INACABADA Direito Da Familia - Jorge Duarte Pinheiro
INACABADA Direito Da Familia - Jorge Duarte Pinheiro
INACABADA Direito Da Familia - Jorge Duarte Pinheiro
2014/2015
SEBENTA INACABADA
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Casamento Civil: o artigo 1577., Lei 9/2010, 31/5 define o casamento como o contrato
celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir famlia mediante uma plena
comunho de vida. Caracteriza-se pela:
Contratualidade: no obstante a fixao injuntiva dos efeitos essenciais do casamento
(cf. Artigos 1618., 1698. e 1699.), as partes gozam de alguma margem de autonomia: podem
decidir quando e com quem querem casar; podem fazer estipulaes acerca do modo de
cumprimento dos deveres conjugais legalmente impostos, mediante acordos sobre a orientao
da vida em comum. E a relevncia da simulao como vcio do ato matrimonial (artigos 1635.,
alnea d)) confirma a natureza negocial.
Assuno de um compromisso recproco que tem reflexos amplos no plano existencial
e temporal: o compromisso de plena comunho de vida. Esse compromisso traduz-se assente
numa clusula geral, em deveres particulares, previstos no artigo 1672. segundo a tcnica dos
conceitos indeterminados: o respeito, a fidelidade, a coabitao, a cooperao e assistncia.
Pessoalidade: as obrigaes de plena comunho de vida repercutem-se na esfera
pessoal e ntima, no entanto, no excluem o carter contratual do casamento. E a plena
comunho de vida no determina a eliminao da individualidade das partes; cada cnjuge por
o ser no deixa de dispor de um espao prprio, que coexiste com o espao da vida em comum.
Solenidade: tem de ser celebrado nos termos das disposies do Cdigo Civil, o que
significa que se trata de um contrato pessoal e solene. assim porque a celebrao do
casamento est sujeita a uma forma estabelecida na lei (artigo 1615.). A solenidade visa levar
as partes a refletirem antes de se vincularem e contrasta com a informalidade da constituio
da unio de facto.
De qualquer modo, sendo um contrato, o casamento corresponde a um contrato especial. Em
primeiro lugar, pessoal numa segunda aceo do termo; influi no estado das pessoas,
projetando-se principalmente na esfera pessoal e acessoriamente na esfera patrimonial. Em
segundo lugar, um contrato familiar, estando consequentemente marcado pelo aspeto
funcional. O casamento tem uma finalidade comunitria, extra individual, que impede a
aplicao da exceo de no cumprimento.
Modalidades: o casamento civil no a nica modalidade do casamento. H tambm o
casamento catlico (artigo 1587. CC), o casamento celebrado segundo o Direito Cannico da
Igreja Catlica (cf. Cnones 1055 e seguintes CDC), a qual a lei civil reconhece valor e eficcia de
casamento. O casamento catlico uma verdadeira modalidade de casamento no ordenamento
jurdico portugus, uma vez que este admite a eficcia civil do Direito Cannico na
regulamentao de aspetos no meramente formais do casamento catlico. De facto luz do
artigo 16. da Concordata entre a Repblica Portuguesa e a Santa S, de 2004, e do artigo 1626.
DL n. 100/2009, 11/5, as decises das autoridades eclesisticas relativas nulidade do
casamento e dispensa pontifica do casamento rato e no consumado podem produzir efeitos
civis. Tais decises aplicam o Direito Cannico aos requisitos de validade do matrimnio catlico,
e incidem sobre uma causa particular de dissoluo desta mesma espcie de matrimnio. Outro
o tratamento dade pelo Estado Portugus aos demais casamentos religiosos, relativamente
aos quais no h nenhuma norma semelhante do artigo 16. Concordata ou dos artigos
1625. e 1626.. Aos casamentos religiosos no catlicos celebrados perante o ministro do culto
de uma igreja ou comunidade religiosa radicada no pas so reconhecidos efeitos civis (artigo
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19., n.1 lei da liberdade religiosa). Contudo, os casamentos em apreo esto integralmente
sujeitos ao regime que vigora para o casamento civil, salvo no que toca a alguns aspetos de
forma. (cf. artigos 19. e 58. lei da liberdade religiosa). No so, portanto, modalidades, mas
meras formas de casamento. Bem vistas as coisas, so afinal casamentos civis sob forma
religiosa. No sistema matrimonial portugus usual distinguir entre:
Sistema de casamento religioso obrigatrio: o Estado reconhece eficcia civil apenas ao
casamento celebrado sob forma religiosa;
Sistema de casamento civil obrigatrio: os casamentos religiosos no produzem efeitos
civis; o Estado s atribui relevncia jurdica ao casamento civil;
Sistema de casamento civil facultativo: so conferidos efeitos civis quer ao casamento
celebrado por forma civil quer ao casamento celebrado por forma religiosa. Os nubentes que
pretendam contrair matrimnio relevante perante o Estado podem escolher entre a forma laica
e a forma religiosa. Este sistema comporta, ainda, duas variantes:
- o Estado s reconhece um regime particular ao casamento religioso nos
aspetos formais; em tudo o resto, aplicvel a lei civil. O casamento laico e o casamento
religioso so apenas duas formas distintas de celebrao do matrimnio;
- o Estado admite a eficcia do Direito da Igreja ou comunidade religiosa em
aspetos formais. O casamento laico e o casamento religioso so dois institutos ou duas
modalidades diferentes.
Sistema de casamento civil subsidirio: o Estado reconhece o casamento religioso,
apenas admitindo o casamento laico para os casos em que considerado legtimo pelo Direito
da Igreja ou da comunidade religiosa.
Em Portugal, desde a Concordata de 1940, tem vigorado o sistema de casamento civil
facultativo e, desde a Lei da Liberdade Religiosa, o casamento laico facultativo a todos os
membros de Igrejas ou comunidades religiosas radicadas no pas. Enquadra-se na segunda
variante deste sistema, de dupla modalidade. O casamento civil e o casamento catlico so dois
institutos diferentes. Contudo, o casamento religioso no catlico no constitui uma
modalidade autnoma, integrando-se no casamento civil, que comporta, assim, duas formas: a
civil e a religiosa. As partes podem escolher entre o casamento civil celebrado por forma civil, o
casamento civil celebrado por forma religiosa e o casamento catlico.
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jurdicos, uma vez que as regras especiais do casamento em matria de falta ou vcios da vontade
se destinam a garantir a estabilidade de um matrimnio que j foi celebrado. Ao contrario do
contrato de casamento, a promessa pode ser submetida a condio ou termo.. O objeto da
promessa de casamento deve ser legalmente possvel (artigo 280., n.1). A validade da
promessa no depende da observncia de uma forma especial (artigo 219.) e no se impe
uma declarao expressa (artigo 217.). O simples namoro no tem, em princpio, o significado
de uma promessa de casamento.
Efeitos: mediante a promessa de casamento, as partes ficam vinculadas a casar uma com a outra.
No entanto, a natureza especfica da obrigao de casar obsta execuo especfica da
promessa (cf. artigos 1591. e 830., n.1, in fine). No caso de incumprimento, conferido
apenas o direito s indemnizaes previstas no artigo 1594. (artigo 1591.). As indemnizaes
previstas so devidas pelo contraente que romper a promessa sem justo motivo, que,
culposamente der lugar retratao do outro ou que dolosamente (por si ou por seus
representantes) contribuir para a prpria incapacidade matrimonial. Os beneficirios podem ser
o esposado inocente, bem como os pais deste ou terceiros que tenham agido em nome dos pais.
