MAGMA

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JOO GOMES GONALVES

Tese apresentada Escola de Comunicao e Artes


da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo
de Bacharel em Artes Visuais

Habilitao em Pintura

Orientadora: Profa. Dra. Dora Longo Bahia

So Paulo
2017
Autorizo
Autorizo a reproduo
a reproduo e divulgao
e divulgao total outotal ou parcial
parcial deste trabalho,
deste trabalho, por qualquer
por qualquer meio
meio convencional ou
convencional ou eletrnico,
eletrnico, para finspara fins de eestudo
de estudo e pesquisa,
pesquisa, desde
desde que queacitada
citada fonte. a fonte.

Catalogao na Publicao
Servio de Biblioteca e Documentao
Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo
Dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Gonalves, Joo Gomes


MAGMA / Joo Gomes Gonalves. -- So Paulo: J. G.
Gonalves, 2017.
65 p.: il.
Agradecimentos
Trabalho de Concluso de Curso - Departamento de Artes
Plsticas/Escola de Comunicaes e Artes / Universidade de
So Paulo.
Orientadora: Dora Longo Bahia
Bibliografia
Obrigado Dora, pelo estmulo, carinho,
1. Fico 2. Arte 3. Monumento 4. Cincia 5. Ps-verdade
I. Longo Bahia, Dora II. Ttulo. amizade e imensa generosidade.
CDD 21.ed. - 700

Aos meus pais, pela confiana e pacincia.

E aos meus colegas de ateli, Anna, Felipe,


Jlia e Yuli, pelo convvio leve e enriquecedor.
Stonehenge Amaznico

Eu no tinha ideia de que estava descobrindo o Stonehenge da Amaznia,


disse Silva, 65, em um dia quente de outubro, enquanto olhava para o stio
arqueolgico situado pouco ao norte da linha do equador, encontrado por ele
em 19901. Uma cultura indgena disps esses megalitos como um observatrio
astronmico h cerca de mil anos, de acordo com testes de radiocarbono. A
descoberta desse stio arqueolgico veio acompanhada de outras: escavaes
gigantes na terra, restos de assentamentos fortificados e redes de estradas
complexas. Isso modifica a compreenso da Amaznia como uma regio re-
lativamente intocada por processos civilizacionais: a hiptese que vigora hoje
de que ela abrigou uma populao de at 10 milhes de pessoas antes das
epidemias e dos massacres da colonizao europeia.

Os megalitos foram esculpidos em blocos de granito extrados de um rio pr-


ximo. A maior parte deles configura um crculo; o restante est alinhado com o
trajeto do sol durante o solstcio de inverno. Malville, fsico solar da Universidade
do Colorado, levando em conta algumas peas de cermica encontradas no
local, levanta a possibilidade de que esse stio se relacione de alguma forma
cultura amaznica do animismo (atribuio de uma alma a elementos da na-
tureza e a objetos inanimados) e no seja somente um marcador astronmico.

1 ROMERO, Simon. A Stonehenge, and a Mystery, in the Amazon. The New York Times,
14 de dezembro de 2016. Disponvel em: https://www.nytimes.com/2016/12/14/world/americas/
brazil-amazon-megaliths-stonehenge.html. Consultado em 20 de dezembro de 2016.
Geoglifos da Estepe2
2

De 2007 at hoje, o economista e arquelogo amador Dmitriy Dey, navegando


no Google Earth, descobriu uma srie de pelo menos 260 morros ancestrais
feitos no solo na regio de Turgai, norte do Cazaquisto. Os morros tm cer-
ca de 10m de dimetro cada, e se agrupam regularmente, formando grandes
estruturas visveis apenas do cu ou com auxlio de satlites. H quatro estru-
turas de destaque:
3
- Quadrado de Ushtogaysky: um quadrado com duas linhas diagonais
ligando seus vrtices internamente, fazendo um X. As linhas so cons-
trudas por um total de mais de 100 morros circulares. A rea total
dessa estrutura superior da base da grande pirmide de Quops.
- Anel de Bestamskoe: um crculo feito por 25 morros circulares.
- Sustica de Turgai: uma espcie de sustica de trs braos com termi-
naes bifurcadas que fazem curvaturas em sentido anti-horrio. Sete
grandes desenhos circulares pendem ao lado da sustica, organizados
4 no regularmente em uma espcie de rbita.
- Grande cruz de Ashutastinsky: uma cruz feita pela sobreposio de
duas linhas levemente onduladas, construdas com cerca de 40 morros
circulares. Alm da ondulao das linhas, chama ateno uma leve
disperso dos crculos-ponto nas extremidades das linhas.

Alguns dos geoglifos esto prximos a assentamentos neolticos, e sabido


que o norte do Cazaquisto oferecia terrenos frteis para a caa a tribos nma-
des que passavam pela regio. Mas a descoberta surpreendeu arquelogos,
5 que no concebiam tamanho nvel de organizao social, complexidade e ve-
locidade construtiva em tribos pr-sedentrias.

