Ficção Impura - Livro
Ficção Impura - Livro
Ficção Impura - Livro
rtr()r
r corpreenso
renovada do
(fuc se tenr feito de melhor em
I
tossas letras.
- a de obras
escritas
Em seguida, Therezinha
nrostra o dilogo da literatura
e
Fico lttpLrra
prosa brasileira dos anos 7 0, 80 e 90
Hfr
Reitora
Nilca Freire
llice-retor
Celso Pereira de
Fico lrttPLrra
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EDITORA DA TJNIVERSIDADE DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
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Conselho Bditorial
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Csar Benjamim
Ferreira Gr-rllar
Francisco CarLlso Nero
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Rio de Janeiro
2003
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Oolryrigh
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'lrcJos os
dc Janciro. A rcprodutl integral ou parcial do tcxto poder ser teita medianrc aurorizao
da cditora.
rdLrtrJ
ClP
Supervisor llditoriaI
Coordenador de [) ublicares
Coordenadora dc Prod uo
[eviso
Projeto, Diagramao c Capa
Apoio Adminisrrariv<r
Dau lJasros
Rcnato Casimiro
Rosania Rolins
Renata Sampaio e Solange Nascimentcr
Carlora Rios & Gordiecf f
i\4aria lrtima de Mattos
A Dirce e Ivo
c{l ALocAo
NA loN't'r
UE IJ/RI] DE SI II US/PROl
11223
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llarbieri,'1-herezinha.
Fico impura : prosa brasileira dos anos 70, g0 e 90 |
'l'herezinha Barbicri. lio dc
Janciro : I]dtlIRJ, 2003.
l2l
p.
ISBN
85-751 1-050_0
Discursos, ensaios,
cDU 969.0(sI)-3,'lg"
O apoio da Faperj, por meio de bolsa concedida no perodo de Z00l
Sumrio
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II
Proposies...
11
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III
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5.3
IV
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nlucJana.
bibliogrficas
l0T
1 15
Preltcio
Roberto Aczelo de Souza
Threfa das mais difceis no campo dos estudos literrios sem dvida o enfrenmmento analtico da produo conrempornea. Inicialmente, a difculdade decorre do carter fluido
da prpria noo de contemporaneidade, cujos limites e feio
no , possvel esmbelecer seno com boa dose de arbtrio.
Depois, vem o fato de no haver suficiente distanciamento
hisrrico em relao aos objetos estudados, traduzido em tradio interpretativa e judicativa mais ou menos consolidada, o
que na pior das hipteses sempre fornece ao estudioso um
confortvel ponto de partida.
O presente ensaio de Therezinha Barbieri se movimenta exatamente nesse terreno instvel do contemporneo e
o faz com segurana conceitual que logo se percebe em seu
primeiro captulo. Ali se determin a o perodo a ser investigado:
a segunda memde do sculo XX, mediante um rapidssimo
traaelling pelas dcadas de 50 e 60, a que se segue um compacro dos anos 70, at, se alcanar o foco principal do estudo, as
dcadas de 80 e 90, submetidas a demoradas e minuciosas
tomadas em closes. Estabelecem-se ainda os centros de interesse que estruturam e orientam as anlises: as relaes entre
produ o literria e mercado; os contatos do literrio com ourras linguagens da mdia atual, especialmente com o cinema; os
vnculos por oposio complementar entre fico e histria,
particularmente conforme concebidos pelas obras de fico em
prosa publicadas no Brasil durante a poca estudada.
Explicitados os conceitos que fundamentam a investigao hauridos, bas rcamente, effi fontes como Erwin
t0
PREFACIO
#1 -:J:i".:J:::
Proposies
tertasc,,#,'#;;;,:;;,';::",;::;;;;;*i"J.:i[
ro esboar o alcance do conceito de perodo hiscrico, isto
cl
o papel cle
abandonar o de signo, e, na /erura,
sign,frca
te, metade
agin
a n t.
Jean-paul Sarrre
iviso da
FIis
, "a
posio daqueles eue, em norne da invariabilidade fundamenral da natueza humao, professam a inutilidade do estabelecirento de diferenas significativas entre as geraes que se
pretende reduzir os perodos aos nornes das inovaes decisivas, o gue necessariamente pressupe a alterao de ur-a constante, relativamente qual a inovao aparece como uma varirrel. Fara que o historiador (ou o crtico) possa determinar o
tcmpo e o lugar de uma inovao, precisa no s aceitar e
clefnir a direo de tal constante, como determinar se a soluo do indivduo uma inovao decisiva. A seguir, Panofsky
PANOFSKI Errvin. Renascntentct
resena, 1 98 1 , pp
13-21
l4
PROPOSTES
PRoPostrs
t5
cpr firsc produtiva. Por outro lado, meu trabalho no se car.ilcr ctl.a como estudo de uma gerao, pois nele figuram
cujas idades, tempos e interesses so bastante dife1c tciados. A tnica, atravs da qual procuro, nesse espectro
tlivcrsificado, ver rraos confguradores de um momento com
lsionomia prpria, , o enfoque das obras sempre visualrzadas
plcronimicamente como partes de um conjunto que se deserrhrr a partir delas e que se d em perspectiva alm da singrrlaridade de cada uma. Orientada pelas bias de risco jogurlns por Panofsky, evito tanto o monismo que apaga as difercnas quanro o aromismo que impede o estabelecimento de
rclires. Movendo-me por entre marcos (obras), assinalo marcirsi (aspectos) que me permimm vislumbrar o risc de um mapa
irinda por desenhar. Por isso, no pretendo confnar narrativas
tlc frco em territrios demarcados e excludentes. O ensasffio,
tonalidade salienre do individualismo contemporneo, atravessa
o corpo da ficcionalidade. Aqui, a voz de Ulla Mussaraz me
irjuda, no s quando diz que a introduo de autores, editores,
lcirores chama ateno para a obliterao de limites entre fico e no-fco, mas sobretudo quando aponta para as reflexcs, na atividade discursiva, gu se tornam comentrios
ntctalingsticos, o que pode ser detectado na relao do texto
corl outros textos, nas referncias cruzadas, intratextuais e
irrrcrrexruais . Talvez seja esta a linha de maior fora no presenrc rrabalho, empenhado em escutar a voz da literatura no espao sacurado de signos pertencentes aos mais diversos sistemas
scnriticos e em permanente intercmbio entre si.
A recorrncia de ndices metaficcionais denuncia,
c()r^ freqncia, a presena do literrio a toda hora invadindo
o nvel da elaborao ficcional, o que constitui constante
lrcm caracterstica do perodo em questo. O artigo de Nolle
p( )rcs
PROPOSTES
PRoPosrrs
n. 733,
p.
67.
l7
rilt irr. l',nt nu hacla na rede de intercmbios semiticos, dispuldtttlo c,s[):"to no mercado de mil e uma ofertas, fecundando-se
!l( I ('( )l t lro dc outros discursos verbais, a narativa ltterrta
tlt' 'it'itt) sc apresenta, hoje, mais do que ontem, com mlt iplrrs lrcctils. Neste trabalho, trs aspectos ganharam relevo
lrir r rr ( ) csrudo dessa produo: a) profissionahzao da escriI t; lr ) i rt tcrcmbio intersemitico; c) comut ao histria-fico.
t lr
t I tlttl'ldo
tlo rl linguagem do mundo dos negcios: "O auror produz obictos clc consumo (livros), que o editor manufatura e distribui
('ltrc os consumidores (leitores)". Empunha a arma da crttca
(f rlrlltcltl, discernindo que "a lgica do
mercado no a da
litcritttlr", constata que o comrcio literrio hoje movido por
I I n lt
l)ostura meramente econmica:
l'A7,, Ocravio. A outra oox. Tiaduo de Wladir Dupont. So Paulo:
Siciliurro, 1993, p. I14.
tg
PRoPoSrES
Paz aponta a seguir sinais favorveis: "embora poucos, no des prezveis". O mercado multiplica as tradues e
favorece a proliferao de revistas consagradas exclusivamente
literatura, oxigenando "uma irmandade internacional de apaixonados pela arle potica, e estes grupos se comunicam entre si
por cima das fronteiras lingsticas e polticas".6 Paz sabe que
impossvel lutar contra a onipresena do mercado ou negar
seus benefcios. No encanto, adverte do perigo a que ficam
expostas artes e literatura:
t...] no se vem ameaadas por uma doutrina oll um partido poltico onisciente mas sim por um processo econmico
sem rosto, sem alma e sem rumo. O mercado , circular.
Algum me dir que, sua maneira, o mercado jusro.
Thlvez. VIas cego e surdo, no ama a literattrra nem o
risco, no sabe nem pode escolher. Sua censLrra no ideolgica: no tem idias. Sabe de preos, no de valores.T
Movendo-se pendularmente, o ensasta admite prejuzos e benefcios paa a literatura e as artes, em raz.o da presena do mercado. Se por um lado o critrio da rentabilidade
degrada as artes, por outro estimula a produo artstica.
Marx foi bem mais longe na crtica fetich izao da mer-
i
"
7
Idem, p. 106.
Idem, p. 1 1 5.
ldem, pp. 133-4.