A obrigao de indemnizar por incumprimento da promessa restringe-se s despesas feitas e as
obrigaes contradas na previso do casamento. S indemnizvel uma parte dos danos
patrimoniais emergentes, o que representa uma limitao extenso da obrigao geral de
indemnizar, fruto da preocupao de salvaguardar, na medida do possvel, a liberdade
matrimonial das partes. Alm disso, a indemnizao fixada segundo o prudente arbtrio do
tribunal, nos termos do n. 3 do artigo 1594., o que introduz mais um desvio ao regime comum
da responsabilidade civil (cf. artigo 494.): ainda que haja dolo do agente, o montante da
indemnizao concedida poder ser inferior ao valor das despesas feitas e das obrigaes
contradas na previso do casamento. A ao de indemnizao caduca no prazo de um ano, a
partir da data do rompimento da promessa (artigo 1595.). No caso de rutura da promessa de
casamento, cada um dos contraentes obrigado a restituir os donativos que o outro ou terceiro
lhe tenha feito em virtude da promessa e na expectativa do casamento, segundo os termos
prescritos para a nulidade e anulabilidade do negcio jurdico (artigo 1592., n.1). A obrigao
de restituio dos donativos, que independente da culpa, abrange as cartas pessoais e
retratos pessoais do outro contraente, mas no as coisas que hajam sido consumidas antes da
retratao ou da verificao da incapacidade (artigo 1592, n.2). No caso da extino da
promessa por morte, de um dos promitentes, cabe ao promitente sobrevivo optar entre
conservar os donativos do falecido ou exigir aqueles que lhe tenha feito (artigo 1593., n.1).
Contudo, certos donativos esto, por fora do seu cariz intimo, subordinados a um regime
especial: o promitente sobrevivo pode reter a correspondncia e os retratos pessoais do falecido
e exigir que lhe tenha oferecido (artigo 1593., n.2). A ao destinada a exigir a restituio dos
donativos caduca no prazo de um ano, a contar da data do rompimento da promessa ou da
morte do promitente (artigo 1595.).
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Capacidade:
Impedimentos matrimoniais em geral: outro requisito de fundo do casamento
civil a capacidade. Tm-na para contrair casamento todos aqueles em que se no verifique
algum dos impedimentos matrimoniais (artigo 1600.). Impedimentos matrimoniais so
circunstncias que de qualquer modo obstam realizao do casamento. Estas proibies de
casar esto sujeitas a um princpio de tipicidade: so apenas as que se encontram previstas na
lei (artigo 1600.). A apreciao da sua existncia tem, naturalmente, como ponto de referncia
o momento da cerimnia do casamento. Havendo impedimentos matrimoniais, o casamento
no deve ser realizado. Se, apesar disso, vier a ser celebrado, a no ser observncia das regras
sobre impedimentos pode determinar a anulabilidade do ato (artigo 1631., alnea a)), a
aplicao s partes de sanes especiais com carter patrimonial (artigos 1649. e 1650.), e a
sujeio a responsabilidade civil, penal e disciplinar do funcionrio do registo civil (artigos 294.
e 297., alneas b) e c) CRC). So concebveis, pelo menos, quatro classificaes de impedimentos
matrimoniais. Uma das classificaes contrape:
- Nominados: so designados na lei como impedimentos (1601., 1602.,
1604. CC e artigo 22. Lei de Apadrinhamento Civil);
- Inominados: so os restantes, mas precisamente, a proibio do
casamento civil de duas pessoas unidas entre si por matrimnio catlico anterior no dissolvido,
consagrado no artigo 1589., n.2;
Noutra classificao, que sem dvida a mais importante, distinguem-se entre:
- Dirimentes: so aqueles que, verificando-se, tornam o casamento
anulvel (1631., alnea a));
- Impedientes: so os restantes.
Podem, ainda, ser:
- Absolutos: obstam celebrao de um casamento por uma pessoa seja
com quem for; so, portanto, verdadeiras incapacidades;
- Relativos: obstam realizao de um casamento entre certas pessoas;
correspondem a ilegitimidades.
Por fim, h que separar os impedimentos:
- Suscetveis de dispensa: no obstam ao casamento se houver, no caso
concreto, um ato de autorizao de um autoridade;
- Insuscetveis de dispensa: no permitem a celebrao do casamento,
independentemente de qualquer pedido a uma autoridade.
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ainda que o ato tenha sido celebrado num intervalo lcido. E s revela como impedimento a
demncia de facto notria que seja habitual, porque o tratamento da demncia acidental, ou
no permanente, cabe noutra sede, no mbito do regime do consentimento matrimonial (artigo
1635., alnea a)). O regime da invalidade fundada no impedimento da demncia semelhante
ao da que respeita ao impedimento da idade nupcial. A par da legitimidade que em geral
reconhecida aos sujeitos indicados no artigo 1639., n.1, conferida ao tutor ou curador do
interdito ou inabilitado a prerrogativa de intentar ou prosseguir a ao de anulao (1639.,
n.2), quando proposta pelo demente (de facto ou de direito), a ao deve ser instaurada at
seis meses depois de lhe ter sido levantada a interdio ou inabilitao ou de a demncia de
facto ter cessado; quando proposta por outra pessoa, deve ser instaurada dentro dos trs anos
seguintes celebrao do casamento, mas nunca depois do levantamento da incapacidade ou
da cessao da demncia (1643., n.1, alnea c)). Considera-se sanada a anulabilidade se, antes
de transitar em julgado a sentena de anulao, o casamento do demente for confirmado por
este, perante o funcionrio do registo civil e duas testemunhas, depois de lhe ser levantada a
interdio ou a inabilitao ou depois de o demente de facto fazer verificar judicialmente o seu
estado de sanidade mental (1633., n.1, alnea b)). Tradicionalmente, o impedimento
justificado com razes de ordem eugnica e social: pretende-se evitar que as taras do demente
se transmitam para os filhos e defender sob este aspeto a prpria sociedade (razo de ordem
eugnica); por outro lado (razo de ordem social), quer a lei evitar que se constituam famlias
que no sejam no corpo social, clulas ss e teis, como decerto no o seriam as famlias em que
algum dos cnjuges fosse portador de anomalia psquica. A rigidez da soluo do atual artigo
1601., alnea b), cria a suspeita de uma restrio inconstitucional dos direitos do cidado
portador de deficincia mental (71., n.1, 36., n.1 e 18., n.2 e 3 CRP).;
- o vnculo matrimonial anterior no dissolvido (alnea c)): o
impedimento de casamento anterior no dissolvido, que se destina a evitar a bigamia (punida,
alis, pelo artigo 247. CP), obsta celebrao do casamento por uma pessoa j casada,
enquanto substituir o casamento anterior, seja este civil ou catlico e tenha sido ou no lavrado
o respetivo assento no registo civil (1601., alnea c)). O impedimento cessa com a dissoluo
do casamento anterior, seja este civil ou catlico e tenha sido ou no lavrado o respetivo assento
no registo civil (1601. alnea c). A dissoluo pode ocorrer, nomeadamente, por morte ou
divrcio. Apesar de a declarao de morte presumida no dissolver o casamento (115.), o artigo
116. no consagra uma exceo proibio da bigamia: com o novo casamento dissolve-se o
anterior. O impedimento de vnculo no tem lugar se o primeiro casamento for juridicamente
inexistente (1630., n.1) ou se tiver sido declarado nulo ou anulado por sentena transitada em
julgado antes da celebrao do novo. Na hiptese de bigamia, o primeiro cnjuge do bgamo
tem legitimidade para intentar ou prosseguir a ao de anulao, ao lado das pessoas referidas
no artigo 1639., n.1 (1639., n.2). Nos termos do artigo 1643., n.3, a ao de anulao
fundada no impedimentum ligaminis no pode ser instaurada, nem prosseguir, quando estiver
pendente ao de declarao de nulidade ou de anulao do primeiro casamento do bgamo
convalida o segundo casamento do bgamo (1633., n.1, alnea c).