2 BLUMENTHAL, Ralph. NASA Adds to Evidence of Mysterious Ancient Earthworks. The


New York Times, 30 de outubro de 2015. Disponvel em: https://www.nytimes.com/2015/11/03/
science/nasa-adds-to-evidence-of-mysterious-ancient-earthworks.html. Consultado em: 20 de ja-
neiro de 2017.
Superhenge3
6 7

Em 2015, arquelogos ingleses desenterraram um complexo circular de 30


pedras a menos de 3km do Stonehendge mais conhecido. As pedras tm uma
forma totmica simples, oval, e medem aproximadamente 5m de altura. Os
arquelogos estimam, pelo desenho do complexo e por vestgios minerais, que
o stio abrigava um total de 90 pedras, das quais apenas um tero resistiu
eroso nos 4.500 anos que passaram enterradas.

8 9 Especula-se que a estrutura tenha sido uma locao ritualstica ou um teatro de


propores gigantes. O que mais intriga os arquelogos, entretanto, o fato de
as pedras terem sido deliberadamente derrubadas e enterradas em um dado
momento da histria, como que para preserv-las da histria, constituindo um
detalhe paisagstico denominado Durrington Walls, uma espcie de desnvel
no terreno, que abrigava as pedras escondidas. A hiptese incipiente mais po-
pular de que tenha ocorrido na regio uma espcie de revoluo religiosa, a
partir da qual o novo (e mais conhecido) Stonehenge foi construdo.
10
11

3 EPSTEIN, Adam. A bigger, older Stonehenge has been unearthed by scientists a mile
from the original. Quartz, 8 de setembro de 2015. Disponvel em: https://qz.com/497164/a-bigger-
-older-stonehenge-has-been-unearthed-by-scientists-a-mile-from-the-original. Consultado em: 21
de janeiro de 2017.
12
Ilha de Plstico
13

O baquelite, primeiro plstico, foi sintetizado originalmente em 1907, e levou


quase 50 anos para ser popularizado nos pases ricos. No ps-guerra, a popu-
lao mundial totalizava pouco mais de 2,5 bilhes de pessoas, e uma parcela
irrisria desse todo participava da economia do petrleo. Atualmente, os de-
rivados de petrleo tornaram-se baratos e acessveis em quase todo os can-
tos do planeta, e a populao totaliza 7,5 bilhes de pessoas. Os primeiros
100 anos da economia do petrleo com um consumo de baixa penetrao
produziram uma gigantesca ilha plstica flutuante no Pacfico Norte, alm
dos primeiros efeitos sensveis do aquecimento global antropognico. Hoje,
a capacidade produtiva e o nvel de consumo so suficientes para replicar os
mesmos efeitos do ltimo sculo em alguns poucos anos. O sculo XXI ser
exponencial, de curvas logartmicas ou parablicas em muitos indicadores, em
funo da superpopulao.

A economia de petrleo densa, de altssima capilaridade. Nenhum setor pro-


dutivo foge a ela da produo de objetos suprfluos quaisquer a funes so-
ciais imprescindveis, como o aquecimento habitacional em regies de latitudes
extremas. Mesmo que nenhum esforo de reduo de consumo seja feito, os
hbitos mudaro, pois o petrleo finito e a expectativa para a depleo total
de reservas de cerca de 53 anos4.

Os hidrocarbonetos so um Sol antigo envelopado em carbono luz convertida


em cadeia de carbono via fotossntese. Essa massa viva em algum momento
foi soterrada e apodreceu, para ento ser extrada, manipulada, queimada e
liberada na atmosfera. J se passaram 250 anos de revoluo industrial: um
incndio incessante propulsionado por uma energia ancestral escavada. Toda
essa energia encapsulada quimicamente ao longo dos 3,6 bilhes de anos da
vida na Terra aflorou e dispersou-se num nico momento do tempo, o presente.
A atmosfera , hoje, um forno de alta potncia ligado h 250 anos.

4 VIDAL, John. The end of oil is closer than you think. In: The Guardian, 21 de abril de
2005. Disponvel em: https://www.theguardian.com/science/2005/apr/21/oilandpetrol.news. Con-
sultado em: 12 de novembro de 2016.
14
Os derivados lquidos e gasosos da destilao fracionada do petrleo cumprem hiperobjeto para designar fatores to amplamente distribudos no tempo e no
uma funo energtica, e seus subprodutos slidos (parafinas, ceras, asfalto, espao, que transcendem a noo de localizao. Esse termo aplicvel a
piche, plsticos e espumas) so os fsseis do processo, correspondendo a fenmenos como o isopor, gases de efeito estufa e o plutnio enriquecido.
4% do volume de petrleo bruto. Morton argumenta que os efeitos imateriais, irreversveis, infinitos e onipresen-
tes desses elementos faro com que, num futuro distante, a relao dos seres
Cientistas e arquelogos especulam que num futuro distante (daqui 3.000 humanos com eles se aproxime daquela que nossos antepassados tinham com
anos), se uma forma de vida inteligente ainda habitar a terra (hipottica, j que suas divindades pags de medo e subservincia.
a previso corrente5 a extino de 70% dos mamferos at 2100), sua inte-
ligncia identificar a economia do petrleo como uma era arqueolgica, pois 15
boa parte do plstico de alta resistncia passar por um processo de minerali-
zao, gerando rochas no formato exato dos bens de consumo do sculo XX.
Defrontado com esses vestgios, o hipottico observador do futuro poder ou
no inferir sua funcionalidade, a depender da quantidade de cultura documen-
tada que chegar ao futuro. No pior dos casos, nossas ferramentas antropomr-
ficas (celulares e eletrodomsticos, teclados, guides etc.) sero entendidas
como uma espcie de casco ou fssil de um ser extinto h muito tempo.

