Consenso de Washington - Artigo

O Consenso de Washington
Jefferson Marcel Gross Mendes
A histria apresenta situaes em que se discute a interveno do Estado na economia.

Algumas vezes surgem questes sobre a intensidade da interveno, outras vezes sobre a
qualidade e outras sobre quais setores seriam mais sensveis. Atualmente a percepo mundial
est voltada para os Estados Unidos da Amrica (EUA) em funo das iminentes decises
sobre sua dvida pblica (na ordem de 92% do PNB, da mesma forma que o grupo dos PIIGS.
Em 1989, em Washington, houve um encontro por iniciativa do Institute for International
Economics, em que foram convidados vrios economistas de perfil liberal, funcionrios do FMI,
do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do governo norte-
americano. O tema do encontro foi Latin Americ Adjustment: how much has happened? Este
encontro visava a avaliar as reformas econmicas adotadas nos pases da Amrica Latina.
Neste encontro foram discutidas e apresentadas prticas isoladas utilizadas por
diversos pases. Estas prticas foram sintetizadas, agrupadas e resultaram, no que o
economista ingls John Willianson (um dos diretores do Institute for International Economic)
chamou de Consenso de Washington". Esta expresso resumiu e tornou conhecidas as
seguintes regras universais:
1. Disciplina fiscal, em que o Estado deve conciliar seus gastos arrecadao,
estabelecendo um supervit primrio e limitando o dficit operacional pblico em 2%;
2. Focalizao dos gastos pblicos, redirecionando recursos mais do que
economicamente justificveis com a manuteno da mquina administrativa e subsdios, para
setores com maior retorno econmico que favorecem a distribuio de renda, como por
exemplo, em educao, sade e infra-estrutura;
3. Reforma fiscal, com ampliao da base sobre a qual incide os tributos, reduzindo
alquotas marginais, ou seja, maior peso nos impostos indiretos e menor progressividade nos
impostos diretos;
4. Liberalizao financeira, eliminando restries com o objetivo de que uma taxa de
juros real e positiva seja determinada pelo mercado;
5. Estabelecer regras para que a taxa de cmbio seja competitiva, por meio da unificao
do sistema de cmbio mltiplo, com o objetivo de estimular as exportaes;
6. Liberalizao do comrcio exterior, com reduo quantitativa das restries tarifrias
de importao e estmulos exportao;
7. Eliminao de barreiras ao Investimento Externo Direto (IED);
8. Privatizao, com o afastamento do Estado das atividades do setor privado, por meio
da venda das empresas estatais;
9. Desregulamentao por meio da reduo da legislao de controle do processo
econmico e das relaes trabalhistas;
10. Garantia jurdica da propriedade intelectual.
Estas concluses, de carter neoliberal, acabaram por influenciar o comportamento das
agncias internacionais, que criaram regras para a concesso de crdito, por exemplo, por
pases que necessitam de recursos junto ao FMI. Tambm serviu para que agncias como a
Moody's, Standard & Poor's, Fitch, estabelecessem critrios de monitorao e pontuao
relacionados a investimentos e compra de papis em diversos pases.
Por seguir estes preceitos, porm, respeitando as particularidades econmicas do pas,
o Brasil se utilizou de mecanismos prprios, alguns os chamam de tupiniquim, mostrando pouca
f e falta de conhecimento sobre a capacidade de recuperao do povo brasileiro.
Atualmente, o Brasil detm a maior reserva de gua potvel do mundo, produz e exporta
energia, alimentos, adquiriu competncia na produo de bens e servios com alto valor
agregado, pagou sua dvida externa e agora credor internacional. Os indicadores econmicos
so mais sustentveis das ltimas trinta dcadas. No atingimos o supervit nominal, mas
temos um supervit primrio significativo.
Por outro lado, o pas que sempre defendeu e exigiu que as economias emergentes
seguissem as regras do Consenso de Washington", passa hoje por dificuldades, com
caractersticas diferentes, pelas dificuldades que nosso pas emergente passou no passado.
No deixa de ser tragicmico, devido s propores.
Neste sentido, vale a pena relembrar que um processo de crescimento econmico com
aumento e distribuio de renda, induz a um aumento do consumo. O aumento do consumo faz
com que as organizaes produzam mais e para isso, contratam mais trabalhadores reduzindo
o desemprego. Por outro lado, este aumento do consumo pode resultar em presses no nvel
geral de preos. No mesmo sentido, medida que a produo se aproxima do pleno emprego,
pode ocasionar aumento nos custos de produo, influenciando o processo inflacionrio. Para
evitar a inflao, a economia deve crescer de forma sustentvel. Situao parece que os EUA
atingiram o limite. Isto no significa que haja ciclos fatdicos em que potncias surgem e
padecem, mas significa apenas que no temos a compreenso necessria sobre os eventos
socioeconmicos. Tambm no significa que este enclave seja permanente, subestimando a
capacidade de recuperao daquele pas.
O Consenso de Washington" forou os pases a repensar seus processos de gesto
pblica e processos de gerao de riquezas, com profissionalismo, ainda que com falhas, para
refinar os conhecimentos sobre os aspectos socioeconmicos das naes.
Um ltimo recado, somente a gerao do conhecimento permite observar o cenrio em
que estamos envolvidos e vislumbrar e efetivar oportunidades.
Prof. Ms. Jefferson M. G. Mendes

www.jeffersonmgmendes.com / [email protected]
A JANELA ECONMICA um espao de divulgao das idias e produo cientfica

dos professores, alunos e ex-alunos do Curso de Economia das Faculdades Integradas Santa
Cruz de Curitiba.
- Cada artigo de responsabilidade dos autores e as ideias nele inseridos, no
necessariamente, refletem opensamento do curso.
- O objetivo deste espao mostrar a importncia da formao do economista na
sociedade.

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