PRoPosrrs
l9
t'iltlnti:t, ('olo sc ver, no prximo capruIo. Mas Paz fala seduItititlll('lltc ltos cluvidos de nosso tempo. O valor de seu ensaio
resltlc" l)rincipnlmente, o reao do poeta diante da
ll l('l (';ll l t ili 'r,ao da poesia. Antena ligada no presente,
ele deI t'('l ll sittrtis de perigo e distribui avisos
aos que navegam nas
lllt'tillrls iigtras que ele. Como no se trata de uma voz qualquer,
lllits :l tlc (luem soube sobrepor e fazer valer o valor da poesia,
lt'ito torn-lo como ndice de um fenmeno mais geral.
No h dvida de que ocravio Paz auror inscrito
ll( I lcrcacJo internacional da literatura. Suas obras ocupam
trrrlll trtia considervel do mercado do livro, no s no Mxit'o c la Amrica Hispntca, mas tambm no Brasil, Estados
llrritlos c Europa. No o caso de ind agar se o mercado se
('ttl.votl ao valor de sua escrita ou se foi sua escrita
que
t'crlctt ito mercado, como se mercado e escritor fossem duas
lirrrr.s contrapostas e separadas. A verdade que Paz,
escrevclttlrl numa poca em que o livro se tornou me cadoria
ittscrita no circuito de produo, circulao e consumo, ne('c:risrtriamente deve sofrer as conseqncias
de ml situ ao.
PRoPosrrs
PROPOSIES
20
Combinando dirio, confisso, biograf,ra, cart\ anedot, dilogo, teatro, cenas de rua, panfleto, caricatura' pardia,
provrbios, reflexo, fbula, mito, histria, o romance historicamente "no se constri como o universo de uma s conscincia, mas como universo de interao de vrias conscincias,
oncle nenhuma se tornou inteiramente objeto da outra", como
incisivamenre ponrua Mikhail Bakhtine a respeito do que denomina "romance polifnico de Dostoievski".') A fico brasileira
dos 80 e 90 acenrua o carter de discurso encenado no espao
de inrercurso discursivo, com particularidades que o distinguem
da merfora de Forsrer umidade "irrigada por uma centena
de riachos" e da polifonia dostoievskiana segundo Bakhtine.
Os ficcionistas conremporneos, respirando espetculo por toda
r, FORSTER, Eclward M.
"
{p ectos
2l
('(
1,970.
22
PRoPoslrs
PROPOSIES
remplada
faz-de-conta da cena e o cerimonial absurdo da vida se repetem sem termo. , por meio do exotismo do teatro que
a existncia levada sua mais simples e
fiel
expresso.r0
1.
23
'lIVISAN,
()()4,
[). 541.
PROPOSTES
PROPOSTOeS
r( )r:.ulesca se apresentam como emprstimos feitos pelo ronlucc ao filme".l'3 Depois dc ter observado que o homem
notlcrno aprendeu a dissociar o absoluto do verdadeiro, atribui
r tr.ldana de planos e ao mtodo hiperobj"tivo de descrever
ir itlia de que o narrador ser em situao, dotado de um
lx)rto de vista particular, e que toda proposio relativa a uma
l)crsonagem vara segundo o ngulo de tomada e a distncia
r:r clue se coloca para efetu ,-la.ta Por a abre-se o caminho
l)n rrr concluir que o interesse do estudo deriva menos do que
lrotlc trazer em relao a preocupaes com a tcnica do que
cn rclao aos esclarecimentos relativos a uma condio geral
( r rc , atualmente aquela da literatura. r't
|
Tentei fazer uma sondagem do mundo contempornco por meio da literatura. Inevi t,vel d tze que discurso
lristrrriogrfico e escrita ficcional se cruzam no mesmo tabuleir(), rtparentados no s quanto ao objetivo comum, que o de
irr t c rpretar o sentido da atividade humar, mas tambm
cntrosaclos como formas de linguageffi, ambos mesclando ensrtio c narrativa. Busquei apoio em Machado de Assis quando,
srtlrcclor de que , impossvel conceber a Histrta dissocrada da
prt lrtvra escrita, forjou quase que um provrbio na frase: "A
I listriria no um simples quadro de acontecimentos; mais,
(r () vcrbo feito livro".1 Na leitura de Ivo Barbieri, paa
N'l rtchado a Histria no constitui barreira imaginao do
f it't:ionista, nem aquela se anula com a intromisso desta.
( )rrrlc o historiador no entra, l penetra o narrador literrio,
tt it r plra violentar ou distorcer a Histri ,t7 mas para desen-
24
Reincidncias de jogo interdiscursivo com que esbarramos a cada passo na fico contempornea se ampliam
para o intercmbio com sistemas semiolgicos. Estereotipada sob o clich "eta da imagenf", a cultura de nosso tempo
, francamente dominada pelos meios audiovisuais. Desse
modo, depois de tanros anos de predomnio do signo icnico,
no , estranho que a narrativa hterrra se tenha impregnado
de visualidade. Cativos do individual concreto, estamos de
tal forma habituados a pensar por imagens que o conceitual
e abstrato freqentemente nos escapa.
Dentre as mltiplas possibilidades de dilogo entre
letra e imagem, vou-me limi ta ao intercmbio entre literatura
e cinema. Assim, quando me referir ao parentesco de Hotel
Atlntico, de Joo Gilberto Noll, com Paris Texas, de Wim
Wenders, no estarei apenas tentando verificar pontos de encontro do escritor de hoje com o cineasta de hoje, mas visarei
sobretudo ao contgio de linguagens. Sabida a importncia
atribuda tcnica de narrar na modernidade, tanto no cinema
quanto no romance, como se evidencia atravs da recusa
linearidade, da fragmentao do discurso, da atomizao do
tempo, da relevncia do ponto de vista, da diversidade de vozes
narrativas, da faka de homogeneidade semntica, da dissonncia
de elementos jrrrtapostos e da desordem na seqenciao dos
episdios, busco sintonia com o sentido de tais inovaes. Em
L'ge du romam amtiricain. estudo clssico das relaes entre
25
Espe/ho
Reaista Macltadiana,
26
PROPOSIES
rranhar de fonte imagin rta o que d' vida His t6rta. Cito
Collingwood, que me parece cal ar esras consideraes:
"Enquanro obras de imaginao, no diferem os crabalhos do
hisroriador e do romancisra. Diferem enquanto a imagin a'o
do historiador pretende Ser verdadeira" .rB
Alm da plausibilidade histrica de que se revestem
episdios ficcionais ao serem postos em contato com fatos hisrricos e do carter ficrcio que assumem acontecimentos histricos ao se misturarem matrta ficcional, mais uma vez me
siruei na perspecriva de uma conscincia bifronte, encarando
de fren[e o real sem perder de vista o possvel. A obra de fco
exposra s vicissitudes do mercado, a palavra lite rrra em dilogo com signos icnicos e o jogo intertextual do discurso
novelsrico com o discurso histrico bahzam esta viagem por
denrro da naativa ficcional dos anos 80 e 90. No drstico
recorre a que me vi obrigada a submeter a diversificadssima
produo do perodo, selecionei aqueles textos que se afiguravam, no andar do estudo, mais adequados compreenso da
literatura na histria dos anos em curso.
II
Letras no Mercado
(,, r,c
-r
tc o leitor:
Volrei p^a o quarro e tentei escrever Bufo & Spallanzani.
t...] "No inventa, por favor. Voc tem leitores fiis, d a
eles o que eles querem", drzta o meu editor. A coisa mais
difcil para o escritor , dar o que o leitor quer' pela razo
muico simples de que o leitor no sabe o que quer' sabe o
que no quer, como todo mundo; e o que ele no quer' de
fato, so coisas muito novas, diferentes do que est acostllmado a consumir.zo
()l{.5,
p.
170.
30
LETRAS
NO MERCADO
que
J no serve ao escritor de hoje o prestgio de
desfru tava no passado, quando ainda empenhado no compromisso de fundao da nacionalidade, com todas as decorrncias
ideolgicas que impl rcr.va o empreendimento coletivo que visava construo do Estado-nao. No tempo em que conceiros que o aureolavam entram em profunda crise e seu tradicional prcstgio, em declnio, a mercadoria que produz fica internamente afetada: o livro e o escritor mesmo, postos venda,
so mercadologicamenre dimensionados em funo de seu valor
LETRAS
NO MERCADO
3t
r
LETRAS
LETRAS
32
remar rzao
linguagem aberta
da obr a faz-se espao de aprend rzagem de uma
22
PROUST Marcel.
