Livro - Startups - Como o Google Funciona - Eric Schmidt
Livro - Startups - Como o Google Funciona - Eric Schmidt
Livro - Startups - Como o Google Funciona - Eric Schmidt
Sobre a obra:
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"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando
por dinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo
nvel."
Eric Schmidt e
Jonathan Rosenberg
com Alan Eagle
TRADUO
Andr Gordirro
TTULO ORIGINAL
How Google Works
PREPARAO
Fernanda Machty ngier
REVISO
Lusa Ulhoa
Paula Diniz
CAPA
2014 Hachette Book Group, Inc.
ARTE DE CAPA
Jonathan Jarvis
ADAPTAO DE CAPA
Julio Moreira
REVISO DE EPUB
Vanessa Goldmacher
GERAO DE EPUB
Intrnseca
E-ISBN
978-85-8057-614-6
Sumrio
Capa
Folha de rosto
Crditos
Mdias sociais
Dedicatria
Prefcio
Agradecimentos
Glossrio
Uma observao sobre os autores
Conhea outro ttulo de Eric Schmidt
Leia tambm
Prefcio
Em julho de 2003, quando j era o diretor executivo (CEO) do Google Inc. havia
dois anos, Eric Schmidt recebeu um e-mail de um integrante do conselho de
administrao e investidor da empresa, Mike Moritz, um parceiro na Sequoia
Capital. A mensagem inclua uma sugesto:
talvez voc deva reservar trs horas em meados de agosto, quando a direo
ir apresentar ao conselho nossa campanha para competir com a finlndia.
(no acho que a gente deva esperar at a reunio de setembro. esse um
assunto muito importante, e todos ns j aprendemos que a melhor forma de
descobrir como um ano pode ser curto competindo com a finlndia.)
Para os desinformados, esse e-mail talvez seja confuso. Por que o Google,
uma start-up de internet com cinco anos de existncia e centenas de funcionrios,
localizada em Mountain View, Califrnia, competiria com a Finlndia, um pas
com cinco milhes de habitantes, localizado a mais de oito mil quilmetros e que,
em geral, considerado um lugar pacfico e amigvel?
A mensagem sobre a Finlndia foi enviada justamente quando Eric achava que
enfim estava se estabelecendo no Google. Ele viera da Novell, na qual fora o
CEO, e tambm j havia trabalhado na Sun Microsy stems e no Bell Labs. Aps
crescer no norte da Virgnia, Eric se formou em engenharia eltrica em
Princeton e fez mestrado e doutorado em cincia da computao pela
Universidade da Califrnia em Berkeley ele no apenas estava acostumado
com engenheiros e cientistas da computao como tambm era um deles.
Mesmo assim, o Google era um lugar completamente diferente de qualquer
outro em que estivera.
Sua revelao do tipo acho que no estamos mais no Kansas surgiu logo no
primeiro dia. Quando Eric chegou sala que lhe fora designada, que j era bem
modesta para os padres de um CEO figuro, descobriu que o espao era
ocupado por vrios engenheiros de software. Em vez de expuls-los, ele levantou
acampamento para a sala ao lado, que estava mais para um closet com janela do
que propriamente uma sala.
Algumas semanas depois, a situao piorou. Numa certa manh, ao andar pelo
corredor at seu closet sua sala, Eric notou que sua assistente, Pam Shore, estava
com uma expresso preocupada.1 Ele logo soube o motivo: ganhara um novo
companheiro de sala. Era Amit Patel, um dos engenheiros de busca, que disse
que na sala dele havia cinco ocupantes, com mais um a caminho, e que a soluo
de serrar uma das mesas ao meio para dar mais espao no funcionara. Em
comparao com seu espao, o de Eric parecia bem amplo, ento Amit se
mudou para l. (Como a equipe de manuteno se recusara a levar as coisas de
Amit para a sala de Eric, ele mesmo fizera a transferncia.) Amit e Eric
acabaram dividindo o espao por vrios meses. Obviamente, aquele no era o
tipo de lugar que media a importncia de algum por metro quadrado.
Fora o esquema de instalaes incomum, o resto da transio de Eric correu
razoavelmente bem. Seu relacionamento com os dois fundadores, Larry Page e
Sergey Brin, fortalecia-se a cada dia. A plataforma de anncios da empresa, a
AdWords, comeava a gerar rendimentos significativos (em 2004, quando a
companhia fez sua oferta pblica inicial, os relatrios financeiros assustaram a
maioria dos observadores... de forma positiva), e, apesar de o termo Google s
ter sido includo no Oxford English Dictionary 2 trs anos depois, para milhes de
usurios, a ferramenta de busca do Google j era uma parte importante do
cotidiano. A empresa tambm estava crescendo e incorporava dezenas de
funcionrios todos os meses, incluindo um novo diretor de produtos, Jonathan
Rosenberg, contratado em fevereiro de 2002. Assim como Eric, Jonathan era
filho de um professor de economia. Entrou no Google depois de passar pela
Excite@Home e pela Apple, para montar a gesto de produtos e completar a
equipe de Eric.
Porm, como o e-mail de Mike deixava claro, havia um grande concorrente
no horizonte, e no eram os nossos amigos nrdicos do outro lado do Atlntico.
Finlndia era o codinome interno para a Microsoft,3 a empresa de tecnologia
mais importante do mundo naquela poca.4 Eric sabia que grande parte do
trfego do Google vinha de usurios do navegador Internet Explorer, da
Microsoft. Como todo mundo no Google, ele acreditava que a internet era a
plataforma tecnolgica do futuro e que a busca era uma de suas aplicaes mais
teis. Por isso, era apenas uma questo de tempo para que nossos amigos de
Redmond se interessassem pelo que estvamos fazendo. E, quando a Microsoft se
interessava pelo que as start-ups estavam fazendo, as coisas ficavam de fato
interessantes.5
O futuro da empresa estava em jogo e no era bvio o que deveria ser feito. A
mensagem de Moritz era um chamado ao. Ele pediu que Eric reunisse a
equipe e criasse um plano que estabelecesse resultados para toda a empresa:
produtos, vendas, marketing, financeiro e desenvolvimento corporativo. Todos os
aspectos sobre como o Google funcionava foram discutidos, e houve at uma
conversa sobre converter a estrutura peculiar de start-up para uma mais
tradicional, organizada em unidades de negcio, a fim de facilitar o
desenvolvimento de novos fluxos de rendimentos (outra questo que o novo plano
deveria abordar). O mais importante: o plano deveria estabelecer metas e um
mapa dos produtos que poderiam ser lanados, e quando seria o lanamento. Em
suma, Moritz queria o que qualquer integrante normal e sensato do conselho de
administrao gostaria: um plano de negcios abrangente.
Ele terminou a mensagem com um floreio:
J que os produtos seriam o ponto crucial do plano, Eric passou o projeto para
Jonathan. Suas instrues: Gostaria de examinar isso daqui a duas semanas.
No entanto, alm do fato de que uma empresa enorme competiria conosco,
havia outro problema. Moritz estava certo: para enfrentar o maior gorila da selva,
precisvamos de um plano. Mas ele tambm estava errado, e para entender por
que Moritz estava equivocado e por que estava inadvertidamente colocando ns
dois entre a cruz e a caldeira, primeiro preciso entender que tipo de empresa o
Google era.
O plano da Finlndia
No final das contas, o plano apresentado ao conselho parecia bastante um plano
de negcios tradicional, a ponto de os conselheiros sarem da reunio satisfeitos
porque, sim, ns tnhamos um plano de negcios! Olhando em retrospecto,
ficamos surpresos com a preciso absoluta que ele tinha em vrios aspectos. O
plano se resumia a como o Google se concentraria nos usurios e construiria
plataformas e produtos excelentes. Dizia que a empresa sempre ofereceria
servios de alta qualidade e os tornaria facilmente acessveis. Propunha que
nossa fundao fosse baseada nos usurios e que mais usurios atrairiam mais
anunciantes. Havia alguns pontos tticos sobre como nos defenderamos da
ameaa dos concorrentes, mas, para desafiar a Microsoft, dizamos, era preciso
criar produtos sensacionais.
O que era exatamente a coisa certa a fazer.
A Microsoft desafiou o Google de forma agressiva e supostamente gastou
quase 11 bilhes de dlares8 na tentativa de derrub-lo da posio de playerchave nos negcios de busca e de propaganda na internet. Programas da
Microsoft, como MSN Search, Windows Live e Bing, e aquisies como
aQuantive no conseguiram de fato se destacar, no porque foram mal
executados, mas porque o Google estava muito bem preparado para eles. Ns
trabalhamos incansavelmente para aprimorar os mecanismos de busca.
Adicionamos imagens, livros, vdeos do YouTube, dados de compras e qualquer
outro tipo de informao que encontramos. Criamos nosso prprio conjunto de
aplicativos, como o Gmail e o Google Docs, todos eles baseados na Web.
Aperfeioamos nossa infraestrutura a passos largos, para poder rastrear o ndice
de dados e de contedo on-line que crescia exponencialmente.9 Tornamos a
busca mais rpida e disponvel em mais idiomas e melhoramos a interface do
usurio, para torn-la mais fcil de operar. Acrescentamos mapas e melhores
resultados locais. Fizemos parcerias para garantir aos usurios um fcil acesso ao
nosso site. At expandimos para reas em que a Microsoft se destacava, como a
dos navegadores, lanando o Google Chrome e tornando-o o navegador mais
rpido e seguro da indstria desde o incio. Rentabilizamos tudo isso com sistemas
de anncios extremamente eficientes e eficazes.
Eric costumava alertar a equipe dizendo que a Microsoft vir para cima de
ns, onda atrs de onda. Eles vieram, e ainda vm, mas, apesar disso, o plano de
negcios que Moritz nos pressionou a desenvolver funcionou alm de nossos
sonhos mais impossveis. Hoje, o Google uma empresa de 50 bilhes de dlares
com mais de 45 mil funcionrios em mais de quarenta pases. Diversificamos
nossos servios de busca publicitria e na internet para vdeos e outras formas de
marketing digital; passamos de forma bem-sucedida de um mundo centrado em
PCs para um centrado em dispositivos mveis; produzimos um conjunto bem-
Velocidade
Por mais que a tecnologia tenha afetado os consumidores, ela teve um impacto
ainda maior nas empresas. Em termos econmicos, quando as curvas de custo do
fator primrio de produo de uma indstria entram em declnio,11 h grandes
mudanas no horizonte. Hoje, trs fatores de produo se tornaram mais baratos
informao, conectividade e poder computacional , o que afeta quaisquer
curvas de custos nas quais esses fatores estejam envolvidos. inevitvel que isso
gere efeitos perturbadores. Muitas firmas estabelecidas tambm conhecidas
como empresas pr-internet construram seus negcios baseadas em hipteses
de escassez: escassez de informaes, escassez de recursos de distribuio e de
alcance de mercado, escassez de opes e de espao expositivo. Entretanto, esses
fatores so abundantes nos dias de hoje e diminuem ou eliminam barreiras para
a entrada e tornam indstrias inteiras aptas mudana.12 Vimos isso primeiro
nas empresas de mdia, cujo produto agora pode ser todo criado digitalmente e
enviado para o mundo inteiro de graa. Mas quase toda indstria , de alguma
forma, movida a informao. Mdia, marketing, varejo, sade, governo,
educao, servios financeiros, transporte, defesa, energia... No conseguimos
imaginar uma indstria que escapar ilesa dessa era.
O resultado de toda essa agitao que agora a excelncia do produto
fundamental para o sucesso de uma empresa no o controle da informao,
no o domnio sobre a distribuio nem um poder avassalador de marketing
(embora eles ainda sejam importantes). H duas razes para isso. Primeiro, os
consumidores nunca tiveram tantas opes e tanta informao.13 As empresas
costumavam transformar produtos ruins em vencedores por meio de um
marketing avassalador ou pela fora da distribuio. Para garantir uma boa
margem de lucro, bastava criar um produto decente, controlar a comunicao
com um grande oramento de marketing e limitar as opes do consumidor.
Voc j comeu no Bennigans? No Steak and Ale? Em seu auge, nos anos 1980,
essas redes tinham centenas de filiais nos Estados Unidos e todas ofereciam
comida e servio tolerveis.
Hoje as coisas so diferentes. Cidades e subrbios tm restaurantes nicos para
cada tipo de paladar restaurantes locais ou grandes redes , e clientes em
potencial tm acesso a uma infinidade de informaes e opinies, tanto de
crticos profissionais quanto de cidados comuns, sobre a qualidade de cada um
deles em sites como Chowhound ou Yelp. Com tantas informaes e opes boas,
difcil um restaurante tradicional de terceira categoria (de rede ou no)
sobreviver, independentemente da verba destinada ao marketing, e fcil para
um lugar novo, de alta qualidade, ganhar seu espao baseado no boca a boca.14
O mesmo vale para carros, hotis, brinquedos, roupas e qualquer produto ou
servio que possa ser pesquisado na internet. O consumidor tem uma infinidade
de opes, com um espao para exposio praticamente ilimitado (o YouTube
tem bem mais de um milho de canais; a Amazon vende mais de cinquenta mil
livros apenas sobre liderana nos negcios). E o consumidor tem voz; oferea um
produto ruim ou um servio pssimo por sua conta e risco.
Ns vivenciamos esse fenmeno em primeira mo vrias vezes na Era da
Internet. Quando Jonathan trabalhava na Excite@Home e quis fechar uma
parceria na rea de busca com o Google, seu CEO decidiu no fazer o negcio,
alegando que o mecanismo de busca do Google melhor, mas vamos superlos. O Excite@Home acabou; portanto, obviamente a previso no deu muito
certo. (Pensando pelo lado positivo, o smbolo @ se tornou uma grande
sensao!) Os gerentes do Excite@Home no eram os nicos que acreditavam
que o poder da marca e do marketing capaz de sustentar produtos no to
brilhantes. Voc j ouviu falar no Google Notebook? E no Knol? iGoogle? Wave?
Buzz? PigeonRank?15 Todos foram produtos do Google que, embora tivessem
alguns mritos, nunca fizeram sucesso com os usurios. No eram bons o
suficiente, por isso no emplacaram. O vento de cauda da marca e da turbina do
marketing e relaes pblicas do Google no foi forte o suficiente para superar o
vento contrrio da mediocridade. Como Jeff Bezos, fundador e CEO da Amazon,
diz: No velho mundo, voc dedicava 30% do seu tempo para criar um bom
servio e 70% berrando sobre dele. No novo mundo, isso se inverte. 16
A segunda razo para a importncia da excelncia dos produtos o fato de os
custos para a realizao de testes e do fracasso ter diminudo significativamente.
Isso visto de maneira mais acentuada nas indstrias de alta tecnologia, nas quais
uma pequena equipe de engenheiros, desenvolvedores e designers pode criar
produtos fabulosos e distribu-los pela internet de graa para o mundo inteiro.
muito fcil imaginar e criar um novo produto, test-lo com um conjunto limitado
de consumidores, aferir o que funciona ou no, fazer uma nova verso e tentar
mais uma vez. Ou simplesmente descart-lo e comear tudo do zero, o que
muito melhor para a experincia.
No entanto, os custos de realizao de testes tambm esto mais baixos para
bens manufaturados. possvel modelar prottipos digitais, constru-los em uma
impressora 3-D, test-los no mercado virtual, ajustar o projeto com base nos
dados resultantes e at levantar fundos de produo na internet com um prottipo
ou um vdeo bem-feito. A Google[x], uma equipe que trabalha em alguns dos
projetos mais ambiciosos do Google, criou o primeiro prottipo do Google Glass
um computador mvel vestvel to leve quanto um par de culos escuros, em
apenas uma hora e meia. Era bem rudimentar, mas serviu a um objetivo
poderoso: no me conte, me mostre.
O desenvolvimento de produtos se tornou um processo mais flexvel e rpido, e
produtos acentuadamente melhores no repousam nos ombros de gigantes, mas
nos ombros de muitas verses. Dessa forma, a base para o sucesso e para a
contnua excelncia dos produtos a velocidade.
Infelizmente, como a fracassada estrutura de desenvolvimento de produto
baseada em gates de Jonathan, a maioria dos processos gerenciais atualmente
em vigor nas empresas foi projetada com outra coisa em mente. Tais processos
foram criados h mais de um sculo, numa poca em que erros custavam caro e
apenas os executivos mais importantes tinham informaes completas. Os
principais objetivos eram diminuir riscos e garantir que as decises fossem
tomadas apenas pelos poucos executivos com acesso a muitas informaes.
Nessa estrutura tradicional de comando e controle, os dados chegavam aos
executivos vindos de toda a organizao, e depois as decises eram
encaminhadas ao restante da companhia. Essa abordagem projetada para
desacelerar o processo, o que de fato acontece. Isso quer dizer que, no exato
momento em que as empresas devem acelerar, a arquitetura trabalha contra
elas.
As criativas inteligentes17
A boa notcia que a mesma economia da abundncia que agita as indstrias
tambm movimenta os mercados de trabalho. O ambiente de trabalho nos dias
de hoje completamente diferente daquele do sculo XX. Como j foi dito, a
experimentao e o custo do fracasso se realizados de forma correta so
bem mais baixos do que antigamente. Alm disso, informaes antes eram
escassas e os recursos computacionais, preciosos; hoje ambos so abundantes,
fazendo com que no haja necessidade de acumul-los. E a colaborao fcil,
esteja ela do outro lado de uma sala, de um continente ou de um oceano. Junte
esses fatores e, de repente, voc ter um ambiente no qual funcionrios, de
contribuintes individuais a gerentes e executivos, podem causar um impacto fora
do comum.
Atualmente, a expresso usada para designar esses funcionrios que
trabalham em funes baseadas em informaes e, explicando de maneira
muito simplista, ganham dinheiro pensando trabalhadores do
conhecimento. Ela foi cunhada pelo guru da administrao Peter Drucker em
1959, no livro Fronteiras do amanh.18 Grande parte das obras subsequentes de
Drucker abordava como tornar esses trabalhadores do conhecimento mais
produtivos, e o uso da expresso aumentou gradativamente desde os anos 1960.
Em geral, os trabalhadores do conhecimento mais valiosos so aqueles que
prosperam no mundo engessado do processo corporativo por desenvolver um
profundo conhecimento em um conjunto restrito de habilidades. (O Morty ? Ele
o nosso cara das planilhas. A Vicki? Ela o contato com o depsito. O Pete? Ele
cuida do basquete na piscina.) Eles no buscam mobilidade; tm sucesso no
status quo da organizao. Grandes empresas, como IBM, General Electric,
General Motors e Johnson & Johnson, oferecem planos de carreira para pessoas
com maior potencial, fazendo com que esses astros entrem e saiam de cargos
diferentes mais ou menos a cada dois anos. Contudo, essa abordagem prioriza o
desenvolvimento de habilidades de gesto, no de habilidades tcnicas. Como
resultado, em ambientes tradicionais, a maioria desses trabalhadores desenvolve
grande conhecimento tcnico, mas pouca amplitude, ou ento um amplo
conhecimento administrativo, mas nenhuma profundidade tcnica.
Quando comparamos o trabalhador do conhecimento tradicional com os
engenheiros e outras pessoas talentosas com quem convivemos no Google na
ltima dcada, percebemos que nossos colegas do Google representam um tipo
bem diferente de funcionrio. Eles no esto confinados a tarefas especficas.
No tm acesso limitado s informaes e ao poder computacional da empresa.
No tm medo de correr riscos nem so punidos ou tolhidos quando as iniciativas
arriscadas fracassam. No so contidos pelas definies de cargo ou estruturas
organizacionais na verdade, so encorajados a exercitar as prprias ideias.
inteligentes como devem pensar e, j que no pode fazer isso, ento voc precisa
aprender a gerenciar o ambiente onde elas pensam e torn-lo um lugar para
onde elas queiram ir todo dia.
Eric foi inspirado por uma palestra de John Chambers que ouviu certa vez.
Chambers, o super-respeitado CEO da Cisco, contou que no incio dos anos 1990
ele costumava se encontrar com frequncia com Lew Platt, o ento CEO da
Hewlett Packard, para conversar sobre estratgia e gesto. Em determinado
momento, um agradecido John perguntou a Lew por que este investia tanto do
seu valioso tempo para ajudar um jovem executivo de outra empresa. assim
que funciona no Vale do Silcio, respondeu o sr. Platt. Estamos aqui para ajudlo.
Steve Jobs, o finado fundador e CEO da Apple, que frequentemente dava
conselhos ao vizinho Larry Page, tinha um jeito mais pitoresco de expressar a
mesma filosofia. Nossa amiga Leslie Berlin, a historiadora do Vale do Silcio,
colhia informaes para escrever a biografia de Bob Noy ce, o cofundador da
Intel, quando perguntou a Steve numa entrevista por que ele dedicara tanto tempo
a Noy ce no incio da carreira. mais ou menos o que Schopenhauer falou
sobre o conjurador, respondeu Steve. Ele pegou um livro de ensaios de Arthur
Schopenhauer, filsofo alemo do sculo XIX, e leu para Leslie um trecho de
um texto cujo ttulo era Sobre os sofrimentos do mundo: Aquele que vive para
ver duas ou trs geraes como um homem que se senta um pouco na barraca
de um conjurador em uma quermesse e v o show duas ou trs vezes, uma atrs
da outra. Os truques foram feitos para serem vistos apenas uma vez, e, quando
no so mais novidade e deixam de iludir, o efeito desaparece. 19 (Suspeitamos
que a capacidade de citar Schopenhauer do nada numa entrevista seja
precisamente um desses truques.)
Ns dois chegamos ao Google como executivos veteranos bem confiantes de
nosso intelecto e habilidade. No entanto, com o passar de uma dcada de
humildade, comeamos a entender a sabedoria na observao de John Wooden
de que o que voc aprende aps saber tudo o que conta.20 Como ajudamos
nossos fundadores e colegas a criar uma empresa magnfica, tivemos um lugar
na primeira fila talvez voc diga que vimos os conjuradores em ao e
usamos aquilo para reaprender tudo o que achvamos que sabamos sobre
gesto. Hoje, observamos todo tipo de empresas e organizaes, grandes e
pequenas, de todas as indstrias e do mundo inteiro, vindo para o Vale do Silcio,
Essa pessoa voc? Voc est pronto? Como Peter Drucker observou, o
egpcio que concebeu e construiu as pirmides h milhares de anos foi apenas
um gestor muito bem-sucedido.21 O Sculo da Internet est repleto de pirmides
ainda no construdas. Vamos ao trabalho.
E, desta vez, sem trabalho escravo.
relativo de pginas da internet. Seu fim foi especialmente rpido: ele foi
lanado na manh de 1o de abril de 2002 e foi cancelado meia-noite do
mesmo dia.
16 Citado em George Anders, Jeff Bezoss Top 10 Leadership Lessons (Forbes,
23 de abril de 2012).
17 A nossa lngua requer que escolhamos um gnero ao usar os substantivos.
Nesta seo, descrevemos os criativos inteligentes recorrendo ao
feminino. Em outras, usaremos o masculino.
