Convite À Viagem - Rumos Itaú Cultural
Convite À Viagem - Rumos Itaú Cultural
Convite À Viagem - Rumos Itaú Cultural
2|3
4|5
ISBN 978-85-7979-037-9
So Paulo, 2013
Realizao
6|7
16
presentation
Artistas Selecionados
selected artists
invitation to a journey
18
20
30
48
62
72
82
Curadores Viajantes
traveling curators
Recortes Curatoriais
curatorial scopes
222
248
8|9
10 | 11
12 | 13
14 | 15
Este catlogo apresenta os resultados das etapas de mapeamento, difuso e formao da quinta edio do
programa Rumos Ita Cultural Artes Visuais 2011-2013, para a qual se inscreveram 1.770 artistas. A
edio tem a coordenao geral de curadoria de Agnaldo Farias e conta com uma equipe de 12 profissionais
Ana Maria Maia, Felipe Scovino, Gabriela Motta e Paulo Miyada, curadores; Alejandra Muoz, Carlos
Franzoi, Jlio Martins, Luiza Proena, Marcelo Campos, Matias Monteiro, Sanzia Pinheiro e Vnia Leal, curadores viajantes , responsveis pelo mapeamento nacional da produo visual contempornea emergente.
Na fase inicial mapeamento membros da equipe curatorial deram palestras sobre temas da arte contempornea, em seis capitais, e oficinas de montagem de portflio, ministradas pela pesquisadora Janana
Melo, foram oferecidas em 14 capitais. Em seguida, os curadores do programa percorreram mais de cem
cidades de todo o pas para conhecer a realidade da produo artstica desses locais. Os relatos da pesquisa
fazem parte desta publicao.
Como parte da etapa de difuso do programa, o Ita Cultural realizou, em sua sede, em So Paulo, de fevereiro a abril de 2012, a exposio Convite Viagem, com 126 obras dos 45 artistas selecionados pela equipe
curatorial. Quatro recortes dessa mostra foram apresentados em 2012: Volta ao Dia em 80 Mundos, com curadoria de Ana Maria Maia e cocuradoria de Carlos Franzoi e Marcelo Campos, de maio a julho, em Goinia;
O Fio do Abismo, com curadoria de Gabriela Motta e cocuradoria de Alejandra Muoz e Luiza Proena, de
julho a setembro, em Belm; Deriva, com curadoria de Felipe Scovino, Jlio Martins e Sanzia Pinheiro, de
setembro a novembro, em Joinville; e Intuio et Cetera, com curadoria de Matias Monteiro, Paulo Miyada e
Vnia Leal, de setembro a novembro, no Recife. As obras escolhidas em cada montagem tm em comum a
abordagem de temas e questes que esto no centro da discusso sobre a arte na atualidade.
Na etapa de formao, os artistas selecionados concorreram a bolsas residncia no Brasil, no Chile e
na Inglaterra. Os escolhidos foram: Luiza Baldan (RJ), na Crac Valparaso Residencias y Plataforma
de Pensamiento Contemporneo, em Valparaso, pelo perodo de um ms e meio; Luiz Roque (SP),
na instituio JA.CA, em Belo Horizonte, em uma bolsa de trs meses; Cristiano Lenhardt (PE), na
Gasworks, em Londres, por trs meses; e GIA (BA), no Capacete, no Rio de Janeiro, por dois meses.
Integraram as aes de formao oito workshops em 2012, em Aracaju, Cachoeira, Araraquara, Boa
Vista, Braslia, Uberlndia, Chapec e Macap.
A apresentao da exposio Convite Viagem no Pao Imperial, Rio de Janeiro, entre maro e maio de
2013, a realizao de cursos de histria da arte e a produo e o lanamento deste catlogo completam
as aes da edio 2011-2013 do programa.
Eduardo Saron
Diretor superintendente
16 | 17
invitation to a journey
presentation
presentation
This catalog presents the outcomes of the mapping, dissemination and education stages of the fifth
edition of the 2011-2013 Rumos Ita Cultural Artes Visuais program, which received 1,770 submissions. This edition curatorship has been led by the general coordinator Agnaldo Farias followed
by a team of 12 professionals (Ana Maria Maia, Felipe Scovino, Gabriela Motta and Paulo Miyada,
curators; Alejandra Muoz, Carlos Franzoi, Jlio Martins, Luiza Proena, Marcelo Campos, Matias
Monteiro, Sanzia Pinheiro and Vnia Leal, traveling curators), charged with the task of mapping the
emerging contemporary visual output nationwide.
In the first stage (mapping) members of the curatorial team have delivered talks on topics related to contemporary art in six state capitals and workshops on how to put up a portfolio, given by researcher Janana Melo,
were held in 14 capital cities. Then the program curators have visited over a hundred cities across the country
to know the reality of art making in those locations. The research reports are an integral part of this publication.
As part of the program dissemination stage, Ita Cultural hosted the exhibition Convite Viagem in
the premises of its head office in So Paulo. The exhibition ran from February thru April 2012 featuring
126 works of 45 artists selected by the curatorial team. They were laid out in four curatorial scopes for
the 2012 show: Around the Day in 80 Worlds, curated by Ana Maria Maia and co-curated by Carlos
Franzoi and Marcelo Campos from May to July in Goinia; The Edge of the Abyss, curated by Gabriela
Motta and co-curated by Alejandra Muoz and Luiza Proena from July to September in Belm; Adrift,
curated by Felipe Scovino, Jlio Martins and Sanzia Pinheiro from September to November in Joinville;
and Intuition et Cetera, curated by Matias Monteiro, Paulo Miyada and Vnia Leal from September to
November in Recife. The points in common to the works gathered under each scope are the approach
of subjects and issues that are at the heart of the discussion about art today.
In the education stage, the participating artists competed for residency scholarships in Brazil, Chile
and England. The winners were: Luiza Baldan (RJ), at Crac Valparaiso - Residencias y Plataforma de
Pensamiento Contemporneo, in Valparaiso, for a one-and-a half-month period; Luiz Roque (SP),
at JA.CA institution, in Belo Horizonte, on a three-month scholarship; Cristiano Lenhardt (PE), in
Gasworks, London, for three months; and GIA (BA), at Capacete, in Rio de Janeiro, for two months.
The educational actions comprised eight workshops held in 2012 in Aracaju, Cachoeira, Araraquara,
Boa Vista, Braslia, Uberlndia, Chapec and Macap.
The exhibition Convite Viagem to be held at the Pao Imperial [Imperial Palace], Rio de Janeiro, from
March thru May 2013, plus the courses on art history and the production and release of this catalog
close the actions of the 2011-2013 edition of the program.
Eduardo Saron
Executive Director
18 | 19
artistas selecionados
20 | 21
artistas selecionados
samba infantil Pimpolhos da Grande Rio de 2006 a 2009. Em 2010, exps ToYS NIS no Centro Cultural Jus-
tia Federal, no Rio de Janeiro. Teve seu projeto Ninhumanos contemplado com o Prmio Interferncias Urbanas
Formou-se tcnico em conservao e restaurao de bens culturais mveis pela Fundao de Arte de Ouro Preto e
2008, Rio de Janeiro, construindo a obra nos jardins do Aterro do Flamengo, e recebeu o Prmio Aquisio em
graduou-se em artes visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG. Trabalhou como professor de desenho, escultura
e fotografia na Faop. Atualmente divide seus trabalhos em produo individual e realiza parcerias com outros artistas,
atuando em desenho, fotografia, instalao, interveno urbana e vdeo.
sies na Galeria Marcantonio Vilaa e no Instituto Cultural Banco Real de Recife. Recebeu os seguintes prmios:
mestranda em linguagens visuais pela UFRJ, onde graduou-se em pintura, em 2008. Entre suas principais
Abre Alas, Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro (2008); Prmio Projteis da Arte Contempornea, Funarte,
exposies esto a individual Corpos Dceis, na galeria A Gentil Carioca (Rio de Janeiro, 2009), e as coleti-
Rio de Janeiro (2008); Prmio Concurso Videoarte, Fundao Joaquim Nabuco, Recife (2007); SPA das Artes,
vas Jogos de Guerra, na Caixa Cultural (Rio de Janeiro, 2011) e no Memorial da Amrica Latina (So Paulo,
Recife (2007 e 2004); Bolsa Prmio XXVI Salo de Artes Plsticas de Pernambuco (2006), entre outros.
2010); Converging Trajectories: Crossing Borders, Building Bridges no Modified Arts (Phoenix, EUA, 2010);
Riodesaguamar Projeto Amplificadores 2009, no Museu Murillo La Greca (Recife, 2009); Abre Alas, na
galeria A Gentil Carioca (Rio de Janeiro, 2008); Interveno artstica no Morro da Conceio Edital Arte
Concilia sua carreira artstica com a profisso de bombeiro. Graduou-se em artes visuais na Universidade Federal
de Gois (UFGO). Realizou mostras individuais e coletivas: em 2011, I Salo de Arte do Centro-Oeste, Goinia,
e XVII Salo Anapolino de Arte, Anpolis, GO; em 2010, O lbum, Edital do Museu de Arte Contempornea de
Goinia; II Salo Universitrio Prmio Espao Piloto de Arte Contempornea da Galeria Espao Piloto, Braslia,
O Grupo de Interferncia Ambiental (GIA) formado por artistas visuais, designers, arte-educadores e msicos que
DF; em 2009, Arte/Sapato, Salo de Arte de Novo Hamburgo, RS. Recebeu o Prmio Aquisio do XXXVIII
tm em comum, alm da amizade, uma admirao pelas linguagens contemporneas e sua pluralidade, mais especi-
ficamente aquelas relacionadas arte e ao espao pblico. Entre as mostras de que participaram destacam-se XXXII
Panorama de Arte Brasileira Itinerrios, Itinerncias, no MAM-SP, 2011; Brazilian Summer, no Museu Het Domein/
Sittard, Holanda, 2009; Ocupao QG do GIA, MAM-BA, Salvador, e Nam June Paik Award, Colnia, Alemanha,
Iniciou sua produo em 2004 atuando em coletivos de artistas Grupo Pi e Opavivar. A partir de 2007 estabe-
em 2008, entre outras. O grupo recebeu prmios como Registros Vdeos sobre Arte/Canal Contemporneo 2010 e
leceu sua produo individual, participando de exposies individuais,coletivas, sales e residncias artsticasem
Formado pelos artistas Priscila dos Anjos e Srgio Adriano H. quando ambos cursavam artes visuais na Uni-
Bacharel pelo Instituto de Artes da UnB, 2009. Participou de vrias exposies individuais e coletivas, recebeu
versidade de Joinville (Univille). A escolha do nome Grupo P.S. (ps-escrito)vem acentuar esse pensar, com
prmios em sales e concursos de arte, e teve a obra publicada em catlogos e revistas como Poets and Artists
Bacharel em artes visuais pelo IA/UFRGS e mestrando em poticas visuais pela mesma instituio. Integra
Graduou-se em artes visuais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Realizou sua primeira exposio indivi-
o Atelier Subterrnea desde 2006. Participou das coletivas Silncios e Sussurros (Fundao Vera Chaves
dual em 2008, na Galeria de Arte da Aliana Francesa de Salvador. Entre suas principais participaes esto: LX
Barcellos, Viamo, RS, 2010) e Passagens Secretas (CCSP, 2008), entre outras. Em 2009, realizou a individual
Salo de Abril, em Fortaleza, CE, e LXIII Salo Paranaense, em Curitiba, PR, ambos em 2009; XV Salo da Bahia,
Alguns Desenhos, na Galeria Gestual, em Porto Alegre. Possui trabalhos nas colees da Fundao Vera
em Salvador, BA, em 2008; I Bienal do Tringulo, em Uberlndia, MG, em 2007; alm da presena constante nos
Chaves Barcellos, da Pinacoteca Aldo Locatelli e da Cmara Municipal de Porto Alegre. Em 2010, recebeu
Sales Regionais da Bahia. Em 2010 foi premiado nos sales: I Salo Semear de Arte Contempornea, com Pr-
o Prmio Aquisio do XIX Salo da Cmara Municipal de Porto Alegre e foi indicado como Destaque na
mio Aquisio e Jri Popular em Aracaju, SE; Salo de Artes Visuais da Bahia, com o Prmio Fundao Cultural
22 | 23
artistas selecionados
Em 1999 formou-se em artes plsticas pela Faap e em 2010 concluiu o mestrado em artes visuais pela ECA/USP.
Artista visual e pesquisadora. Mestre em arte e bacharel em artes plsticas pela UnB. Cursa o Programa Apro-
Participou do Programa Anual de Exposies do CCSP em 2002 e foi premiado no Salo de Piracicaba em 2010.
fundamento da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Participa de diversas exposies de arte desde 2004,
atuando principalmente com projetos e temas que envolvem as relaes entre palavra e imagem e livro de artista.
como artista, atua tambm como educador desde 1998 em diversas instituies de arte da cidade. Entre 2007 e
2010 dirigiu a Diviso de Ao Cultural e Educativa do CCSP.
2002). Recebeu o XI Prmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte (Rio de Janeiro 2010); Prmio Aquisio
licenciada em artes visuais pela Universidade Federal da Paraba (UFPB). Em 2009 apresentou Notas de
no XXXVII Salo de Arte Contempornea de Santo Andr (So Paulo 2009); Prmio Aquisio na I Mostra de
Esquecimento, sua primeira individual, em Joo Pessoa, PB. Participou de diversas mostras coletivas e obteve,
Fotografia CCSP (So Paulo 2008); destaque na revista eletrnica da Fundao Iber Camargo (Porto Alegre,
em 2010, um dos prmios principais do XIII Salo Municipal de Artes Plsticas, em Joo Pessoa, alm de receber
2007); Color Express Award (Miami, EUA, 2002); e Brown L. & Marion Whately Scholarship (Miami, EUA, 2002).
meno honrosa na exposio Qual o Lugar da Arte? no LXI Salo de Abril, Fortaleza, CE, e no prmio Energias
nas Artes do Instituto Tomie Ohtake, So Paulo.
Desde 2009 realiza projetos-residncia na cidade do Rio de Janeiro, como no Pedregulho (Conjunto Prefeito
Mendes de Moraes, Benfica), na Pennsula (Barra da Tijuca) e no Edifcio Rapozo Lopes (Santa Teresa). Das ex-
posies de que participou destacam-se as individuais no Centro Universitrio Maria Antonia (So Paulo, 2010);
bacharel em artes visuais pelo Instituto de Artes da UFRGS. Em 2007 fez cenografia do show Satolep Sambatown
na Plataforma Revlver (Lisboa, 2010); na Galeria Olido/CCSP (So Paulo 2008); e no Anexo da Galeria Laura
e, em 2010, cenografia do projeto Unimsica. Foi contemplada em 2011 com o Prmio Artista Destaque da Bolsa
Marsiaj (Rio de Janeiro, 2007). Entre as coletivas esto O Lugar da Linha, com curadoria de Felipe Scovino, Pao
Iber Camargo. Ainda em 2011 participou das coletivas Labirintos da Iconografia, no Museu de Arte do Rio Gran-
das Artes (SP) e MAC (Niteri), 2010; Nova Arte Nova, com curadoria de Paulo Venncio Filho, CCBB (Rio de
de do Sul, e Platform Micro Topologies, na Universidade da Califrnia, em Santa Brbara. Participou do Atelier
Janeiro, 2008, e So Paulo, 2009); BAC!, Centre de Cultura Contempornia de Barcelona (Espanha, 2008).
Bacharel em artes visuais pela UFRGS. Talent Campus Buenos Aires, 2005, e Talent Campus Berlim, 2007. Parti-
Ex-integrante do Programa Aprofundamento 2010 da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, dirigida por Glria
Ferreira. bacharel em artes visuais pela Uerj 2010. Entre suas principais exposies destacam-se as individuais
Laboratrio (Fundao Cultural de Cricima, 2011), Notas de Rodap (Centro Cultural Badesc, 2011) e Rudo (Centro
Cultural da Justia Federal, 2010), as coletivas VI e VII Bienal Internacional da Bolvia (Siart, 2009 e 2011) e a V Bienal
Estudou desenho industrial e artes visuais na Faap, em So Paulo. Teve sua primeira exposio individual na ga-
Internacional do Vento Sul (Cinemateca de Curitiba, 2009). Entre as colees das quais faz parte destaca-se a do
leria Mendes Wood em 2010. Participou de exposies coletivas na Pinacoteca do Estado de So Paulo, Think
MoMA. Atualmente integrante do Programa Piesp da Escola So Paulo, dirigido por Adriano Pedrosa.
21 Bruxelas, SescSP, Instituto Tomie OhtakeSP, MAMRJ, Museu Inim de Paula, de Belo Horizonte, e em
galerias e feiras no Brasil e no exterior.
Graduado em jornalismo pela PUC-MG. Exposies individuais nos seguintes espaos: em 2010, Fundao
Participa do programa Piesp, So Paulo. formada pela Camberwell College of Arts, Londres, onde concluiu
Joaquim Nabuco, Recife, e Celma Albuquerque Galeria de Arte, Belo Horizonte; em 2009, Centro Cultural
o mestrado em 2008. Realizou residncia na Schlo Balmoral (Bad Ems, Alemanha, 2009) e no Carpe Diem
Simon I. Patio, Santa Cruz, Bolvia; 2008, Galeria Olido, CCSP, So Paulo, e Oi Futuro, Rio de Janeiro; 2007,
Arte e Pesquisa (Lisboa, 2010). Entre suas exposies individuais destacam-se Gesto Mnimo (Galeria Riccardo
Celma Albuquerque Galeria de Arte, Belo Horizonte, e, em 2006, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte.
Crespi, Milo, 2010); Desenhos de Ar (Centro Universitrio Maria Antonia, So Paulo, 2010); Eu Fiz o Nada
Participou de diversas coletivas nacionais e internacionais, ganhou prmios e bolsas, tem seu trabalho analisado
em publicaes de arte e adquirido para acervos pblicos e privados.
Aparecer (A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2010); e as coletivas Chez Toi Exposition phmre N.1 (See
Art, Paris, 2010); O Lugar da Linha (MACNI e Pao das Artes, So Paulo, 2010); Natura e Destino (Galeria
24 | 25
artistas selecionados
Riccardo Crespi, Milo, 2010); TrAIN to Bad Ems (Galerie Nord, Berlin, 2009); O Contrato do Desenhista (Pla-
taforma Revolver, Lisboa, 2008); Realidades Imposibles (Fototeca Juan Malpica Mimendi, Vera Cruz, Mxico,
Formado por Fernando Visockis e Thiago Parizi, atua no campo de arte e de msica produzindo pesquisas e
2008), MA Theory and Practice of Transnational Art (House Galery, Londres, 2008) e Paper Trail: 15 Brazilian
trabalhos que relacionam esses campos. Suas produes possuem um carter hbrido, em que se misturam arte,
msica, tecnologia, arte sonora, performance e outras mdias, sempre priorizando o discurso conceitual e potico.
formada em artes plsticas pela ECA/USP e em arte e cultura fotogrfica pelo Centro Universitrio Senac. Em
Estudou pintura na Escola de Belas Artes da UFRJ e em cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque
2011 realizou a exposio individual Trabalho Abstrato, no Museu Histrico de Santa Catarina, e participou do XX
Lage e na Uerj. Participou dos programas de residncia Air Antwerpen na Blgica; Batiscafo em La Habana,
Salo de Atibaia. Em 2010 foi contemplada com a bolsa Exposies Descentralizadas, do SPA da Artes (Recife).
Cuba; 4Territrios em Braslia; Encontro V::E::R. Terra UNA, Minas Gerais. Recebeu o Prmio Prodem na
Foi uma das organizadoras da Casa da Lagartixa, onde participou de diversas exposies.
Artista-pesquisador e professor pela CAP-UFRGS. Doutorando em poticas visuais pela UFRGS. Integra os
Concluiu em 2009 o bacharelado em gravura na UFRS, onde cursa mestrado em poticas visuais. Em 2011
recebeu V Prmio Aorianos de Artes Plsticas, primeiro lugar no Prmio Ibema Gravura e Prmio Energisa
tempornea (UrcaCNPq).
em Joo Pessoa. Exps na mostra Labirintos da Iconografia, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, e participou da V Bienal de Gravura de Santo Andr e de Atibaia.
Temperamentos (2004); Vibro (2005); Por um Fio (2006) no Centro de Artes da Ufam, Amaznia; A Arte (2010), no
Bacharel em artes visuais com habilitao em desenho pela Escola de Belas Artes da UFMG. Estudou fotografia
Museu Vale em Vila Velha, Esprito Santo; e no Palcio das Artes em Belo Horizonte; e Festival Performance Arte Brasil
na cole Nationale Suprieure des Arts Visuels La Cambre, em Bruxelas, Blgica, e Cincias Sociais na UFMG.
(2011), no MAMRJ. Em 2007 fez a individual Dois Meninos Taulipang na Usina Chamin, em Manaus. Recebeu o
Prmio Governo do Estado do Amazonas de Apoio Produo Artstica em 2005 por seu projeto Linhas em Foco.
programas para jovens artistas, como a Temporada de Projetos do Pao das Artes, o Programa de Exposies do
Doutoranda em artes visuais pelo PPGAVI/UFRGS e mestre em artes visuais pelo PPGART/UFSM (2009).
CCSP e o Projeto Trajetrias da Fundao Joaquim Nabuco, em Recife. Realizou exposio individual na Galeria
Entre as exposies individuais destacam-se O Melhor dos Mundos Possveis!, no Goethe Institut, Porto Alegre
Leme. Entre as coletivas de que participou destacam-se XVII Festival de Arte Contempornea Videobrasil, Sesc,
(2011); Sob a Natureza, no CCSP (2010); e Um Cu Feito de Abismo, na Galeria Arlinda Corra Lima, Palcio
So Paulo; A Carta da Jamaica, Oi Futuro, Rio de Janeiro; Rice and Beans, Studio Trendy, Miami; Sombra do
das Artes, Belo Horizonte (2009). Recebeu o Prmio Aquisitivo do Programa de Exposies 2010 do CCSP (So
Futuro, Instituto Cervantes, So Paulo; Paralela 2010, So Paulo; e 2000e8, Sesc Pinheiros, So Paulo. Recebeu
o I Prmio Ateli Aberto Videobrasil (2011); premio no V Concurso de Videoarte da Fundaj (2011); I Prmio na
Anual de Artes da Faap (2006) e prmio destaque da Bolsa Iber Camargo (2009).
criadores da Teia Centro de Pesquisa Audiovisual, de Belo Horizonte. Diretor do longa-metragem Acidente,
Estudou pintura na Escola de Belas Artes da UFRJ, cursou fotografia no Ateli da Imagem, no Rio de Janeiro, e
premiado como Melhor Doc Ibero-Americano em Guadalajara, Mxico, 2007. Foi selecionado pelo projeto
trabalhou como assistente do artista plstico Luiz Zerbini entre 2006 e 2010. Participou do Programa de Aprofun-
Bolsa Pampulha, 2008, e como bolsista da John Simon Guggenheim Foundation, Nova York, 2009. Contem-
damento, Parque Lage, Rio de Janeiro, 2010. Em 2009 realizou a individual Defeito, na galeria A Gentil Carioca.
plado pelo Prmio Marcantonio Vilaa, Funarte, 2010. Exibiu seus trabalhos em instituies de arte no Brasil
Participou de vrias exposies, dentre elas: U-turn Solo Projects (arte BA e no CCSP, 2011); Gerao 00 a Nova Fo-
e no exterior, como MAMSP, Bienal de Cerveira (Portugal), Museu Tamayo (Cidade do Mxico), Akademie
tografia Brasileira (Sesc Belenzinho, 2011); Arquivo Geral (Centro Cultural Hlio Oiticica/RJ, 2010); Crossing Borders,
Building Bridges (Modified Arts, Phoenix-AZ, EUA 2010); XII Salo de Artes de Itaja (Santa Catarina, 2010); XVI
26 | 27
artistas selecionados
Salo Unama de Pequenos Formatos (Graa Landeira,Belm, 2010); Prmio Dirio Contemporneo de Fotografia
promovido pela On Line editora. Tem vrias obras publicadas na revista Galeria em Tela, de circulao na-
(Museu da UFPA-Belm, 2010). Ganhou Prmio Aquisitivo no XVI Salo Unama de Pequenos Formatos.
cional e internacional. Suas pinturas fazem parte de acervos nacionais, como o da Assembleia Legislativa do
Estado do Acre, e de colees particulares na Europa.
senho, instalao: processos hbridos, pela mesma instituio. Recebeu o Prmio Aorianos 2011 por Destaque em
Mestre em artes visuais, estudos interdisciplinares, na Konstfack University College of Arts, Crafts and Design, em
Desenho pela exposio Linhas de Espera, Poro do Pao Municipal, Porto Alegre. Entre as principais exposies
Estocolmo, Sucia. Selecionado para a Bolsa Iber Camargo 2008. Participou das coletivas Unfinished Analogies,
esto: Vitrine da Casa M VIII Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS (2011). Linhas, Lugares e Espera. Pinacoteca
Konsthall C, Estocolmo, 2011; Back, Forth and Round, Thomas Erben Gallery, Nova York, 2009; Zoation Painting,
Feevale. Campos I, Novo Hamburgo, RS (2010), Verbetes, Fundao Ecarta. Porto Alegre, RS (2008); Circuito
Guaibacar de Arte Emergente, Porto Alegre (2008); Prmio Incentivo Criatividade XVI Salo de Artes Plsticas, Cmara Municipal de Porto Alegre (2004); Homem Mquina, Arte & Fato Galeria, Porto Alegre, RS (2004).
Vieira, Jlio Tigre e Raphael Genuno, constituiu o coletivo Embira, iniciativa contemplada pelo prmio Bolsa
Mestre em poticas visuais pela UFRS. Trabalha com fotografia, vdeo e performance e vem fazendo exposies
Ateli de Pintura Galeria Homero Massena (2009-2010) da Secretaria de Estado da Cultura do Esprito Santo.
no Brasil e no exterior. Em 2010 realizou uma residncia no espao Takt Kunstprojektraum, em Berlim, e em 2011
Participou do curso de formao em arte contempornea, atividade realizada pelo Instituto Tomie Ohtake em
foi contemplada com a Bolsa Iber Camargo para uma residncia no Bronx Museum, em Nova York. Desenvolve o
parceria com a Ufes em 2010 e 2011, e tambm de exposies coletivas, dentre as quais destacam-se Vendo (Vi-
tria, 2009); Vises Contemporneas (Vitria, 2010); Embira (Vitria, 2010); e Base 2 (Vitria, 2011).
Concluiu o bacharelado em artes plsticas no Instituto de Artes da Unesp, o mestrado em artes visuais na ECA/
Formado em desenho industrial pela UnB. Teve seus trabalhos expostos pela primeira vez em 2008. J par-
USP (2006) e doutorando em artes visuais tambm na ECA/USP. Leciona, desde 2006, na Faculdade de Artes
ticipou de cerca de 20 exposies em vrias cidades do Brasil e tambm nos Estados Unidos e na Inglaterra.
Plsticas da Faap. Realizou exposies coletivas e individuais no CCSP (2001), no Centro Universitrio Maria An-
Em 2011 foi selecionado para quatro sales de arte, sendo premiado no XVII Salo Anapolino de Arte. Tambm
tonia (2003), no Instituto Tomie Ohtake (2004), no MAMSP (2005/2006), nas galerias Casa Tringulo (2006),
em 2011 realizou sua primeira individual, a exposio Dilogos no Museu de Arte Contempornea de Mato
Virgilio (2007 e 2010), entre outros. Exposio individual na Galeria Laura Marsiaj (Rio de Janeiro, 2011).
Grosso do Sul.
28 | 29
invitation to a journey
selected artists
selected artists
Cultural Banco do Brasil [Banco do Brasil Cultural Center] in Rio de Janeiro and So Paulo, and with four friends
he created the exhibition Zoation Painting, la Pintura de Broma, at Museo Nacional de Arte de La Paz [La Paz
National Museum of Art], Bolivia. In 2011, he was one of the artists in the Brazilian Papers group exhibitions, held
In the 1990s, Adriano took non-degree courses with artists like Carlito Contini and Roberta Fortunato at Sesc
at Bendana-Pinel gallery, Paris, and others at A Gentil Carioca and Tanya Bonadkar galleries, in New York.
Pompeia, So Paulo, and graduated from Escola de Comunicaes e Artes [School of Communications and Arts],
Universidade de So Paulo [University of So Paulo] (ECA/USP). At the same time, he went on investigating more
about music, working as a soundtrack producer and DJing in various locations in So Paulo, London and Berlin.
A multimedia artist with a BA in architecture from Universidade Federal do Rio de Janeiro [Federal University of
Rio de Janeiro] (UFRJ). She has taken part in a number of group exhibitions and institutional salons both in Brazil
and overseas, such as Eternal Feminine Plural, Geneva; Salo de Arte Digital [Digital Art Salon], Cuba; Salo da
Holder of a BA in arts from Universidade de Braslia [University of Braslia] (UnB), 2006. In 2004, his installation
Bahia [Bahia Salon]; Sesc Arte 24H, Performance Presente Futuro Volume III [24h Sesc Art, Performance Present
Como Furar Papel-de-Seda-Azul-com-Bolinha-Branca was displayed at Casa da Cultura da Amrica Latina [Latin
Future Volume III]; VII Bienal do Mercosul [7th Mercosul Biennial]; plus exhibitions like Anarchist Bookfair, New
America House of Culture], DF. From 2006 to 2009, it was the turn of Ding, Regies Audveis (o Piscar de Olhos)
York; Nanoexposies do Grupo DOC [DOC Groups Nanoexhibitions], Rio de Janeiro, Esprito Santo, Bogota and
Colombia; Associados [Associates] at Espao Orlndia [Orlndia Exhibition Hall], Rio de Janeiro. From 2006 to
2009, she participated in the creation and performance of the Pimpolhos childrens samba school, a division of the
Grande Rio samba school, in the carnival street parade. In 2010, her ToYS NIS was displayed at Centro Cultural
Berna is an artist and a forensic specialist. In recent years, she has been involved in performance. She conducts
Justia Federal [Federal Court Cultural Center], in Rio de Janeiro. Her Ninhumanos project was awarded the Prmio
Interferncias Urbanas 2008 [2008 Urban Interferences Award], Rio de Janeiro, and the artwork was installed in the
gardens of the Aterro do Flamengo. Claudia also received the Prmio Aquisio 2011 [2011 Acquisition Prize] at the
XVII Salo de Pequenos Formatos [17th Salon of Small Formats Unama [University of the Amazon], Belm, Par.
Holder of a BA in fine arts with a teaching license from Universidade Federal do Par [Federal University of Par]
(UFPA). Her works have been exhibited at Centro Cultural Banco do Nordeste [Banco do Nordeste Cultural
Center] (Fortaleza, CE); in XI Enearte [11th National Meeting of Art Students] (Rio de Janeiro, 2007) and XII Enearte
He earned his BA in fine arts from Universidade Federal de Santa Maria [Federal University of Santa Maria]
(Belm, 2008); in I Bienal de Fotocpias [1st Biennial of Photocopies] (Argentina, 2009). Her works are included in
(UFSM/RS) in 2000. His works have already been displayed at Galeria Marcantonio Vilaa [Marcantonio Vilaa
the collections of the CCBNB [Banco do Nordeste Cultural Center] (Fortaleza, CE); Fundao Rmulo Maiorana
Gallery] and Instituto Cultural Banco Real [Banco Real Cultural Institute], in Recife. Recipient, inter alia, of the
[Rmulo Maiorana Foundation] (Belm, PA); Sistema Integrado de Museus e Memoriais [Integrated System of
following awards: Abre Alas, Galeria A Gentil Carioca [A Gentil Carioca Gallery], Rio de Janeiro (2008); Prmio
Museums and Memorials] (Belm, PA); and Fundao Getulio Vargas [Getulio Vargas Foundation] (FGV) (Belm,
Projteis da Arte Contempornea [Projectiles of Contemporary Art Prize], Funarte [National Arts Foundation],
PA). Winner of Prmio SIM de Artes Visuais 2008 [2008 SIM Prize of Visual Arts] and Prmio Aquisio [Acquisition
Rio de Janeiro (2008); Prmio Concurso Videoarte [Videoart Contest Prize], Fundao Joaquim Nabuco
Prize] at the XXVII Arte Par e Bolsa de Pesquisa, Experimentao e Criao Artstica [27th Par Art and Scholarship for
[Joaquim Nabuco Foundation], Recife (2007); SPA das Artes, Recife (2004 and 2007); Bolsa Prmio XXVI Salo
Research, Experimentation and Artistic Creation] from Instituto de Artes do Par 2009 [2009 Par Institute of Arts].
de Artes Plsticas de Pernambuco [Scholarship Prize 26th Pernambuco Salon of Fine Arts] (2006).
Holder of a BA in painting from Escola de Belas Artes [School of Fine Arts], Universidade Federal do Rio de
He builds his career as an artist while keeping his job as a firefighter. Holder of a BA in visual arts from Universidade
Janeiro [Federal University of Rio de Janeiro] (UFRJ), 2006. His first solo exhibition was held in 2005 at Pao
Federal de Gois [Federal University of Gois] (UFGO). His works have been showcased in solo and group
Imperial [Imperial Palace] in Rio de Janeiro. This was then followed by the exhibitions at Luisa Strina and A
exhibitions: in 2011, I Salo de Arte do Centro-Oeste [1st Midwest Art Salon], Goinia, and XVII Salo Anapolino
Gentil Carioca galleries in So Paulo and Rio de Janeiro, respectively. In 2011, in Zurich, Switzerland, he showed
de Arte [17th Anapolino Salon of Art], Anpolis, GO; in 2010, O lbum [The Album], Call for Submissions of
Infinite Jungle of Individual Repetition, a collaboration with Christinger De Mayo gallery. In 2008, after a residency
the Goinia Museum of Contemporary Art; II Salo Universitrio Prmio Espao Piloto de Arte Contempornea
for artists at Darling Foundry in Montral, Canada, Carlos started a collaboration with The Choreographers,
[2nd University Salon Espao Piloto Prize of Contemporary Art of Espao Piloto Gallery Braslia, DF; in 2009,
a contemporary dance group. In that same year, he took part in Nova Arte Nova [New Art New], at Centro
Arte/Sapato [Art/Shoe], Salo de Arte de Novo Hamburgo [Novo Hamburgo Art Salon], RS. Recipient of Prmio
30 | 31
invitation to a journey
selected artists
Aquisio [Acquisition Prize] at the XXXVIII Salo de Arte Contempornea Luiz Sacilotto [38th Luiz Sacilotto
at Modified Arts (Phoenix, USA, 2010); Riodesaguamar Projeto Amplificadores 2009 [Riverflowingintosea 2009
Amplifiers Project] at Museu Murillo La Greca [Murillo La Greca Museum] (Recife, 2009); Abre Alas at Galeria A
Gentil Carioca [A Gentil Carioca Gallery] (Rio de Janeiro, 2008); Interveno artstica no Morro da Conceio Edital
Arte & Patrimnio 2007 [Artistic Intervention at Conceio Hill 2007 Art & Heritage Call for Submissions] Iphan
He began his career in 2004 by taking part in artists collectives Grupo Pi and Opavivar. From 2007 onwards,
[Institute of Brazilian Historic and Artistic Heritage]/MinC [Ministry of Culture] (Rio de Janeiro, 2008).
he has been engaged in making his own works, which have been displayed in solo and group exhibitions, salons
and artistic residencies in several states with a focus on drawings and installations.
who share, besides friendship, an admiration for contemporary languages and their plurality, more particularly those
Holder of a BA from Instituto de Artes [Institute of Arts] at Universidade de Braslia [University of Braslia] (UnB),
related to art and public space. Among the exhibitions they have participated in, emphasis is given to XXXII Panorama
2009. He has participated in several solo and group exhibitions, received awards and prizes in salons and art
de Arte Brasileira Itinerrios [32nd Overview of Brazilian Art Itineraries], Itinerncias [Itinerating] at the Museu de Arte
contests, and his works have appeared in catalogs and magazines such as Poets and Artists (Self Portrait Issue,
Moderna de So Paulo [So Paulo Museum of Modern Art], 2011; Brazilian Summer at Het Domein/Sittard Museum,
The Netherlands, 2009; Ocupao QG do GIA [HQ Occupation by GIA], Museu de Arte Moderna da Bahia [Bahia
Museum of Modern Art], Salvador; and Nam June Paik Award, Cologne, Germany, in 2008. The group is the recipient
of awards such as Registros Vdeos sobre Arte/Canal Contemporneo 2010 [Records 2010 Contemporary Channel
Holder of a BA in visual arts from Universidade Federal da Bahia [Federal University of Bahia] (UFBA). His first
Art Videos] and Fiat Mostra Brasil 2006 [2006 Fiat Brazil Exhibition]. Further information at giabahia.blogspot.com.
solo exhibition was held at the Alliance Franaise Art Gallery of Salvador in 2008. Highlights of his career include:
LX Salo de Abril [60th April Salon], Fortaleza, CE, and LXIII Salo Paranaense [63rd Paran Salon], Curitiba, PR,
both in 2009; XV Salo da Bahia [15th Bahia Salon], Salvador, BA, in 2008; I Bienal do Tringulo [1st Biennial of the
Formed by artists Priscilla dos Anjos and Srgio Adriano H, the group appeared in mid-2002 when both were taking
Triangle Region], Uberlndia, MG, in 2007; plus his regular participation in the Sales Regionais da Bahia [Regional
the visual arts course at Universidade de Joinville [University of Joinville] (Univille). By naming themselves the P.S.
Salons of Bahia]. In 2010, he won an award in the following salons: I Salo Semear de Arte Contempornea [1st
Group (postscript), the artists stress this way of thinking with notes taken about something already produced.
Semear Salon of Contemporary Art], with the Prmio Aquisio [Acquisition Prize] and the Popular Choice Award,
Aracaju, SE; Salo de Artes Visuais da Bahia [Bahia Visual Arts Salon], with the Prmio Fundao Cultural do Estado
[State Cultural Foundation Award], Vitria da Conquista, BA; and a Special Mention, Jequi, BA.
Guilherme holds a BA in visual arts from IA [Institute of Arts]/UFRGS [Federal University of Rio Grande do
Sul] and is a masters student in visual poetics at the same institution. A member of the Atelier Subterrnea
[Underground Studio] since 2006. Guilherme participated in the group exhibitions Silncios e Sussurros [Silence
Fernando is a technician in conservation and restoration of cultural property graduated from Fundao de Arte de
and Whispers] (Fundao Vera Chaves Barcellos [Vera Chaves Barcellos Foundation], Viamo, RS, 2010) and
Ouro Preto [Ouro Preto Art Foundation] (Faop) and also holds a BA in visual arts from Escola de Belas Artes [School
Passagens Secretas [Secret Passages] (Centro Cultural So Paulo [So Paulo Cultural Center], 2008) and others.
of Fine Arts] at Universidade Federal de Minas Gerais [Federal University of Minas Gerais] (UFMG). He has worked
In 2009, his solo exhibition Alguns Desenhos [Some Drawings] was held at Galeria Gestual [Gestural Gallery], in
as a teacher of drawing, sculpture and photography at Faop. Currently his output comprises his own works and those
Porto Alegre. His works are included in the collections of Fundao Vera Chaves Barcellos [Vera Chaves Barcellos
in which he contributes with other artists with drawing, photography, installation, urban intervention and video.
Foundation], Pinacoteca Aldo Locatelli [Aldo Locatelli Pinacotheca] and Cmara Municipal de Porto Alegre
[Porto Alegre City Council]. In 2010, he won the Prmio Aquisio [Acquisition Prize] at the XIX Salo da Cmara
Municipal de Porto Alegre [19th Salon of the Porto Alegre City Council] and was nominated for the Bolsa Iber
She is taking her masters degree course in visual languages at Universidade Federal do Rio de Janeiro [Federal University
of Rio de Janeiro] (UFRJ), where she earned her BA in painting back in 2008. Her major solo exhibitions include Corpos
Dceis [Docile Bodies], at Galeria A Gentil Carioca [A Gentil Carioca Gallery] (Rio de Janeiro, 2009), while the major
group exhibitions include Jogos de Guerra [War Games], at Caixa Cultural (Rio de Janeiro, 2011) and Memorial da
In 1999, Guilherme majored in fine arts from Fundao Armando lvares Penteado [Armando lvares Penteado
Amrica Latina [Latin America Memorial] (So Paulo, 2010); Converging Trajectories: Crossing Borders, Building Bridges
Foundation] (Faap) and in 2010 earned his masters degree in visual arts from Escola de Comunicaes e Artes
32 | 33
invitation to a journey
selected artists
took part in the Annual Program of Exhibitions of Centro Cultural So Paulo [So Paulo Cultural Center] in 2002
MA in visual arts from UFMG [Federal University of Minas Gerais]. Holder of a certificate program diploma in
and received an award at Salo de Piracicaba [Piracicaba Salon] in 2010. In 2011, he participated in the Integrao/
fine arts and contemporaneity from Escola Guignard [Guignard School]. He majored in journalism from PUC-
Action exchange program in Quebec, Canada. Apart from being an artist, Guilherme has also worked as an
MG [Pontifical Catholic University Minas Gerais]. His solo exhibitions have been held in the following venues:
educator since 1998 in several art institutions in the city. From 2007 to 2010, he headed the Division of Educational
2010, Fundao Joaquim Nabuco [Joaquim Nabuco Foundation] in Recife and Celma Albuquerque Galeria de
and Cultural Action of the Centro Cultural So Paulo [So Paulo Cultural Center].
Arte [Celma Albuquerque Art Gallery] in Belo Horizonte; 2009, Centro Cultural Simon I. Patio [Simon I. Patio
Cultural Center] in Santa Cruz, Bolivia; 2008, Galeria Olido [Olido Gallery], Centro Cultural So Paulo [So Paulo
Cultural Center] in So Paulo and Oi Futuro in Rio de Janeiro; 2007, Celma Albuquerque Galeria de Arte in Belo
ris holds a teacher license in visual arts from Universidade Federal da Paraba [Federal University of Paraba]
Horizonte; and 2006, Museu de Arte da Pampulha [Pampulha Art Museum] in Belo Horizonte. He has participated
(UFPB). In 2009, she presented Notas de Esquecimento [Notes of Oblivion], her first solo exhibition, in
in several group exhibitions in and out of the country, won awards and scholarships and his works are reviewed in art
Joo Pessoa, PB. She has taken part in a number of group exhibitions and in 2010 she won one of the main
prizes at the XIII Salo Municipal de Artes Plsticas [13th Municipal Salon of Fine Arts] in Joo Pessoa, in
addition to commendations at the exhibition Qual o Lugar da Arte? [Whats the Place of Art?] at the LXI
Salo de Abril [61st April Salon], Fortaleza, CE, and at Energias nas Artes [Energies in the Arts] award from
Visual artist and researcher. Holder of an MA in art and a BA in fine arts from Universidade de Braslia [University of
Braslia] (UnB). She is currently a student at the Programa Aprofundamento [Advanced Development Program] at Escola
de Artes Visuais do Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts]. She has taken part in a number of art exhibitions since
2004 mainly with projects and themes incorporating the relations between word and image and the artists book.
Holder of a BA in visual arts from Instituto de Artes [Institute of Arts] at Universidade Federal do Rio Grande do
Sul [Federal University of Rio Grande do Sul] (UFRGS). In 2007, she was the set designer of Satolep Sambatown
and in 2010 set designer of the Unimsica project. She received the Outstanding Artist Prize of the Iber
Holder of an MA and a BA in visual arts from UFRJ [Federal University of Rio de Janeiro] (Rio de Janeiro,
Camargo Scholarship in 2011. In that same year, she participated in the group exhibitions Labirintos da Iconografia
2010) and Florida International University (Miami, 2002). Recipient of the XI Prmio Marc Ferrez de Fotografia
[Labyrinths of Iconography] at Museu de Arte do Rio Grande do Sul [Rio Grande do Sul Art Museum] and
[11th Marc Ferrez Prize of Photography] of Funarte [National Arts Foundation] (Rio de Janeiro, 2010); Prmio
Platform Micro Topologies at the University of California, Santa Barbara. She took part in the Atelier Aberto
Aquisio [Acquisition Prize] at the XXXVII Salo de Arte Contempornea de Santo Andr [37th Santo
Andr Salon of Contemporary Art] (So Paulo, 2009); Prmio Aquisio at the I Mostra de Fotografia CCSP
[1st Photography Exhibition of the So Paulo Cultural Center] (So Paulo 2008); featured in a special article in
the electronic magazine of Fundao Iber Camargo [Iber Camargo Foundation] (Porto Alegre, 2007); Color
A former member of the Programa Aprofundamento 2010 [2010 Advanced Development Program] at Escola
Express Award (Miami, USA, 2002); and Brown L. & Marion Whately Scholarship (Miami, USA, 2002).
de Artes Visuais do Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts], directed by Glria Ferreira. He holds a BA
in visual arts from UERJ [University of the State of Rio de Janeiro], 2010. The major exhibitions in his career
Since 2009, she has carried out residency-projects in the city of Rio de Janeiro, as in Pedregulho (Conjunto Prefeito
include the solo exhibitions Laboratrio [Laboratory] (Fundao Cultural de Cricima [Cultural Foundation of
Mendes de Moraes, Benfica), in Pennsula (Barra da Tijuca) and in Edifcio Rapozo Lopes (Santa Teresa). Highlights of
Cricima], 2011), Notas de Rodap [Footnotes] (Centro Cultural Badesc [Badesc Cultural Center], 2011) and
her career are the solo exhibitions at Centro Universitrio Maria Antonia [Maria Antonia University Center] (So Paulo,
Rudo [Noise] (Centro Cultural da Justia Federal [Federal Court Cultural Center], 2010), the group exhibitions
2010); at Plataforma Revlver (Lisbon, 2010); at Galeria Olido/CCSP [Olido Gallery, So Paulo Cultural Center] (So
VI and VII Bienal Internacional da Bolvia [6th and 7th International Biennial of Bolivia] (Siart, 2009 and 2011) and
Paulo, 2008); and at the annex of Galeria Laura Marsiaj [Laura Marsiaj Gallery] (Rio de Janeiro, 2007). The group
the V Bienal Internacional do Vento Sul [5th International Biennial of VentoSul] (Cinemateca de Curitiba [Curitiba
exhibitions to highlight are O Lugar da Linha [The Place of the Line], curated by Felipe Scovino, Pao das Artes [Palace
Cinematheque], 2009). Among the collections where his works are displayed, attention is drawn to MoMA (The
of the Arts] (SP) and MAC [Museum of Contemporary Art] (Niteri), 2010; Nova Arte Nova [New Art New], curated
Museum of Modern Art). He is currently a member of the Programa Piesp [Piesp Program] of Escola So Paulo
by Paulo Venncio Filho, CCBB [Banco do Brasil Cultural Center] (Rio de Janeiro, 2008, and So Paulo, 2009); BAC!,
Centro de Cultura Contempornia de Barcelona [Barcelona Center of Contemporary Culture] (Spain, 2008).
34 | 35
invitation to a journey
selected artists
Holder of a BA in visual arts from UFRGS [Federal University of Rio Grande do Sul]. Talent Campus Buenos
Artist-researcher and teacher at CAP-UFRGS [Application School of Elementary and Secondary Learning
Aires, 2005, and Talent Campus Berlin, 2007. He has taken part in several solo and group exhibitions held in and
Federal University of Rio Grande do Sul]. He is a doctors candidate in visual poetics at UFRGS [Federal University
of Rio Grande do Sul]. He is a member of the research groups Veculos da Arte [Art Vehicles] (UFRGS). CNPq
[National Council of Technological and Scientific Development] and FotografiaFiccional: Experimentaes na
He studied industrial design and visual arts at Fundao Armando lvares Penteado [Armando lvares
Penteado Foundation] (Faap), So Paulo. His first solo exhibition was put up at Galeria Mendes Wood
[Mendes Wood Gallery] in 2010. His works have been displayed in group exhibitions at Pinacoteca do
Holder of a teaching license in fine arts from Universidade Federal do Amazonas [Federal University of Amazonas]
Estado de So Paulo [Pinacotheca of the State of So Paulo], Think 21 Brussels, Sesc-SP [Social Service
(Ufam). She took part in the group exhibitions Temperamentos [Temperaments] (2004); Vibro (2005); Por um
for Commerce-So Paulo], Instituto Tomie Ohtake [Tomie Ohtake Institute]-SP, MAM-RJ [Museum of
Fio [By a Hairs Breadth] (2006) at Centro de Artes da Ufam [Ufam Art Center], Amazon; A Arte [The Art]
Modern Art-Rio de Janeiro], Museu Inim de Paula [Inim de Paula Museum], in Belo Horizonte, as well as
(2010), at Museu Vale [Vale Museum], in Vila Velha, Esprito Santo; and at Palcio das Artes [Palace of the Arts],
in Belo Horizonte; and Festival Performance Arte Brasil [Brazil Art Performance Festival] (2011) at Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro [Museum of Modern Art of Rio de Janeiro]. In 2007, her solo exhibition Dois Meninos
Taulipang [Two Taulipang Boys] was held at Usina Chamin, in Manaus. She received the Prmio Governo do
She is integrated with Piesp [Escola So Paulo Independent Program], So Paulo. A graduate of the Camberwell
Estado do Amazonas de Apoio Produo Artstica [Government of the State of Amazonas Award for Support
College of Arts, London, where she earned her masters degree in 2008. She undertook residency at Schlo
to Artistic Works] in 2005 for her project Linhas em Foco [Lines in Focus].
Balmoral (Bad Ems, Germany, 2009) and Carpe Diem Arte e Pesquisa [Carpe Diem Art and Research]
(Lisbon, 2010). The main solo exhibitions in her career include: Gesto Mnimo [Minimum Gesture] (Galeria
Riccardo Crespi [Riccardo Crespi Gallery], Milan, 2010); Desenhos de Ar [Air Drawings] (Centro Universitrio
A doctors candidate in visual arts at PPGAVI/UFRGS (Graduate Program in Visual Arts/Federal University
Maria Antonia [Maria Antonia University Center], So Paulo, 2010); Eu Fiz o Nada Aparecer [I Made Nothing
of Rio Grande do Sul] and holder of a masters degree in visual arts from PPGART/UFSM [Graduate Program
Appear] (A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2010); and the group exhibions Chez Toi Exposition phmre N.1
in Visual Arts-Masters/Federal University of Santa Maria] (2009). Her main solo exhibitions are O Melhor dos
(See Art, Paris, 2010); O Lugar da Linha [The Place of the Line] (Museu de Arte Contempornea [Museum
Mundos Possveis! [The Best of All Possible Worlds!] at Goethe Institut, Porto Alegre (2011); Sob a Natureza
of Contemporary Art], Niteri, and Pao das Artes [Palace of the Arts], So Paulo, 2010); Natura e Destino
[Under Nature], at Centro Cultural So Paulo [So Paulo Cultural Center] (2010); and Um Cu Feito de Abismo
[Nature and Destiny] (Galeria Riccardo Crespi [Riccardo Crespi Gallery], Milan, 2010); TrAIN to Bad Ems
[A Sky Made of Abyss] at Galeria Luis Corra Lima [Luis Corra Lima Gallery], Palcio das Artes [Palace of
(Galerie Nord, Berlin, 2009); O Contrato do Desenhista [The Drawers Contract] (Plataforma Revlver, Lisbon,
the Arts], Belo Horizonte (2009). Recipient of the Prmio Aquisitivo do Programa de Exposies 2010 [2010
2008); Realidades Imposibles [Impossible Realities] (Fototeca Juan Malpica Mimendi [Juan Malpica Mimendi
Acquisitive Award of the Exhibitions Program] of the CCSP [So Paulo Cultural Center] (So Paulo 2010); and
Photo Library], Vera Cruz, Mexico, 2008), MA Theory and Practice of Transnational Art (House Galery, London,
Prmio Aquisitivo I Prmio Ibema Gravura [Acquisitive Award 1st Ibema Printmaking Award] (2010).
2008) and Paper Trail: 15 Brazilian Artists (Allsopp Contemporary, London, 2008).
Pablo Lobato [Bom Despacho, MG, 1976]
Marilia Furman [So Paulo, SP, 1982]
For ten years, Pablo worked with filmmaking and, from 2008 onwards, started using other languages as well. One of
Holder of a BA in fine arts from ECA/ USP [School of Communications and Arts/ University of So Paulo]
the creators of Teia Centro de Pesquisa Audiovisual [Web Audiovisual Research Center], Belo Horizonte. Director
and in photographic art and culture from Centro Universitrio Senac [Senac University Center]. Her solo
of the feature film Acidente [Accident], winner of the Best Doc Ibero-Americano in Guadalajara, Mexico, 2007. He
exhibition Trabalho Abstrato [Abstract Work] was held in 2011 at Museu Histrico de Santa Catarina [Santa
was selected for the Bolsa Pampulha [Pampulha Scholarship] project in 2008 and became a fellow of the John Simon
Catarina History Museum] and in that same year she was integrated into the XX Salo de Atibaia [20th
Guggenheim Foundation, New York, in 2009. Recipient of the Prmio Marcantonio Vilaa [Marcantonio Vilaa Award],
Atibaia Salon]. In 2010 she won the Exposies Descentralizadas [Decentralized Exhibitions] scholarship,
Funarte [National Arts Foundation], 2010. His works have been showcased in art institutions both in Brazil and abroad,
bestowed by SPA das Artes (Recife). She was one of the organizers of Casa da Lagartixa, where she took
such as Museu de Arte Moderna de So Paulo [So Paulo Museum of Modern Art], Bienal de Cerveira [Cerveira
Biennial] (Portugal), Tamayo Museum (Mexico City), Akademie der Kunst (Berlin) and New Museum (New York).
36 | 37
invitation to a journey
selected artists
Shadow of the Future], Instituto Cervantes [Cervantes Institute], So Paulo; Paralela 2010 [Parallel 2010], So
Constituted by Fernando Visockis and Thiago Parizi, it operates in the art and music fields producing researches
Paulo; and 2000e8, Sesc Pinheiros, So Paulo. Recipient of the I Prmio Ateli Aberto Videobrasil [1st Videobrasil
and works which intertwine both fields. Its productions bear a hybrid character in which art, music, technology,
Open Studio Prize] (2011); an award at the V Concurso de Videoarte da Fundaj [5th Fundaj Contest of Videoart]
audio art, performance, and other media mix up, holding as a priority the conceptual and poetic speech at all times.
