Texto - o Lazer No Brasil
Texto - o Lazer No Brasil
Texto - o Lazer No Brasil
Christianne Gomes
Leila Pinto
c
e
O lazer no Brasil
Analisando prticas culturais
cotidianas, acadmicas e polticas
Este texto apresentado em trs partes. Na primeira, contextualizamos o lazer no Brasil, considerando mudanas histricas ocorridas da
recreao ao lazer, do sculo 19 aos dias atuais. Na segunda, procuramos
compreender e analisar identidades, conceitos, sentidos e significados
atribudos ao lazer pelos pesquisadores e gestores estudados. Finalizando, na terceira parte do trabalho discutimos a questo das polticas,
das experincias vividas em prticas culturais cotidianas, de formao
e de interveno profissional, revelando a importncia que o lazer tem
tido na vida do povo brasileiro.
Livro 1-lazer.indb 67
26/11/2009 15:53:01
c
to
m
ti
q
68
Livro 1-lazer.indb 68
26/11/2009 15:53:01
Brasil
69
Livro 1-lazer.indb 69
26/11/2009 15:53:01
70
Nesse contexto, acreditava-se que o tempo vago era nocivo ao desenvolvimento social, devendo ser preenchido com atividades recreativas
consideradas saudveis, higinicas e moralmente educativas. Complementando a funo da escola, a recreao foi considerada imprescindvel
para que a criana no ficasse ociosa e no sofresse a influncia malfica da rua.6 Estratgia essa que, segundo Kishimoto,7 representou uma
das maneiras de desmoralizar a rua com vistas a institucionalizao
de prticas culturais recreativas em espaos fechados, supervisionados
e orientados. Esse sentido foi difundido como um recurso educativo
extraescolar, parte integrante das polticas pblicas desenvolvidas em
algumas cidades brasileiras, destacando-se os projetos pioneiros de
Porto Alegre e So Paulo.8
Na cidade de Porto Alegre, as atividades recreativas foram organizadas segundo orientaes trazidas dos Estados Unidos da Amrica
do Norte pelo professor de educao fsica Frederico Gaelzer, que se
qualificou naquele pas a partir das aes realizadas pela Associao
Crist de Moos (ACM), entidade conhecida internacionalmente
pela sigla YMCA (Young Mens Christian Association).9 Influenciado pelo modelo norte-americano, Gaelzer considerava que o poder
pblico deveria implantar jardins de recreio ou praas de esportes nas
cidades, atendendo s necessidades de recreao da populao brasileira.
Livro 1-lazer.indb 70
26/11/2009 15:53:01
Brasil
71
Por essa razo, o Servio de Recreao Pblica foi criado pela prefeitura
da cidade de Porto Alegre em 1926 e, posteriormente, implantado em
todo o estado do Rio Grande do Sul.10
Livro 1-lazer.indb 71
26/11/2009 15:53:01
72
Livro 1-lazer.indb 72
26/11/2009 15:53:01
Brasil
73
Livro 1-lazer.indb 73
26/11/2009 15:53:01
74
empreendimentos ultrapassou o mero divertimento, com amplos resultados. Era (e em alguns casos ainda ) uma estratgia social, cultural,
educativa e poltica de ocupao e controle do tempo de no trabalho
por meio da difuso de aes assistencialistas de recreao orientada,
promotoras dos pacotes de atividades carregados do sentido de doao,
como discute Pinto.17
Livro 1-lazer.indb 74
26/11/2009 15:53:01
Brasil
75
Livro 1-lazer.indb 75
26/11/2009 15:53:01
76
Nesse sentido, ampliando o atendimento de crianas e da populao trabalhadora, importante destacar que, no final da dcada de
1950, a partir de aes estatais foi promovida a Campanha de Ruas de
Recreio, que mobilizou atividades esportivo-recreativas em ruas e praas
das cidades.22 Como destaca Pinto, as Ruas de Recreio, posteriormente
chamadas de Ruas de Lazer, foram difundidas a partir de 1958 e at
hoje representam o modelo de poltica pblica de lazer adotada pela
maioria dos setores pblicos municipais e estaduais brasileiros.23 Foi,
assim, difundido o sentido de poltica de lazer como ao setorizada,
institucionalizada e marcada pela promoo de eventos espordicos,
como pacotes de atividades determinados por gabinetes tcnicos e
polticas de doao de materiais e equipamentos, sem uma preocupao
com o nvel da participao dos sujeitos nas atividades vividas. Nessa
poca, ampliaram-se tambm as secretarias municipais e estaduais de
Esporte e Lazer do pas, consagrando a rea da educao fsica como o
principal difusor das polticas brasileiras neste mbito.24
Livro 1-lazer.indb 76
26/11/2009 15:53:01
Brasil
77
Livro 1-lazer.indb 77
26/11/2009 15:53:01
78
Livro 1-lazer.indb 78
26/11/2009 15:53:01
Brasil
79
Livro 1-lazer.indb 79
26/11/2009 15:53:01
80
Livro 1-lazer.indb 80
26/11/2009 15:53:01
Brasil
81
17, 20, 25) e do samba (E. 20, 25). No conjunto das respostas obtidas, os
esportes (E. 2, 3, 7, 8, 10, 19, 20, 22, 25, 26) se destacaram, assim como as
tecnologias da informao e comunicao, TV e internet (E. 2, 7, 10, 11, 18,
22, 25), a praia (E. 1, 6, 9, 20, 25), os jogos e as brincadeiras (E. 3, 4, 11,
15), as expresses corporais (E. 9, 15, 22), os clubes sociais (E. 9, 11, 14), o
turismo (E. 2, 11, 12), o cinema (E. 16, 25), a capoeira (E. 1, 20), os espetculos (E. 27), as celebraes religiosas (E. 23), as caminhadas (E. 12) e a
literatura (E. 16).
O Brasil, assim como os demais pases da Amrica Latina e de outros
continentes, constitudo de povos de origens diversas. Ou seja, um
pas multicultural. Nossos povos tm suas razes em todos os pontos do
globo, desde a Europa, frica, sia e obviamente a Amrica. So vrias
as diferenas regionais, urbano-rurais, culturais, tnicas e religiosas que
marcam a territorialidade brasileira.
Por isso, sabemos que as origens de algumas das atividades culturais registradas pelos especialistas, tais como o futebol e o carnaval,
remontam a contextos bem distintos do nosso. Porm, foram apropriadas
e ressignificadas no Brasil, revelando a multiplicidade tnica, racial e
de nacionalidade, entre outras, que marcaram e marcam a miscigenada
populao deste pas. Tambm as manifestaes culturais como o samba
e a capoeira possuem razes africanas cujo surgimento est relacionado
ao Brasil. Seja como uma possibilidade de resistncia dos negros escravido, no caso da capoeira, ou como um gnero musical e tipo de dana
o samba , ambas realam a diversidade rtmica e corporal apreciada
pelos escravos e difundida por diferentes grupos socioculturais no Brasil
e em outros pases.
Em outras palavras, cada atividade cultural est inscrita em uma
trama de relaes sociais, polticas, pedaggicas, econmicas, artsticas
e ambientais, entre outras, que muito revelam sobre um determinado
contexto e sobre as pessoas que nele vivem.
De fato, podemos dizer que as vrias experincias culturais citadas
anteriormente so muito difundidas no Brasil. Contudo, at que ponto
poderamos afirmar que elas constituem a identidade brasileira? Que
identidade essa? Existe uma identidade nica?
Livro 1-lazer.indb 81
26/11/2009 15:53:01
82
Tomemos o carnaval, como exemplo, para analisar esses questionamentos. Para os brasileiros, as tradicionais experincias carnavalescas populares podem ser familiares, como as antigas marchinhas de
carnaval, cantadas pelo povo vestindo fantasias e usando suas mscaras
nas ruas ou nos sales, ao som das bandas musicais e chuva de
confetes e serpentinas. Essas prticas culturais, embora persistam, so
cada vez mais raras no Brasil e desconhecidas por boa parte da populao. Nos dias de hoje muitas pessoas conhecem apenas os espetculos
produzidos profissionalmente e difundidos pelas mdias, que fazem do
carnaval brasileiro um produto de exportao capaz de alcanar, simultaneamente, desde pequenos municpios brasileiros at os vrios pases
do mundo globalizado em que vivemos.
Nas grandes cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Recife, por
exemplo, apesar de encontrarmos formas distintas de se brincar o
carnaval, verificamos que as prticas carnavalescas mais difundidas so
as mais comerciveis. O carnaval uma experincia considerada tpica
do Brasil, mas, a cada dia, vai sendo ressignificado, visualizado e tratado
como um rentvel produto da chamada indstria cultural do entretenimento.
O mesmo vale para o futebol, compreendido e vivenciado tanto
como uma brincadeira de amantes dessa experincia corporal, quanto
como um esporte profissionalizado que representa um lucrativo negcio
capaz de atrair a ateno (e dividendos) no apenas de brasileiros, mas
de admiradores de todo o planeta.
