Livro IPUB Gestao 2010 2014
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Maria Paula Cerqueira Gomes
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Gesto 2010-2014
Rio de Janeiro
IPUB/UFRJ
2015
Organizadores: Maria Tavares Cavalcanti, Marcio Amaral, Ana Cristina Figueiredo, Cloyra
Paiva de Almeida
Corpo editorial: Maria Tavares Cavalcanti, Ana Cristina Figueiredo, Catia Mathias, Clia
Anselm
Rio de Janeiro
Julho de 2015
SUMRIO
PRLOGO ........................................................................................................................ 10
GESTO ............................................................................................................................ 20
Modelo de gesto ou um conjunto de princpios?.................................................................. 20
Uma gesto humana possvel em nossos hospitais? ............................................................. 27
ENSINO ............................................................................................................................. 36
Ps-graduao lato sensu: a transmisso de um saber fazer ................................................... 36
Residncia multiprofissional em sade mental do IPUB/UFRJ no contexto das
transformaes da formao em sade.................................................................................... 41
Os avanos do Programa de Ps-Graduao em Psiquiatria e Sade Mental do Instituto de
Psiquiatria da UFRJ entre os anos de 2010 e 2014 ................................................................. 55
Biblioteca Prof. Joo Ferreira da Silva Filho, lugar de memria do Instituto de Psiquiatria da
UFRJ ....................................................................................................................................... 60
ASSISTNCIA ................................................................................................................... 68
O IPUB/UFRJ e suas atividades hospitalares.......................................................................... 68
Servio de enfermagem do IPUB: construes e desafios ...................................................... 81
O CAPSi CARIM : um dispositivo territorial em ao no IPUB ........................................... 91
O Servio de Psiquiatria da Infncia e da Adolescncia - SPIA IPUB (2010-2014) ............ 102
PROJAD: Subjetividades, Drogas e Mltiplas Abordagens ................................................. 110
Ateno psicossocial: experincia e desafios atuais do Hospital-Dia Luiz Cerqueira e Centro
de Ateno Diria (CAD) ...................................................................................................... 120
O Centro para Doena de Alzheimer e outros transtornos mentais na velhice: Descrio,
estado atual e perspectivas futuras. ....................................................................................... 131
Qual o lugar do ambulatrio universitrio na Rede de Ateno Psicossocial? ..................... 136
Proposta para a Porta de Sada do ambulatrio do IPUB .................................................. 140
Projeto Enfermarias: Ser digno o nome Projeto para um trabalho que ainda se passa em
enfermarias? .......................................................................................................................... 146
Ateli da Vida ....................................................................................................................... 156
A loucura liberta ou a liberdade uma loucura? - Apresentando A Voz dos Usurios..... 166
AUTORES
Leila Vianna dos Reis Psicloga- Especialista Gesto de Sistemas e Servios de Sade
Faculdade de Cincias Mdicas - Unicamp. Pesquisadora da linha de pesquisa
Micropoltica do Trabalho e o Cuidado em Sade - UFRJ. Tutora do Programa de
Residncia Multiprofissional em Sade Mental do IPUB-UFRJ.
Leni Porto Siqueira - Pedagoga. Pos-Graduao em Educao Especial (UNIRIO),
Psicopedagogia (UNIPLI), Ateno Psicossocial na Infncia e Adolescncia (UFRJ).
Mestre em Cincias da Educao pela Universidade de Lusfona. Professora no
municpio de Niteri, Tcnica em Assuntos Educacionais no CAPSi CARIM/IPUBUFRJ. [email protected]
Liz Barddal Feligueira Assistente Social do IPUB/UFRJ. Mestranda em Educao
Profissional em Sade pela EPSJV/FIOCRUZ
Luiz Eduardo Mendona de Souza - usurio do CAD
Marcelo Santos Cruz - psiquiatra, coordenador do PROJAD IPUB
Marcia Dourado - psicloga do CDA IPUB UFRJ
PRLOGO
Maria Tavares Cavalcanti 1
H quatro anos, mais exatamente no dia 23 de julho de 2010, proferi este discurso de
posse, ao assumir a direo do Instituto de Psiquiatria da UFRJ:
Magnfico reitor da UFRJ, Prof. Alosio Teixeira, Exmo. Decano do Centro de
Cincias da Sade professor Almir Fraga Valadares, Exmo. Prof. Emrito da Faculdade
de medicina da UFRJ Eustquio Portela Nunes, meu caro amigo e diretor em exerccio
do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, que hoje toma posse como vice-diretor do IPUB,
prof. Marcio Amaral,
meus filhos Helena e Miguel, minha me Isabel, meu pai Manoel, minha madrinha
Maria das Neves, meus irmos, cunhados e sobrinhos, minhas tias, meus amigos e
colegas da UFRJ, professores, queridos funcionrios, meus demais amigos que aqui
vieram e os que no puderam vir, caros alunos, caros clientes e familiares, todos os
presentes,
com grande alegria que hoje me dirijo a vocs para uma breve saudao neste dia de
festa. Festa? Vocs poderiam me perguntar, porque no foram nem uma nem duas
pessoas, das mais variadas condies e lugares, que ao tomarem conhecimento da minha
eleio para a direo do IPUB fizeram comentrios mais ou menos como estes:
No sei se te dou parabns ou psames...
Para o IPUB acho que vai ser bom, mas para voc no sei...
E assim por diante.
Ou ainda antes, quando a candidatura ainda era uma possibilidade, amigos queridos me
olhavam com uma cara assustada e me diziam, mas Maria, ns no queremos perder
voc, olha a sua sade, etc.
Mas reafirmo que hoje um dia de festa e de muita alegria, e vou dizer a vocs por que:
Porque vocs me escolheram e se me escolheram, essa escolha tem a ver com um
percurso, com um percurso de vida que comea muito antes da minha chegada ao IPUB,
jovem ainda, em 1986. No entanto, s pude vislumbrar esse percurso, como no poderia
deixar de ser, olhando a partir de hoje para trs. E ao olhar para trs vejo minha famlia,
a comunidade em que nasci, porque uma famlia de oito filhos, um quarto que se divide
com mais seis irmos, s pode se chamar assim, comunidade. E talvez venha da, esse
meu amor por tudo que coletivo. Por tudo que diz respeito ao bem de muitos. E o meu
anseio por justia e felicidade para todos. Quem sabe tenha sido isso que vocs
perceberam, sem que eu me desse conta, pois o que vejo hoje que mais do que me
escolher, vocs me indicaram, porque se estou assumindo a direo do IPUB, isso se
deveu a um trabalho intenso de muitos de vocs, que j h alguns anos vem me
preparando para assumir essa funo, me convencendo de que no s sou capaz de
juntamente com vocs conduzir o IPUB pelos prximos anos, como tambm sou digna
de represent-los juntos as instncias externas ao IPUB e da qual o IPUB faz parte ou se
1
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No inicio de 2009, o Professor Marcio Amaral me chamou no seu gabinete de vicediretor do IPUB e me disse generosamente: -Maria acho que o melhor nome para
prximo diretor do IPUB o seu. Mas eu?perguntei. No seria voc? Afinal de
contas voc o vice-diretor e eu o apoiaria e o ajudaria. Mas o professor Marcio
Amaral foi direto: - No, o seu nome tem mais passagem, voc ser melhor para a
instituio. Naquele dia sa daquela conversa me sentindo meio mal, percebia que o
cerco ia se fechando. A imagem que vinha na minha cabea era de um grupo andando
junto, de repente eu olho para um lado, olho para o outro, e percebo que no h mais
ningum ao lado, sobrei eu, de alguma forma, meus caminhos e minha vida tinham me
levado quela posio, quele lugar e se isso tinha acontecido, e se os outros me
reconheciam nesse lugar, porque seguramente meu desejo estava implicado ali, pois
como aprendi com Lacan e tambm com Jean Oury, dois psicanalistas e psiquiatras que
muito me ensinaram e continuam me ensinando, no h pratica tica sem desejo e no
h como viver sem estar continuamente colocando em questo o nosso desejo. Para
Oury a pergunta cotidiana a se fazer o que estou fazendo aqui? E no dia em que
percebermos que no estamos mais implicados de forma desejante naquele lugar e
naquela pratica, o melhor a fazer ir embora.
Isso, portanto, fui descobrindo ao longo da minha vida. Que de alguma forma o IPUB
ocupava e ocupa um lugar central na minha existncia e sabe-se l por que faz parte da
minha misso nesse mundo estar aqui trabalhando para que ele possa crescer, frutificar e
cumprir cada vez melhor o seu papel na nossa sociedade, que no se restringe
assistncia psiquitrica e formao dos profissionais que atuaro no campo da
psiquiatria e da sade mental. S isso j seria uma misso e tanto, mas fui aprendendo,
sobretudo depois de assumir a direo clinica do IPUB , que o IPUB faz parte da UFRJ,
que a UFRJ faz parte do MEC, que o IPUB sendo uma instituio de sade e 100%
SUS, faz parte do Ministrio da Sade tambm , e que tambm fazemos parte do
ministrio de cincia e tecnologia, do ministrio do desenvolvimento social, da
secretaria nacional anti-drogas, da cultura e tantos mais que cuidam dos interesses da
populao desse nosso Brasil e que portanto faz parte do Brasil e tem um papel imenso
nessa esfera tambm. O papel de demonstrar que um hospital publico vivel, que o
SUS pode funcionar muito bem, que um hospital publico universitrio de ensino pode e
deve ser exemplo de probidade e excelncia administrativa. Lembro-me quando assumi
a direo clinica e o nosso funcionrio Joaquim ainda cuidava dos laudos. Ele veio me
procurar preocupado, pois temia no ter competncia para realizar a tarefa que lhe fora
designada. Ento eu disse a ele uma frase que continua valendo: - "Joaquim muito
simples, as pessoas que procuram o IPUB muitas vezes chegam aqui com uma idia
bastante difundida de que o servio publico no funciona. Pois bem, ao chegarem aqui
elas tm que mudar de opinio. Se tivermos conseguido isso, teremos cumprido bem o
nosso trabalho".
Ento isso, para alm de cuidarmos muito bem de nossos clientes e seus familiares, e
de formarmos nossos alunos tambm com excelncia, temos uma misso que nos
ultrapassa e que fala dos desafios desse nosso Brasil. Sabemos que 450 milhes de
pessoas no mundo sofrem de doenas mentais e de problemas relacionados ao abuso de
lcool e outras drogas. Muitas sofrem sem assistncia, pois o estigma que envolve a
doena mental ainda enorme, e h dificuldade e vergonha de procurar o psiquiatra,
isso quando h psiquiatra, pois a falta de profissionais na rea da sade mental
tambm outro problema alarmante. Em 2008, a Organizao Mundial de Sade lanou
um movimento para a Sade Mental Global, a fim de conscientizar todos os principais
responsveis pela sade no mundo da tarefa gigantesca e imediata de romper com as
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barreiras que ainda fazem com que nos pases mais desfavorecidos 90% da populao
que necessita de cuidados em sade mental permanea desassistida. No Brasil, apesar
dos avanos inegveis em termos de aumento do numero de servios de sade mental
nos ltimos anos, de termos uma poltica nacional de sade mental, isso no significou
um aumento de cobertura assistencial na mesma proporo, mesmo porque a formao
dos profissionais para atuarem nesses servios ainda permanece um enorme desafio.
O IPUB no pode, portanto, se furtar a estar no centro desses desafios, discutindo-os,
analisando-os e contribuindo para as suas solues, no s por ser uma referencia no
campo da psiquiatria e da sade mental no pas, mas tambm por fazer parte da maior
universidade publica do Brasil. Somos um servio de sade universitrio e isso no
pouco. Somos o nico Instituto de Psiquiatria certificado pelo MEC como hospital de
ensino. Temos portanto essa tripla misso: cuidar, formar e produzir conhecimento.
Cabe a ns dizer ao MEC o que um Instituto de Psiquiatria, o que deve ser
considerado como padro de qualidade e excelncia em termos de uma instituio
psiquitrica, demonstrarmos as nossas especificidades.
Para isso algumas perguntas precisam ser feitas:
O que desejam nossos pacientes e familiares e o que de fato devemos oferecer a eles?
O que desejam nossos alunos? O que seria interessante que eles desejassem pensando
tambm no pas em que vivemos? Para onde e de que forma temos que conduzir a
formao de nossos alunos de graduao e de ps-graduao?
O que desejam nossos funcionrios tcnico-administrativos e professores? Para onde
queremos e devemos caminhar?
O que a UFRJ espera de ns e o que ns esperamos da UFRJ? Como contribuir para que
a UFRJ tambm avance nos caminhos que julgamos os mais justos e os mais pertinentes
em termos da sade e da educao no Brasil?
O que as secretarias municipais e estaduais de sade esperam de ns e o que ns
esperamos da sade do nosso municpio e nosso estado? Que contribuio queremos,
podemos e devemos dar?
O que o MEC e o Ministrio da Sade nos demandam? Essas demandas so justas? So
as mais adequadas em termos da formao e da assistncia em psiquiatria e sade
mental para o Brasil? Como contribuir tambm para a elaborao dessas demandas,
dessas agendas?
Outro dia o Miguel, meu filho, me olhou e me disse: - Mame no sei se foi bom voc
ser eleita para essa direo? Por que meu filho, perguntei. Voc ter ainda
menos tempo, ficar preocupada e ocupada com um monte de coisas, sei l, me, no
sei se isso foi uma boa no. Pode ser que em muitos momentos desse percurso eu
tambm me faa essa pergunta, que uma pergunta que toda mulher que me se faz:
como conciliar tantas tarefas, como ser me de tantas coisas e tantas pessoas e no
perder de vista, essa que nossa primeira misso, nossa primeira tarefa, nossa principal
responsabilidade, criar nossos filhos para que um dia eles tambm estejam podendo
contribuir para que o mundo fique melhor?
Helena, minha filha, hoje d aulas no ensino de jovens e adultos. Outro dia andando
com ela por Laranjeiras, o porteiro de um prdio a cumprimentou, eu, preconceituosa
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me assustei, como a Helena conhece esse porteiro? Ele meu aluno me. Tambm
foi para Francisco Badar no serto de Jequitinhonha fazer um projeto de teatro com os
jovens da cidade e hoje com seus colegas do curso de produo cultural da UFF,
montou uma trupe que faz trabalho cultural com as comunidades carentes de Niteri nos
finais de semana.
Acho que essa a resposta pergunta do Miguel e a pergunta que me fiz e me fao
tantas vezes. Vale a pena? Isso vai dar certo? Uma me que sai de madrugada e pelo
menos uma vez tive que coloc-los no carro comigo, porque uma paciente est
ameaando se matar e o filho pequeno com ela em casa no sabe o que fazer e pede
ajuda? Filhos que atendem os telefonemas mais loucos em casa e que desde muito
pequenos sabem que as pessoas enlouquecem, que o suicdio existe, que a morte no
uma possibilidade, mas uma realidade cotidiana. Que a pobreza est a e terrvel. Que
h pessoas que passam fome e que ns temos relao com isso. Que existe uma cidade
chamada Breves, que fica longe muito longe, l no Maraj e que l no h mdicos em
nmero suficiente, nem trabalho, e que em muitos lugares deste Brasil crianas se
prostituem, muitas vezes incentivadas pelos prprios pais para terem o que comer, e que
isso tambm tem a ver conosco. Que conhecem o Niger e sabem onde fica Niamei. E
que sobretudo sabem que o que move o mundo o amor, o amor pelos menores, pelos
mais insignificantes, por aqueles que aparentemente pouco tm, pelos loucos, porque na
verdade so eles que nos ensinam, so eles que possuem a maior riqueza, que essa
fora de vida sob quaisquer circunstncias.
Por tudo isso, acho que esse desafio vale a pena e que um privilgio dirigir uma
instituio como o IPUB dentro dessa Universidade to querida e to importante para os
rumos do nosso pas, que a UFRJ. Que privilgio conviver com nossos alunos, alunos
que batalham tanto, insistem tanto, se esforam tanto, para serem nossos alunos, que
compromisso, que responsabilidade ns temos com eles que tanto fizeram para chegar
at aqui. Que privilgio conviver com nosso pacientes e seus familiares, pessoas
tambm que confiam em ns, que colocam em nossas mos muitas vezes algumas
decises importantes de seus destinos. Que privilgio conviver com nossos funcionrios
que amam o IPUB como se o IPUB fosse a casa e a famlia deles e que privilgio
conviver com nossos colegas professores, que tambm se esforaram muito e desejaram
muito estar aqui ensinado, pesquisando e assistindo.
Temos mesmo muito a comemorar, at mesmo porque os desafios so imensos e a vida
sem desafios e sem riscos, sem a possibilidade de construo e criao, sem esperana e
sem amor, perde o seu sentido.
Por isso agradeo sim, agradeo a todos vocs a confiana, o carinho, a certeza de que
juntos podemos fazer do IPUB o melhor lugar do mundo.
Contrariando a frase dita certa vez h muitos anos por um paciente que se tratava aqui
conosco as psiclogas do IPUB so tristes, o IPUB no deixa ningum de bem
consigo mesmo ouso dizer que o nosso desafio hoje fazermos o contrrio disso
podermos dizer, sim, aqui no IPUB no somos tristes , embora muitas vezes o convvio
to prximo com a loucura nos traga imensos oceanos de tristeza que fazem parte da
vida, aqui no IPUB estamos de bem conosco, porque fazemos com alegria e
competncia aquilo que a vida tm de melhor, que cuidarmos uns dos outros,
pacientes, familiares, alunos e funcionrios. Todos aqui nos cuidamos e cuidamos uns
dos outros para preservar a gentileza, a serenidade, a alegria, o estar junto, o caminhar
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na direo de uma vida melhor, de um mundo melhor, para todos. Porque sozinho
ningum vem ao mundo, sozinho ningum transforma o mundo, sozinho no se vive.
Obrigada.
Quatro anos depois, no dia 8 de agosto de 2014, aniversrio de 76 anos do IPUB e
minha reconduo e do prof. Marcio Amaral no cargo de diretora e vice-diretor do
IPUB, no escrevi um discurso, pois preferi ouvir o que o prof. Roberto Bartholo da
COPPE teria a nos dizer sobre a Universidade Publica e sobre a UFRJ, fala que vocs
encontraro tambm neste livro. No entanto, em momentos como esses algumas
palavras sempre tem que ser ditas e reproduzo em parte de memria algo do que disse
naquele dia. Se no so exatamente as mesmas palavras, o esprito do que julguei
importante ser dito, est aqui.
Durante algumas semanas fiquei pensando no que diria, no que era de fato importante
dizer, no que valia a pena ser dito. Comecei chamando a ateno para o tempo
transcorrido entre uma cerimnia e outra:
E se passaram quatro anos...
