, a meia-vida efetiva na criana cerca de 55 dias,
enquanto que, num adulto de 110 dias. Isto significa, por um lado, queo 137Cs teve menos
tempo para irradiar os rgos internos, o que resultaria numa expectativa de menor dose
de radiao. Por outro lado, como o processo de multiplicao celular muito
significativo nesta fase da vida do indivduo, as clulas so mais sensveis radiao,
morrendo em maior quantidade, mesmo que a reposio ocorra com uma taxa maior.
Alm disso, os rgos esto mais prximos, facilitando o aumento da dose num rgo,
quando existe outro com maior incidncia de contaminao. No caso do idoso, o processo

132
de reposio ou reparo celular de pouca eficincia e a resistncia imunolgica menor
que a de um adulto normal.

4.6.3.2. Sexo

As mulheres so mais sensveis e devem ser mais protegidas contra a radiao que
os homens. Isto porque possuem rgos reprodutores internos e os seios so constitudos
de tecidos muito sensveis radiao. Alm disso, existe o perodo de gestao, onde o
feto apresenta a fase mais vulnervel radiao e a me tem seu organismo bastante
modificado em forma, composio hormonal e qumica.
Alm destes fatores, normalmente a mulher possui concentrao dos elementos
qumicos em menor quantidade que os homens, organismo mais delicado e complexo,
ciclos e modificaes hormonais mais frequentes e intensas.

4.6.3.3. Estado fsico

O estado fsico do irradiado influencia bastante na resposta do indivduo


radiao. Se uma pessoa forte, resistente, bem alimentada, sua resposta aos possveis
danos da radiao ser atenuada quando comparada uma pessoa fraca, subalimentada e
com deficincia imunolgica. Isto esperado em relao a qualquer agente agressor,
interno ou externo. A avaliao do estado fsico importante quando da tomada de
deciso para o tratamento de radioterapia de uma pessoa com cncer, pois, em alguns
casos, o tratamento poderia resultar num agravamento do quadro clnico.
Um fato notvel a composio dos efeitos danosos da radiao com outros
fatores agressivos ao organismo, como por exemplo, o fumo. Dentre os males causados
pelo fumo, destaca-se o cncer nas vias respiratrias. Assim, a diferena entre a
frequncia de incidncia, por exemplo, de cncer no pulmo em trabalhadores de minas
de explorao de urnio, fumantes e no fumantes, pode atingir quase um fator dez, para
o mesmo valor de dose absorvida, conforme mostra a Figura 4.16.

14

12

10

0
0 300 600 900 1200 1500 1800 2100

Figura 4.16 - Variao da incidncia do cncer de pulmo em trabalhadores


de minas de urnio, fumantes e no fumantes.

133
4.7. EFEITOS BIOLGICOS PR-NATAIS

Para uma melhor compreenso dos efeitos pr-natais induzidos pelas radiaes
ionizantes, a evoluo de um feto descrita simplificadamente na Tabela 4.6, onde o
perodo de avaliao de semanas.

Tabela 4.6 - Evoluo das caractersticas do feto em funo do tempo.

Semanas Situao Semanas Situao


Incio do ciclo menstrual que
1 22 Pelos visveis
resulta na gravidez
4 Formao do embrio 23 Feto mexendo
Sistema circulatrio e corao
5 em formao, primrdios do 24 21 cm, 650 g
sistema nervoso central
Membros superiores e
6 25 Ganho de peso
inferiores brotando
Embrio com 8 mm, formao
7 26 Ganho de peso
da face
13 mm, dedos e orelhas
8 27 Olhos comeam a abrir
visveis
9 18 mm 28 ~1 kg
Sistema nervoso central mais ou
10 30 mm 29
menos desenvolvido
50 mm, formao do
Implantao placentria, feto de
11 estmago, bexiga, massa 30
cabea para baixo
enceflica, coluna
61 mm, face, unhas e dedos se Formao do fmur e
12 31
desenvolvendo endurecimento sseo
Bexiga estufando, pele se
13 32 Contraes uterinas
desenvolvendo
14 Estmulo cardaco 33 Ganho de peso
15 Sexo fetal definido 34 Feto com ~2 kg
16 Ossificao fetal 35 Pulmes endurecendo
17 Movimentao 36 Contraes uterinas
Feto maduro, ganho de peso 200
18 Diferenciao sexual 37
a 250 g/semana
Sistemas circulatrio,
19 digestivo e urinrio 38 Contraes uterinas
funcionando
Fim da gestao, dilatao do
20 500 g, movimentao 39
colo uterino
21 Soluo fetal 40 Parto

Para fins de Proteo Radiolgica, a publicao N 89 da ICRP, de 2001)


estabelece os valores de referncia para as dimenses, massas, contedo de todas as fases
do corpo humano, desde a fase embrionria at a adulta.
Os efeitos biolgicos pr-natais induzidos pela radiao ionizante podem ser
avaliados em duas situaes: a) os induzidos por radionucldeos ingeridos ou inalados
pela me e transferidos ao embrio ou feto; b) os induzidos pela radiao externa, durante
o perodo de gravidez.
No relatrio da UNSCEAR de 1986, denominado Genetic and Somatic Effects of
Ionizing Radiation, foram avaliados dados de experimentos com animais e das pessoas
expostas em Hiroshima e Nagasaki, e enfocados, principalmente, os temas:

134
a) efeitos letais no embrio;
b) mal-formaes e outras alteraes estruturais e no crescimento;
c) retardo mental;
d) induo de doenas, incluindo a leucemia; e
e) efeitos hereditrios.

Na publicao N 60 da ICRP, de 1990, a questo da irradiao do feto, durante o


perodo de gestao foi estudada onde os valores das probabilidades de induo de efeitos
por radiaes de baixo LET foram determinados. Eles so resumidos na Tabela 4.7.

Tabela 4.7 - Valores das probabilidades de induo de efeitos biolgicos


induzidos por radiaes de baixo LET no feto.

Probabilidade de efeitos - Radiao de baixo LET


Perodo de exposio Modo de
Efeito Populao Probabilidade
(semanas) exposio
Doses elevadas 30 pontos no QI
Reduo do QI Feto 8 a 15 de gestao
Altas taxas de dose Sv-1
Retardo Mental Doses elevadas
Feto 8 a 15 de gestao
Severo Altas taxas de dose 40x10-2 a 1 Sv

A Publicao No.88 da ICRP de 2001, intitulada: Dose to the Embryo and Fetus
from Intake of Radionuclides by the Mother, apresenta um estudo aprofundado sobre a
questo, levando em conta a transferncia de radionucldeos pela placenta, distribuio e
reteno no tecido fetal.
So apresentados os modelos Biocinticos e Dosimtricos para o clculo das doses
no embrio, no feto e recm-nascido resultantes da ingesto ou inalao de radionucldeos
pela me, antes ou durante a gravidez. So exibidas as tabelas para cada radionucldeo,
rgo ou sistema do corpo humano.
Para a avaliao das doses, foram considerados trs perodos: o perodo de pr-
implantao, com durao de 0 a 8 dias; o perodo embrionrio de organognese, com
durao de 9 a 56 dias e; o perodo fetal de crescimento, com durao de 57 a 266 dias.

Tabela 4.8 - Risco de efeitos biolgicos pr-natais, deletrios sade


humana, induzidos pela radiao ionizante.

Exposio Pr-natal
Risco de efeito
(semanas)
At 3 No resulta em efeitos estocsticos ou deletrios aps nascimento
4-14 M-formao e efeitos determinsticos (0,1 a 0,5 Gy)
Sistema nervoso central muito sensvel radiao D>100 mGy, inicia
8 a 25
o decrscimo do QI
8 a 15 Alta probabilidade de retardo mental severo
16 a 25 Menor sensibilidade do sistema nervoso central.

135
4.8. USO DE EFEITOS BIOLGICOS NA TERAPIA

4.8.1. Radioterapia

O fato de radiaes penetrantes, do tipo raios X e gama, induzirem danos em


profundidades diferentes do organismo humano e, com isso, causar a morte de clulas,
pode ser utilizado para a terapia do cncer. Assim, tumores profundos podem ser
destrudos ou regredidos sob a ao de feixes de radiao gama adequadamente aplicados.
Como a intensidade do feixe decai exponencialmente com a espessura de tecido
penetrado, a dose e a correspondente quantidade de dano produzido, so maiores na
superfcie de entrada do que no ponto de localizao do tumor. Isto irradiaria, com maior
dose, os tecidos de entrada e intermedirio, desnecessariamente. Para minimizar isso,
focaliza-se sempre o tumor, e aplica-se o feixe de radiao em diferentes direes,
movendo o irradiador ou o paciente, de modo que a dose induza morte as clulas do
tumor e o tecido sadio irradiado seja naturalmente reposto. O uso de raios X semelhante,
com a diferena que se pode variar o poder de penetrao da radiao e a intensidade de
feixe.
Para tumores localizados em certas regies do corpo prefervel utilizar fontes de
radiao gama aplicadas diretamente sobre eles, numa tcnica conhecida como
Braquiterapia. Dependendo da situao, podem-se embutir fontes perto do local afetado,
como as antigas agulhas de 226Ra e as sementes de 137Cs, 60Co e 192Ir, ou irradiar o tumor
com uma fonte prxima, por meio de um aplicador.

4.8.2. Aplicaes oftalmolgicas e dermatolgicas

Em alguns tratamentos ps-cirrgicos, pode ser utilizado um aplicador do tipo


oftalmolgico ou dermatolgico, contendo um radioistopo emissor beta puro, do tipo
90
Sr, cujas radiaes causam dano superficial devido baixa penetrao da radiao. Isto
pode danificar um pouco a lente dos olhos ou a pele da pessoa, mas, em compensao, o
efeito de cauterizao resultante pode acelerar a cicatrizao, evitar a hemorragia ou a
formao de quelides (cicatrizes indesejveis), respectivamente.

4.8.3. Aplicao de radiofrmacos

Na obteno de imagens de rgos, tecidos e sistemas do corpo humano, podem


ser utilizados feixes externos de raios X ou as radiaes gama emitidas por radioistopos
neles incorporados, utilizando radiofrmacos apropriados.
Nestes exames de radiodiagnstico, o tempo de exposio varia de frao de
segundos at algumas horas. O dano causado depende da dose absorvida, que
acumulativa, mas de valor muito menor quando comparada com as aplicadas em
radioterapia.
Na Figura 4.17 tem-se uma ilustrao dos principais radiofrmacos utilizados e
seus respectivos rgos ou tecidos de incorporao preferencial.

136
Figura 4.17 - Incorporao preferencial de radioistopos nos tecidos e rgos
do corpo humano, em funo do tipo de composto qumico utilizado, para
produo de imagens em gama-cmaras para diagnstico em Medicina
Nuclear.

4.9. SNDROME DE IRRADIAO AGUDA

4.9 1. Exposies acidentais com altas doses

A exposio com feixes externos de radiao e, em alguns casos, com


contaminao interna por radionucldeos, pode resultar em valores elevados de dose
absorvida, envolvendo partes do corpo ou todo o corpo. Estas exposies ocorrem em
situaes de acidente, envolvendo fontes radioativas de alta atividade ou feixes de
radiao intensos produzidos por geradores de radiao ionizante, como aceleradores de
partcula, reatores e mquinas de raios X.
Como resultado destas exposies o organismo humano desenvolve reaes
biolgicas que podem se manifestar sob a forma de sintomas indicativos de alteraes
profundas provocadas pela radiao, conhecidos como Sndrome de Irradiao Aguda
ou, como denominam algumas pessoas, Sndrome de Radiao Aguda.
Na anlise microscpica do organismo humano, percebe-se que muitas clulas
tiveram, entre outros danos, seus cromossomos atingidos e, algumas clulas exibem
aberraes cromossomiais. Estas aberraes cromossomiais podem ser observadas com
auxlio de um microscpio ptico depois de devido procedimento de cultura biolgica,
separao e tratamento do material amostrado para anlise, por exemplo, o sangue.
O cromossomo normal tem a forma de um X. As formas mais caractersticas de
aberraes produzidas so os denominados cromossomos dicntricos e em forma de anel.
Os dicntricos so formados pela emenda aleatria de dois cromossomos mutilados pela

137
radiao, cada um contribuindo com um centro. Os anis aparecem quando um mesmo
cromossomo cortado nas duas extremidades, e elas se ligam formando um anel. A
frequncia relativa de dicntricos e anis depende da dose, da energia da radiao e do
tipo de radiao. Na Figura 4.18 so apresentadas curvas que expressam a variao do
nmero de aberraes com o tipo e energia da radiao.

Figura 4.18 - Frequncia de cromossomos dicntricos para clulas


submetidas radiao gama do 60Co e a nutrons de vrias energias.

4.9.2. Exposio externa localizada

As leses mais severas produzidas por exposies localizadas e de altas doses so,
resumidamente:

a. Leses na pele
- eritema precoce 3 < D < 10 Gy
- epiderme seca 10 < D < 15 Gy
- epiderme exudativa 15 < D < 25 Gy
- queda de pelos e cabelos
- radiodermite
- necrose D > 25 Gy

b. Leses no olho
- ocorre para D > 2 Gy
- catarata D> 5 Gy

138
c. Leses nas gnadas

- Homem
-esterilidade temporria D > 0,15 Gy
- esterilidade definitiva 3,5< D > 6 Gy
- Mulher
- alteraes provisrias na fecundidade D > 2,5 Gy
- esterilidade 3 < D < 6 Gy

d. Leso no Feto
- efeitos em funo da dose e idade do feto

4.9.3. Exposio de corpo inteiro de um adulto

Quando uma pessoa exposta radiao gama em corpo inteiro, ou no caso


ignorado, considerado como tal, os valores limiares de dose absorvida para o caso de 1%
de Morbidez e Mortalidade so apresentados na Tabela 4.9, conforme a publicao 103
da ICRP de 2007.
A morbidez pode ser definida como o nmero de doenas produzidas em
determinado rgo, tecido ou sistema de uma pessoa quando submetida a uma
determinada causa. Pode significar tambm a taxa de portadores de determinada doena,
em relao populao total estudada em determinado local e momento. O valor de 1%
de morbidez e mortalidade significa uma em 100 pessoas expostas.

Tabela 4.9 - Limiares estimados de doses absorvidas agudas gama para 1%


de morbidez e mortalidade, aps exposio de corpo inteiro de uma pessoa.
(ICRP 103, 2007).

Tempo de Dose Absorvida


Efeito rgo/Tecido
Desenvolvimento (Gy)
MORBIDADE 1% de incidncia
Esterilidade temporria Testculos 3-9 semanas ~ 0,1
Esterilidade permanente Testcuos 3 semanas ~6
Esterilidade permanente Ovrios < 1 semana ~3
Depresso do sangue Medula ssea 3-7 semanas ~ 0,5
Avermelhamento da pele Pele (grande rea) 1-4 semanas <3a6
Queimadura da pele Pele (grande rea) 2-3 semanas 5 a 10
Perda temporria de cabelo Pele 2-3 semanas ~4
Catarata Olho Vrios anos ~ 1,5
MORTALIDADE 1% de incidncia
Sndrome da medula ssea
vemelha
Sem tratamento mdico Medula ssea 30-60 dias ~1
Com tratamento mdico Medula ssea 30-60 dias ~2a3
Sndrome gastrointestinal
Sem tratamento mdico Intestino delgado 6-9 dias ~6
Com tratamento mdico Intestino delgado 6-9 dias >6
Pneumonite Pulmo 1-7 meses 6

139
4.9.4. Sindrome de irradiao aguda

O conjunto e a sucesso de sintomas que aparecem em vtimas de acidentes


envolvendo doses elevadas de radiao denominado de Sndrome de Irradiao Aguda.
Os sistemas envolvidos so o circulatrio, particularmente o tecido hematopoitico, o
gastrointestinal e o sistema nervoso central. A Tabela 4.10 mostra, de modo simplificado, os
sintomas associados a diferentes valores de dose elevadas.

Tabela 4.10 - Sndrome de irradiao aguda.

DOSE
FORMA ABSORVIDA SINTOMAS
(Gray)
Infra-clnica <1 Ausncia de sintomas, na maioria dos indivduos
Reaes leves Astenia, nuseas e vmitos de 3 a 6 horas aps a exposio.
1a2
generalizadas Efeitos desaparecendo em 24 horas
Depresso da funo medular (linfopenia, leucopenia,
Sndrome
2a4 trombopenia, anemia). Mximo em 3 semanas aps a
Hematopoitica Leve
exposio e voltando ao normal em 4 a 6 meses.
Sndrome
4a6 Depresso severa da funo medular
Hematopoitica Grave
Sndrome do Sistema
6a7 Diarreia, vmitos, hemorragias
Gastrointestinal
Sndrome Pulmonar 7 a 10 Insuficincia respiratria aguda
Sndrome do Sistema
>10 Coma e morte. Horas aps a exposio.
Nervoso Central

A dose letal mdia fica entre 4 e 4,5 Gy. Isto significa que, de 100 pessoas
irradiadas com esta dose, metade morre.
Na Tabela 4.11 so apresentados a chance de sobrevivncia, o tempo de
manifestao e os sintomas.

Tabela 4.11 - Sintomas de doena resultantes da exposio aguda radiao


ionizante, em funo do tempo.

TEMPO DE SOBREVIVNCIA
MANIFESTAO PROVVEL POSSVEL IMPROVVEL
(semanas) 1 - 3 Gy 4 - 7 Gy > 8 Gy
Nusea, vmito, diarreia,
Fase latente, nenhum garganta inflamada, lcera,
1 Nusea, vmito
sintoma definido febre, emagrecimento
rpido, morte
Depilao, perda de apetite,
indisposio, garganta
2
dolorida, diarreia,
emagrecimento, morte.
Depilao, perda de
3
apetite, indisposio
Garganta dolorida,
diarreia,
4
emagrecimento
moderado

140
A Tabela 4.12 apresenta, em ordem aproximada de gravidade crescente, os
sintomas e sinais no estgio prodrmico e sndrome da irradiao aguda.

Tabela 4.12 - Sintomas e sinais no estgio prodrmico e sndrome de


irradiao aguda em ordem aproximada de crescente gravidade.

Anorexia (perda de apetite)


Nusea
Vmito
Debilidade e fadiga
Prostrao
Diarreia
Conjuntivite
Eritema (vermelhido cutnea)
Choque (falncia aguda da circulao perifrica)
Oliguria (reduo da excreo urinria)
Ataxia (perda da coordenao dos movimentos)
Desorientao
Coma (alterao grave da vigilidade - encfalo)
Morte

Para se ter uma compreenso mais significativa destes eventos sintomticos, em


termos de dose absorvida e tempo de manifestao, a Figura 4.19 mostra o
comportamento mdio das pessoas, em termos probabilsticos, quando expostas a altas
doses de radiao ionizante.

Sintomas iniciais Risco de dano fatal na


(Prodrmica) ausncia de tratamento
Gravidade

Fase 25
10 Fase crtica
precoce
5
y)
e (G

3
Dos

1,5

0,5

2 1530 2 4 6 12 2 3 4 5 6 2 3 4 5
minutos horas dias semanas
Tempo aps a exposio

Figura 4.19 - Evoluo mdia de pessoas irradiadas em relao ao tempo e


em funo da dose.

141
Na Figura 4.19 os sintomas so caracterizados por trs parmetros: a dose
absorvida, a gravidade (severidade) do dano e o tempo de manifestao aps a exposio.
Assim, por exemplo, para um indivduo exposto a uma dose de 5 Gy, sua fase
Prodrmica se inicia quase 15 minutos aps a exposio e desaparece em torno de 8 horas.
Sua fase crtica esperada aps 3,5 dias, devendo-se ter um cuidado extremo com
ele aps 3 semanas, quando o indivduo corre srio risco de morrer.
Em decorrncia do acidente de Chernobyl, 1986, vrias pessoas foram fortemente
irradiadas, principalmente as ligadas ao atendimento da situao de emergncia. Na
Tabela 4.13, so mostrados alguns dados das pessoas que foram atendidas nos hospitais
de Moscou e de Kiev. Na Figura 4.20 mostrado o nmero de casos por 100.000 pessoas
de cncer na tireoide na Bielorrssia, induzidos em crianas, adolescentes e adultos.

Tabela 4.13 - Pessoas com sndrome de irradiao aguda irradiadas durante


o acidente nuclear de Chernobyl.

Pacientes tratados
Dose em Falecimentos Sobreviventes
(Gy)
Moscou Kiev
Mdia 0,8 2,1 23 18 0 (0%) 41
Moderada 2,2 4,1 44 6 1 (2%) 49
Severa 4,2 6,4 21 1 7 (32%) 15
Muito severa 6,5 - 16 20 1 20 (95%) 1
Total 0,8 - 16 108 26 28 106

12
Casos por 100 000 pessoas

10

0
1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

Perodo

Crianas (0-14) Adolescentes (15-18) Adultos (19-34)

Figura 4.20 - Induo de cncer na tireoide na Bielorrssia devido ao


acidente nuclear em Chernobyl, em 1986.

142
4.9.5. Dose letal para componentes da fauna e flora

Os organismos vivos apresentam uma resistncia diferenciada em relao aos


efeitos biolgicos das radiaes ionizantes. Em geral, quanto maior a sua complexidade
orgnica, estrutural e neurolgica menor sua resistncia. Quanto mais simplificado for o
organismo, maior a sua resistncia.
Na Figura 4.21 so apresentadas as faixas aproximadas de dose aguda letal para
vrios grupos taxonmicos conforme a publicao das Naes Unidas, UNSCEAR de
2008, Anexo E, p.273.
Pelos valores apresentados pode-se compreender as razes das doses elevadas de
radiao para atingir propsitos no tratamento de alimentos como esterilizar ou matar
insetos e larvas, reduzir populao de fungos e micrbios patognicos.

Vrus

Moluscos

Protozorios

Bactrias

Musgos, liquens, algas

Insetos

Crustceos

Rpteis

Anfbios

Peixes

Plantas superiores

Pssaros

Mamferos

1 10 100 1.000 10.000

DOSE AGUDA LETAL (Gy)

Figura 4.21 - Faixas aproximadas de Dose Aguda Letal para vrios grupos
taxonmicos (UNSCEAR, 2008).

143
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

UNSCEAR, Genetic and Somatics Effects of Ionizing Radiation, Report of the United
Nations Scientific Committees on the Effects of Atomic Radiations, 1986.
http://www.unscear.org/unscear/en/publications

UNSCEAR, Sources, Effects and Risks of Ionizing Radiation, Report of the United
Nations Scientific Committees on the Effects of Atomic Radiations, Annexes, United
Nations Publications - New York, 2008.
http://www.unscear.org/unscear/en/publications/

ICRP 60, Recommendations of ICRP, Annals of ICRP, Bethesda, 1990.

ICRP 88, Dose to the Embryo and Fetus from Intake of Radionuclides by the Mother,
Annals of ICRP, Bethesda, 2001.

ICRP 89, Basic Anatomical and Physiological Data for Use in Radiological Protection -
References Values, Annals of ICRP, Bethesda, 2001.

ICRP 103, The 2007 Recommendations of the International Commission on Radiation


Protection, Annals of ICRP, Bethesda, 2007.

144
CAPTULO 5

GRANDEZAS RADIOLGICAS E UNIDADES

5.1. EVOLUO CONCEITUAL DAS GRANDEZAS

5.1.1. A quantificao da radiao ionizante

Uma das questes iniciais na utilizao da radiao ionizante como realizar uma
medio de quantidades utilizando a prpria radiao ou os efeitos e subprodutos de
suas interaes com a matria.
As dificuldades de medio esto associadas s suas propriedades, pois elas so
invisveis, inodoras, inspidas, inaudveis e indolores. Alm disso, elas podem interagir
com os instrumentos de medio modificando suas caractersticas. Outra dificuldade
que nem todas as grandezas radiolgicas definidas so mensurveis.

5.1.1.1. Campo de radiao

Uma abordagem intuitiva seria medir quantas radiaes so emitidas, por


exemplo, num intervalo de tempo ou quantas radiaes atravessam determinada seco
ou rea. So grandezas radiolgicas associadas ao campo de radiao, que contabilizam
o nmero de radiaes relacionado com alguma outra grandeza do sistema de medio
tradicional, como tempo e rea. Com isso, podem-se definir grandezas do tipo Atividade
de um material radioativo, ou Fluncia de partculas de um acelerador.
Outra abordagem seria em relao s propriedades do campo de radiao para fins
de definio de outras grandezas, como: campos expandidos e alinhados (ver 5.5).

5.1.1.2. Grandezas dosimtricas

Outra maneira seria avaliar os efeitos da interao da radiao com um material,


utilizando algum efeito ou subproduto. Por exemplo, utilizando a carga eltrica dos
eltrons ou ons produzidos pela ionizao, a energia transferida ao material pela
radiao, a energia absorvida pelo material, a luminescncia, a alterao da
condutividade eltrica, o calor produzido, o defeito cristalino, a alterao qumica. De
modo semelhante, utilizando relaes com a massa ou volume, podem-se definir
grandezas radiolgicas como, Exposio, Kerma e Dose Absorvida. So grandezas
dosimtricas, pois esto associadas quantidade de radiao que um material foi
submetido ou absorveu.

5.1.1.3. Grandezas limitantes

Quando os efeitos das interaes acontecem no organismo humano e se as suas


consequncias podem ser deletrias, podem-se definir grandezas limitantes, para indicar
o risco sade humana devido radiao ionizante. Como as radiaes apresentam
diferenas na ionizao, penetrao e, consequente dano biolgico produzido, introduz-
se fatores de peso associados s grandezas dosimtricas e, assim, se obtm a Dose
Equivalente.

145
Como o conceito de dose equivalente no utiliza somente as grandezas bsicas
na sua definio pode surgir uma variedade de grandezas limitantes dependendo do
propsito de limitao do risco. Assim, definem-se a Dose equivalente no rgo, Dose
equivalente efetiva, Dose equivalente comprometida, Dose efetiva, etc.

5.1.1.4. Grandezas operacionais

Levando em considerao as atividades de proteo radiolgica, podem-se


definir grandezas radiolgicas mais consistentes ou teis nas prticas, por exemplo, de
monitorao de rea e monitorao individual. Isto porque as grandezas limitantes no
so mensurveis ou de fcil estimativa. So as chamadas grandezas operacionais. Desta
maneira, aparecem grandezas muito especficas como: Equivalente de dose ambiente e
Equivalente de dose pessoal.

5.1.1.5. Fatores de converso e condies de medio

Nem sempre o modo de operao dos detectores, o material de que so


constitudos e os parmetros que eles medem correspondem s grandezas radiolgicas
anteriormente mencionadas. Assim, preciso introduzir fatores de converso que levam
em conta as diferenas de interao da radiao com um gs, o ar, um semicondutor, uma
emulso, o tecido humano ou um rgo. Alm disso, deve-se observar as condies de
medio: se foram realizadas no ar, num fantoma, em campos alinhados ou expandidos,
nas condies de temperatura e presso padronizadas.
Por exemplo, quando se deseja medir o Equivalente de Dose Pessoal Hp(d) (ver
em 5.5.5), para radiaes fortemente penetrantes onde d =10 mm, usando um filme
dosimtrico, utiliza-se um fator de converso de kerma no ar e Hp(10) fornecido pela
tabela ISO 40-37-3. Estes fatores de converso foram obtidos, irradiando-se uma cmara
de ionizao padro em feixe de 60Co, no ar, no ponto de interesse, e um filme dosimtrico
nas mesmas condies de medio. Se o filme foi exposto sobre um fantoma de gua,
usa-se o fator de converso de kerma no ar para kerma na gua.
A converso, por exemplo, de uma densidade ptica de uma emulso em dose
equivalente, necessita de curvas de calibrao obtidas com irradiaes de filmes do
mesmo lote, com valores conhecidos de dose absorvida, para cada valor de energia e, para
a mesma dose, diferentes energias dos ftons, em feixes padronizados, denominados de
qualidades de feixe. Assim, com as relaes entre os valores das densidades pticas nas
regies sem e com filtro, dos filmes dosimtricos possvel obter-se o valor da energia
efetiva e da dose absorvida. O valor obtido pode sofrer pequenas modificaes devidas a
fatores de correo, provenientes das dependncias energtica, angular, direcional, etc.
Como o fator de qualidade igual a um, obtm-se o valor da dose equivalente.
Este mesmo procedimento utilizado para converter as grandezas bsicas Dose
Absorvida, Fluncia e Exposio, que possuem padres nacionais, para as grandezas
operacionais, todas mensurveis.

5.1.2. ICRP e ICRU

Existem instituies internacionais somente para cuidar da definio das


grandezas, relaes entre elas e suas respectivas unidades.
A International Commission on Radiological Protection, ICRP, fundada em
1928, promove o desenvolvimento da proteo radiolgica e faz recomendaes voltadas
para as grandezas limitantes.

146
A International Commission on Radiation Units and Measurements, ICRU,
fundada em 1925, cuida especialmente das grandezas bsicas e das operacionais.

5.1.3. A notao diferencial

Na fsica, as grandezas frequentemente so definidas de um modo macroscpico,


como por exemplo, a velocidade v, como sendo a relao entre o espao percorrido s e o
tempo t gasto para isso, ou seja: v = s/t, e medida em unidades de m.s-1.
Mas, devido facilidade de realizar clculos, muito til a definio sob a forma
diferencial, por ser mais consistente com equaes diferenciais, equaes envolvendo
integrais e com a caracterizao da velocidade num determinado ponto da trajetria.
Assim, a velocidade passa a ser definida na forma: v = ds/dt, e tem natureza vetorial.
Em proteo radiolgica e dosimetria usa-se o mesmo procedimento. Pelo fato da
definio, na forma diferencial, expressar mais exatamente o conceito da grandeza, ser
mais abrangente e, matematicamente, mais verstil, quase todas as grandezas radiolgicas
so expressas desta forma. Lgico que nem todas as grandezas apresentam uma coerncia,
semelhante s da fsica. Por exemplo, na definio da dose absorvida, existe uma relao
da energia mdia absorvida, , onde um valor infinitesimal mdio carece de sentido,
embora possa assim ser interpretado.

5.2. PROCEDIMENTO DE DEFINIO DAS GRANDEZAS RADIOLGICAS

5.2.1. Exigncias bsicas para a definio de uma grandeza

Desde que surgiram as primeiras preocupaes com a possibilidade das radiaes


ionizantes induzirem detrimentos sade humana, apareceram os mtodos de produo,
caracterizao e medio da radiao, bem como de definio de grandezas que
expressassem com realismo a sua interao com o tecido humano. Obviamente que o
objetivo final era estabelecer a correlao dos valores de tais grandezas, entre si e com
os riscos de detrimento.
Outra questo que interferiu bastante foi o fato dos detectores de radiao nem
sempre expressarem seus valores dentro da definio das grandezas escolhidas. Por
exemplo, como se pode conectar a densidade ptica de um filme dosimtrico com a
grandeza dose absorvida de radiao? Como associar uma leitura obtida num ponto no ar
por um detector gs com o efeito biolgico que seria produzido num rgo de uma
pessoa que ali estivesse postada?
Alm dessas questes surgiram aspectos tcnicos associados s tcnicas de
medio e aos detectores utilizados. que para cada grandeza definida, preciso definir
padres que serviro como valores de referncia para as calibraes. Dentre as diversas
grandezas, algumas seriam melhor utilizadas devido existncia de mtodos alternativos,
absolutos e relativos, de medio, sustentados por equipamentos de melhor desempenho
metrolgico.
Uma questo que pode causar dificuldades o fato de muitas grandezas diferentes,
possurem a mesma unidade. Por exemplo, a Dose Absorvida e o Kerma so medidos em
gray (Gy), a Dose Equivalente, Dose Efetiva, Dose Equivalente Comprometida, so
avaliadas em sievert (Sv). Isto se deve ao fato das diferenas entre elas serem constitudas
por fatores de converso adimensionais, envolverem estimativas de exposies externas
e internas ou avaliarem fraes de energia absorvidas ou transferidas.

147
5.2.2. Concepes estabelecidas pelas ICRP 26 e ICRP 60

As publicaes da ICRP no 26, de 1977, e no 60 de 1990 foram duas importantes


referncias no tocante ao estabelecimento de grandezas radiolgicas, suas relaes e
mtodos de medio, dentro de uma concepo o mais coerente possvel. Na ICRP 60
surgiram novas grandezas, algumas em substituio a grandezas definidas na ICRP 26,
que tinham o inconveniente de terem nomes muito parecidos.
Alguns problemas relacionados determinao de grandezas surgiram da
introduo da ICRP 26, que serviu de base Norma CNEN NE-3.01 - Diretrizes Bsicas
de Radioproteo, de 1988. A grandeza Dose Equivalent do ICRP 26 foi traduzida na
norma brasileira para Dose Equivalente, ao invs de Equivalente de Dose, que deveria ser
a traduo correta. Por outro lado, a ICRP 60 introduziu o conceito de grandeza
denominada Equivalent Dose, ainda no adotado em norma brasileira, mas cuja traduo
deve ser Dose Equivalente o que obrigar a CNEN a alterar a denominao da grandeza
anterior ou criar uma traduo diferente para esse novo conceito.

Nota: No texto desta apostila onde se l Dose Equivalente, entenda-se


conceitualmente como Equivalente de Dose. As grandezas radiolgicas
definidas nos itens 5.3.5, 5.3.6 e 5.3.7 esto associadas ao ICRP 26 (1977) e
antiga verso da Norma CNEN-NE-3.01 (1988). So grandezas antigas mas
que ainda aparecem em textos cientficos. Por isso, as definimos nesta
apostila. As grandezas radiolgicas definidas no item 5.6 em diante, esto
associadas ao ICRP 60 (1990) e foram adotadas na Norma CNEN-NN-3.01
(2011).

Na Figura 5.1 se representa o procedimento de definio das grandezas


radiolgicas e sua conexo com o risco de detrimento associado, nas concepes da ICRP
26 e ICRP 60. Nesta figura, so enquadradas tambm as grandezas radiolgicas definidas
nas normas NE-3.01 de 1988 e NN.3.01 de 2011 da CNEN, onde,

Q = fator de qualidade da radiao (ICRP 26);


wR = fator de peso da radiao (ICRP 60);
wT = fator de peso do tecido ou rgo;
F = coeficiente de risco de detrimento ou fatalidade;
n = nmero de casos;
Sv = sievert; e
Gy = gray.

148
Figura 5.1 - Representao esquemtica do procedimento de definio das
grandezas e as relaes entre elas estabelecidas no ICRP 26 e CNEN-NE-
3.01, de 1988), e ICRP 60 e Norma CNEN NN 3.01 de 2011.

5.3. GRANDEZAS RADIOLGICAS (Radiological Quantities)

5.3.1. Atividade (Activity), A

A atividade de um material radioativo expressa pelo quociente entre o nmero


mdio de transformaes nucleares espontneas e o intervalo de tempo decorrido.
Matematicamente dada por:

dN
A ( Bq s 1 )
dt

onde N o nmero de ncleos radioativos contidos na amostra ou material.


Segundo a definio da ICRU, a Atividade o quociente dN/dt, de uma quantidade
de ncleos radioativos num estado de energia particular, onde dN o valor esperado do
nmero de transies nucleares espontneas deste estado de energia no intervalo de
tempo dt.
Sua unidade, o becquerel (Bq), corresponde a uma transformao por segundo,
ou s-1. A unidade antiga, curie (Ci) ainda utilizada em algumas situaes, e corresponde
ao nmero de transformaes nucleares por unidade de tempo de 1 grama de 226Ra, sendo
1 Ci = 3,7 x 1010 Bq.
bom salientar que, uma transformao por segundo no significa a emisso de
uma radiao por segundo, pois, numa transformao nuclear, podem ser emitidas vrias
radiaes de vrios tipos e vrias energias.
Muitas vezes uma transformao nuclear confundida com uma desintegrao
nuclear, devido ao antigo conceito de radioatividade que imaginava que, quando o
ncleo emitia radiaes, ele estava se desintegrando, se destruindo. Hoje se sabe que o
ncleo s emite radiaes para se auto organizar, aperfeioar sua estrutura e dinmica.

149
Na prtica, devido a hbitos estabelecidos, uma desintegrao/segundo
equivalente a uma transformao/segundo e ao becquerel. A razo bsica que o tempo
de ocorrncia da transformao nuclear to curto, de 10-9 a 10-13 segundos, que no
existe ainda detector capaz de discriminar radiaes emitidas neste intervalo de tempo,
de modo que tudo resulta numa contagem ou num pulso. Por outro lado, mesmos que as
radiaes sejam emitidas em todas as direes e sentidos, possvel conhecer a atividade
da fonte comparando-a com uma fonte de referncia, de mesma geometria e matriz fsico-
qumica.
Para facilitar a compreenso, muito comum em garrafas de gua mineral, a
radioatividade ser expressa numa unidade antiga denominada mache. Ela corresponde a
12,802 Bq L-1.
A atividade medida de forma absoluta em um sistema de coincidncia 4-,
onde um dispositivo detecta a radiao beta em coincidncia com pelo menos uma
radiao gama coletada num outro detector, emitidas pelo mesmo ncleo em
transformao (ver 6.10.16).

5.3.2. Fluncia (Fluence),

A fluncia, , de partculas o quociente dN/da, onde dN o nmero de


partculas incidentes sobre uma esfera de seco de rea da, medida em unidades de m-
2
.
dN
(m 2 )
da

O nmero de partculas N pode corresponder a partculas emitidas, transferidas ou


recebidas. Esta grandeza muito utilizada na medio de nutrons.
A fluncia, por exemplo, de uma fonte de nutrons, medida de modo absoluto
utilizando-se um sistema conhecido como banho de sulfato de mangans.

5.3.3. Exposio (Exposure), X

o quociente entre dQ por dm, onde dQ o valor absoluto da carga total de ons
de um dado sinal, produzidos no ar, quando todos os eltrons (negativos e positivos)
liberados pelos ftons no ar, em uma massa dm, so completamente freados no ar, ou
seja,

dQ
X (C kg1 )
dm

Devido necessidade de se conhecer perfeitamente a massa do volume de material


atingido e de coletar toda a carga de mesmo sinal num eletrodo, a medio da Exposio
s factvel numa cmara de ionizao a ar, a cmara de ar livre (free-air). Isto significa
que esta grandeza s pode ser definida para o ar e para ftons X ou gama.
As radiaes alfa no conseguem penetrar na cmara para ionizar o ar, e as
radiaes beta no permitem condies de homogeneidade ou equilbrio eletrnico na
coleta dos eltrons. Alm do mais, estas radiaes representam eltrons adicionais (carga)
ou ncleos de hlio que podem capturar eltrons do ar.
A unidade especial roentgen (R) est relacionada com a unidade do SI,
coulomb/quilograma (C.kg-1), por:

150
1 R 2,58 104 C kg1

5.3.4. Dose absorvida (Absorbed dose), D

Outro efeito da interao da radiao com a matria a transferncia de energia.


Esta nem sempre absorvida totalmente, devido variedade de modos de interao e
natureza do material. Assim, por exemplo, uma quantidade da energia transferida pode
ser captada no processo de excitao dos tomos, ou perdida por radiao de freamento
(raios X), cujos ftons podem escapar do material. A frao absorvida da energia
transferida corresponde s ionizaes dos tomos, quebra de ligaes qumicas dos
compostos e incremento da energia cintica das partculas (correspondente converso
em calor).
A relao entre a energia absorvida e a massa do volume de material atingido
a base da definio da grandeza Dose absorvida. Entretanto, para especificar melhor as
variaes espaciais e evitar a variao da quantidade de energia absorvida em diferentes
pontos do volume do material, a Dose absorvida definida como uma funo num ponto
P, de interesse, ou seja,

d
D ( J kg 1 gray Gy)
dm

onde a energia mdia depositada pela radiao no ponto P de interesse, num meio
de massa dm.
A unidade antiga de dose absorvida, o rad (radiation absorved dose), em relao
ao gray, vale,

1Gy 100 rad

A dose absorvida pode ser medida de modo absoluto utilizando-se um calormetro


de grafite.

5.3.5. Dose equivalente (Dose equivalent), H (ICRP 26)

Esta grandeza, definida no Brasil como Dose Equivalente, uma traduo


equivocada de Dose Equivalent das recomendaes da ICRP 26. Esta grandeza, assim
denominada, ficou estabelecida nas normas da CNEN-NE-3.01(1988), e no vocabulrio
dos usurios. A traduo correta seria Equivalente de dose, pois o conceito definido foi
de equivalncia entre doses de diferentes radiaes para produzir o mesmo efeito
biolgico.
A Dose Equivalente, H, obtida multiplicando-se a dose absorvida D pelo Fator
de qualidade (Quality factor), Q, ou seja,

H D Q ( J kg 1 sievert Sv)

A unidade antiga da dose equivalente denominava-se rem (roentgen equivalente


men), sendo que 1 Sv = 100 rem.
O fator de qualidade Q adimensional e constitui um fator de peso proveniente
da simplificao dos valores da Efetividade (ou Eficcia) Biolgica Relativa (Relative

151
Biological Effectiveness) - RBE - dos diferentes tipos de radiao, na induo de
determinado tipo de efeito biolgico.
Na equivalncia, as diferenas entre as radiaes foram expressas pelos diferentes
valores do LET (Linear Energy Transfer), ou seja, o valor de Q foi obtido em funo do
LET (ver Cap. 4 - Efeitos Biolgicos da Radiao).
A relao de Q em funo do poder de freamento de coliso (L) (Collision
stopping power) na gua em (keV.m-1) no ICRP 26 dada na Tabela 5.1,

Tabela 5.1 - Valores de Q em funo do poder de freamento de coliso (L).

L na gua
Q
(keV m-1)
< 3,5 1
7 2
23 5
53 10
> 175 20

A dependncia de Q(L) com a transferncia linear de energia LET, ou


simplesmente L, expressa em keV.m-1, na gua, fornecida pelo ICRP 60, dada na
Tabela 5.2.

Tabela 5.2 - Valores de Q(L) em funo do LET, na gua.

L irrestrito na gua
Q (L)
(keV m-1)
L < 10 1
10 < L 100 0,32L - 22
L >100 300/L
Na prtica, por simplicidade, utiliza-se o valor mdio do Fator de Qualidade Q,
com valores efetivos conforme a Tabela 5.3. Estes valores no devem ser usados para
avaliar os efeitos de exposies acidentais com altas doses e at mesmo experimentos em
Radiobiologia.

Tabela 5.3 - Valores do fator de qualidade efetivo (Effective quality factor) Q


para os diversos tipos de radiao - ICRP 26 (1977), CNEN-NE-3.01 (1988).

TIPO DE RADIAO Q
Raios X, Radiao e eltrons 1

Prtons e partculas com uma (1) unidade de carga e 10


com massa de repouso maior que uma unidade de
massa atmica e de energia desconhecida

Nutrons com energia desconhecida 20

Radiao e demais partculas com carga superior a 20


uma (1) unidade de carga

152
5.3.6. Dose equivalente num tecido ou rgo (Dose equivalent in a tissue or organ),
Dose HT (ICRP 26) e CNEN- NE-3.01 (1988)

A Dose Equivalente num rgo ou tecido a dose absorvida D mdia em um


tecido especfico T, multiplicada pelo fator de qualidade Q da radiao R, expressa por:

= . (. 1 = = )

onde Q o fator de qualidade da radiao e DT a dose absorvida no tecido T.

5.3.7. Dose equivalente efetiva (Effective dose equivalent), HE (ICRP 26)

A Dose Equivalente Efetiva HE, tambm denominada de Dose Equivalente de


Corpo Inteiro (Whole body dose equivalent) HWB, obtida pela relao,

= = (. 1 = = )

onde wT o fator de peso do tecido ou rgo (Tissue weighting fator) T relevante e HT


a dose equivalente no rgo ou tecido T. Os valores de wT esto associados
radiosensibilidade do rgo radiao e seus valores esto na Tabela 5.4.

Tabela 5.4 - Valores do fator de peso, wT, para tecido ou rgo definido na
ICRP 26 e ICRP 60.

rgo ou Tecido Fator de peso wT


ICRP 26 ICRP 60
Gnadas 0,25 0,20
Medula ssea (vermelha) 0,12 0,12
Clon 0,12 0,12
Pulmo - 0,12
Estmago 0,15 0,12
Bexiga - 0,05
Mama - 0,05
Fgado 0,03 0,05
Esfago - 0,05
Tireoide 0,03 0,05
Pele 0,30 0,01
Superfcie ssea 0,01
Restantes* 0,05
*crebro, intestino grosso superior, intestino delgado, rins, tero,
pncreas, vescula, timo, adrenais e msculo

Esta grandeza no mensurvel. Assim, para as aplicaes prticas, a ICRU 39


introduziu grandezas operacionais mensurveis relacionadas Dose equivalente efetiva
(Effective dose equivalent) HE, como Equivalente de Dose Ambiente (Ambient dose
equivalent) H*(d), Equivalente de Dose Direcional (Directional dose equivalent) H(d,)
e Equivalente de Dose Pessoal (Personal dose equivalent) HP(d).

153
5.3.8. Kerma, K

O kerma (kinectic energy released per unit of mass) definido pela relao,

dEtr
K ( J kg 1 gray Gy)
dm

onde dETR a soma de todas as energias cinticas iniciais de todas as partculas


carregadas liberadas por partculas neutras ou ftons, incidentes em um material de
massa dm.
Como o kerma inclui a energia recebida pelas partculas carregadas, normalmente
eltrons de ionizao, estes podem dissip-la nas colises sucessivas com outros eltrons,
ou na produo de radiao de freamento (bremsstrahlung), assim,

K Kc K r

onde, Kc o kerma de coliso, quando a energia dissipada localmente, por ionizaes


e/ou excitaes, Kr o kerma de radiao, quando a energia dissipada longe do local,
por meio dos raios X.

5.3.9. Dose absorvida comprometida (Committed absorbed dose), D()

o valor da integral, no tempo, da taxa de dose absorvida num particular tecido


ou rgo, que ser recebida por um indivduo aps a incorporao de material
radioativo em seu corpo, no tempo, por um perodo aps a incorporao.
A incorporao pode ser feita por ingesto, inalao, injeo ou penetrao
atravs de ferimentos. O perodo de contagem , normalmente utilizado, de 50 anos para
adultos e de at 70 anos para crianas. A dose absorvida comprometida expressa por:
0 +
()
() = (. 1 = = )
0

onde to o instante de incorporao, dD(t)/dt a taxa de dose absorvida e o tempo


transcorrido desde a incorporao das substncias radioativas.

5.3.10. Dose equivalente comprometida num tecido (Committed equivalent dose in a


tissue), HT( ) - (ICRP 26)

o valor da integral, no tempo, da taxa dose equivalente de um particular tecido


ou rgo, que ser recebida por um indivduo aps a incorporao de material
radioativo em seu corpo, por um perodo aps a incorporao. Ela vale a taxa de dose
absorvida comprometida multiplicada pelo fator de qualidade da radiao Q. Quando no
especificado, o perodo vale 50 anos para adultos e 70 anos para crianas.
+
() = ().

onde t0 o instante em que ocorre a incorporao, e a unidade o sievert.

154
5.3.11. Dose efetiva comprometida (Committed effective dose), HE( ) (ICRP 26)

Constitui a dose comprometida para o corpo inteiro incorporada no perodo , ou


seja,

() = () (. 1 = = )

5.3.12. Dose equivalente coletiva num tecido (Collective equivalent dose in a tissue),
ST

o produto do nmero de indivduos de um grupo ou populao expostos pela


dose mdia num determinado tecido ou rgo. A unidade expressa em pessoa.sievert,
(man.Sv)

5.3.13. Dose efetiva coletiva (Collective effective dose), S

a expresso da dose efetiva total de radiao recebida por uma populao ou


grupo de pessoas, definida como o produto do nmero de indivduos expostos a uma fonte
de radiao ionizante pelo valor mdio da distribuio de dose efetiva desses indivduos.
A dose coletiva utilizada para avaliar o quanto uma determinada prtica com
uso de radiao ionizante expe um grupo especfico da populao, ou de indivduos
ocupacionalmente expostos, num determinado perodo ou localidade, por exemplo,
Tomografia computadorizada do corao, trabalhadores em centrais nucleares. Ela
expressa em unidades pessoa.sievert (man.Sv).

5.4. RELAES ENTRE AS GRANDEZAS

5.4.1. Relao entre kerma (K) e dose absorvida (D)

A diferena entre kerma e dose absorvida, que esta depende da energia mdia
absorvida na regio de interao (local) e o kerma, depende da energia total transferida
ao material.
Isto significa que, do valor transferido, uma parte dissipada por radiao de
freamento, outra sob forma de luz ou raios X caractersticos, quando da excitao e
desexcitao dos tomos que interagiram com os eltrons de ionizao.
Para se estabelecer uma relao entre kerma e dose absorvida preciso que haja
equilbrio de partculas carregadas ou equilbrio eletrnico que ocorre quando:

a. A composio atmica do meio homognea;


b. A densidade do meio homognea;
c. Existe um campo uniforme de radiao indiretamente ionizante; e
d. No existem campos eltricos ou magnticos no homogneos.

Nestas condies, o kerma de coliso Kc igual dose absorvida D, ou seja,

D Kc

155
5.4.2. Relao entre kerma de coliso (Kc) e fluncia ()

Quando um feixe monoenergtico de ftons de energia E interage com um


material homogneo, o coeficiente de absoro de energia em massa (en /) apresenta um
valor nico. Como a fluncia a relao entre o nmero de partculas ou ftons
incidentes dN sobre uma esfera de seco de rea da, o produto dN.E representa a energia
total das partculas incidentes. Isto dividido pela densidade fornece,

Kc E (en / ) (en / )

onde a fluncia de energia (em J.m-2).

5.4.3. Relao entre exposio (X) e dose absorvida no ar (Dar)

Sob condies de equilbrio eletrnico a Exposio X, medida no ar, se relaciona


com a Dose Absorvida D no ar, pela expresso,

Dar X (W / e)ar 0,876 X

onde (W/e)ar a energia mdia para formao de um par de ons no ar/carga do eltron =
0,876.

5.4.4. Relao entre dose absorvida no ar (Dar) e em outro material (Dm)

Determinada a Dose no Ar, Dar, pode-se obter a dose em um meio material


qualquer, para a mesma exposio, por meio de um fator de converso. Para a mesma
condio de irradiao, a relao entre os valores da dose absorvida no material m e no
ar, pode ser expressa por:

D m ( en / ) m

Dar ( en / ) ar

onde (en/) o coeficiente de absoro de energia em massa do ar ou do material m.

Portanto,

( en / ) m ( / )m
Dm Dar 0,876 X en fm X
( en / ) ar ( en / ) ar

onde fm = 0,876.(en/)m / (en/)ar o fator de converso de exposio no ar em dose


absorvida no meio m.
O fator fm depende da energia do fton e, por isso, na maioria dos casos, utilizam-
se valores mdios dos coeficientes de absoro de energia em massa (en/). Esses valores
so tabelados para alguns materiais, sendo que para a gua eles variam de 0,881 radR-1 a
0,964 radR-1, na faixa de energia de 20 keV a 150 keV, respectivamente. (ver:
www.physics.nist.gov/PhysRefData/XrayMassCoef/ Summary, Table 3 e Table 4.)

156
Na Figura 5.2 so apresentados os valores de fm para gua/ar e tecido muscular/ar
em funo da energia do fton. Para efeito de proteo radiolgica, onde se utiliza um
procedimento conservativo, este fator pode ser arredondado para um, em muitos casos.

Figura 5.2 - Valores do fator de converso dose no ar para dose na gua e no


tecido muscular em funo da energia do fton.

5.4.5. Relao entre taxa de exposio ( ) e atividade da fonte (A)

A Taxa de Exposio pode ser associada atividade gama de uma fonte pela
expresso:

A
X
d2
onde

X = taxa de exposio (em R/h);


A = atividade da fonte (em curie);
d = distncia entre fonte e ponto de medio (em m); e
= constante de taxa de exposio em (R.m2)/(h.Ci).

Esta relao vale para as seguintes condies:

a. A fonte suficientemente pequena (puntiforme), de modo que a fluncia varia


com o inverso do quadrado da distncia;
b. A atenuao na camada de ar intermediria entre a fonte e o ponto de medio
desprezvel ou corrigida pelo fator de atenuao; e
c. Somente ftons provenientes da fonte contribuem para o ponto de medio, ou
seja, que no haja espalhamento nos materiais circunvizinhos.

Na Tabela 5.5 so apresentados alguns valores da constante de taxa de exposio


, apelidada de gamo pelos usurios.

157
Tabela 5.5 - Valores de para alguns radionucldeos emissores gama em
(R.m2)/(h.Ci). (ver: NCRP Report 49,1976).

Radio Radio Radio


nucldeo (R.m2)/(h.Ci) nucldeo (R.m2)/(h.Ci) nucldeo (R.m2)/(h.Ci)
124 137 57
Sb 0,98 Cs 0,33 Co 0,09
60 125 131
Co 1,32 I 0,07 I 0,22
54 99
Mn 0,47 Tcm 0,12 65
Zn 0,27
24 226 22
Na 1,84 Ra 0,825 Na 1,20
192 198
Ir 0,5 Au 0,232

A avaliao da quantidade de radiao absorvida por uma pessoa a certa distncia


de uma fonte radioativa, durante certo perodo de tempo, pode ser feita utilizando um
detector apropriado ou um modelo de clculo para obter o valor de alguma grandeza
radiolgica que a expresse.
Nos itens 5.4.3 e 5.4.4 foi visto como obter a dose absorvida no tecido em funo
da exposio medida no ar. No item 5.4.5 descreve-se como obter a taxa de exposio no
ar a partir da atividade da fonte e da distncia entre a pessoa e a fonte.
A expresso usada para o clculo utiliza a constante de taxa de exposio ,
expressa em (R.m2)/(Ci.h). Os valores desta constante variam muito de tabela para tabela,
pois sua obteno depende dos modelos de clculo, que so continuamente aperfeioados.
Os valores mais atualizados da Constante de Taxa de Exposio e do fator de
converso de dose absorvida no ar para dose absorvida no tecido, so dados na Tabela
5.6, baseados no artigo de Smith e Slabin de 2012. (ver: D.S.SMITH, M.G.STABIN,
(2012)- Health Physics 102(3)-p.271-291.)
Os valores de so obtidos pela expresso:

1 en
.Yi .Ei
4 i i

onde

Yi = intensidade relativa da emisso gama pelo nucldeo i;


Ei = energia do fton do nucldeo i;
(en/)i = coeficiente de absoro de energia em massa do ar para a energia Ei; e
= energia de corte= menor valor de energia includa no clculo=15 keV.