Livro 1-lazer.indb 82
26/11/2009 15:53:01
Brasil
83
Assim, o imaginrio social na sociedade contempornea fortemente influenciado pelos meios de comunicao e pelas novas tecnologias. Essa pode ser uma das razes pelas quais a TV e a internet
tenham sido apontadas, por vrios especialistas que participaram deste
estudo, como atividades que configuram o lazer no Brasil. Mesmo que
a chamada excluso digital seja uma realidade, na Amrica Latina o
Brasil o pas que mais tem acesso ao mundo virtual. A TV, por sua vez,
representa a opo de lazer mais presente no dia a dia de brasileiros de
todas as faixas etrias e grupos sociais.42 Vejo, cada vez mais presente
no cotidiano (embora ainda pouco na pesquisa sobre o lazer), o campo
das tecnologias de informao e comunicao. (E. 10)
Como enfatizado no depoimento acima, na sociedade contempornea vivemos o tempo dos fluxos de informaes, conhecimentos e
imagens aparentemente construdos de formas interdependentes, como
pondera Alves.43 Segundo a autora, essas caractersticas introduzem
novas estruturaes sociais quanto s relaes entre os indivduos e
novas formas de agrupamentos, provocando maneiras diferentes de se
situar nos tempos e espaos, e produzindo um novo desenho para a
sociedade. Um bom exemplo so as mudanas provocadas pelas TVs a
cabo e pela internet, que rompem fronteiras (mesmo que virtualmente),
possibilitando novas interaes e construes dos sujeitos com o tempo
Livro 1-lazer.indb 83
26/11/2009 15:53:01
84
Nesse sentido, identificamos no Brasil um claro exemplo de hegemonia em termos de produo cultural televisiva. A principal emissora brasileira de TV chega a praticamente todos os 5.400 municpios
do Brasil, aproximando-se da marca de 100% de alcance. Contudo, o
sinal emitido para essas cidades das pequenas zonas rurais s reas
mais urbanizadas e desenvolvidas gerado exclusivamente no Rio de
Janeiro, difundindo em todo o Brasil (e at mesmo para outros pases)
determinados valores, ideologias, vises de mundo e compreenses de
lazer prprias daquela realidade, colaborando com o xito dos projetos
polticos de uma sociedade com a qual a emissora se encontra comprometida.
Pelo apresentado, observamos que muitos e instigantes so os desafios que perpassam a complexa temtica das identidades do lazer no
Livro 1-lazer.indb 84
26/11/2009 15:53:01
Brasil
85
Neste contexto, diversos eventos cientficos contriburam para mobilizar o aprofundamento de conhecimentos sobre o lazer. Um evento de
grande repercusso foi o Seminrio sobre o Lazer: Perspectiva para uma
Cidade que Trabalha, realizado em 1969, em So Paulo, por meio da
parceria estabelecida entre a Secretaria do Bem-Estar Social e o Servio
Social do Comrcio de So Paulo (SESC-SP). A repercusso obtida
na ocasio foi repetida em diversos eventos sobre o lazer realizados nos
anos seguintes. Alm dessa iniciativa, em novembro de 1974 ocorreu,
em Curitiba, o primeiro Seminrio Nacional do Lazer e, em 1975,
o primeiro Encontro Nacional de Lazer, no Rio de Janeiro. No ano
Livro 1-lazer.indb 85
26/11/2009 15:53:01
86
Livro 1-lazer.indb 86
26/11/2009 15:53:01
Brasil
87
Medeiros, Requixa e Gaelzer,48 entre outros, foram alguns dos estudiosos brasileiros que se dedicaram s reflexes sobre o lazer nessa poca.
Segundo Marcellino,49 a produo terica brasileira nesse momento
histrico baseou-se, sobretudo, no pensamento estrangeiro.
A partir de meados da dcada de 1980 as produes de alguns
autores forneceram contribuies significativas para o estudo do lazer, o
que coincide com o processo de redemocratizao do Brasil e da busca
dos conhecimentos produzidos em outros pases. A primeira obra de
Camargo50 teve grande difuso no Brasil. A de Marcellino,51 por sua vez,
representa uma importante referncia para os estudos do lazer no pas,
considerando o volume de sua produo e a citao de suas publicaes,
especialmente a partir da dcada de 1990.
Foi nessa ltima dcada do sculo 20 que a visibilidade do lazer
enquanto campo de vivncias, de estudos e de intervenes cresceu consideravelmente no pas. Depois de anos sendo alvo de poucas embora
importantes reflexes sistematizadas, nesse perodo observamos que
o lazer passou a ocupar espaos significativos nos jornais, revistas de
informao geral e no mundo acadmico como um todo, com destaque
para a formao de grupos de pesquisa advindos de diversas reas de
conhecimento, a realizao de eventos cientficos ligados ao assunto e o
aumento do nmero de publicaes. Segundo Gomes e Melo,52 algumas
iniciativas podem ser destacadas.
Livro 1-lazer.indb 87
26/11/2009 15:53:01
88
Livro 1-lazer.indb 88
26/11/2009 15:53:01
Brasil
89
livros, defendidas monografias de graduao e especializao, dissertaes de Mestrado e teses de Doutorado. Centros de estudos e pesquisas
sobre o lazer so constitudos em vrias instituies, vinculados principalmente a universidades; investigaes so promovidas por rgos de
fomento pesquisa cientfica e por programas governamentais, como a
Rede CEDES, coordenada pelo Departamento de Cincia e Tecnologia
da Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer do
Ministrio do Esporte.
Sobre esse aspecto, fundamental salientar que, em dezembro de
2008, foram identificados na base de dados do Conselho Nacional de
Pesquisa (CNPq) principal rgo de fomento pesquisa cientfica no
Brasil mais de 150 grupos de pesquisa que definiram o lazer como
uma palavra-chave das produes cientficas da equipe.55
Livro 1-lazer.indb 89
26/11/2009 15:53:02
90
Livro 1-lazer.indb 90
26/11/2009 15:53:02
Brasil
91
Livro 1-lazer.indb 91
26/11/2009 15:53:02
92
Livro 1-lazer.indb 92
26/11/2009 15:53:02
Brasil
93
Livro 1-lazer.indb 93
26/11/2009 15:53:02
94
Por isso, necessrio dedicar especial ateno formao de profissionais do lazer comprometidos com o processo de construo do saber,
que questionem a realidade, perguntem pelo sentido de sua atuao,
assumam uma atitude reflexiva face aos processos sociais e s contradies de nosso meio, fazendo do lazer no um mero (e alienante) produto
a ser consumido, mas uma possibilidade ldica, crtica, criativa e significativa a ser vivenciada com autonomia e responsabilidade. Ressalta-se,
nesse processo, a importncia do conhecimento profundo da realidade, o que demanda uma slida fundamentao terico-prtica e
uma consistente instrumentalizao poltico-pedaggica por parte
dos profis-sionais em formao, permitindo o empreendimento de
aes sobre o lazer que sejam coerentes no contexto em questo.61
Livro 1-lazer.indb 94
26/11/2009 15:53:02
95
Brasil
Livro 1-lazer.indb 95
26/11/2009 15:53:02
96
Essa compreenso foi, durante muito tempo, relacionada ao pensamento terico de Joffre Dumazedier, cujo conceito de lazer foi utilizado
como referncia para estudos no Brasil e em outros pases. De acordo
com o autor, o lazer
um conjunto de ocupaes s quais o indivduo pode entregar-se
de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e
entreter-se ou, ainda, para desenvolver sua informao ou formao
desinteressada, sua participao social voluntria ou sua livre capacidade
criadora aps livrar-se ou desembaraar-se das obrigaes profissionais,
familiares e sociais.63
Livro 1-lazer.indb 96
26/11/2009 15:53:02
Brasil
97
Faleiros64 chamou a nossa ateno para as inconsistncias, incoerncias e fragilidades dessa definio de lazer. A autora salientou que
Dumazedier procurou explorar as implicaes do que considerou como
lazer sem, no entanto, compreender a dinmica social que permite a
sua manifestao em nossa sociedade. Para ela, Dumazedier pretendeu
construir um conceito operacional cuja utilizao, no mximo, implica o
preenchimento do tempo de lazer por atividades que atenderiam s suas
caractersticas, sem, entretanto, conseguir explic-las. Dessa maneira,
o lazer seria um invlucro vazio a ser preenchido com determinadas
atividades cuja importncia est vinculada ao atendimento das necessidades de descanso, divertimento e desenvolvimento da personalidade.
