Plano de Manejo para Polinização Da Cultura Do Cajueiro

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Editor: Fundo Brasileiro para Biodiversidade - FUNBIO

EQUIPE TCNICA

Autores:

Coordenador:
Breno Magalhes Freitas - Universidade Federal do Cear
Pesquisadores:
Breno Magalhes Freitas - Universidade Federal do Cear
Claudia Ins da Silva - Universidade Federal do Cear
Ahmad Saeed Khan - Universidade Federal do Cear
Patrcia Vernica Pinheiro Sales Lima - Universidade Federal do
Cear
Afonso Odrio Nogueira Lima Instituto Centec
Joo Paulo de Holanda Neto Instituto Federal do Rio Grande do
Norte
Raimundo Maciel Sousa Instituto Federal do Cear
Bolsistas:
Ana Cristina Nogueira Maia (FUNBIO)
Ana Vldia da Costa Brito (FUNBIO)
Antnio Diego de Melo Bezerra (CNPq)
Antnio Ermeson Chaves de Azevedo (CNPq)
Camila Queiroz Lemos (FUNBIO)
David Silva Nogueira (CNPq)
Elison Lucas Brana (CNPq)
Epifnia Emanuela de Macdo Rocha (CNPq)
Francisco Arivaldo Moreira Junior (CNPq)
Jamille Albuquerque de Oliveira (FUNBIO)
Keniesd Sampaio Mendona (CNPq)
Natlia de Oliveira Pereira (FUNBIO)
Neuto Chaves e Silva (CNPq)
Odaci de Sousa Aguiar (CNPq)
Ramayanno Lopes de Alencar (CNPq)
Roberto Felipe Rocha (CNPq)

Apoio:
Altamira Apcola, Comrcio, Representao, Importao e
Exportao Ltda - Cear
Coopernctar Cooperativa dos Apicultores da Regio do Semirido Ltda. - Cear
Associao dos Apicultores do Serto de Beberibe - Cear
Associao dos Apicultores de Cristino de Castro - Piau
Associao dos Apicultores da Serra do Mel Rio Grande do
Norte
Reviso:
Ceres Belchior; Comit Editorial do Ministrio do Meio Ambiente;
Pollyane Barbosa Rezende Martins
Projeto Grfico e Diagramao:
I Graficci Comunicao e Design
Tiragem:
1.000
Editor:
Fundo Brasileiro para Biodiversidade - FUNBIO

Catalogao na Fonte
Fundo Brasileiro para a Biodiversidade - Funbio
P774

Breno Magalhes Freitas - Universidade Federal do Cear


(Coordenador)
Claudia Ins da Silva - Universidade Federal do Cear
Camila Queiroz Lemos - Universidade Federal do Cear
Epifnia Emanuela de Macdo Rocha - Universidade Federal do
Cear
Keniesd Sampaio Mendona - Universidade Federal do Cear
Natlia de Oliveira Pereira - Universidade Federal do Cear

Plano de manejo para polinizao da cultura do cajueiro:


conservao e manejo de polinizadores para agricultura sustentvel, atravs de uma abordagem ecossistmica / Breno Magalhes Freitas... [et al.]. Rio de Janeiro: Funbio, 2014.
52 p. : il.
ISBN 978-85-89368-06-3
1. Botnica. 2. Agricultura sustentvel. 3. Polinizao por
inseto. 4. Abelha - Plen. 5. Caju. I. Breno Magalhes Freitas.
II. Ttulo.
CDD 581.16

Este material foi produzido pela Rede de Pesquisa dos Polinizadores do Cajueiro como parte do Projeto Conservao e Manejo
de Polinizadores para uma Agricultura Sustentvel, atravs de uma
Abordagem Ecossistmica. Este Projeto apoiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), sendo implementado em sete pases, Brasil, frica do Sul, ndia, Paquisto, Nepal, Gana e Qunia. O
Projeto coordenado em nvel global pela Organizao das Naes
Unidas para Alimentao e Agricultura (FAO), com apoio do Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). No Brasil,
coordenado pelo Ministrio do Meio Ambiente (MMA), com apoio
do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO).

SUMRIO
Lista de figuras 4
1. Introduo 5
2. A Cajucultura no Brasil 9
2.1 Importncia econmica e social
10
2.2 Status atual da cajucultura brasileira
12
2.3 Tipos de cajueiro cultivados no Brasil e implicaes na produtividade
13
3. A polinizao do cajueiro 15
3.1 Biologia floral do cajueiro
16
3.2 Requerimentos de polinizao do cajueiro
17
4. Visitantes florais e potenciais polinizadores do cajueiro

20

5. Dficit de polinizao da cajucultura brasileira

25

6. Proposta de manejo para a polinizao do cajueiro 30


6.1 Propostas de cultivo que favoream a polinizao
31
6.1.1 Escolha de reas para implantao de novos cultivos
6.1.2 Recuperao do entornos de reas de cultivo j existentes
6.1.3 Tipos e variedades cultivadas
6.1.4 Design dos pomares e arranjos de plantio
6.1.5 Cultivo consorciado

32
33
33
34
36

6.2 Propostas de prticas agrcolas amigveis aos polinizadores

37

6.2.1 Recuperao da vegetao nativa no entorno da rea cultivada


6.2.2 Disponibilizar flores fora do perodo de florescimento do cajueiro
6.2.3 Disponibilizar fontes de gua para os polinizadores
6.2.4 Evitar prticas destrutivas aos ninhos dos polinizadores
6.2.5 Evitar o uso de agrotxicos

6.3 Propostas de manejo de polinizadores


6.3.1 Disponibilizao de bancos de areia para nidificao no solo
6.3.2 Disponibilizao de substrato de madeira para nidificao
6.3.3 Introduo de populaes de polinizadores
6.3.4 Manejo das populaes de polinizadores
6.3.5 Remoo de plantas competidoras por polinizao

37
38
39
40
40

41
41
42
42
43
44

7. Referncias bibliogrficas 45

Lista de figuras
Figura 1 |

O caju formado pelo fruto do cajueiro (castanha) e o pednculo floral desenvolvido (a),
enquanto que a amndoa extrada da castanha (b)

11

Municpios mais expressivos na produo de castanha de caju nos estados de maior


produo no Brasil

12

Figura 3 |

Tipos de cajueiros cultivados nos plantios brasileiros

14

Figura 4 |

Desenho esquemtico das flores do cajueiro

17

Figura 5 |

Flores jovens do cajueiro

17

Figura 6 |

Flores do cajueiro em vrias fases

19

Figura 7 |

Visitantes florais e polinizadores do cajueiro

23

Figura 8 |

Cajueiros com alta e baixa produo de frutos

27

Figura 9 |

Cajueirais circundados por remanescentes de mata

33

Figura 2 |

Figura 10 | Duas ou mais variedades clonais de cajueiro ano devem ser cultivadas no mesmo pomar
para fornecerem plen compatvel uma para outra

34

Figura 11 | Cultivos de cajueiros de centenas de hectares contnuos, paisagem homognea e longe


de matas fornecedoras de polinizadores devem ser evitados

34

Figura 12 | Tipos de arranjos de plantios de variedades clonais de cajueiro ano precoce

35

Figura 13 | Cultivos consorciados de cajueiro com outras culturas

36

Figura 14 | As abelhas do gnero Centris necessitam de flores fornecedoras de leo para estabelecer
populaes grandes o suficiente para aumentar a produtividade do cajueiro

37

Figura 15 | A conservao das matas nativas no entorno dos cajueirais uma prtica importante para
assegurar polinizadores durante o florescimento da cultura

38

Figura 16 | Flora ruderal importante para manter os polinizadores nos plantios quando os cajueiros
no esto florescendo

39

Figura 17 | A disponibilizao de locais adequados pode levar a formao de agregaes de ninhos


de abelhas solitrias, importantes polinizadores agrcolas

41

Figura 18 | Substratos vegetais disponibilizados para nidificao de polinizadores

42

Figura 19 | Introduo de polinizadores suplementares

43

Figura 20 | Competio vegetal por polinizadores

44

4 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

01

Introduo

Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 5

O cajueiro (Anacardium occidentale L.) uma rvore da famlia Anacardiaceae, nativa do Brasil, mas que
foi levada pelos colonizadores portugueses para vrias
de suas colnias na frica e sia. A partir dessas localidades, a espcie espalhou-se por vrios pases tropicais
ao redor do mundo, e hoje economicamente importante tanto para os agricultores que o cultivam, quanto
para a economia de seus pases (Fontenele 1982).
O cultivo do cajueiro visa a obteno do seu fruto, a castanha, tanto por sua
amndoa quanto pelo leo extrado da casca, comumente chamado de LCC (Lquido da Casca da Castanha). Ambos os produtos so altamente valorizados e so
usados de formas diversas, que vo desde a alimentao humana e animal com
a amndoa at uma variedade de aplicaes industriais do LCC (Agostini-Costa et
al. 2005; Blomhoff et al. 2006; Tullo 2008).
A produo mundial de castanha de caju oscila bastante de um ano para o
outro. Os dados mais recentes disponveis mostram que entre 2009 e 2010 ela
subiu de 3.8 a 7.0 milhes de toneladas, mas caiu em 2011 para 4.2 milhes de
toneladas em uma rea plantada de 4.7 milhes de hectares (FAO 2013). O Brasil
j foi o maior produtor mundial de castanha de caju, mas atualmente responde
por apenas 5,4% do montante, ocupando a quinta colocao entre os maiores
produtores, atrs do Vietnam (28,5%), Nigria (19,3%), ndia (16,0%) e Costa do
Marfim (10,7%). Juntos com o Brasil, esses pases so responsveis por mais de
80% da produo mundial de castanha de caju (FAO 2013).
A principal razo da perda de espao do Brasil no mercado mundial de
castanha de caju a baixa produtividade da cultura no pas. Enquanto a mdia
mundial de 893,5 kg de castanha/ha, no Brasil ela mal chega a um tero deste
valor, sendo de 301,9 kg de castanha/ha (FAO 2013). Vrios fatores vm sendo
apontados ao longo dos anos como os responsveis pela baixa produtividade
brasileira, tais como a falta de correo dos solos, irrigao, controle de pragas
e doenas e a predominncia de cajueirais velhos e improdutivos (Aquino et al.
2004; Oliveira 2007; Rossetti e Montenegro 2012). No entanto, apesar dos vrios
estudos e esforos empregados nessas reas, no se tem observado melhorias na
produtividade brasileira.

