Curso de Propriedade Intelectual e Inovação No Agronegócio
Curso de Propriedade Intelectual e Inovação No Agronegócio
Curso de Propriedade Intelectual e Inovação No Agronegócio
ISBN: 978-85-7426-136-2
Mdulo II
Indicao Geogrfica
2014. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento
Todos os direitos reservados. permitida a reproduo parcial e total desta obra,
desde que citada a fonte e que no seja para a venda ou qualquer fim comercial.
A responsabilidade pelos contedos tcnicos dos textos e imagens desta obra dos autores.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-7426-136-2
CDU: 338.43
Conselho Editorial
Antnio Carlos Wolkmer
Eduardo de Avelar Lamy
Joo dos Passos Martins Neto
Jos Rubens Morato Leite
Luis Carlos Cancellier de Olivo
Ricardo Soares Stersi dos Santos
Organizador
Luiz Otvio Pimentel
Conteudistas
Aluzia Aparecida Cadori , Aparecido Lima da Silva, Carolina Quiumento Velloso,
Claire Marie Thuillier Cerdan, Delphine Vitrolles, Kelly Lissandra Bruch, Klenize
Chagas Fvero, Liliana Locatelli, Michele Copetti e Patrcia Maria da Silva Barbosa.
Reviso da 4a edio
Kelly Lissandra Bruch, Patrcia Maria da Silva Barbosa e Suelen Carls
Captulo 3 Enquete
Aula 3
Identificao dos produtos Exerccios complementares
10h/a
e organizao dos produtores Abertura do Questionrio de
Avaliao Individual
Frum de Contedo
Captulo 4
Aula 4 Enquete
Delimitao Geogrfica da rea:
10h/a Exerccios complementares
Homem, Histria e Natureza
Abertura da Lio Virtual
Captulo 5 Frum de Contedo
Aula 5
Elaborao de regulamento de Enquete
10h/a uso, Conselho Regulador e defini-
o do controle Exerccios complementares
Enquete
Captulo 7
Aula 7
Exerccios complementares
Gesto e controle ps-reconheci-
10h/a
mento das indicaes geogrficas Abertura do Banco de
Experincias de Indicao
Geogrfica
Enquete
Aula 10 Captulo 10
Exerccios complementares
15h/a Estudo de caso
Encerramento de todas as ativida-
des do Curso
i
Leituras complementares indicadas pe-
los autores.
Monitoria Administrativa
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das seguintes situaes:
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Tutoria
Os Tutores estaro sua disposio para orient-lo a respeito dos procedi-
mentos para a utilizao do AVEA e a realizao das atividades propostas,
inclusive a avaliao individual.
Eles mantm uma comunicao dinmica com voc via e-mail, auxilian-
do-o a participar das atividades propostas.
Assistente de Contedo
O Assistente de Contedo ir auxili-lo em tudo o que est relacionado s
temticas abordadas neste Mdulo. Eles sero os mediadores entre voc
e os seus professores, buscando esclarecer suas dvidas e orientando-o
sempre que necessrio.
Certificao
Todos os estudantes que obtiverem aproveitamento de, no mnimo,
70% no Questionrio de Avaliao Individual recebero um certificado
de extenso universitria registrado pela Universidade Federal de Santa
Catarina.
O Questionrio de Avaliao Individual uma atividade obrigatria, voc
poder refaz-lo, se assim achar necessrio, at a ltima semana, quando
a atividade ser encerrada. As questes contidas no Questionrio esto di-
retamente relacionadas aos contedos deste Livro. Portanto, preste muita
ateno na sua leitura e, em caso de dvida, entre em contato com os
Tutores e Assistente de Contedo. Eles esto preparados para ajud-lo.
Contatos
Universidade Federal de Santa Catarina Laboratrio de Mdias
Integradas
Campus Universitrio Trindade Centro Scio-Econmico Bloco F
Trreo.
CEP: 88040-970 Florianpolis-SC
[email protected]
Sumrio
1. Indicao Geogrfica de produtos agropecu-
rios: importncia histrica e atual........................... 32
1.1 Importncia histrica e atual das Indicaes Geogrficas........... 33
1.2. Indicaes Geogrficas: impactos econmicos, sociais e
ambientais..................................................................................................... 44
1.3 Relativizando o sucesso e refletindo as IG ........................................ 52
1.4 Fatores chaves para o sucesso de uma IG ........................................ 53
Indicao Geogrfica de
Produtos Agropecurios:
Importncia Histrica e Atual
Claire Marie Thuillier Cerdan
Kelly Lissandra Bruch
Aparecido Lima da Silva
Michele Copetti
Klenize Chagas Fvero
Liliana Locatelli
Indicao Geogrfica de produtos
agropecurios: importncia histrica e
atual
32
CAPTULO 01
1.1 Importncia histrica e atual das Indicaes
Geogrficas
Para melhor compreenso do curso, vamos conhecer qual o significado
de uma Indicao Geogrfica (IG)?
Essa noo de IG surgiu de forma gradativa, quando produtores e con-
sumidores passaram a perceber os sabores ou qualidades peculiares de
alguns produtos que provinham de determinados locais. Ou seja, qualida-
des nem melhores nem piores, mas tpicas, diferenciadas jamais encon-
tradas em produtos equivalentes feitos em outro local. Assim, comeou-
se a denominar os produtos que apresentavam essa notoriedade com o
nome geogrfico de sua procedncia1. Os vinhos foram os primeiros nos
quais se observou a influncia sobretudo dos fatores naturais (clima, solo,
relevo, etc.).
As qualidades de produtos como esses ligadas origem se devem, to-
davia, ao ambiente, que vai muito alm das condies naturais e inclui o
fator humano e suas relaes sociais. Dessa maneira, o conceito de indica-
o geogrfica mostra-se importante, pois destaca as particularidades de
diferentes produtos de diferentes regies, valorizando, ento, esses terri-
trios. Cria um fator diferenciador para produto e territrio, que apresen-
tam originalidade e caractersticas prprias2. Assim, as indicaes geogr-
ficas no diferenciam somente os produtos ou servios, mas os territrios.
Vrios produtos agroalimentares se diferenciam pela sua qualidade ou sua
reputao devidas, principalmente, a sua origem (o seu lugar de produ-
o). Essas diferenas podem estar ligadas a um gosto particular, uma his-
tria, um carter distintivo provocado por fatores naturais (como clima,
temperatura, umidade, solo, etc.) ou humanos (um modo de produo,
um saber fazer). Em alguns casos, os produtores e/ou os agentes de uma
regio se organizam para valorizar essas caractersticas, mobilizando um
direito de propriedade intelectual: a Indicao Geogrfica. A IG permite
preservar essas caractersticas ou essa reputao e valoriz-las ao nvel dos
consumidores (Figura 1.1).
Portanto, em um primeiro momento, definiremos a IG como sendo um
nome geogrfico que distingue um produto ou servio de seus semelhan-
tes ou afins, por que este apresenta caractersticas diferenciadas que po-
dem ser atribudos sua origem geogrfica, configurando nestes o reflexo
de fatores naturais e humanos.
33
Indicao
Geogrfica
Cultura
Tradio
Lealdade
Reputao
Constncia
Histria
Terroir
Savoir-Faire
Forma de
Preservar
Registro do Sinal Distintivo
Marketing
Publicidade
Administrao
Controle
Figura 1. 2 - Bandeira do Lbano, que leva como insgnia seu produto mais tpico e
conhecido desde a antiguidade: o cedro
Fonte: http://perspectivabr.files.wordpress.com
Acesso realizado em 16 abr. 2014.
34
CAPTULO 01
Na poca dos romanos, j se utilizava a sigla RPA res publica augustano-
rum, inscrita nos vasos de barro fabricados nos fornos do fisco romano.
Tambm eram conhecidos nesta poca os vinhos de Falernum, que antes
de indicar o produtor, indicavam a procedncia do produto7
Durante a Idade Mdia, apareceram as marcas corporativas, utilizadas
para distinguir os produtos fabricados por um grmio de uma cidade, de
um grmio de outra cidade. Esses grmios, ou corporaes de ofcio, pos-
suam Estatutos e Ordenaes que detalhavam todos os aspectos e opera-
es da produo, fixando as normas que seus associados deviam cumprir
para fabricar os produtos.
Para se distinguir os produtos de um grmio especfico, utilizava-se um
selo, marca local ou gremial que, muitas vezes, era o nome da prpria
cidade ou da localidade. Nesse perodo, ainda no se utilizavam marcas
individuais para identificar o fabricante do produto.8
Contudo, havia associados que elaboravam produtos de melhor ou pior
qualidade. Para distingui-los entre si e para poder responsabilizar os pro-
dutores nos casos em que os produtos eram contrrios s boas prticas,
passou-se a utilizar uma marca. Assim, sobre os produtos comearam a
aparecer duas marcas: a do fabricante e a do grmio ou corporao a que
este pertencia.9
Dessa forma, de uma indicao de origem nica diferenciao entre os
fabricantes de um produto de uma mesma corporao, vislumbra-se a
evoluo dos signos distintivos.
A primeira interveno estatal na proteo de uma IG ocorreu em 1756,
quando os produtores do Vinho do Porto, em Portugal, procuraram o
ento Primeiro-Ministro do Reino, Marqus de Pombal, em virtude da
queda nas exportaes do produto para a Inglaterra. O Vinho do Porto ha-
via adquirido uma grande notoriedade, o que fez com que outros vinhos
passassem a se utilizar da denominao do Porto, ocasionando reduo
no preo dos negcios dos produtores portugueses.
Em face disso, o Marqus de Pombal realizou determinados atos visan-
do proteo do Vinho do Porto. Primeiro, agrupou os produtores na
Companhia dos Vinhos do Porto. Em seguida, mandou fazer a delimita-
o da rea de produo no era possvel proteger a origem do produto
sem conhecer sua exata rea de produo.
Como tambm no era possvel proteger um produto sem descrev-lo
com exatido, mandou estudar, definir e fixar as caractersticas do Vinho
do Porto e suas regras de produo.
35
Por fim, mandou registrar legalmente, por decreto, o nome Porto para
vinhos, criando, assim, a primeira Denominao de Origem Protegida10.
De certa forma, ainda hoje, esses so os passos a serem seguidos para dar
proteo estatal a uma indicao geogrfica.
36
CAPTULO 01
tado constitutivo da Conveno Unio de Paris para a proteo da pro-
priedade industrial (CUP), firmado em 1883 e contando com diversas
revises e aprimoramentos. Ressalta-se que o Brasil foi um dos pases que
originalmente assinou esse tratado.
O objetivo inicial era coibir a falsa indicao de procedncia. Mas a forma de
sua regulao permitia, por exemplo, o uso de Champagne da Califrnia,
posto que neste caso a verdadeira procedncia estaria ressaltada.
Todavia, esta forma de proteo no se mostra suficiente para pases
como a Frana, que buscaram ento um tratado adicional para obter uma
proteo mais consistente contra o uso da falsa indicao de procedncia.
Este se d por meio do Acordo de Madri para a Represso das Falsas
Indicaes de Procedncia (Acordo de Madri), firmado em 1891, e con-
tanto tambm com algumas revises. Tambm a este tratado o Brasil ade-
riu originariamente.
O objetivo desse tratado era uma represso mais efetiva contra o uso das
falsas indicaes de procedncia, especialmente para produtos vincolas.
Neste caso no se admitiam excees para esses produtos e tambm de-
terminava-se que esses no poderiam ser considerados como genricos,
como seria o caso de um vinho tipo champagne. Todavia, o nmero de
adeses foi bem menor que CUP.
Posteriormente, ocorreu a primeira (1914-1918) e a segunda guerra mun-
dial (1939-1945), intercaladas pela quebra da bolsa de valores de Nova
York, tambm conhecida como a Grande Depresso (1929). Aps esses
acontecimentos as relaes internacionais, a economia, as trocas comer-
ciais, o mundo outro.
Somente em 1958 novo avano se deu em termos de regulao das IG em
nveis internacionais. A CUP se reuniu novamente e os pases tradicional-
mente produtores buscaram uma nova forma de avanar na proteo das
IG. Tanto a CUP quanto a alterao no Acordo de Madri no avanaram su-
ficientemente para a proteo das IG. Assim, firmou-se o Acordo de Lisboa
relativo proteo das denominaes de origem (Acordo de Lisboa).
Este prev uma proteo positiva para as IG, na forma de denominaes de
origem, bem como um reconhecimento recproco das IG j existentes pelos
pases que firmam esse acordo, mediante um registro internacional.
Tambm a primeira vez que se define a denominao de origem como
sendo uma denominao geogrfica de um pas, uma regio ou uma lo-
37
calidade, que serve para designar um produto dele originrio, cujas quali-
dades ou caractersticas so devidas exclusiva ou essencialmente ao meio
geogrfico, incluindo os fatores naturais e os fatores humanos.
Esse tratado tambm prev a proibio do uso de qualquer IG, mesmo
que acompanhado da verdadeira origem, probe o uso de termos retifi-
cativos, como tipo ou gnero, e determina que uma IG no pode se
tornar genrica.
Todavia, poucos pases aderiram a esse acordo, o qual acabou por ter
uma aplicao muito reduzida. O Brasil to pouco o assinou. Ressalta-se
que todos esses acordos a partir de 1967 passam a ser administrados pela
Organizao Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Os pases pode-
riam participar da OMPI fazendo parte de um ou mais tratados, mas no
sendo obrigados a assinarem a todos. Um dos problemas da OMPI que
esta no possua um sistema que permitisse que um pas fosse punido pelo
descumprimento de um acordo.
Neste mesmo perodo ps-guerra, precisamente em 1947, tambm
firmado outro tratado relacionado ao comrcio. O Acordo Geral sobre
Pautas Aduaneiras e Comrcio, tambm conhecido como GATT, evoluiu
em um perodo de grande prosperidade econmica, conhecida como anos
de ouro, que seguiu at o final da dcada de 1970.
neste contexto que os pases comeam a debater a incluso no GATT
da discusso da proteo da propriedade intelectual (e das IG). Isso se con-
cretiza com a criao da Organizao Mundial do Comrcio (OMC), em
1994. No mbito dessa organizao, alm de tratados relacionados com
tarifas e comrcio, negocia-se e aprova-se o Acordo sobre aspectos dos
direitos de propriedade intelectual relacionados ao comrcio (TRIPS ou
ADIPC). Este, obrigatrio para todos os membros da OMC que hoje
conta com mais de 159 pases abarca o previsto pela CUP e estabelece,
dentre outros, a proteo obrigatria das IG. Deve ficar claro que o TRIPS
um acordo que prev um mnimo, ou seja, o que os seus membros mi-
nimamente devem proteger ou garantir, podendo cada um estabelecer
formas mais efetivas de proteo.
A IG definida, em seu artigo 22, indicaes que identifiquem um produto
como originrio do territrio de um Membro, ou regio ou localidade deste
territrio, quando determinada qualidade, reputao ou outra caracterstica
do produto seja essencialmente atribuda a sua origem geogrfica.
38
CAPTULO 01
Com a adeso OMC e ao TRIPS consequentemente, por meio do
Decreton 1.355 de 30 de dezembro de 1994, as disposies previstas nes-
se acordo passam a vigorar no Brasil.
Para colocar em prtica essa adeso, o Brasil promulga a Lei 9.279 de 14 de
maio de 1996. Esta define como se d a proteo dos direitos de proprie-
dade industrial, e, especialmente em seus artigos 176 a 182, regulamenta
as IG no Brasil. No que no houvesse proteo IG no Brasil anterior-
mente a 1996, todavia essa proteo de dava conforme previsto na CUP e
no Acordo de Madri, combatendo as falsas indicaes de procedncia. A
partir de 1996, tem-se uma proteo positiva desses direitos.
Conforme estudado no Mdulo Bsico de Propriedade Intelectual, esta lei
classificou as IG em duas espcies:
a. indicao de procedncia (IP) que indica o nome geogrfico que
tenha se tornado conhecido pela produo ou fabricao de deter-
minado produto, ou prestao de determinado servio; e,
b. denominao de origem (DO) que indica o nome geogrfico do
local que designa produto, ou servio, cujas qualidades ou caracte-
rsticas se devam essencialmente ao meio geogrfico, includos os
fatores naturais e humanos.
O estudo mais detalhado sobre o TRIPS e a Lei se dar no captulo 2.
Vale ressaltar que essa implementao de leis que protegiam as IG, seja
de forma positiva ou combatendo as falsas indicaes, tambm se deu em
diversos pases que aderiram OMC. Mas, apesar de haver esta previso,
ainda no h hoje um registro internacional de IG, e sua proteo conti-
nua se dando de forma territorial, em cada pas.
Ao longo de todos esses anos, vimos surgir um grande nmero de IG, ou
seja, nomes geogrficos que indicam uma origem renomada de um de-
terminado produto: alm do Vinho do Porto, podemos citar os casos do
vinho espumante da regio de Champagne, do destilado vnico Cognac, o
queijo grego Feta, o presunto ou Prosciutto di Parma italiano, o destilado
mexicano Tequila, os vinhos americanos de Napa Valley, o presunto de
San Daniele, o Vinho Verde portugus, etc.
Mais do que apenas indicar a procedncia de um produto, as IG tiveram
como funo, ao longo do tempo, garantir determinadas caractersticas
ao produto em decorrncia da sua origem. E este uso tem repercusses
sociais, econmicas e ambientais que sero analisadas no prximo ponto.
39
1.1.2 Indicao geogrfica: uma prtica comercial antiga e
uma resposta s evolues dos mercados
As IG continuam sendo, hoje, um tema da atualidade fortemente debati-
do ao nvel internacional e que reflete, em grande parte, a evoluo dos
sistemas agroalimentares (SAA).
A abertura dos mercados e a circulao acelerada das mercadorias impli-
caram novas formas de regulao entre os diferentes pases e definio
de regras ao nvel internacional de natureza pblica (codex alimentarius)
e privada (eurepGap).
Alm disso, novas prticas comerciais aparecem. Ampliou-se a utilizao
para fins comerciais de termos ou nomes indgenas de produo por pa-
ses terceiros, para poder tornar os seus produtos um pouco mais exti-
cos e atrativos. Foi o caso do Rooibos (Aspalathus linearis), planta da frica
do Sul, que foi registrada como marca nos EUA, por uma empresa priva-
da. O caso tambm do cupuau (Theobroma grandiflorum) do Brasil, que
foi registrado como marca por uma empresa japonesa, impedindo o uso
do nome pelos produtores de origem. (Esses casos j foram revertidos).
Outros pases usam o nome de uma regio para se beneficiar da sua boa re-
putao, ou obter um melhor preo de venda do seu produto. Atualmente,
6 milhes de quilos de caf Antigua so produzidos na regio de mesmo
nome, na Guatemala, entretanto, 50 milhes de quilos de caf so vendi-
dos no mundo inteiro com esse nome. Do mesmo modo, 10 milhes de
quilos de ch Darjeeling so produzidos na ndia e 30 milhes de quilos
de ch so vendidos com o mesmo nome no mundo.
Esses exemplos confirmam como importante e urgente para os pases
emergentes implantarem e mobilizarem sistemas de proteo do seu pa-
trimnio intangvel e da sua biodiversidade.
Outros fatores explicam essa reatualizao do tema das IG. Ns destacare-
mos a seguir o surgimento de nichos de mercados e as mudanas de per-
cepo e de comportamento dos consumidores em relao aos produtos
tradicionais.
40
CAPTULO 01
estratgias de valorizao dos produtos. As indicaes geogrficas esto
inseridas nesse movimento global de segmentao dos mercados. De certo
modo, esse movimento favorece valorizao dos recursos territoriais.
41
Figura 1.4 - Exemplos de signos distintivos para produtos tradicionais. Podem ser
observados signos distintivos pblicos para a concepo europeia (Appellations
dOrigine Contrle francesa e indicao geogrfica protegida europeia), privados
(Carrefour, Agreco) para produtos agrcolas ou para servios de hospedagem em
meio rural (qualit tourisme, acolhida na Colnia, accueil Paysan)
Fonte: Velloso (2009)
B) O gosto da Origem
Constata-se uma procura cada vez maior, por parte dos consumidores ur-
banos, por produtos de origem. Ser que a Origem de um produto tem
um gosto particular, produz um prazer especfico para o consumidor?
Uma das explicaes a perda da confiana nos produtos alimentares. As
crises profundas que atingiram os sistemas agroalimentares (doena da
vaca louca-Encefalopatia Espongiforme Bovina, sementes transgnicas,
uso de hormnios) provocaram mudanas no nvel da percepo dos con-
sumidores. Em reao, iniciou-se um movimento generalizado, exigindo
mais garantias sobre a origem dos produtos, a sua inocuidade e os seus
modos de obteno. Nesse quadro, o nome do produto ou da regio de
origem reconhecido pelos consumidores e inspira confiana.
42
CAPTULO 01
Ressaltam-se, tambm, novos comportamentos de consumidores, como a
reivindicao regional, cultural ou poltica. Nesse sentido, o consumidor
no mais considerado como um agente passivo, mas um sujeito capaz
de reagir e promover certos modelos de desenvolvimento. Alguns autores
falam de consumator, evidenciando o consumidor engajado, o consu-
midor consciente.
Assim, ao comer um bode assado, um prato de sarapatel, o Nordestino
manifesta o seu sentimento de pertencer a uma comunidade, a um grupo,
a uma cultura15. (Figura 1.5)
43
Figura 1.6 - Interpretaes regionais da bebida Coca- Cola
Fonte: http://paragonanubis.files.wordpress.com/2008/05/zamzam-cola-2.jpg
http://www.cdi.org.pe/Noticias_2006/Fotografias/inca_kola.jpg
http://www.tribuneindia.com/2003/20031016/biz1.jpg
http://www.breizhcola.fr/upload/cms/paragraphes/img/l/breizh-cola,-le-cola-bre-
ton--2.jpg
Acesso realizado em 16 abr. 2014.
44
CAPTULO 01
cedido de quase 3.000 produtos (1.880 para vinhos e 1108 para outros pro-
dutos agroalimentares), conforme as bases de dados E-bacchus e DOOR,
alm dos registros nacionais, que so considerados a seguir 16. A ttulo ilus-
trativo, pode-se sublinhar que as 593 IG da Frana (466 para vinhos e des-
tilados e 127 para outros produtos) representam um valor de 19 bilhes
de euros em comrcio (16 bilhes para vinhos e destilados e 3 bilhes para
outros produtos), apoiando 138.000 propriedades agrcolas.
Da mesma forma, as 420 IG da Itlia (300 para vinhos e destilados, e 120
para outros produtos) correspondem a um volume de receitas de 12 bi-
lhes de euros (5 bilhes para vinhos e destilados e 7 bilhes para outros
produtos), empregando mais de 300.000 pessoas. Na Espanha, as 123 IG
rendem 3,5 bilhes de euros, aproximadamente (2,8 bilhes de euros para
vinhos e destilados e 0,7 bilhes para outros produtos). Entre 1997 e 2001,
o nmero de produtores franceses sob IG aumentou 14% enquanto, no
mesmo perodo, constatou-se uma diminuio de 4% no nmero de pro-
dutores. 17
45
Principais vantagens da IG
Gera satisfao ao produtor, que v seus produtos comercializados no mer-
cado com a IG, valorizando o territrio e o conhecimento local;
Melhora e torna mais estvel a demanda do produto, pois cria uma confian-
a do consumidor que, sob a etiqueta da IG, espera encontrar um produto
de qualidade e com caractersticas determinadas;
46
CAPTULO 01
Para conhecer os benefcios das IG, consulte os sites:
http://www.wipo.int/geo_indications/es/
http://www.origin-gi.com
http://www.foodquality-origin.org/inicio/es/
47
Os consumidores sabem de onde vm os produtos, os produtores sabem
para onde vo os produtos. A IG favorece uma distribuio equilibrada da
mais-valia em toda a cadeia produtiva e neutraliza mais eficazmente os
comportamentos oportunistas intra-cadeia produtiva.19
No Brasil, a implantao da Indicao de Procedncia (IP) Carne do
Pampa Gacho da Campanha Meridional se baseia em um controle preci-
so da procedncia dos animais. Assim, se o consumidor desejar, ele pode,
a partir do cdigo de barra, verificar no site da associao de qual animal
vem o corte de carne que ele acaba de comprar, conhecer a fazenda de
produo e sua localizao.
O regulamento da IP Vale dos Vinhedos20 incorporou 12 inovaes em relao
produo convencional de vinhos no Brasil. Tais inovaes incluem aspectos
da produo, do controle e da comercializao de vinhos de qualidade.20
As IG tambm reforam o valor e, sobretudo, a credibilidade do trabalho
do produtor junto aos consumidores.
www.carnedopampagaucho.com.br
48
CAPTULO 01
da cadeia produtiva. A emergncia de comits interprofissionais e a busca
de uma melhor harmonizao dos interesses entre os diferentes agentes
permitiram o fortalecimento da regio e dos produtores.
49
Os produtores de Paraty (RJ) aproveitaram a atividade turstica da cidade
para relanar uma produo tradicional, a cachaa. Paraty uma cidade
pequena, classificada como Patrimnio Histrico Nacional desde 1958,
com grande afluncia turstica o ano todo.
http://www.valedosvinhedos.com.br/
http://www.caminhosdepedra.org.br/
50
CAPTULO 01
O vinho dos Vales da Uva Goethe produzido a partir de uma varie-
dade de uva que estava desaparecendo da regio (variedade Goethe).
O regulamento de uso da produo de carne do Pampa Gacho da
Campanha Meridional prope uma explorao consciente dos cam-
pos do Pampa Gacho para a alimentao do gado bovino.
51
de conservao da natureza e dos pssaros, cuja esfera de ao se estende
desde a ao local at quela de nvel poltico internacional. Suas ativida-
des repousam em parceiros nacionais que demonstraram capacidade para
a utilizao do meio ambiente de forma sustentvel.
52
CAPTULO 01
novas oportunidades para as regies rurais. Entretanto, os efeitos das IG
no desenvolvimento rural no so automticos ou determinados previa-
mente; eles dependem de vrios elementos internos ao sistema de IG, as-
sim como de vrios fatores externos, sendo o mais importante o apoio do
quadro institucional (presena de instituies de apoio, polticas pblicas
voltadas para a promoo das IG).
53
Principais justificativas e orientaes das polticas de proteo
da origem e da qualidade na Frana.
54
CAPTULO 01
o artigo 182, pargrafo nico, da lei 9.279/1996. E este, desde 1997, tem
orientado associaes e instituies no registro da IG.
Existem, tambm, outros programas de polticas pblicas ou iniciativas
convergentes apoiadas por outros ministrios: o registro de certos produtos
nos livros do Patrimnio Imaterial27, as polticas e programas do Ministrio
do Meio Ambiente (MMA) agroecologia, o movimento Slow Food, o
apoio comercializao dos produtos da agricultura familiar coordenado
pelo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA). Recentemente, a
Portaria n45, de 28 de Julho de 2009 instituiu o Selo de Identificao da
Participao da Agricultura Familiar e dispoe sobre os criterios e procedi-
mentos relativos a permissao, manuteno, extino de uso.
Desde 2007, o programa de cooperao tcnica Brasil-Frana para o fortale-
cimento da gesto integrada e participativa em mosaicos de reas protegidas,
desenvolve atividades sobre a valorizao da identidade territorial e a valo-
rizao dos produtos, recursos, servios, cultura e tradio. Esses diferentes
programas consideram as IG como um elemento potencial para o desenvol-
vimento rural, a preservao da biodiversidade e do meio ambiente.
De maneira mais geral, o panorama das polticas para o desenvolvimento ru-
ral na Amrica Latina e no Brasil foi marcado pela emergncia da abordagem
territorial. O que significa uma busca de articulaes entre municpios e entre
setores, uma ateno maior para a valorizao dos recursos locais, das rique-
zas dos territrios, assim como para uma insero mais forte das populaes
na execuo e elaborao dos programas (fruns participativos).
Esses elementos podem contribuir para a implementao de um quadro ins-
titucional favorvel e uma valorizao dos produtos tpicos ou produtos da
terra pelos consumidores, elementos chaves para o desenvolvimento das IG
no Brasil.
www.mda.gov.br/saf/
www.iphan.gov.br
55
Resumo
Neste captulo, vimos que a IG se tornou relevante para os agentes do
mundo rural no contexto da globalizao da economia e da abertura dos
mercados.
Verificamos que as IG constituem um meio de valorizar uma localidade/
regio e um pas de origem. Elas podem transformar-se em instrumento
de competitividade no mercado e/ou instrumento de desenvolvimento
rural, trazendo uma srie de benefcios potenciais:
a. benefcios econmicos (abertura de mercado, agregao de valor);
b. benefcios sociais (emprego, dinamizao de regies carentes);
c. benefcios ambientais (preservao da biodiversidade, prticas pro-
dutivas mas adequada para o meio ambiente).
Observamos, ainda, que os efeitos das IG no desenvolvimento rural no
so automticos, dependem de fatores internos como a organizao de
seus produtores e de fatores externos, tais como a presena de institui-
es de apoio e polticas pblicas voltadas para a promoo das IG.
56
CAPTULO 01
Notas
1. KAKUTA et al., 2006.
2. http://www.inao.gouv.fr/, acesso em 09/04/2013.
3. BBLIA, Cnticos, I, 14.
4. BBLIA, Cnticos, III, 9, e Reis, V, 6.
5. OSIAS, 2010.
6. ALMEIDA, 2010
7. ALMEIDA, 2010.
8. PREZ LVARES, 2009.
9. BRUCH, 2011.
10. A descrio do processo de proteo do Vinho do Porto foi re-
alizada por Ana Soeiro, em sua palestra proferida no painel
Indicaes Geogrficas como instrumento de competitivida-
de estratgica de organizaes, em 9 de outubro de 2008, s
13:00h, no Simpsio Internacional sobre Indicaes Geogrficas
ocorrido em Porto Alegre.
11. WILKINSON, 2008
12. MASCARENHAS, 2007.
13. ANDION, 2007.
14. WILKINSON, 2008, p.17
15. EUROPA, 2013.
16. CERDAN, 2004
17. DUPONT, 2005.
18. SAUTIER, 2004; LARSON, 2007.
19. RANGNEKAR, 2004.
20. APROVALE, 2010.
21. TONIETTO, 2002; LOCATELLI, 2008.
57
22. LOCATELLI, 2006, 2008.
23. PECQUEUR, 2001.
24. FRAYSSIGNES, 2005.
25. CERDAN et al., 2009.
26. http://www.inao.gouv.fr/, acesso realizado em 16 abr. 2014.
27. MASCARENHAS, 2008.
28. Oficio das Baianas de Acaraj, o modo artesanal de fazer Queijo
de Minas nas regies da Serra e das Serras da Canastra e do
Salitre.
58
CAPTULO 2
Indicaes Geogrficas e
Outros Signos Distintivos:
Aspectos Legais
62
2.1. Indicaes geogrficas e outros signos
distintivos: aspectos legais
CAPTULO 02
A IG, assim como as marcas, os nomes comerciais e os logos so signos
distintivos que possuem um objetivo comum: diferenciar os produtos e in-
dicar a sua origem comercial. Diferenciar o produto significa indicar para
o mercado, especialmente para o consumidor, que um produto diferente
do outro. A indicao da origem comercial prenuncia o produtor, garan-
tindo sua procedncia em termos comerciais. As IG, alm de diferencia-
rem o produto e seu produtor, apontam para uma determinada origem
geogrfica e condies de produo.
Todavia, quando um determinado signo passa a ser conhecido e o consu-
midor passa a valoriz-lo, este adquire um valor diferenciado, despertando
o desejo, em despertando o desejo em terceiros mal intencionados de se
aproveitarem desse signo conhecido no mercado. Para prevenir tal abuso,
conforme j explanado no Captulo 1, foram implementadas formas de
proteo a esses signos distintivos. Busca-se, com isso, garantir que apenas
o legtimo titular (proprietrio) ou terceiro legitimado (licena, por exem-
plo) possa utilizar o signo.
No Brasil, desde o sculo XIX, h legislao que regulamenta a proteo e
o uso de signos distintivos. Embora j houvesse a CUP de 1883, o Acordo
de Madri de 1891 e o Acordo de Lisboa de 1958, apenas com o TRIPS,
de 1994, que alguns padres mnimos de proteo para esses signos so
universalizados, ou seja, estendidos para todos os 159 pases que fazem
parte da OMC.
63
da se a origem sugerida no for verdadeira.1 Essa restrio tambm feita
para as IG que, embora sejam verdadeiras, possam induzir o consumidor
a erro, como o caso da existncia de dois nomes geogrficos idnticos.
No caso de vinhos h uma previso especfica para as indicaes homni-
mas e legtimas. Neste caso, ambas as indicaes estaro protegidas, sen-
do que cada Membro determinar as condies prticas pelas quais sero
diferenciadas entre si as indicaes geogrficas homnimas em questo,
levando em considerao a necessidade de assegurar tratamento equita-
tivo aos produtores interessados e de no induzir a erro os consumidores
(art. 23.3 do TRIPS). Os vinhos espanhis e argentinos que usam a deno-
minao Rioja so exemplos fticos desta situao.
Alm disso, o TRIPS determina que os Estados Membros devem recusar
o registro de uma marca, ou invalid-lo, quando consista em uma falsa IG
suscetvel de induzir o consumidor a erro.2 Este seria o exemplo de uma
marca que se denomine Castanha do Par, se o produto que ela indica
vier do outro lugar.
Esse acordo dispe que inexiste obrigao de proteger indicaes que no
estejam protegidas no pas de origem do produto, bem como aquelas que
tenham cado em desuso ou tenham se transformado em IG genricas. 3
No que se refere aos vinhos e destilados, o TRIPS estabelece uma prote-
o diferenciada, consistente na proibio de se utilizar uma IG para estes
produtos quando originrios de uma regio diversa da indicada pela IG,
ainda que a verdadeira origem esteja descrita no produto.4
Se um vinho foi produzido na Espanha - mesmo que isso esteja descrito
no rtulo, ele no pode dizer que um Champagne, pois somente o vinho
espumante produzido na regio de mesmo nome, localizada ao norte da
Frana, que pode fazer uso dessa indicao. Um ponto a ser questionado
dessa proteo e que pauta nas atuais negociaes da OMC trata des-
sa proteo diferenciada se restringir a vinhos e destilados, sem abranger
os demais produtos. Assim, hoje pode-se usar queijo tipo feta, mas no se
pode usar espumante tipo champanhe.
importante deixar claro que o TRIPS no estabeleceu um registro in-
ternacional para reconhecimento das IG, embora j existam negociaes
neste sentido na OMC. Portanto, para que uma IG seja vlida e reconheci-
da no Brasil, por exemplo, ela precisa requerer seu registro no INPI, como
fez recentemente Porto e Champagne. Para que a proteo de uma IG seja
64
vlida no territrio de outros pases, necessrio requerer, se for o caso,
o registro em cada um desses pases. A Unio Europeia uma exceo a
CAPTULO 02
esse sistema, porquanto nesta unio existe um registro comunitrio, que
gera efeitos em todos os pases que a constituem.
Todavia, embora o TRIPS seja o mesmo para todos, cada pas tem liber-
dade para regular a forma de proteo das IG que mais se adeque a sua
realidade. Desta maneira, no Brasil a proteo das IG regulamentada por
meio da Lei n. 9.279/1996.
Para melhor entendimento do significado dos dispositivos legais, torna-
-se imprescindvel compreender quais os princpios e os fundamentos que
regem os signos distintivos, especialmente aqueles que identificam uma
origem geogrfica como o caso das IG. Isso se far primeiramente
explicando esses princpios e, posteriormente, demonstrando o que no
pode ser considerado uma IG.
65
Princpio da anterioridade
O princpio da anterioridade resguarda o direito do primeiro requerente
de um determinado signo distintivo a ter sobre ele exclusividade, se con-
cedido o referido registro e na forma de sua concesso. Significa que o
signo deve ser diferente dos demais em uso e/ou protegidos - o que se ve-
rifica a partir de uma anlise baseada na anterioridade para que ele possa
ser apropriado, conferindo o direito de propriedade ao titular.
o princpio da anterioridade que ir nortear a soluo dos casos de con-
flito, pois quando dois signos distintivos no podem conviver pacifica-
mente, deve sucumbir aquele que for mais recente.5
Princpio da territorialidade
O princpio da territorialidade estabelece que determinados direitos de
propriedade industrial tm sua proteo restrita ao pas onde esta prote-
o foi requerida. Isso significa que as IG, tm sua proteo restrita ao pas
onde foram reconhecidas, ou seja, no pas onde seu registro foi concedido.
No h um reconhecimento mundial, embora existam acordos, como o
de Lisboa, que estabeleam um reconhecimento recproco entre os pases
signatrios do Acordo.
O caso da Regio dos Vinhos Verdes muito interessante, pois est protegido
em Portugal e no Brasil sob no IG970002. O mesmo ocorre com os vinhos
Franciacorta da Itlia, concedido sob no IG200001 e com o destilado de
vinho da Frana Cognac, que foi reconhecido pelo INPI sob no IG980001.
O mesmo se d com a DO brasileira Vale dos Vinhedos para vinhos, que
alm do reconhecimento brasileiro6, tambm foi reconhecido pela Unio
Europeia7, sendo protegido, por consequncia, em todos os pases que a
compe.
Assim, torna-se claro que IG estrangeiras protegidas em seu pas de ori-
gem, desde que no consideradas genricas e cumpridas os requisitos le-
gais e administrativos, podem ser registradas e reconhecidas no Brasil,
mediante um processo administrativo realizado perante o INPI.
Princpio da especialidade e da notoriedade
Segundo o princpio da especialidade, a exclusividade de um signo se es-
gota nas fronteiras do gnero de atividades que ele designa.8 Ou seja, se
uma fbrica de maquinrios agrcolas possui uma marca que foi registrada
para distino desses maquinrios no mercado, nada impede que a mes-
66
ma marca (desde que no se trate de concorrncia parasitria ou desleal)
possa ser utilizada para distinguir um grupo de msica, pois o campo de
CAPTULO 02
abrangncia completamente diferente.
Como exemplo, tem-se a marca Jacto, que est registrada para diversas
classes relacionadas com mquinas agrcolas e correlatos, como se pode
verificar nos registros nos 826107524, 821593455, 821593501, 826582796,
etc. do INPI. De outro lado, Alexandre Magalhes Barbosa requereu tam-
bm o registro da marca Jacto, conforme pedido no 822468280, para sua
banda de msica. Assim, fica claro que o mbito de concorrncia outro,
o que caracterstico do sistema de marcas.
Discute-se se as IG deveriam estar limitadas ao princpio da especialidade.
Considera-se que a submisso da IG ao princpio da especialidade poderia
oportunizar o aproveitamento parasitrio de outras empresas que, com
base na notoriedade da regio, poderiam se beneficiar com o registro de
uma marca, ainda que para identificar produtos diferentes.
No entanto, as IG tm sido submetidas ao referido princpio pelo INPI.
Isto , o registro de uma IG est impedindo o registro de novas marcas so-
mente para produtos do mesmo segmento mercadolgico, ou afins a este.
Por outro lado, a notoriedade de um signo distintivo se refere capacida-
de que um comprador em potencial tem de reconhecer ou de se recordar
de um signo como integrante de uma categoria de produtos. importan-
te salientar que a ideia de notoriedade est ligada no apenas ao conheci-
mento que se tem do signo, mas da associao signo-produto.
Alm disso, a notoriedade deve existir precisamente onde se pretende que
seja efetivada a sua proteo9, no obstante claro, o princpio da recipro-
cidade entre pases seja considerado no momento da concesso de uma
IG estrangeira.
Uma distino em relao notoriedade e a reputao so pertinentes,
pois enquanto a notoriedade est relacionada ao conhecimento que um
determinado nmero de consumidores possui em relao ao signo distin-
tivo, a reputao abarca alm do conhecimento do pblico a noo de va-
lores, geralmente advindos da qualidade do produto que conferem a este
signo distintivo uma determinada fama, celebridade, renome, prestgio.
Portanto, a notoriedade est para a dimenso quantitativa assim como a
dimenso qualitativa est para a reputao.10
67
2.1.3 Como so definidas as IG na lei brasileira?
A legislao brasileira que reconhece e regulamenta a IG bastante sucin-
ta. As IG encontram amparo na Lei n 9.279/1996, em seus artigos 176
a 182, produto da harmonizao da legislao brasileira com o TRIPS.
Alm desta lei, a Instruo Normativa INPI n 25, de 21 de agosto de
2013, editada pelo INPI, regulamenta o registro da IG no Brasil. Por fim,
o Decreto n 4.062, de 21 de Dezembro de 2001, protege, de forma sui
generis, as expresses Cachaa e Brasil, conferindo a estas o status de
indicao geogrfica.
A Lei n 9.279/1996, em seu artigo 176, define o que uma IG.
Sucintamente, a IG entendida como sendo:
a. indicao de procedncia (IP) que indica o nome geogrfico que
tenha se tornado conhecido pela produo ou fabricao de deter-
minado produto, ou prestao de determinado servio; e,
b. denominao de origem (DO) que indica o nome geogrfico do
local que designa produto, ou servio, cujas qualidades ou carac-
tersticas se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geogr-
fico, includos os fatores naturais e humanos.
Observamos que a lei no define o gnero IG em si, apenas as suas esp-
cies: IP e DO. Entretanto, pode-se compreender que a IG indica o nome
geogrfico que tenha uma relao com um produto ou servio especfico
e tenha notoriedade ou uma caracterstica ou qualidade decorrente dos
fatores naturais e humanos.
A IG necessariamente refere-se relao entre um produto (ou servio) e
um nome geogrfico pelo qual este produto reconhecido.
Cabe salientar que o legislador brasileiro no internalizou de forma literal
a definio de IG contida no TRIPS. Por um lado, restringiu-a em deter-
minados aspectos, como no caso do uso de um nome geogrfico, tendo
em vista que o TRIPS permite o uso de qualquer nome, desde que este
lembre uma localizao geogrfica.
Um exemplo de um nome no geogrfico, mas que reconhecido como
tal por se identificar com uma regio o vinho espumante Cava, elabora-
do pelo mtodo tradicional em determinada regio da Espanha.
Por outro lado, a Lei no 9.279/1996 expandiu o TRIPS, notadamente ao
estender a proteo de uma IG tambm para os servios. De maneira geral,
68
no comum, especialmente na Europa, a proteo de servios geogrfi-
cos, mas trata-se de uma oportunidade a ser explorada. O TRIPS apenas
CAPTULO 02
estabelece patamares mnimos. Cada pas, ao internaliz-lo, pode definir
critrios de aplicao mais restritivos ou mais abrangentes. A Tabela 2.1,
a seguir, sintetiza a internalizao da definio de IG feita pelo legislador
brasileiro e seu significado original no acordo TRIPS:
Internalizao do TRIPS
69
Em conformidade com o art. 3 do Decreto n. 4.062/2001, as expresses
protegidas somente podero ser usadas para indicar o produto que aten-
da s regras gerais estabelecidas na Lei n 8.918/1994, no Decreto n
6.871/2009 e nas demais normas especficas aplicveis.
Assim, pelo Decreto n 4.062/2001, art. 1o e 2o, respectivamente, o nome
cachaa, vocbulo de origem e uso exclusivamente brasileiros, consti-
tui indicao geogrfica para os efeitos no comrcio internacional e o
nome geogrfico Brasil constitui indicao geogrfica para cachaa,
nos termos do art. 22 do TRIPS.
Note-se que esta a nica IG brasileira protegida por decreto. O seu
enquadramento justifica-se na medida em que o mencionado art. 22 do
TRIPS permite que os pases membros protejam determinadas indica-
es de produto como originrio de seu territrio e foi exatamente isso
que ocorreu com a Cachaa do Brasil. Este termo, embora no sendo
um nome geogrfico, possui conotao geogrfica vinculada ao territrio
brasileiro, situao semelhante a que ocorreu com a tequila no Mxico,
bebida alcolica mexicana por excelncia. No caso mexicano, a Secretaria
de Indstria e Comrcio do Mxico, em 9 de dezembro de 1974, outorgou
a proteo da denominao de origem Tequila.11
Assim, a declarao de que a expresso cachaa um vocbulo de origem
e uso exclusivamente brasileiros, constituindo IG para os efeitos do mer-
cado internacional, foi uma medida poltica, para evitar que a expresso
fosse indevidamente utilizada por terceiros no mercado internacional, at
porque existem outros pases que tambm fabricam aguardente de cana-
-de-acar, como o Peru e a Costa Rica.
70
CAPTULO 02
Figura 2.1 - Diferenciao entre IP e DO segundo a legislao brasileira
Fonte: Bruch (2008)
IG Produtos / IG Servios
A IG para produtos e a IG para servios apresentam algumas diferenas,
tanto em termos de seu significado, como das caractersticas e dos requi-
sitos necessrios para o seu reconhecimento. Passemos ao estudo desses
elementos.
Produtos: No caso das IG para produtos, as principais caractersti-
cas a serem analisadas esto no fundamento da constituio de uma
IP ou DO, ou seja, quais so os fatores que devem obrigatoriamente
influenciar os produtos. Isso significa uma anlise do local de extra-
o, da origem da matria-prima, do local de elaborao ou benefi-
ciamento do produto, do local de embalagem, envelhecimento ou
outros processos posteriores elaborao, bem como da existncia
de um regulamento de uso e a forma de controle deste.
71
Servios: No caso de IG para servios, as principais caractersticas,
que esto relacionadas ao fundamento para o reconhecimento de
uma IP ou DO, so o local da prestao do servio, a existncia de
um regulamento de uso e a forma de controle deste regulamento
de uso.
Fundamento: O fundamento para que uma IP seja protegida tan-
to para produtos quanto para servios - segundo a legislao atual
ter se tornado conhecida ou ainda, que o territrio tenha re-
putao, segundo o TRIPS. Sem dvida, esta definio vaga, mas
remete diretamente ao princpio da notoriedade, anteriormente
mencionado.
No tocante qualidade ou s caractersticas que estejam relaciona-
das ao meio geogrfico, estas apenas so exigidas para constituir
uma DO.
Fatores: Para uma IP no se exige a influncia de fatores naturais e
humanos, somente a notoriedade do local de origem dos produtos/
servios. Para o reconhecimento de uma DO, alm da notoriedade
do local de origem exige-se influncia de fatores naturais e huma-
nos, requisito complicado para o caso de uma DO de servios.
Regulamento de uso: No que tange existncia de um regulamento
de uso, ele obrigatrio tanto para a IP como para a DO12. Todavia,
inexistem critrios mnimos que devem constar no regulamento de
uso das mencionadas espcies, ficando esta anlise a critrio do bom
senso do examinador do pedido.
Controle: A Instruo Normativa INPI n 25/2013 dispe sobre a
obrigatoriedade da existncia de um controle, tanto para a IP como
para a DO.
72
clusiva ou essencialmente, ao meio geogrfico, o que deixa claro
que a extrao deve ocorrer no local, mas tambm no determina o
CAPTULO 02
quantun, j que a palavra essencialmente no significa a totalidade.
Matria-Prima: Para a IP basta que o produto seja elaborado na
regio, j que a lei silencia quanto exigncia de origem ou prove-
nincia da matria-prima. Contudo, no caso da DO, em decorrncia
do prprio conceito, imprescindvel que uma parte substancial da
matria-prima provenha do local da DO, embora a legislao no
defina o percentual.
Elaborao / Beneficiamento: Com relao produo, no caso
da IP, parece claro que se o local se tornou conhecido por produzir
ou fabricar um determinado produto, neste mesmo local que deve
ocorrer a fabricao. Entretanto, no h uma restrio expressa que
obrigue a isso, ou seja, a produo poderia ocorrer fora da regio
delimitada.
Para a DO, nada se menciona com relao ao local de produo,
mas para que os fatores naturais e humanos influenciem nas quali-
dades ou caractersticas do produto, parece essencial que isso ocor-
ra no local delimitado.
Acondicionamento/ Envelhecimento: Inexiste meno sobre
esta questo, tanto para IP quanto para DO. Contudo, sabe-se que
o acondicionamento garante, em grande parte, a preservao das
caractersticas do produto, impedindo inclusive sua falsificao ou
adulterao.
