Estudos No Evangelho de Joao 18

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Estudos no Evangelho de Joo (18)

EU LHES TENHO DADO A TUA PALAVRA.... (Jo 17.1-26) [14]

E) A Unidade e a nossa Responsabilidade:


1) UM ESFORO INTENSO E PERSEVERANTE: (EF 4.3)
Paulo diz algo revelador a respeito da unidade crist: Esforando-vos
diligentemente (Spouda/zw) por preservar a unidade do Esprito no vnculo da paz
(Ef 4.3).
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Analisemos um pouco esta palavra: Os verbos spouda/zw e speu/dw, o


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substantivo spoudh/, o advrbio spoudai/wj e o adjetivo spoudai=oj significam
correr, apressar-se, fazer todo o esforo e empenho possvel, urgenciar, ser
zeloso, diligente, esforo e aplicao. Denota uma diligncia que se esfora por
fazer todo o possvel para alcanar o seu objetivo. O particpio presente aponta na
direo de nossa responsabilidade de mantermos esta atitude constantemente.
Ilustremos com algumas manifestaes da igreja que revelam a sua solicitude,
esforo diligente por preservar a unidade:
a) Zelo em socorrer os irmos:
1) Paulo, preso em Roma pede a Timteo esta urgncia em encontr-lo:
Procura (Spouda/zw) vir ter comigo depressa (2Tm 4.9); Apressa-te (Spouda/zw) a
vir antes do inverno..... (2Tm 4.21).
Em outro contexto, havia solicitado o mesmo a Tito: Quando te enviar rtemas
ou Tquico, apressa-te (Spouda/zw) a vir at Nicpolis ao meu encontro. Estou
resolvido a passar o inverno ali (Tt 3.12).

O verbo Spouda/zw, que bem traduzido por esforando-vos diligentemente (ARA), tem a sua
nfase enfraquecida em ACR, ARC e BJ, que o traduzem por procurando. Spouda/zw ocorre 11
vezes no NT (* Gl 2.10; Ef 4.3; 1Ts 2.17; 2Tm 2.15; 4.9,21; Tt 3.12; Hb 4.11; 2Pe 1.10,15; 3.14).
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*Lc 2.16; 19.5,6; At 20.16; 22.18; 2Pe 3.12.


* Mc 6.25; Lc 1.39; Rm 12.8,11; 2Co 7.11,12; 8.7,8,16; Hb 6.11; 2Pe 1.5; Jd 3.
*Lc 7.4; Fp 2.28; 2Tm 1.17; Tt 3.13.
* 2Co 8.17,22 (duas vezes).

