A Fôrma e A Forma

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Notas de viagens

Catedral
Porto Alegre, RS

Claudio Ferlauto
Coleo Textos Design

~RMA
FORMA

Rosa ri

A FRMA E A FORMA

PALAVRAS E IMAGENS

ndice

08 Primeiras palavras
l

12 A frma e a forma
17 1960-1970 - Marcas da memria
21 Livros, pequenas resenhas

- 33 1980 - Marcas da memria

_______,....... =::;.;,...~

_ 36 Divergncia e diversidade
.~ 43 Revista Tupigrafia
:rr 49 Bea Feitler
52 Tribo ndia
-, 55 1990 - Marcas da memria
\: 58 Apresentaes
70 O design contemporneo

combina formas e sonhos


77 Marcas que no marcam

80 2000 - Marcas da memria


84 Outros livros
90 Weingart: quem so os jovens
designers suos?
, 92 Designs
Notas de viagens
Reunio de negcios
Bento Gonalves , RS

.94 Experimentaes

PALAVRAS E IMAGENS

A frma e a frma reune observaes sobre a prtica do design

e da crtica usando textos escritos nos dois ltimos anos e trabalhos visuais realizados desde os anos 1960. Esta coleo tem
como objetivo divulgar para estudantes, profissionais e interessados em design as idias que trafegam pelo Brasil a respeito do
design nas suas principais facetas: no meio profissional oferecendo aos leitores a oportunidade de ver aquilo que os profissionais produzem no dia-a-dia comercial de seus escritrios ou
de suas salas de aula, lado a lado de seus pensamentos e de
suas inquietaes intelectuais. Foi assim com o livro Designer

no personal trainer, no qual Adlia Borges nos revela como e

Palavras + imagens

para quem ela fala sobre os problemas e as qualidades do


design no Brasil. Fernando Lemos (in Na casca do ovo o princpio do desenho industria~ e Chico Homem de Melo [in Os desafios do designer] inauguraram a amostragem de trabalhos a par-

tir da viso do autor. Neste vamos mostrar junto aos textos duas
atividades que acompanham nossas atividades profissionais :
desenhos realizados em viagens e trabalhos comerciais realizados nas ltima dcadas. Deles, fao pequenos comentrios que
podem servir para o entendimento de uma suposta metodologia
projetual, mas na verdade esto aqui apenas como uma espcie
de viagem sentimental pelo passado.
Claudio Ferlauto, outubro 2003

1 o A FRMA E A FO RMA

PALAVRAS E IMAGENS

11

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llpografia abrindo gaveras e portas. Aqui tipos de

Design ed itorial
Revista Abigraf

2004
Revista Tupigrafia

2000

A FRMA E A FORMA

12

A frma e a frma

13

Algum j disse que ter idias coisa fcil, mas que


transformar idias em coisa real [design, produto ou
arte] exige muito trabalho. Do mesmo modo, dar
forma a idias exige mais do que tecnologia ou ferramentas afiadas. Escrevi em O tipo da grfica e outros
escritos, em 1999. que "as artes grficas assumiram ao
longo desses quatro sculos [desde a inveno da
imprensa de tipos mveis] o formato das frmas tecnolgicas, agindo como a massa de um bolo".
Quando resolvemos fazer um bolo, ele no passa de
uma boa idia. Um bolo de aveia e chocolate! Um
projeto. Um design. Agora ao trabalho. Os ingredientes: farinhas, acar, ovos, chocolate, fermento. Uma

14 A FRMA E A FORMA

pitada de sal, o preparo da mistura, dar tempo para as


reaes entre os componentes, a formao da massa
etc. Em seguida temos de escolher a cara, o jeito do
bolo: redondo com um furo no centro, retangular, em
forma de corao ou com as bordas onduladas.
Olhamos as frmas que temos na cozinha e escolhemos uma delas. Em seguida colocar no forno, esperar,
desenformar e servir.
[Fim da primeira parte]

As idias grficas tm um processo semelhante de


confeco. Precisamos de ingredientes: informao,
pesquisa organizada, curiosidade intelectual, sensibilidade, talento [como fermento] e uma pitadada de
audcia, mas isto tudo no d forma s nossas idias
'
apenas cria uma massa de dados que necessita ser trabalhada, misturada e na qual podem ser, ao longo do
processo, adicionados novos dados [assim como
podemos colocar frutas secas picadas em nosso bolo
acima planejado]. E finalmente escolher a frma que
dar uma das formas possveis nossa idia. a que
entra a tecnologia e a tcnica. E neste ponto que
comeamos distinguir criadores de fazedores, anali-

A FRMA E A FORMA

15

sando a maneira como os designers trabalham os


recursos disponveis para sua expresso. As opes
no so muitas: ou ignoramos totalmente a estrutura
dos softwares e os utilizamos como nico recurso falsamente criativo [entendendo a mquina apenas como
um eletrodomstico no qual basta apertar botes para
resolver problemas], ou procuramos decifrar esta caixa-preta e us-la como ferramenta de nossos desgnios
projetuais.
O bolo, como a maior parte das criaes, pode tambm ser considerado como uma colagem. Para Tide
Hellmeister o cinema faz a colagem de imagens,
palavras e sons; uma sinfonia faz colagens de sons e
tons; uma revista, de imagens e tipografias, de
espaos cheios e de vazios; um passeio pela cidade
visto da janela de um nibus, por exemplo, uma
colagem das vises - grafites, publicidade, pajsagem,
pessoas. A colagem uma boa frma que conforma
surpreendentemente nossas idias. Sabores visuais
podem ser incorporados nossa sensibilidade aleatoriamente como o flneur de Baudelaire, aquele que
curte a cidade [ps] moderna como um reprter potico ou como um andarilho vagabundeando num longo
feriado ou num longo desemprego. Ou ainda como
algum que tem um projeto e objetivos bem definidos.

16 A FRMA E A FORMA

Uma colagem exige um projeto que pode se realizar


ao longo do processo e no ser necessariamente prconcebido. Para o artista alemo Uwe Loesch, o segredo da comunicao e da escolha de nosso discurso
est em identificar "a imagem que j est na cabea
das pessoas", porque esta " sempre mais forte do que
a realidade. A fantasia nunca precisa de drogas visuais. Associaes feitas a partir da palavra escrita
so, geralmente, melhores e mais poderosas do que
uma traduo visual". Os designers e artistas grficos
tm que levar em conta no apenas a sua viso e o seu
repertrio, mas sobretudo o repertrio da sociedade e
ter sensibilidade de projetar para os olhos das pessoas
comuns, no apenas para os olhos dos especialistas.
Se, como afirmamos acima, as frmas tecnolgicas
[e as intelectuais] mudam ao longo do tempo, no
entanto, no so elas que abrem nosso apetite, mas
sim a qualidade dos ingredientes e a preciso do
preparo. No design grfico, ao contrrio, e acontece
muito hoje em dia, em lugar de servir-se o bolo, estamos servindo apenas a frma.
Moderninha, cheia de efeitos e vazia.

[Fim da segunda parte]

17

18 A FRMA E A FORMA

MARCAS DA MEMRIA

19

IC
CRT marca da Companhia
Riograndense de Telecomunicaes
[usada at dois anos depois
de sua privatizao], e a marca
Wallig so os meus primeiros
projetos de identidade visual
editados com manuais completos
de marca e de sinalizao.
Foram criados juntamente com
Pedro Mohr e Antonio Aiello, scios
do escritrio Signovo Comunicao
Visual , em Porto Alegre e So Paulo
durante 1971 e 1972.
A marca CRT tinha originalmente um
discador circular embutido na letra
C, retirado com introduo dos
telefones de teclado e tinha
tambm um alfabeto corporativo
baseado na forma das letras
C, R e T. Esse foi o nico alfabeto
que desenhei at hoje.

Signovo, em onle meio slencil,


resultado do uso da tcnica de rgua
e compasso, foi desenhado na
dcada de1970, em Porto Alegre,
a ltima verso do logotipo do
escritrio encerrado em 1975
em So Paulo.
Drki, logotipo para loja de presentes
foi um dos meus primeiros trabalhos
profissionais. Claramente inspirado
na poesia concreta foi desenhado
aps a passagem de Dcio Pignatari
pela capital gacha no final da
dcada de 1960.

20 A FRMA E A FORMA

21

22

LIVROS - PEQUENAS RESENHAS

A FRMA E A FORMA

23

"Si no podia escriure,


ais moments d 'eufria seria guerriller.
ais de passivitat prestidigitador.
sser poeta inclou totes dues coses. "
"Se eu no pudesse escrever.
nos momentos de euforia seria guerrilheiro,
nos de passividade seria mgico.
Ser poeta incluiu todas as duas coisas."

arte multimdia de
Joan Brossa
Joan Brossa [1919-1998] se definia como um
poeta, e como todo poeta um homem de letras,
consciente das suas formas e de suas fu.nes.
Durante sua vida criativa fez poemas escritos,
poemas desenhados, em forma de colagens,
B de Brcino, poema-escultura
na Placa Nova de Barcelona, 1991-1994.,

com jeito de escultura, como pea de teatro, como instalao,

R Carnaval, cartaz de 1980, detalhe.

como cartaz, gravura, pintura. Fez tambm poemas urbanos, em

O Cartaz de 1990.

espaos pblicos e privados. Quem conhece Barcelona no h

S Poema visual, 1988.