73
Comparativo dos critrios adotados hoje e considerados ideais
que definem uma IP e uma DO
IP DO
CRITRIOS COMUNS
Atual Proposta Hoje Ideal
Ter se tornado conhecida ?
Fundamento
Qualidade, outra caracterstica
Fatores Naturais e humanos
Existncia de um regulamento
Regulamento de de uso
uso
Critrios mnimos
Existncia de um controle
Controle
Forma de controle determinada
PRODUTO
100% da rea delimitada ? ?
Extrao Pode ocorrer fora da rea
? ?
delimitada
100% da rea delimitada ? ?
Matria-Prima Pode vir de fora da rea
? ?
delimitada
100% na rea delimitada ? ?
Elaborao
Pode realizar-se fora da rea
beneficiamento ? ?
delimitada
Obrigatrio 100% da rea
? ?
Acondicionamento / delimitada
envelhecimento No obrigatrio 100% da rea
? ?
delimitada
SERVIO
100% da rea delimitada ? ?
Prestao do
Pode realizar-se fora da rea
servio ? ?
delimitada
100% da rea delimitada ? ?
Matria-Prima
Pode vir de fora da rea
envolvida ? ?
delimitada
Tabela 2.2 - Fonte: Bruch e Copetti (2009).
Legenda:
Atual (Critrios estabelecidos na Lei n. 9.279/1996 e/ou na Instruo Normativa
INPI n. 25/2013).
Proposta (Critrios que poderiam ser observados em uma futura alterao da le-
gislao vigente) .
Critrio obrigatrio, deve ser comprovado.
Critrio no obrigatrio, no precisa ser comprovado.
? No h disposio legal sobre o tema.
74
2.1.5 Natureza, titularidade e direitos conferidos segundo a
lei brasileira
CAPTULO 02
Embora a doutrina no seja clara quanto natureza jurdica de uma IG,
corrente reconhec-la, tanto para IP quanto para DO, como direito de
propriedade ou direito exclusividade do uso pelo seu titular. De qual-
quer forma, no Brasil entende-se este como um direito privado. O proble-
ma reside em definir quem o titular.
De um lado, a Lei n 9279/1996, em seu artigo 182, apenas expressa que
o uso da IG restrito aos produtores e prestadores de servio estabe-
lecidos no local, exigindo-se, ainda, em relao s denominaes de ori-
gem, o atendimento de requisitos de qualidade. Esta expresso se refere
a um direito de uso da coletividade local.13
Por outro lado, o artigo 5 da Instruo Normativa INPI n. 25/2013, esta-
belece que Podem requerer registro de indicaes geogrficas, na quali-
dade de substitutos processuais, as associaes, os institutos e as pessoas
jurdicas representativas da coletividade legitimada ao uso exclusivo do
nome geogrfico estabelecidas no respectivo territrio.
Com relao aos direitos conferidos, interpretando as disposies aplica-
das s demais figuras dos direitos de propriedade industrial, tais como as
patentes14 e as marcas15, e considerando as condutas penalizadas como cri-
mes contra as IG16, pode-se concluir que h um direito de impedir que
um terceiro, sem consentimento, utilize uma IP ou uma DO em seus
produtos ou servios, incluindo-se nisso o nome e os demais signos
que a distinguem.
Por definio a titularidade da IG coletiva, ou seja, um direito exten-
sivo a todos os produtores ou prestadores de servio que estejam na rea
demarcada e que explorem o produto ou o servio objeto da indicao.
Isso o que se depreende do estudo da IG de maneira geral.
75
2.1.6 O que no uma IG?
Aps entender o que uma IG resta claro que esta pressupe um nome
conhecido, notrio. E isso no ocorre do dia para a noite! Portanto, um
nome geogrfico desconhecido no pode se constituir em uma indicao
geogrfica. Assim, se no existe o elo entre a notoriedade do lugar e o
produto ou servio nele produzido, no h uma indicao geogrfica a ser
reconhecida. Por isso, ao contrrio das marcas comuns, as marcas notrias
e as indicaes geogrficas so construdas com o tempo.
Diante do exposto podemos afirmar o que no Indicao Geogrfica:
Um nome geogrfico desconhecido
A prpria expresso nome geogrfico desconhecido traduz a ideia de que o
signo no conhecido, ou seja, inexiste qualquer elo que simbolize um
produto ou servio em particular.
Assim, a pergunta : Um nome geogrfico desconhecido pode se consti-
tuir em uma IG? Em regra no, posto que a sua reputao ou notoriedade
requisito essencial para seu reconhecimento e proteo. Desta forma, o
uso do nome de um local desconhecido para distinguir um produto no
se constituiria em uma falsa IG, desde que respeitado o disposto na legis-
lao sobre a forma de uso deste referido nome.17
Todavia, em determinados casos no se concede a exclusividade do uso
do nome de uma localidade, pois o Estado estaria conferindo um status
vantajoso a um nico titular, em detrimento dos demais moradores do
mesmo local, ainda que este espao geogrfico no seja notrio. Este foi o
caso do signo Lindia ou Lindya. Na poca no se tratava de um nome ge-
ogrfico conhecido e poderia ser registrado como marca. Mas o Tribunal
de Justia de So Paulo (TJSP), na Apelao Cvel no 215.846-1/1994, en-
tendeu que este nome no poderia ser apropriado por uma nica pessoa,
posto que pertenceria a todos aqueles que exploram a lavra de gua, esta-
belecidos nesta cidade denominada guas de Lindia.18
Nome geogrfico em potencial
O nome geogrfico em potencial, ao contrrio, se refere a um signo que
lembra ou simboliza um produto ou servio em particular, embora ainda
no esteja formalmente reconhecido como uma IG. Neste caso, seu re-
gistro como outra forma de signo distintivo, que no como IG, torna-se
temerrio.19
76
A Serra Gacha, por exemplo, conhecida em todo Brasil por sua pro-
duo de vinhos. Seria adequada a concesso de uma marca para vinhos
CAPTULO 02
intitulados Serra Gacha, impedindo assim, o uso desta expresso pelos
produtores da regio, mesmo ela no sendo reconhecida como uma indi-
cao geogrfica? Parece que no. Contudo, conforme se verifica, h trs
registros de marca concedidos para o termo Serra Gacha e um deles,
sob n 815334818, foi registrado especialmente na classe de vinhos.20
Nome geogrfico que se tornou genrico
O nome geogrfico que se tornou genrico aquele que perdeu sua dis-
tinguibilidade, ou seja, deixou de ligar um produto ou servio a uma de-
terminada regio para se transformar no nome descritivo ou comum do
prprio produto ou servio. Ao se referir a um queijo parmeso, a um
queijo minas ou a um queijo prato, a ideia que vem mente o tipo do
queijo e no a sua origem geogrfica.
Trata-se de nomes que se tornaram genricos, ou que tiveram seu sig-
nificado diludo com o tempo. Isso por que, embora parmeso ainda
se refira a uma regio italiana, por exemplo, no Brasil o significado des-
ta expresso est muito mais relacionado a um tipo de produto. Nestes
casos, o signo perdeu sua distintividade em decorrncia da emergncia
de uma pluralidade de significados ou referentes para um s significante.
Parmeso no quer mais dizer s a origem, mas tambm o tipo de pro-
duto.21
Nome que usa a referncia tipo
Embora TRIPS permita o uso de tipo para a identificao de um produ-
to com exceo de vinhos e destilados desde que ressalvada a verda-
deira origem, h uma lacuna na legislao brasileira referente regulao
deste uso22. O problema que esta permisso pode auxiliar na diluio
ou degenerao de uma IG, posto que em pouco tempo esta poder estar
designando um tipo de produto e no mais uma origem geogrfica. Um
exemplo seria a utilizao, para queijos, das expresses tipo gouda e
tipo gruyre.
Nome de fantasia
H outros nomes que, mesmo conhecidos, so passveis de serem conce-
bidos como outro signo distintivo que no uma IG. Trata-se de referncias
a um determinado local, sem que isso induza o consumidor a erro. Veja,
77
por exemplo, os nomes como Cerveja Antrtica ou Sandlias Havaianas
(Figura 2.2). Dificilmente o consumidor ir imaginar que citada cerveja
foi produzida na Antrtida ou que as referidas sandlias vieram do Hava.
O mesmo vlido para cidades j extintas ou imaginrias, que em ne-
nhum momento podero causar qualquer confuso23, como por exemplo,
o mtico continente de Atlntida ou ainda a Pangeia.
78
2.2 Diferena entre a IG e outros signos distintivos
CAPTULO 02
Primeiramente, vale lembrar que uma IG no substitui a marca de um
produto ou servio abrangido por esta, ao contrrio, complementa-a, in-
formando ao consumidor caractersticas diferenciadoras dos demais pro-
dutos afins encontrados no mercado.
A pergunta como o consumidor pode distinguir se um produto especfi-
co provm ou no de uma indicao geogrfica?
No caso do Vale dos Vinhedos, a IP reconhecida pelo INPI sob n. IG
200002 utilizava um selo de controle no colarinho da garrafa, o qual leva-
va o signo misto protegido acompanhado de uma numerao seriada, que
permitia identificar a origem do vinho e da uva (Figura 2.3). Atualmente,
aps a concesso da Denominao de Origem Vale dos Vinhedos, esta
numerao passou a ser aposta no contrarrtulo da garrafa. Mas outras
Indicaes de Procedncia, como Pinto Bandeira, continuam a usar este
selo de controle no colarinho
79
J na Unio Europeia, que usa classificao diferente do Brasil, foram es-
tabelecidos selos, com cores diferentes, que indicam se o produto uma
Indicao Geogrfica Protegida (azul) ou uma Denominao de Origem
Protegida (vermelho) (Figura 2.4), podendo cada produto ainda utilizar
outras formas de identificao em sua embalagem
2.2.1 Marcas e IG
Marcas so signos nominativos, figurativos, mistos ou tridimensionais,
destinados a identificar e distinguir determinados produtos ou servios
de outros, de procedncia diversa. Para que o signo possa ser registrado
como marca necessrio que os requisitos da novidade, distinguibilidade,
ainda que relativa, e da licitude estejam presentes. No Brasil, as marcas
so reguladas pela Lei no 9.279/1996, especialmente nos artigos 175 a 252,
alm de outras disposies esparsas, e devem ser registradas no INPI, con-
forme j estudado no curso anterior.
As marcas podem ser de produto e/ou servio, coletivas e de certificao.
As caractersticas de cada uma so bastante diferenciadas, razo pela qual
se vislumbra uma maior ou menor proximidade em relao s indicaes
geogrficas.27
a. Marcas de produtos e servios
Neste caso, o que pode ocorrer o conflito entre o signo utilizado para
uma marca de produto ou servio na forma de um nome geogrfico e
a utilizao desse mesmo nome geogrfico para uma IG. Recorde que,
80
conforme estudado no curso anterior, o titular da marca o legtimo de-
tentor do registro e o utiliza na diferenciao dos produtos ou servios
CAPTULO 02
por ele elaborado e/ou comercializado. Assim, a marca de produto ou
servio no se confunde de forma alguma com uma IG.
Neste assunto, a lei no determina se deve prevalecer a marca ou a IG,
nem tampouco se deve ser aplicado o princpio da anterioridade e o prin-
cpio da disponibilidade, j estudados.
Na prtica, o INPI tem reconhecido IG para marcas j depositadas e/ou
concedidas. Mas o contrrio nem sempre tem sido recproco, havendo
maior dificuldade em se obter o registro de uma marca para um produto
ou servio igual ou a fim a uma IG j reconhecida no pas, em face do dis-
posto no inciso IX do art. 124.
Este o caso no nome geogrfico Paraty. A marca Parati est registrada, desde
17/06/1974 para diversas classes de produtos e servios. Entretanto, em 2007
foi reconhecida como IG para cachaa com a grafia Paraty, registrada no sob
n IG2000602. Esta deciso demonstra que a convivncia possvel, at por
que o TRIPS determina que uma marca somente seja invalidada ou indeferida
se induzir o consumidor a erro. Mas novos registros tem sido concedidos com
muita cautela, conforme j ressaltado e respeitando-se o disposto no inciso IX
do art. 124. No tocante especificamente a vinhos e destilados, o TRIPS deter-
mina a invalidao ou indeferimento da marca, independemente da induo
do consumidor a erro, e isso deve ser observado. J no tocante cachaa,
havendo um decreto presidencial que trate a respeito, este certamente deve
ser observado na sua interpretao mais estrita sem excees. (Figura 2.5).
81
lizados. Ainda, h pases onde a IG prevalece sobre o direito marcrio, po-
dendo uma IG reconhecida posteriormente anular uma marca j existente.
Um exemplo interessante trata-se do perfume Champagne, lanado pela co-
nhecida marca Yves Saint Laurent (YSL), que foi retirado de circulao em
face da atuao do Conselho Interprofissional dos Vinhos de Champagne
(CIVC), por se entender que haveria um comportamento parasitrio por
parte do titular da nova marca em face da notoriedade da IG internacio-
nalmente reconhecida (Figura 2.6).
http://www.maisons-champagne.com/orga_prof/defense_appellation.htm
b. Marcas coletivas
A marca coletiva identifica produtos ou servios provindos de membros de
uma determinada entidade. Esse tipo de marca tambm tem uma funo
diferenciadora. Ela pode ser utilizada por Associaes ou Cooperativas,
por exemplo, cujos associados ou cooperados elaboram produtos que so
disponibilizados no mercado com uma mesma marca. Isso pode garantir
uma maior visibilidade e fora marca, o que no aconteceria se cada um
dos associados ou cooperados utilizasse uma marca prpria.
A marca coletiva se diferencia da IG, principalmente, pela titularidade,
que da entidade que representa seus componentes. No caso da IG, a
entidade uma substituta processual da coletividade e no a titular da IG.
Alm disto no h vinculao ao espao geogrfico determinado.
82
claro que a IG e a marca coletiva traduzem a ideia de uso coletivo sobre o
mesmo signo, j que a coletividade utilizar o signo. Sucede que, na marca
CAPTULO 02
coletiva somente os integrantes da entidade podero usar o signo quando
respeitadas as regras estabelecidas por eles mesmos no Regulamento de
Utilizao da Marca Coletiva. Este regulamento poder dispor acerca do
processo de produo, do seu controle e demais disposies que o titular
considere pertinentes.
Na IG, o produtor localizado na regio, faa ele parte da entidade represen-
tativa ou no, somente poder usar o signo quando atender aos requisitos do
Regulamento de Uso da IG. O atendimento aos requisitos dever ser verifica-
do mediante a atuao de um rgo de controle, que obrigatrio neste caso.
Em resumo, a IG aponta obrigatoriamente para determinada regio, no-
tria por determinado produto ou servio (IP) e com caractersticas ou
qualidades que se devam a este lugar (DO). Para a marca coletiva isso no
um requisito.
Os produtores, no caso da IG, se encontram ligados ao meio geogrfico,
ao terroir, que engloba fatores naturais e humanos. Logo, existe um m-
nimo de caractersticas naquele produto ou servio que os tornaro ni-
cos em face da sua procedncia. Nas marcas coletivas, basta participar da
entidade coletiva e respeitar seus regulamentos para poder utilizar o sig-
no. Podem ser citadas como exemplos de marcas coletivas: VINHOS DO
BRASIL (registro n 829839607) e AMORANGO (registro n 902115766).
c. Marcas de certificao
As marcas de certificao so usadas para atestar a conformidade de um
produto ou servio com determinadas normas, especificaes tcnicas ou
padres de identidade e qualidade. O titular da marca de certificao um
terceiro que verifica se um produto ou servio foi elaborado conforme o
regulamento por ele criado. Se aprovado, permite a utilizao do signo
que identifica esta certificao.
O titular da marca de certificao no pode ter relao com o produto ou
servio que pretende certificar.
Ressalta-se que mesmo levando a marca de certificao, cada produto con-
tinua utilizando a sua prpria marca, como pode ser visualizado na Figura
2.7 da Associao de Certificao Instituto Biodinmico (IBD), titular do
depsito nominativo n 828917477.
83
Figura 2.7 - Produtos certificados pelo IBD
Fonte: Elaborao de Bruch, Copetti e Fvero com base em: http://3.bp.blogspot.
com/_5f8TWVrli64/SWpJE2zbD5I/AAAAAAAAAww/gwm3258XHX8/s400/ibd.JPG
https://www.essenciais.com.br/imagens/produtos/231/feijao_preto_viapaxbio.gif
http://1.bp.blogspot.com/_bklKChSAoIY/RtoMo0mt0BIAAAAAAAAABE/ttlmItv_
LRA/Sl600-h/arroz_organico.gif. Acesso realizado em: 17 de abr de 2014.
84
associao, sociedade civil ou fundao no Cartrio de Registro de Pessoas
Jurdicas.28 Ele empregado pelo empresrio que desempenha uma ativi-
CAPTULO 02
dade comercial e podem ser equiparados a este a denominao das socie-
dades simples, das associaes, das cooperativas e das fundaes. 29
85
Ao contrrio dos demais signos distintivos, o ttulo de estabelecimento
no tem um registro que o reconhea e proteja. Ele se consolida atravs
do uso e do reconhecimento que se d por meio de sua clientela e seus
concorrentes. Tanto o nome empresarial quanto o ttulo de estabeleci-
mento tem sua proteo estabelecida no direito da concorrncia.
Todavia, seu uso por meio de ttulo comercial por um terceiro que no
esteja autorizado poder caracterizar concorrncia desleal ou mesmo de
um aproveitamento parasitrio, alm de levar o consumidor a erro, sendo
isso expressamente vedado pela Lei n 9279/1996.
2.2.5 Selos
Por ltimo, faz-se necessrio analisar os selos que encontramos em di-
versos produtos e servios, sem que os mesmos constituam em si uma
indicao geogrfica, uma marca de certificao, um nome empresarial
ou uma marca.
Tratam-se de insgnias ou smbolos; pblicos ou privados, que extrapolam
os signos distintivos (Figura 2.8). Esses signosso protegidos e utilizadosin-
dependentemente depossurem registro como Marca de Certificao.
86
So signos institucionais, regulamentados por lei (no caso dos selos pro-
venientes de rgos pblicos) ou por uma norma reconhecida internacio-
CAPTULO 02
nalmente (como o caso da ISO). Em regra esta norma ou lei que traz o
regulamento de uso desses selos e o seucumprimento autorizao seu uso.
87
fornece, para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou caractersticas
para atividades ou para seus resultados). 30
Em regra esta avaliao feita por organismos que no participam da
relao comercial e que tem por objetivo atestar publicamente (mediante
autorizao da aposio do referido selo no produto, por exemplo) que
este est em conformidade com determinados requisitos especficos, que
podem estar relacionados com higiene, qualidade do produto, origem da
matria-prima, etc. 31
88
Comparativo dos diferentes sinais distintivos
1. Gnero Indicao Geogrfica Marca
Indicao de Denominao de Marca de produto ou Marca de Nome Empresarial Nome de Domnio
2. Espcie Marca coletiva
Procedncia Origem servio certificao
Identificar a pessoa
fsica ou jurdica na
Diferenciar um Certificar que
Indicar a origem rede mundial de
Indicar a origem produto e/ou um produto e/ Diferenciar uma
do produto e/ Diferenciar um computadores, porquanto
3. Funo do produto e/ou servio de outro ou servio seguiu empresa das demais e a
ou servio. Deve produto e/ou servio sem o registro do domnio
legalmente servio que tenha semelhante ou as especificaes individualiza, bem como
ter relao com de outro semelhante as pessoas e/ou empresas
protegida uma determinada afim, mas pode ser estabelecidas no lhe garante capacidade
fatores naturais e/ ou afim. no so encontrados na
reputao utilizado de forma regulamento de para certos atos.
ou humanos. web. Alis, mais que isso,
coletiva. uso.
o domnio singulariza, um
endereo.
Pessoa fsica ou
jurdica (privada* ou
pblica).**
Somente pessoa
Qualquer pessoa Qualquer pessoa fsica
* S poder requerer jurdica que A pessoa jurdica,
fsica ou jurdica ou jurdica que primeiro
Carter coletivo, vinculado ao espao para aquelas represente uma regularmente
(privada ou deposite, sem qualquer
geogrfico. atividades que exerce coletividade constituda.
4. Titular pblica). Contudo requisito.
de forma lcita e pode requerer o
Titularidade coletiva no pode ter Titularidade singular
efetiva. registro da marca Titularidade singular ut
interesse comercial ut singuli
coletiva (privada ou singuli
** Pode haver co- na certificao.
pblica).
titularidade, ainda
que haja silencio na
lei.
No, salvo se a
No, salvo se a
5. Vinculao certificao tiver
marca tiver alguma
a um espao Sim. No. alguma relao com No. No.
relao com um
geogrfico um determinado
determinado lugar.
lugar .
89
CAPTULO 02
90
A IG s pode ser constituda por um Livre. Qualquer nome
Livre, porm com
nome geografico e/ou sua representao pode ser utilizado, desde
ressalvas de elementos
da localidade, segundo a Lei no que a pesquisa na base
Constituda por distintos elementos, respeitadas as proibies que obrigatoriamente
6. Elementos 9.279/1996. do Common Gateway
legais elencadas no artigo 124, Lei n 9.279/1996. iro compor o nome,
de composio Interface (CGi) resulte
Segundo o TRIPS tambm pode ser como por exemplo,
do sinal disponivel. Atualmente
constituda por um nome que lembre os prefixos e sufixos
pode ter acento e
uma localidade. Cooperativa, Associao
caracter especial (, por
e sufixos Ltda. S/A, etc.
exemplo).
7. Forma de Nominativa, Nominativa, Nominativa,
Nominativa, figurativa , mista e
apresentao figurativa, mista e figurativa, mista e figurativa, mista e Nominativa Nominativa.
tridimensional
do sinal tridimensional. tridimensional. tridimensional.
A lei brasileira
Alguns pases no autoriza
expressamente expressamente a
Sim, vedam a cesso. Contudo,
So alienveis transmisso por analogia,
8.
(licenciar ou ceder) da marca. A lei entende-se no ser
Transferncia No. Pela lei so inalienveis,
tanto para pedido brasileira omissa. possvel (artigo 151,
de separadamente da No h vedao quanto
As IG possuem carter coletivo, so de depsito ou o Assim, ainda que se I, Lei n 9.279/1996)
titularidade: empresa. a licena e a cesso
inalienveis e indivisveis, bem como registro da marca. apliquem as regras
No caso de permitida.
9. Licena no podem ser licenciadas. Podem ainda, ofert- gerais em relao s
marcas, no tocante licena, seu uso
10. Cesso la como garantia em
transmisso por independente
um emprstimo, por
sucesso, (artigo desta, pois o
exemplo.
151, I, Lei n regulamento
9.279/1996)31 que dispe sobre
condies de uso.
11. Prazo de No h previso legal. Enquanto a sociedade
10 anos, com renovao. 1 ano, com renovao.
Proteo Presume-se indeterminado existir.
Territorialidade Territorialidade
Lei no 9.279/1996. Lei no 9.279/1996. Lei n 10.406/2002 (cdi- Decreto n 4.829/2003
91
CAPTULO 02
Resumo
Nesse captulo, foram diferenciadas as espcies de indicao geogrfica,
quais sejam: Indicao de Procedncia e Denominao de Origem. Em
um segundo momento, comparou-se brevemente a indicao geogr-
fica com outros signos distintivos, relembrando os conceitos estudados
no Mdulo I, de forma a compreender as semelhanas, as diferenas e os
possveis conflitos que podem advir da utilizao de nomes geogrficos,
especialmente no mbito dos agronegcios. O objetivo foi o de esclare-
cer e aperfeioar os conhecimentos anteriormente obtidos, notadamente
acerca da relevncia assumida no mercado pelas indicaes geogrficas e
outros signos distintivos.
92
Notas
CAPTULO 02
1. LOCATELLI, 2007.
2. TRIPS , art. 22, 3.
3. TRIPS , art. 24, 5, 6 e 9.
4. TRIPS , art 23, 1.
5. SCHMIDT, Llio Denicoli. Princpios aplicveis aos signos distin-
tivos. In: JABUR, Wilson Pinheiro; SANTOS, Manoel J. Pereira
dos. Propriedade intelectual: signos distintivos e tutela judicial e
administrativa. So Paulo: Saraiva, 2007. p.71.
6. Indicao de Procedncia Vale dos Vinhedos: Registro INPI n.
IG200002 em 22/11/2002. Denominao de Origem Vale dos
Vinhedos: Registro INPI n. IG201008 em 25/09/2012.
7. Geographical indication: Vale dos Vinhedos, Publication: JOCE
10.5.2007 2007/C/106 p. 1. Quality type: Wine with a geographi-
cal indication. Disponvel em: <http://ec.europa.eu/agricultu-
re/markets/wine/e-bacchus/index.cfm?event=resultsPThirdgi
s&language=EN>. Acesso realizado em: 17 de abr de 2014.
8. BARBOSA, 2010.
9. A notoriedade para as marcas tambm deve ser analisada no ter-
ritrio onde se pretende a proteo a marca, tida como notria.
Para saber mais voc pode ler o material de marcas inserido no
mdulo I. Para a Gonzlez-Bueno, afirma que a nica notorieda-
de relevante a que concorre no territrio em que se pretende
invocar a proteo. Sendo o registro concedido, cabe ao titular da
marca proceder ao pedido de anulao do registro, provando ser
a notoriedade de sua marca anterior ao registro. GONZLEZ-
BUENO, Carlos. Marcas notorias y renombradas: en la ley y la
jurisprudncia. Madri: La Ley, 2005. p. 93.
10. MORO, Mait Ceclia Fabbri. Direito de marcas: abordagem das
marcas notrias na Lei n 9279/1996 e nos acordos internacio-
nais. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 77
11. MXICO. Declaracin General de Proteccin de la Denominacin
de Origen Tequila. Disponvel em: <http://www.impi.gob.mx/
93
wb/IMPI/declaracion_general_de_proteccion_a_la_denomi-
nacio>. Acesso realizado em: 17 de abr de 2014.
12. Veja Instruo Normativa INPI n. 25/2013.
13. 5 da Instruo Normativa INPI n. 25/2013.
14. Artigo 42 da Lei n 9.279/1996.
15. Artigo 130 da Lei n 9.279/1996.
16. Artigos 192 a 194 da Lei no 9.279/1996.
17. GONALVES, 2007.
18. BRASIL. Tribunal de Justia do Estado de So Paulo. Apelao
cvel n 215.846-1/2004. Apelantes: gua de Lindia Minerao
e Comrcio Ltda. e Lindoiano Hotel Fontes Radioativas Ltda.
- Apeladas: As mesmas, Minalin Empresa de Minerao Ltda.
e Moinho Berbel Indstria e Comrcio Ltda. Relator: Benini
Cabral. So Paulo, 18/08/1994. Disponvel em: www.tj.sp.gov.
br . Acesso realizado em: 17 de abr de 2014.
19. GONALVES, 2007.
20. NCL (9) 33.
21. Para entender melhor como alguns signos se tornam genricos
leia sobre a Teoria da Diluio ou degenerao. A diluio ou de-
generao de um produto ocorre quando um signo perde seu ca-
rter distintivo, ou seja, o nome no serve mais para distinguir um
produto de seus semelhantes ou concorrentes. Isso pode ocorrer
por que este signo ou nome passa a descrever o prprio produto,
como ocorre com o queijo minas ou o xerox, frmica, etc..
Embora esta teoria esteja constantemente relacionada s marcas,
igualmente aplicvel as IG. Leia mais em: BARBOSA, Denis
Borges. Proteo das marcas: uma perspectiva semiolgica. Rio
de Janeiro: Lmen Juris, 2008. NCL (10) 33 - Bebidas alcolicas (ex-
ceto cervejas). De titularidade de EMBALASUL PARTICIPAES
LTDA. Em 14/06/2011 foi apresentado um pedido de procedi-
mento de anlise de caducidade em face da empresa, cujo qual
aguarda julgamento. Para maiores explicaes sobre classificao
de marcas, vide o captulo sobre marcas coletivas
22. Lei n. 9279/1996 art. 193, o qual determina que constitui crime:
Usar, em produto, recipiente, invlucro, cinta, rtulo, fatura,
94
circular, cartaz ou em outro meio de divulgao ou propagan-
da, termos retificativos, tais como tipo, espcie, gnero,
CAPTULO 02
sistema, semelhante, sucedneo, idntico, ou equivalen-
te, no ressalvando a verdadeira procedncia do produto. E Lei
n 7.678/1988 art. 49: vedada a comercializao de vinhos e
derivados nacionais e importados que contenham no rtulo de-
signaes geogrficas ou indicaes tcnicas que no correspon-
dam verdadeira origem e significado das expresses utilizadas.
1 Ficam excludos da proibio fixada neste artigo os produ-
tos nacionais que utilizem as denominaes champanha, conha-
que e Brandy, por serem de uso corrente em todo o Territrio
Nacional. 2 Fica permitido o uso do termo tipo, que poder
ser empregado em vinhos ou derivados da uva e do vinho cujas
caractersticas correspondam a produtos clssicos, as quais sero
definidas no regulamento desta Lei.
23. GONALVES, 2007.
24. Artigo 124, inciso X, Lei no 9.279/1996.
25. GONALVES, 2007.
26. BRASIL.Tribunal Regional Federal da 2 Regio. Apelao Cvel
n 113855.2 Turma Especializada. Apelante: Institut National
des Appellations Dorigine de Vins et Eaux-De-Vie. Apelado:
Instituto Nacional De Propriedade Industrial - INPI e Bordeaux
Buffet S.A. Relator: Juiz Guilherme Diefenthaeler. Rio de Janeiro,
DJU 21/09/2005, p. fls. 156.Disponvel em: <http://www.trf2.
gov.br>. Acesso realizado em: 17 de abr de 2014.
27. Artigo 130 da Lei n 9.279/1996.
28. Artigo 61 do Decreto n 1.800/1996.
29. Essa proteo, alm disso, restrita ao Estado, ou Distrito
Federal, onde foi feito o arquivamento dos atos. Em suma, se
um nome empresarial estiver protegido em Pernambuco, por
exemplo, mediante o depsito dos atos constitutivos da empresa
na Junta Comercial, apenas neste Estado este nome estar prote-
gido, podendo haver nome empresarial semelhante e at mesmo
igual registrado na Junta Comercial do Estado da Paraba.
30. ZIBETTI, 2009.
31. GONALVES, 2007.
95
CAPTULO 3
98
3.1 Identificao dos produtos e seus diferenciais:
notoriedade ou qualidade?
CAPTULO 03
uma das primeiras perguntas que fazemos com base na perspectiva na-
cional de incentivo ao desenvolvimento e organizao local em torno de
um signo distintivo coletivo.
Os motivos para tal incentivo, em grande parte, j foram apresentados
e discutidos no Captulo 1 deste nosso curso, por meio das dimenses e
impactos das IG no desenvolvimento territorial e nacional (econmico,
social, cultural e ambiental).
O Brasil um pas muito rico em diversidade cultural e biolgica. Ele abri-
ga a maior diversidade vegetal do planeta, com 22% de todas as espcies
j descritas no mundo.1
Com toda sua vastido, sua histria e trajetrias distintas em cada uma de
suas regies (colonizao de povoamento no Sul, concentrao de povos
indgenas no Norte), certamente a biodiversidade no sua nica riqueza.
Aliadas a ela esto as populaes com suas diversidades tnicas, culturais
e conhecimentos tradicionais. Assim, temos a noo de sociobiodiversida-
de, que nada mais do que a juno disso tudo.2
No Brasil, assim como em outros pases em desenvolvimento, as IG fa-
zem parte de uma temtica recente e ainda desconhecida pela maioria de
seus habitantes, onde existem comunidades e conhecimentos tradicionais,
riquezas culturais e biolgicas, sabores particulares, artesanatos tpicos;
observa-se um processo de ameaa a sua existncia, seja pela presso da
homogeneizao dos processos produtivos, seja pela apropriao indevida
de tais recursos (materiais e imateriais) por competidores desonestos.
Neste sentido, as IG contribuem tambm como uma nova alternativa
para a proteo e a defesa da sociobiodiversidade enquanto um patrim-
nio comum da humanidade.
99
delas que determinaremos se nosso produto uma potencial indicao de
procedncia ou denominao de origem.
Como vimos nos Captulos 1 e 2 do curso, para que tenhamos uma IP,
segundo a legislao brasileira, necessrio que haja notoriedade de um
produto ou servio ligada a um nome geogrfico, isto , que este tenha se
tornado conhecido como centro de produo, fabricao ou extrao de
determinado produto ou prestao de determinado servio.
O que significa notoriedade de um produto ou servio?
Notoriedade a fama que um produto ou servio tem em funo de suas
qualidades reconhecidas pelos consumidores. Ela pode estar ligada, por
exemplo, a uma marca, a um produtor, ou a uma regio - como o caso
das IG, que sempre se reportam a uma regio ou localidade.
Notrio o certo e verdadeiro, o que no precisa ser provado porque
sabido ou conhecido pelo pblico.3
Como exemplo, temos os doces de Pelotas (RS) e Guaran de Maus
(AM). Estes so produtos que possuem notoriedade ao menos regional-
mente. Quem da Regio Norte nunca ouviu falar no Guaran de Maus,
ou da Regio Sul no ouviu falar no doce de Pelotas? Em nvel global,
poderamos tambm citar a Champagne (da regio de Champagne, na
Frana), o Vinho do Porto (Portugal) e o mrmore de Carrara (na Itlia,
famoso desde a Roma Antiga), entre tantos outros.
Ressalta-se que a notoriedade est relacionada com o reconhecimento
pelo pblico. O produto ou servio precisa se consolidar no tempo para
que adquira notoriedade. Assim, a histria desempenha um papel funda-
mental na construo da notoriedade de um produto que, inicialmente,
pode ser o resultado de tentativas e erros, de experimentaes, de suces-
sivas aproximaes, adaptaes, at ento chegar ao seu resultado final,
reconhecido por muitas pessoas.
Praticamente, todo produto tem uma histria que pode ser contada, por
mais recente ou limitada que ela seja, mas nem todo produto possui noto-
riedade. Se o produto tem notoriedade tem histria.
Surge, assim, outra pergunta ligada ao tempo e notoriedade: desde
quando um produto ou servio, ligado a um lugar, precisa ser notrio
para que possa se consolidar como IP?
A legislao no define este tempo. Ou seja, um produto que atravs de
marketing, por exemplo, crie sua notoriedade num curto espao de tem-
100
po poderia sim, teoricamente, ser aceito como uma indicao de proce-
dncia. A notoriedade alcanada em pouco tempo, no entanto, no revela
um produto com forte ligao cultural, posto que lhe falta a histria.
Em todo caso, importante que todo produto ligado ao territrio possua
a sua histria para contar e que possua notoriedade. Quanto maior a an-
terioridade (o tempo) da notoriedade, melhor e mais chances de ser reco-
CAPTULO 03
nhecida a IP. Mesmo por que, no basta a uma IG o seu reconhecimento
oficial se no tiver uma histria para contar e notoriedade, tendo em vista
que, o marketing por si s, no ser suficiente para que a histria perdure.
Mas que dimenso precisa ter essa notoriedade (local, regional, nacional
ou internacional)?
Este outro questionamento que nossa legislao no permite esclarecer.
No entanto, no h dvidas de que quanto maior a sua dimenso, maior
ser a necessidade em proteg-la de usurpaes ou concorrncia desleal.
Por outro lado, no significa que produtos que tenham notoriedade em
menor dimenso territorial no sejam passiveis de reconhecimento como
IP. Cabe questionar quais seriam os impactos de uma IP nesses casos. 4
Imaginemos algumas situaes:
1. Existe um produto local tpico (que ao longo do tempo diminui o
seu volume, tornando-o mais escasso que antigamente) no terri-
trio X. Pessoas de territrios vizinhos vm at o territrio X
para comprar o produto. Esporadicamente, aparecem mesmo
pessoas de territrios mais distantes para compr-lo. O que falta
neste caso para que os atores locais (do territrio X) se mo-
bilizem na tentativa de valorizar e proteger o seu produto? Por
enquanto, no existem indcios de usurpaes do produto, mas
possivelmente a histria natural nos diria que, havendo noto-
riedade, a demanda provavelmente aumentaria, o preo subiria
e surgiriam usurpaes. Assim, os produtores veriam a necessi-
dade em proteger seu produto e sua boa reputao. Mas quanto
tempo para que isso acontea? No existem motivos para no
adiantarmos esse processo ou mesmo construirmos uma hist-
ria mais ou menos inversa, ou seja, podemos primeiramente ter
uma IP ou DO para que o produto atinja ento maior notorieda-
de. O processo de reconhecimento da IG, nesse caso, permitiria
o seu no desaparecimento e de toda a cultura e conhecimentos
ligados a ele, preservando o meio e a comunidade local.
101
2. O territrio Y possui uma histria um pouco diferente. A pro-
duo ainda tradicional, mas o produto (que realmente bem
tpico e distinto) somente consumido dentro do prprio ter-
ritrio, por toda a comunidade, embora ela seja pequena. Um
certo dia, chega no territrio Y um indivduo do territrio A,
um territrio bem distante, num outro pas quem sabe. Surgem
ento algumas pessoas de fora encantadas pelo diferencial e qua-
lidade do produto e motivam os produtores a agregar valor, bus-
car um diferencial, quem sabe exportar, certamente poderiam
ganhar muito dinheiro. E ento assim acontece. O produto, que
antigamente era consumido pela prpria comunidade, e muitas
vezes comercializado na forma de trocas, passa a ter um valor
agregado, mas a produo no to alta. Algumas pessoas da co-
munidade, que no tem capacidade de comprar os produtos, dei-
xam de consumi-los (algo que antes fazia parte da sua cultura e
hbito alimentar). Nem os que produzem querem mais troc-los
como antes, pois a demanda para exportao grande e eles
no podem perder a negociao, que ir sustentar sua famlia.
Agora, por outro lado, para que tenhamos uma denominao de origem
(DO), segundo a Lei n 9.279/1996, no necessrio que haja obrigatoria-
mente a notoriedade, mas sim que se comprove que as qualidades ou ou-
tras caractersticas do produto (ou servio) se devem ao meio geogrfico.
Embora isso no esteja explcito na legislao brasileira (ou seja, que um pro-
duto precisa de notoriedade para se tornar uma DO), a notoriedade ainda
um dos princpios bsicos das indicaes geogrficas, pois foi este elemento
que fez com que surgissem as primeiras indicaes geogrficas protegidas
pela lei. Por qu? Um produto que possui notoriedade pode ser falsificado,
isto , algumas pessoas desonestas se aproveitam do renome do produto para
conseguir melhores preos no mercado. Assim, as IG surgem como forma de
proteo ao produto, produtor, consumidor e a sua origem.
A base de uma DO, no entanto, est relacionada qualidade do produto,
que nica e devida a fatores do meio onde produzido, ou seja, que ja-
mais ter as mesmas caractersticas se produzido em qualquer outro local.
A notoriedade algo que geralmente vem com o tempo, medida que
mais pessoas passam a reconhecer essas qualidades diferenciadas no pro-
duto. Certamente, as primeiras denominaes de origem no mundo
quando foram registradas j eram reconhecidas, possuam notoriedade.
102
Hoje em dia, todavia, no h impedimentos para que este caminho ocorra
de forma inversa, ou seja, que seja primeiro registrada uma DO para que
ento esta adquira maior notoriedade.
Mas ressalta-se que alguma notoriedade a DO deve possuir, posto que do
contrrio, estaria se utilizando isso mais como uma estratgia de marke-
ting para promover o local e seu produto ou servio do que, necessaria-
CAPTULO 03
mente, o objeto de se proteger uma DO: evitar a sua usurpao.
O que existe ento no meio geogrfico que pode fazer com que um pro-
duto apresente caractersticas particulares? Existem fatores fsicos do meio
como clima, relevo, vegetao e solo que afetam significantemente a
qualidade do produto.
Um queijo, por exemplo, pode possuir um sabor peculiar porque produ-
zido a partir de leite de vacas alimentadas por uma pastagem especfica de
uma regio. O presunto de Parma deve sua capacidade de conservao,
aromas e textura mantidos graas ao clima seco e com grande incidncia
de ventos das montanhas onde produzido.
Essa interpretao mais facilmente invocada no caso de produtos vegetais,
sobre os quais a influncia do solo e do clima parece ser direta. Por exem-
plo, a mesma variedade de uva plantada em diferentes locais pode produzir
vinhos que se diferem muito entre si em termos de estrutura e aroma.
Um produto que se fundamenta somente em fatores fsicos do meio, no
entanto, tem de certa forma seus limites, pois estes no so os nicos fa-
tores a intervir na sua qualidade. Ainda que o meio geogrfico possua
um potencial agronmico particular, preciso que este se expresse, seja
revelado atravs das tcnicas precisas de produo. Tais prticas tcnicas,
tais modos de elaborao criados pelo homem ao longo do tempo iro
influenciar a produo e intervir em diferentes nveis nas caractersticas
finais do produto. Sua importncia depende das situaes e dos tipos de
produto. A qualidade final do produto resultado tambm das prticas
humanas, do saber-fazer.
A importncia dessas prticas e tcnicas, todavia, manifesta-se mais em
produtos transformados. A receita de fabricao de um queijo to im-
portante quanto o leite utilizado, assim como a maneira de se fazer uma
salsicha to importante quanto a sua matria-prima (a carne).
Barjolle et al destacam citando exemplos europeus que, em alguns
casos, elementos da receita estaro relacionados a limitaes fsicas e am-
103
bientais (queijo de leite cru em regies pobres em madeira, o que no per-
mitia aquecer o leite a uma temperatura muito elevada), limitaes tcnicas
(uma camada de carvo era aplicada sobre a coalhada do queijo Morbier
para evitar que o queijo se alterasse ao esperar que se acrescentasse a ou-
tra metade fabricada com o leite do segundo tratamento), limitaes eco-
nmicas (as peas do queijo Emmental pesam em torno de 100 quilos
porque os queijos antigamente eram taxados por pea, ao invs de por
peso) ou as limitaes culturais (nos Alpes suos, os queijos fabricados de-
veriam ser de guarda, pois no poderiam ser transportados cotidianamen-
te ao p dos Alpes, at onde estavam as cidades. Por isso ele um queijo
de consistncia dura).5
Entenda melhor a influncia de fatores do meio geogrfico (naturais e
humanos) sobre a qualidade final de um produto (e aqui temos uma po-
tencial DO) atravs do exemplo ilustrado na Figura 3.1. A qualidade final
do queijo resultado de uma combinao complexa dessas influncias.
104
particular no produto que no se encontra em nenhum outro produto de
fora de seu territrio. O difcil, em muitos casos, comprovar que tais qua-
lidades se devam de fato ao meio geogrfico, mesmo em casos em que a
reputao afirme no existir produto igual em qualquer outro lugar.
Assim, podemos encontrar quatro situaes diferentes:
CAPTULO 03
1. Uma IP (ou potencial IP) que possui notoriedade, mas no uma
qualidade especfica ligada ao territrio. Exemplo: o municpio
de Franca, em So Paulo, bastante conhecido pela fabricao
de calados. A qualidade destes, no entanto, no est necessaria-
mente ligada ao meio geogrfico, uma vez que poderia ser fabri-
cado em outro local e apresentar qualidades muito semelhantes.
2. Uma IP (ou potencial IP) que possui notoriedade e tambm uma
qualidade especfica ligada ao territrio, mas com difcil compro-
vao dessa ligao. Esse pode ser o caso de produtos produzidos
numa rea geogrfica muito grande (como o Caf do Cerrado)
ou em casos onde a principal influncia do meio so os fatores
humanos, pois a comprovao (cientfica) nesses casos mais
complicada. Isso no significa, no entanto, que essa IP no se
torne um dia uma DO. Assim, acabamos tendo indicaes de
procedncia, mas com potencial para DO.
3. Uma DO (ou potencial DO) que no possui ainda uma notorie-
dade, mas tem qualidades especficas que se devem comprovada-
mente ao meio. Como um produto que possui essas qualidades
e comprovadamente nico no possui reputao? Esse pode ser
o caso, por exemplo, de um produto bastante especfico que no
possui muita histria, um produto recente no mercado que foi
buscar no local mais propcio possvel (seja por experimentaes,
por particularidades fsicas do meio ou utilizao de alta tecnolo-
gia) a sua origem de produo.
4. Uma DO (ou potencial DO) possui notoriedade e qualidades es-
pecficas que se devem comprovadamente ao meio. O presun-
to de Parma, na Itlia, um desses casos. Ele apresenta grande
notoriedade (aliada ainda a uma histria) e suas qualidades so
devidas, sobretudo, a influncias climticas.
Se tivermos um produto potencial que se enquadra em uma dessas quatro
possibilidades, o que precisamos ento reunir para fazer o pedido no INPI?
105
Para uma IP, tudo o que se pede a comprovao da notoriedade. Isso no
impede, no entanto, que se incorporem elementos que faam a ligao do
produto ao territrio alm da notoriedade.
Alis, quanto mais elementos forem reunidos e incorporados ao dossi
de pedido, mais fora ele ter perante o INPI, como IG a ser reconhecida.
O mesmo vale para uma DO, onde temos uma situao inversa, isto ,
onde obrigatria a comprovao da qualidade ligada ao territrio e no
necessariamente a comprovao da notoriedade. A incorporao desta no
pedido o enriquece muito e lhe d mais credibilidade.
106
4. O produto tem preo diferenciado?
5. Existe potencial para a agregao de valor ao produto?
6. O produto comercializado no Estado?
7. O produto comercializado em outros Estados?
CAPTULO 03
8. O produto exportado?
9. Os produtores esto organizados?
10. A produo ambientalmente sustentvel?6
11. A produo respeita os direitos humanos?7
Veja alguns exemplos de produtos potenciais para IP ou DO no Brasil:
107
Para ver mais sobre o capim dourado e a sustentabilidade do seu artesa-
nato leia a cartilha que a Associao PEQUI (Pesquisa e Conservao do
Cerrado) elaborou.
http://www.botany.hawaii.edu/gradstudentpages/Grad_Student_Pubs/
Schmidt_cartilha_cd_e_buriti.pdf
108
Ostras de Florianpolis Regio Sul
Florianpolis, capital do Estado de Santa Catarina, tambm conhecida como
a Capital Nacional das Ostras. Ela ocupa a liderana em produo no Brasil,
com 70% da produo nacional. Embora a atividade ali seja relativamente
recente, a existncia de condies oceanogrficas favorveis ao cultivo, como
a presena de inmeras reas protegidas, formadas por baas, enseadas e estu-
CAPTULO 03
rios e, tambm, pela qualidade da gua, justificam sua reputao.
109
IG, apresentar as possveis formas dessa organizao e como organizar um
grupo partindo de interesses comuns.
110
b. Por outro lado, quanto maior o nmero e diversidade de produtores
e atores, maiores as possibilidades de surgimento de conflitos, de
divergncias e talvez, mais demorado possa ser o processo, pode ser
difcil (no impossvel) encontrar o interesse comum.
Portanto, vale destacar que quanto maior o nmero e a diversidade de pro-
dutores, mais rduo ser o trabalho de sua organizao, mas, se bem reali-
CAPTULO 03
zado, se bem mediado, maiores sero as possibilidades para a dinamizao
e desenvolvimento locais. E tambm, mais forte e representativa ser a IG.
111
a) APROVALE Associao dos Produtores de Vinhos Finos do
Vale dos Vinhedos
A Associao dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos foi fun-
dada em 1995 com a associao de seis vincolas, sendo que na poca a lei
brasileira que regula direitos e obrigaes relativos propriedade industrial,
incluindo as Indicaes Geogrficas ainda no havia sequer sido publicada.
Hoje so 69 associados, sendo 27 vincolas, 18 relacionados a gastronomia,
9 pousadas/hoteis, e 15 relacionadas a outros empreendimentos. Como
consta no seu site <http://www.valedosvinhedos.com.br/vale/atrativos.
php?view=22>
112
Note a diversidade de pessoas envolvidas no primeiro exemplo -
APROVALE. Isso porque uma IG pode ser muito mais do que promotora
do produto. Ela pode promover tambm a regio e o turismo local e ou-
tras cadeias produtivas, dinamizando a regio e as relaes nela existentes.