3.000 anos o mesmo tempo que nos separa da civilizao do Alto Egito, da
qual restam alguns sarcfagos, mmias, templos e pirmides. A herana mate-
rial melhor preservada so as pirmides (cuja funo tumular e religiosa ainda
instiga polmica acadmica), pois eram densas, minerais e desenhadas de for-
ma resistente eroso. O plstico que durar justamente aquele mais denso
uma boa parte da ilha de plstico do Pacfico feita de baquelite da dcada 16
de 50, j que a democratizao da economia do petrleo veio acompanhada
da reduo de sua densidade: PVC, Nylon, polister, isopor, EVA, poliuretano,
estes ltimos bem esponjosos, rarefeitos.

No incio dos anos 2010, o filsofo ingls Timothy Morton6 difundiu o termo
5 Diversas previses catastrficas, mas bem fundamentadas em modelagens climticas
e ecolgicas, tm sido publicadas desde os anos 90, com pioneirismo de James Lovelock, que
estimou uma queda da populao humana para 1/14 do volume atual at 2100. Estudos mais
recentes, que levam em conta todos os vertebrados, comprovam que a sexta extino da vida na
Terra j est em curso, pois a taxa de extino do sculo passado foi 100 vezes superior taxa
de extino basal. Ver GERARDO, Ceballos. Accelerated modern humaninduced species losses:
Entering the sixth mass extinction. Washington: Science Advances, vol. 1, n.5, 19 de junho de
2015. Disponvel em: http://advances.sciencemag.org/content/1/5/e1400253. Consultado em: 3 de
fevereiro de 2017.
6 MORTON, Timothy. Hyperobjects: Philosophy and Ecology after the End of the World.
Minneapolis: University of Minnesota Press, 2013.
17 18
Spomenik

19 De 2006 a 2009, o fotgrafo belga Jan Kempenaers executou uma empreita-


da solitria na regio da Bulgria e da ex-Iugoslvia (atuais Crocia, Srvia,
Eslovnia e Bsnia e Herzegovina). Com auxlio de um mapa raro de 1975,
visitou regies rurais remotas onde foram construdos diversos monumentos
brutalistas abstratos durante a era sovitica. Suas fotos7 circularam a Internet
em blogs e pginas de Tumblr, fazendo grande sucesso. A esttica nebulosa
e romntica das fotos, o silncio do fotgrafo a respeito das locaes precisas
e da autoria dos monumentos e a falta de familiaridade do grande pblico com
suas formas produziu manchetes intrigantes8:

Abandoned Yugoslavia Monuments that look like theyre from the Future
Otherworldly and Abandoned Soviet Monuments
An abandoned communist UFO in Bulgaria

Os monumentos foram comparados a flores, cogumelos, cristais, marcas de


pouso de OVNIs e micro-organismos explodidos. A onda de curiosidade ge-
neralizada que se sucedeu fez com que nos idos de 2011 esses blogs com-
plementassem suas pginas com pequenas explicaes, atribuindo os monu-
mentos ao ex-presidente iugoslavo Tito, que teria comissionado um grupo de
artistas locais para constru-los entre 1960 e 1970 em celebrao a vitrias
soviticas nos locais de batalhas da 2a guerra mundial.

Em novembro de 2016, o Calvert Journal, publicao inglesa especializada em


cultura contempornea do leste europeu, postou uma longa matria9 acusando
Kempenaers de descontextualizao histrica, e os blogs, de pura especu-
lao. Segundo o Calvert Journal, a maioria dos Spomenik (monumento, em
lngua servo-croata) foi financiada por cooperativas de empresrios e trabalha-
7 Ver www.jankempenaers.info/works/1/
8 Ver http://www.cracktwo.com/2011/04/25-abandoned-soviet-monuments-that-look.html,
http://humanscribbles.blogspot.com.br/2010/12/spomenik-propaganda-or-pure-beauty.html, http://
visualmelt.com/Spomenik-Monument, entre outros.
9 HATHERLEY, Owen. Concrete clickbait: next time you share a spomenik photo, think
about what it means. The Calvert Journal: 29 de novembro de 2016. Disponvel em: http://calver-
tjournal.com/articles/show/7269/spomenik-yugoslav-monument-owen-hatherley. Consultado em: 2
de fevereiro de 2017.
20 21 25

22

23

24
26
dores locais que solicitaram aos artistas formas deliberadamente abstratas, em Operao Crossroads
dilogo com correntes estticas de outras regies do ocidente. Uma pesquisa
mais informada os descreveria, portanto, como manifestaes artsticas aut-
nomas de resistncia ao totalitarismo e vertente publicitrio-discursiva da arte As experincias nucleares do sculo XX tiveram as finalidades mais diversas:
oficial do regime sovitico. produo energtica, guerra, entretenimento e testes de potncia. Somente o
Atol de Bikini recebeu mais de vinte bombas de hidrognio e bombas nuclea-
A errata do Calvert Journal, porm, tem pouco efeito retificador sobre o discur- res de um total de 67 detonaes no conjunto das Ilhas Marshall. A maior
so construdo por Kempenaers e pelos blogs: buscando Spomenik no Google, delas foi o teste de Castle Bravo, cuja nuvem-cogumelo atingiu uma altura de
o artigo do Calvert aparece em stimo posio, apenas. 40km em menos de 10 minutos, mil vezes mais potente que as exploses de
Hiroshima e Nagasaki. A liderana em potncia, entretando, sovitica, com
as 4 maiores exploses-teste da histria. J a Frana o pas que conduziu
exploses a cu aberto at mais tarde, cessando a prtica nos anos 90. Todas
essas experincias, acumuladas, contriburam para a formao de uma fina
27
pelcula de radiao que atualmente cobre o mundo todo. Os efeitos de longo
prazo dessa pelcula sobre a vida e a matria ainda so desconhecidos.