S - Poema visual, criado em 1970 realizado em 1978.
A Poema A de barca, no Pare Catalunya,
Sabadell, 1996.

de esquecer da palavra Brcino [Barcelona em latim], que est


instalada como uma escultura na fronteira do Eixample com o

24

A FRMA E A FORMA

Barri Gtic, ou de sua Homenatge ai llibre localizada no cruzamento do Passeig de Grcia com a Gran Via de les Corts. Seu
nico livro em portugus, Poemas civis {Poemes civils], foi
traduzido do catalo por Ronald Polito e Srgio Alcides e editado
em 1999 pela Sette Letras.
Brossa nasceu em Barcelona e comeou a escrever durante a
Guerra Civil Espanhola. Grande parte de sua produo criada no

LIVROS - PEQUENAS RESENHAS

25

A preferncia pela letra A clara no trabalho potico e grfico


do poeta catalo, mas na sua obra teatral, intitulada Poesia

escenica [Poesia cnica], h uma


escrita radical de vanguarda: Sord-mut Sord-mut
Pea de Joan Brossa em um ato
(Surdo-mudo] de 1947, uma pea Ato nico
comparada na sua ousadia ao con- Sala em penumbra. Pausa
Fecham-se as cortinas.
certo 4'33" de John Cage* de 1952.

perodo franquista circulou de maneira muito restrita, e s foi


realizada a partir da redemocratizao da Espanha. Sua obra
potica e poltica, e sua instalao EI convidat de 1986-1990 a
mais forte expresso de sua viso da arte e da vida. Numa bela
e elegante mesa de jantar, com candelabro de trs velas, vinho,
champanhe, cristais e flores , o nico assento um garrote - instrumento de tortura onde o condenado preso sentado, e pelo
pescoo, e pouco a pouco um arco metlico vai sendo apertado
at a morte por asfixia. A obra pode tambm ser interpretada ~orno "uma leitura pessimista da nossa sociedade, que incita o consumismo feroz e que tambm aniquila o individuo", segundo Manuel Guerrero , editor do livro Joan Brossa, o la revolta poetica.

John Cage, 4 '33", pea musical. "Um pianista entra no palco, toma a postura de quem
vai tocar e no toca nada. A msica feita
pela tosse, o riso e os protestos do pblico
incapaz de curtir quatro minutos e alguns
segundos de silncio."
Augusto de Campos in Cage: chance:change

26

LIVROS - PEQUENAS RESENHAS

27

A FRMA E A FORMA

Que trem esse?


Surpreendente livro este : Design grfico mineiro,
que trem esse?, organizado por Giselle Safar e

Humberto Eleto. Ele uma surpresa pois aparece em meio ao


deserto brasileiro de textos de histria do design. O livro nasceu
de um trabalho de graduao mas se formalizou como uma

Vises do livro

proposio profissional que ilumina os caminhos deste trem que

Assim como existem muitos tipos

o bom e criativo trabalho desenvolvido em Minas Gerais.

de livros : os infantis - delicados e

Ateno aos artigos introdutrios: de Giselle - Estao design -

engraados; os de arte - slidos e

"Conversar... eis ai um outro aspecto deste livro. Como so vari-

respeitveis ; os tcnicos - precisos e diretos etc. , eles so perce-

ados os jeitos de falar! Seja com palavras ou com imagens, os

bidos dos mais variados pontos de vista: como diverso, como

diferentes tons e inflexes revelam as nossas muitas Minas". As

necessidade, como prazer ou como obrigao. E etc.

notas histricas de Embarcando na indstria grfica, escrita com

Em nossa vida temos contato com livros importantes e necess-

preciso por Antonio Seara.

Imprimindo o livro

rios, ao lado de livros para o divertimento, dos livros para a edu-

A partir da so apresentados os trabalhos dos profissionais

cao e tantos outros. Eles, em todas as fases da nossa vida, nos .

mineiros, sempre acompanhados de intritos muito bem redigi-

revelaram faces do conhecimento, abriram nossa mente para di-

dos, todos com ttulos "ferrovirios" como: Nos trilhos da

versos mundos, alguns nos encantaram, outros nos transpor-

memria, Que trem esse?, Maquinistas do presente e Fora dos

taram para recantos distantes e para outras vises da realidade.

trilhos. Nesse trem apresentada a produo mineira que vai

dos anos 80 ao final do sculo XX: Thales Pereira, Noguchi , Joo

28

A FRMA E A FORMA

LI VROS - PEQUENAS RESENHAS

:l~

Delpino e ngela Dourado, Eduardo Luppi, Claudio Martins,

Linha do tempo e tipos

Alexandre Lima, alm dos principais escritrios ativos em 2001.

Uma linha do tempo para facilitar a vida dos histo-

Adlia Borges observa, na abertura, com razo, que "sobre uma

riadores do design grfico - agora ningum precisa

base to pouco conhecida, que futuro construir? por essa

mais se preocupar em decorar o ano em que Milton Glaser

perspectiva de futuro que a histria me interessa (... ) Sem dvi-

desenhou o poster do Dylan, por exemplo - o que prope

da, to importante quanto conhecer as razes culturais mais fun-

Steven Hei ler e Elinor Pettit no Graphic design time fine - A cen-

das, tambm o perodo mais recente, formador do moderno

tury of design milestones, da Allworth Press, Nova York. Eles so

design brasileiro".

os autores do Design dialogues, da mesma editora. Heller est

O livro muito bem produzido mas faltam dois elementos

tambm com novo ttulo em companhia de Philip B. Meggs, Texts

essenciais para torn-lo perfeito: bons ndices, tanto aquele pelo

on type - Criticai writings on typography, no qual h ensaios de

qual "entramos" no livro quanto o remissivo , fundamental para

todo gnero, dos clssicos de Emil Ruder, Jan Tschichold, Fre-

aqueles que trabalham com ensino e pesquisa.

deric W. Goudy, Lazlo Moholy-Nagy aos contemporneos de


Ellen Lupton, Rick Poynor, Zuzana Licko e Jonathan Hoefler.

30

A FRMA E A FORMA

LIVROS - PEQUENAS RESENHAS

31

O design e o espao

As letras do borracheiro

Os ensaios de Lucrcia Ferrara para Design em

O livro Letters on America [Editora Laurence King]

espaos [Edies Rosari] foram escritos entre

o livro de Edward Fella, americano nascido em

1999 e 2001. Alguns foram dirigidos para pblicos restritos em

1938, composto de polarides de tipos e letras de anncios,

revistas especializadas ou apresentados em congressos e semi-

fachadas, muros e pixaes. O trabalho muito semelhante ao

nrios, outros so inditos. Lucrcia, de formao em Letras e

que o fotgrafo carioca Meirelles vem fazendo no Brasil, mais ou

Literatura, trabalhou durante muitos anos na Faculdade de

menos, no mesmo perodo [1960/2000] em que Fella realizou

Arquitetura e Urbanismo da USP no Departamento de Projeto,

suas fotos nos Estados Unidos. Fella voltou a graduar-se aos 48

no Grupo de Disciplinas de Desenho Industrial, de onde vem a

anos em Cranbrook, Detroit, Estados Unidos. O curioso que ele

razo de seus textos sobre design , arquitetura e espaos urba-

foi convidado, pela ento diretora da escola, Katherine McCoy,

nos. Dentre os diversos ttulos publicados por ela nesta rea,

para ser professor, mas preferiu ser aluno no grupo [que inclua

destacam-se : A estratgia dos signos (1981 e 1986), Leitura

Lucille Tenazas, Lorraine Wild, Jeffery Keedy, P. Scott Makela e

sem palavras (1986 e 1988) Ver/a/cidade (1988) e Olhar peri-

outros] que ficou conhecido como Gerao McCoy. O livro mos-

frico: informao, linguagem, percepo ambiental. Os ensaios

tra tambm trinta e trs trabalhos de caligrafia e tipografia basea-

abrangem um universo que interessa a estudantes de gradua-

dos nessas imagens fotogrficas. Para Rick Poynor [ex-revista

o e de ps-graduao e tratam de assuntos que vo do ambi-

Eye, de Londres, e atual colunista da Print, Nova York], Edward

ente urbano ao design grfico, da arquitetura ao espao virtual,

a principal fonte de inspirao e a origem dos trabalhos de Da-

e, principalmente, da necessidade de estudar e interpretar a in-

vid Carson . J Claudio Rocha, em seu livro Projeto tipogrfico,

formao e as relaes comunicativas que decorrem da inser-

diz que ele um bom designer de tipos, autor da fonte Fellaparts,

o do design no espao e definem a cultura contempornea.

que "funciona tanto em patterns quanto em cones individuais".

