O Programa de Proteção A Testemunhas No Brasil
O Programa de Proteção A Testemunhas No Brasil
O Programa de Proteção A Testemunhas No Brasil
A lei estabelece regras a serem traçadas pelo Poder Executivo para organizar o
programa de proteção, destinando verbas no orçamento para este fim. Também menciona
medidas efetivas para que a testemunha e a vítima possam passar ilesas por toda a
investigação, podendo inclusive mudar o nome completo do próprio protegido e de toda a sua
família. Foi ainda mais além, ao preocupar-se em proteger o participante do crime
investigado, identificando os criminosos, recuperando o produto do crime e localizando uma
possível vítima que esteja com sua integridade física ameaçada, na maioria das vezes quando
se tratar de crimes permanentes.
Tem-se, como objetivo geral, analisar a problemática que envolve a não efetivação do
Programa de Proteção a Testemunhas no Brasil, com enfoque à impunidade. Os objetivos
específicos são compreender a representatividade das provas testemunhais no sistema
processual brasileiro; analisar as principais características do sistema de proteção a
testemunhas em outros países; e discutir as melhorias que podem ser feitas para melhorar o
desempenho do programa.
No segundo capítulo, será analisado o valor da prova testemunhal para o processo penal,
abordando a Teoria Geral da Prova, as fases da formação do testemunho, a capacidade para
ser testemunha, o fundamento do dever de testemunhar e ainda o falso testemunho.
O ponto principal deste trabalho é, pois, buscar meios de efetivação das leis já
existentes para a proteção de testemunhas, visando à sugestão de soluções da problemática da
impunidade, através do combate ao crime organizado e à corrupção existente em órgãos
estatais responsáveis pela segurança pública. Não há, portanto, uma lacuna no ordenamento
jurídico brasileiro em relação a este tema. Apenas faz-se necessário o cumprimento do que já
está legalizado.
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Fazendo alusão a José Braz da Silveira (2007, p. 128), cumpre-nos ressaltar que
“proteger as vítimas e as testemunhas que acabam contribuindo no combate à perversa ação
criminosa é proteger a sociedade por inteiro”.
A estrutura da máfia em seu apogeu levou anos para ser construída. A máfia siciliana é
considerada a mãe de todas as demais, apesar das ramificações existentes. A condição de
mafioso não é uma afiliação política, tampouco religiosa. No entanto, o mafioso jura, ao
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tornar-se um membro, que a máfia vem antes da família e de Deus. O objetivo principal deles
é fazer dinheiro. As famílias – que são as gangues individuais – procuram diferentes meios de
buscar isso, sendo a extorsão a forma mais comum.
Entre os anos 70 e 90, a máfia matou milhares de homens, dissolvendo seus corpos em
tambores de ácido ou simplesmente deixando-os à míngua, na rua. Porém, mesmo diante do
cenário de horror que estava por trás do assassinato de juízes, policiais e jornalistas que
tentavam conter a máfia, a Itália mostrou sua força no combate ao crime organizado, através,
principalmente, de seu povo, que começou a exigir o fim da impunidade e da covardia. O
resultado positivo na última década deve-se, além disso, ao cumprimento de leis já existentes,
a criação de outras novas e por ter o seu exército em campo.
Era o início do chamado maxiprocesso. Mais de 400 mafiosos foram julgados em uma
casamata especialmente construída para servir de tribunal. Os réus ficavam em grandes celas
no fundo da sala de julgamentos, de onde freqüentemente gritavam e ameaçavam as
testemunhas à medida que o julgamento seguia. Ao final de tudo, 338 mafiosos foram
condenados.
Além disso, cento e nove prefeitos foram afastados porque mantinham ligações com a
máfia e a prisão preventiva por 48 horas sem mandado judicial foi liberada naquele período.
A fim de evitar as manobras de uma justiça lenta, um decreto proibiu o habeas corpus. O
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Código Penal foi modificado, sendo inclusive instituída a prisão perpétua para mafiosos e
seqüestradores.
Para diminuir o poder dos mafiosos, que insistiam em controlar seus negócios de
dentro da prisão, a Itália criou uma lei dura, que foi ratificada pela sociedade e por
organizações de direitos humanos, de isolamento total dos mafiosos. O patrimônio da máfia
também foi atingido, através do seqüestro e conseqüente doação de apartamentos e fortalezas.
São pessoas que buscam vantagens, mas que também acreditam que o Estado é mais forte que
a máfia.
À medida que os anos foram passando e o programa foi sendo posto em prática, outras
características começaram a desenvolver-se, como a função do Marshals Service de proteger,
esconder e realocar as testemunhas. Em 1984, após a Lei Ampla de Controle do Crime, a
proteção passou a estender-se a parentes e colegas.
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O processo de admissão para o WPP não é automático e envolve diversos fatores, que
são previamente analisados. As informações relevantes incluem a importância do testemunho
de alguém, uma avaliação psicológica do potencial da testemunha para determinar o risco
para a comunidade que a testemunha será deslocada e uma recomendação por parte do
Marshals Service, que avalia a adequação da testemunha para o Programa. Antes de entrar no
programa, no entanto, é imprescindível que as testemunhas quitem quaisquer débitos
existentes e cumpram obrigações civis e criminais.
Qualquer transgressão definida no Título 18, do Código Americano, Seção 1961 (1),
que cobre o crime organizado e extorsão;
Qualquer outro delito grave para o qual uma testemunha possa dar depoimento
podendo sujeitá-la à retaliação por meio de violência ou ameaças;
Após o ingresso no Programa, o Marshals Service designa uma nova identidade e uma
nova cidade para a testemunha, sua família e colegas em perigo. Isto requer sigilo absoluto. É
ele que protege a testemunha em tempo integral se ela estiver em área de risco como tribunais,
e notifica a agência de execução de lei local da presença da testemunha e de todo o seu
histórico criminal, podendo também requerer periódicos exames de drogas e álcool. Em troca
disto, deve buscar um trabalho digno para a testemunha, ajudá-la a encontrar moradia,
fornecer ajuda financeira para subsistência e buscar aconselhamento de psicólogos ou
psiquiatras quando necessário.
