Uma Flor para o Meu Amor
Uma Flor para o Meu Amor
Uma Flor para o Meu Amor
CAPÍTULO PRIMEIRO
CAPÍTULO SEGUNDO
CAPÍTULO QUARTO
CAPÍTULO QUINTO
CAPÍTULO SEXTO
CAPÍTULO SÉTIMO
CAPÍTULO OITAVO
— Está acordado?
— Sim... — sorriu Maximiliano. — Foi uma longa e
gostosa sesta, Irina.
— Sinto um calor terrível — sorriu também ela. —
Posso meter-me debaixo do chuveiro?
— Claro. Por que pergunta semelhante coisa?
— Pareceu-me que neste lugar não deve haver muita
água.
— Ah... Bom, temos um poço e uma ótima instalação na
fazenda. Não poderíamos regar plantações de milho — riu
—, mas não falta água para se viver com comodidade. Creio
que também eu tomarei um chuveiro. Você se importa?
— Pelo contrário — murmurou ela —, ficarei encantada.
Pouco depois, com um vestidinho leve cor de malva,
graças à boa idéia de Julián, que trouxera sua maleta para a
fazenda, Irina acendia um cigarro, sentada numa cadeira de
balanço, perto da sacada.
— Sinto-me bem aqui... — suspirou. — Não me
importaria de ficar toda a vida.
— Não prefere Paris?
— Conheço bem Paris — disse ela, ar entediado. — E
Roma. E Londres. Também Hong Kong e Buenos Aires...
conheço praticamente todo o mundo. E estou farta dele.
Acha que Anatoli demorará muito a vir ver o que
aconteceu?
— Você, que o conhece melhor, deve saber.
— Não... Não demorará.
— Será recebido adequadamente, não se preocupe... Que
é?
Tinham soado umas batidas na parta e Maximiliano, ao
mesmo tempo que vestia a camisa, foi abrir. Um de seus
homens apareceu no limiar, visivelmente inquieto.
— Que há, Luis?
O homem aproximou-se dele e murmurou umas palavras
a seu ouvido. Maximiliano assentiu e bateu-lhe no ombro.
— Está bem, pode ir — virou-se para Irina. Pei Ho quer
nos ver.
***
Finalmente, chegaram à grande esplanada, onde a
“assombradíssima” Irina Cherkova ficou olhando para todos
os lados, ainda como fascinada, sob o olhar sorridente de
Maximiliano. Nem sequer o chinês da entrada, onde estava
o grande gongo com o sapo vermelho, tinha mostrado
interesse por eles ao vê-los aparecer no corredor
subterrâneo. Por toda parte viam-se chineses, num total de
trinta, aproximadamente. Iam de um lado para outro,
estendendo cabos, colocando caixas metálicas nos lugares
que lhes indicava o que parecia dirigir o grupo. Todos
portavam armas e, pendente do pescoço, uma máscara anti-
gás. Todos usavam roupas cor de palha e sapatos da mesma
cor. Moviam-se em silêncio, como fazendo algo que já
tivessem feito muitas vezes. De quando em quando, um
deles virava-se rapidamente e disparava para trás, com o
revólver ou a metralhadora, atirando-se no chão. Os
disparos apenas produziam estalidos, muito abafados.
Depois, ordens em chinês, que eram instantaneamente
obedecidas, como se aqueles homens tossem robôs.
— Mas... que é tudo isto? — perguntou finalmente Irina.
— Psit... Pei Ho está nos esperando.
Indicou a porta dupla de canas de bambu, junto à qual
havia mais dois chineses Impassíveis, com as metralhadoras
nas mãos. Maximiliano fez sinal a um deles, que tomando
uma pequena massa recoberta de pele golpeou suavemente
um dos gongos, cujo som pareceu expandir-se por todas as
galerias da mina.
— Agora já sabe que estamos aqui... — sussurrou
Maximiliano. — Temos que esperar.
Não precisaram esperar muito. Apenas cinco minutos
mais tarde, as duas folhas da porta moviam-se para dentro,
permitindo ver o outro lado, que era nada mais que uma
gruta, de tamanho regular. Dois chineses hercúleos, de torso
nu, puxavam as folhas da porta, acabando de abri-la. Ao
fundo, havia mais quatro chineses, armados de
metralhadora, protegendo o personagem do centro, que
estava acomodado numa poltrona de vime. A sua frente,
uma mesinha de laca, com flores e um pequeno aquário. Ao
redor havia pequenas esteiras de palha e mais motivos de
decoração chinesa.