(2011); first prize at the Anual de Artes da Faap [Faap Annual Arts Prize] (2006) and the prize for Outstanding
Artist of the Bolsa Iber Camargo [Iber Camargo Scholarship] (2009).
[Federal University of Rio de Janeiro] (EBA/UFRJ) and took non-degree courses at Escola de Artes Visuais do
He studied painting at Escola de Belas Artes [School of Fine Arts] at Universidade Federal do Rio de Janeiro
Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts] and Universidade do Estado do Rio de Janeiro [University of the
[Federal University of Rio de Janeiro] (EBA/UFRJ), photography at Ateli da Imagem [Studio of Image], in Rio de
State of Rio de Janeiro] (Uerj). He participated in the following residency programs: Air Antwerpen in Belgium;
Janeiro, and worked as an assistant to visual artist Luiz Zerbini from 2006 to 2010. He participated in the Programa
Batiscafo in La Habana, Cuba; 4Territrios [4Territories] in Braslia; Encontro V::E::R. Terra UNA, Minas Gerais.
Aprofundamento [Advanced Development Program], Lage Park, Rio de Janeiro, 2010. In 2009, his solo exhibition
Recipient of the Prmio Prodem [Prodem Prize] at the Siart International Biennial in La Paz, Bolivia, 2007.
Defeito [Defect] was put up at galeria A Gentil Carioca [A Gentil Carioca Gallery]. He has taken part in several
exhibitions, including: U-turn Solo Projects (arte BA and CCSP [So Paulo Cultural Center], 2011); Gerao 00
a Nova Fotografia Brasileira [Generation 00 the New Brazilian Photography] (Sesc Belenzinho, 2011); Arquivo
In 2009, he was awarded his BA in printmaking from Universidade Federal do Rio Grande do Sul [Federal
Geral [General Archive] (Centro Cultural Hlio Oiticica/RJ [Hlio Oiticica Cultural Center/Rio de Janeiro], 2010);
University of Rio Grande do Sul] (UFRGS), where he is taking the masters degree course in visual poetics. In
Crossing Borders, Building Bridges (Modified Arts, Phoenix-AZ, USA 2010); XII Salo de Artes de Itaja [12th Itaja
2011, he received the V Prmio Aorianos de Artes Plsticas [5th Azorian Award of Fine Arts], the first place
Salon of Arts (Santa Catarina, 2010); XVI Salo Unama de Pequenos Formatos [16th Unama Salon of Small Formats]
in the Prmio Ibema Gravura [Ibema Printmaking Award] and the Prmio Energisa [Energisa Award] in Joo
(Graa Landeira, Belm, 2010); Prmio Dirio Contemporneo de Fotografia [Contemporary Diary of Photography
Pessoa. Rafaels works were showcased in Labirintos da Iconografia [Labyrinths of Iconography] at Museu de
Award] (Museu da UFPA-Belm [Museum of the Federal University of Par-Belm], 2010). Winner of the Prmio
Arte do Rio Grande do Sul, [Rio Grande do Sul Art Museum] and he participated in the V Bienal de Gravura
Holder of a BA in visual arts from Feevale, Novo Hamburgo, RS, and specialization diploma (graduate certificate
Holder of a BA in visual arts with specialization in drawing from Escola de Belas Artes [School of Fine Arts] at
program) in visual poetics painting, drawing, installation: hybrid processes, from the same institution. Recipient
Universidade Federal de Minas Gerais [Federal University of Minas Gerais]. She studied photography at cole
of the Prmio Aorianos 2011 [2011 Azorian Prize] for Outstanding Drawing Achievement in the exhibition
Nationale Suprieure des Arts Visuels La Cambre, Brussels, Belgium, and social sciences at UFMG [Federal
Linhas de Espera [Waiting Lines], Poro do Pao Municipal [Basement of the City Hall], Porto Alegre. The main
exhibitions in his career include: Vitrine da Casa M VIII Bienal do Mercosul [Display Window of House M 8th Mercosul Biennial], Porto Alegre, RS (2011); Linhas, Lugares e Espera [Lines, Venues, and Wait], Pinacoteca
Feevale [Feevale Pinacotheca], Campus I, Novo Hamburgo, RS (2010); Verbetes [Entries], Fundao Ecarta
Holder of an MA in visual arts from Faculdade Santa Marcelina [Santa Marcelina College] and a BA from
[Ecarta Foundation], Porto Alegre, RS, (2008); Circuito Guaibacar de Arte Emergente [Guaibacar Circuit of
Fundao Armando lvares Penteado [Armando lvares Penteado Foundation] (Faap). She took part in some
Emerging Art], Porto Alegre (2008); Prmio Incentivo Criatividade [Incentive Prize for Creativity] XVI
of the major programs for young artists, such as Temporada de Projetos do Pao das Artes [Season of Projects
Salo de Artes Plsticas [16th Visual Arts Salon], Cmara Municipal de Porto Alegre [Porto Alegre City Council]
of the Palace of the Arts], the Programa de Exposies [Exhibition Program] of Centro Cultural So Paulo [So
(2004); Homem Mquina [Machine Man], Arte & Fato Galeria [Arte & Fato Gallery, Porto Alegre, RS, (2004).
Paulo Cultural Center] and the Projeto Trajetrias [Trajectories Project] of Fundao Joaquim Nabuco [Joaquim
Nabuco Foundation], in Recife. Her solo exhibition was held at Galeria Leme [Leme Gallery]. Among the group
exhibitions in her career, she highlights the XVII Festival de Arte Contempornea Videobrasil [17th Videobrasil
MA in visual poetics from Universidade Federal do Rio Grande do Sul [Federal University of Rio Grande do Sul]
Festival of Contemporary Art], Sesc [Social Service for Commerce], So Paulo; A Carta da Jamaica [The Letter
(UFRGS). Romy works with photography, video and performance and her works have been displayed in exhibitions
from Jamaica], Oi Futuro, Rio de Janeiro; Rice and Beans, Studio Trendy, Miami; Sombra do Futuro [In the
both in Brazil and abroad. In 2010, she undertook a residency at Takt Kunstprojektraum, in Berlin, and in 2011 was
38 | 39
invitation to a journey
selected artists
awarded the Bolsa Iber Camargo [Iber Camargo Scholarship] for a residency at the Bronx Museum, in New York.
Scholarship]. He participated in the group exhibitions, inter alia, Unfinished Analogies, Konsthall C, Stockholm,
She has been involved in the group project Percursos [Trajectories] with artist Marina Camargo since 2007.
2011; Back, Forth and Round, Thomas Erben Gallery, New York, 2009; Zoation Painting, MNA, La Paz, 2008.
He earned his BA in fine arts from Instituto de Artes [Arts Institute] at Unesp [Julio de Mesquita Filho So
He majored in industrial design from Universidade Federal do Esprito Santo [Federal University of Espirito Santo]
Paulo State University], his MA in visual arts from ECA/USP [School of Communications and Arts/University
(Ufes). With artists Alex Vieira, Jlio Tigre and Raphael Genuno, he formed the Embira collective, an initiative
of So Paulo] (2006) and is a PhD candidate in visual arts at ECA/USP. He has been lecturing at Faculdade
that won the prize of the Bolsa Ateli de Pintura Galeria Homero Massena [Homero Massena Gallery Painting
de Artes Plsticas [College of Fine Arts] at Fundao Armando lvares Penteado [Armando lvares Penteado
Studio Scholarship] (2009-2010) of the Secretaria de Estado da Cultura do Esprito Santo [Secretariat of Culture
Foundation] (Faap) since 2006. His works were showcased in group and solo exhibitions held at Centro Cultural
of the State of Esprito Santo]. He attended the course in contemporary art organized by Instituto Tomie Ohtake
So Paulo [So Paulo Cultural Center] (CCSP) (2001), Centro Universitrio Maria Antonia [Maria Antonia
[Tomie Ohtake Institute] and run in partnership with Ufes [Federal University of Esprito Santo] in 2010 and
University Center] (2003), Instituto Tomie Ohtake [Tomie Ohtake Institute] (2004), MAM-SP [Museum of
2011 and has participated in group exhibitions, of which Vendo [Seeing] (Vitria, 2009); Vises Contemporneas
Modern ArtSo Paulo] (2005/2006) and at the galleries Casa Tringulo (2006) and Virgilio (2007 and 2010)
[Contemporary Visions] (Vitria, 2010); Embira (Vitria, 2010); and Base 2 (Vitria, 2011) are the highlights.
among others. Solo exhibition at Galeria Laura Marsiaj [Laura Marsiaj Gallery] (Rio de Janeiro, 2011).
Virgilio Neto [Braslia, DF, 1986]
Thiago Martins de Melo [So Lus, MA, 1981]
Majored in industrial design from Universidade de Braslia [University of Braslia] (UnB). His works were first
A doctors degree candidate (2010) and holder of an MA (2008) in theory and research on behavior UFPA [Federal
exhibited in 2008. He has participated in about 20 exhibitions in several cities around Brazil and also in the United
University of Par], with a bachelors degree in psychology from Uniceuma [Maranho University Center] (2005).
States and England. In 2011, he was selected to four art salons and won an award at the XVII Salo Anapolino de
His solo exhibitions were held at Centro Cultural So Paulo [So Paulo Cultural Center] (2010); Fundao Joaquim
Arte [17th Anapolino Art Salon]. Also in 2011 his first solo exhibition Dilogos [Dialogs] was put up at Museu de
Nabuco [Joaquim Nabuco Foundation], Recife (2009); Funarte [National Arts Foundation], Rio de Janeiro, 2005,
Arte Contempornea do Mato Grosso do Sul [Mato Grosso do Sul Museum of Contemporary Art].
and Funarte, Braslia, 2004. He also joined group exhibitions like the itinerating Amaznia, a Arte [Amazon, the Art],
at Museu Vale [Vale Museum] (Vila Velha, ES) and Palcio das Artes [Palace of the Arts] (Belo Horizonte, MG).
Recipient of the Prmio Aquisio [Acquisition Prize] at the XXVIII Salo Arte Par [28th Par Art Salon], Belm
2009; the Grande Prmio [Grand Prize] of the XXVII Salo Arte Par [27th Par Art Salon], in Belm, 2008.
Ueliton Santana [Sena Madureira, AC, 1981]
He studied artistic drawing at Centro Interescolar [Interschool Center] and introduction to arts at Sesc [Social
Service for Commerce]. He completed a graduate course of study in art teaching methodology at Faculdade
Internacional de Curitiba [International College of Curitiba]. He has joined several exhibitions, such as XXVII
Bienal Internacional de So Paulo [27th So Paulo Art Biennial] and NYHAVN 18, in Denmark. In 2002, he became
president of the Associao dos Artistas Plsticos do Acre [Association of Fine Artists of Acre]. Recipient of a
prize at the VI Concurso Cultural de Pintura em Tela [6th Cultural Contest of Painting on Canvas] promoted by
On Line Publisher. Several of his works have been published on the Galeria em Tela magazine with national and
international circulation. His paintings are incorporated into national collections, like at the Assembleia Legislativa
do Estado do Acre [State of Acre Chamber of Representatives] and private collections in Europe.
Vijai Patchineelamm [Niteri, RJ, 1983]
Holder of an MA in visual arts, interdisciplinary studies, from Konstfack University College of Arts, Crafts
and Design, Stockholm, Sweden. Vijai was selected for the Bolsa Iber Camargo 2008 [2008 Iber Camargo
40 | 41
42 | 43
44 | 45
46 | 47
Em sua quinta edio, Rumos Artes Visuais, como informa seu ttulo, repensa e destaca aquela que
sua principal caracterstica: a viagem pelo pas ao encontro da produo artstica. Organizada ao longo
das edies anteriores numa estrutura hierrquica que, como se ver adiante, dessa vez foi desfeita,
todos os 13 curadores que compem o grupo, uns mais outros menos, lanaram-se pelo pas afora num
esforo de encontrar novas manifestaes, escapando das vises frequentemente repetitivas proporcionadas pelas instituies paulistas e cariocas sim, Rio e So Paulo seguem sendo os principais centros
de formao e difuso artstica , interessadas em novidades mas, graas falta crnica de recursos, em
geral quando elas acontecem por perto. Dividido o pas em quatro macrorregies Norte, Nordeste, Sudeste e Sul , oito curadores, quatro duplas, cada qual devidamente coordenada por um terceiro curador,
saram em direo s principais cidades e centros regionais. Em lugar de mapeadores, como foram designados at a edio anterior, o que certamente no impede que voltem a ser, passaram a ser chamados
de viajantes, termo mais afinado com aquele que se coloca escuta, que se pe em movimento animado
pelo interesse no desconhecido, no outro, naquilo que, pela excepcionalidade, leva ao desejo de fixar,
registrar em cadernos, cmaras e gravadores, as prteses portteis da memria.
Nada disso supe o termo mapeador ou seu correlato cartgrafo, que sempre possuram, como
demonstra Michel Foucault1, grande utilidade para os aparelhos de poder. Mapas e sucedneos so
narrativas codificadas, fontes de informaes to precisas quanto possvel acerca de regies a serem
conquistadas. E no se limitam descrio do territrio, dimenso fsica, rios, lagos, plancies, planaltos, vales e cordilheiras, o que por si s contem importncia fundamental, mas faz-se mapas de tudo
quanto possa interessar ao poder: da situao militar, das riquezas em geral mineral, vegetal etc. ,
da diversidade da populao e lugares de assentamento etc. Mapear artistas, portanto, ainda mais a
servio de uma instituio cultural como o Ita Cultural, sediada em So Paulo, pertencente a um banco, pode sugerir a um olhar malicioso um comprometimento excessivo do Rumos Artes Visuais com
48 | 49
50 | 51
a produo de valor monetrio. No que no o tenha, claro. O feerismo das feiras de arte atuais, os
investigar o que lhes acontece por perto, o que tambm um modo de indicar sua passividade. Por
valores estonteantes que circulam por leiles, o vedetismo de certos artistas contemporneos, vrios
outro lado fato que parte dos artistas que vivem em outros estados, e que hoje so muitos e res-
deles jovens, confirmam cabalmente a interdependncia entre o mercado e o campo cultural em que
ponsveis por pesquisas da mais alta qualidade, seguem fixando-se em uma dessas duas cidades atrs
de condies institucionais mais slidas. Artistas mineiros, gachos, goianos, paraenses, paranaenses,
por que negar? Mas a vida no to simples, esquemtica e maniquesta, como pretendem os espritos
a questo aqui resume-se a distinguir quais so as direes dos olhares de crticos e curadores e, por
extenso, dos projetos que eles propem ou aos quais se vinculam? Quais so os valores que julgam
engajando-se em programas de ps-graduao; enfrentar um meio mais denso e estimulante por meio
mais relevantes, quais as posies estticas que ressoam com as suas ou quais eles terminam por fazer
deles? Quais, por fim, as investigaes, as obras que eles querem alardear, trazer luz, expor e, ainda
por meio de mostras coletivas ou individuais organizadas pelas vrias instituies existentes, seja ela
que no pensem nisso, contribuir com a respeitabilidade de sua chancela, para que entrem em circu-
estabelecida como um museu, rentvel como uma galeria ou alternativa como a casa da Xiclete (para
quem no sabe, uma pequena casa situada na frentica Vila Madalena, convertida em galeria por sua
desassombrada proprietria, a Xiclete, ex-estudante de artes da Faap). Todas as formas so vlidas e
A questo complexa, trata do modo singular como o valor esttico conflui para o monetrio. Para
frequentemente vm combinadas.
entender como acontece esse fluxo feito por gente, dinamizado por gente, h que se considerar que as
gentes das artes, no caso crticos e curadores, movem-se por sentimentos muito distintos. H quem se
Mas h, ainda, o modo tradicional, de raiz acadmica, por meio do qual os artistas se fazem notar, no
mova pensando no que pode auferir numa das pontas do processo, no que isso quer dizer reputao,
obstante virtualmente, por portflios enviados aos sales de arte. Em que pese o anacronismo, as crticas
um carto de crdito de platina e assento assegurado na classe executiva. Para esse, o termo mapeador
cai como uma luva. E h aquele imbudo de uma vontade de evaso, para quem o verdadeiro lucro o
nos formatos mais elaborados, como acontece em Olinda e Belo Horizonte (Pampulha). Rarefeitos nas
que recolhe circulando pelo mundo, sedento do que no conhece; segue no embalo da famosa divisa
cidades do Rio de Janeiro e de So Paulo, ativos no interior desses estados e em tudo quanto capital
oswaldiana S me interessa o que no meu.2 Esse merece que se lhe chamem viajante.
e cidade mdia das diversas regies do Brasil, a maioria dos sales considerada pela massa de artistas
espalhadas pelos pas, seno o nico, o melhor caminho para a visibilidade, o que significa dizer a possi-
Convite Viagem, ttulo desta quinta edio do Rumos Artes Visuais, pretende realar sua verdadeira
vocao, de modo que no seja confundido com apenas mais um recenseamento da produo artstica
brasileira emergente. Ainda que o circuito esteja se movimentando cada vez melhor, sua curiosidade no
A entrada em um salo, naturalmente, tem um significado proporcional sua reputao. H muito mrito
acompanha o ritmo da produo realizada nos quatro cantos do pas e, convenhamos, mesmo que estivesse
interessado, os recursos para tanto so escassos, o nmero de gente envolvida bastante limitado, compon-
outro fator correlato a esse prestgio expresso na qualidade do jri montado para a seleo e avaliao
do um quadro que contribui para a inrcia, para que se tenda a insistir no que j se tem. E para que no se
dos trabalhos concorrentes. A rigor, os jris de sales vm cumprindo, ao longo das dcadas, um papel
conclua apressada e injustamente que se tem obtido pouco, fato indiscutvel que as faculdades de artes,
inestimvel junto a crticos e curadores, independentes ou vinculados a instituies que, a convite dos
os centros livres de ensino, caso da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, continuam
organizadores, viajam pelo pas tomando contato com produes que de outro modo no conheceriam.
sendo frteis e cada mostra anual de trabalhos de alunos que organizam aguardada na qualidade de
vitrine de novos valores.
principalmente este ponto que o Rumos Artes Visuais inova, permitindo o estreitamento de relaes
entre a produo e os curadores/viajantes, o travamento de contato direto com o maior nmero pos-
As instituies, ainda hoje, como foi dito, majoritariamente concentradas no Rio de Janeiro e em So
svel de artistas, discutindo suas produes, convidando-os a participar do projeto, o que na prtica
Paulo, no tm raio de alcance muito amplo. O procedimento padro resume-se, como j foi dito, em
significa estimul-los a se inscrever e enviar portflio de seus trabalhos, em suma contribuindo para a
expanso do circuito. Os viajantes saem em busca daqueles que de algum modo, por exemplo pela via
da fabulao, escapam da aridez de seus meios. bem verdade que o contexto geogrfico, a vida em
52 | 53
54 | 55
impedir o vicejamento de ideias. Derek Walcot, o poeta da pequena Santa Lucia, um bom exemplo
disso. Por outro lado, Lus da Silva, o atormentado personagem de Angstia, obra-prima de Graciliano
arrogncia. O que o mesmo que defend-los como valores a serem cultivados num mundo pautado pela
Ramos, d-nos uma ideia do que ser intelectual na Macei dos anos 1930, do mesmo modo que Milton
imobilidade, por rudos excessivos, luzes cegantes e infinidade de rotinas. Um mundo onde todos falam alto
Hatoum, em seu Dois Poetas da Provncia, constri um personagem, o velho poeta Zfiro, apaixonado
e ningum se escuta; onde a maioria pauta seu comportamento por uma extroverso agressiva.
por Paris, estofado pelo ressentimento que o leva a ignorar a outra margem do Rio Negro, a cachaa, o
sol da tarde e a floresta da cidade em que vivia Manaus e abominava. Viver em locais ermos pode
ser um obstculo dos mais fortes. E se fato que a histria, a cultura supera a geografia, que a lngua
e a arte so territrios constitudos em dimenses transespaciais, que no existe solido dentro de uma
Viagem e delicadeza
biblioteca ou diante da possibilidade de se ligar a uma rede, tambm verdade que o contato direto, a
troca, tem uma outra qualidade. Tanto para um quanto para outro. Pois o que dizer do jovem informado,
Como se sabe, a palavra delicadeza, tanto em portugus como em espanhol, irradia-se em duas direes:
alinhado com as teorias mais avanadas, que desembarca numa realidade to diversa das generalidades
de um lado, amabilidade, suavidade, cortesia, gentileza etc.; de outro, fragilidade, tibieza, suscetibilidade.
trazidas pelos livros, divulgadas nos currculos escolares? em viagem que o mundo se reinventa, que
Interessa o entrelaamento semntico, dado que ele dispe, acima de tudo, sobre o acercamento de
tudo se revela uma outra coisa, inefvel, inexprimvel e que, por isso mesmo, o viajante tenta exprimir.
algo, seja ele brusco e violento ou sutil e imperceptvel, no importa. A questo a atitude desarmada
de quem se prope avizinhar-se do outro, do mundo. Quanto a isso, vale lembrar o precioso momento
Treze curadores viajaram, uns mais outros menos, com a finalidade de divulgar o projeto e conhecer pes-
construdo pelo escritor brasileiro Joo Guimares Rosa em que o menino Miguilim que, como os leitores
soas. O resultado foi mais de mil inscritos. Muito mais, claro, que o imenso contingente de artistas com
at aquela altura da narrativa, no se sabia mope, recebe um par de culos da parte de um adulto que,
que se travou contato, vrios deles, como se esperava, nem mesmo se inscreveram. Desinteresse pelo
percebendo-o forar a vista, tira os seus prprios culos do rosto para coloc-lo na criana:
processo, pela possibilidade de ser mais conhecido? Incompetncia, desateno, falta de profissionalismo? Ou ser uma pretenso de gente urbana supor que os valores ali cultuados o sejam em toda parte?
Miguilim olhou. Nem no podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente,
as coisas, as rvores, as caras das pessoas. Via os grozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas
menores, as formiguinhas passeando no cho de uma distncia...3
Do processo
O alumbramento experimentado por Miguilim, esse movimento contraditrio que se destrava sempre
que o maravilhoso irrompe, uma realidade completamente outra que, no entanto, tem o efeito de nos
At esta edio, o processo seguia a seguinte rotina: cada dupla de viajantes se reunia com seu coorde-
despertar, devolvendo-nos a ns mesmos, tem muito a ver com o efeito produzido pela obra de arte.
nador para, de posse da massa de inscritos pertencentes regio visitada, efetuar uma pr-seleo de
candidatos. Passada essa etapa, os quatro coordenadores, reuniam-se com o coordenador geral com
A viagem e o avizinhamento do outro pede delicadeza, como um caador, esse profissional da vigiln-
o objetivo de chegar seleo final. Desta vez, confiando na importncia de democratizar o processo,
cia e da astcia. No escreveu Lus de Cames Transforma-se o amador na cousa amada / Por virtude
garantindo que ele fosse mais transparente e mais objetivo, que as diversas vozes, pontos de vistas, po-
do muito imaginar? Versos que indicam o trnsito entre o um e o outro, o escrutnio atento seguido
sies estticas aflorassem, os 13 participaram em p de igualdade da etapa final. Todos, sem distino,
de mimese, da confuso entre os seres. Mas para que isso ocorra preciso disponibilidade, abertura
coisas, com o outro. O que supe identific-lo e escut-lo; apreender e aprender sua fala, mais
numa chave distinta da que vinha sendo adotada, que aqueles que a empreendessem no sassem de casa
com opinies preconcebidas, certos do que iam encontrar. E que, na sequncia das viagens, quando do
processo de seleo, com a obrigao de defender publicamente seus pontos de vistas, no tivessem a falsa
segurana de uma hierarquia que os eximiria de argumentar. Props-se, atravs de viagens e debates, um
3ROSA, Joo Guimares. Manuelzo e Miguilim, in Fico Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 541.
56 | 57
Uma postura entre o tmido e o excessivamente respeitoso, a reao humilde frente grandiosidade
da vida, dos fatos, mas que em alguns casos pode se caracterizar como simples covardia. H, por
Autor dos livros Modernos, Ps-Modernos Etc (So Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2009); As Naturezas do Artifcio
certo, uma justa e imediata associao entre a delicadeza e o laconismo, o despojamento material, a
(So Paulo: Editora W11, 2004); Daniel Senise The Piano Factory (Rio de Janeiro: Andra Jacobsen, 2003); Arte Bra-
fala enxuta, rondando o silncio ou que prefere submergir nele. Essa identidade encobre a comple-
sileira Hoje (So Paulo: Publifolha, 2002); La Arquitectura de Ruy Ohtake (Madri: Celeste, 1997) e editor e organizador
xidade do problema, como d a pensar o poeta Joo Cabral de Melo Neto em seu longo poema A
do livro Bienal 50 Anos (So Paulo: Fundao Bienal de So Paulo, 2002). Publica regularmente artigos e crticas em
Palo Seco4, em que descreve sob ngulos sempre imprevistos essa modalidade particular de canto
alguns dos principais jornais e revistas nacionais e internacionais como a publicao espanhola Artecontexto.
flamenco, feito capela, s a lmina da voz / sem a arma do brao. Aps o enunciado de um conjunto de situaes e objetos a palo seco o poeta conclui sua defesa da conciso:
Entre suas curadorias, destacam-se a 29. Bienal de So Paulo (2010), tendo sido curador da Representao
Brasileira da 25 Bienal de So Paulo (1992) e curador adjunto nas 23 Bienal de So Paulo (1996) e Primeira
4.4
Bienal de Johannesburgo (1995). Foi curador geral no MAMRJ, entre 1998 e 2000, e de exposies temporrias para instituies como Ita Cultural, Instituto Tomie Ohtake, Centro Cultural Banco do Brasil, Centro
Cultural Drago do Mar, Museu Oscar Niemeyer, Museu de Arte do Rio Grande do Sul e, entre os anos 1990
O resultado final da quinta edio do Rumos Artes Visuais, intitulado Convite Viagem, parte desses
pressupostos, alguns deles, como se viu, contraditrios entre si. Parte da delicadeza e da abertura de
esprito dos que viajaram e dos que se inscreveram com a perspectiva de que suas obras e eles mesmos, na semana de abertura , viajassem ao encontro de outras pessoas, como garrafas com mensagens
atiradas ao mar que, como defendeu Julio Cortzar a propsito do trabalho artstico, so atiradas com
a esperana de que sejam lidas, como notcias surpreendentes que nos chegam de territrios que no
contvamos existir.
4MELO NETO, Joo Cabral de. Quaderna. Lisboa: Guimares Editores, 1960.
58 | 59
60 | 61
invitation to a journey
invitation to a journey
INVITATION TO A JOURNEY
suggest to a malicious eye an overcommitment of Rumos Artes Visuais to a money-based output, and
more so because it is sponsored by a cultural institution such as Ita Cultural, a So Paulo-based institution owned by a bank. Not that this is untrue, of course. The pageantry of todays art fairs, the dazzling
Our nature lies in movement, complete calm is death.
Pascal
He who does not travel does not know the value of men.
Moorish proverb
Ah no matter how, no matter where to, set off!
lvaro de Campos
amounts fetched at art auctions and the pop-star behavior of certain contemporary artists, many of
them young, clearly confirms the interdependence between the market and the field of culture where
aesthetic values are established, classified and ranked by critics and curators. How to deny this and
why? Life, however, is not as simple, schematic and Manichaean as claimed by thickly ignorant minds
and the opportunistically hypocritical. Although all this is intertwined, the issue here boils down to distinguishing between where critics and curators eyes are turned to and, as a consequence, whereto the
projects they propose or are associated with are heading. What values do they consider more relevant?
Which aesthetic stances echo with theirs or which ones do they eventually adopt as their own? What,
after all, are the investigations, the works they wish to talk about, bring to light, exhibit and, although
they are not contemplating this, endorse with their respectable approval, so that these will enter circu-
As its title suggests, this fifth edition of Rumos Artes Visuais rethinks and stresses its main charac-
teristic: traveling around the country to an encounter with art making. In previous editions, trips were
The issue is complex. It deals with the unique way in which aesthetic value converges with monetary
organized within a hierarchical structure that, as we will see below, was not observed this time. All 13
value. In order to understand how this flow made by people, energized by people - occurs, we have
curators in the group, some more than others, set off for their journey across the country in an effort
to consider that people in the arts, in this case critics and curators, are moved by very different feel-
to find new manifestations, bypassing the often repetitive visions proposed by So Paulo and Rio de
ings. Some are moved by what they might profit in one of the ends of the process, and this would
Janeiro institutions yes, Rio and So Paulo are still the main art training and dissemination centers.
mean reputation, a platinum credit card and a guaranteed seat in business class. The term mapper
These institutions are interested in the new but, due to a chronic lack of funds, this is usually so only
fits them like a glove. And there are those who wish for evasion, for whom the real profit is what they
when the new can be found nearby. After splitting the country into four regions North, Northeast,
harvest from their journey around the world, those who have a thirst for what they do not know; they
Southeast and South , four pairs of two curators, each one coordinated by a third curator, set off for
follow the famous Oswaldian motto I am only interested in what is not mine.2 These ones deserve
the main regional cities and centers. Instead of mappers as they were called up to the previous edi-
to be called travelers.
tion and they may certainly be called like that again in future , they are now called travelers, a term
that is more appropriate to those who are willing to listen, who set out excited by an interest in the unknown, in the other, in what, because it is exceptional, inspires the desire to fix, to record in notebooks,
The title of this fifth edition of Rumos Artes Visuais, Invitation to a Journey, aims to highlight its
true calling so as not to be mistaken for just another census on emerging Brazilian output of artworks.
Although the art world is more and more active, its curiosity does not keep up with the pace of art-
Nothing of this is implied in the term mapper or its correlate cartographer, which have always been,
to do so are scarce, the number of people involved is quite limited. This picture leads to inertia and
as Michel Foucault demonstrates, very useful to the apparatus of power. Maps and their like are coded
to a tendency of insisting on what one already has. And in order to avoid hasty and unfair conclu-
narratives, sources of information which are as precise as possible about regions to be conquered.
sions on how little has been achieved so far, it is undeniable that art schools and non-degree learning
They are not limited to the description of the territory with its physical dimensions, rivers, lakes, plains,
centers such as Escola de Artes Visuais do Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts], in Rio
plateaus, valleys and mountain ranges, which is in itself of paramount importance, but everything that
de Janeiro continue to be fertile grounds and people look forward to their annual student shows as
would possibly be of interest for power is put on maps: military situation, resources in general mineral,
works produced in the four corners of the country and, lets face it, even if it were interested, funds
vegetable, etc. , population diversity and settlements and so forth. Mapping artists, therefore, may
62 | 63
invitation to a journey
invitation to a journey
As said before, even today institutions, most of which are concentrated in Rio de Janeiro and So
Lucia, is a good example of this. On the other hand, Lus da Silva, the tormented character in Angstia,
Paulo, are not far-reaching. Their standard procedure boils down to, as was already mentioned, survey-
Graciliano Ramos masterpiece, gives us an idea of what it meant to be an intellectual in the city of Ma-
ing what happens not far from their headquarters, which is also an indication of their passivity. On the
cei in the 1930s, the same way Milton Hatoum, in his Dois Poetas da Provncia, builds a character, the
other hand, it is a fact that some of the artists living in other states, who are now numerous and carry out
old poet Zfiro, in love with Paris, filled with the resentment that causes him to ignore the other bank
high-quality research, still move to these two cities in search of more solid institutional conditions. Artists
of the Negro river, the cachaa, the afternoon sun and the forest around the Amazonian city where he
from Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Gois, Par, Paran, Pernambuco, Braslia and Bahia, particularly
used to live Manaus and which he hated. Living in solitary places can be a very powerful obstacle.
the ones settled in those states, are greatly responsible for the effective oxygenation of our national
And if it is a fact that history and culture overcome geography, that language and art are territories
scene. And the significant persistence of the movement toward Rio and So Paulo is due to a number
built in transspatial dimensions, that there is no loneliness within a library or when it is possible to be
of different and converging prospects: acquisition of complementary skills through graduate courses;
connected to a network, it is also true that direct contact and exchange are of a different quality. For
facing a denser and more stimulating environment through associations, joint projects or simply to share
both of them. So, what should we say about an informed young person, aware of the most advanced
studios; achieving visibility through collective or solo exhibitions organized by different existing institu-
theories, who lands in a reality that is so different from the general views disseminated in books, taught
tions, whether they are established as a museum, profitable such as mainstream galleries or alternative
in school curricula? The world is reinvented in travel, everything is different from what is expected,
ones such as Xicletes house (a small house located in the frenetic neighborhood of Vila Madalena that
ineffable, inexpressible; it is for this very reason that travelers try to express it.
was transformed into a gallery by its daring owner, Xiclete, a former art student at Fundao lvares
Penteado [Armando lvares Penteado Foundation] (Faap). All forms are valid and often combined.
Thirteen curators traveled, some more than others, with the purpose of disseminating the project and
However, there is still the traditional academic-rooted way for artists to make themselves known, albeit
than the vast number of artists that were contacted, many of whom, as anticipated, did not even apply.
virtually, by means of portfolios sent to art salons. Despite their anachronism, the wholesale criticism,
A lack of interest in the process, in the possibility of being more widely known? Incompetence, unmind-
salons are relatively effective in introducing new artists, particularly salons adopting more elaborate
fulness or a lack of professionalism? Or would it be pretentious for urban people to suppose that values
formats like those in Olinda and Belo Horizonte (Pampulha). Thin on the ground in the cities of Rio
meeting people. The outcome was that it attracted over one thousand applicants. Far fewer, of course,
de Janeiro and So Paulo, active elsewhere in these states and in all capital and mid-sized cities all over
the country, most salons are considered by the mass of artists based everywhere in Brazil as the best, if
not the only, way to achieve visibility, which means managing to make a living from art.
Participating in a salon has, naturally, a meaning that is proportional to its reputation. There is great
merit in obtaining a space in the Salo Pampulha [Pampulha Salon], which is not the case in other less
prestigious ones. Another factor correlates with this prestige that is the quality of the jury that selects
and evaluates the competing works. In fact, salon jury panels have played, over the decades, an inestimable role together with critics and curators, independent or associated with institutions, who, upon
invitation of the organizers, travel around the country and get in touch with works which they would
not know otherwise.
It is mainly here where Rumos Artes Visuais innovates, by shrinking the gap between art output and
curators/travelers, fostering direct contact with as many artists as possible, discussing their works, inviting them to take part in the project; in practice, this means encouraging them to apply and send their
portfolio, i.e., contributing to expand the art community. The travelers set out to look for those who,
in one way or another via fabulation, for example escape from the barrenness of their environments. It is true that the geographical context, life in poor or simply provincial, remote places lacking
information and debate, does not prevent ideas from thriving. Derek Walcot, the poet from tiny Santa
The process
Prior to the current edition, the process followed this routine: each pair of travelers would meet their
coordinator in order to pre-select artists out of the mass of applicants from the region they had visited.
Subsequently, the four coordinators would meet the general coordinator with the purpose of narrowing
it down to a final selection. This time, recognizing the importance of having a democratic process, thus
enhancing its transparency and objectivity, making sure several voices, points of view, aesthetic stances
would emerge, the 13 curators participated on an equal footing in the final stage. All of them, without
distinction no matter if they were travelers, coordinators or the general coordinator , defended and
criticized all the 200 pre-selected artists until this number was reduced to 45, the number of artists
which had been set at the start.
Consistent with what seemed to be the essence of Rumos Artes Visuais, it was proposed to treat the
journey in a key that would be different from the one hitherto adopted, that travelers should not set out
with preconceived opinions, certain about what they would find. And that, after the trips, during the
selection process, with the obligation of defending their points of view in public, they would not have
64 | 65
invitation to a journey
invitation to a journey
the false sense of security of a hierarchy that would exempt them from discussion. Through travels and
It is worth pointing out that being delicate does not necessarily mean relinquishing comments or ac-
debates, a project and resulting exhibitions, delicacy and open-mindedness were proposed as antidotes
tion. It is not a stance between shyness and excessive respect, a humble reaction before the grandeur
to certainties and arrogance. This amounts to proposing them as values to be upheld in a world ruled by
of life, of facts, that in some cases may be described as mere cowardice. There is certainly a correct
immobility, excessive noise, blinding lights and an infinite number of routines. A world where all speak
and immediate association between delicacy and laconism, material detachment, lean discourse that
loudly and no one listens to himself; where most people base their behavior on aggressive extroversion.
revolves around silence or that would rather submerge in it. This identity conceals the complexity of
the problem, as suggested by the poet Joo Cabral de Melo Neto in his long poem A Palo Seco4, in
which he describes, always from unforeseen angles, this particular modality of flamenco cante, a ca-
pella singing, only the blade of the voice / without the weapon of the arm. After enunciating a series
of situations and objects a palo seco (dryly), the poet concludes his plea for concision:
As it is well known, the word delicacy, in both Portuguese and Spanish, has two different acceptations:
on the one hand, loveliness, softness, politeness, kindness, etc.; on the other hand, frailty, lukewarmness, susceptibility. This semantic intertwining is interesting as it concerns, above all, the way one approaches something, be it suddenly and violently or subtly and elusively does not matter. The issue
here is the unguarded attitude of those who are willing to come closer to the other, the world. In this
regard we should remember the precious moment created by the Brazilian writer Joo Guimares
Rosa in which the boy Miguilim who, like the readers until that point of the narrative, did not know he
was nearsighted receives a pair of spectacles from an adult who, realizing the boy is squinting, takes
his own glasses off and puts them on the child:
Miguilim looked. He could not believe it! It was all clear, all new and beautiful and different,
things, trees, peoples faces. He could see the little grains of sand, the earth skin, the smaller
pebbles, the wandering little ants from a distance...3
4.4
These are a few examples
of how to be a capella
from which we might harvest
hygiene or advice:
not accepting dryness
in weary resignation,
but rather using dryness
because it is more potent.
The enlightenment Miguilim experiences, this contradictory movement that is triggered every time
the wondrous erupts, a completely other reality that can, nevertheless, wake us up, giving us back to
ourselves, has a lot to do with the effect of an artwork.
Travel and coming closer to others require delicacy, as in the case of hunters, who are professionals of
vigilance and astuteness. Didnt the Portuguese poet Lus de Cames write: The lover becomes the
loved one / By virtue of much imagination? These verses indicate the transit from one to another,
the careful scrutiny followed by mimesis, by confusion of beings. But for this to occur there has to be
availability, an openness to surprise, when you glimpse the multiple and majestic machine of the world.
These assumptions were the foundations for the final outcome of the fifth edition of Rumos Artes
Visuais, entitled Invitation to a Journey, though some of them are, as we have seen, contradictory. It is
based on the delicacy and the open-mindedness of those who traveled and of those who applied, assuming that their works and themselves, in the preview week would travel and meet other people,
just as messages in bottles thrown into the sea that, as proposed by Julio Cortzar concerning artistic
work, are thrown in the hope that they will be read like amazing news coming from territories we did
not expect to exist.
Thus, delicacy and open-mindedness concern the desire for developing a relationship with things, with
others. This requires identifying and listening, apprehending and learning their languages and more
than this, their way of being.
3 ROSA, Joo Guimares. Manuelzo e Miguilim, in Fico Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 541.
4 MELO NETO, Joo Cabral de. Quaderna. Lisboa: Guimares Editores, 1960.
66 | 67
invitation to a journey
invitation to a journey
68 | 69
70 | 71
curadores viajantes
72 | 73
curadores viajantes
MATIAS MONTEIRO
REGIO
centro-oeste
A conscincia desafiadora do isolamento convoca artistas e agentes culturais a refletir sobre as condies de produo e circulao das cenas nas quais atuam. mediante esse processo que surgem os
regionalismos (como comprometimento de parte da produo potica da regio com determinados
repertrios populares locais). Esses regionalismos comparecem no como uma aptido, mas como um
itinerrio ideolgico contundente diante das distncias (geogrficas e culturais) impostas pelas dinmicas de ocupao do territrio brasileiro5. So eles os elementos que fundam um discurso de descentralizao da produo artstica, a valorizao de uma cultura local e um esforo para fomentar estratgias
de visibilidade dessas propostas em um panorama nacional. Entretanto, esse mesmo isolamento o
principal obstculo a ser superado em uma articulao eficiente entre os polos de produo da regio.
1 Como proposto por Silva Freire. Mas o que cuiabania, afinal, poeta?/no topnimo, a sensao indizvel, esse charivari de
maaroca potica, daqui e daqui-pr-frente, de quase trs sculos de uma cidade mgica [...] FREIRE, Silva: 1991, p. 407
2 Sugerido por Fabola Morais. Disponvel em: goiastexas.com.br.
3Cidade-enigma de Nicolas Behr: A utopia dentro da utopia, como se isso fosse possvel.[...] A cada dia que passa me conveno mais e mais de que Braslia foi construda com a finalidade errada: no deveria nunca abrigar o poder. O poder no a merece,
o poder no a valoriza [...] Criar uma Braslia no capital, uma Braslia no poder, sempre foi o objetivo (alcanado?) de toda uma
gerao [...]. BEHR, Nicolas.
4 Ttulo da exposio com curadoria de Geraldo Orthof e Marlia Panitz realizada em 2003 no Centro Cultural Banco do
Brasil, Braslia.
5 Aline Figueiredo o compreende como uma produo imagtica engajada e consciente [...] da espacialidade plstica da
regio [FIGUEIREDO: 2007]. Por sua vez, Maria Adlia Menegazzo o prope como [...] o local da cultura e a cultura local ao
mesmo tempo. [REGAZZO apud: MALDONADO: 2007]. Mas, ser, sem dvida, o advento do termo bovinocultura, no
contexto da produo pictrica de Humberto Espndola, expresso mais emblemtica dessas reflexes.
74 | 75
curadores viajantes
A transferncia da capital federal representa esse marco histrico compartilhado, que reverbera uma
nova dinmica de produo e reflexo das prticas artsticas locais. No entanto, ela no foi, por si s,
suficiente para estabelecer mecanismos de intercmbio entre essas distintas cenas artsticas. Essas redes
comeam a se formalizar marcadamente a partir da dcada de 1980, e culminam, nos anos 2000, em
um amadurecimento institucional da regio, com a fundao6, profundas reformas7 ou inaugurao de
novas sedes8 de relevantes equipamentos culturais (fenmeno que tende a no se restringir s capitais9).
Soma-se a isso a formulao perceptvel nos ltimos anos de uma srie de iniciativas autnomas de
artistas na constituio de espaos alternativos de produo e reflexo10 e um tmido (porm promissor)
estabelecimento de dinmicas de comrcio e divulgao em plataformas digitais11.
Essa combinao de fatores possibilita a formao de vnculos regionais mais estreitos; uma tendncia
que parece se confirmar no contexto do mapeamento com a realizao do 1 Salo de Arte Contempornea do Centro-Oeste (Goinia), das residncias artsticas exclusivas para artistas da regio no evento
Fora do Eixo12 (Braslia), bem como na renovao do Salo Anapolino de Artes13 (Anpolis). Com isso,
delineia-se uma perspectiva que sugere dispositivos inditos para a concretizao do recorrente sonho
de [...] aplacar o distanciamento de tantos anos14.
***
As paisagens de Fabio Motta descortinam essa emergncia spera de uma (de)vastido. Aqui, o espao convertido em cenografia por fora dessa insero meticulosa: leveza translcida e complacente
contraposta a uma rispidez ocre e severa. Somos aludidos na banalidade dessa imagem; fantasmagoria
posta a trepidar. O cran se enerva, a tessitura se rompe. O rasgo, a ferida inscrita, confabula a condio
do olhar (inelutvel cumplicidade).
6 Pavilho das Artes (2006) e Sesc Arsenal (2001), em Cuiab; Centro Cultural UFG (2010) e Centro Cultural Oscar Niemeyer (2006), em Goinia; Centro Cultural Banco do Brasil (2000), em Braslia; Espao Cultural Contemporneo (2000), Espao Cultural Marcantonio Vilaa (2003) e Museu Nacional do Conjunto Cultural da Repblica, em Braslia.
7 CAIXA Cultural, Braslia, 2001.
8 Museu de Arte Contempornea (Marco) de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2002.
9 Como o Salo deExposioda UFGD, inaugurado em 2008, em Dourados, e o projeto do Centro de Arte Ita e Alaor
Siqueira, em Pirenpolis, ainda a ser inaugurado.
10 Podemos destacar o Ateli Ana Ruas, em Campo Grande; o Espao Laje, em Braslia; o Espao Cinza, em Goinia, alm
do Ateli da Bel, em Jata.
11 Plus Galeria, sediada em Goinia; Conjunto A4, em Braslia, e a inventiva Rabiscaria, em Goinia.
Fabio Motta
76 | 77
curadores viajantes
O cerrado comparece como uma paisagem negociada. Sabemos, hoje, da constituio de uma expressividade mato-grossense: as atividades do Ateli Livre do Museu de Arte e Cultura Popular; esse
engajamento crtico e a predileo por uma reflexo acerca do circundante. Os jovens artistas matogrossenses esto vidos por me contar essa histria e expressar sua admirao pelos artistas que se
engajaram nela, mas jamais fazem dessa referncia reverncia.
***
Seria o dj-vu uma vocao do olhar fotogrfico? Aqui, o que est em questo a configurao de
uma verossimilhana por meio de uma fotografia atmosfrica. O Staged Photography de Daniel Reino
produz esse mise-en-scne que sugere a imagem como fragmento plausvel por fora de um j-visto:
esses clichs do film noir que reconheo com facilidade: a perseguio, o interrogatrio, o beco escuro, a
femme fatale etc. Mas a estratgia revelada por elementos mnimos (por vezes quase imperceptveis)
que do notcia da artificialidade da cena (a atualidade da imagem, a camuflagem de uma mdia em
outra, a simulao de um contexto cultural etc.).
Esse espao fictcio converte-se no campo de agenciamento de diferentes tempos e contextos. No
ser essa a tendncia de uma nova gerao de artistas sul-mato-grossenses? Abdicar da conciliao de
uma iconografia indgena e uma realidade pantaneira15 (to cara construo de uma identidade esttica ps-divisionista) em prol de um interesse mais genrico pelos processos de sincretismo e hibridao?
***
O corpo como condio e as condies do corpo. A memria produz uma fisiologia prpria, uma corporeidade que se engendra nos riscos de sua prpria imponderabilidade. Corpo fragmentado: boca, dentes, pelos.
Corpo vulnervel, apreensivo. Anna Behatriz nos conduz por uma ergonomia intuitiva. Incomensurvel corpo
navegado pelo sujeito; corpo-topografia, geografia nebulosa. Esse no o meu corpo; corpo onde habito.
No seria Gois uma anatomia imaginada? Tantos so os goiases; impertinentes, arrojados, provincianos.
Sonhadores, parece-nos, sempre. Palco privilegiado da regio16, o estado memorioso em Gois, audaz
em Jata, polarizado em Anpolis, tradicional/cosmopolita em Pirenpolis, vibrante e crtico em Goinia.
Poucos lugares instigam mais a curiosidade.
15 MALDONADO: 2007.
Daniel Reino
16 Salo Anapolino de Arte, Salo de Arte de Jata, o extinto Salo Nacional de Arte de Gois Prmio Flamboyant, e o recente Salo de Arte Contempornea do Centro-Oeste. Na rea da produo audiovisual podemos destacar o Festival Internacional
de Cinema e Vdeo Ambiental (Fica), na cidade de Gois, bem como o recente Anpolis Festival de Cinema e o Encontro de
Cineclubistas do Centro-Oeste, ambos na cidade de Anpolis. Na rea de literatura, a Festa Literria de Pirenpolis (Flipiri) etc.
78 | 79
curadores viajantes
Referncias BIBLIOGRFICAS
AMARAL, Aracy [et al]. Rumos artes visuais Ita Cultural 2005-2006. So Paulo: Ita Cultural, 2006.
AZAMBUJA, Renata [et al]. Arquivo Braslia: cidade imaginrio. Braslia: Espao Cultural Marcantonio Vilaa, 2010.
BEHR, Nicolas. Braslia ou Braxlia? Qual utopia inspira mais? Disponvel em: <nicolasbehr.com.br/pagbraxilia.htm>.
Dilogos nas Fronteiras, I Mostra de Artes da UFGD. Dourados, MS: UFGD. 2008.
DUARTE, Paulo Srgio [et al]. Trilhas do desejo: A arte visual brasileira. So Paulo: Senac e Ita Cultural, 2009.
ESPNDOLA, Humberto, FIGUEIREDO, Aline (Org). MACP, Animao cultural e inventrio do acervo do Museu
de Arte e Cultura Popular da UFMT. Cuiab: Entrelinhas, 2010.
___________. Um panorama da histria das artes plsticas em Mato Grosso do Sul atravs do acervo do Marco, disponvel em:
<marcovirtual.com.br/03_expo/permanente.html>.
Gregrio Soares
Assemblage e fotografia, 47 x 36 cm
Assemblage and photograph, 47 x 36 cm
Gregrio Soares rudimenta seu autorretrato a partir de fragmentos do itinerrio esttico de Athos
Bulco, apropriando-se, de forma ldica, de sua dinmica construtiva; um jogo identitrio que, como
qualquer outro, se d pela ao de um resto.
Os artistas, em suas primeiras produes, de modo geral, so confrontados com tradies da cultura
local, que os convocam e os mobilizam. O jovem artista brasiliense, no entanto, ao ser interpelado por
seu passado, no se depara com tradies, mas com projetos. Talvez essa seja a audcia de Braslia: que
___________. Quando as atitudes se tornam forma. A propsito da arte e a animao contempornea em MT, in Circuito panormico. Cuiab: Secretaria de Estado de Cultura e Galeria Mato-Grossense de Artes Visuais, 2007.
FREIRE, Silva. (na moldura da lembrana). In: PINO, Vlademir Dias (Org). Trilogia Cuiabana, v. 2, Todolos Prazeres & Alguns
Lazeres. Cuiab MT: Edies UFMT, 1991.
FREUD, Sigmund. Totem e tabu. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
Goiastexas: disponvel em: <goiastexas.com.br/>.
MALDONADO, Rafael. Apontamentos sobre trs dcadas de artes plsticas em Mato Grosso do Sul, in Panorama 30 anos da
diviso do estado. Campo Grande: Fundao de Cultura de Mato Grosso do Sul, maro, 2007.
Essa constatao no se restringe s circunstncias de sua fundao, mas aplica-se queles que a habi-
MORAES, Anglica de [et al]. Mapeamento nacional da produo emergente: Rumos Ita Cultural artes visuais 1999-2000. So
Paulo: Ita Cultural e Impensa Oficial do Estado e Unesp, 2000.
tam e que a ambicionam como outro lugar [...] utopia dentro da utopia. Em Braslia, surge uma potica
do imprevisto, do inexequvel, do no programado. No seria essa a real dimenso da utopia? Desburocratizar o amanh? Viver o fracasso como condio que alimenta nossos sonhos?
17
PASSOS, Carlos Sena. Arte contempornea de Gois: Experincias com a vida cotidiana, in: Revista da UFG. Goinia: UFG, Ano
X, n. 4, junho, 2008.
___________ [et al]. I Salo de Arte Contempornea do Centro-Oeste. Goinia: UFG, 2011.
17 SOUSA: 2008.
RIGOTTI, Paulo Roberto (Org). Uniarte: textos escolhidos. Dourados: Unigran, 2009.
Setembro Freire 2010. Casa da Cultura Silva Freire. Cuiab, MT: Entrelinhas. 2010.
SOUSA, Edson Luiz Andr de. A burocratizao do amanh: utopia e ato criativo in revista Porto Arte. Porto Alegre: UFRGS/IA/
PPGAV, v. 14, n. 24, p. 41-51, maio 2008.
XAVIER, Cleber Cardoso [et al]. Brasiliax5: 50 anos de artes visuais em Braslia. Programa de Ps-graduao em Arte da
Universidade de Braslia
80 | 81
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
Traveling curators
They are the elements founding a discourse of decentralization of art making, appreciation of a local
culture and an effort to foster visibility strategies for these proposals nationwide. However, that very
MATIAS MONTEIRO
same isolation is the main hurdle to be overcome by means of an efficient joint effort engaging the
major art making sites in the region.
The move of the countrys capital represents this shared historical landmark, which echoes a new way
of making art and of thinking the local artistic practices. Nevertheless, this was not, by itself, enough to
In the experience of mapping the art landscape of the Midwest Region, we find that the ethos from the
shape markedly from the 1980s and culminate with the institutional maturity of the region in the 2000s
city of Cuiab opens the way to the cuiabania1 experience; that the critical irreverence of Gois turns it
into goiastexas2 state; and that Braslia yields to the experience of Braxlia, a city that the power does not
deserve3. The purpose here is not to enumerate metaphors, like an exotic affective memorabilia, but rather
to allude to a poetic topography that becomes tangible through everything that the space reveals of itself.
The art of the midwest does not really exist as such, like a cultural identity or a consistent aesthetic
matrix. In fact, if there is something in all this astounding diversity of artistic contexts, that will be the
intuition of inhabiting this |ex|centric center4; the confirmation that the centrality (as a geodetic and, as
from 1960, political datum), within the context of a still-predominantly-coastal country, relegates these
places to a peripheral status as far as mechanisms for dissemination of and reflection on the national
artistic output are concerned.
create mechanisms of exchange between these distinct artistic settings. These networks begin to gain
owing to the foundation6, deep reforms7 or opening of new headquarters8 of relevant cultural facilities
(a phenomenon that tended not to be limited to the capitals9). Add to this the noticeable framing in
recent years of a series of independent initiatives taken by artists to create alternative spaces for art
making and reflection10 and the shy (promising, though) adoption of digital-platform-based practices
of marketing and publicity.11
This combination of factors has enabled the establishment of closer regional ties; a trend that seems to
be confirmed in the mapping context with the 1o Salo de Arte Contempornea do Centro-Oeste [1st
Contemporary Art Salon of the Midwest] (Goinia), the exclusive artistic residencies for artists of the
region in the event Fora do Eixo12 [Out of the Mainstream] (Braslia), as well as in the renewed Salo
Anapolino de Artes13 [Anapolino Salon of Arts] (Anpolis). This outlines a prospect that suggests new
devices for the realization of the recurrent dream of [...] softening the distance of so many years.14
The challenging consciousness of isolation drives cultural artists and agents to ponder on the conditions of art making and circulation in the settings where they work. The regionalisms arise out of this
process (like compromising part of the poetic output of the region with certain local popular repertoires). These regionalisms appear not as a skill, but as a decisive ideological itinerary in view of the
(geographic and cultural) distances imposed by the dynamics of the Brazilian territory occupation5.
