A Odisseia Dos Deuses - Erich Von Daniken
A Odisseia Dos Deuses - Erich Von Daniken
A Odisseia Dos Deuses - Erich Von Daniken
Sobre a obra:
A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo
de oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem como o simples
teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.
Sobre ns:
"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando por dinheiro e
poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."
PREFCIO
Voc sabe o que uma orgia? No registro original apresentado pelas enciclopdias
define-se o termo como a celebrao de ritos religiosos na antiga Grcia.1 Hoje em dia, a
palavra se refere a um tipo de extravagncia, na qual o sexo desempenha importante
papel.
Mas, na verdade, esse tambm era o significado da palavra na antiga Grcia. Naquela
poca, os homens costumavam se reunir tarde para debates filosficos, seguidos
algumas horas mais tarde por um "simpsio" ou festa com bebidas que freqentemente
terminava em uma orgia. As esposas no estavam presentes, mas meninos e jovens
estavam. A Grcia era livre de tabus a esse respeito: as pessoas pensavam e sentiam de
uma maneira diferente na antiga Hlade.
Todos sabem o que uma histria de fico cientfica. Mas voc provavelmente no
sabe que histrias de fico cientfica tambm circulavam na antiga Grcia, embora
fossem muito mais fantsticas do que as nossas. A diferena entre elas repousa no fato
de que os gregos no consideravam suas histrias de fico cientfica fantasias utpicas;
eles acreditavam que as histrias relatavam eventos que haviam realmente acontecido.
Havia ainda outra diferena. Nossas histrias de fico cientfica como as aventuras da
"Nave Estelar Enterprise" tm lugar no futuro, ao passo que os antigos gregos olhavam
para um passado nebuloso e distante, para milnios antes da sua poca.
Imagine apenas que a ilha de Creta est continuamente circundada por um guardio de
metal, que possui a prodigiosa habilidade de monitorar todos os navios que se dirigem
ilha e faz-los explodir na gua. Nenhum estrangeiro tem a chance de desembarcar
contrariando a vontade dos governantes da ilha. Se um barco tenta furar esse bloqueio, o
monstro de metal pode lanar contra ele um calor intenso e consumir o invasor. No
obstante, esse rob guardio tem um ponto fraco: se um determinado pino no seu corpo
metlico for solto, seu espesso sangue jorra para fora e ele fica imobilizado. claro que
somente aqueles que o construram, e seus sucessores, conhecem a localizao exata
desse ponto vital.
A histria j existia h cerca de 2.500 anos e os gregos estavam convencidos de que
ela contava a verdade sobre eventos ocorridos muito antes da sua poca. O rob que
patrulhava Creta era chamado de Talo, e os engenheiros que conheciam a posio exata do
lugar onde o fluido hidrulico tinha de ser drenado, para tornar o monstro inativo, eram
chamados de "deuses".
Este no um livro de histria(s) da Grcia antiga e sim um livro a respeito das suas
histrias. A Grcia de antigamente est repleta de contos extraordinrios. As
peregrinaes de Ulisses realmente aconteceram? O que estava acontecendo em Delfos?
Havia l realmente uma profetisa que previa os principais acontecimentos polticos? As
intensas descries de Tria se fundamentam na verdade? E a Atlntida? Todas as
informaes que temos sobre a Atlntida, s quais todos os que escrevem sobre o
assunto se referem, procedem da Grcia. E quem eram os Argonautas que se propuseram
roubar o Velocino de Ouro?
A Grcia merece uma viagem de sonho. Eu o convido a se juntar a mim em um tipo
especial de aventura.
NOTA
1. Der grosse Brockhaus, Wiesbaden, 1953.
AVENTURAS DA NAVE ESTELAR ENTERPRISE H MUITOS MILNIOS
Era uma vez, h muito, muito tempo, um distante descendente dos deuses. Ningum sabe
seu nome original, mas os gregos o chamavam de Jaso. Terei de me arranjar com esse
nome, visto que no conheo nenhum outro. Pois bem, Jaso no era um homem comum,
porque em suas veias corria sangue azul. Seu pai era o Rei Eso de Iolco na Tesslia. No
entanto, como acontece com extrema freqncia na mitologia, Jaso tinha um meio- irmo
perverso que o destituiu do trono quando ele ainda era beb. O pai de Jaso tomou as
providncias necessrias para que sua pequena prole fosse criada por um centauro. Outros
dizem que foi sua me que o levou at o centauro, mas no isso que importa aqui.1,2
Os centauros eram uma curiosa raa cruzada, com cabea, tronco e braos de homem,
mas com corpo de cavalo. Um fenmeno realmente impressionante. E Jaso deve ter tido
um tipo de criao um tanto ou quanto incomum!
Jaso est relacionado com um orculo, pois qualquer pessoa que era alguma coisa na
Grcia antiga tinha alguma relao com o orculo. Neste caso, a profecia fez uma
advertncia a respeito de um homem com uma sandlia s. Um dia, quando o infame rei,
o meio-irmo de Jaso, oferecia um buf de celebrao na praia, um jovem alto e belo se
aproximou andando pomposamente. Tratava-se de Jaso, e ele vestia apenas uma sandlia
porque havia perdido a outra no lodo de um rio. Jaso vestia uma pele de leopardo e uma
tnica de couro. O rei no reconheceu o desconhecido e perguntou, irritado, quem ele era.
Jaso, sorrindo, respondeu que seu pai de criao, o centauro, o chamava de Jaso, mas
que seu verdadeiro nome era Diomedes e ele era filho do Rei Eso.
Jaso logo percebeu com quem estava falando e rapidamente exigiu o trono de volta,
que por direito era seu. Surpreendentemente, o rei concordou, mas com uma condio, a
qual, ele imaginava, no poderia ser cumprida. Ele disse que Jaso teria de libertar seu
reino de uma maldio cjue havia sido lanada sobre ele e sobre todo o pas. Ele precisava
ir buscar o Velocino de Ouro que era guardado por um drago em um lugar distante. O
drago nunca dormia. Somente quando essa proeza fosse realizada, o rei renunciaria ao
trono.
Jaso concordou, e assim teve incio uma inacreditvel histria de fico cientfica.
Inicialmente, Jaso saiu em busca de um extraordinrio construtor de navios para pedir a
ele que construsse o mais incrvel navio de todos os tempos. Esse homem se chamava
Argos, e os estudiosos divergem quanto sua origem. O certo que Argos deve ter sido
um engenheiro excepcional, pois ele construiu para Jaso um navio como nunca tinha sido
visto outro igual. Sem dvida, Argos possua ligaes fora do comum, pois a prpria Atena
o instruiu, e sob a orientao dela ele construiu uma embarcao com um tipo de madeira
que "nunca apodrece".3 No satisfeita com isso, Atena contribuiu pessoalmente com uma
espcie de vau e o colocou na proa do navio. O vau deve ter sido uma pea de madeira
impressionante, pois era capaz de falar. Quando o navio deixou o porto, o vau gritou de
felicidade porque a jornada estava comeando, e mais tarde ele advertiu a tripulao do
navio de muitos perigos. Argos, o construtor de navios, batizou o poderoso navio com o
nome de Argo, que em grego antigo significa aproximadamente "rpido ou "possuidor de
ps velozes".4 Os tripulantes do navio foram, portanto, chamados de "Argonautas", e a
histria chamada de Argonutica. (Nossos astronautas e cosmonautas derivam
indiretamente seu nome dos Argonautas gregos.)
O Argo tinha capacidade para abrigar cinqenta homens, que devem ter sido
especialistas em vrias reas. Foi por isso que Jaso havia enviado mensagens para todas
as famlias reais quando procurava uma equipe de voluntrios com habilidades particulares.
E eles vieram, todos heris e descendentes dos deuses. A lista da tripulao original est
apenas parcialmente preservada, e os estudiosos afirmam que outros nomes foram
acrescentados por autores posteriores.5, 6, 7 A tripulao deve ter sido extraordinria e
inclua as seguintes pessoas:8, 9 Melampo, filho de Posdon; Anceu de Tegeg, tambm
descendente de Posdon; Anfiarau, o vidente; Linceu o vigia; Castor de Esparta, um
lutador; fito, irmo do rei de Micenas; Augias, filho do rei de Forbas; Equon, o emissrio,
filho de Hermes; Eufemo de Tainaron, o nadador; Hracles de Tirinta, o homem mais
forte; Hilas, o amado de Hracles; dmon, o Argivo, filho de Apoio; Acasto, filho do Rei
Plias; Clais, o filho alado de Breas; Nuplio, o marujo; Polideuce, o pugilista de Esparta;
Falero, o arqueiro; Fano, o filho cretense de Dionsio; Argos, o construtor do Argo e o
prprio Jaso, lder da aventura.
Os diversos autores que descreveram a jornada do Argo h mais de 2.000 anos
acrescentaram outros nomes lista. Em diferentes pontos da histria grega, escritores ou
historiadores envolvidos com os Argonautas supuseram que este ou aquele personagem
famoso tambm deve ter estado l. A lista mais antiga encontra-se no Poema Ptico IV,
registrado por um escritor chamado Pndaro (aproximadamente 520-446 a.C.). Essa lista
contm apenas dez nomes:10, 11 Hracles, Castor, Polideuce, Eufemo, Pericl- meno,
Orfeu, Equon e urito (ambos filhos de Hermes, o mensageiro dos deuses), Clais e Zetes.
Pndaro enfatiza sistematicamente que todos esses heris eram de descendncia divina.
A melhor e mais detalhada descrio de toda a jornada e dos heris que dela
participaram foi feita por Apolnio de Rodes. Ele viveu em um perodo entre o sculo III e
o sculo IV a.C. Certamente Apolnio no foi o criador da Argonutica. Vrios estudiosos
pressupem que ele deve ter extrado a histria bsica de fontes muito mais antigas.12,
13 O prprio Apolnio escreve em seu "Primeiro Canto" que poetas antes dele haviam
contado de que maneira Argos, guiado por Palas (Atena), havia construdo o navio.
Fragmentos da Argonutica remontam ao sculo VII a.C. Os estudiosos no excluem a
possibilidade de que a histria tenha na verdade se originado no antigo Egito.
A Argonutica de Apolnio foi traduzida para o alemo em 1779. Ao fazer citaes da
histria, recorrerei principalmente a essa traduo, hoje com mais de duzentos anos, e
apresentarei todas as citaes extradas do texto de Apolnio em itlico. A traduo de
1779 ainda no est impregnada das nossas atitudes modernistas e reflete o estilo
floreado original de Apolnio.14 Segue um excerto da lista de nomes, escrito
aproximadamente h 2.400 anos:
...Polifemo, o Eltido, veio de Larissa. Muito tempo atrs ele ficara ombro a
ombro com os Lpitas, travando uma batalha contra os selvagens centauros...
...lcon havia enviado seu filho, embora nenhum filho agora restasse na sua
casa...
...Dos heris que deixaram Argos 15 dmon foi o ltimo. Ele aprendeu com o
deus [Apolo] a arte de observar o vo dos pssaros, da profecia e de ler o
significado dos flamejantes meteoros...
Seja qual for a lista de nomes que se aproxime mais da original, os Argonautas eram,
de qualquer modo, uma tripulao de filhos de deuses escolhidos a dedo, cada um com
dons impressionantes e habilidades especiais. Esse grupo extraordinrio se reuniu no porto
de Pagasai na pennsula da Magnsia, para partir com Jaso em busca do Velocino de
Ouro.
Antes que a jornada tivesse incio, eles deram uma festa em homenagem a Zeus, o pai
dos deuses,16 e depois toda a equipe marchou em direo ao navio, passando atravs de
uma multido de milhares de curiosos. Eis como Apolnio descreve a cena:
Havia gigantes na terra nessa poca; e tambm depois desse tempo, quando
os filhos de Deus se uniram com as filhas dos homens e lhes geraram
filhos...
E os livros que contm os "contos dos judeus nos tempos antigos"25 descrevem
inclusive as diferentes raas desses gigantes. Havia os "Emitas" ou "Terrveis" e os
"Refatas" ou "Gargntuas"; havia os "Giborim" ou "Poderosos" e os "Samsunitas" ou
"Astuciosos"; e finalmente os "vidas" ou Injustos" e os "Nefilim" ou "Corruptores". E o
livro dos Esquims bem claro com relao a esse ponto: "Naqueles dias viviam gigantes
na Terra."26
Eu poderia continuar a citar essas passagens, mas prefiro no repetir dados
apresentados em outros livros. Ossos de gigantes tambm foram encontrados, embora
alguns antroplogos ainda insistam em afirmar que se trata de ossos de gorilas.27 Em
1936, o antroplogo alemo Larson Kohl descobriu os ossos de seres humanos gigantes
nas margens do lago Elyasi na frica central. Os paleontlogos alemes Gustav von
Kningsberg e Franz Weidenreich ficaram impressionados ao encontrar vrios ossos de
gigantes nas farmcias em Hong Kong em 1941. A descoberta foi publicada e
cientificamente documentada no relatrio anual de 1944 da American Ethnological Society.
A seis quilmetros de Safita na Sria, arquelogos desenterraram machados de mo
que s podem ter sido usados por pessoas com mos gigantescas. As ferramentas de
pedra encontradas em Ain Fritissa (Marrocos oriental) que mediam 32 x 22cm tambm
devem ter pertencido a pessoas bem grandes. Se elas eram capazes de manejar essas
ferramentas, que chegavam a pesar 4,3 quilos, deveriam ter tido mais de quatro metros
de altura. As descobertas de esqueletos gigantes em Java, no sul da China e no Transval
(frica do Sul) so bastante conhecidas na literatura especializada. Tanto o Professor
Weidenreich28 quanto o Professor Saurat 29 documentaram cuidadosamente sua pesquisa
cientfica sobre os gigantes. E o antigo representante francs da Prehistorical Society, o
l)r. Eouis Burkhalter, escreveu o seguinte na edio de 1950 da Revue du Muse de
Beyrouth:
Esse lindworm ou drago me faz pensar em um tipo de rob com mltiplos sensores.
Que espcie de animal esse desprovido de necessidades fsicas, que nunca dorme e que
observa permanentemente tudo que est ao seu redor? Criaturas semelhantes so
descritas em outros textos da antiguidade, como a Epopia de Gilgamesh, encontrada na
colina de Kujundshik, a antiga Nnive. As tabuinhas de argila nas quais ela estava escrita
vieram da biblioteca do rei assrio Assurbanipal. Essa epopia descreve de que maneira
Gilgamesh e seu amigo Enkidu escalam a montanha dos deuses, em cujo topo se erguia a
reluzente torre branca da deusa Irnini. Pouco antes de a alcanarem, o temvel ser
Chumbaba se aproxima deles. Chumbaba tinha patas de leo, o corpo coberto por escamas
de ferro, os ps munidos de garras, chifres reluzentes na cabea e uma cauda que
terminava em uma boca de serpente. Ele deve ter sido um monstro apavorante. Os dois
companheiros atiraram flechas e lanas nele, mas todos seus projteis se desviaram.
Relmpagos chamejaram vindos da montanha dos deuses: "um incndio deflagrou, a morte
se propagou. A luminosidade passou, o fogo se apagou. Tudo que fora atingido pelos
relmpagos se transformou em cinzas".30
Algum tempo depois, Enkidu morre de uma doena incurvel. Terrivelmente
preocupado, Gilgamesh pergunta: "Ser que voc foi envenenado pelo hlito da criatura
celeste?" Seja l o que tenha sido essa "criatura celeste", ela parece ter causado a morte
de Enkidu. Mais tarde, no decorrer da histria, "uma porta fala como uma pessoa. O vau
falante no Argo faz a mesma coisa. Depois temos o "Parque dos Deuses", que guardado
por dois feios seres mestios, gigantescos "seres humanos escorpies. Apenas o peito
deles visvel na superfcie da terra, pois o restante do corpo est ancorado no cho. "Sua
aparncia terrvel e aterrorizante, e seu olhar significa a morte. O temvel lampejar dos
seus olhos faz montanhas rolarem sobre os vales."31
No obstante, os seres humanos escorpies da Epopia de Gilgtimesh so inteligentes,
mais inteligentes do que os lindworms e os drages guardies. Gilgamesh pode conversar
com eles e eles o advertem dos perigos iminentes que esto para chegar por terra e por
mar, exatamente como o Rei Fineu avisou aos Argonautas.
Fineu recomenda aos Argonautas que levem Eufemo com eles a bordo. Foi ele que fez
a pomba voar entre as paredes dos rochedos e tambm foi capaz de correr sobre a gua
sem molhar os ps.
Os Argonautas relaxaram no reino de Fineu durante quarenta dias. (Na Epopeia de
Gilgamesh so necessrias quarenta horas para se chegar "Montanha dos Cedros".) Um
grupo de Argonautas dormiu a bordo do Argo e os outros no palcio do rei. Eles se
reabasteceram de provises e ergueram um altar em homenagem a Jpiter. No
quadragsimo primeiro dia, o Argo partiu atravs de um rio ou canal sinuoso. Os
Argonautas logo avistaram as "ilhas nadadoras com os perigosos rochedos e Eufemo
entrou imediatamente em ao.32
Tifis, o timoneiro do Argo, acalmou seus nervosos companheiros. Embora eles tivessem
escapado do terrvel perigo das paredes dos rochedos, esse milagre s fora possvel com a
ajuda dos deuses. Minerva tinha dado uma ajudazinha e a deusa Atena atuara como
consultora durante a construo do barco, de modo que o Argo fora "aglutinado por fortes
suportes e feito insubmergvel".
Estava claro que os perigos no poderiam ter sido superados sem a ajuda divina. De
quando em quando, os olimpianos tambm se faziam presentes. Pouco depois da aventura
com as paredes dos rochedos, os Argonautas viram o deus Apoio voando sobre o Argo
quando vinha da Lcia. Isso aconteceu en route para a terra dos Hiperbreos, que ficava do
outro lado dos Ventos do Norte. Apoio estava visitando "povos de outra raa, e as ilhas
ecoaram ao som do seu barco voador. Uma vez mais os Argonautas ficaram
profundamente comovidos, de modo que se viram impelidos a erguer um altar ao deus.
Pouco depois desse evento, Tifis, o experiente piloto do Argo, caiu doente e morreu. Seus
companheiros de viagem erigiram uma pirmide sobre seu tmulo o que de fato
impressionante, visto que as pirmides de sepultura supostamente s surgiram no Egito
dos faras.
Nos dias que seguiram, os Argonautas navegaram ao redor das "inmeras baas do
cabo das Amazonas". Um pujante rio descrito, diferente de todos os outros da terra, pois
diz-se que uma centena de outros rios conein para ele. No entanto, esse rio flui a partir de
uma nica nascente, que desce das "montanhas amaznicas". dito que o rio corre para
trs e para a frente atravs de muitas provncias e (na verso de Apolnio):
Mas a nova amante de Jaso, Media, a filha do rei, sabia o que fazer para ajudar. Ela
possua um estranho unguento com um efeito fora do comum. Essa cura milagrosa
derivava de uma erva medicinal que havia nascido do sangue do Tit Prometeu. Ela disse a
Jaso que passasse o ungento em todo o corpo e nas armas. Ele o protegeria do calor e
do fogo, de modo que os touros que cuspiam fogo no lhe poderiam fazer mal. Suas armas
tambm se tornariam fortes e invencveis, conferindo-lhe poderes sobre-humanos.
Jaso passou uma noite tranqila e depois tomou um banho, ofereceu um sacrifcio aos
deuses, besuntou-se todo com oungento milagroso, fez o mesmo com suas armas e se
vestiu. Logo depois teve incio a mais estranha batalha j descrita na literatura dos
tempos antigos:33
Como exigira o Rei Aietes, Jaso arou o campo com esses indisciplinados animais que
cuspiam fogo e depois lanou os dentes de drago nos sulcos. Logo figuras terrveis
brotaram por toda parte no campo de batalha, armadas com aguilhes de ferro e
capacetes reluzentes, e o solo debaixo deles era branco de calor e iluminava a noite.
Jaso pegou um macio bloco de pedra, to grande que nem mesmo quatro homens
teriam conseguido levant-lo, e o lanou no meio das tropas de monstros que no paravam
de crescer. Eles ficaram confusos e no sabiam de onde estava vindo o ataque. Isso deu a
Jaso a oportunidade de causar destruio:
...Ele tirou a espada da bainha e trespassou tudo que vinha na sua direo.
Muitos que estavam no cho imveis at o umbigo e outros que estavam
imveis at os ombros. Havia outros, tambm, que tinham acabado de ficar
em p, e depois toda tuna multido que havia ingressado na batalha cedo
demais. Eles lutaram e tombaram... Assim jaso os extermina... o sangue
correu nos sulcos como correntes de gua de fonte... alguns caram de bruos
e ficaram com a boca cheia de terra, outros de costas, outros de lado e sobre
os braos. Eles eram muito grandes, monstruosos como baleias...
Jaso acabou completamente com eles, mas o pior ainda estava por vir: o drago que
nunca dormia, que guardava o Velocino de Ouro. Junto com a amada, Jaso dirigiu-se ao
arvoredo onde o Velocino de Ouro estava preso a uma faia:
Jaso no conseguia imaginar como poderia passar por esse monstro, mas uma vez
mais sua amada o ajudou. Ela besuntou um galho velho com seu ungento especial e o
balanou diante dos olhos incandescentes do drago. Ao mesmo tempo, ela pronunciou
palavras mgicas e o monstro foi ficando visivelmente cada vez mais lento e sonolento,
at que finalmente deitou a cabea no cho. Jaso subiu na rvore e soltou o Velocino de
Ouro. O estranho objeto tinha uma cintilao vermelha e era grande demais para que
Jaso o carregasse nos ombros. O solo debaixo do Velocino de Ouro tambm brilhava o
tempo todo que Jaso fugia com ele em direo ao Argo.
Quando Jaso chegou ao navio, todos queriam tocar o Velocino de Ouro, mas Jaso
no deu permisso para isso e o cobriu com uma grande manta. No havia tempo para
festas e comemoraes. Jaso e a filha do rei estavam justifica- damente com medo de
que o Rei Aietes fosse fazer tudo que estivesse ao seu alcance para recuperar esse
singular tesouro. Os Argonautas zarparam o mais rpido que puderam pelo rio e dirigiram-
se para alto mar.
O Rei Aietes, que nunca tivera a inteno de manter sua palavra, reuniu uma grande
esquadra, a qual dividiu para poder atacar Jaso e os Argonautas de ambos os lados. Os
navios de Aietes chegaram a um pas cujos habitantes nunca tinham visto viajantes desse
tipo, achando portanto que estavam diante de monstros do mar. (O "Livro dos Reis" etope
contm uma histria semelhante, a Kebra Negest, que conta como Baina- lehkem rouba o
maior tesouro da poca do seu pai Salomo: a Arca da Aliana. Salomo manda seus
guerreiros recuper-la. A perseguio levada a cabo parte em mquinas voadoras
de Jerusalm cidade |atualj de Axum na Etipia.)
Aps algumas aventuras de somenos importncia, descritas de maneiras diferentes
nas diversas verses da Argonutica, o Argo chegou s "ilhas de mbar''. O vau falante da
proa do navio advertiu a tripulao da ira de Zeus (...Nesse nterim a quilha do navio
comeou a falar em voz audvel...). O pai dos deuses estava furioso, porque Jaso havia
conseguido matar o irmo do seu amado. Isso no aconteceu em decorrncia do cime e
sim porque Media havia tecido uma intriga. Mais tarde, no decorrer da histria, Jaso foi
absolvido desse crime e Zeus ficou satisfeito. Os Argonautas erigiram altares e
monumentos comemorativos. Em certa ocasio, o Argo navegou bem acima nos rios de
Erdano... Assombrados, somos informados de que:
Foi aqui que Faetonte caiu do carro do sol e mergulhou nas profundezas do
mar quando o raio flamejante de Jove{*} parcialmente o queimou. Esse mar
ainda fede a enxofre... nenhum pssaro abre as asas e voa sobre ele...
...Do mar saltou um cavalo de tamanho descomunal, e veio para terra. Sua
crina era dourada, sua cabea, altaneira e ele sacudiu a espuma salgada das
suas ancas. Ele saiu ento a galopar, mais veloz do que o vento.
Est subentendido que esse cavalo anfbio um dos cavalos de Posdon. Posdon era o
deus do mar, mas tambm o deus da Atlntida. Mais tarde, veremos essa histria. O que
est ento acontecendo aqui? Ser o cavalo de Posdon um episdio isolado, algo que
apenas os Argonautas viram? De jeito nenhum.
Na Bblia, no livro do Profeta Jonas (captulo 2), podemos ler o episdio no qual ele
sobreviveu durante trs dias e trs noites no ventre de uma baleia. Os telogos dizem que
a histria encerra um significado proftico, referindo-se aos trs dias que se passaram
entre a morte de Jesus e Sua Ressurreio. Que idia absurda! Temos informaes
melhores no volume III do livro Die Sagen der Judeu [Contos dos judeus nos tempos
antigos] .35 Nele lemos que Jonas entrou na boca do peixe como um "homem entra em
uma sala". O peixe devia ser muito estranho porque seus olhos eram como "janelas e
tambm brilhavam internamente". Jonas, claro, foi capaz de conversar com o peixe e,
atravs dos seus olhos vigias! ele pde ver, "banhado em luz, como se estivesse ao
sol do meio-dia", tudo que estava acontecendo nas guas e no fundo do mar.
Existe um paralelo para esse submarino pr-histrico no Conto de Oannes da Babilnia.