6 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

O cajueiro
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 7

Na verdade, a polinizao parece ser o fator mais importante na produtividade do cajueiro. A elevada queda de frutos ainda muito jovens (maturis) poucos dias aps a polinizao levantou a suspeita de nveis de polinizao abaixo
do ideal ou uma polinizao inadequada como sendo a principal causa da baixa
produtividade nessa cultura (Reddi 1987; Freitas et al. 2002). De fato, estudos
conduzidos nos ltimos vinte anos encontraram dficits de polinizao significantes nos plantios e comprovaram que os insetos, particularmente as abelhas, so
os principais polinizadores do cajueiro (Reddi 1991; Holanda-Neto et al. 2002;
Freitas et al. 2014).
O papel da polinizao na produo agrcola e produtividade de muitas culturas j bem documentado (Garibaldi et al. 2013; Milfont et al. 2013). Estima-se
que um tero de toda a alimentao humana tem como origem espcies vegetais que dependem da polinizao por insetos para produzirem frutos e sementes. Em termos globais, esses servios tm sido avaliados em 153 bilhes (R$
476 bilhes), representando cerca de 9.5% de toda a produo agrcola mundial
(Vergara et al. 2014). Por essa razo, sistemas agrcolas de alta produtividade e
rentabilidade, como os do melo (Cucumis melo L.), ma (Malus domestica Borkh), kiwi (Actinidia deliciosa A.Chev.), amndoas americanas (Prunus dulcis (Mill.)
D.A.Webb), dentre outros, usam a polinizao como um insumo em suas cadeias
produtivas, assegurando que todos os investimentos e esforos colocados no sistema de produo (preparo do solo, mudas selecionadas, irrigao, adubao,
combate a pragas e doenas e demais tratos culturais) possam expressar o seu
potencial no incremento da produtividade por meio de uma polinizao eficiente
e adequada das flores da cultura (Free 1993; Freitas e Imperatriz-Fonseca 2004).
Sendo assim, o presente plano de manejo para a polinizao do cajueiro
tem por objetivo alertar os produtores e demais agentes envolvidos na cadeia da
cajucultura sobre a importncia da polinizao no incremento da produtividade
desta cultura no Brasil. Visa tambm sugerir prticas de cultivo e manejo dos pomares e polinizadores que favoream uma polinizao adequada, tanto em nveis
de polinizao quanto na qualidade desta polinizao, que possam, associados s
demais prticas agrcolas da cultura, maximizar o potencial produtivo dos cultivos
de cajueiro no pas.

8 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

Estudos
conduzidos nos
ltimos vinte
anos encontraram
dficits de
polinizao
significantes
nos plantios e
comprovaram
que os insetos,
particularmente
as abelhas, so
os principais
polinizadores do
cajueiro

02

A cajucultura no Brasil

Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 9

2.1 Importncia econmica e social

O cajueiro tem sido utilizado pelo homem desde


antes da descoberta do Brasil. Indgenas nativos da regio de ocorrncia natural da espcie j exploravam
de forma extrativista tanto o pednculo, que usavam
no consumo in natura, no preparo de sucos e bebidas fermentadas, quanto a castanha, que era tostada
e a amndoa consumida diretamente ou transformada em farelos e farinhas como ingredientes de outros
preparos alimentcios (Lopes 2012). Os colonizadores
e seus descendentes aprenderam a fazer uso da planta
e tambm passaram a explor-la de forma extrativista
(Rossetti e Montenegro 2012).

Cajus
10 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

Embora cajueiros fossem plantados em stios e fundos de quintais, o


cultivo visando a extrao e o processamento da castanha constitui uma
prtica bem mais recente, com os
registros no ultrapassando sessenta
anos atrs. Apesar de relativamente
nova, a cajucultura j constitui uma
atividade tradicional no Nordeste, e
desempenha a importante funo
de gerar um fluxo de renda para o
agricultor nordestino no perodo de
agosto a dezembro, poca do ano em
que as demais culturas normalmente
esto na entressafra. Alm disso, em
muitos municpios nordestinos a cajucultura a nica atividade geradora
de recursos monetrios para os agricultores pobres por meio da venda da
castanha de caju, j que os produtos
gerados pelos demais cultivos (feijo,
milho, mandioca, arroz, etc.) geralmente so destinados ao consumo
da famlia. Dessa forma, o cultivo
do cajueiro mostra-se adequado e de
grande relevncia para s condies
socioeconmicas da agricultura familiar na regio (Guanziroli et al. 2009).
A cajucultura tambm importante atividade geradora de empregos no Nordeste. Somando-se mo
de obra necessria para o desenvolvimento da atividade agrcola em si nas
propriedades rurais, principalmente a
colheita que toda manual, algumas
etapas do processamento agroindustrial como a seleo e corte das castanhas, a despeliculagem e a classifi-

cao das amndoas, tambm demandam a utilizao intensiva de mo de obra,


necessrias para complementar e auxiliar algumas etapas atualmente mecanizadas (Figueirdo Jnior e Sostowski 2010).
Por outro lado, a atividade tambm apresenta potencial para explorao em
larga escala e tem sido desenvolvida, recentemente, por empresas agrcolas de mdio e grande porte, a partir da implantao da cajucultura comercial no Nordeste
na dcada de 1970, com o apoio da Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Mecanismos de incentivo fiscal como o Fundo de Investimentos
Setoriais (Fiset), para reflorestamento com cajueiros, e o Fundo de Investimentos
do Nordeste (Finor), para o desenvolvimento da indstria processadora de castanha foram utilizados na poca para estimular a atividade. Esses incentivos possibilitaram o plantio de aproximadamente 300 mil hectares de cajueiro, e a implantao das dez grandes indstrias processadoras de Fortaleza, Mossor e Teresina. Na
Serra do Mel, no Rio Grande do Norte, hoje uma das reas de maior produo do
estado, o governo estadual usou a colonizao rural por meio de assentamentos
como um instrumento adicional de incentivo atividade (Guanziroli et al. 2009).

Figura 1 O caju formado pelo fruto do cajueiro (castanha) e o pednculo floral desenvolvido (a),
enquanto que a amndoa extrada da castanha (b). Fonte: Breno M. Freitas.

A gerao de renda para pequenos e grandes produtores e divisas para os


Estados e Unio, haja vista a significativa demanda dos mercados internacionais
pelos diversos tipos de castanha, constitui uma caracterstica nica da cajucultura
no Nordeste. Atualmente, o cajueiro uma das nicas culturas cash crops dos
agricultores da regio, especialmente no Cear, Piau e Rio Grande do Norte, e
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 11

tem gerado receitas entre US$ 185,7


e 250 milhes/ano para o Nordeste
(Guanziroli et al. 2009; CONAB 2013).
A explorao da castanha de caju
gera como subproduto o pednculo,
cuja produo indissocivel do fruto
(Fig. 1). O pednculo pode chegar a
representar mais de 90% do conjunto
castanha-pednculo (o caju propriamente dito) e geralmente deixado no
campo durante a colheita. A utilizao
industrial do pednculo de caju ainda
representa uma frao mnima da produo total e direcionada principalmente para o mercado interno com
a produo de sucos e doces, em sua
maioria restrita ao consumo local, nas
zonas produtoras. Essas indstrias geram resduos conhecidos popularmente como bagao de caju, que pode ser
reaproveitado para enriquecimento da
rao animal ou descartado por falta
de incentivo do uso deste subproduto
na formulao de rao ou para outros
fins (Pinho 2009).

sentaram desempenho bem superior no mesmo perodo: Vietn (1,2 milhes


de toneladas), Nigria (813 mil toneladas); ndia (674 mil toneladas) e Costa
do Marfim (452 mil toneladas), enquanto que a produtividade mdia mundial
chegou a 893,5 kg de castanha/ha, e os pases lderes atingiram produtividade
acima de 1.000 kg de castanha/ha (FAO 2013).
A cajucultura brasileira concentra-se no Nordeste do pas, responsvel por
93,2% da produo nacional de castanha de caju. Nesta regio, os estados do
Cear (46,3%), Piau (17,5%) e Rio Grande do Norte (22,2%) produzem 86% da
produo brasileira (CONAB 2013). Embora o cultivo do cajueiro seja disseminado de forma geral por esses estados, algumas reas se destacam por concentrarem grande nmero de produtores, rea plantada e/ou produo (Fig. 2).

Fortaleza
Pacajus
Beberibe

Santana do
Acara
Barreira
Teresina

RIO GRANDE
DO NORTE
Serra do Mel

CEAR

Natal
Macaba

Pio IX

Cerro Cor

PIAU
Monsenhor Hiplito

Municpios com grande expressividade


na produo de caju
Produo de caju (ton/municpio)

So Raimundo
Nonato

2.2 Status atual da


cajucultura brasileira
A produo e a produtividade
brasileira de castanha de caju so
baixas, tendo sido de apenas 230
mil toneladas para 764,5 mil ha de
rea colhida e uma produtividade de
apenas 301,9 kg de castanha/ha em
2011 (FAO 2013). Por outro lado, os
maiores produtores mundiais apre-

1.043 - 1.500
1.501 - 2.000

Capitais
Malha municipal

2.001 - 5.000
Fonte: IBGE/2004

5.001 - 11.917

Figura 2 Municpios mais expressivos na produo de castanha de caju nos estados de maior produo no Brasil. Fonte: CONAB, 2013.

O baixo rendimento dos cajueirais tem sido apontado como um dos principais obstculos para o desenvolvimento da cajucultura no Brasil. Isso se deve tanto
pelo fato de que maioria da rea plantada est em produo h mais de 30 anos,
portanto j em fase de declnio da produo, como tambm ao baixo nvel tecno-

12 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

lgico empregado nos cultivos, que so praticamente semiextensivos (Guanziroli et


al. 2009; Rossetti e Montenegro 2012).
Tentando contornar o problema, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria) passou a desenvolver e investir em novas tecnologias,
como o desenvolvimento de variedades ans e produo precoce, a formao
de pomares com clones de produo elevada e uniforme e a substituio das
copas de cajueiros velhos por material gentico selecionado, entre outras (Oliveira 2007; Crisstomo et al. 2002; Rossetti e Montenegro 2012).
Para viabilizar a expanso do caju com base nessas variedades, em 1998
formou-se um grupo de trabalho denominado Plataforma Caju, com o apoio do
Sebrae (Servio Brasileiro de Apoio a Microempresa), Embrapa, FAEC (Federao
de Agricultura do Estado do Cear), FIEC (Federao da Indstria do Estado do
Cear) e BNB (Banco do Nordeste do Brasil). Como parte desse esforo, o BNB
ampliou o financiamento para o plantio de cajueiro ano precoce e para abertura
de fbricas de processamento de castanha (minifbricas e cooperativas). O BNB
tambm passou a incentivar o plantio de cajueiro ano por meio do Programa
Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) e dando garantia de assistncia tcnica,
pela Emater e ONGs. Posteriormente, a Fundao Banco do Brasil investiu recursos considerveis na abertura de minifbricas e cooperativas centrais de comercializao, principalmente na regio da Serra do Mel, no Rio Grande do Norte
(Guanziroli et al. 2009; Rossetti e Montenegro 2012).
Apesar desses incentivos e das novas tecnologias, a produtividade dos cajueirais brasileiros aumentou pouco. Depois de um incio animador, quando a produtividade mdia de castanha dos plantios subiu 100 kg em apenas 11 anos, (de 250
para 350 kg de castanha/ha entre 1995 e 2006), atingindo uma produo nacional
de 220 mil toneladas, a produtividade recuou nos ltimos cinco anos (301,9 kg/
ha em 2011) enquanto que a produo total de castanha praticamente estagnou,
tendo crescido apenas 10 mil toneladas entre 2006 e 2011 (FAO 2013).

2.3 Tipos de cajueiro cultivados no Brasil e implicaes


na produtividade
A cajucultura brasileira baseia-se no cultivo de dois tipos de cajueiros; o
cajueiro comum ou gigante e o cajueiro ano precoce (Fig. 3). Ambos pertencem a mesma espcie, mas diferem marcadamente em algumas caractersticas
importantes para o desenvolvimento de uma agricultura tecnificada, moderna e
produtiva.