O que importante dizer depois de quatro anos? A primeira coisa a dizer que a
chegada aqui no foi linear, no foi uma estrada reta, algo que se deu sem uma reflexo,
sem um novo Sim. No foi simplesmente uma continuidade. Foi preciso dizer Sim
novamente e este Sim no foi simples. Depois desse meu Sim, foi preciso que vocs me
dissessem sim e nos escolhessem de novo. O que agradeo. Agradeo a confiana
novamente depositada em mim e no prof. Marcio Amaral.
Mas o que dizer nessa hora?
Fazer uma prestao de contas publica? Falar das obras, do oramento dobrado, das
vagas duramente conseguidas, do dia a dia de um intenso trabalho? Creio que isso, de
certa forma, vocs j sabem, visvel para quem esteve todos os dias aqui no IPUB ao
longo desses quatro anos.
Penso que o mais importante nessas horas falar do afeto, dos afetos agregados. Vejo
aqui na plateia tantas pessoas novas, pessoas que foram chegando, se somando aos mais
antigos. E muitos antigos tambm que se motivaram e hoje esto cheios de projetos,
com muita vontade de levar o IPUB adiante.
J faz um tempo que me dei conta, e isso ficou muito presente para mim nos 75 anos do
IPUB, que ns passamos e as instituies ficam. Mas elas s ficam se as geraes que
se sucedem e as recebem, se apropriam dessa herana, a transformam e a transmitem
para as novas geraes, que por sua vez faro o mesmo com as prximas geraes. Para
isso preciso semear e colher nas novas geraes, pessoas que sejam seduzidas por esta
vontade de dar continuidade e de manter a instituio viva e produtiva. Isso se faz
atravs da convivncia necessria entre uma gerao e outra, quando se d a
transmisso, a passagem, e torna-se possvel uma construo conjunta.
Estamos nesse momento. Os prximos quatro anos so anos para trabalharmos essa
transmisso, essa passagem. Preparar as novas geraes para que tenham orgulho da
herana que recebero e possam dar continuidade a esse projeto que se iniciou no
apenas h 76 anos, mas muito mais. Somos herdeiros do HospcioPedro II o primeiro
hospcio brasileiro, plano ousado e extremamente moderno para poca, um dos feitos
15
16
acho que isso ai uma droga -, ento est dito, at porque quando voc j envelheceu,
voc j um caso perdido, ningum est mais querendo te configurar para uma direo
e no para outra. J desistiram de tentar isso com voc. E agora, apesar disso, desse
certo travo amargo, eu ainda encontro pessoas e lugares que fazem a gente se animar.
Encontrar a Maria um caso desse tipo, uma pessoa e um lugar que faz a gente se
animar. Porque a pessoa de alguma maneira o lugar. Recentemente uma outra pessoa
aqui da UFRJ que era muito minha amiga, uma professora com quem eu tinha uma
relao, que faleceu - a Berta Becker que era uma pessoa e um lugar em que era muito
bom estar. Ento essas pessoas poderem ser referencia para quem vem depois, isso eu
acho muito bacana. Mas eu no vim aqui s para isso no. Eu fiquei pensando o que eu
vou fazer, que diabos eu vou falar e ento eu farei uma fala que vai comear talvez para
alguns de uma forma meio enigmtica. Vou pegar uma frase de um autor que est
virando meu autor de cabeceira provavelmente por causa do mundo em que a gente est
vivendo. Eu estou sendo conduzido cada vez mais a ler esse cara, a gostar e a comear a
achar que um cara otimista, esse cara o Kafka. A citao, o pr-fragmento do Kafka
esse "a elas (depois vocs vo ver quem so elas) foi dada a escolha de se tornarem
reis ou mensageiros de reis, como acontece com as crianas, elas so crianas, todas
queriam ser mensageiras e por isso que h apenas mensageiras correndo pelo mundo
e como no h reis, trocam mensagens que se tornaram sem significado" Essa
citaozinha tem a ver com aquilo que falei antes, esse travo amargo na situao
universitria - ser que a gente est aqui para virar mensageiro de mensagens sem
significado, s que a gente tenta transmitir com cada vez mais velocidade, correndo o
risco de transmitir sempre a mesma que continua sem significado, e na melhor das
hipteses a gente troca por uma outra que continua sem significado. Eu vou tentar um
comentrio que deliberadamente polemico, eu acho que ate agora eu no fui polemico,
agora eu vou ser, academia no cincia. Eu acho que muita gente pode escutar isso e
ter vontade de fazer uma forte oposio. Porque que esse cara ta vindo com esse tipo de
papo. Eu queria para essas pessoas logo acrescentar, no ser no no ter. Ou seja, a
academia tem sim cincia, em muitos casos pode ter cincia aos potes, pode ter muita
cincia, em outros casos pode ter uma pitada de cincia, mas se ela fosse somente e to
somente cincia, ela teria um preo muito alto a pagar e eu acho que esse preo deixar
de ser academia, ela vira outra coisa. Ento l de onde eu atuo que a COPPE, das
engenharias, eu acho que tem a ver com medicina, com as chamadas cincias da sade,
eu acho que tem a ver com "n" regies de atuaes acadmicas e tem a ver com um
elenco de implicaes que se deve ao seguinte: essas regies, elas esto em interface
com o mundo e no mundo tem instituies diversas, inclusive instituies associadas
economia, ao mercado, poltica, aos partidos e etc. As implicaes podem estar
associadas em muito poucas palavras com o uso da academia com interesses esprios.
Eu acho que isso que acontece muitas vezes quando as exigncias da cientificidade,
exigncias essas que no so poucas, comeam a ser apenas um uso retrico, uma
apropriao retrica, e o que acontece quando isso ocorre que h uma confuso entre
formalismo e rigor, as coisas formais passam a ser identificadas como se rigorosas
fossem e tem muita coisa na vida que rigorosa e que no tem nada a ver como
formalismo e parte dessas coisas tem a ver com virtudes da cientificidade e nessa
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colocao a gente tem o eco de discusso l do sculo XIX, por exemplo, com uma
dicotomia que hoje ficou um tanto quanto anacrnica como a dicotomia socialismo
utpico,socialismo cientifico e transformando o utpico quase que numa etiqueta
depreciativa enquanto que o cientifico que era a coisa sria. Hoje eu acho que a gente
comea a ter desdobramento disso no to rpidos, desdobramentos mais amenos mas
que continuam sendo no meu modo de entender problemticos, como algo assim - sem
cincia no srio, sem cincia no rigoroso, sem cincia no objetivo e o mais
grave,sem cincia no verdadeiro. E eu acho que a gente encontra volta e meia na vida
vivida da gente um monte de coisas que so srias,rigorosas,objetivas e verdadeiras e
que no so por isso cincia. nem que precisam de ser transformadas em cincia para se
tornarem rigorosas,objetivas ou verdadeiras. Digamos assim, podem ser coisas que tem
e eu repito uma pitada de cincia ou podem ser coisas que tm grandes doses de cincia
- grande dose de cincia: engenharia, medicina; pitada de cincia: dana, por exemplo.
Quando eu comecei a falar aqui em uso retrico eu acho que a gente est sendo
convidado a colocar a linguagem no centro da medio. Eu estou entendendo aqui toda
cincia como algo que tem a ver com a linguagem, com um modo de linguagem e toda
a cincia comunicacional e comunicativa. um discurso que tambm interferncia
relacional e comunicativa. Discurso no apenas estritamente verbal- as linguagens no
so apenas e estritamente verbais, os gestos tambm so intencionais, da a minha
referencia antecedente a dana, no foi por acaso. O aprendizado se d no emaranhado
de interferncia verbais e no verbais e o aprendizado algo muito, muito importante se
ns quisermos falar de academia. Eu diria que a academia muito mais um lugar de
aprendizado que um lugar de ensino ainda que o ensino possa ter um lugar aqui
tambm. E diante dessa questo eu gostaria de propor uma maneira de entendimento
que seria o seguinte: qual a questo mais importante do aprendizado - a abertura pra
o mundo, a abertura para relaes com o mundo, ir alem daquilo que eu chamaria de
encapsulamento, esse encapsulamento por vezes pode degenerar e vira uma espcie de
narcisismo autista, estril, quanto maior for a pretenso de que a linguagem que eu falo
perene. Remete para a nossa questo anterior do formalismo e os rigores das relaes
saem pelo ralo. No caso especifico da academia, o que acaba por acontecer talvez seja
uma consequncia trgica que ns j fomos inclusive advertidos por um livro de
publicao mais ou menos recente de uma figura que era editor da Abott University
Press, o nome do autor Lindsay Waters e ele escreveu um livro chamado o eclipse da
erudio. No nosso caso eu diria que a gente precisaria ter percursos de formao dentro
da academia que ampliassem e diversificassem essa abertura para o mundo, percursos
de formao atravs dos quais fosse possvel pela linguagem apontar para algo alem da
linguagem, algo que ultrapasse a linguagem e reconhecer que nem tudo pode estar
dentro da linguagem. Eu creio firmemente que essa a condio de possibilidade que
qualquer relao fecunda possa se estabelecer. Eu diria ento para concluir a minha
colocao que ser relativamente breve, revisitando a minha proposio inicial algo que
eu espero encontre acolhida no ouvido de vocs - academia no cincia, mas tem
cincia, mas academia servio. Aqui a gente deveria colocar uma qualificao de que
tipo de servio. H vrios tipos de servio por exemplo: McDonald um servio, a rede
de hoteis Ibis uma rede de servios, mas ser que o servio que estamos falando no
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caso da academia deveria ser entendido de maneira anloga ao servio que essas
entidades prestam? A minha resposta claramente no. Ou seja, os servios que a
academia oferece, presta, que fazem parte da nossa atividade, dessas pessoas, das
pessoas que no tem coisa melhor para fazer na vida do que ficar aqui, so servios de
um determinado tipo, com uma determinada qualificao e eu qualificaria estes servios
com um adjetivo - relacionais. Servios que ocorrem dentro da academia so servios
relacionais, eles esto articulados com a vigncia de um determinado modo de relao e
aqui eu vou fechar com uma referencia a um autor que grudou em mim e eu grudei nele
que o Martin Buber, que nos fala que a condio humana conhece dois tipos
fundamentais de relao, as relaes do tipo eu-tu e as relaes do tipo eu-isso. As
relaes do tipo Eu-Tu so sempre relaes inter pessoais, dialogais, face a face, diretas,
com uma outra pessoa, outra pessoa que no cabe nos rtulos nas pr definies de que
eu me munia antes de entrar em relao com ela, com isso, com uma relao que no
atende a nenhum requisito que eu pretenda ter de iniquidade, por que ela uma
interferncia, porque ela fere ao outro. Por isso muito mais importante entender a
academia como um lugar de aprendizado e no como um lugar de apenas ensino, se
fosse apenas ensino era possvel considerar que isso pudesse ser transmitido por
dispositivos relacionais do tipo eu-isso em linguagem buberiana. Uma outra questo que
eu acho uma questo fundamental que um servio relacional nunca annimo em
nenhum caso. Me parece que somente se ns conseguirmos fazer da academia
domicilio de exerccios relacionais de aprendizagem que ns que aqui estamos ativos
deixaremos de nos comportar apenas como mensageiros de mensagens que se tornaram
sem significado. Era essa a colocao que eu tinha para fazer.
19
GESTO
20
valer tambm nas relaes com os funcionrios e entre os membros da direo. Sem
perder o referencial de que as instituies pblicas visam atender ao pblico (e no
principalmente a seus funcionrios), no podemos esquecer de que as pessoas no so
feitas em srie e que tm seus melhores e piores perodos na vida, inclusive laborativa.
Nenhum ambiente de perseguio h de fazer alcanar aquilo que no foi conseguido de
modo mais humano.
Quer isso dizer que devemos ser lenientes para com o descaso e a incompetncia de
alguns poucos? Absolutamente, no! Para que as coisas avancem, e que o desempenho
geral melhore, basta que sejam atacados os casos extremos. Essa abordagem exige,
entretanto (das direes e chefias), uma presena permanente junto aos servios e um
bom conhecimento de cada situao especfica. Identificada a fragilidade, e somente
depois de um esforo continuado para fazer com que melhorem a dedicao e o
desempenho de algum, a sim, pode-se considerar um afastamento. Considerando a
nossa destinao social e o interesse em ajudar pessoas a avanar, entretanto, esse
afastamento deveria ser sentido SEMPRE como um fracasso: inevitvel, mas um
fracasso.
Estabelecido esse ambiente - no qual h o interesse em aproveitar aquilo que cada um
tem de melhor - verifica-se a tendncia de quase todos a se associar ao esforo de
realizar um trabalho que transcenda a vida e os interesses mesquinhos de cada um.
Logo, todos repararo um efeito benfico sobre suas prprias vidas. Uma coisa
absolutamente certa: sempre que criado um ambiente de punies pouco criteriosas,
todos (ou quase) os funcionrios como que se fecham entre eles mesmos, passando a
boicotar as direes, de maneira mais ou menos sutil. Certamente se perguntam: "Onde
h de parar a arbitrariedade? Logo posso ser eu o perseguido!". Nesse momento,
podemos garantir: aquela direo fracassou de forma plena e sem retorno. E o que mais
temos visto? Diretores que caem como que de paraquedas; com um modelo qualquer
na mo e agindo como se tudo tivesse que ser feito sua prpria imagem e
semelhana. Com frequncia esquecem-se de que ningum dono de um rgo
pblico. Muitos desconhecem que tudo tem uma histria que precisa ser conhecida e
respeitada. H que, como disse D. Ivone Lara: chegar "piquinininho" e "pisar naquele
cho devagarinho"! Digo mais: at nas empresas privadas no se pode meramente impor
regras desconhecendo as pessoas e a histria da instituio. Gosto de fazer blague com a
muito tola sentena: "Manda quem no sabe ouvir, discutir, convencer e ser
convencido! Obedece (cegamente) quem tolo e ainda no descobriu a fora da luta
coletiva!".
Nos muitos meses em que estive frente da nossa direo, no dei uma ordem sequer na
base do faa isso! Quantas tolices e devaneios pouco responsveis de diretores foram
evitados somente por que algum funcionrio mais previdente resolveu deixar de cumprir
uma ordem da qual, dias depois, o prprio diretor sequer se lembrava mais? De minha
parte, alis, quando no recebo alguma contestao por parte dos funcionrios, em um
processo de implantao de algum projeto, j sei que nada vai acontecer. Quando
algum critica alguma coisa, comeou a dela tomar posse. Somente submetido a uma
21
humanos em geral, por eventuais fracassos, uma maneira das chefias tirarem de suas
costas uma responsabilidade intransfervel. Tentar substituir a necessidade absoluta da
sua presena ativa---e do conhecimento sobre as condies de cada servio---por
pontos eletrnicos (cuja finalidade parece ser mais humilhar do que controlar) o
ltimo captulo de uma sucesso de erros. Tudo o que se deve buscar a criao de um
ambiente de confiana mtua entre direes e dirigidos. O ponto eletrnico a
configurao plena de uma desconfiana generalizada.
H em todos os ambientes pblicos uma espcie de coro julgando os atos das direes,
ainda que falando baixo ou at em silncio. Para muitos dos que foram afastados, esse
afastamento (ou transferncia) pode se tornar um bem, pois sua conduta comunica um
mal estar: com o local, funo ou ambiente. No absolutamente necessria uma
atmosfera de perseguio para que essas situaes se resolvam. O preo que pagamos
com intervenes atabalhoadas (por capricho ou vaidade) muito maior do que um
possvel ganho delas advindo. Alguns daqueles afastados, alis, havero de trabalhar
muito melhor em outros lugares. J o testemunhei. Por isso, tenho para mim uma
mxima: nunca julgo uma pessoa, apenas o seu trabalho e o do momento ou perodo.
Essa , alis, uma mxima que deveramos aplicar sempre, inclusive para estudantes,
filhos, amigos, etc. Assim, evitaramos os "rtulos ou tatuagens" que terminam por
destruir algumas pessoas. Para aqueles que consideram o ser humano um egosta
insanvel, voltado somente ao seu interesse imediato e movido apenas por prmios (em
dinheiro) e punies---como costuma acontecer nos julgamentos que empresrios fazem
de seus funcionrios---as ideias aqui expostas so absolutamente incompreensveis. Eles
vo sempre concluir pela necessidade de um sistema de trabalho sem preocupaes
sociais e um tanto desumanizado: baseado em prmios em dinheiro e punies.
Preocupam-se mais com os nmeros do que com as pessoas. No os invejemos! So uns
pobres de esprito.
3. Aceitar que as coisas no se do nos prazos que gostaramos! Avanar um pouco
a cada dia!
Mas nada disso conseguido de uma hora para outra ou atravs de choques de ordem
que so, por definio, algo de fora para dentro e sem futuro em um rgo pblico.
Nessas situaes, as rebeldias so at saudveis e bem vindas. J tive a experincia (em
um Hospital Penitencirio do DESIPE) de atuar sob um diretor sem qualquer
sensibilidade e capacidade de ouvir. Na sua posse disse: "Sinto-me tomando o comando
de um destrier em pleno mar revolto". Demorou cerca de um ano para afundar, de
maneira at um tanto ridcula, mas o hospital continua l! O que tinha comeado como
drama, acabou numa triste comdia. Somente a atividade continuada e longa de uma
direo, em torno de alguns princpios, vai tambm fazendo entranhar em todos (em
verdade, despertar, uma vez que eles existem em todos, ou quase) alguns valores e,
principalmente, ajudando a dar uma dimenso maior ao trabalho de cada um e sua
enorme funo social.
Outro fator que corrompe, embora de maneira sutil, os valores nos rgos pblicos o
seu uso pelas direes para oferecer privilgios a familiares, amigos, conhecidos,
23
evolui a cincia? Por "Ensaio e Erro"! Qualquer (muito improvvel) "ensaio e acerto"
permanente implicaria andar em crculos. Exercitei, na minha vida (e no somente na
profissional) uma enorme tolerncia resistncia s mudanas que percebia minha
volta. Aprendi com ela! Essa resistncia seleciona e d consistncia s boas e
amadurecidas mudanas.
Quem sabe no seria essa a lio de moral contida na fbula da lebre e da tartaruga?
Se nossos avanos individuais podem ser muito rpidos e at "dar grandes saltos" ---a
partir da liberdade de esprito e da imaginao---seu efeito sobre as comunidades
sempre lento e resultante de inmeros choques com infinitos pequenos poderes e novas
ideias. Quem forar essa resistncia (natural e boa, repito) para alm de um certo limite
h de ter um perfil de torturador travestido em falsas virtudes. Haver de estragar um
ambiente, muitas sades e, por fim, a sua prpria. Ser lembrado sem nenhuma saudade
ou carinho por quem com ele (a) conviveu. Costumamos repetir, sem crtica, ditos como
"Tempo dinheiro!". E eu pergunto: para quem? Para o dono da indstria, o patro ou o
taxista! S quem no conhece os verdadeiros prazeres da vida pode levar a srio aquele
dito. Tudo isso sem contar que a origem do "stress" sempre a sensao subjetiva de
que "no vai dar tempo". Sempre teremos tempo, para viver e para morrer. De minha
parte, preciso apenas da sensao de avanar um pouquinho todo dia. Afinal, h uma
eternidade pela frente! Uma coisa, porm, no consigo aceitar bem: a perda de valores
j adquiridos e de benefcios comprovados; ver as coisas "andando pr trs", ainda que
aparentemente. Nesses casos, tento me consolar, lembrando-me do dito: "Para poder
saltar um crrego, h que recuar um pouco". Por vezes, entretanto, o que est ocorrendo
apenas uma derrota mesmo. J me aconteceu! Nesses casos, e depois de muitas
tentativas frustradas, digo como o poeta: "...Vou pegar minha viola,/Vou deixar voc
de lado/E vou cantar noutro lugar...". (Geraldo Vandr, msica "Disparada").