1 As proposed by Silva Freire. But what is cuiabania, after all, poet? /it is not a toponym, it is the unspoken sensation, this
disorder of poetic sheaf, from now and from-now-on, of almost three centuries of a magical city [...] FREIRE, Silva: 1991, p. 407.
2 Suggested by Fabola Morais. Available at: goiastexas.com.br
3Enigma-City of Nicolas Behr: Utopia inside utopia, as if it were possible.[...] Each day that goes by, I am more and more
convinced that Braslia was built with the wrong purpose: it should never shelter the power. The power does not deserve it, the
power does not appreciate it [...] Creating Braslia not as a capital, a non-power Braslia, has always been the goal (achieved?) of
a whole generation [...]. BEHR, Nicolas.
4 Title of the exhibition curated by Geraldo Orthof and Marlia Panitz held in 2003 at the Centro Cultural Banco do Brasil [Bank
of Brazil Cultural Center], Braslia.
5 Aline Figueiredo understands it as an engaged and conscientious image-based work [...] of the visual spatiality of the region
[FIGUEIREDO: 2007]. In turn, Maria Adlia Menegazzo proposes it as [...] the place of culture and the local culture at the same
time. [REGAZZO apud: MALDONADO: 2007]. But it will be undoubtedly the appearance of the word cattle raising in the
context of Humberto Espndolas pictorial works the most emblematic expression of these thoughts.
6 Pavilho das Artes [Arts Pavilion] (2006) and Sesc Arsenal (2001), in Cuiab; Centro Cultural UFG [Gois Federal University Cultural Center] (2010) and Centro Cultural Oscar Niemeyer [Oscar Niemeyer Cultural Center] (2006), in Goinia; Centro
Cultural Banco do Brasil [Bank of Brazil Cultural Center] (2000), in Braslia; Espao Cultural Contemporneo [Contemporary
Cultural Space] (2000), Espao Cultural Marcantonio Vilaa [Marcantonio Villaa Cultural Space] (2003) and the Museu Nacional do Conjunto Cultural da Repblica [National Museum of the Cultural Complex of the Republic], in Braslia.
7 CAIXA Cultural, Braslia, 2001.
8 Museu de Arte Contempornea de Mato Grosso do Sul [Mato Grosso do Sul Museum of Contemporary Art], Campo
Grande, 2002.
9 Like the Salo de Exposio da UFGD [Exhibition Salon at the Grande Dourados Federal University], opened in 2008, in
Dourados, and the project of the Centro de Arte Ita e Alaor Siqueira [Ita and Alaor Siqueira Art Center], in Pirenpolis, yet to
be opened.
10 The highlights are the Ateli Ana Ruas [Ana Ruas Studio], in Campo Grande; the Espao Laje, in Braslia; the Espao Cinza,
in Goinia, in addition to the Ateli da Bel [Bels Studio], in Jata.
11 Plus Galeria [Plus Gallery], based in Goinia; Conjunto A4 set, based in Braslia, and the inventive Rabiscaria, in Goinia.
12 Also including a round table about the region artistic output.
13 One of the most traditional in the region.
14 As Aline Figueiredo had already mentioned in her Artes Plsticas no Centro-Oeste. FIGUEIREDO, Aline: 1979. p. 11, a
pioneering survey and reflection on the local output.
82 | 83
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
***
Fabio Mottas landscapes reveal this rough emergence of vastness/devastation. Here, the space is converted into a set design because of that meticulous combination: translucent and complacent lightness
in contrast with an ochre and severe harshness. We are alluded in the banality of this image; phantasmagoria set to tremble. The cran gets annoyed, the contexture rips itself apart. The tear, the inscribed
wound, converses the condition of the eye (indisputable complicity).
Would not Gois be an imagined anatomy? So many are the goiases; impertinent, daring, provincial.
Dreamers, as they always look like. A privileged stage of the region16, the state is memorable in Gois, daring in Jata, polarized in Anpolis, traditional/cosmopolitan in Pirenpolis, vibrant and critical in Goinia.
Few places provoke curiosity the most.
***
Gregrio Soares makes a rudimentary self-portrait using fragments of Athos Bulcos aesthetic itinerary,
The cerrado, the Brazilian savannah, appears as a negotiated landscape. Today we have knowledge of the
playfully appropriating his constructive dynamics; a game of identity that, like any other, takes place through
existence of an expressiveness of art in the state of Mato Grosso: the activities promoted at the Ateli
Livre [Free Studio] at the Museu de Arte e Cultura Popular [Museum of Art and Popular Culture]; this
critical engagement and the preference for a reflection on the surroundings. The young artists in Mato
Grosso are eager to tell me this history and say how they admire the artists who are engaged in it, although such respect never comes down to reverence.
Would the dj-vu be an endowment of the photographic eye? The issue here is the setting of a verisimilitude by means of an atmospheric photography. The Staged Photography, by Daniel Reino, produces
this mise-en-scne that suggests the image as a reasonable fragment by virtue of an already-seen: these
film noir clichs that I easily recognize: the chase, the interrogation, the dark alley, the femme fatale and
so forth. The strategy, however, is disclosed by minimum elements (sometimes nearly imperceptible)
The artists, in their first works, are generally faced with the local culture traditions, which appeal and
mobilize them. The young artist from Braslia, however, when questioned about his past, does not come
across traditions but projects, instead. Maybe this is the audacity of Braslia: that its past always reveals
an ambition regarding its future.
This finding is not limited to the circumstances of the foundation of this capital city. Rather, it applies to
those who live in it and to those who aspire to it as another place [...] utopia inside utopia. In Braslia, the
poetics of the unforeseen, the unfeasible, the unscheduled arise. Would not this be the real dimension of
utopia? Debureaucratize the time to come? Living the failure as a condition that nourishes our dreams?17
announcing the artificiality of the scene (the freshness of the image, the camouflage of a medium in
another, the simulation of a cultural context etc.).
This fictitious space turns into the field where different times and contexts are arranged. Would not this
be the trend of a new generation of artists from Mato Grosso do Sul? Renouncing the conciliation of
an indigenous iconography and the reality of the pantanal, the Brazilian tropical wetland15 (the so-hardearned building of a post-division aesthetic identity) in favor of a more generic interest in the processes
MATIAS MONTEIRO holds a masters degree in arts, in the line of Contemporary Poetics (2008)
research, and a bachelors in fine arts (2004) of the Instituto de Artes [Arts Institute] at Universidade de
Braslia [University of Braslia]. He is an artist, professor and works in educational programs in museums
and cultural spaces.
16 Salo Anapolino de Arte [Anpolis Arts Salon], Salo de Arte de Jata [Jata Arts Salon], the old Salo Nacional de Arte de
Gois Prmio Flamboyant [Gois National Arts Salon Flamboyant Award] and the recently created Salo de Arte Contempornea do Centro-Oeste [Contemporary Art Salon of the Midwest]. In the realm of audiovisual works, attention is drawn to the
Festival Internacional de Cinema e Vdeo Ambiental (Fica) [International Festival of Environmental Film and Video], in the city
of Gois, as well as the new Anpolis Festival de Cinema [Anpolis Film Festival] and the Encontro de Cineclubistas do CentroOeste [Midwest Cineclub Members Meeting], both in the city of Anpolis. As to literature, the Festa Literria de Pirenpolis
(Flipiri) [Pirenpolis Literary Festival] and so forth.
15 MALDONADO: 2007.
17 SOUSA: 2008.
immeasurable body navigated by the subject; body-topography, misty geography. This is not my body;
84 | 85
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
References
AMARAL, Aracy [et al]. Rumos Artes Visuais Ita Cultural 2005-2006. So Paulo: Ita Cultural, 2006.
AZAMBUJA, Renata [et al]. Arquivo Braslia: Cidade Imaginrio. Braslia: Espao Cultural Marcantonio Vilaa, 2010.
BEHR, Nicolas. Braslia ou Braxlia? Qual Utopia Inspira Mais? Available at: <nicolasbehr.com.br/pagbraxilia.htm>.
Dilogos nas Fronteiras, I Mostra de Artes da UFGD [1st Arts Show of the Grande Dourados Federal University]. Dourados, MS:
UFGD. 2008.
RIGOTTI, Paulo Roberto (Org). UNIARTE: textos escolhidos. Dourados: UNIGRAN, 2009.
Setembro Freire 2010. Casa da Cultura Silva Freire. Cuiab, MT: Entrelinhas. 2010.
SOUSA, Edson Luiz Andr de. A Burocratizao do Amanh: Utopia e Ato Criativo in revista Porto Arte. Porto Alegre: UFRGS [Rio
Grande do Sul Federal University]/IA [Arts Institute]/PPGAV [Graduate Program in Visual Arts], v. 14, n. 24, p. 41-51, May 2008.
XAVIER, Cleber Cardoso [et al]. Brasliax5: 50 Anos de Artes Visuais em Braslia. Programa de Ps-graduao em Arte [Arts Graduate Program] at Universidade de Braslia [University of Braslia], 2011.
DUARTE, Paulo Srgio [et al]. Trilhas do Desejo: A Arte Visual Brasileira. So Paulo: Senac and Ita Cultural, 2009.
ESPNDOLA, Humberto, FIGUEIREDO, Aline (Org). MACP, Animao Cultural e Inventrio do Acervo do Museu de Arte e
Cultura Popular da UFMT. Cuiab: Entrelinhas, 2010.
ESPNDOLA, Humberto. Um Panorama da Histria das Artes Plsticas em Mato Grosso do Sul Atravs do Acervo do Marco, available at: <marcovirtual.com.br/03_expo/permanente.html>.
FIGUEIREDO, Aline. Arte Aqui Mato. Cuiab: UFMT, 1990.
___________. Artes Plsticas no Centro-Oeste. Cuiab: UFMT, 1979.
___________. Quando as Atitudes Se Tornam Forma. A Propsito da Arte e a Animao Contempornea em MT, in Circuito
Panormico. Cuiab: Secretaria de Estado de Cultura [State Secretriat of Culture] and Galeria Mato-Grossense de Artes Visuais
[Visual Arts Gallery of Mato Grosso], 2007.
FREIRE, Silva. (na moldura da lembrana). In: PINO, Vlademir Dias (Org). Trilogia Cuiabana, v. 2, Todolos Prazeres & Alguns
Lazeres. Cuiab MT: Edies UFMT, 1991.
FREUD, Sigmund. Totem e Tabu. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
Goiastexas: available at: <goiastexas.com.br/>.
MALDONADO, Rafael. Apontamentos Sobre Trs Dcadas de Artes Plsticas em Mato Grosso do Sul, in Panorama 30 Anos da
Diviso do Estado. Campo Grande: Fundao de Cultura de Mato Grosso do Sul [Culture Foundation of Mato Grosso do Sul,
March 2007.
MORAES, Anglica de [et al]. Mapeamento Nacional da Produo Emergente: Rumos Ita Cultural Artes Visuais 1999-2000. So
Paulo: Ita Cultural and Imprensa Oficial do Estado and Unesp [Jlio de Mesquita Filho So Paulo State University], 2000.
PASSOS, Carlos Sena. Arte Contempornea de Gois: Experincias com a Vida Cotidiana, in: Revista da UFG. Goinia: UFG
[Gois Federal University], Year X, n. 4, June 2008.
___________ [et al]. I Salo de Arte Contempornea do Centro-Oeste [1st Contemporary Art Salon of the Midwest]. Goinia:
UFG [Gois Federal University], 2011.
86 | 87
curadores viajantes
REGIO NORdeste
por todo o resto do percurso (Paraba, Maranho e Rio Grande do Norte). Estava, quase sempre, com
rarssimas excees, lidando com uma precariedade em termos de espaos expositivos, de formao,
nichos de dilogos e, principalmente, polticas pblicas. Talvez a pergunta do artista no seja pertinente
no mbito do programa Rumos. No entanto, questiono-me: qual a instituio neste pas que tem um
diagnstico to amplo das artes visuais? So dez anos, mais de 50 cidades, incluindo todas as capitais do
pas. Esse banco de dados, se no serve para formulao de polticas pblicas, alimenta o qu?
Nos locais em que o circuito mais intenso, existe uma forte presena das instituies como o caso
de Fortaleza que, diante da poltica adotada pelo Centro Cultural Banco do Nordeste, contribui de
maneira significativa com as aes desenvolvidas pelos artistas. Ou a atuao do Sesc na regio do
Cariri (Crato e Juazeiro do Norte).
Na Paraba, o curso de artes visuais da UFPB e a Usina Cultural Energisa dinamizam o circuito. Nas
entrevistas realizadas, o nome da professora Marta Penner foi exaustivamente citado pelos estudantes.
Teresina vive um momento de abertura de possibilidades, pois, alm do Ncleo do Dirceu, que, apesar
de ser focado na dana, desenvolve residncia, curso e possui uma produo de videoarte e performance, os gestores da cultura demonstram vontade poltica, talvez por serem artistas que participam ativamente do circuito da cidade. Por sua vez, Natal vive uma oxigenao provocada pelos novos professores
do curso de artes visuais da UFRN.
88 | 89
curadores viajantes
Qual a importncia da arte contempornea para cidades com pouco mais de 60 mil habitantes, como
o caso de Sousa na Paraba? Acredito que a arte, assim como a cincia, cria espaos e tempos
simblicos, que nos permitem estruturar vises de mundo. A pintura renascentista possibilitou men-
Junior Pimenta
talidade medieval construir estruturas capazes de acolher a nova cincia. A racionalidade, encontrada
para a construo de obras de arte, invade a vida chegando percepo sensorial. O espao emergente da arte renascentista abriu um novo mundo simblico que podia ser manipulado e investigado,
no qual novos fiis e ricos modelos da realidade podiam ser construdos e estudados (SZAMOSI,
Geza. Rio de Janeiro: Zahar, 1994, p. 128). Creio que a arte contempornea pode contribuir de forma
significativa nesse momento crucial vivido pela humanidade, que solicita com urgncia a construo
de outra percepo da realidade.
Fortaleza o segundo mais intenso circuito de arte contempornea do Nordeste na sede do Centro
Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) que, atravs de Jaqueline Medeiros, consegue espraiar-se, seja
apoiando aes dos artistas, seja nos espaos independentes. O CCBNB, alm de lanar edital nacional
para constituir sua programao, realiza o evento Agosto das Artes, que acontece nas trs cidades que tm
unidades do CCBNB (Fortaleza, Sousa e Juazeiro do Norte) e atualmente se encontra na sexta edio.
A mostra Entregue s Moscas, em 2008, do Coletivo Acidum, no Centro Drago do Mar de Arte e
Cultura, expe a situao em que se encontra o museu que fora, em anos anteriores, relevante equipamento no fomento arte contempornea local. Outro importante meio de fomentar as artes o circuito
Alpendre, que outrora esteve focado nas artes visuais, constituindo-se, tambm, em essencial espao na
formao e nicho de encontro e dilogo para os artistas. Atualmente, agrega elementos de outras reas
no processo de criao, com nfase no videodana.
No dia em que cheguei a Fortaleza, o espao independente Dana no Andar de Cima, lugar focado nas
artes visuais, design, msica, vdeo e que aglutina a jovem produo contempornea, exibia uma mostra
de vdeo produzida na Colmbia. Outro equipamento que vale apena citar o Sobrado Jos Loureno,
um centro cultural voltado s artes visuais, que dispe de sala de exposio, biblioteca, auditrio e um
caf. A comercializao da arte contempornea em Fortaleza bastante incipiente.
Chama a ateno a quantidade de coletivos existentes em Fortaleza. Os artistas parecem usar tal meio
como estratgia de fortalecimento para acessar, realizar, trocar ou simplesmente dialogar. Conversei
com coletivos formados por casal de namorados e grupos de seis pessoas.
No dia da minha comunicao, no CCBNB, foi tambm a abertura da mostra O Cinema dos Pequenos
Gestos (Des)Narrativas, com curadoria de Beatriz Furtado. A exposio demonstrou que existe uma
significativa produo de vdeo. Esse dado foi apontado pelo relato da edio anterior do Rumos.
90 | 91
curadores viajantes
Na regio do Cariri foram mapeadas as cidades de Juazeiro do Norte e Crato. A primeira um polo
audiovisual no curso de arte e mdia e identifica a nfase no cinema existente no curso e a precariedade
comercial, universitrio e cultural. O Sesc, que mantm espao expositivo nas duas cidades, e o Centro
tanto na formao como na produo dos docentes. Esse curso completa dez anos e o corpo docente
Cultural Banco do Nordeste incentivam artistas com apoio na produo de suas obras. As duas institui-
se organiza para uma reformulao de seu projeto curricular pela primeira vez.
es dinamizam o circuito com eventos como o Cariri das Artes, promovido pelo Sesc, e o Agosto das
Artes, realizado pelo CCBNB. Essas instituies dispem de espaos expositivos. Apesar da existncia
Apresento aqui um posicionamento de Jlio Leite, artista atuante na cidade e que, at a edio ante-
de cursos de designer de produto (UFC) e o curso de artes visuais (Urca), so o Sesc e o CCBNB, alm
rior do Rumos, manteve, desde 2004, na Galeria Cilindro, um site-specific. Essa galeria funcionava nas
dos prprios artistas, que contribuem de forma significativa no circuito da arte contempornea. Lendo
paredes externas de um caixa eletrnico do Banco do Brasil na Praa Clementino Procpio. O artista
o relatrio anterior, percebo que houve avanos na produo. Se antes as investigaes estavam foca-
no soube informar quem autorizou a retirada do caixa eletrnico, de formato cilndrico, do local. Para
das na fotografia e na gravura com forte influncia regional, como apontou Bitu Cassund, encontrei
o artista, foi bom enquanto durou, mesmo que de forma completamente margem da legitimidade
artistas realizando intervenes, uma expressiva produo de grafite, objetos e fotografia. No entanto, a
da instituio bancria. s vezes bom ser marginal estar margem do status dominante e em-
carncia de formao ainda visvel, exigindo um investimento para alm dos cursos rpidos e projetos
preender um belo sistema de aes que possibilitem ao circuito da arte uma pgina bem escrita. Criar
curtos de formao. O Coletivo Malungo, no Crato, mapeado na edio anterior, deixou de existir.
um circuito nesse serto com a Galeria Cilindro algo legal, visto que muitos artistas acreditaram na
proposta e enviaram obras para o referido equipamento (Paulo Bruscky, Vania Mignone, Regina Silveira,
Por sua vez, Sobral mantm basicamente o mesmo perfil do mapeamento anterior. Com alguns pontos
Guto Lacaz, Carmela Gross...). Quanto ao Rumos, uma frmula cansada e repetitiva. No oferece
bem comprometidos. Na quarta edio, o Museu Madi se encontrava fechado sem condies tcnicas.
rupturas e indicao de possibilidades que possam romper com o mainstream da arte comercial. tanto
Agora est completamente abandonado. As obras instaladas no exterior esto desgastadas e corrodas
pela ferrugem. Algumas paredes de vidro desapareceram. A Escola de Comunicao, Cultura, Ofcios
e Artes de Sobral tambm est abandonada. Os artistas se ressentem da ausncia de formao, de po-
Em Sousa, tambm est, h quatro anos, uma das unidades do CCBNB. Salta aos olhos o quanto faz diferena
lticas pblicas para as artes visuais. O Salo Sobral de Artes Visuais existiu at a quinta edio e o Salo
Safra de Artes Visuais no acontece h anos. A novidade da cidade vem dos artistas que organizam
cidade com pouco mais de 60 mil habitantes coloca essa unidade do CCBNB no topo de maior nmero de
pblico nas suas atividades. A produo dos artistas locais ainda tem muita necessidade de troca.
Em Joo Pessoa, a maioria dos jovens artistas que mapeei est na universidade, no curso de artes visuais.
A capital maranhense, So Lus, tanto na formao, quanto na produo em arte contempornea, bastante
Marta Penner, professora e selecionada pelo Rumos na segunda edio, realiza um trabalho que vai alm
tmida. O Sesc, local em que ocorreu a oficina de portflio, ainda o melhor espao expositivo da cidade. Na
dos muros da universidade, dialogando com os artistas sobre seus processos criativos. Na ocasio de mi-
ocasio de minha visita, estava em processo de montagem o II Salo de Artes Visuais do Maranho, realizado
nha chegada, estava em cartaz, com curadoria de Marta, a exposio Voto Secreto, de Caf Dias, dentro
pela Fundao Municipal de Cultura, organizado por pessoas contratadas para esse fim, pois nem a instncia
do projeto Ciclo Jovens Artistas de Joo Pessoa na Aliana Francesa. Outro nome que se destaca
estadual nem a municipal possuem um setor especfico para as artes visuais. No tocante formao, o IFMA
Dyogenes Chaves, articulador e organizador do Dicionrio das Artes Visuais na Paraba, disponvel em
mantm um curso tcnico em artes visuais e uma licenciatura. A produo artstica apresenta uma pesquisa
com referncias modernas e regionais. Alguns artistas, assim como em Fortaleza e Natal, fazem curso de
Arte Contempornea funciona em situao muito precria. O Espao Cultural Jos Lins do Rego no
especializao a distncia, promovido pelo Sesc denominado Artes Visuais: Cultura e Criao.
possui condies favorveis de funcionamento. A galeria de arte da prefeitura de Joo Pessoa funciona
no Casaro 34, que tem exibido arte contempornea na cidade.
Gustavo Sousa de Carvalho (Gustavo So Jorge) solicitou alguns minutos para informar que o estado
estavam presentes cerca de 30 pessoas. O museu conta com um espao expositivo focado na arte con-
do Piau estava com o propsito de realizar uma bienal. Contudo, os equipamentos e os espaos exposi-
tempornea. No dia seguinte, fui UFCG e conversei com os estudantes. A produo de arte contem-
tivos, de maneira geral, so precrios, pouco cuidados. A Casa de Cultura, com espaos expositivos em
pornea, na cidade de Campina Grande, est voltada para o vdeo e os quadrinhos. O jornal A Margem,
vrios ambientes, enfrenta problemas de infraestrutura para exibir as obras. O Salo de Teresina, na sua
ano 2, nmero 11, traz uma matria assinada por Jhsus Tribuzi, que faz uma reflexo sobre a produo
17 edio, tem formato bastante tradicional e uma premiao exgua. Por sua vez, o Museu do Estado
92 | 93
curadores viajantes
Odilon Nunes possui em seu acervo peas antigas do perodo colonial ao atual. A nova gesto est
promovendo exposies de arte contempornea e reformulando sua museografia.
O Ncleo do Dirceu (nucleododirceu.com.br), citado no mapeamento anterior, um espao de dilogo
e formao dos artistas contemporneos de Teresina. Focado na dana e na performance, desenvolve
oficinas de vdeo, mantm programa de residncia e realiza espetculos. Gostaria de destacar a Oficina
de Pensamento que, desde 2010, acontece tomando as obras que esto em criao como pano de
fundo. No ano de 2011, no blog do ncleo, encontramos um texto explicativo que diz ser (a oficina) o
exerccio de produzir conhecimento a partir do que cada um sabe, do que cruza, a partir de onde esto
e do que esto fazendo. A maioria dos jovens artistas com quem conversei e que desenvolve uma potica contempornea tem, de alguma forma, uma passagem pelo Ncleo do Dirceu.
Dos espaos expositivos existentes na cidade de Natal, apenas o Ncleo de Arte e Cultura da UFRN mantm
um fluxo constante de exposies e tambm um edital de ocupao anual. A galeria da Fundao Cultural
Capitania das Artes e a Pinacoteca do Estado vivem grande crise, apresentando dificuldades em suas estruturas fsicas e administrativas. O Centro Cultural Casa da Ribeira, que, dentre os espaos existentes, o que
realmente se mantm focado na arte contempornea, diminuiu seu espao fsico de exibio e no consegue
manter um fluxo nas exibies de exposio; j o Departamento de Artes da UFRN inaugura em 2012 um
espao expositivo. Existe tambm na zona norte da cidade o Complexo Cultural de Natal integrado Universidade Estadual do RN, que possui uma galeria e, lamentavelmente, no mantm uma programao. O Salo
de Artes Visuais da Cidade de Natal, que teve sua ltima edio em 2009, depois de 13 edies ininterruptas,
abriu edital no fim de 2011, sendo que a prefeitura enfrenta srios problemas administrativos/ticos/financeiros.
A boa-nova de Natal a oxigenao pela qual passa o departamento de artes da UFRN, com a chegada de novos professores e a implantao do curso de desenho industrial. O professor Fbio Oliveira,
que pediu demisso, criou o projeto interinstitucional Dez Dimenses: Dilogo em Rede, Corpo, Arte e
Tecnologia, que tem a UFRN como instituio-lder em parceria com a UFPB, o IFRN e a Fapern. Dez
meses e dez encontros alternados entre Natal e Joo Pessoa. Alm dessa ao, h outras como a de
Laurita Salles que desenvolveu um projeto com sua turma junto CBTU e resultou em uma interveno
grfica e miditica entre Natal e So Paulo (dentro do evento SP Estampa).
O Coletivo de Diretores ES3 (Andr Bezerra, Chrystine Silva, Felipe Fagundes, Yuri Kotke) um grupo de
performers que organizam o BodeArte Circuito Regional de Perfomance, que em sua segunda edio, em
2011, contou com artistas de vrios estados do Brasil. Para o ES3 o evento surge com a inteno de mapear
os corpos em performance no Nordeste brasileiro, com a inteno de estabelecer uma rede consciente de
Diego de Santos
si. Aps a realizao do evento, o coletivo tem viajado pelo Brasil apresentando o resultado do mapeamento
(Tubo de Ensaio da UNB, PERFOR2) e participa no Mxico do Encuentro do Instituto Hemisphrico de Per-
formance. possvel, em Natal, identificar uma jovem produo contempornea com expressiva qualidade.
94 | 95
curadores viajantes
Em Mossor, o encontro com os artistas da cidade aconteceu na Biblioteca Pblica Ney Lopes, e compareceram 15 pessoas. Depois da minha comunicao, o encontro foi pautado por questionamentos sobre
o edital e o critrio da trajetria a partir de 2000. Na cidade, h um corredor cultural, que um complexo
composto por uma biblioteca pblica, teatro e galeria com estrutura de iluminao adequada para exibio
de trabalhos bidimensionais. Estava em cartaz uma exposio de fotografia, bastante descuidada parte das
obras estava caindo. O pouco movimento existente no campo das artes visuais provocado pelos prprios
artistas. So eles que articulam exposies, eventos, mobilizam instituies em torno de seus projetos.
Retornamos pergunta: Qual instituio tem, no Brasil, esse mapa da produo contempornea dos
ltimos dez anos? Para um programa que objetiva mapear, fomentar, formar e difundir a jovem produo artstica emergente do pas, talvez aes nas cidades, com foco na formao, no mapeamento e
no fomento, fossem algo que colocasse o Rumos alm da lgica das instituies financeiras.
So inmeros os artistas que, em cidades com populaes com pouco mais de 60 mil habitantes, esto
antenados com a produo contempornea. Emergncia no mbito da cincia um processo da natureza nada linear. Surgem de pequenas interaes, s vezes insignificantes, aleatrias. Algo emerge quando
um sistema produz mais do que foi inserido nele. Isso para lembrar aqueles artistas que conseguem fazer
uma arte diferente de tudo que est sendo exibido na cidade. A voz dissonante, uma arte contempornea que provavelmente no seria selecionada no Rumos, mas que, para aquela localidade, se torna uma
verdadeira oxigenao, uma aerbica do sensvel.
O que aconteceria se o Rumos, nico no pas, distanciando-se do formato de salo tradicional, focasse
suas aes nos outros objetivos previstos? E no apenas na difuso. O mapeamento poderia ser potencializado a partir de aes capazes de mobilizar vrios agentes do sistema de arte (curadores, artistas,
crticos, montadores, produtores), em cidades com potencial na produo. Nesse sentido o Rumos no
estaria mais sintonizado com o esprito do agora?
SANZIA PINHEIRO BARBOSA graduada em pedagogia; com especializao em filosofia, e tem mestrado
em cincias sociais pela UFRN. Foi professora substituta da UFRN 2002/2004. Integrou a Rede Nacional Funarte2007, em Boa Vista, Roraima. Coordenou o Salo de Artes Visuais da Cidade de Natal (9 e 13 edies).
membro do Colegiado de Artes Visuais (representao/nordeste). Entre os projetos de residncias artsticas e
interveno que coordenou, destacam-se: PANORAMA 8.0, 2004; VISUAIS-2005; DENcidade-2007 (Conexes
Artes Visuais MinC/Funarte); duas edies do PROSPECTA 20082009 (as quais integraram a Rede Nacional de
Artes Visuais MinC/Funarte). Manteve ao lado do artista Jean Sartief a coluna semanal Fermentaes Visuais, do
jornal Tribuna do Norte, entre 2007 e 2009. Publicou textos nos catlogos do Projeto Trip/2008 Sesc, da 10 Bienal
Vinicius Dantas
BafoGanesh, 2011
Computador Vestvel
Projeto eletrnico: Felipe Pedro da Costa Gomes
Wearable computer
Electronic design: Felipe Pedro da Costa Gomes
de Havana, 2009, e da Bienal de Porto Santo, Portugal, 2007. Coordenou o setor de artes visuais da Fundao
Cultural Capitania das Artes, entre 2009 e 2010.
96 | 97
curadores viajantes
Em nvel privado, as iniciativas so ainda mais escassas, j que as poucas galerias existentes na regio
apenas dialogam (quando participam) no mbito dos grandes circuitos do mercado nacional ou interna-
Nos ltimos quatro anos, o cenrio artstico da Regio Nordeste 2, que compreende os estados
cional, sem possibilidade de encontros regionais que possam oferecer uma alternativa intermdia entre
de Alagoas, da Bahia, de Pernambuco e de Sergipe, tem ampliado seus alcances com aes
o nacional/internacional e o local.
riais, nas quais necessrio considerar contextos territoriais culturais mais largos e, tambm, cir-
entre os quatro estados. Salvador e Recife so os focos principais de referncia, agenciamento e proposi-
o na regio, com reverberaes contnuas tanto nos cenrios de seus prprios estados quanto de Ala-
particulares. Alm de Aracaju, Macei, Recife e Salvador e as cidades mais populosas, selecionei
Arte Moderna (MAMBA em Salvador e Mamam em Recife). necessrio, porm, repensar as possibili-
mais 18 novos lugares. Ao todo, foram 28 cidades visitadas, quase o triplo de locais visitados pelo
dades de ampliaes fsicas que possam garantir tanto o crescimento institucional como de seus alcances
A crescente afirmao da arte contempornea brasileira tem reverberaes diversas, tanto no mercado da arte internacional como na estrutura dos circuitos locais nacionais. A visibilidade de artistas
oriundos do Nordeste um corolrio desse processo. Nas regies metropolitanas de Salvador e Re-
cife possvel identificar percursos mais ou menos consolidados que funcionam como canais de me-
zadora do I Salo Semear de Arte Contempornea e do projeto Artes Visuais Sergipe: Conexes em
diao entre a produo local e as instncias nacionais e internacionais. Aracaju e Macei dependem
2010. Mas, a produo artstica fora das capitais, tanto em Alagoas como em Sergipe, muito incipiente
estreitamente desses cenrios maiores, com iniciativas pontuais de promoo local dirigidas a mini-
mizar as carncias de estrutura de formao e de visibilidade dos artistas. Fora das capitais, porm, a
interlocuo regional mnima no melhor dos casos restrita promoo de alguns eventos , com
Na Bahia, considerando-se a escassez de iniciativas privadas responsveis pela promoo artstica, de-
ve-se assinalar o papel desempenhado nos ltimos anos pela Secretaria Estadual da Cultura (Secult) no
que diz respeito articulao, administrao e promoo de diferentes programas, espaos e recursos.
Em nvel global, h vrias instncias dirigidas ao fortalecimento dos intercmbios internacionais, algumas
com mais de dez anos de atuao, como os programas da Fundao Sacatar, em Itaparica, e outras mais
volvidas pelos Sales Regionais de Artes Visuais e Bienal do Recncavo, realizados desde 1992, tm sido
recentes, a exemplo do projeto Made in Mirrors, que envolve parcerias entre instituies pernambuca-
acompanhadas por um importante trabalho de insero da Bahia no circuito internacional, por meio de
colaboraes com eventos como a Trienal de Luanda e a Bienal de Havana. Urge, porm, a definio da
ampliao dos intercmbios acadmicos de cursos e programas de artes visuais entre as universida-
retomada da Bienal de Artes da Bahia e a criao de novas plataformas de dilogo nacional e interna-
Dentre as iniciativas privadas e, principalmente, fora dos grandes centros, a Galeria Arte & Memria, criada
em 2002 pelo artista plstico Marcos Zacarades, um exemplo precioso e uma boa demonstrao do po-
der transformador da arte numa comunidade. No pequeno povoado de Igatu, perdido entre as montanhas
da Chapada Diamantina, com cerca de 380 habitantes, sem banco, sem farmcia, sem supermercado nem
Fundao Danemann de Cachoeira ou os MACs de Feira de Santana e Olinda, que contam com
transporte, no exagero dizer que Zacarades tira leite das pedras. Guardadas as devidas propores, este,
estratgias de aquisio peridica ou dispem de espaos prprios para exibio, pouco dialogam
que pode ser chamado de primeiro curador do garimpo, criou uma referncia comunitria comparvel
iniciativa do empresrio Bernardo Paz com o Instituto Inhotim em Minas Gerais. Em Igatu, Zacarades cons-
truiu um museu e uma galeria de arte contempornea entre runas de antigas casas de pedras, consolidando,
98 | 99
curadores viajantes
Alan Adi
Revanche, 2011
100 | 101
curadores viajantes
com os moradores do povoado, um acervo de utenslios usados por garimpeiros entre as dcadas de 1930 e
1950. Entre as runas das velhas locas e habitaes dos garimpeiros, se estruturam um jardim com esculturas
de arte contempornea e agradveis espaos de descanso com loja e caf. Em termos fsicos, o complexo
um exemplo de articulao entre patrimnio ambiental, cultural e arquitetnico e projeto de sustentabilidade
socioeconmico-turstico-cultural. Em termos socioculturais, o centro o principal aglutinador e dinamizador
da regio. A galeria temporria exibe mostras com durao de dois a trs meses, com afluncia permanente
de pessoas (mdia de 2 mil visitantes por exposio), captando a maior parte do turismo que circula na regio.
Em Pernambuco, o cenrio artstico mais independente do poder pblico estadual que o caso baiano, e pode-se dizer que a produo e a discusso artsticas so mais coesas em termos de articulao do sistema da arte
que na estrutura baiana. Instituies como a Fundao Joaquim Nabuco ou galerias privadas como a Amparo
60, a Dumaresq e a Mariana Moura tm um papel importante na focalizao e promoo da produo emergente, no apenas por meio da realizao de mostras como no incentivo ou acompanhamento de publicaes,
como a revista Tatu ou a editora Massangana. A instncia competitiva mais tradicional o Salo de Artes Plsticas, organizado pela Fundao do Patrimnio Histrico e Artstico de Pernambuco (Fundarpe) e realizado
desde 1942. Desde 2005, porm, a UFPE tambm organiza um salo de artes plsticas dirigido ao estmulo da
produo emergente, que tem sido uma instncia frutfera para estudantes de artes e artistas iniciantes.
Alejandra Muoz
Recife, 2011
Recife, 2011
Um dos eixos de ateno do mapeamento se concentrou no impacto das estratgias educacionais governamentais no cenrio do NorteNordeste. Algumas estratgias do Ministrio da Educao articuladas com
investimentos em recuperao patrimonial arquitetnica, a exemplo de Cachoeira, Laranjeiras e Penedo, esto
sendo propulsoras de novos polos de discusso de arte contempornea e esto contribuindo para a descentralizao do circuito das capitais. Na maioria desses casos, apesar de a discusso e a produo artstica contempornea serem ainda incipientes, deve-se alertar para a emergncia de novas relaes, a partir da afluncia de
estudantes de vrias partes do pas, que promovem a renovao de repertrios e a consolidao de redes de intercmbios, que contribuem para novos protagonismos alm da macrocefalia dominante das capitais Salvador
e Recife. Em outros casos, como Lenis, Rio de Contas, Porto Seguro, So Cristvo e Marechal Deodoro, o
turismo cultural e de natureza tem atrado um pblico sazonal que estimula uma produo artstica vinculada ao
artesanato, mas que pode oferecer novos horizontes para a arte contempornea, desde que sejam realizados
investimentos dirigidos formao e discusso artstica continuada para superar lgicas folclorizadas de duvidosa qualidade e simbolismos pasteurizados dirigidos ao imediatismo da lembrancinha ou souvenir.
Nesse sentido, os cursos de graduao e ps-graduao em artes, pblicos ou privados, so importantes
focos de atrao regional. Em que pese a existncia de cursos de artes mais antigos (por exemplo, Ucsal,
Unifacs, Unijorge) ou o surgimento de novos cursos, como os da Aeso, em Olinda, da UFRB, em Cachoeira, e da UNIVSF, em Juazeiro, apenas a Escola de Belas Artes (EBA) da UFBA e a UFPE possuem
cursos de bacharelado em artes. O da UFPE foi implantado recentemente e oferece uma alternativa ao da
Aeso, privado, em Olinda. A EBA, segunda mais antiga do pas, com quase 135 anos de histria, tem um
Alejandra Muoz
Igatu, 2011
Igatu, 2011
102 | 103
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
papel importante na formao continuada de novos artistas, mas, nos ltimos anos, registra escassa participao institucional e crtica no acompanhamento e produo efetiva da arte contempornea. Deve-se,
tambm, destacar que nos quatro ltimos anos houve uma ampliao significativa dos departamentos
Writing a report about the mapping of Brazils Northeast Region as part of a program which is now in its
educativos em algumas instituies. necessrio, porm, fortalecer a atuao e repensar as lgicas dos
fifth edition requires reading the previous reports. And after reading the catalogs from the second to the
editais e as convocatrias para cesso de pauta nas instituies culturais como Caixa Cultural, Santander,
fourth edition, it is possible to state that the characteristics of the contemporary art scene in this region (Rio
Sesc, Correios, Cervantes, Aliana Francesa, ICBA, ACBEU etc., para que os investimentos em trabalhos
Grande do Norte, Piau, Cear, Paraba, Maranho) vary widely due to the policies adopted by managers
Relacionados com a questo formativa dos artistas, h pelo menos outros dois aspectos relevantes: o papel
Fortaleza is emblematic in this regard. Until the 3rd edition, the city had quite a fertile artistic community.
da crtica de arte regional e o acesso a material bibliogrfico, alm das referncias eletrnicas. A imprensa
Nevertheless, over time, the policies adopted have not fostered a significant development. Therefore,
da regio revela-se ainda acanhada. No raro encontrar os comentrios sobre arte misturados s pautas
some losses and very few advances were observed in the region. The state of the artists output still
das colunas sociais ou limitados divulgao de releases. Em geral, a crtica de arte no tem um espao
reveals the need for information, interchange and mainly education; additionally, a glaring absence of
fixo que possa promover discusses e reflexes mais duradouras que a efemeridade das aberturas ou co-
public policies to support the visual arts was found, as mentioned in the 4th edition of Rumos. Some
quetis de vernissages. Deve-se, porm, destacar o papel de publicaes pernambucanas como a revista
state capitals, like So Lus, do not even have a specific visual arts segment. Nevertheless, I found people
Tatu ou a linha editorial da Fundaj, bem como os cadernos e peridicos dos programas de ps-graduao
who have been able to organize actions that truly breathe life into the local landscape.
das universidades federais, impressos ou eletrnicos ainda que estes ltimos estejam mais comprometidos com a publicao de pesquisas acadmicas em atendimento a critrios de produtividade da Capes
After mapping Juazeiro do Norte, Crato and Sobral, I headed to Fortaleza. Upon my arrival there, the artist
Jlio Pimenta, editor of the Reticncias Crtica de Arte magazine posed the following question: How can this
mapping help to build public policies for the visual arts? I kept this question in my mind through the rest of the
rede (Saraiva e/ou Cultura nas capitais) e especializadas em artes (como a Galeria do Livro em Salvador).
journey to Paraba, Maranho and Rio Grande do Norte. With rare exceptions, I nearly always found precarious
O fenmeno das grandes redes que, por um lado, oferece um paliativo carncia da oferta institucional
conditions in terms of exhibition spaces, education, space for dialog and especially public policies. Perhaps the
pblica e privada, por outro, uniformiza a oferta de referncias mais ou menos atualizadas e desestimula a
question raised by Pimenta is not pertinent in the realm of the Rumos program. Nevertheless, I asked myself:
what institution in this country has as broad a survey of the visual arts? The program has spanned ten years and
more than 50 cities and towns, including all of the state capitals across the country. If the database that has been
Diante do exposto, resta enfatizar que, mais que elencar quantitativa e sistematicamente os elementos que
built through it does not serve for designing public polices, what can it be used for?
constituem o circuito atual de arte na Regio Nordeste 2 ou identificar uma relao de nomes e instituies
que contribuem para o debate artstico, meu trabalho de mapeamento esteve dirigido leitura dos contex-
In the locations where the art community is more dynamic, there is a strong presence of institutions as is the
tos e dos processos que pautam a produo contempornea e seus diversos nveis de circulao, fruio e
case of Fortaleza which, given the policies adopted by the Centro Cultural Banco do Nordeste [Banco do
reflexo. Aps esta experincia, em que pesem as carncias e as dificuldades apontadas, posso antecipar
Nordeste Cultural Center] (CCBNB), contributes significantly to the actions conducted by artists, as does
que o panorama otimista, pois a regio tem muitas sementes para futuras viagens.
Sesc [Social Service for Commerce] in the region of Cariri (Crato and Juazeiros do Norte).
In Paraba, the course of study in visual arts at UFPB [Federal University of Paraba] and the Usina
Cultural Energisa stimulate the artists and art professionals. In the interviews conducted, the name
ALEJANDRA HERNNDEZ MUOZ arquiteta, mestre em desenho urbano e doutoranda em urbanismo pela
of professor Marta Penner was mentioned countless times by students. Teresina, the capital city, is
FAU/UFBA. Nasceu no Uruguai, mas reside em Salvador desde 1992. Foi professora substituta de histria e teoria da
experiencing a time of possibilities opening. In addition to the Ncleo do Dirceu art center, which
arquitetura na FAU/UFBA, entre 1998 e 2001. Desde 2002, professora efetiva de histria da arte na EBA/UFBA, res-
focuses on dance but also has residency programs, classes and video art and performance produc-
ponsvel pela disciplina de histria da arte contempornea. Vem desenvolvendo atividades de curadoria e crtica de arte e
tion, cultural managers demonstrate political will, perhaps because they are artists themselves who
participate actively in the citys artistic community. Natal, in turn, is experiencing a breath of fresh
104 | 105
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
air brought by the new professors of the course on visual arts at UFRN [Federal University of Rio
I delivered my talk at the CCBNB on the same day when the doors of the O Cinema dos Pequenos Gestos
Grande do Norte].
(Des)Narrativas [The Cinema of Small Gestures (Dis)Narratives] show were opened. Curated by Beatriz
Furtado, the show demonstrated that there is a significant video output. This fact was indicated in the
What is the importance of contemporary art for towns with little more than 60 thousand people as is
the case of Sousa in Paraba? I believe that art, like science, creates symbolic spaces and times, which
allow us to support world views. Renaissance painting enabled the medieval mindset to build capacities
In the Cariri region, the towns of Juazeiro do Norte and Crato were mapped. The former is a com-
to welcome the new science. The rationality, found in the making of artworks, overruns life to the point
mercial, university and cultural hub. Sesc, which has an exhibition space in the two towns, and Centro
of affecting the sensory perceptions. The emerging space of renaissance art opened a new symbolic
Cultural Banco do Nordeste encourage artists by supporting them in the making of their artworks. The
world that could be manipulated and investigated, in which new faithful and rich models of reality could
two institutions stimulate the local art community with events such as Cariri das Artes, promoted by Sesc
be constructed and studied (SZAMOSI, Geza. Rio de Janeiro: Zahar, 1994, p. 128). I believe that con-
and Agosto das Artes, organized by CCBNB. The two have exhibition facilities. Despite the existence of
temporary art can contribute significantly at this crucial moment that humanity is experiencing, which
courses in product design (UFC) and of visual arts (Urca), Sesc and CCBNB, in addition to the artists
themselves, are the ones who contribute significantly to fortifying the local contemporary art scene. After reading the previous report, I realized that the local output has made progress. While in the past the
Fortaleza has the second busiest contemporary art community in the Northeast based at Centro Cul-
investigations were focused on photography and printmaking with a strong regional influence, accord-
tural Banco do Nordeste (CCBNB) which, under Jaqueline Medeiros, is able to expand its coverage,
ing to Bitu Cassund, I now found artists making interventions, meaningful output of graffiti, objects and
either by supporting the actions taken by the artists themselves, or by supporting independent spaces.
photography. Nevertheless, the lack of training opportunities was clear. This requires investment beyond
Apart from putting up its programming by means of calls for submissions from all over the country,
quick courses and short training projects. The Coletivo Malungo [Malungo Collective], in Crato, which
the CCBNB also holds Agosto das Artes [August of the Arts], which takes place in three cities where
CCBNB has branches (Fortaleza, Sousa and Juazeiro do Norte) and is currently in its 6th edition.
In turn, the profile of the municipality of Sobral has basically remained unchanged, with a few elements
The 2008 show Entregue s Moscas, by Coletivo Acidum, held at Centro Drago do Mar de Arte
that are badly hurt. In the fourth edition, the Museu Madi [Madi Museum] was closed because it was not
e Cultura [Drago do Mar Art and Cultural Center], exposes the current situation of the museum,
able to operate and it is now completely abandoned. The works made to the outside area are worn down
which in previous years used to be an important facility for supporting local contemporary art. An-
and rusting. Some glass walls are missing. The Escola de Comunicao, Cultura, Ofcios e Artes de
other key instrument for supporting the arts is the Alpendre circuit, which is also a major space for
Sobral [Sobral School of Communication, Culture, Crafts and Arts] is also abandoned. The artists feel
education and a niche for meetings and dialog among artists despite its past focused on the visual
the absence of training and public policies for the visual arts. The Salo Sobral de Artes Visuais [Sobral
arts. It currently brings together elements from other areas of the creative process with an emphasis
Visual Arts Salon] produced five editions and the Salo Safra de Artes Visuais [Safra Visual Arts Salon]
on video dance.
has not been held in years. What is new in town comes from artists who put up exhibitions and have their
projects winning the national calls for submissions of the Ministry of Culture.
On the day that I arrived in Fortaleza, the independent space Dana no Andar de Cima [Dance on the
Top Floor], which is focused on the visual arts, design, music, video and which attracts contemporary
In Joo Pessoa, most of the young artists that I mapped are taking visual arts at the university. Marta Penner,
young artists, was hosting a video show produced in Colombia. Another facility that is worth mention-
a professor who was selected in the second edition of Rumos, conducts work that goes beyond the university
ing is Sobrado Jos Loureno [The Jos Loureno House], a cultural center focused on the visual arts,
walls, establishing a dialog with artists about their creative processes. When I arrived, an exhibition curated
which has an exhibition space, library, auditorium and a caf. The sale of contemporary art in Fortaleza
by Marta and called Voto Secreto [Secret Vote], by Caf Dias, was on show at Alliance Franaise as part of
is quite incipient.
the Ciclo Jovens Artistas de Joo Pessoa [Young Artists Cycle of Joo Pessoa] project. Another artist that
stands out is Dyogenes Chaves, who is the articulator and organizer of the Dicionrio das Artes Visuais na
The number of collectives in Fortaleza is noticeable. The artists appear to use them as part of a strategy
Paraba [Dictionary of Visual Arts in Paraba], available at the website <artesvisuaisparaiba.com.br>. Ener-
for strengthening access, the making of and interchange or simply for dialogs. I spoke with collectives
gisa arts center provides training and disseminates the local output. The Contemporary Art Department is
operating very precariously. Espao Cultural Jos Lins do Rego [Jos Lins do Rego Cultural Space] is also
106 | 107
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
experiencing great difficulty. The art gallery owned by the municipality of Joo Pessoa is operating at the
a school which offers vocational courses in visual arts and a teachers license program. A survey with the
space called Casaro 34, which has exhibited contemporary art in the city.
current regional references of the artistic output is available. Just like Fortaleza and Natal, some artists
have been taking the distance learning course of a certificate program called Artes Visuais: Cultura e
In Campina Grande, my first encounter took place at the auditorium of Museu Assis Chateaubriand
[Assis Chateaubriand Museum] and some 30 people attended. The exhibition facilities of this museum are focused on contemporary art. The next day, I went to UFCG [Federal University of Campina
In Teresina, I presented the Rumos program at Casa de Cultura [Cultural House]. More than 20 people at-
Grande] and spoke with the students. The contemporary art output in the town of Campina Grande is
tended, most of them were students of the art education program who were preparing to be art teachers. Luiz
focused on video-making and comics. The A Margem journal, volume 2, number 11, has an article au-
Gustavo Sousa de Carvalho (a.k.a. Gustavo So Jorge) requested a few minutes to report that the state of
thored by Jhsus Tribuzi which examines the audiovisual works produced throughout the art and media
Piau was planning to hold a Biennial. Nevertheless, the exhibition spaces and equipment in general are precari-
course, and singles out the emphasis put on the teaching cinema in the course and the substandard level
ous and poorly cared for. The Casa de Cultura, with exhibition spaces in various rooms, confronts infrastructure
of the facultys education and output. The course has been delivered for ten years and the faculty is now
problems to showcase artworks. The Salo de Teresina [Teresina Salon], in its 17th edition, follows a quite tra-
ditional format and gives out puny awards. Meanwhile, the collection of the Museu do Estado Odilon Nunes
[Odilon Nunes State Museum] includes pieces ranging from the colonial period until the present time. The new
I present here the position of Jlio Leite, an artist who is active in town and whose site specific had been
administration is promoting exhibitions of contemporary art and redesigning its museographic project.
displayed at the Galeria Cilindro [Cylinder Gallery] since 2004 until the previous edition of Rumos. The
gallery consisted of the outside walls of a cylinder-shaped automatic teller machine of Banco do Brasil
at Clementino Procpio Plaza. The artist cannot say who eventually authorized the removal of the teller
is a space for dialog and education of contemporary artists in Teresina. Focused on dance and perfor-
machine from the location, which terminated the project. He stated, it was good while it lasted, even
mance, Ncleo offers video workshops, carries out a residency program and promotes shows. I would
by having a marginal existence with no legitimate approval of the banking institution. Sometimes its
like to draw the attention to Oficina de Pensamento [Thinking Workshop], which has been held since
good to be marginal to be on the margin of the dominant status and carry out a good set of actions
2010 using works in progress as its foundation. In 2011, we found a text in the Ncleos blog explaining
that provide the art world with a well-written page. To create a circuit in this hinterland with the Galeria
that the workshop is an exercise in producing knowledge based on what each one knows, with what
Cilindro was really cool, given that many artists believed in the proposition and sent works to the facil-
one comes across, on where one is and what one is doing. Most of the young artists who I spoke with
ity mentioned (Paulo Bruscky, Vania Mignone, Regina Silveira, Guto Lacaz, Carmela Gross...). As to
in the city and who express a contemporary poetic have, in some way, attended the Ncleo do Dirceu.
Rumos, it is a tired and repetitive formula. It does not offer any ruptures or indicate possibilities that
could break away from the mainstream of commercial art so much so that the Galeria Cilindro was not
Out of the exhibition spaces found in the city of Natal, only the Ncleo de Arte e Cultura [Art and Culture
Center] at UFRN [Federal University of Rio Grande do Norte] maintains a regular program of exhibitions and also promotes a call for submissions that ensures year-round use of its facilities. The gallery of
For four years, Sousa has also had a branch of the CCBNB. It is really striking to see the difference it makes
Fundao Cultural Capitania das Artes [Capitania das Artes Cultural Foundation] and Pinacoteca do
to have equipment focused on contemporary art, which also organizes and supports the output. A town
Estado [State Pinacotheca] are experiencing a deep crisis, with difficulties in their physical and administra-
with just over 60 thousand people shows this unit of CCBNB on the top of the list of those with the highest
tive structures. Centro Cultural Casa da Ribeira [Casa da Ribeira Cultural Center], which is that which has
attendance at its activities. The great need of interchange is mirrored in the works made by the local artists.
truly remained focused on contemporary art among the existing spaces, has shrunk its physical space for
exhibitions and has been unable to maintain a steady flow of exhibitions. Meanwhile, the art department at
In So Luis, the capital of Maranho state, both contemporary art education and output is quite limited.
UFRN opened an exhibition space in 2012. In the northern region of the city we can also find the Complexo
Sesc, which hosted the portfolio workshop, is still the best exhibition venue in the city. At the time of my
Cultural de Natal [Natal Cultural Complex], as part of Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
visit, the II Salo de Artes Visuais do Maranho [2nd Visual Arts Salon of Maranho] was being installed.
[State University of Rio Grande do Norte]. It holds a gallery, yet unfortunately, does not have a regular pro-
It is run by the Fundao Municipal de Cultura [City Cultural Foundation] and organized by people
gram. The Salo de Artes Visuais da Cidade de Natal [Visual Arts Salon of the City of Natal], which held
hired for this purpose only, because neither the state nor the municipal governments have a specific
its last edition in 2009 after 13 straight years of shows, announced a new call for submissions in late 2011,
body dedicated to the visual arts. Concerning education, the IFMA [Federal Institute of Maranho] runs
although the municipal government has been facing serious administrative, ethical and financial problems.