O cajueiro comum o tipo que


ainda predomina nos cajueirais brasileiros, como consequncia da facilidade de obteno de sementes
e as prticas de incentivo da cajucultura desenvolvidas no incio dos
anos da dcada de 1970, quando ele
era o nico material disponvel. Esse
tipo de cajueiro pode chegar at 20
metros de altura e 15 metros de dimetro, embora na maioria dos plantios comerciais no passe dos 10
metros de altura. Mesmo assim, tais
dimenses dificultam uma srie de
prticas agrcolas como a poda, pulverizao foliar, controle de pragas,
preveno de doenas e seleo de
frutos, dentre outras. Alm disso, o
porte das plantas demanda grandes
reas para o plantio e limita o nmero de rvores cultivadas por unidade
de rea. Desta forma, a cajucultura
desenvolvida com o cajueiro comum
praticamente uma atividade semiextensiva onde a maioria das praticas agrcolas so pouco aplicadas
ou no aplicadas de forma alguma
(Cavalcanti e Barros 2009; Rossetti e
Montenegro 2012).
O cajueiro ano precoce, por
sua vez, engloba um grupo de variedades de cajueiros de pequeno porte
selecionadas e desenvolvidas pela
EMBRAPA (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuria) a partir de
trabalhos iniciados com uma planta
an identificada pela EPACE (Empresa de Pesquisa Agropecuria do Esta-

Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 13

Torna-se necessrio considerar o


papel desempenhado por outros
fatores, como o dficit de polinizao,
na baixa produtividade nacional

do do Cear). A principal caracterstica do cajueiro ano o seu pequeno


porte (2 a 4 metros de altura e 7 metros de dimetro da copa), o que permite o cultivo do cajueiro de forma
intensiva com a aplicao de todas
as prticas agrcolas necessrias para
cada estgio do desenvolvimento da
cultura. Alm disso, essas variedades
foram selecionadas para iniciar a produo comercial em um perodo de
tempo bem menor do que o cajueiro
comum, por serem mais produtivas e
atenderem certas demandas do mercado, como o tamanho da castanha
e sua resistncia a quebra durante o
processamento e firmeza e teor de
acar da polpa (Barros et al. 2000;
Crisstomo et al. 2002; Cavalcanti et
al. 2003).
A estratgia recente de desenvolvimento da cajucultura no Brasil
tem se concentrado na converso da
atividade semiextrativista com o cajueiro comum, baseada em plantios
com idade avanada feitos a partir de
material gentico no selecionado e

poucas prticas agronmicas, para uma atividade intensiva, usando-se as variedades ans precoces e um sistema de produo pautado na agricultura moderna.
No entanto, levando-se em conta que a rea plantada com cajueiros tem
sido renovada e expandida, novas tecnologias vm sendo desenvolvidas e implementadas e, mesmo assim, a produtividade brasileira continua muito abaixo de
outros pases produtores com condies agrcolas e tecnolgicas at inferiores s
do Brasil, torna-se necessrio considerar o papel desempenhado por outros fatores, como o dficit de polinizao, conforme definido por Vaissire et al. (2011),
na baixa produtividade nacional.

Figura 3 Tipos de cajueiros cultivados nos plantios brasileiros: a cajueiro comum ou gigante; b
cajueiro ano precoce. Fonte: Breno M. Freitas.

14 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

03

A polinizao do cajueiro

Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 15

3.1 Biologia floral do cajueiro

O cajueiro uma planta andromonica, ou seja, possui flores estaminadas (masculinas) e perfeitas (hermafroditas) na mesma inflorescncia. As inflorescncias,
por sua vez, so panculas terminais que podem produzir
durante sua vida entre 200 e 1600 flores. No perodo de
florada, cada rvore chega a produzir em mdia cem inflorescncias de vrias idades diferentes (Freitas 1994; Cavalcanti e Barros 2009). A relao entre flores masculinas
e hermafroditas varia bastante em funo do estgio de
florescimento da planta e do material gentico estudado,
podendo oscilar de 0,5 a 25 flores masculinas para cada
flor hermafrodita (Damodaran et al. 1979; Free 1993).

Flores do cajueiro
16 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

As flores so pequenas (4,7


a 5,5 mm de dimetro) e possuem
cinco ptalas brancas no momento
da abertura, mas que mudam de cor
para rseo e depois vermelho ao longo dos prximos quatro dias antes de
murcharem e carem. Os dois tipos de
flores secretam nctar e possuem de
6 a 10 estaminides com no mximo
5% de plen vivel e um estame grande cuja viabilidade do plen supera os
90% (Figs. 4 e 5). A produo de plen
baixa, sendo apenas de 800 a 1.000
gros no estame e entre 116 e 175 em
cada estaminoide.

Figura 4 Desenho esquemtico das flores do cajueiro: a flor estaminada (masculina); b flor perfeita (hermafrodita). Fonte: adaptado de Freitas e Paxton, 1998.

A flor hermafrodita possui um


estilete longo que assume a mesma
posio do estame da flor masculina, mas o seu prprio estame mais
curto que o estilete. O ovrio superior e contm apenas um vulo,
portanto necessitando de apenas
um gro de plen vivel e compatvel para vingar o fruto (Figs. 4 e 5).
As flores masculinas, por sua vez,
possuem um ovrio rudimentar sem
vulo e no podem vingar frutos
(Free 1993; Freitas et al. 2002).
As flores masculinas abrem cedo
do dia e geralmente comeam a liberar plen to logo a temperatura atinge 28 C, o que no Nordeste brasileiro
ocorre por volta das 7h da manh.
As flores hermafroditas, por sua vez,
abrem a partir das 10h e j esto receptivas para serem polinizadas (Damodaran et al. 1979; Freitas 1995a).

Figura 5 Flores jovens do cajueiro: flor estaminada (masculina) em primeiro plano; flor perfeita (hermafrodita) em segundo plano. Fonte: Epifnia E.M. Rocha.

3.2 Requerimentos de polinizao


do cajueiro
Trabalhos sobre a biologia floral do cajueiro conduzidos na ndia ainda na
dcada de 1950 sugeriram que suas flores seriam polinizadas pelo vento devido
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 17

a grande relao entre flores masculinas e hermafroditas,


sua origem litornea onde os ventos so mais fortes e os insetos menos abundantes (Haarer 1954; Aiyadurai e Koyamu
1957; Rao e Hassan 1957). Essa suposio perdurou at o
final da dcada de 1980 e incio da dcada seguinte quando
a elevada queda de frutos jovens (maturis) levantou a suspeita de dficit de polinizao ou polinizao inadequada.
Estudos detalhados ento demonstraram que os insetos,
especialmente as abelhas, so os polinizadores do cajueiro e o vento no desempenha qualquer papel relevante no
processo (Reddi 1987; 1991; Freitas e Paxton 1996). A falta de conhecimentos sobre o processo de polinizao do
cajueiro e a grande dependncia que essa cultura tem dos
polinizadores biticos fez com que todos os esforos de aumento de produtividade ao longo de dcadas ignorassem
totalmente possveis dficits de polinizao.
De forma semelhante, poucos esforos foram feitos
para elucidar o sistema de acasalamento do cajueiro. Os
poucos estudos realizados apenas sugerem que a planta
vingaria tanto por alogamia ou polinizao cruzada (plen
vindo de outra planta), geitonogamia (plen vindo de outra
flor da mesma planta), quanto por autopolinizao (plen
oriundo da mesma flor), mas sem determinar as taxas de
cada tipo de acasalamento (Northwood 1966; Reddi 1987;
Cavalcanti e Barros 2009). Esse possvel sistema misto de

acasalamento tambm levou a crer que o cajueiro no apresentaria nenhum sistema de autoincompatibilidade (Faluyi
1983). Contudo, pesquisas recentes sugerem que o cajueiro
apresenta uma autoincompatibilidade parcial ou alguma
forma de autoinfertilidade (depresso endogmica), que
pode variar de leve a severa, dependendo da proximidade
gentica das plantas (Holanda Neto et al. 2002; Wunnachit
et al. 1992; Holanda Neto 2008).
A autoincompatibilidade parcial do cajueiro seria de
ao tardia, como observada em outras espcies de Anacardiaceae (Holanda Neto et al. 2002). Nessa situao, os
tubos polnicos dos gros de plen compatveis e incompatveis germinam no estigma das flores hermafroditas, crescem pelo estilete e chegam rapidamente ao ovrio (Wunnachit et al. 1992; Holanda Neto 2008). No entanto, a fuso
dos gametas pode ser retardada por vrios dias e nesse
intervalo de tempo, fitormnios produzidos pelo tubo polnico estimulam o crescimento do ovrio fazendo com que
cerca de sete dias aps ele parea um pequeno fruto. No
caso do caju no est claro se o vulo no fertilizado ou o
zigoto formado logo abortado quando o material gentico
daquele gro de plen for incompatvel, impedindo o desenvolvimento do embrio dentro do ovrio. De qualquer
forma, o fato que quando os fitormnios produzidos pelo
tubo polnico se esgotam, cerca de nove a 15 dias aps a po-

O cajueiro apresenta uma


autoincompatibilidade parcial ou
alguma forma de autoinfertilidade,
que pode variar de leve a severa,
dependendo da proximidade
gentica das plantas

18 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

linizao ter ocorrido, o ovrio abortado. No entanto, se


o gro de plen for compatvel, a fuso dos gametas ocorre
e o embrio se desenvolve assumindo a produo dos fitormnios at a maturao do fruto. Aps o perodo crtico
da fecundao do vulo e formao inicial do embrio, o
fruto se desenvolve bem e qualquer aborto posterior no
est mais relacionado a polinizao, mas provavelmente a
outras causas como pragas e doenas. O cajueiro, portanto,
possui um sistema misto de acasalamento no qual a polinizao cruzada produz maior vingamento devido a autoincompatibilidade parcial (Wunnachit et al. 1992; Freitas et
al. 2002; Holanda Neto 2008).
Dessa forma, o cajueiro requer polinizadores biticos para transferir o plen entre as flores de plantas geneticamente compatveis, para o vingamento do fruto. Os
momentos diferentes de abertura das flores masculinas e
hermafroditas foram os polinizadores a visitarem as flores masculinas primeiro, onde adquirem plen em seus
corpos podendo deposit-los posteriormente nos estigmas das flores hermafroditas, quando essas abrem mais
tarde naquele dia (Figs. 6a,b). A polinizao das flores hermafroditas deve acontecer principalmente nas primeiras
quatro horas aps a sua abertura, quando a receptividade
dos estigmas alta. Aps esse perodo, a receptividade
cai abruptamente e, embora algumas flores possam permanecer receptivas por at 48 horas aps a abertura, elas
representam menos de 3% do total e so pouco relevantes
em termos de produo agrcola (Fig. 6c). A viabilidade do
plen apresenta um padro semelhante, sendo altamente
vivel quando a antera abre e libera os gros de plen,
mas cai rapidamente aps as primeiras quatro horas (Freitas e Paxton 1998; Freitas et al. 2002).
O perodo relativamente longo entre a polinizao da
flor e o vingamento efetivo do fruto explica a elevada queda
de maturis (fruto jovem do cajueiro) observada na maioria
dos cultivos. Ao contrrio do que comumente se acredita,
essa queda no constitui o aborto do fruto, pois na verdade

no havia um fruto em formao, mas somente o ovrio


distendido (Fig. 6d). Por isso, flores autopolinizadas ou que
recebem plen de outras plantas geneticamente muito prximas podem apresentar altas taxas de queda de maturis
devido ao no vingamento dos frutos causado pela autoincompatibilidade parcial. No entanto, como a autoincompatibilidade no total, uma pequena proporo das flores
polinizadas produzir alguns frutos, o que explica a baixa
produtividade (Holanda Neto et al. 2002).
Portanto, as flores hermafroditas do cajueiro precisam ser polinizadas at quatro horas aps a abertura. O
plen deve vir de plantas geneticamente compatveis e os
visitantes florais presentes nesse perodo crtico de polinizao e que favoream a polinizao cruzada constituem os
polinizadores efetivos do cajueiro. Esses fatores so essenciais para assegurar uma elevada produtividade agrcola.

b
d

Figura 6 Flores do cajueiro em vrias fases: a masculinas, velhas sem


plen; b masculinas, jovens com plen disponvel e vivel; c hermafrodita, velha e pouca ou nenhuma receptividade; d hermafrodita, velha,
sendo possvel observar o incio do crescimento do ovrio. Fonte: Epifnia
E.M. Rocha.

Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 19

04

Visitantes florais e potenciais


polinizadores do cajueiro
20 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

Vrias espcies de insetos tm sido relatadas visitando as inflorescncias do cajueiro em cultivos agrcolas, principalmente formigas, abelhas, borboletas,
mariposas e vespas (Free e Williams 1976; Freitas et
al. 2002; Bhattacharya 2004). Embora diversos estudos
tenham sugerido um ou grupo desses insetos como
polinizadores efetivos do cajueiro, nem todo visitante
floral , de fato, um polinizador. As formigas, incluindo
Camponotus, so comuns nas inflorescncias dos cajueiros, mas normalmente se restringem a coletar nctar de nectrios extraflorais e no tocam nos rgos
reprodutivos das flores.

Apis mellifera visitando flor do cajueiro


Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 21

De forma semelhante, a maioria das vespas buscam presas nas flores e tambm no entram em contato com as anteras e estigmas. Outros insetos como
borboletas e mariposas, alm de pouco frequentes nas flores dos cultivos de cajueiro no discriminam entre as flores novas com plen fresco e estigma receptivo e aquelas velhas que no conseguem mais vingar frutos, visitam as flores
fora do horrio de liberao de plen altamente vivel e/ou maior receptividade
do estigma, ou tarde do dia ou noite, quando no h mais plen disponvel
nas flores e a maioria dos estigmas no est mais receptivo. Alm disso, alguns
visitantes florais no apresentam constncia s flores do cajueiro alternando frequentemente entre as flores do cultivo e as de espcies silvestres que ocorrem na
rea (Freitas e Paxton 1996; Freitas et al. 2002).
Moscas e mariposas tm sido apontadas como polinizadores importantes
do cajueiro devido a observaes pontuais de muitos indivduos visitando flores
de cajueiro em certas localidades. No entanto, no existem estudos que demonstrem a eficincia desses insetos como polinizadores do cajueiro. Na verdade,
considerando o curto intervalo de tempo que as flores permanecem receptivas
e o comportamento das moscas em flores, parece pouco provvel que elas possam transferir grandes quantidades de plen compatvel e vivel enquanto os
estigmas ainda esto receptivos. No caso de mariposas, geralmente quase no
h plen disponvel e estigmas receptivos quando elas visitam as flores no final
da tarde ou incio da noite, embora ainda possam polinizar uma ou outra flor. De
qualquer maneira, fica claro que as moscas e mariposas podem ocasionalmente
polinizar algumas flores e at contribuir para o incremento da produtividade do
cajueiro, mas no constituem os principais polinizadores do cajueiro.
A maioria dos estudos conduzidos sobre a polinizao do cajueiro tem
apontado as abelhas como principais polinizadores (Reddi 1991; Free 1993;
Freitas e Paxton 1996; 1998). Alm de serem os visitantes florais mais abundantes, as abelhas tambm apresentam comportamento de forrageio adequado
para a polinizao das flores do cajueiro (Figs. 7a-f). Elas apresentam constncia floral visitando somente flores de cajueiro e no alternando com flores de
outras espcies vegetais, possuem horrio de visita s flores coincidindo com os
momentos de maior viabilidade de plen e receptividade dos estigmas, entram
em contato com as anteras com a mesma rea do corpo que faz contato com o
estigma propiciando a transferncia de plen entre eles, reconhecem e visitam
apenas as flores jovens (brancas) que ainda possuem plen fresco e estigmas
receptivos e carregam grande quantidade de plen nos pelos do corpo (Freitas
e Paxton 1996; Freitas 1997a). As abelhas sociais ainda apresentam a vantagem
22 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

Alm de serem os
visitantes florais
mais abundantes,
as abelhas tambm
apresentam
comportamento
de forrageio
adequado para a
polinizao das
flores do cajueiro

de possurem colnias numerosas,


podendo estar presentes no cultivo
em grandes nmeros. Por isso, a abelha-melfera (Apis mellifera) tem sido
usada para a polinizao de cajueirais em vrios pases e, recentemente, espcies de abelhas sem ferro e
solitrias foram apontadas como polinizadores importantes do cajueiro
no Brasil (Freitas 1994; Aidoo 2009;
Freitas et al. 2014) (Tabela 1).

Outros visitantes florais como


diversas espcies de abelhas solitrias, besouros, outros insetos e at
pssaros, podem tambm ser capazes
de polinizar algumas flores do cajueiro (Figs. 7c-h). No entanto, eles normalmente apresentam poucos indivduos nos cultivos e podem contribuir
pouco para a alta produtividade almejada em plantios comerciais, onde
um polinizador abundante e eficiente
necessrio (Freitas e Paxton 1998;
Freitas e Pereira 2004). Mesmo assim,
trabalhos recentes com vrias culturas agrcolas tm mostrado que esses
relativamente escassos polinizadores
silvestres podem desempenhar um
papel essencial na polinizao porque
a soma de seus servios pode ser significante (Garibaldi et al. 2013; Milfont et al. 2013; Freitas et al. 2014).
Portanto, as flores do cajueiro
devem receber uma quantidade adequada de visitas, tanto de colnias
de abelhas manejadas e introduzidas
no cultivo para esse fim, quanto de
uma diversidade de polinizadores
silvestres, para que vingue o maior
nmero de frutos possvel e a produtividade seja maximizada.
Figura 7 Visitantes florais e polinizadores do
cajueiro: a abelha melfera (Apis mellifera); b
abelha arapu (Trigona spinipes); c abelha
mamangava (Xylocopa sp.); d abelha solitria
Anthidiini; e - abelha solitria Centris flavifrons;
f - abelha solitria Centris tarsata; g besouro; e
h beija-flor. Fonte: Breno M. Freitas e Epifnia
E.M. Rocha.
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 23

Tabela 1 Alguns txons e espcies de abelhas efetivas ou potenciais na polinizao do cajueiro.


Espcie

Justificativa

Apis mellifera

Espcie mais comum nos cajueirais e mais utilizada para a polinizao. Comprovadamente
eficiente (Freitas e Paxton 1998).

Melipona subnitida

Abelha sem ferro nativa do Nordeste brasileiro, visitante do cajueiro e com alguns criatrios
j estabelecidos na regio (Nogueira-Neto 1997).

Trigona spinipes

Abelha sem ferro nativa de todo o Brasil. Visita e poliniza as flores do cajueiro, mas pode danificar flores e frutos na ausncia de recursos naturais necessrios (Freitas et al. 2014).

Centris spp.

Gnero de abelhas solitrias silvestres. Os adultos visitam as flores do cajueiro em busca de


nctar e so polinizadoras eficientes, especialmente C. tarsata. Normalmente so pouco presentes nos cajueirais por falta de plantas com flores fornecedoras de leos usados na confeco dos ninhos e alimentao das crias (Freitas e Pereira 2004).

Xylocopa spp.

Gnero de abelhas solitrias de grande porte bastante comum em todo o pas, mas X. griscescens e X. frontalis so as mais comuns nos cajueirais. So polinizadoras comprovadamente eficientes de vrias culturas e h experincias bem sucedidas de criatrio em ninhos-armadilha
e ninhos-racionais (Freitas e Oliveira Filho 2001).

Bombus brevivillus

nica espcie de Bombus comprovadamente nativa na regio (Silveira et al. 2002). Visita flores de cajueiro e um polinizador potencial dessa cultura.

Fonte: Freitas (2009), Rede de pesquisa dos polinizadores da cultura do cajueiro (Anacardium occidentale L.) no Brasil. Fortaleza, 2009.

24 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

05

Dficit de polinizao da
cajucultura brasileira
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 25

Os cajueirais brasileiros so predominantemente


formados por plantas do tipo comum, produzidas a
partir de sementes coletadas ou compradas pelos agricultores sem muita preocupao com o uso de variedades ou cultivares selecionadas (Rossetti e Montenegro 2012). Como consequncia, cada rvore do plantio
possui uma constituio gentica nica e difere substancialmente das demais em caractersticas como a altura, qualidade do fruto, tolerncia falta de gua ou a
solos salinos, resistncia a pragas e doenas, potencial
de produo, etc. (Cavalcanti e Barros 2009).

Frutos jovens (maturis)


Fonte: Breno M. Freitas
26 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

No que diz respeito polinizao, essas diferenas se expressam


na durao das floradas, proporo
de flores masculinas/hermafroditas,
volume, concentrao e acar total
do nctar das flores, etc., afetando a
atrao do polinizador para a planta
e, consequentemente, a sua eficincia de polinizao (Free 1993; Freitas
1997a,b). Normalmente, essa a razo pela qual as vezes pode-se observar centenas de abelhas visitando as
flores de uma planta, enquanto que a
sua vizinha possui poucas ou nenhuma abelha. Da mesma maneira, uma
planta pode produzir muitos frutos
enquanto outra planta quase no
produz frutos (Figs. 8a,b). Essas diferenas resultam em uma produo
desigual entre as plantas de um mesmo plantio e entre plantios de uma
mesma regio. Segundo Cavalcanti e
Barros (2009), a produo observada
por planta de cajueiro comum varia
de menos que 1kg a cerca de 100kg
de castanha por planta/safra.
Considerando os requerimentos
de polinizao do cajueiro em funo
da autoincompatiblidade parcial da
espcie, a diversidade gentica dos
plantios de cajueiro comum pode contribuir significativamente para reduzir
ou evitar dficits de polinizao. Nesse caso, qualquer gro de plen transferido entre plantas com material gentico diferente seria potencialmente
compatvel e, considerando que apenas um gro de plen necessrio

para fertilizar o nico vulo e vingar o fruto, as chances de cada flor hermafrodita
ser polinizada adequadamente passam a depender mais da abundncia de polinizadores e suas eficincias de polinizao do que da compatibilidade gentica
entre as plantas que compe o plantio.

Figura 8 Cajueiros com alta e baixa produo de frutos: a planta com grande carga de frutos em
vrios estgios de desenvolvimento e ainda florescendo; b planta com baixo vingamento de frutos e
ainda florescendo. Fonte: Breno M. Freitas.

