SBP Uso Racional e Seguro de Antibioticos e Neonatologia

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USO RACIONAL E SEGURO DE ANTIBITICOS EM NEONATOLOGIA

Elaborado em 15/10/2012

Autora: Roseli Calil


Mdica assistente da rea de Neonatologia do Centro de Ateno Integral
Sade da Mulher (CAISM) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Presidente da Comisso de Controle de Infeco Hospitalar (CCIH) do CAISMUNICAMP
Doutora em Pediatria pela UNICAMP
Coautor: Jamil Pedro de Siqueira Caldas
Mdico assistente da rea de Neonatologia do CAISM-UNICAMP
Doutor em Pediatria pela UNICAMP
I- INTRODUO
A sepse neonatal nas formas precoce e tardia responsvel por alta
taxa de mortalidade podendo atingir at cerca de 30 a 50% em infeces por
bactrias gram-negativas multirresistentes, o que desencadeia muitas vezes
um nmero exagerado de exames laboratoriais, suspeitas diagnsticas no
fundamentadas e a realizao de tratamentos muitas vezes desnecessrios.
Por outro lado, essencial que os esforos para preveno de resistncia
antimicrobiana no comprometa o tratamento efetivo do paciente com infeco
1,2
.

Estima-se que entre 11 a 23 recm-nascidos (RN) no infectados sejam


tratados em UTI neonatais para cada RN com infeco documentada1.
A indicao precisa do uso de antibiticos fundamental para minimizar
o risco de induo de resistncia bacteriana e o surgimento de espcies
multirresistentes, bem como para diminuir a ocorrncia de eventos adversos
associados ao uso de drogas 2,3.
II- PRINCPIOS GERAIS DE USO RACIONAL DE ANTIMICROBIANO2-6
O seguimento de alguns princpios pode reduzir o uso inadequado de
antibiticos:
1. Diagnstico e tratamento efetivo das infeces - Identificar o patgeno
O diagnstico de infeco deve ser baseado em critrios clnicos e
laboratorias, sendo considerado o padro ouro para o diagnstico os resultados

de hemoculturas, cuja coleta deve preceder o inicio do uso de antibiticos. As


culturas de lquido cefalorraquidiano e urina, quando indicados, tambm devem
preceder o inicio do tratamento com antibiticos.
A terapia antimicrobiana individualizada

apropriada inclui a escolha

correta do antimicrobiano ou combinao deles, no momento adequado e na


dosagem, via de administrao e durao do tratamento apropriados. Aps
resultado de culturas poder ser necessrio adequao do antibitico utilizado,
de acordo com o microrganismo identificado e perfil de resistncia.
2. Praticar controle de antimicrobianos
Fato: Programas para melhorar o uso de antimicrobianos so efetivos
A importncia do uso racional de antimicrobianos tem sido enfatizada h
muitos anos. Muitos programas para melhorar o uso de antimicrobianos foram
implantados com sucesso em unidades neonatais, inclusive no Brasil4.
Sempre que possvel dizer NO as cefalosporinas, carbapenmicos
(imipenen, meropenen) e glcopeptdeos (vancomicina). O uso amplo de
cefalosporinas de terceira gerao tem sido associado emergncia
preocupante de enterobactrias produtoras de betalactamases de espectro
estendido (ESBL), capazes de hidrolisar a cefotaxima, ceftriaxona, ceftazidima
e o aztreonan. Entre as espcies ESBL-positivas esto a Klebsiella
pneumoniae, Escherichia coli, Enterobacter sp, bacilos gram-negativos no
fermentadores como Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter baumanii.2
Os carbapenmicos so antimicrobianos de maior amplo espectro de
ao conhecidos na atualidade. So ativos contra a maioria das bactrias
gram- positivas, gram-negativas, incluindo as especies ESBL e AmpC
positivas, e anaerbios. Entretanto, so fortes indutores de resistncia, alteram
profundamente a microbiota dos recm-nascidos e esto associados ao
surgimento de Pseudomonas sp resistentes a carbapenmicos. Seu uso,
portanto, deve ser restrito a situaes onde no h outra possibilidade
teraputica, como surtos de infeco ou enterobactrias produtoras de ESBL
2,3
.

