3000 Anos Edificações PDF
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captulo 1
Construo e
Engenharia na
Antigidade
1000 a.C. a
500 d.C.
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Pessoas e Eventos c. 72
c. 72
Materiais e A partir de c. 1500 a.C. Grandes colunas e vigas de pedra usadas em templos e palcios c. 72
Tecnologia A partir de c. 1500 a.C. Grandes peas ocas de bronze fundido na China
A partir de c. 1400 a.C. Primeiro arco de tijolo conhecido
em uma edificao, Ur, Mesopotmia (vo de 0,8 m)
Conhecimento e
Ensino
A partir de c. 1000
Clculos geomtricos
com o uso da rgua e
do compasso
1700 1600 1500 1400 1300 1200 1100 1000 900 800
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c. 720320 a.C. Grcia Helnica c. 320c. 100 a.C. Grcia Helenstica c. 1075 d.C. Hron de Alexandria (engenheiro)
c. 725700 a.C. A Ilada, de Homero fl. 300 a.C. Euclides (gemetra) 79 d.C. Erupo do Vesvio, soterrando Herculano e Pompia
c. 640546 a.C. Tales (gemetra) c. 55 d.C.c. 130 d.C. Apolodoro de Damasco (engenheiro)
c. 582507 a.C. Pitgoras (gemetra e cientista) 395 d.C. Imprio Romano
c. 287c. 212 a.C. Arquimedes (engenheiro e fsico) se divide em Imprio
Romano do Ocidente e
c. 280c. 220 a.C. Filon de Bizncio (engenheiro) Imprio Romano do Oriente
c. 285c. 222 a.C. Tesbio de Alexandria (engenheiro) 410 d.C.
Roma Imperial
c. 429347 a.C. Plato (filsofo) c. 80c. 25 a.C. Vitrvio (engenheiro)
sucumbe aos
c. 428c. 347 a.C. Arquitas 27 a.C. Otvio Augusto se torna Imperador de Roma invasores
(autor do primeiro livro-texto sobre mecnica)
c. 720 a.C. Primeira abbada de bero conhecida, Assria c. 150 a.C.50 d.C. Aquedutos com arcos de alvenaria para fornecimento de gua em Roma
A partir de c. 100 a.C. Tesouras de telhado de madeira
A partir de c. 500 a.C. Vigas (de pedra) A partir de c. 100 a.C. Arcos de alvenaria nas edificaes
que refletem momentos fletores A partir de c. 100 a.C. Cpulas de alvenaria em edificaes
A partir de c. 100 a.C. Janelas com vidros
A partir de c. 80 a.C. Calefao central com dutos (hipocausto)
A partir de c. 50 a.C. Uso generalizado de cimento hidrulico e ferro forjado em edificaes
c. 70 d.C. Vidros duplos em banhos pblicos em Herculano
c. 80 d.C. Primeiro uso conhecido do efeito estufa para
calefao de edificaes (aquecimento solar passivo)
A partir de c. 600 a.C. Livros de matemtica e cincias c. 25 a.C. Vitrvio, De Architectura (livro sobre engenharia da edificao e engenharia militar)
A partir de c. 400 a.C. Livros de matemtica e engenharia
c. 500 a.C. Pitgoras o pioneiro na cincia da acstica
290 a.C. Museu (universidade) de Alexandria, Egito, fundado por Ptolomeu Soter
c. 230 a.C.646 d.C. Escola de Engenharia em Alexandria, Egito, fundada por Tesbio
a.C.
mtricos A partir de c. 450 a.C. Vrios procedimentos numricos de projeto de armamentos e edificaes
aes
es
Roma
500 a.C. ou antes Clculos numricos com fraes
so
a,
os
e
c. 700 a.C. Templo de Hera (Heraion), Olmpia, Grcia (primeiro grande templo drico) c. 7280 d.C. Anfiteatro Flaviano ou Coliseu, Roma, Itlia
c. 600270 a.C. As Sete Maravilhas do Mundo Antigo (exceto as Pirmides de Giz) c. 104109 d.C. Banhos de Trajano, Roma
c. 450438 a.C. Partenon, Atenas, Grcia c. 11213 d.C. Coluna de Trajano, Roma
c. 200 a.C. Insulae (edifcios c. 11826 d.C. Panteon, Roma
de apartamentos romanos)
c. 126c. 127 d.C. Banhos de Adriano, norte da frica
c. 21116 d.C. Banhos de Caracala, Roma
c. 298306 d.C. Banhos de Diocleciano, Roma
30825 d.C. Baslica de
Magncio/Constantino,
Roma
800 700 600 500 400 300 200 100 a.C. 0 100 d.C. 200 300 400 500
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Construo e Engenharia
na Antigidade
1000 a.C a 500 d.C.
Construo e engenharia antes da Grcia helnica o de pedras de forma adequada e orientao corre-
apropriado se comear a usar a palavra engenharia ta de uma planta baixa em um terreno, provavelmente
em associao a projeto e a construo de edificaes em relao ao Sol e s constelaes astronmicas. No
a partir do momento em que as pessoas passaram a caso das pirmides egpcias, os projetistas tambm ti-
preferir o uso de grandes blocos de pedra em detrimen- nham que planejar a forma e a localizao de inmeras
to de madeira, tijolos de barro ou pequenas pedras que salas e tneis em seu interior, e constru-las exigia gran-
podiam ser erguidas por uma ou duas pessoas. des conhecimentos de geometria e tcnicas de medio
Levantar e manobrar grandes pedras em certas posi- tridimensional. Tambm se imagina que foram necess-
es exigia grande habilidade. Tm sido um tpico de rios planejamento e gerenciamento considerveis para
especulao freqente o modo como os antigos egp- organizar, dirigir e motivar cerca de 100.000 trabalhado-
cios extraram e manipularam cerca de 2,3 milhes de res ao longo de perodos de aproximadamente 20 anos.
pedras, cada uma pesando aproximadamente 2.500 Tais conhecimentos profissionais permitiam aos antigos
kg1, para construir a Grande Pirmide de Quops engenheiros planejar ou, em linguagem moderna, pro-
(Khofu) em Giz por volta do ano 2500 a.C. Isso se con- jetar suas grandes obras antes de iniciar a execuo.
seguiu sem que os blocos fossem erguidos do solo; as A histria da engenharia da edificao , enfim, a hist-
foras necessrias para seu transporte eram reduzidas ria de como os engenheiros tm planejado suas edifica-
escala humana, arrastando-se as pedras, usando-se es e a crescente preciso com a qual eles tm apren-
rampas e uma variedade de cunhas e alavancas. dido a fazer previses.
Aproximadamente na mesma poca, na Inglaterra, blo-
cos de pedra de cerca de 20.000 kg foram levantados As primeiras evidncias claras que temos do uso da
1 a cerca de 6 m de altura para construir Stonehenge. Por matemtica, da engenharia e dos procedimentos de
volta de 1500 a.C., os engenheiros egpcios extraram, projeto formais e seqenciais datam de cerca de 450
moveram e ergueram trs obeliscos de pedra, cada um a.C., nos territrios sob a influncia da civilizao
com aproximadamente 450 toneladas. A remoo pos- grega a leste do Mar Mediterrneo. Tanto a matemti-
terior de um deles (conhecido como o Obelisco do ca como a ar te de projetar grandes edificaes e cida-
Vaticano) do Egito, seu levantamento em Roma e subse- des foram introduzidas na Europa pela ndia e o Oriente
qente relocao foram obras de engenharia tambm Mdio. Na verdade, talvez a primeira evidncia escrita
impressionantes (veja o Captulo 3, p. 159-63). da ar te da construo possa ser encontrada no cdigo
de leis da Babilnia (c. 1780 a.C.) estabelecido por
To importantes quanto os conhecimentos tcnicos de seu primeiro soberano, Hamurbi, que reinou de 1792 3
mecnica necessrios para construir estruturas feitas a 1750 a.C. O Cdigo de Hamurbi, que regrava todos
com grandes blocos de pedra eram os profundos conhe- aspectos da sociedade, inclua leis especficas sobre
cimentos de medio e topografia necessrios produ- construo, o que nos transmite tanto a idia de res-
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Se um empreiteiro
construir uma casa para
um homem e complet-
la, (este homem) dever
lhe pagar dois siclos por
SAR da casa como
remunerao.
Se um empreiteiro construir
uma casa para um homem e
no fizer sua construo
slida e a casa que ele
construiu desabar, causando
a morte do dono da casa, o
empreiteiro ser condenado
morte.
Se um empreiteiro
construir uma casa para
um homem e no
garantir que sua
construo seja
adequada e uma parede
cair, o empreiteiro ir
reforar a parede s
suas custas.
5
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1 Stonehenge, Wiltshire, Inglaterra, c. 2000 a.C. Gravura de William Stukeley, dcada de 1720. 2 Palcio do Rei Minos,
Cnosso, Creta, c. 1600 a.C. Planta baixa. 3 Leis para construo no Cdigo de Hamurbi, c. 1780 a.C. Gravado em uma
estela com escrita cuneiforme, com traduo inglesa direita. 4 Templo de Amon, Carnac, Egito, c. 1300 a.C. Entrada do
hipostilo. Fotografia de Gustave le Gray, 1867. 5 Elevaes lateral e frontal de um santurio egpcio desenhadas em papiro,
c. 1400 a.C.
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tornou possvel graas prosperidade econmica, ri- rea, ele ainda assim exigia muitas horas de trabalho
queza cultural e aos conhecimentos intelectuais que se paciente para a locao de cada tambor.
desenvolviam rapidamente durante o mesmo perodo.
Ns conseguimos acompanhar a histria apenas a partir No nvel da cobertura, os blocos de pedra que constitu-
do momento em que surgem registros escritos, ou seja, am o friso e a arquitrave eram conectados entre si por
por volta de 500 a.C, com a emergncia da cultura meio de grampos de ferro em H. Esta idia j havia sido 8
grega, a qual dominou os muitos povos unidos pelo Mar usada pelos egpcios, e muitas variaes haviam sido
Mediterrneo. experimentadas, usando-se grampos de cobre e bronze,
alm do ferro. De acordo com o naturalista romano
Engenharia e construo na Grcia antiga Plnio, o Velho (c. 2379 d.C.), as vigas de pedra, que
As cidades-estado na costa oriental do Mediterrneo co- venciam vos de mais de 8 m entre colunas e pesavam
meavam a prosperar por volta do sculo VIII a.C. quase 20 t, eram erguidas e posicionadas usando-se
Atravs do comrcio e da guerra, os gregos haviam es- rampas de terra.
tabelecido uma herana cultural que transcendia frontei-
ras geogrficas e mesmo lingsticas. Era o Perodo As antigas edificaes de alvenaria se baseavam em
Helnico, no qual Homero (c. 750700 a.C.) escreveu o longas vigas de pedra apoiadas em duas colunas. A pa-
que se tornaria a histria comum que uniria as diversas lavra latina para viga, trabs, nos d a expresso arqui-
comunidades antes dspares. medida que se desenvol- tetura arquitravada. Algumas questes cruciais para o
viam a identidade e o orgulho dos gregos, tambm cres- projetista de edificaes da poca eram: qual o tama-
cia seu desejo de estabelecer manifestaes impressio- nho do vo que uma viga de pedra pode vencer? Para
nantes e duradouras de sua cultura. Eles comearam a dado vo, que altura e largura a viga deveria ter? O re-
construir em uma escala muito maior tanto em tama- tngulo a seo transversal mais eficiente? Ser que
nho como em quantidade do que em pocas anterio- uma viga deveria ter uma seo transversal constante
res. E, assim como muitos povos que viriam, eles queri- ao longo de todo seu comprimento? Estas perguntas
am ter a certeza de que suas edificaes refletiriam sua no foram respondidas em termos cientficos e mate-
identidade cultural e se diferenciariam daquelas de mticos at que Galileu publicou Discursos Sobre as
povos vizinhos ou do passado, com os quais haviam Duas Novas Cincias em 1638, e ento foram explora-
aprendido tanto. Eles tambm estavam determinados a das por muitos cientistas. Isso no significa, no entan-
garantir que suas construes fossem feitas com res- to, que os engenheiros gregos no soubessem algumas
ponsabilidade. das respostas. Qualquer criana sabe que pode quebrar
um graveto dobrando-o e que uma fina ripa de madeira
As cidades-Estado floresceram por todo o territrio que verga mais facilmente do que uma tbua grossa. A par-
hoje conhecemos como Grcia Continental, Turquia e tir destas e de outras observaes relacionadas, no
sul da Itlia, alm das ilhas na costa oriental do um grande salto se dar conta de que o aumento da es-
Mediterrneo, e comearam a declarar e a ostentar pessura no centro de uma viga uma forma efetiva de
sua prosperidade na forma de edificaes pblicas, aumentar sua resistncia. Por outro lado, diminuir a es-
como mercados, templos, teatros e outros locais de pessura de uma viga nas suas extremidades seria um
reunio. Ao contrrio das poucas e enormes edifica- modo inteligente de torn-la mais leve, sem grande
es construdas para os faras, estes prdios pbli- perda de sua capacidade estrutural. Ainda que raramen-
cos representavam a criao de um ambiente constru- te vejamos evidncias deste tipo de raciocnio nas edi-
do mais democrtico e replicado muitas vezes em ficaes, devido s razes discutidas anteriormente,
muitos lugares. Embora os gregos houvessem aprendi- acreditamos que os antigos artesos e engenheiros en-
do a projetar grandes edificaes com os egpcios, tendiam per feitamente estas questes. O projeto sofis-
eles formalizaram os procedimentos de projeto, desen- ticado de armas gregas como as ballistae (balistas)
volvendo muitas solues criativas para melhoria dos evidncia suficiente de seus conhecimentos de enge-
processos construtivos e da qualidade dos prdios nharia e habilidades tcnicas.