Isso no quer dizer, no entanto, que a autoincompatiblidade parcial no


ocorra em cultivos de cajueiro comum. O grande tamanho das plantas favorece a
ocorrncia de geitonogamia (quando a polinizao ocorre entre flores da mesma
planta), porque os polinizadores tm o comportamento de visitarem vrias flores da mesma inflorescncia ou inflorescncias prximas antes de mudarem para
outra planta vizinha (Free 1993; Freitas 1995a). Sendo assim, as primeiras flores
visitadas na nova planta recebem plen da planta anterior, mas medida que o
visitante floral visita mais flores daquela mesma planta, ele esgota o plen que
trouxe da planta anterior e passa a transferir plen entre as flores da nova planta.
Quanto maior a planta e mais flores ela possuir, maior ser tendncia do visitante
floral permanecer naquela planta e visitar mais flores antes de mudar para outra
planta. Nessa situao, como o plen geneticamente muito prximo (originado
na prpria planta), a autoincompatibilidade pode ocorrer.
Na verdade, a geitonogamia o tipo de polinizao que predomina em
cajueiros nativos, em funo de nem sempre haver outra planta muito prximo
ou o fluxo de plen entre as plantas no ser o adequado e isso pode acarretar
em severos dficits de polinizao (Holanda Neto 2008; Vaissire et al. 2011).
Porm, como os gros de plen incompatveis no fertilizam o vulo, desde
que o estigma receba pelo menos um gro de plen compatvel enquanto ainda estiver receptivo, a predominncia da geitonogamia no deve interferir na
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 27

O uso de um material gentico


mais uniforme selecionado tanto
para caractersticas agronmicas
desejveis quanto para promover
a polinizao cruzada pelos
polinizadores, aumentaria o nvel e a
qualidade da polinizao
polinizao adequada e na alta produtividade das plantas quando polinizadores eficientes em promover a
polinizao cruzada entre as plantas
estejam presentes na rea (Wunnachit et al. 1992). Por isso, embora os cajueiros comuns dos cultivos
brasileiros em geral no sejam selecionados, no apresentem grande
potencial produtivo ou no recebam
cuidados agronmicos adequados,
algumas plantas apresentam boa
produtividade devido s condies
daqueles cultivos que favorecem a
polinizao cruzada adequada.

2002). Nessa linha de pensamento, a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa


Agropecuria) tem investido esforos no desenvolvimento de variedades clonais
de cajueiro ano precoce visando tornar a cajucultura brasileira uma atividade
mais intensiva e produtiva. Essas variedades, alm de serem selecionadas para
atender certas demandas de mercado e condies ecolgicas distintas que permitiriam a expanso da cajucultura para outros ecossistemas brasileiros, tambm
possuem caractersticas agronmicas desejveis como um potencial de produo
por planta mais elevado, e uniformidade no tamanho e formato das plantas que
permitem o cultivo do cajueiro aplicando todas as prticas agrcolas recomendadas para cada estgio da cultura (Barros et al. 2000; Crisstomo et al. 2002;
Cavalcanti et al. 2003). Como resultado, as variedades de cajueiro ano precoce
tm sido recomendadas para o estabelecimento de novos cultivos, substituio
da copa de plantios velhos e improdutivos feitos a partir de sementes ou simplesmente o replantio dessas reas com uma das novas variedades (Oliveira 2007;
Rossetti e Montenegro 2012).

Ponderando as prticas de cultivo e a questo da polinizao, o


uso de um material gentico mais
uniforme, selecionado tanto para caractersticas agronmicas desejveis
quanto para promover a polinizao
cruzada pelos polinizadores, aumentaria o nvel e a qualidade da polinizao e, consequentemente, a produtividade da cultura (Holanda Neto et al.

As variedades ans precoces, no entanto, possuem um problema do ponto


de vista da polinizao. Como todas derivam de uma nica planta a partir de um
processo de seleo iniciado no final da dcada de 1960, elas so geneticamente
muito prximas. Alm disso, aps uma variedade ter sido estabelecida a sua propagao passa a ser predominantemente por reproduo assexual, o que resulta
em mudas clonadas para povoar os plantios que, por sua vez, so constitudos
com apenas uma variedade (Cavalcanti e Barros 2009). Porm, como todas as
plantas no plantio pertencem a mesma variedade e so clones, toda a polinizao que ocorre naquele cultivo tecnicamente uma autopolinizao, mesmo
que o plen seja transportado entre duas plantas diferentes. Nessa situao, a

28 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

presena, abundncia e eficincia dos polinizadores em promover a polinizao


cruzada so irrelevantes, porque todo o material gentico existente no plantio
basicamente o mesmo (Delaplane et al. 2013).
Consequentemente, em plantios de cajueiro formados por uma nica variedade clonal de cajueiro ano precoce, todas as plantas so geneticamente idnticas, e embora as variedades tenham sido selecionadas para uma alta produo
de castanhas, a autoincompatibilidade parcial ou autoesterilidade do cajueiro reduz drasticamente a produtividade. Isso agravado ainda mais porque algumas
variedades ans apresentam baixa viabilidade de plen, chegando a nveis de
apenas 33% (cerca de um tero da viabilidade do plen do cajueiro comum), provavelmente devido ao processo endogmico pelo qual elas foram desenvolvidas
(Freitas 1995a; Cavalcanti e Barros 2009). De fato, estudos com algumas dessas
variedades mostram que o estigma recebe uma carga mdia de 33 gros de plen
para vingar o fruto, sugerindo que a grande maioria desses gros no adequada
para a polinizao por no serem viveis ou compatveis (Freitas 1995a; Freitas e
Paxton 1998). Como consequncia, variedades desenvolvidas com a expectativa
de produzirem cerca de 1.200 kg de castanha/ha mal chegam a um tero dessa
produtividade devido aos altos dficits de polinizao observados nos cultivos
(Barros et al. 2000; Freitas et al. 2014).
Portanto, as iniciativas de desenvolver variedades selecionadas e potencialmente mais produtivas s se tornaro efetivas em aumentar a produtividade
da cajucultura brasileira se forem levados em considerao os requerimentos de
polinizao do cajueiro e tomadas medidas que venham a mitigar os elevados
dficits de polinizao atuais.

Iniciativas de
desenvolver
variedades
selecionadas e
potencialmente
mais produtivas
s se tornaro
efetivas em
aumentar a
produtividade se
forem levados em
considerao os
requerimentos de
polinizao do
cajueiro

Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 29

06

Proposta de manejo para a


polinizao do cajueiro
30 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

Os resultados dos estudos recentes sobre a biologia


floral, requerimentos de polinizao e polinizadores do
cajueiro demonstram que o dficit de polinizao adequada nos cultivos um dos fatores determinantes da
baixa produtividade brasileira desta cultura. Baseado
nessas informaes, o presente plano de manejo apresenta algumas propostas de cultivo, prticas agrcolas
amigveis aos polinizadores e manejo de polinizadores
visando promover a polinizao efetiva nos cajueirais,
com consequente reduo ou eliminao de dficits de
polinizao e aumentos significativos de produtividade.
6.1 Propostas de cultivo que favoream a polinizao
O cultivo do cajueiro, tanto do tipo comum feito a partir de sementes quanto as variedades ans clonais, nunca levou em considerao a necessidade de
polinizao predominantemente cruzada dessa planta. Sendo assim, os plantios
tm sido implantados em reas e da forma que mais convm ao produtor, e no
onde e da forma que melhor favoream os servios de polinizao da cultura.

Pomar em produo
Fonte: Breno M. Freitas
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 31

Fatores como a escolha das reas para a implantao de


novos cultivos, recuperao dos entornos de reas de cultivo j existentes, tipos e variedades de cajueiros cultivadas,
arranjos de plantio e o uso de cultivos consorciados com
outras culturas podem atrair polinizadores para as reas de
cajueiro, bem como favorecer a ocorrncia de polinizao
cruzada em taxas bem superiores as verificadas atualmente, diminuindo significativamente a queda de maturis e aumentando os ndices de produtividade.

6.1.1 Escolha de reas para implantao de


novos cultivos
As pesquisas recentes conduzidas com vrios cultivos,
inclusive o prprio cajueiro, tm demonstrado que a presena de uma maior diversidade e abundncia de visitantes
florais visitando as flores da cultura aumentam significativamente a produtividade, comparativamente aos cultivos
com poucos polinizadores, tanto manejados quanto silvestres (Flores et al. 2012; Garibaldi et al. 2013; Milfont et al.
2013; Freitas et al. 2014).
No caso especfico do cajueiro, Freitas et al. (2014)
mostram que reas distando no mximo 1 km reservas de
matas com 100 ha de rea ou mais so as que apresentam
a maior diversidade de espcies polinizadoras e as maiores
produtividades quando comparadas com reas distando
mais que 2,5 km de distncia. Alm disso, entre as reas
prximas dessas grandes reservas de matas (menos de 1 km
de distncia), aquelas circundadas por pequenos remanescentes de mata nativa (cerca de 5 ha) so as que alcanam
os melhores ndices de diversidade de espcies de polinizadores, abundncia de indivduos visitando as flores e produtividade mdia por planta (Figura 9).
Esses resultados so devido ao fato de que os polinizadores silvestres encontram condies adequadas para viver
e reproduzir nas grandes reservas de matas que funcionam
como fornecedores desses polinizadores para os plantios situados dentro do raio de voo de 1 km da maioria deles. Nes32 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

ses casos os polinizadores com autonomia de voo de 1km ou


mais, visitam as flores do cajueiro e voltam para seus ninhos
nas grandes reservas de mata. No entanto, naqueles plantios
que tambm possuem pequenos remanescentes de mata
prximos, quando o cajueiro floresce ele atrai os polinizadores das grandes reservas de mata que facilmente superam a
distncia de 1 km e se estabelecem nos remanescentes ao redor do plantio, que embora no possam manter populaes
estveis desses polinizadores por longos perodos, servem
como abrigo e locais de nidificao temporrios bem mais
prximos das flores e permitindo que o mesmo polinizador
possa fazer um maior nmero de viagens do ninho cultura e
vice-versa, aumentando o nmero de flores visitadas e a eficincia de polinizao. Ao final do florescimento, geralmente as condies nesses pequenos remanescentes no so
suficiente para manter essas populaes de polinizadores
que podem se retrair de volta ao grande remanescente de
mata novamente at o prximo ciclo da cultura. No caso de
cultivos distando mais de 1 km dos grandes remanescentes,
no se observa esse movimento de polinizadores devido a
distncia ser maior do que o raio de voo da maioria deles, e
consequentemente h uma diversidade de espcies e quantidades de polinizadores bem menor, com reflexos diretos na
produtividade da cultura.
Portanto, na escolha de novas reas para implantao
de cultivos de cajueiro, importante levar em considerao
a existncia e conservao na proximidade de reservas vegetais que possam funcionar como fornecedoras de polinizadores para o cajueiral.

A presena de uma maior


diversidade e abundncia de
visitantes florais visitando as
flores da cultura aumentam
significativamente a
produtividade

riedades de cajueiro cultivadas podem ter uma influncia


determinante na produtividade do cultivo. A constatao
de que a espcie apresenta uma incompatibilidade parcial
elucidou tanto as observaes de alta produtividade, s vezes atingidas por cajueiros do tipo comum quando o padro
predominante seria de produes menores, como baixas
produtividades em variedades ans desenvolvidas para
produes elevadas, mesmo quando bons ndices de polinizao eram atingidos.

Figura 9 Cajueirais circundados por remanescentes de mata nativa e


at 1 km de distncia de grandes de reservas de matas (100 ha) possuem
maior diversidade e abundncia de polinizadores e apresentam maiores
produtividades. Fonte: Freitas et al. (2014). Foto: Epifnia E.M. Rocha.