Dumazedier define o lazer em oposio ao conjunto das necessidades
e obrigaes da vida cotidiana, especialmente do trabalho profissional,
interpretao passvel de questionamentos. Trabalho e lazer, apesar de
possurem caractersticas distintas, integram a mesma dinmica social e
constituem relaes dialticas. preciso considerar o dinamismo desses
fenmenos, atentando para as inter-relaes e contradies que apresentam. Afinal, no vivemos em uma sociedade composta por dimenses
neutras, estanques e desconectadas umas das outras, como o conceito de
lazer proposto pelo autor nos faz pensar.65
Livro 1-lazer.indb 97
26/11/2009 15:53:02
98
Analisando as diferenas conceituais entre alguns estudiosos brasileiros do lazer, verificamos uma tendncia em compreend-lo como
uma dimenso da cultura. Ao chamar a ateno para a importncia de
se considerar o lazer pelo prisma da cultura, Marcellino69 deu um passo
fundamental para uma compreenso mais contextualizada do lazer no
Brasil.70
Livro 1-lazer.indb 98
26/11/2009 15:53:02
Brasil
99
Nessa perspectiva, os olhares sobre o lazer so diferentes e complementares. Cada pesquisador pode adotar um ponto de vista distinto
para compreender o lazer. Marcellino,74 por exemplo, entende o lazer
como cultura vivenciada (praticada ou fruda) no tempo disponvel das
pessoas. O importante, como trao definidor, o carter desinteressado dessa vivncia, pois nela no se busca, fundamentalmente, outra
recompensa alm da satisfao provocada pela situao. Para o autor, a
disponibilidade de tempo significa possibilidade de opo pela atividade
prtica ou contemplativa em um tempo disponvel que, por sua vez,
implica liberao das obrigaes de diferentes naturezas. Alm disso,
o autor observa que o lazer um fenmeno historicamente situado, do
qual podem emergir valores questionadores da ordem moral e social
estabelecida.
Livro 1-lazer.indb 99
26/11/2009 15:53:02
100
26/11/2009 15:53:02
Brasil
101
26/11/2009 15:53:02
102
lazer, massificao, ao consumismo (decorrentes da alienao na apropriao da indstria cultural do entretenimento) e ao desenvolvimento
de polticas de lazer de controle dos sujeitos.
26/11/2009 15:53:02
Brasil
103
26/11/2009 15:53:02
104
Nesse mesmo contexto ocorre o impressionante avano do capitalismo, que provocou a disseminao do lazer veiculado pela indstria
26/11/2009 15:53:02
105
Brasil
Essa discusso coloca em pauta o provimento dos direitos dos cidados, destacando a importncia das polticas conceberem o desenvolvimento no somente como possibilidade de crescimento econmico,
considerando mediaes entre o econmico, social, ambiental e humano
com vistas melhoria da qualidade de vida da populao e universalizao do acesso aos bens e servios oferecidos.
Entretanto, ao lado de ganhos a favor da cidadania e da participao
como um dos seus princpios importantes para assegurar a continuidade
das demandas e a sustentabilidade de aes, no Brasil ainda lidamos
com dificuldades para assegurar a universalizao do acesso ao patrimnio cultural de lazer socialmente produzido em nosso meio.
26/11/2009 15:53:02
106
26/11/2009 15:53:02
Brasil
107
eles realizadas. As estruturas colegiadas de gesto so espaos de consolidao dessa integrao. A flexibilizao e agilizao dos procedimentos
de gesto ampliam condies de valorizao das aes, replanejamento
e adequao dos processos e alcance dos resultados pretendidos. O
monitoramento e a avaliao das aes realizadas contribuem com a
qualificao da gesto e da proposta. A gesto da informao no lazer
(determinao das necessidades, obteno e processamento, distribuio e uso da informao) mostra-se, ainda, como um fator limitante no
desenvolvimento da rea. (E. 1)
26/11/2009 15:53:02
108
As duas outras estratgias definidas pela SNDEL so: (3) informao, investindo na poltica de documentao, informao e preservao do patrimnio histrico do esporte e lazer articulada pela gesto
do conhecimento com vistas a subsidiar e qualificar polticas pblicas,
sistematizando e difundindo conhecimentos cientficos, tecnolgicos e
gerenciais, dando suporte a intercmbios nacionais e internacionais a
elas relacionados e construo de relaes entre esporte educacional,
de rendimento e de lazer; e (4) gesto compartilhada, por meio da consolidao de redes nacionais de gestores, legisladores, agentes comunitrios, pesquisadores e outros parceiros de aes sociais de esporte e lazer,
contribuindo com o desenvolvimento de ambiente favorvel, assim
como inovaes tecnolgicas e gerenciais necessrias implementao e
consolidao do Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
Assim, a incorporao de novos atores na arena poltica favorece
a democratizao, o fortalecimento da cidadania e a possibilidade de
novos arranjos institucionais para superao dos desafios postos s polticas de lazer fundadas no desenvolvimento social e humano. Desafios
que exigem tambm novos conhecimentos.
26/11/2009 15:53:02
109
Brasil
26/11/2009 15:53:02
110
Consideraes finais
Este texto teve como objetivo apresentar uma anlise sobre o lazer
no Brasil considerando, especialmente, algumas questes contextuais,
de fundamentos e de polticas pblicas. Os dados reunidos na investigao permitiram mais do que isso, pois contm fontes preciosas que
do pistas para outras interpretaes, at mesmo contraditrias. No
entanto, uma sntese pode ser extrada deste exerccio: experincias e
conhecimentos produzidos e socializados no Brasil tm despertado
pesquisadores, gestores e educadores para a humanizao do desenvolvimento social e cultural do lazer, processo revelador de complexidades,
diversidades e dinamismos diversos, inovadores, ou no, da nossa vida
cultural e poltica.
O lazer uma experincia que se renova nos contrastes da vida cotidiana, concorre para que homens e mulheres se humanizem e se reconciliem com a natureza, podendo contribuir para melhoria da qualidade
de vida de todos. (E. 3)
26/11/2009 15:53:02
111
Brasil
26/11/2009 15:53:02
112
Notas
1
A coleta de dados foi feita por meio da aplicao de um questionrio, contendo questes abertas,
que, em uma primeira etapa, foi validado por quatro especialistas (Dbora Machado, Hlder
Isayama, Olvia Ribeiro e Patrcia Zingoni). Na segunda etapa, foi enviado a outros 51 especialistas,
tendo sido respondido por 53% desse grupo, ou seja, 27, sendo eles: (1) Ana Rosa Fonseca da
Fonseca, (2) Antonio Carlos Bramante, (3) Augusto Csar Rios Leiro, (4) Celi Neuza Zulke
Taffarel, (5) Cludia Martins Ramalho, (6) Claudia Regina Bonalume, (7) Cristiane Ker de Melo,
(8) Edmur Antonio Stoppa, (9) Eloir Edlson Simm, (10) Giovani de Lorenzi Pires, (11) Gisele
Maria Schwartz, (12) Jos Clerton Martins, (13) Jos Guilherme Cantor Magnani, (14) Larcio
Elias Pereira, (15) Luiz Carlos Marcolino, (16) Luiz Gonzaga Godoi Trigo, (17) Luiz Octvio de
Lima Camargo, (18) Marco Paulo Stigger, (19) Nelson Carvalho Marcellino, (20) Rejane Penna
Rodrigues, (21) Ricardo Ricci Uvinha, (22) Silvana Vilodre Goellner, (23) Silvio Ricardo da
Silva, (24) Tereza Luiza de Frana, (25) Vnia de Ftima Noronha Alves, (26) Victor Andrade
de Melo e (27) Yara Maria de Carvalho. As consideraes desses especialistas (E) foram citadas
neste texto com a indicao (E. n), em que n corresponde aos nmeros acima.
GOMES, 2008.
Nos pases latino-americanos de lngua espanhola a palavra mais usual recreacin, porque o
termo ocio parece estar mais associado preguia e vadiagem, confundindo-se, assim, com o
sentido que os brasileiros atribuem ao termo ociosidade. Salvo excees, geralmente a palavra
26/11/2009 15:53:02
113
Brasil
cio compreendida dessa maneira no vocabulrio da lngua portuguesa tambm. Sobre este
aspecto, um especialista salientou que seria interessante ampliarmos a discusso sobre o conceito
contemporneo de cio que chega ao Brasil atravs da produo cientfica espanhola, sobretudo
da Universidad de Barcelona (Munn, Codina, Puig e Trilla etc.) e da Universidad de Deusto
(Instituto de Estudios de Ocio Prof. Cuenca e sua equipe), pois estes estudos retomam um
aspecto (subjetivo) do lazer que, ao meu ver, nossa produo anda relegando a um plano secundrio.
Trata-se de um mbito [para o qual] a contemporaneidade solicita ateno. (E. 12)
MARCELLINO, 1996.
GOMES, 2003.
MARINHO, 1957.
KISHIMOTO, 1993.
As experincias de Porto Alegre e So Paulo aqui mencionadas podem ser conhecidas com mais
profundidade a partir da tese de doutorado de GOMES (2003) disponvel no link: <http://
www.eeffto.ufmg.br/celar/?main=biblioteca&id=4> e tambm pelas pesquisas de mestrado
desenvolvidas por FEIX (2003) e MARCASSA (2002).
A YMCA foi criada em 1844 pelo ingls George Williams, que procurou despertar o esprito
altrusta dos cidados de sua poca por meio da fundao de uma instituio educacional,
assistencial e filantrpica, sem fins lucrativos, cujas aes seguissem a orientao crist e fossem
dedicadas formao integral das pessoas. Essa filosofia foi articulada como resposta s condies
sociais insalubres verificadas nas grandes cidades inglesas, decorrentes da nova dinmica social
instaurada, principalmente, com a revoluo industrial. Encontrando grande receptividade nos
Estados Unidos, em dezembro de 1851 foi instalada em Boston a primeira YMCA norte-americana e, 10 anos mais tarde, j havia 200 sedes espalhadas por todo o pas. A YMCA
difundiu-se rapidamente por vrios outros pases. Suas aes procuravam disseminar a f crist
em todo o mundo, incluindo homens, mulheres e crianas, independente de raa, religio ou
nacionalidade (GOMES, 2003).
