O Darwinismo Social Presente No Brasil Do Século XXI

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O darwinismo social presente no Brasil do sculo XXI


Srgio Henrique da Silva Pereira Jornalista, professor Jornalista, professor, escritor, articulista, palestrante, colunista.
Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), mbito Jurdico, Contedo Jurdico, Editora JC, Governet
Editora, Investidura - Portal Jurdico, JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educao. 344 publicaes 157 seguidores

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Este artigo analisa o comportamento do brasileiro diante das diferenas sociais causadas por polticas eugnicas
que ainda se perpetuam no inconsciente coletivo dos brasileiros.
No perodo de 1917 a 1936, a eugenia no Brasil produziu mobilizao da intelectualidade de forma que novas
diretrizes educacionais moldassem comportamentos. O Boletim de Eugenia, peridico dirigido pelo mdico Renato
Ferraz Kehl, contribuiu muito para a novidade cientfica". Tanto o Boletim quanto as Constituies de 1930 e 1937
fomentaram propostas para a educao relacionada aos ideais eugnicos, tais como o estmulo educao
[eugnica] para higiene social, a obrigatoriedade, na Constituio de 1937
, da educao fsica em todos os nveis de ensino como medida para se alcanar a esttica ideal [eugenia].
A concentrao populacional e a estrutura econmica e social embutida no sistema capitalista trouxeram inmeros
problemas sociais, tais como insalubridade, doenas epidmicas, pssimas condies de trabalho e moradia,
aumentando ainda mais as discriminaes advindas com a formao das distintas classes sociais (Alves, 2001).
Segundo Teixeira (1976), o sistema educacional mantida em razovel funcionamento at 1930, consistia de um
ensino primrio gratuito, mas de oportunidade reduzida, o ensino secundrio pago, para servir de estrangulamento
a qualquer desejo de ascenso social, e o ensino superior gratuito de carter extremamente ineficiente. Assim, a
concepo do sistema escolar brasileiro, entre os anos de 1920 a 1930, era selecionador e no formulador. Diante
desta arquitetura, que se visava manter privilgios de camadas sociais e econmicas mais elevadas, pode-se dizer
que a educao servia para a elite brasileira, tanto que os pais abastados mandavam seus filhos estudarem fora do
Brasil (Azevedo, 2005). O sistema de ensino ento impedia a mobilidade social, de forma a manter certos
indivduos dentro de seu status social.
A Constituio Federa de 1934, pela primeira vez na histria brasileira, garantia educao para todos os
brasileiros. No artigo 150, alnea a, o Plano Nacional de Educao era competncia da Unio, porm a educao
correspondia tambm fixao do Estado Novo, com traos ditatoriais. Na Era Vargas, o sistema educacional tinha
a finalidade de manipular os subalternos, pois a classe trabalhadora passava a um ter acesso escola, mas o tipo
de oferta no deveria possibilitar a mobilidade social (Silva e Silva Viva, 2006).
Para boa parte dos eugenistas, o foco eram os jovens em idade escolar despertando neles o compromisso com os
ideais eugnicos, principalmente instruindo os jovens a no realizar matrimnio entre raas e classes sociais
diferentes, bem como gerar filho, entre casais considerados sadios, eugenicamente, de forma que contribusse para
a formao de uma elite nacional perfeita. O processo de eugenia no Brasil teve seus pilares construdos graas
Constituio de 1934:

Artigo 138, a Unio, os Estados e aos Municpios, nos termos das respectivas leis caberia: a)
estimular a educao eugnica.