158
Tabela 5.6 - Valores da constante de taxa de exposio, , e o do fator de
converso f de dose absorvida no ar para dose absorvida no tecido.

f f f
Nucldeo . Nucldeo . Nucldeo .
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
. . .
Ac-223 0,12 0,956 Al-26 13,4 0,965 At-209 12,7 0,961
Ac-224 1,84 0,955 Al-28 8,37 0,876 At-210 15,2 0,962
Ac-225 0,126 0,952 Al-29 6,93 0,965 At-211 0,214 0,951
Ac-226 1,05 0,957 Am-237 2,87 0,955 At-215 0,00096 0,876
Ac-227 0,0635 0,921 Am-238 5,65 0,956 At-216 0,0133 0,953
Ac-228 5,31 0,958 Am-239 2,53 0,954 At-217 0,00126 0,962
Ac-230 3,08 0,957 Am-240 6,73 0,954 At-220 2,5 0,960
Ac-231 2,7 0,960 Am-241 0,749 0,932 Au-186 8,15 0,962
Ac-232 6,12 0,959 Am-242 0,476 0,937 Au-187 5,44 0,956
Ac-233 2,88 0,965 Am-242m 0,392 0,921 Au-190 11,3 0,960
Ag-99 12,6 0,964 Am-243 0,597 0,944 Au-191 3,28 0,956
Ag-100m 15,3 0,965 Am-244 5,78 0,950 Au-192 9,43 0,959
Ag-101 9,1 0,962 Am-244m 0,263 0,930 Au-193 0,871 0,950
Ag-102m 9,83 0,962 Am-245 0,273 0,953 Au-193m 1,05 0,960
Ag-102 18,3 0,963 Am-246 6,02 0,949 Au-194 5,31 0,958
Ag-103 5,65 0,963 Am-246m 5,6 0,959 Au-195 0,409 0,947
Ag-104 15,8 0,969 Am-247 1,02 0,955 Au-195m 1,07 0,960
Ag-104m 10 0,961 Ar-41 6,58 0,965 Au-196 2,64 0,957
Ag-105 4,38 0,947 Ar-43 7,6 0,965 Au-196m 1,21 0,955
Ag-105m 0,00904 0l942 Ar-44 9,29 0,965 Au-198 2,3 0,965
Ag-106 4,54 0,958 As-68 19,5 0,965 Au-198m 2,71 0,959
Ag-106m 16,6 0,958 As-69 6,42 0,965 Au-199 0,471 0,959
Ag-108 0,138 0,949 As-70 22,5 0,965 Au-200 1,45 0,965
Ag-108m 10,4 0,56 As-71 3,13 0,965 Au-200m 11,1 0,964
Ag-109m 0,644 0,920 As-72 9,9 0,965 Au-20 0,195 0,960
Ag-110 0,175 0,963 As-73 0,0403 0,876 Au-202 0,93 0,965
Ag-110m 15 0,965 As-74 4,33 0,965 Ba-124 3,66 0,947
Ag-111 0,15 0,964 As-76 2,3 0,965 Ba-126 3,68 0,946
Ag-111m 0,361 0,923 As-77 0,0452 0,964 Ba-127 4,38 0,953
Ag-112 3,59 0,965 As-78 6,83 0,965 Ba-128 0,868 0,929
Ag-113m 1,32 0,960 As-79 0,19 0,965 Ba-129 2,26 0,943
Ag-113 0,404 0,964 At-204 13,2 0,963 Ba-129m 9,06 0,954
Ag-114 1,35 0,965 At-205 6,24 0,960 Ba-131 3,29 0,946
Ag-115 2,43 0,965 At-206 13,8 0,963 Ba-131m 0,659 0,942
Ag-116 10,3 0,964 At-207 10,6 0,961 Ba-133 3,04 0,943
Ag-117 6,18 0,962 At-208 16,4 0,962 Ba-133m 0,707 0,932
Ba-135m 0,663 0,931 Cd-119 8,1 0,964 Cs-124 6,59 0,964
Ba-137m 3,43 0,962 Cd-119m 11,5 0,964 Cs-125 4,61 0,953
Ba-139 0,254 0,957 Ce-130 3,26 0,945 Cs-126 6,64 0,963
Ba-140 1,14 0,953 Ce-131 9,25 0,957 Cs-127 3,01 0,945
Ba-141 4,99 0,963 Ce-132 1,91 0,947 Cs-128 5,24 0,960
Ba-142 5,75 0,959 Ce-133 3,72 0,944 Cs-129 2,38 0,937
Be-7 0,286 0.876 Ce-133m 9,78 0,951 Cs-130m 0,963 0,932
Bi-197 9,07 0,961 Ce-144 0,579 0,923 Cs-130 3,18 0,952
Bi-200 13,4 0,962 Ce-135 5,08 0,951 Cs-131 0,679 0,921
Bi-201 8,92 0,960 Ce-137 0,645 0,923 Cs-132 4,6 0,947
Bi-202 15 0,962 Ce-137m 0,59 0,930 Cs-134 8,76 0,965
Bi-203 12,1 0,961 Ce-139 1,27 0,943 Cs-134m 0,338 0,933
Bi-204 15,6 0,962 Ce-141 0,453 0,953 Cs-135m 8,91 0,965
Bi-205 8,58 0,960 Ce-143 1,85 0,944 Cs-136 11,6 0,963
Bi-206 17,6 0,962 Ce-144 0,135 0,945 Cs-137 3,43 0,962
Bi-207 8,33 0,961 Ce-145 4,94 0,946 Cs-138m 2,44 0,946
Bi-208 11,1 0,959 Cf-244 0,137 0,921 Cs-138 11,7 0,965
Bi-210m 1,43 0,963 Cf-246 0,0947 0,921 Cs-139 1,44 0,965
Bi-211 0,265 0,962 Cf-247 2,96 0,938 Cs-140 8,45 0,965
Bi-212 0,556 0,961 Cf-248 0,114 0,921 Cu-57 6,48 0,965
Bi-213 0,728 0,963 Cf-249 2,14 0,959 Cu-59 8,1 0,965
Bi-214 7,48 0,965 Cf-250 0,129 0,929 Cu-60 19,8 0,965
Bi-215 1,39 0,962 Cf-251 1,22 0,921 Cu-61 4,68 0,965
Bi-216 4,23 0,965 Cf-252 2,31 0,960 Cu-62 5,78 0,965
Bk-245 2 0,953 Cf-253 0,522 0,921 Cu-64 1,05 0,965
Bk-246 5,66 0,953 Cf-254 82,3 0,963 Cu-66 0,525 0,965
Bk-247 0,969 0,956 Cl-34 5,87 0,876 Cu-67 0,574 0,962
Bk-248m 0,723 0,944 Cl-34m 10 0,965 Cu-69 2,86 0,965

159
f f f
Nucldeo . Nucldeo . Nucldeo .
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
. . .
Bk-250 5,39 0,957 Cl-36 0,000816 0,976 Dy-148 4,22 0,950
Bk-251 1,78 0,944 Cl-38 6,6 0,965 Dy-149 8,63 0,951
Br-72 15,9 0,965 Cl-39 7,37 0,965 Dy-150 1,69 0,949
Br-73 8,12 0,912 Cl-40 17,7 0,964 Dy-151 7,5 0,953
Br-74 21,2 0,964 Cm-238 0,87 0,951 Dy-152 1,71 0,949
Br-74m 20,7 0,965 Cm-239 1,93 0,956 Dy-153 5 0,945
Br-75 6,77 0,965 Cm-240 0,179 0,921 Dy-155 3,74 0,949
Br-76 14 0,965 Cm-241 3,93 0,953 Dy-157 2,11 0,948
Br-76m 0,297 0,930 Cm-242 0,161 0,921 Dy-159 0,443 0,929
Br-77 1,76 0,965 Cm-243 1,36 0,951 Dy-165m 0,115 0,941
Br-77m 0,0665 0,976 Cm-244 0,138 0,921 Dy-165 0,158 0,944
Br-78 5,93 0,965 Cm-245 1,23 0,950 Dy-166 0,315 0,936
Br-80 0,431 0,965 Cm-246 0,118 0,922 Dy-167 3,03 0,959
Br-80m 0,257 0,923 Cm-247 1,81 0,964 Dy-168 2,27 0,955
Br-82m 0,0152 0,949 Cm-248 6,51 0,962 Er-154 0,914 0,930
Br-82 14,4 0,965 Cm-249 0,117 0,921 Er-156 0,647 0,930
Br-83 0,0393 0,965 Cm-250 6,5 0,963 Er-159 5,31 0,952
Br-84m 14,5 0,965 Cm-251 0,797 0,956 Er-161 5,52 0,950
Br-84 8,07 0,964 Co-54m 21 0,965 Er-163 0,336 0,931
Br-85 0,355 0,965 Co-55 11 0,965 Er-165 0,319 0,931
C-10 9,94 0,965 Co-56 17,9 0,965 Er-167m 0,526 0,955
C-11 5,86 0,976 Co-57 0,563 0,961 Er-171 2,08 0,956
Ca-47 5,43 0,965 Co-58 5,44 0,965 Er-172 3 0,952
Ca-49 12,4 0,961 Co-58m 0,000636 0,876 Er-173 4,52 0,957
Cd-101 13,6 0,959 Co-60 12,9 0,965 Es-249 3,75 0,951
Cd-102 5,84 0,951 Co-60m 0,0237 0,942 Es-250 13,1 0,944
Cd-103 11,5 0,954 Co-61 0,0237 0,942 Es-250m 4,42 0,949
Cd-104 3,07 0,937 Co-62 7,94 0,965 Es-251 2,51 0,941
Cd-105 7,57 0,952 Co-62m 13,6 0,965 Es-253 0,0686 0,922
Cd-107 2.03 0,922 Cr-48 2,32 0,963 Es-254 2,28 0,921
Cd-109 1,89 0,922 Cr-49 5,95 0,962 Es-254m 3,45 0,951
Cd-111m 2,15 0,954 Cr-51 0,178 0,876 Es-256 0,333 0,921
Cd-113m 0,00109 0,936 Cr-55 0,00278 0,876 Eu-142 6,71 0,964
Cd-115 1,16 0,961 Cr-56 1.02 0,943 Eu-142m 19,1 0,964
Cd-115m 0,175 0,965 Cs-121 6,76 0,962 Eu-143 6,21 0,961
Cd-117 5,68 0,963 Cs-121m 6,76 0,962 Eu-144 6,11 0,963
Cd-117m 10,1 0,965 Cs-123 6,47 0,957 Eu-145 6,11 0,963
Eu-146 13,1 0,957 Ge-78 1,53 0,965 I-130 12,1 0,965
Eu-147 2,84 0,944 Hf-167 3,53 0,957 I-131 2,2 0,963
Eu-148 12,6 0,958 Hf-169 3,71 0,954 I-132 12,5 0,965
Eu-149 0,626 0,930 Hf-170 2,49 0,950 I-132m 2,28 0,949
Eu-150 8,92 0,957 Hf-172 0,943 0,938 I-133 3,47 0,965
Eu-150m 0,296 0,947 Hf-173 2,14 0,952 I-134m 2,31 0,943
Eu-152 6,44 0,952 Hf-175 2,04 0,950 I-134 14,1 0,965
Eu-152m 1,68 0,949 Hf-177m 12,6 0,959 I-135 8,04 0,965
Eu-152n 0,44 0,948 Hf-178m 12,5 0,961 In-103 14,5 0,964
Eu-154 6,69 0,959 Hf-179m 5,12 0,957 In-105 10,8 0,961
Eu-154m 0,524 0,940 Hf-180m 5,54 0,959 In-106 20 0,964
Eu-155 0,351 0,947 Hf-181 2,98 0,960 In-106m 14,7 0,964
Eu-156 6,21 0,961 Hf-182 1,3 0,961 In-107 8,67 0,957
Eu-157 1,8 0,944 Hf-182m 5,08 0,956 In-108 22 0,961
Eu-158 6,87 0,959 Hf-183 4,32 0,957 In-108m 13,9 0,960
Eu-159 1,9 0,940 Hf-184 1,29 0,954 In-109 4,62 0,949
F-17 5,86 0,965 Hg-190 0,985 0,954 In-109m 3,53 0,963
F-18 5,68 0,876 Hg-191m 7,97 0,960 In-110 18,3 0,958
Fe-52 4,12 0,965 Hg-192 1,44 0,954 In-110m 9,08 0,961
Fe-53 4,12 0,965 Hg-193 4,35 0,956 In-111 3,46 0,951
Fe-53m 16 0,965 Hg-193m 5,46 0,958 In-111m 2,83 0,961
Fe-59 6,2 0,965 Hg-195 1,05 0,950 In-112 1,93 0,950
Fe-61 7,18 0,965 Hg-195m 1,08 0,955 In-112m 1,02 0,29
Fe-62 7,18 0,965 Hg-197 0,349 0,947 In-113m 1,85 0,953
Fm-251 2,05 0,946 Hg-197m 0,461 0,955 In-114 0,0175 0,937
Fm-252 0,187 0,921 Hg-199m 0,926 0,956 In-114m 0,977 0,937
Fm-253 2,25 0,935 Hg-203 1,3 0,963 In-115m 1,42 0,946
Fm-254 0,218 0,924 Hg-205 0,026 0,961 In-116m 12,6 0,965
Fm-255 1,99 0,921 Hg-206 0,672 0,961 In-117 4,01 0,962
Fm-256 60,9 0,963 Hg-207 13,3 0,964 In-117m 0,793 0,948
Fm-257 2,51 0,943 Ho-150 10,7 0,964 In-118m 14,7 0,965

160
f f f
Nucldeo . Nucldeo . Nucldeo .
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
. . .
Fr-212 6,06 0,961 Ho-153 5,83 0,957 In-118 0,404 0,965
Fr-219 0,0198 0,963 Ho-153m 6,08 0,057 In-119 4,57 0,959
Fr-220 0,0719 0,951 Ho-154m 13,8 0,962 In-119m 0,473 0,942
Fr-221 0,158 0,962 Ho-154 10,4 0,962 In-121 5,09 0,965
Fr-222 1,51 0,956 Ho-155 3,48 0,949 In-121m 0,839 0,930
Fr-223 0,788 0,937 Ho-156 11,2 0,958 Ir-180 8,92 0,962
Fr-224 3,16 0,960 Ho-157 3,45 0,946 Ir-182 7,77 0,961
Fr-227 2,86 0,956 Ho-159 2,32 0,945 Ir-183 6,11 0,955
Ga-64 16,7 0,965 Ho-160 9,52 0,954 Ir-184 10,4 0,960
Ga-65 6,53 0,963 Ho-161 0,837 0,929 Ir-185 4,28 0,952
Ga-66 11,6 0,965 Ho-162 1,03 0,936 Ir-186 8,73 0,959
Ga-67 0,803 0,961 Ho-162m 3,14 0,946 Ir-186m 6,52 0,958
Ga-68 5,43 0,965 Ho-164 0,252 0,931 Ir-187 1,82 0,950
Ga-70 0,0388 0,965 Ho-164m 0,406 0,930 Ir-188 10,1 0,958
Ga-72 13,4 0,965 Ho-166 0,16 0,942 Ir-189 0,414 0,945
Ga-73 1,94 0,962 Ho-166m 9,05 0,961 Ir-190 8,3 0,960
Ga-74 15,1 0,965 Ho-167 2,08 0,959 Ir-190n 0,312 0,943
Gd-142 5,83 0,958 Ho-168 4,84 0,961 Ir-191m 0,364 0,950
Gd-143m 11,7 0,958 Ho-168m 0,0531 0,931 Ir-192 4,5 0,964
Gd-144 4,87 0,955 Ho-170 9,28 0,959 Ir-192m 0,000127 0,876
Gd-145m 3,91 0,960 I-118m 21,1 0,964 Ir-192n 0,00305 0,946
Gd-145 11,7 0,956 I-118 11,2 0,964 Ir-193m 0,00156 0,944
Gd-146 1,73 0,941 I-119 5,56 0,958 Ir-194 0,493 0,964
Gd-147 7,92 0,954 I-120 13,7 0,962 Ir-194m 13,3 0,965
Gd-149 3,18 0,948 I-120m 19,4 0,963 Ir-195 0,296 0,948
Gd-151 0,639 0,932 I-121 2,94 0,948 Ir-195m 2,09 0,958
Gd-153 0,847 0,936 I-122 5,65 0,962 Ir-196 1,28 0,964
Gd-159 0,342 0,942 I-123 1,78 0,942 Ir-196m 14 0,964
Gd-162 2,4 0,963 I-124 6,59 0,953 K-38 15,5 0,965
Ge-66 3,87 0,958 I-125 1,75 0,921 K-40 0,779 0,965
Ge-67 7,84 0,965 I-126 2,88 0,950 K-42 1,37 0,965
Ge-69 5,15 0,965 I-128 0,44 0,953 K-43 5,48 0,965
Ge-75 0,192 0,965 I-129 0,692 0,922 K-44 11,2 0,965
Ge-77 5,82 0,965 I-130m 0,766 0,943 K-45 8,68 0,965
K-46 12,8 0,964 Mo-93 2,06 0,921 Os-183 3,46 0,953
Kr-74 5,94 0,963 Mo-93m 12,7 0,962 Os-183m 5,35 0,955
Kr-75 7,15 0,964 Mo-99 0,917 0,959 Os-185 3,9 0,955
Kr-76 2,38 0,960 N-13 5,86 0,876 Os-190m 8,97 0,964
Kr-77 5,78 0,964 N-16 14,2 0,949 Os-191 0,404 0,950
Kr-79 1,4 0,965 Na-22 11,8 0,965 Os-191m 0,0311 0,943
Kr-81 0,0045 0,876 Na-24 18,2 0,964 Os-193 0,364 0,955
Kr-81m 0,658 -,876 Nb-87 8,39 0,960 Os-194 0,027 0,927
Kr-83m 0,00413 0,876 Nb-88m 22,4 0,965 Os-196 0,441 0,956
Kr-85 0,0128 0,976 Nb-88 24,6 0,962 P-30 5,87 0,965
Kr-85m 0,79 0,964 Nb-89 7,65 0,962 Pa-227 0,533 0,940
Kr-87 3,81 0,965 Nb-89m 7,,93 0,963 Pa-228 8,94 0,955
Kr-88 8,97 0,964 Nb-90 21,9 0,960 Pa-229 0,953 0,948
Kr-89 9,25 0,965 Nb-91 2,26 0,921 Pa-230 4,67 0,954
La-128 15,7 0,964 Nb-91m 1,87 0,923 Pa-231 1,24 0,951
La-129 5,48 0,957 Nb-92 10,5 0,955 Pa-232 5,96 0,957
La-130 12,3 0,932 Nb-92m 7,48 0,948 Pa-233 1,98 0,953
La-131 4,19 0,950 Nb-93m 0,368 0,921 Pa-234 9,44 0,956
La-132 10,7 0,959 Nb-94m 1,42 0,921 Pa-234m 0,0816 0,958
La-132m 4,01 0,953 Nb-95 4,29 0,965 Pa-236 5,24 0,958
La-133 1,33 0,933 Nb-95m 1,71 0,938 Pa-237 3,42 0,965
La-134 4,26 0,958 Nb-96 13,6 0,965 Pb-194 5,66 0,958
La-135 0,672 0,923 Nb-97 3,77 0,965 Pb-195m 9,16 0,961
La-136 2,63 0,948 Nb-98m 15,1 0,965 Pb-196 2,68 0,957
La-137 0,593 0,922 Nb-99 2,01 0,952 Pb-197 7,91 0,960
La-138 6,55 0,953 Nb-99m 3,69 0,960 Pb-197m 6,43 0,960
La-140 11,7 0,965 Nd-134 3,32 0,951 Pb-198 2,36 0,957
La-141 0,13 0,965 Nd-135 7,43 0,955 Pb-199 5,4 0,959
La-142 10,9 0,964 Nd-136 2,05 0,938 Pb-200 1,04 0,954
La-143 1,31 0,965 Nd-137 6,83 0,950 Pb-201 4,12 0,959
Lu-165 5,98 0,953 Nd-138 0,597 0,926 Pb-201m 2,07 0,960
Lu-167 8,74 0,952 Nd-139 2,76 0,947 Pb-202m 11,1 0,964
Lu-169 6,91 0,951 Nd-139m 9,06 0,951 Pb-203 1,68 0,957
Lu-170 12,2 0,954 Nd-140 0,504 0,923 Pb-204m 11,4 0,965

161
f f f
Nucldeo . Nucldeo . Nucldeo .
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
. . .
Lu-171m 0,00184 0,940 Nd-141 0,765 0,927 Pb-210 0,0923 0,926
Lu-171 4,03 0,945 Nd-141m 3,92 0,963 Pb-211 0,36 0,964
Lu-172 10,5 0,955 Nd-147 0,931 0,943 Pb-212 0,792 0,958
Lu-173 1,11 0,941 Nd-149 2,12 0,956 Pb-214 1,43 0,961
Lu-174 0,673 0,937 Nd-151 4,57 0,959 Pd-96 8,98 0,957
Lu-174m 0,395 0,936 Nd-152 1,1 0,957 Pd-97 12,9 0,962
Lu-176 2,61 0,960 Ne-19 5,86 0,965 Pd-98 3,9 0,945
Lu-176m 0,073 0,946 Ne-24 3,09 0,965 Pd-99 7,69 0,958
Lu-177 0,181 0,957 Ni-56 9,35 0,965 Pd-100 3,07 0,935
Lu-177m 5,47 0,957 Ni-57 9,93 0,965 Pd-101 4.38 0,935
Lu-178 0,635 0,955 Ni-65 2,83 0,965 Pd-103 1,41 0,921
Lu-178m 5,8 0,959 Np-232 7,75 0,957 Pd-109m 1,05 0,950
Lu-179 0,155 0,962 Np-233 1 0,951 Pd-109 0,649 0,924
Lu-180 7,95 0,962 Np-234 6,4 0,955 Pd-111 0,263 0,959
Lu-181 3,22 0,957 Np-235 0,538 0,922 Pd-112 0,718 0,876
Mg-27 4,89 0,965 Np-236 2,95 0,944 Pd-114 0,152 0,960
Mg-28 7,64 0,951 Np-236m 0,628 0,949 Pm-136 15,4 0,964
Mn-50m 24,8 0,965 Np-237 1,2 0,932 Pm-137m 10,2 0,958
Mn-51 5,73 0,965 Np-238 3,67 0,954 Pm-139 5,4 0,958
Mn-52 18,4 0,965 Np-239 1,72 0,952 Pm-140m 16,9 0,963
Mn-52m 12,8 0,965 Np-240 7,19 0,954 Pm-140 6,01 0,964
Mn-54 4,63 0,876 Np-240m 2,22 0,953 Pm-141 4,22 0,955
Mn-56 8,54 0,965 Np-241 0,409 0,951 Pm-142 4,93 0,961
Mn-57 0,51 0,963 Np-242 1,44 0,960 Pm-143 2,08 0,938
Mn-58m 12,4 0,965 Np-242m 6,49 0,952 Pm-144 9,2 0,955
Mo-101 7,74 0,964 O-14 15,9 0,965 Pm-145 0,476 0,925
Mo-102 0,107 0,962 O-15 5,86 0,876 Pm-146 4,46 0,953
Mo-89 6,92 0,965 O-19 4,76 0,965 Pm-148 3,01 0,965
Mo-90 7,23 0,952 Os-180 0,929 0,942 Pm-148m 11,3 0,964
Mo-91m 7,65 0,964 Os-181 7,29 0,956 Pm-149 0,0659 0,962
Mo-91 5,72 0,965 Os-182 2,4 0,954 Pm-150 7,68 0,965
Pm-151 1,9 0,955 Ra-227 1,77 0,944 Rn-211 10,1 0,962
Pm-152m 8,07 0,960 Ra-228 0,487 0,921 Rn-212 0,00191 0,876
Pm-152 1,53 0,957 Ra-230 0,638 0,952 Rn-218 0,00432 0,876
Pm-153 0,527 0,946 Rb-77 8,63 0,962 Rn-219 0,327 0,964
Pm-154 8,82 0,958 Rb-78m 16,9 0,965 Rn-220 0,00359 0,876
Pm-154m 9,34 0,958 Rb-78 18,9 0,965 Rn-222 0,00223 0,876
Po-203 8,73 0,960 Rb-79 8,09 0,965 Rn-223 1,96 0,960
Po-204 6,49 0,957 Rb-80 6,82 0,965 Ru-92 14,4 0,954
Po-205 8,49 0,960 Rb-81 2,86 0,965 Ru-94 4,65 0,947
Po-206 6,69 0,959 Rb-81m 0,148 0,954 Ru-95 8,2 0,955
Po-207 7,01 0,960 Rb-82 6,33 0,965 Ru-97 3,07 0,946
Po-209 0,0322 0,960 Rb-82m 16 0,965 Ru-103 2,87 0,965
Po-211 0,0455 0,965 Rb-83 2,78 0,965 Ru-105 4,44 0,961
Po-212m 0,349 0,964 Rb-84 5,02 0,965 Ru-107 1,88 0,964
Po-214 0,000462 0,876 Rb-84m 2,11 0,965 Ru-108 0,443 0,956
Po-215 0,00101 0,876 Rb-86m 3,13 0,876 S-37 11,6 0,962
Pr-134 17,5 0,963 Rb-86 0,495 0,876 S-38 7,76 0,965
Pr-134m 12,4 0,963 Rb-88 3.02 0,965 Sb-111 8,64 0,962
Pr-135 5,26 0,952 Rb-89 11,1 0,965 Sb-113 7,59 0,961
Pr-136 11,7 0,961 Rb-90 8,3 0,962 Sb-114 14,4 0,963
Pr-137 2,36 0,945 Rb-90m 14,9 0,964 Sb-115 5,74 0,955
Pr-138 4,76 0,961 Re-178 8,38 0,958 Sb-116 12,3 0,959
Pr-138m 14 0,958 Re-179 5,78 0,957 Sb-116m 17,8 0,956
Pr-139 1,08 0,931 Re-180 6,56 0,956 Sb-117 2,05 0,943
Pr-140 3,32 0,954 Re-181 4,46 0,954 Sb-118 4,85 0,860
Pr-142 0,283 0,965 Re-182 9,43 0,955 Sb-118m 15,6 0,950
Pr-144 0,14 0,965 Re-182m 6,36 0,952 Sb-119 1,36 0,921
Pr-144m 0,206 0,924 Re-183 0,847 0,945 Sb-120 3,17 0,950
Pr-145 0,0994 0,953 Re-184 4,91 0,954 Sb-120m 14,3 0,954
Pr-146 5,18 0,965 Re-184m 2,06 0,953 Sb-122m 1,29 0,932
Pr-147 3,02 0,943 Re-186 0,103 0,952 Sb-122 2,57 0,964
Pr-148 5,13 0,964 Re-186m 0,0997 0,937 Sb-124 9,57 0,965
Pr-148m 5,21 0,964 Re-188 0,316 0,960 Sb-124m 2,51 0,965
Pt-184 3,93 0,954 Re-188m 0,359 0,945 Sb-125 3,03 0,948
Pt-186 3,82 0,955 Re-189 0,294 0,960 Sb-126 15,6 0,965
Pt-188 1,08 0,951 Re-190 7,45 0,964 Sb-126m 8,79 0,965
Pt-189 2,64 0,952 Re-190m 5,17 0,961 Sb-127 3,96 0,963

162
f f f
Nucldeo . Nucldeo . Nucldeo .
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
. . .
Pt-191 1,61 0,950 Rh-94 19,7 0,965 Sb-128 17,4 0,965
Pt-193m 0,0535 0,945 Rh-95 13,8 0,963 Sb-128m 10,7 0,965
Pt-195m 0,374 0,947 Rh-95m 4,68 0,962 Sb-129 7,81 0,965
Pt-197 0,115 0,952 Rh-96 21,9 0,964 Sb-130m 14,8 0,964
Pt-197m 0,432 0,949 Rh-96m 7,37 0,958 Sb-130 18 0,964
Pt-199 1,12 0,963 Rh-97 8,6 0,960 Sb-131 10,8 0,965
Pt-200 0,302 0,951 Rh-97m 11,9 0,956 Sb-133 13,6 0,965
Pu-232 0,712 0,951 Rh-98 10,3 0,964 Sc-42m 22,2 0,965
Pu-234 0,84 0,950 Rh-99 5,31 0,945 Sc-43 5,65 0,965
Pu-235 1,22 0,948 Rh-99m 5,08 0,950 Sc-44 11,7 0,965
Pu-236 0,209 0,921 Rh-100m 2,04 0,925 Sc-44m 1,49 0,965
Pu-237 0,891 0,945 Rh-100 15,1 0,956 Sc-46 10,8 0,965
Pu-238 0,192 0,921 Rh-101 3,21 0,949 Sc-47 0,534 0,876
Pu-239 0,079 0,921 Rh-101m 3,13 0,945 Sc-48 17,7 0,965
Pu-240 0,181 0,921 Rh-102 3,83 0,951 Sc-49 0,00494 0,965
Pu-242 0,155 0,921 Rh-102m 13,6 0,957 Sc-50 16,5 0,965
Pu-243 0,292 0,946 Rh-103m 0,15 0,921 Se-70 4,11 0,958
P-244 0,22 0,935 Rh-104 0,0755 0,960 Se-71 8,88 0,965
Pu-245 2,42 0,960 Rh-104m 1,56 0,927 Se-72 0,265 0,876
Pu-246 1,36 0,947 Rh-105 0,44 0,964 Se-73 6,2 0,960
Ra-219 0,95 0,962 Rh-106 1,15 0,965 Se-73m 1,49 0,964
Ra-220 0,0267 0,965 Rh-106m 15,5 0,965 Se-75 2,03 0,963
Ra-221 0,246 0,956 Rh-107 1,78 0,964 Se-77m 0,425 0,876
Ra-222 0,0509 0,965 Rh-108 1,82 0,965 Se-79m 0,0411 0,876
Ra-223 0,77 0,958 Rh-109 1,84 0,960 Se-81 0,0444 0,961
Ra-224 0,0557 0,963 Rn-207 5,52 0,962 Se-81m 0,0621 0,959
Ra-225 0,415 0,924 Rn-209 6,42 0,961 Se-83m 5,1 0,965
Ra-226 0,0394 0,962 Rn-210 0,341 0,960 Se-83 5,1 0,965
Se-84 2,4 0,965 Tb-146 18,4 0,963 Te-131 2,36 0,960
Si-31 0,00456 0,876 Tb-147m 9,75 0,956 Te-131m 8,1 0,960
Sm-139 8,18 0,961 Tb-147 11,7 0,957 Te-132 1,93 0,944
Sm-140 3,32 0,948 Tb-148m 17,7 0,961 Te-133 6,29 0,964
Sm-141 7,82 0,959 Tb-148 12,5 0,961 Te-133m 10,2 0,961
Sm-141m 10,7 0,958 Tb-149m 7,84 0,956 Te-134 5,13 0,958
Sm-142 0,875 0,932 Tb-149 7,27 0,955 Th-223 0,81 0,951
Sm-143 3,15 0,953 Tb-150m 14,5 0,960 Th-124 0,174 0,958
Sm-143m 3,86 0,962 Tb-150 12,2 0,957 Th-226 0,181 0,944
Sm-145 0,837 0,926 Tb-151 5,71 0,951 Th-227 1,58 0,947
Sm-151 0,000614 0,876 Tb-151m 0,534 0,940 Th-228 0,192 0,930
Sm-153 0,481 0,938 Tb-152m 4,44 0,952 Th-229 1,63 0,945
Sm-155 0,541 0,953 Tb-152 7,84 0,955 Th-230 0,157 0,923
Sm-156 0,673 0,953 Tb-153 2,02 0,944 Th-231 1,39 0,927
Sm-157 2,26 0,958 Tb-154 11,1 0,952 Th-232 0,143 0,922
Sn-106 7,81 0,953 Tb-155 1,17 0,942 Th-233 0,362 0,945
Sn-108 5,05 0,951 Tb-156 10,5 0,954 Th-234 0,206 0,941
Sn-109 12,1 0,953 Tb-156m 0,297 0,876 Th-235 0,31 0,963
Sn-110 2,7 0,946 Tb-156n 0,0309 0,933 Th-236 0,29 0,953
Sn-111 3,44 0,947 Tb-157 0,0499 0,927 Ti-44 0,698 0,948
Sn-113 1,21 0,922 Tb-158 4,56 0,947 Ti-45 5 0,965
Sn-113m 0,759 0,921 Tb-160 6,09 0,960 Ti-51 2,06 0,965
Sn-117m 1,69 0,945 Tb-161 0,571 0,930 Ti-52 1,16 0,955
Sn-119m 0,898 0,921 Tb-162 6,1 0,962 Tl-190 7,29 0,963
Sn-121m 0,219 0,921 Tb-163 4,5 0,963 Tl-190m 13,8 0,963
Sn-123 0,0364 0,965 Tb-164 13 0,962 Tl-194m 14,1 0,962
Sn-123m 0,823 0,959 Tb-165 4,3 0,963 Tl-195 6,16 0,957
Sn-125m 1,95 0,964 Tc-91 12,,6 0,964 Tl-196 9,59 0,961
Sn-125 1,76 0,965 Tc-91m 8,13 0,965 Tl-197 2,42 0,954
Sn-126 0,753 0,940 Tc-92 20,8 0,963 Tl-198 10,1 0,960
Sn-127m 3,18 0,965 Tc-93 9,63 0,951 Tl-198m 6,84 0,961
Sn-127 9,99 0,964 Tc-93m 5,15 0,955 Tl-199 1,33 0,954
Sn-128 5,15 0,940 Tc-74 16,5 0,959 Tl-200 7 0,960
Sn-129 5,51 0,965 Tc-94m 11,1 0,962 Tl-201 0,45 0,957
Sn-130 5,81 0,954 Tc-95 6,35 0,948 Tl-202 2,61 0,957
Sn-130m 5,16 0,953 Tc-95m 5,71 0,951 Tl-204 0,0059 0,948
Sr-79 6,8 0,961 Tc-96 15,8 0,957 Tl-206m 13,4 0,964
Sr-80 2,47 0,965 Tc-96m 1,13 0,926 Tl-206 0,000231 0,949
Sr-81 7,78 0,965 Tc-97 1,88 0,921 Tl-207 0,0128 0,876
Sr-82 0,0298 0,921 Tc-97m 1,3 0,921 Tl-208 15,2 0,964

163
f f f
Nucldeo . Nucldeo . Nucldeo .
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
. . .
Sr-83 4,54 0,964 Tc-98 7,99 0,965 Tl-209 10,8 0,963
Sr-85 2,86 0,965 Tc-99m 0,795 0,959 Tl-210 14,2 0,965
Sr-85m 1,15 0,964 Tc-101 1,91 0,964 Tm-161 6,88 0,946
Sr-87m 1,87 0,964 Tc-102m 12,6 0,965 Tm-162 9,65 0,956
Sr-91 3,86 0,965 Tc-102 0,438 0,965 Tm-163 7 0,948
Sr-92 6,77 0,965 Tc-104 11,1 0,965 Tm-164 4,25 0,954
Sr-93 11,9 0,965 Tc-105 4,57 0,959 Tm-165 3,24 0,948
Sr-94 7,16 0,965 Te-113 11,9 0,964 Tm-166 10,1 0,954
Ta-170 5,98 0,960 Te-114 7,8 0,948 Tm-167 0,903 0,942
Ta-172 9,04 0,958 Te-115 12,3 0,962 Tm-168 6,98 0,955
Ta-173 3,13 0,948 Te-115m 14,1 0,961 Tm-170 0,0224 0,943
Ta-174 5,15 0,956 Te-116 1,98 0,931 Tm-171 0,00403 0,936
Ta-175 5,78 0,951 Te-117 8,73 0,954 Tm-172 2,4 0,958
Ta-176 11 0,955 Te-118 0,917 0,921 Tm-173 2,23 0,962
Ta-177 0,398 0,940 Te-119 5,14 0,947 Tm-174 9,71 0,962
Ta-178 0,678 0,941 Te-119m 8,73 0,953 Tm--175 6,02 0,962
Ta-178m 6,44 0,956 Te-121 4,2 0,946 Tm-176 9,9 0,961
Ta-179 0,154 0,937 Te-121m 1,71 0,948 U-227 1,16 0,953
Ta-180 0,289 0,939 Te-123 0,00159 0,921 U-228 0,222 0,933
Ta-182 6,75 0,957 Te-123m 1,24 0,948 U-230 0,25 0,924
Ta-182m 1,38 -,952 Te-125m 1,44 0,921 U-231 2,23 0,939
Ta-183 1,6 0,952 Te-127 0,0287 0,961 U-232 0,234 0,921
Ta-184 8,67 0,962 Te-127m 0,448 0,921 U-233 0,108 0,921
Ta-185 0,801 0,954 Te-129 0,523 0,939 U-234 0,212 0,921
Ta-186 7,86 0,963 Te-129m 0,497 0,927 U-235 1,36 0,957
U-236 0,192 0,921 Xe-129m 1,25 0,923 Yb-162 1,41 0,948
U-237 1,66 0,946 Xe-129m 1,25 0,923 Yb-163 3,99 0,951
U-238 0,154 0,921 Xe-131m 0,521 0,923 Yb-164 0,374 0,934
U-239 0,471 0,944 Xe-133 0,568 0,935 Y-165 1,93 0,942
U-240 0,449 0,928 Xe-133m 0,639 0,928 Yb-166 0,593 0,935
U-242 0,272 0,949 Xe-135 1,38 0,963 Yb-167 1,53 0,944
V-47 5,7 0,965 Xe-135m 2,54 0,959 Yb-169 1,94 0,943
V-48 15,5 0,965 Xe-137 1,04 0,965 Yb-175 0,22 0,957
V-50 7,05 0,965 Xe-138 5,46 0,963 Yb-177 1,03 0,956
V-52 7,21 0,965 Y-81 6,77 0.963 Yb-178 0,218 0,962
V-53 5,57 0,965 Y-83 7,82 0,961 Yb-179 5,55 0,963
W-177 5 0,953 Y-83m 4,85 0,965 Zn-60 8,73 0,963
W-178 0,0888 0,939 Y-84m 21,8 0,965 Zn-61 8,34 0,965
W-179 0,442 0,936 Y-85 6,26 0,965 Zn-62 2,59 0,956
W-179m 0,305 0,944 Y-85m 7,13 0,964 Zn-63 6,24 0,965
W-181 0,236 0,939 Y-86 18,9 0,965 Zn-65 3,07 0,965
W-185m 0,127 0,950 Y-86m 1,17 0,964 Zn-69m 2,38 0,965
W-185 0,000231 0,943 Y-87 2,82 0,962 Zn-71 1,76 0,965
W-187 2,52 0,958 Y-87m 1,8 0,964 Zn-71m 8,83 0,965
W-188 0,0101 0,958 Y-88 13,5 0,963 Zn-72 0,97 0,959
W-190 0,776 0,949 Y-89m 4,94 0,965 Zr-85 8,31 0,965
Xe-120 3,59 0,937 Y-90m 3,57 0,965 Zr-86 2,25 0,953
Xe-121 7,96 0,955 Y-91 0,0163 0,876 Zr-87 5,31 0,965
Xe-122 1,08 0,928 Y-91m 3,04 0,965 Zr-88 2,49 0,961
Xe-123 4,07 0,947 Y-92 1,34 0,965 Zr-89 6,59 0,963
Xe-125 2,4 0,941 Y-93 0,488 0,965 Zr-89m 3,66 0,964
Xe-127 2,28 0,946 Y-94 4,09 0,965 Zr-95 4,12 0,965
Xe-127m 1,23 0,948 Y-95 4,96 0,964

5.4.6. Relao entre dose efetiva (E) e atividade da fonte (A)

Uma relao semelhante permite obter o valor da Dose Efetiva, em mSv, em


funo da atividade da fonte radioativa, em kBq, utilizando um Fator de Converso de
dose, em (mSv.m2)/(kBq.h), obtido com o auxlio do programa CONDOS desenvolvido
pelo Laboratrio Nacional de Oak Ridge, dos Estados Unidos. Esta tabela, elaborada em
1982, possui muitos valores que necessitam de atualizao (ver: publicao ORNL/RSIC-
45 (1982).

164
Assim, em qualquer divergncia entre valores, deve-se optar pelo que se acredita
ser de maior credibilidade e atualidade. No caso da dose equivalente, definida pela ICRP
26, obtida com o uso do , diferir do valor obtido para a Dose Efetiva, definida pela ICRP
60, deve-se optar por este valor, uma vez que a tabela de valores do Fator de Converso
foi incorporada no Generic Procedures for Assessment and Response during an
Radiological Emergency, pela Agncia Internacional de Energia Atmica, na publicao
IAEA TECDOC-1162 de 2000.
Para uma boa geometria de medio, com fonte considerada puntiforme e
distncia maior que um metro, tem-se a equao:

A FC p t
Ep
d2
onde

Ep = dose efetiva devido exposio a uma fonte puntiforme (mSv);


A = atividade da fonte (kBq);
FCp = fator de converso para fonte puntiforme (mSv.m2/kBq.h);
t = durao da exposio (h).(ver Tabela 5.7); e
d = distncia (m).

Observao: esta expresso no vale para distncia menor que 0,5 m.

Tabela 5.7 - Valores do fator de converso para a obteno da dose efetiva


(em mSv) devida exposio a uma fonte puntiforme (atividade em kBq),
para um tempo t (em h).
FCp FCp FCp
Radionucldeo (mSv.m2) Radionucldeo (mSv.m2) Radionucldeo (mSv.m2)
(kBq.h) (kBq.h) (kBq.h)
Na-22 2,2 E-07 Sn-123 7,0 E-10 Tb-160 1,1 E-07
Na-24 3,8 E-07 Sn-126+Sb-126m 5,7 E-09 Ho-166m 1,6 E-07
K-40 1,6 E-08 Sb-124 1,9 E-07 Hf-172 2,2 E-08
K-42 2,8 E-08 Sb-126 2,8 E-07 Hf-181 5,5 E-08
Sc-46 2,1 E-07 Sb-126m 4,9 E-10 Ta-182 1,3 E-07
Ti-44 1,1 E-08 Sb-127 6,8 E-08 W-187 4,9 E-08
V-48 2,9 E-07 Sb-129 1,5 E-07 Ir-192 8,3 E-08
Cr-51 3,4 E-09 Te-127 6,0 E-09 Au-198 4,1 E-08
Mn-54 8,6 E-08 Te-127m 1,6 E-09 Hg-203 2,3 E-08
Mn-56 1,7 E-07 Te-129 4,2 E-08 Ti-204 1,0 E-10
Fe-55 3,2 E-10 Te-129m+Te-129 4,6 E-08 Pb-210 6,9 E-10
Fe-59 1,2 E-07 Te-131 4,5 E-08 Bi-207 1,6 E-07
Co-58 1,0 E-07 Te-131m 1,5 E-07 Ra-226 6,2 E-10
Co-60 2,5 E-07 Te-132 2,3 E-08 Ac-228 9,5 E-08
Cu-64 2,0 E-08 I-125 5,9 E-09 Th-227 1,1 E-08
Zn-65 6,0 E-08 I-129 3,4 E-09 Th-228 3,9 E-10
Ga-68 9,8 E-08 I-131 3,9 E-08 Th-230 2,3 E-10
Ge-68+Ga-68 9,8 E-08 I-132 2,4 E-07 Th-231 2,5 E-10
Se-75 3,9 E-08 I-133 6,2 E-08 Th-232 2,1 E-10
Kr-85 2,3 E-10 I-134 2,7 E-07 Pa-231 4,3 E-09
Kr-85m 1,5 E-08 I-135+Xe-135 3,8 E-07 U-Dep e Nat 2,3 E-10
Kr-87 7,8 E-08 Xe-131m 2,7 E-09 U-Enriquecido 2,8 E-10
Kr-88+Rb-88 2,5 E-07 Xe-133 4,9 E-09 U-232 3,2 E-10
Rb-86 9,6 E-09 Xe-133m 4,8 E-09 Pa-233 1,7 E-08
Rb-88 5,7 E-08 Xe-135 2,4 E-08 U-233 1,2 E-10
Sr-89 1,4 E-11 Xe-138 1,1 E-07 U-234 2,8 E-10
Sr-91 7,1 E-08 Cs-134 1,6 E-07 U-235 1,4 E-08
Y-91 3,7 E-10 Cs-136 2,2 E-07 U-238 2,3 E-10
Y-91m 5,5 E-08 Ba-137m 6,2 E-08 Np-237 3,8 E-09

165
FCp FCp FCp
Radionucldeo (mSv.m2) Radionucldeo (mSv.m2) Radionucldeo (mSv.m2)
(kBq.h) (kBq.h) (kBq.h)
Zr-95 7,6 E-08 Cs-137+Ba-137m 6,2 E-08 Pu-236 3,4 E-10
Nb-94 1,6 E-07 Ba-133 4,1 E-08 Pu-238 3,0 E-10
Nb-95 7,9 E-08 Cs-138 3,0 E-09 Pu-239 1,2 E-10
Mo-99 1,6 E-08 Ba-140 2,0 E-08 Pu-240 2,8 E-10
Tc-99m 1,2 E-08 La-140 2,3 E-07 Pu-242 2,3 E-10
Rh-103 2,1 E-08 Ce-141 7,2 E-09 Am-241 3,1 E-09
Ru-103 5,0 E-08 Ce-144+Pr-144 3,1 E-09 Am-242 8,5 E-10
Ru-105 8,1 E-08 Pr-144m 2,9 E-09 Am-243 5,4 E-09
Ru-106 1,4 E-09 Pr-144 1,2 E-09 Cm-242 3,1 E-10
Ru-106+Rh-106 1,4 E-09 Pm-145 3,6 E-09 Cm-243 1,3 E-08
Ag-110m 2,8 E-07 Eu-152 1,2 E-07 Cm-244 2,8 E-10
Cd-109+Ag-109m 1,6 E-07 Eu-154 1,3 E-07 Cm-245 7,5 E-09
In-114m 1,0 E-08 Eu-155 5,3 E-09 Cf-252 2,1 E-10
Sn-113 3,4 E-09 Gd-153 1,1 E-08

5.4.7. Relao entre dose efetiva (E) e atividade (A) por unidade de rea (ICRP 60)

A dose efetiva que uma pessoa recebe, devido sua permanncia por um perodo
de tempo, num solo contaminado por determinado radionucldeo pode ser estimada por
meio de um Fator de Converso. Este fator obtido por um modelo de clculo que leva
em conta a exposio externa e a dose comprometida devido inalao do radionucldeo,
em resuspenso, que permanece no solo contaminado, durante o perodo de tempo
considerado. Assim,

E Csolo FCsolo ,t

onde E a Dose Efetiva na pessoa no tempo de permanncia t, em 1 ms, 2 meses e 50


anos (em mSv), Csolo a Atividade mdia por unidade de rea, ou concentrao mdia do
radionucldeo por unidade de rea (em kBq/m2) e FCsolo,t o Fator de Converso da
Atividade mdia por unidade de rea em Dose Efetiva, para uma pessoa que permanece
um perodo de tempo t, de 1 ms, 2 meses ou 50 anos, num solo contaminado com
determinado radionucldeo [em mSv/ (kBq/m2)] (ver Tabela 5.8).
Para um solo contaminado com vrios radionucldeos, as doses efetivas devem ser
calculadas para cada radionucldeo e, posteriormente, somadas. No preciso fazer a
correo devido ao decaimento radioativo de cada radionucldeo, pois j est includa no
modelo de clculo.

Tabela 5.8 - Fator de converso da atividade por unidade de rea para dose
efetiva E, em funo do perodo de permanncia no solo contaminado.

Fator de Converso Fator de Converso


Radionucldeo [(mSv)/(kBq/m2)] Radionucldeo [(mSv)/(kBq/m2)]
1o ms 2o ms 50 anos 1o ms 2o ms 50 anos
C-14 5,2 E-07 4,9 E-07 1,0 E-04 Cs-134 2,7 E-03 2,5 E-03 5,1 E-03
Na-22 3,7 E-03 3,4 E-03 8,4 E-02 Cs-135 7,0 E-07 3,9 E-07 8,5 E-06
Na-24 2,0 E-04 0,0 E+00 2,0 E-04 Cs-136 1,9 E-03 3,6 E-04 2,3 E-03
P-32 5,3 E-06 1,2 E-06 6,8 E-06 Cs-137+Ba-137m 9,9 E-04 9,4 E-04 1,3 E-01
P-33 1,1 E-06 4,4 E-07 1,8 E-06 Ba-133 7,0 E-04 6,6 E-04 4,8 E-02
S-35 1,2 E-06 8,7 E-07 4,7 E-06 Ba-140 2,0 E-03 4,4 E-03 2,5 E-03
Cl-36 8,1 E-06 7,7 E-06 1,6 E-03 La-140 3,2 E-04 1,2 E-09 3,2 E-04
K-40 2,6 E-04 2,5 E-04 5,3 E-02 Ce-141 9,9 E-05 4,9 E-05 2,0 E-04
K-42 1,2 E-05 0,0 E+00 1,2 E-05 Ce-144+Pr-144 1,5 E-04 1,3 E-04 1,4 E-03
Ca-45 2,9 E-06 2,4 E-06 1,8 E-05 Pr-144 4,0 E-08 0,0 E+00 4,0 E-08
Sc-46 3,0 E-03 2,2 E-03 1,2 E-02 Pr-144m 2,2 E-08 0,0 E+00 2,2 E-08

166
Fator de Converso Fator de Converso
Radionucldeo [(mSv)/(kBq/m2)] Radionucldeo [(mSv)/(kBq/m2)]
1o ms 2o ms 50 anos 1o ms 2o ms 50 anos
Ti-44+Sc-44 4,0 E-03 3,9 E-03 5,9 E-01 Pm-145 6,0 E-05 5,7 E-05 5,8 E-03
V-48 2,8 E-03 7,1 E-04 3,7 E-03 Pm-147 4,4 E-06 4,1 E-06 1,0 E-04
Cr-51 3,8 E-05 1,7 E-05 6,9 E-05 Sm-151 3,5 E-06 3,3 E-06 5,9 E-04
Mn-54 1,4 E-03 1,2 E-03 1,4 E-02 Eu-152 2,0 E-03 1,9 E-03 1,6 E-01
Mn-56 1,5 E-05 0,0 E+00 1,5 E-05 Eu-154 2,1 E-03 2,0 E-03 1,3 E-01
Fe-55 9,1 E-07 8,5 E-07 2,2 E-05 Eu-155 1,1 E-04 1,0 E-04 4,2 E-03
Co-58 1,6 E-03 9,4 E-04 3,9 E-03 Gd-153 1,8 E-04 1,6 E-04 1,5 E-03
Co-60 4,2 E-03 3,9 E-03 1,7 E-01 Tb-160 1,7 E-03 1,2 E-03 5,8 E-03
Ni-63 5,3 E-07 5,0 E-07 9,1 E-05 Ho-166m 3,1 E-03 2,9 E-03 6,1 E-01
Cu-64 8,6 E-06 0,0 E+00 8,6 E-06 Tm-170 1,6 E-05 1,3 E-05 8,5 E-05
Zn-65 9,4 E-04 8,2 E-04 8,0 E-03 Yb-169 4,0 E-04 2,0 E-04 7,9 E-04
Ge-68+Ga-68 1,6 E-03 1,4 E-03 1,4 E-03 Hf-181 7,7 E-04 4,5 E-04 1,8 E-03
Se-75 6,2 E-04 4,9 E-04 3,1 E-03 Ta-182 2,0 E-03 1,6 E-03 9,7 E-03
Rb-86 1,0 E-04 3,2 E-05 1,5 E-04 W-187 4,1 E-05 0,0 E+00 4,1 E-05
Sr-89 1,1 E-05 6,6 E-06 2,8 E-05 Ir-192 1,2 E-03 8,9 E-04 4,4 E-03
Sr-90 1,7 E-04 1,6 E-04 2,1 E-02 Au-198 9,4 E-05 3,9 E-08 9,4 E-05
Sr-91 3,4 E-05 7,5 E-08 3,4 E-05 Hg-203 3,3 E-04 2,0 E-04 8,5 E-04
Y-90 1,7 E-06 6,7 E-10 1,7 E-06 Tl-204 4,0 E-06 3,8 E-06 1,2 E-04
Y-91 1,7 E-05 1,1 E-05 4,9 E-05 Pb-210 1,9 E-03 2,2 E-03 5,9 E-01
Y-91m 1,6 E-06 6,5 E-09 1,6 E-06 Bi-207 2,6 E-03 2,5 E-03 3,4 E-01
Zr-93 2,2 E-05 2,1 E-05 4,8 E-03 Bi-210 1,2 E-04 1,1 E-04 7,3 E-04
Zr-95 1,4 E-03 1,3 E-03 6,8 E-03 Po-210 3,5 E-03 2,9 E+03 2,0 E-02
Nb-94 2,7 E-03 2,6 E-03 5,5 E-01 Ra-226 9,2 E-03 9,2 E-03 1,9 E+00
Nb-95 1,0 E-03 5,2 E-04 2,1 E-03 Ac-227 4,6 E-01 4,4 E-01 5,1 E+01
Mo-99+Tc-99m 6,1 E-05 3,1 E-08 6,1 E-05 Ac-228 3,6 E-05 1,4 e-05 3,0 E-04
Tc-99 4,1 E-06 3,9 E-06 8,2 E-04 Th-227 7,7 E-03 3,7 E-03 1,3 E-02
Tc-99m 2,7 E-06 1,2 E-14 2,7 E-06 Th-228 4,2 E-02 3,9 E-02 7,7 E-01
Ru-103 6,4 E-04 3,6 E-04 1,5 E-03 Th-230 3,7 E-02 3,5 E-02 7,5 E+00
Ru-105 1,4 E-05 1,8 E-12 1,4 E-05 Th-232 1,9 E-01 1,8 E-01 4,6 E+01
Ru-106+rH-106 4,2 E-04 3,8 E-04 4,8 E-03 Pa-231 1,2 E-01 1,1 E-01 6,7 E+01
Ag-110m 4,5 E-03 3,9 E-03 3,9 E-02 U-232 3,2 E-02 3,1 E-02 1,2 E+01
Cd-109+Ag-109m 6,4 E-05 5,8 E-05 8,6 E-04 U-233 8,0 E-03 7,6 E-03 1,7 E+00
Cd-113m 1,1 E-04 1,1 E-04 9,2 E-03 U-234 7,9 E-03 7,4 E-03 1,6 E+00
In-114m 4,5 E-04 3,5E-04 2,2 E-03 U-235 7,4 E-03 7,00E-03 1,5 E+00
Sn-113+In-113m 2,2 E-05 1,7 E-05 1,2 E-04 U-236 7,3 E-03 6,9 E-3 1,5 E+00
Sn-123 3,2 E-03 3,2 E-03 7,0 E-01 U-238 6,80E-03 6,4 E-03 1,4 E+00
Sn-126+Sb-126M 2,6 E-03 1,0 E-03 7,8 E-03 U Dep e Natural 6,8 E-03 6,4 E-03 1,4 E+00
Sb-124 2,4 E-03 4,2 E-04 2,9 E-03 U Enriquecido 7,9 E-03 7,4 E-03 1,6 E+00
Sb-126m 2,3 E-04 1,1 E-06 2,3 E-04 UF6g (U-234) 7,9 E-03 7,4 E-03 1,6 E+00
Sb-127 2,3 E-05 4,9 E-08 2,3 E-05 Np-237 2,6 E-02 2,5 E-02 5,3 E+00
Sb-129 3,7 E-06 3,6 E-08 3,7 E-06 Np-239 3,4 E-05 6,4 E-09 3,4 E-05
Te-127 1,8 E-07 0,0 E+00 1,8 E-07 Pu-236 1,6 E-02 1,5 E-02 8,0 E-01
Te-127m 3,4 E-05 2,7 E-05 1,6 E-04 Pu-238 3,9 E-02 3,7 E-02 6,6 E+00
Te-129 2,5 E-07 9,7 E-16 2,5 E-07 Pu-239 4,2 E-02 4,0 E-02 8,5 E+00
Te-129m 1,1 E-04 5,4 E-05 2,2 E-04 Pu-240 4,2 E-02 4,0 E-02 8,4 E+00
Te-131 1,2 E-06 3,8 E-08 1,2 E-06 Pu-241 7,6 E-04 7,2 E-04 1,9 E-01
Te-131m 2,0 E-04 3,3 E-06 2,0 E-04 Pu-242 4,0 E-02 3,8 E-02 8,8 E+00
Te-132 6,9 E-04 1,1 E-06 6,9 E-04 Am-241 3,5 E-02 3,3 E-02 6,7 E+00
I-125 7,8 E-05 5,2 E-05 2,4 E-04 Am-242m 3,2 E-02 3,0 E-02 6,3 E+00
I-129 1,7 E-04 1,6 E-04 3,4 E-02 Am-243 3,5 E-02 3,3 E-02 7,0 E+00
I-131 2,5 E-04 1,8 E-05 2,7 E-04 Cm-242 4,2 E-03 3,5 E-03 5,9 E-02
I-132 1,9 E-05 0,0 E+00 1,9 E-05 Cm-243 3,5 E-02 3,3 E-02 4,3 E+00
I-133 4,5 E-05 0,0 E+00 4,5 E-05 Cm-244 2,9 E-02 2,7 E-02 2,8 E+00
I-134 8,1 E-06 0,0 E+00 8,1 E-06 Cm-245 5,0 E-02 4,7 E-02 1,0 E+01
I-135+Xe-135m 3,7 E-05 0,0 E+00 3,7 E-05 Cf-252 1,7 E-02 1,5 E-02 3,9 E-01

5.4.8. Relao entre dose absorvida na pele (DT) e atividade (A) por unidade de rea
de emissor beta

(Baseado em: DELACROIX, D., GUERRE, J.P., LEBLANC, P., HICKMAN, C.,
Radionuclide and Radiation Protection Data Handbook, 1988, Radiation Protection
Dosimetry, V.76, No.1-2, 1998).
167
A dose absorvida na pele devida radiao beta muito difcil de ser medida
diretamente e usualmente estimada. A taxa de dose beta, expressa em funo da
concentrao superficial mdia de um radionucldeo sobre a pele, apresenta estimativas
mais confiveis para esta via de exposio, uma vez que os dados da literatura variam em
muitas ordens de grandeza. A dose aqui calculada para a camada basal da pele (70 m
de profundidade) devido aos raios beta e eltrons.
A contribuio gama para a taxa de dose na pele percentualmente muito
pequena. A contaminao suposta ser uniformemente dispersa sobre a pele. A Dose
Absorvida no tecido da pele pode ser estimada pela expresso:

C skin .CFbeta skin .t


DT ( skin)
SFbeta
onde

DT(skin) = dose absorvida na pele (Gy);


Cskin = concentrao superficial mdia do radionucldeo na pele ou roupa (Bq.cm-2) ou
atividade por unidade de rea;
CFbeta - skin = fator de converso: taxa de dose x contaminao de emissor beta na pele
[(Gy.h-1)/(Bq.cm-2)];
SFbeta = fator de blindagem para radiao beta devido ao vesturio; valores
representativos dos fatores de blindagem so aproximadamente 3-5 para roupas
leves (finas) e 1000 para roupas pesadas (espessas); e
t = tempo de exposio (h)

A equao pode ser calculada para cada radionucldeo presente e as doses


equivalentes podem ser somadas.

Tabela 5.9 - Fator de converso da atividade por unidade de rea


(concentrao) para dose absorvida na pele, de radionucldeo emissor beta.

CFbeta-skin CFbeta-skin
Radionucldeo Radionucldeo
(Gy.h-1)/(Bq.cm-2) (Gy.h-1)/(Bq.cm-2)
H-3 0 S-35 0,35
C-14 0,32 Cl-36 1,8
F-18 1,9 K-40 1,5
Na-22 1,7 K-42 2,2
Na-24 2,2 K-43 1,9
Al-26 1,8 Ca-45 0,84
P-32 1,9 Ca-47/Sc-47 3,5
P-33 0,86 Sc-46 1,4
Sc-47 1,5 Sb-124 2,2
Cr-51 0,015 Sb-126 1,8
Mn-52 0,761 Te-123m 1,1
Mn-54 0,062 Te-132 0,78
Mn-56 2,4 I-123 0,38
Fe-52 1,1 I-124 0,52
Fe-55 0,016 I-125 0,021
Fe-59 0,97 I-131 1,6
Co-56 0,55 Cs-131 0,01
Co-57 0,12 Cs-134 1,4
Co-58 0,30 Cs-137 1,6
Co-60 0,78 Ba-133 0,13
Ni-63 0 Ba-140/La-140 3,8
Ni-65 2,2 La-140 2,1
Cu-64 1,0 Ce-139 0,49
Cu-67 1,3 Ce-141 1,8
Zn-65 0,076 Ce-143 2,0

168
CFbeta-skin CFbeta-skin
Radionucldeo Radionucldeo
(Gy.h-1)/(Bq.cm-2) (Gy.h-1)/(Bq.cm-2)
Ga-66 1,6 Pr-143 1,7
Ga-67 0,35 Pm-147 0,6
Ga-68 1,8 Sm-153 1,6
As-76 2,1 Eu-152 0,92
Se-75 0,14 Eu-154 2,1
Br-77 0,01 Eu-156 1,2
Br-82 1,5 Er-169 1,1
Rb-87 1,9 Yb-169 1,0
Sr-85 0,06 Re-186 1,8
Sr-89 1,8 Re-188 2,3
Sr-90/Y-90 3,5 Ir-192 1,9
Y-90 2,0 Au-198 1,7
Zr-95/Nb-95 1,6 Hg-197 0,092
Mo-99/Tc-99m 1,9 Hg-203 0,89
Tc-99m 0,25 Tl-201 0,27
Tc-99 1,2 Tl-204 1,6
Ru-103/Rh-103m 0,78 Pb-210 0,0084
Ru-106/Rh-106 2,2 Po-210 6,90E-07
Ag-110m 0,68 U-235 0,18
Ag-111 1,8 U-238 2,30E-03
Cd-109 0,54 Pu-238 3,70E-03
In-111 0,38 Pu-239 1,40E-03
In-113m 0,73 Am-241 0,019
In-115m 1,3 Cm-244 2,20E-03
Sn-125 2,3 Cf-252 3,2E-03
Sb-122 2,2

Exemplo

Qual a dose absorvida no tecido da pele de uma pessoa cuja contaminao mdia
foi de 1250 Bq.cm-2 de 99Mo/99Tcm e 250 Bq.cm-2 de 131I por 2 horas? Considerar o fator
de blindagem SFbeta igual 1.

Dados:

99
Mo/99Tcm; CFbeta-skin = 1,9 (Gy.h-1)/(Bq.cm-2)

I-131; CFbeta-skin = 1,6 (Gy.h-1)/(Bq.cm-2)

SFbeta = 1

T= 2 h

Substituindo na expresso:

C skin .CFbeta skin .t


DT ( skin)
SFbeta
tem-se:
DT(skin) (99Mo/99Tcm) = 4750 Gy
DT(skin) (131I) = 800 Gy

A dose absorvida total na pele, por 2 horas, foi de 5,6 mGy

169
5.4.9. Relao entre dose efetiva (E) e atividade (A) de radionucldeo incorporada

As incorporaes de radionucldeos podem ocorrer por vrios modos e caminhos.


Para os indivduos ocupacionalmente expostos a principal via de entrada por inalao.
Indivduos do Pblico, podem se contaminar por inalao e ingesto, s vezes por
ferimentos. Pacientes de hospitais podem incorporar radionucldeos por via venosa.
No caso de inalao, pode ocorrer que uma parte do material depositado no
sistema respiratrio seja transferida para a garganta e seja engolida. Neste caso, ocorrer
uma ingesto de material radioativo, muito frequente em casos de acidentes radiolgicos.
Em algumas situaes pode haver a absoro atravs da pele, por cortes ou feridas,
provocando doses de radiao decorrentes.
Para a estimativa da dose absorvida comprometida, nos casos de inalao ou
ingesto, a ICRP e a IAEA desenvolveram vrios modelos de clculo, descritos nas
publicaes ICRP(1979) e IAEA(2004).
Os atuais modelos biocinticos da ICRP para calcular os coeficientes de dose para
inalao e ingesto, utilizam compartimentos conforme descritos nos ICRP 30 e 66.
A transferncia para o sangue para os diferentes tipos de incorporao pode ser
caracterizada da seguinte forma:

Tipo F (F = fast): h absoro rpida de quase todo o material depositado na


rvore bronquial, nos bronquolos terminais e alveolares. Metade do material
depositado na passagem nasal posterior transferida para o trato gastrointestinal
pelo transporte de partculas e metade absorvida. Todo o material absorvido
com uma meia-vida biolgica de 10 minutos. Por exemplo, os compostos de csio
e iodo.
Tipo M (M = medium): h uma rpida absoro de cerca de 10% do depsito na
rvore bronquial e bronquolos terminais e 5% do material depositado na
passagem nasal posterior. Cerca de 70% do depsito na parte alveolar
eventualmente atinge os fluidos corporais por absoro. Do material recolhido,
10% so absorvidos com uma meia-vida biolgica de 10 minutos e 90% com uma
meia-vida biolgica de 140 dias. Por exemplo, compostos de rdio e amercio.
Tipo S (S = slow): h pouca absoro na passagem nasal posterior, rvore
bronquial ou bronquolos terminais, e cerca de 10% do depsito na parte alveolar
eventualmente atinge fluidos corporais por absoro. Desse material, 0,1%
absorvido com uma meia-vida biolgica de 10 minutos e 99,9% com uma meia-
vida biolgica de 7.000 dias. Exemplos: compostos insolveis de urnio e
plutnio.

Para os radionucldeos inalados na forma de partculas ou aerossis por


trabalhadores, supe-se que a entrada no sistema respiratrio e a sua deposio em suas
diversas regies, seja regida somente pela distribuio do tamanho aerodinmico dos
aerossis (AMAD). A situao diferente para o caso de inalao de gases e vapores,
uma vez que as suas molculas reagem com as superfcies internas do trato respiratrio
homogeneamente e a absoro depende muito da solubilidade e reatividade qumica. Isto
significa que a sua deposio localizada no pode ser prevista por argumentos
mecanicistas ou mesmo pelo conhecimento de suas propriedades fsicas e qumicas, mas
por estudos experimentais in vivo.
Para o clculo da dose comprometida os modelos classificam os gases e vapores
em trs classes:

170
a) Classe SR-1: insolvel e no reativo, com deposio insignificante no trato
respiratrio, como por exemplo, 41Ar, 85Kr e 133Xe;
b) Classe SR-1: solvel ou reativa, quando a deposio Pode ocorrer em todo o
trato respiratrio, como por exemplo, 3H, 14CO, 131I vapor e 195Hg vapor;
c) Classe SR-2: altamente solvel ou reativa, quando a deposio total nas vias
reas, como, por exemplo, a HTO (gua triciada) e OBT (trcio organicamente
ligado).

A Tabela 5.10 fornece os coeficientes de dose efetiva comprometida por unidade


de entrada em (Sv/Bq), para os casos de inalao, ingesto e entrada direta no sangue (injeo)
de alguns radionucldeos e o fator de transferncia f entre compartimentos do modelo de clculo
para ingesto. Para mais detalhes, consultar a Posio Regulatria 3.01/003:2011 da CNEN,
intitulada: Coeficientes de Dose para Indivduos Ocupacionalmente Expostos.

Tabela 5.10 - Coeficientes de dose efetiva comprometida e(g) por unidade de


incorporao.
Inalao Ingesto Injeo
Radionucldeo Tipo/forma AMAD AMAD e(g)ing e(g)inj
f1 f1
= 1 um = 5 um (Sv/Bq) (Sv/Bq)
HTO 1,80E-11 1 1,80E-11 1,80E-11
3
H OBT 4,10E-11 1 4,20E-11
gas 1,80E-15
32
F 8,00E-10 1,10E-09 0,8 2,30E-10 2,20E-09
P
M 3,20E-09 2,90E-09
55
F 7,70E-10 9,20E-10 0,1 3,30E-10 0,1 3,00E-09
Fe
M 3,70E-10 3,30E-10
59
F 2,20E-09 0,1 1,80E-09 0,1 8,40E-09
Fe
M 3,50E-09
60
M 9,60E-09 7,71E-08 0,1 3,40E-09 1,90E-08
Co
S 2,90E-08 1,70E-08 0,05

67
F 6,80E-11 1,10E-10 0,01 1,90E-10 1,20E-10
Ga
M 2,30E-10 2,80E-10
85
F 3,90E-10 5,60E-10 0,3 5,60E-10 1,10E-09
Sr
S 7,70E-10 6,40E-10 0,01 3,30E-10

89
F 1,00E-10 1,40E-09 0,3 2,60E-09 3,10E-09
Sr
S 7,50E-09 5,60E-09 0,01 2,30E-09

90
F 2,40E-08 3,00E-08 0,3 2,80E-08 8,80E-08
Sr
S 1,50E-07 7,70E-08 0,01 2,70E-09
F 2,50E-09 3,00E-09 0,002 8,80E-10 1,00E-08
95
Zr M 4,50E-09 3,60E-09
S 5,50E-09 4,20E-09
95
M 1,40E-09 1,30E-09 0,01 5,80E-10 2,10E-09
Nb
S 1,60E-09 1,30E-09
99
F 2,90E-10 4,00E-10 0,8 7,80E-10 8,70E-10
Tc
M 3,90E-09 3,20E-09
99
F 1,20E-11 2,00E-11 0,8 2,20E-11 1,90E-11
Tcm
M 1,90E-11 2,90E-11
F 8,00E-09 9,80E-09 0,05 7,00E-09 3,00E-08
106
Ru M 2,60E-08 1,70E-08
S 6,20E-08 3,50E-08

171
Inalao Ingesto Injeo
Radionucldeo Tipo/forma AMAD AMAD e(g)ing e(g)inj
f1 f1
= 1 um = 5 um (Sv/Bq) (Sv/Bq)

125
F 1,40E-09 1,70E-09 0,1 1,10E-09 5,40E-09
Sb
M 4,50E-09 3,30E-09
123
F 7,60E-11 1,10E-10 1 2,10E-10 2,20E-10
I
V 2,10E-10
124
F 4,50E-09 6,30E-09 1 1,30E-08 1,30E-08
I
V 1,20E-08
125
F 5,30E-09 7,30E-09 1 1,50E-08 1,50E-08
I
V 1,40E-08
131
F 7,60E-09 1,10E-08 1 2,20E-08 2,20E-08
I
V 2,00E-08
134
Cs F 6,80E-09 9,60E-09 1 1,90E-08 1,90E-08
137
Cs F 4,80E-09 6,70E-09 1 1,30E-08 1,40E-08

144
M 3,40E-08 2,30E-08 5,00E-04 5,20E-09 1,70E-07
Ce
S 4,90E-08 2,90E-08
153
F 2,10E-09 2,50E-09 5,00E-04 2,70E-10 8,60E-09
Gd
M 1,90E-09 1,40E-09
201
Tl F 4,70E-11 7,60E-11 1,0 9,50E-11 8,70E-11
210
Pb F 8,90E-07 1,10E-06 0,2 6,80E-07 0,2 3,50E-06

210
F 6,00E-07 7,10E-07 0,1 2,40E-07 2,40E-06
Po
M 3,00E-06 2,20E-06
226
Ra M 3,20E-06 2,20E-06 0,2 2,80E-07 1,40E-06
228
Ra M 2,60E-06 1,70E-06 0,2 6,70E-07 3,40E-06

228
M 3,10E-05 2,30E-05 5,00E-04 7,00E-08 5,0E-04 1,20E-04
Th
S 3,90E-05 3,20E-05 2,00E-04 3,50E-08
232
Th M 4,20E-05 2,90E-05 5,00E-04 2,20E-07 5,0E-04 4,50E-04
S 2,30E-05 1,20E-05 2,00E-04 9,20E-08
F 5,50E-07 6,40E-07 2,00E-02 4,90E-08 2,30E-06
234
U M 3,10E-06 2,10E-06 2,00E-03 8,30E-09
S 8,50E-06 6,80E-06
F 5,10E-07 6,00E-07 2,00E-02 4,60E-08 2,10E-06
235
U M 2,80E-06 1,80E-06 2,00E-03 8,30E-09
S 7,70E-06 6,10E-06
F 4,90E-07 5,80E-07 2,00E-02 4,40E-08 2,10E-06
238
U M 2,60E-06 1,60E-06 0,002 7,60E-09
S 7,30E-06 5,70E-06
237
Np M 2,10E-05 1,50E-05 5,00E-04 1,10E-07 5,0E-04 2,10E-04
239
Np M 9,00E-10 1,10E-09 5,00E-04 8,00E-10 5,0E-04 3,80E-10

238
M 4,30E-05 3,00E-05 5,00E-04 2,30E-07 5,0E-04 4,50E-04
Pu
S 1,50E-05 1,10E-05 1,00E-05
M 4,70E-05 3,20E-05 5,00E-04 2,50E-07 5,0E-04 4,90E-04
239
Pu S 1,50E-05 8,30E-06 1,00E-05 9,00E-09
1,00E-04 5,30E-08
M 4,70E-05 3,20E-05 5,00E-04 2,50E-07 5,0E-04 4,90E-04
240
Pu S 8,30E-06 8,30E-06 1,00E-05 9,00E-09
1,00E-04 5,30E-08
241
Pu M 8,50E-07 5,80E-07 5,00E-04 4,70E-09 5,0E-04 9,50E-06

172
Inalao Ingesto Injeo
Radionucldeo Tipo/forma AMAD AMAD e(g)ing e(g)inj
f1 f1
= 1 um = 5 um (Sv/Bq) (Sv/Bq)
S 1,60E-07 8,40E-08 1,00E-05 1,10E-10
1,00E-04 9,60E-10
241
Am M 3,90E-05 2,70E-05 5,00E-04 2,00E-07 5,0E-04 4,00E-04
242
Cm M 4,80E-06 3,70E-06 5,00E-04 1,20E-08 5,0E-04 1,40E-05
244
Cm M 2,50E-05 1,70E-05 5,00E-04 1,20E-07 5,0E-04 2,40E-04

AMAD = dimetro aerodinmico mdio do aerossol


S = slow =
F = fast = rpido M = medium = mdio V = vapor
lento

ICRP (1979) - Limits for Intakes of Radionuclides by Workers: Part 1, Publication 30, Pergamon Press, Oxford
and New York.
IAEA (2004) - Methods for Assessment Occupational Radiation Doses due to Intakes of Radionuclides - Vienna.

