SIBCTI - Capitulo 01
SIBCTI - Capitulo 01
SIBCTI - Capitulo 01
Ministrio da Agricultura,
Pecuria e Abastecimento
Solos
Solos
Sistema Brasileiro de
Classificao de
Terras para Irrigao
Diretoria-Executiva
Silvio Crestana
Diretor-Presidente
Jos Geraldo Eugnio de Frana
Kepler Euclides Filho
Tatiana Deane de Abreu S
Diretores-Executivos
Embrapa Solos
Celso Vainer Manzatto
Chefe Geral
Alusio Granato de Andrade
Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento
David Dias Moreira Filho
Chefe Adjunto de Administrao
Sistema Brasileiro de
Classificao de
Terras para Irrigao
Enfoque na Regio Semi-rida
Editor Tcnico:
Fernando Cezar Saraiva do Amaral
Rio de Janeiro, RJ
2005
Mas o serto s Serto pela forma inusitada de convivncia de suas entidades reais e
imaginrias. Seno, o Serto seria um lapso no espao e no tempo.
Francisco Siqueira Rumo Reverso
...O perigo da salinizao muito grande. Mas assim no mundo inteiro, o que no
impediu que outros pases fizessem e vivessem da irrigao. ...Praticar uma irrigao sem
salvaguardas pode, na verdade, destruir, criar um enorme deserto....Portanto, a salinizao
um problema que precisa ser levado a srio. A irrigao, bem feita, pode ser uma benesse...
Celso Furtado
Eu ouo as vozes
Eu vejo as cores
Eu sinto os passos de um outro Brasil que vem a
Gilberto Freire
Sumrio
Captulo 1
Base Metodolgica
19
Captulo 2
31
Captulo 3
41
Captulo 4
73
83
Captulo 6
111
Captulo 7
137
Base de Dados - I
Captulo 8
161
Base de Dados - II
Captulo 9
181
Produto Final
Captulo 10
Aplicando o SiBCTI
189
Apresentao
Silvio Crestana
Presidente da EMBRAPA
Agradecimentos
Esta metodologia no teria sido estruturada sem o decisivo apoio dos muitos profissionais das diversas instituies: CODEVASF, DNOCS, Centros de Pesquisa da Embrapa,
universidades, empresas privadas, consultores, enfim; diversos tcnicos que contriburam
com seus conhecimentos e experincias, sem os quais seria impossvel a sistematizao
dos inmeros parmetros e suas respectivas interaes, que serviram de base para a elaborao deste sistema.
Prestaram igualmente relevante contribuio os muitos agricultores irrigantes que
com suas valiosas informaes prticas, enriqueceram, substanciaram, calibraram e modelaram essa metodologia.
A todos esses, os autores deste trabalho externam seus sinceros agradecimentos.
Introduo
A agricultura irrigada a atividade antropognica que mais consome gua, sua participao no mundo corresponde a 17,8%, equivalendo a 40% de toda a produo (FAO,
1998). O Brasil est em desvantagem em relao ao mundo, uma vez que o percentual de
suas terras irrigadas se aproxima apenas de 4,5% (Christofidis, 1999).
De todas as regies brasileiras, a Nordeste aquela que mais se destaca na necessidade de utilizao da irrigao. Conforme recente aferio, aproximadamente 70% de
suas terras encontram-se sob o regime semi-rido, participando no entanto com apenas
17% da rea irrigada nacional (Resende et al., 2003). Sua expresso ganha ainda mais
destaque uma vez que esse bioma engloba tambm o norte do Estado de Minas Gerais.
Nessa condio ambiental desfavorvel, a irrigao desempenha papel fundamental na
sua explorao agrcola maximizada.
No Brasil, os projetos de irrigao, principalmente os pblicos, implantados at o
momento utilizaram como metodologia de classificao das terras, a desenvolvida pelo
Bureau of Reclamation- BUREC (Estados Unidos, 1953, 1982). Essa aplicao, muitas vezes, ocorreu de modo simplificado, sem atentar, por falta de subsdios tcnicos e em atendimento s urgncias das polticas pblicas para a agricultura irrigada, para as aes que
poderiam contribuir para a degradao das terras e/ou baixa taxa de retorno econmico,
que, em alguns casos, afetaram o pleno sucesso da implementao do projeto.