Por volta de 350 a.C., um sacerdote babilnio escreveu trs obras. Ele se chamava
Berossus e servia ao Rei Marduk (tambm chamado Bei ou Baal). O primeiro volume do
seu livro, a Babylonica, trata da criao do mundo e do firmamento estrelado, o segundo
volume, do reino da Babilnia e o terceiro trata de uma histria propriamente dita. Apenas
fragmentos dos livros de Berossus esto preservados, mas outros historiadores da
antiguidade referem-se a eles, como o romano Sneca e Flvio Jos, contemporneo de
Jesus. E, no sculo I depois de Cristo, Alexandre Polisto de Mileto escreveu sobre os
babilnios. Desse modo, fragmentos da obra de Berossus sobreviveram aos milnios.
Esse sacerdote babilnio tambm descreveu um curioso ser, Oannes, que saiu do mar
da Eritia ao lado da Babilnia. Essa criatura, disse ele, tinha forma de peixe, cabea
humana, ps humanos e uma cauda, e falava como um ser humano. Durante o dia, Oannes
havia conversado com as pessoas, sem comer nada. Alm de transmitir a elas o
conhecimento dos sinais escritos e das cincias, ele tambm as ensinou a construir
cidades e erigir templos, a introduzir leis e medir a terra, e tudo mais de que elas
precisassem saber. Depois dessa poca, ningum mais inventara nada que excedesse os
seus ensinamentos. Antes de partir, Oannes dera ao povo um livro que continha suas
instrues.
Nada mau para um professor vindo das guas. claro que podemos descartar a
histria de Oannes, considerando-a apenas uma fantasia, como todas as histrias incrveis,
mas Oannes tambm faz parte das narrativas tradicionais de outros povos da antiguidade.
Os parsis chamam o professor das guas de "Yma",3b os fencios de "Taut" e existe at
um monstro com corpo de cavalo e cabea de drago que emerge das profundezas do
oceano na poca do imperador chins Fuk- Ili. Essa criatura deve ter sido mesmo
estranha, pois seu corpo estava adornado com sinais escritos.37
O cavalo anfbio da Argonutica tambm se revelou uma criatura falante. Os heris e
sua embarcao haviam chegado a um lago sem abertura para o mar. A equipe prosseguiu
viagem rebocando o Argo sobre a terra provavelmente com a ajuda de rolos de madeira.
Finalmente, eles ofereceram aos deuses uma trpode que Jaso supostamente teria
recebido em Delfos, e a criatura anfbia imediatamente reapareceu. Ela aparentemente se
chamava Eurpilo, outro filho de Posdon. Eurpilo apareceu primeiro sob a forma de um
belo e cordial jovem, com quem era possvel manter excelentes conversas. Ele desejou boa
sorte aos Argonautas em suas viagens, mostrou a eles a direo do mar e entrou com a
trpode na gua fria. A seguir, ele agarrou a quilha do Argo e empurrou a embarcao em
direo corrente:
...O deus ficou satisfeito com o culto que lhe foi oferecido, saiu das
profundezas e apareceu com a forma de tini corpo que lhe era natural. Assim
como um homem conduz um cavalo ao curso mais veloz... ele agarrou a
quilha do Argo e o conduziu suavemente at o mar... Mas seus membros
inferiores eram divididos em duas caudas de peixe separadas. Ele bateu na
gua com as extremidades pontiagudas, que tinham a fornia de meia-lua
como as pontas de um crescente, e conduziu o Argo at chegarem a mar
aberto. De repente ento ele desapareceu nas profundezas. Os heris gritaram
em unssono quando contemplaram essa maravilha...
O "grito" dos Argonautas era bastante compreensvel. Quando as foras terrenas no
ajudam, preciso que as superterrenas o faam. Os amigos de Jaso continuaram a
navegar e remar para casa, passando no caminho por muitos pases. Eles quiseram
renovar sua proviso de gua nas elevaes de Creta, mas foram impedidos por Talo, que
era dotado de um invulnervel corpo de metal. Ele descrito como um "gigante de
bronze",38 ou como um ser cujo "corpo era coberto de bronze". 9 Segundo Apolnio, Talos
rodeava a ilha trs vezes por ano, mas todos os outros autores da antiguidade mencionam
"trs vezes por dia".40 Com seu olho mgico, ele avistava todas as embarcaes que se
aproximavam de Creta e a seguir as atingia de uma grande distncia, aparentemente com
pedras, com grande preciso. Ele tambm tinha a capacidade de irradiar calor, atraindo os
barcos na sua direo e depois incendiando-os. Diz-se que Talo foi construdo pelo deus
Hefesto, que era filho de Zeus. Os romanos o adoravam como o deus do fogo e o
chamaram de Vulcano. Para os gregos, Hefesto, era ao mesmo tempo o deus do fogo e o
protetor dos ferreiros.
Dizia-se que Zeus dera Talo de presente para sua antiga amada Europa, que certa vez
vivera com esse pai dos deuses em Creta. O motivo pelo qual eles haviam ido at l est
oculto na mitologia. Os gregos pressupunham que Europa era filha do Rei Tiros. Zeus se
aproximara dela quando ela era menina e brincava com seus animais e ficara encantado
com ela. Zeus ento se transformou em um jovem e belo touro, e Europa delicadamente
montara em suas costas. O touro deve ter sido outro tipo de mquina anfbia, pois, mal
Europa se acomodara no dorso do animal, este mergulhou no mar e nadou at Creta com
sua adorvel carga. L, suponho eu, ele se transformou de novo em homem e possuiu
Europa. Mas os deuses so inconstantes 110 amor; os assuntos divinos exigiram que Zeus
deixasse Creta e ele deu Ialo de presente amada para que protegesse a ilha de
visitantes indesejveis.
Embora Talo fosse invulnervel, ele tinha um ponto fraco. Havia em seu tornozelo um
tendo coberto de pele bronzeada e, debaixo dele, situava-se um cravo de bronze ou um
parafuso de ouro. Se esse ferrolho fosse aberto, um sangue incolor outros autores
dizem que era branco ou supurado
Jaso e seus Argonautas tentaram se aproximar de Creta, mas Talo avistou o Argo e
comeou a atirar pedras nele. Uma vez mais foi Media, agora esposa de Jaso, que
sugeriu que eles remassem para fora do alcance das pedras. Ela afirmou conhecer uma
maneira mgica de coloc-lo fora de ao. Apolnio nos diz o seguinte:
...Embora ele fosse feito de ferro, sucumbiu magia... de modo que bateu
com o tornozelo contra uma rocha afiada, e uma seiva, semelhante a chumbo
derretido, jorrou para fora. Ele no mais conseguiu ficar de p e tombou,
exatamente como um pinheiro que cai do topo de uma montanha... A seguir,
ele conseguiu se levantar e se firmou novamente sobre os dois ps enormes
mas no por muito tempo, pois tombou de novo violentamente no cho...
...Em Pytho, nos campos de Ortigern... eles zarparam com o vento pela popa e
passaram pelo promontrio mais afastado, o cabo Tisae... atrs deles
desapareceu a escura terra das Pelasges...
Dali eles zarparam para Meliboa, e contemplaram o quebrar das ondas
turbulentas na costa rochosa. E com o novo dia eles avistaram Homola que
construda ao lado do mar. Eles a deixaram para trs e logo passaram a foz
do rio que saa das guas de Amyrus. Eles avistaram ento as plancies de
Eurymenas, e as profundas dobras do Olimpo. Tambm Canastra... Na
penumbra do anoitecer eles vislumbraram o pico do Monte Atlm, cuja sombra
cobre a ilha de Lemnos...
...at que chegaram mais uma vez s costas dos Dolions... onde avistaram as
rochas Macriades, e diante de si a terra da Trcia. Tambm a foz etrea do
Bsforo, o outeiro de Mysen, e na outra direo o Rio Aesaps e Nepeia...
... foz bem-vinda do Rio Calichor. Foi aqui que Baco certa vez celebrou suas
orgias, quando o heri voltou a Tebas depois de visitar os povos da ndia...
...A seguir eles chegaram terra da Assria...
...os primeiros raios do amanhecer acariciaram os picos nevados do Cucaso...
...Naqueles dias os Deucalides governavam a terra de 1elasges. Mas o Egito, a
me da raa mais antiga dos homens, j estava crescendo em notoriedade e
fama...
...Eles navegaram para mais longe e a alvorada os encontrou na Terra dos
Hyllers. Um grande nmero de ilhas se estendia diante deles e perigoso para
os navios passar atravs delas...
...ris desceu do Olimpo, avanando pelo ar de asas abertas e pousando no
Mar Egeu...
...aqui subiu Cila das guas... ali rugia Caribde...
Esses so apenas alguns exemplos, que demonstram que Apolnio sabia muito bem em
que parte do mundo os heris do Argo estavam praticando suas aventuras. No apenas
rios, ilhas ou regies especficas so mencionados, como tambm mares ou cadeias de
montanhas como o Cucaso. No
deveria ser muito fcil traar a rota da jornada dos Argonautas?
claro que isso foi feito com resultados bastante variveis. Os dois professores
franceses Emile Delage e Francis Vian elaboraram mapas claros,4142 segundo os quais
Jaso e sua tripulao viajaram do Cucaso na extremidade oriental do Mar Negro ao longo
do Rio Istros (o Danbio) em direo ao Adritico, passando por outros tributrios durante
o percurso. No vale do P, havia muitos rios, pequenos e grandes, que os Argonautas de
alguma maneira conseguiram usar para navegar ao redor dos Alpes e para chegar ao Reno
e ao Rdano. Na regio de Marselha, eles chegaram uma vez mais ao Mediterrneo e
passaram atravs dos estreitos de Messina os supostos Cila e Caribde. Finalmente, eles
se voltaram para o leste na direo das atuais Ilhas Jnicas, depois para o sul e
avanaram diretamente para o Grande Syrtis da Lbia. Dali eles zarparam para casa pelo
caminho de Creta. E onde fica o lugar onde o carro celeste de Faetonte caiu sobre a terra?
No muito distante da borda ocidental da Sua, no "Marais de Phaton" (Pntano de
Faetonte).
Reinhold e Stephanie Glei43, 44 apresentaram mapas ainda mais exatos. Mas eu tenho
problemas com eles; de que modo vamos do Rio Istros ou Danbio para o Adritico, e dali
atravs do rio Erdano no vale do P at os mares Clticos" da Frana dos dias de hoje?
Afinal de contas, o Argo no era um pequeno barco de borracha e sim o maior navio da
sua poca, com uma tripulao de cinqenta pessoas. No se pode negar que pode ter
havido vias navegveis naqueles tempos que hoje j no existem o que uma vez mais
traz baila a questo da data da Argonutica original. Em que eras geolgicas havia vias
navegveis onde hoje s existe terra firme?
Um cnsul-geral da Frana, Monsieur R. Roux, compara as viagens de Ulisses,
descritas detalhadamente pelo poeta grego Homero, com a Argonutica.45
Christine Pellech tem uma perspectiva bastante diferente.46 Seu estudo bastante
completo tambm compara as viagens de Ulisses com a Argonutica, chegando
concluso de que "a Odissia coincide em parte com a jornada dos Argonautas". Ela afirma
que Ulisses efetivamente navegou ao redor do mundo milnios antes de Colombo e
apresenta o ponto de vista de que os egpcios haviam recorrido a fontes fencias, e que foi
essa "mistura fencia-egpcia que fora tomada em sua totalidade pelos gregos". Tanto o
contedo da Argonutica quanto o da Odissia derivam do Egito, de acordo com Pellech, e
ela baseia essa afirmao no fato de que Apolnio de Rodes foi criado na Alexandria,
visitou a biblioteca local e s deixou o Egito depois de se desentender com seu professor.
Os argumentos de Christine Pellech do a impresso de serem oriundos de uma
pesquisa bem documentada e ela tambm consegue fazer corresponder muitos pontos da
jornada com lugares concretos no planeta. No entanto, muitas perguntas ainda
permanecem.
Se o que ela diz verdade, ento a maioria das indicaes geogrficas fornecidas por
Apolnio devem estar erradas, e muitos estudiosos tero perdido seu tempo. Qual poderia
ser a explicao? Vamos supor que Apolnio realmente trouxe a essncia da histria dos
Argonautas do Egito para a Grcia. Ento, para criar para si mesmo uma imagem mais
completa, ele pode muito bem t-la adornado com detalhes geogrficos da sua prpria
experincia. Para fazer isso, no entanto, ele teria de ter possudo um extenso
conhecimento da vasta regio do mundo grego daqueles dias, bem como de muitos rios,
costas e montanhas alm da Grcia. Mas, mesmo assim, ainda existem dificuldades;
como, por exemplo, podemos explicar passagens de Apolnio como a seguinte:47
.... noite eles desembarcaram na ilha Atlantides. Orfeu implorou a eles i/tie
no rejeitassem as solenidades da ilha, nem os segredos, as leis, os
costumes, os ritos e servios religiosos. Se eles os observassem, teriam
garantido o amor do cu na continuao da sua viagem sobre o perigoso
oceano. Mas falar mais sobre essas coisas eu no ouso...
No devemos nos esquecer de que Atlntida era a ilha do deus Posdon, que se dizia
que dois dos seus filhos viajaram no Argo e que os veculos anfbios que haviam subido
superfcie do mar haviam sido obra de Posdon. Mas como Apolnio tem conhecimento da
Atlntida se a isso que a palavra "Atlantides" est se referindo? Ele escreve pelo
menos a respeito de solenidades que no devem ser rejeitadas, mas tambm de segredos,
leis e costumes. E embora em todos os outros lugares ele fornea cada detalhe
geogrfico, ele agora se abstm de dar qualquer outra informao sobre essas coisas.
Existe algo aqui que no se encaixa no contexto geral, e voltarei mais tarde histria da
Atlntida.
A histria do Argo realmente aconteceu um dia? Uma vez que no existem fontes
mais antigas a que possamos recorrer do que as aqui citadas, provavelmente nunca
saberemos. Mas tenho seguido o rasto dos deuses nos ltimos quarenta anos, convencido
de que muitos elementos da Argonutica no podem simplesmente ter sido inventados. A
fantasia algo excelente e at mesmo milnios atrs as pessoas apreciavam os caprichos
da sua imaginao. Mas a fantasia sempre se baseia em alguma coisa; ela tem seu ponto
de partida em eventos que realmente aconteceram, em circunstncias que no podem ser
compreendidas, em enigmas que nossa razo no consegue claramente classificar.
Tentamos hoje em dia arduamente atribuir uma tendncia psicolgica "imaginao" dos
povos de antigamente, empregando a concepo antiga e desgastada dos fenmenos
naturais como o relmpago e o trovo, as estrelas, o silncio e o infinito, as erupes
vulcnicas e os terremotos. Mas como o demonstra a histria da exegese ou dos
comentrios, cada estudioso s pensa levando em conta a prpria experincia,
condicionado pela poca em que vive. Nosso chamado zeitgeist{*} torna nossa perspectiva
mais estreita e determina o que "razovel" ou "cientfico". Minha eficiente secretria
retirou da biblioteca da universidade de Berna 92 livros sobre o tema Argonutica para
meus estudos. Como de costume, quase nos afogamos nos quilmetros de comentrios
escritos por dinmicos acadmicos em diferentes perodos mas ningum realmente
sabe a verdade. E cada um deles apresenta um argumento diferente.
Eu ainda me atenho minha convico bsica, a qual desenvolvi em 24 livros a partir
de 1968. Tudo que tento fazer relacionar novos argumentos teoria original, e durante
esse processo as lacunas no mosaico vo ficando cada vez menores e a imagem global se
torna progressivamente mais convincente. No entanto, admito que minha teoria possui
seus defeitos e que parte do que apresento poderia ser explicado de um modo diferente.
Vias, ao final do dia, qual a verdade? As anlises realizadas pelos comentadores nos
ltimos cem anos so corretas? Suas concluses so convincentes? Eles fornecem
como a comunidade cientfica simplesmente supe um corpo de conhecimento
comprovado? Ou o que eles consideram cientificamente correto apenas uma
interpretao ditada por perspectivas contemporneas?
claro que, neste caso, torno-me diretamente vulnervel a um ataque direto. Que
outra coisa, diro as pessoas, o que est Erich von Dniken fazendo seno interpretar as
coisas a partir da sua perspectiva contempornea? Isso verdade. Mas j no deveramos
ter aprendido que somos apenas um gro de poeira que vive nas profundezas do universo?
Que o mundo e o cosmo so muito mais fantsticos do que aprendemos na escola? J no
est na hora, tendo em vista a abundncia de elementos disponveis, de admitirmos que
algo no est certo na nossa viso do incio da histria da humanidade? E que as opinies
que recebemos esto erradas porque varrem para baixo do tapete milhares de indicaes e
referncias, recusando-se at mesmo a aceit-las como possibilidades? Eu tenho uma
vantagem sobre os comentadores. Conheo osargumentos deles, mas eles no conhecem
(no esto interessados em conhecer) os meus.
Os novos leitores precisam tomar conhecimento das minhas antigas teorias, de modo
que apresentarei um breve resumo delas. Certa ocasio, milnios atrs, uma populao
aliengena desembarcou na terra. Nossos antepassados no tinham a menor idia do que
estava acontecendo; eles nada sabiam sobre tecnologia, muito menos sobre viagens
espaciais. Sua mente simples deve ter achado que os aliengenas eram "deuses" embora
ns saibamos que no existem deuses. Os aliengenas estudaram primeiro pequenos
grupos e tribos de seres humanos, exatamente como os etnlogos fazem hoje em dia.
Aqui e ali eles deram conselhos para a criao de uma civilizao organizada. No havia
nenhum problema de comunicao entre as pessoas e os "deuses", no apenas porque a
nossa civilizao sempre conseguiu assimilar com facilidade idiomas totalmente
estranhos, mas tambm porque o primeiro Homo sapiens sapiens provavelmente aprendeu
sua lngua com os "deuses."
Um dia, finalmente, uma ciso e at mesmo uma revolta ocorreu entre os aliengenas.
Eles violaram as leis do seu mundo de origem e as determinaes dos seus superiores do
comando espacial, e tiveram relaes sexuais com as belas filhas dos homens. Essas
unies deram origem a mutantes: monstros enormes, os Tits da antiguidade. Outro grupo
de extraterrestres dedicou-se engenharia gentica, criando os mais variados tipos de
mutantes. O resultado deve ter sido um verdadeiro cenrio de Frankenstein. A nave me
ento partiu com os "bons" aliengenas, regressando s profundezas do cosmo mas no
sem primeiro prometer voltar em algum ponto do futuro.
Os "deuses" que ficaram para trs na Terra brigaram entre si. Eles ainda possuam
fragmentos da sua tecnologia original e, sem dvida, conservavam seus conhecimentos.
Eles sabiam, por exemplo, como trabalhar o ferro, fazer ligas e criar armas e robs
terrveis. Mas eles tambm sabiam como fazer voar um balo de ar quente ou carregar
uma bateria solar. Esses "deuses" geraram filhos e, naturalmente, ensinaram parte do seu
conhecimento tecnolgico aos seus descendentes.
Estes ltimos se espalharam pela terra, habitando diferentes regies que eram
governadas, em cada caso, por um nico governante ou por uma dinastia familiar. Eles
seviciaram seus sditos, os seres humanos, utilizando-os como burros de carga,
produtores de alimentos e serviais idiotas. Mas tambm ensinaram muitas coisas aos
sditos, nomeando os melhores como administradores, os chamados reis.
Os "deuses" basicamente vigiavam seus sditos com cimes; "No tereis outros
deuses antes de mim" era uma das suas leis. E, na hora das batalhas e golpes, os
"deuses" freqentemente apoiavam seus sditos com armas terrveis. Os filhos dos
deuses e seus descendentes de terceira e quarta geraes com freqncia brigavam entre
si.
Essa , portanto, a minha teoria, que se baseia em um to grande nmero de fontes
de informaes que somente as remisses recprocas se transformaram em um livro,48 e
todos os meus livros juntos se transformaram no apenas em uma enciclopdia,49 como
tambm em um CD-ROM.50, 51 Isso tudo sem mencionar as centenas de livros que
outros autores publicaram sobre o mesmo tema em todo o planeta. , portanto, bastante
natural que eu esteja familiarizado com todos os contra-argumentos possveis e
imaginveis, e que h muito tempo j tenha lidado com eles de uma maneira que me foi
satisfatria.
Qual a possvel relao entre a Argonutica e os extraterrestres? Quais os elementos
componentes que dificilmente podem ter apenas surgido da imaginao de um grupo de
pessoas que viveram h milnios de anos? E eu quero ser bem claro a respeito deste
ponto: no estamos falando da imaginao de um Apolnio, ou de qualquer outro poeta
grego, que tenha escrito seus relatos h 2.500 anos. A essncia da histria da Argonutica
tem origem em uma poca da qual no temos registros histricos simplesmente porque
as bibliotecas realmente antigas foram destrudas. A no ser, claro, que alguma
inesperada cmara de tesouro esteja para ser aberta no Egito.
O que ento nos chama a ateno na Argonutica?
18. Um rob metlico que d a volta em uma ilha. Seus olhos avistam os navios que se
aproximam e ele lana projteis, pe fogo nos agressores e seu sangue parece chumbo
derretido.
19. Uma mulher da raa dos deuses que consegue confundir esse rob com "imagens
de sonho".
Mesmo que suponhamos que tudo no passa de uma histria extravagante engendrada
na cabea de um sonhador e mais tarde expandida e aumentada por poetas das eras
subseqentes, isso significa que todas as perguntas estranhas devam ser silenciadas? No
existe ento nenhum mistrio a ser resolvido?
At mesmo uma histria extravagante encerra um contedo. Seif inventor original teria
de ter tido pelo menos uma histria parcialmente plausvel, porque as coisas precisam
apresentar uma certa coeso e bom senso. A estrutura bsica da histria simples: uma
ou vrias pessoas partem em busca de um objeto nico e extremamente valioso. Esse
objeto guardado por um monstro incompreensvel e tudo isso tem uma certa relao
com os deuses.
irrelevante se o poeta tambm insere uma histria de amor em algum lugar, que
tem um final feliz. Mas qual a origem do monstro de metal, que ataca navios, derruba
coisas com seus projteis, irradia calor e tem o sangue feito de chumbo? E de onde esses
poetas tiraram a idia do drago que cospe fogo? Esse tipo de criatura nunca existiu na
evoluo do planeta. Ningum poderia simplesmente t-la inventado. No existem,
portanto, nem explicaes "arquetpicas", nem memrias" antigas e nebulosas em ao
neste caso. E por que essa raa de drages aparece repetidamente nas histrias dos povos
da antiguidade? Os mais antigos contos chineses falam dos reis drages que desceram
dos cus para a Terra no incio dos tempos. Eles no so produto da fantasia ou de
histrias absurdas, pois os reis drages fundaram a primeira dinastia chinesa. Nenhuma
arma humana era capaz de lhes ferir, e eles dominavam os cus com seus drages que
cuspiam fogo. As mquinas voadoras dos reis drages faziam um barulho terrvel e o
fundador da primeira dinastia tinha o nome de "Filho do Drago Vermelho".52
Nada disso mitologia porque, afinal de contas, o tema do drago que cuspia fogo
influenciou toda a arte chinesa durante milhares de anos, at a nossa poca. E quem quer
que argumente que essas coisas no podem ter sido verdadeiras e que o drago precisa
ser compreendido a partir de uma perspectiva psicolgica talvez deva fazer uma viagem a
Beijing e dar uma olhada na Praa Vermelha. O que pode ser visto ao longo de um dos
lados da praa? O templo do imperador celestial!
No lhe ocorre, pouco a pouco, que existe algo estranho nisso tudo? Que os relatos da
antiguidade no so apenas lendas, mitos ou histrias imaginrias, e sim uma antiga
realidade? Essa longnqua realidade, contudo, tambm pode ser demonstrada de outra
maneira: seguindo a trilha do tempo.
NOTAS
1. Hunger, Herbert, Lexikon der griechischen mui rmischen Mythologie, Viena (nenhuma
data foi fornecida).
2. Graves, Robert, The Greek Myths, Penguin, 1993.
3. Schwab, Gustav, Sagendes klassischen Altertums, Viena e Heildelberg, 1972.
4. Radermacher, Ludwig, Mythos mul Sage bei den Griechen, Munique e Viena, 1938.
5. Frankel, Hermnn, Noten zu den Argonautica des Apollonias, Munique, 1963.
6. Drger, Paul, Argo Pasimelousa. Der Argonautenmythos in der griechischen und
rmischen Literatur, Stuttgart, 1993.
7. Rsten, Jeffrey S., Dionysius Scytobrachion, Opladen, 1982.
8. Ver nota 2.
9. Wissowa, Georg, Paulys Real-Encyclopdie der klassischen Altertumswissenschaft,
Stuttgart, 1895.
10. Ver nota 1.
11. Mooney, George W., The Argonautica ofApollonius Rhodius, Dublin, 1912.
12. Delage, Emile e Vian, Francis, Apollomus de Rhodes: Argonautiques, V'ol. 111, Canto IV,
Paris, 1981.
13. Schefold. Karl e Jung, Franz, Die Sagen von den Argonauten, von Theben und Troja in
der klassischen und hellenistischen Kunst, Stuttgart, 1996.
14. Die Argonauten des Apollononius, Zurique, 1779.
15. Isso se refere ao nome de uma cidade EvD.
16. Roscher, W.H., Ausfhrliches Lexikon der Griechischen und Rmischen Mythologie,
Leipzig, 1890.
17. Ibid.
18. Cancik, Hubert e Schneider, Helmut, Der neue Pauly, Enzyklopdie der Antike, Weimar
(nenhuma data foi fornecida).