H uma intensa preocupao no sentido de restringir o uso de


vancomicina devido ao surgimento de Enterococcus faecalis/faecium resistente
vancomicina (VRE) e Staphylococcus aureus com sensibilidade intermediria
(VISA) ou resistente vancomicina. A vancomicina deve ser suspensa quando

a hemocultura revelar crescimento de um microrganismo com sensibilidade a


outras drogas. Por exemplo, se houver crescimento de Staphylococcus aureus
sensvel a oxacilina e RN estiver em uso de vancomicina, esta substituio
para oxacilina mandatria mesmo que esteja no final do tratamento 2,3.
3.Tratar infeco, no contaminao
Fato: Uma das causas de exagero no uso de antimicrobianos o tratamento
de culturas contaminadas.
Aes:

Usar antisspticos prprios para coleta de sangue e outras culturas.

Realizar cultura de sangue, e no de pele ou ponta de cateter.

Usar mtodos prprios para obter e processar todas as culturas.

4.Tratar infeco e no colonizao


Fato: A maior causa do excesso de uso de antimicrobianos o tratamento de
colonizao.
Critrios clnicos e laboratoriais podem ajudar a distino entre infeco
e colonizao. A melhora da especificidade do critrio diagnstico para
infeco pode ajudar a reduzir o uso desnecessrio de antimicrobianos.
Aces:
tratar pneumonia, no o aspirado traqueal
tratar bacteremia, no a cultura de ponta de cateter
tratar infeco urinria, no cultura de cateter uretral
Quando um resultado de hemocultura colhida de cateter central for
positivo e a hemocultura colhida de veia perifrica for negativa, pensar em
colonizao do cateter central.

5. Interromper tratamento antimicrobiano


Fato: No

cessar

uso

quando

tratamento

com

antimicrobiano

desnecessrio contribui para uso exagerado de antimicrobianos e induo de


resistncia.
Parar o tratamento quando a infeco improvvel ou no
diagnosticada no prejudica os paciente e na verdade, pode benefici-lo.

Neste sentido, vale ressaltar o estudo de Cotten et al.7 o qual relacionou


o aumento da ocorrncia de enterocolite necrosante e morte entre 4093 RN de
extremo baixo peso que receberam empiricamente um tempo de tratamento
com antimicrobiano por tempo maior ou igual a 5 dias.
Aes: parar tratamento,
Quando infeco curada.
Quando culturas so negativas e infeco no confirmada.
Quando descartado o diagnstico de infeco.

III- TRATAMENTO EMPRICO DAS INFECES RELACIONADAS


ASSISTNCIA EM NEONATOLOGIA1,8,9
A escolha do esquema emprico de tratamento das infeces
relacionadas
aparecimento

da

assistncia
clnica

em

neonatologia

(precoce

ou

depende

tardia),

do

tempo

de

realizao

prvia

de

procedimentos invasivos, conhecimento da flora prevalente e o padro de


resistncia de cada hospital.
Baseados nestes princpios seguem algumas sugestes de esquema
emprico:
Infeces precoces (provvel origem materna)
Ampicilina ou penicilina cristalina + amicacina ou gentamicina
Infeces tardias (provvel origem na unidade neonatal)
Primeira opo: oxacilina + amicacina
Segunda opo: vancomicina associado a cefotaxima ou cefepima
O uso emprico de oxacilina e amicacina altamente recomendado
devido baixa induo de resistncia, alta sensibilidade dos bastonetes gramnegativos a amicacina, alm da ampla disponibilidade e baixo custo dos
frmacos. O uso cauteloso de aminoglicosdeos devido ao risco de nefro e
ototoxidade deve ser considerado em RN de maior risco, especialmente
quando em uso com outras drogas potencialmente nefro e ototxicas como, por
exemplo, a vancomicina10.
Adequar o antibitico aps resultado de hemoculturas e antibiograma,
sempre que possvel optar por monoterapia e por droga de menor toxicidade.