Assim, quanto maior a diversidade entre os atores tambm maiores sero
as chances de desenvolvimento local.
CAPTULO 03
3.2.3 Formao da organizao
Em alguns casos, ao se trabalhar com um produto identificado como po-
tencial para IG, j existe uma certa forma de organizao dos produtores.
Isso facilita o processo de implementao, porque eles, provavelmente, j
trabalham por algum objetivo em comum.
Em outros casos, porm, no existe ainda consolidada uma rede de atores.
Eles trabalham de forma individualizada, com suas dificuldades, muitas
vezes comuns entre eles. Assim o trabalho para implementao de uma
IG pode ser mais rduo. H maior necessidade de um trabalho colabora-
tivo para desenvolver a regio e proteger a tipicidade e/ou qualidade dos
produtos, requerendo at, s vezes, apoio externo.
A adeso voluntria das pessoas o que garante o estabelecimento de la-
os numa Rede, mas essa adeso s nasce em funo de uma motivao
que consiga reunir em torno de si as expectativas e os investimentos de
cada um dos diferentes integrantes. A razo de existir da Rede o conjun-
to de propsitos comuns a todos os participantes.15
Para construir uma forte dinmica entre os atores e consolidar a Entidade
Representativa preciso:
1. identificar e eleger um conjunto de valores e objetivos que pos-
sam ser compartilhados entre os atores,
2. mobilizar e reunir os atores para concretizao das aes que
levem ao alcance dos objetivos comuns.
Existem alguns trabalhos que discutem metodologias muito interessan-
tes para a construo participativa de processos. Alguns deles voc pode
encontrar on-line! Exemplo:
http://www.pronaf.gov.br/dater/arquivos/21_metodologia_da_pesqui-
sa_participativa_em_agroecologia.pdf
http://www.ufmg.br/congrext/Direitos/Direitos8.pdf
113
Outra metodologia particularmente interessante a Soft Systems
Methodology (ou SSM), que considera a complexidade dos sistemas e
prope uma construo coletiva e participativa. Voc encontra artigos
sobre o assunto, disponveis na Biblioteca Virtual do curso.
114
IG, constatou baixa motivao, com o passar do tempo, de alguns atores
com relao Entidade Representativa.16
Veja, na figura 3.2, como foi a participao dos atores desse grupo nos
encontros presenciais (reunies) desde a sua formao (em 2005) at o
incio de 2008.17
CAPTULO 03
Figura 3.2 - Fonte: Velloso (2008)
115
importante destacar que, aps a finalizao desse estudo18, a situao
com relao associao e participao dos atores foi um pouco modi-
ficada. O grupo percebeu a falta de motivao por parte dos produtores e
resolveu tomar algumas atitudes como identificar e trabalhar com seus in-
teresses, formando dois grupos dentro da associao, alm de diminuir
a taxa de mensalidade para os produtores, que em geral possuam menor
renda familiar.
Essa situao comum em muitos outros casos em que o produto final
(aquele reconhecido pela IG) um produto transformado.
A valorizao do produto a partir de uma IG , geralmente, refletida no
aumento de preo do produto final, mas nem sempre da matria-prima.
Isso gera divergncias entre o grupo, pois esse reflexo deveria ser repassado,
tambm, aos produtores primrios. O surgimento de alguns conflitos co-
mum. Significa que o grupo interage e expe suas preocupaes, possibili-
tando novas iniciativas. Assim, quanto melhor forem geridos e solucionados
os conflitos, melhor ser a harmonia, participao e motivao de todos.
Mas como trabalhar com um universo muito grande de atores? Bem, a
participao de todos importante, nesse caso a melhor alternativa foi
criar subdivises, formar grupos, cada qual com suas lideranas.
116
CAPTULO 03
Figura 3.3 Fonte: Velloso (2009)
117
instrumento criado pelo prprio ser humano para represent-lo. Esta re-
presentao em regra implica em uma coletividade. No h associao ou
empresa que se constitua de um nico scio ou associado.
A pessoa jurdica , portanto, um instrumento abstrato, criado pela prti-
ca e consolidado pelo direito, para representar as pessoas fsicas em deter-
minadas situaes e cujas modalidades tm finalidades diferentes que so
definidas pela lei, especialmente o Cdigo Civil.
A existncia de uma pessoa jurdica, ao contrrio da pessoa natural, no
comea com o seu nascimento. Sua existncia legal apenas tem incio
com a inscrio do seu ato constitutivo (estatuto ou contrato social) no
Registro adequado. A Lei que dispe sobre as pessoas o Cdigo Civil.
A existncia da pessoa jurdica de direito privado com fins lucrativos, ini-
cia com a inscrio do seu ato constitutivo - em regra denominado de
Contrato Social - na Junta Comercial do Estado.19
J a existncia da pessoa jurdica de direito privado sem fins lucrativos,
inicia-se com a inscrio do seu ato constitutivo - em regra denominado
Estatuto - no respectivo Cartrio de Registro Civil das Pessoas Jurdicas.
As Associaes de Direito Privado so constitudas pela unio de pessoas
(fsicas e ou jurdicas) que se organizam para fins no econmicos, quer
dizer que no pagam dividendos aos associados, ou seja, no objevam ter
lucro nem dividir o lucro entre seus membros.
H pessoas jurdicas de direito pblico, ou seja, que representam entes p-
blicos, como a Unio, os Estados, os Municpios, e mesmo, no mbito ex-
terno, os Estados e as Organizaes Internacionais. 20 Claro est que estas
pessoas jurdicas no representam uma coletividade na acepo estrita do
termo, elas representam o poder pblico em suas diversas esferas e no in-
teresses particulares, ou outras pessoas, sejam estas naturais ou jurdicas.
Apenas para deixar claro: Municpios no representam a coletividade do
ponto de vista jurdico e, por isso, segundo a atual legislao, no podem
requerer o reconhecimento de uma IG.
Tambm h pessoas jurdicas de direito privado, que representam as
pessoas naturais dentro de uma determinada finalidade, como uma
Associao, uma Sociedade, uma Fundao, um Partido Poltico e mesmo
uma Organizao Religiosa. 21
No caso de uma IG a Instruo Normativa INPI n. 25/2013 cita expressa-
mente a associao, o instituto ou outra forma de pessoa jurdica que
118
represente a coletividade. Alm disso, a Resoluo determina como regra
geral que esta entidade represente a coletividade legitimada ao uso ex-
clusivo do nome geogrfico e estabelecidas no respectivo territrio.
A Associao no seu estatuto pode instituir como objetivo a representa-
o de uma coletividade de um determinado territrio e pode estabelecer
como fim a gesto da indicao geogrfica.
CAPTULO 03
Deve ser ressaltado que a possibilidade de entrada e sada de um associado
regulada to somente pelo prprio estatuto, no havendo qualquer re-
gra que obrigue a associao a aceitar um novo associado. Deve ser consi-
derado, ainda, que a Constituio Federal determina que ningum poder
ser obrigado a associar-se.22
De outra forma, no existe no direito brasileiro uma figura jurdica de-
nominada instituto que se diferencie de associao. Ou seja, um ins-
tituto, uma entidade de fins no econmicos, uma Organizao No
Governamental (ONG), etc. em regra, so associaes e legalmente as-
sim que deveriam ser denominados.
Nessa mesma situao encontram-se os Sindicatos, seja dos trabalhadores
ou patronais, que nada mais so do que Associaes que representam uma
coletividade especfica que so os seus sindicalizados.23
Outra pessoa jurdica que represente a coletividade poderia englobar as outras
modalidades de pessoas jurdicas j citadas. Mas deve-se ter muito cuidado
nesta definio e compreender o que a Lei e a Instruo Normativa efetiva-
mente querem dizer, para que se possa escolher a forma jurdica correta.
119
nicais - constituem o patrimnio das pessoas jurdicas de direito pblico,
como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. 26
Claro est que uma IG no se trata de um bem pblico, posto que no de
uso comum do povo apenas os localizados na regio podero utiliz-la cum-
prindo as disposies legais; no de uso especial e tampouco um bem do-
minical. Trata-se, portanto, de um bem privado com caractersticas especiais.
Dentre estas caractersticas, observa-se tratar de um bem mvel por deter-
minao legal27; infungvel posto que no pode ser substitudo por outro
da mesma qualidade, quantidade e espcie28; inconsumvel 29; indivisvel 30;
e pode ser considerado um bem acessrio31 com relao ao territrio pos-
to que com a venda de uma gleba que esteja localizada no espao delimi-
tado pela IG, vende-se tambm, e por isso, esta ter um valor diferenciado,
a possibilidade de uso da IG ao novo comprador que, atendendo a todos
os requisitos legais, poder usufruir deste direito. Alm disso, o direito
ao uso da IG e a prpria IG no podem ser separados do seu territrio de
origem sem perder a sua caracterstica essencial.
Considerando as caractersticas acima expostas, verifica-se que no se tra-
ta de um bem privado comum, mas que tem certas peculiaridades que
o tornam diferenciado. Isso por que este bem no se adquire com uma
venda ou cesso, nem se pode dispor do mesmo como se o faria de um
carro ou de uma casa.
Isso por que este bem nasce de uma forma muito mais complexa: sua
formao se d da conjuno entre um determinado lugar e os produtos
ou servios deste, agregando-se a isso o saber fazer de quem se encontra
neste lugar e os fatores naturais que podem influenciar na criao ou ela-
borao deste bem.
Para Locatelli32, trata-se de um direito que pertence a toda coletividade ins-
talada na regio, estando a titularidade ligada ao fator geogrfico, territorial.
Poder-se-ia defini-lo como um bem privado de carter coletivo. Ou, ainda,
como um bem difuso, assim como o meio ambiente.
120
Para se fazer uma escolha adequada, deve-se conhecer dois tipos de estru-
tura jurdica, suas vantagens e desvantagens.
Associao
Uma das formas mais simples de constituio de uma pessoa jurdica cer-
tamente uma Associao, que exige um mnimo de pessoas suficientes
CAPTULO 03
para compor a diretoria estabelecida no estatuto, com objetivos comuns e
cuja entidade no dever ter fins lucrativos, embora possa fazer o controle
e gesto de uma IG, bem como cobrar mensalidades e anuidades, cobrar
pelo controle, etc. Ela pode, inclusive, ter sobras ao final do perodo,
mas estas no podem ser distribudas entre os associados, devem ser rea-
plicadas na prpria associao.
Para sua constituio, basta a elaborao de um Estatuto em duas vias,
acompanhado da ata de fundao33, na qual dever constar a lista de as-
sociados fundadores. A lei exige que alguns requisitos mnimos apaream
neste estatuto, quais sejam: a denominao, os fins, a sede, o tempo de
durao e o fundo social, quando houver; o nome e a individualizao
dos fundadores ou instituidores, e dos diretores; o modo por que se admi-
nistra e representa, ativa e passivamente, judiciale extrajudicialmente;se
o ato constitutivo (ata de criao e estatuto) reformvel no tocante
administrao, e de que modo; se os membros respondem, ou no, subsi-
diariamente, pelas obrigaes sociais; as condies de extino da pessoa
jurdica e o destino do seu patrimnio, nesse caso.34
Especialmente no caso das Associaes, a lei estabelece ainda que o es-
tatuto dever obrigatoriamente determinar: a sede da associao; os re-
quisitos para a admisso, demisso e excluso dos associados; os direitos
e deveres dos associados; as fontes de recursos para sua manuteno; o
modo de constituio e funcionamento dos rgos deliberativos e admi-
nistrativos.35 Tambm dever estar previsto no estatuto que, a assemblia
geral ter competncia e poderes para eleger os administradores; destituir
os administradores; aprovar as contas e; alterar o prprio estatuto. 36
H obrigatoriedade do Estatuto ser revisado e assinado por um advogado
ou contador, que so profissionais que conhecem as regras para a elabo-
rao deste documento.
Aps elaborado, devidamente aprovado pela Assemblia Geral de fun-
dao, estes documentos sero depositados para inscrio no Cartrio
de Registro de Pessoas Jurdicas do municpio da sede da Associao.
121
Constituda a Associao, esta dever possuir um contador que, em regra,
se responsabiliza pelos demais trmites necessrios para se obter o CNPJ,
a inscrio estadual e o alvar municipal.
Desse trmite todo o que mais deve interessar aos associados a elabora-
o do estatuto, que deve se dar de forma conjunta para que represente
efetivamente os objetivos de toda a coletividade. No caso especfico de
uma IG, algumas peculiaridades podem ser acrescentadas.
Dentre os objetivos da Associao deve constar o trabalho para o reconhe-
cimento e a gesto da IG, de forma clara e precisa. Na composio dos r-
gos da Associao, alm da Assemblia Geral (ordinria e extraordinria)
que obrigatria, e uma Diretoria, ou Conselho Diretivo, e um Conselho
Fiscal, faz-se importante prever que haja rgo especfico para Gesto e
Controle da IG, seja ele interno ou externo Associao.
O ideal que haja uma estrutura de gesto da IG separada da estrutura de
Controle, para que haja imparcialidade no controle dos produtos ou ser-
vios. Tambm recomendvel que da estrutura de controle participem,
como convidados, terceiros que no fazem parte da Associao, mas que
conhecem a IG, tais como tcnicos, especialistas, consumidores, etc.
No caso do(s) rgo(s) de gesto e de controle, devem ser definidos seus
objetivos, seus deveres, bem como o que interessante a elaborao
de um regimento interno, que permita uma liberdade de organizao das
questes administrativas, sem que se faa necessrio, a cada alterao, al-
terar o prprio Estatuto (o que um trabalho considervel).
Dentro dessa estrutura geral deve haver uma pessoa responsvel pela
Gesto e outra para o Controle, suas atribuies devem ficar bem claras.
Tambm deve ser prevista a redao do Regulamento de Uso da IG, sua
forma de controle e aplicao, se possvel, bem como as penalidades para o
descumprimento deste por parte dos associados e a atuao da Associao
em face a terceiros que no tenham o direito ao uso da IG. Uma disposi-
o muito interessante seria regular o tratamento dos no associados que
se encontram na rea geograficamente delimitada caso existam, para
que seja possibilitado o uso da IG com o controle feito pela Associao.
Isso pode ser feito quando da fundao da Associao ou, no caso de uma
j existente, mediante alterao do Estatuto para incluso destas particu-
laridades.
122
Vale ressaltar que uma Associao deve ser um organismo em constante
aperfeioamento, para que possa se adaptar s realidades de sua regio
e da prpria IG. No deve ser engessada por meio de normas rgidas de-
mais, mas deve ter um rigor mnimo que estabelea o respeito pela IG.
CAPTULO 03
nibilizamos na Biblioteca Virtual o Estatuto da Associao de Produtores
de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos, o qual nos foi gentilmente forne-
cido pela Aprovale.
Cooperativa
Outra opo a organizao mediante o formado de uma Sociedade
Cooperativa. Trata-se de uma pessoa jurdica um pouco diferente da
Associao, embora sua constituio tambm se d mediante a elaborao
de um Estatuto37, o qual deve ser aprovado em uma Assemblia Geral de fun-
dao, comprovada mediante a elaborao da respectiva Ata de Fundao.38
Alm disso, seus atos constitutivos devem ser apresentados Junta Comercial,
seguindo-se aps os mesmos trmites j descritos para a Associao.
O que mais a difere da Associao que a cooperativa rene pessoas que reci-
procamente se obrigam a contribuir com produtos ou servios para o exerc-
cio de uma atividade econmica de utilidade comum, sem objetivo de lucro.39
Claro fica que h uma atividade econmica, mas o objetivo da cooperativa em
si no o lucro, auxiliar seus cooperados para que estes trabalhem.
Do ponto de vista legal, as cooperativas so sociedades de pessoas (natu-
rais ou jurdicas), com forma e natureza jurdica prprias, no sujeitas
falncia, constitudas para prestar servios aos associados. Sua regulamen-
tao se d pelos artigos 1.093 e seguintes do Cdigo Civil, e pelas disposi-
es especiais da Lei n 5.764/1971 Lei das Cooperativas.
As principais caractersticas das cooperativas so: a possibilidade de va-
riabilidade ou dispensa de capital social (o que difere de uma sociedade
comum, sendo que no existe capital social para uma Associao); con-
curso de scios em nmero mnimo necessrio a compor a administrao
da sociedade, sem limitao de nmero mximo; com limitao do valor
da soma de quotas do capital social que cada scio poder tomar; com
intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos sociedade,
ainda que por herana; com quorum, para a assemblia geral funcionar e
123
deliberar, fundado no nmero de scios presentes reunio, e no no ca-
pital social representado; com direito de cada scio a um s voto nas deli-
beraes, tenha ou no capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de
sua participao(uma pessoa = um voto); com distribuio dos resultados,
proporcionalmente ao valor das operaes efetuadas pelo scio com a so-
ciedade, podendo ser atribudo juro fixo ao capital realizado (o que difere
sobremaneira da Associao); com indivisibilidade do fundo de reserva
entre os scios, ainda que em caso de dissoluo da sociedade.
Ao contrrio das Associaes, onde os associados no tm responsabilida-
des com relao a terceiros e a Associao, salvo o caso de gesto temer-
ria, na sociedade cooperativa, a responsabilidade dos scios pode ser limi-
tada ou ilimitada. Ou seja, eles respondem pelas perdas das Cooperativas,
como tambm podem receber as sobras destas.
Alm disso, a Lei de Cooperativas estabelece que40: a adeso cooperativa
voluntria; h possibilidade de retorno das sobras lquidas do exerccio,
proporcionalmente s operaes realizadas pelo associado, salvo delibe-
rao em contrrio da Assemblia Geral; a cooperativa deve manter neu-
tralidade poltica e no discriminao religiosa, racial e social; deve haver
prestao de assistncia aos associados, e quando previsto nos estatutos,
aos empregados da cooperativa.
Em suma, possui regras por um lado mais restritivas, mas, por outro, mais
vantajosas aos seus cooperados que as associaes. Vale ressaltar que h
diferentes tipos de cooperativas: de primeiro, segundo e terceiro graus.
As cooperativas singulares, ou de primeiro grau, caracterizam-se pela
prestao direta de servios aos associados. J as cooperativas centrais e
federaes de cooperativas, ou de segundo grau, objetivam organizar, em
comum e em maior escala, os servios econmicos e assistenciais de inte-
resse das filiadas, integrando e orientando suas atividades, bem como fa-
cilitando a utilizao recproca dos servios.41 As cooperativas de terceiro
grau so formadas pelas federaes de cooperativas e tem como objetivo
ordenar o funcionamento e gesto de todas, proporcionando formao e
auxlio, por vezes tcnico e financeiro.
Vale ressaltar que, conforme disposio constitucional, no h mais obri-
gatoriedade de se pedir a autorizao para o funcionamento de uma co-
operativa. 42
124
As IG Brasileiras registradas at o momento perante o INPI constituram a
forma jurdica de Associaes para representar e organizar os seus produ-
tores. Algumas delas sero apresentadas e trabalhadas nos Captulos 9 e 10.
CAPTULO 03
aconselha-se que seja debatido entre os legitimados para uso da IG qual a
forma que melhor se adapta aos objetivos destes.
Escolhida a forma jurdica, ser muito importante promover um traba-
lho conjunto para elaborao do Estatuto (embora uma minuta prvia
possa ser apresentada), para que todos possam participar das decises e
sentirem-se parte do processo. Alm disso, um profissional do direto ou
da contabilidade ser necessrio para formalizar o ato bem como para
auxiliar na parte mais tcnica da elaborao destes documentos.
Mas lembre-se que o processo pode ser concomitante aos demais que
sero apresentados nos Captulos 4 e 5. Todavia, haver necessidade de
encontrar-se constituda a Entidade Representativa quando do requeri-
mento de seu registro perante o INPI, o que ser analisado no Captulo 6.
125
Resumo
126
Notas
1. VASCONCELLOS et al., 2003.
2. De acordo com a Portaria Interministerial no239 de 21 de julho
de 2009, sociobiodiversidade a inter-relao entre a diversidade
biolgica e a diversidade de sistemas socioculturais. Segundo a
CAPTULO 03
mesma portaria, produtos da sociobiodiversidade so bens e ser-
vios (produtos finais, matrias primas ou benefcios) gerados a
partir de recursos da biodiversidade, voltados formao de ca-
deias produtivas de interesse dos povos e comunidades tradicio-
nais e de agricultores familiares, que promovam a manuteno
e valorizao de suas prticas e saberes, e assegurem os direitos
decorrentes, gerando renda e promovendo a melhoria de sua
qualidade de vida e do ambiente em que vivem.
3. SILVA, de Plcido e. Vocabulrio Jurdico. 7ed. Rio:Forense,1982,4v.
4. Voc ver no captulo 4 como mobilizar documentos que com-
provem essa notoriedade.
5. BARJOLLE et al., 1998.
6. No obrigatrio.
7. No obrigatrio. A sustentabilidade ambiental e o respeito aos
direitos humanos no so pontos explcitos como requisitos
para uma IG. No podemos desconsiderar, no entanto, outras
legislaes tambm existentes. Alm disso, [...] as polticas lo-
cais devem, no mundo da globalizao, buscar a incluso social
da populao, a qual deve assumir as prerrogativas da incluso
no mundo produtivo, incluso no mundo do consumo, incluso
no mundo da cidadania e do respeito aos direitos humanos.
CALDAS, 2003, p. 30.
8. ISPN, 2008.
9. TEIXEIRA et al, 1999.
10. ROSA, 2008.
11. PAULA, 2004.
12. PAULA, 2004.
127
13. PAULA, 2004, p. 77.
14. As etapas de elaborao do regulamento de uso e da definio da
forma de controle sero abordadas detalhadamente na Aula 5.
15. BRASIL, 2008, p.126.
16. VELLOSO, 2008.
17. VELLOSO, 2008.
18. VELLOSO, 2008.
19. Artigo 45, Lei n10.406/2002.
20. Cdigo Civil Lei n 10.406/2002, Artigos 40 a 43.
21. Cdigo Civil Lei n 10.406/2002, Artigos 44 e seguintes.
22. Artigo 5 da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de
1988:
XVII - plena a liberdade de associao para fins lcitos, vedada a
de carter paramilitar;
XVIII - a criao de associaes e, na forma da lei, a de coopera-
tivas independem de autorizao, sendo vedada a interferncia
estatal em seu funcionamento;
XIX - as associaes s podero ser compulsoriamente dissolvi-
das ou ter suas atividades suspensas por deciso judicial, exigin-
do-se, no primeiro caso, o trnsito em julgado;
XX - ningum poder ser compelido a associar-se ou a perma-
necer associado;
23. SIQUEIRA, Graciano Pinheiro de. Natureza jurdica e rgo re-
gistrador das entidades sindicais. Jus Navigandi, Teresina, ano
9, n 818, 29 set. 2005. Disponvel em: <http://jus2.uol.com.
br/doutrina/texto.asp?id=7355>. Acesso realizado em 12 maio
2009.
24. Cdigo Civil Lei n 10.406/2002, Artigos 79 a 103.
25. Cdigo Civil Lei n 10.406/2002, Artigo 98.
26. Cdigo Civil Lei n 10.406/2002, Artigo 99.
128
27. Conforme define o Artigo 5 da Lei n 9.279/1996.
28. Cdigo Civil Lei n 10.406/2002, Artigo 85
29. Cdigo Civil Lei n 10.406/2002, Artigo 86.
30. Cdigo Civil Lei n 10.406/2002, Artigo 87.
CAPTULO 03
31. Cdigo Civil Lei n 10.406/2002, Artigo 92.
32. LOCATELLI, 2008, . 237-242
33. Para a criao de uma associao ser necessria a realizao de
uma assemblia. Nesse momento os associados colocaro em
votao uma proposta de estatuto, elegero os membros que
iro compor o primeiro mandato dos seus rgos internos (di-
retoria, conselho fiscal entre outros rgos, conforme o estatuto
aprovado dispuser), bem como a definio de sua sede provisria
ou definitiva. Aps o trmino da assemblia dever ser elaborada
a ata de criao da associao na qual constar: a informao de
se tratar de uma ata de criao com a denominao da associa-
o; o nome e CPF de cada associado fundador; a pauta da reu-
nio (criao da associao, aprovao do estatuto, definio da
sede e eleio dos membros dos rgos internos da associao).
A ata ser assinada por todos os associados fundadores ou acom-
panhada por uma lista de presena que contenha a identificao
dos presentes.
34. Artigo 46, Lei n10.406/2002.
35. Artigo 54, Lei n10.406/2002.
36. Artigo 59, Lei n10.406/2002.
37. Os seguintes itens devem constar no estatuto de uma coopera-
tiva:
I - a denominao, sede, prazo de durao, rea de ao, objeto
da sociedade, fixao do exerccio social e da data do levanta-
mento do balano geral;
II - os direitos e deveres dos associados, natureza de suas respon-
sabilidades e as condies de admisso, demisso, eliminao
e excluso e as normas para sua representao nas assemblias
gerais;
III - o capital mnimo, o valor da quota-parte, o mnimo de
quotas-partes a ser subscrito pelo associado, o modo de inte-
129
gralizao das quotas-partes, bem como as condies de sua
retirada nos casos de demisso, eliminao ou de excluso do
associado;
IV - a forma de devoluo das sobras registradas aos associados,
ou do rateio das perdas apuradas por insuficincia de contribui-
o para cobertura das despesas da sociedade;
V - o modo de administrao e fiscalizao, estabelecendo os
respectivos rgos, com definio de suas atribuies, poderes e
funcionamento, a representao ativa e passiva da sociedade em
juzo ou fora dele, o prazo do mandato, e o processo de substi-
tuio dos administradores e conselheiros fiscais;
VI - as formalidades de convocao das assemblias gerais e
a maioria requerida para a sua instalao e validade de suas
deliberaes, vedado o direito de voto aos que nelas tiverem
interesse particular sem priv-los da participao nos debates;
VII - os casos de dissoluo voluntria da sociedade;
VIII - o modo e o processo de alienao ou onerao de bens
imveis da sociedade;
IX - o modo de reformar o estatuto;
X - o nmero mnimo de associados.
38. Conforme Lei n 5.764/1971.
39. O ato constitutivo (ata de funcao), sob pena de nulidade, deve-
r declarar: a denominao da entidade, sede e objeto de funcio-
namento; o nome, nacionalidade, idade, estado civil, profisso
e residncia dos associados fundadores que o assinaram, bem
como o valor e nmero da quota-parte de cada um; a aprovao
do estatuto da sociedade; o nome, nacionalidade, estado civil,
profisso e residncia dos associados eleitos para os rgos de ad-
ministrao, fiscalizao e outros(conforme Lei n 5.764/1971).
40. Artigo 3, Lei n 5.764/1971.
41. Artigo 4, Lei n 5.764/1971.
42. Artigos 7, 8, Lei n 5.764/1971.
130
CAPTULO 4
134
4.1 A relao entre homens, produtos e territrios
Todos os elementos e atividades que vamos apresentar a seguir levam a
um mesmo objetivo geral que o de reunir produtos, homens e territ-
rios. Os produtos apresentam caractersticas particulares e so reconheci-
dos pelos consumidores; os territrios abrigam os recursos naturais espe-
cficos, criando uma notoriedade; e, os homens tm uma histria coletiva
de conhecimentos locais (savoir-faire) que dividem entre si.
CAPTULO 04
Fatores Naturais Fatores Humanos
Produto
135
4.2 Levantamento histrico-cultural
O levantamento histrico-cultural representa uma etapa fundamental,
que visa buscar informaes e elementos comprobatrios da notoriedade
da regio. importante o levantamento de evidncias concretas desse re-
conhecimento para acompanhar o pedido de solicitao de registro junto
ao rgo competente. Alm de comprovar a legitimidade da solicitao
da regio como IG, esse levantamento vai ajudar em outras etapas do
processo, como a delimitao geogrfica da rea de produo, a origem da
matria-prima, a definio do processo de produo, etc.
A parte histrica no deve ser considerada pelas entidades requerentes
como apenas um elemento necessrio para a solicitao do registro, mas
sim como um meio de aprofundar e aperfeioar os seus conhecimentos
tcnicos, sociais e culturais sobre o produto e a regio, quer dizer, de co-
nhecer de fato o produto.
136
Por outro lado, a contratao de profissionais pode trazer problemas, pois
no fortalece os debates e trocas de viso entre os membros do grupo e,
como nem sempre os historiadores vo conseguir juntar todos os elemen-
tos necessrios, o grupo perde a oportunidade de redescobrir a histria da
sua prpria regio.
CAPTULO 04
mesmo produto. Ao lado destas, outras se tornaram conhecidas com um
produto mais recente (10 ou 30 anos). Um produto IG no precisa ser,
necessariamente, um produto muito antigo.
No Brasil, a regio dos permetros irrigados do nordeste (Vale do So
Francisco - PE/BA) se tornou conhecida pela produo de frutas entre
os anos 1970 e 1990 (regio recente). No entanto, o litoral brasileiro j
apresenta produtos e atividades tpicas de origem aoriana h mais de 300
anos, como exemplo a cachaa de Paraty /RJ (regio antiga).
Mais do que a histria, o importante a presena de uma memria co-
letiva dos produtores e de saberes compartilhados. Nessa perspectiva, na
elaborao de um documento histrico e da comprovao da origem, de-
vem constar elementos sobre as comunidades locais, sua histria e seus
conhecimentos compartilhados, tenham origem escrita ou no.
137
chegada dos imigrantes italianos. A instalao desses imigrantes ocorreu
com o apoio do Governo Brasileiro, interessado na ocupao da regio.
Entretanto, as condies de colonizao foram muito difceis na mata
virgem, em uma regio isolada e perduraram por muitas dcadas. Perodo
de muitas dificuldades scio-econmicas, com falta de apoio aos setores
de educao, sade e transportes, alm de grandes dificuldades para a
produo agrcola e para o escoamento dos excedentes para mercados.
Inicialmente, desenvolveu-se como uma regio de agricultura basicamen-
te familiar, onde o plantio da uva e a produo do vinho logo tiveram
destaque, alm de outros produtos para consumo das prprias famlias e
de abastecimento local.
Atualmente, a regio possui uma economia muito diversificada, com a
forte presena do setor industrial (metalrgico, moveleiro) e do turismo
(enoturismo, ecoturismo, turismo de aventura). No entanto, foi na vitivi-
nicultura, que faz parte da histria e cultura local, que a regio se notabili-
zou economicamente no cenrio nacional e obteve o reconhecimento da
primeira IG nacional.
b. Regio do Cerrado Mineiro
A histria do caf da Regio do Cerrado Mineiro comeou no final da
dcada de 1960, quando ocorreu a maior geada que a cafeicultura brasi-
leira conheceu, trazendo consequncias desastrosas para os cafezais dos
Estados do Paran e So Paulo.
As dificuldades climticas somadas ao crescimento econmico das lavou-
ras de soja conduziram os cafeicultores a vender suas terras. As polticas
de modernizao e as facilidades ofertadas pelos crditos governamentais
orientaram a fuga dos bares do caf, que compraram terras totalmente
mecanizveis, por preos acessveis, em Minas Gerais.
Da entrada dos bares do caf paranaenses e paulistas resultou a diversifi-
cao da economia previamente voltada para pecuria de corte, pecuria
de leite e produo de cachaa, desta regio mineira. No entanto, dentre
as vrias regies cafeicultoras, a Regio do Cerrado Mineiro foi a primeira
a se beneficiar do reconhecimento da sua notoriedade com o recebimento
de uma IG.
c. Paraty
A histria de Paraty/RJ est relacionada com as funes comerciais que
a cidade assumiu desde o sculo XVI. A Vila de Paraty cresceu ao ritmo
138
dos ciclos econmicos, como o nico caminho ligando o Rio de Janeiro
s minas. A partir de 1695 se transformou em cidade e conheceu um forte
desenvolvimento econmico.
A cachaa produzida no municpio virou moeda de troca para adquirir es-
cravos e tambm ouro. Porm, a abertura de outras vias de comunicao
e a m qualidade daquelas conduzindo a Paraty, foi dificultando o acesso
e a cidade conheceu quase 100 anos de abandono. Muitos alambiques fe-
charam.
A abertura, em 1950, da primeira estrada circulvel terminou com o isola-
mento do municpio e abriu as portas para novas atividades econmicas,
CAPTULO 04
como o turismo, permitindo tambm o resgate da produo de cachaa
artesanal e o reconhecimento de uma IG.
d. Pampa Gacho da Campanha Meridional
A notoriedade e a tradio dos Gachos da regio sul do Brasil iniciaram
com a colonizao do pas. O territrio, o idioma e a cultura resultam das
inmeras guerras internas e externas ligadas conquista do territrio. A
economia do Rio Grande do Sul est relacionada epopeia belicosa do
Estado, e tambm aos grandes ciclos econmicos: couro, charque, frigo-
rfico.
A regio da Campanha Meridional se destacou ao longo do tempo como
uma zona de terminao do gado bovino, devido a seus campos naturais
de alta qualidade, e a habilidade dos seus pecuaristas em lidar com cavalos
e bois. Esta regio, com sua histria, extenso de terras, biodiversidade e
reconhecido diferencial da carne bovina, permitiu o registro e reconheci-
mento de uma IG.
e. Roquefort
A ttulo de comparao, apresentamos o exemplo do queijo Roquefort,
Frana, e as duas faces de sua histria.
Da lenda: a lenda diz que esse queijo nasceu da distrao de um pastor,
que um dia esqueceu pedaos de po e de queijo em uma caverna quan-
do vislumbrou uma bela jovem. Alguns dias mais tarde, ele encontrou o
queijo manchado de verde, porm comestvel e bem melhor que antes.
Da verdade: a histria do Roquefort inicia no reinado de Carlos Magno
(Rei da Frana), que o descobre durante uma viagem. Em 1411, os ha-
bitantes do vilarejo de Roquefort sur Soulzon obtm do rei Carlos VI um
139
documento lhes acordando o privilgio de trabalhar na produo e matu-
rao do queijo, tornando-o mais puro e melhor curado. Privilgio este
confirmado em 1666 por uma deciso administrativa do Parlamento de
Toulouse. Em 1782, Diderot o consagrou como o rei dos queijos do ter-
roir da Frana. At em 1842, sua produo e seu comrcio foram assegu-
rados por produtores independentes. Voltaire, no seu livro le temple du
gout (1733) e outros escreveram sobre o Roquefort.
http://www.valedosvinhedos.com.br/
http://www.ibravin.org.br/
http://www.abic.com.br/
http://www.panoramio.com/user/216087
http://www.maison-du-lait.com/prodlait/AOC/roquef.html
http://www.roquefort.fr/
140
A fabricao de um produto tpico comeou numa regio e, ao
longo do tempo, se espalhou.
Ou, ento, a fabricao de um determinado produto era muito
comum numa grande regio, entretanto, apenas uma comuni-
dade se especializou ou continuou produzindo aquele produto,
enquanto os vizinhos deixaram de produzir.
Essas evolues explicam uma reduo ou um aumento da regio produ-
tiva.
Realidade econmica atual:
CAPTULO 04
A realidade econmica atual se baseia na caracterizao das atividades
presentes no territrio hoje e em nvel de especializao ou de diversifica-
o. Ela descreve a cadeia produtiva, as principais oportunidades e amea-
as para o produto, para os homens e para a regio.
Alm de comprovar a origem, a realizao do levantamento histrico da
regio e os elementos que comprovem a reputao antiga (realidade eco-
nmica histrica) e a reputao atual (realidade econmica atual) podem
contribuir tambm como apoio delimitao geogrfica da rea, defi-
nio das regras de produo e ao projeto coletivo dos atores locais e ao
fortalecimento da IG (Tabela 4.1).
141
4.2.5 Quais as fontes que podemos trabalhar?
Vrias fontes permitem reconstruir a histria da regio, desde fontes escri-
tas, tais como dados estatsticos, documentos e trabalhos acadmicos (que
podem ser mobilizados por atores locais, pessoas envolvidas no projeto),
at fontes orais e mesmo visitas regio.
As fontes escritas
O exerccio consiste aqui em reunir materiais que nos permitam contar a
histria da regio e demonstrar as especificidades do produto ou do servi-
o. As fontes escritas podem ser mobilizadas e procuradas pelos prprios
atores locais envolvidos no processo para a realizao desse primeiro le-
vantamento. Trata-se para os agentes locais de visitar os servios estatsti-
cos (escritrios municipal e regional do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatstica-IBGE), as bibliotecas municipais e universitrias, os museus
locais, as prefeituras, outros diferentes servios e arquivos pessoais. Veja
na Tabela 4.2 e na Figura 4.2 alguns exemplos de fontes (documentos) que
podem contribuir para o levantamento histrico.
142
Alm de reconstruir a histria da regio, das comunidades locais e dos
produtos potenciais, os produtores devem procurar, na medida do poss-
vel, documentos originais para serem apresentados junto com a solicita-
o de registro, comprovando a notoriedade da regio, tais como: fotos,
registros oficiais, diplomas, certificados, etc.
CAPTULO 04
Figura 4.2 2 - Fonte: Velloso (2008)3,
Vale dos Vinhedos (exposio 130
anos da imigrao italiana, Casa
Valduga, 2005, www.cultura.rs.gov.br
Acesso realizado em 16 abr. 2014.
143
A visita da rea tambm permite observar em que medida o produto marca
a paisagem [...] os animais, a cor da pelagem, a frequncia com que apa-
recem as cabras; a cultivar de fruta, a forma do pomar e a arquitetura das
plantas no aparecem nos mapas4. Observe na Figura 4.3 como a imagem
do produto tpico da regio utilizada na paisagem, no cenrio da regio.
Ao se chegar cidade, o visitante j associa a regio ao produto, j sabe que
est em uma regio produtora de ma e com baixa temperatura (frio).
www.carnedopampagaucho.com.br
http://www.ilhaverde.net/iv/paraty.htm
http://www.cafedocerrado.org/
144
4.3 Delimitao Geogrfica da rea
CAPTULO 04
por exemplo, da ma de So Joaquim, Frutas do Vale do Sub-mdio So
Francisco, etc., ou transformados, como o caso dos vinhos de altitude
(SC), do queijo do serro (MG) e Cajuna (PI). Neste sentido, a delimitao
da rea pode se distinguir de um caso para outro, como veremos a seguir.
Em ambos os casos, contudo, a delimitao geogrfica da rea deve ser
precisa, claramente justificada ou argumentada. Ela dever ser realizada e
respaldada por argumentos tcnicos oficiais (como os resultados de estu-
dos e pesquisas), constando em relatrio os fatores naturais (clima, solo,
relevo, vegetao, paisagem, etc.). Os tcnicos e pesquisadores podem
contribuir significativamente nessa etapa.
http://www.inpi.gov.br/images/docs/instrucao_normativa_25_indica-
coes_geograficas[2].pdf
http://www.agricultura.gov.br/pls/portal/docs/PAGE/MAPA/SERVICOS/
IG_PRODUTOS_AGROPECUARIOS/CONSTRUINDO_AS_IG/GUIA%20
IG%20FINAL_0.PDF
145
Para uma DO, a rea de produo a zona onde o produto apresenta
caractersticas especficas, que so determinadas por um conjunto de fato-
res naturais e humanos - efeito terroir. Nesse caso, so necessrios mapas
edafoclimticos (solo, clima, vegetao, etc...), sem, no entanto, excluir
os saberes locais (savoir-faire), os modos de organizao da produo, da
transformao e as prticas dos agentes do territrio.
Para uma IP, a rea construda em funo de uma srie de critrios,
como os saberes locais, a importncia econmica e histrica do produto.
Esse caso IP, a priori, menos exigente em termos de estudos para a
demonstrao da ligao do produto com a origem.
http://www.cnpuv.embrapa.br/publica/artigos/afinal_o_que_terroir.
pdf
http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/BDS.nsf/E1C3CE6A43DBDB3
203256FD6004907B7/$File/NT000A61AE.pdf (p.179-199).
http://201.2.114.147/bds/BDS.nsf/304869CC2D5D5FBF0325713F004CC
682/$File/NT000AF6AA.pdf
http://www.oiv2007.hu/documents/viticulture/327_d_finition_du_ter-
roir_oiv_budapest.pdf
146
Figura 4.4 - Regio delimitada do IP Pampa Gacho da Campanha Meridional
CAPTULO 04
Fonte: MAPA (2009).
147
O Regulamento da DO Vale dos Vinhedos (RS) estabelece que a rea
geogrfica delimitada localiza-se nos municpios de Bento Gonalves,
Garibaldi e Monte Belo do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul, com
rea total de 72,5 km2. Os limites do Vale foram estabelecidos pelas cotas
e pontos altimtricos da linha do divisor de guas do mesmo (Figura 4.6).
148
4.3.2 O que acontece quando as etapas de produo e do
processamento so em regies distintas?
Se o produto reconhecido pela indicao geogrfica no um produto
transformado (como a ma), certamente a delimitao dever abranger
a rea de produo em que o produto apresente as caractersticas particu-
lares. No caso de produtos transformados, por outro lado, no necessaria-
mente a delimitao geogrfica dever abranger a rea de produo, mas
obrigatoriamente a zona de transformao. No devemos desconsiderar,
no entanto, que a qualidade da matria-prima seguramente influenciar
no resultado final, ou seja, na qualidade do produto transformado. Assim,
CAPTULO 04
interessante considerarmos uma delimitao tambm de produo para
produtos transformados, mesmo que essa zona (de produo) no coinci-
da com a zona de transformao.
Para registro de uma IG, necessrio listar as diferentes operaes que
sero realizadas em uma rea geogrfica delimitada (origem da mat-
ria-prima, diferentes etapas de produo, transformao, elaborao).
Algumas IG podem registrar vrias reas oficialmente delimitadas: uma
para a produo e outra para a transformao. Podem, ainda, registrar
somente a rea delimitada da etapa que a responsvel pela especificidade
do produto.
No seu regulamento de uso, a IP Paraty define uma rea delimitada de
produo de cana-de-acar e elaborao da cachaa ao redor da cidade
de Paraty (RJ). Porm, ela assinala que parte da matria-prima (cana-de-
acar) pode provir do exterior da rea de fabricao da cachaa (apro-
ximadamente 40-50%), principalmente, do Estado de So Paulo. Outra
opo poderia ser uma proposta de duas reas, uma rea delimitada de
elaborao da cachaa em Paraty, e outra rea de produo de cana-de-
acar no Estado de So Paulo.
Para uma melhor compreenso, apresentamos dois exemplos de delimita-
o geogrfica da rea localizados na Frana:
a. Presunto de Bayonne (IGP EU Frana):
A origem da denominao do presunto vem do lugar de sua comercializa-
o, pois atravs do porto de Bayonne os presuntos eram expedidos para
o exterior. Na realidade, o presunto de Bayonne o produto de uma re-
gio situada entre o mar e a montanha, beira do Atlntico e aos ps dos
Pyrnes Atlantiques (Bacia do Rio Adour) (Figura 4.8). As condies geo-
149
lgicas e climticas so particularmente propcias aos procedimentos para
salgar o presunto, devido alternncia de tempo seco sob efeito do vento
do sul e umidade proveniente do Oceano Atlntico, que induz uma desidra-
tao e uma reumidificao do presunto. Essa IGP apresenta trs reas deli-
mitadas: a rea de elaborao dos presuntos responsveis pela especificidade
do produto, a rea dos frigorficos e a rea de criao de sunos.
150
Visite os sites da IGP e DOP da Frana e de Portugal e analise as reas
delimitadas para alguns produtos:
http://www.inao.gouv.fr/public/home.
php?pageFromIndex=textesPages/Bibliographie395.php~mnu=395
http://ptqc.drapc.min-agricultura.pt/documentos/cartogramas.htm
CAPTULO 04
deparamos ou referimos s condies pedoclimticas (solo, clima) ou na-
turais. No entanto, quando verificamos como isso ocorreu em diferentes
pases, principalmente da Unio Europeia, observamos que os elementos
econmicos e polticos foram os preponderantes para a primeira avaliao
da rea desejada. Os critrios econmicos se referem realidade atual ou
histrica da produo.
Retornando a IP Paraty, salientamos que para delimitar a rea de produ-
o, os produtores e os representantes das instituies podiam confirmar
a desconexo entre a rea de elaborao da cachaa e a regio da produ-
o de cana de acar. Entretanto, eles decidiram delimitar uma s rea de
produo e de transformao (Paraty), visando favorecer, num prazo de
trs anos (2010), os pequenos produtores de cana presentes na regio. Isso
foi uma opo poltica em favor de um desenvolvimento local. O volume
de produo de cana de acar ainda insuficiente para responder de-
manda dos alambiques, mas o regulamento prev uma autorizao para o
aprovisionamento fora da rea delimitada.
Para uma discusso mais aprofundada de mtodos e critrios operacio-
nais para a delimitao da rea geogrfica, ns apresentamos abaixo seis
critrios a serem identificados e ponderados, com base em uma pesquisa
coletiva realizada por professores e pesquisadores franceses que participa-
ram de um projeto financiado pela regio Rhne-Alpes (Frana), a partir da
anlise de vrias IGP existentes na Frana e na Europa.8 Os seis critrios,
relacionados a produtos in natura ou transformados, so:
1. A origem das matrias-primas, considerando os fatores ecol-
gicos (elementos naturais, clima, solo, relevo, exposio ao sol,
etc.) que compem esses territrios. E vale a pena aqui ressaltar
que alguns desses fatores podem ser modificados pelo homem
151
(pastagens, solo, etc), outros no. Para os produtos transforma-
dos (ou processados), os fatores ecolgicos e a origem da ma-
tria-prima devem ser levados em conta na delimitao, pois a
qualidade das matrias-primas influencia de forma significativa
nas caractersticas finais do produto transformado.
2. Os conhecimentos locais (savoir-faire), que estabelece os siste-
mas de produo e/ou consumo do produto e destacam sua es-
pecificidade.
3. A realidade econmica atual, isto , identificar e mensurar a
presena dos produtores, o volume e a escala de produo, a
existncia de especializao no interior das empresas, etc.
4. A realidade econmica histrica, retomando a localizao dos
primeiros produtores. O critrio histrico mobilizado em al-
guns casos de forma a permitir e/ou argumentar a insero de
um territrio (na delimitao) que aparentemente no est sen-
do considerado, como por exemplo, o caso de uma regio que
contribuiu para a construo da notoriedade, mas que atualmen-
te no produz mais.
5. A existncia de um zoneamento anterior (zona de proteo,
unidades de conservao, parques nacionais, zona de permetros
irrigados, delimitao administrativa) utilizando o mesmo nome
geogrfico ou aproximado, e que precisa ser levado em conta na
reflexo.
6. A reputao um critrio difcil de mobilizar para a delimitao
geogrfica da rea. Os estudos de notoriedade utilizados no setor
de promoo se restringem a verificar se o nome conhecido
(ver Captulo 3), mas no identificam os limites de uma rea.
http://publication.isara.fr/IMG/pdf/rapport_final_IGP.pdf
152
A delimitao geogrfica da rea deve ser a mais precisa possvel e para
isso ela se baseia em critrios objetivos. Nesse exerccio, no se trata ape-
nas de delimitar uma rea, mas sim de ser capaz de argumentar e explicar
o porqu dessa delimitao, devendo isso ser feito de maneira satisfatria
com uma avaliao ponderada dos vrios critrios presentes. Esses crit-
rios so os fatores naturais, os saberes locais, importncia econmica atual
e histrica, e a presena de zona prvia. 9
A combinao desses critrios na delimitao geogrfica da rea depende
do produto e do seu nvel de elaborao (in natura ou processado), de sua
natureza (animal ou vegetal), das condies de produo e dos objetivos
CAPTULO 04
dos agentes locais.
Se os agentes privilegiam o desenvolvimento local ou a preservao
dos recursos locais (caso das IG Paraty e Pampa Gacho da Campanha
Meridional), a origem da matria-prima e os fatores ecolgicos sero de-
terminantes.
Quando a dimenso cultural base da reputao do produto (por exem-
plo: o acaraj de Salvador - BA), os saberes locais, entendidos como o sa-
ber fazer (savoir-faire) e a realidade histrica do produto, podero ser colo-
cados em primeiro plano.