108 | 109
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
The good news about Natal is that fresh air is blowing into the arts department at UFRN with the coming of
temporary art piece that probably would not be selected for Rumos, but one that effectively breathes
new professors and the implementation of an industrial design course. Professor Fbio Oliveira, who left the
school, created the Dez Dimenses: Dilogo em Rede, Corpo, Arte e Tecnologia [Ten Dimensions: Dialog
in Network, Body, Art and Technology] project. This is an inter-institutional project under the leadership of
What would happen if Rumos, as unique in Brazil as it is, moved away from the traditional salon format
UFRN conducted together with UFPB, IFRN and Fapern [State of Rio Grande do Norte Foundation of
and targeted actions on other objectives set? And not only on dissemination. The mapping outcome
Support to Research] comprising ten meetings spanned ten months and alternating between Natal and
could be maximized by means of actions capable of mobilizing various agents of the art system (cu-
Joo Pessoa. Additionally, other actions should also be taken into account, such as that of Laurita Salles,
rators, artists, critics, installers and producers) in cities and towns with output potential. In this sense,
who implemented a project with her class at CBTU [Brazilian Company of Urban Trains] that resulted in a
graphic and media intervention linking Natal and So Paulo (as part of the event SP Estampa).
Coletivo de Diretores ES3 [The ES3 Directors Collective] (composed of Andr Bezerra, Chrystine
Silva, Felipe Fagundes and Yuri Kotke) is a group of performers who organize the BodeArte Circuito
SANZIA PINHEIRO BARBOSA holds a BA in educational theory and practice, has taken a certificate program
Regional de Perfomance [BodeArte Regional Performance Circuit], which included artists from several
in philosophy and holds an MA in social sciences from UFRN. She was a substitute professor at UFRN in the period
Brazilian states in its second edition in 2011. For ES3, the event emerged with a focus on mapping the
of 2002-2004 and a member of the National Funarte Network-2007, in Boa Vista, Roraima. She coordinated the
bodies performing in Northeastern Brazil in order to establish a self-awareness network. After the event,
Salo de Artes Visuais da Cidade de Natal [The Visual Arts Salon of the City of Natal] (9th and 13th editions).
the collective has traveled across Brazil presenting the result of the mapping (Tubo de Ensaio da UNB,
She is a member of the Colegiado de Artes Visuais [Visual Arts College] (representing the Northeast). She has
coordinated a number of arts residency programs and intervention projects, including PANORAMA 8.0, 2004; VI-
the Hemispheric Performance Institute], in Mexico. In Natal, a new contemporary output of meaningful
SUAIS-2005; DENcidade-2007 (Conexes Artes Visuais [Visual Art Connections] MinC/Funarte); two editions
of PROSPECTA 2008-2009 (which are part of the Rede Nacional de Artes Visuais [National Visual Arts Network]
MinC/Funarte). Alongside artist Jean Sartief she contributed to the Fermentaes Visuais weekly column, pub-
In Mossor, the meeting with the local artists took place at Biblioteca Pblica Ney Lopes [Ney Lopes Public
lished in the Tribuna do Norte newspaper, from 2007 to 2009. She also wrote texts published in the catalogs of Projeto
Library] and 15 people showed up. After my talk, questions were raised about the criteria for the call for
Trip [Tripod Project]/2008 Sesc, the 10th Havana Biennial, 2009, and the Porto Santo Biennial, Portugal, 2007. She
submissions and how it has evolved since 2000. The city has what is known as its cultural corridor, which is
was the coordinator to the visual arts department at Fundao Cultural Capitania das Artes from 2009 to 2010.
a complex comprising a public library, a theater and a gallery with lighting facilities suitable for presenting
two-dimensional works. A photography exhibition was on show but poorly cared for, some of the works
were falling. What little movement there is in the field of the visual arts is provoked by the artists themselves.
They are the ones who organize exhibitions, events and mobilize institutions around their projects.
We go back to the question: Which institution in Brazil has this mapping of contemporary output from
In the past four years, the artistic landscape of the Northeastern Region 2, comprising the states of
the past ten years? For a program that seeks to map, foster, educate and disseminate the emerging
Alagoas, Bahia, Pernambuco and Sergipe, has expanded its boundaries by means of concrete actions
young artists of this country, perhaps actions in the cities focused on training, mapping and fostering
aimed at consolidating the supply of art education, exhibition circuits and discussion forums. Each state
has quite heterogeneous realities and territorial situations in which it is necessary to consider broader
cultural territorial contexts, as well as traditional legal-administrative circumscriptions. My visits followed
There are a number of artists living in towns with populations of little more than 60 thousand people who
ten itineraries designed according to the territorial and cultural realities from which an artistic output in-
are in tune with the contemporary output. Emergence in the realm of science is a nature process that is
corporating elements and dynamics of their own could be sampled. Apart from Aracaju, Macei, Recife,
not at all linear. New developments arise from small at times insignificant and random interactions.
Salvador and the most populous towns, I selected an additional 18 locations. Altogether, a total of 28
Something emerges when a system produces more than the input. This is to recall those artists who are
cities were visited, nearly three times the number of visits of the previous Rumos program.
able to make art that is different from everything being exhibited in the city. The dissonant voice, a con-
110 | 111
invitation to a journey
traveling viajantes
curators
curadores
The growing consolidation of the Brazilian contemporary art has diverse impacts, both on the international art
On the one hand, the few initiatives of shows, education and discussion in Macei arise from the Pinaco-
market and on the local Brazilian market structure. The visibility of artists from the Northeast derives from this
theca at UFAL [Federal University of Alagoas]. In Aracaju, on the other hand, the main driving force back-
process. In the metropolitan areas of Salvador and Recife, it is possible to recognize more or less consolidated
ing the contemporary art output is the Sociedade Semear [Semear Society], which organized the I Salo
routes that serve as channels interfacing with the local output and the national and international spheres. Ara-
Semear de Arte Contempornea [1st Semear Salon of Contemporary Art] and the Artes Visuais Sergipe:
caju and Macei are strongly dependent on these broader landscapes for they only have isolated initiatives for
Conexes [Sergipe Visual Arts: Connections] project in 2010. Nonetheless, the artistic output outside of
local promotion aimed at improving the educational framework and enhancing the visibility of artists. Outside
the capital cities, both in Alagoas and in Sergipe, is very incipient and strongly marked by handicrafts.
the capital cities, however, the regional dialog is minimal in the best of cases it is limited to the promotion of
a few events with scarce long-lasting lines of action and little focus on the critical-reflectional thinking.
In Bahia, in view of the scarcity of private initiatives for artistic promotion, it is important to highlight the
role played in recent years by the State Secretariat of Culture (Secult) in the planning, administration
On a global level, there are several efforts geared to strengthen international exchanges, some of which
and promotion of different programs, spaces and resources. Despite the dominant role of Salvador, the
spanning more than ten years, like the programs of Fundao Sacatar [Sacatar Foundation], in Itaparica,
various achievements of the art output in Bahia resulting from the Sales Regionais de Artes Visuais
and other more recent ones, such as the Made in Mirrors project, which is based on partnerships be-
[Regional Salons for the Visual Arts] and the Bienal of Recncavo [Recncavo Biennial], held since
tween Pernambucan, Dutch, Chinese and Egyptian institutions. Other expansion initiatives include
1992, have been taking place at the same time when important efforts have been made to introduce
awarding artists residency programs and the broadening of academic exchanges by visual arts courses
the Bahian artists in the international market by means of collaborations with events such as the Trienal
de Luanda [Luanda Triennial] and the Bienal de Havana [Havana Biennial]. There is an urgent need to
revive the Bienal de Artes da Bahia [Bahia Art Biennial] and to create new platforms for national and
On the regional and national level, the initiatives are still fragmented, although partnerships, traveling
international dialogs, particularly for an exchange with the Latin American and African contexts.
and exchanges have been promoted as an appendix of large events such as Prmio Marcantonio Vilaa
[Marcantonio Vilaa Award], Rumos program of Ita Cultural or the 29th So Paulo Art Biennial. Nev-
Among the private initiatives and particularly outside the large urban centers, Galeria Arte & Memria
ertheless, the formation of public collections of contemporary art is nearly non-existent. Similarly, the
[Art & Memory Gallery], created in 2002 by fine artist Marcos Zacarades, is an important example and
Museums of Modern Art of Recife and Salvador, Fundao Danemann de Cachoeira [Danemann de
a good demonstration of the transformating power of art over a community. In the small village of Igatu,
Cachoeira Foundation] or the Museums of Contemporary Art of Feira de Santana and Olinda, which
hidden in the mountains of the Chapada Diamantina and with some 380 inhabitants, no bank, pharmacy,
have strategies for periodic acquisition or have their own exhibition spaces, hardly ever communicate
supermarket or public transportation, it is no exaggeration to say that Zacarades does get blood out of a
with each other to implement exchange programs and host exhibitions encouraging a discussion on the
stone. Considering the situation, he can be called the first prospector-curator because he created a com-
munity benchmark comparable to the businessman Bernardo Pazs initiative with Instituto Inhotim [Inhotim
Institute], in Minas Gerais. In Igatu, Zacarades built a museum and a contemporary art gallery in the middle
Private initiatives are even scarcer, given that the few galleries in the region only establish a dialog (when
of the ruins of old stone houses. With this initiative, the residents of the village and Zacarades have been
they participate at all) with the large Brazilian or international markets, thus giving no chance for regional
able to build up a collection of utensils used by prospectors from the 1930s to the 1950s. Among the ruins
gatherings, that would offer an intermediary alternative between the national-international and the local.
of the old hideaways and housing of the prospectors, there is a garden with contemporary sculptures and
pleasant areas for relaxing with a store and caf. In physical terms, the complex is an example of a joint ef-
On a micro-regional scale, the possibilities are more elliptical, with a great difference of opportunities
fort between environmental, cultural and architectural heritage and a project for social, economic, touristic
among the four states. Salvador and Recife are the main points of reference, intermediation and proposi-
and cultural sustainability. From the social and cultural perspective, the center is the main hub and driving
tions in the region bringing about continuous impacts on their own states and in Alagoas and Sergipe.
force in the region. The temporary gallery holds two-to-three-month shows with a permanent attendance
The main centers of reference and promotion of contemporary art are the Museums of Modern Art
averaging 2 thousand visitors per exhibition, thus attracting most of the tourists visiting the region.
(MAM-BA in Salvador and Mamam in Recife). It is necessary, however, to reconsider the possibilities
for physical expansions that can ensure both institutional growth as well as their intrastate reach and
Compared to Bahia, Pernambuco can be said to have an artistic community that is more independent
interlocution. Both institutions have excellent partnerships and projects on a national and international
of the state government and also that the artistic output and discussions are more consistent towards
level, but have limited influence within the community of artists in each state.
building art-oriented actions. Institutions like Fundao Joaquim Nabuco [Joaquim Nabuco Founda-
112 | 113
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
tion] and private galleries, like Amparo 60, Dumaresq and Mariana Moura, play a major role in turning
the cultural institutions, such as Caixa Cultural, Santander, Sesc, Correios, Cervantes, Alliance Franaise,
the spotlight on emerging artists and promoting them not only by putting up shows but also by giving
ICBA, ACBEU and so forth. By doing this, investments in education will not be written off in view of the
encouragement or following up on publications, like the Tatu magazine or the Massangana publishing
house. The most traditional competitive space is Salo de Artes Plsticas [Fine Arts Salon], organized
by Fundao do Patrimnio Histrico e Artstico de Pernambuco [Foundation for the Historic and Ar-
Regarding to the issue of artists education, there are at least two other relevant factors: the role of regional
tistic Heritage in Pernambuco] (Fundarpe) and held since 1942. Since 2005, however, UFPE has also
art critics and access to bibliographic material, in addition to the electronic references. The press in the
organized a similar salon aimed at stimulating the emerging output, the outcome of which has been very
region still shows little interest in the art world. News about art is often mingled with social columns or
just limited to press releases. By and large, art critics do not have a fixed space to promote a debate and
inputs that could last more than the ephemeral openings or cocktail parties at the vernissages. However, it
One of the focuses of the mapping is on the impact of government educational strategies in Brazils
is important to highlight the role of Pernambucan publications, such as the Tatu magazine or the editorial
North and Northeast. Some strategies from the Ministry of Education combined with investments for
line adopted by Fundaj [Joaquim Nabuco Foundation], as well as journals and periodicals from graduate
the restoration of architectural heritage, such as those in Cachoeira, Laranjeiras and Penedo, have trig-
programs at the federal universities, whether printed or online although the latter is strongly related to
gered new debates on contemporary art and are contributing to disperse the artistic activity from the
the publication of academic researches to meet the productivity criteria required by Capes [Coordina-
capitals. In most of these cases, although the discussion and the contemporary art output are still in the
tion for the Improvement of People of Higher Education] than to reviews of contemporary artworks. The
early stages, attention should be drawn to the new relations built with the incoming students from dif-
deficiency of art-specialized libraries that are up to date with contemporary works is somehow offset by
ferent parts of the country. This favors the renovation of repertoires and the consolidation of exchange
the consolidation of chain bookstores (Saraiva and/or Cultura in the capitals) and those specialized in the
networks, thus bringing about the appearance of new protagonists in addition to the dominant mac-
arts (like Galeria do Livro, in Salvador). On the one hand, the phenomenon of the large bookstore chains
rocephaly found in the capital cities of Salvador and Recife. In other locations, such as Lenis, Rio de
serves as a stopgap considering the shortage of public and private institutional supply, whereas, on the
Contas, Porto Seguro, So Cristvo and Marechal Deodoro, nature-focused and cultural tourism have
other hand, it homogenizes the supply of reading material that are more or less updated and discourage
attracted a seasonal audience that stimulates a handicraft-oriented art output. This, however, can also
offer new horizons to contemporary art, provided that investments are made in training and promoting a
continued art discussion to overcome folkloric concepts of dubious quality and pasteurized symbolisms
Based on the foregoing reasons, it should be emphasized that, more than quantitatively and systematically
listing the elements that make up the current art landscape in the Northeastern Region 2, and beyond
identifying a list of names and institutions that contribute to the art-related debate, this mapping focused
In this sense, the undergraduate and graduate art courses, whether public or private, are major points of
on reading through the contexts and processes forming the backdrop of the contemporary output and its
regional attraction. Despite the existence of older art courses (for example those at Ucsal [State Univer-
different levels of circulation, fruition and reflection. After this experience, despite the needs and difficulties
sity of Health Sciences in Alagoas], Unifacs [Salvador University], Unijorge [Jorge Amado University
mentioned, I can state that the overall picture is optimistic as the region has many seeds for future travels.
Center]) or the rise of new ones like those at Aeso [Barros Melo Integrated Colleges], in Olinda; UFRB
[Recncavo da Bahia Federal University], in Cachoeira; and Univasf [Federal University of the So Francisco Valley], in Juazeiro the Escola de Belas Artes [School of Fine Arts] (EBA) at UFBA [Bahia Federal
University] and UFPE [Pernambuco Federal University] are the only institutions to have bachelors de-
ALEJANDRA HERNNDEZ MUOZ is an architect with a masters degree in urban design and a doctors de-
gree programs in arts. That of UFPE was recently implemented and turns out an alternative to the private
gree candidate in urbanism at FAU [College of Architecture and Urbanism]/UFBA [Federal University of Bahia].
course at Aeso, in Olinda. EBA, the second oldest in the country with nearly 135 years of history, plays an
She was born in Uruguay, but has lived in Salvador since 1992. She was a substitute professor of architecture history
important role in the continued education of new artists. In recent years, though, the institution has been
and theory at FAU/UFBA from 1998 to 2001. Since 2002 she has been a professor of art history at EBA/UFBA
quite inactive and attracted criticism regarding follow-up of and contribution to an effective output of
and responsible for contemporary art history`s discipline. She has been working as a curator, art critic and also as a
contemporary art. It should also be pointed out that, in the past four years, the educational departments in
member of jury panels and committees in the fields of art and architecture.
some institutions have significantly expanded. Nevertheless, the mindset behind the calls for submission
needs to be rethought and the resulting outcomes should be reinforced for an improved programming at
114 | 115
curadores viajantes
REGIO norte
muitos dilogos.
A Amaznia um todo heterogneo que abriga complexidades. Sua biodiversidade e seu cotidiano to
cheio de saber proporcionam um ambiente subjetivo. E os muitos lugares desse lugar exigem leituras
espontneas possveis apenas com a vivncia e o contato com esse ambiente. Acredito na importncia
de conhecer, e apreender o interior do lugar cotidiano, esse lugar que comum para os seus habitantes
e onde se estabelece um vnculo afetivo.
Paulo Herkenhoff diz que uma tarefa da arte na Amaznia a violentao da violncia que ocorre na regio
(Herkenhoff, Paulo. Amaznia, A Arte, Rio de Janeiro: Imago, 2010. p. 96) e eu complemento: para entender
essa complexidade, temos de nos preocupar cada vez mais em entender os dados brutos, os movimentos
socioeconmicos que regem com novas regras os mercados cientficos e artsticos. O artista da Amaznia
depositrio de uma herana cultural e de valores; tambm testemunha cotidianamente uma experincia dramtica e perversa. Como conciliar desenvolvimento, respeito s populaes tradicionais (ndios, ribeirinhos,
quilombolas e outros grupos), ecologia, sustentabilidade, progresso, conhecimento, justia social e geopoltica?
Com esse desafio lancei-me na Regio Norte. Observei do alto do avio a dimenso da floresta e, ao adentrar esses espaos, compreendi o conceito de inferno verde, empregado por Euclides da Cunha em sua
obra O Paraso Perdido, Ensaios Amaznicos em que faz uma aluso s difceis condies de vida na floresta.
116 | 117
curadores viajantes
Os artistas tm uma intimidade com o valor simblico do lugar. Verifiquei a diversidade cultural de
caipira e desbotado, o vestido de plstico, o louro de loua, o piso de tacos e uma imensa faixa de balas;
tempos para l de assincrnicos e a floresta ditando suas regras. No entanto, o Acre no Belm, e no
talvez tentem apontar as incongruncias do nosso Brasil, de nossa Amrica Latina. Em outro momento
no trabalho Quando Todos Calam (2009), Grande Prmio do Arte Par, a artista inscreve seu corpo nu
faz fronteira com a Guiana Francesa e a migrao de ritmos incrvel. Cada vez mais o borramento
na paisagem do Mercado Ver-o-Peso. Deitada sobre uma toalha branca de renda, com vsceras sobre o
A Amaznia hoje no mais uma simples fronteira de expanso de foras exgenas nacionais ou internacio-
Eder Oliveira se apropria de imagens publicadas em jornais, de pessoas vitimadas pela violncia, margi-
nais, mas sim uma regio no sistema espacial nacional, com estrutura produtiva prpria e variados projetos de
nais, para assim pint-las em grandes dimenses numa proposio de interveno pictrica aplicada em
diferentes atores. A sociedade civil passou a ser um ator importante, tanto na zona rural como na zona urba-
na, especialmente por suas reivindicaes de cidadania, que influem at mesmo no desenvolvimento urbano.
As estratgias de insero e circulao de muitos desses artistas paraenses vm sendo concebidas por
Belm a cidade que alimenta contornos gigantescos quando falamos em Amaznia, sendo esse lugar
curadores e crticos, que legitimam a consistncia de seus trabalhos que, a meu ver, tm de seus territ-
fragmento urbano na floresta. a capital mais antiga da Amaznia, e tem seu posto de me por ter sido
a primeira poro de terra em meio floresta em que os colonizadores aportaram e na qual se fixaram.
O lugar sempre despertou interesse de pesquisadores, naturalistas e botnicos.
Dessa forma, pensar a arte contempornea enquanto fator social do fenmeno humano considerar
a existncia de prticas humanas como um fazer artstico, atravessando campos reflexivos da filosofia,
No Par, como em toda a Amaznia, histria e imaginrio se entrelaam, se aliam, se integram com as
das artes e das cincias. Reafirmo que, aplicar essa reflexo realidade paraense-amaznica, vai muito
margens de um mesmo rio cotidiano. Acredito que a arte do Par inventa estratgias que atravessam o
alm das teorias propostas, pois o pensar de quem habita, de quem mora, de quem permanente e
fazer artstico com um forte acento conceitual. A alma visvel amaznica est no convvio nacional e inter-
contnuo que vai ensinar e mostrar o produto imaginrio a quem visita, a quem chega, a quem cir-
nacional da produo artstica de alguns profissionais que foram influenciados pelo convvio com os artistas
cunstancial. Nesse campo de relaes, a arte na Amaznia valoriza e transforma, cria um duplo movi-
Joo de Jesus Paes Loureiro, Emannuel Nassar, Luiz Braga e Osmar Pinheiro, que nos anos 1980 pensaram
mento pelo qual o novo surge sem destruir o antigo. Est inserida na paisagem ps-moderna e provoca
e utilizaram em seus trabalhos elementos classificados por alguns de visualidade amaznica. Porm, no
catlogo Arte Par 2005, Herkenhoff alerta os artistas emergentes contra a burocratizao do olhar e sobre
uma regio multifacetada em si. Como muito bem disse Milton Santos em entrevista no livro Encontros:
Daqui ou do Congo, posso pensar o mundo como um todo. Produzir um conceito, uma ideia e um
classifica de suicdio. Um fator relevante do desprendimento dessa atitude cultural foi a criao da Fotoativa
sistema de mundo. No mais o nacionalismo anterior. produo da ideia de mundo que tem base no
na dcada de 1980. Os artistas passaram a ampliar seus repertrios, sem se restringir apenas regio.
territrio e da minha cultura. (SANTOS, Milton. Encontros (Org. Maria ngela Faggin Pereira Leite).
So Paulo: Azougue, 1999. p. 133)
Ressalto aqui, dentre muitos outros artistas, Flavya Mutran, Armando Queiroz, Alexandre Sequeira,
Paula Sampaio, Walda Marques, Orlando Maneschy, Alberto Bitar, Miguel Chikaoka, Mariano Klautau,
Luiz Braga, Emanuel Nassar, Guy Veloso, que tm obras em acervos importantes e participam de mostras nacionais e internacionais, alm de bienais. E na gerao emergente: Melissa Barbery, Roberta
Carvalho, Luciana Magno, Victor de La Roque, Berna Reale, Daniele Fonseca, Keila Sobral, Murilo
Rodrigues, Carla Evanovitch, Lucia Gomes, Joo Cirilo, Elaine Arruda, Eder Oliveira, Michel Pinho,
A regio de Marab tem algo de excepcional. Ser que pela vista de cima que mostra o ponto de en-
entre outros, operam com seus campos que abarcam questes polticas, sociais, histricas e, em algumas
contro entre dois grandes rios, Tocantins e Itacaiunas, formando uma espcie de y no seio da cidade?
situaes, de gnero.
Ser que pela oportunidade de entrar em contato com culturas diversas, pois uma cidade de grande
miscigenao de pessoas e culturas, que faz jus ao significado popular do seu nome: filho da mistura?
As performances de Berna Reale, orientadas para a fotografia em alguns recortes, constroem uma ima-
Ou, ento, porque a cidade tambm conhecida como Cidade Poema, pois seu nome foi inspirado no
gem austera da mulher, condecorada com balas em um ambiente ambguo. O tecido de um exotismo
118 | 119
curadores viajantes
Visitei o Centro de Cultura Negra, o Teatro das Bacabeiras, o Centro Cultural Franco Amapaense,
paraense e microrregio homnima, e situa-se ao sul da capital do estado, distando desta cerca de
o Curia e o Marco Zero, que nos coloca ao mesmo tempo nos hemisfrios Norte e Sul do planeta.
500 quilmetros. Hoje, Marab interligada por trs rodovias ao territrio nacional (BR-222, BR-230 e
Conheci o grupo Urucum e foi interessante ouvir dos artistas a importncia do curso de artes visuais
Atualmente, o municpio o quarto mais populoso do Par, contando com aproximadamente 250 mil
habitantes, segundo o IBGE/2010. o principal centro socioeconmico do sudeste paraense e uma das
cidades mais dinmicas do Brasil.
Decolo de Belm para o Acre Rio Branco e no imaginava que fosse um percurso to longo. E logo
vi a exuberncia da floresta.
O Galpo de Artes de Marab um ponto de cultura importante que promove aes voltadas para a
cultura do povo marabaense. L, fui recebida pela Associao dos Artistas de Marab, uma das entida-
O Acre o centro da pan-amaznica, est integrado aos demais estados do Brasil, Bolvia e ao Peru.
des culturais mais atuantes do municpio. Entre os artistas que conheci, destacam-se: Antnio Botelho
Assim, num raio de 750 quilmetros, vivem 30 milhes de pessoas de diferentes culturas. Estava cons-
que apresenta uma pesquisa interessante com tbuas de cortar carne e suas marcas; Teresa Bandeira,
ciente de que pisava num solo de 16 milhes de hectares de floresta tropical, com a maior biodiversidade
que resgata utenslios de sucatas, lixes e refugos da vizinhana para usar como suporte para suas pin-
do planeta, e que, curiosamente, metade de seus 700 mil habitantes vive na floresta, dos quais 15 mil so
turas, sempre ilustradas rudemente por textos extrados de passagens bblicas e de casos peculiares do
cotidiano vivenciados pela artista. No dia seguinte, visito a Galeria Vitria Barros e me deparo com um
grupo significativo de artistas.
As comunidades se organizam a partir de uma produo familiar que utiliza o rio como principal meio de
transporte e a prpria floresta como fonte de alimentao. Esse fato gera conflitos por posse de terras e
Decolo de Belm para Santarm. O Amazonas se revela diante de mim. O primeiro dia sempre reser-
vado para visitar a cidade para de alguma forma associ-la com a produo dos artistas.
Um fato interessante que os artistas em sua maioria foram estudar na Faculdade de Belas Artes em Cuzco,
Na Amaznia costuma-se falar que o rio a rua. Olhando o Rio Tapajs confirmo o que disse o poeta,
no Peru. Esse processo provoca interferncias culturais na produo contempornea dos artistas. Ueliton
pois ali se transportam vidas, mercadorias e sonhos. Barcos pequenos se misturam com outros maiores
Santana um deles, e isso visvel em seus trabalhos. Ele afirma estar contaminado pela mistura de culturas.
Faz telas grandes que depois de prontas so levadas para a floresta. Orienta a ao para a fotografia e diz
que esse ato uma extenso em que pintura e floresta se aliam e se complementam. Enquanto Jean Carlos
Santarm uma cidade encantadora com sua orla elegante de barcos novinhos. Segundo o ltimo senso, a
faz pintura e objetos voltados para o escorrismo, termo usado pelo artista para afirmar o comprometimento
cidade tem mais de 300 mil habitantes e est em pleno crescimento. Tem vrias faculdades, hotis e pousadas.
com o ecossistema. Lucie Schreiner faz uma gravura bem expressiva que narra suas memrias.
Conheci Egon Pacheco um artista que busca matrizes em toras de madeira apreendidas pelo Ibama,
Depois conheci a usina, uma antiga fbrica de castanhas. O lugar foi todo adaptado para os cursos de
criando novas maneiras de imprimir sua gravura, que ganha uma dimenso poltica sobre o desmata-
artes visuais, teatro, cinema e msica. A estrutura incrvel e os projetos desenvolvidos so dinmicos,
mento ilegal , alm de um grupo de artistas: Cicley Arajo, Marcio Desencourt, Adrion Denner, Elvis,
Edu Costa e Moiss de Vasconcelos. Fiquei animada com a qualidade dos trabalhos que dialogam com
tstica, com a histria e com a memria mexeu comigo, fui afetada por campos de fora que me fizeram
cortada pela linha do Equador? Verifico que a nica capital estadual que no possui interligao
reencontrar a identidade amaznica; aprendi lies importantes como a delicadeza do detalhe, o ouvir
por rodovia a outras capitais. Vem se destacando entre as capitais brasileiras pelo rpido cresci-
o silncio, alis, escutar o movimento natural do dia, alm de preservar e promover a vida dos seres que
mento econmico-populacional que j registra segundo o ltimo senso mais de 5 mil habitantes
fazem a diferena no planeta. A experincia do Rumos mpar porque nos faz ver as singularidades dos
na regio metropolitana.
locais, nos faz exercitar a acuidade do olhar em que o outro sempre parte integrante.
120 | 121
curadores viajantes
Decolo de Belm para Braslia, para Manaus e finalmente para Porto Velho, capital de Rondnia, conhe-
outras. Ao cruzar as paisagens de Manaus com as da ustria, a artista evidencia as diferenas entre seu
cida como a cidade de todos, e que atualmente mais recebe investimentos em infraestrutura.
No SescRO, o encontro foi produtivo, porm poucos artistas estavam com o propsito voltado
Partida para Boa Vista, capital do estado de Roraima. Situada no Hemisfrio Norte, a cidade limita-se
para a arte contempornea. O pblico presente em sua maioria era arteso e estava ali mais por
ao norte com os municpios de Normandia, Pacaraima e Amajari; ao sul, com os municpios de Mucaja
curiosidade. No decorrer da conversa, eles foram compreendendo que seus trabalhos no comun-
e Alto Alegre; a leste, com os municpios de Bonfim, Cant e Normandia; e a oeste, com o municpio de
J o trabalho de Flavio Dutka, pinturas e desenhos, tem uma ressonncia com as questes do lugar,
Fui ao Palcio da Cultura, onde um grupo bem diversificado de estudantes de artes visuais, artesos,
cria um lcus para a reflexo. Observo uma ausncia do homem nas paisagens fortemente marcadas,
msicos e artistas visuais j me aguardava. Entre os presentes, registramos Andrea Siqueira, Renato
porm, com um signo forte de que esteve ali. Outra artista a fotgrafa Clotilde Peruffo. Seu olhar se
Jos, Edinei Sousa, Cludio Laul, Sandra Costa, Mrcio Sergines, Srgio Barros, Carmezia Emiliano,
d num devir constante em busca de um registro de uma cidade desconstruda que resolve nos contar
Rosngela Costa, Neusa Borges, Cludio Silva, Jlio Barbosa e Raimundo Chacon e Renato Costa.
o que viu em suas andanas. Essas imagens revelam um cotidiano mais fragmentado de cidade urbana,
construda entre o espao pblico como paisagem e o espao privado da intimidade de cenas corriquei-
Edinel Pereira, apresentava uma exposio individual intitulada Da Natureza ao Homem, no Espao
Centro Multicultural, na Orla Taumanan. Visitei a mostra e constatei um trabalho que utiliza uma diver-
Conhecer Porto Velho me fez concluir que realmente uma cidade de todos que, seguindo a premissa
da Regio Norte, sabe receber as pessoas. No encontro coletivo no Sesc estiveram presentes Wilson Lima, Ricardo Peres, Osmaildo Silva, Mikliton, Clotilde Peruffo, Wandes Leo, Gilson Guimares,
Embarco para Palmas e sigo para a Fundao Cultural de Palmas, onde os artistas j me aguardavam.
Deparo-me com uma exposio sobre os 22 anos da cidade e ali constato atravs dos documentos
que a populao protagonista na construo da cidade e na ocupao e apropriao de seus espa-
Parti de Belm para Manaus, capital do Amazonas. uma moderna cidade e tambm o ponto ideal
os. Os artistas presentes foram Marcos Dutra, Solange Silva, Claudio Montanari, Fernando Amaznia,
para partidas para o resto da Amaznia. Barcos deixam Manaus para ir ao Encontro das guas, onde
Marivaldo Alves, Cleo Arajo, Fernando Serrado, Jorge Maciel, Marcio Angelin, Murilo Freitas, Vera
as guas negras do Rio Negro encontram as claras guas do Rio Solimes, lado a lado sem misturar
Lcia Domingues, Marina Boaventura, Sandra Sorte, Tharson Lopes e Francisco Andrade.
suas guas. A cidade me lembra Belm pelo seu patrimnio arquitetnico e cultural, com numerosos
templos, palcios, museus, teatros, bibliotecas e universidades.
O encontro com as culturas e o fazer artstico das pessoas de cada lugar, os rios, a natureza exuberante
foi algo revelador, mas no sobra espao para uma viso romntica diante da dura realidade na Amaz-
Sigo para a Associao dos Artistas de Manaus, que fica prximo ao Teatro Amazonas. De l fui casa
nia. Os significados sobrepujam aos lugares, aos smbolos das cidades que por horas se perdem ou se
do artista Neleto, que mais parece um museu. Fiquei impressionada com sua produo que toma todo
o espao de uma maneira organizada. tarde fui Universidade Federal do Amazonas encontrar com
outro grupo de artistas.
VNIA LEAL MACHADO graduada em artes plsticas pela Universidade Federal do Par, especialista em
Confesso que a cena em relao arte contempornea em Manaus no foi muito animadora, princi-
histria e memria da arte e mestre em comunicao, linguagem e cultura pela Universidade da Amaznia.
palmente com os artistas da associao. A produo do grupo dos universitrios estava mais aquecida,
docente da Faculdade de Estudos Avanados do Par. No Projeto Arte Par coordena a ao educativa, editorao
com um dilogo mais aproximado. Interessante a produo dos grafiteiros e a obra em vdeo de Naia
do catlogo de artes e editora do encarte especial Arte Par, O Liberalzinho. Foi curadora do salo Universia
Arruda, numa performance em que aparece vestida como Miss Zebra em vrias situaes: andando
ARTE, em 2004 e 2005; do Projeto Banco da Amaznia do artista Odair Mindelo, 2010; e jurada de premiao do
numa trilha em meio neve da ustria, passeando por uma rua de seu bairro em Manaus, percorrendo
Salo Unama de Pequenos Formatos. Foi curadora de Flavya Mutran no Projeto Banco da Amaznia, em 2011, e
uma floresta s cegas, observando a jaula de uma ona no zoolgico, fazendo tapioca na cozinha, entre
122 | 123
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
by Euclides da Cunha in his work O Paraso Perdido, Ensaios Amaznicos, in which he alludes to the harsh
living conditions in the forest.
The artists have a close relationship with the symbolic value of that place. I looked into the cultural
diversity of over-asynchronous times and the forest dictating its rules. However, Acre is not Belm, and
identities are independent in Marab, located in Southeastern Par, and in Santarm, in the West of the
A fact of great relevance, and which permeates and guides many hybridizations and miscegenation in
state. Amap borders French Guyana and the rhythms migration is amazing. The blurring increasingly
the contemporary world, is that one that inquires about the role of the difference of cultures, identities
grows. Languages, cultures and identities mingle, thus enabling peculiar and special exchanges.
and subjectivities. This is a fertile ground for the contemporary artist, who dives in the experimentation
with objects, spaces, materials and dialogs that used to leave art aside. This artist lays it in a multiple field
The Amazon today is no longer a simple border for the expansion of international or national exogenous
of possibilities apparently destitute of methodologies or injunctions and lays it in the setting (place) like
forces, but rather a region within the national space system with its own output structure and various
poetics underlying the inductive making of an artwork. I believe that this setting, for being plural, requires
projects of different players. The civil society has become a major player, both in rural and urban areas,
an interpretation, an application-based effort, a desire to establish a relationship. The artist works the
particularly owing to their claims on citizenship, which impact urban development as well.
setting by means of the things and the people laid out in it. Within this context, in todays art realm, I
understand that the artists contact with different groups, with the human condition in everyday practices
Belm is the city that nurtures a gigantic skyline when we speak about the Amazon and this place is an
urban fragment in the forest. It is the oldest capital of the Amazon and is considered the mother place
for having been the first portion of land in the middle of the forest where the settlers landed and settled
In this regard, I bring light to the Amazonian landscape with its poetic, political and social elements. This
down. The place has always drawn the interest of researchers, naturalists and botanists.
setting so far away from the imagery of many people, even from its own inhabitants, is the element that
triggers many dialogs.
In Par, like the whole Amazon, imagery and history intertwine, form an alliance, are integrated into the
banks of the same everyday river. I believe that the art of Par designs strategies that interweave the mak-
The Amazon is a heterogeneous whole encompassing complexities. Its biodiversity and its day by day
ing of artworks with a strong conceptual accent. The visible Amazonian soul appears in the national and
extensively filled with knowledge offer a subjective setting. And the many places have to be read spon-
international experience of the artworks of some professionals who have been influenced by artists Joo
taneously and this can only be achieved by living in and making contact with that setting. I believe in the
de Jesus Paes Loureiro, Emannuel Nassar, Luiz Braga and Osmar Pinheiro, who thought of and used in
importance of capturing the inside of the everyday place and of knowing this place that is common to
their works elements classified in the 1980s by some people as the Amazonian visuality. However, in
the Arte Par 2005 catalog, Herkenhoff warns the emerging artists against the bureaucratization of the
eye and about the possibility of narrowing the Amazonian visuality down to easy academic parameters.
Pablo Herkenhoff says that one task of art in the Amazon is to violate the violence that takes over the
This is what he categorizes as a suicide. A relevant factor of the detachment from this cultural attitude
region (Herkenhoff, Paulo. Amaznia, A Arte, Rio de Janeiro: Imago, 2010. p. 96) and I add: in order
was the creation of Fotoativa in the 1980s. Artists began to broaden their repertoire without being lim-
to understand this complexity, our concern must be increasingly driven to the understanding of rough
ited to the region only. I call the attention here, among many other artists, to Francis Mutran, Armando
data, the socioeconomic movements that govern the artistic and scientific markets with new rules. The
Queiroz, Alexandre Sequeira, Paula Sampaio, Walda Marques, Orlando Maneschy, Alberto Bitar, Miguel
artist from the Amazon is a depositary of cultural heritage and values; he also witnesses every single day
Chikaoka, Mariano Klautau, Luiz Braga, Emanuel Nassar, Guy Veloso, whose works are included in main-
a dramatic and perverse experience. How to reconcile development, respect for traditional peoples
stream collections and who take part in national and international shows apart from the biennials.
(indigenous, riverside dwellers, quilombolas, and other groups), ecology, sustainability, progress, knowledge, social justice and geopolitics?
And in the emerging generation: Melissa Barbery, Roberta Carvalho, Luciana Magno, Victor de La
Roque, Berna Reale, Daniele Fonseca, Keila Sobral, Murilo Rodrigues, Carla Evanovitch, Lucia Gomes,
With this challenge I dived in the Northern Region. High up from the airplane, I gazed at the vastness
Joo Cirilo, Elaine Arruda, Eder Oliveira, Michel Pinho, among others, work within their fields that com-
of the forest and, when I stepped into those spaces, I understood the concept of green hell, employed
124 | 125
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
Berna Reales performances, more oriented to photography in some approaches, build an austere image
the mixture. Or, then, because the city is also known as Poem City, because its name was inspired in the
of the woman, distinguished with bullets in an ambiguous setting. The fabric of a faded and rustic exoti-
cism, the plastic dress, the ware parrot, the parquet block floor and an immense band of bullets; perhaps
they try to point out the inconsistencies of our Brazil, of our Latin America. In another point in the work
It is a Brazilian city located in the Southeast mesoregion of Par state and a microregion of the same
Quando Todos Calam (2009), Grande Prmio de Arte do Par [Grand Prize of Par Art], Reale merges
name, and it is located about 500 kilometers to the South of the state capital. Today, Marab is inter-
her naked body with the landscape of the Mercado Ver-o-Peso, a marketplace. She lies on a white lace
connected with the rest of the country by three highways (BR-222, BR-230 and PA-150), by air, rail and
towel with viscera placed on her belly, attracting vultures flying over eager for the meat.
inland waterway.
Eder Oliveira borrows images published on newspapers showing victims of violence, delinquents. He
Currently, the city is the fourth most populous of Par, with approximately 250 thousand inhabitants,
then paints them in large scale in a proposition of pictorial intervention displayed in strategic sites
according to IBGE/2010 [Brazilian Institute of Geography and Statistics]. It is the main social and eco-
nomic center of Southeastern Par and one of the most dynamic cities in Brazil.
The inclusion and circulation strategies for many of these Par artists have been designed by curators
The Galpo de Artes de Marab [Marab Shed of Arts] is a major culture site which promotes actions
and critics, who legitimize the consistency of their work which, in my point of view, present consistent
focused on the culture of Marabs people. There I was received by the Associao dos Artistas de
Marab [Marab Association of Artists], one of the most active cultural entities in the city. Among the
artists I met, the following single out: Antonio Botelho, who has an interesting research with meat cutting
This way, thinking contemporary art as a social factor of the human phenomenon is like considering the
boards and its brands; Teresa Bandeira, who recovers scrap utensils from landfills and waste from the
existence of human practices to be the making of art interwoven with inputs from philosophy, the arts
neighborhood to use in her paintings, always rudely illustrated with texts extracted from biblical passages
and sciences. I re-state that applying this thought to the Par-Amazonian reality is something that goes
and unique cases of everyday life experienced by the artist. The next day, I visited the Galeria Vitria
far beyond the proposed theories, for the way of thinking of the one who inhabits, who lives in, who is
Barros [Vitria Barros Gallery] and came across a significant group of artists.
permanent and continuous is what will teach and show the imaginary outcome to the one who visits,
who arrives, who is circumstantial. In this field of relations, art on the Amazon appreciates and trans-
I left Belm and headed to Santarm. The Amazonas [state] uncurtained before my very eyes. The first
forms, creates a double movement by which the new emerges without destroying the old. It is incorpo-
day is always set aside to visit the city so as to be able to somehow associate it with the artists works.
rated in the post-modern landscape and causes the dialectic between regionalism and universality, past
and future, identity and multiculturalism, anyway, a multifaceted region itself. As very well put by Milton
In the Amazon, it is usually said that the river is the street. Looking at the Tapajs river, I confirm what the poet
Santos in an interview in the book Encontros: From here or from Congo, I can think the world as a whole;
said for it is the way to transport lives, goods and dreams. Small boats mingle with bigger ones and intercon-
produce a concept, an idea and a world system. It is no longer the old nationalism. It is producing both
the idea of a territory-based world and my culture. (SANTOS, Milton. Encontros (Org. Maria ngela
Faggin Pereira Leite). So Paulo: Azougue, 1999. p. 133)
Santarm is a charming city with its stylish waterfront with brand new boats. According to the last census,
the city has more than 300 thousand inhabitants and has been growing steadily. It has several colleges,
hotels and inns.
I met Egon Pacheco an artist who makes woodblocks of logs seized by Ibama [Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources] and then creates new ways to make his prints. This is now
The region of Marab has something exceptional, should it be because of the top view showing the
acquiring a political nature owing to the illegal deforestation in addition to a group of artists: Cicley
meeting point of two large rivers, Tocantins and Itacaiunas, forming a kind of y in the midst of the
Arajo, Marcio Desencourt, Adrion Denner, Elvis, Edu Costa and Moiss de Vasconcelos. I was excited
city? Should it be because of the opportunity to come in touch with different cultures, since it is a city
about the quality of the works that dialog with the place and reach many others.
of great miscegenation of people and cultures, which explains the popular meaning of its name: son of
126 | 127
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
I arrived in Macap under hot sun, a different heat, and I wondered: would it be because the city is
with the contemporary art scene. They systematically bring researchers, artists from the South-Central
crossed by the Equator? I realized that it is the only state capital that is not interconnected with the
other capitals by road. It has been in a prominent position among the Brazilian state capitals for its fast
economic and population growth. The last census points to a population of over 5 thousand inhabitants
The fact of visiting Acre, meeting people, living with their unaffected manner, with their artistic output, with
history and memory really touched me. I was affected by force fields that made me rediscover the Amazonian identity; I learned important lessons as the subtlety of details, listening to silence, by the way, listening
I visited the Centro de Cultura Negra [Black Culture Center], Teatro das Bacabeiras [Bacabeiras The-
to the natural movement of the day, besides preserving and promoting the life of beings who make the
ater], Centro Cultural Franco Amapaense [Franco Amapaense Cultural Center], Curia river and the
difference on the planet. The experience of the Rumos is unique because it makes us see the particularities
Marco Zero [Equator Monument], where we can be in the North and South hemispheres at the same
of each place, compels us to develop acute eyesight where the other is always an integral part.
time. I met Grupo Urucum and it was interesting to hear from the artists the importance of the visual arts
course in the city as a means of contact and experimentation with the contemporary language. The art-
I left Belm and flew to Braslia, to Manaus and finally to Porto Velho, capital of Rondnia, which is known
ists who attended included Cristiana Menezes, Aog Rocha, Miguel Ferreira, Grimualdo Barbosa, Ronne
as the city of all people and the place with the highest investments in infrastructure.
Dias, Natasha Parlagreco, Wagner Ribeiro, Agostinho Josaphat, Jenifer Nunes and Josiane Ferreira.
At Sesc-RO, the meeting was productive, but few artists were focused on contemporary art. The auI left Belm and headed to Acre state Rio Branco city and could not have thought that it would be
dience was mostly of artisans and they were there more to satisfy their curiosity. In the course of the
conversation, they realized that their work did not meet the requirements of the call for submissions.
Acre is the Pan-Amazonian center and is connected with the other states in Brazil and Bolivia and Peru as
Flavio Dutkas paintings and drawings, in turn, echoes the local issues, creates a locus of reflection. I no-
well. Therefore, within a radius of 750 kilometers, there are 30 million people of different cultures. I was aware
ticed the absence of the man in the landscapes, although they are heavily marked with evidences that the
that I had my feet on a ground covered by 16 million hectares of rainforest housing the greatest biodiversity
man had been there. Another artist is photographer Clotilde Peruffo. Her eye is constantly transforming
on the planet and that, oddly enough, half of its 700 thousand inhabitants live in the forest. Out of that total,
itself looking for a deconstructed city that she can capture and tell us what she saw in her journeys. These
15 thousand are indigenous people living in 32 reserves and 14 different ethnic groups preserve their traditions.
images reveal a more fragmented everyday life in an urban city, built between the public space as a landscape and the intimate private space portraying everyday scenes provided by the photographic sign.
The community organization is based on the family production that uses the river as their main means of
transportation and the forest itself as their food supplier. This fact generates conflicts of land ownership
Visiting Porto Velho made me conclude that it is really a city of all people. According to the premise
and collective defense of the environment. The Amazon is a place of endless conflicts.
prevailing in the Northern region, the place knows how to make non-locals feel at home. In the group
meeting at Sesc, we had Wilson Lima, Ricardo Peres, Osmaildo Silva, Mikliton, Clotilde Peruffo, Wan-
An interesting fact is that most artists studied at Faculdade de Belas Artes [School of Fine Arts] in
des Leo, Gilson Guimares, Francinei Vasconcelos, Mirtes Rufino, Maria Antnia and Flavio Dutka.
Cuzco, Peru. This process brings about cultural interference in the artists contemporary output. Ueliton
Santana is one of them and this is evident in his works. He claims to be contaminated by the mixture
I flew from Belm to Manaus, capital of Amazonas state. It is a modern city and also the ideal hub for
of cultures. He makes large canvasses that are taken to the forest once they are completed. He is a
visits to other places in the Amazon. Boats leave Manaus towards the Meeting of the Waters, the
photography-oriented artist. He says that the photographic act is an extension through which painting
confluence of the dark waters of the Negro river with the muddy brown waters of the Solimes river and
and forest work together and complement each other. While Jean Carlos makes paintings and ob-
they carry on side by side with distinct interface between their waters along miles away. The city reminds
jects geared to escorrismo, a term used by the artist to state his commitment to the ecosystem, Lucie
me of Belm out of its architectural and cultural heritage, with a number of temples, palaces, museums,
Later I knew the mill, an old chestnut mill. The place was all adapted for courses on visual arts, theater,
I headed to the Associao dos Artistas de Manaus [Manaus Association of Artists], near the Teatro
cinema and music. The infrastructure is amazing and the projects developed are dynamic and keep pace
Amazonas [Amazonas Theater]. From there I proceeded to artist Neletos place, which is more like a
128 | 129
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
museum. I was impressed with his output that takes all the house space and is neatly arranged. In the
The meeting with the cultures and the art making of the people of each place, the rivers, the exuberant
afternoon, I went to the Universidade Federal do Amazonas [Amazonas Federal University] in order to
nature was something revealing, but there is no room for romanticism in view of the harsh reality in the
Amazon. The meanings surpass the places, the symbols of the cities that are lost for hours or that let
their identity fall asleep to become other non-identifiable territories.
I must confess that the picture of contemporary art in Manaus was not very encouraging, especially with the
artists of the association. The output of the group of university students was more dynamic and showed a
VNIA LEAL MACHADO is a graduate in fine arts of the Universidade Federal do Par [Par Federal Univer-
more interconnected dialog. What is really interesting is the graffiti artists output and Naia Arrudas video:
sity], expert in art history and memory, holder of an MA in communication, language and culture from Universidade
a performance in which she appears dressed like Miss Zebra in various situations: walking down a trail
da Amaznia [University of the Amazon]. She has been a professor at the Faculdade de Estudos Avanados do
through the snow in Austria, walking around a street in her neighborhood in Manaus, blindly going through
Par [College of Advanced Studies of Par]. She coordinates the educational actions for the Arte Par Project, as
the forest, looking at the cage of a Brazilian jaguar at the zoo, making tapioca in the kitchen and other
well as publication of the arts catalog. She is also the editor of the special pull-out Arte Par, o Liberalzinho. She cu-
situations. By putting the landscapes of Manaus and Austria side by side, Arruda highlights the differences
rated the Salo Universia ARTE [Universia Salon - ART] in 2004 and 2005; artist Odair Mindelos Projeto Banco
between her everyday life in her hometown and in Austria, where she lives today.
da Amaznia [Banco da Amaznia Project, 2010; and was a jury member at Salo Pequenos Formatos [Small Sizes
Salon] - UNAMA. She curated Flavya Mutran at the Projeto Banco da Amaznia in 2011 and was the educational
Now off to Boa Vista, capital of the state of Roraima. Located in the Northern hemisphere, the city
curator of Os Gmeos at the Exposio Fermata [Fermata Exhibition] in Vitria, Esprito Santo, in 2011.
borders on the municipalities of Normandia, Pacaraima and Amajari to the North; the municipalities
of Mucaja and Alto Alegre to the South; the municipalities of Bonfim, Cant and Normandia to the
East; and the municipality of Alto Alegre to the West. According to IBGE, the population reaches 234
thousand inhabitants.
I went to the Palcio da Cultura [Palace of Culture], where a very diversified group of visual arts students, artisans, musicians and visual artists were already waiting for me. The attendees included Andrea
Siqueira, Renato Jos, Edinei Sousa, Cludio Laul, Sandra Costa, Mrcio Sergines, Srgio Barros,
Carmezia Emiliano, Rosngela Costa, Neusa Borges, Cludio Silva, Jlio Barbosa, Raimundo Chacon
and Renato Costa.
Several representatives of the Comunidade em Cena group also joined us. One of the artists, Edinel
Pereira, was presenting his solo exhibition entitled Da Natureza ao Homem [From Nature to Man], at Espao Centro Multicultural [Multicultural Center Space] at Orla Taumanan. I visited the show and found
works using a variety of local raw materials in installations, paintings and objects.
I took the flight to Palmas and then I headed to Fundao Cultural de Palmas [Palmas Cultural Foundation], where the artists were waiting for me. I came across an exhibition about the 22 years of the city
and there I could see by reading the documents that the population plays the main role in building their
city as well as occupying and taking ownership of the city spaces. The artists attending the meeting
were Marcos Dutra, Solange Silva, Claudio Montanari, Fernando Amaznia, Marivaldo Alves, Cleo
Arajo, Fernando Serrado, Jorge Maciel, Marcio Angelin, Murilo Freitas, Vera Lcia Domingues, Marina
Boaventura, Sandra Sorte, Tharson Lopes and Francisco Andrade.
130 | 131
curadores viajantes
LUIZA PROENA
So Paulo
Quando se fala no contexto artstico de So Paulo a partir de um ponto de vista nacional pensa-se na
capital, na sua posio de centro, nas suas instituies culturais e no crescimento vertiginoso do mercado. Com o aumento de recursos para a produo e a apresentao de projetos, na capital paulista
cada vez mais se exige que o jovem artista se torne um profissional e desenvolva um discurso para seu
trabalho. O contexto nas outras cidades de So Paulo, porm, contrasta muito com essa percepo. A
partir da experincia de mapeamento na Regio Sudeste, a entrevista a seguir com dois jovens artistas/
curadores de diferentes cidades Gustavo Torrezan (Campinas/Piracicaba) e Renan Araujo (Ribeiro
Preto) procurou estabelecer um debate mais aprofundado sobre o atual circuito artstico de So Paulo.
LUIZA PROENA Em muitas cidades do estado de So Paulo a formao do artista segue ainda
o modelo das belas-artes. A maioria delas tambm forma artistas a partir dos cursos acadmicos de
educao artstica ou licenciatura em artes plsticas/visuais, como os da Unesp/Bauru; Universidade
do Vale da Paraba (Univap), em So Jos dos Campos; Universidade Santa Ceclia (Unisanta), em
Santos; e Universidade de Guarulhos (UnG). As graduaes e ps-graduaes em artes plsticas/visuais existentes, porm, no garantem o preparo do artista para assumir uma posio crtica diante da
REGIO SUdeste
sociedade nem para elaborar um programa artstico, tico ou poltico, o que torna mais que urgente a
necessidade de discutir e revisar a trajetria acadmica do artista. Vocs poderiam falar um pouco de
sua formao e de como vista a instruo do artista em suas respectivas cidades?
RENAN ARAUJO A minha formao em arte foi prtica: dilogo com outros artistas e pessoas externas a isso, exposies, livros e internet. Fiz alguns cursos livres (desenho, pintura e gravura), trabalhei por
uns dois anos como voluntrio no educativo do Museu de Arte de Ribeiro Preto e, atualmente, para
uma galeria de arte, ou seja, toda a formao foi tentando achar brechas de atuao dentro dos limites
impostos pela cidade. Continuo produzindo enquanto artista, pensando em curadorias e em tipos de
gesto. O bom de pensar em arte, estando no interior, que, teoricamente, h uma liberdade maior de
produo e se cria com isso uma curva no circuito comea-se a perceber agentes regionais (apesar de
que hoje tudo j est em uma escala global). A nica diferena que se est um pouco mais distante.