Devido ao risco de induo de resistncia, o uso emprico de


cefalosporinas de terceira e quarta gerao deve ser evitado, sendo
recomendada no tratamento de meningite, infeco em recm-nascidos com
insuficincia

renal

nas

infeces

por

bactrias

resistentes

aos

aminoglicosdeos.
Deve ser lembrado que o uso de ceftriaxona est contraindicado em
crianas recebendo soluo parenteral contendo clcio, devendo nesta
situao ser substituda por cefotaxima11.
O uso de vancomicina no esquema emprico inicial poder ser justificado
somente em unidades de terapia intensiva neonatal com alta prevalncia de
infeces da corrente sangunea (ICS) por Staphylococcus aureus resistente
meticilina/oxacilina. Em unidades com prevalncia elevada de ICS por
Staphylococcus coagulase-negativa, mesmo que resistente oxacilina, este
esquema emprico inicial com vancomicina no est indicado, considerando
que estas infeces so de baixa morbidade/mortalidade, o que permite tempo
de troca com segurana quando este agente for isolado em hemoculturas.
O antibitico emprico deve ser suspenso imediatamente quando o
diagnstico de infeco for descartado.

IV-SUGESTO DE ANTIMCROBIANOS DE ACORDO COM O AGENTE


Em algumas situaes, de acordo com o agente bacteriano isolado em
cultura

de

material

nobre

(aqueles

habitualmente

estreis),

alguns

medicamentos so preconizados:
1. Anaerbios:

metronidazol

(principalmente

se

houver

acometimento do sistema nervoso central) ou clindamicina.


2. Coliformes: aminoglicosdeos ou cefotaxima.
3. Streptococcus agalactiae: penicilina G cristalina.
4. Streptococcus grupo D no enterococo ou grupo A: penicilina
G cristalina.

5. Enterococcus sp: ampicilina e gentamicina para promover


sinergismo. Considerar vancomicina para os produtores de
betalactamases ou resistentes a aminoglicosdeos.
6. Listeria monocytogenes: ampicilina e aminoglicosdeo para
promover sinergismo.
7. Staphylococcus epidermidis: vancomicina.
8. Staphylococcus aureus: oxacilina ou vancomicina para os
meticilinorresistentes.
9. Pseudomonas aeruginosa: amicacina ou ceftazidima.
10. Neisseria gonorrhoea: ceftriaxona.
11. Klebsiella sp: aminoglicosideo ou cefotaxima.
12. Acinetobacter sp: ceftazidima ou imipenem.
Observao: para as bactrias gram-negativas multirresistentes dever
ser

considerado

uso

de

cefepima

ou

imipenem/meropenem,

relembrando que o medicamento deve ser sempre guiado pelos testes de


sensibilidade antibitica.
Bactrias gram negativas ESBL positivas; tratamento de escolha
carbapenmicos (meropen/imipenem)9,10
V- DURAO DO TRATAMENTO
A durao do tratamento depende da gravidade do caso e da
presena de localizao e agente etiolgico isolado em culturas. No
entanto, a durao habitual dos esquemas teraputicos baseada na
prtica clnica, emprica, e no em estudos controlados 9,10.
1. Quadros com infeco localizada ou mnima (celulites/flebites):
manter tratamento por 7 a 10 dias.
2. Artrite/Osteomielite 14 a 21 dias, podendo ser ampliada de
acordo com a evoluo clnica e avaliao ortopdica10.

3. Pneumonia quando nas causadas por bactrias gram-negativas,


10 a 14 dias de tratamento e nas pneumonias estafiloccicas est
indicado 21 dias no mnimo, podendo ser ampliado o tempo de
tratamento de acordo com a evoluo clnica. Sem agente definido,
utilizar 10 a 14 dias de tratamento.
4. Infeco do trato urinrio 7 a 10 dias. Nas infeces de trato
urinrio

(ITU)

com

bacteremia

secundria

(urocultura

hemocultura positiva para o mesmo microrganismo), manter


tratamento por dez dias e nas ITU sem complicao, considerar
suficiente 7 dias de tratamento com antibitico apropriado.
5. Onfalite 7 a 14 dias, a depender da extenso da doena local e
de sintomas spticos.
6. Meningite - 14 dias quando causadas por gram-positivos e 21 dias
quando causadas por bacilos gram-negativos
7. Abcesso cerebral 4 semanas. Considerar drenagem.
8. Abcesso heptico no mnimo 21 dias. Considerar drenagem.
9. Endocardite bacteriana 4 semanas. Considerar abordagem
cirrgica.
10. Mediastinite 4 semanas. Considerar abordagem cirrgica.
11. Infeco

de

corrente

sangunea

sem

confirmao

laboratorial/sepse clnica manter tratamento por 7 dias.