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Destacamos aqui a necessidade do companheirismo fraterno. Paulo, o grande
apstolo, sentia falta de seus amigos e discpulos; de Timteo e Tito. Muitos o
haviam abandonado; no entanto Lucas permanecia com ele (2Tm 4.11). A Timteo
solicita de modo especial que traga Marcos (2Tm 4.11), a capa (...) bem como os
livros, especialmente os pergaminhos (2Tm 4.13). O inverno se aproximava; Paulo
desejava a sua capa para aquecer o seu corpo e os livros, pergaminhos e amigos,
para aquecer a sua alma saudosa. Ningum totalmente insensvel s condies
climticas e, ningum est alm da necessidade de amizade e solidariedade.
Paulo no pediu aos seus amigos que cuidassem de sua libertao; contudo,
sentia falta de sua companhia. A priso seria menos mida e nociva, ainda que por
um breve perodo, na companhia de seus amigos. Quo bom podermos contar
com nossos amigos e, quo necessrio que nossos amigos saibam o quanto eles
so importantes para ns e que tambm eles podem contar com a nossa solicitude
em aliviar as suas cargas com os nossos recursos, com a nossa ateno e
solidariedade.
2) Paulo descreve a amizade benfazeja de Onesforo, quem o procurou
solicitamente quando muitos de seus amigos o haviam abandonado: Ests ciente
de que todos os da sia me abandonaram; dentre eles cito Fgelo e Hermgenes.
Conceda o Senhor misericrdia casa de Onesforo, porque, muitas vezes, me deu
nimo e nunca se envergonhou das minhas algemas; antes, tendo ele chegado a
Roma, me procurou solicitamente (spoudai/wj) at me encontrar. O Senhor lhe
conceda, naquele Dia, achar misericrdia da parte do Senhor. E tu sabes, melhor do
que eu, quantos servios me prestou ele em feso (2Tm 1.15-18).
3) Paulo pede a Tito que encaminhe Zenas e a Apolo, orientando-o para
6
que nada falte queles irmos: Encaminha (Prope/mpw) com diligncia
(spoudai/wj) Zenas, o intrprete da lei, e Apolo, a fim de que no lhes falte coisa
alguma (Tt 3.13). Alis, esta era uma caracterstica costumeira em Tito, o zelo e
cuidado com os irmos (2Co 8.16-17). O encaminhar significa mais do que mostrar o
caminho ou, colocar na direo correta, antes, suprir as necessidades de algum
para a jornada que tem pela frente.
4) Ainda falando sobre diversos deveres da vida crist e, em especial
descrevendo a fraternidade crist, Paulo recomenda: No zelo (spoudh/), no sejais
remissos (o)knhro/j = negligentes); sede fervorosos de esprito, servindo ao Senhor
(Rm 12.11). (Ver: 2Co 8.7-8). A prontido em socorrer os nossos irmos revela a
nossa unidade.
5) Paulo ao enviar Tito a Corinto com o propsito de providenciar as
ofertas para os pobres da Judia, assim se refere ao cuidado, diligncia e
solicitude das igrejas de Macednia, de Corinto e do prprio Tito: Como, porm,
em tudo, manifestais superabundncia, tanto na f e na palavra como no saber, e
em todo cuidado, (spoudh/) e em nosso amor para convosco, assim tambm
abundeis nesta graa. No vos falo na forma de mandamento, mas para provar, pela
diligncia (spoudh/) de outros, a sinceridade do vosso amor; pois conheceis a graa
6

Prope/mpw * At 15.3; 20.38; 21.5; Rm 15.24; 1Co 16.6,11; 2Co 1.16; Tt 3.13; 3Jo 6.

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de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vs, para
que, pela sua pobreza, vos tornsseis ricos. (...) Mas graas a Deus, que ps no
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corao de Tito a mesma solicitude (spoudh/) por amor de vs (2Co 8.7,8,9,16).
b) A urgncia em corrigir uma injustia:
Pelas evidncias que temos, Paulo fez uma visita relmpago a Corinto
no estando esse fato registrado em Atos. Nesta visita ele foi maltratado e insultado,
o que o levou a escrever uma carta a qual no temos no Novo Testamento. Tito que
fora o emissrio da mesma voltara dizendo que os corntios haviam se arrependido
do mal que fizeram; Paulo ento escreve 2 Corntios, falando do zelo daqueles
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irmos em corrigirem o mal: Porque quanto cuidado (spoudh/) no produziu isto
mesmo em vs que, segundo Deus, fostes contristados! Que defesa, que
indignao, que temor, que saudades, que zelo, que vindita! Em tudo destes prova
de estardes inocentes neste assunto. Portanto, embora vos tenha escrito, no foi por
causa do que fez o mal, nem por causa do que sofreu o agravo, mas para que a
vossa solicitude (spoudh/) a nosso favor fosse manifesta entre vs, diante de Deus
(2Co 7.11-12).
Retomando o texto de Efsios, vemos que Paulo usa esta palavra para se referir
ao esforo como o qual devemos nos empenhar por preservar a unidade do Esprito
na Igreja. Stott chamou-me a ateno para as palavras de Markus Barth ao
comentar essa passagem:

Paulo relembrando o seu encontro com os apstolos, diz: Quando conheceram a graa que me foi
dada, Tiago, Cefas e Joo, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnab, a
destra de comunho, a fim de que ns fssemos para os gentios, e eles, para a circunciso;
recomendando-nos somente que nos lembrssemos dos pobres, o que tambm me esforcei
(Spouda/zw) por fazer (Gl 2.9-10).
8

Paulo escreveu 1 Corntios estando em feso (1Co 16.8). Paulo falou do seu desejo de ir Corinto
(1Co 16.5). Depois disso Timteo deve ter regressado da sua viagem, trazendo ms notcias da
Igreja. Possivelmente indicando que a carta de Paulo no surtira o efeito desejado e, o prprio
Timteo que l estivera, tambm no obtivera xito (1Co 16.10-11). Paulo ento, diante dos fatos,
resolve fazer uma viagem relmpago a Corinto, a fim de colocar as coisas em ordem. Esta viagem
no mencionada por Lucas; ns a sabemos porque Paulo fala da sua possvel terceira viagem (2Co
12.14; 13.1-2/1.15), enquanto que Lucas s descreve a primeira.
A visita de Paulo foi tambm frustrada; ele foi insultado (2Co 2.5-11; 7.12; 12.21), sendo
menosprezado pelos falsos apstolos (2Co 11.5;12.11). Parece que estes apstolos condenavam a
mensagem crist e traziam como fonte de sua autoridade, cartas de apresentao (2Co 2.17-3.1-4).
De volta a feso, Paulo escreve uma carta, a qual no chegou aos nossos dias, exigindo que o
ofensor seja punido (2Co 2.3,4,9; 7.8,12). Tito possivelmente foi o seu emissrio juntamente com
outro irmo (2Co 7.13; 12.18). Notemos que esta carta mencionada no 1 Corntios, porque esta
no uma carta angustiada e marcada pelas lgrimas como Paulo diz ter escrito aquela.
Concludo o trabalho em feso, Paulo partiu ansioso para Trade, objetivando pregar o Evangelho
e se encontrar com Tito. Ali teve grande oportunidade. Contudo, o fato de no encontr-lo, fez com
que Paulo partisse para a Macednia provavelmente Filipos ou Tessalnica , a fim de obter
informaes o mais rpido possvel dele. A sua aflio era evidente (2Co 2.12,13). O que inquietava
Paulo era: Como a Igreja recebeu a sua carta?. Tito chegou depois de Paulo trazendo boas notcias:
A Igreja havia mudado muito apesar de haver uma pequena minoria que permanecia recusando a sua
autoridade (2Co 7.5-16).

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Dificilmente se pode traduzir com exatido a urgncia contida no
verbo grego subjacente. No somente pressa e paixo, como tambm
um esforo total do homem integral est em mira, envolvendo a sua
vontade, o seu sentimento, a sua razo, a sua fora fsica, e a sua atitude
total. O modo imperativo do particpio que se acha no texto grego exclui
a passividade, o quietismo, uma atitude de vamos ver como fica, ou
uma diligncia temperada por uma velocidade bem deliberada. A
iniciativa sua! Faa-o agora! Seja sincero! Voc deve faz-lo! Estou
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sendo srio! Estas so as implicaes do versculo 3.

2) PRESERVAR A UNIDADE DO ESPRITO: (EF 4.3)

a) O Sentido de Preservar:
A palavra traduzida por preservar thre/w tem o sentido de guardar com
um propsito ou por um tempo determinado (At 25.21;1Pe 1.4; 2Pe 2.4,9,17; 3.7). A
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idia de manter seguro, preso. Paulo nos exorta a fazer todo o esforo possvel
para conservar, preservar a unidade do Esprito.
Concluindo este tpico, devemos notar que esta palavra que Paulo associa com
o esforo diligente: esforai-vos diligentemente por conservar, preservar, segurar....
O qu?
b) A Unidade do Esprito: (Ef 4.3)
Conforme vimos, Paulo acrescenta: Do Esprito, indicando que a unidade
crist procede, gerada pelo Esprito.
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Markus Barth, Ephesians, Garden City, New York: Doubleday & Company, (The Anchor Bible),
1974, Vol. II, p. 428.
10