6.1.2 Recuperao do entornos de reas de


cultivo j existentes
No caso de reas j existentes de cajueiros, no h muito
o que fazer caso ela estejam localizadas onde no h grandes reservas de matas nas proximidades. No entanto, os cajucultores podem contribuir para a recuperao da vegetao
silvestre nas reas do entorno do plantio, evitando cortar e
queimar a vegetao remanescente e estimulando a presena
de plantas que possam servir tanto como fonte de alimento
como abrigo para os polinizadores silvestres. Esse tipo de cuidado, quando feito em todas as reas cultivadas da propriedade e por vrios cajucultores vizinhos, principalmente quando
formam corredores ou reas contguas de vegetao natural,
pode contribuir para o aumento significativo da populao dos
polinizadores silvestres nos cultivos e para a produtividade dos
pomares em dficits severos de polinizao.

6.1.3 Tipos e variedades cultivadas


Conforme apresentado e discutido na seo sobre os
requerimentos de polinizao do cajueiro, o tipo e as va-

No caso do tipo comum, apesar das rvores apresentarem constituio gentica distinta e, portanto, no favorecer
a ocorrncia de autoincompatibilidade entre as plantas, o
grande porte dos cajueiros e o hbito de forrageio dos polinizadores favorece a geitonogamia (polinizao entre flores
da mesma planta), o que leva ao surgimento da autoincompatilidade parcial. Segundo Holanda Neto (2008), essa a
forma de polinizao predominante nos cajueiros comuns
silvestres, sendo esse um dos fatores que explicam a alta taxa
de queda de maturis e a baixa produtividade dessas plantas.
Portanto, os cajucultores devem evitar o cultivo do tipo comum sempre que possvel e, quando no for o caso, usar a
poda para reduzir a copa das plantas estimulando uma troca
de rvores mais frequentes por parte dos polinizadores.
Para as variedades ans precoces a questo inversa.
As copas so pequenas e os casos de geitonogamia, embora
ainda ocorram, so bem mais reduzidos do que com o tipo
comum. No entanto, a autoincompatibilidade parcial pode
se expressar mais severamente porque os pomares so
plantados com apenas uma variedade an e as plantas so
clones. Sendo assim, mesmo havendo a polinizao cruzada
entre plantas diferentes, do ponto de vista gentico essa
uma autopolinizao pois ocorre entre plantas com material idntico. A situao se agrava mais pelo fato de que as
variedades ans apresentam baixa viabilidade do plen. No
entanto, essa uma situao fcil de contornar, bastando
que se passe a cultivar o cajueiro como feito com outras
culturas que tambm apresentam incompatibilidade dentro ou entre variedades.
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 33

Nessas espcies, como o caso da macieira (Malus domestica), por exemplo, duas variedades distante geneticamente e, portanto, compatveis so cultivadas juntos no mesmo
pomar, de forma que uma funciona como doadora de plen
compatvel para a outra e apenas a variedade receptora produz frutos comerciais, j que os frutos da outra variedade no
tm valor de mercado. No caso do cajueiro seria ainda mais
simples, haja vista que os frutos de todas as variedades ans
desenvolvidas pela Embrapa tm valor comercial (Figura 10).

sive combinar variedades desenvolvidas para produo de


amndoas com aquelas para produo de caju de mesa, ou
no (Figura 10).

6.1.4 Design dos pomares e arranjos de plantio

Segundo Cavalcanti e Barros (2009), depois dos primeiros clones de cajueiro ano precoce CCP 06, CCP 76,
CCP 09 e CCP 1001 lanados pela Embrapa a partir da dcada de 1990, novos clones comerciais foram disponibilizados posteriormente, sendo seis de cajueiro ano precoce
(Embrapa 50, Embrapa 51, BRS 189, BRS 226, BRS 253 e BRS
265), o primeiro clone de cajueiro comum (BRS 274) e o primeiro clone de hbrido ano x comum (BRS 275), proporcionando aos produtores alternativas para a explorao desta
cultura. Nesse caso, bastaria somente identificar os clones
mais compatveis entre si e o produtor escolher a combinao mais adequada aos seus interesses, podendo inclu-

Considerando que o raio de voo da maioria dos polinizadores curto, poucas vezes ultrapassando os 1.000 m,
para favorecer os servios de polinizao o ideal que os
pomares sejam planejados de forma que todas as plantas
estejam dentro dessa distncia at a borda de vegetao
nativa mais prxima. Para tanto, o uso de reas de cultivo
menores ao invs de uma nica grande extenso, reas de
formato retangular com o mximo de 1.000 m de largura
ou mais alongadas e estreitas, a manuteno ou cultivo de
bordas de mata nativa e/ou a implantao ou manuteno
de faixas de vegetao nativa entre as reas de cultivo beneficiaria no s os servios de polinizao, como tambm
minimizaria a disperso de pragas e doenas. Plantios de
centenas de hectares contnuos, paisagem homognea e
longe de matas fornecedoras de polinizadores devem ser
evitados sempre que possvel (Figura. 11).

Figura 10 Duas ou mais variedades clonais de cajueiro ano devem ser


cultivadas no mesmo pomar para fornecerem plen compatvel uma para
outra. Foto: Breno M. Freitas

Figura 11 Cultivos de cajueiros de centenas de hectares contnuos, paisagem homognea e longe de matas fornecedoras de polinizadores devem ser
evitados. Foto: Epifnia E.M. Rocha

34 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

Somando-se a isso, dentro dessas reas as variedades de cajueiro


ano precoce devem ser plantadas
em arranjos que favoream a polinizao cruzada, de maneira que ao
mudar de planta o polinizador tenha
uma chance bem maior de visitar uma
planta de outra variedade clonal do
que da mesma na qual j vinha forrageando. O objetivo aumentar significativamente as taxas de polinizao
cruzada entre variedades clonais dentro do cultivo e minimizar os casos de
cruzamento entre plantas da mesma
variedade, o que como j discutido
anteriormente leva a altos ndices de
queda de maturis devido a autoincompatibilidade parcial do cajueiro.
Como o cajueiro apresenta um
longo perodo de florescimento, que
no caso das variedades ans chega
a prolongar-se por at 8 meses, no
h a necessidade de muitas variedades diferentes no mesmo plantio para
assegurar que pelo menos duas delas estejam em florescimento simultneo, como ocorre com culturas de
ciclo de florescimento muito curto.
Portanto, o cultivo de apenas duas
variedades clonais compatveis entre
elas j o suficiente.
Tambm, considerando que todas as variedades comerciais de cajueiro ano precoce disponveis no
mercado produzem frutos de valor
comercial, o arranjo de 1:1 entre as
duas variedades seria o mais adequado pois permitiria que cada planta de

uma variedade estivesse cercada por outras quatro da outra variedade, aumentando muito as taxas de polinizao cruzada no cultivo. Mesmo na situao na
qual plantas da mesma variedade esto prximas e favorecendo a polinizao
cruzada entre elas, cada uma tambm se encontra cercada por outras quatro
plantas da variedade diferente (Figura 12). Caso haja preferncia do produtor por
frutos de alguma variedade em particular, outros arranjos de plantio que levem
a uma quantidade maior de plantas daquela variedade em particular podem ser
adotados (Figura 12). Nestes casos, no entanto, deve-se tomar cuidado para usar
arranjos que no comprometam significativamente os servios de polinizao
cruzada dos polinizadores, levando a dficits de polinizao que comprometam
a produtividade desejada (Figura 12). Os arranjos de plantio entre as variedades
de cajueiro devem sempre favorecer a polinizao cruzada entre os clones para
aumentar a produtividade da cultura.

A B A B A B A

B A A A B A A

3
A A A A A A

B A B A B A B

A B A A A B A

A B A A B A

A B A B A B A

A A B A A A B

A A A A A A

B A B A B A B

A A A B A A A

A B A A B A

A B A B A B A

B A A A B A A

A A A A A A

B A B A B A B

A B A A A B A

A B A A B A

A B A B A B A

A A B A A A B

A A A A A A

B A B A B A B

A A A B A A A

A B A A B A

A B A B A B A

B A A A B A A

A A A A A A

Figura 12 Tipos de arranjos de plantios de variedades clonais de cajueiro ano precoce: 1 propores iguais entre duas variedades (A e B). Cada planta est cercada por quatro da outra variedade; 2
variedade B como doadora de plen dentro da linha no sistema de substituio de cova; 3 variedade
A com linhas dedicadas alternando linhas de propores iguais entre A e B. Nos casos 2 e 3 h predominncia de plantas da variedade A, mas o cruzamento com a variedade B prejudicado para algumas
plantas. Setas amarelas indicam favorecimento a cruzamentos entre plantas da mesma variedade
(indesejado) e setas cinza entre plantas de variedades diferentes (desejado). Fonte: Breno M. Freitas
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 35

6.1.5 Cultivo consorciado


Algumas espcies de visitantes do cajueiro obtm das
flores dessa cultura apenas parte dos recursos que precisam
para sobreviver. Sendo assim, esses polinizadores frequentam os cultivos em nmeros bem menores do que o necessrio para uma polinizao efetiva porque precisam buscar
os demais recursos fora da rea cultivada e, na maioria das
vezes, no conseguem estabelecer populaes grandes o
suficiente para produzirem incrementos na produtividade.
O consrcio do cajueiro com outras culturas constitui
uma boa estratgia para diversificar os recursos ofertados
na rea de cultivo e atrair e manter uma gama maior de polinizadores (Figura 13). Em Gana, produtividades de 1.250
kg de castanha/ha, quase quatro vezes a produtividade mdia brasileira, tem sido associada a uma grande diversidade
e abundncia de abelhas nativas polinizando as flores dos
cajueiros, favorecidas pelo sistema agroecolgico adotado
naqueles plantios (Aidoo 2009).

No Brasil, a situao geralmente a oposta. Um


exemplo tpico so as abelhas solitrias coletoras de leo,
especialmente aquelas pertencentes ao gnero Centris, que
ocorrem apenas nas Amricas Central e do Sul e algumas
ilhas do Caribe. Embora as abelhas adultas visitem e sejam
eficientes polinizadoras das flores do cajueiro quando esto
forrageando por nctar e plen, as fmeas tambm necessitam visitar espcies vegetais cujas flores produzem leos
vegetais usados pela abelha Centris fmea como fonte
de energia na dieta de suas larvas (Oliveira e Schlindwein
2009). Portanto, a falta de espcies fornecedoras desses
leos dentro ou prximo dos cajueirais impede o estabelecimento de grandes populaes de espcies de abelhas do
gnero Centris, necessrias para polinizar eficientemente a
grande quantidade de cajueiros e suas flores existentes em
um plantio comercial. Como consequncia, essas abelhas
so pouco comuns nos cultivos, apesar da grande quantidade de plen e nctar disponveis para elas e do enorme benefcio em termos de polinizao que elas poderiam trazer
para a produtividade da cultura.
Em condies naturais, onde cajueiros silvestres crescem em dunas do litoral nordestino e h uma baixa ocorrncia de outros visitantes florais devido s condies de
vento, aridez, altas temperaturas e baixa umidade relativa
do ar, todas desfavorveis sobrevivncia da maioria das
espcies, populaes de abelhas Centris so encontradas
polinizando as flores dos cajueiros graas tambm
abundante presena do murici (Byrsonima verbascifolia),
uma espcie com flores fornecedoras de leos vegetais (Pereira e Freitas 2002).