18 Peter F. Drucker, Fronteiras do amanh (Editora Fundo de Cultura, 1964).
19 Arthur Schopenhauer, Essays and Aphorisms (Penguin, 1970).
20 O tcnico Wooden, que morreu em 2010, aos 99 anos, ganhou dez
campeonatos nacionais como treinador do time de basquete masculino da
UCLA. Mas ele atuou como tcnico por quinze anos antes de ganhar o
primeiro daqueles campeonatos, portanto sabia algo a respeito de
aprendizado. Ver John Wooden e Steve Jamison, Wooden on Leadership
(McGraw-Hill, 2005), p.34.
21 Peter F. Drucker, The Essential Drucker (HarperBusiness, 2011), p.312-13.
Drucker escreve: A gesto, como atividade, muito antiga. O executivo
mais bem-sucedido de toda a histria sem dvida foi aquele egpcio que,
h mais de 4.700 anos, concebeu a pirmide sem nenhum precedente
, projetou, construiu e realizou isso em tempo recorde.
esgotado e precisa ir para casa mais cedo ou tirar frias. Uma equipe grande
pode achar que quem tira frias est fazendo corpo mole, enquanto que uma
equipe pequena fica feliz por ver aquela cadeira vaga.
Encorajamos nossos funcionrios a tirar frias de verdade, mas no para
promover o equilbrio trabalho-vida. Se algum to importante para o
sucesso da empresa que acredita no poder se desligar por uma ou duas semanas
sem que as coisas entrem em colapso, ento esse mais um problema que
precisa ser solucionado. Ningum deve ou pode ser indispensvel. Eventualmente
voc encontrar funcionrios que criam essa situao de propsito, talvez para
alimentar o ego ou devido convico equivocada de que ser indispensvel
significa ter segurana no emprego. Mande pessoas assim tirarem belas frias e
garanta que sejam substitudas pelos prximos da fila enquanto estiverem
ausentes. Elas voltaro revigoradas e motivadas, e os funcionrios que as
substituram estaro mais confiantes. (Esse tambm um enorme benefcio
velado de quem tira licena-maternidade ou paternidade.)
diverso, no Diverso
A cada semana, na reunio geral especial das sextas-feiras no Google, todos os
funcionrios recm-contratados ficam sentados em um canto e ganham bons
com hlices multicoloridas para identific-los. Sergey d boas-vindas calorosas,
todo mundo aplaude e ento ele diz: Agora, voltem ao trabalho. No a
melhor piada do mundo, mas, dita com o tom srio e o leve sotaque russo de
Sergey, sempre arranca boas gargalhadas. Entre seus outros grandes talentos, um
dos pontos fortes de Sergey como lder de criativos inteligentes seu senso de
humor. Quando ele organiza as reunies de sexta-feira, suas constantes tiradas de
improviso geram muitas risadas no as do tipo -melhor-rir-da-piada-dofundador, mas sim risadas de verdade.
Uma grande start-up, um grande projeto um grande emprego, alis deve
ser divertido, e se voc est ralando sem se divertir nem um pouco ento
provavelmente h algo errado. Parte da diverso vem de inalar a fumaa do
sucesso futuro. Contudo, grande parte vem de rir, brincar e curtir a companhia
dos colegas.
A maioria das empresas tenta produzir Diverso, com D maisculo. Como
nestes casos: teremos na sexta-feira o piquenique anual da empresa / a festa no
feriado / a sexta-feira fora do escritrio. Vai ter msica Divertida. Vai ter
prmios Divertidos. Haver algum concurso Divertido que constranger alguns
dos seus colegas. Vai ter pintura facial / palhaos / cartomantes Divertidos. Vai ter
comida Divertida (porm, nada de lcool Divertido). Voc ir. Voc se Divertir.
H um problema com esses eventos Divertidos: eles no so divertidos.
Esse no precisa ser o caso. No h nada de errado com eventos organizados
pela empresa, desde que sejam feitos com estilo. Na verdade, no difcil dar
uma festa divertida. A frmula a mesma para casamentos divertidos: pessoas
bacanas (e voc contratou pessoas bacanas, no foi?) + msica bacana + comida
e bebidas bacanas. Embora a diverso possa acabar por causa daqueles
convidados chatos de nascena (a tia Barbara de Boca Raton, o Craig da
contabilidade), no h nada que uma banda cover dos anos 1980 e uma boa
bebida no resolvam. Todo mundo se diverte quando dana Billy Idol e bebe uma
cerveja.
Depois h os eventos fora da sede para toda a empresa ou determinado grupo.
Em geral, so justificados como eventos para formao de equipe, que
ajudaro o grupo a aprender a trabalhar melhor junto. Voc passa pelo percurso
de arvorismo ou por uma aula de culinria, faz um teste de personalidade ou
resolve um problema em grupo e assim, do nada, os funcionrios se ajustam uns
aos outros. Ou no. Eis a nossa sugesto para eventos fora da sede: esquea a
formao de equipe e divirta-se. Os critrios de Jonathan para suas excurses
incluam realizar atividades de grupo ao ar livre (se o tempo permitisse) em um
lugar novo, longe o bastante da sede para dar a impresso de ser uma viagem de
verdade, mas que ainda fosse realizvel em um dia, e oferecer uma experincia
que as pessoas no poderiam ter por conta prpria.
Essas regras fizeram Jonathan levar suas equipes para viagens por todo o norte
da Califrnia: Muir Woods, Pinnacles National Park, Ao Nuevo (para ver os
famosos elefantes-marinhos) e a Santa Cruz Beach Boardwalk. Esses eventos no
custam muito a diverso pode ser barata (j a Diverso em geral no ). O
preo do ingresso para um dos jogos de hquei sobre patins de Larry e Sergey,
no incio do Google, no era mais do que um basto, um par de patins e a
disposio de levar uma trombada de um fundador. Shery l Sandberg organizava
um clube de leitura to popular com sua equipe de vendas em nosso escritrio na
ndia que todo mundo participava. Eric fez a equipe inteira de Seul danar
Gangnam Sty le com o popstar coreano PSY, quando este passou no escritrio
para uma visita. (Eric no segue o conselho de Satchel Paige de danar como se
ningum estivesse vendo. Quando voc um lder, todo mundo est vendo; no
importa se voc dana mal, importa que voc dance.)
Certa vez, Jonathan apostou com a diretora de marketing, Cindy McCaffrey,
qual equipe teria maior participao na pesquisa anual de opinies dos
funcionrios da empresa, a Googlegeist. O perdedor teria que lavar o carro do
vencedor. Quando Jonathan perdeu, Cindy alugou uma limusine Hummer, sujou
de lama da pior maneira possvel (at hoje no sabemos como ela fez aquilo) e
depois reuniu sua equipe, para que todos vissem Jonathan lavando aquele
monstro, e ainda jogou bales de gua nele, aproveitando o ensejo. Em outra
ocasio, Jonathan criou a quadra de basquete da empresa ao trazer um par de
cestas e desafiar algumas equipes de engenharia para ver quem conseguiria
mont-las primeiro. Alguns daqueles caras no sabiam a diferena entre enterrar
uma bola e aterrar um fio, mas reconheciam um desafio de engenharia quando
viam um.
Um sinal marcante de uma cultura de diverso idntico ao de uma cultura
inovadora: a diverso vem de todos os lugares. O importante estabelecer os
limites do que permitido com a maior amplitude possvel. Nada pode ser
sagrado. Em 2007, alguns engenheiros descobriram que a foto do perfil de Eric
na nossa intranet estava em uma pasta pblica. Eles alteraram o fundo dela para
incluir um retrato de Bill Gates e, no dia 1o de abril, postaram a imagem nova na
pgina de Eric. Qualquer Googler que procurasse a pgina de Eric encontrava
isto:
Ahcharye
Como algum que est lanando uma nova empreitada (ou reinventando uma j
estabelecida), voc concorda em ter dias longos, noites sem dormir e talvez
perder algumas festas de aniversrio. Vai contratar pessoas que precisam
acreditar em voc e na sua ideia a ponto de estarem dispostas a fazer os mesmos
sacrifcios. Para realizar seus objetivos, voc ter que ser louco o suficiente para
achar que ter xito, mas so o bastante para concretiz-los. Isso exige
comprometimento, tenacidade e, acima de tudo, obstinao. Quando os chefes
de carro de combate israelenses entram em batalha, eles no gritam atacar!.
Em vez disso, inspiram as tropas gritando Ahchary e, que, traduzido do
hebraico, significa siga-me. Quem almeja liderar criativos inteligentes precisa
adotar essa atitude.
Certa vez, Eric teve uma reunio com Mark Zuckerberg no quartel-general do
Facebook, em Palo Alto. Naquela ocasio, j estava bvio que o Facebook e Mark
seriam imensamente bem-sucedidos. Os dois conversaram por algumas horas e
terminaram o papo por volta das sete da noite. Quando Eric estava saindo, um
assistente trouxe o jantar de Mark e o colocou ao lado do computador. Mark se
sentou e voltou ao trabalho. No havia dvidas de seu comprometimento.
Um de nossos primeiros engenheiros, Matt Cutts, lembra que, com frequncia,
via Urs Hlzle, o executivo de engenharia que liderou a criao da infraestrutura
do data center do Google, pegando pedacinhos de lixo no corredor enquanto
caminhava pelo escritrio. comum ouvir esse tipo de histria no Vale do Silcio:
o CEO que pega a pilha de jornais diante da porta de entrada, o fundador que
limpa os balces. Com essas atitudes, os lderes demonstram sua natureza
igualitria estamos todos juntos e nenhum de ns est acima das tarefas mais
humildes que precisam ser feitas. Porm, eles fazem isso principalmente porque
se importam com a empresa. Liderana exige paixo. Se voc no a tem, saia
agora.
No seja mau
Eric estava no Google havia cerca de seis meses. quela altura, ele j conhecia
tudo sobre o mantra No seja mau, cunhado pelos engenheiros Paul Buchheit e
Amit Patel durante uma reunio no incio da empresa. Eric, no entanto,
subestimou o quanto essa simples frase tinha se tornado parte da cultura do
Google. Ele estava em uma reunio na qual eram debatidos os mritos de uma
mudana no sistema de anncios, uma alterao com o potencial de ser muito
lucrativa para a empresa. Um dos diretores de engenharia socou a mesa e disse:
Ns no podemos fazer isso, seria uma atitude m. De repente, a sala ficou em
silncio; parecia um jogo de pquer em um filme antigo de faroeste, quando um
jogador acusa outro de trapacear e todo mundo se afasta da mesa, esperando
algum sacar a arma. Eric pensou: Nossa, esses caras levam essas coisas a srio.
Uma longa e, em alguns momentos, acirrada discusso se seguiu, e, no fim das
contas, a mudana no vingou.
O famoso mantra do Google de No seja mau no exatamente o que
parece. Sim, ele expressa de forma genuna um valor da empresa e uma
profunda aspirao dos funcionrios. Contudo, No seja mau principalmente
outra maneira de dar autonomia aos funcionrios. A experincia pela qual Eric
passou no era incomum (tirando o soco na mesa): Googlers de fato analisam
seus valores morais quando tomam decises.
Quando a Toy ota inventou seu famoso sistema kanban de produo JIT,* uma
das regras de controle de qualidade estabelecia que qualquer funcionrio na linha
de produo poderia puxar a corda para interromp-la se percebesse um
problema na qualidade.54 A mesma filosofia est por trs de nosso slogan
simples de trs palavras do Google. Quando o engenheiro na reunio de Eric
chamou o novo recurso proposto de mau, ele puxou a corda para interromper
a produo e obrigar todo mundo a avali-lo e determinar se ele era consistente
com os valores da empresa. Toda companhia precisa de um No seja mau,
uma estrela-guia cultural que brilhe sobre todos os nveis administrativos, planos
de produo e polticas no escritrio.
Esse o maior mrito de possuir uma cultura bem estabelecida e
compreendida na empresa. Ela se torna a base para tudo o que voc e a empresa
fazem; a proteo contra o perigo de algo sair dos trilhos, porque a cultura so
os trilhos. As melhores culturas so ambiciosas. Para cada componente discutido
neste captulo, damos exemplos de como honramos nossos ideais, mas tambm
poderamos facilmente ter comentado sobre os casos em que falhamos. Haver
falhas; porm, haver mais casos em que as pessoas mostram resultados alm do
esperado, e, quando isso acontece, o nvel sobe ainda mais. Este o poder de
uma boa cultura: ela pode melhorar cada integrante da empresa. E pode fazer
esta ascender.
22 Quando voc faz uma busca no Google, ele gera dois tipos de resultados: os
orgnicos e os pagos. Resultados orgnicos so os naturais da pesquisa,
coletados pelo mecanismo de busca do Google, enquanto os pagos so
dados pelo motor de anncios.
23 Uma das expresses acadmicas mais importantes sobre essa ideia est num
artigo do psiclogo organizacional Benjamin Schneider, The People Make
the Place (Personnel Psychology, setembro de 1987). Nesse artigo
influente, Schneider descreve um modelo de atrao-seleo-atrito
(modelo ASA) em que as culturas organizacionais evoluem a partir das
caractersticas e escolhas de indivduos. Atrao se refere tendncia
das pessoas que procuram emprego em ir para organizaes em que elas
acham que se enquadram bem; seleo significa que os funcionrios
atuais da empresa tendem a contratar pessoas parecidas com eles; atrito
tambm no algo aleatrio, pois funcionrios tendem a sair de
organizaes com as quais no so mais compatveis. Como os processos
de atrao, seleo e atrito ocorrem com o passar do tempo, a cultura de
uma organizao se torna cada vez mais homognea.
24 Susan Rey nolds, Prescription for Lasting Success (John Wiley and Sons, 2012),
p.51.
25 O texto completo do discurso de Packard, datado de 8 de maro de 1960,
aparece no livro de David Packard The HP Way: How Bill Hewlett and I
Built Our Company (HarperCollins, 2005).
26 Tericos da cultura desde a poca de mile Durkheim argumentam que, por
normas, convices e valores compartilhados, a cultura forja os
pensamentos e comportamentos das pessoas. Cientistas sociais
contemporneos, em especial o psiclogo social Hazel Markus, usaram
experimentos controlados para mostrar que, mesmo que as pessoas no
estejam cientes disso, suas culturas (tais como japons X americano,
trabalhadores X empresrios) influenciam suas escolhas cotidianas. Para
um registro popular dessa pesquisa, ver Hazel Rose Markus e Alana
Conner, Clash!: 8 conflitos culturais que nos influenciam (Campus, 2013).
27 Jack Welch e Suzy Welch, Paixo por vencer (Elsevier, 2005).
28 Com um sincero pedido de desculpas quele notvel criativo inteligente, Puck.
29 Em 2007, a HP vendeu o acampamento de Little Basin para duas empresas
sem fins lucrativos, Sempervirens Fund e Peninsula Open Space Trust, que
depois venderam o terreno para a Secretaria de Parques e Jardins da
Califrnia. Hoje, ele faz parte do parque estadual Big Basin Redwoods e
est aberto ao pblico. Ver Paul Rogers, Former Hewlett Packard Retreat
Added to Big Basin Redwoods State Park (San Jose Mercury News, 14 de
janeiro de 2011).
30 Dcadas antes de o Google contratar seu prprio chef, Bill Hewlett e Dave
Packard pareceram entender como funcionrios e clientes valorizam
comida gratuita. John Minck, funcionrio da HP, observou: Algumas
travessas industriais com donuts e pes doces foram dispostas sobre vrias
soldas, ligadas a transformadores variveis, para aquec-las sem queimlas. Essas pausas eram todas bancadas pela empresa e usadas para
fascinar os clientes que levvamos para dar um passeio pelas fbricas.
Citado em Michael Malone, Bill & Dave: How Hewlett and Packard Built
the Worlds Greatest Company (Portfolio/Penguin, 2007), p.130.
31 Ferramentas bastante teis e terrivelmente complexas do ramo da gesto de
projetos.
32
Blog
Xooglers,
9
de
abril
de
2011.
Disponvel
em:
http://xooglers.blogspot.com/2011/04/photo-of-pre-plex.html.
33 Randy Pausch, A lio final (Agir, 2008).
34 Um estudo de 2003 concluiu que integrantes de nossos grupos de estudo
demonstraram mais criatividade quando outros integrantes do grupo os
isolaram e confirmaram as imagens que eles faziam de si mesmos. (Pelo
menos ns achamos que isso confirma nosso ponto de vista. difcil dizer
quando um estudo usa isolar em vez de isolamento.) Um estudo de
2013 mostra como mesas bagunadas realam a criatividade: A
arrumao parecia encorajar uma mentalidade geral voltada para o
conservadorismo e a tradio, e a desordem tinha o efeito de estimular o
desejo pelo desconhecido. Estudo de 2003: William B. Swann Jr., Virginia
S.Y. Kwan, Jeffrey T. Polzer e Laurie P. Milton, Fostering Group
Identification and Creativity in Diverse Groups: The Role of Individuation
and Self-Verification (Personality and Social Psychology Bulletin,
novembro de 2003). Estudo de 2013: Kathleen D. Vohs, Joseph P. Redden e
Ry an Rahinel, Phy sical Order Produces Healthy Choices, Generosity,
and Conventionality, Whereas Disorder Produces Creativity
(Psychological Science, setembro de 2013).
35 Jon Gertner, True Innovation (New York Times, 25 de fevereiro de 2012).
36 O produto de anncios em que o Google coloca propagandas em uma grande
lista de sites.
37 Bob Lisbonne, ex-vice-presidente executivo da Netscape, compilou uma lista
das observaes espirituosas de Jim Barksdale, que Lisbonne anotou em
reunies com o chefe e postou em seu site pessoal. Ver
lisbonne.com/jb.html.
38 Ns ouvimos essa frase de Shona Brown, que aprendeu isso nos anos em que
trabalhou na McKinsey & Company. O site da McKinsey diz muito bem:
Todos os consultores da McKinsey so obrigados a discordar se
Especialize-se
Outro mtodo encontrar maneiras de se especializar; s vezes o melhor jeito de
fazer uma plataforma crescer descobrir uma especialidade com potencial de
expanso.73 No fim dos anos 1990, para aumentar sua plataforma de busca, o
Google focou em um aspecto: ser excelente em busca, o que medimos em cinco
eixos velocidade (rapidez sempre melhor do que lentido), preciso (qual a
relevncia dos resultados para as consultas dos usurios?), facilidade de uso (ser
que os avs de todo mundo conseguem usar o nosso buscador?), abrangncia
(pesquisamos na internet inteira?) e novidade (os resultados so recentes?). O
Google estava to decidido a dar as respostas certas que os resultados do
buscador muitas vezes incluam links para o Yahoo, AltaVista e Ask Jeeves na
parte inferior da pgina para que os usurios pudessem testar esses sites caso no
gostassem dos nossos resultados.
Na poca, os sites mais competitivos decidiram virar portais, sites
multifuncionais de mdia que atendiam a uma variedade de interesses e
necessidades. Algumas dessas empresas Netscape, Yahoo e America Online
(AOL) no estavam interessadas em buscadores e ficavam satisfeitas em
fechar parcerias com o Google para nos deixar cuidar da tarefa.74 Embora
acreditasse que a busca era uma das aplicaes mais importantes no ramo da
internet em rpida expanso, o Google no escolheu se especializar nessa rea
porque a bola de cristal indicou que ela seria mais lucrativa e impactante do que
o modelo de negcio de portais na poca o mais popular. Ao contrrio, nos
concentramos na busca porque era algo que achvamos que fazamos melhor
que todo mundo.75 Ento, naqueles primrdios da internet, enquanto os lderes da
indstria estavam ocupados cuidando da construo de portais on-line, o buscador
do Google se tornou cada vez melhor em dar timas respostas para os usurios.
(Melhorar a busca do Google tambm teve o efeito benfico de aumentar o
trfego para os sites dos provedores de contedo, j que ficou mais fcil para os
usurios encontrar as notcias, informaes e o entretenimento oferecido neles.
Isso ajudou a estimular a migrao de mais contedo on-line.)
consumidores a liberdade de sair dela com facilidade. Isso pode parecer uma
heresia para o pensamento tradicional, estilo MBA, que dita que voc deve
construir uma vantagem competitiva sustentvel sobre os concorrentes e depois
trancar a fortaleza e defend-la com leo fervente e flechas incendirias. Como
a maioria das heresias, o modelo de plataforma aberta aterrorizante para a
mentalidade estabelecida. bem mais fcil competir prendendo os clientes no
seu mundo bonito e fechado do que se aventurar na natureza selvagem e
competir em inovao e mrito. Com uma plataforma aberta, voc troca o
controle por escalonamento e inovao.80 E acredita que seus criativos
inteligentes sabero o que fazer.
Se voc est atacando uma empresa estabelecida entrincheirada, pode usar a
prpria trincheira a seu favor. Seu concorrente suno provavelmente se alimenta
em um cocho fechado, e voc pode encar-lo ao combinar um modelo de
negcio revolucionrio com seu produto revolucionrio. Uma plataforma aberta
pode desempenhar esse papel muito bem. Ela atrai inovao para o ecossistema
(novos recursos para a plataforma, novos aplicativos criados por parceiros) e
diminui o custo de peas complementares. Tudo isso agrega mais valor para os
usurios e mais crescimento para o novo ecossistema, em geral custa da
plataforma (supostamente) fechada da empresa estabelecida. Veja, por
exemplo, como organizaes como a Khan Academy, a Coursera e a Udacity
tentam se fixar no mercado da educao.81 Elas combinam tecnologias do
Sculo da Internet (vdeo on-line, ferramentas interativas e sociais) com um
modelo de negcio aberto (qualquer um pode ter aulas grtis) radicalmente
diferente de como as empresas estabelecidas entrincheiradas operam (taxas
elevadas para cobrir uma base de custo alto). Ningum pode prever qual dessas
organizaes revolucionrias vai crescer e prosperar, se que isso vai acontecer,
e se algumas das companhias estabelecidas mais flexveis iro recha-las.
Entretanto, o que parece garantido que essa combinao de tecnologia e
negcio aberto levar a um melhor ecossistema de aprendizado, que oferece,
como diz a declarao de misso da Khan, uma educao gratuita de primeira
linha para qualquer pessoa, em qualquer lugar.
Uma plataforma aberta permite que voc aproveite os talentos de milhares de
pessoas, j que, como observou Bill Joy, cofundador da Sun, no importa quem
voc , a maioria das pessoas mais inteligentes trabalha para outra pessoa.82
Ela estimula inovaes maiores, porque no preciso reinventar o trabalho que
j foi feito. Assim, em vez disso, as pessoas podem se concentrar em
desenvolver ainda mais o sistema inteiro com novas invenes. A Netflix ilustra
muito bem a questo: em 2006, a empresa de locao de filmes queria melhorar
o algoritmo de recomendao, mas as suas iniciativas no deram em nada.