19. Tripp, Edward (trad.). Rechnns Lexikon der antiken Mythologie, Stuttgart, 1974.
20. Der grosse Bruckhaus, Wiesbaden, 1953.
21. Genesis, 6:4.
22. Riessler, P, Altjdisches Schrifttum ausserhalb der Bibel. Das Henochbuch, Ausgsburg,
1928.
23. Kautsch, E, Die Apokryphen und Pseudepigraplien des alten Testaments. Huch Baruch,
Tbingen, 1900.
24. Bezold, Carl, Kebra Ntgest. Die Herrlichkeit der Knige, Munique, 1905.
25. Berdyczewski, M. J. (Bin Gorion), Die Sagen der luden von der Urzeit, Frankfurt/M, 1913.
26. Freuchen, P, Book ofthe Eskimos, Greenwich, Connecticut, 1961.
27. Dniken, Erich von, Beweise, Dsseldorf, 1974.
28. Weidenreich, F., Apes, Giants und Men, Chicago, 1946.
29. Saurat, Denis, Atlantis und die Herrschaft der Riesen, Stuttgart, 1955.
30. Burckhardt, Georg, Gilgamesch, eine Erzhlung aus der alten Welt, Wiesbaden, 1958.
31. Ibid.
32. Ver nota 14.
33. Ver nota 14.
34. Ovdio, Metamorphosis, Oxford University Press, 1998.
35. Hin Gorion, Micha Josef, Die Sagen der luden, Vol. 3, "Juda und Israel, Frankfurt/M,
1927.
36. Spiegel, Friedrich, Avesta, die heiligen Schriften der Parsen, Leipzig, 1852.
37. Aram, Kurt, Magie uiul Zauberei in der alten Welt, Berlim, 1927.
38. Ver nota 19.
39. Ver nota 3.
40. Seaton, R. C., Apollonius Rhoditis the Argonautica. Cambridge, Mass, 1967.
41. Ver nota 12.
42. Delage, Emile e Vian, Francis, Apollonius de Rhodes: Argonautiques, Vol. Canto III,
Paris, 1980.
43. Glei, Reinhold e Natzel-Glei, Stephanie, Apollonius von Rhodes. Das Argonautenepos, Vol.
I, Darmstadt, 1996.
44. Ibid. Vol. II, Livros 3 e 4.
45. Roux, R. Le Probleme des argonautes. Recherches sur les aspectes religieuses de la
legende, Paris, 1949.
46. Pellech, Christine, Die Argonauten. Eine Welt-Kulturgeschichte des Altertums,
Frankfurt/M, 1992.
47. Ver nota 14.
48. Dendl, Jorg, Das Dniken-Register, Berlim, 1994.
49. Dopatka, Ulrich, Lexicon der ausserirdischen Phnomene, Bindlach, 1992.
50. Ibid.
51. Dopatkas, Ulrich, Kontakt mit dem Universum (CD-ROM).
52. Krassa, Peter, Als die gelben Gtter kamen, Munique, 1973.
EM NOME DE ZEUS
A regio que hoje chamamos Olmpia j era habitada no terceiro milnio a.C. O
primeiro local sagrado naquela parte da Peloponsia ocidental foi dedicado deusa Ge.
Muito mais tarde, Olmpia se transformou na cidade-templo de Zeus. No ano de 776 a.C.,
ocorreram as primeiras competies em Olmpia, e temos um registro escrito com o
nome do vencedor "Coroibos de Elis. As competies atlticas ocorriam a cada quatro
anos durante um perodo de 1.168 anos, de 776 a.C. a 393 d.C. Regras rgidas foram
estabelecidas, tanto para os competidores quanto para a audincia. Os atletas deveriam
treinar pelo menos durante dez meses; eles tambm deveriam ser gregos livres que no
tivessem cometido assassinato nem se comportado de uma maneira indecente em um
local sagrado. Trinta dias antes do incio dos jogos, os atletas se reuniam no campo de
treinamento em Elis, a 57 quilmetros de Olmpia, onde ficavam morando juntos em
habitaes simples e recebendo a mesma comida.
Os Jogos Olmpicos eram apenas para os homens; as mulheres e os escravos no
tinham permisso nem mesmo para assistir, havendo at mesmo uma lei que dizia que
qualquer mulher que fosse surpreendida assistindo aos jogos seria atirada do Monte
Typaion. Por que essa implicncia com as mulheres? Todos os participantes tinham de
competir nus e, mais tarde, os organizadores os obrigaram tambm a treinar sem roupa.
Por que tudo isso?
Tanto os juizes das competies quanto o pblico tinham de ter certeza absoluta de
que os atletas participantes eram seres humanos normais, que no haveria trapaa e que
todos teriam a mesma oportunidade. A palavra "atleta" na verdade deriva da palavra grega
athlos e significa prmio ou honra. E qual a relao de tudo isso com a histria da
Argonutica? Fique um pouco mais comigo.
At o 13 Jogo Olmpico em 728 a.C., uma nica competio ocorria: a corrida de
velocidade em um percurso de um estdio, uma distncia de mais ou menos 200 metros.
Foi somente em 720 a.C. que uma corrida mais longa foi acrescentada, em um percurso
de dois estdios, cerca de 400 metros. O primeiro vencedor olmpico dessa corrida foi
Acanto de Esparta. A partir de ento, novos esportes foram includos em cada um dos
Jogos Olmpicos. A histria dos jogos foi minuciosamente pesquisada por vrios
historiadores. Herdoto, o "pai dos historiadores" (490-426 a.C.), lia pessoalmente trechos
das suas obras em voz alta no Olmpia, e foi assim que ele se tornou conhecido dos seus
compatriotas. O historiador grego Diodoro (cerca de 100 a.C.), autor de quarenta volumes
de livros de histria, visitou os 180 Jogos Olmpicos.
fcil para mim utilizar a histria dos Jogos Olmpicos para demonstrar que monstros,
Tits, "seres mistos" ou outros seres estranhos no participavam deles. Os competidores
ficavam nus e nenhum ser hbrido ou hermafrodita jamais teria tido permisso para
assistir aos jogos. Nenhum rob la Talos tinha sido programado para proteger os
inmeros templos olmpicos que continham ouro e prata. Nenhum drago que cuspia fogo
guardava com olhos incansveis as valiosas oferendas feitas aos deuses e nenhuma
descendncia "divina" corrompia os jogos. Pelo menos podemos ter certeza disso a partir
de 776 a.C. Competies eram realizadas em Olmpia antes disso, mas no esto includas
em nenhum registro histrico.
A mais antiga referncia conhecida Argonutica encon- tra-se no quarto poema de
Pndaro, que escreveu a histria por volta de 500 a.C. Certamente no havia gigantes, Tits
ou outros descendentes dos deuses solta naqueles dias, caso contrrio teriam sido
mencionados nos registros histricos de Olmpia. Eles tambm no existiam um quarto de
milnio antes disso, nos primeiros Jogos Olmpicos. No obstante, a histria faz referncia
a deuses, robs, ao Velocino de Ouro e a um drago que nunca dorme. Por conseguinte, as
primeiras pessoas que contaram a histria da Argonutica inventaram seus monstros ou
os extraram de fontes bem mais antigas. No vejo nenhuma outra alternativa.
A inveno fantstica de um "vau falante" ou de um "homem de metal" no se encaixa
facilmente na poca de Pndaro e nem mesmo na de Apolnio. O mesmo podemos dizer do
drago que nunca dorme e que no tem necessidades fsicas, cospe fogo e imortal. Se
essas figuras tivessem sido inventadas nas histrias fantsticas da poca, ns teramos
conhecimento desse fato. Afinal de contas, na Grcia antiga, havia uma enorme quantidade
de poetas e sonhadores. Um grande nmero das suas histrias resistiu aos milnios, mas
nenhum deles menospreza as mentiras inventadas pelos outros. Assim sendo, certamente
essas histrias precisam ser mais antigas do que os primeiros Jogos Olmpicos.
Quanto mais nos aprofundamos no nevoeiro da histria humana, mais improvveis se
tornam as invenes tecnolgicas, como as mencionadas na Argonutica. Nosso modelo
evolucionrio nos levaria a concluii que quanto mais recussemos no tempo, mais simples
seria o pensamento humano. Ou ser que existe algum que seriamente deseje propor a
idia de que os contadores de histrias pegaram suas tabuinhas de argila no instante em
que a primeira escrita foi inventada?
Acompanhe-me em uma viagem mental, que nos far recuar 4.000 anos. Estamos na
cidade de Assur, que existiu cerca de 2.000 a.C. O desenvolvimento da escrita encontrava-
se a todo vapor e as pessoas j tentavam riscar em tabuinhas de argila algumas leis
decretadas pelo nosso hbil governante. Este exige de cada um dos seus subordinados que
implemente de imediato as leis, em vez de julgar as coisas de acordo com o capricho do
momento. A elaborao dessas "tabuinhas da lei" muito difcil. Primeiro, a mistura
correta de argila precisa ser comprimida em armaes de madeira, e depois amassada e
alisada. A seguir, o escriba traa linhas finas na argila com uma pedra afiada. Todo o
processo j foi testado durante semanas, com a argila mole sendo gravada repetidamente
com os sinais em forma de cunha. s vezes, a ferramenta de pedra risca muito
profundamente e a impresso fica muito larga na parte superior; outras vezes, uma
presso excessiva aplicada. Ou ento a mo do escriba treme. Com freqncia, a argila
mole cede no lugar errado, ocultando um trao importante que transforma uma palavra em
seu oposto como "injusto" em "justo". Finalmente, as armaes de madeira so
colocadas ao sol para secar. Aps algumas horas, podemos ver que a escrita j no parece
correta porque o calor empena a armao. Alm disso, muitas tabuinhas se quebram
quando so removidas da armao.
Voc pode ver, portanto, que em 2.000 a.C. escrever era ao mesmo tempo um
processo exaustivo e uma sria responsabilidade. Poucos dominavam essa nova arte.
Imagine ento que aparece um sonhador que s tem uma coisa em mente: ele exige 5.000
tabuinhas para poder gravar nelas uma histria inventada, um sonho, digamos ou, como
ela seria chamada um milnio mais tarde, um conto de fadas! Os sacerdotes, a tribo, o
governante s permitiro tal coisa se a considerarem extremamente importante. E que
tipo de histria poderia ser importante a ponto de exigir que algum passasse anos
gravando-a na argila?
Apenas uma, sem dvida, que descreva uma srie de eventos antigos, poderosos e,
claro, verdadeiros, que precisam ser conservados para a posteridade. As mentiras e as
invenes no so gravadas na argila e os sonhos definitivamente tambm no.
E foi isso que aconteceu. Depois que a humanidade finalmente inventou a escrita, ou
melhor, a aprendeu com os deuses, os textos registrados eram acordos comerciais e,
mais tarde, decretos reais ou relatrios sobre guerras e batalhas. Os poucos especialistas
que sabiam escrever, escolhidos a dedo, no usavam esse conhecimento para registrar
tolices. As tabuinhas de argila no existiam para imortalizar as fantasias de qualquer
sonhador. As nicas coisas escritas eram aquelas realmente importantes inclusive as
histrias a respeito dos deuses, das suas armas sobre-humanas e poder sobrenatural.
Essas histrias j existiam e no foram inventadas de repente. No havia lugar para uma
literatura trivial ou escapista nos textos sagrados. Tanto os governantes quanto os
sacerdotes se teriam recusado categoricamente a dar sua aprovao.
Por que ento as descries de uma misteriosa tecnologia dos deuses so encontradas
entre os mais antigos registros escritos? O que tornou essas coisas to importantes a
ponto de serem escritas? A Epopia de Gilgamesh foi escrita milhares de anos antes de
Cristo, bem como as histrias dos primeiros imperadores chineses e seus drages
celestes. E, na verso mais antiga da histria de Gilgamesh, escrita em tabuinhas de argila
h 5.000 ou 6.000 anos, encontramos o rob Chumbaba, a "torre dos deuses", a "porta que
fala como uma pessoa" e os projteis dos deuses, rpidos como o relmpago. claro que
tambm ouvimos falar em uma jornada espacial, pois Gilgamesh levado da terra e
descreve o que v de uma grande altitude.
Acho melhor parar por aqui; j explorei essas histrias em outros livros, que podem
ser examinados por aqueles que desejem se aprofundar no assunto.1, 2
H cento e noventa anos, o historiador Professor Dr. Ernst Curtius escreveu o seguinte: 3
"A histria no conhece a infncia de nenhuma raa." Isso verdade, pois cada povo s
comea a fazer um registro histrico depois de formar uma comunidade a respeito da qual
algo pode ser escrito. Herdoto certamente no foi o primeiro historiador do planeta; a
histria foi escrita sculos e milnios antes dele. Herdoto foi uma pessoa erudita. Ele
pesquisou meticulosamente as bibliotecas da sua poca, pois sua curiosidade e interesse
eram sempre crescentes, e ele queria descobrir a verdade a respeito dos deuses gregos.
Por sua cuidadosa pesquisa, ele descobriu as origens dos deuses gregos no Egito.
Descobriu que os egpcios foram o primeiro povo a manter registros precisos a respeito
dos seus deuses e reis, e que eles tinham conhecimento de festivais muito antigos que
"apenas recentemente comearam a ser celebrados na Grcia.4
Herdoto descobre no antigo Egito seus deuses gregos, junto com todos os ritos que
lhes so dedicados, e no se sente nem um pouco culpado por ter-se aberto com relao a
isso, embora seus devotos compatriotas facilmente pudessem ficar ofendidos. Herdoto
declara com bastante naturalidade que sis nada mais do que o nome egpcio para
Demter. A deusa Atena e os deuses Hlio, Ares e muitos outros tm sua origem no Egito.
No segundo livro das Histrias, a partir do captulo 60, Herdoto descreve diversos
festivais em homenagem a esses deuses e como eram celebrados no Egito. Ele sempre
mantm uma perspectiva crtica, fazendo uma distino entre suas experincias pessoais
e as coisas que lhe foram contadas por terceiros. Ele tambm registra meticulosamente
as coisas sobre as quais no quer escrever, seja por serem sexualmente ofensivas, seja
por no acreditar no que lhe foi contado. Herdoto at mesmo explora a questo sobre o
motivo pelo qual esses seres sobre-humanos so chamados de "deuses". A resposta a que
ele chega no d margem a dvidas: porque eles foram os primeiros mestres da
humanidade e tambm porque "determinavam todas as coisas e dividiam tudo entre si".
Herdoto tambm extrai contagens de anos das suas fontes egpcias capazes de nos
causar uma grande surpresa. No captulo 43 do seu segundo livro, ele escreve que Hracles
era conhecido pelos egpcios como um deus muito antigo. Ele diz que 17.000 anos se
passaram entre a poca de Hracles e o reino de Amasis. A seguir, ele fornece dois
nmeros que perturbam a cabea dos nossos especialistas. Para o Herdoto itinerante e
tudo isso, claro, aconteceu por volta de 450 a.C. os sacerdotes de Tebas
mencionaram o nome de 341 geraes de governantes que eles haviam cuidadosamente
registrado. De acordo com Herdoto, essas 341 geraes correspondem a 11.340 anos, e a
partir de ento "no houve mais deuses com forma humana" no Egito. Herdoto no estava
meramente batendo papo com simples pedreiros ou comerciantes fofoqueiros. As pessoas
com quem ele falou eram sacerdotes instrudos e quando, impressionado, ele perguntou a
eles se suas afirmaes eram verdadeiras, essa elite de sacerdotes confirmou que os 341
reis tinham sido pessoas "bem diferentes dos deuses'' e, que antes deles, deuses haviam
governado o Egito e vivido entre os seres humanos. (Quem quiser verificar essas
afirmaes pode ler o livro 2, captulos 142 a 145, das Histrias de Herdoto.) E uma vez
mais I lerdoto nos garante que os egpcios sabiam de tudo isso "com certeza, porque
eles continuamente computam os anos e os registram. Os mesmos sacerdotes tambm
leram para Herdoto, a partir de um livro, o nome dos 330 reis, junto com os perodos em
que governaram, que se seguiram ao reinado do Fara VIenes.
Os perspicazes exegetas, fillogos, arquelogos e historiadores religiosos dos dias de
hoje no conseguem aceitar a idia desses enormes perodos de tempo. Antes do incio da
histria escrita, eles s tm conhecimento do grande buraco negro da Idade da Pedra,
durante a qual os seres humanos que descendiam dos macacos lenta e infalivelmente
expandiram seu conhecimento. Eles aprenderam a usar instrumentos de pedra e pouco a
pouco desenvolveram a linguagem. Eles formaram tribos para sua segurana, inventaram a
ponta de flecha, a lana e finalmente o arco, e a certa altura descobriram como extrair o
ferro da rocha. Nessa mesma poca, eles ergueram gigantescas construes megalticas.
E, quando finalmente inventaram a escrita, imediatamente usaram estiletes de pedra para
imprimir nas tabuinhas de argila histrias fantsticas com uma tendncia tecnolgica!
Nossos especialistas, que confinam o crebro em interminveis conferncias e
discusses, e que citam o tempo todo as obras uns dos outros a fim de "permanecer
cientficos", no conseguem propor uma explicao melhor do que a psicolgica. Eles
escrevem frases como:5 "Colocar antes de meados do quarto milnio a cronologia das
dinastias mais antigas ridculo e claramente uma bvia inveno." Ou: "Um total
absurdo", ou: "Podemos deixar sem problemas esta passagem de fora, pois ela nada
contm alm de disparates absurdos." Este tipo de ponto de vista defende com segurana
a idia de que "a histria do antigo Egito s comeou realmente por volta de 3.000 a.C."6
Qualquer outra verso da histria da humanidade inconcebvel, mesmo que os
historigrafos dos mais diversos povos forneam datas concretas. O dogma sagrado da
evoluo no admite nenhuma outra alternativa.
A fim de explicar todas as incongruncias, as pessoas inventam "anos lunares",
acusam os historiadores e historigrafos de cometer erros com os nmeros, de exagerar a
natureza grandiosa dos seus reis ou de inventar tipos de calendrio que na verdade nunca
existiram como o calendrio Sothis ou Sirius para os reinos faranicos. E o que
acontece nossa to elogiada "abordagem cientfica se simplesmente desprezarmos
todas as datas que um to grande nmero de escribas e historigrafos registrou com
tanto cuidado? Herdoto est longe de ser o nico a incluir datas e perodos nas suas
histrias. No meu livro anterior, 7 apresentei nmeros comparativos dos mais diversos
lugares. A concluso a ser tirada no que os antigos tivessem problemas para contar e
sim que simplesmente no queremos reconhecer a realidade daquela poca.
Os filsofos gregos Plato (427-347 a.C.) e Scrates (470-399 a.C.) ainda so
considerados, inclusive pela nossa cultura extremamente adiantada, como pensadores
ilustres e perspicazes. Seus tratados enchem milhares de pginas e eles se esforavam o
tempo todo para chegar verdade. Quem quer que leia os Dilogos de Plato descobrir o
verdadeiro significado da filosofia e da dialtica. Em seu dilogo intitulado As Leis, Plato
inicia uma conversa com um hspede vindo de Atenas, com Cleinas de Creta e o
lacedemnio Megillos. Esses homens tambm discutem os tempos antigos e o ateniense
diz o seguinte:8
Por que o grego enfatiza o fato de estar se referindo a um perodo especfico de tempo
de dez mil anos? Porque os gregos consideravam todos os nmeros acima de dez mil algo
que podia variar entre "grande" e "infinito. No livro 3 do mesmo Dilogo, os homens falam
abertamente a respeito da destruio de culturas anteriores. Est claro que o
conhecimento dessas civilizaes extintas era evidente por si mesmo naqueles dias e no
apenas com relao a pequenas naes dizimadas em um ou outro momento pela guerra
ou desastre natural. De modo nenhum. As pessoas tinham conhecimento de uma
catstrofe global causada por um grande dilvio. Podemos ler com detalhes na obra de
Plato a respeito da erradicao de cidades e pases inteiros e dos pequenos grupos que
sobreviveram nas regies montanhosas. Esses sobreviventes, diz ele, haviam preservado a
arte da cermica, viviam da caa e eram capazes de fabricar cobertores e armas simples,
pois podiam confeccion- los sem o uso do ferro. Por outro lado, diz ele, o uso dos metais
lhes foi ensinado pelos deuses "para que a raa humana, no meio das dificuldades que
estavam passando, obtivesse uma fora e um mpeto renovado para se desenvolver".9
Podemos ler a respeito da maneira pela qual as cidades das plancies e beira-mar
foram destrudas e as minas de metal ficaram submersas, o que tornou impossvel a
obteno de minrios. Todas as ferramentas tambm foram perdidas, bem como uma
grande parte do conhecimento, inclusive a "arte da poltica. As geraes seguintes,
escreve Plato, logo esqueceram de que modo muitos milnios haviam se passado.
Muitas pessoas interpretam esse Dilogo como uma espcie de suposio, como se
Plato estivesse dizendo: "Vamos supor que isso aconteceu, que o mundo foi arruinado e
as pessoas tiveram de recomear do incio, como isso seria." No entanto, esse ponto de
vista no tem muita utilidade, visto que a meno a culturas extintas no se restringe a
As Leis. E o ateniense afirma explicitamente que se est referindo a um nmero exato de
"dez mil anos".
Mas por que tal catstrofe teria ocorrido? Em a Poltica de Plato lemos assombrados
a respeito de:10
Isso parece absurdo, mas na nossa poca adquire outra dimenso. Simplesmente
imagine um globo e faa-o girar sobre o prprio eixo para obter nossos dias e noites.
Agora incline o eixo e deixe o globo continuar com a mesma rotao anterior em outras
palavras, sem parar o giro e invert-lo. O que acontece? Os habitantes da terra tm a
impresso de que o sol mudou seu trajeto. claro que isso no aconteceu, mas o fato de
o eixo da terra ter mudado de direo faz com que as pessoas tenham essa impresso.
Alm disso, uma mudana no eixo da terra tambm provocar inevitavelmente terrveis
inundaes. Desde que aprendemos que o campo magntico do nosso planeta se modifica,
uma mudana no eixo da terra tem estado dentro dos limites da possibilidade.
O poeta Hesodo viveu na Grcia sculos antes de Plato. Vrias epopias, poemas e
fragmentos de seus trabalhos sobreviveram aos milnios. Sua obra mais conhecida
Teogonia, que foi escrita entre 650 e 750 a.C.11 Nela ele menciona seres terrveis que
certa vez habitaram a terra. Os prprios deuses os haviam criado: figuras pavorosas "com
cinqenta cabeas com enormes membros pendurados nos ombros."12 O drago que
cuspia fogo tambm j faz parte da coleo de seres estranhos de Hesodo. Apolnio, que
viveu trezentos anos mais tarde, no pode, por conseguinte, ter inventado o drago na
Argonutica.
...Primeiro os deuses, os que vivem nas alturas do Olimpo, criaram uma raa
de ouro de homens muito discursadores...
A citao anterior foi traduzida de uma verso alem de 1817. O professor Voss
traduziu a frase do grego como "os que vivem nas alturas do Olimpo. Em verses mais
recentes da mesma passagem, encontramos uma perspectiva levemente diferente: "...
[deuses] que vivem em casas celestes".16
Vou colocar lado a lado essas duas tradues, separadas uma da outra por apenas 150
anos, para que voc possa compar-las e tirar suas concluses:
1817
Primeiro os deuses, os que vivem nas alturas do Olimpo, criaram uma raa de ouro de
homens muito discursa- dores. Estes eram governados por Crono, que na poca reinava no
cu. E eles viveram como os deuses, com suas almas recebendo constantes cuidados...
1970
Deuses imortais que vivem em casas celestes primeiro criaram a raa de ouro de
frgeis seres humanos. Foi na poca de Crono, quando ele ainda reinava nos cus. Eeles
viveram como deuses, sem ter nenhuma preocupao no corao...
O grego antigo que alguns de ns talvez tenhamos aprendido com dificuldade no colgio
no suficiente para julgar qual das verses mais precisa. Embora o sentido geral das
duas tradues seja de um modo geral o mesmo, existe uma diferena fundamental entre
"alturas do Olimpo" e "casas celestes", e entre "governados por Crono" e "na poca de
Crono". Como ser a traduo no ano 2100? Depois da "raa de ouro" os deuses criaram
uma segunda raa, uma raa inferior, uma "raa de prata". Esta raa ainda foi criada pelos
mesmos deuses, os que "moram nas alturas do Olimpo", ou, quem sabe, "moram em
casas celestes". Essa "raa de prata" era de uma ordem inferior raa de ouro, tanto na
forma quanto na atitude mental, e era formada por ''molenges" mimados pelas mes.
Depois ento veio:17 "...uma terceira raa de pessoas barulhentas". Elas tinham "uma
grande fora" e "dos seus ombros saam grandes membros". Supe-se que essa raa era
empedernida e obstinada, e suas ferramentas de agricultura eram feitas de metal. Mas
parece que essa raa tambm desapontou, de modo que Crono criou uma quarta raa: a
dos heris ou semideuses.
Segundo Hesodo, ns, modernos, pertencemos quinta raa, a raa de ferro. Somos
uma mistura do "bem com o mal" e sentimos alegria e dor. Mas quando as coisas
degenerarem a ponto de crianas no mais se parecerem com os pais, anfitries no mais
acolherem com prazer os hspedes e irmos no mais amarem uns aos outros, nossa
raa tambm ser destruda em nome de Zeus.
Hesodo apresenta uma descrio vvida e detalhada da batalha travada entre deuses e
Tits, inclusive dos pormenores das armas envolvidas. Embora os Tits tivessem sido
criados pelos deuses, tiveram de desaparecer da face da Terra. Uma terrvel luta ocorreu,
na qual at mesmo o deus Zeus esteve envolvido, lanando dos cus grandes relmpagos
explosivos, projteis que fizeram os mares ferver, incendiaram extensas regies e
subjugaram a Terra. A descrio do massacre feita por Hesodo cobre muitas pginas,
mas vou transcrever apenas um trecho da traduo de 1817:
E o que disse Gilgamesh, quando seu amigo Enkidu morreu com muito sofrimento
depois do encontro com o monstro divino Chumbaba? "Ter sido o hlito venenoso da
besta celeste que o atingiu?"