acabados. Por exemplo, era prtica comum no sculo
V a.C. colocar cada tambor de pedra de uma coluna Embora tal nvel de sofisticao estrutural raramente
centralizado sobre uma cavilha de madeira de lei e as- seja encontrado em edificaes gregas, h exemplos
sentar a coluna sobre apenas um pequeno anel circu- suficientes para indicar que alguns de seus engenhei-
6 lar per feitamente plano, garantindo a estabilidade da ros de construo tinham bons conhecimentos sobre
coluna. Embora este mtodo fosse mais econmico e esforos de flexo. Por exemplo, uma vez que a pedra
prtico do que tentar garantir o nivelamento de toda a tem resistncia trao muito inferior do que com-
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presso, a seo transversal mais eficiente para uma gens do aumento da altura da viga na sua poro inter-
viga tem mais material no local onde ela transfere es- mediria. Sua elevao corresponde aproximadamente 10
foros de trao do que onde sofre tais esforos. Em ao que hoje chamamos de diagrama de momento fletor,
uma viga apoiada em duas colunas ou duas ombreiras o qual indica a resistncia que uma viga deve apresen-
de janela ou porta (uma verga), a parte reforada seria tar flexo para que possa suportar seu peso prprio e
a parte inferior da viga, e isso exatamente o que en- as cargas transmitidas a ela.
contramos nas runas de inmeras vigas de pedra data-
9 das dos sculos VI a IV a.C. Se j havia tal conhecimento, ento por que ele no era
empregado de forma mais ampla? A resposta provavel-
Uma viga notvel encontrada na ilha de Samotrcia, ao mente de natureza econmica. A madeira e a pedra
norte do Mar Egeu, com 6 m de comprimento e datada eram os principais materiais estruturais, e ambos se tor-
do sculo IV a.C., demonstra o conhecimento das se- nam componentes construtivos ao serem cortados, nos
es transversais mais efetivas, assim como das vanta- tamanhos adequados, de uma rvore e uma grande
6 Templo de Afaia, Egina, Grcia, c. 500 a.C. Corte perspectivado mostrando a construo.
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rocha, respectivamente. Embora fosse possvel continu- res redigiram listas do que consideravam ser as maio-
ar a trabalhar os materiais de modo a se obter a forma res conquistas da humanidade. Por volta do ano 100
estrutural mais eficiente e mais leve possvel, rapida- a.C., havia-se chegado quela que chamamos de as
mente se chegava ao ponto em que os custos adicionais Sete Maravilhas do Mundo Antigo, e interessante
dos trabalhos extras no compensavam os benefcios do notar que seis entre as sete maravilhas eram obras
desempenho estrutural; para muitos fins, uma viga de dos melhores engenheiros civis e de construo da-
seo transversal retangular e uniforme era adequada. quela poca. A mais antiga era a Grande Pirmide de
De forma geral, o tamanho e o peso das pedras eram re- Quops, a qual, com seus quase 150 m de altura, con-
duzidos queles que seriam convenientes para o trans- tinuou a ser a mais alta construo do mundo at o
porte ao terreno e a montagem no prdio. Por questes surgimento das flechas nas catedrais do sculo XIV, e
de segurana, no seria sensato, em geral, se tentar al- a nica das Sete Maravilhas que ainda resta. A se-
canar a soluo com peso mnimo, pois esta aumenta- gunda Maravilha mais antiga era os Jardins Suspensos
ria o risco de colapso estrutural, e o principal objetivo do da Babilnia, construdos juntos ao rio Eufrates, que
projeto de estruturas manter os riscos em nveis acei- datam de cerca de 600 a.C. Embora o tamanho, a lo-
tveis. A exceo ocorre quando necessrio o uso da calizao e a idade dos lendrios jardins ainda sejam
estrutura mais leve possvel para o vencimento de vos discutidos, muitas descries deixam claro que eles
mximos como ocorreu na viga da Samotrcia. Esta eram realmente impressionantes. (Suspenso era a
regra geral se aplica maior parte dos elementos de palavra usada para descrever muitas construes com
pedra e madeira que usamos nas edificaes ainda p-direito alto, inclusive, por exemplo, a enorme cpu-
hoje. Foi somente com a introduo do ferro fundido no la de alvenaria de Santa Sofia, em Constantinopla,
final do sculo XVIII que a economia obtida com o peso construda entre 53237 d.C.) A gua necessria para
do material se tornou um fator dominante no dimensio- a irrigao contnua dos jardins tinha que subir cerca
namento de elementos estruturais; ao contrrio da ma- de 50 m em relao ao nvel do rio atravs de mqui-
deira ou da pedra, o custo de uma viga de ferro fundido nas com trao humana e canais construdos com
aumenta em proporo direta ao peso do ferro que ela barro e impermeabilizados com folhas de chumbo ou
contm. asfalto. O escritor grego Estrabo (c. 63 a. C 21 d.C.)
descreveu os jardins no sculo I d.C., ou seja, cerca
Uma vez que a madeira se decompe, restam poucos de 500 anos aps a poca em que se imagina que te-
testemunhos da maneira como as estruturas dos tem- nham sido construdos, por tanto provvel que j no
plos gregos eram formadas. Em sua maior parte, elas se funcionassem per feitamente ou mesmo estivessem
constituam de teras inclinadas apoiadas em ambas ex- em runas:
tremidades. Esta tcnica usa madeira flexo, esforo Eles consistem em abbadas assentadas, umas sobre as
para qual ela bastante adequada, j que apresenta outras, em fundaes cbicas dispostas em xadrez. As fun-
alta resistncia a trao. Entretanto, como a madeira daes so ocas e tm cobertura de terra to profunda que
no muito rgida, uma vez carregada, ela tende a gran- nelas foram plantadas as maiores rvores possveis, e
de deflexo, logo os vos precisavam ser bastante pe- foram construdas com tijolos cozidos e asfalto... A ascen-
quenos no mximo 6 ou 7 metros. Para vos maiores, so aos terraos mais altos por uma escadaria; e ao
as teras precisavam de apoios intermedirios, para evi- longo destas escadas havia canais atravs dos quais a
tar grandes deflexes provocadas pelas pesadas telhas gua era continuamente conduzida do Eufrates aos jardins
de barro. Na Grcia antiga, no h evidncia de trelias por pessoas designadas para tal funo.2
de telhado do tipo que se tornou comum durante o per-
odo medieval. Outra das Sete Maravilhas era o Templo de rtemis, em 7
feso, completado por volta de 300 a.C. O primeiro san-
mais fcil de julgar o sucesso destes vrios avanos turio para a deusa rtemis havia sido construdo em
nas construes em alvenaria com os melhores exem- feso por volta de 550 a.C., e acredita-se que continha
plos construdos durante os perodos helnico e hele- uma pedra sagrada (um meteorito) que havia cado de
nstico. Durante os sculos III e II a.C., vrios escrito- Jpiter o termo grego antigo equivalente a cado do
7 Segundo Templo de rtemis, em feso, completado em c. 300 a.C. no stio de um santurio anterior, de c. 550 a.C.
Reconstruo digital. 8 No alto: grampos de ferro em I e em Z usados para conectar pedras adjacentes na construo de
templos gregos e romanos; embaixo: tambores de pedra de uma coluna, com uma cavilha central de ferro ou madeira de lei.
9 Sees de vigas de pedra talhada em edificaes gregas. 10 Sees de uma viga de pedra usada para sustentar um teto
de mrmore com caixotes, da Samotrcia, fim do sculo IV a.C.
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280 mm
A
corte BB
910 mm
teto com caixotes 410 mm
560 mm
B
corte AA
6150 mm
10
8
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Paraso. O templo original tinha colunas com aproxima- colosso foi destrudo por um terremoto em 224 a.C. e
damente 18 m de altura e provavelmente ocupava uma muitas de suas par tes ficaram abandonadas onde ca-
rea similar quela do segundo templo, cuja construo ram at o momento em que os rabes conquistaram
iniciou-se na dcada de 350 a.C. no mesmo terreno, Rodes, em 656 d.C.
aps a destruio do templo original por um incndio. O
templo reconstrudo tinha mais de 120 colunas de 19 m; Uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo que mais
sua estrutura tinha cerca de 129 metros de comprimen- perdurou foi o farol construdo na ilha de Faro, marcan- 11
to e 68 metros de largura. O volume compreendido por do a entrada ao por to da nova cidade de Alexandria, no
esta estrutura era mais de sete vezes superior quele do nor te do Egito. Alexandre, o Grande, havia fundado a ci-
Partenon de Atenas (447438 a.C.), que media 66 me- dade em 332 a.C., mas morrera em 323 a.C., deixan-
tros por 32 metros e cujas colunas tinham cerca de 10 do a obra apenas iniciada, e os trabalhos foram conti-
metros de altura. O Templo de rtemis durou mais de nuados por seu sucessor como governante do Egito,
700 anos, at que foi demolido e suas pedras usadas Ptolomeu Soter. Dois por tos para navios de grande ca-
para a construo de uma igreja crist. Em um livro es- lado foram construdos na extremidade oeste do delta
crito por volta de 230 a.C., o qual descrevia as Sete do rio Nilo, um para o trfego fluvial do Nilo, o outro
Maravilhas, o autor expressa sua admirao especial para o comrcio com o Mar Mediterrneo. Ptolomeu en-
pelo Templo de feso: comendou a construo do farol em 290 a.C., para que
Eu vi as muralhas e os Jardins Suspensos da antiga ser visse como ponto de referncia aos navegadores e
Babilnia, a esttua de Zeus, em Olmpia, o Colosso de tambm como cone para a nova e prspera cidade. Ele
Rodes, as Grandes Pirmides e o tmulo de Mausolo em foi terminado em 270 a.C., durante o reino do filho de
Halicarnasso. Mas quando vi o templo de feso erguendo- Ptolomeu Soter, Ptolomeu II. O farol foi construdo com
se sobre as nuvens, todas estas outras maravilhas ficaram pedra aparelhada assentada sobre folhas de chumbo,
na sombra.3 para melhoria do assentamento entre as fiadas, e con-
sistia de trs par tes. Vrios estudiosos estimam que ti-
O Colosso de Rodes, uma esttua terminada por volta vesse cerca de 300 cbitos de altura (cerca de 120 m).
de 230 a.C., celebrava a vitria da cidade contra o A primeira seo era uma edificao de planta baixa
stio das tropas de Demtrio, um dos generais de quadrada com aproximadamente 32 metros de largura
Alexandre, o Grande. Rodes havia se aliada a um outro e 65 metros de altura, dentro da qual havia cerca de
dos ex-generais de Alexandre, Ptolomeu Soter, que 50 recintos e uma rampa para o transpor te dos mate-
posteriormente se tornaria soberano do Egito, em riais de construo, levados por carroas puxadas por
Alexandria, sob o nome de Ptolomeu I (c. 367283 cavalos. Sobre esta base, erguia-se uma torre or togo-
a.C.). A esttua localizava-se na entrada do porto na- nal com cerca de 32 metros de altura e 12 metros de
tural da cidade de Rodes, a capital da ilha de mesmo dimetro, com uma escadaria que levava at a cpula,
nome que se situa a cerca de 30 km da costa sudes- onde a chama queimava e os guardies do farol viviam
te da Turquia moderna. Ela tinha cerca de 35 metros e armazenavam o combustvel para a fogueira. Dizem
de altura e ficava sobre um plinto de cerca de 16 me- que a luz, noite, ou a fumaa, de dia, produzida pelo
tros de altura. Sua figura era na pose grega tradicio- farol podia ser vista a uma distncia de 60 quilme-
nal: um homem nu usando uma coroa com pontas, tros.
protegendo seus olhos do sol nascente com a mo di-
reita, e com um manto caindo de seu brao esquerdo. O projetista do farol, Sstrato de Cnidos, se tornou imor-
Filon de Bizncio (veja a p. 26) escreve que o Colosso tal devido a um subterfgio bastante esperto. Tendo
consistia de um ncleo com duas ou trs colunas de Ptolomeu II recusado seu pedido para que tivesse seu
pedra que chegavam at o nvel da cabea e eram co- nome entalhado na base da estrutura, ele desafiou o go-
nectadas por arquitraves ou vigas de pedra, provavel- vernante esculpindo a seguinte inscrio na alvenaria:
mente em mais de um nvel. Das colunas foi constru- Sstrato, filho de Dexfano de Cnidos, em nome de
da uma armao de ferro forjado que avanava at o todos os marinheiros, e para os deuses salvadores.
local onde a super fcie da esttua seria suspensa. Esta inscrio foi coberta por uma camada de argamas-
Nestas barras de ferro foram rebitadas chapas de sa, na qual foi entalhado o nome de Ptolomeu. Com o
bronze que haviam sido fundidas, mar teladas e poli- passar do tempo, no entanto, a argamassa caiu, reve-
das, cirando a super fcie externa da esttua. Dizia-se lando a inscrio de Sstrato.
que grande par te do metal usado na esttua havia
sido reciclado das inmeras mquinas de guerra dei- O Farol de Alexandria era uma grande atrao turstica.
xadas para trs com a derrota e fuga de Demtrio. O Vendia-se comida na plataforma de observao que fica-
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11 Farol da Ilha de Faro, Alexandria, 270 a.C. Projetista: Sstrato de Cnidos. Reconstruo. 12 Planta da cidade de Olinto,
norte da Grcia, sculo V a.C. 13 Bloco de casas em Olinto. Perspectiva isomtrica (reconstruo).