Para uma DO preciso realizar estudos mais aprofundados para demons-
trar se as caractersticas e as qualidades do produto se devem exclusivamen-
te ou essencialmente ao meio geogrfico de origem, incluindo fatores natu-
rais e humanos. A delimitao se baseia, ento, nessas demonstraes.
No caso da Denominao de Origem Litoral Norte Gacho, concedida
para o arroz produzido nesta regio, estudos demonstraram que o cli-
ma o principal responsvel por um produto mais solto, translcido e de
maior rendimento. O vento constante e a presena de grande quantida-
de de gua na regio, devido proximidade com a Lagoa dos Patos e o
Oceano Atlntico, so os fatores que criam um clima com temperaturas
estveis e ideais para o cultivo do arroz, ou seja, entre 20 e 25C no vero.
A rea delimitada se localiza em uma faixa de terra entre o mar e a Lagoa
dos Patos.10
153
4.3.4 A delimitao da rea: uma abordagem pela rea
corao
Outro mtodo tambm pode ser mobilizado ou complementar ao mto-
do dos seis critrios acima apresentados. Ele parte do princpio que, para
alguns produtos, a rea de produo pode ser dividida em trs reas en-
tremeadas11:
rea corao cujo direito de pertencer rea imediatamente ad-
quirido porque 100% dos produtos apresentam caractersticas ho-
mogneas especficas;
fora da rea, regio onde no se encontra mais a caracterstica
especfica do produto;
rea intermediria entre a rea corao e a regio fora da
rea. nessa regio intermediria que os estudos e pesquisas com-
plementares devero se focalizar para uma delimitao precisa.
Para isso, geralmente necessrio visitar e fazer as pesquisas e entrevistas
nessa rea intermediria, para aprimorar os critrios e afinar os contornos
da rea (taxa mnima de produtos apresentando as caractersticas encon-
tradas na rea corao, importncia econmica, histrica ou atual).
Esse mtodo utilizado para a delimitao geogrfica de reas de produ-
o de frutos, em regies onde a influncia climtica e a altitude so bem
determinantes.12 So exemplos onde esse mtodo pode ser utilizado os ca-
sos da ma Reineta Del Bierzo na Espanha, da ma do Limousin na Frana
e da ma Fuji de So Joaquim em Santa Catarina Brasil.
154
reas delimitadas para as quatro primeiras IG brasileiras.
CAPTULO 04
Cerrado Mineiro
Meridional do
RS
155
qualidade do produto. Os estudos que podem ser realizados no mbito
da implantao de uma IG abrangem vrios setores, como por exemplo:
Estudo histrico;
Estudos dos fatores ambientais (clima, solo, vegetao, etc.);
Anlise da percepo da tipicidade e qualidade do produto pelos
agentes;
Estudo e apoio organizao;
Os estudos histricos e naturais (clima, solo, variedade) realizados para a
PROGOETHE, por um grupo de professores e pesquisadores (EPAGRI,
UFSC, SEBRAE) demonstraram que a rea delimitada Vales da Uva
Goethe apresenta 458,9 Km2 nos municpios de Urussanga, Pedras
Grandes, Cocal do Sul, Morro da Fumaa e Treze de Maio, com limi-
tes nos vales formados pelas sub-bacias dos rios: Amrica, Caet, Cocal,
Carvo e Maior que so afluentes do rio Urussanga e o vale principal desse
mesmo rio. Acrescidas das sub-bacias dos rios Lajeado, Molha, Armazm
e Azambuja que fazem parte da bacia do rio Tubaro (Figura 4.9).
156
Essa regio do sul de Santa Catarina, a partir de sua colonizao no final
do sculo XIX, est intimamente ligada cultura e tradio italiana na pro-
duo da uva e vinho Goethe (savoir-faire ou fator humano), apresentando
solos e condies climticas distintas (fatores naturais).
Esse territrio, encravado entre o mar e as montanhas, apresenta um di-
ferencial de gradientes trmicos. Durante o dia, devido incidncia de
radiao solar, ocorre o aquecimento das montanhas. Esse aquecimento
provoca um gradiente de presso e faz com que os ventos se desloquem
montanhas acima.
Esses ventos se elevam e passam sobre a linha do cume, que no caso da
CAPTULO 04
rea delimitada Vales da Uva Goethe chegam a alturas ou altitudes de
1800 metros, e alimentam uma corrente superior de retorno para com-
pensar os ventos dos vales e encostas. noite, o gradiente de presso
invertido. A regio do planalto resfria-se muito rapidamente pela perda
de energia. O ar frio e denso se desloca vertente abaixo para a regio dos
Vales da Uva Goethe (Figura 4.10).
157
constata-se que este territrio apresenta condies nicas e identidade cli-
mtica diferente de outras do Brasil e do mundo.
www.progoethe.com.br
www.pos.ufsc.br/arquivos/41000382/diversos/Carolina.pdf
http://189.114.223.236:8484/dspace/bitstream/123456789/250/1/
VELLOSO,%20Carolina%20Quiumento.pdf
158
Resumo
A delimitao geogrfica da rea para uma IG (IP ou DO) deve ser respal-
dada por argumentos tcnicos, devendo considerar-se sempre o levanta-
mento histrico-cultural e os fatores naturais presentes na regio.
Esses estudos devero exprimir as relaes sociais de produo, transfor-
mao e elaborao do produto, bem como da prestao do servio, tan-
to entre os agentes situados no interior da rea geogrfica, quanto entre
aqueles que esto fora da rea. o conjunto dessas relaes que convm
elucidar e articular para se chegar delimitao desejada.
CAPTULO 04
A delimitao geogrfica da rea para uma IG deve ser a mais precisa pos-
svel e para isso se baseia em critrios objetivos e justos. Trata-se de um
trabalho que exige profissionais com conhecimentos histricos e tcnicos,
mas com poderes limitados, pois no devem substituir os agentes locais na
delimitao da rea.
Os agentes locais so fundamentais tanto para resgatar a histria e a cultu-
ra da regio, quanto para se estabelecer a regio delimitada, no devendo
este trabalho ser completamente relegado a terceiros.
Por fim, ressalta-se que os fatores histricos, polticos, econmicos, edafo-
climticos e sociais devem se conjugar de forma harmnica e equilibrada
para delimitar a rea geogrfica, pois a observao desses princpios que
auxiliaro na mais adequada delimitao geogrfica da rea que servir
como base para uma IP ou uma DO.
159
Notas
1. BERARD e MARCHENAY, 2004.
2. Fotografias que fortalecem a comprovao da histria. esquer-
da, por exemplo, tem-se uma foto de documentos que compro-
vam a existncia de uma pessoa chave na histria da uva Goethe
na regio de Urussanga. direita, uma foto antiga mostrando
como a viticultura era presente no Vale dos Vinhedos. Pode-se
verificar que a colheita manual, envolvendo vrios colonos e
empregados (trabalho coletivo) e a paisagem evidencia a presen-
a de vrios vinhedos.
3. VELLOSO, 2008
4. BRARD e MARCHENAY, 2004.
5. esquerda: monumento em homenagem ao pesquisador que
contribuiu amplamente para o desenvolvimento da ma na re-
gio. direita: boneco de neve e compem o cenrio central da
cidade de So Joaquim-SC.
6. CORMIER SALEM & ROUSSEL, 2005.
7. TONIETTO, 2007.
8. BRARD et al., 2001.
9. BRARD et al., 2001.
10. NABINGER, 2008.
11. PILLEBOUE, 2008.
12. MARQUIS, 2006.
13. MASCARENHAS, 2008
14. MORAIS, 2009.
160
CAPTULO 5
Elaborao de Regulamento
de Uso, Conselho Regulador e
Definio do Controle
164
5.1 A definio das regras de obteno do produto
CAPTULO 01
midade e na sua credibilidade.
Legitimidade: o requerente deve demonstrar que sua demanda justifi-
cada. Ela se baseia na demonstrao (comprovao) da existncia de uma
05
ligao entre o produto e a origem geogrfica e/ou na demonstrao de
que a regio possui uma notoriedade, que se tornou conhecida por aquele
produto. Para ser legtima, a iniciativa deve tambm partir de uma organi-
zao representativa do conjunto dos produtores do territrio.
A credibilidade est baseada na capacidade de uma rea geogrfica e de
seus representantes fornecerem um produto com uma tipicidade e quali-
dade constantes para o consumidor.
A organizao deve, ento, definir normas coletivas sobre as condies de
obteno e manuteno das caractersticas particulares do produto, colo-
c-las em funcionamento e participar de sua avaliao atravs da implan-
tao de um rgo de controle, definindo um plano de controle preciso.
As normas de produo so uma etapa chave no processo de implemen-
tao de uma indicao geogrfica. Elas devem ser claramente descritas e
passveis de ser objeto de controle; elas so o resultado de acordos coleti-
vos entre os membros da regio e da cadeia produtiva (representado pela
entidade requerente).
165
5.1.2 Quais so as normas que entram no regulamento de
uso?
No Captulo 6, veremos quais so os requisitos para o pedido de registro
de uma indicao geogrfica junto ao rgo competente (o INPI), seja ela
IP ou DO. O regulamento de uso da indicao geogrfica um dos docu-
mentos que devero estar anexados ao pedido, segundo as condies que
o INPI estabelece atravs da Instruo Normativa INPI n. 25/2013.
A legislao em si no estabelece minimamente os requisitos ou o que
deve conter ou no um regulamento de uso, mas, atravs das prprias
definies de IP e DO que ela apresenta, temos dicas sobre o que deve
constar nele. O regulamento de uso, na verdade, servir para o contro-
le dos produtores (ou servidores) sobre a qualidade de seu produto (ou
servio). O que (quais os fatores), para cada caso, promove a qualidade
desejada (reconhecida pela IG) no produto? Essa a pergunta norteadora
para a construo de um regulamento de uso, que dever ser definido pe-
las pessoas envolvidas no processo produtivo (produtores, consumidores,
pesquisadores, etc.).
Assim, partimos para as normas que devem entrar no regulamento de
uso. Salientamos a importncia de considerar duas noes de qualidade:
genrica e especfica.
166
A qualidade especfica difere da qualidade genrica pelo seu carter
voluntrio. Ela concerne a produtos que esto dentro das normas
obrigatrias e que apresentam caractersticas especficas que podem
ser relacionadas sua composio, aos seus mtodos de produo,
transformao e comercializao. Essas caractersticas podem se re-
ferir s expectativas sociais crescentes, como a preservao do meio
ambiente, o comrcio justo e a promoo do patrimnio. Tambm
pode corresponder valorizao de prticas tradicionais ou de re-
cursos de um territrio particular.
Neste captulo, no se pretende discutir as questes das regulamentaes
sanitrias, ambientais ou trabalhistas, que so do domnio do padro mni-
mo exigido (qualidade genrica). Isso quer dizer que os regulamentos rela-
cionados produo, circulao e comercializao dos produtos (MAPA),
qualidade sanitria (ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
- Ministrio da Sade), exigncias ambientais e exigncias trabalhistas de-
CAPTULO 01
vem ser respeitadas pelo requerente da IG independentemente de constar
no regulamento de uso, por se tratar de uma norma obrigatria a todos
os produtos comercializados no Brasil. Portanto, o regulamento de uso
05
no aborda as exigncias citadas acima, pois entende que elas foram con-
sideradas.
A qualidade genrica refere-se ao padro mnimo (legislao), obriga-
tria para todos os produtos e no constitui um fator de diferenciao. A
qualidade especfica complementar qualidade genrica, no obriga-
tria (iniciativa voluntria). Ela identificada atravs de selos de qualida-
de oficiais ou privados, e representa um instrumento de diferenciao no
mercado.
Essas regulamentaes devem ser obedecidas independentemente de ha-
ver ou no uma IG. Observe na Tabela 5.1 a diferena entre a qualidade
genrica e especfica para o caso do queijo serrano de Bom Jesus da Serra
(RS) no Sul do Brasil.
167
Diferena entre qualidade genrica e qualidade especfica no
queijo serrano
Qualidade especfica
Qualidade genrica
IG queijo serrano de Bom Jesus da
Queijo serrano
Serra (RS).
Grupo de produtores, iniciativas
Origem das normas Estado
voluntrias
Obrigatrio para os produtores de
Obrigatrio para todos os produ-
Obrigatoriedade Bom Jesus da Serra que querem ven-
tores de queijo
der o seu produto com IG
Regulamento de uso definido pelos
Legislaes sanitrias produtores e registrado no INPI
Legislaes trabalhistas
Normas de produo
Respeitar as normas
Controle Federal, Estadual e Controle interno (conselho regulador)
Tipo de controle
Municipal e/ou externo (certificadora)
Etiqueta informando empresa,
Informao ao consumi-
ingredientes, data de fabricao, Representao grfica (selo IG)
dor Selos de qualidade
validade
168
No Rio Grande do Sul, no Pampa Gacho da Campanha Meridional, est
comprovada e reconhecida que a carne bovina de boa qualidade. Os
produtores afirmam que essa qualidade est relacionada raa do animal
(de origem britnica) e de uma alimentao nos campos. Eles precisam
definir normas que regulamentam esses dois aspectos: s vo admitir os
animais de raas britnicas e vo exigir uma alimentao a pastos na rea
delimitada.
Exemplo 1:
Extrado do regulamento de uso da IP Pampa Gacho da Campanha
Meridional:
Artigo 6 Raas autorizadas
O gado apto para fornecer carne com destino a Indicao de
CAPTULO 01
Procedncia Pampa Gacho da Campanha Meridional procede,
nica e exclusivamente, das raas Angus e Hereford ou de cruzas
entre elas. A definio dessas raas para a correta identificao dos
animais est no documento tcnico 01, formulado pelas associaes
05
das raas ANGUS e HEREFORD.
Artigo 7 Alimentao autorizada:
A alimentao dos animais amparados por essa indicao geogr-
fica se realiza basicamente em pastagens nativas e pastagens na-
tivas melhoradas, podendo tambm ser terminada em pastagens
cultivadas de inverno, nativas ou exticas, em regime extensivo. Os
animais devem permanecer livres todo o ano [....].1
Exemplo 2:
Extrado do regulamento de uso da DO Vale dos Vinhedos:
Art. 2o - Das Cultivares de Videira Autorizadas
So autorizadas para a D.O. Vale dos Vinhedos exclusivamente cul-
tivares de Vitis viniferaL., de acordo com a relao abaixo:
Para vinhos finos tintos secos: Cabernet Sauvignon, Cabernet
Franc, Merlot e Tannat;
169
Para vinhos finos brancos secos: Chardonnay e Riesling Itlico; e,
Para vinhos espumantes brancos ou rosados finos:
Chardonnay,Riesling Itlico e Pinot Noir.
Outras cultivares no sero permitidas na elaborao de produtos
da D.O. Vale dos Vinhedos, sendo proibidas todas as cultivares de
origem americana, bem como todos os hbridos interespecficos.
Pargrafo nico: O Conselho Regulador poder autorizar, em car-
ter experimental, a incluso de outras cultivares de Vitis vinifera L.
no relacionadas acima, desde que apresentem potencialidade agro-
nmica e enolgica comprovada para a D.O. Vale dos Vinhedos.2
170
A definio das normas pelos agentes locais uma construo coletiva
que exige discusso e avaliao por parte de todos. No se faz de um dia
para o outro. Para chegar a normas precisas, claras e transparentes, suge-
re-se quatro (4) etapas como importantes, conforme mostra a Tabela 5.2:
CAPTULO 01
Normatizar essas diferentes operaes: redigir as prticas e as
regras.
Propor um plano de controle, agregando outros pontos de
Etapa 4
controle se necessrio.
05
Tabela 5.2 - Fonte: Cerdan (2009)
171
Principais parmetros para a descrio do produto.
Parmetros Exemplo
Granulao (farinha de mandioca)
Sabor
Organolptico
Textura, maciez
Odor
Presena de levedura e fungos especfi-
Microbiolgico
cos
Cultivar (para uva: Cabernet Sauvignon,
Goethe) (para ma: Fuji, Gala)
Cultivar, raa
Raa animal (Angus, Hereford, Crioulo
Lageano)
Prensado, curado, fresco (queijo)
Nvel de elaborao
Verde, torrado, modo (caf)
Embalado, em saco, engarrafado, em
Forma de apresentao do produto
caixa
Tipo de categoria, quando existe Categoria I, II, III, calibre 100, 120 (ma)
(fruta)
172
Para a Denominao de Origem, dever ser demonstrado em que os fato-
res naturais e humanos da rea geogrfica delimitada contribuem para a
especificidade: qualidade ou caractersticas especficas.
Veja quatro exemplos (2 brasileiros, 2 europeus) da apresentao das ca-
ractersticas dos produtos das seguintes IG:
Exemplo 1:
Apresentao das caractersticas da Carne do Pampa Gacho da Campanha
Meridional:
Artigo 19 - Caractersticas do produto:
As caractersticas da carne depois do abate so:
Animais at 24 meses: Cor vermelha rosada com gordura branca,
CAPTULO 01
textura fina.
Animais de 24 a 42 meses: Cor vermelha rosada com gordura de
colorao cremosa e textura fina.
05
A carne com acabamento recomendado possui moderado marmo-
reio intramuscular.4
Exemplo 2:
Apresentao das caractersticas da DO Vale dos Vinhedos:
Art. 7o - Dos Padres de Identidade e Qualidade Qumica dos
Produtos
Quanto as suas caractersticas qumicas, os produtos da D.O.
Vale dos Vinhedos devero atender ao estabelecido na Legislao
Brasileira relativamente aos Padres de Identidade e Qualidade do
Vinho.
Complementarmente, visando garantir melhor padro de quali-
dadepara os produtos protegidos pela D.O. Vale dos Vinhedos, os
mesmos devero atender aos padres analticos a seguir especifica-
dos, devendo as anlises qumicas serem realizadas no mesmo ano
da vinificao:
Acidez voltil expresso em mEq/L:Limite mximo para todos
os produtos de 14,0 mEq/L;
173
Anidrido sulfuroso total expresso em g/L:Limite mximo para
todos os produtos de 0,15 g/L;
Polifenis totais I 280:Limite mnimo para o vinho fino tinto
seco de 50;
Intensidade de cor (DO420+DO520+DO620): Limite mnimo
para o vinho fino tinto seco de 1,200.5
Exemplo 3:
Veja um exemplo de Apresentao de um produto em Portugal:
A criao de sunos da raa Bsara ocorre em todo o Norte de Portugal e,
em particular, em reas bastante desfavorecidas de Trs-os-Montes. Em
Vinhais maior a incidncia da criao destes animais e os produtores se
organizaram para reconhecer Alheira de Vinhais como IGP.
A Alheira de Vinhais um enchido tradicional fumado, obtido a
partir de carne de porco de raa Bsara ou do seu cruzamento desde
que com 50% de sangue Bsaro [animais F1, resultantes do cruza-
mento de animais da raa Bsara em linha pura, inscritos no Livro
genealgico, com animais de outras raas], carne de aves (usada
basicamente s para a preparao da calda), po regional de trigo
e azeite de Trs-os-Montes DOP, condimentados com sal, alho e
colorau.6
Exemplo 4:
Veja Apresentao das caractersticas da ma do Limousin (DOP)
Frana:
A Ma do Limousin uma ma fresca que se caracteriza por:
uma forma ligeiramente alongada, com olho e cavidade ocular bem
marcada,
um calibre mnimo de 65 mm,
uma polpa branca e firme, textura crocante, com suco e no fari-
nhenta,
um gosto equilibrado acar/acidez
Ela produzida a partir da variedade Golden delicious .
174
A Ma do Limousin apresenta um ndice refratomtrico pelo me-
nos igual a 12,5 Brix, firmeza pelo menos igual a 5Kg/cm e aci-
dez pelo menos igual a 3,7g/l de cido mlico.7
No incio, as caractersticas de um produto particular no so necessaria-
mente formalizadas pelos diferentes agentes locais. As percepes podem
mesmo variar de um produtor para outro, assim como as razes dessas
especificidades. Isso se verificou na ma de So Joaquim8. A maioria dos
agentes locais reconhece um diferencial na ma produzida na regio de
So Joaquim. Os critrios diferenciadores so: a aparncia da fruta (co-
lorao, formato, tamanho da fruta, epiderme lisa), o gosto (suculncia,
sabor, equilbrio acidez/acar) e outros critrios (produtividade, armaze-
namento...). Quando se buscam as razes dessas diferenas, destacam-se
trs grupos de agentes com percepes distintas: o primeiro grupo atribui
maior importncia para os fatores naturais; o segundo grupo menciona
um equilbrio entre os fatores naturais e humanos, j o terceiro grupo
CAPTULO 01
valoriza os fatores humanos. Assim, observou-se que enquanto os produ-
tores justificaram a maior importncia dos fatores humanos na qualidade
da ma, os tcnicos abordaram mais a influncia dos fatores naturais.
05
Etapa 2: Identificar os agentes e as etapas que tm um papel na pro-
duo, elaborao e comercializao do produto e/ou um impacto
sobre a qualidade ou as caractersticas especficas do produto.
O produto passa por vrias mos. A identificao dos diferentes agentes
permite rastrear o produto e identificar as etapas que esto na origem das
caractersticas do produto final. Os principais sero os produtores, os trans-
formadores e os demais agentes diretamente implicados na elaborao e na
comercializao do produto. Em seguida, trata-se de descrever brevemente
as principais atividades e prticas no processo de elaborao dos produtos.
Deve-se pensar no conjunto de atividades que esto envolvidos os produ-
tores, os transformadores, mas tambm os fornecedores de equipamen-
tos, se necessrio. Se, por exemplo, a qualidade da madeira da barrica de-
sempenha um papel decisivo na elaborao de um vinho, algumas regras
para os fornecedores de barricas de carvalho para o vinho deveriam cons-
tar no regulamento de uso daquele vinho.
Esse trabalho de identificao de quem faz, o que e como se faz pode ser
feito coletivamente durante uma reunio. Ele pode ser completado por
175
uma visita na propriedade uns dos outros, ou pela visita de um tcnico nas
propriedades dos diferentes membros da associao requerente.
Essas visitas so necessrias no caso de produtos artesanais tradicionais,
como o queijo, por exemplo, que so produtos antigos, com tradio e
histria, podendo existir uma grande diversidade de equipamentos, de
mtodos, de prticas.
Para outros produtos de produo mais recentes, seu desenvolvimento
est geralmente ligado com a difuso de um pacote tecnolgico, e as va-
riaes das prticas e saberes so mnimas (casos da ma no sul do Brasil
ou das frutas irrigadas no Nordeste).
176
Para melhor compreenso na descrio do processo de produo, um es-
quema sintetizado das ostras na Frana apresentado na Figura 5.1.
Figura 5.1 Descrio dos mtodos de produo das ostras. Fonte: Traduzido do
caderno de normas do INAO - www.inao.gouv.fr - Acesso realizado em 16 abr. 2014.
177
Em funo da natureza do produto, o regulamento de uso poder ser mais
ou menos completo. Para o queijo, por exemplo, o regulamento poder
estabelecer normas para as espcies (vaca, cabra), os animais (raas), sua
alimentao (rao), as condies de ordenha e de coleta do leite, as con-
dies de fabricao do queijo, os modos de conservao e de embalagem.
A Tabela 5.4 resume as principais normas estabelecidas para trs produtos
diferentes (carne, fruta in natura, queijo).
Conduo do rebanho
(nmero de cabea,
tipo e modo de repro- Cultivares
duo)
Raa Densidade, sistema de con-
Produo Controle de conformi- duo, poda
Conduo do rebanho (n-
dade da criao (vem
(produtor) mero, reproduo) Tcnicas culturais, irrigao
de fora)
Tratamentos sanitrios Rendimento
Tempo de permann-
cia dos animais na Tratamentos fitossanitrios
rea IG
Tratamentos sanit-
rios
Tipo de alimentao Tipo de alimentao (pasta-
(pastagens) gens)
Alimentao
Gesto das pastagens Gesto das pastagens
do rebanho
Rao Rao
(produtor)
% de alimentao % de alimentao produzida
produzida na rea na rea
178
Data da colheita (Brix,
Idade, peso do animal Condies de ordenha e
Abate acidez, pH)
coleta do leite
Condies de trans-
Colheita Forma de colheita (manual/
porte (bem-estar Condies de coleta
mecanizada)
(frigorfico, transpor- animal)
Tempo mximo entre a or-
tador, indstria) Condies de transporte e
denha e a transformao
de manuteno do produto
Tratamentos da carca-
Tratamentos Tratamentos do leite (tem-
a (lavagem ou no)
Indstria ou Frigorfico peratura, equipamento)
Equipamentos utilizados
Transformao (formas, prensas, tanque,
tacho) Fermentao (vinhos, su-
Indstria ou produ-
tor (transformao cos, cozimento, doces)
Tempo de fermentao
CAPTULO 01
caseira)
Tempo de prensagem
Temperatura de cozimento
05
Cmara fria
Rastreabilidade
Tabela 5.4 - Fonte: Cerdan e Silva (2009), elaborao a partir da anlise de regula-
mento de uso de IG.
179
5.1.5 Quem redige as regras, quem decide?
Numerosos tcnicos, pesquisadores, representantes administrativos par-
ticipam na redao do regulamento tcnico, sendo que as suas contribui-
es (estudos tcnicos) ajudam na deciso coletiva. Eles podem desempe-
nhar, ento, um papel decisivo. Entretanto, constatamos, na Europa e em
outros pases, uma tendncia desses tcnicos quererem impor sua viso
de como fazer e definir todas as regras, inclusive privilegiando a qualidade
sanitria dos produtos, buscando o defeito zero, e esquecendo de outros
elementos importantes.
No caso do queijo de coalho no Nordeste, ocorreram diferentes vises
referentes s caractersticas do produto entre os diferentes agentes envol-
vidos (tcnicos e queijeiros).11
Outro exemplo o queijo francs (Abondance) cujo sabor um pouco amar-
go est ligado a um modo de escorrimento especfico. O tcnico que es-
tava envolvido na descrio do produto considerou esse sabor como um
defeito de fabricao e no como um elemento determinante da especifi-
cidade do produto.12
O ideal reunir as diversas vises e compor o regulamento de uso, de
forma que este possa descrever os processos e o produto que mais se apro-
xima da realidade tradicional da regio.
180
5.1.7 Principais dificuldades e desafios na elaborao das
regras de produo
A definio das regras se torna um momento decisivo para a associao
requerente, uma vez que ela determina, em parte, o futuro da IG. Quando
se comea essa etapa, os membros da associao j se conhecem, j ti-
veram tempo para construir uma viso comum sobre o produto e suas
caractersticas. Entretanto, isso no impede a emergncia de conflitos e de
dificuldades durante o processo de definio das normas. Aqui, podemos
listar algumas dessas dificuldades e suas razes:
a. Discordncia sobre a insero no regulamento de uma prti-
ca realizada por apenas uma parte do grupo de produtores.
Apresentamos o exemplo de uma associao de produtores de quei-
jo que deseja registrar o seu produto como IP ou DO. Todavia, os
associados possuem perfis distintos, sendo que uns produzem e
CAPTULO 01
tambm vendem o leite, outros produzem o leite, mas um terceiro
compra o leite e faz o queijo. Cada grupo tem um mercado dife-
renciado (venda na feira, venda para cidades maiores e venda para
05
supermercados). Na hora de definir as prticas e normas, um grupo
exigia a possibilidade de congelar a coalhada para poder produzir
queijo o ano todo. No entanto, outros se recusavam a inserir essa
prtica recente no sistema de produo em nome da autenticidade,
da tradio e da notoriedade.
b. As regras construdas podem deixar parte dos produtores fora
do processo. Uma organizao de produtores, para ter um produto
de excelente qualidade e para responder a um mercado exigente,
pode acabar esquecendo a realidade local e o contexto de produo.
Observa-se, nesses casos, o descompasso entre o que se produz e as
normas de produo.
c. A questo da excluso dos agentes um tema que j foi abordado
no Captulo 3. Cabe lembrar que essas dinmicas de excluso po-
dem surgir em vrios momentos, principalmente na hora de deli-
mitar a rea e definir as normas de produo (quando se estabelece
uma rea, h pessoas que ficam dentro e pessoas que ficam fora).
Por isso, no se deve considerar apenas os aspectos tcnicos, mas
considerar tambm os aspectos polticos (jogo dos atores). A ques-
to da excluso no considera apenas os pequenos produtores, pois
as regras estabelecidas podem tambm excluir outros agentes, tais
como empresa ou indstria.
181
d. Outro problema est relacionado ao fato de estarmos trabalhan-
do com um patrimnio vivo que evolui no decorrer do tempo.
Apresentamos o exemplo do queijo de coalho de Nossa Senhora
da Glria (SE) que ilustra bem essa situao. O queijo de coalho
est sendo produzido no Nordeste do Brasil h mais de 100 anos.
Os idosos se lembram de ter comido esse queijo quando crianas.
Nos seus relatos, descrevem queijos muito secos, duros e muitos
salgados (os queijos eram deixados embaixo do telhado e podiam
se conservar por vrios meses). Hoje, o queijo de coalho que se
come nas praias ou padarias das cidades do Nordeste bem diferen-
te: ele branco, muito fresco, muito mido e pouco salgado. Alm
de Glria, existem outras regies produzindo esse queijo que tem
notoriedade e que pode pretender um reconhecimento oficial como
indicao geogrfica. O desafio de definir qual o queijo de coa-
lho e as suas caractersticas, considerando sua histria e sua forma
atual no mercado.
e. Uma ltima dificuldade est ligada presena de uma grande
diversidade de produtos (com o mesmo nome) e de processos de
fabricao e de prticas. Ns encontramos geralmente essas difi-
culdades no caso dos produtos artesanais, que foram processados
nas fazendas, na cozinha das famlias (cada uma tendo uma receita,
um segredo de famlia). difcil codificar esse tipo de produto sem
perder a riqueza desse patrimnio. A escolha por uma ou outra das
prticas se torna complicada: qual prtica escolher? A mais frequen-
te? Aquela que considerada como a mais autntica pelos agentes?
Aquela que se torna mais fcil para controlar? A preferida do lder
do projeto? Entre um processo nico e demais processos imposs-
veis de controlar, preciso escolher. Os especialistas podem ajudar,
mas no final das contas so os agentes locais que decidem.
182
5.2 Conselho regulador e rgo de controle
CAPTULO 01
05
Figura 5.2 Proposta de sistemas de controle de IG.
Fonte: Vitrolles (2009)
O autocontrole realizado diretamente pelo produtor. O controle inter-
no realizado pelo conselho regulador junto com os seus membros. O
controle externo realizado por uma estrutura independente, imparcial,
credenciada para essa funo (rgos oficiais ou certificadoras privadas).
Ela solicitada pela associao. Esse controle externo pode ter uma fre-
quncia definida.
183
O sistema de controle implementado pelas quatro primeiras IG
brasileiras.
Autocontrole X X X X
Controle interno X X X X
Controle por
- - - X
certificadora
Tabela 5.5 Fonte: Cerdan, Vitrolles (2009)
http://www.cafedocerrado.com.br/intranet/docs/fluxograma_certde-
propriedade_caccer.pdf
184
Alm desses autocontroles, o conselho regulador deve ser criado, tendo
como principais funes controlar e orientar a produo, a elaborao e
a qualidade do produto da IG, conforme as normas definidas no regula-
mento de uso.
No h instrues normativas ou regras para a composio desses conse-
lhos, que dependem muito do produto, da sua natureza e da sua forma de
distribuio. As duas Tabelas, 5.6 e 5.7, detalham a categoria dos membros
das associaes das 4 primeiras IG brasileiras. Constatam-se as seguintes di-
ferenas: h associaes que s renem produtores, outras que s renem
industriais ou processadores. Na composio dos conselhos reguladores
aparecem novos agentes e instituies, tais como: os comerciantes, as en-
tidades tcnicas e cientficas, os rgos pblicos e de apoio. Observam-se
conselhos nos quais 100% dos membros so da mesma categoria, enquanto,
outros privilegiaram a presena de vrias categorias de agentes.
CAPTULO 01
Veja os exemplos nas Tabelas 5.6 e 5.7, que mostram a composio das
associaes e dos conselhos reguladores, onde A, B, C e D indicam quatro
diferentes indicaes geogrficas brasileiras existentes.
05
Composio das associaes responsveis pelas 4 primeiras
IG registradas no INPI , segundo a categoria (produtor ou
processador) dos membros.
185
Composio dos Conselhos Reguladores de cada IG brasileira
registrada no INPI, segundo a funo dos participantes na
cadeia produtiva.
CAPTULO 01
Artigo 24 Dos Controles de Produo
Sero objeto de controle do conselho regulador as declaraes de
produo e de produtos elaborados. O Conselho regulador estabe-
05
lecer controles relativos s operaes de produo, no sentido de
assegurar a garantia de origem dos produtos da I.P. Pampa Gacho
da Campanha Meridional. Tais controles incluem o manejo alimen-
tar, raas dos animais, permanncia da rea de produo, bem-estar
animal, transporte dos animais, sanidade animal, controle ambien-
tal, abate, desossa, maturao, e comercializao, de forma a as-
segurar a rastreabilidade dos produtos protegidos pela I.P. Pampa
Gacho da Campanha Meridional.
Os instrumentos e a operacionalizao dos controles de produo
sero definidos atravs de Norma Interna do Conselho Regulador.15
187
Um plano de controle deve apresentar:
Identificao dos agentes;
Definio das tarefas de controle e dos pontos crticos a serem con-
trolados (classificar as exigncias);
Definio de quem controla (autocontrole, controle interno ou ex-
terno);
Definio dos mtodos de avaliao;
Frequncia dos controles;
Definio das sanes.
Para apresentar o plano de controle, podemos recorrer a critrios associa-
dos a valores de natureza diferentes (Tabela 5.8)
188
Caractersticas do Produto
-Procedimento de amos-
tragem - Anlise e valida-
Definida no Organizar o dos procedi-
Caractersticas autoavalia-
regulamen- -Procedimento annimo mentos
fsico-qumicas es de seus
to de uso
produtos -Anlise interna - Controle da quali-
(anlise) ficao dos analisa-
- Degustao coletiva, dores
anlise sensorial
-Procedimento de seleo
dos julgadores/ qualifica-
o dos analisadores
CAPTULO 01
Definida no produtos e/ou
Caractersticas formar anali- sensorial
regulamen- - Controle da quali-
organolpticas sadores
to de uso (composio do papel, ficao dos analisa-
qualificados dores
05
quorum, regras de
deciso /deliberao)
-Ficha de anotao
-Exame interno
Tabela 5.8- Fonte: Vitrolles (2009) adaptado de Traore (2007).
189
5.2.5 Que tipo de sanes?
As prticas no conformes com as regras estabelecidas podem ser nume-
rosas e colocadas em diferentes nveis. Quando o produtor percebe seu
erro, deve retific-lo. Quando o conselho regulador o detecta, ele recorre
a um sistema progressivo de sanes e prope solues para a correo.
Cabe salientar que nem todas as prticas identificadas como no confor-
mes vo induzir a uma perda definitiva das caractersticas especficas dos
produtos.
As prticas no conformes podem ser consideradas como:
Menor: por exemplo, um caderno de campo no atualizado;
Graves: induzem perda da rastreabilidade (no h mais possibili-
dade de seguir o produto, mas no h perda definitiva das caracte-
rsticas;
Muito graves: podem provocar uma perda definitiva das caracte-
rsticas. Por exemplo, rebanho bovino britnico cruzado com raa
zebu para aumentar a produtividade ou a resistncia do rebanho.
As sanes podem variar de uma advertncia por escrito, uma multa e a
suspenso temporria ou definitiva da associao at a proibio do uso
da referncia e selo da IG.
No caso de uma prtica no conforme e grave, o produtor poder pagar
uma multa ou ser temporariamente suspenso (sem poder comercializar o
seu produto com IG durante um perodo estabelecido). Em caso de risco
de perda completa das caractersticas do produto (caso muito grave), o
conselho regulador pode enviar cartas de advertncias para que o produ-
tor possa corrigir a sua prtica o mais rpido possvel. Uma prtica usada
em outros pases, a organizao de reunies de sensibilizao ou de for-
mao para os produtores, com a finalidade de evitar desvios ao nvel dos
sistemas de produo e/ou de transformao.
Portanto, a definio da estrutura do controle no s uma condio im-
prescindvel para o pedido de registro ao INPI, mas tambm uma estra-
tgia coletiva para garantir o bom desempenho da IG e tambm evitar
conflitos e desvios que podem aparecer no futuro. Cabe salientar, como
vimos no inicio deste captulo, que uma atuao no firme e precisa do
Conselho Regulador poder levar a uma perda de credibilidade da IG, as-
190
sim como a um enfraquecimento desse importante instrumento de valo-
rizao e promoo do produto.
Quais aspectos devem ser levados em considerao para a elaborao do
regulamento de uso de uma IG? Para fomentar essa discusso acesse o
AVEA e participe do Frum de Contedo.
Acesse o link para conhecer em detalhes a metodologia geral de redao
de planos de controle adaptados s indicaes geogrficas (AOP/IGP). i
Para encontrar o documento: ver site do INAO (http://www.inao.gouv.fr/)
e procurar o cone bibliographie para baixar a dissertao intitulada:
Mthodologie gnrale de rdaction de plans de controles adaptes aux
indications gographiques (AOP/IGP).
CAPTULO 01
05
191
Resumo
Neste captulo, vimos como definir as normas e os mtodos de produo,
obteno e/ou de comercializao do produto. Entendemos como cons-
truir e organizar o regulamento de uso. Os exemplos brasileiros, colom-
bianos e europeus mostram a diversidade e a riqueza dos casos, e tambm
a complexidade. Nesse sentido, a implementao e o respeito aos pontos
crticos de controle so indispensveis, assim como a implicao prpria
dos produtores, da associao e o apoio de uma certificao externa para
legitimar a IG.
192
Notas
CAPTULO 01
7. Cahier des charges da ma do Limousin, 2009.
8. MARQUIS, 2006.
05
9. Pluego de condiciones de la Indicacion Geogrfica Protegida
caf de Colombia, 2009 p. 24.
10. Observa as diferentes reas de cultivo, depurao e preparao
das ostras. Entre o inicio do cultivo, trs etapas de seleo e uma
triagem permitem descartar as ostras cujo a forma, o aspecto ou
o tamanho no correspondem ao padro definido.
11. CERDAN, 1999.
12. BERARD e MARCHENAY, 2007, p 31.
13. Pluego de condiciones de la Indicacin Geogrfica Protegida
caf de Colombia, 2009 p. 24.
14. MASCARENHAS, 2008.
15. Extrado do regulamento de uso do Carne do Pampa Gacho da
Campanha Meridional, Vitrolles, 2007.
16. TRAORE, 2007.
193
CAPTULO 6
Procedimento de Registro
das Indicaes Geogrficas
Kelly Lissandra Bruch
Michele Copetti
Procedimento de registro das Indicaes
Geogrficas
196
6.1 Introduo
Este captulo trata de uma sntese dos elementos necessrios para o regis-
tro de uma IG no Brasil. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial
- INPI a autarquia competente, conforme o Artigo 182, pargrafo nico,
da Lei n o 9.279/1996, para estabelecer os requisitos para o registro de uma
IG (IP ou DO) no Brasil.
Os requisitos para registro foram estabelecidos, conforme j comentado
no Captulo 2, pela Instruo Normativa INPI n. 25/2013, que estabele-
ceu as condies para registro das indicaes geogrficas.
CAPTULO 06
Enumeramos abaixo os requisitos necessrios para o registro de uma IP
e de uma DO, especificando, na continuidade, os passos necessrios para
consolidar esse registro.
a) parte requerente: o INPI exige que os produtores ou prestadores de
servio estabelecidos na regio demarcada e habilitados ao uso da indica-
o estejam representados por associaes, institutos ou pessoas jurdicas
que possam, na qualidade de substitutos processuais, requerer o respecti-
vo registro.
A nica exceo, neste caso, refere-se possibilidade de existir um nico
produtor ou prestador de servio legitimado a utilizar o nome geogrfico.
Neste caso ele poder solicitar o registro individualmente.
Em se tratando de uma pessoa jurdica que represente a coletividade quan-
do existir mais de um produtor necessrio apresentar os documentos
que comprovam a legitimidade da parte requerente. Exige-se aqui, o ato
constitutivo e a ata da ltima eleio que indique quem o representante
legal da referida entidade, alm dos documentos de identificao deste re-
presentante legal. Da mesma forma, se o pedido for realizado por meio de
procuradores, deve constar a procurao com poderes para tal.
197
Destaca-se, por fim, que em se tratando de IG estrangeira j reconhecida
em outro pas, a legitimidade para solicitar o registro do titular desta
indicao neste outro pas. E, neste caso, a existncia de um representante
legal desta no Brasil torna-se obrigatria.
b) o pedido de registro deve ser referente a um nico nome geogrfico;
c) o produto ou servio objeto da IG dever ser minuciosamente des-
crito e caracterizado;
d) regulamento de uso do nome geogrfico protegido, instrumento no
qual constem as regras que nortearo as formas de produo dos produ-
tos, as quais devem ser seguidas pelos produtores habilitados;
e) delimitao da rea geogrfica, devidamente documentada;
f ) pagamento da quantia exigida para o registro, devidamente compro-
vado no ato do registro;
g) a existncia, devidamente comprovada e documentada, de uma estrutu-
ra de controle da IG. Esta estrutura dever controlar tanto os produtores
ou prestadores de servios, como os prprios produtos ou servios. Tal con-
trole garante a legitimidade na utilizao do nome geogrfico, bem como a
segurana e veracidade das informaes destinadas ao consumidor.
h) a comprovao de que os produtores ou prestadores de servio
esto efetivamente estabelecidos na rea demarcada para a IG, bem
como estejam exercendo atividades de produo ou prestao de ser-
vio relativas indicao.
Tal requisito visa evitar que produtores ou prestadores estabelecidos em
outras reas sejam legitimados a utilizar a indicao em seus produtos,
contrariando a legislao nacional.
i) etiquetas, quando se tratar de representao grfica ou figurativa da
IG ou representao geogrfica de pas, cidade, regio ou localidade do
territrio.
Alm dos requisitos citados, aplicveis a todos os pedidos de registro de
uma IG, o INPI estabelece, ainda, alguns requisitos especficos que devem
fundamentar o pedido de registro de uma IP ou de uma DO:
198
IP: documento comprovando que o nome geogrfico se tornou efetiva-
mente conhecido como centro de extrao, fabricao ou produo, ou
ainda, de prestao de servios.
DO: descrio de qualidade e caractersticas do produto ou servio que se
devam exclusiva ou essencialmente ao meio geogrfico e descrio do m-
todo ou processo de obteno do produto ou servio, salientando-se que
estes devem ser locais, leais e constantes.
Os pedidos de registro de IG estrangeiras j reconhecidas em seus pa-
ses de origem ou em organismos internacionais, quer sejam IP ou DO,
dispensam os requisitos especficos acima referidos, desde que conste o
seu cumprimento no documento oficial que reconhece a IG, anexado ao
pedido.
http://www.inpi.gov.br/images/docs/instrucao_normativa_25_indica-
coes_geograficas[2].pdf
http://www.inpi.gov.br/portal/artigo/guia_basico_indicacao_geografica
CAPTULO 06
http://www.inpi.gov.br/portal/artigo/resolucao_pr_n_552013
http://www.inpi.gov.br/portal/artigo/resolucao_pr_n_112013
199
Requisitos para o requerimento do registro de uma IP/DO
Entidade
Nome geogrfico
requerente
Formulrio de Entidade
Requerimento Descrio produto ou servios
requerente
Caractersticas do produto ou Entidade
servio requerente
Entidade
Regulamento de uso
requerente
Instrumento
Atos constitutivos e demais Entidade
comprove
documentos requerente
legitimidade
Apresentar representao
grfica ou figurativa Entidade
Etiquetas Opcional Opcional
requerente
Apresentar representao do local
Entidade
Procurao Opcional Opcional
requerente
Entidade
Comprovante pagamento
requerente
200
Com o dossi, que contenha toda a documentao referente ao que foi
discutido nos Captulos 3, 4 e 5, devidamente numerado e com um sum-
rio para o examinador se localizar, a entidade representativa deve acessar
e preencher o formulrio de registro da IG, disponvel no site do INPI.
O seu preenchimento simples e objetivo. O formulrio composto de
duas pginas (Figuras 6.1 e 6.2), onde devem constar as principais infor-
maes do Depositante (que a Entidade Representativa) e os dados refe-
rentes IG que podero ser complementados por documentao anexa,
especialmente, no que tange rea geogrfica e definio do produto
ou servio.
A Instruo Normativa INPI n. 25/2013, em seus artigos 14 e 15, estabe-
lece como devero ser apresentados os documentos adicionais aos formu-
lrios, sendo um dos requisitos bsico sua apresentao em folha do tipo
A4, de maneira que possibilite sua reproduo. Alm disso, o contedo da
folha dever respeitar a margem: Superior 3 cm, Esquerda 3 cm, Inferior
2,5 cm, Direita 2,5 cm. Por fim, todas as folhas que fizerem parte do dossi
devero ser numeradas consecutivamente, com algarismos arbicos, no
centro da margem superior, preferencialmente indicando o nmero da
CAPTULO 06
folha e o nmero total de folhas (Ex.: 1/5, 2/5, 3/5, 4/5 e 5/5)
Sobre os dados da IG, vamos ao formulrio?
Deve-se assinalar que se trata de uma IP ou de uma DO, se a apresentao
a ser protegida da IG ser nominativa (o nome apenas), mista (o nome
estilizado ou acrescido de outros elementos) ou figurativa (uma figura
apenas).
No caso de tratar-se de IG mista ou figurativa, um local especfico re-
servado para colar a etiqueta correspondente. Deve-se apontar se a IG se
refere a um Produto ou a um Servio.
Por fim, deve-se preencher o nome da rea geogrfica, a delimitao da
rea geogrfica e os produtos ou servios a qual esta se refere.
201
Protocolo
Instituto Nacional da
Propriedade
Industrial
PEDIDO DE REGISTRO DE
INDICAO GEOGRFICA
IDENTIFICAO DO PEDIDO
Municpio
UF CEP Pas Telefone Endereo eletrnico:
Continua em anexo
Produto ou Servio:
Continua em anexo
Figura 6.1 - Formulrio de Pedido de Registro de uma IG, pgina 1Fonte: INPI (2010).1
O item que encabea a segunda pgina (Fig. 6.2) o campo que informar Modelo I (folha 1/2)
se a IG estrangeira ou no.
Depois, apresentam-se trs partes onde devero ser apontados os docu-
mentos reunidos: a) para IG de forma geral, b) para IP c) para DO.
A primeira parte serve para todos os pedidos, e engloba os seguintes itens:
guia de recolhimento (ser comentada abaixo);
procurao;
etiquetas figurativas (se a IG no for nominativa apenas);
ficha para busca;
202
cpia oficial do documento de concesso ou declarao do direi-
to sobre a IG (no caso de IG estrangeiras);
documento comprobatrio do legtimo interesse do depositante
(ato constitutivo que demonstre que o requerente efetivamente re-
presenta os produtores ou prestadores de servio estabelecidos na
regio delimitada);
outros (outros documentos que se entendam necessrios ou perti-
nentes, como, por exemplo, a ata que elege o representante legal da
Entidade Representativa).
A segunda parte, especfica para IP, solicita documentos que: compro-
vem que a rea se tornou conhecida; que os produtores ou prestadores de
servio esto estabelecidos na rea delimitada e que eles esto exercendo
a sua atividade na rea delimitada. Em suma, o dossi que foi organizado.
A terceira parte, especfica para DO, refere-se a documentos que: com-
provem que os produtores ou prestadores de servio esto estabelecidos
na rea delimitada; que eles esto exercendo a sua atividade na rea de-
limitada; as caractersticas e qualidades fsicas do produto ou servio; e,
CAPTULO 06
sendo o caso, a descrio do processo ou mtodo de obteno do produto
ou servio. Esta parte tambm se refere ao referido dossi.
Por fim, os dados do procurador, se houver, e a declarao de veracidade
das informaes prestadas. Esta declarao ser assinada pelo represen-
tante legal da Entidade Representativa ou pelo Procurador.