32

A FRMA E A FORMA

Revista
Typographica
Se voc pensa que a tipografia ganhou liberdade s aps o surgimento
dos computadores pessoais bom
conhecer o livro [ Typographica, de
Rick Poynor, Princeton Architectural
Press, 2002] que trata do trabalho de
Herbert Spencer [1924-2002] durante
os dezoito anos [1949-1967] em que
editou a revista Typographica. Nela, Spencer, dentre muitas
invenes, fotografou placas de bares e borracharias, setas
indicativas de banheiros, ou sinais e frases pintadas no piso de
ruas , como foi moda ontem e hoje por aqui e por l na desenvolvida Europa tipogrfica. Praticava, para irritao dos seus
pares, uma tipografia assimtrica inspirada na new typography
de Jan Tschichold e no dadasmo. Colaboraram com a revista
artistas como Schwitters, Rodchenko, Lissitzky, Herbert Bayer,
Max Bill, os designers da primeira Pentag ram de Londres, e
outros, pouco? o novo-velho? ou o velho-novo?

1980 - Marcas da memria

33

34 A FRMA E A FORMA

MARCAS DA MEMRIA

Marcelo Negro, atleta da seleo


de voleibol, planejava o
lanamento de uma linha de
produtos quando solicitou uma
marca que representasse sua
principal jogada, a cortada.
Accesso marca da assessoria
de imprensa de Angela Cassiano,
desenhada com tipos clssicos
enfatizando o duplo CC que
caracteriza o letteri ng como marca.

CONSELHO DE CLIENTES
CfflBAN<O

MARCELO NEGRO

:REFISULC:BANCO

A(CJESSO
CREFISULCBANCO
BANCO CREFISUL SA

J&,J

IZ.,
ARTE X

A marca Artex foi


redesenhada
possibilitando ao seus
clientes continuar
identificando com
facilidade a antiga e
trad icional marca
catarinense.
O projeto foi executado
observando o trabalho
de Saul Bass para a
marca Quaker.

35

Nos anos de 1980 por longo


perodo trabalhamos com
instituies financeiras e
convivemos com as limitaes
formais e criativas tradicionais
do setor. Mas entre os trabalhos
executados obtivemos boas
solues como no caso dos
srie de cheques Eco 92 do
Banco Crefisul [a estrela um
desenho de Alosio Magalhes]
e no projeto grfico da Revista
Unibanco, que tinha um tpico
logotipo influenciado pelas
ferramentas de softwares
vetoriais. A marca BMD foi
desenhada pela agncia de
publicidade do banco e nosso
trabalho foi de sistematizao
e manualizao de seu uso.

1IVERGNCIA E DIVERSIDADE

36

37

Quem j era profissional nos anos 80 sabe como era simples trabalhar com design e comunicao visual sem se preocupar com
estilos e diversidade. Era simples. Havia um nico estilo, sbrio
e elegante, e poucas preocupaes com outros estilos. bem
verdade que j nessa poca o Push Pin Style provocava um
certo mal-estar nas hostes modernistas, o escritrio ingls Pentagram, ainda com Bob Gill, fugia do lugar-comum , assim como
uma certa arte psicodlica, marginal e underground, j incomodava os mais paranicos funcionalistas. A simplicidade moderna
dominava a cena. Mas tudo mudou de repente e hordas de estilos comearam transformar o mundo do design. Uma primeira
mudana deu-se quando a atividade mudou de nome: de programao visual ou comunicao visual para design grfico, no
fim da dcada de 1980, a partir da aplicao da escrita do Post

38

A FRMA E A FORMA

DIVERGNCIA E DIVERSIDADE

Scrpt. Com a proliferao dos computadores pessoais de face

Olharemos superficialmente a~ novas revistas americanas, ingle-

amigvel e programas que se aproximavam cada vez mais de

sas ou japonesas, alguns sites maneiras e continuaremos a igno-

jogos de lazer domstico, os estilos invadiram nossa praia. A per-

rar o que est ao nosso redor. Se ignoramos a nossa realidade,

plexidade diante das facilidades estabelecidas por defaults

como poderemos produzir um design verdadeiro, Durante a contra

padronizados e de estilos que surgem do nada e desaparecem

real? Continuaremos a mascarar os conteudos O Renascimento,

sem deixar rastros, prpria daqueles que desconhecem o pas-

que nem sempre entendemos, produzindo um obrigados a pintar

sado. Para a maioria que est comeando, micreiro ou no, tudo

design feito de modismos e maneira global?

parece novo. Um novo sempre caindo de velho, pois est basea-

Permaneceremos assustados, sendo levados de

do na "capacidade expressiva" de uma ferra-

roldo e sem compreender o que fazemos em

Pierre Bourdieu:
" a histria que nos fornece
um ensinamento importante:
estamos em um jogo em que
todos os lances que se

coi sas inteltlectuatis,


passand o pe1a revo a con ra
o domnio( ...) das mdias ou
abandono desiludido das
utopias revolucionrias."

Reforma, logo aps

os artistas foram

maniera da igreja,
no estilo oficial da
arte religiosa, donde
provem o termo
maneirismo.

menta e no na imaginao criativa. E como

nossas telas?

considerar [e discutir exaustivamente a

jogam, aqui ou ali, j foram importncia do esquadro para o estilo dos


jogados - desde a recusa do
poltico e o retorno ao construtivistas russos, ou da inveno da
religioso at a resistncia
.
.
.
aao de um poltico hostil s perspectiva para a pintura do Renascimento]

39

Isto no design. maneirismo.


Ou seja, estamos desenhando maneira da globalizao.

que a resposta existe antes da pergunta. Que


a forma aleatria supre e encobre a ver-

Em geral e ao redor do mundo a atividade crtica no design rala.

dadeira necessidade humana do design.

Mas sem ela no possvel crescer. Ela necessria ao design


e, entretanto, no existe sem a produo do mercado. Paradoxal
como o prprio design, dividido entre ser bonito e ser funcional.

Isto no design. Isto artificialismo.

Em ser parte til e parte intil. A crtica tem tambm seu calcanhar-de-aquiles: aqui, como no primeiro mundo, os crticos de

Hoje quase ningum lembra dos anos 80, e a falta de idias no

design geralmente ou tambm so designers ou produzem uma

nos incomoda de verdade. Nem nos abala, pois no temos cons-

crtica com a cara explcita de design, que uma forma de facili-

cincia se o momento de transitoriedade ou se chegamos a

tar a leitura. uma metfora do prprio trabalho. Se a crtica

algum final de linha. E o que vem em seguida? Tambm no nos

provoca algum atrito, a falta dela produz estagnao. Podemos

preocupa, ns designers do terceiro mundo que no gostamos

nos indignar ou ignorar a baixa qualidade do que produzimos ou

de ser chamados de designers brasileiros, estamos tranqilos.

do que consumimos no mercado de trabalho. Isso at natural e

40

A FRMA E A FORMA

DIVERGNCIA E DIVERSIDADE

se manifesta em conversas de bar ou nos escritrios. Mas trans-

Se a meta de vida dos designers apenas vender idias

formar esses papos em uma viso crtica exige um pouco mais

ao mercado, eles precisam mais de

de esforo, conhecimento e pensamento original.

tcnicas de venda do que de arte e sentimentos.

41

Estamos cansados de reclamar da indiferena do pblico e at


"Naturalmente a crtica tem muitas limitaes,"

dos clientes para a importncia do design. Uma das razes o

diz Rudy Vander Lans, "ela no substitui o trabalho,

fato de o design circular num mundo restrito. Bem restrito, alis.

mas tambm no pode existir sem ele.

