Terra, Kenner
Terra, Kenner
Terra, Kenner
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Resumo: Neste artigo, analisarei algumas imagens presentes em Atos 2,14 para aproxim-las s da apocalptica judaica, em especial dos textos produzidos pelo movimento ou judasmo enoquita. A proposta perceber alguns elementos da tradio judaica que serviram para descrio e legitimao dos cultos extticos das primeiras comunidades crists. Palavras-chave: lnguas de fogo, xtase religioso, Cristianismos originrios e apocalptica.
Abstract: In this article, I will analyze some present images in the Acts 2.1-4 to bring them to the Jewish apocalyptic, especially the texts produced by motion or Enochic Judaism. The proposal is to understand some elements of Jewish tradition that served to legitimize and description of the ecstatic cults of the early Christian communities. Keywords: tongues of fire, religious ecstasy, original Christianity and apocalyptic.
Mestre em Cincia da Religio (UMESP), Doutorando em Cincia da Religio (UMESP), Membro do Grupo Oracula (UMESP) e Membro da ABIB (Associao Brasileira de Interpretao Bblica).
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movimento apocalptico no Judasmo (Rowland, 2009, p. 11). Essa afirmao reproduz resumidamente os resultados de anos de pesquisas a respeito do Cristianismo, ou melhor, dos Cristianismos das origens. consenso, como as atuais pesquisas reconhecem, que o imaginrio religioso da apocalptica judaica serviu smbolos, temas, motivos literrios e cdigos para vrias prticas e textos do movimento inaugurado por Jesus, um profeta apocalptico que anunciou a chegada do reino escatolgico de Deus no perodo do segundo templo. Afirmar que o Cristianismo incipiente um movimento apocalptico judaico, primeiro, pressupe-se a existncia de variados grupos dentro do plural judasmo, entre os quais aquele um deles. Como tambm, entender que as origens crists esto intimamente ligadas apocalptica judaica (Collins, 2010, p. 365), a qual, em constante contato com culturas babilnicas, persas e helnicas produziu textos que refletem uma interpretao da vida luz de experincias religiosas de xtase, que
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permitiam o acesso s realidades celestiais (Rowland, 1982; Himmelfarb, 1993) e criavam a esperanas da iminente interveno divina (Collins, 2010, p.17-70). Inserir a origem crist no judasmo apocalptico afirmar a continuidade, mesmo que criativa e
intercambivel, entre o mundo religioso do judasmo e o movimento cristo dos primeiros sculos. Desta forma, podemos entender, por exemplo, a afirmao de Rowland: essa a nossa afirmao, que uma boa compreenso da Teologia do Novo Testamento e Cristianismo das origens incompleta se o material mstico e apocalptico no forem tratados seriamente (Rowland, 2009, p. 11). Neste sentido, o movimento cristo, ou os Cristianismos, testemunhado na literatura neotestamentria deve muito apocalptica, em especial em seu mbito de perspectiva religiosa, ou o que Paul Hanson chama de escatologia apocalptica. Para esse pesquisador, que divide a apocalptica judaica em trs mbitos (gnero, movimento social e perspectiva religiosa)1, a escatologia apocalptica
Para outras obras que trabalham esses conceitos, ver: Ditommaso, 2007, p. 235-268; Collins,1979; Boer, 2000, p. 11-24. J. J. Collins fez
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como uma forma de ver os planos divinos em relao s realidades terrenas, na qual o mundo encontra-se na iminncia da transformao para o novo eon (cf. 4 Esdras 7,50), o reino de Deus, em detrimento do atual, que est corrompido e cheios de demnios (Cf. Jubileus 5) (Hanson, 1976, p. 27-34). Com os manuscritos encontrados em Qumran, desde a dcada de quarenta do sculo passado, as pesquisas sobre a relao do movimento cristo com o judasmo apocalptico os Manuscritos do Mar Morto parecem refletir uma comunidade judaica com caractersticas apocalpticas (Garca Martnez, 2007, p.1) foram mais frutferas, primeiramente porque se
encontraram temas comuns ao Cristianismo em Qumran, revelando inquestionveis relaes de dependncia e apropriao imaginria (Charlesworth, 2006, p. xviii), e,
a distino entre apocalipsismo como viso de mundo e apocalipse como forma literria (COLLINS, 2010, p. 17-31). Para um resumo da discusso: Collins, 1974, p. 21-43. Para as origens e natureza da apocalptica judaica, ver: Hanson, 1975. Para definio do termo apocalipse, mas em uma perspective crtica aos trabalhos de J. J. Collins e P. Hanson, ver: Grabbe; Haak, 2003, p. 2-37.