Com o advento da Lei de Combate à Criminalidade de 1994, surgiu pela primeira vez
a idéia de compensação de danos por parte do autor do delito. Isto foi ratificado com a
promulgação da Lei da Garantia das Pretensões Juscivilistas das Vítimas de Delitos. De
acordo com esta lei, autores de delitos que tiravam proveitos da repercussão de seus crimes
através da comercialização de entrevistas, biografias ou livros de maneira geral deveriam
indenizar a vítima. Esta lei garante à vítima um direito legal à penhora dos créditos do autor
resultantes de contratos de publicação.
Não é sem razão, portanto, que o Código Criminal Federal norte-americano impõe a
observância da 'adequação da pessoa para o ingresso no programa', o que envolve o
seu histórico criminal e uma 'avaliação psicológica' (Tít. 18, cap. 224. seção 3.521 -
minha tradução), cujo resultado irá influir na admissão no serviço. Também o
Witness Protection Act canadense contém expressa disposição nesse sentido,
impondo a avaliação 'da probabilidade da testemunha em se ajustar ao Programa'
(seção 7 (e) - minha tradução) como um dos fatores para o ingresso na proteção
especial.
Os cuidados tomados com relação ao sigilo do paradeiro dos protegidos são similares e
igualmente respeitados na maioria dos países que possuem o programa. Esta situação é
facilmente ilustrada através do desconto de cheques de salário-família, ou do reembolso de
despesas pelo programa. Via de regra, cabe ao protegido conferir o cheque, endossá-lo e
entregá-lo ao protetor, que faz o desconto em outra praça, para só então entregar os valores ao
protegido. Os cheques não podem, em hipótese alguma, serem apresentados à praça onde o
protegido está morando.
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Devem expressar queixas e reclamações aos seus protetores. Se, por qualquer razão,
não se sentirem confortáveis com isso, deverão contatar o Coordenador do Programa
e levar suas preocupações. Não deverão contatar investigadores em seu local de
origem para transmitir suas preocupações. A segurança está em prioridade alta e
deverá ser atendida imediatamente. Os problemas do dia-a-dia serão cuidados assim
que o tempo permitir.
É essencial que, assim que possível, o protegido seja encorajado a buscar emprego e
tornar-se, dessa forma, auto-suficiente. Existem, entretanto, casos onde será
necessário um período para a obtenção da identificação de suporte àqueles com nova
identidade. Uma série de dificuldades podem ocorrer caso essas pessoas tentem
obter emprego sem a devida identificação básica como Certidões de Nascimento,
Carteira de Trabalho e inscrição no INSS. O protegido terá problemas suficientes em
lidar com as questões de novo empregador sem complicar ainda mais as questões ao
buscar emprego sem a documentação necessária.
O principal diferencial do programa inglês com relação à maioria dos outros é o foco
principal, que neste caso é a vítima, e não a testemunha. O programa de apoio à vítima
funciona na Inglaterra e no País de Gales desde 1974 e possui mais de 400 grupos. A
estimativa é de que são atendidas mais de 1 milhão de vítimas por ano.
Desenvolvido pelo Poder Judiciário, o programa inglês conta com a ajuda de membros
da sociedade civil para que seja executado. Já o programa de apoio a testemunhas
propriamente dito, de natureza exclusivamente estatal, está sediado em Manchester.
O programa era inicialmente desacreditado, até mesmo por parte dos próprios
tribunais. Com o passar do tempo e após algumas experiências bem sucedidas, o governo
passou a investir mais e os resultados foram rapidamente constatados. Nele, a atuação dos
agentes é no sentido de encorajar as testemunhas a prestarem seu depoimento nos tribunais,
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atuando na busca pela restauração da dignidade da pessoa, mas sem esquecer a punição dos
infratores.
O programa inglês visa a manter a vítima a salvo de qualquer relação direto com a
justiça criminal, devendo fornecer à vítima todas as informações referentes ao caso em que a
pessoa esteja envolvida e oferecendo-lhe a proteção necessária. Além disso, o direito a uma
indenização compensatória deve ser assegurado. A proteção adequada da vítima é, portanto,
um dever do Estado. A assistência deve ser a mais completa e ampla possível.
A testemunha é uma pessoa diversa dos sujeitos principais do processo e nada mais é
que um terceiro desinteressado. É chamado em juízo para declarar sob juramente a respeito de
fatos que digam respeito ao julgamento do mérito da ação penal, a partir da percepção
sensorial que sobre eles obteve no passado.
Os meios de prova podem ser os especificados em lei ou todos aqueles que forem
moralmente legítimos, embora não previstos no ordenamento jurídico, sendo chamadas de
provas inominadas.
Sobre o sistema de avaliação das provas, Paulo Rangel (2006, p. 421) diz:
Assim, sistema de provas é o critério utilizado pelo juiz para valorar as provas dos
autos, alcançando a verdade histórica do processo.
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Como princípios da prova, podemos citar o da comunhão da prova – que diz que, uma
vez no processo, a prova pertence a todos os sujeitos processuais; da liberdade da prova – rege
sobre a busca da verdade por parte do juiz e os limites impostos a ele por lei; e da
inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos.
O conhecimento pode ser definido como o relacionamento que um sujeito tem com um
dado objeto através de suas percepções humanas: a audição, a visão, o gosto e o olfato,
combinados com os fatores ambientais presentes no fato sobre o qual o sujeito passa a
conhecer.
Apesar de a legislação brasileira reconhecer como testemunhas tanto a pessoa que teve
contato direto como aquela que teve conhecimento indireto, muitos autores discordam.