28

Entre 1977 e 1980, o governo dos EUA construiu um domo de concreto de


100m de dimetro sobre um buraco na ilha de Runit, para enterrar e isolar o
solo contaminado recolhido de todos os stios de teste das Ilhas Marshall, nas
dcadas anteriores. A obra teve incio aps uma tentativa frustrada de realocar
os antigos habitantes de volta s suas terras de origem apenas uma dcada
aps o trmino das exploses. Os nveis de radiao ainda eram muito altos e
a populao foi contaminada no processo.
Tchernbil
29

A enfermeira me respondeu: voc no deve se esquecer de que isso que


est na sua frente no mais o seu marido, mas um elemento radioativo
com alto poder de contaminao. No seja suicida. Recobre a sensatez.

Quando eu o levantava, pedaos de pele grudavam nas minhas mos.


Qualquer costura feria a sua pele. Cortei minhas unhas at sangrar, para
no machuc-lo. Nenhuma das enfermeiras tinha coragem de se aproximar
dele, de toc-lo. No hospital, nos ltimos dias, eu levantava a mo dele e os
ossos se moviam, danavam, se separavam da carne. Saam pela boca pe-
dacinhos do pulmo, do fgado. Ele se asfixiava com as prprias vsceras.

- Licienka10, sobre os ltimos dias do marido, um dos bombeiros


acionados na conteno primria do desastre de Tchernbil

Tchernbil sobretudo uma catstrofe no tempo. Os radionucleotdeos espa-


lhados vivero 200 mil anos ou mais. Do ponto de vista da vida humana, so
eternos. A pesquisadora Svetlana Aleksivitch11 prefere classificar Tchernbil
como o maior evento do sc. XX, frente s duas guerras mundiais e ao holo-
causto, j que continuar ativo fisicamente e no somente como memria
por todo esse tempo, obrigando a humanidade a manter contato ativo com um
acontecimento de cuja origem talvez nem lembrar.

H um monumento involuntrio s vtimas de Tchernbil: o sarcfago que elas


construram com as prprias mos e que abriga a chama nuclear. uma pir-
mide do sculo XX. Para que um acontecimento se torne histria, so neces-
srios geralmente uns cinquenta anos. Mas nesse caso as marcas ainda esta-
ro quentes. A arte j ensaiou diversas vezes o apocalipse tecnolgico, vide a
zona referida por obras como Stalker (1979), de Andrey Tarkovsky e Roadside
Picnic (1971), dos irmos Strugatsky. Mas a literatura cedeu passo realida-
de. Em Tchernbil se recorda a vida depois de tudo: objetos e paisagem sem

10 Transcrio da autora e pesquisadora ALEKSIVITCH, Svetlana. Vozes de Tchernbil:


a histria oral do desastre nuclear. So Paulo: Companhia das Letras, 2016, pp. 30-32.
11 Ibidem, p. 39.
homem, estradas e cabos sem usurios. A paisagem confunde o observador mado Sarcfago foi erigido s pressas na poca do acidente, com auxlio de
entre impresses de passado e de futuro. helicpteros e robs, que deixaram fendas. Uma estimativa recente aponta
mais de 200m2 de zonas defeituosas ou fendidas, pelas quais escapam aeros-
30 sis radioativos. Dessa forma, faz-se necessrio um novo sarcfago, que ser
construdo pela Ucrnia com doaes de 28 pases, a um custo estimado de
768 milhes de dlares. O novo abrigo, intitulado Arca, ter fundaes colos-
sais, estrutura de material rochoso artificial e 18 mil toneladas de metal, 1,5km
de altura e, esteticamente, se assemelhar torre Eiffel. uma instalao sem
precedentes na histria da humanidade.12

31

Os nmeros oficiais do desastre so imprecisos. Em parte, porque a radiao


se espalhou rapidamente pelo vento e pela gua e at hoje surte efeitos em
regies distantes da usina. O pas mais afetado foi a Bielorrssia, apesar de
Tchernbil se localizar no norte da Ucrnia. 70% dos radionucldeos recaram
sobre o vizinho do norte, que permanece com um quarto de seu territrio con-
taminado. Os casos de doenas oncolgicas no pas multiplicaram-se 74 vezes
desde o acidente, e a mortalidade cresceu 25% nos ltimos dez anos.