GUSTAVO TORREZAN Vejo que segui com proximidade o percurso feito por muitos que hoje
se interessam por artes visuais, especialmente, em Piracicaba, mas tambm em Campinas, onde os
cursos de arte surgiram mais ou menos num mesmo contexto ao que foi criado o Grupo Vanguarda
(19581966), que se organizou imbudo do esprito modernista de renovao das artes plsticas
como contraponto ao academicismo.
132 | 133
curadores viajantes
Ao contrrio de Campinas, que se dinamiza facilmente e com maior ou menor grau consegue uma
atualizao fcil, est Piracicaba. A cidade possui um histrico e at caricato duelo entre acadmicos
e contemporneos que construiu o cenrio artstico da cidade com grande rigidez, mantida at pouco
tempo atrs e que vem sendo alterado substancialmente nos ltimos anos.
Historicamente, Piracicaba possui uma formao artstica em atelis, que favorece uma construo de certo
encadeamento de mestres e seus discpulos. Nesse movimento, vrias geraes construram esse cenrio
na cidade. Hoje em dia, a dinmica mostra que muitos interessados em artes optam pela graduao sem
passar pelos atelis, trazendo outro carter formao dos artistas da cidade. Essa nova gerao, na qual
me incluo, tem voltado ou transitado pela cidade e alterado vrios aspectos das polticas ou procedimentos
at ento estabelecidos. Alm disso, iniciativas de espaos independentes tm surgido, tais como a Casa
do Salgot, a Aragem Contempornea, a Pr-Cultura de Piracicaba e o Centro Cultural Martha Watts.
LP Nos ltimos trs anos, um grande nmero de galerias, que trabalham com jovens artistas e arte contempornea, surgiu na cidade de So Paulo. O crescimento do mercado de arte faz com que o jovem
artista, muitas vezes ainda nem egresso de uma faculdade, j inicie sua carreira no contexto de galerias,
sem precisar passar por exposies coletivas ou individuais em espaos culturais. E at mesmo no fazer
parte de uma galeria se torna uma especificidade que atrai iniciativas com focos mercadolgicos.
Percebi tambm que em cidades como So Jos do Rio Preto, Araatuba ou Araraquara, alguns
artistas tm duas produes: uma para a venda (geralmente pinturas e esculturas) e outra na qual
realmente acreditam e sentem entusiasmo para experimentar e desenvolver; mas que muitos deixam
de produzir, porque no vende.
Como vocs percebem a presena, o desenvolvimento e o interesse pelo mercado de arte em suas
respectivas cidades, tanto dos artistas quanto dos investidores?
RA Ribeiro Preto tem pelo menos umas cinco colees privadas bem significativas como a Figueiredo Ferraz, que recentemente inaugurou um instituto para abrigar suas obras , mas o mercado no
depende exclusivamente da cidade e da regio, consegue escoar para a capital e para outros estados
brasileiros. Claro que esse caso bem pontual e no reflete o contexto geral, o resto do mercado bem
regional. Apesar de no ser usual, alguns colecionadores da cidade compram trabalhos mais complicados, ou que a lgica objetual inexistente em um primeiro momento projetos, instalaes e vdeos
, mas isso acontece com uma pequena parcela. Existe a necessidade de ter algo certeiro, mais fcil e
comportado (e estamos falando de trabalhos recentes).
GT O mercado de arte e seu avano tm sido uma das maiores conversas de que tenho participado
com artistas. Nisso h um lado bom e outro ruim. Nosso sistema de arte est se expandindo, ficando
Ivan Grilo
134 | 135
curadores viajantes
mais consolidado e profissional como, por exemplo, o aumento de galerias e as participaes em feiras,
Marp. um pouco estranho, mas hoje mantenho um dilogo maior com artistas e curadores de fora da
frutos da maior circulao de dinheiro e do interesse pela arte produzida no pas. Nesse contexto, fica
uma dvida se essas conversas que vivencio esto tomando o lugar de outras mais reflexivas. Vejo, inclusive, um aumento da participao em aberturas de exposies e eventos sociais e uma diminuio em
LP Uma das principais ferramentas que utilizei para o mapeamento da produo emergente do estado
de So Paulo foi a internet. Como acham que ela contribui para a formao dos artistas e de redes de
que vem ganhando fora o do artista que arrisca pouco, experimenta pouco e deixa diluir cada vez
tudo com ela. Mas, se posso, no substituo um livro, uma visita a um museu ou exposio, a participao
timidamente. Existe uma lacuna muito grande, a maioria dos compradores prefere os grandes centros
como uma importante ferramenta para a pesquisa e acesso a trabalhos, nos quais as falhas do desloca-
arte, um projeto que vem acontecendo em Piracicaba h trs anos chamado Rio das Arte, que mapeia,
mento ocorrem (falta de tempo e custos elevados). Uma parte da minha pesquisa tem como preocu-
divulga e cria um circuito por meio de um transporte entre os atelis e espaos de exposies com o
pao trabalhos realizados especificamente para a internet, nesse caso, ela no apenas utilizada como
intuito de comercializar trabalhos e estimular a compra de artes durante um fim de semana especfico no
ano. Esse projeto, criado pelo Sesc e que conta com o apoio da sociedade e a adeso dos artistas, tenta
viabilizar e criar um circuito mnimo entre os atelis e a comercializao dos trabalhos.
LP importante a permanncia de dois programas para jovens artistas realizados por instituies pblicas na capital paulista, ambos baseados em edital pblico e seleo de projetos: o Programa de Ex-
LP O mercado tambm pauta principal para reportagens dos dois principais jornais do estado. Em
posies, do Centro Cultural So Paulo, que comemorou seus 20 anos de existncia em 2010; e a
vez de contriburem para uma reflexo mais crtica sobre o circuito de arte, esses jornais tm se dedica-
Temporada de Projetos, do Pao das Artes, criado em 1997. mais que necessrio que esses programas
galerias. Nesse contexto, existe uma vontade grande por parte de artistas e crticos de se criar um novo
campo de crtica por meio de propostas independentes, mas ainda no se pode dizer que temos um
Um pouco semelhante a esses programas, o salo municipal ainda o principal modelo de incentivo
veculo que fomente as discusses para alm da mesa do bar. Vocs poderiam falar como percebem
produo artstica local na maioria das cidades de So Paulo. Alguns sales buscam se atualizar, subs-
tituindo o envio de obras por envio de projetos ou portflios, mudando seu nome, criando diferentes
modalidades ou incorporando atividades educacionais. Mas a estrutura ainda a mesma. A partir de
GT fundamental que a crtica se desenvolva como proposta independente e que se some a pers-
um edital, os artistas inscrevem suas obras, as quais sero julgadas por um comit de seleo, e, quando
pectiva da promoo do dilogo aberto, livre. Como exemplo muito simples nesse sentido, me reno
a exposio inaugura, um ou mais artistas sero premiados, geralmente com prmio-aquisio. A partir
frequentemente com amigos quando estou em Piracicaba para conversar sobre arte. Brincamos ao
do contexto das suas cidades, como vocs veem o fomento da produo por meio dos rgos pblicos?
chamar essas reunies de o encontro das rs cinza, uma pardia para ranzinzas, pois neles a liberdade
truir e de repensar critrios de avaliao sobre um trabalho, um artista ou uma exposio sem que eles
renda para alm da capital para que as cidades tambm possam ter projetos e aes de alto nvel,
como esses que citou. O estado deve criar e o municpio deve cobrar ou ainda construir suas
prprias polticas pblicas para que o cenrio artstico se profissionalize. Vejo o desenvolvimento
RA Em Ribeiro, como possibilidade de embate, existe o grupo de estudos do Museu de Arte de Ri-
de uma poltica a longo prazo e efetiva necessrio para os espaos expositivos fora da capital, que
beiro Preto (Marp); o bate-papo e as palestras aps as aberturas das exposies no Sesc e tambm no
136 | 137
curadores viajantes
Guilherme Peters
Projeto para Canto dos Espritos Esquecidos pela Histria da Arte, 2008
138 | 139
curadores viajantes
Na maioria das vezes, quando se trata da escala municipal, o salo de arte a alternativa, mas seus recursos financeiros, sua infraestrutura e seu formato ultrapassado no ajudam no desenvolvimento, tanto
do circuito artstico local quanto dos prprios artistas.
Em Piracicaba, participo h dois anos de uma tentativa de renovao do salo de arte contempornea,
que busca, a partir daquilo que j existe, criar um calendrio de eventos e atividades sobre arte contempornea na cidade. Os projetos que desenvolvemos para as duas ltimas edies visavam a uma articulao de pessoas e ideias e buscavam estabelecer um certo complemento s atividades no evento que
a princpio apenas uma seleo para uma exposio e premiao , acrescentando programao
cursos de formao, leituras de portflios, palestras, setor educativo etc. Aps dois anos articulando o
evento, sentimos que a cidade poderia receber algo mais ousado e iniciamos discusses para alterar a
lei que regimenta o salo. Existe uma ideia que o salo vire uma residncia artstica (que passa tambm
a incluir a possibilidade de inscrio de artistas estrangeiros) e em torno dela outras atividades possam
acontecer, como cursos, palestras, seminrios etc.
RA No poder pblico pensa-se no quantitativo e no num dilogo mais extenso e a longo prazo. O
Marp, por exemplo, no possui uma poltica de aquisio de obras para o acervo. A nica possibilidade
por meio de doaes ou do prmio-aquisitivo realizado nos sales, ou seja, anualmente, algumas poucas
obras passam a pertencer ao acervo pblico da cidade.
LP Percebo que a ideia de residncia artstica comea a aparecer paulatinamente, tanto na capital
quanto em outras cidades. Trata-se de um formato de produo e formao que procura ser mais estendido e investigativo, a partir da estadia do artista em um espao ou uma cidade.
Outro dado importante sobre o atual panorama da cena artstica a proliferao de iniciativas independentes. Cada uma dessas iniciativas nasce a partir de necessidades e desejos diferentes, porm,
de maneira geral, me parece que se apresentam de modo paradoxal: pretendem criar novos circuitos de produo e apresentao de arte, mas no necessariamente seguem uma lgica ou modelo
alternativos. Pelo contrrio, muitas vezes reproduzem estruturas institucionais existentes, como se
desejassem se inserir no circuito cultural oficial. Vocs poderiam me falar um pouco como veem
essas iniciativas de artistas?
RN claramente percebido que o termo independente complicado. Para manter um espao, demanda tempo e dinheiro, que so muitas vezes viabilizados por bolsas espordicas de apoio ou captao
de recursos a partir de projetos, pela venda de obras/servios ou, ainda, bancados pelos prprios gestores. Esses espaos so importantes para outra fruio do trabalho de arte, mas preciso no querer ser
algo ideal ou tentar se formatar para um dia ser o prprio sistema.
Deyson Gilbert
Um metro, 2012
140 | 141
curadores viajantes
Outro tipo de agrupamento que tem ocorrido com certa frequncia o acompanhamento crti-
(Univap), Ana Maria Bonfim Pitiu, Giancarlo Ragonese e Lindsay Ribeiro (Coletivo Ncleo), de
co realizado por um crtico/curador convidado: um nmero de artistas paga uma quantia mensal
So Jos dos Campos e Jacare; Cssia Guerra (Acirp Associao Comercial e Empresarial de
para algum falar sobre arte, realizar leitura de portflio, dar dicas e indicar estratgias de insero
So Jos do Rio Preto), Cristiana de Freitas, Luiz Diniz e Thais de Freitas (SescRio Preto): So
Jos do Rio Preto; Anne Cartault dOlive, Beatriz Chachamovits (Ateli Simpatia), Carla Chaim,
mas como isso realizado de fato. A meu ver, fica algo didtico, de como se tornar um artista,
Nino Cais e Renata De Bonis (Hermes), Claudinei Roberto (Ateli Coletivo OO), Fernanda
conseguir entrar em editais ou ter uma viso voltada ao mercado. necessrio algo a longo prazo
Barreto e Fernanda Zerbini (Atelieta), Fernanda Lopes, Fernanda Izar e Luciana Felippe (Atelier
a Pipa), Fernando Oliva, Gilbertto Prado (ECA/ USP), Isabella Rjeille (Ateli 397), Karina Polycarpo (Edifcio Lutetia), Luciano Zanette e Dercy Aparecido Pereira (Centro Universitrio Belas
GT Vejo o atual panorama das artes visuais no Brasil com bons olhos e o surgimento dessas
Artes), Luisa Duarte (Red Bull House of Art), Marcia Gadioli e Marcelo Salles (Casa Contem-
iniciativas como um cenrio que evidencia uma etapa importante, a qual espero que culmine no
pornea), Marcos Moraes (Faap), Mario Gioia, Milton Sogabe, Omar Khouri, Rosangella Leote
e Lucas Oliveira (Instituto de Artes Unesp), Mirtes Marins e Luciane Guar (Faculdade Santa
vigentes. Digo de uma perspectiva que no coloca em questo a qualidade do que criado.
Marcelina), Renata Cruz, Sandra Cinto (Ateli Fidalga), Thereza Farkas (Casa Tomada), Vanessa
Quanto mais diverso o sistema das artes for, quanto mais iniciativas houver, mais complexo o pr-
Bohn (Casa ao Cubo), Xiclet (Casa da Xiclet) e Yara Dewachter (Grupo Aluga-se), de So Pau-
prio sistema ser e, consequentemente, mais rico. Certamente essa ampliao que vivenciamos
refletir na maior importncia das artes visuais na sociedade. Existe uma fora poltica que pode
ser usada. No aparente entusiasmo se encontra a preocupao de que o poder pblico tambm
se desenvolva e no se ausente em realizar suas funes.
LUIZA PROENA vive e trabalha em So Paulo. Concluiu bacharelado e licenciatura em artes visuais pelo
Instituto de Artes da Unesp (So Paulo, 2008), com intercmbio realizado na Universidade Nacional de
2009, e a todos aqueles que contriburam para o mapeamento da Regio Sudeste So Pau-
Cuyo, Argentina (2006). Foi curadora assistente na mostra Caos e Efeito (Ita Cultural, 2011); e cocuradora
lo no Rumos Artes Visuais 2011-2013: Deolinda Aguiar, Jos Fernando Bacelar e Simone Leite
das mostras Sombra do Futuro (Instituto Cervantes, So Paulo, 2010) e Temporada de Projetos na Tempo-
rada de Projetos (Pao das Artes, So Paulo, 2009). Integrou o Grupo de Reflexo Interdisciplinar do Centro
Frana e Mrcia Porto, de Araatuba; Euznia Andrade e Rita Michelutti (Secretaria Municipal
de Cultura), de Araraquara; Diana Proena, Luciana Capossi, Renato Moreira (Instituto Acesso
Popular de Educao, Cultura e Poltica) e Solange Gonalves (Faac/ Unesp), de Bauru; Danilo
Perillo e Gustavo Torrezan (Unicamp/Ateli 8), Gustavo Sampaio (Galeria Vertente), Paula Almozara (PUC), Samantha Moreira e Mara Endo (Ateli Aberto) e Sylvia Furegatti (Unicamp/
Pparalelo), de Campinas; Andria Alcantara (Museu de Arte Popular [MAP]), de Diadema;
Adriana Lins (Centro Municipal de Educao Adamastor/Secretaria Municipal de Cultura), de
Guarulhos; Gustavo Torrezan Lauro Pinotti (Pinacoteca Municipal Miguel Dutra) e Rosngela
Camolesi (Secretaria Municipal de Cultura), de Piracicaba; Maria de Lourdes Marszolek Bueno
(Palcio das Artes), de Praia Grande; Adriana Amaral, Dar (Aproa e Paralelo 22) e Renan Araujo, de Ribeiro Preto; Cristina Suzuki, Damara Bianconi (Gambalaia Espao de Artes e Convivncia), Douglas Negrisolli e Saulo Di Tarso, de Santo Andr; Ana Akaui e Cid Maia (Ateli Oficina 44), Fabola Notari (Estdio Valongo), Juliana Okuda (SescSantos), Marlia Bonas (Museu
do Caf) e Marcio Barreto, de Santos; Chico Galvo (SescSo Carlos), David Moreno Sperling,
Lvia Martucci (Diviso de Artes Visuais da Prefeitura de So Carlos), Luiz Diniz (Labi Laboratrio Aberto de Interatividade/ Ufscar) e Ruy Sardinha Lopes, de So Carlos; Amilton Damas
142 | 143
curadores viajantes
MARCELO CAMPOS
Eram duas e meia da tarde quando comecei a me arrumar para encontrar a primeira artista a ser mapeada: Adriana Ricardo. Ela faz parte de uma das contradies que me interessam e tem uma curiosa
trajetria no mundo das artes. Marquei o encontro s 16 horas, em frente ao Banco Ita do Shopping dos
Antiqurios, na Rua Siqueira Campos, em Copacabana.
Ontem, ao voltar da viagem de So Paulo, onde acontecera a primeira reunio com todo o grupo do
Resolvi no levar mochila. Como aprendi com os antroplogos, escolhi um caderno de campo pequeno,
Rumos, vim lendo no avio O Turista Aprendiz, de Mrio de Andrade. Em busca de modos metafricos de
de bolso, e uma mquina fotogrfica discreta para enfrentar situaes culturais grandes, constrangedo-
escrever a experincia de um trabalho de campo, algo ainda a ser iniciado por mim, invejei seu estilo colo-
ras at, j que iria comear a invadir e ser invadido pelo territrio alheio.
quial e com profunda poesia, ao mesmo tempo. Em alguns momentos, h certo transe na escritura, na qual
o autor relata e constri paisagens onricas com fatos reais, parecendo um Rimbaud. Como fazer, depois
15h11
disso, uma narrativa maneira de impresses de viagem? Indo se embrenhar pelos confins do Brasil, logo
no primeiro pargrafo, Mrio de Andrade relata sua partida de So Paulo, em 7 de maio de 1927:
E esse tempo? pergunto ao motorista de txi, a clssica conversa para quebrar o clima e exercitar
minha poro diria de homem cordial. Como no gosto e no entendo de futebol, o tempo sempre
Comprei pra viagem uma bengala enorme, de cana-da-ndia, ora que tolice! Deve ter sido algum
receio vago de ndio [...]. Sei bem que esta viagem que vamos fazer no tem nada de aventura nem
perigo, mas cada um de ns, alm da conscincia lgica possui uma conscincia potica. s remi-
niscncias de leitura me impulsionaram mais que a verdade, tribos selvagens, jacars e formiges. E
a minha alminha santa imaginou: canho, revlver, bengala, canivete. E opinou pela bengala.
O Rio, como bem disse Zuenir Ventura, uma cidade partida. H vrias fendas imanentes, invisveis,
sem aviso de perigo que tentam ser resolvidas por vrias instncias normativas, mas o dado mais meta-
Sempre tive inveja desses relatos de viagem, principalmente os resultantes das empreitadas dos antro-
fsico: um lado ou outro da linha frrea, com gritantes diferenas entre os bairros suburbanos; as paixes
plogos. Ento, h alguns anos venho me arriscando em projetos de arte hbridos que tentam juntar,
das torcidas de escolas de samba e futebol; o morro e o asfalto; a zona sul e a zona norte, divididas pelo
pela conscincia potica, parafraseando Andrade, essas duas reas do conhecimento. Devo confessar
que quando leio Mil Plats, inclino-me mais ainda s contradies e diferenas de um Brasil que em
pequenos pedaos, s vezes entre estados, ou, sob um olhar mais diminuto, num mesmo bairro, pode
Assim, deso a Rua Marques de So Vicente, vejo um casal de gringos vestidos de turistas andando de
nos fazer afirmar: cada ribanceira uma nao, como o Rio da cano de Chico Buarque.
bicicleta, chapus, filtro solar mal espalhado pelo corpo, pele rosa, cor do jornal dos esportes de antigamente, denunciando o abuso do banho de sol. E o taxista comenta:
Hoje, comecei o mapeamento pela minha janela. Moro no alto da Gvea, um bairro carioca com muitas galerias de arte: Mercedes Viegas, Silvia Cintra, Anita Schwartz, Anna Niemeyer, Toulouse. Assim,
Que figuras! Olha a calcinha dela, toda para o lado de fora do short!
vizinha ao meu prdio abriu uma nova galeria, a Galeria da Gvea, destinada mais especificamente
fotografia. Nunca havia estado l, pois tem de ligar antes, no aberta. Tentei agendar uma visita para
Mas, alm dessas fendas culturais, temos as fendas da natureza. Sabendo que iria produzir este relato,
hoje, pela manh, mas s consegui marcar para o fim da tarde, s 18 horas. A poucos metros dessa
fiquei atento, logo na primeira manobra do txi, s pedras do morro Dois Irmos. Descendo um pouco
galeria, h a Casa da Gvea, antiga residncia dos Moreira Salles, hoje instituto cultural. Subindo mais
a rua, chegamos s alamedas de palmeiras imperiais do Jardim Botnico. Olho o Cristo, por entre as
a ribanceira, j avistamos a favela do Parque da Cidade e uma das entradas da favela da Rocinha, uma
alamedas, e o fotografo, coberto de nuvens. Ser carioca se acostumar com hiatos, penso eu. Atravesso
Com isso, meu interesse por essas contradies urbansticas e socioculturais recair, inevitavelmente, no meu
[...] Durante todo processo de mapeamento, at o final, usei a Escola de Artes Visuais do Parque
processo de mapeamento, na busca por expresses emergentes, como citado no edital Rumos 2011-2013,
Lage, autorizado pela diretora Cludia Saldanha, auxiliado por toda sua equipe, para encontros
olhando um dos estados brasileiros, onde contradio social se chega a p, a poucos metros da minha janela.
com muitos artistas mapeveis. Muitas vezes aproveitava o final das minhas aulas nessa mesma
144 | 145
curadores viajantes
escola e as apresentaes se davam com plateias espontneas, atentas, ajudando-me na elaborao das perguntas.
Essa escola voltou a ser um lcus de criao e difuso das artes. Sob a nova direo, alguns programas
gratuitos, apoiados pela Prefeitura do Rio, reoxigenam a emblemtica escola de arte. H cursos de
Fundamentao, para o pblico leigo, estudantes do ensino mdio e graduandos, que funcionam como
introdutrios s atividades artsticas e histria da arte. Alm disso, os alunos podem ser escolhidos
como bolsistas em mais trs cursos pagos. Outro programa destina-se exclusivamente a alunos artistas,
chamado Aprofundamento. Tambm gratuito, tal programa rene excelentes artistas, pr-selecionados
por profissionais da arte, que desenvolvem projetos e discutem a produo em aulas e exposies. Ali,
pude conhecer com mais acuidade os trabalhos de Rodrigo Torres, Gabriela Mureb, Flvia Metzler,
Pontogor, Luiza Baldan, Gabriela Noujaim, Anna Kahn, Carolina Veiga, Daniela Seixas, Elvis Almeida,
Louise DD, Anita Sobral, Rafael Adorjan, AoLeo, Jimson Vilela, Bruno Miguel, Mariana Katona, Juliana
Borzino, Sofia Gerheim, Micheline Torres, Daniel Lannes, Manoel Novello, entre outros.
Muitos artistas entrevistados por mim haviam passado por esses programas, at mesmo os que foram contemplados na seleo final. Com isso, a arte carioca vai agregando possibilidades impactantes de discusso,
difuso e circulao de conhecimento, promovendo o encontro de estudantes com artistas e crticos mais
jovens ou j estabelecidos, que assumem o papel de professores. Essa sempre foi a funo da Escola de
Artes Visuais do Parque Lage. O que, depois dos anos 1980, para a cena carioca, fora enriquecido pelos programas dos cursos de mestrado e doutorado, nas universidades, ou por artistas que exerciam suas atividades
fora das salas de aula, dentro dos atelis, formando grupos de estudo ou contratando assistentes que enveredavam para a carreira artstica. Tudo isso at hoje acontece, como pude perceber no mapeamento [...].
Depois de passar pelo Parque Lage, logo em seguida o txi se posiciona para fazer um pequeno desvio,
pegando a curva do Espao Cultural Srgio Porto em direo ao Cemitrio So Joo Batista para cortar
caminho pelo Tnel Velho, que liga Botafogo a Copacabana. Ladeamos o muro do cemitrio, atravessamos o tnel e chego rpido, em 20 minutos, ao meu destino, meu desembarque. Mrio de Andrade, em
suas viagens, falara mal da urbanizao carioca, preferindo, como bom folclorista, as casas suburbanas.
Desembarco numa rua de arquiteturas um tanto caticas, e vejo o feio shopping de pedra e cal.
Como ainda faltava meia hora para meu encontro com Adriana, resolvo ir Galeria Cosmocopa, administrada pelo artista Felipe Barbosa. Sabia que l haveria trabalhos de jovens, produo emergente. Procuro
pelos corredores e um segurana me indica o caminho. A galeria pequena, recm-aberta, e apresenta
sua segunda exposio: Lin Lima. O artista faz desenhos diretamente nas paredes, como Sandra Cinto,
Leo Ayres
Intersees, 2011
Camas recortadas e encaixadas, dimenses variveis
Cut bed frames overlapping each other, various sizes
Pedro Varela, entre outros, mas deixa um ar um tanto ciberntico nas formas. So redes, malhas, tramas
que criam situaes semelhantes s renderizaes de computador. Ao mesmo tempo, a proximidade
oriental obvia, Hokusai e Cia. Sei, de antemo, que Lin participara do Grupo Nuvem, um coletivo que fi-
146 | 147
curadores viajantes
zera trabalhos interessantes de intervenes em viagens pelo Brasil e que me fora apresentado por Marisa
Brgida Baltar e Pedro Varela. Eu me surpreendi positivamente com uma fotografia. Leo faz uma srie
Flrido. Um dptico de fotografias deixa entrever outra faceta de Lin Lima, em que ele aparece pulando as
de trabalhos brincando com a masculinidade das camuflagens militares. Ele substitui o desenho destas
pedras de um riacho dentro de uma mata. Obviamente, um trabalho fruto dessas viagens.
por vrios padres de viadinhos (alces) nas cores dos uniformes. Alm disso, se inscreve num salo de
arte da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) com essas camuflagens aviadadas e premiado.
Fui recebido por Bruno, muito solcito e gentil ao me mostrar trabalhos de artistas que tivessem pro-
H um vdeo hilrio sobre isso: <leoayres.com>. Leo Ayres inscreve o trabalho no salo da Academia
dues a partir do ano 2000. Ele se lembra de Louise DD, artista que trabalha com objetos curiosos
Militar e recebe comentrios sobre a fotografia, sem que ningum perceba a espcie de animal que
numa potica mrbida, brincando com embalagens e drgeas de remdios, comprimidos em pelcia
est ali apresentada. A foto que vi na Cosmocopa mostra um dormitrio com duas camas e numa delas
[...]. Gostei de uma srie em que pinta quadros em pequenos formatos com os vrios brancos possveis
um bon militar. H um homoerotismo bacana, insinuado, desejoso, importante para o Brasil de hoje.
do esmaltado de dentes. H tambm pinturas com imagens das telas do Atari, um video game em de-
Lembro-me do conto Sargento Garcia, de Caio Fernando Abreu. Bruno tambm mostra o trabalho de
suso. Os trabalhos seguem, um pouco, a esteira mrbida inglesa, Jenny Saville e Damien Hirst, mas com
Rafael Alonso, mas ressalvo que este j havia participado do Rumos anterior.
bastante sinceridade. Tambm se inserem na onda das pelcias, de Leda Catunda a Raul Mouro ou
do paulistano Camille Kachanni. Louise artista, hoje, participante do programa de mestrado da UFRJ.
[...] Na sala de reunio do hotel, em So Paulo, a equipe do Rumos se encontrava eufrica, depois de viajar aos confins do pas continental, para mostrar o mapeamento de cada um. Nos dias que se seguiram,
[...] Na ps-graduao da UFRJ, o encontro se deu diretamente no ateli destinado produo e s au-
os grupos de curadores abriam os portflios enviados. Ali vamos o Brasil sob a alcunha da arte, entre
las. Ali, discuti o portflio de artistas com produo de pintura, vdeo, intervenes urbanas, coletivos de
aspas. Pude rever o trabalho de Leo Ayres e perceber a importncia da voz que poetiza o amor entre
arte. Tive acesso s produes de Jacqueline Siano, Isabel Caerneiro, Daniel Toledo, que apresentou seu
iguais. Fiquei muito bem impressionado por um conjunto de camas de solteiro imbricadas, juntadas
trabalho individual e do coletivo OPAVIVAR, Jlia Pombo, Felipe Braga e do colombiano Jos Lopez.
Na Uerj, local em que atuo como professor efetivo, tambm conversei com alunos da graduao e do
mestrado, conhecendo uma produo variada em distintos meios. Maira das Neves apresentou seu
trabalho, mas se deu conta de que j havia participado do Rumos anterior. Mesmo assim, vi atentamente
Saio da galeria j dez minutos atrasado para o encontro com Adriana Ricardo. Deso as escadas ro-
seu portflio. Na Uerj, o primeiro encontro foi marcado em torno de artistas da performance: Joo
lantes, pego um dos corredores no trreo do edifcio e a vejo defronte vitrine do Ita. Lembrei-me
um pouco do rosto dela que s havia visto por uma reportagem de jornal. Me apresento e samos do
shopping. Ela me pergunta se trabalho com exposies e eu explico todo reme-reme da carreira de
Uma grata surpresa no mapeamento foi a produo que partia de escolas de dana, como as de Carlota
Portela e Angel Vianna. Assim, Sofia Gerheim, Celina Portela e Micheline Torres, por exemplo, apresen-
a uma motocicleta. Penso com muita apreenso e querer, concomitantemente, que ela me convidar a
tam uma excelente discusso que se situa no limiar entre a dana e a performance. Tais artistas utilizam,
subir a favela da Ladeira dos Tabajaras a poucos metros de onde estvamos a bordo da possante m-
muitas vezes, a chamada videodana como meio, mas conseguem resultados que muito tm a contri-
trabalhos. J havia visto uma pintura no apartamento de Luiz Zerbini, no ateli de Laura Lima. Alm disso,
ainda se restringe a estudos, pesquisa e recorrentes exposies, porm a circulao cada vez mais
quem impulsionou essa visibilidade foi Tiago Carneiro da Cunha, a quem recorri para conseguir os conta-
intensa. H um cruzamento desses dados: a mesma artista que conheci nas salas da Uerj, como Daniela
tos dela e para pedir uma opinio sobre a validade de um programa como o Rumos para esta artista.
Seixas, vi expondo no curso de Aprofundamento do Parque Lage e numa mostra em Barra Mansa.
Portanto, esses pesquisados, s vezes, se repetiam no mapeamento [...].
Continuando a visita na Cosmocopa, tambm observo os trabalhos bem-humorados de Leo Ayres, que
Digo isso, pois a cidade partida faz dela uma artista com trajetria intrigante, curiosa. Percebo logo que h
j conhecia e pude conversar e ver o portflio depois, num encontro do Grupo Alice, coordenado por
uma resistncia, por parte de Adriana, a me levar at a Ladeira dos Tabajaras. Ao que respeito, com frus-
148 | 149
curadores viajantes
trao. Estava eu exercendo a conscincia potica, colonial, extica do explorador. Rapidamente, resgatei
minha conscincia lgica e procurei deix-la vontade para mostrar seu trabalho da maneira que melhor
lhe aprouvesse. Adriana, ainda ao lado da motoca, abre um albunzinho de fotos, desses de casa de revelao, e vai passando as imagens em 10 x 15 centmetros. Ali, vejo as pinturas e ouo sua trajetria.
Voc vendia na Feira da Help? (Esta uma feira que fica na orla de Copacabana para vender artesanatos para turistas em frente a uma boate de prostituio, demolida para dar lugar nova sede do Museu
da Imagem e do Som).
Sim ela me diz, e desfia o mesmo discurso que eu j havia lido nos jornais. Constru minha casa
vendendo pinturas l. Todo fim de semana. Agora sa. No adianta vender s e no saber mais do trabalho. Tenho trabalhos no mundo todo, mas no sei onde, nem com quem.
Vejo as pinturas e percebo que ela comeara com desenho de rostos, como esses que vemos
nas ruas das cidades, paisagens mais duotones, tambm comuns nos artesanatos. E, logo depois,
vm as impressionantes pinturas de favelas. So os Os casebres de aafro e de ocre nos verdes
da favela, como nos versos de Oswald de Andrade, que fazem a beleza dessa pintura. Uma
pintura-poesia que existe nos fatos, como nos ensinou o poeta. Adriana no tem a cor caiada de
Volpi, nem a geometria racional dos concretistas. O que nos impressiona o grau de realidade
e banalidade que a moveu a pintar. Ela no se deixa cair na esparrela das pinceladas soltas, expressivas, gestuais e isso a coloca com graus de distncia do artesanal. Os ngulos escolhidos so
bastante aproximados, o que a faz no abstrair as formas. H uma luz que, obviamente, impactou
os citados artistas contemporneos. Essa luz evidencia-se menos pop do que em Richard Estes,
melanclica como em Eric Fischl. Mas ela a nativa-autora, como gosta a antropologia. Pinta o
lugar onde mora, mora no lugar onde pinta. Um ponto de vista mico, portanto. Naf, poderamos
nos perguntar? Tanto quanto Marepe. No existe mais arte naf, talvez nem haja cultura popular.
Essa uma inveno erudita do sculo XX, uma das mais brilhantes, mas est morta. Pode haver
arte para turista, arte para galeristas, arte para intelectuais, mas no h mais arte naf. Fico pen-
Adriana Ricardo
sando nisso, enquanto converso com Adriana. Por isso, gosto de me intrigar com a insero da
pintura primitiva de Elisa Martins da Silveira na exposio concretista do Grupo Frente, nos idos
de 1955, e sua ausncia na crtica de Ronaldo Brito. Penso em Adir Sodr e Gervane de Paula na
pintura da gerao 80.
Adriana Ricardo exps, recentemente, na Lehmann Maupin, em Nova York, com a curadoria de Tiago
Carneiro da Cunha. Vendeu uma tela e espera os 2.400 reais, alm das outras duas telas no vendidas. A lgica monetria que moveu a entrada de Adriana na antiga Feira da Help curiosa. Ela fazia
curso de pintura, trabalhando como domstica. Vinda do interior da Paraba, j desenhava desde
criana. Ento, como a pintura demora a ser feita, na barraca e na lona de cho onde ela expunha, no
150 | 151
curadores viajantes
tinha nunca muita oferta, umas trs ou quatro por fim de semana. Ela precisava produzir mais para
Como afirmara Canclini, a lgica da ps-modernidade chega, na Amrica Latina, quando a mo-
vender mais e no conseguia, pois sua fatura demorava, o que a tirava da feira algumas vezes. Agora,
dernidade nem sequer fora implantada por completo. A crueldade da modernidade se direcionara
diz ela, de que adianta fazer s para vender? Adriana pensa, ento, em acumular a srie de favelas
[...] Aqui falamos de uma autodidata, uma pintora residente em comunidade carente, mas, no-
Mapeamos e fazemos existir arte por estmulos mtuos, concomitantes, nos olhos de quem v, na
[...] neste mundo nmade, o mapeamento apresentou-me poucos atelis, j que os artistas preferiam
cursos de arte e, no podemos negar, atividades recreativas. Na escolha de lugares para o roteiro
do mapeamento, procurei focar cidades do Rio que tivessem proximidade com cursos e institui-
os espaos residenciais sem destinar rea especfica para criao. Ao mesmo tempo, isso agilizava os
es destinadas ao ensino e difuso das artes visuais. Para isso, consultei a listagem de lugares do
encontros que puderam agregar vrios trabalhos numa nica reunio. Dos atelis, destaco a produo
de Andrea Brown, Cludia Hersz e Renato Bezerra de Mello, artistas que comearam a produzir mais
cia do Sesc como possvel parceria nas palestras de difuso e encontro com artistas. Conversei
tarde, a partir de cursos no Parque Lage, de experincias fora do Brasil, ou de atividades anteriores em
com a coordenadora das artes visuais do SescRJ, Stela Costa, que me auxiliou na organizao
figurino, arquitetura. Andra, Cludia e Renato produzem desenhos, bordados, esculturas e objetos
de algumas palestras nas serras do Rio Petrpolis, Terespolis, Friburgo e no sul fluminense.
em madeira, pedra, resina, espelhos, tapearia e tm uma cuidadosa finalizao das peas. A escultura,
Um fato que se repetiu, ao chegar a determinadas cidades, foi a informao de que alguns cursos
neste mapeamento, foi o meio a que menos tive acesso. Encontrei alguns artistas de fora da capital, em
de arte, pblicos ou privados, haviam sido encerrados por falta de alunos interessados ou por des-
Petrpolis, Terespolis, Paraty, por exemplo, mas no percebi o estmulo pela produo escultrica nas
caso das prprias instituies. Assim aconteceu na regio do sul fluminense, mais especificamente
universidades ou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Seria este um sintoma da invaso positiva
em Barra Mansa. Contudo, pude conhecer estudantes egressos desses cursos direcionando-se a
dos meios tecnolgicos e da arte feita com sons, aparelhagens, msica? [...].
Aqui tudo parece que ainda construo e j runa, a metfora da favela das pinturas de Adriana Ri-
capital suas estratgias de marginalidade. Ou seja, parece que a prpria cidade engloba e aceita
cardo ganha sentido nas contradies da presena inalcanvel da arte na vida dos sujeitos. Da vida, na
vontade construtiva de pintar e construir o barraco no curso de um cotidiano iluminado por estampidos
galerias em postes pblicos, aes de lambe-lambe nos muros da cidade. O Rio aglutina suas
das armas de fogo e pelos fogos de artifcio nas comemoraes do Ano-Novo. Clares que perten-
periferias. Isso no deve se colocar como dado ilusrio. H, sim, um circuito para poucos: nas ga-
ceram minha prpria vida como algum que procura na arte a iridescncia da cidade carto-postal.
lerias, museus e centros culturais, porm a predisposio da imprensa e da prpria classe artstica
Sinto o fundo da mata virgem de Macunama, enquanto o cheiro da maresia desorienta minha bssola.
para participar dos eventos paralelos, de aes mais espontneas, ainda bem forte. Desenha-se
um Rio com mostras descompromissadas, querendo a alegria do encontro para beber cerveja no
isopor, seguindo a tradio deflagrada nos anos 1960.
Resolvo registrar, ali mesmo, no shopping de Copacabana com a minha cmera, algumas imagens das
pinturas. Adriana Ricardo promete que quando estiver com duas pinturas recentes mais adiantadas e
Dividi a escolha das cidades por posies geograficamente estratgicas para tentar uma maior abran-
gncia de lugares. Na regio serrana, visitei Petrpolis, Terespolis e Nova Friburgo. No sul fluminense,
mais especificamente na Costa Verde, a cidade de Paraty, cada vez mais valorizada nas atividades cul-
Volto para outra ribanceira do Rio, para fazer minha ltima visita do dia, na minha vizinha Galeria
turais com festivais de cinema, literatura e fotografia. Ainda nessa regio, mais ao interior, Barra Mansa,
da Gvea. A galeria fica no trreo de um prdio residencial. Sou encaminhado para conhecer
com uma atuao intensa no Sesc e em outros espaos culturais, como a Fazenda da Posse; alm de
Ana Stewart, uma das scias da galeria, e me sento ao redor de uma mesa onde outras senhoritas
Barra do Pira e Resende. Ao norte do Rio, mapeei o maior municpio do interior do estado, Campos dos
conversam. Sou apresentado outra scia da galeria e a relembro que j fomos apresentados no
Goytacazes. Mais prximos capital, mapeei artistas da Baixada Fluminense e de Niteri. [...].
Paraty em Foco. Ana Stewart, bonita, perfumada, se interessa pelo programa Rumos e resolve
152 | 153
curadores viajantes
JLIO MARTINS
me mostrar a sua prpria produo. So fotos sobre mulheres do Rio, me diz ela. Assim, vemos,
juntos, uma srie com mulheres negras, com corpo avolumado, nas praias, nos mangues, se exibindo para lente. Ela explora esse lado da cidade partida, vista de fora. Uma criana no morro da
Serrinha, em Madureira, abraa um aqurio. Tudo no Rio?, pergunto. Sim, no estado do Rio.
Ela me promete o portflio por e-mail e, educadamente, me leva at a porta lateral da galeria que
O viajante compreende melhor os sentidos de estar do que se apega ideia de ser. Seu olhar dedi-
cado reconhece possibilidades nos mais tnues signos da alteridade, dada a porosidade que provocada em sua percepo. A paisagem do encontro revela estmulos, caminhos para o viajante.
Volto para casa como se tivesse atravessado itinerrios longnquos ultimamente tem se passado muitos anos to diferentes, tempos to dspares. Percebo que de fato devemos repensar as noes de
Rquiem, de Sara Lambranho, surge de um mapeamento de sutis smbolos do poder que demarcam
viagem, fronteira, corresidncia, interao, como nos explica James Clifford. Hoje, os cenrios culturais
posse e segregao, limites e adornos na paisagem da cidade. As formas grficas de portes, grades
so sincrticos, densos e podem ser as montanhas da Nova Guin, como afirma Clifford, ou um bairro,
e cercas de segurana so inseridas pela artista nas pautas de uma partitura musical. Resguardando
uma casa. E a arte faz o que com isso? Quem pode interpret-los?
sua origem e a conotao violenta e normativa que tais formas adquirem, as notaes compostas
sero interpretadas por msicos, numa performance. Esse trnsito de linguagens faz surgir, com base
MARCELO CAMPOS professor adjunto do Departamento de Teoria e Histria da Arte da Uerj. Doutor em
Existem certos momentos em que a vida produz um som. Essa a concluso que encerra Bratislava,
artes visuais pelo PPGAV da Escola de Belas Artes/UFRJ. Publica textos sobre arte brasileira em peridicos e ca-
vdeo do capixaba Gui Castor, que registra o desabafo incompreensvel de uma mulher solitria no
tlogos nacionais e internacionais. Curador de Casa Forte (individual de Renato Bezerra de Mello, Centro Cultural
parque da cidade. Engajando a linguagem audiovisual no escoar intenso do momento, entre a mulher e
do BNB: Sousa, 2010); Estrela Brilhante (individual de Brbara Wagner, Instituto Cultural Banco Real: Recife, 2010);
o artista no havia mediao, nem camuflagem, apenas distncias: o vdeo testemunha um encontro,
Faustus (individual de Jos Rufino, Palcio da Aclamao: Salvador, 2010); E Agora Toda Terra Barro (individual
uma sensao. Como no h traduo da fala em eslovaco, o espectador participa do mistrio, esbarra
de Brgida Baltar CCBNB: Cariri e Fortaleza, 2008/2009); Ocupao CasaCor (coletiva Jockey Clube do Rio
de Janeiro, 2009); Alcova (coletiva Galeria Laura Marsiaj: Rio de Janeiro, 2009); Desenho em Todos os Sentidos
garante uma imprecisa cumplicidade com o que se apresenta ali. Por muitas e insuspeitas vias podem se
(coletiva SescPetrpolis, Terespolis, Friburgo, 2008); Serto Contemporneo (coletiva Caixas Culturais do Rio de
Janeiro e Salvador, 2008 e 2009); NAUSEA (individual Jos Rufino, Centro Cultural BNB: Sousa e Fortaleza, 2008
e 2009); Cariri: Impresses de Viagem (individual Efrain Almeida, Centro Cultural BNB: Juazeiro do Norte, 2007).
O viajante est sempre atento aos rudos e s falhas que se dispem no diagrama de um encontro.
Sabe ainda que sua presena interfere nos fenmenos que observa e, por essa razo, sente-se convidado a, declaradamente, provocar e se oferecer a uma contaminao mtua. Num esforo em
desapegar-se das expectativas que ainda mantm, o viajante abre-se compreenso da ideia de
arte que se constri em cada lugar que visita, e, portanto, ter suas prprias certezas e familiaridades
alteradas. O olhar do viajante constantemente reinaugurado.
Desde o ltimo mapeamento realizado pelo Rumos, o cenrio capixaba transformou-se, e a arte
contempornea produzida em Vitria, Vila Velha e Viana inspira muito otimismo. Toda a rede
institucional ligada formao dos artistas, fomento produo e editais de exposio foi recentemente reformulada e encontra-se em pleno desenvolvimento. A boa qualidade da produo artstica jovem local um sintoma positivo desse momento. Os artistas tm articulado colaboraes e
firmado estratgias comuns de produo e divulgao de seus trabalhos. A Universidade Federal
do Esprito Santo (Ufes) oferece graduao em artes visuais e mestrado terico, mas h interesse
154 | 155
curadores viajantes
urgente em instituir uma linha em poticas visuais, destinada aos artistas. O departamento recebeu novos professores de vrias regies do pas, o que contribui para o processo de renovao e
atualizao do ensino nas questes da arte contempornea. A universidade mantm dois espaos
expositivos: a Galeria Espao Universitrio e a Galeria de Arte e Pesquisa, esta inteiramente dedicada experimentao e ocupao pelos estudantes, com editais, projetos de residncia e de
interveno urbana e grupos de pesquisa. A consolidao do Museu da Vale, em Vila Velha, com
a realizao de um seminrio anual em arte contempornea, e o fortalecimento do Museu de Arte
do Esprito Santo (Maes), que passou por uma ampla reestruturao conceitual nos ltimos anos,
redefinindo prticas em torno do acervo e da programao, foram importantes para estimular o
fortalecimento da cena artstica. H ainda o Cais das Artes, projeto do governo estadual que iniciou a construo de uma instituio de grande porte na capital. Outro projeto importante acontece em Viana, a 20 quilmetros de Vitria, cidade que possui riquezas geogrficas e culturais nicas,
exploradas no programa de residncia da Galeria de Arte Casaro. Com estrutura de apoio para
hospedar os artistas, o Casaro apresenta dois espaos expositivos. sem dvida a iniciativa que
melhor representa o salto qualitativo da cena capixaba dos ltimos anos, na medida em que estabelece padres e objetivos alinhados produo de arte contempornea. Inaugurado em 2009, o
Casaro promoveu a residncia de Jos Rufino e Josely Carvalho, que produziram trabalhos com
base na pesquisa de campo, na investigao na cidade e no engajamento da comunidade local nos
processos artsticos. Os editais pblicos destinados pesquisa e ocupao da galeria Homero
Massena so importantes instrumentos de fomento produo jovem de arte contempornea no
Esprito Santo, com destaque para o Ateli Estmulo s Artes Visuais. A galeria fica no primeiro
andar de um prdio abandonado e vem buscando ocupar os andares superiores com atelis para
os artistas. muito importante que esses espaos, cujo perfil institucional dedica-se arte contempornea, consolidem e ampliem suas aes e seus projetos, mantendo o aquecimento e garantindo
o amadurecimento da cena artstica no Esprito Santo.
Belo Horizonte dista 590 quilmetros de So Paulo e 450 do Rio de Janeiro. Entretanto, esses dados
so imprecisos. Mantendo uma distncia oscilante do eixo RioSo Paulo, por momentos prxima e
integrada, por outros, marginal e longnqua, a capital mineira preserva certos impasses e ambivalncias em seu contexto cultural. Como projeto final para a exposio que concluiu um ano de sua residncia em Belo Horizonte pelo Bolsa Pampulha, em 2011, o artista Shima realizou Jantar no Museu.
A performance consistiu em oferecer um jantar no Museu de Arte da Pampulha para amigos que
conheceu na cena artstica da cidade nesse perodo. Shima um viajante, morou em vrios lugares do
mundo. O que chamou sua ateno em Belo Horizonte foram o isolamento dos grupos e a formalidade velada com que se mantm atritos e desafetos. Foi justamente por sua condio estrangeira
que pde transitar entre esses grupos e perceb-los. Interessado em diluir a fronteira entre performer
e pblico, e atentando para essa caracterstica cultural do meio belo-horizontino, Shima provocou
uma situao de encontro para 80 convidados, entre artistas, curadores, gestores e agentes culturais,
Percurso 1, 2007
156 | 157
curadores viajantes
estudantes e professores de arte. Sob a ordem de um evento social no museu, a experincia concre-
O interior mineiro surpreende por sua rica diversidade em especificidades culturais. Uberlndia tem
tizada pelo trabalho provocou e tornou evidentes os sintomas de um meio profissional desarticulado
sua cena artstica muito bem estruturada institucionalmente. A UFU oferece graduao em artes
e pouco propcio partilha. Os grupos estavam ali reunidos e estabelecendo um pacto invisvel
visuais e recentemente deu incio ao mestrado. A grade curricular foi atualizada com laboratrios e
mesa, o que, no entanto, intensificava as tenses e os limites de suas relaes, gerando conscincia e
responsvel pela gesto do MUnA (Museu Universitrio de Arte) de Uberlndia, que funciona como
um laboratrio para os alunos nas reas de montagem, produo, museologia, conservao e artee-
Belo Horizonte se orgulha de sua vocao moderna. Contudo, no h arte moderna para ver na cidade.
ducao. O museu recebe itinerncias, promove exposies com base em seu acervo e compe sua
O Museu Mineiro est fechado para reformas h mais de trs anos e o Museu da Pampulha ainda ba-
programao com seis exposies anuais por meio de edital aberto em mbito nacional. O trabalho
talha junto prefeitura a implementao de seu anexo para exibio de acervo. O legado da histria da
mao profissional aos alunos. O governo municipal mantm uma rede de espaos expositivos cuja
programao realizada por edital. Galeria de Arte Ido Finotti, Oficina Cultural, Casa da Cultura e o
Por outro lado, nota-se, por parte das instituies, um interesse renovado em compreender as dinmi-
Espao Cultural do Mercado so instituies dedicadas s exposies de arte que dinamizam a cena
cas de produo e exibio da arte contempornea. Tendo tido uma renovao visvel na ltima ges-
local, dando visibilidade aos jovens artistas e permitindo intercmbios com artistas de outras regies.
to, o Palcio das Artes definiu melhor seu perfil de exposies e fortaleceu a programao por edital,
que contempla principalmente a produo dos jovens artistas. J o Bolsa Pampulha, embora tenha
em parceria com a universidade. A Igreja do Esprito Santo do Cerrado, projeto de Lina Bo Bardi,
apresentado inconsistncias em suas ltimas edies e sofrido com as repetidas mudanas no quadro
burocrtico do Museu de Arte da Pampulha, continua sendo o mais importante programa da cidade.
O Bolsa Pampulha recebe artistas residentes de todas as regies do Brasil, o que oxigena o contexto e
proporciona plataformas de dilogo no meio artstico local. Os artistas residem na cidade durante um
Ipatinga, mapeada pela primeira vez pelo Rumos, uma cidade com apenas 47 anos, criada em funo
ano e produzem projetos que sero exibidos numa exposio no final desse perodo.
das atividades da Usiminas. A empresa implementou em 2002 o Centro Cultural Usiminas, responsvel
(junto com o curso de arquitetura da Unileste, j extinto) pela formao da cena artstica local. Alm de
Cabe ainda mencionar iniciativas em torno de pesquisa, formao, produo e exibio da arte contem-
receber e produzir exposies em seu espao, a instituio mantm o Prmio Usiminas de Artes Visuais,
pornea de Belo Horizonte por parte do Centro de Experimentao e Informao de Arte (Ceia) , com
o edital para ocupao da Galeria Zlia Olguin e o Frum de Arte Contempornea, alm de seminrios
eventos temticos, seminrios, publicaes e programas de residncia, alm dos editais de Cemig, Co-
e workshops de importncia fundamental para intercmbios e formao dos artistas. Merecem meno
pasa, BDMG, Funarte e do Centro Cultural da UFMG que recebem exposies de jovens artistas locais.
curioso que as duas escolas de arte da cidade Escola de Belas Artes, UFMG, e Escola Guignard,
UEMG no produzam aes em parceria. Por sinal, uma marca negativa do contexto belo-horizon-
culturais e artsticos da cidade so mais cariocas do que mineiras. A cena local est em plena forma-
nalmente como entre os artistas. Nesse sentido, Belo Horizonte apresenta uma cena fragmentada,
desarticulada, ainda que se ressalte a excelente qualidade da produo jovem. A despeito da ausn-
em artes no Instituto de Arte e Design da UFJF, que vem fortalecendo o quadro docente e formar
cia de uma rede institucional consistente na cidade, os jovens artistas se articulam e, principalmente
sua primeira turma em 2012. Quando da minha visita, o Mamm recebia itinerncia de um recorte da
em iniciativas independentes, tm contribudo para uma ativao da cena. importante apontar uma
29 Bienal de So Paulo. H uma gerao incipiente de jovens artistas interessados em arte contem-
falha decisiva nas instituies de ensino: a ausncia de espaos expositivos ativos dentro das escolas.
A galeria da EBA foi transformada em repartio burocrtica da escola enquanto a Galeria da Escola
Guignard fica a maior parte do ano fechada, salvo o recente projeto Atelier Aberto, que recebe
jovens artistas para ocupar o espao e ali desenvolver projetos. O perodo de produo aberto a
na produo artstica da cidade. Com uma evidente defesa do fazer artesanal e das temticas
158 | 159
curadores viajantes
Sara Lambranho
Rquiem, 2011
160 | 161
curadores viajantes
locais h, no entanto, uma forte relao da produo de arte com as demandas tursticas. Nesse
sentido, as manifestaes de arte contempornea na cidade so eventuais, em torno do Festival
de Inverno ou em algumas exposies nas instituies locais. A Fundao de Arte de Ouro Preto
(Faop) responsvel pela formao tcnica de artistas e restauradores e recebe jovens artistas
de todo o Brasil em seu espao expositivo, a Galeria Nelo Nuno, por meio de edital. No encontro
realizado chamou ateno um grupo interessado em interveno urbana e grafitti, evidentemente
com restrito espao de atuao na cidade. A questo levantada e discutida foi: como mobilizar,
pela produo de arte contempornea e na urgncia do presente, o pesado legado histrico, patrimonial e artstico da cidade?
Em Congonhas, a tradio artesanal e a forte referncia da obra de Aleijadinho padronizam a produo
visual da cidade, quase exclusivamente dedicada escultura em pedra-sabo e pintura de paisagem.
Cataguases foi um ncleo modernista de grande importncia para Minas Gerais, entretanto o legado
da arte moderna, com exceo da arquitetura, no est acessvel populao dali, sintoma de um
contexto moroso e eventual. A carncia de referncias da prpria histria faz-se notar na inconsistente produo artstica local. Sem instituies de ensino e oportunidades de formao no existe nessas
cidades uma cena estabelecida.
