Resenha de O Pecado e O Medo, Jean Delumeau
Resenha de O Pecado e O Medo, Jean Delumeau
Resenha de O Pecado e O Medo, Jean Delumeau
ISSN: 1517-1949
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Universidade Nove de Julho
Brasil
Resenhas
EccoS Rev. Cient., UNINOVE, So Paulo, n. 2, v. 5, p. 147-156
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a raiz desse mal num fato passado: Ado cada um de ns, diz o filsofo, para
acentuar o papel e a responsabilidade humanos na questo.
O medo do Deus Juiz o tema central do segundo volume da edio
brasileira da obra. Nele, catlicos e protestantes traaro um macabro ecumenismo
na manipulao do sentimento humano; no plano do catolicismo, as iniciativas vo
desde a preparao para a morte at as exigncias da ltima confisso. Alis, numa
passagem interessante sobre o sacramento da confisso, Delumeau registra que havia
resistncia das populaes confisso obrigatria, sobretudo quando feita ao vigrio
da parquia que se conhecia bem. Fatos constrangedores impediam que as pessoas
do campo confessassem todos os seus pecados. O protestantismo, que desobrigava
seus fiis de tal devoo, parece ter resolvido o problema a seu modo. A sada catlica
para esse impasse residia no dogma da infinita clemncia de Deus, que no hesitaria
em perdoar aos pecadores se estes se dispusessem a fazer penitncias. O medo do
Deus Juiz, associado idia unvoca do pecado original, lanava grupos inteiros a
uma situao de submisso e sujeio. J no universo protestante, esse medo foi
exemplificado na figura da doutrina de predestinao. Bem menos preocupados com
a prestao de contas dos pecados cometidos, os protestantes ocupavam-se de evitar
pecados mais imediatos como o adultrio e a idolatria, sinais do distanciamento dos
cones que simbolizavam a comunho com Deus a pureza da famlia e da religio.
A insistncia sobre o tema da morte e a busca de sinais escatolgicos (sobre
o fim do mundo) so traos caractersticos comuns aos universos catlico e
protestante. A busca de definio da existncia humana pelo seu fim, que em grego
lngua dos anjos neotestamentrios se reveste de dois significados, a saber:
destino e finalidade, ponto alto do catecismo cristo, portanto, comum s duas
tradies. Qual o fim ltimo do homem?, perguntariam os educadores aos
catecmenos de todos os tempos; louvar e adorar a Deus, criador de todas as
coisas, responderiam os fiis que, nutridos de uma primeira certeza, a do pecado
cometido, alimentavam o medo de que as coisas pudessem ser ainda piores. Era
uma certeza de que o fim ltimo viria a ser o prior (primeiro sentido) da existncia.
A importncia central desta obra est no fato de os pesquisadores em
Filosofia e Teologia terem mo a oportunidade de perscrutar, com um
especialista, os mecanismos religiosos de dominao da conscincia, a partir de
um componente dogmtico ao mesmo tempo sutil e eficaz o medo.