Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul Faculdade de Veterinária

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE VETERINRIA

SNDROME DA CAUDA EQUINA EM CES

JOICE DOS SANTOS GONALVES

PORTO ALEGRE
2013/2

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL


FACULDADE DE VETERINRIA

SNDROME DA CAUDA EQUINA EM CES

Autor: Joice dos Santos Gonalves


Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina Pacheco de Arajo
Co-orientadora: M.V. MSc. Juliana Voll
Monografia apresentada como requisito parcial para
obteno da graduao em Medicina Veterinria

PORTO ALEGRE
2013/2

AGRADECIMENTOS
Primeiramente aos meus pais e meus irmos pela compreenso durante todos esses anos
de faculdade, me dando apoio financeiro e entendendo os vrios dias de ausncia devido
faculdade, estgios e plantes.
Aos meus velhos amigos a quem tive que recusar tantos convites por causa da correria
do dia a dia. Aos amigos queridos da faculdade, dos antigos at os novos, de quem sempre
tive ajuda e sempre tentei ajudar, tanto com trocas de materiais, quanto em trabalhos, estudos
em conjunto em vsperas de provas e dicas de ltima hora.
Aos meus colegas de estgio no bloco de ensino, onde fiquei por cinco semestres, onde
aprendi muito e ganhei amigos muito especiais.
Aos mdicos veterinrios da clnica veterinria Auxiliadora, onde fui plantonista, por
toda a ajuda, por todo o aprendizado e onde fiz tambm muitas amizades.
Aos mdicos veterinrios Emerson Contesini, Ana Cristina de Arajo, Marcelo Alievi e
Anelise Bonilla,que sempre estiveram dispostos a me ajudar tanto na rotina de estgio, quanto
nos imprevistos.
minha orientadora, profa. Ana Cristina de Arajo, e minha co-orientadora Dra.
Juliana Voll, pelo auxlio no desenvolvimento deste trabalho.
Um agradecimento especial ao meu namorado Felipe Magalhes por estar ao meu lado
desde o meu primeiro ano de faculdade, me dando total apoio tanto nas questes relativas
faculdade, mas principalmente apoio emocional, obrigada por ser meu companheiro pra tudo!
Finamente, aos meus filhinhos caninos, Toquinho e Babalu. Ao Toquinho, a quem eu
amo desde o momento em que o vi bebezinho, e que hoje, aos dezenove anos, me mostra que
o meu amor por ele o mesmo de sempre. E Babalu, a quem adotei j adulta, que foi me
conquistando aos poucos e me ensinando a am-la, que me fez ter a pior dor que j senti ao
perd-la, mas estar para sempre no meu corao.

RESUMO

A Sndrome da Cauda Equina um conjunto de sinais neurolgicos causados pela


compresso de razes nervosas que correm pelo canal espinhal lombossacral. uma patologia
relativamente comum e que acomete principalmente ces de raas grandes, machos e de meiaidade. Sua origem pode ser congnita ou adquirida, sendo as principais causas a m formao
congnita do canal vertebral, protruses de disco intervertebral, espondilose, fraturas e
luxaes vertebrais, discoespondilite e neoplasias de vrtebras. Os sinais clnicos mais
comuns so dor lombossacra, claudicao, paresia ou paralisia de membros plvicos, atrofia
muscular, distrbios de esfncteres e automutilaes. O diagnstico se baseia na histria
clnica, exame fsico neurolgico e diagnstico por imagem. O tratamento pode ser
conservativo, com repouso e anti-inflamatrios no esteroidais, ou cirrgico, sendo a
laminectomia dorsal o mtodo mais utilizado. O prognstico depende da gravidade das leses,
sendo bom para animais que ainda no perderam a funo dos esfncteres urinrio e anal.

Palavras-chave: cauda equina, estenose lombossacral, razes nervosas, ces.

ABSTRACT

The Cauda Equina Syndrome is a set of neurological signals caused by compression of the
nerve roots that run by lumbosacral spinal channel. This is a relatively common pathology
which affects male and middle-aged large breed dogs. Its origin can be congenital or
acquired, being the main causes are congenital malformation of the spinal canal, protrusions
of intervertebral disc, spondylosis, vertebral fractures and dislocations, discospondylitis and
vertebral neoplasia. The most common clinical signs are low back pain, lameness, lower
extremity motor and sensory loss, atrophy, bowel incontinence and self mutilation. The
diagnosis is based on clinical history, neurological examination and imaging diagnostic. The
treatment can be conservative, with rest and nonsteroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs),
or surgical, the laminectomy being the most used method. The prognosis depends on the
gravity of the injuries, but it is considered good for animals that do not yet have lost the
function of urinary and anal sphincter.

Keywords: cauda equina, lumbosacral stenosis, nerve roots, dogs.

LISTA DE ABREVIATURAS

Porcentagem

AINES

Anti-inflamatrios no esteroidais

Cco 1

Primeira vrtebra coccgea

Cco 5

Quinta vrtebra coccgea

L3

Terceira vrtebra lombar

L4

Quarta vrtebra lombar

L6

Sexta vrtebra lombar

L7

Stima vrtebra lombar

S1

Primeira vrtebra sacral

S2

Segunda vrtebra sacral

S3

Terceira vrtebra sacral

TENS

Estimulao nervosa eltrica transcutnea

UST

Ultrassom teraputico

LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Representao de uma vrtebra lombar tpica de um canino, vista caudal........... 11
Figura 2 Medula espinhal no canal vertebral e o disco intervertebral com anel fibroso e
ncleo pulposo...................................................................................................... 13
Figura 3 Desenho esquemtico em vista dorsal do final do canal vertebral torcico at a
sexta vrtebra caudal, mostrando a sada dos nervos espinhais e a cauda
equina.................................................................................................................... 14
Figura 4 Seco transversal da coluna vertebral mostrando a formao de um nervo
espinhal............................................................................................................... 15
Figura 5 Imagem dorsal do final do canal vertebral aberto de um co............................... 16
Figura 6 Desenho esquemtico de seco do canal vertebral e medula espinhal
demonstrando a anatomia interna da medula espinhal e das meninges............ 18
Figura 7 Demonstrao esquemtica de uma estenose lombossacral degenerativa..........

20

Figura 8 Evoluo da espondilose no co, com formao e agravamento do esporo


sseo................................................................................................................... 22
Figura 9 Ilustrao da degenerao de disco Hansen tipo I, com extruso do material
nuclear no canal vertebral e degenerao de disco Hansen tipo II, com
protruso crnica do anel fibroso para o canal vertebral..................................... 23
Figura 10 Co com sndrome da cauda equina demonstrando cifose acentuada...............

25

Figura 11 Animal com deficincia de propriocepo consciente, demonstrada pela


posio alterada do membro plvico esquerdo................................................ 26
Figura 12 Canino com dificuldade de locomoo, marcha agachada leve e paresia dos
membros plvicos bilateral.............................................................................

27

Figura 13 Imagem radiogrfica de um co demonstrando espondilose e alteraes


degenerativas graves entre L7 e S1.................................................................

32

Figura 14 Imagem radiogrfica de um co demonstrando espondilose entre L7 e S1........ 33


Figura 15 Epidurografia em posio lateral extendida, demonstrao de compresso
severa das razes nervosas entre L7 e S1 causada por herniao de disco........ 34
Figura 16 Epidurografia em posio lateral. Um lipoma causando uma grave
compresso no espao L7-S1......................................................................... 34

Figura 17 Epidurografia em posio lateral. Compresso causada pela hipertrofia do


ligamento interarqueado.................................................................................... 35
Figura 18 Tomografia computadorizada da juno lombossacral de um co ao nvel
vertebral L7-S1.................................................................................................. 36
Figura 19 Ressonncia magntica compatvel com sndrome da cauda equina, por
herniao discal................................................................................................ 37
Figura 20 Laminectomia dorsal em L7, S1 e S2................................................................. 42
Figura 21 Laminectomia dorsal para descompresso da cauda equina............................... 43
Figura 22 Hemilaminectomia. Remoo de material discal herniado................................. 44

SUMRIO

INTRODUO............................................................................................................. 10

REVISO ANATOMICA............................................................................................ 11

2.1

Coluna Vertebral.......................................................................................................... 11

2.2

Medula Espinhal........................................................................................................... 13

2.3

Inervao Muscular...................................................................................................... 18

2.4

Vascularizao............................................................................................................... 18

SNDROME DA CAUDA EQUINA EM CES........................................................ 20

3.1

Etiologia......................................................................................................................... 20

3.2

Fisiopatogenia................................................................................................................ 21

3.2.1 Estenose Congnita do Canal Vertebral......................................................................... 21


3.2.2 Estenose Adquirida do Canal Vertebral (Espondilose).................................................. 21
3.2.3 Protruso de Disco Intervertebral................................................................................... 22
3.2.4 Outras Alteraes............................................................................................................ 23
3.3

Sinais Clnicos................................................................................................................ 24

DIAGNSTICO............................................................................................................ 29

4.1

Histrico do Paciente.................................................................................................... 29

4.2

Exame Fsico.................................................................................................................. 29

4.3

Exame Radiogrfico Simples e Mielografia............................................................... 31

4.4

Epidurografia................................................................................................................ 33