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DA D O : A
Um quadriltero ABCD
D
PE DE-S E:
Construa um tringulo de rea igual do quadriltero
ABCD.
DE MON STRAO:
rea do quadriltero ABCD= A B C + AC D em rea
= AC E em rea (na mesma base
AC D AC entre as mesmas paralelas AC e DE)
rea de A B C D = A B C + AC E em rea
para descobrir, por exemplo, como aumentar a fora de uniu ao corpo docente e se sabe que ele lecionou retri-
arremesso das armas e a rapidez e efetividade das em- ca e dialtica. A academia perdurou de vrias formas at
barcaes. Aparentemente havia dois meios formais de 529 d.C.
se adquirir conhecimentos de engenharia que poderiam
ser aplicados para fins militares: um aprendizado era Aristteles deixou a academia de Plato aps 20 anos e
dos conhecimentos prticos necessrios para a constru- logo recebeu o apoio de Alexandre, o Grande, na funda-
o de edificaes e fabricao de mquinas de guerra, o de uma instituio rival, o Liceu, em Atenas, em 335
o outro, era mais profundo. As habilidades blicas eram a.C. O Liceu oferecia aulas formais em uma ampla vari-
lecionadas em colgios militares, ao passo que uma for- edade de disciplinas, muitas das quais lecionadas pelo
mao mais geral e cientfica, que inclua o estudo de prprio Aristteles lgica, fsica, astronomia, meteoro-
disciplinas acadmicas como mecnica, geometria e as- logia, zoologia, metafsica, teologia, psicologia, poltica,
tronomia, era oferecida nas escolas onde os grandes economia, tica, retrica e potica. Uma das mais impor-
acadmicos de ento lecionavam. provvel que muitos tantes conquistas de Aristteles foi dar fundamentao
de tais estabelecimentos servissem a ambos propsi- lgica s cincias tericas a partir de uma srie de axio-
tos. Infelizmente, poucas informaes chegaram at ns mas, como na geometria. Sua obra precedeu a estrutu-
sobre estas escolas. Plato (429347 a.C.) estabeleceu ra formal de axiomas de Euclides para a geometria em
sua academia em Atenas em 387 a.C., tendo em mente 30 ou 40 anos.
fins tanto educacionais como polticos, e vrios filso-
fos, advogados, astrnomos e matemticos estavam as- Em 290 a.C. Ptolomeu Soter (Ptolomeu I) fundou o
sociados escola. Desconhecemos se havia currculos Museu de Alexandria, com o fim declarado de coletar
ou mesmo aulas formais naquela poca, mas quando todas as obras escritas importantes, promover o estudo
Aristteles estudou l, 20 anos depois, sabemos que da literatura e da arte, e estimular e auxiliar investiga-
ele aprendeu retrica e poltica. Aristteles em breve se es e pesquisas experimentais e matemticas.
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Naturalmente, este aspecto dos grandes talentos de experimentos prticos foi registrado. Ele conhecido por
Arquimedes que firmou sua reputao atual como o ns especialmente por seu tratado sobre operaes mi-
maior de todos os fsicos e matemticos da Antigida- litares e a arte do stio. Filon aumentou quaisquer conhe-
de. Ele universalmente conhecido por seu famoso cimentos anteriormente adquiridos sobre a engenharia
princpio: todo corpo submerso em um fluido experimen- militar com informaes colhidas com aqueles que as ti-
ta um empuxo vertical e para cima igual ao peso do flui- nham em primeira mo. Ele visitou os grandes arsenais
do deslocado. Ele tambm leva o crdito de ter desen- de Rodes e Alexandria para conversar com os engenhei-
volvido um antecessor primitivo do clculo, seu mtodo ros sobre as mais recentes estratgias militares e o pro-
de exausto, um processo de integrao que lhe permi- jeto e a construo dos ltimos armamentos. Em
tia calcular rea de formas irregulares. No entanto, a Alexandria, por exemplo, ele encontrou Tesbio, que h
obra de Arquimedes sobre matemtica e fsica era virtu- pouco desenvolvera sua nova catapulta com cabos de
almente desconhecida durante sua vida e por muito bronze torcidos. O tratado de Filon foi escrito em nove li-
tempo aps sua morte. Ela foi amplamente difundida vros:9
apenas quando editada e publicada pelo cientista grego 1. Introduo
Eutcio de Ascalon (c. 480540), aproximadamente 2. Alavancas
700 anos depois. 3. Construo de Portos Martimos
4. Catapultas
Tesbio de Alexandria (c. 285222 a.C.) era um enge- 5. Pneumtica
nheiro militar egpcio cuja reputao foi superada ape- 6. Teatros Automticos
nas pela de Arquimedes. Ele escreveu dois livros sobre 7. Construo de Fortalezas
a mecnica aplicada guerra e s mquinas blicas, 8. Stio e Defesa de Cidades
ambos perdidos: Memorando Sobre Mecnica e 9. Estratagemas
Belopoietica. Ele projetou numerosas catapultas, inclusi-
ve uma que usava cabos de bronze torcidos, cuja vanta- Infelizmente, apenas quatro destes livros chegaram
gem sobre os cabos feitas de materiais orgnicos (cor- aos nossos dias (os livros 4, 5, 7 e 8). Seu Livro 8 ofe-
das e tendes de animais) era que seu desempenho no rece conselhos sobre as vrias formas de defender as
era afetado pela umidade. Sua obra sobre a compressi- muralhas das cidades contra o stio, tanto por terra
bilidade e elasticidade do ar tambm foi importante e como por mar. Para capturar uma cidade sitiando-a,
lhe rendeu o ttulo de pai da pneumtica. Ele inventou Filon primeiro aconselha que impor tante fazer uso
a bomba de suco que ainda hoje usada para bombe- adequado de mquinas como catapultas e outras m-
ar gua verticalmente e muitas mquinas movidas a quinas de guerra. Mas, como ele prossegue, tambm
gua ou energia pneumtica, algumas incorporando en- impor tante tentar fazer com que os habitantes da ci-
grenagens mecnicas. Entre estas estava um guindaste dade passem fome, subornar as pessoas adequadas
hidrulico capaz de erguer grandes pesos, e seu famoso para ajudar, envenenar os sitiados, e usar criptografia
relgio de gua. para passar mensagens secretas. Ele tambm ressal-
ta a impor tncia de um bom mdico, e afirma que
Talvez o maior feito de Tesbio no desenvolvimento de aqueles que foram feridos em batalha de forma to
todas as formas de engenharia seja o fato de que ele grave que j no podem trabalhar deveriam receber
considerado como o fundador e primeiro diretor da penses, e que se deveria cuidar das vivas dos mor-
Escola de Engenharia de Alexandria. Fundada em 230 tos.
a.C. e intimamente relacionada com o Museu de
Alexandria, seu fim era educar e treinar engenheiros mi- Seu livro sobre catapultas (Livro 4) o mais importante
litares e engenheiros mecnicos. Se o museu de para a histria do projeto de engenharia. Embora seja
Ptolomeu Soter hoje deveria ser chamado de universida- uma das primeiras obras substanciais sobre mecnica,
de, ento seria melhor chamar a escola de Tesbio de no obra de um matemtico acadmico. Ele oferece as
cole polytechque, para usarmos o termo cunhado bases cientficas do funcionamento de muitos engenhos
para a nova escola de engenharia fundada na Frana do e mquinas de guerra, e, o que mais importante, re-
sculo XVIII, dedicada a aproximar a teoria da prtica gistra as etapas de projeto usadas pelos engenheiros
(veja o captulo 6, p. 302). militares romanos para a determinao das dimenses-
chave de armas como catapultas e balistas. Embora
Filon (ou Filo) de Bizncio (c. 280220 a.C.) era prova- Filon estivesse relatando os mtodos de projeto de en-
velmente um engenheiro militar, mas nenhum de seus genharia militar de sua poca, eles eram, evidentemen-
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Mechanica (em trs livros) Architectura (Arquitetura), escrito por Vitrvio (Marcus
Metrica, dedicada a mtodos de medio Vitruvius Pollio que trabalhou de 46 a 30 a.C) e pu-
Zygia, ou Equilbrio (perdido), mencionado pelo matemti- blicado em Roma por volta de 25 a.C. Embora tenha
co grego Papo (Pappus) de Alexandria (c. 290350 sido escrito no perodo romano, o contedo desta obra
d.C.) per tence, em termos culturais, tanto Grcia como a
Dioptra, que trata de teodolitos e topografia Roma. Fica claro nos agradecimentos do texto que
Comentrio sobre os Elementos de Euclides muitos autores j haviam escrito sobre os mesmos as-
Belopoeica, que descreve como construir mquinas de suntos durante os sculos anteriores, e Vitrvio admi-
guerra e cobre assuntos similares queles das obras te que se baseia muito neles. Assim, quando Vitrvio
de Filon e Vitrvio escreve sobre como projetar um templo, no fica clara
Camarica, ou Abbadas (perdido), mencionado por Eutcio a idade de tais orientaes. No contexto atual, isso
de Ascalon no faz muita diferena. Das evidncias tiradas de
Pneumatica (em dois livros), um estudo das mquinas muitas edificaes que restaram da Grcia antiga, pa-
mecnicas acionadas a ar, vapor ou presso da gua rece-nos provvel que muitas de suas orientaes
O Teatro Automaton, descrevendo um teatro de fantoches para projeto remontavam a, pelo menos, trs ou qua-
com cordes, polias, tambores e pesos tro sculos antes aproximadamente 400 a.C. Isso
Relgios de gua (em quatro livros) vale especialmente para suas descries dos mto-
Catoprica, tratando da luz, da viso e dos espelhos dos dricos e jnicos de projetar templos. Em alguns
Uma obra perdida sobre como usar um astrolbio, menci- assuntos, como acstica, Vitrvio transcreveu literal-
onada no sculo X. mente idias e palavras de gregos de muitos sculos
antes. Em outros temas, como materiais e projeto de
Mechanica, o tratado de Hron sobre mecnica para en- manufatura de armamentos, Vitrvio escreve com
genheiros, basicamente segue as idias de Arquimedes, base em sua prpria experincia, assim, podemos
cobrindo os conceitos tericos e os princpios de funcio- pressupor que suas orientaes eram prticas corren-
namento de vrias mquinas e dando exemplos prticos tes por volta do ano 50 a.C.
de seus usos. O Livro 1 examina como construir formas
tridimensionais proporcionais a determinada forma. Ele Vitrvio foi um engenheiro que trabalhou durante o s-
tambm examina a teoria do movimento e certos proble- culo I a.C., primeiramente a ser vio de Jlio Csar e
mas de esttica, incluindo a teoria do equilbrio. No Livro de Otvio Augusto. Ele estudou e comeou sua carrei-
2, Hron discute o levantamento de objetos pesados ra como engenheiro militar, construindo e conser tando
com o uso de uma alavanca, polia, cunha ou parafuso. balistas e scorpiones (catapultas). Mais tarde, seus
H uma discusso sobre o centro de gravidade de figu- conhecimentos de gerenciamento de engenharia e pro-
ras planas. O Livro 3 examina vrios mtodos de movi- jeto fizeram que fosse encarregado de vrios projetos
mentao e transporte com guindastes e trens, e ele pblicos de engenharia civil (provavelmente para for-
tambm examina as prensas de lagar (de vinho) como necimento de gua), e ele teve um impor tante (mas
uma das aplicaes da fora mecnica do parafuso. desconhecido) papel na reconstruo de Roma, a cida-
Tambm interessa engenharia da edificao uma nica de de que Otvio Augusto posteriormente se orgulha-
e espantosa referncia feita pelo matemtico e escritor ria por hav-la encontrado feita de tijolo e deix-la
tcnico do sculo VI, Eutcio de Ascalon, a um livro per- feita de mrmore.12 Sabemos de apenas um projeto
dido sobre abbadas, tambm escrito por Hron. O ma- ao qual seu nome pode ser associado: a grande bas-
temtico Papo de Alexandria descreveu a abordagem de lica de Fano, uma cidade da Itlia central, na costa do
Hron: Mar Adritico.