Por falta de uma classificao de terras para irrigao adaptada s condies brasileiras, em que as terras fossem classificadas de acordo com o seu real potencial para agricultura irrigada, tem se promovido ou uma superutilizao das terras, induzindo seu desgaste,
ou uma subutilizao, o que em ambos os casos pode resultar em utilizao inadequada
dos potencialmente escassos recursos hdricos e de solo de toda a Regio Nordeste.
Melhorar os estudos do solo e desta forma poder gerenciar a gua em bacias
hidrogrficas implica no aperfeioamento do Sistema Brasileiro de Classificao de Solos
(Embrapa, 1999), incluindo nesse, a abordagem das caractersticas fsico-hdricas do solo.
Nesse contexto, deve-se enfatizar no apenas a importncia, como tambm a necessidade
de estudos sobre a sustentabilidade agrcola, pois, alm de ser um enfoque imprescindvel
na elaborao de ordenamentos/zoneamentos, a correta classificao das terras um fator
bsico para o estabelecimento da coerncia ecolgica, ou seja, uso dos recursos naturais
segundo sua aptido, evitando assim a m utilizao dos recursos naturais e a conseqente
degradao dos ecossistemas.
Ramalho Filho (1992), apresentou um procedimento metodolgico para a avaliao
fsica, social e econmica de terras para sistemas integrados de produo, considerando
tecnologia intermediria em agricultura de pequena escala, enquanto para Olson (1974), a
classificao utilitria de terras podia ser to boa quanto fossem os dados bsicos utilizados
e a formulao de suas vrias unidades. Beek (1978) advogou que a avaliao de terras
desenvolve a partir da interpretao de levantamentos. Entretanto, levantamentos de solos
podem ser interpretados de acordo com qualquer sistema de classificao tcnica, seja ele
de capacidade de uso, de aptido de terras ou potencial de terras para irrigao.
A interpretao de levantamentos pode sugerir que o solo o nico fator do meio
ambiente a ser considerado, quando sabe-se que outros, a exemplo de clima, vegetao,
topografia, hidrologia e condies socioeconmicas, tambm esto envolvidos no processo
interpretativo. Portanto, parece mais razovel tratar de avaliao da aptido das terras, que
um procedimento que leva em conta a terra e seus atributos. Bridges (1978) assinalou que
a avaliao da aptido das terras pode ser vista como um claro e direto exerccio geogrfico,
com alguns valores prticos. Entretanto, h inmeras combinaes de condies bio-fsicas,
ambientais, sociais e econmicas que a tornam complexa.
Vrios sistemas de classificao do potencial das terras foram identificados por Vink
(1960), que discutiu a avaliao da aptido e seus aspectos quantitativos e afirmou que
somente por meio da classificao da aptido das terras, os resultados dos estudos de solos
tornar-se-iam realmente teis para as vrias formas da atividade humana.
Verifica-se desta forma que a avaliao das terras e os diversos zoneamentos agrcolas realizados, como asseveraram Diepen (1982), dependem basicamente de inventrios e
sistematizao de dados sobre recursos naturais, tcnicos e socioeconmicos, geralmente
registrados e utilizados na forma de mapas temticos.
Assim, como conseqncia de estudos intensivos, concluiu-se que, para que as terras
possam responder positivamente ao emprego da tecnologia de irrigao, faz-se necessria
a existncia de uma adequada classificao de suas potencialidades para o uso agrcola
com irrigao. Essa classificao dever avaliar as caractersticas dos nossos solos e se
ajustar realidade atual da tecnologia de irrigao, estrutura do mercado agrcola, ser de
fcil entendimento e operacionalidade e, acima de tudo, suscetvel a modificaes medida
que o conhecimento cientfico e tecnolgico evoluir.
