O Século de Péricles
O Século de Péricles
O Século de Péricles
Atenas
em
runas
Pricles
Pricles nasceu por volta de 493 a.C (alguns historiadores apontam tambm
as datas de 495 e 492), era filho do general Xantapo e de Agarista, a qual
pertencia a tradicional e poderosa famlia dos Alcmonidas. Agarista era
parente de Clstenes (565-492 a.C) um dos "Pais da Democracia", legado
este que Pricles viria a herdar e tentar revitalizar. No ano de 490 a.C, o rei
persa Dario, o Grande enviou um exrcito para punir Atenas e Ertria, as
quais apoiaram a revolta de cidades gregas na Jnia, pequena regio na
sia Menor, hoje na Turquia, mas na poca estava sob o domnio do
Imprio Persa. Ertria fora conquistada, mas os persas foram derrotados
pelos atenienses e os platenses na Batalha de Maratona (490 a.C). A
primeira Guerra Mdica ou Guerra Greco-persa havia terminado. Na poca
Pricles era uma criana e nem imaginava que tal acontecimento traria
srios problemas para sua cidade e seu povo no futuro. Dario, o Grande em
486 a.C tentou iniciar uma nova guerra, mas acabou falecendo naquele ano,
mesmo assim, o general ateniense Temstocles incentivou o povo
ateniense a no "baixar a guarda", Temstocles acreditava que o herdeiro de
Dario, neste caso Xerxes, um dia viria atacar a Grcia novamente.
Enquanto isso no acontecia, Pricles fora crescendo e fora educado nas
melhores escolas da cidade e por alguns dos melhores professores e
filsofos da poca como Anaxgoras, Zeno de Eleia e Protgoras,
recebendo uma educao exemplar em seu tempo; o mesmo aprendeu a ler
e escrever, aprendeu histria, geografia, um pouco de matemtica,
possivelmente retrica; aprendeu a apreciar as artes e a treinar o corpo,
pois os gregos consideravam que um estudante deve-se ter um corpo so e
uma mente s. Ele assim como os outros meninos eram treinados para um
dia poderem ingressar no exrcito, algo que Pricles veio a fazer, mas antes
de chegarmos a este ponto, o que o general Temstocles e outros
governantes
de
Atenas
temiam,
veio
a
acontecer.
No ano de 480 a.C, Xerxes, o rei da Prsia invadiu a Grcia pelo norte,
atravessando a Trcia e a Macednia. Atenas e Esparta que eram rivais de
longa data, se mobilizaram para criar alianas com as outras cidades-
anos
ps-guerra e
Liga
de
Delos
necessrio,
contratar
mercenrios,
etc.
Mapa das cidades membros da Liga de Delos no ano de 431 a.C. Em laranja
a cidade-Estado de Atenas, lder da liga. Em amarelo as cidades membros.
Cmon
"O lder militar da Liga de Delos era o general ateniense Cmon. Aristocrata
renomado por seu temperamento generoso, Cmon era tambm um
brilhante estrategista. Assumindo firmemente o controle das finanas e da
organizao militar da liga, ele conduziu os gregos numa longa campanha
contra os exrcitos persas na sia Menor. [...]. As vitrias de Cmon, as
doaes que fez aos pobres e sua aplicao de recursos para melhorar os
lugares pblicos de Atenas tornaram-no muito popular. No entanto, suas
ideias polticas eram conservadoras: apoiava uma democracia limitada e
acreditava que os atenienses deveriam deixar as decises a cargo de
homens como ele mesmo, provenientes de famlias aristocrticas". (KING,
1988,
p.
29).