Os engenheiros [mechanikoi] da escola de Hron dizem
que a engenharia pode ser dividida em uma parte terica Vitrvio escreveu seu livro no final da vida provavel-
e outra prtica; a parte terica composta da geometria, mente j aposentado, se imaginarmos que a vida profis-
aritmtica, astronomia e fsica; a parte prtica compreende sional de engenheiros de obras e gerentes de projeto
a manufatura de objetos de metal, construo, carpintaria, era, na poca, to atribulada como hoje e dedicou-a a
pintura e tudo que envolva habilidade com as mos.11 Otvio Augusto, que havia sido seu principal cliente.
impressionante que seu livro seja conhecido de forma
Marco Vitrvio Polio quase ininterrupta h mais de 2.000 anos. Muitas cpi-
Apenas um livro sobre projeto e construo de edifica- as manuscritas chegaram ao sculo XV, e em 1486 a pri-
es do perodo greco-romano chegou at ns: De meira edio impressa foi publicada. No entanto, todas
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A obra dividida em 10 livros, dos quais o ltimo, sobre engenharia militar, a profisso original de Vitrvio, o
maior. O contedo de cada um :
1 . A E D U CA O D O E N G E N H E I R O E D O P R OJ E T I S TA D E E D I F I CA E S ; O E S C O P O DA E N G E N H A R I A ; P L A N EJ A M E N -
TO D E C I DA D E S
2 . M AT E R I A I S D E C O N S T R U O PA R A E D I F I CA E S
3 . P R OJ E TO E C O N S T R U O D E T E M P LO S
4 . A R Q U I T E T U R A E E S T I LO S D O S T E M P LO S
5 . P R OJ E TO E C O N S T R U O D E E D I F C I O S P B LI C O S
6 . P R OJ E TO E C O N S T R U O D E CA S A S P R I VA DA S
7. M AT E R I A I S PA R A ACA B A M E N TO D E E D I F I CA E S
8 . C O M O E N C O N T R A R E F O R N E C E R G UA S C I DA D E S
9 . A S T R O N O M I A , R E L G I O S D E S O L E R E L G I O S D E G UA
1 0 . E N G E N H A R I A M E C N I CA M Q U I N A S PA R A LE VA N TA R P E S O S E E LE VA R G UA ; R O DA S D G UA E M O I N H O S ; A R -
M A M E N TO S , I N C LU S I V E CATA P U LTA S E B A LI S TA S , E M Q U I N A S PA R A S T I O .
Ele alterna entre projeto e construo como determinar as dimenses, as posies relativas, a orientao dos
componentes, e como selecionar e usar materiais adequados. Ele ressalta especialmente a importncia da econo-
mia o gerenciamento adequado de materiais e do canteiro de obras, bem como o uso do bom-senso para reduo
de custos, evitando-se, por exemplo, materiais que no estivessem disponveis na regio e aqueles difceis de traba-
lhar e usar. Ele tambm aconselha tomar cuidado com o custo das obras e o tamanho do bolso do cliente, alm da
necessidade de entregar ao cliente uma edificao adequada ao fim desejado.
Vitrvio distingue trs ramos da engenharia (architectura); engenharia da edificao, manufatura de relgios e fabrica-
o de mquinas, tanto aquelas para uso na construo como grandes armas de guerra. Ele considera que estas
trs artes baseiam-se em comum em trs habilidades: saber trabalhar os materiais para fazer coisas, ser capaz de
medir e fazer levantamentos topogrficos, e ser capaz de calcular usando a geometria e a aritmtica.
E N G E N H A R I A DA E D I F I CA O
C I DA D E S F O R T I F I CA DA S E O B R A S P B LI CA S
DE FE SA: Muralhas, torres, portes e recursos permanentes para se resistir a ataques hostis
U S O R E LI G I O S O : Templos e outros monumentos aos deuses imortais
F I N S U T I LI T R I O S : Portos, locais de reunio pblica como mercados, teatros, banhos pblicos, colunatas, passeios
pblicos
O B R A S PA R A I N D I V D U O S PA R T I C U L A R E S ( CA S A S )
R E LG IOS
R E L G I O S D E S O L E R E L G I O S D E G UA
E N G E N H A R I A M E C N I CA
M Q U I N A S E E Q U I PA M E N TO S PA R A C O N S T R U O
G U I N DA S T E S , G R UA S , H O D M E T R O
A R M A M E N TO S
B A LI S TA S , CATA P U LTA S , T E S T U D O S
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estas cpias devem ter permanecido misteriosas para Vitrvio e as etapas do projeto grego
os leitores do norte da Europa, pois elas no continham Da descrio detalhada feita por Vitrvio sobre os proce-
ilustraes das edificaes descritas por Vitrvio. dimentos de projeto para templos dricos e jnicos con-
clumos trs coisas sobre o planejamento e a constru-
As primeiras tradues de Vitrvio foram para o fran- o na Grcia antiga: primeiro, que os gregos haviam de-
cs, em 1673, e para o ingls, em 1692. Como de senvolvido processos seqenciais para o projeto de edi-
se esperar, estas e as verses subseqentes tendem ficaes; segundo, que tais atividades dependiam do
a refletir a formao e as posturas do tradutor alm uso do desenho e da geometria; terceiro, que tais mto-
das de Vitrvio. Isso talvez fique mais evidente no uso dos de certa forma incorporavam meios de transmitir ao
das palavras arquiteto e arquitetura para descre- projetista a confiana de que a edificao resultante fi-
ver Vitrvio e o contedo de seu livro. Um architeckton caria de p e funcionaria nas formas previstas.
grego era literalmente um controlador e organizador da
mo-de-obra talvez poderamos cham-lo de gerente Os projetos para templos dricos e jnicos foram criados
de projeto na linguagem de hoje. A palavra grega archi- por volta de 600 a.C. os dricos na Grcia continental
tecktura abarcava o que atualmente seria chamado de e no sul da Itlia e na Siclia; os jnicos, na sia Menor
engenharia mais arquitetura, e Vitrvio usa a palavra e nas ilhas do Mediterrneo. Eles diferiam no apenas
architecti como transliterao da lngua grega, j que em aspecto, mas tambm na forma em que eram execu-
no havia uma palavra correspondente adequada em tados.
latim. As dificuldades que Vitrvio teve em traduzir
idias gregas para o latim foram aumentadas pelas di- Os projetos dricos, como repetiu Vitrvio usando suas 14
ficuldades dos tradutores do texto em latim de Vitrvio fontes gregas, tinham uma concepo de elegante simpli-
para as lnguas europias modernas; muitos equvo- cidade. Eles exigiam a seleo de um mdulo nico e fun-
cos sobre as tcnicas de construo foram introduzi- damental que correspondia metade do dimetro de uma
dos por tradutores que no dominam o assunto. A se- coluna, e, uma vez estabelecido este mdulo, todas as
guinte traduo das linhas de aber tura do Livro I, partes da obra eram ajustadas a partir de clculos base-
Captulo I, talvez respeite suas posturas como enge- ados nele.15 Assim como em outras sees de De
nheiro um pouco melhor do que a maior par te das tra- Architectura, onde ele descreve antigas prticas gregas,
dues modernas: Vitrvio usa a palavra grega embates para mdulo, j que
Architektura [engenharia e arquitetura] um conjunto de no havia uma palavra latina correspondente. Assim, de
conhecimentos que engloba muitas disciplinas e cincias acordo com um conjunto particular e uma seqncia de
que tambm podem ser aplicadas a outras artes. As obras clculos usados, as etapas de projeto para as vrias di-
acabadas nascem da percia na manufatura e no projeto. A menses de toda a edificao podiam ser estabelecidas,
percia na manufatura advm do estudo constante da mo- permitindo que o arquiteto tivesse uma certa liberdade
de-obra qualificada e do uso de materiais para se criar de para selecionar mltiplos e propores adequados ao uso
acordo com o resultado desejado. Projetar a habilidade da edificao. Este exatamente o mesmo mtodo que
de se transmitir o esquema do objeto finalizado para as de- havia sido desenvolvido pelos projetistas de catapultas 15
mais pessoas, e dar uma explanao racional para o esque- ou balistas, e, considerando que a tecnologia militar sem-
ma, usando conhecimentos de engenharia e princpios ci- pre esteve frente da tecnologia civil, podemos pressu-
entficos.13 por que o uso do mdulo tenha sido desenvolvido primei-
ramente para a construo de armamentos.
As linhas originais em latim so as seguintes:
Archtecti est scientia pluribus disciplinis et variis eruditioni- Os projetos jnicos eram mais complexos e sofisticados
bus ornata quae ab ceteris artibus perficiuntur. Opera ea do que os dricos. Nem todos os elementos da edifica-
nascitur ex fabrica et ratiocinatione. Fabrica est continuata o se relacionavam com um nico mdulo, mas havia
ac trita usus meditation, quae manibus perficitur e materia uma srie de derivaes, de tal modo que as dimenses
cuiuscumque generis opus est ad propositum deformatio- de cada elemento eram calculadas sucessivamente a
nis. Ratiocinatio autem est, quae res fabricatas sollertiae partir de outro elemento, que geralmente era o imediata-
ac rationis proportione demonstrare atque explicare po- mente anterior. As propores entre as partes consecuti-
test.14 vas tambm eram mais complexas do que no estilo dri-
co, e as propores entre partes muito afastadas eram
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+ Tetrstilo (4)
Hexstilo (6)
Escolha o nmero de colunas Octostilo (8)
(o intercolnio tpico de
3 a 6 metros)
Picnostilo (1,5 D)
+ Sistilo (2 D)
Eustilo (2,25 D)
Escolha a razo entre o dimetro Distilo (3 D)
da coluna (D) e o intercolnio Areosistilo (3,5D)
14 15
quados aos vrios locais do Imprio Romano, conforme Vitrvio devota um captulo inteiro orientao das
a temperatura, o regime de chuvas, a umidade, os ven- ruas em relao aos ventos quatro, de acordo com al-
tos dominantes e a latitude. Ele tambm d recomenda- guns, mas oito, conforme investigadores mais cuida-
es, em seu modo racional tpico, sobre a implantao dosos16 e d instrues detalhadas de como identi-
de cidades em relao ao mar, aos rios, a pntanos que ficar as direes destes ventos com preciso, usando
emitem vapores insalubres etc. Os templos deveriam a sombra de um ponteiro (como em um relgio de sol).
estar voltados para o oeste, de modo que aqueles que Em uma cidade na ilha de Lesbos, por exemplo, as pes-
se aproximassem do altar com oferendas ou sacrifcios soas aparentemente adoeciam quando o vento sopra-
estivessem voltados para o nascer do sol. Caso isso no va do sul, comeavam a tossir quando vinha do noroes-
fosse possvel, a orientao deveria garantir que o deus te, e, embora se recuperassem quando o vento vinha
abrigado no santurio tivesse a melhor visibilidade pos- do nor te, no conseguiam ficar nas ruas, devido ao frio
svel da cidade, e vice-versa. Os templos junto a rios ou intenso. Um conselho mais geral era que todos os ven-
estradas deveriam estar voltados para estes, possibili- tos traziam doenas, assim as casas deveriam ter a
tando aos transeuntes verem os deuses em seus santu- melhor vedao possvel, para que os ventos fossem
rios e fazerem suas preces cara a cara. barrados.
14 Elementos das ordens drica e jnica. 15 Fluxograma indicando os procedimentos para o projeto de um templo no estilo
drico, c. 600400 a.C., a partir de uma descrio dada por Vitrvio, c. 25 a.C.