Antes de terminar, vai uma crnica aplicada somente s Universidades. Ouvi, certa vez,
discurso de alguns professores que, mesmo tendo se iniciado por uma verdade,
desembocou no maior cinismo: "A universidade existe para colocar os professores em
contato com os alunos. Essa sua atividade fim. Os funcionrios esto l apenas para
que isso acontea da maneira mais prtica, efetiva e confortvel. Na universidade
ideal, no existiriam funcionrios". A UFRJ passava por uma grave crise de valores! De
minha parte, digo: dou graas por precisarmos desse arejamento e dessa ligao com a
vida e com a terra que essas pessoas trazem ao ambiente universitrio! Elas so o
elemento crtico, vindo da gente mais simples do povo; elemento esse que precisa estar
entranhado em nossa atividade. Sem essas pessoas, estaramos, maneira de Plato,
inventando Repblicas fora do mundo; falando de "Academias" e perdidos para a vida
social. A outra possibilidade seria que ficssemos como nos monastrios medievais,
completamente desligados da vida. Logo estaramos dizendo que, na sociedade ideal,
no existiria povo. Vi, por diversas vezes, professores que sequer olhavam para os
funcionrios que entravam para montar um projetor, por exemplo. Eram tratados como
se fossem apenas aparelhos como os que eles mesmos vinham montar. Pensam que uma
atitude dessas fica circunscrita? No! Ela termina por contaminar todos os recantos das
almas apodrecidas, estragando todas as suas relaes, at mesmo as familiares. H, sim,
25
26
Diretora do IPUB de 2010 a 2014 sendo reeleita para gesto de 2015 a 2019
Isto no uma situao de exceo. Cf artigo de SOUZA, C.P.S. e cols Como os dirigentes
desenvolvem competncias gerenciais no contexto de uma organizao hospitalar. SEGet Simpsio
de excelncia em Gesto e Tecnologia. Disponvel em:
<http://www.aedb.br/seget/artigos08/344_art_aprendizagem.pdf.> Acesso em: 29 nov 2011.
6
CAVALCANTI, M.T. O tear das cinzas: sobre as relaes entre a psicose e a instituio
psiquitrica. Dissertao (mestrado em psiquiatria), Instituto de Psiquiatria da UFRJ, 1992 e
CAVALCANTI, MT A trama no tear: sobre o tratar em psiquiatria. Tese (Doutorado em Psiquiatria),
Instituto de Psiquiatria da UFRJ, 1997.
5
27
Em seu livro Gaulejac (2007) cita o exemplo do fechamento de duas fbricas da empresa Danone em
Calais e Ris-Orangis no ano de 2001 com a eliminao de 2.500 empregos na Europa. Ao mesmo tempo
28
em que os empregados so felicitados pela qualidade de seu trabalho e recebem uma participao recorde
nos benefcios, so avisados do fechamento das fabricas e da demisso. (p. 167)
29
31
32
Martin Buber viveu entre 1878 e 1965, tendo nascido em Viena e falecido em
Israel. Sua principal descoberta reside no fato de que o ser humano um ser dialgico
ser homem ser o ente que est face a face. (Buber, 2001)
Portanto, fazer a "gesto de pessoas" de um hospital pblico por um lado se dar conta
da fragilidade dessas "pessoas", a comear por ns mesmos, e por outro ter a
responsabilidade de que povoado por seres fracos, ambguos, contraditrios, vacilantes,
humanos enfim, este hospital tem que cumprir a sua misso de cuidar de tantos outros
seres igualmente ambguos, fracos, vacilantes, contraditrios, humanos.
Isso na verdade uma arte. A arte de conciliar o Eu-Tu com o Eu-Isso. A arte de
acolher as dificuldades de cada um ao mesmo tempo em que se faz brotar as
potencialidades de cada um. A aposta de que todos tm algo para dar, basta sabermos
como semear e onde e quando colher. Ao mesmo tempo a responsabilidade pelo Outro,
como coloca Levinas, a responsabilidade pelo feito que no meu, mas que mesmo
assim, e at mesmo por isso, me importa, me diz respeito. "Temos um compromisso
com o bem-estar dos demais. Nunca estamos ss e sim cara a cara com outras pessoas
que nos pedem que reconheamos nossas responsabilidades para com elas" (Ibid.p.36).
34
uma tarefa delicada e enorme, mas que deve comear por ns mesmos,
acolhendo em ns nossas fragilidades e potencialidades. Afinal de contas, somos nosso
primeiro Outro.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
AZEVEDO C.S. Sob o domnio da urgncia: o trabalhos dos diretores de hospitais
pblicos do Rio de Janeiro. Tese (Doutorado em Psicologia), Instituto de Psicologia,
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Ed.Garamond, 2001
BUBER, M. Eu e Tu. So Paulo: Centauro Editora, 2001
CALDAS, B.N. O papel do dirigente hospitalar: a percepo de diretores de
Hospitais Universitrios vinculados s Instituies Federais de Ensino Superior.
Dissertao (Mestrado em Administrao de Empresas), Escola de Administrao de
Empresas de So Paulo da FGV, 2008.
CAVALCANTI M.T. O tear das cinzas: sobre as relaes entre a psicose e a
instituio psiquitrica. Dissertao (Mestrado em Psiquiatria), Instituto de Psiquiatria
da UFRJ, 1992.
CAVALCANTI, M.T. A trama no tear: sobre o tratar em psiquiatria. Tese
(Doutorado em Psiquiatria), Instituto de Psiquiatria da UFRJ, 1997.
GAULEJAC, V. Gesto como doena social. Aparecida, So Paulo: Editora Idias e
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HUTCHENS, B.C. Compreender Lvinas. Petropolis, RJ: editora Vozes, 2007
POIRI, F. Emmanuel Lvinas: ensaio e entrevistas. So Paulo: Editora Perspectiva,
2007
PROJETO DE LEI 1749/2011 Cria a Empresa Brasileira de Servios Hospitalares
(EBSERH). Disponvel em:
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=511029.
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SOUZA, C.P.S. et al. Como os dirigentes desenvolvem competncias gerenciais no
contexto de uma organizao hospitalar. In: SEGeT Simpsio de Excelncia em
Gesto e Tecnologia ....... Anais eletrnicos...
Disponvel em: <http://www.aedb.br/seget/artigos08/344_art_aprendizagem.pdf>.
Acesso em: 29 nov. 2011.
35
ENSINO
36
37
Sabemos do poder das palavras tanto atravs da fala em um processo associativo em que
o sujeito diz mais ou menos do que quer dizer e se espanta ao se escutar em sua fala,
quanto na interveno de quem atende, produzindo efeitos diversos e muitas vezes
inesperados. Ento, uma primeira indicao da psicanlise justamente trabalhar mais
no a posteriori, no s depois das intervenes, colher seus efeitos que nos mostram o
caminho a seguir, mais do que predizer condutas ou interpretar tudo o que se diz numa
espcie de hermenutica sem fim. E aqui temos uma segunda indicao que nos aponta
outro modo de relao com o saber. O saber referencial da teoria (saber exposto) deve
ser colocado em suspenso para dar lugar a um saber que advm das produes de fala
do sujeito (saber suposto) e que no sabido a priori por nenhum dos participantes do
tratamento, nem o profissional nem o paciente. Este ponto de grande importncia, uma
vez que estamos acostumados a ocupar um lugar de saber, e com isso, nos colocamos
na posio de quem sabe mais e melhor sobre o paciente e o que ele deve fazer para
melhorar.
A inverso proposta pela psicanlise hoje nos leva a arriscar no saber e a apostar no
saber como advindo do trabalho pela palavra. Assim, como aprendizes da clnica
seguimos o estilo do sujeito em seu modo de estar no mundo. Desse modo, arriscamos
obter pistas para intervir onde se apresenta um excesso, um transbordamento de gozo
que marca os impasses do tratamento, e permitir que o sujeito construa novas
possibilidades de estar no mundo, de interpretar, atribuir sentido e retificar sua posio
para seguir adiante. Propomos um destino em aberto onde se lia um destino selado, sem
sada. O saber referencial tem seu lugar para nos dar uma direo, mas no para se
sobrepor ao saber suposto ao sujeito.
Outra indicao importante da psicanlise refere-se ao trabalho coletivo em equipe nas
instituies. Um paciente e seus familiares podem ser atendidos por diferentes
profissionais com propsitos especficos e mesmo distintos. Mas o trabalho partilhado
visando uma mesma direo com aes diferenciadas fundamental para no cairmos
na armadilha de cada um por si aplicar seu saber ao caso e o resultado ser uma
confuso de lnguas, uma verdadeira torre de babel. A posio de aprendiz se alia ao
que chamaremos de transferncia de trabalho, que primeira vista pode ser entendida
pelo leigo como transferir o trabalho para o colega. Nada mais distante disso. A ideia
justamente partilhar o trabalho para seguir numa mesma direo a partir do que se
apresenta do sujeito. O sentido da palavra transferncia aqui diferente da
transferncia que acontece no tratamento, na relao com o paciente. Esta mais
vertical e um movimento do paciente em direo a um ideal de cura endereado ao
profissional, seja o mdico, psiclogo, assistente social ou qualquer outro. A
transferncia de trabalho mais horizontal e se refere ao trabalho entre pares, um a um.
Pois sabemos que numa instituio no se trabalha sozinho, as aes se desdobram entre
diferentes profissionais, que devem pelo menos conversar entre si, se escutar
38
mutuamente, pensar a partir das indicaes dadas pelo sujeito, que so descontnuas,
imprecisas e no ordenadas. O sujeito no uma evidncia, mas se evidencia pela
palavra, aos poucos, num tempo diferente do cronolgico. Pescamos em guas turvas.
Por fim, para que possamos sedimentar um saber produzido a partir da nossa estratgia
de aprendizes, na parceria de trabalho numa transferncia horizontal, recorremos
construo do caso. Aqui o saber referencial tem seu lugar, mas no para ser
confirmado e sim provocado pelo que se recolhe do saber produzido. A construo do
caso se d em uma operao de reduo da histria, e das produes do
paciente/usurio. A operao de reduo deve destacar das diferentes narrativas dos
profissionais em sua interao com o paciente os fragmentos que so dados por
elementos constantes, que se repetem, que reincidem, constituindo o que singular no
caso. Lembramos que as narrativas dos profissionais so heterogneas, pois variam de
acordo com a intensidade ou frequncia com que lidam com o paciente e/ou seus
familiares, mas devem seguir a trilha ou pista que dada por ele.
fundamental na construo do caso deixar de fora as impresses, julgamentos,
palpites, inferncias usuais sobre a pessoa do paciente, que tambm devem passar por
uma reduo para enxugar os excessos de significado que normalmente se atribuem s
interaes e relaes no cotidiano da convivncia. preciso sair do lugar-comum a cada
vez, em cada construo, considerando que o saber cientfico tambm deve ser posto
entre parnteses para destacar os elementos fornecidos pelo sujeito. O saber do caso
uma construo, portanto no prvio, mas vai se valer de referenciais conceituais
prvios em dado momento. O caso provoca a teoria e no ao contrrio.
Como j dissemos, o sujeito no uma evidncia, portanto, fazer aparecer o sujeito
ousar ir alm das aparncias, dos sintomas psicopatolgicos corriqueiros ou
estereotipados, das demandas imediatas de cura, amor ou qualquer outra manifestao
repetitiva ou automtica, comum nas psicoses, mas tambm presente nas neuroses.
PARA CONCLUIR
A funo social de um trabalho orientado pela psicanlise em instituio deve se
expressar em pontos como: 1. Ajudar a respeitar a articulao entre as normas e as
particularidades de cada um, abrindo espao para a inveno; 2. Transmitir equipe a
particularidade que est em jogo e torn-la um instrumento til para o tratamento e para
propiciar abertura a novos laos sociais; 3. Demonstrar a psicanlise na experincia,
dando provas de sua clnica no espao pblico preservando a privacidade do paciente.
Sobre o trabalho em equipe, nos resta saber formular a boa pergunta que nos oriente
numa direo comum. Isto , a pergunta da equipe deve se deslocar de: o que podemos
ou devemos fazer por ele? Para: o que ele pode fazer atravs de nossa oferta para sair
de sua condio como algo imutvel e seguir adiante em um novo movimento na via de
uma inveno singular?
39
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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ZENONI, A. Psicanlise e Instituio a segunda clnica de Lacan. Abrecampos
Revista de Sade Mental do Instituto Raul Soares, Minas Gerais, ano I, n. 0, 2000.
40
Introduo
A formao de profissionais das demais categorias da sade, em programas de
residncia, tem inspirao no modelo das residncias mdicas, cujo objetivo a
capacitao em servio aps a formao acadmica, visando qualificao do
profissional por meio da insero nos cenrios do Sistema nico de Sade.
A Residncia Multiprofissional em Sade Mental do Instituto de Psiquiatria da
UFRJ teve incio no ano de 2010, como resultante de incentivos advindos da parceria
entre Ministrios da Sade e Educao, formalizados na Lei 11.129 de 30 de junho de
2005. (AZEVEDO, 2013)
14
16
41
(2010), se mostraram fundamentais para o entendimento dos processos de ensinoaprendizagem, enquanto causas e, ao mesmo tempo, consequncias das aes e
intervenes no mundo. Eles oferecem as bases para o desenho do Programa que ora
apresentamos e fortalecem, sem dvida, a articulao entre formao e prtica,
interligadas de modo decisivo nas aes concretas e cotidianas, em unidades de sade e
no cuidado de sujeitos reais.
O Programa se alinha, portanto, s reflexes desses autores sobre a necessidade
de transformaes na formao, visa a incluso de nova relao entre profissionalusurio, orientada pelo cuidado integral e humanizado, no qual o profissional esteja apto
a trabalhar em equipe e atento ao contexto que envolve o adoecimento dos sujeitos.
Assim, trabalha-se na perspectiva de que os egressos do Programa sejam capazes de
responder a novas necessidades sociais e de fazer valer a orientao das atuais
polticas de formao para a rea da sade 20.
Vale destacar que h uma aposta em uma conduo investigativa congruente
com uma concepo de aprendizagem vivida como experincia, acometida por sujeitos
atuantes no mundo da vida e dos servios de sade, e imersos nas relaes de trabalho
(Larrosa, 2002). Pressupe-se que, mais do que lugar de aplicao prtica de
conhecimentos tericos, a vida do trabalho ensina, forma e constri conhecimentos
gerais e especficos no campo da Sade e da Sade Mental, promovendo a
aquisio de competncias cognitivas, afetivas e relacionais fundamentais para a
prtica profissional (IPUB, 2010).
O Programa entende e concebe, enfim, a formao com base no mundo do
trabalho, ali onde se comparece em ato e onde ocorrem as aes de sade, nos
chamados cenrios de prtica. As aes de formao acontecem no contexto da rede
pblica de servios, estando intimamente relacionadas com as problemticas
vivenciadas no exerccio do trabalho cotidiano, nesta rdua tentativa de formar sujeitos
de forma ampla e integral. O exerccio do trabalho constitui, em si, um processo de
interveno na realidade institucional e educativa em que os atores esto inseridos.
Neste exerccio, neste fazer, altera-se o mundo, reflexes sobre esse fazer so
produzidas promovendo a criao de novos mundos e de formas inovadoras de
cuidar em sade.
O Programa
O Programa de Residncia Multiprofissional em Sade Mental do Instituto de
Psiquiatria (IPUB) est vinculado ao Centro de Cincias da Sade da UFRJ e foi criado
em 2010, tendo sido regulamentado por meio do Ofcio 10.209/2009 do CGHUDHR/SESu/MEC de 06 de outubro de 2009 (IPUB, 2013).
Constitui-se em uma modalidade de ensino de ps-graduao com durao de
dois anos e se destina a psiclogos, enfermeiros, assistentes sociais e terapeutas
ocupacionais sob a forma de curso de especializao. Este curso se caracteriza por
treinamento em servio, em regime de dedicao exclusiva, com carga horria de 60
20
Cf. Feuerwerker (2002); Brasil (2003 e 2006); Ceccim e Merhy (2009); Merhy
(2010).
43
21
44
N vagas
N de formados
1 turma (2010-2012)
2 turma (2011-2013)
12
10
3 turma (2012-2014)
20
19
4 turma (2013-2015)
20
Em andamento
5 turma (2014-2016)
20
Em andamento
45
27
Segundo Franco e Franco (s/d), a linha do cuidado a imagem pensada para expressar os fluxos
assistenciais seguros e garantidos ao usurio [...] Para montar as linhas de cuidado necessrio o
envolvimento de todos que de alguma forma devem estar implicados com o cuidado em sade (p.1 e 3).
28
Segundo Azevedo (2013), A desinstitucionalizao como operador do cuidado visa sustentar uma
direo no sentido de acompanhar sujeitos em seus sofrimentos, apostando na possibilidade de construo
de novas sadas, de formas inovadoras de estar no mundo, em um processo de desinstitucionalizao dos
espaos, das formas de tratar, de entendimento sobre a loucura, a desinstitucionalizao de si
mesmo(p.105).
29
Consideramos esses conceitos conforme apresentados por Azevedo (2013): A construo de rede e
territrios um trabalho de criar novos e antigos lugares de pertencimento, de reconhecimento de si, do
outro e do mundo, promovendo espaos de cooperao mtua e de sade em seu sentido mais amplo.
(p.105)
46
O PPP prope uma organizao curricular que aborda a ntima articulao entre
teoria e prtica, sem subordinaes. Essa proposta traz para o debate alguns pontos
especficos, pois o mundo da prtica, que o mundo do trabalho, configura-se como
uma escola, uma vez que as questes e as vivncias produzem conhecimentos,
possibilitando a formao profissional.
Esse projeto prope uma inovadora organizao curricular que aborda uma
ntima articulao entre teoria/prtica, sem subordinaes. Utiliza uma
abordagem pedaggica construtivista e fundamentada na aprendizagem
significativa e de adulto. Focaliza metodologias ativas de aprendizagem tanto
na formao de residentes como na educao permanente de docentes.
(IPUB, 2010, p.7).
30
47
As palavras em destaque referem-se aos profissionais que efetuam o acompanhamento dos alunos
conforme indicado pelo PPP (IPUB, 2010).