Ele no sequer debatido dentro da prpria classe profissional le

O que os designers precisam no ter medo dela."

que tem uma viso corporativa e muito ciosa de defender seus


mercados. O design grfico est no estgio em que a moda

preciso rever o modo de ensinar e

brasileira estava dcadas atrs, interessado mais em copiar

praticar design como uma disciplina

[descaradamente modelos aliengenas] do que criar. A moda e

que apenas organiza o espao vi-

agora o design de produtos saram desta enrascada olhando

sual. No podemos mais ignorar a

para nossas origens e aceitando a realidade como dado de seus

escrita verbal e devemos comear a

projetos. As semanas de moda de So Paulo e do Rio fazem

dominar as vrias escritas no-verbais. H muitos profissionais

parte de um circuito mundial, e nossos produtos aparecem em

analfabetos verbais e que muitas vezes ignoram como se orga-

revistas e so includos em mostras internacionais por impor-

niza o mundo da visualidade. Como posso editar um site de surfe

tantes curadores e crticos estrangeiros na Europa e nos _Estados

ou de medicina se no conheo nada do assunto? Apelando para

Unidos. No ser ignorando a produo vernacular, a acadmica

o talento? Apelando ao velho software Jeitinho Brasileiro nada

e a popular, ou colecionando ttulos "especializados" de nomes

ponto zero? necessrio que entendamos no apenas as inter-

exticos cqmo fashion , web, graphic que vamos sair do atoleiro.

faces, mas que saibamos organizar a terceira dimenso e admi-

O papel da crtica no organizar ou classificar as coisas que

nistrar criativamente o tempo, que cada vez mais sero exigidas

j foram produzidas. Ela constri pontos de vista divergentes,

dos designers em geral e no apenas daqueles envolvidos com

atua num campo de batalhas onde mais do que nos sentirmos

a web, com a televiso ou com o cinema. O designer hoje,

atacados devemos aprender a construir nossas idias com racio-

antes de mais nada, um editor e seu leitor, um homem com olhos,

cnios, emoes e conhecimento bem alicerados. E aprender a

ouvidos e todos os outros sentidos.

defend-las diante da sociedade. A divergncia, como a diversi-

1,

42

A FRMA E A FORMA

dade, faz parte da linguagem contempornea do design. Hoje no


fcil fazer um estilo, pois quem quer
ser designer precisa desenvolver
seu prprio modo de expresso.
No basta adotar a Helvetica ou a Comic Sans e um modo clean
de layoutar, ou adotar o estilo de fulano de Amsterd ou sicrano
da Califrnia: estaremos fazendo apenas o estilo deles. Agora
que so elas: qual o seu estilo?

Fazer design hoje em dia, como no


tempo das cavernas,
contextualizar idias, imagens e sons.

43

44

A FORMA E A FORMA

A FRMA E A FORMA

45

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COMMENT-TIL ET CESST-IL

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vidence de la s omme pour p~u qu'une

ILUMINAT-IL

LE HASARD
Stphane Mallarm [ 1842- 1898] poeta simboll
francos, compositor [versos e tipografia] deste poema,
1897, um dos precursores do uso do espao visual. !
vazios e do branco e da tipografia como elemcj

expressivos na poesia ocidental. Os pequenos trecho!


poema includos aq ui foram compostos com tipos~ .._ -
temporneos por Claud io Ferlauto.

'

46

A FRMA E A FORMA

REVISTA TUPIGRAFIA

Tupigrafia. A revista brasileira de

47

Estados Unidos. Projeto tipogrfico que tem diversos


autores, visto que cada matria preparada e editada pelos

tipografia que rene um espectro

prprios autores, com os editores Rocha e de Marco

amplo das manifestaes tipogrficas

fazendo o trabalho de costurar e interligar cada uma das

e caligrficas do Brasil est no seu

formas visuais. O resultado traduz a diversidade das idias


e espelha a realidade do design contemporneo, que

nmero 4. J premiada por seu

contempla uma multiplicidade de vises e verdades [e que

projeto grfico e por seu contedo,

esqueceu a obrigao de seguir as regras e convenes,

teve reconhecida sua importncia e

como dito em pgina anterior]. No uma prtica nova nem


revolucionria. Foi muito usada nos anos 60 pelos

sua pertinncia pelos papas das

participantes da Mail Arte pela imprensa alternativa do

principais associaes tipogrficas

perdo do sexo-drogas e rock~and-roll. de resto a forma

- ATypl Association Typographique

possvel de publicar idias novas no velho ambiente

lnternationale,

e S{o} TA Society of

editorial brasileiro, valendo-se apenas do voluntarismo


e de uma certa atitude intelectual visionria. Mas os frutos

Typographic Aficionados - conforme

so bons. Ela atualmente muito melhor e mais bonita que

relatos de Claudio Rocha e Tony de

a badalada Dot Dot Dot, to discutida e debatida na Europa.

Marco presentes nos congressos de


Vancouver, Canad e Minneapolis,

Vamos chegar l.\ quando tivermos a edio bilinge


distribuda na Holanda. Por enquanto aproveitem este
privilgio: leiam e vejam a nossa Tupigrafia.

48

A FRMA E A FORMA

50

A FRMA E A FORMA

ea Feitler, (1938-1982), designer brasileira e diretora


de arte em Nova York das revistas Rolling Stone,
Harper's Bazaar, Ms, Vanity Fair entre outros projetos, pode ser desconhecida pelos brasileiros, mas
lembrada, cultuada e relembrada pelos vizinhos do norte.
Em 1989, a AIGA American lnstitute of Graphic Arts, incluiu seu
nome na relao dos principais designers americanos, numa lista
iniciada em 1920 por Norman Munder, na qual se encontram
os tipgrafos Frederic Goudy (1927) e Stanley Morrison (1946) ,
o editor Alfred Knopf (1950), o compositor tipogrfico Jan
Tschichold (1954), Saul Steinberg (1963). Paul Rand (1966),
Herbert Bayer, da Bauhaus (1970), Milton Glaser (1972), o fotgrafo Richard Avedon e o arquiteto Philip Johnson, em 1973,
Henry Wolf (1976), o casal de designers Charles and Ray Eames
(1977) etc. Uma relao de deuses do design em que ela uma
das raras mulheres, e o que comprova nosso descaso generalizado com os talentos brasileiros. Bea comeou sua carreira no
Rio de Janeiro na Revista Senhor, no final dos anos 50, trabalhando ao lado de Paulo Francis e sob a direo de Carlos Scliar.
Em seguida abriu um escritrio com Jaguar e Glauco Rodrigues,
o Estdio G, no Rio de Janeiro.

m 1961 voltou aos Estados Unidos, onde havia estudado, a convite de seu ex-professor Henri Wolf para
participar da eqUipe que iria redesenhar a revista de
moda Harper's Bazaar. Felipe Taborda publicou um breve, to
breve como este, perfil de Feitler na revista Print, Brazil Designs
em 1987, em que ele reconhece o talento dela "no uso da
tipografia e na sua capacidade de instigar o trabalho de fot-

BEA FEITLER

51

grafos e outros colaboradores, fazendo nico seu trabalho de


direo de arte e grande a sua influncia no mundo editorial
mundial". Fernanda Sarmento em sua tese sobre a Revista
Senhor documenta parte do trabalho de Bea no Rio de Janeiro
dos anos 60. Bea morreu aos 44 anos de idade. Hoje, certamente, estaria na ativa, e seria merecedora das palavras derramadas pelos editores da revista Rollng Stone em 1982: "Se
algum escrever a histria das artes grficas deste sculo,
haver lugar de destaque para Bea Feitler, talvez o principal." O
curioso que esta histria foi escrita (Graphic Design in America,
A Visual Language History, do Walk Art Center em 1989) sem
nenhuma referncia ao seu trabalho. Nesse mesmo ano, o historiador e designer Philip Meggs foi encarregado de fazer um longo
e laudatrio artigo sobre a vida e obra de Bea para o anurio da
AIGA no qual reala a qualidade de seu trabalho e a generosidade no trato com os seus colaboradores. Esta lacuna histrica
foi corrigida por Steven Heller e Elinor Petit em 2000 no livro
Graphic Design Time Une, da Allworth, no qual ela te~ cinco
citaes no perodo que vai de 1938 (nascimento), sua estria
em Nova York em 1963 ao lado de Ruth Ansel na Harper's, 1972
depois de deixar a Harper's, para criar a revista Ms, 1982 (sua
morte), at 1983 quando da realizao pstuma de seu projeto
para Vanity Fair.

sua obra tem registros no livro de Meggs A History ot


Graphic Design, da editora John Wiley & Sons, e ela,
ao lado de Walt Disney, Norman Rockwell e outros
gnios do design, faz parte do Hall ot Fame do Art Directors Club
de Nova York. Merecidamente.

TRIBO NDIA

52

53

No me lembro quando foi nem

dos nossos anos recentes. Tribo ln

como conheci a figura. Minhas

tornou-se aos poucos uma

lembranas so esfumaadas para curiosidade, um assunto


perodos de meses, imagine para

interessante para enriquecer

coisas do sculo passado. Mas

minhas conversas e que eu poderia

minha lembrana mais distante

incluir em algum papo sobre

est ligada ao Dia do ndio,

design ou sobre ndios ...

quando meu fax sempre recebia

provvel que eu tenha

uma mensagem de uma

conhecido o Eduar1o Braga

tal Tribo ln.

atravs do Olhar Grfico, da

O nome era interessante e


misturava uma coisa realmente

Revista Abigraf ou talvez por

alguma outra artimanha desenhada

brasileira com este anglicismo (ou pelo destino. E o mais interessante,


seria norteamericanismo) tpico

uai, que a Tribo ln era de Belo

54

A FRMA E A FORMA

Horizonte e acabou se revelando

idias, principalmente aquelas

um trem bo. Por algum tempo

mais intuitivas, que ele dava forma

conversamos, desconfiados como

com traos decididos e

mineiros e arredios como gachos. contemporneos. E bem mineiros,


A conversa, entretanto, prosperou, a seu jeito. Alis, expresso visual
tomamo-nos colaboradores

que, desconfio, tem a ver com sua

recprocos e, mais tarde, arpigos.

turma na FUMA.