5.5. GRANDEZAS OPERACIONAIS

Para a rotina de Proteo Radiolgica desejvel que a exposio de indivduos


seja caracterizada e medida por uma nica grandeza, pois facilitaria as avaliaes, as
comparaes e o registro. Dentre as grandezas definidas at ento, a dose equivalente
(Dose Equivalent) seria a mais conveniente, pois envolveria em seu valor, a dose
absorvida e o tipo de radiao alm de permitir estabelecer a correlao com o risco de
dano biolgico. Esta grandeza, do tipo limitante, criada pela ICRP para indicar o risco de
exposio do homem radiao ionizante, apresenta a desvantagem de no ser
mensurvel diretamente ou de fcil estimativa.
Por outro lado, em termos de metrologia, era preciso estabelecer uma referncia
para servir de padro para definio das grandezas e contornar as diferenas de tamanho
e forma do fsico dos indivduos expostos radiao.
Essas grandezas operacionais foram incorporadas Norma CNEN-NN-3.01 de
2011.

5.5.1. Esfera ICRU

Em 1980, a ICRU, em sua publicao 33, props uma esfera de 30 cm de dimetro,


feita de material tecido-equivalente e densidade de 1 g/cm3, como um simulador do
tronco humano, baseado no fato de que quase todos os rgos sensveis radiao,
poderiam ser nela englobados.
A sua composio qumica, em massa, de 76,2% de oxignio, 11,1% de carbono,
10,1% de hidrognio e 2,6% de nitrognio. Assim, todos os valores utilizados como
referncia para as grandezas radiolgicas deveriam ter como corpo de prova de medio,
a esfera da ICRU. Isto significa que um valor obtido por medio na esfera ICRU deve
ser considerado como se fora medido no corpo humano.
Para tornar coerente a definio das grandezas, que precisavam ser aditivas e ser
definidas num ponto de interesse, foi necessrio introduzir tambm as caractersticas do
campo de radiao a que a esfera estaria submetida. Assim, surgiram os conceitos de
campo expandido e campo alinhado de radiao.

173
5.5.2. Campo expandido

Campo expandido um campo de radiao homogneo, no qual a esfera da ICRU


fica exposta com fluncia, distribuio de energia e distribuio direcional, iguais ao do
ponto de referncia P de um campo de radiao real.

5.5.3. Campo expandido e alinhado

No campo expandido e alinhado a fluncia e a distribuio de energia so iguais


s do campo expandido, mas a distribuio angular da fluncia unidirecional. Neste
campo, o valor do equivalente de dose em um ponto da esfera ICRU independe da
distribuio direcional da radiao de um campo real.

5.5.4. Grandezas operacionais para monitorao de rea

As grandezas operacionais so mensurveis, baseadas no valor obtido da dose


equivalente no ponto do simulador, para irradiaes com feixes externos. Duas grandezas
vinculam a irradiao externa com a dose equivalente efetiva e a dose equivalente na pele
e lente dos olhos, para fins de monitorao de rea. So as grandezas: equivalente de dose
ambiente H*(d) e o equivalente de dose direcional H(d,).

5.5.4.1. Equivalente de dose ambiente (Ambient dose equivalent), H*(d)

O equivalente de dose ambiente H*(d), em um ponto de um campo de radiao,


o valor do equivalente de dose que seria produzido pelo correspondente campo expandido
e alinhado na esfera ICRU na profundidade d, no raio que se ope ao campo alinhado, A
Figura 5.3 ilustra o procedimento de obteno de H*(d). A unidade utilizada o J.kg-1,
denominada de sievert (Sv).

Figura 5.3 - Geometria de irradiao da esfera ICRU e o ponto P na esfera,


no qual H*(d) determinado num campo de radiao expandido e alinhado.

5.5.4.2. Equivalente de dose direcional (Directional dose equivalent), H(d,)

O equivalente de dose direcional H(d,) em um ponto de um campo de radiao


o valor do equivalente de dose que seria produzido pelo correspondente campo
expandido na esfera ICRU na profundidade d sobre um raio na direo especfica . A
unidade utilizada o sievert. Na Figura 5.4 tem-se uma representao grfica da obteno
de H(d,).

174
Figura 5.4 - Geometria de irradiao da esfera ICRU e o ponto P na esfera,
no qual o equivalente de dose direcional obtido no campo de radiao
expandido, com a direo de interesse.

A profundidade d deve ser especificada, para os diversos tipos de radiao. Para


radiaes fracamente penetrantes d = 0,07 mm para a pele e para o cristalino d = 3 mm.
A notao utilizada tem a forma H(0,07,) e H(3,), respectivamente. Para radiaes
fortemente penetrantes, a profundidade recomendada de d = 10 mm, isto H(10,).

5.5.5. Grandeza operacional para monitorao individual

So grandezas definidas no indivduo, em um campo de radiao real, e devem


ser medidas diretamente sobre o indivduo. Como seus valores podem variar de pessoa
para pessoa e com o local do corpo onde so feitas as medies, necessrio se obter
valores que sirvam de referncia. Como os dosmetros individuais no podem ser
calibrados diretamente sobre o corpo humano, eles so expostos sobre fantomas. Devido
dificuldade de fabricao da esfera ICRU, so utilizados simuladores alternativos, por
exemplo, em forma de paraleleppedo, feitos de polimetilmetacrilato (PMMA) de
dimenses 30 cm x 30 cm x 15 cm, macios ou cheios de gua.

5.5.5.1. Equivalente de dose pessoal (Individual dose equivalent), Hp(d)

O equivalente de dose pessoal Hp(d) o equivalente de dose em tecido mole, numa


profundidade d, abaixo de um ponto especificado sobre o corpo. A unidade utilizada
tambm o sievert. Da mesma forma que no equivalente de dose direcional, tem-se:
Hp(0,07) e Hp(3) para pele e cristalino para radiaes fracamente penetrantes,
respectivamente e, Hp(10) para as radiaes fortemente penetrantes.
O Hp(d) pode ser medido com um detector encostado na superfcie do corpo,
envolvido com uma espessura apropriada de material tecido-equivalente.

5.5.5.2. Equivalente de dose para ftons (Photon dose equivalent), HX

Para ftons com energia menor que 3 MeV, HX igual leitura de um dosmetro
de rea que, calibrado na cmara de ar-livre com as radiaes gama do 60Co para a
medio da Exposio X, em Roentgen, multiplicada pelo fator C1= 38,76 Sv C-1= 0,01
Sv R-1.

= 1. ()

175
Na monitorao individual para ftons, o equivalente de dose Hp(10) pode ser,
provisoriamente, substitudo pelo equivalente de dose HX, na superfcie do trax, com o
dosmetro calibrado em kerma no ar, multiplicado pelo fator f = 1,14 Sv Gy-1.

(10) = . ()

5.5.6. Relaes entre as grandezas limitantes e operacionais

As grandezas operacionais foram definidas pela ICRU para estimar as grandezas


limitantes de modo conservativo. As relaes entre estas novas grandezas operacionais e
as grandezas equivalente de dose efetiva (HE), dose efetiva (E), kerma no ar (Kar) e,
exposio (X), so expressas por coeficientes de converso obtidos para cada situao de
medio. Tabelas com valores destes coeficientes de converso, para cada geometria de
medio, so disponveis nos recentes trabalhos de dosimetria das radiaes.
As Tabelas 5.11 e 5.12 sintetizam o uso adequado das novas grandezas conforme
o tipo de radiao, alvo de monitorao, profundidade de avaliao d (em mm), e direo
de medio. Na Tabela 5.11, tem-se o equivalente de dose ambiente, H*, o equivalente
de dose direcional, H', e o equivalente de dose pessoal, Hp.

Tabela 5.11 - Uso das grandezas, de acordo com o tipo de radiao


monitorada.

Radiao Limitante de Grandeza (ICRP 60)


Externa Dose no Corpo Monitorao de rea Monitorao Pessoal
Equivalente de Dose Equivalente de Dose
Fortemente
Dose efetiva Ambiente Pessoal
Penetrante
H* (10) Hp (10)
Equivalente de Dose Equivalente de Dose
Dose na Pele Direcional Pessoal
Fracamente H(0,07, ) Hp (0,07)
Penetrante Equivalente de Dose Equivalente de Dose
Dose na lente
Direcional Pessoal
dos olhos
H(3, ) Hp (3)

Tabela 5.12 - Profundidade de determinao de dose efetiva em alguns tecidos.

Profundidade d
Tecido Direo especfica
(mm)
Pele 0,07
Cristalino 3

176
5.6. GRANDEZAS DEFINIDAS NA ICRP 60, EM SUBSTITUIO S DA
ICRP 26, E INCLUDAS NA NORMA CNEN-NN-3.01 (2011).

5.6.1. Dose equivalente (Equivalent dose), HT

A dose equivalente num tecido ou num rgo, HT, expressa em sievert, o valor
mdio da dose absorvida, DT,R, obtida sobre todo o tecido ou rgo T, devido radiao
R, multiplicada pelo fator de peso da radiao wR.

= , ()

Tabela 5.13 - Valores do fator de peso da radiao wR.


Fator de peso da
Tipo ou intervalo de energia
radiao, wR
Ftons, todas as energias 1
Eltrons e muons, todas as energias 1
Nutrons, com energia 10 keV 5
> 10 keV a 100 keV 10
> 100 keV a 2 MeV 20
> 2MeV a 20 MeV 10
> 20 MeV 5
Prtons, (no de recuo) energia > 2MeV 5
Partculas alfa, fragmentos de fisso e ncleos pesados 20

Para tipos de radiao ou energia no includos na Tabela 5.13, o valor de wR pode


ser estimado a partir do valor mdio do fator de qualidade da radiao Q, a uma
profundidade de 10 mm na esfera ICRU. O Equivalente de Dose (equivalent dose) foi
assim definido em substituio a Dose Equivalente (dose equivalent).

5.6.2. Dose efetiva (Effective dose), E

A Dose Efetiva, a soma ponderada das doses equivalentes em todos os tecidos e


rgos do corpo, expressa por:

E wT HT
T

onde wT o fator de peso para o tecido T e HT a dose equivalente a ele atribuda.

Obviamente que,

E wR wT DT , R wT wR DT , R
R T T R

Os valores de wT estabelecidos pela ICRP 60 constam da Tabela 5.4. Os valores


de E so expressos em sievert.
Esta grandeza foi definida em substituio dose equivalente de corpo inteiro,
HWB, e dose equivalente efetiva, HE, mas o significado em proteo radiolgica continua
o mesmo.

177
5.6.3. Outras grandezas que mudaram de denominao

Dose equivalente comprometida (committed equivalent dose), H(), substituiu o


Equivalente de dose comprometida (committed dose equivalent). A dose efetiva
comprometida (committed effective dose), E(), dose coletiva efetiva (collective effective
dose), S = Ei.Ni, surgiram em decorrncia da mudana de denominao das grandezas
correspondentes definidas no ICRP 26.

5.7. COEFICIENTE DE RISCO, F

O risco de detrimento ou fatalidade de indivduos expostos radiao ionizante


se correlaciona com os valores de dose no tecido ou no corpo inteiro, por meio de
coeficientes de risco, expressos em nmero de casos ocorridos por sievert de radiao
absorvida, (n/Sv), ou seja,

RT = FT HT para um tecido ou rgo, ou

R = F E para o indivduo

Os valores dos coeficientes de risco dependem de muitos fatores, tais como:


exposio nica, fracionada ou crnica, tipo de radiao, tecido irradiado, detrimento
considerado, idade, sexo, hbitos alimentares, grupo amostrado, habitat e, at, dos
mtodos utilizados para a sua determinao. Alm disso, existe uma diferena muito
importante entre o risco de ocorrncia de um detrimento e o risco de fatalidade por ele
provocada.
Na Tabela 5.14 so apresentados valores de coeficientes de probabilidade de
fatalidade por cncer, numa populao, para todas as idades, exposta a baixas doses.

Tabela 5.14 - Coeficiente de probabilidade de mortalidade numa populao


de todas as idades, por cncer, aps exposio a baixas doses.

Coeficiente de Probabilidade de
Tecido ou rgo Detrimento Fatal (10 -4 Sv-1)
ICRP 26 ICRP 60
Bexiga - 30
Medula ssea vermelha 20 50
Superfcie ssea 5 5
Mama 25 20
Clon - 85
Fgado - 15
Pulmo 20 85
Esfago - 30
Ovrio - 10
Pele - 2
Estmago - 110
Tireoide 5 8
Restante 50 50
Total 125* 500+
* Este total usado para trabalhadores e pblico geral.
+ Este total s vale para pblico geral. O risco total de cncer fatal para a populao
trabalhadora estimado em 400.10-4Sv-1.

178
Resumindo alguns valores das estimativas das probabilidades de efeitos
biolgicos induzidos pela radiao ionizante, divulgados pela ICRP 60, Anexo B, tem-se
a Tabela 5.15.

Tabela 5.15 - Estimativas das probabilidades de efeitos biolgicos


induzidos pelas radiaes ionizantes
Perodo
Efeito fatal Populao de Modo de exposio i
exposio
Dose baixa
Cncer (total) Trabalhadores Vida toda 4.0 x 10-2 Sv-1
Taxa de dose baixa
Dose baixa
Cncer (total) Populao Vida toda 5.0 x 10-2 Sv-1
Taxa de dose baixa
Cncer (num rgo Trabalhadores Dose baixa
Vida toda Ver Tabela 5.14
especfico) Populao Taxa de dose baixa
Trabalhadores Dose alta ou baixa
Cncer de pele Vida toda 2x10-4 Sv-1
Populao Taxa de dose baixa
Cncer de pulmo Radiao de alto (1-4)x 10-4 WLM-1
Trabalhadores Vida toda
devido ao Radnio LET (3-10) por Jhm-3

Na Tabela 5.16 pode-se perceber a diferena entre os valores do coeficiente de


risco para incidncia de um detrimento e de fatalidade pelo mesmo tipo de detrimento.
Os riscos foram calculados tendo por base pessoas expostas radiao ionizante e
tambm ultravioleta, na faixa etria de 18 a 64 anos e com dois modelos: o de risco
absoluto e risco relativo, conforme descrito na ICRP 60.

Tabela 5.16 - Probabilidade de incidncia e mortalidade de cncer de pele


induzido por radiao ionizante

Probabilidade (10-2.Sv-1)
Risco de cncer de pele
Incidncia Mortalidade
Modelo de risco absoluto 2,3 0,005
Modelo de risco relativo 9,8 0,08

179
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

Norma CNEN NN-3.01, Diretrizes Bsicas de Proteo Radiolgica, 01/09/2011.

Norma CNEN NE-3.01, Diretrizes Bsicas de Radioproteo, 1988

ICRP 26, Recommendations of the International Commission on Radiation Protection,


Annals of ICRP, vol. 1, No. 3, Pergamon Press, Oxford, 1977.

ICRP 30, Limits for intakes of radionuclides by workers, Annals of ICRP, vol. 2, No.3/4,
Pergamon Press, Oxford, 1979

ICRP 60, 1990 Recommendations of the International Commission on Radiation


Protection, Annals of ICRP, vol. 21, No. 1-3, Pergamon Press, Oxford, 1979.

ICRU 33, Radiation Quantities and Units, International Commission on Radiation Units
and Measurement, 7910 Woodmont Avenue, Washington, D.C. 20014, USA, 1980.

ICRU 47, Measurement of Dose Equivalents from External Photon and Electron
Radiations, International Commission on Radiation Units and Measurement,
Bethesda, 1992.

ICRU 51, Quantities and Units in Radiation Protection Dosimetry, International


Commission on Radiation Units and Measurements, Bethesda, 1993.

ICRU 60, Fundamental Quantities and Units for Ionizing Radiation, International
Commission on Radiation Units and Measurement, Bethesda, 2001.

IAEA, Methods for Assessment Occupational Radiation Doses due to Intakes of


Radionuclides, Vienna, 2004.

DELACROIX, D., GUERRE, J.P., LEBLANC, P., HICKMAN, C., Radionuclide and
Radiation Protection Data Handbook, Radiation Protection Dosimetry, vol. 76, No. 1-
2, 1998.

NCRP Report, National Council on Radiation Protection and Measurement, 7910


Woodmont Avenue, Suite 400, Bethesda, MD 20814-3095, 1976.

Site do NIST: www.physics.nist.gov/PhysRefData/XrayMassCoef/

Manoel M.O. RAMOS e Luiz TAUHATA, Grandezas e Unidades para Radiao


Ionizante, Apostila do IRD, www.ird.gov.br - em Documentos, Material Didtico e
Apostilas, 2011.

David S. SMITH, Michael G. STABIN, Exposure rate constants and lead shielding
values for over 1,100 radionuclides, Health Physics 102(3), p.271-291, 2012.

180
CAPTULO 6

DETECTORES DE RADIAO

6.1. PRINCPIOS DE OPERAO DOS DETECTORES DE RADIAO

6.1.1. Detectores de radiao

Detector de radiao um dispositivo que, colocado em um meio onde exista um


campo de radiao, seja capaz de indicar a sua presena. Existem diversos processos pelos
quais diferentes radiaes podem interagir com o meio material utilizado para medir ou
indicar caractersticas dessas radiaes. Entre esses processos os mais utilizados so os
que envolvem a gerao de cargas eltricas, a gerao de luz, a sensibilizao de pelculas
fotogrficas, a criao de traos (buracos) no material, a gerao de calor e alteraes da
dinmica de certos processos qumicos. Normalmente um detector de radiao
constitudo de um elemento ou material sensvel radiao e um sistema que transforma
esses efeitos em um valor relacionado a uma grandeza de medio dessa radiao.

6.1.2. Propriedades de um detector

Para que um dispositivo seja classificado como um detector apropriado


necessrio que, alm de ser adequado para a medio do mensurando, apresente nas suas
sequncias de medio algumas caractersticas, tais como:

a. Repetitividade, definida pelo grau de concordncia dos resultados obtidos sob as


mesmas condies de medio;

b. Reprodutibilidade, grau de concordncia dos resultados obtidos em diferentes


condies de medio;

c. Estabilidade, aptido do instrumento conservar constantes suas caractersticas


de medio ao longo do tempo;

d. Exatido, grau de concordncia dos resultados com o valor verdadeiro ou


valor de referncia a ser determinado;

e. Preciso, grau de concordncia dos resultados entre si, normalmente expresso


pelo desvio padro em relao mdia;

f. Sensibilidade, razo entre a variao da resposta de um instrumento e a


correspondente variao do estmulo; e

g. Eficincia, capacidade de converter em sinais de medio os estmulos


recebidos.

Quando se estabelecem as condies de medio incluem-se a manuteno do


mesmo mtodo, procedimento experimental, instrumento, condies de operao, local,
condies ambientais e a repetio em curto perodo de tempo.
181
Na definio da exatido est envolvido o valor verdadeiro ou valor de
referncia.
Obviamente que este valor desconhecido ou indeterminado, pois sua existncia
implicaria numa incerteza nula. Assim, existe o valor verdadeiro convencional de uma
grandeza, que o valor atribudo e aceito, s vezes, por conveno, como tendo uma
incerteza apropriada para uma dada finalidade e obtida com mtodos de medio
selecionados.

6.1.3. Eficincia de um detector

A eficincia de um detector est, normalmente, associada ao tipo e energia da


radiao e , basicamente, a capacidade do detector de registr-la. A eficincia de um
detector pode ser definida de duas formas: eficincia intrnseca e eficincia absoluta. O
registro de cada radiao no detector representa um sinal, que pode ser um pulso, um
buraco, um sinal de luz, ou outro sinal qualquer, dependente da forma pela qual a radiao
interage com o detector e dos subprodutos mensurveis gerados.

Nota: Um detector pode ser considerado um transdutor, pois transforma um tipo de


informao (radiao) em outro, que pode ser um sinal eltrico, luz, reao
qumica, etc.

6.1.3.1. Eficincia intrnseca do detector

O tipo e a energia de radiao, normalmente, so fatores ligados s caractersticas


intrnsecas do detector. A eficincia intrnseca pode ser escrita como:

nmero de sinais registrado s


intr
nmero de radiaes incidentes no detector

Os fatores que influenciam a eficincia intrnseca do detector diferem para cada


tipo. Entre eles esto o nmero atmico do elemento sensvel do detector, estado fsico
do material, tenso de operao (para detectores que usam campo eltrico), sensibilidade
da emulso fotogrfica (para filmes), e outros parmetros que so ligados s
caractersticas fsico-qumicas dos seus materiais constituintes.

6.1.3.2. Eficincia absoluta de um detector

A eficincia absoluta est relacionada no s com as suas caractersticas de


construo, mas tambm com a fonte de radiao que est sendo medida, com o meio e
com a geometria de medio. Pode ser escrita como:

nmero de sinais registrado s


abs
nmero de radiaes emitidas pela fonte

Entre os fatores que influem na eficincia absoluta esto a distncia do emissor, o


tipo do feixe emitido (radial, colimado), o meio entre o detector e a fonte emissora, alm
daqueles que influenciam na eficincia intrnseca do detector.

182
6.1.4. Fatores que definem a escolha de detectores

6.1.4.1. Tipo da radiao

Como as radiaes interagem de forma diferente com a matria, dependendo de


seu tipo (radiao eletromagntica, partculas carregadas leves, partculas carregadas
pesadas ou nutrons), a escolha do detector depende do tipo de radiao que se quer
medir. Em geral, um detector que mede com grande eficincia um determinado tipo de
radiao (por exemplo, ftons de alta energia) pode ser totalmente inadequado para medir
outro tipo (por exemplo, radiao alfa).

6.1.4.2. Intervalo de tempo de interesse

Em alguns casos, o objetivo pode ser a medio instantnea da radiao, isto , o


nmero mdio de radiaes em um intervalo de tempo muito curto, por exemplo, ao se
avaliar a radiao num local antes de realizar uma ao qualquer.
Em outros, se deseja registrar a radiao acumulada durante um perodo de
tempo, como por exemplo, o perodo durante o qual foi exposto um trabalhador. Para cada
finalidade deve ser utilizado um detector apropriado.
No primeiro caso, so utilizados os detectores de leitura direta, ou ativos, tais
como os detectores gs para medio da taxa de dose, os cintilmetros, os detectores a
semicondutor.
No segundo caso esto includos os detectores passivos, que registram os eventos
e podem ser processados posteriormente, como as emulses fotogrficas, os detectores de
trao, os dosmetros termoluminescentes, lioluminescentes e citogenticos.
Outro fato importante a considerar como a radiao emitida. Assim, no caso
de raios X gerados por tubos que dispem somente de um sistema de retificao no
circuito de sada do transformador de alta tenso, deve-se utilizar um detector integrador,
uma vez que a radiao gerada de modo pulsado. Para uma fonte radioativa comum,
pode-se utilizar um medidor de taxa de exposio ou de dose, uma vez que o fluxo de
radiao praticamente contnuo.
Para medies com espectrometria gama, de solues de amostras ambientais, em
que a atividade do radionucldeo muito baixa, na maioria das vezes, necessrio
acumular um espectro por um perodo de vrias horas, e at mesmo de vrios dias, mesmo
utilizando uma geometria de fonte apropriada.

6.1.4.3. Preciso, exatido, resoluo

Dependendo da utilizao, a escolha do detector e do mtodo de medio pode


variar em relao ao grau de preciso, exatido e resoluo dos resultados desejados. Isto
est ligado s diversas incertezas envolvidas no processo de medio e nas outras
atividades relacionadas. Para medies ambientais resultados com incertezas de 20%
podem ser considerados aceitveis enquanto que, para trabalhos de produo de padres
de medies de atividade, uma incerteza de 0,5% pode ser considerada muito grande.

6.1.4.4. Condies de trabalho do detector

O detector utilizado em trabalho de campo tem que ter condies de robustez,


portabilidade e autonomia diferentes das necessrias aos detectores operados em
ambientes controlados de laboratrio. Em situaes extremas de ambiente, como por

183
exemplo, dentro do circuito primrio de um reator, somente detectores especiais tm
condies de operar. Essas condies de operao do detector iro muitas vezes
determinar os materiais utilizados em sua construo. Detectores muito sensveis a
choques mecnicos ou que sofrem influncia significativa de fatores ambientais, no so
recomendados para medies em unidades mveis.

6.1.4.5. Tipo de informao desejada

Conforme a finalidade, pode-se desejar somente informaes sobre o nmero de


contagens, ou energia da radiao detectada. Em alguns casos se busca a relao com a
dose absorvida, tempo vivo de medio ou distribuio em energia. O processamento
dessa informao depende do detector escolhido e do mecanismo pelo qual a informao
coletada.

6.1.4.6. Caractersticas operacionais e custo

Outros fatores determinantes na escolha do detector so a facilidade de operao,


facilidade e disponibilidade de manuteno e, finalmente, o custo do detector.

6.1.5. Especificaes para monitores, dosmetros e sistemas de calibrao

Os detectores necessitam obedecer a certos requisitos, para serem padronizados


para o uso em Proteo Radiolgica e em Metrologia das Radiaes Ionizantes. Assim,
alm de possuir as caractersticas citadas no item 6.1.4, devem satisfazer a requisitos
normativos, conforme ser descrito a seguir.

6.1.5.1. Monitor de radiao

um detector construdo e adaptado para radiaes e finalidades especficas e


deve apresentar as seguintes propriedades, regidas por normas da IEC 731 ou ISO 4037-
1:

Limite de deteco adequado;


Preciso e exatido;
Reprodutibilidade e repetitividade;
Linearidade;
Estabilidade a curto e longo prazo;
Baixa dependncia energtica;
Baixa dependncia direcional, rotacional;
Baixa dependncia dos fatores ambientais; e
Baixa dependncia com a taxa de exposio.

Observando as caractersticas exigidas para um monitor, fcil verificar que


dificilmente um detector consegue satisfazer a todas elas. Assim, para cada tipo de
finalidade, existem propriedades imprescindveis, outras com possibilidade de introduo
de fatores de correo e, finalmente, algumas que integram o elenco de suas deficincias.
O peso de cada grupo destas propriedades depende muito do tipo de grandeza ou medio
proposta na atividade. Muitas das deficincias so contornadas com a padronizao do
uso e do processamento dos dados experimentais.

184
Existem monitores individuais, monitores de rea e monitores ambientais. Dentre
os monitores individuais mais utilizados constam o filme dosimtrico, o dosmetro
termoluminescente (TLD), o de silcio e o de albedo. Alguns destes dispositivos, alm de
alarmes para valores de taxa ou de dose acumulada, apresentam a facilidade de leitura
direta, possibilidade de transmisso de dados para um sistema ou estao de monitorao.
Os monitores de rea podem ser fixos ou portteis. Dentre os monitores fixos,
existem os tipo portal, de mos e ps, ou de medio constante da taxa de dose em
determinada rea. J os monitores utilizados na monitorao ambiental, podem ser
estaes de monitorao, contendo diversos dispositivos de deteco, como filtros,
detectores de trao, TLD, detectores ativos.

6.1.5.2. Dosmetro

um monitor que mede uma grandeza radiolgica ou operacional, mas com


resultados relacionados ao corpo inteiro, rgo ou tecido humano. Alm das propriedades
de um monitor ele deve ter:

Resultados em dose absorvida ou dose efetiva (ou taxa);


Ser construdo com material tecido-equivalente;
Possuir fator de calibrao bem estabelecido;
Suas leituras e calibraes so rastreadas a um laboratrio nacional e rede do
BIPM;
Incertezas bem estabelecidas e adequadas para sua aplicao;
Modelo adequado para cada aplicao;
Modelo adequado para cada tipo e intensidade de feixe.

Os dosmetros podem ser utilizados em medies absolutas, como por exemplo,


a cmara de ar livre, cmara cavitria de grafite ou a cmara de extrapolao. Nas medidas
relativas, onde necessrio conhecer o fator de calibrao (rastreamento metrolgico),
so muito utilizadas as cmaras tipo dedal para ftons e eltrons, cmaras de placas
paralelas para raios X de baixa energia e eltrons de alta energia, as cmaras esfricas de
grande volume para proteo radiolgica. Estes modelos descritos podem atuar como
padres de laboratrios, ser usadas em clnicas de radioterapia ou para dosimetria de
feixes ou de indivduos.

6.1.5.3. Sistema de calibrao

Um sistema de calibrao um conjunto de detectores e unidades de


processamento que permite medir uma grandeza radiolgica de modo absoluto ou relativo
e deve cumprir as seguintes exigncias:

Fator de calibrao rastreado aos sistemas absolutos e ao BIPM;


Aprovao em testes de qualidade (comparaes interlaboratoriais, protocolos
e sistemas j consagrados internacionalmente);
Incertezas bem estabelecidas e pequenas;
Resultados, rastreados ao BIPM, e acompanhados de certificados registrados;
Fatores de influncia sob controle;
Fatores de interferncia conhecidos; e
Integrar os sistemas de um laboratrio de calibrao.

185
Dentre os sistemas de calibrao mais conhecidos em metrologia de
radionucldeos destacam-se: o sistema de coincidncia 4-, o sistema de ngulo slido
definido, o de cintilao lquida e os sistemas relativos, tipo cmara de ionizao tipo
poo e espectrometria gama. Na dosimetria de feixes de radiao, existem os arranjos
experimentais padronizados para calibrar aparelhos usados em proteo radiolgica,
radiodiagnstico e radioterapia. Os sistemas para calibrao em dose absorvida no ar,
kerma no ar e dose equivalente na gua, compem as facilidades dos laboratrios
nacionais de metrologia das radiaes ionizantes.

6.1.5.4. Detector para medio de uma grandeza por definio

Em Metrologia, as grandezas, para serem bem definidas, necessitam ser


dependentes de grandezas fundamentais da fsica, possuir um padro e uma unidade bem
estabelecidos e, principalmente, ser mensurveis e rastreveis ao BIPM.
Desta forma, grandezas que dependem de parmetros adicionais cujos valores
podem variar historicamente, ou que dependem de modelos tericos para se determinar o
seu valor, no podem ser consideradas genuinamente como grandezas. Por exemplo, a
dose efetiva comprometida, no pode ser medida por nenhum equipamento, no possui
um padro estabelecido e o seu valor depende do modelo computacional de dosimetria
interna para a sua obteno. Da mesma forma, a dose equivalente num tecido ou a dose
efetiva que dependem dos valores atribudos aos fatores de peso da radiao e dos fatores
de peso dos tecidos. Tais fatores so continuamente aperfeioados e modificados e, assim,
produzir resultados diferenciados em cada poca histrica. Alm disso tais grandezas
radiolgicas no so mensurveis e no possuem padres associados.
Um detector que mede uma grandeza por definio, deve possuir como
fundamentos de interao e deteco, as grandezas fundamentais envolvidas em sua
definio. Por exemplo, uma cmara de ionizao, que mede a quantidade de carga
gerada pela ionizao no ar encerrado no seu volume de massa conhecida, um exemplo
de instrumento que mede a exposio por definio, pois, X = dQ/dm. Existe uma unidade
bem estabelecida (C.kg-1) com padres conhecidos de cada grandeza de dependncia.
Observando as definies das grandezas radiolgicas, poucas delas se enquadram
nessa situao. A maioria no possui instrumentos que as meam e no possuem padres
metrolgicos estabelecidos, que permitem uma rastreabilidade ao BIPM.

6.2. DETECO UTILIZANDO EMULSES FOTOGRFICAS

6.2.1. Emulses fotogrficas

As emulses fotogrficas so normalmente constitudas de cristais (gros) de


haletos de prata (normalmente brometo) dispersos em uma matriz de gelatina. Cada gro
tem aproximadamente 1010 tomos de Ag+. As emulses fotogrficas utilizadas para
deteco de radiao so similares s utilizadas em filmes fotogrficos comuns, sendo
que nas primeiras a concentrao dos gros de brometo de prata vrias vezes superior.
A presena da prata metlica remanescente aps o processo de revelao est relacionada
quantidade de radiao a que foi submetida a emulso.

Nota: A emulso fotogrfica foi, de certa forma, o primeiro detector utilizado para
radiao, pois, foi atravs de chapas fotogrficas guardadas junto com
material radioativo, que Becquerel descobriu, em 1896, a radioatividade
natural.

186
6.2.2. Mecanismo de interao da radiao com as emulses fotogrficas

A ao da radiao na emulso semelhante a que ocorre com a da luz visvel em


chapas fotogrficas comuns. A radiao, ao interagir com eltrons de tomos do brometo
de prata faz com que apenas alguns tomos no gro sejam sensibilizados pela sua
passagem, transformando os ons Ag+ em Ag metlica.
Em princpio, Essa quantidade de Ag transformada pode permanecer
indefinidamente, armazenando uma imagem latente da trajetria da partcula na emulso.
No processo subsequente de revelao, uma soluo reveladora tem a propriedade de
converter todos os gros de brometo de prata em prata metlica. Esse processo, no
entanto, ocorre com velocidade muito maior nos gros que j possuem alguns tomos
sensibilizados, e o processo pode ento ser interrompido aps algum tempo, quando todos
os gros sensibilizados previamente j foram revelados. Isso feito atravs do banho com
uma soluo fixadora, que contm cido actico diludo, que interrompe rapidamente o
processo. Nessa mesma soluo, colocado tiosulfato de sdio (hipo) que utilizado para
remover os gros de AgBr no revelados, que so aqueles que no contm a imagem
latente. Por fim, o filme colocado em um banho de gua, que tem a finalidade de
remover a soluo fixadora sendo posteriormente levado secagem.
Se a chapa radiogrfica for revelada muito tempo aps sua exposio, parte da
informao armazenada pode desaparecer gradualmente num processo denominado de
desvanecimento (fading) devido recombinao qumica que naturalmente ocorre no
colide de que feita a emulso fotogrfica.

6.2.3. Interao de ftons e nutrons com a emulso fotogrfica

A interao da radiao indiretamente ionizante, como ftons com energia acima


da energia da luz visvel, e nutrons, tem baixa probabilidade de ocorrncia diretamente
com os tomos de Ag na emulso. Normalmente o que ocorre uma interao prvia
dessas radiaes resultando em eltrons secundrios ou ftons de energia mais baixa que,
por sua vez, tm maior facilidade de sensibilizar a emulso.
No caso de ftons, para aplicaes em raios X diagnstico, telas com substncias
cintiladoras so normalmente utilizadas em contato com a emulso, produzindo ftons
adicionais de baixa energia que podem aumentar em at 10 vezes a sensibilizao da
emulso. Para monitorao pessoal, o uso de filtros de cobre e chumbo entre a radiao e
a emulso, procura compensar a maior probabilidade de interao dos ftons de baixa
energia em relao aos de energia mais alta.
Para a deteco de nutrons trmicos normalmente so utilizadas folhas de cdmio
ou de gadolnio entre a fonte e a emulso, as quais, atravs da reao de captura dos
nutrons produzem radiao beta que ir sensibilizar o filme.

Nota: A utilizao de emulses fotogrficas para a deteco de nutrons rpidos


ocorre por um mecanismo diferente do descrito. No caso desses nutrons, a
emulso utilizada como um detector de traos.

6.2.4. Aplicaes da dosimetria com emulses fotogrficas

6.2.4.1. Monitorao pessoal de radiao X e gama

Os filmes fotogrficos utilizados para monitorao pessoal tm dimenso


reduzida, da ordem de alguns centmetros quadrados (por exemplo, 3 cm x 4 cm). So

187
acondicionados em envelopes prova de luz. Para a monitorao, um ou mais filmes so
colocados em monitores (ou badges), normalmente feitos de plstico, com algumas partes
das reas sensveis cobertas por filtros de cobre e chumbo. Normalmente so colocadas
em um monitor dois tipos de emulso, uma mais sensvel (para baixas doses) e outra
menos sensvel (para altas doses), para ampliar a capacidade de deteco dos ftons em
quantidade e em energia.
Os filtros metlicos so necessrios para a determinar a energia efetiva dos ftons,
utilizada nas curvas de calibrao de densidade tica x dose absorvida. Isto porque a
densidade tica pode variar para a mesma dose absorvida, para diferentes valores de
energia dos ftons. Alm disso, durante o perodo de monitorao (um ms), o IOE recebe
ftons de origem e energia variveis, cujo modo e tempo de exposio, normalmente so
desconhecidos, para cada tipo de radiao. Como os ftons que atingem o filme exposto
possuem a mesma energia efetiva que os que atravessam os filtros metlicos de diferentes
naturezas e espessuras, as razes entre as vrias densidades ticas das partes recobertas
do filme permitiro determinar o seu valor, devido dependncia dos diferentes
coeficientes de atenuao lineares totais de cada filtro com a energia.
Na figura 6.1 mostrada um dos modelos utilizados, com o posicionamento
devido dos filtros e filmes.
A avaliao da dose utilizando dosmetros fotogrficos feita comparando-se a
densidade tica do filme aps a revelao com a densidade tica de outros filmes que
foram irradiados com doses conhecidas com feixes padronizados. O equipamento
utilizado um densitmetro tico, e consiste basicamente na medida da opacidade tica
do filme transmisso da luz. A densidade tica uma medida da atenuao da luz
transmitida pelo filme em relao intensidade da luz incidente.
Normalmente o monitor substitudo a cada ms. O filme substitudo ento
processado e a dose acumulada no perodo avaliada.

56
2 34
1baixa sensibilidade

Al alta sensibilidade

Figura 6.1 - Disposio dos filtros metlicos e dos filmes no monitor


individual utilizado pelo IRD.

6.2.4.2. Uso em raios X diagnstico

As emulses fotogrficas so utilizadas tambm para a obteno de radiografias


utilizadas em diagnsticos mdicos. Como a atenuao e absoro da radiao com os
materiais dependem do Z do material e de sua densidade, a radiao que atravessa
diversos tipos de tecido ir interagir de forma diferente com eles, permitindo uma
discriminao da composio do interior do corpo examinado por meio do feixe atenuado
transmitido, o qual ir formar uma imagem latente na chapa fotogrfica. Dessa forma
possvel verificar fraturas em ossos, que atenuam mais a radiao que o tecido mole,
identificar materiais estranhos no corpo e alteraes de tecido provocadas por cncer.
188
Atualmente, muitos dos aparelhos que usavam chapas radiogrficas como
detectores, foram substitudos por detectores de estado slido, como os de silcio, e tem
a informao processada com tcnicas digitais, produzindo imagens diretamente em uma
tela de computador.

Nota: Apenas alguns anos aps terem sido inventados, os aparelhos de raios X j
eram utilizados nos hospitais juntos aos campos de batalha para auxiliar na
retirada de fragmentos de metal em ferimentos causados por balas e
granadas.

6.2.4.3. Gamagrafia

De forma semelhante utilizada para raios X diagnstico, feixes de raios so


usados para avaliao de estruturas na construo civil, na siderurgia e metalurgia. A
radiao mais absorvida na matria mais densa e com mais alto Z e permite verificar a
existncia de bolhas e falhas no interior de grandes estruturas metlicas e de concreto,
sem a necessidade de destru-las.
Normalmente so utilizadas fontes de 60Co, de 137Cs e de 192Ir. Podem ser
utilizados tambm aparelhos de raios X de alta energia (acima de 400 keV).
Tcnica utilizada principalmente em experimentos em biologia e pesquisa com
plantas, a radioautografia consiste na colocao de uma emulso fotogrfica em contato
com o material a ser analisado, que foi inoculado com a substncia radioativa. Esse
mtodo permite o estudo da dinmica de processos biolgicos. Normalmente so
utilizados como marcadores o 14C e o 3H. A radiao emitida por esses radioistopos
permite mapear estes processos.

6.3. DETECTORES TERMOLUMINESCENTES

6.3.1. O mecanismo da termoluminescncia

O volume sensvel de um material termoluminescente consiste de uma massa


pequena (aproximadamente 1 a 100 mg) de um material cristalino dieltrico contendo
ativadores convenientes. Esses ativadores que podem estar presentes em quantidades
extremamente pequenas (da ordem de trao, por exemplo), criam dois tipos de
imperfeies na rede cristalina: armadilhas para eltrons, que capturam e aprisionam os
portadores de carga e centros de luminescncia.
A radiao ionizante, ao interagir com os eltrons do material, cede energia aos
mesmos pela ionizao, que so aprisionados pelas armadilhas. Se o material submetido
a um aquecimento programado os eltrons aprisionados nas armadilhas so liberados,
fazendo com que percam a energia nos centros de luminescncia (Figura 6.2). A diferena
de energia entre esses dois nveis emitida atravs de um fton na faixa da luz visvel, da
ordem de alguns eV.

189
Figura 6.2 - Emisso de luz na termoluminescncia.

6.3.2. Utilizao na deteco e dosimetria de radiao

Para alguns materiais as armadilhas resistem bem temperatura ambiente por


perodos de tempo relativamente longos (maiores que 30 dias, por exemplo), ou seja, s
liberam os eltrons e emitem luz aps um tratamento trmico de algumas centenas de
graus Celsius.
Como o sinal luminoso pode ser proporcional radiao incidente, esses materiais
so bastante convenientes para serem utilizados como dosmetros, principalmente pela
sua caracterstica de reutilizao antes de apresentarem fadiga expressiva.
Ainda que somente uma parte pequena da energia da radiao depositada no
material seja transformada em luz, com controle adequado do processo, possvel se obter
boa reprodutibilidade na avaliao da dose acumulada.

6.3.3. Principais materiais termoluminescentes

As principais substncias utilizadas como materiais termoluminescentes para


dosimetria so o CaSO4:Dy (sulfato de clcio dopado com disprsio), o CaSO4:Mn
(dopado com mangans); o LiF (fluoreto de ltio) e a CaF2 (fluorita). No Brasil, o
CaSO4:Dy (produzido no IPEN/CNEN-SP) e o LiF, so os mais utilizados.
As pedras semipreciosas, em sua maioria, apresentam propriedades
termoluminescentes. Algumas podem at ser utilizadas como dosmetros em certas
situaes.

6.3.4. Leitor de TLD

O instrumento utilizado para avaliar a dose em funo da luz emitida


denominado leitor (ou leitora) TLD. composto de um sistema que faz um aquecimento
controlado, de uma vlvula fotomultiplicadora, que transforma o sinal luminoso em um
sinal eltrico amplificado, e de um sistema de processamento e apresentao (display) do
sinal, conforme a Figura 6.3.

190
Pr-
Amplificador DC Fonte de
Amplificador
alta tenso

Fotomulti-
Display plicadora
ou
registrador

Filtros ticos
Luz TL

Nitrognio TLD

Termopar Placa aquecedora


Fonte de
alimentao

Figura 6.3 - Esquema e fotografia de uma leitora de TLD.

6.4. DETECTORES GS

6.4.1. Uso de gases como detectores

Os detectores gs constituem os tipos mais tradicionais e difundidos. Foram


utilizados desde as experincias iniciais com a radiao ionizante. A interao das
radiaes com os gases provoca principalmente excitao e ionizao dos seus tomos.
Na ionizao formam-se pares eltron-on que dependem de caractersticas dos gases
utilizados e da radiao ionizante. A coleta dos eltrons e dos ons positivos formados no
volume sensvel do detector feita por meio de eletrodos que estabelecem campos
eltricos e dispositivos apropriados e servem como uma medida da radiao incidente no
detector.

6.4.2. Energia mdia para formao de um par de ons (W) em um gs

Quando uma radiao interage com um gs, ionizando-o, os eltrons arrancados


pertencem normalmente s ltimas camadas, com energias de ligao da ordem de 10 a
20 eV. Como nem toda interao resulta em ionizao e o eltron atingido nem sempre
pertence ltima camada, o valor da energia mdia para formao de um par de ons
(W) em um gs varia em torno de 20 a 45 eV para os gases mais utilizados. A Tabela 6.1
apresenta a energia mdia para formao de pares de ons em alguns gases.

Tabela 6.1 - Energia mdia para formao de pares de ons em alguns gases.

Valor W (eV/par de on)


Gs
Eltrons rpidos Partculas alfa
A 26,4 26,3
He 41,3 42,7
H2 36,5 36,4
N2 34,8 36,4
Ar 33,8 35,1
O2 30,8 32,2
CH4 27,3 29,1

191
Nota: Para o ar seco, que constitudo de uma mistura de gases, irradiado
com raios X com energia at 50 MeV, o valor mdio recomendado para
W de (33,97 0,006) J/C.

W funo do tipo de gs e da radiao envolvida e o nmero mdio de pares


formados N dado por:

E
N M
W

onde E a energia que a radiao deposita no volume sensvel do detector e M o fator


de multiplicao do gs.

6.4.3. Formao de pulso de tenso ou de corrente em detectores a gs

Nos detectores gs, a carga gerada pelos pares de ons coletada por meio do
campo eltrico criado de forma conveniente por um circuito eltrico. A carga, ao atingir
o eletrodo, produz uma variao na carga do circuito, que pode ser detectada e
transformada em um sinal eltrico. Essa carga coletada no intervalo de tempo de medio
corresponde a uma corrente, que pode ser avaliada utilizando-se eletrmetros. O modo de
operao que mede a corrente mdia gerada em um intervalo de tempo denominado
modo de operao tipo corrente.
Outra forma de operar o detector registrar o sinal gerado pela radiao, criando
um pulso referente variao de potencial correspondente. Esse modo denominado
modo de operao tipo pulso. Nesse caso, o nmero de pares de ons gerados e coletados
corresponde tambm intensidade (ou amplitude) do pulso gerado (V) para o detector.
Para gerar o pulso de tenso necessria uma resistncia R de carga, para que V = R.I,
onde I o pulso de corrente proveniente da coleta da carga eltrica no anodo do detector.

6.4.4. Regies de operao para detectores a gs

A probabilidade de interao da radiao com o gs, resultando na formao de


pares de ons, varia com o campo eltrico aplicado (ou diferena de potencial aplicada)
ao gs dentro do volume sensvel. A Figura 6.4 mostra a variao do nmero de pares de
ons em relao variao do campo eltrico, para duas radiaes de mesmo tipo e
energias diferentes. Pode-se separar o intervalo de variao do campo eltrico em seis
regies, pelas caractersticas especficas de gerao e coleta de carga. Essas regies so:

Regio inicial no-proporcional;


Regio de saturao dos ons;
Regio proporcional;
Regio de proporcionalidade limitada;
Regio do Geiger-Mller; e
Regio acima da regio do Geiger-Mller ou regio de descarga contnua.

192
Figura 6.4 - Regies de operao para detectores a gs.

6.4.4.1. Regio inicial no-proporcional

Nessa regio, os pares de ons so formados, mas como o campo eltrico muito
fraco, ocorre um processo de recombinao dos ons e somente parte das cargas geradas
coletada. medida que a diferena de potencial cresce, os ons so atrados para os
polos eltricos e no tm condies de se recombinar. Nessa regio gerada uma carga,
mas a amplitude do pulso pode variar sem proporcionalidade com a quantidade ou a
energia da radiao incidente. Essa regio no conveniente para a operao de
detectores.

6.4.4.2. Regio de saturao de ons

Aps um determinado valor do campo eltrico todos os ons formados so


coletados, e o sinal ento proporcional energia da radiao incidente. O valor do sinal
permanece o mesmo para um intervalo de variao do campo eltrico, em que a coleta
das cargas no traz nenhum processo adicional. Nessa regio de campo eltrico que
operam os detectores tipo cmara de ionizao.

6.4.4.3. Regio proporcional

Com o aumento do campo eltrico, os eltrons acelerados tm energia suficiente


para arrancar eltrons de outros tomos e, dessa forma, criar novos pares de ons. Ocorre
ento uma multiplicao, que linearmente proporcional ao nmero de pares de ons
gerados pela radiao primria. Essa regio tambm chamada de regio de
proporcionalidade verdadeira, onde operam os detectores proporcionais. O sinal inicial
multiplicado por um fator de 102 a 104 vezes, dependendo do gs e da tenso aplicada. O
sinal coletado na maioria das vezes precisa ser pouco amplificado, o que facilita seu
processamento.

193
6.4.4.4. Regio de proporcionalidade limitada

Continuando a aumentar o campo eltrico, a multiplicao do gs passa a sofrer


efeitos no-lineares, no guardando mais a relao de proporcionalidade com o nmero
de pares de ons gerados inicialmente. Os eltrons criados pela multiplicao so
rapidamente coletados no anodo, enquanto que os ons positivos se movem mais
lentamente para o catodo. A concentrao dessa nuvem de ons positivos tem como efeito
criar uma carga espacial prxima ao catodo, alterando a forma do campo eltrico no
detector. Como as multiplicaes subsequentes dependem do valor do campo eltrico
surgem as no-linearidades que afetam a proporcionalidade. Nessa regio os detectores
no operam.

6.4.4.5. Regio Geiger-Mller

Se a voltagem aplicada for suficientemente alta, a carga espacial criada pelos ons
positivos passa a ser to grande que a perturbao que cria no campo eltrico interrompe
o processo de multiplicao. Nesse caso o nmero de pares de ons criados passar a ser
sempre da mesma ordem, independentemente do nmero de pares criados originalmente
e, portanto o sinal ser independente da energia da radiao. Esta regio utilizada para
operar os detectores do tipo Geiger-Mller.

6.4.4.6. Regio de descarga contnua

Um aumento ainda maior no valor do campo eltrico ir ocasionar o surgimento


de centelhas, no havendo mais relao com o nmero de ons formados. Nessa regio
no operam os detectores e, se operados nessa regio, podem ser danificados.

6.4.5. Cmaras de ionizao

A cmara de ionizao opera na regio de saturao de ons e para cada par de


ons gerado pela partcula no interior do volume sensvel do detector gasoso um sinal
coletado. Apesar disso, a corrente coletada muito baixa, normalmente da ordem de pico
ampre (10-12 A), e precisam ser utilizados amplificadores para que o sinal possa ser
convenientemente processado. As cmaras de ionizao trabalham normalmente no modo
corrente e se convenientemente construdas, utilizando o ar como elemento gasoso, so
capazes de medir diretamente a grandeza exposio.
Em funo de sua grande estabilidade ao longo do tempo (da ordem de 0,1 % de
variao ao longo de muitos anos), as cmaras de ionizao so muito utilizadas tambm
como instrumentos de referncia para calibrao, pois eliminam a necessidade de
recalibraes frequentes.
Alguns tipos de detectores especiais funcionam dentro do modo de cmara de
ionizao. Entre eles podem ser citados:

Cmara de ionizao de ar livre (free air chambre):


Consiste de uma estrutura convenientemente montada e aberta de forma que a interao
com radiao medida diretamente no ar, ou seja, o volume sensvel do detector
menor que o do recipiente em que est contido. A camada de ar entre o volume sensvel
e as paredes da cmara faz com que o volume sensvel no sofra influncia da interao
da radiao com as paredes.

194
Figura 6.5 - Esquema da cmara de ionizao tipo free-air.

Caneta dosimtrica:
Muito utilizada em monitorao pessoal, consiste em uma cmara de ionizao onde
um fio de quartzo serve como cursor para indicar a exposio (ou dose) acumulada.
Utilizando um carregador, insere-se, sob presso, a caneta para ser zerada. Na prtica
significa que lhe foi fornecida uma carga eltrica mxima, que vai se esvaindo com o
surgimento dos eltrons e ons formados pela radiao, dentro do volume da cmara.
Assim, o fio de quartzo vai se aproximando do eletrodo de carga de mesmo sinal e,
pela lente, observa-se a leitura da exposio ou dose absorvida, conforme mostra a
Figura 6.6.

Figura 6.6 - Caneta dosimtrica.

Cmara de ionizao porttil:


uma cmara de ionizao a ar ou gs sob presso, destinada a medies de taxas de
exposio, taxa de dose e dose acumulada, para radiaes X e gama e, s vezes, beta.
construda de material de baixo Z ou tecido-equivalente.
um equipamento destinado medida da exposio ou taxa de exposio, bem como
dose absorvida no ar. Com o uso de uma capa de material tecido-equivalente adicional
de build up, esta cmara permite determinar a dose absorvida no tecido ou mesmo a
dose efetiva, dependendo da escala.

195
Figura 6.7 - Cmara de ionizao, porttil, tipo babyline, com faixa de
medio de 0,1 mR.h-1 a 50 R.h-1 (1 Sv.h-1 a 500 mSv.h-1), para deteco de
radiaes X, gama e beta em instalaes nucleares, clnicas de medicina
nuclear, radiodiagnstico e radioterapia.

Figura 6.8 - Cmara de ionizao pressurizada, porttil, para medio de


nveis baixos de radiao X e gama, provenientes da radiao de fundo, fugas
de aparelhos usados em radiodiagnstico e radioterapia e radiao espalhada.

Cmara de ionizao tipo poo:


A cmara de ionizao montada de forma que a fonte radioativa a ser medida possa
ser introduzida no poo criando uma condio de eficincia de praticamente 100 %.
muito utilizada na medio de atividade de fontes radioativas, na guarda dos fatores
de calibrao num laboratrio nacional de calibrao de radionucldeos e na
determinao da atividade de radiofrmacos em clnicas de medicina nuclear.

196
Cmara de Ionizao

Eletrmetro mais
eletrnica associada
Suporte das Amostras

Blindagem dos
Padres

Fontes Padres para controle Frasco tipo hospitalar


da qualidade do Medidor

(a) (b)

Figura 6.9 - (a) Vista interna da cmara de ionizao Centronic IG-11, do LNMRI;
(b) Foto da cmara NPL-CRC - Capintec fabricada pela Southern Scientific plc e
pertencente ao LNMRI.

Cmara de extrapolao:
Cmara de ionizao equipada com um micrmetro que permite variar a distncia
entre os eletrodos, que denominada de profundidade da cmara, utilizada
principalmente pelos laboratrios de calibrao para calibrar fontes emissoras de
radiao beta, utilizando a tcnica de extrapolao (Figura 6.10).

Figura 6.10 - Cmara de extrapolao modelo PTW 23391.

Cmara tipo dedal


uma cmara cilndrica muito utilizada em radioterapia para medies de dose
absorvida a ser aplicada em pacientes, sendo constituda de um pequeno volume de
ar ou gs, encerrado num cilindro de paredes finas e ponta arredondada, feito de
material tecido equivalente, e com um eletrodo central.
O regime de operao o do equilbrio eletrnico, sendo a corrente captada nas
medies muito baixa, necessitando de um eletrmetro de alta qualidade e
estabilidade para registr-la. Na Figura 6.11 tem-se uma foto de um dosmetro Farmer
modelo 2570 A, da Nuclear Enterprise, com uma cmara dedal, modelo 2571 de 0,69
cm3 de volume capa de equilbrio eletrnico de 3,87 mm.

197
Figura 6.11 - Dosmetro Farmer modelo 2570A, da Nuclear Enterprise.

6.4.6. Detectores proporcionais

Os detectores proporcionais foram introduzidos no incio dos anos 40. Operam


quase sempre no modo pulso e se baseiam no fenmeno de multiplicao de ons no gs
para amplificar o nmero de ons originais criados pela radiao incidente. Os pulsos
originados so muitas vezes maiores do que aqueles das cmaras de ionizao e, por esse
motivo, os detectores proporcionais so muito convenientes para as medies de radiao
onde o nmero de pares de ons muito pequeno para permitir uma operao satisfatria
de uma cmara de ionizao.
Dessa forma, uma das aplicaes importantes de detectores proporcionais, a
deteco e espectroscopia de raios X, eltrons de baixa energia e radiao alfa.
Contadores proporcionais so tambm largamente aplicados na deteco de nutrons,
utilizando reaes nucleares tipo (n,p), (n,). O material que reage com os nutrons
colocado dentro do proporcional, podendo ser o prprio gs de preenchimento.
Os detectores proporcionais so construdos na maior parte das vezes de forma
cilndrica. O motivo que para uma mesma tenso, o uso de fios finos como anodos pode
criar campos eltricos muito maiores que se forem utilizados anodos em forma de placas.
A Figura 6.12 mostra o esquema de um detector proporcional cilndrico. A Figura 6.13
mostra um detector proporcional pressurizado plano, utilizado para avaliao de
contaminao superficial.
Alguns tipos especiais de detectores proporcionais so de grande utilidade para
usos especficos. Um deles o detector 4, onde a fonte totalmente inserida dentro do
volume sensvel, o que permite uma eficincia de contagem de praticamente 100% para
radiaes de baixa energia (ordem de at dezenas de keV).

Figura 6.12 - Esquema de um detector proporcional cilndrico.

198
Figura 6.13 - Detector proporcional porttil para medio de contaminao
superficial.

6.4.7. Detectores Geiger-Mller

Os detectores Geiger-Mller foram introduzidos em 1928 e, em funo de sua


simplicidade, baixo custo, facilidade de operao e manuteno, so utilizados at hoje.
Como apresenta o pulso de sada de igual amplitude, independentemente do nmero de
ons iniciais, o detector G-M funciona como um contador, no sendo capaz de discriminar
energias. Para cada partcula que interage com o volume sensvel do detector, criado
um nmero da ordem de 109 a 1010 pares de ons. Assim, a amplitude do pulso de sada
formado no detector da ordem de volt, o que permite simplificar a construo do
detector, eliminando a necessidade de um pr-amplificador.
Para a contagem de partculas carregadas, a maior dificuldade a sua absoro
nas paredes do detector. Por esse motivo, so feitas janelas de material leve e fino, que
permitem que eltrons e partculas penetrem no volume sensvel do detector.
Para radiao , a resposta do detector ocorre de forma mais indireta, atravs das
interaes da radiao incidente com as paredes do detector, gerando radiao secundria
(normalmente eltrons) que vai interagir com o volume sensvel do detector.
Normalmente os detectores G-M no so utilizados para a deteco de nutrons,
em funo da baixa seo de choque de interao dos gases comumente utilizados para
nutrons. Alm disso, detectores proporcionais tm geralmente melhor resposta e
permitem a espectroscopia dessas partculas.
Embora os detectores G-M no tenham condies de medir nenhuma grandeza
radiolgica e nem a energia das radiaes, eles podem ser utilizados para estimar
grandezas como dose e exposio, ou suas taxas, utilizando artifcios de instrumentao
e metrologia. Nesse caso, so normalmente calibrados para uma energia determinada (por
exemplo, a do 60Co) e os valores dessas grandezas so calculados atravs da fluncia.
Na maioria dos casos, suas escalas, por exemplo, para medio de dose absorvida
ou taxa de dose absorvida, so construdas utilizando-se uma cmara de ionizao que
mede esta grandeza ou a sua taxa e, para cada ponto, substituda pelo detector G-M, onde
anotado o valor da grandeza ou taxa.

199
Figura 6.14 - Detectores G-M utilizados para medio de taxa de contagem
ou convertidos para taxa de exposio e equivalente de dose ambiente.

Figura 6.15 - Detector Geiger, tipo pancake, para medio de contaminao


superficial com janela de mylar aluminizado, para radiao alfa, beta e gama.

Figura 6.16 - Sonda G-M para deteco beta e gama, com janela metlica
muito fina.

Nota: No uso como monitores de rea, so calibrados normalmente para taxa de


exposio, mas sob certas circunstncias (energias diferentes da utilizada
para calibrao ou campos mistos de radiao, por exemplo) suas leituras
podem ter um erro de 2 a 3 vezes o valor real da medio.

6.5. DETECTORES CINTILAO

A utilizao de materiais cintiladores para deteco de radiao muito antiga - o


sulfeto de zinco j era usado nas primeiras experincias com partculas - e continua
sendo uma das tcnicas mais teis para deteco e espectroscopia de radiaes.

200
6.5.1. Caractersticas importantes de materiais cintiladores

Algumas das caractersticas ideais de um bom material cintilador so que:

transforme toda energia cintica da radiao incidente ou dos produtos da


interao em luz detectvel;
a luz produzida seja proporcional energia depositada;
seja transparente ao comprimento de onda da luz visvel que produz;
tenha boa qualidade tica, com ndice de refrao prximo ao do vidro (aprox.
1,5);
seja disponvel em peas suficientemente grandes para servir para construo de
detectores; e
seja facilmente moldvel e/ou usinvel para construir geometrias adequadas de
detectores.

Embora seja difcil encontrar um material que rena todas essas condies ideais,
alguns materiais apresentam boas caractersticas para sua utilizao.

6.5.2. Eficincia de cintilao

A eficincia de cintilao para um cintilador definida como a frao da energia


de todas as partculas incidentes que transformada em luz visvel. Existe uma srie de
interaes da radiao com o material cintilador com transferncia de energia e, a
desexcitao, no ocorre atravs da emisso de luz, mas principalmente sob a forma de
calor.

6.5.3. Emisso de luz em materiais cintiladores inorgnicos

O mecanismo de cintilao em materiais inorgnicos depende dos estados de


energia definidos pela rede cristalina do material. Dentro dos materiais isolantes ou
semicondutores, os eltrons tm disponveis para ocupar somente algumas bandas
discretas de energia. A banda de valncia representa os eltrons que esto essencialmente
ligados aos stios da rede cristalina, enquanto que a banda de conduo representa os
eltrons que tm energia suficiente para migrar livremente atravs do cristal. Existe uma
banda de energia intermediria, denominada banda proibida, onde os eltrons no
deveriam ser encontrados. Quando determinadas substncias so introduzidas no cristal
(ainda que em quantidades muito pequenas) so criados stios especiais na rede cristalina
dentro da chamada banda proibida, como mostra a Figura 6.17.
Os eltrons da banda de valncia ao receberem energia suficiente da radiao,
ocupam os nveis de energia criados pela presena do ativador. Ao se desexcitarem e
retornarem aos nveis de valncia, os eltrons emitem a energia referente diferena dos
nveis, na forma de ftons, que so ento propagados pela estrutura cristalina. A produo
dos ftons proporcional energia da radiao e a eficincia de deteco ir variar com
a radiao e com o material utilizado como cintilador.

201
Figura 6.17 - Estrutura de bandas de energias em um cintilador cristalino ativado.

6.5.4. A vlvula fotomultiplicadora

Um dispositivo fundamental para a utilizao dos detectores cintilao a


fotomultiplicadora, que transforma os sinais luminosos produzidos pela radiao,
usualmente muito fracos, em sinais eltricos com intensidade conveniente para serem
processados em um sistema de contagem ou de espectroscopia.
A Figura 6.18 apresenta o esquema de uma fotomultiplicadora. Os dois elementos
principais so o fotocatodo e a estrutura de multiplicao de eltrons. A funo do
fotocatodo, que acoplado ao detector onde ocorre a cintilao (no caso, o cristal
detector), transformar em eltrons os sinais luminosos originados pela interao com a
radiao.
Como, normalmente, os ftons produzidos no cristal pela interao de uma
partcula so apenas algumas centenas, o nmero de eltrons gerados pelo fotocatodo
tambm muito pequeno. Em consequncia, o sinal gerado seria muito pequeno para ser
convenientemente processado. O nmero de eltrons produzidos originalmente pelos
ftons no fotocatodo ento multiplicado pelo conjunto de dinodos adequadamente
arranjados. Cada dinodo funciona como um elemento de multiplicao: o eltron que sai
do estgio anterior, acelerado pelo dinodo seguinte, ganha energia, e ao colidir com a
superfcie do dinodo arranca um nmero maior de eltrons, que so atrados e acelerados
para o prximo estgio e assim sucessivamente.
Um conjunto tpico de dinodos consegue a multiplicao por um fator de 105 a
10 , com a produo de 107 a 109 eltrons, carga suficiente para gerar um pulso de tenso
6

ao ser coletada no anodo da fotomultiplicadora. O fenmeno de multiplicao de eltrons


tambm conhecido como emisso secundria.