Thre/w, alm desta traduo tem o sentido de deter, guardar, conservar, observar, reservar,
proteger, guardar com um propsito ou por um tempo determinado (At 25.21;1Pe 1.4; 2Pe 2.4,9,17;
3.7). A idia de manter seguro, preso. Lucas assim narra o episdio da priso de Pedro: Pedro,
pois, estava guardado (thre/w) no crcere; mas havia orao incessante a Deus por parte da igreja a
favor dele.Quando Herodes estava para apresent-lo, naquela mesma noite, Pedro dormia entre dois
soldados, acorrentado com duas cadeias, e sentinelas porta guardavam (thre/w) o crcere (At
12.5-6). Relatando a situao de Paulo e Silas presos, Lucas diz: E, depois de lhes darem muitos
aoites, os lanaram no crcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse (thre/w) com toda a
segurana (At 16.23). Flix, orienta o Centurio no que se refere a Paulo: E mandou ao centurio
que conservasse a Paulo detido (thre/w), tratando-o com indulgncia e no impedindo que os seus
prprios o servissem (At 24.23). Festo, porm, respondeu achar-se Paulo detido (thre/w) em
Cesaria; e que ele mesmo, muito em breve, partiria para l (At 25.4). Festo narrando ao rei Agripa o
ocorrido com Paulo, diz: Mas, havendo Paulo apelado para que ficasse em custdia (thre/w) para o
julgamento de Csar, ordenei que o acusado continuasse detido (thre/w) at que eu o enviasse a
Csar (At 25.21). [Para um estudo mais detalhado, ver: Hermisten M.P. Costa, O Caminhar dos
Vocacionados de Deus, So Paulo, 2002, p. 37ss.].

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Jesus Cristo diz ao Pai que transmitiu a Sua glria aos seus discpulos para estes
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fossem aperfeioados (tele/iow) na unidade (Jo 17.23). Na realidade, para que
fossem aperfeioados na condio de um, tendo o Pai e Filho como modelo (Jo
17.22). Ele j se referira ao Pai dizendo: Eu e o Pai somos um (Jo 10.30). Nesta
orao Jesus Cristo usara este verbo (tele/iow) para descrever a concretizao de
12
Sua misso (Jo 17.4/Jo 19.28 ).
A ajuda mtua que as diferentes partes do corpo oferecem umas s
outras, no considerada pela lei da natureza como um favor, mas, sim,
13
como algo lgico e normal, cuja negativa seria cruel. A unidade da Igreja
uma realidade em Cristo; entretanto, cabe Igreja preserv-la mediante um
comportamento fundamentado nos princpios bblicos. Jesus Cristo na Orao
Sacerdotal ora para que a unidade crist j existente seja aperfeioada (Jo 17.2214
23). Leiamos mais uma vez o que Paulo escreveu aos efsios: Esforando-vos
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diligentemente (Spouda/zw) por preservar (thre/w) a unidade do Esprito no
11

A palavra tem o sentido de cumprir, completar (At 20.24); terminar (Lc 2.43; 13.32); realizar
(Jo 4.34; 5.36),
consumar (Jo 17.4; 19.28; At 19.28; Tg 2.22), aperfeioar/tornar
perfeito/aperfeioado (2Co 12.9; Hb 2.10; 5.9; 7.19; 9.9; 10.1,14;11.40; 12.23; 1Jo2.5; 4.12,17,18);
perfeito (Hb 7.28; 1Jo 4.18); perfeio (Fp 3.12).
12

Depois, vendo Jesus que tudo j estava consumado (tele/iow), para se cumprir a Escritura, disse:
Tenho sede (Jo 19.28).
13

Joo Calvino, A Verdadeira Vida Crist, So Paulo: Novo Sculo, 2000, p. 39.