Ele passou a colaborar com o

Dez anos no muito tempo,

Olhar Grfio e editou dois

mas j urna bela caminhada. A

nmeros especiais sobre o design

vida tribal e solidria daqueles

de Minas Gerais, e eu participei

tempos mudou muito. Ela perdeu

de eventos armados ou articulados espao para um individualismo


por ele em Belo Horizonte, que

narcisista, alienado [do ponto de

de, certa forma, redundaram na

vista pessoal] e aliengena [do

formao da Memex, a associao ponto de vista da produo


dos designers de Minas Gerais.
Alm disso, sempre gostei de

brasileira do design]. Crescemos


como negcio, e o design

seu trabalho grfico humorado e

brasileiro regrediu culturalmente,

bem costurado conceitualmente,

mas de qualquer maneira sempre

e toda vez que fui instado por ele

haver espao para caminhadas

a opinar sobre sua produo, repeti frteis e solidrias, mesmo que


que ele deveria valorizar suas

solitrias. Novembro de 2002

55

56

A FRMA E A FORMA

MARCAS DA MEMRIA

[Weing art]

Quatro trabalhos feitos sem


as presses comerciais.
Dois deles
[nas extremidades] foram
realizados com ajuda do
Photoshop e do escaner.
Minas foi desenhado com
caneta caligrfica e em
seguida propositadamente
manipulada de modo
exagerado para parecer
trabalho de micreiro,
desses que usam 3, 4 ou
mais filtros em todo e
qualquer trabalho grfico.
Cachorro Louco, marca
para editora, foi desenhada
diretamente no Photoshop
com o lpis eletrnico. Os
outros foram executados
em programa vetorial e
usados na seo Olhar
Grfico da Revista Abigraf.

57

Cachorro Louco

APRESENTAES

59

Claudio Rocha. Elas so famosas, elegantes, admiradas por

58

artista~, tipgrafos e designers. So 21 sinais utilizados em todo


imprio romano e inspirados em alfabetos etruscos e gregos. Foram "escritas" cerca de 113 anos depois de Cristo na base da coluna de Trajano, em Roma, e so con hecidas pelo nome d~ capi-

ta/is romana. Supe-se que antes de serem esculpidas tenham


sido pintadas sobre o mrmore com pincel caligrfico, donde resultam suas formas elegantes. Elas tm seduzido a muitos : Adrian
Frutiger foi fotografado no local decalcando-as sobre papel, Eric
Gill fez a mesma coisa na rplica em gesso existente em Londres,
Jan Tschichold e Frederic Goudy escreveram sobre sua beleza e
propores. Claudio Rocha esteve l para conferir estas romanas
famosas quando da realizao do Congresso da ATypl de 2002 e
usa desse conhecimento direto para nos falar da Trajan.

60

A FRMA E A FORMA

APRESENTAES

61

Massimo Vignelli . Os novos tempos oferecem dois cami-

Gad Design. Um escritrio em todos os sentidos.

nhos aos jovens designers e, por conseguinte, tambm aos

nascem, crescem, ficam anos bem vivos, prosperam. Alguns

estudantes: o intuitivo e o racional. So duas grandes

desaparecem naturalmente. Outros perecem quando seus fun-

avenidas, como afirma Massimo Vignelli: "Existem dois

dadores os abandonam. E h aqueles que seguem suas vidas

tipos de designers grficos, um tem razes na histria, na

com outros profissionais ou sob a direo de novos donos ou

semitica e na filosofia de procurar a soluo de problemas;

controladores, mas perdem a alma.

e, o outro, com razes na pintura, nas artes figurativas, na


publicidade e na moda". Segundo ele, os primeiros se inter-

Escritrios

Menos a Landor, claro, que continua cultuando o Walter e seu


barco em So Francisco.

essam em identificar os problemas e utilizam o design como


respostas e ao. So preparados para organizar a infor-

Escritrios, entretanto, se distinguem um dos outros assim co-

mao. Os outros esto interessados nas aparncias e dese-

mo ns, pessoas fsicas, nos distinguimos na multido pela rou-

jam mudar as coisas o tempo todo. So os garotos eletrni-

pa, pelas idias, pelas atitudes etc. Distinguem-se por sua pro-

cos, aos quais refere-se o designer Fernando Lemos quando

duo criativa e empresarial e pela capacidade de comunicar e

critica o falso design grfico de hoje em dia. Para Vignelli,

divulgar suas realizaes . Escritrios so formados de pessoas

David Carson o prottipo desta segunda avenida. O da

que se associam quando jovens, por causa de ideais e sonhos.

primeira via seria ele prprio. Uma avenida leva para a con-

Ou por ambies e desejos. Pessoas que se unem solidrias em

cepo estrutural, a outra para o emocional. Mas ser to

torno de objetivos at perceberem que falta algo nessas organi-

simples assim? Janeiro 2002.

zaes formadas s de criadores, que lhes permita tornar-se


empresas e fazer do design um negcio respeitado e importante
para a sociedade.

Assim aconteceu com muitos ao redor do


mundo, at com a Pentagram, a primeira, de Londres.

62

APRESENTAES

A FRMA E A FORMA

63

As outras faces do design - administrao, promoo, pro-

Primeiro ele teve de aprender e absorver as diversas facetas

duo - so essenciais para o crescimento dos escritrios e do

gachas do design. E mais: aprender com diversas experincias

mercado profissional. Se nas dcadas finais do sculo 20 essas

e atividades, nas diversas disciplinas com variadas vises de

necessidades no eram to definidas e importantes, a partir dos

mercado, e principalmente com diversos profissionais. Isso pos-

ltimos anos da dcada de 90, com a rpida acelerao dos

sibilitou a adaptar-se rapidamente diversidade da era da infor-

meios tecnolgicos, com a internet e conseqentemente com

mao e construir posturas profissionais inovadoras no mercado

uma nova viso do mundo, as coisas mudaram para sempre. Era

brasileiro. perfeitamente normal que grandes escritrios pro-

a hora da integrao e da viso globalizada. O design total foi

duzam com eficincia e qualidade, caso contrrio no cresce-

antecipado pelo design italiano, que h cinqenta anos organizou

riam. Mas so poucos os grandes que produzem com criativi-

sua associao de design com todos os profissionais envolvidos

dade. A maior parte deles se restringe a aplicar metodologias

na profisso - de designers a produtores, de crticos a historia-

seguras e inquestionveis, produzindo um design previsvel. No

dores, de fabricantes a jornalistas.

o caso desse escritrio, do qual no ficaremos descrevendo

Que digam as interbrands


e outras brands do primeiro mundo.

trabalhos - todos esto disponveis aqui para o olhar crtico e


para o olhar diversificado de estudantes, de profissionais, de
empresrios e de outros escritrios. E todos podem observar que

O GAD Design se distingue dos demais porque criou uma viso

estes trabalhos integram com qualidade servios de arquitetura e

diferente do design no Brasil. Enquanto a maioria est acostuma-

design grfico, desenho industrial e produtos para web, material

da a pensar o Brasil a partir de So Paulo e/ou do Rio de Janeiro

de ponto-de-venda e embalagem para todas as escalas do mer-

- uma viso que deixou de funcionar com a internet e com a troca

cado do design. Do grande ao minsculo. O estrutural e o -even-

de informaes em tempo real - este construiu uma viso globa-

tual. Regional e global.

lizada atravs da incorporao de idias e pessoas de diversos

Um modelo integrado, como a viso dos

escritrios do Rio Grande. Olhando o Brasil de um ponto de vista

p ioneiros do design na Europa e no Brasil.

incomum, fora do eixo central da economia brasileira, se props


o desafio de tornar-se uma empresa naciQnal de negcios de
design para o Brasil e para a Amrica Latina.
Valorizando funes e equipes,
escritrios se transformam em empresas.

Nos anos 40, do sculo passado, foi a Varig Viao Area Rio
Grandense, que saiu de Porto Alegre expandindo suas atividades
para o Brasil e para o mundo. Nos anos 60, foi a vez da MPM
Propaganda [iniciais de Mahfuz, Petrnio e Macedo], que se

64

A FRMA E A FORMA

APRESENTAES

65

estabeleceu no Rio de Janeiro no rastro de um de seus principais

Fernanda Martins . Conheo Fernanda de encontros da

e mais duradouros clientes, a lpiranga Petrleo, montando em

profisso e acompanho seu trabalho como designer

seguida a filial de So Paulo. A MPM foi por longos anos a maior

tipogrfica em palestras, workshops, mostras e trabalhos

agncia de publicidade de capital nacional at ser comprada por

profissionais. Ela uma das poucas profissionais no Brasil

um grupo estrangeiro. Claro que so experincias diferentes, to

que cursou o Programa Avanado de Ps-Graduao em

diferentes quanto as conquistas do Grmio e do Internacional no

Design Grfico na Basel School of Design, Suia, onde estu-

Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil, e a expanso nacio-

dou com Wolfgang Weingart, Michael Renner, Moritz

nal e internacional de empresas gachas como a Gerdau, Gren-

Zwimpfer, entre outros, e se especializou em Tipografia e

dene e Marcopolo.