202
Figura 6.18 - Elementos bsicos de uma vlvula fotomultiplicadora.

Figura 6.19 - Cintilmetro porttil Rad Eye PRD, de alta sensibilidade,


utilizado em atividades de triagem e localizao de fontes emissoras de
radiao gama.

Figura 6.20 - Espectrmetro gama, com NaI(Tl)+GM e analisador


multicanal, porttil, que permite determinar a energia da radiao, obter o
espectro e identificar o radionucldeo.

203
6.5.5. Materiais cintiladores

6.5.5.1. O iodeto de sdio

O iodeto de sdio ativado com o tlio - NaI(Tl) - um dos materiais mais


utilizados, pelas suas caractersticas de resposta radiao, pela facilidade de obteno
do cristal em peas grandes e de se obter o cristal dopado com tlio. Alm de sua
capacidade de produo de luz visvel, o NaI(Tl) responde linearmente num grande
intervalo de energia para eltrons e raios . O iodeto de sdio um material altamente
higroscpico, e para evitar sua deteriorao pela umidade, encapsulado, normalmente
com alumnio. Com este encapsulamento o detector perde a capacidade de detectar
eltrons, uma vez que estes no conseguem atravess-lo.
Os detectores de NaI(Tl) so muito utilizados em laboratrios de pesquisa,
compondo vrios sistemas de calibrao, sendo tambm utilizados como detectores e
sondas portteis em Proteo Radiolgica. Como ele pode ser construdo em vrios
formatos e dimenses, cristais de grandes dimenses so utilizados em gama-cmaras,
em clnicas de medicina nuclear.

Figura 6.21 - Gama-cmara de duas cabeas, com detector de NaI(Tl) planar


de grandes dimenses, utilizado em diagnstico com radiofrmacos em
rgos e corpo inteiro, em medicina nuclear.

Nota: Aps quatro dcadas sem nenhum destaque entre os materiais disponveis
para cintilao, em 1948 foi demonstrado por Robert Hofstadter que o
NaI(Tl) tinha um rendimento excepcional na produo de luz em relao aos
outros materiais utilizados na poca. Seu emprego praticamente inaugurou
uma nova era na espectrometria gama.

6.5.5.2. O iodeto de csio

O iodeto de csio ativado com tlio ou com sdio [CsI(Tl) e CsI(Na)] outro
material bastante utilizado como detector de cintilao. Sua principal qualidade em
relao ao iodeto de sdio seu maior coeficiente de absoro em relao radiao
gama, permitindo a construo de detectores mais compactos. Alm disso, tem grande
resistncia a choques e a vibraes, em funo de ser pouco quebradio.

204
6.5.5.3. O germanato de bismuto

O detector de germanato de bismuto ou BGO Bi4Ge3O12 tornou-se disponvel


no final dos anos 70 e rapidamente passou a ser utilizado em um grande nmero de
aplicaes. A principal vantagem do BGO sua alta densidade (7,3 g/cm3) e o elevado
nmero atmico do bismuto, o que faz dele o detector com maior probabilidade de
interao por volume entre os mais comumente utilizados.
Outra caracterstica do BGO ser um cintilador inorgnico puro, isto , no
necessita de um ativador para promover o processo de cintilao. Isso ocorre porque a
luminescncia est associada transio tica do Bi3+. Comparado ao iodeto de sdio,
tem, alm disso, boas propriedades mecnicas e de resistncia umidade. As principais
desvantagens do cristal de BGO so: sua baixa produo de luz, aproximadamente 10 a
20% daquela produzida em iguais condies pelo iodeto de sdio e seu custo, que duas
a trs vezes o deste ltimo.

6.5.5.4. Sulfeto de zinco ativado

O sulfeto de zinco ativado - ZnS(Ag) - um dos cintiladores inorgnicos mais


antigos. Tem alta eficincia de cintilao, comparvel do NaI(Tl), mas s disponvel
como p policristalino, sendo seu uso limitado a telas finas, por ser opaco luz, utilizadas
principalmente para partculas e ons pesados.

Nota: As telas de sulfeto de zinco foram utilizadas por Rutherford em suas experincias
clssicas sobre a estrutura da matria.

Figura 6.22 - Sondas de sulfeto de zinco para medio de contaminao


superficial (alfa).

6.5.6. Emisso de luz em materiais cintiladores orgnicos

O processo de fluorescncia em materiais orgnicos ocorre a partir de transies


na estrutura dos nveis de energia de uma molcula isolada e pode ser observado para
uma dada espcie molecular independentemente de seu estado fsico, o que no ocorre no
caso dos materiais orgnicos cristalinos, que dependem de uma estrutura cristalina para
que ocorra o processo de cintilao.
As molculas dos materiais orgnicos termoluminescentes tm normalmente
estados excitados com espaamento em energia bastante elevados comparados s energias
trmicas mdias (0,025 eV). Esses nveis so subdivididos em subnveis, com pequenas
diferenas de energia entre eles (ver Figura 6.23).

205
Um processo de excitao, como o causado pela radiao, ir fazer com que esses
nveis mais elevados de energia sejam povoados por eltrons em seus vrios subnveis. O
equilbrio dentro dos subnveis faz com que os eltrons caiam, aps um intervalo de tempo
desprezvel, dentro do nvel para os subnveis mais baixos, atravs de um processo sem
emisso de radiao. Em um segundo passo, a molcula tende a voltar ao seu estado no-
excitado. O retorno do eltron do nvel excitado para um dos nveis do estado fundamental
ir ocasionar a emisso da energia excedente em forma de fton.

6.5.7. Materiais cintiladores orgnicos

Somente dois materiais alcanaram grande popularidade como cintiladores


cristalinos orgnicos: o antraceno e o estilbeno. O antraceno um dos materiais orgnicos
mais antigos utilizados para cintilao e tem a caracterstica de ter a maior eficincia de
cintilao entre os materiais orgnicos. Os dois materiais so relativamente frgeis e
difceis de obter em grandes peas. Alm disso, a eficincia de cintilao depende da
orientao da partcula ionizante em relao ao eixo do cristal.

Figura 6.23 - Nveis de energia em uma molcula orgnica.

6.5.8. Cintiladores plsticos

Utilizando cintiladores lquidos que podem ser polimerizados possvel produzir


solues cintiladoras slidas. Um exemplo o monmero de estireno no qual dissolvido
um cintilador orgnico apropriado. Os plsticos tornaram-se uma forma extremamente
til de cintiladores orgnicos, uma vez que podem ser facilmente moldados e fabricados.
O preo baixo e facilidade de fabricao tornaram sua escolha praticamente exclusiva
quando se necessita de cintiladores slidos de grande volume.

206
6.6. DETECTORES CINTILAO LQUIDA

6.6.1. A soluo cintiladora

Uma soluo cintiladora, ou coquetel de cintilao, constitudo por duas ou mais


substncias que possuem a funo de produzir ftons, com comprimentos de onda
adequados mxima sensibilizao do tubo fotomultiplicador utilizado, e ao mesmo
tempo servir de suporte de fonte para a amostra radioativa que se deseja medir.

Constituintes de um coquetel de cintilao

Frasco de cintilao: possui a funo de conter a soluo cintiladora


assegurando-lhe estabilidade durante o tempo que for necessrio, devendo ser
mantido hermeticamente fechado.
Solvente: normalmente so hidrocarbonetos aromticos com a finalidade de
absorver a energia liberada pelas partculas, transferindo-a para outras
molculas existentes no coquetel de cintilao, que emitiro os ftons
desejados. Entre as substncias mais utilizadas encontra-se o tolueno, que
apresenta as seguintes caractersticas: baixo ponto de solidificao; custo
reduzido; fcil disponibilidade no mercado; e elevado rendimento luminoso. O
benzeno no utilizado porque possui um rendimento luminoso muito baixo e
um ponto de solidificao elevado.
Cintilador primrio: possui a funo principal de absorver a excitao das
molculas do solvente e emitir esta energia absorvida em forma de luz. Deve
apresentar as seguintes caractersticas: emitir ftons em grande quantidade,
com curta durao e faixa de frequncia adequada mxima sensibilidade da
fotomultiplicadora que estiver sendo utilizada; ser suficientemente solvel nas
condies de trabalho exigidas; e ser quimicamente estvel, no reagindo com
os outros componentes da soluo. As principais substncias bsicas usadas nos
melhores cintiladores primrios so as de natureza aromtica, como bifenil,
oxidiazol, naftaleno, oxazol e fenil. Como exemplo de cintiladores primrios
que utilizam algumas destas substncias bsicas tem-se:

PPO (Fenil-Fenil-Oxazol) - um dos cintiladores primrios mais


utilizados, apresentando boa solubilidade na presena de solues aquosas
e em baixas temperaturas. Possui uma emisso mxima de 3800 e deve
vir acompanhado de um cintilador secundrio, para que a sua faixa de
resposta mxima seja aproximada da faixa de sensibilidade das
fotomultiplicadoras, entre 4200 a 4400 , dos antigos sistemas de
cintilao lquida;
p-terfenil - Foi o mais utilizado nos primeiros trabalhos com cintilao
lquida, mas teve que ser abandonado por apresentar pouca solubilidade em
baixas temperaturas, mesmo sendo quimicamente estvel e tambm mais
econmico e eficaz que o PPO;
PBD (Fenil-Bifenil-Oxidiazol) - um excelente cintilador, tanto em relao
a sua eficincia luminosa como pelo comprimento de onda que emite,
porm possui baixa solubilidade e mais caro que o PPO;
butil-PBD - Apresenta boa solubilidade, alta eficincia luminosa, preo
equivalente ao do PPO, no apresenta auto-extino e possui uma grande

207
resistncia extino luminosa. o cintilador primrio que apresenta as
melhores caractersticas.

Cintilador secundrio: o primeiro motivo para a adio dos cintiladores


secundrios aos coquetis de cintilao foi para que absorvessem os ftons
emitidos pelos cintiladores primrios e emitissem outros em uma faixa de
frequncia menor, adequando-os faixa de sensibilidade mxima das
fotomultiplicadoras usadas nos primeiros sistemas de deteco. Atualmente
utilizado com a finalidade de reduzir certas extines por colorao, que podem
surgir no sistema cintilador-amostra. A quantidade necessria deste cintilador
numa amostra bem menor que a do cintilador primrio, normalmente
apresentando-se de 10 a 100 vezes mais diludo que este. Entre os cintiladores
secundrios mais utilizados esto o dimetil-POPOP e o POPOP, sendo que este
ltimo vem perdendo popularidade por causa de sua baixa solubilidade.

6.6.1.1. Solues cintiladoras comerciais

Neste grupo encontram-se os produtos comerciais, normalmente fornecidos por


fabricantes de equipamentos, que tambm admitem um determinado percentual de fase
aquosa sem que se descaracterizem como soluo homognea. Entre eles tm-se as
ilustradas na Tabela 6.2.

Tabela 6.2 - Solues cintiladoras comerciais tpicas.

INSTAGEL
Permitem adicionar dissolues orgnicas e inorgnicas, com incorporao
E
de at 20% de fase aquosa
AQUASOL
HISAFE
Permitem manter a homogeneidade com a incorporao de at 25% de fase
E
aquosa, proporciona maior eficincia de contagem que os dois anteriores e
ULTIMA
utiliza o Diisopropil-Naftaleno como solvente
GOLD

6.6.2. O processo de converso de energia em luz

Em uma soluo cintiladora, composta normalmente de uma substncia solvente


mais uma ou duas substncias com capacidade de emitir luz ao dissipar energia, as
partculas carregadas e os eltrons secundrios liberam energia interagindo
principalmente com as molculas do solvente, a maioria na soluo cintiladora,
aumentando a energia trmica das que sofreram interao.
Parte da energia liberada tambm ser consumida na criao de pares de ons,
radicais livres e fragmentos moleculares, fazendo com que a eficincia luminosa da
soluo cintiladora dependa da maneira que for encontrada por esses produtos para se
recombinarem. A concentrao destes produtos depender da ionizao especfica da
radiao, sendo mais alta ao redor da trajetria da partcula, principalmente em seu ponto
inicial de interao, ocasionando uma reduo da eficincia luminosa toda vez que esta
grande quantidade de ons e molculas excitadas reagirem entre si, ao invs de reagirem
com as molculas dos cintiladores, fenmeno este denominado como extino por
ionizao.

208
6.6.2.1. A migrao de energia no solvente

A energia absorvida no interior do solvente se desloca pelo processo de excitao


de molcula a molcula, at que cedida a uma molcula do soluto, a uma molcula da
substncia cintiladora ou a uma molcula de um agente extintor. Este processo de
transferncia de energia solvente-solvente muito rpido, da ordem de nanosegundos, e
explicado pela teoria de Birks e de Voltz.
Na teoria de Birks a transferncia de energia se deve a unio e dissociao de duas
molculas pela formao de excmeros, processo em que uma molcula excitada do
solvente se une a uma outra no excitada e ao romper essa unio transfere sua energia
para a que no estava excitada anteriormente. Este processo ocorre a uma grande distncia
em relao ao tamanho da molcula e pode ser representado da seguinte maneira:

S1 (1) S0 (2) S (1) S (2) S0 (1) S1 (2)


onde:

S1(1) a molcula 1 excitada;


S0(2) a molcula 2 no excitada;
S0(1) a molcula 1 no excitada; e
S1(2) a molcula 2 excitada.

Na teoria de Voltz a transferncia de energia se d atravs de um processo no


radioativo de transferncias de excitao entre molculas vizinhas.

6.6.2.2. A migrao de energia do solvente para o soluto

A maioria das substncias utilizadas como solventes emitem baixa quantidade de


ftons, por isso torna-se necessrio adicionar outras substncias como soluto para que a
converso de excitao em emisso fotnica seja eficiente. Normalmente adicionam-se
dois solutos: um com a finalidade de absorver excitao e produzir ftons, soluto
primrio; e outro com a finalidade de absorver os ftons produzidos pelo soluto primrio
e emitir outros ftons em uma faixa de frequncia equivalente faixa sensvel das
substncias utilizadas nos fotocatodos, soluto secundrio.
Atualmente emprega-se tambm o soluto secundrio para reduzir certas extines
que aparecem no sistema cintilador-amostra, provocadas pela existncia de colorao.
Entre as substncias mais utilizadas como soluto primrio encontra-se o butil-
PBD e o PPO e, como soluto secundrio, o DPH e o POPOP.
As principais caractersticas dos solventes so:

Apresentam baixa probabilidade de emisso de ftons.


A distribuio espectral dos ftons no se adapta sensibilidade das
fotomultiplicadoras.
As vidas-mdias dos ftons so longas, 30 ns, aumentando a probabilidade
de extino.
Por serem muito concentrados, os ftons apresentam alta probabilidade de
serem reabsorvidos.

As principais caractersticas dos solutos so:

209
Apresentam alta probabilidade de fluorescncia, 90%;
A distribuio espectral dos ftons deve se ajustar mxima sensibilidade dos
fotocatodos;
As vidas-mdias dos ftons so muito curtas, 1 a 2 ns; e
Por serem pouco concentrados, os ftons possuem baixa probabilidade de
serem reabsorvidos.

6.6.2.3. A transferncia de energia do solvente para o soluto primrio

Aps serem excitadas pelo solvente, as molculas do soluto primrio sofrem uma
desexcitao vibracional que as deixa sem energia suficiente para excitar outras
molculas do solvente, fazendo com que a excitao remanescente fique retida at que a
molcula do soluto encontre outra forma de desexcitao. Portanto, ao contrrio do
processo bidirecional existente na transferncia solvente-solvente, a transferncia de
energia solvente-soluto primrio irreversvel.
Em solues cintiladoras com concentraes muito baixas, 10-2 molar, cada
molcula do solvente transfere sua excitao para uma molcula do soluto e se esta
concentrao diminuir, a eficincia na emisso de ftons tambm diminuir.

6.6.2.4. A transferncia de energia para o soluto secundrio

A transferncia de energia, das molculas excitadas do solvente para as do soluto


secundrio, tambm pode se processar de maneira anloga a do soluto primrio, porm
como a concentrao do soluto secundrio, 0,5 g.dm-3, na soluo cintiladora muito
menor que a concentrao do soluto primrio, 5 g.dm-3, este tipo de transferncia de
energia muito pouco provvel.
Tambm possvel existir a transferncia de energia no radioativa, dos estados
excitados das molculas do cintilador primrio para as do cintilador secundrio, porm
devido baixa concentrao do cintilador secundrio, este processo no competitivo
com o processo luminoso.
A principal forma de transferncia de energia para as molculas do soluto
secundrio ocorre atravs da absoro dos ftons de fluorescncia emitidos pelo soluto
primrio, conforme o esquema abaixo:

Y Y h
h Z Z

onde * o estado excitado, Y a molcula do soluto primrio, h o fton de


fluorescncia emitido e Z a molcula do soluto secundrio.
Da mesma forma que no caso solvente-soluto primrio, este processo de
transferncia de energia tambm irreversvel.

6.6.3. O processo quantitativo de deteco com cintilao lquida

O processo quantitativo de deteco com cintiladores lquidos pode ser sintetizado


nas fases indicadas na Tabela 6.3.

210
Tabela 6.3 - Fases do processo quantitativo de deteco com cintilao lquida.

Fase Eventos Fenmeno produzido Observaes


E = energia da partcula;
Q(E) = fator de extino por
Uma partcula de energia Sero excitadas A molculas
do solvente, onde: ionizao (anexo F);
1 E interage com as
s = fator relativo natureza do
molculas do solvente A = Q(E) .s.E solvente e da substncia extintora,
caso exista.
Q(E) .s.E = quantidade de
Uma frao t das A Sero produzidas B molculas molculas excitadas do solvente;
molculas excitadas excitadas no soluto, onde: t = eficincia quntica de
2
transfere energia para as transferncia entre o solvente e o
B = t.A ou
molculas do soluto, soluto, que depende somente da
com uma vida mdia. B = Q(E) .s.t.E concentrao molar do soluto e das
caractersticas do solvente.
Uma frao q das B Sero emitidos L ftons de
molculas excitadas fluorescncia, onde: Q(E) .s.t.E = quantidade de
3 .
emitir ftons de L = q B ou molculas excitadas no soluto
fluorescncia . .
L = Q(E) s t q E. .
Devido a geometria e
caractersticas ticas do Sero absorvidos no fotocado
sistema de deteco, f dos L ftons emitidos, onde:
4
somente uma frao c
f = c.L Q(E) .s.t.q.E = quantidade de
dos L ftons emitidos ftons de fluorescncia emitidos
ou
pelas molculas do
soluto chegaro ao f = Q(E) .s.t.q.c.E
fotocatodo
p.k = valor mdio da eficincia
quntica do fotocatodo no espectro
Uma frao k dos f Sero produzidos m de fluorescncia do soluto
ftons que chegam ao fotoeltrons, onde: primrio;
5 fotocatodo consegue m=pkf . . k = valor de eficincia quntica da
interagir e liberar ou resposta mxima do fotocatodo;
fotoeltrons. p = fator de acoplamento espectral
m = Q(E) .s.t.q.c.p.k.E entre o espectro de fluorescncia
do soluto e a resposta do
fotocatodo.
Os m fotoeltrons sero Sero produzidos no anodo da
acelerados pelo campo fotomultiplicadora T eltrons, M = fator de multiplicao total da
6 eltrico existente entre onde: Fotomultiplicadora.
os vrios dinodos da .
fotomultiplicadora. T = M m.

Portanto a relao completa entre a amplitude de pulso e a energia da partcula


que interagiu no cintilador poder ser expressa por:

T Q( E) s t q c p k M E

onde cada componente desta expresso est indicado no Tabela 6.4.

211
Tabela 6.4 - Componentes da expresso que calcula a amplitude do pulso de
tenso produzido em sistema de deteco com cintilao lquida.

T amplitude do pulso eletrnico produzido na sada da fotomultiplicadora


Q(E) fator de extino por ionizao
s fator relativo a natureza do solvente e, caso exista, da substncia extintora
eficincia quntica de transferncia entre o solvente e o soluto, que depende das
t caractersticas do solvente e somente da concentrao molar do soluto. a frao das
molculas do solvente que transferir energia s molculas do soluto
q frao das molculas do soluto que emitir ftons de fluorescncia
c frao de ftons emitidos pelas molculas do soluto, que atingem o fotocatodo
fator de acoplamento espectral entre o espectro de fluorescncia do soluto e a
p
resposta do fotocatodo
k frao dos ftons de fluorescncia que produzir fotoeltrons
m quantidade de fotoeltrons produzidos no fotocatodo
M fator de multiplicao total da fotomultiplicadora
E energia da partcula

A formao do sinal num cintilador lquido conforme descrita nos itens 6.6.1. e
6.6.2. pode ser ilustrada na Figura 6.24 bem como a do sinal eletrnico na Figura 6.25.

Fotoeltrons
Fotoeltrons

Fotocatodo
Fotocatodo

Solvente
Pulsos de luz ~10 ns
Luz azul
Cintilador
Cintilador ~UV
primrio
primrio

Cintilador
secundrio

Radiao
Radiao Ionizao
ionizao
beta
beta Fotomultiplicadora
Fotomultiplicadora

Figura 6.24 - Processo de formao do sinal no cintilador lquido.

Figura 6.25 - Estimativa do nmero de fotoeltrons formados a partir da


interao de um eltron de 5 keV com o cintilador lquido.

212
6.6.4. Agente extintor

Para variar a eficincia de deteco do equipamento deve-se adicionar uma


substncia qumica que absorva parte da energia liberada no coquetel de cintilao e no
a dissipe produzindo ftons. A esta substncia d-se o nome de agente produtor de
extino qumica, agente extintor ou ainda agente de quenching. Entre as substncias mais
utilizadas como agente extintor esto o tetracloreto de carbono e o nitrometano.
Operacionalmente, para determinar a resposta do sistema de deteco, mede-se
uma srie de amostras preparadas com aproximadamente a mesma quantidade da soluo-
padro e quantidades crescentes da substncia produtora de extino qumica. Como a
atividade do padro conhecida e cada amostra apresenta eficincia de deteco
diferente, obtm-se uma curva de calibrao experimental do sistema. Esta curva
expressa em eficincia de contagem versus extino qumica (quenching).
De posse da curva de eficincia experimental do padro, mede-se a amostra do
radionucldeo a ser calibrado e transferem-se todos os dados para os programas de
computador que, a partir da curva experimental do padro e baseando-se nos parmetros
nucleares dos radionucldeos envolvidos, construiro as curvas de eficincia terica para
cada um deles.
Uma vez obtida as curvas de eficincia terica, em funo dos diferentes
parmetros livres do sistema de deteco, o clculo da atividade depender do
conhecimento do grau de extino qumica dos coquetis contendo o radionucldeo cuja
atividade se deseja conhecer, da associao destas extines qumicas com os parmetros
livres correspondentes e, a partir destes, obter-se teoricamente as eficincias de deteco
para os coquetis. Estas eficincias corresponderiam quelas que seriam obtidas caso a
curva de eficincia fosse construda experimentalmente a partir de uma soluo padro
do radionucldeo de interesse.
A determinao da eficincia terica e da atividade para cada radionucldeo de
interesse realizada pelo programa de computador intitulado LSCP - Liquid Scintillation
Counter Program. Este programa leva em considerao os seguintes dados: as medidas
correspondentes aos coquetis da soluo padro; as medidas correspondentes aos
coquetis da soluo de atividade desconhecida; e as curvas de eficincia terica do
padro e do radionucldeo a ser calibrado. A determinao da eficincia de contagem
feita por meio de uma interpolao entre as curvas de eficincia e o clculo da atividade
especfica feito dividindo-se as contagens obtidas, com os coquetis contendo o
radionucldeo a ser calibrado, pelo produto entre a eficincia terica e a massa de soluo
correspondente a este radionucldeo.
Estas eficincias corresponderiam quelas que seriam obtidas caso a curva de
eficincia fosse construda experimentalmente a partir de uma soluo padro do
radionucldeo de interesse.

6.6.5. Equipamento de cintilao lquida

Um equipamento de medio da atividade de radionucldeos emissores de


radiao alfa, beta e gama, utilizando a tcnica de Cintilao Lquida, mostrado na
Figura 6.26.

213
Figura 6.26 - Cintilador lquido

Seu princpio de funcionamento, ilustrado na figura 6.27, pode ser descrito pelos
tpicos seguintes:

Utilizam-se duas fotomultiplicadoras trabalhando em coincidncia, para que


seja imune s flutuaes provocadas por rudos eletrnicos. Somente os pulsos
que so detectados ao mesmo tempo nas duas vias conseguiro passar pela
unidade de coincidncia. Caso ocorra algum rudo eletrnico em uma das fotos,
dificilmente ocorrer simultaneamente um semelhante na outra foto, de
maneira que o pulso esprio produzido no conseguir passar pela unidade de
coincidncia e ser considerado vlido.
Os pulsos produzidos na sada das fotomultiplicadoras passam inicialmente
pelos pr-amplificadores e se dirigem ao mesmo tempo para as entradas da
unidade de coincidncia e para o amplificador somador de pulsos.
A unidade de coincidncia somente produzir um pulso em sua sada se os dois
pr-amplificadores apresentarem ao mesmo tempo um pulso em suas
respectivas sadas. O pulso de sada desta unidade servir como um sinal de
partida para o amplificador somador de pulsos somar os pulsos que esto
chegando em suas duas entradas.
O amplificador somador de pulsos tem a funo produzir em sua sada um
pulso correspondente soma dos dois pulsos que recebe em suas entradas e
liber-lo somente quando receber o sinal de partida, proveniente da unidade de
coincidncia. Uma outra funo deste amplificador a de aumentar a eficincia
de contagem visto que, se um pulso produzido em um dos dois pr-
amplificadores estiver abaixo do limite de discriminao do ADC, quando for
somado com o pulso da outra via de deteco poder ficar acima do citado
limite e ser aproveitado.
O amplificador serve para aumentar a amplitude e conformar o pulso de
maneira a adapt-lo caracterstica de entrada do conversor anlogico-digital
- ADC.
O ADC transforma os pulsos analgicos recebidos do amplificador em pulsos
digitais com alturas proporcionais as amplitudes dos pulsos recebidos, que por

214
sua vez so proporcionais energia da radiao. Este mdulo tambm trabalha
chaveado pela unidade de coincidncia.
O ltimo mdulo representado pelo analisador de altura de pulsos, que
produz o espectro de altura de pulsos correspondente ao espectro de energias
detectadas, e os diferentes tipos de sadas possveis que um sistema
microprocessado pode fornecer.

Figura 6.27 - Diagrama de blocos do um cintilador lquido.

Uma das grandes aplicaes dos materiais cintiladores em meio lquido, o seu
uso nos sistemas de calibrao absolutos para medio de radionucldeos. Quando
adaptados apropriadamente nos sistemas de coincidncia ou anti-coincidncia eles podem
substituir os detectores proporcionais com muitas vantagens metrolgicas, inclusive
operacionais. Por exemplo, nas calibraes de radionucldeos emissores beta puros ou
que possuem estados metaestveis.
Outra propriedade importante que eles podem ser utilizados em sistemas de
calibrao de radionucldeos do tipo CIEMAT-NIST ou Razo entre Coincidncias Tripla
e Dupla, denominado de TDCR, presentes nos principais laboratrios nacionais de
metrologia de radionucldeos do mundo.

215
6.7. DETECTORES UTILIZANDO MATERIAIS SEMICONDUTORES

6.7.1. Formao de pulsos em materiais semicondutores

6.7.1.1. Materiais isolantes, condutores e semicondutores

Em materiais cristalinos, pode-se dizer, de forma simplificada, que h trs bandas


de energia em relao condutividade de eltrons: a banda de valncia, de energia mais
baixa, onde os eltrons normalmente se encontram em um material no excitado; a banda
de conduo, por onde os eltrons normalmente migram, e uma banda proibida, que
uma regio onde os eltrons no so permitidos popularem. Essas regies esto
esquematizadas na Figura 6.28. A largura em energia da banda proibida o que
caracteriza os materiais isolantes, os semicondutores e os condutores.
Quando a largura muito grande (maior que 5 eV) os eltrons tm pouca
possibilidade de alcanar a banda de conduo e, portanto, o material oferece grande
resistncia passagem de corrente; nesse caso o material um isolante. Quando a largura
da banda muito pequena, at mesmo a agitao trmica temperatura ambiente faz com
que os eltrons tenham energia para chegar banda de conduo, e nesse caso o material
um condutor. Em alguns casos, a energia da banda proibida no nem to grande, nem
to pequena (, por exemplo, da ordem de 1 eV), mas, em determinadas circunstncias
pode-se fazer com que os eltrons alcancem a banda de conduo e que o material se
comporte como condutor; so materiais semicondutores.

Figura 6.28 - Estrutura de bandas em um material (Ei energia do intervalo).

6.7.1.2. Pares eltrons-buracos

Em um material, o nmero de eltrons suficiente para preencher exatamente a


banda de valncia. Se o material excitado com energia adequada, eltrons podem ser
retirados da banda de valncia e serem alados banda de conduo. Em contrapartida o
eltron retirado provoca um desequilbrio na carga da estrutura da banda de valncia, que,
pela ausncia do eltron, pode ser representado como um buraco, com carga positiva. Da
mesma forma que um campo eltrico aplicado ao material pode fazer o eltron se mover
na banda de conduo, o buraco ir se mover no sentido oposto.

216
6.7.1.3. Criao de doadores e receptores em um material

Os eltrons existentes em um material com banda proibida larga esto


aprisionados na banda de valncia e tm dificuldade de penetrar na banda de conduo.
A adio de pequenas quantidades (algumas partes por milho) de impurezas adequadas,
com excesso de eltrons, pode alterar essa condio. As impurezas doadoras so aquelas
que tm um nmero de eltrons na ltima camada maior em relao ao material original.
Por exemplo: para um material semicondutor, com quatro eltrons na ltima camada e
com seus tomos unidos estrutura cristalina por uma ligao covalente, introduzida
uma impureza com cinco eltrons na ltima camada. Uma impureza desse tipo
denominada de doadora.
Ao ocupar o lugar destinado ao tomo do material na estrutura cristalina, a
impureza, alm de ter seus eltrons compartilhados na ligao covalente, ter um eltron
sem funo, uma vez que as ligaes disponveis j foram ocupadas. A ligao desse
eltron muito fraca e normalmente ocupa posies dentro da regio da banda proibida.
A distncia entre o nvel de energia desses eltrons e o nvel da banda de conduo to
baixa que a agitao trmica normal poder ter grande probabilidade de lev-los banda
de conduo e o material ento se torna condutor com aqueles eltrons. O material doador
de eltrons e o material semicondutor dopado com esse tipo de impureza so chamados
de semicondutores tipo n.
Analogamente, uma impureza com falta de eltrons em relao ao material
semicondutor (no exemplo anterior, uma impureza com trs eltrons na ltima camada)
ir criar uma configurao com falta de um eltron. A impureza denominada de
receptora. A falta de eltrons exerce um papel semelhante ao do buraco criado ao retirar
um eltron da banda de valncia s que energeticamente se comporta de forma diferente.
Se um eltron capturado para preencher essa vacncia, ele estar menos ligado
estrutura (porque um dos componentes da rede agora a impureza trivalente) e se situar
dentro da banda proibida, ainda que em sua parte inferior. O material doador de buracos
e o semicondutor dopado dessa forma so chamados de tipo p. A Figura 6.29 ilustra essa
situao.

Figura 6.29 - Impurezas doadoras e receptoras em uma estrutura cristalina,


onde P = fsforo, B = boro e Si = silcio.

6.7.1.4. Interao da radiao com o material semicondutor

A passagem da radiao por um material semicondutor com estrutura de bandas


provoca a criao de um grande nmero de pares eltrons-buracos ao longo da trajetria
217
da partcula, que so coletados pelo campo eltrico aplicado ao material. A energia mdia
gasta para criar um par eltron-buraco denominada energia de ionizao e depende do
tipo e energia da radiao incidente. A principal vantagem dos semicondutores reside na
pouca energia necessria para criar um par eltron-buraco (em torno de 3 eV para o
germnio), quando comparada com aquela necessria criao de um par de ons nos
gases (em torno de 30 eV para um detector tpico gs). O grande nmero de pares criados
propicia duas vantagens aos detectores semicondutores sob ponto de vista de resoluo:
diminui a flutuao estatstica e diminui a influncia do rudo eletrnico, levando a uma
melhor relao sinal-rudo.

6.7.1.5. Juno p-n

Uma juno p-n a regio de juno entre materiais tipo n e tipo p. Na prtica
obtida pela adio de impurezas doadoras (tipo n) a uma regio tipo p (que tem buracos
em excesso) ou adio de impurezas receptoras (tipo p) a uma regio tipo n. A principal
propriedade de uma juno p-n que prontamente conduz corrente quando a tenso
aplicada na direo correta, mas deixa passar muito pouca corrente quando a tenso
aplicada na direo incorreta.

6.7.1.6. Regio de depleo

A juno de uma regio n com uma regio p ir provocar inicialmente movimentos


das cargas negativas para a regio p. O resultado a criao de uma regio com carga
lquida negativa na regio p e uma regio com carga lquida positiva na regio n, evitando
novos movimentos e criando um equilbrio dinmico na regio, embora com desequilbrio
de carga. Essa regio onde existe o desequilbrio de carga denominada de regio de
depleo e se estende por ambos os lados da juno, e responsvel pela aceitao do
movimento de cargas em um s sentido.
Nessa regio, as cargas formadas pela interao com a radiao so rpida e
eficientemente coletadas, sendo esse o verdadeiro volume ativo do detector.

6.7.1.7. Polarizao reversa

Polarizao reversa quando se aplica polaridade positiva ao semicondutor tipo


n e negativa ao semicondutor tipo p. Ao se fazer isso em uma juno p-n, as cargas fluem
com facilidade e esse o tipo de tenso aplicada juno e que torna eficiente a coleta
de cargas na regio de depleo.

6.7.2. Detectores de diodos de silcio

Os detectores de diodo de silcio constituem o principal tipo utilizado para


partculas carregadas pesadas, como prtons, alfas e fragmentos de fisso. As principais
vantagens dos detectores de diodo de silcio so a resoluo excepcional, a boa
estabilidade, o excelente tempo de coleta de carga, a possibilidade de janelas
extremamente finas e a simplicidade de operao. Os detectores de diodo de silcio so
normalmente de tamanho pequeno, da ordem de 1 a 5 cm2 de rea.

218
6.7.3. Detectores de germnio

Os detectores de germnio dopado com ltio - Ge(Li) - foram largamente


utilizados, por sua resoluo na espectroscopia gama, mas tm sido rapidamente
substitudos, principalmente por causa das dificuldades operacionais, exigindo que sejam
mantidos em refrigerao temperatura do nitrognio lquido (770 K), mesmo quando
no esto em funcionamento, para evitar danos em sua estrutura com a migrao do ltio
no material. Os substitutos preferidos tm sidos os detectores de germnio de alta pureza
- HPGe - tambm denominados de germnio hiperpuros ou de germnio intrnseco, que
s necessitam de refrigerao quando em operao, podendo manter-se na temperatura
ambiente pelo perodo de muitos dias sem danos ou alteraes em suas condies.
Os detectores de germnio para espectroscopia gama so construdos geralmente
na geometria cilndrica ou coaxial, o que permite a obteno de volumes maiores,
necessrios para espectrometria gama.
Os detectores de germnio constituem um dos tipos mais utilizados em
laboratrios, para a medio de emissores gama com baixa atividade e para identificao
de radioistopos presentes em materiais, em uma grande faixa de energia (alguns keV a
10 MeV). Alguns detectores podem detectar radiao de baixa energia do tipo raios X e
radiao gama e so denominados de GMX.
Existem vrios modelos comerciais destes detectores, com dimenses diversas,
eficincia de deteco de vrios valores e configuraes do tipo axial, horizontal, em
formato de J, tipo poo e at portteis. (ver Figura 6.30)
bom salientar que o pr-amplificador se encontra acoplado ao detector, uma vez
que necessita ser refrigerado temperatura do nitrognio lquido, para conseguir
processar os pulsos de pequena amplitude e evitar os rudos eletrnicos.

Figura 6.30 - Detector de germnio de alta pureza, modelo axial, resfriado a


nitrognio lquido, utilizado em tcnicas de espectrometria X e gama, em
medies de laboratrio.

6.7.3.1. Blindagem do detector

Um cuidado especial deve ser dedicado blindagem do detector. A blindagem


ideal deve utilizar chumbo envelhecido, assim denominado, por ser isento de impurezas

219
radioativas, principalmente as provenientes de precipitaes de testes nucleares (fallout),
realizados no perodo de 1944 a 2000.
Para blindagens com alto fator de atenuao, principalmente em relao s
radiaes do meio ambiente (background) deve-se usar trs camadas metlicas na sua
composio. A primeira camada externa, constituda de chumbo (blocos ou pea
fundida) com 5 a 10 cm de espessura, uma segunda camada de revestimento interno com
espessura cerca de 5 mm de cdmio e uma terceira, de cobre ou alumnio, com cerca de
2 mm de espessura.
A funo da camada de cobre de atenuar os raios X caractersticos emitidos pela
fluorescncia do chumbo, com energias entre 72 a 87 keV, devido s interaes com as
radiaes externas. A camada de cdmio para atenuar estas radiaes do chumbo que,
por sua vez, emite raios X caractersticos com energias entre 22 e 27 keV. O cobre atenua
tais radiaes, mas emite raios X caractersticos de 8 keV, com muito baixa intensidade.

6.7.3.2. Blindagem do Dewar

Para aumentar a eficincia da blindagem, bom evitar a contribuio das


radiaes emitidas pela garrafa de nitrognio lquido (dewar). Uma das maneiras mais
simples construir a blindagem do detector de modo que o dewar fique do lado de fora e
tomando-se o cuidado de evitar que possveis radiaes por ele emitidas sejam atenuadas
pelo fundo da blindagem do detector.

6.7.4. Detector de barreira de superfcie

Uma das utilizaes do silcio na construo dos detectores de barreira de


superfcie que so caracterizados pela camada morta muito fina e so utilizados
principalmente para a deteco de partculas e . So detectores formados pela juno
de duas superfcies, uma tipo n e outra tipo p.
Normalmente os detectores de barreira de superfcie so constitudos de uma
pastilha fina de Si de alta pureza do tipo n (excesso de eltrons), sobre a qual depositada
uma camada fina de ouro. Na evaporao do ouro para formar a camada sobre o silcio,
criam-se condies para a formao de uma camada de xido entre o silcio e o ouro, a
qual executa a funo de induzir uma grande densidade de buracos, comportando-se como
uma camada p. Barreiras de superfcie podem tambm ser produzidas com um cristal tipo
p e alumnio evaporado para formar um contato equivalente ao tipo n. Uma desvantagem
do detector sua sensibilidade luz, mas como normalmente ele utilizado dentro de
uma cmara vcuo, para evitar a interao das partculas com o ar, esse problema
eliminado.

6.7.5. Detectores de silcio-ltio

Os detectores de silcio dopados com ltio - Si(Li) - so pouco recomendveis para


o uso em espectrometria gama, em funo do baixo nmero atmico do silcio (Z = 14),
quando comparado com o germnio. No entanto, essa caracterstica os torna convenientes
para a espectrometria de raios X de baixa energia e para deteco e espectrometria de
eltrons. Atualmente existem detectores constitudos somente por ltio, conforme mostra
a Figura 6.32.

220
cermica

superfcie sensvel
com camada de ouro
silcio

encapsulamento
metlico

conector microdot

Figura 6.31 - Vista interna de um detector de barreira de superfcie e


espectro das radiaes alfa emitidas pelo 241Am.

Ao contrrio do que ocorre com os detectores Ge(Li), a mobilidade do ltio no


silcio no to alta, fazendo com que possa passar algum tempo temperatura ambiente,
embora seja indispensvel a refrigerao com nitrognio quando em operao. A
refrigerao ajuda tambm a melhorar a relao sinal-rudo, uma vez que aumenta a
resistividade e a mobilidade de cargas no condutor.

Figura 6.32 - Monitor individual com detector de diodo de silcio para


radiao X e gama, com leitura direta da dose equivalente, taxa de dose,
equivalente de dose pessoal Hp(10), com memria para estocagem de dados,
alarme sonoro e luminoso e identificao do usurio.

221
6.7.6. Detectores de telureto de cdmio

O telureto de cdmio (CdTe) combina pesos atmicos relativamente altos (48 e


52) com uma banda de energia suficientemente grande para permitir operar temperatura
ambiente. Para energias tpicas de raios , a probabilidade de absoro fotoeltrica por
unidade de caminho percorrido da ordem de 4 a 5 vezes maior que no germnio e 100
vezes maior que no silcio. Normalmente este detector tem grande utilidade para
situaes em que se deseja grande eficincia de deteco para raios por unidade de
volume. Na figura 6.33 apresentado um modelo do deste tipo de detector.

241
Figura 6.33 - Espectro da radiaes de baixa energia do Am obtido com
CdTe.

Por causa de sua baixa eficincia na coleta dos buracos gerados, a resoluo do
CdTe pobre quando comparada s obtidas com germnio e silcio. Quando no
necessria a informao para espectroscopia, o CdTe pode ser utilizado em uma grande
variedade de aplicaes onde suas caractersticas so importantes. Alm disso, pode
operar at 30C em modo pulso e at 70C em modo corrente.
O maior problema com o detector de CdTe o fenmeno da polarizao que, em
certos casos, leva diminuio de sua regio de depleo com o tempo, com consequente
perda de eficincia de deteco. Essa polarizao causada pela captura de eltrons em
regies do detector.

6.7.7. Detector de telureto de zinco e cdmio - CZT

Atualmente existem vrios novos detectores que utilizam materiais diferentes dos
conhecidos. Um prottipo bem ilustrativo o dosmetro para radiao gama de Telureto
de Zinco e Cdmio, CZT, desenvolvido pelo Korea Atomic Energy Research Institut
(KAERI), mostrado na Figura 6.34. Este equipamento capaz de medir a dose absorvida,
identificar o radionucldeo emissor gama e determinar a direo de incidncia da radiao.

222
Figura 6.34 - Dosmetro gama de telureto de zinco e cdmio.

6.8. CALIBRAO DE DETECTORES: RASTREABILIDADE

Por causa das propriedades e efeitos biolgicos das radiaes ionizantes, os


resultados das medies das chamadas grandezas radiolgicas devem ser extremamente
confiveis. Esta credibilidade necessria difcil de se obter devido quantidade de
grandezas radiolgicas utilizadas nas diversas aplicaes das radiaes ionizantes e
variedade de radiaes e energias, produzidas pelos vrios radioistopos e dispositivos
geradores de radiaes.
Os detectores, principalmente os utilizados em condies de campo, sofrem
alteraes em seu funcionamento e devem ser calibrados com uma periodicidade,
definida em Norma dos rgos reguladores, para garantir a manuteno de suas
propriedades de medio.
A calibrao de detectores feita comparando-se suas caractersticas de medio
com aparelhos padres nacionais, sob condies rigorosamente controladas. Essas
condies so estabelecidas nos laboratrios da rede de calibrao, os quais so rastreados
ao sistema internacional de metrologia, por meio de calibraes frequentes dos padres
nacionais em relao aos internacionais, programas de comparao interlaboratorial e de
manuteno de padres.
Como a calibrao de detectores feitas com feixes de radiao e energias
especificados e padronizados, a utilizao de um detector para condies diferentes
daquelas em que foi calibrado s pode ser feita com a utilizao de fatores de converso
adequados.

6.9. TEORIA DE BRAGG-GRAY

A teoria de Bragg-Gray foi desenvolvida com o propsito de estabelecer


condies rigorosas de medio, principalmente as relacionadas Dosimetria das
Radiaes Eletromagnticas. Ela se encontra bem formulada e definida, inclusive, em seu
formalismo matemtico, no livro Radiation Dosimetry, de Attix, F.H., Roesch, W.C. -
Ac.Press, NY, 1968. Resumidamente, ela estabelece a seguinte situao de medio.
Quando se introduz um detector para medir a exposio ou dose absorvida num
meio material, h uma perturbao no local, devido presena de materiais de
composio qumica e densidade diferentes, que interagem de modo diferente com a
radiao, alm da presena perturbativa do campo eltrico de polarizao do detector.

223
Esta descontinuidade no meio material denominada de cavidade. Deste modo, o
registro do detector ser a dose absorvida nele e no no meio material que se pretendia
medir.
Para medies corretas, necessrio introduzir fatores de correo que dependem
das diversas densidades, da relao entre os coeficientes de absoro de energia dos
ftons, do alcance dos eltrons no meio material, da relao dos valores dos stopping
power, entre outros. Alm disso, devem ser obedecidos os seguintes requisitos:

a) a dimenso da cavidade deve ser suficientemente pequena comparada com o


alcance dos eltrons secundrios liberados no meio slido para no alterar a
fluncia;
b) a espessura do meio slido deve ser maior que o alcance dos eltrons
secundrios, de modo a garantir que todos os eltrons que atravessaram a
cavidade foram liberados no meio; e
c) a espessura do meio slido deve ser suficientemente pequena para que a
atenuao dos ftons no altere a exposio.

6.10. CADEIAS DE MEDIO - PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS AUXILIARES

6.10.1. Processamento de sinais em uma cadeia de medio

A grande maioria dos detectores de radiao transforma os sinais originados na


interao da radiao com o material sensvel do detector em pulsos eletrnicos, que so
depois processados em uma cadeia de medio. Alguns dispositivos so comuns nessas
cadeias de medio e tem uma funo bastante especfica. Os dispositivos mais comuns
so: fonte de tenso, pr-amplificador, amplificador linear, discriminador integral,
discriminador diferencial (analisador monocanal), contador, gerador de retardo, unidades
de coincidncia e anti-coincidncia e analisador multicanal.

6.10.2. Padres de instrumentao

Dois tipos de padres internacionais de sistemas tornaram-se os mais utilizados


para as cadeias de medio na instrumentao nuclear: o NIM (Nuclear Instrument
Module) e o CAMAC (Computer Automated Measurement and Control). O sistema NIM
mais adequado normalmente para o processamento normal de pulso linear encontrado
nas aplicaes de rotina de detectores de radiao. O sistema CAMAC mais caro e
fortemente orientado para sistemas digitais com interface computacional que processam
grande volume de informao em pequeno intervalo de tempo.

6.10.3. Pulso linear e pulso lgico

Pulso linear o que carrega informao em sua amplitude, e algumas vezes, em


sua forma. Pulso lgico o pulso com uma amplitude e forma padro e a informao que
carrega somente sua presena ou no. Na figura 6.35, so exemplificadas as duas formas
de pulso.

224
=0,5 s
Amplitude (V)
V
Vo
0,9 Vo

=largura Amplitude
0,5Vo Amplitude=
% de pulso
5a7V
0,1Vo

Tempo
tR=rise time= tD=decay time= Tempo
tempo de subida tempo de descida

(a) (b)

Figura 6.35 - (a) Pulsos analgicos ou lineares, com seus parmetros de


formato e (b) Pulso lgico (quadrado) de comando ou de sada, por exemplo,
de um gate ou discriminador.

Geralmente os pulsos gerados por detectores gs so lentos devido ao tempo de


coleta dos eltrons e ons de ionizao pelos eletrodos. A largura desses pulsos da ordem
de milissegundos e a amplitude da ordem de dezenas de milivolts ou mais. As amplitudes
dos detectores do tipo G-M e Proporcionais so bem grandes, podendo facilmente atingir
valores de alguns volts. J as amplitudes dos detectores do tipo GMX, por exemplo, so
da ordem de milivolts ou menores e o tempo de subida da ordem de microssegundos ou
at menores. Nos detectores plsticos ou nos cintiladores lquidos o tempo de subida da
ordem de alguns nanosegundos.

6.10.4. Fonte de tenso (detector bias voltage supplier)

Para a coleta do sinal, os sistemas de medio necessitam normalmente de uma


fonte de tenso, cuja faixa de operao ir variar em funo do tipo de sistema que est
sendo utilizado. As principais caractersticas de uma fonte que devem ser consideradas
so:

a. O nvel mximo e mnimo da voltagem e sua polaridade;


b. A corrente mxima disponvel da fonte;
c. A estabilidade a longo prazo em relao a mudanas na temperatura ou na
voltagem de alimentao; e
d. O grau de filtrao assegurado para eliminar variaes e rudos introduzidos
pela linha de alimentao.

6.10.5. Pr-amplificador (preamplifier)

O pr-amplificador o primeiro elemento em uma cadeia de processamento de


sinais. Para melhorar a relao sinal-rudo importante que seja localizado o mais
prximo do detector.
Suas funes principais so: o casamento das impedncias do detector com a do
amplificador, que permite transportar o sinal a grandes distncias sem distores; e
transformar a capacitncia para otimizar a relao sinal-rudo.
O pulso que sai normalmente do pr-amplificador um pulso linear com cauda
(linear tail pulse). Sua especificao principal est relacionada s caractersticas de rudo.
Em algumas situaes, para melhorar sua condio de operao, colocado para operar
a baixas temperaturas, como no caso dos detectores de germnio e de Si(Li).

225
Outra funo importante que o pr-amplificador exerce normalmente em alguns
sistemas a de fornecer um meio de alimentar a tenso do detector. Um cabo nico
providencia usualmente tanto a voltagem para o detector como o pulso de sinal para a
entrada do pr-amplificador. No estgio inicial na maioria dos pr-amplificadores atuais
utilizado um transistor de efeito de campo (Field Effect Transistor - FET). Os FET so
utilizados pelas suas propriedades de operar com sinais de baixa amplitude gerados pelos
detectores do tipo GMX, com baixo rudo. Entretanto, eles so conhecidos por sua
sensibilidade a transientes abruptos de carga e podem ser danificados pela variao rpida
na escala do detector ou seu desligamento em funcionamento. Para evitar esse efeito,
muitos FET so construdos com circuitos de proteo e fontes so dotadas de dispositivos
que impedem variaes bruscas (circuito de shutdown).

6.10.6. Amplificador linear (linear amplifier)

O amplificador linear executa duas funes principais no circuito: conformao


do pulso e ganho de amplitude. O pulso de entrada que vem normalmente do pr-
amplificador um pulso linear com cauda com qualquer das polaridades, que
conformado pelo amplificador em um pulso linear com forma e amplitude dentro de um
intervalo. O ganho de amplificao varia normalmente de 100 a 5000 sendo normalmente
ajustvel por uma combinao de ajustes grosso e fino. As caractersticas mais
importantes de um amplificador so:

a. Amplificao de sinal;
b. Escolha da polaridade do sinal de sada;
c. Conformao de pulso para medida da carga;
d. Conformao do pulso para melhorar desempenho em altas contagens;
e. Conformao de pulso para melhor relao sinal-rudo; e
f. Para aplicaes especficas, circuitos de eliminao de empilhamento e de
restaurao da linha de base.

6.10.7. Discriminador integral (integral discriminator)

O discriminador integral tem a funo de transformar um pulso linear em um pulso


lgico e que gera essa sada somente quando o pulso de entrada supera um nvel de
amplitude de tenso de discriminao estipulado. Se a amplitude do pulso abaixo desse
nvel de discriminao nenhuma sada lgica observada.

6.10.8. Discriminador diferencial ou analisador monocanal (single-channel analyzer)


- SCA

Alm de converter o sinal de linear para lgico, tem dois nveis de discriminao,
superior e inferior, o que permitem selecionar uma faixa de amplitudes. Essa seleo
chamada tambm de janela (window).

6.10.9. Gerador de retardo (delay generator)

uma unidade que permite que o seu sinal de sada, alm do tempo normal de
processamento, tenha um retardo adicional estabelecido de acordo com a necessidade do
circuito, para compatibilizar os tempos de chegada numa unidade de coincidncia ou num
sistema de contagem com gatilho (gate).

226
Para retardos pequenos, da ordem de nanosegundos, o mdulo constitudo
simplesmente de um conjunto de cabos coaxiais, com comprimentos proporcionais aos
tempos gastos para o sinal percorr-los. Para retardos maiores, da ordem de
microsegundos, pode ser constitudo de bobinas com ferrites ou circuitos mais
sofisticados.

6.10.10. Gatilho (gate)

uma unidade que tem um sinal lgico de sada, com amplitude de 5 a 7 volts e
largura de 0,5 microsegundos, para comandar uma unidade de processamento de sinal
posterior, aps o sinal de entrada, tipo analgico, ter passado por critrios de seleo em
amplitude ou em tempo.

6.10.11. Coincidncia (coincidence unit)

um dispositivo que produz um sinal lgico de sada, quando dois ou mais sinais
de entrada, provenientes de outros mdulos, chegam dentro de um intervalo de tempo
pr-estabelecido. Este intervalo, denominado de resoluo da coincidncia, pode ser fixo
ou varivel Seu valor da ordem de frao de microsegundo. Assim, pode-se ter
coincidncia dupla, tripla ou mltipla.

Sada C
Entrada A

Tempo
Entrada B

Unidade de coincidncia

rea de superposio dos pulsos

Tempo
Resoluo da coincidncia

Figura 6.36 - Esquema do funcionamento da unidade de coincidncia para


dois pulsos de entrada.

6.10.12. Conversor tempo-amplitude (Time do Amplitude Converter) - TAC

um tipo de unidade de coincidncia usada para avaliao da coincidncia entre


dois sinais lgicos, com diferena de tempos de chegada muito pequena. O tipo mais
usado fornece um sinal analgico de sada com amplitude proporcional rea de
superposio de dois pulsos lgicos de entrada.
Como a forma dos pulsos de entrada padronizada, quando eles chegam
simultaneamente, a rea de superposio mxima e, assim, a amplitude do pulso de
sada a mxima possvel. Quando os pulsos chegam defasados, a rea de superposio
vai se reduzindo medida que a defasagem maior. Neste caso, a amplitude de sada vai
tendendo a zero. O TAC pode ser usado como somador de pulsos, desde que, processe
sinais de entrada do tipo analgico e tempo circuito de conformao do pulso resultante.

227
6.10.13. Temporizador (timer)

um cronmetro eletrnico que controla o tempo de operao de um sistema de


medio automaticamente, de acordo com a escolha do operador. Ele compe o conjunto
de mdulos do sistema e pode ser do tipo que, aps extinguido o tempo fixado, d um
comando para registrar os valores das medies, apagar as informaes e iniciar novo
perodo de medio, conforme programao.

6.10.14. Contador (scalers ou counters)

No estgio final de um sistema de medio, os pulsos lgicos gerados pelos


mdulos so acumulados e registrados, durante um intervalo de tempo, numa unidade de
contagem. Pode ter um mostrador, no painel, que indica o registro das contagens em
dezenas, centenas, etc., ou simplesmente, a contagem acumulada. Os contadores
normalmente trabalham com um cronmetro que estabelece o intervalo de tempo de
contagem. Outra forma de uso estipular o nmero de contagens a ser atingido, sendo o
tempo de contagem acumulado independentemente. Nesse caso, a principal vantagem
poder especificar previamente a preciso estatstica desejada.

6.10.15. Analisador multicanal (multichannel analyzer) - MCA

O analisador multicanal o equipamento que permite processar os pulsos lineares


sados da cadeia de medio, separando-os em intervalos pequenos de amplitude (que
correspondem a intervalos de energia) para obter o espectro da distribuio da energia da
radiao.
Antigamente, os dispositivos multicanais constituam-se em mdulos separados e
a sada de seu processamento era realizada atravs da impresso de cada canal com as
contagens acumuladas por canal. Atualmente os multicanais so formados pelo
acoplamento de placas especiais, que transformam os pulsos lineares em sinais digitais
(placas ADC - conversor analgico-digital) e fazem o processamento de separao por
intervalo de energia. O resultado da sada normalmente mostrado na tela do computador,
em um grfico nmero de contagens versus amplitude de pulso (energia). A Figura 6.37
mostra, esquematicamente, como se pode converter as amplitudes dos pulsos gerados nos
detectores em contagens por canal de memria, que do origem aos espectros de
contagem.
No ADC, uma rampa linear de um circuito comparativo disparada com a entrada
do pulso de amplitude proveniente do amplificador juntamente com um gerador de pulsos
digitais que so interrompidos quando os valores da amplitude e da rampa so iguais. A
contagem dos pulsos digitais registrada numa posio de memria do aparelho,
denominada canal.

228
Amplitude (V) Amplitude (V)

Rampa linear

Tempo Posio de memria = canal

Contagem

Canal

Figura 6.37 - Esquema de operao de um ADC.

Normalmente, junto com as placas adaptadoras, so fornecidos programas


computacionais que permitem o processamento e manipulao do espectro. Um dos
programas mais usados o Maestro.

6.10.16. Diagrama de blocos

A forma utilizada para se representar uma instrumentao o diagrama de blocos.


Nele, cada mdulo do sistema de medio representado por um elemento grfico. A
Figura 6.38 mostra um diagrama de blocos para o sistema de medio 4- em
coincidncia para calibrao absoluta de radionucldeos.

Figura 6.38 - Diagrama de blocos de uma cadeia de medio utilizando o


mtodo de coincidncia 4-.

229
6.10.17. Sistema de calibrao absoluta (Triple to Double Coincidence Ratio) -
TDCR

Conforme foi citado no tem 6.6.5, com o uso do cintilador lquido, mdulos
comerciais de instrumentao nuclear acoplados a um mdulo MAC3 especialmente
construdo pelo Dr. Philippe Cassete do Laboratoire National Henri Becquerel (LNHB)
da Frana e vrios programas de computao, construiu-se um dos mais sofisticados
mtodos de calibrao absoluta de radionucldeos.
O mtodo utiliza um sistema de coincidncia com trs fotomultiplicadoras
coletando as cintilaes produzidas por uma soluo de radioistopo, a ser calibrada,
diluda numa soluo de cintilao lquida. Usando as razes das coincidncias tripla e
duplas, obtm a atividade da soluo radioativa. As Figuras 6.39a e 6.39b ilustram o
arranjo experimental utilizado e a foto do mdulo MAC3 utilizado.

Unidade de
Frasco B Coincidncia

C e de

Fotom. Tempo-morto
F

PA AB AC T F
BC D F
Base de tempo contadores

(a) (b)
Figura 6.39 - Arranjo experimental do sistema TDCR e foto do mdulo MAC3.

6.10.18. Hierarquia dos sistemas metrolgicos

Todas as medies realizadas num pas devem estar rastreadas metrologicamente


ao Laboratrio Nacional e, este, ao Bureau International des Poids et Msures (BIPM).
Na realidade, a maioria das medies nem sempre cumpre este requisito e, por isto, existe
uma variabilidade de valores para a mesma medio e at para a mesma unidade. Este
requisito de rastreabilidade constitui a segurana e a garantia da exatido do valor da
medio, no pas e fora dele.
Para garantir a fidelidade de suas medies, um usurio deve ter seus instrumentos
calibrados num laboratrio nacional ou num laboratrio credenciado por ele. Na
calibrao, o instrumento recebe um certificado de calibrao, na faixa de sua utilizao
e finalidade de uso.
Por outro lado, os padres nacionais das referidas grandezas devem ser calibrados
ou rastreados metrologicamente ao BIPM, mediante intercomparaes internacionais de
medies em determinadas grandezas e tipos de medio. Ou seja, devem, para cada
grandeza, estar rastreados ao padro internacional ou primrio.
A Figura 6.40 representa esquematicamente a hierarquia dos padres e da
qualidade dos instrumentos, onde os valores das incertezas das medies variam dos
valores aceitveis dos instrumentos utilizados pelos usurios, at valores cada vez
menores e rigorosos dos instrumentos padres nacionais e internacionais.

230
Incerteza
de medio Unidades do SI
Padres Internacionais
BIPM Padres dos Institutos Nacionais
de Metrologia
Padres
Nacionais
Padres de referncia dos laboratrios
de calibrao credenciados
Calibrao

Ensaios Padres de trabalho dos


laboratrios do
cho de fbrica
Indstria e outros setores
5
COMPARABILIDADE

Figura 6.40 - Representao da hierarquia e rastreabilidade metrolgica das


medies realizadas pelos instrumentos dos usurios at aos padres
internacionais, para cada tipo de grandeza.

6.11- INCERTEZAS ASSOCIADAS S MEDIES

Em todas as medies de uma grandeza o resultado deve ser expresso pelo valor
obtido, com sua respectiva unidade, acompanhado do valor da incerteza expressa com um
determinado intervalo de confiana. Isto significa que, um resultado de medio sem a
sua incerteza no possui valor e nem qualidade metrolgica.
A origem da incerteza est acoplada preciso dos equipamentos, repetitividade
e reprodutibilidade das medies e, quando comparada com um padro, exatido e
rastreabilidade.
Para cada tipo de aparelho e aplicao tcnica existe uma faixa apropriada ou
aceitvel do valor da incerteza da grandeza medida. Por exemplo, numa determinao da
taxa de dose efetiva obtida num programa de monitorao ambiental, um valor entre 10%
e 20% considerado muito bom, enquanto que numa calibrao absoluta da Atividade,
com valor de 0,5% pode ser considerado elevado para determinado radionucldeo.
Assim, em todas as medies, principalmente as mais complexas e importantes,
alm dos registros dos valores das medies, uma planilha contendo os diversos
componentes de incerteza, com seus respectivos valores, deve acompanhar os resultados.
Os componentes da incerteza total so classificados como sendo do Tipo A e Tipo
B, cada um associado a um determinado tipo de distribuio estatstica e forma de
obteno, sendo compostos quadraticamente na maioria dos casos. Alm do valor total
obtido, este deve ser multiplicado pelo fator de abrangncia (k) proveniente do intervalo
de confiana estabelecido, para se obter a incerteza total expandida.
Para determinar, propagar, classificar e compor os diversos tipos de incerteza, os
operadores devem seguir os procedimentos do Guia para a Expresso da Incerteza de
Medio estabelecido pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) e Instituto
Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial (INMETRO) no Brasil,
aps padronizao internacional pela International Organization for Standardization
(ISO), na publicaoGuide to the Expression of Uncertainty in Measurement em 1995.
Alm das incertezas determinadas para cada ponto de medio, existem as

231
contribuies das incertezas devidas aos ajustes, extrapolaes e interpolaes, com
incluso das incertezas experimentais, propostos pelos mtodos de medio utilizados.
(Consultar: E. Almeida, L. Tauhata, Estatstica, Teoria de Erros e Processamento de
Dados - IRD, 1982).

232
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

IRD, Metrologia de Radionucldeos, Apostila do IRD, 4. Reviso, 2003.

E. ALMEIDA e L.TAUHATA, Estatstica, Teoria de Erros e Processamento de Dados,


Apostila do IRD, www.ird.gov.br, ver: Documentos, Material Didtico, Apostilas,
1982.

KNOOL, G.F., Radiation Detection and Measurement, J. Wiley and Sons, N.Y., 1979.

ISO, Guide to the Expression of Uncertainty in Measurement, ISBN 92-67-10188-9,


1995.

NCRP Report No. 58, A Handbook of Radioactivity Measurements Procedures,


Washington, D.C., 1985.

Man, W.B.; Rytz, A. and Spernol, A., Radioactivity Measurements - Principles and
Practices, Pergamon Press, 1991.

Bureau International des Poids at Mesures, Le BIPM et la Convention du Mtre, Pavillon


de Breteuil, F-92312, Svres Cedex, France, 1987.

Da SILVA, C.J., Implementao de um sistema de anti-coincidncia 4NaI(Tl)-CL com


cronometragem em tempo vivo e tempo morto extendvel, Tese de doutorado, COPPE-
UFRJ, Rio de Janeiro, 2008.

PHILIPPE CASSETTE, JACQUES BOUCHARD, The design of a liquid scintillation


counter based on the triple to double coincidence ratio method, Nuclear Instruments
& Methods in Physics Research, A 505, 72-75, 2003.

AGUSTIN GRAU MALONDA, Modelo de parmetro libre en centelleo liquido,


Editorial CIEMAT, Madrid, Espaa, 1995.

PHILIPPE CASSETE, E. MONARD, A new liquid scintillation counter for the absolute
activity measurement of radionuclides, Nuclear Instruments & Methods in Physics
Research, A 422, 119-123, 1999.