4.5

Discografia..................................................................................................................... 35

4.6

Tomografia Computadorizada.................................................................................... 35

4.7

Ressonncia Magntica................................................................................................ 36

4.8

Diagnstico Diferencial................................................................................................. 37

TRATAMENTO........................................................................................................... 39

5.1

Tratamento Clnico Conservativo............................................................................... 39

5.2

Tratamento Cirrgico.................................................................................................. 40

5.2.1 Laminectomia Dorsal, Facetectomia e Foraminotomia.................................................. 41


5.2.2 Hemilaminectomia.......................................................................................................... 43
5.2.3 Cuidados Ps-Operatrios.............................................................................................. 45
5.3

Tratamentos Alternativos............................................................................................ 45

PROGNSTICO........................................................................................................... 47

CONCLUSO............................................................................................................... 48

REFERNCIAS...................................................................................................................... 49

10
1 INTRODUO
A compresso da cauda equina foi relatada em ces de vrias idades e raas. Em
vrios estudos, os ces mais acometidos eram mais velhos e de raa grande. s vezes,
problemas musculoesquelticos nestas raas, podem fazer com que o distrbio no seja
identificado (LORENZ; KORNEGAY, 2006).
A sndrome da cauda equina um complexo de sinais neurolgicos decorrentes da
compresso das razes nervosas denominadas cauda equina, presentes da stima vrtebra
lombar a quinta vrtebra coccgea, em decorrncia estenose dorsoventral do canal
vertebral. Esta estenose pode ter vrias origens (SEIN III, 2008).
Os sinais clnicos tpicos so dor lombossacra e claudicao dos membros plvicos
com ou sem fraqueza das mesmas, e alguns pacientes apresentam incontinncia urinria ou
fecal. O animal afetado pela sndrome no pula, sente dificuldade de subir escadas, e o
exerccio exacerba os sinais (LORENZ; KORNEGAY, 2006).
O diagnstico deve ter associao do histrico do animal, achados nos exames fsicos
e neurolgicos, e exames de imagem para determinao do local exato da leso. Os
achados nos exames podem incluir dficits proprioceptivos, atrofia muscular, paraparesia
progressiva, debilidade da cauda, automutilao, e distrbios dos esfncteres, com
consequente incontinncia urinria e fecal (PRATA, 1998).
O tratamento depende da causa e gravidade das leses, e se baseia primeiramente na
restrio de movimentos e administrao de anti-inflamatrios no esteroidais, podendo ser
necessrio encaminhamento para tratamento cirrgico (SEIN III, 2008).
O prognstico depende da etiologia, tempo em que o animal permaneceu com as
alteraes clnicas, grau de comprometimento neurolgico e do tipo de tratamento utilizado
(LORENZ; KORNEGAY, 2006).
O objetivo do trabalho realizar uma reviso bibliogrfica, descrevendo a sndrome
da cauda equina em ces, apresentado as caractersticas anatmicas da regio
lombossacral, as etiologias, as patogenias, os sinais clnicos, os diagnsticos e os
tratamentos desta alterao neurolgica, e a diferenciando de outras patologias com sinais
clnicos semelhantes.

11
2 REVISO ANATMICA
Conhecer a anatomia da regio lombossacral da coluna vertebral e da medula
espinhal, essencial para entender a fisiopatogenia e identificao da sndrome da cauda
equina em ces, para a realizao do exame fsico, diagnosticar corretamente e realizar o
tratamento adequado no paciente acometido.

2.1 Coluna Vertebral


O co possui sete vrtebras cervicais, treze torcicas, sete lombares, trs sacrais e
cerca de vinte caudais. Uma vrtebra tpica (Figura 1) composta de um corpo macio
encimado por um arco que completa o fechamento de um forame vertebral, e a soma
desses forames constitui o canal vertebral. O arco composto de dois pedculos verticais e,
a partir de cada um, projeta-se medialmente uma lmina para encontrar o seu par e assim,
completar o anel que circunda a medula espinhal. Cada vrtebra tambm apresenta o
processo espinhoso dorsal, resultado da unio das lminas e os processos transversos, que
se projetam lateralmente (DYCE et al., 2010).

Figura 1- Representao de uma vrtebra lombar tpica de


um canino, vista caudal.

Fonte: Khalil, 2007.


Os corpos das sete vrtebras lombares so achatados dorsoventralmente e aumentam
de largura da primeira para a ltima, j o comprimento aumenta at a sexta vrtebra. O

12
sacro, resultado da fuso de trs vrtebras, possui o canal sacral fortemente comprimido
dorsoventralmente. As vrtebras caudais (coccgeas) so bem desenvolvidas na parte
cranial da regio, e o arco est completo nas seis primeiras vrtebras (SISSON, 1986).
O canal vertebral mais largo no atlas (primeira vrtebra cervical) e se afunila
rapidamente no sacro; ele mais expandido nas regies das intumescncias cervical e
lombar da medula espinhal, de onde se originam os nervos que formam os plexos dos
membros (DYCE et al., 2010).
Em trs locais da coluna vertebral as partes dorsais dos arcos vertebrais so menos
estreitamente ligadas, deixando espaos interarqueados relativamente amplos, um deles, o
espao lombossacral, fica entre a ltima vrtebra lombar e o sacro. Esses espaos
interarqueados so de suma importncia clnica, pois podem ser usados como ponto de
entrada para injees no canal vertebral e para obteno de amostras de lquido
cerebroespinhal. O espao lombossacral o melhor local para tal propsito, e encontra-se
no plano transverso dos pontos mais altos das asas dos lios, mas cerca de dois centmetros
mais profundos (DYCE et al., 2010).
Os discos intervertebrais esto presentes em todos os espaos intervertebrais, exceto
entre a primeira e segunda vrtebras cervicais, e contribuem para a flexibilidade da coluna
e distribuio da presso sobre as extremidades das vrtebras. Cada disco composto de
um ncleo pulposo e de um anel fibroso (Figura 2). As articulaes entre as facetas nos
arcos vertebrais so do tipo sinovial. H tambm ligamentos longitudinais, um dorsal, que
vai do xis (segunda vrtebra cervical) ao sacro, e um ventral, da regio torcica mdia at
o sacro. Um terceiro ligamento comum, o supraespinhoso, segue sobre os pices dos
processos espinhosos das vrtebras torcicas e lombares (DYCE et al., 2010).

13
Figura 2 Medula espinhal no canal vertebral e o
disco intervertebral, com o anel fibroso
e ncleo pulposo. A- medula espinhal;
B- ncleo pulposo; C- anel fibroso

B
C
Fonte: Jakowski, 2012.
2.2 Medula Espinhal
A medula espinhal, juntamente com o encfalo, compe o sistema nervoso central. O
encfalo situa-se na cavidade craniana, enquanto a medula espinhal situa-se no canal
vertebral, ambos envoltos por meninges (KNIG et al., 2004).
A medula espinhal uma massa cilindroide de tecido nervoso que, cranialmente
limita-se com o bulbo, no nvel do forame magno do osso occipital e, em ces adultos,
termina geralmente na altura da sexta vrtebra lombar (FEITOSA, 2008). Na extremidade
caudal, a medula espinhal se estreita, formando o cone medular e termina como um fino
cordo, o filamento terminal (KNIG et al., 2004).
A medula espinhal dividida em segmentos. Existem oito nervos espinhais cervicais,
treze torcicos, sete lombares, trs sacrais e de quatro a sete caudais. O primeiro nervo
cervical emerge atravs do forame vertebral lateral do atlas, os demais nervos cervicais
emergem cranialmente s vrtebras correspondentes, com exceo do oitavo, que emerge
entre a stima vrtebra cervical e primeira vrtebra torcica. Os nervos espinhais torcicos
e lombares deixam o canal vertebral atravs do forame intervertebral, situado caudalmente
s vrtebras correspondentes. O primeiro e o segundo nervos espinhais sacrais emergem
atravs do forame sacral dorsal, enquanto o terceiro nervo emerge atravs do forame
intervertebral, entre a ltima vrtebra sacral e a primeira vrtebra caudal (Figura 3)
(GHOSHAL, 1986).

14
Figura 3 Desenho esquemtico em vista
dorsal do final do canal
vertebral torcico at a sexta
vrtebra caudal, mostrando a
sada dos nervos espinhais e a
cauda equina.

Fonte: Sein III, 2008.