Seria devido a este pensamento conservador que Pricles quando j
estivesse na poltica entraria em discordncia com Cmon, embora que em
dados momentos os dois chegaram a trabalhar juntos, pois tinham algo em
comum: o amor por sua cidade.
squilo
Em 472 a.C, Pricles contava com seu 19 ou 21 anos, j havia entrado na
vida adulta e se encontrava nesta poca no exrcito desde os 18 anos. Fora
neste ano que que Pricles, um apreciador das belas-artes patrocinou a
pea Os Persas do famoso dramaturgo squilo (525/524-456/455 a.C). A
pea narra a histria da invaso de Xerxes Grcia, a mesma consisti numa
tragdia que termina mal para os persas, mas bem para os gregos, como
fora a verdadeira histria. Neste caso, Pricles pagou o coro da pea. Na
poca, Os Persas foram um sucesso no teatro ateniense, e Pricles fora
parabenizado por ter investido naquela pea e dado confiana a squilo,
isso o ajudaria anos mais tarde em sua carreira poltica. Posteriormente seu
pai falecera, Pricles sendo o filho mais velho acabou herdando as
propriedades da famlia e a obrigao de cuidar das propriedades e da
famlia, ao mesmo tempo se preparava para entrar na poltica.
Em 471 a.C, o governo votou o ostracismo de Temstocles, o general que
liderou com sucesso a campanha ateniense contra os persas em 480 a.C,
era visto pelas alas conservadoras como uma ameaa ao seu poder, pois
Temstocles discordava de alguma das decises dos mesmos. Mesmo assim
fora exilado de Atenas, indo buscar ironicamente asilo na corte persa de
Xerxes, onde faleceu algum tempo depois. Em 469 a.C, as campanhas
militares de Cmon para derrotar os persas na Macednia, Trcia e na Jnia
resultaram em vitria para os gregos, isso contribuiu para aumentar o
prestgio
de
Cmon
e
os
conservadores
em
Atenas.
"Antes de concorres s eleies, entretanto, Pricles tinha de levar em
conta sua aparncia fsica. Os cidados de Atenas mostravam marcada
preferncia por indivduos de fsico perfeito e os autores de comdias
costumavam fazer piadas malvolas com polticos muito feios e portadores
de defeitos, como os narigudos e os muito gordos". (KING, 1988, p. 26).
Embora os relatos registrem que Pricles era um homem razoavelmente
belo, havia um problema com sua imagem, ele tinha uma cabea grande.
Seu "cabeo" fora um problema que ele no pode resolver. Pricles
Slon
Em 594 a.C, os camponeses se rebelaram em Atenas, pois as
famlias aristocrticas haviam usurpado as terras de pequenos camponeses,
os expulsando destas e ameaando eles e suas famlias. Tal massa
camponesa seguiu para a cidade e cobrou por uma soluo. Nesta poca, a
economia ateniense era predominantemente rural, e muitas famlias viviam
da agricultura e da pecuria. O Conselho dos Arcontes, na poca a
principal assembleia da cidade, nomeara um arconte para legislar esta
causa, o homem escolhido fora Slon. Slon (638-558 a.C) fora um
renomado legislador, jurista e poeta, embora seja mais lembrado como
legislador.
"Este tomou uma posio intermediria entre as exigncias dos
latifundirios e dos pequenos agricultores. Reconhecendo que Atenas
Clstenes
Os Pisistrtidas assumiram o poder ateniense como tiranos, Slon
discordava da atuao desta famlia e partiu em exlio voluntrio. O governo
tirnico dos pisistrtidas por alguns anos fora prospero e justo, porm por
volta do final do sculo VI a.C comeou a se tornar opressivo, e neste
momento entrava em cena Clstenes. Os historiadores no consideram
Slon o responsvel pela democracia, pois o conceito de democracia
inexistia em sua poca, ele comeara a surgir a partir do trabalho de
Clstenes, da ele ser considerado por alguns como o "Pai da Democracia".
"Entretanto, por volta de 510 a.C, o governo dos tiranos havia se tornado
opressivo, o que os levou a perder o apoio popular com o qual haviam
contado durante tanto tempo. Iniciou-se ento um movimento para
desalojar os pisistrtidas do poder. E o lder desse movimento era Clstenes,
utilizada.