233
CAPTULO 7

NOES DE PROTEO RADIOLGICA

7.1. SEGURANA E PROTEO RADIOLGICA

7.1.1. Conceito de Proteo Radiolgica

A Proteo Radiolgica, ou Radioproteo, pode ser definida como um conjunto


de medidas que visam proteger o homem e o ecossistema de possveis efeitos indesejveis
causados pelas radiaes ionizantes.
Para isso ela analisa os diversos tipos de fontes de radiao, as diferentes radiaes
e modos de interao com a matria viva ou inerte, as possveis consequncias e sequelas
sade e riscos associados.
Para avaliar quantitativa e qualitativamente esses possveis efeitos, necessita-se
definir as grandezas radiolgicas, suas unidades, os instrumentos de medio e detalhar
os diversos procedimentos do uso das radiaes ionizantes.
O estabelecimento de normas regulatrias, os limites permissveis e um plano de
Proteo Radiolgica para as instalaes que executam prticas com radiao ionizante,
tem por objetivo garantir o seu uso correto e seguro.
Procedimentos para situaes de emergncia tambm devem ser definidos para o
caso do desvio da normalidade de funcionamento de uma instalao ou prtica
radiolgica.
Os conceitos, procedimentos, grandezas e filosofia de trabalho em proteo
radiolgica so continuamente detalhadas e atualizadas nas publicaes da International
Commission on Radiological Protection, ICRP. Existe tambm a International
Commission on Radiation Units and Measurements, ICRU, que cuida das grandezas e
unidades, seu processo de aperfeioamento e atualizao.
Os conceitos contidos nas publicaes da ICRP e ICRU constituem
recomendaes internacionais. Cada pas, pode ou no adot-los parcial ou totalmente,
quando do estabelecimento de suas Normas de Proteo Radiolgica. Tudo depende do
estgio de desenvolvimento do pas, da capacidade ou viabilidade de execuo, em cada
rea de aplicao.

7.1.1.1. Proteo Radiolgica do Ecossistema

A preocupao com o meio ambiente, em Proteo Radiolgica, sempre teve


como foco as pessoas que nele e dele vivem. Quando se faz uma avaliao dos nveis de
radioatividade natural, de disperso de material radioativo por instalaes do ciclo do
combustvel nuclear, principalmente das reas de minerao e beneficiamento de material
radioativo, a preocupao sempre foram os nveis de exposio ou contaminao a que
as pessoas poderiam ser expostas, direta ou indiretamente, causando doses de radiao e
riscos adicionais de dano sua sade.
Assim, h muito tempo existem os programas pr-operacionais e operacionais de
monitorao ambiental, de avaliao de impacto ambiental ou de risco de acidentes
possveis, modelos de disperso e vias de exposio por material radioativo em acidentes,
no licenciamento e implementao de instalaes envolvendo material radioativo. No

234
Brasil, os procedimentos, os critrios cientficos e metodolgicos esto bem detalhados
na Posio Regulatria 3.01/008:2011 da CNEN que trata do Programa de Monitorao
Radiolgica Ambiental.
A partir da publicao 91, a ICRP j faz proposta sobre a proteo radiolgica do
meio ambiente. Em 2007, no captulo 8 de sua publicao 103, ela estabeleceu claramente
como objetivos para a Proteo Radiolgica do Ecossistema, a necessidade global e
esforo para:
1) manter a diversidade biolgica;
2) assegurar a conservao das espcies; e
3) proteger a sade e o status do habitat natural, das comunidades e ecossistemas.
Nesta publicao, a ICRP no prope definir qualquer forma de limites de dose
para o meio ambiente. Ela pretende usar alguns animais e plantas como referncias, para
estabelecer aes de proteo em diferentes situaes de exposio radiao.
Na publicao das Naes Unidas, UNSCEAR 2008 Report Vol.II, ANNEX E,
existe um longo texto dedicado a Effects of Ionizing Radiation on Non-Human Biota, (ver:
http://www.unscear.org/)

7.1.1.2- Avaliao de Impacto Ambiental

O impacto ambiental radiolgico percebido, entre outros indicadores, pelo


aumento da radioatividade nos meios fsico e biolgico, devido:

a) ao aumento da concentrao de radionucldeos no meio-ambiente;


b) transferncia e acumulao em diversos meios atravs de fenmenos de
transporte; e
c) bioacumulao e adsoro.

A avaliao do impacto ambiental envolve as seguintes etapas:

a) determinao do termo fonte;


b) identificao das vias de exposio crticas;
c) identificao dos radionucldeos crticos;
d) identificao dos grupos crticos;
e) estabelecimento de limites de dose;
f) programa de monitorao ambiental e de efluentes;
g) planejamento de um programa de monitorao ambiental; e
h) modelagem para anlise das vias de exposio.

7.1.1.3. NORM e TENORM

As siglas NORM e TENORM so abreviaes de Naturally Occurring


Radioactive Materials e Tecnollogically Enhanced Naturally Occurring Materials, que
constituem campos da Proteo Radiolgica que tratam dos materiais utilizados ou
processados pelo homem, que possuem concentraes de radionucldeos naturais, que
podem induzir doses de radiao significativas e que so responsveis pela sua exposio
radioatividade natural.
Tais materiais so processados nos servios de tratamento de gua potvel,
explorao de carvo mineral, minrios, petrleo, gs, fosfatos, alm dos provenientes
dos rejeitos industriais e mdicos. A maioria dos radionucldeos constituda de
elementos das sries do 238U, 232Th, alm do 40K. Em qualquer um deles, o estudo

235
individual, ou seja, para cada tipo de radionucldeo deve ser feito um procedimento
especfico para verificar se sua concentrao no material pode ser considerada incua ou
necessita de uma interveno para reduzir a exposio radiao dos trabalhadores ou
membros do pblico.
As recomendaes regulatrias e de estudo destes dois campos so feitas em
vrias publicaes da Agncia Internacional de Energia Atmica (IAEA), como por
exemplo, na International Basic Safety Standards for Protection against Ionizing
Radiation and for the Safety of Radiation Sources, BSS-115, IAEA, Vienna (1996),
Regulations for the Safe transport of Radioactive Materials - Safety Series No.ST-1
(1996).

7.1.2. Conceito de Segurana Radiolgica

A Segurana constitui uma parte importante da Proteo Radiolgica. Sem o


estabelecimento de uma Cultura de Segurana, que inclua estrutura, organizao, prtica,
habilidade, treinamento e conhecimento, fica difcil estabelecer um nvel de proteo
adequado.
A estrutura de um sistema de segurana, permite o exerccio apropriado da
proteo desejada. Por exemplo, num sistema de blindagem multicamadas de um reator
nuclear, a proteo da populao e ecossistema fica mais fcil de ser garantida.
Obviamente ela depende da correta execuo dos procedimentos, do treinamento e
engajamento dos operadores da instalao. A conscincia coletiva para a execuo
rigorosa das tarefas programadas e estabelecidas pelo programa de qualidade de operao,
unifica e expressa a cultura de segurana dos trabalhadores da instalao.
Em muitas situaes, as medidas de segurana coincidem com as de proteo
radiolgica. Mas existem outras como, por exemplo, de segurana fsica e segurana do
trabalho que ultrapassam as exigidas em proteo radiolgica. Obviamente, constatam-se
outras situaes em que exigncias de proteo radiolgica so mais rigorosas que as de
segurana, como por exemplo, a filosofia de estabelecimento dos limites de doses
mximas permissveis, para as diversas prticas e situaes que, embora seguros, a
proteo radiolgica exige uma ordem de grandeza abaixo em seus valores, para
tranquilizar as pessoas sobre o risco do uso da radiao nuclear, que muitos temem.
Em segurana do trabalho e de operao de muitas instalaes, os nveis de
insalubridade e periculosidade, quando ultrapassados podem j causar danos perceptveis
nos indivduos. Em Proteo Radiolgica, quando os limites mximos permissveis so
ultrapassados dificilmente algum dano constatado; somente a probabilidade de
ocorrncia que aumenta de valor.
A segurana utilizada na Proteo Radiolgica est bem detalhada na publicao
da Agncia Internacional de Energia Atmica International Basic Safety Standards for
Protection against Ionizing Radiation and for Safety of Radiation Sources - Safety Series
No.115, IAEA, Vienna (1996).

7.1.3. Segurana domstica e externa

Recentemente, se estabeleceram programas de segurana domsticos e tambm


para pblico externo, quando da realizao dos denominados grandes eventos. Neles
existe uma preocupao para assegurar o usufruto por parte dos membros do pblico do
pas e de outros pases, das promoes e eventos artsticos, esportivos e at religiosos,
destinados a milhares de pessoas.

236
Para evitar tumultos, ocorrncias no programadas ou desagradveis, as pessoas
participantes passam por um processo de triagem ou revista, porque algumas delas podem
estar portando armas, explosivos, objetos que podem causar ferimentos em outrem e,
inclusive, material inflamvel ou radioativo.
Este procedimento de segurana se torna cada vez mais crtico em pases e locais
onde podem se reunir pessoas de diferentes ideologias, concepes religiosas e polticas
e, principalmente, em conflitos regionais ou internacionais. Assim, os denominados
grandes eventos, como Copa do Mundo e Olimpadas, necessitam do cuidado de
assegurar a integridade dos atletas, pblico assistente, instalaes de hospedagem,
estdios e a realizao da programao.

7.2. PRINCPIOS DE PROTEO RADIOLGICA

7.2.1. Justificao

Os objetivos da proteo contra as radiaes so a preveno ou a diminuio dos


seus efeitos somticos e a reduo da deteriorao gentica dos povos, onde o problema
das exposies crnicas adquire importncia fundamental. Considera-se que a dose
acumulada num perodo de vrios anos seja o fator preponderante, mesmo que as doses
intermitentes recebidas durante esse perodo sejam pequenas.
As doses resultantes da radiao natural e dos tratamentos mdicos com raios X,
no so consideradas nas doses acumuladas. Por esse motivo, recomenda-se aos mdicos
e dentistas que tenham o mximo cuidado no uso dos raios X e demais radiaes
ionizantes, para evitar exposies desnecessrias. Mesmo assim, pesquisas e avaliaes
das doses e efeitos sobre a radioatividade natural e o uso das radiaes ionizantes em
Medicina e outras reas de aplicao, so continua e crescentemente realizados. Os
resultados destes esforos so publicados em relatrios das Naes Unidas, Report of the
United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation, UNSCEAR. (ver:
http://www.unscear.org/unscear/en/publications/)
Alm destas publicaes, existem outras editadas por alguns pases como, por
exemplo, os Estados Unidos, denominadas Recommendations of the National Council on
Radiation Protection and Measurements, NCRP Report No.160, (2009) - Ionizing
Radiation Exposure of the Population of the United States.
Assim, qualquer atividade envolvendo radiao ou exposio deve ser justificada
em relao a outras alternativas e produzir um benefcio lquido positivo para a sociedade.

7.2.2. Otimizao

O princpio bsico da proteo radiolgica ocupacional estabelece que todas as


exposies devem ser mantidas to baixas quanto razoavelmente exequveis (ALARA:
As Low As Reasonably Achievable).
Estudos epidemiolgicos e radiobiolgicos em baixas doses mostraram que no
existe um limiar real de dose para os efeitos estocsticos. Assim, qualquer exposio de
um tecido envolve um risco carcinognico, dependendo da radiossensibilidade desse
tecido por unidade de dose equivalente (coeficiente de risco somtico). Alm disso,
qualquer exposio das gnadas pode levar a um detrimento gentico nos descendentes
do indivduo exposto.
O princpio ALARA estabelece, portanto, a necessidade do aumento do nvel de
proteo a um ponto tal que aperfeioamentos posteriores produziriam redues menos

237
significantes do que os esforos necessrios. A aplicao desse princpio requer a
otimizao da proteo radiolgica em todas as situaes onde possam ser controladas
por medidas de proteo, particularmente na seleo, planejamento de equipamentos,
operaes e sistemas de proteo.
Os esforos envolvidos na proteo e o detrimento da radiao podem ser
considerados em termos de custos; desta forma uma otimizao em termos quantitativos
pode ser realizada com base numa anlise custo-benefcio. Na Figura 7.1 faz-se uma
representao esquemtica desta anlise, utilizando como parmetro a dose coletiva.

Figura 7.1 - Descrio esquemtica do mtodo de anlise custo-benefcio


para a otimizao da proteo radiolgica.

7.2.3. Limitao da dose individual

Uma das metas da proteo radiolgica a de manter os limites de dose


equivalente anual, HT,lim, para os tecidos, abaixo do limiar do detrimento, HT,L, para os
efeitos no-estocsticos nesse tecido ou seja,

HT , lim HT , L

Dessa forma impe-se que as doses individuais de Indivduos Ocupacionalmente


Expostos (IOE) e de indivduos do pblico no devem exceder os limites anuais de doses
estabelecidos na Tabela 7.1.
Outra meta da proteo radiolgica a de limitar a probabilidade de ocorrncia
de efeitos estocsticos. A limitao de dose para efeitos estocsticos baseada no
princpio de que o detrimento deve ser igual, seja para irradiao uniforme de corpo
inteiro, seja para irradiao no uniforme. Para que isso ocorra preciso que

E H E wT H T H WB,L
T

238
onde wT o fator de peso para o tecido T, HT a dose equivalente anual no tecido T e
HWB,L o limite de dose equivalente anual recomendado para irradiao uniforme do
corpo inteiro HWB, ou dose efetiva E.
O fator de peso, wT, para efeitos estocsticos no tecido T, definido como sendo
a razo entre o coeficiente de probabilidade de detrimento fatal para esse tecido (fT),
levando em conta a severidade do efeito e o coeficiente de risco total para o corpo, para
irradiao uniforme de corpo inteiro. Os valores de wT para vrios tecidos so mostrados
na Tabela 7.2.

Tabela 7.1 - Limites primrios anuais de dose efetiva - CNEN-NN-3.01


(2011) e BSS 115.

Indivduo Individuo Aprendiz ou Visitante ou


Ocupacionalmente do Estudante Acompanhante
Grandeza
Exposto Pblico (16 a 18 anos)
(mSv) (mSv) (mSv) (mSv)
Dose Efetiva ou de Corpo
20 a, b 1c 6 5d
inteiro

Cristalino 150 15 50
Dose
Equiva-
Extremidades
lente
(mos e ps)
Pele 500e 50e 150e
a
Em circunstncias especiais, a CNEN poder autorizar temporariamente uma mudana na limitao
de dose, desde que no exceda 50 mSv em qualquer ano, o perodo temporrio de mudana no
ultrapasse 5 anos consecutivos, e que a dose efetiva mdia nesse perodo temporrio no exceda 20
mSv por ano.
b
Mulheres grvidas (IOE) no podem exceder a 1 mSv por ano.
c
Em circunstncias especiais, a CNEN poder autorizar um valor de dose efetiva de at 5 mSv em um
ano, desde que a dose efetiva mdia em um perodo de 5 anos consecutivos no exceda a 1 mSv por
ano.
d
Por perodo (diagnstico + tratamento).
e
Valor mdio numa rea de 1 cm2 da parte mais irradiada.

Os fatores de peso wT para os vrios tecidos ou rgo usados para o clculo da


Dose Efetiva ou de Corpo Inteiro E = HWB = T.wT HT, recomendados pelas publicaes
no 26 e 60 da ICRP esto na Tabela 7.2. Os fatores wT da ICRP 60 so os estabelecidos
na Norma CNEN-NN-3.01, de 2011.

7.2.4. Limites Primrios

Os valores dos limites variam com o tempo. Eles dependem do estado de


desenvolvimento da prtica de proteo radiolgica no mundo ou num determinado pas,
dos limites de deteco dos equipamentos que medem as grandezas operacionais
vinculadas s grandezas primrias estabelecidas em norma e das prioridades estabelecidas
pelos grupos humanos em determinada poca.
Por exemplo, os limites estabelecidos na Basic Safety Series 115 da Agncia
Internacional de Energia Atmica, so coerentes com os recomendados pela Comisso
Internacional de Proteo Radiolgica, na publicao 60 (ICRP 60) e foram acatados pela
Norma NN-3.01, cuja reviso pela CNEN, foi concluda em 2011.

239
Na Tabela 7.1 que resume os limites estabelecidos pela Norma NN-3.01 e pelo
BSS 115, percebe-se a preocupao social com os aprendizes, estudantes e
acompanhantes de pacientes em hospitais.
Em condies de exposio rotineira, nenhum IOE pode receber, por ano, doses
efetivas ou equivalentes superiores aos limites primrios estabelecidos pela Norma
CNEN-NN-3.01 de 2011, mostrados na Tabela 7.1.

Tabela 7.2 - Coeficientes de probabilidade de detrimento fatal e fatores de


peso para vrios tecidos.

Coeficiente de Probabilidade de Fatores de Peso


Tecido Humano
Detrimento Fatal (10--4 Sv--1) wT
Bexiga 30 0,05
Medula ssea vermelha 50 0,12
Superfcie ssea 5 0,01
Mama 20 0,05
Clon 85 0,12
Fgado 15 0,05
Pulmo 85 0,12
Esfago 30 0,05
Gnadas 10 0,20
Pele 2 0,01
Estmago 110 0,12
Tireoide 8 0,05
Restante 50 0,05
Total 500* 1,00
*Este total s vale para o pblico em geral. O risco total para IOE estimado 400.10 4Sv-1.

7.2.4.1. Limites secundrios, derivados e autorizados

Na prtica, as grandezas bsicas no podem ser medidas diretamente e, assim, no


permitem um controle adequado dos possveis danos induzidos pela radiao. , portanto,
um dos problemas fundamentais da proteo radiolgica interpretar as medies de
radiao ou atividade no meio-ambiente em termos da dose equivalente em tecidos e da
resultante de dose efetiva.
Recomenda-se assim a aplicao de limites secundrios e de limites derivados que
so relacionados aos limites primrios e permitem uma comparao mais direta com as
quantidades medidas.
Os limites secundrios so utilizados para irradiaes externa e interna. No caso
de irradiao externa aplica-se o ndice de dose equivalente de 20 mSv/ano. Para a
irradiao interna, os limites so os anuais para a absoro de material radioativo via
inalao ou ingesto, referidos ao Homem de Referncia.
Podem-se utilizar padres intermedirios, chamados de limites derivados ou
limites operacionais, para interpretar uma medio de rotina em termos dos limites
mximos recomendados.
Autoridades competentes ou a direo de uma instituio, podem determinar
limites inferiores aos limites derivados, para serem utilizados em determinadas situaes.
Tais limites so chamados de limites autorizados.

240
7.2.4.2. Nveis de referncia

Para se adotar uma ao, quando o valor de uma determinada quantidade


ultrapassa determinado valor, utilizam-se nveis de referncia. A ao a ser tomada pode
variar de uma simples anotao da informao (Nvel de Registro), passando por uma
investigao sobre as causas e consequncias (Nvel de Investigao), at chegar a
medidas de interveno (Nvel de Interveno).

Figura 7.2 - Grandezas bsicas e derivadas utilizadas para a limitao da


exposio individual.

O Nvel de Registro utilizado quando as medidas de um programa de


monitorao fornecem resultados to baixos que no so do interesse, podendo ser
descartados. No entanto, pode-se escolher um nvel de registro para as dose efetivas,
equivalente de dose pessoal ou para a entrada de material radioativo no corpo acima do
qual de interesse adotar e arquivar os resultados.
O Nvel de Investigao definido como o valor da dose efetiva ou de entrada de
material radioativo no corpo, acima do qual o resultado considerado suficientemente
importante para justificar maiores investigaes. Esse nvel deve ser relacionado a um s
evento, e no com a dose efetiva acumulada ou entrada de material durante um ano.
O Nvel de Interveno depende da situao e deve ser pr-estabelecido, pois
sempre ir interferir com a operao normal ou com a cadeia normal de responsabilidades.

241
Tabela 7.3 - Nveis de registro e de investigao para monitorao individual
dea indivduos ocupacionalmente expostos (IOE), estabelecidos pela Posio
Regulatria 3.01/004:2011 da CNEN.

Tipo de Grandeza
Nvel Valor/perodo*
Exposio limitante
Dose Efetiva
Registro Corpo Inteiro 0,20 mSv/ms
E
Dose Efetiva 6 mSv/ano ou
Corpo Inteiro
E 1 mSv/qualquer ms

Dose Equivalente 150 mSv/ano ou


Investigao Pele, mos e ps
H 20 mSv/qualquer ms

Dose Equivalente 6 mSv/ano ou


Cristalino
H 1 mSv/qualquer ms
* Perodos diferentes do mensal devem ser comunicados CNEN.

7.2.4.3. Classificao das reas de trabalho

Para fins de gerenciamento da Proteo Radiolgica numa instalao, as reas de


trabalho com material radioativo ou geradores de radiao, devem ser classificadas em:
rea Controlada, rea Supervisionada e rea Livre, conforme definidas na norma
CNEN-NN-3.01:

a) rea Controlada
rea sujeita a regras especiais de proteo e segurana, com a finalidade de
controlar as exposies normais, prevenir a disseminao de contaminao
radioativa e prevenir ou limitar a amplitude das exposies potenciais.

b) rea Supervisionada
rea para a qual as condies de exposio ocupacional so mantidas sob
superviso, mesmo que medidas de proteo e segurana especficas no sejam
normalmente necessrias.

c) rea Livre
rea que no seja classificada como rea controlada ou supervisionada.

As reas controladas devem ter controle restrito, estar sinalizadas com o smbolo
internacional das radiaes ionizantes, os trabalhadores devem estar individualmente
identificados e monitorados e, na maioria das vezes, portando equipamento de proteo
individual (EPI).
Uma rea para ser considerada controlada, sob o ponto de vista radiolgico, deve
apresentar, em mdia, um nvel de exposio maior que 3/10 do limite mximo permitido
pela norma da CNEN.
Em algumas instalaes, as reas controladas podem ter requisitos adicionais de
proteo e segurana visando, por exemplo, a guarda de segredos industriais ou militares.
As reas supervisionadas devem possuir monitores de rea, controle de acesso e
nvel de exposio maior que 1 mSv/ano. As reas consideradas livres devem apresentar
um nvel de exposio menor do que 1 mSv/ano.

242
7.2.4.4. Exposio crnica do pblico

Pessoas do pblico podem estar sujeitas a uma exposio crnica de radiao em


vrias situaes previstas na Posio Regulatria - 3.01/007 da CNEN de 24/11/2005.
Nelas esto includas o uso de materiais de construo com elevados teores de elementos
pertencentes s sries do urnio e trio, radioatividade natural do solo elevada, reas
contaminadas por resduos industriais, operaes militares, acidentes nucleares ou
radiolgicos.
Para estas situaes existem dois nveis estabelecidos pela CNEN: o primeiro de
10 mSv/ano, quando se deve fazer uma avaliao de implementao de aes de
interveno para remediao; o segundo, de 50 mSv/ano, quando deve haver uma
interveno, independente da justificao, para resolver a situao.

7.2.4.5. Bandas de dose efetiva

O estabelecimento de valores numricos para os limites primrios ou derivados


traz embutidas algumas dificuldades na tomada de deciso, principalmente quando
ocorrem situaes em que, por exemplo, a dose efetiva nos indivduos ocupacionalmente
expostos (IOE) apresenta valores muito prximos deles. Isto fica mais crtico em
situaes de emergncia, onde os valores recebidos das doses efetivas nos IOE ou
membros da populao so estimados devido s restries do cenrio de ocorrncia e das
dificuldades de medio ou de estimativa.
Assim, as recentes recomendaes internacionais de proteo radiolgica, buscam
estabelecer Bandas de Dose Efetiva, ao invs de Valores limites. Na publicao 103 de
2007 da ICRP, h recomendaes sobre Limites de Dose (Dose Limits) para trabalhadores
em exposies planejadas e Restries de Dose (Dose Constraints) e Nveis de Referncia
(Reference Levels) para indivduos representativos da populao em todas as situaes.
Nessa publicao, aparece o conceito de bandas de dose efetiva onde a primeira
banda atinge valores at 1 mSv, a segunda de 1 a 20 mSv, a terceira de 20 a 100 mSv. Na
primeira banda, quase nenhum benefcio pode aparecer para o indivduo ou a sociedade
devido a exposio radiao ionizante. Na segunda, as pessoas recebem os benefcios
da situao de exposio e na terceira, a fonte est fora de controle e as exposies
precisam ser reduzidas pela ao dos responsveis.
De um modo geral, as bandas podem ser resumidas em 6 situaes, condensadas
na Figura 7.3.

243
BANDAS DE DOSE EFETIVA INDIVIDUAL

EXPOSIO BANDA

SRIA 6

100

DOSE EFETIVA INDIVIDUAL (mSv)


ALTA 5

10

NORMAL 4
(devido Radiao de Fundo)
1

BAIXA 3

0,1

TRIVIAL 2
0,01

DESPREZVEL 1

Figura 7.3 - Bandas de Dose Efetiva Individual, em mSv, que podem ser
utilizadas em situaes de operao normal ou de emergncia.

7.3. SITUAES DE EMERGNCIA

Um dos cenrios possveis de ocorrncia em Proteo Radiolgica o


funcionamento da instalao ou do procedimento tcnico apresentar um desvio de
operao e possibilitar o surgimento de sequncias de eventos indesejveis e at
perigosos. Neste caso, a presteza no atendimento a estas situaes de emergncia, deve
ser eficiente e rpida, para evitar danos crescentes, medida que o tempo passa.
O atendimento a estas situaes varia com a gravidade do evento e com o cenrio
envolvido. A maioria delas resolvida pelos responsveis pela operao ou pelo servio
de proteo radiolgica local. Numa situao mais ampla e complexa, exige-se a
interveno do Servio de Atendimento a Situaes de Emergncia do Pas.
Num evento envolvendo uma situao de emergncia, a primeira preocupao a
preveno ou reduo da dose nos IOE ou membros da populao. Os objetivos prticos
recomendados pela ICRP em sua publicao 109, aprovada em outubro de 2008, so os
seguintes:

1) retomar o controle da situao;


2) prevenir ou mitigar as consequncias da cena;
3) prevenir a ocorrncia de efeitos determinsticos nos trabalhadores e membros do
pblico;
4) prestar os primeiros socorros e gerenciar o tratamento das leses da radiao;
5) reduzir, na medida do possvel, a ocorrncia de efeitos estocsticos na populao;

244
6) prevenir, na medida do possvel, a ocorrncia de efeitos no radiolgicos adversos
sobre indivduos e entre a populao;
7) proteger, na medida do possvel, o ambiente e os bens; e
8) levar em conta, na medida do possvel, a necessidade de retomada das atividades
sociais e econmicas.

As Medidas de Proteo e Critrios de Interveno em Situaes de Emergncia


esto bem detalhadas e estabelecidas na Posio Regulatria 3.01/006:2011 da CNEN,
onde so descritas as Aes Protetoras Imediatas e Nveis Genricos de Interveno, as
questes relativas ao Reassentamento Temporrio ou Definitivo das pessoas atingidas, os
Nveis de Ao para Controle de Alimentos e os Nveis Operacionais Especficos para
Acidentes de Reatores.
bom salientar que, na maioria das situaes, os indivduos do pblico, que so
os trabalhadores de uma instalao que no operam com radiao e nem em reas
supervisionadas ou controladas, so tratados como membros da populao,
principalmente nas situaes de emergncia. Ou seja, os limites de exposio e
contaminao dos indivduos do pblico so utilizados para a populao.
Entretanto, em algumas instalaes, indivduos do pblico so constitudos dos
trabalhadores que operam nas rotinas de limpeza, algumas reas administrativas e oficinas
e, membros da populao so pessoas externas instalao. Nos casos de exposio
radiao ou contaminao, os integrantes da instalao so cuidados e regulamentados
pelo rgo regulatrio do pas, por exemplo, a CNEN. J os membros da populao so
cuidados pela Vigilncia Sanitria e Secretarias de Sade.
Um exemplo ilustrativo o comrcio e consumo de alimentos contaminados com
material radioativo. A CNEN pode fazer a sua liberao quando o nvel de contaminao
para cada tipo de radionucldeo estiver abaixo dos limites por ela estabelecidos.
Entretanto, a Vigilncia Sanitria pode impedir a venda e recolher os alimentos em todo
o territrio nacional, por medida de prudncia e salvaguarda da sade da populao.

7.3.1. Sistema de triagem de pblico

Em acidentes envolvendo a disperso de material radioativo para o ambiente,


como, por exemplo, nos acidentes de Goinia, Chernobyl ou Fukushima, uma das
primeiras tarefas a identificao das pessoas que poderiam ser vtimas da contaminao
radioativa.
Esta atividade realizada aps convocao da populao aos centros de triagem
ou a visita s casas e locais possveis de terem sido contaminadas.
Na triagem do pblico, os tcnicos que fazem as medies devem portar
instrumentos sensveis e leves, uma vez que o tempo de operao tem durao
imprevisvel.
Os detectores mais utilizados para isto so do tipo Electronic Personal Dosimeter
MK2, com detectores de silcio, sensveis radiao X, gama e beta, e que possuem alta
sensibilidade e alcance; Personal Radiation Detector (PRD) Thermo RadEye, com
detector de NaI(Tl) de alta sensibilidade e seletividade para radiao gama, com
microfotomultiplicadora; IdentiFINDER, com detector de NaI(Tl) e GM, capaz de
identificar o radionucldeo emissor gama, conforme mostrados na Figura 7.4. Estes
detectores medem taxa de exposio (mR/h), taxa de dose efetiva (mSv/h), contagem por
segundo (cps), em ampla faixa de deteco. Eles fazem os testes operacionais e subtraem
o background automaticamente, podem ser conectados a microcomputadores, e operam
no modo sonoro ou vibracional.

245
Estes detectores so apropriados para ser utilizados no sistema de segurana
durante a realizao dos grandes eventos, como Jogos Pan-americanos, Copa das
Confederaes, Copa do Mundo e Olimpadas.

(a) (b) (c)

Figura 7.4 - Detectores portteis apropriados para uso em triagem de pblico


quando da ocorrncia de acidentes com disperso de material radioativo no
ambiente. Os detectores mostrados so; (a) identiFINDER, (b) Electronic
Personal Dosemeter, (c) Thermo RadEye PRD.

7.4. CUIDADOS DE PROTEO RADIOLGICA

7.4.1. Tempo

As radiaes externas podem ser controladas operando-se com trs parmetros:


tempo, distncia e blindagem (ou barreira).
A dose acumulada por uma pessoa que trabalha numa rea exposta a uma
determinada taxa de dose diretamente proporcional ao tempo em que ela permanece na
rea. Essa dose pode ser controlada pela limitao desse tempo:

Dose Taxa Tempo

Como o tempo de permanncia em reas de trabalho nas quais existem materiais


radioativos ou fontes de radiao, conforme o tipo de tarefa a ser realizada, devem ser
empregadas procedimentos de reduo na dose do IOE. Os recursos mais utilizados so:
o aumento da distncia ou a introduo de material de blindagem entre o homem e a fonte
de radiao.
Deve-se sempre ter em mente que quanto menor o tempo de exposio, menores
sero os efeitos causados pela radiao. Porm, o recurso mais eficaz de reduo do
tempo de execuo de uma tarefa o treinamento do operador, a otimizao de sua
habilidade.

246
7.4.2. Distncia

Para uma fonte puntiforme, emitindo radiaes em todas as direes, o fluxo, que
proporcional taxa de dose numa determinada distncia r da fonte, inversamente
proporcional ao quadrado dessa distncia.
Cabe lembrar que essa relao somente verdadeira para uma fonte puntiforme,
um detector puntiforme e absoro desprezvel entre a fonte e o detector. Isto porque ela
se baseia no ngulo slido definido pela fonte (puntiforme) e a superfcie de uma calota
esfrica definida pela distncia r, entre fonte e objeto alvo, durante o tempo t de
exposio. A lei do inverso do quadrado dada por:


D1 (r2 ) 2


D2 (r1 ) 2

onde D1 a taxa de dose na distncia r1 da fonte e D 2 a taxa de dose na distncia r2 da
fonte.
Note-se que duplicando a distncia entre a fonte e o detector, reduz-se a taxa de
dose a 1/4 de seu valor inicial. Dessa forma, o modo mais fcil de evitar exposio s
radiaes ionizantes ficar longe da fonte.

7.4.3. Blindagem

As pessoas que trabalham com fontes ou geradores de radiao ionizante devem


dispor de procedimentos tcnicos bem elaborados de modo que o objetivo da tarefa seja
concretizado e sua segurana esteja garantida contra exposies desnecessrias ou
acidentais. Nesses procedimentos, os fatores tempo e distncia em relao s fontes
radioativas esto implcitos na habilidade e destreza de um tcnico bem treinado para a
tarefa. Por no apresentar hesitaes durante sua execuo, sua durao mnima; por
dominar todos os elementos do processo, no comete enganos, se posiciona no lugar
adequado e com a postura correta.
Entretanto, em certas situaes, principalmente quando se opera com fontes
intensas ou nveis elevados de radiao, alm de colimadores, aventais, labirintos e outros
artefatos, necessrio introduzir outro fator de segurana: a blindagem.
A escolha do material de blindagem depende do tipo de radiao, atividade da
fonte e da taxa de dose que aceitvel fora do material de blindagem.

7.4.4. Blindagem de uma instalao

O clculo e construo de uma blindagem para uma instalao devem levar em


considerao a localizao dos geradores de radiao, as direes possveis de incidncia
do feixe, o tempo de ocupao da mquina ou fonte, a carga de trabalho, os locais e reas
circunvizinhas, a planta da instalao. Alm do clculo da barreira primria, deve-se
calcular a barreira secundria devido ao espalhamento da radiao nas paredes,
equipamentos e no ar.
Aps a escolha dos materiais da construo da instalao e da blindagem,
calculam-se as espessuras e escolhem-se as geometrias que otimizam a reduo do nvel
de radiao estabelecidos por normas, especficas e gerais, de proteo radiolgica.

247
7.4.5. Blindagem para diferentes tipos de radiao

7.4.5.1. Blindagem para Nutrons

Nutrons rpidos so atenuados de forma aproximadamente exponencial, onde o


coeficiente de atenuao denominado Seo de Choque Macroscpica, que pode ser
avaliado pelo Comprimento de Relaxao:

x

x
( x) (0) e (0) e

onde x a espessura de material atenuador, o fluxo ou intensidade do feixe de


nutrons, a seo de choque macroscpica (cm-1) e o comprimento de relaxao.
Na tabela 7.4 so dados valores de comprimento de relaxao para nutrons
rpidos para alguns materiais moderadores e atenuadores.

Tabela 7.4 - Comprimento de relaxao aproximado de alguns materiais,


para nutrons rpidos

Comprimento de
Densidade
Material Relaxao
(g.cm -3)
(cm)
gua 1 10
Grafite 1,62 9
Berlio 1,85 9
xido de berlio 2,3 9
Concreto 2,3 12
Alumnio 2,7 10
Concreto baritado 3,5 9,5
Concreto com ferro 4,3 6,3
Ferro 7,8 6
Chumbo 11,3 9

Os materiais utilizados para blindagem de nutrons normalmente so de baixo


nmero atmico Z, para evitar o espalhamento elstico que, ao invs de atenuar,
espalharia nutrons em todas as direes. Os materiais de alto Z utilizados so aqueles
que absorvem nutrons nas reaes, como o cdmio e o ndio. Os materiais mais
utilizados so a gua, a parafina borada, o grafite e o concreto.
O projeto de blindagem para nutrons numa instalao envolve um aparato
matemtico muito complexo, e normalmente a equao de difuso ou transporte so
solucionadas numericamente por meio de cdigos de computao. Nesses cdigos so
levados em conta todos os tipos de reaes nucleares, em todas as faixas de energia,
inclusive nas regies de ressonncia, onde o valor da seo de choque varia abruptamente,
inclusive em vrias ordens de grandeza.

7.4.5.2. Blindagem para partculas carregadas

Partculas carregadas dissipam energia nas colises com as partculas dos tomos
do material de blindagem, at que sua velocidade entra em equilbrio com a das demais

248
partculas do meio. O espao percorrido desde sua entrada no material at sua parada
denominado de alcance da partcula (range).
Se a massa da partcula pequena, como no caso da partcula beta, a forma da
trajetria pode ser bastante irregular, tortuosa, com mudanas significativas de direo de
propagao, principalmente perto do ponto de parada. Se a partcula tem massa elevada,
como no caso da partcula alfa ou fragmentos de fisso, a trajetria quase retilnea, s
mudando de direo quando ocorre uma coliso com um ncleo pesado, o que raramente
acontece.
Devido a esse comportamento, ou seja, de existir um alcance para cada tipo de
partcula carregada em funo da energia e do material, pode-se chegar absoro total
de um feixe de partculas. Isso permite construir uma blindagem com muita eficincia,
desde que a espessura de material seja superior ao alcance, ou poder de penetrao da
partcula, e sua natureza seja tal que minimize as interaes com emisso de radiao de
freamento.
Para blindar essas partculas utiliza-se material de baixo Z que possua consistncia
mecnica, como acrlico, teflon, PVC, polietileno e, algumas vezes, o chumbo e concreto.
O chumbo no deve ser utilizado para blindagem de feixes de eltrons, devido produo
de radiao de freamento que agravaria a situao em termos de nveis de radiao e
penetrabilidade.

Nota: Como muitas pessoas esto acostumadas a respeitar uma fonte


radioativa quando a mesma se encontra guardada em recipiente de
chumbo, devidamente sinalizado, para uma fonte intensa de
radionucldeos emissores beta, blindam-se as radiaes com uma
espessura adequada de PVC, acrlico ou teflon e, posteriormente,
coloca-se o frasco dentro de outro de chumbo. Essa providncia final
tem somente um efeito psicolgico, pois as radiaes j foram
devidamente blindadas.

7.4.5.3. Blindagem para raios X e gama

Devido ao fato de ftons X e atravessarem o material absorvedor, sua reduo


determinada pela energia da radiao, pela natureza do material absorvedor e a sua
espessura. Pode-se ento determinar a espessura de material necessrio para se atenuar
feixes de ftons X e , utilizando em primeira aproximao, a lei de atenuao
exponencial
I I 0 e x I 0 e( / ) x

onde o coeficiente de atenuao total do material para a energia E, / o coeficiente


de atenuao total em massa (ou mssico), a densidade do material e x a espessura
da blindagem (ver: www.physics.nist.gov/PhysRefData/XrayMassCoef/ Table 3 e Table
4.
Quando um material constitudo de uma mistura ou composio de diversos
elementos qumicos, pode-se obter o seu coeficiente de atenuao linear pela mdia
ponderada, dada por:

/ (i / i ) wi
i

onde wi a participao percentual do elemento qumico no composto.

249
Para o clculo de blindagens de instalaes mais complexas, como por exemplo,
as de radioterapia com ftons ou eltrons, o procedimento de clculo bastante diferente
da determinao de blindagem de uma fonte puntiforme ou feixe colimado paralelo. Para
isso, foi adicionado nesta apostila, o Anexo C, que trata da Determinao de Blindagens
em Radioterapia.

7.4.5.4. Camada semi-redutora

O coeficiente de atenuao total depende do material atenuador e da energia do


feixe incidente. No caso de uma fonte que emite ftons de vrias energias, deve-se utilizar
diferentes valores de , correspondentes s diversas energias do feixe e s diversas taxas
de emisso de cada radiao. Como a intensidade de um feixe de ftons no pode ser
totalmente atenuada pela blindagem, utiliza-se um parmetro experimental, denominado
de camada semi-redutora (HVL = Half Value Layer), definido como sendo a espessura
de material que atenua metade a intensidade do feixe de ftons. A relao entre e HVL
expressa por:

0,693

HVL

Assim, a lei de atenuao exponencial pode ser escrita como:

0, 693
x
I I0 e HVL

Da mesma forma que o HVL, outro parmetro muito utilizado no clculo de


espessura de blindagem a camada deci-redutora (TVL = Tenth Value Layer) definido
como sendo a espessura de material que atenua de um fator de 10 a intensidade do feixe
de ftons.
Na Tabela 7.5 so dados valores de HVL e TVL para trs materiais, chumbo,
concreto e ferro, em funo da kilovoltagem pico do tubo de raios X. Na Tabela 7.6 so
dados valores de HVL para os vrios tipos de radionucldeo emissores gama.

Tabela 7.5 - Camadas semi-redutoras (HVL) e deci-redutoras (TVL).

Material atenuador
kV
Chumbo (cm) Concreto (cm) Ferro (cm)
Pico
HVL TVL HVL TVL HVL TVL
50 0,006 0,017 0,43 1,5
70 0,017 0,052 0,84 2,8
100 0,027 0,088 1,6 5,3
125 0,028 0,093 2 6,6
150 0,03 0,099 2,24 7,4
200 0,052 0,17 2,5 8,4
250 0,088 0,29 2,8 9,4
300 0,147 0,48 3,1 10,4
400 0,25 0,83 3,3 10,9

250
Material atenuador
kV
Chumbo (cm) Concreto (cm) Ferro (cm)
Pico
HVL TVL HVL TVL HVL TVL
500 0,36 1,19 3,6 11,7
1.000 0,79 2,6 4,4 14,7
2.000 1,25 4,2 6,4 21
3.000 1,45 4,85 7,4 24,5
4.000 1,6 5,3 8,8 29,2 2,7 9,1
6.000 1,69 5,6 10,4 34,5 3 9,9
8.000 1,69 5,6 11,4 37,8 3,1 10,3
10.000 1,66 5,5 11,9 39,6 3,2 10,5

Tabela 7.6 - Valores da camada semi-redutora (HVL) de vrios materiais,


para vrios radionucldeos emissores de radiao gama, numa condio de
boa geometria, onde a contribuio da radiao secundria de espalhamento
no importante. Ref. IAEA - TECDOC - 1162, Vienna, 2000.

Camada Semi-redutora (cm)


Radionucldeo
Chumbo Ferro Alumnio gua Concreto
Na-22 67 1,38 3,85 9,4 4,35
Na-24 132 2,14 6,22 14,75 6,88
K-40 115 1,8 4,99 11,97 5,63
K-42 118 1,84 5,1 12,21 5,75
Sc-46 0,82 1,48 4,20 9,84 4,66
Ti-44 0,04 0,21 0,6 1,41 0,67
V-48 0,8 1,48 4,18 9,95 4,67
Cr-51 0,17 0,82 2,38 5,69 2,68
Mn-54 0,68 1,33 3,8 9 4,22
Mn-56 0,94 1,65 4,78 11,13 5,27
Fe-59 0,94 1,59 4,51 10,58 5,02
Co-60 1 1,66 4,65 10,99 5,2
Cu-64 0,41 1,08 3,01 7,61 3,43
Zn-65 0,87 1,53 4,34 10,15 4,81
Ga-68 0,42 1,09 3,04 7,67 3,47
Ge-68+Ga-68 0,42 1,09 3,04 7,67 3,47
Se-75 0,12 0,62 1,79 4,26 2,01
Kr-85 0,41 1,07 3,00 7,59 3,43
Kr-85m 0,10 0,05 1,46 3,46 1,64
Kr-87 0,83 1,67 4,84 11,46 5,36
Kr-88+Rb-88 1,17 1,89 5,51 12,74 6,05
Rb-86 0,87 1,53 4,35 10,13 4,81
Rb-88 117 1,89 5,51 12,74 6,05
Sr-89 0,74 1.4 4 9,35 4,42
Sr-91 0,71 1,38 3,94 9,31 4,38

251
Camada Semi-redutora (cm)
Radionucldeo
Chumbo Ferro Alumnio gua Concreto
Y-91 0,96 1,62 4,57 10,74 5,09
Zr-95 0,6 1,26 3,58 8,61 4
Nb-94 0,64 1.3 3,7 8,84 4,13
Nb-95 0,62 1,28 3,63 8,72 4,06
Mo-99+Tc- 0,49 1,11 3,16 7,6 3,54
99m
Mo-99 0,49 1,11 3,16 7,6 3,54
Tc-99 0,05 0,25 0,73 1,73 0,82
Tc-99m 0,07 0,39 1,13 2,68 1,27
Ru-103 0,4 1,06 2,97 7,53 3.4
Ru-105 0,48 1,16 3,28 7,98 3,69
Rh-106 0,49 1,17 3,29 8,16 3,73
Ag-110m 0,71 1,38 3,91 9,36 4,38
Cd-109 0,01 0,06 0,18 0,43 0.2
In-114m 0,23 0,75 2,14 5,18 2,41
Sn-113 0,02 0,09 0,27 0,65 0,31
Sn-123 0,88 1,53 4,36 10,16 4,83
Sn-126+Sb- 0,48 1,15 3,27 7,99 3,68
126m
Sn-126 0,04 0,19 0,55 1.3 0,62
Sb-124 0,83 1,55 4,39 10,49 4,9
Sb-126 0,52 1,19 3,37 8,21 3,79
Sb-126m 0,48 1,15 3,27 7,99 3,68
Sb-127 0,47 1,14 3,24 7,92 3,65
Sb-129 0,72 1.4 3,98 9,45 4,43
Te-127m 0,01 0,08 0,23 0,54 0,26
Te-129 0,33 0,93 2,63 6,53 2,99
Te-129m 0,38 0,82 2,33 5,65 2,61
Te-131m 0,65 1,31 3,74 8,88 4,17
Te-132 0,10 0,53 1,54 3,66 1,73
I-125 0,01 0,08 0,23 0,54 0,26
I-129 0,02 0,09 0,25 0,6 0,28
I-131 0,25 0,93 2,67 6,5 3,02
I-132 0,63 1,31 3,7 8,91 4,14
I-133 0,47 1,15 3,23 8,05 3,67
I-134 0,72 1,4 3,98 9,43 4,43
I-135+Xe- 0,98 1,66 4,7 11,06 5,23
135m
I-135 0,98 1,66 4,7 11,06 5,23
Xe-131m 0,02 0,1 0,29 0,7 0,33
Xe-133 0,03 0,16 0,47 1,11 0,53
Xe-133m 0,05 0,25 0,73 1,72 0,82
Xe-135 0,14 0,72 2,1 4,99 2,36
Xe-135m 0,41 1,07 2,99 7,54 3,41
Xe-138 0,9 1,64 4,79 11,09 5,26
Cs-134 0,57 1,24 3,5 8,5 3,93
Cs-136 0,65 1,32 3,76 8,86 4,18
Cs-137+Ba- 0,53 1,19 3,35 8,2 3,77
137m
Ba-133 0,16 0,67 1,92 4,63 2,17

252
Camada Semi-redutora (cm)
Radionucldeo
Chumbo Ferro Alumnio gua Concreto
Ba-137m 0,53 1,19 3,35 8,2 3,77
Ba-140 0,33 0,96 2,69 6,72 3,06
La-140 0,93 1,64 4,63 11,04 5,19
Ce-141 7,00 0,37 1,07 2,52 1,2
Ce-144+Pr- 0,05 0,28 0,82 1,95 0,93
144m
Pr-144m 0,02 0,1 0,28 0,67 0,32
Pm-145 0,02 0,11 0,31 0,74 0,35
Pm-147 0,06 0,34 0,99 2,35 1,12
Sm-151 0,01 0,03 0,09 0,21 0,1
Eu-152 0,66 1,32 3,73 8,84 4,17
Eu-154 0,74 1,38 3,91 9,24 4,35
Eu-155 0,04 0,23 0,66 1,56 0,74
Gd-153 0,03 0,18 0,51 1,21 0,57
Tb-160 0,68 1,35 3,84 9,01 4,26
Ho-166m 0,45 1,09 3,1 7,46 3,48
Tm-170 0,03 0,18 0,51 1,21 0,57
Yb-169 0,06 0.3 0,87 2.05 0,97
Hf-181 0,27 0,86 2,41 6,02 2,75
Ta-182 0,8 1,39 3,94 9,26 4,39
W-187 0,43 1,03 2,91 7,17 3,29
Ir-192 0,24 0,92 2,64 6,42 2,98
Au-198 0,29 0,97 2,74 6,77 3,11
Hg-203 0,14 0,73 2,13 5,04 2,39
Tl-204 0,03 0,18 0,53 1,27 0.6
Pb-210 0,01 0,05 0,15 0,35 0,17
Bi-207 0,65 1.3 3,68 8,79 4,11
Po-210 0,65 1,31 3,73 8,88 4,15
Ra-226 0,09 0,48 1,4 3,32 1,58
Ac-227 0,01 0,08 0,22 0,52 0,25
Ac-228 0,67 1,35 3,84 9,05 4,27
Th-227 0,11 0,58 1,69 4,01 1,9
Th-228 0,02 0,13 0,37 0,88 0,42
Th-230 0,01 0,05 0,14 0,34 0,16
Th-232 0,01 0,04 0,12 0,28 0,13
Pa-231 0,09 0,46 1,35 3.2 1,51
U-232 0,01 0,04 0,12 0,29 0,14
U-233 0,01 0,06 0,16 0,39 0,18
U-234 0,01 0,04 0,12 0,28 0,13
U-235 0,09 0,46 1,35 3,19 1,51
U-238 0,01 0,04 0,11 0,27 0,13
Np-237 0,03 0,12 0,41 0,98 0,46
Pu-236 0,01 0,04 0,11 0,27 0,13
Pu-238 0,01 0,04 0,11 0,27 0,13
Pu-239 0,01 0,04 0,12 0,29 0,14
Pu-240 0,01 0,04 0,11 0,27 0,13
Pu-242 0,01 0,04 0,11 0,27 0,13

253
Camada Semi-redutora (cm)
Radionucldeo
Chumbo Ferro Alumnio gua Concreto
Am-241 0,02 0,12 0,35 0,82 0,39
Am-242m 0,01 0,04 0,13 0.3 0,14
Am-243 0,03 0,18 0,52 1,24 0,59
Cm-242 0,01 0,04 0,12 0,28 0,13
Cm-243 0,08 0,43 1,26 2,98 1,41
Cm-244 0,01 0,04 0,12 0,28 0,13
Cm-245 0,05 0,27 0,79 1,86 0,88
Cf-252 0,01 0,04 0,12 0.3 0,14

7.4.5.5. Fator de reduo ou atenuao

Um parmetro muito utilizado na estimativa da espessura de blindagem o fator


de reduo - FR, ou fator de atenuao - FA definido pela relao:

FR I 0 / I 10n 2m

onde I0 a intensidade inicial do feixe, I a intensidade atenuada do feixe, n o nmero


de camadas deci-redutoras (TVL) e m o nmero de camadas semi-redutoras (HVL).
Conhecendo-se um fator de reduo FR, a espessura de blindagem facilmente
obtida por:

n log10 ( FR) x n TVL


ou

m log10 ( FR) / log10 (2) x m HVL

onde x a espessura do material de blindagem.

7.4.5.6. Fator de crescimento (build up)

A partir da atenuao exponencial da radiao eletromagntica por um material,


pode-se supor que os ftons espalhados pelas interaes so completamente removidos
do feixe transmitido, na direo de incidncia. No entanto, isso s ocorre no caso de feixe
colimado e com espessura fina de material absorvedor, requisitos de uma boa geometria.
Em geral, uma grande parcela dos ftons espalhados reincide na direo do
detector e contribui para o feixe transmitido, alterando o comportamento exponencial da
atenuao do feixe. Essa contribuio aditiva representa efetivamente um crescimento da
intensidade do feixe em relao ao valor esperado. A diferena pode ser corrigida por um
fator denominado fator de crescimento (fator de build up) que depende da energia da
radiao, do material de blindagem e da sua espessura. A lei de atenuao pode ser escrita
como
0, 693
x
I I0 e HVL B( x)

254
onde o fator B(x) depende de e da espessura x, podendo ser estimado, com boa
aproximao por frmulas semi-empricas, como a de Berger:

B( x) 1 a x eb x

onde os parmetros a e b so obtidos em grficos, em funo da energia da radiao e do


tipo do material, na Figura 7.5.

Figura 7.5 - Valores dos parmetros a e b em funo da energia da


radiao da frmula de Berger para o clculo do fator de build up.

7.5. O PLANO DE PROTEO RADIOLGICA

Toda instalao que opera com material radioativo deve preparar um documento
descrevendo as diretrizes de proteo radiolgica que sero adotadas pela instalao. Tal
documento, que recebe o nome de Plano de Proteo Radiolgica, deve descrever:

a. A identificao da Instalao e de seu Titular (Direo);


b. A funo, classificao e descrio das reas da instalao;
c. A descrio da equipe, das instalaes e equipamentos do Servio de Proteo
Radiolgica;
d. A descrio das fontes de radiao, dos sistemas de controle e de segurana e de
sua aplicao;
e. A funo e a qualificao dos IOE;
f. A descrio dos programas e procedimentos de monitorao individual, das reas
e do meio ambiente;

255
g. A descrio do sistema de gerncia de rejeitos radioativos, estando a sua
eliminao sujeita a limites estabelecidos em norma especfica;
h. A estimativa de taxas de dose para condies de rotina;
i. A descrio do servio e controle mdico dos IOE, incluindo planejamento
mdico em caso de acidentes;
j. O programa de treinamento dos IOE e demais trabalhadores da instalao;
k. Os nveis de referncia, limites operacionais e limites derivados, sempre que
convenientes;
l. A descrio dos tipos de acidentes admissveis, do sistema de deteco
correspondente e do acidente mais provvel ou de maior porte, com detalhamento
da rvore de falhas;
m. O planejamento de interferncia em situaes de emergncia at o
restabelecimento da normalidade; e
n. As instrues de proteo radiolgica e segurana fornecidas, por escrito, aos
trabalhadores.

Alm disso, o Plano de Proteo Radiolgica deve descrever as atribuies do


titular (direo) da instalao, do supervisor de proteo radiolgica e dos IOE da
instalao.

7.5.1. Responsabilidade do titular (direo) da Instalao

Ao titular da instalao cabe:

a. Licenciar a instalao junto CNEN;


b. Ser responsvel pela segurana e proteo radiolgica da instalao;
c. Reduzir a probabilidade de acidentes, autorizar as exposies de emergncia e
estabelecer limites derivados e operacionais;
d. Implantar um Servio de Proteo Radiolgica, com pelo menos um Supervisor
de Proteo Radiolgica;
e. Estabelecer e submeter CNEN o Plano de Proteo Radiolgica e suas revises;
f. Manter um servio mdico adequado;
g. Instruir os IOE sobre os riscos inerentes s suas atividades e Situaes de
Emergncia;
h. Estabelecer acordos com organizaes de apoio para as emergncias;
i. Notificar CNEN as ocorrncias de acidentes que possam resultar em doses em
IOE e/ou indivduos do pblico, e submeter um relatrio com anlise de causas e
consequncias;
j. Implementar um Plano Anual de Auditoria e Garantia da Qualidade; e
k. Garantir livre acesso instalao, dos inspetores da CNEN.

7.5.2. Responsabilidade do supervisor de proteo radiolgica - SPR

Ao supervisor de proteo radiolgica cabe:

a. Implementar e orientar o Servio de Proteo Radiolgica;


b. Assessorar e informar o Titular da Instalao sobre assuntos relativos proteo
radiolgica;
c. Fazer cumprir as normas e recomendaes da CNEN bem como o Plano de
Proteo Radiolgica;

256
d. Treinar, reciclar, orientar e avaliar a equipe do Servio de Proteo Radiolgica e
demais IOE envolvidos com fontes de radiao; e
e. Designar um substituto capacitado e qualificado em seus impedimentos.

7.5.3. Responsabilidade dos IOE da instalao

Aos IOE da instalao cabe:

a. Executar as atividades de rotina em conformidade com regulamentos de segurana


e proteo radiolgica estabelecidos pelo Titular (Direo) da Instalao; e
b. Informar ao Servio de Proteo Radiolgica e aos seus superiores, qualquer
evento anormal que possa acarretar nveis de exposio ou risco de ocorrncia de
acidentes.

7.6. ATIVIDADES DO SERVIO DE PROTEO RADIOLGICA

O Servio de Proteo Radiolgica de uma instalao deve efetuar o Controle dos


IOE, o Controle das reas, o Controle das Fontes de Radiao, o Controle dos
Equipamentos e manter atualizados os Registros.
O Controle dos IOE efetuado por meio da Monitorao Individual dos IOE, e a
consequente avaliao das doses recebidas pelos IOE, durante seu perodo de trabalho.
Alm disso, o Servio de Proteo Radiolgica deve acompanhar a superviso mdica
dos IOE da instalao.
O Controle de reas feito pela avaliao e classificao peridica das reas da
instalao, o controle de acesso e sinalizao dessas reas e a execuo de um programa
de monitorao das mesmas.
O Controle das Fontes de radiao da instalao deve ser feito por meio de um
programa de controle fsico, com a consequente verificao da integridade das fontes,
quanto a possveis vazamentos.
Os equipamentos geradores de radiao devem passar por programas de inspeo
peridica enquanto que os instrumentos utilizados para a proteo radiolgica devem ser
calibrados com a periodicidade estipulada em norma especfica.
Registros de usos, ocorrncias e das doses individuais dos trabalhadores da
Instalao, devem permanecer atualizados no Servio de Proteo Radiolgica.

7.7. REGRAS PRTICAS DE PROTEO RADIOLGICA

7.7.1. Equipamentos e instalaes

a. Utilizar o equipamento de proteo individual adequado: luvas, avental, culos,


mscara, etc.;
b. Utilizar os instrumentos de monitorao durante todo o trabalho: caneta
dosimtrica, monitor individual (filme ou TLD), monitor de rea, monitor de
contaminao superficial, etc.;
c. Manter limpo e em ordem a rea (ou laboratrio) onde se trabalha com material
radioativo;
d. As reas onde se trabalha com material radioativo devem ser isoladas e bem
sinalizadas;

257
e. Manipular o material radioativo em local adequado e com sistema de exausto
apropriado: capelas, clulas quentes, caixas de luvas, etc.;
f. Utilizar os instrumentos de manipulao adequados: pinas, porta-fontes, castelos,
etc.;
g. Manipular fontes abertas (p, lquido) sobre bandejas de material liso (ao inox,
teflon) forradas com papel absorvente;
h. Proteger as bancada com material apropriado e de fcil remoo, como papel
absorvente sobre plstico impermevel ou folha de alumnio, caso haja
possibilidade de uma contaminao superficial;
i. Trabalhar em lugar com iluminao e ventilao adequadas.

7.7.2. Planejamento da atividade

a. Conhecer antecipadamente as caractersticas do material radioativo com o qual ir


trabalhar;
b. No caso de material de alta atividade ou de difcil manipulao, simular todas as
operaes com material de mesmas caractersticas, mas inerte, antes de iniciar o
trabalho;
c. Trabalhar com as menores atividades possveis de material radioativo;
d. Somente o material radioativo que vai ser utilizado deve estar no local de
manipulao;
e. Manter o responsvel pela proteo radiolgica informado sobre todo o transporte
de radioistopos, bem como sobre a chegada e sada dos mesmos.

7.7.3. Procedimentos operacionais

a. No comer, beber ou fumar na rea (ou laboratrio) ou durante o trabalho com


material radioativo;
b. No portar nem armazenar alimentos em local em que se trabalha com material
radioativo;
c. Em todo o trabalho com material radioativo, ter sempre em mente os trs
parmetros bsicos de proteo radiolgica: tempo, distncia e blindagem;
d. No trabalho com fontes abertas, ter sempre a companhia de outra pessoa
igualmente qualificada;
e. No permitir que pessoas no treinadas manipulem material radioativo;
f. Usar blindagem o mais prximo da fonte;
g. Nunca pipetar material radioativo com a boca;
h. Fazer medies dos nveis de radiao no local, antes, durante e aps a realizao
dos trabalhos;
i. Aps trabalhar com material radioativo, descartar as luvas de proteo e lavar bem
as mos e unhas com gua e sabo e submet-las a um medidor de contaminao;
j. Qualquer transporte de material radioativo de um lugar para outro deve ser feito
com todos os cuidados possveis; e
k. Executar todos os procedimentos recomendados para a prtica especfica.

7.7.4. Gerncia de rejeitos

a. Saber antecipadamente a destinao dos rejeitos provenientes do trabalho a ser


executado, se houver;

258
b. Separar, embalar e identificar, conforme sua categoria, o material classificado
como rejeito;
c. No jogar material radioativo nas vias de esgoto normal, a no ser que atenda aos
limites definidos pelas normas especficas;
d. Se um material estiver contaminado, avaliar se o custo e o esforo para
descontamin-lo compensam ou se melhor consider-lo como rejeito;
e. Os recipientes devem portar de maneira visvel, o smbolo da presena de
radiao;
f. O armazenamento provisrio deve ser em local includo no projeto da instalao;
g. A segregao de rejeitos deve ser feita no local em que foram produzidos;
h. Os rejeitos devem ser identificados em categorias segundo o estado fsico, tipo de
radiao, concentrao e taxa de exposio;
i. Rejeitos eliminados devem ser registrados em formulrio prprio;
j. Os recipientes devem ser adequados s caractersticas fsicas, qumicas, biolgicas
e radiolgicas dos rejeitos e condies asseguradas de integridade;
k. Os recipientes destinados ao transporte interno devem atender aos limites
mximos para contaminao externa;
l. Os veculos para transporte interno devem ter meios de fixao adequada para as
fontes de radiao;
m. Aps cada servio de transporte devem ser monitorados e se necessrio,
descontaminados;
n. O transporte externo regulado por norma da CNEN;
o. O local de armazenamento deve dispor de barreiras fsicas e radiolgicas para
conter com segurana os rejeitos, evitar sua disperso para o ambiente e minimizar
a exposio de trabalhadores;
p. O tratamento e a eliminao esto sujeitos s normas da CNEN; e
q. Os registros e inventrios devem ser mantidos atualizados.

7.7.5. Segurana e acidentes

a) Todas as possibilidades de acidente devem ser analisadas antes de se iniciar um


trabalho;
b) Qualquer evento relevante, no enquadrado no planejamento ou nos
procedimentos operacionais, deve ser registrado para correo posterior;
c) No caso de desvio de procedimento tcnico envolvendo contaminaes ou
aumento de dose, o fato deve ser registrado e comunicado ao servio de proteo
radiolgica ou de emergncia da instalao;
d) No caso de acidente mais grave, com perda de controle da situao, acionar o
servio de proteo radiolgica ou de emergncia da instalao; e
e) Ter sempre em mente que o melhor processo de descontaminao consiste em
evitar a contaminao.

7.8. O SMBOLO DA RADIAO

O smbolo de advertncia de radiao, como atualmente conhecido (exceto pelas


cores utilizadas), foi concebido na Universidade da Califrnia, no laboratrio de radiao
em Berkeley durante o ano de 1946 por um pequeno grupo de pessoas.
O smbolo inicialmente impresso era magenta sobre azul e o uso do desenho se
espalhou pelos Estados Unidos. O uso do azul como fundo no era uma boa escolha, uma

259
vez que o azul no recomendado para ser utilizado em sinais de aviso e semelhantes,
visto que degrada com o tempo, principalmente se usado no exterior. O uso do amarelo
como fundo foi provavelmente padronizado pelo Oak Ridge National Laboratory no
comeo de 1948.
No incio dos anos cinquenta foram feitas modificaes no desenho original como,
por exemplo, a adio de setas retas ou ondulantes entre ou dentro das hlices propulsoras.
No meio dessa dcada, uma norma ANSI e regulamentaes federais finalizaram a verso
atual.

Figura 7.6 - Triflio - Smbolo da radiao ionizante.

No est claro porque este smbolo foi escolhido. Uma hiptese a de que este
smbolo era utilizado no dique seco da base naval perto de Berkeley, para avisar sobre
propulsores girando. Outra, de que o desenho foi concebido imaginando o crculo
central como uma fonte de radiao e que as trs lminas representariam uma lmina para
radiao alfa, outra para radiao beta e outra para gama.
Existe ainda uma forte similaridade com o smbolo comercial de aviso de radiao
existente antes de 1947, que consistia de um pequeno ponto vermelho, com quatro ou
cinco raios irradiando para fora. O smbolo inicial era muito semelhante aos sinais de
advertncia de perigo eltrico.
Outra verso de que o smbolo foi criado um ano aps a II Guerra Mundial e que
teria certa semelhana com a bandeira japonesa de guerra, a qual havia se tornado familiar
populao da costa oeste americana.
De qualquer forma, a escolha do smbolo foi uma boa escolha, uma vez que
simples, fcil e prontamente identificvel e no similar a outros, alm de ser
identificvel a grande distncia (Ref. - Paul Frame, Ph.D., CHP - Programa de
Treinamento Profissional - Oak Ridge Institute for Science and Education -
[email protected] - Trifoil or Radiation Warning Symbol).