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Atravs dessa alnea, os eugenistas visavam conscientizar os jovens e adultos de forma que o matrimnio entre
pessoas de uma mesma classe social e tnica deveriam ser base do aperfeioamento da estrutura social
brasileira.
de fcil constatao, que os ideais de eugenia, e seus defensores, no encontraram dificuldades para incutir suas
convices ideolgicas; graas ao dispositivo Constitucional, o pensamento de excluso social para melhoria da
sade fsica e psquica do povo brasileiro foi possvel.
O Brasil sempre apresentou diferenas abissais entre as camadas sociais, de forma que a mobilidade social estava
restrita s classes sociais mais elevadas. Pode-se dizer que a educao voltada para diferenciaes sociais e
tnicas, por longas geraes, possibilitou a criao no inconsciente coletivo, de que nordestino e negro no
tivessem capacidades para acompanhar o desenvolvimento que se esperava das mentalidades eugnicas.
Essa mentalidade influenciou pais, que por sua vez, passou a influenciar os filhos, de maneira que as crianas
conceituadas como geneticamente propensas (superiores geneticamente) a harmonia social passassem a
discriminar crianas, e at adultos, que tivessem traos caracterizadores de arruaceiros, pessoas propensas
criminalidade. De certa forma tais pessoas que se caracterizavam como propensas criminalidade eram
principalmente da raa negra, o que se explica a segregao, velada, aos negros, para os morros, de maneira que
estes no tivessem contato contnuo com as pessoas consideradas sangue bom" - o termo foi usado por Francis
Galton para conceituar pessoas geneticamente propensas civilidade, enquanto "sangue ruim" seria indivduo
propenso, geneticamente, a criminalidade.
No podemos esquecer que a eugenia foi criada no perodo em que a Europa apresentava gravssimos problemas
de higiene, desemprego e problemas sanitrios, esse perodo foi durante o sculo XIX, na Inglaterra, o bero do
darwinismo social e da eugenia. Na era vitoriana da Inglaterra, meados do sculo XIX, o surgimento e
desenvolvimento das indstrias favoreceu a migrao de grande nmero de pessoas, que saam do campo
deslumbradas com a potencialidade de trabalho que as cidades poderiam ofertar. Esse fluxo intenso fez com que
grande parte dos trabalhadores trabalhasse e vivesse sob condies deplorveis na cidade que cresceu
desordenadamente.
Atravs desses acontecimentos que despertou interesse dos higienistas, para curar os doentes e evitar
degenerao da populao. A burguesia por sua vez, queria se diferenciar do proletariado, de forma a alienar a
multido e diferenciar-se dela. No toa que teorias formuladas por Thomas Malthus, JeanBaptite de Lamarck e
Charles Darwin serviram de base para ideologias de melhoria da qualidade de vida das pessoas, principalmente
atravs do darwinismo social e, posteriormente, a eugenia. Segundo postulados eugenistas, a degenerao das
virtudes humanas se devia ao cruzamento gentico (miscigenao), ou seja, a falta de cuidado reprodutivo de
pessoas entre vrias etnias acabava gerando indivduos degenerados, de forma que somente atravs da
reproduo controlada garantiria o carter gentico saudvel, o que proporcionaria a limpeza das mazelas
humanas.
Atravs desse conceito, muitos cientistas, que defendiam a ideia da reproduo controlada, encorajavam, com
habilidosas persuases, casamentos entre pessoas com caractersticas desejveis - eugenia positiva e
desestimulando a reproduo entre os doentes e incapacitados - eugenia negativa. No podemos esquecer que
esse movimento europeu desencadeou vrias polticas segregacionistas mundialmente, de forma que as polticas,
como nos EUA, por exemplo, e tambm na frica, no permitissem que os negros no se misturarem-se com os
brancos. Chegava-se ao absurdo de criar duas entradas, distintas, para os negros e para os brancos.
Pode no parecer, mas tais conceitos ainda so muito visveis na nossa sociedade brasileira, em pleno sculo XXI.
As polticas sociais do Governo Federal, que comearam na dcada de 1990, no vm agradando principalmente a
elite brasileira, e a antiga classe social C - atualmente existe a nova classe social mdia.
O Governo Federal vem colocando em prtica a segunda dimenso dos direitos humanos, que o dever de fazer,