Todas as verses de O Mahabharata disponveis em alemo so editoradas e
mutiladas. Como no sou capaz de ler snscrito, tenho de recorrer s verses em ingls
em muitos volumes. As semelhanas com Hesodo so por demais marcantes e
simplesmente no podem ser desprezadas.
Este tambm o lugar ideal para mencionar outra remisso recproca a Gilgamesh:
O mundo das lendas gregas estava sempre relacionado com as estrelas fixas, mas as
constelaes estelares, aliadas s histrias e idias enigmticas a elas associadas, j
existiam milnios antes disso. Dizia-se que Prometeu ensinara a humanidade a observar o
nascer e o pr das estrelas. Ele tambm ensinou aos homens a escrita e diversos ramos
do conhecimento e da cincia. J descrevi a criatura martima Oannes, que fez
exatamente a mesma coisa. Diodoro da Siclia narra algo bastante semelhante em seu
primeiro livro, ou seja, que os primeiros seres humanos aprenderam sua linguagem, a
escrita e seu conhecimento com os deuses.26 Encontramos exatamente a mesma coisa
entre os antigos egpcios,27 japoneses,28 tibe- tanos,29 maias, incas...
Apenas a nossa cultura no se interessa por essas antigas tradies e relatos. claro
que estamos acima dessas bobagens!
No existe a menor dvida de que os poetas e historiadores gregos tomavam como
base antigas histrias e narravam as verses que criavam a partir delas na sua terra para
"torn- las suas", revestindo-as com deuses e paisagens gregas. Mas a essncia dessas
histrias, seja em a Argonutica, seja nos relatos feitos por Hesodo da batalha entre
deuses e Tits, no se reporta de modo algum Grcia. No obstante, acredito que os
descendentes dos deuses efetivamente deixaram seus vestgios na regio geogrfica da
Grcia antiga. Vamos ver agora que vestgios poderiam ser esses.
NOTAS
A egiptologia nos diz que os egpcios foram o primeiro povo a construir pirmides.
Dizem que o mais antigo tipo de pirmide a pirmide com degraus de Sakkara,
construda para o Fara Djoser (2609-2590 a.C.). Mas ser que essa informao de fato
correta?
Pausnias foi uin escritor grego itinerante que viveu h cerca de 1.800 anos. Ele
percorreu sua terra natal e fez vvidas descries, freqentemente floreadas, da Grcia da
sua poca. Certo dia, ele se ps a caminho de Epidauro, partindo de Argos, uma cidade no
muito distante da Baa de Nauplia, onde ele viu uma pequena pirmide direita da estrada
(a antiga estrada que ligava Argos a Tegea). Um pouco mais adiante, no mais do que 800
metros a oeste do atual lugarejo de Ligurio, no sop do Monte Aracneu, situava-se uma
segunda pirmide. Pausnias examinou o exterior dessas pirmides. Fias haviam sido
construdas com pesados blocos de pedra com aproximadamente um metro e meio de
comprimento (ver Foto 7). Alguns blocos maiores jaziam no cho, e Pausnias imaginou
que deveriam ser pirmides sepulcrais.1
Foi somente em 1936 e 1937 que os arquelogos seguiram o rastro de Pausnias e
encontraram as pirmides, hoje chamadas de "pirmides da Arglida". No muito longe,
uma estrutura megaltica tambm foi descoberta, a qual levianamente chamada de
"blocausse". Trata-se de uma estrutura quadrada, construda com vigas de pedra
adornadas. Partes da construo lembram as gigantescas muralhas encontradas no
distante Peru. Em ambos os lugares, o trabalho em pedra no formado por monlitos
cortados em ngulo reto e sim por blocos interligados de uma maneira complicada, com
muitos ngulos protegidos contra terremotos.
As medidas externas das pirmides em Ligurio so as seguintes: no lado norte, 14
metros; no lado oeste, 12,5 metros; no lado sul, 12 metros; e no lado leste, 12,75 metros.
A altura de aproximadamente dez metros, mas o vrtice est ausente. Em seu interior
no foram encontrados tmulos nem indcios deles e sim um labirinto de paredes com
pequenos cmodos, alm do que eram claramente tanques de gua. No possvel provar
se esses reservatrios funcionavam como banheiras e nem mesmo se algum dia
encerraram gua. Os arquelogos da dcada de 1940 dataram as duas pirmides por volta
de 400 a.C., 2 e chegaram concluso de que elas no podem ter sido nem tmulos nem
torres de sinalizao. Talvez tenham sido uma espcie de guarita da qual alguns soldados
podiam espreitar a rua. Vias por que a forma piramidal? Isso no faz muito sentido, visto
que os soldados certamente teriam preferido uma plataforma da qual pudessem observar
a regio.
Em 1997, uma equipe greco-britnica uma vez mais ocupou-se das pirmides de
Argolis. Desta feita, elas foram datadas por meio da termoluminescncia. (O quartzo, a
calcita e o feldspato irradiam luz quando aquecidos, o que permite que as impurezas
radioativas existentes no cristal sejam registradas e datadas.) O resultado assombrou os
especialistas. As pirmides tinham pelo menos 4.700 anos de idade e poderiam ser at
mais antigas.3 At mesmo o limite inferior de 2.700 a.C. faria com que essas pirmides
fossem mais antigas do que a de Sakkara.
Nesse nterim, arquelogos gregos encontraram uma pirmide bem maior no muito
longe de Micenas. Imagina-se que ela seja milnios mais antiga do que a pirmide de
Sakkara. Lamentavelmente, o Ministrio da Cultura de Atenas no permite que essa
pirmide seja examinada mais minuciosamente e muito menos autoriza a realizao de
escavaes no local. Assim sendo, tudo que temos so informaes confidenciais
Pausnias estava a caminho de Epidauro, que fora certa vez um magnfico santurio para
Asclpio (ver Foto 8). Embora Epidauro esteja situada apenas a alguns quilmetros do Mar
Egeu, nada pode ser visto da costa porque a cidade est no meio de morros arborizados. A
regio de Epidauro era venerada como solo sagrado por 4.000 anos. Arquelogos
encontraram as runas de templos dedicados ao deus Maleatas, que dizem ter curado a
doena das pessoas. No local tambm foram encontradas runas de antigas estruturas
megalticas. Uma vez que todos os diferentes santurios e antigos locais de adorao que
quero discutir aqui esto de algum modo relacionados uns com os outros, e como meu
trabalho de detetive comea com a estrutura das pedras da construo, gostaria de pedir
aos meus leitores que se lembrassem do seguinte: a regio na qual Epidauro se
desenvolveu, em homenagem a Asdpio, j era um local sagrado na da Idade da Pedra.
Por volta do sculo VII a.C., depois que um nmero cada vez maior de pessoas havia
comeado a fazer peregrinaes a Epidauro, o local foi dedicado a Asclpio (ver Foto 9).
Ele era filho de Apoio, o descendente dos deuses cuja nave voadora havia surpreendido o
Argo quando este estava a caminho da terra dos Hiperbreos. Dizia-se que o prprio
Asclpio havia sido morto em nome de Zeus, por um relmpago. Que coisa horrvel teria
ele feito? No obstante, ele ainda era filho de Apoio, que por sua vez era filho de Zeus, o
que tornava este ltimo seu av. Diz a lenda que, por ter curado milhares de pessoas,
Asclpio se tornou excessivamente confiante e comeou a ressuscitar seres humanos.
Esse fato deixou Zeus to irado que ordenou que Asclpio fosse assassinado. Existem
outras verses da morte de Asclpio, mas os autores gregos concordam unanimemente
com uma coisa: Asclpio foi criado pelo centauro Quron. Trata-se do mesmo "cavalo-
homem" com quem Jaso dos Argonautas passou a juventude.
O smbolo de Asclpio era uma serpente enrolada em um basto, que ainda hoje o
smbolo dos mdicos e qumicos (mais conhecido como basto de Mercrio).
Tambm vale a pena visitar a Epidauro de hoje. verdade que a maioria das runas
remontam ao sculo IV a.C., mas o viajante tambm pode encontrar vestgios de
edificaes megalticas. As grandes lajes jazem discretamente na rea adjacente ou se
incorporaram ao terreno. Na parte central, encontram-se as runas de uma edificao
redonda, cuja finalidade original desconhecida. Na antiguidade, o buraco circular e as lajes
de pedra polida que o cercavam eram chamados de o "tmulo de Asclpio". Dizem que
mais tarde as "serpentes sagradas" de Asclpio ali foram aninhadas; e hoje em dia guias
tursticos um tanto ou quanto desesperados falam de um labirinto, algo que certamente o
local no foi. Atualmente, Epidauro est sendo restaurada e reformada e, quando esse tipo
de trabalho concludo, sempre difcil detectar o que existia anteriormente.
O que se supe ento ter ocorrido em Epidauro milnios atrs? Uma procisso de
enfermos, ou vtimas de acidentes ou de guerra, fazia uma peregrinao, semana aps
semana, a esse antigo local de cura. L chegando, encontravam uma pousada com 150
quartos, alm de vrios templos, banhos pblicos, um campo de esportes e, mais tarde,
uni teatro com vinte mil lugares. Hoje, esse teatro foi restaurado (ver Foto 11) e sua
acstica ainda to perfeita que os turistas sentados na fila mais alta conseguem ouvir
cada palavra pronunciada pelo guia (em um tom normal de voz) que se encontra embaixo
no "palco". O lugar central, onde aconteciam as curas, se chamava Abaton ("o lugar onde
no se pode entrar"4). Depois de os pacientes entregarem suas oferendas aos sacerdotes
e participarem de uma cerimnia, eles recebiam ordens para entrar no "sono de cura".
Isso acontecia no Abaton, um salo com 80 metros de comprimento, onde curas
milagrosas aconteciam regularmente. E como temos conhecimento desse fato 2.500 anos
depois? As pessoas que tinham sido curadas incumbiam escribas de imortalizar o evento e
seus agradecimentos aos deuses em pedra e tabuinhas de mrmore. Muitas destas ainda
esto penduradas em sua posio original, enquanto outras podem ser vistas no pequeno
museu de Epidauro. Vrias foram encontradas no cho do Abaton durante as escavaes
de 1882 e 1928. Que tipo de cura ou milagre imagina-se ter acontecido ali? Eis alguns
fragmentos das inscries:
Algum calculou que esses monstruosos vasos de barro tinham uma capacidade mdia
de 586 litros:8 "O nmero de recipientes existentes apenas na ala ocidental do palcio de
Cnosso chega a 420, o que significa uma capacidade de armazenagem de 246.120 litros."
Alm desses vasos de barro na ala ocidental, tambm havia "recipientes de leo" em todo
o complexo, freqentemente chamados de "cisternas" pelos arquelogos. Sua capacidade
de armazenagem era enorme. E por que motivo? Uma das teorias defende que os minicos
haviam feito provises para pocas de crise, mas essa hiptese pouco convincente.
Cnosso no parece ter temido nenhum perigo, visto que a ilha no era defendida. O
governante era filho de um deus e poderia lidar com qualquer eventualidade; alm disso,
havia tambm o rob Talos que protegia a ilha. For que ento teriam eles desejado
armazenar quantidades to absurdas de leo comestvel, que logo iria deteriorar no calor
do Mediterrneo?
Tudo que podemos fazer especular e tentar encontrar uma possvel soluo. H
alguns anos, voltei a ateno para o Rei Salomo e a Rainha de Sab.9 Acontece que
Salomo usou uma mquina voadora "que ele havia construdo de acordo com a sabedoria
que lhe fora concedida por Deus".10 Ele tambm deu de presente sua rainha um "carro
que voava atravs do ar.
No se tratava de algum tipo de veculo extraterrestre, mas provavelmente de uma
construo relativamente simples sob a forma de um balo de ar quente. No nos
esqueamos de que na mitologia os filhos dos deuses recebiam todo tipo de ensinamento
tecnolgico dos seus pais, o que os colocavam em vantagem com relao aos seres
humanos comuns.
Nos relatos sobre o carro voador de Salomo, feitos h milhares de anos, tambm
ouvimos dizer que esse tipo de veculo precisava de "fogo e gua". E, de fato, curiosas
estruturas dedicadas a Salomo foram encontradas no topo de vrias montanhas. O mundo
rabe chama o pico dessas montanhas de "Takt-I-Suleiman" ou "Trono de Salomo, e eles
podem ser encontrados nos dias de hoje em Cachemira, no Ir e no Iraque, e na pennsula
rabe at o lmen. Todas essas estruturas bem como os templos no pico das montanhas
eram dedicados ao culto da gua e do fogo, e locais para a armazenagem de leo foram
encontrados em todos eles. Se o veculo voador de Salomo tivesse sido propelido por uma
primitiva mquina a vapor, gua e fogo teriam sido necessrios. Mas de que modo teria
Salomo aquecido a gua no seu barco voador? Por meio de leo inflamvel, de uma
maneira semelhante que se acende o pavio em uma lmpada a leo.
Assim sendo, tenho bons motivos para fazer a provocante pergunta: as reservas de
leo no palcio de Cnosso seriam depsitos de leo combustvel? Todo mundo correria ao
mesmo tempo para os telhados por causa da chegada de um veculo voador? Existem
indcios que apiam essa idia; no sexto livro da sua obra Histria Natural, o historiador
romano Plnio o Velho, que perdeu a vida na erupo do Vesvio no ano 79 d.C., faz o
seguinte relato a respeito dos povos que viviam na Arbia":
...ela limitada por outra regio na qual vivem os minenses, atravs da qual
as pessoas passam em uma estrada estreita para pegar incenso. F.ssas
pessoas iniciaram esse comrcio e ainda se dedicam a ele com bastante
intensidade, e por isso que ele tem o nome de "Minaee. Nenhum outro
rabe, alm dos minenses, v a rvore de incenso, e nem mesmo todos os
ininenses a vem. Dizem que seu nmero no ultrapassa trs mil famlias,
que tomam providncias seguras para que esse direito seja passado atravs
das geraes...
As coisas pouco a pouco se tornaram mais claras. O palcio de Cnosso foi
continuamente destrudo e reconstrudo no decorrer de um longo perodo, mas por volta de
1.5(X) a.C. os "minicos" desaparecem como por encanto, e suas edificaes em Creta
so tragadas em uma catstrofe. At essa poca, havia gigantescos depsitos de leo no
palcio. Simultaneamente, uma ramificao do povo minico aparece no distante Imen e
comea a comercializar o incenso. Este ltimo era tratado como ouro naqueles dias do
qual os descendentes dos deuses no conseguiam obter o suficiente. Mesmo nos primeiros
dias da permuta e da troca, artistas e operrios tinham de ser pagos, pois ningum podia
simplesmente viver na misria. A Rainha de Sab ordenou que a maior e tecnologicamente
mais brilhante represa da antiguidade fosse construda em Marib no Imen (ver Foto 20) e
seus parentes em Creta tinham de manter um gigantesco palcio, que freqentemente
desmoronava em conseqncia de terremotos. Nada disso poderia ter acontecido sem um
incentivo financeiro. Segundo Plnio, os "minenses" comearam a comercializar o incenso, e
por esse motivo esse comrcio chamado "Minaee". Plnio no encara esses minenses
corno comerciantes de Creta, e sim como rabes, pois ele diz: "Alm dos minenses,
nenhum outro rabe v a rvore de incenso..."
A Rainha de Sab era sucessora do Rei Minos de Creta. Por sua vez, este descendia
dos deuses, com todo o conhecimento tcnico que seus pais lhe haviam transmitido.
Salomo pertencia ao mesmo elevado crculo dos sbios, e esse o motivo, o que est
bem claro na literatura rabe, pelo qual o governante bblico tinha sua disposio um
nvel de tecnologia bem diferente do que descrito em outras partes do Antigo
Testamento.1114 Afinal de contas, sua amante era a Rainha de Sab, que ele visitava
freqentemente em sua mquina voadora. Resumindo, tudo isso significa que o mtico Rei
Minos era, como diz a lenda, filho de um "deus", casado com a filha do deus sol Hlio o
mesmo que entregara de m vontade as rdeas do seu carro do sol (ou deveramos dizer
os controles?) para seu filho Faetonte.
A famlia deve ser encarada como possuidora de um conhecimento tcnico. Em Creta,
seus membros consolidaram seu poder e se permitiam ser paparicados pelos seres
humanos. Eles construram o rob Talos, que defendia a ilha, e ensinaram aos habitantes a
produzir as grandes quantidades de leo necessrias para as mquinas voadoras reais. Um
dos descendentes de Minos governava a Arbia e comeou a comercializar o incenso. No
reino de Sab, quantidades de leo maiores do que a mdia tambm eram produzidas.
portanto, bastante vivel que durante muitas geraes grandes somas tenham transitado
de um lado para o outro entre os parentes minicos. Eles garantiram a si mesmos um
estilo de vida real, at que, finalmente, o ramo cretense da famlia se separou do resto. O
mesmo aconteceu no reino de Sab. At mesmo o "sangue real" dos "deuses" acabou por
degenerar, o mesmo acontecendo com o conhecimento secreto sobre as tecnologias
anteriores.
No possvel determinar quando tudo isso teve incio, nem o momento em que as
pessoas comearam a fazer peregrinaes ao deus da cura em Epidauro. O importante, na
minha opinio, que os "deuses" j eram efetivamente adorados seis mil anos atrs, no
mesmo stio geogrfico onde Cnosso foi mais tarde construda, ou seja, cinco quilmetros
a sudeste da atual cidade de Iraklion em Creta (ver Fotos 16 e 17). Esse fato est
associado aos enigmas que estou tentando decifrar.
A norte de Creta situa-se o Canal de Anticythera, que tem esse nome por causa das
ilhas Cythera e Anticythera. Nos tempos antigos, quando por questes de segurana os
marinheiros preferiam navegar perto da costa em vez de avanar pelo meio do oceano, os
naufrgios eram freqentes. s vezes os barcos se chocavam no escuro, s vezes o fogo
irrompia a bordo, s vezes piratas ou navios de guerra pegavam o que conseguiam pilhar
ou embarcaes afundavam nas profundezas sem deixar vestgios. Um desses navios
naufragados foi descoberto, por acaso, por um navio repleto de marinheiros gregos, que
haviam se protegido de uma tempestade em uma baa no lado oriental de Anticythera. Na
verdade, eles estavam na ocasio mergulhando em busca de esponjas, conchas e prolas,
e como iam passar a noite acampados na praia de Anticythera, resolveram mergulhar um
pouco no dia seguinte. Na mar baixa, a uma profundidade de trinta metros, Elias Stadiatis
deparou com um mastro de madeira e depois com o corpo de um navio. Alvoroado, ele
chamou os companheiros, e todos mergulharam na gua para ver a embarcao. Faltavam
dois dias para a Pscoa do ano de 1.900. Nos dias seguintes, os homens trouxeram
superfcie um nmero cada vez maior de objetos e, finalmente, notificaram as autoridades
da sua descoberta.
As condies de mergulho eram perigosas, considerando- se a profundidade da gua, o
que significava que ningum podia mergulhar mais de duas vezes por dia. Os
mergulhadores no tinham tanques de oxignio, de modo que s tinham tempo para fazer
o esforo de chegar ao navio, enfiar algum objeto em uma cesta que estava suspensa em
uma corda e ser rapidamente puxados para cima de novo. No de causar surpresa,
portanto, que duas pessoas tenham perdido a vida durante os mergulhos e duas outras
tenham ficado gravemente doentes.
Durante vrios meses, estatuetas, moedas, duas armas de bronze, vasos azuis e at
mesmo estatuetas de mrmore (posteriormente datadas de 80 a.C.) foram trazidas
tona. Finalmente, um dos homens vislumbrou na gua escura algo que parecia um objeto
quadrado, coberto de conchas, calcrio e pedaos de metal oxidado. O mergulhador no
tinha a menor idia do que havia encontrado. Nos dias seguintes, outros fragmentos desse
objeto foram trazidos superfcie, mas mesmo o arquelogo que estava a bordo no
reconheceu de imediato a importncia desse achado excepcional.
A estrutura informe foi tratada quimicamente no Museu Nacional da Grcia em Atenas
para que fosse revelado o que jazia debaixo das camadas de sedimento. Os conservadores
ficaram impressionados ao ver trs engrenagens, unidas por duas tiras de metal em forma
de cruz. A seguir, uma minscula engrenagem com apenas dois milmetros de espessura
esfa- celou-se debaixo do pincel de um dos conservadores. Nesse momento, eles se deram
conta de que estavam diante de algum tipo de dispositivo tcnico e que precisavam de
ajuda especializada.
Um dos estudantes que manipulou com pinas as engrenagens separadas, colocou-as
para secar e tratou-as com agentes qumicos de limpeza se chamava Valerio Stais. Mais
tarde, ele se tornou arquelogo e foi o primeiro a comear a entender o que se encontrava
diante dele nas salas parcialmente escurecidas do Museu Nacional da Grcia. Naquela
ocasio, mais de trinta pequenas engrenagens de tamanhos variados haviam sido
encontradas, alm de algumas cartas escritas em grego antigo. () dispositivo tinha
claramente alguma relao com a astronomia. Valerio Stais chegou a comentar esse fato
com um jornalista, o que fez com que ele fosse severamente repreendido pelos
especialistas.
Nos anos seguintes, vrios "especialistas" quer genunos, quer auto-intitulados
voltaram a ateno para o mecanismo Anticythera", que como ele se tornara conhecido.
Como de hbito, todos chegaram a diferentes resultados. No vero de 1958, 55 anos depois
da sua descoberta, o jovem matemtico ingls Dr. DerekJ. Solla Price recebeu permisso
para examinar essa controvertida pea da antiguidade. Finalmente, um matemtico que
havia estudado astronomia teve consentimento para aplicar seus conhecimentos ao
dispositivo. O Dr. Solla Price tornou-se mais tarde professor de Histria da Cincia na Yale
University. Ele publicou o nico estudo completo a respeito dessa mquina e no disfarou
seu assombro.15
As partes de metal eram feitas de puro bronze ou de ligas de cobre e estanho em
diversas composies. Havia tambm pequenas quantidades de ouro, nquel, arsnico,
sdio, ferro e antimnio. As letras gregas gravadas, que eram apenas parcialmente
decifrveis, forneceram provas absolutas de que o estranho dispositivo encontrado tinha
um objetivo astronmico.
Havia frases como ... noite o Touro..."; "...Vega mergulha na noite... "; "... Pliades
aparecem de manh". Havia tambm nomes de estrelas e constelaes como "Gmeos,
Altair, Arcturus" . O texto estava entremeado com nmeros isolados gravados. Por fim,
era possvel distinguir trs rguas de medio circulares, com linhas milimtricas,
semelhantes a uma rgua de clculo. Mais de trinta engrenagens de tamanhos diferentes
estavam interligadas e presas a uma placa de cobre por meio de pequenos eixos. O
mecanismo possua inclusive rodas diferenciais, que obviamente possibilitavam que o
relacionamento entre as diferentes posies das estrelas fosse lido na escala. Tudo isso
parece complicado, mas no necessariamente o caso por exemplo, quando as Pliades
aparecem, onde est a estrela Altair? O mecanismo tambm possibilitava que a posio
da lua em relao ao sol e Terra fosse calculada, ou a ascenso ou o descenso da
estrela Srio em comparao com a estrela Vega.
O mecanismo Anticythera havia sido obviamente fabricado algumas centenas de anos
antes de Cristo. No entanto, deve ter sido construdo em um laboratrio secreto, pois o
conhecimento necessrio sua fabricao era desconhecido naquela poca. O mesmo se
aplica ao sofisticado nvel da tecnologia e da mecnica envolvido no processo. O Professor
Solla Price estudou essa mquina durante anos e declarou certa vez em uma palestra que
deu em Washington que tudo aquilo lhe causava tanta estranheza quanto causaria o fato
de um abridor de latas ser encontrado entre os tesouros de Tutankmon. No entanto,
claro, Solla Price estava totalmente informado a respeito dos grandes matemticos e
filsofos gregos da antiguidade, como Aristteles (nascido em 384 a.C.) ou Arquimedes
(nascido em 285 a.C.). Tambm de conhecimento geral que os rabes possuam
eminentes astrnomos e construram calendrios de funcionamento mecnico, chamados
astrolbios, por volta do ano 1.000 d.C. Mas nada disso poderia explicar o conhecimento
necessrio construo do mecanismo Anticythera. Transcrevo a seguir uma passagem
de Solla Price.16
O Professor Solla Price foi a nica pessoa a dedicar anos de estudo a essa mquina
extraordinria e, durante esse processo, ele investigou todos os antigos documentos sobre
mecnica, matemtica e astronomia. No final da sua investigao, ele escreveu o
seguinte:
O mecanismo Anticythera foi mantido longe dos olhos do pblico por quase noventa
anos. Recentemente, vrias partes separadas dele foram colocadas em exposio dentro
de uma caixa de vidro no Museu Nacional da Grcia (ver Fotos 22, 23 e 24).
Esse dispositivo, hoje iluminado por projetores, nos faz ver como sabemos pouco a
respeito da sabedoria que os deuses sussurravam nos ouvidos dos seus favoritos. Ele
tambm demonstra os hbitos de pensamento obtusos e preguiosos da mentalidade de
rebanho da nossa sociedade. Estamos diante de um dispositivo de alta tecnologia dotado
de engrenagens, com at 240 dentes, capaz de medir um centsimo de milmetro. Se os
diferenciais fossem maiores, a escala de medidas seria imprecisa ou errada. Esse milagre
tcnico no mencionado em nenhum lugar na literatura da antiguidade, embora deva ter
sido o assunto do dia quando surgiu pela primeira vez. Onde esto seus precursores?