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Uma ltima recomendao feita por Vitrvio sobre acs- O arco e sua sucesso, a abbada de bero, permitiram
tica era para o edifcio do Senado. Segundo ele, a altura que pedras ou tijolos relativamente pequenos e fceis
do prdio deveria corresponder metade de sua largura, de manusear formassem estruturas capazes de vencer
e as coronae, ou cornijas, deveriam ser feitas de madei- grandes vos tanto para pontes como para aquedutos,
ra ou estuque e fixadas na meia altura das faces inter- e, posteriormente, para coberturas e em estruturas de
nas das paredes ao redor de toda a sala. Sem estas, ele uso universal em edificaes. Este era um contraste
diz, as vozes das pessoas envolvidas nos discursos se imenso em relao s gigantescas pedras necessrias
perderiam com o p-direito alto. As cornijas permitem construo de um templo grego. As economias de tempo
que o som das vozes seja contido antes de subir, e e dinheiro devem ter sido enormes. Como trabalham por
assim seja mais inteligvel aos ouvidos.20 compresso, os arcos podem ser feitos de pedra de pra-
ticamente qualquer qualidade, ao contrrio das vigas
O legado da engenharia romana das construes arquitravadas, que exigiam material da
Talvez o aspecto mais notvel sobre a engenharia da edi- mais alta qualidade. Pedras adequadas a arcos podiam
ficao e os mtodos construtivos usados no perodo ser encontradas em praticamente qualquer lugar, no
grego e no incio do perodo romano seja o fato de que precisando ser transportadas de pedreiras especficas;
eles foram basicamente os mesmos usados nos dois elas podiam ser carregadas com facilidade em peque-
mil anos que se seguiram. Isso no significa denegrir as nas carroas, e, sempre que no havia pedras dispon-
geraes posteriores a eles, mas sim reconhecer o pro- veis, podiam ser substitudas por tijolos de barro. Para
gresso incrvel que j havia sido feito por volta de 100 uso em edificaes, onde um acabamento superficial de
a.C. H muitas coisas impressionantes nas tcnicas de alta qualidade era muitas vezes necessrio, pedras ou ti-
construo daquela poca, mas entre as mais surpreen- jolos de qualidade baixa ou irregular podiam ser revesti-
dentes para os dias de hoje podemos listar: dos com estuque ou argamassa e pintados. Os romanos
a preciso dos mtodos de medio e topografia tambm descobriram os benefcios econmicos do uso
a produo de materiais de construo artificiais (tijolo, da argamassa em suas alvenarias: ela significava que
concreto e ferro) em enormes quantidades apenas a superfcie visvel de uma estrutura de pedra ou
a descoberta do cimento hidrulico (veja o Apndice D) tijolo precisava ter alta qualidade de acabamento. As de-
o uso do arco e da abbada de bero mais faces podiam ter acabamento mais rstico, pois
o uso de armaes estruturais de madeira em pontes e qualquer irregularidade seria coberta com argamassa.
cimbres em arcos, abbadas e cpulas Levando esta idia ao extremo, os romanos desenvolve-
o uso de procedimentos de projeto e plantas baixas, ele- ram a tcnica de se colocar tijolos ou pedras na face in-
vaes e perspectivas como parte corriqueira do traba- terna de uma frma de madeira e encher o vazio com
lho de um projetista de edificaes concreto. Quando a forma era removida, o efeito era de
a capacidade de manuseio de pedras de peso e ta- uma parede de concreto revestida com tijolos ou pedra.
manho gigantesco, bem como de ergu-las a gran- Diferentes tipos de aparelhos recebiam nomes distintos.
des alturas Opus reticulatum, por exemplo, era feito usando-se tijo-
a capacidade de logstica necessria para arranjar los ou pedras na forma de uma pirmide de base qua-
enormes suprimentos de materiais de construo drada, assentados em padro diamante sobre a face
o treinamento e a organizao de grandes nmeros de aparente da parede. Quando se usava tijolo ou pedra de
trabalhadores. qualidade inferior, a superfcie podia ficar quase perfeita,
revestindo-se com uma camada de estuque ou reboco.
Os engenheiros romanos haviam aprendido e desenvol-
vido estas habilidades principalmente atravs da cons- Arcos e abbadas de pedra reduziram substancialmente
truo de estradas e pontes para fins tanto militares o tempo e o custo de construo em comparao exe-
como comerciais, construindo fortificaes e criando cuo de alvenarias tradicionais. O uso generalizado do
meios de fornecimento de gua para a demanda das ci- concreto provavelmente levou a redues ainda maio-
dades em crescimento. Suas conquistas nestas reas res. (Para detalhes sobre o concreto e seu preparo, veja
foram aceleradas, e o custo de tais obras foi reduzido o Apndice 3.) As matrias-primas estavam disponveis
atravs da explorao de dois avanos tecnolgicos em por todo o imprio e podiam ser transportadas soltas ou
particular: o arco e o uso do concreto. Os romanos no em recipientes de qualquer tamanho; gua haveria no
inventaram nenhuma destas tecnologias ambas re- canteiro-de-obra ou prximo a ele. A cal virgem, usada
montam ao incio da civilizao mas, sem dvida, nin- para se fazer a argamassa de cal, precisava ser trans-
gum as explorou de modo to efetivo. portada do forno de cal mais prximo, mas os agregados
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16 Teatro romano, Triers, Alemanha, c. 200 d.C. Reconstruo. 17 (Pgina seguinte) Aquedutos romanos. Pintura de Zeno
Diemer, 1914. O Aqua Marcia foi terminado em c. 145 a.C. (observe os reparos sendo executados direita); Aquae Tepula
e Julia foram acrescentados em 127 a.C. e 33 a.C. Aqua Anio Novus, construdo sobre o Aqua Claudia ( esquerda), foi ter-
minado em 52 d.C.
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midos e arenosos estavam disponveis em praticamen- partir do sculo II a.C. Cada arco e abbada que os ro-
te qualquer lugar, e agregados grados tambm podiam manos fizeram deve ter exigido uma estrutura de madei-
ser encontrados em pedreiras locais ou feitos moendo- ra substancial para sustentar o peso considervel das
se rochas ou pedras de qualquer qualidade. O concreto pedras, dos tijolos ou do concreto at que o vo fosse
podia assumir todas as formas com o uso de frmas de fechado. Detalhes sobre esses cimbres provavelmente
madeira, e era ideal para preparo e lanamento por gran- continuaro sujeitos especulao, uma vez que eram
des quantidades de trabalhadores ou tropas relativa- temporrios. Acredita-se que alguns venciam vos de
mente desqualificadas. As frmas de madeira muitas mais de 20 metros. Sabemos, no entanto, que a ponte
vezes eram o material mais escasso, mas, com certo de madeira construda sobre o Rio Danbio pelo enge-
cuidado, podiam ser usadas muitas vezes. nheiro Apolodoro a mando do Imperador Trajano (que go-
vernou de 98 a 117 d.C.), tinha 21 vos, cada um com
Os romanos tm o grande crdito, claro, de terem des- 35 a 40 metros. Baseando-nos apenas nesta evidncia,
coberto e explorado o uso do cimento hidrulico, que razovel supor que, j no sculo II a.C., os engenhei- 18
completa o processo qumico da cura na presena de ros romanos tinham habilidades em carpintaria que po-
gua em excesso em outras palavras, ele endurece diam, no mnimo, rivalizar com aquelas dos construtores
imerso em gua. Embora a pulvis Puteolanus (atual pozo- das catedrais medievais. Uma trelia de cobertura em
lana), seu ingrediente crucial, fosse encontrada em mui- madeira para um vo de 20 m estaria, portanto, dentro 19
tos locais na base do Monte Vesvio, foi a cidade de de suas capacidades, embora nenhuma evidncia direta
Puteoli (atual Pozzuoli) que lhe deu o nome. Na verdade, tenha chegado aos nossos dias.
os romanos no foram os primeiros a descobrir que a
adio de certos minerais argamassa de cal lhe confe- Nesta poca, ferro e bronze tambm eram abundantes,
riria tal propriedade. Entre outros materiais que produ- embora seu uso em edificaes fosse limitado. O ferro era
zem o mesmo efeito, est o que Vitrvio chama de pedra usado em grampos para locao de estruturas de alvena-
carbuncular, produzida com o aquecimento de certas pe- ria e s vezes era inserido no concreto, embora no o re-
dras. Sejam l quais forem suas origens, o cimento hi- forasse da forma como o empregamos atualmente. O
drulico revolucionou o uso do concreto a partir do ano bronze era ocasionalmente usado para outros fins alm
150 a.C., possibilitando a construo de estruturas da decorao. Trs colunas de bronze com cerca de 7 me-
como aquedutos impermeveis, portos martimos e fun- tros de altura, alm do capitel de uma quarta, originrias
daes de concreto em terrenos alagadios. do perodo romano, esto na Baslica de San Giovanni in
Laterano (So Joo em Laterano), em Roma. A igreja data
A primeira ponte com arcos de alvenaria de Roma, a do incio do sculo IV, mas foi profundamente alterada na 20
Pons Aemilius, foi construda entre 179142 a.C; duas Idade Mdia e no Renascimento. Uma lenda conta que o
outras foram erigidas por volta de 62 e 46 a.C. No en- bronze usado foi retirado das proas dos navios de Marco
tanto, as estruturas mais impressionantes foram fei- Antnio (c. 8230) capturados no Egito.
tas para se fornecer gua a Roma: os aquedutos. Um
17 destes, fazendo parte do Aqua Claudia, completado Vitrvio atuou como engenheiro nas ltimas dcadas
por Cludio (que governou de 41 a 54 d.C.), carregava antes de Augusto transformar Roma com a construo
gua cidade atravs de uma estrutura de arcos com civil. Como introduo esta era impressionante, vale a
13 km de comprimento, e grande parte dele ainda est pena examinar a nica edificao que temos certeza que
de p. O aqueduto romano de Segvia, na Espanha, foi projetada e construda por Vitrvio, a nova baslica
completado em 109 d.C., permaneceu em uso at o em Fano, no sudeste da Itlia, logo a sul de Rimini. 21, 23
sculo XX. Embora j no exista, ela representou o clmax de 500
ou 600 anos de desenvolvimento contnuo de tcnicas
O uso da madeira para construo em Roma represen- de construo e engenharia em toda a Itlia, Grcia e
tou um indiscutvel avano em relao Grcia antiga. mais alm, e era um exemplo tpico de muitos prdios
No sabemos quando foi desenvolvido o uso de arma- civis da Itlia pr-imperial. Ela consistia de um ptio in-
es estruturais com sambladuras de encaixe. Tais terno fechado em trs lados por uma edificao de dois
construes provavelmente foram empregadas em tor- pavimentos, a qual tinha um grande salo com p-direi-
res de cerco e estruturas temporrias por exemplo, to duplo e uma colunata fechando o quarto lado. O ptio
para suporte e acesso durante a construo de grandes interno era coberto por um telhado em vertente sobre
embarcaes. A evidncia mais direta que temos do uso um vo de 18,5 metros por 35 metros. O telhado era
de construes com estrutura de madeira so os muitos sustentado por vigas de madeira quadradas, com cerca
arcos de alvenaria que estavam sendo construdos a de 60 cm de largura, as quais, por sua vez, eram apoia-
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18 Ponte de Trajano, sobre o Danbio, na atual Romnia, c. 100 d.C. Projetista: Apolodoro de Damasco. Mostrado no relevo
da Coluna de Trajano, Roma, 113 d.C. 19 Relevo mostrando estrutura de telhado em madeira e sistemas de sustentao
temporrios em Roma.