Alguns defendem que o conhecimento adquirido através de um relato não tem a mesma
credibilidade do que aquele testemunhado diretamente. Citando Malatesta (1960, p. 92):
Estar atento não é uma tarefa que o ser humano dispõe de autonomia para realizá-la,
pois são vários os elementos que influenciam o grau de atenção de uma pessoa: estado de
excitação momentânea, sensibilidade pessoal e casos de debilidade orgânica, como o cansaço.
Além da atenção, existe outro fator que deve trabalhar em conjunto com ela para que
uma informação nova torne-se um conhecimento: é a compreensão. É o processo de realizar
uma comparação entre dados velhos armazenados na memória do sujeito – as experiências –
com os dados do fato presenciado, havendo entendimento do acontecido.
Embora a pessoa nervosa também seja capaz de perceber o ocorrido, sua percepção
não será a mais fiel à realidade, pois seu estado de espírito desvia a sua atenção. Enquanto que
o outro sujeito vai captar melhor a seqüência dos acontecimentos, sendo capaz de relatá-lo
com maior fidelidade.
Existem aqueles que possuem enorme facilidade para memorização em detalhes, enquanto
outras armazenam muitas informações, porém pobres em detalhes.
Porém, nem toda lembrança é cem por cento autêntica, algumas sensações misturam-
se com outras já conhecidas em experiências anteriores. Esse processo de confusão e mistura
é feito involuntariamente e inconscientemente, de modo que o narrador acredita estar
relatando o acontecimento com total veracidade.
Como a memória está sujeita a desgastes, quanto maior for o tempo entre o fato e o
depoimento das testemunhas mais lacunas em branco serão criadas na mente da pessoa. Em
geral, esses espaços vazios são preenchidos por outras informações que tenham algum grau de
semelhança. Mas como a memorabilidade é a chave para um testemunho fiel, não é raro que
as novas e não-originais informações acabem resultando em depoimentos contraditórios,
falsos e narrações imaginárias.
É leigo e limitado pensar que testemunhar é um mero ato de narração, pois o simples
ato da emissão de uma mensagem não necessariamente significa que houve uma
comunicação; é necessária a compreensão por parte da autoridade competente, pois um
depoimento tem como objetivo informar. Por fim, o juiz deve ter em mente que o testemunho
é apenas uma parcela do fato ocorrido e que a pessoa que o relata já o faz interpretando-o.
Eis, portanto, o papel da testemunha: preencher a lacuna existente entre o Juiz e o fato
a ser provado. Sendo assim, é possível identificar dois tipos de juízos durante esse processo: o
juízo da testemunha a respeito de um determinado acontecimento e o juízo do magistrado, que
analisa o nível de credibilidade da testemunha, o que determina se ele irá aceitar ou não o
depoimento apresentado. José Carlos G. Xavier de Aquino (2002, p. 58) define um
testemunho: “é lícito entendê-lo como um juízo de terceiro, auxiliador na formação de um
juízo jurisdicional”.
Os dois critérios básicos que devem ser observados ao examinar a prova testemunhal
são a coerência e a credibilidade do autor. A coerência constata-se através de uma
comparação do depoimento prestado com os demais fatos probatórios. Porém, confiar-se
apenas nessa verificação não é adequado. É necessário também “estabelecer a imagem de
conjunto da testemunha”, ou seja, fazer um levantamento dos elementos pessoais que
caracterizam cada ser humano, como profissão, classe social, idade, etc.
Mesmo que aos olhos do magistrado a pessoa não seja digna de confiança, isto nem
sempre implica que o testemunho dela será descartado por completo. Há diversos casos em
que tais testemunhas esclarecem a solução de certos problemas quando é comprovado o falso
testemunho, o que demonstra que o ponto de vista desses testemunhos também possui
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utilidade. “Contudo, isso não quer dizer que o dictum das testemunhas de confiança tenha um
peso maior para a formação do convencimento do magistrado”, apesar de que seu depoimento
pode vir a ser o responsável pela decisão judicial.
É comum em quase todas as legislações que a capacidade para ser testemunha seja
bastante ampla. A legislação brasileira não é exceção, como ilustra muito bem o art. 202 do
Código de Processo Penal: “toda pessoa poderá ser testemunha”.
Portanto, uma pessoa que vivencia um fato, mas não consegue percebê-lo, armazená-
lo ou transmiti-lo para outra pessoa, seja por problemas de ordem orgânica ou mental, não
pode ser classificada como testemunha, podendo ser chamada então de incapaz.
A não prestação desse compromisso não livra a testemunha do dever cívico de dizer
apenas a verdade. Caso não o faça, deverá responder pela prática do crime de falso
testemunho. O magistrado também não deverá fazer qualquer distinção a respeito da validade
do depoimento de tal testemunha, ao menos que se prove que ela faltou com a verdade.
O transtorno mental sempre representa um perigo para um processo judicial, não nos
casos em que nenhum testemunho é possível, mas, sim, nos casos em que a alienação mental
da testemunha não tenha notoriedade, ela não possui nenhuma declaração judicial anterior de
sua incapacidade e se apresenta como uma pessoa normal, prestado compromisso.
Os menores de catorze anos não podem ser testemunhas em nenhum feito. Porém
havemos por bem, que os julgadores, em feitos crimes muito graves perguntem os
menores de catorze anos sem juramento, por falta de outra prova, para se
informarem na verdade, para não ficarem os delitos graves sem castigo.
idade ideal a ser fixada, uma vez que o amadurecimento não depende apenas do sexo
(mulheres amadurecem mais cedo), mas também varia de indivíduo para indivíduo.
A intimação nada mais é do que um ato judicial no qual o juiz manifesta sua vontade
de que uma pessoa preste testemunho. Uma vez intimada, tal pessoa passa a ter direitos e
obrigações e fica subordinada ao poder do Estado, pois caso a pessoa intimada recuse-se a
testemunhar responderá por crime de desobediência, ficando sujeita à multa e sendo
conduzida coercitivamente à sua apresentação.