Apesar dos dados tenebrosos envolvendo vidas humanas, o que mais assusta
12 Ibidem, pp. 9-15. Informaes compiladas pela autora em publicaes bielorrussas nos
so as perspectivas incertas sobre a conteno da radiao no futuro: o cha-
anos 2000.
32
Depsito
33 34

A empresa Posiva Oy recentemente recebeu licena para construir um depsi-


to para resduos nucleares com 450m de profundidade, no oeste da Finlndia.
O depsito comportar 6.500 toneladas de urnio sob uma camada rochosa de
granito e foi desenhado para isolar o material por cerca de 100 mil anos, tempo
estimado para que sua radioatividade caia para nveis seguros. A construo
dever custar cerca de 1 bilho de euros e o projeto todo, incluindo os custos
operacionais, 3,5 bilhes de euros.13

o projeto construtivo de mais longo horizonte de durabilidade j feito pela


35 humanidade. Duas preocupaes envolvidas so particularmente interessantes:

- No caso de uma nova era do gelo, o que bem provvel ao longo da


vida do projeto, o permafrost (uma amlgama permanentemente con-
gelada de terra, gua e rochas) poderia alcanar uma profundidade de
800 metros. Nesse caso, a empresa precisaria levar o material para
outro lugar. A autoridade de segurana nuclear j testou o mtodo.
- Ao longo de 100 mil anos, provvel que as linguagens escrita e visual
modifiquem-se muito. Alm da reposio constante das sinalizaes
de perigo e risco de contgio no entorno do depsito, a empresa est
trabalhando com um time de linguistas, antroplogos e artistas numa
36 37 tentativa de desenvolver sinalizaes permanentes que sejam univer-
salmente compreendidas por perodos mais longos, caso a regio seja
abandonada e repovoada posteriormente.

A maior acionista da Posiva Oy a tambm finlandesa Stora Enso, empresa


do setor de reflorestamento e celulose. A Stora Enso uma das corporaes
ainda atuantes mais antigas do mundo, com atividade produtiva documentada
pelo menos desde 128814. Alm de ter acompanhado o surgimento e o desen-
volvimento de todo o perodo do que chamamos de capitalismo, a empresa
13 DEUTSCHE WELLE BRASIL. Finlndia autoriza depsito permanente de lixo nuclear.
13 de novembro de 2015. Disponvel em: http://dw.com/p/1H5Ew. Consultado em: 30 de janeiro de
2017.
14 STORA ENSO. About us: history. Disponvel em: http://www.storaenso.com/about/his-
tory. Consultado em: 30 de janeiro de 2017.
tem experincia prvia com projetos de longussimo prazo: levou sculos para
39
comear a produzir celulose e papel, e alguns outros sculos para expandir
suas operaes de reflorestamento da Europa para a Amrica. Esse padro
de movimentos longos e lentos tambm a caracteriza como uma das empresas
mais conservadoras do mundo.

38
Adaptao

Timothy Mousseau, professor de cincias biolgicas da Universidade de Ca- 40


rolina do Sul, um dos principais especialistas nos efeitos da radiao sobre as
populaes selvagens de aves, insetos, roedores e plantas, afirma que toda
radiao gera mutaes, mas que a tendncia de, com o tempo, as espcies
voltarem ao normal. Isso acontece pois as mutaes, na maioria dos casos,
so neutras ou negativas, o que privilegia, por seleo natural, a prevalncia
reprodutiva dos animais menos afetados. Isso sugere que, diferentemente da
fantasia popular, dificilmente surgiro novas espcies de monstros mutantes
nas reas contaminadas.

As mutaes detectadas em seres vivos trinta anos aps a catstrofe na rea


evacuada de Tchernbil e no entorno de Fukushima, passados cinco anos,
variam de pequenas irregularidades estticas (ex.: perda de simetria nas man-
chas dos percevejos) a danos mais agressivos (tumores restritivos mobilida-
de em pssaros e raposas).

muito difcil estimar o impacto total dos acidentes nucleares sobre a


biodiversidade das regies contaminadas: se, por um lado, a maior parte das
mutaes so danosas, a evacuao dos seres humanos resultou no fortale- 41
cimento e multiplicao de vrias espcies at ento em declnio. Alm disso,
os efeitos de uma dada quantidade de radiao tm impacto muito varivel:
animais alvo de fatores de estresse como frio ou fome tiveram aumentos na
taxa de mortalidade em funo da radiao 8 a 10 vezes maior que naqueles
cuja vida mais confortvel.15

15 ZIMMERMNN, Nils. Toda liberao de radioatividade gera mutaes. In: Deutsche Welle
Brasil, 12 de maro de 2016. Disponvel em: http://dw.com/p/1IBzH. Consultado em: 31 de janeiro
de 2017.
Imortalidade
42 43

A possibilidade terica da imortalidade um reflexo da inexistncia de aumento


na taxa de mortalidade em funo da idade, em uma dada espcie. Em termos
celulares, o fundamento da imortalidade biolgica a perfeita capacidade de
reparo do DNA, evitando mutaes que levam ao envelhecimento e deca-
dncia da diviso celular. Essas caractersticas so encontradas em algumas
espcies:

- Bactrias que se reproduzem por fisso binria.