12. Infeco

Primria

de

Corrente

Sangunea

confirmada

laboratorialmente O tempo de tratamento est relacionado ao


agente etiolgico e a permanncia ou retirada do cateter central.
Cateter central deve ser removido em recm-nascidos com
infeco de corrente sangunea (ICS) associada ao dispositivo
causadas por Staphylococcus aureus, bastonetes gram negativos,
enterococos

fungos.

Vale

ressaltar

que

as

ICS

por

Staphylococcus coagulase negativo so aquelas com maior


sucesso de tratamento sem remoo do cateter.
Embora exista a recomendao de retirada do cateter central, de
acordo com o agente etiolgico isolado, muitas vezes esta conduta
adiada pelo neonatologista, considerando as condies clnicas
do recm-nascido associada dificuldade de um novo acesso
venoso. Caso isto acontea, Ateno

Todo recm-nascido em tratamento de ICS cujo cateter no foi


removido devem sem monitorados cuidadosamente com avaliao
clnica e de hemoculturas adicionais. Nesta situao o cateter
central dever ser removido se houver deteriorao clnica,
persistncia ou recorrncia da infeco.
Nas

infeces

de

corrente

sangunea

por

Staphylococcus

epidermidis ou outros Staphylococcus coagulase negativo no


associadas a cateter central ou cujo cateter foi removido, com boa
evoluo clnica podem ser tratadas por 5 a 7 dias. No entanto se
houver opo pela manuteno do cateter central, o tempo de
tratamento dever ser ampliado para 10-14 dias.
Infeces de corrente sangunea por Staphylococcus aureus
devido ao maior risco de complicaes infecciosas distncia
requer tratamento no mnimo de 14 dias, mesmo quando o cateter
central foi removido.
As ICS por demais bactrias so geralmente tratadas com sucesso
por 7 a 10 dias de tratamento quando o cateter central foi
removido. Caso o cateter tenha sido mantido, ampliar o tempo de
tratamento para 10-14 dias.

VI- DOSES DE ANTIMICROBIANOS UTILIZADOS NO PERODO NEONATAL


Tabela 1 Doses de antimicrobianos, de acordo com peso de
nascimento e tempo de vida
Peso de nascimento
< 1200 g

1200 g 2000 g

> 2000 g

Antibitico
0a4

0 a 7 dias

> 7 dias

0 a 7 dias

> 7 dias

semanas
Ampicilina-

50 mg/12 h

50 mg/ 12 h

50 mg/8 h

50 mg/8 h

50 mg/6 h

25 mg/ 12 h

25 mg/12 h

25 mg/8 h

25 mg/8 h

25 mg/6 h

Cefalotina (mg/Kg)

20 mg/12 h

20 mg/12 h

20 mg/8 h

20 mg/8 h

20 mg/6 h

Cefazolina (mg/Kg)

20 mg/12 h

20 mg/12 h

20 mg/8 h

20 mg/8 h

20 mg/8 h

Cefotaxima (mg/Kg)

50 mg/12 h

50 mg/12 h

50 mg/8 h

50 mg/12 h

50 mg/8 h

Ceftazidima (mg/Kg)

50 mg/12 h

50 mg/12 h

50 mg/8 h

50 mg/8 h

50 mg/8 h

Ceftriaxone (mg/Kg)

50 mg/24 h

50 mg/24 h

50 mg/12h

50 mg/24 h

50 mg/12 h

Clindamicina (mg/Kg)

5 mg/12 h

5 mg/12 h

5 mg/8 h

5 mg/8 h

5 mg/6 h

Eritromicina (mg/Kg)

10 mg/12 h

10 mg/12 h

10 mg/8 h

10 mg/12 h

10 mg/6 h

Imipenen (mg/Kg)

20 mg /12 h

20 mg / 12 h

20 mg/12 h

20 mg/12 h

20 mg/8 h

Meropenen (mg/Kg)

20 mg/12 h

20 mg /12 h

20 mg/12 h

20 mg/12 h

20 mg/12 h

40 mg/8 h

40 mg /8 h

40 mg /8 h

40 mg /8 h

40 mg /8 h

Metronidazol (mg/Kg)

7,5 mg/48h

7,5 mg/24 h

7,5 mg/12h

7,5 mg/12 h

7,5 mg/12 h

Oxacilina (mg/Kg)