O artigo 1602. enuncia os seguintes impedimentos dirimentes:
- parentesco na linha reta (alnea a));
- parentesco no segundo grau da linha colateral (alnea b));
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O prazo internupcial (alnea b)): obsta ao casamento daquele cujo matrimnio anterior foi
dissolvido, declarado nulo ou anulado, enquanto no decorrerem sobre a dissoluo, declarao
de nulidade ou anulao, 180 a 300 dias, conforme se trate de homem ou mulher (1605.). Se o
casamento se dissolver por morte, o prazo conta-se a partir da data do bito. O artigo 1605.,
n.3, rege outras situaes: declarao de nulidade ou dissoluo do casamento catlico por
dispensa do casamento rato e no consumado, em que o prazo se conta a partir do registo da
deciso proferida pelas autoridades eclesisticas; divrcio ou anulao do casamento civil, em
que o prazo se conta a partir do trnsito em julgado de respetiva deciso. Cessa o impedimento
do prazo internupcial se os prazos mencionados j tiverem decorrido desde a data, fixada na
sentena de divrcio e dissoluo por morte de um dos cnjuges separados de pessoas e bens,
desde a data em que transitou a deciso que decretou a separao (1605., n. 4 e 5). Tambm
no h impedimento do prazo internupcial para a celebrao de novas npcias do cnjuge do
ausente, aps a declarao de morte presumida (116.), no s porque o matrimnio anterior
dissolvido mas tambm porque os prazos do impedimento h muito que decorreram desde a
data em que findou a coabitao dos cnjuges. So vrias as razes do prazo internupcial:
convenes sociais, decoro social e de salvaguarda da estabilidade de um eventual segundo
casamento. O prazo internupcial mais longo a que est sujeita a mulher funda-se na especfica
aptido do corpo feminino para a conceo e destina-se a evitar dvidas que poderiam surgir
sobre a paternidade do filho nascido depois do segundo casamento (a turbatio sanguinis).
Atentando ao disposto nos artigos 1826., 1827. e 1798., o filho nascido na constncia do
segundo matrimnio, antes de decorridos 300 dias sobre a dissoluo, declarao de nulidade
ou anulao do primeiro casamento, presume-se que tem como pai o primeiro marido. Apesar
de o artigo 1834. resolver este problema, prefervel que nem sequer se esboce um tal cenrio
de conflito de presunes de paternidade. O critrio legal que atribui prevalncia da presuno
quanto ao segundo marido corresponde a um remdio extremo de estabelecimento legal da
filiao que no tem o dom de eliminar completamente desconfianas sociais relativamente
paternidade. O prazo fica reduzido a 180 dias, desde que a mulher obtenha a declarao de
dispensa do prazo internupcial (mais longo) ou tenha tido algum filho depois da dissoluo,
declarao de nulidade ou anulao do casamento anterior (1605., n.2, 1. parte CC,
conjugado com o artigo 12., n.1, alnea c) DL n. 272/2001, 13 outubro). A declarao de
dispensa do prazo internupcial (mais longo), que compete conservatria do registo civil,
pressupe que a mulher apresente, juntamente com a declarao para casamento, atestado
mdico de especialista em ginecologia-obstetrcia comprovativo da situao de no gravidez.
No obstante a falta de previso legal expressa, h um novo caso de reduo do prazo
internupcial mais longo desde a entrada em vigor da lei 9/2001, 31 maio. Destinando-se a evitar
dvidas que poderiam surgir sobre a paternidade do filho nascido depois do casamento, o prazo
de 300 duas no se aplica mulher que tenha contrado o primeiro, ou o segundo casamento
com uma pessoa do mesmo sexo. Quem, homem ou mulher, contrair novo casamento sem
respeitar o prazo internupcial perde todos os bens que tenha recebido por doao ou
testamento do seu primeiro cnjuge (1650., n.1). A violao do impedimento , portanto,
sancionada com a caducidade ou ineficcia superveniente das liberdades efetuadas pelo
primeiro cnjuge.
O parentesco no terceiro grau da linha colateral, o vnculo de adoo, curatela ou administrao
legal de bens, o vinculo de adoo restrita e o vnculo de apadrinhamento civil sos os nicos
impedimentos suscetveis de dispensa. Note-se que, sendo concedida a dispensa, o casamento
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passa a ser lcito e as partes que o contraram no incorrem em nenhuma sano. Na falta de
dispensa, a celebrao do casamento pode acarretar para um dos cnjuges uma sano que se
enquadra numa situao de indisponibilidade relativa (1650., n.2 e 22., n.3, LAC), similar s
que esto previstas nos artigos 2192. a 2198. (nos termos do 953.). O parentesco no terceiro
grau da linha colateral obsta ao casamento entre tios e sobrinhos. Nos termos da parte final do
artigo 1686., n.1, que ressalva o disposto no artigo 1604., a proibio aplica-se ao casamento
daquele que foi adotado plenamente e seus descendentes com tios e sobrinhos biolgicos.
Abstraindo do caso excecional da adoo plena, este impedimento impediente s existe quanto
ao parentesco legalmente constitudo e subsistente: o princpio do artigo 1797., n.1,
plenamente aplicvel, na falta de disposies similares s do artigo 1603. ou 1986., n.1, 1.
parte, o impedimento do parentesco de terceiro grau na linha colateral, que foi pensado para a
famlia biolgica, alargado, com as devidas adaptaes, famlia adotiva. A infrao do
impedimento do parentesco de terceiro grau na linha colateral importa para o tio ou tia a
incapacidade para receber da sobrinha ou sobrinho, com quem casou, qualquer beneficio por
doao ou testamento (1650., n.2). Todavia, a sano no ser aplicada, no caso detetado no
processo preliminar de casamento (1987.). O vnculo de tutela, curatela ou administrao legal
de bens obsta ao casamento do incapaz com o tutor, curador ou administrador, ou seus parentes
ou afins na linha reta, irmos, cunhados ou sobrinhos, enquanto no tiver decorrido um ano
sobre o termo da incapacidade e no estiverem aprovadas as respetivas contas, se houver lugar
prestao delas (1608.). A violao da proibio de casar sancionada com uma
indisponibilidade relativa que implica a nulidade das liberdades feitas em favor do tutor, curador
ou administrador ou seus parentes ou afins na linha reta, irmos, cunhados ou sobrinhos, pelo
seu consorte (1650., n.2).
O mbito do impedimento do vnculo de adoo restrita (alnea e)) concretizado pelo artigo
1607.. No permitido o casamento do adotante, ou seus parentes na linha reta, com o
adotado ou seus ascendentes (alnea a)); do adotado com o que foi cnjuge do adotante (alnea
b)); do adotante com o que foi cnjuge do adotado (alnea c)); dos filhos adotivos da mesma
pessoa, entre si (alnea d)). Esclarea-se que a alnea d), quando alude aos filhos adotivos,
abrange apenas as situaes em que os cnjuges tenham sido adotados restritivamente pela
mesma pessoa (o artigo 1607. tem em vista a adoo restrita). Se ambos tiverem sido
plenamente e o outro restritivamente, aplica-se a alnea a), artigo 1607., ex vi do casamento
com este impedimento a nulidade das liberdades feita pelo adotado restritivamente, ou por
aquele que foi cnjuge do adotado, em favor do seu cnjuge, exceto se o ltimo tiver sido
adotado, em favor do seu cnjuge, exceto se o ltimo tiver sido adotado restritivamente pela
mesma pessoa, caso em que no h sano (1650., n.2).
O vnculo de apadrinhamento civil obsta ao casamento entre padrinhos e afilhados (artigo 22.,
n.1, LAC). A infrao do impedimento importa, para o padrinho ou madrinha, a incapacidade
para receber do seu consorte qualquer beneficio por doao ou testamento (artigo 22., n. 3
LAC), efeito similar ao que se encontra fixado para outros impedimentos suscetveis de dispensa.
Nos termos do artigo 1604., alnea f), impedimento impediente a pronncia do nubente pelo
crime de homicdio doloso, ainda que consumado, enquanto no houver despronncia ou
absolvio por deciso passada em julgado. de entender que o impedimento existe quando
haja pronncia pelo crime ou, na ausncia de instruo, quando haja despacho do juiz que,
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com que o nubente ilicitamente ameaado, e justificado o receio da sua consumao (1638.,
n.1). Os requisitos da coao moral so idnticos aos estabelecidos no regime geral da coao
moral proveniente de terceiro (256.). De acordo com o artigo 1638., n.2, a explorao da
situao de necessidade que, na parte geral, corresponde a uma manifestao tipificada de
negcio usurrio (282., n.1), equiparada coao moral. A anulao fundada em erro ou
coao s pode ser pedida pelo cnjuge cuja vontade foi viciada; se ele falecer na pendncia da
causa, podem prosseguir na ao os seus parentes, afins na linha reta, herdeiros ou adotantes
(1641.). A ao caduca, se no for instaurada dentro dos seus meses subsequentes cessao
do estado de erro ou coao (1645.).
