Dimensionamento Microestacas

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DIMENSIONAMENTO DE MICROESTACAS

DE ACORDO COM OS EUROCDIGOS 7 E 3

ANA CLUDIA CALDAS LEITE TEIXEIRA

Dissertao submetida para satisfao parcial dos requisitos do grau de


MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL ESPECIALIZAO EM GEOTECNIA

Orientador: Professor Doutor Pedro Miguel Barbosa Alves Costa

Coorientador: Professor Doutor Jos Miguel de Freitas Castro

JULHO 2014

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL


Tel. +351-22-508 1901
Fax +351-22-508 1446

[email protected]

Editado por
FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Rua Dr. Roberto Frias
4200-465 PORTO
Portugal
Tel. +351-22-508 1400
Fax +351-22-508 1440

[email protected]

http://www.fe.up.pt

Reprodues parciais deste documento sero autorizadas na condio que seja


mencionado o Autor e feita referncia a Mestrado Integrado em Engenharia Civil 2013/2014 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto, Porto, Portugal, 2014.

As opinies e informaes includas neste documento representam unicamente o ponto de


vista do respetivo Autor, no podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou
outra em relao a erros ou omisses que possam existir.

Este documento foi produzido a partir de verso eletrnica fornecida pelo respetivo Autor.

Aos meus avs.

O nico lugar onde sucesso vem antes do trabalho no


dicionrio.
Albert Einstein

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

AGRADECIMENTOS
Antes de mais, quero agradecer aos meus pais pois sem eles no estaria aqui a realizar este meu grande
objetivo. Ao meu cunhado, que engenheiro civil e foi o grande responsvel pela minha paixo por
este curso e pelos conselhos e dicas que me deu ao longo deste percurso. minha irm e as minhas
sobrinhas que juntamente com os meus pais e o meu cunhado me deram muita fora, fizeram tudo por
mim e nunca duvidaram das minhas capacidades. Aos meus amigos de sempre e aos da faculdade que
nos momentos mais stressantes e nas pocas mais difceis me aturaram, nunca me deixaram ir abaixo e
souberam sempre o que dizer. Ao meu namorado por ter sido o grande pilar nestes anos. Por nunca ter
duvidado que conseguia alcanar os meus objetivos, pela pacincia, pelos risos que me conseguiu
roubar, por ter sempre mostrado o lado bom das coisas e pela enorme ajuda que me deu na dissertao.
Por fim, quero agradecer ao meu orientador e coorientador pelo apoio, ajuda e compreenso que me
deram durante estes meses.

Verso para discusso


i

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

ii

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

RESUMO
Com este trabalho pretende-se dar a conhecer um pouco melhor o conceito de microestaca, as suas
diversas funes, caractersticas e aspetos relevantes. O principal objetivo desta dissertao criar
uma ferramenta de clculo que ajude e simplifique o trabalho dos projetistas no dimensionamento
geotcnico e estrutural de microestacas. Esta ferramenta foi fabricada a partir construo de uma
interface grfica atravs da linguagem Visual Basic Advanced Language.
Neste trabalho mostra-se a viso de vrios autores ao longo dos anos no que respeito ao
dimensionamento de microestacas. Os clculos presentes na construo da ferramenta tm por base o
Eurocdigo 3 que tem por regra a construo metlica de Portugal e o Eurocdigo 7 que regula o
projeto geotcnico. Tendo em conta que a seco metlica tubular a mais utilizada em Portugal, os
clculos estruturais so referentes a esta.

PALAVRAS-CHAVE: microestacas, Visual Basic Advanced Language, ferramenta de clculo,


dimensionamento estrutural e geotcnico, interface grfica

iii

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

iv

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

ABSTRACT
The main objective of this thesis is to create a calculation tool that helps and simplifies the work of the
designers in the geotechnical and structural sizing of micropiles. This tool was constructed by building
a graphical user interface in excel with the Visual Basic Advanced language.
In this work the vision of several authors throughout the years in respect to the sizing of micropiles is
shown. The calculations used in the construction of the tool were based on Eurocdigo 3 which
dictates the rules for metallic structures in Portugal and Eurocdigo 7 that regulates the geotechnical
design. Having in account that the tubular metallic section is the most used in Portugal, the structural
calculations are done in respect to this.

KEYWORDS: micropiles, Visual Basic Advanced Language, tool of calculation, structural and
geotechnical sizing, graphical user interface

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

vi

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

NDICE GERAL
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................... I
RESUMO ................................................................................................................................................ III
ABSTRACT ............................................................................................................................................. V

1. INTRODUO ................................................................................................................... 1
1.1. CONSIDERAES GERAIS ........................................................................................................... 1
1.2. MOTIVAO.................................................................................................................................... 1
1.3. OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 1
1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAO .................................................................................................. 2

2. DETALHES SOBRE AS MICROESTACAS .......................................... 3


2.1. ENQUADRAMENTO HISTRICO .................................................................................................. 3
2.2. TIPOLOGIA DE MICROESTACAS ................................................................................................. 7
2.3. TCNICAS DE PERFURAO..................................................................................................... 10
2.4. ARMADURA .................................................................................................................................. 13
2.5. CALDA DE CIMENTO ................................................................................................................... 17
2.6. LIGAO DA MICROESTACA FUNDAO ........................................................................... 18
2.6.1. LIGAO A ZONAS DE ALARGAMENTO ................................................................................. 20
2.6.2. LIGAES A ESTRUTURAS EXISTENTES.............................................................................. 24

3. DIMENSIONAMENTO MICROESTACAS .............................................. 27


3.1. DIMENSIONAMENTO GEOTCNICO .......................................................................................... 27
3.1.1. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO LIZZI (1985) ........................................................................ 27
3.1.2. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO BUSTAMANTE E DOIX (1985) ........................................... 28
3.1.3. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO O MTODO DE PENETROMTRICO - EXPERIMENTAL 31
3.1.4. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO O EUROCDIGO 7 ............................................................ 35
3.2. DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL .......................................................................................... 36
3.2.1. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO A FHWA .............................................................................. 36
3.2.2. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO O EN 1997 - 1:2004 ............................................................ 37
3.2.3. CARGA CRTICA DE EULER ..................................................................................................... 38
3.2.4. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO O EUROCDIGO 3. ........................................................... 40

vii

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

3.2.5. MEIO DISCRETO DE WINKLER ................................................................................................ 43


3.2.6. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO BJERRUM ........................................................................... 45
3.2.7. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO POULOS E DAVIS .............................................................. 48
3.3. CASOS ESPECIAIS ...................................................................................................................... 53
3.3.1. MICROESTACAS EM TERRENOS CRSICOS ........................................................................ 53
3.3.2. MICROESTACA EM TERRENOS DENSOS E COESOS. ......................................................... 54

4. CONSTRUO DA FERRAMENTA DE CLCULO ................... 57


4.1. PGINA DE CLCULO ................................................................................................................. 57
4.2. ESTUDO PARAMTRICO............................................................................................................. 64
4.2.1. VALIDAO DA FERRAMENTA ................................................................................................ 64
4.2.2. ESTUDO PARAMTRICO 1 ....................................................................................................... 66
4.2.3. ESTUDO PARAMTRICO 2 ....................................................................................................... 68
4.2.4. ESTUDO PARAMTRICO 3 ....................................................................................................... 70
4.2.5. ESTUDO PARAMTRICO 4 ....................................................................................................... 71
4.2.6. ESTUDO PARAMTRICO 5 ....................................................................................................... 73
4.2.7 - ESTUDO PARAMTRICO 6 ...................................................................................................... 74

5. CONCLUSES E FUTUROS DESENVOLVIMENTOS ............ 77


BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................................... 79
ANEXOS ............................................................................................................................................... 81

viii

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

NDICE DE FIGURAS
Fig. 1 - exemplo de recalamento das fundaes em: a) edifcios b) alvenaria[1] ................................. 3
Fig. 2 - soluo de reforo com microestacas[4] ................................................................................... 4
Fig. 3 - exemplos de funes: a) estabilizao de taludes; b) muros de suporte[1] .............................. 5
Fig. 4 - estabilizao de tuneis[4] ........................................................................................................... 5
Fig. 5 - exemplo de fundao de cabos de alta tenso[5] ...................................................................... 5
Fig. 6 - parte do fuste de uma microestaca[4] ......................................................................................... 6
Fig. 7 - mtodo de execuo[1] ............................................................................................................... 6
Fig. 8 - a) caso1; b) caso 2 [7]................................................................................................................. 7
Fig. 9 - tipos de microestacas[1] ............................................................................................................. 8
Fig. 10 - diferentes obturadores: a) injeo igu; b) injeo irs[8] ............................................................ 9
Fig. 11 - processo de execuo da irs: a)- perfurao de pequeno dimetro; b)- instalao do tubo tm
no interior do furo; c)- injeo de preenchimentos do espao anelar; d) - injeo irs[8] ........................ 9
Fig. 12 - maquinas de perfurao[8] ..................................................................................................... 11
Fig.13 - equipamento de furao de roto-percusso[10] ...................................................................... 11
Fig. 14 - trado de perfurao[8] ............................................................................................................. 11
Fig. 15 - processo construtivo em solos coerentes[11] ......................................................................... 12
Fig. 16 - processo construtivo em solos incoerentes[12] ...................................................................... 13
Fig. 17 - seco de uma microestaca com armadura tubular de classe n80[13] ................................. 14
Fig. 18 - a) vares de ao laminados a quente; b) vares de ao laminados a frio[8]. ........................ 15
Fig. 19 - a) perfis laminados a quente; b) perfis laminados a frio[14] ................................................... 15
Fig. 20 - armadura gewi[14] .................................................................................................................. 16
Fig. 21 - seco de uma microestaca com armadura heb[13] .............................................................. 16
Fig. 22 - seco de uma microestaca com cintagem de vares[13] ..................................................... 17
Fig. 23 - ligaes das microestacas fundaes: a) ligao selada; b) ligao com alargamento; c)
ligao com braadeiras; d) ligaes com vigas de reao[15] ........................................................... 19
Fig. 24 - ligaes de microestacas a estruturas novas em zonas de alargamento: a) ligao com
amarrao direta; b) ligao com placa de ancoragem[15] .................................................................. 20
Fig. 25 - ligaes de vares individuais fundao: a) microestaca comprimida; b) microestaca
tracionada; c) microestaca comprimida e tracionada; d) microestaca comprimida/tracionada para
fundaes cuja altura reduzida[15] .................................................................................................... 21
Fig. 26 - ligao de dois vares fundao: a) ligao com chapa de ancoragem e porcas; b) ligao
com chapa de ligao soldada[15] ........................................................................................................ 22
Fig. 27 - ligao de microestacas com armaduras tubulares: a) ligao com amarrao direta; b)
ligao com dispositivos especiais[15] ................................................................................................. 22

ix

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 28 - verificaes de segurana nas ligaes: a) verificao ao punoamento para foras de


compresso; b) verificao ao punoamento para foras de trao; c) verificao ao esmagamento do
beto devido a foras horizontais; d) verificao ao punoamento devido a fora horizontal junto ao
limites da fundao[15] ......................................................................................................................... 23
Fig. 29 - ligaes seladas de microestacas a fundaes existentes de beto armado[15] .................. 24
Fig.30 - processo de execuo de ligaes seladas de microestacas a estruturas existentes: a)
execuo e tratamento de furo; b) execuo da microestaca; c) limpeza e selagem do furo[15] ........ 25
Fig. 31 - tipos de furao: a) carotagem com coroa de diamantes; b) percusso[15].......................... 25
Fig. 32 - ligaes com braadeiras: a) braadeira plana b) braadeira em l[15] ................................. 26
Fig. 33 - baco para clculo de qs (areias )[16] .................................................................................... 29
Fig. 34 - baco para clculo de qs (argilas )[16] ................................................................................... 30
Fig. 35 - correlao entre qc en55[19] .................................................................................................. 34
Fig. 36 - a) elemento curto; b) elemento esbelto[21] ............................................................................ 36
Fig. 37 - equilbrio estvel, neutro e instvel respetivamente[21] ......................................................... 38
Fig. 38 - comprimento efetivo de encurvadura dos elementos com diferentes ligaes ao exterior[28]
............................................................................................................................................................... 39
Fig.39 - carga crtica de euler e esbelteza[22] ...................................................................................... 40
Fig. 40 - variao da tenso crtica com a esbelteza para uma coluna ideal e real[22] ....................... 40
Fig. 41 - curvas de encurvadura de acordo com o ec3[23] ................................................................... 41
Fig. 42 - estaca num solo representado por molas [1] .......................................................................... 44
Fig. 43 - coluna sobre uma fundao elstica, comportamento da fundao no modelo de winkler e
representao da fundao em meio de winkler, respetivamente[22].................................................. 45
Fig.44 - grfico que representa a encurvadura de microestacas sujeitas a cargas concentradas[8] ... 47
Fig. 45 - a) encurvadura vs comprimento da estaca para kh constantes; b) condies de fronteira ... 48
Fig. 46 - microestaca com diferentes condies de fronteira e le/l vs l/l ........................................... 49
Fig. 47 - a) encurvadura vs comprimento para kh=nhz/d; b) condies de fronteira ........................... 50
Fig. 48 - variao com a profundidade do coeficiente de reao do solo[25]. ..................................... 51
Fig. 49 - microestaca parcialmente enterrada ....................................................................................... 51
Fig. 50 - profundidade fixa adimensional para kh constante ................................................................ 52
Fig. 51 - profundidade fixa adimensional para kh varveis ................................................................... 52
Fig. 52 - mtodo das curvas p-y[25] ...................................................................................................... 53
Fig. 53 - microestaca em terreno crsicos: (a) configurao atual, (b) modelo utilizado para estimar a
capacidade estrutural[24] ...................................................................................................................... 54
Fig. 54 - deformao devido abertura anelar: (a) configurao real, (b) modelo simplificado[24]. ... 55
Fig.55 - comportamento de seces flexo[14] ................................................................................. 58