Maximiliano tomou Irina pelo braço e levou-a até diante
da mulher que ocupava a poltrona. Era corpulenta, de
grandes selos, cabeça redonda, cabelo liso e cortado em
linha reta. Tinha uma boca enorme e seus diminutos olhos,
sem brilho, careciam completamente de expressão. Devia
ter entre cinqüenta anos e sessenta. Ficaram os dois a
defrontá-la, em silêncio, esperando. A mulher alongou o
braço para uma garrafa de uísque pousada sobre a mesinha
e bebeu um gole, diretamente. Depois estalou a língua com
evidente prazer e seus olhos fixaram o mexicano.
— Muito lhe agradeço ter proporcionado a meus homens
o uísque que lhe pedi, Maximiliano — disse em perfeito
inglês.
— Tive muito prazer em satisfazê-la, Pei Ho.
— Queria dizer-lhe que o microfilme que me enviou
ontem à noite parece autêntico. Deve ser, suponho.
— Estou convencido de que é — murmurou
Maximiliano.
— Fica assim classificado. Bem... Entendo que hoje ou
amanhã chegará outro, não?
— Chegou hoje ao meio-dia. Meu homem do hotel
avisou-me. É o de Killen, no Texas.
— Ótimo. Espero que ele tenha feito tão bom trabalho
como Anatoli Sterevenko. Conto com o microfilme para
esta noite?
— Certamente.
— Bem, bem... É de supor que não haverá mais falhas.
Naturalmente — olhou de súbito para a espiã —, esta, é
Irina Cherkova, a mulher que devia ter morrido a noite
passada.
— Sim.
— Que vamos fazer com ela, Maximiliano?
— É minha... convidada. Chegamos a um acordo pessoal
e respondo por ela em todos os sentidos.
Um sorriso estranho, levíssimo, apareceu nos grossos
lábios de Pei Ho. Naquele momento Irina lembrou-se do
sapo vermelho pintado nos gongos, de modo que precisou
de esforço para dominar um estremecimento de asco.
— Pelo que ouvi — deslizou Pei Ho —, ela é uma
mulher muito perigosa. A tal ponto, que você ficou sem
seus do.... executores principais.
— Realmente.
— O fato de ter cortado a orelha de outro demonstra
uma imaginação digna de ser tomada em conta. E uma
índole satisfatoriamente cruel. Gosto de sua convidada,
Maximiliano. Entretanto, acho que não devemos confiar
nela tão facilmente.
— Era amiga de Sterevenko. Ele teve que escapar para o
Canadá, mas entregou-lhe o microfilme para que o
trouxesse e recebesse os cinqüenta mil dólares. Irina
tencionava escapar de nós e de Sterevenko com o dinheiro...
— Ah, tem iniciativa... Mas vou permitir-me insistir,
Maximiliano, porque não sei se você se deu conta da
importância de meu trabalho aqui: podemos confiar
plenamente em Irina Cherkova? Não seria melhor
experimentá-la?
— Que quer dizer? — empalideceu o mexicano.
— Não se assuste... — riu novamente Pei Ho. — Só
queria assegurar-me de que ela, par motivos que vocês
saberão, passa a fazer parte de seu grupo. Não tenho nada
contra as espiãs, evidentemente. Sou uma delas. E não lhe
estou fazendo mal, parece-me. Ter uma mulher a meu lado,
ainda que tão formosa, seria satisfatório para mim.
— Que classe de experiência quer fazer com ela?
— Você disse que hoje chegou outro de nossos espiões
contratados, não é verdade? Pois bem: que Irina Cherkova
seja encarregada de assassiná-lo.
— Não vejo necessidade de que ela...
— Eu o farei, Evelio — disse secamente a espiã.
— Ela é inteligente — observou Pei Ho: — sabe que
matou os seus executores e é justo que ocupe o lugar deles.
Duvido que uma mulher tão eficiente falhe em algo tão
simples como eliminar um homem desprevenido.
— Não falharei — afirmou Irina.
— Pois está dito. — Súbito, Pei Ho começou a falar em
russo, rapidamente: — Os homens não compreendem
algumas coisas que as espiãs como nós pensamos, Irina
Cherkova. Mas estou certa de que, você me compreende
perfeitamente.