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consequentemente, revelaram a matriz judaica de onde surge o Cristianismo (Barrera, 1996, p. 254). Esse cruzamento cultural, testemunhado nos textos demonstrando continuidade e descontinuidade;
apreenso e (re) significao de conceitos e imagens religiosas , possvel ou quase necessrio, por exemplo, na definio de cultura exposta pela escola russa de semitica da cultura. A cultura interpretada por seus tericos como fenmeno interativo sem existncia isolada e com um campo conceitual unificado fundado no processamento, na troca e na armazenagem de informaes (Machado, 2003, p.54). O prprio conceito lingusticos de discurso acaba levando-nos ao mesmo pressuposto, pois percebe que ele sempre vazado por outros discursos (Fiorin, 2007, p. 35), como tambm no nvel dialgico da linguagem (Bakhitin, 1988). Partindo desse ponto de vista metodolgico, analisaremos um texto neotestamentrio que esquematiza ou constri um discurso teolgico sobre a origem da igreja, a saber, o livro bblico Atos dos Apstolos. Logo no segundo captulo, ele apresenta de maneira esquematizada
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a conhecida narrativa de At 2,1-13, a descida do Esprito, na qual o autor apresenta uma proposta de origem da igreja. Vale lembrar que o redator no pode ser analisado luz dos pressupostos modernos da
historiografia de perspectivas positivistas, pois cria, como qualquer historiador2, por interesses redacionais claros, a histria das origens crists. O interessante est na presena da linguagem exttica do texto, e como essa experincia descrita ladeada por temas e imagens j presentes na literatura apocalptica, em especial a enoquita. Pelo menos, trs temas saltam os olhos: lnguas (como) de fogo, som de ventos e glossolalia. Alm da ntida relao com as teofanias veterotestamentrias, esses temas tambm esto em dilogo com os apocalipses de tipo viagem celestial, nos quais encontramos visionrios que so levados at o trono de Deus, onde contemplam o templo celestial.
Como bem explicou Pedro Paulo Funari e Glaydson Jos da Silva, o passado criado pelo historiador e organizado em texto (Funari; Silva, 2008, p. 91-92). O prprio conceito de enredo nos ajuda na desmitologizao da ideia de neutralidade e objetividade na suposta descoberta e apresentao do passado (Marguerat, 2003, p.17)
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Para percebermos essa relao entre as imagens de Atos e a literatura que a antecede, primeiramente, far-se- uma anlise exegtica do texto, destacando seus temas e a experincia de xtase religioso refletida em sua
linguagem. Depois, ensaiar-se- algumas concluses sobre a relao desse texto com a possvel comunidade crist que ele representa.
Atos 2, 1-47 segue uma forma literria dominante na primeira metade da obra lucana, como tambm no livro Apcrifo de Atos, que pode ser chamada de narrativa de propaganda religiosa (Pervo; Attridge, 2009, p.58). Na primeira parte dessa moldura (2,1-13), a anlise literria pode revelar, com certo grau de certeza, dois ntidos blocos: 1-4 (xtase e glossolalia) e 5-13 (anncio s naes). Os versos 1-4 so emoldurados sob a ideia de todos: todos reunidos (v.1) e todos cheios (v.4) (Pervo;Attridge, 2009, p.58). Como diz Paulo Nogueira:
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Inicialmente nossa abordagem do fenmeno aponta para o fato de que Lucas mascara a glossolalia deslocando-a de contexto. Em At 2, ele transforma o falar em outras lnguas do xtase cultual em incio da pregao do Evangelho. Isso cabe muito bem no propsito teolgico e literrio de Lucas. O fato de que judeus e proslitos ouvissem em sua prpria lngua ou seja, na lngua da dispora a pregao dos discpulos serviria de abertura exemplar da evangelizao do Imprio desde Jerusalm at Roma. Essa reformulao redacional do fenmeno realizada pela mudana sutil de cenrio: se antes os discpulos estavam reunidos em um mesmo lugar, o que indicaria um lugar central de Jerusalm no qual se convertiam e eram batizados 3 mil pessoas. O texto dos versos 1-4 poderia ter cabido perfeitamente em um contexto de cultos das primeiras comunidades (Nogueira, 2003, p. 62).
A reformulao redacional domestica o fenmeno de xtase e lnguas com auxlio das tradies judaicas (Witherington III, 1998, p. 130). A festa de pentecostes o nome dado no Novo Testamento para a celebrao da Festa das Semanas, e era realizada no quinquagsimo dia depois da Pscoa (Witherington III, 1998, p. 130). No livro de Jubileus (Jub. 6), importante obra judaica do Sc.