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig.56 - entrada da ferramenta de clculo. ........................................................................................... 63


Fig.57 - layout da ferramenta de clculo ............................................................................................... 64
Fig.58- dados do exemplo de validao ............................................................................................... 65
Fig.59 - resultados do exemplo de validao ........................................................................................ 66
Fig.60- primeiro estudo paramtrico ..................................................................................................... 67
Fig.61- resultados do primeiro estudo paramtrico............................................................................... 68
Fig. 62 - segundo estudo paramtrico .................................................................................................. 69
Fig.63 - resultados do segundo estudo paramtrico ............................................................................. 69
Fig. 64 - terceiro estudo paramtrico .................................................................................................... 70
Fig.65 - resultados do terceiro estudo paramtrico............................................................................... 71
Fig. 66 - quarto estudo paramtrico ...................................................................................................... 72
Fig. 67 - resultados do quarto estudo paramtrico ............................................................................... 72
Fig. 68 - quinto estudo paramtrico....................................................................................................... 73
Fig. 69 - resultados do quarto estudo paramtrico ............................................................................... 74
Fig. 70 - sexto estudo paramtrico ........................................................................................................ 75
Fig. 71 - resultados do sexto estudo paramtrico ................................................................................. 76

xi

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

xii

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

NDICE DE QUADROS
Quadro 1 - diferenas entre microestacas do caso 1 e 2 ....................................................................... 7
Quadro 2 - relaes entre sub-aplicaes, conceito de projeto, tipo de injeo e estimativa de
aplicao[9] ........................................................................................................................................... 10
Quadro 3 - seces correntes do tubo n80 com fyd=560 mpa[8] ......................................................... 14
Quadro 4 - critrios para avaliar a corroso do solo[27] ....................................................................... 18
Quadro 5 - foras, verificao e dimenses a determinar ao utilizar dispositivos especiais ................ 24
Quadro 6 - relao entre os coeficientes da frmula de lizzi (1985) ..................................................... 28
Quadro 7 - determinao do dimetro mdio[8] ................................................................................... 31
Quadro 8 - coeficientes de segurana fs .............................................................................................. 31
Quadro 9 - coeficiente de carga penetromtrica para diferentes tipos de solos[17] ............................ 33
Quadro 10 - coeficiente e valor de qf (mximos) para diferentes tipos de solos[18] ........................ 34
Quadro 11 - escolha da curva de encurvadura consoante a seco da armadura segundo ec3[23] .. 43
Quadro 12 - relao mxima comprimento-espessura em seces tubulares[14] ............................... 58
Quadro 13 - valores de clculo de nrk, mi,rk e

[14] ................................................................. 60

Quadro 14 - fatores de integrao kij segundo o mtodo 1[14] ............................................................ 60


Quadro 15 - coeficientes de momento uniforme equivalente cmi,0[27] ................................................ 61
Quadro 16 - termos auxiliares para o clculo dos fatores de interao kij do quadro anterior[14] ...... 61
Quadro 17 - fatores de correo kc[14] ................................................................................................ 62

xiii

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

xiv

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

1
Introduo

1.1. Consideraes gerais


O tema desta dissertao surge da preocupao de criar uma ferramenta de calculo em Excel com o
objectivo de auxiliar os projetos de microestacas. A utilizao de microestacas como reforo de
fundaes ou mesmo como soluo de fundao tem vindo a crescer ao longo dos anos pelo que se
torna fundamental a existncia de uma ferramenta que fornea todos os dados essenciais para este
projeto.
1.2. Motivao
O dimensionamento das microestacas acarreta vrias consideraes tanto estruturais como
geotcnicas. necessrio reter uma grande quantidade de dados e informaes das microestacas,
nomeadamente sobre as cargas a que vo estar sujeitas, tipo de solo que atravessa, tipo de armadura
utilizada e que funo vai desempenhar, ou seja, se vai ser utilizada como fundao ou reforo desta
ou com o objectivo de estabilizao de taludes ou muros de suporte. A recolha destas informaes e o
posterior dimensionamento, podem ser tarefas morosas, pelo que a grande motivao do autor poder
facilitar e auxiliar os projetistas construindo uma ferramenta que calcule os parmetros essenciais.
Para alm das cargas crticas axiais admissveis tambm feito o dimensionamento flexo composta.
ainda fornecido o comprimento de encurvadura ou o comportamento equivalente enterrado caso a
microestaca esteja parcialmente embebida, a classe da seco e a verificao da estabilidade
encurvadura devido flexo composta. Outra grande motivao do autor, como forma de auxiliar os
projetistas, conseguir abranger todos casos possveis, quer estruturalmente, quer geotecnicamente, no
dimensionamento de microestacas.
1.3. Objetivos
Este tipo de projeto, como foi referido anteriormente, contm vrias particularidades, tanto ao nvel da
seco metlica das microestacas como do solo que atravessa. Exige portanto um dimensionamento
estrutural e geotcnico e assim sendo, cada projetista necessita de reunir toda a informao pertinente
para proceder aos diferentes clculos e ainda agrupar os resultados para posterior dimensionamento.
Uma vez que as microestacas apresentam vrios aspetos relevantes, um dos objetivos dar a conhecer
essas diversas particularidades. Contudo, o objetivo principal desta dissertao , como j foi referido,
facilitar o trabalho dos engenheiros civis, construindo uma interface grfica que calcule os diferentes
valores relevantes para o dimensionamento de microestacas e obter um layout com toda a informao
necessria que poder fazer parte da memria descritiva da obra.

Verso para discusso


1

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

1.4. Estrutura da dissertao


No segundo captulo deste documento far-se- uma descrio das microestacas passando
primeiramente pelo seu enquadramento histrico. um captulo que tenta abranger todos os aspetos
relevantes destas, assim como vantagens e desvantagens da sua utilizao. Tambm discutido a
ligao das microestacas superstrutura, uma vez que um ponto fulcral no projeto de recalamento
de fundaes.
No terceiro captulo sero abordados os dimensionamentos geotcnico e estrutural. So mostradas
vrias solues de diversos autores tentando mostrar vrias vises.
O quarto captulo dedicado construo da ferramenta de clculo, a partir da construo de uma
interface grfica. feito um exemplo tanto na ferramenta como analiticamente para a validar.
Posteriormente so feitos estudos paramtricos.
Por fim, no quinto captulo sero expostas as concluses desta dissertao e possveis
desenvolvimentos futuros.

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

2
Detalhes sobre as microestacas

2.1. Enquadramento histrico


Devido grande destruio causada pela segunda Guerra Mundial, os edifcios sofreram danos que
levaram ao desenvolvimento de tcnicas de reforo de fundaes (recalamento de fundaes
funcionando basicamente compresso). Era pretendido que este reforo fosse feito sem causar
inconvenientes a estruturas vizinhas, ou seja, no originasse grandes vibraes e rudos e fosse
aplicado a todos os tipos de solos. O uso de microestacas para esta funo tambm pode ser devido a
anomalias ligadas aos terrenos de fundao, tais como, alterao do nvel fretico ou alterao do
estado de tenso, ou seja, descompresso do solo provocado por escavaes prximas.
Foi assim, num projeto de recalamento de fundaes, que o conceito de microestaca apareceu pela
primeira vez pelo Dr. Lizzi na dcada 50 em Itlia como possvel observar pela Figura 1. O objetivo
era criar uma rede de microestacas que se assemelha-se s razes das rvores. Foi da que nasceu o
nome de estaca-raiz, "Pali radice", que consiste numa estaca de pequenas dimenses, moldada no local
da obra e reforada com ao.
a)

b)

Fig. 1 - Exemplo de recalamento das fundaes em: a) edifcios b) alvenaria[1]

Entende-se ento por microestaca como sendo um elemento de elevada esbelteza que faz parte da
estrutura e, por sua vez, transmite ao solo as solicitaes a que est sujeita fundamentalmente atravs
do atrito lateral. de notar que normalmente a resistncia de ponta desprezvel devido as
caractersticas e geometria das microestacas ou, quando existe, mobiliza-se depois de ter ocorrido a
mobilizao lateral. devido sua esbelteza que esta trabalha quase exclusivamente pelo fuste.

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Segundo o projeto da norma europeia EN 14199 [2] que rege a utilizao de microestacas, estas so
consideradas como estacas de pequenos dimetros, inferior a 300 mm quando no existe deslocamento
de solo (moldadas), e 150 mm para estacas que provoquem deslocamento do solo (cravadas)[3].
Podem ser projetadas em qualquer direo possibilitando assim a absoro axial de qualquer
solicitao proveniente da estrutura.
A funo das microestacas no se fixa somente no recalamento de fundaes, como mostra a Figura
2. utilizada em obras de tneis sendo designada como "guarda-chuva" como est apresentado na
Figura 5, prevenir deslizamentos de terra (trabalhando flexo e a trao) e em muros de suporto
como est apresentado na Figura 3, melhoramento das condies do solo e macios rochosos,
fundaes em difcil acesso e permanncia (uma vez que requerem equipamentos de pequeno porte),
reforo ssmico, fundao de torres de telecomunicao ou como est apresentado na Figura 4, de
torres de linha de alta teno, estruturas de apoios a telefricos, reservatrios, entre outros[3]. Estas
funes retratam algumas vantagens do uso desta tcnica. Outras so o facto dos assentamentos
verificados aquando sua instalao serem bastante reduzidos; em estruturas sensveis a
assentamentos possvel a realizao de uma pr-carga com um macaco e, por fim, o facto dos
ensaios teste que se fazem serem econmicos.
Contudo, tambm existem desvantagens como, por exemplo, o custo superior comparado com a
tcnica das estacas convencionais; necessrio uma cuidado especial quando as microestacas so
instaladas em estruturas existentes, para evitar vibraes que possam causar danos na estrutura; ter em
ateno que em solos colapsveis a perfurao das microestacas no deve utilizar gua como auxilio,
como forma de evitar assentamentos.
Em Portugal esta tcnica comeou a ser utilizada no final da dcada de 70 e inicio das dcada de 80,
fundamentalmente utilizada como fundao profunda de infraestruturas e reforo de fundaes de
edifcios, sendo esta ltima cada vez mais utilizada devido s recorrentes obras de reabilitao que so
feitas atualmente.

Fig. 2 - Soluo de reforo com microestacas[4]

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 3 - Exemplos de funes: a) estabilizao de taludes; b) muros de suporte[1]

Fig. 4 - Estabilizao de tuneis[4]

Fig. 5 - Exemplo de fundao de cabos de alta tenso[5]

Como se mostra na Figura 6, as microestacas podem ser consideradas como estacas de seco de ao e
calda de cimento, com fuste irregular e continuo e com uma expanso na periferia que induz o efeito
do atrito.

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 6 - Parte do fuste de uma microestaca[4]

Tambm a FHWA (Federal Highway Administration)[1] nos Estados Unidos, classifica microestacas
como sendo estacas de pequeno dimetro, 300 mm, moldada e injetada "in situ" cuja a configurao
est apresentada na Figura 7. Esta entidade uniformizou os aspetos de dimensionamento e de execuo
desta tcnica pois a sua utilizao foi aumentada ao longo dos anos.

Fig. 7 - Mtodo de execuo[1]

O projeto FOREVER (Fondations Renforces Verticalement)[6] desenvolvido em Frana investiu,


igualmente, no estudo das microestacas nomeadamente em ensaios de laboratrio, ensaios de carga
esttica e dinmico.
A tcnica "pali radice" foi utilizada por vrios pases, como Alemanha e Inglaterra, como reforo de
fundaes e construo de redes de transporte metropolitanas. Consequentemente, durante a
construo do metro de Milo, a designao destas passou a ser microestacas evitando a utilizao de
uma designao patenteada.