Os segmentos medulares que originam os nervos para os membros torcicos e
plvicos apresentam dilataes chamadas intumescncia cervical e intumescncia lombar
(CAMPOS, 2002). A intumescncia cervical inclui o quinto segmento da medula espinhal

15
cervical at o segundo segmento da medula espinhal torcica. A intumescncia lombar tem
incio no quarto segmento lombar e termina no segundo segmento sacral (DELLMANN;
MCCLURE, 1986).
Cada nervo espinhal formado pela unio de duas razes, uma dorsal e uma ventral
(Figura 4). A raiz dorsal quase exclusivamente composta de fibras aferentes, cujos corpos
celulares so unidos de modo a formar uma intumescncia visvel, o gnglio espinhal (da
raiz dorsal). A raiz ventral composta exclusivamente de fibras eferentes que emana de
neurnios motores no interior do corno ventral da substncia cinzenta e deixam a medula
por uma longa faixa ventrolateral; encaminha-se para rgos efetores (msculos e
glndulas) (DYCE et al., 2010).
Cada ramo dorsal do nervo espinhal se divide em um ramo medial, que supre a parte
local da musculatura epaxial do pescoo, do tronco ou da cauda, e um ramo lateral, que se
distribui at a parte dorsal do segmento cutneo. O ramo ventral maior e inerva os
msculos hipaxiais, inclusive dos membros (exceto os msculos do cngulo torcico
supridos pelo dcimo primeiro nervo craniano - XI espinal acessrio, e o msculo
romboide, inervado em algumas espcies pelos ramos dorsais). Os ramos ventrais se unem
a seus vizinhos por ramos comunicantes, formando o plexo braquial e o plexo
lombossacral, que suprem, respectivamente, os membros torcicos e os membros plvicos
(DYCE et al., 2010).
Figura 4 Seco transversal da coluna vertebral mostrando a
formao de um nervo espinhal. 1, medula espinhal; 2,
raiz dorsal; 3, gnglio espinhal; 4, raiz ventral; 5, nervo
espinhal; 6, ramo dorsal do nervo espinhal; 7, ramo
ventral do nervo espinhal; 8, corpo vertebral; 9, tronco
simptico; 10, msculos epaxiais.

Fonte: Sein III, 2008.

16
Lateralmente, a medula emite pares de nervos que correspondem aos espaos
intervertebrais, com exceo da regio cervical, que apresenta oito pares de nervos, j que
o primeiro sai pelo forame vertebral lateral, junto ao forame alar do atlas (CAMPOS,
2002). No incio do desenvolvimento intrauterino, a medula espinhal e a coluna vertebral
ocupam todo o comprimento do canal vertebral e os nervos passam pelos respectivos
forames intervertebrais, dispondo-se horizontalmente, formando com a medula um ngulo
aproximadamente reto. Entretanto, com o desenvolvimento, a coluna vertebral comea a
crescer mais do que a medula, especialmente em sua poro caudal. Como as razes
nervosas mantm suas relaes com os respectivos forames intervertebrais, h o
alongamento das razes e a diminuio do ngulo que elas fazem com a medula
(FEITOSA, 2008). Do cone medular em diante, o canal vertebral apresenta um conjunto de
razes de nervos espinhais, com disposio oblqua e na direo caudal, que devido sua
semelhana com uma cauda de cavalo, denominado de cauda equina (KNIG et al.,
2004). Assim, abaixo da sexta vrtebra lombar, o canal vertebral no contm mais a
medula espinhal, apenas as razes nervosas da cauda equina (CHRISMAN, 1985).
A cauda equina consiste em razes nervosas originadas aps a sexta vrtebra lombar
at a quinta vrtebra coccgea (Figura 5). As razes dos nervos do segmento L6-S1 formam
o nervo citico depois de deixarem os forames. Os trs primeiros nervos sacrais
contribuem para o nervo pudendo, que inerva o perneo e o esfncter anal externo, e para o
nervo plvico que controla a incontinncia urinria e fecal. A cauda inervada pelo
primeiro ao quinto nervos coccgeos (PRATA, 1998; LORENZ; KORNEGAY, 2006).
Figura 5 Imagem dorsal do final do canal vertebral aberto de
um co. A- cauda equina; B- processo transverso da
sexta vrtebra lombar; C- cone medular.

Fonte: Knig et al., 2004.

17
Em um corte transversal da medula espinhal, reconhecvel internamente a
substncia cinzenta, qual apresenta um canal central e, recobrindo a substncia cinzenta,
sob a forma de um manto, encontra-se a substncia branca (Figura 6). A substncia
cinzenta assemelha-se, em um corte transversal, forma de um H ou de uma borboleta,
caracterizando a presena de um corno dorsal, e um corno ventral. Ambos os cornos so
unidos por uma poro intermediria lateral e um corno lateral. A continuidade de toda a
extenso da medula espinhal constitui as colunas medulares dorsal, lateral e ventral. Na
coluna cinzenta dorsal encontram-se neurnios somticos e viscerais aferentes, que esto
em conexo com as clulas-sensoriais situadas nos gnglios da raiz dorsal dos nervos
espinhais. No corno lateral, esto localizados os neurnios motores viscerais, os ncleos
simpticos e o ncleo parassimptico. A coluna ventral contm essencialmente os
neurnios de motricidade do corpo. A substncia cinzenta contm um grande nmero de
ncleos celulares. A substncia branca composta predominantemente de fibras nervosas
medulares e constituda de funculos, o dorsal e o ventrolateral. No funculo dorsal
ascendem principalmente tratos que levam sensibilidade superficial e profunda para o
encfalo, e o funculo ventrolateral direciona tratos ascendentes (sensoriais) assim como
descendentes (motores). Suas fibras executam a conexo entre diferentes segmentos
medulares (KNIG et al., 2004).
O encfalo e a medula espinhal esto cercados por trs membranas contnuas, as
meninges (Figura 6). A mais externa a dura-mter, que separada do peristeo interno
dos ossos pelo espao epidural, ocupado por tecido adiposo. Logo depois da dura-mter h
o espao subdural, em seguida a segunda membrana, a aracnoide, o espao subaracnideo,
e, finalmente, a terceira membrana, fixada ao encfalo e medula, a pia-mter. No espao
subdural, h o lquor cerebroespinhal, que protege o encfalo e a medula espinhal (DYCE
et al., 2010).

18
Figura 6 Desenho esquemtico de seco do canal vertebral e medula
espinhal demonstrando a anatomia interna da medula espinhal e
das meninges.

Substncia
cinzenta

Substncia
branca

Fonte: Knig et al., 2004.


2.3 Inervao Muscular
O primeiro nervo espinhal de importncia clnica e que faz parte da cauda equina, o
nervo citico. Ele formado pelos segmentos L6-S2 da medula espinhal e inerva os
msculos bceps femorais, semimebranosos e semitendinosos, que produzem a flexo do
joelho. O nevo citico divide-se no nvel do joelho em nervo fibular e nervo tibial. O nervo
fibular inerva os msculos fibular longo, extensor lateral dos dedos, extensor longo dos
dedos e tibiais craniais, e responsvel pela flexo do jarrete e extenso dos dedos. O
nervo tibial inerva os msculos gastrocnmios, poplteos, flexor superficial e profundo dos
dedos, e responsvel pela extenso do jarrete e flexo dos dedos (CHRISMAN, 1985).
As razes nervosas e segmentos da medula espinhal de S1 a S2 formam o nervo
pudendo, que transmite informao sensitiva ao esfncter uretral externo, esfncter anal e
regio perineal. Tambm determina inervao motora para o esfncter uretral externo e
para o msculo estriado do esfncter anal. A cauda inervada pelos nervos coccgeos Cco1
a Cco5 (CHRISMAN, 1985).

2.4 Vascularizao
A medula espinhal suprida por trs artrias que percorrem toda a sua extenso. A
maior, a artria espinhal ventral e um par de artrias espinhais dorsolaterais. Essas artrias
entram nos forames intervertebrais, frequentemente na forma de estreitos vasos que

19
acompanham as razes dos nervos espinhais, e formam plexos na superfcie da medula.
Ramos da artria espinhal ventral suprem a parte central da medula, a substncia cinzenta e
a camada adjacente da substncia branca (DYCE et al., 2010).
O plexo venoso vertebral segue por toda a extenso da coluna vertebral e drena
sangue das vrtebras, da musculatura adjacente e do interior do canal vertebral. A maior
parte do plexo composta por pares de canais no espao epidural ventral medula (DYCE
et al., 2010).

20
3 SNDROME DA CAUDA EQUINA EM CES

3.1 Etiologia
A sndrome da cauda equina diz respeito aos sinais clnicos relacionados leso de
razes nervosas da stima vrtebra lombar, vrtebras sacrais ou caudais, causada pelo
estreitamento dorsoventral do canal vertebral lombossacro (INZANA; WOOD, 2008). A
compresso das razes nervosas demonstrada na figura 7. Segundo Prata (1998), os
distrbios mais frequentes, que levam a estes sinais, so as protruses de disco agudas,
espondilose, e a estenose congnita do canal.
Figura 7 Demonstrao esquemtica de uma estenose lombossacral degenerativa.
A- aspecto normal das razes nervosas da cauda equina no canal
vertebral; B- demonstrando canal vertebral estenosado com compresso
das razes nervosas da cauda equina (seta).

Fonte: Severo Jr.


Algumas outras causas relacionadas sndrome da cauda equina so fraturas ou
luxaes vertebrais, discoespondilite e neoplasias de vrtebra (SEIN III, 2008).
No trabalho de Ganem et al. (2003) consta que, na dcada de 1990, foram descritos
vrios casos de sndrome de cauda equina associados lidocana hiperbrica a 5%
administrada no espao subaracnoideo aps injees repetidas em decorrncia de bloqueios
inadequados e tambm, aps a injeo de grandes volumes de lidocana a 2% que deveria

21
ser administrada no espao peridural e, acidentalmente, foi introduzida no espao
subaracnoideo.