- Algumas espcies de guas vivas, que mantm a capacidade de
retroceder ao estado de plipo mesmo depois de maduras, por um
processo denominado transdiferenciao celular.
44 - Hidras (cnidrios pequenos).
- Pinheiros do tipo Pinus Balfourianae, que, uma vez maduros, ten-
45 dem a permanecer. Isso acontece com mais frequncia em ambien-
tes hostis, onde prosperam mais facilmente, sem atrito com esp-
cies concorrentes.
- Esponjas-de-vidro, porferos das profundezas marinhas com esque-
leto de slica. J foram encontrados espcimes com idade superior
a 15 mil anos.
- Endolitos (lquens, fungos, bactrias ou amebas), que vivem em
ambientes extremamente isolados e estveis, como interiores de
rochas e corais. Muitos deles so extremfilos adaptados a am-
bientes onde nenhum outro ser sobrevive. Seu diferencial um me-
tabolismo muito lento: passam por diviso celular uma vez a cada
100 anos, somente, e dedicam a maior parte de sua energia rege-
46
nerao dos danos celulares causados por raios csmicos.

O conceito de imortalidade biolgica obviamente no contempla morte por


eventos traumticos, como predao e esmagamento.

Em contexto laboratorial, existem algumas linhagens de cultivos de clulas hu-


manas considerados imortais (sem queda na taxa de diviso celular em funo
48

47
de danos ao DNA). O exemplo mais clebre o da linhagem HeLa16, um con-
51
junto de clulas provenientes da raspagem no autorizada do cncer cervical
de uma mulher norte-americana chamada Henrietta Lacks, em 1951. Existe
hoje, em clulas HeLa cultivadas em laboratrio, mais de 400 vezes a massa
do corpo da mulher da qual o tecido foi colhido, em 1951.

49

50

52

16 SKLOOT, Rebecca. A vida imortal de Henrietta Lacks. So Paulo: Companhia das Le-
tras, 2011.
Biologia Quntica

53
O desenvolvimento da fsica quntica, que substitui ou estende compreen-
ses da fsica newtoniana, esteve historicamente ligado aos estudos da luz,
da radiao e das estruturas subatmicas. Boa parte de seus conceitos foram
previstos abstrata e matematicamente ainda no comeo do sculo XX, e au-
feridos empiricamente por volta da metade do sculo. Mesmo assim, alguns
fenmenos qunticos (ex.: a capacidade de algumas partculas subatmicas
ocuparem dois lugares ao mesmo tempo, ou sumirem de um e aparecerem
noutro imediatamente) s vinham sendo testados em situaes laboratoriais
de extremo controle (isolamento de partcula, vcuo, temperatura prxima ao
zero absoluto, total ausncia de luz), nunca em situaes cotidianas. Essa fal-
ta de aplicabilidade talvez explique o desinteresse generalizado no assunto e
sua ausncia em currculos escolares, apesar de representar mais fielmente a
realidade que o modelo newtoniano.

Isso comeou a mudar meados dos anos 2000, quando a cincia inaugurou
o campo da biologia quntica, voltado ao estudo de fenmenos qunticos no 54
nvel molecular de processos complexos em seres vivos, notadamente: na fo-
tossntese vegetal, na orientao migratria dos pssaros via campo magn-
tico, na leitura olfativa das molculas e no processamento da conscincia, no
crebro. Todos esses processos biolgicos apresentam enigmas insolveis,
se considerada somente a fsica e a qumica clssicas. No passado, evitou-se
combinar os dois campos pois se acreditava que os fenmenos qunticos em
questo s existiam em ambiente laboratorial controlado. A vida era considera-
da mida, quente e instvel demais para abrig-los. Recentemente, entretanto,
diversas pesquisas17 tm detectado atividade quntica no nvel molecular de
vrios desses processos, abrindo a possibilidade de pesquisa.

As linhas de pesquisa supracitadas tm nveis de complexidade e certeza bem


variveis. No extremo mais seguro est o olfato. A explicao tradicional de

17 Ver HENRIQUES, Martha. Organisms might be quantum machines. BBC Earth: 18 de ju-
lho de 2016. Disponvel em: http://www.bbc.com/earth/story/20160715-organisms-might-be-quan-
tum-machines. Consultado em: 1 de fevereiro de 2017. e AL KHALILI, Jim; MCFADDEN, Johnjoe.
Life on the Edge: The Coming of Age of Quantum Biology. Londres: Bantam Press, 2014.
que os receptores olfativos liam o cheiro das substncias pelo formato das
55
molculas dispersas no ar no dava conta de que algumas molculas de
formas idnticas possuem odores completamente distintos, enquanto outras,
de formas distintas, possuem odores semelhantes. A aplicao do tunelamento
quntico (a viagem de um eltron do ponto A para o ponto B sem passar pelo
espao) potencialmente explica o mecanismo do olfato nossos receptores
olfativos fariam uma leitura energtica das molculas, medindo sua vibrao
distncia, e no sua forma. Molculas com frequncia de vibrao seme-
lhantes teriam, portanto, odores semelhantes. Partindo dessa hiptese, Luca
Turin, qumico do instituto Alexander Fleming, na Grcia, fez a previso de
que o Borano, substncia extremamente rara e nunca cheirada por ele, teria
o mesmo odor do Enxofre e acertou. Faltam testes comprovatrios, mas a
teoria slida.

