A Máquina Que Ganhou A Guerra
A Máquina Que Ganhou A Guerra
A Máquina Que Ganhou A Guerra
Isaac Asimov
- , era uma loucura - disse Swift, com simpatia. Henderson abanou a cabea
negativamente.
- No se trata s disso. Reconheo que quando eu substitu Lepont como
Programador-Chefe, h oito anos, eu estava nervoso. Mas o clima daquela poca era
diferente. A guerra ainda estava sendo travada num front remoto, era uma espcie de
aventura sem nenhum perigo real. Ainda no tnhamos atingido o ponto em que foi
necessrio utilizar naves tripuladas, ou quando armas interestelares podiam deformar o
espao e engolir um planeta inteiro, se manipuladas corretamente. Mas a, quando as
verdadeiras dificuldades tiveram incio... - sua voz permitiu-se enfim exprimir toda a
raiva que sentia. - Mas vocs no sabem nada sobre isso!
- Muito bem - disse Swift. - Que tal se voc nos contasse? A guerra acabou.
Ganhamos.
- mesmo - disse Henderson, assentindo com um gesto de cabea. Tinha que ter
aquilo em mente. Tinham ganhado a guerra. Tinha dado tudo certo, afinal. - Bem...
acontece que a partir de uma certa poca os dados j no faziam mais sentido.
- No faziam sentido? Est dizendo isso literalmente? - perguntou Jablonsky.
- Literalmente. O que queriam vocs? O problema com vocs dois que nunca
tomaram parte, para valer, nos acontecimentos. Voc, Max, nunca saa do Multivac; e
quanto ao senhor, diretor, nunca deixava a Manso, exceto em misses oficiais onde via
apenas o que os outros queriam lhe mostrar.
- Eu tinha conscincia disso - disse Swift, como voc mesmo, alis, deve ter
percebido.
- Muito bem - prosseguiu Henderson. - Sabem at que ponto nossos dados
referentes capacidade produtiva, potencial de recursos, pessoal qualificado... tudo que
era de importncia vital para a guerra, na verdade... sabem at que ponto esses dados se
tornaram inteis, no-confiveis, durante a segunda metade da guerra? Lderes civis e
militares tentavam melhorar a prpria imagem, omitindo os fatos negativos e
exagerando os positivos. No importa o que os computadores fazem: os homens que os
programam e que interpretam seus resultados estavam pensando em salvar a prpria
pele e em apresentar resultados melhores do que os de seus concorrentes. Era
impossvel modificar isso. Eu tentei e falhei.
- Claro - disse Swift, tentando consol-lo. - No de admirar que no tenha
conseguido.
Desta vez Jablonsky tomou a deciso de acender o cigarro:
- Infelizmente. O Multivac parecia estar dizendo: ataque aqui, no ali; faa isto,
no aquilo; espere, no aja. Mas eu nunca podia ter certeza de que o Multivac dizia de
fato o que parecia estar dizendo; ou melhor, se ele sabia o que estava dizendo. Eu no
podia estar seguro.
- Mas os relatrios finais eram sempre muito claros, senhor - disse Jablonsky.
- Talvez... para quem no tinha que tomar a deciso final. Eu tinha. Esse tipo de
responsabilidade acarreta um peso horrvel, e nem mesmo o Multivac era suficiente para
remover esse peso. Mas o detalhe importante : eu estava certo em duvidar, o que me d
agora um tremendo alvio.
Envolvido por aquela atmosfera cmplice, cheia de confisses, Jablonsky
abandonou as formalidades:
- Mas ento, o que foi que voc fez, Lamar? Porque o fato que voc tomava as
decises. De que modo?
- Bem, acho que preciso ir andando, mas... , acho que posso dizer-lhes. Por que
no, afinal? O fato, Max, que lancei mo de um computador, mas um muito mais
antigo do que o Multivac. Muito mais antigo, mesmo.
Ele enfiou a mo no bolso e extraiu dali um mao de cigarros juntamente com
um punhado de pequenas moedas - dinheiro antigo, da poca anterior ao racionamento
de metal que transformara o dinheiro num simples servio de crdito, ligado a um
sistema computadorizado. Swift deu um sorriso encabulado:
- Gosto de andar com isto... faz com que o dinheiro continue parecendo algo
substancial. Um homem da minha idade tem dificuldade em abandonar os hbitos da
juventude. Com um cigarro no canto da boca, ele foi recolocando as moedas no bolso,
de uma em uma. No guardou a ltima: segurou-a na ponta dos dedos e ficou fitando-a
com olhar absorto.
- O Multivac no o primeiro computador, camaradas, nem o mais conhecido,
nem o que pode retirar mais eficientemente o peso da responsabilidade de sobre os
ombros de um executivo. A guerra ganha por uma mquina, John, e por um sistema de
computao na realidade muito simples, um que eu usei cada vez que tinha que tomar
uma deciso particularmente difcil.
Com um sorriso vagamente nostlgico, ele atirou a moeda para o alto com a
unha do polegar; ela rebrilhou no ar enquanto girava e voltou a cair sobre a palma da
mo de Swift. Seus dedos se fecharam sobre ela e num gesto hbil ele a pousou sobre as