No caso da procurao (vide exemplo de procurao na Biblioteca
Virtual do AVEA), o seu texto bem simples. Esta deve conceder poderes
do outorgante (entidade representativa) ao outorgado (procurador: que
dever ser um agente da propriedade industrial reconhecido pelo INPI ou
um advogado) para fazer o registro da IG e realizar todos os atos relacio-
nados.
No existe, como ocorre para as marcas e as patentes, um manual de
como preencher este formulrio, nem uma definio de quais documen-
tos devem ser apresentados para comprovar os elementos supracitados.
Este apenas um roteiro indicativo e no substitui as recomendaes
do INPI.
203
INDICAO GEOGRFICA ESTRANGEIRA
Documento N de folhas
Documento oficial que reconheceu a indicao geogrfica
Documento N de folhas
Guia de recolhimento
Procurao
Representao grfica ou figurativa
Instrumento oficial que delimita a rea geogrfica
Cpia oficial documento de concesso ou declarao do direito sobre a indicao geogrfica
Documento comprobatrio do legtimo interesse do depositante
Regulamento de uso do nome geogrfico
Outros (especificar)
Documento N de folhas
Elementos que comprovem ter o nome geogrfico se tornado conhecido como centro de extrao,
produo ou fabricao do produto ou de prestao do servio.
Elementos que comprovem a existncia de uma estrutura de controle sobre os produtores ou
prestadores de servios que tenham o direito ao uso exclusivo da indicao de procedncia, bem
como sobre o produto ou a prestao do servio distinguido com a indicao de procedncia.
Elementos que comprovem estar os produtores ou prestadores de servios estabelecidos na rea
geogrfica demarcada e exercendo, efetivamente, as atividades de produo ou de prestao do
servio.
Documento N de folhas
Nome:
CNPJ/CPF: API/OAB: Continua em anexo
Endereo completo:
Telefone: Endereo eletrnico:
Delegacia/Representao para contato:
DECLARO, SOB AS PENAS DA LEI, SEREM VERDADEIRAS AS INFORMAES PRESTADAS
Local/Data__________________________
Assinatura/Carimbo_________________________________________
Figura 6.2 - Formulrio de Pedido de Registro de uma IG, pgina 2. Fonte: INPI
(2010).1
204
no valor a ser obtida por: pessoas naturais; microempreendedor individu-
al; microempresas, empresas de pequeno porte e cooperativas assim defi-
nidas em Lei; instituies de ensino e pesquisa; entidades sem fins lucrati-
vos, bem como por rgos pblicos, quando se referirem a atos prprios,
conforme estipulado na Resoluo INPI n. 11/2013, cujos valores esto
sujeitos alterao.
Um dos elementos que deve ser anexado o comprovante de recolhimen-
to (boleto de pagamento Figura 6.3). Este comprova que o pagamento
da taxa correspondente, exigida pelo INPI, foi efetuado. O boleto de pa-
gamento pode ser gerado no prprio site do INPI ou requisitado junto
a uma representao desta Autarquia. Para se obter o boleto no site do
INPI, deve-se clicar, na pgina principal, no e-INPI. Este abrir uma pgi-
na especfica onde se encontra a Guia de Recolhimento da Unio (GRU).
A partir disso, segue-se o procedimento que autoexplicativo.
CAPTULO 06
Vale ressaltar que para cada espcie de IG h um valor diferente a ser re-
colhido, bem como para as demais peties que porventura sejam neces-
srias no decorrer do procedimento de registro da IG.
205
Cdigos e valores das retribuies referentes ao procedimento
de registro de uma IG
Retribuicao com
Codigo Descricao do servico Retribuicao
desconto (*)
Pedido de registro de reconhecimento de
600 590,00
indicacao de procedencia
Pedido de registro de reconhecimento de
601 2.135,00
denominacao de origem
Manifestacao de terceiros contra o pe-
602 dido de registro de reconhecimento de 235,00
indicacao geografica
Tabela 6.2 Fonte: Bruch (2009) elaborado com base em INPI (2013). Valores ex-
pressos na unidade monetria de um real (R$ 1,00). Retribuio: refere-se ao valor
normal da taxa de retribuio. Retribuio com desconto (*): referem-se a uma
reduo de at 60% no valor a ser obtida por por: pessoas naturais; microempre-
endedor individual; microempresas, empresas de pequeno porte e cooperativas
assim definidas em Lei; instituies de ensino e pesquisa; entidades sem fins lucra-
tivos, bem como por rgos pblicos, quando se referirem a atos prprios, confor-
me estipulado na Resoluo INPI n. 11/2013. Valores esto sujeitos alterao.
206
Reunida toda a documentao e efetuado o pagamento da GRU, o pedi-
do dever, ento, ser depositado na sede do INPI, no Rio de Janeiro, ou
enviado por correio para esta, ou depositado diretamente em uma das
representaes desta autarquia nos Estados da Federao.3
CAPTULO 06
40. Pedidos de registro de indicao geogrfica - espcie: Indicao
de Procedncia.
41. Pedidos de registro de indicao geogrfica - espcie:
Denominao de Origem.
42. Pedidos depositados por meio de acordo internacional.
43. Pedidos divididos de um pedido de registro de indicao geo-
grfica anteriormente depositado.
Mais quatro nmeros que compreendem o ano da entrada do pedido no
INPI: 2013
Mais seis nmeros que compreendem a ordem de depsito do pedido no
INPI naquele ano: 00001, 00002.
Por fim, o dgito verificador: -2, -5.
O interessante que este nmero j ser atribudo no protocolo do pedi-
do, no precisando mais aguardar a sua publicao.
207
Nmeros das IG depositadas nos quatro primeiros anos de
vigncia da Lei n 9.279/1996.
Antes
Agora
http://www.inpi.gov.br/portal/artigo/registros_indicacao_geografica
208
mente regulada. Aps um determinado perodo, se as exigncias requeridas
no forem informalmente cumpridas, ser publicado formalmente, sob o
cdigo 305, o pedido com as exigncias para no prazo de 60 dias a entidade
representativa cumprir com essas exigncias, sob pena de arquivamento. Na
ausncia de cumprimento dessa exigncia preliminar, decretado o arquiva-
mento definitivo, a qual ser publicada na Revista do INPI sob cdigo 325.
Atendidas as exigncias ou quando estas no foram formuladas, o pedido
publicado na RPI Revista da Propriedade Industrial5, sob o cdigo 335.
Essa publicao tem como finalidade abrir um prazo de 60 dias para que
terceiros possam se manifestar acerca desse pedido, apresentando oposio.
Essa manifestao pode ocorrer mediante apresentao e comprovao
de direito de anterioridade que possa inviabilizar o pedido; ou porque o
nome geogrfico tornou-se genrico; ou porque no atende aos requisitos
legais; dentre outros.
Essas manifestaes sero publicadas sob o cdigo 340 na RPI. Aps isso,
havendo manifestao, a partir da data de sua publicao ter a Entidade
Representativa o prazo de 60 dias para responder a essas manifestaes.
CAPTULO 06
Havendo ou no oposio, bem como resposta, ser realizado o exame de
mrito com base no pedido e, se for o caso, nas oposies e manifestaes
apresentadas. Existe a possibilidade de se estabelecer nova exigncia, em-
bora nem a Lei no 9.279/1996 nem a Instruo Normativa INPI no 25/2013
abordem claramente esta possibilidade.
Depois desta anlise, o pedido ser deferido ou indeferido. O deferimento
ser publicado na RPI sob o cdigo 373.
O indeferimento ser publicado na RPI, sob o cdigo 375, e no prazo de
60 dias, poder ser formulado o pedido de reconsiderao. Para anlise
do pedido de reconsiderao, podero ser formuladas novas exigncias,
as quais devero ser cumpridas no prazo de 60 dias. Este ser decidido em
instncia administrativa final pelo Presidente do INPI, que poder mani-
festar-se pelo provimento (cdigo 385) ou no provimento (cdigo 390).
Por fim, aps a publicao do deferimento, a entidade representativa tem
o prazo de 60 dias para realizar e comprovar, junto ao INPI, o recolhimen-
to da retribuio relativa expedio de certificado de registro, por meio
da apresentao da GRU paga, conforme valores constantes na Tabela 6.2,
se para IP ou DO. Comprovada esta, ser feita publicao final, sob cdigo
395, que declara Concedido o Registro (Figura 6.4). 6
209
Figura 6.4 - Roteiro do procedimento de registro de IG no INPI - Fonte: Bruch (2009)
210
Relao das IG reconhecidas no Brasil em ordem cronolgica de
concesso
Ano de UF/
Nmero Indicao Geogrfica Pas Espcie Produto ou servio
Concesso BR
Regiao dos Vinhos
IG970002 PT DO vinhos 1999
Verdes PT
destilado vinico ou
IG980001 Cognac FR DO 2000
aguardente de vinho
Regiao do Cerrado
IG990001 BR IP caf 2005 MG
Mineiro
vinhos: tinto, branco
IG200002 Vale dos Vinhedos BR IP 2002 RS
e espumante
vinhos, vinhos es-
IG200101 Franciacorta IT DO pumantes e bebidas 2003
alcoolicas
Pampa Gaucho
carne bovina e seus
IG200501 da Campanha BR IP 2006 RS
derivados
Meridional
CAPTULO 06
aguardentes, tipo
IG200602 Paraty BR IP cachaca e aguarden- 2007 RJ
te composta azulada
coxas de suinos
IG980003 San Daniele IT DO frescas, presunto 2009
defumado cru
Vale do Submedio uvas de mesa e
IG200701 BR IP 2009 NE
Sao Francisco manga
IG200702 Vale do Sinos BR IP couro acabado 2009 RS
vinhos: tinto, bran-
IG200803 Pinto Bandeira BR IP 2010 RS
cos e espumantes
IG200801 Litoral Norte Gaucho BR DO arroz 2010 RS
Regiao da Serra
da Mantiqueira do
IG200704 BR IP caf 2011 MG
Estado de Minas
Gerais
IG200907 Costa Negra BR DO camaro 2011 CE
Regiao do Jalapao do artesanato em capim
IG200902 BR IP 2011 TO
Estado do Tocantins dourado
211
doces finos tradicio-
IG200901 Pelotas BR IP 2011 RS
nais e de confeitaria
IG201003 Goiabeiras BR IP panelas de barro 2011 ES
IG201001 Serro BR IP queijo 2011 MG
peas artesanais em
IG201010 Sao Joao Del Rei BR IP 2012 MG
estanho
IG201012 Franca BR IP calado 2012 SP
212
servicos de tecnolo-
IG201103 Porto Digital BR IP 2012 PE
gia da infomacao
BR402012000002-0 Altos Montes BR IP vinhos e espumantes 2012 RS
renda de agulha em
IG201107 Divina Pastora BR IP 2012 SE
lace
IG201104 Sao Tiago BR IP biscoitos 2013 MG
200102 Roquefort FR DO queijo 2013
IG200703 Alta Mogiana BR IP Caf 2013 SP
IG201108 Mossor BR IP Melo 2013 RN
BR402012000005-5 Cariri Paraibano BR IP Renda renascena 2013 PB
BR402012000006-3 Monte Belo BR IP vinho 2013 RS
Caf verde em gro e
Regio do Cerrado caf industrializado
IG201011 BR DO 2013 MG
Mineiro torrado em gro ou
modo
Legenda:
CAPTULO 06
Denominaes de Origem Brasileiras
Denominaes de Origem Estrangeiras
Indicaes de Procedncia Brasileiras
213
Aumento expo- Total 45 29 14 0 1
nencial no nme-
Brasileiras 33 26 6 0 0
2008 ro de pedidos e
a diversificao de
2012 produtos prote-
Estrangeiras 12 3 8 0 1
gidos e regies
abrangidas
1996
a total 71 40 20 3 7
2012
Tabela 6.5 - Fonte: Elaborado com base em: BRUCH E BARBOSA (2012).
Esta anlise, elaborada com base em Bruch e Barbosa, (2012), foi aqui
dividida em trs perodos. O objetivo dessa diviso buscar compreender
o que ocorreu em cada perodo, com base na anlise dos pedidos depo-
sitados e concedidos. A anlise do andamento dos pedidos foi elaborada
com base na tabela disponibilizada no site do INPI, atualizada at 05 de
fevereiro de 2013.
No primeiro perodo (1996 a 2002), perodo em que as regies brasileiras
passam a despertar para a existncia das IG, inicia-se com a entrada em
vigor da Lei 9.279/1996. Neste foram apresentados 14 pedidos de reco-
nhecimento, sendo 09 estrangeiros e 05 nacionais.
Atualmente, dos 09 pedidos estrangeiros desse perodo temos que 04 foram
concedidos (Regio dos Vinhos Verdes, Cognac, San Daniele e Franciacorta), 01
foi deferido e aguarda publicao da concesso (Roquefort), 03 aguardam
julgamento de pedido de reconsiderao (Parma, Grana Padano e Solingen)
e 01 foi indeferido (Asti). Importante observar que todos foram para DO.
Dentre os 05 pedidos brasileiros apresentados, dois foram para a Regio
do Cerrado Mineiro. O primeiro foi para DO englobando apenas o nome
Cerrado, o qual foi arquivado. O segundo, na forma de IP e englobando
o nome Regio do Cerrado Mineiro, foi concedido. Vale dos Vinhedos foi o
primeiro pedido brasileiro concedido, na forma de IP, embora no tenha
sido o primeiro a ser apresentado. Os outros 02 pedidos de IP do perodo
foram indeferidos (Terras Altas e Alto Paraso)
No segundo perodo (2003 a 2007), quando este ativo intangvel dife-
renciado comea a ser divulgado e promovido como poltica pblica,
pode-se notar uma mudana na natureza e caracterstica dos pedidos.
Notadamente a partir de 2004, esse ativo intangvel comea a ser divul-
214
gado e promovido como uma poltica pblica de desenvolvimento por
alguns rgos e instituies governamentais, tais como o MAPA e o INPI.
Nesse perodo so apresentados 12 pedidos de reconhecimento, sendo 11
brasileiros e 01 estrangeiro. No entanto, apesar do expressivo nmero de
depsitos nacionais em contraste com o perodo anterior, pode-se verifi-
car que a promoo ainda no estava acompanhada de um esclarecimento
maior sobre o tema, tendo em vista que dos onze pedidos brasileiros apre-
sentados, cinco foram arquivados.
Por outro lado, outros cinco foram reconhecidos neste perodo: Pampa
Gacho da Campanha Meridional, Paraty, Vale do Submdio do So Francisco,
Vale dos Sinos e Regio da Serra da Mantiqueira do Estado de Minas Gerais, to-
dos na modalidade IP. E encontram-se em anlise at o momento o pedido
brasileiro para Alta Mogiana e o pedido estrangeiro para Chianti Clssico.
O terceiro perodo (2008 a 2012), no qual se verifica um aumento signi-
ficativo nos pedidos de registro, bem como a diversificao de produtos,
servios e expanso a novos estados da Federao, verifica-se um aumento
significativo nos pedidos de registro. Neste perodo tem-se o total de 45
pedidos de reconhecimento depositados. Se considerar-se que no perodo
CAPTULO 06
anterior houve apenas 12 pedidos, encontra-se um representativo aumen-
to. Destes 45 depsitos, 12 so estrangeiros e 33 so brasileiros.
Dos 12 depsitos estrangeiros, 03 foram concedidos (Porto, Champagne e
Napa Valey), 02 esto em anlise (Tequila e Douro), 04 aguardam cumprimen-
to de exigncia (Conegliano, Barbaresco, Barolo e Parmigiano Reggiano), 01 pe-
dido encontra-se arquivado referente a Porto, considerando-se que o outro
j foi concedido, e outros 02 foram depositados e aguardam anlise (Scotch
Whisky e Rioja). Embora no esteja neste cmputo, no incio deste ano novo
pedido estrangeiro Prosecco foi depositado. Todos os pedidos estrangei-
ros em regra so depositados solicitando reconhecimento como DO, mes-
mo que em seu pas de origem sejam reconhecidos como equivalente a IP.
Dos 33 pedidos brasileiros, 26 j foram concedidos. Destas concesses,
07 so DO: Litoral Norte Gacho, Regio Pedra Carij Rio de Janeiro; Regio
Pedra Madeira Rio de Janeiro; Regio Pedra Cinza Rio de Janeiro; Vale dos
Vinhedos; Manguezais de Alagoas, Regio da Costa Negra. As outras 18 so
IP: Pinto Bandeira, Pelotas, Regio do Jalapo do Estado do Tocantins, Norte
Pioneiro do Paran, Paraba, Regio de Salinas, Linhares, Serro, Canastra,
Goiabeiras, Cachoeiro do Itapemirim, Vales da Uva Goethe, So Joo Del Rey,
Franca, Pedro II, Porto Digital, So Tiago, Altos Montes. 03 esto em anlise
(Cerrado Mineiro, Mossor e Cariri Paraibano), 02 aguardam cumprimento
215
de exigncia (Micro Regio da Abara e Piau), 02 depositados aguardando
anlise (Rio Negro e Monte Belo).
Finalizado o estudo, verifica-se que dos sete pedidos brasileiros que aguar-
davam ou estavam em anlise, quatro j foram concedidos. Alm disso,
seis novos pedidos brasileiros foram apresentados. Destes, dois aguardam
cumprimento de exigncia (Ortigueira e Pantanal do Brasil), um foi arqui-
vado (Serid), e os demais aguardam anlise (Vale da Prpolis Verde de
Minas Gerais, Mara Rosa e Mogiana do Pinhal).
Pedido depositado
Alguns pedidos de registro foram protocolados no INPI, j receberam um
nmero, mas ainda no foram submetidos a um exame formal. Esse exa-
me formal preliminar verifica se o formulrio foi todo preenchido e se
todos os documentos obrigatrios foram enviados.
Veja bem: no uma anlise para verificar se h direito a IG ou no, mas
se formalmente est tudo correto para que o pedido possa ser publicado
para a anlise de todos.
Por exemplo: Algumas vezes ocorre que esqueamos de encaminhar a c-
pia do CPF do representante legal da entidade representativa que submete
o pedido de reconhecimento da IG. Pode parecer uma coisa simples, mas
isso, l na frente, pode inviabilizar o pedido da IG. Neste exame formal
preliminar esta falha pode ser detectada e suprida, por meio da publicao
de um pedido de exigncia para que este documento seja anexado.
Desta forma, aps este perodo podem ocorrer duas coisas: ou uma publi-
cao do pedido de exigncia na Revista da Propriedade Industrial RPI
ou a publicao do pedido em si na RPI.
Para verificar isso fcil, conforme j explicado no item 6.3: se na publi-
cao sair o nmero 305, presta ateno pois h uma exigncia a ser cum-
prida; se a na publicao sair o nmero 335, vamos para a prxima etapa.
216
Pedido em exigncia
Se houver um pedido de exigncias, o requerente do pedido tem 60 dias,
a contar da publicao na revista, para cumprir a exigncia. Conforme j
dito, essa pode ser um documento faltante ou pode tambm ser uma in-
formao faltante ou um esclarecimento.
O importante cumprir essa exigncia. Em caso de dvida, no hesite em
contatar o INPI.
Se a exigncia for cumprida, o pedido ser publicado, com o nmero 335.
Mas se no for cumprida... o pedido ser arquivado e este arquivamento
ser publicado com o nmero 325.
Pedido arquivado
Se foi solicitada uma informao, documentao, esclarecimento, etc. e
este no foi cumprido dentro de um prazo razovel, o pedido ser arqui-
vado. Falamos em prazo razovel porque por vezes por mais que a regra
fale em 60 dias, esse prazo pode ser prorrogado em virtude do que est
CAPTULO 06
faltando. Se o que falta um documento oficial, por exemplo, e este pode
demorar mais tempo do que o estabelecido, pode o prprio representante
da IG solicitar a dilao do prazo para que a exigncia seja cumprida. O
que no pode ficar inerte, sem responder ou nada fazer.
Por fim, verificando-se a impossibilidade de se cumprir o que a legislao
determina ou constatando-se a inrcia dos representantes legais, o pedido
pode ser arquivado, com a sua publicao na RPI sob n. 335.
Ressalta-se que esse arquivamento, sob circunstncias especiais, pode ser
revertido, desde que as exigncias estabelecidas venham a ser cumpridas.
Pedido publicado
Quando o pedido publicado na RPI, isso quer dizer que formalmente ele
est pronto para ser analisado. E esta publicao serve para que todos os
interessados alm dos tcnicos do INPI possam saber da exigncia des-
se pedido, ter acesso a todo o processo, a todos os documentos e inclusive
se manifestar sobre esse pedido de reconhecimento.
Isso se d porque esse reconhecimento pblico. Todos os documentos que
so apresentados so pblicos e qualquer pessoa pode pedir cpia deles.
217
Qualquer pessoa, fsica ou jurdica, tambm pode se manifestar sobre a per-
tinncia de se requerer o reconhecimento de uma indicao geogrfica: re-
almente uma IG? Ela tem histria? Tem reputao? O produto conhecido?
A associao representa a coletividade? O regulamento de uso coerente?
Tudo isso pode ser objeto de manifestao. E isso extremamente relevan-
te, pois a IG pertence a toda a coletividade que se encontra na regio deli-
mitada, e deve representar esse direito coletivo. Alm disso, tambm um
direito de toda a sociedade ter uma informao correta sobre esse bem ima-
terial. Por isso todos tem, neste momento do processo, o direito de opinar.
Mas o prazo de manifestao de 60 dias aps a data da publicao, o qual
precisa ser observado. Se houver manifestao, haver uma publicao
com o nmero 340.
Se no houver qualquer manifestao, o processo ir para anlise de m-
rito dos tcnicos do INPI para verificar se ele cumpre os requisitos legais.
Importante ressaltar que, enquanto constar a situao do pedido como
publicao, no significa que o mesmo est parado, mas sim que os tc-
nicos do INPI esto realizando a anlise do mrito da IG com relao aos
documentos apresentados, muitas vezes indo at a regio delimitada, para
que quando for deferida, esta o seja com bases slidas.
Terminada esta fase ele ser deferido (373) ou indeferido (375).
Pedido deferido
Aps publicado, analisado e por vezes contestado, poder o pedido de re-
conhecimento ser deferido ou indeferido.
O deferimento, que ser publicado na RPI sob n. 373, significa que o INPI
entendeu que os documentos apresentados pela pessoa jurdica represen-
218
tante da coletividade comprovam que o produto ou servio se tornou co-
nhecido por ser da regio delimitada (no caso da IP) ou o produto ou ser-
vio traduz qualidades ou caractersticas que se devem essencialmente ao
meio geogrfico delimitado, no qual se inclui fatores naturais e humanos
(no caso da DO).
Todavia, o deferimento em si, um parecer tcnico, para que seja pleno o
reconhecimento, necessria a complementar concesso (395).
Pedido indeferido
O indeferimento, que ser publicado na RPI sob nmero 375, significa que
os elementos apresentados no processo administrativo no comprovaram
que o produto ou servio se tornou conhecido por ser da regio delimitada
(no caso da IP) ou no comprovam que o produto ou servio traduz qua-
lidades ou caractersticas que se devem essencialmente ao meio geogrfico
delimitado, no qual se inclui fatores naturais e humanos (no caso da DO).
Outras questes como: inexistncia de regulamento de uso e de critrios
mnimos (especialmente no caso da DO); inexistncia da comprovao de
um controle (especialmente para a DO); a no comprovao da represen-
CAPTULO 06
tatividade da entidade que solicitou o reconhecimento; no comprovao
de que h produtores na rea delimitada; dentre outras, tambm podem
ser motivos determinantes para o indeferimento, posto que requisitos es-
senciais para que se comprove que existe a base de uma IG no estariam
contemplados, e no poderiam vir a ser sanados posteriormente o que
poderia levar a um arquivamento.
Pedido de reconsiderao
Em caso de indeferimento ou arquivamento, cabe o pedido de reconsi-
derao, a ser publicado na RPI sob n. 385, desde que devidamente em-
basado. Este poder ser analisado e vir a ser deferido ou ser mantido o
indeferimento, por meio da publicao na RPI n. 390.
Pedido concedido
Deferido o pedido do ponto de vista tcnico, deve o representante legal da co-
letividade proceder ao recolhimento da contribuio equivalente concesso.
Comprovado esse recolhimento, publica-se a concesso na RPI sob n. 395.
Assim, finalizado e sacramentado est o registro da IG.
219
E, em princpio, no h nenhuma previso administrativa ou legal para
que a mesma venha a ser questionada. A exceo fica para a rea dos prin-
cpios gerais de direito e as regras da concorrncia desleal se houver e se
comprovada.
Esta , em suma, uma viso geral do procedimento administrativo
pelo qual passa o reconhecimento de uma IG no Brasil
Figura 6.5 - Distribuio anual das IG nacionais requeridas ao INPI at dezembro de 2012.
14
12
10
8
6
4
2
0
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
nacionais estrangeiros
220
aumento no nmero de concesses. Seja por uma anlise mais efetiva ou
pelo aumento da qualidade dos pedidos apresentados, o resultado que a
partir de 2005 h um equilbrio entre pedidos depositados e concedidos.
E, a partir de 2009, um aumento significativo do nmero de pedido tanto
depositado quando concedidos.
Depositados BR Concedidos BR
CAPTULO 06
6.4.3 Caracterizao dos Pedidos depositados no Brasil
Como hoje j h um nmero bem considervel de indicaes geogrficas
concedidas no Brasil, buscou-se analisar se estes apresentam alguma ten-
dncia em relao aos produtos ou servios relacionados, bem como com
os Estados envolvidos.
Primeiro foram analisados os produtos e servios envolvidos, conforme
consta na Tabela 6.6. Depois analisou-se em quais Estados brasileiros tm
sido requerido o reconhecimento das indicaes geogrficas.
No primeiro caso, foram estabelecidas 7 categorias: bebidas, rochas, ar-
tesanato, alimentos, vesturio, servios e outros. Dentre estas categorias,
analisou-se quantas IG concedidas e solicitadas contemplavam esses pro-
dutos ou servios, tanto para pedidos brasileiros quanto estrangeiros.
221
Tabela 6.6 Principais categorias abarcadas pelos pedidos e re-
gistros de indicaes geogrficas requeridas no Brasil.
Pedidos Brasileiros Pedidos Estrangeiros
Categoria concedidos pedidos concedidos pedidos
1) Bebidas 10 11 6 10
2) Rochas 4 0 0 0
3) Artesanato 6 0 0 1
4) Alimentos 11 1 1 4
5) Vesturio 3 1 0 0
6) Servios 1 1 0 0
7) Outros 0 2 0 0
Tabela 6.6 - Fonte: Elaborado com base em: BRUCH E BARBOSA (2012).
Frutas e derivados 3 1 0 0
Queijo 2 0 0 3
Biscoito 1 0 0 0
Doces 1 0 0 0
Prpolis 1 0 0 0
Arroz 1 0 0 0
Camaro 1 0 0 0
222
Carne 1 0 0 0
presunto 0 0 1 1
Vesturio 3 1 0 0
Servios 1 1 0 0
Outros 0 2 0 0
Tabela 6.7 - Fonte: Elaborado com base em: BRUCH E BARBOSA (2012).
CAPTULO 06
Figura 6.7 - Percentual de Indicaes Geogrficas solicitadas
considerada a origem do Estado Brasileiro.
AL CE ES NE MG PB PE PI PR RJ RS SC SE SP TO
3% 3% 3% 3%
3%
3%
9%
3%
25%
21%
3%
12% 3%
3% 3%
223
Na Figura 6.7 verifica-se, em termos percentuais, de quais Estados brasi-
leiros so originrias as indicaes geogrficas, considerando-se apenas as
IG j conceddias.
J na Figura 6.8, o que se objetivou demonstrar a proporo entre so-
licitao e concesso, verificando se h iniciativas em novos estados da
Federao.
Todavia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul continuam a ser os estados
com o maior nmero de indicaes geogrficas, sendo MG com o maior
nmero de pedidos e RS com o maior nmero de IG j reconhecidas.
TO
SP
SE
SC
RS
RJ
PR
PI
PE
Concedida
PB
Depositada
PA
NE
MG
ES
CE
BA
AM
AL
0 2 4 6 8 10 12 14
224
6.5 Aspectos jurdicos no regulados relativos
concesso de um pedido de IG
Embora exista regulamentao at a concesso de um pedido de IG, h
questes, do ponto de vista jurdico, que no se encontram reguladas ou
devidamente esclarecidas.
CAPTULO 06
no 9.279/1996, ou outros atos normativos, que tratem da nulidade e da
extino de uma IG, quesitos comuns aos demais direitos de propriedade
industrial.
No h previso normativa para qualquer verificao peridica da con-
tinuidade do uso deste signo distintivo ou a possibilidade de um terceiro
interessado requerer sua caducidade por falta de uso, como ocorre com
as marcas.
Tambm no prevista a vigncia ou a renovao do registro, tratando-
-se desta forma de uma titularidade ad eternun todavia este um fato
comum entre as IG de todo o mundo, pois, em regra, no h prazo de
vigncia nem previso de renovao.
Alm disso, no h previso legal que regulamente um possvel aumento
ou diminuio da rea delimitada, alterao do estatuto da Entidade repre-
sentativa, alterao do regulamento de uso, acrscimo ou diminuio dos
legitimados ao uso, pertencentes ou no Entidade Representativa, etc.
Outro ponto acerca do uso da IG a no previso legal sobre a situao
de um terceiro, que esteja devidamente instalado na regio delimitada e
produzindo, porm no associado a entidade reguladora. Poderia este uti-
lizar o signo distintivo?
225
De outra forma, embora a Lei n 9.279/1996, em seu artigo 5, disponha que
os direitos de propriedade industrial so considerados bens mveis, no h
qualquer previso que esclarea se a IG um bem mvel pblico ou privado,
coletivo ou individual. Apenas se deduz que se trata de um bem privado de
titularidade coletiva em face do disposto no artigo 182 da Lei n 9.279/1996.
Embora seja exigida estrutura de controle sobre a IG concedida, atual-
mente, no h previso de regulamentao para a implementao e seu
cumprimento.
Alm da vida da prpria IG, conforme j abordado no Captulo 2, a Lei n
9.279/1996 no trata de forma clara da convivncia entre marcas e IG, ou
mesmo da prevalncia de uma sobre a outra.
O artigo 124 da Lei no 9.279/1996 estabelece que no so registrveis
como marcas: a) uma indicao geogrfica, sua imitao suscetvel de cau-
sar confuso ou signo distintivo que possa falsamente induzir indicao
geogrfica; e b) um signo distintivo que induza a falsa indicao quanto
origem, procedncia, natureza, qualidade ou utilidade do produto ou
servio a que a marca se destina.
J o artigo 181 da Lei no 9.279/1996, estabelece que um nome geogrfico
que no constitua uma IP ou uma DO poder servir de elemento caracte-
rstico de marca, desde que no induza falsa procedncia.
Por fim, o artigo 194 da Lei no 9.279/1996, descreve como crime o uso de
uma marca que indique procedncia que no a verdadeira.
Em um primeiro momento parece claro que, em havendo uma IP ou DO
reconhecida, esta no poder compor uma marca. Mas se esta ainda no
for reconhecida, poder servir como elemento para compor a marca.
O que se questiona se um nome geogrfico contido em uma marca po-
deria vir a ser reconhecido como uma IG. H possibilidade dessa convi-
vncia? E se uma marca contm um nome geogrfico que indica uma pro-
cedncia verdadeira, poder esta ser utilizada, mesmo que este tambm
se constitua em uma IG?
Em no havendo uma resposta clara, pode-se encontrar o registro de uma
marca e uma IG com o mesmo nome geogrfico, inclusive, para produtos
semelhantes ou afins.
226
Por fim, tambm se deve definir o que um nome genrico, para que se
compreenda quando este poder ou no ser registrado, no caso de uma
IG. Isso porque o artigo 180 da Lei n 9.279/1996 apenas determina que
se um nome geogrfico se houver tornado de uso comum, designando
produto ou servio, no poder ser considerado uma IG. Mas a definio
de uso comum ainda no se encontra esclarecida.
Apesar da abordagem, essas questes vm sendo discutidas em mbito
interministerial a fim de serem aclaradas e que os legtimos direitos sejam
devidamente respeitados.
CAPTULO 06
227
Resumo
Neste captulo, foram abordados o procedimento de uma IG junto ao
INPI. Alm disso, foram explicados e detalhados os requisitos necess-
rios para que se faa o registro, apresentando, tambm, todos os formu-
lrios que devem ser preenchidos e a explicao do seu funcionamento.
Posteriormente, versou-se sobre o depsito e processamento administra-
tivo da IG no Instituto, estabelecendo-se o caminho que esta percorre e os
prazos que devem ser observados. Aps, foi realizada anlise dos pedidos
j depositados, com a finalidade de compreender como se d a avaliao
de um procedimento de registro para que se conceda seu reconhecimen-
to, indeferimento ou arquivamento. Por fim, foram apresentados alguns
aspectos jurdicos referentes vida de uma IG aps a sua concesso e que
no se encontram disciplinados na legislao brasileira.
228
Notas
1. Disponvel em: http://www.inpi.gov.br/portal/artigo/down-
loads_de_formularios_para_pedidos_protocolados_em_papel_
no_inpi Acesso em: 28 mai 2014.
2. A tabela completa pode ser consultada no seguinte link: http://
www.inpi.gov.br/images/stories/Tabela_Retribuicao_2012_
IG.pdf. ou ainda em http://revistas.inpi.gov.br/pdf/Normativos_
Vigentes_RPI2202.pdf. Acesso realizado em 16 abr. 2014.
3. Os endereos podem ser encontrados no seguinte link: http://
www.inpi.gov.br/portal/artigo/enderecos_e_telefones. Acesso
realizado em 16 abr. 2014.
4. Disponvel em: http://www.inpi.gov.br/portal/artigo/dicig.
Acesso realizado em 16 abr. 2014.
5. Revista da Propriedade Industrial (RPI): Disponvel em: http://
revistas.inpi.gov.br/rpi/. Acesso realizado em 16 abr. 2014.
6. Os cdigos despachados utilizados publicao referentes s
CAPTULO 06
Indicaes Geogrficas pelo INPI so os seguintes:
305 - Cumpra a EXIGNCIA, observando o disposto no com-
plemento.
315 - Recolha e/ou complemente a RETRIBUIO devida, no
exato valor fixado na tabela de retribuies de servios, em vigor
na data da comprovao do cumprimento desta exigncia junto ao
INPI, observando o disposto no complemento. Recolha, tambm, a
retribuio estabelecida para CUMPRIMENTO DE EXIGNCIA.
325 - ARQUIVADO o pedido de Registro de Indicao Geogr-
fica, POR FALTA DE CUMPRIMENTO / RESPOSTA
EXIGNCIA.
335 - PUBLICADO o depsito do pedido de Registro de Indica-
o Geogrfica, observando o disposto no complemento. Inicia-
se, nesta data, o prazo de 60 (sessenta) dias para manifestao de
terceiros.
340 -MANIFESTAO(ES) de terceiros(s) indicado(s) no com-
plemento, face publicao do pedido de Registro de Indicao
Geogrfica.
229
373 DEFERIDO o pedido de Indicao Geogrfica. Inicia-se,
nesta data, o prazo de 60(sessenta) dias para que o requerente
comprove, junto ao INPI, o recolhimento da RETRIBUIO
RELATIVA EXPEDIO DE CERTIFICADO DE REGISTRO,
no exato valor previsto na tabeladecustosdeservios
prestadospeloINPI, vigente poca do recolhimento.
375 - INDEFERIDO o pedido de Registro de Indicao Geogr-
fica, observado o disposto no complemento.
380 PEDIDO DE RECONSIDERAO INTERPOSTO con-
tra a deciso de indeferimento do pedido de Registro da Indica-
o Geogrfica.
385 PEDIDO DE RECONSIDERAO CONHECIDO
E PROVIDO. DEFERIDO o pedido de Registro de Indicao
Geogrfica. Inicia-se, nesta data, o prazo de 60(sessenta) dias para
que o requerente comprove, junto ao INPI, o recolhimento da
RETRIBUIO RELATIVA EXPEDIO DE CERTIFICADO
DE REGISTRO, no exato valor previsto na tabela de custos de
servios prestados pelo INPI, vigente poca do recolhimento.
390 - PEDIDO DE RECONSIDERAO CONHECIDO.
NEGADO PROVIMENTO. MANTIDO O INDEFERIMENTO
do pedido de Registro de Indicao Geogrfica, tendo em vis-
tao disposto no complemento. ENCERRADA A INSTNCIA
ADMINISTRATIVA.
395 - Comunicao de CONCESSO DE REGISTRO de reco-
nhecimento de Indicao Geogrfica. O certificado de Registro
estar disposio do Titular na recepo do INPI, aps 60 (ses-
senta) dias a contar desta data. Poder, a pedido, ser remetido a
qualquer Delegacia/Representao do INPI/MDIC.
405 - Retificao da COMUNICAO DE CONCESSO DE
REGISTRO de reconhecimento de Indicao Geogrfica, con-
forme indicado no complemento. O certificado de Registro esta-
r disposio do Titular na recepo do INPI, aps 60 (sessenta)
dias a contar desta data. Poder, a pedido, ser remeti- do a qual-
quer Delegacia/Representao do INPI/MDIC.
410 - NO CONHECIDA A PETIO indicada, observando o
disposto no complemento.
230
412 - PREJUDICADA A PETIO indicada.
413 -ARQUIVADA A PETIO indicada.
414 - INDEFERIDA A PETIO indicada.
415 - ARQUIVADO o pedido de Registro de Indicao Geogr-
fica, por DESISTNCIA do requerente.
417 - RECONHECIDO O OBSTCULO ADMINISTRA-
TIVO. DEVOLVIDO O PRAZO, conforme requerido, que co-
mear a fluir a partir da data de sua publicao na RPI, obser-
vando o disposto no complemento.
420 - HOMOLOGADA A DESISTNCIA requerida atravs da
petio indicada.
423 - ANULADO(S) o(s) despacho(s) abaixo indicado(s).
425 - NOMEADO PERITO, para saneamento de questes tcnicas.
430 - SOBRESTADO o exame do pedido de Registro de Indica-
o Geogrfica, observando o disposto no complemento.
435 - Pedido de Registro de Indicao Geogrfica SUB-
JUDICE, NOTIFICAO DE PROCEDIMENTO JUDICIAL,
observando o disposto no complemento. Aps o trnsito em
julgado da ao judicial a notcia da deciso ser publicada no
cdigo a ela relativo.
440 - Registro de Indicao Geogrfica SUB-JUDICE, NOTI-
FICAO DE PROCEDIMENTO JUDICIAL, observando o dis-
posto no complemento. Aps o trnsito em julgado da ao judi-
cial, a notcia da deciso ser publicada no cdigo a ela relativo.
445 - DECIDIDO JUDICIALMENTE, conforme indicado no
complemento. INPI.
Cdigos de despachos. Disponvel em: <http://www.inpi.gov.
br>. Acesso realizado em 16 abr. 2014.
CAPTULO 7
Gesto e controle
ps-reconhecimento
das Indicaes Geogrficas
Claire Marie Thuillier Cerdan
Kelly Lissandra Bruch
Delphine Vitrolles
Gesto e controle ps-reconhecimento das
Indicaes Geogrficas
234
7.1 Gesto externa de uma IG
A gesto externa da IG envolve a promoo e a venda do produto nos
mercados, que contempla a definio de um mercado alvo, a escolha da
forma de distribuio, as atividades de comunicao para a promoo do
produto e da regio. Aps o reconhecimento de uma IG, uma das princi-
pais atividades da associao detentora do registro informar aos consu-
midores as caractersticas especficas do seu produto e suas condies de
produo, e a forma de garantia dessas informaes. A Tabela 7.1 apresen-
ta exemplos de atividades e instrumentos utilizados na gesto externa de
uma IG. Alguns deles sero discutidos em detalhe posteriormente.
Associao e scios,
Identificar os seus
mercados
Estudo de cadeia pro-
Escolher a forma de dutiva / Desenho rico Realizao de estudo
comercializao (indi- de mercado por
Comercializao do Definio do conceito
vidual ou coletiva) terceiros
produto do produto e da estra-
Escolher os circui- tgia de venda
tos de distribuio
Estudos de mercado Associao e scios,
(convencionais ou
CAPTULO 07
alternativos)
Elaborao / distri-
buio de folders e
receitas
Programa de formao
Educar e sensibilizar dos garons de restau-
Promoo do produto Associao e scios
os consumidores rante, e dos varejistas
Promoo de eventos
(unidades de produ-
o, abertas ao pblico
para visita e degusta-
o)
Participao em outros
eventos regionais,
feiras 235
Distribuio de folders
Associao e scios,
Identificar e articular explicativos sobre o
atividades comple- produto e a regio
mentares
Promoo de Eventos
(inter setoriais, inter
municipais)
Museus, ecomuseus
Associao e scios,
Oferta territorial de
um conjunto de bens Participao nos
e de servios Fruns de desenvolvi-
mento local
A comercializao do produto IG
Uma das inovaes importantes trazida pela IG a sua dimenso coletiva.
Os membros da associao se renem e definem no s as regras coletivas
de produo e/ou de transformao, mas tambm as regras de comerciali-
zao. Eles tm duas opes: a venda individual (cada produtor por sua con-
ta) e a venda coletiva, que requer, s vezes, a formao de uma cooperativa.
Quando se quer vender um produto, precisa-se identificar o mercado alvo
(quem vai consumir o produto?) a situao de uso (em que ocasio este
produto vai ser consumido?) os pontos fortes e fracos do produto em rela-
o aos outros produtos concorrentes do mesmo nvel. Os representantes
de uma IG vo ter que se posicionar coletivamente no que diz respeito a
esses diferentes aspectos. Em geral, essas questes j foram abordadas no
processo de elaborao do pedido de registro e do regulamento de uso.
Mas importante voltar ao assunto e reconsiderar o seu posicionamento
em relao a evoluo de produtos concorrentes.
A comercializao das IG necessita de certos cuidados e uma reflexo para
a definio de uma estratgia de venda pelos produtores e representan-
tes da organizao. Cabe salientar que, na definio de regras coletivas,
observa-se comumente um salto de qualidade dos produtos e com isso,
uma necessidade de reorientao da estratgia de venda, do pblico alvo
e de canais de comercializao.
Verificamos, no Captulo 1, que os produtos alimentares com IG esto
inseridos no movimento geral da segmentao dos mercados. Eles podem
236
estar presentes em vrios segmentos de mercados ao mesmo tempo, como
evidenciados na Tabela 7.2. Essa tabela apresenta os diferentes destinos de
trs IG: o queijo Pelardon des Cevennes (queijo de cabra-Frana), os vinhos
do Vale dos Vinhedos e carne do Pampa Gacho (Brasil). Logicamente,
o volume de produo interfere na estratgia de comercializao do pro-
dutor quando o volume pequeno, o produtor pode optar por vender a
sua produo diretamente para os consumidores e/ou nas feiras locais. Os
produtores maiores podem optar por mercados mais distantes (redes de
supermercados ou lojas especializadas dos centros urbanos).
Redes de
Tipo de Venda direta, Lojas
Produto supermercados
produtores feiras especializadas
nacionais
CAPTULO 07
Vale dos de mdio porte
Vinhedos Cantinas de mdio
e grande porte (fa-
(Brasil) miliares ou multina-
cionais)
Tabela 7.2 - Fonte: Cerdan (2009) a partir de Boutonnet et al. (2004) e Vitrolles (2006).
237
produto o ano todo. Alm de facilitar o escoamento do produto, comer-
cializao coletiva permite realizar economia de escala e diminuir os cus-
tos de produo.
Vrios produtos, a partir de um determinado volume de produo, exi-
gem espao e/ou equipamentos com custos onerosos de estocagem e se-
leo (frutas in natura), de maturao e envelhecimento (queijos, vinhos).
Nesse caso, uma parte das operaes realizada de forma coletiva.
Em certos casos, as organizaes podem optar por manter as duas formas
de comercializao: individual e coletiva. Parte dos produtores se junta
para realizar o processo de produo e comercializao, enquanto outros
continuam produzindo e comercializando de forma individual.
Neste caso, os produtos so frequentemente diferenciados, seja a partir do
uso de uma marca, seja a partir de outrosou outras representaes figu-
rativas (etiqueta diferente) como o caso do Reblochon (queijo Francs)
(Figura 7.1). A incluso de uma pastilha comestvel durante o processo de
fabricao, na superfcie do queijo (antes da maturao), permite diferen-
ciar um produto procedente da cooperativa ou da indstria, do produto
artesanal. Essas distines tendem a segmentar mais ainda o mercado, in-
serindo todos os tipos de produtores (do pequeno produtor artesanal
indstria de mdio ou grande porte).
238
A Figura 7.2 apresenta um estudo comparativo de cincos queijos franceses
com AOC e evidencia uma grande variao de preo do leite ao nvel do
produtor. Para o queijo Beaufort, os produtores recebem um preo 90%
maior do que o produtor de leite comum, enquanto os produtores de leite
para o queijo AOC Brie de Meaux devem se contentar com um aumento
de 5 %. A Figura 7.3 compara o diferencial de preo entre duas IG com
o preo do azeite de oliva comum. Nota-se um diferencial de preo entre
os azeites de qualidade e azeite de oliva comum. Cabe salientar que entre
dois azeites com IG (de boa qualidade organolptica), pode ser observado
um diferencial de preo de venda. Atravs desses resultados, evidencia-se
a capacidade das organizaes de construir uma oferta diferenciada, de
promover o seu produto, de redistribuir o valor agregado nos diferentes
nveis das cadeias produtivas.
Figura 7.2 - Variaes do preo do leite pagos aos produtores entre 5 queijos AOC
CAPTULO 07
(Frana) - Fonte: Dupont (1999). 2
Figura 7.3 - Comparao das evolues dos preos de dois azeites de oliva AOC do
preo mdio de azeite de oliva sem IG na Frana Fonte: Mollard et al. (2005). 3
239
Promoo do produto
O sucesso de uma IG depende do seu reconhecimento pelos consumido-
res. Um dos grandes desafios das associaes locais definir estratgias de
comunicao adequadas para poder atingir o seu pblico ou um nicho de
mercado claramente definido.
Para isso, as associaes podem utilizar vrios instrumentos e ferramentas
como abertura de um site na internet para apresentao dos produtos;
difuso de informaes e atualidades, elaborao de folders ou fichas im-
pressas detalhando o processo de produo, divulgar receitas e distribu-
-las em locais de venda como redes de supermercados e lojas especiali-
zadas, entre outros. Com material de divulgao as associaes podem
fazer visitas regulares a restaurantes, hotis, empresas e outros clientes
potenciais, para informar e promover o seu produto. Todas essas ativida-
des podem ser distribudas entre os membros da associao.
Alm das atividades conduzidas pelos prprios associados, a participao
em feiras, eventos locais, regionais, nacionais e internacionais, sales pro-
fissionais (exemplos, Expovinis Brasil para os vinhos, Feira Internacional
de Couro de Novo Hamburgo, Feira Nacional de Agricultura Irrigada
no Nordeste, Festa Anual da Ma em So Joaquim, Salo da Cachaa,
Expocachaa) so interessantes espaos para apresentar o produto e en-
contrar novos clientes. Abaixo alguns exemplos de feiras e eventos que
promovem produtos no Brasil, na Frana e em Portugal:
A Expovinis Brasil, considerado o maior encontro de winebusi-
ness da Amrica Latina. Na sua 13 edio em 2008, recebeu uma
delegao de 28 empresas de regies francesas como Bordeaux,
Bourgogne e Champagne. A feira atraiu o interesse de impor-
tantes investidores estrangeiros como os grupos de vincolas da
Alemanha (Weinexportkontor Baden Wurttemberg), da Espanha
(regio de Castilla La Mancha) e dos EUA (representados pela A &
M International Wine & Spirits) ao lado dos j tradicionais grupos
Pro Mendoza (Argentina), Vins de Provence (Frana), e de produto-
res vindos da Itlia, Portugal e frica do Sul4.