O Sistema Brasileiro de Classificao de Terras para Irrigao dever ter natureza
dinmica, porquanto so necessrias atualizaes peridicas dos critrios adotados,
notadamente quando parmetros ainda no considerados, passarem a influenciar os resultados obtidos. Esse sistema alm de contemplar todo o estado da arte, dever evidentemente ponderar com acurcia as principais caractersticas de nossos solos de modo a evitar
danos ao meio ambiente quando sob uso intensivo.
Dessa forma, resumidamente, os principais pontos que motivaram o desenvolvimento
de uma nova metodologia para a classificao de terras para irrigao foram:
Referncias Bibliogrficas
BEEK, K. J. Land evaluation for agricultural development. Wageningen: ILRI, 1978. 333 p.
(ILRI Publication, 23).
BRIDGES M. E. World soils. 2.ed. Cambridge: Cambridge University, 1978. 128 p.
CHRISTOFIDIS, D. Recursos hdricos e irrigao no Brasil. Braslia, DF: CDS-UnB. 1999. 34 p.
DIEPEN, C. A. van. Evaluating land evaluation. In: ISM. Annual Report 1982. Wageningen,
1983. p. 13-29.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificao
de solos. Braslia, DF: Embrapa Produo de Informao; Rio de Janeiro: Embrapa Solos,
1999. 412 p.
ESTADOS UNIDOS. Department of the Interior. Bureau of Reclamation. Land classification
techniques and standards: land suitability and water quality group. Denver, 1982. 1 v. (US.
Bureau of Reclamation Series, 510).
ESTADOS UNIDOS. Department of the Interior. Bureau of Reclamation. Reclamation manual:
irrigated land use: land classification. Denver, 1953. 54 p., v. 5, part 2.
FAO PRODUCTION YEARBOOK, Rome, v.52, 1998. 233 p.
OLSON, G. W. Land classifications. Search Agriculture, Ithaca, v. 4, n. 7, 1974. 34 p.
RAMALHO-FILHO, A. Evaluating land for improved systems of small-scale farming with
special reference to Northeast Brazil. Norwich, UK: University of East Anglia - School of
Development Studies, 1992. 288 p. Ph.D Thesis.
RESENDE, M.; ALBUQUERQUE, P.; COUTO, L. A cultura do milho irrigado. Embrapa Informao Tecnolgica. Braslia, DF: 2003. 317 p.
VINK, A. P. A. Quantitative aspects of land classification. In: INTERNATIONAL CONGRESS OF
SOIL SCIENCE TRANSACTION, 7., 1960. Madison. [Proceedings...]. Madison: Elsevier, 1960.
v. 5, p. 371-378.
Base
Metodolgica
Captulo
19
Desenvolvimento da Metodologia
A primeira etapa consistiu de uma criteriosa avaliao do estado da arte no que
tange s diferentes metodologias de classificao de terras para irrigao, inclusive com a
participao de diversos tcnicos atuantes na rea.
Como parte desta etapa, realizaram-se seminrios tanto no Agricultural Research
Service (ARS) localizado em Washington/DC quanto no Bureau of Reclamation (USBR),
localizado em Denver (EUA), para um intercmbio referente s linhas de atuao e estratgias que estavam sendo desenvolvidas ou a serem montadas, referentes aos avanos na
metodologia de classificao de terras para irrigao (Estados Unidos, 1953), at ento
amplamente empregada em todo o mundo.
Dos contatos mantidos no USBR, alm da apresentao do projeto da Embrapa em
andamento, efetuou-se a discusso dos principais problemas da classificao de terras para
irrigao com a equipe tcnica local, que permitiram delinear sucintamente o seguinte quadro:
No houve um significativo avano no desenvolvimento do sistema desenvolvido
pelo USBR desde a publicao acima mencionada e a sua reedio ampliada (Estados
Unidos, 1982). A razo apresentada para esta constatao deve-se a um arrefecimento no
ritmo de implementao de novos projetos de irrigao na sua jurisdio, o oeste americano, desde os anos oitenta.