NO MERCADO
33
NO MERCADO
escriror,
LETRAS
34
LETRAS
NO MERCADO
e de imagens correl
dida arravs de flashes cinem atogrficos
narrativa deriva para uma
tes na comunicao de massa. A
meios em que se atropelam
espcie de empasreramenro de
exerccios de ioga'
aluses a filmes, romances anglo-americanos'
e caricaturas banais de
movimenros e ritmos do mi-chi-chuan
ingls. Por outro lado, eSsas
um banal livro-texro de ensino de
das ringuagens banal tzadas
apropriaes pero discurso narrativo
modulado na clave
pela mdia no sufocam o fluxo confessional
prevalece a tnica da intimida narrariva memorialisra em que
em srgio Sant'Anna'
dade aurobiogrfca, ainda que a confisso
de assumir a mscara
revi rada pelo avesso, chegue a ponto
e da amplificao
cabotina da auropromoo narcsica
no
aspectos paroxsticos que' entretanto'
autoglorificadora
,'l
rttt,rt
NO MERCADO
35
LETRAS
NO MERCADO
LETRAS
NO MERCADO
37
r,n:ucc de Machado mais recheado de aluses, stiras e refer(.rt.irrs histrico-polticas, o narrador comenta: "H nos mais
que se perdem, oLltros
f,,r,rvcs rcontecimentos muitos pormenores
rr
p' 85'
38
LERAS NO MERCADO
LETRAS
Wolfgang Iser apresenta uma compreenso da dinmica do texto quando em interao com o leitor:
39
NO MERCADO
As vczes, ro entanto, a popularidade coincide com a excelnt.irr cla obra. "De quebra, boa qualidade", na expresso saboro\rt clc Silviano Santiago. Vale a pena conferir:
sLla
80: bom concraro, boa publicidade, boa vendagem. De qlrebra, boa qualidade . Para alguns crticos mais impertinenres,
isso pouco . Para os prprios escritores, sempre mais afinados com o tempo do que o crtico, isso sr-rficiente para
no
B ras i1.27
rcxto de Pound:
Pelo amor de Deus, medite sobre aquilo que eu lhe disse
uma vez: nada do que se escreve por dinheiro vale sequer
um amendoirn; a nica coisa que vale aquilo que se escreve contra o mercado. No existe veneno pior que o di-
,SA
I
()()0, pp.
4-5,
So Parulo: 3 jirn.
40
LETRAS
LETRAS
NO MERCADO
4l
nheiro. se recebemos um bom cheque, pensamos imediatamente que fizemos alguma coisa, mas pouco tempo depois j no corre sangLre em nossas veias, corre dinhei to.28
De princpio, Octavio Paz concorda com Pound, adiantando que um livro se propaga no pela publicidade e sim de
ouvido em ouvido e a solto uoc,, percep o satrrzada por Srgio
Sant'Anna, gu a qualifica como atitude de grande
"irresponsabilidade inrelectual" dos 60. O autor-narrador de "O
NO MERCADO
-t
'il,ait l
ts.:
:ffi
ffig,
&ffir
ffi4
if6i
.',ffi
:mf
1,
,1
"
o
rlir quesro, Foncius v na segunda memde do sculo XVIII
presso
forte
noffento em que o mercado passa a exercer uma
slrrc a ate e comea a afemr as obras literrias. ento que as
sobre
ntcgorias beleza/utilidade subsrituem o par nature zaf artefato
(lsc assenrava a reflexo esttica anterior. A oposio belas-artes/
de
rlrtcs mecnicas traduz a diferena entre valor em si e valor
sso. A rendncia, nascente no sculo XVIII, de separar arte de
srrcsanaro implica a separa o entre trabalho intelectual e trabalhg manual. Aquele esrar reservado a poucos indivduos domdos
dc inteligncia superior e fora criadora; este, sendo atividade
nrccnica, dispensa esforo menml. O critrio da individualidade
cnro decisivo para disringuir a obra de ate do produto industriirl. A reoria e o mito do gnio, que far estrondoso sucesso no
roriu-tismo, deriva desse momento. Thnto em sua conceituao
(lgrlro na prtica, obra de arte e artista no se integravam ao
ercsccnre modo de produo capitalista. E a arte se viu assim
elirpinada das relaes de produo dominante. A tendncia que
ic ople hereronomia advoga, no domnio da arte, a idia da
Hst6ngmia, gue Fontius interpreta como reao ao despotismo
cresccnre do mercado. Por outro lado, a forma,o da teoria segunrlrr n rgual a obra de arre se basta a si mesma motivada pelo
lllcrcrrclo artstico e literrio em formao.
das foras
LETRAS
47
LETRAS
NO MERCADO
pagos por
cionrios do Estado, inclr-rsive os mais altos, so
: ffi",n,: ::,: fi
'
:, -
i:
: : 1"" J""j,';,'o
dos, uffi pblico moderno de massa. A forma de mediao
da prodr-ro potica, concre uzada por meio do tnercado'
implicava, do ponto de vista dos receptores' Llm imenso
be*a' c' e scr i.
'
:,
,:.J,'::"::::
::;:
n-onen-
43
NO MERCADO
seLl tralralho.
ts
,,
de mercadoria das
cor-o tenta'o
,,1 rr.rs rlc ar[e acompanhar a produo artstica
ser mais o
no
diante,
r .rrl:r Yc7, mais atraente. l)e ento en-
e sim o
1,11,r tlc uso do bern literatura a estilrular os espritos,
valor de troca'
rrr,\,( ) crrmeno dorninante na vida econmica: o
{ ) t,rritcr de feriche da rnercadoria, descoberto e analisado por
\l.rrr cr- o capiral, , rrazido por Fonrius considerao na
r rt,r(.'rt() clc passagem conhecida, que convm transCrever:
em slra rroca qlle os proclutos do trabalho adcluirem. como rralores. Llma existncia sociai idntica e trniforcomo
rTe, disrinca de slla existncia material e multiforme.
trabalho
do
de urilicJa,ce. Esra diviso do prodLrro
, apenas
'bjeros
de fato. Llm
dr-rplo
Ibridem.
.t
44
LETRAS
NO MERCADO
LETRAS
45
rlt' \/cr publicada uma obra mal -acabada, ora o autor que se
vnlgrr clcl mercantilismo do editor, atirando-o literalmente na
l;rtrr rlo lixo, como este freqentemente faz com os originais
rl;rrlrrclc. De qualquer maneira, a irreverncia no trato com o
It'nrr r.runcia a maneira coffro a literatura, objetificada no
n r('f t'rrtl<1, reage ficcionalmente a uma situ a,o que escapa a
'i('u ('()rtrole. A tentao do best-se/ler, encarnada no editor conr('r('irrl., persegue tambm o escritor que, mergulhado no pro(lc adequao da linguagem s exigncias dos novos teff-
r ('\\()
pn\, l)oclc estar cedendo, sem perceber, em questes de quaItrl;trlc. Aos vcios de um divulgadssimo jorgeamadisrno, caracIrnzrrrlo pelos excessos de redundncia e repetio, pelo
r.\()tisnro de cart,o-postal e pela sensualidade estereotipada da
nnrllrcr tropical, deve-se acrescentar hoje, por exemplo, certo
risro rubenfonsequiano fartamente temperado de sexo e
vrolrrt:iu urbana, como se l em O matador (1995), de Patrcia
\lcl,. A clisputa de fatias do mercado por editores, escritores,
ir r;r rr t'i
NO MERCADO
LETRAS
46
LETRAS
NO MERCADO
fazer
cadoria, a respeiro da qual podem aurores descontrados
com
humor, como Luis Fernando verissimo no dilogo travado
brasileicrtica
pela
paulo Coelho, esre besresselerista ignorado
aqui e
, no obstante o sucesso mercadolgico de seus livros
autor,
do
declaraes
no exterior, cuja vendagem, de acordo com
alcana a fabulosa cifra de dez milhes.
Essa questo da distribuio e exposio dos livros nas livra-
: "'" :;: ; :: :
e prtico para julgar o mercado: ele est bom quando nossos
livros esro disponveis e bem vista. Infelizmente o mercado
:':
-::;n :1 : :' ::
x :: ::;:
n'cr'
me'c d a s
i
do mesmo
ensasta
a clateza da anlise:
O escritor procura vender um texto que abandona oS prlncpios bsicos da esttica modernista, que eram o uso de
uma escrita elptica, muito pessoal e, por isso, de difcil
acesso. passa ele a produzir um rexro de boa qualidade,
'\7 VERISSIMO,
1996. Caderno B.
Janeiro: ?4 fev.
47
NO MERCADO
"i :: : ::::::; ; :
:;
il
i:
:": :: i : 1:; :
caminhooriginal,aindaqueprecrio,poistinhadepassar
aliados. [...]
para o campo dos inimigos para r-los como
um abandono
outra coisa certa: na dcada de 80 houve
como pano de
gradativo do grande acontecimento poltico
fundo Para Poemas e romances'38
des relaxanres. No
como a apario dos Pistols
mcrcado, nem visa agradar ao reiror.
grupo
iu sainr Marrin school of Arr de Londres em 1975,
Anticristo,
ou
Moderno
tmbm denominado co Danado, rila
demolidora, configufria
com
n*rrariva de Mainardi irrompe
se costuma chamar de
rncl' - como diria Gore Vidal - "o que
garde desaparecessem".
f,QAttt-garde antes que todas as
sarcsMas no se trata apenas de um livro invenrivo,
bare pesado em
Eic. c polmico. Mais do que pater, o auror
inequivoquem escorheu para barer. sua fico rem um norre
virulentos das vanGencnte. parecendo retomar os princpios
do sculo, com uma escrita muito
E,rclas da primeira memde
literatura que
perr,r*l, elptic a e conrundenre, alveja toda uma
repetidas' Assim,
flo rlcsisria de insisrir em trilhas baridas e
dos ltimos
brasileira
notir cliscrepanre no cenrio da fico
analista.
nos, a posrura de Mainardi insriga o leitor
parricipando direramenre da rrama, avulra a figura do
de ligao entre os
antot, pcrsonagem singular, espcie de agente
fragmenmdas do
eliversos planos do enredo e as seqncias
avata do estlireurso, que auxilia na composio da histria,
conerit,r crn geral e do autor particular deste mesmo livro'
delimitado pelo narrador:
re tilr1cnre, seu espao de aru ao ,
48
LETRAS
NO MERCADO
LETRAS
O territrio do untor
direita
clo
de costas, sofrendo apenas leves escoriaes. O Llntor arravessa o serto montado em sell jerico ruivo. Cavalga dia e
noite sem usar freios ou rdeas, sob o comando do animal.