Certamente eles existiram, porque nem mesmo o gnio mais magnfico da mecnica de
preciso poderia ter construdo uma coisa assim a partir do zero. E, se havia modelos
anteriores, por que no so mencionados por nenhum poeta ou historiador da poca, que
tanto se esforavam para registrar todas as outras coisas? (Houve verses posteriores
desse tipo de mquina, mas com uma construo mecnica muito mais simples mas
essa outra histria.) E de onde veio o conhecimento astronmico que corrobora esse
milagre? As pessoas espiam dentro da caixa de vidro no Museu Nacional da Grcia em
Atenas e pensam: "Bem, essas pessoas de antigamente devem t-lo feito de alguma
maneira. Os gnios simplesmente no caem do cu.''
O mecanismo Anticythera era porttil, mais ou menos do tamanho de uma mquina de
escrever. Ele pode facilmente ter sido transportado do palcio de um dos "deuses" para
outro. Tambm pode ter tido vrias utilidades a bordo de uma das mquinas voadoras da
pr-histria. Tanto o Salomo voador quanto as famlias reais indianas que dominavam as
viagens areas 17 sem dvida precisavam de instrumentos de navegao. Assim sendo, no
de causar surpresa que os historiadores rabes nos contem que no seu "carro que voava
atravs do ar", Salomo usou um "espelho mgico que lhe revelava todos os lugares da
Terra.18 Esse milagroso objeto era "formado por vrias substncias" e possibilitava que
do seu tapete voador o rei "tivesse conhecimento dos sete climas". E Abdul Al-Mas'udi
(895-956), o gegrafo e historiador mais importante do mundo rabe, escreveu em sua
obra Histrias 19 que, no topo das montanhas onde Salomo claramente reabastecia seu
veculo, havia muros maravilhosos que mostravam a Salomo os "corpos celestes, as
estrelas, a Terra com seus continentes e mares, as regies desabitadas, as plantas e os
animais e muitas coisas impressionantes".20 Elas eram sem dvida pelo menos to
impressionantes quanto o mecanismo Anticythera.
Ao norte das ilhas de Anticythera e Cythera encontra-se o Peloponeso, a maior
pennsula grega com 21.410 quilmetros quadrados. L esto as cidades de Argos, Epidauro
e Nemia, e, entre elas, a antiqssima Micenas. Como em todos os outros locais da
Grcia, Micenas inseparvel da mitologia. Diz-se que o lugar foi fundado por Perseu, cuja
me afirmava que era filho de Zeus que parece ter sido responsvel por todos os filhos
estranhos. A grande fama de Perseu se baseia na sua vitria sobre as Grgonas, terrveis
monstros femininos com vrias cabeas. Acreditava-se que elas tinham mos de bronze e
asas de ouro, e qualquer um que as olhasse diretamente no rosto se transformava
imediatamente em pedra. Uma dessas Grgonas era Medusa, que ainda personifica o
aspecto feminino mais horrendo e foi nela que Perseu usou um ou dois ardis divinos para
poder mat-la. Ele recebeu das ninfas uma bolsa especial, que jogou sobre o ombro, um
par de sandlias voadoras e um elmo que o tornava invisvel. A seguir, o deus Hermes
apareceu e entregou a Perseu a arma suprema: uma foice de diamante. Armado dessa
maneira, Perseu voou para a cidadela das Grgonas, olhando o tempo todo apenas para seu
escudo polido que reluzia como um espelho. Ao fazer isso, ele evitou todo contato visual
direto com as Grgonas e escapou de ser transformado em pedra. Como ele estava
invisvel, os terrveis monstros no o perceberam e nosso bravo heri decepou a cabea de
Medusa.
Levando consigo a cabea dessa coisa horrvel, Perseu voou primeiro para o Egito, onde
moravam dois de seus parentes mais velhos e depois para a Etipia. Um dos reis desse
pas fora obrigado a sacrificar sua encantadora filha Andrmeda a um monstro marinho.
Naturalmente, Perseu logo lidou com essa besta submarina e, depois de uma ou duas
intrigas, finalmente conseguiu sua Andrmeda. Nesse nterim, seus amigos na Etipia
estavam sendo atacados por uma grande potncia. "Logo resolverei isso", disse Perseu
com seus botes, e dizendo aos amigos que cobrissem os olhos, lirou a cabea de Medusa
de dentro da sua mochila especial e a virou na direo dos seus inimigos, o que fez com
que todos se transformassem em pedra. Perseu usou novamente essa arma secreta em
outra ocasio. (Talvez seja interessante comparar essa histria com o relato existente na
Kebra Negest, a histria da famlia real da Etipia, na qual milhares de soldados morrem
de uma maneira misteriosa por terem olhado para a Arca da Aliana, que o filho de
Salomo havia roubado em Jerusalm e transportado para a Etipia.) Mais tarde, Perseu
voltou com Andr- meda para seu territrio natal, a Arglida, fundando posteriormente a
cidade de Micenas. Mas claro que tambm existem outras histrias a respeito de Perseu.
Ningum sabe exatamente quando Micenas foi habitada pela primeira vez, mas de uma
coisa estamos certos: foi em algum perodo da Idade da Pedra. A paisagem circunjacente
montanhosa, e logo teve incio a minerao do cobre nas montanhas da Arglida. Jamais
saberemos se as pessoas foram viver na regio por causa do cobre ou se havia uma razo
"sagrada. O que foi demonstrado arqueologicamente que estruturas megalticas foram
construdas no local j em 2.500 a.C. e que mil anos mais tarde Micenas era
poderosamente defendida por grandes muralhas de seis metros de espessura.
Micenas tambm desempenha um importante papel na histria de Tria de Homero,
embora ainda no saibamos de onde o poeta obteve suas informaes. Segundo ele, os
heris da Guerra de Tria, Agammnon e seus companheiros, esto supostamente
enterrados em Micenas. por isso que Heinrich Schliemann fez escavaes em Micenas.
Em quatro cmaras sepulcrais, ele encontrou o esqueleto de 12 homens, trs mulheres e
duas crianas e, como os tmulos estavam repletos de ouro, Schliemann enviou
imediatamente um telegrama ao rei da Grcia em Atenas afirmando que esses tesouros
seriam suficientes para encher um grande museu. Essa declarao foi exageradamente
otimista: seus achados podem hoje ser admirados em uma nica sala do Museu Nacional
da Grcia.
Micenas tambm merece ser visitada pelos turistas (ver Fotos 25 e 28). Podemos ver
o Paredo dos Ciclopes, assim chamado porque, de acordo com a lenda, foi construdo
pelos monstros de um s olho. No meio da extenso do muro, sobre trs monlitos, jaz a
Porta do Leo. E todo visitante que sentar e comer seus sanduches sombra dos
paredes provavelmente ir perceber algo estranho: muitas das pedras empregadas na
construo do Paredo dos Ciclopes no podem ser |Xdras puramente naturais, porque so
constitudas por uma variedade de materiais. como se concreto no refinado tivesse sido
certa vez ali misturado. Esse paredo ciclpico tem cerca de novecentos metros de
extenso e acima e embaixo dele existem muros menores que datam de um perodo
posterior.
Alguns metros mais abaixo, situa-se o chamado Tesouro de Atreu, uma edificao
verdadeiramente impressionante (ver Fotos 30 e 31) que se imagina ter um dia servido
como um monumento, embora eu tenha minhas dvidas com relao ao fato de esse ter
isso realmente seu objetivo original. A imponente estrutura abobadada, situada debaixo de
uma colina, possui um dimetro de 15 metros e uma altura de 13,3 metros. O arco da
cpula foi construdo em 33 camadas sobrepostas, com cada camada sucessiva se
projetando um pouco mais do que a imediatamente abaixo, at que um enorme bloco de
pedra cerra a abertura no topo da cpula. A pedra da entrada pesa 12().(XM) quilos e os
estatsticos calcularam que a cpula poderia facilmente suportar um peso de 140
toneladas. Lamentavelmente, ningum sabe o que pode originalmente ter estado dentro
desse enorme salo; os ladres h muito j tinham feito seu trabalho quando os
arquelogos chegaram.
Micenas esteve fortemente ligada a Creta em um estgio bem incipiente. Esse fato
demonstrado pelas pinturas e jias minicas encontradas em Micenas. Os descendentes
dos deuses originrios de Creta tomavam parte nos assuntos de Micenas; no estou me
referindo s posteriores influncias minicas, realizadas por intercmbio cultural, e sim do
povoamento original de Micenas. Esse fato desempenhou um papel particular na rede
geomtrica cujos fios estou lentamente tecendo.
Os locais gregos de culto fazem parte de uma estrutura nica e impressionante. Para
tornar essa afirmao completamente clara, eu teria de descrever com detalhes muitos
desses lugares e atribu-los aos seus deuses, mas isso estaria alm do escopo deste livro.
At aqui, tratamos de quatro principais lugares: Cnosso, Epidauro, Micenas e Olmpia. O
deus deste ltimo ainda no lhe foi atribudo. Ainda precisamos mencionar pelo menos dois
locais sagrados para completar o quadro: Atenas e Delfos.
Mencionei brevemente que havia competies em Olmpia antes do advento dos
primeiros jogos olmpicos. semelhana de todos os outros lugares, a regio de Olmpia
j estava povoada na Idade da Pedra. As runas dos templos e as arenas esportivas que
vemos hoje foram amplamente restauradas, mas runas de um estilo de construo
megaltica anterior ainda podem ser encontradas. Este um ponto que preciso enfatizar
repetidamente: quanto mais recuamos no passado, maiores so as pedras usadas nas
construes megalithos significa pedra grande como se no fosse mais fcil
construir com pedras menores. Isso verdade no mundo inteiro. evidente que as
pessoas da Idade da Pedra apreciavam particularmente estar rodeadas por blocos
gigantescos, embora eles no paream ter possudo a tecnologia para fazer isso. Nas
pocas posteriores, as pessoas tinham aspiraes mais humildes e no sentiam a
necessidade de fazer tanto esforo.
Zeus era o deus principal de Olmpia. Volumes inteiros foram escritos sobre ele, de
modo que me limitarei a um exame relmpago.
A palavra Zeus Jpiter para os romanos, Tor para as tribos germnicas contm o
radical indo-europeu "dei" ou "brilhante."21 Nem mesmo Zeus era considerado pelos gregos
como tendo surgido do nada; ele era filho de Crono. Hesodo nos diz que o Caos reinou
originalmente, uma condio original a partir da qual a Terra, ou Gaia, se formou. A Terra
deu origem a Urano, os cus, e da unio entre Gaia e Urano surgiram tanto os Tits
quanto Crono. Este ltimo engravidou a irm e Zeus foi um dos descendentes desse par
extraordinrio.
Quanto mais Zeus envelhecia, mais ele odiava o pai Crono, e finalmente acabou
lutando contra o pai e os Tits. Essa batalha dos deuses fez Zeus descer do Olimpo, sair
das alturas e ir para outros mundos. Zeus venceu a batalha, matou os Tits, mas deixou
vivo o pai, Crono, que era imortal. Restaram trs dos filhos de Crono: Zeus, Posdon e
Hades. Eles dividiram entre si seu territrio: Zeus ficou com os cus; Posdon, com os
mares e Hades com o mundo subterrneo.
Esses so os fundamentos da origem de Zeus, embora eles na verdade no nos digam
muita coisa. O animal que o smbolo de Zeus a guia. As pessoas o chamavam de o
"Zeus Tonante", o "Lanador de Raios", o "Presciente" ou o "Modificador de Formas". Este
ltimo nome se referia ao seu talento de assumir a aparncia de diferentes criaturas,
talento esse que ele usava amplamente para conseguir o que queria com relao a uma
srie de encantadoras damas. Para Leda, ele apareceu sob a forma de um cisne; para
Europa, como um touro; para Calisto, como o jovem Apoio ou, o que ainda
mais extico, para Dnae como chuva dourada. No obstante, ele tambm sentia muita
atrao por rapazes e se apaixonou pelo Prncipe Ganimedes, que ele imediatamente raptou
e levou para seu reino celeste no Olimpo. Certamente esse no foi um comportamento
divino muito delicado!
Esses atributos pertencem a um ser excepcional que podia fazer tudo, a quem era
permitido fazer qualquer coisa e que ningum compreendia. Particularmente enigmtico o
nascimento de Atena, filha de Zeus. Ela no surge atravs do trajeto normal de um corpo
materno, tendo saltado, completamente armada, diretamente da testa de Zeus. (Tambm
existem outras verses do seu nascimento.) Na mitologia, ela tambm recebe o nome de
Parteno, a virgem. Muito antes do nascimento da virgem crist, dizia-se que Atena havia
nascido de uma maneira semelhante. Atena, como nos diz o nome, a deusa protetora de
Atenas.
Ela a mesma deusa que ajudou a construir o Argo e o equipou com o vau falante.
Ela tambm ajudou Perseu no seu empenho em decepar a terrvel cabea da Medusa. A
lenda grega nos fala do famoso cavalo voador Pgaso que, como o carro do sol de
Faetonte, precisa ser conduzido ou, poderamos dizer, pilotado. Atena tambm resolveu
esse problema fornecendo "rdeas mgicas" ao condutor. F.la era uma deusa
extremamente prestativa e foi logo promovida a protetora das artes, da sabedoria, da
retrica, da paz e tambm da poesia. Talvez eu devesse invoc-la! Foi tambm Atena que
deu o arado aos agricultores para facilitar o trabalho deles, o tear s mulheres e o
alfabeto aos estudiosos.
Houve um momento em que Hefesto, o deus do fogo, tomou-se de encantos pela
virginal Atena e tentou domin-la por todos os meios possveis. Finalmente, os dois
lutaram entre si e Hefesto, excitado, perdeu esperma, que caiu sobre o solo de uma colina
em Atenas. Esse evento teve uma importncia suficiente para que os seres humanos
considerassem o lugar solo sagrado e l construssem um enorme templo: a Acrpole (ver
Fotos 32 e 34).
As atuais runas da Acrpole datam do perodo compreendido entre os sculos VI e IV
a.C., mas na poca da Idade da Pedra seja l quando isso tenha sido as pessoas j
adoravam seus deuses naquele lugar. Esse fato foi demonstrado por arquelogos, pois
havia estruturas megalticas nas colinas prximas a Atenas muito antes de as edificaes
do templo serem construdas. Tanto na encosta setentrional quanto na meridional foram
localizadas runas de construes do perodo neoltico (ver Foto 33). Dois desses antigos
locais de culto foram integrados aos templos posteriores. O monumento mais imponente
da Acrpole o Partenon, construdo sobre as fundaes de uma estrutura anterior. At
mesmo hoje em dia os turistas ficam literalmente sem flego quando chegam a esse
templo com suas colunas de mrmore de 12 metros de altura, depois de uma subida
exaustiva com degraus aparentemente interminveis. Partenon significa "cmara virgem",
pois o templo era dedicado virginal Atena. A edificao tem 67 metros de extenso, 23,5
metros de largura e 12 metros de altura. Podemos ver representado no fronto restaurado
o nascimento de Atena, bem como sua briga com Posdon, que quis certa vez pegar para
si os paredes da Acrpole. Finalmente, existem relevos das batalhas dos deuses com os
Tits, das batalhas contra os centauros, da batalha de Tria e surpreendentemente
da batalha dos atenienses contra as amazonas.
Hoje em dia, o mundo inteiro se queixa do nevoeiro de Atenas que corri o magnfico
templo na Acrpole. E isso est correto. Mas quem sabe por que o Partenon foi destrudo
no sculo XVII? Depois do reinado do Imperador Justiniano (527-565 d.C.), o cristianismo
se espalhou pela Grcia e os antigos templos na Acrpole foram transformados em
igrejas. Mais tarde os turcos chegaram para lutar contra os cristos e armazenaram sua
plvora no Partenon. No dia 26 de setembro de 1687, um certo tenente Lneburg que servia
nas foras venezianas fez explodir esse depsito de plvora. A exploso destruiu os frisos
e as colunas. Sem dvida os ltimos deuses remanescentes devem ter fugido diante desse
brbaro tratamento.
Cnosso, Epidauro, Micenas, Olmpia, a Acrpole todos eram considerados lugares
sagrados muito antes de existir uma "Grcia clssica" e milnios antes de a histria grega
ter sido escrita. No entanto, ainda no encontramos a "estao central" dessa rede
geomtrica, e ele est mais relacionado com os deuses e a histria da Grcia do que
todos os outros locais de devoo. Alm disso, naturalmente, esse ponto nodal na rede
geomtrica no surgiu por acaso, visto que no mito tudo possui uma causa e um motivo.
Certo dia, Zeus mandou que duas guias voassem ao redor da Terra a fim de medi-la.
O ponto central da Terra seria aquele em que as guias se encontrassem depois da sua
circu- navegao. As criaturas simblicas de Zeus voltaram a se encontrar nas ngremes
encostas de uma montanha que era o "nfalo", o umbigo do mundo. E ao lado das
encostas da montanha que mais tarde veio a se chamar Parnaso, surgiu o centro
misterioso do mundo grego, Delfos. A etimologia da
palavra "Delfos" controversa. Ela pode derivar de Delphinios porque dizem que o deus
Apoio l esteve sob a forma de urn delfim [golfinho]; pode se originar tambm de Delphys,
que significa "tero".
Delfos bastante conhecido por seus notrios "orculos", profecias proferidas por uma
sacerdotisa, a Pythia [pitonisa]. At mesmo a pequena palavra "Pythia" no acidental.
Nos tempos pr-histricos, dizia-se que um drago-serpente outro! vivia nas grutas
de Delfos, e foi destrudo por Apoio, que tambm viajou para Delfos em uma "nave
celeste". O terrvel drago foi mais tarde chamado de "Python" [Pton], palavra derivada do
verbo pythein que significa decompor e dissolver. Apoio matou o monstro e o empurrou de
volta para uma caverna na superfcie da rocha. Ali ele se decomps, e dizem que nesse
local a "Pythia" criou suas inspiradas frases oraculares.
Tudo isso no passa de uma lenda folclrica e narrada em um grande nmero de
diferentes verses. Todos os poetas e historiadores gregos escreveram sobre Delfos.
Durante muito tempo, o lugar foi o centro religioso de todos os gregos e era l que os
prncipes e reis buscavam conselhos.
No primeiro livro das suas Histrias, Herdoto nos conta como um certo "Glauco de
Quios, conhecido como o nico artista na Terra a ter descoberto um mtodo para soldar o
ferro",22 havia ofertado a Delfos o primeiro suporte de ferro soldado. Mais tarde, as coisas
esquentaram em Delfos. O rei dos ldios, Croisos (hoje conhecido como Creso), no queria
confiar no orculo, enviando portanto diferentes delegaes a diferentes locais oraculares
na Grcia. A mesma pergunta foi feita a cada um dos orculos: "O que estou fazendo
neste exato momento?" Ele havia combinado com seus mensageiros a hora exata em que
eles fariam a pergunta. Quando estes voltaram, aps consultar os diferentes orculos, a
nica resposta correta foi a de Delfos. Na hora em questo, Creso havia retalhado uma
tartaruga, abatido um carneiro e cozinhado ambos em uma panela de ferro com uma
tampa de ferro. Eis a resposta de Delfos:23
O Rei Creso ficou de tal modo impressionado que cumulou Delfos de presentes. Dizem
que ele sacrificou no local nada menos do que trs mil cabeas de gado e "derreteu
enormes quantidades de ouro, mandando fazer ladrilhos com ele". Foram fabricados 117
ladrilhos, todos com seis mos de comprimento e uma de largura. Mas isso no parecia
suficiente, pois ele tambm enviou para Delfos a figura de um leo feita em ouro macio,
duas nforas gigantes de amalgamao, uma de ouro e a outra de prata, jias e grandes
quantidades de roupas. Herdoto, que visitou Delfos vrias vezes, nos conta que a nfora
de ouro ficava do lado direito da entrada do templo e a de prata, do lado esquerdo, \lais
tarde, diz ele, duas bacias de gua benta, que tambm foram enviadas por Creso, foram
gravadas com uma inscrio falsa. O historiador itinerante ficou irritado com isso, h
2.500 anos: "Isso no est certo," escreveu ele, "porque na verdade foi Creso que doou
essas [bacias]. A inscrio foi gravada por um homem de Delfos. Conheo o homem, mas
no direi o seu nome."
Contei essa histria para lembr-lo por que falamos de algum "to rico como Creso"
e tambm para demonstrar como Delfos ficou rico. Embora o Rei Creso ten ha
virtualmente comprado Delfos por atacado e garantido que sempre teria o direito de
recorrer pitonisa, o orculo no lhe foi til no momento mais crtico. Creso estava na
dvida se deveria ou no travar guerra contra os persas. O orculo de Delfos lhe disse que
se ele cruzasse o Rio Hlis, ele destruiria um grande imprio. Essa frase, aberta a uma
dupla interpretao, poderia ter sado de um horscopo moderno. No ano de 546 a.C., o Rei
Creso cruzou o Hlis, certo da vitria e foi aniquilado pelos persas. O "grande imprio"
que ele destruiu foi o dele.
No centro de Delfos, erguia-se o templo de Apoio, que ainda hoje uma estrutura
impressionante. Apoio, filho de Zeus, tinha um grande nmero de habilidades. Ele
funcionava como deus da luz e deus da medicina. No era sem motivo que Asclpio de
Epidauro era seu filho. Apoio tambm era responsvel pela profecia, alm de ser o deus da
juventude, da msica e da arte de manejar o arco. O irmo mais novo de Apoio se
chamava Hermes. Est escrito nos antigos textos egpcios que Hermes era o mesmo que
os egpcios chamavam de Idris ou Saurid, mas tambm aquele que o povo hebreu chamava
de "Enoque, o filho de Jared..."24 (Mesmo que isso seja apenas remotamente verdadeiro,
estaramos de volta ao perodo que antecedeu o Dilvio. Diz-se que Saurid construiu a
Grande Pirmide antes dessa catstrofe e Enoque um patriarca bblico antediluviano.)
Notavelmente, tambm se diz que Apoio construiu os inexpugnveis muros de Tria.
Ele era adorado como "Protetor dos caminhos e das estradas", e na sua nave celeste
visitava regularmente outros povos, em particular os hiperbreos, que viviam em algum
lugar alm dos ventos do Norte". Nem mesmo na poca de Herdoto os gregos sabiam
quem eram esses ameaadores hiperbreos. Hesodo e Homero fazem meno a eles e
Herdoto finalmente desiste de tentar seguir o rastro deles (IV, 36):
...se os hiperbreos existem, tambm deve ento haver pessoas vivendo nas
mais longnquas regies do Sul. Tenho de rir quando vejo quantas pessoas
desenharam mapas do mundo...
Conhece a ti mesmo
Quase todas as pessoas so ms
A prtica conduz perfeio
Aproveita o dia
Nada em excesso bom
Devagar se vai ao longe
Ningum escapa do seu destino
Senti pena da minha filha. Isso parecia chins para mim! Comecei a tentar resolver o
problema na minha escrivaninha com pedaos de papel. Kilian, minha secretria, me olhou
com um ar preocupado, como se temesse que eu estivesse ficando maluco. Depois de
brincar um longo tempo com sees maiores e menores, finalmente entendi o que era a
seo urea. Recomendo aos meus leitores que experimentem o mesmo mtodo prtico.
O Dr. Manias me mostrou tabelas e fez a demonstrao nos seus mapas. Qualquer um
que resolver verificar o que estou dizendo ficar desconcertado:
Isso continua at que nossa cabea parece que vai explodir. Depois de ler com
dificuldade a horrvel sentena que segue, abandonei todo e qualquer desejo de acompanhar
as explicaes matemticas de Plato:
...mas como novos intervalos de 3/2, 4/3 e 9/8 surgiram dentro dos intervalos
originais atravs dessa unificao, todos os intervalos de 4/3 foram
preenchidos pelo intervalo de 9/8, deixando assim em cada um uma pequena
parte como um intervalo posterior, cujos limites se relacionam um com o
outro na proporo de 256 para 243...
Nenhuma novidade nisso tudo! Mas a rede geomtrica que liga os templos gregos
provm de Plato ou de Euclides, seu predecessor? Os locais sagrados s podiam ser
construdos em pontos geometricamente determinados? Se for este o caso, de onde
vieram esses pontos? Qual a origem dessa geometria? Qual a razo dessas relaes
proporcionais? Por que a seo urea?
Plato, Clicles, Chairephon, Gorgias e Scrates participam do dilogo Gorgias de Plato
uma turma realmente intelectual. Inicialmente, Scrates enfatiza que o que ele tem a
dizer sua convico, cuja verdade ele pode garantir. A seguir, ele declara que a sabedoria
geomtrica no apenas importante entre os seres humanos, como tambm desempenhou
um papel fundamental para os deuses. Mas de que modo esse conhecimento passa dos
deuses para o homem? Isso explicado no terceiro livro das Leis de Plato. Os
participantes falam uma vez mais sobre civilizaes do passado. Um ateniense
pergunta a Plato se ele acredita saber quanto tempo se passou depois que as primeiras
naes e pessoas surgiram na Terra.