Est se delineando um novo quadro de desenvolvimento do sistema, em decorrncia da retomada por parte do USBR, do estudo dos problemas resultantes da prtica da
irrigao nos projetos antigos, que tm demandado reformulao de critrios e parmetros
a serem inseridos no sistema USBR (Estados Unidos, 1982). Esta uma situao comum
vivida nos projetos de irrigao implantados h alguns anos no nordeste do Brasil.
Na percepo da equipe tcnica local, iniciar-se- futuramente um projeto com
esse propsito.
20
Base Metodolgica
Base Metodolgica
21
NOME
Ademario Araujo Filho
Ademrio de Almeida Silva
Aldo Pereira Leite
Andr Luiz Barcelos da Silva
Antonio Ramalho Filho
Alexandre Hugo Cesar Barros
Aldo Pereira Leite
Adoildo da Silva Melo
Antonio Alberto C. Tabosa
Antnio Dias Leite
Antonio Heriberto Teixeira
Ademar Barros da Silva
Alberto Pinto
Almir Gomes de Souza
Antonio Cabral Cavalcante
Antonio Ramalho Filho
Ari Cavedon
Augusto Csar V. Getirana
Carlos Augusto Villela
Celso V. Manzatto
Clementino Marco Faria
Clesinaide A. Martins
Daniel Vidal Prez
Danielle Oliveira de Andrade
Dea Sousa Assis
Digenes Barbosa
Doracy Pessoa Ramos
Edgar Shinzato
Edmar Ramos Siqueira
Edson Diogo Tavares
Eloy de Souza Silva
Enio Fraga da Silva
Eno S. Fulber
Eriberto Corlett da Ponte
Fabio Pereiro Botelho
Fernando Cezar Amaral
Fernando Dultra Cintra
Flvio Hugo Barreto
INSTITUIO
Agrovale
DIPOLO
Embrapa Solos
UFF
Embrapa Solos
Embrapa Solos / UEP
Embrapa Solos / UEP
Embrapa Solos
Dow Agrosciences
Amcham
Embrapa Semi rido
Embrapa Solos
Embrapa Cerrados
Ecotema
Embrapa Semi-rido
Embrapa Solos
Biodinmica-Emp. Consul. (amb.)
UFRJ
agrosoft
Embrapa Solos
Embrapa Semi rido
CODEVASF
Embrapa Solos
UFF
Embrapa Solos
Xilema Agronomia e Meio Ambiente
UENF
CPRN-Servio Geolgico do Brasil
Embrapa Tabuleiros Costeiros
Embrapa Tabuleiros Costeiros
CODEVASF/ 3 SR
Embrapa Solos
Consultor/Produtor
CODEVASF
Embrapa Solos / UEP
Embrapa Solos
Embrapa Tabuleiros Costeiros
Embrapa Solos
ENDEREO ELETRNICO
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Base Metodolgica
22
CODEVASF/ 3 SR
CODEVASF-sede
Autonomo
Embrapa Roraima
CODEVASF
Embrapa Solos
Embrapa Semi rido
SUVALE/produtor
UFPI
Embrapa Solos
Embrapa Solos / UEP
CHESF/CEI
CODEVASF/ 3 SR
CODEVASF/ 3 SR
CODEVASF/ 6 SR
CODEVASF/ 3 SR
CODEVASF/ 4 SR
Embrapa Solos
CODEVASF/ 3 SR
Embrapa Semi-rido
Consultor
Embrapa Semi-rido
CODEVASF/ 3 SR
Soloagri
Embrapa Solos
ENCE/IBGE
CODEVASF
SLP/PMJ
UFRRJ
CHESF
CEFET RJ
Embrapa Solos
Embrapa Semi-rido
CODEVASF/SEDE
Embrapa Solos
Consultor
CODEVASF/ 3 SR
ESAM
Embrapa Semi-rido
Embrapa Solos
CODEVASF-sede
Embrapa Semi-rido
UFRRJ
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Base Metodolgica
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Base Metodolgica
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Embasamento da Metodologia
Definio de Solo e Terra usados no SiBCTI
O conceito de solo usado no Sistema Brasileiro de Classificao das Terrras para
Irrigao (SiBCTI) basicamente aquele utilizado no Sistema Brasileiro de Classificao de
Solos (SiBCS), (Embrapa, 1999), o solo que classificamos uma coleo de corpos naturais, constitudos de partes slidas, lquidas e gasosas, tridimensionais, dinmicos, formados de material orgnico e mineral. Ocupam a maior parte do manto superficial das extenses continentais do nosso planeta, contm matria viva e podem ser vegetados na natureza, onde ocorrem. Ocasionalmente podem ter sido modificados por atividades humanas.