50 mg/12 h

50 mg/12 h

50 mg/8 h

50 mg/8 h

50 mg/6 h

meningite(mg/Kg)
Ampicilina - outros
(mg/Kg)

sepse
Meropenen (mg/Kg)meningite

meningite

Oxacilina (mg/Kg) outros

25 mg/12 h

25 mg/12 h

25 mg/8 h

25 mg/8 h

25 mg/6 h

Penicilina G(UI/Kg)-

50.000/12 h

50.000/12 h

50.000/12h

50.000/8 h

50.000/6 h

25.000/12 h

25.000/12 h

25.000/12 h

25.000/8 h

25.000 / 6 h

50.000/ 24h

50.000/24h

50.000/24 h

50.000/24 h

50.000/24 h

50.000/24h

50.000/24 h

50.000/24 h

10 mg/12 h

10 mg/12 h

10 mg / 8 h

10 mg / 8 h

meningite
Penicilina G (UI/Kg)
outros*
Penicilina Benzatina
(UI/Kg)
Penicilina Procana
(UI/Kg)
Vancomicina (mg/Kg) #

10 mg/12 h

Baseado nas referncias 13 e 14


# Variao de dose e intervalo de acordo com nvel srico
* Para infeces por Streptococcus agalactiae- administrar 250.000-400.000 UI/Kg/dia

Outras posologias de antibiticos segundo idade gestacional e tempo de


vida:
1- amicacina15
Idade Gestacional
(semanas)

29

30 a 34
35

Intervalo
(horas)

Idade ps-natal

Dose

(dias)

(mg/kg)

0-7

18

48

8-28

15

36

29

15

24

0-7

18

36

15

24

Qualquer

15

24

2- gentamicina16
RN pr-termo com funo renal normal: 3,5-4 mg/kg/dose a cada 24 horas.

RN a termo com funo renal normal: 3,5-5 mg/kg/dose a cada 24 horas.


3- cefepima15
Pr-termo e termo 28 dias de vida: 30 mg/kg/dose 12/12 horas.
Pr-termo e termo > 28 dias de vida: 50 mg/kg/dose 12/12 horas
4- teicoplanina17,18
Dose Ataque: 16 mg/kg/dose.
Dose de manuteno: 8 mg/kg/dose 24/24 horas
A teicoplanina deve ser utilizada quando o microrganismo isolado em
culturas tem sensibilidade a droga e especialmente em RN com dificuldade de
acesso venoso, devida a possibilidade de administrao intramuscular desta
droga.
DOSAGEM DE NVEL SRICO
Para alguns antibiticos importante a dosagem srica dos nveis
sricos garantindo nvel teraputico e evitando nveis txicos. Os valores
normais de pico (dosados 30 minutos aps o fim da infuso EV ou 1 hora aps
IM) e de vale (colhidos 30 minutos antes da prxima dose) so os abaixo, na
tabela 2:
Tabela 2- Valores dos nveis sricos de alguns antimcrobianos15,16

Medicamento
Amicacina

Nvel srico
Pico 20 a 30 g/ml
Vale < 10 g/ml

Gentamicina

Pico 5 a 12 g/ml
Vale 0,5 a 2 g/ml

Vancomicina

Pico 25 a 40 g/ml
Vale 5 a 15 g/ml

ADMINISTRAO
A diluio e a administrao correta dos antimicrobianos so essenciais
para a sua efetividades. Abaixo, na tabela, so apresentados alguns
antimicrobianos de uso mais comuns e o modo preconizado de diluio e
administrao.
Tabela 3- Distribuio dos antibiticos segundo apresentao, diluio e
cuidados na administrao14
Antibitico
Amicacina

Ampicilina

Cefalotina

Apresentao

Diluio e cuidados na administrao

Ampola 100 mg / 2 ml

Diluir em SG 5% para 5 mg/ml e infundir

Ampola 500 mg / 2 ml

EV em 30 minutos

Frasco-ampola 500 mg

Diluir 1 frasco para 50 mg / ml com gua

Frasco-ampola 1 g

destilada, infuso EV em bolus

Frasco-ampola 1 g

Diluir 1 frasco para 100 mg / ml com gua


destilada, infuso EV em bolus

Cefazolina

Frasco-ampola 1 g

Diluir 1 frasco para 100 mg / ml com gua


destilada, infuso EV em bolus

Cefepima

Cefotaxima

Ceftazidima

Frasco-ampola 500 mg

Diluir em SG 5% (500 mg+5ml~90mg/ml;