Ento, eles pegaram um conjunto de dados at ento confidencial de cem
No siga a concorrncia
A obsesso dos lderes empresariais com a concorrncia sempre nos deixa
perplexos. Quando se entra em uma sala com um bando de executivos de
grandes corporaes, eles se distraem com frequncia verificando seus
smartphones ou pensando sobre o que tm de fazer no resto do dia, mas basta
mencionar o assunto concorrncia para obter a completa ateno de todos.
como se, ao chegar a um determinado nvel em uma organizao, voc se
preocupasse tanto com o que a concorrncia est fazendo quanto com o
desempenho da sua prpria companhia. Nos escales mais altos do mundo
corporativo, a mentalidade-padro , muitas vezes, de estado de stio.
Tal fixao leva a uma espiral sem fim de mediocridade. Lderes empresariais
gastam muito tempo observando e copiando a concorrncia e, quando enfim se
libertam e criam algo novo, so cautelosos ao correr riscos e desenvolvem
apenas mudanas graduais, de baixo impacto. Estar perto da concorrncia
oferece conforto; parece ttica de cobertura em uma regata, quando o barco que
lidera camba sempre que o seguidor o faz, para garantir que este no v para
outra direo e encontre um vento mais forte. Empresas estabelecidas se
agrupam para que ningum encontre uma brisa mais fresca em algum outro
lugar. Entretanto, como Larry Page diz, qual a empolgao de ir trabalhar se o
melhor que voc pode fazer derrotar outra empresa qualquer que faz
praticamente a mesma coisa que voc?85
Se voc se concentra na concorrncia, jamais realizar algo de fato inovador.
Enquanto voc e os concorrentes esto ocupados brigando por fraes de um
ponto percentual de participao no mercado, outra pessoa que no se importa
com isso surgir e construir uma plataforma que mudar o jogo
completamente. Mais uma citao de Larry : bvio que, em algum grau, ns
pensamos na concorrncia. Mas acho que grande parte do meu trabalho fazer
com que as pessoas no pensem nela. Em termos gerais, acho que as pessoas
tendem a pensar sobre coisas que existem. Nosso trabalho pensar naquilo que
voc ainda no pensou que precisa de verdade. E, por definio, se nossos
concorrentes soubessem o que isso, eles no falariam nem para a gente nem
para mais ningum. 86
Isso no quer dizer que se deva ignorar a concorrncia. Ela faz com que voc
seja melhor. Mantm sua mente aguada. Somos todos humanos e sujeitos
complacncia, no importa com que frequncia digamos a ns mesmos que
devemos estar sempre alerta. Nada atia a chama como um concorrente. Em
2009, quando a Microsoft lanou o mecanismo de busca Bing, ficamos
preocupados o suficiente para dar o pontap inicial no processo de intensificao
dos nossos empenhos na busca. Isso plantou as sementes que levaram a novos
recursos, como o Google Instant (a gerao de resultados de busca enquanto a
pessoa digita) e o Image Search (arraste uma imagem para a caixa de busca que
o Google descobrir o que e a usar como consulta). possvel estabelecer
uma relao entre o lanamento do Bing e esses novos recursos incrveis.
Como Nietzsche escreveu em Assim falou Zaratustra: Voc deve ter orgulho
de seu inimigo, pois os sucessos do inimigo tambm so seus. 87 Tenha orgulho
de seus concorrentes, mas no os siga.
E o grupo que voc rene para trabalhar nessa estratgia? Escolha-o com
sabedoria. Ele no deve ser formado apenas por pessoas que estavam ali
havia mais tempo ou por aquelas com os cargos mais altos; ele deve incluir
os melhores criativos inteligentes e as pessoas que sero capazes de ter uma
boa perspectiva sobre o que est por vir.
de curto prazo porque leva apenas alguns meses para ser executada. O
que importa o espao de tempo em que ela efetiva. Uma deciso no
de longo prazo porque no incio da dcada de 1970 ns resolvemos
implement-la em 1985 isso no uma deciso, mas um devaneio
ocioso. Tem tanta realidade quanto o plano do menino de oito anos de ser
um bombeiro quando crescer. Ver Peter F. Drucker, Management: Tasks,
Responsibilities, Practices (Harper & Row, 1974).
57 Jonathan pegou essa expresso emprestada de seu chefe na Apple, James
Isaacs, que certa vez a usou na avaliao de um de seus funcionrios
favoritos (ou pelo menos o que gostamos de pensar), um tal de Jonathan
Rosenberg.
58 Jonathan passou a chamar o trio Marissa / Salar / Susan de uma cfila de
camelos, porque os trs sempre tinham ideias prprias e em geral se
recusavam a segui-lo. Com o tempo, ele se tornou um termo carinhoso. ;)
59 Esse mtodo o algoritmo PageRank, em que se baseia o buscador do Google,
batizado em homenagem a Larry Page e descrito em Lawrence Page,
Sergey Brin, Rajeev Motwani e Terry Winograd, The PageRank Citation
Ranking: Bringing Order to the Web (relatrio tcnico do Laboratrio de
Informtica de Stanford, 1999).
60 Um dos concorrentes do Google no incio dos anos 2000 foi a Overture,
pioneira em usar um sistema de leilo para disponibilizar anncios. O
problema com tal abordagem foi que o sistema no recompensava os
anunciantes por criar propagandas melhores nem os penalizava pelas
propagandas ruins. Eles passaram a colocar anncios de propsito em
consultas desvinculadas feitas pelos usurios (tal como uma propaganda de
carro na busca por um restaurante). Os usurios raramente clicavam
neles; portanto, os anunciantes no eram cobrados, mas ainda assim os
usurios viam seu nome e a mensagem, o que gerava uma impresso
gratuita. Quanto mais os anunciantes faziam isso, pior ficava a qualidade
das propagandas. A abordagem do Google de classificar os anncios pela
qualidade detonou essa prtica (as propagandas ruins no eram
mostradas), o que levou a anncios melhores e mais cliques.
61 O economista Michael Porter, professor da Harvard Business School e
fundador da firma de consultoria Monitor, um especialista muito
influente em estratgia e na forma como empresas, regies e naes
ganham vantagem sobre a concorrncia. Em seu clssico Competitive
Strategy: Techniques for Analyzing Industries and Competitors (Free Press,
1980), Porter lista as cinco foras que determinam a capacidade de uma
empresa de se manter competitiva e lucrativa. Na sequncia igualmente
influente, Vantagem competitiva: Criando e sustentando um desempenho
superior (Campus, 1989), explica as atividades necessrias para obter
Em um dia de fevereiro de 2000, quando foi para Mountain View para ser
entrevistado por Sergey para o cargo de diretor de produto no Google, Jonathan
presumiu que o encontro seria uma mera formalidade. Como vice-presidente
snior da Excite@Home, ele estava bem feliz no emprego e no tinha certeza se
queria trocar de barco. Mas, se quisesse, ele se considerava um especialista em
busca virtual e propaganda, e foi recomendado para a vaga por John Doerr, scio
na Kleiner Perkins e integrante do conselho de administrao do Google e da
Excite@Home. Portanto, o emprego era dele, bastava pedir, e Sergey
provavelmente passaria a entrevista tentando convenc-lo a aceit-lo.
Ento, ele chegou ao apinhado escritrio em Bay shore Parkway, a uma
distncia muito curta da Rota 101, e entrou com Sergey em uma sala de reunio.
Depois de algumas gentilezas, Sergey fez uma de suas perguntas de entrevista
favoritas: Voc poderia me ensinar algo complicado que eu no saiba?
Jonathan formado em economia pela Claremont McKenna e filho de um
economista de Stanford. Portanto, aps se recuperar da surpresa de estar sendo
entrevistado de fato, ele foi para a lousa branca provar a lei econmica que diz
que o custo marginal intercepta o custo mdio no mnimo deste. Dali, Jonathan
achou que poderia impressionar Sergey ao demonstrar como usar a funo custo
e a funo receita para encontrar o ponto timo de produo e lucro atravs da
maximizao da quantidade de produo (para economistas, isso que nem
conversar sobre o clima.) Quando Sergey comeou a mexer nos patins e a olhar
pela janela, Jonathan percebeu que no estava respondendo a pergunta de forma
adequada: no estava ensinando nada a Sergey ; a lei econmica em questo no
era interessante e, por Eric ser um gnio da matemtica, era grande a
possibilidade de j conhecer o clculo envolvido na soluo das frmulas
econmicas escritas no quadro. Jonathan precisava mudar de ttica depressa.
Assim, parou com a aula de economia e entrou em um novo tpico: paquera.
Comeou com uma explicao sobre como jogar a isca, usando seu prprio
mtodo para marcar um primeiro encontro e se valendo da esposa como estudo
de caso.88 Sergey passou a prestar ateno, e Jonathan foi chamado para a
vaga.89
Se voc perguntasse a gestores de grandes corporaes Qual a coisa mais
importante que voc faz no trabalho?, a maioria responderia por reflexo:
Participar de reunies. Se voc insistisse No, no a coisa mais entediante,
e sim a mais importante , eles provavelmente diriam alguns dos princpiospadro que aprenderam na faculdade de administrao, algo sobre traar
estratgias inteligentes e criar sinergias oportunas para acumular efeitos
patentes. S que agora um nico diretor de recursos humanos tomou uma deciso
que tem impacto direto sobre vrias equipes alm da sua prpria.
H outra razo pela qual a contratao hierrquica no funciona: lderes (e
autores de livros sobre administrao) costumam dizer que contratam pessoas
mais inteligentes do que eles mesmos, mas, na prtica, isso raramente ocorre em
um processo de contratao hierrquica. A deciso racional vamos contratar
esse cara porque ele to inteligente em geral vencida pela deciso mais
emocional mas, por outro lado, ele pode ser melhor do que eu e queimar meu
filme, e a eu no serei promovido e meus filhos acharo que sou um derrotado e
minha esposa vai fugir com aquele cara do refeitrio e levar meu cachorro e a
picape embora. Em outras palavras, a natureza humana interfere.
Desde o incio, os fundadores do Google compreenderam que, para contratar
sempre os melhores funcionrios possveis, o modelo a ser seguido no era o do
mundo corporativo, e sim do acadmico. As universidades no costumam
demitir professores, ento investem muito tempo para acertar na contratao e
promoo do corpo docente, em geral por meio de comits. Em virtude disso,
achamos que a contratao no deva ser baseada na hierarquia, mas sim feita
por profissionais do mesmo nvel, com decises tomadas em comit, alm de ser
dedicada a trazer para a empresa as melhores pessoas possveis, mesmo que a
experincia no seja compatvel com as vagas abertas. Eric contratou Shery l
Sandberg mesmo no tendo um cargo para ela. No demorou muito para que ela
assumisse a tarefa de montar nossa equipe de vendas para pequenas empresas,
uma funo que no existia at ela ajudar a criar. (Tempos depois, Shery l nos
deixou para se tornar diretora de operaes do Facebook e autora de best-sellers.
Quando se contrata criativos inteligentes, alguns deles inteligentemente criam
oportunidades para si fora da empresa. Falaremos mais sobre isso adiante no
captulo.) Em um processo de contratao feito por profissionais do mesmo nvel,
a nfase est nas pessoas, no na organizao. Os criativos inteligentes importam
mais que o cargo; a empresa mais importante que o gestor.
Nossos funcionrios so nosso bem mais precioso um clich batido.
Contudo, montar uma equipe de criativos inteligentes que corresponda a essa
declarao exige mais do que apenas dizer as palavras: voc precisa mudar o
mtodo de contratao dos integrantes da equipe. O ponto positivo que qualquer
um pode colocar essas mudanas em prtica. Algumas das recomendaes
sobre cultura que fizemos no ltimo captulo podem ser desafiadoras para
empresas j estabelecidas, mas qualquer um pode mudar o mtodo de
contratao. O ponto negativo que esse tipo de contratao exige muito tempo e
trabalho. No entanto, o melhor investimento que voc pode fazer.
O efeito rebanho
Uma fora de trabalho de pessoas incrveis no apenas faz um trabalho
sensacional, como tambm atrai mais pessoas incrveis.90 Os melhores
trabalhadores so como um rebanho: eles tendem a seguir uns aos outros. Junte
alguns deles e fique certo de que mais um bando vir atrs. O Google famoso
por suas fabulosas amenidades, mas a maioria dos nossos criativos inteligentes
no foi atrada pelos almoos gratuitos, massagens subsidiadas, pastos
verdejantes e escritrios que aceitam cachorros. Eles vieram porque queriam
trabalhar com os melhores criativos inteligentes.
Esse efeito rebanho uma faca de dois gumes: embora As tendam a
contratar As, Bs contratam no apenas Bs, mas Cs e Ds tambm. Se voc abrir
mo do padro e cometer o erro de contratar um B, em pouco tempo ter Bs, Cs
e at mesmo Ds na empresa. E independentemente de trabalhar para o benefcio
ou prejuzo da companhia, o efeito rebanho mais poderoso quando os
funcionrios so criativos inteligentes e a empresa nova. Nesse caso, a
importncia relativa de cada pessoa aumenta os primeiros funcionrios
chamam mais ateno. Alm disso, juntar pessoas incrveis cria um ambiente no
qual todos compartilham ideias e trabalham nelas. Isso sempre verdade, em
especial em um ambiente que est comeando.
possvel arquitetar um efeito rebanho positivo. A frase dos anncios de
emprego do Google para novos funcionrios Voc brilhante, ns temos
vagas 91 um truque marxista inteligente. No de Karl Marx, mas sim do
comediante Groucho Marx, uma vez que foi feito para inspirar uma resposta do
tipo Sim, eu quero mesmo fazer parte deste clube que me quer como
integrante!. A inteno era fazer com que o mundo soubesse que nosso nvel
para contratao muito alto, e, em vez de dissuadir candidatos, isso se tornou
uma ferramenta de recrutamento em si. Jonathan costumava manter em sua
mesa uma pilha de currculos de funcionrios contratados por ele e, quando
tentava fechar com um candidato, ele lhe passava os currculos e mostrava a
equipe da qual faria parte. Os funcionrios no eram apenas um grupo
selecionado a dedo das melhores contrataes de Jonathan, e sim o grupo inteiro.
Aquele era um clube para o qual nossos Grouchos criativos inteligentes em geral
queriam entrar. Logo, mantenha o nvel alto desde o incio; depois, anuncie para
os quatro ventos.
Isso essencial principalmente para os funcionrios de produto, j que eles
podem provocar um impacto muito grande. Preste bastante ateno ao contratlos, e, quando seu processo garantir excelncia na principal equipe de produto da
empresa, ela se disseminar tambm por todas as outras equipes. O objetivo
criar uma cultura de contratao que resista ao canto da sereia das concesses,
um canto que se torna cada vez mais alto no redemoinho catico do
hipercrescimento.
porque um animal capaz de aprender e, com o passar do tempo, vai saber mais
e escalar alturas maiores.97
A maioria das pessoas, quando precisa contratar algum para um cargo,
procura indivduos que se destacaram naquela funo antes. No assim que se
encontra um animal capaz de aprender. Examine qualquer lista de classificados
profissionais e o critrio principal para um cargo ser uma experincia relevante.
Se a vaga para diretor de design de widgets, aqueles atalhos da rea de trabalho
do computador e do celular para abrir aplicativos, com certeza o principal prrequisito ser de cinco a dez anos de experincia em design de widgets e um
diploma da Universidade de Widgets.
Preferir a especializao em detrimento da inteligncia errado,
principalmente no campo da alta tecnologia. O mundo est mudando to rpido
em todas as indstrias e empreendimentos que certo que o cargo para o qual
voc est contratando ir mudar. O widget de ontem ficar obsoleto amanh, e
contratar um especialista em um ambiente to dinmico pode ser um tiro no p.
Um especialista tende a resolver problemas com base no prprio conhecimento
que a sua suposta vantagem e pode se sentir ameaado por um novo tipo de
soluo que exija uma nova habilidade. Um generalista inteligente no tem essa
propenso e, por isso, est livre para avaliar um amplo conjunto de solues e
escolher a melhor.
Encontrar animais capazes de aprender pode ser um desafio. O mtodo de
Jonathan pedir para os candidatos refletirem sobre um erro do passado. No
incio dos anos 2000, ele costumava lhes perguntar: Que grande tendncia da
internet voc deixou passar em 1996? No que voc acertou e no que errou?
uma pergunta capciosa. Obriga os candidatos a definir o que esperavam, a
relacionar isso com o que observaram e explorar as revelaes, alm de forlos a admitir um erro e no daquela forma tosca meu-defeito--serperfeccionista. impossvel dar uma resposta falsa.
A pergunta pode se referir a qualquer grande evento do passado recente. O
objetivo no ver se a pessoa foi previdente, mas sim como seu pensamento
evoluiu e como ela aprendeu com os erros. Poucas pessoas a respondem de
forma adequada, mas quando o fazem, um grande indicador de que voc est
diante de um animal capaz de aprender. Claro, eles podem simplesmente dizer:
Eu no tenho talentos especiais. Apenas amo ser curioso. 98 Foi o que Albert
Einstein alegou, e ns o teramos contratado num piscar de olhos (apesar de ele
ter usado a palavra amor, criar a teoria da relatividade compensa isso).
Assim que contratar esses animais capazes de aprender, continue aprendendo
eles! 99 Crie oportunidades para que cada funcionrio sempre aprenda coisas
novas at mesmo habilidades e experincias no diretamente benficas para a
empresa e ento espere que as usem. Isso no ser um desafio para genunos
O teste LAX
Portanto, paixo crucial em uma contratao em potencial, assim como
inteligncia e mentalidade de animal capaz de aprender. Outra qualidade
essencial o carter. No estamos falando s de quem trata bem os outros e
confivel, mas de algum multifacetado e comprometido com o mundo. Algum
interessante.
Julgar o carter em uma entrevista de emprego costumava ser bem fcil, uma
vez que elas, em geral, incluam almoos ou jantares em um restaurante e talvez
um ou dois drinques, ao estilo Mad Men. Um local assim permitia que o
executivo contratante observasse como o candidato se comportava como civil.
O que acontece quando ele abaixa a guarda? Como trata o garom e o barman?
Pessoas incrveis tratam os outros bem, independentemente do status ou do grau
de sobriedade.
Hoje no se consegue mais embriagar os candidatos, ento, preciso ser mais
observador, principalmente no antes e depois da entrevista. Quando estava no
segundo ano da faculdade de administrao, Jonathan foi entrevistado para uma
vaga em uma grande firma de consultoria. Seu concorrente era um sujeito de
grande estirpe Jonathan garante que o nome era Hodsworth Bodsworth III
que, alm de mais qualificado, tambm era mais bonito do que ele. Jonathan
tinha certeza de que estava perdido: era fato que Bodsworth conseguiria a vaga.
Contudo, enquanto esperava o comeo da entrevista, ele conversou com a
auxiliar administrativa e descobriu que ela planejava viajar para a Califrnia,
estado natal dele. Jonathan logo deu dicas de viagem e recomendou passeios. No
dia seguinte, quando a empresa ligou para discutir uma oferta, ele achou que
devia haver algum engano ou que duas pessoas seriam contratadas. Mas no.
Bodsworth no foi escolhido porque, de acordo com o entrevistador, ele foi um
babaca com a minha secretria, e ela gostou de voc. Ns costumamos
perguntar aos nossos auxiliares o que acham dos candidatos e lhes damos
ouvidos. Chame isso de Regra de Bodsworth.
To importante quanto o carter reconhecer se o candidato ou no
interessante. Imagine ficar preso em um aeroporto por seis horas com um colega
Eric sempre escolhe o LAX, o aeroporto de Los Angeles, para representar o
mximo desconforto (embora Atlanta ou Londres sirvam, se necessrio). Voc
conseguiria passar todo o tempo conversando com ele numa boa? Seria um
tempo bem gasto ou voc se veria rapidamente procurando o tablet na bagagem
de mo para ler os ltimos e-mails, as notcias ou qualquer coisa que o livrasse de
falar com esse chato? (Tina Fey, a estrela da TV, tem a prpria verso do teste
LAX, que ela credita ao produtor do Saturday Night Live, Lorne Michaels: No
contrate algum com quem voc no gostaria de esbarrar no banheiro s trs da
manh, porque voc ficar [no escritrio] a noite toda.) 100
aparncia.
Abra o diafragma
O candidato ideal est l fora. Ele tem paixo, intelecto, integridade e um ponto
de vista nico. Agora, como encontr-lo e traz-lo para a empresa? H quatro
elos nessa corrente crucial: prospeco, entrevista, contratao e remunerao.
Vamos comear com a prospeco, que, por sua vez, se inicia com a definio
do tipo de candidato que procuramos. Nossa recrutadora Martha Josephson
chama isso de abrir o diafragma. O diafragma a abertura na cmera por
onde a luz entra e bate nos sensores que capturam a imagem. Um tpico gerente
de recursos humanos ter uma abertura pequena e considerar apenas certas
pessoas com certos cargos em certas reas que, sem dvida, faro bem o
trabalho de hoje. Mas o gerente bem-sucedido abre mais o diafragma e escolhe
pessoas alm dos suspeitos de sempre.
Digamos que voc queira contratar funcionrios de uma determinada
empresa, uma que famosa por abrigar grandes talentos. Tal empresa sabe que
voc quer seus funcionrios e dificultou bastante a tarefa de tirar gente de l. Se
voc abrir o diafragma e procurar por algum que possa realizar bem a tarefa
tanto hoje quanto amanh, poder encontrar alguns diamantes brutos e oferecer
oportunidades que o empregador atual talvez no seja capaz de proporcionar. O
engenheiro que quer ir para a rea de gesto de produto, mas impedido de
deixar sua equipe; o gerente de produto que quer entrar na equipe de vendas,
porm, no h vaga aberta. Voc pode conseguir grandes talentos se estiver
disposto a se arriscar e a desafiar pessoas a fazerem coisas novas. Elas se
juntaro a voc justamente por estar disposto a correr esse risco. E aqueles
dispostos a correr riscos tm a tendncia de se prontificar a fazer as coisas que
voc procura.
Por exemplo, se voc quer contratar um engenheiro de software e toda a sua
programao est escrita em determinada linguagem, isso no quer dizer que
voc necessariamente deva contratar um especialista nessa linguagem. Voc
deve contratar o melhor engenheiro que encontrar, no importa a preferncia
por linguagem, seja Java, C, Py thon ou Go. Quando a linguagem mudar (com
certeza mudar), ele ser capaz de se adaptar melhor do que qualquer outro.
Sey mour Cray, o pioneiro dos supercomputadores, costumava contratar pessoas
inexperientes de propsito, porque aquilo lhe trazia gente que em geral no sabe
o que impossvel.104 Temos algo parecido no Google em nosso programa de
gerente adjunto de produto (APM, na sigla em ingls), criado por Marissa May er
na poca em que ela era diretora na equipe de Jonathan. A diretriz principal do
programa era contratar os cientistas da computao mais inteligentes que
encontrssemos assim que sassem da faculdade. Isso no incomum, vrias
companhias contratam recm-formados inteligentes essa a parte fcil. O
difcil lhes dar papis vitais em projetos que causem verdadeiro impacto.
questes relacionadas ao cargo que ofeream uma viso sobre como ele resolve
problemas.