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Casamento catlico:
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pelo proco competente para a organizao do processo cannico, mediante requerimento por
si assinado (135., n. 1 e 2 CRC). Verificada no despacho final do processo preliminar a
inexistncia de impedimento realizao do casamento, o conservador passa, dentro do prazo
de um dia a contar da data do despacho ou daquela em que os nubentes manifestaram inteno
de contrair casamento catlico, um certificado no qual declara que os nubentes podem contrair
casamento (146., n. 1 e 2 CRC). O casamento catlico no pode ser celebrado sem que o
proco seja apresentado o aludido certificado, a no ser que se trate de casamento dispensado
o processo preliminar de casamento (151. CRC). Est dispensado do processo preliminar de
casamento o casamento catlico urgente: o casamento in articulo mortis na iminncia de parto
ou cuja celebrao seja expressamente autorizada pelo ordinrio prprio por grave motivo de
ordem moral (1599., n.1). Os casamentos catlicos no precedidos do processo preliminar de
casamentos consideram-se contrados sob o regime imperativo da separao de bens (1720.,
n.1, alnea a)). Aps a celebrao do casamento catlico, o proco deve lavrar o assento
paroquial em duplicado (167. e 168. CRC) e enviar conservatria competente, dentro do
prazo de um dia imediato quele em que foi feito (172., n.1 CRC). Na falta de remessa do
duplicado ou da certido do assento pelo proco, a transcrio pode ser feita a todo o tempo,
em face do documento necessrio, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministrio
Pblico (172., n.3 CRC). No entanto, se o casamento no tiver sido precedido do processo
preliminar de casamento, a transcrio s se efetua depois de organizado o processo (173.,
n.1 CRC). A esta causa de recusa de transcrio, que perdura enquanto no correr o processo,
acrescem verificao de impedimentos dirimentes: a alnea d), que se aplica aos casamento
catlicos comuns, e a alnea e) do n. 1 do artigo 174. CRC, relativa aos casamentos urgentes.
luz do artigo 175. CRC h que concluir que, apenas da letra do artigo 174., n.1 alnea d) CRC,
a recusa de transcrio do casamento catlico comum, com fundamento em impedimento
dirimente oponvel no momento da celebrao, s lcita se o impedimento subsistir data do
registo. O facto de a morte de um ou ambos os cnjuges no obstar transcrio (174., n.4
CRC) um elemento que afasta claramente a qualificao como condio de existncia ou
validade do ato matrimonial em face do ordenamento estatal. Confere transcrio do
casamento catlico a natureza que tem qualquer outro ato de registo do casamento, isto , de
formalidade ad probationem. que o casamento catlico no transcrito produz um efeito civil,
que se no reconduz ao domnio da prova em aes de estado ou registo: enquanto no for
dissolvido, o casamento catlico no transcrito obsta celebrao de casamento civil
subsequente (1601., alnea c)). Por fim, no obstante o que dispe o artigo 53., n.1, alnea c),
nem todos os casamentos catlicos celebrados em Portugal so registados por transcrio. O
registo do casamento catlico contrado por pessoas j ligadas entre si por casamento civil no
dissolvido faz-se por averbamento ao assento do casamento civil (179. CRC e 1589., n.1).
Casamento Putativo:
Noo e natureza jurdica: o casamento putativo o casamento anulado ou declarado
nulo que produz efeitos, como se fosse vlido, normalmente, ate ao trnsito em julgado da
sentena de anulao ou at ao averbamento no registo civil da deciso de nulidade (1647., n.
1 e 3). O instituto no se aplica aos casamentos inexistentes (1630., n.1, ltima parte).
Constituindo uma exceo regra do artigo 289., o casamento putativo assume a natureza de
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uma facto material, que se revela pela aparncia dum casamento, e que a lei atribui efeitos
anlogos aos desse ato.
Requisitos gerais do casamento putativo: os requisitos gerais do casamento putativo
so trs (1630., n.1 e 1647.):
existncia do casamento;
anulao do casamento civil ou declarao de nulidade do casamento
catlico;
casamento contrado de boa f pelo menos por um dos cnjuges.
Nos termos do artigo 1648., n.1, considera-se de boa f o Cnjuge que tiver contrado
o casamento na ignorncia desculpvel do vcio causador da nulidade ou anulabilidade, ou cuja
declarao de vontade tenha sido extorquida por coao fsica ou moral. O preceito consagra,
portanto, um conceito hbrido de boa f ignorncia desculpvel do vcio (boa f subjetiva
tica) ou declarao de vontade extorquida por coao fsica ou moral (boa f objetiva). A boa
f dos cnjuges presume-se e o seu conhecimento compete aos tribunais do Estado Portugus,
mesmo que se esteja perante casamento catlico que foi declarado nulo (1648., n. 2 e 3). O
facto de no ser requisito geral de eficcia putativa a boa f de terceiros mostra que o instituto
do casamento putativo visa a proteo das partes que contraram o casamento, e no a proteo
de terceiros.
Regime geral da eficcia putativa: o regime geral de eficcia putativa encontra-se
previsto nos artigos 1647. e 1648., variando em razo do nmero de cnjuges de boa f:
Boa f de apenas um dos cnjuges: se apenas um dos cnjuges tiver
contrado o casamento de boa f, s ele pode recorrer ao instituto geral do
casamento putativo, havendo, porm, que distinguir a eficcia do
casamento que oponvel ao outro cnjuge daquela que se produz perante
terceiros (1647., n. 2 e 3). O cnjuge de boa f pode invocar, perante o
Cnjuge de boa f, todos os efeitos do casamento. O cnjuge de boa f pode
invocar, perante terceiros, os efeitos do casamento que sejam mero
reflexo das relaes havidas entre os cnjuges (efeitos decorrentes das
relaes diretamente estabelecidas entre os cnjuges). O cnjuge de boa f
no pode invocar, perante terceiros, a subsistncia do vnculo de afinidade
ou da doao para casamento feita pro terceiro, por se tratar perante
efeitos emergentes de relaes diretas entre os cnjuges e terceiros. Apesar
da letra do artigo 1647., n.2, que confere ao cnjuge de boa f a faculdade
de ele se arrogar dos benefcios do estado matrimonial, o cnjuge de
boa f que invocar para si os efeitos desfavorveis do casamento. O estatuto
do cnjuge que contrai um casamento invlido no pode ser mais vantajoso
do que o estatuto do cnjuge que contrai um casamento vlido.
Boa f de ambos os cnjuges: o casamento anulado ou declarado nulo,
quando contrado de boa f por ambos os cnjuges, produz os seus efeitos
em relao aos cnjuges e a terceiros (1647., n.1 e 3). Como se sabe, o
segundo casamento celebrado por pessoa que ainda esteja casada invlido
(1601., alnea c) e 1631., alnea a)). No entanto, sendo configurveis
situaes de bigamia em que, pelo menos, um dos cnjuges do segundo
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Efeitos do casamento
O status ou estado de casado: todos os casamentos, independentemente da sua modalidade
(civil ou catlica) ou forma (civil ou religiosa), se regem, quanto aos efeitos civis, pelas normas
legais (36., n.2 CRP e 1588.). E as normas da lei portuguesa que disciplinam o regime da
relao conjugal no distinguem em razo do casamento que foi celebrado. Os efeitos legais do
casamento consistem na aquisio do status, ou estado de casado e na sujeio das partes ao
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regime inerente, o que se exprime, designadamente, na vinculao aos chamados deveres dos
cnjuges e em solues que se demarcam das que so impostas pelas regras comuns em matria
de nome, filiao, nacionalidade, entrada e permanncia no territrio portugus; titularidade
de bens, prtica de atos de administrao e disposio, dividas, validade dos contratos e at
capacidade (123., 132. e 133.). A palavra estado ou status pode ser usada em duas acees:
como uma qualidade de que resulta um regime ou como um regime associado a uma certa
qualidade. Na primeira aceo, o termo usado em sentido prprio. O estado de casado , ento,
a ligao que se estabelece entre duas pessoas que casaram uma com a outra, a qualidade de
cnjuge, sujeito de uma relao conjugal ou membro daquele grupo que a famlia conjugal. J
na expresso casamento-estado ou casamento enquanto estado, a palavra usada em
sentido imprprio, como estatuto ou regime associado a uma certa qualidade. Assim, o
casamento identifica-se com os efeitos do ato. Estando em causa uma questo meramente
formal, de perspetiva, optou-se pela aceitao desta terminologia, que est enraizada no Direito
da Famlia, sem prejuzo de se alertar para a sua menor preciso. Enquanto qualidade, o estado
de casado tem caractersticas gerais do status e caractersticas especficas, como a exclusividade.