Letterform Design com Andr Grtler [designer que traba-

Essas referncias gachas esto aqui porque fazem parte de

lhou com Adrian Frutiger, o criador da lendria Univers].

nossa experincia profissional, assim como da trajetria do Gad

Formada em artes plsticas pela ECA-USP, atua como

Design, que refaz este roteiro no incio do sculo 21 ao montar

designer desde o final dos anos 70. Em 1986, retomou as

escritrios em So Paulo e no Rio de Janeiro. E assumir o papel

atividades da empresa de seu pai, Ruben Martins - a

que projetou para si nos ltimos anos: liderar. Abril 2004.

Forminform, que foi um dos primeiros e mais importantes


escritrios de design no Brasil. O trabalho de Fernanda, ao

contrrio da moda de tipos sem design e sem desenho,


baseado no conhecimento da cultura tipogrfica e na
crena da necessidade do projeto como fundamen.to da
atividade. Suas criaes podem ser vistas nos catlogos da
mostra Tipografia Brasilis e bienais da ADG Associao dos
Designers Grficos e claro, em seus projetos profissionais.
Recentemente

realizou

mostras

individuais na

Uni-

verCidade - Rio de Janeiro, em 2002 e na Universidade


Federal do Paran, em 2001.

66

A FRMA E A FORMA

Wolfgang Weingart. Paul Rand, o grande designer modernista, pouco antes de morrer, escreveu para Wolfgang Weingart
um texto gentil e interessante que comeava por "He is a bird" e
terminava por "He is original". Para Weingart [e certamente para
Rand tambm] ser original ser fiel s suas origens. Isto , ser
fiel quilo que na sua origem como ser humano foi formador da
sua sensibilidade, de sua inteligncia e de sua viso do mundo.
To importante quanto original, esse texto essencial para a
compreenso do mundo tipogrfico contemporneo e uma lio
de design grfico.

Notas de viagem
Colnia
Alemanha

68

A FO RMA E A FORMA

CADERNO DE NOTAS

Notas de viagens
Sant Lloren des Cardassar
Mellorca
Eapanha

Notas de viagens
Barcelona
Espanha

~__,.....-----

69

O DESIGN CONTEMPORNEO . .

71

No ltimo sculo o design teve pelo menos trs maneiras de

70

ser visto e interpretado. Vamos fal ar delas de modo


esquemtico para que possamos com preender o que e quais
so as caractersticas do design contemporneo:
- A primeira a do design funcionalista, prtico, simples .

- A segunda, a de um design contestador, nem sempre


funcion al e quase sempre complexo.
- E a terceira, a que vivemos agora, que de certa forma une
simplicidade e complexidade com pleno atendimento
das funes.

parte um

A primeira fase do desenho industrial est ligada ao


surgimento da indstria e famosa Revoluo Industrial.

72

O DESIGN CONTEMPORNEO ...

A FORMA E A FORMA

nesse momento que nascem as idias, os conceitos e a

norteavam a criao e produo do design eram a

designao da atividade. quando aparece a palavra design.

racionalidade, a simplificao das formas e a procura de

No que no existissem projetos e bons produtos antes da

custos que possibilitassem o acesso do maior nmero de

Revoluo Industrial, ou seja, antes da substituio da fora

pessoas aos produtos industriais.

humana e animal pela fora das mquinas a vapor.


Eles existiam e eram famosos, como porcelanas e tecidos

73

Era o tempo do funcionalismo. Na arte. o perodo ficou


marcado pelo ttulo de Modernismo. Os slogans modernistas

das Casas Reais e os mveis Biedermeier na Europa; a

que resumiam o design eram a forma segue a funo e /ess is

arquitetura, o mobilirio e os utenslios Shakers, nos Estados

more [menos mais]. tambm desse tempo a criao da

Unidos, produzidos cem anos antes da Bauhaus, apenas para

indstria como a conhecemos hoje. Henri Ford inventa a linha

falar de casos evidentes. O trabalho das primeiras indstrias

de montagem no incio de 1900, criando os primeiros

exigiu uma adaptao entre as habilidades dos artesos e as

rudimentos de um mercado de consumo. Mas diferentemente

novas ferramentas. E conseqentemente o apoio de um profis-

de hoje, a indstria produzia o que queria e empurrava a

sional que soubesse criar e produzir. Nascia uma nova profis-

produo para cima do mercado, tanto que Henri Ford costu-

so: o desenhista industrial, mais tarde chamado de designer.

mava dizer que "se pode comprar um Ford Modelo T de qual-

Esta maneira inicial de ver a atividade ganhou forma nas

quer cor, desde que ela seja preta". Este modelo produtivo que

primeiras escolas de design na Inglaterra [bero da Revoluo

desconsiderava as necessidades e anseios do mercado entrou

Industrial] e na Alemanha. A escola mais famosa e a que mais

em colapso nos anos 60 em razo das diversas e profundas

influenciou o design no ltimo sculo foi a Bauhaus, fundada

mudanas ocorridas na sociedade aps o final da Segunda

erri 1919 na Alemanha, uma escola de arquitetura que

Guerra Mundial.

considerava o desenho dos objetos como responsabilidade


dos arquitetos.
Ela nasceu de dois fatores: o primeiro que falamos h pouco,
do desejo de unir a arte e a tecnologia recente, e o segundo,
da .necessidade da sociedade alem em particular, e da
europia em geral, devastadas pelas guerras napolenicas, de
reconstruir suas cidades e reequipar suas habitaes de
maneira rpida, econmica e eficiente. Os princpios que

Os carros deste primeiro design


so o Fusca, o Topolino, o Citroen
Dois Cavalos.
O fogo centraliza a vida da
casa na cozinha e na copa.
A grfica segue os princpios
originais de Gutemberg, com tipo
metlicos e estrutura formal rgida.

74

A FORMA E A FORMA

O DESIGN CONTEMPORNEO . . .

75

parte dois

sociedade em que vivemos . le sintetiza formalmente todas

A partir dos anos 60, - que foram anos de contestao

as caractersticas destes tempos, ou seja, uma sociedade

social, cultural e poltica-, o modernismo substitudo por

multifacetada, multicultural, informacionalmente complexa,

idias que consideram as necessidades e os sonhos do

automaticamente em transformao, fatalmente vai produzir

consumidor como parte essencial do processo produtivo. o

uma cultura com estas caractersticas e fabricar produtos

que se convencionou chamar de Ps-Modernismo. O slogan se

capazes de atender s necessidades, desejos e sonhos desta

transforma em pardia: !ess is bore [menos chato}. Agora se

nova sociedade. O automvel o produto no qual mais fcil

cria e se produz em funo das exigncias do usurio e do

e mais visvel identificar estas mudanas. Ningum quer um

consumidor, paralelamente a produtos de contestao,

carro apenas funcional , como se dizia dos antigos Fuscas

inicialmente na Itlia, onde so criados em estilos diversos,

- s um meio de transporte. Desejamos algo que nos represente

recuperando maneirismos clssicos ou produzindo objetos

e que responda aos nossos sonhos e desejos. Mas no

inteis como cadeiras de trs ps, que discutiam o novo

queremos um carro de estilo antigo, clssico, barroco.

design e a nova sociedade. nesse perodo que se incubam

Projetos como o Smart, para citar apenas um exemplo, ou

as idias que comporo o universo do design globalizado e

como as experincias da Citren nos anos 70, de substituir a

multifacetado que vivenciamos no fim do sculo 20.

linha de montagem por ncleos de montagem, so


esclarecedores e impem novos conceitos de design.

Nasce a idia do Carro Mundial,


como o Fiat Uno.
As cozinhas perdem lugar para a

O Smart da Mercedes Benz o


carro exemplo do novo design

TV e para as salas de estar como

que incorpora, por meios

lugar importante da casa.

transversos, a idia de composio

Novas tecno!ogias como a


fotocomposio e o off-set
modificam a criao grfica.

do Tangran de obter muitas solues


a partir de algumas formas bsicas.
A cozinha volta ao centro da vida
domstica.

parte trs

O design contemporneo, territrio por onde navegamos


hoje, como todas as manifestaes cu lturais, retrato da

O design grfico se liberta de todos


os dogmas, alcana as mdias digitais e renova as linguagens visuais
da mdia impressa.