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2.2. Tipologia de microestacas


No que respeita funo, as microestacas podem pertencer ao caso 1 ou ao caso 2 como est
apresentado na Figura 8. No primeiro, a funo inteiramente sobre o suporte estrutural e no segundo
o objetivo o reforo in situ do solo. Contudo, tambm se podem usar microestacas do caso 1 para
esta ltima funo. As "pali radice" so equivalentes s microestacas do caso 2 pois, como foi referido
anteriormente, correspondem a uma rede de microestacas.

a)

b)

Fig. 8 - a) Caso1; b) Caso 2 [7]

O Quadro 1 apresenta algumas diferenas entre os dois casos.

Quadro 1 - Diferenas entre microestacas do caso 1 e 2

Caso 1

Conteno de terras

Caso 2

Fundao de estruturas
Recalce de estruturas

Conteno de taludes de terras

Reforo do solo

Reduo de assentamentos e
liquefao

Reforo a ao ssmica

Como se pode observar pela consulta do quadro, existem certas funes que se situam tanto no caso 1
como no caso 2.

No que respeita construo das microestacas, estas podem ser diferenciada em 4 tipos:

Tipo A - A selagem efetuada pela cabea somente devido gravidade. Esta pode ser por
calda de cimento ou argamassa. Aqui pode ou no existir armadura de reforo e so
normalmente fundadas em rocha ou em solos coesivos muito duros;

Tipo B - A calda de cimento injetada num furo sob presso, efetuando-se


simultaneamente a retirada do tubo moldador. A presso a que a calda de cimento
injetada pode variar ente 3 a 10 bar consoante o tipo de solo, isto , da capacidade que
este tem em receber presso sem fissurar. provida de armadura de reforo quer seja
atravs de vares, perfis metlicos ou tubulares;

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Tipo C - A construo divide-se em 2 partes. Na primeira, a selagem colocada sob


presso, espera-se 15 a 25 minutos e, antes de se iniciar a presa, inicia-se a segunda parte
em que se injeta calda de cimento boca do tubo com uma presso at 10 bar.
Normalmente so usados tubos de manchete no bolbo de selagem com vlvulas espaadas
de 1 metro por onde a sai a calda. Este mtodo conhecido como Injeo nica e Global
(IGU). Neste caso existe armadura de reforo;

Tipo D- parecido com o anterior diferenciando no facto que permite o endurecimento


total da calda de cimento inicialmente injetada. Na segunda fase, recorre-se a obturadores
que so colocados em todas as vlvulas manchete com presses variando entre 2 a 8 MPa,
permitindo assim o tratamento em diferentes horizontes. Repete-se o processo at se
atingir a presso desejada. Esta tcnica conhecida como IRS ( Injeo Repetitiva e
Seletiva).

Na Figura 9 esto apresentadas os diferentes tipos de microestacas descritos anteriormente e na Figura


10 os diferentes obturadores utilizados nas microestacas tipo C e D respetivamente.

Fig. 9 - Tipos de microestacas[1]

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 10 - Diferentes obturadores: a) Injeo IGU; b) Injeo IRS[8]

Na Figura 11 est descrito o processo de execuo de IRS com as diferentes etapas que a caracteriza.

Fig. 11 - Processo de Execuo da IRS: a)- Perfurao de pequeno dimetro; b)- Instalao do tubo TM
no interior do furo; c)- Injeo de preenchimentos do espao anelar; d) - Injeo IRS[8]

As microestacas no precisam de ser classificadas separadamente em relao funo e ao processo


construtivo. Por exemplo, uma microestaca, construda atravs da tcnica IRS e cuja funo de
suporte estrutural, pode ser classificada como Tipo 1D.
O Quadro 2 apresentado ajuda a uma melhor compreenso deste aspeto.

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Quadro 2 - Relaes entre sub-aplicaes, conceito de projeto, tipo de injeo e estimativa de aplicao[9]

Sub-aplicaes

Conceito de projeto

Recalamento de
fundaes
existentes

Novas fundaes

Reforo sismico

Estabilizao de
taludes de
suporto de
escavao

Reforo de
terrenos

Caso 1

Caso 1 e 2

Tipo de injeo

Estimativa de
aplicao

Tipo A (zonas em
rochas ou solos)

Tipos B e D em solos
(Tipo C usado em
Frana unicamente.

Tipo A (Caso 1 e 2)

Tipo B (Caso1) em
solos

Caso 2
(maior
percentagem
de
utilizao)

Tipo A e B

Aprox.
95% de
todas as
aplicaes

0 a 5%

Menos de
1%

2.3. Tcnicas de Perfurao


Quando se inicia a perfurao para as microestacas, geralmente determina-se o centro de cada
microestaca, cravando-se uma ponta de varo ou um pedao de madeira. De seguida nivela-se a
plataforma e posiciona-se o equipamento de perfurao.
Existem duas tcnicas de furao:

Trado - Com ou sem tubo de revestimento;

Varas e bit - Com ou sem tubo de revestimento.

O facto do solo ser ou no coerente que condiciona a utilizao o tubo de revestimento. Caso o solo
possua a capacidade de no desmoronar, no necessrio o uso do tubo, caso contrrio importante
inclui-lo na perfurao. Quando os furos so de maior dimenso possvel recorrer a lamas betonticas
como soluo de estabilizao[8].
Hoje em dia existem diversos sistemas de furao consoante as caractersticas das microestacas
(dimetro pretendido), maquinas existentes e tambm com o objetivo de reduzir os impactos em
edifcios vizinhos (vibraes por exemplo).
Pode-se escolher entre um equipamento de furao hidrulico por rotao, como os trados, ou
maquinas hidrulicas de roto-percusso, como por exemplo as varas e bit. Na Figura12 esto alguns
exemplos de maquinas de perfurao.

10

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 12 - Maquinas de perfurao[8]

Com o bit perdido, possvel furar, selar e injetar simultaneamente como mostra a Figura 13. Permite
uma instalao rpida mesmo em locais com difcil acesso e permanncia, pois permite que as seces
sejam cortadas e posteriormente acopladas.
Na Figura14 possvel ver com mais detalhe um trado de perfurao utilizado nos equipamentos
hidrulicos.

Fig.13 - Equipamento de furao de roto-percusso[10]

Fig. 14 - Trado de perfurao[8]

11

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

O tubo de perfurao constitudo na sua ponta por uma coroa com pastilhas de metal duro e com
dimetro superior ao do tudo. Os detritos da resultantes encaminham-se para a superfcie devido a
fluido que circula no espao intersticial entre o tubo e o terreno.
de extrema importncia que a perfurao seja lavada com gua e/ou ar para a melhor qualidade da
microestaca.
A execuo de uma microestaca em solos coerentes baseia-se nos seguintes tpicos e est ilustrada na
Figura 15:
i) Furao at cota prevista em projeto;
ii) Retira-se o trado e introduz-se o tubo manchete (armadura principal);
iii) Preenchimento ascensional do furo com argamassa;
iv) Injeo atravs do tubo de enchimento;
v) Estaca acabada.

Fig. 15 - Processo construtivo em solos coerentes[11]

No que se refere a solos incoerentes, a Figura 16 mostra os diferentes tpicos a seguir apresentados:
i) Perfurao com varas e bit ou trado roto-percusso e tubo de revestimento;
ii) Extrao das varas e bit ou trado e limpeza do furo;
iii) Introduo da armadura principal (tubo manchete - liso em zona corrente e com
manchetes na zona de selagem);
iv) Selagem com calda cimentcia do espao entre tubos (tubo moldador e TM);
v) Extrao do tubo moldador, logo aps a selagem ou injeo secundrio;
vi) Operao de injeo faseada do bolbo de selagem (IRS ou IGU);
vii)

Preenchimento do tubo TM com calda;

viii) Introduo de eventual armadura secundria no interior do tubo.

12

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 16 - Processo construtivo em solos incoerentes[12]

2.4. Armadura
No que se refere armadura utilizada, os tubos de ao so os mais usados em Portugal e correspondem
a ao de alta resistncia variando aproximadamente de 80 a 200 mm de dimetro e com uma tenso de
cedncia tpica de 560 MPa. Os tubos de ao de classe N80 no se encontram normalizados no mbito
europeu, contudo, existem dimenses, momentos e esforos caractersticos deste tipo de ao como se
pode verificar no Quadro 2.
A armadura de tubo permite a continuidade da microestaca no caso de ocorrer um corte na argamassa
e proporciona resistncia flexo e ao corte caso seja necessrio.
Na Figura 17 est representado um exemplo de uma microestaca com uma seco de ao de classe
N80, reforada com varo de ao.

13

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Quadro 3 - Seces correntes do tubo N80 com fyd=560 MPa[8]

Dimetro Espessura
exterior
do ao
(mm)
(mm)

rea
2
(cm )

Momento Raio
Mdulo Momento Esforo
Esforo
de
de
de
fletor
transverso
axial
Inrcia girao flexo resistente resistente
(kN)
3
4
(cm)
(cm )
(kN.m)
(kN)
(cm )

88.9

6.5

16.83

1.44E+02

2.92

32.31

16.5

315.0

942

88.9

7.5

19.18

1.60E+02

2.89

36.02

18.3

359.1

1074

88.9

9.5

23.70

1.89E+02

2.83

42.59

21.7

443.7

1327

101.6

9.0

26.18

2.83E+02

3.29

55.74

28.4

490.2

1466

114.3

7.0

23.60

3.41E+02

3.80

59.64

30.4

441.8

1321

114.3

9.0

29.77

4.16E+02

3.74

72.70

37.0

557.4

1667

127

9.0

33.36

5.84E+02

4.18

91.83

46.8

624.6

1868

139.7

9.0

36.95

7.93E+02

4.63

113.45

57.8

691.9

2069

177.8

9.0

47.73

1.70E+03

5.98

191.66

97.6

893.5

2673

177.8

10.0

52.72

1.86E+03

5.94

209.34

106.6

986.9

2952

177.8

11.5

60.08

2.09E+03

5.89

234.63

119.4

1124.8

3364

Fig. 17 - Seco de uma microestaca com armadura tubular de classe N80[13]

Existem outras solues que podem ser adoptadas, como por exemplo os vares GEWI e perfis HEB.
Os primeiros so barras de ao de alta resistncia colocados em grupos para aumentar a capacidade
estrutural. Tm um dimetro de 19 a 63 mm apresentando uma tenso de cedncia de 550 MPa
respetivamente. Este tipo de armadura necessita de um cuidado acrescido para evitar o fenmeno de
varejamento. Estes podem ser laminados a quente ou a frio. Na Figura18 esto apresentados os
grficos tenso-extenso do aos laminados a quente e a frio.

14

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

a)

b)

Fig. 18 - a) Vares de ao laminados a quente; b) Vares de ao laminados a frio[8].

A titulo de curiosidade, a Figura 19 mostra alguns perfis laminados a quente e a frio respetivamente.
a)

b)

Fig. 19 - a) Perfis laminados a quente; b) Perfis laminados a frio[14]

Opta-se por perfis laminados a quente quando estes vo ser empregados em elementos resistentes
principais. A forma destes perfis pode variar consoante os esforos a que vo ser sujeitos, facilidade de
montagem, dos processos de ligao ou at dos condicionantes estticos e durabilidade. Por sua vez,
os perfis laminados a frio so construdos a partir de chapas muito finas cuja a espessura uniforme.
Como geralmente tm proteo anti corroso prvia, as formas destes podem ser variadas com boas
propriedades e gastos de material reduzidos. importante referir que estes perfis apresentam um ao
pouco dctil e, por isso, no aconselhvel a sua utilizao em estrutura cuja fadiga seja
preponderante[14]
A armadura GEWI, adoptados em pases como a Alemanha e a Sua, um elemento contnuo com
recurso a conectores que pode ser utilizada isoladamente ou em grupo. Este tipo de armadura
ineficaz para grandes momentos fletores ou cargas laterais devido sua reduzida seco (reduzido
momento de inrcia). Como se pode verificar na Figura 20, estas podem ter proteo simples ou dupla
contra a corroso do meio envolvente.

15

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 20 - Armadura GEWI[8]

As armaduras de ao de alta resistncia ocupam cerca de 50% do volume total de microestacas,


podendo ser utilizado como elemento principal (ou nico) resistente.
Existem tambm, como referido anteriormente, microestacas armadas com perfis HEB120 e HEB140
onde a capacidade de carga pode rondar os 600 kN. Um exemplo de uma microestaca armada com
estes perfis est representada na Figura 21.

Fig. 21 - Seco de uma microestaca com armadura HEB[21]

Os vares de ao cintados, Figura 22, podem ser constitudos por ao ordinrio ou de alta resistncia,
cintados de forma a aumentar a resistncia da armadura, possuindo uma boa capacidade de suporte
compresso. Os vares tm dimetro at 40 mm e uma tenso de cedncia da ordem dos 460 MPa. A
cintagem feita atravs de uma armadura que tem como funo unificar os vares conferindo
microestaca resistncia encurvadura (varejamento).
Foram o primeiro meio de reforo de microestacas que foram utilizadas em Itlia nos anos 50 por
Lizzi, nas primeiras experincias.