Ademais, de acordo com o art. 220 do Código de Processo Penal, caso a pessoa esteja
privada de deslocar-se por questão de enfermidade ou velhice, ela será ouvida onde estiver.
defendem a idéia de que qualquer pessoa que presenciou um acontecimento e tem capacidade
de narrar os fatos para outra já está classificada como testemunha.
por coação direta – conduzindo coercitivamente aqueles que insistam no não comparecimento
– ou por coação indireta, através de um processo por crime de desobediência, além de
aplicação de multas.
A segunda exceção diz respeito aos ocupantes de altos cargos do governo, que
possuem certa flexibilidade de agendar diretamente com o juiz o dia, horário e local para
serem inquiridas. O art. 221 oferece ainda a possibilidade de prestar depoimento por escrito
ao Presidente e ao Vice-Presidente da República, e aos Presidentes do Senado Federal, da
Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal.
Da mesma maneira que a testemunha não deve omitir nenhum fato, também não pode
negar-se a responder nenhuma pergunta. A negação de resposta tem equivalência de falso
depoimento, sendo, portanto, tal atitude também sujeita às mesmas punições.
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Contudo, o art. 406 do Código de Processo Civil ainda preserva o direito de silêncio
da testemunha: “A testemunha não é obrigada a depor de fatos: I – que lhe acarretem grave
dano, bem como ao seu cônjuge e aos seus parentes consangüíneos ou afins, em linha reta, ou
na colateral em segundo grau”.
Ainda é importante considerar que a testemunha não pode pedir anonimato, devendo
sempre ser identificada e fornecer sua qualificação completa, lembrando que a omissão ou
falsa apresentação dessas informações também configura como falso depoimento - caso a
mentira tenha relevância jurídica.
Além da obrigação de relatar a verdade e nada mais que a verdade, a testemunha não
pode expressar sua opinião a respeito dos fatos. Esta é uma tarefa de alçada do magistrado.
Entretanto, a legislação brasileira permite a manifestação de conclusões pessoais quando não
podem ser separadas da narrativa do fato, por exemplo, se a voz era masculina, feminina ou
infantil.
precisão. Uma coleta de informações erradas iria apenas obstruir ou atrasar a prática da
justiça.
É, assim, nas normas constitucionais e nos princípios gerais da Lei Maior que se
devem subsumir a avaliação substancial do ilícito extrajudicial e a qualificação
processual de sua repercussão dentro do processo, deduzindo-se a proibição de
admitir as provas obtidas contra a Constituição e sua ineficácia, diretamente desta.
O Art. 167 do Código de Processo Penal diz que: “Não sendo possível o exame de
corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe
a falta.”
Portanto, nos casos em que não é possível realização de uma autópsia, o depoimento
de uma testemunha terá validade equivalente, substituindo a demonstração da existência
material. Exceto quando todas as testemunhas forem doentes ou deficientes mentais ou
menores de catorze anos de idade, neste caso, o exame de corpo de delito, ou algum outro tipo
de comprovação, torna-se indispensável.
Dois anos mais tarde, o Ministério da Justiça assinou com o Governo de Pernambuco
um convênio para apoiar essa iniciativa inédita e pioneira que avançava naquele Estado sob a
coordenação da organização não-governamental Gabinete de Assessoria Jurídica a
Organizações Populares: o Provita, um programa de proteção a vítimas e a testemunhas
baseado na idéia da reinserção social de pessoas em situação de risco em novos espaços
comunitários, de forma sigilosa e contando com a efetiva participação da sociedade civil na
construção de uma rede solidária de proteção. Os resultados já extremamente significativos
que se apresentavam à época levaram a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos a adotar o
Provita como o modelo a ser difundido em outras Unidades da Federação.
Tem como objetivo dar às testemunhas de crimes ânimo para servir à Justiça,
garantindo sua integridade física e uma vida digna, longe de ameaças e coações. Encontra
amparo legal na Lei no. 9.807/99 e oferece assistência social, médica, psicológica e jurídica,
bolsa de trabalho e cursos profissionalizantes. É o que afirma Pereira (2001, p.10):
sua integridade física atingida, face às normas de segurança extremamente rígidas que
envolvem o programa.
Em casos mais sérios, o beneficiário pode mudar de nome, ou ainda ser deslocado para
outro Estado. Nestes casos, o programa auxilia na mudança e procura de moradia, emprego,
escola etc.
A Lei no. 9.807, de 13 de julho de 1999, estabelece em seu art. 4º, o que segue:
3) fixar o teto da ajuda financeira mensal a ser oferecida aos beneficiários e às suas
famílias, isto aos beneficiários impossibilitados de exercer função remunerada ou que
não tenham outra fonte de renda;
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4) providenciar junto aos órgãos competentes licença remunerada, prevista em Lei para
os beneficiários que forem servidores públicos ou militares;
8) solicitar dos órgãos policias constituídos a custódia necessária urgente para manter a
testemunha a salvo;
10) realizar ao menos uma reunião mensal, considerada ordinária e extraordinária tantas
quantas forem necessárias.
A execução das atividades do Programa, por sua vez, fica sob a responsabilidade do
Órgão Executor, a quem compete realizar a contratação da Equipe Técnica e proceder à
articulação da Rede Solidária de Proteção. Em linhas gerais, é quem vai a campo e executa o
programa, ao contrário do Conselho Deliberativo, que organiza e planeja.
Entre os direitos e deveres dos órgãos executores do programa, dispostos no convênio que
se firma com o órgão público estadual responsável pela execução do programa em cada
Estado e junto ao governo da União, estão:
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8) receber e manter a vítima ou a testemunha em local seguro, até que seja aprovado o
seu ingresso no programa;
9) zelar pela segurança física e psicológica das vítimas, testemunhas e seus familiares
durante todo o período da proteção;
11) manter os beneficiários informados acerca da tramitação dos processos aos quais
estejam vinculados;
13) oferecer acompanhamento à distância, pelo período de seis meses após o desligamento
do beneficiário do programa;
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Por ser quem lida diretamente com os beneficiários e suas famílias, é importante que os
componentes do Órgão Executor sejam pessoas de confiança e a prova do êxito do trabalho
desta equipe reside no fato de que nunca se registrou qualquer baixa, tratando-se em pessoas
protegidas pelo Provita.