3.2 Fisiopatogenia

3.2.1 Estenose Congnita do Canal Vertebral


A estenose congnita se caracteriza pelo encurtamento dos pedculos, o que causa a
diminuio do canal espinhal pelo espessamento da lmina e dos processos articulares,
pela hipertrofia do ligamento interarqueado e pela esclerose das facetas articulares, que
invadem o canal espinhal dorsoventralmente. Os segmentos mais frequentemente afetados
em ces so L6-L7 e L7-S1. Os sinais clnicos geralmente iniciam quando os ces atingem
a meia-idade ou, at mesmo, quando j so idosos (PRATA, 1998).

3.2.2 Estenose Adquirida do Canal Vertebral (Espondilose)


uma discopatia crnica, que est relacionada com o processo degenerativo lento e
progressivo do anel fibroso e do ncleo pulposo. O segmento mais frequentemente
envolvido da regio lombossacral L7-S1, local submetido grande tenso mecnica.
Essas tenses crnicas exercidas sobre o disco causam dessecao no ncleo pulposo,
degenerao e fragmentao do anel fibroso, estenose progressiva do interespao,
formao de espores sseos ventral e lateralmente, esclerose das placas terminais do
corpo vertebral, acavalamento e artrite degenerativa das facetas e, finalmente, a fuso
completa de L7-S1 (Figura 8). Em alguns casos, estas alteraes podem acarretar na
diminuio do dimetro do canal vertebral, causando presso nos nervos da cauda equina.
Se o canal j possuir uma estenose congnita, pouca alterao nos discos, j suficiente
para causar esta disfuno neurolgica (PRATA, 2008).
A predisposio maior em ces de raas grandes (acima de 35 quilos),
principalmente Pastor Alemo. Os machos so mais afetados que as fmeas e os sinais
comeam a aparecer, na maioria dos casos, quando o co j est na meia-idade (SEIN III,
2008).

22
Figura 8 - Evoluo da espondilose no co, com formao e
agravamento do esporo sseo.

Fonte: Fanting, 2001.


3.2.3 Protruso de Disco Intervertebral
Existem dois tipos de protruso de disco intervertebral, chamadas de Hansen tipo I e
Hansen tipo II. Na Hansen tipo I, classificada como herniao aguda de disco, ocorre
ruptura total do anel fibroso e a extruso do ncleo pulposo para dentro do canal vertebral,
geralmente ocorre na metaplasia condroide e pode causar diferentes sinais clnicos. A
extruso aguda do disco provoca leso direta medula espinhal devido sua compresso, a
massa do disco resulta em isquemia e alteraes na medula espinhal. Raas
condrodistrficas so mais predispostas a esta alterao, mas tambm ocorre em outras
raas com idade mais avanada. Leses de Hansen tipo II envolvem protruso gradual das
fibras anulares dorsais (salincia) para dentro do canal vertebral. Ocorre ruptura parcial das
fibras do anel fibroso, que leva compresso da medula espinhal (Figura 9). Esta protruso
produz uma paresia lentamente progressiva que evolui em semanas ou meses. Animais de
raas maiores so mais suscetveis (WALDRON, 2008; CHRISMAN, 1985).

23
Figura 9 Ilustrao da degenerao de disco Hansen tipo I, com extruso do
material nuclear no canal vertebral (esquerda) e degenerao de disco
Hansen tipo II, com protruso crnica do anel fibroso para o canal
vertebral (direita).

Fonte: Sein III, 2008.


3.2.4 Outras Alteraes
Fraturas lombares caudais e subluxaes lombossacrais so leses comuns nos
animais. Leses traumticas nesta rea podem envolver a cauda equina e comprimir ou
aprisionar as razes dos nervos citico, plvico e pudendo, resultando em disfuno
neurolgica grave nos membros plvicos, bexiga e esfncter anal (LORENZ;
KORNEGAY, 2006).
A discoespondilite uma infeco do disco intervertebral com osteomielite
concomitante das vrtebras contguas, geralmente causadas por migrao de corpos
estranhos e infeco bacteriana. A infeco dos discos intervertebrais e das vrtebras
geralmente ocorre secundria infeco do trato urinrio ou bacteremia, e, raramente pode
ser secundria fenestrao cirrgica dos discos. A infeco de origem hematgena pode
ocorrer tambm devido a traumatismos e imunossupresso. A prevalncia maior em ces
machos e de grande porte, tambm sugere que a tenso imposta coluna vertebral e a
atividade do animal podem ser importantes. Os sinais neurolgicos desenvolvem-se a partir
da invaso da medula espinhal ou das razes nervosas pela expanso dos tecidos. A
destruio das vrtebras pode provocar instabilidade espinhal com compresso secundria
da medula espinhal e das razes nervosas (LORENZ; KORNEGAY, 2006; KORNEGAY,
1998).
Quanto s neoplasias, os tumores mais comuns que acometem vrtebras, meninges e
medula espinhal so extradurais e acometem as estruturas que alojam a medula espinhal, e
produzem mielopatia compressiva quando a massa se expande ao redor da medula. Os
tumores intradurais-extramedulares geralmente so meningiomas ou tumores de bainha
nervosa e podem ser dolorosos. Os tumores intramedulares so metastticos ou tumores
primrios de tecido nervoso, sendo gliomas e ependimomas os mais comuns. Alguns

24
tumores como linfossarcomas podem embolizar as artrias da medula espinhal. Os tumores
esquelticos (vertebrais) crescem dentro do canal vertebral, comprimindo a medula
lentamente. Ocasionalmente, este tumor causa destruio vertebral, enfraquecendo as
vrtebras, que podem fraturar e comprimir a medula espinhal de forma aguda. Os tumores
linforreticulares so considerados epidurais, crescem dentro do canal vertebral e produz
mielopatia compressiva. Os tumores metastticos ocorrem mais frequentemente nas
vrtebras do que na medula espinhal. Os sinais neurolgicos resultam da compresso da
medula secundria instabilidade vertebral ou compresso direta pela massa neoplsica
(LORENZ; KORNEGAY, 2006).

3.3 Sinais Clnicos


Conforme o segmento da medula e o nervo acometido, os ces podem apresentar
diversos sinais clnicos. Os principais sinais neurolgicos so dor nas costas, claudicao,
atrofia muscular na distribuio do nervo citico, paresia progressiva, debilidade da cauda,
distrbios dos esfncteres e parestesias (PRATA, 1998).
Quando massas extradurais comprimem a medula espinhal e as razes nervosas
abaixo de L3, a perda de fora e alteraes de sensibilidade se d pelo envolvimento
concomitante das razes nervosas dorsais (sensitivas) e ventrais (motoras) que suprem os
membros plvicos, nus, bexiga e cauda (CHRISMAN, 1985).
A dor lombossacra a caracterstica clnica proeminente e muitas vezes pode ser o
nico sinal. Os animais apresentam cifose, j que a flexo da coluna vertebral faz com que
o canal vertebral aumente de tamanho diminuindo a compresso da medula espinhal
(Figura 10). Usualmente observada e relatada pelo proprietrio, quando o animal se
recusa a subir ou descer escadas, no senta, implora por comida e no encontra posio que
se acomode. Ocorre na discoespondilite, protruso de disco intervertebral, leso de
vrtebra, e neoplasias de medula, razes nervosas ou vertebrais (INZANA; WOOD, 2008;
CHRISMAN, 1985).

25
Figura 10 Co com sndrome da cauda equina demonstrando
cifose acentuada.

Fonte: Centro de Cirurgia Veterinria de Loures, 2011.


A dor referida, com claudicao subsequente, o segundo sinal clnico mais comum
e ocorre no encarceramento das razes L6, L7 e S1, no caso de estenose do canal vertebral.
Todas estas razes contribuem para o nervo citico, podendo resultar em deficincias
motoras. O exerccio aumenta a demanda circulatria pelos segmentos da medula espinhal
e pela cauda equina, fazendo com que os vasos da cauda equina se dilatem para que sejam
atendidas as demandas metablicas nesta regio. Como o canal est estenosado, as
restries ao fluxo sanguneo resultam em isquemias das razes nervosas, provocando
dores radiculares e a dor referida nas costas, extremidades, cauda e perneo, e consequente
claudicao, geralmente intermitente e progressiva. Este achado pode evoluir para a perda
da propriocepo consciente (Figura 11), desenvolvimento de fraqueza motora e atrofia
dos membros plvicos conforme a isquemia e a compresso das razes nervosas aumentam
(PRATA, 1998; SEIN III, 2008).

26
Figura 11 Animal com deficincia de propriocepo
consciente, demonstrada pela posio
alterada do membro plvico esquerdo (seta).

Fonte: Dechen, 2010.


A paresia ou paralisia dos membros plvicos devida a distrbios nas razes
nervosas de L4 a S2, do plexo lombossacral ou de nervos isolados do membro plvico
(Figura 12). Os mecanismos de leso que mais comumente produzem paralisia de um
membro so os traumas, a mielopatia degenerativa, as leses de Hansen tipo II e as
neoplasias na medula espinhal. Se o nervo citico for afetado, o animal capaz de suportar
o peso no membro, mas permanece apoiado no dorso da pata, incapaz de estender ou
flexionar ativamente os ps ou o jarrete, que permanece cado. Pode ocorrer atrofia dos
msculos bceps femoral, semimembranoso, semitendinoso, tibial cranial, gastrocnmio e
outros msculos. Pode ocorrer ausncia de propriocepo dolorosa nos lados caudal e
lateral da perna. Se apenas o nervo fibular for afetado, o animal se apoia no dorso dos
dedos. Se apenas o nervo tibial for afetado, o animal apresenta extrema flexo do jarrete
(CHRISMAN, 1985, FENNER, 1998).