Googleza: Queremos descobrir o que torna esse candidato singular. Queremos
tambm garantir que esse seja um lugar onde ele prosperar, ento procuramos
por sinais de sua satisfao com a ambiguidade, tendncia ao e natureza
colaborativa.
companhia tendo passado dos 45 mil funcionrios. Nada mais crucial do que a
qualidade das contrataes.
A unidade monetria nesse sistema a pasta de contratao, um documento
com todas as informaes a respeito de um candidato que avanou pelo processo
de entrevistas. Uma pasta de contratao precisa ser ao mesmo tempo
abrangente e padronizada, para que todos os integrantes do comit de contratao
tenham as mesmas informaes e para que elas encerrem um retrato completo
do candidato. No Google, tal pasta foi projetada por engenheiros com esse
objetivo em mente (bem como o de manter Larry satisfeito, uma vez que ele
analisava cada candidato que recebesse uma oferta). Ela se baseia em um
modelo padronizado na empresa inteira (funes, pases, nveis), com espao
para flexibilidade.
Quando completa, a pasta de contratao ideal est repleta de dados, no de
opinies, e essa distino fundamental. Se voc o diretor de recursos humanos
ou um dos entrevistadores, no basta expressar uma opinio, preciso sustent-la
com dados. Voc no pode dizer Deveramos contratar a Jane porque ela
inteligente. preciso dizer Deveramos contratar a Jane, porque ela
inteligente e tem um Prmio MacArthur, a Bolsa Gnio, para comprovar. A
maioria dos candidatos no tem condies favorveis o suficiente para ganhar
Prmios MacArthur; portanto, sustentar toda opinio com dados ou observaes
empricas costuma ser bem mais difcil do que esse exemplo. Contudo, quando as
pessoas no fazem isso, as pastas so expulsas do comit.
Outra regra importante que a pasta seja a nica fonte de informao de que
o comit de contratao dispe. Se algo no est nela, no levado em
considerao. Isso obriga as pessoas a serem meticulosas ao mont-la. No d
para omitir algo da pasta e depois mencion-lo em uma reunio como uma
jogada de poder; cartas na manga provocam tiros (metaforicamente... em
geral). Os contratados so aqueles com as melhores pastas, no com a
animadora de torcida mais efusiva no comit.
As melhores pastas so como qualquer outro grande elemento de
comunicao executiva: um resumo de uma pgina com todos os fatos essenciais
e material complementar abrangente. O resumo consiste de dados substanciados
e provas para sustentar a deciso de contratao, e o material de apoio inclui
relatrios de entrevistas, currculo, histrico de remunerao, informaes de
referncia (principalmente se o candidato foi escolhido via referncia interna) e
qualquer outro material relevante (histricos da faculdade, uma cpia das
patentes e prmios de um candidato, amostras de textos ou cdigo de
programao).
Ao compilar uma pasta de contratao, os detalhes so essenciais. Por
exemplo, para recm-formados, ser que a nota mdia do rendimento
acadmico segue a tpica escala americana de quatro pontos ou como a da
livro do nosso colega Laszlo Bock sobre talento, Work Rules!. Laszlo o
responsvel pelo gerenciamento de pessoal no Google e no livro ele detalha
como os princpios que estabelecemos no incio cresceram e se tornaram um
sistema que qualquer equipe ou empresa pode imitar.)
Recompensas desproporcionais
Aps contratar seus criativos inteligentes, preciso pag-los. Pessoas
excepcionais merecem salrios excepcionais. Aqui, mais uma vez, possvel
buscar orientao no mundo dos esportes: atletas fora de srie recebem quantias
fora de srie. comum que o melhor jogador de uma equipe profissional seja
recompensado com contratos de centenas de milhes, enquanto o contrato do
novato na ponta do banco de reservas seja de apenas centenas de milhares. Ser
que os astros valem essa fortuna? Ao ser perguntado se achava justo que seu
salrio fosse maior do que o do presidente americano Herbert Hoover, o grande
jogador de beisebol Babe Ruth respondeu: Por que no? Tive um ano melhor
que o dele. Temos uma resposta mais sensata. Sim, os astros valem (quando o
desempenho corresponde s expectativas), porque atletas bem-sucedidos tm
habilidades raras tremendamente vantajosas. Quando eles se saem bem,
provocam um impacto desproporcional. Eles ajudam seus times a vencer, e
sequncias de vitrias trazem enormes benefcios financeiros: mais torcedores,
mais pblico, mais uniformes e bons vendidos. Da a fortuna.
Os criativos inteligentes de hoje podem no ter muitas caractersticas em
comum com atletas profissionais, mas ambos possuem uma qualidade
importante: o potencial para provocar um impacto desproporcional. Astros so
bem pagos no esporte e tambm devem ser no mundo dos negcios. Se voc
quer um desempenho melhor dos melhores funcionrios, comemore e
recompense de maneira desproporcional.
Isso no quer dizer que voc deva dar um cheque em branco aos novos
contratados. Na verdade, a curva de remunerao deve comear baixa. Voc
pode atrair os melhores criativos inteligentes com fatores alm do dinheiro: as
coisas incrveis que eles podem fazer, as pessoas com quem trabalharo, as
responsabilidades e oportunidades que assumiro, a cultura e os valores
inspiradores da empresa, e, sim, talvez at a comida de graa e ces felizes
sentados ao lado da mesa. (Um dos primeiros engenheiros do Google queria
trazer seu furo para o escritrio. Ns concordamos. Ele no negociou o salrio.)
Mas quando esses criativos inteligentes so efetivados e comeam a mostrar
servio, pague-os de acordo. Quanto maior o impacto, maior a remunerao.
No outro prato da balana, os gestores s devem oferecer uma recompensa
incrvel quando os funcionrios fizerem um trabalho sensacional. Eles so
gestores de profissionais, no tcnicos da liga infantil de beisebol, na qual todo
mundo aplaudido de p e recebe um trofu, at mesmo o campista direito
sonhador que passou o jogo catando margaridas e procurando trevos-de-quatrofolhas. Os homens e as mulheres so criados em igualdade no que diz respeito a
todos serem dotados de certos direitos inalienveis, mas isso com certeza no
significa que todos so igualmente competentes no que fazem. Portanto, no os
mesmo que passem por cima das limitaes da organizao. Salar Kamangar,
que foi contratado pelos fundadores assim que saiu de Stanford, um grande
exemplo disso. Salar ajudou a inventar o AdWords e passou vrios anos na
organizao de produto, mas, quando estava pronto para expandir suas
responsabilidades e se tornar um gerente-geral, no tnhamos um cargo para ele.
Ento, criamos um e o nomeamos diretor do YouTube. H inmeros casos como
esse, em que criativos inteligentes precisam ou querem fazer algo novo, e a
empresa arruma um jeito de satisfaz-los. Faa o melhor pela pessoa e deixe a
empresa se ajustar.
Encorajar os funcionrios a assumir novos cargos pode ser institucionalizado
na forma de rodzios, mas precisa ser feito do jeito certo, caso contrrio sair
pela culatra. O programa APM do Google (e seus similares para o pessoal do
marketing e de operaes) faz com que haja um rodzio a cada doze meses. Isso
funciona muito bem em um programa pequeno com funcionrios em incio de
carreira, mas difcil criar um programa de rodzio estruturado pelos segmentos
maiores da empresa. Por isso, nossa abordagem sempre foi encorajar o
movimento entre funes, facilit-lo o mximo possvel e torn-lo parte
permanente da discusso de gesto. Debatemos o rodzio nas reunies de equipe
e em encontros individuais: quem na sua equipe um bom candidato para o
rodzio? Para onde ele quer ir? Voc acha que isso ser bom para ele?
Durante essas discusses, certifique-se de que os funcionrios em questo
sejam os bons. Gestores so como crianas trocando doces depois de uma festa
de aniversrio com distribuio de sacolinha de brindes: quando so obrigados a
fazer um rodzio dos integrantes de suas equipes, tendem a ficar com os M&Ms e
barras de chocolates e a se livrar das caixas de passas. Isso pode ser bom para os
gestores, mas ruim para a empresa. Tal atitude mantm os melhores
funcionrios, aqueles que voc quer que continuem instigados e inspirados, presos
em uma equipe. Quando Eric deixou Georges Harik participar das reunies de
diretoria, no foi porque Georges era um funcionrio com desempenho
medocre que precisava melhorar, mas porque era um com desempenho
superior que Eric tentava segurar. Mande os gestores trocarem os M&Ms, deixe
que fiquem com as passas.
ocorre esse confronto, o jogo costuma j ter acabado, uma vez que algum que
age dessa maneira no est mais emocionalmente ligado empresa e
improvvel que reconstrua esse comprometimento. Entretanto, se ainda houver
um vnculo e voc estiver disposto a fazer uma contraproposta, faa bem rpido
dentro de uma hora, se possvel. Depois disso, o funcionrio comea a se
instalar mentalmente na nova empresa.
E, claro, se ir embora for o melhor para a pessoa, ento deixe-a partir. Como
Reid Hoffman, ex-colega de Jonathan na Apple e CEO-fundador do LinkedIn,
observa: S porque um trabalho termina, no quer dizer que o relacionamento
com seu funcionrio precise acabar [...] A primeira coisa que voc deve fazer
quando um funcionrio valioso diz que est saindo tentar demov-lo. A segunda
dar parabns pelo novo emprego e inclu-lo na lista de ex-funcionrios da sua
empresa. 109
Havia uma gerente de produto jovem e talentosa, Jessica Ewing, que nos
ajudou a lanar o iGoogle (que permitia aos usurios personalizar a pgina
principal do Google e foi aposentado em 2013) e que tinha um futuro brilhante na
empresa. Mas ela tambm alimentava um grande desejo de ser escritora. Ns a
aconselhamos a pensar na trajetria da sua carreira. Pensar naquelas unidades
de aes restritas nas quais ela ainda precisava investir. Ela pensou e mesmo
assim foi embora. Jessica, faz tempo que no temos notcias suas! Por que no
escreve?
Demitir horrvel
Com certeza, no tanto quanto ser demitido, mas mesmo assim muito ruim. Se
voc j precisou fazer isso, sabe como difcil levar um pobre coitado para um
canto e dizer que a coisa no est dando certo. Talvez o funcionrio j saiba que
isso est para acontecer e encare numa boa; talvez no, e comece a atirar coisas.
E talvez ele use leis trabalhistas como balas de prata em uma misso vingativa
para infernizar sua vida. Todos os fatores que fazem dos criativos inteligentes
certos grandes contrataes podem transform-los nos piores funcionrios a
demitir, devido intensidade, confiana, audcia deles. Desse modo, tenha
sempre em mente desde o incio que a melhor maneira de evitar a tarefa de
despedir funcionrios ruins no contrat-los. por isso que preferimos que
nosso processo de contratao gere mais falsos negativos (pessoas que
deveramos ter contratado, porm no contratamos) do que falsos positivos
(pessoas que no deveramos ter contratado, porm contratamos).
Faa um teste: se voc pudesse trocar os 10% piores integrantes da sua equipe
por novos contratados, sua empresa melhoraria? Se sim, preciso rever o
processo de contratao que trouxe esses funcionrios ruins e descobrir uma
forma de melhor-lo. Outro teste: h algum integrante da sua equipe por cuja
permanncia voc no lutaria muito? Em caso afirmativo, ento talvez ele
devesse ser demitido.
Uma ltima observao: h pessoas que gostam de demitir. Tenha cuidado
com elas. Demisses criam uma cultura de medo que inevitavelmente fracassa,
e Eu vou demiti-los e pronto uma desculpa para no dedicar tempo na
realizao de um bom processo de contratao.
Planeje a carreira
O desenvolvimento da carreira exige esforo e prudncia voc precisa
Leia
A maioria das organizaes tem um impressionante arquivo de
informao escrita. Encontre o melhor desse material e leia. No Google,
sempre dizemos para as pessoas que nos pedem conselhos que devorem a
carta de nossa oferta pblica inicial, de 2004, e todos os memorandos
internos de estratgia que Eric e Larry escreveram depois. Essas so as
explicaes mais claras e concisas sobre os nossos valores e estratgia
disponveis, mas as pessoas esto ocupadas demais para l-las. No cometa
esse erro.
E no se limite s fronteiras da sua empresa. A Web tem um monte de
informaes escritas, e, embora grande parte seja idiotice, h muita coisa
boa tambm. Descubra como usar as vrias ferramentas disposio para
explorar os sites e autores que voc respeita. Crie crculos de outras pessoas
inteligentes que pensem como voc e troque livros e artigos. Uma das
maneiras mais fceis e eficazes de progredir num determinado ramo
sabendo mais sobre ele. A melhor forma de fazer isso lendo. As pessoas
sempre dizem que no tm tempo para ler, mas o que de fato esto dizendo
que no fazem disso uma prioridade. Sabe quem l muito a respeito de
seus negcios? CEOs. Portanto, pense como um CEO e leia.
Voc pode largar tudo e recomear do zero. Oi, amor... Tudo bem... Ah,
falando nisso, eu pedi demisso e comprei um rancho para criar gado em
Montana... Amor?
Ou voc pode adotar uma postura mais prudente. Ajuste o rumo. Torne
aquele emprego ideal daqui a cinco anos mais prximo do emprego dos
sonhos, contudo ainda atingvel no rumo atual. Temos visto que at esse
simples ato de determinar o objetivo correto muda a carreira das pessoas.
88 Ele mandou rosas e uma charada; as flores, para atrair a curiosidade sobre
esse sujeito que ela nunca tinha visto, e a charada, para determinar se ela
era inteligente. Ela era, mas mesmo assim saiu com Jonathan.
89 Jonathan recebeu uma oferta para trabalhar no Google em fevereiro de 2000
e, por uma srie de razes todas irrelevantes , recusou. Quando Eric
fez outra oferta dois anos depois, em fevereiro de 2002, Jonathan aceitou.
90 Lembra o modelo ASA? Ver Benjamin Schneider, The People Make the
Place (Personnel Psychology, setembro de 1987). Aqui est o primeiro A
em ao: o crculo virtuoso de pessoas sensacionais atraindo outras pessoas
sensacionais, construindo uma cultura de grandeza.
91 Marissa May er viu essa frase pela primeira vez em um panfleto de
recrutamento no prdio de cincia da computao quando estudava em
Stanford. A frase lhe chamou a ateno, e Marissa a trouxe para o Google.
92 O Sky Map foi desenvolvido no Google e lanado em 2009. O cdigo foi
convertido para cdigo-fonte aberto em 2012.
93 Citado em IT Growth and Global Change: A Conversation with Ray
Kurzweil (McKinsey Quarterly, janeiro de 2011).
94 Como ocorre com todos os aforismos atribudos a Ford, no podemos garantir
que ele de fato disse isso.
95 Pelo menos como ela chama quando fala com no acadmicos. (Na
pesquisa, ela diz que essas pessoas tm uma teoria incremental de
inteligncia, personalidade e outras qualidades positivas.) O livro para o
pblico leigo Carol S. Dweck, Mindset: The New Psychology of Success
(Random House, 2006).
96 Elaine S. Elliott e Carol S. Dweck, Goals: An Approach to Motivation and
Achievement (Journal of Personality and Social Psychology, vol. 54, no 1,
janeiro de 1988), p.5-12.
97 Para a explicao pioneira de Dweck sobre como mentalidades diferentes
influenciam a motivao e o aprendizado em crianas, ver Carol S.
Dweck, Motivational Processes Affecting Learning (American
106 Na primeira pesagem, retire quatro moedas e pese os outros dois quartetos
um contra o outro. Se os dois quartetos tiverem o mesmo peso, ento a
moeda falsa s pode estar no terceiro conjunto, aquele que voc separou.
Nesse caso, pegue duas moedas das oito que acabaram de ser pesadas e
duas no pesadas do quarteto deixado de lado. Se tiverem o mesmo peso,
ento a moeda falsa estar no par que nunca foi para a balana. Se no
tiverem o mesmo peso, ento a moeda falsa estar no par que entrou na
segunda pesagem. Na terceira pesagem, pese uma das moedas do par que
tem a moeda ruim contra uma moeda boa de controle. Se tiverem o
mesmo peso, a falsa a que est sobre a mesa. Caso contrrio, aquela
na balana. Esse foi o cenrio fcil. Vamos ver se voc resolve por conta
prpria o mais difcil: quando a primeira pesagem no bate. Gostamos
desse tipo de questo por dois motivos: primeiro, por meio delas vemos se
uma pessoa tem o intelecto para desconstruir um problema complexo,
independentemente de acertarem a resposta. Segundo, possvel verificar
se eles gostam do processo.
107 Economistas costumam explicar esse fenmeno atravs da teoria dos
torneios de promoo, que comea com a observao de que muitas
reas so organizadas como longas disputas pelo primeiro lugar, com
prmio superdimensionado aos vencedores. A teoria original foi formulada
pelos economistas Edward Lazear e Sherwin Rosen, em Rank-Order
Tournaments as Optimum Labor Contracts (Journal of Political Economy,
vol. 89, no 5, outubro de 1981).
108 Ficamos to intrigados quanto os economistas a respeito dos sistemas
igualitrios de remunerao, em que funcionrios com contribuies to
dspares recebem mais ou menos o mesmo valor. O uso de faixas estreitas
de salrio no recompensa o pequeno esforo e desmotiva os funcionrios
com melhor desempenho? Para uma discusso acadmica dessa questo,
ver George P. Baker, Michael C. Jensen e Kevin J. Murphy,
Compensation and Incentives: Practice vs. Theory (Journal of Finance,
julho de 1988). Uma possvel explicao a de que salrios muito
variveis so ruins para o moral da equipe e podem reduzir a
produtividade. Ver, por exemplo, David I. Levine, Cohesiveness,
Productivity, and Wage Dispersion (Journal of Economic Behavior and
Organization, vol. 15, no 2, maro de 1991). Acreditamos o resultado
compensa: segundo nossa experincia, conseguir que nossos melhores
funcionrios realizem um grande trabalho supera quaisquer problemas na
equipe causados pela percepo de que h injustia. Na maioria dos casos,
as pessoas ficam contentes pelos colegas e se esforam para fazer algo
sensacional e ganhar um salrio similar.
109 Reid Hoffman, Ben Casnocha e Chris Yeh, Tours of Duty : The New
vrios dissidentes polticos chineses. Sergey achou crucial divulgar o quanto antes
o ataque e como o Google reagiria. Houve pouca divergncia nessa questo. Na
reunio da diretoria de Eric naquela primeira semana de janeiro, Sergey insistiu
no argumento de que, como resposta aos ataques dos hackers, ns deveramos
parar de acatar a poltica de censura do governo chins. Ele queria que
parssemos de filtrar os resultados de pesquisa do Google.cn, mesmo que isso
significasse que o governo provavelmente fecharia o site, anulando muito do
progresso conquistado a duras penas naquele mercado. Sergey ficou de p na
reunio para dar sua opinio ele costuma fazer isso s quando est de patins.
Eric estava viajando naquele dia e participou da reunio via videoconferncia,
portanto aconselhou que a diretoria considerasse todas as informaes e viesse
preparada na reunio seguinte para expressar e defender uma posio sobre o
que a empresa deveria fazer.
Por causa da urgncia da situao, Eric marcou a reunio da diretoria para a
tarde do domingo seguinte 10 de janeiro de 2010 , s quatro da tarde. Ela
comeou com Sergey conduzindo uma anlise tcnica detalhada da situao por
mais de uma hora. Depois, ele reiterou a posio que havia expressado durante a
semana: deveramos parar de filtrar os resultados. Eric sabia que Larry estava do
lado de Sergey, o que significava que a deciso j estava tomada. No entanto, era
essencial que todos os integrantes da diretoria fossem ouvidos e votassem. Todos
teriam que se unir e apoiar a resoluo, qualquer que fosse sua opinio sobre o
assunto. Ento, a reunio levou vrias horas. Analisamos os fatos e tivemos uma
longa discusso, s vezes acalorada. Finalmente, Eric pediu uma votao. O
clima na sala claramente favorecia a posio de Sergey, e a votao no era de
fato necessria, mas Eric achou importante que cada um tivesse a chance de
declarar sua posio. Alguns concordavam com Eric que deixar a China era o
equivalente a abandonar aquele mercado pelos prximos cem anos. A maioria
ficou do lado de Sergey, que acreditava que com o tempo o governo chins
mudaria o comportamento, j que o modelo atual no seria sustentvel, o que
deixaria a porta aberta para o Google entrar de novo no mercado em algum
momento no futuro.
A deciso final, qual a diretoria, cansada, chegou por volta das nove da noite,
foi de no sair imediatamente. Em vez disso, o ataque dos hackers seria divulgado
com a maior transparncia possvel; ao que se sabe, das vrias empresas
afetadas, ns fomos a nica a ir a pblico com os detalhes. E anunciaramos os
planos de parar de censurar os resultados no Google.cn. No faramos essa
mudana de imediato; antes, daramos um tempo para como nosso diretor
jurdico, David Drummond, disse na postagem do blog em que anunciou a
deciso [discutir] com o governo chins a base em que poderamos operar
nosso mecanismo de busca sem filtros dentro da lei, se que isso seria possvel.
Na segunda-feira, Eric discutiu a deciso com o conselho de administrao, e, na
Alan Eustace, junto com vrios integrantes dedicados da equipe na China, foi
fundamental ao levantar o moral e garantir que a equipe chinesa permanecesse a
salvo, engajada e bem-sucedida durante aquele perodo turbulento. Como
resultado, o legado da deciso sobre a China foi uma gigantesca dose de boa
vontade por parte dos Googlers no mundo inteiro, e a forma ponderada como se
chegou a ela reafirmou um conjunto de princpios que determina como todas as
decises difceis devem ser tomadas.
Usar dados pode ser til para fazer com que todo mundo d uma opinio, j
que no uma questo pessoal.125 Fique especialmente atento aos quietos;
chame aqueles que ainda no se pronunciaram. Eles podem ser dissidentes com
medo de discordar de voc em pblico (mas precisam superar esse medo) ou
podem ser do tipo tmido, porm brilhante. Ou talvez no tenham mesmo nada a
dizer. Nesse caso, eles provavelmente nem deveriam estar na reunio. Uma
ttica falar algumas besteiras, para que as pessoas tomem coragem de
discordar do chefe. (Acho que todos deveramos tomar banho de cido
clordrico. O que acham?) Faa o possvel para trazer tona toda a discordncia
em potencial no incio do processo; h uma tendncia natural (e vlida) de
rejeitar a divergncia se ela demora para surgir no processo de tomada de
deciso.126
Quando todo mundo opinar, a discusso continuar e todos podero participar
da deciso e ter suas vozes ouvidas. Um processo de consenso adequado contm
elementos de incluso (envolvendo todos os interessados de modo participativo),
cooperao (tendo como objetivo a melhor deciso para o grupo, s vezes
custa de uma minoria ou indivduo) e igualdade (todo mundo na equipe tem voz e
pode, pelo menos temporariamente, vetar a ideia). Acima de tudo, o processo
voltado para a soluo: a deciso correta a melhor deciso, e no aquela com
que todo mundo concorda por ser o mnimo denominador comum. E nem
sempre a sua soluo. Como o tcnico Wooden disse uma vez: Tente encontrar
o melhor jeito, no fazer do seu jeito. 127
um rumo. Isso tambm vale para outros campos alm dos negcios (ou devemos
dizer gramados): goleiros que encaram a cobrana de um pnalti podem
dobrar a taxa de defesas bem-sucedidas ao simplesmente no fazerem nada no
momento em que o cobrador chuta a bola, em vez de seguir a prtica comum de
predisposio ao de tentar adivinhar o lado do chute.132 Nesse sentido,
goleiros podem aprender com pilotos, que so treinados para no agir de
imediato em emergncias, e sim dedicar um momento para avaliar a situao
antes de decidir o que fazer.
para se desenvolver como CEO ou principal lder de uma empresa saber que
decises tomar e quais deixar que sigam seu rumo sem voc.