A seguir se pergunta se haveria um fundo de verdade nas antigas lendas. J naquela
poca! Eles esto se referindo especificamente s lendas "sobre antigas e numerosas
catstrofes que se abateram sobre a humanidade, atravs de inundaes e outros
desastres, aos quais apenas uma minscula proporo da raa humana sobreviveu".37 Eles
falam a respeito de como apenas habitantes de regies montanhosas conseguiram se
salvar e como depois de poucas geraes eles haviam perdido toda lembrana das
civilizaes anteriores. As pessoas consideravam o que era "dito a respeito dos deuses...
simplesmente como verdadeiro e viviam a vida de acordo com isso". Para regular sua
existncia depois do Dilvio, disse Plato, elas tiveram de desenvolver novas regras e leis,
porque nenhum dos legisladores dos tempos antigos havia sobrevivido. Eis uma citao das
Leis de Plato (a nfase minha):
Mas como no criamos leis para os filhos dos deuses e os heris, como
faziam os legisladores dos tempos antigos, que descendiam dos deuses...
ningum poder colocar a culpa em ns...
Os deuses admirados pelos gregos por sua vez descendiam de outros deuses, de quem
haviam recebido as leis originais. Assim sendo, os descendentes dos deuses tambm
ordenavam a disposio geomtrica dos templos? Bobagem! Por que deveriam? E Plato,
Scrates e Euclides tambm nada tm a ver com isso.
O Professor Neugebauer compara a geometria platnica de Euclides e geometria de
Assur e do Egito. Ele encontra poucas coisas em Plato que no podem ser encontradas
em outros lugares.38 E o Professor Jean Richter descobre na disposio dos templos da
Grcia antiga uma geometria que j existia muito antes de Euclides.39 Apenas a pergunta
sobre por que poderia haver a necessidade dessa disposio geomtrica permanece sem
resposta. Essas descobertas professorais na verdade fazem com que todas as perguntas
posteriores paream redundantes. Neste caso, excepcionalmente, a resposta "mais mo"
torna outras possveis respostas uma simples perda de tempo. Vou dizer as coisas de
uma maneira bem clara:
Os matemticos gregos da antiguidade no podem ter exercido nenhuma influncia
sobre a disposio geomtrica dos locais sagrados, simplesmente porque esses lugares j
eram considerados sagrados milnios antes do nascimento desses matemticos. Euclides,
Plato e Scrates nada tiveram a ver com eles. O conhecimento matemtico dos gregos
instrudos era impressionante, mas em nenhum momento eles deram ordens, quer
polticas, quer de qualquer outro tipo, com relao ao local onde um templo deveria ser
construdo porque esses templos j existiam naqueles locais havia longas eras. Como
ento e agora ns chegamos pergunta fundamental surgiu a clara rede geomtrica
que cobre toda a Grcia?
Os contos de fadas comeam com "Era uma vez.... Eu gostaria de comear de um modo
ligeiramente diferente: "Vamos apenas supor..." que em uma poca distante
extraterrestres visitaram a Terra. Esses eram os deuses originais. Eles conseguiram gerar
filhos: os Tits e os gigantes que vagaram pela Terra. Estes foram massacrados e novos
deuses, criados figuras mitolgicas como Apoio, Perseu, Posdon e Atena. Eles dividiram
a Terra entre si e uma vez mais comearam a gerar descendentes.
Um grande nmero de geraes depois, esses deuses ainda eram capazes de
impressionar os obtusos seres humanos com suas realizaes tcnicas. Eles possuam
armas superiores e, em particular, podiam voar! verdade que suas mquinas eram agora
apenas monstros voadores chocalhantes e fedorentos, mas eles se arremessavam atravs
do ar de alguma maneira, o que era suficiente para despertar a admirao dos seus
sditos. Quem quer que seja capaz de se lanar no ar tem de ser divino! No obstante,
essas banheiras voadoras precisavam de combustvel, mesmo que fosse apenas um pouco
de
leo, carvo ou gua para a mquina a vapor. Os pilotos sabiam exatamente at onde
podiam ir antes de precisar reabastecer. possvel que houvesse tipos diferentes de naves
voadoras, para viagens mais longas ou mais curtas (pelo menos o que se diz dos
veculos voadores na ndia antiga).
Era extremamente conveniente para os deuses que os seres humanos erigissem locais
sagrados em sua homenagem, pois era nesses lugares que eles podiam recolher as
"oferendas"; e os "mortais" tambm eram suficientemente reverentes para servir os
"imortais" da melhor maneira possvel. Assim, o mundo inteiro se tornou Shangri-La para
eles. Era bastante lgico que os locais sagrados ocorressem a intervalos regulares, visto
que aps um determinado nmero de quilmetros as engenhocas voadoras precisavam ser
reabastecidas. E uma vez que grandiosos locais de oferendas para os deuses ou talvez
devssemos dizer seus postos de abastecimento de auto-atendimento estavam
instalados, eles ficaram onde estavam.
As famlias dos deuses e alguns amigos chegados tambm tinham conhecimento da
posio desses postos de auto-atendimento: se voc voar de Delfos a um ngulo X, por 65
quilmetros, voc chegar a Y. Continue a voar em linha reta por mais 65 quilmetros e
voc chegar a Z... Nada mais simples. Desse modo, a rede geomtrica surge
naturalmente dos seus "pontos de reabastecimento" ou "postos de abastecimento". E
naturalmente as distncias so sempre as mesmas, pois os veculos precisam ser
reabastecidos aps um determinado nmero de quilmetros. Afinal de contas, nenhum dos
deuses deveria perder-se em uma viagem, nenhum membro da famlia deveria ser
prejudicado por uma distncia grande demais nem a mquina voadora deveria ficar de
repente sem combustvel.
Comecei esta seo com uma suposio nada alm disso. Desconheo qualquer
outra hiptese capaz de solucionar o enigma da rede geomtrica na Grcia de uma
maneira mais simples e elegante. A nica condio que aceitemos a noo de que
"descendentes dos deuses" certa vez realmente viveram na Terra. E, se soubermos
procurar, poderemos encontrar uma grande quantidade de contos antigos que sustentam
essa idia.
Mesmo quando as famlias dos deuses h muito haviam degenerado, alguns desses
parasitas parecem ter conseguido explorar a falta de conhecimento dos seres humanos.
Em seu primeiro livro, Herdoto descreve a cidade da Babilnia, fornecendo detalhes
precisos sobre o seu tamanho e coisas desse tipo. No centro, diz ele, ergueu-se certa vez
um templo dedicado a Zeus (Belos), "com portas de ferro que ainda estavam l nos meus
dias". O templo tinha oito torres, erguidas uma sobre a outra. A entrada para essa elevada
torre era uma escadaria que subia em espiral em torno da parte externa de todas as
torres.
Na torre superior, havia um "grande templo, e dentro dele uma ampla cama com
encantadores dossis e perto dele uma mesa de ouro". Ningum tinha permisso para
entrar nesse local, exceto uma mulher de extraordinria beleza que fora escolhida. Isso
acontece, explicaram os sacerdotes a Herdoto, porque o deus entra pessoalmente no
templo e dorme na cama, "e s vezes algo semelhante ocorre, de acordo com os
ensinamentos egpcios, em Tebas, no Egito. Dizem que essa mulher nunca tem relaes
sexuais com os homens mortais. O mesmo verdade com relao s sacerdotisas do
deus em Patara, na Lcia, quando o deus aparece. Quando ele aparece, a mulher fica
fechada com ele noite no templo".
Exatamente a mesma coisa acontecia nas elevadas torres dos templos indianos. E foi
por essa mesma razo que os povos da Amrica Central construram suas pirmides com
degraus, com um quarto no topo. Est bastante claro o motivo pelo qual as torres e as
pirmides eram necessrias: os sujeitos chegavam pelo ar!
Na poca de Herdoto, as famlias dos deuses j no existiam; do contrrio, ele teria
escrito a respeito das naves voadoras. No entanto, em pocas anteriores, as coisas
haviam sido exatamente como os sacerdotes da Babilnia haviam contado a ele. Os
deuses tinham prazer com mulheres e homens, aqui, ali e em toda parte. Quando os
deuses comearam a chegar com uma freqncia cada vez menor, e finalmente pararam
de vir, os astutos sacerdotes voltaram o Shangri-La para seu benefcio. F.ra a eles que as
oferendas deviam agora ser feitas, era a eles que as donzelas e os rapazes deviam ser
levados e a eles que o ouro e os diamantes deviam ser entregues. Algumas geraes
depois, os sacerdotes j no mais sabiam de que modo tudo havia comeado mas por
que desistir de um negcio to lucrativo?
No entanto, at mesmo o sumo sacerdote era atormentado por uma incerteza
cotidiana. Atravs da tradio, ele conhecia o poder dos deuses, mesmo que nada
compreendesse. E ele no sabia quando um deus poderia voltar. No era portanto mais
sensato explorar as pessoas apenas na medida necessria para reter o prprio poder? E
acumular o tesouro para oferecer aos deuses quando eles voltassem? Isso certamente
aplacaria aqueles seres celestes e incompreensveis, no verdade?
Estamos agora no incio do terceiro milnio e os deuses h muito j caram no
esquecimento. Lamentavelmente parece que a sociedade humana pode no ter percebido
esse fato.
NOTAS
1 S. Solla Irice, Derek de, Gears from theGreeks. The Anlicythera Mechanism a
Calendar Computer from 80 BC, The American Philosophical Society, Filadlfia, 1974.
16. Ibid.
17. Gentes, Lutz, Die Wirkliechkeit der Gtter. Raumfahrt im frhen Indien, Munique e
Essen, 1996.
18. Carra de Veaux, VAbrg des Merveilles, Paris, 1898.
19. Al-Masudi, Bis zu den Grenzen der Erde, Tbingen e Basle, 1978.
20. Christensen, Arthur, L'lran saus les Sassanides, Copenhague, 1944.
21. Lurker, Manfred, Lexikon der Gtter und Dmonen, Stuttgart, 1984.
22. Feix, Josef (ed.), HerodotHistorien, Vol. I, Munique, 1988.
23. Ibid.
24. Al-Makrizi, Das Pyramidenkapitel in Al-Makrizi's Hitat", traduzido (para o alemo) por
Erich Graefe, Leipzig, 1911.
25. Lacarrire, Jacques, Als die Sulen noch standen. Spaziergnge mit Pausanius in
Griechenland, Berlim, 1991.
26. "Gttliche Dienste", in Der Spiegel, n 21/1997.
27. Barthel, Manfred, An den Gestaden der Gtter, Dsseldorf, 1989.
28. Paniken, Erick von, Prophet der Vergangenheit, Dsseldorf, 1989.
29. Grether, Ewald, Theorieheft Planimetrie, Part 2 (nenhuma data de publicao foi
fornecida).
30. Manias, Theophanias M., Die geometrisch-geodtische. Triangulation ties alt-
griechisclien Raumes, Atenas, 1970.
31. La triangidacin geometrico-geodsica del espacio de la antigua Grecia, Madri, 1971.
32. The invisible Harmony of the Greeks, Edition of National Institution, Atenas, 1969.
33. Rogowski, fritz, Tennen und Steinkreise in Griechenland, Mitteilungen der Technischen.
Universitt Carolo-Wilhelmina zu Braunschweig, Braunschweiger Hoschschulbund, Jahrgang
VIII/2/1973.
34. Runde, Ingo, "Griechenlands geheimnisvolle geometrie", in Ancient Skies n II
Feldbrunnen/Switzerland, 1987.
35. Plato, The Dialogues (esta passagem foi traduzida do alemo por M. Barton).
36. Gaius Plinius Secundus, Die Naturgeschichte, traduzido (para o alemo) pelo Professor
Dr. G. C. Wittstein, Vol. I, Leipzig, 1881.
37. Ver nota 35.
38. Neugebauer, O., The Exact Sciences in Antiquity, University Press, Rhode Island, 1970.
39. Richter, Jean, Gographie sacre du mond grec, Paris, 1983.
O EMARANHADO TROIANO
No final do sculo VIII a.C., viveu na Grcia um poeta cujo nome hoje conhecido em
todo o mundo, mas sobre o qual ningum sabe nada ao certo: Homero (Homeros em
grego), autor das fantsticas epopias Ilada e Odissia. Pesquisas mostraram que
Homero havia nascido na sia Menor e era provavelmente um cantor ou menestrel
itinerante. Dizem tambm que ele era cego. O que permanece como um mistrio onde
esse menestrel cego obteve a estrutura para suas histrias, as "informaes
confidenciais" para seus ambiciosos contos. A Ilada e a Odissia se compem de 28.000
versos nada mal para um poeta cego. Considera-se que a poesia grega comeou com
Homero; ele se situa "no princpio da literatura grega e com ele tem incio a histria da
mente europia".1
Mas mesmo Homero no criou suas histrias do nada. Os especialistas acreditam que
as verses escritas das suas epopeias se seguiram a uma longa tradio oral e no seu
ncleo "esconde-se uma tradio lendria muita antiga".2 E qual o tema dessa "tradio
lendria muito antiga"?
Na Ilada so descritas batalhas, armas curiosas e as faanhas dos heris, das quais
tanto os deuses quanto os homens participam. O oitavo canto menciona "cavalos
voadores" que voam "entre a terra e os cus salpicados de estrelas". Essas bestas divinas
permanecem invisveis, graas a uma neblina ou nevoeiro. O governante do mar, Posdon,
transportado sobre a gua por uma parelha de cavalos voadores, de modo que nem mesmo
o eixo da sua carruagem toca as ondas. Sou um tanto ou quanto parcial com relao a
essas histrias. claro que a coisa toda est relacionada com o amor, a honra ultrajada e
em menor grau com a prpria Guerra de Tria.
As coisas se passam de uma maneira diferente na Odissia. Nela lemos a respeito
das espantosas aventuras de Ulisses. Ele finalmente conquista Tria com seus
companheiros e, passados vinte anos, retorna a taca, sua terra natal. A epopia gira em
torno do prprio Ulisses: ele conta a histria na primeira pessoa, fala dos golpes do
destino que os deuses acharam por bem enderear a ele, mas tambm menciona suas
faanhas e artimanhas hericas que lhe possibilitam sobreviver. Os fillogos encaram
Ulisses como uma "figura legendria da antiguidade"! e claro que toda a histria "tem a
natureza de uma fbula".4 Durante um longo tempo, ningum achou que ela pudesse se
basear em eventos verdadeiros at que Heinrich Schliemann (1822-90), com Homero nas
mos, descobriu a cidade de Tria. Mas voltaremos a este ponto.
No quero analisar a Odissia da maneira como analisei a Argonutica. J existem
muitas coisas escritas a respeito dela. No entanto, preciso fornecer alguns pontos de
referncia para o entendimento ciessa impressionante histria.
Ulisses ou Ulixes em latim e Odisseu em grego o rei de taca. Ele e seus
companheiros partem para conquistar Tria porque a bela Helena de Esparta havia sido
"raptada" e levada para l. A caminho de casa, a frota de Ulisses, que comea com 12
navios, depara com uma aventura aps a outra. Primeiro os heris so impelidos para o
Cabo Malea, depois eles desembarcam na ilha dos Ciclopes, as criaturas com um nico
olho. Um deles, Polifemo, aprisiona Ulisses e seus companheiros na sua caverna e come
dois deles por dia. Finalmente, Ulisses d um jeito de cegar o olho do Ciclope com uma
estaca incandescente e consegue escapar com o resto da sua tripulao. ( preciso
mencionar enpassant que o Ciclope pergunta a Ulisses qual o seu nome e ele mente,
dizendo que se chama "Ningum". Ao ficar cego, Polifemo chama seus companheiros
Ciclopes para ajud-lo gritando "Ningum fez isso comigo".)
Ulisses e sua tripulao precisam enfrentar a seguir o fascnio das Sereias e a mgica
Circe, que transforma toda a tripulao em porcos. Depois disso, Ulisses visita o reino de
Hades o mundo subterrneo dos mortos onde ele pode falar no apenas com sua
falecida me como tambm com outras figuras famosas que h muito partiram desta
vida. Finalmente, o navio precisa passar entre dois terrores femininos, Cila e Caribdes.
Dizem que esta ltima foi certa vez atirada ao mar por um relmpago de Zeus e, a partir
de ento, trs vezes por dia ela suga uma enorme quantidade de gua e depois a cospe
fora. Sua irm Cila no menos assustadora. Ela descrita como um monstro que se
assemelha a um co que agarra os marinheiros que passam e lentamente os engole. Ela
captura de imediato seis dos homens de Ulisses.
A tripulao remanescente chega ilha deTrinacria e, como esto com fome, abatem
algumas vacas. Lamentavelmente, porm, os animais pertencem aoTit-Sol Hiperon, que
se queixa furioso a Ulisses e depois explode tanto o navio quanto a tripulao com um
nico raio. Apenas Ulisses sobrevive. Ele se agarra a algumas tbuas e lanado alguns
dias depois ilha de Oggia, que pertence a Calipso, a qual, apesar da sua beleza, mora
em uma gruta. Ela mima e paparica Ulisses, implorando a ele que fique com ela,
oferecendo-lhe em troca a imortalidade.
Durante sete anos, Ulisses desfruta a boa vida, mas finalmente fica farto de ser
eternamente beijado e acariciado. Ele se senta triste na praia e sonha com sua terra natal.
Hermes ento passa voando e ordena a Calipso que liberte Ulisses. Ele recebe as
ferramentas necessrias para construir uma balsa e parte nela, deixando para trs o ninho
de amor de Calipso. No entanto, o deus do mar Posdon, cujo filho, o Ciclope, havia sido
enganado por Ulisses, avana violentamente sobre as guas em seu carro alado e faz
Ulisses cair no mar. Se ele no tivesse conseguido tirar suas pesadas roupas debaixo da
gua, ele se teria afogado.
Dois dias depois, ele atirado, exausto, praia da ilha de Drepane. Aps uma curta
permanncia com um guardador de porcos, e com a ajuda da interveno divina, ele
finalmente chega a taca depois de uma ausncia de vinte anos.
Esta, em linhas gerais, a descrio da epopia. Como existem na Odissia e na
Ilada muitos detalhes geogrficos, como acontece na Argonutica, os especialistas se
perguntaram por onde Ulisses tinha viajado. Em que mar suas aventuras ocorreram? Onde
esto as ilhas mencionadas na histria? Onde se situa o terrvel perigo de Cila e Caribde?
Mais de cem diferentes opinies foram expressadas, cerca de setenta mapas foram
desenhados e cada pesquisador estava certo de haver traado corretamente a jornada de
Ulisses. Dependendo da verso escolhida, Ulisses circunavegou a sia Menor, deu a volta
nas ilhas Britnicas ou at mesmo chegou a ir Amrica do Sul. Tambm foi sugerido que
a Odissia e a Argonutica so a mesma viagem ou que as aventuras de Ulisses
aconteceram em outro lugar, no na terra.
A sugesto mais sensata foi feita pelos irmos alemes Hans-Helmut e Armin VVolf.
Eles conseguiram reconstruir uma rota na qual o tempo levado na jornada corresponde a
lugares ao longo do caminho. No entanto, os autores no afirmam que "o Ulisses da lenda
visitou este ou aquele lugar",5 mas sim que "a jornada martima descrita por Homero pode
ser claramente relacionada com uma rota atravs do Mediterrneo. Embora o resultado
dos seus longos anos de pesquisa seja certamente coerente e convincente, eu me pergunto
como poderia o cego Homero ter conhecido a rota com tanta preciso.
A ilha de Creta tambm mencionada com esse nome na Odissia, embora no seja
feita nenhuma referncia ao rob Talos. Ser que Homero conhecia o Talos da
Argonutica? Ou ser que o rob parecia excessivamente artificial para ele? Eu
dificilmente poderia acreditar nisso, considerando as outras "fantasias" que aparecem na
Odissia. Homero atribui todos os tipos imaginveis de artes mgicas aos deuses,
inclusive o carro voador de Posdon, mas no menciona o Velocino de Ouro. Apesar de
todos os truques e artimanhas com que os deuses se envolvem, a Odissia no contm
nenhuma fico cientfica ao estilo da Argonutica.
Tria o lugar situado no centro da guerra descrita na Ilada e o nico lugar que no
faz parte da rede geomtrica da antiga Grcia. No estaria ela includa nas antigas rotas
dos deuses? No obstante, o destino de Tria descrito por todos os historiadores gregos
da antiguidade e o cerco considerado como tendo ocorrido entre 1.194 e 1.184 a.C. A
prpria Tria deve ser muito antiga, pois o nome da cidade deriva do nome do heri mtico
"Trs" (pai de lio, av de Laomedonte, bisav de Pramo de Tria). Originalmente, a cidade
teve outros nomes: Ilium, llion e Troas. Dizem que Apoio tambm ajudou a construir suas
defesas ciclpicas. Por conseguinte, Tria tem uma origem to "mtica" quanto os
inmeros outros centros sagrados da Grcia j mencionados. Por que ento a posio
geogrfica do local de escavao que hoje em dia considerado Tria no tem uma
correspondncia com a rede geomtrica dos deuses? Ser que a Tria que Heinrich Schlie-
mann descobriu no a mesma Tria da mitologia?
Agammnon tambm figura na Odissia e dizem que ele est enterrado com vrios
dos seus companheiros em Micenas que, ao contrrio de "Tria, faz parte da rede
geomtrica. Esse fato me leva a uma pausa para pensar.
Segundo a lenda, a regio ao redor de Tria foi certa vez governada por um rei
cretense chamado Teucro. A populao era formada pelos teucrianos. Mas ento Dardanos,
filho do solitrio rei, chegou e fundou um pequeno povoado. A regio logo foi chamada de
Dardania (o Dardanelos) em homenagem a ele, e como seu filho se chamava Trs, o
povoamento tambm foi chamado de Troas ou Tria. Como o filho mais velho de Trs se
chamava lio, a cidadela sobre a colina tambm foi chamada de Ilion ou Ilios, o que deu
origem ao nome do poema de Homero a Ilada.
A lenda moderna diz que Heinrich Schliemann tomou a Ilada nas mos para
redescobrir essa cidade da antiguidade. claro que aprecio histrias deste tipo: um
homem afirma, contrariando a opinio de todos os especialistas, que a batalha de Tria
descrita por Homero realmente aconteceu e que seus heris eram reais e, a seguir, ele
efetivamente tambm encontra Tria. Maravilhoso! Infelizmente, essa histria no
inteiramente correta.
Heinrich Schliemann nasceu no dia 6 de janeiro de 1822 em Neu-Bukov (Mecklenburg),
filho de um pobre pastor protestante. Dizem que aos dez anos de idade ele escreveu uma
dissertao em latim a respeito da Guerra de Tria. Em 1836, ele iniciou um aprendizado
comercial e cinco anos mais tarde partiu para a Amrica do Sul como camareiro no
pequeno brigue Dorothea. O navio naufragou e os sobreviventes foram levados em
barcos salva-vidas para a costa da Holanda.
Em Amsterd, Heinrich Schliemann se tornou balconista, recebendo um salrio anual de
15 dlares. Ele era considerado como sendo muito cuidadoso com o dinheiro,
extremamente esforado e possuidor de excelente memria. Depois de dominar o
holands, ele passou a se dedicar ao ingls e ao francs. Mais tarde, ele aprendeu outras
lnguas, inclusive o russo e o grego.
Aos 25 anos, Schliemann havia se tornado um agente comercial financeiramente
independente e, em 1847, fundou a prpria empresa em So Petersburgo. Ele alcanou
grande sucesso na Rssia com a venda de anil, enxofre, chumbo e salitre, garantindo a si
mesmo uma renda segura depois de poucos anos. Ele estava por acaso a negcios na
Califrnia no dia de julho de 1850 e por isso se tornou "automaticamente" um cidado
americano (porque nesse aniversrio da sua fundao, os novos Estados Unidos
ofereceram a cidadania a todos que por qualquer motivo estavam em seu territrio).
A partir de 1858, Schliemann passou a fazer viagens regulares ao redor do planeta.
Enamorado do seu Homero e completamente convencido de que a Tria descrita na Ilada
e na Odissia tinha de ter efetivamente existido um dia, ele fez de Atenas seu lar em
1868.
Como ele no queria levar sua esposa russa para a Grcia, ele se divorciou e procurou
uma parceira grega colocando um anncio no jornal. Sua busca se concretizou sob a forma
de uma encantadora moa de 19 anos. Fiel a Homero, ele deu ao seu primeiro filho o nome
de Agammnon. Schliemann, cujo capital nessa poca ultrapassava os dez milhes de
marcos, continuou suas viagens at... bem, at encontrar Tria. No entanto, essa
descoberta no foi de modo algum to direta quanto somos levados a acreditar pelas
biografias populares.
A quatro quilmetros do Dardanelos, em territrio que hoje pertence Turquia, ergue-
se a colina de Hissarlik, apenas a sete quilmetros da costa do Mar Egei co na possui uma
importncia estratgica, pois todo navio que dese je entrar na regio do Dardanelos precisa
passar primeiro por ela. Os antigos gregos chamavam esse lugar de "Helesponto", porque
foi l que Hele, a filha do Rei tamas, caiu do Velocino de Ouro e mergulhou no mar.
Tanto os gregos quanto, mais tarde, os romanos suspeitavam de que a Tria de llomero
estava em algum lugar nas proximidades, talvez debaixo da colina de Hissarlik. A quatro
quilmetros ao sul dessa colina est a cidade de Bunarbaschi, e foi l que os especialistas
do sculo passado procuraram por Tria. Os habitantes, contudo, antes da chegada de
Schliemann, afirmaram que esses especialistas estavam na pista errada e que Tria jazia
debaixo da colina de Hissarlik. Foi essa controvrsia que fez com que o anglo-americano
Frank Calvet, que trabalhava como agente consular tanto em Atenas quanto em Istambul,
comprasse os direitos a Hissarlik. Frank Calvet esteve no local antes de Schliemann e
tambm comeou as escavaes antes dele, de uma forma amadora. Ele esperava
convencer os diretores do British Museum em Londres a patrocinar uma escavao de
maiores propores, mas eles recusaram o pedido.