10
GOMES, 2003.
11
O movimento pedaggico conhecido como Escola Nova colaborou para consolidar o jogo
com sentido educativo e a recreao como uma ao orientada, com vistas a superar as propostas
tradicionais de educao. Tais princpios foram amplamente propagados no Brasil por vrios
educadores (como GOUVA, 1949, 1963; MARINHO et al., 1955; SCHMIDT, 1960;
MEDEIROS, 1975; TEIXEIRA; MAZZEI, 1966) e integraram programas de ensino escolares,
cursos, publicaes e propostas polticas de interveno pedaggico-social, na maioria das vezes
vinculadas educao fsica.
12
LENHARO, 1986.
13
14
SUSSEKIND, 1946.
15
GOMES, 2003.
16
BRETAS, 2007.
26/11/2009 15:53:02
114
PINTO, 2008.
17
GOMES, 2003.
18
19
LINHALES, 2006.
20
GOMES, 2003.
21
PINTO, 2008.
22
23
Cabe ressaltar que foi tambm no final da dcada de 1950 que ocorreu a publicao do livro
Lazer operrio, de autoria de FERREIRA (1959). Muitos estudiosos brasileiros consideram que
esta foi a primeira publicao especfica sobre o lazer no Brasil. Embora seja uma obra de grande
importncia, no representa o primeiro estudo sobre a temtica no pas, pois desde as primeiras
dcadas do sculo 20 o lazer j vinha sendo estudado e debatido na realidade brasileira por alguns
educadores e lideranas polticas (GOMES, 2003).
24
25
semelhana dos processos polticos ditatoriais que atingiram vrios pases da Amrica Latina,
de 1964 a 1985, o Brasil viveu um longo perodo de regime de ditadura militar, poca de muitos
confrontos entre foras polticas e sociais. Censura, terrorismo, tortura e guerrilha foram algumas
das cicatrizes que marcaram o Brasil, sua populao e suas instituies. (FAUSTO, 2000)
26
SANTANNA, 1994.
27
MARCELLINO, 1987.
28
29
Seo III (Do Desporto), Artigo 217, no pargrafo 3 do item IV: O Poder Pblico incentivar
o lazer, como forma de promoo social. (BRASIL, 1988, p. 143)
26/11/2009 15:53:02
Brasil
115
30
31
GOMES, 2008.
32
PINTO, 2008.
33
No rumo da nossa Constituio, outras leis passaram a contemplar o lazer, tais como o Estatuto
da Criana e do Adolescente (Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, artigos 4 e 59); a Poltica
Nacional do Idoso (Lei n. 8.842, de 04 de janeiro de 1994, captulo IV); a Poltica Nacional para
a Integrao da Pessoa Portadora de Deficincia (Decreto n. 3.298, seo V), os ordenamentos
legais da sade (na Lei n. 8.080, no ttulo 1, artigo 3, o lazer posto como um dos fatores
determinantes e condicionantes da sade da populao, e na Lei n. 10.216, artigo 4, que dispe
sobre os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, destacado como um servio
obrigatrio no tratamento em regime de internao); e o Programa Nacional de Apoio Cultura
(PRONAC) que, no seu captulo I, define como parte dos seus objetivos captar e canalizar recursos
para o setor lazer. Ver COLETNEA DE LEIS, 2005.
34
TELES, 1999.
35
36
HALL, 1997.
37
HALL, 2003.
38
HABERMAS, 1994.
39
40
HALL, 2003.
41
42
GOMES, 2005.
43
ALVES, 2003.
44
HALL, 2003.
45
SANTANNA, 1994.
46
47
48
49
MARCELLINO, 1987.
50
CAMARGO, 1986.
51
MARCELLINO, 1987.
52
26/11/2009 15:53:02
116
53
Em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, o SESI promoveu dois cursos de
especializao lato sensu em Lazer, qualificando, presencialmente (1993) e a distncia (2005), seus
gestores de lazer atuantes em todos os Estados brasileiros e em Braslia Distrito Federal.
54
55
Alguns desses grupos de pesquisa sobre o lazer podem ser conhecidos atravs de seus sites na
internet: <http://lacecelar.wordpress.com/>; <http://grupoanima.org/>; <http://www.unimep.
br/gpl/>, entre outros. A relao completa dos grupos brasileiros de pesquisa pode ser obtida no
site: <http://www.cnpq.br/gpesq/apresentacao.htm>.
56
ISAYAMA, 2004.
57
ISAYAMA, 2004.
58
MARCELLINO, 2000.
59
PINTO, 2000.
60
61
GOMES, 2008.
62
MELO, 2004.
63
64
FALEIROS, 1980.
65
GOMES, 2004.
66
67
68
GOMES, 2008a.
69
MARCELLINO, 1987.
70
71
ALVES, 2003.
72
73
74
MARCELLINO, 1987.
75
GOMES, 2008a.
76
PINTO, 2007.
77
PINTO, 2004.
26/11/2009 15:53:03
Brasil
117
78
79
MELO, 1999.
80
MASCARENHAS, 2003.
81
BENEVIDES, 1996.
82
BAVA, 2002.
83
84
85
86
GIDDENS, 1993.
87
MAGNANI, 2000.
26/11/2009 15:53:03
118
Referncias
ALVES, Vnia F. N. Uma leitura antropolgica sobre a educao fsica e o lazer. In:
WERNECK, Christianne Luce Gomes; ISAYAMA, Hlder Ferreira (Org.). Lazer,
recreao e educao fsica. Belo Horizonte: Autntica, 2003. p. 83-114.
BAVA, Slvio Caccia. Participao, representao e novas formas de dilogo. In: SPINK,
Peter; BAVA, Slvio; PAULICS, Veroniza (Org.). Novos contornos da gesto local;
conceitos em construo. So Paulo: Programa Polis/FGV/ESESP, 2002.
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A cidadania ativa. So Paulo: tica, 1996.
BRASIL. Assembleia Nacional Constituinte. Constituio da Repblica Federativa do
Brasil. So Paulo: Tecnoprint, 1988.
BRASIL. Ministrio do Esporte. Poltica nacional do esporte. Braslia: Ministrio do
Esporte, 2005.
BRETAS, Angela. Nem s de po vive o homem: criao e funcionamento do Servio de
Recreao Operria (1943-1945). Tese (Doutorado em Educao) Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
CAMARGO, Luiz Octvio. O que lazer. So Paulo: Brasiliense, 1986.
COLETNEA DE LEIS. 2. ed. Belo Horizonte: Conselho Regional de Servio Social
6a Regio/MG, 2005.
DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. So Paulo: Perspectiva, 1976.
DUMAZEDIER, Joffre. Sociologia emprica do lazer. So Paulo: Perspectiva, 1979.
FALEIROS, Maria Izabel. Repensando o lazer. Perspectivas, So Paulo, v. 3, p. 51-65,
1980.
FAUSTO, Boris. Histria do Brasil. 8. ed. So Paulo: Edusp/Fundao para o desenvolvimento da educao, 2000.
FEIX, Eneida. Lazer e cidade na Porto Alegre do incio do sculo XX: a institucionalizao
da recreao pblica. Dissertao (Mestrado em Cincias do Movimento Humano)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.
FERREIRA, Accio. Lazer operrio; um estudo de organizao social das cidades.
Salvador: Livraria Progresso, 1959.
GAELZER, Lnea. Lazer: bno ou maldio? Porto Alegre: Sulina/Editora da
UFRGS, 1979.
GEERTZ, Clifford. Nova luz sobre a antropologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
26/11/2009 15:53:03
119
Brasil
26/11/2009 15:53:03
120
26/11/2009 15:53:03
121
Brasil
PINTO, Leila Mirtes Santos de Magalhes. Sentidos de significados de lazer na atualidade: estudo com jovens belo-horizontinos. Tese (Doutorado em Educao) Faculdade
de Educao, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.
PINTO, Leila Mirtes Santos de Magalhes. Vivncia ldica no lazer: humanizao
pelos jogos, brinquedos e brincadeiras. In: MARCELLINO, Nelson C. (Org.). Lazer e
cultura. Campinas: Alnea, 2007. p. 171-193.
PINTO, Leila Mirtes Santos de Magalhes. Polticas pblicas de lazer no Brasil: uma
histria a contar. In: MARCELLINO, Nelson C. (Org.). Polticas pblicas de lazer.
Campinas: Alnea, 2008. p. 79-95.
REQUIXA, Renato. O lazer no Brasil. So Paulo: Brasiliense, 1977.
REQUIXA, Renato. As dimenses do lazer. Revista Brasileira de Educao Fsica e
Desporto, n. 45, p. 54-76, 1980.
RODRIGUES, Rejane Penna. Construindo o esporte e o lazer numa perspectiva cidad.