16

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 22 - Seco de uma microestaca com cintagem de vares[21]

2.5. Calda de cimento


A calda de cimento deve ter certas caractersticas como elevada fluidez e plasticidade e reduzido risco
de segregao, no entanto, as suas caractersticas podem variar dependendo das suas especificidades e
das qualidades dos recursos naturais usados.
Esta deve conter aditivos ou uma quantidade limitada de agregados finos adequando-se a cada caso. A
dimenso mxima admissvel para estes agregados de 2 mm para evitar o fenmeno de segregao e
de lavagem que podiam ocorrer se a dimenso fosse maior.
Na norma europeia EN 14199[2], a relao entre gua e cimento, A/C, deve ser no limite 0.55 e deve
ter uma resistncia compresso de 25 MPa aos 28 dias , enquanto que pela FHWA[1] esta razo no
mnimo 0.4 e no mximo 0.5 e a resistncia deve ser de 28 MPA aos 35 dias.
No bolbo a calda de cimento transfere as cargas impostas pela armadura para o solo envolvente,
promovendo assim a mobilizao da resistncia lateral.
Outra funo igualmente importante a proteo da armadura corroso. No Quadro 4 so mostrados
os diferentes critrios para avaliar a corroso. Para evitar este fenmeno, deve-se usar uma espessa
camada de calda de cimento.
A ttulo de curiosidade, existem outras maneiras de proteger a microestaca, como por exemplo usar
aos com maiores dimetros para compensar a corroso; usar aos inoxidveis ou usar um tubo
plstico volta da microestaca.

17

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Quadro 4 - Critrios para avaliar a corroso do solo[27]

Parmetro

Grande
potencial
Unidades
de
corroso

Potencial
de
corroso
mdio a
nulo

pH

<4.5,
>10

5.5<pH>10

resistividade

ohm-cm

<2.000

5.000

Sulfatos

ppm

>200

200

Cloretos

ppm

>100

100

A sua consistncia da calda de cimento deve ser tal que o enchimento se faa sem que ocorram cortes.
No entanto, se o pretendido for preencher lacunas ou fazer injees de compensao, prefervel usar
uma argamassa mais magra ou mole.
A selagem deve ser feita logo aps a introduo da armadura garantindo que o furo se mantm limpo.
Nos tipos A e B a selagem total, enquanto que nos restantes tipos (C e D) feito s pelo exterior.
No que toca injeo, esta s se realiza nos tipos C e D quer por IGU quer por IRS ao longo do
comprimento do bolbo de selagem.

2.6. Ligao da microestaca fundao


A exposio que seguidamente se apresenta segue de perto a abordagem apresentada por Pereira [15].
As ligaes superstrutura so o aspeto mais importante no recalamento de fundaes atravs de
microestacas, pois atravs desta ligao que se determina o processo de transferncia de carga da
estrutura para os novos elementos da fundao. Escolhe-se o tipo de ligao sabendo o tipo de
estrutura; tipo de solicitao que as microestacas vo estar sujeitas; o tipo de armadura e o estado em
que se encontra a fundao a reforar . Para fazer essa ligao, recorre-se geralmente a macios de
encabeamento, vigas de beto armado.
A Figura 23 mostra os diferentes tipos de ligaes usualmente utilizados de beto armado.

18

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 23 - Ligaes das microestacas fundaes: a) Ligao selada; b) Ligao com alargamento; c) Ligao
com braadeiras; d) Ligaes com vigas de reao[15]

Na ligao ilustrada na Figura 23 a) podemos constatar que as microestacas ligam-se estrutura


atravs de selagem. S se pode utilizar esta soluo se as condies da fundao e a grandeza das
cargas a suportar o permitirem. Inicialmente efetua-se um furo na fundao que posteriormente vai ser
atravessada pelas microestacas e de seguida o furo selado com calda de cimento ou argamassa. A
transferncia de carga efetuada atravs da aderncia entre o ao e a calda e a calda e o beto da
fundao.
A ligao do tipo apresentado na Figura 23 b) utilizado quando as caractersticas da fundao ou o
nvel de solicitao a que est sujeita impeam uma correta distribuio de cargas. A transmisso da
carga ocorre na interface da sapata existente e a estrutura de alargamento consoante a colocao dos
respetivos conectores e/ou com vares pr-esforados que ligam as sapatas. Existem esforos de
compresso, trao ou compresso/trao nas zonas de alargamento e as suas transmisses ocorrem
entre o beto e a microestaca atravs de dispositivos tais como porcas e placas de ancoragens.
A soluo apresentada na Figura 23 c) usualmente utilizada em estruturas de pequena grandeza e
com uma capacidade estrutural reduzida. So constitudas por tubos de pequenas dimenses que so
cravados com a ajuda de macacos hidrulicos. As braadeiras metlicas no foram inicialmente
criadas para utilizar microestacas injetadas, mas podem ser adaptadas para esse fim. Podem ser ligadas
ou base de fundao da estrutura, ou a um elemento de suporte.
Por fim, a Figura 23 d) mostra uma soluo que depende das solicitaes que se vo transmitir aos
novos elementos e dos assentamentos admissveis. As cargas so transferidas da fundao para as
microestacas atravs da viga metlica.

19

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

2.6.1. LIGAO A ZONAS DE ALARGAMENTO

Quando se pretende reforar fundaes, as microestacas podem ser colocadas em zonas de


alargamento e as solues podem ser de dois tipos:

Amarrao direta onde a transmisso das cargas feita por aderncia ao longo do
comprimento de amarrao (Figura 24 a));

Adoo de dispositivos especiais na cabea da microestaca. Garantem que parte da carga


a suportar seja absorvida por flexo e a outra parte por aderncia. Devido a isto, os
comprimentos de amarrao podem ter comprimentos mais reduzidos. Esta tcnica
aumentam a segurana ao punoamento (Figura 24 b)).

Fig. 24 - Ligaes de microestacas a estruturas novas em zonas de alargamento: a) Ligao com


amarrao direta; b) Ligao com placa de ancoragem[15]

Dentro da soluo b) da figura anterior existem ainda trs tipos de solues:

Ligao com chapa de ancoragem situada entre uma porca e uma contra porca;

Recurso a porcas com flange que se encontra bloqueada na sua posio por uma contraporca;

Utilizao de ligaes soldadas com chapa.

No que respeita a primeira tcnica acima apresentada, existem vrias ligaes de microestacas
constitudas por vares isolados ou com mais que um varo. Estes podem estar sujeitos a esforos de
compresso, trao ou compresso/trao.
Para ligaes somente com um varo, a Figura 25 mostra estas vrias ligaes referidas no pargrafo
anterior.

20

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 25 - Ligaes de vares individuais fundao: a) Microestaca comprimida; b) Microestaca tracionada; c)


Microestaca comprimida e tracionada; d) Microestaca comprimida/tracionada para fundaes cuja altura
reduzida[15]

Como referido na Figura 25, a soluo a) somente para vares sujeitos unicamente a esforos de
compresso e, assim sendo, colocada uma porca sob a chapa de ancoragem e uma contra-porca sobre
a mesmo chapa.
Quando os esforos so puramente de trao (Figura 25 b), a porca colocada por cima da chapa de
ancoragem e a contra-porca por baixo desta.
A ligao demonstrada na Figura 25 c) s pode ser utilizada quando h altura suficiente na zona de
alargamento para a colocao de armadura em cima e em baixo da chapa de ancoragem devido
alternncia de esforos de compresso e de trao. So colocadas duas porcas (a contra-porca funciona
como porca). Cada uma delas fixa-se na outra dependendo da solicitao.
Por sua vez, quando a altura das sapatas reduzida, opta-se pela soluo demonstrada na Figura 25 d).
Aqui utilizam-se duas chapas de ancoragem, em que cada uma est prxima do topo e da base da
fundao.
A Figura 26 ilustra solues em que a ligao se faz com dois vares:

21

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 26 - Ligao de dois vares fundao: a) Ligao com chapa de ancoragem e porcas; b) Ligao com
chapa de ligao soldada[15]

Nesta situao tambm existe a soluo com chapas de ancoragens e porcas ou com chapas soldadas
(Figura 26 a) e b) respetivamente).
Como foi referido anteriormente, em Portugal, a armadura de reforo mais utilizada a tubular e para
este caso as solues so igualmente variveis como se pode ver na Figura 27.

Fig. 27 - Ligao de microestacas com armaduras tubulares: a) Ligao com amarrao direta; b) Ligao com
dispositivos especiais[15]

Para a ligao direta (Figura 27 a)) usual as microestacas terem uma textura devido soldadura de
anis ou ento atravs de cintas helicoidais.
No dimensionamento destas ligaes, necessrio verificar a segurana a foras de compresso,
trao, foras horizontais e momento na cabea das microestacas.
A Figura 28 mostra as verificaes referidas no paragrafo anterior e as dimenses que se devem obter
a cargo destas para as ligaes que utilizam dispositivos especiais.

22

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 28 - Verificaes de segurana nas ligaes: a) Verificao ao punoamento para foras de compresso; b)
Verificao ao punoamento para foras de trao; c) Verificao ao esmagamento do beto devido a foras
horizontais; d) Verificao ao punoamento devido a fora horizontal junto ao limites da fundao[15]

Para alm do modelo de verificao ao punoamento para microestacas sujeitas a esforos de


compresso, a Figura 28 a) mostra tambm o diagrama de tenses de compresso verticais (cv) na
cabea da microestaca que podem levar ao esmagamento desta. Na Figura 28 b) ilustrado o modelo
de verificao ao punoamento, mas para microestacas tracionadas. A Figura 28 c) mostra o diagrama
de tenses de compresso horizontais (ch) ao longo do comprimento de amarrao. Por sua vez, a
Figura 28 d) apresenta, novamente a verificao ao punoamento para foras horizontais mas quando a
microestaca est localizada num dos limites da fundao.
Por fim, importante referir a necessidade de dimensionar as chapas de ancoragens, de reforo e as
soldaduras.
Como resumo ao referido anteriormente e para melhor compreenso, apresenta-se o Quadro 5.

23

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Quadro 5 - Foras, verificao e dimenses a determinar ao utilizar dispositivos especiais

Foras

Verificaes a calcular

Esmagamento do beto
na cabea da
microestaca, na zona
superior da chapa de
ancoragem;

Foras
verticais de
compresso
(fig. 28 a)

Foras
verticais de
trao (fig.
28 b)

Fora

horizontal e
momento
(fig 28 c)
Fora
horizontal
(fig.28 d)

Dimenses determinadas
devido s verificaes

Dimenses (em planta)


do prato da ancoragem
(a b)

Verificao ao
punoamento.

Tenso no beto na
parte superior do prato
da ancoragem;

Verificao ao
punoamento.

Esmagamento do beto
ao longo do
comprimento de
amarrao.

Verificao ao
punoamento na
zona lateral da
fundao.

Altura hc

Dimenses (em
planta) do prato da
ancoragem
(a b)

Comprimento de
amarrao lb

Comprimento de
amarrao lb

Distncia h

2.6.2. LIGAES A ESTRUTURAS EXISTENTES

Quando a ligao das microestacas s fundaes de beto armado se fazem em estruturas existentes
usual recorrer-se amarrao direta da armadura, selando esta com calda de cimento num furo feito
previamente como se pode verificar na Figura 29.

Fig. 29 - Ligaes seladas de microestacas a fundaes existentes de beto armado[15]

Como mostra a Figura 30, inicialmente efetua-se um furo por coroa diamantada ou por percusso.
Seguidamente so instaladas as microestacas nestes furos e seladas com calda de cimento.

24

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig.30 - Processo de execuo de ligaes seladas de microestacas a estruturas existentes: a) Execuo e


tratamento de furo; b) Execuo da microestaca; c) Limpeza e selagem do furo[15]

Para ligao estar bem feita, preciso garantir uma boa aderncia entre o ao e a calda e entre esta e o
beto. A aderncia entre a calda e o beto est diretamente ligada com a rugosidade do furo. Esta
depende se a furao foi feita atravs de carotagem com coroa diamantada, ou utilizando martelos
pneumticos (percusso). Com a primeira tcnica mencionada, possvel aumentar a aderncia devido
ao recurso de dentes. Atravs da rotao lenta permissvel criar sulcos na superficie do furo.
Segundo a FHWA[1] estes dentes tm correntemente 20 mm de profundidade e 32 mm de altura. Com
a percusso a rugosidade do furo aumenta bastante, aumentando assim a aderncia entre a calda e o
beto. No entanto, esta tcnica de furao pode produzir vibraes na estruturas e fendilhar o beto da
fundao.
A Figura 31 mostra exemplos de texturas consoante a tcnica utilizada.