No outro extremo, mais especulativo, h o estudo da funo cognitiva daquilo


que chamamos de conscincia. A conscincia a parte no-mecnica da inte-
leco, que no pode ser resumida ao processamento de dados, a um algorit-
mo. Alternativamente, a conscincia a parte do pensamento que decide o
que a realidade , que lida com as percepes daquilo que nunca experimen-
tamos antes e, portanto, no possumos um caminho pr-codificado para acio-
nar. Essa outra parte da inteleco, mais mecnica, j tem seu funcionamento
melhor compreendido: ela se d nas reaes sinpticas entre os neurnios,
cujas ligaes so formadas ao longo da vida psquica de um indivduo, dese-
nhando um mapa de rotinas e associaes. Mas o mecanismo da conscincia,
at muito recentemente, no era compreendido pela cincia e tampouco loca-
lizvel quimicamente no crebro.

Desde os anos 90, Roger Penrose, matemtico de Oxford, e Stuart Hame-


roff, anestesista da Universidade do Arizona, tm pesquisado conjuntamente
a conscincia sob a luz da fsica quntica. Eles desenvolveram uma teoria
chamada Orch OR (Reduo Objetiva Orquestrada), segundo a qual o proces-
samento da conscincia no se d nas sinapses, mas num nvel mais fino, em
organelas chamadas microtbulos, no interior dos neurnios. Os microtbulos
so cadeias proteicas ligadas ao citoesqueleto das clulas: suas funes co-
nhecidas at hoje so todas estruturais estruturao da membrana celular,
transporte intracelular, diviso celular, composio de clios e flagelos. Para
56
alm dessas funes, eles seriam responsveis por conectar a atividade cere-
bral geometria do espao-tempo, a matria-fina constitutiva do universo.18

Para Penrose, os microtbulos fariam a traduo da fsica quntica, na esca-


la subatmica, para os princpios da fsica clssica-newtoniana, em que um
mesmo corpo habitar dois lugares simultaneamente no possvel (o que
corresponde nossa experincia quotidiana, na escala dos corpos maiores).
Conjuntos de microtbulos lidariam com nuvens de partculas qunticas, colap-
sando-as para as regras da fsica clssica, e dessa forma se daria o processo
de deciso no-computacional no nosso crebro, responsvel pelo reconheci-
mento do que a realidade , ou seja, o processo de conscincia.

Hameroff19 defende que a ligao dos microtbulos com informao quntica


presente na matria fina do universo, fora do crebro, atravs de fenmenos
no-newtonianos, nos leva a um modelo em que o crebro no um gerador
autnomo de conscincia, mas algo prximo a uma antena, que sintoniza par-
cialmente uma conscincia geral, que a prpria matria do universo, a nvel
quntico. Isso aproxima a teoria da conscincia segundo a biologia quntica
ao entendimento do que a alma para algumas filosofias e religies orientais,
como o zen-budismo. Tambm repe, como hipteses cientficas, os relatos de
experincias de quase-morte, o dualismo entre corpo e alma e a existncia de
conscincia desvinculada a um corpo possibilidades descartadas h muito
tempo pela cincia e filosofia ocidentais.

18 HAMEROFF, Stuart. Consciousness, microtubules, & Orch OR: a space-time odyssey.


University of Arizona: Journal of Consciousness Studies, 2014, p.126. Disponvel em: http://quan-
tum.webhost.uits.arizona.edu/prod/sites/default/files/SHameroffJCSConscMicroandOrchORAS-
pacetimeOdyssey2014.pdf#overlay-context=content/peer-reviewed-articles. Consultado em: 1 de
fevereiro de 2017.
19 HAMEROFF, Stuart. Brain quantum computer. 6min20s, cor, 2012. Disponvel em:
https://www.youtube.com/watch?v=jjpEc98o_Oo. Consultado em: 5 de janeiro de 2017.
57

58
Ps-verdade
59

O Dicioionrio de Oxford20 elegeu post-truth (ps-verdade) como a palavra do


ano de 2016. O adjetivo descreve circunstncias nas quais fatos objetivos so
menos influentes na formao da opinio pblica que apelos emoo e s
crenas pessoais.

Os critrios para a escolha da palavra do ano so: um aumento substancial no


uso e vnculo com um ou mais fatos relevantes daquele ano. Em 2016, o termo
escolhido foi amplamente utilizado no jornalismo para caracterizar os proces-
sos polticos21 que conduziram eleio de Donald Trump nos EUA e votao
do Brexit no Reino Unido.

A palavra indica que, num mundo repleto de estatsticas e dados, fcil


selecion-los e manipul-los de forma convincente ao interlocutor, aparentando
credibilidade, mas sem compromisso com a realidade. Capacidade de
comunicao, poder argumentativo e empatia ideolgica e emocional com o
pblico so os fatores determinantes do sucesso das causas e das pessoas
pblicas. Em adio aos dados inconsistentes nos discursos das lideranas,
a perda gradual de protagonismo dos veculos de comunicao centralizados
(jornais, revistas, rdio e TV que embutiam processos de conferncia) para
os descentralizados (microblogs e redes sociais em que os usurios tendem
a compartilhar notcias sem checagem prvia) tem contribudo para agravar
esses efeitos.