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das em colunas de pedra de 15m de altura e 1,5 metro de 30 X 50 metros em planta, embora sejam conhecidos
de dimetro. exemplos muito maiores ou muito menores. As plantas
baixas dos diferentes pavimentos eram bastante simila-
Embora no seja impressionante na histria da constru- res, e o prdio tinha um nico telhado. Costumavam ter
o, exatamente isso que torna a baslica de Vitrvio quatro ou cinco pavimentos, mas alguns provavelmente
digna de nota. Aqui temos uma edificao comum execu- eram bem mais altos, pois Augusto imps um limite de
tada em uma pequena cidade na costa do Mar Adritico altura de 70 ps romanos sete ou talvez oito andares.
que, apesar de tudo, exigiu conhecimentos consider- Tais edificaes j eram construdas no sculo III a.C. ou
veis: as maiores vigas tinham cerca de 20 metros de antes temos evidncias escritas de que certa vez uma
comprimento e provavelmente pesavam entre 4 e 5 to- vaca subiu sozinha at o terceiro pavimento de uma in-
neladas; j os tambores das colunas principais devem sula romana. Elas tambm no eram construdas apenas
ter pesado quase 20 toneladas cada um. Erguer e ma- na Itlia; quando os romanos saquearam Cartago em
nobrar objetos to pesados, colocando-os em suas posi- 146 a.C., encontraram edifcios de seis pavimentos. Um
es corretas sem usar energia eltrica ou a vapor, no grupo de apartamentos, ou cenaculae, era acessado por
era pouca coisa e seria um grande desafio para enge- uma escada comum que levava at a rua. As insulae
nheiros de at mesmo hoje em dia, mas, ainda assim, tambm tinham abastecimento de gua para consumo,
tal habilidade era certamente comum no incio do banho e esgotamento das latrinas, que eram conectadas
22 Imprio Romano. Esta edificao e inmeras outras tes- ao sistema pblico de esgoto. Esta gua, no entanto, era
temunham a capacidade dos romanos de reunir tcnicas disponibilizada apenas no pavimento trreo, pois a tubu-
bastante modestas para produzir estruturas e prdios de lao de chumbo que distribua a gua dos aquedutos
grande variedade e qualidade, sem deixar de racionalizar no conseguia sustentar a presso de gua necessria
o uso dos recursos. De modo familiar a ns, Vitrvio ob- para fornecer gua aos demais pavimentos. A partir do
servou, no que se chamaria hoje de Engenharia de sculo I a.C., as insulae geralmente tinham cozinhas,
Valor (Value Engineering), que ele evitou em Fano vrias embora alimentos cozidos fossem rapidamente forneci-
tarefas de construo complicadas ao omitir um entabla- dos nos muitos restaurantes e nas tabernae, o equiva-
mento ornamental, alm de uma segunda colunata so- lente romano de nossos restaurantes de fast-food. No
breposta e uma faixa de painis internos, e, assim, con- sculo I d.C., muitas insulae vrias de Pompia e
seguiu reduzir o custo geral do prdio. Herculano e uma de stia, o porto no Mediterrneo que
servia Roma tinham latrinas no segundo pavimento, as
Ainda que a baslica de Vitrvio no mais exista, h mui- quais eram conectadas diretamente ao esgoto pblico.
tos vestgios contemporneos que confirmam que as ci-
dades romanas do perodo eram extremamente sofisti- Na verdade, as insulae viraram a casa privada romana
cadas especialmente o porto de stia, perto de Roma, ao avesso. Ao contrrio da casa vitruviana clssica, ou
e as cidades de Herculano e Pompia, que foram mumi- domus, que se voltava para um ptio interno, o trio, a
25 ficadas no ano 79 d.C. com a erupo do Monte Vesvio. fachada de uma insula era aberta e pblica, e os habi-
Uma cidade da provncia de Roma era um lugar belo e or- tantes olhavam para a cidade. Dentro de algumas insu-
gulhoso. Muitas das avenidas eram pavimentadas, e lae, o ptio interno fornecia luz s janelas dos recintos
havia fornecimento pblico de gua e algum esgoto. que no abriam para a fachada da rua. Os apartamentos
Alm de uma variedade de habitaes privadas, cada ci- mais disputados eram nos pavimentos trreo e segun-
dade provavelmente tinha uma dzia de edificaes p- do, no apenas por que deles se podia ver melhor a rua,
blicas mais importantes, incluindo muitos templos, uma mas por que eram mais fceis de evacuar em caso de
baslica, o frum, o mercado pblico, diversos banhos incndio.
pblicos e teatros, e um anfiteatro, tudo protegido por
uma muralha. No obstante, as novas fachadas voltadas para a rua ti-
nham seus problemas, especialmente o barulho, ainda
Os edifcios de apartamentos romanos: as insulae que no sculo II as janelas com vidros j tivessem subs-
Nas maiores cidades da Itlia, os romanos erigiam edif- titudo a maior parte daquelas que tinham apenas corti-
cios de apartamentos chamados de insulae (ilhas). Cada nas ou postigos de madeira. No Livro 12 de sua coleo
um destes prdios ocupava toda uma quadra definida de epigramas, o satirista Marcial (c. 40 c. 104 d.C.) diz
por uma retcula urbana ortogonal, tinha lojas varejistas a seus leitores que o rudo da cidade que tantas vezes
24, 26 no pavimento trreo, e as fachadas, muitas vezes com lhe leva para sua villa relativamente modesta no campo.
sacadas, eram voltadas para a rua, de modo bastante Em seu apartamento no quarto pavimento de uma insu-
parecido com os prdios de hoje. Em geral, teriam cerca la do Monte Quirino, em Roma, ele era constantemente
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20 Baslica de San Giovanni in Laterano, Roma, inaugurada pela primeira vez em 324 no terreno de um palcio romano.
Redesenhada por Francesco Borromini, 164650. Trs das colunas de bronze datam de c. 100 d.C. 21 Baslica, Fano, Itlia,
c. 30 a.C. Planta baixa. 22 Relevo do sarcfago do tmulo da famlia Haterii, Roma, c. 100 d.C., mostrando um guindaste ro-
mano tracionado por cinco homens em uma roda de degraus. 23 Baslica de Fano. Arquiteto e engenheiro: Vitrvio. Interior.
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B U I LD I NG AN D E NG I N E E R I NG I N ANCI E NT TI M E S
24
25 26
24 Casa de Diana, um tpico edifcio de apartamentos romano, chamado de insula, Ostia, Itlia, sculo I a.C. Maquete (re-
construo). 25 Construo romana com estrutura de madeira, Pompia, Itlia, sculo I a.C. 26 Pintura mural mostrando
trabalhadores em ao, tmulo de Trebius Justus, Roma, incio do sculo IV d.C.
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ria ao cozimento de alimentos; foi o escurecimento das Vitrvio defende a prtica grega de fechar as fachadas
paredes e da cobertura causado pelas cinzas do fogo norte das casas (hemisfrio norte) e abrir as fachadas
que originariamente deu ao trio seu nome, pois a pala- sul para o calor do sol. Ele aconselha queles que esto
vra latina para preto ater. construindo casas em climas mais temperados voltar
suas salas de jantar para o sol poente, de modo que
Na poca de Vitrvio, j era comum que as casas maio- possam gozar de seus benefcios durante o jantar. A par-
res tivessem calefao central nas localidades onde o tir do sculo I d.C., os construtores romanos comearam
inverno era rigoroso, tanto na Itlia como alm, medi- a instalar vidros ou finas lminas de mica ou selenita
da que os romanos se deslocaram para o norte, coloni- nas janelas das casas mais luxuosas; o estadista e fil-
zando a Europa. O hipocausto romano climatizava as edi- sofo Sneca (3 a.C.65 d.C.) menciona em uma carta
27 ficaes atravs do ar que era aquecido e circulado por escrita perto do fim de sua vida que as janelas transl-
um pleno sob os pisos de pedra, no pavimento trreo, e cidas haviam sido inventadas no tempo em que ele vivia.
ento levado para o alto atravs de muitos dutos feitos Os panos transparentes no somente admitiam a luz,
de argila e embutidos nas paredes. Em algumas edifica- mas tambm permitiam o efeito estufa, pois deixavam
es com dois pavimentos, o ar quente era insuflado que a radiao luminosa (de alta freqncia) entrasse no
ainda mais para cima atravs de dutos no segundo pavi- recinto, mas evitavam que a radiao trmica (de baixa
mento e de sadas de ar no nvel do telhado, para que freqncia) escapasse pelas janelas os mesmos prin-
fosse gerada a diferena de presso necessria para cir- cpios usados hoje em dia. Plnio, o Jovem (c. 61113),
cular o ar atravs dos dutos. Considera-se que o hipo- se refere a um de seus cmodos favoritos como um he-
causto foi inventado e amplamente comercializado por liocaminus um forno solar. Os banhos da Vila de
volta do ano 80 a.C. pelo empresrio Srgio Orata Adriano, em Tivoli (construdos entre 120 e 125), tinham
(Sergius Orata), que usava o sistema para aquecer a uma dessas salas, e havia outra, que inclua piso radi-
gua de seus criadouros de peixes. Orata aparentemen- ante, nos banhos pblicos construdos por volta de 150
te enriqueceu instalando sistemas de calefao com for- em Ostia. Todos esses ambientes tinham janelas com vi-
nalha em banhos pblicos e em casas privadas. Embora dros ou mica. Os jardineiros romanos dessa poca usa-
o uso dos hipocaustos em banhos pblicos (thermae) vam o mesmo princpio para proteger suas plantas ex-
tenha se popularizado rapidamente, foi apenas a partir ticas com estruturas trmicas envidraadas durante o in-
do sculo III d.C. que eles foram instalados nas casas verno, e os romanos abastados cultivavam plantas ex-
dos ricos, especialmente nas regies mais frias ao norte ticas em pequenas estufas; o satirista Marcial reclamou
do imprio. que os recintos de seu apartamento em uma insula
eram to frios que ele se sentiria melhor se fosse trata-
No entanto, o hipocausto exigia combustvel, e o nico do como uma das plantas de seus mecenas.
combustvel disponvel na Itlia era a madeira. Um hipo-
causto grande podia consumir 120 kg de madeira por Os Grands Projets da Roma imperial
hora, ou uma tonelada por dia. O historiador romano Tito A formao do Imprio Romano em 27 a.C. assinalou o in-
Lvio (Titus Livius, 59 a.C.17 d.C.) comentou que, por cio do perodo mais extraordinrio da engenharia e da
volta de 350 a.C., as colinas perto de Roma tinham flo- construo de edificaes romanas. Seu sucesso era de-
restas quase to densas como as da Alemanha. Na vido ao prprio sistema poltico: autoridade absoluta com-
poca de Vitrvio, a maior parte da Itlia j estava des- binada com a necessidade de se disfarar, de certo modo,
matada, e, embora se plantassem algumas rvores para tambm de se justificar como uma conseqncia das as-
carvo, madeira para todos os fins j era importada de piraes populares. As muitas geraes de ditadores e l-
localidades a centenas de quilmetros de distncia. deres romanos, mas especialmente os imperadores a par-
Mais ou menos na mesma poca, o gegrafo Estrabo (c. tir de Otvio Augusto, se sentiam praticamente obrigadas
63 a.C.21 d.C.) relatou que os moradores da ilha de a investir assombrosas quantidades de dinheiro em obras
Elba haviam fechado suas minas de ferro por falta de pblicas edifcios administrativos, templos, infra-estrutu-
combustvel, e o naturalista Plnio, o Velho, atribua o de- ra urbana, lugares de lazer e entretenimento, e, claro,
clnio da produo de metal da regio da Campnia, no monumentos que comemorassem a grandeza do imprio.
sul da Itlia, mesma causa. No seria a primeira nem a ltima vez que o setor da cons-
truo seria crucial realizao de ambies polticas. A
A escassez e o alto custo do combustvel forou os ro- arrancada da construo civil era, em grande parte, con-
manos, assim como est nos forando atualmente, a seqncia direta da Pax Romana, o nome dado aos dois
buscar meios mais efetivos de usar a energia solar. sculos de relativa paz na Europa que iniciaram com a as-
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censo de Otvio Augusto ao poder. A construo de pr- era simplesmente colossal. Exceto por algumas exce-
dios cvicos e de infra-estrutura urbana era a melhor forma es notveis, mas extremamente raras, nunca mais na
de se manter as habilidades dos engenheiros militares en- histria da humanidade se construiu em tal escala com
quanto no eram solicitados para a construo de fortifi- o uso da madeira e alvenaria ou concreto. Foi apenas
caes ou equipamentos de stio. com o uso do ferro e do ao em meados do sculo XIX
que muitas das conquistas romanas foram superadas.
As aspiraes dos imperadores romanos puderam ser al-
canadas somente graas ao desenvolvimento extraordi- O progresso na engenharia, assim como na matemtica
nrio da engenharia que havia ocorrido durante os scu- e nas cincias, cumulativo. No entanto, tal progresso
los anteriores. Em apenas 200 ou 300 anos, os gregos se desenvolve de diferentes modos, conforme a nature-
haviam aprendido a construir edificaes colossais za de cada disciplina. A matemtica e a cincia so ca-
como o Partenon. Por volta de 50 a.C., j era rotina para racterizadas por serem conhecimentos do tipo que
os romanos erigir grandes edificaes em um imprio podem ser escritos e, portanto, ensinados, aprendidos e
que se expandia. Os 250 anos seguintes testemunha- facilmente transmitidos e desenvolvidos de gerao para
ram o que deve ter sido o perodo mais incrvel da hist- gerao. Desde a poca dos primeiros escritos sobre en-
ria da construo e da engenharia de obras talvez genharia na Grcia antiga, era reconhecido que a enge-
ainda mais impressionante do que o prprio sculo XX, nharia difere da cincia por consistir de dois tipos de co-
pois foi alcanado sem a ajuda da cincia, que torna to nhecimento: um lado terico ou cientfico que pode ser
fcil modelar nossos prdios e prever seus comporta- escrito, e um lado prtico que s pode ser aprendido fa-
mentos, e sem motores movidos a eletricidade, a gasoli- zendo. Os conhecimentos na engenharia apenas podem
na ou a diesel, que nos permitem movimentar e elevar crescer e avanar se houver continuidade em ambos
materiais com tanta facilidade. No sculo I d.C., o cres- seus lados componentes. No apogeu do Imprio
cimento acelerado da construo inclua toda uma gama Romano, o ensino de engenharia florescia no principal
de edificaes de uso pblico e privado, alm da maior politcnico ou escola de engenharia, em Alexandria, e
parte da infra-estrutura de engenharia civil que conhece- nas muitas escolas locais nas quais eram treinados os
mos hoje. A escala de tais edificaes e de outras obras milhares de engenheiros militares necessrios aos exr-
27 Corte perspectivado de um hipocausto romano tpico, mostrando a estrutura sob o piso e a fornalha, os dutos nas pare-
des e a exausto no nvel da cobertura.