260
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

ATTIX, F.H., ROESCH, W.C., Radiation Dosimetry, Ac. Press, NY, 1968.

CNEN-NN-3.01, Diretrizes Bsicas de Proteo Radiolgica, 2011.

EVANS, R.D., The Atomic Nucleus, Mc Graw-Hill, NY, 1955.

ICRP - Publication 26, Annals of the ICRP, vol.1, No.3, 1977.

ICRP - Publication 60, Annals of ICRP 21, (1-3), 1990.

ICRU, Radiation Quantities and Units, Nat. Bur. Stand, U.S., Handbook 84, 1962.

KNOOL, G.F., Radiation Detection and Measurement, J. Wiley and Sons, N.Y., 1979.

PROFIO, A. E., Radiation Shielding and Dosimetry, J. Wiley and Sons, Inc., 1979.

IAEA, International Basic Safety Standards for Protection against Ionizing Radiation
and for the Safety of Radiation Sources, BSS-115, IAEA, Vienna, 1996.

IAEA, Regulations for the Safe transport of Radioactive Materials, Safety Series No. ST-
1, 1996.

NCRP, Recommendations of the National Council on Radiation Protection and


Measurements - Ionizing Radiation Exposure of the Population of the United States,
NCRP Report No.160, 7910 Woodmont Avenue, Suite 400, Bethesda, MD 20814-
30095.

UNSCEAR, Effects of Ionizing Radiation on Non-Human Biota, Report Vol. II, Annex
E, 2008. www.physics.nist.gov/PhysRefData/XrayMassCoef/ - Table 3 e Table 4.

261
CAPITULO 8

GERNCIA DE REJEITOS RADIOATIVOS

8.1. REJEITOS RADIOATIVOS E DEPSITOS DE REJEITOS

Rejeitos radioativos so materiais radioativos para os quais no se prev nenhuma


utilizao presente ou futura. Os rejeitos radioativos so originrios de vrios processos,
como fontes de radioterapia exauridas (radioatividade abaixo da recomendada para uso
em tratamentos); materiais contaminados em tarefas com fontes radioativas abertas;
materiais radioativos utilizados para pesquisa e no reutilizveis, materiais contaminados
na operao de centrais nucleares, como os filtros que mantm a gua do reator purificada
para seu uso normal; para-raios radioativos fora de uso; materiais produzidos na indstria
de combustveis nucleares, desde a minerao produo do elemento combustvel. Os
nveis de concentrao de radionucldeos e sua forma fsica e qumica geram grande
variedade de opes para o gerenciamento dos rejeitos e sua destinao.
Alguns rejeitos radioativos podem atingir nveis de inocuidade que permitem sua
liberao como rejeitos normais. Isso ir depender do tipo de radionucldeos que contm,
da forma fsica em que se encontram, da concentrao existente desses radionucldeos no
material e da meia-vida. As condies para a chamada dispensa esto estabelecidas em
Norma da CNEN e devem ser rigorosamente obedecidas.
Os rejeitos radioativos, quando no atingem nveis que podem ser dispensados,
devem ser armazenados de forma segura, de forma a no afetar os indivduos
ocupacionalmente expostos, os indivduos do pblico ou o meio ambiente.
As condies para a denominada dispensa ou no dos rejeitos esto estabelecidas
em Normas da CNEN e devem ser rigorosamente obedecidas. So elas: NE-6.05 de
17/12/1985, Gerncia de rejeitos radioativos em Instalaes Radiativas, NE-6.06 de
24/01/1990, Seleo e escolha de locais para depsito de rejeitos radioativos e NN-6.09
de 23/09/2002, Critrios de aceitao para deposio de rejeitos radioativos de baixo e
mdio nveis de radiao.
Na legislao brasileira existem trs tipos de depsito para rejeitos radioativos: o
inicial junto instalao geradora do rejeito, e fica sob sua responsabilidade; o
intermedirio, sob responsabilidade da CNEN, onde ficam os rejeitos que aguardam sua
destinao definitiva; o depsito final, tambm sob responsabilidade da CNEN, para onde
devem ser destinados os rejeitos para deposio definitiva. Alm desses, pode ser definido
o depsito provisrio, destinado a guardar temporariamente os rejeitos gerados por
ocasio de um acidente radiolgico ou nuclear.
O manuseio e armazenamento de rejeitos so definidos pelo Plano de
Gerenciamento de Rejeitos da Instalao.
A Comisso Internacional de Proteo Radiolgica (ICRP) em sua recente
publicao No. 122 de 2013, intitulada: Radiological Protection in Geological Disposal
of Log-lived Solid Radioactive Waste, traz recomendaes atualizadas para a proteo
radiolgica de indivduos ocupacionalmente expostos e meio ambiente.

262
8.2. CLASSIFICAO DOS REJEITOS RADIOATIVOS

Os rejeitos so classificados segundo seus nveis e natureza da radiao, bem


como suas meias-vidas. As classes, que esto definidas na Norma CNEN-NE-6.05, esto
relacionadas ao nvel de dispensa, ao armazenamento e ao tipo de deposio que devero
atender. As classes principais so:

a) Classe 0: Rejeitos Isentos (RI): rejeitos contendo radionucldeos com valores de


atividade ou de concentrao de atividade, em massa ou volume, inferiores ou iguais
aos respectivos nveis de dispensa estabelecidos na Norma CNEN-NE-6.05.

b) Classe 1: Rejeitos de Meia-Vida Muito Curta (RVMC): rejeitos com meia-vida


inferior ou da ordem de 100 dias, com nveis de atividade ou de concentrao em
atividade superiores aos respectivos nveis de dispensa e que podem atender, num
perodo de at 5 anos, aos critrios de dispensa estabelecidos na Norma CNEN-NE-
6.05.

c) Classe 2: Rejeitos de Baixo e Mdio Nveis de Radiao (RBMN): rejeitos com


meia-vida superior a dos rejeitos da Classe 1, com nveis de atividade ou de
concentrao em atividade superiores aos nveis de dispensa estabelecidos em Norma
CNEN, bem como com potncia trmica inferior a 2 kW/m3. A Classe 2
subdividida em subclasses de acordo com determinadas caractersticas desse tipo de
rejeitos.

d) Classe 3: Rejeitos de Alto Nvel de Radiao (RAN): Rejeitos com potncia trmica
superior a 2kW.m-3 e com concentraes de radionucldeos de meia-vida longa que
excedam as limitaes para classificao como rejeitos de meia-vida curta.

8.3. REQUISITOS BSICOS DA GERNCIA DE REJEITOS RADIOATIVOS

So requisitos bsicos da gerencia de rejeitos radioativos:

Dever ser assegurada a minimizao do volume e da atividade dos rejeitos


radioativos gerados na operao de uma instalao nuclear, radiativa, minero-
industrial ou depsito de rejeitos radioativos.
Os rejeitos radioativos devem ser segregados de quaisquer outros materiais. A
segregao dos rejeitos deve ser realizada no mesmo local em que foram gerados ou
em ambiente apropriado, levando em conta as seguintes caractersticas, conforme
aplicvel:

a) estado fsico (slidos, lquidos ou gasosos);


b) meia-vida (muito curta, curta ou longa);
c) compactveis ou no compactveis;
d) orgnicos e inorgnicos;
e) biolgicos (putrescveis e patognicos); e,
f) outras caractersticas perigosas (explosividade, combustibilidade,
inflamabilidade, corrosividade e toxicidade qumica).

263
Aps a segregao, os rejeitos devem ser acondicionados em embalagens que
atendam aos requisitos constantes da Norma NE- 6.05. As embalagens destinadas
segregao, coleta, ao transporte e ao armazenamento de rejeitos devem portar o
smbolo internacional da presena de radiao, fixado de forma clara e visvel. As
embalagens para armazenamento inicial devem ter suas condies de integridade
asseguradas e, quando necessrio, devem ser substitudas. As embalagens destinadas
ao transporte no devem apresentar contaminao superficial externa em nveis
superiores aos especificados na Norma NE-6.05.
Os volumes contendo rejeitos radioativos devem possuir vedao adequada para
evitar derramamento do seu contedo. Os volumes de rejeitos devem portar o
smbolo indicativo de presena de radiao e devem apresentar fichas de
identificao, afixadas externamente, informando:

a) dados sobre o contedo, conforme especificado na Norma NE-6.05;


b) origem e data de ingresso no depsito de rejeitos radioativos;
c) taxa de dose mxima em contato com a superfcie, com exceo dos rejeitos de
meia-vida muito curta; e
d) data estimada para que se alcance o nvel de dispensa, para radionucldeos de
meia-vida muito curta.

Aps acondicionamento em embalagens, os rejeitos devem ser identificados


conforme modelo de ficha apresentada na Norma CNEN-NE-6.05 e classificados de
acordo com as classes estabelecidas tambm nessa Norma. Os rejeitos devem ser
mantidos armazenados at que possam ser eliminados, de acordo com os nveis de
dispensa estabelecidos, ou transferidos para local determinado pela CNEN. Os
rejeitos a serem eliminados devem ser previamente registrados, conforme
especificado na Norma NE- 6.05.
O local de armazenamento inicial de rejeitos deve ser includo no projeto da
instalao geradora de rejeitos.
Os rejeitos armazenados para decaimento visando posterior dispensa devem ser
mantidos separados de materiais radioativos em uso e de outros rejeitos a serem
armazenados por perodo longo ou a serem removidos para local determinado pela
CNEN.
Os rejeitos radioativos devem ser mantidos separados de outros produtos perigosos,
como explosivos, inflamveis, oxidantes e corrosivos, conforme determinado pela
anlise de segurana.
O armazenamento de rejeitos lquidos deve ser feito sobre bacia de conteno,
bandeja, recipiente ou material absorvente com capacidade de conter ou absorver o
dobro do volume do rejeito lquido presente na embalagem.
Os veculos utilizados em transporte, tanto interno quanto externo, de rejeitos
radioativos devem ser providos com meios de fixao adequados para os volumes,
de modo a evitar danos aos mesmos. Aps cada servio de transporte interno ou
externo de rejeitos, os veculos devem ser monitorados e, caso necessrio,
descontaminados.
O transporte externo de rejeitos radioativos deve ser realizado em conformidade com
a Norma de Transporte de Materiais Radioativos da CNEN, bem como com as
demais normas e regulamentos de transporte vigentes.

264
8.4. DISPENSA PARA REJEITOS

8.4.1. Rejeitos lquidos

A dispensa incondicional de rejeitos lquidos de instalaes radiativas na rede de


esgotos sanitrios est sujeita, de acordo com a Norma CNEN-NE-6.05, Gerncia de
Rejeitos Radioativos em Instalaes Radiativas, aos requisitos:

a) o rejeito deve ser prontamente solvel ou de fcil disperso em gua;


b) a quantidade de cada radionucldeo liberada mensalmente pela instalao, na rede
de esgotos sanitrios, no deve exceder o maior dos seguintes valores:
a quantidade que, se fosse diluda no volume mdio mensal de esgoto liberado
pela instalao, resultasse numa concentrao mdia igual aos limites
especificados na Coluna 1 da Tabela 6 da norma citada; e
dez vezes o limite especificado na Coluna 3 da Tabela 6 da norma citada.
c) a quantidade de cada radionucldeo liberada mensalmente, quando diluda pelo
volume mdio mensal de esgoto liberado pela instalao, deve ter concentrao
inferior aos limites especificados na Tabela 6, Coluna 1;
d) a quantidade anual total de radionucldeos, excluindo o H-3 e o C-14, liberada na
rede de esgoto sanitrio, no deve exceder 3,7 . 1010 Bq (1 Ci);
e) a quantidade anual de H-3 e C-14, liberada na rede de esgoto sanitrio, no deve
exceder 18,5 . 1010 Bq (5 Ci) e 3,7 . 1010 Bq (l Ci), respectivamente.
f) a dispensa de excreta de pacientes internados com doses teraputicas de
radiofrmacos deve ser feita de acordo com instrues estabelecidas pela CNEN.

8.4.2. Rejeitos slidos

A dispensa incondicional de rejeitos slidos no sistema de coleta de lixo urbano


deve ter sua atividade especfica limitada aos valores estabelecidos na Norma NE-6.05
para cada radionucldeo. Para os radionucldeos que no constem no Anexo, o limite de
dispensa dever ser aprovado pela CNEN, mediante consulta formal feita pelo titular.
Frascos, seringas e outros recipientes que tenham contido lquidos radioativos s
podem ser dispensados no sistema de coleta de lixo hospitalar ou urbano, aps a remoo
de qualquer lquido radioativo residual. O lquido radioativo residual s pode ser
eliminado na rede de esgotos em conformidade com os requisitos estabelecidos para
eliminao de rejeitos lquidos.
Para fins de clculo mais restritivo do tempo de decaimento necessrio para
dispensa de rejeitos slidos no sistema de coleta de lixo urbano, deve ser considerado que
10% do contedo radioativo inicial ficam adsorvidos no frasco, seringa ou outros
materiais que tiveram contato com o lquido radioativo, salvo se estiver disponvel
mtodo mais exato de medida.
Os rtulos de indicao de risco presentes no rejeito slido devem ser retirados
por ocasio de sua dispensa no sistema de coleta de lixo urbano.
A eliminao de rejeitos slidos no sistema de coleta de lixo urbano deve ter sua
atividade especfica limitada a 7,5 . 104 Bq/kg (2 mCi/kg).

265
8.4.3. Rejeitos gasosos

A dispensa de rejeitos gasosos na atmosfera deve ser feita em concentraes


inferiores s especificadas na Coluna 2 da Tabela 6 da Norma CNEN-NE-6.05 e deve ser
previamente autorizada pela CNEN.

8.4.4. Dispensa de efluentes em instalaes nucleares e minero-industriais

A dispensa de efluentes lquidos e gasosos de instalaes nucleares e instalaes


minero-industriais no meio ambiente deve ser previamente autorizada pela CNEN,
considerando os valores de concentrao de radionucldeos que correspondam a um valor
de restrio de dose efetiva de 0,3 mSv/ano para o indivduo do pblico.

8.5. CONDIES PARA UM DEPSITO DE REJEITOS

O depsito inicial ou intermedirio de rejeitos, conforme aplicvel deve:

a) conter com segurana os rejeitos at que possam ser eliminados ou removidos


para local determinado pela CNEN;
b) garantir a proteo fsica dos rejeitos, com proviso de barreiras de segurana e
evitando o acesso no autorizado;
c) possuir um sistema que permita o controle da liberao de material radioativo para
o meio ambiente, quando isso estiver autorizado;
d) dispor de um sistema de monitorao de rea;
e) situar-se em local cercado e sinalizado, com acesso restrito a pessoal autorizado;
f) ter piso e paredes impermeveis e de fcil descontaminao;
g) possuir blindagem para o exterior que assegure o cumprimento dos requisitos de
proteo radiolgica;
h) possuir sistemas de ventilao, exausto e filtragem;
i) dispor de meios que evitem a entrada de animais que possam provocar a disperso
do rejeito;
j) assegurar as condies ambientais necessrias para evitar a degradao dos
volumes;
k) apresentar delimitao clara das reas supervisionadas e controladas e, se
necessrio, locais reservados monitorao e descontaminao individuais;
l) possuir sistemas de tanques e drenos de piso livres de obstrues para coleta de
lquidos provenientes de eventuais vazamentos e descontaminaes;
m) prover segurana contra ao de eventos induzidos por fenmenos naturais;
n) dispor de meios para evitar decomposio de matria orgnica;
o) possuir barreiras fsicas que visem a minimizar a disperso e migrao de material
radioativo para o meio ambiente;
p) dispor de procedimentos apropriados sempre afixados em paredes, quadros e
outros lugares bem visveis, para facilitar o manuseio de materiais, minimizar a
exposio de indivduos ocupacionalmente expostos e dos indivduos do pblico,
orientar as aes de resposta a emergncias e dar outras orientaes;
q) dispor de acessos com dimenses suficientes para permitir deslocamentos e
manobras de volumes;
r) dispor de piso com resistncia de carga compatvel com a altura e peso do material
a ser armazenado e de equipamentos de manejo de carga;

266
s) permitir, a qualquer momento, acesso para inspeo visual e identificao dos
volumes;
t) dispor de meios para proteo e combate a incndio; e
u) ter capacidade de armazenamento adequada, de modo a minimizar riscos de
acidentes durante o manuseio de rejeitos pelo tempo que se fizer necessrio.

8.6. REGISTROS E INVENTRIOS

Toda instalao deve manter um sistema atualizado de registro de rejeitos


radioativos, abrangendo:

a) a identificao do tipo de rejeito, sua origem e a localizao da embalagem que o


contm;
b) a procedncia e o destino do rejeito;
c) a data de ingresso dos volumes no depsito;
d) os radionucldeos presentes em cada volume, atividades associadas e atividade
total;
e) a taxa de dose mxima em contato com a superfcie, com exceo dos rejeitos de
meia-vida muito curta;
f) a data estimada para que se alcance o nvel de dispensa, se aplicvel;
g) as dispensas de rejeitos realizadas, particularizando as atividades dirias liberadas;
h) as transferncias externas e internas; e
i) outras informaes pertinentes segurana;

O registro da dispensa de rejeitos deve ser mantido atualizado. Quando os rejeitos


estiverem armazenados para decaimento, o registro deve especificar a data estimada para
dispensa. Qualquer modificao ou correo realizada nos dados constantes nos registros
deve ser claramente justificada e documentada. Os registros, bem como os documentos
relativos s suas correes, devem ser mantidos na instalao.
O controle de inventrio de todo rejeito radioativo, de acordo com formulrio
exemplificado na Norma CNEN-NE-6.05, dever estar disponvel na instalao para
avaliao durante inspees da CNEN ou para ser enviado quando solicitado.

8.7. TRANSFERNCIA DE REJEITOS RADIOATIVOS DE UMA


INSTALAO PARA OUTRA

A transferncia, no Pas, de rejeitos de uma instalao permitida,


exclusivamente, para locais determinados pela CNEN.
proibida a importao de rejeitos radioativos. A admisso temporria de rejeitos
radioativos no Pas, para fins de tratamento, permitida somente diante autorizao
prvia da CNEN.
Toda exportao de rejeito radioativo, sob qualquer forma e composio qumica,
em qualquer quantidade, s poder ser efetivada mediante autorizao prvia da CNEN.

8.8. PLANO DE GERENCIAMENTO DE REJEITOS RADIOATIVOS


Toda instalao que trabalhe com material radioativo e que produza rejeitos
radioativos deve dispor de um Plano de Gerncia de Rejeitos Radioativos, dentro do
contexto dos respectivos processos de licenciamento e controle. Entre essas instalaes
267
esto os centros de medicina nuclear e de outras da rea de sade, as instalaes de
pesquisa, as instalaes nucleares, instalaes minero-industrial que trabalham com
minrios que tenham trio ou urnio associado, instalaes de extrao e explorao de
petrleo que retirem peas ou tubulaes contaminadas do processo de extrao.
Devem constar desse Plano:

a) a descrio dos rejeitos radioativos


Devem ser descritos os rejeitos radioativos gerados (slido, lquido, gasoso), os
radionucldeos presentes e sua composio qumica, o volume gerado
mensalmente e respectiva atividade bem como assinalar, quando aplicvel, a
existncia de outros riscos associados (por exemplo, putrescibilidade,
patogenicidade ou inflamabilidade).

b) a classificao dos rejeitos gerados


Os rejeitos radioativos devem ser classificados em conformidade com o
estabelecido na Norma CNEN- NE- 6.05.

c) os procedimentos para coleta, segregao, acondicionamento e identificao dos


rejeitos
Devem ser descritos os procedimentos adotados para coleta, segregao,
acondicionamento e identificao dos rejeitos gerados, informando os recipientes
empregados e os parmetros adotados para identificao (caractersticas
radiolgicas, caractersticas fsico-qumicas, caractersticas biolgicas e origem).

d) o local e procedimentos para o armazenamento inicial


Deve ser descrito o local selecionado para armazenamento de rejeitos radioativos,
sendo anexados os croquis dessas instalaes. O local deve atender aos requisitos
estabelecidos na Norma da CNEN, garantindo, entre outras coisas, que as paredes
internas sejam lisas e pintadas com tinta plstica impermevel, o acesso
controlado e a rea sinalizada. Tambm devem ser descritos os procedimentos
adotados para controle de rejeitos gerados e para determinao do tempo de
armazenamento necessrio para decaimento e posterior dispensa, quando for o
caso.

e) o tratamento dos rejeitos, quando autorizado


Para executar o tratamento de rejeitos deve, obrigatoriamente, existir autorizao
formal da CNEN. Os processos propostos devem ser descritos, com vistas
obteno da autorizao especfica da CNEN.

e) as condies para dispensa de rejeitos radioativos, quando for o caso


As restries e condies para dispensa de rejeitos devem obedecer estritamente
as Normas da CNEN. Devem ser descritos os procedimentos:
adotados para dispensa de rejeitos radioativos slidos no sistema de coleta
de lixo urbano;
adotados para dispensa de rejeitos radioativos lquidos na rede de esgoto;
para transferncia de rejeitos radioativos para local determinado pela
CNEN.

f) os registros e inventrios mantidos

268
A instalao deve manter registros sobre os rejeitos, em conformidade com a
Norma, contendo, em particular, os dados sobre os rejeitos, a localizao dos
respectivos volumes, procedncia e destino, transferncias e eliminaes
realizadas. Esses registros devem ser descritos no Plano de Gerenciamento de
Rejeitos. Deve ser realizado o controle de variao de inventrio de todo o
material radioativo do laboratrio, inclusive rejeitos.

269
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

Norma CNEN-NE-6.05, Gerncia de rejeitos radioativos em Instalaes Radiativas,


17/12/1985.
Norma CNEN-NE-6.06, Seleo e escolha de locais para depsito de rejeitos
radioativos, de 24/01/1990.
Norma CNEN-NN-6.09, Critrios de aceitao para deposio de rejeitos radioativos
de baixo e mdio nveis de radiao, 23/09/2002.
Norma CNEN-NE-3.05, Requisitos de Segurana e Proteo Radiolgica para Servios
de Medicina Nuclear, 17/12/2013.
ICRP No 122, Radiological Protection in Geological Disposal of Long-lived Solid
Radioactive Waste, Annals of ICRP, 2013.

270
CAPTULO 9

TRANSPORTE DE MATERIAIS RADIOATIVOS

9.1. INTRODUO

O uso de material radioativo muitas vezes requer o seu transporte entre


instalaes. Para isso ele deve ser acondicionado em uma embalagem apropriada que
projetada e construda para ser uma barreira efetiva entre ele e o meio ambiente. O
conjunto formado pelo material radioativo e sua embalagem chamado de embalado.
Para que o transporte seja realizado de forma segura para pessoas, objetos e meio
ambiente foram criadas normas internacionais que servem como base para normas e
regulamentos nacionais. Na classificao internacional de produtos perigosos, da
Organizao das Naes Unidas (ONU), os materiais radioativos so includos na Classe
7.
A Agencia Internacional de Energia Atmica (AIEA) elaborou o Regulamento
para o Transporte Seguro de Materiais Radioativos, que foi atualizado e publicado em
2000 como Safety Standard Series n TS-R-1 (ST-1, Revised).
Os requisitos de transporte se aplicam a todas as modalidades de transporte de
materiais radioativos, ou seja, terrestre, aqutico (fluvial e martimo) e areo e engloba
todas as operaes e condies relativas ao transporte, tais como desenho, fabricao,
manuteno e reparo de embalagens, descarga, recepo, armazenamento em trnsito,
entre outras. Sempre que possvel, deve-se evitar requisitos aplicveis a um s meio de
transporte, de forma a facilitar o transporte multimodal.
No Brasil, a regulamentao sobre o transporte de materiais radioativos feita
pela Comisso Nacional de Energia Nuclear, atravs da Norma CNEN-NE-5.01, e por
outros organismos que regulam o transporte modal no pas. Esses organismos possuem
regulamentos para o transporte de material radioativo, em consonncia com as normas e
regulamentos da CNEN:

ANTT - Agencia Nacional de Transporte Terrestre - Resoluo 420;


ANTAQ - Agencia Nacional de Transporte Aqutico - Resoluo 2239;
ANAC - Agencia Nacional de Aviao Civil - RBAC 175;
MARINHA DO BRASIL - NORMAM 01;
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente - Resoluo 237 LC140, IN 05;
e
MTE - Ministrio do Transporte - NR 29.

9.2. NORMA CNEN-NE-5.01: TRANSPORTE DE MATERIAIS RADIOATIVOS

A Norma CNEN-NE-5.01 de 01/08/1988 estabelece os requisitos de segurana e


proteo radiolgica para o TRANSPORTE DE MATERIAIS RADIOATIVOS, a fim de
garantir um nvel adequado de controle da eventual exposio de pessoas, bens e meio
ambiente radiao ionizante, compreendendo:

a) reteno do contedo radioativo para evitar a disperso de material radioativo e sua


possvel ingesto ou inalao, tanto durante o transporte normal, como tambm em
271
caso de acidente;
b) controle do nvel de radiao externa para reduzir o perigo devido radiao
emitida pelo embalado;
c) preveno de criticalidade para impedir o surgimento de uma reao nuclear em
cadeia; e
d) preveno de danos causados por calor para impedir a exposio do embalado a
temperaturas elevadas e a consequente degradao do material radioativo.

Na prtica, esses objetivos so obtidos se:

a) for garantida a conteno do embalado para transporte de material radioativo de


forma a prevenir sua disperso, ingesto ou inalao. Assim, deve-se levar em conta
a atividade, em becquerel (Bq), e a natureza do contedo ao se projetar a
embalagem;
b) for controlado o nvel externo de radiao, com a incorporao da blindagem ao
embalado, e for sinalizado o nvel de radiao existente no exterior do mesmo,
atravs da identificao do nvel mximo de radiao externa na rotulao,
marcao e segregao;
c) for controlada a configurao dos embalados contendo material fssil, tomando por
base as especificaes de projeto e a avaliao de subcriticalidade nuclear do
arranjo de embalados; e
d) forem evitados nveis elevados de temperatura na superfcie do embalado e danos
decorrentes do calor. A temperatura mxima do contedo e da superfcie do
embalado deve ser controlada pela utilizao de material adequado e pela adoo
de formas de armazenamento que garantam a necessria dissipao de calor.

A Norma CNEN-NE-5.01 estabelece que a expedio de materiais radioativos


deve ser precedida de um Plano de Transporte que pode ser usado pelo mesmo expedidor
para vrias expedies da mesma espcie. No caso de transporte de material fssil, deve
ser tambm apresentado um Plano de Proteo Fsica, elaborado em conformidade com
norma especfica da CNEN.
Segundo a Norma CNEN-NE-5.01, embora os embalados contendo material
radioativo devam ser tratados com os mesmos cuidados adotados para outros produtos
perigosos, o nvel de segurana especificado pelo tipo de embalagem, em funo do
contedo radioativo. Os requisitos de segurana das embalagens so mais restritos
medida que aumenta o risco do material radioativo que ir conter. Os requisitos
operacionais se limitam a poucas diretrizes, principalmente baseadas na informao das
etiquetas dos embalados.
Alm disso, sempre que seja factvel, devem ser utilizados meios convencionais,
sem necessidade de trabalhadores especializados, ferramentas e equipamentos especiais,
no transporte de materiais radioativos.

9.3. ESPECIFICAES DOS MATERIAIS RADIOATIVOS PARA


TRANSPORTE

Para fins de transporte considera-se como radioativo qualquer material com


atividade especfica superior a 74 kBq.g-1, em qualquer forma ou em forma especial,
como slido no dispersivo ou material contido em cpsula selada.

272
9.3.1. Material radioativo em forma especial

Os materiais radioativos em forma especial devem ter pelo menos uma dimenso
no inferior a 5 mm, no podem quebrar ou estilhaar sob os ensaios de impacto,
percusso e flexo, e no podem se fundir ou dispersar quando submetidos a ensaios
trmicos, conforme descrito na Norma CNEN-NE-5.01. Uma cpsula selada com
material radioativo s pode ser aberta por meio de sua destruio.

9.3.2. Material radioativo em outras formas

Os materiais radioativos tambm podem, para transporte, ser apresentados em


forma de material fssil (238Pu, 239Pu, 233U, 235U), de material de baixa atividade especfica
(BAE) que tm atividade especfica limitada ou ainda de objetos de material no
radioativo contaminados na sua superfcie por material radioativo (OCS).

9.3.3. Embalados para transporte de material radioativo

Existe uma grande variedade de embalados, cada um desenhado de acordo com o


tipo e atividade dos contedos. Consequentemente, quanto maior for a resistncia dos
sistemas de blindagem e de conteno do embalado, maior ser o contedo radioativo que
se poder transportar.
Os requisitos relativos resistncia mecnica dos embalados e embalagens se
expressam na forma de norma de comportamento e no de especificaes de desenho,
prescrevendo-se os objetivos a conseguir com o desenho mas no a forma de consegui-
los. Ele confere ampla liberdade no desenho e na escolha dos materiais, permitindo a
evoluo associada ao desenvolvimento de novas tecnologias.
Os embalados para transporte de material radioativo devem ser selecionado dentre
quatro tipos primrios. Deve ser ressaltado, em cada caso, se o embalado contm material
fssil:

1. Embalado Exceptivo - embalado no qual a embalagem, do tipo industrial ou


comercial comum, contm pequena quantidade de material radioativo, com
atividade limitada pela Norma CNEN-NE-5.01.
2. Embalado Industrial - embalado no qual a embalagem, do tipo industrial reforado
contm material de baixa atividade especfica, BAE, ou objeto contaminado na
superfcie, OCS, com atividade limitada pela Norma CNEN-NE-5.01, podendo ser
do Tipo EI-1, EI-2 e EI-3.
3. Embalado Tipo A - embalado constitudo de embalagem projetada para suportar as
condies normais de transporte com o exigido grau de reteno da integridade de
conteno e blindagem, aps a submisso aos ensaios especificados na Norma
CNEN NE-5.01 e que atenda aos requisitos adicionais relativos limitao do
contedo radioativo.
4. Embalado Tipo B - embalado constitudo de embalagem projetada para suportar os
efeitos danosos de um acidente de transporte com o exigido grau de reteno da
integridade de conteno e blindagem, aps a submisso aos ensaios especificados
na Norma CNEN-NE-5.01.

9.3.4. Limite da atividade para transporte de material radioativo

A atividade mxima do material radioativo contido em um embalado

273
determinada levando-se em considerao que:

a) seja improvvel que um indivduo permanea distncia de 1 m do embalado por


mais de 30 minutos;
b) a dose efetiva para um indivduo exposto na vizinhana do transporte do
embalado, em condies de acidente, no deve exceder o limite de dose anual para
indivduos ocupacionalmente expostos; e
c) as doses equivalentes recebidas pelos rgos individuais, inclusive pele, de uma
pessoa envolvida em um acidente de transporte no devem exceder 500 mSv ou,
no caso do cristalino, 150 mSv.

Considerando as hipteses acima, a AIEA desenvolveu o Sistema Q (Quantity)


que permite determinar a quantidade de radionucldeo que pode ser transportada em um
embalado do tipo A. Esse sistema considera vrios modos de exposio radiao:

QA: dose externa devida a ftons,


QB: dose externa devida s partculas beta;
QC: dose interna por via de inalao;
QD: dose devida a contaminao de pele e ingesto; e
QE: dose devida a imerso em nuvem radioativa.

Para fontes seladas, apenas duas possibilidades so consideradas na determinao


do valor bsico de atividade, A1, sendo adotado o mais restritivo dos valores de QA e QB.
Para fontes no seladas, consideram-se todos os valores de Q, sendo selecionado
sempre o mais restritivo para representar o valor bsico de atividade, A2.
A Tabela 9.1 apresenta os valores de A1 e de A2, calculados pela AIEA, para os
radionucldeos mais empregados em medicina, indstria e pesquisa.

9.3.4.1. Limite para embalados exceptivos

Os embalados exceptivos que contenham objetos fabricados com materiais


radioativos diferentes de urnio natural, urnio empobrecido ou trio natural, no devem
conter atividades superiores aos limites aplicveis especificados na Tabela 9.2.
Para objetos fabricados com urnio natural, urnio empobrecido ou trio natural,
os embalados exceptivos podem conter qualquer quantidade desses materiais, desde que
a superfcie externa do urnio ou trio seja protegida por um revestimento inativo de
metal ou de alguma outra substncia resistente.

9.3.4.2. Limite para embalados do Tipo A

As atividades dos embalados do Tipo A no devem ser superiores a:

a) A1 para material radioativo sob forma especial; e


b) A2 para material radioativo sob outras formas.

9.3.4.3. Limite para embalados do Tipo B

Os limites aplicados aos embalados do Tipo B dependem da especificao dos


certificados de aprovao de seus projetos e das autorizaes emitidas. Assim, esses
embalados no devem conter:

274
a) atividades superiores s autorizadas;
b) radionucldeos distintos daqueles autorizados; e
c) contedo em estado fsico ou qumico ou em forma diferente dos autorizados.

Tabela 9.1 - Valores bsicos de concentrao e limites de atividade para


alguns radionucldeos, em embalados Tipo A.
Concentrao em Limite de Atividade para
A1 A2 Atividade para material uma consignao
Radionucldeo exceptivo exceptiva
(TBq) (TBq) (Bq g-1) (Bq)
Am-241 1 E+01 1 E-03 1 E 00 1 E+04
C-14 4 E+01 3 E 00 1 E+04 1 E+07
Ca-45 4 E+01 1 E 00 1 E+04 1 E+07
Cf-252 5 E-02 3 E-03 1 E+01 1 E+04
Cl-36 1 E+01 6 E-01 1 E+04 1 E+06
Co-57 1 E+01 1 E+01 1 E+02 1 E+06
Co-58 1 E 00 1 E 00 1 E+01 1 E+06
Co-58m 4 E+01 4 E+01 1 E+04 1 E+07
Co-60 4 E-01 4 E-01 1 E+01 1 E+05
Cr-51 3 E+01 3 E+01 1 E+03 1 E+07
Cs-137 (a) 2 E 00 6 E-01 1 E+01 (b) 1 E+04 (b)
Fe-59 9 E-01 9 E-01 1 E+01 1 E+06
Ga-67 7 E 00 3 E 00 1 E+02 1 E+06
H-3 4 E+01 4 E+01 (b) -
I-125 2 E+01 3 E 00 1 E+03 1 E+06
I-131 3 E 00 7 E-01 1 E+02 1 E+06
In-111 3 E 00 3 E 00 1 E+02 1 E+06
Ir-192 1 E 00(c) 6 E-01 1 E+01 1 E+04
Kr-85 1 E+01 1 E+01 1 E+05 1 E+04
Mo-99 (a) 1 E 00 6 E-01 1 E+02 1 E+06
Na-22 5 E-01 5 E-01 1 E+01 1 E+06
Na-24 2 E-01 2 E-01 1 E+01 1 E+05
Ni-63 4 E+01 3 E+01 1 E+05 1 E+08
P-32 5 E-01 5 E-01 1 E+03 1 E+05
Pm-147 4 E+01 2 E 00 1 E+04 1 E+07
Po-210 4 E+01 2 E-02 1 E+01 1 E+04
Pu-239 1 E+01 1 E-03 1 E 00 1 E+04
Ra-226 (a) 2 E-01 3 E-03 1 E+01 (b) 1 E+04 (b)
S-35 4 E+01 3 E 00 1 E+05 1 E+08
Sc-46 5 E-01 5 E-01 1 E+01 1 E+06
Se-75 3 E 00 3 E 00 1 E+02 1 E+06
Tc-99m 1 E+01 4 E 00 1 E+02 1 E+07
Xe-133 2 E+01 1 E+01 1 E+03 1 E+04
Y-90 3 E-01 3 E-01 1 E+03 1 E+05
(a) Valores de A1 e/ou A2 incluem contribuies de nucldeos filhos com meia-vida inferior a 10
dias.
(b) Ver Tabela 9.2.

275
Tabela 9.2 - Limites de atividade para embalados exceptivos.

Instrumentos ou Artigos Materiais


Estado Fsico do Contedo Limites para cada Limites para o Limites para o
Item Embalado Embalado
Slidos
Sob forma especial 10-2 A1 A1 10-3 A1
Outras formas 10-2 A2 A2 10-3 A2
Lquidos 10-3 A2 10-1 A2 10-4 A2
Gases
Trcio (H-3) 2.10-2 A2 2.10-1 A2 2.10-2 A2
Sob forma especial 10-3 A1 10-2 A1 10-3 A1
Outras formas 10-3 A2 10-2 A2 10-3 A2

9.4. ENSAIOS PARA EMBALADOS

Os embalados devem ser submetidos a ensaios que visam a demonstrar sua


capacidade de resistncia em condies normais de transporte. Assim, aps o projeto do
embalado, uma amostra deve ser submetida aos ensaios apresentados na Norma CNEN-
NE-5.01.

9.4.1. Embalados do Tipo A

Esse tipo de embalado deve ser submetido aos ensaios abaixo, na ordem indicada:

1. Ensaio de jato dgua: a amostra deve ser submetida a um jato dgua que simule
chuva com precipitao de 50 mm.h-1, durante uma hora.
2. Ensaio de queda livre: a amostra deve sofrer um queda livre sobre um alvo rgido,
de modo a sofrer um dano mximo com relao aos aspectos de segurana, sendo
a altura de queda funo da massa do embalado. Para massas menores que 5.000
kg, a distncia de queda livre 1,2 m e, medida que a massa aumenta, a distncia
de queda diminui para at 0,3 m.
3. Ensaio de empilhamento: a amostra deve ser submetida a uma carga de
compresso igual ou superior a 5 vezes a massa do embalado.
4. Ensaio de penetrao: a amostra deve ser fixada sobre uma superfcie rgida,
plana e horizontal. Uma barra de ao de 6 kg, com extremidade hemisfrica de 3,2
cm de dimetro, deixada cair de uma altura de 1 m, com o seu eixo verticalmente
orientado, para atingir o centro da parte mais frgil da amostra.

Aps passar pelos ensaios o embalado no pode apresentar vazamento, ou


disperso do material radioativo, nem perda de integridade de blindagem que possa
resultar em aumento superior a 20% no nvel de radiao em qualquer uma de sua
superfcie externa.

9.4.2. Embalados do Tipo B

Esse tipo de embalado deve atender aos seguintes requisitos:

276
a) satisfazer os requisitos para embalados do Tipo A;
b) conservar, aps os ensaios, blindagem suficiente para assegurar, mesmo estando
com o mximo contedo radioativo que possa comportar, que o nvel de radiao
a um metro de sua superfcie no exceda 10 mSv.h-1;
c) impedir que o calor gerado pelo contedo radioativo afete adversamente a
embalagem;
d) evitar que as superfcies externas atinjam temperaturas superiores a 50C;
e) garantir a eficcia da proteo trmica durante o transporte, seja em condies
normais, seja em situaes acidentais previstas;
f) restringir vazamento ou disperso do contedo a 10-6.A2 por hora, quando
submetido aos ensaios para embalados Tipo A; e
g) restringir o vazamento acumulado do contedo radioativo durante uma semana,
no mximo a 10.A2 para 85Kr e a A2 para os demais radionucldeos.

Alm de demonstrar a capacidade de resistncia em condies normais de


transporte, amostras dos embalados do Tipo B devem ser submetidas aos seguintes
ensaios adicionais para demonstrar sua capacidade de resistncia em condies acidentais
de transporte:

1. Queda I: a amostra deve cair sobre um alvo de uma altura de 9 m, de modo a


sofrer dano mximo;
2. Queda II: a amostra deve cair de uma altura de 1 m sobre uma barra de ao doce,
medindo 20 cm de comprimento e 15 cm de dimetro, rigidamente fixada e
perpendicular ao alvo;
3. Queda III: a amostra deve ser submetida a um ensaio mecnico de esmagamento,
de modo a sofrer mximo dano quando sujeita ao impacto de uma placa macia e
quadrada de ao doce, de 1 m de lado e massa de 500 kg, em queda livre de uma
altura de 9 m;
4. Trmico: a amostra deve ser submetida, durante 30 minutos, a uma fonte de calor,
com temperatura mdia de 800C e coeficiente de emissividade maior que 0,9;
5. Imerso em gua: a amostra deve ser imersa sob uma camada de gua com, no
mnimo, 15 m de altura, durante um perodo no inferior a 8 h, numa posio
capaz de acarretar o mximo dano.

9.5. REQUISITOS DE CONTROLE DURANTE O TRANSPORTE

Todo embalado deve exibir uma etiqueta indicativa do material radioativo em seu
interior, com exceo do embalado exceptivo que possui quantidade limitada de material
radioativo.
So utilizadas trs tipos de etiquetas para identificar os materiais radioativos.
Todas estas etiquetas exibem o smbolo internacional de radiao ionizante (triflio). As
informaes contidas na etiqueta de um embalado so suficientes para determinar o risco
associado, sem o uso de um detector de radiao.

9.5.1. ndice de transporte

O ndice de Transporte (IT) um nmero atribudo a um embalado com a


finalidade de estabelecer:

a) o controle da exposio radiao e da criticalidade nuclear;

277
b) os limites de contedo radioativo;
c) as categorias para rotulao
d) os requisitos para uso exclusivo do meio de transporte;
e) os requisitos de espaamento durante armazenamento em trnsito;
f) as restries de mistura durante o transporte realizado mediante aprovao
especial de transporte e durante armazenamento em trnsito; e
g) o nmero de embalados permitido em um continer ou em um meio de
transporte.

O IT expressa a taxa mxima de dose, em mrem.h-1 (se a taxa de dose for medida
em mSv.h-1, multiplica-se o valor por 100), a um metro da superfcie externa do
embalado. Deve-se arredondar o nmero encontrado para cima, at a primeira casa
decimal, (e.g. 1,13 deve ser considerado 1,2). Quando o IT for igual ou inferior a 0,05
pode ser estimado como zero.
Para tanques, contineres ou material BAE-I ou OCS-I desembalado, o valor
determinado acima deve ser multiplicado pelo fator apropriado, com base na Tabela 9.3.

Tabela 9.3 - Fatores de multiplicao do IT para embalados de grandes


dimenses.

Maior seo reta (A) do embalado


Fator de multiplicao do IT
(m)
A 1 m 1
1 m A 5 m 2
5 m A 20 m 3
A > 20 m 10

Quando for utilizado um pacote de embalados, seu IT ser igual soma dos IT de
cada um de seus embalados.
Para um embalado, ou pacote de embalados, o IT no deve exceder a 10 e o nvel
mximo de radiao em qualquer ponto de sua superfcie externa no deve ultrapassar 2
mSv.h-1. Excetua-se o caso de expedies de Uso Exclusivo, quando o transporte feito
para um nico expedidor de forma exclusiva, utilizando um nico meio de transporte.
Quando o expedidor garantir que medidas adicionais ou restritivas sero adotadas
no sentido de compensar o no cumprimento de alguns itens da Norma CNEN-NE-5.01,
poder ser efetuado o transporte na modalidade de Arranjo Especial. Neste caso o
transporte no pas requer a aprovao especfica da CNEN, ou aprovao multilateral, no
caso de transporte internacional.

9.5.2. Categorias dos embalados

Para facilitar o reconhecimento dos riscos potenciais dos embalados eles devem
apresentar em suas etiquetas de rotulao a categoria do embalado, conforme apresentado
na Tabela 9.4. O tipo de etiqueta indica, rapidamente, para qualquer pessoa informada do
pblico ou para autoridades, a taxa de dose prxima ao embalado, se o embalado no
estiver danificado. Caso contrrio, este valor deve ser avaliado.
As cores das etiquetas so padronizadas internacionalmente, conforme ilustrado
na figura 9.1. A cor do texto e do smbolo de radiao preta e a cor dos numerais I, II
ou III deve ser vermelha.

278
Tabela 9.4 - Categoria de Embalados.

ndice de Nvel Mximo de Radiao (NMR) na


Categoria
Transporte (IT) Superfcie Externa do Embalado (mSv/h)

IT = 0 NMR 0,005 I - BRANCA


0 < IT 1 0,005 < NMR 0,5 II - AMARELA
1 < IT 10 0,5 < NMR 2 III - AMARELA
IT > 10 2 < NMR 10 III - AMARELA USO EXCLUSIVO

Os embalados transportados segundo a modalidade de Arranjo Especial devem


ser rotulados como Categoria III - Amarela.

Figura 9.1 - Etiquetas padronizadas para embalados.

9.5.3. Rtulos, marcas e placas

Aps definida a categoria para rotulao do embalado, deve-se afixar os rtulos


de risco, de acordo com os modelos e cores indicados na Norma CNEN-NE-5.01, em
duas faces externas opostas do embalado.
Se o embalado contiver materiais radioativos com caractersticas adicionais de
perigo, devem ser afixados rtulos especficos para indicar essas caractersticas, conforme
regulamento de transporte de produtos perigosos.
Cada rtulo, exceto para material BAE ou OCS, deve apresentar ainda o nome do
radionucldeo presente (no caso de mistura, aqueles mais restritivos), a atividade (em Bq),
e o IT. No h necessidade de assinalar o IT quando o rtulo for da Categoria I - Branca.
Se o embalado pesar mais do que 50 kg deve ser assinalado no exterior da
embalagem, de forma legvel e durvel, o peso bruto.
Todo embalado do Tipo A deve apresentar externamente, de forma legvel e
durvel, a marca TIPO A.
Todo embalado do Tipo B deve apresentar externamente, de forma legvel e
durvel, os seguintes dados:

1. A marca de identificao atribuda ao projeto pela Autoridade Competente.

279
2. O nmero de srie que identifica cada embalagem em conformidade com o
projeto.
3. A marca Tipo B(U), para embalados cujo projeto atende aos requisitos para
aprovao unilateral ou Tipo B(M) para embalados cujo projeto exige aprovao
multilateral.
4. O smbolo do triflio, em alto relevo.

Tanques e grandes contineres que contenham embalados no exceptivos devem


exibir quatro placas de aviso, uma em cada face, em conformidade com o modelo e cores
especificados (figura 9.2) na Norma CNEN-NE-5.01. O veculo rodovirio tambm deve
exibir placas de aviso, afixadas nas duas laterais e na traseira da carroceria.

Figura 9.2 - Placa para tanques e contineres. A palavra RADIOATIVO pode ser
substituda pelo nmero de classificao de materiais da ONU, conforme tabela 9.5.

A Tabela 9.5 apresenta um resumo da classificao de materiais radioativos


adotada pela ONU. Essa classificao deve ser empregada em placas de aviso
suplementares, afixadas imediatamente adjacentes s placas de aviso principais, nos
veculos de transporte.

9.5.4. Requisitos especficos para transporte terrestre

Quando um embalado, pacote, tanque ou continer for transportado por rodovia,


deve-se atender aos requisitos a seguir:

Caso o veculo rodovirio tenha carroceria sem paredes, as placas de aviso podem
ser afixadas diretamente nos embalados, pacotes, tanques ou contineres, desde
que sejam claramente visveis.
Durante o transporte normal, o veculo deve possuir cobertura que previna ou

280
impea o acesso de pessoas no autorizadas ao seu interior.
Durante o transporte normal, devem ser tomadas medidas para fixar o embalado,
de modo que o mesmo no sofra deslocamento dentro do veculo.
Entre o incio e o final do transporte no devem ocorrer quaisquer outras
operaes de carga ou descarga.
No veculo rodovirio transportando embalados, pacotes, tanques ou contineres
das categorias Amarela II e Amarela III, no deve ser permitida a presena de
outras pessoas alm do motorista e seus ajudantes autorizados.

Tabela 9.5 - Resumo da classificao da ONU para nomes apropriados


ao transporte de materiais radioativos e respectiva numerao.

Nmero da
Nome Apropriado para Transporte e Descrio
ONU

2910 Material Radioativo - Embalado Exceptivo Quantidade Limitada de Material

2911 Material Radioativo - Embalado Exceptivo Instrumentos ou Artigos


Material Radioativo - Embalado Exceptivo Artigos Manufaturados com Urnio Natural
2909
ou Empobrecido ou com Trio Natural
2908 Material Radioativo - Embalado Exceptivo Embalagem Vazia

2912 Material Radioativo - Baixa Atividade Especfica (BAE-I) no fssil ou fssil isento

3321 Material Radioativo - Baixa Atividade Especfica (BAE-II) no fssil ou fssil isento

3322 Material Radioativo - Baixa Atividade Especfica (BAE-III) no fssil ou fssil isento
Material Radioativo - Objeto Contaminado na Superfcie (OCS-I e OCS-II) no fssil ou
2913
fssil isento
2915 Material Radioativo, Embalado Tipo A outras formas, no fssil ou fssil isento

2916 Material Radioativo, Embalado Tipo B(U) no fssil ou fssil isento

2917 Material Radioativo, Embalado Tipo B(M) no fssil ou fssil isento

3323 Material Radioativo, Embalado Tipo C no fssil ou fssil isento

2919 Material Radioativo sob Arranjos Especiais no fssil ou fssil isento

2978 Material Radioativo, Hexafluoreto de Urnio no fssil ou fssil isento

9.5.5. Documentao para transporte de material radioativo

A documentao necessria e obrigatria que deve acompanhar cada expedio


de material radioativo a seguinte:

a) Envelope de Transporte;
b) Ficha de Emergncia;
c) Declarao do Expedidor; e
d) Ficha de Monitorao da Carga e do Veculo.

281
A Norma CNEN-NE-5.01 apresenta em seus Anexos C e D, respectivamente, a
Ficha de Monitorao da Carga e do Veculo e a Declarao do Expedidor de Materiais
Radioativos (ONU-Classe 7).

9.5.6. Emergncia no transporte de material radioativo

Um acidente durante o transporte de material radioativo pode ser


evitado/minimizado das seguintes maneiras:

1) Impondo certas restries ao meio e modo de transporte, por exemplo:


Embalagens contendo lquidos pirofricos no podem ser transportadas por via
area;
No caso de transporte ferrovirio ou rodovirio de materiais radioativos
bastante perigosos, devem ser evitadas rotas que passem por zonas de alta
densidade demogrfica.
2) Atendendo a um plano de emergncia adequado, de modo a minimizar as
consequncias de um acidente durante o transporte.

A natureza, caractersticas e consequncias de acidentes de transporte, envolvendo


material radioativo, dependem de vrios fatores, tais como:

Tipo de embalagem.
Forma qumica e fsica do material.
Radiotoxicidade.
Quantidade de material.
Modo de transporte.
Severidade do acidente.
Localizao do acidente.
Condies atmosfricas.

As consequncias de um acidente no transporte variam desde um acidente


pequeno, com uma grande probabilidade de ocorrncia, a um acidente severo, com uma
pequena probabilidade de ocorrncia.
A experincia tem demonstrado que os riscos envolvidos em um acidente de
transporte com materiais radioativos so pequenos.

9.6. RESPONSABILIDADES DURANTE O TRANSPORTE

O expedidor o responsvel pelo transporte do material radioativo e seu dever,


entre outros estabelecidos na Norma CNEN-NE-5.01:

a) assegurar que o contedo de cada remessa esteja identificado, classificado,


embalado, marcado e rotulado de forma completa e precisa e se encontre em
condies adequadas para ser transportado. Uma declarao nesse sentido
dever ser apresentada pelo expedidor;
b) incluir, nos documentos de transporte, as seguintes informaes:
Nome e nmero apropriado da expedio, conforme a relao dos nmeros

282
da ONU.
As palavras material radioativo.
Notao apropriada para BAE ou OCS.
Nome e smbolo de cada radionucldeo.
Uma descrio da forma fsica e qumica do material, ou a notao de que
se encontra sob forma especial.
Atividade mxima do contedo radioativo.
Categoria do embalado.
ndice de transporte.
Marca de identificao de cada certificado de aprovao emitido pela
Autoridade Competente.
c) fornecer ao transportador os seguintes documentos:
Declarao do expedidor.
Envelope de transporte, padronizado pela NBR 7504.
Ficha de emergncia, padronizada pela NBR 7503.
Ficha de monitorao do veculo.
d) fornecer ao transportador:
Nome do destinatrio, endereo completo e rota a ser seguida.
e) informar o transportador sobre:
Equipamentos e requisitos especiais para manuseio e fixao da carga.
Requisitos operacionais suplementares para carregamento, transporte,
armazenamento, descarregamento e manuseio de embalado ou uma
declarao que tais requisitos no so necessrios.
Quaisquer prescries especiais de armazenamento para dissipao segura
de calor do embalado, especialmente quando o fluxo de calor na superfcie
do mesmo exceder 15 W.m-2.
Restries impostas ao modo ou meio de transporte.
Providncias a serem tomadas em caso de emergncia.

283
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

IAEA, Regulations for the Safe Transport of Radioactive Material, ST-1, International
Atomic Energy Agency, Vienna, 1996.

IAEA, Safe Transport of Radioactive Material, Training Course Series, Fourth Edition,
International Atomic Energy Agency, Vienna, 2006.

Norma CNEN-NE-5.01 Transporte de Materiais Radioativos, 1988.

A.M. Xavier, J.T. Moro, P.F. Heilbron, Princpios Bsicos de Segurana e Proteo
Radiolgica, UFRGS, 2006.

284
ANEXO A

NORMAS DA CNEN
As Normas da CNEN so constantemente atualizadas, assim, recomenda-se a
consulta ao site www.cnen.gov.br/seguranca/normas/normas.asp

A.1. GRUPO 1: INSTALAES NUCLEARES

Resoluo CNEN No 109/2011, Licenciamento de Operadores de Reatores Nucleares,


D.O.U. de 01/09/2011.

NE-1.02, Critrios Gerais de Projeto para Usinas de Reprocessamento de Combustveis


Nucleares, D.O.U. de 27/06/1979.

NE-1.04, Licenciamento de Instalaes Nucleares, D.O.U. de 12/12/2002.

Posio regulatria 1.04/001 - Apresentao de Relatrios de Segurana para


Instalaes de Enriquecimento Isotpico por Ultracentrifugao.

NE-1.06, Requisitos de Sade para Operadores de Reatores Nucleares, D.O.U. de


17/06/1980.

NE-1.08, Modelo Padro para Relatrio de Anlise de Segurana de Usinas de


Reprocessamento de Combustveis Nucleares, D.O.U. de 04/02/1980.

NE-1.09, Modelo Padro para Relatrio de Anlise de Segurana de Fbricas de


Elementos Combustveis, D.O.U. de 14/11/1980.

NE-1.10, Segurana de Sistemas de Barragem de Rejeitos Contendo Radionucldeos,


D.O.U. de 27/11/1980.

NE-1.11, Modelo Padro para Relatrio de Anlise de Segurana de Usinas de


Produo de Hexafluoreto de Urnio Natural, D.O.U. de 17/02/1983.

NE-1.28, Qualificao e Atuao de rgos de Superviso Tcnica Independente em


Usinas Nucleoeltricas e outras Instalaes, D.O.U. de 11/10/1999.

NE-1.13, Licenciamento de Minas e Usinas de Beneficiamento de Minrios de Urnio


e/ou Trio, D.O.U de 08/08/1989.

NN-1.14, Relatrios de Operao de Usinas Nucleoeltricas, D.O.U. de 10/01/2002.

NN-1.16, Garantia da Qualidade para a Segurana de Usinas Nucleoeltricas e outras


Instalaes, D.O.U. de 03/04/2000.

NN-1.17, Qualificao de Pessoal e Certificao, para Ensaios no Destrutivos em Itens


de Instalaes Nucleares, D.O.U. de 01/12/2011.

285
NE-1.18, Conservao Preventiva em Usinas Nucleoeltricas, D.O.U. de 04/09/1985.

NE-1.19, Qualificao de Programas de Clculo para a Anlise de Acidentes de Perda


de Refrigerante em Reatores gua Pressurizada, D.O.U. de 11/11/1985.

NE-1.20, Aceitao de Sistemas de Resfriamento de Emergncia do Ncleo de Reatores


gua Leve, D.O.U de 11/11/1985.

NE-1.21, Manuteno de Usinas Nucleoeltricas, D.O.U. de 28/081991.

NE-1.22, Programas de Meteorologia de Apoio de Usinas Nucleoeltricas, D.O.U. de


08/ 08/1989.

NE-1.24, Uso de Portos, Baas e guas sob Jurisdio Nacional por Navios Nucleares,
D.O.U. de 16/12/1991.

NE-1.25, Inspeo em Servio em Usinas Nucleoeltricas, D.O.U. de 27/09/1996.

NE-1.26, Segurana na Operao de Usinas Nucleoeltricas, D.O.U. de 16/10/1997.

Posio regulatria 1.26/001, Gerenciamento de Rejeitos Radioativos em Usinas


Nucleoeltricas.

NE-1.27, Garantia da Qualidade na Aquisio, Projeto e Fabricao de Elementos


Combustveis, D.O.U de 21/09/1999.

NE-1.28, Qualificao e Atuao de rgos de Superviso Tcnica Independente em


Usinas Nucleoeltricas e outras Instalaes, D.O.U. de 11/10/1999.

Resoluo CNEN N 09/1969, Normas para Escolha de Local para Instalao de


Reatores de Potncia, D.O.U. de 31/07/1969.

A.2. GRUPO 2: CONTROLE DE MATERIAIS NUCLEARES, PROTEO


FSICA E CONTRA INCNDIO

NE-2.01, Proteo Fsica de Unidades Operacionais da rea Nuclear, D.O.U. de


01/09/2011.

NN-2.02, Controle de Materiais Nucleares, D.O.U. de 21/09/1999.

NE-2.03, Proteo Contra Incndio em Usinas Nucleoeltricas, D.O.U. de 21/09/1999.

NE-2.04, Proteo Contra Incndio em Instalaes Nucleares do Ciclo do Combustvel,


D.O.U. de 16/10/1997.

A.3. GRUPO 3: PROTEO RADIOLGICA

NN-3.01, Diretrizes Bsicas de Proteo Radiolgica, D.O.U de 01/09/2011.

286
Posio regulatria 3.01/001:2011, Critrios de Excluso, Iseno e Dispensa de
Requisitos de Proteo Radiolgica.

Posio regulatria 3.01/002:2011, Fatores de Ponderao para as Grandezas de


Proteo Radiolgica.

Posio regulatria 3.01-003/2011, Coeficientes de Dose para Indivduos


Ocupacionalmente Expostos.

Posio regulatria 3.01/004/2011, Restrio de Dose, Nveis de Referncia


Ocupacionais e Classificao de reas.

Posio regulatria 3.01/005:2011, Critrios de Clculo de Dose Efetiva a Partir da


Monitorao Individual.

Posio regulatria 3.01/006:2011, Medidas de Proteo e Critrios de Interveno em


Situaes de Emergncia.

Posio regulatria 3.01/007:2011, Nveis de Interveno e de Ao para Exposio


Crnica.

Posio regulatria 3.01/008:2011, Programa de Monitorao Radiolgica Ambiental.

Posio regulatria 3.01/009:2011, Modelo para Elaborao de Relatrios de Programa


de Monitorao Radiolgica Ambiental.

Posio regulatria 3.01/010:2011, Nveis de Dose para Notificao CNEN.

Posio regulatria 3.01/011:2011, Coeficientes de Dose para a Exposio do Pblico.

NE-3.02, Servios de Radioproteo, D.O.U. de 01/08/1988.

NN-3.05, Requisitos de Segurana e Proteo Radiolgica para Servios de Medicina


Nuclear, D.O.U. de 17/12/2013.

NN-3.06, Requisitos de Segurana e Proteo Radiolgica em Servios de Radioterapia,


D.O.U. de 04/06/2012.

NN-6.04, Requisitos de Segurana e Proteo Radiolgica para Servios de Radiografia


Industrial, D.O.U. de 25/03/2013.

Resoluo CNEN N 145/2013, Requisitos de Segurana e Proteo Radiolgica para


Servios de Radiografia Industrial, D.O.U. de 25/03/2013.

A.4. GRUPO 4: MATERIAIS, MINRIOS E MINERAIS NUCLEARES

NN-4.01, Requisitos de Segurana e Proteo Radiolgica para Instalaes Minero-


Industriais, D.O.U. 26/05/2005.

287
Resoluo CNEN N 03/65, Fixa Normas no que se Referem aos Minerais, Minrios
Nucleares e de Interesse para a Energia Nuclear, D.O.U. 20/01/1975.

Resoluo CNEN N 04/69, Define Regras para o Exportador de Minerais ou Minrios


que Contenham Elementos Nucleares, D.O.U. de 13/03/1965.

Resoluo CNEN N 08/77, Esclarece a Regra para o Exportador (Na Resoluo 04/69),
Caso no Seja Possvel a Aquisio no Mercado Externo, D.O.U. de 29/09/1977.

Resoluo CNEN N 18/88, Estabelece Critrios de Dispensa de Requisitos para


Exportadores, D.O.U. de 16/05/2011.

Port. 279/97, Define Regras para a Importao de Produtos Base de Ltio, D.O.U. de
01/12/1997.

Resoluo CNEN N 147/13, Nvel de Iseno para o Uso do Fosfogesso na Agricultura


ou na Indstria Cimenteira, D.O.U. de 01/09/2011.

A.5. GRUPO 5: TRANSPORTE DE MATERIAIS RADIOATIVOS

NE-5.01, Transporte de Materiais Radioativos, D.O.U. de 01/08/1988.

Posio regulatria 5.01/001, Transporte de Material Radioativo por Motocicletas.

NE-5.02, Transporte, Recebimento, Armazenagem e Manuseio de Elementos


Combustveis de Usinas Nucleoeltrica, D.O.U. de 17/02/2003.

NE-5.03, Transporte, Recebimento, Armazenagem e Manuseio de Itens de Usinas


Nucleoeltricas, D.O.U. de 02/02/1989.

NN-5.04, (Res.148/13), Rastreamento de Veculos de Transporte de Material


Radioativo, D.O.U. de 23/03/2013.

A.6. GRUPO 6: INSTALAES RADIATIVAS

Resoluo CNEN N 112/2011, Licenciamento de Instalaes Radiativas, D.O.U. de


01/09/2011.

NE-6.06, Seleo e Escolha de Locais para Depsitos de Rejeitos Radioativos, D.O.U.


de 24/01/1990.

A.7. GRUPO 7: CERTIFICAO E REGISTRO DE PESSOAS

Resoluo CNEN N 109/11, Licenciamento de Operadores de Reatores Nucleares -


D.O.U. de 01/09/2011.

288
NN-1.17, Qualificao de Pessoal e Certificao para Ensaios no-Destrutivos em Itens
de Instalaes Nucleares, D.O.U. de 01/12/2011.

NN-6.01, Requisitos para Registro de Pessoas Fsicas para o Preparo, Uso e Manuseio
de Fontes Radioativas, D.O.U de 01/03/1999.

Resoluo CNEN N 144/2013, Registro de Operadores de Radiografia Industrial,


D.O.U. de 25/03/2013.

Resoluo CNEN N 146/13, Certificao da Qualificao de Supervisores de Proteo


Radiolgica, D.O.U de 25/03/2013.

A.8. GRUPO 8: REJEITOS RADIOATIVOS

NE-6.05, Gerncia de Rejeitos Radioativos em Instalaes Radiativas, D.O.U. de


17/12/1985.

NE-6.06, Seleo e Escolha de Locais para Depsitos de Rejeitos Radioativos, D.O.U.


de 24/01/1990.

NN-6.09, Critrios de Aceitao para Deposio de Rejeitos Radioativos de Baixo e


Mdio Nveis de Radiao, D.O.U. de 23/04/2002.

Resoluo CNEN N 04/1989, Para-Raios com Material Radioativo, D.O.U. de


19/04/1986.

Posio regulatria 1.26/001, Gerenciamento de Rejeitos Radioativos em Usinas


Nucleoeltricas, D.O.U. de 25/03/2008.

A.9. GRUPO 9: DESCOMISSIONAMENTO

Resoluo CNEN N 133/2012, Descomissionamento de Usinas Nucleoeltricas,


D.O.U. de 21/11/2012.