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este dever se encontra expresso no artigo 6 da Constituio Federal de 1988. No se trata como muitos pensam
de favoritismo as classes sociais esquecidas e subjugadas por sculos. O tratamento que se d o tratamento de
tratar desiguais nas medidas de suas desigualdades, de forma material, pois se fosse de forma formal, no haveria
possibilidade de mobilidade social, perpetuando, assim, as desigualdades sociais no Brasil, que ainda muito
presente.
As favelas cariocas, por exemplo, representavam construes simblicas que definem cidados, os detentores de
qualidades negativas, que passam a ser um entrave, obstculo ao desenvolvimento social do Brasil.
Por dcadas, as favelas cariocas, por exemplo, passaram a ser o simbolismo de indivduos no capacitados para
desenvolver o pas servindo apenas como fora braal. muito fcil verificar essa premissa, fora braal, pois os
moradores das favelas, antes da Constituio Federal 1988, no conseguiam ascender na mobilidade social e
econmica. Somente com a aplicao da segunda dimenso dos direitos humanos foi possvel que os moradores
das favelas pudessem sair de suas condies restritivas a qualidade vida, para possibilidades de ascenso social e
econmica. Por exemplo, as cotas nas universidades representam a aplicao da segunda dimenso dos direitos
humanos, e os preceitos contidos no artigo 6
da Constituio Federal de 1988.
Apesar de muitos considerarem que o assistencialismo governamental representa uma maneira de conseguir
eleitores, mesmo que seja somente com essa caracterstica, que as camadas sociais reprimidas secularmente
puderam ter certa qualidade de vida e possibilidade de ascenso na mobilidade social e econmica. Tambm no
podemos esquecer que as polticas de interveno do Estado nos morros cariocas, para combater os
narcotraficantes, somam-se e concretiza a segunda dimenso dos direitos humanos, pois no basta dar
oportunidades se essas camadas sociais consideradas, at ento, degeneradas"no possussem mecanismos
favorveis possibilitando o alcanar das oportunidades, dos direitos constitucionais, se o Estado fosse um mero
facilitador sem dar condies reais de progresso socioeconmica.
O que vemos no Brasil atual a luta entre classes, o que tambm se v o conceito ideolgico de dcadas
construdo no inconsciente coletivo, de gerao a gerao, de forma que a luta pela sobrevivncia, somada ao
narcisismo, no permite, at certo limite, a mobilidade social das classes sociais degeneradas. fcil observar
em redes sociais a frase" Eu estudei na universidade federal, e no em particular ". Essa frase conceitua a
prevalncia da ideologia eugnica e darwiniana social, de que somente os capacitados (geneticamente)
conseguem ingressar nas universidades federais. J aos indivduos que ingressam nas universidades particulares
h uma simbologia de que tais pessoas so incapacitadas intelectualmente (geneticamente), pois se fossem
capacitadas ingressariam numa universidade federal.
Essa forma de pensar mostra que o darwinismo social e a eugenia ainda so muito arraigados na inconsciente
coletivo brasileiro. O que mais espantoso ver que esses conceitos esto presentes na mentalidade dos jovens
em pleno sculo XXI. As cotas nas universidades para os negros so ferrenhamente combatidas pelas pessoas que
possuem o darwinismo social em suas concepes de vida, ou seja, as cotas raciais representam facilitador s
pessoas incapacitadas, geneticamente, o que torna o desenvolvimento social brasileiro [futuro] duvidoso.
Nas concepes dos darwinistas sociais, as cotas para os negros nas universidades prejudicariam tanto o
desenvolvimento econmico como social, alm disto, a miscigenao resultaria [perpetuaria] na m qualidade de
vida dos brasileiros, como criminalidades diversas. Se o conceito de darwinismo social for uma mentira, no se
veria justiceiros a quererem manter a ordem social atravs de linchamentos. A justia pelas prprias mos se
justifica, na viso dos justiceiros, se torna legtima pela m atuao do Estado na (in) segurana pblica - o que foi
muito usado na dcada de 1980, no Rio de Janeiro, na Baixada, com atuaes de justiceiros contratados por
comerciantes para dar cabo aos assaltantes. Assim, o Estado insuficientemente capaz de dar proteo aos
cidados contra aes de marginais, queles resta o se defender pelo direito natural vida. O problema fica grave,
pois da ineficincia do Estado, darwinistas sociais encontram brechas para descarregarem suas investidas