Fig. 31 - Tipos de furao: a) Carotagem com coroa de diamantes; b) Percusso[15]

A aderncia entre o ao e a calda, depende, por sua vez, de anis soldados, cintas helicoidais ou
cordes em espiral. Em Portugal, esta aderncia conseguida atravs da soldadura de cintas
helicoidais uma vez que so mais fceis de executar.
importante no esquecer que as fundaes no foram dimensionadas para transferirem as cargas
atravs das ligaes expostas anteriormente e, portanto, necessrio recorrer-se colocao de
armadura pr-esforada, alargamento da fundao, colagem de mantas de polmeros reforados com
fibras de carbono (CFRP), entre outras solues.
Quando se opta por ligaes atravs de braadeiras, Figura 32 as microestacas so colocadas perto da
estrutura e ligadas a esta ltima por estes elementos.

25

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 32 - Ligaes com braadeiras: a) Braadeira plana b) Braadeira em L[15]

Esta soluo usualmente utilizada em estruturas de pequenas dimenses, pois embora a sua
facilidade de execuo, a sua utilizao e transferncia de carga so limitadas.
A escolha do tipo de braadeiras depende se as microestacas so injetadas, prensadas, ou do tipo hlix,
e da carga a que esta sujeita. Como se pode observar na figura anterior, existem dois tipos de
braadeira: plana (fig. 32 a)) ou em L (fig 32 b)). Para diminuir a excentricidade, estas devem ser
colocadas o mais junto das estruturas. A ligao das microestacas s braadeiras feita por ligaes
aparafusadas com mangas de encaixe de modo a evitar a rotao das microestacas.

26

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

3
Dimensionamento microestacas

No dimensionamento de microestacas existem duas grandes reas distintas: dimensionamento


geotcnico e estrutural. No presente captulo so expostas teorias de vrios autores sobre o
dimensionamento de microestacas.

3.1. Dimensionamento geotcnico


3.1.1. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO LIZZI (1985)

Primeiramente apresentado um mtodo semi-imprico desenvolvido por Lizzi (1985), em que a carga
calculada atravs da equao 1

(1)

em que:

Pult - carga ltima da estaca compresso;

D - dimetro nominal de perfurao;

L - comprimento da microestaca;

K - coeficiente que representa o atrito lateral (atrito solo-microestaca);

I - coeficiente adimensional que depende do dimetro de perfurao

A relao entre alguns destes coeficientes est apresentada no Quadro 6.

27

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Quadro 6 - Relao entre os coeficientes da frmula de Lizzi (1985)

Solo

K
Dimetro
(kPa)
(cm)

Brando

50

10

solto

100

15

0.9

compacidade
mdia

150

20

0.85

Muito
compacto,
saibro, areia

200

25

0.8

3.1.2. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO BUSTAMANTE E DOIX (1985)[30]

O mtodo que se segue aquele que melhor demonstra o verdadeiro comportamento do bolbo de
selagem, um vez que se baseia em ensaios de carga-deslocamento para diferentes tipos de solos,
sujeitos a diferentes solicitaes, diferentes tipos de injeo e diferentes valores da presso e dos
volumes de calda de cimentos injetados em cada vlvula.
A resistncia compresso dada pela equao 2 e a resistncia de clculo pela equao 3.

(2)

(3)

em que :

TL - carga limite na cabea da estaca, sem coeficientes de segurana;

TLd - carga de clculo na cabea da estaca;

TLP - resistncia de ponta;

TLS - resistncia por atrito lateral;

FS - coeficiente de segurana.

Tratando cada parcela em particular, a parcela da resistncia por atrito lateral dada pela equao 4.

(4)

onde:

28

Lsi - comprimento do bolbo de selagem;

Dsi=i*Dd - dimetro mdio da microestaca na camada i;

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Dd - dimetro da perfurao da microestaca;

qs - aderncia solo-cimento;

i - coeficiente funo do sistema de injeo.

Por sua vez, resistncia de ponta calculada atravs da equao 5.

(5)

em que:

Pl - presso limite do solo;

sp - seco da ponta, considerando o dimetro Ds;

kp - fator de capacidade de carga na ponta.

necessrio obter o valor de qs, e para tal so consultados bacos como mostram as Figuras 33 e 34
que se referem a areias e argilas respetivamente e onde o N corresponde ao valor de N60. relevante
referir que se trata de uma correlao emprica.

Fig. 33 - baco para clculo de qs (areias )[16]

29

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 34 - baco para clculo de qs (argilas )[16]

necessrio ter em considerao que se deve realizar uma injeo presso e os volumes de calda
injetados, Vi, tm de ser superior ao volumes tericos do bolbo previsto, Vs. correto injetar cerca de
50 a 100% a mais que o volume terico para compensar as perdas de calda de cimento atravs da
exsudao do terreno, perdas ligadas diretamente ao processo de injeo e para poder-se efetuar o
tratamento de solo volta do bolbo. No Quadro 7 esto apresentadas quantidades mnimas de calda
de cimento aconselhveis tendo em conta o tipo de solo. apresentado igualmente o coeficiente que
majora o dimetro do bolbo devido injeo de calda de cimento. O valor deste coeficiente de
expanso, , difere consoante o tipo de solo e a tcnica de injeo utilizada. Pela observao do
quadro verifica-se que este coeficiente apresenta valores superiores no sistema de injeo IRS, ou
seja, onde existe reinjeo.

30

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Quadro 7 - Determinao do dimetro mdio[8]

Quantidades mnimas de
calda aconselhadas a Vi

Coeficiente

Solo

IRS

IGU

Seixo

1.8

1.3 a 1.4

1.5 Vs

Seixo arenoso

1.6 a 1.8

1.2 a 1.4

1.5 Vs

Areia com seixo

1.5 a 1.6

1.2 a 1.3

1.5 Vs

Areia grossa

1.4 a 1.5

1.1 a 1.2

1.5 Vs

Areia mdia

1.4 a 15

1.1 a 1.2

1.5 Vs

Areia fina

1.4 a 1.5

1.1 a 1.2

1.5 Vs

Areia siltosa

1.4 a 1.5

1.1 a 1.2

1.5 a 2. para IRS e


1.5 Vs para IGU

Silte

1.4 a 1.6

1.1 a 1.2

2 Vs para IRS e 1.5


Vs para IGU

Argila

1.8 a 2.0

1.2

2.5 a 3 Vs para IRS e


1.5 a 2 Vs para IGU

Marga ou
calcrio margoso

108

1.1 a 1.2

1.5 a 2 Vs para
camada compacta

Rocha alterada
ou fragmentada

1.2

1.1

1.1 a 1.5 Vs para


camada finamente
fissurada e 2 Vs ou
mais para a camada
fracturada

No Quadro 8 apresentam-se os diferentes coeficientes de segurana.


Quadro 8 - Coeficientes de segurana FS

Perodo de
Trao Compresso
utilizao
Provisria

1.8

Permanente

2.2

3.1.3. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO O MTODO DE PENETROMTRICO - EXPERIMENTAL

Passando para o mtodo Penetromtico - Experimental, pode-se constatar que se trata de um mtodo
de correlaes que especfico para estacas, mas tambm aplicvel a microestacas. Tambm por este
mtodo se divide a carga de ponta e adeso lateral como possvel verificar nas equaes 6 e 7.

(6)

31

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

(7)

em que :

Rpa - resistncia de ponta equivalente;

- coeficiente de capacidade penetromtrica;

Ab - rea da seco;

Qp - carga na ponta

Qfi - carga de atrito lateral da camada i;

Rpi . resistncia de ponta da camada i;

Ii - espessura da camada i;

D - dimetro da microestaca;

i - relao resistncia de ponta-atrito lateral n camada i.

Para a capacidade de carga admissvel, equao 8, adotam-se coeficientes de segurana igual a 3 para
a resistncia de ponta e igual a 2 para a mobilizao da resistncia lateral.

(8)

No Quadro 9 esto apresentados diferentes coeficientes de capacidade penetromtrica consoante o


solo.

32

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Quadro 9 - Coeficiente de carga penetromtrica para diferentes tipos de solos[17]

Natureza do solo

Argila muito molo e


lodos
Argila de mdia
consistncia
Siltes e areias
soltas
Argila consistente e
dura , silte
compacto e areia
argilosa
Areia e seixo
medianamente
compactos
Areia e seixo
compactos a muito
compactos

Rp * 10

Coeficiente de capacidade penetromtrica


Microestaca
caso 1.
0.40

Microestaca
caso 2
0.50

10 a 50

0.35

0.45

50

0.40

0.50

> 50

0.45

0.55

50 a 120

0.40

0.50

> 120

0.30

0.40

< 10

Em cada camada, o atrito lateral pode ser obtido dividindo o Rpi pelo o coeficiente i como mostra a
equao 9. Este coeficiente relaciona o tipo de solo e o modo de execuo.

(9)

No Quadro 10 esto relacionados os coeficientes e qfi tendo em considerao o solo atravessado.

33

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Quadro 10 - Coeficiente e valor de qf (mximos) para diferentes tipos de solos[18]

Natureza do solo

Argila muito mole e lodos

Coeficiente i

Rp * 10

< 10

Microestaca
caso 1.
30

Microestaca
caso 2
30

Argila de mdia
consistncia
Siltes e areias soltas

10 a 50

40

80

50

60

120

Argila consistente e dura,


silte compacto e areia
argilosa
Areia e seixo
medianamente
compactos
Areia e seixo compactos
a muito compactos

> 50

60

120

50 a 120

100

200

> 120

150

200

Em relao aos ensaios, pode-se optar por fazer ensaios CPT ou ento fazer uma correlao entre os
ensaio CPT e SPT. O segundo o mais usual in situ e utiliza-se indiretamente correlacionando com
ensaios CPT e com caractersticas de resistncia ao corte. A Figura 35 mostra a correlao entre qc e
N55 em funo do dimetro mdio. tomado como referncia o N55, ou seja, um ratio de energia de
55%. Posteriormente com a converso de N55 para N60, os valores qc/(paN) sobem aproximadamente
9%.

Fig. 35 - Correlao entre qc eN55[19]

Como se pode verificar pela consulta do baco, qc/(paN) depende da granulometria do solo, ou seja,
cresce com o dimetro mdio das partculas.

34

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Quando no local da obra somente existem resultados do ensaio SPT, possvel atravs da carta da
Figura 35 obter o valor estimado da resistncia de ponta, qc.

3.1.4. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO O EUROCDIGO 7

Pelo Eurocdigo 7 [20], em 1997-1, o dimensionamento feito de modo a evitar o fenmeno de rotura
como est apresentado na equao 10.

(10)

em que:

Fc,d - Valor de clculo de uma grandeza atuante;

Rc,d - Valor de clculo de uma ao resistente.

Este valor de clculo de uma ao resistente depende da resistncia de ponta e de atrito como se pode
verificar na equao 11
(11)

onde:

Rc,d - valor de dimensionamento da resistncia ao carregamento de uma estaca;

Rb,d - valor de dimensionamento da resistncia de ponta de uma estaca;

Rs,d - valor de dimensionamento da resistncia de atrito de uma estaca (fuste).

Por sua vez, as resistncias de ponta e de atrito podem ser calculados de acordo com as equaes 12 e
13 respetivamente.
(12)

(13)

Para os quais:

Rb,k - valor caracterstico da resistncia de ponta de uma estaca;

Rs,k - valor caracterstico da resistncia de atrito de uma estaca;

b - fator de segurana para a resistncia total da estaca;

s - fator de segurana para a resistncia total da estaca.

Para dimensionar microestacas, s necessrio o valor de dimensionamento da resistncia de atrito, ou


seja, a resistncia de ponta no entra para os clculos.
Para obter o valor caracterstico recorre-se equao 14
(14)

35

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

onde:

- capacidade resistente lateral.

3.2. Dimensionamento estrutural


Nos casos em que os solos apresentam terrenos brandos, com vazios, muito saturados e com potencial
de liquefao e as microestacas so excessivamente carregadas, poder ocorrer um fenmeno
denominado de encurvadura que condicionar a capacidade de carga da microestaca.
A rutura de uma coluna carregada axialmente e com comportamento linear elstico pode-se dar por
esmagamento, se o elemento for curto, ou por encurvadura se este for esbelto. Neste ltimo, a rutura
est condicionada pelo modulo de elasticidade, E, comprimento da microestaca e pelo momento de
inrcia na direo da encurvadura, I. Na Figura 36 esto ilustrados os dois elementos referidos
anteriormente.
a)

b)

Fig. 36 - a) Elemento curto; b) Elemento esbelto[21]

O dimensionamento para o primeiro caso depende somente da fora axial aplicada, no havendo
efeitos de segunda ordem. Por sua vez, quando se trata de um elemento esbelto deve-se ter em conta os
efeitos devidos encurvadura da coluna, ou seja, os efeitos de segunda ordem.
A regulamentao portuguesa de projeto de estrutura adotou, por sua vez, a designao de
"varejamento" quando se trata de um fenmeno de instabilidade de colunas sujeitas a flexo.
As primeiras equaes desenvolvidas para calcular e representar a encurvadura s eram aplicadas para
seces constantes e em meios homogneos e elsticos-lineares.

3.2.1. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO A FHWA

Se consultarmos a FHWA[1], verificamos que a resistncia compresso pode ser calculada a partir
da equao 15.