48
32
Ao longo desses ltimos anos o IPUB vem aproximando cada vez mais seus
processos formativos das polticas de formao para o SUS por meio de uma
interlocuo importante entre os Ministrios da Sade e da Educao. A incluso de
uma Residncia Multiprofissional instaura uma nova possibilidade de compreender a
formao e o cuidado em sade. Coloca no cotidiano do trabalho, o importante desafio
de pensar a formao e a prtica profissional e interdisciplinar em sade mental, com
base nas definies e determinaes da Poltica Nacional de Sade Mental.
A presena de novos profissionais compartilhando o cuidado aos usurios tem
aberto novas aes e diferentes atividades teraputicas, ampliando as concepes de
sade e de doena, promovendo o aparecimento de questes variadas que transcendem
os procedimentos e condutas mdicas, trazendo importantes efeitos para o processo de
trabalho e para o tratamento dos pacientes.
So visveis as transformaes clnicas, institucionais e formativas em todos os
atores envolvidos nesse processo: coordenao, residentes, tutores, preceptores e
profissionais de sade dos diferentes cenrios de prticas. Os efeitos alcanados so
33
50
51
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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______. Caderno do residente-R1. Material informativo. Rio de Janeiro: UFRJ, 2013.
______. Caderno do residente-R2. Material informativo. Rio de Janeiro: UFRJ, 2013.
KASTRUP, V. A inveno de si e do mundo: uma introduo do tempo e do coletivo
no estudo da cognio. Campinas: Papirus, 1999.
_______ ; TEDESCO, S. & PASSOS, E. Polticas da cognio. Porto Alegre: Sulina,
2008.
53
54
55
Fontes:
www-scopuscom.ez24.periodicos.capes.gov.br
www.webofknowledge.com.ez24.periodi
cos.capes.gov.br
Fig. 1: Nmero de artigos publicados por docentes e discentes do IPUB/UFRJ nas principais
bases eletrnicas entre os anos de 2010 e 2014.
56
Fontes:
www-scopuscom.ez24.periodicos.capes.gov.br
www.webofknowledge.com.ez24.periodi
cos.capes.gov.br
Fig. 2: Nmero de citaes recebidas pelos artigos publicados por docentes e discentes do
IPUB/UFRJ nas principais bases eletrnicas entre os anos de 2010 e 2014.
59
37
Bibliotecria - Chefe da Biblioteca Prof. Joo Ferreira da Silva Filho; Coordenadora do Ncleo de
Memria Institucional do Instituto de Psiquiatria da UFRJ.
38
O Pavilho de Observaes Clnicas foi criado pelo Decreto n.1559, de 07/10/1893, com a finalidade
de avaliar gratuitamente os suspeitos de alienao enviados pelas autoridades policiais. Sua direo ficou
a cargo do professor catedrtico da clnica psiquitrica e de molstias nervosas da Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro e de seu assistente. As despesas, referentes ao funcionamento da unidade, eram
custeadas pelo HNA que, por sua vez, fazia parte da Assistncia Mdico-Legal de Alienados.
40
Segundo a Prof. Ana Virgnia Pinheiro, a anlise bibliolgica consiste no registro de todas as
informaes intelectuais e materiais do livro raro, caracterizando sua individualidade condio
essencial para identificar o exemplar possudo e garantir sua propriedade.
41
60
dirigiu ao Diretor deste estabelecimento em 1915, informando que foi gasta a quantia de
78$600 com a biblioteca do Instituto de Neuropatologia 42.
Aos poucos, uma coleo de obras, que hoje so consideradas raras ou preciosas devido
a sua importncia histrica, cultural e patrimonial, foi sendo formada. Os grandes
clssicos da rea como Pinel, Esquirol, Charcot, Janet, Binet, Adler, Ribot, Meynert,
Lobroso, Kraeplin, Kretschmer, Alzheimer dentre outros, fazem parte deste acervo. A
nvel de literatura nacional, encontramos livros de Teixeira Brando, Nina-Rodrigues,
Henrique Roxo, Antonio Austregsilo, Miguel Couto, Afrnio Peixoto, Torres Homem
etc. Um verdadeiro manancial de informaes cientficas, que contribuiu para a
construo do conhecimento mdico sobre as doenas mentais no Brasil. No decorrer
das dcadas, novas obras foram sendo adquiridas atravs de compra ou doaes,
mantendo a biblioteca atualizada e enriquecendo o seu acervo.
O conhecimento circulante atravs de livros e peridicos favoreceu a troca de
experincias cientficas. Os frutos da comunho entre a teoria e a prtica asilar passou a
ser registrado em artigos cientficos, livros, trabalhos apresentados em congressos e
teses de doutoramento, iniciando a construo de uma psiquiatria nacional, que tambm
passou a fazer parte desta coleo.
Com o desenvolvimento do acervo, foi necessrio organiz-lo de acordo com os
preceitos da moderna Biblioteconomia, garantindo assim sua sistematizao, controle e
facilidade no acesso as informaes constantes nos livros, peridicos e demais
documentos. De acordo com o primeiro livro de tombo da Biblioteca, este importante
trabalho foi iniciado em maio de 1949.
No se sabe o local exato onde o embrio da biblioteca" se desenvolveu,
provavelmente foi no prdio da Administrao do antigo Pavilho de Observaes.
Tambm existe a possibilidade do acervo adquirido ter sido distribudo entre as sees
desta Instituio, tendo em vista que um dos livros da Coleo possui carimbo do
laboratrio do Instituto de Neuropatologia. Posteriormente, em uma cpia da planta
do Auditrio Leme Lopes (sem data), aparece a biblioteca ocupando todo o espao ao
lado deste recinto. Possivelmente, esta alternativa foi pensada, mas no executada. At
hoje no foram encontrados registros de que um dia a Biblioteca tenha ocupado aquele
espao. fato comprovado que a biblioteca ocupou algumas salas do Pavilho
Rodrigues Caldas (atual prdio da Administrao do IPUB).
42
Ao longo de sua existncia ocorreram algumas mudanas na denominao do Pavilho. Em 1911 foi
renomeado Instituto de Neuropatologia, em 1927 passou a se chamar Instituto de Psicopatologia e
finalmente, em 1938 foi transferido para a Universidade do Brasil, formando o Instituto de Psiquiatria
desta.
61
Em relatrio referente ao ano de 1963, o prof. Leme Lopes, ento Diretor do IPUB,
evidencia o desenvolvimento da Biblioteca, atravs de dados referentes a multiplicao
do acervo, ao nmero de usurios inscritos e o trabalho interno elaborado pela
bibliotecria Marina Pereira. Com a ecloso do acervo bibliogrfico,
o espao
destinado ao armazenamento do acervo bibliogrfico tornou-se pequeno e inadequado.
Algumas adaptaes tiveram que ser executadas, embora no de forma satisfatria. Em
1993, os peridicos tiveram de ser alocados em sala separada, localizada no mesmo
andar do prdio. Esta medida fez com que a consulta a este tipo de material tivesse que
ser agendada, trazendo alguns transtornos.
Devido a esta problemtica, em 1997 o ento diretor do Instituto de Psiquiatria Prof.
Joo Ferreira da Silva Filho e a bibliotecria Maria Thereza Hora, idealizaram a
construo de um prdio prprio para abrigar convenientemente o acervo bibliogrfico
da Instituio, que seria localizado no ptio, mais precisamente no local onde havia uma
pequena construo onde funcionava o CIPE (Centro de Pesquisas Clnicas), que foi
realocado em outro espao, dentro do Instituto.
No dia 03 de setembro de 1999, o novo prdio foi inaugurado, como marco
comemorativo do 61 ano de criao do Instituto de Psiquiatria. Um espao amplo, de
dois pavimentos, com salas para estudo e vastos sales para acomodar o acervo. Em
2008, a biblioteca foi batizada com o nome de seu idealizador, Prof. Joo da Silva Filho,
que havia falecido precocemente naquele ano.
Biblioteca: local de estudo, pesquisa e da memria institucional do IPUB
No ano de sua inaugurao, o prdio da biblioteca, alm do acervo bibliogrfico, passou
a abrigar um conjunto de documentos clnicos, oriundos do Pavilho de Observaes
Clnicas do Hospcio Nacional de Alienados. Esta coleo era composta por: livros de
matrcula e livros de observaes clnicas do antigo Pavilho, pronturios do Centro de
62
63
foram apoiadas e os recursos foram aplicados visando alcanar este objetivo. Foram
realizadas os seguintes procedimentos:
encadernao dos livros de observaes clnicas, livros do acervo geral e
peridicos;
aquisio de estantes deslizantes para acondicionamento dos livros de
observaes clnicas e demais documentos clnicos, obras raras e especiais,
documentos iconogrficos etc;
higienizao dos documentos clnicos e das obras raras e especiais;
aquisio de materiais de qualidade arquivstica para a realizao de
pequenos reparos e acondicionamento de acordo com a tipologia dos
documentos;
capacitao profissional dos funcionrios atravs de cursos de
higienizao e pequenos reparos;
Organizao e disponibilizao da Coleo Memria da Psiquiatria
Brasileira.
67
ASSISTNCIA
43
68
Leitos SUS
Existentes
Enfermaria Masculina
50
50
Enfermaria Feminina
56
56
Sub-Total 1
106
106
Hospital Dia
90
90
Sub-Total 2
90
90
196
196
Leitos
URGNCIA / EMERGNCIA
Leitos SUS
Existentes
198
198
Enfermaria Feminina
Leitos para Intercorrncias Clnicas
Enfermaria Masculina
Sub-Total em Urgncia/Emergncia
TOTAL
69
71
N
de N
de
AIH`s*
Dirias**
1.510
29.435
954
9.595
72
Unidades
2010
2011
2012
2013
2014
IMPP
196
297
358
437
144
CPRJ
73
123
104
119
67
IPUB
171
16
54
45
CER Leblon
H. M. Jurandyr Manfredini
20
H. M. Loureno Jorge
H. M. Ronaldo Gazola
I. M. Nise da Silveira
12
11
Outras Unidades
20
64
52
465
506
550
654
277
Total
73
74
75
2010
10
11
16
42
12
273
303
317
376
151
164
169
165
227
102
13
10
10
465
506
550
654
277
76
77
79
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BRASIL. Ministrio da Sade. Portaria n 336, de 19 de fevereiro de 2002. Braslia,
2002. Faltam dados
BRASIL. Ministrio da Sade. Institui a Rede de Ateno Psicossocial para pessoas
com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes
do uso de crack, lcool e outras drogas, no mbito do Sistema nico de Sade (SUS).
Portaria n 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Braslia, 2011.
BRASIL. Ministrio da Sade. Relatrio Final da IV Conferncia Nacional de Sade
Mental. Braslia, 2013.
BRASIL. Ministrio da Sade. Manual de Estrutura Fsica dos Centros de Ateno
Psicossocial e Unidades de Acolhimento: orientaes para elaborao de projetos de
construo, reforma e ampliao de CAPS e de UA como lugares da ateno
psicossocial nos territrios. Braslia, 2013.
BRASIL. Ministrio da Sade. Sade mental no SUS: os Centros de Ateno
Psicossocial. Braslia, 2004.
GONCALVES, R.W.; VIEIRA, F.S.; DELGADO, P.G. Mental health policy in Brazil:
federal expenditure evolution between 2001 and 2009. Revista de Sade Pblica, So
Paulo, v.46, n. 1, p. 51-58, 2012.
MIELKE, F. B.ET AL. O cuidado em sade mental no CAPS no entendimento dos
profissionais. Cincia & Sade Coletiva, Porto Alegre, v. 14, n.1, p. 159-164, 2009.
REDE
de
Sade
de
Sade
mental
AP
2.1.
Disponvel
em:
80
46
- Enfermeiro. Mestre pela Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). Professor Assistente da FESO/Terespolis. Vice-coordenador da Residncia
Multiprofissional do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ).
47
Enfermeira.Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Chefe de Enfermagem do IPUB/UFRJ [email protected]
48
Enfermeira. Mestre pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro. Coordenadora de aes da enfermaria de internao feminina do Instituto de
Psiquiatria da UFRJ.
49
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Coordenadora de aes de enfermagem da enfermaria masculina do Instituto
de Psiquiatria da UFRJ. [email protected]
50
Enfermeira.Mestre pela Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). Essencialista em Terapia Intensiva, Nefrologia, Cardiointensivismo, Sade
Mental.Coordenadora do Comit de tica em Pesquisa IPUB-UFRJ, Ouvidora do IPUB_UFRJ.
[email protected]
51
Enfermeira. Especialista em Pediatria pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
Coordenadora da Enfermaria Feminina do Instituto de Psiquiatra da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (IPUB/UFRJ). [email protected]
52
Enfermeira. PhD em Enfermagem Gerontolgica. Ps-Doutora em Drogas. Membro da Diretoria
Colegiada do Ncleo de Pesquisas em Enfermagem Hospitalar (NUPENH) do Departamento de
Enfermagem Mdico-Cirrgica (DEMC) da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) [email protected]
53
Enfermeira do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro(IPUB/UFRJ).
54
Enfermeira do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro(IPUB/UFRJ).
Doutoranda em Sade Pblica pela ENSP/FIOCRUZ.
55
Enfermeira do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro(IPUB/UFRJ).
56
Enfermeira. Mestre em Neurologia pela Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), Professora Adjunto
Mestre na UNIGRANRIO, Enfermeira Assistencial no CAPSI CARIM/IPUB/UFRJ.
[email protected]
81
82
PROFISSIONAL
QUANT.
FORMAO
ANO/CONCLUSO
Enfermeiro
01
Mestrado
2011
Enfermeiro
04
Mestrado
2013
Enfermeiro
01
Mestrado
2014
Enfermeiro
02
Doutorado
Cursando
Tc.de Enfermagem
01
Mestrado
2014
Tc.de Enfermagem
06
Graduao
2010 - 2014
84
QUANT.
ENFERMEIROS
QUANT.
TC./AUX.
ENFERMAGEM
Internao
16
48
01
03
01
------
Ambulatrio Adulto
03
03
Ambulatrio Carim
02
03
01
-----
Residncia multiprofissional(Coordenao)
01
-----
Residncia Multiprofissional(Preceptoria)
05
---
Ouvidoria
01
01
Educao Continuada
01
Outros Servios
02
SERVIO
01
OUVIDORIA
A ouvidoria teve sua implantao no IPUB por uma enfermeira e uma tcnica
de enfermagem em agosto de 2012, tendo como objetivo criar um canal condutor das
opinies, sugestes, reclamaes e problemas da sociedade e da comunidade
acadmica da UFRJ, visando garantir os direitos dos cidados e concretizando dessa
forma o princpio da eficincia, da tica e da transparncia nas relaes com a
sociedade. Dentre as atribuies esto: a atuao no ps-atendimento; a mediao de
conflitos entre o cidado e a instituio, avaliando a procedncia das solicitaes,
encaminhado-as aos setores competentes para a devida a apreciao e resposta; e o
mapeamento e localizao de eventuais falhas nos procedimentos da instituio, entre
outros.
87
Continuada visa instrumentalizar seus tcnicos para que o cuidado possa ser a cada dia
reinventado, pois temos a rdua tarefa de lidar com a carga de sofrimento decorrente
dos sintomas da doena, uma dor do indivisvel...(LOYOLA, 2000).
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
LOYOLA, C. M; ROCHA, R. M. Apresentao. In: Compreenso e crtica para uma
clnica de enfermagem psiquitrica. Cadernos IPUB v. IV n. 19, Rio de Janeiro:
IPUB/UFRJ, 2000.
MONTEIRO, C.B.O enfermeiro nos novos dispositivos assistenciais em sade mental.
Rev.EEAN/UFRJ 2006; 10(4): 735 - 739
90
Nathlia Armony. Psicanalista, Psicloga (PUC/RJ), Mestre em psicologia Clnica (PUC/RJ), Doutora
em Sade da criana e da mulher (IFF/FIOCRUZ). Coordenadora do CAPSi CARIM/IPUB-UFRJ.
[email protected]
58
Nympha Amaral. Psicanalista, Doutora em Psicanlise (UERJ) e Coordenadora Tcnica do CAPSi
CARIM/IPUB-UFRJ. [email protected]
Joana Iabrudi Cariranha. Enfermeira do CAPSi CARIM/IPUB-UFRJ. [email protected]
Maria Cristina Ventura Couto. Psicanalista, Psicloga (UFRJ), Mestre em Psicologia Clnica
(PUC/RJ)Doutora em Sade Mental (UFRJ), Ex- supervisora do CAPSi CARIM/IPUB-UFRJ.
[email protected]
Aline Schubach. Psiquiatra do CAPSi CARIM/IPUB-UFRJ. [email protected]
Brbara Bello. Pedagoga (UERJ). Especialista em Psicomotricidade Clnica pelo Instituto Helena
Antipoff e em Transpsicomotricidade Educacional pela UERJ. Tcnica em Assuntos Educacionais no
CAPSi CARIM/IPUB-UFRJ. [email protected]
Clarice Bieler. Graduada em Psicologia pela UERJ. Especialista em Psicologia Clnica pela UERJ.
Mestre em Psicologia Social pela UERJ. Psicloga do CAPSi CARIM/IPUB-UFRJ.
[email protected]
Claudete Veiga de lima. Graduada em Servio Social(UERJ). Especialista em Sade do Trabalhador e
Ecologia Humana(ENSP/FIOCRUZ). Mestre em Administrao Pblica(EBAP/FGV). Assistente Social
do CAPSI CARIM/IPUB-UFRJ e docente da Universidade Estcio de S/Cursos de Servio Social e
de Administrao. [email protected]
Cristina Luce. Mdica psiquiatra (UFRJ e ABP) do CAPSi CARIM e Ex-Coordenadora do CAPSi
CARIM/IPUB-UFRJ. [email protected]
Etevilna Maria de Oliveira. Terapeuta Ocupacional do CAPSi CARIM/IPUB-UFRJ. [email protected]
Geisely
Cristina
dos
Santos.
Assistente
Social
no
CAPSi
CARIM/IPUB-UFRJ.
[email protected]
Isabela Silveira de Farias. Pedagoga. Especialista em Psicopedagogia (CEPERJ) e em Atencao
Psicossocial (IPUB). Tcnica em Assuntos Educacionais no CAPSi CARIM/IPUB-UFRJ.
[email protected]
Karla Amado. Enfermeira. Mestre em neurologia pela Universidade do Rio de janeiro (UNIRIO).