A tradio do Boi Gordo da Pscoa no desapareceu completa-
mente do planalto de Aubrac. (figura 7.4) Em Laguiole, a apresen-
tao dos bois gordos da Pscoa acontecia no sbado da Paixo, pela
manh, durante a feira. Os animais eram enfeitados de fitas colori-
240
das. Cada aougueiro apresentava um ou dois pares de bois. Todos
os animais eram recolhidos juntos, o que permitia aos habitantes
comparar os animais. A mais bonita parelha de bois era escolhida
e assim se dizia: o tal aougueiro que apresentou o mais belo
boi da Pscoa, e ele foi criado pelo produtor X. Ento, na Pscoa,
era naquele aougue que os habitantes comprariam um pedao de
carne daqueles bois.5
CAPTULO 07
defumados da regio, reunindo mais de 60 mil visitantes (Figura 7.5).
241
Eventos como esses podem ser organizados em diferentes perodos do
ano. Enquanto alguns festejam a colheita de um produto, outros come-
moram a poca de florao, valorizando a beleza das paisagens naturais
ou a chegada da primavera, por exemplo. Esses eventos tm como obje-
tivo difundir o produto, oportunizar o encontro entre produtores, trans-
formadores e consumidores. Alm disso, podem ser espaos de sensibili-
zao dos consumidores.
Nessa perspectiva, cabe salientar os esforos de rgos pblicos e alguns mo-
vimentos sociais como o Slow Food que promovem momentos de educao
alimentar e podem ser um interessante local para divulgao do produto.
Por exemplo, desde 1990, a Semana do Gosto aberta a todas as organizaes
particulares ou pblicas de diversas origens (coletividades locais e regionais,
escolas hoteleiras, produtores agrcolas, restaurantes...), visando defender o
gosto e o patrimnio culinrio europeu. (figura 7.6) Os seus objetivos so
desenvolver a educao e aprendizado do consumidor, principalmente, da-
quele mais jovem; apresentar novos gostos e sabores ao maior nmero pos-
svel de consumidores; oferecer uma informao transparente e pedaggica
sobre a origem dos alimentos, seu modo de produo e suas qualidades;
promover mudanas no comportamento alimentar cotidiano.
242
Promoo do territrio
Ns verificamos, no Captulo1, que as mudanas tcnicas e organizacio-
nais relacionadas implementao de uma IG tm resultados positivos
e contribuem para a manuteno de pequenos produtores de territrios
desfavorecidos ou isolados dos mercados.
Entretanto, a questo da durabilidade dessas estratgias permanece aber-
ta: como essas estratgias perduram? Quais so suas contribuies para o
estabelecimento de um desenvolvimento territorial sustentvel?
At o momento, parece difcil avaliar se as respostas positivas dessas novas
formas de organizao e produo resultam de uma oportunidade tem-
porria ou se elas representam, realmente, uma estratgia alternativa de
desenvolvimento sustentvel para as regies desfavorecidas.
Economistas e gegrafos verificam, por exemplo, que a diferenciao pela
qualidade de um nico produto (azeite de Nyons - Frana) funciona mais
como uma oportunidade temporria para o territrio. Assim, as estrat-
gias de promoo de qualidade de um produto no descartam definitiva-
mente a concorrncia, a substituio ou a imitao possvel do produto
por outra regio ou por outra categoria de produtores 6.
Entretanto, esses mesmos autores verificaram que a valorizao conjunta
de produtos de qualidade (IG ou produtos da terra) e de servios, pode
construir um crculo de prosperidade e desenvolvimento territorial. Em
CAPTULO 07
duas experincias, no sul do Brasil, de regies colonizadas por europeus,
no final do sculo XIX (italianos e alemes) e marcadas pela predominn-
cia de pequenas propriedades de agricultura familiar, o Vale dos Vinhedos
no RS (IG) e Santa Rosa de Lima em SC (produtos orgnicos), verificou-se
que a associao de atividades e de servios demonstrou ser uma forma
possvel de perpetuar a mudana tcnica e de reforar a fixao territorial
das atividades produtivas7.
No primeiro caso, os produtores de vinhos souberam construir uma ofer-
ta territorializada, associando a produo de uvas e de vinhos a um cir-
cuito turstico (rota do vinho), atividades culturais (dana, banda musical,
coral), valorizao do patrimnio local (paisagem de vinhedos, casas de
madeira e de pedras construdas na chegada dos imigrantes italianos).
No segundo caso, os produtores propuseram novos servios relacionados:
a formao (agricultores da regio e do pas), ao estabelecimento de um
sistema de recepo e de acolhida na propriedade, proposio de trilhas
243
e de eventos de valorizao da gastronomia tradicional (GemuseFesta),
aos circuitos de distribuio alternativa de produtos orgnicos (entrega de
produtos em domiclio) na capital do Estado (Florianpolis).
O projeto Gastronomia Sustentvel em Paraty a iniciativa de um grupo
de pousa e donos de hotis e de restaurantes, que buscaram valorizar os
produtos oriundos do municpio de Paraty, produzidos por pequenos pro-
dutores. Os produtores de cachaa de Paraty (IP) esto envolvidos nesses
projetos (Figura 7.7).
244
baseada na capacidade de seus representantes fornecerem um produto
com uma tipicidade e qualidade constantes para o consumidor. Portanto,
no basta ter uma estratgia de marketing muito elaborada, torna-se neces-
sria uma gesto interna responsvel para evitar derivas e fraudes. Vamos
abordar esses aspectos agora, instituindo a questo do controle.
Sobre gesto, sero abordadas questes relacionadas administrao da
entidade representativa, sua relao com os associados ou cooperados e a
adeso de novos parceiros. Destacam-se quatro funes de gesto interna:
a. participar na elaborao do regulamento de uso, orientar os associa-
dos para aplic-lo e participar na organizao do controle;
b. manter atualizada a lista dos associados;
c. implementar as decises dos rgos governamentais responsveis;
d. escolher como deve ser avaliado e aplicado o controle
CAPTULO 07
ter problemas para que esses sejam aplicados e aceitos pelos demais pro-
dutores. Isso porque estes atos precisam ser elaborados e validados em
conjunto. Todos os participantes precisam estar cientes e conscientes das
responsabilidades que esto assumindo. E isso s ocorre se todos partici-
parem dessa elaborao.
Aqui no se trata apenas de uma validao formal. Pois, se aps o incio
das atividades os participantes perceberem que h coisas (normas, regras,
atividades) das quais no tinham conhecimento, haver uma ruptura da
confiana entre esses e a entidade.
Assim, a participao colaborativa deve ser sempre incentivada, mesmo
que seja bem mais difcil do que uma proposta pronta dos documentos
apresentada em uma assembleia geral. Os resultados desse trabalho sero
compreendidos no longo prazo, na manuteno slida da IG.
245
Alm disso, a colaborao no funciona com a imposio, seja de regras,
seja de responsabilidades. A explicao e o convencimento sero sempre
as melhores estratgias para a unio do grupo.
246
7.2.1 Controle
No que tange ao controle, sero tratadas as questes relacionadas im-
plementao do controle da IG, nas suas diferentes modalidades, como
este deve ocorrer, quem deve participar, como garantir transparncia e
tratamento igualitrio, necessidade de participaes externas, problemas
oriundos da implementao do controle, desaprovao de produtos, des-
respeito ao regulamento de uso, sanes internas decorrentes, questes
relacionadas a terceiros que estejam instalados na rea, mas no partici-
pam da entidade representativa, etc.
No Captulo 5 apresentamos trs tipos de controles que podem ser utilizados
em uma IG: controle externo, controle interno e auto-controle. Cada um
desses sistemas exige formas distintas de planejamento e implementao.
a. Controle externo
O controle externo pode ser o mais fcil de ser implementado, visto que,
em regra, conta com uma estrutura externa capacitada e acreditada.
Entretanto, torna-se uma atividade com custos, pois o trabalho a ser reali-
zado precisa ser pago pela Entidade Representativa e, consequentemente,
pelos participantes da IG. O controle externo possibilita uma maior credi-
bilidade da IG, pois feito por quem no tem nenhum interesse direto na
comercializao do produto.
O que muitos pases da Unio Europeia tm feito, at agora,8 conjugar
CAPTULO 07
um controle externo de um rgo oficial com controles internos. Esse
controle do rgo oficial deve ter a garantia de iseno e imparcialidade,
valores necessrios para que se garanta a especificidade de uma IG.
Em resumo, o que se verifica em pases como a Frana, por exemplo, o
controle exercido por diversos rgos governamentais, cada um em sua
rea, para garantir os pontos que so considerados mais relevantes: ori-
gem da matria-prima controle exercido por rgo semelhante Receita
Federal brasileira); atendimento s regras fitossanitrias e sanitrias (con-
trole pelo INAO, rgo do Ministrio da Agricultura francs); e atendi-
mento ao caderno de normas (controle pelo Comit Interprofissional,
que uma espcie de Associao ou Sindicato que rene todos os produ-
tores e comerciantes da regio, cuja participao, em geral, obrigatria
(taxa de participao compulsria e definida por lei). Essa estrutura pode
ser observada, por exemplo, na regio de Champagne-Frana.
247
b. Controle interno
O controle interno implica na atuao da prpria Entidade Representativa.
Em regra, ela organizada por um rgo especfico da entidade, que tem
o papel de fazer o controle e a gesto (conjunta ou separadamente) da IG.
Nem sempre a Entidade Representativa se resume apenas gesto da IG.
Essa forma adotada, por exemplo, em trs IG brasileiras (Vale dos
Vinhedos, Pampa Gacho da Campanha Meridional e Paraty), conforme
ser visto mais detalhadamente nos Captulos 9 e 10.
Um dos problemas a ser verificado, neste caso, a parcialidade do rgo
de controle, pois formado dentro da Entidade que, por sua vez, com-
posta pelos prprios produtores e prestadores de servios.
No entanto, na Espanha, por exemplo, isso no visto como um pro-
blema, porque se entende que os maiores interessados em ter um bom
controle so os prprios participantes da IG. Eles esto conscientes que
os produtos iro ao mercado utilizando o mesmo sinal distintivo e, caso
ocorra algum problema, este poder se estender a todos. Nas IG Rioja e
Jerez, existem uma grande campanha para participao como conselheiro
dirigente da Entidade Representativa. Essa disputa to importante e to
levada a srio que chega a lembrar as eleies municipais. Com isso, os
eleitos devem fazer um bom trabalho para toda a regio, e sero cobra-
dos por qualquer problema que venha a acontecer.9
Vale ressaltar que nessa forma de controle, a lgica que este seja devida-
mente penalizado, conduzido correta utilizao ou proibido de faz-la.
O que nem sempre fcil de executar na prtica.
c. Auto-controle
O auto-controle, ao contrrio do que muitos afirmam, no o controle
da Entidade Representativa, mas sim o controle que o prprio produtor
faz sobre sua produo. Esse o mesmo controle observado na maioria
das grandes empresas, porque sem padres internos a serem respeitados,
a respeitabilidade pela marca da empresa pode ser comprometida.
Esse auto-controle, certamente, no pode ser o nico a ser utilizado em
uma IG. Coloc-lo em prtica entre os participantes, como uma forma de
boa prtica de fabricao, por exemplo, certamente auxiliar na reputa-
o da IG como um todo.
248
Exemplo prtico de implementao do controle
Como a legislao brasileira atual no determina qual deve ser o tipo de
controle, nem os critrios mnimos a serem seguidos, nesse espao preten-
de-se apresentar uma forma prtica de planejar e executar a implementa-
o do controle.
Como exemplo, utilizaremos a forma adotada pela IP Vale dos Vinhedos10.
O objetivo mostrar uma interessante forma de Controle Interno que
vem tendo bons resultados desde sua implementao. No Captulo 9, ire-
mos tratar novamente dessa IP, de forma mais especfica.
A primeira coisa a se levar em considerao o Regulamento de Uso.
com base neste que ser realizado todo o controle. Assim, ressalta-se
que, quando da elaborao desse regulamento de uso, sejam especificadas
regras passveis de serem seguidas pelos produtores e prestadores de ser-
vio e, acima de tudo, que sejam passveis de serem controladas. De nada
adianta um regulamento de uso sofisticado, com mais de 200 pginas, se
o que pretendido controlar no est sendo contemplado ou passvel
de uma grande anlise subjetiva. Quanto mais objetivo e preciso, quanto
mais simples, mais fcil ser o controle e, por consequncia, sua imple-
mentao.
O regulamento de uso do Vale dos Vinhedos tem os seguintes tpicos11:
a) Produo de uva: restrita rea de produo autorizada; apenas as cul-
CAPTULO 07
tivares autorizadas; regras para produo de uva, produtividade de uva
limitada em 150 hectolitros de vinho por hectare; vinificao de uvas com
14 Babo11 para uvas brancas e de 15 para uvas tintas.
So regras objetivas que podem ser controladas. De que forma essas re-
gras podem ser controladas? Aqui entra uma conjugao do controle in-
terno com o auto-controle. Mas como se verifica a procedncia da uva, a
produtividade de um vinhedo e o grau babo da uva, por exemplo?
Nesse caso, para um vinho que se pretende ter a identificao da IP, se faz a
rastreabilidade documental da origem do produto. Ou seja, a vincola apre-
senta as notas dos produtores rurais, nas quais constam a origem da uva
(qual municpio, linha e lote), sua variedade, quantidade, rendimento por
hectare e grau de acar. Junto a estas notas se apresenta um documento
com um resumo da procedncia de todas as uvas, conforme Figura 7.8.
249
Figura 7.8 - Ficha de controle da procedncia da Uva do Vale dos Vinhedos
Fonte: Aprovale (2009).
250
Para o teste dos padres qumicos e organolpticos, uma certa quanti-
dade de amostras de cada lote enviada ao Conselho Regulador. Todas
as amostras sero identificadas por um nmero, com o lacre conforme
mostra a Figura 7.9:
Figura 7.9 - Lacre dos produtos a serem submetidos anlise - Fonte: Aprovale
(2009).
CAPTULO 07
Figura 7.10 - Etiqueta que acompanha a amostra para anlise - Fonte: Aprovale
(2009).
251
o s cegas, o que quer dizer que ningum sabe de quem o produto que
est sendo analisado. Isso garante a imparcialidade na anlise.
Isso no significa que todos os vinhos so ou devam ser idnticos. Pelo
contrrio, cada um tem uma tipicidade que depende da criatividade e do
trabalho do enlogo de cada vincola. Mas h padres mnimos, como
cor, limpidez, aromas mnimos, etc, que devem, necessariamente, estar
presentes em todos os vinhos, o que garante a identidade, sem torn-los
idnticos.
Para realizar esse controle, h uma ficha especfica (Figura 7.11) que deve-
r ser preenchida por cada um dos degustadores que procedem ao exame
organolptico.
252
Vale ressaltar que o produto passa duas vezes por esse teste. A primeira
quando ele proposto como vinho com direito a IP. E a segunda quando
ele, aps o envelhecimento, encontra-se pronto para ser comercializado.
Isso feito para garantir que no houve uma m evoluo no envelheci-
mento do vinho na cantina.
c) Rotulagem: Por fim, os produtos que tiverem sido aprovados em todas
as etapas tero direito ao uso de um selo de controle (Figura 7.12) que
numerado e fornecido a cada vincola, na quantidade correspondente aos
vinhos submetidos anlise e aprovados.
Destaca-se que no se trata de um selo de certificao ou um selo de
garantia, como erroneamente se denomina, mas um selo de controle,
que poder ser utilizado para identificar a exata procedncia do vinho e,
inclusive, a procedncia das uvas utilizadas para a sua elaborao.
Alm deste selo, deve estar presente, no rtulo principal a expresso Vale
dos Vinhedos Indicao de Procedncia. Tanto o selo, quanto essa ex-
presso so estabelecidos pelo regulamento de uso desta IP e no so esta-
belecidos ou exigidos pelo rgo que concede o registro.
Todo o trabalho depende da seriedade da IG, do Conselho Regulador e
dos prprios participantes, os quais devem ter em vista que a IP um
patrimnio de toda a coletividade da regio, e deve ser preservado e de-
fendido de prticas anti-concorrenciais e desleais.
CAPTULO 07
Figura 7.12 - Selo de Controle da IP Vale dos Vinhedos - Fonte: Aprovale (2009).
253
so de competncias entre o Estado e as Comunidades Autnomas.
Isso quer dizer que, no caso especfico de IG para produtos agropecurios,
h uma lei nacional, com carter geral, e cada Comunidade Autnoma
tem a opo de estabelecer regras especficas. Essa particularidade faz
com que existam vrias formas de gesto e controle das IG na Espanha.
Alm disso, h duas leis nacionais que regulam o tema. Para vinhos e deri-
vados a lei em vigor Ley de la Via e del Vino n 24/2003. J para os demais
produtos agropecurios, a lei em vigor o Estatuto del Vino de 1970. Alm
disso, a aplicao dessas normas deve respeitar os regulamentos europeus
que tratam do tema. Para produtos agroalimentares, o Regulamento
do Parlamento e do Conselho Europeu n. 1151/2012. Para bebidas es-
pirituosas, o Regulamento do Parlamento e do Conselho n 110/2008.
Para vinhos o Regulamento do Parlamento e do Conselho Europeu n.
1308/2013 e o Regulamento da Comisso no 607/2009. Depois de tudo,
ainda h as leis das comunidades autnomas.
Em regra geral, ou seja, conforme a legislao nacional espanhola citada,
uma IG considerada um signo distintivo de titularidade pblica. O titular
a Comunidade Autnoma, no caso da IG se localizar somente dentro de
seu territrio, ou do Estado, se a IG se localizar em mais de uma regio.
Os produtores tm um direito de uso da IG, e seu uso somente pode se dar
se estes cumprirem os regulamentos de uso estabelecidos para cada IG.
As IG so criadas a partir da demanda de um agrupamento de produtores
Comunidade Autnoma. Esta, juntamente com os produtores e os tcni-
cos relacionados com o produto em regra das Secretarias da Agricultura
da Comunidade Autnoma especfica e do Ministrio da Agricultura espa-
nhol fazem o levantamento dos dados necessrios para a comprovao
da existncia dessa IG especialmente, as questes relacionadas com o
histrico, tradio e cultura da regio, a delimitao geogrfica e as espe-
cificidades do produto. A partir disso elaborado o regulamento de uso e,
uma vez aprovado, publicada uma norma da Comunidade Autnoma, a
qual, posteriormente confirmada pelo Estado Espanhol.
Depois disso, cria-se um organismo de gesto. No caso de uma IG, esse
o nome que ele ter. No caso de uma DO ou DOC este pode se chamar,
tambm, de Conselho Regulador. Este organismo de gesto deve ter re-
presentantes das partes que esto envolvidas no processo de elaborao
do produto (so os chamados interprofissionais), em regra, de forma pari-
tria. No caso do vinho deve haver representantes dos produtores de uva e
254
dos produtores de vinho. Um mesmo organismo pode gerir mais de uma
IG ou DO ou DOC. Alm disso, este organismo deve se constituir em
uma pessoa jurdica, que pode ser de direito pblico ou privado, ou seja,
pode ser uma corporao de direito pblico (esta figura jurdica no existe
no Brasil) ou uma associao de direito privado. Todavia, h muitas regras
de direito pblico que se impem a sua atuao, posto que se trata de
uma responsabilidade que vai alm da gesto de uma marca, por exemplo.
Alm disso, sua criao deve ser autorizada pela Comunidade Autnoma
ou pelo Estado Espanhol. E todas as suas decises devem ser publicadas,
como se efetivamente se trata de um rgo pblico.
Vale ressaltar que a Ley de la Via y del Vino de 2003, separou o controle de
uma IG da sua gesto. Se antes era o Conselho Regulador que era respon-
svel por tudo, hoje o controle deve ser hermeticamente separado. Neste
sentido, o controle pode se dar por: um organismo pblico, um rgo de
controle ligado ao Conselho Regulador, mas sem qualquer dependncia hie-
rrquica deste, ou um organismo independente de controle ou de inspeo.
Em todos os casos, estes devero respeitar uma regra comunitria deno-
minada EN 45011, que equivale ISO/IEC Guide 65 (Requisitos gerais
para organismos de certificao de produtos). O resultado da certificao
realizada por esse rgo de controle enviado Administrao Pblica res-
ponsvel, que a partir deste toma a sua deciso de permitir ou no o uso da
IG no produto. E a Administrao Pblica que aplica qualquer sano em
caso de um produtor infringir alguma regra relacionada IG. No caso de se
CAPTULO 07
tratar de um organismo independente de inspeo que respeita a regra EN
45004, seu parecer no controlado pela administrao pblica.
Os membros do organismo de controle ou Conselho Regulador so in-
dicados ou eleitos segundo as leis de cada Comunidade Autnoma. No
caso, por exemplo, da Comunidade Autnoma da Catalunha, a Lei do
Vinho Catalo determina que o Conselho Regulador seja formado por
uma Comisso de Lideranas (Rectora) e pelo Presidente, sendo que
a Comisso composta em regime de paridade por representantes dos
produtores de uva e representantes dos elaboradores de vinho, os quais
so eleitos por voto universal, livre, direto, igual e secreto entre todos os
membros inscritos nos registros do Conselho Regulador, alm de haver
tambm representantes de tcnicos do Instituto Cataln de la Via y del Vino.
Por fim, no caso de o Conselho Regulador optar por constituir um orga-
nismo de controle, este dever estar separado da gesto e sua atuao de-
ver se dar sem dependncia hierrquica, nem administrativa em relao
255
ao Conselho Regulador. Alm disso, devem ser garantidas independncia
e inamovibilidade dos controladores, por um perodo mnimo de seis anos,
sendo que esses devem ser escolhidos pela Administrao Pblica compe-
tente, dentre tcnicos independentes, indicados pelo Conselho Regulador.13
Apoio tcnico
Dentro das suas funes de gesto, a entidade representativa tem o dever
de apoiar tecnicamente os produtores. Isso pode se traduzir como uma
assistncia tcnica coletiva e/ou personalizada. O objetivo desse apoio
orientar o produtor para que ele consiga se adequar ao regulamento de
uso, numa lgica trivalente: respeito ao padro produtivo, melhoria da
qualidade e aumento do controle da produo.
Para responder s expectativas dos produtores, a entidade pode organizar
degustaes coletivas, implementar cursos de capacitao, participar de
eventos locais, regionais, nacionais e at internacionais. Ou seja, a funo
de apoio tcnico ser uma ferramenta de transmisso dos conhecimentos,
de incentivo aprendizagem e de melhoria das condies de produo.
A organizao de degustao (livre ou s cegas), por exemplo, uma opor-
tunidade a mais para o produtor conhecer e avaliar o seu prprio produto
e dos seus parceiros. J explicamos a importncia desse tipo de avaliao
no Captulo 5. A degustao um exame vlido para qualquer produo.
A participao ativa dos produtores transforma a relao dele com o seu
produto. No mais uma crtica de um especialista ou de uma pessoa ex-
terna ao processo de valorizao - o produtor se torna o avaliador.
O contato com especialistas, por exemplo, pode trazer muitas vantagens
para o conjunto de produtores da IG. No caso do Vale dos Vinhedos, os
pesquisadores auxiliam tanto no manejo dos parreirais, quando na anlise
organolptica dos produtos submetidos IP. No caso do Pampa Gacho
da Campanha Meridional, h um veterinrio especificamente para avaliar
as carcaas dos animais.
Alm disso, essencial que a entidade representativa proponha cursos de
capacitao aos produtores. A finalidade desses encontros, alm de forta-
lecer o significado de uma indicao geogrfica, pode ser debater e divul-
gar o regulamento tcnico, responder s dvidas dos produtores, conhe-
cer outras IG nacionais e internacionais, pontos crticos do controle, etc.
Alm dos cursos de capacitao, a entidade representativa tem a possibili-
dade de incentivar as trocas de informao entre produtores, seja dentro
da prpria IG, seja com outras IG brasileiras ou mesmo estrangeiras.
256
Financiamento ou Custos
A questo do custo de implementao e manuteno fundamental na
vida de uma IG. As pesquisas para comprovar a notoriedade ou delimitar
a rea de produo, as despesas ligadas ao pedido de registro at o acom-
panhamento, aps reconhecimento, so etapas da vida da IG com custos
nada negligenciveis.
Geralmente, os associados pagam uma taxa de entrada na entidade e uma
mensalidade. Essa participao, geralmente, no basta para cobrir os cus-
tos da IG. Hoje em dia, vrias instituies pblicas fomentam o reconhe-
cimento de uma IG, por meio de programas de divulgao e de promoo
desses signos distintivos ou de contribuies tcnicas e/ ou financeiras
ao longo do processo de reconhecimento, incluindo apoio organizao
dos produtores, realizao de curso de capacitao e realizao de estudos
histricos, sociais ou tcnicos.
CAPTULO 07
Aps o reconhecimento da IG, muitas aes ficam sobre a responsabilida-
de da entidade representativa.
257
Como denunci-los?
Sero apresentadas, agora, algumas situaes concretas que encontram (ou
no) formas legais de resoluo. Mas, na prtica, isso complicado, pois no
so apenas problemas jurdicos, mas polticos, sociais e econmicos.
a. O titular e seus direitos
A primeira questo que se levanta : Quem o titular de uma IG? E a se-
gunda: Quais so os direitos que o titular ou usurio de uma IG possui? A Lei
9.279/1996, nos artigos 176 a 182, no aponta o titular nem explicita quais
direitos lhe so conferidos.
Interpretando as disposies aplicadas s demais figuras dos direitos de
propriedade industrial, tais como as patentes (artigo 42 da Lei 9.279/1996)
e as marcas (artigo 130 da Lei 9.279/1996), e considerando as figuras
que a lei estabelece como crimes contra as IG (artigos 192 a 194 da Lei
9.279/1996), pode-se concluir, em um primeiro momento, que h o di-
reito de impedir que um terceiro, sem consentimento, utilize a IG em
seus produtos ou servios, incluindo-se nisso o nome e os demais si-
nais figurativos que a distinguem. Com relao ao titular desse direito,
deixemos para buscar uma resposta mais ao final.
b. O terceiro
Da definio desse direito, surge o problema de saber quem esse tercei-
ro. E muitas situaes concretas para buscar a definio de quem e quem
no o terceiro que se encontra impedido de utilizar a IG.
Primeira situao: algum no se encontra instalado na regio delimita-
da pela IG e utiliza o seu nome, embora no produza nem preste servio
nela. Neste caso, ele pode ser considerado o terceiro impedido de utilizar
a IG, pois pode se aplicar o tipo penal descrito no artigo 192 da Lei n
9.279/1996, posto que se est diante de uma FALSA Indicao Geogrfica.
Assim sendo, o que se pode fazer? Apresentar uma queixa-crime (j que
se trata de uma ao penal privada e no de uma ao a ser movida pelo
Ministrio Pblico) ou impetrar uma ao cvel de busca e apreenso,
combinada com reparao de danos, com base na concorrncia desleal.
Ressalta-se que no h previso legal de qualquer ingerncia do poder p-
blico para tutelar este tipo de situao, que ocorre com frequncia.
Vale ressaltar, que s pode utilizar no Rtulo o nome da Indicao de
Procedncia aquele que tenha o seu endereo realmente com este nome.
258
No caso, embora a IP Vale dos Vinhedos abranja parte dos municpios
de Bento Gonalves, Garibaldi e Monte Belo, somente quem se encontra
situado no distrito do Vale dos Vinhedos, que faz parte apenas o munic-
pio de Bento Gonalves, pode utilizar como endereo o nome Vale dos
Vinhedos.
Segunda situao: Mas se esta mesma pessoa utiliza um termo retifi-
cativo, como tipo, espcie, gnero, mtodo, idntico ao, Vale dos
Vinhedos, ela estaria infringindo a lei? Segundo o artigo 193, ela apenas
estaria contrria lei se no ressalvasse a VERDADEIRA procedncia do
produto ou servio. Ou seja, facilmente poderia esta pessoa se utilizar da
IG, desde que ressalvada a verdadeira origem! E isso para qualquer produ-
to ou servio, o que se mostra um verdadeiro problema.
Todavia, vale ressaltar que o TRIPS determina, em seu artigo 23, que
para vinhos e bebidas destiladas vedado o uso de termos retificativos.
Contudo, o Brasil permite o uso destes termos, tanto na Lei n 9.279/1996
Lei de Propriedade Industrial, artigo 193, quanto na Lei n 7.678/1988
alterada pela Lei n 10.970/2004 Lei do Vinho, artigo 49, pargrafo 2,
contrariando o acordo firmado.
Em suma, hoje possvel utilizar no Brasil, em qualquer produto, o nome
de uma Indicao Geogrfica, seguida de tipo, por exemplo, se for ressal-
tada no rtulo a verdadeira origem. Embora, fique claro, isso possa impli-
car um ato de concorrncia desleal e punio como tal.
CAPTULO 07
Terceira situao: Um terceiro utiliza em sua marca comercial o nome
da IG. Isso permitido perante a lei? Segundo o artigo 194, isso possvel,
desde que a procedncia seja verdadeira. Ou seja, se algum que produz
vinhos no Vale dos Vinhedos tiver registrado uma marca que contenha
este nome, poder utiliz-lo, posto que a procedncia no falsa. Apenas
ocorreria o crime tipificado no artigo 194 se algum de outro lugar utili-
zasse em sua marca comercial o nome geogrfico.
Para esta situao, h um caso concreto bastante ilustrativo. A cidade de
Garibaldi, na Serra Gacha, conhecida por produzir excelentes espu-
mantes. Embora no haja uma IG depositada ou reconhecida no Instituto
Nacional da Propriedade Industrial at o presente momento, pode-se con-
sider-la como tal. Todavia, a Cooperativa Vincola Garibaldi Ltda. possui
duas marcas, registradas no INPI, denominadas Garibaldi, sob nmeros
007111410 e 007061897, ambas na classe 33 (para bebidas alcolicas, se-
gundo a classificao de marcas), desde 22/07/1974, nas categorias nomi-
259
nativa (s o nome Garibaldi) e mista (nome + grafia especial). Fora isso,
h mais dois registros concedidos (mas para outras classes de produtos) e
dois pedidos requeridos com a palavra Garibaldi.
Neste caso, localizando-se a cooperativa no municpio de Garibaldi, ela no
est indicando uma falsa procedncia. Alm disso, a cooperativa possui esta
marca desde 1974. Se Garibaldi fosse reconhecido como IG para espuman-
tes, como ficaria o uso dessa marca? Seria possvel reconhecer essa IG? Essas
questes no encontram resposta legal at a presente data. O que poderia se
imaginar uma possvel convivncia entre a marca e a IG.
Na Unio Europeia, a resposta seria mais clara: como h uma prevalncia
legal declarada da IG sobre as marcas, ou esta marca seguiria conviven- do
com a IG ou o titular teria que deixar de us-la, conforme se pode verificar
nos Regulamento do Parlamento e do Conselho Europeu n. 1151/2012
para produtos agroalimentares, no 110/2008 para bebidas destiladas e o
Regulamento do Parlamento e do Conselho Europeu n. 1308/2013 para
vinhos.
c. Na carona de possveis titulares...
Quarta situao: outra situao que se tem verificado a possibilidade de
um terceiro, que se encontra na regio delimitada, utilizar o nome pro-
tegido, mas no fazer parte da associao que requereu o seu reconheci-
mento. Neste caso, estaria esse terceiro violando os direitos de um possvel
titular? Segundo o artigo 182, o uso da indicao geogrfica restrito aos
produtores e prestadores de servio estabelecidos no local, exigindo-se,
ainda, em relao s denominaes de origem, o atendimento de requisi-
tos de qualidade. Se o uso restrito a quem se encontra estabelecido no
local, pode-se depreender disso que esse uso se estende a todo aquele que
se encontra estabelecido nesse local. Desta forma, o uso, perante a lei, no
seria proibido. E isso tem ocorrido com muita frequncia.
O maior problema desse uso, que se d sem que o usurio se submeta ao con-
trole institudo para a IG, o risco de tornar esse termo genrico e de perder a
sua distinguibilidade e mesmo a credibilidade perante o consumidor.
Bem, se esse terceiro usa a IG sem autorizao da Entidade Representativa
e no est infringindo norma legal, poder-se-ia concluir, respondendo
pergunta inicial, que a entidade representativa no a titular do direito,
mas sim toda a coletividade que se encontra instalada no local. Ou, ainda,
que no h um titular desse direito (j que a lei no o indicou), mas apenas
existe um direito de uso da IG para aqueles que se encontram na regio?
260
Na Unio Europeia, de maneira geral, no h um titular do direito sobre
a IG, pois essa entendida como um instituto de direito pblico. Desta
forma, o que existe uma licena / autorizao para o uso do nome
geogrfico se o usurio se submeteu e foi aprovado pelos instrumentos
de controle, que so geridos, como j foi explicado, em parte, pelo poder
pblico e em parte pelo Comit Interprofissional. Quem no segue esse
rito comete crime de ao penal pblica, com pena severa, alm de perda
dos produtos e uma pesada multa.
Nos Estados Unidos da Amrica, a situao exatamente o oposto: pode-
se registrar uma marca, que pode ser coletiva ou de certificao, com o
nome geogrfico, e o titular desta permite a quem cumprir o regulamento
o uso dessa nos produtos certificados. um direito privado sobre uma
marca geogrfica.
No Brasil, tem-se entendido, de maneira geral, que se trata de um direito
privado, mas com um titular no muito claro, cujo gestor a pessoa jur-
dica que requereu o reconhecimento. Todavia, poucos instrumentos con-
cretos e eficazes foram postos disposio desses gestores, que tambm
exercem a funo de controladores do sistema. E isso tem criado muitas
dificuldades. Como proibir, por exemplo, um membro da entidade repre-
sentativa a utilizar em seus rtulos o nome Vale dos Vinhedos, no caso?
No falsa Indicao de Procedncia!
CAPTULO 07
das dificuldades e problemas das IG brasileiras:
261
diretor executivo, cujas aes devem ser tomadas, todavia, com base no
apoio dos associados.
262
quanto ir ao mercado e quanto ficar estocado. Assim, o Champagne
foge das intempries do mercado, pois sempre h um estoque para suprir
uma demanda maior, mas no o suficiente para permitir a baixa dos pre-
os. Desta forma, enquanto se encontram vinhos com DO no mercado
francs, por um ou dois euros, dificilmente se encontrar um Champagne
por menos de 15 euros.
Dificuldades tcnicas
Vrias dificuldades tcnicas podem, potencialmente, surgir aps o reco-
nhecimento oficial de uma IG.
Lembramos que o reconhecimento de uma IG s um primeiro passo. O
desafio seguinte conseguir produzir, respeitando a codificao das nor-
mas estabelecidas pelo regulamento de uso e se manter no mercado.
Nas quatro primeiras IG reconhecidas no Brasil, podem ser evidenciados
alguns problemas na aplicao das normas do Regulamento de Uso. Em ge-
ral, dois problemas tm surgido: a) regulamento de uso com normas mui-
to rigorosas a serem cumpridas e b) falta de matria-prima para atender a
demanda em face da necessidade de se cumprir este mesmo regulamento.
Com relao ao rigor, pode-se vislumbrar que alguns associados, que
poderiam se beneficiar da IG, no conseguem cumprir as normas, em
face destas se apresentarem muito restritivas. Trata-se de uma hiptese
CAPTULO 07
que j se verificou no caso do Cerrado Mineiro e do Pampa Gacho da
Campanha Meridional.
No primeiro caso, por ser um caf de especialidade, o Caf do Cerrado
Mineiro avaliado segundo um mtodo americano: para poder utilizar
a IP e justificar as caractersticas sensoriais, os cafs devem ser pontuados
acima de 75 pontos pela metodologia SCAA (Specialty Coffee Association
of Amrica). Os cafs entre 50 e 74 pontos, na metodologia SCAA, so os
denominados cafs rastreados14, sem direito ao uso da IP. Todavia, deve-
-se destacar o rigor desse sistema. Poucos produtores, hoje, conseguem
chegar a esse nvel de qualidade.
Algo semelhante ocorreu com os produtores de carne do Pampa Gacho
da Campanha Meridional. Para ter certeza que ningum iria reivindicar
ou alegar a falta de diferenciao do produto (carne), foram estabelecidas
normas muito rigorosas. Hoje, apesar de atuar sobre uma rea de mais de
263
1,2 milho de hectares, a Apropampa no consegue abater muitos animais
por semana que se enquadrem nos critrios da IG
Outra dificuldade tcnica deve ser avaliada: o desvio do regulamento.
Uma grande possibilidade desse abuso ocorrer dar em funo da falta de
matria-prima. No caso do Vale dos Vinhedos, 85% da matria-prima deve
ser proveniente da rea delimitada. E se a uva de variedades Vitis vinifera
produzidas na regio no for suficiente para atender a demanda?
No caso do Pampa Gacho da Campanha Meridional, o gado no pode
receber rao durante o ltimo ano antes do abate. Mas, se ocorrer uma
grande seca? Se um inverno muito rigoroso tivesse consequncias gravs-
simas sobre a perda de peso do gado, no poderia se autorizar os produto-
res a complementarem a alimentao com rao? Provavelmente, a falta
de matria-prima deveria ser tomada em conta. Conforme est definido
no regulamento de uso, essa dificuldade tcnica poderia ser contornada
ou levar os produtores a descumprir o regulamento de uso.
No caso da cachaa de Paraty, a cana-de-acar dever, em sua integrali-
dade, proceder da rea delimitada a partir de 2012. Hoje, grande parte da
matria-prima vem de fora da regio delimitada. E se a meta no puder
ser cumprida?
Novas perspectivas:
Todavia, deve ser ressaltado que o Poder Executivo, na juno de esforos
de um grupo interministerial do qual o MAPA parte integrante, est
atento aos problemas e dificuldades apresentados pelo atual marco legal
das IG. Desta forma, um Projeto de Lei PL est sendo elaborado pelo
Governo Federal que vai suprir as lacunas apresentadas ao longo desse
curso.
264
Resumo
Neste captulo, foram abordados a gesto e o controle de uma IG aps o
seu reconhecimento formal. Foi tratada, primeiramente, a gesto externa,
ou seja, a relao desta com o mercado, a promoo e comercializao dos
produtos, a promoo do territrio e os problemas e dificuldades encontrados
para seu uso e reconhecimento perante o mercado. Aps, trata-se da gesto
interna da IG, que aborda a relao entre os associados e a associao,
novos associados, e a realizao do controle dos produtos para que estes
tenham o direito de uso do sinal distintivo da IG. Especificamente, so
tecidas consideraes sobre a implementao do controle dos produtos,
utilizando-se como exemplo a prtica adotada pelo Vale dos Vinhedos.
Discute-se, tambm, temas relacionados ao apoio tcnico e gesto do
financiamento da IG. So apresentadas as principais dificuldades e
problemas encontrados na gesto da IG como um todo.
CAPTULO 07
265
Notas
1. A cor vermelha (esquerda) indica que o queijo afinado e vendi-
do por cooperativa ou indstria. A sua produo feita a partir
de leite oriundo de vrios produtores. O selo verde (direita) iden-
tifica um queijo elaborado apenas por um produtor a partir da
sua prpria produo de leite. Os dois produtos esto vendidos
com selos da IG.
2. DUPONT, 1999
3. DUPONT, 1999
4. Gonalves, 2009
5. BRISEBARRE, 1998
6. MOLLARD ET AL, 2005
7. CERDAN ET Al, 2009
8. As regras mudaram completamente aps o Regulamento
510/2006, 479/2008 e 110/2008.
9. LPEZ BENTEZ, 1996.
10. A forma ilustrada no presente captulo, a ttulo de exemplo, a
utilizada para a Indicao de Procedcia Vale dos Vinhedos. Com
a concesso da Denominao de Origem Vale dos Vinhedos,
deve-se ressaltar que alguns procedimentos, bem como alguns
requisitos referentes ao regulamento de uso, foram modificados
em face da especificidade desta.
11. O critrio de controle utilizado para medir o grau glucomtrico
(teor de acar), o da escala de graus Babo, que representa a
percentagem de acar existente em uma amostra de mosto (cal-
do da uva), ou em escala de graus Brix, que representa o teor de
slidos solveis totais na amostra, 90% dos quais so acares.
Esta medida pode ser feita diretamente no vinhedo, com a ajuda
de um equipamento de bolso chamado refratmetro.
12. LPEZ BENTEZ, Mariano. Del Estatuto del vino a las leyes del
vino: um panorama actual y de futuro de la ordenacin vitivin-
cola en Espaa. Madrid: Civitas, 2004. Rever numerao abai-
xo LPEZ BENTEZ, Mariano. Las denominaciones de origen.
266
Barcelona: CEDECS, 1996. Espanha. Ley de la Via e del Vino
no 24/2003.
13. ESPANHA. Estatuto del vino de 1970.
EUROPA. Regulamento do Parlamento e do Conselho Europeu
n. 1151/2012.
EUROPA. Regulamento do Parlamento e do Conselho no
110/2008.
EUROPA. Regulamento do Parlamento e do Conselho Europeu
n. 1308/2013.
EUROPA. Regulamento da Comisso no 607/2009.
14. CACCER. 2009.
CAPTULO 07
267
CAPTULO 8
Marcas Coletivas e
Marcas de Certificao:
marcas de uso coletivo
Patrcia Maria da Silva Barbosa
Marcas Coletivas e Marcas de Certificao:
marcas de uso coletivo
270
8.1. Marcas de uso coletivo quem so e por que
devem ser conhecidas
Neste captulo tratamos com mais profundidade das Marcas Coletivas e
Marcas de Certificao, cujas noes bsicas foram apresentadas no cap-
tulo 2. Iniciamos este captulo esclarecendo algo que a princpio parece ser
destoante: por que um captulo inteiro dedicado a marcas em um mdulo
onde a principal temtica IG?
Em primeiro lugar, porque um sinal no excludente do outro e sim por-
que ambos podem atuar como parceiros, salvo exceo, como veremos.
Em segundo lugar por que no tratamos de todo e qualquer tipo de marca
e sim de dois tipos de marcas, que so diferenciadas a ponto de merecerem
redao especficas na legislao: os incisos II e III, art. 124 da Lei n 9279,
de 14 de maio de 1996, a LPI.
Em comum entre elas, h o fato de que ambas fazem parte do seleto
grupo de sinais de uso coletivo, isto , so sinais que no so utilizados
pelo titular da marca, e sim, pelos associados ao titular no caso da Marca
Coletiva e pelos autorizados a us-la pelo titular da Marca de Certificao,
o certificador. Desta forma, tocamos em um ponto importante: o carter
de coletividade dessas marcas devido ao seu uso e no a sua titularidade.1
Em terceiro lugar, como visto no captulo 1, as marcas e as IGs por muito
tempo se confundiram ao longo da histria humana, e na verdade, esta
mistura continua acontecendo atualmente. Exemplo disto que muitos
pases, tais como Noruega, Sucia, Holanda e Estados Unidos optam por
proteger as suas indicaes de origem como Marcas Coletivas ou at mes-
mo como Marcas de Certificao2. Portanto, essas marcas permanecem
CAPTULO 08
intimamente interligadas com as IGs. Isto acontece porque a principal le-
gislao internacional que rege o tema, a Conveno da Unio de Paris,
permite que cada pas crie suas prprias regras de acordo com suas neces-
sidades particulares.3
Desta forma, nem sempre a Marca Coletiva assim chamada, e pases
como Itlia, Grcia e Espanha a denominam de Marcas de Garantia.
Encontramos ainda pases tais como Portugal e Aores que consideram a
Marca de Certificao como modalidade de Marca Coletiva, denominan-
do-a Marca Coletiva de Certificao.
271
Na biblioteca virtual voc encontrar um material suplementar sobre as
Marcas Coletivas brasileiras:
272
Legislao disponvel na Biblioteca Virtual.
Segundo a LPI, as Marcas Coletivas so: aquelas usadas para identificar pro-
dutos ou servios provindos de membros de uma determinada entidade e
seu registro s poder ser requerido por pessoa jurdica representativa de
coletividade, a qual poder exercer atividade distinta da de seus membros.
A lei determina trs importantes pontos:
1. Que a utilizao da marca feita pelos membros da entidade
coletiva e no pela titular da marca.
2. A excluso das pessoas fsicas como titulares desse tipo de marca,
tendo em vista que apenas pessoas jurdicas representativas de
coletividade podem requerer o registro de uma Marca Coletiva.
Ao deixar em aberto o carter das pessoas jurdicas representati-
vas de coletividade, permitindo a requisio de pessoa privadas
ou pblicas, a lei permite que a Marca Coletiva seja requerida por
entidades governamentais. Afinal, no um governo eleito demo-
craticamente um bom exemplo de uma entidade representativa de
coletividade?
3. A requerente de uma Marca Coletiva poder exercer atividade
distinta da de seus membros.
Com relao a esse terceiro ponto, vale lembrar que geralmente o registro
de uma marca deve ser relativo atividade que o requerente exera, efeti-
CAPTULO 08
va e licitamente. Observamos ento uma relativa flexibilidade particular
aqui, pois, ao dispor que a entidade coletiva poder exercer atividade
distinta da de seus membros, entende-se que ela no necessariamente
precisa ser produtora ou prestadora do servio a ser protegido. Porm,
importante manter o bom senso, pois, obviamente, a atividade da entida-
de titular deve guardar relao com o que est sendo requerido.
Dessa forma, uma marca que se destine a identificar produtos aliment-
cios deve ser requerida por uma associao/cooperativa com objeto social
compatvel com a produo de produtos alimentcios. Por exemplo, a en-
tidade coletiva atua como administradora e comercializa esses produtos
enquanto os membros so os produtores.
273
Alm dessa questo da flexibilizao da atividade social da requerente do pedi-
do de registro, uma Marca Coletiva possui um documento obrigatrio a mais
do que os outros pedidos de registro de marca: o Regulamento de Utilizao
da Marca. Este um documento particular onde o requerente deve apresentar
informaes pertinentes Marca Coletiva de acordo com os seus interesses.
Em maro de 2013 o INPI publicou a Instruo Normativa PR n 19/20135,
onde descreve o que deve constar como contedo de um regulamento de
utilizao. Requisitos tais como: a descrio da pessoa jurdica requerente; as
condies para eventual desistncia do pedido de registro, ou renncia do re-
gistro da marca; os requisitos necessrios para a afiliao entidade coletiva e
para que as pessoas, fsicas ou jurdicas, associadas ou ligadas pessoa jurdica
requerente estejam autorizadas a utilizar a marca devem estar presentes.
274
As alteraes que porventura este regulamento sofra durante a vigncia
da marca, devem obrigatoriamente ser apresentadas ao INPI (art. 149 da
Lei n 9279/96). Essas alteraes sero objeto de exame por parte do INPI,
com respectiva publicao posterior na Revista Eletrnica da Propriedade
Industrial (RPI).
CAPTULO 08
bros de uma determinada entidade (inciso III, art. 123 da Lei n 9279/96).
O registro tambm considerado extinto caso a entidade deixe de existir
ou a marca seja utilizada em condies diversas do regulamento de utili-
zao (artigo 151, incisos I e II).
Uma vez cumprido os requisitos do regulamento de utilizao, o membro
da entidade titular da Marca Coletiva adquire o direito de utiliz-la. No
necessrio haver elaborao de licena especfica do titular ao membro
(art. 150 da Lei n 9279/96).
importante ressaltar que a proteo explcita Marca Coletiva passou
a vigorar no Brasil por meio da Lei n 9.279/96 LPI, porm, podemos
275
afirmar que anteriormente existia um certo tipo de proteo s Marcas
Coletivas na classificao nacional vigente at 1999, pois na classe 41.50 se
protegiam os servios executados exclusivamente por cooperativas, sindi-
catos, instituies ou associaes de classes.6
Atualmente, o Brasil utiliza a Classificao Internacional de Nice de
Produtos e Servios para o Registro de Marcas, e dentro dessa classifi-
cao, qualquer classe de produto ou servio pode abrigar uma Marca
Coletiva, bastando apenas que ao realizar o depsito, o requerente da
marca indique tratar-se de uma marca de natureza coletiva.
Por outro lado, quando um membro da entidade titular da Marca Coletiva
possuir marca prpria/individual, seu uso pode ser feito conjuntamente
com a Marca Coletiva, funcionando assim como um meio de identificar
produtores diferentes dentro da mesma coletividade.