(15)

em que:

36

Nc admissvel - carga admissvel compresso;

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

fdc - tenso resistente do beto;

Ac - rea de beto compresso;

fyd - tenso resistente do ao;

As - rea do ao compresso.

Quando se pretende calcular a resistncia trao atravs da FHWA, recorre-se equao 16.

(16)

onde:

Nt admissvel - carga admissvel trao;

As - rea de ao trao.

Como se pode verificar, a FHWA considera como coeficiente de segurana para compresso um
valor de 0.47 e trao um valor de 0.55.
imperativo referir que os efeitos de segunda ordem no so considerados pela FHWA.

3.2.2. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO O EN 1997 - 1:2004

Quando se consulta o documento normativo EN 1997 - 1:2004 o dimensionamento geotcnico de


microestacas encaminhado para uma publicao designada por EN 14199:2001.
A resistncia compresso de uma seco mista calculada atravs da equao 17

(17)

e a resistncia trao dada pela equao a 18

(18)

em que:

Npl,Rd - resistncia plstica da seco compresso;

Nt,Rd - resistncia plstica da seco trao;

As - rea de ao da seco;

fyd - tenso de cedncia do ao em que o fy460 N/mm2;

Ac - rea de beto:

fdc - Tenso resistente do beto.

37

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

3.2.3. CARGA CRTICA DE EULER

Esta carga pode ser designada como o valor mnimo para o qual o sistema passa de uma situao de
equilbrio estvel para uma situao de equilbrio neutro. Para valores ligeiramente superiores carga
crtica, o elemento entrar em equilbrio instvel como se pode verificar na Figura 37. A equao 19
apresenta o clculo da carga crtica de Euler.

(19)

onde:

Ncr - carga crtica de Euler,

EI - Rigidez de flexo de seco transversal da coluna. E o mdulo de elasticidade do


material e o I corresponde ao momento de inrcia da seco na direo da encurvadura;

=
- em que o parmetro que tem em conta a influncia das condies de apoio e l
corresponde ao comprimento entre articulaes ou comprimento efetivo.

Fig. 37 - Equilbrio estvel, neutro e instvel respetivamente[21]

Se as condies de apoio se modificarem, possvel continuar a utilizar a frmula de Euler se se


proceder correo do comprimento efetivo do elemento. Na Figura 38 esto ilustrados os
comprimentos efetivos segundo as condies de fronteira. Estes comprimentos consistem na distncia
ente os pontos de inflexo.

38

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 38 - Comprimento efetivo de encurvadura dos elementos com diferentes ligaes ao exterior[28]

O estado tenso associada carga crtica de Euler mostrado na equao 20.

(20)

em que:

- raio de girao da seco transverso;


- Coeficiente de esbelteza tambm representado por .

Assim sendo, substituindo na equao 20 obtm-se a equao 21:

(21)

para a qual o valor de calculado a partir da equao 22

(22)

Com o valor de pode-se definir uma nova esbelteza normalizada da coluna adimensional apresentada
na equao 23:

(23)

39

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Pode-se concluir que medida que se aumenta lo ou se diminui o raio de girao da seco, a esbelteza
aumenta e a tenso critica tende para zero. Caso se tratar de um elemento curto, a esbelteza tem
valores reduzidos e a tenso critica tende para infinito. Assim sendo, pode-se concluir que a esbelteza
uma caracterstica geomtrica dos elementos lineares que representa a sensibilidade de encurvadura.
A Figura 39 mostra a relao do coeficiente de esbelteza e a carga crtica de Euler.

Fig.39 - Carga crtica de Euler e esbelteza[22]

Nas estruturas metlicas, o colapso ocorre devido interao entre o fenmeno de instabilidade e
plasticidade. No primeiro caso trata-se da no linearidade elstica e no segundo caso a no linearidade
plstica.
As imperfeies geomtricas so um aspeto bastante importante podendo gerar excentricidades de
cargas que podem, por sua vez, originar deslocamentos . A sua considerao provoca efeitos nos
sistemas estruturais uma vez que alteram a trajectria de equilbrio quer seja em regime elstico ou
elasto-plstico. Assim, devido a essas imperfeies, a capacidade de carga da coluna vai sofrer um
decrscimo como se pode verificar na Figura 40.

Fig. 40 - Variao da tenso crtica com a esbelteza para uma coluna ideal e real[22]

crucial verificar a segurana para o estado limite ltimo conhecido como Estado Limite de
Encurvadura. Esta verificao depende do material, da ao atuante e, por fim, da esbelteza do
elemento.

3.2.4. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO O EUROCDIGO 3[23].

Segundo o EC 3, um elemento deve satisfazer a a equao 24:

40

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

(24)

Onde o valor de clculo da resistncia encurvadura esta apresentada na equao 25.

(25).

Em que:

- Coeficiente parcial de segurana cujo valor 1;


- Fator de reduo;

Consultando a Figura 41, conhecendo o valor da esbelteza normalizada e a curva de encurvadura


associada, obtemos o coeficiente de reduo.

Fig. 41 - Curvas de encurvadura de acordo com o EC3[23]

Ou atravs das equaes 26 e 27

mas

(26)

Onde:

(27)

O fator de imperfeio , pode tomar diferentes valores consoante as curvas europeias de


dimensionamento encurvadura, Figura 41,: 0.13, 0.21, 0.34, 0.49 e 0.76 para as curvas a0, a, b, c e

41

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

d respetivamente.
Para saber qual a curva de encurvadura correspondente, deve-se consultar o Quadro 11.

42

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Quadro 11 - Escolha da curva de encurvadura consoante a seco da armadura segundo EC3[23]

A questo da instabilidade prende-se na determinao da carga axial admissvel para um dado


comprimento sem nenhum confinamento.

3.2.5. MEIO DISCRETO DE WINKLER

Neste subcaptulo defende-se que para uma anlise mais completa da encurvadura nas microestacas,
deve-se utilizar uma soluo para a equao de uma viga assente sobre uma fundao em meio
"winkler". Este solo compreendido como um meio discreto com uma serie de molas independentes
e com comportamento linear elstico[15]. Terzaghi prope que a constante de rigidez adote valores
iguais caso o solo seja argiloso sobreconsolidado e valores diferentes para solos arenosos ou lodos.
A Figura 42 mostra uma estaca embebida num solo que representado por molas.

43

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 42 - Estaca num solo representado por molas [1]

A equao 28 corresponde determinao de valores caractersticos de P que provoquem a


instabilidade.

(28)

No qual:

P - carga axial;

x - coordenada ao longo da barra;

y - deslocamento perpendicular ao eixo da viga;

Es - mdulo de reao lateral do solo (kN/m2). Tambm pode ser designado por k;

EI . rigidez de flexo, normalmente considerando o ao e o beto.

No primeiro termo est apresentado a equao da viga sujeita a carga transversais; o segundo termo
corresponde ao efeito da carga axial; e por ltimo, o terceiro termo representa a reao do solo.
Timoshenko e Gere realizaram igualmente trabalhos de extrema importncia para a anlise do
fenmeno de varejamento em que se considera uma coluna uniforme e simplesmente apoiada, assente
numa fundao em meio "Winkler" como se pode verificar na Figura 43. O solo, como foi referido
anteriormente, constitudo por molas independentes e com comportamento elstico e linear e a
rigidez das molas caracterizada por uma constante de proporcionalidade entre a presso aplicada, q,
e deslocamento do solo, y. Esta constante designada por mdulo de reao do solo cf ( kh).

44

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 43 - Coluna sobre uma fundao elstica, comportamento da fundao no modelo de


Winkler e representao da fundao em meio de Winkler, respetivamente[22].

Para o mdulo de reao constante (kh), Timoshenko (1936) desenvolveu uma


frmula que permite obter a carga crtica como est apresentado na equao 29:

(29)

A equao 30 e 31 mostram respetivamente a carga crtica de Euler e o coeficiente .

(30)

(31)

A constante m o nmero de semi-ondas em que a coluna se subdivide aquando a encurvadura. O


parmetro m obtido de forma a condicionar Pcr a um valor mnimo. Quando =0, Pcr mnimo para
m=1 e, assim, Pcr=PE. medida que aumente, ou seja o kh aumenta, o nmero de semi-ondas e Pcr
tambm aumenta.

3.2.6. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO BJERRUM

Outro trabalho bastante relevante para o anlise da encurvadura em microestacas [18] foi estudado
por Bjerrum que cita o perigo de ocorrer a encurvadura em solos argilosos moles como "fantasmas
que de vs em quando aparecem nas discusses tcnicas". Esta temtica tem reaparecido com a
evoluo das microestacas que suportam elevadas cargas, nomeadamente as do Caso1. A equao 32
mostra o clculo de Pcr segundo este autor.

(32)

para o quais:

E - mdulo de elasticidade do material da microestaca;

I - momento de Inrcia mnimo da estaca;

L - comprimento livre da estaca;

Es - mdulo de deformabilidade do solo.

45

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

O primeiro termo refere-se equao de Euler para encurvadura em colunas e o segundo consiste na
contribuio do solo para o confinamento.
A profundidade crtica que leva ao valor mnimo de Pcr definida pela equao 33.

(33)

Ao substituir a equao 33 na equao 32 obtm-se


apresentada na equao 34:

uma nova equao para determinar Pcr

(34)

Bjerrum concluiu que no dimensionamento de uma estaca, a instabilidade por flexo apenas um
perigo quando a carga de compresso aplicada que leva cedncia do material excede a carga crtica
como mostra a equao 35.

(35)

em que:

max - tenso de cedncia d material da estaca. No caso de estacas de ao, esta tenso igual a
fy;

A - rea de seco transversal da estaca.

Ao combinar as duas equaes acima representadas obtm-se a equao 36.

(36)

Ao longo do seu estudo, Bjerrum avaliou vrias seces para a armadura, como foi dito
anteriormente, e chegou concluso que um material que apresentasse uma tenso de cedncia que
ronde os 360 MPa, um mdulo de deformabilidade de 200 GPa e um mdulo de reao do solo de
500 kPa (Es), no estava em perigo de sofrer encurvadura. Este perigo torna-se real para barras de ao
pequenas dimenses e em aos de alta resistncia pois esto sujeitos a maiores cargas.
conveniente expressar a equao 37:

(37)

46

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Onde:

A - rea da seco transversal da estaca;

fy - tenso de cedncia do material.

No denominador, o primeiro termo corresponde s propriedades geomtricas da estaca e o segundo


termo representa as propriedades do material da estaca. Estes dois termos juntos so designados por
"coeficiente de estaca". O valor de Es conhecido como o valor crtico de deformabilidade do solo.
possvel afirmar que quando este valor, (Eslimite), inferior ao mdulo de deformabilidade corrente
do solo, a capacidade resistente da microestaca em relao a esforo axiais ser controlado no que se
refere capacidade estrutural e geotcnica. Por sua vez, se o valor crtico for superior ao mdulo de
deformabilidade do solo, a encurvadura dever ser tida em conta no dimensionamento.
O mdulo de deformabilidade e o "coeficiente de estaca" podem ser representados num grfico em
escala logartmica como mostra a Figura 44. importante referir que o mdulo de deformabilidade
do solo est em unidades ksi (kilopound per square inch) e o coeficiente de microestaca em in2/kip.

Fig.44 - Grfico que representa a encurvadura de microestacas sujeitas a cargas concentradas[8]

Se uma microestaca carregada est representada no lado direito do grfico significa que a rutura
acontecer antes do varejamento, ou seja, por esforo normal. Se a microestaca carregada estiver
representada no lado esquerdo do grfico, conclui-se que o varejamento ocorrer antes da rutura por
compresso.
Esta figura pode ento ser uma ferramenta de ajuda para determinar a susceptibilidade de uma
microestaca encurvadura.
importante referir que este grfico adota uma microestaca com seco constante e no existe
nenhuma fora lateral nem momento fletor impostos, com um mdulo de deformabilidade constante
ao longo do fuste e com comportamento elstico-linear do material. No trata casos em que a estaca
no inicialmente reta, com seces transversais variveis, com cargas excntricas e com um mdulo
de deformabilidade varivel com a profundidade.
Este processo no tem em considerao a contribuio da calda de cimento para a estabilizao da
microestaca. Esta aumenta a rigidez estrutural da estaca pois aumenta a rea bruta. Para alm disso,
quando se efectua a injeo de calda de cimento sob presso para a execuo do bolbo de selagem

47

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

pode aumentar a rigidez e a resistncia dos solos volta desta.


A calda de cimento pode igualmente melhorar o solo que envolve a microestaca, aumentando assim a
rea de contacto entre esta e o solo.

3.2.7. DIMENSIONAMENTO SEGUNDO POULOS E DAVIS

Davisson (1963) tambm contribuiu para o estudo do fenmeno de encurvadura nas microestacas
com vrias condies de fronteira e com o mdulo de reao constante. A partir das equaes 38 e 39
e 40 e da consulta da Figura 45 [24], possvel obter o valor da carga crtica.