— Compreendo-a muito bem — disse Irina, igualmente
em russo — que não é necessária nenhuma explicação, Pei
Ho. Não sei o que você e seus acólitos estão fazendo aqui,
nem isso me importa.
— O que lhe importa, então?
— Que tudo isto termine, que Evelio receba seu dinheiro
e possamos partir os dois para bem longe de tudo que cheire
a espionagem. Estou farta.
Pei Ho tornou a sorrir e olhou Maximiliano, que estava
tenso, inquieto, sem compreender uma só palavra do que
elas diziam.
— É só, Maximiliano. Podem retirar-se. Mais uma vez
obrigada pelo uísque... Poderia me conseguir mais?
— Sem dúvida. Mando-lhe duas caixas logo que seja
possível.
— Agradeço infinitamente — Pei Ho tornou a levantar a
garrafa, tomando outro longo trago, que transbordou de sua
enorme boca de sapo; depois deu um arroto, olhou
sorridente para seus visitantes e indicou a porta. — Adeus.
Depois que ambos saíram, os hercúleos chineses
fecharam a porta e, então, Pei Ho fez sinal a um dos que a
protegiam, arma na mão. O chinês apressou-se a atender,
inclinando-se para ela.
— Esta noite trarão outro microfilme. Poderemos reunir
nossas poucas coisas e abandonar este posto.
— Abandoná-lo? Por quê?
— Sabe o que se faz quando a máquina começa a falhar,
Luang?
— Conserta-se... Não?
— Isso faz quem não dispõe de meios para adquirir uma
nova. Em nosso trabalho, o melhor que se pode fazer
quando algo começa a falhar é por de lado a máquina velha.
Evelio Maximiliano começou a falhar, portanto não me
parece inteligente permanecermos por mais tempo aqui.
Não me agrada essa russa... Desconfio dela. Sei demasiado
de espionagem para confiar numa mulher de seu tipo. É
demasiado esperta e perigosa. Talvez eu me engane, mas
creio que devemos partir.
— Não continuaremos conseguindo microfilmes dos
depósitos nucleares americanos?
— Sim, mas de outro lugar. Embora, na verdade,
tenhamos já conhecimentos suficientes para voltar a Pequim
com todo o material. Não obstante, tentaremos conseguir
mais ainda, sempre que não haja perigo demasiado. O grupo
protótipo de homens está pronto, bem treinado. Foram
estudados todos os detalhes. Sim, podemos prosseguir com
nosso trabalho. Se não, creio que trinta e oito depósitos de
bombas atômicas americanas formam um número
suficiente. Não lhe parece?
— Suponho que sim. Está bem, esperaremos até obter o
último microfilme, depois partiremos todos. Eu me
encarregarei dos detalhes. Que acontecerá com esses
mexicanos de Maximiliano?
— É uma pergunta idiota, Luang. Esperaremos que
todos eles estejam dormindo, inclusive Maximiliano e a
russa.
— E então...
— Vocês os liquidarão todos, naturalmente.
***
— Vocês mataram todos? — perguntou Irina.
— Todos. Assim o quis Pei Ho e não vejo que razões em
contrário lhe poderíamos apresentar — sorriu Maximiliano.
— Afinal de contas, eram espiões e sabiam que neste jogo
sempre surge a morte.
— De fato... Entendo que você vai de quando em
quando aos Estados Unidos, ou a outro lugar onde haja
espiões, aventureiros, qualquer espécie de gente capaz de
fazer esse trabalho de conseguir o maior número de dados
possíveis sobre determinado depósito nuclear americano,
faz sua proposta, o espião ou aventureiro aceita, obtém os
dados, vem a La Paz...
— Entrega-me o microfilme, pago-lhe e trago-o aqui.
então, um pouco mais tarde, meus homens matam esse
espião, metem-no numa cesta levam-no para o incinerador.
De preferência, esses homens foram espiões de todas as
nacionalidades.
— E como pode você entrar em contato com eles?
— Nunca tinha conhecido nenhum. É Pei Ho quem
fornece seus nomes e indica onde podem ser encontrados.
— Compreendo... Sim, é natural. O serviço secreto
chinês deve mantê-la bem informada, por meio de rádio ou
qualquer outro sistema de comunicação. E, obviamente, não
convém que esse serviço seja feito por agentes chineses.
Mas prossigamos: Pei Ho paga bem por esses microfilmes,
de modo que você e seus amigos estão ganhando muito
dinheiro. Quantos microfilmes já chegaram até agora?