76

A FORMA E A FORMA

final

O design tambm tem papel fundamental na transformao


dos ambientes onde vivemos: a cozinha, depois de mais de
meio sculo, retoma seu lugar de centro vital da casa. Antes
reunia as pessoas ao redor do fogo, agora o lugar onde
amigos e amigas se encontram para curtir as delcias de
comidas e bebidas. Agora passam a incorporar em seus
desenhos novos materiais , novos acabamentos e claro, novas
funes e tecnologias. As funes que eram simplesmente
prticas se enriquecem com funes
ldicas e emocionais. Paola Antonelli,
curadora do MoMA de Nova York costuma
repetir que "fazer rir e emocionar so
funes importantes no design
contemporneo". Mveis e utenslios
bem-humorados, transparncias e
facilidades de manuteno, modificaram o
conceito e a percepo destes ambientes. O mesmo acontece,
por exemplo, na tipografia contempornea, em que a
brincadeira e a pardia ocupam lugar ao lado das clssicas e
perfeitas letras da tradio grfica.
Nas ltimas dcadas, a capacidade do design de instigar a
imaginao no uso dos elementos [e das ferramentas]
disponveis no mercado transformou o design [de produtos,
grfico e digital] numa coqueluche mundial, aumentando a
responsabi lidade tcnica e social dos profissionais do design . .
Janeiro 2003.

Notas de viagens
Campanrio de Giotto
Florena, Itlia

78

MARCAS QUE NO MARCAM

A FORMA E A FORMA

"A necessidade de erguer uma c pula to grande e ta era

79

entidade histrico-poltica.

sarjetas. Se por acaso

Cidade estado [ com a

encontram um pouco deste lixo

populao igual a do Rio

sobre a guia, este no de

Grande do Sul, por exemplo]

sua jurisdio e fica onde est.

determinada pelo campanrio que Giotto, pouco anlc da


metde do sculo XIV, construra ao lado da catedral
inacabada( ...) o campanrio se erquia isolado e altlsmo,
como uma antena. visvel de todos os pontos da cidae, da
qual marcava o centro, o eixo ideal. Decerto o signifiado
simblico-urbanstico do campanrio de Giotto no pdia
escapar a Brunelleschi. Este porm, graas ao sentio

merece um melhor cuidado de E o prefeito quer mesmo ser

histrico implcito na cultura humanstica, sabia tamlJ,11 que


os valores atuais da cidade j no eram os que Gioll
expressava e exaltava no campanrio. Florena j n era

seus governantes que em geral presidente. A cidade que se


a governam pensando em

lixe. A sede da prefeitura podia

outros cargos e no no

ser desenhada como um

artes mechanicae, mas pela dignidade intelectual da

bem-estar da cidade. Fazem

grande trampolim e faria um

artes liberales ( ... ). Era preciso, portanto, criar uma f011a


inovadora para expressar aque la nova realidade histcica. e

a mesma coisa que os

belo par com o prdio igual a

varredores de sarjeta destas

uma imensa fatia de melncia

mesmas administraes: no

que delicia os turistas da

esto ali para limpar a cidade,

cidade que passam pela

esto apenas para varrer as

Brigadeiro Lus Antonio .

mais uma comunidade de artesos e mercadores. ms uma


potnc ia financeira, uma entida d e histrico-pollica: sa
c ultura j no era caracterizada pela excelncia das

conferir a esta forma um desenvolvimento dimensiorn que


lhe permitisse prevalecer sobre o smbolo do campa,\rio,
cujo significado histrico j era obsoleto".
Giulio Cario Argan in Clssico Anticlssico.

Marcas que no marcam

de dois mil e tanto.

Esta histria me faz lembrar

Os dois projetos no tm

duas marcas criadas este ano

qualidade, b eiram ao ridcLO

para a Cidade de So Paulo:

e no expressam a realidace

uma, para a comemorao

desta cidade.

dos 450 anos e outra, a

Parodiando Argan, So Pauo

Festas centenrias, especialmente as pblicas, tm

utilizada no projeto para a

no uma comunidade de

sempre algo brega nas suas comemoraes. E produzem

disputa com o Rio de Janeiro

perueiros e ambulantes, ms

muitas coisas kitsch, que olhadas retrospectivamente

para ser sede das Olimpadas

uma potncia financeira, una

[por outras geraes] parecem risveis e pertencentes a

So Paulo 400+50.

80

A FORMA E A FORMA

um universo distante de ns. No temos nada com essa


breguice, exclamamos divertindo-nos com aquele
punhado de canecas, canetas, distintivos, porta copos
marcados pela distinta marca centenria. Foi assim nos
quartos centenrios do Rio (projeto de Alosio Magalhesl
e de So Paulo [sinal desenhado por Oscar Niemeier] nos
anos 50. Mas permanecemos tranquilos, afinal esse passado nada tem a ver conosco.
Mas o duro perceber a breguice assombrando ao vivo e
on-line como estas minhocas coloridas que se enrolam nos
algarismos 450 dessa festa paulistana de PIB zero, onde o
espetculo do crescimento acontece a cada

SP'1>+
SOANOS

esquina da cidade com malabares e um comrcio de balas, chicletes, bonecos inflveis, amendoim torrado, gua mineral etc. As minhocas

coloridas nasceram de um concurso aberto. Isto quer dizer


que centenas de donas de casa, de estudantes secundaristas, de micreiros de todos os graus puderam disputar o
grande prmio - um computador pessoal, e cometer seus
designs. Concursos abertos geram resultados inesperados
que depois podem atormentar a viso, poluir sofisticadamente e oficialmente] a cidade. Mas quem organiza e
avalisa essas iniciativas conta com o tempo e a falta de
memria da cidade e dos cidados e apostam no esquecimento ps-mandato. Daqui a 50 anos os crticos podero
ver nessas manifestaces alguma coisa pop ou kitsch. Ou
ainda seguiro sendo pura breguice? Maio 2004.

ao

82

A FORMA E A FORMA

MARCAS DA MEMRIA

. r.Jornruc

CINEX

SOFT SQUARE

SALO

DESIGN

Logotipos e
marcas
desenhadas a
partir de 2000.
Jornal do Alumnio,
Cinex Amrica e Soft
Square para
a empresa gacha
Cinex, de Bento
Gonalves, RS.
Rosari para Edies
Rosari de So Paulo
e, redesenho da
marca Salo Design
Movelsul , de Bento
Gonalves, RS, na
qual foram mantidas
a estrutura e as
proporqes da marca
existente aplicando
tipografias sem
distores ou
alteraes de largura.
Tambm na outra
pgina projetos
baseados em
caligrafia e tipografia.

83

Rosa ri

MOVELSUL

2 O O4

OLHAR
GRA C

OUTROS LIVROS, RESENHAS

84

85

Uma histria concisa do design no Brasil.


Design visual: 50 anos o livro de Alexandre
Wollner. uma biografia tcnica e emotiva dentro
da recente tradio dos livros de designers - como
o My way in typography de Wolfgang Weingart, ou o livro O otimista perverso de Tibor Kalman [com uma ressalva, os dois tm
muito pouca coisa em comum]. Weingart cu_mpre a promessa de
um livro definitivo sobre seu trabalho tipogrfico contendo um
curso superior, intensivo, denso e pessoal de design tipogrfico.
O livro de Alexandre nos reabre os olhos para as questes da
metodologia e das crenas do design grfico moderno. Ambos
respondem tambm a questes contemporneas, especialmente
no uso da tipografia e na construo pensante do design visual.
A primeira lio de Wollner nos chamar a ateno sobre a

86 ;.. FORMA E A FORMA

OUTROS LIVROS, RESENHAS

87

escala humana do trabalho dos designers, e isto significa, entre

e Felipe Taborda, formam uma verdadeira histria concisa do

outras coisas, respeitar as relaes ergonmicas, culturais e

design grfico brasileiro. Neles esto as janelas e as portas pelas

sociais dos usrios do design. A segunda, e da mesma impor-

quais podemos vislumbrar o que passou e o que nos promete o

tncia, o amor profisso e sua prtica ntegra e criativa.

futuro da atividade no Brasil. Esto as sementes como do IAC e

A obra trata das cinco dcadas - anos 50, 60, 70, 80 e 90 -

da ESDI e personagens seminais como Dcio Pignatari, Geraldo

que transpassam por sua formao no IAC - Instituto de Arte

de Barros, Bea Feitler, Flvio Motta, Una Bo, Leopoldo Haar,

Contempornea do MASP e na Escola de Ulm na Alemanha, sua

Antonio Maluf, Fernando Lemos, Carmem Portinho, Goebel

volta ao Brasil com a formao da ESDI - Escola Superior de

Weyne, Carl Bergmiller e tantos outros.

Desenho Industrial, os primeiros parceiros como Geraldo de


Barros e Karl Bergmiller e seus principais projetos pioneiros no
Brasil. E tambm sua participao nas parcerias com a DPZ na

PS. Wollner desenhou, entre tantas outras, marcas importantes do


design visual brasileiro: Equipesca, Sardinhas Coqueiro, Eucatex,
Ultragas, Elevadores Atlas, Papaiz, Philco, Banco !tau, Klabin, So Paulo
Petrleo, lnfo Globo etc, etc.