Em Atenas, Schliemann ouviu falar nas intenes de Caivet e ps-se em campo para
comprar a colina de Hissarlik. O milionrio Schliemann encontrou-se com oglobetrotter
Calvet, e este ltimo ficou bastante satisfeito por poder desistir de Hissarlik e de todos os
problemas que ela lhe causara. Quando saiu a notcia da descoberta do tesouro de ouro em
Tria, Calvet sem dvida deve ter ficado furioso consigo mesmo.
Schliemann era certamente um excelente empresrio, o que foi demonstrado nos anos
seguintes. Ele mesmo era seu melhor relaes-pblicas.
Aps fechar o negcio com Frank Calvet, vrios meses se passaram at que
Schliemann obtivesse permisso do governo turco para iniciar as escavaes em Hissarlik.
Finalmente, no dia 11 de outubro de 1871, com uma equipe de oitenta trabalhadores,
tiveram incio as escavaes. Schliemann trabalhou arduamente e nem inesmo o frio cada
vez mais intenso conseguiu det-lo. Ele vivia em um blocausse com a mulher, que
agentava todo o desconforto alm de achar difcil suportar o vento gelado.
Foi somente no dia 15 de junho de 1873 que a p de um dos escavadores atingiu um
recipiente de cobre cheio de objetos de ouro e de prata. Schliemann deu aos seus
empregados uma folga pouco habitual e escondeu o tesouro de ouro no leno de cabea da
esposa. No interior do blocausse, ele classificou o achado, colocou um diadema de ouro na
cabea da esposa e enviou telegramas para o mundo inteiro dizendo ter encontrado o
"tesouro de Praino. claro que algumas pessoas ficaram aborrecidas; o governo otomano
o acusou de ter roubado objetos de valor do solo turco e oponentes invejosos afirmavam
que ele prprio havia enterrado o ouro no local.
Schliemann superou cada obstculo com seu poder financeiro e com sua capacidade de
persuaso. Ele escavou camada aps camada e a questo logo deixou de ser se ele teria
ou no encontrado Tria para se tornar qual a Tria que ele havia encontrado. Seria a
Tria de Homero?
Ele tirou s escondidas do pas o suposto "tesouro de Pramo" e o doou para o museu
de pr-histria e histria antiga de Berlim. Os russos o levaram para a URSS em 1945
como recompensa de guerra e afirmaram nada saber sobre ele durante dcadas. A partir
de 1993, russos e alemes vm discutindo a posse do tesouro, e o governo turco tem feito
a mesma coisa, pois gostaria de inaugurar um museu com os achados no atual local
turstico de Tria (ver Foto 46).
Ter Schliemann realmente encontrado o local mtico de Tria, a cidade de que
Homero falou tanto na Ilada quanto na Odissia?
Ningum tem certeza. A Tria de Homero deve ter sido uma cidade imponente, um
lugar repleto de pessoas instrudas, onde o povo sabia ler e escrever, e com templos
dedicados aos diferentes deuses. Os arquelogos fizeram escavaes atravs de 48
camadas e encontraram nove "Trias" diferentes mas no encontraram, em nenhum
lugar, nem mesmo uma minscula tabuinha com o nome da cidade. O nico texto ali
descoberto est gravado com alguns hierglifos hititas. Supe-se, portanto, que Tria no
era uma "antiga cidade grega, pertencendo, ao contrrio, a um diferente ambiente
cultural",6 ou seja, um ambiente hitita. Esse fato tambm explicaria por que Tria no
fazia parte da rede geomtrica dos deuses.
Schliemann, contudo, s enxergava a confirmao da sua convico. Quando foi
retirado do entulho, ele imediatamente declarou que se tratava do porto mencionado por
Homero ao descrevera forma como Aquiles (odo famoso "calcanhar) persegue seu
oponente Heitor trs vezes ao redor dos muros da cidade. As fundaes de uma edificao
maior eram para Schliemann o "palcio de Pramo". E em 1872 ele julgou ter descoberto a
"elevada torre" que Homero menciona brevemente no quarto canto da Ilada. Mais tarde,
descobriu-se que essa "torre" nada mais era do que dois insignificantes muros paralelos e
que o "palcio de Pramo" no era maior do que um chiqueiro (ver Fotos 47 e 49). (Segundo
Homero, esse palcio tinha cinqenta quartos, alm de sales e ptios.) Tampouco,
aparentemente, o porto poderia ser aquele mencionado por Homero. Em outras palavras,
aps uma fria reflexo, o texto de Homero no poderia de modo algum corresponder
interpretao que Schliemann havia imposto a muitos dos seus achados.
Pouco antes de morrer, o prprio Schliemann veio a duvidar do fato de ter realmente
descoberto a Tria de Homero. E ainda no estamos totalmente certos at hoje. Seu amigo
e sucessor nas escavaes, o eminente arquelogo Wilhelm Drpfeld, apontou para ele
vrias discrepncias. Dizem que em Micenas, onde Schliemann posteriormente fez
escavaes, ele encarou seus erros com bom humor:7 "O qu?", gritou ele certa vez,
"este no o corpo de Agammnon e o seu tesouro? timo! Vamos ento dizer que ele
o prefeito!"
A partir de 1988, uma equipe internacional chefiada pelo Professor Manfred Korfmann
de Tbingen tornou-se responsvel pelas escavaes em Tria. Nenhum vero se passa
sem que surja uma nova sensao. Os cerca de noventa especialistas de diferentes
faculdades e pases logo verificaram que a colina de Hissarlik havia sido habitada
ininterruptamente do incio do terceiro milnio a.C. at a poca romana. At mesmo a
ltima camada, chamada Tria 1, possua um muro defensivo com 2,5 metros de
espessura com trs portes (ver Foto 50). As camadas seguintes Tria II e Tria III
continham as runas de habitaes e terraos, bem como de artefatos de bronze e de
ouro. Nas camadas IV e V, datadas de 2.100 a 1.800 a.C., parece que os troianos no
tiveram uma poca muito feliz pelo menos se os restos das suas refeies servem de
referncia para alguma coisa. Havia tambm indcios de vrios incndios.
Tria VI era a maior de todas, e o fato de ela ser datada de 1.800 a 1.250 a.C. deveria
torn-la a Tria sobre a qual Homero escreveu. Entretanto, os escavadores acreditam que
a cidade foi destruda por um terremoto. Por outro lado, Tria VI possua vrios palcios e
um muro defensivo mais longo e mais slido do que seus precursores. Mas no havia
nenhum sinal da violenta guerra descrita por Homero. Teria de haver alguma quantidade de
flechas e pontas de lana em Tria VI se fosse nela que a famosa guerra tivesse
acontecido. Tambm era de se esperar que tabuinhas fossem encontradas, visto que
naquela poca a escrita j estava instituda.
Somente quando atingimos Tria VII, datada entre 1.200 e 1.000 a.C., que encontramos
uma insignificante tabuinha de bronze, com 2,5 centmetros de comprimento, gravada com
alguns hierglifos "lvicos" uma linguagem relacionada com os hititas. Ela parece ter
sido o selo de um comerciante. Tudo isso faz com que se torne cada vez mais provvel
que "Tria e Vilusa tenham sido na verdade a mesma", 8 como escreve Birgit Brandau em
seu excelente livro a respeito do estado atual das escavaes.
Mas o que "Vilusa"? Era um lugar no reino hitita tambm mencionado nas tradies
hititas. F.nto no era Tria? Ou "Vilusa" era o nome hitita para Tria?
A camada de Tria VIII s continha runas insignificantes da poca dos gregos
(aproximadamente 950-85 a.C.), embora esse fosse o perodo no qual o resto da Grcia
a Acrpole, Delfos e assim por diante floresceu mais intensamente. Houve finalmente
Tria IX, que surgiu cerca de 500 d.C. Esse lugar se revelou o mesmo que o local sagrado
romano de "lio".
Ser que Homero exagerou descaradamente ou ser que a Tria de Schliemann no a
mesma que a do poeta? Mas havia mais a ser considerado alm da colina de Hissarlik:
havia tambm a regio circunvizinha.
Eberhard Zangger um geoarquelogo algum, portanto, que estuda a arqueologia a
partir da perspectiva de um gelogo. Ele desviou a ateno da colina de Hissarlik para a
costa e comeou a pensar. A seguir, ele leu vrias vezes a histria de Plato sobre a
Atlntida. Finalmente Zangger comeou a contar, comparando coisas e juntado-as na
cabea. O resultado foi um livro ao qual inmeros especialistas reagiram com um
surpreendente interesse/' Eberhard pretende provar nele que Tria era na verdade a
Atlntida. Poderamos pensar que um pouco absurdo algum supor que havia resolvido o
enigma da Atlntida. Se Tria e a Atlntida eram o mesmo lugar, por que Homero sempre
escreve a respeito de Tria e da Guerra de Tria sem jamais usar a palavra Atlntida? O
arquelogo americano Curtiss Runnels fez o seguinte comentrio a respeito do livro de
Zangger: "...ele vai exercer o mesmo efeito sobre o mundo acadmico que as descobertas
de Schliemann h cem anos".10 E o arquelogo ingls, Professor Anthony Snodgrass, est
convencido de que a identificao da Atlntida com Tria feita por Zangger est
suficientemente fundamentada para merecer a ateno de um grande nmero de pessoas
em diferentes reas de especializao.
Se Zangger estiver certo, a Atlntida-Tria no teria sido destruda 9.000 anos antes de
Plato e sim por volta de 1.184 a.C. A Atlntida tambm no teria submergido em uma
nica noite cataclsmica e sim, destruda pela Guerra de Tria. Isso contraria o que foi
revelado em Tria VI e Tria VII, que no foram destrudas pela guerra ou por uma
inundao e sim por um terremoto. Alm disso, Tria est situada na colina de Hissarlik e,
portanto, no poderia ter sido submersa. Como pode ento Eberhard Zangger identificar a
Atlntida de Plato com a Tria de Homero?
Zagger tem suas razes. Se elas so realmente convincentes um fato que est
aberto discusso.
O nome Atlntida bem conhecido e, para algumas pessoas, representa uma
fascinao, um sonho, um paraso que nunca existiu. A Atlntida como o mundo
milagroso da infncia, uma ilha mgica de paz, um conto de fadas de uma poca em que o
mundo era feliz e cheio de pessoas despreocupadas.
Ser que existe mais do que apenas um anseio nessa histria? Ser que a Atlntida e
Tria, como Zangger tenta demonstrar, eram realmente uma s? O que sustenta as idias
dele e o que as debilita? Se Zangger estiver errado, isso significa que a Atlntica est
finalmente morta e enterrada? As pessoas tm teorizado durante sculos a respeito de
onde ela pode estar e sempre em vo. Afinal de contas, quem comeou esse mito da
Atlntida? Que forma ele tomou? Qual a origem da histria original?
NOTAS
Talvez corresse o ano de 401 a.C. Atenas celebrava um festival em homenagem sua
deusa protetora. Saltimbancos e danarinos rodopiavam pelas ruas e na base da Acrpole
jovens atores distraam a multido com uma pea. Acima, no templo de Atena, ardia a
chama sagrada. O ar estava saturado de incenso e gordas bestas sacrificais se
amontoavam nas ruas estreitas. Na extremidade norte da cidade, onde estava situado o
pequeno santurio do heri local Academo, cinco homens se reuniram no frio ptio interno
em uma espaosa casa de pedra. Eles se conheciam bem e j haviam passado muitas
noites em debates filosficos. O anfitrio, provavelmente o prprio Plato, pediu aos
convidados que se sentassem em macias almofadas. Jovens serviram bebidas frias.
Ser que essa gerao levava Plato a srio? Ou era ele encarado como uma pessoa de
fora? Quem eram os convidados?
Homens importantes e honrados, cuja palavra valia alguma coisa, ou "gargantas"? Eis
uma rpida descrio dos participantes:
Scrates: Um, dois, trs mas o quarto, meu caro Timeu, daqueles que
foram ontem os convidados e hoje os anfitries, onde est ele?
Timeu: Ele no est bem, Scrates, pois por vontade prpria ele jamais ficaria
afastado da sua reunio.
Crtias: Scrates, voc vai ouvir um conto muito estranho, que tido como
totalmente verdadeiro. Slon, o maior dos sete sbios, nos garantiu isso na
sua poca. Ele era na verdade parente do meu av Dropides, e muito amigo
dele, como declara em muitas partes dos seus poemas. Ele contou certa vez
ao meu av Crtias o qual, quando ficou muito velho, contou para mim
que houve no passado um grande nmero de grandes e maravilhosas
realizaes do nosso estado ateniense cujo esquecimento havia sido
favorecido pela passagem do tempo e das geraes. Mas a maior delas
aquela cujomomento certo de ser contada talvez tenha chegado, no apenas
como agradecimento, mas tambm para honrar a deusa neste seu dia de
festa, de uma maneira digna e sincera, como se na forma de uma cano de
louvor.
Scrates: Belas palavras. Mas que tipo de realizao foi essa, que Crtias
ouviu de Slon como tendo sido efetivamente levadas a cabo pelo nosso
estado ateniense, pois ela no mencionada em nenhuma parte da histria?
Crtias: Vou contar-lhe ento essa antiga histria, que eu ouvi de um homem
muito idoso. Trata-se de Crtias [meu av|, que j estava com quase noventa
anos, enquanto eu ainda tinha, no mximo, dez anos de idade. Ele me contou a
histria no "Dia dos Jovens", o festival Apaturien. Para os jovens, o festival
correu como sempre. Os prceres designaram prmios para a recitao de
poesias. Foi recitada uma grande quantidade de poemas, pelos mais diversos
poetas. Os poemas de Slon eram novos na ocasio, e por isso muitos de
ns, meninos, decidimos recit-los. Um dos prceres manifestou a opinio
para Crtias no estou certo de ele realmente estar sendo sincero ou de
estar simplesmente fazendo um cumprimento de que Slon era no apenas
o mais sbio, como tambm o mais requintado dos poetas. O velho e eu
me lembro como se fosse ontem ficou realmente muito feliz ao ouvir isso
e, sorrindo, retrucou:
- Sim, Aminandros, e se ele no tivesse se dedicado poesia apenas nos
momentos ociosos e tivesse exercido esforo e seriedade como todos os
outros poetas, e se ele tivesse sido capaz de completar o que trouxe consigo
do Egito, em vez de ser forado a desistir disso por causa da agitao que
encontrou aqui ao voltar, acredito que ele teria superado Hesodo, Homero e
qualquer outro poema que vocs desejem mencionar.
- Mas que tipo de histria foi essa que ele trouxe? perguntou o outro.
- A descrio, respondeu meu av, de uma magnfica realizao, que
merece superar a fama de tudo o mais que Atenas executou, mas que foi
esquecida com a passagem do tempo e a derrocada daqueles que a
executaram, cujos descendentes j no esto entre ns.
- Conte-nos do incio pediu o outro o que Slon lhe relatou, e de que
maneira e de quem ele ouviu a histria como sendo verdadeira.
- No Egito comeou Crtias, no delta em cuja extremidade o Rio Nilo
se divide, existe uma regio chamada Saitic, cuja maior cidade Sais, a
cidade natal do Rei Amasis. Os habitantes da cidade dizem que seu fundador
foi um deus, cujo nome egpcio Neith, mas que eles afirmam ser Atena em
grego. Eles dizem ter muita simpatia pelos atenienses e se consideram, de
certa maneira, aparentados com eles. Slon me contou que viajou para l e foi
recebido com todas as honras. Quando ele fez perguntas ao mais culto dos
sacerdotes a respeito da origem e da histria da terra, ficou bastante claro
que, como outros helenos, ele praticamente no sabia nada sobre essas
coisas. A fim de encoraj-los a fornecer informaes a respeito dos velhos
dias, ele comeou a falar a respeito da antiguidade da Grcia, das histrias de
Foroneu, supostamente o homem mais antigo, de Nobe e de como Deucalio
e Pirra sobreviveram ao Dilvio; a seguir, ele relacionou seus descendentes e
tentou apresentar um relato extremamente preciso do nmero de anos,
relacionando esse fato com a histria da qual falava. Um dos sacerdotes, um
homem muito idoso, ento exclamou:
- Slon, Slon, vocs helenos ainda so crianas e a Grcia antiga no
existe!"
Quando Slon ouviu essas palavras, ele perguntou:
- O que voc quer dizer com isso?
- No que diz respeito s suas almas, todos vocs so jovens, pois no
nutrem pensamentos primevos baseados em ensinamentos que despertam
reverncia. A razo para isso a seguinte. Inmeras e de vrios tipos so a
destruio e as catstrofes que se abateram e se abatero sobre a raa
humana: as mais violentas causadas pelo fogo e pela gua, e outras
catstrofes menores atravs de milhares de outras causas. O que contado
na sua terra, ou seja, que Faetonte, filho de Hlio, tomou as rdeas da parelha
do pai, mas no conseguiu seguir o curso do pai, devastando com o fogo
vastas extenses de terra e morrendo por ter sido atingido por um raio,
parece um conto popular mas est na verdade relacionado com um desvio do
corpo celeste que circunda a terra e com a devastao da superfcie da terra
durante longos perodos em decorrncia de grandes incndios. A conseqncia
disso que os habitantes das montanhas e dos lugares mais elevados, bem
como os habitantes das regies mais secas sero mais afetados por essa
destruio do que os que moram beira dos rios e do mar. Mas para ns o
Nilo, que nosso salvador sob todos os aspectos, uma vez mais nos protege
desse destino, afastando-o de ns. Por outro lado, quando os deuses inundam
a terra com gua para purific-la, os habitantes dos lugares montanhosos, os
pastores e vaqueiros, so poupados, enquanto os habitantes das cidades da
sua terra so arrastados para o mar pelas torrentes. No entanto, no nosso
pas, nem neste caso nem de outras maneiras, nenhuma gua derramada
dos cus sobre os campos e tudo surge naturalmente debaixo. Por
conseguinte, e por essas razes, tudo permanece como era, de modo que
retemos a lembrana dos dias mais antigos. Na verdade, as coisas so
assim: em todas as regies onde o frio ou o calor extremos no tornam isso
impossvel, existe sempre uma populao de pessoas, s vezes maior, s
vezes menor. Onde quer que seja ento seja no seu pas ou aqui, ou em
algum outro lugar , onde quer que alguma coisa magnfica, grande ou que
encerre algum interesse particular tenha acontecido, ela registrada aqui nos
templos em documentos escritos e assim preservada da destruio desde
tempos imemoriais. diferente para vocs e outros povos. Mal vocs acabam
de desenvolver a escrita e tudo o mais que a civilizao exige, os cus abrem
uma vez mais as comportas sobre vocs e derramam torrentes como uma
enfermidade, deixando escapar com vida apenas aqueles que nada entendem
da escrita e no tm nem cultura nem instruo. por isso que vocs
sempre se tornam, por assim dizer, crianas de novo, sem nenhum
conhecimento do que ocorreu nos tempos antigos, seja na sua terra, seja na
nossa. O curso das geraes, como aparece, por exemplo, na sua descrio,
Slon, pouco diferente de um conto infantil, pois em primeiro lugar vocs se
lembram apenas de um nico dilvio na terra, embora tenha havido muitos
antes dele; segundo, vocs ignoram que a melhor e mais nobre raa humana
habitou a sua terra. Vocs e seu pas descendem de um pequeno vestgio
dessa raa. Mas vocs no tm conscincia disso porque os sobreviventes e
seus descendentes passaram atravs de muitas geraes sem registrar nada
por escrito. Houve pocas, meu Slon, antes da maior e mais destrutiva
inundao, em que a comunidade agora conhecida como Atenas era a melhor
e mais esplndida de todas, no apenas no que diz respeito guerra, mas
tambm maneira pela qual ela era regulada por leis, maneira essa sem igual
em todo o mundo. A esse seu estado foram atribudas as maiores faanhas e
os melhores estatutos de que j ouvimos falar.
Ao ouvir essas palavras, Slon demonstrou seu espanto e pediu ao
sacerdote que lhe contasse tudo a respeito desses antigos cidados de
Atenas, do comeo ao fim.
Mas o sacerdote retrucou:
- No ocultarei nada de voc, Slon; eu lhe contarei tudo, como um favor a
voc e sua cidade, mas acima de tudo em considerao deusa que teve
uma participao tanto no seu pas quanto no nosso, que fez ambos
progredirem e levou at eles uma elevada cultura: primeiro o seu, 1.000 anos
antes, a partir da semente que ela havia recebido da Me Terra e de Hefesto
com essa finalidade, e depois o nosso. A fundao do nosso estado ocorreu h
8.000 anos, de acordo com os registros dos documentos do nosso templo. As
pessoas cujas leis e faanhas mais eminentes vou descrever sucintamente
para voc eram portanto cidados que viveram h 9.000 anos. Depois
podemos passar algum tempo considerando todos os detalhes especficos
adicionais atravs do exame dos documentos propriamente ditos...
At aqui, no monlogo, Crtias mencionou vrias vezes o nome Slon. Quem foi esse
homem?
Slon foi um ancestral de Plato altamente respeitado (freqentemente chamado de
sacerdote). Ele deu aos atenienses uma nova constituio e em 571 a.C. viajou para
Naucratis no Egito, um porto no trecho canopo do Nilo. A apenas 16 quilmetros dali,
erguia-se a cidade templo de Sais, onde funcionava uma escola de traduo. Slon disse
ter ouvido a histria da Atlntida de uma velho escriba de templo chamado Sonchis e, ao
mesmo tempo, t-la visto escrita em hierglifos. Cerca de 650 anos depois da morte de
Slon, Plutarco escreveu um livro sobre ele: A Vida de Slon. Nele Plutarco diz que o
prprio Slon quis registrar por escrito a histria da Atlntida, mas sua idade avanada o
impediu de fazer isso.
Em sua introduo, Crtias menciona uma conversa que Slon teve em Sais. Seria
muito estranho acusar Crtias de contar histrias absurdas: ele est falando da experincia
de um dos seus ancestrais e o prprio Crtias uma das "trinta cabeas de Atenas", um
poltico altamente respeitado. Por que iria ele querer contar mentiras para esse crculo de
homens? Todos tinham idade e sabedoria suficientes para enxergar atravs das mentiras.
Em torno desses homens sentavam-se discpulos e tudo que Crtias dizia era anotado. No
esto falando da divagante introduo a uma hiptese, nem da conversa sobre uma
repblica ideal, como com freqncia se supe. Afinal de contas, Plato havia descrito
esse estado em seus livros As Leis, A Repblico e A Poltica. Ele j havia dito tudo; por
que ento precisaria de um novo pacote de mentiras a respeito de uma tal de Atlntida?
Alm disso, Crtias parece saber exatamente do que est falando. Ele descreve
detalhes geogrficos, como o lugar onde o Rio Nilo se divide, a grande cidade de Sais, a
cidade natal do Rei Amasis, e assim por diante. Alm disso, ele confirma que documentos
e textos sobre a Atlntida seriam encontrados em Sais. Veremos depois que Slon
tambm escreveu o texto da Atlntida a partir de uma inscrio em uma esttua ou
coluna. As histrias escritas nas colunas devem ter sido particularmente importantes; do
contrrio, as pessoas nunca teriam achado que valia a pena imortaliz- las ali.
Crtias ento transmite aos outros as palavras do velho sacerdote, como ele as
conhece por intermdio de Slon. Esse sacerdote lhe garante que os egpcios tinham
registrado tudo por escrito. Um desses textos dizia que certa vez, antes do grande
Dilvio, Atenas havia combatido uma potncia cuja base era no "mar Atlntico, pois dizem
que naqueles dias esse mar ainda era navegvel mas que agora na poca de Slon j
no era mais. Por que no? Porque naquela poca "atrs das colunas de Hracls havia
uma ilha, da qual podia-se atravessar para as ilhas mais distantes que ficavam atrs dela,
e tambm para o 'continente que ficava do outro lado'. Viera ento uma poca de 'terrveis
terremotos e inundaes' e 'um dia e uma noite repletos de um terror apavorante'. A ilha
da Atlntida havia desaparecido e, portanto, o mar que existia deixara de ser navegvel,
em virtude das 'enormes massas de lama que se acumularam ao redor da ilha que
afundou'". Crtias encerra essa primeira histria da Atlntida com as palavras: "Assim,
meu Scrates, voc acaba de ouvir uma verso muito breve da histria que me foi contada
por meu av Crtias, que ele ouvira de Slon."
Quase se desculpando, Crtias acrescenta que passara a noite anterior recordando
tudo, pois, diz ele, o que aprendemos na juventude permanece na memria. Os homens
passam a discutir questes de astronomia, geometria e a criao do mundo. Hoje em dia
nossos astrofsicos falain sobre a criao do tempo" e no dilogo "Timeu" Plato expressa
uma viso semelhante: "O tempo surgiu junto com o universo, para que ambos,
simultaneamente criados, tambm fossem desfeitos ao mesmo tempo..."
A nossa cincia no nem um pouquinho mais perspicaz.
Isso tudo que a antiguidade nos diz sobre a Atlntida? No, isso apenas o comeo!
No dia seguinte, o mesmo crculo de homens uma vez mais se rene. Nesse nterim,
Crtias parece ter colocado seus documentos em ordem. Timeu inicia a conversa e pede a
Crtias que continue a histria da Atlntida. Crtias atende ao pedido dele, mas primeiro
pede aos seus companheiros que compreendam as dificuldades envolvidas quando se tenta
recordar de memria uma antiga histria. Ele compara sua incumbncia com a de um
pintor, que faz aparecer na tela uma figura maravilhosa. A figura, diz ele, deve ser uma
reproduo fiel do original, e o mesmo se aplica descrio oral. Ele espera se mostrar
altura dessa difcil tarefa.