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citos romanos. L se ensinavam a geometria e a mec- que um grupo de arquibancadas em torno de uma arena.
nica desenvolvidas pelos grandes matemticos, cientis- O primeiro anfiteatro permanente de Roma foi constru-
tas e engenheiros da Grcia antiga. A geometria permitia do durante o governo de Augusto, mas foi provavelmen-
aos engenheiros visualizar e comunicar formas bi e tridi- te destrudo pelo incndio de 64 d.C.
mensionais, e lhes fornecia os meios para definir o de-
senho tanto de um pequeno componente como de uma No ano de 72 d.C., o clima poltico mais uma vez era pro-
grande edificao, de modo que se pudesse instruir os pcio para a construo de uma grande obra pblica, e o
artesos ou empreiteiros. Era lecionado o funcionamen- novo imperador, Vespasiano (que governou de 69 a 79
to mecnico dos quatro meios fundamentais para se d.C.), o primeiro soberano da dinastia flaviana, aprovei-
obter vantagem mecnica, da mesma forma que ainda tou a oportunidade e mandou construir um novo anfitea-
(ou melhor, novamente) eles eram ensinados no sculo tro destinado a entretenimento gratuito e regular para o
XIX: a alavanca, a cunha, a polia e o parafuso. Na verda- povo. As atraes incluam lutas entre gladiadores
de, a capacidade de projetar e construir armamentos e (porm, ao contrrio da imagem transmitida por
edificaes, baseada na compreenso terica da mec- Hollywood, elas raramente resultavam em mortes huma-
nica e da prtica dos materiais e esforos, diferia muito nas). A arena tambm era usada para a apresentao de
pouco entre o perodo romano e o incio do sculo XVIII. lees, tigres, elefantes e outras feras exticas que fre-
qentemente eram postas para lutar entre si at a morte
Quando Augusto assumiu o poder, ele precisava fazer ou eram massacradas em grande nmero por gladiado-
uma declarao imediata e dramtica de suas intenes res. Dizem que em uma ocasio logo aps sua inaugura-
grandiosas para os povos de Roma e demais provncias, o o Coliseu foi alagado para a apresentao de uma
e ele se ps a reconstruir a capital. Durante seu reinado batalha naval simulada.
de 45 anos ele a transformou, justificando plenamente
o fato de se gabar, quando velho, que encontrara Roma O anfiteatro foi construdo no terreno onde, no passado,
construda em tijolo e a deixava construda em mrmo- havia um lago artificial ornamental do jardim do palcio do
re. Ainda assim, havia muito que ser feito aps a morte ex-imperador Nero. Acredita-se que o nome moderno do
de Augusto, em 14 d.C. Mesmo hoje, o mapa de Roma anfiteatro flaviano o Coliseu (Colosseum), registrado pela
testemunha os esforos feitos pelos imperadores suces- primeira vez no sculo XI devido a sua proximidade a
sivos para deixarem suas marcas na cidade, assim uma esttua gigantesca, ou colossal, que Nero havia
como os presidentes da Frana fizeram no sculo XX, encomendado de sua imagem como um Rei Sol, e que foi
com seus grands projets, como o Centre Pompidou. erguida na entrada de seu palcio, o Domus Aurea. Com
aproximadamente 35 metros de altura (incluindo sua
dificlimo selecionar uns poucos projetos que possam base), esta esttua era similar quela mais famosa que
ilustrar o incrvel legado dos imperadores, e se concen- havia junto ao porto de Rodes e que fora construda 300
trar em Roma significa ignorar outros excelentes proje- anos antes. O Colosso de Nero consistia de uma arma-
tos de edificaes romanas na Frana, na Espanha, na o estrutural (provavelmente feita de bronze) sustentan-
Inglaterra e em outros lugares. De qualquer forma, os do uma camada de chapas de bronze ornamentadas.
exemplos includos mostram o melhor da engenharia e Quando Vespasiano assumiu o poder, ele reformou a ca-
do projeto de edificaes romanos. bea original de modo que j no parecesse Nero, e,
cerca de 50 anos depois, o imperador Adriano mandou
O anfiteatro flaviano, ou Coliseu (c. 7280) afast-la dizem que usando 24 elefantes colocando-a
O anfiteatro permanente mais antigo que se conhece na algumas dezenas de metros mais perto do anfiteatro,
Itlia foi concludo por volta de 80 a.C. em Pompia, ofe- para dar lugar a um novo templo a Vnus e Roma.
recendo assentos para 20.000 espectadores em uma
edificao que media 133 por 102 metros. O primeiro O anfiteatro flaviano foi o maior j construdo e levou
anfiteatro de Roma remonta poca de Jlio Csar, cerca de 10 anos para sua finalizao. Ele foi completa- 28
quando fora construda uma estrutura de madeira tem- do durante o reinado do filho de Vespasiano, Tito (ou
porria e modesta, que provavelmente no era mais do Titus, que governou de 79 a 81) e inaugurado em 80
28 Anfiteatro flaviano, ou Coliseu, c. 7280. Visto em uma maquete de reconstruo de Roma antiga. 29 Afresco de
Pompia, mostrando um velarium sombreando alguns dos assentos do anfiteatro, sculo I d.C. 30 Anfiteatro flaviano, ou
Coliseu. Corte transversal e corte perspectivado isomtrico.
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d.C. O prdio foi seriamente afetado por um incndio clados h muito tempo, deixando os grandes furos que
causado por raios em 217 d.C., que destruiu todas suas vemos hoje. As paredes internas dos dois nveis inferio-
estruturas de madeira, incluindo o piso, mas foi restau- res foram feitas de tufo calcrio, de baixo peso. A maio-
rado pelo imperador Alexandre Severo (que governou de ria das abbadas em todos os nveis e toda a estrutura
222 a 235) e voltou sua glria original. dos dois ltimos pavimentos foram feitas em concreto
massa; somente as paredes foram revestidas com tijo-
De certa forma, a engenharia do Coliseu no chama a los cozidos.
ateno, embora sua complexa geometria tridimensional
deva ter sido muito difcil de projetar. A estrutura uma Ainda hoje h um certo mistrio envolvendo o que foi o
srie de 80 abbadas de bero escalonadas e de seo mais audacioso desafio da engenharia de estruturas do
varivel, que, de certo modo, j eram de uso comum, e Coliseu: sua cobertura de lona, o velarium, que podia
no h grandes vos. O antigo lago artificial do jardim do ser aberta em ocasies especiais para sombrear parte
palcio de Nero foi aterrado e foram lanadas gigantes- dos assentos. Sabemos que marinheiros do porto vizi-
cas fundaes de concreto e pedra. Sobre estas foram nho de Ostia manipulavam o velarium do Coliseu, mas o
construdos os assentos escalonados, feitos principal- sistema mecnico empregado ainda no foi satisfatoria-
mente com concreto revestido de tijolo ou travertino e ro- mente explicado ou recriado, e as tentativas, em sua
chas leves chamadas de tufo calcrio. Os dois anis ex- maior parte, so muito fantasiosas. pouco provvel
30 ternos da edificao foram construdos principalmente que ele cobrisse toda a rea de assentos ou que fosse
com travertino macio, de cor branca e muito brilhante. O sustentado por um sistema radial de cordas conectadas
piso da arena elptica, com cerca de 86 por 54 metros, ao topo de mastros de madeira. Qualquer marinheiro
era de madeira, coberto com areia e sustentado por um sabe que os mastros no agentariam. mais provvel
labirinto de paredes e abbadas de concreto. Durante a que apenas algumas centenas de assentos fossem
vida do prdio, vrias melhorias foram feitas na maquina- sombreados por lonas penduradas sobre mastros para-
ria do subsolo, que s vezes tinha at trs pavimentos, lelos e horizontais, como sugere uma pintura encontrada
incorporando jaulas para animais selvagens, cmodos nas runas de Pompia, que mostra esse tipo de cober-
para pessoas, corredores e elevadores mecnicos que tura em seu anfiteatro. O Coliseu permaneceu em uso
podiam levar ao piso da arena propriamente dito. por mais de 400 anos, embora as mquinas sofistica- 29
das empregadas para o manuseio de animais provavel-
O que torna a edificao absolutamente incrvel, no en- mente tenham quebrado com bastante freqncia. Aps
tanto, seu tamanho impressionante. Em planta baixa, muitas reformas feitas por vrios imperadores, o Coliseu
uma elipse de 188 por 156 metros no seu eixo prin- teve seu ltimo espetculo em 532. O prdio foi final-
cipal noroeste-sudoeste, cobrindo uma rea de 6 acres mente abandonado aps sofrer grandes danos causa-
(2,4 hectares). Mais de 100.000 metros cbicos de dos por vrios terremotos; depois ele foi usado como
mrmore travertino tiveram que ser transportado ao fortaleza na Idade Mdia e, durante a Renascena, refor-
stio por um exrcito de carroas puxadas por bois. O mado para uso em touradas. No entanto, ele serviu mui-
Coliseu tinha 48 metros de altura o equivalente a um tas vezes como uma fonte conveniente de materiais de
edifcio de escritrios moderno de 16 pavimentos. construo. Dadas as necessidades de arquitetura da
Embora as estimativas de sua capacidade de especta- Renascena e do Vaticano, graas resistncia do
dores sentados variem, 50.000 pessoas um nmero concreto romano ao clima e ao comrcio de reciclagem
bastante comedido. de materiais que ainda temos este e tantos outros rema-
nescentes da Roma antiga.
A estrutura que sustenta os assentos escalonados
uma srie de arcos e abbadas que nascem de paredes Apolodoro e os Grands Projets dos imperadores
ou pilares, e , em sua maior parte, oca. Isso no so- Trajano e Adriano
mente representou grandes economias nos custos de Quando Trajano assumiu o poder, em 98 d.C., o Imprio
construo, como a colmia de espaos criados proveu Romano havia quase chegado ao seu tamanho mximo,
todas as rotas de acesso e circulao para levar os e a tradio dos grands projets j estava fortemente
50.000 ou mais espectadores aos assentos. As funda- arraigada. Trajano teve muita sorte em ter como seu ar-
es eram de concreto, enquanto os pilares e as arca- quiteto chefe Apolodoro (Apollodorus, c. 55c. 130), um
das dos dois primeiros nveis foram feitos de mrmore dos mais talentosos engenheiros de estruturas de
travertino. Muitos destes blocos foram conectados com todos os tempos. Acredita-se que Apolodoro tenha
grampos de ferro forjado, que foram removidos e reci- vindo de Damasco (na Sria de hoje), perto da fronteira
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31 Mercado de Trajano, Roma, c. 98112. Projeto de estrutura: Apolodoro de Damasco. Corte perspectivado isomtrico. 32
Coluna de Trajano, Roma, c. 11213. Projetista e engenheiro: Apolodoro de Damasco. 33 Mercado de Trajano. Diagrama
mostrando arcobotantes transferindo esforos das abbadas para as paredes de cisalhamento e para as fundaes. 34
Coluna de Trajano. Corte perspectivado da construo. Cada tambor de pedra contm meia volta da escadaria e foi cortado
antes de ser sobreposto.
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O domo do Panteon foi construdo principalmente com resto da cpula de camadas alternadas de tufo calc-
concreto, mas essa palavra mascara muitas sutilezas de rio leve e pedra-pomes.
engenharia. As cpulas de concreto no eram novidade.