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II a.C (Witherington III, 1983, p.43-45), encontramos a conexo dessa festa com a renovao da aliana de No e de Moiss. E Flon, ao falar da entrega da Lei, diz: e uma voz soou do fogo que descia do cu, uma voz muito maravilhosa e terrvel. A chama foi dotada de linguagem familiar para seus ouvintes (Decal. 46 apud Yonge, 1996, p. 522). Na tradio rabnica (b. Shab. 88b), Sc. II d.C, com origens mais antigas, encontramos a crena na inicial proclamao da Lei a setenta naes (Witherington III, 1998, p. 131). Talvez, Lucas tenha domesticado o fenmeno de xtase usando a tradio da proclamao da Lei s naes, que em Atos so os judeus da dispora, ocultando o carter exttico da experincia da narrativa mais antiga. Isolando At 2, 1-4, torna-se possvel aproxim-lo a outros textos que testemunham as experincias de glossolalia e profecia da comunidade crist. Na lista dos carismas de 1 Co 12, 1-11, o fenmeno de (outras lnguas) est entre os demais dons disponibilizados pelo Esprito. Enquanto em Atos essa mesma experincia sempre possvel por intermdio dos
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apstolos (8,14-17; 19, 1-7), na comunidade crist em Corinto no h intermedirios. Essa aparente liberdade de expresso e acesso ao fenmeno, no pode ofuscar o ntido desejo de Paulo em domestic-lo, especialmente nos cultos pblicos (1 Co 14, 1-39), pois a maior preocupao era a oikodom (edificao) (1 Co 14, 3), possvel atravs da inteligibilidade da mensagem. Por isso, ele fala da superioridade da profecia, ou a necessidade de interpretao (1 Co 14, 2-12): ... aquele que fala em lnguas no fala a homens, mas a Deus; ningum entende... mas aquele que profetiza fala aos homens (14,2.3); ... caso no haja intrprete, aguardem em silncio (14,28). Uma vez que a prpria interpretao tambm um dom (1 Co 12, 10), a prpria inteligibilidade disponibilizada carismaticamente pelo Esprito. Aproximando essas testemunhas textuais, podemos coloc-las em um mesmo lcus de experincias crists primitivas de xtase religioso. Tanto Atos 2,1-4 como 1 Co 14 refletem o fenmeno da glossolalia como expresso no compreensvel linguagem das naes conhecidas, pois diz respeito dimenso no racional das experincias
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com o Esprito, por mais que pudesse ser regulada (1Co 14, 26-40). O que isso significa para a histria das comunidades crists originrias? Essa pergunta poder ser respondida com o destaque e anlise de alguns indcios de experincias religiosas no texto.
At 2, 1-4: lnguas de fogo, som de vento e xtase religioso O texto narra a experincia assim:
1. . 2. 3. , 4. . 1. E se completando o dia de Pentecostes estavam todos juntos sobre o mesmo lugar. 2. E ocorreu
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inesperadamente do cu um rudo parecido com um violento vento desencadeado e encheu toda casa onde estavam assentados 3. e foram vistas por eles lnguas divididas em parte, lnguas como de fogo, e pousou-se sobre cada um deles, 4. e todos foram preenchidos do Esprito Santo e comearam falar diferentes/outras lnguas de acordo como o esprito capacitava-lhes falar3.
O texto de At 2,1-4 comea dizendo que no dia de Pentecostes, cinquenta dias depois da pscoa, os discpulos estavam reunidos. De repente (), surgiu do cu um som, ou eco (), como de um desencadeado vento violento e encheu ou preencheu toda a casa onde estavam assentados (2,1-2). Lucas no fala de vento real, mas do som parecido com um vento forte, um barulho. A imagem do vento lembra as teofanias da tradio judaica (Ex 19,16-19, 1 Rs 19,11; Is 66,15; 4 Esd 13.10) (Pervo;Attridge, 2009, p. 61). O interessante o fato de o som encher a casa. Isso lembra a mesma expresso de xtase do visionrio Joo do Apocalipse: virei-me para
3
Traduo pessoal
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ver a voz ( ) (Ap1,12). Ver a voz e som que enche so expresses de transe ou xtase religioso. Da experincia auditiva, ou melhor, semi-auditiva (o som enche o lugar), so vistas por eles lnguas como de fogo. Estas so divididas sobre cada um deles (2,3). O texto continua dizendo que foram preenchidos do Esprito Santo e por isso comearam a falar em outras lnguas (hterais glssais), conforme o mesmo Esprito dava-lhes capacidade para falar (v.4), ou de acordo como Ele concedia. Segundo Felicitas Goodman, a glossolalia no um comportamento natural dirio, mas um estado alterado da conscincia (Goodman,1972, p.31). Aqui chegamos ao auge da experincia exttica da cena. Depois de completados/preenchidos do Esprito, eles comeam a falar lnguas, concedidas pelo o que desceu do cu. O texto mostra a possesso para a expresso da glossolalia: ... foram preenchidos do Esprito Santo e comearam falar diferentes/outras lnguas de acordo como o Esprito capacitava-lhes falar (v.4). Uma das expresses do xtase
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na religiosidade antiga, segundo I. Lewis, ser tomado pela divindade (Lewis, 1977, p.18). O quarto verso usa o verbo para se referir ao falar com influncia do Esprito. Essa expresso se refere ao falar proftico ou inspirado, em xtase. E pode ser traduzida como falar com fora, claro, com nfase (Kittel, 1995, p.75). Na Septuaginta o verbo usado no particpio para traduzir a palavra profeta em Ml 5,11, como tambm a ao de profetizar de 1 Cr 25, 1. Em Atos usada para caracterizar o discurso de Pedro depois do pentecostes (2,14) e o de Paulo diante de Agripa (26,25), que podem ser vistos tanto como um falar comum, como tambm uma fala inspirada ou conduzida por uma experincia de xtase ou transe, especialmente em At 2,14. Percebemos no texto algumas imagens
importantes: som de vento, lnguas como de fogo ladeadas por expresso de xtase e glossolalia pela possesso do Esprito. Esses temas costumam a parecer na apocalptica Judaica, especialmente nos de tipo viagem celestial.