SAO e com Washington Olivetto na Made in Brasil e outros acontecimentos importantes para o design brasileiro.
Uma viso modernista? Sim, mas um ponto de vista que nos
ajuda a ver o design de modo correto. Uma prtica ortodoxa, tipo
alem-sua? Nem tanto. Para compreender a viso brasileira do

Regras nunca mais No ms normas No more.

brasileiro Wollner basta conhecer os cones visuais criados por

"As regras existem para serem quebradas, mas

ele desde os cartazes construtivistas dos anos 50 at as expe-

no ignoradas" Rick Poynor fala pelas palavras

rincias tipogrficas dos anos 90. Nenhuma concesso, nenhuma

de Dan Friedman na introduo do livro em que

modinha. Apenas bom design.

cita outros frasistas interessantes como Bob Gil no ttulo de seu

O design visual junto com o A herana do olhar- O design de

livro famoso - Esquea todas as regras sobre design grfico.

Aloisio Magalhes, concebido e editado por Joo de Souza Leite

Incluindo as deste livro. John Lewis - Regras so feitas para

88 A FORMA E A FORMA

serem quebradas. Tibor Kalman - Regras so boas. Quebre-as.

o texto

de Poynor nos d uma dezena de outras razes para

sairmos da mesmice regrada do design comercial. So anlises


e exemplos sobre os fundamentos do design contemporneo.
Dividido em seis captulos muito bem ilustrados: 1 Origens, 2
Desconstruo, 3 Apropriao, 4 Techno, 5 Autoral, 6
Oposio .
1 - Nas origens esto focados, entre outros, Dan Friedman,
Willi Kunz, Michael Vanderbyl, o movimento Memphis/Itlia, e
Wolfgang Weingart /Sua.
2 - Para o autor, o punk design do incio da carreira de
Neville Brody est par a par com o trabalho do Studio
Dumbar/Holanda e nas idias de desconstruo costuradas por
Katherine McCoy em Cranbrook nas dcadas de 1980 e 1990.
3 - A apropriao exemplificada com trabalhos dos ingleses Brody e Peter Saville, mas passa pela produo de estrelas
famosas como Paula Scher, Tibor Kalman, Art Chandry e
Charles S. Anderson nos Estados Unidos.
4 - Para o techno "o computador o novo paradigma, uma
lousa mgica que abre uma nova era de oportunidades para os
artistas grficos", diz Rick. Rudy Vanderlans e a revista Emigre
sintetizam o tema ao lado de Scott Makela, April Greiman, J.

U111 :, I IVI Hli, Ili III li I

Abott Miller, Barry Deck e outros.


5 - Design autoral: "o surgimento do design de autor

u111

das idias-chave do design grfico ps-moderno." Ne t


queta de Rick cabem autores autodidatas como Ed Fell

'

intelectuais novaiorquinas Ellen Lupton e Johanna Druck r,


estrelas do Tomato, Bruce Mau, Chris Ware.
6 - E quem faz oposio falta de regras? A relao abr
com Paul Rand e Massimo Vignelli, passa por Steven Hell r
[diretor de arte do New York Times, escritor e editor], Dan
Friedman, autor de Radical Modernism, Linda Hutcheon [The
politics of Postmodernism]. Aqui ele inclui tambm os conheci-

dos grupos de protesto Guerrilla Girls, Adbusters [First things


First 2000J, e Designers Republic [que oferecem ao consumidor

a oportunidade de "nada comprar"] e um grande designer Jonathan Barnbrook.


Quebre suas regras e gaste um dinheirinho para ler e ver
coisas desregradas.

WOLFGANG W EINGART

91

Qual a sua v iso/opinio sobre a tipografia su a neste


como se pode fazer
tipografia sua?
How can one make
Swiss typography?

incio de sculo?

WW - Quem so os jovens designers suos? Voc quer


mesmo dizer os mesmos nomes como eu? Consulte o
Benzin Book da editora Lars Mller. Ns temos na Sua
um design impuro. a globalizao!
H alguma refernc ia entre o que os jovens desig ners
produzem hoje na Sua c om teu trabalho nas dcadas de
70/80/90 e com o trabalho antecedente feito por Armin
e Ruder?

WW - Basel se fez aparecer a partir do fim dos anos 60,


para levar a tipografia internacionalmente para outras
dimenses - abertas e malucas. Hofmann/Ruder foi ape-

90

nas uma parte desse tempo. No esquea Zurique.


Se houve r esta referncia, qual seria o trao de identidape
entre esses perodos?

WW - A identidade entre esses perodos eu no consigo


identificar agora.
Como voc encara a pu blicao de seu texto de 1972 no
Brasil, pas que s recentemente passou a c riar tipos e
encarar a tipog rafia com seriedade?

WW - O manuscrito de 1972 ainda, de certa forma, um


modelo bem clssico para qualquer pas, mas, por outro
lado, continua em busca de novos pensamentos, leia as
ltimas pginas.

1)( ,

92
Cartazes
para exposio de cartazes sobre a cidade de So Paulo,
na Universidade Anhembi Morumbi

2004
para as torres gmeas

2002
para congresso de semitica
na Faculdade de Belas Artes

2001

IUN.'

93

94 A FORMA E A FORMA

DESIGNS

,
QrAL O SEU TIPO
,. ... ~ .Q ..., ...... 1>poe?... .11
,.....,_:a~.,b:S,..:,<p,og~4

B de Bodoni

r::~1;~:a~,:~.:a~~

CI.AUDLO n: rll.A t.1'0

- .o4-, ...ii,iMpw-o,-,.
.... ...:., .... :a . ...ao....
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11.1...

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UN~ ..,Bodor.

G,.,.,,....-,d

&

B
Complexidade na colagem com antiguidades grficas para a revista
e simplicidade tipogrfica no livro. Ilustraes de Cristina Burger
transformadas em leno e gravata de seda para o Citibank.

~~~:;;;~~'

c1 ....i~r.,....,..

Jtc:111:m i

Neste cartaz trabalhei a idia de um workshop que ministrei na_Bahia


para a associao ABDesign e em So Paulo para o CONE Design no
final dos anos 90 que se intitulava Um poster para a letra A

95

EXPERIMENTAO

97

Num mundo onde no se mais obrigado a seguir regras

96

ditadas de cima para baixo, fundamental em primeiro


lugar conhecer as regras e em segundo, quebr-las. o
que tem sido dito nos ltimos anos pelos designers e pelos
crticos ao redor do mundo. Isso no uma unanimidade
na rea do design em geral e do grfico em particular. H
vozes que clamam por ordem e por leis que organizem a
linguagem para dar conta de demandas da parte mais
formal e conservadora do mercado. Os designers devem
saber disso. No entanto, no seguir regras no quer dizer
gerar caos e desordem. Ao contrrio, os designers
contemporneos devem criar as formas que representem
o mundo onde vivem, organizadas segundo o repertrio
dos usurios, atendendo s exigncias de comunicao,

98

A FORMA E A FORMA

EXPERIMENTAO

99

limites ergonmicos etc, mas com viso criativa atualizada.

editando as imagens de modo menos previsvel possvel;

O ensino formal dirige nossos sentidos e nossa lgica [de

compondo o espao grfico [pgina, pster, site] com

acordo com cnones que tm origem no incio do sculo

solues [inesperadas e] interessantes para o olho. A

passado], para a realizao de projetos lgicos, racionais,

principal atividade para se obter resultado positivo a

funcionais, de leitura simples e linear. Enquanto isso, o

pesquisa, mas uma outra exigncia necessria: a von-

mundo das relaes humanas torna-se cada vez mais

tade de mudar os padres, ampliar o repertrio cultural

analgico, emocional, criando novas funes [ "fazer

e o conjunto de respostas formais que as novas demandas

rir e emocionar so funes importantes no design

profissionais vo exigir dos designers hoje e nos

contemporneo" . diz Paola Antonelli, curadora de design do

prximos tempos.

MoMA. "Enquanto o modernismo institucionalizava o choque

do novo, o ps-moderno recoloca a crena de renovao na


pardia, na citao, no pastiche e numa inquieta aliana com
a tecnologia", diz Ellen Lupton, curadora e historiadora norte

americana], e propiciando um complexo leque de leituras


que podem ser feitas de muitos pontos de vista. Uma das
maneiras de descobrir caminhos a experimentao e a
explorao dos fundamentos e regras do design grfico e
da visualidade. Ou seja, modificar nossos "defauts"
automatizados pela prtica profissional. Traduzindo: para
deixarmos de copiar ns mesmos, bom desenvolver
maneiras de utilizar os ingredientes do design grfico: a
tipografia - usando-a de forma menos formal e preguiosa;

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