27
Figura 12 Canino com dificuldade de locomoo, marcha
agachada leve e paresia dos membros plvicos
bilateral.

Fonte: Coates, 2005.


No trauma agudo, a partir de leses por ferimentos externos ou herniaes de discos
vertebrais pode-se estabelecer uma mielomalcia ascendente ou descendente de grave
prognstico, o que pode acarretar na perda dos reflexos dos membros plvicos, sugestivo
de uma leso abaixo de L3. Em qualquer leso aguda da medula espinhal a sensibilidade
dolorosa profunda pode ser perdida nas primeiras vinte e quatro horas at quarenta e oito
horas, mas se a ausncia de dor profunda permanecer alm deste perodo, indica um
prognstico grave, mas ainda com chance de reverso (CHRISMAN, 1985).
Quando ocorrem leses que envolvem razes nervosas ou segmentos da medula
espinhal de S1 a S3, os reflexos de mico e defecao podem no acontecer devido
leso no nervo pudendo e com isso, os esfncteres se dilatam, a bexiga se distende, atinge
um tamanho maior, a urina goteja atravs do esfncter relaxado e a bexiga facilmente
comprimida. Com a dilatao do esfncter anal, as fezes saem pelo reto de forma
involuntria. Quando as leses ocorrem acima do segmento de S1 a S3, os reflexos de
mico e defecao podem estar presentes. Os distrbios esfincterianos urinrios sempre
precedem os distrbios esfincterianos anais (CHRISMAN, 1985; PRATA, 1998).

28
Leses de vrtebras sacrais afetam somente razes nervosas sacrais e coccgeas e
leses de vrtebras coccgeas podem produzir cauda atnica, mas mico e defecao
normais. A cauda pode ficar paralisada por leses em nvel de neurnio motor superior ou
inferior. Nas leses de neurnio motor inferior, a cauda fica paralisada, flcida ou atnica e
no h reflexo. As principais causas de aparecimento lento e progressivo de distenso de
bexiga, nus dilatado e atonia da cauda, associado com dor, so discoespondilite,
malformao e m articulao lombossacral e neoplasias vertebral ou de raiz nervosa
(CHRISMAN, 1985).
As parestesias ocorrem em decorrncia da irritao das fibras sensoriais da cauda
equina provenientes de dermtonos inervados pelo nervo pudendo e citico, em
decorrncia estenose do canal vertebral. Estas paresias induzem o animal a lamber e
mastigar as reas afetadas provocando abrases dermatolgicas e em alguns casos,
automutilao na cauda, perneo e rgo genitais ou extremidades (LAGEDO et al., 1999;
PRATA, 1998).

29
4 DIAGNSTICO

4.1 Histrico do Paciente


As espcies, as raas, a idade e o sexo do paciente podem fornecer pistas importantes
para o diagnstico. Certos distrbios fsicos e neurolgicos ocorrem com maior frequncia
em cada uma destas categorias, embora poucos diagnsticos possam ser positivamente
obtidos ou descartados com base ou no nessas caractersticas. A correlao dos sinais
especiais com a localizao anatmica do distrbio pode ajudar o examinador na
elaborao do diagnstico e na escolha dos procedimentos diagnsticos auxiliares. A
histria clnica frequentemente ajuda na caracterizao do processo patolgico como
agudo, crnico, progressivo ou esttico (LORENZ; KORNEGAY, 2006;).
Os ces com a sndrome da cauda equina tipicamente tem uma histria crnica de
dor dorsal e claudicao dos membros plvicos com ou sem fraqueza dos mesmos, e
alguns mostram incontinncia urinria. No entanto, os sinais clnicos, em geral, no se
correlacionam com a gravidade da compresso das razes nervosas. Outros achados
histricos podem incluir unhas desgastadas nos membros plvicos, dificuldade para subir
escadas, relutncia em saltar ou sentar-se sobre os membros plvicos, incontinncia
urinria e fecal, postura anormal da cauda, atrofia da musculatura dos membros plvicos e
mastigao excessiva da cauda ou parte lateral dos membros plvicos. Mais de 50% dos
ces afetados so considerados muito ativos, participantes de competies, ces de caa ou
utilizados no trabalho (SEIN III, 2008).

4.2 Exame Fsico


O exame deve ser completo, em que devem ser avaliados os sinais vitais e todos os
sistemas do organismo. No exame neurolgico, o clnico deve avaliar a integridade
funcional dos vrios componentes do sistema nervoso. As tcnicas utilizadas so
observao, palpao, exame das reaes posturais, dos reflexos espinhais e da
propriocepo consciente. Achados positivos de qualquer um desses testes indicam a
necessidade de um exame neurolgico mais completo. Durante o exame fsico, o animal
deve ser observado quanto ao estado mental, postura, ambulao e movimento. Ser
descrito aqui os principais exames usados para detectar alteraes de razes nervosas
presentes na cauda equina (SHORES; BRAUND, 1998).
Na observao, percebe-se que o animal com dor lombossacra tende a ficar com o
dorso permanentemente flexionado, aumentando o dimetro do canal vertebral, e esta

30
flexo torna-se maior com o agravamento dos sinais, que so reforados pelo exerccio.
Tambm possvel observar claudicao uni ou bilateral dos membros plvicos, atrofia
muscular na distribuio do nervo citico, incontinncia urinria, perda da propriocepo
consciente, paresia ou paralisia de membros plvicos em casos mais graves, e cauda cada
(PRATA, 1998; SEIN III, 2008).
Na palpao, o examinador deve estimular a dor na regio lombossacral sem causar
dor no quadril. Uma ligeira alfinetada sobre os dermtonos especficos, ou a palpao de
grupos musculares ajuda a localizar uma irritao de raiz nervosa ou medular. O
examinador deve colocar os polegares na linha mdia, com os dedos em cada lio e
pressionar diretamente na localizao correta, sem estressar o quadril do co. O tnus da
musculatura abdominal tambm palpado enquanto aplicada certa presso sobre os
processos espinhosos das vrtebras torcicas e lombares. A dor sentida nestas regies
frequentemente se faz acompanhar por tensionamento reflexo dos msculos abdominais
(FEITOSA, 2008; SHORES; BRAUND, 1998). Os msculos so avaliados pelo tamanho,
tnus e resistncia. Todos os grupos musculares devem ser palpados e a perda de massa
muscular (atrofia) o achado mais frequente, o que ponde indicar leso em neurnio motor
inferior (LORENZ; KORNEGAY, 2006).
A palpao da bexiga importante e as leses envolvendo os segmentos da medula
espinhal e razes nervosas de S1-S3 resultam em um extenso acmulo de urina na bexiga,
que eliminada em gotas, neste caso a bexiga facilmente palpada. As leses acima de
S1-S3 podem produzir uma bexiga pequena difcil de ser palpada e reflexamente a urina
eliminada em jatos (CHRISMAN, 1985).
O animal tambm deve ser avaliado quanto sua capacidade de corrigir a alterao
postural. H duas tcnicas envolvidas nestes procedimentos onde o sistema proprioceptivo,
os nervos perifricos e a medula (vias sensitivas e motoras) podem ser avaliados
(FEITOSA, 2008). Na primeira tcnica, chamada de posicionamento proprioceptivo, o p
do animal colocado na posio em que o a superfcie dorsal fique no cho. O animal deve
restituir o p ao posicionamento imediatamente. A segunda tcnica, reao de marcha aos
saltos, quando realizada no membro plvico, comea com o apoio no trax e segue com o
levantamento de um dos membros plvicos, ento o peso do animal desviado
lateralmente no membro estendido. Movimento e apoio (fora) so avaliados neste teste
(LORENZ; KORNEGAY, 2006).
Tambm so testados os reflexos espinhais dos membros plvicos, nus, cauda e
bexiga urinria. O msculo tibial cranial pode ser percussionado com um martelo,

31
podendo-se observar um encurtamento do msculo. Esta resposta torna-se deprimida ou
ausente em doenas que afetam os segmentos L6-S2 da medula espinhal e razes nervosas
do nervo citico e fibular. O msculo gastrocnmio pode tambm ser percussionado, e a
resposta do animal um encurtamento do msculo e extenso do jarrete. Esta resposta
torna-se deprimida ou ausente em doenas afetando os segmentos L6-S2 da medula
espinhal e razes nervosas ou nervos citico e tibial. O reflexo flexor, de belisco do dedo,
da unha ou de retirada tambm utiliza os segmentos da medula e razes nervosas de L6-S2,
a resposta a observao do membro para longe do estmulo. Um belisco mais forte no
dedo, envolvendo osso, msculo e articulao, utilizado para testar a dor profunda no
animal. A reao deve ser o animal chorar ou virar-se para morder o examinador,
indicando que a dor profunda est intacta. A perda do reflexo flexor ou da dor profunda
podem ser causadas por doena nos nervos perifricos, os quais so capazes de
regenerao. O reflexo anal caminha atravs das razes nervosas e dos segmentos da
medula espinhal S1-S3, e deflagrado ao beliscar o nus, observando a contrao do
esfncter anal. A cauda tambm pode ser contrada com este estmulo, indicando que as
razes nervosas dos segmentos de Cco1 a Cco 5 esto intactos. Se as razes destes
segmentos estiverem lesadas, o nus encontra-se dilatado e irresponsvel, e a cauda flcida
e tambm irresponsvel (CHRISMAN, 1985).