In: PONT, Raul; BARCELOS, Adair (Org.). Porto Alegre, uma cidade que conquista: a
terceira gesto do PT no governo municipal. Porto Alegre: Artes e Ofcios, 2000.
p. 181-186.
SAHLINS, Marschall. Cultura e razo prtica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
SANTANNA, Denise B. O prazer justificado; histria e lazer So Paulo, 1969/1979.
So Paulo: Marco Zero/MCT-CNPq, 1994.
SCHMIDT, Maria Junqueira. Educar pela recreao; para pais e educadores. Rio de
Janeiro: Agir, 1960.
SUSSEKIND, Arnaldo. Trabalho e recreao. Rio de Janeiro: Ministrio do Trabalho,
Indstria e Comrcio, 1946.
TEIXEIRA, Mauro S.; MAZZEI, Jlio. Manual de educao fsica, jogos e recreao. 3. ed.
So Paulo: Obelisco, 1966.
TELES, Vera da S. Direitos sociais: afinal, do que se trata? Belo Horizonte: Editora
UFMG, 1999.
WERNECK, Christianne Luce Gomes; STOPPA, Edmur A.; ISAYAMA, Hlder F.
Lazer e mercado. Campinas: Papirus, 2001.
WERNECK, Christianne Luce Gomes. Recreao e lazer: Apontamentos histricos no
contexto da Educao Fsica. In: WERNECK, Christianne L. G.; ISAYAMA, Hlder
Ferreira (Org.). Lazer, recreao e educao fsica. Belo Horizonte: Autntica, 2003.
26/11/2009 15:53:03
26/11/2009 15:53:03
Brasil
Christianne Gomes
Leila Pinto
El ocio en Brasil
Analizando prcticas culturales
cotidianas, acadmicas y polticas
Este texto busca realizar un anlisis sobre el ocio*1en Brasil, construido desde la comprensin de sentidos y significados histricamente
constituidos en prcticas culturales cotidianas, acadmicas y polticas.
Dicho reto nos ha permitido identificar fundamentos, valores, dificultades y conquistas que marcan el trayecto de este fenmeno en la
realidad brasilea.
Esa perspectiva nuestra sintetiza los conocimientos organizados a
travs de una investigacin que articul informacin bibliogrfica y
dilogo con 31 expertos: estudiosos y gestores con reconocida actuacin en el campo del ocio en el pas.1
Este texto est presentado en tres partes. En la primera, contextualizamos el ocio en Brasil, considerando los cambios histricos ocurridos
de la recreacin al ocio, del siglo 19 hasta la actualidad. En la segunda,
buscamos comprender y analizar identidades, conceptos, sentidos y
significados atribuidos al ocio por los investigadores y gestores estudiados. A modo de conclusin en la tercera parte del trabajo discutimos
la cuestin de las polticas, las experiencias vividas en las prcticas culturales cotidianas, de formacin e intervencin profesional, deslindando
la importancia que se le ha dado al ocio en la vida del pueblo brasileo.
* En este texto se usar la palabra ocio (en espaol) como sinnimo de la palabra lazer (en
portugus).
26/11/2009 15:53:03
124
26/11/2009 15:53:03
Brasil
125
26/11/2009 15:53:03
126
realizadas con vistas a promover la diversin, especialmente las desarrolladas a partir de la actuacin de un educador profesional o voluntario.
26/11/2009 15:53:03
Brasil
127
calific en aquel pas a partir de las acciones efectuadas por la Asociacin Cristiana de Jvenes (Associao Crist de Moos), entidad conocida
internacionalmente por la sigla YMCA (Young Mens Christian Association).9 Influenciado por el modelo norteamericano, Gaelzer consideraba
que el poder pblico debera implantar jardines de recreo o plazas de
deportes en las ciudades, atendiendo a las necesidades de recreacin de
la poblacin brasilea. Por ese motivo, el ayuntamiento de la ciudad de
Porto Alegre cre el Servio de Recreao Pblica en 1926 y, despus, lo
implantaron en todo el estado de Rio Grande do Sul.10
26/11/2009 15:53:03
128
Menores Operrios, que funcionaban por la noche en los parques infantiles, y a partir del momento en que incluyeron a los jvenes trabajadores, pasaron a llamarse parques de juegos.
26/11/2009 15:53:03
Brasil
129
corolario sin el cual el descanso a que tenan derecho los obreros en sus
contratos de trabajo no pudiera alcanzar sus objetivos. De esta forma
se observa una preocupacin del poder pblico en controlar no solo los
momentos de trabajo, sino tambin el tiempo fuera de l.
Fue con esta intencin que tan pronto se promulg la CLT, en 1943,
se cre en Rio de Janeiro el Servio de Recreao Operria (SRO), que
proporcionaba, en distintos centros, recreacin organizada a la poblacin obrera, integrando las acciones del Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio. Instalaron esos centros de recreacin en barrios de gran
densidad obrera y, all, los trabajadores y sus familias encontraban,
gratuitamente, bibliotecas, discotecas, funcin de obras de teatro y
pelculas cinematogrficas, clases de canto, juegos de saln, gimnasia,
campos de ftbol, canchas de voleibol y baloncesto, adems de otras
opciones.14
Segn el autor antes mencionado y que fue el primer dirigente de
SRO las actividades fsicas y recreativas, debidamente desarrolladas
en los momentos de ocio de los obreros ayudaban a la recuperacin
del organismo debilitado por el modo de produccin industrial capitalista. A la recreacin cientficamente empleada y dirigida de manera
adecuada le correspondera restaurar el equilibrio biolgico entre el
espritu y el cuerpo, llevando a que los trabajadores se sintieran ms
felices. Por lo cual, era necesario entretener a los obreros con algo que
les posibilitara olvidar el ambiente de trabajo, aunque fuese por poco
tiempo. Esto les posibilitaba a los obreros y a sus familiares resignarse
ante la difcil realidad vivida, haciendo ms fcil promover la paz y la
armona social, presupuestos bsicos para el mantenimiento del status
quo anhelado no solo por la clase patronal, sino tambin por el gobierno
brasileo de aquella poca que, con este propsito, busc atraer
tambin a los gremios sindicales, ampliando el alcance de la propuesta.
En este mbito, muchos sindicatos incentivaron la participacin de
la poblacin obrera en las propuestas de recreacin organizada por
SRO, que anhelaba el deseo de abarcar todo el territorio brasileo, pero
que acab por delimitar su accin solo a Rio de Janeiro, que en la
poca era el Distrito Federal del Pas. Al final, los momentos de
26/11/2009 15:53:03
130
Obviamente, esas acciones posibilitaban momentos de diversin, alegra y ocio a los trabajadores y a sus familias a travs de diferentes actividades culturales, lo que fue muy bueno para los distintos
segmentos de la sociedad brasilea, en especial para las clases sociales
econmicamente menos favorecidas. Pero, segn la investigacin
realizada por Gomes15 y por Bretas16 sobre el SRO, el alcance de esos
emprendimientos rebas la simple diversin, con amplios resultados.
Era (y en algunos casos sigue siendo) una estrategia social, cultural,
educativa y poltica de ocupacin y control del tiempo del no-trabajo a
travs de la difusin de acciones asistencialistas de recreacin dirigida,
promotoras de los paquetes de actividades cargadas del significado de
donacin, como discute Pinto.17
A pesar de la intencin de mantener el control, no hay como negar
que muchas de las propuestas de recreacin desarrolladas en Brasil
entre las dcadas de 1920-1960 han contribuido a la diseminacin de
diferentes prcticas culturales, sobre todo entre los segmentos sociales
menos favorecidos. Aunque privados de condiciones dignas de existencia, estos grupos sociales tuvieron nuevas posibilidades de interaccin social y cultural. Muchas veces estuvo presente la preocupacin
en proporcionar bienestar a los que participaban de los programas de
recreacin fomentados por el poder pblico, que seguan los preceptos
vigentes en cada poca.18 Esos proyectos viabilizaron distintas condiciones (como infraestructura fsica, material y accin profesional calificadas en aquel contexto histrico) para que los segmentos populares
vivieran la experiencia en una multiplicidad de contenidos culturales
de la recreacin cuyas prcticas cotidianas, hasta aquel momento, se
reservaban tan solo a las clases favorecidas.