Professora Adjunto Mestre na UNIGRANRIO, Enfermeira Assistencial no CAPSI CARIM/IPUBUFRJ. [email protected]
Keli Valente. Psicloga (UFRJ). Mestre em Teoria Psicanaltica pelo Programa de Ps-graduao em
Teoria Psicanaltica (UFRJ). Psicloga no CAPSi CARIM/[email protected]
Leni Porto Siqueira. Pedagoga. Pos-Graduao em Educao Especial (UNIRIO), Psicopedagogia
(UNIPLI), Ateno Psicossocial na Infncia e Adolescncia (UFRJ). Mestre em Cincias da Educao
pela Universidade de Lusfona. Professora no municpio de Niteri, Tcnica em Assuntos Educacionais
no CAPSi CARIM/IPUB-UFRJ. [email protected]
Regina Xavier. Tcnica de enfermagem no CAPSi CARIM/IPUB-UFRJ. [email protected]
Roberta Bezerra Costa Enfermeira. Especialista em Sade Mental e Psiquiatria pela Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Enfermeira do Capsi Carim/IPUB/UFRJ. Roberta Bezerra Costa.
[email protected]
91
em uma dessas salas, a do canto, da esquina, que ainda hoje acontece aos sbados um trabalho caro
Reforma Psiquitrica no Rio de Janeiro, o Clube da Esquina, este destinado aos usurios adultos do IPUB
e do Hospital Philippe Pinel.
92
gestor municipal, inicialmente muito ampla, incluindo at os bairros da A.P. 3.1, muito
distantes do local de funcionamento do servio. Desde seu credenciamento em 2002
foram realizados sucessivos pactos com o gestor municipal relativos rea de
abrangncia, chegando-se definio atual. Hoje o CARIM responsvel por 5 bairros
da zona Sul: Urca, Botafogo, Humait, Copacabana e Leme. Atende tambm, sob
demanda, os bairros da AP2.2, da Grande Tijuca. 60
A construo permanente da rede se deu a partir dos casos, na constituio do
territrio psicossocial de cada usurio, e na articulao necessria ao encaminhamento
implicado de cada pessoa acolhida na porta de entrada. Com uma rea de abrangncia
demasiado ampla, essa construo, efetiva para os casos, ainda no se traduziu no que
pudssemos considerar um efeito satisfatrio de presentificao do CARIM no
cotidiano territorial dos bairros pelos quais tem responsabilidade. Aos poucos, o
CARIM foi se fazendo presente nos espaos de articulao intersetorial, como fruns e
reunies especficas, algumas propostas pelo servio. A paulatina reduo da rea de
abrangncia vem possibilitando uma maior apropriao do territrio, uma vez que os
casos sendo de uma mesma regio produzem um adensamento das relaes do CAPSi
com seu territrio. Contudo, verificamos que a construo do territrio vai alm do
trabalho intra e intersetorial realizado a partir dos casos clnicos em atendimento ou em
porta de entrada. Para tal, estamos nos unindo ao NUPPSAM em seu projeto, articulado
a uma pesquisa, que visa construir, efetivamente, a partir do conhecimento e
aproximao dos atores da regio, o territrio psicossocial do CARIM, nos 5 bairros da
zona sul que esto sob a sua responsabilidade.
A EXPERINCIA DO CAPSI CARIM
Atualmente o CARIM um Centro de Ateno Psicossocial Infanto-Juvenil
(CAPSi) que integra o Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (IPUB/UFRJ). Sendo um setor do IPUB est situado dentro de sua rea, mas
tem a sua porta principal voltada para o Campus da UFRJ, ou seja, tem uma entrada
independente. Essa orientao da entrada do CARIM para fora do IPUB est
diretamente ligada ao CARIM ser um Centro de Ateno Psicossocial (CAPS).
60
Inicialmente ramos responsveis pelas AP 2.1, 2.2 e 1.0, alm de fornecer cobertura para outros
locais em que ainda no houvesse CAPSis ou outros servios infanto-juvenis que pudessem assumir tal
cuidado. H cerca de 4 anos houve uma redefinio, em que coube ao CAPSi CARIM a responsabilidade
sobre as reas 2.1 e 2.2 e ao ento NIJ Servio infanto-juvenil do IMPP, agora CAPSi Maurcio de
Sousa sobre as reas 1.0 e 2.1. Tambm nessa poca foi-nos solicitado que dssemos suporte
emergencial para os casos graves da AP 3.1, uma vez que no havia nem CAPSi nem outro servio de
sade mental que fizesse face necessidade de cuidado dos casos dessa regio. Desde janeiro de 2012, a
partir da criao do CAPSi Maurcio de Souza, a responsabilidade sobre os casos da 2.1 foi demarcada
em territrios distintos para cada CAPSi, cabendo ao CAPSi CARIM desde ento os territrios Rebouas
e Arpoador da AP 2.1 e seguindo-se a responsabilidade pela demanda da AP2.2.A partir de julho de
2012, com a inaugurao do CAPSi Visconde de Sabugosa, em Ramos, deixamos de receber novos casos
da AP 3.1.
94
de ser indicado, a partir de nossa avaliao, outro servio de sade mental ou outro tipo
de atendimento, o CARIM se implica na busca e no dilogo com o outro dispositivo,
responsabilizando-se pela consecuo do encaminhamento at que este se complete.
A construo da rede de cuidados em conjunto com os demais servios e
equipamentos do territrio contnua e faz parte da prpria assistncia; a noo de
territrio sustenta tanto a incluso no prprio CAPSi quanto o encaminhamento para
outro servio, e compreendida como algo alm de espao geogrfico, englobando as
referncias pessoais, subjetivas e institucionais que marcam a experincia do sujeito; a
ao intersetorial no cuidado considera que a clnica se amplia no s com os outros
dispositivos de sade, mas por todas as instituies voltadas ateno integral da
criana/adolescente, particularmente com as redes de sade geral, educao, justia e
assistncia social. Todos estes princpios orientam o trabalho da porta de entrada e
balizam os desdobramentos do trabalho.
A Clnica da Ateno Psicossocial:
O Projeto teraputico do CAPSi CARIM caracteriza-se fundamentalmente por
conceber o espao e o tempo em que se desenvolvem suas atividades, ou seja, os vrios
turnos diurnos em que os pacientes permanecem na unidade, organizados por faixas
etrias, como um dispositivo clnico COLETIVO em extenso, ou seja, todo o tempo
em que os pacientes permanecem no CAPSi, e todos os espaos fsicos em que estejam,
so concebidos como clnicos, no havendo nada que fique de fora do carter clnico de
nosso trabalho, nem mesmo as intervenes que concernem a aspectos sociais da vida
dos pacientes. No h, assim, a dicotomia, s vezes presente na prtica institucional de
ateno sade mental, entre o momento da clnica (consulta, sesso ou similar) e os
demais momentos (convivncia, interao social, oficinas de atividades,
concebidos geralmente como no-clnicos).
O trabalho em ateno diria e intensiva:
Os pacientes que so considerados de responsabilidade assistencial do CAPSi CARIM
so atendidos segundo suas necessidades especficas. Ou seja, seu projeto teraputico
individualizado e leva em conta suas peculiaridades. Este projeto teraputico
construdo com o paciente e sua famlia, e discutido em equipe. A equipe do CAPSi
participa de todo este processo, atravs de diferentes modalidades de reunies, onde
tambm um tcnico de referncia escolhido para o acompanhamento sistemtico do
caso. Ao longo do tempo esse projeto reavaliado e, se indicado, refeito conforme as
necessidades clnicas do caso. No caso de crianas e adolescentes em acolhimento
institucional, esse projeto discutido e transmitido, sempre que possvel e da melhor
forma possvel, para a equipe tcnica do abrigo responsvel pelo caso.
Dispositivos Clnicos:
De acordo com a necessidade de cada caso, o CARIM oferta diferentes
modalidades de recursos clnicos e psicossociais, pautados tanto nos aspectos mais
formais do tratamento como na extenso psicossocial prpria poltica nacional de
97
sade mental. Cabe ressaltar que dispositivos clnicos podem ser criados se assim exigir
a clnica do caso, como j o foram em algumas situaes.
O Dispositivo Clnico Ampliado voltado principalmente para clientela de
graves transtornos mentais, como por exemplo autismos ou psicoses infantis, tambm
chamado de dispositivo coletivo, de crianas ou de adolescentes, conforme a faixa etria
em questo. Sua dinmica envolve a presena de muitas crianas (ou adolescentes) e
muitos tcnicos, a um s tempo, num mesmo espao de circulao no servio. Este
dispositivo se operacionaliza por turnos de ateno, divididos por faixa etria, cada um
dos quais seguido de uma reunio da miniequipe. O dispositivo adotado deve sempre
ser concebido em funo do modo de funcionamento dos sujeitos que constituem a
clientela do servio: nosso referencial clnico a psicanlise, que no , como se
costuma pensar, uma prtica individual. Isso permite conceber um dispositivo coletivo
como fundamentado na psicanlise, desde que este coletivo no se confunda com o
grupo. Um grupo se baseia em um trao nico, identificatrio e distintivo daquele
grupo. Um coletivo apresenta-se em desordem aparente, no qual cada um se encontra
em seu prprio movimento, sem unidade, cuja ordem s vai aparecendo ou definindo-se
no tempo, a partir de certas incidncias que a, porventura, venham a operar. O coletivo
mais afeito psicose do que o grupo e, nele, as condies de surgimento dos
fenmenos representativos do sujeito so muito mais favorecidas, sendo ento
trabalhados em sua singularidade.
Outros dispositivos so: Oficinas teraputicas, no momento, em sua maioria,
voltada para a clientela adolescente, que, mesmo com transtornos mentais graves, em
muitos casos se mostram mais voltados para o lao social do que as crianas atendidas
no CAPSi ou em alguns casos at mesmo do que eles prprios quando crianas.
Requerem, assim, em muitos casos, atividades de mediao para a construo de seu
percurso singular (Oficina do Salo de Beleza, de percusso, de Informtica, da Cidade,
de Expresso, Vdeo, artes e artesanato, jardinagem), sendo propostas e/ou reorientadas
em acordo com os indicadores da clnica psicossocial de cada um. H tambm o Almoo
Teraputico para os adolescentes, e o Lanche Teraputico, vinculados ao atendimento
coletivo de crianas ou de adolescentes, cuja finalidade no a ingesto alimentar em si,
mas a oferta de um espao clnico, onde usurios e tcnicos podem interagir, visando
ampliao de laos e referenciais sociais. A alimentao dos pacientes do CAPSi
fornecida diariamente pelo IPUB, e ocorre no refeitrio do prprio CARIM, quer sejam
os lanches ou os almoos. Temos ainda Atendimentos individuais mdicos, psicolgicos
e demais; Atendimento de Enfermagem.
O acolhimento dirio tambm uma modalidade clnica, que visa, por meio da
permanncia no servio, sempre acompanhado de um ou mais tcnicos, a criao de
vnculo no CAPSi, em que este se constitui como uma possibilidade de ancoragem, de
referncia estvel e segura, possibilitando o afastamento de situaes de risco ou de
conflito que possam levar a uma ruptura do lao social. No caso de adolescentes
psicticos ou autistas, esse afastamento do espao familiar em certos momentos
necessrio para que mudanas nessa relao possam acontecer, inclusive no mbito
98
infantil, acionar o CAPSi nesses casos to logo eles deem entrada no IMPP. As reunies
entre as equipes dos dois servios se do a partir da situao de internao, e ao longo
da mesma tambm o CAPSi participa do estabelecimento da direo clnica dos casos
at o momento da alta, conduzida pela equipe do IMPP.
Dispositivos Intersetoriais:
Integra o conjunto das aes psicossociais e clnicas do CARIM a realizao de
atividades com os equipamentos do territrio dos pacientes que tenham, por qualquer
razo, insero em suas vidas. Desta forma, h alguns anos, vem ocorrendo reunies
com servios do tipo abrigos, outras tipologias de CAPS, equipes de sade da famlia,
CRAS, CREAS, Conselhos Tutelares, Promotorias, Vara da Infncia, Ambulatrios de
Sade Mental, rede de sade geral, rede de servios especializados de sade, como a
neurologia; e com outros equipamentos que por ventura insiram-se como significativos
para uma criana ou adolescente. De modo mais sistemtico, a dinmica de
funcionamento do CARIM exigiu o estabelecimento de reunies mensais com a
educao do municpio do Rio de Janeiro, particularmente com a Equipe da Educao
Especial (Instituto Helena Antipoff) e o com o PROINAPE (Programa Interdisciplinar
de Apoio s Escolas Municipais do Rio de Janeiro), que do suporte 2 CRE/SME-RJ
(abrange Zona Sul e Tijuca- Vila Isabel e adjacncias). Os dispositivos intersetoriais
inerentes, e necessrios, sustentabilidade da dinmica quotidiana do CARIM devero
ser expandidos, adquirindo a maior abrangncia possvel de seu mandato territorial. Est
em curso o processo, em parceria com o PROINAPE de realizaes de reunies
separadas por territrios da AP 2.1, a saber, Arpoador e Rebouas, com as unidades da
rede escolar, e com unidades da rede de sade com profissionais da sade mental e da
ateno bsica, aproximando-se ateno psicossocial e educao no cuidado das
crianas e adolescentes dessa regio.
Gesto de demanda e das necessidades em sade mental infantil no territrio:
Em consonncia com a base normativa que instituiu os CAPSi como servios
estratgicos para a implantao de uma rede pblica ampliada de ateno nas cidades de
grande e mdio porte do pas (PT 336/02), e em acordo com as diretrizes de gesto da
cidade e do estado do Rio, o CAPSi CARIM participa regularmente das instncias
colegiadas de gesto em sade mental. Desta forma, membros da equipe do CAPSi
esto presentes nos Fruns de Sade Mental das APs 2.1, e 2.2 todas integrantes das
reas de cobertura do servio, conforme solicitao da coordenao de SM local. Desde
agosto de 2014, est em implantao um colegiado formado pelos CAPSi CARIM,
CAPSi Maurcio de Souza, CAPS- Ad Centra-Rio, CAPS III Maria do Socorro, CAPS
UERJ, CAPS Ad Man Garrincha, CAIS do IMPP, ou seja, os CAPS da AP 2.1 e 2.2 da
RAPS Centro-Sul. Ainda h presena no Frum Estadual de Sade Mental InfantoJuvenil (GSM/SESDEC), no Frum Estadual de lcool e outras Drogas
GSM/SESDEC).
100
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ELIA, L. et al. Impactos da poltica e sade mental infanto-juvenil na clnica do autismo
praticada em rede territorial de cuidado do Rio de Janeiro: diretrizes das polticas pblicas e
estrutura do dispositivo clnico. In: RIBEIRO, E.L.; TANAKA, O. Y. Ateno em Sade
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JAC- VILELA, A. M. et al. Clnica de Orientao Infantil do IPUB: um olhar sobre a participao
feminina na constituio dos saberes e prticas psi no Brasil. In: Anais do Congresso da ABRAPSO,
2011. Disponvel em <www.abrapso.org.br/siteprincipal/imagens/Anais_XVENABRAPSO/> . Acesso em
Julho/2014.
101
61
102
103
Programa Proadolescer
junto a unidades da rede pblica de sade mental, sua experincia de vinte anos nos
cuidados de adolescentes em sofrimento psquico. A escolha do municpio onde seria
desenvolvida a pesquisa recaiu sobre Niteri, cuja rede de sade mental j apresentava
um trabalho bem estruturado e tinha interesse em colaborar com projetos que
permitissem o desenvolvimento de novas estratgias de cuidados para adolescentes.
Ao longo de trs anos, pesquisadores do Proadolescer se inseriram em diferentes
dispositivos da rede de Niteri envolvidos com a assistncia de adolescentes: o Servio
de Internao de Adolescentes e Crianas (SIAC) e o Servio de Recepo e
Intercorrncia (SRI), ambos no Hospital Psiquitrico de Jurujuba (HPJ), o CAPSi
Monteiro Lobato, os ambulatrios de sade mental do HPJ e das policlnicas Carlos
Antnio da Silva e Srgio Arouca, sem falar em reunies, fruns e outros espaos onde
os desafios da clnica com adolescentes se colocavam em discusso.
Ao final da pesquisa avaliamos positivamente a capacidade da pesquisa de sensibilizar
profissionais de diversas reas ligadas ao trabalho com jovens, no municpio de Niteri, quanto
s questes de sade mental dos adolescentes e suas famlias, apontando para o potencial de
difuso de nossas estratgias de cuidados. A difuso em trs ambulatrios da rede de sade
mental de Niteri da estratgia do Proadolescer para a recepo, o tratamento e a reabilitao de
adolescentes com transtornos mentais abre a possibilidade de fazer funcionar as premissas do
projeto dentro de ambulatrios de sade mental voltados a adultos, crianas e adolescentes,
contribuindo para apresentar solues viveis para a carncia de assistncia a adolescentes que
encontramos na realidade brasileira. O uso do regime ambulatorial ampliado, dentro das
caractersticas desenvolvidas pelo Proadolescer, poderia constituir uma opo, inclusive para o
atendimento de casos graves na adolescncia. A capacitao de recursos humanos para lidar
com adolescentes em grave sofrimento psquico mostrou-se vivel, com o uso de estratgias
combinando supervises diretas, atendimentos clnicos em parceria, seminrios e divulgao
tanto por meios tradicionais, como livros, quanto por mecanismos de mdia eletrnica e redes
sociais (um site ao qual se ligavam um blog e uma conta no Facebook).
109
Extravio
Riscar o papel,
no o corpo. Este j vai assim
por um triz, na vida. (Rosa, 2013:49)
Desde o seu incio de atuao, o PROJAD se depara com impasses que exigem a
construo coletiva de estratgias inovadoras para a qualificao da clnica dirigida a
usurios de lcool e outras drogas. Para falar de impasses e estratgias nesta clnica,
preciso que antes se defina o referencial que a norteia. Entre os nortes da atuao do
PROJAD est a compreenso da relevncia da rede de ateno (CRUZ E FERREIRA,
2007) e da abordagem multidisciplinar (anexo 1) e de reduo de danos (CRUZ, 2006).
Tambm um fundamento da nossa clnica o entendimento de que as pessoas que
atendemos no se reduzem sua relao com as drogas. Atravs das narrativas dirigidas
aos tcnicos e alunos, possvel apreender a funo que o uso de drogas desempenha
para cada sujeito.
Consideramos que nossa prtica clnica, de ensino e pesquisa fundamentada
tambm por uma compreenso multifacetada do consumo de drogas. Tal compreenso
consonante com a orientao de Olievenstein (1982) que destaca a delicadeza do
encontro entre um sujeito, uma determinada droga e um contexto sociocultural
especfico, para destacar a singularidade das toxicomanias. Assim no possvel reduzir
ao papel da drogas e seus efeitos farmacolgicos na constituio das mltiplas relaes
de dependncias que se estabelecem com objetos variados, tais como as compulses por
drogas, sexo, compras e jogos.
Uma vez que no localizamos nosso foco de interveno na droga e na
universalidade dos fenmenos clnicos relativos a dependncia, intoxicao e
abstinncia, mas nos dirigimos, atravs dos caminhos da fala, ao particular do caso
clnico, necessrio que possamos dispor de flexibilidade na direo do tratamento.
Esta disposio flexvel para o encontro clnico com pessoas com problemas relativos
ao uso de drogas, somente possvel, na medida em que levamos em considerao as
diversas formas de constituio da subjetividade na ps-modernidade.