4.3 Exame Radiogrfico Simples e Mielografia


As radiografias simples da coluna vertebral so geralmente indicadas quando h
suspeita de doena focal ou multifocal da medula espinhal e de uma raiz nervosa. O animal
deve ser anestesiado sempre que possvel, para que a coluna vertebral possa ser estendida e
mantida em linha reta. As radiografias devem ser feitas por segmentos vertebrais. Uma
srie espinhal completa geralmente consiste de cinco a seis chapas laterais e cinco a seis
ventrodorsais, que no caso da sndrome da cauda equina, ser da regio lombossacral. As
leses na posio lateral demonstram diminuio do dimetro do canal. A avaliao
radiogrfica simples um exame importante para auxiliar no diagnstico de alteraes
degenerativas, fraturas e luxaes de vrtebras, protruses de discos intervertebrais,
tumores e deformidades sseas (Figuras 13 e 14). Quaisquer leses vistas nas radiografias
devem ser avaliadas, tendo em mente as descobertas do exame neurolgico para certificar
que a leso daquele stio produziria os defeitos neurolgicos que o animal demonstra
(FEITOSA, 2008; CHRISMAN, 1985; PRATA, 1998).

32
A mielografia um exame radiogrfico aps a introduo de um meio de contraste
no interior do espao subaracnide medular e utilizada para delimitar o contorno da
medula espinhal, j que ela no visvel em radiografias convencionais (FEITOSA, 2008).
Segundo Prata (1998), a mielografia, no caso de suspeita de sndrome da cauda equina, s
seria importante para descartar afeces existentes em locais rostrais a L6-L7, j que o
meio de contraste no chega a ocupar a medula espinhal a nvel L7-S1.
Figura 13 Imagem radiogrfica de um co demonstrando espondilose e
alteraes degenerativas graves entre L7 e S1 (setas).

Fonte: Enpevet, 2009.

33
Figura 14 Imagem radiogrfica de um co demonstrando espondilose entre L7 e
S1 (setas).

Fonte: Vetnex. Acesso em: 31 Dez. 2013.


4.4 Epidurografia
A epidurografia o estudo radiogrfico contrastado do espao epidural para
avaliao da regio da cauda equina. O local da injeo do contraste geralmente entre S3
e Cco 1, mas qualquer espao intervertebral entre as primeiras vrtebras coccgeas pode ser
usado. A epidurografia no produz a coluna de contraste linear bem definida como vista
na mielografia. A coluna de contraste pode ser relativamente larga e no uniforme em
densidade. As anormalidades observadas atravs de uma epidurografia lombossacral
precisam ser cuidadosamente correlacionadas com os outros achados neurolgicos. Podem
aparecer como recortes focais ou estreitamentos abruptos da coluna de contraste. Tais
leses podem ocorrer em razo da presena de massas, no caso de protruses de disco
intervertebral, neoplasias ou ligamentos hipertrofiados projetando-se para dentro do canal
vertebral (FEITOSA, 2008). As figuras 15, 16 e 17 mostram imagens de epidurografias
demonstrando compresso de razes nervosas por diversas causas.

34
Figura 15 Epidurografia em posio lateral extendida. Demonstrao de
compresso severa entre L7-S1 causada por herniao de disco.

Fonte: Animal Medical Center. Acesso em: 31 Dez. 2013.


Figura 16 - Epidurografia em posio lateral. Um lipoma causando uma grave
compresso no espao L7-S1.

Fonte: Animal Medical Center. Acesso em: 31 Dez. 2013.

35
Figura 17 - Epidurografia em posio lateral. Compresso causada
pela hipertrofia do ligamento interarqueado.

Fonte: Animal Medical Center. Acesso em: 31 Dez. 2013.


4.5 Discografia
A discografia um mtodo de diagnstico por imagem existente, mas no indicado
atualmente por alguns autores, que utiliza a injeo de meio de contraste dentro do disco
intervertebral no espao L7-S1 seguido de radiografias na incidncia lateral e ventrodorsal.
importante para definir protruses de disco entre L7-S1, j que nos casos de animais sem
alteraes, o material de contraste permanece confinado ao espao do disco, e nos animais
acometidos, o padro de contraste se mostra irregular no ncleo pulposo de L7-S1 e h
extravasamento do contraste no canal vertebral da regio lombossacral (BRASIL, 2007;
SEIN III, 2008; LORENZ; KORNEGAY, 2006).

4.6 Tomografia Computadorizada


A tomografia computadorizada uma tcnica que emprega raios X para a obteno
da imagem. O procedimento seguro, no invasivo e permite obter imagens em distintos
planos anatmicos, desta forma, possui melhor capacidade de diagnstico que as outras
tcnicas radiogrficas empregadas para a avaliao do crebro e da medula espinhal. O
paciente colocado sobre uma mesa que introduzida em um tnel que compe o aparelho
e, medida que a mesa vai se deslocando, o paciente vai passando pelo feixe de raios
proporcionando uma sequncia de imagens em segmentos das estruturas. A utilizao de
meios de contraste por via intravenosa permite, muitas vezes, uma melhor diferenciao
entre as estruturas normais e as alteradas. Na medula espinhal, possvel a visualizao de

36
estenoses do canal medular, principalmente as produzidas por protruso e extruso de
disco intervertebral (Figura 18). Tambm possvel visualizar com detalhes as estruturas
sseas da coluna vertebral, assim podendo identificar espondilite, espondilose, fraturas e
neoplasias de corpos vertebrais (FEITOSA, 2008).

Figura 18 - Tomografia computadorizada da juno lombossacral de um co ao nvel


vertebral L7-S1. Imagem normal esquerda, notar as razes espinhais no
interior do canal vertebral cercado pela gordura epidural normal (partes
escuras). direita, degenerao lombossacral, notar a assimetria entre
lado direito e esquerdo da vrtebra, o desaparecimento da gordura epidural
no canal vertebral devido protruso de disco intervertebral.

Fonte: Vetpedia. Acesso em: 31 Dez. 2013.


4.7 Ressonncia Magntica
A ressonncia magntica um mtodo diagnstico por imagem que no utiliza
radiao ionizante. Ela proporciona imagens em cortes, semelhante tomografia
computadorizada, porm determina informaes diferentes, sendo de alto valor em estudo
de desordens neurolgicas. O sistema, composto de um magneto, um conjunto de anis
transmissores, receptores de radiofrequncia e um computador, so mantidos em uma sala
blindada contra interferncia de radiofrequncia. O paciente fica em uma mesa no interior
de um tnel, onde a energia emitida pelos anis de radiofrequncia detectada pelos
receptores e convertida em sinais eltricos digitalizados, onde o padro especfico da
energia produz a imagem da ressonncia magntica. Este exame capaz de diagnosticar
com maior poder de resoluo, protruses de disco intervertebral (Figura 19) e, como neste
exame possvel observar o parnquima medular, pode-se determinar se uma enfermidade
compressiva j causou uma leso isqumica irreversvel, por exemplo, facilitando a
definio do prognstico do animal. Como pontos negativos deste exame, esto a baixa
definio que se obtm de tecidos sseos e o alto custo do exame (FEITOSA, 2008).

37
Figura 19 - Ressonncia magntica compatvel com sndrome da cauda
equina, por herniao discal.

Fonte: Enpevet, 2009.


4.8 Diagnstico Diferencial
Diversas alteraes podem ser confundidas com a sndrome da cauda equina,
principalmente pelos sinais clnicos semelhantes, como a mielopatia, que se diferencia pela
localizao da leso, e devem ser efetivamente investigadas pelo exame fsico e
diagnstico por imagem (CHRISMAN, 1985; LORENZ, KORNEGAY, 2006).
Distrbios musculoesquelticos, como displasia do quadril, poliartrite, alm de
fratura e luxao de vrtebras que no envolvam compresso dos nervos que formam a
cauda equina, causam dor na regio dorsal, claudicao e em alguns casos, atrofia
muscular (SEIN III, 2008).
Discoespondilite crnica, osteomielite e tumores vertebrais primrios ou metastticos
no podem ser diferenciados somente pelos sinais clnicos, necessitando de diagnstico por
imagem para tal diferenciao e diagnstico correto (INZANA; WOOD, 2008).
Distrbios vasculares, como a trombose ilaca, neuropatia perifrica ou miopatia, e
distrbios metablicos, podem causar fraqueza generalizada, e comprometer a tonicidade
muscular (SEIN III, 2008).
Doena primria do trato urogenital, como incontinncia ou infeces do trato
urinrio, e tambm distrbios retais ou anais primrios, como saculite anal e neoplasia
anorretal, podem apresentar sintomas semelhantes quanto falta de tnus e
comprometimento dos reflexos dos esfncteres (SEIN III, 2008).