26/11/2009 15:53:03
Brasil
131
26/11/2009 15:53:03
132
En este contexto, sobre todo en las dcadas de 1950-1970, la poltica social brasilea se basaba en un modelo de desarrollo fundamentado en la accin y proteccin estatal el Welfare State brasileo ,
que incit los debates sobre la expansin global de la riqueza y renta
como una forma de perfeccionar las capacidades humanas, adems de
una condicin de acceder a los beneficios del llamado Estado de Bien
Estar. A esos debates se incorporaron discusiones sobre el papel del
Estado relacionado al desarrollo econmico y a las polticas sociales, y
sobre la reduccin de la accin del sector pblico estatal en las polticas
sociales y su reestructuracin. Se abrieron espacios para la organizacin
de los sistemas pblicos, o estatalmente reglamentados, en el rea de
bienes y servicios sociales bsicos y se ampliaron acciones con tendencias universalizantes, como las polticas de masa.21
As al ampliar la oferta a nios y toda la poblacin trabajadora, es
importante sealar que hacia el final de la dcada de 1950 a partir
de acciones estatales se puso en marcha la Campanha Ruas da Recreio
(Calles de Recreo), que brindaba actividades deportivo-recreativas en
las calles y plazas de las ciudades.22 Como resalta Pinto, las Ruas da
Recreio, despus llamadas Ruas de Lazer (Calles de Ocio) fueron difundidas a partir de 1958 y hasta hoy representan el modelo de poltica
pblica de recreacin y ocio adoptada por la mayora de los sectores
pblicos municipales y estatales brasileos.23 De esa forma, se difundi
el sentido de poltica de ocio como accin sectorizada, institucionalizada y destacada por la promocin de eventos ocasionales, como
paquetes de actividades determinados por gabinetes tcnicos y polticos de donacin de materiales y equipamientos, sin una preocupacin
mayor con el nivel de participacin de los individuos en las actividades
vividas. En esa poca, se ampliaron tambin las secretarias municipales
y estatales de Deporte y Ocio del Pas, consagrando el rea de la educacin fsica como el principal difusor de las polticas brasileas en este
mbito.24
26/11/2009 15:53:03
Brasil
133
Considerando que no hay como hablar de ocio sin tener presente las relaciones de trabajo en un determinado momento de la vida, la contradiccin generada por estas relaciones en el modo como el capital organiza
la vida se pone de relieve, esto porque en la contradiccin se encuentra el
elemento de solucin de los problemas vitales para la humanidad como,
por ejemplo, el problema de la destruccin de las fuerzas productivas:
hombre, trabajo, naturaleza. (E. 4)
26/11/2009 15:53:03
134
pero, en su mayora, los abordajes desarrollados sobre el tema enfocaban las perspectivas utilitaristas, compensatorias y moralistas, como
observa Marcellino.27
26/11/2009 15:53:03
Brasil
135
26/11/2009 15:53:03
136
Vivimos en un pas marcado por el sincretismo, las mezclas, la pluralidad, la diversidad de culturas y mestizaje de los pueblos (africanos,
indgenas, europeos y sus descendientes). En ese sentido, las formas de
manifestacin de esa multiplicidad de encuentros son complejas y poco
exploradas por estudios que enfoquen el ocio. (E. 27)
Si observamos, con atencin, podemos ver que el tiempo/espacio de
experiencia en el ocio no tiene un sentido y significado nicos. Cambia
con la edad, con las condiciones de educacin, con las oportunidades
para las experiencias ldicas durante ese tiempo, con las condiciones
afectivas, infraestructurales (fsicas), climticas, en fin, cambia segn las
diferentes condiciones de la cultura y de la sociedad. (E. 5)
26/11/2009 15:53:03
Brasil
137
26/11/2009 15:53:03
138
26/11/2009 15:53:03
Brasil
139
26/11/2009 15:53:03
140
por las nuevas tecnologas. Esta puede ser una de las razones por las
que la TV y la internet hayan sido sealadas por varios especialistas,
que participaron de este estudio, como actividades que configuran el
ocio en Brasil. Aunque la llamada exclusin digital sea una realidad,
en Amrica Latina, Brasil es el pas que ms accede al mundo virtual.
La TV, por su vez, representa la opcin de ocio ms presente en el da
a da de los brasileos de todos los rangos de edad y grupos sociales.42
Veo cada vez ms presente en el cotidiano (aunque todava poco en la
investigacin sobre el ocio), el campo de las tecnologas de informacin
y comunicacin. (E. 10)
26/11/2009 15:53:03
Brasil
141
26/11/2009 15:53:03
142
26/11/2009 15:53:03
Brasil
143
26/11/2009 15:53:03
144
Fue en esa ltima dcada del siglo 20 que la visibilidad del ocio
en cuanto campo de vivencias, de estudios y de intervenciones creci
considerablemente en el Pas. Despus de aos como blanco de pocas
sin embargo importantes reflexiones sistematizadas, en ese perodo
observamos que el ocio pas a ocupar espacios significativos en los
peridicos, revistas de informacin en general y en el mundo acadmico
como un todo, con destaque para la formacin de grupos de investigacin procedentes de diversas reas de conocimiento, la realizacin de
eventos cientficos ligados a la temtica y al aumento del nmero de
publicaciones. Segn Gomes e Melo,52 algunas iniciativas pueden ser
destacadas.
26/11/2009 15:53:04
Brasil
145
26/11/2009 15:53:04
146
26/11/2009 15:53:04
Brasil
147
disciplinar tradicionalmente adoptada en nuestra realidad. Una experiencia relevante en ese sentido la vivi la Faculdade de Educao Fsica
da Universidade Estadual de Campinas (FEF/Unicamp) cuando cre el
Departamento de Estudos do Lazer (DEL), con oferta de los cursos de
licenciatura y de especializacin en Ocio, hoy desactivados, adems de
la apertura de una lnea de investigacin sobre Estudios del Ocio en la
Maestra y en el Doctorado en Educacin Fsica, entre otras propuestas
resaltadas por un especialista: La creacin de institutos como Celar
(RS) y Celazer (SESC-SP), el antiguo DEL de Unicamp y
ahora el Mestrado em Lazer (Maestra en ocio) de la UFMG han sido
conquistas importantes. (E. 17)
26/11/2009 15:53:04
148
26/11/2009 15:53:04
Brasil
149
El creciente mercado del ocio tanto en la naturaleza como en las ciudades ha ampliado cada vez ms las perspectivas de desarrollo del Pas.
Como expresiva actividad econmica, hoy, algunos consideran al ocio
como una de las actividades que ms crece en el mundo: el turismo es un
ejemplo. Las grandes ciudades cada vez ms lo incluyen en el conjunto
de sus servicios y negocios culturales. A la vez, esas ciudades tambin
invierten en la conservacin y en la expansin de sus patrimonios
ambiental y cultural, sobre todo se utilizados como ocio; invirtien en la capacidad y modernizacin de espacios para event os, en la
26/11/2009 15:53:04
150
26/11/2009 15:53:04
151
Brasil
Como campo de accin, tenemos que considerar, adems, las influencias del aumento de las iniciativas gubernamentales (federal, estadual
y municipal), no gubernamentales y corporativas relacionadas al ocio.
La expansin de este campo se debe tanto a las polticas de control
social como a las polticas que reconocen el ocio como derecho y/o a
las acciones desarrolladas en tiempos y espacios educativos distintos
(escuelas, clubes, empresas, parques, calles, plazas etc.), difundidas por
la participacin de agentes culturales comprometidos con las polticas
educativas.
Se trata de un tema polmico que involucra concepcin y actuacin
profesional en el ambiente del ocio y que debe, en su labor de formar
consciencias, buscar concertar competencia tcnica y compromiso poltico con la ciudadana emancipadora. (E. 3)
El mercado exige profesionales que las agencias formadoras no siempre
ofrecen, particularmente los emprendimientos privados de ocio. (E. 2)
El ocio ser uno de los mayores campos de actuacin de los prximos
15 o 20 aos, lo que representa una gran oportunidad principalmente
si se compromete con la promocin del bien estar y con la bsqueda de
calidad de vida. (E. 9)
Por eso, hay que dedicarle especial atencin a la formacin de profesionales del ocio comprometidos con el proceso de construccin del
saber, que cuestionen la realidad, pregunten por el sentido de su actuacin, asuman una actitud reflexiva frente a los procesos sociales y a
las contradicciones de nuestro medio, haciendo del ocio no un mero
(y alienante) producto que deba ser consumido, sino una posibilidad
ldica, crtica, creativa y significativa que se aproveche con autonoma
y responsabilidad. Se recalca, en ese proceso, la importancia del conocimiento profundo de la realidad, lo que demanda una slida fundamentacin terico prctica y una consistente instrumentalizacin
poltico-pedaggica por parte de los profesionales en formacin, que
permita el emprendimiento de acciones sobre el ocio coherentes con el
contexto en cuestin.61
26/11/2009 15:53:04
152
Para eso, los profesionales del ocio deben actuar como agentes de
cambios, por lo que la comunidad tiene un importante papel.
Tenemos experiencias de liderazgos voluntarios ms reconocidos y calificadas, sin embargo, muchas veces, poco aprovechados por el temor que
hay en cuanto a las leyes laborales. (E. 15)
Durante mis estudios sobre sociabilidades en el ocio en los espacios
pblicos, me he dado cuenta de que hay una enorme diversidad de
prcticas auto-organizadas y de desarrollo de actividades comunitarias.
(E. 18)
El rea del ocio necesita de profesionales para el campo de la gestin,
con conocimientos de los diferentes contenidos culturales, as como con
capacidad y sensibilidad comunitaria para entender el ocio como una
fuerte posibilidad educativa transformadora. (E. 20)
26/11/2009 15:53:04
Brasil
153
Creo que la comprensin del ocio empieza por una dimensin de la vida
humana an poco explotada y valorada en un mundo que es pautado por
las obligaciones y que relega las no obligaciones en un plan inferior.