Embora Diamantina seja a sede do Festival de Inverno da UFMG, os artistas locais no encontram
oportunidades nesse evento. Atentando para essa carncia, o Museu do Diamante, apesar do perfil
histrico de seu acervo objetos, fotografias e mobilirios que so a memria material da histria do
trabalho na regio , vem, desde 2005, desenvolvendo oficinas e cursos de histria da arte objetivando
a formao dos artistas. O projeto Ateli Aberto oferece um espao de discusso e produo coletiva
que, esperamos, contribuir na formao e dinamizao do cenrio local.
Pela primeira vez foram mapeadas as cidades de Nova Lima, Tiradentes e So Joo del Rey. Nos ltimos
cinco anos Nova Lima passou a sediar espaos culturais e, principalmente, galerias de arte. A cidade tem
atrado muitos artistas para ali instalarem seus atelis. Contudo, no possvel perceber desdobramentos
na produo de arte local, ainda tmida e inconsistente. A Casa Aristides de Artes e Ofcios oferece oficinas
Gui Castor
Bratislava, 2011
Vdeo, 830
Video, 830
tcnicas de artes, e o edital do salo municipal tambm se alinha a uma produo marcadamente ligada ao
artesanato. Cabe destaque ao Jardim Canad Centro de Arte e Tecnologia (JA.CA), que desde 2010 recebe artistas para desenvolver projetos durante o ano e mantm um programa de residncias que rene artistas
internacionais, por seis meses, e locais, por um ano. Ao fim de cada semestre so realizados uma exposio
e ciclos de palestras. Um dos interesses da instituio explorar poeticamente o contexto peculiar da regio.
Em So Joo del Rey o curso de artes aplicadas com nfase em cermica surgiu dentro da universidade respondendo a uma suposta demanda de organizar o artesanato da regio. Assim, na-
162 | 163
traveling viajantes
curators
curadores
LUIZA PROENA
So Paulo
da universidade. Tiradentes tem sido um foco turstico nacional nos ltimos anos, e por essa razo
a produo de artesanato local perdeu um pouco de sua originalidade e responde a demandas e
Speaking about the So Paulo artistic context from a national perspective immediately brings to mind the
capital city, its central position, its cultural institutions and the rapid growth of its market. In view of the increased resources for the production and presentation of projects in the So Paulo capital, the young artist
A viagem motivao das intervenes propostas por This Land Your Land, coletivo formado pe-
has been increasingly more required to become a professional and develop a discourse for his/her work.
las artistas Ines Linke e Louise Ganz. A viagem entendida como movimento de abertura e entrega
The context in other cities in So Paulo state, however, stands in strong contrast with this perception. Based
on the experience of mapping the Southeast Region, the following interview with two young artist-curators
terminaes de consumo turstico. As artistas realizam caminhadas por percursos improvveis que
from different cities Gustavo Torrezan (Campinas/Piracicaba) and Renan Araujo (Ribeiro Preto)
configuram uma reinveno da paisagem na escala de sua ocupao e uso poticos. Em Percurso
sought to go into a deeper discussion about the current art landscape in So Paulo.
1, o itinerrio a ser percorrido corresponde tubulao de distribuio de gua que abastece Belo
Horizonte. As microintervenes realizadas ao longo do percurso isolar plantas nativas com tecidos
LUIZA PROENA In many cities in the state of So Paulo, the artists educational background still follows
biodegradveis, plantar outras espcies, enterrar textos na terra, lavrar trilhas na terra reagem aos
the fine arts school model. Most of these schools also prepare artists by means of their courses in art educa-
tion or those leading to a teacher certification in fine/visual arts, as do the schools at Unesp/Bauru [Jlio de
mundo pelas vias de experincias estticas. H uma afirmao poltica nas aes: ao ultrapassar os
Mesquita Filho So Paulo State University/Bauru Campus]; the Universidade do Vale do Paraba [University
of the Paraba Valley] (Univap), in So Jos dos Campos; the Universidade Santa Ceclia [Santa Ceclia Uni-
versity] (Unisanta), in Santos; and the Universidade de Guarulhos [University of Guarulhos] (UnG). Nevertheless, a diploma from the existing undergraduate and graduate courses in visual/fine arts is no guarantee that
the artist is prepared to take a critical stand before the society or to frame an artistic, ethical or political program.
This creates an even more urgent need to discuss and review the artists educational career. Could each of
JLIO MARTINS formado em histria pela UFMG e em artes plsticas pela Escola Guignard. Atualmente,
you speak a bit about your background and how an artists educational career is seen in your respective cities?
mestrando da Escola de Belas Artes da UFMG. curador, historiador da arte e editor. Colabora desde 2003 com
o Centro de Experimentao e Informao de Arte, de Belo Horizonte, ligado RijksAkademie Artists Initiative
RENAN ARAUJO I developed my art skills by practising: talking to other artists and non-art-related
(Rain), Amsterd. Em 2009 foi residente do Programme Courants du Monde, Paris. Desde 2004, pesquisa sobre
people, going to exhibitions, reading books and the internet. I took some non-degree courses (design,
arte moderna e contempornea e escreve para catlogos e livros. Autor de Stphane Vigny: Savoir-forme (Museu
painting and printmaking), I worked for about two years as a volunteer in the education department at
Inim de Paula: Belo Horizonte, 2010). Curador-geral do Museu Inim de Paula desde 2008, no qual coordena
the Museu de Arte de Ribeiro Preto [Art Museum of Ribeiro Preto] and, currently, I am working at an
projetos artsticos, educacionais e editoriais. Realizou exposies de Inim de Paula, Andr Hauck, Marco Antonio
art gallery. That is, my entire education was based on trying to find chances of work within the boundar-
ies of the city. I continue to produce while an artist, to think of curatorships and of management forms.
Whats good about thinking of art, being in the interior, is that, theoretically, there is greater liberty for
art making and this generates a curve in the art community you begin to perceive the regional agents
(albeit everything today is on a global scale), the only difference is that the artist is a bit further away.
GUSTAVO TORREZAN I see that I closely followed the route taken by many who today are interested in visual arts, especially in Piracicaba, but also in Campinas, where the art courses arose more or
less in the same context as that created by the Grupo Vanguarda (19581966), which was organized
within the modernist spirit of renovation of the fine arts as a counter to academicism.
164 | 165
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
Piracicaba is a contrast to Campinas, which easily becomes dynamic and to a greater or lesser degree
more consolidated and professional as for example, the increase of galleries and participation in art fairs, the
easily undergoes revising. The city has a history and even a caricature of a duel between [the tradi-
fruit of greater circulation of money and interest in the art produced in the country. In this context, a doubt
tional] academics and the contemporaries around which the city art landscape was built with great rigid-
remains if these conversations are taking the place of other more reflectional ones. I also see increased partici-
ity, which was maintained until just recently and has been changing substantially in recent years.
pation in openings of exhibitions and social functions and a decrease in talks or conferences, which may or not
be associated with technological facilities. A route that has been gaining momentum is that of an artist taking
Historically, art education in Piracicaba has taken place in studios, which has favored the construction of a
little risk, experimenting a bit and weakening the perspective of art as research.
certain chain of masters and their pupils. Several generations constructed this scene in the city by following
that movement. Today, the dynamics indicates that many of those interested in the arts choose to go to
Beyond the artists, little is said about the art market in the interior and the number of investors is grow-
the university without passing through the studios, hence the artist from this city now builds his/her skills in
ing quite timidly. There is a very large gap, most of the buyers prefer the large urban centers for their
a different fashion. This new generation, of which I am part, has returned to or passed through the city and
changed several factors of the established policies or procedures. In addition, initiatives have appeared at
independent spaces, such as the Casa do Salgot, Aragem Contempornea, Pr-Cultura de Piracicaba and
An initiative that I consider important as an alternative, given the absence of a gallery and even of the art
market, is a project that has been implemented in Piracicaba for three years called Rio das Artes [River
of the Arts], which maps, disseminates and creates a circuit by transiting among the studios and exhibi-
LP In the past three years, a large number of galleries that work with young artists and contemporary art
tion spaces with the goal of selling works and stimulating the purchase of art during a specific weekend
sprung up in the city of So Paulo. The growth in the art market has caused the young artist, who often
of the year. This project, created by Sesc and which counts on the support of the society and the active
has still not finished college, to begin his/her career in the context of the galleries, without needing to go
participation of the artists, tries to make it feasible for a minimum circuit to exist bringing together the
through collective or solo exhibitions in cultural spaces. And not being part of a gallery has even become
of contributing to a more critical consideration on the art market, those newspapers have mostly focused
two types of output: one for sale (generally paintings and sculptures) and another in which they really
on generating debates and speculating about the artists, curators and galleries that are likely to become
believe and feel an enthusiasm for experimenting and developing; but many of them stop producing
the market stars. In this context, there is a strong desire on the part of artists and critics to create a new
field of criticism through independent propositions, but we still cannot say that we have a vehicle that
supports discussions beyond the pubs. Could each of you talk about how you perceive the discussions
How do you feel the artists and investors presence, development and interest with regard to the art
motion of open and free dialog. As a very simple example of this, I frequently get together with friends when I am
recently inaugurated an institute to house his works but the market does not depend exclusively on the city
in Piracicaba to speak about art. We jokingly call these meetings the meeting of the rs cinza [literally translated
and region, it is able to flow to the capital and to other Brazilian states. Of course this is an isolated case and
as gray toads, a play on the Portuguese word for a grumpy or cantankerous person, ranzinza, which sounds like
does not reflect the general context, the rest of the market is quite regional. Although it is not common, some
r cinza or gray toad in Portuguese] a parody for ranzinzas. These meetings have tremendous freedom and little
collectors from the city buy more complicated work, or those with a non-existent objectual logic in its early
diplomacy of conformity. From these meetings arose the need to take local actions, spaces that need to be
stage projects, installations and videos but they are very few cases. There is a need to have something well
expanded as much as the culture of giving opinions, of building and reconsidering criteria of evaluation about a
managed, easier and well behaved (and we are speaking of recent works).
GT The issue of the art market and its advances has been one of the biggest conversations in which I have
RA In Ribeiro, as a possibility for opposition, there is a study group at the Museu de Arte de Ribeiro Preto
participated with artists. There is not one good side and another bad. Our art system is expanding, becoming
[Museum of Art of Ribero Preto] (Marp); discussions and talks after the openings of exhibitions at Sesc and
166 | 167
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
also at Marp. It is a bit strange, but today I have greater dialog with artists and curators from outside the city and
Most often, on a municipal scale, the art salon is the choice, but its financial resources, its infrastructure
and its outdated format do not help the development of both local art market and the artists themselves.
LP One of the main tools that I used for mapping the emerging output in So Paulo state is the Internet.
In Piracicaba, for two years Ive participated in an attempt at renovating the contemporary art salon,
How do you find that it contributes to the education of artists and their contact networks with profes-
which sought to create a calendar of events and activities about contemporary art in the city using the
existing infrastructure as a springboard. The projects we designed for the past two editions sought to
promote a discussion among people and the exchange of ideas and also to complement the activities of
GT I cannot see myself as an artist without using the Internet, in fact I cannot see myself without the
the event in a way which in principle is only a selection for an exhibition and award by adding to the
Internet, I do nearly everything with it. But, if I can, I do not use it as a replacement for a book, a visit to a
program training courses, portfolio readings, talks, an educational sector etc. After two years organizing
the event, we felt that the city could receive something more daring and we began discussions to amend
the municipal law that regulated the salon. There is an idea for the salon to become an artistic residency
RA The Internet will not substitute the experience or the clash with a work on its actual scale, but serves
program (which may also be open to foreign artists), around which other activities could take place, such
as an important tool for research and access to works, when moving around is not feasible (because
of a lack of time and high costs). Part of my research is focused on work conducted specifically for the
Internet, in this case it is not only used as a means of contact, but as support for thinking of specific
RA Governments think of quantity and not in a more extensive long-term dialog. The Marp, for example,
propositions.
does not have a policy for acquiring works for its collection, the only way it has to do so is through donations
or acquisition prize granted in the salons, or that is, annually, a few works come to belong to this public col-
LP It is important to count on two programs for young artists provided by public institutions in the city
of So Paulo and both of them operate on a call-for-submission basis and selection of projects: the
Programa de Exposies [Exhibition Program] of the Centro Cultural So Paulo [So Paulo Cultural
LP I see that the idea of an artistic residency is gradually beginning to arise, both in the capital and in
Center], which celebrated 20 years of existence in 2010; and the Temporada de Projetos [Season of
other cities. It is a production and education scheme that seeks to be more extended and investigative
Projects] of the Pao das Artes [Palace of the Arts], created in 1997. It is more than vital that these pro-
initiatives. Each one of these initiatives is born from different needs and desires, although by and large
encouragement to local artistic output in most of the cities and towns in So Paulo state. Some salons
they appear to be paradoxical: they are meant to create new circuits for art making and showcase, but
try to make changes by requesting artists to send projects or portfolios rather than works, changing
do not necessarily follow an alternative logic or model. On the contrary, they often reproduce existing
their names, or incorporating educational activities. The structure is still the same, though. On a call for
institutional structures as if they wanted to incorporate themselves in the official cultural circuit. Could
submissions, the artists submit their works, which are judged by a selection committee and when the
you tell me a bit about how you see these initiatives of artists?
exhibition opens, one or more artists are awarded, usually with an acquisition prize. Based on the context
in your cities, what is your opinion about governmental agencies fostering art making? How or where do
RN It is very evident that the term independent is complicated. Maintaining a space requires time and
money, which are often obtained from occasional grants or by raising funds through projects, by selling
works or services or even endowed by their own administrators. These spaces are important for another
GT It is necessary to create public policies that open the way to qualified education and distribution
fruition of art making, but it is necessary to not want to be something ideal or to try to shape oneself to
of income beyond the capital city so that other cities and towns can also have high level projects and
actions, like those mentioned. The state should create and the municipality must oversee or even build
its own public policies for a more professional art community. I see a need to develop a long term and
Another type of grouping that has been seen kind of often is the critical accompaniment by an invited
effective policy for exhibition spaces outside the capital, which have been experiencing very hard times.
critic or curator: a number of artists pay a monthly amount for someone to speak about art, read their port-
168 | 169
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
folios, give tips and indicate strategies to introduce their work in the gallery and exhibition scene. The big
Andr; Ana Akaui and Cid Maia (Ateli Oficina 44), Fabola Notari (Estdio Valongo), Juliana
issue is not in grouping or finding a common space to share things, but in how this is effectively conducted.
Okuda (Sesc [Social Service for Commerce]/Santos), Marlia Bonas (Museu do Caf [Museum
In my view, it is more instructional to a certain extent, something like how to become an artist, how to sign
of Coffee]) and Marcio Barreto, in Santos; Chico Galvo (Sesc [Social Service for Commerce]/
in call for submissions or have a market-oriented vision. More long term work is needed as well as stricter
So Carlos), David Moreno Sperling, Lvia Martucci (Diviso de Artes Visuais da Prefeitura de So
Carlos [Division of Visual Arts, Municipality of So Carlos], Luiz Diniz (Labi Laboratrio Aberto
de Interatividade [Open Laboratory of Interactivity]/Ufscar [So Carlos Federal University) and
GT I see the current panorama of the visual arts in Brazil positively and the rise of these initiatives
Ruy Sardinha Lopes, in So Carlos; Amilton Damas (Univap [University of the Paraba Valley]),
as a landscape that reveals an important phase, which I hope would culminate in the development
Ana Maria Bonfim Pitiu, Giancarlo Ragonese and Lindsay Ribeiro (Coletivo Ncleo), in So Jos
of other structures, procedures, fields and markets that go beyond the current ones. I am speaking
dos Campos and Jacare; Cssia Guerra (Acirp Associao Comercial e Empresarial de So Jos
from a perspective that does not question the quality of what is created. The greater the diversity in
do Rio Preto [So Jos do Rio Preto Commercial and Business Association]), Cristiana de Freitas,
the art system, the more initiatives there are, the more complex, and thus richer, the system will be.
Luiz Diniz and Thais de Freitas (Sesc [Social Service for Commerce]/Rio Preto), in So Jos do
Certainly, this expansion that we have been experiencing will be reflected in a greater importance of
Rio Preto; Anne Cartault dOlive, Beatriz Chachamovits (Ateli Simpatia), Carla Chaim, Nino Cais
the visual arts in society. There is a political force that can be used. Behind the apparent excitement is
and Renata De Bonis (Hermes), Claudinei Roberto (Ateli Coletivo OO), Fernanda Barreto and
the concern that the government also has to seek to its own development and does not abstain from
Fernanda Zerbini (Atelieta), Fernanda Lopes, Fernanda Izar and Luciana Felippe (Atelier a Pipa),
Fernando Oliva, Gilbertto Prado (ECA [School of Comunication and Arts]/USP [University of
So Paulo]), Isabella Rjeille (Ateli 397), Karina Polycarpo (Edifcio Lutetia), Luciano Zanette and
I especially thank Marcio Harum, who mapped the region for Rumos 2008-2009, and all of those
Dercy Aparecido Pereira (Centro Universitrio Belas Artes [Fine Arts University Center]), Luisa
who contributed to the mapping of the Southeast Region So Paulo for Rumos Artes Visuais
Duarte (Red Bull House of Art), Marcia Gadioli and Marcelo Salles (Casa Contempornea), Marcos
2011-2013: Deolinda Aguiar, Jos Fernando Bacelar and Simone Leite Gava (Museu Araatubense
Moraes (Faap [Armando lvares Penteado College]), Mario Gioia, Milton Sogabe, Omar Khouri,
de Artes Plsticas Maap [Araatuba Museum of Fine Arts]/Secretaria Municipal de Cultura [Mu-
Rosangella Leote and Lucas Oliveira (Instituto de Artes Unesp [Unesp Institute of Arts]), Mirtes
nicipal Dept. of Culture]), Juara Frana and Mrcia Porto, in Araatuba; Euznia Andrade and
Marins and Luciane Guar (Faculdade Santa Marcelina [Santa Marcelina College]), Renata Cruz,
Rita Michelutti (Secretaria Municipal de Cultura [Municipal Dept. of Culture], in Araraquara; Diana
Sandra Cinto (Ateli Fidalga), Thereza Farkas (Casa Tomada), Vanessa Bohn (Casa ao Cubo), Xi-
Proena, Luciana Capossi, Renato Moreira (Instituto Acesso Popular de Educao, Cultura e Polti-
clet (Casa da Xiclet) and Yara Dewachter (Grupo Aluga-se), in So Paulo. Finally, my appreciation
ca [Institute for the Peoples Access to Education, Culture and Politics]) and Solange Gonalves
(Faac [School of Architecture, Arts and Communication]/Unesp [Jlio de Mesquita Filho So Paulo
State University]), in Bauru; Danilo Perillo and Gustavo Torrezan (Unicamp [University of Campinas]/Ateli 8), Gustavo Sampaio (Galeria Vertente [Vertente Gallery]), Paula Almozara (Pontifcia
Universidade Catlica PUC [Pontifical Catholic University]), Samantha Moreira and Mara Endo
LUIZA PROENA lives and works in So Paulo. She holds a BA in visual arts and a teacher certification in visual
arts from the Instituto de Artes/Unesp [Art Institute, Jlio de Mesquita Filho So Paulo State University] (So
Andria Alcantara (Museu de Arte Popular MAP [Museum of Pop Art]), in Diadema; Adriana Lins
Paulo, 2008) and took part in an exchange program at the National University at Cuyo, Argentina (2006). She
was assistant curator for the show Caos e Efeito [Chaos and Effect] (Ita Cultural, 2011); and co-curator of the
Municipal de Cultura [Municipal Dept. of Culture]), in Guarulhos; Gustavo Torrezan Lauro Pinotti
shows Sombra do Futuro [In the Shadow of the Future] (Instituto Cervantes [Cervantes Institute], So Paulo,
(Pinacoteca Municipal Miguel Dutra [Miguel Dutra Municipal Pinacotheca] and Rosngela Camo-
2010) and Temporada de Projetos na Temporada de Projetos [Season of Projects in the Season of Projects] (Pao
lesi (Secretaria Municipal de Cultura [Municipal Dept. of Culture]), in Piracicaba; Maria de Lourdes
das Artes [Palace of the Arts], So Paulo, 2009). She is a member of the Group for Interdisciplinary Reflection
Marszolek Bueno (Palcio das Artes [Palace of the Arts]), in Praia Grande; Adriana Amaral, Dar
at the Centro Cultural So Paulo [So Paulo Cultural Center] and of the Curating and Criticism Group at USP
(Aproa and Paralelo 22) and Renan Araujo, in Ribeiro Preto; Cristina Suzuki, Damara Bianconi
[University of So Paulo].
(Gambalaia Espao de Artes e Convivncia), Douglas Negrisolli and Saulo Di Tarso, in Santo
170 | 171
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
MARCELO CAMPOS
2013 competition, looking at one of the Brazilian states where one walks right up towards the social contradiction just a few feet from my window.
It was 2:30 in the afternoon when I began to get ready to meet the first artist to be mapped: Adriana Ricardo. She is part of one of the contradictions that interest me and has a curious career in the art world. I set
Yesterday, on the flight back from So Paulo, where the first meeting with the entire Rumos group took
the meeting for 4 pm, in front of the Ita Bank at the Shopping dos Antiqurios, on Rua Siqueira Campos
place, I was reading O Turista Aprendiz, by Mrio de Andrade. Searching for metaphoric modes of
[street], in Copacabana.
writing about a field work experience, which I had yet to begin, I envied his simultaneously colloquial
and deeply poetic style. At some moments, there was a certain trance in the writing, in which the writer
I decided not to take the knapsack. I learned this from the anthropologists. I chose a small pocket note-
presented and built oneiric landscapes with real facts, like Rimbaud. How could I, after this, build a nar-
book and a discrete camera to confront the large cultural situations even embarrassing ones given
rative in a travel impressions style? Penetrating deeply into the confines of Brazil, from the very first
paragraph, Mrio de Andrade describes his departure from So Paulo on May 7, 1927:
3:11 pm
I purchased an enormous walking stick for the trip, made of cane, what foolishness! It
must have been some vague indians distrust [...]. I know very well that this trip that we
And this weather? I ask the taxi driver, the typical conversation to break the ice and exercise my daily
are taking is not at all an adventure and is not dangerous, but each one of us, in addition
dose of a kind man. Since I do not like and know nothing about soccer, the weather is always the philo-
drove me more than the truth, wild tribes, alligators and ants. And my holy little soul
imagined: cannons, guns, canes, knives. And the choice was the cane.
On the other side of the tunnel he replies its all cloudy in the Northern zone of the city.
I have always been envious of these travel journals, mainly those deriving from the undertakings of an-
Rio, as Zuenir Ventura put it well, is a broken city. There are a number of immanent, invisible splits
thropologists. So, for a few years, I have been risking involvement in hybrid art projects that try to join
and no warn of danger that several regulatory spheres try to resolve. The condition, however, is
these two areas of knowledge through poetic consciousness, to paraphrase Andrade. I must confess
more metaphysical: one side or the other of the tracks, with glaring differences among the [poor]
that when I read Mil Plats, I became even more inclined to the contradictions and differences of a Brazil
suburban neighborhoods; the passion of the fans of the samba schools and soccer teams; the hill
that in little pieces, at times between states, or from a more reduced perspective in a single neighbor-
[a common reference to the favelas or slums of Rio which occupy most of the hillsides] and the
hood, can have us state: each hillside is a nation, like the Rio in Chico Buarques song.
asphalt [a common reference to the wealthier neighborhoods with urban infrastructure]; the Southern zone and the Northern zone divided by the Rebouas Tunnel, like the words of the taxi driver.
Today, I began the mapping from my window. I live in upper Gvea, a neighborhood of Rio de Janeiro
populated with many art galleries: Mercedes Viegas, Silvia Cintra, Anita Schwartz, Anna Niemeyer,
Going down the Rua Marques de So Vicente [street], I see a couple of foreigners dressed like tourists
Toulouse. A new gallery opened near my building, the Galeria da Gvea, destined more specifically for
bicycling, wearing hats, they had sunblock poorly spread on their body, pink skin the color of the old
photography. I had never been there, because you have to call ahead, it is not always open. I tried to
sports pages announcing that they took too much sun. The driver says:
schedule a visit for today this morning, but I was only able to set one for 6 in the afternoon. A few meters
from this gallery, there is the Casa da Gvea, the former residence of Moreira Salles, which is now a
cultural institute. A little higher up the hillside, we can see the Parque da Cidade favela and one of the
entrances to the Rocinha favela, one of the largest in Latin America.
But, beyond these cultural splits, we have the splits of nature. Knowing that I would write this picture, I
paid attention, at the cab first turn, to the stones on the Morro Dois Irmos [Two Brothers Hill]. Going
In this way, my interest in these urban and sociocultural contradictions would inevitably influence my map-
down the street a bit we reach the rows of imperial palm trees of the Jardim Botnico [Botanical Gar-
ping process, the search for emerging expressions, as mentioned in the announcement of the Rumos 2011-
dens]. I look up at Christ statue from between the palms and take its picture covered by clouds. I realize
172 | 173
invitation to a journey
traveling viajantes
curators
curadores
that being a Carioca [a native of Rio de Janeiro] is to be accustomed to hiatuses. We go down the entire
Since I had half an hour before my meeting with Adriana, I decide to go to the Galeria Cosmocopa
Rua Jardim Botnico [street], and pass in front of the Parque Lage [Lage Park].
[Cosmocopa Gallery], run by artist Felipe Barbosa. I knew it had works by young artists - emergent
output. I walk through the halls and a guard shows me the way. The gallery is small, just recently opened,
[...] During the entire mapping process, until completion, I used the Escola de Artes Visuais do Parque
and this is its second exhibition: Lin Lima. The artist designs directly on the walls, like Sandra Cinto, Pedro
Lage [Lage Park School of Visual Arts] for meetings with many mappable artists. I had permission
Varela and others, but leaves a bit of a cybernetic air in the shapes. There are nets, meshes and weaves
from its director Cludia Saldanha and was assisted by the entire staff. I often set the encounters to
that create situations similar to computer renderings. At the same time, an Asian touch is obvious,
coincide with the end of the classes I gave at this school and the presentations were held with spon-
Hokusai et al. I know that Lin participated in the Grupo Nuvem, a collective that conducts interesting
work with interventions in trips throughout Brazil and that were presented to me by Marisa Flrido. One
diptych of photographs allowed a glimpse of another facet of Lin Lima, in which he appears jumping
This school is once again the venue of creation and diffusion of the arts. Under the new direction,
over the stones of a stream in the forest obviously a work from one of these trips.
some free-of-charge programs, supported by the Rio de Janeiro municipal government, are breathing
new life into the emblematic art school. There are basic courses for a lay public, high school and col-
I was received by Bruno, who was very helpful and kind in showing me works of artists dating from the year
lege students, which serve as introductions to artistic activities and to the history of art. Additionally,
2000. He recalled those of Louise DD, an artist with curious work that had a morbid poetic. It played with
students can earn scholarships to more than three courses that otherwise must be paid for. Another
medicine packages and pills, furry pills [...]. I liked a series of small format paintings in the several whites
in-depth program is aimed exclusively at art students. This program is also free and attracts excellent
possible of tooth enamel. There were also paintings with the images from the old Atari videogame screens.
artists who are pre-selected by art professionals, who conduct projects and discuss the output in clas-
The works kind of followed the morbid route of Jenny Saville and Damien Hirst from England, but quite
ses and exhibitions. There, I was able to get to know with greater intensity the works of Rodrigo Tor-
sincerely. They also rode the wave of the furry works, of Leda Catunda and Raul Mouro and of the So
res, Gabriela Mureb, Flvia Metzler, Pontogor, Luiza Baldan, Gabriela Noujaim, Anna Kahn, Carolina
Paulo artist Camille Kachanni. Louise is an artist who is now participating in the masters program at UFRJ.
Veiga, Daniela Seixas, Elvis Almeida, Louise DD, Anita Sobral, Rafael Adorjan, AoLeo, Jimson Vilela,
Bruno Miguel, Mariana Katona, Juliana Borzino, Sofia Gerheim, Micheline Torres, Daniel Lannes,
[...] in the graduate program at UFRJ, the encounter took place in the studio used for production and classes.
There I discussed the portfolio of artists who worked with painting, video, urban interventions, art collectives.
I had access to the work of Jacqueline Siano, Isabel Caerneiro and Daniel Toledo, who presented his own
Many artists whom I interviewed had taken these programs, including those who were chosen in the final
work and that of the OPAVIVAR collective, Jlia Pombo, Felipe Braga and the Colombian Jos Lopez.
selection. Thus, the carioca art has been adding striking opportunities for discussion, dissemination and
circulation of knowledge, promoting the encounter of students with artists and critics that are younger
At Uerj, where I am a full professor, I also spoke with undergraduate and masters students, and
or already established, who take on the role of teachers. This has always been the purpose of the Escola
got to know a varied production in different media. Maira das Neves presented her work, but
de Artes Visuais do Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts], which after the 1980s was enriched
realized that she had participated in a previous edition of Rumos. Even so, I looked attentively at
by masters and doctoral programs at the universities, or by artists who conducted their activities outside
her portfolio. At Uerj, the first meeting was scheduled with a focus on performance artists: Joo
the classrooms, in studios, formed study groups or contracted assistants who were starting their artistic
career. All of this has been happening until today, as I could notice in the mapping [...].
A pleasant surprise found in the mapping was the output from dance schools, like that of Carlota Portela
After driving past the Parque Lage [Lage Park], the taxi prepares to make a small turn along the curve
and Angel Vianna. Sofia Gerheim, Celina Portela and Micheline Torres, for example, presented an excel-
in front of the Espao Cultural Srgio Porto [Srgio Porto Cultural Space] and head towards the Cemi-
lent discussion at the threshold between dance and performance. These artists often use the so-called
trio So Joo Batista [So Joo Batista Cemetery] to cut through the Tnel Velho [Old Tunnel], which
video-dance but achieve results that have much to contribute to the discussion of the visual arts.
connects the neighborhoods of Botafogo and Copacabana. We drive along the cemetery wall, cross the
tunnel and quickly arrive at my destination in 20 minutes. Mrio de Andrade, in his travels, spoke poorly
It is curious to see that part of this output is already systematized in art galleries, but most is still limited
of the urbanization of Rio de Janeiro, preferring, as a good folkloricist would, the suburban homes. I get
to studies, research and recurrent exhibitions, although the circulation is increasingly intense. These data
off on a street with somewhat chaotic architecture and see the ugly shopping center of stone and lime.
are seen to repeat: the same artist that I met in the rooms of Uerj, like Daniela Seixas, I saw exhibiting at
174 | 175
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
the in-depth course at the Parque Lage [Lage Park] and at a show in Barra Mansa. Therefore, at times
ibility has been stimulated by Tiago Carneiro da Cunha, who I sought out to make contact with Adriana
there is a double entry of the people surveyed for the mapping [...].
and to ask for an opinion about how worthwhile a program like Rumos is for an artist like her.
Continuing the visit to Cosmocopa, I also observe the good humored works by Leo Ayres, who
[...] looking at the registrations in the program, I saw that Adriana had not enrolled [...].
I had already met and could speak with. I got to see his portfolio later at a meeting of the Grupo
Alice, coordinated by Brgida Baltar and Pedro Varela. I was positively surprised with one group of
I say this because the broken city makes her an artist with an intriguing and curious background. I soon
photos. Leo made a series of works playing with the masculinity of military camouflage. He substi-
notice that Adriana is resistant to take me to the Ladeira dos Tabajaras - which I respect with frustration.
tutes their design for several patterns of small deer (small elks) [the word for deer in Portuguese,
I was exercising the poetic, colonial, exotic consciousness of the explorer. Quickly, I revived my logical
viado, is a derogatory for gay] in the colors of the uniforms. He even presented this camouflage at
consciousness and sought to leave her at ease to show her work as best she saw fit. Adriana, still next to
the art salon of the Academia Militar de Agulhas Negras (Aman) [Military Academy of Agulhas
the bike, opens a photo album, one of those from a photo-developing shop, and begins to show me the
Negras] and received an award at the show. There is a hilarious video about this: <leoayres.com> in
10 x 15 cm images. There, I see the paintings and hear about her career.
which Leo Ayres registers the work at the Military Academy salon and receives comments about
the photograph without anyone realizing the species of animal that is depicted. The photo I saw
Did you use to sell at the Feira da Help? (This is an art fair on the beach at Copacabana where
at Cosmocopa showed a dormitory room with two beds. On one of them was a military cap, in-
crafts are sold to tourists in front of a brothel that was torn down to make space for the Museu da
sinuating a wonderful lustful homoerotism, which is important for Brazil today. I recalled the story
Sargento Garcia, by Caio Fernando Abreu. Bruno also showed me the work of Rafael Alonso, but I
pointed out that he had participated in a previous edition of Rumos.
Yes she says, and goes on to narrate the same story I had read in the newspapers. I built my house
selling paintings there. Every weekend. Now Ive left. Its no use just selling and not knowing more about
[...] In the meeting room of the hotel, in So Paulo, the Rumos team was all excited after traveling to
the work. I have works throughout the world, but I dont know where, or with whom.
the confines of the continental country for each one of us to present our mappings. On the following
days, the groups of curators opened the portfolios submitted. There we saw Brazil through the per-
I see the paintings and realize that she had begun drawing faces, like these that we see in the streets
spective of art, in quotes. I was able to see the work of Leo Ayres again and realize the importance
around the cities, more duotone landscapes, which are also common in crafts. Soon after, I see the im-
of the voice that spoke poetically of love among equals. I was very impressed by a set of intertwined
pressive paintings of the favelas. The little houses of saffron and ochre in the greens of the favela, as
single beds without frames, joined on a bias, belonging once again to the realm of a desire for roman-
Oswald de Andrade wrote in his poem, make the beauty of her painting. It is a poetic painting that exists
tic ties, not only homoaffective ones, but of love in general. I realized, with satisfaction, that the work
in the facts, as the poet taught us. Adriana does not have the downcast color of Volpi, or the rational
geometry of the concrete movement. What is impressive is the level of reality and banality that moves
her to paint. She does not let herself fall into the trap of slack expressive, gestured strokes, and this
I leave the gallery, now 10 minutes late for my meeting with Adriana Ricardo. I go down the escalators,
separates her by many degrees from craft. The angles chosen are quite close, which drives her not to
take one of the ground floor corridors and see her in front of the window of the Ita Bank. I recognized
abstract shapes. The paintings have a light that obviously struck the contemporary artists mentioned.
her face a bit from what I had seen in a news article. I introduce myself and we leave the shopping
This light is less pop than that of Richard Estes, melancholic as in Eric Fischl. But she is a native-author,
center. She asks me if I work with exhibitions and I quickly explain all the daily activity in the career of
as appreciated by anthropology. She paints the place where she lives, lives in the place where she paints.
a professor-researcher-curator. I let her guide our steps and she leads us towards a motorcycle. I have
Therefore, an emic point of view. Naf, may we ask? As much so as Marepe. Naf art no longer exists,
strong simultaneous feelings of apprehension and desire that she would invite me to go up the hill to the
perhaps not even popular culture. It is a scholarly invention of the 20th century, one of the most brilliant,
favela of Ladeira dos Tabajaras, just a few meters from where we were, on top of the powerful machine.
but it is dead. There can be art for tourists, art for galleries, art for intellectuals, but there is no more naf
art. That thought keeps hammering my mind while I speak with Adriana. For this reason, I like being intrigued by the incorporation of the primitive painting of Elisa Martins da Silveira in the Grupo Frentes
Adriana Ricardo has become the dear one of the artists living in Rio who have started to buy her works.
concrete exhibition back in 1955 and its absence in the criticism of Ronaldo Brito. I think of Adir Sodr
I had already seen a painting of hers in Luiz Zerbinis apartment, another in Laura Limas studio. This vis-
176 | 177
invitation to a journey
traveling viajantes
curators
curadores
Adriana Ricardo recently exhibited at Lehmann Maupin, in New York, curated by Tiago Carneiro da
has been increasingly known for its cultural activities including cinema, literature and photography fes-
Cunha. She sold a painting and is waiting for the R$2,400 in addition to the two other paintings that
tivals. Still in this region, deeper in the interior I found Barra Mansa, which has an extensive program at
did not sell. The monetary rationale that stimulated Adriana to join the old Feira da Help is curious. She
Sesc and other cultural spaces, like the Fazenda da Posse; plus Barra do Pira and Resende. To the North,
was taking a painting course while working as a maid. Born in the interior of Paraba state, she has been
I mapped the largest municipality in the interior of the state, Campos dos Goytacazes. Closer to the
drawing since she was a little child. So, since the paintings take a while to be made, she never had a lot to
capital, I mapped artists from the Baixada Fluminense region and the city of Niteri. [...].
offer in the stand or on the tarp on the dirt ground. About three or four each weekend. She needed to
produce more to sell more and could not, so the income was delayed, for which reason some times she
As Canclini stated, the logic of post-modernity reached Latin America before modernity had been
failed to come to the fair. Now, she says, what good is it to produce just to sell? Adriana is thus thinking
completely implanted. The cruelty of modernity was targeted at progress, at the sedentary-geared
about saving the series of favelas from Rio: Turano, Rocinha, Juramento [...] for an exhibition.
architectural constructions, but the world was heading towards mobility, nomadism, virtual realities,
invisible territories, travel in front of the computer. The Rumos program proposes to map contem-
[...] We are speaking here of someone who is self-taught, a painter living in a needy community, but, once
porary art, which often does not exist. We map and we make art exist through mutual, concomitant
again, the contradiction is raised based on the short distance from the world-famous beach of Copaca-
stimuli through the eyes of the viewer, through the will of those who receive.
bana, where the possibility of touristification was translated into art. Some institutions have striven to
decentralize access to exhibitions by encouraging actions in the outskirts of the state with art courses
[...] in this nomadic world, the mapping took me to few studios given that the artists preferred to show
and, we cannot deny, recreational activities. When I was picking the locations to form the mapping itiner-
their works in portfolios on the computer and, with their output still emerging, many were using residen-
ary, I sought to focus on cities and towns in the state of Rio that were close to courses and institutions
tial spaces without having a specific place for creation. At the same time, this shortened the time needed
dedicated to teaching and promoting the visual arts. For this reason, I referred to the list of locations of
for the meetings because many works would be gathered in a single encounter. From the studios, I
the previous edition of this program and the curator-mapper Guilherme Bueno, who pointed out the
highlight the output of Andrea Brown, Cludia Hersz and Renato Bezerra de Mello, artists who began
importance of Sesc as a potential partnership for promoting the talks and meetings with artists. I spoke
to produce later in life following the courses taken at the Parque Lage [Lage Park], their experiences
with the visual arts coordinator of Sesc-RJ, Stela Costa, who helped me organize some talks in the
outside of Brazil, or their previous jobs in model for high fashion or architecture. Andra, Cludia and
mountain region of Rio de Janeiro state Petrpolis, Terespolis, Friburgo and in the Southern Region
Renato make drawings, embroidery, sculptures and objects of wood, stone, resin, mirrors and tapestry.
of the state. A recurrent fact upon arriving at certain cities was learning that some public or private art
The works are carefully finished. Sculpture was the medium to which I had least access in this mapping.
courses had been discontinued for lack of interested students or lack of care by the institutions. This
I found some artists sculpting outside the capital, in Petrpolis, Terespolis, Paraty, for example, but did
happened in the Southern Region, more particularly in Barra Mansa. Nevertheless, I met students who
not come across any encouragement to a sculpture output in the universities or at the Escola de Artes
had taken those courses and then proceeded to graduate, and masters and doctoral programs in the
Visuais do Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts]. Is this a symptom of the positive invasion of
capital. The thought that the art system in Rio de Janeiro seeks its strategies of marginality in its own
the technological media and of art made with sounds, equipment and music? [...].
capital is something that I could clearly see repeatedly. That is, it appears that the city itself encompasses
and accepts programs running in parallel with the official one, exhibitions in studios, urban occupations,
Everything here seems to be still under construction and already in ruins, the metaphor of the favela in
ephemeral showcases, galleries on public poles, actions of wheatpaste posters on the walls of the city.
Adriana Ricardos paintings becomes meaningful in the contradictions of the unreachable presence of
Rio encompasses its outskirts. This should not be put as a deceptive fact. There is, indeed, the realm for
art in the life of the subjects. From life, in the constructive will to paint and build a shack in the course of
the few: in the galleries, museums and cultural centers, although the predisposition of the press and the
a routine day illuminated by the bursts of fire arms and the fireworks celebrating the new year. Outbursts
artists themselves to participate in parallel events, of more spontaneous actions, is still quite strong. Rio
that belong to my own life as someone who seeks in art the iridescence of this spectacularly beautiful city.
de Janeiro takes shape in uncompromised exhibitions that seek the joy of the gathering to drink beer
I feel the depth of the virgin forest of Macunama, while the scent of the sea rattles my compass. To whom
can I turn? Arrow-riddled Saint Sebastian [the patron saint of Rio de Janeiro], do cloud my vision.
I selected the cities and towns on the basis of geographically strategic positions for a very comprehen-
Right there, in the shopping center of Copacabana, I decide to capture a few shots of the paintings with
sive coverage. In the mountains, I visited Petrpolis, Terespolis and Nova Friburgo. In the Southern
my camera. Adriana Ricardo promises that when she has two of her latest paintings in a more advanced
Region of the state, more specifically on the Costa Verde [Green Coast region], the city of Paraty, which
stage and the two others returned from New York, she will invite me to her studio.
178 | 179
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
JLIO MARTINS
I return to the other hillside of Rio for my last visit of the day, at Galeria da Gvea, my next door. The
gallery is on the ground floor of a residential building. I am sent to meet Ana Stewart, the gallery coowner, and I sit down at a table where other women are talking. I am introduced to the other partner
of the gallery and remind her that we had met at Paraty em Foco. Pretty and perfumed Ana Stewart
shows interest in the Rumos program and decides to show me her own work. They are photos of
The traveler understands better the meanings of estar [to be in the sense of to find oneself in a
Rios women, she tells me. Together we look at a series of black women with bulky bodies lying on the
condition] than he attaches himself to the idea of ser [to be in the sense of to exist/become].
beaches, in the swamps, showing off to the lenses. She explores this side of the broken city as seen
His dedicated eye recognizes possibilities in the most fragile signs of the otherness given the porosity
from the outside. A child on the hillside of Serrinha, in Madureira, hugs an aquarium. All in Rio? I ask.
caused to his perception. The landscape of the encounter unveils stimuli, paths for the traveler.
Yes, in the state of Rio. She promises to send me the portfolio by e-mail, and politely takes me to the
side door of the gallery that is in front of my building.
Rquiem, by Sara Lambranho, arises from the mapping of subtle symbols of power that define ownership
and segregation, limits and embellishes in the city landscape. Lambranho adds graphic shapes of gates,
I return home as if I had covered long itineraries many years have passed recently so different,
railings and security fences to the staffs of a musical score. Safeguarding its origin and the violent and
such unlike times. I realize that in fact we should rethink the notions of travel, boundary, co-residence,
regulatory connotation that such shapes acquire, the composition of musical notations will be played by
interaction, as James Clifford explains. Today, cultural scenes are syncretic, dense and can be the
mountains of New Guinea, as Clifford states, or a neighborhood, a house. And what does art do with
that? Who can interpret them?
There are certain moments when life produces a sound. This is the closing statement in Bratislava,
a video made by Gui Castor, from Esprito Santo state, which records the incomprehensible way of a
lone woman to open her heart in the city park. Engaging the audiovisual language in the intense flowing
of the moment, between the woman and the artist there were no mediation, or camouflage, only distances: the video witnesses an encounter, a sensation. As the Slovak words are not translated, the viewer
becomes an integral part of the mystery, stumbling across the incommunicability established, having an
MARCELO CAMPOS is an assistant professor with the Department of Art Theory and History at Uerj [Univer-
intuition, however, about a significant distinction that brings him closer and ensures an inaccurate com-
sity of the State of Rio de Janeiro]. Holder of a PhD in visual arts from PPGAV [Visual Arts Graduate Program]
plicity with what is presented there. Through many and unsuspected routes, they are able to engage in
from the Escola de Belas Artes [School of Fine Arts]/UFRJ. He has published articles about Brazilian art in Brazilian
and foreign periodicals and catalogs. He is the curator of Casa Forte [Strong House] (solo show of Renato Bezerra
de Mello, Centro Cultural do BNB [BNB Cultural Center]: Sousa, 2010); Estrela Brilhante [Bright Star] (solo show
The traveler is always attentive to the noises and to the failures that are arranged on the diagram of an
of Brbara Wagner, Instituto Cultural Banco Real [Banco Real Cultural Institute]: Recife, 2010); Faustus (solo show
encounter. He also knows that his presence interferes in the phenomena he watches and, hence, feels in-
of Jos Rufino, Palcio da Aclamao [Palace of Acclamation]: Salvador, 2010); E Agora Toda Terra Barro [And
vited to clearly provoke and to offer himself to a mutual contamination. In an effort to become detached
Now All the Ground is Mud] (solo show of Brgida Baltar, CCBNB: Cariri and Fortaleza, 2008/2009); Ocupao
from the expectations he still has, the traveler opens up to understanding the idea of art that grows in
CasaCor [Occupation HouseColor] (collective show at the Jockey Clube [Horse Racing Track], Rio de Janeiro,
each place he visits and, therefore, his own certainties and familiarities will be altered. The travelers eye
2009); Alcova [Hiding-place] (collective show at the Galeria Laura Marsiaj [Laura Marsiaj Gallery]): Rio de Janeiro,
is constantly re-inaugurated.
2009); Desenho em Todos os Sentidos [Drawing in Every Sense] (collective show at Sesc-Petrpolis, Terespolis,
Friburgo, 2008); Serto Contemporneo [Contemporary Hinterland] (collective show at the Caixas Culturais: Rio
Since the last mapping resulting from the Rumos project, the situation of contemporary art in
de Janeiro and Salvador, 2008 and 2009); NAUSEA (solo show of Jos Rufino, Centro Cultural BNB: Sousa and
Esprito Santos has changed. The output from Vitria, Vila Velha and Viana brings much opti-
Fortaleza, 2008 and 2009); Cariri: Impresses de Viagem [Cariri: Travel Impressions] (solo show of Efrain Almeida,
mism. The entire institutional network for artists education, promotion of art making and calls for
exhibitions has been recently reframed and is in full development now. The good quality of the
local young artistic output is a positive sign of the present time. The artists have organized collaborations and implemented common strategies for production and dissemination of their work.
180 | 181
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
The Universidade Federal do Esprito Santo [Esprito Santo Federal University] (Ufes) offers bach-
he has lived in a number of places around the world. The isolation of groups and the veiled formality
elors degree courses in visual arts and a masters degree course (theory). Nonetheless, there is an
surrounding discord and disaffection in Belo Horizonte drew his attention. It was precisely due to his
urgent interest in creating a line in visual poetics geared to artists. The department has now new
being an alien in the place that he could move back and forth these groups and feel them. Interested
professors from various regions of the country, thus contributing to the process of renewal and
in diluting the divide between performer and audience while taking into account this cultural trait
upgrading of education as far as contemporary art is concerned. The university houses two exhibi-
of the Belo Horizonte setting, Shima caused the gathering of 80 guests, including artists, curators,
tion spaces: the Galeria Espao Universitrio [University Space Gallery] and the Galeria de Arte
cultural managers and agents, art students and professors. Under the rule of a social function at the
e Pesquisa [Art and Research Gallery], the latter being entirely devoted to experimentation and
Museum, the experience materialized in the work provoked and made evident symptoms of a disor-
to students engagement in calls for submissions, residency projects, projects of urban intervention
ganized professional category that is also little inclined to sharing. The groups were brought together
and research groups. The consolidation of the Museu da Vale [Vale Museum], in Vila Velha, with
and established an invisible agreement at the table. Such attitude, however, deepened tensions and
its annual seminar on contemporary art, and the strengthening of the Museu de Arte do Esprito
the boundaries of their relationships, thus generating awareness and visibility of the state of things
Santo [Esprito Santo Museum of Art] (Maes), which has undergone an extensive conceptual re-
organization in recent years and applied a new approach to the collection and the programming,
have been fundamental to leverage the local art. Cais das Artes [Quay of the Arts], a project of the
Belo Horizonte takes pride in its natural modernity. However, there is no modern art to see in the city.
state government that initiated the construction of a large institution in the capital city, also plays a
The Museu Mineiro [Minas Gerais Museum] has been closed for renovation for over three years and
major role. Another important project is run in Viana, 20 kilometers far from Vitria. That town has
the Museu da Pampulha [Pampulha Museum] is still engaged in a battle with the local authorities for
unique cultural and geographic resources explored in the residency program promoted by Galeria
the implementation of its outbuilding for collection display. The legacy of art history in Minas Gerais
de Arte Casaro [Casaro Art Gallery]. With good infrastructure to accommodate the artists, the
Casaro houses two exhibition spaces. No doubt that this is the initiative that best accounts for the
superior quality achieved in the state of Esprito Santo in recent years for it establishes standards
On the other hand, institutions are seen to show a renewed interest in understanding the dynamics of
and objectives aligned with the contemporary art output. Opened in 2009, the Casaro promoted
producing and showcasing contemporary art. Following a clear renewal under the last administration,
the residency of Jos Rufino and Josely Carvalho, who produced works based on field research,
the Palcio das Artes [Palace of the Arts] now has a better description of its exhibition profile and also
investigation in the city and the local community engagement in artistic processes. Calls for sub-
strengthened its programming based on calls for submissions, chiefly covering young artists work. The
missions intended for research and keeping the Galeria Homero Massena [Homero Massena Gal-
Bolsa Pampulha [Pampulha Fellowship], in turn, still holds the most important program of the city, albeit
lery] occupied are important instruments to foster contemporary art making of young artists in
the inconsistencies in the latest editions and the recurrent bureaucratic changes made to the Museu de
Esprito Santo, in which case the highlight is the Ateli Estmulo s Artes Visuais [Encouragement
Arte da Pampulha [Art Museum of Pampulha]. The Bolsa Pampulha [Pampulha Fellowship] receives
to Visual Arts Studio]. The gallery is on the first floor of an abandoned building and has been try-
resident artists from all the Brazilian regions. This brings fresh air to the context and builds the founda-
ing to occupy the upper floors with studios for artists. It is very important that these spaces, which
tions for a dialog among local artists. The fellowship holders live in the city for a year and materialize
are institutionally oriented to contemporary art, consolidate and expand their actions and projects,
keeping the market heated and ensuring the art landscape in Esprito Santo to attain its maturity.
It is also important to point out the initiatives of the Centro de Experimentao e Informao de Arte
Belo Horizonte is 590 kilometers far from So Paulo and 450 from Rio de Janeiro. However, these
[Art Experimentation & Information Center] (Ceia) related to research, training, production and exhi-
data are inaccurate. By keeping an oscillating distance from the RioSo Paulo corridor, alternating
bition of contemporary art from Belo Horizonte, including themed events, seminars, publications and
between close and integrated at times and marginal and distant at others, the capital of Minas Gerais
residency programs plus the calls for submissions from Cemig, Copasa, BDMG, Funarte [National Arts
state preserves some dilemmas and ambivalences in its cultural context. As a final project for the
Foundation] and Centro Cultural da UFMG [Cultural Center of the Minas Gerais Federal University],
exhibition upon completion of one year of residency in Belo Horizonte by means of the Bolsa Pam-
pulha [Pampulha Fellowship] in 2011, artist Shima made Jantar no Museu [Dinner at the Museum].