Frasco-ampola 1 g

1g+10ml ~90mg/ml; 2g+17.2ml

Frasco-ampola 2 g

~100mg/ml) e infundir EV em 30 minutos

Frasco-ampola 500 mg

Diluir 1 frasco para 100 mg / ml com gua

Frasco-ampola 1 g

destilada, infuso EV em 30 minutos

Frasco-ampola 1 g

Diluir 1 frasco para 100 mg / ml com gua


destilada, infuso EV em 30 minutos

Ceftriaxone

Clindamicina

Frasco-ampola 500 mg

Diluir 1 frasco para 100 mg / ml com gua

Frasco-ampola 1 g

destilada, infuso EV em 15-30 minutos

Ampolas 300 mg / 2ml

Diluir 1 ml em 24 ml de SG 5% (6mg /ml),


infuso EV em 30 minutos

Gentamicina

Ampolas 10 mg / 1ml
Ampolas 40 mg/ 1 ml

Imipenen

Frasco-ampola 500 mg

Diluir em SG 5% e infundir EV em 30
minutos

Diluir em 100 ml de SG 5% e infundir EV


em 30 minutos

Meropenen

Frasco-ampola 500 mg
Frasco-ampola 1 g

Metronidazol

Diluir 1 frasco para 50 mg / ml com gua


destilada, infuso EV em 30 minutos

Frasco-ampola 500 mg/100 ml Infundir EV em 60 minutos


Bolsa plstica 500 mg/100 ml

Oxacilina

Frasco-ampola 500 mg

Diluir 1 frasco para 50 mg / ml com gua


destilada, infuso EV em bolus

Vancomicina

Frasco-ampola 500 mg

Diluir 1 frasco para 5 mg / ml com SG 5%


e infundir EV em 60 minutos

Observao: as tabelas descritas acima so compiladas de vrias referncias


e variaes nas doses podem ser encontras, de acordo com a referncia citada
e com estudos de farmacodinmica de cada droga em particular19-22.
VII-ANTIBITICO PROFILTICO23-25
O uso de antibitico profiltico est indicado somente em duas situaes
clnicas no perodo neonatal:
1- nos casos de malformaes do trato urinrio e nos casos de bexiga
neurognica, com finalidade de diminuir o risco de aparecimento de infeces
em rins e vias urinrias. O antibitico mais utilizado para esse fim a
cefalexina, em dose nica diria (20mg/kg/dia).
2- Profilaxia cirrgica, indicada nas cirurgias contaminadas, potencialmente
contaminadas e nas cirurgias limpas com colocao de prtese.
Uma concentrao tecidual adequada deve estar presente no momento
do procedimento e 3-4 horas aps a inciso cirrgica. Assim, uma nica dose
administrada durante a induo anestsica geralmente suficiente, exceto em

atos cirrgicos de longa durao ou quando ocorrem sangramentos


abundantes, onde h necessidade de nova dose de antibitico com objetivo de
manter nveis sanguneos adequados. Maiores detalhes sobre este assunto
seguem abaixo.

Profilaxia de infeco de sitio cirurgico


A infeco do stio cirrgico (ISC) aquela que ocorre no campo
operatrio aps uma interveno cirrgica. Sua incidncia varia de acordo com
o procedimento cirrgico e os critrios de classificao. A ISC est associada a
ndices significativos de morte e aumento do tempo de internao e dos gastos
hospitalares.
Quanto ao risco de contaminao as cirurgias so classificadas:
1 Limpa - ferida operatria no infectada e sem inflamao e sem
envolvimento do trato respiratrio, digestrio, genital ou urinrio.
2 Limpa-contaminada ferida operatria com envolvimento, sob condies
controladas, do trato respiratrio, digestrio, genital ou urinrio, e sem encontro
de contaminao.
3 Contaminada - ocorre em umas das seguintes situaes - operao com
quebra importante de tcnica; contaminao da cavidade peritoneal a partir de
vsceras do trato gastrointestinal; inciso em local com inflamao aguda, no
purulenta;
4 Suja ou infectada - h perfurao de vsceras; achado intra-operatrio de
processo inflamatrio agudo com presena de pus; ferida traumtica antiga
com reteno de tecido desvitalizado; ferimentos traumticos abertos com mais
de 12-24 horas de durao.