38
Distrbios dermatolgicos da parte dorsal dos membros plvicos, do perneo e da
cauda, devem ser investigados quanto causa, para confirmao da etiologia (PRATA,
1998).

39
5 TRATAMENTO
A conduta clnica para pacientes com sndrome da cauda equina depende das causas
e da gravidade, podendo ser conservativa ou cirrgica. O tratamento conservativo pode ser
feito com repouso e anti-inflamatrio, e o cirrgico se fazendo uso das tcnicas de
laminectomia dorsal, hemilaminectomia, facetectomia e foraminotomia.

5.1 Tratamento Clnico Conservativo


A conduta clnica para pacientes com sndrome da cauda equina secundria
estenose lombossacral congnita, doenas de disco intervertebral, discopatia degenerativa
crnica e fratura ou luxao lombossacral consistem em confinamento por quatro a seis
semanas e restrio dos movimentos de hiperextenso da juno lombossacral, como pular
e descer de estruturas elevadas. Tambm so utilizados anti-inflamatrios no esteroidais
(AINEs) e analgsicos (SEIN III, 2008; TAYLOR, 2000).
Segundo Severo et al.(2007), os glicocorticoides podem ser utilizados no tratamento
de condies crnicas que causam compresso na medula espinhal, pois reduzem o edema
e assim diminuem o efeito compressivo. Ainda segundo o autor, muitas vezes os AINEs
no surtem efeito e so administrados corticosteroides, surgindo srias complicaes
gastrointestinais com o uso seguido destas duas drogas. No entanto, Severo et al. (2007) e
Chrisman (1985) afirmam que o uso de corticosteroides no so indicados, porque aliviam
totalmente a dor e o animal no faz a restrio adequada da sua atividade, a ponto de, no
caso das protruses de disco intervertebral, ao dar um salto, fazer com que o ncleo do
disco extravase para o interior do canal medular, produzindo mielomalcia, paraplegia
permanente e at mesmo sua morte.
No caso da discoespondilite, antimicrobianos podem ser utilizados, alm de
analgsicos, devido sua etiologia. O tratamento de quatro a seis dias, associado com
confinamento estrito. O tratamento antimicrobiano de escolha uma combinao de
tetraciclina com um aminoglicosdeo ou fluoroquinolona. Os pacientes que no respondem
ao tratamento de sete a dez dias, devem receber outro antimicrobiano. Se a dor persistir
pode ser utilizado um terceiro antimicrobiano ou realizar a curetagem cirrgica com a
finalidade de obteno de amostras de osso para cultura e antibiograma ou para desbridar
as leses intradiscais (LECOUTEUR; CHILD, 1996; SEIN III, 2008). O tratamento de
neoplasias da coluna lombossacral e razes nervosas direcionado leso primria e aos
seus efeitos secundrios. O uso de corticosteroides no recomendado para tratamento de
leso reticular primria, mas os esteroides possuem efeitos antitumorais e podem ser

40
utilizados. Porm, como a maioria das neoplasias, o tratamento definitivo exige cirurgia e
bipsia para determinar o tipo de tumor (SEIN III, 2008).

5.2 Tratamento Cirrgico


Os objetivos do tratamento cirrgico so a descompresso das razes nervosas e a
estabilidade vertebral.
A urgncia cirrgica determinada pelos exames neurolgicos. Em geral, pacientes
com sinais agudos e dficits neurolgicos graves como fraturas, luxaes, extruso aguda
de disco intervertebral e neoplasia, devem ser submetidos cirurgia o mais rpido possvel.
J os pacientes com sinais crnicos, como estenose lombossacral congnita, discopatia
degenerativa crnica e discoespondilite, devem ser cuidadosamente avaliados e estar com a
condio estabilizada antes de serem tratados tanto clinicamente quanto cirurgicamente
(SEIN III, 2008).
Quanto ao protocolo anestsico para cirurgias de coluna, as medicaes pranestsicas mais utilizadas so o succinato sdico de metilprednisolona ou a dexametasona
associadas com hidromorfona, butorfanol ou buprenorfina. Para a induo pode ser
utilizado o tiopental ou o propofol, e para a manuteno, recomenda-se isoflurano ou
sevoflurano (SEIN III, 2008).
As tcnicas utilizadas para descompresso da cauda equina vo depender da causa, e
sempre se deve posicionar o paciente de maneira adequada e promover tricotomia e
antissepsia da rea cirrgica antes de cada procedimento.
Em casos de luxaes ou fraturas, realizada a descompresso da cauda equina com
a reduo da fratura ou luxao atravs do uso de pinos ou placas, seguida de estabilizao
espinhal. Algumas vezes, a laminectomia dorsal pode ser necessria para a descompresso
completa em casos de fragmentos sseos presentes no canal vertebral, ou ento, para
avaliar a gravidade da leso da cauda equina e poder estabelecer um prognstico mais
correto (SEIN III, 2008).
Na discoespondilite, o ideal que o local da leso compressiva seja visualizado
anteriormente atravs de mielografia, tomografia computadorizada ou ressonncia
magntica. Como tratamentos cirrgicos, podem ser necessria descompresso da medula
espinhal por meio de laminectomia dorsal ou hemilaminectomia, coleta de ossos para
cultura e antibiograma, desbridamento de leses intradiscais e estabilizao espinhal (caso
o desbridamento ou a descompresso causem instabilidade espinhal) (SEIN III, 2008).

41
Em neoplasias da coluna lombossacral e razes nervosas, o objetivo do tratamento
cirrgico inclui o diagnstico definitivo de compresso da cauda equina, descompresso ou
remoo da massa, bipsia, estadiamento do tumor, e se necessrio, estabilizao espinhal
(SEIN III, 2008).
Nos pacientes com discopatia degenerativa crnica necessrio uma exposio do
canal vertebral suficiente para expor todas as razes nervosas atenuadas. A tcnica utilizada
a laminectomia dorsal com ou sem foraminectomia e facetectomia, a escolha vai
depender dos resultados dos achados no exame neurolgico e nos diagnsticos por imagem
(SEIN III, 2008).
Em casos de herniao aguda de disco, o paciente deve ser submetido
laminectomia dorsal se os fragmentos discais estiverem localizados na linha mdia ou
bilateralmente, ou ento uma hemilaminectomia se os sinais neurolgicos e os exames por
imagens localizaram fragmentos de disco em apenas um lado (SEIN III, 2008).
Para pacientes com estenose lombossacral congnita, a tcnica mais indicada a
laminectomia dorsal com facetectomia uni ou bilateral, dependendo dos sinais
neurolgicos, resultados de imagens e achados cirrgicos. Se a estenose for diagnosticada a
partir de L6-S1, a laminectomia dorsal deve ser em vrios nveis e facetectomia bilateral a
partir do local da estenose (SEIN III, 2008).

5.2.1 Laminectomia Dorsal, Facetectomia e Foraminotomia


A laminectomia dorsal ser indicada se os sinais aps o tratamento e confinamento
recidivarem assim que o exerccio for permitido, se os sinais progredirem, se o animal
desenvolver dficits motores significantes, ou ainda, se o animal apresentar incontinncia
urinria e fecal (LORENZ, 2006).
O posicionamento ideal do paciente para a realizao da laminectomia decbito
esternal com as pernas dobradas sob o abdome para promover a flexo e facilitar a
exposio do espao intervertebral lombossacral dorsal (SEIN III, 2008).
Aps posicionar corretamente o paciente, fazer uma inciso mediana dorsal a partir
do processo espinhoso dorsal de L6 at S1. Incisionar as fscias sacrais superficial e
profunda paralelamente inciso da pele. Elevar os msculos epaxiais de suas fixaes nos
processos espinhosos dorsais, facetas articulares, pedculos e processos acessrios de L7 a
S3 e remover os processos espinhosos dorsais de L7 e S1. Identificar o espao
interarqueado largo de L7-S1, fazer uma inciso e remover as estruturas das partes moles.
Com uma furadeira pneumtica ou eltrica, remover a camada cortical externa e a camada

42
medular, identificar a camada cortical interna a partir da parte mdia do corpo de L7 at a
parte mdia do corpo de S2-S3, e perfurar a camada cortical interna com cuidado, at que
fique flexvel (SEIN III, 2008).
Penetrar e remover o peristeo interno at que seja exposto o local inteiro da
laminectomia (Figura 20). As estruturas presentes no local so as razes nervosas de L7 at
S2 ou S3 e as razes nervosas caudais, seio venoso vertebral, ligamento longitudinal dorsal
e anel fibroso dorsal (SEIN III, 2008). A figura 21 demonstra a realizao de laminectomia
dorsal para descompresso das razes espinhais causada pela hipertrofia do ligamento
interarqueado.

Figura 20 - Laminectomia dorsal em L7, S1 e S2. Exposio da cauda equina


(esquerda). Afastamento das razes nervosas lateralmente para retirada
do anel fibroso dorsal hipertrofiado, que estava causando a compresso
da cauda equina (direita).

Fonte: Sein III, 2008.