Pricles
entra
para
poltica
proposta de trgua. A deciso de Pricles fora sagaz; ele sabia que o velho
general ainda possua prestgio entre seu povo, e agir desta forma, era um
jeito de mostrar que no guardava ressentimentos e ao mesmo tempo,
Pricles alegava que os rivais poderiam deixar de serem rivais. Cmon
conquistou a trgua com Esparta, porm, alguns generais atenienses como
Mirnides aproveitando o momento de triunfo dos atenienses liderou uma
campanha militar na Becia derrotando a cidade de Tebas na Batalha de
Enofita, conquistando a Becia, a Fcida e a Lcrida. Embora dera
resultado, Pricles e outros governantes consideraram a deciso de
Mirnides ousada, pois acabavam de sair de uma guerra para entrar em
outra.
Governando
um
"imprio
martimo"
Era o ano de 454 a.C, Pricles contava com seus 39 anos ou 41 anos, e j
era um homem respeitado por suas aes. Pricles era o general mais
influente da cidade, ao ponto de que chegava a governar a mesma como se
fosse seu governador. Um dos problemas que ele enfrentou, fora conviver
com os grupos sociais que existiam na cidade-Estado. Os cidados eram
divididos entre conservadores e democratas, por sua vez os conservadores
defendiam os interesses latifundirios dos aristocratas, porm, um grande
nmero de estrangeiros, chamados de metecos se instalara na cidade nos
ltimos anos, e muitos destes eram mercadores, e recorriam ao Estado
pedindo
investimento
no
comrcio.
Embora os metecos no fossem cidados, cuidavam de parte da economia
do Estado e lutavam no exrcito, como forneciam investimentos
para empreendimentos pblicos. Para completar havia os escravos os quais
correspondiam mais da metade da populao ateniense, os escravos
executavam os mais distintos servios e tarefas, e eram a base do sustento
das cidades gregas. Se os escravos entrassem em revolta, isso geraria
srios
problemas
para
a
cidade.
"Temstocles tentara controlar a poltica ateniense banindo seus adversrios,
mas Pricles recorre a uma ttica diferente: procurou unir os vrios grupos
sociais da cidade sob um programa destinado a expandir o poder e
aumentar a segurana militar de Atenas. Nos ltimos anos, o tesouro
ateniense havia crescido enormemente, e essa prosperidade possibilitou a
Pricles conseguir a aprovao de leis que instituam a remunerao dos
cidados a servio dos jris, dos soldados, dos marinheiros e de
determinados funcionrios do governo. Os democratas decretaram ainda
outras medidas que aumentaram a popularidade do grupo entre as massas
atenienses, como, por exemplo, estender a todos os cidados a
possibilidade de ascender ao honroso e importante cargo de arconte".
(KING,
1988,
p.
43).
No mesmo ano, Pricles decidiu retomar a ideia de fundar portos e bases
pela Becia e a Fcida, dessa vez partiu para liderar pessoalmente os
exrcitos atenienses, pois anteriormente, apenas votara a favor de outros.
Pequenas cidades foram conquistadas, se tornando aliadas de Atenas ou
sua tributrias. As Batalhas de Sicio e Arcannia foram os principais
embates realizados sobre o comando de Pricles ainda no ano de 454 a.C,
Atena era uma das principais deusas cultuadas entre os gregos antigos,
mas na cidade de Atenas, seu culto era o mais grandioso. Atena era filha de
Zeus e de Mtis, sendo a deusa da guerra, da sabedoria e protetora dos
heris.
Atenas agora consolidava seu poderio sobre a Liga de Delos, o dracma de
prata ateniense se tornara moeda recorrente entre as cidades da liga, ao
mesmo tempo, em todos os grandes festejos realizados na cidade, as
autoridades e famlias importantes das outras cidades aliadas eram
convidadas a participar em Atenas. Todavia, isso no era o bastante,
Pricles, tinha em mente um projeto que ele j vinha preparando algum
tempo: reconstruir a Acrpole destruda pelos exrcitos de Xerxes. Mas
antes de proceder com tais planos, em 451 a.C, Pricles enviou Cmon
novamente a Esparta a fim de propor um tratado de paz, o tratado fora
aceito, e durante cinco anos ambas as cidades estariam em paz. Depois
disso, Cmon fora encarregado de combate os persas na ilha de Chipre,
mas
acabou
adoecendo
por
l
e
veio
a
falecer.