O trabalho nas áreas jurídica, psicológica e social, necessário tanto para embasar as
decisões do Conselho como para realizar o atendimento e monitoramento dos
beneficiários do programa, é realizado por uma Equipe Técnica, liderada por um
coordenador e composta de advogados, psicólogos, assistentes sociais e outros
profissionais, conforme a necessidade de cada Estado.
A rede solidária de proteção, por fim, é o conjunto das associações civis, entidades e
demais organizações não-governamentais que se dispõem voluntariamente a receber os
admitidos no programa, proporcionando-lhes moradia e oportunidade de inserção social em
local diverso de sua residência.
o real perigo pelo qual a vítima está passando. Aliado a isso se deve analisar o crime do qual a
vítima é testemunha. Sobre este assunto, Pannunzio (2001, p. 176) se manifesta:
O nome do protegido pode ser modificado, caso seja necessário. Além disso, o nome
do cônjuge, do companheiro, dos ascendentes, dos descendentes, assim como todo
dependente, desde que seja do convívio habitual do protegido. O pré-requisito para isto está
na gravidade da coação ou da ameaça. Portanto, não se trata de um procedimento comum,
cabendo sua utilização apenas em casos extremos, haja vista a burocracia que há em torno
disso.
Caso tal procedimento seja adotado, o protegido poderá voltar ao nome original, mas é
importante que fique claro que a mudança tende a ser perpétua, porque as ameaças podem se
consumar se o protegido tentar voltar a sua vida normal.
O programa terá a duração de dois anos, sendo prorrogado pelo tempo necessário para
a efetivação da proteção. É de grande valia considerar que a Lei não desejou a prorrogação do
prazo, somente em casos excepcionais, dado, principalmente, o custo do programa.
Não raro há casos em que o suspeito que está sendo investigado deixe que a
repercussão inicial cesse para, só então, efetivar suas ameaças. Há que se tratar com muita
sensibilidade desses casos, pois são sentimentos vingativos perpétuos, onde a atividade
criminosa é predeterminada e extremamente perigosa.
consultas médicas, mudanças de endereço ou mesmo para proteção provisória. Isso dificulta a
eficácia do programa, uma vez que cerca de 37% (trinta e sete por cento) dos acusados
pertencem às forças policiais.
O fato de que boa parte dos acusados seja da força policial e, aliado a isso, quase todos
os Estados utilizem reforço policial para o deslocamento dos protegidos, configura uma
situação de risco para os beneficiários, uma vez que pode haver retaliação ou coação por parte
dos acusados, através de seus colegas de profissão.
Ainda há de ser melhorado o andamento dos processos que contêm testemunhas dos
programas estaduais. A morosidade desestimula o possível ingresso de testemunhas em
potencial, frustrando os beneficiários e sobrecarregando as entidades executoras, já que
prolonga o tempo de permanência das testemunhas no programa.
A delação premiada é alvo de muitas críticas, por pregar a traição e, por este motivo,
mostrar-se imoral. Sob o aspecto jurídico, rompe com o princípio da proporcionalidade da
pena, uma vez que punirá com penas diferentes pessoas envolvidas em um mesmo fato e com
idênticos graus de culpabilidade.
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Por outro lado, embora represente uma forma de colaboração à Justiça, é importante
que seja levado em consideração que as delações também podem se mostrar carentes de
credibilidade e não devem ser encaradas como verdade absoluta. Não podemos recuperar a
nefasta tradição de basear a produção de provas na pessoa do acusado, como ocorreu no
parado, em regimes antidemocráticos de outrora.
Ao contrário do que é defendido por alguns, a delação premiada ainda não constitui
um instrumento eficiente, por dar margem a injustiças, através da pressão sob o acusado a
afirmar algo de que não tem certeza, ou ainda pela manipulação do Judiciário.
Há também critérios de restrição de membros, uma vez que não é permitido a qualquer
um ingressar na associação criminosa.
A busca constante por lucros fáceis e a luta pelo domínio territorial também induzem o
criminoso a comumente corromper agentes públicos, seja como partícipe ou ainda apenas
“fazendo vista grossa”.
A sofisticação dos meios operacionais do crime organizado faz com que a colheita de
provas torne-se mais difícil, uma vez que dificilmente o Estado acompanharia tais avanços
tecnológicos com a mesma rapidez que os criminosos. Aliada a isso, ainda há a intimidação
fortemente exercida pelos criminosos com os integrantes das organizações, bem como a
pessoas estranhas a elas.
Premiar, por seu turno, é “dar prêmio ou galardão a; laurear; galardoar; pagar;
recompensar; remunerar”. (FERREIRA, 1999, p. 629).
Trata-se de uma prova anômala, haja vista que, embora sua qualidade de prova seja
evidente, não há como ser identificada no ordenamento jurídico brasileiro. É, portanto,
instrumento utilizado pelo magistrado para a formação de sua convicção a respeito dos fatos
controvertidos no processo.
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Por tratar-se de uma declaração voluntária por quem seja suspeito ou acusado de um
delito, não é confissão. Por outro lado, pelo fato de o delator ter interesse processual e por ser
parte, também não pode ser considerada testemunho. O mais coerente, portanto, é somá-la a
outros meios de prova, não sendo sensato valer-se unicamente dela para a formação do livre
convencimento do juiz.
No Brasil, aproximadamente, sete leis fazem menção à delação premiada, tendo sido a
precursora a chamada Lei dos Crimes Hediondos.