Essa habilidade ainda mais importante quando se est numa situao como a
enfrentada por Eric, que administrava uma empresa com dois fundadores
inteligentes, respeitados e muito ativos. Por exemplo, houve uma reunio de
anlise de produto em que Eric, Sergey e Larry acabaram discordando sobre um
recurso-chave de um novo produto. Havia cerca de vinte pessoas na reunio, e
aps alguns minutos Eric interrompeu a discusso e depois a retomou naquela
tarde apenas com os outros dois. Ele ento descobriu que os dois cofundadores
no apenas discordavam dele, como tambm entre si. Eric disse que estava tudo
bem, que deixaria Larry e Sergey decidirem, mas que os dois teriam de faz-lo
at o dia seguinte. Quando, nesse dia, ele passou ao meio-dia pela sala que os
cofundadores dividiam no prdio 43, perguntou: Qual de vocs ganhou? E a
resposta foi previsvel: Na verdade, ns tivemos uma nova ideia. Essa acabou
sendo a melhor soluo, e a resoluo foi tomada.
reunies. Ento, Eric agiu. Marcou ainda mais reunies e determinou um prazo
final. Nas seis semanas seguintes, a diretoria se reuniria todo dia s quatro da
tarde para analisar o acordo com a AOL. No fim daquele perodo de tempo, eles
deveriam chegar a uma deciso e concluir as negociaes com a AOL de uma
forma ou de outra.
De incio, as discusses no progrediram muito. No entanto, a pura trabalheira
de repetir o mesmo argumento todo dia ajudou a incitar a diretoria a pesquisar
ainda mais a fundo os dados sobre o desempenho do mecanismo de anncios, e,
com o passar das semanas, fizemos anlises que demonstraram que o negcio
no era to arriscado quanto pensvamos. Comeamos a perceber que
poderamos arcar com aquilo e estvamos certos: fechamos o acordo,
basicamente nos termos da AOL, e nosso desempenho excedeu todas as
garantias. Entretanto, ningum sabia disso no momento das negociaes;
chegamos resposta correta por meio de um processo longo e rigoroso para
considerar todos os detalhes. Foi uma deciso crtica, e, quando se est
considerando algo fundamental para a existncia da empresa, preciso se reunir
com a equipe todo dia.
Lei do caubi
Advogados so treinados para se preocupar com o passado. Isso faz sentido, pois
muito da lei determinado por precedentes: o que aconteceu antes dita o que
vlido no futuro. E eles no gostam de riscos, o que tambm faz sentido, j que
muitos advogados corporativos trabalham em firmas de advocacia, cujo trabalho
manter os clientes longe de encrenca. Assim, quando se pede para a maioria
dos advogados analisar uma situao e a tal situao for 99% boa e 1%
questionvel, eles passaro a maior parte do tempo com voc analisando a parte
questionvel.
A placa a seguir um bom exemplo. Jonathan tirou a foto quando
atravessvamos a rua para ver os campos esportivos que o Google tinha acabado
de abrir. Ela inclua um belo mapa dos campos, mas um quarto do espao era
tomado por um termo de iseno de responsabilidade que dizia basicamente para
a pessoa no nos processar caso se machucasse ao usar um deles. (Algum
advogado lendo isso est prestes a corrigir nossa interpretao do texto jurdico
redigido com esmero. Por favor, pare.) Um advogado bem-intencionado, avesso
a riscos e preocupado com o passado achou que, embora os Googlers que usam
os campos sejam adultos inteligentes, ainda haveria uma chance infinitesimal de
que um deles pisasse no campo, torcesse o tornozelo e processasse a empresa.
Por isso, h ainda mais juridiqus estpido poluindo nosso ambiente.
Advogados tambm podem ser criativos inteligentes, e por isso que ficamos
to surpresos de ver essa placa no Google. Essa abordagem da lei voltada para o
passado e com medo de assumir riscos, to comum no cenrio corporativo
americano, no funciona no Sculo da Internet, quando os negcios evoluem em
um ritmo muitssimo mais rpido que o das mudanas jurdicas. Uma empresa
movida por criativos inteligentes que esteja tentando inovar ter sorte se estiver
certa 50% do tempo, o que pode ser um problema para um advogado cuja
tolerncia a risco seja inferior a 10%.
116 Havia um precedente para essa conduta: sob o Digital Millennium Copy right
Act [Lei de Direitos Autorais do Milnio Digital], aprovado em 1998, os
detentores de direitos autorais podem notificar websites (no nosso caso,
YouTube, Blogger e outros pertencentes ao Google) sobre contedos que
supostamente infrinjam seus direitos autorais. Quando o Google remove o
contedo em resposta a uma notificao de retirada, ns tentamos avisar
isso para os usurios.
117 Nada temos contra contadores, que tm bons motivos para calcular a receita
pro forma e o EBITDA (o lucro antes dos juros, do imposto de renda, da
depreciao e da amortizao).
118 Ver Roman Friedrich, Matthew Le Merle, Alex Koster e Michael Peterson,
The Next Wave of Digitization: Setting Your Direction, Building Your
Capabilities (Booz and Company, 28 de junho de 2011).
119 Ver Dave Evans, The Internet of Things (Cisco Internet Business Solutions
Group, abril de 2011).
120 Ao que parece, a frase j era um ditado popular na poca de Dewey. Ver
Larry A. Hickman, The Essential Dewey, Volume 2: Ethics, Logic,
Psychology (Indiana University Press, 1998), p.173.
121 Wolfinger fez esse comentrio em um seminrio que deu em Stanford em
1969 ou 1970. Foi uma resposta a um estudante que havia rejeitado um
argumento factual baseado em dados como sendo mero indcio casual.
Ver Nelson W. Polsby, Where Do You Get Your Ideas? (PS: Political
Science and Politics, vol. 26, no 1, maro de 1993).
* Em ingls, dados data, palavra do latim, da a explicao do professor sobre o
singular ser datum. Em seguida, os autores fazem um trocadilho com date,
encontroem ingls (N. do T.)
122 Edward Tufte, PowerPoint Is Evil (Wired, setembro de 2003).
123 Buster joga como receptor do time de beisebol San Francisco Giants e foi o
jogador mais valioso da Liga Nacional em 2012.
124 Embora essa citao costume ser atribuda a Patton, no conseguimos
encontrar nenhuma prova direta de que ele tenha de fato dito isso, pelo
menos no na autobiografia War As I Knew It ou no famoso discurso para o
Terceiro Exrcito. Mas a internet diz que ele falou, ento, deve ser verdade
( brincadeira).
125 Ver Kathleen M. Eisenhardt, Jean L. Kahwajy e L.J. Bourgeois III, How
Management Teams Can Have a Good Fight (Harvard Business Review,
julho-agosto de 1997). Esses pesquisadores, que estudaram executivos
tomando decises em grupo, escreveram: Alguns gestores acham que
trabalhar com muitos dados aumentar o conflito interpessoal por expandir
o nmero de questes em debate. Descobrimos que mais informao
melhor se os dados forem objetivos e atualizados , pois ela encoraja
para que ningum usasse as maravilhas da fotocopiadora para criar uma cpia
no autorizada do plano quinquenal de produo de gros.137 A maioria dos
gestores ainda pensa como esses burocratas da era sovitica: sua funo
separar a informao e distribu-la com parcimnia, porque claro que no
possvel confiar naqueles arruaceiros dos andares inferiores com as chaves da
informao que levam ao reino da empresa.
Mas a Unio Sovitica entrou em colapso, e, embora tal prtica parcimoniosa
de distribuio de informao possa ter sido bem-sucedida quando as pessoas
eram contratadas para trabalhar, no Sculo da Internet, voc contrata pessoas
para elas pensarem. Quando Jonathan estava na faculdade de administrao, um
de seus professores de finanas costumava dizer que o dinheiro a fora vital
de qualquer empresa. Isso verdade em parte. No Sculo da Internet, o
dinheiro obviamente fundamental, mas a informao a verdadeira fora vital
dos negcios. Atrair criativos inteligentes e lev-los a fazer coisas maravilhosas
so a chave para construir uma empresa do sculo XXI. Contudo, nada disso
acontece se elas no estiverem cheias de informaes.
Os lderes mais eficientes de hoje no acumulam informaes; eles
compartilham. (Bill Gates afirmou em 1999: O poder no vem do
conhecimento mantido, mas sim do compartilhado. Os valores e o sistema de
recompensa de uma empresa devem refletir essa ideia.) 138 O objetivo da
liderana otimizar o fluxo de informaes pela empresa inteira, o tempo todo,
todos os dias um conjunto de talentos completamente diferente.
Como Jonathan disse para aquele engenheiro naquele dia, vrios anos atrs:
Se eu no passo de um roteador muito caro, pretendo ser um roteador muito
bom. O que isso quer dizer? Mantenha um sistema aberto de comunicaes,
determine objetivos pblicos desafiadores e regularmente deixe de atingi-los.
Quando estiver em dvida, converse sobre suas viagens.
Conhea os detalhes
John Seely Brown, ex-diretor do centro de pesquisa da Xerox em Palo Alto, uma
vez disse que a essncia do ser humano envolve fazer perguntas, no respondlas.140 Eric gosta de colocar esse conceito prova quando anda pelos
corredores do Google e de outras companhias com as quais est envolvido.
Quando esbarra com um executivo que no v h algum tempo, as gentilezas no
duram muito tempo. Aps o ol cordial, ele vai direto ao ponto: O que est
acontecendo no seu trabalho? Que problemas voc tem? Fale sobre aquele
produto que voc est me devendo. Essa abordagem traz dois resultados: ajudao a ficar ciente dos detalhes de seus negcios e o informa sobre quais executivos
esto cientes dos detalhes dos negcios deles. Se a pessoa est no comando de um
negcio, mas no consegue descrever os problemas que enfrenta em dez
segundos, ela no est altura do cargo. Uma liderana que no pe a mo na
massa no serve mais. Voc precisa conhecer os detalhes.
Eric costuma se lembrar de tudo e conhece os produtos que as pessoas lhe
devem; portanto, a abordagem funciona bem para ele. A memria de Jonathan
no como a de Eric, ento ele escreve o que as pessoas lhe devem no campo
de notas de seus respectivos contatos no celular. A, se esbarra com algum, para
um momento e abre a lista para poder perguntar sobre algo de responsabilidade
da pessoa.
Mesmo quando se fazem as perguntas certas, pode ser difcil obter os
verdadeiros detalhes. Um dia, no incio do mandato de Eric no Google, Larry e
Sergey estavam chateados por causa de alguns problemas no departamento de
engenharia e com a forma como alguns diretores estavam lidando com a
questo. Eric os ouviu falando disso por um tempo e depois comentou: Bem,
conversei com eles e direi o que esto fazendo. Ele, ento, descreveu o que
acreditava estar acontecendo com aquela equipe especfica.
Larry ouviu algumas frases e depois interrompeu: No isso que eles esto
fazendo. Eis o que esto fazendo. Larry listou algumas coisas, e Eric logo se deu
conta de que o cofundador estava certo. Eric tinha os detalhes, mas Larry tinha a
verdade. A viso geral sempre supera os detalhes.
Como isso aconteceu? Eric deu ouvidos aos gestores, que fizeram o melhor
possvel para controlar o fluxo da informao de baixo para cima (a tcnica de
regurgitar e selecionar dados uma via de mo dupla, como qualquer bom
gerente de nvel mdio que se preze em termos de negao sabe muito bem).
Larry, no entanto, estava escutando os engenheiros no de forma direta, mas
com o auxlio de uma pequena ferramenta esperta que ele implementara,
chamada de pedacinhos (snippets). Eles parecem relatrios semanais de status
que listam as atividades mais importantes de um funcionrio durante uma
semana, porm em um formato curto e conciso, de forma que possam ser
escritos em apenas alguns minutos e compilados (em um Word ou rascunho de email) conforme a semana passa. No h um formato determinado, mas um bom
conjunto de pedacinhos inclui as atividades e realizaes mais importantes da
semana e logo informa no que a pessoa est trabalhando naquele perodo, de
coisas enigmticas (estrutura SMB, lista de 10%) a mundanas (completou
as avaliaes trimestrais de desempenho, comeou os planos para as frias da
famlia). Assim como os OKRs, eles so compartilhados com todo mundo, pois
so postados no Moma, onde todo mundo pode ver os pedacinhos uns dos outros.
Durante anos Larry recebeu um compndio semanal de pedacinhos dos diretores
de engenharia e de produto. Dessa forma, ele sempre sabia a verdade.
Falando nisso...
Puxe conversa
Em outubro de 2009, quando This Is It, o show gravado de Michael Jackson, foi
lanado, Jonathan teve uma ideia. Como o campus principal do Google em
Mountain View fica bem ao lado de um cinema multiplex, ele comprou um
monte de ingressos para o dia da estreia e pediu que a equipe de produto
escolhesse uma sesso e fosse assistir. Centenas de colegas aceitaram a oferta.
As equipes organizaram excurses para ver o Rei do Pop trabalhando naquela
que seria sua turn de retorno antes que sua morte trgica arruinasse os planos.
Jonathan foi criticado por alguns amigos e colegas o custo e a produtividade
perdida s para que um bando de Googlers pudesse ver um filme eram de fato
vlidos? A resposta foi um retumbante sim. O filme mostrava um criativo
inteligente de nvel internacional levando sua equipe e a si mesmo excelncia
ao prestar ateno em cada detalhe e sempre considerar o ponto de vista da
plateia. Contudo, o objetivo mais sutil da excurso para ver Michael Jackson foi
ser uma maneira de puxar conversas. Meses depois, integrantes da equipe de
Jonathan, de diretores a funcionrios que acabaram de sair da faculdade, iam at
ele na mquina de caf expresso ou no refeitrio para agradecer pelo filme.
Jonathan costumava perguntar por que tinham gostado de This Is It e a partir da a
conversa sempre se desenrolava.
A conversa ainda a forma de comunicao mais importante e valiosa;
porm, a tecnologia e o ritmo de trabalho com frequncia conspiram para tornla uma das mais raras. Estamos todos conectados 24 horas por dia, sete dias por
semana, em qualquer lugar do mundo, o que sensacional, mas tambm
tentador: com que frequncia voc envia e-mails, fala por chat ou manda
mensagens para algum que est prximo de voc? , com muita frequncia,
ns tambm. Os socilogos tm um nome para esse fenmeno (bem como os
antroplogos e os barmen): preguia. Mas, sendo justos com nossos criativos
inteligentes viciados em tecnologia, existe outro fator em questo, principalmente
em grandes empresas e para aqueles que so novos na firma. Por mais que os
maiores executivos e outros mandachuvas afirmem que esto dispostos a
conversar, as portas abertas s funcionam mesmo quando as pessoas entram por
elas. Pode ser difcil para algum que no conhece a organizao puxar
conversa. Como lder, cabe a voc ajudar.
Alguns de nossos melhores lderes tomaram medidas fora do comum para
facilitar a conversa. Urs Hlzle escreveu e publicou um manual do usurio...
sobre ele mesmo. Qualquer integrante da equipe dele (que chega a alguns
milhares) pode ler o manual e saber a melhor maneira de abord-lo, e como
consert-lo caso ele d defeito.142 Marissa May er trabalhava no horrio
comercial normal outra caracterstica cultural do incio do Google inspirada
pelo mundo acadmico. Como uma professora universitria, ela reservava
algumas horas por semana para que qualquer um pudesse entrar na sua sala e
falar com ela. As pessoas se inscreviam em um quadro branco do lado de fora
da sala dela (que era dividida com outros Googlers, que no costumavam estar l
durante o horrio comercial de Marissa), e, nas tardes de quarta-feira, os sofs
prximos ficavam lotados de jovens gerentes de produto com uma ou outra
questo para discutir.
Quase toda empresa tem ancios da tribo, que possuem uma sabedoria
singular em suas reas de atuao e um profundo conhecimento da organizao.
Alguns so bem conhecidos dentro da empresa, mas outros podem no ser;
assim, um dos maiores favores que um lder pode fazer por um criativo
inteligente recm-chegado coloc-lo em contato com eles. No Bell Labs, esses
sbios costumam ser chamados de os caras que escreveram o livro, porque
escreveram um artigo ou livro definitivo sobre o assunto, e muitas vezes os
supervisores sugeriam aos novos funcionrios que os procurassem.143 Em
muitas companhias (universidades tambm), a reao incorreta e automtica da
administrao desencorajar o contato entre funcionrios e os astros do rock da
organizao. Afinal, eles podem fazer com que os astros percam tempo com
perguntas idiotas, certo? Sim, isso acontece, mas, na verdade, a maioria dos
astros do rock tem pouqussima pacincia com pessoas que desperdiam seu
tempo e transforma essa perda em uma experincia muito desagradvel. O
criativo inteligente que faz isso uma vez logo aprende a no repetir o erro.
Googlers, mas tinha tudo a ver com eles como cidados do mundo e logo
circulou pela empresa. Em um tom bem mais leve, Jonathan muitas vezes
divertia a equipe com vdeos das faanhas sensacionais da filha no campo de
futebol. Quer esteja viajando por zonas de guerra ou explodindo de orgulho
parental, no tenha medo de contar sua histria!
5. A comunicao est indo para as pessoas certas?
O problema do e-mail que fcil demais adicionar destinatrios. No tem
certeza se algum deveria receber uma mensagem? Ah, que diabos, adicione a
pessoa! Ou, melhor ainda, basta mand-la para a lista de e-mails da equipe. A
boa comunicao, no entanto, enviada apenas queles que vo consider-la til.
Escolher esses destinatrios toma tempo, mas o investimento de alguns segundos
pode ter um grande benefcio. Quando voc evita listas de distribuio e, em vez
disso, escolhe as pessoas certas para a mensagem, mais provvel que elas o
leiam. Pense a respeito colocando-se na outra ponta: qual e-mail voc
provavelmente ler, aquele enviado a uma lista de distribuio ou a mensagem
endereada a voc? como a diferena entre lixo eletrnico e um carto
endereado mo.
6. Voc est usando a mdia correta?
Diga sim para todas as formas de comunicao. As pessoas assimilam
informao de todas as formas, portanto o que funciona para alguns no funciona
para outros. Se a mensagem for importante, use todas as ferramentas disponveis
para transmiti-la: e-mail, vdeo, redes sociais, reunies e videoconferncias, at
mesmo filipetas e psteres colados na parede da cozinha ou do refeitrio.
Aprenda que mtodos funcionam para conect-lo com seus colegas e use-os.
7. Diga a verdade, seja humilde e reserve um estoque de boa vontade para os
tempos difceis.
Criativos inteligentes no precisam trabalhar para voc, eles tm muitas opes.
Manter um tom constante de verdade e humildade cria um estoque de boa
vontade e lealdade na equipe. Ento, quando voc meter os ps pelas mos, conte
a histria com franqueza e humildade tambm. Voc pode desequilibrar a
balana de boa vontade, mas no por completo.
Se isso for feito direito, sua caixa de entrada se tornar uma lista de coisas a
fazer apenas com as questes complexas, que exigem mais anlise (marque
esses e-mails com tomar providncias ou com uma estrela no Gmail), com
poucos itens a ler para cuidar depois.
Para garantir que a pilha de e-mails no seja apenas transferida da caixa de
entrada para a pasta tomar providncias, voc deve eliminar os itens que
exigem medidas todos os dias. Essa uma boa atividade noturna. Ter nenhum
item o objetivo, mas qualquer nmero menor que cinco razovel. Caso
contrrio, voc perder tempo depois tentando descobrir para qual item da longa
lista deve olhar.
4. Veja os e-mails por ordem da caixa de entrada: o ltimo a entrar o
primeiro a sair. s vezes, as coisas mais antigas so resolvidas por outra pessoa.
5. Lembre-se de que voc um roteador. Quando receber uma mensagem
com informao til, considere quem mais poderia se interessar tambm. No
fim do dia, reflita sobre os e-mails recebidos e se pergunte: O que eu deveria ter
encaminhado, mas no encaminhei?
6. Quando usar o recurso cco (cpia oculta), pergunte-se o motivo disso. A
resposta quase sempre que voc quer esconder algo, o que contraproducente
e um gesto potencialmente desonesto em uma cultura de transparncia. Quando
essa for a sua resposta, copie a pessoa de forma aberta ou no copie.
O nico caso em que recomendamos o recurso da cpia oculta quando se
est removendo algum da discusso. Quando for responder a todos em uma
longa srie de e-mails, transfira as pessoas que no so mais relevantes para a
discusso para o campo cco e declare na mensagem que fez isso. Elas ficaro
aliviadas de ter uma mensagem irrelevante a menos lotando a caixa de entrada.
7. No berre. Se voc precisar gritar, faa isso ao vivo. FCIL DEMAIS
berrar pela internet.
8. Facilite o acompanhamento dos pedidos. Quando enviar uma mensagem
para algum com uma iniciativa que voc quer acompanhar, mande com cpia
para si mesmo e depois marque o e-mail como acompanhar. Isso facilita
encontrar e acompanhar aquilo que ainda no foi feito; apenas reenvie a
mensagem inicial com uma nova introduo perguntando isso foi feito?.
9. Ajude a sua verso do futuro a encontrar as coisas. Se receber algo que
talvez possa querer usar depois, envie para si mesmo com algumas palavraschave que descrevam o contedo. Pense consigo mesmo: Como vou procurar
por isso mais tarde? Depois, quando procurar, provavelmente usar esses
mesmos termos de busca.
Isso no se limita aos e-mails: aplica-se tambm a documentos importantes.
Jonathan escaneia os passaportes, as identidades e os cartes do plano de sade
da famlia e envia para si mesmo por e-mail com palavras-chave descritivas.