Pricles nunca se entendera bem com Cmon, mas soube usar seus servios
em prol de Atenas. Cansado de continuar a combater os persas, fosse na
Jnia, Chipre ou no Egito, em 499 a;C, Pricles enviou Clias o qual era
cunhado de Cmon, para a corte persa em Perseplis, onde naquele ano,
Clias assinou um acordo de paz com o rei Artaxerxes. Pricles ainda
naquela poca enviou embaixadores para vrias cidades gregas, a fim de
convid-los pra um congresso pan-helnico, porm Esparta se recusou a ir,
e tambm vetou a participao de suas aliadas. No congresso,
Pricles solicitou contribuies financeiras para reconstruir a Acrpole de
Atenas, mas as cidades se negaram a contribuir. Pricles alegara que Atenas
fora a cidade que mais sofrera com o ataque persa em 480 a.C.
Ainda no ano de 449 a.C, os espartanos quebraram o tratado de paz, e
tomaram a cidade de Delfos conhecida por pelo famoso orculo do deus
Apolo. Os espartanos comearam a manipular as previses, de forma que
as mesmas incentivassem um ataque a Atenas, fazendo outras cidades
acreditarem naquelas previses, pelos dois anos seguintes Pricles evitou
de entrar em conflito direto com os espartanos, preferindo negociaes ao
invs de lutas. Porm a situao piorou quando em 446 a.C, uma rebelio
na Becia estourou e o general Tolmides imprudentemente partiu para
apaziguar a regio, porm sua tropa acabou sendo derrotada perto da
cidade de Queronia, o prprio general faleceu na ocasio, e parte do
exrcito fora feito refm, pois alguns dos soldados provinham
de importantes famlias atenienses. Para resgatar os refns, "filhos ilustres"
de Atenas, Pricles tivera que ceder as terras que os atenienses haviam
conquistado
doze
anos
antes
na
Becia.
Ainda no ano de 446 a.C, a ilha de Eubia entrou em rebelio, o que levou
Pricles a enviar um exrcito para punir os rebeldes, e ao mesmo tempo
Esparta, Corinto e Mgara ameaaram de declarar guerra aos atenienses,
no entanto, a poderosa oratria e astcia de Pricles evitou um novo
conflito e uma nova trgua fora assinada no final daquele ano, o Tratado
da Paz dos Trinta Anos. Atenas havia perdido a oportunidade de expandir
seus domnios sobre a Grcia, tal posio coube a Esparta, porm, Atenas
ainda se mantivera forte e prspera sobre o mar Egeu. Tendo conseguido
amenizar os problemas com os persas, espartanos e outras cidades gregas,
Pricles, decidiu dar maior ateno a cidade em si, a poltica interna e no
mais
a
guerras.
reconstruo
da
Acrpole
incentivo
cultura
Com a paz feita por toda a Hlade, nome pelo qual os gregos chamavam a
Grcia antigamente (hoje o nome oficial Hellas), Pricles havia decidido
pegar parte do tesouro ateniense e alguns dos investimentos dados pelas
cidades aliadas e inciar a reconstruo da Acrpole. O mesmo convocou os
melhores escultores, artesos, ferreiros, pintores, arquitetos, pedreiros,
etc., de toda a Grcia para esta imensa obra. Ao mesmo tempo, isso levou
outros artistas a se mudarem para Atenas, local de grandes debates, onde
se debatia poltica, economia, guerra, religio, filosofia, artes, cultura, o
cotidiano, a justia, etc. Atenas se tornara o centro cultural da Grcia do
sculo
V
a.C.