14

O que Ele pede em orao aqui que esta unio, que j existe, seja guardada, seja
continuada e seja preservada por Seu Pai [D.M. Lloyd-Jones, Crescendo no Esprito. So
Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 2006 (Certeza Espiritual: Vol. 4), p. 157].
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Spouda/zw, que bem traduzido por esforando-vos diligentemente (ARA), tem a sua nfase
enfraquecida em ACR, ARC e BJ, que o traduzem por procurando. Spouda/zw ocorre 11 vezes no
NT (* Gl 2.10; Ef 4.3; 1Ts 2.17; 2Tm 2.15; 4.9,21; Tt 3.12; Hb 4.11; 2Pe 1.10,15; 3.14), tendo o
sentido de correr, apressar-se, fazer todo o esforo e empenho possvel, urgenciar, ser zeloso,
diligente, esforo, aplicao. Spouda/zw denota uma diligncia que se esfora por fazer todo o
possvel para alcanar o seu objetivo. Paulo, preso em Roma pede a Timteo esta urgncia em
encontr-lo (2Tm 4.9,21). Depois, em outro contexto, solicita o mesmo a Tito (Tt 3.12). Esta palavra
tem tambm uma implicao tica, visto que est associada, por exemplo, ao esforo que os crentes
devem despender em manter a unidade (Ef 4.3), ao zelo em socorrer a outros irmos (Gl 2.10; 2Co
8.7,8,16) e, em corrigir uma injustia (2Co 7.11-12). Por sua vez, recomendado que aquele que
lidera (preside), deve faz-lo com empenho (diligncia, zelo) (Rm 12.8). Pedro demonstrou esta
mesma diligncia em ensinar o Evangelho s Igrejas (2Pe 1.15). Judas revela o mesmo ao escrever a
sua epstola (Jd 3).
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Thre/w, alm desta traduo tem o sentido de deter, guardar, conservar, observar, reservar,
proteger, guardar com um propsito ou por um tempo determinado (At 25.21;1Pe 1.4; 2Pe 2.4,9,17;
3.7). A idia de manter seguro, preso. Lucas assim narra o episdio da priso de Pedro: Pedro,
pois, estava guardado (thre/w) no crcere; mas havia orao incessante a Deus por parte da igreja a
favor dele.Quando Herodes estava para apresent-lo, naquela mesma noite, Pedro dormia entre dois
soldados, acorrentado com duas cadeias, e sentinelas porta guardavam (thre/w) o crcere (At
12.5-6). Relatando a situao de Paulo e Silas presos, Lucas diz: E, depois de lhes darem muitos
aoites, os lanaram no crcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse (thre/w) com toda a
segurana (At 16.23). Flix, orienta o Centurio no que se refere a Paulo: E mandou ao centurio
que conservasse a Paulo detido (thre/w), tratando-o com indulgncia e no impedindo que os seus
prprios o servissem (At 24.23). Festo, porm, respondeu achar-se Paulo detido (thre/w) em
Cesaria; e que ele mesmo, muito em breve, partiria para l (At 25.4). Festo narrando ao rei Agripa o