Abaixo temos um quadro esquemtico resumindo as principais caracters-
ticas das Marcas Coletivas.
Marca Coletiva
usada para identificar produtos ou servios de membros de uma entidade
coletiva
somente entidades representativas de coletividade podem requerer
regulamento de utilizao documento obrigatrio (Ver Instruo
Normativa PR n 19/2013)
deve ser pedida na classe do produto ou servio
renovada a cada 10 anos
mudanas no regulamento de utilizao devem ser depositadas no INPI
Quadro 8.1 - Principais caractersticas de uma Marca Coletiva
Fonte: Elaborao prpria
276
O registro da Marca Coletiva Vinhos do Brasil, j citada neste curso,
um bom exemplo de novamente ser mencionado (registro n 902819470).
Depositado na classe internacional 33, destina-se a assinalar vinhos, sendo
um exemplo interessante j que esse registro de Marca Coletiva se destina
justamente a identificar os vinhos, produtos com maior nmero de IGs
reconhecidas, alm de que contm o nome geogrfico Brasil.
CAPTULO 08
vel das marcas coletivas, isto , seu uso coletivo por todo um setor/seg-
mento de mercado: uma marca coletiva setorial.
Outro exemplo tambm interessante a marca Amorango, registrada no INPI
sob o nmero 902115766 e de titularidade da Associao dos agricultores fa-
miliares de produtores de morango de Nova Friburgo Amorango. Atualmente
a associao conta com 16 produtores associados que produziram 250 tone-
ladas de morango da marca Amorango no ano de 2013, o que significou um
aumento de mais de 315% comparado a 2009. A marca foi requerida com esta
apresentao ao INPI:
277
Figura 8.2 - Associao dos agricultores familiares de produtores de morango de
Nova Friburgo
Fonte: INPI
278
Marcas Coletivas, pois como visto antes, as Marcas de Certificao no
so explicitamente mencionadas na CUP, principal legislao internacio-
nal sobre o tema em vigor, o que permitiu que os pases signatrios a
internalizassem de acordo com suas necessidades particulares. Por causa
disso, diversos pases optaram por deixar a Marca de Certificao na mo-
dalidade prevista na Conveno que a Marca Coletiva, enquanto outros
optaram por mencion-la explicitamente, como o caso do Brasil.
Portanto, temos segundo o inciso II do artigo 123 da LPI que a marca de
certificao aquela usada para atestar a conformidade de um produto
ou servio com determinadas normas ou especificaes tcnicas, nota-
damente quanto qualidade, natureza, material utilizado e metodologia
empregada. Dessa forma, uma das principais diferenas desse tipo de
marca que ela atesta a existncia de uma determinada qualidade ou de-
terminada caracterstica a um produto ou servio. Ela informa que aquele
bem foi objeto de um processo de avaliao de conformidade e obedece
a certos critrios tcnicos especficos, notadamente quanto qualidade,
natureza, material utilizado e metodologia empregada.
No intuito de conferir credibilidade a essa avaliao, a empresa certifi-
cadora, empresa titular da Marca de Certificao, obrigatoriamente no
deve guardar interesse comercial ou industrial direto com os produtos/
servios que visa certificar ( 3 art. 128 da Lei n 9279/96).
Por isso, para ser usurio de uma Marca de Certificao, obrigatrio que
se cumpram as normas e especificaes tcnicas estipuladas pelo titular da
marca na documentao apresentada ao INPI. No entanto, no neces-
srio ser membro ou associado a este titular, reforando a necessidade de
distncia de relao direta entre certificado e certificador.
CAPTULO 08
A titularidade de uma Marca de Certificao permitida tanto a pessoa
jurdica quanto a pessoa fsica, porm, necessrio que essa pessoa com-
prove ter capacidade tcnica para certificar o produto ou servio objeto
da certificao.
Importante ressaltar que a presena da Marca de Certificao no substitui
nem dispensa os selos de inspeo sanitria ou o cumprimento das demais
normas e regulamentos estabelecidos pela legislao vigente de acordo com o
tipo de produto/servio. Alm disto, no exime a responsabilidade do prprio
fornecedor, j que este quem deve garantir a qualidade do produto/servio,
segundo o Cdigo de Proteo e Defesa do Consumidor (Lei n 8.078/90).
279
Como todos os demais registros de marca, o registro de uma Marca de
Certificao deve ser renovado a cada dez anos, pois o registro considerado
extinto na sua ausncia. O mesmo acontece caso o titular do registro deixe de
existir ou a marca seja utilizada em condies diversas do constante no docu-
mento onde se disciplinou seu uso (incisos I e II art. 151 da Lei n 9279/96).
Da mesma forma como acontece com a Marca Coletiva, a Marca de
Certificao tambm possui uma reserva de proteo aps a extino,
permanecendo irregistrvel por terceiros por 5 anos (art. 154 da Lei n
9279/96). Essa previso novamente configura uma proteo diferenciada
a esse tipo de sinal, destacando sua relevncia.
Ao contrrio das demais marcas que podem ser distribudas entre todas as
diversas classes de produto e servio conforme o interesse do requerente,
a Marca de Certificao deve ser requerida exclusivamente na classe de
servio NCL(10) 42. A especificao do que se deseja certificar que faz a
diferena neste caso.
280
a descrio do que o produto ou servio que deseje utilizar aque-
la marca deve possuir, notadamente quanto qualidade, natureza,
material utilizado e metodologia empregada;
as medidas de controle que sero adotadas pelo titular.
Ambos os itens se correlacionam funo principal da Marca de
Certificao, que atestar que determinado produto est em conformida-
de com determinadas normas ou especificaes tcnicas.
http://www.inmetro.gov.br
CAPTULO 08
Diversas so as suas competncias, sendo a mais relevante para esse
tema a competncia de planejar e executar as atividades de acreditao
de laboratrios de calibrao e de ensaios, de provedores de ensaios de
proficincia, de organismos de certificao, de inspeo, de treinamento
e de outros, necessrios ao desenvolvimento da infraestrutura de servi-
os tecnolgicos no Pas8. Portanto, o Inmetro age como rgo regu-
lamentador e acreditador de organismos certificadores, - os Organismos
de Certificao de Produtos (OCP) - e no como rgo certificador. E
importante ainda ressaltar que nem todos os produtos/servios existentes
possuem a necessidade de serem certificados compulsoriamente.
281
Um dos exemplos de selos que o Inmetro disponibiliza o de avaliao da
conformidade. Esses selos so de uso controlado e somente os organismos
que tenham cumprido as exigncias e sido aprovados no processo de acredi-
tamento do rgo tem autorizao para usar. Nesses selos, existe um espao
destinado aos OCPs e nesse local onde a Marca de Certificao das certifi-
cadoras deve ser inserido, conforme podemos ver na figura abaixo.
282
Este selo foi criado a partir da Lei n 10.831, de 23 de dezembro de 2003 que
dispe sobre a cultura e comercializao de produtos orgnicos. Esse programa
permite trs diferentes formas de garantir a qualidade orgnica dos produtos:
Certificao por auditoria;
Sistemas Participativos de Garantia;
Controle Social para a Venda Direta sem Certificao.
A certificao por auditoria o procedimento comum a todos os sistemas de
certificao, ou seja, a certificao feita por terceiros. Porm, no Sistema
Participativo de Garantia(SPG) existe a responsabilidade coletiva dos membros
do sistema e devem existir obrigatoriamente os Organismos Participativos de
Avaliao da Conformidade Orgnica (OPACs), que correspondem s certifica-
doras no Sistema de Certificao por Auditoria. So eles que avaliam, verificam
e atestam o atendimento s exigncias do regulamento da produo orgnica.
http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/organicos
CAPTULO 08
Selo pode se dar juntamente com a marca do OPAC.9
Ainda nesse quesito alimentar, temos outro exemplo importante que o
selo do Programa de Avaliao da Conformidade para Produo Integrada
Agropecuria Brasil (PI Brasil).
284
Figura 8.7 - Selo do programa Certifica Minas Caf
Fonte: http://www.agricultura.mg.gov.br/programas-e-acoes/certifica-minas-cafe
Acesso realizado em: 17 abr. 2014.
CAPTULO 08
dutiva do caf certificado, ou rastreabilidade, so alguns dos requisitos
necessrios para o produtor obter a certificao.
Essa certificao atesta que o caf no oferece perigo sade do consu-
midor, pois est livre de contaminao fsica, qumica e biolgica, garante
a origem do produto e ainda identifica o respeito ao meio ambiente ao
considerar o uso adequado do solo e da gua e ainda a reutilizao dos
resduos. Ela consegue garantir o acesso aos maiores mercados consumi-
dores de caf: Europa, Estados Unidos e Japo.11
A SEAPA assinou um convnio de cooperao tcnica com a Associao
Brasileira da Indstria de Caf (Abic), estabelecendo o pagamento de um
285
adicional entre 10% e 25% sobre o preo de mercado para o caf produ-
zido nas propriedades aprovadas pelo programa Certifica Minas Caf12.
Em 2011 as propriedades cafeeiras aptas a serem certificadas, segundo as
caractersitcas do projeto, representavam cerca de 25% do Estado.13
Diante de tudo o que foi anteriormente exposto ao longo deste captulo,
pergunta-se: qual deve ser a Marca de Certificao deste exemplo?
Segundo os critrios da LPI a marca de certificao deveria ser a pertencente
ao Instituto de Mercado Ecolgico - IMO Control do Brasil, tendo em vista
ser esta a entidade efetivamente certificadora, pois quem emite a certifica-
o. Isto no caso da certificao ser relativa ao produto caf e no ao sistema
de produo e o controle de qualidade do caf. Pois, como visto, a legisla-
o nacional descreve que a Marca de Certificao aquela usada para ates-
tar a conformidade de um produto ou servio (inciso II, art. 123 da Lei n
9279/96) excluindo, portanto, processos e sistemas de gesto. No entanto,
uma consulta ao banco de dados do INPI informa que existe um pedido de
registro da marca nominativa IMO Control, porm esta foi requerida em
abril de 2013 por Bio-Stiftung Schweiz, atravs do processo n 840469080,
sendo esta marca da natureza de servio e no de certificao.
Sua especificao informa que a marca visa a distinguir servios de certi-
ficao, inspeo e controle de qualidade no processamento e elaborao
de alimentos, madeiras e fi bras ecolgicas (biolgicas e orgnicas), com
nfase especialmente na gesto de ecossistemas no processo de produo,
a fim de garantir a origem e os mtodos de cultivo. A opo por este tipo
de registro, assim como sua especificao, deixa claro quais os tipos de
servio que a empresa visa prestar. Essa foi a alternativa que a empresa
encontrou para registrar sua marca, de acordo com seus servios, pois es-
ses seriam incompatveis com uma Marca de Certificao, segundo a LPI.
O banco de dados do INPI informa tambm que temos diversos pedi-
dos de registro da marca ABIC, requerida pela Associao Brasileira da
Indstria de Caf, como Marca de Certificao, com o intuito de certificar
inclusive servios de controle de qualidade do caf.
Mas ela cumpre os requisitos 3, art. 128 da Lei n9279 de 14 de maio de 1996,
onde consta que o registro da Marca de Certificao s poder ser requerido por
pessoa sem interesse comercial ou industrial direto no produto que visa atestar?
286
Fora a questo da pergunta acima, neste caso especfico de registro para
certificao de servios de controle de qualidade do caf, precisamos ob-
servar que se trata de servio registrvel e no de processo, visto que a LPI
no prev a proteo nesse ltimo caso.
Por ltimo, a expresso Certifica Minas Caf seria o selo instituido atra-
vs de programa governamental, regido por legislao especfica.
Abaixo temos um quadro explicativo resumindo as principais caractersti-
cas das Marcas de Certificao.
Marca de Certificao
usada para atestar a conformidade de um produto ou servio com determi-
nadas normas ou especificaes tcnicas, notadamente quanto qualidade,
natureza, material utilizado e metodologia empregada
somente entidades sem interesse direto no que produto ou servio a ser
certificado podem requerer
obrigatrio apresentar documento tcnico especfico informando quais as
caractersticas que o produto ou servio dever ter para usar a marca
deve ser pedida exclusivamente na classe de servio NCL(10) 42
renovada a cada 10 anos
mudanas nos requisitos de avaliao presentes na documentao obrigat-
ria devem ser depositadas no INPI
Quadro 8.2 - Principais caractersticas de uma Marca de Certificao
Fonte: Elaborao prpria
CAPTULO 08
287
Caractersticas Marca Coletiva Marca de Certificao
identificar a entidade coletiva atestar conformidade quanto a
Funo
titular da marca. critrios tcnicos
entidade coletiva represen- terceiro, distinto da relao a ser
Titularidade
tativa certificada
especificado pelos prprios
feito pela titular da marca: a
Controle produtores ou por quem estes
certificadora
determinarem
288
Em seguida, importante verificar se essa coletividade de produtores est
organizada socialmente e em que nvel, pois essa organizao e princi-
palmente o grau de interesse dessa coletividade so fatores fundamentais
para que o processo de adoo de um sinal de uso coletivo possa ser bem
sucedido. Havendo a coletividade interessada na adoo de um sinal de
uso coletivo, organizada na forma de uma pessoa jurdica representativa e
um produto/servio eleito, o prximo passo buscar as orientaes legais
sobre a produo do produto ou o processo de prestao do servio.
Nesse ponto importante verificar se o que se deseja proteger est de acor-
do com a legislao vigente sobre todos os aspectos, sejam sanitrios, re-
gulamentares, trabalhistas e todas as demais normas em vigor. Cumprido
esse requisito, temos a probabilidade de que uma Marca Coletiva ou uma
IG possa ser aplicada.
Por que no uma Marca de Certificao? Como visto anteriormente, o ti-
tular de uma Marca de Certificao no pode ter relao direta com o pro-
duto/servio que visa certificar, por isso uma coletividade produtora no
pode ser sua prpria certificadora, pelo menos no sobre os moldes de
uma Marca de Certificao segundo a LPI em vigor. J os selos de certifi-
cao so outra forma de proteo, como j abordamos em item anterior.
Com relao s Marcas de Certificao, ainda h que se considerar se o que
se deseja produzir de fato um produto ou um servio, para novamente
no esbarrarmos com as exigncias da LPI. Em seguida, deve-se observar
se o produto ou servio possui ligao com a regio onde produzido/
prestado. Uma vez que essa relao exista, deve-se verificar em que nvel
o acontece. Se essa relao for do tipo onde o produto/servio j goze de
reputao e reconhecimento da populao, pode-se pensar em uma IG
CAPTULO 08
da espcie indicao de procedncia. Caso a relao com o local seja ain-
da mais ntima e existam caractersticas no produto/servio decorrentes
exclusiva ou essencialmente ao meio geogrfico onde este se desenvolve,
pode-se pensar em uma denominao de origem.
Em um terceiro caso temos uma coletividade que deseja um sinal que re-
meta regio, embora no exista reputao conquistada ou dependncia
do meio geogrfico. Pode ser uma estratgia de valorizao local e neste
caso uma Marca Coletiva seria a opo de sinal distintivo mais indicado.
Entretanto, uma vez que a reputao da regio assinalada com uma Marca
Coletiva se estabelea, pode-se optar por requerer uma IG.
Dessa forma, temos que o interesse da coletividade, assim como o nvel
de organizao desta so os principais fatores que influenciam no sinal
289
distintivo que pode ser utilizado, quando existe relao com o local e as
exigncias legais esto cumpridas.
Para mais detalhes sobre o assunto, em especial de diagnstico de poss-
veis IGs, consulte os que so apresentados no captulo n3 que se apro-
funda nesse tema de identificao de produtos potenciais e organizao
dos produtores.
Para conhecer mais sobre as Marcas Coletivas e Marcas de Certificao
brasileiras sugerimos as seguintes leituras:
290
de produo e como elas acontecem, assim como quais as caractersticas
tcnicas que o consumidor pode esperar obter, alm de informar sobre
outros tantos assuntos diversos como quais so os benefcios para a sade
do consumidor, por exemplo. Portanto, temos uma valorizao do pro-
duto/servio atravs da informao contida nesses sinais, criando assim
uma relao de confiana entre produtor-consumidor, o que confere uma
vantagem competitiva empresa que a possui.
Essa vantagem, no caso dos sinais de uso coletivo, ainda incrementada
quando se pensa que no processo oneroso de desenvolvimento e valora-
o de uma marca, os custos e riscos do investimento so divididos com a
coletividade. Em se tratando de uma Marca de Certificao, encontramos
ainda uma reduo da demanda do tempo necessrio para ganhar a con-
fiana do consumidor, alm de tambm significar a reduo dos riscos,
pois se considera que o certificado costuma trazer para si a credibilidade
j adquirida pelo certificador.
Por outro lado, importante ainda lembrar que as caractersticas tcnicas
de Certificao costumam ser utilizadas internacionalmente como bar-
reiras no tarifrias. Por vezes, a exigncia de submisso a um processo
de certificao pode se tornar um obstculo ao comrcio internacional,
dificultando, ou at mesmo impedindo, a entrada nos mercados de pa-
ses desenvolvidos, sendo este inclusive um procedimento que se encontra
bastante difundido no segmento agrcola.
A possibilidade de rastreabilidade tambm outro fator que agrega valor
a uma certificao tendo em vista as novas tendncias de um mercado que
deseja saber no apenas a procedncia do produto, mas sim como aconte-
cem todas as fases de sua produo e distribuio.
CAPTULO 08
Acesse o AVEA do curso e discuta com seus colegas as seguintes questes
no Frum de Contedo: Quais as principais diferenas entre uma Marca
Coletiva e uma IG? E uma Marca Coletiva de uma Marca Individual? Qual
a importncia de uma Marca de Certificao?
291
Resumo
Neste captulo, vimos com mais detalhes as caractersticas das Marcas
Coletivas e das Marcas de Certificao alm de alguns exemplos pr-
ticos de sua utilizao. Diferenciamos tambm o que uma Marca de
Certificao, segundo a legislao em vigor do que um selo certificador.
Apontamos ainda como o uso de um sinal de certificao, sinal mais reco-
nhecido atualmente pelo grande pblico, est diariamente permitindo ao
consumidor a fcil identificao de diversas caractersticas intrnsecas do
produto e influenciando em suas escolhas, assim como sua importncia
nos mercados nacional e internacional.
Por ltimo, discutimos a utilizao dessas marcas de uso coletivo, indi-
cando como seu uso pode permitir que pequenos produtores alcancem
mercados que no conseguiriam isoladamente.
Notas
1. CARVALHO, M. M, 2004.
ASCENSO, J. O.,2002.
ALMEIDA, A. F. R., 2001.
2. Origin Study on geographical indications protection for non-
-agricultural products in the internal market Final report 18
February 2013
3. CONVENO DA UNIO DE PARIS CUP, 2012.
4. FARIA, R. S. V., 2009.
5. BRASIL. Instruo Normativa PR n 19/2013, de 19 de outubro
de 2012.
6. REGALADO, P. F. et al., 2012.
7. REGALADO, P. F. et al., 2012.
8. INMETRO: o que o Inmetro. Disponvel em: <http:// www.
inmetro.gov.br/inmetro/oque.asp>. Acesso em: no. 2012.
9. INMETRO: o que o Inmetro. Disponvel em: <http://www.
inmetro.gov.br/inmetro/oque.asp>. Acesso em: no. 2012.
10. BRASIL, 2008.
292
11. MIRANDA E SAES, 2013.
12. SEBRAE/NA., 2012.
13. MINAS GERAIS, 2012.
14. SEMPRINI, A., 2006.
*
Agradecimentos especiais preciosa colaborao de Pablo
Regalado, Rafael Viveiros e Christiano Timb integrantes do Grupo
de Trabalho de Marcas Coletivas, de Certificao e em contextos es-
peciais da Diretoria de Marcas do INPI cujas discusses pertinentes
muito contriburam para o contedo deste captulo.
CAPTULO 9
Estudo de Caso:
IP vale dos Vinhedos, IP Paraty e
IP Vale do Submdio do So Francisco
Kelly Lissandra Bruch
Delphine Vitrolles
Liliana Locatelli
Estudo de Caso:
IP Vale dos Vinhedos, IP Paraty e IP Vale do
Submdio So Francisco
296
9.1 IP Vale dos Vinhedos
9.1.1 Introduo
Quando falamos de uma indicao geogrfica, precisamos compreender o
espao, a paisagem, a sociedade, a cultura e a tradio que a envolvem. Da
conjuno de fatores que nasce o que verdadeiramente pode se chamar
de fruto de uma IG.
A partir de um conjunto de especificidades e tradies, surgiu a IP Vale
dos Vinhedos, a primeira IG reconhecida no Brasil, situada no Estado do
Rio Grande do Sul, na regio da Serra Gacha, abrangendo parte do terri-
trio dos municpios de Bento Gonalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul1.
O legado histrico e cultural dos imigrantes italianos, desde meados de
1875, est presente em todos os lugares do Vale dos Vinhedos: nas capelas,
na devoo aos santos, no dialeto vneto e, principalmente, no cultivo da
videira e na produo do vinho, juntamente com uma cultura de subsis-
tncia de outros produtos2.
297
Alm desses estudos, tambm foram realizados levantamentos
histricos que comprovaram a tradio da cultura na regio deli-
mitada e auxiliaram na demonstrao da notoriedade.
Hoje a APROVALE conta com 63 associados dos mais diversos ramos re-
lacionados com a regio e com a vitivinicultura, incorporando uma parte
da cadeia produtiva. Dentre seus associados, h 30 empresas vitivincolas,
das quais dezenove so pequenas (at 50.000 litros/ano), oito so mdias
(de 50.001 a 500.000 litros/ano) e trs so grandes (acima de 500.001 li-
tros/ano)5.
Buscando uma melhor competitividade no mercado, bem como o reco-
nhecimento pela qualidade e caractersticas do vinho produzido na regio
do Vale dos Vinhedos, surgiu o projeto de reconhecimento de uma IG,
fortemente influenciado pelos estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuria - EMBRAPA Uva e Vinho ou CNPUV.
Como processo pioneiro no Brasil, as dificuldades foram inmeras, emer-
gindo a necessidade de reunir esforos para concretizar o projeto. Assim,
vrias instituies contriburam para concretizar o reconhecimento desta
indicao.
Dentre as instituies envolvidas destaca-se a parceria da APROVALE
com a EMBRAPA Uva e Vinho e com a Universidade de Caxias do Sul
UCS. A partir dessa parceria, iniciou-se o processo de reconhecimento da
IG, j em 1997, luz da Lei n 9.279/19966.
298
A APROVALE teve um papel fundamental no reconhecimento e gesto
da IP, bem como ainda o tem hoje, na consolidao da IP no contexto
nacional. A associao tem atuado, assim, como um importante e neces-
srio suporte tcnico aos produtores, alm de, por meio da estrutura de
controle, garantir ao consumidor a origem e tipicidade do produto. Vale
enfatizar que sem a vontade e colaborao dos prprios produtores, no
possvel se reconhecer e principalmente manter uma IG.
CAPTULO 09
Figura 9.1 - rea de produo delimitada do Vale dos Vinhedos, localizada nos mu-
nicpio de Bento Gonalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, no Rio Grande do Sul
Fonte: Adaptado por Ivanira Facalde, de Falcade et al. (1999).
299
Em linguagem mais simplificada, pertencem ao Vale dos Vinhedos todas
as terras cujo desge se d no Arroio Pedrinho, numa conjuno terri-
torial que toma parte dos trs municpios: Bento Gonalves, Monte Belo
do Sul e Garibaldi.
300
padres de identidade e qualidade qumica dos produtos. Alm de
atender a toda legislao brasileira, os mesmos devero atender aos
seguintes padres analticos mximos: acidez voltil de 15meq/l;
anidrido sulfuroso total para vinho branco e rosado de 0,15g/l, para
vinho tinto de 0,13g/l e para vinho leve, espumante natural, mosca-
tel e vinho licoroso de 0,20g/l.
padres de identidade e qualidade organolptica dos produtos: aps
passar pela anlise qumica os produtos so submetidos a uma an-
lise sensorial mediante degustao s cegas realizada por comisso
designada pelo Conselho Regulador.
c. Rotulagem
Os vinhos devero ser identificados no rtulo principal e na cpsula da
seguinte forma:
no rtulo principal deve constar a expresso:
CAPTULO 09
301
d. Conselho Regulador
O Conselho Regulador est previsto no Estatuto da APROVALE. Este tem
duas funes: o controle dos registros e o controle da produo.
No controle do registro esto includos: o cadastro atualizado dos vinhe-
dos e o cadastro dos estabelecimentos vincolas da IP. O objeto do contro-
le da produo compreende a declarao de colheita de uva da safra e a
declarao de produtos elaborados.
e. Direitos e Obrigaes
direito e ao mesmo tempo obrigao da APROVALE e de cada associa-
do, respeitado o Estatuto e o Regulamento de Uso: fazer uso da IP Vale
dos Vinhedos; zelar pela imagem da IP; adotar as medidas normativas
necessrias ao controle da produo por parte do Conselho Regulador.
f. Infraes, Penalidades e Procedimentos
No Regulamento de uso tambm esto previstas infraes e penalidades.
So infraes: o no cumprimento das normas de produo, elaborao
e rotulagem dos produtos da IP e o descumprimento dos princpios da
IP. As penalidades que podem ser aplicadas so: advertncia por escrito;
multa; suspenso temporria e suspenso definitiva da IP.
302
Orientar e controlar a produo, elaborao e a qualidade dos pro-
dutos amparados pela IP, nos termos definidos no Regulamento;
Emitir os certificados de origem de produtos amparados pela IG,
bem como o selo de controle;
Controlar o uso correto das normas de rotulagem estabelecidas
para a IG, conforme definido no regulamento;
Implementar e operacionalizar o funcionamento de uma Comisso
de Degustao dos produtos da IG Vale dos Vinhedos;
Elaborar, aprovar e implementar normas internas do prprio conse-
lho regulador para a operacionalizao de atribuies estabelecidas
no Regulamento.
Ressalta-se que nem todo o vinho produzido no Vale dos Vinhedos apto
a ser denominado um vinho da IP Vale dos Vinhedos. O produto subme-
tido a vrias etapas de controle, que sero explanadas a seguir, e somente
aps a sua aprovao, o Conselho Regulador permite que o vinho possa
levar em sua rotulagem o selo que o identifica como sendo um vinho IP
Vale dos Vinhedos (Figura 9.3).
Figura 9.3 - Selo distintivo de controle da IPVale dos Vinhedos - Fonte: APROVALE,
2009.
IP, quantas garrafas de vinho fino foram elaboradas no Vale dos Vinhedos
e dessas, quantas efetivamente so consideradas como um vinho IP Vale
dos Vinhedos pelo Conselho Regulador.
303
Produo de vinhos finos no Vale dos Vinhedos e de vinhos com
direito a IP. Dados Comparativos da I.P Vale dos Vinhedos 2001
a 2007.
N de ndice de
A p r o v a es
Ano Vincolas P r o d u o (1) S o l i c i t a es (2) Aprovao
(3)
Solicitantes s/produo
304
Procedimentos para a obteno do Certificado de Indicao de
Procedncia e do Selo de Controle para os vinhos amparados
pela IP;
Poleta de amostras e registro dos certificados de controle da IP;
Procedimentos para a operacionalizao da avaliao sensorial dos
produtos da IP;
Procedimentos para cortes de vinhos com IP de diferentes safras;
Procedimento para recurso, no caso de indeferimento de um pedi-
do de IP para um vinho;
Selo para lacre de amostras da IP;
Etiqueta para Livro de Acompanhamento da IP;
Etiqueta para garrafas;
Declarao de Produtos Elaborados para Obteno da IP;
Ficha de controle de amostras.
305
Registro pelo INPI da IP Vale dos Vinhedos.
N de registro IG 2000002
Data de depsito 06/07/2000
Data de concesso do registro 22/11/2002
Requerente APROVALE
Pas Brasil
Denominao da rea geogr-
Vale dos Vinhedos
fica
rea geogrfica 81km2
Vinho Tinto Seco, Vinho Branco Seco,
Vinho Rosado Seco, Vinho Leve, Vinho
Produtos
Espumante Natural, Vinho Moscatel
Espumante, Vinho Licoroso.
Base legal Lei n9.279, de 14/05/1996
Espcie Indicao de Procedncia
Apresentao Mista
Sinal Grfico
Tabela 9.2 - Fonte: Bruch, Locatelli, Vitrolles (2009) com base em Aprovale (2009);
INPI (2009).
306
apresentadas as estimativas da APROVALE quanto ao nmero de turistas
que visitaram o Vale nos ltimos anos, sobretudo, aps o reconhecimento
e utilizao da IG13.
Figura 9.4 - Turistas que visitaram a IPVV entre 2001 e 2008 - Fonte: APROVALE (2009).
lizao dos vinhos com a IP. Somente em 2008, o Vale comercializou 8,5
milhes de garrafas de vinhos e espumantes, sendo que estes representam
20% dos vinhos finos e 25% dos espumantes comercializados pelos pro-
dutores do Rio Grande do Sul, maior produtor de vinhos do Brasil. Alm
disso, em 2007, o Brasil exportou 2,7 milhes de garrafas de vinhos finos,
sendo 22% de vinhos com IP. Tais ndices refletem o reconhecimento da
qualidade atribuda ao produto no mbito nacional e internacional.
307
9.2 IP Paraty
9.2.1 Introduo
A histria da cachaa se confunde com a histria do Brasil, interligada
escravido e colonizao. Paraty, municpio do extremo sul do estado do
Rio de Janeiro, um dos mais antigos polos produtores de aguardente de
cana-de-acar do pas. Da mesma maneira, a histria da cachaa e a hist-
ria da cidade de Paraty esto interligadas em mltiplos aspectos: histricos,
culturais, sociais e econmicos. Ao longo do tempo, a cachaa de Paraty
ganhou importncia. Moeda de troca durante o ciclo de ouro, ela tornou
conhecida a regio de Paraty. Com as dificuldades de acesso, a frequncia
regio diminuiu e junto, a produo de cachaa fracassou: dos 150 enge-
nhos em produo no sculo XIX, permaneciam, na dcada 90, apenas trs.
Apesar de no ter mais uma produo artesanal de cachaa significativa, a
aguardente permaneceu uma atrao turstica. O incentivo de instituies
pblicas e privada deu fora aos produtores locais para reativarem a produ-
o de cachaa de Paraty, e resgatarem um nome geogrfico que se tornou
conhecido como centro de fabricao de aguardente.
308
O segundo passo foi organizar o setor. Junto ao SEBRAE/RJ, os produto-
res, jovens, desenvolveram uma viso empresarial e moderna, focada na
busca da qualidade e na organizao dos produtores em torno do objetivo
comum de recuperar a velha tradio da aguardente de Paraty e ocupar
espao num mercado consumidor cada dia maior e mais exigente17.
http://www.cachacas.com/
CAPTULO 09
Figura 9.6 - Atividades e tarefas realizadas pela APACAP e seus parceiros em 2006
Fonte: Vieira (2007)
309
9.2.3 Levantamento histrico
Para composio do processo a ser depositado no INPI, foi realizada uma
pesquisa histrica onde se confirmou a importncia da cachaa no cresci-
mento social e econmico de Paraty. Os passos histricos mais importan-
tes esto retraados na Tabela 9.3.
310
9.2.4 Delimitao da rea
O Municpio de Paraty, geograficamente est localizado no litoral sul do
Estado do Rio de Janeiro, junto Baa da Ilha Grande e integra a Regio
Turstica da Costa Verde juntamente com Angra dos Reis e Mangaratiba
(Figura 9.7). A extenso territorial do municpio de 930,7 km2. O clima
tropical, quente e mido, e a temperatura mdia anual de 27C com
uma amplitude variando de 12C a 38C.
311
Figura 9.8 - Delimitao da rea geogrfica de produo da indicao de procedn-
cia Paraty - Fonte: Mascarenhas (2008)
312
No regulamento de uso foram definidos quatro tipos de aguardentes para
a IP Paraty:
Cachaa envelhecida em tonis de madeira por 1 ano, 50% mix.
Cachaa Premium, envelhecida em tonis de madeira por 1 ano,
100% mix.
Cachaa Extra Premium, envelhecida em tonis de madeira por 3
anos.
Aguardente de Cana Composta Azulada, resultado da adio de flo-
res ou folhas de tangerina na destilao do mosto fermentado.
A Figura 9.9 ressalta as diferentes etapas de elaborao da aguardente: da
recepo da cana-de-acar ao engarrafamento da bebida.
CAPTULO 09
313
A cana-de-acar usada na produo do destilado artesanal colhida ma-
nualmente e no queimada, para no precipitar sua deteriorao.
Depois de cortada, a cana madura, fresca e limpa moda para separar o
caldo do bagao.
O caldo da cana decantado e filtrado para, em seguida, ser preparado
com a adio de nutrientes naturais, do prprio engenho, e levado s
dornas de fermentao. Hoje, os produtores de Paraty utilizam apenas
recipientes de ao inoxidvel na fermentao do caldo, para uma maior
higiene. O processo de fermentao feito apenas com adio de fermen-
to natural, sem qualquer aditivo qumico, e acompanhado de rigorosas
medidas de higiene sob o controle do produtor. Quando o vinho da
cana atinge o ponto ideal para ser destilado, ele levado para destilao
no alambique de cobre. De fato, a destilao em coluna proibida por no
ser tradicional, apesar de ser mais econmica.
Durante a destilao em alambique so coletadas trs fraes: cabea (15%
do volume destilado), corao (60%) e cauda (15%). A cabea e a cauda
so eliminadas porque o uso desta parte do destilado pode comprometer
o sabor da cachaa. do corao, ento, que se faz a cachaa.
A cachaa obtida da frao corao vai, em seguida, para tonis de ma-
deira, por um perodo mnimo de um ano, para ser envelhecida (cacha-
a envelhecida, Premium e Extra Premium), ou curtida com adio de
flores ou folhas de tangerina (aguardente de Cana Composta Azulada).
Diferentes tipos de madeira so utilizados, cada um tendo uma influncia
no aroma, na cor e no sabor da cachaa.
Para conseguir o reconhecimento da cachaa de Paraty como IP, os pro-
dutores tiveram que codificar todo o processo de fabricao do produto.
Alm de respeitar s legislaes, ambiental e trabalhista comum a todos
os produtos, eles tambm precisam respeitar critrios relativos seleo
da cana-de-acar, colheita, moagem, fermentao, destilao, e envelhe-
cimento.
Para conseguir o produto (cachaa) IP, os produtores precisam respeitar as
vrias condies apresentadas na Tabela 9.4.
314
Pontos crticos da elaborao da cachaa a ser respeitados para
conseguir a IG.
9.2.6 Controle
O Conselho Regulador, criado em 2006, foi constitudo por trs associados
da APACAP, um membro de Instituio tcnico-cientfica com conheci-
mento do tema, e um membro de instituio de desenvolvimento ligada
ao setor da cachaa. Ele tem cinco atribuies:
Elaborar normas e implantar medidas de autocontrole.
Orientar e controlar a produo.
Emitir certificados de conformidade. CAPTULO 09
Propor melhorias.
Outros itens ligados ao incentivo e preservao da qualidade.
Alm do controle interno realizado pelo prprio Conselho Regulador, o au-
tocontrole permite aos associados supervisionar o controle da qualidade da
cachaa. H tambm um olhar externo sobre os parmetros da produo
da cachaa, relativo ao prprio papel de inspeo e de fiscalizao do MAPA.
315
9.2.7 Procedimento de registro
A realizao do procedimento de registro da IP Paraty pode ser sintetiza-
da nos seguintes itens (Tabela 9.5):
316
O pedido de registro da indicao de procedncia foi depositado em 27/11/
2006 e a concesso do registro oficial se deu em 10/07/2007 (Tabela 9.6).
N de registro IG200602
Data de depsito 27/11/2006
Data de registro 10/07/2007
Associao dos produtores e amigos da
Requerente
Cachaa de Paraty (APACAP)
Pas Brasil
Denominao da rea geogr-
Paraty
fica
rea geogrfica 2km
Aguardente dos tipos: cachaa e aguar-
Produtos
dente composta azul
Base legal Lei n9.279, de 14/05/1996
Espcie Indicao de Procedncia
Apresentao Mista
Sinal Grfico
317
9.2.8 Novos Desafios e impactos da implementao da IP
A construo da indicao de procedncia Paraty tornou a regio mais co-
nhecida e teve impactos nos nveis social, econmico e ambiental. De fato,
possvel avaliar os efeitos em nvel de preservao do meio ambiente, da
coordenao da cadeia produtiva, da criao de valor econmico, e tambm
sociocultural. Nas tabelas 9.7 e 9.8 apresentamos os eventos da implementa-
o da IG na cadeia produtiva da cachaa e no territrio de Paraty.
318
Efeitos da implementao da IG no territrio de Paraty.
Produzir orgnico
Meio ambiente Participar ao crdito de carbono
Utilizar os resduos industriais
Adaptar a tecnologia de produo s condies edafo-
climticas locais
Recuperar a cana-de-acar plantada na regio
Matria Prima
Aumentar a produo local de matria-prima
Produzir toda a matria-prima no local, daqui a 2012
Melhorar a qualidade
Pagar a cana em funo da qualidade
Distribuir o valor agregado para toda cadeia
Implementar um comrcio justo
Estimular os investimentos na prpria rea de produ-
o
Valor agregado
Valorizar as propriedades
Criao de emprego
Aumentar o nmero de alambiqueiros
Estimular os investimentos na prpria rea de produ-
o
Incluir agrnomo residente no municpio
Coordenao
Envolver mais os produtores rurais (matria prima)
Criar o Roteiro da Cachaa
Abrir alambiques visitao
Turismo
Fomentar um turismo rural, ecolgico e cultural
Aumentar o turismo
Tabela 9.8 - Fonte: Vitrolles (2009) com base em Vieira (2007), Mascarenhas (2008)
e Freire (2008).
http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=16802
319
e colaborao de vrias instituies, a exemplo do Sebrae-PE, Sebrae
Nacional, Embrapa Semi-rido e Federao da Agricultura do Estado de
Pernambuco (Faepe), para realizar o trabalho de reconhecimento da IG.
Vale ressaltar que a presena dessas frutas na regio no algo recente.19
Uva
A videira j se encontrava no nordeste brasileiro desde o sculo XVI, espe-
cialmente nos Estados da Bahia e Pernambuco, onde alcanou expresso
econmica nas ilhas de Itaparica e Itamarac. Do litoral, a videira avanou
para o interior nordestino, no que se inclui plantas originrias de Portugal,
pertencentes espcie Vitis vinifera. 20
A partir de 1959, iniciou-se uma introduo de prticas de cultivo, como
poda racional, desbaste de cachos, controle de doenas e uso de fertilizan-
tes, entre outras, o que foi possvel pela atuao da antiga Comisso do Vale
do So Francisco, que hoje se denomina Companhia de Desenvolvimento
dos Vales do So Francisco e do Parnaba (CODEVASF). 21
A partir de 1980 iniciou-se uma fase de diversificao da viticultura do
Vale do Submdio So Francisco, na qual os produtores procuraram va-
riedades de maior potencial econmico, tais como a Red Globe, Benitaka
e Brasil, que passam a ser cultivares com objetivo comercial. 22
No incio de 1990 inicia-se uma grande expanso das reas cultivadas, sub-
sidiadas por expressivo aporte tecnolgico. Isso tambm foi possvel em
face da implementao dos Projetos de Irrigao Senador Nilo Coelho,
Maria Tereza e Bebedouro, em Petrolina, PE, Manioba, em Juazeiro, BA,
e Cura, em Cura, BA. Nesse mesmo perodo iniciam-se as exporta-
es de uva, por meio da criao, pela VALEXPORT, do projeto Brazilian
Grapes Marketing Board (BGMB), em 1992, o qual, a partir de 2002, pas-
sou a atuar como organizao independente, denominando-se Brazilian
Grapes Marketing Association (BGMA). 23
320
Hoje conta-se com mais de 10.000 ha de rea cultivada e em expanso,
inclusive das variedades em sementes, sendo que toda essa produo tem
como foco a exportao. 24
Deve ser ressaltado que parte desses resultados se deve ao compromisso
dos produtores em acompanhar as exigncias e mudanas do mercado, o
que resultou na adoo de sistemas de produo e gesto da qualidade, no
que se destaca a Produo Integrada de Frutas (PIF).25
Manga
A cultura da manga, ou mangicultura, sempre teve uma predominncia
histrica de forma extensiva e extrativista, sendo que a explorao eco-
nmica se dava com base em espcies nativas ou crioulas, tais como a
Bourbon, Rosa, Espada, Coquinho e Ouro. 26
Todavia em dcadas mais recentes esse cultivo tem se alterado, com uma
crescente implantao de pomares com variedades de origem norte ame-
ricana, posto que essas possuam uma melhor insero no mercado inter-
nacional. Essas variedades, notadamente Tommy Atkins, Haden e Keitt,
forma implementadas a partir da dcada de 1970 no oeste de Pernambuco,
disseminando-se gradativamente para outros Estados. 27
No nordeste o uso de um elevado nvel tecnolgico e a implementa-
o de variedades internacionais, contribuiu, especialmente na regio
do Submdio So Francisco, para uma expanso da rea total cultivada
(Figura 9.11). Isso notadamente pelos rendimentos alcanados e pela qua-
lidade da fruta produzida nesta regio. 28
Hoje esta regio responsvel por 90% das exportaes nacionais de man-
ga, notadamente concentrada na variedade Tommy Atkins. 29
CAPTULO 09
321
Figura 9.11 - Vista do cultivo de frutos irrigados no Vale do Submdio So Francisco
Fonte: Lima e Ribeiro (2009).
322
Figura 9.12 - Variedades de uva permitidas na IP - Fonte: Bruch, Kelly (2009) com
base em: http://frutasraras.sites.uol.com.br/vitisvinifera_arquivos/image001.jpg
http://www.codevasf.gov.br/vales_em_foco/Images_Acontece/piuva.jpg http://
www.itep.br/seminarios/IG/IG_Uvas_e_Mangas_SEBRAE.pdf
Acesso realizado em 16 abr. 2014.
Figura 9.13 - Variedades de Manga permitidas na IP - Fonte: Bruch, Kelly (2009) com
CAPTULO 09
323
da planta especfico (estresse hdrico). Essas prticas permitem obter fru-
tos em qualquer perodo do ano e, no caso da videira, ter duas colheitas
por ano.31 Por fim, todos esses fatores tambm colaboram para que haja
uma baixa incidncia de doenas, sem a necessidade de uma massiva utili-
zao de agrotxicos, o que, sem dvida, um grande diferencial.32
324
O Organograma da UNIVALI e seus representantes eleitos so apresenta-
dos na Figura 9.14
325
Figura 9.15 - Delimitao Geogrfica da IP, localizando-a no Brasil e no Globo
Fonte: Sento-S (2009).
Estados Municpios
Ipubi, Araripina, Itapetim, Brejinho, Exu, Bodoc, Santa
Terezinha, So Jos do Egito, Moreilndia, Tabira, Serrita,
Solido, Trindade, So Jos do Belmonte, Tuparetama, Carnaba,
Afogados da Ingazeira, Quixaba, Ingazeira, Granito, Cedro,
Ouricuri, Serra Talhada, Iguaraci, Salgueiro, Triunfo, Flores,
Santa Cruz da Baixa Verde, Verdejante, Parnamirim, Custodia,
Pernambuco
Calumbi, Sertnia, Mirandiba, Santa Filomena, Santa Cruz,
Terra Nova, Betnia, Cabrob, Carnaubeira da Penha, Oroc,
Floresta, Dormentes, Arcoverde, Santa Maria da Boa Vista,
Belm de So Francisco, Ibimirim, Afrnio, Tupanatinga, Buique,
Lagoa Grande, Petrolina, Inaj, Itacuruba, Tacaratu, Petrolndia,
Manari, Itaiba, Jatob
Curac, Abar, Casa Nova, Chorroch, Rodelas, Macurur,
Glria, Juazeiro, Paulo Afonso, Sento S, Sobradinho, Remanso,
Bahia Uau, Pilo Arcado, Jeremoabo, Jaguarari, Campo Formoso,
Umburanas, Mirangaba, Ourolndia, Jacobina, Morro do
Chapu, Vrzea Nova, Miguel Calmon
Tabela 9.9 Relaes dos municpios dos estados de Pernambuco e da Bahia que inte-
gram a Regio do Submdio So Franciscoda IP. - Fonte: Ana (2003) apud Lima (2010).
326
menor resistncia eroso dos xistos e outras rochas de baixo grau de
metamorfismo, onde sobressaem formas abauladas esculpidas em rochas
granticas, gnissicas e outros tipos de alto metamorfismo 40. Na fronteira
oeste da regio se encontra a Chapada Cretcea do Ariripe, onde a altitu-
de alcana os 800 m. No lado sul, a altitude predominante de 300 a 200
m, onde predominam formas tabulares do Raso da Catarina.41
A vegetao originria predominantemente de caatinga e com rela-
o ao clima, a precipitao mdia anual chega a 350 mm na regio de
Juazeiro/Petrolina e a mxima de 800 mm, nas serras divisrias com o
Cear (Figura 9.16). A temperatura mdia anual de 27 C; a evaporao
da ordem de 3.000 mm anuais e o clima tipicamente semi-rido 42. Por
isso se afirma que nessa regio chove para cima. 43
Todas essas caractersticas particulares fazem com que a regio apresente-
-se de forma peculiar, justificando sua delimitao.
CAPTULO 09
Figura 9.16 Fatores climticos da rea geogrfica da IP. - Fonte: Lima (2010).
327
9.3.4 Regulamento de uso e rgo de Controle
Conforme pode ser verificado no parecer publicado na Revista de
Propriedade Industrial n 005 de 09/06/2009, o que deve ser observado pe-
los produtores de uvas e mangas, para ter direito ao uso da IP relaciona-se
com o conjunto de procedimentos a serem observados pelos produtores
na execuo das atividades de produo, colheita e ps-colheita da produ-
o integrada de frutas PIF. 44 No caso da uva dever ser aplicado o dispos-
to na Instruo Normativa/SARC n. 011, de 18 de setembro de 2003, e no
caso da manga o disposto na Instruo Normativa/SARC n. 012.45
Figura 9.17 - Selos de Produo Integrada para uva e manga - Fonte: Sento-S (2009).
328
Verificada a conformidade e regularidade dos produtos por esta terceira
parte, as Diretorias especficas de cada produto autorizam o uso da IG, por
meio da aposio do sinal distintivo protegido nos respectivos produtos
ou em suas embalagens (Figura 9.18): 46
CAPTULO 09
329
Resumo
Neste captulo, voc aprendeu sobre trs exemplos de Indicao Geogrfica
nacionais reconhecidas no INPI. A primeira delas, o Vale dos Vinhedos,
para vinhos tranquilos e espumantes, que foi a primeira registrada no
Brasil; Paraty, para aguardentes, tipo cachaa e aguardente composta azu-
lada, a quarta do Brasil e a primeira para o produto; e Vale do Sumdio
de So Francisco, para uvas de mesa e manga, concedido por ltimo, em
julho de 2009.
Voc pode conhecer um pouco sobre os estudos que permitiram a defi-
nio e caracterizao do produto protegido pela IG, a organizao dos
produtores, a delimitao geogrfica, o levantamento histrico e a cons-
truo do regulamento de uso de cada Indicao de Procedncia mencio-
nada.
Essas IG apresentam produtos diferenciados no mercado, resultado no
s das prticas tradicionais de produo, como tambm do compromisso
dos produtores com a manuteno da qualidade dentro dos padres supe-
riores aos exigidos pela legislao especfica a cada produto.
Pode-se observar que o reconhecimento das regies como IG acarretou
impactos econmicos, ambientais e sociais positivos.
330
Notas
1. APROVALE, 2006.
2. APROVALE, 2006.
3. FALCADE, I. et Al. 1999. APROVALE, 1995. FALCADE,
2006. ENITA, 2006. FALCADE, 2005. (Dissertao de mes-
trado). FALCADE, 2004. FALCADE, 2003. FONTEVRAUD,
2003. FALCADE, 2001, FALCADE, I.; MANDELLI, F., 1999.
TONIETTO et al., 2003. TONIETTO; CARBONNEAU, 2004.