"Essa poca de grandes realizaes artsticas tambm conhecida como
Sculo de Pricles. Embora ele nunca tenha esculpido uma obra de arte
como o bronze de Mron, Atena e Mrsia; jamais haja escrito uma pea
teatral, como dipo em Colona, de Sfocles, e tampouco projetado uma
construo que se erguesse to altivamente quanto o Propileu, de
Mnsicles, Pricles merece uma parcela substancial do crdito pelo
florescimento cultural de sua cidade. Homem de pensamento e ao,
aconselhava-se e inspirava-se com os pensadores e artistas de Atenas e,
por isso, criou um ambiente propcio ao trabalho deles. a Pricles que se
deve agradecer pelos monumentos erguidos na Acrpole, a colina sagrada.
Eles so testemunhos da glria da Atenas clssica que sobreviveram aos
sculos, enquanto outros importantes trabalhos desse perodo se
perderam".
(KING,
1988,
p.
51).
Nessa poca o teatro vivenciava seu auge, os dramaturgos trgicos,
squilo, Sfocles e Eurpedes, considerados os "Pais da Tragdia"
lotavam o teatro com suas fabulosas peas, das quais muitas se perderam
ao longo do tempo. Na comdia, o nome mais expressivo era Aristfanes.
"squilo reinterpretou os mitos gregos para sancionar a nova ordem social.
Em peas como Os Sete contra Tebas, A Orestada (a nica trilogia
conservada) e Prometeu Acorrentado, ele tratou dos destinos coletivos,
porm, valorizando sempre a condio individual. O segundo autor trgico
foi Sfocles, que produziu obras como dipo Rei, Antgona e Electra. Seus
temas tambm foram os mitos gregos, dos quais se utilizou para tratar da
luta entre a vontade humana e o todo-poderoso destino do indivduo,
estabelecido pelos deuses. Eurpedes, o ltimo do trio, tambm escreveu
sobre deuses e heris, mas em sua obra o amor humano tende a suplantar
os temais religiosos e patriticos. Media, As Troianas e As Bacantes, por
exemplo, esto cheias de crimes de vingana, sacrifcios nobres e atos de
paixo que refletem o carter mais realista de suas peas". (KING, 1988,
57-58).
Anaxgoras de Clazmenas
Alm destes dramaturgos, houveram poetas, pintores, ceramistas,
escultores, danarinas, msicos, entre o meio artstico. Mas, alm dos
artistas, Atenas contou com a presena de filsofos como Anaxgoras,
Zeno de Eleia, Protgoras, Arquelau de Atenas, Leucipo de Abdera,
Digenes de Apolnia, etc. Alguns destes filsofos dito pr-socrticos
chegaram a viver em Atenas, ou em algum momento da vida a visitaram ou
viviam em cidades que pertenciam a Liga de Delos, pois Pricles no apenas
promoveu o incentivo a cultura e as artes em Atenas, mas tambm em
outras cidades da liga. O prprio Scrates nesta poca ainda era apenas
um jovem nos seus vinte e poucos anos, e s viria a ter renome no final do
sculo, e no sculo seguinte Plato e Aristteles se tornariam os grandes
nomes da filosofia grega de seu tempo. O famoso historiador Tucdides
(ca. 470/460 - ca. 400 a.C) vivia nesta poca na cidade e o prprio
Herdoto de Halicarnasso (ca. 484 a.C - ca. 425/420 a.C), o "Pai da
Histria" havia vivido algum tempo em Atenas, possivelmente entre os anos
de 446 e 444 a.C. Herdoto at mesmo chegou a entrar em contato com a
famlia de Pricles, como tambm leu publicamente trechos de seu livro As
Histrias, o qual tinha como um dos temas, as Guerras Mdicas. Polticos,
oradores, generais e outros estudiosos passaram pela cidade entre os anos
de
450
a.C
a
430
a.C.