(38)

(39)

(40)

Compreende-se que R um comprimento elstico e L o comprimento da microestaca at ao bolbo


de selagem.
a)

b)

Fig. 45 - a) Encurvadura vs comprimento da estaca para kh constantes; b) Condies de fronteira [24]

Uma soluo alternativa foi dada por Francis et al. (1965) e Toakley (1965) em que a estaca est
encastrada e tem um comprimento equivalente le. Assim sendo a carga crtica calculada pela
equao 41.

48

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

(41)

O comprimento equivalente em funo das condies de fronteira no topo e na base da


microestaca.
Com a equao 42 calcula-se l'.

(42)

Ou, de forma mais simplificada pode-se calcular l' atravs da equao 43.

(43)

Onde R calculado atravs da equao 39.


As solues para le/l esto apresentadas na Figura 46.

Fig. 46 - Microestaca com diferentes condies de fronteira e le/l vs L/l

Davisson estudou tambm casos em que o kh linearmente varivel, nomeadamente para kh=nhz/d,
onde d o dimetro da microestaca, z profundidade a que se encontra a microestaca e nh o
coeficiente de reao do subsolo. As equaes 44, 45 e 46 mostram como se pode obter a carga
crtica.

49

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

(44)

(45)

(46)

Mais uma vez o L corresponde ao comprimento da microestaca at ao bolbo de selagem e T


corresponde a um comprimento elstico.
Novamente neste caso, as condies de fronteira so deveras importantes como se pode verificar
na Figura 47.
a)

b)

Fig. 47 - a) Encurvadura vs comprimento para kh=nhz/d; b) Condies de fronteira

Seguindo o exemplo acima, ao obter o valor de Vcr atravs das condies de fronteira e do clculo do
Zmax, possvel calcular o valor da carga crtica.
A Figura 48 mostra a variao do coeficiente de reao com a profundidade numa situao proposta
por Terzaghi e numa situao real.

50

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 48 - Variao com a profundidade do coeficiente de reao do solo[25].

Os casos apresentados anteriormente so para microestacas totalmente enterradas. Contudo existem


casos em que as microestacas apresentam-se parcialmente enterradas. Na Figura 49 est apresentado
um esquema ilustrativo e uma fotografia deste tipo de casos.

Fig. 49 - Microestaca parcialmente enterrada

possvel constatar que existem dois tipos de comprimentos:

Lu - comprimento da microestaca no suportado;

Ls - comprimento livre equivalente enterrado.

Para solues com kh constantes Davisson e Robisson (1965) apresentaram as equaes 47, 48 e 49
como soluo para esta situao.

(47)

(48)

(49)

51

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Novamente, R est definido na equao 39.


Atravs da Figura 50, com o clculo de JR e sabendo as condies de fronteira da microestaca,
possvel retirar valor de SR e consequentemente o valor do comprimento livre equivalente enterrado.

Fig. 50 - Profundidade fixa adimensional para kh constante

Mais uma vez, Davisson e Robinson (1965) estudaram solues para a variao linear do k h
apresentando as equaes 50,51 e 52..

(50)

(51)

(52)

Repetidamente, para esta situao, obtm-se o valor de Ls recorrendo Figura 51. Calculado o valor
de JT e conhecendo as condies de fronteira, obtm-se ST e posteriormente o comprimento
equivalente no suportado.

Fig. 51 - Profundidade fixa adimensional para kh varveis

Winkler assumiu o comportamento do solo como elstico linear, no entanto tal no acontece como se

52

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

verifica na Figura 52. Diferentes autores, como por exemplo McClelland e Focht (1956),
apresentaram alternativas a este modelo, considerando que o solo caracterizado por molas mas
admitindo um comportamento no linear. Da resultaram as curvas p-y que representam a reao do
solo com o deslocamento[25].

Fig. 52 - Mtodo das curvas p-y[25]

Estas curvas so obtidas experimentalmente atravs de ensaios de carga de carregamento lateral e


posterior uso de mtodos tericos para se obter as relaes essenciais definio das curvas. Nestes
ensaios recorre-se obteno dos diagramas de momentos da estaca com recurso a instrumentao,
determinando a curvatura das p-y atravs da dupla integrao.
A escolha do mdulo de reao lateral do solo da inteira responsabilidade do projetista, baseadas
nas condies geolgicas em causa e do nvel de carga.

3.3. Casos especiais


3.3.1. MICROESTACAS EM TERRENOS CRSICOS

Quando os terrenos em causa so crsicos, o projeto exige metodologias bem planeadas. Estes tipos
de terrenos so caracterizados pela dissoluo qumica das rochas, tambm designado por corroso.
necessrio uma correta avaliao da zona em estudo, ou seja, de extrema importncia caracterizar as
diversas formaes existentes em terrenos deste tipo pois o seu zonamento litoestratigrfico pode
variar em pequenas extenses. Como se pode ver na Figura 53, corrente o aparecimento de
cavernas, vales secos, rios subterrneos e paredes rochosos expostos.

53

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 53 - Microestaca em terreno crsicos: (a) configurao atual, (b) modelo utilizado para estimar a
capacidade estrutural[24]

A parte da estaca que atravessa o vazio deve ser analisada como um modelo duplamente encastrado,
encastrado- apoiado ou apoiado-apoiado.
Quando se utilizam microestacas neste tipo de terrenos crucial considerar alguns factores como por
exemplo o transporte da carga pelo macio rochoso. A capacidade estrutural da microestaca deve ser,
neste caso, verificada atravs dos procedimentos que se utiliza no dimensionamento de colunas de
ao.
Para evitar o fenmeno de varejamento deve-se reforar as ligaes, ou ento encher o vazio com
calda de cimento. Esta ltima hiptese deixa de ser vantajosa quando o vazio de grandes dimenses.

3.3.2. MICROESTACA EM TERRENOS DENSOS E COESOS.

Neste tipo de terrenos, pode-se criar uma abertura anelar em redor da microestaca durante o processo
de furao, como est ilustrado na Figura 54, esta pode-se manter por um perodo de tempo
significativo.
Devido ao efeito de arco, o dimetro de furo pode aumentar sendo importante preencher esse espao
com calda de cimento.

54

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 54 - Deformao devido abertura anelar: (a) configurao real, (b) modelo simplificado[24].

Quando a carga na estaca centrada e vertical, conclui-se a partir de experiencias anteriores, que a
abertura anelar no compromete a capacidade estrutural. Contudo, atravs de anlises convencionais
para o dimensionamento, quase certo que tem que se limitar as tenses admissveis de compresso.

55

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

56

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

4
CONSTRUO DA FERRAMENTA DE CLCULO

Esta ferramenta foi construda atravs de uma interface grfica, gravada na linguagem de programao
Visual Basic for Applications no Microsoft Office Excel. A ferramenta funciona com macros que
permitem realizar operaes repetitivas poupando, desta forma, bastante tempo e trabalho ao
utilizador. O engenheiro preenche os dados pedidos e aps carregar no start, realizam-se operaes
para se obter a carga mxima tanto ao nvel geotcnico como estrutural. Tambm possvel saber a
classe da seco, o comprimento de encurvadura ou o comprimento equivalente enterrado (caso se
trate de uma microestaca parcialmente enterrada) e a segurana encurvadura. So, portanto
informaes bastante relevantes e imperativas para um projeto de microestacas. fornecido um layout
com os resultados obtidos que posteriormente pode ser imprimido e fazer parte da memria descritiva
da obra.
importante referir que embora no captulo anterior foram apresentadas solues para cargas axiais,
nesta ferramenta tambm se faz a verificao de segurana flexo composta.

4.1. Pgina de clculo


A base de clculo para o dimensionamento geotcnico foi o Eurocdigo 7[20] e para o
dimensionamento estrutural, o Eurocdigo 3[23]. Desta forma, para o primeiro caso foram utilizadas
as equaes 11, 13 e 14, no segundo caso as equaes 25, 26 e 28 anteriormente apresentadas.
Para se obter o valor da capacidade resistente lateral, consultaram-se os bacos de Bustamante e Doix
apresentados nas fig. 33 e 34. O projetista necessita igualmente do valor do comprimento equivalente,
logo foi utilizado na interface o grfico da Figura 46 como base de clculo do Le.
igualmente importante fazer uma classificao da seco em causa[14], pois esta classificao
representa a forma como a resistncia e a capacidade de rotao de uma seco so influenciadas pela
encurvadura local. Segundo o EC3-1-1 existem 4 classes, no entanto, as seces tubulares classificamse em:

Classe 1 - podem formar uma rtula plstica cuja a capacidade de rotao superior mnima
exigida para a utilizao de mtodos plsticos de anlise;

57

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Classe 2 - possvel atingir o momento plstico, mas tm uma capacidade de rotao


limitada;

Classe 3 - a tenso na fibra extrema mais comprimida do elemento de ao pode atingir o valor
da tenso de cedncia, contudo, o momento plstico poder no ser atingido por causa da
encurvadura local.

Na Figura 55 est apresentado o comportamento flexo das classes 1 a 4.

Fig.55 - Comportamento de seces flexo[14]

O Me Mpl representam respetivamente o momento elstico e plstico da seco. Este ltimo


corresponde ao momento fletor que plastifica totalmente a seco. O colapso plstico de estruturas
submetidas principalmente a esforos de flexo, resume-se na transformao da estrutura num
mecanismo devido formao de sucessivas rtulas plsticas. O processo de formao de uma rtula
plstica implica uma fase elstica, at se atingir Me, e uma fase elasto-plstica, at Mpl ser atingido.
Para se proceder classificao so necessrias algumas relaes entre o dimetro e a espessura do
tubo como mostra o Quadro 12.
Quadro 12 - Relao mxima comprimento-espessura em seces tubulares[14]

Classe

Seco em flexo e/ou compresso

1
2
3
NOTA: Para c/d < 90
2

fy (N/mm )

58

ver EN 1993-1-6

235

275

355

420

460

1.00

0.92

0.81

0.75

0.71

1.00

0.85

0.66

0.56

0.51

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Sendo que a classe da seco tida em conta atravs do parmetro onde fy a tenso de cedncia
Uma vez que aps uma pesquisa exaustiva, no se encontrou informao sobre os coeficientes parciais
de segurana de microestacas, optou-se adotar como alternativa os valores correspondentes a estacas
cravadas, 1.3, ou ancoragens pr-esforas definitivas, 1.1. A escolha da responsabilidade do
projetista.
importante referir que no clculo do coeficiente de reao do solo, kh, o dimetro usado o do furo e
no calculo do R o da microestaca.
No que se refere ao dimensionamento flexo composta, necessrio garantir a condio apresentada
n equao 53

53

Onde MEd o valor de clculo d momento fletor atuante o MN,Rd o valor de calculo do momento fletor
resistente reduzido relativo ao esforo axial.
Uma vez que a seco metlica utilizada a tubular, o momento fletores plsticos reduzidos so
obtidos a partir da equao 54.

54

em que o parmetro n pode ser calculado atravs da equao 55 onde Npl,Rd corresponde ao valor de
clculo do esforo axial resistente.

55

Para a estabilidade encurvadura por flexo e lateral, h que obedecer enequao 56.

56

NEd o valor de clculo do esforo axial de compresso e My,Ed e Mz,Ed os valores dos momentos
fletores mximos atuantes em torno de y e z. Uma vez que a seco tubular simtrica, os momentos
em torno de y e z so iguais. Tendo em conta que a seco s pode ser das classes 1, 2 ou 3, os
acrscimos de momentos fletores,
, devido variao do centro de gravidade no
existem. Para um elemento no sofrer deformaes de toro, a constante de toro tem de ser maior
que o momento de inrcia, ou seja IT Iy, contudo, como anteriormente foi referido a ferramenta de
clculo est programada para seces tubulares sendo que estas no so susceptveis de sofrer
toro[14]. Devido a este facto, no necessrio verificar a encurvadura lateral e assim sendo LT =
1.0.
Os valores de NRk e My,Rk so calculadas a partir das equaes 57e 58 respetivamente.

59

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

57

58

Para o calcular o Wi, Ai deve-se consultar o Quadro 13.


Quadro 13 - Valores de clculo de NRk, Mi,Rk e
[14]

Classe
Ai

Aeff

Wy

W pl,y

W pl,y

W el,y

W eff,y

Wz

W pl,z

W pl,z

W el,z

W peff,z

eN,yNEd

eN,zNEd

Para o clculo dos fatores de interao, kyy e kyz, optou-se por seguir o Mtodo 1. O Quadro 14 serve
como auxlio a estes clculos.
Quadro 14 - Fatores de integrao kij segundo o mtodo 1[14]

Fatores de
interao

Hipteses de clculo
Propriedades elsticas das
Propriedades plsticas das seces
seces (Classe 3 ou 4)
(Classe 1 ou 2)

Kyy

Kyz

Kzy

Kzz

Nos Quadros 15,16 e 17 auxiliam igualmente nos diversos clculos para a verificao da estabilidade
flexo composta.