The performance consisted of hosting a dinner party at the Museu de Arte da Pampulha [Pampulha
It is curious that the two art schools in the city Escola de Belas Artes, [School of Fine Arts], UFMG
Art Museum] to friends who he had met amid the city art community at that time. Shima is a traveler,
[Minas Gerais Federal University], and Escola Guignard [Guignard School], UEMG [University of
182 | 183
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
the Minas Gerais State] do not partner for joint actions. By the way, a negative sign of the Belo
in its facilities, the institution maintains the Prmio Usiminas de Artes Visuais [Usiminas Visual Arts Award],
Horizonte context is the lack of opportunities for meetings, exchanges, dialogs and collaborations
the call for submissions of works to be displayed at the Galeria Zlia Olguin [Zlia Olguin Gallery] and the
both at the level of institutions and the artists. From this perspective, the contemporary art land-
Frum de Arte Contempornea [Forum of Contemporary Art] as well as seminars and workshops of key
scape in Belo Horizonte is fragmented and disorganized, with the caveat of the excellent quality
importance for contact with other artists and artist training. Special attention must be given to the initiatives
of the young artists work. Despite the absence of a consistent institutional network in the city, the
young artists do coordinate actions, particularly by means of independent initiatives. This has contributed to a more hectic art community. It is important to point out a major failure in educational
The short distance between Juiz de Fora and Rio de Janeiro is not only geographic. The cultural and
institutions: the absence of active exhibition spaces within the schools. The gallery at EBA [School of
artistic references of the former are more rooted in Rio de Janeiro than in Minas Gerais. The local
Fine Arts] was converted into a room for clerical services of the school, while the Galeria da Escola
landscape is still being shaped, mainly due to the institutional consolidation of the Museu de Arte
Guignard [Gallery of Escola Guignard] is closed most part of the year, except for the recent Atelier
Moderna Murilo Mendes [Murilo Mendes Museum of Modern Art] (Mamm), whose museological
Aberto [Open Studio] project, which receives young artists to occupy the space and to develop
and technical facilities are excellent, and the creation of the course with concentration in the arts at the
projects there. The period of production is opened for visits and results in an exhibition at the end
Instituto de Arte e Design [Institute of Art and Design] at the UFJF [Juiz de Fora Federal University],
of six months. CemeteryThe interior of Minas Gerais state is amazing because of its rich diversity
which has been reinforcing its teaching staff. The first group of students in that course will graduate in
of cultural particularities. The art landscape in Uberlndia is very well structured in the institutional
2012. On the occasion of my visit, the Mamm was hosting a traveling exhibition of part of the works
sphere. The Universidade Federal de Uberlndia [Uberlndia Federal University] (UFU) offers a
from the 29th So Paulo Art Biennial. There is an incipient generation of young artists interested in
bachelors degree course in visual arts and recently rolled out its masters course. The curriculum
contemporary art getting organized in study groups and putting up events and exhibitions that will
was updated to include laboratories and research groups for a themed approach to contemporary
art languages. The university is also responsible for the management of the MUnA - Museu Universitrio de Arte [University Art Museum], in Uberlndia, that serves as a laboratory for students
The historic legacy and landscape of buildings of Ouro Preto city determine the visuality prevailing
in the fields of editing, production, museology, conservation and art education. The museum re-
in the artistic output of this town. Despite a clear protection of handicraft and local themes, there
ceives traveling projects, promotes exhibitions based on its collection and sets its programming with
is a strong relation between art making and tourist demands. Hence, any expression of contempo-
six annual exhibitions through a nationwide open call for submissions. The work in the museum is
rary art in town is occasional, either because of the Festival de Inverno [Winter Festival] or some
technically exemplary and engaged in education, providing vocational training opportunities to stu-
exhibitions in local institutions. The Fundao de Arte de Ouro Preto [Ouro Preto Art Founda-
dents. The local government maintains a network of exhibition spaces the programming of which is
tion] (Faop) is responsible for the technical training of artists and restorers and receives young
based on calls for submissions. Galeria de Arte Ido Finotti [Ido Finotti Art Gallery], Oficina Cultural
artists from across the country in its exhibition space, the Galeria Nelo Nuno [Nelo Nuno Gallery]
[Cultural Workshop], Casa da Cultura [Culture House] and Espao Cultural do Mercado [Market
through call for submissions. In the meeting held, a group of young artists interested in urban in-
Cultural Space] are institutions dedicated to art exhibition that keep the local art community very
tervention and graffiti drew the attention. Of course, they faced space limitations in the town. The
active. Their actions result in more visibility of young artists and exchange of ideas and experiences
issue raised and discussed was: how to deploy the heavy historic, artistic and architectural legacy of
with artists from other regions. The good quality of the output certainly stems from a remarkable
the town through contemporary art and considering the urgency of the present time?
organization of the institutional landscape in association with the university. The Igreja do Esprito
Santo do Cerrado [Church of the Holy Spirit of the Cerrado], designed by Lina Bo Bardi, portrays
In Congonhas, the handicraft tradition and the strong benchmark of Aleijadinhos work standardize the
the magnitude of the city cultural identity, especially if we contrast it with the architectural heritage
visual output in town, almost exclusively dedicated to the soapstone sculpture and landscape painting.
legacy of modern art, except for architecture, is not available to the local people, a sign of a slow
support Usiminas operations. In 2002, this steel company opened the Centro Cultural Usiminas [Usiminas
and occasional context. The lack of references of their own history is noticed in the inconsistent lo-
Cultural Center], where local artists find training (apart from the course in architecture at Unileste [Univer-
cal artistic output. Without education institutions and training opportunities, there is no landscape
sity Center of Eastern Minas Gerais], now discontinued). In addition to receiving and producing exhibitions
184 | 185
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
Although Diamantina is the venue of the Festival de Inverno [Winter Festival] of UFMG [Minas
experiences. The action is a manner of political affirmation: by trespassing the boundaries of pri-
Gerais Federal University], the local artists do not have any chance in this event. With the purpose
vate property, the right to come and go and to experience transient and ephemeral conditions of
of making up for such issue, the Museu do Diamante [Diamond Museum], despite its history-
oriented collection objects, photographs and furniture that represent the material memory of
history of labor in the region since 2005 has been delivering art history workshops and courses
aimed at developing the artists skills. The Ateli Aberto [Open Studio] project provides a space
for discussion and collective production and we hope that it contributes to shape and foster the
JLIO MARTINS is a graduate in history of UFMG [Minas Gerais Federal University] and in Fine Arts of the
local landscape.
Escola Guignard [Guignard School]. He is currently pursuing a masters degree at the Escola de Belas Artes [School
of Fine Arts], at UFMG. He is a curator, art historian and editor. Since 2003, he has cooperated with the Centro de
For the first time, the mapping included the towns of Nova Lima, Tiradentes and So Joo del Rey. In
Experimentao e Informao de Arte [Experimentation and Information Art Center], in Belo Horizonte, linked to
the past five years, Nova Lima has been the choice for cultural spaces, particularly art galleries. The town
the RijksAkademie Artists Initiative (Rain), Amsterdam. In 2009, he was a resident of the Programme Courants du
has attracted many artists, who open their studios there. However, it is not possible to see any unfolding
Monde, Paris. Since 2004, he has conducted researches on modern and contemporary art and written for catalogs
in the local art output, still shy and inconsistent. The Casa Aristides de Artes e Ofcios [Aristides House
and books. Author of Stphane Vigny: Savoir-forme (Museu Inim de Paula: Belo Horizonte, 2010). General curator
of Arts and Crafts] provides technical workshops in the arts and the call for submissions for the munici-
to the Museu Inim de Paula [Inim de Paula Museum] since 2008, where he coordinates artistic, educational and
pal salon is also aligned with an output markedly related to craft works. It is important to highlight the
editorial projects. He was responsible for the exhibitions of Inim de Paula, Andr Hauck, Marco Antonio Mota, JB
Jardim Canad Centro de Arte e Tecnologia [Jardim Canad Arts and Technology Center] (JA.CA),
where artists have come since 2010 to develop projects over a one-year period. The Center also has a
residency program of six months for international artists and of one year for local artists. At the end of
each semester, an exhibition and series of talks are held. One of the institution interests is to explore the
region peculiar context from the poetic perspective.
In So Joo del Rey, the course in applied arts with concentration in ceramics was created in the university
as a response to a supposed need to organize the handicraft activity in the region. Therefore, naturally,
the course was framed on the basis of an extremely conservative and outdated approach. However, new
professors have recently joined the department faculty. Their mission is to effectively consolidate the arts
course in town and to manage the university Cultural Center programming. Tiradentes has been a national
tourist destination in recent years. For this reason, the local handicraft lost some originality and responds to
the demands and expectations of tourists visiting the region.
The journey motivates interventions proposed by This Land Your Land, a collective formed by
artists Ines Linke and Louise Ganz. The journey understood as the movement of opening and
surrender to the unknown, the promise of adventure and discovery, fundamentally different from
tourist consumption determinations. The artists walk through unlike routes that make up the reinvention of a landscape in the scale of its occupation and poetic usage. In Route 1, the itinerary to be
covered corresponds to the water pipeline which supplies Belo Horizonte. The micro-interventions
made along the itinerary isolating native plants with biodegradable tissues, planting other species,
burying texts in the ground, opening tracks on the ground respond to immediate stimuli from
the location, promoting and exercising new ways to relate and inhabit the world through aesthetic
186 | 187
curadores viajantes
FRANZOI
Comeo... O viajor
(incio de tudo)
Receber o convite para ser o curador de mapeamento da Regio Sul do Brasil, em dezembro de
2010, foi uma grande emoo que segundo Eduardo Galeano na obra O Livro dos Abraos, mais
especificamente no poema A Funo da Arte me deixou mudo de beleza. Essa mudez se deu por
termos conscincia de ser um dos mais importantes projetos de arte contempornea do pas; pela
tamanha responsabilidade que cai sobre qualquer pessoa envolvida nesse processo e pela oportunidade de crescimento, tanto intelectual quanto profissional, j que se trata de um projeto de formao
de artistas e curadores.
Ao pensar em como poderia desenvolver o trabalho da melhor forma possvel, partimos da experincia
anteriormente adquirida na primeira edio do Rumos Artes Visuais de 2000. lgico que no podemos esquecer que, ao longo desses anos, cada edio sofreu transformaes e adaptou-se ao contexto
da poca. Como artista selecionado, naquela ocasio, foi de grande importncia a presena do curador
de mapeamento da Regio Sul, Jailton Moreira, pois a partir de sua visita e conversa pudemos perceber
REGIO SUl
188 | 189
curadores viajantes
Aps listar as cidades, surgiu um novo problema: como conseguir atingir todas elas durante o perodo
A arte contempornea de Curitiba, representada na pintura, no desenho, nas esculturas, nas instalaes,
de inscrio, de 24 de fevereiro a 29 de maio? Para isso foi necessrio um cronograma preciso e minucio-
nos objetos, nos vdeos e nas intervenes, alimentada pelas academias j citadas, pelos espaos exposi-
so e contatos antecipados com gestores culturais, curadores, artistas, instituies pblicas e particulares.
tivos. Alm dos espaos j mencionados, se destacam o Museu de Arte da UFPR, a Casa Andrade Muricy,
o Centro Cultural Solar do Baro e o Museu Alfredo Andersen. A Bolsa Produo, projeto da Fundao
Meio... O percurso
Cultural de Curitiba em parceria com a prefeitura, proporciona aos artistas a oportunidade de aprofundar
sua produo em pesquisas prprias por meio de uma bolsa anual que prev o acompanhamento de
PARAN
Cascavel
Do Rumos Artes Visuais 2008-2009 at esta edio percebeu-se que, se antes a arte contempornea
estava praticamente concentrada na capital, hoje, embora o maior nmero de artistas e instituies ain-
Pela primeira vez o Rumos Artes Visuais visitou a cidade. O contato foi Ana Lcia Simo, coordenadora
da estejam em Curitiba, h uma mudana, tanto no pensamento como na posio dos envolvidos com
do Museu de Arte de Cascavel, que reuniu artistas para uma palestra e leitura de 13 portflios. A cidade
possui licenciatura em artes na Unio Educacional de Cascavel (Univel). E curso de artes visuais na
Unio Pan-Americana de Ensino (Unipan), onde proferimos palestra para alunos, professores e interes-
Curitiba
sados, organizada pela artista e professora Nani Nogara. Tambm a Associao dos Artistas Plsticos
de Cascavel (Aaplac) se fez presente no contato com alguns artistas e no catlogo da Exposio Cole-
tiva Gesto 2005/2007. A Mostra Cascavelense de Artes Plsticas vai para sua 19 edio.
a exposio Estado da Arte: 40 Anos de Arte Contempornea no Paran. Maria Jos Justino assina a
curadoria e o texto Poticas Transitivas: O Estado da Arte no Paran. J Artur Freitas foi responsvel
Percebe-se que a contemporaneidade est na cidade. Existem poucos artistas com uma produo con-
pela curadoria e o texto A Esttica da Presena: Arte Contempornea em Curitiba nos Anos 2000.
Tambm pudemos ver no Museu de Arte Contempornea do Paran (MAC-PR) a exposio Poss-
veis Conexes II que contou com a participao dos alunos da Escola de Msica e Belas Artes (Embap), Universidade Federal do Paran (UFPR), Universidade Tuiuti (UTP) e Faculdade de Artes do
Londrina
Paran (FAP). A seleo e curadoria ficaram a cargo dos professores de cada instituio. Visitamos
vrios atelis e estivemos com quatro grupos de artistas para falar sobre o Rumos Artes Visuais e
As pessoas contatadas foram Elke Coelho, Juliana Miranda de Freitas e Sandra Mara Montressol
leitura de portflios.
Sanches Jia. Danilo Villa organizou, na Diviso de Artes Plsticas da Casa da Cultura da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a palestra e a leitura de 31 portflios dos artistas participan-
O retorno cidade se deu em mais dois momentos que foram concentrados nas universidades com
tes. A produo contempornea est representada nas instalaes, nos objetos, nas pinturas, nos
bacharelado em artes visuais: na UTP, por meio de Cristina Mendes; na UFPR, no Departamento de
desenhos e nas esculturas incentivados pela universidade, pelo Museu de Arte de Londrina, pela
Artes (DeArtes) por meio de Consuela Schlichta e Geraldo Leo; na FAP, por intermdio de Andr
Secretaria de Cultura e por grupos de artistas. Por ocasio da visita, estava prestes a ser lanado
Rigatti e Sonia T. Vasconcellos; na Embap, pela organizao de Deborah Bruel. Nas instituies foram
o 1 Salo de Arte Contempornea de Londrina com o tema A Arte em Defesa da Terra: Urgente.
realizadas palestras, orientao de como participar do Rumos Artes Visuais e leitura de portflios. No-
vamente visitamos atelis e tivemos contato com grupos de artistas. No total foram 5 palestras e leitura
de 68 portflios.
190 | 191
curadores viajantes
Maring
Paranagu e Antonina
Outra cidade em que o Rumos Artes Visuais se fez presente. O contato se deu com Flor Duarte, secre-
Diogo Rodrigues Alves, administrador da Casa da Cultura Monsenhor Celso, organizou, em parceria
tria Municipal de Cultura de Maring; Kiyomi Hirose, coordenadora de Artes Visuais da Universidade
com a Associao de Artistas Visuais de Paranagu, palestra e leitura de portflio de nove artistas.
Estadual de Maring (UEM); Deborah Kemmer, coordenadora de artes visuais do curso de licenciatura
Embora j tenha tido um passado vertiginoso nas artes, a cidade vive muito do artesanato e do turismo,
e bacharelado em artes visuais do Centro Universitrio de Maring (Cesumar). Foram organizadas trs
palestras: no Teatro Municipal Calil Haddad para artistas da cidade e regio; na UEM, por Sheilla Sou-
contemporneos a se deslocar para grandes centros, no caso a capital Curitiba. A presena de um artista
za, destinada aos alunos e professores da instituio; e no Cesumar, organizada por Deborah Kremmer,
igualmente para alunos e professores. Aps cada palestra, foram abertas trocas de ideias entre os artistas
interessados e leitura de 27 portflios. Tambm foram realizadas visitas ao ateli de alguns artistas.
Maring est num perodo de transio, enquanto alguns artistas ainda esto no academicismo e/ou no
modernismo, outros se firmam na contemporaneidade e encontram dificuldades para desenvolver e expor seus trabalhos. H necessidade de investimentos em espaos apropriados e curadorias especializadas.
Pato Branco
caracterstica marcante da arte do estado. No podemos deixar de registrar a estrutura de ensino formal em artes visuais, sedimentada e com universidades estrategicamente posicionadas, que atingem
Uma tentativa de levar o Rumos Artes Visuais para o oeste do Paran tornou-se ineficaz visto que no
praticamente todo o estado, sendo procuradas at mesmo por acadmicos de outras regies do pas
Secretaria Municipal de Educao, Cultura, Esporte e Lazer (Smecel) e responsvel pela Galeria Mu-
artistas e professores para a capital, o que proporciona um intercmbio entre instituies, j que muitos
nicipal Maria Genoveva Argenton e o Museu Municipal Jos Zanella. Ambos no so apropriados e
nem utilizados para exposies de arte contempornea. No Centro Cultural Raul Juglair consegui uma
da produo local. Tambm se percebe que artistas, professores, pesquisadores e gestores no esto
lista com nome, endereo e telefone de 18 artistas. Aps contato, constatou-se ser praticamente nula a
apenas preocupados com questes regionalistas, mas conectados com a produo contempornea
nacional e internacional.
Ponta Grossa
Bag
Cristina Mendes passou contato de Wilton Correia Paz, coordenador da Galeria de Arte da Pr-Reitoria
Na semana anterior visita do Rumos Artes Visuais, Sapiran Brito assumiu a Secretaria Municipal
de Extenso (Proex) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), e este organizou a palestra para
de Cultura. A cidade enfrenta problemas graves com a conservao do patrimnio cultural e edi-
alunos, professores do curso de licenciatura em arte visuais e demais artistas da cidade e regio. Na ocasio
ficaes histricas que carecem de lei especfica para tombamento e conservao. Uma exceo
foi realizada a leitura de 19 portflios. Na Galeria de Arte da Proex, localizada no Prdio Histrico da Proex,
a restaurao do Centro Histrico Vila de Santa Thereza. A arte contempornea fica a cargo do
acontece anualmente um salo de arte temtico de caracterstica modernista. Existe um edital de ocupao
Da Maya Espao Cultural. O espao pertence a uma empresria carioca que incentiva a produo
das galerias administradas pela Secretaria Municipal de Cultura: Espao Cultural Capitolium Vest Art, Galeria
cultural. Uma das principais linhas de atuao do espao est voltada a exposies de artistas con-
Lcio Mauro Ribeiro e Galeria Joo Pilarskz, onde ocorre o Salo de Artes Plsticas de Ponta Grossa que
vai para sua sexta edio. Uma iniciativa privada o Salo de Artes da Unimed que vai para sua nona edio.
fundamental e mdio das escolas municipais da cidade, que contam com visitas guiadas e reali-
Organizado e com curadoria de Celso Parubocz, no possui espao expositivo adequado j que uma sala
zao de workshops voltados a prticas artsticas sintonizadas com as mostras realizadas. Foram
do Palladium Shopping Center adaptada para a mostra. A maioria da produo local est voltada para a
192 | 193
curadores viajantes
Caxias do Sul
a presena da contemporaneidade quase nula. O Museu de Artes Visuais Ruth Schneider (Mavrs) e
o curso de licenciatura em artes visuais da Faculdade de Artes, ambos da Universidade de Passo Fundo,
Mara Aparecida Magero Galvani organizou junto ao Centro de Artes e Arquitetura e ao curso de bacha-
no possuem uma poltica voltada para a produo artstica contempornea e formao de artistas. Foi
relado e licenciatura em artes visuais da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e unidade de artes visuais da
Secretaria da Cultura da Prefeitura Municipal a palestra para alunos, professores, artistas e interessados no
Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovs Filho. Merece destaque o Ncleo de Artes Visuais (Navi)
Pelotas
pelas aes desenvolvidas por meio de exposies, cursos, palestras e publicaes sobre arte contempornea
onde tambm proferimos palestra e leitura de portflios. Alm desses contatos, visitamos atelis de artistas
um dos polos de produo e divulgao da arte contempornea do estado. O contato foi realizado
que se mostraram ativos, atentos e em busca de uma produo contempornea. Leitura de 24 portflios.
com Eduarda (Duda) Gonalves, Raquel Ferreira e Ricardo Mello. A maior parte da formao de
artistas contemporneos fica sob a responsabilidade da Universidade Federal de Pelotas no Instituto
Novo Hamburgo
de Artes e Design (IAD/UFPEL). Ligados ao IAD esto uma Galeria de Arte e o Museu de Arte
Leopoldo Gotuzzo, segundo os artistas, com o acervo muito centrado em artistas regionais e uma
O contato foi Lurdi Blauth que organizou um encontro com artistas e alunos na Federao de Esta-
programao irregular. O projeto Arte no Porto, que consiste em uma exposio coletiva de alunos
belecimento de Ensino Superior (Feevale). A instituio possui bacharelado em artes visuais e uma
e professores do IAD em um dos galpes do porto de Pelotas, um diferencial e abre espao para
galeria de artes, a Pinacoteca, que organiza, promove e divulga exposies, encontros e debates com os
novos artistas. O gape Espao de Arte, criado recentemente e com intensa programao cultural,
artistas, projetos de arte-educao e bancas de graduao. Aps palestra sobre o Rumos Artes Visuais
comeamos a leitura e orientao do portflio de dez artistas. Em funo de estarem muito prximos
neidade, embora a cidade apresente vida cultural prpria, est conectada com s questes atuais e
a Porto Alegre, os artistas vivenciam a cena cultural da capital o que contribui para sua formao. A
produo pequena, mas conectada com as questes contemporneas. Para finalizar, Maristela Winck
convidou-nos para a abertura da exposio de Regina Silveira no Museu da Fundao Iber Camargo,
Porto Alegre
ocasio em que fomos apresentados a vrios representantes da gesto cultural de Porto Alegre e regio.
Gabriela Motta passou uma lista de contatos. A estratgia foi contato por e-mail com artistas, professoMontenegro
res, curadores e gestores culturais. Infelizmente poucos deram retorno, mas os que responderam foram
de grande ajuda e eficincia. Estivemos por trs ocasies na cidade. Alguns artistas formaram grupos
Maria Isabel Petry Kehrwald, diretora executiva da Fundao Municipal de Artes de Montenegro (Fun-
e nos receberam em suas residncias/atelis para palestras e leitura de portflios. O ateli coletivo e a
darte), organizou duas palestras. tarde, a palestra e leitura de portflio de 17 artistas; e, noite, palestra
Galeria Subterrnea, onde se promovem exposies, cursos e eventos em arte contempornea, reuniu
aberta a todos os alunos dos cursos da Fundarte, nas reas de artes visuais, msica, dana e teatro, que
objetiva a formao de professores-artistas, ou seja, professores aptos a orientar os saberes da arte porque
fazem arte. Esse o grande diferencial da cidade. L encontramos o Seminrio Nacional de Arte e Edu-
Junto com Gabriela Motta fizemos uma visita tcnica Fundao Iber Camargo (FIC) onde estava
cao Fundarte/UERGS que est na 22 edio; a Revista da Fundarte, especializada em arte; a Galeria
sendo montada a exposio Mil e um Dias e Outros Enigmas, de Regina Silveira com curadoria de Jos
de Arte Lode Schwambach, ocupada por meio de edital e convites e que abriga o Salo Fundarte/Sesc
Roca. Pudemos conhecer o ateli de gravura que desenvolve o Programa Artista Convidado ao
de Arte 10x10. A contemporaneidade se faz presente na pesquisa em artes visuais e arte-educao por
que convida nomes de projeo nacional e internacional para trabalhar no ateli durante uma semana,
com o objetivo de criar obras inditas , o Programa Educativo e a Bolsa Iber Camargo programa de
residncias internacionais realizado anualmente pela fundao.
Passo Fundo
Maria Ivone dos Santos, artista e professora no Instituto de Artes no curso de graduao, mestrado e
Quase no h presena de representantes da arte contempornea na cidade. Embora haja uma Asso-
doutorado em artes visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), organizou pales-
ciao dos Artistas Plsticos de Passo Fundo no conseguimos contato e, pelo que fomos informados,
194 | 195
curadores viajantes
Tambm visitamos vrios espaos culturais que apresentam programao destinada s artes contem-
porneas. Destes, so municipais: Pao Municipal, Usina do Gasmetro, Galeria Iber Camargo. Esta-
artista Suzana Gruber e o maravilhoso trabalho que exerce junto a jovens alunos/artistas da cida-
duais: Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Margs), Casa da Cultura Mrio Quintana
(CCMQ), Museu de Arte Contempornea do Rio Grande do Sul (MACRS) e o Instituto Estadual
o Ateli de Arte Pblica onde funciona o Ateli de Escultura e o Ateli de HQ. H muita efer-
de Artes Visuais (Ieav). E instituies privadas: Fundao Cultural e Assistencial Ecarta, que tem uma
Foram cinco palestras, 38 leituras de portflio artstico e diversos contatos e orientaes por e-mail que
nos levaram a perceber que a arte contempornea em Porto Alegre impulsionada pela universidade e
demais cursos destinados formao em artes visuais, pela programao cultural dos espaos j men-
SANTA CATARINA
cionados e pela produo local que estabelece conexes com outras cidades do pas e do exterior com
exposies, intercmbios acadmicos, residncias artsticas, entre outros.
Um diferencial do estado, alm do fato de a capital no ser a maior cidade, no que se refere ao nmero de habitantes, tambm no l que se concentram os maiores investimentos pblicos na rea de
artes visuais. Fica esse mrito a Joinville que apresenta uma poltica cultural em consonncia com o
da arte contempornea do pas e do exterior. Na medida em que extrapola os limites geogrficos, ela se
Plano Nacional de Cultura (PNC) com diversas aes e a implantao do Sistema Municipal de De-
senvolvimento pela Cultural (Simdec). Outro diferencial a atuao do Servio Social do Comrcio
(Sesc) que, desde 2004, viabiliza uma srie de aes por meio de dois projetos que tm como objetivo
Rio Grande
levar conhecimento qualificado sobre o processo criativo, artstico e mercadolgico das artes para todas
as cidades onde o Sesc atua, proporcionando amadurecimento e desenvolvimento tanto para artistas
Atravs de Raquel Ferreira entramos em contato com o professor e artista Claudio Maciel da Fundao
Universidade Federal do Rio Grande que organizou a palestra e a leitura de portflio com os artistas
interessados no miniauditrio do curso de artes visuais. A convite do artista e idealizador, Law Tissot, vi-
O Projeto Pretexto idealizado e realizado inicialmente pelo artista e curador Fernando Lindote
sitamos o Ponto de Cultura ArtEstao onde funciona a Fanzinoteca Mutao um espao de preserva-
consiste em trs encontros coletivos de discusso terica sobre a produo pessoal entre um
o, ensino e pesquisa sobre mdia livre, arte xerox e arte postal, e um ateli de oficinas livres e gratuitas
de fanzines, arte xerox e grafite. Tambm visitamos vrios atelis. No total, foram 21 artistas contatados.
de uma exposio.
artistas do estado que j participaram do Pretexto para troca de experincias, discusso de questes
relativas ao circuito de arte do pas, montagem e abertura da exposio e um bate-papo com os artistas
uma agenda que incluiu quatro palestras, 32 leituras de portflios, entrevista na Rdio Onda Anmala para divulgao do Rumos Visuais e visita a atelis. A Universidade Federal de Santa Maria
universidade federal que oferea graduao e muito menos mestrado e doutorado. A nica institui-
instituio. Outro espao que merece destaque Grupo Sala Dobradia [www.saladobradica.
versidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) no Centro de Artes (Ceart). Outro ponto negativo
o governo do estado no possuir secretaria prpria de cultura ficando esta rubrica para a Secretaria
dentes Macondo Coletivo, Ponto Referencial Sul do Circuito Fora do Eixo. O grupo trabalha com
de Turismo, Cultura e Esporte, o que dificulta a consolidao de uma poltica cultural de maior abran-
196 | 197
curadores viajantes
Chapec
Mia vila, gerente do Museu de Arte de Blumenau (MAB), e Jamil Antnio Dias, tcnico de cultura
Camila Pauline Miotto e Antonio Dante Acosta organizaram e viabilizaram a palestra no Sesc onde
do Sesc, foram os articuladores para a realizao das trs palestras e leitura de 23 portflios de artistas
existe uma galeria de arte, sendo este o melhor espao expositivo da cidade. Os projetos dessa institui-
de Blumenau, Indaial, Pomerode e Timb (os artistas das trs ltimas cidades da regio se deslocaram
para Blumenau). Duas das palestras ocorreram no MAB que possui edital de exposio anual e promove, desde 1994, e de forma bienal, o Salo Elke Hering: Mostra Nacional Contempornea de Artes
Janana Schvambach reuniu artistas para palestra e leitura de portflios no Centro de Cultura e
Visuais, que vai para sua dcima edio. Houve a participao da Associao Blumenauense de Artistas
Eventos Plnio Arlindo de Ns. A Fundao Cultural de Chapec realiza o Salo Chapecoense
de Artes Plsticas, que vai para sua nona edio, destinado apenas a artistas residentes em Santa
da regio. A terceira palestra ocorreu na Fundao Universidade Regional de Blumenau (FURB) para
Catarina. J a Galeria Municipal de Arte Dalme Marie Grando Rauen prioriza a produo de
artistas da cidade.
As aes voltadas s artes ficam a cargo do MAB com seu calendrio de exposies; do Sesc, com o
artes visuais e a Galeria de Artes Agostinho Duarte, local com pouca estrutura e destinado exposio
os artistas que rompem a barreira da cidade e do estado, mas os que o fazem so atuantes.
Cricima e Tubaro
Sonia Loren, presidente da Associao dos Artistas Visuais da Regio Oeste de Santa Catarina
(Adentro), viabilizou encontro com os artistas no ateli Cristina Luviza Battiston. Aqui se percebe um
Daniele Zaccaron, diretora da Galeria de Arte de Cricima da Fundao Cultural de Cricima (FCC),
Cristine Gomes, setor de cultura do Sesc, e a artista Rosangela Becker foram as articuladoras para a re-
alizao da palestra, da leitura de 23 portflios e das visitas aos atelis. A arte contempornea fomen-
tada pela parceria entre Sesc e FCC por meio do Pretexto, do calendrio de exposies temporrias e
do desenvolvimento de projetos e aes educativas.
Percebe-se que houve um avano significativo com relao discusso e produo da arte contempornea da cidade e parabenizam-se artistas e gestores pelo comprometimento na produo e na difuso
dessa contemporaneidade.
geogrfica expondo em outros espaos, inserindo Cricima novamente no mapa das artes visuais aps
anos de recluso.
Florianpolis
A Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) possui cursos de graduao em bacharelado e licenciatu-
ra em artes visuais e o Espao Cultural Unesc, no hall do bloco administrativo, se mostra inadequado para expo-
Stolf, artista selecionada no primeiro Rumos Artes Visuais e docente do Centro de Artes (Ceart),
sies. A Galeria de Arte Helen Rampinelli um espao novo destinado a exposies de arte contempornea.
organizaram palestra e leitura de portflios dos alunos da entidade. Sendo a nica instituio pblica do estado a oferecer curso de graduao e mestrado em artes visuais, ela a responsvel
Por intermdio de Marco Aurlio Castro Rodrigues, do Sesc de Tubaro, encontramos oito artistas da
pela formao de diversos artistas vindos de vrias regies do estado. Fernando Boppr organizou
cidade e regio para palestra e leitura de portflios. As exposies temporrias e o prprio Pretexto,
palestra e leitura de portflios no Museu Victor Meirelles, instituio federal com edital de exposi-
principal referncia em arte contempornea no local, so realizados no nico espao para exposies
es para artistas e agenda de cursos voltados ao fomento das artes. No total foram duas palestras,
da cidade, localizado no Centro Municipal de Cultura onde tambm fica o Museu Willy Zumblick. A
produo contempornea ainda muito tmida e requer grande investimento fsico e conceitual.
198 | 199
curadores viajantes
A Fundao Cultural Badesc dispe de edital para exposies temporrias. A Fundao Catarinense
Plsticos possui um espao para oficinas e tambm adaptado para mostras. Poucos associados tm uma
de Cultura responde pelo Museu de Arte de Santa Catarina (Masc) e pelo Museu Histrico de San-
produo contempornea. A Fundao Cultural investe todos os anos em um Fundo Municipal de Cul-
ta Catarina, antigo Palcio Cruz e Souza, este com edital para exposies temporrias. A Fundao
tura para o desenvolvimento de projetos destinados formao e divulgao da arte. Na rea de artes
Cultural de Florianpolis Franklin Cascaes (FCFFC) possui Lei Municipal de Incentivo Cultura que
visuais deve-se destacar a artista e arte-educadora Cristina Pretti como uma das principais articuladoras
no atende a demanda. O espao destinado s artes fica a cargo da Galeria Municipal de Arte Pedro
das artes da cidade frente de vrios projetos. Pela proximidade e pela inexistncia de aes nas artes,
Paulo Vecchietti, que carece de estrutura fsica e programao voltada arte contempornea e a aes
educativas. Melhor aproveitado o espao destinado ao Memorial Meyer Filho, que, embora com es-
pequena e com raras excees. A comunidade quase no toma parte das aes contemporneas
pao pequeno, possui programao voltada arte contempornea, por meio de convite aos artistas, e
preocupa-se com a documentao e a publicao. O Sesc no se faz to presente por no ter espao
prprio para exposies, o que dificulta a realizao de seus projetos.
Importante polo cultural do estado, Joinville figura entre as principais cidades de Santa Catarina
tornando-se modelo de gesto pblica cultural. Foi a primeira no estado a aprovar lei municipal de
Ane Fernandes, diretora de Artes e da Casa da Cultura Dide Brando, unidade da Fundao Cultural
cultura que instituiu o Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (Simdec), vinculado
de Itaja (FCI), organizou a palestra aberta a artistas, alunos, professores, gestores e produtores culturais.
Fundao Cultural de Joinville (FCJ), que tem como objetivo estimular a produo e a execuo
Participaram representantes da Universidade do Vale do Itaja (Univali), SescItaja, Associao dos Ar-
tistas Plsticos de Itaja (AAPI), Fundao Cultural de Balnerio Cambori (FCBC), Grupo de Artistas
Incentivo Cultura (MMIC). O Museu de Arte de Joinville (MAJ) e a Galeria Municipal de Arte
Victor Kursancew (GMAVK), unidades da FCJ, possuem edital de ocupao e espao expositivo
prprio para mostras temporrias. O MAJ desenvolve aes em educao no formal, voltadas
A FCBC possui edital de ocupao da Galeria Municipal de Arte, espao no adequado para abrigar
mediao e ao aprimoramento da produo local, sendo uma dessas aes o projeto Memrias de
um Acervo, que expe continuamente recortes curatoriais da sua reserva tcnica em dilogo com
as exposies temporrias.
A FCI possui Lei de Incentivo Cultura que disponibiliza Edital de Apoio a Intercmbio Cultural, Edital
de Apoio a Eventos Culturais Comunitrios e Edital para Seleo das Exposies na Galeria Municipal
So importantes mecanismos para a produo emergente da regio: o Salo dos Novos, realizado
de Arte, nas Galerias da Casa da Cultura Dide Brando ou no Ptio do trio do Pao Municipal. Nos
pela GMAVK, em sua 15 edio; e a Coletiva de Artistas de Joinville, realizada pelo MAJ, em sua
editais, os artistas podem se inscrever para promover difuso, intercmbio, exposies, seminrios, cur-
41 edio, que repassa 4 mil reais para cada um dos 12 artistas selecionados pelo edital de apoio
sos, entre outras aes que visem o desenvolvimento e o aprofundamento de sua produo.
cultura para criao, produo e execuo de sua obra. A Associao dos Artistas Plsticos (Aaplaj)
possui espao com duas salas expositivas, sala de reunio e ateli/oficina na Cidadela Cultural onde
Em funo da existncia da Univali e em grande parte pela ao da FCI na realizao do Salo Nacional
tambm se encontram os Anexos 1 e 2 do MAJ (dois galpes que abrigam seis salas expositivas)
de Artes de Itaja, que em 2010 entrou na sua 12 edio, Itaja est um pouco frente de Balnerio
e futuramente ser construda a nova tcnica do MAJ (com projeto finalizado e recurso financeiro
Cambori no que se refere arte contempornea. Esperamos que o salo tenha continuidade pois
captado) e o Museu de Arte Contempornea Luiz Henrique Schwanke (MAC Schwanke). O insti-
tuto Schwanke desenvolve palestras sobre arte contempornea em parceria com a Universidade da
Regio de Joinville (Univille) e o MAJ.
o da Galeria de Arte com estrutura adequada para exposies contemporneas. Outra institui-
programao constante. No total, foram nove artistas mapeados. A Associao Jaraguaense de Artistas
o para o movimento das artes a Univille com o curso de artes visuais. Infelizmente, o curso de
200 | 201
curadores viajantes
licenciatura est em fase de extino as ltimas turmas se formam em 2013 , o que demonstra um
No ensino, Paran e Rio Grande do Sul tm cursos de graduao, mestrado e doutorado (licenciatura
retrocesso, visto que o bacharelado tambm foi extinto anos atrs. A cidade e a regio carecem de
e bacharelado) em vrias cidades visitadas e grande parte deles so oferecidos por instituies pblicas
uma universidade pblica que oferea graduao, mestrado e doutorado nas reas de artes visuais,
(estaduais e federais), possibilitando maior acesso aos interessados e uma rede de trocas e parcerias. O
que no acontece em Santa Catarina. O ensino da arte oferecido, com exceo da Udesc, mencionada anteriormente, por entidades privadas e com poucas possibilidades de bolsas de estudos. Esse fato
Foram realizadas trs palestras no MAJ e na Univille abertas para artistas, alunos, professores e gestores
indica a quase extino dos cursos de bacharelado e, consequentemente, licenciatura. Nos trs estados
de Joinville, So Francisco do Sul e Schroeder, cidades vizinhas que participam da cena cultural de Join-
com o surgimento de novos artistas que buscam quebrar a barreira geogrfica com propostas conceituais e participao em editais e sales. Espera-se que os investimentos pblicos na rea continuem e que
A Bienal Vento Sul e a Bienal do Mercosul so pontos positivos e que vm se consolidando na mediao
Lages
O artista contemporneo do Sul ainda sofre para divulgar seu trabalho, com a falta de crtica atuante na
grande imprensa e a ausncia de mercado especializado em arte contempornea. A imprensa limita-se
Rudimar Cifuentes organizou e viabilizou no Sesc palestra aos artistas e professores e a leitura de
sete portflios. Mesmo sem galeria de arte prpria, o Sesc o grande articulador das artes e busca
artes visuais. A produo terica refugia-se nas universidades e em publicaes nem sempre de grande
vrios espaos alternativos, tanto na cidade quanto na regio (Curitibanos e So Jos do Cerrito)
abrangncia. Nenhum artista manifestou a existncia de galerias que comercializem arte contempornea.
para desenvolver aes educativas e mostras de arte contempornea. Forma ento parcerias com
a Fundao Cultural, Museu Histrico Thiago de Castro, Museu Malinverne Filho, Biblioteca P-
Quanto ao artista emergente do Sul, percebe-se que a maioria est conectada a questes relacionadas
(Uniplac) que possui curso de licenciatura em artes visuais. Fora o Pretexto, no existe espao para a
cia com a contemporaneidade, tem qualidade e coerncia no conceito, carter experimental e diversi-
produo contempornea.
dade. Encontramos produo em desenho em campo expandido, escultura, espao ampliado, fotografia
revisitada, gravura, hibridismo, instalao, interveno, performance, pintura expandida, suportes tradi-
Fim... A chegada
cionais reconstrudos, vdeo, cinema e documentrio. Isso comprovado pelo grande nmero inscries
da Regio Sul (315). Tambm foi significativo o nmero de pr-selecionados. Chegaram seleo final
(no o fim)
oito artistas, que se tornaram os representantes da Regio Sul no programa Rumos Artes Visuais 20112013. So eles: Grupo P.S., Guilherme Dable, Isabel Ramil, Michel Zzimo, Nara Amlia, Rafael Pagatini,
Aps contato direto com 1.645 pessoas entre artistas, alunos, professores e gestores e instituies
de 32 cidades dos trs estados do Sul, por meio de 47 palestras com mdia de 35 pessoas presentes e a
leitura de 556 portflios, possvel chegar a um breve diagnstico do ensino, da difuso e da produo
A viagem no termina aqui. Temos muito o que apreender, redescobrir, reinventar. No o fim. Pois a
das artes visuais das cidades visitadas com concluses parciais e relativas.
arte contempornea no prope um ponto final, mas, sim, pontos de interrogao, reticncias. E, aps a
mudez inicial do viajor, recuperamos as palavras de Eduardo Galeano: me ajuda a olhar.
O poder pblico, salvo algumas excees j mencionadas, precisa desenvolver mecanismos que propiciem o fomento e a difuso da produo contempornea, na criao e implantao de leis de incentivo
cultura que estejam em consonncia com o PNC e tenham continuidade e constante aprimoramento.
Mas so louvveis as iniciativas privadas e independentes, de grupos de artistas, instituies, associa-
FRANZOI professor da Univille desde 1991. Foi curador em espaos culturais de Santa Catarina, Paran e Rio
es, coletivos, entre outras, que acreditam e desenvolvem aes em prol do aperfeioamento e da
Grande do Sul. Entre suas exposies individuais como artista destacam-se as do Museu de Arte de Joinville, 1993
e 2002; Galeria Jorge Zanata, 1998; Socit International Culturel le de Saint-Louis, 2002; Museu de Arte de Santa
202 | 203
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
Catarina, 2003; Centro Cultural Arquiplago, 2008; e Memorial Meyer Filho, 2010. Entre as coletivas: VI Salo dos
Having solved the terminological issues, we moved on to planning the visits. First, we would need to define
Novos de Joinville, 1993 (prmio aquisio); Wocher Artes Plsticas, 1994; Rumos Ita Cultural, 1999/2000; VII
the methodology to be followed. What cities would be visited? How many? How? And why the choice. We
Bienal de Santos, 2000; Primeiro e Segundo Mapeamento de Artistas Contemporneos de Santa Catarina, 2000
established that, by taking into account the importance for the educational development of contemporary
a 2001 e 2003; 14 Salo Nacional da Bahia, Salvador, 2007; e 12 Salo Nacional de Itaja (convidado), 2010. Foi
artists, one of the criteria would be the existence of a visual arts course in the city visited. Another point, the
coordenador e integrante do Grupo Performance Papirus, 1988 a 2005; membro do Conselho Consultivo do Mu-
previous experience of curators who had already taken part in the Rumos Artes Visuais like, for example,
seu de Arte de Joinville, 2001 a 2003; diretor cultural do Instituto Schwanke, 2004 a 2009; e membro do Conselho
Gabriela Motta, Paulo Reis and Jailton Moreira, and other artists as well like Fernando Lindote, Geraldo
Consultivo do Instituto Schwanke e da Galeria Municipal Victor Kursancew, desde 2009. Atualmente, coordena-
Leo and Linda Poll who had experienced the Southern art panorama. And, finally, our purpose was to
reach regions not yet explored under the program, since we wanted to increase the number of artists as
much as possible. We then realized the need to grow the number of cities and towns to be visited.
After listing them, a new problem arose: how could we cover all of them during the application period
FRANZOI
from February 24 to May 29? This required a precise and thorough time schedule and early contacts with
cultural managers, curators, artists, public institutions and individuals.
PARAN
great responsibility that falls on any person involved in this process and by the opportunity of both
intellectual and professional growth for this is a project focusing on the educational development of
From the 2008-2009 Rumos Artes Visuais up to this edition, contemporary art is seen to have changed
both in the way of thinking and in the position of those engaged in it, for its presence today is stronger in
other cities as opposed to being virtually concentrated in the capital city like before, although the major-
The experience acquired previously in the first edition of the Rumos Artes Visuais in 2000 helped expand
the ideas of the best way to carry out this assignment. Obviously we cannot forget that, throughout
these years, each edition has gone through transformations and was adapted to the context of the time.
Curitiba
As a former selected artist, the presence of the curator who had mapped the Southern Region, Jailton
Moreira, was critical because, after seeing and talking to him, we could realize that the call for submis-
Geraldo Leo accompanied and guided us during the visit to the exhibition Estado da Arte: 40 Anos
sions aimed at shrinking the gap between artists and curators from various regions of the country.
de Arte Contempornea no Paran [State of the Art: 40 Years of Contemporary Art in Paran] at the
Museu Oscar Niemeyer [Oscar Niemeyer Museum]. Maria Jos Justino curated the exhibition and
The first thing that we questioned was the term mapping. Should we then be mere mappers, given the
authored the text Poticas Transitivas: O Estado da Arte no Paran [Transitive Poetics: The State of the
fact that mapping only covers a more cartographic context? We chose to explore and get to know new
Art in Paran]. Arthur Freitas, in turn, was responsible for curating and writing the text A Esttica da
places, new cultural realities and new artists. The term that fitted best was wayfarer. I was happy to see,
Presena: Arte Contempornea em Curitiba nos Anos 2000 [The Aesthetics of Presence: Contempo-
in the first meeting with the 13 curators, the same concern. In that meeting it was set that we would be
rary Art in Curitiba in the 2000s]. At the Museu de Arte Contempornea do Paran [Paran Museum
of Contemporary Art] (MAC-PR), we could also see the exhibition Possveis Conexes II [Possible
Connections II], showcasing works by the students from the Escola de Msica e BelasArtes [School of
204 | 205
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
Music and Fine Arts] (Embap), Universidade Federal do Paran [Paran Federal University] (UFPR),
Contemporaneity in town is the feeling. There are few artists dedicated to contemporary art and others
Universidade Tuiuti [Tuiuti University] (UTP) and Faculdade de Artes do Paran [Paran College of
are searching for new possibilities. There is a need for investments in production, curatorship and publicity.
Arts] (FAP). The professors of each institution were charged with selection and curatorship. We visited several studios and met four groups of artists to talk about Rumos Artes Visuais and read portfolios.
Londrina
The new visit to the city was split into two steps that were focused on the universities offering a bachelors
The people contacted were Elke Coelho, Juliana Miranda de Freitas and Sandra Mara Montressol San-
degree course in visual arts: UTP, via Cristina Mendes; UFPR, with the Department of Arts (DeArtes)
ches Jia. Danilo Villa organized, at the Diviso de Artes Plsticas [Division of Fine Arts] at Casa da Cul-
via Consuela Schlichta and Geraldo Leo; FAP, via Andr Rigatti and Sonia T. Vasconcellos; Embap,
tura da Universidade Estadual de Londrina [House of Culture of the State University of Londrina] (UEL)
organized by Deborah Bruel. Presentations were given at the institutions as well as instructions to join
a presentation and the reading of 31 portfolios of artists attending the meeting. The contemporary art
the Rumos Artes Visuais and portfolios were read. Again, we visited studios and had contact with artists
output is represented in installations, objects, paintings, drawings and sculptures backed by the university,
the Museu de Arte de Londrina [Londrina Art Museum], the Secretaria de Cultura [Secretariat of Culture] and artists groups. On the occasion of the visit, the 1 Salo de Arte Contempornea de Londrina
Contemporary art in Curitiba, represented in painting, drawing, sculpture, installations, objects, videos
[1st Londrina Salon of Contemporary Art] themed A Arte em Defesa da Terra: Urgente [Art to the Defense
and interventions, feeds itself from the academies mentioned above, from the exhibition spaces. In ad-
of Earth: Urgent] was about to open. According to the regulation, four awards would be granted and a
dition to the aforementioned facilities, we must call the attention to the Museu de Arte [Art Museum]
seminar for professors/teachers, students, art professionals and people from the local community would
of the UFPR, the Casa Andrade Muricy [Andrade Muricy House], the Centro Cultural Solar do Baro
take place under the organization of the Museu de Arte de Londrina [Londrina Art Museum] and UEL.
[Solar do Baro Cultural Center] and the Museu Alfredo Andersen [Alfredo Andersen Museum]. The
Bolsa Produo [Production Scholarship], a project of the Fundao Cultural de Curitiba [Curitiba Cul-
Maring
tural Foundation] in association with the local government, gives artists the opportunity to deepen their
own research output through an annual scholarship which provides for the monitoring of curators and
Another city visited by the Rumos Artes Visuais project. The contact was made with Flor Duarte, munici-
holding an exhibition. It should also be pointed out the maturity and growth achieved by Vento Sul
pal secretary of Culture in Maring; Kiyomi Hirose, coordinator of visual arts at the Universidade Esta-
Bienal de Curitiba [Southern Wind Curitiba Biennial], in the sixth edition in 2011, which has been
dual de Maring [State University of Maring] (UEM); Deborah Kremmer, coordinator of visual arts of
consolidated as a relevant event in the national arts calendar, giving access to works of mainstream con-
the teaching certification program and bachelors degree course in visual arts at the Centro Universitrio
de Maring [Maring University Center] (Cesumar). Three presentations were held: at the Teatro Municipal Calil Haddad [Calil Haddad Municipal Theater] to artists from the city and the region; at UEM,
Cascavel
organized by Sheilla Souza and intended for students and professors of the institution; and at Cesumar,
organized by Deborah Kremmer and also oriented to students and professors. After each presentation,
For the first time, Rumos Artes Visuais visited the city. The contact was Ana Lcia Simo, coordina-
the session was opened for an exchange of ideas among the artists interested and the reading of 27
tor of the Museu de Arte de Cascavel [Cascavel Art Museum], who brought together artists for a
presentation and the reading of 13 portfolios. The city offers a teaching certification program in the
arts at the Unio Educacional de Cascavel [Cascavel Educational Union of Higher Education] (Uni-
Maring is going through a transition now. While some artists are still geared to academism and/or mod-
vel). And the course on visual arts is given at the Unio Pan-Americana de Ensino [Pan American
ernism, others are consolidating their contemporary style and find it hard to develop and exhibit their
Union of Higher Education], where we delivered a presentation to students, professors and interested
people, organized by artist and professor Nani Nogara. The Associao dos Artistas Plsticos de
Cascavel [Association of Fine Artists of Cascavel] (Aaplac) also arranged contact with some artists
Pato Branco
and collaborated with the catalog of the Exposio Coletiva Gesto 2005/2007 [Group Exhibition
2005/2007 Administration]. The Mostra Cascavelense de Artes Plsticas [Cascavel Show of Fine
An attempt to take the Rumos Artes Visuais Westbound the Paran state was ineffective for no evidence
of contemporary art in the region was found. The Departamento de Cultura [Department of Culture]
206 | 207
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
is a branch of the Secretaria Municipal de Educao, Cultura, Esporte e Lazer [Municipal Secretariat
of Education, Culture, Sports and Leisure] (Smecel) and responsible for the Galeria Municipal Maria
Genoveva Argenton [Maria Genoveva Argenton Municipal Gallery] and the Museu Municipal Jos
The contemporary output in the state does not converge on the capital, Porto Alegre, only. There are mul-
Zanella [Jos Zanella Municipal Museum]. Both are neither adequate for contemporary art nor can
tiple independent clusters of both public and private institutions. This is a striking feature of the arts in this
they be used for contemporary art exhibitions. At the Centro Cultural Raul Juglair [Raul Juglair Cultural
state. We cannot fail to mention the formal education structure in visual arts, sedimented and with strategi-
Center] I obtained a list with name, address and telephone number of 18 artists. After contacting them,
cally-located universities covering virtually the entire state. Scholars from other regions of the country also
come to these universities enjoying federal incentive. A masters degree course and chiefly a doctors take
artists and professors to the capital. This promotes an exchange among institutions, since many return to
Ponta Grossa
their hometowns bringing back in their bags meaningful contributions to the development of local output.
Furthermore, one can realize that artists, professors, researchers and managers are not only concerned with
Cristina Mendes gave the contact of Wilton Correia Paz, coordinator of the Galeria de Arte da Pr-
regionalist matters, but also they are connected with contemporary art across the country and the world.
Reitoria de Extenso [Art Gallery at the Vice President Office of Refresher Courses] (Proex) at the
Universidade Estadual de Ponta Grossa [State University of Ponta Grossa] (UEPG), and the latter or-
Bag
ganized a presentation to students, professors of the teaching certification course in visual arts and other
artists from the city and the region. On that occasion, 19 portfolios were read. A themed art salon with
On the week prior to the Rumos Artes Visuais visit, Sapiran Brito had took over the Secretaria Municipal de
modernist features is held every year at the Proex Galeria de Arte [Proex Art Gallery] in the facilities of
Cultura [Municipal Secretariat of Culture]. The city has been facing serious problems with the conservation
the Proex Historic Building. Submission of proposals are called to build up the calendar of events of the
of the cultural heritage and historical buildings that suffer from the lack of a specific law for the designation
galeries run by the Secretaria Municipal de Cultura [Municipal Secretariat of Culture]. They are: Espao
of national heritage sites and conservation. An exception is the restoration of the Centro Histrico Vila de
Cultural Capitolium Vest Art [Capitolium Vest Art Cultural Space], Galeria Lcio Mauro Ribeiro [Lcio
Santa Thereza [Santa Thereza Village Historic Center]. Contemporary art is the focus of Da Maya Es-
Mauro Ribeiro Gallery] and Galeria Joo Pilarskz [Joo Pilarskz Gallery], venue of the Salo de Artes
pao Cultural [Da Maya Cultural Hall]. The facilities belong to a businesswoman from Rio de Janeiro city
Plsticas de Ponta Grossa [Ponta Grossa Salon of Fine Arts] now in its 6th edition. A private initiative
who encourages cultural activities. One of the main lines of activities promoted by the Da Maya Espao
is the Salo de Artes [Arts Salon], of Unimed, now running its 9th edition. Organized and curated by
Cultural are exhibitions of contemporary artists and educational actions mainly geared to the students and
Celso Parubocz, the salon does not have an adequate exhibition venue as a room of the Palladium
teachers from the local elementary, middle and high schools in the city. The actions include guided visits
Shopping Center is adapted for that purpose. Most of the local output is geared towards modernity with
and delivery of workshops on artistic practices themed after the exhibitions held. Six artists were mapped.
chitecture], the bachelors and teaching certificate programs in visual arts at the Universidade de Caxias
House of Culture], organized the presentation and the reading of nine portfolios in association with
do Sul [University of Caxias do Sul] (UCS) and the visual arts office of the Secretaria da Cultura da Pre-
the Associao de Artistas Visuais de Paranagu [Paranagu Association of Visual Artists]. Although
feitura Municipal [Municipal Secretariat of Culture] and organized a presentation to be given to students,
the city has already experienced a very exciting past in the arts, it has been living much on crafts and
professors/teachers, artists and interested people at the Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Or-
tourism, hence no room is left for the development of contemporary art. Contemporary artists are
dovs Filho [Dr. Henrique Ordovs Filho Municipal Center of Culture]. Worthy of mention is the Ncleo
then forced to move away to the large cities like the capital Curitiba in this case. The presence of an
de Artes Visuais (Navi) [Department of Visual Arts] for the actions carried out by means of exhibitions,
artist coming from Antonina intensifies communication and exchange between the cities.
courses, talks and publications on contemporary art. The Department also received us for a presentation
and the reading of portfolios. In addition to these contacts, we visited the studios of artists who showed to
be active, attentive and in search of contemporary output. Reading of 24 portfolios.
208 | 209
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
Novo Hamburgo
artists educational development. A presentation was given to the teaching certificate course students
and three artists were mapped.
The contact was Lurdi Blauth, who arranged a meeting with artists and students at the Federao de
Estabelecimentos de Ensino Superior [Federation of Establishments of Higher Education] (Feevale).
Pelotas
The institution offers a bachelors degree course in visual arts and an art gallery, the Pinacoteca [Pinacotheca], which organizes, promotes and disseminates exhibitions, meetings and debates with art-
It is one of the centers of production and dissemination of contemporary art within the state. Con-
ists, art-education projects and examining committees for undergraduate courses of study. After the
tact was made with Eduarda (Duda) Gonalves, Raquel Ferreira and Ricardo Mello. Most part of the
presentation on the Rumos Artes Visuais, we began reading the portfolios of ten artists and gave them
educational background of the contemporary artists is under the responsibility of the Instituto de Artes
some guidance. For being very close to Porto Alegre, the artists experience the cultural landscape of
e Design [Institute of Arts and Design] at the Universidade Federal de Pelotas [Pelotas Federal Uni-
the capital which contributes to their education background. The output is small, but in tune with the
versity] (IAD/UFPEL). The Galeria de Arte [Art Gallery] and the Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo
contemporary issues. Finally, Maristela Winck invited us to the opening of Regina Silveiras exhibition
[Leopoldo Gotuzzo Art Museum] are under the umbrella of the IAD and, according to the artists, with
at the Museu da Fundao Iber Camargo [Museum of Iber Camargo Foundation], when we were
a collection very centered on regional artists and an irregular programming. The Arte no Porto [Art at
introduced to several professionals engaged in cultural management of Porto Alegre and the region.
the Port] project, which consists of a group exhibition of IADs students and professors in one of the
warehouses at the Pelotas port. It is a distinguishing feature and makes room for new artists. The gape
Montenegro
Espao de Arte [gape Art Hall], recently created and holding an intensive cultural programming, made
the meeting with the artists and the reading of portfolios possible. Although the city has its own cultural
Maria Isabel Petry Kehrwald, executive director of the Fundao Municipal de Artes de Montenegro
life, the contemporary output is in tune with the current issues discussed in major centers.