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preconceituosas contra os degenerados. Das aes constantes se fomenta conceitos darwinistas otimizando no
inconsciente coletivo, de cada cidado, que certos indivduos no podem viver em sociedade. Deste modo, no
importa as causas que geraram os comportamentos violentos e criminosos, mas apenas o chancelamento de que
as caractersticas tnicas j demonstram a tendncia ao crime.
Toda criminalidade tem um incio, que poder se desenvolver ao longo da vida do indivduo. Grande parte dos
criminosos tiveram passados traumticos, sejam por estupro, conflitos familiares chegando ao abandono e
expulso do lar, facilidade em adquirir drogas (lcita ou ilcita), principalmente no seio familiar, ou no habitat. Os
psiclogos dizem que no meio familiar se desenvolvem complexos diversos nos filhos, que se no corrigidos
podem desencadear srios problemas de comportamento na prole. Alfred Adler, o pai do termo complexo de
inferioridade dizia que toda criana nasce com o complexo, e que a educao familiar e social podero abrandar
ou aumentar este complexo. Muito totalitarismo torna as crianas apticas e revoltadas descarregando suas
frustraes e descontentamentos contra a prpria sociedade (imago). Quando a criana mimada pelos pais, a
criana passa a subjugar as demais pessoas. Crianas menosprezadas pelos pais podem desenvolver
comportamentos perniciosos a elas mesmas como masoquismo. Enfim, cada qual desenvolve um comportamento.
Eis a importncia da educao equilibrada onde no se menospreza a prole, mas tambm no a trata com mimos
em excessos sendo o equilbrio entre os dois, o norte.
Se nos primrdios do darwinismo social e da eugenia procurava-se uma melhoria humana quanto aos problemas
de higiene e criminalidade, com o passar dos sculos se acentuou o complexo de narcisismo. As diferenciaes
sociais no Brasil alimenta o complexo narcisista, onde roupas de grife, moradias em bairros nobres e os tipos de
empregos e profisses que atuam, proporcionam diferenciaes capazes de simbolizar pessoas capacitadas das
no capacitadas. Dessa forma, as pessoas se acham muito melhores do que de fato so, ou seja, a
autovalorizao o mecanismo de defesa diante do complexo de inferioridade. As desigualdades de renda na
sociedade cria um mecanismo psquico e emocional de superioridade e inferioridade diante da sobrevivncia. Os
indivduos que possuem bom padro socioeconmico acham que os desiguais so absolutamente invejosos, ao
passo que a os indivduos que no conseguem ascender socioeconomicamente, pelas condies sociais e
polticas que no favorecendo a ascenso social, acham que a elite soberba, em ambos os casos h um hiato
entre ambos gerando egosmo, indiferena, dio e at perseguies nas redes sociais.
Como mudar?
Somente com educao universalista onde no h mais conceitos de superioridade e inferioridade, de melhor
ou pior. No bastam somente aes governamentais, mas atuaes dentro das prprias famlias. Com o tempo,
conceitos eugenistas e de darwiniano social vo se diluindo e sumindo na sociedade brasileira. Certo que as
polticas de Estado devem criar mecanismos de ascenso socioeconmica, mas equnime a todos. As cotas nas
universidades so necessrias, no momento, mas o primordial, que deve ser o pilar da uma sociedade justa, a
estruturao da educao, de forma que todos tenham as mesmas condies para, ento, agirem igualmente.
Tambm certo que o Estado dever tratar os desiguais de forma material, como portadores de necessidades
especiais, o que no h qualquer privilgio nisso.
O que se v atualmente no Brasil, desde a violncia aos negros, aos gays, s mulheres, e toda forma de
barbaridade justificada, vem a materializar conceitos seculares de eugenia e darwinismo social. Educao
universalista, sem preconceitos de qualquer ordem, seja social, poltica e religiosa, para que as futuras geraes
possam viver num Brasil humanizado (artigo 3 da Constituio Federal de 1988).
Outro gravssimo problema que perpetua o conceito darwiniano social existente diz respeito aos programas e
comerciais televisivos. Mulheres so submetidas a vrios momentos constrangedores, de forma que a imagem da
mulher continue sendo de mero desejo sexual dos homens, em outros momentos refora conceitos
preconceituosos e machistas de que a mulher no tem crebro (inteligncia). Em outros momentos, publicidades
chancelam a mulher como libertina. Piadas quanto morfologia tambm so exploradas e acentuadas sem se
importar com o emocional de quem sofre tais piadas.

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