289
ANEXO B

RADIAES IONIZANTES E LEGISLAO PARA


TRABALHADORES

Jos Ubiratan Delgado - LNMRI/IRD/CNEN

B.1. INTRODUO

A partir de uma abordagem cronolgica sobre o conjunto de leis pertinentes s


condies de trabalho com radiaes ionizantes, este trabalho se prope discutir e elucidar
os principais conceitos que constituem a legislao atual, apontar o alcance de cada um,
bem como suas ambiguidades ou imprecises. As ilaes destas questes analisadas so
facilmente perceptveis nas dificuldades de ordem legal, administrativa e de
gerenciamento de recursos humanos, quando se busca sua eficiente aplicao. So
discutidos tambm temas associados extenso e frequncia da gradao do risco em 5,
10 e 20%, modelos para avaliao da exposio potencial em rea de risco, clculo da
dose e critrios para definio de benefcios e enquadramento em adicional de irradiao,
gratificao por atividade, aposentadoria e frias especficas para Indivduos
Ocupacionalmente Expostos na esfera do Regime Jurdico nico e da Consolidao das
Leis do Trabalho.

B.1.1. Aspectos histricos

Logo aps a descoberta por Roentgen em 1895, a radiao ionizante foi


mundialmente utilizada no campo da medicina como uma excelente ferramenta para o
diagnstico e a terapia. Entretanto, este fato provocou exposies ocupacionais relevantes
para as equipes mdicas envolvidas, de forma que a primeira evidncia epidemiolgica
substancial relacionada aos efeitos cancergenos da radiao foi obtida a partir de efeitos
determinsticos, como depilao e eritema, observados nos prprios radiologistas [1].
Mas, as aplicaes na medicina aumentaram significativamente em todo o mundo, com
uma grande variedade de tcnicas, de tal modo que, hoje, os trabalhadores na rea da
medicina compem o maior grupo ocupacional exposto s fontes artificiais de radiao.
Nos primrdios da energia nuclear, quando o seu uso estava restrito a algumas
aplicaes em centros de pesquisa e hospitais, disseminou-se uma preocupao especfica
com os aspectos de exposio ocupacional e segurana dos trabalhadores vinculados a
tais atividades. Esta inquietao culminou em tentativas de assegurar uma legislao
adequada, posto que, pela sua natureza e efeitos decorrentes, as radiaes ionizantes no
poderiam ser tratadas de modo trivial.
Em torno dos anos 50 a legislao brasileira j institua compensaes pecunirias
e benefcios para trabalhadores sujeitos a riscos de vida ou de danos sade, quer
estivessem enquadrados no regime estatutrio ou em CLT, nos ambientes onde existiam
constataes de exposio ocupacional s radiaes ionizantes. Em seguida, outras leis
complementares e normas regulamentadoras foram criadas. Apesar de restrito a algumas
categorias do servio pblico e de ter introduzido os conceitos de tempo mnimo e
habitualidade, o Decreto 81.384/78 estabeleceu a gratificao por atividades com raios X
ou substncias radioativas. Neste incipiente aparato legal j se vislumbravam formas de

290
compensar os danos sade dos trabalhadores, provocados por agentes mesolgicos
nocivos, atenuando seus impactos e/ou indenizando-os.
Voltada para as atividades concernentes radiao ionizante ou substncia
radioativa e calcada em recomendaes internacionais, a lei 1.234/50 refletia o carter de
duplo risco para ocorrncias normais e no usuais que poderiam atingir o trabalhador
[1,2,3,4].

B.1.2. Atividades com radiaes ionizantes na CLT

O artigo 189 da CLT define as atividades ou operaes insalubres como


aquelas que, por sua natureza, condies ou mtodos de trabalho, exponham os
empregados a agentes nocivos sade, acima dos limites de tolerncia fixados em razo
da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposio a seus efeitos.
Mais adiante, o artigo 191 trata da eliminao ou a neutralizao da insalubridade,
as quais ocorrero com a adoo de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro
dos limites de tolerncia e com a utilizao de equipamentos de proteo individual ao
trabalhador, cabendo s Delegacias Regionais do Trabalho, comprovar a insalubridade,
notificar as empresas e estipular prazos para sua eliminao ou neutralizao, na forma
deste artigo. Com isto, o artigo 192 tem em conta que o exerccio de trabalho em
condies insalubres, isto , acima dos limites de tolerncia estabelecidos pelo Ministrio
do Trabalho, assegura a percepo de adicional, respectivamente, de 40% (quarenta por
cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salrio mnimo da regio, segundo
sejam classificadas no grau mximo, mdio e mnimo.
De outro lado, o artigo 193 considera operaes ou atividades perigosas, na
forma da regulamentao aprovada pelo Ministrio do Trabalho, como aquelas que, por
sua natureza ou mtodos de trabalho, impliquem no contato permanente com inflamveis
ou explosivos em condies de risco acentuado. Em 1986, o Decreto 93.412
regulamentou a Lei 7.369/1985, a qual instituiu salrio adicional para os empregados no
setor de energia eltrica em condies de periculosidade.
O trabalho em condies de periculosidade assegura ao empregado celetista um
adicional de 30% (trinta por cento) sobre o salrio sem os acrscimos resultantes de
gratificaes, prmios ou participaes nos lucros da empresa. Alm disso, a legislao
faculta ao empregado optar pelo adicional de insalubridade que venha a fazer jus, sendo,
entretanto, vedada a percepo cumulativa em caso de incidncia de mais de um fator de
risco (ver NR16, 16.1.2).
De qualquer modo, a Seo XIII da Consolidao das Leis do Trabalho que
discorre sobre Atividades Insalubres ou Perigosas determinou em seu artigo 194 que o
direito do empregado ao adicional de insalubridade ou de periculosidade cessar com a
eliminao do risco sua sade ou integridade fsica, nos termos desta Seo e das
normas expedidas pelo Ministrio do Trabalho. E, no menos importante, o artigo 195
declarou com firmeza que, segundo as normas do Ministrio do Trabalho, a
caracterizao e a classificao da insalubridade e da periculosidade far-se-o atravs
de percia a cargo de Mdico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no
Ministrio do Trabalho.

291
B.1.2.1. Normas regulamentadoras e as radiaes ionizantes

As determinaes constantes em seo XIII, captulo V, com modificaes


estabelecidas pela lei 6.514/77 e regulamentadas em Portaria Ministrio do Trabalho
3.214/78 [4,5,6] aplicavam-se aos casos de insalubridade e periculosidade para os
trabalhadores em geral, regidos pela CLT. A Portaria, na forma de ato administrativo,
aprovou 28 Normas Regulamentadoras relacionadas Segurana e Medicina do
Trabalho, sendo estas de cumprimento obrigatrio quer seja pelas empresas pblicas e
privadas, assim como pelas instituies pblicas em todos os nveis de poderes que
possuam trabalhadores regidos pela CLT. Porm, insalubridade creditada s radiaes
ionizantes, a norma regulamentadora de n 15 definiu os limites mximos permissveis
para trabalhadores expostos, baseados em conceitos universais de proteo radiolgica.
Isto se deve ao fato de que a utilizao de fontes de radiao e substncias
radioativas requer a definio e o cumprimento de protocolos e procedimentos de
segurana dirigidos ao meio ambiente, populao, mas, sobretudo, proteo dos
indivduos ocupacionalmente expostos (IOE). Em decorrncia disso, limites de exposio
ou de tolerncia so estabelecidos nas legislaes que discorrem sobre a temtica, tanto
em nvel nacional como internacional, uma vez que, sem as medidas de segurana
adequadas, os efeitos biolgicos advindos de exposies s radiaes ionizantes na forma
de danos sade ou risco de vida so bastante conhecidos e amplamente documentados
na literatura cientfica.
J o artigo 193 da referida CLT trata da circunstncia de quem opera com
inflamveis, energia eltrica e com explosivos. Houve a uma omisso completa
condio dos trabalhadores sujeitos exposio e ou contaminao com material
radioativo. A lacuna de ordem legal deixou de existir parcialmente com a conquista do
adicional de periculosidade correspondente a 30% sobre o vencimento, motivada pela
atualizao da NR-16, via portaria MTb n 3.393/87 [6,7,8,9,10]. A portaria conceitua ser
potencialmente prejudicial sade do trabalhador sua exposio s radiaes
ionizantes, acrescentando que o presente estado de coisas tecnolgico no pode evitar,
ou reduzir a zero, o risco potencial oriundo de tais atividades. Contudo, ao trabalhador
submetido ao regime celetista no lhe foi concedido, at ento, direitos relativos
aposentadoria e frias especiais, nem foi beneficiado com alguma compensao devido
s condies insalubres de trabalho.

B.1.2.2. Aposentadoria especial para IOE na CLT

A Constituio Federal foi alterada em 2000 pela Emenda Constitucional de


nmero 20, a qual estabeleceu as regras de transio tambm para a aposentadoria
especial e modificou o sistema de previdncia social por meio de ampla reforma. A
aposentadoria pela previdncia social passou a ser concedida ao trabalhador aps terem
sido preenchidos critrios como tempo de trabalho e da atividade profissional em
condies especiais que venham a pr em risco vida ou causar danos sade do referido
profissional. Torna-se necessrio, neste caso, a comprovao da exposio s radiaes
ionizantes de forma permanente e habitual por um perodo de 25 anos. Para fazer jus ao
benefcio, o tempo de trabalho prestado durante a jornada integral em regime CLT
contabilizado por um perodo que corresponde ao exerccio da atividade em situao
especial, incluindo-se nele os afastamentos decorrentes de licena mdica, auxlio-doena
e frias. A comprovao da efetiva exposio do trabalhador s radiaes ionizantes se
d com base em Laudo Tcnico de Condies Ambientais de Trabalho (LTCAT). Este
laudo relata as condies do ambiente de trabalho, rene informaes tcnico-

292
administrativas, alm de resultados de monitorao radiolgica, e atestado por
engenheiro de segurana ou por mdico do trabalho conforme versa a legislao. feito
mediante o preenchimento, pela empresa ou representante, de formulrio denominado
Perfil Profissiogrfico Previdencirio, prprio do Instituto Nacional do Seguro Social e
vlido a partir de 01/01/2004 (antes se denominava DIRBEN 8030, muito antes, SB40,
ambos vlidos at 31/12/2003). No documento histrico-laboral, PPP, devem tambm ser
registrados dados e informaes sobre planos de proteo radiolgica, que visem
reduo dos nveis de radiao a limites tolerveis, e que constem recomendaes sobre
a adoo destas prticas pela empresa. A anlise e a veracidade destes registros, essenciais
concesso da referida aposentadoria, ocorre atravs da inspeo de cada local de
trabalho, e conduzida exclusivamente por peritos vinculados ao INSS. Uma vez
concedida, a aposentadoria especial torna-se irreversvel e somente ser cancelada pelo
INSS, caso o segurado retorne atividade que deu origem ao benefcio.
[www.previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=14].

B.1.2.3. Acidente de trabalho e doena profissional na CLT

A legislao brasileira define acidente de trabalho, de acordo com a Lei 6.367/76,


como aquele decorrente do desempenho do trabalho a servio da empresa, provocando
leso e perturbao funcional da vtima, determinando a morte, perda ou reduo de
capacidade para o trabalho, de forma permanente ou temporria. A doena
profissional, ou do trabalho, entendida como aquela desencadeada pelo exerccio de
trabalho peculiar a determinada atividade, embora mesmo no tendo vnculo direto com
o trabalho, com ele guarda relao. No caso do IOE, pode ser uma doena proveniente de
contaminao radioativa acidental ou em condies normais de trabalho, ou exposio
dose aguda ou cumulativa do empregado ao longo do exerccio de sua atividade. Sob pena
de multa, imprescindvel que o acidente seja sempre reportado e registrado pelo
empregador junto Previdncia Social at o primeiro dia til aps o ocorrido. Este relato
se d mediante preenchimento do Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT). A Lei
8.213/89, em seu artigo 22, assegura que na falta de emisso do CAT pela empresa, o
prprio acidentado pode registrar o acidente. Alm dele, os seus dependentes, a
representao sindical, mdicos ou autoridades pblicas podem faz-lo, nestes casos,
independente do prazo de um dia.

B.1.3. Atividades com radiaes ionizantes no Regime Jurdico nico

O Regime Jurdico nico [11], mais o conjunto de leis complementares que


entraram na sua composio, despontaram da Carta Constitucional de 1988. Institudo
pela Lei 8112 de 11 de dezembro de 1990, o regime dos servidores pblicos civis da
Unio, autarquias e fundaes pblicas federais. Os artigos 68 a 72, 186 a 195, 211 a
214 contemplam os adicionais de insalubridade, periculosidade, aposentadoria
especial e a licena por acidente de servio, respectivamente. Consequentemente, para
os servidores em geral, convivendo em seus ambientes de trabalho com a agressividade
provocada por agentes fsicos, biolgicos ou qumicos diversos, sobrevieram os
adicionais de insalubridade, de periculosidade (tanto um quanto outro previsto na
subseo IV do RJU e no artigo 12 da lei 8.270/91) e o direito a regime especial de frias
(RJU). Pelos itens I e II do artigo 12, a lei 8.270 estabelece o adicional de insalubridade
fracionado em cinco (grau mnimo), dez (grau mdio) e vinte por cento (grau mximo), e
o de periculosidade, antes de 40%, foi fixado em dez por cento [12]. Ambos recaindo
sobre o vencimento do cargo efetivo. Aos demais trabalhadores de empresas particulares

293
e estatais, cujas atividades esto caracterizadas como de risco potencial atinente a
radiaes ionizantes ou substncias radioativas, persiste o adicional de periculosidade
discorrido no pargrafo 1 do artigo 193 da CLT. A condio exclusiva de trabalhadores
do servio pblico envolvidos com atividades nucleares na manipulao ou prximos s
fontes radioativas, ou operando os equipamentos de raios X e as correspondentes
compensaes por riscos sade e vida so formuladas nos pargrafos 1 (adicional de
irradiao ionizante) e 2 (gratificao por atividade com raios X ou substncias
radioativas), respectivamente, no mesmo artigo 12. O esprito da lei, aqui materializado
nos pargrafos 1 e 2 e no Decreto 877/93 [13] que regulamenta a concesso do adicional
de irradiao ionizante, prevaleceu ante a lei 1.234/50 ainda vigente. Com todas as
restries para enquadramento, este Decreto tornou extensivo o benefcio a maior nmero
de servidores, os quais no foram includos no Decreto 81.384/78.

B.2. NORMAS E DISPOSIES PARA AS RADIAES IONIZANTES.

B.2.1. Consideraes em torno da Lei 8.270

Embora se possa chegar a uma interpretao apressada ao se afirmar que os


pargrafos 1 e 2 definem claramente os adicionais de insalubridade e periculosidade, o
certo que no existem evidncias para tal, como pode ser acompanhado pela Figura 1.
O que de fato existe : adicional de irradiao ionizante e gratificao por atividade com
raios X ou substncias radioativas. Reside a a origem de parte dos conflitos
desenvolvidos durante o perodo de discusso dos critrios aplicveis ao enquadramento
de servidores.
No se sabe dos legisladores se tinham em mente tratar radiao ionizante,
considerando apropriadamente a sua natureza de poder causar danos sade
(insalubridade) e pr em risco a vida (periculosidade), baseando-se objetivamente nos
efeitos imediatos e tardios. Se este era o esprito reinante, h de se reconhecer vagueza no
artigo 12 ao discorrer sobre uma situao como adicional e outra, como gratificao. Tudo
no mesmo texto que prometia, em sua introduo, versar sobre adicionais. Isto resultou
em um tcito desligamento das disposies gerais de insalubridade e periculosidade,
complementado pela presena de preceitos e vantagens diferenciadas e cumulativas [14].
Cumulatividade esta que, ao ser admitida, contrape e invalida o artigo 68, pargrafo 1
do RJU, onde definido o termo de opo para o servidor que desenvolve atividades
caracterizadas simultaneamente como perigosas e insalubres. Objeto de polmicas, o
artigo 12 gerou veemente debate, propiciando o surgimento de pareceres tcnico-jurdicos
e documentao correlata [15,16,17]. Atendendo consulta sobre a matria, a Procuradoria
Jurdica da CNEN entendeu que

... a opo prevista na norma torna-se prejudicada ... embora o


fundamento legal para concesso das vantagens, tanto do adicional
como da gratificao, seja o mesmo, insalubridade e/ou periculosidade,
as condies e vantagens para que o servidor faa jus as mesmas se
diferem.

294
Figura B.1 - RJU e Legislao relativa s radiaes ionizantes

Esta argumentao alinha-se com Gonalez: para as radiaes ionizantes so


estabelecidas normas e disposies distintas e especficas. E, logo abaixo, continua: ...
as disposies estabelecem duas vantagens distintas e no mutuamente exclusivas que
so o adicional e a gratificao. As questes atinentes gratificao, adicional e
vantagens decorrentes, cumulatividade e termo de opo foram suspensas mais adiante
com o parecer SAF n 404/94 [18], reconhecendo e instruindo aos interessados: A
legislao especfica no probe de forma expressa a acumulao da percepo das
vantagens pretendidas .... Tambm sugere reexame dos enquadramentos feitos com
vistas a determinar quem efetivamente opera com raios X. Polmicas parte, percebe-
se em sua totalidade que o artigo 12 dotou de certa complexidade a operao com
radiaes ionizantes ao firmar distino entre trabalhadores a ela vinculados e servidores
pblicos envolvidos com outras atividades tidas como insalubres, perigosas ou penosas.

B.2.2. Compensaes cumulativas na forma de gratificao e adicional

Pode-se considerar, por outro lado, a hiptese de que os legisladores, ignorando o


princpio constitucional de irredutibilidade de vencimentos [19], pretendiam aglutinar em
nova lei todas as vantagens, pecunirias ou no, anteriormente usufrudas pelas diferentes
categorias profissionais que, ora, esto abrigadas sob o manto do RJU. Sabe-se que,
dependendo da origem celetista ou estatutria do servidor, existiam compensaes
diferenciadas de, por exemplo, 30% e 40%. Para simplificar, prevendo-se ainda a inteno
de cumulatividade durante a elaborao da lei, tem-se uma pequena parte de servidores -
comparada aos que antes eram beneficiados - que hoje fazem jus s duas vantagens,
alcanando apenas 30% (10% + 20%). Isto significa, na prtica, um aviltamento de
vencimentos, para grande contingente de servidores, imposto pela lei 8.270 [24].
Sintomaticamente, esta hiptese torna-se provvel, ao serem mantidos nos pargrafos 4
e 5 desse artigo a ttulo de vantagem pessoal os valores referentes a adicionais e
gratificaes percebidos sob o mesmo fundamento. Estranha particularidade que esta
vantagem pessoal, contrapondo-se ao que prescreve a lei, encontra-se congelada em

295
seu valor histrico. Como se nota, parece que os nmeros percentuais 5, 10 e 20 no
surgiram por acaso.
Enfim, cumpre destacar que os adicionais de insalubridade e de periculosidade
no so acumulveis. Isto vale tanto para os trabalhadores do universo celetista regidos
pela NR16 como aqueles do RJU, segundo o artigo 68, pargrafo 1, o que se adota na
prtica a assinatura do termo de opo por um dos adicionais, cuja escolha feita pelo
interessado. Contudo, nada se pode afirmar sobre a cumulatividade entre o adicional de
irradiao ionizante (que no insalubridade) e a gratificao por atividade com raios X
e substncias radioativas (que no pode ser confundida com periculosidade). Esta
discusso ainda no foi dirimida e atualmente encontra-se sob a apreciao judicial, no
aguardo de sentena definitiva (sub judice).

B.2.2.1 Orientao SEGEP / MPOG N 6 e Laudo Tcnico

Mais de 20 anos aps a promulgao da Lei 8.270/91 e aps revogaes de outras


instrues que tratavam do mesmo tema, o ministrio do planejamento providenciou uma
Orientao Normativa SEGEP/MPOG N 6 de 18 de maro de 2013, dispondo sobre mais
interpretaes, regras e procedimentos acerca da aplicao desse adicional e da
gratificao. Em seu artigo 4, esta Orientao diz em uma livre interpretao que os
adicionais e a gratificao no se acumulam e so formas de compensao por risco
sade dos trabalhadores, tendo carter transitrio, enquanto durar a exposio. Esta
verso torna-se vaga ao especular sobre o carter efmero da compensao, admitindo-a
to somente enquanto durar a exposio. No item I do artigo 8, a Orientao do SEGEP
redefine a exposio habitual, condicionando a concesso da gratificao a uma jornada
de trabalho, a ser cumprida pelo servidor, por um perodo mnimo de 12 horas semanais,
omitindo-se ao no considerar aspectos de proteo radiolgica. Posta nestes termos, esta
Orientao mais uma vez insiste na tentativa de anular a natureza inerente aos efeitos
biolgicos, imediatos e tardios, associados s exposies s radiaes ionizantes e seu
poder de provocar simultaneamente danos sade (insalubridade) e pr em risco a vida
humana (periculosidade), a depender da natureza e caractersticas do material radioativo
ou da fonte emissora de radiao.

B.2.2.1.1 Necessidade de Laudo Tcnico

Outra contradio reside no fato de que o SEGEP orienta conceder o adicional de


irradiao ionizante para aquele IOE que exerce suas atribuies em rea controlada ou
supervisionada, enquanto que a gratificao por atividade com raios X ou substncias
radioativas poder ser concedida ao servidor que venha exercer seus encargos somente
em rea controlada.
Uma novidade da Orientao SEGEP em relao ao Decreto 877 direcionada
para os servidores pblicos que trabalham na rea de radiologia diagnstica, por exemplo,
cujas prticas so regulamentadas por fora de Portaria 453 da ANVISA. Portanto, no
isentos de seguirem procedimentos de proteo radiolgica conforme requisitos da
Posio Regulatria 01 da Norma CNEN-NN-3.01. At ento diversos IOE estiveram
privados de receberem quaisquer compensaes.
Em todo caso, a concesso do adicional e/ou gratificao ao trabalhador
considerado IOE, estabelecida em situaes especificadas na legislao uma vez
cumpridas as normas da CNEN, fundamenta-se em laudo tcnico expedido por comisso
interna constituda por mdico do trabalho capacitado ou engenheiro de segurana, alm
de profissional da rea de proteo radiolgica.

296
Esta concesso retirada com a eliminao das condies ou riscos que
originaram a sua percepo.

B.3. RISCO POTENCIAL E O ADICIONAL DE IRRADIAO IONIZANTE

B.3.1. A concepo do Decreto 877/93

O decreto 877/93 tomou de emprstimo na portaria MTb 3.393/87 a concepo de


risco potencial que, ao ter sido pela primeira vez citado em legislao, contemplou a
periculosidade associada a exposio de trabalhadores radiao ionizante. Nela, as
radiaes foram colocadas na mesma categoria de outros agentes ou substncias que, em
condies normais de uso, so inofensivos, porm, sucedendo situaes anormais, pem
em perigo a sade humana, podendo provocar at a morte.
No sendo noutra, seno nesta perspectiva de periculosidade, que a concepo de
risco potencial foi tratada no decreto 877/93, ao levar em conta explicitamente a
probabilidade de ocorrncia de uma situao anormal, bem como as doses possveis de
serem recebidas como consequncia da situao. Ora, o conceito de natureza
probabilstica assim apresentado presta-se meramente para qualificar se uma rea ou
no de risco em razo das propriedades do agente, pois no se encontra suficientemente
definido ao ponto de garantir a existncia de uma relao funcional do mesmo com os
limites de dose estabelecidos em norma.
Ademais, sabe-se que estes limites [20] so formulados tendo em vista unicamente
o trabalho com radiao ionizante em condies normais e esto associados a um nvel
de dose abaixo do qual no ocorre efeito biolgico significativo e, acima, pode causar um
dano equivalente dose recebida pelo organismo (carter insalubre). No obstante a
diferenciao conceitual existente entre insalubridade e periculosidade, o decreto 877/93
introduz percentuais gradativos de 5, 10 e 20, vinculando-os necessariamente, e
ambiguamente, ao risco potencial das unidades envolvidas com radiao, conforme
visualizado no Anexo A. Ou seja: tem-se uma situao imprevisvel, podendo ocorrer um
evento a qualquer momento, amarrada a parmetros tpicos de normalidade, como tempo
de permanncia na rea e dose recebida anual. Mais adiante a dose anual vagamente
descrita no decreto como aquela cujo clculo deve levar em conta a dose potencial.
Para aumentar a dificuldade, o artigo 2 determina que a concesso do adicional
deva ser feita de acordo com laudo tcnico emitido por comisso interna especfica em
cada entidade, fato que no contribui para uniformizar a aplicao do decreto nos rgos
que lidam com radiaes ionizantes. Assim, pouco esclarece sobre a extenso e
frequncia da gradao do risco em 5, 10 e 20%. Contudo, supe-se que ao abranger todo
o servio pblico, no se deve esperar necessariamente, em cada unidade envolvida com
radiao, por uma distribuio equitativa dos trs percentuais arbitrados.

B.3.2. Modelos propostos

Na ausncia de critrios objetivos que conectem os valores de dose anual obtida


por um trabalhador frao correspondente ao risco potencial que definir o adicional,
alguns postulados para avaliao das exposies potenciais tm sido sugeridos na
literatura.
A avaliao de exposies potenciais, segundo Beninson [21], objetiva o
planejamento ou decidir por medidas de proteo, apoiando-se em: (a) construo de
cenrios que representam eventos anormais; (b) avaliao de suas probabilidades de

297
ocorrncia em funo de falhas humanas ou tcnicas; (c) avaliao da dose resultante; (d)
comparao dos resultados com alguns critrios de aceitao. Em seguida, o autor
exemplifica alguns cenrios tpicos, que compreendem exposies externas para fontes
de radiao fixas e mveis: entrada insegura em uma rea de radiao, como salas de
irradiadores industriais, aceleradores, reatores; blindagens insuficientes ou
inadvertidamente removidas; fontes afastadas do seu local apropriado; perdas ou furtos
de fontes, acidentes durante o transporte. Tambm se consideram os acidentes decorrentes
de problemas administrativos como perda de informao sobre o proprietrio ou
responsvel, desinformao sobre a localizao ou caractersticas da fonte, falta de
controle e perda de contabilidade.
Em outro trabalho que prope o clculo do adicional devido irradiao [17], a
dose potencial definida como a dose possvel de ser acumulada por ano de trabalho na
rea de risco, e que pode ser decomposta em: (a) doses ocupacionais esperadas
decorrentes de exposio radiao e de incorporao de radionucldeos em condies
normais de operao; (b) doses decorrentes de uma atuao anormal (situao de
emergncia), levando-se em conta a probabilidade de ocorrncia de tal evento. O risco
potencial (R) foi estabelecido, assim, em termos de frao de dose:

R = (Eoperacional + pi Eacidente)/Eefetiva

em que,

Eoperacional dose efetiva esperada anual, nas condies operacionais da instalao,


considerando-se as exposies externa e interna;
pi probabilidade de ocorrncia do acidente;
Eacidente dose efetiva mdia esperada para um servidor envolvido no acidente
(Eacidente 1 Sv);
Eefetiva limite geral de dose efetiva fixada para trabalhadores e para o pblico
(grupo crtico da populao).

B.3.2.1. Risco operacional e risco em situao de emergncia

Este critrio assim postulado tratou o risco potencial como uma combinao linear
de dois termos. Um, decorrente de um suposto risco operacional previsto no plano de
proteo radiolgica da instalao (condies normais) e o outro, de um risco para
situao de emergncia. Ambos definidos como uma funo da dose. Outro postulado
para clculo de dose potencial devida s fontes de radiao existentes no ambiente de
trabalho o que define um modelo simplificado de exposio que possibilita construir
um cenrio [22]. Este modelo representaria um encadeamento de eventos no-usuais,
desprezando-se sua probabilidade de ocorrncia, e apenas considerando o clculo da dose
resultante que seria recebida pelo trabalhador para o caso de uma situao anormal. Os
resultados dos clculos de doses, consequentemente, serviriam de base para o
enquadramento dos servidores em 5, 10 ou 20%.
Em resumo, a eleio de um modelo simplificado, como proposto, seria o caminho
obviamente mais pragmtico entre os trs, pois, para os outros postulados exigia-se o
conhecimento de todos os fatores complexos que concorrem em um evento emergencial,
alm de dados para se determinar a probabilidade de ocorrncia do acidente.
Apesar disso, deve ser observado que os critrios acima propostos, embora
estejam calcados em fundamentos tericos slidos, apresentam-se intrincados e difceis
de serem aproveitados na prtica, de acordo com o que pede a legislao. O principal

298
obstculo para disciplinar a concesso de vantagens ainda persiste: em nenhum deles foi
estabelecida uma relao direta de vnculo entre a dose anual (ou fraes dela) assim
calculada para cada servidor e os percentuais de radiao ionizante a que os mesmos
servidores, que estejam desempenhando efetivamente suas atividades em reas sujeitas a
riscos potenciais advindos das radiaes, fariam jus.
Ainda que, para cada postulado, a situao de risco em ambientes reais seja
reconhecida como contnua ou fixa, de um perodo para outro poder haver variaes nos
valores atribudos s doses, em virtude de variaes nas condies geomtricas de
exposio, quais sejam: mudanas nos dispositivos de proteo, na localizao das fontes
de radiao, na otimizao de procedimentos tcnicos. Isto exigiria uma anlise acurada
e peridica da dose atribuda a cada servidor na rea sujeita a riscos, ensejando como
consequncia mudanas na sua faixa de enquadramento arbitrada pela lei. Como o risco,
em se tratando de vantagem pecuniria, depende tambm das aes e omisses dos
trabalhadores, isto poderia induzi-los a buscar ou permanecer em uma faixa percentual
mais favorvel, atitude que fere em cheio as recomendaes bsicas de proteo
radiolgica, refletidas no princpio ALARA, ao afirmar que:

... independente do valor atribudo ao risco potencial, deve-se sempre


buscar reduzir a exposio a valores to baixos quanto exequveis,
observada a relao custo-benefcio [23].

B.4. CRITRIOS E DISCUSSES

B.4.1. Adicional de irradiao ionizante

A compensao por riscos sade, para a situao dos trabalhadores do Servio


Pblico exercendo atividades em locais com presena de fontes de radiao ionizante,
citada no pargrafo 1, artigo 12 da lei 8.270, baseando-se em percentuais de cinco (grau
mnimo), dez (grau mdio) e vinte (grau mximo), conforme disposto em regulamento
atravs do decreto 877/93.
Embora no se encontre especificado como tal, o artigo 12 mantm o conceito
implcito de insalubridade, identificada pela concesso dos percentuais em trs diferentes
graus e, em seguida, a associa ao risco potencial, em sua regulamentao. Assim, ao ser
tratado como adicional de insalubridade, tornou-se inconsistente com o conceito de
risco potencial, visto que este, por ser essencialmente de natureza perigosa, no admite
gradaes. Configura-se numa condio dual de existncia ou no de risco. Isto
inviabilizou a definio de percentuais diferenciados aplicveis aos servidores que
estejam desempenhando suas atividades em reas que possam resultar na exposio s
radiaes ionizantes, conforme estabelecido no artigo 1 do decreto 877.
J o artigo 2 do mesmo decreto adianta que a concesso do adicional ser feita
de acordo com laudo tcnico emitido por comisso interna especfica em cada unidade,
considerando-se normas do rgo tcnico competente [25].
frente, o artigo 5 institui que o adicional de irradiao ionizante seja concedido
de acordo com parmetros fixados em Anexo nico, observado o constante do laudo
tcnico de que trata o artigo 2. Em propores reduzidas, poder-se-ia assegurar como
condio necessria sua aplicao que:

a. O adicional de irradiao alcance todos os trabalhadores no exerccio de


atividades profissionais dentro do hipottico raio de risco potencial, cuja rea deve

299
ser considerada como instalao radiativa. E, como tal, regulamentada e sujeita a
normas de proteo radiolgica;
b. Seja delimitado um tempo para permanncia na rea em funo da jornada
semanal de trabalho; e
c. Seja estabelecida uma dose potencial por ano de trabalho na rea de risco.

Estas trs condies demandam a operao efetiva de planos de proteo


radiolgica na instalao, compatveis com as exigncias legais para segurana.
certo que, quanto mais eficiente for o plano, menor expresso ter o componente
potencial, diludo no conjunto da exposio ocupacional [24]. Sendo assim, a aplicao
de percentuais diferenciados que justificariam a concesso torna-se impraticvel quando
vinculados ao risco potencial, a despeito de laudos tcnicos inspirados em parmetros
fixados no Anexo nico. Ou seja, a uma natureza bipolar de existncia ou no de riscos,
no se pode inferir facilmente uma relao numrica por faixas que combine a dose
potencial (a ser fixada em funo do limite primrio anual para trabalhadores ou
indivduos do pblico) e o tempo de permanncia na rea de risco potencial (fixado em
funo da jornada de trabalho).
Mesmo que se chegue a delimitar 3 faixas de dose possvel de ser acumulada
dentro da rea associada ao risco indo, por exemplo, de 0,1 a 5,0, de 5,1 a 10,0 e de 10,1
a 20,0%, o enquadramento efetuado em razo do nvel de exposio a que so submetidos
os servidores ao permanecerem nas proximidades de dispositivos geradores de radiao
caracterizaria apenas um dado momentneo, esttico da situao. No estaria, assim,
contemplado o carter dinmico da instalao, representado pela circulao de material
radioativo e de pessoal nos diferentes setores que compem o ambiente, o que implicaria
em alteraes na faixa de enquadramento. Tambm no se atribuiu a uma determinada
comisso o encargo de zelar pela homogeneizao de critrios, tendo-se em perspectiva
o conjunto das unidades. Isto , os mecanismos adotados para uma dada instalao no
se constituem, objetivamente, critrios suficientemente vlidos para todas as
configuraes similares.

B.4.1.1 Complicaes administrativas para enquadramento

Ao se observar o artigo 4o do decreto, onde se trata de alterao nas condies


tcnicas ou de descaracterizaes nas condies de que resultaram na concesso do
adicional, tem-se uma ideia do tamanho das complicaes administrativas relativas sua
aplicao. De outro lado, ao se adotar o sistema de zoneamento ou delimitao de reas,
baseando-se em normas [25], para estabelecer o percentual em cada caso, poderiam ser
utilizadas as qualificaes de reas livre, supervisionada e controlada. Logo, ter-se-ia uma
vinculao direta entre: o adicional de 5% e os servidores que desempenham suas
atividades em reas livres; 10% e os servidores com atividades nas reas supervisionadas;
e 20%, em rea controlada. Tudo, com doses equivalentes efetivas anuais dentro dos
limites estabelecidos para cada classificao, como tambm tempo mnimo de
permanncia na rea de trabalho em funo da jornada semanal, conforme termos
constantes do Anexo nico.
Atentando-se para a definio de rea restrita, entende-se genericamente que todas
as reas de trabalho que possuam fontes de radiao ionizante, no importando sua
magnitude, por exemplo, substncias radioativas ou equipamentos geradores de radiao,
so tidas como tais. No entanto, ainda apoiado na norma que estipula para rea restrita
doses anuais acima de 1/50 do limite de dose para trabalhadores, torna-se muito difcil
demonstrar - para cada trabalhador localizado em um ponto qualquer da instalao

300
radiativa, mesmo que no manipule ou se encontre afastado das fontes - que no existe
uma probabilidade de ser exposto a doses anuais iguais ou abaixo de 1/50 do limite
estipulado. Doses estas consideradas baixas, mas que em rea livre ou restrita qualquer
trabalhador pode estar sujeito. Ademais, as normas utilizam o conceito de doses
equivalentes efetivas, enquanto o Anexo nico faz uso da dose potencial, embutida na
dose anual acumulada que, por sua vez, dever prever tambm possveis incorporaes
de radionucldeos pelo organismo do indivduo.
Consequentemente, a partir da argumentao desenvolvida e tendo em conta os
obstculos de ordem tcnica, legal e administrativa que impedem a aplicao eficaz e
criteriosa do adicional de irradiao ionizante, deve-se optar pela

...adoo de um nico percentual, para o enquadramento daqueles


servidores que exercem suas atividades dentro da rea de risco da
unidade, independentemente do cargo ou funo.

B.4.2. Gratificao por trabalho com raios X ou substncias radioativas

Algumas vezes confundida com o adicional de periculosidade para trabalhadores


do servio pblico em geral, a gratificao por trabalho com raios X ou substncias
radioativas tem sua origem no artigo 12, pargrafo 2o, da lei 8.270. A gratificao ser
calculada com base no percentual de 10%.
Ao contrrio do adicional de irradiao, esta se apresenta com um critrio direto
e autoaplicvel. Sendo assim, distinguida ao trabalhador como uma espcie de
compensao de funo, no levando em conta o clculo de dose potencial ou real.
Entretanto, em parecer emitido [8], a origem e regulamentao desta gratificao
creditada ao decreto 81.384/78, alterado pelo decreto 84.106/79, onde , segundo o
referido parecer, concedida exclusivamente aos servidores pertencentes s categorias
funcionais ali relacionadas e onde tambm introduzida a expresso condicionante de
tempo e espao para operar direta e habitualmente com raios X .... Assim, ao
ressuscitar um decreto anterior a lei 8.112/90, a iniciativa de disciplinamento da matria
pela antiga Secretaria de Administrao Federal tenta retirar do pargrafo 2o, artigo 12 da
8.270 seu carter de auto aplicabilidade, ao mesmo tempo que restringe sua concesso a
algumas categorias funcionais existentes no passado, mas que, com o advento de planos
de carreira setoriais previstos no RJU, extinguiram-se umas; outras ocupaes tendem a
ser substitudas, assumindo novas denominaes.
Quando se procura uma sistemtica que discipline o enquadramento, um estudo
[17] sugere que se faa somente para queles servidores que desempenham atividades de
carter permanente e habitual em reas de risco, uma vez que usam equipamentos de
proteo individual, possuem a necessria habilitao e se submetem a exames mdicos
periodicamente. Outro estudo [18] julga suficiente a designao por portaria do dirigente
da entidade, para operar as fontes de irradiao, acrescentando-lhes a exigncia de
permanecerem por um perodo mnimo de 12 horas semanais junto s mesmas.

B.4.2.1 Gratificao para IOE

Quanto sistematizao proposta no item anterior, algumas ponderaes so


inevitveis. De incio, estes estudos, em diversas ocasies, tratam negligentemente rea
de risco ora como de acesso controlado, ora como de acesso restrito, em uma instalao.
Da permite-se resvalar para simplificaes do tipo: a operao com substncias
radioativas ou raios X dar-se- apenas em reas de acesso controlado, o que

301
tecnicamente o mesmo que rea de risco. Descuidando-se, contudo, ser corriqueira a
manipulao de material radioativo em rea supervisionada, igualmente contida na rea
restrita, segundo normas de proteo radiolgica. Esta prtica comum tem como alvo
reduzir significativamente a dose, pois, evitando-se o acesso desnecessrio de
equipamentos, materiais ou mesmo de indivduos s reas controladas, as substncias
radioativas de interesse podem ser diretamente manipuladas em reas supervisionadas.
Em seguida, quanto ao certificado de habilitao para se desenvolver atividades
com raios X ou manipular substncias radioativas, este indispensvel para a categoria
de Indivduos Ocupacionalmente Expostos s radiaes (IOE), ou queles que vierem a
ter acesso a reas restritas. Relativamente obrigatoriedade de trabalho habitual com raios
X ou substncias radioativas numa jornada mnima de 12 horas semanais, para se fazer
jus gratificao, esta condio temporal ao estimular exposies desnecessrias,
compromete em cheio os servios de higiene e segurana ocupacionais. A obsolescncia
contida na orientao, legada pelos regulamentos prprios lei 1.234/50, colide com os
preceitos universais de proteo radiolgica, tendo como norte a vigncia do princpio
ALARA. Ressalte-se que a lei 1.234/50 previa apenas uma jornada mxima de 24 horas
semanais junto s fontes, e no mnima.
Desse modo, sugerido como critrio geral para fundamentar o enquadramento
de servidores que faro jus gratificao por atividade

seja creditada categoria de indivduos ocupacionalmente expostos s


radiaes (IOE), no desempenho de suas funes em reas restritas
(no livres), evidentemente;

e, no menos significativo,

seja creditada queles que comprovem treinamento e habilitao, por


rgo competente.

B.4.3. Frias especficas

O aumento na frequncia de frias (semestrais, ao invs de anuais) para quem


opera direta e permanentemente com raios X e/ou substncias radioativas em relao aos
demais servidores no deve ser visto como um afastamento automtico de natureza
curativa, propagado pelo senso comum, em decorrncia de distrbios sade do
trabalhador provocados pela exposio contnua s fontes de radiao. Se houver
qualquer manifestao de efeitos biolgicos desta ordem, o caso dever ser entregue para
as equipes especializadas de medicina do trabalho no sentido de adotarem as medidas
convenientes.
Contrariamente, as frias especficas com periodicidade maior, juntamente com o
controle e registro de dose pessoal, exames mdicos peridicos, bem como outras
providncias para otimizao de procedimentos, baseados na medio de radioatividade
e avaliao de riscos, resultam num significativo aumento dos nveis de proteo nos
ambientes de trabalho.
Um elaborado sistema de conceitos, princpios e tcnicas, recomendados em
publicao [20], possui a caracterstica de atuar isoladamente ou em conjunto em favor
do trabalhador, no intuito de evitar exposies contnuas. Porm, mesmo assim subsiste
o denominado estresse ou tenso ocupacional como resduo [26]. Este pode aqui ser
livremente definido como efeito de natureza psicossomtica que, no estando diretamente
associado a exposies reais s radiaes, desenvolve-se: naqueles locais onde os usos e

302
cuidados exigidos pela presena de substncias radioativas ou materiais nucleares
culminam numa srie de esforos extenuantes empreendidos para se reduzir ou impedir a
exposio; e em situaes de acidente ou incidente, atribudo ao temor que a radiao
venha ao longo do tempo causar um dano sade.
Esta situao se manifesta com mais intensidade em populaes atingidas por
acidente radioativo ou em indivduos residentes em regies circunvizinhas s instalaes
radiativas. Neste ltimo caso, recebe a denominao de tenso situacional. Um quadro
completo das causas e sintomas ainda depende da realizao de mais pesquisas, porm
sabe-se que, a depender do nvel acumulado, a tenso ocupacional pode evoluir e provocar
at o aparecimento de enfermidades que atualmente no esto relacionadas aos efeitos
biolgicos radioinduzidos, como doenas do aparelho digestivo, sistema nervoso e
molstias assemelhadas [27].
Assim, a legislao, ao fixar frias inacumulveis de vinte dias por semestre,
pretende recompensar o servidor exposto fsica e mentalmente a uma atividade
extenuante. Em consequncia, a lei 8.112/90, no seu artigo 79, estabelece especificamente
que:

o servidor que opera direta e permanentemente com raios X e/ou


substncias radioativas gozar de vinte dias consecutivos de frias por
semestre de atividade profissional, proibida em qualquer hiptese a
acumulao.

A exemplo da gratificao, este artigo do RJU alcana uma determinada atividade


profissional: quem opera dispositivos geradores de radiao ionizante ou manipula
substncias radioativas. S que, diferentemente da outra, nesta so explicitamente
enfatizadas as condicionantes genricas de espao e tempo (direta e permanentemente).
Contudo, a fundamentao levantada relativamente gratificao aqui persiste,
pois a presena de qualquer substncia radioativa ou de equipamentos geradores de
radiao no ambiente de trabalho caracteriza uma rea restrita, vez que exigir a adoo
de mecanismos especiais de proteo. E, ainda, por fora da norma, queles que vierem
a ter acesso habitual ou operar em reas restritas, s o fazem sendo classificados como
trabalhadores sujeitos s radiaes, em conformidade com o estabelecido pelo rgo
tcnico. Desse modo, sugere-se como critrio geral para nortear a aplicao do artigo 79:
O enquadramento dos servidores comprovadamente considerados
trabalhadores sujeitos s radiaes.

B.4.4. Aposentadoria especial para IOE no servio pblico

O direito aposentadoria assegurado no artigo 40, pargrafo 4, item III da


Constituio, contudo ainda no foi criada Lei especfica no Congresso destinada sua
regulamentao, prejudicando o universo de servidores pblicos que lidam com agentes
nocivos sade ou em situaes de risco potencial. O vcuo normativo s vai ser
preenchido com a aprovao da referida Lei pelo Congresso Nacional.
Enquanto isto no acontecer, o servidor pblico, em qualquer esfera (municipal,
estadual ou federal) da administrao a qual pertena, pode ter o direito contagem de
tempo especial reconhecido, uma vez que em deciso recente, j transitada em julgado, o
Supremo Tribunal Federal determinou que no existindo norma regulamentadora
especfica, deve ser adotado o que dispem a Lei de Benefcios da Previdncia Social e
emenda constitucional n. 20. Esta deciso se justifica, sobretudo porque ao se comparar
os diferentes tipos de aposentadoria para CLT e RJU, pode-se observar que ambas

303
mantm similaridades com respeito, por exemplo, a: aposentadoria por invalidez;
parmetros de tempo de contribuio e idade.

B.4.4.1. Nova contagem

Esta deciso do STF pode beneficiar os servidores que exercem ou j exerceram


suas atividades envolvendo fontes de radiao ionizante. A partir desta deciso, o IOE
poder ter o direito percepo da aposentadoria especial, a contar o momento do
exerccio ininterrupto de 25 anos de servio. Se caso o IOE tiver trabalhado de forma
espordica ou eventual, poder contar os perodos em que se submeteu a estas condies,
levando os acrscimos correspondentes para se somar ao tempo de trabalho comum, e
com isso, seja cumprida a exigncia de tempo de servio mnimo para aposentar. Esta
condio pode tambm gerar o direito percepo do abono permanncia (vulgo p-na-
cova) ou reviso do benefcio de aposentadoria.

B.4.4.2. Requerimento

A fim de que o direito seja reivindicado junto aos rgos da administrao pblica
ou via judicial, torna-se necessrio em primeiro lugar que o IOE entre com Requerimento
Administrativo junto ao setor de Recursos Humanos.
Em caso de indeferimento ou mesmo omisso, deve-se ajuizar a causa de maneira
que a administrao seja obrigada a cumprir a deciso do Supremo. Representaes de
carter coletivo podem ser conduzidas por sindicatos e associaes de classe.
De todo modo, a comprovao da efetiva exposio do servidor em condies
especiais de riscos devidos presena de radiaes ionizantes feita mediante
preenchimento de formulrio prprio do setor de RH, cujas informaes a constantes
subsidiaro o laudo tcnico de condies ambientais do trabalho (LTCAT), o qual deve
ser assinado por mdico ou engenheiro do trabalho e profissional que atua em proteo
radiolgica. Este laudo pea essencial para a concesso da aposentadoria.

B.4.4.3. Acidente de trabalho no RJU

Caracteriza-se como acidente de trabalho o dano fsico ou mental sofrido pelo


servidor, que se relacione, mediata ou imediatamente, com as atribuies do cargo
exercido. Os acidentes de trabalho so previstos na Lei 8.112/90, nos artigos 211 a 214.
O servidor acidentado ter remunerao integral, abrangendo molstia adquirida em
decorrncia da atividade laboral. A prova do acidente dever ser levantada no prazo de
10 dias, prorrogvel quando as circunstncias exigirem.

B.5. CONCLUSES

Como alternativa para superar as dificuldades de ordem administrativa e,


sobretudo as debilidades de carter legal, aqui abordadas, sugere-se:

Aprimorar os pargrafos 1 e 2 do artigo 12 da lei 8.270, de modo que, ao


considerar a natureza de duplo risco ( sade e vida) para as operaes com
radiaes ionizantes, a legislao se aproxime da concepo geral de
insalubridade e periculosidade;

304
Homogeneizar a aplicao do decreto 877/93 em todas as unidades do servio
pblico que lidam com radiaes ionizantes, constituindo-se, para tal, comits de
peritos com atuao autnoma. Estes comits tambm se encarregariam de
acompanhar o sistema de registro de doses e a realizao de exames mdicos
peridicos dentre outros, inibindo-se, assim, possveis transgresses aos critrios
e normas;
Regulamentar a aposentadoria especfica para trabalhador sujeito s radiaes no
universo da previdncia social;
Estabelecer, enfim, vnculos entre o conjunto de leis voltadas para trabalhadores
sob regime da CLT e sob o RJU, no exerccio de atividades equivalentes.

Enquanto essa estrutura sugerida no se materializar, deve-se:

Adotar percentual nico concernente ao adicional de irradiao ionizante, para


quem exerce atividades dentro da rea de risco da instalao;
Enquadrar em gratificao por atividade com raios X ou substncias radioativas e
em frias especficas somente queles que, por fora de norma, sejam
considerados trabalhadores sujeitos s radiaes, desde que habilitados e no
desempenho de funes em reas restritas.

Tabela B1 - Definio de adicional de irradiao ionizante constante do


Decreto 877/93.
RISCO POTENCIAL*
UNIDADES
ENVOLVIDAS TEMPO DE LIMITE DE DOSE ADICIONAL
COM PERMANNCIA NA REA ANUAL** PARA O
DE TRABALHO SERVIDOR

Mnimo de 1/16 da carga


Mnimo de 1/10 20%
IRRADIAO

horria semanal de trabalho


IONIZANTE

Menor que 1/16 da carga Entre o valor para o grupo


10%
horria e maior de que 1/50* crtico do pblico e 1/10

EXERCCIO DE ATIVIDADES NO RAIO DE RISCO DE


5%
EXPOSIO
Todos os clculos devem estar baseados em 2.000 horas de trabalho/ano civil.
*1/50 esteve relacionado poca em que o valor do limite mximo permissvel pela
CNEN era de 50 mSv por ano.

O valor limite para o grupo crtico do pblico aquele especificado para


indivduos do pblico, obedecidas as Normas da CNEN:

* Risco Potencial: leva em conta a probabilidade de ocorrncia de uma


situao anormal, bem como as doses possveis de serem recebidas como
consequncia da situao.

** Dose Anual: dose de radiao recebida pelo indivduo e acumulada durante 1


ano, cujo valor deve levar em conta a dose potencial.

305
B.6. GLOSSRIO DE TERMOS BSICOS UTILIZADOS EM PROTEO
RADIOLGICA [25,27]

Adicional de Irradiao Ionizante


Vantagem pecuniria que a administrao concede ao servidor em face da natureza
peculiar da funo ou em razo do tempo de exerccio dentro da rea de risco de uma
instalao nuclear ou radiativa. Pode exigir conhecimento especializado ou um
regime prprio de trabalho. distinto de Gratificao por Atividade.
rea Livre
rea isenta de regras especiais de segurana, aonde as doses equivalentes efetivas
anuais de radiao ionizante no ultrapassam o limite primrio para indivduos do
pblico.
rea Restrita
rea sujeita a regras especiais de segurana, na qual as condies de exposio
podem ocasionar doses equivalentes efetivas anuais de radiao ionizante superiores
a 1/50 do limite primrio para trabalhadores. dividida em rea Supervisionada e
rea Controlada, as quais as doses equivalentes so mantidas, respectivamente,
inferiores a 3/10 e iguais ou superiores a 3/10 do limite primrio para trabalhadores.
Atividade
Em uma amostra radioativa a relao entre o nmero de desintegraes nucleares e
o intervalo de tempo.
Blindagem
Material, geralmente composto de um elemento absorvedor de elevado nmero
atmico, empregado para reduzir a intensidade da radiao.
Delimitao de rea
Controle das reas de acordo com a sua classificao dentro do Plano de Proteo
Radiolgica. Para o caso de rea Restrita, esta deve estar claramente identificada,
monitorada regularmente, sinalizada e acompanhada de instrues e procedimentos
de emergncia, as quais devem ser afixadas em locais visveis.
Dose Absorvida
Razo entre a energia mdia depositada pela radiao ionizante na matria e a massa
do volume atingido.
Dose Efetiva
a soma ponderada das doses equivalentes em todos os tecidos ou rgos do corpo,
igual dose equivalente de corpo inteiro.
Dose Equivalente
o produto da dose absorvida pelo fator de peso da radiao e serve para avaliar o
possvel efeito biolgico induzido pela radiao.
Dosimetria das radiaes Ionizantes
Sistemtica de medio criteriosa relacionada s grandezas radiolgicas para fins de
controle, registro e proteo de IOE e pacientes submetidos s prticas que envolvam
o uso de radiaes ionizantes.
Dosmetro
Instrumento de medio que indica a taxa de exposio ou a dose de radiao
absorvida que um IOE ou paciente foi submetido.
Efeitos Biolgicos
Conjunto de danos nos tecidos ou rgos provocados pela penetrao e consequente
absoro da radiao ionizante. Os efeitos radioinduzidos podem ser determinsticos,
para os quais a probabilidade de ocorrncia ou risco, e no sua severidade depende
da dose recebida, sem limiar (cnceres e efeitos genticos); e no-estocsticos, em

306
que a severidade do dano aumenta com a dose, e para os quais possvel estimar uma
dose limiar(deficincias hematolgicas, cataratas, infertilidades).
Emergncia
Ocorrncia de situaes identificadas como anormais devido perda de controle de
fonte radioativa, as quais podem ocasionar danos ou exposies desnecessrias ao
trabalhador, membro do pblico ou meio ambiente.
Equipamentos de Proteo Individual
Dispositivos ou meios utilizados nos locais de trabalho por uma pessoa para prevenir
ou evitar possveis riscos que possam afetar a sua sade ou integridade fsica, durante
o desenvolvimento de uma determinada atividade.
Equipamentos de Raios X
Dispositivos que empregam a radiao do tipo X para produzir imagem em emulses
fotogrficas. Uma parte dos raios X atravessa o objeto, enquanto outros raios so
parcialmente ou completamente absorvidos pelas partes mais opacas do alvo, de
forma a se moldar uma sombra no filme.
Exposies Externas
So oriundas de fontes radioativas dispersas no ambiente. As radiaes X, e
nutrons, por penetrarem com facilidade no tecido humano, constituem o maior
perigo nesta exposio.
Exposies Potenciais
Exposies susceptveis de se realizarem em presena das radiaes ionizantes.
Fonte Radioativa
Aparelho ou material que emite ou capaz de emitir radiao ionizante.
Gratificao por Atividade com Raios x ou Substncias Radioativas
Vantagem pecuniria atribuda transitoriamente ao trabalhador que est prestando
servios comuns da funo em condies anormais de salubridade ou de segurana,
pondo em risco a prpria vida ou a sade. Exige habilitao e desempenho das
atividades em rea Restrita.
Indivduo do Pblico
Qualquer membro da populao no exposto ocupacionalmente s radiaes,
inclusive queles ausentes das reas restritas da instalao.
Indivduo Ocupacionalmente Exposto
O mesmo que Trabalhador Sujeito s Radiaes, segundo a definio adotada na
Norma da CNEN: Diretrizes Bsicas de Proteo Radiolgica - CNEN-NN-3.01
de 2011. Indivduo que, em consequncia do seu trabalho a servio da instalao,
possa vir a receber anualmente doses superiores aos limites primrios para indivduos
do pblico.
Insalubridade
Qualidade inerente ao agente qumico, fsico ou biolgico que pode causar danos
sade. Relativamente s radiaes ionizantes, est vinculada s manifestaes
nocivas tardias.
Instalao Radiativa
Instalao aonde o material radioativo ou nuclear produzido, utilizado, manuseado,
pesquisado, reprocessado, ou estocado em quantidades relevantes.
Irradiadores
Equipamentos que submetem uma determinada substncia ou material ao de um
feixe de partculas ou radiaes.
Istopos
So nucldeos com mesmo nmero de massa, mas com diferentes nmeros de
nutrons.

307
Limite Mximo Permissvel
Em se tratando de dose, o valor acima do qual o efeito da radiao pode se tornar
observvel ou nocivo. Ao longo do tempo est havendo uma diminuio progressiva
desses limites.
Limite Primrio Anual
Limites bsicos estabelecidos, em normas, para a dose equivalente anual em tecidos
e rgos, e para a dose equivalente efetiva anual.
Material Radioativo
Material que contm substncias emissoras de radiao ionizante.
Modelo Matemtico
Analogia descritiva usada para auxiliar a visualizao de cenrios, ou realizao de
estimativas, baseada em relaes funcionais simples, dos fenmenos fsicos que no
podem ser direta ou facilmente observados.
Parmetro
Medida de grandeza calculada a partir de todas as observaes de uma populao.
Periculosidade
Complexo de circunstncias que indicam a possibilidade de um agente qumico,
fsico ou biolgico pr em perigo vida; qualidade ou estado do agente cuja atividade
em uma instalao oferece risco potencial vida. Est associada aos efeitos imediatos
provocados por contaminaes com, e/ou exposies s radiaes ionizantes em
condies no-usuais.
Plano de Proteo Radiolgica
Documentos exigidos para fins de licenciamento de instalao, que estabelecem o
sistema de proteo radiolgica a ser implementado por servios especficos e
independentes em cada unidade, de acordo com a Norma CNEN-NN-3.01 Diretrizes
Bsicas de Proteo Radiolgica publicada no D.O.U em 01/09/2011.
Postulado
Proposio no "provada" no sistema de uma teoria e da qual se deduzem, por regras
de inferncia, outras proposies.
Princpio ALARA
Preceitos para proteo radiolgica, adotados internacionalmente, os quais
recomendam serem mantidas as exposies em nveis to baixos quanto exequveis,
respeitando-se as condies scio-econmicas.
Proteo Radiolgica
Legislao, regulamentao e procedimentos tcnicos para proteger o meio
ambiente, o pblico em geral, os pacientes e queles que trabalham em indstrias,
usinas, mineradoras, clnicas, hospitais e laboratrios dos efeitos das radiaes.
Tambm se relaciona com as medidas tomadas para reduo da exposio radiao.
Radiao Ionizante
Qualquer partcula ou radiao eletromagntica que, ao interagir com a matria,
ioniza direta ou indiretamente seus tomos ou molculas.
Radionucldeo
Istopo radioativo, ou radioistopo.
Reatores Nucleares
Dispositivos nos quais uma reao de fisso nuclear em cadeia ocorre. Ou seja, neste
processo um ncleo de combustvel fssil absorve um nutron e se fissiona,
produzindo mais nutrons que, de sua parte, ao serem absorvidos, provocam outras
fisses, liberam mais nutrons, produzindo energia. Os radionucldeos 233U, 235U e
239
Pu so os mais empregados como combustveis. No reator uma reao em cadeia
iniciada, mantida e controlada.

308
Risco Potencial
Condio de perigo virtual inerente s atividades com radiaes ionizantes, existente
como faculdade ou possibilidade mediante a sua prvia avaliao.
Substncia Radioativa
Componente da matria que emite radiao ionizante, podendo ser natural ou
artificial.
Trabalhador Sujeito s Radiaes
Antiga denominao para IOE. Indivduo que, em consequncia do seu trabalho a
servio da instalao, possa vir a receber anualmente doses superiores aos limites
primrios para indivduos do pblico.
Vantagem Pessoal
Qualquer vantagem, na forma de adicional ou de gratificao que, uma vez
consideradas extintas pela administrao, foram substitudas por uma nova
modalidade de compensao.

309
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

[1] X-ray and Radium Protection, Recommendations of the 2nd International


Congress of Radiology, 1928, Br. J. Radiol. 1, 359-363, 1928.

[2] Conveno N 115, Organizao Internacional do Trabalho, Proteo dos


Trabalhadores Contra as Radiaes Ionizantes, Genebra, Junho de 1960.

[3] Lei N 1.234, de Novembro de 1950, Confere Direitos e Vantagens a Servidores


que Operam com Raios-X e Substncias Radioativas.

[4] Consolidao das Leis do TrabalhoCLT, Captulo V, Seo XIII.

[5] Decreto N 62.151, de Janeiro de 1968, Promulga Conveno N 115, da OIT.

[6] Lei N 6.514, de Setembro de 1977, Insalubridade e Periculosidade para os


Trabalhadores Celetistas.

[7] Portaria Ministrio do Trabalho N 3.214, de Junho de 1978, Insalubridade e


Periculosidade na CLT.

[8] Normas Regulamentadoras de N 15 e N 16, Secretaria de Segurana e Medicina


do Trabalho - SSMT/MTb.

[9] Resoluo CNEN-114/2011 Diretrizes Bsicas de Proteo Radiolgica, de 01


de setembro de 2011. Norma CNEN-NN-3.01.

[10] Portaria N 3.393, de Dezembro de 1987, Adicional de Periculosidade para


Radiaes Ionizantes.

[11] Lei 8.112, de Dezembro de 1990, Regime Jurdico nico.

[12] Artigo 12, Lei 8.270, de Dezembro de 1991, Adicional de Irradiao Ionizante,
Gratificao por Trabalhos com Raios-X ou Substncias Radioativas, Vantagem
Pessoal.

[13] Decreto 877, de Julho de 1993, Regulamenta Adicional de Irradiao Ionizante.

[14] ASSEC/01 e 02/, Avaliao das Associaes de Servidores da CNEN sobre


Aplicao de Adicional de Irradiao Ionizante, Julho de 1993.

[15] Parecer Comisso Interna CNEN, de Novembro de 1993, Constituda Portaria N


212, de Maro de 1993".

[16] Parecer CNEN - PJU - 021/93, de Outubro de 1993.

[17] Gonalez, O.L. e Rigolon, L.S., O Trabalho com Radiao Ionizante no RJU,
Segundo a Lei 8.270 e Respectiva Regulamentao, III Congresso Geral de
Energia Nuclear, Junho de 1994".

310
[18] Parecer CONJUR/SAF N 404, de Julho de 1994, Sec. de Adm. Federal.

[19] Parecer SINTRASEF - RJ, de Outubro de 1995, Adicional de Periculosidade


Transformado em Vantagem Pessoal: Reduo Salarial.

[20] ICRP Publication 60, de 1990.,"Recommendations of the International Commission


on Radiological Protection, Julho de 1993, Pergamon, Oxford.

[21] Beninson, D.,"Potential Exposures, National Board for Nuclear Regulation.


Argentina.

[22] ICRP Publication 64, de 1994, Protection from Potential Exposures: A Conceptual
Framework, Pergamon, Oxford.

[23] ICRP Publication 26, de 1977, Recommendations of ICRP Pergamon, Oxford.

[24] Assec/ 03, de Dezembro de 1993, Adicional de Irradiao Ionizante: Texto


Complementar das Associaes dos Servidores da CNEN, Rio de Janeiro.

[25] Norma da CNEN: Diretrizes Bsicas de Proteo Radiolgica - CNEN-NN-3.01


de 2011.

[26] Radioprotection - AujourdHui et Demain - lOCDE 1994.

[27] Tauhata L. et al. - Radioproteo e Dosimetria: fundamentos - Apostila do


IRD/CNEN - Reviso de 2013, www.ird.gov.br - (Documentos, Material didtico,
Apostilas).

311
ANEXO C

DETERMINAO DE BLINDAGENS EM RADIOTERAPIA


Renato Di Prinzio e Alessandro Facure - CGMI/DRS/CNEN

C.1. CLASSIFICAO DE REAS

Para fins de gerenciamento da proteo radiolgica, os titulares devem classificar


as reas de trabalho com radiao ou material radioativo em reas controladas, reas
supervisionadas ou reas livres, conforme apropriado.
Uma rea ser classificada como rea controlada quando medidas especficas de
proteo e segurana forem necessrias para garantir que as exposies ocupacionais
normais estejam em conformidade com os requisitos de otimizao e limitao de dose,
bem como prevenir ou reduzir a magnitude das exposies potenciais.
As reas controladas devem ser limitadas fisicamente por paredes ou barreiras
fsicas e devem ser sinalizadas com o smbolo internacional de radiao ionizante,
acompanhado de um texto que descreva o tipo de material, equipamento ou uso
relacionado radiao ionizante. O acesso s salas deve ser provido de intertravamento
quando apropriado. No acesso sala deve estar disponibilizado, procedimento de
emergncia escrito e visvel, bem como telefone de emergncia. Os indivduos que
utilizam essas reas devem possuir monitorao individual.
Na prtica da radioterapia as reas controladas incluem:

Salas de tratamento com feixes externos de radiao;


Salas de tratamento com equipamentos de braquiterapia remota de alta taxa de
dose;
Salas de tratamento com fontes de braquiterapia de baixa taxa de dose;
Todas as salas onde so armazenadas e manipuladas fontes radioativas.

