A Imagem Aural e A Memória Do Discurso Melódico

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A IMAGEM AURAL E A MEMRIA DO DISCURSO MELDICO: PROCESSOS DE

CONSTRUO
Maria Cristina Souza Costa.

INTRODUO:
Esta pesquisa foi motivada primeiramente pelo fato de que a imagem aural
(ou imagem sonora) e a memria meldia no so tratadas nas escolas como formas de
conhecimento possveis de serem construdas e desenvolvidas ao longo da formao alm de
seus conceitos so serem devidamente discutidos e por muitas vezes ignorados. O objetivo da
pesquisa identificar as semelhanas e diferenas da imagem aural e memria meldica
atravs de uma investigao terica dividida em 4 partes: origem das imagens aurais, memria
no nvel fisiolgico, memria no nvel cognitivo a partir da teoria de Piaget e memria musical.

ORIGEM DAS IMAGENS AURAIS:


A autora desta pesquisa buscou o significado da imagem aural a partir do conceito das
representaes mentais. Imagem aural portanto um tipo de imagem mental (representao
mental) que se desenvolve a partir de ligaes com as funes intelectuais do indivduo, uma
representao (imitao interiorizada) dos estmulos sonoros vivenciados e se desenvolve
fazendo uma conexo com as funes intelectuais do indivduo. Para Piaget (1968), as
imagens mentais surgem na criana por volta dos dois anos de idade juntamente com a
linguagem, a imitao e o jogo simblico. Este perodo marca a transitividade entre o estgio
de desenvolvimento sensrio motor (0 a 2 anos) e o pr-operacional (2 a 7 anos).A partir dessa
conceituao, podemos concluir que o ambiente sonoro e seu cotidiano influencia bastante na
predominncia de certos intervalos musicais de um indivduo, pois o que preponderante so
as informaes que o indivduo j possui armazenadas de seus aprendizados anteriores.

MEMRIA NO NVEL FISIOLGICO:


No nvel fisiolgico, as imagens aurais comeam a se formar desde a fase intra-uterina do
feto. Com 16 semanas de vida, o feto j pode ouvir, e a partir de 24 semanas, ele apresenta
reaes claras ao som identificando, por exemplo,
caracterstica da voz da me. Dessa forma, sua capacidade precoce de ouvir um estmulo a
conexes neuronais, que permanecero em seu crebro, podendo ser ativadas quando
novamente estimuladas, ou gerar novas e diferentes conexes a partir das anteriores em
situaes diversas.

MEMRIA NO NVEL COGNITIVO DA TEORIA DE PIAGET:


As imagens aurais, embora independentes da memria, necessitam ser armazenadas
para se manterem e serem resgatadas quando necessrio. Nesse ponto seu processo de
construo se inter-relaciona com o processo de construo da prpria memria. Segundo a
teoria dos mltiplos sistemas, a memria possui 3 subsistemas: Sensorial, Curta Durao e
Longa Durao. A memria sensorial um dos primeiros estgios onde se registra a
informao, embora com capacidade para uma grande quantidade de informao, ela registra
as informaes por breves perodos de tempo. Por causa do grande nmero de informaes
sensoriais que chegam frequentemente ao nosso crebro, feita uma espcie de "triagem" e
assim a informao processada e poder ser conduzida a um arquivo um pouco mais
duradouro que o sensorial, como por exemplo, o da memria de curta durao.
A memria de curta durao tem uma capacidade de armazenamento muito limitada,
assim expulsando as informaes armazenadas a cada errada de novas informaes. Na
memria de longa durao, a informao armazenadas por um longo perodo de tempo ou
mesmo permanentemente. Devido sua extensa capacidade de armazenagem acredita-se que
todos os conhecimento relativos s habilidades cognitivas do ser humano estejam
armazenados na memria de longa durao. Portanto, podemos afirmar que esse tipo de
memria ocupa papel relevante na aprendizagem. A organizao ou o formato em que so
armazenadas as informaes na memria de longa durao crucial para sua recuperao
pelo indivduo. Com a grande diversidade de informaes de toda natureza armazenadas em
seu arquivo, a recuperao de uma determinada informao na memria de longa durao
requer uma ativao do conhecimento com informaes mais ricas sobre o que se deseja
resgatar. S assim torna-se possvel a efetivao de respostas imediatas no resgate de
informaes armazenadas.
De acordo com Piaget e Inhelder (1979), a memria no sentido estrito utilizada para
designar a conservao do conhecimento adquirido como uma lembrana singular e na
memria ampla o indivduo lida com esquematismos que incluem todo o conhecimento
adquirido no passado. Os dois autores ainda definem a memria em 3 nveis hierrquicos:
memria do reconhecimento (presena do objeto percebido sem a evocao da sua ausncia),
memria de reconstituio (transio do estgio de desenvolvimento sensrio-motor para
estgios de representao atravs da imitao) memria de evocao (corresponde aos nveis
de inteligncia representativa, pr-operacional e operacional onde a memria no aparece
antes da construo da imagem mental e da linguagem).Na memria como unidade funcional
levantamos dois aspectos: a ativao de uma lembrana significa a ativao de algum
esquema e a memria de reconstituio provm da imitao, portanto, tem a mesma origem da
imagem mental. Esses processos de construo de memria se relacionam estreitamente com
o desenvolvimento cognitivo do indivduo pois a partir desse desenvolvimento, a memria no
sentido construtivista ter seus processos aprimorados.

MEMRIA MUSICAL:
Em relao memria musical, alguns tipos de memria so destacados por influenciar
diretamente na experincia musical: A memria auditiva
caracterizada pela capacidade de ouvir os sons internamente na ausncia de fonte sonora e
extremamente til para o desenvolvimento da improvisao vocal ou instrumental, composio
e performance. A memria cinestsica e mecnica se d pela memorizao das aes motoras
que no qual favorece principalmente a performance instrumental. A memria visual a
capacidade de ver mentalmente as possveis configuraes grficas e uma partitura, por
exemplo alm de localizar espacialmente as notas do instrumento. A memria analtica pode
ser exercida desde o aluno mais iniciante que pode fazer grficos ou desenhos de escalas
ascendentes ou at uma anlise mais detalhada de uma partitura.
No nvel pedaggico, da educao musical e especificamente do desenvolvimento da
percepo auditiva, podemos salientar que: a conjugao dos processos de imagem aural e
memria meldica um dos aspectos mais importantes na concretizao interna de alturas,
intervalos e seus relacionamentos dentro de uma melodia, por possibilitar ao indivduo domnio
suficiente do conhecimento para transform-lo e adequ-lo cada nova situao. Essa
conjugao uma forma de fortalecimento das conexes neuronais especficas de cada
intervalo ou de uma melodia como um todo. O exerccio das redes neuronais atravs da
repetio de estmulos e suas associaes o responsvel pela permanncia das informaes
na memria. Assim, reafirmamos a idias de que tanto a imagem aural quanto a memria
meldica podem ser construdas de forma lgica e gradativa respeitando as possibilidades do
aluno de acordo com o seu desenvolvimento cognitivo e principalmente utilizando a sua cultura
musical. Num trabalho pedaggico importante que se observe e propicie ao aluno
oportunidades de demonstrar a sua construo do conhecimento. Somente atravs do domnio
livre e consciente dos elementos musicais o aluno poder obter autonomia e competncia no
fazer musical.

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