NO MERCADO
49
(ungir). Contrariamente ao ungdo, tc;1no vincul,r,l,) rlo sagrado unctore, [ Roma antiga era o escravo que
l ,,t l t l t:tvrt d e leo os freqentadores das famosas casas
de baItlt,s. Mas, segundo Grnewald, Mainardi foi buscar seu per'ittfr;rl{c'l na Hstria da co/una rfarne, livro do romancista itaf r,trt,, Alcssandro Manzoni,
QUe resgata episdios da pcste que
irr',( rlrrtt Milo no sculo XVII. O grande dicion rto Garzantr,Ca
lltt;',ttrt iraliana, fazendo referncia ao acontecimento, registra o
'rrf 'r rrl'it'rtdo t "aquele que era suspeito de difundir a epidepria
l l l l l ;t tt t lo nuros e portas com substncias infectadas".
Ag"nte
rrr()l tc, o unlor- de Mainardi atinge com seu ungento mortal
'l,r
l,r l;t rr ctlleo de tipos estereotipados na tradio de nossa
It t ,'I :r I rr rr sertaneja. Etpcie de anjo vingador, o proragonisca
lr' l'rt/r'r!rtno r/as Secas atravessa as pginas da narrativa investin'
lr I , ,l [ l':- os personagens-clich da literatura regionalista
'
e, por
,1,, \'('r'l><t ttngere
did
verdadeiras intenes.
as
tras,..
1995, p.
17
GRL}NE\\ALD,
r'ov. 1 995.
TOS
I-ino. "Incinerados no
serro"
. lbia, so pa'lo:
algr-rm parece
As palavras do narrador, que transpe o rermo epidedomnio lrrerrio, esr construrrtr lr I lllr llc tfora que, certamente, dar pano
para manga.
\* lrI \';li tltar quem o acuse de racista, preconceituoso, elitista.
\' rr',,1t't)t's sctl muita consistncia, se levarmos em conta gue
,
rrrrtrlr'11it'o (r'onlaminao) para o
50
LETRAS
NO MERCADO
LETRAS
alcance da metfora, afirmando que "sua misso j no destruir a literatura regionalista, mas toda a literatura deste sculo" .az brriu a duplicidade irnica e a auto-ironia do texto. Parece
ainda
quer inceresse pelos sertanejos, a no ser como personagens da literatura. A morte dos sertanejos , to imagin ria
quanto o territrio em qLle se encontram, aqtrela abs trao
legislativa denominada Polgono das
42 Ibidem.
43 Griinewald, op. cir., 1995.
44 Vlainardi, op. cir., 1995, p. 116.
Secas.aa
NO MERCADO
5l
ct
el castillo de la pureza.
Simulacro
8r"
Shakespeare
lc momento.
Gumbrecht, em uma de suas visitas ao Brasil, enxerga
o pas acomerido de desesperana, desiluso e desintegrao,
rf uc, de acordo com a perspectiva adotada, caracterizam a cultura
de final de milnio. Na chamada dcada perdida, revivemos
gqui nossas iluses perdidas. A classe mdia perplex, confuncliclos os caminhos, senria-se impotente para desvendar qu4l(f gcr rumo. O olho pers prcaz do estrangeiro, lido e viajado, viu
o ccnrio e entrou no clima. Citando Habermas, Gumbrecht
rcfrra a idia de uma condio opaca, densa e obscura. De-
CENAS DO SIMULACRO
CENAS DO SIMULACRO
clara que "h" algo prximo a uma paralisia, pois a psmodernidade a poca do fim dos grandes mitos, dos grandes
modelos cosmolgicos para explicar o mund o" ,46 tempo talvez
de crise das ideologias, crise de utopias voltadas para o futuro
e, neste sentido, crise das vanguardas. Por outro lado, esse
rempo-crise dos discursos unitrios e totalizantes, tempo de
uma cultura marcada por mltiplas alternativas e percepes
fragmentrias, que torna patentes discrepncias at, ento mascaradas. Sintonizado nessa freqncia, Silviano Santiago se d
conta de que "o tecido social feito de diferenas apaixonadas
e de que a negao das diferenas tambm o massacre das
liberdades individuais, o recalque das possibilidades mais autnticas do ser humano" .47 O ensasta-ficcionista acrescenta ao
esboo traado pelo ensasta-crtico a dimenso da intuio
sensvel capaz de discernir na apreenso de conjunto as particularidades que fracionam o todo. Nesse sentido, as duas citaes recm-aproximadas discrepam entre si e se completam.
Gumbrecht inscreve a imagem de um momento peculiar no quadro
geral das idias em movimento; Santiago l no texto conjuntural
signos discrepantes que anuniam riscos vista. Enquanto isso, os
meios de comunicao se limitavam a regis tar a crise desprovidos
de instrumentos que capacitassem o olho a furar o nevoeiro. E
nesse contexto que se des taca a interferncia dos textos literrios,
se mede por seu custo. Mais do que nunca, fica ento difcil
identificar critrios de validade que possibilitem alinhar lado a
lado, num arranjo de sentido abrangente, linhas de disperso e
contraste, contradies e discrepncias mltiplas. Onde localiGUMBRECHT, Hans Ulrich. Entrevista concedida a Jos Castelo. Jnrnal do Brasil, Rio de Janeiro: 3 set. 1988. Caderno ldias, pp. 10-1.
SANTIAGO, Silviano. Nas malhas da letra. So Paulo: Companhia das
Letras, 1989, p. 35.
57
T^rr
cit.,
58
CENAS DO SIMULACRO
59
CENAS DO SIMULACRO
i. ] o leicor precisa
:'l ff { r rjfi
acor,Co ficcional
{lili
r: ff l* {
fato
aconteceu.4"
de referenciais
csvaziado de subjerividade, privado de objerivos e
em
representao
de norte, jogo de uma
em
i.ragens que lemos/orhamos se formando e se deforrnando
de
i'cstancvel n-robilidade, movimentos lentos e acelerados
, r eu
"'31i:"[":;f;;i::,:',:ffi:"::,3';
partem
/gca r/as irnagens, declara: "N'{uitos dos meus filrnes
vezes'
por
tlc viagens em vez de partirern de argurentos. Isso,
de noite, e de
, como um rro cego seff instrumentos. Voa-se
,,1
-liadtro cte Hi
lcle gard
ffranh chega-se a qualquer lado".'50 Voam pela noite, sem insrrumenros, a imagem e a palavra - Paris Texas e Hoel Atlnlico.
Em ambos, a construo de personagens despojados de atributos humanos, de vnculos concretos com tempo e espao determinados, distanciados das veredas em que se operan- construes, demolies e reconstrues no afr dirio dos homens.
Vo cego, desbussolado, marca a trajetria do personagem em
rranse/trnsito de Noll: "Voltei a andar com o meu bordo. No
n-esrno caminho de antes, d. quem no podia se dispersar conl
as coisas do mundo, de quen suportava uffa cegueira que lhe
abria o contato com as foras. N4e interromper seria um insulto".'1r
Ao paradoxo da cegueira que, em vez de cerrar, abre
CENAS DO SIMULACRO
CENAS DO SIMULACRO
assinala o
srrnr,Anna (1g 73), , rrulo marcanrc, no s porque
da
literrio
strrgimenro cle um fccionisra cJc flc{o no hclrrT'once
de Sant'Anna
rlcada, mas sobrerudo porquc o rcxro ficcional
cle
rrsce de uma benr-sucedida r--csclagctn intcr-semitica
narrativas que
tlivcrsas linguagens. percorrcnclo as virrrc c urla
dcssc procedi, r ogram a coletnea, constata-se a rclcvncia
nr4'ativa da
orga
c
rcnto, promovido a rnatrrz constituidora
do livro. o que olhado de fora parece uma superposio
1rrrica
urtantoarbrtr'rta'Ceretalhosheterclitos'vistomaisdedenA
,() funciona con-o arriculao de membros desconjuntados'
D
mostra'
narrativo deixa
r lcscontinui,Cade do discurso
clichs
r(.(.rrrncia cle suas mlriplas fraturas, reminiscncias,
reportagens' fil:* Ior-]atizados, nfases retricas, pedaos de
noo
,cs., peas de rearro e de'lV. Inevi tvel recorrer aqui
Sant'Anna opera na faixa da
t rc simulacro, o verificar que
r
e sem nenhuma possibilidade de alterar mesmo uma pequena frase oll gesto de sell destino''5t
Nesse dobrar-se do texto sobre si tresm-o' a crise da
com discursos banalizados, desgasr ...l)rcsentao contracena
SAN'I"ANNA,
de
(a
respetrt de
rl
CENAS DO SIMULACRO
CENAS DO SIMULACRO
62
,,
c'mbinarrio:
rea
fico
de confluncias vrias, a prosa de
I.JmaAnlisePsicolgicadeKramer:QuandoFiosubiumais
altoqueBritonareaecabeceouparamarcarogolda
por sua vez, se sobrepe fala confidencial de uma experincia particular. Incorporando su a fala termos e trechos de outras
falas, expresses despersonaltzadas e annimas, o narrador faz
do literrio o lugar de passagem e incerao multidiscursiva,
marcado por artifcios que denunciam ambigidade e desgaste
do poder de signifi ca. isso mesmo que declara Manfredo
Rangel, o reprter-narrador do conto que d ttulo ao livro:
"Comeo a entender que tudo aquilo que se escreve ou fala,
mesmo de fatos ou pessoas reais, sempre se torna mcico, escorregadio e arbitrrio",ss decl aru,o aposta nas "Notas suplementares" da narrativa, maneira de poshscriplum. Depois de jrrtapor hipteses, trechos de depoimentos, entrevistas, pronunciamentos, citaes e confisses ntimas, aclamaes pblicas,
cenas de te leviso, rumores e boatos, notcias e apontamentos,
tudo apressadamente montado maneira de um document,rro
jornalstico inconcluso, ela frisa, em comentrio margem, o
carrer duplamente ensastico desse tipo de prosa ensaio no
sentido teatal de exerccios preparatrios do espetculoo ensaio no sentido rnetalingstico de discurso auto-reflexivo. I\*lessa
perspectiva, o texto de Sant'Anna abre bastante o leque
Idem, p. ?lZ.