As alteraes pedolgicas que ocorrem no material do solo revelam contraste com o
substrato rochoso ou seu resduo mal decomposto, expressando diferenciao pedolgica
em relao ao pr-existente.
O solo tem como limite superior a atmosfera. Os limites laterais so os contatos com
outras espcies de solos vizinhos, ou os contatos com afloramentos de rocha, material
detrtico inconsolidado, aterros ou encontros com terrenos sob espelhos dgua permanente. O limite inferior do solo difcil de ser definido. Comumente, o solo passa gradualmente no seu limite inferior para rocha dura ou material saproltico que no apresenta
sinal de atividade animal, vegetal ou outras indicaes de atividade biolgica. O solo
contrasta com o material subjacente pelo decrscimo de constituintes orgnicos, decrscimo de alterao e decomposio dos constituintes minerais, enfim, observa-se um ganho
de propriedades mais relacionado ao substrato rochoso ou material de origem no consolidado.
Quando examinados a partir da superfcie, consistem de sees aproximadamente
paralelas, denominadas horizontes ou camadas, que se distinguem do material de origem,
como resultado de adies, perdas, translocaes e transformaes de energia e matria,
tendo a habilidade de suportar o desenvolvimento do sistema radicular de espcies vegetais, em um ambiente natural.
Um dos principais componentes que embasa o Sistema Brasileiro de Classificao de
Terras para Irrigao o perfil do solo que pode ser definido como a superfcie que vai desde
a superfcie do solo at onde penetra a ao do intemperismo.
Nas condies de clima tropical mido prevalescentes no Brasil, a atividade biolgica
e os processos pedogenticos comumente ultrapassam profundidade maior que 200 cm. No
entanto, foi esse o limite definido como representante da seo de controle para fins de
descrio e coleta de perfis, pois nele as interaes entre gua/solo/raiz tm maior impacto
na produo vegetal. Esse limite no prevalece quando:
O horizonte A exceder a 150 cm de espessura. Nesse caso, o limite arbitrado de
300 cm; ou
No sequum estiver presente o horizonte E, cuja espessura somada a do horizonte
A seja igual ou maior que 200 cm. Nesse caso o limite arbitrado de 400 cm.
Base Metodolgica
25
Base Metodolgica
26
Como a tecnologia da irrigao enseja um manejo intensivo do solo, os levantamentos pedolgicos que lhe servem de base devem ser de alta intensidade com escalas grandes. Desta forma, os mais apropriados so os detalhados ou mesmo ultradetalhados.
Densidade de Observaes
A densidade de observaes diz respeito ao nmero de observaes visuais e registros de caractersticas locais feitas atravs de tradagens, verificaes de cortes de estradas,
barrancos, voorocas e outras escavaes existentes.
No h consenso quanto densidade de observaes estabelecidas para levantamentos pedolgicos. No entanto, so registrados por diversos autores, nmeros que variam
em mdia de 0,25 a 5 observaes por centmetro quadrado de mapa.
Em se tratando de agricultura irrigada, sugere-se uma densidade de observaes de
0,05 a 0,5 por hectare, dependendo do nvel de detalhe e da escala do mapa. Dessa forma,
a rea seria separada em padres utilizando-se o material bsico disponvel: fotografia
area, restituio, entre outras. Se houver pequena variabilidade dentro dos padres a
intensidade de observaes poder ser de 0,05 por hectare. Se houver grande variabilidade
dentro dos padres, com a ocorrncia alternada de classes de solos diferentes no primeiro
nvel categrico (ordem), a intensidade dos exames poder chegar at 5 observaes por
hectare considerando a escala de 1:10.000 (Tabela 2), com base em Embrapa (1995). Variabilidade intermediria teria proporcionalmente intensidade de amostragem intermediria.