Para que seja concedido o perdão judicial e para a diminuição da pena, decorrentes da
delação, exige-se a observância dos seguintes requisitos: voluntariedade da colaboração com
o processo criminal ou investigação; resultado que atinja a identificação dos demais co-
autores (ou partícipes, ou a localização da vítima ou a recuperação total ou parcial do produto
do crime).
A delação não pode ser vista como uma regra, e sim, como um meio excepcional, a ser
utilizado em caso de extrema necessidade, em que não haja outras provas.
O réu delator poderá usufruir de duas benesses, quais sejam, o perdão judicial ou a
diminuição de sua pena. Os requisitos para que estes benefícios sejam concedidos encontram-
se elencados no artigo 13 da Lei 9.807/1999, conforme segue:
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Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão
judicial e a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário,
tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo
criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:
I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;
II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;
III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do
beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato
criminoso.
Poderá ainda o delator, diante de ameaça ou coação, ter direito à proteção de sua
integridade física. Caso esteja em liberdade, poderá ser inserido no programa de assistência,
recebendo as medidas ofertadas às vítimas e às testemunhas. Todavia, se estiver encarcerado,
não há possibilidade de enquadrar-se nesse programa, uma vez que já estará sob custódia do
Estado, que deve primar por sua integridade física e moral, direito garantido
constitucionalmente em seu artigo 144.
CONCLUSÃO
A nova lei trouxe a nítida impressão que, a partir de sua vigência, inúmeros crimes
seriam esclarecidos e importantes instrumentos estariam disponíveis, em especial, a almejada
diminuição dos atuais índices de violência que assolam o país. Isto, como podemos perceber
oito anos após sua efetiva utilização, não veio a ocorrer.
A experiência internacional mostra que, nesses casos, de nada adianta fazer discursos
contra o crime se não houver uma vigorosa ação de combate aos graves delitos de conduta dos
policiais. Outra solução seria reforçar o salário dos policiais. Um militar em início de carreira
recebe cerca de 700 reais por mês nas principais capitais do país. Após a promoção a tenente,
cinco anos depois, pode chegar a 1.500 reais. Um policial nos Estados Unidos recebe até dez
vezes mais.
Até 1995, a grande maioria dos processos existentes contra integrantes das corporações,
algo em torno de 90% do total de ações, referia-se a delitos ligados a um desvio de função.
São os chamados abusos de autoridade. Atualmente, 90% da população dos presídios
militares são de policiais flagrados em crimes de roubo, extorsão, tráfico de drogas e
homicídios. Na Polícia Militar de São Paulo e do Rio de Janeiro, a taxa anual de pessoas
punidas por crimes patrimoniais, como roubo, é de 13 por grupo de 10.000 militares. É cinco
vezes maior do que no resto da população.
Vivemos num país em que, de dentro dos presídios tidos como de segurança máxima,
criminosos de alto coturno comandam, com significativa independência e em ritmo acelerado,
a vida aqui fora, via celular e laptop. Enquanto a máquina estatal consome o tempo necessário
54
para lutar contra as dificuldades que a situação dos colaboradores exige, para dar
cumprimento às formalidades e providências que se impõem à integridade dos que se
beneficiariam da proteção de que fala o texto legal, bem como de seus familiares, aquelas
poderão sofrer as conseqüências que a lei quer evitar. Se levarmos em consideração que
expressiva fatia do contingente dos acusados neste país, pelas normas penais em vigor, não
chega a cumprir qualquer tipo de pena restritiva de liberdade, pode-se imaginar o risco que
testemunhas e acusados, atraídos pela fórmula trazida no bojo da Lei n.º. 9807/99, passam a
correr, comprometendo a seriedade da situação.
Embora o instituto da delação premiada seja repelido por parte da doutrina, diante da
alegação de que ensina que trair traz benefícios, o mesmo traz incontáveis vantagens à
sociedade, por ser um meio bastante eficaz no combate ao crime organizado. A partir do
momento em que um membro de uma associação criminosa delata seus companheiros, ele
está contribuindo para o bem comum da sociedade. É importante que seja ressaltado que o
objeto da delação premiada não é o benefício do criminoso, mas, sim, o combate ao crime
organizado, tão difundido atualmente no Brasil.
REFERÊNCIAS
LIVROS:
AQUINO, José Carlos G. Xavier. A prova testemunhal no processo penal brasileiro. 4. ed.
São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002.
BARROS, Antonio Milton de. A lei de proteção a vítimas e testemunhas. Franca: Ribeirão
Gráfica e Editora, 2003.
BATISTA, Nilo. Novas tendências do Direito Penal. Rio de Janeiro: Renan, 2004.
GRECCO, Rogério. Curso de Direito Penal. 7. Ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2006.
RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 11. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.
SILVEIRA, José Braz da Silva. A proteção à testemunha & o crime organizado no Brasil.
Curitiba: Juruá, 2007.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1998.
LEIS:
PERIÓDICOS:
AGUDO, Luís Carlos. Estudos sobre a Lei nº 9.807/99. Proteção a vítimas e testemunhas. Jus
Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3498>. Acesso em: 21 nov. 2007.
PONTES, Bruno Cezar da Luz. Alguns comentários sobre a Lei 9807/99 (proteção às
testemunhas). Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 36, nov. 1999. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1005>. Acesso em: 21 nov. 2007.
SOUZA, Marcus Valério Guimarães de. A Lei de Proteção a Testemunhas . Jus Navigandi,
Teresina, ano 4, n. 37, dez. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?
id=1006>. Acesso em: 15 out. 2007.