Idem, p. 205.
alegria de Kramer'
virria do Flamengo contra o Botafogo'
parecia totalrnenabraando-se aos populares no Maracan'
Eeespontnea.opolticoumator'obompoltico'Llm
seja, idenriaror nos moldes de sranisravski. ou
excelenre
assumindo-o totalmenfica-se com a figura do personagem'
t9'demaneiraqLlepassaasentirerepresentaraqr-riloqLle
::; ::ffiil;j
;::::";::::,l
:"*"'
de Kramer
de Kramer
Tnto oporrunismo, demagogia, misrifrcao
ambigi_ o personagem-objero das noras de Rangel - quanro
do reprter - o personadades, acumpliciamenros e omisses
consubstanciais ao disgem-sujeiro da narrao - so arriburos
os procedimentos da
curso guo, ao escanc ara para o leitor
do personagem configurado
cornposio , faz a crtica ranro
texto funciona como
quanto do personagem configurador. o
pe a nu, nada escapando
uma mscara arnplificadora que rudo
sendo to fortemente ilu violncia do simulacro. A cen a vat
A escrita mitifica/
rnin ada que no deixa margem a sombrasentrelinhas' em confordesrnicifica imagens num percurso sem
do reprter:
rnidade com este outro posl-scriptum
5('
Idem, P'
187.
64
CENAS DO SIMULACRO
CENAS DO SIMULACRO
tr foi atravs
lham a Llm roteiro de cinema. Como se eu tivesse procurado os ngr-rlos mais fotognicos de Kramer. Er-r imagino,
sobretudo, cenas finais de grande impacto: Kramer flagelado
e crlrcificado sobre Lrm palanque eleitorel em Recife-
Pernambuco.'57
O segundo texto da coletnea, "No ltirro minuto", concentra-se em uma imagem-sntese da fora e econonria dos meios expressionais sincronrzados com o objeto cn-
foco. O tempo da ao, no diretamente encenada, no passa
de uma frao de instante: o lance clo gol ocorrido no lcimo
tninuto d. jogo. O fiash desse lance, filrnado por trs canais
de celeviso, visto e revisto de vrios ngulos, en velocidade normal e cmera lenta, pelo goleiro que o sofre. Imagem obsessiva e torturante, o instante do gol , multiplicado
e eternizado pelos meios televisivos. Evidente que no se
trata aqui de um desvio sadomasoquista. A fico sirnula
prticas da con-unicao de massa, eu, clbcecada pelos ndices de audincia, se d"grada a ponco de participar da transformao de unla saudvel prtica sclcial en patologia. Srgio Sant'Anna ir-nprime assim ura marca pop na fico literrra da poca er que impcrar- os meios de corunicao
eln massa. Recorte e colagen de fragmentos de discursos
inter-semiticcls tornam o rnornento da con-posio individual o estu rro de confluncias annimas. Assirn, boa parte da
originalidade de inveno em Marfredo Rangel se deve ao
eproveitarnento de recursos recorrentes nas mais
dirrersificadas prticas discursivas, pois uma nova linguagem
nunca feita pelo indivduo. Nesse sentido,.ean-Claude
Carrire frisa a i*portncia da particip ao das platias no
processo de inveno e transformao do cinema.
rrr
Idem, p. 205.
66
CENAS DO SIMULACRO
fico de Rubem Fonseca. Desde os primeiros conros, Os prisioneros (1963), tcnicas de narar macaclamenre
rubenfonsequianas denunciam essa obsesso que consiste no
s na aclimatao ao meio literrio de irnagens visuais enquadradas a partir de ngulos escolhidos em vista de determinado
efeito, expostas magia da lu z atmosfrica ou ressaltadas numa
angulao de choqu, mas tambm no freqenre uso do corre
e da montagem. Desse modo, a jrrttaposio de fragmenros
relacionados entre si por analogia ou contraste e entremeados
de abruptas elipses que acentuam a descontinuidade da ao
' expediente prprio economia narrariva do auror. Em rais
recursos de expresso, pode o leitor mais famil iarrzado com
seus textos identificar traos de uma linguagem contundenre,
adequada elaborao da matrra bruta que o escritor foi recolher no submundo do crime e nas camadas sociais mais sofsticadas, onde se aninham nichos de perverses violenras.
Essa tnica, submetida a reelaboraes constantes, aringe sua
prirneira culminncia nas qui nze pequenas narrarivas de fe/iz
ano noao (197 5), todas elas peas bem acabadas do humor
cortante de R-ubem Fonseca. O procedimento que vai se aprimorando com a experincia do escritor, atingindo na maturidade o pleno dornnio dos recursos expressionais aclimatados em
sua prosa, j estava no livro de estria e pode ser exemplificativamente reconhecido no conto "Duzentos e vinte cinco gramas". A fria rudeza do legista, que, depois de virar e revirar o
cad ver da moa assassinada, comea a retalhar
seu corpo e,
abruptamente, maneira de um aougueiro, vai jogando na
balana um a um os tgos arrancados, pode ilusrrar,
metonirnicamente, o trabalho do narrador, sempre s voltas com
pedaos de matria chocante, retirados de um corpo despedaado e expostos com cru eza ao olhar do leiror. A afinidade com
o cinema fica ainda mais evidente no conro-rtulo de Ltcia
'4[cCartney (1970), onde trechos de dilogos ocasionais, de conversas telefnicas, de cartas ntimas, flashes de enconrros e
desencontros etc. ocupam o espao narrativo como alternativas
CENAS DO SIMULACRO
67
litcrrias ao procedimento fhnico de corte e montagem. Ofe;cccndo ao leitor possibilidades de combina o, narativa abre
rr lraura paa a polifonia. Ao se referir pluralidade de vozes
"r;ue aparecem misturadas, se alternam e confundem" no conro cle Rubem Fonseca, Boris Schnaiderman chama ateno para
o cspecial interesse que, elativamente a esse aspecto, apresentrr "A opo" de A coleira do co:
Alm da fala de cada personagem, surge a sua voz interior
em confronto com as vozes da cultura, numa oll em olltra
parre deformadas pela citao. A do narrador se interrompe
bruscarnente no final, como que impondo ao leitor a sLla
colabo rao, para interpretar o desfecho. E toda a narrativa
se desenvolve em cortes bruscos, marcados pel as vozes dos
person agens.t'('
p.
777.
r#
CENAS DO SIMULACRO
Ibidem.
r.
Idem. p.
Ibidem.
65.
CENAS DO SIMULACRO
69
terrena
rlcscendo do nvel elevado em que pairava para a prtrca
patente
clc aros instintivos. Na seqncia da narrativa, torna-se
embriaga num
rr perverso do olhar, eue, no clmax do conto, se
de
rirual de sangue esfaqueamenro, csfoladura c evisce rao
de
Lrm coelho , cena consumada na banhcira, com requintes
e
rrrio o banheiro, como ao o sacrifcio cruento do coelho
numa
como fundo musical a nona de Beethoven, resultam
exr-onragem de choque com forte efeito dramtico. Sntese
coisas
de
pressiva da esttica da dissonncia, engavetamento
fora do lugar, a lio de "olhar", a um s tempo. denuncia a
fragilidade da camada culrural gue, no ocidenre, destroou o
cJesenvolvimenro harmonioso do ser humano ao privilegiar apenas os senridos conceiruais (viso e audio) e indicia o senso
de conremporaneidade conrido na prosa de Rubem Fonseca,
cue, praticando uma estrica de choque, visa ativar a sensibilidade embot ada de nosso rempo. Avanando o sinal, eu diria
que o ficcionista suscita nesre conto uma crtica demolidora
culrura ocidenral, historicamente assentada na rnitific ao do
6lhar civilizado, procedimenro que vem da antiguidade clssica
c roma conra da modernidade. Entre o olhar enfeitiado pelas
sombras que se movem no fundo da cavema platnica e o olhar
lripnor rzado pelas sombras que se agitam nos retngulos luminosos
e
clos aparelhos receprores ,Ce TV so quinze sculos de teorias
de
prricas da imagem. Nada mais denunciador da degrad ao
valores implic ada nas perverses intelecruais da cultura de nosso
rcmpo do que a banali zao da clebre sinfonia nmero 4l de
Mozart, Jpiter, utthzada como msica de mesa (Thfelmttsi),
rcrTpero adicionado ao coelho, saboreado com intenso gozo
sacrifcou e fez dele um ensopado.