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Na apocalptica judaica, alm do tema da escatologia, que importante para entender esse mundo literrio (Collins, 2010, p.30), encontramos a preocupao com as realidades celestiais. Collins chega a falar em um tipo especfico de apocalipse, viagem celestial, que marcado por especulaes cosmolgicas (Collins, 2010, p. 24). Nestes textos, o visionrio levado at regies celestiais e contempla a organizao csmica, as funes dos anjos e o templo celestial, com a Mercavah. Atravs dessas experincias o visionrio alm de ter acesso a uma sabedoria superior, ele passava por transformaes angelomorficas4 (2 En). Alm da tradio judaica, no Mundo Antigo em geral a experincia xamnica de xtase e viajar para o cu era comum (Adela Collins, 1996, p.13; Tabor, 1999;
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Angelomorfismo um conceito utilizado por alguns pesquisadores do judasmo do segundo templo para designar a transformao ocorrida por personagens em anjos ou seres divinos, por meio de divinao derivada do prprio Deus. Na tradio judaica encontramos personagens veterotestamenrios como Moiss, Melquisedec, Filho do Homem, Enoque etc. com caractersticas angelomorficas. Para um maior aprofundamento do assunto, ver: Gieschen, 1998, p. 51-187.
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Tabor, 1986, p.42). Para Tabor, o tema da jornada celestial pode ser dividido em quatro tipos bsicos ou categorias (Tabor, 1999). O primeiro, ascenso como uma invaso do cu, um tipo de ascenso celestial com ideia de invaso do reino celestial de Deus. No segundo tipo, Ascenso para receber revelao, a ascenso envolve uma viagem de ida e volta da terra ao cu ou da experincia visionria da corte celestial, da qual algum retorna experincia normal (subida/descida). Neste tipo de viagem celestial, no h a ideia de invaso, como no anterior. A terra o lugar da morada dos homens, mas o cu pode ser visitado. Esta compreenso de ascenso domina o Livro dos Vigilantes (1 En 1-36). A figura lendria de Enoque levada pelos reinos celestes e descobre segredos csmicos, aparecendo at mesmo diante do sublime trono de Deus. A verso grega do Testamento de Levi (Sc. II a.C.) utiliza o tema da ascenso de um modo semelhante, como faz a Vida de Ado em latim (Sc. I d.C.) e o Apocalipse de Abrao. Em cada um destes textos a ascenso funciona como um veculo de revelao e oferece autoridade divina para a sabedoria
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csmica e escatolgica, legitimando ideias de diferentes partidos. No terceiro, ascenso para a vida celeste imortal, um mortal obtm a imortalidade e vai morar entre os seres celestiais. Isso pode acontecer de duas maneiras: (1) um personagem pode receber uma vida divina imortal, ou (2) a alma, presa a mortalidade, pode receber a vida divina imortal. O quarto tipo, ascenso como um antegozo do mundo divino, a ascenso envolve uma jornada ou visita ao cu que funciona como antecipao da ascenso final vida celeste. Embora relacionado segunda categoria a ascenso para receber revelao , esta fundamentalmente diferente. Em 1 Enoque 39, falase como o visionrio foi levado ao cu e sua experincia de transformao (39.14), e lhe dito que depois ascenderia permanentemente ao cu e receberia glria e vida imortal divina (cap. 70-71). 2 Enoque tambm reflete um padro semelhante. A jornada de Enoque pelos sete cus, na qual permaneceu 60 dias (cap. 1-20), seguida por um retorno a terra. A experincia o transforma e
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funciona como antecipao de sua translao final para o cu. H, tambm, um texto importante entre os Papiros Mgicos Gregos, chamado de Liturgia de Mitra (PGM 4. 624-750), no qual h um iniciado que deseja ascender ao cu para fazer a jornada com todos seus perigos e potencialidades. H textos judaicos, tais como Hekhalot Rabbati, que tm fortes paralelos com tais materiais mgicos, mostrando que estamos lidando aqui com um fenmeno comum no Mundo Antigo (Davila, 2001, p.3242). Pelo que parece, as experincias msticas de viagens at as regies celestiais e o acesso s revelaes, especialmente no misticismo judaico, estavam