Princpios gerais do uso profiltico de antimicrobianos em cirurgia:

1. Indicao apropriada; ocorre benefcio mesmo em alguns tipos de


cirurgias limpas.
2. Selecionar o agente antimicrobiano tendo em vista os patgenos mais
comumente envolvidos na ISC especfica.
3. Escolher um antimicrobiano bactericida eficaz contra a microbiota
habitual.

4. Evitar o uso de antimicrobianos utilizados no tratamento de infeces


graves (evitar resistncia microbiana).
5. Utilizar antimicrobiano eficaz, com pouca ou nenhuma toxicidade e se
possvel de menor custo.
6. Usar dose adequada e no momento certo.
7. Administrar o antimicrobiano por um perodo curto de tempo,
considerando que a cobertura mais importante durante o ato cirrgico.
8. O antimicrobiano ser teraputico se uma infeco for encontrada no ato
operatrio, e sua adequao dever ser refeita de acordo com a
infeco encontrada e/ou resultados de cultura. O tempo de tratamento
ser de acordo com a evoluo clnica.

Momento da profilaxia: o antibitico deve ser administrado 30 minutos antes


do procedimento cirrgico e repetido no intra-operatrio de acordo com a
durao do ato cirrgico (>4 horas) ou sangramento intenso.
Durao da profilaxia: para algumas cirurgias como aquelas de pequeno
porte e limpa, quando indicado, uma dose no pr-operatrio suficiente, para
as demais cirurgias em linhas gerais a profilaxia no dever ultrapassar 24
horas.
A tabela 4 mostra os tipos de cirurgias mais comuns no perodo neonatal, com
respectivos antimicrobianos indicados para profilaxia de ISC e tempo de
durao.

Tabela 4 - Antibiticos profilticos administrados de acordo com tipo de


cirurgia23
Classificao da
cirurgia

Tipo de cirurgia

Antimicrobiano

Antimicrobiano psoperatrio

Operaes de pequeno porte


(hrnia inguinal, correo
criptorquidia)

Cefazolina

Nenhum

Correo de linfangiomas e
hipospdias

Cefazolina

24 horas

Ligadura de canal arterial

Cefazolina

24 horas

Correo de retinopatia da
prematuridade

Nenhum

Nenhum

Traqueostomia *

Nenhum

Nenhum

Correo de MAC; correo de


hrnia ou eventrao
diafragmtica;
gastrofundoplicatura;
gastrostomia; correo de EHP

Cefazolina

Correo de RVU e de estenose


de JUP e nefrectomia em
pacientes sem ITU

Cefazolina

24 horas

Derivao ventrculoperitonial

Cefazolina ou cefuroxima

24 -48 horas

Atresia de esfago**

Ampicilina-sulbactam ou
cefoxitina

24 horas

Limpa

Limpocontaminadas

24 horas

cefoxitina
ou
Contaminada

Cirurgia com anastomose de


intestino delgado

clindamicina + aminoglicosdeo
ou
clindamicina + metronidazol

24 - 48 horas

Em relao profundidade dos tecidos afetados a ISC pode ser


classificada em:
1-Incisional: quando acomete estruturas superficiais relacionadas inciso. Ela
pode ser superficial quando acomete pele e tecido subcutneo, ou profunda
quando h envolvimento de fscia e camadas musculares.
2-rgo/espao: quando a infeco ocorre em outro local alm da pele
incisionada, como por exemplo, desenvolvimento de abcesso intra-abdominal
aps laparotomia, empiema pleural aps toracotomia, ou osteomielite ou artrite
aps cirurgia ortopdica.
Nesta situao, est indicado antibitico teraputico emprico de acordo
com a flora prevalente e perfil de resistncia na unidade e de acordo com a
infeco encontrada, podendo ser alterado de acordo com resultados de
cultura. O tempo de tratamento varia de 7 a 10 dias para infeco incisional
podendo se estender nas infeces de rgoespao de acordo com a
localizao da infeco e evoluo clnica (14 a 28 dias ou mais). Alm do
antibitico dever ser avaliada a necessidade de drenagem do local infectado.

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Relacionada Assistnica Sade; 3 ed. 2009.p.29-54.

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