60

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Quadro 15 - Coeficientes de momento uniforme equivalente Cmi,0[27]

Cmi,0

Diagrama de momentos

Mi,Ed(x) o mximo momento My,Ed ou Mz,Ed


(1 ordem);
p mximo deslocamento
(devido a
My,Ed) ou
(devido a Mz,Ed) ao longo do
elemento

Quadro 16 - Termos auxiliares para o clculo dos fatores de interao kij do quadro anterior[14]

Termos auxiliares
;
;

;
; Cmy e Cmz so coeficientes de momento

uniforme equivalente, avaliados com base nos coeficientes Cmi,0 indicados no


Quadro 15.
E, seces de classe 3 ou 4 deve considerar-se wy = wz = 1.0 (informao no
constante do EC3-1-1).

Com

Com

Com

Com

61

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

esbelteza normalizada relativa a encurvadura lateral com momento fletor


uniforme, ou seja, fazendo
no quadro 16;
esbelteza normalizada realizada relativa encurvadura lateral:
Se
Se

;
, sendo kc obtido a partir do quadro15 (quadro 6.6 do EC3 - 1-1);
Cmio = coeficiente indicado no Quadro 14;
em seces 1,2,3;
em seces 4;
Ncr,y a carga crtica de encurvadura elstica por flexo em torno de y;
Ncr,z a carga crtica de encurvadura elstica por flexo em torno de z;
Ncr,T a carga crtica de encurvadura por toro;
IT a constante de toro uniforme ou toro de St. Venant;
IY o momento de inrcia em torno de y

Quadro 17 - Fatores de correo kc[14]

Diagrama de momentos

kc
1.0

0.94
0.90
0.91
0.86
0.77
0.82

Na Figura 56 est apresentado a entrada onde os projetista preenchem o dados necessrio. A figura
mostra todos os dados pedidos.

62

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig.56 - Entrada da ferramenta de clculo.

Como referido anteriormente nesta dissertao, uma vez que a seco tubular da classe de ao N80 a
mais utilizada em Portugal, a interface grfica foi construda somente para microestacas com esta
seco metlica.
Aps "clicar" no start, todos os clculos so resolvidos numa folha de excel previamente programada,
resultando o layout apresentado na Figura 57 com os resultados obtidos. Mais uma vez, s aparecem
os resultados escolhidos resultantes da escolha de dimensionamento do projetista.

63

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig.57 - Layout da ferramenta de clculo

Aps "clicar" em Print, esta imagem dirige-se para um pdf com a data e a hora da realizao da tarefa
e posteriormente pode ser imprimido

4.2. Estudo paramtrico


Nesta fase, achou-se importante realizar alguns estudos paramtricos como exemplos de possveis
dimensionamentos. O objetivo poder validar a ferramenta construda com diferentes exemplos.

4.2.1. VALIDAO DA FERRAMENTA

Primeiramente, foi escolhido um exemplo que foi calculado na ferramenta de clculo, mas tambm
analiticamente como forma de validar o processo.
Neste exemplo, somente se dimensionou compresso com os seguintes dados:

estaca encastrada na base e articulada no topo (Estaca 1);

10 metros de comprimento cujo 4 so do bolbo;

64

injeo IRS em solo arenoso grosso;

Factor de segurana 1.3;

fy = 275 MPa[14];

E = 210000 MPa;

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

I =154 cm4[266];

Es = 2 MPa;

= 0.0889 m[26];

furo = 0.2 m;

t = 7.1 mm;

A = 0.00182 m2[26];

= 40 no bolbo;

fator de imperfeio a = 0.21;

= 1.4;

NEd = 965 N ;

MEd = 67.5 N.m;

Wel,y = 34.6 cm3 [26];

Wpl,y = 47.6 cm3[26];

IT =308 cm4[26].

Constatou-se que em ambos os processos os valores foram iguais e assim sendo podemos concluir que
a ferramenta de clculo foi programada corretamente.
Na Figura 58 est apresentado a ferramenta com os dados introduzidos.

Fig.58- Dados do exemplo de validao

Por sua vez, a Figura 59 mostra o layout que resulta dos dados introduzidos.

65

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig.59 - Resultados do exemplo de validao

Os resultados obtidos mostram que a seco em estudo no verifica a estabilidade flexo. Verifica-se
que o valor de dimensionamento resistente ao atrito lateral menor que o valor de clculo resistente
encurvadura. igualmente possvel verificar que o valor do momento fletores plsticos reduzidos
negativo.
Os resultados obtidos analiticamente foram iguais podendo assim validar a ferramenta. Estes clculos
esto apresentados no anexo 1.

4.2.2. ESTUDO PARAMTRICO 1

Aps validao, so feitos alguns estudos paramtricos onde se estudam microestacas com diferentes
caractersticas. Neste primeiro estudo apenas se aumentou o dimetro da microestaca, que altera
automaticamente outras caractersticas desta, e a tenso de cedncia para analisar se a seco estvel
quando sujeita a flexo composta:

66

fy = 355 MPa;[14]

I = 676 cm4[26];

= 0.1413 m[26];

A = 0.00299 m2[26];

Wel,y = 95.6 cm3[26];

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Wpl,y = 128 cm3[26];

IT = 1352 cm4 [26].

A Figura 60 apresenta os dados deste primeiro estudo na entrada da ferramenta.

Fig.60- Primeiro estudo paramtrico

Aps introduzidos os dados, os resultados obtidos esto apresentados na Figura 61.

67

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig.61- Resultados do primeiro estudo paramtrico

Como se pode verificar, a estabilidade da seco continua a dar KO. Verifica-se que o valor de Rsd
aumentou pois o dimetro e a tenso de cedncia maior, assim como aumentou o comprimento de
encurvadura equivalente. Neste estudo, Nb,Rd continua bastante superior ao valor de Rsd. No entanto, o
momento fletor passou a ser positivo.

4.2.3. ESTUDO PARAMTRICO 2

Neste estudo altera-se apenas o valor da tenso de cedncia do ao, ou seja, aumenta-se. A Figura 62
mostra os dados de entrada deste segundo estudo. Por sua vez, na Figura 63 est apresentado o layout
deste estudo

68

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 62 - Segundo estudo paramtrico

Fig.63 - Resultados do segundo estudo paramtrico

possvel verificar que a seco contnua instvel e, devido ao facto de a tenso de cedncia ser
maior, o valor de clculo da resistncia encurvadura e os momentos fletores plsticos reduzidos

69

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

aumentaram. Por sua vez, os valores do dimensionamento geotcnico continuam iguais ao estudo
paramtrico anterior.
4.2.4. ESTUDO PARAMTRICO 3

Neste terceiro estudo, aumentou-se ainda mais o dimetro e a espessura do tubo metlico, mantendo
novamente as caractersticas do solo e as condies de fronteira da microestaca dos estudos anteriores:

I = 1564 m4[26];

= 0.168 m[26];

t = 10 mm[26];

A = 0.00497 m2[26];

Wel,y = 186 cm3[26];

Wpl,y = 251 cm3[26];

IT = 3128 m4[26].

Na Figura 64 esto apresentados os dados e na Figura 65 o layout resultante.

Fig. 64 - Terceiro estudo paramtrico

70

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig.65 - Resultados do Terceiro estudo paramtrico

Como se pode averiguar, com uma seco tubular com as caractersticas anteriormente apresentadas, a
seco fica estvel flexo composta. Mais uma vez. os valor de dimensionamento resistente ao atrito
lateral e a ao resistente encurvadura aumentaram, sendo que este ltimo continua bastante
superior. O comprimento de encurvadura tambm aumentou, assim como os momentos fletores
plsticos reduzidos.

4.2.5. ESTUDO PARAMTRICO 4

Neste estudo, as condies de fronteira da microestaca e o seu comprimento so diferentes, assim


como o solo que a envolve e o factor de segurana adotado:

estaca encastrada na base e com apoio de roletes no topo (Estaca 2);

12 metros de comprimento cujo 5 so do bolbo;

injeo IRS em solo argiloso;

Factor de segurana 1.1;

Es = 3 MPa;

= 50 no bolbo;
= 1.8;

Nas Figuras 66 e 67 esto apresentados os dados introduzidos e os resultados obtidos respetivamente.

71

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 66 - Quarto estudo paramtrico

Fig. 67 - Resultados do quarto estudo paramtrico

Mais uma vez, nesta situao a seco apresenta-se estvel. Como era de esperar, o comprimento de
encurvadura ligeiramente diferente do estudo anterior, uma vez que as condies de fronteira foram

72

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

alteradas. O valor de Rsd aumentou intensamente ultrapassando o valor do Nb,Rd cujo valor aumentou
ligeiramente. Por sua vez, o momento fletor plstico manteve-se igual.

4.2.6. ESTUDO PARAMTRICO 5

Decidiu-se que neste estudo somente se ia alterar as condies de fronteira da microestaca, estaca 3,
para se abranger todos os casos de microestacas totalmente enterradas apresentadas na feramente.
Os dados introduzidos na ferramenta esto apresentados na Figura 68.

Fig. 68 - Quinto estudo paramtrico

Na Figura 69 esto mostrados os resultados deste estudo paramtrico.

73

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 69 - Resultados do quarto estudo paramtrico

Como se alteraram as condies de fronteira da microestaca, o seu comprimento de encurvadura


tambm se alterou, diminuindo o seu valor como era de espera. Para alm deste aspeto, ocorreu um
aumento do valor de Nb,Rd.

4.2.7 - ESTUDO PARAMTRICO 6

Para finalizar os estudos paramtricos, neste caso so adotadas as mesmas caractersticas da seco
tubular e do solo , alterando-se o facto que aqui a microestaca apresenta-se parcialmente enterrada:
A Figura 70 apresenta os diferentes dados na entrada da ferramenta.

74

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 70 - Sexto estudo paramtrico

Os resultados podem ser vistos na Figura 71. possvel constatar que o comprimento equivalente
enterrado, ou seja, suportado pelo solo, 2.38 metros aproximadamente. Como possvel observar
pelos resultados obtidos. Por sua vez, o valor de Rsd diminuiu drasticamente Nb,Rd aumentou
ligeiramente.

75

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Fig. 71 - Resultados do sexto estudo paramtrico

76

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

5
Concluses e Futuros desenvolvimentos

O objetivo de construir a ferramenta de clculo como auxilio a engenheiros no dimensionamento de


microestacas foi atingido. Contudo, em trabalhos futuros, o tema desta dissertao pode ser muito
mais desenvolvido, podendo atingir outros patamares.
Em primeiro lugar, h que assinalar a importncia das microestacas no mundo da engenharia civil.
Importncia que est a crescer devido s diversas vantagens que estas proporcionam tanto como
fundaes profundas de estruturas, como para a estabilidade de taludes ou tneis, entre outros. No
entanto, necessrio ter em ateno os vrios aspetos da sua construo e da ligao destas s
fundaes. Como foi apresentado no captulo 2, este ltimo aspeto requer uma especial considerao
pois caso essa ligao no seja bem concebida, existe uma m transferncia de carga da superstrutura
para as fundaes e consequentemente, toda a estrutura est em perigo.
A construo de uma interface grfica para ferramenta de clculo foi um trabalho bastante
interessante, instrutivo e exaustivo, pois o autor necessitou de um estudo intensivo cerca do assunto.
Com a validao da ferramenta foi possvel concluir, como foi referido anteriormente, que esta foi
corretamente programada. Os estudos paramtricos feitos tentaram abranger vrios casos possveis,
mas podem-se fazer muitos mais variando os vrios valores pedidos. Um dos objetivos do autor neste
captulo foi mostrar a facilidade de utilizar a ferramenta de clculo ilustrando a entrada de dados e os
posteriores resultados de cada um dos estudos.
Para finalizar, o autor deixa uma como ideia para futuros trabalhos a realizao de anlises no
lineares num programa de elementos finitos no qual se considerem tanto o comportamento no linear
da microestaca como o comportamento do solo e tambm visualizar o comportamento da microestaca
experimentalmente.

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Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

78

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

BIBLIOGRAFIA
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[2] Comit Europeu de Normalizao (CEN), Execution of special geotechnical works Micropiles
(pr EN 14199:2001), Junho de 2003, Milo.
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79

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

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80

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

ANEXOS
Anexo 1
Dimensionamento geotcnico:

81

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Dimensionamento estrutural:

Dimensionamento flexo composta:

Classe de seco:

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Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Como d/t 50* 0.8545 = 13.67 < 42.725, a seco pertence classe 1.

Verificao da estabilidade do elemento submetidos a flexo composta:

Como o IT = 308 cm4> Iy = 154cm4 a seco no est susceptvel de sofrer deformao por toro,
assim sendo, a encurvadura lateral LT = 1, aLT = 0, bLT = dLT = 0

83

Dimensionamento de microestacas de acordo com os Eurocdigos 7 e 3

Como 16.3

84

, a seco no verifica a estabilidade flexo composta.

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