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Assistncia
O PROJAD atende pessoas com problemas com lcool e outras drogas e seus
familiares. Tambm atendemos pessoas com outros comportamentos compulsivos,
como o jogo patolgico, compras e sexo compulsivo. A nfase do atendimento dada
na ateno extra-hospitalar e a construo do cuidado se desenvolve a partir de
abordagem multidisciplinar, tomando como princpios os fundamentos da reforma
psiquitrica brasileira e as estratgias de Reduo de Danos. Os usurios so assistidos
em atendimento mdico e psicoterpico individual ou em grupo, com uma
multiplicidade de orientaes psicodinmicas, incluindo a psicanlise e mais
recentemente a abordagem cognitivo-comportamental. Tal multiplicidade aponta para o
lugar que o PROJAD d diversidade e a uma abordagem multidisciplinar. As
atividades de grupos incluem os grupos teraputicos, de avaliao da demanda e de
acolhimento, motivacional, grupo de mulheres e de insero no trabalho. Os familiares
so atendidos em parceria com o Setor de Terapia de Famlia do IPUB. Quando
indicado, os usurios tambm podem participar de oficinas teraputicas que so
realizadas no Centro de Convivncia do PROJAD. Atualmente, esto em
funcionamento as oficinas de Fotografia, Mosaico, Culinria, Desata-ns (tric, croch
e outras tcnicas com linhas), Msica, Comunicao e Yoga.
112
Parceria PROJAD-JECRIM
114
Ensino
O PROJAD desenvolve atividades de ensino para profissionais graduados e para
alunos da graduao. As atividades de ensino de ps-graduao stricto senso ocorrem
pela participao de alunos de mestrado no Programa de Ps-graduao em Psiquiatria e
Sade Mental do Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Atualmente o PROJAD tem trs
alunas de mestrado, seis em estgio probatrio para o mestrado e duas alunas em estgio
probatrio para o doutorado. As atividades de ensino de ps-graduao lato senso
ocorrem por meio dos cursos de especializao e extenso, do treinamento em servio
de mdicos residentes de psiquiatria do segundo, terceiro e quarto ano e residentes
multiprofissionais, alm de campo de estgio para alunos de outras instituies de
ensino do Brasil e do exterior.
A contribuio do PROJAD ao ensino de graduao se faz pela participao de
tcnicos em aulas nos cursos de medicina e psicologia e como campo de estgio
supervisionado para graduandos de psicologia e de servio social.
O Curso de Especializao em Assistncia a Usurios de lcool e Outras Drogas
realizado pelo PROJAD desde 2002 e j formou algumas dezenas de especialistas
graduados em psicologia, medicina, servio social, educao fsica, enfermagem e
psicopedagogia. Como os demais cursos do IPUB, o curso de especializao do
PROJAD realizado por meio de treinamento em servio, com a carga horria
dividida entre atividades assistenciais e aporte terico-clnico. Durante as atividades
assistenciais, os especializandos participam em rodzio de todas as modalidades
anteriormente descritas.
O PROJAD tem realizado cursos de extenso com o objetivo de tornar as
atividades de capacitao mais acessveis aos profissionais da rede pblica dos
municpios do Estado do Rio de Janeiro, e inclusive, muitas vezes, tambm de outros
estados vizinhos.
At dezembro de 2010 o PROJAD realizava 2 cursos de extenso por ano
abordando os temas: Impasses e Estratgias na Abordagem do Uso e Abuso de
Drogas e lcool, outras drogas e comorbidades: implicaes clnicas, diagnstico e
tratamento.
A partir de agosto de 2011, o PROJAD se tornou Centro Regional de Referncia
da Secretaria Nacional de Poltica sobre Drogas (SENAD) para capacitao
profissional. Como tal, o PROJAD ofereceu 6 Cursos de Extenso entre 2011 e 2013
para profissionais e agentes de sade da rede pblica dos municpios do Estado do Rio
de Janeiro.
115
Cursos Distncia
O PROJAD participa de Cursos distncia para capacitao de profissionais que
atendem usurios de drogas financiados pela SENAD. Os cursos realizados entre 2010 e
2014 com a participao do PROJAD (como o SUPERA e outros) capacitaram mais de
vinte mil alunos incluindo profissionais das reas de sade, assistncia social, justia,
segurana pblica, conselheiros, educao lideranas comunitrias e religiosas. A
participao do PROJAD nestes cursos inclui a elaborao de textos didticos,
conferncias distncia e coordenao regional.
Pesquisa
As pesquisas realizadas no servio entre 2010 e 2014 incluem o Estudo
exploratrio sobre o perfil dos jovens usurios de crack em duas cidades brasileiras
(Financiamento do Ministrio da Sade) (Cruz e cols, 2013), Crack. Aes integradas
componente 3 (Financiamento da SENAD), Programa de Educao pelo TrabalhoPET/Sade Mental projeto Ateno integral ao uso prejudicial de drogas na cidade do
Rio de Janeiro: formao e produo do cuidado (Financiamento Ministrio da Sade),
Projeto de potencializao do Centro de Convivncia do PROJAD/IPUB/UFRJ e
difuso das tcnicas de oficinas teraputicas destinadas populao usuria de lcool e
outras drogas. (Financiamento da SENAD) e o Projeto de Aes Mveis de Preveno
s DST / HIV / AIDS junto a Usurios de Drogas em situao de Precariedade Social.
Este ltimo se trata de um projeto Reduo de Danos e articulao em rede no
Jacarezinho/RJ e nos municpios de Niteri e So Joo de Meriti.
Tambm est em andamento o Projeto de Pesquisa - Efeitos do cumprimento de
medida educativa no PROJAD por rus oriundos do 9 JECRIM detidos com
substncias ilcitas para consumo prprio.
As atividades de pesquisa realizadas pelo PROJAD no perodo de 2010 a 2014
incluem a parceria com instituies acadmicas internacionais como a Simon Fraser
University de Vancouver e o Canadian Center for Addiction and Mental Health
(CAMH) e a contratao em 2014 de professor visitante snior estrangeiro. Estas
parcerias viabilizaram o incremento da produo de estudos e publicao de artigos em
peridicos cientficos.
Consultorias
Entre 2010 e 2014 o PROJAD deu continuidade a atividades de consultoria
prestadas a instituies pblicas formuladoras de polticas sobre drogas incluindo o
Ministrio da Sade, SENAD e a Secretaria de Estado de Sade do Rio de Janeiro.
116
Consideraes finais
O PROJAD possui um mandato teraputico e social paradoxal que aponta para a
multiplicao de sua posio de tomada de responsabilidade por esta clnica, atingindo
integralmente a rede de sade. Tal mandato s ser possvel se seus profissionais
adotarem apenas um semblante de especialista, ou seja, especialistas dotados de
incertezas, como disse o Dr. Pedro Gabriel Godinho Delgado (comunicao oral,
seminrio PROJAD 10 anos) que no se considerem detentores de todo o saber e sejam
capazes de se surpreender com os encontros e desencontros desta clnica.
Atravs das produes singulares de pacientes nas oficinas teraputicas e nos
demais dispositivos de tratamento no PROJAD, apostamos na produo de novas
significaes, que transcendem a relao com a droga. Assim, atravs da construo
de narrativas singulares, que se torna possvel a elaborao de sentido sobre diversos
aspectos da vida, como a relao amorosa, as perdas, o luto e sentimentos de culpa e
vergonha. Desta forma, abre-se a possibilidade de uma nova travessia, que vai alm da
relao exclusiva e alienante com a droga, permitindo a produo de novas
significaes e narrativas de vida.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BAUMAN, Z. O Mal-estar da ps modernidade. Rio de Janeiro, Ed Zahar, 1997.
CRUZ MS. Consideraes sobre possveis razes para a resistncia s estratgias de
reduo de danos. In: Oscar Cirino; Regina Medeiros. (Org.). lcool e outras drogas:
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conselheiros e lideranas comunitrias. Brasil, MJ/SENAD. 6 ed. Braslia,
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Janeiro: Edies IPUB - CUCA, 2001, v. 1, p. 95-113.
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na construo da Rede de Ateno Integral aos problemas relacionados ao uso de lcool
e outras drogas. Cadernos IPUB (UFRJ), v. XIII24, p. 67-80, 2007.
117
119
Rio de Janeiro (UERJ), Coordenadora do Hospital-dia Luiz Cerqueira e Centro de Ateno Diria do
IPUB da UFRJ.
120
pautado pela escuta qualificada do que singular no percurso de vida de cada sujeito e
potencializador de algum desenho de vida, expresso que encontramos na poesia de
Ceclia Meireles e que consideramos inspiradora para pensar a operao clnica em um
servio substitutivo lgica manicomial.
E como o aparato institucional poderia promover ou apoiar o percurso de cada
sujeito? Ana Marta Lobosque (2003) coloca que, no campo de saberes e prticas de
Sade Mental no Brasil, a grande mudana foi tornar mais flexveis e transitveis as
fronteiras das instituies destinadas a receber aqueles que apresentam experincias de
sofrimento psquico intenso e a vida social. A ideia do cuidado em meio aberto permite
um questionamento mais direto das fronteiras entre sanidade e loucura e, ao mesmo
tempo, uma clnica que se transforma continuamente no contato com a cultura. Enfim,
um espao que, valorizando a circulao social, zela pela liberdade.
Em um rico registro do incio da atividade do Hospital-dia do IPUB, Tnia
Furtado (1989) assinala que um de seus eixos norteadores da mudana foi o trabalho
interdisciplinar que ampliou a reflexo sobre o conceito de sade e loucura, sobre a
clnica e sua abertura para o exerccio da cidadania. Apostando em transcender a
hegemonia do saber e da prtica psiquitrica, o desafio foi trabalhar a partir da potncia
dos recursos de cada sujeito de construir um percurso que nunca ser totalmente
apreensvel nem nas classificaes psicopatolgicas clssicas nem no lao social.
Atualmente, nosso Servio busca renovar a vocao transformadora presente na
concepo de seu projeto e as mudanas que integraram a perspectiva da ateno
psicossocial adotada pelas polticas pblicas. Como colocamos, nossa prxis
sustentada pela defesa da integralidade e da dimenso comunitria como bases do
cuidado em sade mental e por uma clnica que caracterizada pelo horizonte de
construo de referncias subjetivas a partir de uma composio sempre nica de
diversos recursos que oferecem oportunidade de expresso e de convvio. Ainda
enfrenta, entretanto, as dificuldades de sustentar um modelo de cuidado que subverte a
estrutura hospitalar apoiada na trade mais tradicional, a consulta atendimento da
crise internao, como to bem coloca Pedro Gabriel Delgado (1998).
Apresentamos o contexto do surgimento dos hospitais-dia no mundo e no
cenrio da assistncia no IPUB, destacando alguns aspectos das relaes entre clnica,
arte e cultura, que caracterizam nosso trabalho presente, e os desafios do campo da
ateno psicossocial, no qual situamos nossa empreitada.
O contexto mundial da transformao do cenrio da assistncia no IPUB
Os hospitais-dia surgem na dcada de trinta no contexto entre guerras buscando
responder inicialmente carncia de leitos hospitalares. Apoiados no princpio da
internao parcial, a experincia inicial j apontava a importncia de um ambiente
teraputico mais prximo da vida social, da participao dos familiares e da introduo
de projetos laborais (Bettarello, 2008). A primeira iniciativa, ocorrida no incio da
dcada de 30 em Moscou, promoveu a extino do acolhimento noturno objetivando
reduzir custos com a internao (Zusman, 1992). Em meados da dcada de 40, duas
experincias, uma em Montreal e outra no Reino Unido, introduziram a ideia de
assistncia transitria com a preservao dos vnculos com o meio familiar e social. Nos
anos seguintes houve uma proliferao na criao desse tipo de unidade, principalmente
123
nos Estados Unidos. J em 1958, uma conferncia americana sobre o tema reconheceu a
melhora da sociabilidade em pacientes agudos e crnicos entre os benefcios
teraputicos dessa estratgia.
Se tomarmos o processo histrico que introduziu mudanas na tradio de
isolamento dos chamados doentes mentais em grandes instituies fechadas, trs grupos
de experincias de outros pases influenciaram a consolidao do campo da ateno
psicossocial no Brasil (Amarante, 2007) e melhor situam o incremento mais tardio na
realidade brasileira das propostas de hospital-dia em um contexto histrico e politico
que favoreceu o reordenamento das polticas pblicas de sade mental. Costa-Rosa
(2013), assinala, a propsito, que o processo de constituio do paradigma psicossocial
operou-se atravs de transformaes nos campos tcnico-cientfico, poltico-jurdico,
terico-conceitual e sociocultural. Nos atuais processos de trabalho dos centros-dia, h
ressonncias importantes das estratgias reformadoras.
O primeiro grupo, formado pelas experincias inglesa e francesa, valorizou,
atravs das propostas das comunidades teraputicas e da psicoterapia institucional
respectivamente, a recuperao da funo teraputica do hospital envolvendo, alm da
equipe, os pacientes e os familiares, o que estimulou a criao das abordagens grupais e
incentivou as discusses do cotidiano institucional. As assembleias para debate sobre a
convivncia interna, as reunies de familiares, os grupos de discusso, os atelis e as
oficinas de arte e de trabalho so exemplos de iniciativas que passaram a integrar o
campo teraputico que buscava promover meios de ampliar a capacidade de
participao do paciente na vida comunitria. O segundo grupo, composto pela
psiquiatria de setor, surgida na Frana, e pela psiquiatria preventiva, nascida nos
Estados Unidos da Amrica, instituiu questes que foram retomadas no
redirecionamento das iniciativas brasileiras: a continuidade do acompanhamento aps a
alta como forma de evitar a reinternao. A psiquiatria de setor, em particular, deu
relevo aos espaos sociais compartilhveis e valorizou a manuteno da equipe
multiprofissional como referncia no acompanhamento. J a psiquiatria preventiva,
mesmo incorrendo em alguns excessos denominados medicalizao da ordem social
, chamou a ateno para as estratgias comunitrias de preveno de crises e de
promoo de sade (Amarante, 2007). Finalmente, a experincia italiana de Basaglia,
de grande influencia no Brasil, em consonncia com o movimento da antipsiquiatria,
props o fim do hospital psiquitrico e questionou o prprio conceito de doena mental
defendendo novas formas de abordar o sofrimento psquico e priorizando iniciativas
voltadas para a produo de vida, expresso da subjetividade e socializao (Bettarello,
2008). Essa estratgia representou uma verdadeira iniciativa de ruptura do modelo
manicomial, segundo Amarante (2007).
Situamos nesse breve recorte histrico algumas importantes caractersticas do
movimento de construo dos dispositivos institucionais substitutivos da lgica do
hospital psiquitrico, incluindo os hospitais-dia: a ampliao do campo teraputico,
atravs da pluralidade de estratgias de cuidado e saberes, a valorizao das
possibilidades de troca com o meio familiar e social e, finalmente, a abertura para a
interrogao da loucura como experincia e da sua abordagem.
124
128
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
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2007.
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129
130
Jerson Laks, Cloyra Almeida, Andrea Deslandes, Maria Alice Tourinho Baptista,
Marcia Dourado, Mariana da Luz, Mariangela Aleixo, Priscila Muniz, Valeska
Marinho e Virgnia Marffioletti
Jerson Laks1,2, Cloyra Almeida1,2, Andrea Deslandes2,4, Maria Alice Tourinho Baptista3, Marcia
Dourado2,3, Mariana da Luz1,2, Mariangela Aleixo2,6, Priscila Muniz5, Valeska Marinho1,2 e Virgnia
Marffioletti3
MD; 2-PHD; 3- Psicloga; 4- Professor de Educao Fsica; 5-Enfermeira; 6- Musicoterapeuta.
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Misso
Formar profissionais e atender a pacientes idosos com demncia, depresso e
psicose do Estado do Rio de Janeiro.
Viso 2014-2019
Prestar assistncia a, no mnimo, 1500 portadores de demncia e transformar-se
em um projeto auto-sustentvel com estrutura profissional.
Outro projeto importante o de avanar na formao de um centro de pesquisas
clnicas e translacionais, como pode-se ver no texto abaixo.
134
135
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136
Por fim, vamos abordar a proposta de Porta de Sada, coordenada pela psiquiatra
Iraneide Castro de Oliveira e que a cada dia agrega mais colaboradores, refletindo a
importncia do trabalho em equipe, possibilitando a implantao de novos
equipamentos e fluxos de trabalho.
Com essa reestruturao do setor e sua interlocuo com os outros territrios e
dispositivos da RAPS, foi possvel incluir o ambulatrio como um cenrio de prticas
tambm para os alunos da Residncia Multiprofissional a partir do segundo semestre de
2014. Certos de que a circulao de outros atores em formao ir movimentar o nosso
fazer cotidiano, na construo de projetos teraputicos individuais ou coletivos, que
melhor atendero a cada demanda que nos apresentada.
A reformulao da Porta de Entrada e a experincia com o SISREG
A Triagem era realizada por residentes em psiquiatria do terceiro ano (R3) e
alunos do segundo ano do Curso de Especializao em Clnica Psicanaltica. Seis
pacientes eram atendidos no mesmo dia por ordem de chegada. Aqueles que
necessitavam de atendimento tinham que chegar muito cedo unidade em mdia s
cinco horas da manh ou sua rede de suporte social precisava organizar-se para estar
na unidade neste horrio para garantir seu lugar na fila at o seu atendimento, que se
daria a partir das oito horas. Como somos uma unidade para atendimentos complexos,
muitos pacientes graves no conseguiam acesso desta forma.
O projeto de mudana da chamada Triagem, espelhou-se na experincia
realizada no Centro de Doena de Alzheimer (CDA) do IPUB. Neste setor, a equipe de
acolhimento compe-se por uma assistente social e uma enfermeira. A marcao
realizada tanto via SISREG como por agenda prpria do CDA. Os usurios so
inicialmente acolhidos em grupo com seus familiares, para depois serem atendidos
individualmente.
Em agosto de 2013, iniciamos o projeto piloto da Porta de Entrada, acolhendo as
demandas solicitadas via SISREG. A proposta foi de uma escuta multiprofissional e
interdisciplinar, para melhor encaminhamento dos casos. Nosso objetivo era fazer com
que todos os pedidos de atendimento fossem acolhidos de acordo com a necessidade de
cada usurio, respectivo territrio e servios de referncia, considerando a Portaria n
4.279/2010 77, que estabelece diretrizes para a organizao da Rede de Ateno Sade,
e mais especificamente, Portaria n 3.088/2011, ambas no mbito do SUS. De acordo
com essa portaria, a Unidade Bsica de Sade, como um ponto de ateno da RAPS,
tem a responsabilidade de desenvolver aes de promoo de sade mental, preveno e
cuidado dos transtornos mentais, aes de reduo de danos e cuidado para pessoas com
necessidades decorrentes do uso de crack, lcool e outras drogas, compartilhadas,
sempre que necessrio, com os demais pontos da rede.