intimamente ligadas ao xtase ou ao estado alterado de conscincia (Malina, 1995, p. 27-28). Por exemplo, no final da primeira viso a respeito da origem do mal no mundo, 4 Esdras diz: acordei com o corpo tremendo de medo e a alma to fadigada de desmaiar; mas aquele anjo que veio e tinha falado comigo me sustentou, fortalecendo-me me colocou de p (5.14-
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15). Enoque, no Livros das Parbolas de Enoque, depois de ver o Principal de Dias, est em xtase: ca de rosto no cho, e toda minha carne se dissolveu e meu esprito se transtornou. Gritei em alta voz com grande fora, eu bendisse, elogiei e exaltei (1 En 71,11) No misticismo apocalptico5, entre outras coisas, o visionrio vai at o palcio divino e contempla coisas que lembram as imagens que esto relacionadas experincia de xtase de At 2,1-4, como mostraremos a seguir. Podemos adiantar que o texto lucano no tem
caractersticas de uma experincia de viagem celestial, mas cita algo que Enoque encontrou no cu durante sua viagem.
(...) a distino/similaridade entre apocalptica e mstica judaica diz respeito a gneros literrios diferentes facilmente distinguveis, mas que relatam experincias religiosas semelhantes. Assim, misticismo apocalptico rene gneros literrios distintos que narram ou pressupem experincias e prticas religiosas similares, como viagens celestiais, vises extticas e transformao (Machado, 2009, p.86). No perodo do segundo templo, o misticismo judaico era preponderantemente apocalptico.
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O livro de 1 Enoque uma obra composta por cinco livros: Livros dos Vigilantes (6-36), Parbolas de Enoque (37-71), Livro Astronmico (72-82), Livro dos Sonhos [com o apocalipse dos Animais] (83-90) e Epstola de Enoque (91-105). Dentro da Epstola de Enoque encontramos o Apocalipse das Semanas (93, 1-10; 91, 1117). Em Qumran foram achados em aramaico pedaos de todos esses livros6 com exceo ao livro das Parbolas. Em Qumran, do Livro Astronmico, por exemplo, foram encontradas quatro copias em lugares diferentes. Um fato intrigante para os pesquisadores a presena de onze cpias do Livro dos Gigantes (1Q23; 2Q26; 4Q203; 4Q530-3; 6Q8) (Collins, 1997a, p.22)7.
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Livro Astronmico (4Q208-11); Livro dos Vigilantes (4Q201,202); combinao do Livro dos Sonhos e Livro dos Vigilantes (4Q201,202). 4Q204 tem fragmentos do Livro dos Vigilantes, Livro dos Sonhos, Epistola de Enoque e o Livro de No (1 En 104-107). Ainda temos outros fragmentos do livro dos Sonhos (4Q207) e da Epstola de Enoque (4Q212). 7 O Livro dos Gigantes no estaria na coleo etope porque tem a audcia de afirmar o arrependimento de Semiaza e dos anjos cados,
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1 Enoque o imo de uma antiga e autnoma vertente do judasmo do segundo templo: o judasmo enoquita. Desde 1979, num artigo da revista Henoch, Paolo Sacchi apresentou Enoque no somente como um prottipo do gnero apocalptico, mas tambm de uma distinta variante do judasmo (Boccaccini, 2005, p.4). Em 1990, o mesmo Sacchi, faz a primeira tentativa de escrever uma histria deste movimento enquico. Segundo ele, o conceito do mal seria sua principal particularidade (Sacchi,1997, p.88-90). Posteriormente, no seu comentrio a 1 Enoque, em 2001, Nickelsburg confirma a existncia desse movimento e complementa dizendo que a lei de Moiss no tinha papel de norma universal no enoquismo (Nickelsburg, 2001, passim). A partir desses trabalhos, nos ltimos anos, Boccaccini defende a existncia desse movimento, e avana relacionando-o com o essenismo. Esse autor chega dizer que o prprio texto de 1 Enoque, nos seus 108 captulos, mostra evidncias de uma
que em outro lugar aparecem como condenados e sem perdo. Sua heterodoxia levou o Livro das Parbolas a ficar em seu lugar. Para uma exposio detalhada do Livro dos Gigantes, ver: Garca Martnez, 1994, p.97-115.