Caso algum documento seja perdido durante uma viagem, fcil recuperar as
Tenha um manual
Como lder de negcios, voc tem vrios grupos de interesse: funcionrios,
chefes, conselhos de diretores e consultores, consumidores, parceiros,
investidores, e por a vai. Ajuda muito ter um manual com observaes sobre a
maneira mais eficaz de se comunicar com cada um desses grupos. Aqui est o
nosso:
1:1 case as listas
Certa vez, Bill Campbell nos sugeriu uma forma interessante de organizar
reunies 1:1 (conhecidos como cara a cara, aqueles encontros peridicos entre
gestor e funcionrio). O gestor deve escrever os cinco pontos principais que quer
discutir na reunio, e o funcionrio deve fazer o mesmo. Quando as listas dos dois
so reveladas, provvel que pelo menos alguns itens coincidam. O objetivo
mtuo de qualquer reunio 1:1 deve ser resolver problemas, e, se um gestor e um
funcionrio no conseguem identificar as mesmas questes principais que
deveriam resolver juntos, ento h problemas ainda maiores ocorrendo.
Bill tambm sugere um belo formato para as reunies cara a cara, que
adotamos com bons resultados:
1. Desempenho nas atribuies do cargo
a. Podem ser os dados sobre vendas
b. Podem ser o prazo de entrega ou as etapas da produo
c. Podem ser o feedback dos consumidores ou a qualidade do produto
d. Pode ser o oramento
2. Relacionamento com grupos de iguais (fundamental para a integrao e a
coeso da empresa)
a. Produto e Engenharia
b. Marketing e Produto
c. Vendas e Engenharia
3. Gesto / Liderana
a. Voc est guiando / instruindo seus funcionrios?
b. Est eliminando os funcionrios ruins?
c. Est se esforando na contratao?
d. Voc capaz de fazer seus funcionrios realizarem feitos heroicos?
4. Inovao (Boas Prticas)
a. Voc est sempre avanando... sempre pensando em como melhorar?
b. Voc est sempre avaliando novas tecnologias, novos produtos, novas
prticas?
c. Voc se compara aos melhores na indstria / no mundo?
Reunies do conselho de administrao: meta o nariz, mas no meta a mo
as regras e polticas do conselho e seja fiel a elas mesmo quando a situao ficar
feia. No incio dos anos 2000, quando Eric integrava o conselho da Siebel
Sy stems uma empresa de software adquirida pela Oracle em 2005 , a
Siebel se envolveu em uma srie de violaes da Securities and Exchange
Commission (SEC, a Comisso Federal de Comrcio dos Estados Unidos). As
reunies do conselho foram dominadas por conversas jurdicas, e o conselho
passou muito mais tempo pensando em advogados e responsabilidades penais do
que nos negcios, que afundaram aos poucos.
Detalhes administrativos, mesmo em assuntos importantes do conselho, podem
se tornar um belo refgio quando a alternativa discutir sobre a decadncia da
atividade principal da companhia. O conselho deve ter valor estratgico, mas
voc no ter conversas interessantes e lies valiosas se estiver constantemente
distrado por questes de governana. bvio que o conselho precisa entender o
que est acontecendo em relao a questes jurdicas cruciais e outros assuntos
tticos; no entanto, isso em geral pode ser tratado em subcomits e resumido em
segmentos de quinze minutos para os integrantes do conselho. Quando entrou no
Google, Eric firmou um compromisso com o conselho de que seus integrantes se
concentrariam nas questes relevantes ao escalonamento e estratgia dos
negcios. O conselho da Apple tambm fez isso muito bem no perodo em que
Eric esteve por l, e as reunies eram repletas de timas conversas sobre
produtos, liderana e estratgia. E no havia dvida de quem estava no comando!
Ligue periodicamente para os integrantes do conselho de administrao entre
as reunies. Mas tora para que caia na caixa postal. ;)
Parceiros: ajam como diplomatas
Para construir plataformas e ecossistemas de produto bem-sucedidos, as
empresas precisam trabalhar com parceiros. Isso costuma criar situaes
interessantes (e corruptelas de palavras: coopetio e animigo), em que duas
companhias podem competir em alguns campos, porm colaborar em outros. A
chave para o sucesso nessas situaes est em uma das mais antigas artes da
comunicao: a diplomacia.
Em muitos aspectos, parcerias de negcio complexas so semelhantes ao estilo
realpolitik de diplomacia entre pases, que prega que as relaes devem ser
baseadas em princpios pragmticos, no ideolgicos. Naes podem ter uma
longa lista de queixas entre si, mas do interesse de ambas encontrar uma forma
de trabalharem juntas. A alternativa a guerra ou no ter nenhuma relao
destrutiva para todo mundo. Por exemplo, a China e os Estados Unidos tm um
monte de problemas, mas h tanto comrcio entre os dois que preciso
encontrar maneiras de construir e manter o relacionamento, apesar das
diferenas.
Os pases, como parceiros comerciais, tm o prprio conjunto de crenas, e
todo mundo sabe quando eles mudam de um conjunto para outro. Um primeiro
passo essencial para gerenciar uma parceria bem-sucedida reconhecer essas
diferenas e presumir que elas vieram para ficar. O outro pas / empresa tem
direito ao prprio conjunto de crenas e acredita nelas com tanto fervor quanto
voc nos seus; portanto, para trabalhar efetivamente com um parceiro, preciso
deixar de lado o julgamento moral. Como Henry Kissinger disse em 1969,
quando era o assessor de Segurana Nacional dos Estados Unidos: Sempre
deixamos claro que no temos inimigos permanentes e que julgaremos outros
pases, incluindo os comunistas, e especialmente pases como a China comunista,
com base em seus atos, e no em sua ideologia domstica. 149 Menos de dois
anos depois, ele viajou em segredo para a China, o que levou ao
restabelecimento das relaes diplomticas entre os dois pases pela primeira vez
desde a Segunda Guerra Mundial.
Se gerenciar parcerias como a diplomacia, ento lgico que o processo
precisa ser conduzido por diplomatas. Para as parcerias mais importantes, as
empresas deveriam criar um cargo cujo objetivo seja servir a dois senhores:
manter o parceiro externo feliz, enquanto luta pelos interesses da prpria
empresa.150 Isso diferente do papel tradicional do departamento de vendas,
que voltado para os interesses da empresa, no para os do parceiro.
Entrevistas para a imprensa converse, no mande mensagem
Algum prepara o seu material quando voc vai dar uma entrevista para a
imprensa? Em caso afirmativo, voc recebe algum documento com perguntas
frequentes (FAQ) que inclui todas as questes que o jornalista pentelho pode
levantar e um conjunto de respostas que segue um roteiro cuidadoso e foi feito
para se manter o mais prximo possvel dos temas do lanamento? Quando essas
pessoas ditas prestativas lhe do os ditos FAQs, voc alguma vez olhou para o
documento e disse para si mesmo isso exatamente o que eu diria? Porque, se
faz isso, provavelmente voc feito de uma liga de titnio e silcio.
Muitos acham que uma entrevista para a imprensa um discurso de marketing
que deve ser roteirizado palavra por palavra. Quando via as mensagens redigidas,
Jonathan, que pode ser um cliente um tanto quanto difcil para um comuniclogo,
costumava sugerir, num tom de voz um pouco alto, que, se quisessem um
macaco amestrado para dar as respostas, ele adoraria arrumar um. Porm, se
quisessem que Jonathan, uma pessoa que no se parece em nada com um
macaco, desse a entrevista, era melhor que comeassem do zero e voltassem
com algo inteligente para ele dizer. Porque uma entrevista bem-sucedida no
deve ser um exerccio para regurgitar mensagens inspidas de marketing; deve
ser uma conversa inteligente.
Um bom comuniclogo entender a diferena entre a transmisso de uma
mensagem e uma conversa. Mensagens no respondem pergunta. Em uma
Relacionamentos, no hierarquia
Uma das vantagens das organizaes hierrquicas e cheias de procedimentos
descobrir facilmente com quem voc precisa falar: basta olhar para o box certo
no organograma certo. No entanto, o estado normal de um empreendimento
bem-sucedido no Sculo da Internet o caos. Quando as coisas ocorrem em
perfeita harmonia, com as pessoas e os boxes em organogramas em uma
correspondncia unvoca, ento os procedimentos e a infraestrutura conseguiram
dominar os negcios. Isso pssimo. Quando Eric era o CEO da Novell, a
empresa funcionava como uma mquina bem azeitada. O nico problema era
que o armrio de novos-grandes-produtos estava vazio. (Mario Andretti,
campeo mundial de Frmula 1, disse: Se tudo parece sob controle, voc no
est indo rpido o suficiente.) 151
Os negcios devem sempre correr mais do que os procedimentos; portanto, o
caos onde voc deve estar. E, quando estiver l, a nica maneira de fazer as
coisas ser por meio de relacionamentos. Dedique tempo para conhecer e se
importar com as pessoas. Observe as pequenas coisas nomes de filhos e
cnjuges, questes de famlia relevantes (elas podem ser gravadas na lista de
contatos). Eric acredita na regra das trs semanas: quando voc comea em
novo cargo, no faa nada nas trs primeiras trs semanas. Oua as pessoas,
compreenda suas questes e prioridades, passe a conhec-las e a gostar delas e
ganhe sua confiana. Assim, na verdade, voc est fazendo algo: est
estabelecendo um relacionamento saudvel.
E no se esquea de fazer as pessoas sorrirem. O elogio uma ferramenta de
gesto subutilizada e subestimada. Quando for merecido, no poupe elogios.
135 Literalmente proverbial, em Provrbios 25, versculo 25: Como gua fresca
para a garganta sedenta a boa notcia que chega de uma terra distante
(Bblia Nova Verso Internacional).
136 James OToole e Warren Bennis, Whats Needed Next: A Culture of Candor
(Harvard Business Review, junho de 2009).
137 Michael Parks, Soviets Free the Dreaded Photocopier (Los Angeles Times,
5 de outubro de 1989).
138 Bill Gates, Bill Gates New Rules (TIME, 19 de abril de 1999).
139 J houve casos de vazamentos, mas nunca, at onde sabemos, de uma
reunio de sexta-feira. Fazemos o possvel para encontrar a fonte dos
vazamentos e temos uma margem de sucesso bem alta. Na maioria das
vezes, os vazamentos so feitos por parceiros, mas, quando os culpados so
Googlers, ns os demitimos.
140 Citado em John Markoff, A Fight to Win the Future: Computers vs. Humans
150 Nos crculos diplomticos, isso chamado de teoria de jogo de dois nveis.
Ver Robert D. Putnam, Diplomacy and Domestic Politics: The Logic of
Two-Level Games (International Organization, vol. 42, no 3, vero de
1988).
151 Citado em The 25 Coolest Athletes of All Time (GQ, fevereiro de 2011).
O que inovao?
Inovao a prxima grande novidade. Ou pelo menos a prxima palavra da
moda. De acordo com o Wall Street Journal, alguma verso dessa palavra
apareceu nos relatrios trimestrais e anuais das empresas americanas mais de 33
mil vezes, apenas em 2011.154 Todo mundo quer ser inovador (o Journal no
informou o nmero de vezes que ludita apareceu nesses relatrios, mas
apostamos que foram bem poucas), mas, antes que falemos sobre como fazer
isso, vamos esclarecer o seu significado.
Para ns, inovao implica na produo e na implementao de ideias novis
e teis. Como novel apenas um sinnimo rebuscado para novo, tambm
devemos esclarecer que, para algo ser inovador, preciso que no apenas
oferea uma nova funcionalidade, mas tambm seja surpreendente. Se os
consumidores pedem algo, ento voc no est sendo inovador por dar o que eles
querem, est sendo apenas reativo. Isso uma coisa boa, mas no o mesmo
que ser inovador. Por ltimo, til um adjetivo um tanto inexpressivo para
descrever aquela inovao atraente; portanto, vamos acrescentar um advrbio e
torn-lo radicalmente til. Voil: para algo ser inovador, preciso que seja novo,
surpreendente e radicalmente til.
O projeto do Google de criar carros autoguiveis claramente se encaixa na
nossa definio: novo, surpreendente (a no ser para os fs de A supermquina)
e radicalmente til. Mas o Google tambm lana mais de quinhentas melhorias
para o mecanismo de busca todos os anos. Isso inovador? Ou incremental? Elas
so novas e surpreendentes, com certeza, mas, embora cada melhoria por si s
seja til, seria um exagero cham-las de radicalmente teis. Porm, ao junt-las,
percebe-se que elas so isso mesmo: o mecanismo de busca do Google se
aperfeioa radicalmente ano aps ano graas ao poder de todas essas melhorias.
Como quinhentos passinhos adiante, juntas, elas levam a pessoa a algum lugar.
Essa definio mais abrangente inovao no apenas o que novo, no
so s as grandes novidades importante por dar a todo mundo a oportunidade
de inovar, em vez de transform-la no reino reservado s poucas pessoas naquele
prdio afastado do campus cujo trabalho inovar. A equipe de busca do Google,
que trabalha em um produto com quinze anos de vida, participa tanto do ramo da
inovao quanto o Google[x], a equipe que trabalha no carro autoguiado. Esse
esprito abrangente d a quase todo mundo a chance de criar aquelas novidades
de fato sensacionais.
Concentre-se no usurio...
No fim de 2009, uma equipe de engenheiros de busca nos mostrou o prottipo de
um recurso no qual vinham trabalhando havia um tempo. Era baseado em uma
ideia simples: e se comessemos a preencher os resultados da busca enquanto o
usurio ainda est digitando a consulta, em vez de esperar que ele aperte o Enter?
Sempre achamos que a velocidade um dos principais fatores para determinar a
qualidade da busca e tnhamos orgulho de responder grande maioria das
pesquisas em menos de um dcimo de segundo. O relgio, contudo, s comeava
a marcar o tempo depois que o usurio terminava de digitar a consulta. Digit-la
poderia tomar vrios segundos. E se no tivssemos que esperar? E se
mostrssemos os resultados enquanto o usurio digita? Assim que vimos o
prottipo, a aprovao foi bvia. As equipes de busca orgnica e paga se
dedicaram ao projeto, e alguns meses depois o recurso foi lanado para o mundo
como Google Instant.
Algumas semanas antes do lanamento, Jonathan estava em reunio com sua
equipe quando lhe ocorreu uma questo bsica: o Instant poderia afetar a receita
da empresa de alguma forma? Talvez fosse menos provvel que os usurios
clicassem nos anncios se os resultados fossem preenchidos enquanto eles
digitassem. Ento, Jonathan perguntou equipe se havia bons dados sobre um
possvel impacto na receita. A resposta foi negativa, e todos concordaram que
algum deveria investigar o caso, enquanto prosseguiam com o planejamento do
lanamento. Em todas as outras empresas em que Jonathan trabalhara, a anlise
financeira era um dos obstculos mais importantes que um produto precisava
ultrapassar antes de ser aprovado. Quanta receita o produto vai gerar? Qual ser
o retorno do investimento (ROI)? O perodo de retorno? No entanto, c estvamos
ns, a algumas semanas de lanar uma grande mudana em nossa atividade
principal, e ningum havia feito uma anlise financeira detalhada. O produto
obviamente era timo para o usurio , por isso todos sabamos que lan-lo era
a melhor deciso de negcios.
Quando o Google Instant foi lanado, ele gerou apenas um efeito modesto na
receita, mas o Google j havia lanado muitos outros recursos com um impacto
financeiro mais significativo. O Mapa do Conhecimento, lanado em 2012, ocupa
a lateral direita dos resultados de pginas da Web para consultas sobre pessoas,
locais e coisas com um painel formatado de forma concisa, preenchido via
algoritmo com informaes sobre aquela entidade. Ele rene todos os fatos mais
relevantes em um nico box fcil de ler. Para a maioria das consultas, o painel
substitui os anncios que antes apareciam naquela parte da pgina. Aquilo
prejudicou um pouco a receita. No incio de 2011, fizemos uma srie de
mudanas nos algoritmos de busca que reduziram as notas de qualidade de certos
tipos de sites. No queramos que os usurios clicassem em links que os levassem
para sites ruins. Esse lanamento, chamado de panda, afetou quase 12% das
consultas, e, como muitos dos sites afetados faziam parte da nossa rede de
anncios, a mudana prejudicou a nossa receita.
O Google sabe que, no Sculo da Internet, a confiana do usurio to
importante quanto dlares, euros, libras, ienes ou qualquer outra moeda. A
excelncia de produto a nica maneira de uma empresa ser bem-sucedida de
forma consistente. Portanto, nossa diretriz principal no que diz respeito
estratgia de produto nos concentrarmos no usurio (mas sem interferir no
desenvolvimento interno de civilizaes aliengenas). Como Larry e Sergey
disseram na carta da oferta pblica inicial: Servir aos usurios finais est no
cerne do que fazemos e ainda a nossa prioridade nmero um.
Concentrar-se no usurio apenas metade da questo. A frase completa
deveria ser concentre-se no usurio e tudo mais ser consequncia. Isso
significa que sempre faremos o que certo para o usurio, e confiamos que
nossos criativos inteligentes descobriro uma maneira de ganhar dinheiro com
isso. Pode levar um tempo; por isso, manter-se fiel aos princpios requer muita
confiana.162 Mas costuma valer a pena.
Em 2004, Jonathan e seu colega Googler Jeff Huber levaram Sergey para
conhecer uma pequena start-up chamada Key hole. Jeff, que fora o primeiro
gerente de produto contratado por Jonathan na Excite@Home, era um dos
principais engenheiros na equipe de anncios.163 Um dos cofundadores da
Key hole era Brian McClendon, com quem Jonathan e Jeff haviam trabalhado na
Excite@Home. A Key hole tinha desenvolvido algumas maneiras muito
interessantes de visualizar e interagir com mapas, e Sergey decidiu na hora que o
Google deveria comprar a empresa.
Algumas semanas depois, Sergey levou a aquisio para ser aprovada pelo
conselho de administrao, e, quando os integrantes perguntaram como faramos
dinheiro com aquela tecnologia, a resposta foi simples: Deixarei o Jonathan
responder pergunta; ele o homem de negcios. Jonathan estava reclinado,
curtindo a apresentao de Sergey, e no tinha pensando em absolutamente nada
sobre como a compra da Key hole poderia gerar dinheiro para o Google (prova
clara de que, aps dois anos, Jonathan agora agia como um Googler de verdade).
Ele seguiu em frente com uma resposta vaga memorvel apenas por ser digna
de esquecimento. A verdade que no fazamos ideia de como as finanas do
Google seriam beneficiadas pela compra da Key hole.
O conselho de administrao decidiu confiar na avaliao de Sergey e
permitiu que ele negociasse a compra. Cerca de oito meses depois, o Google
Earth, que era baseado na tecnologia da Key hole, foi lanado. Foi um sucesso
imediato com os usurios e tambm gerou milhes de dlares. Como isso era
possvel, j que no havia anncios no aplicativo e ele era gratuito? Pouco tempo
depois do lanamento, um dos nossos criativos inteligentes, Sundar Pichai,
percebeu que todas aquelas pessoas que baixavam e instalavam o Google Earth
poderiam tambm se interessar pela Barra de Ferramentas Google. Era um
aplicativo que se integrava ao navegador e tinha um monte de recursos
interessantes para o usurio, um dos quais era uma pequena caixa de busca do
Google que aparecia constantemente na interface do navegador. Os usurios com
essa Barra de Ferramentas podiam iniciar uma busca no Google sem ter que
acessar o Google.com. Desse modo, eles tendiam a realizar mais pesquisas,
clicar em mais anncios e gerar mais receita. A ideia de Sundar sofreu certa
resistncia; contudo, devido insistncia de Urs Hlzle, foi logo implementada.
Esse simples insight que aqueles que baixassem o Google Earth poderiam se
interessar tambm pela Barra de Ferramentas aumentou a base de usurios da
Barra de Ferramentas de maneira significativa e gerou muita renda, mas
praticamente no tinha como Jonathan prever isso quando ficou diante do
conselho de administrao naquele dia. Em retrospecto, percebemos que a
resposta correta poderia ter sido: Eu no fao ideia... mas tenho certeza de que
descobriremos.
Concentre-se no usurio... e o dinheiro vai aparecer. Isso pode ser
especialmente desafiador em ambientes em que usurio e cliente so diferentes
e quando seu cliente no compartilha do seu esprito concentre-se-no-usurio.
Em 2012, quando o Google adquiriu a Motorola, uma das primeiras reunies da
empresa de que Jonathan participou foi uma anlise de produto que durou trs
horas, em que seus diretores apresentaram os recursos e especificaes de todos
os celulares da Motorola. Eles no pararam de se referir s exigncias dos
clientes, e a maioria delas fazia pouco sentido para Jonathan, pois estavam muito
distantes do que os usurios de celulares de fato queriam. Ento, durante o
almoo, um dos executivos explicou para Jonathan que, quando a Motorola
falava clientes, ela no se referia s pessoas que usavam os telefones e sim aos
verdadeiros clientes da empresa, as operadoras de telefonia que talvez no
estivessem sempre concentradas no usurio como deveriam. A Motorola no se
concentrava nos usurios, s nos parceiros.
No Google, nossos usurios so aqueles que usam os produtos, enquanto que os
clientes so as empresas que compram anncios e licenciam nossa tecnologia.
Raramente h conflitos entre os dois; porm, quando h, nossa tendncia ficar
do lado do usurio. Tem que ser assim, independentemente da indstria. Os
usurios tm mais poder do que nunca e no vo tolerar produtos vagabundos.
Pense grande
Nosso colega Vint Cerf tem trabalhado em uma nova sute de protocolos de rede
que funcionaro no ambiente implacvel e muito, muito grande do espao. De
acordo com Vint, ele deu incio a esse projeto aps se perguntar o que poderia
fazer que se revelasse necessrio dali a 25 anos.164 A resposta: a internet
interplanetria. Ningum pode acusar Vint de no pensar grande o bastante.
inspira as pessoas, mesmo que elas no sejam os Mike Cassidy s que se envolvem
diretamente com tais desafios. Ouvimos com frequncia pessoas no Google
falando em pensar 10X no emprego, embora a maioria dos cargos esteja bem
afastada dos projetos ousados pelos quais a empresa se tornou famosa. So os
advogados, o pessoal de vendas, de finanas, todos inspirados pela atitude
predominante da empresa de sonhar alto. Pensar grande no apenas uma
poderosa ferramenta de recrutamento e manuteno; ela contagiosa.
Terceiro, quase todo mundo realiza os OKRs. Lembre-se de que voc precisa
que todos pensem em seu empreendimento, independentemente do cargo que
ocupam.
Quarto, os OKRs so avaliados, mas a avaliao no usada para nada e
sequer monitorada. Isso permite que as pessoas julguem seu desempenho com
honestidade.
Quinto, os OKRs no so abrangentes so reservados a reas que precisam
de ateno especial e de objetivos que s sero atingidos com um esforo extra.
Coisas corriqueiras no precisam de OKRs.
Conforme seu empreendimento cresce, os OKRs mais importantes deixam de
ser individuais para serem de equipes. Em uma equipe pequena, um indivduo
pode conseguir coisas incrveis por conta prpria, mas, medida que a empresa
cresce, fica mais complicado atingir objetivos difceis sem outros colegas. Isso
no quer dizer que se deva parar de fazer OKRs individuais, mas sim que os de
equipe so o meio mais importante para manter o foco nas grandes tarefas.