Expressamente consagrado no artigo 1601., alnea c), a caracterstica em apreo inscreve-se
num princpio crucial dos ordenamentos matrimoniais ocidentais o princpio da monogamia.
Enquanto regime, o casamento estado adquire importncia fundamental no Direito da Famlia.
J se tomou contacto com o rigor e a extenso que a lei confere disciplina do casamento como
ato. O legislador cria um sistema de impedimentos cujo respeito suscetvel de controlo e
verificao em trs momentos: antes, durante e depois da cerimnia do casamento. E, para
defesa do seu sistema de impedimentos, o legislador no hesita em atribuir competncia a duas
entidades: ao conservador do registo civil e ao juiz. A tudo isto soma-se um sistema de
publicidade do casamento, que assento no registo civil e s tem paralelo no registo das situaes
jurdicas reais, situaes que se notabilizam por conferirem ao seu titular um direito exclusivo.
Todo o empenho na regulamentao do casamento como ato seria absurdo se, uma vez
celebrado o casamento, o Estado se desintegrasse da relao conjugal. O investimento na
disciplina da constituio do vnculo matrimonial no teria razo de ser se ao casamento como
estado correspondesse uma frmula vazia ou um instituto cujo contedo estivesse inteiramente
ao sabor da vontade das partes. O casamento alvo de ateno legislativa por causa dos seus
efeitos. O casamento muda juridicamente a vida das pessoas e esta mudana no algo que
somente diga respeito aos cnjuges. Trata-se de um fenmeno dotado de relevncia social. a
repercusso externa do casamento que justifica o intervencionismo jurdico do Estado numa
esfera que parece, primeira vista, particularmente ntima e estritamente bipolar. O Estado
impe aos cnjuges uma determinada imagem do casamento, que se consegue apreender
mediante uma anlise das disposies do Cdigo Civil que definem o casamento e estabelecem
os efeitos do mesmo quanto s pessoas e aos bens dos cnjuges. No artigo 1577. encontra-se
a imagem ideal, utpica, do casamento com plena comunho de vida no exequvel. Duas
pessoas no podem fundir-se numa s. Todavia, a utopia legal vincula-nos, no limite do possvel.
A unio conjugal deve traduzir-se numa comunho ntima, extensa e profunda de duas vidas. E
o artigo 1672. (sobre deveres dos cnjuges) especifica um pouco o entendimento legal da
eficcia do casamento, no mundo do possvel. O que avulta no casamento como estado a
dimenso pessoa, e no a dimenso patrimonial que fundamenta a existncia e a proteo do
casamento. Na sua essncia, a relao conjugal no concebida como uma unidade de bens
mas como uma comunho entre duas pessoas. E essa comunho tem de ser construda com
base na imagem legal do casamento, vertida, nomeadamente, nos artigos 1671. e seguintes.
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Em princpio, as normas jurdicas sobre efeitos do casamento so injuntivas. o que decorre dos
artigo 1618., 1698. e 1699., que, apesar de terem em vista concretamente um perodo
anterior aquisio do estado de casado, contm uma soluo necessariamente extensvel ao
momento posterior. Seria estranho que a lei impedisse uma estipulao dos nubentes contrria
ao regime legal dos efeitos do casamento, se, aps a celebrao do matrimnio, tudo fosse
permitido vontade comum dos cnjuges. A doutrina tende a separar os efeitos pessoais do
efeitos patrimoniais, estudando-se separadamente. Nesta lgica, os deveres dos cnjuges, vem
como os aspetos do nome, filiao, nacionalidade, entrada e permanncia no territrio
portugus, caberiam nos efeitos pessoais, enquanto os restantes aspetos dariam corpo aos
efeitos patrimoniais. A distino conhecida na lei, que, porm, compreensivelmente, no
dividiu a disciplina dos efeitos do casamento segundo tal classificao (1671. - 1736.). O
tratamento separado dos efeitos pessoais e patrimoniais pressupe a integrao dos deveres
dos cnjuges nos primeiros. Ora, alguns dos deveres conjugais tm uma estrutura patrimonial e
pessoal.
O princpio da igualdade dos cnjuges: luz do artigo 1671., n.1, o casamento baseia-se
na igualdade de direitos e deveres dos cnjuges. O princpio da igualdade dos cnjuges, que j
constava da Constituio, na verso de 1976, foi reproduzido no Cdigo Civil, na verso de 1977,
evitando-se, assim, qualquer polmica em torno da aplicabilidade imediata das normas
constitucionais dos particulares, numa poca em que at h pouco a lei, a sociedade e os
tribunais atribuam a mulher uma posio muito menos favorvel que aquela de que beneficiava
o marido. No se julgue porm, que o princpio da igualdade dos cnjuges algo que pertence
ao passado. Na Lei n. 16/2001, 22 junho, a Lei da Liberdade Religiosa, determina-se, no artigo
19.,n.3, que o certificado pra casamento civil sob forma religiosa no passado sem que o
conservador se tenha assegurado de que os nubentes tm conhecimento de quatro artigos do
Cdigo Civil, entre os quais se conta o artigo 1671.. A igualdade dos cnjuges, proibindo a
discriminao em razo do sexo, uma trave mestra do casamento ocidental moderno. A
necessidade de reafirmar o princpio permanece hoje num contexto de pluralismo religioso, em
que, por vezes, se sente a tentao de tolerar, seno legitimar, as convices e prticas
fundamentalistas, crists ou islmicas, que assentam na subordinao da mulher ao marido.
Alm disso, no lquido o cumprimento do princpio da igualdade na generalidade dos
casamentos entre pessoas de sexo deferente. Contudo, a ligao preferencial condio da
mulher no reduz o alcance do princpio da igualdade dos cnjuges, que pode ser invocado pelo
marido perante a mulher ou por uma pessoa casada com outra do mesmo sexo. Numa das suas
vertentes mais ntidas (1671., n.1), o princpio da igualdade influi na quantificao e
concretizao dos deveres conjugais. Os cnjuges esto reciprocamente vinculados a situaes
jurdicas em igual nmero e com igual contedo, no sendo, em regra, lcita uma leitura dos
deveres varivel em funo do gnero. Noutra vertente, o princpio implica, nos termos do artigo
1671., n.2, a atribuio aos membros do casal da direo conjunta da famlia.
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de vida econmica, que vincularia os cnjuges a uma partilha de recursos, que menor ateno
tem suscitado. Por vezes, nem sequer mencionada no mbito do dever de coabitao, atitude
que se percebe por fora das afinidades que a referida obrigao parece ter com outros deveres
conjugais nominados. No contexto do dever de coabitao, so a comunho de habitao e a
comunho sexual que ostentam maior relevncia. Na aceo tradicional, a obrigao de
comunho de habitao exige a convivncia dos cnjuges a tempo inteiro ou, pelo menos,
habitual, num determinado local a casa de morada da famlia. Essa ideia de convivescncia
est subjacente ao artigo 1673.: a adoo de uma residncia da famlia imposta como regra
para que a vida quotidiana do casal a se desenrole. No entanto, a obrigao de comunho de
habitao, na aceo tradicional, torna-se, por vezes, pouco vivel na sociedade atual, que
reclama uma elevada mobilidade das pessoas por razes profissionais e que valoriza o direito
liberdade de atividade. Alis, as razes profissionais podem estar entre os motivos ponderosos
que, de acordo com o n.2 do artigo 1673. permitem a no adoo da residncia da famlia,
tanto mais que luz do n.1, os aspetos da vida profissional constituem um dos parmetros do
acordo para a fixao da casa de morada da famlia. De qualquer modo, vigora sempre uma
obrigao de comunho de habitao, se bem que possa assumir uma configurao particular:
no sendo exequvel a convivncia num esquema de residncia habitual, os cnjuges tm de se
esforar por desenvolver uma convivncia que se aproximo o mais daquela e por eliminar os
obstculos ao afastamento do ideal legal. A obrigao de comunho sexual, que vincula os
cnjuges a terem relaes sexuais um com o outro, , por vezes, excluda em virte de no
resultar claramente da letra da lei ou por ser incompatvel com a existncia do direito de
liberdade sexual. O argumento da pouca visibilidade da letra da lei da obrigao no procede.