20 Ver https://en.oxforddictionaries.com/definition/post-truth.
21 FLOOD, Alison. Post-truth named word of the year by Oxford Dictionaries. The Guar-
dian: 15 de novembro de 2016. Disponvel em: https://www.theguardian.com/books/2016/nov/15/
post-truth-named-word-of-the-year-by-oxford-dictionaries. Consultado em: 2 de fevereiro de 2017.
Um Caso em Famlia
60

R. O. e K. encontraram-se em um cemitrio catlico de Porto Alegre para exu-


mar o corpo de seu pai, P., enterrado h dez anos no mausolu da famlia. O
cemitrio oferecera 20 mil reais e quatro cremaes de cortesia em troca da
liberao do espao necropolitano. Os trs irmos eram muito pouco ritualsti-
cos com a morte e aceitaram a oferta prontamente.

Na tarde chuvosa de uma quarta-feira, o coveiro emergiu o caixo superfcie


e abriu sua tampa sem muito esforo, para que os familiares testemunhassem
a existncia dos restos mortais antes da cremao. O cadver se encontrava
na seguinte situao:

- Toda a carne e matria orgnica mida havia decomposto.


- Os ossos estavam limpos e ntegros.
- O cabelo cresceu ao comprimento de uns 50 centmetros ( sabi-
do que cadveres continuam sintetizando fibras capilares e unhas
por mais algumas semanas aps a morte).
- O terno parecia uma seda de fibras tranadas espaadamente.
O tecido provavelmente era uma composio 50% algodo, 50%
polister. O algodo decomps, o polister, no.
- O defunto ainda exibia sua gravata preferida: pequenos touros da
raa Hereford estampados sobre um fundo azul (em vida, ele fora
jornalista agrnomo). A gravata, 100% polister, estava intacta.
- Uma prtese de titnio, implantada em seu joelho esquerdo nos
anos 70, tambm se encontrava em perfeito estado.

Sem grandes rodeios, R. espanou a gravata com a prpria mo, desfez o n,


dobrou-a e guardou-a no bolso. O. recolheu a prtese de titnio e comentou
que daria um timo peso para papel.

Os ossos viraram cinza naquela mesma semana.


A gravata, se bem cuidada, durar outros 200 anos.
A sobrevida da prtese de titnio indefinida.
Lista de Imagens [referncias, fontes, fichas tcnicas] 18 / Sem ttulo, 2016, isopor, gesso pigmentado, galho, tinta, resina, celofane. 170cm x 70cm x
40cm.

1 / Sem ttulo, 2016, gesso pigmentado. 5cm x 30cm x 30cm. 19 / Sem ttulo, 2016, isopor, gesso pigmentado, silicone, PVC, celofane, resina, tinta. 160cm x
70cm x 40cm.
2 / Quadrado de Ushtogaysky, Cazaquisto. Fonte: DigitalGlobe via NASA. 2015. Disponvel
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3 / Anel de Bestamskoe, Cazaquisto. Fonte: DigitalGlobe via NASA. 2015. Disponvel em: 21 / Spomenik: Kadinijaa, Srvia. Fonte: KEMPENAERS, Jean. 2009. Disponvel em: http://
https://www.nytimes.com/2015/11/03/science/nasa-adds-to-evidence-of-mysterious-ancient-ear- www.jankempenaers.info/works/1/18/
thworks.html
22 / Spomenik: Kosmaj, Srvia. Fonte: KEMPENAERS, Jean. 2006. Disponvel em: http://www.
4 / Sustica de Turgai, Cazaquisto. Fonte: DigitalGlobe via NASA. 2015. Disponvel em: jankempenaers.info/works/1/4/
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31 / Sem ttulo, 2016, isopor, gesso pigmentado, poliuretano expandido, tinta. 150cm x 70cm x
12 / Sem ttulo, 2016, gesso pigmentado, plstico, silicone, galhos, isopor, osso, poliuretano 40cm.
expandido, PVC, resina, celofane, miojo, nylon, pedra, esponja do mar, tinta. 50cm x 4m x 4m.
32 / Sem ttulo, 2016, interferncia digital sobre fotografia apropriada. 49613508 pixels.
13 / Sem ttulo, 2016, gesso pigmentado, plstico, silicone, PVC, nylon, pedra, tinta. Dimenses
variveis. 33 / Sem ttulo, 2016, gesso pigmentado, poliuretano expandido, tinta. 10cm x 15cm x 10cm.

14 / Sem ttulo, 2016, gesso pigmentado, papelo, celofane. Dimenses variveis. 34 / Sem ttulo, 2016, silicone, plstico, miojo, tinta. 10cm x 15cm x 5cm.

15 / Sem ttulo, 2016, silicone, PVC, nylon, tinta. 10cm x 50cm x 40cm. 35 / Sem ttulo, 2016, gesso pigmentado, algodo pigmentado. 5cm x 20cm x 5cm.

16 / Sem ttulo, 2016, gesso pigmentado, caixa de papel. 18cm x 10cm x 7cm. 36 / Sem ttulo, 2016, gesso pigmentado, galho, espuma sinttica, tinta. 50cm x 10cm x 10cm.

17 / Sem ttulo, 2016, isopor, tinta. 120cm x 70cm x 40cm. 37 / Sem ttulo, 2016, gesso pigmentado, miojo, tinta. 20cm x 10cm x 10cm.

38 / Sem ttulo, 2016, gesso pigmentado, galho, tinta. 60cm x 30cm x 30cm.
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