Figura 13 Cultivos consorciados de cajueiro com outras culturas (nesta


foto feijo caupi Vigna sinensis) aumentam e diversificam na mesma rea
os tipos de recursos utilizados pelos polinizadores, incrementando a riqueza de espcies, abundncia de indivduos e a qualidade da polinizao realizada, com consequentes ganhos e produtividade para ambos os cultivos.
Fonte: Epifnia E. M. Rocha.
36 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

Portanto, uma boa estratgia para atrair e manter essas abelhas nos plantios comerciais, assegurando maiores
produtividades, seria o consrcio do cajueiro com uma outra
cultura de valor econmico cujas flores produzam os leos
vegetais necessrios para o estabelecimento das populaes
de abelhas Centris. Nesse caso, o consrcio do cajueiro com
a aceroleira (Malpighia emarginata), uma cultura com flores
muito procurada pelas abelhas Centris para a coleta de leos

e com grande aceitao e mercado


no pas, alm de ter se mostrado bem
adaptada regio Nordeste do pas,
seria uma excelente opo para fornecer os recursos naturais necessrios s
abelhas, que por sua vez assegurariam
altas produtividades tanto para as aceroleiras quanto para os cajueiros (Freitas e Pereira 2004) (Figura 14).

importante que o cajucultor adote


prticas agrcolas amigveis aos
polinizadores evitando atividades
que possam ser danosas a qualquer
uma das condies necessrias a sua
permanncia na rea agrcola
prticas agrcolas amigveis a esses polinizadores evitando atividades que possam ser danosas a qualquer uma dessas condies necessrias sua permanncia na rea agrcola, bem como passe a fazer uso de prticas no agrcolas, mas
tambm importantes para a sobrevivncia e persistncia dos polinizadores nos
cultivos (Freitas et al. 2009; Maia et al. 2012). Algumas dessas prticas so descritas a seguir.

6.2.1 Recuperao da vegetao nativa no entorno da rea


cultivada
Figura 14 As abelhas do gnero Centris, como
C. caxiensis (acima), necessitam de flores fornecedoras de leo para estabelecer populaes
grandes o suficiente para aumentar a produtividade do cajueiro. O consrcio com a aceroleira (Malpighia emarginata) asseguraria esses
recursos nos cajueirais. Fonte: Breno M. Freitas

6.2 Propostas de prticas


agrcolas amigveis aos
polinizadores
A manuteno dos polinizadores nos plantios de cajueiro depende
da existncia de condies favorveis
sua alimentao, reproduo e proteo contra as condies ambientais
adversas e predadores. Dessa forma,
importante que o cajucultor adote

A grande maioria dos polinizadores no consegue sobreviver somente na rea


agrcola. Na verdade, eles precisam da vegetao nativa diversa na qual evoluram e
tm vivido por milhes de anos, fazendo uso das reas cultivadas apenas quando essas florescem e oferecem uma abundncia de recursos momentaneamente. Nesses
poucos momentos, ao longo do ano, os cultivos se tornam extremamente atrativos
aos polinizadores pela grande quantidade de alimentos que oferecem, mas logo aps
o fim do florescimento convertem-se em reas pouco interessantes para os visitantes
florais que se retiram desses locais. Mesmo no caso do cajueiro, cuja florada pode se
prolongar por vrios meses, o perodo sem flores pode tornar o cajueiral uma rea
inspita para os polinizadores.
Dessa forma, de fundamental importncia conservar ou recuperar as
matas nativas originais da rea nos entornos dos cajueirais (Freitas et al. 2014).
Elas servem como reservatrios de polinizadores, onde eles sobrevivem e reproduzem nos perodos que o plantio de cajueiro no atrativo (sem flores), para
fornec-los aos plantios nos momentos de floradas. Sem essas matas prximas,
os polinizadores no tm onde se refugiarem quando as floradas acabam, nem o
cajueiral recebe polinizadores quando entra em florescimento, porque no h refgios grandes o suficiente para manter a quantidade de polinizadores necessria
para polinizar eficientemente os pomares (Figura 15).
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 37

zovel de polinizadores at a prxima


florada (Figura 16). No caso de espcies de abelhas coletoras de leo do
gnero Centris, a presena de plantas
nativas com flores fornecedoras de
leos, como as diversas espcies do
gnero Byrsonima, principalmente
B. crassifolia, ou a acerola (M. emarginata), importante tanto durante
quanto entre as floradas dos cajueiros, uma vez que essa espcie no
fornece os leos vegetais necessrios
quela espcie de abelha.

Figura 15 A conservao das matas nativas no entorno dos cajueirais uma prtica importante para
assegurar polinizadores durante o florescimento da cultura.

6.2.2 Disponibilizar flores fora do perodo de


florescimento do cajueiro
O cajueiro pode florescer por at oito meses por ano, mas na maior parte
deste florescimento a quantidade de flores baixa e insuficiente para manter
na rea uma boa populao de insetos polinizadores. Quando o florescimento
termina a situao se agrava ainda mais e todos aqueles que dependem das
flores para obter seus recursos alimentares abandonam o cultivo ou morrem
por falta de alimento. Nenhuma dessas duas alternativas interessante para o
cajucultor. Isso porque na prxima safra, quando as plantas voltam a florescer,
toda a polinizao a ser obtida depender da atrao de polinizadores de outras
reas, e isso nem sempre acontece no tempo e quantidade adequados.
Para evitar o xodo ou morte dos polinizadores, o cajucultor pode manter
entre as fileiras de cajueiros e/ou nos contornos dos plantios espcies vegetais
que floresam nos perodos de baixa ou nenhuma florada do cajueiro. Essa estratgia assegura alimento suficiente para manter na rea uma populao ra38 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

Vrias espcies ruderais herbceas crescem dentro dos plantios de


cajueiro tanto durante o perodo chuvoso como no perodo seco do ano.
Essas ervas normalmente so encaradas pelo agricultor como prejudiciais
porque acredita-se que compete por
recursos como gua e nutrientes com
as plantas de cajueiro. De fato, quando
presentes em quantidades exageradas
essas plantas podem causar problemas no somente por esses descritos
acima, mas tambm por impedir a aerao e insolao do caule e copa inferior de plantas baixas como no caso
do cajueiro ano precoce, acumulando
umidade e favorecendo doenas fngicas, sem falar na atrao para pragas
e doenas. No entanto, quando em
quantidades razoveis, fora da rea
de projeo das copas das rvores e,
principalmente, na parte central entre
as fileiras, essas plantas alm de propiciarem uma boa cobertura do solo, evitando a sua exposio direta aos raios

solares, o que pode afetar a microbiota


superficial do solo, e prevenir eroso
no perodo chuvoso, fornece uma diversidade de nutrientes e recursos aos
polinizadores do cajueiro por meio do
seu plen, nctar, leos vegetais, resinas e outras possveis recompensas
buscadas por esses visitantes florais
quando o cajueiro no est florescendo (Figura 16).

6.2.3 Disponibilizar fontes de


gua para os polinizadores
Os polinizadores, como quaisquer outros animais, necessitam de
gua para satisfazerem suas necessidades metablicas. Embora a gua
normalmente no seja um fator limitante durante o perodo chuvoso,
visto que uma pequena quantidade acumulada em poas ao longo
do plantio ou at mesmo as gotas
de chuva presentes nas folhas das
plantas cultivadas e/ou silvestres da
rea j so suficientes para atender
a demanda dos visitantes florais. No
entanto, durante o perodo seco do
ano, exatamente quando o cajueiro
floresce, a temperatura se eleva acima dos 35C e as pequenas reservas
de gua evaporam.
Nessa situao fundamental
a presena de grandes fontes permanentes de gua, como audes, lagos ou
lagoas nas proximidades imediatas ao
plantio ou a disponibilizao de fontes temporrias (bebedouros) para os

Figura 16 Flora ruderal importante para manter os polinizadores nos plantios quando os cajueiros
no esto florescendo: a Scaptotrigona sp. coletando plen e nctar; b Trigondeo em busca de
plen; c Abelha solitria saindo de flor de Convolvulaceae; d Duas operrias de Trigona spinipes
interagindo em flor de Turnera sp.; e Apis mellifera coletando nctar em Spermacoce verticillata;
f Xylocopa sp. em flor de Fabaceae. Fonte: Epifnia E.M. Rocha

polinizadores. Embora no caso de abelhas solitrias o nctar normalmente tenha


gua suficiente para atender as necessidades do indivduo que o obtenha da flor,
nessa poca ele se torna mais viscoso e proporcionalmente mais rico em acares
e pobre em gua. Alm disso, a temperatura elevada no campo e o esforo de voo
nessas condies elevam a temperatura corporal dos insetos a nveis perigosos, nos
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 39

quais somente a gua do nctar no


suficiente para contornar a situao.
Sendo assim, essas abelhas tambm
precisam de fontes extras de gua. No
caso das abelhas sociais, a situao
ainda mais grave porque alm de saciar
suas prprias necessidades, essas abelhas tm que levar gua para as irms
que ficam desempenhando as tarefas
internas da colnia, para a rainha, para
as larvas e tambm para o uso no controle da temperatura e umidade relativa do ar dentro do ninho, assegurando
o conforto interno e que os favos no
derretam. Ento, a demanda por gua
dessas abelhas grande e caso ela no
se encontre disponvel em abundncia
nas proximidades, toda a colnia pode
abandonar o local em busca de outro
lugar mais favorvel, justo quando os
cajueiros esto florescendo e a demanda por polinizao grande.

adequada dos plantios. Dentre essas prticas, podemos citar a remoo de troncos e galhos de madeira morta das reas de plantio, tanto aqueles oriundos de
broca quanto da poda dos cajueiros quanto o revolvimento do solo por meio de
arados, grades e cultivadores.

Portanto, a colocao de fontes


de gua para os polinizadores durante
o perodo seco do ano uma medida
importante para assegurar a atrao e
permanncia destes nos plantios no
perodo que os cajueiros mais precisam das suas presenas (Figura 17).

As reas de nidificao em massa so de fcil localizao porque geralmente situam-se em locais descobertos de vegetao rasteira e vrias fmeas constroem seus ninhos prximos uns dos outros, havendo muitos buraquinhos no
solo fazendo a entrada de cada ninho e intenso movimento de entra e sai de
abelhas. No entanto, muitos polinizadores solitrios fazem ninhos longes de aglomeraes e espalhados por todo o plantio, sendo impossvel evitar a destruio
de muitos ninhos quando do uso de implementos que revolvam o solo.

6.2.4 Evitar prticas destrutivas


aos ninhos dos polinizadores

6.2.5 Evitar o uso de agrotxicos

Vrias das prticas agrcolas so


prejudiciais reproduo dos polinizadores e, portanto, ao estabelecimento de populaes estveis nas
reas cultivadas e grandes o suficiente para realizarem uma polinizao

No primeiro caso, ou seja, na remoo dos troncos e galhos de madeira


morta, o cajucultor pode estar eliminando centenas de ninhos de vrias espcies de abelhas potencialmente importantes na polinizao do cajueiro, como
as mamangavas (Xylocopa spp.), Centris (Centris spp.), Megachile (Megachile
spp.), Epanthidium (Epanthidium spp.) e muitas outras que fazem ninhos nesse
tipo de substrato. Ao retirar esse material do seu cultivo, alm de descartar a
futura gerao desses polinizadores de suas reas, o agricultor tambm impede
que outros ninhos venham a ser formados, pois essas abelhas s reproduzem
em madeira morta.
Por outro lado, outros grupos de polinizadores, s nidificam no solo. Para
tanto, necessitam de reas estveis e que possam usar gerao aps gerao.
Sendo assim, o uso de implementos que revolvam o solo, como os arados, grades
e cultivadores devem ser evitados sempre que possvel, pois destroem os ninhos
e matam as larvas dos futuros polinizadores do cultivo, alm de tornar a rea imprpria para a construo de novos ninhos. Quando no for possvel evitar o uso
desses implementos, deve-se tomar cuidado para reconhecer e evitar as reas de
nidificao em massa dos polinizadores para no us-los nesses locais.