Uma rea ser classificada como rea supervisionada quando, embora no


requeira a adoo de medidas especficas de segurana e proteo radiolgica, devem ser
feitas avaliaes regulares das condies de exposies ocupacionais, com o objetivo de
determinar se a classificao continua adequada. Essas reas devem ser indicadas como
tal, em seus acessos.
Na prtica de radioterapia, uma rea supervisionada pode incluir a regio do
comando dos equipamentos de radioterapia e as reas ao redor de salas de tratamento ou
ao redor de salas onde so armazenadas e manipuladas fontes radioativas.
Toda rea que no seja controlada ou supervisionada considerada como rea
livre, e deve ser mantida de maneira que as pessoas nela presentes recebam doses de
radiao no mesmo nvel de proteo de indivduos do pblico.

C.2. MONITORAO DE REAS

Devem ser elaborados programas de monitorao de rea de forma que uma


monitorao inicial seja conduzida imediatamente aps a instalao de um equipamento
312
ou fonte de radiao e imediatamente aps a substituio de um equipamento ou fonte de
radiao. A monitorao inicial deve incluir a medio da radiao de fuga de
equipamentos, quando pertinente, e a medio das reas ocupadas ao redor de salas de
irradiao.
Todos os instrumentos utilizados para monitorao de rea devem ser calibrados,
sendo a calibrao rastreada rede de metrologia das radiaes ionizantes.

C.3. CLCULO DE BLINDAGEM EM INSTALAES DE RADIOTERAPIA

Os parmetros tempo, distncia e blindagem esto envolvidos no


desenvolvimento de um projeto de blindagem que consiste, basicamente, de trs passos:

1) Estabelecer um valor da dose de radiao (ver Cap. 5, 5.3.7) a ser obtido para a
rea ocupada.
2) Estimar o valor da dose de radiao na rea ocupada, caso no houvesse
blindagem.
3) Obter o fator de atenuao necessrio para reduzir o valor da dose em (2) para o
valor da dose de radiao em (1).

Ao se elaborar um projeto de blindagem em radioterapia deve-se buscar manter


as reas com maior ocupao de pessoas o mais longe possvel de salas onde a prtica
conduzida, e colocar ao redor dessas salas reas com pouca ou nenhuma ocupao (e.g.
teto com controle de acesso e corredores ao redor de salas de tratamento).
Na prtica de radioterapia, as salas de tratamento devem ser dimensionadas de
forma a facilitar o transporte de pacientes em macas, alm de equipamentos (partes do
irradiador), instrumentao de dosimetria e de servios de limpeza. A construo da sala
com um labirinto permitir a reduo de espessura de blindagem de portas, tanto para
feixes de ftons como para nutrons, evitando-se assim a necessidade de mecanismos
eltricos ou hidrulicos para abertura e fechamento.
A construo de salas de tratamento pode ser de seis categorias: aceleradores
lineares de partculas, irradiadores de 60Co, aparelhos de raios X de ortovoltagem,
aparelhos de raios X de diagnstico, braquiterapia remota de alta taxa de dose e
braquiterapia de baixa taxa de dose. O detalhamento de clculo de blindagem para cada
tipo de sala segue regras e convenes similares, embora cada tipo de sala necessite de
requerimentos e restries especficos. Se uma sala contm somente fontes de
braquiterapia de baixa taxa de dose, que so, na maior parte do tempo, armazenadas em
cofre blindado no interior da sala, provvel que no sejam necessrios requisitos de
blindagens, principalmente se forem previstos biombos mveis de chumbo a serem
colocados ao redor da cama do paciente. As salas para equipamentos de teleterapia, raios
X e braquiterapia de alta taxa de dose requerem blindagem especial para proteger os
operadores, corpo clnico, pacientes e o pblico.

Exemplo
Como exemplo da metodologia do clculo de barreiras, ser apresentado
juntamente com o texto deste anexo o clculo das barreiras de uma sala de radioterapia
onde funcionar um acelerador linear de eltrons produzindo dois feixes de ftons (raios
X), com energias de 6 MeV de 15 MeV, e feixes de eltrons, com energias de 4, 6, 9, 12,
16 MeV. Os clculos apresentados servem apenas como ilustrao, para o clculo de uma
sala real deve ser consultada a bibliografia recomendada no final deste anexo. As figuras

313
esquemticas da sala do irradiador utilizadas no exemplo foram gentilmente cedidas pela
fsica Dbora Maria Brando Russo.
Esse acelerador ser utilizado para tratamento de radioterapia em 3 dimenses
(3D) e de intensidade modulada (IMRT). O acelerador possui um cabeote com rotao
de 360o em torno de um ponto (isocentro) que fica, em geral a 100 cm do alvo,
colimadores independentes e colimadores secundrios do tipo multilminas, fornecendo
o campo mximo de radiao primria de (40 x 40) cm no isocentro. O rendimento (taxa
de dose absorvida) no isocentro, no centro do campo, de 800 cGy.min-1. A radiao de
fuga do cabeote, atestada pelo fabricante, de 0,1% do rendimento mximo no isocentro.
A sala de tratamento fica no andar trreo de uma instalao de radioterapia,
sendo um lado vizinho a um estacionamento (barreira A), um lado ocupado por uma sala
de espera (barreira B), um lado ocupado pelo comando do equipamento (barreira C) e um
lado vizinho outra sala de tratamento, onde estar operando outro acelerador (barreira
D). Sobre o teto ser projetado o sistema de refrigerao da instalao de radioterapia.
A localizao da sala do acelerador e sua circunvizinhana so mostradas na
figura 1. Nessa figura est apresentada a classificao das reas da instalao.

Figura C.1 - Esquema simplificado de uma sala de tratamento de radioterapia


com um acelerador linear de eltrons. O equipamento pode girar em torno do
isocentro, a 1 m do alvo (linha pontilhada). A figura superior mostra o corte
da sala passando pelo cinturo primrio (paredes A, C e teto). Na figura
inferior possvel visualizar as barreiras secundrias A, B, C, D e D.

C.3.1. Estabelecendo a dose de radiao semanal para a rea ocupada

O estabelecimento da dose semanal H (Sv.semana-1) numa rea ocupada feito a


partir dos requisitos de otimizao, com a condio de que as doses devidas a todas as
fontes relevantes permanecero abaixo dos limites de doses efetivas para as pessoas que
ocuparo a rea blindada. Para se estabelecer o limite de dose, deve-se, ainda:

no considerar a atenuao do feixe pelo paciente;


assumir a mxima radiao de fuga possvel;

314
superestimar a carga de trabalho e os fatores de uso e ocupao para a rea;
considerar que as necessidades de blindagens para os feixes de ftons suplantam
as necessidades para feixes de eltrons; e
considerar que as necessidades de blindagens para os feixes de ftons de maior
energia suplantam as necessidades para os de menor energia (aceleradores duais).

Uma reviso crtica dos itens supramencionados deve ser realizada na elaborao
de cada projeto, para se tomar uma deciso balanceada e evitar o acmulo de medidas
conservativas que podero resultar em blindagens superdimensionadas.

O uso de um limite derivado de H = 0,02 mSv.semana-1 faria com que a rea a ser
blindada pudesse vir a ser considerada como livre, com ocupao permanente por
membros do pblico. Em comparao com reas controladas, as espessuras dessas
barreiras seriam bem mais elevadas. Para reas controladas, o limite derivado para
restrio de dose de H = 0,4 mSv.semana-1. As reas projetadas para atender a esse
limite so reas ocupadas exclusivamente por trabalhadores como, por exemplo, a regio
do comando dos equipamentos.
Nos clculos de blindagens em radioterapia, geralmente se considera que a dose
de radiao calculada ou medida uma aproximao conservativa da dose efetiva para
um indivduo naquele mesmo ponto.

C.3.2. Clculo das doses de radiao na rea ocupada, sem a blindagem

Em clculos de blindagens, a seguinte terminologia , em geral, empregada:

Radiao primria: a radiao emitida diretamente do equipamento usado nos


tratamentos atravs da abertura do colimador, no caso de teleterapia, e da fonte de
radiao, no caso de braquiterapia.
Radiao espalhada: a radiao produzida pelo espalhamento da radiao
primria por diferentes materiais atingidos pelo feixe primrio, como paciente,
colimadores, acessrios diversos e o prprio ar.
Radiao de fuga do cabeote: a radiao que escapa atravs do cabeote de
blindagem do equipamento (para aceleradores a radiao de fuga somente existe
enquanto o feixe estiver ligado; para equipamentos com fontes incorporadas a
radiao de fuga estar sempre presente).
Carga de trabalho (W): definida como o rendimento do acelerador, determinado no
ponto de mxima dose, a 1 m da fonte (usualmente o isocentro do equipamento),
em Gy.m2.semana-1. A carga de trabalho pode ser determinada pela multiplicao
do nmero de pacientes tratados por semana e a dose absorvida mdia administrada
em cada tratamento, acrescida da dose absorvida total semanal, no isocentro,
utilizada em outras irradiaes (controle da qualidade, manuteno do
equipamento e pesquisa).

Exemplo
A carga de trabalho total do acelerador ser determinada a partir das cargas de
trabalho de cada tipo de tratamento e dos testes de controle da qualidade e manuteno
do acelerador. Para um clculo conservativo pode-se assumir que o feixe utilizado o de
mais alta energia de ftons como, por exemplo, um feixe de 15 MeV. Nesse acelerador,
sero tratados 40 pacientes por dia, durante 5 dias por semana com a tcnica de
radioterapia formatada tridimensional (3D), com uma mdia de 1,5 isocentros por

315
paciente. Cada paciente receber a dose mdia de 2 Gy por isocentro. Nesse caso, a carga
de trabalho clnica ser dada por:

W3D 40 5 1,5 2 600 Gy.semana 1

Tambm sero tratados 6 pacientes por dia, durante 5 dias por semana com a
tcnica de radioterapia com intensidade modulada (IMRT). Nesse tratamento, cada
paciente receber a dose mdia de 2 Gy por dia de tratamento. Assim, no exemplo tem-
se que:

WIMRT 6 5 2 60 Gy.semana 1

Devido acentuada colimao dos feixes e ao grande nmero de campos


utilizados no tratamento em IMRT, a quantidade de unidades monitoras (UM) -
semelhante ao tempo de irradiao de uma bomba de cobalto - necessria para fornecer
uma dose absorvida na regio tratada muito maior do que seria necessria em um
tratamento convencional para a mesma dose no paciente, o que aumenta
consideravelmente o tempo de utilizao do acelerador para esses procedimentos (beam
on). Devido ao maior nmero de UM, a carga de trabalho devida fuga de radiao do
cabeote, que proporcional ao tempo de beam on, tambm aumentada nesse tipo de
tratamento. A razo entre o valor mdio de UM por unidade de dose necessria em IMRT
e em um tratamento convencional, conhecida como fator de IMRT (CI).
Para se obter o valor de CI pode-se tomar uma amostra de casos de tratamentos
utilizando a tcnica de IMRT (NCRP, 2005) e determinar a quantidade mdia de unidades
monitoras necessria para administrar a dose prescrita por frao, para cada caso i.
Calcula-se ento a quantidade de unidades monitoras necessria para entregar a mesma
dose a 10 cm de profundidade de um fantoma posicionado com sua superfcie (campo de
radiao convencional de 10 cm X 10 cm) no isocentro do acelerador. O valor de C I
igual a razo entre a quantidade de unidades monitoras em IMRT e no campo de 10 cm
X 10 cm. Os valores tpicos de CI variam entre 2 e 10 e, em geral, adotado o valor de CI
= 5.
Para a realizao de medies de controle da qualidade do feixe de radiao, ser
utilizado o valor recomendado de 100 Gy.semana-1 para o feixe de ftons com energia de
15 MeV.

WCQ 100 Gy.semana 1

Ento, a carga de trabalho total do acelerador dada por:

W W3D WIMRT C1 WCQ 1.000 Gy.semana1 (1)

C.3.3. Atenuao do feixe de radiao pela blindagem

A barreira primria, ou cinturo primrio, a parte das paredes, do piso e do teto


da sala de tratamento que pode ser irradiada diretamente pelo feixe primrio (Figura C.1)
As barreiras secundrias so todas as partes das paredes da sala de tratamento, teto
e piso que no so atingidas diretamente pelo feixe primrio. Essas barreiras fornecem
blindagem contra as radiaes espalhada e de fuga produzidas na sala de tratamento.
Como, em geral, os equipamentos de tratamento so instalados no nvel do solo, a
316
blindagem do piso nesses casos no leva em considerao, em seu clculo, a contribuio
para as radiaes primria, espalhada e de fuga.
O fator de uso (U) para uma barreira em particular a frao do tempo em que o
feixe primrio est direcionado para a barreira durante o funcionamento do equipamento.
Para a barreira primria, a soma dos fatores de uso deve ser igual unidade.
Na prtica clnica os valores de U podem ser determinados a partir das direes
preferenciais do feixe de tratamento, aumentando-se o valor de U para uma ou outra
direo, como por exemplo, direcionado para o piso, ou para uma das paredes laterais.
comum a utilizao do fator de uso com peso igual para as quatro direes, ou seja, 25%
para cada uma das paredes laterais, teto e piso (NCRP, 2005). Outros valores podem ser
adotados, a partir da prtica clnica, onde se utiliza o percentual de tratamentos utilizados.
Para todas as barreiras secundrias U sempre igual unidade, pois a radiao
secundria est presente sempre que houver feixe de radiao. Valores tpicos de U so
mostrados na Tabela C.1.

Tabela C.1 - Valores tpicos para o fator de uso.


Barreira U
Primria * NCRP 151
Horizontal Esquerda ( 45) 1/7 1/4
Horizontal Direita ( 45) 1/7 1/4
Vertical para cima ( 45) 2/7 1/4
Vertical para baixo ( 45) 3/7 1/4
Secundria 1
*Adotado em muitos servios de radioterapia no Brasil

O fator de ocupao (T) o parmetro que leva em considerao a frao de


tempo em que o individuo mais exposto est presente naquela regio. Na prtica,
considera-se que a distncia mnima de uma barreira onde estar presente um indivduo
de 0,3 m. A Tabela C.2 mostra alguns fatores de ocupao sugeridos (NCRP, 2005)
para o clculo de blindagens.

Tabela C.2 - Valores sugeridos para o fator de ocupao (NCRP, 2005).


Local T
reas integralmente ocupadas (sempre ocupadas por uma pessoa) 1
e.g. escritrios, consultrios, salas de planejamento, enfermaria, recepo.
Sala de tratamento adjacente, sala de exame adjacente sala de tratamento. 1/2
Corredores, sala de repouso ou banheiro de funcionrios. 1/5
Portas de salas de tratamento. 1/8
Banheiros pblicos, depsitos, sala de espera. 1/20
reas externas com passagem de pedestres ou veculos, estacionamento, escadas, 1/40
elevadores (sem ascensorista).

Ao se usar um fator de ocupao baixo para uma regio adjacente a uma sala de
tratamento, deve-se ter o cuidado de considerar o uso futuro do local, pois poder vir a
ter um fator de ocupao maior, passando a ter maior importncia na determinao da
blindagem.
Os feixes de raios X e gama so atenuados de forma exponencial atravs dos
materiais. A intensidade do feixe diminui a cada espessura de blindagem adicionada e,
teoricamente, nunca se torna zero. Portanto, necessrio determinar o fator de
transmisso (B) da barreira pelo qual se obtm o nvel de dose desejado. Sem a blindagem,
a taxa de dose a uma distancia d da fonte, no eixo central do feixe, dada por:

317

WUT
Da (2)
d2

onde W a carga de trabalho (Gy.sem-1); U o fator de uso; T o fator de ocupao e d


a distncia (m). Aps certa espessura de blindagem, a taxa de dose reduzida pelo fator
de transmisso (B) da barreira para:


BWUT
D (3)
d2

onde B sempre um valor menor que 1. B = 1 significa uma transmisso de 100%, ou


seja, inexistncia de blindagem. Esse valor de taxa de dose deve ser comparado com o
limite de dose para a regio em questo, e a barreira deve ento ser aumentada ou
diminuda de acordo com o resultado desejado.

C.3.4. Transmisso da radiao primria

C.3.4.1 Fator de transmisso da barreira primria

Pode-se estimar o valor de transmisso requerida para blindar um determinado


ponto a ser protegido, dividindo-se o limite de dose permitido para aquele ponto pela dose
estimada para aquela regio, na ausncia de blindagens. Assim, o fator de transmisso da
barreira para a radiao primria dado por:

P P(d pri ) 2
B pri
(4)
D WUT
onde

B o fator de transmisso da barreira primria;


P o limite semanal de dose permitido (Sv.semana-1);
dpri a distncia (m) entre a fonte de radiao e o ponto protegido (geralmente a 0,30 m
da barreira);
W a carga de trabalho (Gy.semana-1) da fonte de radiao;
U o fator de uso; e
T o fator de ocupao.

Por exemplo, se o limite de dose para uma regio adjacente sala de tratamento
de 1 mSv.ano-1 e a dose estimada para aquele mesmo ponto de 10 mSv.ano-1, ento
necessria uma blindagem que proporcione uma atenuao por um fator 10, ou seja, B =
0,1. A espessura da blindagem correspondente ao valor de Bpri determinado acima pode
ser obtida utilizando-se curvas de atenuao.
A camada semi-redutora (HVL) e a camada deci-redutora (TVL) so as espessuras
de material atenuador que reduzem a intensidade do feixe para 50% e 10% do valor
original, respectivamente. Pode-se calcular o nmero de camadas deci-redutoras (NTVL)
do material de blindagem necessrias para atingir o nvel de proteo desejado atravs da
relao:

NTVL log10 ( B) log(1 / B) (5)

318
A Tabela C.3 apresenta propriedades de alguns dos materiais mais utilizados para
construo de blindagens primria e secundria. A Tabela C.4 apresenta os valores da
primeira camada deci-redutora (TVL1) e das subsequentes (TVL2) ou de equilbrio
(NCRP, 1977) para concreto, ao e chumbo para algumas energias de feixes de radiao.
Alguns dados para valores de camadas deci-redutoras para concretos de alta densidade
tambm esto disponveis na literatura (Facure e Silva, 2007). A espessura da barreira
pode ser dada por:

S TVL1 ( NTVL 1) TVL2 (6)

Tabela C.3 - Propriedades de materiais usados em blindagem (Profio, 1979).

Concreto Concreto
Propriedades Chumbo Ao Polietileno
Comum Pesado
-3
Densidade (g.cm ) 2,2 2,4 3,7 4,8 11,35 7,87 0,95
Nmero atmico efetivo 11 ~ 26 82 26 5,5
Concentrao de hidrognio* 1022
0,8 2,4 0,8 2,4 0 0 0
tomos cm-3
Ativao por nutrons Pequena Grande (*) Moderado Nulo
Custo relativo (concreto comum =
1 6 20 2 20
1)
(*) O grau de ativao depender primariamente das impurezas no chumbo.

Tabela C.4 - Camadas deci-redutoras para concreto, ao e chumbo com as


densidades mdias dadas na Tabela C.3 (NCRP, 2005).

Energia do feixe Material da TVL1 TVL2


(MeV) blindagem (m) (m)
Concreto 0,37 0,33
6 Ao 0,10 0,10
Chumbo 0,057 0,057
Concreto 0,41 0,37
10 Ao 0,11 0,10
Chumbo 0,057 0,057
Concreto 0,44 0,41
15 Ao 0,11 0,11
Chumbo 0,057 0,057
Concreto 0,45 0,43
18 Ao 0,11 0,11
Chumbo 0,057 0,057
Concreto 0,46 0,44
20 Ao 0,11 0,11
Chumbo 0,057 0,057
Concreto 0,49 0,46
25 Ao 0,11 0,11
Chumbo 0,057 0,057
Concreto 0,21 0,21
Co-60 Ao 0,07 0,07
Chumbo 0,04 0,04

C.3.4.2. Largura da barreira primria

Para determinar a largura da barreira primria deve-se determinar o ngulo de


abertura do feixe primrio, a fim de que a blindagem para a radiao espalhada da barreira
primria para a secundria seja adequadamente projetada. Na prtica, a largura apropriada

319
da barreira, x (m), obtida utilizando-se o maior tamanho de campo de radiao na
distncia de isocentro do acelerador, com os colimadores rotacionados em 45,
acrescentando-se, por segurana, 0,3 m de cada lado. Para o parmetro x, geralmente
adota-se o valor de 40 cm. Como a maioria dos aceleradores possui campo de radiao
mximo de (40 x 40) cm no isocentro de 100 cm, o semi-ngulo da abertura do feixe
de aproximadamente 14. Dessa forma, a largura de uma barreira, LC (m), posicionada a
uma distncia dpri (m) entre a fonte de radiao e o ponto protegido, ser dada por:

LC ( x 2 ) d pri 0,6 0,566 d pri 0,6 (7)

Se a protuberncia da barreira for construda para o interior da sala, o valor dpri


tomado desde a face interna da barreira secundria (Figura C.2a). Se a protuberncia da
barreira for construda no lado externo da sala, o valor dpri tomado desde a face externa
da barreira secundria (Figura C.2b).
Como, em geral, as alturas das salas so muito menores do que as distncias entre
as paredes, a largura da barreira primria do teto consideravelmente menor do que o
valor determinado para as paredes. Porm, para facilitar a construo, sem a necessidade
de um arranjo estrutural complexo, em geral, utiliza-se a maior largura determinada para
todas as barreiras primrias.

Figura C.2 Largura da barreira primria quando a protuberncia


construda no lado interno da sala (a) e no lado externo da sala (b) de
tratamento (NCRP, 2005).

Exemplo de clculo de barreiras

A sala que abrigar o acelerador ser construda utilizando-se concreto usinado


convencional com densidade de 2,35 g.cm-3. Para esse material, as camadas deci-
redutoras para feixes de ftons com energia de 15 MeV, apresentadas na tabela 4, so
TVL1 = 44,0 cm e TVL2 = 41,0 cm.
A Figura C.3 mostra um esquema da sala do acelerador que ser utilizada para a
determinao da barreira primria (cinturo) do feixe de radiao.

320
Figura C.3 - Esquema da sala onde est instalado o acelerador do exemplo,
mostrando os pontos utilizados para o clculo da espessura da barreira primria
(cinturo). Note-se que os pontos calculados situam-se a 0,3 m da parede.

a) Barreira primria - A

O ponto A delimita-se com um estacionamento que tem acesso de membros do


pblico (rea livre). Nesse ponto o fator de uso igual a 1/4 e o fator de ocupao,
conforme a Tabela C.2, 1/40. Assim, o fator de transmisso da blindagem para atenuar
o feixe de ftons com energia de 15 MeV, determinado por:

P(d pri ) 2 2.105 7,28


2
BA 1,7 10 4
WUT 1000 (1 / 4) (1/ 40)

O nmero de camadas deci-redutoras dado pela equao:

NTVL log( B) log(1,7 104 ) 3,8

A espessura da barreira determinada pela equao:

S TVL1 ( NTVL 1) TLT2 0,44 (3,8 1) 0,41 1,58 1,6m

A largura do cinturo para este ponto dada por:

LC 0,566 d pri 0,6


(0,566 7,3) 0,6 4,8 m
b) Barreira primria - C

No ponto C encontra-se o painel de comando do acelerador, sendo considerada


uma rea controlada ocupada por indivduos ocupacionalmente expostos (IOE). Para esse
ponto, o fator de uso igual a 1/4 e o fator de ocupao, de acordo com a Tabela C.2,
igual a 1. Assim, o fator de transmisso da blindagem para atenuar o feixe de ftons com
energia de 15 MeV, determinado por:

321
4.104 6,7
P(d pri ) 2 2
BC 7,18 105
WUT 1000 (1/ 4) (1)

O nmero de camadas deci-redutoras :

NTVT log( B) log( 7,18 105 ) 4,14

A espessura da barreira dada por:

S TVL1 ( NTVL 1) TVL2 0,44 (4,14 1) 0,41 1,73 1,8m

A largura do cinturo para este ponto dada por:

LC 0,566 d pri 0,6


(0,566 6,7) 0,6 4,4 m

c) Barreira primria - Teto

Sobre o teto da sala sero instalados equipamentos de refrigerao da instalao


e, assim, esse ponto fica em uma rea livre com acesso de membros do pblico que
formam a equipe de manuteno da mquina e dos seus suplementos. Para esse ponto, o
fator de uso igual a 1/4 e o fator de ocupao, de acordo com a Tabela C.2, igual a
1/40. Assim, o fator de transmisso da blindagem para atenuar o feixe de ftons com
energia de 15 MeV, determinad0 pela equao:

P(d pri ) 2 2.105 6,0


2
BC 1,15 10 4
WUT 1000 (1 / 4) (1 / 40)

O nmero de camadas deci-redutoras dado pela equao:

NTVL log( B) log(1,15 104 ) 3,94

A espessura da barreira determinada pela equao:

S TVL1 ( NTVL 1) TVL2 0,44 (3,94 1) 0,41 1,64 1,7m

A largura do cinturo para este ponto dada por:

LC 0,566 d pri 0,6


(0,566 6,0) 0,6 4,0 m

C.3.5. Transmisso da radiao espalhada Barreiras secundrias

No caso de barreira secundria deve-se considerar a radiao espalhada pelo


paciente, pelas paredes e pela radiao de fuga do cabeote do equipamento (Figura C.4).

322
Figura C.4 - Distncias utilizadas para se determinar as barreiras
secundrias (NCRP, 2005).

O fator de transmisso devido radiao espalhada pelo paciente (BP) dado pela
expresso:

P 400
BP (d sec ) 2 (d esp ) 2 (8)
aWT F

onde

P o limite semanal de dose permitido (Sv.semana-1);


dsec a distncia (m) entre a superfcie espalhadora e ponto protegido;
desp a distncia (m) entre o alvo do equipamento e o paciente;
a a frao de espalhamento, definida como a razo entre a radiao espalhada a um
metro do objeto espalhador e a radiao primria a um metro do alvo do equipamento
(Tabela C.5);
F o tamanho de campo de tratamento (cm) no paciente; e
400 tamanho de campo (20 x 20) cm usado para normalizar os fatores de transmisso
para espalhamento.

Na ausncia de curvas de transmisso para o feixe espalhado em questo


consideram-se as seguintes aproximaes conservativas:

Feixes com energia menor do que 0,5 MeV: igual ao feixe incidente,
Feixes com energia at 10 MeV: usar 0,5 MeV para reflexo de 90o.

O fator de transmisso devido fuga pelo cabeote do equipamento (BL) dado


pela expresso:

P
BL 3
(d L ) 2 (9)
10 WT

onde dL a distncia (m) entre o isocentro do equipamento e o ponto protegido. O fator


10-3 representa a atenuao do feixe primrio, ou reduo da carga de trabalho, pelo
cabeote do acelerador, conforme estabelecido pelos principais fabricantes.
Quando a diferena entre as espessuras requeridas para as barreiras secundrias
devido radiao espalhada e de fuga do cabeote, for menor que 1 TVL, (i.e. como se o

323
espao em questo fosse ocupado por duas fontes de intensidades aproximadamente
iguais), a adio de uma camada semirredutora ao maior valor fornece uma avaliao
conservativa. Caso os dois valores difiram por mais de uma camada deci-redutora, a maior
espessura deve ser utilizada. Em casos intermedirios, pode ser necessrio calcular a
transmisso considerando a soma das contribuies para os dois feixes.

Exemplo

A espessura da blindagem secundria obtida a partir dos fatores de transmisso


para a radiao espalhada pelo paciente e a radiao de fuga do cabeote. Nos dois casos
utilizam-se os pontos nos quais a distncia do isocentro e a regio localizada a 0,3 metros
fora da parede de interesse, sem passar pela barreira primria, seja a menor possvel
(Figura C.5).

Tabela C.5 - Fator de espalhamento (a) a 1 m de um fantoma com dimenses


humanas, distncia alvo-superfcie de 1 m e tamanho de campo de 400 cm
(McGinley, 2002; Taylor et al., 1999).

ngulo Frao de espalhamento (a)


() 6 MeV 10 MeV 18 MeV 24 MeV
-2 -2 -2
10 1,04 x 10 1,66 x 10 1,42 x 10 1,78 x 10-2
20 6,73 x 10-3 5,79 x 10-3 5,39 x 10-3 6,32 x 10-3
30 2,77 x 10-3 3,18 x 10-3 2,53 x 10-3 2,74 x 10-3
45 1,39 x 10-3 1,35 x 10-3 8,64 x 10-3 8,30 x 10-3
60 8,24 x 10-4 7,46 x 10-4 4,24 x 10-4 3,86 x 10-4
90 4,26 x 10-4 3,81 x 10-4 1,89 x 10-4 1,74 x 10-4
135 3,00 x 10-4 3,02 x 10-4 1,24 x 10-4 1,20 x 10-4
150 2,87 x 10-4 2,74 x 10-4 1,20 x 10-4 1,13 x 10-4

a) Barreira secundria - A

Como citado anteriormente, a regio protegida pela barreira A possui fator de


ocupao de 1/40. O fator de espalhamento a, para a radiao espalhada a 90 a 1 m,
obtido por interpolao dos dados da Tabela C.5. Portanto, o fator de transmisso da
parede A dado por:

P 400 2 10 5 400
BP (d sec ) 2 (d esp ) 2 4
(1) 2 (7,17) 2 0,0394
aWT F 2,61 10 1000 (1 / 40) 1600

324
Figura C.5 - Esquema da sala onde est instalado o acelerador do
exemplo, mostrando os pontos utilizados para o clculo das espessuras
das barreiras secundrias. Note-se que os pontos calculados situam-se a
0,3 m da parede.

O nmero de camadas deci-redutoras dado por:

NTVL log( B) log( 3,94 102 ) 1,4

As camadas deci-redutoras, TVL1 e TVL2, em concreto para a radiao


espalhada a 90, apresentadas na Tabela C.6, so iguais a 18 cm e, assim, a espessura da
barreira secundria A ser:

Sesp NTVL TVL1 1,4 0,18 0,25 m

Tabela C.6 - Camada deci-redutora em concreto para radiao espalhada pelo


paciente em vrios ngulos (NCRP, 2005).
ngulo de TVL (m)
espalhamento
() Co-60 6 MeV 10 MeV 15 MeV 18 MeV 20 MeV
15 0,22 0,34 0,39 0,42 0,44 0,46
30 0,21 0,26 0,28 0,31 0,32 0,33
45 0,20 0,23 0,25 0,26 0,27 0,27
60 0,19 0,21 0,22 0,23 0,23 0,24
90 0,15 0,17 0,18 0,18 0,19 0,19
135 0,13 0,15 0,15 0,15 0,15 0,15

Para a fuga de radiao pelo cabeote, o fator de transmisso da barreira A dado por:

P 2 10 5
BL (d sec ) 2 (7,17) 2 0,0411
0,001 WT 0,001 1000 (1 / 40)

O nmero de camadas deci-redutoras :

NTVL log( B) log( 4,04 102 ) 1,4

A espessura da barreira secundria, devida fuga no cabeote, pode ser


determinada utilizando os valores de TVL1 e TVL2 apresentados na Tabela C.7.

325
Tabela C.7 - Valores sugeridos para camada deci-redutora em concreto para
radiao de fuga (NCRP, 2005).

Energia TVL1 TVL2


(MeV) (m) (m)
6 0,34 0,29
10 0,35 0,31
15 0,36 0,33
18 0,36 0,34
20 0,36 0,34
25 0,37 0,35
Co-60 0,21 0,21
Valores baseados em adaptao conservativa de valores publicados para 90.

Ento,

SL TVL1 ( NTVL 1) TVL2 0,36 (1,4 1) 0,33 0,49 cm

A diferena entre as espessuras da barreira secundria para espalhamento e fuga


do cabeote :

S S L Sesp 0,49 0,25 0,24 m

Como essa diferena menor do que o valor de um TVL deve-se acrescentar a


espessura de um HVL na maior espessura obtida. Assim, desde que o valor de uma
camada semirredutora para fuga no cabeote dado por:

HVL TVL log( 2) 0,36.0,301 0,11cm

a espessura da barreira secundria para a parede A dada por:

S A 0,49 0,11 0,6 m

b) Barreira secundria - B

A parede B delimita a sala de tratamento com a sala de espera de pacientes. Essa


uma rea livre com fator de ocupao igual a 1 e o valor de a para a radiao espalhada
a 90 a 1 m interpolado a partir dos dados da Tabela C.5. Dessa forma, o fator de
transmisso da parede B determinado por:

P 400 2 10 5 400
B (d sec ) 2 (d esp ) 2 4
(1) 2 (5,25) 2 0,00053
aWT F 2,61 10 1000 (1) 1600

O nmero de camadas deci-redutoras dado por:

NTVL log( B) log( 5,28 104 ) 2,30

As camadas deci-redutoras, TVL1 e TVL2, em concreto para a radiao espalhada a 90,

326
dadas na Tabela C.6, so iguais a 18 cm e a espessura da barreira secundria C :

Sesp NTVL TVL1 2,30 0,18 0,4 m

Para essa barreira, o fator de transmisso devido fuga de radiao pelo cabeote
dado por:

P 2 105
BL (dsec )2 (5,25)2 0,000551
0,001 WT 0,001 1000 (1)

O nmero de camadas deci-redutoras dado por:

NTVL log( B) log( 5,51104 ) 3,26

A espessura da barreira secundria devida fuga no cabeote pode ser


determinada utilizando os valores de TVL1 e TVL2 dados na Tabela C.7. Assim:

SL TVL1 ( NTVL 1) TVL2 0,36 (3,26 1) 0,33 1,11 1,2 m

A diferena entre as espessuras da barreira secundria para espalhamento e fuga


do cabeote :

S S L Sesp 1,20 0,4 0,8 m

Como essa diferena maior do que valor do TVL para a fuga do cabeote adota-
se como espessura da blindagem secundria o maior valor encontrado, que devido
fuga do cabeote, de 1,2 m.

c) Barreira secundria - D

A parede D delimita a sala de tratamento e a sala onde est instalado outro


irradiador. Os pacientes tratados na outra sala so membros do pblico, para qualquer
irradiao existente na sala que se est calculando. Assim, essa parede delimita uma rea
livre com fator de ocupao igual a 1/2, conforme a Tabela C.2. Como determinado
anteriormente, o valor de a para a radiao espalhada a 90 a 1 m interpolado a partir
dos dados da Tabela C.5. Portanto, o fator de transmisso da parede D :

P 400 2 10 5 400
B (d sec ) 2 (d esp ) 2 4
(1) 2 (8,08) 2 0,00250
aWT F 2,61 10 1000 (1 / 2) 1600

O nmero de camadas deci-redutoras dado por:

NTVL log( B) log( 2,50 103 ) 2,60

As camadas deci-redutoras, TVL1 e TVL2, em concreto para a radiao espalhada


a 90, dadas na Tabela C.6, so iguais a 18 cm e a espessura da barreira secundria C :

327
Sesp NTVL TVL1 2,60 0,18 0,5m

Para essa barreira, o fator de transmisso devido fuga de radiao pelo cabeote
dado por:

P 2 105
BL (dsec )2 (8,08)2 0,0026
0,001 WT 0,001 1000 (1 / 2)

O nmero de camadas deci-redutoras dado por:

NTVL log( B) log( 2,6 103 ) 2,58

A espessura da barreira secundria devida fuga no cabeote pode ser


determinada utilizando os valores de TVL1 e TVL2 dados na Tabela C.7. Assim:

SL TVL1 ( NTVL 1) TVL2 0,36 (2,58 1) 0,33 0,88 0,9 m

A diferena entre as espessuras da barreira secundria para espalhamento e fuga


do cabeote :

S S L Sesp 0,9 0,5 0,4 m

Como essa diferena maior do que valor do TVL para a fuga do cabeote adota-
se como espessura da blindagem secundria o maior valor encontrado, que devido
fuga do cabeote, de 0,9 m.
Essa barreira secundria forma o labirinto e, portanto, constituda de duas
blindagens. Assim, pode-se construir uma das paredes do labirinto com parte da largura
e a outra parede com a outra parte, conforme mostra a Figura C.6. Como o labirinto se
delimita com outra sala de tratamento, deve-se considerar tambm o clculo da blindagem
da outra sala para se definir a frao da espessura das paredes do labirinto.
Para se fracionar a espessura determinada acima, deve-se atentar para a passagem
interna do labirinto para a sala, pois nessa regio h somente a parede externa. Deve-se
ainda lembrar o fato de que a espessura da parede D influi no clculo da espessura da
porta da sala e, portanto o valor adotado para essa parede ser levado em conta no clculo
da espessura final da porta, a fim de no torn-la muito pesada.

328
Figura C.6 - Esquema do labirinto da sala onde est instalado o acelerador
do exemplo, mostrando as reas definidas para a determinao da dose na
porta devido ao espalhamento do feixe primrio na parede A.

C.3.6. Transmisso da radiao pela porta da sala - labirinto

C.3.6.1. Aceleradores com energia menor ou igual a 10 MeV

A existncia de um labirinto numa sala de tratamento proporciona a vantagem de


diminuir o nvel de radiao na entrada, reduzindo o peso da porta e facilitando assim o
processo de abertura e fechamento da sala. A blindagem da porta pode ser calculada
determinando-se as vrias componentes que contribuem para a dose naquele ponto.
Depois, com a estimativa da dose total, determina-se a espessura de material necessrio
para reduzir este valor para o limite de dose P (Sv/semana).
A radiao que atinge a porta da sala de um acelerador com ftons de energia
abaixo de 10 MeV se deve aos seguintes componentes: HS, devida ao espalhamento da
radiao primria nas paredes da sala; HLS, devida aos ftons da radiao de fuga do
cabeote espalhados e que atingem a porta; Hps, devida aos ftons do feixe primrio
espalhado pelo paciente; HLT, devida radiao de fuga do cabeote que atravessa a
parede do labirinto.
A dose de radiao na porta devido ao espalhamento do feixe primrio na parede
A (Figura C.6) dada por:

WU A 0 A0 z Az
HS (10)
dh d r d z 2
onde

HS a dose semanal (Sv.semana-1) na porta devida ao espalhamento do feixe primrio


na parede A;
W a carga de trabalho (Gy.semana-1);
UA o fator de uso para a parede G;
0 coeficiente de reflexo para ftons incidentes na primeira superfcie refletora A0;
A0 a rea (m) da primeira superfcie refletora;
z coeficiente de reflexo para ftons incidentes na segunda reflexo na superfcie do
labirinto AZ (assume-se energia de 0,5 MeV);
AZ a rea (m) da seco transversal da entrada interna do labirinto projetada na parede
do labirinto em perspectiva da barreira primria A0;
dh a distncia (m) perpendicular entre o alvo e a primeira superfcie refletora (igual a
distncia perpendicular do isocentro parede, dpp);

329
dr a distncia (m) entre o centro do feixe at a primeira reflexo, passando pelo final
da parede interna do labirinto, e o ponto b na linha central do labirinto; e
dz a distncia (m) da linha central do ponto b porta do labirinto.

Esse clculo se restringe a salas nas quais a razo entre a altura e a largura do
labirinto fica entre 1 e 2 (McGinley, 2002) ou quando o valor de [dz/(altura X largura)1/2]
estiver entre dois e seis (NCRP, 1977). Essa condio pode ser obtida na prtica com a
colocao de uma travessa (viga) na entrada do labirinto.
Na Tabela C.8 so apresentados os valores sugeridos para o coeficiente de
reflexo (NCRP, 2005) em concreto para diferentes ngulos de reflexo - 0, 30, 45, 60
e 75 - em duas direes de incidncia da radiao - 0 e 45 - para feixes de raios X de
diferentes energias e feixes monoenergticos.

Tabela C.8 - Valores sugeridos para o coeficiente de reflexo na parede A


(Figura C.6) para concreto (NCRP, 2005). Incidncia a 0 e 45 para ftons
de bremsstrahlung e monoenergticos. Cada valor apresentado abaixo deve
ser multiplicado por 10-3.
ngulo de reflexo ou espalhamento em concreto (medido da normal)
0 30 45 60 75
Incidncia 0 45 0 45 0 45 0 45 0 45
30 MeV 3,0 4,8 2,7 5,0 2,6 4,9 2,2 4,0 1,5 3,0
24 MeV 3,2 3,7 3,2 3,9 2,8 3,9 2,3 3,7 1,5 3,4
18 MeV 3,4 4,5 3,4 4,6 3,0 4,6 2,5 4,3 1,6 4,0
10 MeV 4,3 5,1 4,1 5,7 3,8 5,8 3,1 6,0 2,1 6,0
6 MeV 5,3 6,4 5,2 7,1 4,7 7,3 4,0 7,7 2,7 8,0
4 MeV 6,7 7,6 6,4 8,5 5,8 9,0 4,9 9,2 3,1 9,5
Co-60 7,0 9,0 6,5 10,2 6,0 11,0 5,5 11,5 3,8 12,0
0,5 MeV 19,0 22,0 17,0 22,5 15,0 22,0 13,0 20,2 8,0 18,0
0,25 MeV 32,0 36,0 28,0 34,5 25,0 31,0 22,0 25,0 13,0 18,0

A radiao de fuga do cabeote pode atingir a parede A1 e chegar porta depois


de uma nica reflexo. Nesse caso a componente da dose (Figura C.7) pode ser dada por
(McGinley, 1997):

L f WLU A1 A1
H LS (11)
dsecd zz 2
onde

HLS a dose semanal (Sv.semana-1) na porta devida ao espalhamento nico da radiao


de fuga do cabeote;
Lf a razo de fuga de radiao pelo cabeote a 1 m do alvo (em geral igual a 10 -3, de
acordo com a maioria dos fabricantes);
WL a carga de trabalho (Gy.semana-1) para a radiao de fuga do cabeote (pode ser
diferente do valor de W, em situaes especiais de tratamento, como o IMRT);
UA o fator de uso para a parede A;
1 coeficiente de reflexo para radiao de fuga do cabeote na parede A;
A1 a rea (m) da parede A que vista da porta do labirinto;
dsec a distncia (m) do alvo linha central do labirinto, na parede A (pode ser medida a
partir do isocentro, como valor mdio da posio do alvo); e
dzz o comprimento (m) da linha central do labirinto.

330
Figura C.7 - Esquema do labirinto da sala onde est instalado o acelerador
do exemplo, mostrando as reas definidas para a determinao da dose na
porta devido ao espalhamento nico da radiao de fuga do cabeote na
parede A.

A radiao espalhada no paciente (Figura C.8) que atinge a porta, contribui com
a dose da seguinte forma (McGinley, 1997):

F
a( )WU A 1 A1
400
despdsecd zz 2
H pS (12)

onde

HpS a dose semanal (Sv.semana-1) na porta devida ao espalhamento da radiao pelo


paciente;
a() a frao de espalhamento para a radiao espalhada pelo paciente (Tabela C.5) por
um ngulo ;
W a carga de trabalho (Gy.semana-1);
UA o fator de uso para a parede A;
F tamanho do campo (m) a 1 m;
1 coeficiente de reflexo para radiao espalhada pelo paciente na parede A;
A1 a rea (m) da parede A que vista da porta do labirinto;
desp a distncia (m) do alvo ao paciente;
dsec a distncia (m) do paciente linha central do labirinto, na parede A; e
dzz o comprimento (m) da linha central do labirinto.

331
Figura C.8 - Esquema do labirinto da sala onde est instalado o acelerador
do exemplo, mostrando as reas definidas para a determinao da dose na
porta devido ao espalhamento da radiao pelo paciente na parede A.

O coeficiente de reflexo, 1, pode ser obtido da energia mdia dos ftons


espalhados pelo paciente em diversos ngulos, porm um valor conservativo pode ser
obtido se uma energia de 0,5 MeV utilizada para determinar esse coeficiente. Quando a
energia do feixe do acelerador for maior do que 10 MeV, a radiao espalhada pelo
paciente pode ser ignorada, pois ela se torna insignificante em comparao a gerada pelos
nutrons emitidos do acelerador e os raios gama de captura produzidos pela sua absoro
em concreto.
A radiao de fuga, que transmitida atravs da parede do labirinto (D), e atinge
a porta (Figura C.9), contribui para a dose total da seguinte forma:

L f WLU A B
H LT (13)
d L 2
onde

HLT a dose semanal (Sv.semana-1) na porta devida radiao de fuga transmitida pela
parede interna do labirinto;
Lf a razo de fuga de radiao pelo cabeote a 1 m do alvo (em geral igual a 10 -3, de
acordo com a maioria dos fabricantes);
WL a carga de trabalho (Gy.semana-1) para a radiao de fuga do cabeote (pode ser
diferente do valor de W, em situaes especiais de tratamento, como o IMRT);
UA o fator de uso para a parede A;
B o fator de transmisso da parede interna do labirinto; e
dL a distncia (m) do alvo linha central do labirinto no centro da porta.

332
Figura C.9 - Esquema do labirinto da sala onde est instalado o acelerador
do exemplo, mostrando as reas definidas para a determinao da dose na
porta devido radiao de fuga que atravessa a parede interna do labirinto.

A dose total (HA) na porta do labirinto pode, ento, ser dada por:

H A fH S H LS H pS H LT (14)

O valor da frao de radiao primria transmitida pelo paciente, f, tem o valor


aproximado de 0,25 para ftons com energia entre 6 MeV e 10 MeV para o campo de
radiao de (40 x 40) cm quando um fantom de (40 x 40 x 40) cm utilizado (McGinley,
1997). Quando o fator de uso igual a 1/4 para a maioria das direes do feixe (0, 90,
180 e 270), a dose total (HTOT) na porta devida a radiao de fuga do cabeote e a
radiao espalhada no simplesmente 4.HG, e sim (McGinley, 2002):

HTOT 2,64 H A (15)

O fator de transmisso necessrio para a blindagem da porta obtido dividindo-


se o limite de dose (P) pela dose total existente do lado externo da porta (HTOT).

C.3.6.2. Consideraes para a produo de nutrons em aceleradores de partculas de


alta energia

Em instalaes de radioterapia com aceleradores de eltrons com energia superior


a 10 MeV, nutrons so produzidos em reaes (x,n) e (e,n). A contaminao de nutrons
produzida por ftons de alta energia e eltrons incidentes principalmente no alvo,
colimador primrio, filtro achatador do feixe, colimadores secundrios e acessrios.
Como a seo de choque para uma reao (x,n) ao menos uma ordem de
grandeza maior do que numa reao (e,n), os nutrons produzidos num acelerador que
produz feixes de raios X so os mais importantes a se considerar. Assim, a energia
mxima dos ftons produzidos num acelerador considerada mais significativa do que a
energia mxima do feixe de eltrons, para a determinao da contribuio da dose devida
a nutrons. Os nutrons podem ativar outros elementos, que permanecem radioativos e
contribuem para a exposio radiao do corpo tcnico do servio de radioterapia que
adentra a sala de radiao aps o tratamento com feixe de ftons de alta energia. Os
radionucldeos produzidos em componentes ativados possuem meia vida variando de
minutos a dias.
Radionucldeos como o 15O (meia-vida de 2 minutos) e o 13N (meia-vida de 10
minutos) so produzidos no interior da sala, pela interao dos nutrons com o ar. A

333
radioatividade no ar produzida nas salas de tratamento pode ser removida por um eficiente
sistema de ventilao. Uma ventilao que executa de 6 a 8 trocas por hora do ar da sala,
tambm facilita a remoo de oznio e outros gases nocivos.
As barreiras primrias e secundrias determinadas para proteo contra a dose
devida a ftons protegem tambm contra a dose devida a eltrons e contaminao de
nutrons. Entretanto, os nutrons podem chegar porta da sala tendo perdido pouca
energia ao longo do labirinto e podem apresentar um nvel de dose inaceitvel na rea
externa da sala, necessitando, assim, de uma porta especialmente projetada.
Um valor de camada deci-redutora recomendado para nutrons presentes na regio
de entrada de uma sala de radioterapia de 45 mm de polietileno borado, acrescida de
uma camada de chumbo (6 a 12 mm) necessria para absorver os raios gama produzidos
pela reao de captura dos nutrons nos ncleos do boro.
Uma alternativa para uma porta especialmente blindada para nutrons o uso de
um labirinto duplo, que pode eliminar a necessidade da porta blindada.

C.3.6.3. Aceleradores com energia maior ou igual a 10 MeV

A dose para ftons espalhados no labirinto de uma sala com um acelerador que
produza feixe de ftons de energia maior ou igual a 10 MeV pode ser estimada de acordo
com a metodologia do item C.3.6.1. No entanto, como a energia mdia dos raios gama
produzidos pela captura de nutrons no concreto 3,6 MeV (NCRP, 2005), a blindagem
projetada para essa componente , em geral, tambm suficiente para blindar os ftons
espalhados.
A dose (h) devido a radiao gama de captura na entrada do labirinto, por unidade
de dose absorvida no isocentro dada por:
d
2
h K A10 TVD
(16)
onde

K a razo da dose da radiao gama de captura (Sv) pela fluncia total de nutrons
no ponto A (Figura C.11). O valor mdio geralmente utilizado para esse parmetro
de 6.9 x 10-16 Sv. m2;
A a fluncia total de nutrons (m-2) no ponto A por unidade de dose (Gy) de raios X
no isocentro;
d2 a distncia (m) entre o ponto A e a porta; e
TVD a distncia deci-redutora (m) cujo valor de aproximadamente 3,9 para raios X
com energia de 15 MeV e de 5,4 m para raios X com energia entre 18 e 25 MeV.

A fluncia total de nutrons na entrada do labirinto (ponto A Figura C.10) por


unidade de dose absorvida de raios X no isocentro pode ser determinada por (NCRP,
1984):
Qn 5,4Qn 1,3Qn
A (17)
4d12 2Sr 2Sr
onde

o fator de transmisso para nutrons que penetram o cabeote (1 para blindagem de


chumbo e 0,85 para blindagem de tungstnio);
d1 a distncia (m) entre o ponto A e o isocentro;

334
Qn intensidade da gerao de nutrons em unidades de nutrons emitidos do cabeote
por gray de dose absorvida no isocentro; e
Sr a rea (m) total da superfcie da sala de tratamento (paredes + teto + piso).

Figura C.10 - Esquema geral para definio dos parmetros usados na


blindagem da porta do labirinto (NCRP, 2005).

A dose semanal (Sv.semana-1) na porta devida a radiao gama de captura de


nutrons (Hcg) dada por:

H cg WL h (18)

onde WL a carga de trabalho devida radiao de fuga do cabeote.

A porta da sala de um acelerador com energia igual ou maior do que 10 MeV


necessita de blindagem para nutrons alm da blindagem para radiao gama. A maior
fluncia de nutrons obtida com os colimadores fechados na entrada do labirinto e se
espera que muitos fotonutrons se originem no cabeote do acelerador (Kase, 1998; Mao,
1997). O campo de nutrons no labirinto tambm funo da angulao do gantry e do
plano rotacional do alvo na sala de tratamento (Rebello et al, 2010).
A determinao da dose de nutrons na entrada do labirinto pode ser feita (Wu,
2003) pela seguinte expresso:

S0 2
d d
2
H n, D 2,4 10 A
15
1,64 10 1, 9
10 TVD (19)
S1

onde

Hn,D a dose de nutrons (Sv) na entrada da sala por unidade de dose absorvida (Gy) no
isocentro;
A a fluncia de nutrons (m-2) por unidade de dose absorvida (Gy) de raios X no
isocentro;
S0/S1 a razo entre a rea da seco de entrada do labirinto pela rea da seco ao longo
do labirinto (Figura C.10); e
TVD a distncia deci-redutora (m) que varia na raiz quadrada da rea da seco
transversal ao longo do labirinto (S1):

TVD 2,06 S1 (20)

335
A dose semanal (Sv.semana-1) na porta devida aos nutrons (Hn) dada por:

H n WL H n, D (21)

onde WL a carga de trabalho devida radiao de fuga do cabeote.

Finalmente, a dose semanal total na porta do labirinto dada por:

HW HTOT H cg H n (22)

Para muitos labirintos HTOT uma ordem de grandeza menor do que a soma de
Hcg e Hn, podendo ser desprezada.

Exemplo

Barreira secundria - Porta

A porta da sala de tratamento est em rea supervisionada com ocupao eventual


de IOE e pacientes com fator de ocupao igual a 1/8. O feixe de ftons com energia de
15 MeV do acelerador em estudo, contribui, na porta da sala, com as seguintes
componentes:

a) a radiao primria espalhada na parede A, HS

De acordo com os parmetros propostos, a equao 10 leva a

3 3
WU A 0 A0 z Az 1000 4 3,4 10 3,0 8,0 10 9,0
1
HS
dh dr d z 2 4,6 5,2 7,32
0,18
HS 6,3 108 Sv/sem
2,9 10 6

onde os valores dos parmetros utilizados esto relacionados abaixo (Figura C.7):

W 1000 (Gy.semana-1);
UA para a parede A;
0 3,4 x 10-3, coeficiente de reflexo para incidncia normal e reflexo a 450, interpolado
para 15 MV;
A0 3,0 (m);
z 8,0 x 10-3, coeficiente de reflexo para incidncia normal e reflexo a 750, para 0,5
MeV;
AZ 9,0 (m);
dh 4,6 (m);
dr 5,2 (m); e
dz 7,3 (m).

336
b) a radiao de fuga do cabeote espalhada pela parede secundria A, HLS

De acordo com os parmetros propostos, a equao 11 leva a

L f WLU A1 A1 103 1000 1 4,8 103 4,5


H LS 4
dsecd zz 2 7,3 9,82

0,0054
H LS 1,1 10 6 Sv/sem
5,1 103

onde os valores dos parmetros utilizados esto relacionados abaixo (Figura C.7):

Lf 10-3;
WL 1000 (Gy.semana-1);
UA para a parede A;
1 4,8 x 10-3, coeficiente de reflexo para incidncia a 450 e reflexo normal, interpolado
para 15 MV;
A1 4,5 (m);
dsec 7,3 (m); e
dzz 9,8 (m).

c) a radiao espalhada pelo paciente e pela parede secundria A, HpS

De acordo com os parmetros propostos, a equao 11 leva a

F
a( )WU A 1 A1 2,85 10 3 1000 1 4,8 103 4,5
400 4
despdsecd zz
H pS 2
1,0 6,5 9,82

1,5 102
H pS 3,7 106 Sv/sem
4,110 3

onde os valores dos parmetros utilizados esto relacionados abaixo:

a() 2,85 x 10-3, interpolado para 300 e 15 MV;


W 1000 (Gy.semana-1);
UA para a parede A;
F 400 (m);
1 4,8 x 10-3, coeficiente de reflexo para incidncia a 450 e reflexo normal, interpolado
para 15 MV;
A1 4,5 (m);
desp 1 (m);
dsec 6,5 (m); e
dzz 9,8 (m).

337
d) a radiao que atravessa o labirinto, HLT

L f WLU A B 103 1000 1 0,0002


H LT 4
d L 2 6,7 2

H LT 1,1 10-6 Sv/sem

onde os valores dos parmetros utilizados esto relacionados abaixo (Figura C.9):

Lf 10-3;
WL 1000 (Gy.semana-1);
UA para a parede A;
B 0,0002 (2 TVLs); e
dL 6,7.

A dose total (HA) na porta da sala ser ento, de acordo com a equao (14):

H A fH S H LS H pS H LT
0,25 6,3 108 1,1 10 6 3,7 10 6 1,1 10 6
6,0Sv / sem

Portanto, de acordo com a equao (15), a dose total (HTOT) na porta ser:

HTOT 2,64 H A 15,8Sv / sem

e) fotoneutrons espalhados, produzidos no interior da sala, Hn,D

S0 2
d d
2
H n, D 2,4 10 A 15
1,64 10 1, 9
10 TVD
S1

9, 0

9, 0

15
H n, D 2,4 10 6,5 10 1,1 1,64 10
9 1, 9
10 5,9 1,7 105 3,0 10 2

5,1 10 7 Sv/Gy

onde os valores dos parmetros utilizados esto relacionados abaixo:

d2 = 9,0 m;
A= 6,5 x 109 n/m2;
S0/S1= (9,0/8,2) = 1,1; e
TVD= 5,9 m.

A dose semanal (Sv.semana-1) na porta devida aos nutrons (Hn) dada pela
equao (21):

338
H n WL H n,D 5,1104 Sv/sem

f) radiao gama de captura produzida por nutrons, Hcg

d
2 -9
h K A10 TVD
6,9 x 10-16 6,5 x 109 10 5,9

1,3 10 7 Sv / Gy

onde

K= 6,9 x 10-16 Sv. m2;


A= 6,5 x 109 n/m2;
d2= 9,0 m; e
TVD= 5,9 m.

A dose semanal (Sv.semana-1) na porta devida aos raios gama de captura (Hcg)
dada pela frmula (18):
H cg WL h 1,3 104 Sv / sem
Finalmente, a dose semanal total na porta do labirinto dado pela equao (22):

HW H TOT H cg H n
15,8 10 6 1,3 10 4 5,1 10 4
6,6 10 4 Sv / sem

onde somente a dose de nutrons contribui com 77% para a dose total.

C.3.7. Otimizao das barreiras

O clculo da espessura de cada barreira deve ser repetido aplicando-se valores


cada vez mais baixos de dose at que seja encontrado um nvel to baixo quanto
razoavelmente exequvel (ALARA). Assim, a menos que se solicite especificamente, a
demonstrao de otimizao de uma barreira dispensvel quando o projeto assegura
que, em condies normais de operao, sejam atendidas as trs condies:

a) a dose efetiva para indivduos ocupacionalmente expostos no excede 1 mSv.ano-1;


b) a dose efetiva para indivduos do pblico no excede 1 mSv.ano-1; e
c) a dose efetiva coletiva no excede a 1 homem-sievert.ano-1.

Para se calcular a espessura otimizada da blindagem deve-se fazer uma anlise


dos custos de incremento de barreira. O mtodo fornecido pelo ICRP-33 sugere a seguinte
sequncia de clculo:

1) Calcular a barreira mnima correspondente ao limite primrio individual, para


garantir que os valores otimizados (que consideram doses coletivas) no resultem
em doses individuais acima dos limites primrios (1 mSv.ano-1 para rea livre e 20
mSv.ano-1 para rea controlada) para os indivduos mais expostos.

339
2) Calcular a barreira mxima correspondente ao nvel de iseno de otimizao,
dado pelo organismo regulador (CNEN, 2011), de 1 mSv.ano-1 para indivduos
ocupacionalmente expostos e 10 Sv.ano-1 para indivduos do pblico. O valor
timo da barreira deve estar entre esse valor mximo e o valor mnimo obtido no
item 1.
3) Estimar os custos incrementais para vrias barreiras nessa faixa, por exemplo,
acrescentando uma camada semi-redutora ou deci-redutora. Deve-se levar em
conta o custo dessa reduo, que , aproximadamente, o custo da mo de obra e do
concreto adicionado (entre US$ 200 a 600 por m). Recomenda-se a consulta ao
engenheiro responsvel pela construo.
4) Para cada valor de espessura incremental, calcular a reduo da dose coletiva (S),
considerando-se o tempo de vida da instalao (Tv) e o nmero de pessoas (n)
protegidas durante o esse perodo. A reduo na dose coletiva dada por:

S H n Tv (23)

onde H a diferena entre a dose efetiva e a dose efetiva otimizada. Para


exemplificar, considere-se uma rea ocupada em tempo integral (8 h.dia-1 x 5
dias.semana-1 x 50 semanas.ano-1) por quatro IOE durante 20 anos de vida de uma
instalaao. Com uma camada deci-redutora, a dose individual ser reduzida de 20
mSv.ano-1 para 2 mSv.ano-1 e a dose coletiva ser reduzida de 1,6 Sv para 0,16 Sv,
ou seja, seriam evitados 1,44 Sv durante esse tempo.

Note-se neste exemplo que quatro IOE em tempo integral correspondem a oito
IOE em meio perodo ou a cem pessoas ocupando a mesma rea em dez dias teis
por ano. Recomenda-se assim fazer uma estimativa realista da ocupao da rea,
mas, na ausncia de garantias desses valores, devem-se usar valores
superestimados. Considerar ainda que as doses individuais possam ser diferentes
devido localizao e permanncia dos indivduos, pois a dose coletiva a soma
das doses de todos os indivduos expostos, aps a barreira.

5) Para cada incremento da barreira, dividir o custo calculado para a obra pela dose
coletiva evitada. O valor timo ser atingido quando se obtiver 10.000,00
US$.(homem.sievert)-1 (CNEN, 2011).

Por este roteiro, o fator de transmisso otimizado dado por:

A C TVLmat
Botim (24)
(ln 10) n T vidaH tot

onde

A rea da barreira deci-redutora (m);


TVL espessura da barreira deci-redutora (m);
C custo de uma camada deci-redutora de concreto (US$.m-);
custo do detrimento por unidade de dose coletiva (10.000 US$.(homem.sievert)-1);
n nmero de IOE ocupando a rea por perodo de tempo (homem.semana-1);
Tv tempo de vida til da instalao (semanas); e
Htot dose existente na ausncia da barreira (Sv.semana-1).

340
Note-se que no clculo da otimizao no se deve levar em considerao o custo
inicial da barreira, ou seja, antes da otimizao.

Exemplo

Barreira primria C
A parede C delimita a sala de tratamento e o painel de comando do acelerador.
Nessa regio, 2 tcnicos atuam durante o horrio de trabalho do acelerador, em tempo
integral durante uma semana. Em geral, 3 tcnicos trabalham em regime de 2 turnos, 2
tcnicos por turno (n = 4 *(1/2) = 2).
Considerando o cinturo primrio com largura L de 4,8 m (veja exerccio 4) e
altura h de 3,5 m, a rea da barreira deci-redutora dada por:

A L h 4,5 3,5 16,8 m2

A espessura da barreira deci-redutora, conforme visto anteriormente, de 0,44 m.


Uma instalao de radioterapia calculada para um tempo de vida til de 20 anos
considerando-se 52 semanas anuais, assim Tv = 1040 semanas. O custo de uma camada
deci-redutora em concreto da ordem de 420 US$.m-3.

A dose semanal, na ausncia da barreira dado por:

W U 1000 1 / 4
H tot 2
5,57 Sv semana1
d pri 6,72

Dessa forma o fator de transmisso otimizado para essa barreira :

16,8 420 0,44


Botim 1,16 105
(ln 10) 10000 2 1040 5,57

O nmero de camadas deci-redutoras :

NTVT log( B) log(1,16 105 ) 4,94

A espessura da barreira dada por:

S TVL1 ( NTVL 1) TVL2 0,44 (4,94 1) 0,41 2,06 2,1 m

Comparando-se com o valor obtido anteriormente, de 1,85 m, conclui-se que a


barreira dever ter a espessura de 2,1 m para garantir que a dose no ponto no superior
aos limites permitidos.

C.4. EXERCCIOS

1. Mostre que, para feixes de raios X e radiao gama, a transmisso pode ser dada, a
partir da lei de atenuao [I = Io.exp(-.x)] em termos do nmero de camadas deci-
redutoras (NTVL) do material de blindagem necessrias para atingir o nvel de proteo

341
desejado, por:

NTVL log10 ( B) log(1 / B)

2. Considerar o exemplo dado no texto para calcular a espessura da barreira secundria


C.
Resp. 0,7 m.

3. Considerar o exemplo dado no texto para calcular a espessura da barreira secundria


do teto.
Resp. 0,8 m.

4. Considerar o exemplo dado no texto para determinar a largura do cinturo primrio.


Resp. 4,8 m.

5. Calcular as espessuras para as barreiras, considerando-se o princpio de otimizao e


comparar com os valores encontrados pelo clculo de limitao de dose.

342
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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Norma NN-3.01, Rio de Janeiro, 2011.

Comisso Nacional de Energia Nuclear, Requisitos de Segurana e Proteo Radiolgica


de Servios de Radioterapia - Norma NN-3.06, Rio de Janeiro, D.O.U. 04 de junho de
2012.

Facure, A., Silva, A, X. The use of high-density concretes in radiotherapy treatment room
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Institute of Physics and Engineering in Medicine, The Design of Radiotherapy Treatment


Room Facilities (STEDEFORD, B., MORGAN, H.M., MAYLESS, W.P.M., Eds),
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