E h um benefcio final em uma cultura movida por OKRs: eles evitam que as
pessoas fiquem coladas na concorrncia. No Sculo da Internet, os concorrentes
esto por toda parte, e se concentrar demais neles (como j observamos) o
caminho mais rpido para a mediocridade. Se os funcionrios esto dedicados a
um conjunto bem concebido de OKRs, ento isso no um problema. Eles
sabem aonde devem ir e no tm tempo para se preocupar com a concorrncia.
70/20/10
Quando algum lhe prope uma nova ideia, voc tende a dizer sim ou no? Se
voc passou muito tempo na organizao errada, a reao automtica mais
provvel dizer no. Ou NO! As organizaes criam anticorpos cujo nico
propsito rezar pela cartilha do No fars. Dizer no permite que os
gestores evitem riscos e preservem seus recursos (por recursos queremos dizer
efetivo ou, para aqueles que falam como gente, pessoas) para projetos com
mais chances de dar certo. Eu quero mesmo dedicar preciosos criativos
inteligentes a esse projeto maluco? E se ele no der certo? Eles podem diminuir a
minha equipe no ano que vem! Acho que apenas direi no e deixarei minha
equipe trabalhando para otimizar os widgets.
Por mais que as pessoas preguem sobre a criao de uma cultura do sim
(incluindo algumas muito inteligentes e bonitas que gostam de escrever livros),
muito difcil fazer isso sem uma estrutura que a torne possvel. Alm disso,
quando o seu recurso mais precioso o seu pessoal o que ocorre quase
sempre , desenvolver um sistema inteligente para alocar esses recursos um
elemento fundamental para o sucesso.
Em 2002, ainda gerencivamos a alocao de recursos e o portflio de
projetos mantendo uma lista das cem coisas mais importantes; porm, medida
que a empresa crescia, ficvamos apreensivos que esse sistema simples no
escalonasse muito bem. Ficamos preocupados que uma insidiosa cultura do
no pudesse se instaurar. Ento, em uma tarde, Sergey examinou a lista das
cem coisas mais importantes e dividiu os projetos em trs colunas. Cerca de 70%
dos projetos eram relacionados atividade principal de busca e anncios; cerca
de 20% se referiam a produtos emergentes que tinham alcanado algum sucesso
inicial; e cerca de 10% envolviam coisas novas com um alto risco de fracasso,
mas que teriam uma grande compensao se bem-sucedidas. Isso deu incio a
uma longa discusso, e o resultado foi que 70/20/10 virou nossa regra para
alocao de recursos: 70% dedicados atividade principal; 20% a atividades
emergentes; e 10% a novas.
Embora a regra 70/20/10 garantisse que nossa atividade principal sempre
receberia o grosso dos recursos e que as reas promissoras tambm ganhariam
investimento, ela assegurava que as ideias malucas tambm receberiam algum
apoio e estariam protegidas dos inevitveis cortes de oramento. E 10% no so
muitos recursos, o que bom, j que investir demais em um novo conceito to
problemtico quanto investir de menos, por tornar muito mais difcil admitir o
fracasso depois. muito mais difcil cancelar ideias de milhes de dlares do que
as de milhares de dlares. Portanto, o investimento exagerado pode criar uma
situao em que a propenso confirmao proposital a tendncia de
enxergar apenas as coisas boas em projetos em que muito foi investido
era vivel. Ele deu um passeio pela cidade com uma cmera e tirou fotos de
poucos em poucos segundos. Mostrou as fotos para Eric na reunio de diretoria
seguinte para conseguir apoio para o que agora chamado de Street View. Hoje,
o recurso cobre mais de oito milhes de quilmetros de ruas.)
possvel que o Google Books tambm tivesse sido criado se a empresa tivesse
bancado o projeto com um grupo seleto de engenheiros e um belo oramento.
Mas tambm possvel que um financiamento assim houvesse atrapalhado o
projeto antes que ele comeasse. O sistema tosco de digitalizao de Larry,
montado com peas compradas na Fry s,177 provou ter um custo-benefcio bem
melhor do que os sistemas mais avanados que ele poderia ter comprado se
tivesse alocado tempo e oramento. Quando se quer incentivar a inovao, a pior
coisa a fazer financiar de modo exagerado. Como Frank Lloy d Wright
observou uma vez: A raa humana construiu com mais nobreza quando as
limitaes eram as maiores. 178
foi refinada mais tarde para melhorar o nosso produto AdSense, que agora um
negcio multibilionrio. desnecessrio dizer que Paul no foi punido por sua
insubordinao.
No entanto, esse exemplo no significa que, se trabalha para ns e tem uma
ideia que odiamos, voc possa simplesmente seguir em frente sem ser impedido
pelas nossas opinies grosseiras, erradas e retrgradas de gesto. O primeiro
passo para tornar uma boa ideia realidade montar uma equipe de pessoas
comprometidas com ela, e, embora ns possamos ser ignorantes, seus colegas
provavelmente no so. Nosso conselho constante para quem quer lanar um
projeto de 20% do tempo comear pela construo de um prottipo, porque
assim que se atraem as pessoas para o projeto. Propor uma ideia bem fcil.
Conseguir que alguns de seus colegas entrem para o projeto e adicionem os 20%
do tempo deles aos seus 20% muito mais difcil. a que o processo darwiniano
comea.
Encontrar colaboradores pode ser difcil em uma organizao no hierrquica,
ainda mais para os recm-chegados, pois muito mais difcil descobrir para
onde ir quando se quer realizar as coisas. Os relacionamentos se tornam de
extrema importncia, e, como esses laos levam tempo para serem construdos
(e esse no o talento natural de todo mundo), voc pode acabar com um monte
de grandes ideias mortas por falta de apoio.
Uma de nossas equipes do buscador tenta contornar esse problema usando um
programa chamado dias de demonstrao. O conceito bem simples: uma
equipe passa uma semana desenvolvendo prottipos de novas ideias que espera
demonstrar no encerramento da semana. Antes de a semana comear, os
engenheiros cancelam todas as reunies e lanamentos na agenda, sem
excees. Isso no apenas torna os dias de demonstrao logisticamente
possveis, como tambm serve para forar todo mundo a se comprometer. Uma
vez que possvel que algumas pessoas trabalhem em reas que no dominam,
elas podem treinar em sistemas que queiram usar. Todos os sistemas esto
preparados e prontos para a demonstrao, ento no h tempo perdido. Eles
precisam recrutar pelo menos uma pessoa para o seu projeto no so
permitidas equipes de apenas um funcionrio e so encorajados a colaborar
com pessoas com quem no costumam trabalhar diariamente. Ento a semana
comea e eles seguem em frente.
O resultado no fim da semana um conjunto de prottipos, em geral
compartilhados em uma espcie de abertura de feira de cincias, numa tarde de
sexta-feira. A maioria desses prottipos no vai avanar eu tenho um monte
de ideias e descarto as ruins, disse Linus Pauling184 , de forma que as equipes
tambm aprendem que no h problema em fracassar.
Certa vez Steve Jobs contou a Eric que tinha feito algo similar quando estava no
comando da NeXT. Mais ou menos a cada seis meses, a equipe de engenharia
Envie e reitere
Eis que temos exatamente a quantidade certa de recursos reservada para novas
ideias, amordaamos os gestores tirnicos, libertamos os gnios para fazer o que
quiserem e abrimos nossas mentes para absorver ideias das massas. A inovao
est fluindo; as boas ideias esto em ebulio. A maioria morre antes de ver a luz
do dia, mas umas pouqussimas so boas o suficiente para chegar terra
prometida. Deixe a postagem do blog na agulha, aperte o boto verde e estoure a
champanhe para comemorar com a equipe.
A voc volta ao trabalho, porque, se fez o servio direito, o produto ainda no
est pronto. Voltaire escreveu: A perfeio inimiga do bom. 187 Steve Jobs
falou para a equipe do Macintosh que os verdadeiros artistas enviam.188
Novas ideias nunca so perfeitas ao sair do forno, e no h tempo para esperar
at que elas cheguem perfeio. Crie um produto, envie, veja como se saiu,
projete e implemente melhorias e despache novamente. Envie e reitere. As
empresas mais rpidas nesse processo vencero.
Quando lanamos nosso produto principal, o AdWords, houve um debate se os
novos anncios deveriam ser lanados sem uma avaliao interna. Um forte
contingente interno acreditava que permitir que os anncios fossem lanados
instantaneamente levaria a um monte de propagandas ruins, tipo spam. Mas outro
contingente acreditava que, se os anunciantes vissem as propagandas em ao de
imediato, eles poderiam coletar dados de desempenho e melhorar os anncios
com mais rapidez. Esse grupo argumentou que um ciclo mais acelerado poderia
levar a uma qualidade maior, no menor. Ns optamos pelo mnimo de avaliao
interna, e a ttica envie e reitere funcionou.
Enviar e reiterar funciona em vrios campos. mais fcil praticar no nosso
mundo de software, em que os produtos so bits e by tes distribudos digitalmente,
e no bens fsicos. Mas com novas tecnologias, como a impresso 3D e a
capacidade de modelar muitas coisas on-line, o custo de experimentao caiu
em muitas indstrias, s vezes de forma drstica, o que torna um processo de
enviar e reiterar vivel em muito mais lugares.
A parte mais difcil do processo de enviar e reiterar reiterar. fcil
arregimentar uma equipe para enviar um novo produto, porm mais difcil
convenc-la a permanecer e fazer o trabalho rduo de melhor-lo. Uma forma
de motivao que descobrimos que funciona o feedback negativo. Do recado
esses anncios so horrveis de Larry s anlises negativas de produto coladas
por Marissa na parede ao lado da sala dela para serem examinadas com os
gerentes de produto e engenheiros, costumamos usar crticas para inspirar as
equipes a reiterar seus produtos. Essa ttica uma corda bamba, e nem sempre
acertamos. A crtica certa motiva, mas em excesso ela pode ter o efeito
contrrio.
Fracasse bem
No outro lado da moeda da histria de envie e reitere do Chrome est o Google
Wave, lanado com estardalhao em 2009. O Wave foi o exemplo tpico da
inovao. Foi a criao de uma pequena equipe de engenheiros do nosso
escritrio em Sy dney que dedicou seus 20% do tempo para explorar a questo
Como seria o e-mail se fosse inventado hoje?. Com o tempo, eles produziram
um prottipo muito convincente que surpreendeu a diretoria. Ns demos
permisso para os engenheiros irem em frente (embora eles provavelmente
tivessem prosseguido mesmo sem a nossa aprovao), e eles produziram uma
plataforma e protocolos para propiciar uma nova maneira de as pessoas se
comunicarem no Sculo da Internet.
Dinheiro no a questo
Embora acreditemos em pagar pessoas extraordinrias extraordinariamente bem
por um sucesso extraordinrio, ns no pagamos por projetos bem-sucedidos de
20% do tempo. Dan Ratner pode ter recebido uma remunerao bem generosa
por ter feito parte da transformadora equipe de produto do Street View, mas no
recebeu nada diretamente ligado ao trabalho nos triciclos.196 No damos
incentivos financeiros para projetos de 20% do tempo simplesmente porque no
precisamos: pode parecer cafona, mas a recompensa vem do prprio trabalho.
Vrios estudos demonstram que recompensas extrnsecas no encorajam a
criatividade e que, na verdade, so um obstculo, por tornar uma empreitada
inerentemente recompensadora em uma tarefa para ganhar dinheiro.197
Nosso exemplo favorito de recompensas inerentes que projetos de 20% do
tempo podem gerar vem de agosto de 2005, quando o furaco Katrina devastou a
costa do golfo dos Estados Unidos. O Google Earth estava no mercado havia
apenas oito semanas, e a equipe que desenvolvia nossos produtos geo Maps
e Earth era pequena e estava sobrecarregada de trabalho. Mas, quando o
furaco passou, a equipe entrou em ao e lanou mais de oito mil imagens de
satlite, atualizadas de minuto a minuto (fornecidas pela Agncia Nacional dos
Oceanos e da Atmosfera, a NOAA), que mostravam a dimenso do desastre e
ofereciam imagens em alta resoluo de ruas e bairros. Isso ajudou os
socorristas, que tinham dificuldade em se orientar depois de tantos semforos e
placas terem sido arrancados. Tambm ajudou as agncias a distribuir donativos
e mais tarde auxiliou os sobreviventes a decidir se voltariam ou no para suas
casas.
Esse foi um clssico projeto de 20% do tempo. A ideia nasceu dentro de uma
equipe. Nenhum hippo mandou que eles fizessem aquilo. Ningum sugeriu que
eles acampassem no escritrio por vrias noites seguidas, ningum pediu que eles
entrassem em contato com a crescente comunidade do Google Earth para
solicitar a ajuda de voluntrios e ningum disse para que trabalhassem com a
NOAA para conseguir as imagens. Na verdade, o nico envolvimento executivo
ocorreu quando Eric visitou o centro de comando da equipe, olhou em volta e deu
a ordem sensata para que eles continuassem a fazer o que estavam fazendo.
Desde o furaco Katrina, esse projeto de 20% do tempo virou uma equipe de
gesto de crises no Google.org, a organizao que lidera as iniciativas
filantrpicas espalhadas por todo o Google. Auxiliados por essa equipe, os
Googlers usaram nossas plataformas para ajudar pessoas que sofrem com
desastres naturais que vo desde as nevascas do Ano-Novo Chins em 2008, que
deixaram milhares de viajantes ilhados, ao terremoto e tsunami japoneses de
2011, que mataram milhares e deixaram mais de centenas de milhares de
desabrigados. A cada desastre, a equipe prope novas maneiras de usar nossos
152 O proprietrio do Calafia o chef Charlie Ay ers, que foi o primeiro chef do
Google (o refeitrio do nosso campus principal foi batizado em
homenagem a ele). Entretanto, o motivo de Steve e Eric terem decidido se
encontrar ali foi a proximidade do lugar com a casa de Steve.
* Framework um termo de computao sem traduo. Basicamente, uma
abstrao que une cdigos de programao comuns feitos para facilitar a
vida de um programador ao criar um novo software. (N. do T.)
153 Redigida pela Apache Software Foundation, a licena Apache permite que o
usurio do software utilize, distribua e modifique o software sob os termos
da licena sem ter de pagar roy alties.
154 O nmero exato foi de 33.528 vezes. Ver Leslie Kwoh, You Call That
Innovation? (Wall Street Journal, 23 de maio de 2012).
155 Aplicativos baseados em cliente usam programas que residem no
computador ou no aparelho onde rodam. J os baseados em navegador
residem apenas na internet e so acessados por meio de um navegador,
como o Internet Explorer, o Firefox, o Safari ou o Chrome.
156 Adi Alon, diretor-geral para a Amrica do Norte do grupo Accentures
Innovation Performance, escreveu esse relatrio. Para ler um resumo, ver
10 Way s to Achieve Growth Through Innovation (TMC News, 9 de
maro de 2010). Ver tambm Wouter Koetzier e Adi Alon, You Need a
Chief Innovation Officer (Forbes.com, 16 de dezembro de 2009).
157 A noo geral de seleo natural de ideias remonta pelo menos at 1976,
quando Richard Dawkins introduziu o conceito de meme em O gene
egosta. Contudo, o que estamos falando mais parecido com o que Jim
Collins e Jerry Porras descreveram, em Feitas para durar, como
ramificar e podar tentar um monte de coisas e manter o que
funciona. Ver Jim Collins e Jerry I. Porras, Feitas para durar: Prticas
bem-sucedidas de empresas visionrias (Rocco, 2007). Para outras
informaes sobre como a variao e a seleo caracterizam a
criatividade, ver Dean Keith Simonton, Origins of Genius: Darwinian
Perspectives on Creativity (Oxford University Press, 1999).
158 Charles Darwin, A origem das espcies (Madras, 2011).
159 Para os ateus, isso uma metfora. Voc pode no acreditar em Deus, mas
at mesmo Ele acredita em CEOs.
160 Derek Sivers, Derek Sivers: How to Start a Movement (TED, fevereiro de
2010),
recuperado
de
http://www.ted.com/talks/derek_sivers_how_to_start_a_movement.html.
161 Leslie Berlin, The Man Behind the Microchip: Robert Noyce and the
Invention of Silicon Valley (Oxford University Press, 2005), p.264.
162 No apenas confiana, voc diria, mas capital tambm. E quanto s
empresas, como a maioria das pequenas e mdias, que no tm condies
de entregar produtos que possam ter grandes benefcios para o usurio,
porm sem nenhuma receita ou lucro associados? Voc ainda deve se
concentrar no usurio; no entanto, seja o mais agressivo possvel e invista o
mnimo possvel at que a ideia seja comprovada. Nesse ponto, os lucros
ainda podem estar longe, mas, se voc provou o valor para o usurio, isso
se torna uma deciso financeira baseada em dados corretos.
163 Por anos, a biografia de Jeff no site do Google dizia que ele tinha um ttulo de
mestre por Harvard. Na verdade, um MBA, mas Jeff deixou de
mencionar o fato para no prejudicar sua reputao como engenheiro.
164 Ver Adam Mann, Googles Chief Internet Evangelist on Creating the
Interplanetary Internet (Wired.com, 6 de maio de 2013).
165 No que as pessoas sofram de falta de imaginao: muita gente tem vises
grandiosas. Entretanto, o pragmatismo impede que elas tentem torn-las
realidade. Isso explicado pelo que os psiclogos chamam de teoria do
valor de expectativa. Ao decidir que objetivos devem buscar realizar, as
pessoas consideram o resultado esperado e as chances de sucesso. Esse
clculo em geral as inibe de tentar os feitos mais ambiciosos, o que
obviamente aumenta ainda mais a taxa de fracasso. Como o jogador de
hquei do Hall da Fama Way ne Gretzky observou, voc erra 100% das
tacadas que no d. Ver Allan Wigfield e Jacquely nne S. Eccles,
Expectancy -Value Theory of Achievement Motivation (Contemporary
Educational Psychology, janeiro de 2000) e Jacquely nne Eccles e Allan
Wigfield, Motivational Beliefs, Values, and Goals (Annual Review of
Psychology, 2002).
166 A Darpa faz parte do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
167 A ideia do Quadrante de Pasteur vem do finado cientista poltico Donald
Stokes, que viu em Louis Pasteur o exemplo de realizao simultnea de
pesquisa bsica e aplicada. O quadrante representa a melhor combinao
em uma matriz de 2 x 2 se a pesquisa avana ou no a compreenso
bsica ou se resolve ou no problemas do mundo real. Ver Donald E.
Stokes, O Quadrante de Pasteur: A cincia bsica e a inovao tecnolgica
(Unicamp, 2005).
168 Regina E. Dugan e Kaigham J. Gabriel, Special Forces Innovation: How
DARPA Attacks Problems (Harvard Business Review, outubro de 2013).
169 Essa ideia foi formulada pelo psiclogo Mihaly Csikszentmihaly i e sua noo
de fluxo, aquele estado de esprito feliz em que voc est to absorvido e
concentrado no trabalho que o tempo parece parar. Seu ser inteiro est
Eric passou as festas de fim de ano de 2013 de frias com a famlia. Entre as
atividades familiares de sempre, as crianas passaram algum tempo vendo
vdeos. O que impressionou Eric foi que aquele tempo no foi passado
efetivamente em frente a uma TV; na verdade, a TV permaneceu desligada as
frias inteiras, e todos os vdeos foram assistidos em um tablet. As crianas no
assistiram a programas no sentido tradicional da palavra eles no foram feitos
para serem exibidos na TV aberta ou fechada. Ao contrrio, todos foram criados
desde o incio para serem transmitidos em sites e aplicativos mveis. A TV, e o
ecossistema que a rodeia, simplesmente no faz parte da vida dessas crianas.
Isso, ns suspeitamos, no uma curiosidade isolada, o que promissor se voc
um fabricante de dispositivos mveis ou criador de contedo de vdeo para a
internet, mas nem tanto se voc produz seriados de drama e comdia para a TV
aos quais as crianas de hoje no assistiro quando crescerem.
Ns vivemos em um momento de grande otimismo, mas tambm de grande
ansiedade, e no apenas para os executivos de TV. Durante os trs anos que
passamos escrevendo este livro, o impacto transformador da tecnologia foi
sentido por vrias indstrias. As questes econmicas levantadas durante a ltima
recesso perduram mesmo com a recuperao das economias mundiais. O
ritmo das mudanas provocadas pela tecnologia ultrapassa nossa capacidade de
treinar gente em novas habilidades, o que coloca uma grande presso sobre
classes inteiras de trabalhadores e sobre a estrutura econmica de muitas naes.
Os empregos estveis de classe mdia, que historicamente so a base das
economias saudveis, esto migrando para naes em desenvolvimento, para a
internet, ou desaparecendo de vez.
No h dvida de que a disrupo de negcios outrora robustos e o impacto
econmico resultante sero dolorosos e confusos no curto prazo. Portanto, seria
irresponsvel encerrar um livro sobre a construo de grandes empresas do
sculo XXI sem oferecer algum conselho sobre como sobreviver s mudanas
no horizonte ou como avali-las. O que diferente no cenrio dos negcios de
hoje? O que acontecer depois? E o que as empresas e os empreendedores
individuais podem fazer para sobreviver e prosperar em perodos de ruptura?
Felizmente, ns nos cercamos de pessoas que fazem isso, tais como nosso excolega Vic Gundotra...
exceto pelo fato de que ele era um funcionrio do Google e um acionista que
estava preocupado com o problema de estarmos perdendo uma mudana
histrica na internet. Ento decidiu fazer algo a respeito. Ele convidou Bradley
Horowitz para almoar.
Bradley era o responsvel por mdias sociais, e, quando o almoo com Vic
virou uma reunio seguida de outra, os dois comearam a arquitetar um novo
plano para reinventar o Google para a Web social e levar um bando de inovaes
para os consumidores. Cuidar de rede social no fazia parte das atribuies do
cargo de Vic, e, embora ns fssemos os pretensos chefes dele (ele era
subordinado a Urs Hlzle, que era subordinado a Eric e participava das reunies
de diretoria de Jonathan), ns no o mandamos desenvolver uma nova
plataforma social ou mesmo oferecer ideias sobre o tpico. Em vez disso, ele
percebeu que tnhamos um problema, achou que poderia contribuir com a
criao de uma soluo e decidiu fazer acontecer.
Em pouco tempo, o projeto de Vic e Bradley, com codinome Emerald Sea
[mar verde-esmeralda], ganhou mpeto na empresa e cerca de um ano depois
foi lanado como o projeto Google+, uma das apostas mais ambiciosas da
histria da empresa. O Google+ costuma ser descrito na mdia como uma
resposta competitiva ao Facebook, mas no bem assim. mais correto dizer
que o Google+ a resposta mudana da Web 2.0 e ao surgimento da Web
social. uma teia social que abrange todas as vrias plataformas do Google, do
AdWords ao YouTube. E comeou porque uma pessoa viu que uma grande
mudana estava a caminho, com o potencial de abalar o nosso negcio, e decidiu
fazer algo a respeito. Embora no fosse sua funo.