A cultura do cajueiro tradicionalmente recorre pouco ao uso de agrotxicos. No entanto, com a utilizao mais recente das variedades selecionadas de
cajueiro ano precoce, cujo porte permite uma aplicao eficiente dos produtos,
e a disseminao e aumento dos danos causados por pragas e doenas outrora
pouco impactantes ou inexistentes nessa cultura, uma proporo cada vez maior
de cajucultores vem fazendo uso de produtos qumicos no controle dos agentes
causadores de danos em seus plantios.

40 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

Todos sabem que agrotxicos so desenvolvidos para


matar principalmente insetos, no caso em questo, insetos
-praga. No entanto, a maioria dos polinizadores do cajueiro
tambm so insetos, que, embora insetos benficos, tambm so afetados pelos agrotxicos com as mais drsticas
consequncias (Freitas e Pinheiro 2012; Rocha 2012). O
ideal seria no usar agrotxicos de forma alguma na cultura, principalmente quando ela estiver em florescimento. No
entanto, sabemos que nem sempre isso possvel e muitas
vezes o produtor se v forado a usar agrotxicos para controlar as pragas e doenas do cultivo. No caso do cajueiro,
que floresce por at oito meses por ano, torna-se particularmente difcil aplicar agrotxicos somente quando a cultura no estiver em florescimento. Mesmo assim, algumas
alternativas podem ser usadas para minimizar o efeito dos
agrotxicos sobre os polinizadores.
Dentre essas alternativas, encontram-se: a busca por
produtos naturais que possam controlar a praga ou doena em questo sem a necessidade do uso de agrotxicos; a
identificao de agrotxicos eficientes contra a praga, mas
menos nocivos aos polinizadores; considerando que o mesmo princpio ativo pode ser mais ou menos txico para os
polinizadores em funo da sua formulao, procurar fazer
uso daquela formulao menos impactante para eles; adotar horrios de aplicao que os polinizadores no estejam
ativos no plantio ou, pelo menos, estejam menos ativos; e
assim por diante (Freitas e Pinheiro 2012). O uso racional
dos agrotxicos, se no elimina de todo o seu risco e impacto sobre a populao de polinizadores, pode, pelo menos,
torn-los menos nocivos.

eles, como nctar, plen, leos florais, abrigos e locais de


nidificao, importante saber manej-los para maximizar
o uso potencial dos seus servios de polinizao.
No caso especfico da cultura do cajueiro, algumas das
tcnicas de manejo de polinizadores descritas a seguir devem ser empregadas.

6.3.1 Disponibilizao de bancos de areia para


nidificao no solo
A maioria das abelhas solitrias e outros polinizadores
importantes nidificam no solo. Enquanto algumas espcies
fazem ninhos isolados e dispersos, muitas espcies so gregrias e fazem seus ninhos prximos uns dos outros criando grandes agregaes que podem envolver de centenas a
milhares ou milhes de ninhos. A presena de milhares de
polinizadores pode ser incentivada em cultivos fornecendo
reas limpas e abertas prximas ou dentro do permetro da
cultura, cujo solo tenha as caractersticas ideais de nidificao da(s) espcie(s) que ocorre em sua regio (Figura 17).

6.3 Propostas de manejo de polinizadores


A diversidade de espcies de polinizadores e a quantidade desses polinizadores visitando as flores do cajueiro
contribuem significativamente para maiores produtividades. Sendo assim, alm de atrair esses polinizadores para os
cultivos de cajueiro oferecendo mais recursos utilizados por

Figura 17 A disponibilizao de locais adequados pode levar a formao


de agregaes de ninhos de abelhas solitrias, importantes polinizadores
agrcolas.Fonte:http://www.bwars.com/index.php?q=bee/andrenidae/
andrena-nigroaenea
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 41

6.3.2 Disponibilizao de
substrato de madeira para
nidificao
Muitos polinizadores tambm
escavam ou usam cavidades pr-existentes em substratos de madeira,
como troncos, galhos e ramos de rvores para construrem seus ninhos.
Esses polinizadores somente estaro
presentes visitando as flores do cultivo se as plantas a serem polinizadas
estiverem dentro do raio de voo de
cada espcie a partir do local do seu
ninho. Desta forma, a existncia de
substratos de madeira dentro ou nos
arredores dos plantios importante
tanto para assegurar que muitos desses polinizadores estejam presentes
nas reas cultivadas, como tambm
para assegurar que um grande nmero de plantas esteja dentro do seu raio
de voo e possam ser visitadas por esses polinizadores.
O cajucultor pode incentivar a
presena desses polinizadores em
seus cajueirais espalhando troncos
e galhos secos, colmos de bambu e/
ou tbuas de madeira perfuradas em
seus cultivos, de preferncia em locais
protegidos do sol direto e da chuva, e
prximos a fontes de gua (Figura 18).
Desde que haja uma populao desses polinizadores na rea e as condies de sobrevivncia abordadas anteriormente sejam satisfatrias, eles
encontraro os locais de nidificao
disponibilizados e estabelecero no-

Figura 18 Substratos vegetais disponibilizados para nidificao de polinizadores: a Ninhos de abelhas Xylocopa griscescens em gomos de bambu; b Entradas de ninhos de Xylocopa em tronco de
madeira. Fonte: Breno M. Freitas

vos ninhos aumentando o tamanho da populao e, consequentemente, a fora


de polinizao na rea.

6.3.3 Introduo de populaes de polinizadores


Devido grande oferta de flores durante os perodos de florescimento,
as populaes silvestres de polinizadores geralmente no so suficientes para
polinizar a cultura de forma eficiente. Sendo assim, se faz necessrio a complementao destes polinizadores silvestres com polinizadores criados e manejados para tal fim.
No caso de polinizadores solitrios, a introduo de ninhos-armadilha povoados em outros locais eleva imediatamente a populao de abelhas daquelas
espcies introduzidas nos ninhos (Figura 19). Abelhas do gnero Centris, como
C. analis so importantes polinizadoras do cajueiro e aceitam bem esses ninhos
(Magalhes e Freitas 2013). J para polinizadores sociais, a colocao de colnias nidificadas em colmeias racionais a alternativa mais adequada. As espcies
sociais de abelhas tm a vantagem de possurem milhares de campeiras por colnia, e a introduo de algumas poucas colmeias por rea de plantio j o suficiente para assegurar que o nmero de polinizadores necessrios seja atingido.
Apis mellifera a espcie mais utilizada para esse propsito, mas vrias espcies
de abelhas sem ferro tambm podem ser utilizadas para esse fim (Figura 19).

42 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

Ao contrrio da maioria das outras


culturas agrcolas, no cultivo do
cajueiro deve-se estimular a coleta
de nctar, pois do contrrio as
abelhas buscaro outras plantas ao
invs do cajueiro
6.3.4 Manejo das populaes de polinizadores

A simples atrao ou introduo de populaes de polinizadores nas reas de cajueiro no suficiente para assegurar a visita s
flores por todos eles ou, pelo menos, pela maioria. necessrio que
o produtor maneje esses visitantes florais para direcion-los sua
cultura, uma vez que os mesmos no tm conscincia dos servios
que prestam e no iro visitar as flores do cajueiro e poliniz-las simplesmente para satisfazer a vontade do cajucultor.
Um fator importante procurar distribuir os ninhos-armadilha
ou colmeias pela plantao da forma mais uniforme possvel, fazendo com que as abelhas tambm se distribuam de forma homognea
evitando que flores no sejam visitadas ou pouco visitadas, enquanto outras seriam visitadas mais do que o necessrio. Isso pode ocorrer porque na presena de recursos florais as abelhas tendem a se
concentrar prximas do ninho.
Outro aspecto relevante que o cajueiro no constitui uma boa
fonte de plen para as abelhas. Sendo assim, ao contrrio da maioria
das outras culturas agrcolas nas quais estimulamos as abelhas a coletarem o plen para aumentar sua eficincia como polinizadores, no
cultivo do cajueiro deve-se estimular a coleta de nctar, pois do contrrio as abelhas buscaro outras plantas ao invs do cajueiro. O est-

Figura 19 Introduo de polinizadores suplementares: a Ninhos armadilha povoados com abelhas solitrias coletoras de leo Centris analis; b Colnias de abelhas
sociais Apis mellifera em plantio de cajueiro comum. Fonte: Breno M. Freitas.
Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro 43

mulo coleta de nctar feito especificamente para as abelhas sociais ao se manter colnias fortes, com rainhas jovens
e de boa capacidade de postura, boas reservas de plen no
ninho e amplo espao para deposio de mel nas melgueiras.
Finalmente, tanto os ninhos-armadilha quanto as
colnias de abelhas sociais devem ser inspecionadas regularmente paro controle e combate de inimigos, parasitas e doenas to logo se manifestem a fim de prevenir
danos graves populao de polinizadores e a tomada de
medidas tardias que pouco efeito surtem no prejuzo aos
servios de polinizao e produtividade da cultura. Esse
aspecto tambm importante pelo fato de que essas abelhas, se no bem inspecionadas e tratadas, podem atuar
como focos de pragas e doenas e ponto de disseminao
das mesmas sempre que forem deslocadas de um cultivo
a outro, dentro ou fora daquela regio.

Para contornar a competio, to logo o cajueiro inicie


o florescimento o cajucultor deve roar toda a rea do cultivo eliminando as flores das demais plantas, sem, no entanto,
remov-las ou mata-las. Esse procedimento assegurar que
no haver competio durante o florescimento do cajueiro,
mas que essas plantas podero crescer e voltar a florescer
para alimentar os polinizadores quando o cajueiro no mais
o fizer. Alm disso, o roo evita que o solo fique descoberto e
exposto ao sol forte e processos erosivos (Figura 20).

6.3.5 Remoo de plantas competidoras


por polinizao
Plantas cultivadas geralmente so menos atrativas
para os polinizadores do que as plantas silvestres, certamente por no precisarem competir com outras espcies
por polinizadores para assegurar sua perpetuao. Dessa
forma, na grande maioria das culturas, a presena de outras plantas em florescimento dentro ou nas proximidades
do cultivo quando do seu florescimento exercem grande
competio com as flores da espcie cultivada. No caso do
cajueiro no diferente. As mesmas plantas que devemos
deixar na rea de plantio na entressafra com a finalidade de
fornecer alimento aos polinizadores quando o cajueiro no
est florescendo, competem com ele pelos mesmos polinizadores durante o seu florescimento. Dentre elas, a vassourinha-de-boto (Spermacoce verticillata, antes Borreria
verticillata) se destaca por ser importante fonte de nctar e
levar grande produo de mel em cajueirais exatamente
ao desviar as abelhas das flores do cajueiro para as suas
prprias flores (Freitas 1995b) (Figura 20).
44 Plano de Manejo para Polinizao da Cultura do Cajueiro

b
Figura 20 Competio vegetal por polinizadores: a Spermacoce verticillata florescendo ao mesmo tempo que o cajueiro e desviando seus polinizadores; b - Cajueiral roado sem plantas competidoras em florescimento.
Fonte: Epifnia E. M. Rocha.

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A reproduo total ou parcial desta obra permitida desde que citada a fonte.
VENDA PROIBIDA.

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