No caso das obras na Acrpole, o renomado escultor Fdias (490?-430 a.C)
fora contratado por Pricles para esculpir as principais esttuas e frisos dos
templos das Acrpole o que inclua duas esttuas da deusa Atena, a esttua
de Atena Promakos (Atena Guerreira), localizada na entrada da Acrpole
(hoje a esttua no existe mais) e a esttua de Atena Partenos (Atena
Virgem), a grande esttua de ouro e marfim, que ficava dentro do
Partenon.
vemos hoje.
Alm do Parteno, a Acrpole possu outros dois templos dedicados a Atena e
outros pequenos templos dedicados a Zeus, Apolo, rtemis e Poseidon.
Havia um dos estdios de Fdias; os propileus (conjunto de colunas), as
salas do tesouro, muros, prticos, portes, esttuas, friso e painis, etc.
Posteriormente ao lado da Acrpole se construram teatros, o Teatro de
Dionsio
e
perto
dali
o
Teatro
de
Herodes
tico.
polticas
Tucdides
A popularidade de Pricles atiou a inveja da ala conservadora, a qual no
era a favor de algumas medidas que o mesmo vinha tomando nestes anos
de seu governo, pois Pricles havia diminudo consideravelmente a
influncia da aristocracia (euptridas) no governo. Logo, alguns polticos
conservadores comearam a expor acusaes contra Pricles, alegando que
os tributos pagos pelas cidades da liga deveriam ser utilizados para a defesa
e para a guerra e no em obras pblicas e culturais. Alm disso, o acusaram
de superfaturamento, desvio de verba, mal uso do dinheiro pblico, fraude
oramentria,
etc. As
acusaes
fora
dirigidas
pelo
orador
e
guerreiro Tucdides o qual mais lembrado por ter sido historiador.
Tucdides provinha de uma famlia aristocrtica assim como Pricles, mas
era
da
ala
conservadora.
"Pricles ento forado a defender seu programa de despesas diante da
Assembleia. E, em uma srie de debates brilhantes, comparados pelos
comentaristas da poca a um duelo entre dois guerreiros campees,
Pricles e Tucdides se enfrentaram numa batalha verbal, cujo prmio seria
o
apoio
da
opinio
pblica".
(KING,
1988,
p.
60).
Sua poderosa oratria, astcia, retrica e linguajar direto e claro, somado
ao apoio poltico e popular, garantiram a Pricles mostrar-se inocente
perante a tais acusaes. Tucdides perdeu a batalha e em 443 a.C fora
sentenciado ao ostracismo por suas calnias. Vale ressaltar que nesta poca
o Partenon ainda estava em construo e parte dos edifcios da Acrpole
ainda no estavam concludos. Tucdides posteriormente se dirigiu para
Esparta, onde o rei Arquidamo teria lhe perguntado quem era o melhor
orador, ele ou Pricles. Segundo o historiador romano Plutarco, Tucdides
teriam respondido o seguinte: "Toda vez que eu lhe dou um golpe, ele
revida argumentado que jamais caiu. Ele at consegue fazer com que os
espectadores
acreditem
nisso".
A amante
Aspsia de Mileto
Segundo as leis atenienses um homem e uma mulher que se divorciassem
eram proibidos de se casar novamente pelo resto da vida, tal fato aconteceu
com Pricles, o qual tendo divorciado de sua esposa no pde casar com
sua nova paixo, Aspsia de Mileto (ca. 470-400 a.C). No se sabe muito
da vida de Aspsia, mas sabe-se que no incio fora uma prostituta em sua
cidade natal e talvez em outros lugares, antes de ganhar as graas de
Pricles e se mudar para Atenas. Scrates conta que Aspsia era uma
mulher inteligente e astuta, a mesma comeou a estudar filosofia se
tornando uma sofista (os sofistas eram em alguns casos itinerantes e
atuavam como preceptores, professores e advogados). Acredita-se que
Aspsia tenha dado aulas de filosofia, retrica e oratria, pois Scrates diz
que assistira a uma destas aulas ou teria sido um discurso. Aspsia tambm
eram bem conhecida no meio poltico, pois costumava aparecer ao lado do
"marido", e gostava de conversar sobre filosofia, artes e questes polticas,
embora soube-se que as mulheres no tinham direito de participar da
poltica. Ela tivera um filho com Pricles, chamado tambm de Pricles.