1-rclo homem erudito que o
Saturada de flmes e vdeos, fotos e programas de
tcv, revistas em quadrinhos e desenhos animados , ctazes
70
CENAS DO SIMULACRO
CENAS DO SIMULACRO
poca
das tcnicas de reproduo em massa, deu origem expresso ra da imagem. Esta alcunha forj ada e susrenrada,
acriticamente, pelos meios de comunicao, requer, neste
ponto do ensaio, algumas consideraes.
Ao me propor adentrar a vereda da fico lrterrra,
contaminada pela linguagem cinem atogrfica, nada mais pretendi do que assinalar a marca da avassaladora presena da
imagem visual na literatura do perodo que esrou esrudando.
Nunca imaginei que esse trao pudesse dar conra de toda a complexidade da prosa de fico, netn que fosse ndice exclusivo dos
textos produzidos nesse mesmo perodo. Como se sabe, a ubiqidade da imagem, que tomou cont dos meios de comun rcao no
sculo )O(, j h' bastante rcmpo vem provocando reflexes crticas
e tericas. Interessam-me, nessa questo, sobretudo as modifi caes que, por influncia do cinema, se introd uziram no modo
de acesso ao texto, em sua divulg a,o e interao com o leitor.
A mudana na relao do pblico com a obra, provoc ada pelo
cinema, foi apontada por Walter Benjamin como relevanre em
seu clssico ensaio "A obra de arte na poca de suas tcnicas
de reproduo", publicado pela primeira vez em 1937. Estabelecendo um paralelo com a obra de Freud, afrma o ensasta:
Alargando o mundo dos objetos dos quais romamos conhecimento, tanto no sentido visual como no auditivo, o cinema acarretou, em conseqncia, um aprofundamento da percepo.s
de atte,
cle repro-
Z?.
7l
clo autor. Ilusrra bem essa intera o de linguagens O criadomudo (1991), de Edgar Telres Ribeiro, gue, medianre a nfase
conferida ao detalhe, aproxima do olho do leitor os quatro
personagens da narrativa, como Se uma cmera oS tivesse
focal rzando em primeirssimo plano. Relativamente marca
do cinema na fico conrempornea, depoimentos e comencrios dos ficcionisras que se ocuparam com o tema so
bastante esclarecedores. Italo calvino, por exemplo, sob a
rubrica "visibilidade", dedica a quarta de suas cinco Lezion
Americane;T idia de fundamentalidade da imagem visual
no processo de inveno lite rria. Confessando-se possudo pelo cinema, refere-se atividade produtiva da imagina o, a que chama "cinema" mental, como modo de
funcionamento rrans-histrico da mente humana. Partindo
de Danre, cira o verso ?s , canto XVII, do "Pu rgatrio" ,
CALVINO, ftalo.
CENAS DO SIMULACRO
72
em que diversifica e enriquece as linguagens de nosso tempo, agente revitahzador do literrio, como se pode observar nas obras referidas neste estudo. Situ ada diante do amplo panorama que abre ao analista a interao cinema-literatura, retorno a Joo Gilberto Noll, que parece escrever com
o olhar voltado para o cinema, pal ava e imagem
rearticulando-se a partir da fonte: a imaginao criadora.
A linguagem dos contos de O cego a danarina
(1980) incorpora cena da escrita a presena de anncios
luminosos, de filmes, shows de strip-tease, programas de
TV e de rdio, videogames, outdoors etc. Em "Marilyn
no inferno", uffi dos contos em que palavra e imagem se
entrelnam, o autor, trabalhando com personagens sem
fundo, imagina como protagonista um figurante do primeiro aestern rodado no Brasil. A Baixada Fluminense simula
as pradarias do Arizona e, no mesmo tabuleiro, cruzam-se
estrelas de Hollywood, Eisenstein, Kung Fu:
73
CENAS DO SIMULACRO
aoitada pelo Billy Wilder, dizem que ele prendeu ela numa
coluna e deu 37 chicotadas, ela saiu Llma misria, mas foi
assim que ela aprendeu e fez aqr-rela beleza de filme.7"
fora
lho sovitico.oe
Sonhos de estrelato surgem acoplados a memrias de
infncia, pois o que o menino gostava de ouvir e...
ldem, p.
37.
7t ldem, p. 39,
74
CENAS DO SIMULACRO
CENAS DO SIMULACRO
7S
cinema'
Eu escrevo com o desejo de fazer outra coisa literatr-rra'
Existe um simulacro cinemarogrfico em minha
atogrfica
cinem
Mer-r desejo est muito mais na real rzao
muito
do que na literatura. s no fiz cinema porque ea
muito
ea
eu
mais fcil fazer literarura e rambm porque
com
rmido. Mas entre Antonioni e Thomas Mann, fico
algo
Mann
Anronioni. E isro lembrando que ler Thomas
da
que me comove at s lgrimas. A voltagem potica
palavra to emancipadora quanto a do cinema'
passa-
pois nele
gem mais-adequada ao encerramento desre caprulo,
elaborase aproximam as trs palavras-chave que presidem
literatura.
cinema,
simulacro,
o de todo este meu ensaio:
frrOelio
A Histria no e xt,m
simples quadro de
acontecimenlos ; mais, o uerbo feito liaro.
Machado de Assis
o achado:
Graas arte, ern vez de contemplar urn s mundo, o nosso,
Em realidade, na leitura corno no teatro estarnos na presena 'de um mundo e atribumos a este rnundo exatarnente a
mesrna existncia que o do [eatro; isro , Lrrna existncia
cornpleta no irreal. Os signos verbais no so, como por
72
7.\
g0
as
de
74
psychologie phnornno/rtgque
p' 87 '
8l
de
82
posreriormente
e morais' A
gando o Esrado a inden rz-lo por danos materiais
,,imoralidade" ou "incitamento" dos contos de Rubem consiste
episem mosrrar, ruz forte de uma linguagem hiper-realista,
social, que
dios de violncia moral, fsica, policial, poltica e
desses
compem o quadro de nossa crnica drrra. A crueza
realicom
relatos parece ter posto governantes frente a frente
explicaes
dades inconciliveis com vises amen rzadoras e
para as
falsificadas. A censura foi o gesro hipcrita de remover
do olvido o incmodo que no dia-a-dia estava ao al-
83
sombras
nos
p.
139.
76
Idem, p.
184.
1979,
84
:'#':'::::
i.:' :i': ffi :i' * il,::' : : :J:o emprego,
gence
presa, gente fugindo, gente perdendo
l"'l'"
Estado, que mexeu com a vida de milhade maneires de pessoas , nanado, nas verses convencionais,
e
ra oposra ao relato autobiogrfico de Gabeira. Em Estado
ara Helena
oposio n0 Brasil, obra publicada em 1984, M
os
Moreira Alves fornece uma verso minuciosa com todos
ingredientes recomendados ao relaro documental:
O golpe
,Ce
dignatrios seqestrados seriam banidos do territrio brasileiro. O Ato Institucional n' 14 era uma emenda Constituio de 1967, tornando as penas de morre e priso perptua e banimento aplicveis em casos de guerra psicolgica,
guerra adversa, revolucionria oll subversiva.Ts
rerraa
77 lclem, p. Z?,
::",":l"ff ::i:.":::'::';,lJi:::::::':
mals
As org anrzaes envolvidas na luta armada tornaram-se
do
audaciosas em 1 969. Em janeiro, carlos Lamaca, oficial
So
40 Regimento de Infant ara com base em Quintana'
paulo, comandou um grLrpo de oficiais e soldados em assalro ao depsito de armas do regimento. O grupo fugir-r nLlm
caminho do Exrcito carregado de munies e armas pevangr-rarsadas. Eram membros da orga ntzao clandestina
da Fopular R.evolucionria (vPR). E,m junho do mesmo
ano, um bem oganrzado grupo de homens armados promo-
85
e oposc) tto
90
que o edifcio ficcional de Ana Miranda se sustente sobre slidos alicerces assenrados a partir de ampla e sistemtica pesquisa em museus, arquivos e bibliotecas.
Para a romancista Ana Miranda, o saber , uma espcie de chave a servio da liberdade ficcional. Em 1989, a escritora, aceitando os riscos e ince tezas dessa liberdade, surpreende crtia e pblico com o imediato sucesso de seu livro.
verdade que foi lanado por um bem montado esquema de
markecing, mas o faro que o primeiro romance da jovem
cearense se projeta em escala internacional. Como declarou ao
Jornat ro Brasil., no caderno ldias/Ensaios de ?,1 de outubro
de lgg0, a autora se mostra convicta de que o sucesso fruto
de seu esforo. Pesquisando o sculo XVII, segundo revelou,
deparou-se com a figura de Gregrio de Maros, por quem se
apaixonou, e passou dois anos crancada na Biblioteca Nacional
e no Real Gabinere Portugus de Leitura, no Rio de Janeiro,
invesrigando, lendo, fichando tudo que dissesse respeito ao
poera e Bahia do seiscentos. A biblioteca, mais do que ambiente de esrudo e reflex,o, para a autora o lugar privilegiado
da experincia do mundo, pois o mundo est organizado nas
prareleiras de muitos rextos. Freqentando a biblioteca, a imaginao fecundada povoa de fico o espao.