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comunidade ou grupo por causa dos termos coletivos: os justos, os escolhidos, os santos, que indicam uma conscincia de comunidade, que tem o Mito dos Vigilantes como centro narrativo (Boccaccini, 2005, p. 5). J. J. Collins ao afirmar que um movimento ou comunidade pode tambm ser apocalptico se este for formado, em certo grau, por uma especfica tradio apocalptica (Collins, 1997 b, p.37), possibilita Garca Martnez falar de uma enoquita tradio apocalptica, pois tem o livro de 1 Enoque como sua base. Mesmo com diferentes composies, explica Garca Martnez, os textos formam um mesmo movimento, ou esto alicerados em uma mesma tradio; suas diferenas servem para ampliar, na verdade, a viso de mundo de uma obra para outra (Garca Martnez, 2007, p.4)8. Por isso, a contradio
entre Livro dos Vigilantes e Epstola de Enoque, concernente origem do mal, refletem uma mesma
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Essa obra de 2007 possui dois textos de Garca Martnez (Apocalypticism in the Dead Sea Scrolls e Qumran Origins and Early History: A Groningen Hypothesis), que me foram disponibilizados pelo prprio autor via e-mail. Por isso, utilizarei a bibliografia do livro impresso e a numerao do texto enviado.
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tradio ideolgica, chamada de escola enoquita. Mesmo com as contradies, os textos fazem parte de um mesmo fundo tradicional, ou melhor, de uma mesma escola (Garca Martnez, 2007, p.5). Caminhando nessa
perspectiva, Boccaccine parte da hiptese de Groningen para origem de Qumran, e faz uma convincente apresentao da existncia de um movimento escriba sacerdotal conhecido como judasmo enquico ou
enoquita, que teve grande influncia no mundo judaico do segundo templo e nos Cristianismos (Boccaccini,1998). Esse grupo ou comunidade acreditava que ao possuir a divina sabedoria contida nos textos de 1 Enoque, tornavam seus membros uma comunidade escatolgica de escolhidos, que esperavam o julgamento e a consumao do fim dos tempos. Na verdade, no podemos saber como se chamavam ou se autodenominavam, mas certamente tinham Enoque como figura central (Boccaccini, 1998, p.161-185). Segundo Boccaccini, esses textos de Enoque foram escritos por membros do sacerdcio de Jerusalm, mas um grupo antizadoquita. Uma espcie de movimento
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sacerdotal dissidente, ativo em Israel no fim do perodo persa e incio do helnico (IV sc.). Contudo, Boccaccini deixa claro que o enoquismo era um grupo de oposio entre a elite do templo, e no um simples grupo de separatistas. No entanto, o centro do judasmo enoquita no era a Torah nem o Templo (Boccaccini, 1998, p. 48). Os dois grupos (zadoquita e enoquita) interpretavam Ezequiel diferentemente (Boccaccini, 1998, p. 78) e tinham ideias completamente contrastantes sobre a origem do Mal. At cerca de 200 a.C, enoquismo e zadoquismo eram duas distintas e paralelas linhas de pensamentos no judasmo (Boccaccini, 1998, p. 76). Segundo Martha Himmelfarb, a origem da tradio de ascenso de 1 Enoque 14, texto importante para o judasmo enoquita, est na viso do trono carruagem de Ezequiel, pois marca o incio da tendncia para dissociar a casa celestial de Deus do templo em Jerusalm (Himmelfarb, 1993, p.11). Em Ezequiel, o templo deixa de ser apto para preservar a glria de Deus. As viagens
celestiais serviriam para acessar o verdadeiro templo (Himmelfarb, 1993, p. 13). A ascenso de Enoque
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preservada no Livro dos Vigilantes serviu de modelo para outros apocalipses de viagem celestial inclusive para o 2 Enoque porque apresenta o cu como o templo de Deus (Himmelfarb, 1993, p. 14). O mundo da Mercavah e as lnguas de fogo em 1 Enoque 14 Mercavah uma expresso hebraica que significa carruagem. H uma literatura do mundo judaico conhecida como misticismo da Mercavah, que tem suas razes em Ez 1 e se desenvolveu no judasmo posterior. Esse grupo de textos gira em torna do acesso mstico ao trono-carruagem de Deus, acessado por viagens celestiais, como acontece em 1 Enoque 12-14. A partir do captulo 12 de 1 Enoque, o visionrio est entre os anjos (1 En 12, 1-4), os quais pecaram com as filhas dos homens (1 En 6-11). Os mesmos pedem a Enoque que interceda a Deus por seus destinos e de seus filhos, mas sua interseo no foi acatada e a condenao seria inevitvel (1 En 14, 1-7). Logo adiante, de maneira
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inesperada, o texto diz: mostrou-me uma viso assim (1 En 14,8). Depois, Enoque levado ao cu (14,8). Ao chegar l, ele passa por alguns compartimentos e contempla a majestade da realidade celestial. Himmelfarb (1993, p. 15) e Nickelsburg (1981, p. 508) perceberam que no texto o cu e dividido em trs partes, lembrando o templo. Primeiro, Enoque passa pelo ptio:
Entrei at chegar-me ao muro construdo com pedras de granizo, que rodeado por uma lngua de fogo, e comecei assustarme. Entrei na lngua de fogo e me aproximei at a casa construda com pedras de granizo, cujo muro e pavimento so lpidas pedras de granizo. Seu solo tambm de granizo. Seus tetos, claros como estrelas e relmpagos, onde esto os gneos querubins; e seus cus so como gua. Havia fogo ardente ao redor das paredes e tambm a porta se abrasava em fogo (1 En 14, 12). (Diez Macho, 1982, p. 51).