— Hoje chegou o que perfaz o número trinta e nove.
— Não está mal. E para que quer Pei Ho esses dados
sobre trinta e nove depósitos nucleares dos Estados Unidos?
— Isto não sei. Nem me interessa saber.
Irina Cherkova ficou pensativa. Maximiliano ergueu a
garrafa de tequila, oferecendo-a. Ela assentiu. Enquanto ele
servia a tequila com limão e gelo, a ex-agente russa
continuava a refletir.
— Quer dizer que vocês incineraram, até agora, trinta e
oito agentes secretos... — murmurou.
— Trinta e sete. Você teria sido a trigésima oitava.
Riram os dois. Entrechocaram seus copos, alegremente,
e beberam à sua mútua saúde.
— Todos esses chineses que parecem estar treinando...
por que o fazem?
— Não sei. Quem lhe Importa Isso, Irina?
— Curiosidade. Não esqueça que sempre pratiquei a
espionagem. Sabe o que penso?
— O quê?
— Esse grupo parece que está treinando para um
ataque... a um lugar que devem fazer explodir. Todos usam
máscaras antigás para entrar depois de encher de gás o
lugar, e armas de fogo, que manejam a qualquer momento,
pois desenvolveram ao máximo seus reflexos. E atiram
muito bem, rapidamente... Eu diria que estão ensaiando
como fazer explodir um depósito de armas nucleares.
Evelio Maximiliano ficou com a boca aberta uns
segundos.
— Bem... — admitiu par fim. — É possível que você
tenha razão. Mas esses chineses estão loucos se pensam que
podem explodir trinta e nove depósitos. Talvez consigam
mandar pelos ares o primeiro, mas...
— Você não entende? Eles são o grupo que dará o
exemplo, que serviria para que quantos se formem saibam
como fazer as coisas. Tomando este grupo como protótipo,
muitos outros poderão ser formados para atacar trinta e oito
ou até cem depósitos de armas nucleares, destruindo-os
completamente... e simultaneamente. Tais grupos
conhecerão o terreno, aproveitarão os conhecimentos
adquiridos pelo grupo-base, que suponho esteja treinando
aqui há bastante tempo.
— Quase dois anos.
— Quase dois anos...! Sim, isso é o que está planejado:
preparar tudo para dentro de algum tempo, ou
imediatamente talvez realizar o ataque simultâneo do maior
número possível de depósitos nucleares americanos.
— Com que objetivo?
— Se for conseguida essa fabulosa sabotagem, os
Estados Unidos ficarão praticamente desarmados, sem
poderio atômico. Ainda que só fossem explodidos cinqüenta
depósitos, o poderio atômico americano tornar-se-ia inferior
ao russo.
— E com que intenção Pei Ho faria isso?
— Pei Ho? Ela é apenas um instrumento, uma agente
que está cumprindo ordens. Que ganharia a China com essa
grande vantagem russa? Não sei. Talvez espere que a
Rússia esmague os Estados Unidos. Quando isso
acontecesse, a China se estenderia por toda a Ásia. Já
ninguém estaria lã para detê-la. Quem a impediria de
apoderar-se do Vietnã, do Laos, do Camboja, da
Tailândia...? Isso, de inicio. Depois, toda a Ásia.
— E os americanos não fariam nada?
— Bastante trabalho teriam defendendo-se. É fabuloso...
Um golpe incrível, certamente!
— Se for como você diz — sorriu o mexicano.
— Como poderia ser de outro modo?
— Bom... Eu não entendo tanto como você desses
truques, querida. Só de pequenas coisas. De qualquer modo,
se isso vai acontecer, você não deve preocupar-se: a Rússia
dominaria todo o continente americano. E quanto a nós,
com nosso dinheiro, nada nos importaria nada.
— É verdade — riu alegremente Irina. — Que nos
importa a América? Bem... e quanto ao que deve ser feito
esta noite?
— Saímos dentro de uns minutos e separamo-nos ao
chegar a La Paz. Você irá ao hotel, enquanto eu compareço
ao encontro com o novo espião que estão esperando.
Quando de posse do microfilme, voltarei para cá com o
carro no qual um de meus homens ficará à espera. Você
mata o espião, toma o carro que nos levará à cidade e o traz
para cá, na cesta que lhe será facilitada por Julián. É só.
— De acordo. Vou precisar de minha maleta vermelha.
Quero fazer bem as coisas.
CAPÍTULO NONO