O poera Gregrio de Matos, cantador de belas
it-t precaes que lhe valeram a alcunha de Boca do Inferno, ,
a figura catalisadora da narrativa. Contracenando, em algumas
passagens, com o padre Antnio Vieira, a voz e a escrita mais
emprenhadas de barroquismo , atavessando o emaranhado de
inrrigas polricas e mistrios da Bahia seiscentista, Gregrio
ressurge dos desvos ,Ca Histria, acompanhado por um cortcjo
de imagens vivas que fazem renascer a ambincia polticosocial, s virrudes e os vcios do Brasil-Colnia, concentrado na
Bahia do XVII. Inreressa Ana, porm, mais do que o cenrio
de poca e a reconstituio de costumes. Apoiada em documentos, personagens, vozes e textos da segunda metade do
seiscentos baiano, a narrativa elabora lances de uma intriga
9l
de
Matos e Antnio Vieira, aos quais, imagino, prestei homenagem com a amorosa dependncia de discpula e para quem
r'5
r, L987, p. 330.
t6 N,IIRANDA, Ana. "Enrre a imagintro
92
a textos do
movimento, hoje em voga, de retorno
do devir histrico, propassado e sua releirura na perspecriva
fecundo, tem
cedimento que vem se moscrando extremamente
Assim como
gerado narrarivas ficcionais as mais diversificadas.
sermes de Vieira e
Ana Miranda foi desentranhar fco dos
consagrado como
,das poesias de Gregrio, um ficcionista i
no mesmo ano de Boca
Jos J. Veiga publica, coincidentemente
(19s9). A fonte, agora
to Inferno, a novela casca da serpene
da cunha'
mais prxima, so os sertes (rg0z), de Euclides
um dos traos
Ainda que faanhas que deixaram fama sejam
personagem de
que aproxima o conserheiro de Euclides do
figura impregnada
veiga, casca da serpenle raz ao leiror uma
de nosso
das inquietaes, dlsejos, frustraes e esperanas
um personagem
tempo. A volta ao passado, fazendo ressurgir
reprime a
paradigmcico da histria dos vencidos' no
no cerne do texto
ficcionalidade, embora o documento lateje
um Antnio
ficcional. canudos revisitado, veiga desenterra
conselheiro transmutado, muiro diferenre do Personagem
Euclides'
messinico e fantrco da hisroriografia coonestada Por
por cerro que vesrgios recohrexrualizados se multiplicam na
narrativa de Veiga. Aqui a parada ' obrigattta'
s vezes'
Os serles constituem um discurso eSpeSSo 9ue'
cenrio da guerra
, to difcil de penerrar quanro a caatinga,
de 1896 e 1897 '
vavada h um sculo, precisamente nos anos
vez na histria
Medianre a obra de Euclides, pela primeira
anos de
tezentos
polcica e sociocultural do Brasil, depois de
mostrando
abandono o serto nordestino levant ava a cabea
Em snlitoral.
o
uma caa esqu lida e de revolta que assusta
se instalou,
rese, esres os faros: em 1893 Antnio conselheiro
s
canudos,
de
com seus seguidores, tr fazenda abandonada
Ali fundou
margens do rio yaza-Barris, oo nordesre da Bahia.
as secas
Monte santo, ou canudos, como refgio sagrado contra
a Repa regio e as leis da Repbrica. Para o conselheiro,
ela se
blica era a personifcao do Anticrisro, e por isso a
ele acreditava ou
opunha . H, verses contraditrias sobre se
93
no na restau rao da Monarquia. Conhecendo bem a topografi,a sertaneja e adotando a ttrca da guerrilha, os jugrrnos, sob
a liderana espiritual, moral e militar do Conselheiro, resiscem
a trs expedies militares e s so derrotados pela quarta.
Finalmente , abatidos pelas balas e pela fome, os sertanejos so
destrudos at, o ltimo combatente. O nico crofu dos vencedores , a cabea de Antnio Conselheiro, gue, depois de morto,
foi decapitado. Euclides aproveitou muito dessa matria pica
para elaborar obra nacional de grande i-pacto at, hoje. Dividindo seu livro em crs partes "A terra", "O homem", "A
luta" , o autor articulou conhecimentos e ideologias vigentes
poca, observao direta no palco das lutas, intuio atilada
e vigorosa imagin ao verbal, para erigir um monumento literrio capa4 ainda hoje, de suscitar admira,o e espanto. Basta
95
HISTORIA
CONTRACENANDO COM A
Antnio Conselheiro , um personagem em constante mutao. Ao focaltzar seLl passado, o romance mostra Llm lder
espontneo que o povo se encarrega de sancificar, porque
cinha a presena e o olhar de Llm ser sr-rperior". Era, inicialmente, apenas algum que recusava os valores da sociedade, mas o povo comea a lhe atribuir poderes especiais.ss
E com
O itinerrio cle
87 GARATE, Miriam V' "Civilizao e barbrie n'Os sertes 13,1993,
n'
P.59'
UNICAMP'
uma iluso" . Remate de Males. CamPinas:
p.
6?,.
VEIGA,
Jos
118.
rl
96
mesmodoutor.Erastrocaocamisoloporumparelhode
brimcqui,asalpercatasporumasbotinasd"pilequeoude
Mangureira' e
boro, e cobrir a cabea com um bom chapu
seria tratado de senhor ou senhor ta.')l
97
da
Desde que tirara a barba e jogara fora o camrsolo de penrtente, parecia que ele and ara fazendo uma limpeza tambm
das idias: deixara o exagero das rezas e a mania de entender
claro que novos ventos sopram livremente na cabede outras latitudes, de outros
a do Conselheiro, ventos vindos
rempos. O voluntrio anacronismo do autor funciona no apetamnas no senrido da moderniz ao do personagem; funciona
(l
()2
I
l
r.
Idem, p. l?5.
Ibidem.
trdem, pp. 46-7.
ldem, p. I47.
Idem, p. I49.
((t
Idem, p. 145.
(/'5
98
'
A
heterogeneidade esrapafrdia de seus inregrantes evidencia
inviabilidade de, a parrir desse grupo, fundar-se uma comunidade estvel. por sua vez) mnto o local escolhido a serra imade dois
grnrra de Iradmund - quanro o momenro - a esquina
sculos constituem um no-lu gar e um no-tempo. Aparenteda
mente, de novo nos encontramos no domnio da utopia e
o
ucronia, fora da Hisrria e denrro da pura fantasia. Por isso
demo
projeto no pode dar certo e Canudos, mais uma vez,
lido: ,.E a rerra, o cho onde foi a Concorrncia de ltadmund,
uma indstria
, agora depsiro de lixo, a6mico adminisrrado por
louCoS
ldem, p. 155.
er
Idem, p.
54.
99
instabilidade.
Trefa de Ssifo, os projetos da escrita de uma histria dos
;:l::: :
; ?: 1
j :
: I ffij:
uma idealidade esttica criada do nada. Na verdade, a narativa histrica comporta elementos e procedimentos da elaborao ficcional, assim como a fco reelabora componenres derivados de fontes histricas. Em vez de confrontos polarizadores
e vrtices excludentes, tento me situar no rerreno hbrido das
confluncias.
o imediaro,
agora
t0t
100
melhor
gir farhas e preencher racunas.
o
a ficcionalidade e tampouco
hisroricidade no esrrangula
se torrro. A lio de Machado
documenrrio sufoca o imagin
Vale sumariamente recapitular'
nou mais arual do que antes.
reromando estudos de lvo Barbieri'l00
a histria uma eterna
Desde Brs cubas, paa quem
at' Memorial de
loureira, volvel como o personagem-narrador,
de disranciamento crtico em
Aires, Machado adorou posrura
ao
de avanar por t""-: domnios
rerao Histria, sem deixar
e
seu romance mais explcita
fazer fico. de Esa e Jac,
as
aconrecimentos histricos e
diretamenre arriculado com os
e
cobre o declnio do Imprio
inrrigas porticas do perodo que
"H, nos mais graves
o advenro da Repbrica, esra reflexo:
que se perdem, outros que
acon[ecimentos, muitos pormenores
a
os perdidos, e nem por isso
aimagin aoinventa para suprir
morre a fico' posso
Histria morre!".101 Nem por isso
Machado de Assis, que falava
machadianamente acrescentar.
bem o alcance de suas palavras'
srio atravs da ironia, media
'alcan
expressionais'
ara dos meios
sabia, pelo domnio que
Mas este' como aquela'
que a imaginao se nutre do real.
por isso, quando olhava para os acontecitambm se move.
nem se
!ed1h1 1u""
menros, no passeava sua ,rrp",fcie'
corriquelros; e, vez
comportamentos
observar
ao
de convenes
por outra, mergulhava fundo "n !:tt*"l:":perso"u.*"lrt
E assim que os slnal ::
dissecar-lhes a mente e o corao'
signifcados consistentemenrempo so adensados na rrama de
por um norte prprio, a fico
re arricurados enrre si. orientada
com os determinismos que
machadiana no se compromereu
rargo de cientificismo e
dominavam o scuro, pssando ao
acontecimentos de
hisroricismo. Mesmo quando restemunha
r00
ror
P.