Depois ele entra na casa, a qual estava cercada por esses muros com lnguas de fogo, e l cai e tem a viso de outra casa maior:
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Entrei nesta casa que ardia como fogo e fria como granizo, onde no havia nenhum prazer ou vida, e o medo tomoume e o terror oprimiu-me. Ca com a face no cho e tive uma viso: eis que havia outra casa, maior que esta, a qual as portas estavam abertas diante de mim, construdas de lnguas de fogo era tudo to esplendido, ilustre e grande que no posso contar o tamanho da glria e grandeza. Seu solo era de fogo; por cima tinham relmpagos e orbitas astrais; seu teto, de fogo abrasador (1 En 14,13-17). (Diez Macho, 1982, p. 51).
Enoque contempla o templo celeste. Ele glorioso e a linguagem que o descreve pesada e repetitiva. Os elementos que poderiam ser antagnicos na realidade terrestre l convivem naturalmente (gua, fogo, granizo).
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Um desses, em destaque na cena, o fogo. Ele est nas portas, nas paredes e debaixo do trono, inclusive como lnguas de fogo. Essas lnguas esto sobre a parede da entrada e compunham as portas da casa onde estava o trono (14, 8.15). A imagem de lnguas de fogo no ambiente do trono de Deus tambm aparece em outro texto do judasmo enoquita, Parbolas de Enoque (1 En 37-71), na terceira parbola (58-71). Em 1 En 71,1 o texto diz que Enoque novamente levado ao cu, onde contempla os anjos andando sobre chamas de fogo. Depois ele arrebatado at o mais alto dos cus como acontece com Levi no Testamento de Levi (Tet. de Levi 3, 1-2) e visualiza pedras de escarlate e no meio das pedras contempla lnguas de fogo vivas (71, 5). Novamente o fogo estava no ambiente celestial ao lado de anjos. Na literatura enoquita, muito importante para o mundo judaico e cristo (Terra, 2010, p. 100-140; Vanderkam, 1995, p. 143-180), as lnguas de fogo serviam para descrever o ambiente do templo celestial, nas paredes
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do palcio e nas portas da entrada da casa, onde Deus estava sentado no seu trono.
Imagens
apocalpticas
do
mundo
celestial
Para entendermos a presena desses elementos do trono celestial no texto e na experincia religiosa da comunidade crist, como aparece em At 2,1-4, as obras litrgicas entre os Manuscritos de Qumran so
importantes, pois refletem a ideia comum no Judasmo Antigo da associao com o mundo anglico (Garca Martnez, 2000, p. 188), em especial nos Cnticos do Sacrifcio Sabtico (Shrt = lat ha-shabbat
a-h
4QShirimOlot
ha-sabbat
4QShirotShabb ),
testemunhados em oito cpias na caverna quatro (4Q4004007), uma na caverna onze (11Q17 =11QShirShabb) e em Massada (Fletcher-Louis, 2002, p. 252-254). Os Cnticos tm extticas qualidades e podem evocar experincias msticas ou sete experincias visionrias de membros da comunidade (A. Collins, 1996, p. 14). E
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como alguns pesquisadores afirmam, a leitura dos Shrt proporcionava aos membros da comunidade a participao nos sacrifcios sabticos dos anjos no templo celeste, substituto do templo de Jerusalm (Garca Martnez, 2000, p. 58). Collins chega a afirmar que a experincia de leitura desses textos no contexto litrgico gerava a mesma sensao da leitura dos apocalipses do tipo viagem celestial (Collins, 1997a, p.141), porque conduzia a comunidade caminhada imaginria nos santurios celestes e participao entre os anjos no culto nos cus. Carol Newsom segue o mesmo raciocnio e a firma que a recitao dos cnticos gerava experincia de xtase e levava a comunidade liturgia anglica (Newsom, 1998, p.20). Por isso, Nicklesburg, seguindo esses autores, afirma que:
Em geral, seu contedo no tecnicamente litrgico, isto , os cnticos no se dirigem a divindade. Em vez disso, eles descrevem a anglica adorao e apela para os anjos participarem nessa adorao. Ento, podemos v-los como meio de comunicao com os anjos no ato do louvor, e uma forma de misticismo comunitrio. Eles criavam uma