77
Portaria n 4.279/GM/MS de 2010, que estabelece diretrizes para a organizao da Rede de Ateno
Sade, considerando que a Regionalizao uma diretriz do SUS e um eixo estruturante do Pacto de
Gesto e deve orientar a descentralizao das aes e servios de sade.
138
Nos primeiros cinco meses de funcionamento desse projeto piloto, do total de 142
agendamentos, 57 compareceram e apenas 08 foram inseridos em nosso ambulatrio.
Estes dados nos interrogam quanto ao modo de acesso ao primeiro atendimento, sendo o
absentesmo um dado importante em nossas reflexes. Por essa razo, passamos a
acolher a demanda espontnea, alm dos atendimentos agendados via SISREG, de
acordo com a disponibilidade da equipe.
A prtica nos esclarece a respeito das inmeras dificuldades econmicas, de
transporte e locomoo que comprometem o acesso da populao aos servios
especializados. Da a importncia da instrumentalizao das equipes de sade da famlia
(ESF) que atuam nos seus territrios de origem, para que os usurios sejam assistidos no
servio de sade mais prximo de onde residem ou trabalhem (PAIM, 2012). E assim,
estabelecer corresponsabilidades na conduo dos casos pelas equipes, contribuindo
para a ateno integral sade dos usurios.
Ademais, a capacidade resolutiva dos nveis de complexidade da ateno est
diretamente relacionada com a eficincia das tecnologias desenvolvidas no primeiro
nvel de ateno. Quando o profissional da unidade bsica consegue ouvir o usurio nas
suas angstias e sofrimento, o vnculo fortalecido. Isto favorece a articulao com os
recursos teraputicos existentes no territrio, viabiliza maior assertividade,
resolubilidade e integralidade da assistncia (MENDES, 2012).
Com a suspenso temporria dos agendamentos via SISREG, no final de
dezembro de 2013, passamos a acolher exclusivamente demandas espontneas com
agendamento prvio, sem necessidade de um encaminhamento formal. O fluxo de
atendimento consiste no preenchimento pelo usurio da folha de identificao pessoal,
na verificao de sua unidade bsica de sade de referncia atravs do site
http://www.subpav.org/ondeseratendido/ e na realizao de um grupo com os usurios e
familiares. Neste, explicamos brevemente as particularidades do IPUB, nossa
perspectiva de trabalhar em rede como direito sade e ouvimos a motivao daqueles
que procuram nosso servio. Posteriormente, o usurio ouvido individualmente e de
acordo com a avaliao inicial, encaminhado, ou no, ao atendimento conjunto da
Psiquiatria e da Psicologia.
Em julho de 2014, aps a reavaliao do fluxo de atendimento da Porta de
Entrada, decidimos ampliar a formao do Grupo de Recepo e Encaminhamento
(GRE), incluindo desde o primeiro momento a Psiquiatria e a Psicologia. Acreditamos
que assim, o usurio tem um acolhimento mais integrado, sem precisar expor seu
sofrimento em dois momentos diferentes.
Pacientes entre 18 e 60 anos apresentando quadros psiquitricos de incio agudo,
graves e /ou de difcil manejo so agendados no nosso ambulatrio. Aqueles que
preenchem os critrios de incluso para pesquisas em andamento em outros
ambulatrios do IPUB so encaminhados para estes respectivos setores. Os demais
pacientes so encaminhados para uma unidade de sade mais prxima sua residncia,
139
aps contato telefnico prvio para obter informaes se h equipe de sade mental e o
procedimento para atendimento de primeira vez. Mesmo assim, os usurios/familiares
so avisados de que caso no consigam o atendimento na unidade referenciada,
retornem ao GRE para nova orientao.
Na prtica o GRE muito dinmico e flexvel, podendo ter variaes em seus
atendimentos dependendo da sensibilidade da equipe quanto s demandas objetivas e/ou
subjetivas apresentadas pelos usurios no momento. De acordo com cada situao, o
usurio pode retornar para mais de um atendimento com a equipe do GRE, ou mesmo
ser agendado para o Grupo de Acolhimento e Encaminhamento - GAE. Este grupo
realizado por alunos da clnica psicanaltica que avaliam a demanda de tratamento para
psicoterapia ou a indicao de um trabalho pontual em relao queixa.
Essa experincia nos mostra a heterogeneidade do sofrimento humano. O trabalho
de recepo deve conformar-se em um espao de constante reavaliao. Afinal, um
desafio dirio acolher o sofrimento psquico, trabalhar na perspectiva da Ateno
Psicossocial, vendo o usurio-cidado como sujeito de sua histria, para alm dos
diagnsticos.
mental da sua regio. Etapa que poder ser realizada por qualquer dos profissionais
listados; 3. Contato com a rede de sade (ESF) e sade mental tambm por qualquer
dos profissionais; 4. Preenchimento da folha de referncia. Esse documento dever ser
preenchido exclusivamente pelo mdico assistente; 5. Assistncia e acompanhamento
do paciente at a efetivao da referncia pelo mdico assistente e pelo residente
multiprofissional; 6. Registro dos encaminhamentos em livro com esta finalidade
mdico assistente e residente multiprofissional; 7. Reunio de equipe do ambulatrio
semanal para avaliao da proposta, dos encaminhamentos, dvidas, dificuldades e
esclarecimentos. Esta reunio aberta a todos os envolvidos e interessados nesse
processo.
Ao se dar a efetivao do encaminhamento para a unidade regionalizada, a folha
de encaminhamento ser preenchida pelo mdico assistente e entregue ao paciente ou
familiar, ficando uma cpia anexada ao pronturio mdico do IPUB, para o caso de
consultas futuras. Esse documento foi elaborado pela equipe com base em documento
pr-existente utilizado no IMPP, onde inclumos informaes e dados relevantes, como:
histria clnica e frmacos utilizados.
Dentre as estratgias pensadas para a implantao da proposta da Porta de Sada,
comear pelo envolvimento dos residentes do terceiro ano nos pareceu uma das mais
cuidadosas. Ao trmino da residncia, esses alunos necessariamente estaro deixando de
acompanhar seus pacientes e o vnculo estabelecido ao longo de trs anos entre o
paciente e aquele profissional deixar de existir. Um mnimo de seis meses foi o tempo
pensado para o R3 identificar o paciente elegvel para o encaminhamento, discutir o
caso com os demais profissionais do ambulatrio envolvidos e avaliar se as condies
so favorveis para a efetivao do processo.
Evidentemente, qualquer paciente que atenda aos critrios e apresente as
condies favorveis para o encaminhamento pode ser direcionado para os servios de
sade de sua rea por qualquer dos residentes (R1; R2; R3), desde que todas as etapas
sejam contempladas.
A avaliao e discusso da proposta de encaminhamento acontece semanalmente
na reunio de equipe do ambulatrio e os encaminhamentos por rea sero avaliados
quantitativa e qualitativamente a cada seis meses. Temos a expectativa de que ao
acompanharmos esse trabalho de perto e fazermos os ajustes sempre que necessrio,
estaremos dando consistncia a proposta e contribuindo para uma assistncia mais
integrada e humanizada.
clnica, mas que requer renovao constante para que no se perca no automatismo
institucional.
Estamos vivendo um momento de flego renovado no Ambulatrio do IPUB
com a articulao dos tcnicos em projetos que partem de um necessrio desenho da
populao assistida por ns. Estamos trabalhando para que, conhecendo melhor quem
chega, possamos encontrar uma boa orientao para o tratamento daquilo que o sujeito
nos enderea, incluindo nisso uma leitura que no se limite psicopatologia. Porta de
Entrada e Porta de Sada so aqui duas faces de uma aposta que fazemos junto com cada
paciente, levando em considerao a realidade psicossocial de cada um.
A ateno que oferecemos, a partir do trabalho em equipe, compe-se numa
escuta coletiva que d lugar a idiossincrasias dos sujeitos e dos saberes a envolvidos.
As diferenas de perspectiva que orientam, um a um, os profissionais envolvidos
possibilitam encontros e estimulam solues que no esto dadas pret--porter,
requerem tomadas de deciso, solues que no podem ser pensadas para todos, sem
levar em considerao a singularidade de cada caso. Advertidos de que este ser sempre
um trabalho em construo, estamos buscando nosso modo de acolher, avaliar e
encaminhar a demanda (OLIVEIRA, 2000).
O ambulatrio tem na prtica da consulta seu parmetro de aplicao. Sabemos
que h riscos de uma dissoluo da perspectiva singular dentro do volume de
atendimentos, alm da cronificao dos casos decorrentes de efeitos de inrcia e da
reduo dos atendimentos a mera burocracia prescritiva. No entanto, tambm no
cenrio de prticas do ambulatrio que podemos reconhecer o que h de profcuo no
entrecruzamento de abordagens que, se no se complementam, permitem uma
abordagem plural dos casos.
Essa tenso entre o singular e o plural constitui o cerne de nossos impasses e
tambm das solues que a ateno sade mental exige. Por outro lado, no podemos
reduzir o impacto clnico de nossa prtica a modelos reprodutveis. Vemos a inquietao
provocada pelos questionamentos renovados na presena de jovens praticantes em
formao como um motor indissocivel da realidade de nosso ambulatrio.
O desenho da populao que atendemos tambm importante para que
possamos conversar com a rede municipal de sade. Que tipo de profissionais estamos
formando? Que tipo de assistncia oferecida por ns? Estas so algumas questes
decorrentes da implementao do projeto piloto de Porta de Entrada. Interrogar o
impacto de nossa prtica dentro da assistncia sade mental em nosso municpio
tambm interrogar o papel que o ambulatrio exerce na formao das geraes de
profissionais que compe e recompe ao longo dos anos a dinmica de nosso cotidiano.
143
Perspectivas futuras
Segundo dados do Ministrio da Sade, Secretaria de Ateno Sade e
Departamento de Ateno Bsica, a cobertura populacional estimada da ESF na capital
do Rio de Janeiro praticamente quadruplicou nos ltimos cincos anos (8,29 para 40,87),
aumentando rapidamente a capilaridade de aes de sade nas comunidades do Rio de
Janeiro, seguindo uma tendncia nacional e internacional, protagonismo da Ateno
Primria Sade atribudo a esta, tanto para reformas de diversos sistemas de servios
de sade ao redor do mundo, quanto para consequente superao do modelo
hospitalocntrico e predominantemente centrado na doena (ANDRADE et al, 2012).
No contexto brasileiro, a Reforma Psiquitrica vem avanando na consolidao
de espaos de cuidado fora dos hospitais psiquitricos, como os Centros de Ateno
Psicossocial (CAPS), os Centros de Convivncia, aes de Sade Mental na Ateno
Bsica. Contudo, a ao do trabalho comunitrio ainda um desafio para os
profissionais de sade mental. Fazer rede uma ao pr-ativa das equipes de sade
mental em estar no territrio juntamente com outros profissionais, atendendo,
mediando, acompanhando, discutindo o caso clnico, ou seja, matriciando (COELHO et
al, 2012). Nessa perspectiva ser possvel nos lanar na rede, fazendo o matriciamento
para nossa AP 2.1?
Numa tentativa de aperfeioar a comunicao intrainstitucional e
interinstitucional, vislumbramos a implantao dos pronturios clnicos eletrnicos.
Alm disso, gostaramos de reforar a importncia de um investimento quantitativo e
qualitativo em recurso humano administrativo. Acreditamos ser fundamental a incluso
desses profissionais para o melhor funcionamento do trabalho em equipe e a garantia do
atendimento humanizado.
Por fim, faz-se necessrio aqui destacar que o ambulatrio no mais
considerado um ponto de ateno na Portaria 3.088/2011 da RAPS. Interrogamos,
ento: qual potencialidade de um servio ambulatorial especializado se prope a
conversar com a rede e respectivo territrio no qual est inserido? Nosso principal
desafio articular o servio universitrio Rede de Ateno Sade, e mais
especificamente RAPS, assumindo nossa misso junto sociedade de ensino, pesquisa
e assistncia, cujo objetivo ratificar o cuidado em rede no mbito do SUS, tendo
tambm como norte a recomendao da Organizao Mundial de Sade (OMS), que o
fortalecimento da ateno bsica e da Ateno Psicossocial comunitria. Para isso, a
OMS sugere que cada pas encontre o melhor caminho, respeitadas as particularidades
sociais, econmicas e culturais (WHO, 2013).
144
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ANDRADE, L.O.M. de et al. Ateno Primria Sade e Estratgia Sade da Famlia.
In: CAMPOS, G.W de S. et al. Tratado de Sade Coletiva. 2. ed. rev. aum. So
Paulo: Hucitec, 2012.
BRASIL. Ministrio da Sade. Institui a Rede de Ateno Psicossocial para pessoas
com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack,
lcool e outras drogas, no mbito do Sistema nico de Sade (SUS). Portaria n 3.088,
de 23 de dezembro de 2011. Braslia, 2011
BRASIL. Ministrio da Sade. Estabelece diretrizes para a organizao da Rede de
Ateno Sade no mbito do Sistema nico de Sade (SUS). Portaria n 4.279, de 30
de dezembro de 2010. Braslia, 2010.
COELHO, D. A. M. Sobre o inicio do matriciamento em sade mental na cidade do
Rio de Janeiro: reflexes, relatos e recomendaes. Rio de Janeiro : Prefeitura do Rio
de Janeiro, Subsecretaria de Ateno Primria e Vigilncia e Promoo da Sade,
Coordenao de Sade Mental, 2012
MENDES, E. V. O cuidado das condies crnicas na ateno primria sade: o
imperativo da consolidao da estratgia da sade da famlia. Braslia : Organizao
Pan-Americana da Sade, 2012. 512 p.
OLIVEIRA, R. C. A recepo em grupo no ambulatrio do IPUB/UFRJ. Cadernos
IPUB, Rio de Janeiro, v. VI, n. 17, p.30-46, 2000.
PAIM, J. S. Modelos de Ateno Sade no Brasil. In: GIOVANELLA, L.;
ESCOREL, S.; LOBATO, L.V.C. (Org.). Polticas e Sistemas de Sade no Brasil. 2.
ed. rev. e amp. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2012.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Mental health action plan 2013-2020.
Geneva, Switzerland : WHO Document Production Services, , 2013. 48p.
145
81
Ver Delgado e Coutinho 2001, Gonalves, Vieira e Delgado 2012 e YASUI 2010
82
146
A clnica e a instituio
com outros espaos significativos, de modo que a passagem entre um e outro seja o
aspecto transformador para um sujeito paralisado na sua possibilidade de circular. A
abordagem indireta, citada anteriormente, s possvel se o ambiente institucional for
prdigo em permitir diferenciaes de espaos e relaes. Uma oficina, para tomar um
exemplo que nos prximo, jamais ter propriedades teraputicas, por melhor que seja
sua estruturao. Seu papel potencial s ser alcanado se ela promover articulao e
abertura permanente com outros espaos, podendo assim participar da criao de um
lugar para dado usurio. Tais espaos s podero adquirir esta propriedade se forem
acolhedores com o dizer. O verbo no infinitivo, e no o seu produto, o dito, o que
caracteriza a abertura da instituio para entrar em contato com as idiossincrasias das
experincias psquicas graves, a sua capacidade de incluir e conter tudo aquilo que,
quase por impulso, sempre queremos expulsar. Vida, outra palavra cara a Oury,
diferenciao e plasticidade. Vida algo que podemos sentir e no difcil perceb-la
quando adentramos um lugar vivo. E tambm no difcil sentir o cheiro da morte...
Todo aquele que trabalha com pesquisa sabe que o sucesso do seu empreendimento
estar diretamente relacionado sua capacidade de delimitar um recorte preciso da
realidade capaz de ser atingido pelas suas aes. Por analogia, para transformar certos
paradigmas da assistncia, preciso lutar contra a onipotncia, conhecer seus limites e
traar um ponto de partida que seja promissor na sua capacidade de disparar efeitos
imprevisveis. Desta forma, nestes ltimos quatro anos, nossos esforos se dirigiram
para a criao de espaos coletivos nas enfermarias, chamados na maior parte das vezes
de oficinas, para a regularidade de uma reunio geral dos pacientes internados com a
equipe, chamada de assemblia, para as reunies de equipe do projeto, para a
interlocuo com as equipes clnicas e de enfermagem a fim de viabilizar a participao
de certos pacientes nas nossas atividades, para a problematizao de aspectos do
cuidado, entre outras aes.
Neste tempo, criamos uma grade estvel de atividades variadas, as quais se modificam
permanentemente. Esta variao inclui desde oficinas voltadas para pacientes internados
h mais de um ano - como a oficina de culinria - passando por atividades que visam o
contato com o que se passa fora da instituio - como a oficina E o mundo l fora?
at a oficina corpo em movimento, voltada para a criao de um produto artstico
pelos seus participantes e ministrada por artistas. Poderamos dar muitos outros
exemplos de atividades e nos comprazer com o relato; poderamos citar algumas
estatsticas que produzimos, demonstrando que em algumas semanas auferidas, mais de
60% dos internos participavam de oficinas e sadas; poderamos encher a boca para
dizer que nosso projeto foi determinante para a realizao em 2012 da vdeo-instalao
Corpo Santo de Dias & Riedweg, exposta na coleo Prinzhorn em Heildelberg, a
152
E o futuro?
Em consonncia com o que examinamos acima, o mais importante apostarmos que
haja futuro. Resta tudo por fazer, mesmo que j possamos conjugar o verbo no passado
e admitamos que certas coisas j foram feitas. Entrada menos marginal das nossas aes
nos projetos teraputicos, estratgias coletivas que envolvam as famlias, mapeamento
mais completo do territrio a fim de aumentarmos nossas ferramentas de trabalho,
insero mais orgnica em nossa rea programtica (AP 2.1), criao e solidificao do
Ncleo de Ateno Psicossocial do IPUB proposto pela direo, maior participao dos
mdicos residentes em outras formas de cuidado em consonncia com princpios aqui
descritos, so alguns exemplos deste tudo por fazer.
154
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BRASIL. Ministrio da Sade. Programa Nacional de Humanizao da Assistncia
hospitalar (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnhah01.pdf 2001)
CAVALCANTI M.T. O tear das cinzas: sobre as relaes entre a psicose e a
instituio psiquitrica. 1992. Dissertao (Mestrado em Psiquiatria) - Instituto de
Psiquiatria, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1992.
DELGADO, P.G.; COUTINHO, E. Novos rumos nas polticas pblicas de sade mental
no Brasil. Cadernos de Sade Pblica, Rio de Janeiro v. 17, n. 3 maio/jun. 2001.
GONALVES, R.W.; VIEIRA, F.S.; DELGADO, P.G. Evoluo do gasto da Poltica
de Sade Mental no Brasil de 2001 a 2009. Revista de Sade Pblica, Rio de Janeiro,
v. 46, n. 1, p. 51-58, 2012.
OURY, J. O Coletivo. So Paulo : Hucitec, 2009.