"O lder ateniense dava grande valor aos conselhos de Aspsia em relao
aos negcios de Estado e na preparao de seus discursos". (KING, 1988,
p.
69).
"Alguns cidados ficaram estarrecidos com o fato de uma mulher - ainda
por cima prostituta e meteca - conseguir atingir uma posio de tanta
influncia nos negcios da cidade. Levada a julgamento sob a acusao de
impiedade (no demonstrar adequada reverncia aos deuses), Aspsia no
foi condenada, segundo se diz, somente porque Pricles defendeu-a
pessoalmente
diante
do
jri".
(KING,
1988,
p.
69).
O
Olmpico
havia feito. De certa foram, "Olmpico" era uma homenagem feita a Zeus,
Pricles
estava
sendo
comparado
a
um
deus.
"Pricles conseguiu levar para o governo de Atenas um grau de democracia
desconhecido em qualquer outra parte do mundo. Todo cidado poderia
servir cidade - fosse como general, membro do jri ou soldado - e ser
pago por seu trabalho. Mesmo os aristocratas aceitavam o princpio
defendido por ele de que todos os atenienses estavam autorizados - e at
obrigados - a participar dos assuntos da cidade". (KING, 1988, p. 63).
Nos anos seguintes ao ostracismo de Tucdides a oposio da ala
conservadora diminuiu, no entanto os democratas radicais consideravam
que algumas das decises tomadas por Pricles eram de carter
aristocrtico, e o mesmo tivera que passar a cuidar deste problema com os
radicais.
Em 445 a.C, Pricles ordenou a reforma no sistema de coleta de impostos
tanto no Estado como na liga. Sfocles, famoso dramaturgo, ocupava um
cargo pblico neste tempo, coordenou a reviso do sistema de coleta de
impostos. Alm disso, Pricles incentivou a fundao de novas colnias e o
seu povoamento, de forma que tais colnias expandiriam os domnios
atenienses e aproximariam ainda mais Atenas de seus aliados, pois algumas
das colnias foram estabelecidas em territrios aliados. O envio de colonos
tambm fora uma jogada esperta de Pricles, pois alguns destes foram
designados para ficarem "de olho" em polticos e governantes de pouca
confiana.
"Apesar dos esforos de Pricles para manter a paz dentro dos domnios de
Atenas, periodicamente surgiam disputas entre seus aliados. Em 440 a.C,
um conflito entre o porto de Mileto, na sia Menor, e a ilha de Samos
assumiu propores de uma rebelio total, quando os poderosos habitantes
da ilha se recusaram a permitir que Atenas resolvesse a questo por meio
de
arbitragem".
(KING,
1988,
p.
66).
Pricles coordenou as misses contra Samos para controlar a revolta e
destituir os corruptos do poder. Fora necessrio o envio de uma fora militar
para confrontar os rebeldes em Samos, at poder colocar fim a oligarquia
da ilha e instaurar uma democracia. Houve batalha em alguns soldados
morreram. Quando Pricles retornou para Atenas, ele realizou um belssimo
discurso fnebre exaltando a memria daqueles que morreram nos conflitos
em Samos, e ao mesmo tempo incentivando o patriotismo a democracia e
a unio entre as cidades da Liga de Delos. Mas, Samos no fora a nica a se
rebelar naquela poca, a cidade de Bizncio que viria a ser sculos depois
a poderosa Constantinopla, e hoje Istambul, se rebelou em 439 a.C,
contra seus aliados da liga, Pricles ordenou uma expedio punitiva e
seguiu para Bizncio, pois a cidade era um ponto estratgico, ligava o Mar
de
Mrmara
ao
Mar
Negro.