57
APÊNDICE
58
Fortaleza
Novembro, 2007
59
DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
Dois anos mais tarde, o Ministério da Justiça assinou com o Governo de Pernambuco
um convênio para apoiar uma iniciativa inédita e pioneira que avançava naquele Estado sob a
coordenação da organização não-governamental Gabinete de Assessoria Jurídica a
Organizações Populares: o Provita, um programa de proteção a vítimas e a testemunhas
baseado na idéia da reinserção social de pessoas em situação de risco em novos espaços
comunitários, de forma sigilosa e contando com a efetiva participação da sociedade civil na
construção de uma rede solidária de proteção. Os resultados já extremamente significativos
que se apresentavam à época levaram a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos a adotar o
Provita como o modelo a ser difundido em outras Unidades da Federação.
A referida lei estabelece regras a serem traçadas pelo Poder Executivo para organizar o
programa de proteção, destinando verbas no orçamento para este fim. Também menciona
medidas efetivas para que a testemunha e a vítima possam passar ilesas por toda a
investigação, podendo inclusive mudar o nome completo do próprio protegido e de toda a sua
família. A lei foi ainda mais além ao preocupar-se em proteger o participante do crime
investigado, identificando os criminosos, recuperando o produto do crime e localizando uma
possível vítima que esteja com sua integridade física ameaçada, na maioria das vezes quando
se tratar de crimes permanentes.
Nessa empreitada, cuidou o legislador em envolver não só a União, como seria natural,
em face mesmo do princípio de competência constitucional, mas, também, os Estados e o
Distrito Federal. Ao Ministério da Justiça, coube a tarefa de supervisionar e fiscalizar os
convênios, quando em jogo os interesses da União Federal. Certamente, nos Estados
federados essa incumbência caberá às respectivas Secretarias de Justiça, a exemplo, também
do Distrito Federal.
A contribuição para solucionar um crime muitas vezes tem um preço alto: a mudança de
vida. Em troca de um depoimento, que pode colocar em risco a testemunha, o Estado oferece
oportunidade para que se recomece do zero em novo endereço. Um fator crucial é fazer com
61
que a pessoa tenha a mesma vida social que tinha antes de testemunhar o crime, com
manutenção de atividade de sustento. Mantê-lo acompanhado da família é importante nesse
aspecto, e às vezes é preciso remover os familiares uma vez que passam a sofrer as mesmas
ameaças do denunciante.
Por meio desta pesquisa pretendemos buscar meios de efetivação das leis já existentes
para a proteção de testemunhas, visando à solução da problemática da impunidade, através do
combate ao crime organizado e à corrupção existente em órgãos estatais responsáveis pela
segurança pública. Não há, portanto, uma lacuna no ordenamento jurídico brasileiro em
relação a este tema. Apenas faz-se necessário o cumprimento do que já está legalizado.
3. Quais as melhorias que podem ser feitas para melhorar o desempenho do programa?
62
JUSTIFICATIVA
Segundo dados da Vara do Júri de Santo Amaro-SP, região que registra o maior
número de chacinas e homicídios da Grande São Paulo, de cada dez crimes ali praticados sete
acabam impunes, pois a polícia não consegue desvendar a autoria. Tão difícil quanto
encontrar as armas do crime é reunir quem esteja disposto a testemunhar.
A nova lei trouxe a nítida impressão que, a partir de sua vigência, inúmeros crimes
fossem esclarecidos e importante instrumento estaria disponível, em especial, a almejada
diminuição dos atuais índices de violência que assolam o país. Isto, como podemos perceber
oito anos após sua efetiva utilização, não veio a ocorrer.
A experiência internacional mostra que, nesses casos, de nada adianta fazer discursos
contra o crime se não houver uma vigorosa ação de combate aos graves delitos de conduta dos
policiais. Outra solução seria reforçar o salário dos policiais. Um militar em início de carreira
recebe cerca de 700 reais por mês nas principais capitais do país. Após a promoção à tenente,
cinco anos depois, pode chegar a 1.500 reais. Um policial nos Estados Unidos recebe até dez
vezes mais.
Até 1995, a grande maioria dos processos existentes contra integrantes das corporações,
algo em torno de 90% do total de ações, referia-se a delitos ligados a um desvio de função.
São os chamados abusos de autoridade. Atualmente 90% da população dos presídios militares
são de policiais flagrados em crimes de roubo, extorsão, tráfico de drogas e homicídios. Na
Polícia Militar de São Paulo e do Rio de Janeiro a taxa anual de pessoas punidas por crimes
patrimoniais, como roubo, é de 13 por grupo de 10.000 militares. É cinco vezes maior do que
no resto da população.
Os abusos praticados pela polícia no Brasil têm origens históricas. O historiador Thomas
Holloway revelou que no começo do século XIX a principal atribuição da polícia nas antigas
colônias era capturar e punir escravos fugitivos com chibatadas. Os fugitivos no Brasil
costumavam receber 200 chicotadas. Nos Estados Unidos, recebiam vinte. Nesses tempos, a
polícia estava a serviço dos donos de escravos contra todo o resto da população. Esse tipo de
mentalidade sobrevive até hoje. A polícia trabalha como se fosse adversária da população e
não como sua aliada. Diante desse quadro a população fica sem saída. Caso opte por
denunciar o policial, o resultado será chantagem, perseguição e risco de vida. Em
Pernambuco, Estado pioneiro em programas de proteção à testemunha, metade das pessoas
inscritas está sob proteção para fugir de policiais.
Vivemos num país em que de dentro dos presídios tidos como de segurança máxima,
criminosos de alto coturno comandam, com significativa independência e em ritmo acelerado,
a vida aqui fora, via celular e laptop. Enquanto a máquina estatal consome o tempo necessário
para lutar contra as dificuldades que a situação dos colaboradores exige, para dar
cumprimento às formalidades e providências que se impõe, a integridade dos que se
beneficiariam da proteção de que fala o texto legal, bem como de seus familiares, poderá
sofrer as conseqüências que a lei quer evitar. Se levarmos em consideração que expressiva
fatia do contingente dos acusados neste país, pelas normas penais em vigor, não chega a
cumprir qualquer tipo de pena restritiva de liberdade, pode-se imaginar o risco que
testemunhas e acusados, atraídos pela fórmula trazida no bojo da Lei n.º. 9807/99 passam a
correr, comprometendo a seriedade da situação.