VERZTMAN, J.; CAVALCANTI, M.T.; SERPA JR, O. Psicoterapia institucional: uma
reviso. In: BEZERRA, B.; AMARANTE, P. Psiquiatria sem hospcio: contribuies
ao estudo da reforma psiquitrica. Rio de Janeiro : Relume-Dumar, 1992. p. 17-30.
VERZTMAN, J.; GUTMAN, G. A clnica dos espaos coletivos e as psicoses. In:
CAVALCANTI, M.; VENNCIO, A.T., Sade Mental: campos, saberes e discursos.
Rio de Janeiro : CUCA-IPUB, 2001. p. 39-72.
YASUI, S. Rupturas e encontros: desafios da reforma psiquitrica brasileira. Rio de
Janeiro : Editora Fiocruz, 2010.
155
Ateli da Vida
Eliane Santos 84
Este texto foi escrito nas lembranas de cada momento vivido por um grupo de
pessoas que escolheram, em algum momento da vida, estarem juntas. A partir de vrios
encontros no Ateli, nos rabiscos que alguns de ns, fomos propondo para alguma obra,
das vigorosas pinceladas de Josinaldo, nas histrias que eram pensadas e repensadas nos
cantos do hospital, nas tardes sentados nos bancos dos jardins, nos encontros na hora do
caf feitos pelo Eduardo Oliveira, na participao da Bete Sabino e Tania Regina, que
quase diariamente nos trazem histrias da vida cotidiana do IPUB. Fez-se nas conversas
dos visitantes e participantes desse espao, quando criamos um grupo de amigos tendo
como terapeuta a arte de alguns.
Nos inmeros momentos em que lembrvamos, com saudade, do artista
Josinaldo Lima, da delicadeza do Eduardo Teixeira, das gargalhadas da Suzana, dos
longos discursos do Antonio Carlos, das caricaturas do Demetrius Lucas, das generosas
naturezas mortas do Paulo Tostes, da saudade do Evaristo, da Ftima e de outros que,
no meio da nossa jornada da vida, resolveram tirar o chapu e nos surpreenderam com
um at logo. Tambm se construiu diariamente na fala de Antonio Carlos, quando
seriamente me olhava e dizia: "Senhora Eliane, eu sou louco, mas eu tambm penso e
preciso de calma para fazer isso".
Foram nas diversas exposies que apresentamos no decorrer desses anos, nos
lanches e almoos organizados pela psicloga Adriana Machado, que h muito tempo
tem incansavelmente feito um trabalho fantstico no Ateli e sem a presena dela alguns
pacientes perderiam a possibilidade de desfrutar o que o espao oferece, pois entendo
que, para alguns casos do Ateli, a Adriana foi fundamental nesse atendimento to
peculiar que a escuta e o comprometimento com o difcil trabalho da sade mental.
E com tudo que descrevo agora, comeamos a escrever uma histria nas
histrias de cada um que passou (e passa) no Ateli e contribui para a existncia e
permanncia desse espao, de um jeito muito prprio de se construir, j que a funo do
ateli no de ser tcnico, no de ser hospitalar, no da cincia, mas, sim, de
convvio de pessoas que gostam, fazem arte, se entendem e se desentendem; s vezes
choram, s vezes riem com o nosso vai e vem da loucura intrnseca ao que ser
humano.
Esse texto foi escrito por todos ns que nesse espao do Ateli no somos loucos
nem terapeutas, somos pessoas que gostam de criar, de discutir e fazer arte e fazer parte
de um grupo que decidiu que, mesmo vivendo num hospital psiquitrico, seramos
apenas pessoas, sem carimbos de Haldois, Freuds, Lacans, sem rtulos da loucura que
nos presenteada quando nascemos pessoas, seramos ns e do nosso jeito, aqui no h
84
156
espao para a loucura, aqui, ela fica de fora, e ns, embutidos no fazer artstico, ficamos
dentro. E como nos dizia o escritor pernambucano Ariano Suassuna: Arte pra mim no
produto de mercado. Podem me chamar de romntico. Arte pra mim misso,
vocao e festa. Ariano Suassuna (1927-2014).
dia, como so os dias de pessoas loucas por arte e sem saber fazer outra coisa, o meu
telefone toca de manh e algum me diz: Josinaldo morreu. E no sei porque a morte
sempre me pega de surpresa. Paralisei. s vezes no sei explicar porque flutuo feito
uma flor, murchando, despetalando, rodopiando como um peo da vida. como se o
corpo no suportasse o peso da vida, de momentos onde temos a conscincia que algo
quebrou dentro de ns e que a restaurao de ns mesmos ser feita pelo tempo, pela
saudade, pela perda e pela conscincia de que os artistas tambm se vo, so homens,
so pessoas, so artistas e loucos, loucos pela vida, pelos atelis, pelos espaos que nos
acolhem, nos aceitam e fazem dos nossos dias os melhores dias que um louco pode ter.
158
vezes, projeto anual para uma exposio, um centro de estudos, um debate sobre
arte/loucura. Tendo em mente que a doena psiquitrica, dentre todas as doenas, a
mais provvel de afetar a competncia do homem.
Desse modo, a arte uma tentativa de cada um para dar sentido a suas
experincias internas que o identificam como ser humano e cria possibilidades quando
h um investimento da prtica artstica na sua integrao social e mais uma
possibilidade de ajuda na sade mental. H pacientes que esto no grupo h mais de 15
anos e outros que frequentam o espao mais esporadicamente, podendo ficar por um
perodo de tempo afastados e retornar quando for do seu desejo.
160
161
Tania Regina participando de uma atividade de colagem e pintura.
conhecer este espao. Mas o tempo tem mostrado que o paciente com mais interesse
nessa atividade o que descobre sozinho na sua busca por atividade, uma ocupao ou
um acolhimento na instituio. Percebe-se que o espao no tem sido apenas um lugar
de criao, mas vem se tornando um lugar onde um grupo de pessoas que se conhecem,
criam juntas de forma descontrada. Brincamos muito, rimos de ns mesmos, do que
inventamos do que pensamos inventar, da vontade de apenas ser pessoas felizes,
participativas, produtivas, do jeito que podemos e conseguimos ser. O mais interessante
que a descontrao uma caracterstica forte do grupo.
Esta a razo pela qual resolvemos trabalhar em grupo e no individualmente. O
ambiente do ateli se enriquece com as histrias, opinies e participaes de todos.
A dor da solido da doena j demais, o projeto do ateli tem como um dos objetivos
diminuir esse sentimento. A arte, se bem direcionada, tem uma capacidade enorme de
socializar e melhorar a autoestima. uma possibilidade maravilhosa para colaborar
com as outras intervenes teraputicas e amenizar os impasses da vida.
Nos ltimos anos, o Ateli fez vrias exposies no Museu Nacional de Belas
Artes, no Centro Cultural da Justia, no Salo Nobre do Clube Naval, na Galeria do
Cine Santa, em Santa Teresa; Centro Cultural Laurinda Santos Lobo; apresentou vdeos
e participou de vrias feiras, debates em outras instituies, convidou e exps artistas de
outros atelis, recebeu estagirios, mostrando, com isso, que a arte congrega, cria
vnculos e diminui as diferenas.
O trabalho desenvolvido no Ateli da Vida do Instituto de Psiquiatria da
Universidade Federal do Rio de Janeiro IPUB est intimamente comprometido com as
transformaes na assistncia psiquitrica e preocupaes com a ressocializao. Parte
dessas atividades realizadas no Ateli da Vida absorve pessoas da terceira idade, as
oficinas de arte tm cumprido papel fundamental na melhora da qualidade de vida.
Alm de proporcionar a atividade artstica, e por vezes a possibilidade de aumento do
rendimento com a venda das obras, as oficinas so espaos de convivncia, favorecendo
a ampliao do crculo de relaes, comumente restrito s pessoas mais prximas.
Percebe-se o quanto importante o contato, no apenas com pessoas da mesma gerao
que compartilham valores acerca da vida, mas tambm com pessoas de diferentes
idades. A relevncia est nos laos afetivos que se constroem, no cotidiano que se
transforma com a insero do encontro peridico com o grupo e na troca de
experincias sobre o que se produz naquele espao. A convivncia em grupo diminui a
ao da solido e do isolamento social.
Ao acompanhar esses pacientes no ateli, percebemos o quanto teraputico o
prazer que a atividade criativa proporciona: auxilia-os no resgate da autoestima,
organizao mental, capacidade no ato criador, criao de vnculos; os pacientes, muitas
vezes sem prtica artstica anterior, vivem a alegria das descobertas que antes julgavam
no ter em potencial. O sentimento positivo de poder estar produzindo arte lhes
proporciona melhora no estado de sade e na qualidade de vida, isso mostra o quanto
benfico o papel da arte para o ser humano.
No trabalho oferecido nas Oficinas de Desenho e Pintura e de Criao do Ateli
da Vida, a concentrao individual se faz necessria desde a escolha do material. O
ritual de organizao do material, o aprendizado sobre sua utilizao, limpeza e
162
Afinal, a arte o que congrega, o que faz com que se reconhea a presena do
humano, no importa em que tempo e em que lugar. Por isso mesmo, a arte pode reunir
artistas loucos na comunidade dos artistas, pois a partir dela no mais o louco que
importa, mas aquilo que ele criou. E, para provar isso, criamos a Galeria dos Artistas no
primeiro andar do Instituto de Psiquiatria do IPUB, onde Alcebades, Josinaldo, e outros
artistas exibem suas obras no como loucos, mas, sim, como artistas.
Trabalhar com a arte, a Arte da vida, tem sido um privilgio dirio, aguando em
mim um desejo maior de viver. Explicar isso no tarefa fcil, j que cada um de ns
tem uma luta travada consigo mesmo no seu processo criativo.
O trabalho coletivo e a incluso tm sido marcas fortes desenvolvidas pelo Ateli
nos ltimos anos. Temos recebido outros artistas que, direta ou indiretamente, tm nos
presenteado com participaes em nossas exposies, debates, pesquisas, visitas e
curadorias. Por isso interessante ressaltar algumas dessas parcerias com os artistas e
professores da Escola Nacional de Belas Artes UFRJ: Ana Canti, Kazuo Iha, Marcos
Varela, Lourdes Barreto, Marcelo Duprat que pintou todos os retratos da Galeria dos
Diretores do IPUB, galeria esta criada e organizada pelo Ateli da Vida, Ricardo Pereira
que trabalhou na equipe de uma parte da restaurao da obra dos artistas Alcebades e
Josinaldo Lima. E tivemos a colaborao da artista Brbara Sotrio, que, junto ao Ateli,
criamos a Galeria dos artistas do IPUB.
Dos artistas que fizeram parte de algumas de nossas exposies coletivas,
convidados pelos artistas do IPUB, entre eles, Jade Mascarenhas, Cristina Loureiro,
Brbara Sotrio, Matheus Grimio, Alex Nery, Floriano Duarte, o artista chileno Marko
Molina, Marcius Tristo, Cristina Amendoeira, Chiara Bozzetti, Pedro Marambaia,
Antonio Aranha, Fernando Campos Maia, Mrcio Goldzweig, entre tantos outros que o
tempo, na sua generosidade, nos concedeu o encontro e, na sua crueldade da distncia,
me faz esquecer os nomes neste momento. A possibilidade de encantar pessoas que
ainda se emocionam quando descobrem a alegria das cores, a pincelada do pincel, a dor
e o orgulho de acabar um trabalho e saber que nem sempre a sua criao corresponde
expectativa de beleza do outro, isso tem feito do trabalho desenvolvido no Ateli da
Vida uma busca constante pelo desejo de mostrar caminhos para pessoas que nos
procuram, buscando uma vida mais comprometida com a sade e a felicidade. E vem
dessa experincia a vontade concreta de mostrar que a prtica artstica pode ser um
caminho saudvel em busca do bem-estar. E com um fator importante: no existe idade.
se entregar no colorido das cores, das formas, das linhas, das massas de modelar e
simplesmente deixar a vida correr solta, dentro de voc. assumir o seu lado criana no
brincar da criao. No importa que voc no seja Mir, Van Gogh, Picasso ou Dali,
que aos sessenta, setenta e nove anos, possamos dizer: No palco da vida, representei
melhor porque tive como companheira de estrada a minha arte, e mesmo que o encontro
tenha sido mais tarde, foi ela que me mostrou um caminho onde posso amenizar o
percorrer da minha estrada.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
GULLAR, F. Argumentao contra a morte da arte. 2.ed. Rio de Janeiro: Revan, 1993.
135p.
KNELLER, George F. Arte e Cincia da Criatividade. Trad. Jos Reis. 15.ed. Ibrasa:
So Paulo, 1978.
QUINTANA, Mario - A vaca e o Hipogrifo, Editora Ibjet5iva, 2012
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parecida conosco, trocamos dor e sofrimento, sabendo viver trocamos sorriso, abrao e
longa caminhada, ento brilhamos tambm. No temos tempo de pensar que fazemos
uso de servios de sade mental, pois temos muitas atividades.
A Voz dos Usurios um veculo de comunicao, de conversa entre pacientes,
profissionais de sade mental, estudantes e outros, com o intuito de contribuir com a
formao acadmica de novos profissionais a partir do entendimento de nossos conflitos
emocionais. Relatamos as nossas vivncias, sendo de suma importncia a verdade.
Contando as nossas histrias podemos trocar experincias, aprendendo a compreender
uns aos outros, lutando por um propsito nico e real, desmistificando o preconceito
para que no futuro nasa uma nova gerao com uma outra viso da loucura. Ns
podemos mostrar que somos pessoas capazes de viver em sociedade, mesmo com
nossas limitaes, vencendo assim o estigma. O nosso projeto bom porque ns
interagimos com outras pessoas e podemos fazer atividades importantes em vrios
aspectos, como no emocional.
Assim como no grupo, o usurio, a famlia, os profissionais da sade, a
medicao e a sociedade esto entrelaados entre si, diversos saberes tambm esto,
como: a arte, as terapias ocupacionais, o saber de quem fala e de quem vivencia o
mundo da sade mental.
Em resumo, ns somos um grupo de usurios de sade mental que conseguiu
obter uma superao psiquitrica. Colaboramos com a formao acadmica dos alunos
de psicologia da UFRJ, e de outras Universidades tambm, testemunhando nossas
experincias e lies de vida. Fazemos consultorias de Psicopatologia e Sade Mental
para projetos artsticos e culturais (peas de teatro, filmes, TV) que se interessem por
este universo. uma alternativa de ensino no campo da sade mental, que nos ajuda na
superao do nosso sofrimento psquico atravs das rodas de conversa realizadas pelo
grupo A Voz dos Usurios.
O projeto em primeiro lugar preza a participao e frequncia dos membros da
equipe. As atividades so: rodas de conversa; passeiotrabalho (excurses que aliam
trabalho acadmico com uma viagem bem divertida, o que faz com que ao lado da
pesquisa seja aliada a diverso para aprender e pesquisar) com grupos de bate-papo;
dever de casa digital (tarefas para digitar no computador nos tempos vagos, como
exerccios de casa); internet-livre (o usurio de sade mental com livre acesso ao
computador e internet). Temos tambm estagirios competentes e carinhosos, alm de
um mentor afetuoso e estimulador de talentos. Uma equipe de colaboradores unidos
apesar da distncia, intercmbio de trocas de ideias, culturas e experincias, dons
artsticos diversos, site, facebook, e-mail, blogs, tirar fotos e filmar, lanches, almoos,
filme, documentrio, muita descontrao, brilho, superao, esprito de aventura, ida a
pea de teatro, aos congressos, s aulas inaugurais.
As rodas de conversa permitem responder o que est sendo perguntado por cada
aluno, como adversidades, internaes e outros problemas relacionados ao problema
psquico. Elas so compostas por vrios pacientes que dialogam os seus problemas e
ajudam os alunos a entender melhor os nossos conflitos internos to desagradveis pra
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cada um. Ns temos esta atividade como uma grande aliada, onde passamos todas as
experincias de adoecimento e superao de sade mental para aqueles que ainda
acreditam que somos capazes de oferecer muito. Mdicos passaram ouvir seus
pacientes, porque alguns usurios podem relatar as vozes que ouvem e esto ali nos
incomodando e assim acreditamos que aquela medicao e terapias ocupacionais vo
nos ajudar.
Cada roda de 'conversa-debate' um encontro fascinante porque nela se
encontram vrias pessoas que se interessam pelo universo da sade mental. Participam
psiclogos, estudantes de psicologia, enfermeiros, profissionais da sade, estudantes e
profissionais de psiquiatria, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais etc. O
profissional de sade mental se compadece do sofrimento psquico e orgnico. As rodas
de conversa visam esclarecer e debater assuntos que at ento eram tabu. Quanto mais
for multiplicada esta questo da sade mental, o povo comear a entender como lidar e
conviver com assuntos que no passado eram motivo de vergonha como uma famlia ter
um dito retardado. Quando terminamos os debates sentimos a sensao de dever
cumprido, porque a Sociedade e a Comunidade amadurecem sabendo lidar com seres
humanos to frgeis e vulnerveis.
A princpio, nas rodas de conversa, so mostrados vrios temas, dos quais cada
um relata suas dificuldades e experincias apontadas por qualquer aluno, ajudando-os a
entender melhor a nossa individualidade. Ns temos uma relao de mais de vinte temas
que achamos relevantes a respeito de nossa experincia pessoal e que foram escolhidos
por ns coletivamente como: crise, preconceito, reinsero social, depresso, transtorno
mental e espiritualidade, ouvir vozes, experincia de uso da medicao etc, que tm
muito boa aceitao nos espaos onde somos convidados como palestrantes. Este leque
temtico visa reduzir a dvida que as pessoas ainda tm quanto superao na sade
mental e em todas as questes que tanto debatemos. Vitria na sade mental. Quando
oferecemos os diversos assuntos a serem debatidos visamos discutir os vrios ttulos de
interesse pblico.
Dependendo do nosso momento, das nossas necessidades, esses temas podem
ser mudados constantemente. Apesar dessa lista de temtica, nossos convidados esto
vontade para perguntar sobre outros assuntos no previstos na lista. Isso tudo faz cada
um mostrar que no so apenas os livros que enriquecem o ser humano, mas tambm o
contato com o outro na troca de experincias para melhor entender o sofrimento de cada
um.
Os temas que escolhemos do uma viso panormica do mundo de sade mental
e despertam muito interesse para quem era leigo, que passa a ter uma base e noo sobre
esse universo to instigante. A pessoa passa de ouvinte, curioso e at mesmo insensvel,
para um sbio da vida e alma humana. A viso da existncia e do mundo de todos os
envolvidos melhora significantemente. como um livro de autoajuda, para quem
estiver em crise ou surto emocional passar a ver o lado bom da vida e a viver mais
coloridamente, ou seja, a pessoa passa a amar a vida.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BARROS, Octvia Cristina; SERPA JUNIOR, Octavio Domont de. Ouvir vozes: um
estudo sobre a troca de experincias em ambiente virtual. Interface: Comunicao,
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