natural que o legislador civil no se tenha referido concretamente comunho sexual, porque
decidiu aludir aos deveres conjugais com recurso a conceitos indeterminados. No entanto, um
dos conceitos tem um sentido que abarca aquela comunho. Na lngua portuguesa, coabitao
significa prtica habitual de atos sexuais com outra pessoa. E o reconhecimento da uma
dimenso sexual palavra coabitao, no artigo 1672., apoiado por vrios indcios da
regulamentao civil do casamento. So previstos requisitos de validade do casamento que
assentam no aspeto sexual, como a proibio do incesto, estabelecida no artigo 1602., alneas
a), b) e c). E, no artigo 1829., que regula a presuno de paternidade de filhos, a expresso
coabitao dos cnjuges associada procriao (no medicamente assistida). Quanto ao
argumento da incompatibilidade com a liberdade sexual, de sublinhar que os direitos no so
ilimitados; que as restries traadas pela obrigao de comunho sexual liberdade sexual tm
por fonte o casamento, contrato em que a vontade das partes de encontra suficientemente
acautelada; e eu tais restries esto longe de suprimir todas as prerrogativas inscritas no direito
de liberdade sexual. Por um lado, totalmente vedada a satisfao do dbito conjugal mediante
o emprego da fora, pblica ou privada. Por outro lado, a obrigao de comunho sexual no
muito intensa, por fora da sobrevivncia dos direitos de personalidade celebrao do
casamento e da necessidade de estabelecer um ponto de equilbrio entre as exigncias daqueles
direitos e as dos deveres conjugais. Os cnjuges gozam de alguma liberdade sexual: pelo menos,
podem decidir quando o como tero relaes sexuais um com o outro. A obrigao de
comunho sexual s se entende violada aps recusa sistemtica, injustificada e prolongada.
O dever de cooperao: o artigo 1674. decompe o deve de cooperao em duas
obrigaes: obrigao de socorro e auxlio mtuos; obrigao de os cnjuges assumirem em
conjunto as responsabilidades inerentes vida da famlia que fundaram. A obrigao de socorro
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e no no 1676.) ou por haver alterao grave das faculdades mentais de um dos cnjuges. No
entanto, convm no desenhar um contraste excessivo entre a obrigao conjugal de prestar
alimentos e a obrigao de contribuir para os encargos da vida familiar. Afinal, aquela sub-rogase a esta, substituindo-a apenas porque a ltima no se adequa a um vnculo matrimonial que
j se no reflete numa comunho de vida. Isto significa que o que separa a obrigao de
alimentos e o dever de contribui para os encargos to-s a ausncia da economia comum. De
resto, a obrigao alimentar dos cnjuges aproxima-se do dever sub-rogado (como sugerido
pelo artigo 2015.). por isso que a medida dos alimentos conjugais diversa da medida dos
alimentos gerais: no se circunscreve quilo que seja indispensvel ao sustento, habitao e
vesturio, compreende tudo o que esteja de acordo com aquela que era a condio econmica
e social do agregado familiar, antes da separao. Na falta da norma especfica acerca da
separao de facto, seriam aplicados, com adaptaes, os critrios gerais que presidem
constituio da obrigao de alimentos (necessidade de uma das partes e capacidade da outra,
com ponderao do anterior nvel econmico e social), que valem justamente para a rutura
decorrente da alterao grave das faculdades mentais de um dos cnjuges. Contudo, o
legislador entendeu que a obrigao alimentar na separao de facto no pode estar
dependente de razes puramente econmicas. No artigo 1675., a culpa ou imputabilidade dos
cnjuges surge tambm como uma condio da obrigao alimentar. Se a separao de facto
no for imputvel a qualquer dos cnjuges ou se for imputvel a ambos, qualquer um deles pode
exigir alimentos ao outro. Mas se a separao de facto for imputvel a um dos cnjuges, ou a
ambos, a obrigao alimentar s incumbe, em princpio ao nico ou principal culpado. Apenas
excecionalmente, por consideraes de equidade (que atendem sobretudo aos fatores da
durao do casamento e do contributo das partes para a economia do casal), o cnjuge inocente
ou menos culpado pode ser obrigado a prestar alimentos ao outro. A regra do n.3 do artigo
1675. constitui um corpo estranho num sistema que aboliu a culpa enquanto pressuposto de
obteno do divrcio. No impondo a nova lei que se averigue da culpa na rutura da vida em
comum para determinar a dissoluo do casamento ou para concesso de alimentos entre excnjuges, o juiz forado a formular tal juzo na constncia do matrimnio, no quadro da
obrigao alimentar. A obrigao de contribuir para os encargos da vida familiar, manifestao
normal do dever conjugal de assistncia, destina-se a ocorrer a necessidades dos membros do
agregado familiar de base conjugal que vivam em economia comum. As necessidades podem
ser dos cnjuges, filhos e at de outros parentes ou afins associados mesma economia
domstica, mas nem todas se integraro no conceito de encargos da vida familiar, que baliza o
dever em apreo. Relevam apenas as necessidades que se coadunam com a condio econmica
e social de um determinado ncleo familiar em concreto. Uma delimitao mais precisa, assente
no critrio do tipo de necessidades, afigura-se complexa. O artigo 1676., n.1, traa uma
conexo entre os encargos da vida familiar e o lar ou a manuteno e educao dos filhos.
Contudo, a referncia legal no taxativa. Enquadram-se, obviamente, na categoria dos
encargos da vida familiar as despesas dos cnjuges com o seu vesturio e com a sua alimentao,
higiene, aparncia fsica e sade. Torna-se, por isso, patente o carter artificial de uma qualquer
tentativa de contraposio rgida entre os encargos familiares e os encargos profissionais ou
individuais. O nico tipo de encargos inequivocamente estranhos ao dever conjugal de
contribuio acaba por se o daqueles que colidem com a prpria ideia de vida em comum,
materializando uma violao de outros deveres conjugais. O dever de assistncia vincula
reciprocamente os cnjuges s que estes no so obrigados a realizar uma prestao idntica.
De harmonia com a dimenso material do princpio da igualdade, a lei impe uma contribuio
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proporcional, ajustada s possibilidades de cada um. Daqui resulta que nem sempre possvel
escapar, na prtica, difcil tarefa de quantificao da prestao que d corpo ao dever de
contribuio. Em muitos casos, essa quantificao que permite avaliar se um cnjuge dispe
ou no de um crdito sobre o outro, quando se trata de proceder partilha do casal ou antes,
se vigorar o regime da separao (1676., n.3). Alm disso, a quantificao imprescindvel
para que o cnjuge lesado possa beneficiar do regime constante do artigo 1676., n.4, e para
apurar o valor da indemnizao que um terceiro tem de pagar ao cnjuge lesado pela diminuio
ou perda da capacidade contributiva do outro cnjuge. Genericamente, a fixao do montante
da contribuio que exigvel implica, a par de uma operao de identificao e de avaliao de
todos os encargos da vida familiar, uma operao de avaliao da capacidade contributiva de
cada cnjuge. Ora, como se disse, os encargo podem ser do tipo mais diverso e podem ser,
inclusive, adversos a uma anlise de cariz patrimonial. E como se isto no fosse suficiente, as
formas de contribuio para ocorrer a tais encargos podem ser vrias. A lei repartiu-as em duas
categorias.
- afetao dos recursos: situam-se as realidades mais facilmente quantificveis; os
proventos ou ganhos do trabalho, as penses, os dividendos, os juros, as rendas, as mais-valias
decorrentes da transmisso de imveis ou partes sociais, a disponibilizao de bens prprios.
- trabalho despendido no lar ou na manuteno e educao dos filhos: mais difcil,
porque a avaliao precisa do trabalho direto de um cnjuge em prol do lar ou dos filhos
problemtica; problemtica, mas imperiosa, dado que a referncia legal a esta forma de
contribuio pretende reconhecer o valor econmico do trabalho domstico e com os filhos.