S menciono essa introduo para mostrar a seriedade com que esses homens
encaravam a histria da Atlntida. Cada um deles estava consciente de que Crtias tinha
de relatar de memria (com a ajuda de algumas anotaes) uma histria que aprendera de
cor quando menino. Crtias, pelo seu lado, estava se esforando para recriar a imagem de
uma maneira que fosse fiel s suas recordaes:
Crtias: Acima de tudo vamos recordar, em primeiro lugar, que 9.000 anos
haviam se passado depois que dizem que a guerra, que irei descrever,
irrompeu entre os que viviam alm das colunas de Hracles e os que
moravam nas cidades situadas entre elas. J mencionamos que a nossa
cidade de Atenas era a maior entre estas ltimas e levou a guerra at o fim,
enquanto os primeiros, as pessoas da ilha da Atlntida, eram governados por
seus reis. Essa ilha era, como vimos, maior do que a Lbia e a sia, mas
agora afundara no mar em conseqncia de terremotos, o que passou a
apresentar um insupervel obstculo sob a forma de uma massa de lama
para aqueles que desejavam navegar nos mares mais distantes...
Essa conversa ocorreu por volta de 400 a.C. Se recuarmos no tempo, contando a partir
de hoje, o evento a que Crtias se refere deve ter ocorrido h cerca de 11.500 anos. J
escrevei a respeito das "datas impossveis" que as tradies e as lendas dos povos da
antiguidade nos apresentam. No momento, tudo que podemos fazer deix-las como
esto. A equao Tria = Atlntida tem nesse ponto seu primeiro revs. Segundo a Ilada
e a Odissia de Homero, o cerco de Tria durou dez anos. Os achados arqueolgicos
falam de uma devastao que aconteceu por volta de 1.200 a.C. Por conseguinte, neste
caso somente duas coisas so possveis:
Crtias: No entanto, devo primeiro prefaciar meu relato com uma breve
observao, para que vocs no fiquem surpresos ao ouvir nomes gregos em
uma histria que trata de homens de uma raa estrangeira. Vocs ouviro os
motivos disso. Slon, que tinha a inteno de usar esses nomes em seus
poemas, procurou o significado original deles e descobriu que os egpcios
estou me referindo aos mais antigos que haviam escrito esses registros os
haviam traduzido para a lngua deles. O prprio Slon ento avaliou cada nome
e os escreveu, traduzindo-os uma vez mais para a nossa lngua. Esse relato
escrito pertencia ao meu av, hoje est comigo e eu o estudei
minuciosamente na minha juventude. Assim sendo, quando vocs ouvirem
nomes que so iguais queles que usamos no nosso pas, no devem ficar
surpresos, porque agora vocs sabem a razo. Eis o incio desta longa
narrativa...
Embora Crtias deixe claro que os nomes desta histria foram traduzidos para o
grego, no existe nenhum que j nos seja familiar por causa da lenda de Tria. A seguir,
Crtias explica que nessa terra da Atlntida todas as rvores e frutos, bem como todas as
verduras e os legumes, se desenvolviam maravilhosamente. Por qu? Porque seu clima
naqueles dias unia o calor do sol umidade." Essa descrio no se encaixa no clima de
Tria, onde o frio no inverno desagradvel; as frutas e as rvores tropicais no
conseguiriam sobreviver l. Mas isso acontecia na Atlntida, o ano inteiro. Finalmente,
Crtias comea a falar da arquitetura e das edificaes da Atlntida. Seu relato to
preciso que arquitetos dos nossos dias foram capazes de fazer desenhos definidos, em
escala, a partir dele.2
As coisas esto ficando mais complicadas. O que significam "trs pletros ou "um
estdio?
1 p = 30 centmetros
Supondo que Crtias no esteja apenas repetindo uma fantasia do av, a Atlntida deve
ter sido um lugar de espantosas propores. Precisamos nos lembrar de vrios pontos que
se destacam:
Existem, ainda, alguns problemas para conciliar a Atlntida com Tria, mas mesmo
assim no impossvel. Em ltima anlise, tudo depende de Crtias estar contando uma
histria fantasiosa da poca do seu pai ou uma histria verdadeira, e voltarei a tratar
deste ponto. Se Atlntida e Tria fossem o mesmo lugar, teria de haver um muro
defensivo ao redor de Tria I composto de "anis de gua e terra, que eram inacessveis
aos seres humanos". As escavaes arqueolgicas de fato expuseram um muro defensivo
em torno de Tria I, mas no altura do deus Posdon. Nenhum anel de gua foi
encontrado perto do centro e, de qualquer modo, esse anel no combinaria com o tipo de
colina l existente.
Uma vez mais, a Atlntida deve estar no fundo do Oceano Atlntico, ao qual ela deu o
nome. Como sabemos, a localizao de Tria bem diferente. O clima de Tria no
subtropical e at o momento nenhum canal de nove quilmetros de extenso que conduz
ao centro do anel interno foi encontrado. No obstante, ainda no foram realizadas
extensas escavaes e medies nas imediaes de Tria.
Diz-se que o centro da Atlntida tinha novecentos metros de dimetro essa parte
poderia encaixar-se em Tria, mas no a outra que diz que os muros so inteiramente
revestidos de metal (minrio). No obstante, possvel que com o passar dos anos os
metais tenham sido roubados ou derretidos, ou podem ainda ter sido destrudos pelo fogo.
Mas vestgios estariam presentes no solo, o qual poderia ser testado por meio de
amostras. Schliemann afirma que a uma profundidade de cerca de nove metros ele
deparou com uma camada de escria de minrio de chumbo e cobre derretido, mas isso
nunca foi confirmado pelas atuais escavaes.
Finalmente, deveria haver prdios de trs cores diferentes o que at agora no foi
encontrado e o palcio central deveria ser revestido com uma camada de minrio de
ouro- cobre "oricalco. No houve nenhum sinal disso. O fato que Homero no
menciona nada disso na sua epopia. Mas Crtias ainda no terminou sua narrativa:
Que lugar para terminar! Que palavras Zeus disse a eles? claro que todos
gostaramos de saber, no apenas ns como tambm os filsofos, fillogos e
pesquisadores da Atlntida dos ltimos 2.400 anos. Mas o dilogo de Plato sobre a
Atlntida termina abruptamente neste ponto, o que realmente difcil de entender, pois
Plato escreveu outras coisas depois deste dilogo. Por que est faltando o fim da
histria da Atlntida? No existe nenhuma verso alternativa da antiguidade? Nenhum
outro autor escreveu sobre a Atlntida?
A primeira referncia Atlntida que encontrei fora de Plato foi, imaginem onde, na
Argonutica de Apolnio de Rodes.3
Ele est falando da Atlntida? De Tria? No. Ele est se referindo a Agbatana!
A aparncia do templo deles a seguinte: ele est situado em uma ilha... dois
canais saem do Nilo e se dirigem para l... o trio do templo tem dez braas
de altura e adornado com imagens extraordinrias... ao redor do templo h
um muro decorado com relevos...
Herdoto est falando da Atlntida? De Tria? No. Ele estava descrevendo o templo de
Bubastis no Egito. Eu poderia prosseguir. Muitos templos estavam situados em ilhas e
eram cercados por canais. O que pelo menos nos informa que os egpcios sabiam o que
era uma ilha!
O mesmo Herdoto conversa com os sacerdotes egpcios a respeito do rapto de
Helena de Tria/lion (Livro II, captulo 13 em diante). At mesmo o nome de Homero e
Ilada so expressamente mencionados. Mas em nenhum lugar ocorre a Herdoto, ou aos
sacerdotes com quem ele est falando, mencionar simultaneamente a Atlntida e Tria ou
dizer que milnios antes Tria se chamou Atlntida.
Assim sendo, ou a histria da Atlntida pura inveno de Plato, o que muito difcil
de acreditar, ou a Atlntida de Plato no pode ser sido chamada de Tria. O que Eberhard
Zangger afirmou com relao a Tria tambm foi dito por outros a respeito das ilhas de
Creta e Santorini. O sismlogo Angelos Galanopoulos e seu colega Edward Bacon
apresentaram bons argumentos para sugerir que a ilha vulcnica de Santorini poderia
corresponder descrio que Plato faz da Atlntida6 e que ela foi simplesmente
destruda por uma erupo vulcnica. Lamentavelmente, as medidas de Plato no se
encaixam em Santorini. Os autores contornam essa dificuldade dizendo que Slon errou
nos nmeros e leu as centenas como milhares. No entanto, Jrg Dendl, em uma excelente
crtica da Atlntida, comenta que essa suposio no pode ser correta:7
Os viajantes daqueles dias podiam passar dessa ilha para outras ilhas, e delas
chegar ao continente que estava do outro lado desse mar... esse reino
[Atlntida| tinha o domnio de todas as ilhas e muitas outras, bem como de
uma parte do continente que ficava alm.
Se Plato tivesse inventado todo o dilogo, como poderia ele ter tido conhecimento de
outro continente que estava mais a oeste da Atlntida? Alm disso, ele faz claramente
uma distino entre as "ilhas e a "terra firme". Assim sendo, no vamos perder tempo
especulando se os egpcios achavam que todos os estrangeiros vinham de "ilhas" e sobre a
teoria de que o dilogo simplesmente se baseia no desejo de Plato de um "estado ideal.
O que temos aqui, como poderiam dizer os advogados, so fatos slidos. Mas se Plato
no inventou a coisa toda, e a histria efetivamente veio do Egito, como os egpcios
tinham conhecimento do continente americano? Eles mesmos explicam como: durante
mais de dez mil anos eles haviam mantido cuidadosos registros escritos e, em
comparao com eles, os gregos, que s conseguiam recuar at a mais recente
devastao, eram como crianas. A partir de Colombo ns tambm sabemos da existncia
do continente alm da Atlntida. Mas Plato no poderia ter tido conhecimento dele.
No final, estou menos preocupado em participar das especulaes literrias a respeito
da localizao da Atlntida e mais interessado em perguntar quando ela existiu e como
um reino insular de tal poder e grandeza pde simplesmente desaparecer da face da Terra.
NOTAS
Mallery: claro que esse um problema que nos deu muita dor de cabea.
No conseguamos imaginar como um mapa to preciso pde ter sido traado
sem avies. Mas o fato que eles o fizeram. Alm disso, as medies
longitudinais esto absolutamente corretas, algo que s fomos capaz de fazer
nos ltimos duzentos anos.
Depois que a imprensa acadmica americana escreveu sobre o mapa, ele tambm
atraiu a ateno de Charles Hapgood, professor de histria da Keene State University em
New Ham- pshire. Ele pegou uma cpia e comeou a analis-la minuciosamente, junto com
seus alunos. Os resultados desse trabalho conjunto tomaram a forma de uma publicao
cientfica, cujas concluses so reveladas no prefcio:8
No dia 6 de julho de 1960, Harold Z. Ohlmeyer, ento chefe do US Air Force Department,
que estava envolvido no ato de fazer o levantamento do mapa da Antrtida, escreveu o
seguinte ao Professor Charles Hapgood:
O litoral [no mapa de Piri Reis] deve ter sido mapeado antes de a Antrtida
estar coberta de gelo. O gelo nessa regio hoje em dia tem mais ou menos
1,6 quilmetro de espessura. No temos a menor idia da maneira pela qual
os dados no mapa de Piri Reis podem ser conciliados com o conhecimento
geogrfico de 1513.
O Professor Hapgood e seus alunos trabalharam no mapa de Piri Reis durante dois
anos. Que grade de coordenadas teria o turco usado? Onde estava o ponto de referncia
para essas coordenadas? Logo ficou claro que esse ponto tinha de estar no Egito, em
Alexandria para ser preciso. Piri Reis obviamente havia considerado a forma esfrica da
terra mas como? Chegou-se concluso de que ele deve ter usado um sistema de
trigonometria (triangulao). Mas onde ele o obteve?
O grego Eratstenes (morto em 275 a.C.) era um conhecido levantador de mapas da
antiguidade. Ele tinha at mesmo sido diretor da biblioteca de Alexandria durante o reinado
de Ptolomeu III. Ele tambm escreveu trs livros sobre medies cartogrficas
(Geographika). Mas estava claro que Eratstenes no havia usado trigonometria em
seus mapas. O Professor Hapgood e seus alunos logo se convenceram de que o levantador
de mapas responsvel pelo original a que Piri Reis recorreu tinha acesso a uma cincia
mais avanada do que os antigos gregos".9 Os mapas e documentos usados pelo turco
tm necessariamente de proceder de fontes cientficas que estiveram ativas em um
passado muito distante.
O Professor Hapgood e sua equipe logo foram capazes de elaborar tabelas
comparativas precisas entre o mapa de Piri Reis e os mapas modernos. As discrepncias
so pequenas e, em muitos casos, praticamente inexistentes. Isso absolutamente
impressionante. Como o litoral da Antrtida, junto com as ilhas que esto situados ao
largo dele, que h milnios se encontram debaixo de uma couraa de gelo, podem aparecer
em um mapa antigo? E aparecer de uma maneira to precisa que a comparao com os
mapas mais atualizados no revela praticamente nenhuma discrepncia? Um milagre? Mas
os milagres sempre se baseiam em algum fato concreto.
No entanto, apesar de toda essa preciso, existe algo errado com o mapa de Piri Reis,
que nada foi realmente capaz de explicar. Hapgood fez a seguinte declarao a respeito
disso: "Partes do Caribe no mapa de Piri Reis nos apresentou uma enorme dificuldade. Elas
no parecem se encaixar no resto do quadro".10
O mapa s mostra a costa oriental de Cuba. Todo o lado ocidental est ausente. Em
vez disso, algo est agregado ao lado ocidental que no pode ser Cuba, e no entanto
duas vezes maior do que as atuais ilhas do Caribe. Hapgood disse o seguinte: " estranho
que exista no mapa de Piri Reis um litoral ocidental completo, quando esta ilha na
verdade truncada."11 bvio que Piri Reis teve problemas com Cuba, pois ele tambm deu
ilha o nome errado: Espaniola. Colombo no chamou Cuba de "Espaniola", mas chamou
as ilhas vizinhas, o Haiti e a Repblica Dominicana, de "Hispaniola". Como esse erro
gritante foi aparecer em um mapa sob outros aspectos to perfeito? O professor Hapgood
suspeita de que Piri Reis usou um mapa extremamente antigo no qual Cuba estava traada
de uma maneira diferente da de hoje, mas acha que ele tambm tinha um mapa de
Colombo, ou como o prprio Piri Reis diz em seu livro Bahriye ele fez perguntas a
um marinheiro que havia participado da viagem de descobrimento de Colombo. O erro
relacionado com Cuba pode ter surgido em decorrncia de uma confuso entre o mapa de
Colombo (e/ou da conversa com o marinheiro) por um lado e o antigo mapa de fonte
desconhecida pelo outro.
Isso pode ser verdade. Mas o que o mapa antigo original que pode muito bem ter
vindo da biblioteca de Alexandria mostrava em lugar de Cuba? De que maneira pode
algum como Piri Reis fazer tal confuso com a ilha caribenha de Cuba e traar com
extrema preciso o litoral da Antrtida? Outra coisa, provavelmente uma ilha enorme,
deve sem dvida ter estado no original desconhecido. Poderia ter sido a Atlntida?
Nosso atual estado de conhecimento incapaz de nos fornecer essa resposta. No
entanto, algumas indicaes podem nos fazer parar para pensar. Colombo chamou sua
terra recm- descoberta de "Hispaniola", mas os ndios nativos a chamavam de
"Quisqueya ou "Me das Terras".12 Seria essa uma referncia a uma antiga tradio? Na
verso grega da lenda da Atlntida, Plato a chama de Polis Atlantis" ou "Cidade de
Atlas."
O estranho que esse mesmo nome aparece em vrias histrias da Amrica Central.
A misteriosa ilha de Tuia a que os maias se referem foi certa vez chamada de "Izmachi"
e h mais tempo ainda de "Aztlan". Joachim Rittstig, antigo diretor da Escola Alem em El
Salvador e especialista no calendrio maia, escreveu um livreto que estabeleceu
impressionantes ligaes entre a Atlntida e as culturas indgenas da Amrica Central".13
De acordo com suas pesquisas, pode ser claramente visto nos textos maias que havia
uma cidade chamada Aztlan em 12.901 a.C., na regio que hoje a Guatemala. Os textos
fornecem inclusive sua localizao geogrfica exata: 15 33,5' norte; 89 05,5' oeste. No
estou ein posio de julgar se as concluses de Rittstig esto corretas sob todos os
aspectos, e tambm sei que os maias ainda no existiam em 12.901 a.C. Mas isso no
encerra a questo: as tribos mudam de nome e, s vezes, levam consigo memrias de
tradies milenares.
Nas (posteriores) cidades maias, havia esculturas que ainda causam espanto e que
nenhum especialista maia consegue compreender. Alguns exemplos principais encontram-
se na antiga metrpole maia de Copan em Honduras. Quanto mais contemplamos as
curiosas esteias e "estruturas antropomrficas", mais pensamos em uma civilizao
tcnica primordial (ver Fotos 61 e 62). Essas figuras foram sem dvida imortalizadas em
pedra por uma sociedade que h muito havia esquecido de que modo esses mistrios
tcnicos certa vez funcionaram. O importante que eles estavam relacionados com os
deuses. At mesmo a entalhadura na mundialmente famosa lousa tumular de Palenque
(Mxico), que os especialistas acreditam ter pertencido ao governante maia Pacal,
pertence a esse tipo. A opinio de vrios estudiosos da Amrica da antiguidade de que
essas representaes so de "monstros csmicos" ameaadores 14 no tem nenhuma
relao com a lousa tumular de Palenque.15
No devemos de modo algum esquecer que at mesmo a conhecida palavra "Asteca"
deriva de "Aztlan". Dizem que o "povo de Aztlan", os antepassados dos astecas viviam
originalmente em uma ilha.16 Alm disso, o monge espanhol Frei Diego Durn escreve em
seu livro History ofthe Indian lancis of New Spain |Histria das terras indgenas da
Nova Espanha) que dizem que as tribos se refugiaram nas cavernas de "Aztlan e
Tecolhuacan" depois de uma terrvel catstrofe. Sua terra natal original tinha sido
Aztlan.17
Embora eu no deseje ir em busca da Atlntida, no me importaria de apostar que ela
jaz em algum lugar no Caribe.
Plato certamente iniciou alguma coisa com sua histria da Atlntida.
Aproximadamente 3.600 livros foram escritos a respeito do assunto.18 Este tema
aparentemente inesgotvel estimula muitos debates e desperta muito interesse. Sem
dvida as pessoas iro especular sobre a localizao da Atlntida at ela ser encontrada,
mas algo est bastante certo a partir de uma perspectiva geolgica: a Atlntida no pode
simplesmente ter "afundado", no sentido de simplesmente mergulhar debaixo das ondas. O
gelogo Dr. Johannes Fiebag fornece a seguinte explicao:19
Vivo em uma gerao que considera a idia de uma catstrofe climtica uma sria
possibilidade. O chamado "efeito estufa" dever espalhar-se pelo planeta e provocar um
aumento das temperaturas. O homem culpado disso, pois produz o perigoso gs dixido
de carbono (C02). Quem quer que no aceite essa viso de um desastre iminente deve ser
considerado irresponsvel e irracional. No importa que 81 por cento dos climatologistas
americanos encarem o efeito estufa de uma maneira muito diferente, baseados em dados
convincentes. O mundo das falsas informaes ideolgicas continua de qualquer maneira.
Os computadores so alimentados por dados falsos "que so baseados em obscuros
modelos de simulao".23 Muito pouco do que os pesquisadores climatolgicos se dignam
a nos contar exato. Um nmero excessivo desses ambientalistas trabalha de acordo com
o princpio do "megalixo para dentro megalixo para fora". E eles so at bem pagos para
fazer isso. Tudo possvel no mundo da poltica!
Falta claramente a essas pessoas uma conscincia histrica. Ningum pode
seriamente discordar de que a Europa setentrional estava mergulhada na Era Glacial havia
dez mil anos. Existe uma enorme quantidade de pedras espalhadas pela regio que
comprovam esse fato conhecidos na geologia como "blocos errticos" que vieram
nas costas das geleiras. O que provocou naquela poca, e em muitas modificaes
anteriores de temperatura, os aumentos abruptos de temperatura, e as subseqentes Eras
Glaciais?
Plato entendeu corretamente. Houve devastaes peridicas, particularmente nas
regies litorneas, com ou sem a participao do homem. Hoje estou to preocupado
quanto as outras pessoas em garantir que vamos conservar limpo o nosso mundo. Mas
sou contrrio mentalidade paralisante, "sem futuro", que por falta de conhecimento da
histria da Terra invoca um drama de culpa, at mesmo do pecado original. Trata-se mais
de um drama que j foi representado muitas vezes e no de um drama causado pela
tendncia poltica do momento.
O nvel do mar efetivamente subiu e catstrofes de fato ocorreram. Temos um
mapa de Piri Reis com uma Antrtida sem gelo para provar isso. E perto da ilha de
Okinawa, no Japo, encontram-se antigas estruturas debaixo da gua. Talvez voc tambm
j tenha ouvido falar que o Saara foi certa vez um frtil jardim e no importa qual a
testemunha que eu chame para sustentar essa afirmao: seja o gegrafo grego Estrabo
(mais ou menos 62 a.C. a 26 d.C.), o historiador romano Gaius Plinius Caecilius Secundus
(61-113 d.C.), os gregos Hesodo, Herdoto ou Hecataios (550-480 a.C.), Diodoro da Siclia
(primeiro milnio) ou, anteriormente, o fencio Sanchuniathon (cerca de 1.250 a.C.). Quer
eu cite os dez patriarcas antediluvianos da Bblia ou a lista de reis da antiga Babilnia, no
final tudo se reduz mesma coisa. Todos descrevem eventos que ocorreram h dez mil
anos ou mais.
O fato de que a nossa cincia, que tambm influencia a mdia, no deseja tomar
conhecimento de nada disso, simplesmente um sinal da sua deficincia. Vias no faz
muito sentido nos irritarmos com isso. Como disse Marco Aurlio, um dos csares
romanos: " insensato ficar aborrecido com o mundo, pois ele no est nem um pouco
preocupado com isso."
NOTAS
1. Dniken, Erich von, Die Steinzeit war ganz anders, Munique, 1991.
2. Suplemento do American Journal of Science, Vol. 5, pginas 12-13, e Vol. 6, pginas
332ff.
3. Cummings, Byron S., Cuicuilco and the Archaic Culture of Mexico, Boletim da University
of Arizona, Vol. IV, 8 de novembro de 1933.
4. Cremo, Michael e Thompson, Richard, Forbidden Archaelogy The Hidden
History of the Human Race, Alachua, Flrida, 1993.
5. Brgin, Luc, Geheimakte Archologie, Munique, 1998.
6. Kahle, Philipp, Die verschollene Cohnnbus-Karte von 1498 in einer trkischen
Weltkarte von 1513, Berlim e Leipzig, 1933.
7. Mallery, Arlington H ., New and Old Discoveries in Antarctica, Georgetown University
Forum of the Air, 26 de agosto de 1956.
8. Hapgood, Charles H., Maps of lhe Ancient Sea Kings. Evidence of Advanced Civilization in
the Ice Age, Filadlfia e Nova York, 1965.
9. Ibid.
10. Ibid.
11. Ibid.
12. Spedicato, Emilio, Apollo Objects Atlantis and other Tales. A Catastmphical Scenario
for Discontinuities in Human History, University of Bergamo, 1995.
13. Rittstig, Joachim, "Aztlan = Atlantis'', in Mensch und Techik, livreto 4/ 1992.
14. Scheie. Linda e Freidel, D., Die unbekannte Welt der Maya, Munique, 1991.
15. Fiebag, Peter, "Die Grabplatte von Palenque und ihre symbolische Aussage", in Fremde
aus dem All, Munique, 1995.
16. Eckhardt, Rudolf, "Der Mythos von der aztekischen Lade Kulturhistorischer
Hintergrund und Mglichkeiten einer Suche" in Das Erbe der Gtter, Munique, 1997.
17. Durn, Diego, Historia de las hnlias de Nueva Espana e Isias de Tierra Frima, Mxico,
1984.
18. Ver nota 12.
19. Fiebag, Johannes, Die Frage nach Atlantis", in Ancient Skies, n 1/1997.
20. "Schreckens-Szenario eines Asteroiden-Einschlags", in Die Welt am Sonntag, 2 de
janeiro de 1998.
21. "Wandertrieb im Blut", entrevista com o geneticista molecular Peter Frster a respeito
dos povoamentos pr-histricos da Amrica, in Der Spiegel, n 3/1997.
22. "Ein riesiger Stein rast zur Erde", in Die Welt, 13 de maro de 1998.
23. Ripota, Peter, "In 30 Jahren beginnt die neue Eiszeit, in PM-Magazin, n 6/1998.
PREZADO LEITOR
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abordar. Gostaria de apresent-lo AAS ou Archaelogy, Astronautics and SET1 Research
Association. SETI representa em astronomia a "Search for Extraterrestrial Intelligence"
|Pesquisa da Inteligncia Extraterrestre).
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neste livro. Os extraterrestres visitaram o nosso planeta milnios atrs? Como uma
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contra?
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geral eu guio pessoalmente as excurses. A AAS publica a revista amplamente ilustrada
Sagenhafte Zeiten seis vezes por ano e l voc pode encontrar as ltimas contribuies
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quiser saber mais, por favor envie um carto-postal com seu nome e endereo para:
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na internet : http://www.aas-fg.org