Tabela 2 - Relaes entre escala, rea mnima mapevel (AMM), densidade de observaes (D) e rendimento mdio em rea mapevel, nos levantamentos pedolgicos destinados a reas irrigveis.
Escala
AMM
D - rea
(ha)
homognea
D - rea heterognea
Rendimento mdio
1:500
0,001
1,5
1,5
1:1.000
0,004
1,8
Tipo de levantamento
(ha)
1:5.000
0,1
0,5
3,7
1:10.000
0,4
0,15
0,5
15
1:20.000
1,6
0,05
0,2
40
ultradetalhado
detalhado
Rendimento nmero de hectares que um homem produz por dia, considerando 7,5
observaes mdias/dia (descrio e coleta de amostra).
Nos levantamentos para fins de irrigao, devero ser utilizados como material bsico
mapas na escala 1:10.000 ou maior, eventualmente 1:20.000 se a rea for mais uniforme,
com curvas de nvel de 0,25 a 1,00 metro, e estar georreferenciados todos os pontos de
testes ou observaes hidropedolgicas. Com o avano dos recursos tecnolgicos, tais
como geoprocessamento, modelagem, tcnicas de geoestatstica, qualidade de sensores,
entre outros; haver um aprimoramento contnuo da densidade de observaes e freqncia de amostragens (Embrapa, 1995).
Base Metodolgica
27
Conforme observa Olson (1974), a classificao utilitria de terras pode ser to boa
quanto forem os dados bsicos utilizados e a formulao de suas vrias unidades.
Padronizao dos Dados
Como forma de obter classificaes pedo-ambientais para irrigao confiveis utilizando o SiBCTI, fundamental que os dados alimentadores do sistema sejam padronizados
e igualmente confiveis. Portanto, os dados analticos e morfolgicos dos perfis de solo
devem ser resultado de anlises padronizadas segundo as mesmas rotinas laboratoriais,
no importando a regio onde seja feita. O mesmo procedimento dever ser aplicado s
anliDa mesma forma, os dados provenientes dos testes de campo, relacionados com a
permeabilidade: condutividade hidrulica (K) e a velocidade bsica de infiltrao (I), devero ser obtidos atravs de metodologias padronizadas.
A descrio de cada metodologia a ser empregada nos dados alimentadores do
SiBCTI encontra-se no captulo 3.
A Questo da Drenagem
A salinidade do solo um dos importantes fatores causadores da degradao fsicoqumica dos solos e que, portanto, afetam o rendimento dos cultivos. Em se tratando de
regies ridas e semi-ridas irrigadas, constitui um srio problema, limitando a produo
agrcola e reduzindo a produtividade das culturas a nveis anti-econmicos. Nessas regies,
caracterizadas por baixos ndices pluviomtricos e intensa evapotranspirao, a baixa eficincia da irrigao e a drenagem insuficiente contribuem para a acelerao do processo de
salinizao.
O monitoramento da salinidade requer a aplicao de tcnicas rpidas e apropriadas
de avaliao e anlise de dados. A avaliao tem como objetivo identificar os fatores que
contribuem e/ou esto contribuindo para aumentar o grau de salinidade, definir um sistema
de amostragem adequado e classificar os resultados conforme a magnitude dos dados.
A salinizao do solo pode desenvolver-se naturalmente, quando as condies do
ecossistema so propcias, devido principalmente a altas taxas de evapotranspirao potencial, drenagem deficiente no perfil do solo, guas subterrneas (lenol fretico) enriquecidas
por sais, posio do solo na paisagem, entre outros. Esse halomorfismo naturalmente induzido
no solo conseqncia de processos pedogenticos especficos. A concentrao salina da
soluo do solo, antes da ao antrpica, ou em um instante t, definida como salinizao
primria. A intensidade e efeitos da salinizao primria dependem basicamente das condies pedoclimticas. Por outro lado, a salinizao, pode ocorrer tambm devido ao manejo
inadequado do solo e da gua, definida assim como salinizao induzida ou salinizao
secundria.