E importa ir mais alm: a aluso a um gnero de trabalho como uma forma de cumprir
um dever que incumbe a ambos os cnjuges, de harmonia com as possibilidades de cada um,
mostra que o abandono do exerccio de qualquer atividade profissional por parte de um cnjuge
pode acarretar uma violao do dever de assistncia, nomeadamente, nos casos em que o
montante da contrapartida pelo exerccio daquela atividade constitua o nico contributo
imaginvel do mesmo cnjuge para a satisfao dos encargos da vida familiar. Apesar de tudo,
no deixa de ser aprecivel a margem de autonomia da vontade das partes no que toca fixao
do modo de cumprimento do dever em apreo. A lei no define o conceito de encargos da vida
familiar, no os hierarquiza, no indica o montante que deve ser afetado a cada uma das
necessidades familiares, nem impe esta ou aquela forma de contribuio dos cnjuges. E at a
prescrio da contribuio proporcional, que esteve aliada presuno de que o cnjuge que
efetuou uma contribuio superior quilo que lhe era exigido renuncia ao direito de exigir ao
outro a correspondente compensao, antes da Lei n. 61/2008, 31/10, parece subtrair-se
regra da injuntividade em matria de deveres conjugais, dadas as dificuldades que enfrenta o
cnjuge que pretende fazer valer o seu direito a compensao por contribuio excessiva. A
contribuio para os encargos da vida familiar , assim, um domnio privilegiado dos acordos
sobre a orientao da vida em comum. Na ausncia de acordo, vigora plenamente a prescrio
da contribuio contributiva proporcional, assistida da garantida estabelecida pelo artigo 1676.,
n.4. A faculdade que conferida a um cnjuge de obter judicialmente o cumprimento do dever
de contribuio que incumbe ao outro contraria dois mitos do Direito da Famlia: o mito do nointervencionismo judicial na relao conjugal, salvo em situaes de rutura da vida em comum,
que desacreditado pelo artigo 1673., n.4; e o mito da insusceptibilidade de execuo
especfica dos deveres conjugais, incompreensvel quando se depara com um dever conjugal,
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como o dever de assistncia, que se pode cumprir mediante a realizao de prestaes fungveis.
Mas o mbito da garantia especificamente prevista para o dever de contribuio no irrestrito.
A providncia de contribuio do cnjuge para as despesas domsticas, regulada no artigo 992.
CPC, apenas tutela o cnjuge credor na medida em que o cnjuge inadimplente seja titular de
um crdito de rendimentos ou proventos sobre um terceiro perfeitamente identificvel. A Lei
n. 61/2008, 31/10, introduziu uma alterao importante no regime do dever de assistncia, ao
eliminar a presuno iuris tantum de renncia do cnjuge que contribuiu excessivamente para
os encargos da vida familiar ao direito de exigir o outro a correspondente compensao.
Presentemente, o n.2 do artigo 1676. estabelece que se a contribuio de um dos cnjuges
for consideravelmente superior ao que devido, porque renunciou de forma excessiva
satisfao dos seus interesses em favor da vida em comum, designadamente sua vida
profissional, com prejuzos patrimoniais importantes, esse cnjuge tem direito de exigir do outro
a correspondente compensao. A nova redao do artigo 1676., n.2, tem suscitado
desenvolvimento doutrinrios, que so teis, atendendo ao facto de agora ser reconhecido o
direito a uma compensao, de modo muito vago e impreciso. O preceito visa, implicitamente,
valorizar a relevncia do trabalho no lar, protegendo o cnjuge que, por se ter dedicado
exclusiva ou predominantemente ao trabalho domstico, no exerceu uma atividade
remunerada num progrediu na carreira. Contudo, as boas intenes do legislador no escondem
o facto de este ter tomado algumas noes infelizes. Problemas no faltam. Como avaliar em
concreto quando se verifica uma renncia excessiva? Como determinar quando que a
contribuio de um dos cnjuges foi consideravelmente superior do outro? O que so
prejuzos patrimoniais importantes? Na opinio de Rita Lobo Xavier, insigne especialista do
Direito Patrimonial da Famlia, os conceitos renncia excessiva e contribuio
consideravelmente superior estariam preenchidos se um dos cnjuges abdica total ou
parcialmente do exerccio de uma profisso remunerada para se dedicar ao trabalho de casa e
com os filhos; e o conceito prejuzos patrimoniais importantes inspira-se no instituto do
enriquecimento sem causa, havendo que efetuar a prova de que o trabalho proporcionado
famlia, sem retribuio,, criou uma situao de desequilbrio econmico entre os cnjuges.
Caractersticas dos deveres conjugais e das situaes jurdicas ativas correspondentes:
a anlise precedente confirma que no rigoroso situar os deveres do cnjuges na rea dos
efeitos pessoais do casamento: o dever de respeito obriga um cnjuge a no violar os deveres
patrimoniais do outro; o dever de cooperao pode acarretar colaborao na atividade
profissional remunerada do outro consorte e um esforo em prol da elevao do bem-estar
econmico comum: o dever de assistncia reflete-se em prestaes de cariz patrimonial. Aos
deveres a que os cnjuges esto vinculados correspondem, no lado ativo, direitos subjetivos e
no poderes funcionais. As situaes jurdicas conjugais ativas constituem permisses: o seu
titular livre de as exercer. E em caso de violao do dever conjugal, o cnjuge afetado no tem
de solicitar o divrcio nem de requerer a reparao dos danos causados pela infrao, ainda que
estejam preenchidos os pressupostos do artigo 1781., alnea d), e do instituto da
responsabilidade civil. No entanto, so direitos subjetivos peculiares, no se confundindo com
os direitos de crdito nem com outros direitos subjetivos centrados no interesse exclusivo dos
respetivos titulares. As situaes jurdicas conjugais ativas so direitos de comunho,
instrumentos concedidos para a realizao da finalidade do casamento. O cnjuge titular pode
optar entre o exerccio ou o no exerccio, mas, quando decida agir, tem de proceder de forma
a criar, manter e aprofundar os laos de comunho de vida com o outro. Assentando na relao
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durao do casamento foi aditado pelo artigo 1. da Lei n. 25/94, 19/8, na sequncia de uma
larga publicidade conferida pela comunicao social a casamentos celebrados por estrangeiros,
com portugueses, que alegadamente teriam como nico objetivo a obteno da nacionalidade
portuguesa. Aparentemente, o requisito visa dificultar a simulao absoluta. O portugus que
caso com nacional de outro Estado no perde por esse motivo a nacionalidade portuguesa, salvo
se, sendo tambm nacional de outro Estado, declarar que no quer ser portugus (8. Lei
Nacionalidade). A declarao deve ser instruda com documento comprovativo da nacionalidade
estrangeira do interessado (30., n.3 Regulamento Nacionalidade Portuguesa). As declaraes
de que dependem a aquisio ou perda da nacionalidade portuguesa devem constar do registo
central da nacionalidade, a cargo da conservatria dos Registos Centrais (16. Lei Nacionalidade).
Convenes antenupciais:
Noo de conveno antenupcial: o nico modo pelo qual permitido s partes
fazerem estipulaes sobre regimes de bens a conveno antenupcial. O artigo 1717.
determina que, na falta desta, o casamento de considera celebrado sob o regime de bens
supletivo. As estipulaes sobre regime de bens feita fora de conveno antenupcial
consideram-se, portanto, no escritas. No entanto, embora seja o nico meio legalmente
admissvel de efetuar estipulaes sobre regimes de bens e tenha, normalmente, por objeto
esta espcie de estipulaes, a conveno antenupcial no pode ser definida como o acordo dos
nubentes sobre o regime de bens que vai vigorar no casamento. A conveno antenupcial no
contm necessariamente clusulas de uma conveno antenupcial em que se faam apenas
doaes para casamento (1756., n.1) ou certas disposies po morte (1700.). A conveno
antenupcial um negcio celebrado em vista de futura realizao de um casamento, com a
necessria interveno de, pelo menos, um dos nubentes, na qualidade de parte. Sendo
celebrada em vista da futura realizao de um casamento, a conveno precede-o e caracterizase pela sua acessoriedade relativamente ao casamento. Isto no significa que sejam nulas as
clusulas que, estando inseridas num ato denominado de conveno antenupcial, no tenham
em vista a futura realizao do casamento. Elas podem ser vlidas. S no esto subordinadas
s regras legais especficas da conveno antenupcial.