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experincia pela qual a comunidade na Terra era levada emocionalmente para a presena dos anjos e, certamente, diante do trono da divindade (Nicklesburg, 2005, p.153)
Os Cnticos mostram a ntima relao das realidades celestial e terrena no imaginrio do culto no mundo judaico-cristo. Alm dessa funo de associao, as realidades celestiais so reveladas para servirem de modelo para os cultos humanos, como se fosse possvel contemplar o mundo da casa de Deus servindo-se dele como paradigma da adorao na comunidade. Assim, os sacerdotes anglicos so modelos e legitimadores
transcendentes da funo sacerdotal da comunidade. Em At 2,1-4 encontramos a presena de elementos celestiais no culto cristo. Esse texto, como vimos, pode ser mais antigo do que sua redao lucana e reflete, ao lado de alguns textos paulinos, a imagem de um Cristianismo cheio de experincias de transe religioso e xtase. Na literatura apocalptica, essa experincia religiosa est vinculada a elementos que fazem parte da realidade celestial (da Mercavah). As lnguas de fogo um dos elementos que compem esse quadro, como citamos,
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porque esto nas paredes e portas do trono celestial na viso de Enoque e o prprio fogo, que desde Ezequiel, como tambm na literatura de Qumran, est vinculado a Mercavah. Segundo Paulo Nogueira, a prpria glossolalia fazia parte da realidade do culto celestial. Ele chega a essa concluso com a leitura de 4Q400 frag. 2, 7-11 (Nogueira, 2003, p.66). Nesse texto, na linha 7 aparece a expresso lngua do p em contraste com lngua de conhecimento, da linha 11, que pode ser referncia a algum idioma angelical. Nickelsburg percebe que este contraste claro entre o conhecimento do ser humano com dos seres celestes est no mbito do tributo de louvor a Deus (Nickelsburg, 2005, p.152). Os anjos teriam uma espcie de lngua excepcional na tradio judaico-crist de louvor como o mesmo Nogueira indicou usando o Apocalipse de Paulo (Nogueira, 2003, p.69). Em At 2,1-4 estamos diante de um texto que nos rev-la uma comunidade crist influenciada por imagens apocalpticas acessadas por visionrios em viagens celestiais vinculadas ao misticismo da Mercavah. O texto
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em si no narra uma viagem celestial, mas usa o imaginrio do templo celestial exposto por esse subgnero, muito comum na literatura apocalptica. As lnguas de fogo e a prpria glossolalia faziam parte da realidade celeste, mas luz de At 2 estavam presentes na f das comunidades crists em cultos cheios de xtase. At 2,1-4 d-nos pistas sobre como o mundo apocalptico foi apropriado e (re)significado nas prticas culticas dos Cristianismo (s) Originrio (s). Talvez, como fez Paulo, Lucas domesticou propositalmente, em nvel redacional, essa experincia com o objetivo de criar fronteiras. Acredito, e isso precisa ser averiguado, que na pluralidade de Cristianismos das origens houvesse alguns grupos mais eufricos, que supervalorizavam as
experincias extticas e o mundo apocalptico. E mais, possvel, como acontecia com os Cnticos do Sacrifcio Sabtico, que suas tradies fossem usadas para incentivo e legitimao de experincias coletivas.
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Concluso
Cristianismos das Origens sem tratarmos com cuidado a apocalptica judaica. No texto de At 2,1-4, creio ser essa afirmao indispensvel, pois a narrativa revela alguns indcios da presena de temas do imaginrio apocalptico das viagens celestiais. E mais, a experincia religiosa refletida na narrativa revela um Cristianismo de liturgia no controlada, como alguns exegetas pintaram durante bom tempo sobre a origem crist, mas de uma comunidade com experincias extticas e que compartilhava as realidades apocalptica. Depois de muito tempo aps sua produo e circulao, o mesmo texto serviria, durante o Sc. XX, para outros movimentos cristos carismticas, tais como o Pentecostalismo Clssico e a Renovao Carismtica Catlica. Isso mostra a dinmica da recepo dos textos religiosos, e como temas antigussimos, como os celestiais testemunhadas pela literatura
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