Os processos de salinizao e/ou sodificao secundria dos solos podem ocorrer em
uma ou mais das seguintes condies:
Acumulao de sais provenientes de uma gua de irrigao com alto teor de sais;
Elevao do nvel de gua subterrnea, que geralmente implica em: aumento da
28
Base Metodolgica
salinidade das guas subterrneas que se acumulam nas camadas profundas; elevao do
lenol fretico, transportando sais das camadas profundas s camadas superficiais; e elevao do lenol fretico, limitando a drenagem natural e dificultando a lavagem dos sais.
Falta ou deficincia de sistemas de drenagem instalados nos solos irrigados.
Embora a intemperizao dos minerais primrios seja a fonte principal de quase todos
os sais solveis no solo, a fonte direta desses sais em solos irrigados a prpria gua usada
na irrigao e/ou lenol fretico (Richards, 1954). Em muitas situaes o problema tem
origem no manejo da irrigao, haja vista que uma gua considerada de boa qualidade com
condutividade eltrica de 0,75 dS m-1 (deciSiemens por metro), intermediria entre as classes C1 e C2 de salinidade, quando aplicada num volume anual de 20.000 m3 ha-1, que
corresponde ao requerido por culturas como acerola, deposita no solo cerca de 10 toneladas de sais por ano. Se o manejo deficiente, se no existe frao de lavagem e se no h
drenagem, naturalmente haver um acmulo de sais que a mdio prazo pode comprometer
a explorao das culturas irrigadas. Outro fator que pode acelerar o processo de salinizao
secundria a utilizao pelo produtor rural de fertilizantes com elevado ndice salino, tais
como cloreto de potssio, nitrato de sdio ou salitre do chile e nitrato de amnio.
A utilizao da irrigao na agricultura em regies semi-ridas do Nordeste Brasileiro
vem se intensificando nas ltimas dcadas, especialmente nos locais onde possvel contar
com um manancial perene de gua de boa qualidade. Desta forma, as reas nas proximidades do rio So Francisco tm sido as que mais tem recebido investimentos, atingindo um
grau de desenvolvimento crescente, onde h solos com potencialidades para irrigao.
Inicialmente na regio foram exploradas com irrigao as faixas de solos aluviais que,
logo foram degradados por uma salinizao intensa, gerada pela falta absoluta de tecnologia.
A necessidade de expanso de reas irrigadas e a implantao de grandes projetos
agroindustriais levaram a procura de solos profundos sem problemas de drenagem interna.
Os Latossolos e Argissolos desenvolvidos principalmente na cobertura pedimentar que
recobre o cristalino de grande parte do nordeste semi-rido, constituem hoje as maiores
reas de solos irrigados na regio.
Aparentemente vrias classes de solos consideradas de boa permeabilidade
(drenabilidade) ao longo do perfil pedolgico e irrigados com gua do rio So Francisco de
boa qualidade (C1S1), esto apresentando indcios de salinizao secundria e elevao do
lenol fretico ao longo dos anos de manejo da irrigao.
Para manter uma agricultura permanente sob irrigao na Regio Semi-rida,
necessrio o acompanhamento da evoluo qumica dos solos submetidos a regime de
irrigao intensiva, a fim de caracterizar o aparecimento dos problemas de sais e a adoo
de prticas de manejo adequadas, visando uma produo sustentada para o empreendimento agrcola (Embrapa, 2004a).
Com base em Ayers & Westcot (1999), poder-se-ia dizer que a adequao da gua de
irrigao no depende unicamente do teor total mas, tambm do tipo de sais. A medida em
que o contedo total de sais aumenta, os problemas do solo e das culturas se agravam, o
que requer o uso de prticas especiais de manejo, para manter rendimentos aceitveis.
Determina-se tambm a qualidade da gua e/ou sua adaptabilidade irrigao pela gravidade dos problemas que podem surgir depois do uso a longo prazo.
Base Metodolgica
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Base Metodolgica
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