Contedo: no que toca ao contedo da conveno, h que separar os aspetos
respeitantes ao regime de bens dos demais.
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doao entre casados (1762.). Todavia, vlida a doao entre esposados, entre aqueles que
pretendendo casar ainda no o fizeram (1720., n.2), e a posio sucessria do cnjuge sob o
regime imperativo da separao de bens (2133., n.2 e 2317., alnea d), afastam unicamente
o chamamento do cnjuge separado de pessoas e de bens). De qualquer modo, o regime
matrimonial em apreo aquele que mais restringe a possibilidade de obteno de vantagens
econmicas por via da celebrao do casamento. No regime tpico, voluntrio, da separao de
bens, a ausncia de meao coexiste com a permisso da transferncia, a ttulo gratuito, de bens
do patrimnio prprio de um cnjuge para o patrimnio do outro. Por este motivo, a imposio
legal da separao de bens entendida como um instrumento dissuasor do casamento por
interesse econmico. Contudo, por um lado, um instrumento limitado, em virtude de no
implicar uma regulamentao sucessria menos favorvel para o cnjuge sobrevivo. Por outro
lado, a ratio apontada ao regime imperativo da separao de bens combate ao casamentonegcio torna algo discutvel a sujeio ao mesmo do casamento celebrado sem a precedncia
do processo preliminar de casamento. Os regimes tpicos de bens so trs:
i. Comunho de adquiridos: a regra a de que so bens
comuns o produto do trabalho dos cnjuges e os bens
adquiridos por eles na constncia do matrimnio a ttulo
oneroso (1724., 1722., n.1, alnea a e b)). No entanto, no
regime tpico da separao, pode haver bens que
pertenam em compropriedade a ambos os cnjuges
(1736., n.2);
ii. Comunho geral: so bens comuns todos os que a lei no
considere incomunicveis (1732.). A comunho conjugal
de bens e a compropriedade so contitularidades de
natureza distinta;
iii. Separao de bens: no h bens comuns. Todos os bens so
prprios de um ou de outro cnjuge. Como se diz no artigo
1735., cada um dos esposados conserva o domnio de
todos os seus bens presentes e futuros.
O bem que pertencer em compropriedade apenas aos cnjuges no um bem comum,
mas um bem que numa parte prprio de um deles e que noutra parte prprio do outro. A
comunho conjugal de bens corresponde a uma contitularidade de mo comum ou uma
comunho germnica. Enquanto a compropriedade tem na base uma pluralidade de direitos da
mesma espcie que recaem sobre o mesmo bem, os sujeitos da comunho conjugal so titulares
de um nico direito sobre o chamado bem comum. A comunho conjugal subsiste enquanto se
no verificarem uma das situaes legalmente estabelecidas de cessao das relaes
patrimoniais dos cnjuges ou separao superveniente de bens, seguida por uma partilha. Alm
de constituir uma contitularidade de tipo germnico, a comunho conjugal um patrimnio de
afetao especial, na medida em que se destina preferencialmente satisfao de determinadas
dvidas, as dvidas que responsabilizam ambos os cnjuges (1695., n.1). No entanto, no se
trata de um patrimnio autnomo, porque, se por um lado, os bens prprios podem ser usados
para pagar essas dvidas (1695.), e, por outro lado, os bens comuns podem ser destinados
satisfao de dvidas da exclusiva responsabilidade de um dos cnjuges (1696.).
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antenupcial nem a alterao do regime de bens legalmente fixado, a no ser nos casos
previstos na lei. As excees regra que veda a modificao do regime de bens inicial
so escassas, figurando no artigo 1715., n.1, alneas b), c) e d): simples separao
judicial de bens, separao de pessoas e bens e os demais casos, previstos na lei, de
separao de bens na vigncia da sociedade conjugal. Todas as figuras representam
situaes de separao superveniente de bens que sero adiante consideradas. O cariz
limitado das excees ao princpio da imutabilidade no campo do regime de bens releva
a rigidez da soluo portuguesa. Porque o princpio visa a proteo de um cnjuge
perante o outro, teria sido razovel permitir a proteo de um cnjuge perante o outro,
teria sido razovel permitir a modificao consensual do regime de bens sempre que se
verificasse judicialmente no haver risco de prejuzo patrimonial para qualquer um deles.
De iure condendo, prefervel o sistema da mutabilidade por acordo sujeito a
homologao judicial. Alis, a manuteno do regime de bens pode at afetar o
interesse de ambos os cnjuge. Deste modo, entendemos que foi mais feliz a opo do
legislador brasileiro, que, no artigo 1639., 2, do respetivo Cdigo Civil, permite a
alterao de bens, mediante autorizao judicial em pedido motivado de ambos os
cnjuges, apurada a procedncia das razes invocadas e ressalvados os direitos de
terceiros. Uma questo polmica a de saber se o princpio da imutabilidade do regime
de bens que foi consagrado no Direito portugus impede apenas a modificao dos
critrios de composio das massas patrimoniais dos cnjuges ou tambm os negcios
que acarretem transferncia de bens concretos de uma massa para outra. Ora, a
comprovada rigidez do princpio em apreo seria agravada se lhe fosse atribudo um
sentido amplo. Deve, portanto, considerar-se que a imutabilidade no probe os
negcios que afetem a qualificao de bens concretos como comuns, como prprios de
um dos cnjuges ou prprios do outro. Tais negcios sero vlidos, na falta de disposio
em contrrio (1714., n.2). Outra interpretao traduz-se numa forte restrio ao
princpio geral da autonomia privada que no tem apoio na letra do artigo 1714.. A lei
veda a celebrao de todos os contratos com repercusses na qualificao de um bem
concreto. Refere-se somente compra e venda e a certos contratos de sociedade entre
os cnjuges.
A simples separao judicial de bens: a simples separao judicial de
bens constitui uma hiptese de separao superveniente de bens que se traduz
numa modificao da relao matrimonial, apresentando carter
necessariamente litigioso: a separao s pode ser decretada em ao intentada
por um dos Cnjuges contra o outro (1768.). A simples separao judicial de
bens tem por fundamento o perigo de um cnjuge perder o que seu pela m
administrao do outro cnjuge (1767.). A ao destina-se, portanto, a
proteger os bens comuns ou os bens prprios do cnjuge autor. A legitimidade
para intentar a ao de simples separao judicial de bens incumbe,
normalmente, s ao cnjuge lesado (1769., n.1, 1. parte). Se o cnjuge lesado
estiver inabilitado, a ao pode ser intentada por ele, ou pelo curador com
autorizao judicial (1769., n.3). Se estiver interdito, a ao s pode ser
intentada, em nome dele, pelo respetivo representante legal; ou unicamente
por algum parente na linha reta ou at ao terceiro grau da linha colateral, se o
representante legal dor o outro cnjuge (1769., n.1, 2. parte, e n.2). O artigo
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Providncias administrativas:
Contas bancrias singulares:
Disposio dos bens do casal:
Poderes em vida sobre a generalidade dos bens mveis:
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a)
b)
c)
d)
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A separao de facto:
Noo de separao de facto:
Efeitos da separao de facto:
A separao de pessoas e bens:
Noo e natureza:
Efeitos:
Causas da cessao da separao de pessoas e bens:
Invalidade do casamento
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Divrcio
Generalidades
Noo de divrcio; evoluo histrica do respetivo regime:
Modalidades de divrcio:
O direito ao divrcio:
Divrcio por mtuo consentimento:
Pressupostos
Processo:
Divrcio litigioso sem consentimento de um dos cnjuges:
Causas:
Processo:
Apreciao do sistema portugus de causas de divrcio sem consentimento de um dos
cnjuges:
Efeitos do divrcio
O princpio da equiparao do divrcio dissoluo por mote:
Oponibilidade dos efeitos do divrcio:
Explicitao dos efeitos especficos do divrcio:
Apreciao do regime portugus dos efeitos do divrcio:
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