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vnculo (Su/ndesmoj) da paz (Ef 4.3). A idia expressa neste substantivo,
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Su/ndesmoj, a de unir, manter as coisas ligadas, ligar, algemar, prender, amarrar,
acorrentar. (*At 8.23; Ef 4.3; Cl 2.19; 3.14). A paz promove a perpetuao da
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unidade. A paz enlaa, envolve a unidade com as cordas do amor. (Vd. Cl
19
3.14). No devemos permitir que a unidade do Esprito seja abalada em nosso
relacionamento. A unidade obra do Esprito, mas cabe a ns viver a sua plenitude
no vnculo da paz (Rm 12.18) e no amor de Cristo (Jo 13.34-35; 15.12,17). O prprio
tempo verbal de esforando-vos, (Spouda/zw) (particpio presente), apresenta o
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conceito de um esforo contnuo, sem esmorecimento.
Comentando sobre o egosmo humano que gera divises na Igreja e, ao mesmo
tempo, a falta de tolerncia, Calvino escreve, exortando-nos amar os nossos
irmos:
H tanta rabugice em quase todos esses indivduos que, estando em
seu poder, de bom grado fariam para si suas prprias igrejas, porquanto se
torna difcil acomodarem-se aos modos das demais pessoas. Os ricos
invejam uns aos outros, e raramente se encontra um entre cem que
acredite que os pobres so tambm dignos de ser chamados e includos
entre seus irmos. A menos que haja similaridade em nossos hbitos, ou
alguns atrativos pessoais, ou vantagens que nos unam, ser muitssimo
difcil manter uma perene comunho entre ns. Essa advertncia, pois, se
torna mais que necessria a todos ns, a fim de sermos encorajados a
amar, antes que odiar, e no nos separarmos daqueles a quem Deus nos
uniu. Torna-se urgente que abracemos com fraternal benevolncia
queles que nos so ligados por uma f comum. indubitvel que a ns

ocorrido com Paulo, diz: Mas, havendo Paulo apelado para que ficasse em custdia (thre/w) para o
julgamento de Csar, ordenei que o acusado continuasse detido (thre/w) at que eu o enviasse a
Csar (At 25.21).
17

O verbo sunde/w ocorre uma nica vez no NT (Hb 13.3). Ele constitudo de duas palavras su/n,
junto com e de/w, amarrar, atar, prender, algemar, casar (Mt 12.29; 16.19; Lc 13.16; Jo
19.40; At 9.2; 21.11,13,33; Rm 7.2; 1Co 7.27, etc.). Do mesmo modo, o substantivo (Su/ndesmoj)
composto de su/n, junto com e desmo/j, priso, cadeia, algemas (Lc 13.16; At 23.29,31; Fp
1.7,13,14,17; 2Tm 2.9, etc.). No texto de Efsios, Paulo j empregara a expresso para si, como
prisioneiro de Cristo Jesus (Ef 3.1) e prisioneiro do Senhor (Ef 4.1). Em ambos os textos, a palavra
de/smioj, expresso muito utilizada por Lucas e pelo prprio Paulo para falar de suas prises. Ver:
At 16.25; 23.18; 25.14; 27; 28.17; 2Tm 1.8; Fm 1,9.
18

William Hendriksen, Exposio de Efsios, So Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Ef 4.2-3),
p. 230.
19

Acima de tudo isto, porm, esteja o amor, que o vnculo (su/ndesmoj) da perfeio (teleio/thj)
(Cl 3.14).
20

Lloyd-Jones interpretando o emprego de Spouda/zw no texto, diz: Devemos apressar-nos a


fazer alguma coisa, a mostrar grande interesse, a expressar solicitude - esforando-vos para
guardar. Acima de tudo mais, diz o apstolo, como cristos nesta vocao para a qual
vocs foram chamados, apressem-se a fazer isto, sejam diligentes quanto a isto, nunca o
esqueam, seja esta a coisa principal da sua vida; acima de todas as outras coisas, mostrem
grande interesse e solicitude com respeito a unidade que existe entre vocs. (D.M. LloydJones, A Unidade Crist, p. 36-37).