TONIETTO; SOTS, 2007. ZANUS; TONIETTO, 2007.
4. APROVALE, 2006.
5. MILAN e RADAELLI, 2009.
6. LOCATELLI, 2008.
7. FALCADE; MANDELLI, 1999.
8. FALCADE; MANDELLI, 1999.
9. APROVALE, 2009.
10. APROVALE, 2009.
11. APROVALE, 2009.
12. LOCATELLI, 2008.
13. LOCATELLI, 2008; VITROLLES, 2006.
14. FALCADE, 2004.
15. LOCATELLI, 2008, VITROLLES, 2006.
16. FALCADE, 2004.
17. MASCHIO. Disponvel em: <http://www.cachacas.com/>.
CAPTULO 09
331
19. LIMA, Maria Auxiliadora Colho de, et all. Subsdios Tcnicas
para a Indicao Geogrfica de Procedncia do Vale do Submdio
So Francisco: Uva de Mesa e Manga. Documento 222 on line
Embrapa. Petrolina: Embrapa Semi-rido, 2009.
20. LIMA, 2009.
21. LIMA, 2009.
22. LIMA, 2009.
23. LIMA, 2009.
24. LIMA, 2009.
25. LIMA, 2009.
26. LIMA, 2009.
27. LIMA, 2009.
28. LIMA, 2009.
29. LIMA, 2009.
30. LIMA e RIBEIRO, 2009.
31. LIMA e RIBEIRO, 2009.
32. SENTO-S, 2009.
33. SENTO-S, 2009.
34. SENTO-S, 2009.
35. SENTO-S, 2009.
36. SENTO-S, 2009.
37. SENTO-S, 2009.
38. CODEVASF, 2009.
39. SENTO-S, 2009.
40. CODEVASF, 2009.
41. CODEVASF, 2009.
42. CODEVASF, 2009.
332
43. SENTO-S, 2009.
44. RPI n. 2005 de 09/06/2009.
45. RPI n. 2005 de 09/06/2009.
46. RPI n. 2005 de 09/06/2009.
CAPTULO 09
333
CAPTULO 10
Estudo de Caso:
IP Pampa Gacho da
Campanha Meridional,
IP Regio do Cerrado Mineiro
e IP Vale do Sinos
Delphine Vitrolles
Claire Marie Thuillier Cerdan
Kelly Lissandra Bruch
Estudo de Caso
IP Pampa Gacho da Campanha
Meridional,
IP Regio do Cerrado Mineiro e IP Vale do
Sinos
336
10.1 IP Pampa Gacho da Campanha Meridional
337
dicao geogrfica. Foram sugeridos os Doces de Pelotas, a regio Serrana
para a indstria moveleira e tambm, a regio do Pampa para a pecuria
de corte.
Cabe salientar que o primeiro movimento de valorizao da carne do sul
do Brasil, surgiu em 2000, apoiado pelo Programa Juntos para Competir,
uma parceria do Sebrae/RS, a Farsul, e o Senar/RS. Esse programa busca-
va organizar e aprimorar as cadeias produtivas do setor agropecurio no
Rio Grande do Sul, trabalhando com a bovinocultura de corte, suinocul-
tura, ovinocultura, caprinocultura, fruticultura, floricultura, vitivinicultu-
ra, apicultura e com a cana-de-acar e seus derivados.
http://www.sebrae.com.br/
http://www.farsul.org.br/
http://www.senar.org.br/
338
10.1.2 Formao da associao Apropampa
Uma vez identificados a regio e o produto potencial, os parceiros do
projeto seguirem para a organizao dos produtores e dos atores da ca-
deia produtiva. Em maro de 2005, foi feita a ATA de constituio da
Apropampa.
Esta associao constituda por seis rgos sociais: Assemblia Geral,
Conselho de Administrao, Conselho Fiscal, Diretoria Executiva,
Conselho Tcnico e de Pesquisa, e Conselho Regulador de Indicao
Geogrfica.
Pode associar-se entidade qualquer pessoa fsica ou jurdica que tenha
uma atividade de produo, industrializao, comercializao, e correla-
tas com a pecuria de corte.
No incio, 15 produtores constituram a Apropampa. Alm desses, asso-
ciou-se um nico frigorfico, o Mercosul, que tinha uma unidade em Bag,
bem como membros das associaes de Raa Angus e Hereford e tcnicos
da Embrapa. Em 2008, 55 produtores estavam associados.
http://www.frigorificomercosul.com.br/
genealgico das raas no incio do sculo XX, usando vrias fontes (relatos
de viajantes, estudos de socilogos, gegrafos e historiadores), dados esta-
tsticos, literatura (romances, contos, memrias e poesias).
339
Esse amplo trabalho confirmou a importncia econmica e social do gado
e da produo de carne no Estado, destacando diferentes ciclos econmi-
cos: ciclo do couro, ciclo do charque e ciclo da carne ou dos frigorficos.
Conforme as fontes escritas ou orais recolhidas, a regio Sul do Estado do
Rio Grande do Sul tornou-se, ao longo do tempo, historicamente, uma
regio de terminao do gado2. Os resultados desse trabalho foram re-
sumidos num relatrio intitulado Elementos Comprobatrios do reco-
nhecimento do Pampa Gacho da Campanha Meridional como indicao
de procedncia do produto carne e seus derivados3. Ele foi anexado ao
pedido de reconhecimento apresentado no INPI.
340
Livramento, Lavras do Sul e So Gabriel. Esses municpios situam- se
na regio sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul, na fronteira com
o Uruguai, entre os paralelos 30 e 3230 Sul e os meridianos 5630 e
5430 Oeste de Greenwich, ocupando uma rea aproximada de 12.000
km2 (Figura 10.1).
Assim, a rea geogrfica Pampa Gacho da Campanha Meridional no foi
delimitada apenas pelos limites administrativos dos municpios envolvi-
dos, mas, principalmente, pelo conjunto de caractersticas que envolvem
o clima, o solo e a vegetao.
animais.
341
A questo da raa ou o uso nico e exclusivo das raas Angus e
Hereford ou cruzas entre elas
Nas discusses, as raas de gado foram consideradas relevantes. De fato,
surgiu a ideia de que seria mais interessante trabalhar com gado britnico.
O levantamento histrico comprovou a anterioridade da introduo do
gado Angus e do gado Hereford, no incio do sculo XX, na Campanha
Meridional5. Entretanto, no decorrer dessas ltimas dcadas, ocorreu in-
troduo e experimentao de outras raas de bovinos. Por isso, constata-
-se que hoje, as raas europeias puras no representam 10% do rebanho
bovino riograndense. Dentro desses 9.8%, as raas Angus e Hereford so
majoritrias, com cerca de 70% das raas puras (Tabela 10.1).
Composio
do rebanho Raas (%)
(%)
Raas puras
9,8 Angus Hereford Devon Charols Nelore
49,1 18,2 9,1 9,1 7,3
Cruzamentos entre raas europias
10,2 Angus x Angus x Charols x Angus x Hereford x
Hereford Charols Hereford Charols e outros
Cruzamento entre raas europias e zebu
44,8
Mais de 30 cruzamentos identificados
35,2 Gado comum sem raa determinada
Tabela 10.1 - Fonte: Adaptado de UFRGS (2003)
342
Para saber mais sobre os programas de certificao das raas Angus e
Hereford, que no se confundem com a IP Pampa Gacho da Campanha
Meridional, consulte os sites das associaes das raas Angus e Hereford.
http://www.angus.org.br
http://www.hereford.com.br/?bW9kdWxvPTEwJm1lbnU9MjQmYXJxdW
l2bz1jb250ZXVkby5waHA
343
Rastreabilidade
A rastreabilidade um elemento muito importante do regulamento de
uso. Alm de cada animal ter o seu brinco de rastreabilidade, cada corte
de carne leva o nmero de identificao na etiqueta da embalagem. O
consumidor consegue identificar a propriedade que terminou o animal
inserindo o nmero IP (Figura 10.2) que consta na etiqueta no site www.
carnedopampagaucho.com.br.
10.1.6 Controle
Cada produtor responsvel pelo seu prprio controle (autocontrole) ao
nvel do manejo alimentar, da pureza das raas, da permanncia na rea de
produo, do transporte, da sanidade e do bem-estar dos animais. O secre-
trio executivo da associao responsvel pela avaliao desse controle:
fala-se, ento, de controle interno. No Frigorfico, o veterinrio contrata-
do faz o acompanhamento das atividades de abate dos animais com IG,
desde o recebimento junto ao frigorfico (bem-estar, sanidade, desossa,
344
maturao) at a etiquetagem e incluso dos registros SISBOV (Servio
Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos)
para rastreabilidade no site da associao. Essas atividades tambm se re-
ferem ao controle interno dentro da associao.
No abate dos animais com IG, cincos pontos crticos so avaliados pelo
secretrio e veterinrio da associao. Nas propriedades dos associados,
ele avalia primeiro a conformidade dos animais e os diferentes documen-
tos obrigatrios para obteno da IG. Os pecuaristas devem preencher o
registro de solicitao de utilizao da IG e o boletim de embarque dos
animais (Figura 10.3). Chegando ao frigorfico, o veterinrio deve inspe-
cionar os animais na linha de abate e avaliar critrios tais como sexo, ida-
de, acabamento de gordura, conformao e peso e marc-los, carimbando
a carcaa para reconhecer os animais levando a IG. Essas atividades no in-
terferem nos controles especficos para obteno do SIF. Quatro penalida-
des so definidas no Regulamento e podem ser aplicadas aos produtores:
advertncia por escrito, multa, suspenso temporria da IP e suspenso
definitiva da IP Pampa Gacho da Campanha Meridional.
CAPTULO 10
345
Figura 10.3 - Sistema de controle e pontos a ser controlados no frigorfico - Fonte:
Relatrio Sinergi(2007)
346
A formao do Conselho Regulador
O regulamento tcnico da IP considera e define a atuao do Conselho
Regulador, referindo-se ao artigo 35 do Estatuto da associao Apropampa.
O mesmo Conselho foi constitudo em fevereiro de 2006, depois da solici-
tao de registro da IG ao INPI.
O Conselho Regulador deve ser constitudo, segundo o artigo 36, por:
Seis membros eleitos pela Assemblia Geral Ordinria, sendo qua-
tro scios produtores, um scio transformador (industrial) e um
scio comercial e/ou contribuinte, os quais escolhero, dentre os
mesmos, o diretor e o vice-diretor do Conselho Regulador;
Dois membros representantes de instituies tcnico-cientificas,
com conhecimento da cadeia da pecuria de corte, eleitos (indica-
dos) pela Assemblia Geral;
Um membro da Associao de Raa Angus;
Um membro da Associao de Raa Hereford;
Um membro representante de instituio de desenvolvimento ou
divulgao ligada ao setor, eleito (indicado) pela Assemblia Geral.
Os membros do Conselho tero um mandato de 2 anos, podendo ser
reeleitos para mais um mandato. A cada dois mandatos a renovao do
Conselho dar-se-, obrigatoriamente, em no mnimo 2/3 dos membros.
347
Depois do exame formal do pedido de registro, o registro foi publicado
para apresentao de manifestao de terceiros no prazo de 60 (sessenta)
dias.
Os produtores de carne bovina receberem, assim, a legitimidade do uso
dos termos Pampa Gacho da Campanha Meridional. Apesar de en-
contrar plancies de pampa gacho na Argentina, no Uruguai e no Brasil,
a Campanha Gacha foi definida pelo IBGE: atualmente, a Campanha
Gacha corresponde mesorregio sudoeste rio-grandense (1989), com-
posta pelas microrregies da Campanha Ocidental, da Campanha Central
e da Campanha Meridional9. Nesse sentido, apesar da homonmia, a IP
brasileira no indica falsa procedncia e no induz o pblico ao erro quan-
to ao verdadeiro lugar de origem da carne.
Nesse prazo, nenhum requerente contestou o pedido de registro do
Pampa Gacho da Campanha Meridional. O INPI proferiu deciso reco-
nhecendo oficialmente a IP em dezembro de 2006 (Tabela 10.2).
No entanto, ocorreu uma contestao, proveniente do Ministrio da
Agricultura da Argentina, sobre a denominao geogrfica da IG. Apesar
de o prazo ter decorrido, os pecuaristas gachos da Apropampa, junto
com o INPI, justificaram a escolha e a legitimidade do uso de Pampa
Gacho da Campanha Meridional referindo-se ao artigo 22 (proteo das
indicaes geogrficas) do acordo TRIPS da OMC.
http://www.wto.org/french/docs_f/legal_f/27-trips_04b_f.htm
ftp://geoftp.ibge.gov.br/atlas_representacoes_literarias/vol_1_brasil_
meridional.pdf
348
A Instruo Normativa INPI n. 25 de 21 de agosto de 2013 estabelece os
procedimentos para o Registro de Indicaes Geogrficas. Consulte esta
norma no site do INPI:
http://www.inpi.gov.br/images/docs/instrucao_normativa_25_indica-
coes_geograficas[2].pdf
Sinal Grfico
Tabela 10.2 - Fonte: Cerdan, Vitrolles (2009) com base em Apropampa (2007) e INPI
(2009)
349
Os produtores no conseguiam suprir a demanda devido baixa disponi-
bilidade de animais que se enquadravam no programa.
http://www.ccmoacir.com.br/
http://www.peruzzo.com.br/
h t t p : / / w w w. c a r n e a n g u s . o r g . b r / d o w n l o a d / d o w n l o a d / ? I D _
DOWNLOAD=1.
350
Os custos e as normas de produo deveriam ser compensados por um
preo maior. Porm, o prmio recebido pelos produtores continua ser o
mesmo, seja dentro do programa Angus, da marca prpria do frigorfico
ou da IG. Isso quer dizer que, apesar de um regulamento de uso muito
rigoroso (raa, alimentao), os produtores da IG no tm uma maior
valorizao econmica de seus produtos.
O conjunto desses elementos pode justificar a baixa participao dos pro-
dutores da regio. Eram quinze (15) associados na criao da Apropampa
e apenas cinquenta e cinco (55), em 2008. Por isso, com apoio do Sebrae,
os produtores criaram uma estratgia de desenvolvimento. O objetivo
geral foi buscar a valorizao e a diferenciao do produto carne, con-
siderando os aspectos de preservao ambiental, do resgate da cultura e
da tradio local, atravs do desenvolvimento da associao Apropampa.
Para isso, fizeram planejamento com um cronograma que vai at 2010,
com trs objetivos principais:
Ampliar o nmero de produtores associados da Apropampa, sendo
55 em 2008, 100 em 2009 e 200 em 2010.
Ampliar a escala semanal de abate dos animais pertencentes ao pro-
grama, sendo 50 em 2008, 75 em 2009 e 100 em 2010.
Agregar valor Carne do Pampa Gacho, atravs de uma remune-
rao acima do preo de mercado, de 5% em 2008, 10% em 2009 e
15% em 2010, para os produtores rurais associados da Apropampa.
http://www.sigeor.sebrae.com.br/
351
Figura 10.4 - Etiquetagem da IG: associao de vrios sinais distintivos. Fonte: Apro-
pampa (2007).
Voc pensa que poder existir uma confuso entre marca e IP?
352
grande parte destinados para a realizao dos estudos e elaborao do
dossi para pedido de registro ao INPI. Desde o reconhecimento da IP,
as orientaes tcnicas junto com os produtores, os custos de manuten-
o da IP (custos de controle, etiquetagem) esto ocorrendo e apoiados
porm em menor proporo. Cabe salientar que o processo de reconhe-
cimento do Pampa Gacho da Campanha Meridional ocorreu com fortes
apoios institucionais.
A implementao da IG permitiu uma melhor coordenao entre os
agentes. Ocorreram reunies visando melhorar o conhecimento dos seus
vizinhos. At surgiu uma nova organizao territorial original12. Com o
projeto da IP, associaram-se agentes privados e pblicos com uma boa
articulao entre os dois setores. A conscientizao da importncia da
qualidade, da especificidade do produto e do territrio o resultado de
uma aprendizagem coletiva. Os produtores melhoraram suas prticas de
produo e perceberam como podem contribuir para a conservao do
meio ambiente. Assim, a Apropampa tornou-se uma referncia ambiental
regional e fechou parceria com uma ONG internacional, a BirdLife.
http://www.birdlife.org/
a cultura gacha.
353
10.1.9 Desafios vislumbrados para aps o reconhecimento da
IP
A construo da IP Pampa Gacho da Campanha Meridional tornou a
regio mais conhecida e teve impactos sociais, econmicos e ambientais.
De fato, pode-se avaliar os efeitos na conservao do meio ambiente, na
coordenao da cadeia produtiva, na criao de valor econmico, e tam-
bm sociocultural. Nas Tabelas a seguir (10.3 e 10.4), apresentamos os
impactos e/ou desafios cadeia produtiva e do territrio.
Rastrear a produo
Certificao
Diferenciar o produto
Criar empregos
354
Melhorar a comercializao dos produtos
Criar empregos
355
Valorizar as propriedades
Consultar o site:http://www.cafedocerrado.org/
357
Estratgias desenvolvidas pela Federao dos Cafeicultores do
Cerrado na Regio do Cerrado Mineiro.
- Certificao da produo
358
A Federao dos Cafeicultores do Cerrado representa cerca de 4.000 pro-
dutores reunidos em seis (6) associaes e oito (8) cooperativas, apoiadas
pela Fundao de Desenvolvimento do caf do Cerrado (FUNDACCER)
- (Figura 10.5).
359
Caractersticas das quatro regies cafeeiras de Minas Gerais,
demarcadas pelo IMA.
Regio Demarcada Caractersticas
Compreende as reas geogrficas delimitadas
pelos paralelos 2113 a 2210 de latitude e 4420
a 4720 de longitude, abrangendo a Regio do Sul
de Minas, parte das Regies do Alto So Francisco,
Metalrgica e Campo das Vertentes. Caracteriza-se
Regio Sul de Minas por reas elevadas, altitude de 700 a 1.080m, com
temperaturas amenas, sujeitas a geadas, com mo-
derada deficincia hdrica e possibilidade de produ-
o de bebida fina, sendo que, quando prximas de
represas, apresenta elevada umidade relativa, com
produo de caf de bebida dura a rio.
Compreende as reas geogrficas delimitadas
pelos paralelos 1637 a 2013 de latitude e 4520
a 4948 de longitude, abrangendo as Regies do
Tringulo Mineiro, Alto Paranaba e parte do Alto
Regio dos Cerrados de
So Francisco e do Noroeste. Caracteriza-se por re-
Minas
as de altiplano, altitude de 820 a 1.100m, com clima
ameno, sujeito a geadas de baixa intensidade e com
possibilidade de produo de bebida fina, de corpo
mais acentuado.
360
Essa demarcao visa estabelecer as diferenas entre cada regio para emi-
tir Certificados de Origem Especficos. O IMA construiu esse trabalho de
demarcao apoiado em cinco critrios17:
a. A importncia socioeconmica da cultura do Caf para o Estado de
Minas Gerais;
b. As dificuldades para a caracterizao do Caf produzido nas diferen-
tes regies ecolgicas do Estado;
c. O crescimento das exportaes da produo mineira de caf e a ne-
cessidade de identificao das regies produtoras;
d. O contedo do trabalho denominado Aptido Climtica para a
qualidade da bebida das principais regies cafeeiras de arbica no
Brasil de autoria do extinto Instituto Brasileiro do Caf;
e. Os resultados das pesquisas intituladas Qualidade do Caf nas di-
ferentes regies do Estado e Zoneamento Agroclimtico para a
cultura do caf, realizadas pela Empresa de Pesquisa Agropecuria
de Minas Gerais EPAMIG.
CAPTULO 10
361
Consulte a Portaria n 165/95 no site do IMA
ht t p : / / w w w. i m a . m g. g ov. b r / i n d ex . p h p ? o p t i o n = co m _
docman&task=doc_download&gid=69
ht t p : / / w w w. i m a . m g. g ov. b r / i n d ex . p h p ? o p t i o n = co m _
docman&task=doc_details&gid=227
362
A denominao Cerrado no foi aceita pelo INPI. Tratava-se de uma
denominao genrica, que se aplicaria a todo o cerrado brasileiro.
363
A Regio do Cerrado Mineiro a segunda indicao de procedncia re-
conhecida no Brasil pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
Requerida pelo Conselho das Associaes dos Cafeicultores do Cerrado, a
IP beneficia seis associaes e oito cooperativas, reunindo cerca de 4.000
produtores, em 55 municpios, cobrindo, aproximadamente, 112.289,56
km2. Consulte no link abaixo a lista dos 55 municpios da rea delimitada
da Regio do Cerrado Mineiro e a rea de cada um.
http://www.cafedocerrado.com.br/intranet/docs/55municipios.
CERRADO.pdf
364
as ligas dos exportadores22. A finalidade dessa estratgia era evoluir do
estatuto de caf a gro para um caf especial.
Como passo seguinte demarcao das quatro regies produtores de
caf no Estado mineiro, o Decreto n 38.559/1996 instituiu o regulamen-
to para emisso do Certicaf, um Certificado de Origem para garantir a
procedncia do caf mineiro. As misses de acompanhamento, emisso e
controle eram atribudos EPAMIG (Empresa de Pesquisa Agropecuria
de Minas Gerais). EMATER/MG e ao IMA.
365
dies climticas, altitude, tecnologia agronmica; definir os parmetros
de qualidade de bebida do Caf do Cerrado (aroma, acidez, corpo e fina-
lizao) e tambm a metodologia de avaliao (Metodologia Americana
SCAA)27.
N de registro IG990001
Data de depsito 28/01/1999
Data de registro 14/06/2005
CACCER - Conselho das Associaes de
Requerente
Cafeicultores do Cerrado
Pas Brasil
Denominao da rea
Regio do Cerrado Mineiro.
geogrfica
rea geogrfica 112.289,56 km2
Produtos Caf
Base legal Lei n 9.279/1996
Espcie Indicao de Procedncia
Apresentao Nominativa
Tabela 10.8 - Fonte: Elaborado com base em: http://www.inpi.gov.br e http://www.
cafedocerrado.org - Acesso realizado em 16 abr. 2014
366
Regio do Caf Cerrado Mineiro como indicao geogrfica, a estratgia
de marketing atual da organizao est baseada s na divulgao e promo-
o da marca Caf do Cerrado.
Essa coexistncia de marca / IP pode ser entendida de diferentes for-
mas. Pode ser vista como uma confuso de signos os produtores e con-
sumidores consideram os dois sinais distintivos parecidos, ou como uma
estratgia de ao que reconhece que numa regio ou pas onde as IG
so ainda pouco conhecidas, melhor comunicar com a ferramenta mais
difundida (o caso das marcas).
Controle e certificao
Para maior garantia da procedncia do genuno Caf do Cerrado, foi im-
plantado o primeiro sistema de rastreabilidade por cdigo de barras de
logstica em caf, em 2001. Esse sistema permite controlar a procedncia
(municpio, propriedade e parcela) do caf e avaliar o padro da marca
Caf do Cerrado.
A produo do Caf do Cerrado tem tambm o certificado NBR ISO 9001.
Essa norma fornece as exigncias organizacionais requisitadas para a exis-
tncia de um sistema de gesto da qualidade. O caf no s avaliado pelo
prprio cliente, mas tambm por uma entidade terceira, uma certificado-
ra.
O programa de certificao do Caf do Cerrado foi um processo de cons-
truo da qualidade de longo tempo (Figura 10.9) que associa o reconhe-
cimento da origem de um produto e o incremento da qualidade cada vez
maior.
CAPTULO 10
367
Consultar o cdigo de conduta da propriedade produtora no endereo
eletrnico abaixo:
http://www.cafedocerrado.com.br/intranet/docs/Norma_CACCER_RA_
v14.pdf
http://www.cafedocerrado.com.br/intranet/docs/fluxograma_certpro-
duto_caccer.pdf
http://www.cafedocerrado.com.br/intranet/docs/Protocolo_SCAA_
OK.pdf
http://www.cafedocerrado.org
10.2.5 Impactos
A Tabela 10.9 expe quais so os impactos da implementao de proce-
dimentos de valorizao da origem e da qualidade na regio, em nveis
econmicos, sociais e ambientais.
368
Impactos sociais, econmicos e ambientais na cadeia produtiva
do caf.
Organizao da cadeia produtiva: criao de associaes e
cooperativas; criao da CACCER
Aes coletivas
Assessoramento tcnico
Coordenao
Assessoramento comercial
369
10.3 IP Vale do Sinos
370
A atual populao de todo este vale, ainda hoje, guarda essa caracterstica,
sendo predominantemente de descendentes dos antigos imigrantes ale-
mes. Embora parea deslocada essa histria da imigrao alem com a IP
do Vale do Sinos, sua ligao fundamental para que hoje essa regio seja
conhecida como um complexo coureiro caladista, posto que foram esses
mesmos imigrantes alemes que, trazendo suas habilidades de artesos,
comearam a utilizar o couro que havia em abundncia, na provncia do
Rio Grande do Sul, pois trata-se de uma regio predominantemente pe-
curista. Sua localizao destacada neste vale e a habilidade com o couro,
unidos situao local, permitiram que esses fizessem nascer a histria
coureiro caladista do Vale do Rio dos Sinos.
371
Figura 10.12 - Fotografia dos antigos curtumes do Vale do Sinos - Fonte: http://
www.courovaledosinos.com.br/
372
versos produtos, tais como calados, artefatos de couro, roupas e estofa-
dos (Figura 10.13 e 10.14).
Figura 10.13 - Diversas amostras de peas de couro acabadas para serem utilizadas
em acessrios, vesturio, calados e mobilirio - Fonte: Bruch (2009) com base em
imagens e fotografias localizadas no www.google.com.br
373
Figura 10.14 - Exemplo de produtos acabados - Fonte: IP Vale do Sinos (2009).
Superfcie Acabamento
374
Com relao matria-prima, determina o artigo 4, do Regulamento de
Uso que pode proceder de qualquer raa animal, podendo ser recebida em
estgio de wet-blue ou semi-acabado (crust), independentemente da sua
origem ou localizao de seu processamento inicial. O importante que
o acabamento final se d na regio do Vale do Sinos, e dentro das normas
estabelecidas no regulamento de uso. 34
Para que um produto manufaturado possa utilizar-se da IP Vale do Sinos,
h certos percentuais mnimos de composio com o couro acabado, pro-
veniente desta regio, que precisam ser respeitados, conforme o artigo
10, do Regulamento de Uso: para o cabedal do calado: 70%; para a parte
externa de artefatos de couro: 80%; para a parte externa de vesturios em
couro: 80%; para a superfcie frontal de estofados: 90%.35
375
10.3.4 Delimitao da rea geogrfica
Segundo o artigo 2, do Regulamento de Uso, a rea delimitada encontra-
-se dentro da zona que compreende o original municpio de So Leopoldo,
bero da colonizao alem no Rio Grande do Sul, dos municpios dele
desmembrados e do resultante processo de enxamagem identificado pela
expanso das indstrias produtoras de couros 39 (Figura 10.15).
376
Figura 10.16 - Municpios integrantes da regio delimitada pela IP Vale do Sinos -
Fonte: IP Vale do Sinos (2009).
377
A IP constituda, assim, por uma Assembleia de Participantes, um Grupo
Gestor, uma Diretoria Executiva e um Conselho Tcnico-Regulador.
Compete ao Conselho Tcnico-Regulador o controle tcnico sobre a pro-
duo, a fiscalizao e emisso de certificados para os produtos que aten-
dam as normas do Regulamento de Uso. 45
O Conselho Tcnico-Regulador tambm dever manter registros e fichas
que permitam a rastreabilidade do produto, os quais compreendem os
registros das auditorias, as fichas de inscrio dos produtos, os laudos de
avaliao, as amostras e as declaraes de produo.
O regulamento impe, com relao ao produto, requisitos que devem ser
cumpridos pela matria-prima e pelos insumos a serem utilizados no pro-
cessamento do couro, bem como acompanhamento das etapas de proces-
samento e comercializao, para que todo caminho percorrido pelo couro
possa ser auditado. 46 Ressalta-se que a matria-prima deve ser identificada
por lote de recebimento. E: cada lote dever ser identificado atravs da
nota fiscal de recebimento, sendo registrado, tambm, a data, a procedn-
cia, o cliente ou proprietrio do couro, o nmero de couros e a metragem
correspondente. 47
O descumprimento das normas de produo e rotulagem, bem como dos
princpios da IP podero acarretar sanes tais como : advertncia por
escrito, multa, suspenso temporria e definitiva. 48
O artigo 5, do Regulamento de Uso, descreve os requisitos que devem
apresentar os insumos qumicos a serem utilizados na curtio e acaba-
mento do couro, bem como, em referncia ao Anexo C, a no utilizao
de produtos qumicos restritos. 49
Os artigos 6 e 7, do Regulamento de Uso, estabelecem os requisitos tc-
nicos que devem ser observados tanto no processo de produo quando
no produto final, bem como a quais testes os produtos sero submetidos e
os resultados mnimos e mximos que podem ser atingidos. 50
Ressalta-se que, com relao s anlises, os mtodos utilizados, em regra,
so do padro ISO ou da NBR (Normas Brasileiras de Referncia), sen-
do que ao final, independente do tipo de acabamento, os couros devero
apresentar os seguintes resultados: Resistncia trao: mnimo 150 N;
Alongamento mnimo 35%; Distenso da flor: mnimo 7 mm. Outros re-
sultados especficos tambm so estipulados, dependendo do tipo de aca-
bamento e de superfcie. 51
378
Tambm so estabelecidos requisitos de responsabilidade socioambiental
que devero ser cumpridos pelos produtores. Esses so divididos em mo-
-de-obra, segurana do trabalho e meio ambiente. 52
Em relao mo de obra, todos os funcionrios do participante devem
estar regularizados de acordo com a legislao trabalhista vigente no pas.
No permitida a utilizao de mo de obra infantil em qualquer fase do
processo produtivo, mesmo que de forma terceirizada.
Em relao segurana no trabalho, o produtor deve cumprir e fazer
cumprir todos os requisitos de segurana no trabalho, exigidos pela legis-
lao vigente.
Em relao ao meio ambiente, o produtor envolvido no processo pro-
dutivo do acabamento do couro deve ter e manter atualizada sua licena
ambiental. O descarte de qualquer produto, resduos ou embalagem(ns)
dever ser controlado e no provocar risco de contaminao ao meio am-
biente.
Certamente, esses requisitos tambm capacita-os para o acesso a merca-
dos internacionais que, alm das exigncias habituais, tm ressaltado a res-
ponsabilidade scio ambiental como requisito para compra de produtos.
E a IP torna-se uma espcie de credencial que os referencia.
Em relao rotulagem, todos os produtos que forem aprovados pelo
Conselho Tcnico-Regulador podero utilizar o seguinte selo53 (Figura
10.17):
Figura 10.17 - Sinal distintivo da IP Vale do Sinos a ser colocado sobre os produtos
com o respectivo nmero de controle - Fonte: Regulamento de Uso art. 11, IP Vale
do Sinos (2009).
CAPTULO 10
379
Os instrumentos e a operacionalizao dos controles de produo so de-
finidos atravs de Norma Interna do Conselho Tcnico-Regulador. 54At o
momento, o Conselho Tcnico-Regulador criou duas normas:
Norma Interna NI/01 - processo de inscrio, avaliao e controle da
Indicao de Procedncia do couro acabado do Vale do Sinos.55
Norma Interna NI/02 - processo de auditoria.56
380
Resumo
O Pampa Gacho da Campanha Meridional a terceira indicao de
procedncia a ser reconhecida no Brasil. Teve seu registro deferido em
12/12/2006. Em 2007, a Associao dos Produtores do Pampa Gacho da
Campanha Meridional (APROPAMPA) contava com 55 associados loca-
lizados em uma rea de 12.935 km, cobrindo, por parte, 13 municpios.
A Regio do Cerrado Mineiro a segunda indicao de procedncia reco-
nhecida no Brasil pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial, em
14/06/2005. Requerida pelo Conselho das Associaes dos Cafeicultores
do Cerrado (FEDERAO DOS CAFEICULTORES DO CERRADO), a
IP beneficia seis associaes e oito cooperativas, reunindo cerca de 4.000
produtores, em 55 municpios, cobrindo aproximadamente 112.289,56
km2.
A IP do Vale do Sinos teve seu registro da indicao de procedncia de-
positado em setembro de 2007, e a sua concesso de registro em maio
de 2009. Hoje , dentre os associados da AICSUL, sete j utilizam a IP. A
rea delimitada abriga 43 municpios que encontram-se no Vale do Sinos,
Paranhana/Encosta da Serra e Vale do Ca.
Cada IP teve a sua trajetria prpria. Cada associao de produtores teve
que justificar o seu requerimento e comprovar a notoriedade da origem ge-
ogrfica e a legitimidade da IP. A idia da IP Pampa Gacho da Campanha
Meridional se inscreve numa viso, em longo prazo, de segmentao do
mercado e de valorizao de um produto reconhecido pela sua qualidade.
O objetivo da Federao dos Cafeicultores do Cerrado valorizar a qua-
lidade de um caf especial, coordenar uma cadeia produtiva voltada para
a produo de commodities. A indicao geogrfica em vez de ser valoriza-
da como uma ferramenta nova e diferencial, fez parte de uma estratgia
complexa de marketing voltada para promoo de uma marca. No caso
do Vale do Sinos, trata-se de uma iniciativa local, que, pela abrangncia e
importncia regional possibilitar que a regio tradicionalmente coureiro
caladista seja reconhecida e protegida como tal.
Esperamos que voc possa fazer excelente uso desse material de forma
que ele contribua para o aprimoramento de seus conhecimentos e for-
CAPTULO 10
mao.
381
Notas
382
20. VITROLLES, CERDAN e MAFRA, 2006; SAES e JAYO, 1997,
MAFRA, 2008.
21. FEDERAO DOS CAFEICULTORES DO CERRADO.
Disponivel em: <http://www.cafedocerrado.org.br>. Acesso
realizado em 16 abr. 2014.
22. CACCER em MAFRA, 2008.
23. Registro concedido pelo INPI sob n 817419314, em 19/09/1995,
para a classe de servios de representao de classe profissio-
nal e assistncia a profisso (41:50), e sob n 818227060, em
20/07/1999, para a classe de produtos caf (30:10).
24. Registro concedido pelo INPI sob n 817419314, em 19/09/1995,
para a classe de servios de representao de classe profissio-
nal e assistncia a profisso (41:50), e sob n 818227060, em
20/07/1999, para a classe de produtos caf (30:10).
25. VITROLLES, CERDAN e MAFRA, 2008.
26. AGUINALDO, 2007.
27. AGUINALDO, 2007.
28. http://pt.wikipedia.org/wiki/Coloniza%C3%A7%C3%A3o_
alem%C3%A3_no_Rio_Grande_do_Sul.
29. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigo 1.
30. IP Vale do Sinos, 2009.
31. IP Vale do Sinos, 2009.
32. IP Vale do Sinos, 2009.
33. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigo 3.
34. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigo 4.
35. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigo 10.
36. AICSUL, 2009.
CAPTULO 10
383
39. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigo 2.
40. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigo 2.
41. RPI. n 1998 de 22/05/2009, p. 133-142.
42. RPI. n 1998 de 22/05/2009, p. 133-142.
43. RPI. n 1998 de 22/05/2009, p. 133-142.
44. RPI. n 1998 de 22/05/2009, p. 133-142.
45. RPI. n 1998 de 22/05/2009, p. 133-142.
46. RPI. n 1998 de 22/05/2009, p. 133-142.
47. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigo 4.
48. RPI. n 1998 de 22/05/2009, p. 133-142.
49. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigo 5.
50. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigos 6 e 7.
51. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigos 6 e 7.
52. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigo 8.
53. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigo 11.
54. IP Vale do Sinos. Regulamento de Uso, Artigo 14.
55. IP Vale do Sinos. N1.
56. IP Vale do Sinos. N2.
384
CAPTULO 10
385
GLOSSRIO
Aguardente o lcool obtido pela destilao do caldo de vegetais (frutas,
cereais, gros).
Anlise sensorial - definida como uma tcnica cientfica de anlise dos
atributos de um produto ou de um alimento, percebidos pelos sentidos
humanos: viso, audio, olfato, paladar e tato, e habitualmente realizado
por pessoas capacitadas. No caso das indicaes geogrficas, essa anli-
se pode ser utilizada como um instrumento para revelar as qualidades,
e depois, como um instrumento de acompanhamento da qualidade dos
produtos e de indicador de aceitabilidade.
AOP- IGP : so utilizadas para as IG, que variam de um pas para outro,.
No Brasil temos a IP e a DO. Na Europa tem IGP e DOP, em Portugal e
na Frana se traduz por IGP e AOP.
Baniwa: os Baniwa fazem parte de um complexo cultural de 22 povos
indgenas diferentes, de lngua Aruak, que vivem na fronteira do Brasil
com a Colmbia e Venezuela, em aldeias localizadas s margens do Rio
Iana e seus afluentes Cuiari, Aiairi e Cubate, alm de comunidades no
alto Rio Negro/Guaina e nos centros urbanos rionegrinos de S. Gabriel
da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos (AM).1
Cadeia Produtiva, supply chain em ingls, filire em francs, pode ser defi-
nida como um conjunto de elementos (empresas ou sistemas, forne-
cedores de servios e insumos) que interagem em um processo produtivo
para oferta de produtos ou servios ao mercado consumidor.2
Campo nativo define-se como aquela rea que mantm sua cobertura
vegetal original em termos de composio florstica, mais ou menos equi-
librada ao longo dos anos. Normalmente, so reas que jamais foram uti-
lizadas para lavouras ou se o foram, isso j faz um tempo suficientemente
longo para que a vegetao original recompusesse seus principais compo-
nentes.
Campos limpos no apresentam a vegetao dos campos sujos. De um
modo geral, o campo limpo destitudo de rvores, com uma composio
bastante uniforme e com arbustos espalhados e dispersos. O solo revesti-
do de gramneas, subarbustos e ervas. um tipo de vegetao constitudo
de uma cobertura herbcea, ocorrendo com maior frequncia em terre-
nos de topografia levemente ondulada, nos divisores de guas, encostas de
morros e vrzeas de alguns rios.
Campos sujos apresentam caractersticas de savana. rvores, arbustos e
pasto mais alto favorecem o desenvolvimento de ectoparasitos, para os
quais o gado, e mais especificamente, o gado britnico, pouco resistente.
Centro de interpretao do patrimnio e da agricultura outro tipo
de Ecomuseu que apareceu no Canad nos anos 1970. Contrariamente
ao ECOMUSEU, convida os visitantes e os turistas a entrarem em cena e
a compartilhar a vida da comunidade. Um processo de comunicao que
visa transmitir ao visitante o significado e o valor de aspectos privilegiados
do patrimnio cultural e natural, atravs de experincias sensveis com
objetos, produtos artesanais, paisagens locais. O objetivo da interpreta-
o estimular no visitante um desejo de abrir o horizonte, interesses e
conhecimentos, alm de ajud-lo a compreender e analisar os fatos e as
paisagens que vem conhecer (Scipion, 2009).
Coalhada: ou leite coalhado, a parte slida resultante da coagulao do
leite, um dos processos iniciais para a fabricao de queijos
Comisso do Codex Alimentarius foi criada em 1963, pela FAO e a OMS
para desenvolver normas, regulamentos e outros textos relacionados com
a produo de alimentos. Esta iniciativa internacional visa proteger a sa-
de dos consumidores, garantindo prticas comerciais claras e promoven-
do uma harmonizao entre as diferentes normas alimentares dos dife-
rentes pases.
Commodity : um termo de lngua inglesa que, como o seu plural com-
modities, significa mercadoria, utilizado nas transaes comerciais de
produtos de origem primria nas bolsas de mercadorias.
Degustar - provar com ateno um produto que queremos apreciar a
qualidade, submetendo-o ao nosso paladar e olfato. tentar conhec-lo
procurando seus diferentes defeitos e suas diferentes qualidades, individu-
almente ou em grupo (degustao coletiva). estudar, analisar, descrever,
julgar e classificar.
Destilao o processo pelo qual uma substncia em estado lquido passa
para o estado gasoso e, depois, novamente para o lquido, por condensa-
o do vapor obtido, removendo dessa forma as impurezas.
Dorna: Vasilha de aduela (grande tonel) sem tampa onde fermenta o mos-
to dos vegetais.
Ecomuseu - um novo conceito de museus formulados na dcada de
1970, na Frana. O Ecomuseu postula, mais do que uma participao do
pblico, uma cooperao dos habitantes. Assim os habitantes so cha-
mados a tornarem-se atores, mais do que figurantes, e a atuar na constru-
o de um museu deles e que est voltado para a sua cultura indepen-
dente de qualquer visitante. A tradicional trilogia do ecomuseu baseia-se
no Territrio, Patrimnio, Comunidade.
Edafoclimticos: relativo ao solo e ao clima.
Fermentao o processo de transformao da sacarose (acar) em l-
cool etlico e gua, podendo ser natural ou qumica. Fonte: http://marno-
to.blogs.sapo.pt/360.html
Histria (do grego antigo historie, que significa testemunho, no sentido
daquele que v) a cincia que estuda o Homem e sua ao no tempo e
no espao, concomitante anlise de processos e eventos ocorridos no
passado.
Inocuidade dos alimentos: a caracterstica dos alimentos no que diz res-
peito ao seu impacto na sade humana. Por extenso, inocuidade alimen-
tar rene o conjunto de medidas visando evitar os riscos relativos a uma
eventual toxicidade dos alimentos (prticas de preparao, manipulao e
de conservao dos alimentos).
Mata ciliar a formao vegetal localizada nas margens dos riso, cr-
regos, lagos, represas e nascentes. Tambm conhecida como mata de
galeria, mata de vrzea, vegetao ou floresta ripria. Considerada pelo
Cdigo Florestal Federal como rea de preservao permanente, com
diversas funes ambientais, devendo respeitar uma extenso especfica
de acordo com a largura do rio, lago, represa ou nascente.
Movimento Slow Food uma associao internacional que visa preservar
a gastronomia regional, bem como as espcies, sementes, animais doms-
ticos e tcnicas agrcolas que lhes esto associadas
Organolptica - a de propriedade demonstrada por um corpo, ou por
uma substncia, e que impressiona um ou mais sentidos.
Pastagem cultivada de inverno: so reas cultivadas com espcies de
crescimento na estao fria do ano (outono a meados da primavera).
Normalmente utilizam-se espcies exticas adaptadas s condies de
clima e solo da regio. Estas pastagens podem ser estabelecidas em rota-
o com culturas para produo de gros (arroz, soja, milho, sorgo, etc.),
quando se utilizam espcies forrageiras anuais como aveia e azevm, ou
ainda em sucesso com estas lavouras por prazos mais longos, quando se
utilizam espcies perenes ou anuais capazes de assegurar sua ressemeadu-
ra natural (azevm, por exemplo)
Pastagem nativa: vide a definio de campo nativo.
Pastagem nativa melhorada: consiste em reas de pastagem nativa, que
foram submetidas a qualquer processo que implique na melhoria das con-
dies de fertilidade natural, com reflexos na composio botnica e/ou
alterao direta da composio botnica por introduo de outras esp-
cies de ciclo hibernal, sem destruir aquelas existentes
Protocolo GlobalGap um processo de certificao focado sobre as boas
prticas agrcolas, considerando aspectos legais da segurana alimentar,
da higiene e da segurana no trabalho e do meio ambiente. Essa certifica-
o uma iniciativa privada de varejistas europeus.
Sistema agroalimentar - a maneira que o homem se organiza, no espa-
o e no tempo, para obter e produzir sua alimentao. Esse sistema pode
ser definido como o conjunto de operaes que vai da semente vegetal ou
animal at o prato ou o copo na nossa mesa Malassis, 1994.
Terroir, em linhas gerais, est relacionado justamente com isso. Diz-se que
um produto tpico de terroir quando as suas caractersticas (que so par-
ticulares) so determinadas por influncias do meio, como clima, solo,
etc., mas tambm do homem, atravs de seus conhecimentos tradicionais,
por exemplo.
Uso genrico: utiliza-se este termo para casos onde o tipo de produto
j se tornou to conhecido e difundido, que possvel encontrar diversos
produtos desse tipo sendo produzido em diferentes regies que a de sua
origem. Ele passa a designar o tipo do produto, desligando-se de sua ori-
gem geogrfica. O exemplo mais evidente que temos no Brasil o Queijo
Minas que, embora receba o nome Minas (que vem de Minas Gerais), hoje
em dia designa o tipo de queijo (queijo branco) do que a sua regio de
origem, pois produzido em diversas regies do pas, recebendo a mesma
denominao: Queijo Minas
Notas do Glossrio
BARJOLLE, D.; BOISSEAUX, S.; DUFOUR, M. Le lien au terroir: bilan des tra-
vaux de recherch. Lausanne: Institut dconomie Rurale, p.33,1998.
______. Food identity / food quality: insights from the coalho cheese in
the Northeast of Brazil in Seminaire Sociologia Economica, Universidade f-
drale de Santa Catarina- UFSC, Florianopolis- SC, 2004.
______. Ivanira. Paysage viticole dans la Vale dos Vinhedos (Brsil): pres-
sion et protection. In: VI CONGRS INTERNATIONAL DES TERROIRS
VITICOLES, 2006, Bordeaux/Montpellier. VI Congrs International des Terroirs
Viticoles. Bordeaux/Montpellier: ENITA de Bordeaux/Sybdicat de Coteaux du
Languedoc, p. 450-454, 2006.
Fonte do mapa que ilustra o fundo da pgina de abertura dos captulos. Disponvel
em: <http://loja.ibge.gov.br/mapa-do-brasil-politico-2007-republica-federativa-
-do-brasil.html>. Acesso em: 10 abr. 2014.
LPEZ BENTEZ, Mariano. Estatuto del vino a las leyes del vino: um pa-
norama actual y de futuro de la ordenacin vitivincola em Espaa. Madrid:
Civitas, 2004.
______. Uma breve reflexo sobre as IG no Brasil. Encontro tcnico sobre IG,
Florianpolis, 31 Mar 04 abr 2009.
MORO, Mait Ceclia Fabbri. Direito de marcas: abordagem das marcas not-
rias na Lei n 9279/1996 e nos acordos internacionais. So Paulo: Revista dos
Tribunais, 2003.
______. Afinal, o que Terroir? Bon Vivant, Flores da Cunha, v. 8, n 98, p. 08,
2007.
Liliana Locatelli
Graduada em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria; Mestre
e Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina;
e, Professora do Programa de Mestrado em Direito na Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses.
Luiz Otvio Pimentel
Graduado em Direito pela Faculdade de Direito de Cruz Alta; Especialista
em Direito Civil Obrigaes e Contratos pela Universidade do Vale do Rio
dos Sino; Especialista em Teoria e Anlise Econmica pela Universidade
Federal de Santa Catarina; Mestre em Direito pela Universidade Federal
de Santa Catarina; e Doutor em Direito pela Universidade Nacional de
Assuno; e Professor Associado e Coordenador do Programa de Ps-
Graduao em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina.
Michele Copetti
Graduada em Cincias Jurdicas e Sociais pela Pontifcia Universidade
Catlica do Rio Grande do Sul; Especialista em Direito e Gesto de Empresas
e Mestre em Direito (Relaes Internacionais) pela Universidade Federal
de Santa Catarina; Doutoranda no Programa de Doutorado (Derecho,
Empresa y Justicia) da Universidad de Valencia (Espanha); e, Assessora do
Gabinete da 1 Vice-Presidncia do Tribunal de Justia de Santa Catarina.
Suelen Carls
Graduada em Direito, Especialista em Gesto Tributria e Mestre em
Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional de Blumenau;
Doutoranda em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina; e,
Advogada.
O miolo deste livro foi composto em Dante MT Std e Myriad Pro
sobre papel Reciclato Branco 90 g/m e a capa em Dax, Nomore
Typewriters e OCR-A sobre papel Duo Design 280 g/m.
Florianpolis, outono de 2014.