65
REFERENCIAL TEÓRICO
Pincherli (1990, p. 12) resgatando a importância das testemunhas para o processo, diz
que:
Que os sentidos enganam a razão, com as aparências falsas (...) de modo que aqueles
olhos e aqueles ouvidos das testemunhas, com os quais, segundo a imagem de
Bentham, o juiz contempla os crimes e ouve a voz dos réus, são muitas vezes, olhos
que não vêem e ouvidos que não escutam, prerrogativa que o profeta referia ao povo
de Jerusalém, mas que Giuriati declarou extensiva a todo o mundo.
No entanto, os processos não podem simplesmente prescindir da prova testemunhal,
que muitas vezes é a única que se apresenta. Como bem registra Eduardo Espínola Filho,
citando Floriam (1982, p. 110):
Não descreve a lei o que se entende por "vítima ou testemunhas de crimes". Nesse
ponto, a Lei nº 10.354/99 (Lei de Proteção a Vítimas de Violência no Estado de São Paulo),
foi mais específica e, no seu artigo 2º, estabelece o que se entende por vítima de violência:
I) a pessoa que tenha sofrido dano de qualquer natureza, lesões físicas ou mentais,
sofrimento psicológico, prejuízo financeiro ou substancial detrimento de seus
direitos e garantias fundamentais, como conseqüência de ações ou omissões
previstas na legislação penal vigente como delitos penais;
II) o cônjuge, companheiro ou companheira, bem como o ascendente e descendente
em qualquer grau, ou colateral até o terceiro grau, por consangüinidade ou afinidade,
que possuam relação de dependência econômica com a pessoa designada no inciso
anterior;
III) a pessoa que tenha sofrido algum dano ou prejuízo, ao intervir para socorrer a
outrem que houver sofrido violência ou estiver em grave perigo de sofrê-la; e
IV) a testemunha que sofrer ameaça por haver presenciado ou indiretamente tomado
conhecimento de atos criminosos e detenha informações necessárias à investigação e
apuração dos fatos pelas autoridades competentes.
Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão
judicial e a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário,
tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo
criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:
I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;
II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;
III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.
Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do
beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato
criminoso.
Entendemos que se trata realmente de uma faculdade do juiz uma vez que deverá levar
em conta para a concessão o disposto no parágrafo único do mesmo artigo, ou seja, deverá
levar em conta para a concessão, a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias,
67
gravidade e repercussão social do fato criminoso. Trata aqui das circunstâncias judiciais
previstas no artigo 59 do Código Penal.
OBJETIVOS
GERAL:
ESPECÍFICOS:
HIPÓTESES
1. O sistema processual brasileiro, baseado no livre convencimento do juiz, faz uso das
provas testemunhais de acordo com a convicção do mesmo. A prova testemunhal se apresenta
de forma paradoxal, uma vez que diversos autores questionam seu valor probatório. É a prova
testemunhal um dos meios que permitem ao juiz, a reconstituição dos fatos, revivendo as
circunstâncias do caso. Destarte, a prova testemunhal no processo penal é ferramenta de
trabalho do magistrado. A verdadeira valoração da prova será dada pelo magistrado que a
analisará diante do caso concreto e em conjunto com os demais elementos probatórios. Não há
dúvidas de que a prova testemunhal é a prova mais utilizada no processo penal. Entretanto,
seu valor já não encontra base na sua simples existência, depende da forma com que foi
prestada, se consiste em prova única, depoimento de policial ou infante. No antigo sistema da
certeza legal ou da prova legal prevalecia o brocardo testis unus, testis, onde uma só
testemunha não valia como prova. Hoje se admite até uma condenação com base em um único
testemunho, desde que corroborado com os demais meios probatórios colacionados aos autos.
proteção policial promove também apoio social e psicológico. O caso mais famoso atendido
pelo programa é o do escritor Salman Rushdie, que em razão de seu livro, denominado Versos
Satânicos, sofre perseguições de fanáticos muçulmanos e tem a sua vida garantida graças ao
apoio do Victim Support.
POSSÍVEL SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ANEXOS
APÊNDICES
72
ASPECTOS METODÓGICOS
Além disso, corroborando o que já citei em minha justificativa, o estopim deste projeto
de pesquisa fora um recente enfoque da mídia em crimes ditos “queima de arquivo”. Sendo
assim pretendo viabilizar a execução de uma nova pesquisa, cujo universo será constituído,
em sua maioria, por voluntários do programa e testemunhas que se omitem de prestar
esclarecimentos.
A coleta de dados será feita através de entrevistas, visando a coleta de dados referente o
programa.
4. Coleta de dados
Também julgo de grande valia a pesquisa documental, que será realizada através da
busca por processos em que o programa de proteção não foi acionado ou não obteve êxito.
73
REFERÊNCIAS
AGUDO, Luís Carlos. Estudos sobre a Lei nº 9.807/99. Proteção a vítimas e testemunhas. Jus
Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3498>. Acesso em: 21 nov. 2007.
COSTA Jr, Antônio Vicente da. A Proteção ao Réu Colaborador. Artigo publicado no site
http://www.amperj.org.br
JESUS, Damásio de. Justiça e impunidade. São Paulo: Complexo Jurídico Damásio de
Jesus, out. 2000. Disponível em: <www.damasio.com.br>
PONTES, Bruno Cezar da Luz. Alguns comentários sobre a Lei 9807/99 (proteção às
testemunhas). Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 36, nov. 1999. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1005>. Acesso em: 21 nov. 2007.
SOUZA, Marcus Valério Guimarães de. A Lei de Proteção a Testemunhas . Jus Navigandi,
Teresina, ano 4, n. 37, dez. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?
id=1006>. Acesso em: 15 out. 2007.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1998.