(E. 2)
Esta mirada ha estado, durante mucho tiempo, relacionada al pensamiento terico de Joffre Dumazedier, cuyo concepto de ocio se utiliz
26/11/2009 15:53:04
154
26/11/2009 15:53:04
Brasil
155
26/11/2009 15:53:04
156
Por ser cultura, el ocio es, por lo tanto, producto humano construido
a travs de procesos que se constituyen a partir de los valores, saberes,
motivaciones y deseos de cada sujeto, influenciados por los sentidos y
significados que cada uno atribuye a sus experiencias. Procesos particulares, una vez que cada construccin cultural depende del contexto social
donde se realiza, del cotidiano en el que los sujetos engendran las tcnicas corporales propias de su cultura y sus modos especficos de tratar con
los lmites de tiempo, lugar, infraestructura, condiciones econmicas y
otras dimensiones que condicionan sus realizaciones en el ocio. (E. 5)
26/11/2009 15:53:04
157
Brasil
Para Gomes,74 el ocio es una dimensin de la cultura caracterizada por la vivencia ldica de manifestaciones culturales (as como las
fiestas, los juegos, las prcticas recreativas, los deportes, las artes etc.) en
un tiempo/espacio conquistado por los sujetos y grupos sociales. Segn
la autora, no hay fronteras absolutas entre el trabajo y el ocio, tampoco
entre el ocio y las obligaciones cotidianas. El ocio es un fenmeno dialctico y aunque el sujeto est buscando satisfaccin, ms flexibilidad y
libertad de eleccin, no siempre estar libre de obligaciones sociales,
familiares, profesionales etc. El ocio no es un fenmeno aislado: se
manifiesta en diferentes contextos segn los sentidos y significados
dialcticamente producidos/reproducidos por las personas en sus relaciones con el mundo. De esta forma, al proporcionar disfrute por la vida
en el momento presente, el ocio dialoga con el contexto y refleja sus
ambigedades y contradicciones. En este mbito, por un lado, desafortunadamente el ocio puede contribuir con el mantenimiento del status
quo, reforzar estereotipos y valores excluyentes, consumistas y enajenantes. Pero, por otro lado, se reviste de posibilidades para colaborar
con la constitucin de una nueva sociedad, ms justa, humanizada,
inclusiva, digna y comprometida con los principios democrticos. Esas
consideraciones muestran que, en nuestra sociedad, el ocio es un fenmeno dinmico, complejo, dialctico, permeado de conflictos, tensiones
y ambigedades.
26/11/2009 15:53:04
158
26/11/2009 15:53:04
159
Brasil
26/11/2009 15:53:04
160
26/11/2009 15:53:04
Brasil
161
26/11/2009 15:53:04
162
En ese mismo contexto ocurri el impresionante avance del capitalismo, que provoc la diseminacin del ocio vehiculado por la industria cultural, tratando a los individuos como potenciales consumidores
de mercancas ldico-culturales. Como hay muchas diferencias entre
el consumidor de bienes de mercado y el consumidor de servicios
pblicos, teniendo presente que el ltimo establece una relacin ms
26/11/2009 15:53:04
Brasil
163
26/11/2009 15:53:04
164
ha ampliado la diversidad de acciones, ha influido en la infraestructura, ha hecho tomar conciencia sobre el medio ambiente, ha proporcionado el surgimiento de nuevos liderazgos, ha motivado nuevos
estudios e investigaciones, ha generado ms empleos y renta, ha exigido
ms compromiso de los gestores, principalmente de los gestores pblicos. La participacin comunitaria ha sido determinante para la inclusin del tema en las Conferencias Nacionales de varias reas (Deporte,
Cultura, Turismo, Desarrollo Social, Juventud, Igualdad Racial, Ancianos, Ciudades...). Ha acelerado el marco legal, donde el Ocio, aunque
contemplado en la Constitucin Federal como derecho social, todava
no es un deber del Estado. (E. 20)
En un mundo pautado por el individualismo exacerbado, donde el
capital social se deshace cada vez ms, involucrar a la comunidad en
la planificacin, ejecucin y evaluacin de las acciones que las favorece
parece ser una tarea cada vez ms desafiadora para todos los que estn
involucrados con las polticas pblicas del ocio. (E. 2)
Un lmite del rea que se debe superar a travs de la auto-organizacin,
autodeterminacin y por la teora de la organizacin revolucionaria. (E. 4)
Ya hay experiencias y nosotros (los estudiosos) deberamos intentar
entenderlas. (E. 18)
Las que existen an son muy tmidas, necesitamos crear y darles
ambiente apropiado para que la participacin de la comunidad y los
formadores de opinin puedan efectivamente contribuir en la formulacin y en la gestin de polticas, de los programas y de los proyectos.
(E. 15)
26/11/2009 15:53:04
Brasil
165
26/11/2009 15:53:04
166
26/11/2009 15:53:04
167
Brasil
Hasta el momento, la cuestin de la gestin del ocio ha sido basndose en el paradigma de las ciencias de la gestin. Estas son eficaces
para tratar de temas como la logstica, la gestin financiera, pero poco
eficientes para tratar de personas. No tenemos textos que hablen de las
cuestiones que la participacin en el ocio propone para la gestin, como
el humor, la educacin, la vigilancia y la seguridad etc. (E. 17)
26/11/2009 15:53:04
168
Consideraciones finales
Este texto tuvo como objetivo presentar un anlisis sobre el ocio en
Brasil considerando, sobre todo, algunos elementos contextuales de los
fundamentos tericos y de las polticas pblicas. Los datos reunidos
en la investigacin permitieron ms que eso, pues contienen fuentes
muy valiosas que dan pistas para otras interpretaciones, que incluso
son contradictorias. Sin embargo, se puede extraer una sntesis de este
ejercicio: experiencias y conocimientos producidos y socializados en
Brasil han movido investigadores, gestores y educadores hacia la humanizacin del desarrollo social y cultural del ocio, proceso revelador de
complejidades, diversidades y dinamismos diversos, innovadores, o no,
de nuestra vida cultural poltica.
El ocio es una experiencia que se renueva en los contrastes de la vida
cotidiana, colabora para que hombres y mujeres se humanicen e se
reconcilien con la naturaleza, pudiendo contribuir para mejorar la calidad de vida de todos. (E. 3)
26/11/2009 15:53:04
Brasil
169
26/11/2009 15:53:04
170
26/11/2009 15:53:04
Brasil
171
Notas
1
La recogida de datos se hizo a travs de un cuestionario con cuestiones abiertas, que ha sido en
un primer momento convalidado por 4 especialistas (Dbora Machado, Hlder Isayama, Olvia
Ribeiro y Patrcia Zingoni). En la segunda etapa, se lo ha enviado a otros 51 expertos y lo han
contestado un 53% de ese grupo, es decir, 27; ellos son: (1) Ana Rosa Fonseca da Fonseca, (2)
Antonio Carlos Bramante, (3) Augusto Csar Rios Leiro, (4) Celi Neuza Zulke Taffarel, (5)
Cludia Martins Ramalho, (6) Claudia Regina Bonalume, (7) Cristiane Ker de Melo, (8) Edmur
Antonio Stoppa, (9) Eloir Edlson Simm, (10) Giovani de Lorenzi Pires, (11) Gisele Maria
Schwartz, (12) Jos Clerton Martins, (13) Jos Guilherme Cantor Magnani, (14) Larcio Elias
Pereira, (15) Luiz Carlos Marcolino, (16) Luiz Gonzaga Godoi Trigo, (17) Luiz Octvio de
Lima Camargo, (18) Marco Paulo Stigger, (19) Nelson Carvalho Marcellino, (20) Rejane Penna
Rodrigues, (21) Ricardo Ricci Uvinha, (22) Silvana Vilodre Goellner, (23) Silvio Ricardo da Silva,
(24) Tereza Luiza de Frana, (25) Vnia de Ftima Noronha Alves, (26) Victor Andrade de Melo
e (27) Yara Maria de Carvalho. Los planteos de esos especialistas (E) han sido mencionados en
este texto entre parnteses e identificadas por el nmero que le toc a cada nombre.
GOMES, 2008.
GOMES, 2003.
MARINHO, 1957.
KISHIMOTO, 1993.
Al crear YMCA en 1844 el ingls George Williams buscaba despertar el espritu altruista de
los ciudadanos de su poca a travs de la creacin de una institucin educacional, asistencial y
filantrpica, sin objeto de lucro, para que sus acciones siguiesen la orientacin cristiana y fuesen
dedicadas a la formacin integral de las personas. Esta filosofa se articul como una respuesta
a las insalubres condiciones sociales existentes en las grandes ciudades inglesas, en consecuencia
de la nueva dinmica social instaurada, sobre todo, con la revolucin industrial. Encontrando
gran receptividad en los Estados Unidos, en diciembre de 1851 se instal en Boston la primera
YMCA norteamericana y, 10 aos despus, ya haban 200 unidades en todo el pas. YMCA se
26/11/2009 15:53:04
172
propag rpidamente a otros pases. Sus acciones buscaban diseminar la fe cristiana en todo
el mundo, incluyendo hombres, mujeres y nios, no importando la raza, la religin ni la
nacionalidad. (GOMES, 2003)
10
GOMES, 2003.