43
Figura 21 Laminectomia dorsal para descompresso da cauda equina.
Notar espessamento e alterao da cor da raiz nervosa S1
esquerda (seta), compar-la com o nervo direita.
Histopatologia revelou reao inflamatria crnica com
fibrose da raiz nervosa.

Fonte: Centro de Cirurgia Veterinria de Loures, 2011.


Se as razes nervosas de L7 ou de S1 parecerem estar comprimidas dentro do forame
por facetas aumentadas de volume, deve-se realizar facetectomia e foraminotomia,
respectivamente, para uma completa descompresso das razes nervosas. Remover o
processo articular cranial de S1 e o processo articular caudal de L7, abordar o forame
intervertebral, entrar no forame e remover qualquer faceta articular restante (SEIN III,
2008).
Lavar o local cirrgico utilizando soluo salina morna e logo em seguida colher um
enxerto subcutneo livre de gordura, e posicion-lo sobre o ponto da laminectomia. Fechar
a musculatura epaxial com fio monofilamentar no-absorvvel com pontos interrompidos e
fechar o tecido subcutneo e a pele com suturas simples interrompida ou simples contnua
(SEIN III, 2008).

5.2.2 Hemilaminectomia
A hemilaminectomia e a facetectomia esto indicadas para exposio das partes
laterais do canal vertebral lombossacral e utilizadas para remover leses compressivas,
como neoplasias, fragmentos de fraturas ou material herniado de disco intervertebral

44
(SEIN III, 2008). A figura 22 demonstra a retirada de um disco intervertebral herniado
sendo retirado pela tcnica da hemilaminectomia.
Posicionar o paciente como para a laminectomia dorsal. Fazer uma inciso cutnea
mediana dorsal do processo espinhoso dorsal de L6 at S1, continuando atravs de fscia
sacral dorsal. Elevar os msculos epaxiais da parte lateral direita ou esquerda do processo
espinhoso dorsal, lmina, faceta articular, pedculo e processo acessrio do espao
intervertebral de L7 a S1. Visualizar o processo transverso de L7, e com uma furadeira,
remover a lmina, faceta articular e pedculo at o nvel do processo acessrio. Identificar
as camadas cortical externa, medular e cortical interna enquanto h a perfurao. Abrir
caminho cuidadosamente atravs da camada periosteal interna para entrar no canal
vertebral. Identificar o seio venoso vertebral localizado no assoalho do canal vertebral.
Cuidar para no lacerar o seio venoso enquanto manipula as leses no interior do canal
vertebral. Aps a descompresso completa e remoo da massa, lavar o local cirrgico
com soluo salina morna e colher um enxerto subcutneo livre de gordura e posicion-lo
sobre o local da laminectomia. Fechar a musculatura epaxial at a fscia sacral dorsal com
fio monofilamentar no absorvvel com pontos interrompidos. Fechar o subcutneo e a
pele com pontos simples interrompidos ou simples contnuos (SEIN III, 2008).

Figura 22 - Hemilaminectomia. Remoo de material discal herniado.

Fonte: Centro de Cirurgia Veterinria de Loures, 2011.

45
5.2.3 Cuidados Ps-Operatrios
Nas primeiras vinte e quatro horas aps a cirurgia, os cuidados incluem fluidoterapia,
analgsicos, antimicrobianos e exame neurolgico periodicamente, at o animal receber
alta (SEIN III, 2008).
Em pacientes ambulatrios, necessrio que fiquem confinados por duas a trs
semanas no aps a cirurgia, realize fisioterapia durante duas ou trs semanas e faa
caminhadas com coleira por quatro a oito semanas no ps-operatrio. Os pacientes no
ambulatrios devem ser submetidos fisioterapia, utilizar carrinho de sustentao para
locomoo, ficar em camas acolchoadas e gaiolas elevadas, deve ser realizada compresso
vesical trs ou quatro vezes ao dia e exames neurolgicos dirios. Deve-se manter o animal
limpo e seco para evitar lceras de decbito, e os animais com funo motora podem ser
estimulados a caminhar (SEIN III, 2008).

5.3 Tratamentos alternativos


Algumas tcnicas paliativas podem ser utilizadas como complemento dos
tratamentos clnicos e cirrgicos.
A fisioterapia indicada principalmente para ces que no passaro por tratamento
cirrgico, mas tambm pode ser utilizada aps a cirurgia, variando de acordo com a
necessidade em cada caso. Como tratamento ps-cirrgico, a fisioterapia auxilia no
controle da dor e dos estmulos proprioceptivos. utilizada a estimulao nervosa eltrica
transcutnea (TENS) e laser para o controle da dor, e o laser ainda atua como antiinflamatrio e manuteno das articulaes. Ultrassom teraputico (UST) e alongamentos
tambm so utilizados. J para animais que no passaro por cirurgia, utiliza-se o TENS, o
laser, o UST, os alongamentos, a massagem, movimentos de pedalagem, escovao, entre
outros procedimentos. Quando o co comea a andar sem demonstrao de dor pode ser
usada uma pista com obstculos baixos, para estimular a propriocepo do co durante a
marcha (LEITE, 2011).
No trabalho de Toyofuku (2010), foi descrito o uso de acupuntura e eletroacupuntura
como tratamentos alternativos na sndrome da cauda equina, com resultados satisfatrios
para a dor lombar e dficits neurolgicos leves e poucos resultados efetivos em casos de
dficits neurolgicos graves.
H discusses sobre o grau de eficcia, durabilidade destes resultados e frequncia
entre as sesses. Geralmente, a acupuntura auxilia na atenuao dos sinais clnicos, mas
no na causa da alterao neurolgica e o nmero de recidivas varia de acordo com cada

46
paciente. Um protocolo citado por Hayashi; Matera (2005) consta que a acupuntura, em
geral, deve ser aplicada a cada dois a trs dias em casos agudos e uma vez por semana
durante quatro a oito semanas em casos crnicos. Quando o quadro estabiliza, pode-se
diminuir a frequncia do tratamento para intervalos quinzenais e o paciente deve ser
reavaliado a cada trs a seis meses.

47
6 PROGNSTICO
O prognstico de ces que foram acometidos pela sndrome da cauda equina depende
da causa, da gravidade da leso, dos dficits neurolgicos, da durao dos sinais clnicos e
do tipo de tratamento clnico. Os ces com dor como o nico sinal tem excelente
prognstico para recuperao completa, apenas sofrendo episdios espordicos de
desconforto aps exerccio vigoroso. Segundo Lorenz (2006), h relato que treze dentre
dezoito de ces com dor ficaram completamente normais apenas aps a cirurgia. Dos
outros quatro animais, trs melhoraram substancialmente, e, em outro relado, dezessete
dentre dezoito ces responderam bem cirurgia (LORENZ, 2006).
Segundo Sein III (2008), pacientes tratados clinicamente com dor nas costas leve ou
moderada, claudicao leve, paraparesia ausente ou leve e com ou sem incontinncia
urinria, possuem prognstico favorvel a excelente, principalmente se a mudana no
estilo de vida for adotada aps o tratamento. J o prognstico de pacientes tratados
clinicamente, que apresentavam dor lombossacral intensa, claudicao moderada a intensa,
paraparesia moderada a intensa e com incontinncia urinria reservado a desfavorvel.
Os pacientes com dficits neurolgicos leves que mostrarem sinais estticos e perda da
continncia urinria durante o tratamento clnico devem ser indicados descompresso
cirrgica o mais rpido possvel.
Em geral, o prognstico para pacientes tratados cirurgicamente, com seis a oito anos
de idade, dor nas costas aguda, claudicao leve a moderada, paraparesia leve a moderada
e sem incontinncia urinria favorvel a excelente. Para pacientes com mais de oito anos
de idade e com dor nas costas crnica, claudicao intensa, paraparesia intensa e
incontinncia urinria, o prognstico reservado a desfavorvel. O sinal de incontinncia
urinria desfavorvel independente dos demais sinais clnicos se a cirurgia no ocorrer
imediatamente aps o diagnstico (SEIN III, 2008).

48
7 CONCLUSO
A sndrome de cauda equina, por ser uma afeco com diversas etiologias e sinais
clnicos, exige um bom conhecimento anatmico da regio lombossacral, incluindo
vrtebras, medula espinhal e nervos perifricos. Este conhecimento, associado aos exames
clnicos especficos, fundamental para um diagnstico e um tratamento corretos, j que
muitas patologias com sinais clnicos semelhantes podem ser confundidas com a sndrome,
como problemas musculoesquelticos e afeces de medula espinhal em outros segmentos
vertebrais. Os exames de imagem so de extrema importncia para a confirmao do local
exato da leso, e os animais corretamente diagnosticados e tratados, tanto clinicamente
quanto cirurgicamente, tem alto ndice de recuperao, desde que o tratamento seja
realizado em tempo hbil e os sinais clnicos no estejam agravados. A cooperao do
proprietrio fundamental para a evoluo do tratamento, j que o animal deve
permanecer por algum perodo confinado, receber tratamento medicamentoso, realizar
fisioterapia e exames neurolgicos periodicamente, e estes cuidados exigem tempo e
dedicao. Os diagnsticos e tratamentos possuem um alto custo financeiro, o que muitas
vezes prejudica o prosseguimento da investigao e do tratamento desta patologia.

49
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