uma
atitude de sobranceria, como a de algum que se projetasse
paa alm das contingncias factuais da His trra. O Conse-
-[oo,
ffi: J:
:J;:"il:;"
Jn ;:"#::":
" ffi;:::
"
O sineiro Joo tem algo de intrigantemenre enigm tico, como o Conselheiro Aires, que atravessa, imperturbvel, a
narrativa de Esa e Jac. Mesmo quando o mundo parece desabar sua volta, quando as vicissitudes da Histria abalam
ffentes e coraes, o narrador flutua acima das paixes. A sonata
que Flora dedilha ao piano na noite de 15 de novembro, dia
agicado com a derrubada do Imprio e a proclamao da Repblica, expressa a ambigidade em termos da idealidade combinada com a hora presente. "A sonata traza a sensao da falta
absoluta de goveroo, a anarquia da inocncia primitiva", coffenta o narrador machadiano, depois de registrar que, no
havendo governo definitivo, quando muiro, ra haver um go-
t02
do provisrio com o
verno provisrio.r02 o enrrelaamento
significados o momento
primordiar e o duradouro adensa de
e da
na forma rrans-histrica da sonata
hisrrico, perperuado
e Jac, cruzando os fios
narrariva fccionar. A trama de Esari
altza acon[ecimenda Histria com os da fico, reconrextu
A Histria no consros, arribuindo-lhes novos significados.
nem se anula com a
rirui barreira imagin ao do frccionisra,
da Histria com a
intromisso desra. Na verdade, as relaes
contra pergaminho, pois a
fico so confronros de pergaminho
palavra escrim' EmpeHistria no comea nos fatos, mas na
elementos do discurso
nhado em iluminar a distino enrre
Hayden white saficcional e elemenros do discurso histrico,
do que se poderia
lienm que a Histria perrence categoria
,.o discurso do real" contra "o discurso do imagin ro"
chamar
que ' a narraou ,.o discurso do desejo". Mas, ao argumenmr
que estes no so
tiva a dar significado aos eventos reais, e
so lembrado.sf e porque
reais porque aconteceram mas porque
orden ada, no
podem enrrar numa seqncia cronologicamenre
do texto' concepconsegue deslindar a Histria da imanncia
seguince:
enfaticamente acentuada na proposio
o
motivo para o
de eventos possam ser imaginadas, no h
de oferecer o rehistoriador se considerar com autoridade
aconteceLl. A autorilaro verdadeiro daqr-rilo que realmenre
prpria realida narrariva hisrrica , a auroridade da
dade
realidade e'' desse
dade; o relato histrico d forma a esta
a seLl procesmodo, torna-a desejvel mediante a imposio'
as histrias possllem'r,'i
so. da coerncia formal que somente
roz
r03
ldem, p. 154.
WHITE,, Hayden.
H
is to
1987, p. 20.
the Fortn
Press,
Baltimore: The Johns Hopkins UniversitY
His tria
t03
como
I05
I ()(r
1989.
r04
fccional de Machado de
do scuro xlx parpita no universo
rza, pode-se avanar a hipteAssis e, sem intuito de polem
da poca foi capaz de tamanha
se de que nenhum historiador
brasireira, podem-se
poeza. E, na fico conrempornea
do continuidade tradio
idenrificar vrias maneiras que
se encon trar, depois de Marmachadiana; mas difcilmenre
ourro da envergadura de
ques Rebero e Nerson Rodrigues,
penet a' com agudo olhar'
um Rubm Fonseca. Este soube
desvelando suas cona comprexidade da sociedade carioca,
de Romance negro (1992)
rradies, misrias e grand ezas.
,,A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro", relato-poema
, Epifnio, que ilustra
de um andarlho cujo nome revelador
Afasmdo do romancebem a concepo ficcionar do auror.
e do romance biogrf rco
reporragem, do romance aregrico
nos anos 70, Rubem consconfessionar, formas dominantes
real cuja verdade ' funrri narrarivas insrauradoras de um
de enredo e linguagem dos mundos
o da consistncia
a vocao de "historiaimaginados . Agosro (1990) confirma
Hisrria ficcional rzada ' o
dor,, de nosso romancisra, pois
resumir e condensar cocema do rivro. A capcidade de
romance, como vimos em
muns mnto Histria quanto ao
Nessa narrariva em que
veyne - aqui se rearrzaem prenitude.
textual' surge
contracenam no mesmo espao
o real e o possvel
. No obstante
t05
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3
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{o.
2
\
I
grvezo
80
balano da produo ficcional dos anos
julg-lo antes
e 90 no seja excepcionalmenre animador. Mas
no se pe
do fim seria querer dar como conclusivo o que
por certo, no posso prever o ponto de
seno como provisrio.
passos da quilomeachegada, eu que nem computei todos os
preparado pela
gem rod ada. o rom de caurela pode rer sido
ponderao de SchoPenhauer:
comprar tambm
Seria bom comprar livros se pudssemos
a compra
confunde
o tempo paa l-los, mas, em geral, se
qLre
de livros com a apropriao de seu contedo. Esperar
que
esperar
algum tenha retido tudo o que j leu como
comeu. Ele vive de um
tudo o que
i
carregue consigo
e assim se tornou o
espiritualmente
ourro
do
fisicamente,
que lhe '
que ,. contudo, assim como o corpo assimila o
"intereshomogneo, cada um de ns "retm" o que lhe
pensade
sistema
seu
sa,,, ou seja, aquilo que convm a
mentos ou a seus objetivos'loe
dos
Os caminhos percorridos no esforo de decifrao
parte da
signos de nosso tempo circunscrevem apenas uma
at, os dois
fco lirerria brasileira dos anos 70, 80 e 90, e
j
me foi dado
primeiros anos desre novo milnio. Mas o que
ver denuncia um Perfil.
rOe
CREPUSCULO
il0
CREPUSCULO DA MUDANA
DA MUDANA
registros de linguageffi'
combinao de mldplos
com a cultura de massa' com ^
dirogo cada vez mais intenso
do
associado s oscilaes
rradio lirerria, com a hisroriografia,
f,rco
inrerferiram no feitio da
gosro e s fluruaes do mercad;,
relevantes
a ponto de determinar traos
conrempornea no Brasil
oculta
que o discurso narrativo no
de seu hibridismo. .-rro
outras
com
que dentro dele se esmbelece
mais o inrercmbio
reitura de narativas
A impresso que nos "ixa a
a atores que representam'
recentes , a de estarmos assistindo
o evoluir de personagens
em vez de estarmos acompanhando
de vida. No show que
que revelassem profundas experincias
cenas de outros espetculos:
no pode paa, encartam-se
hibridis*or, miscigenaes'
transforma
rf
F$, rfii+1f
encenaes'
ir
ill
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da esccica rundada
il3
Paz, op.
il4
Ibidem.
Idem, p.
t.5
1,?0.
tlc rtt: vcrdade histrica, experimentam o fas) tlt's('tt(':ttlt'rttlo ltclo clcsejo de conhecimento, ao mesmo
l('lllf ro (lll(', :tliq':rtllr rt t",t't,t>, 1-rlcnl a descoberto a ratz de que
',(' llllll(' r Pl:tzt't tlo t'xislit.. No ltlatro crtico, o episdio amof r)"(r rf llr' t'ttlt't;t lt;lll:ttlot c
l)('sr;rrisltcl()r:.1 cxplicita a motivao
rlu{' ntn\ r' l.,rln: (}\ l}(.t\()nitl,(.n.\: it rlc:lttlttttllt Clfl ValOf dO tfaba_
llr" I ',('ll lft,,rlttl., ( ) lr'\',rrrl:un('nro tlc lrillritcscs, r cata de
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,,,t,ttrtirl:rrlt.. l,il)Cftlts CIC
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Itl'll'lil'lll"lll,,
il t 1r lllil lrr,llt n, ,'r, llllrlo rl;t ('ontl)('ti'lro rlo tcrcaclo. Reveslf ttrl, ,1, \ ll,rlr,l,t,lt' , lt,tlr;tllrr rrrlr:lrrt:tultl, l)cssotti
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ganha sabor tempel)tlt
' Itttl(
l'trl, rlt' r'llll',lll;l
l)('nsrutcrt() rttitrcraclor de origens , de
llll'llt'\lo', (' rlt' f()l-'.() ttt:tltlilrgtisticct, no circunscrito aos inir t'trlo" rl:ts l,t'llrls. A tlttria para especialistas
servida a
1trrlrltt os lul() (:spc:cirrlizados. Neste ponto Lutz Costa Lima
(lrr('lrr ll(' ocrccc., sob fbnna de hiptes c,3
nota de afinao do
rrlt u r r( ) ('( )r l)ls.s() con os precedentes:
l('('ottslitrri'rro
( llll(
A litcratLlra altamente
CREPUSCULO
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Referncias
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Devo e agadeo a
Antnio Celso Alves Pereira,
Celeste Varella,
Dau Bastos,
Flora Sssekind,
Rosania Rolins e
Silviano Santiago.
proximidade. Na verdade, o
pr.Ori tuturo da fiteratura Pa-
iece indissoluvelmente
Por fim,
a antiga
asso-
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contempornea. Therezinha
Barbieri desenhou um maPa:
viagem intrigante que no
podemos recusar.
Joo Cezor de Cos
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