11
El movimiento pedaggico conocido como Escola Nova contribuy a consolidar el juego con
sentido educativo y la recreacin como una accin orientada, buscando superar las propuestas
tradicionales de educacin. Esos principios fueron largamente difundidos en Brasil por varios
educadores (como GOUVA, 1949, 1963; MARINHO et al., 1955; SCHMIDT, 1960;
MEDEIROS, 1975; TEIXEIRA; MAZZEI, 1966) e integraron programas de enseanza
escolares, cursos, publicaciones y propuestas polticas de intervencin pedaggico social, que en
la mayora de las veces se vinculaban a la educacin fsica.
12
LENHARO, 1986.
13
14
SUSSEKIND, 1946.
15
GOMES, 2003.
16
BRETAS, 2007.
17
PINTO, 2008.
18
GOMES, 2003.
19
LINHALES, 2006.
20
GOMES, 2003.
21
PINTO, 2008.
22
23
Cabe poner de relieve que tambin fue al final de la dcada de 1950 que ocurri la publicacin del
libro Lazer Operrio (Ocio Obrero) de autora de Ferreira (1959). Muchos estudiosos brasileos
consideran que esta fue la primera publicacin especfica sobre el ocio en Brasil. Aunque sea una
obra de gran importancia, no representa el primer estudio sobre la temtica en el pas, pues,
desde las primeras dcadas del siglo 20 que algunos educadores y lderes polticos ya estaban
estudiando y debatiendo el ocio en la realidad brasilea. (GOMES, 2003)
26/11/2009 15:53:04
173
Brasil
24
25
As como los procesos polticos dictatoriales que ocurrieron en varios pases de Amrica Latina, de
1964 a 1985, Brasil vivi un largo perodo de dictadura militar, poca de muchos enfrentamientos
entre las fuerzas polticas y sociales. Censura, terrorismo, tortura y guerrilla fueron algunas de las
cicatrices que quedaron grabadas en Brasil, en su gente y en sus instituciones. (FAUSTO, 2000)
26
SANTANNA, 1994.
27
MARCELLINO, 1987.
28
Artculo 6: Son derechos sociales la educacin, la salud, el trabajo, el ocio, la seguridad, el plan
de jubilacin, el amparo a la maternidad y a la niez, la asistencia a los desamparados, en la forma
de esta Constitucin. (BRASIL, 1988, p. 12)
29
Seccin III (Del Deporte), Artculo 217, en el prrafo 3 do tem IV: El Poder Pblico incentivar
el ocio, como forma de promocin social. (BRASIL, 1988, p. 143)
30
31
GOMES, 2008.
32
PINTO, 2008.
33
34
TELES, 1999.
35
36
HALL, 1997.
37
HALL, 2003.
38
HABERMAS, 1994.
26/11/2009 15:53:04
174
39
40
HALL, 2003.
41
42
GOMES, 2005.
43
ALVES, 2003.
44
HALL, 2003.
45
SANTANNA, 1994.
46
47
48
49
MARCELLINO, 1987.
50
CAMARGO, 1986.
51
MARCELLINO, 1987.
52
53
Asociado a la Universidade Federal de Minas Gerais, SESI ofreci dos cursos de Especializacin
lato sensu en Ocio, calificando, presencialmente (1993) y a distancia (2005), los gestores de ocio
actuantes en todos los Estados brasileos y en Brasilia Distrito Federal.
54
55
Se puede conocer algunos de eses grupos de investigacin sobre el ocio a travs de sus enlaces en
la internet: <http://lacecelar.wordpress.com/>; <http://grupoanima.org/>, <http://www.unimep.
br/gpl/>, entre otros. Es posible obtener la lista completa de los grupos brasileos de investigacin
en el enlace: <http://www.cnpq.br/gpesq/apresentacao.htm>.
56
ISAYAMA, 2004.
57
ISAYAMA, 2004.
58
MARCELLINO, 2000.
59
PINTO, 2000.
60
61
GOMES, 2008.
62
MELO, 2004.
63
64
FALEIROS, 1980.
26/11/2009 15:53:05
Brasil
175
65
GOMES, 2004.
66
67
68
MARCELLINO, 1987.
69
El en lema Ocio Concepciones, del Dicionrio crtico do lazer, GOMES (2004) desarroll una
discusin sobre los conceptos de ocio elaborados por Dumazedier y otros estudiosos brasileos.
70
ALVES, 2003.
71
72
73
MARCELLINO, 1987.
74
GOMES, 2008a.
75
PINTO, 2007.
76
PINTO, 2004.
77
En Brasil, es comn que se hable en ocio, en recreacin y ocio o solo en ocio (lazer). En
general, aquellos que optan por la utilizacin solo de este ltimo trmino ocio significa que
incluyen la recreacin como parte integrante y necesaria del ocio, o para distinguirse de los
abordajes que refuerzan el sentido de recreacin arraigado culturalmente al contexto brasileo,
es decir, restricto a la prctica de actividades sin reflexin. Desde la 2 mitad del siglo 20 el ocio
conquista espacios en la sociedad brasilea y cobra fuerza econmica con el avance de la industria
cultural y con las exigencias del estilo de vida capitalista. La diversificacin del consumo ha
proyectado nuevos frentes de trabajo y de mercado, difundiendo la recreacin y el ocio en las
escuelas, clubes, hospitales, hoteles, empresas, rganos pblicos, entre otros mbitos, muchas veces
conservando los valores tradicionales de ajuste y conformacin social descriptos antes en este
texto. Esa mirada tcnica y tradicional de la recreacin ha predominado no solo en Brasil, sino
en innumerables pases. Si por un lado ocurrieron avances significativos sobre la problemtica
del ocio generados por estudios sobre el tema , por otro la prctica concreta muchas veces
se mantiene presa a la idea tradicional de recreacin. No hay duda de que, en Brasil, existen
reflexiones tericas consistentes sobre el ocio, pero, por otro lado, cuando se habla en recreacin
en general se piensa en la prctica y operacionalizacin de actividades, lo que gener muchos
problemas de comprensin especialmente en esa poca. (GOMES, 2008)
78
MELO, 1999.
79
MASCARENHAS, 2003.
80
BENEVIDES, 1996.
81
BAVA, 2002.
82
26/11/2009 15:53:05
176
84
85
GIDDENS, 1993.
86
MAGNANI, 2000.
Referencias
ALVES, Vnia F. N. Uma leitura antropolgica sobre a educao fsica e o lazer. In:
WERNECK, Christianne Luce Gomes; ISAYAMA, Hlder Ferreira (Org.). Lazer,
recreao e educao fsica. Belo Horizonte: Autntica, 2003. p. 83-114.
BAVA, Slvio Caccia. Participao, representao e novas formas de dilogo. In: SPINK,
Peter; BAVA, Slvio; PAULICS, Veroniza (Org.). Novos contornos da gesto local;
conceitos em construo. So Paulo: Programa Polis/FGV/ESESP, 2002.
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A cidadania ativa. So Paulo: tica, 1996.
BRASIL. Assembleia Nacional Constituinte. Constituio da Repblica Federativa do
Brasil. So Paulo: Tecnoprint, 1988.
BRASIL. Ministrio do Esporte. Poltica nacional do esporte. Braslia: Ministrio do
Esporte, 2005.
BRETAS, Angela. Nem s de po vive o homem: criao e funcionamento do Servio de
Recreao Operria (1943-1945). Tese (Doutorado em Educao) Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
CAMARGO, Luiz Octvio. O que lazer. So Paulo: Brasiliense, 1986.
COLETNEA DE LEIS. 2. ed. Belo Horizonte: Conselho Regional de Servio Social
6a Regio/MG, 2005.
DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. So Paulo: Perspectiva, 1976.
26/11/2009 15:53:05
177
Brasil
26/11/2009 15:53:05
178
26/11/2009 15:53:05
179
Brasil
26/11/2009 15:53:05
180
SCHMIDT, Maria Junqueira. Educar pela recreao; para pais e educadores. Rio de
Janeiro: Agir, 1960.
SUSSEKIND, Arnaldo. Trabalho e recreao. Rio de Janeiro: Ministrio do Trabalho,
Indstria e Comrcio, 1946.
TEIXEIRA, Mauro S.; MAZZEI, Jlio. Manual de educao fsica, jogos e recreao. 3. ed.
So Paulo: Obelisco, 1966.
TELES, Vera da S. Direitos sociais: afinal, do que se trata? Belo Horizonte: Editora
UFMG, 1999.
WERNECK, Christianne Luce Gomes; STOPPA, Edmur A.; ISAYAMA, Hlder F.
Lazer e mercado. Campinas: Papirus, 2001.
WERNECK, Christianne Luce Gomes. Recreao e lazer: Apontamentos histricos no
contexto da Educao Fsica. In: WERNECK, Christianne L. G.; ISAYAMA, Hlder
Ferreira (Org.). Lazer, recreao e educao fsica. Belo Horizonte: Autntica, 2003.
26/11/2009 15:53:05