Sun. Se no h boas respostas para as perguntas mais difceis, ento pelo menos
h um lado positivo. As perguntas mais difceis para as quais no h respostas
fceis podem ser muito boas para aliviar a tendncia de evitar riscos e combater
as mudanas na cultura das grandes corporaes. Elas so o enforcamento
iminente que, como observou Samuel Johnson, mantm a mente concentrada de
maneira to maravilhosa.203
Comece questionando o que pode ser verdade daqui a cinco anos. Larry Page
costuma dizer que a funo de um CEO no apenas refletir sobre a atividade
principal, mas tambm sobre o futuro; a maioria das empresas fracassa porque
fica muito acomodada fazendo o que sempre fez, realizando apenas pequenos
incrementos. E isso especialmente fatal hoje, quando as mudanas provocadas
pela tecnologia esto desenfreadas. Portanto, a pergunta a ser feita no o que
ser verdade, mas o que poder ser verdade. Indagar o que ser verdade leva a
uma previso, o que uma loucura em um mundo em rpida mutao.204
Questionar-se o que poder ser verdade demanda imaginao: que coisa
inimaginvel, levando-se em conta o pensamento convencional, na verdade
imaginvel?
Como Vinod Khosla afirma, em 1980 era difcil imaginar que os
microprocessadores estariam em toda parte, no apenas em computadores, mas
em carros, escovas de dente e em quase tudo.205 Em 1990, quando os celulares
eram do tamanho de uma mquina de costura e custavam uma fortuna, era
difcil imaginar que eles seriam menores que um mao de cartas e custariam
menos do que uma ida ao cinema. Em 1995, era difcil imaginar que a internet
teria mais de trs bilhes de usurios e mais de sessenta trilhes de endereos
exclusivos. Microprocessadores, celulares e a internet hoje so onipresentes, mas
praticamente ningum previu isso nos estgios iniciais. E, no entanto, todos ns
ainda cometemos o erro: a reao geral quando anunciamos o carro autoguiado
do Google foi de incredulidade. Carros que dirigem sozinhos no podem existir de
verdade, no ? Ns no podemos acreditar que isso no acontea.
Ento, abandone o pensamento convencional, d um gs na imaginao e
pergunte-se o que poderia acontecer na sua indstria nos prximos cinco anos. O
que poderia mudar mais depressa e o que no mudar de forma alguma?
Quando voc tiver uma ideia do que o futuro pode guardar, aqui esto mais
algumas perguntas difceis que devem ser consideradas:
Como um concorrente muito inteligente e capitalizado pode atacar a atividade
principal da empresa? Como um rival poderia tirar vantagem de plataformas
digitais para explorar suas fraquezas se beneficiar dos segmentos mais lucrativos
orientados para consumidores? O que a empresa est fazendo para gerar uma
mudana no prprio negcio? A canibalizao ou a perda de receita so motivos
frequentes para aniquilar uma possvel inovao? H oportunidade para
O papel do governo
Os governos tambm tm decises importantes a tomar. Eles podem ficar lado a
lado com as empresas estabelecidas, gastando energia para tentar conter as
foras da mudana. Esse o caminho natural dos polticos, j que as empresas
consolidadas tendem a ter muito mais dinheiro do que as inovadoras e so
especialistas em us-lo para subjugar a vontade poltica de qualquer governo
democrtico. (Novos desafiantes em geral no compreendem a extenso das
ferramentas legais e regulatrias que as empresas estabelecidas possuem como
arsenal.) Mas, assim como as empresas, os governos tm a opo de encorajar a
ruptura e criar ambientes nos quais criativos inteligentes prosperem. Eles podem
escolher ter uma tendncia favorvel inovao.
O processo comea com educao, e no apenas no formato tradicional de
ensino infantil, fundamental, mdio e superior. A educao vai mudar, e os
governos deveriam favorecer a mudana (hoje eles fazem exatamente o
contrrio). As plataformas tecnolgicas vo nos ajudar a identificar nossos
pendores e fraquezas individuais com maior preciso e vo nos fornecer opes
de educao adaptadas ao que quisermos fazer. Como provedores da educao
pblica, os governos podem praticar esse modelo de educao vitalcia
personalizada e flexvel, especialmente para adolescentes e adultos aps o ensino
mdio.
Uma infraestrutura digital imprescindvel, assim como uma poltica
favorvel imigrao. O mais importante, porm, a liberdade para inovar. A
regulamentao criada prevendo problemas, mas, se voc cria um sistema que
prev tudo, no h espao para inovao. Alm disso, as empresas estabelecidas
tm uma grande influncia na criao de regulamentos, e costuma haver muito
movimento entre os setores pblico e privado. Dessa forma, as pessoas que hoje
criam e aplicam regras que matam a inovao amanh se tornam os executivos
no setor privado que se beneficiam dessas mesmas regras. preciso que sempre
haja espao no ambiente regulatrio para a entrada de uma nova empresa.
Por exemplo, uma estreante na indstria automotiva americana, a Tesla, est
esbarrando em obstculos regulatrios em vrios estados americanos que
impedem que a empresa pratique o modelo de venda direta ao consumidor.206 A
regulamentao protege as concessionrias e reduz a escolha do consumidor
nesses estados. Durante a prxima rodada de inovao automotiva os carros
autoguiados , haver um acidente. Algum vai se ferir ou morrer, o que pode
provocar dvidas sobre toda a indstria de carros autoguiados. Quando isso
acontecer, os governos devem resistir ao impulso de decretar regulamentos
muito restritivos, similares Red Flag Act [lei da bandeira vermelha] 207 do
Reino Unido no sculo XIX, que forcem a nova tecnologia a passar por mais
obstculos de segurana do que os carros normais, operados por pessoas (que
O futuro to brilhante...
difcil para ns olhar para uma indstria ou rea e no ver um futuro brilhante.
Na sade, por exemplo, sensores pessoais em tempo real permitiro o
monitoramento sofisticado e a medio de sistemas humanos complexos.
Combine todos esses dados com um mapa de fatores de risco gerado por uma
anlise gentica minuciosa e teremos capacidades sem precedentes (apenas com
o consentimento da pessoa) para identificar e prevenir ou tratar problemas
individuais de sade bem mais cedo. Reunir esses dados pode criar plataformas
de informaes e conhecimento que permitam pesquisas mais efetivas e
moldem polticas de sade mais inteligentes.
Consumidores do sistema de sade sofrem de carncia de informaes: eles
quase no possuem dados sobre resultados de procedimentos e desempenhos de
mdicos e hospitais e com frequncia tm dificuldade em acessar informaes
sobre a prpria sade, especialmente se essas informaes so mantidas em
instituies diferentes. Alm disso, o preo de servios mdicos, remdios e
materiais desregrado e varia muito de paciente para paciente e de hospital para
hospital. Levar ao menos um nvel bsico de transparncia de informaes ao
servio de sade poderia provocar um impacto positivo tremendo, diminuindo
custos e melhorando os resultados.
O transporte ser outra indstria cheia de inovao e oportunidade. O que
acontecer quando todo carro for autoguiado? Modelos de propriedade mudaro,
uma vez que servios de transporte pessoal diminuiro de preo e at se tornaro
mais receptivos. A nica razo para ter um carro ser o prazer, no a locomoo.
Isso forar os planejadores a repensar as redes de transporte.
Nos servios financeiros, informaes mais detalhadas significam mais
servios personalizados. Hoje, por exemplo, seguradoras de automveis esto
comeando a usar informaes como distncia percorrida e localizao para
avaliar as chances de um motorista sofrer um acidente. Como as seguradoras
seriam mais inteligentes se concordassem em baixar o valor do seguro em troca
do acesso a todos os dados do seu carro: velocidade, localizao, horrio de uso,
distncia percorrida, condies de trfego e registros de manuteno? Talvez
voc no aceitasse a oferta, mas ser que toparia para o jovem motorista da
famlia, na esperana de que ele dirigisse com mais segurana?
Nas indstrias criativas, h mais contedo e talento extraordinrios do que
nunca, e a demanda por isso (pelo menos quando medida pelo consumo de
mdia) nunca esteve to grande. Apesar da enorme quantidade de filmes de ao
ruins movidos a CGI,212 a tecnologia tambm criou novas possibilidades para
cada um de ns curtir seriados que dependem da narrativa tradicional, como
House of Cards e Game of Thrones, como a hora em que queremos assistir e
no aparelho nossa escolha, seja uma TV de tela plana, um laptop ou um
198 No seriado Dallas, sucesso dos anos 1980, o personagem Bobby Ewing,
interpretado por Patrick Duffy, morreu tragicamente ao ser atropelado
pela cunhada, mas voltou vida na temporada seguinte. Revelou-se que a
morte dele fora apenas um sonho. Quem dera que todos ns tivssemos
essa sorte.
* Os Buggles so uma dupla musical britnica formada em 1977 cujo maior
sucesso Video Killed The Radio Star, que argumenta que o advento do
videoclipe destruiu a carreira dos astros que cantavam no rdio. (N. do T.)
199 Examining the Books (Wall Street Journal, 29 de agosto de 2005).
200 Joseph Checkler e Jeffrey A. Trachtenberg, Bookseller Borders Begins a
New Chapter11 (Wall Street Journal, 17 de fevereiro de 2011).
201 Vinod Khosla, The Innovators Ecosy stem, 1o de dezembro de 2011,
http://www.khoslaventures.com/wpcontent/uploads/2012/02/InnovatorsEcosy stem_12_19_111.pdf.
202 Art Kleiner, The Discipline of Managing Disruption (strategy+business, 11
de maro de 2013).
203 Citado originalmente na biografia do escritor ingls Samuel Johnson escrita
por James Boswell: Acredite, senhor, quando um homem sabe que ser
enforcado em duas semanas, isso deixa a mente concentrada de uma
maneira maravilhosa. Ver James Boswell, Life of Johnson (Oxford
Worlds Classics / Oxford University Press, 2008), p.849.
204 Mesmo os especialistas so pssimos videntes a respeito de eventos muito
incertos, como o psiclogo Philip Tetlock demonstrou no seu estudo de
vinte anos sobre previses de centenas de especialistas. Por exemplo, os
especialistas no se saram melhor do que uma pessoa culta comum (e
nem melhor do que o acaso) em prever corretamente desenlaces em suas
reas, tais como se o apartheid acabaria de forma pacfica, se o Quebec
se separaria do Canad e coisas do gnero. Ver Philip E. Tetlock, Expert
Political Judgment: How Good Is It? How Can We Know? (Princeton
University Press, 2005).
205 Ver Vinod Khosla, Maintain the Silicon Valley Vision (Blog Bits, New York
Times, 13 de julho de 2012).
206 Steve Chapman, Car Buy ers Get Hijacked (Chicago Tribune, 20 de junho
de 2013).
207 A lei, decretada no Reino Unido em 1865 como uma das Locomotive Acts
[Leis das Locomotivas], exigia que os carros fossem precedidos por um
pedestre com uma bandeira vermelha para alertar cavalos e cavaleiros
que a engenhoca estava vindo. A mesma lei determinava o limite de
Agradecimentos
Dennis Woodside, que de alguma forma encontrou tempo para ler o livro e nos
dizer o que achou dele enquanto comandava a Motorola.
Urs Hlzle, o fundador de muitas das prticas de gesto de pessoal e de
contratao do Google.
Alison Cormack, que simplesmente a melhor leitora de todos os tempos e
talvez a Googler mais gentil que existe.
Jared Cohen, parceiro de Eric em A nova era digital, que aprendeu tudo sobre
edio de livros bem a tempo de nos ajudar.
Laszlo Bock, que ajudou a preservar a cultura e os padres do Google
medida que crescamos, cujo livro sobre talento aborda os detalhes fundamentais
sobre como fazer tudo isso acontecer, e que sempre parece estar sorrindo, talvez
porque ele costumava aparecer em S.O.S Malibu.
Nikesh Arora, cujo convite para falar com sua equipe deu incio a todo este
projeto.
Susan Wojcicki, Salar Kamangar, Marissa May er e Sundar Pichai, que
ensinaram a Jonathan que s vezes um bom gestor precisa apenas sair do
caminho dos seus funcionrios. Se o fruto do trabalho de um gestor a soma do
fruto do trabalho de seus comandados, ento Jonathan est no topo de uma
montanha criada por esses quatro.
Lorraine Twohill, que ajudou a nos mostrar a abordagem tpica dos criativos
inteligentes do Google para criar uma arte realmente maravilhosa e inspirada
disfarada de marketing.
Clay Bavor, um dos criativos mais inteligentes que conhecemos e cujo
trabalho atesta a cultura do Google. (Pesquise no Google seus projetos de fim de
semana: logo do Google em 884 fotografias 4x6 e retrato de Lincoln por Clay
Bavor.)
Brian Rakowski, que teve o bom senso de incluir numerao nas pginas e
sequncias de palavras pesquisveis nos vrios conjuntos de comentrios que
providenciou.
Margo Georgiadis, cujo ponto de vista sobre como a diretoria de grandes
empresas pensa foi uma fonte constante de ideias.
Colin McMillen, cuja inveno do Memegen apenas uma das muitas coisas
bacanas que ele fez.
Prem Ramaswami, que nos deu a perspectiva de um professor da Harvard
Business School e fez sugestes sobre como tornar o trabalho acessvel aos
estudantes.
Devin Ivester, nosso especialista residente em tudo sobre livros e filmes; os
gnios criativos Gary Williams, Ken Frederick e Lauren Mulkey, que
contriburam com um monte de ideias timas que no usamos; e Jonathan Jarvis,
cujo design criou um livro que parece mais bonito e elegante do que os autores
jamais parecero. E isso fato.213
Hal Varian, que faz com que economia seja interessante. E isso fato
tambm.214
Alan Eustace, que personifica tanto a Googleza que, com a ajuda de Jonathan,
escreveu o primeiro manual do Googler.
Shona Brown e David Drummond, que por dois anos foram os outros dois
integrantes do comit de avaliao de contrataes de gestores junto com
Jonathan.
Cathay Bi e Chad Severin, que calmamente apoiaram Jonathan no papel de
comandar a linha de produtos do Google e foram crticos ponderados desde o
incio deste projeto.
Jeff Huber, que trabalhou com Jonathan na Excite@Home e surgiu no Google
para desenvolver um mecanismo robusto de anncios e receita, para que
Jonathan pudesse se concentrar em comandar criativos inteligentes.
Patrick Pichette, cujo rigor operacional, suscetibilidades tpicas de um Googler,
mochila laranja e atitude vou-de-bicicleta-para-o-trabalho-mesmo-quando-estchovendo continuam a nos inspirar.
Gopi Kallay il, que no apenas o melhor palestrante que j vimos, mas
tambm um crtico constante, com sugestes inspiradas de melhorias.
Jill Hazelbaker, a quem Jonathan sempre apela, principalmente quando ele cria
um problema de relaes pblicas (o que frequente).
Jared Smith, que nos ajudou com detalhes sobre a China e tambm um
grande lder de criativos inteligentes.
Bill Campbell, que o mais talentoso de todos os instrutores de administrao,
com uma clareza sobre as pessoas e um tino sobre o funcionamento das
organizaes. No sabamos que precisvamos de um tcnico at termos um. Bill
foi uma pessoa fundamental no sucesso da Apple e do Google, hoje duas das
corporaes mais valiosas dos Estados Unidos. Todo mundo sorri quando Bill
entra na sala, e sua capacidade de contar uma grande histria s superada pela
humildade em recusar o crdito pelo papel extraordinrio que teve no Vale do
Silcio e no sucesso de geraes de empreendedores.
John Doerr, Mike Moritz, Ram Shriram, John Hennessy, Art Levinson, Paul
Otellini, Ann Mather, Diane Greene e Shirley Tilgham, integrantes e exintegrantes do conselho de administrao do Google que sempre aceitaram a
viso de longo prazo de nosso impacto no mundo, e em nossos consumidores,
parceiros e acionistas. Como deveria ser.
Aos vrios outros Googlers, atuais e antigos, que nos ajudaram a contar direito
as histrias enquanto continuavam a nos ensinar alguns dos detalhes sobre o
comando de criativos inteligentes: Krishna Bharat, Jeff Dean, Ben Gomes,
Georges Harik, William Farris, Vic Gundotra, George Salah e Martha Josephson
(tecnicamente no uma Googler, mas uma legtima colega).
famlia de Jonathan a esposa, Bery l, e os filhos, Joshua e Hannah , que
sempre o lembram de que ele precisa seguir, tanto no trabalho quanto em casa, a
sua linha gerencial de dar autonomia aos outros e sair do caminho. Essa
lembrana ajuda a mant-lo humilde, e por causa disso todos que o conhecem
devem agradecer sua famlia.
me de Jonathan, Rina Rosenberg, que foi uma grande defensora das
mulheres e comandou a Commission on the Status of Women for Santa Clara
County. em homenagem a ela que comeamos nossa descrio dos criativos
inteligentes como ela. Ao pai de Jonathan, prof. Nathan Rosenberg, citado
formalmente nas notas de rodap como um dos principais especialistas em
inovao tecnolgica. Que maior reconhecimento um filho pode oferecer a um
pai do que mostrar que durante todos aqueles anos ele estava de fato ouvindo?
A Karen, Gordon e David Rosenberg, irmos de Jonathan, com quem ele
aprendeu muito sobre a tomada de decises. Os quatro ainda esto tentando
chegar a um consenso sobre quem deve ganhar o ttulo de maior criativo
inteligente da famlia. Francamente, crianas, hora de mame e o papai
baterem o martelo.
Ao dr. Lorne Rosenfield, que costuma discutir com Jonathan sobre grandes
citaes e sabedoria de vida. Vrias referncias no livro surgiram dessas
conversas. filha de Lorne, Lauren, que fez mais correes do que o necessrio
para provar o argumento de que ela uma crtica literria mais culta que
Jonathan. E ao irmo dela, Michael, que fez valer sua carteirinha de criativo
inteligente ao nos dar muitos exemplos que, ele garante, sero entendidos pelos
universitrios.
Dan Chung, que teve o insight de que o manuscrito original tinha sido escrito
com os empreendedores em mente, mas que poderia ser expandido para ser
til a qualquer executivo.
Matt Py ken, que ajudou a revisar os artigos de Jonathan na faculdade e nos deu
um olhar holly woodiano para o tom dramtico da narrativa.
Glenn Yeffeth, da BenBella Books, que foi o nico especialista em edio de
livros a quem Jonathan pde pedir ajuda quando embarcou no projeto.
Adam Grosser, que rejeitou as piadas equivocadas e sem graa e, no geral,
ajudou a elevar o tom e nos encorajou a sermos mais rigorosos nas definies.
Aos professores Susan Feigenbaum e Gerald Ey rich, que foram previdentes na
insistncia para que Jonathan aprendesse estatstica e providenciaram a
superviso adulta necessria para ajud-lo a terminar a faculdade.
Ao professor e reitor Jeff Huang e sua colega Julia Easley, que leram o
original como se fosse a tese de um estudante, fizeram vrias correes e
felizmente no deram nota.
Ao prof. David Teece, que leu o original do ponto de vista de um economista
acadmico e nos indicou muitas das excelentes obras de referncia adicionais.
Gary Leight, Betsy Leight, Dora Futterman, Libby Trudell, Cathy Gordon,
eram mais parelhos nas aulas do colgio Gunn. Enquanto batalhavam pela
supremacia no espao e enfrentavam qumica e matemtica, eles no podiam
prever que, trinta anos depois, trabalhariam juntos em uma empresa chamada
Google. Ou que, quase quarenta anos depois, eles colaborariam em um livro
sobre negcios e administrao. No entanto, foi exatamente isso o que aconteceu.
Imagine o inimaginvel, realmente. Obrigado ao nosso coautor, Alan Eagle.
213 No .
214 sim.
Glossrio
Aberto
Compartilhar propriedade intelectual, como cdigos de software e resultados
de pesquisas, aderir a padres abertos em vez de criar os prprios e dar aos
consumidores a liberdade de sair facilmente de sua plataforma.
AdSense
O produto de propaganda que insere anncios em uma grande variedade de
sites.
AdWords
O carro-chefe dos produtos de anncios do Google. Esse mecanismo gera a
maior parte da renda da empresa.
Ahcharye
Interpretao em ingls para a expresso em hebraico siga-me, o grito de
guerra do Exrcito israelense.
Animal capaz de aprender
Pessoas que tm a inteligncia para lidar com grandes mudanas e a
caracterstica de am-las: eles gostam tanto de aprender que no tm medo
de fazer perguntas idiotas ou de ouvir respostas erradas.
Android
O sistema operacional mvel de cdigo-fonte aberto do Google.
API
Application Programming Interface, a interface com a qual outros aplicativos
podem interagir.
APM
Associate Product Manager, ou gerente adjunto de produto; os APMs em
geral fazem dois rodzios de um ano antes de se tornarem gerentes de
produto plenos.
Capitalizao de mercado
O valor total de mercado das aes de uma empresa de capital aberto.
Computao em nuvem
Tecnologia que permite aos usurios da internet acessar arquivos e rodar
Weinberg-Clark Photography
Eric Schmidt entrou no Google em 2001 e ajudou a transform-lo de uma startup do Vale do Silcio em um lder global da tecnologia. Como presidente
executivo, ele responsvel pelas questes externas da empresa: desenvolver
parcerias e relacionamentos de negcios mais amplos, conexo com o governo e
liderana baseada em tecnologia, alm de aconselhar o CEO e a diretoria em
questes de negcios e poltica. De 2001 a 2011, Eric foi o CEO do Google.
Antes de entrar para a empresa, Eric ocupou cargos de liderana na Novell e
na Sun Microsy stems, Inc. Ele bacharel em engenharia eltrica pela
Universidade de Princeton, alm de mestre e PhD em cincia da computao
pela Universidade da Califrnia em Berkeley. integrante do Conselho de
Leia tambm
O efeito Facebook
David Kirkpatrick
Table of Contents
Folha de rosto
Crditos
Mdias sociais
Dedicatria
Sumrio
Prefcio
Introduo: lies aprendidas da primeira fila
Fale com os engenheiros
O plano da Finlndia
Quando o surpreendente no surpreendente
Velocidade
As criativas inteligentes
Um projeto divertido para ns dois
Pirmides ainda no construdas
Cultura: acredite nos prprios slogans
Mantenha todo mundo apinhado
Trabalhem, comam e vivam juntos
Seus pais estavam errados: a baguna uma virtude
No d ouvidos aos hippos
A regra dos sete
Cada panela (sem) a prpria tampa
Faa todas as reorganizaes em um dia
A regra das duas pizzas de Bezos
Organize a empresa em torno de pessoas que tm o maior impacto
Expulse os trapaceiros, mas lute pelas divas
Com excesso de trabalho, no bom sentido
Estabelea uma cultura do Sim
diverso, no Diverso
Voc tem que vestir alguma coisa
Ahchary e
No seja mau
Estratgia: seu plano est errado
Aposte em inspiraes tcnicas, no em pesquisa de mercado
Um perodo de inovao combinatria
No procure cavalos mais rpidos
Otimize para o crescimento
Coase e a natureza da empresa
Especialize-se
Mantenha uma plataforma aberta, no fechada
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