As primeiras que conhecemos so duas semicpulas em Alm de reduzir a densidade do concreto usado, toda a
Pompia que foram construdas mais de 200 anos antes. seo transversal da cpula diminui progressivamente
O Palcio de Nero, a Domus Aurea (Casa Dourada), tinha de sua nascente coroa, e o centro do domo totalmen-
uma cpula octogonal com dimetro de cerca de 14 me- te aberto, formando um culo. As partes mais baixas da
tros. Todas eram feitas com a mistura de concreto roma- cpula tambm foram aliviadas em cerca de 10% de
no usual camadas alternadas de pasta de cimento e ti- seus pesos com o uso dos profundos caixotes do teto.
jolos quebrados, no o material quase homogneo que
usamos atualmente. Mas a cpula do Panteon tem trs O concreto foi lanado em camadas horizontais. A partir
vezes o dimetro daquela na Domus Aurea. de determinado ponto, dependendo da rigidez das fr-
mas, da rapidez de cura do concreto e de quando as fr-
Com base nos conhecimentos adquiridos nas cpulas mas foram removidas, o concreto passou a trabalhar
construdas anteriormente ou nos grandes arcos e ab- como uma verdadeira cpula, desenvolvendo esforos
badas de concreto, os engenheiros da cpula sabiam que de compresso radiais e esforos de trao pertos da
esse tipo de estrutura tende a se abrir na sua nascente nascente. Embora um concreto de boa qualidade prova-
e que, da mesma forma que ocorre com um arco, os bo- velmente fosse suficientemente forte para suportar
tarus precisam resistir ao momento de tombamento, estes esforos de trao, o concreto da cpula do
sendo espessos em suas bases. Esse empuxo para fora, Panteon fissurou em linhas radiais junto base. No en-
provocado por uma srie de segmentos da cpula, tam- tanto, essas fissuras ocorreram apenas uma vez em
bm faz com que a circunferncia tenda a aumentar seu toda a histria do prdio, e no afetam a estabilidade
comprimento perto da nascente. Em uma cpula de alve- geral da cobertura, pois cada par de segmentos opostos
naria, os tijolos ou blocos de pedra individuais (aduelas) se contrabalana. As fissuras internas foram bem res-
tendem a se afastar entre si, enquanto que em uma c- tauradas, por razes estticas, e as externas foram fe-
pula monoltica se desenvolvem esforos de trao, de- chadas para evitar infiltrao de gua. Teria sido mais
formando a base da cpula. Em ingls, estes esforos preocupante se a fina cpula abaulasse, devido a uma
so chamados de hoop stresses (esforos dos aros), em relao desproporcional entre carregamento prprio e
analogia aos aros (hoops) de metal usados em barris de espessura, mas a grande espessura da cpula perto da
madeira. A magnitude desses esforos de trao depen- nascente evitou que isso ocorresse.
de do peso total do material acima, e pode ser reduzida
tornando-se a cpula o mais leve possvel. As paredes tm sua prpria histria estrutural para con-
tar. Na verdade, elas no tm nada de macias. Alm
No Panteon, o peso da cpula reduzido de diversas dos grandes nichos no pavimento trreo e de outros me-
41 formas. Em primeiro lugar, o concreto usa caementae, nores em nveis superiores, elas contm vazios e um
ou, como chamaramos hoje, agregado, progressiva- corredor perfeitamente disfarado. Assim, as paredes 39
mente mais leve medida que a edificao se eleva. possuem muito menos material do que se fossem maci-
Nas fundaes, o agregado constitudo de lascas de as, uma economia em volume de material que varia
mrmore travertino, os resduos do aparelhamento dos entre 65%, no nvel do tico, a 50%, no nvel do pavimen-
grandes blocos de travertino usados em partes da edi- to trreo. claro que isso trouxe economias em materi-
ficao. No primeiro nvel do Panteon, o agregado con- ais de construo, e, especialmente no trreo, os nichos
siste de camadas alternadas de travertino e tufo calc- tambm tinham a importante funo de abrigar esttuas
rio. No segundo pavimento, o agregado camadas al- que provavelmente representavam as sete divindades
ternadas de tufo calcrio e fragmentos de ladrilhos, en- planetrias s quais o prdio era dedicado. Mas a efici-
quanto o ltimo pavimento e a parte inferior da cpula ncia estrutural desse projeto tambm assombrosa.
tm agregado feito principalmente de cacos de tijolo. A Mantendo-se as paredes constantemente largas, ainda
camada seguinte, que uma fina banda da cpula, tem que ocas, sua estabilidade a tombamento mantida,
um agregado que consiste de camadas alternadas de alm das economias supracitadas. Alm disso, como as
cacos de tijolo e tufo calcrio, enquanto o agregado no partes mais densas e mais pesadas da parede esto no
35 Banhos de Trajano, Roma, c. 1049. Projetista e engenheiro: Apolodoro de Damasco. Reconstruo. 36 Banhos de
Trajano. Planta baixa. 37 Panteon, Roma, c. 11826. Desenho mostrando os arcos e as abbadas de descarga, que atuam
como abbadas de cisalhamento dentro das paredes. 38 Panteon.
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na nascente da cpula
na cpula
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no nvel trreo
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abbada de bero
espao Tepidarium
desco- espao
desco-
espao berto berto
desco-
berto
semi- Frigidarium
espao
cpula
desco-
berto
Natatio
espao
descoberto
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alto, isso tambm ajuda a transferir o caminho das car- nria 400 anos depois na igreja de Santa Sofia, em
gas mais rapidamente para a vertical, tendo o mesmo Bizncio.
resultado que os pinculos sobre os botarus gticos.
Os Banhos de Caracala (211-216)
No obstante, o recurso estrutural mais fantstico do Os Banhos do Imperador Caracala (que governou de 211
Panteon fica praticamente escondido de nossos olhos. a 217), construdos a apenas algumas centenas de me- 42, 43,
Sobre a entrada e sobre cada um dos sete nichos do pa- tros de distncia dos Banhos de Trajano, eram ainda 44, 45
vimento trreo, h dois arcos, ou melhor, duas peque- maiores e ofereciam mais comodidades do que os primei-
nas abbadas de bero sobrepostas, atravessando os 6 ros. Embora estes banhos tenham sido construdos cerca
37, 40 m de profundidade da parede. Elas tm dois propsitos: de 100 anos aps aqueles projetados por Apolodoro,
agir como arcos ou abbadas de descarga, recolhendo eles eram praticamente uma cpia. Alm disso, como
as cargas de gravidade que esto acima e direcionando- uma proporo considervel dos prdios ainda existe,
as para as paredes portantes que no trreo trabalham eles se mostraram um frutfero objeto de estudos, nos
como colunas. Esta artimanha era muitas vezes usada permitindo uma boa compreenso de como foram execu-
em estruturas de tijolo romanas, mas raramente em tal tados. Alm dos trs recintos principais aquecidos, as
escala. Mas as abbadas tm um papel igualmente im- thermae, o complexo total tinha quase 50 espaos meno-
portante trabalhando como estruturas de cisalhamento, res, com vestirios, salas para jogos com bola e outros
ou contrafortes, para resistir tendncia que a abbada esportes, salas de ginstica, massagistas, cabeleireiros,
tem a se abrir na base, da mesma forma que so usa- auditrios, bibliotecas e lojas. Outra peculiaridade dos
das para transferir os empuxos para fora das abbadas Banhos de Caracala era o gigantesco caldarium, de plan-
de arestas dos Banhos de Trajano. Seu uso no Panteon ta baixa circular e coberto por uma cpula de concreto;
mostra o toque de Apolodoro e representa um avano ele era uma rplica quase fiel do Panteon, com largura le-
sutil no modo em que elas foram criativamente integra- vemente inferior (35 metros), mas com a mesma altura
das parede do prdio. Abbadas de cisalhamento simi- (43 metros). Nas paredes desse caldarium, assim como
lares seriam empregadas de forma ainda mais extraordi- no Panteon, abbadas de cisalhamento e paredes de ci-
39 Panteon, Roma, c. 11826. Planta mostrando os vazios da estrutura em diferentes alturas. 40 Banhos de Trajano, Roma,
c. 1049. Projetista e engenheiro: Apolodoro de Damasco. Diagramas mostrando cargas verticais e horizontais sobre abba-
das de cisalhamento. 41 Panteon. Corte transversal mostrando as caractersticas da construo e o uso do concreto: sua
densidade diminui com a altura. 42 Banhos de Caracala, Roma, 21116. Reconstruo do frigidarium. 43 Banhos de
Caracala. Planta baixa. 44 Banhos de Caracala. Maquete (reconstruo). 45 Banhos de Caracala. Desenho de reconstruo,
corte perspectivado.
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46 Banhos de Caracala, Roma, 21116. Diagrama dos tubos de queda pluviais e tubos de esgoto. 47 Banhos de Faustina,
em Mileto, atual Turquia, sculo II d.C. Reconstruo de uma janela com vidraa. 48 Diagrama de estrutura abobadada ro-
mana, em ferro, conforme descrio de Vitrvio, c. 25 a.C. 49 Banhos de Caracala. Reconstruo (hipottica) da cella
solearis, mostrando uma poro central da abbada.
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largura e 18 metros de altura. Em um banho pblico em Panteon. A cella solearis era aquecida por um hipocausto
Herculano h evidncias de que se usaram vidraas du- temperatura de talvez 45 C. Localizava-se ao sul do pr-
plas, tanto para melhorar o isolamento trmico como dio e tinha cinco janelas superiores envidraadas, cada
para reduzir o problema da condensao que causaria o uma com cerca de 12 metros de altura e 8 de largura,
apodrecimento das esquadrias de madeira. sobre outras janelas com cerca de 10 metros de altura.
Para que se mantivessem as altas temperaturas, a cober-
H um mistrio intrigante a respeito de uma das salas dos tura provavelmente era uma abbada fechada, sem um
Banhos de Caracala, um tipo de recinto chamado de cella culo aberto em seu pice, como aquele do Panteon.
solearis, ou caldarium, como hoje a chamamos. H um re- Essas janelas grandes poderiam ajudar a aquecer o recin-
lato praticamente contemporneo que comenta especifi- to com os ganhos trmicos solares, como o heliocaminus
camente aquela sala, dizendo que trelias de bronze ou mencionado anteriormente. No entanto, mesmo com a luz
cobre foram instaladas no alto (do recinto), sustentando fornecida por estas janelas, uma abbada fechada teria
toda a abbada e que o vo to grande que engenhei- tornado o interior relativamente escuro. Este cenrio suge-
ros experientes dizem que ele no poderia ter sido cons- re uma soluo bastante plausvel para o mistrio das
trudo.23 Os arquelogos ainda no chegaram a um con- trelias de bronze ou cobre. perfeitamente possvel
senso sobre como a cella solearis era coberta. A sala era que tenha sido construda uma gaiola de ferro abobadada,
circular, tinha cerca de 43 metros de p-direito at a face de concepo similar s estufas ou palcios de cristal eu-
interna da abbada e 35 metros de dimetro ou seja, ropeus do incio do sculo XIX, formando um grande culo
tinha aproximadamente trs quartos do tamanho do sobre a cpula de concreto. As barras de ferro talvez te-
50 Banhos de Diocleciano, Roma, c. 298306. Pintura de Edmond-Jean-Baptiste Paulin, 1880. 51 Baslica de Magncio
(Baslica de Constantino), Roma, 30825. Representao artstica.
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nham sido feitas de bronze ou ferro revestido com folhas foi alcanado de forma mais genial na universidade e es-
49 de bronze, e sem dvida seriam espetaculares o suficien- cola politcnica de Alexandria, cujo modelo foi adotado
te para atrair a adorao dos visitantes. (em escala menor) em Constantinopla e provavelmente
em outras cidades.
Estruturas abobadadas tardias de Roma
As abbadas colossais de Apolodoro e, na verdade, o lei- Os maiores progressos foram alcanados na engenha-
aute de toda a thermae romana formavam um preceden- ria de estruturas, atravs do uso de alvenarias (e do
te usado em muitas ocasies. Cerca de 70 anos depois concreto), em parte porque a estabilidade da alvenaria
dos Banhos de Caracala, o imperador Diocleciano (que independe da escala. Se uma maquete de abbada de
governou de 284 a 305) mandou construir a maior de tijolo de um metro se sustenta, ento tambm se sus-
50 todas as thermae, a qual oferecia assentos para cerca tentar uma abbada de geometria similar 20 vezes
de 3.000 banhistas e talvez acomodasse um total de maior um fenmeno que beneficiaria os engenheiros
5.000 usurios. das catedrais da Idade Mdia e de depois. Em outras
palavras, as maquetes sem dvida eram partes efetivas
O incrvel que o frigidarium destes banhos existe ainda do processo de projeto. Isso no vlido para estrutu-
hoje, no sculo XXI, e usado diariamente, tendo sido ras que envolvem elementos estruturais sob flexo. Os
transformado pela genialidade caracterstica de Miguel mtodos de projeto usados em algumas armas para o
ngelo (Michelangelo), em 1563, na Igreja de Santa arremesso de projteis de pedra do sculo V a.C. indi-
Maria degli Angeli (Santa Maria dos Anjos). Para tal, ele cam que os engenheiros da Antigidade clssica sabi-
aproveitou a natureza bidirecional da forma abobadada, am que nem todos fenmenos variam em relaes line-
transformando os trs vos transversais do prdio roma- ares. Essa compreenso no seria reconhecida nova-
no na nave central de sua igreja. Cerca de 200 anos de- mente (de forma escrita) antes do incio do sculo XVII,
pois, o eixo do espao foi mais uma vez rotado e os trs nos escritos de Galileu.
vos originais foram transformados em um transepto,
para que a igreja assumisse sua forma atual mediante a
ampliao e adio de uma nova nave.