Pricles no precisou usar a fora para conter os bizantinos, as palavras
falaram mais alto. No ano de 437 a.C, Pricles empreendeu viagens pelo
Mar Negro, indo fundar algumas colnias e propor acordos de paz e
comerciais com os Estados locais.
No ano de 437 a.C, Pricles coordenou uma viagem pelo Mar Negro a fim de
fundar novas colnias para Atenas e realizar acordos com os Estados locais.
Em 435 a.C um novo problema surgiu para Pricles. At ento as relaes
entre Esparta e Atenas, entre a Liga do Peloponeso e a Liga de Delos
estavam em paz. Os espartanos at concordaram se unir aos atenienses e
fundaram a cidade de Trio na ilha da Siclia, hoje territrio italiano. Nesta
poca, grande parte da Siclia e partes do sul da Itlia eram colonizadas
pelos gregos, e isso de vez em quando gerava confrontos entre as cidadesEstados que as colonizavam. Neste caso, Corinto comeou a se desentender
com Corcira, pela posse da colnia de Epidamno, um importante porto
comercial no Mar Adritico (nome dado a poro de gua que separa a
Itlia da Grcia). Corcira possua a terceira maior frota da Grcia e estava
determinada a defender seus territrios, logo, uma batalha naval se iniciou
entre as duas cidades, e Corinto fora pedir ajuda a Atenas, a qual possua a
maior
frota
da
Grcia.
O problema era que Corinto era aliada de Esparta, e Pricles no estava
interessado em se intrometer nesta "guerrinha" entre Corinto e Corcira, por
outro lado, era uma deciso ambgua: ajudar o aliado do meu rival, ou ficar
neutro, e se mostrar anti-solidrio? Pricles decidiu apoiar Corcira e depois
de algumas batalhas eles saram vitoriosos, mas os corntios juraram se
vingar desta ofensa. Nos anos seguintes, Pricles enviou tropas para lutar
na Trcia e Macednia, a fim de proteger os domnios da liga na regio, ao
mesmo tempo puniu a cidade de Potidia e embargou financeiramente a
cidade de Mgara, a qual apoiara Corinto e a incentivara na guerra contra
Corcira.
O embargo a Mgara e o apoio contra Corinto, levaram seus lderes a
recorrerem a Esparta. No ano de 431 a.C, embaixadores de Corinto,
Mgara, Atenas e de outras cidades estavam reunidos em Esparta para
debater os problemas surgidos nos ltimos quatro anos. O Conselho de
Esparta chegou a concluso que Atenas havia rompido a Paz dos Trinta Anos
que durara apenas 13 anos e alguns meses, tendo ousado apoiar Corcira
contra Corinto, tendo embargado Mgara e causado outros problemas a
outras
cidades
gregas.
A
guerra
fora
declarada.
Guerra
Peste
fim
de
um
lder
Pricles tentou procurar solues para a peste, mas nada pudera fazer. Os
mdicos no conheciam formas de trat-la e cur-la. Picles tentou levantar
o nimo do povo, alguns at o ouviam, mas o medo era grande demais, e
suas palavras j no surtiam efeito como antes. Alm disso, ele fora
acusado de ter sido negligente com o povo, estando interessado mais na
guerra que travava, ento a Eclsia votou a destituio de Pricles do
Conselho dos Generais, e o mesmo fora multado por no ter mantido
registros exatos dos gastos do tesouro pblico durante os meses de 430
a.C.
Em 429 a.C, vrios amigos e parentes de Pricles morreram, vtimas da
peste. Seus dois filhos Xantipo e Pralo sucumbiram a praga. Com seus 61
ou 63 anos, era um homem abalado e sem esperana. Ainda naquele ano,
ele fora convocado de volta ao Conselho dos Generais, pois os conselheiros
que assumiram eram incompetentes, e o grande lder que um dia fora, era
muito
tempo.