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compete cultivar a unidade da forma a mais sria, porque Satans est
bem alerta, seja para arrebatar-nos da Igreja, ou para desacostumar-nos
21
dela de maneira furtiva.
Em 19 de agosto de 1561, na Dedicatria de seu comentrio do Profeta Daniel,
Calvino fala de seu esforo por manter a paz o que nem sempre tem sido possvel
, e, ao mesmo tempo, estimula seus irmos a no ultrapassarem determinados
limites. Escreve:
Mais ainda, vossa incumbncia, amados irmos, tomar prudente
cuidado para que a verdadeira religio possa novamente readquirir uma
posio s; isto , at onde cada um tiver o poder e a vocao. No
necessrio dizer o quanto tenho lutado para remover toda e qualquer
ocasio geradora de tumultos at agora. Clamo aos anjos e a vs para
testemunhardes diante do supremo juiz que no de minha
responsabilidade que o progresso do reino de Cristo no tenha sido calmo
e inofensivo. De fato, julgo ser em decorrncia de meu cuidado que
22
pessoas particulares ainda no passaram dos limites.
A unidade da Igreja revela ao mundo o fato de que Deus nos ama como ama ao
Seu Filho unignito e, que este amor, se revelou de forma insofismvel, na vinda do
Seu Filho amado para morrer pelos pecadores (Jo 3.16/Jo 17.21-23). Desta forma, a
Igreja o testemunho histrico do amor de Deus.
Francis Schaeffer (1912-1984), comentando sobre a nossa responsabilidade, diz:
No podemos esperar que o mundo creia que o Pai mandou o Filho,
que as reivindicaes de Jesus sejam verdadeiras, e que o cristianismo
seja verdadeiro, a no ser que o mundo veja alguma realidade na
23
unidade de cristos verdadeiros.

Consideraes Pontuais:
1. A gravidade e conforto de nossa situao. Estamos no mundo, mas no somos do
mundo. Vivemos num ambiente hostil. A nossa presena como resultante de nosso
novo nascimento (Jo 3.3,5; Tt 3.5) se constitui num incmodo para a sociedade que
vive to intensamente de aparncia.
A intercesso de Cristo em nosso favor, mesmo nas vsperas de sua
24
crucificao, aponta para a severidade da nossa condio. Contudo, temos aqui
21
22

Joo Calvino, Exposio de Hebreus, So Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 10.25), p. 272-273.
Joo Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, So Paulo: Parakletos, 2000, Vol. 1, p. 26.

23

F.A. Schaeffer, O Sinal do Cristo, Goinia, GO.: ABUB/APLIC., 1975, p. 24. Vd. tambm, A.
Richardson, Introduo Teologia do Novo Testamento, So Paulo: ASTE., 1966, p. 286-287.
24

D.M. Lloyd-Jones, Seguros Mesmo no Mundo, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas,


2005 (Certeza Espiritual: Vol. 2), p. 147ss.

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um grande conforto. O Senhor cuida de ns. Ele jamais se esquece do seu povo:
Pois o necessitado no ser para sempre esquecido, e a esperana dos aflitos no
se h de frustrar perpetuamente (Sl 9.18).
2. O Estudo da Palavra de Deus deve ter como objetivo fundamental, nos conduzir a
Ele em reverncia e adorao;
3. A Palavra de Deus revela-nos Quem Deus e o que Ele fez;
4. A Palavra de Deus para ser vivenciada: guardada em nosso corao;
5. O nosso compromisso primeiro com Deus e com a Sua Palavra; ns no somos
do mundo;
6. A Palavra de Deus a verdade real e verdadeira para todas as pocas e
circunstncias de nossa vida;
7. Cabe a ns proclamar a Palavra de Deus, anunciando-a com fidelidade (Jo 17.
18,20-21);
8. Os crentes so santos em santificao: devemos estudar a Palavra rogando a
Deus o discernimento necessrio para entend-la e pratic-la, a fim de que
possamos cada vez mais nos aproximar do ideal de santidade proposto por Deus ao
Seu povo.
9. Fomos chamados e capacitados por Deus para usar destes recursos no servio
do Reino, nos comprometendo mutuamente em nos ajudar a fim de que possamos
amadurecer em nossa f para a glria de Deus.
10. Devemos nos esforar por preservar a unidade da Igreja na verdade de Cristo,
vivenciando-a em amor.

So Paulo, 30 de novembro de 2009.


Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

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