[Montenegro Municipal Foundation of the Arts] (Fundarte) organized two presentations. In the afternoon, the presentation and reading of 17 artists portfolios; and in the evening, a presentation open to
Porto Alegre
all students of Fundarte from the courses in visual arts, music, dance and theater, whose objective is to
provide adequate instruction to teaching artists, i.e. teachers able to steer the art knowledge because
Gabriela Motta gave a list of contacts. The strategy was a contact by e-mail with artists, professors and
they make art. This is the great distinguishing feature of the city. There we found the Seminrio Nacio-
teachers, curators and cultural managers. Unfortunately few replied, but those who did it were of great
nal de Arte e Educao Fundarte/UERGS [National Seminar of Art and Education of the Foundation
help and efficient. We visited the city three times. Some artists formed groups and welcomed us in
of the Arts/State University of Rio Grande do Sul], which has reached its 22nd edition; the Revista da
their homes/studios for the presentations and reading of portfolios. The group studio and the Galeria
Fundarte [Fundarte Magazine], specialized in the arts; the Galeria de Arte Lode Schwambach [Lode
Subterrnea [Underground Gallery], where contemporary art exhibitions, courses and events are held,
Schwambach Art Gallery], with exhibitions held based on calls for submission and invitations and which
hosts the Salo Fundarte/Sesc de Arte 10x10 [10x10 Fundarte/Sesc Art Salon]. Contemporaneity is
present in research in visual arts and art education through periodic lectures, seminars and art production
Along with Gabriela Motta, we went for a technical visit to the Fundao Iber Camargo [Iber Ca-
margo Foundation] (FIC), where the exhibition Mil e um Dias e Outros Enigmas [One Thousand and
One Days and Other Enigmas] was being installed with works by Regina Silveira and curated by Jos
Passo Fundo
Roca. We could also visit the printmaking studio where the Programa Artista Convidado [Guest Artist
Program] is carried out through this action, national and international renowned artists are invited to
There is nearly no representative of contemporary art in the city. Despite the existence of an Associao
conduct a one-week program in the studio with the goal of creating new works , the Programa Educati-
dos Artistas Plsticos de Passo Fundo [Passo Fundo Association of Fine Artists], we failed to make
vo [Educational Program] and the Bolsa Iber Camargo [Iber Camargo Scholarship] an international
any contact. From what we were told, contemporaneity is almost zero in the city. The Museu de Artes
Visuais Ruth Schneider [Ruth Schneider Museum of Visual Arts] (Mavrs) and the teaching certificate
course in visual arts from the Faculdade de Artes [College of Arts], both at the Universidade de Passo
Maria Ivone dos Santos, artist and professor of the undergraduate, masters and doctors degree courses
Fundo [University of Passo Fundo], do not have a policy geared to the contemporary art output and
in visual arts with the Instituto de Artes [Institute of the Arts] at the Universidade Federal do Rio Grande
210 | 211
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
do Sul [Rio Grande do Sul Federal University] (UFRGS), arranged for the presentation and reading of
radio station to spread the word about the Rumos Artes Visuais and visit to studios. The Universidade
Federal de Santa Maria [Santa Maria Federal University] (UFSM) has a Centro de Artes e Letras [Center of Arts and Languages] and a graduate program in visual arts to which one of the presentations and
portfolio reading were addressed to students/artists/researchers of the institution. Another venue worth
Among them, these are at the local level: Pao Municipal [Municipal Palace], Usina do Gasmetro
[Gas Plant], Galeria Iber Camargo [Iber Camargo Gallery]. These are at the state level: Museu de
which is an integral part of the visual arts activities promoted by the Associao de Produtores Indepen-
Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli [Ado Malagoli Art Museum of Rio Grande do Sul] (Margs),
dentes Macondo Coletivo [Macondo Coletivo Association of Independent Producers], elected Ponto
Casa da Cultura Mrio Quintana [Mrio Quintana House of Culture] (CCMQ), Museu de Arte Con-
Referencial Sul [Reference Point in the South] for the Circuito Fora do Eixo [Ouf of The Mainstream].
tempornea do Rio Grande do Sul [Rio Grande do Sul Contemporary Art Museum] (MAC-RS) and
The group works with the realization of curatorial and artistic propositions targeted to poetic reflections
the Instituto Estadual de Artes Visuais [State Institute of Visual Arts] (Ieav). And private institutions:
on space and designing prospect exhibition formats. We had the chance of meeting professor and artist
Fundao Cultural e Assistencial Ecarta [Ecarta Culture and Assistance Foundation], which owns an art
Suzana Gruber and the wonderful work that she has been doing with young students/artists in town,
enabling learning and development in contemporary art. We also visited the Ateli de Arte Pblica
[Studio of Public Art], which houses the Ateli de Escultura [Sculpture Studio] and the Ateli de HQ
We delivered five presentations, read 38 artistic portfolios, made several contacts and provided guid-
[Comics Studio]. There is a lot of excitement towards contemporary art in town. However, investments
ance by e-mail and all this made us realize that contemporary art in Porto Alegre is boosted by the
in more adequate facilities is a need as well as support to calls for submission and culture-oriented laws.
university and other courses for the development of visual arts skills, by the cultural programming of the
foregoing art facilities and by the local output that links Porto Alegre with other cities in and out of the
country through exhibitions, academic exchange programs, artistic residencies and so forth.
SANTA CATARINA
We must point out the importance of the Bienal do Mercosul [Mercosul Biennial] in disseminating and
publicizing the Brazilian and foreign contemporary art. As the Biennial reach grows beyond the geo-
What distinguishes Santa Catarina is the fact that the capital is neither the largest city in the state by
graphic boundaries, it consolidates its outstanding position in the countrys arts calendar.
population nor is it a hub of the highest public investments in the field of visual arts. Such privilege is
credited to Joinville, which shows a cultural policy in line with the Plano Nacional de Cultura [National
Rio Grande
Plan for Culture] (PNC) with various actions and the deployment of the Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura [Municipal System of Development Through Culture] (Simdec). Another
Raquel Ferreira put us in contact with professor and artist Claudio Maciel, from the Fundao Universidade
point of differentiation is the engagement of the Servio Social do Comrcio [Social Service for Com-
Federal do Rio Grande [Foundation of the Rio Grande Federal University] and who arranged for the presen-
merce] (Sesc), which has been implementing a series of actions since 2004 by means of two projects
tation and reading of portfolios with the artists interested in the program. The venue was the miniauditorium
whose purpose is to bring qualified knowledge to the creative, artistic and marketing process of the arts
of the visual arts course. At the invitation of artist and creator Law Tissot, we visited the Ponto de Cultura
to all the cities covered by the Sesc network. This paves the path of both artists and curators towards
ArtEstao [ArtEstao Point of Culture], which houses the Fanzinoteca Mutao [Mutation Fanzine Library],
a place for preservation, learning and research on free media, copy art and mail art, and a studio for free and
non-chargeable workshops on fanzines, copy art and graffiti. A number of studios were also visited. Altogether,
The Projeto Pretexto [Pretext Project] first conceived and implemented by artist and curator Fernan-
21 artists were contacted. The contemporary output is based on these two places where art is discussed.
do Lindote consists of three group meetings for a theoretical discussion about personal output carried
out between an adviser and a group of pre-selected artists from the city with the purpose of producing,
Santa Maria
Alessandra Giovanella and Aloisio Licht were the ones who really made it happen in town and prepared
Add to this the Panorama Sesc de Artes Visuais de Santa Catarina [Sesc Panorama of Visual Arts in
the schedule, which included four presentations, 32 readings of portfolios, interview at Onda Anmala
Santa Catarina], where a guest curator brings together artists from the state that have taken part in the
212 | 213
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
Pretexto to exchange experiences, discuss issues related to the countrys art market, installation and
Contemporaneity reappears in the output of some artists who begin to break down the geographic
opening of an exhibition and a chat with the artists and the curator open to the community.
barrier by exhibiting their works in other places, hence putting Cricima back on the map of visual arts
after years of seclusion.
A negative point in the state is the almost non-existence of public education in the field of the arts. No
federal university offers undergraduate courses and even less masters and doctors degree programs.
The Universidade do Extremo Sul Catarinense [University of the Far South of Santa Catarina] (Unesc)
The only public institution offering a bachelors degree and a teaching certificate program as well masters
offers undergraduate courses leading to a bachelors degree and teaching certificate in visual arts. The
and doctors courses of study is the Universidade do Estado de Santa Catarina [State University of Santa
Espao Cultural Unesc [Unesc Cultural Hall], at the hall of the administration building, is not fit for ex-
Catarina] (Udesc) in the Centro de Artes [Center of Arts] (Ceart). Another downside is the absence of
hibitions. The Galeria de Arte Helen Rampinelli [Helen Rampineli Art Gallery] is a new venue intended
a branch of the state government exclusively dedicated to cultural affairs, which today are under the um-
brella of the Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte [Secretariat of Tourism, Culture and Sports]. This
situation hampers the consolidation of a more comprehensive cultural policy across the state.
Through Marco Aurlio Castro Rodrigues, from the Sesc in Tubaro, we met eight artists from that
city and region to introduce them to the Rumos project and read their portfolios. The temporary ex-
hibitions and the Pretexto project itself, the main contemporary art reference in the place, are held in
the only exhibition facilities in town, located in the Centro Municipal de Cultura [Municipal Center of
Mia vila, manager of the Museu de Arte de Blumenau [Blumenau Art Museum] (MAB), and Jamil
Culture] and sharing space with the Museu Willy Zumblick [Willy Zumblick Museum]. The contem-
Antnio Dias, culture technician at Sesc, were the planners of the three presentations and the reading
porary output is still very timid and requires great physical and conceptual investment.
of 23 portfolios of artists coming from Blumenau, Indaial, Pomerode and Timb (the artists from the
last three towns in the region came to Blumenau). Two presentations took place at MAB, which posts a
Chapec
call for submissions for an annual exhibition and since 1994 has been promoting every two years the
Salo Elke Hering: Mostra Nacional Contempornea de Artes Visuais [Elke Hering Salon: National
Camila Pauline Miotto and Antonio Dante Acosta organized and arranged for the presentation to be
Contemporary Show of Visual Arts], now running its 10th edition. Attendees also included the Associa-
held at the Sesc, where there is an art gallery, this being the best exhibition facilities in the city. The proj-
o Blumenauense de Artistas Plsticos [Association of Fine Artists of Blumenau] and the Associao
ects of this institution make the difference in the citys art landscape.
Pomerodense de Artistas Plsticos [Association of Fine Artists of Pomerode] and other artists, managers and producers from the region. The third presentation was held at the Fundao Universidade
Janana Schvambach gathered artists for the presentation and reading of portfolios at the Centro de
Regional de Blumenau [Foundation of the Blumenau Regional University] (FURB) to students and
Cultura e Eventos Plnio Arlindo de Ns [Plnio Arlindo de Ns Center of Culture and Events]. The
Fundao Cultural de Chapec [Chapec Cultural Foundation] holds the Salo Chapecoense de Artes
Plsticas [Chapec Salon of Fine Arts], now in its 9th edition, intended for artists residing in Santa Ca-
The arts-oriented actions are planned by the MAB, as seen in its program of exhibitions; by the Sesc with
tarina only. The Galeria Municipal de Arte Dalme Marie Grando Rauen [Dalme Marie Grando Rauen
the Pretexto and the Panorama projects; and by the university with its educational actions. In contempo-
rary art, few artists are able to break the barrier of the city and the state, but those who make it are active.
The Universidade Comunitria da Regio de Chapec [Community University of the Chapec ReCricima and Tubaro
gion] offers a teaching certificate course in visual arts and owns the Galeria de Artes Agostinho Duarte
[Agostinho Duarte Art Gallery], a poorly-structured venue and aimed at exhibiting works of students,
Daniele Zaccaron, director of the Galeria de Arte de Cricima [Cricima Art Gallery] at the Fundao Cul-
tural de Cricima [Cricima Cultural Foundation] (FCC); Christine Gomes, from culture office at the Sesc;
and artist Rosangela Becker were the organizers of the presentation, the reading of 23 portfolios and visits
Sonia Loren, president of the Associao dos Artistas Visuais da Regio Oeste de Santa Catarina
to studios. Contemporary art is fostered by means of a partnership between Sesc and FCC through the
[Association of Visual Artists of the Western Region of Santa Catarina] (Adentro), arranged for the
Pretexto Project, the program of temporary exhibitions and deployment of projects and educational actions.
meeting with artists at Cristina Luviza Battistons studio. Here we see a movement meant to develop
214 | 215
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
contemporary art and improve individual and group output when a curator is invited for meetings/
workshops, reading of portfolios and development of specific curatorship. Three presentations made
and 24 portfolios read.
Ane Fernandes, director of Arts and of the Casa da Cultura Dide Brando [Dide Brando House of
Culture], an arm of Fundao Cultural de Itaja [Itaja Cultural Foundation] (FCI), planned an open
It is clear that a significant step forward has been achieved with regard to discussing and producing con-
presentation to artists, students, professors and teachers, managers and cultural producers. Attendees
temporary art in the city. We congratulate artists and managers for the commitment to the work done
included representatives of the Universidade do Vale do Itaja [University of the Itaja Valley] (Uni-
vali), Sesc Itaja, Associao dos Artistas Plsticos de Itaja [Itaja Association of Visual Artists] (AAPI),
Fundao Cultural de Balnerio Cambori [Cambori Cultural Foundation] (FCBC), Grupo de Ar-
Florianpolis
tistas Plsticos de Balnerio Cambori [Cambori Group of Fine Artists] (GAP) and Associao de
Artistas Plsticos de Balnerio Cambori [Cambori Association of Fine Artists] (Balneart). After that,
Sandra Makowiecky, learning vice-president of the Universidade de Santa Catarina [Santa Ca-
we read 25 portfolios.
tarina University] (Udesc), and Raquel Stolf, artist selected in the first Rumos Artes Visuais and
professor with the Centro de Artes [Arts Center] (Ceart), arranged the presentation and reading
The FCBC holds calls for submissions to build up the calendar of events of the Galeria Municipal de
of portfolios of the institution students. Being the only public establishment in the state to offer a
Arte [Municipal Art Gallery], whose facilities are not suitable to contemporary art exhibitions since it is
bachelors and masters degree in visual arts, it accounts for the educational background of several
artists from various regions across the state. Fernando Boppr planned the presentation and reading of portfolios at the Museu Victor Meirelles [Victor Meirelles Museum], a federal institution
The FCI is entitled to benefit from the Law of Incentive to Culture, under which the foundation can hold
that holds calls for submission for exhibitions of artists and prepares a schedule of courses geared
a Call for Submissions for Support to Cultural Exchange, a Call for Submissions to Community Cultural
to the promotion of the arts. In total, this endeavor resulted in two presentations, visits to studios
Events and a Call for Submissions to Select Exhibitions for the Galeria Municipal de Arte [Municipal
and the reading of 39 artistic portfolios evidencing the quality and conceptual concern of the
Art Gallery], the galleries of the Casa da Cultura Dide Brando or the Ptio do trio do Pao Municipal
propositions submitted.
[Courtyard of the Municipal Palace]. In the calls for submissions, artists can sign up to promote dissemination, exchange, exhibitions, seminars, courses and other actions aimed at the development and
The Fundao Cultural Badesc [Badesc Cultural Foundation] posts calls for submissions for tem-
porary exhibitions. The Museu de Arte de Santa Catarina [Santa Catarina Museum of Art] (Masc)
and the Museu Histrico de Santa Catarina [Santa Catarina Historic Museum], f.k.a. Palcio Cruz e
In view of the activities carried out by Univali and mostly owing to the efforts of the FCI to hold the Salo
Souza [Cruz e Souza Palace] and which holds calls for submissions for temporary exhibitions, work
Nacional de Artes de Itaja [Itaja National Salon of Arts], which celebrated its 12th edition in 2010, Itaja
under the umbrella of the Fundao Catarinense de Cultura [Santa Catarina Culture Foundation].
is a little ahead of Cambori as far as contemporary art is concerned. We hope the salon goes on existing
The Fundao Cultural de Florianpolis Franklin Cascaes [Franklin Cascaes Cultural Foundation
of Florianpolis] (FCFFC) could benefit from the Municipal Law of Incentive to Culture. However,
such law does not meet the needs. Better use is made of the Memorial Meyer Filho [Meyer Filho Me-
morial]. Although small, its premises are kept busy with its contemporary-art-oriented programming
including guest artists and the institution concern with documentation and publications. A venue
Thiago Martins organized the presentation and the reading of portfolios at Sesc, which owns an art
intended for the arts is the Galeria Municipal de Arte Pedro Paulo Vecchietti [Pedro Paulo Vecchietti
gallery with a regular programming. In total, nine artists were mapped. The Associao Jaraguaense
Municipal Art Gallery], which lacks physical structure, programming geared to contemporary art and
de Artistas Plsticos [Jaragu Association of Fine Artists] has facilities for workshops and can also be
educational actions, though. The Sesc is very low profile here as it does not have its own facilities for
adapted for shows. Few members are focused on contemporary art. The Fundao Cultural [Cultural
Foundation] invests every year in a Municipal Fund for Culture to carry out projects meant to skill development in and dissemination of the arts. In the realm of visual arts, a highlight is the artist and art educator Cristina Pretti as one of the main promoters of the arts of the city by leading several projects. Owing
216 | 217
traveling viajantes
curators
curadores
invitation to a journey
to the proximity and the non-existence of arts-oriented actions, the artists from Guaramirim participate
the teaching certificate course is about to be discontinued the last groups will graduate in 2013. This
in the Jaragu do Sul cultural landscape. The contemporary output is small and with rare exceptions.
represents a step backwards because the bachelors degree course was also discontinued years ago. The
The community is little engaged in the contemporary actions proposed to the town; more publicity and
city and the region lack a public university that offers bachelors, masters and doctors programs in visual
Three presentations were held at the MAJ and the Univille. They were open to artists, students, professors/teachers and managers from Joinville, So Francisco do Sul and Schroeder, neighboring cities
An important cultural center in the state, Joinville is one of the main cities in Santa Catarina that has become
that are an integral part of Joinvilles cultural landscape. The reading covered 48 portfolios. The con-
a model of public culture management. It was the first city across the state to pass the municipal law of
temporary output shows quality and maturity with the emergence of new artists who seek to break the
culture under which the Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura [Municipal System of Devel-
geographic barrier with conceptual propositions and participation in the calls for submissions and salons.
opment Through Culture] (Simdec), linked with the Fundao Cultural de Joinville [Joinville Cultural Foun-
The expectation is that public investments in the field continue and that others appear to foster the
dation] (FCJ), was created. Its purpose is to encourage the design and execution of projects considered to
be relevant to the development of the city. It comprises the following mechanisms: the Fundo Municipal
de Incentivo Cultura [Municipal Fund of Incentive to Culture] (FMIC) and the Mecenato Municipal de
Lages
Incentivo Cultura [Municipal Patronage of Incentive to Culture] (MMIC). The Museu de Arte de Joinville
[Joinville Art Museum] (MAJ) and the Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew [Victor Kursancew
Rudimar Cifuentes planned and arranged for the presentation to artists, professors and teachers and the
Municipal Art Gallery] (GMAVK), operating under the FCJ, hold calls for submissions to build up their cal-
reading of seven artistic portfolios to be held at Sesc [Social Service for Commerce]. Even without its
endar of events and have their own exhibition facilities for temporary exhibitions. The MAJ develops actions
own art gallery, the Sesc is the major promoter of the arts and searches several alternative venues both
in non-formal education geared to build the bridge with and improve the local output. One of those actions
in the city and the region (Curitibanos and So Jos do Cerrito) to carry out educational activities and
is the Memrias de um Acervo [Memories of a Collection] project, which is a continuous display of curatorial
contemporary art shows. It operates in association with the Fundao Cultural [Cultural Foundation],
approaches of technical reserve of the museum establishing a dialog with the temporary exhibitions.
Museu Histrico Thiago de Castro [Thiago de Castro History Museum], Museu Malinverne Filho [Malinverne Filho Museum], Public Library, Biblioteca do Centro Agroveterinrio [Library of the Agriculture
These are important mechanisms for the output arising from the region: the Salo dos Novos [Salon of
and Veterinary Medicine Center] (CAV/Udesc) and Universidade do Planalto Catarinense [University
the Young Artists], held by GMAVK and now running its 15th edition; and the Coletiva de Artistas de
of the Santa Catarina Plateau] (Uniplac), which has a teaching certificate course in visual arts. Apart
Joinville [Group Exhibition of Joinville Artists], held by the MAJ and now in its 41st edition, which gives
out 4 thousand Reals to each of the 12 artists selected in the call for submissions for culture support for
them to create, produce and execute their work. The Associao dos Artistas Plsticos [Association of
Fine Artists] (Aaplaj) boasts facilities with two exhibition halls, a meeting room and a studio/workshop in
the Cidadela Cultural [Cultural Citadel], where annexes 1 and 2 of the MAJ are (two warehouses hous-
ing six exhibition rooms) and in the future the new technique of the MAJ will be built (the project is finished and the financial resource is ensured) as well as the Museu de Arte Contempornea Luiz Henrique
After a direct contact with 1,645 people including artists, students, professors and teachers and
Schwanke [Luiz Henrique Schwanke Museum of Contemporary Art] (MAC Schwanke). The Instituto
managers , and institutions in 32 cities of the three Southern states, by means of 47 presentations
Schwanke [Schwanke Institute] holds talks on contemporary art in association with the Universidade da
to an average of 35 attendees and the reading of 556 portfolios, it is possible to narrow this down
Regio de Joinville [University of the Joinville Region] (Univille) and the MAJ.
to a brief analysis of education, dissemination and output of the visual arts in the cities visited with
partial and relative findings.
The Sesc is high-profile with its actions, projects and partnerships with the FCJ, reinforced by the opening of the Galeria de Arte [Art Gallery] with adequate structure for contemporary art exhibitions. An-
The government, apart from a few exceptions previously mentioned, needs to develop mechanisms
other institution operating in favor of the arts is the Univille with its course in visual arts. Unfortunately,
that promote the development and dissemination of the contemporary output, the drafting and
218 | 219
invitation to a journey
traveling viajantes
curators
curadores
enforcement of culture incentive laws that are in line with the PNC [National Plan for Culture] and
The journey does not end here. We have much to learn, rediscover, reinvent. It is not the end. For con-
continue to exist and foster growing improvement. Nevertheless, private and independent initiatives
temporary art does not propose an endpoint, but rather question marks, ellipsis. And, after the initial
are praiseworthy, whether of groups of artists or institutions, associations, collectives and so forth,
who believe in and develop actions for the improvement and the gap bridging of the contemporary
output in their states.
In education, Paran and Rio Grande do Sul have bachelors, masters and doctors degree courses
FRANZOI has been a professor at Univille since 1991. He curated cultural venues in Santa Catarina, Paran and
(teaching certificate and bachelors) in several cities visited. Most of them are found in public insti-
Rio Grande do Sul. Highlights of his solo exhibitions as an artist include those at the Museu de Arte de Joinville
tutions (state and federal levels), thus opening the way to more access for those interested in them
[Joinville Art Museum], 1993 and 2002; Galeria Jorge Zanata [Jorge Zanata Gallery], 1998; Socit International
and a network of exchanges and partnerships. In contrast, arts courses in Santa Catarina, except
Culturel le de Saint-Louis, 2002; Museu de Arte de Santa Catarina [Santa Catarina Art Museum], 2003; Centro
for Udesc as mentioned previously, are available in private institutions and with little prospect for
Cultural Arquiplago [Archipelago Cultural Center], 2008, and Memorial Meyer Filho [Meyer Filho Memorial],
scholarship grants. This fact indicates the nearly disappearance of the bachelors degree courses
2010. Among the group exhibitions: VI Salo dos Novos de Joinville [6th Joinville Salon of Young Artists], 1993
and, as a consequence, the teaching certificate programs. In the three states, the academia needs
(Acquisition Prize); Wocher Artes Plsticas [Wocher Fine Arts], 1994; Rumos Ita Cultural, 19992000; VII Bienal
to invest in physical structure, exhibition halls and specific publications for greater dissemination of
de Santos [7th Santos Biennial], 2000; First and second Mapping of Contemporary Artists of Santa Catarina,
2000 to 2001 and 2003; 14 Salo Nacional da Bahia [14th National Salon of Bahia], Salvador, 2007; and 12 Salo
Nacional de Itaja [12th Itaja National Salon] (guest), 2010. He was the coordinator and member of the Grupo Per-
The Bienal Vento Sul [Southern Wind Biennial] and the Bienal Mercosul [Mercosul Biennial] are positive
formance Papirus, 1988 to 2005. Member of the Advisory Board of the Museu de Arte de Joinville [Joinville Art
aspects and that have been consolidating their position in mediating and disseminating the national and
Museum], 2001 to 2003. Cultural Director of the Instituto Schwanke [Schwanke Institute], 2004 to 2009. Member
international contemporary art, thus placing the South within the contemporary art circuit.
of the Advisory Board of the Instituto Schwanke [Schwanke Institute] and the Galeria Municipal Victor Kursancew
[Victor Kursancew Municipal Gallery] since 2009. He is currently coordinator of the Museu de Arte de Joinville
The Southern contemporary artist still struggles to publicize his work and suffers with the lack of active
criticism in the mainstream press and the absence of a market specializing in contemporary art. The
press is limited to cultural news and few times there is a window for specialized and discerning criticism
about visual arts. The theoretical discussions take refuge in the universities and in publications not always
of major coverage. No artist mentioned the existence of galleries marketing contemporary art.
As to the Southern emerging artist, most of them are seen to be tuned in with national and international contemporary world issues. The output is, mostly, in line with the contemporaneity, has quality
and conceptual consistency, an experimental character and diversity. We found works like drawing in the
expanded field, sculpture, expanded space, revisited photography, printmaking, hybridism, installation,
intervention, performance, expanded painting, traditional supports reconstructed, video, cinema and
documentary. This is evidenced by the large number of registrations from the Southern Region (315).
The number of pre-selected artists was also meaningful. Eight artists reached the final selection phase.
They became the Southern Region representatives in the 20112013 Rumos Artes Visuais program.
They are: Grupo P.S., Guilherme Dable, Isabel Ramil, Michel Zzimo, Nara Amlia, Rafael Pagatini,
Rogrio Severo and Romy Pocztaruk.
220 | 221
recortes curatoriais
recortes curatoriais
222 | 223
recortes curatoriais
1 CORTZAR, Julio. A volta ao dia em 80 mundos. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira | Record, 2008.
2 VERNE, Julio. A volta ao mundo em 80 dias. So Paulo: Melhoramentos, 2008.
3 Segundo Marshall Berman, a alta modernidade a segunda etapa do processo de modernizao. Essa etapa corresponde ao
crescimento da atividade fabril e est compreendida entre a dcada de 1790, com a ecloso da Revoluo Francesa, e todo o sculo
XIX. (BERMAN, Marshall. Tudo o que slido desmancha no ar. So Paulo: Cia das Letras, 2008. p. 24-25)
4 A ideia de ps-modernismo, conforme Fredric Jameson, corresponde ao crescimento do capitalismo financeiro. Seu incio
pode ser datado, segundo aponta o autor, entre o fim dos anos 1950 e o incio dos anos 1960. (JAMESON, Frederic. Psmodernismo a lgica do capitalismo tardio. So Paulo: tica, 2007. p. 27).
224 | 225
Thiago Honrio
recortes curatoriais
Imagem, 2010
As ambiguidades do Rumos Artes Visuais, tudo o que sua estrutura carrega a priori de potncias e problemas no que concerne a referendar uma geografia de produo em arte contempornea, suscitam
elas mesmas as questes geradoras deste texto e do recorte curatorial apresentado em Goinia, entre
15 de maio e 1 de julho de 2012, nas galerias Frei Confaloni e Sebastio dos Reis. Passada a etapa da
exposio geral de So Paulo, que reuniu o conjunto completo de 45 participantes do programa e seus
variados interesses e abordagens, pareceu pertinente decantar a problemtica do lugar como motriz de
uma reflexo pontual, a ser observada nas obras de 16 artistas e nas suas inseres institucionais.
Como filiar os enunciados pblicos (sociais e artsticos) a um lugar? O que constitui sua especificidade num
mundo globalizado, caracterizado pelos nomadismos, pela imaterialidade dos mercados e pelas disseminaes
das redes de comunicao? Como os deslocamentos fsicos e semnticos podem reconfigurar o prprio enunciado e as circunstncias do lugar onde ele aporta? Por que razo investigar as localidades e suas dinmicas
de sociabilidade e poder? Porque talvez por meio da compreenso delas e do esgotamento de tentativas de
resposta s perguntas acima propostas, consiga-se vislumbrar plataformas para o exerccio da poltica (da arte).
A localidade de Volta ao Dia est entre os visitantes da mostra de Goinia e os leitores deste catlogo;
entre a situao de uma galeria no centro da cidade, no centro do pas, e os crculos de pesquisadores
e especialistas; entre a concorrncia com outras agendas pblicas e a circunscrio num campo especfico. Cada uma a seu modo, essas duas instncias criam oportunidades para os atos de fala e interpretao, para o dissenso. Para os protagonismos dos sujeitos na escala de suas comunidades, para suas
interlocues com pares tanto geogrficos quanto de interesse.
Pode-se assumir, portanto, que este texto e a exposio, a escrita e a curadoria de arte permitem a concepo de lugares, seja pela simples ativao dos espaos discursivos e dialgicos, seja pela ocupao
dos mesmos com elementos exgenos, distantes e temporariamente articulados segundo uma hiptese
e aspectos de uma discusso. Nesse caso, sobre a hiptese de observao do carter relativo do lugar,
recaem trs aspectos a serem analisados: 1) as relaes de mutualismo entre o sujeito e o seu hbitat; 2) a
circunstancialidade dos enunciados em deslocamento; 3) a constituio do saber artstico como um centro.
5 CORTZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira | Record, 2008. p. 17.
226 | 227
recortes curatoriais
Homem e meio definem-se mutuamente. o que a escultura Imagem (2008-2010), de Thiago Honrio,
talvez sugira para quem a avista. Avista e simultaneamente avistado por ela, alis. A obra, feita de uma
base museolgica espelhada, sobre a qual repousa uma cpula de vidro e, dentro dela, uma pele animal
e uma cabea humana feita em madeira, devolve um olhar para o espectador. A cabea o fita, os materiais reflexivos da base capturam seu corpo junto a partes do entorno.
No h neutralidade no encontro. Se em princpio distiguiam-se obra e pblico, arquitetnico e orgnico, translucidez e opacidade, cabea e membros, uma vez alcanado o campo de viso j no se pode
mais. Qualquer dualidade vira prolongamento: do sujeito que percebe para a galeria, as obras, os visitantes. Potencialmente, em outras situaes, para a natureza, a cidade, a multido. E vice-versa.
Semelhante prolongamento motiva a interveno de Carlos Contente, Mapeamento das Coisas que se Passam pelo meu Corao (2012). Esse desenho site-specific, realizado diretamente sobre uma parede expogrfica, parte de anotaes e anedotas, oriundas dos cadernos do artista, sobre o seu contexto de trabalho. A
arquitetura branca contamina-se com a sujeira e o sarcasmo dos desenhos. A imagem de Contente, tornada
marca registrada num estncil multiplicado s dezenas, conforme de costume em sua obra, cresce em escala
e sobressai na composio. A condio pblica e, nesse caso, institucional do artista (e da arte), justifica a
indissociao de seus gestos individuais de qualquer implicao contextual e coletiva para os mesmos.
De dentro da galeria de arte, baixo as normas e o vocabulrio que a estruturam como um espao protegido e autorreferente6, essa indissociao encerra-se na situao de mostra, muitas vezes sem demandar a exterioridade dos lugares de origem. No isso o que acontece na obra de Ueliton Santana,
composta de inseres temporrias de pinturas na paisagem de Rio Branco.
O artista retira as telas dos chassis e percorre ruas e matas para registrar em foto ou vdeo os convvios
de suas tramas figurativo-abstratas com cenrios urbanos e rurais. Camufladas na riqueza das situaes em que so inseridas, as pinturas tornam-se anlogas ao que tematizam. Deixam de representar e
passam a apresentar a cidade onde Ueliton vive e trabalha. Fundem-se s casas, s pontes e s rvores
centenrias, convertendo-se assim em parte intrnseca daquilo que as originou.
Experincias dessa ordem reafirmam identidades geograficamente constitudas ao sustentar uma relao de mutualismo peculiar ao nativo. Em Corpo em Segredo, Dalton de Paula pareia muros de Goinia
com seu rosto envolto por fitas adesivas. Para um muro branco, um rosto branco. Para um muro preto,
um rosto preto. Nesses dois momentos de uma performance registrada em foto, a no especificidade
Carlos Contente
6 Em No interior do cubo branco: a ideologia do espao na arte, Brian ODoherty afirma: A galeria ideal subtrai da obra de arte
todos os indcios que interfiram no fato de que ela arte. A obra isolada de tudo o que possa prejudicar sua apreciao de si
mesma. Isso d ao recinto uma presena caracterstica de outros espaos onde as convenes so preservadas pela repetio de
um sistema fechado de valores (ODOHERTY. So Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 3).
228 | 229
recortes curatoriais
Dalton Paula
Dalton Paula
230 | 231
recortes curatoriais
do lugar e uma mobilidade subentendida para o sujeito desestabilizam a frmula simples. A cegueira do
performer torna problemtico o determinismo7 da semelhana.
s heranas geogrficas, ao vernacular, ao folclrico, somam-se matrizes outras advindas da experincia
da alteridade. Polvorosa, de Cristiano Lenhardt, nasce da filmagem em super-8 do semblante de duas
jovens chinesas em enquadramentos de retrato. Com recursos de uma direo de cena mnima, aplicaes de pedras preciosas nos rostos e mos das atrizes e efeitos de ps-produo audiovisual, o filme
deixa de ser um documentrio de cunho etnogrfico e vira fico.
Dele, nada existe de maneira concreta no mundo. No existem suas paisagens de flores com raios coloridos por
trs, nem mesmo os corpos seminus encobertos por textura de TV fora do ar. Tudo o que pode definir o contexto de Polvorosa como um lugar real, nesse caso, o ponto de encontro entre um retratante e um retratado8,
o artista e as jovens chinesas, a ilha de edio e o set de filmagem. O lugar dos diferentes o terceiro espao9.
7 Miwon Kwon, em One place after another: site-specificity and locational identity, identifica uma relao continuada entre um
lugar e uma pessoa e afirma que na contemporaneidade esse vnculo est perdido. O lugar do pertencimento substitudo pelo
lugar errado, onde o sujeito sente que no pertence (KWON, 2004, p. 163)
8 Os termos fazem aluso ao vdeo Retratante e Retratado, que o artista realizou em 2007.
9 O termo terceiro espao formulado por Homi Bhabha em O local da cultura. (BHABHA, Belo Horizonte: UFMG, 1998).
10 CORTZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos, 2008, p. 34.
11 As viagens para montagem e abertura de exposies e as temporadas em residncias artsticas ocupam crescentemente a rotina
de artistas e curadores. Em decorrncia desses trnsitos temporrios, torna-se cada vez mais comum a inscrio de diversas referncias
geogrficas em suas biografias. No raro, nasce-se em um lugar, estuda-se em outro, vive-se e trabalha-se em outro, ou outros.
12 A noo de site-specific, definida a partir de prticas dos anos 1960 e 1970, amplia-se na atualidade para noes como contextspecific, debate-specific, audience-specific, community-specific, project-based, segundo Miwon Kwon. (KWON, 2004, p. 2)
Rodrigo Torres
232 | 233
recortes curatoriais
galeria, sem muita sinalizao expogrfica, e tratados com camadas de tinta spray que geram a impresso de que podem ter acabado de sair de uma tela de pintura. Num espao historicamente edificado
como intermedirio entre a vida e seus arquivos, a invisibilidade dos gestos cotidianos e a valorao de
alguns deles como exemplares, 2 Tempos mantm-se instvel. Seu jogo de iluso ainda esclarece, sua
esttica ainda indica movimento.
Mesmo sendo objetual, o projeto abre-se para o dilogo com iniciativas de carter efmero, como as
do coletivo GIA13. Criado em Salvador, em 2002, o grupo recorre ao uso de dispositivos itinerantes e
promoo de eventos pblicos como suas principais estratgias.
Na semana anterior abertura da mostra geral do Rumos Artes Visuais, o GIA levou s ruas de So
Paulo uma unidade mvel, desenhada conforme os carrinhos de comrcio popular do Nordeste,
e um repertrio de intervenes urbanas j bastante praticadas em outros lugares, principalmente
na capital baiana. Esse repertrio envolveu a mobilizao dos transeuntes em rodas de samba, a
distribuio da cerveja GIA, a panfletagem, o despojamento, o humor. Em So Paulo, as aes
ganharam conotao de alternativa a uma dinmica de metrpole que impe ritmo, pragmatismo
e individualismo vida dos habitantes.
Se o grupo recontextualiza sua prtica a partir da errncia nas diferentes cidades e do enfrentamento de
suas lgicas de urbanidade, a travessia que motiva Jimson Vilela, no projeto de residncia que resulta
em Enquanto Voc Tomava Minhas Plpebras, completa-se entre as ruas de So Paulo e o ambiente de
uma galeria de arte. Dos itinerrios que o artista percorreu ou das situaes que presenciou, restam
poucos documentos em exposio. Quase no h imagens, alis, a no ser a que alinha o movimento de
sua respirao ao horizonte observado pela janela do metr.
Em lugar das imagens, Jimson utiliza a escrita em cadernos, a poesia feita por subtrao de pginas de
livros e aplicada sobre as paredes em branco. O desenho de montagem insinua um novo lugar, a ergonomia que o define indica o carter sensvel e subjetivo de sua construo.
Em A ltima Aventura, Romy Pocztaruk tambm esvazia de referentes explcitos o resultado de
sua viagem de pesquisa por um trecho da Rodovia Transamaznica, do Par Paraba. Mesmo que
apoiada no registro documental em fotografia, essa busca da artista por evidncias da situao
GIA
atual da estrada (um projeto de ligao do Oceano Atlntico ao Pacfico, iniciado nos anos 1950 e
por dcadas interrompido) resulta em suspeitas e aberturas da histria desenvolvimentista oficial.
Interveno urbana
Urban intervention
13 Os integrantes do GIA so Ludimila Britto, Cristina Llanos, Luis Parras, Mark Dayves, Tiago Ribeiro, Everton Marco e
Cristiano Piton.
234 | 235
recortes curatoriais
Romy Pocztaruk
236 | 237
recortes curatoriais
Regina Parra
Cabe arte versar sobre o mundo, ampliando seus sintomas. Cabe tambm problematizar o mundo, pondo em causa suas convenes. Tais atributos diferenciam o campo artstico de qualquer outro.
14 Excerto do texto Falar, No Ver, do livro A conversa infinita. (BLANCHOT, Maurice. Ed. Escuta, 2010).
15 CORTZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos, 2008. p. 37.
238 | 239
recortes curatoriais
Claudia Hersz
Claudia Hersz
240 | 241
recortes curatoriais
Definem-no como linguagem, estrutura e lgica de produo. Uma lgica que se aproxima da poltica,
igualmente discursiva e munida da capacidade de gerar desentendimentos16, mas que prescinde do
fazer, de um modelo do fazer segundo livres escolhas17.
Em vez de fotografar campos de futebol de vrzea em perspectivas longitudinais, que demonstrassem sua poro de territrio, Fernando Ancil registra-os a partir da vista frontal de trs do gol. Em
vez de visit-los em dia de jogo, em que poderia documentar seu uso, opta por no faz-lo e capturar apenas vazios e promessas. Em Contracampo, seis fotografias impressas em tamanho grande
recriam a sensao do espao real, mas subvertem sua funo e as narrativas costumeiras sobre
ele. No vdeo rea de Efeito Sonoro18, um dos campos ocupado noite para uma brincadeira com
fogos de artifcio. A hiptese de contra-uso revela-se a cada estouro, seguido de um lampejo de
luz, que mostra parcialmente a ao.
Se nessa vivncia, mas principalmente no Contracampo, a assertividade do gnero da paisagem tensionada, em De Corpo Presente, do Grupo P.S., o alvo de experimentao o retrato. Na performance
documentada em um slide show de fotos, os dois integrantes da dupla, Priscila dos Anjos e Srgio
Adriano, contrariam os esteretipos de representao clssica dos gneros. Nas imagens, ela sempre
o carrega, ele padece frgil, ambos nus, a interpelar no apenas a anacronia dos modelos cunhados na
histria da arte, mas tambm os juzos morais e estticos do pblico.
Adriano Costa promove desconforto similar na sua srie de tapetes19. Com essas assemblages
de tecidos, recortes de papel e sucatas diversas, arrumadas sobre o cho do espao expositivo
sem nenhum mecanismo de fixao, o artista compactua formas de cores e texturas que poderiam nunca vir a ser, ou mesmo deixar de ser num simples toque. No ambiente institucional, essas
obras enfrentam inmeras possibilidades de desmanche, o que as torna simultaneamente tensas
e delicadas. Independente de sua sentena, elas suscitam um raciocnio sobre alternativas sempre
presentes nas coisas e nas ideias. A premissa de apropriao que as funda permite vislumbrar na
arte o incio de novas economias.
Sem com isso incorrer num imperativo mercantil de renovao nem tampouco assimilar o discurso politicamente correto da reciclagem, artistas como Adriano e tambm Pontogor investigam o
emprego de artefatos obsoletos e sua reinsero na sociedade. Na performance Pedra, Pontogor
GRUPO P.S.
242 | 243
recortes curatoriais
Fernando Ancil
Fernando Ancil
195615S/435928O, 2010
164523S/435320O, 2010
Fernando Ancil
Fernando Ancil
145430S/424850O, 2010
164205S/415152O, 2009
244 | 245
recortes curatoriais
apresenta-se tocando instrumentos musicais quebrados ou adaptados para os fins especficos que
deseja alcanar, contando tambm com um sistema de mesa e fiao de som rudimentares. O
rudo gera interferncias no vdeo que, projetado ao fundo do set de performance, mostra o movimento repetitivo de bater uma pedra sobre a mesa. O labor do artista sobre algo que em si j
metfora do trabalho humano denota o interesse pelo que move uma produo, seu laboratrio
antes mesmo de sua indstria.
O laboratrio, nesse caso, pode ser pensado como lugar de investigar hipteses, mas tambm de valid-las como prottipos a serem aplicados em alguma escala, seja ela restrita ou massiva, metafrica
ou concreta. O entendimento de que a cincia ou as teorias cientficas contm em si atribuies e
subtextos ideolgicos leva Michel Zzimo a realizar o Projeto Fluxorama, um conjunto de proposies
baseadas na didtica dos almanaques e enciclopdias do passado. Valendo-se desses manuais e da sua
credibilidade j envelhecida pelas dcadas, o artista dedica-se a reverter evidncias em dvidas. A partir
de uma foto publicada nos anos 1940 para documentar a queda de um meteorito na Terra, Zzimo concebe uma escultura em tamanho real (Meteorito, 1,8 x 3 x 2 m), uma reencenao do suposto ocorrido,
um corpo estranho dentro da galeria.
A lgica de Fluxorama assume a cincia como fico literria e a arte como meio para se investigar
os limites de qualquer afirmao que ambiciona a verdade objetiva e absoluta. Promovendo tais inverses, esse trabalho e os demais aqui apresentados permitem a constituio de lugares relativos,
tanto do ponto de vista geogrfico quanto, e talvez principalmente, epistemolgico, que concerne
compreenso das formas de conhecimento. O saber artstico estrutura-se como um centro a
partir de onde possvel no apenas o reconhecimento e a problematizao dos fatos do mundo,
mas a inveno de outros mundos.
Ana Maria Maia jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, 2007) e mestra
em histria da arte pela Faculdade Santa Marcelina (2012). Integra o Ncleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto
Tomie Ohtake. Foi assistente de curadoria da XXIX Bienal de So Paulo (2009-2010) e criou o Portal Dois Pontos
Arte Contempornea em Pernambuco (2006).
Ueliton Santana
246 | 247
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
curatorial scopes
ANA MARIA MAIA
Around the Day in 80 Worlds
And with this, so many things eighty worlds, and in each one another eighty and in each one...
Julio Cortzar
Relative spaces define trips; life in transit and online; the access to art in exhibition venues and, nearly
always, no longer in those of creation. They are relative because they are partial and incomplete in
denoting an existence, because they are defined by the present states of those who occupy them, but
also, inevitably, by their origins and destinies, longings and hopes. They are relative because, in this way,
more than prescribing experiences, they are prescribed by them. They become the result of countless
perspectives and subjectivities of their residents, visitors and emigrants.
In this sense, the status of space, or of place, expands according to the metaphor of the eighty
worlds, proposed by Julio Cortzar (Around the Day in 80 Worlds1, 1967) based on a distortion of
the title of the book by Julius Verne (Around the World in 80 Days2, 1874). In the period of more
than a century that separates the two literary works, in this interval that encompasses the passage
from high modernity3 to the developments of a post-modernity,4 the simple inversion of singulars
and plurals attests to a change of order, or, at least, to a change in the posture of the writers and/
or personalities who report on them. From an all-encompassing-territory to the communities,
from the countdown of days to the affirmation of an entire life, from the strategies for control to
speculation and wandering.
To relativize geography, cartography, and above all, the assertiveness of the sciences of conquest is a
useful task for the field of art. To do so in the context of Rumos Artes Visuais is a way to maintain the
Pontogor
reflexivity of this structure of encounter-confrontation between artists, curators and public from the
Pedra, 2011
Performance audiovisual vitrola, DVDs, gravador de som, mesas e projeo
Audiovisual performance record player, DVDs, sound recorder, tables and projection
Durao 20
Running time 20
1 CORTZAR, Julio. A volta ao dia em 80 mundos. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira | Record, 2008.
2 VERNE, Jules. A volta ao mundo em 80 dias. So Paulo: Melhoramentos, 2008.
3 According to Marshall Berman, high modernity is the second step of the modernization process. This step corresponds to the
growth of manufacturing activity which took place from the 1790s, with the eruption of the French Revolution, through the entire
19th century. (BERMAN, Marshall. Tudo o que slido desmancha no ar. So Paulo: Cia das Letras, 2008. p. 24-25)
4 The idea of post-modernism, according to Fredric Jameson, corresponds to the growth of financial capital. Its beginning can
be dated, according to Jameson, between the late 1950s and the early 1960s. (JAMESON, Frederic. Ps-modernismo a lgica
do capitalismo tardio. So Paulo: tica, 2007. p. 27).
248 | 249
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
regions of this country. In its five editions over the nearly 15 years of the program, various methods and
debates have been established, various generations, and various Brazils are affirmed. In this format of
an initiative that combines premises of field research with a selection by call for submissions, from the
procedural actions to the result in exhibitions, borderline or hybrid postulates are generated. Within
them coexist a desire to emphasize and in a certain way, to shield the differences (aesthetic, educational,
institutional) and, at an opposite extreme, the challenge of selecting them in a restricted and representative group, according to supposedly-universal quality criteria.
The very ambiguities of Rumos Artes Visuais, everything that its structure carries a priori from the
potentials and problems related to confirming a geography of contemporary art output, raise the
questions that resulted in the writing of this text and the curatorial scope presented in Goinia from
May 15 to July 1 2012, at the Frei Confaloni and Sebastio dos Reis galleries. Now that the phase of
the general exhibition in So Paulo has passed, an occasion when the whole group of 45 participants in
the program and their various interests and approaches were put together, it seems pertinent to settle
the issue of the place as a motive for a specific reflection, to be observed in the works of 16 artists and
their institutional insertions.
How can the public statements (social and artistic) be affiliated to a place? What constitutes their
specificity in a globalized world that is characterized by nomadisms, by the immateriality of markets
and by the dissemination of the communication networks? How can the physical and semantic shifts
reconfigure the statement itself and the place where it moors? Why investigate the locations and
their dynamics of sociability and power? Because perhaps by understanding them and exhausting efforts to respond to the questions proposed above, it is possible to glimpse platforms for the exercise
of the politics (of art).
The venue of Around the Day is between the visitors of the exhibition in Goinia and the readers of this
catalog; between the situation in a gallery in the center of the city, in the center of the country and the
circles of researchers and experts; between the competition with other public agendas and the circumscription in a specific field. These two instances, each one in its own way, create opportunities for the acts
of speaking and interpretation, for dissent, and also for the protagonisms of the subjects at the level of
their communities, for their interlocutions with both geographical and interest-based peers.
It can be assumed, therefore, that this text and the exhibition, the writing and the curating of art,
enable the conception of places, whether by the simple activation of the discursive and dialogical
Michel Zzimo
spaces, or by their occupation with distant exogenous elements temporarily articulated according to
a hypothesis and elements of a discussion. In this case, in relation to the hypothesis of observation
of the relative character of place, there are three factors to be considered: 1) the mutualism relations
between the subject and its habitat; 2) the circumstantiality of the statements in movement and; 3)
the building of the artistic knowledge as a center.
250 | 251
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
World 1: about the mutualist relations between the subject and its habitat
flaged in the wealth of these situations in which they are found, the paintings become analogous to their
themes. They no longer represent, and come to present the city where Ueliton lives and works. They
To wait, hidden in the grass, while a large cumulous cloud places itself over the detested city. Thus
become one with the houses, the bridges and the century old trees, thus becoming an intrinsic part of
triggering the petrifying arrow, the cloud becomes marble and the rest is unworthy of comment.5
Man and environment are mutually defined. This is what the sculpture Imagem (20082010), by Thiago
Honrio, perhaps suggests for those who see it. See it and simultaneously be seen by it, that is. The work,
mutualism peculiar to the native. In Corpo em Segredo, Dalton de Paula adorns walls of Goinia with his
made of a mirrored museological base upon which lies a glass dome and, inside it, an animal skin and a
face wrapped by adhesive tape. For a white wall, a white face. For a black wall, a black face. In those two
wooden human head, gazes back at the viewer. The head stares at the viewer, the reflexive materials of
moments of a performance recorded in photos, the non-specificity of the place and the mobility under-
the base capture the viewers body together with the surrounding parts.
stood by the subject destabilize the simple formula. The performers blindness turns the determinism7
of similarity into an issue.
There is no neutrality in the encounter. If at first work and public can be distinguished, architectonic and
organic, lucidity and opaqueness, head and members, once the field of vision is reached they no longer
To the geographic heritage, to the vernacular and the folkloric, other matrixes coming from the ex-
can be. Any duality becomes extension: of the subject that perceives to the gallery, the artwork, the visi-
perience of alterity are added. Polvorosa, by Cristiano Lenhardt, originates from a super-8 footage
tors. Potentially, in other situations, to nature, the city, the multitude and vice-versa.
of the face of two Chinese young ladies in a portrait shot. With minimal scene direction, applications of precious stones to the faces and hands of the actresses and post-production audiovisual
A similar extension motivated the intervention of Carlos Contente, Mapeamento das Coisas que se
Passam pelo meu Corao (2012). This site-specific drawing, materialized directly on an exhibit wall,
is based on notations and anecdotes from the artists notebook about his work context. The white
Nothing of it exists in concrete form in the world. Its flowered landscapes with colored rays of light
architecture is contaminated by the filth and sarcasm of the drawings. The image by Contente, that
in the background do not exist, neither does the seminude bodies covered by the texture of a TV
had turned into a trademark in a stencil multiplied dozens of times, as is common in his work, grows
that is off-air. Everything that could define the context of Polvorosa as a real place, in this case, is
in scale and stands out in the composition. The public, and in this case, institutional condition of the
the meeting point between a portrayer and a portrayed,8 the artist and the Chinese youth, the
artist (and of art) justifies the in-dissociation of its individual gestures from any contextual and collec-
editing table and the film set. The place of the different is the third space.9
the exteriority of the places of origin. This is not what happens in the work of Ueliton Santana, which
is composed of temporary insertions of paintings in the landscape of Rio Branco.
The artist removes the screens from the chassis and travels through the streets and forests to record
in photo or video the coexistence of his figurative-abstract plots with urban and rural scenery. Camou-
5 CORTZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira | Record, 2008. p. 17.
6 In No interior do cubo branco: a ideologia do espao na arte, Brian ODoherty states: The ideal gallery subtracts from the work
of art all the indications that interfere in the fact that it is art. The work isolated from everything that can harm its appreciation of
itself. This gives the space a presence typical of other spaces where conventions are preserved by the repetition of a closed system
of values (ODOHERTY. So Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 3).
7 Miwon Kwon, in One place after another: site-specificity and locational identity, identifies a continuous relationship between a
place and a person and states that this tie is lost in the contemporary world. The place of belonging is substituted for the wrong
place, where the subject feels that he does not belong (KWON, 2004, p. 163)
8 The terms make an allusion to the video Retratante e Retratado, which the artist made in 2007.
9 The term third space was created by Homi Bhabha in O local da cultura. (BHABHA, Belo Horizonte: UFMG, 1998).
10 CORTZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos, 2008, p. 34.
252 | 253
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
Precise coordinates are not enough to point to an artists position. A geographic11 and methodological
resulted in Enquanto Voc Tomava Minhas Plpebras, takes place between the streets of So Paulo
nomad, given that each project is capable of redefining his or her course, instruments and work proce-
and the environment of an art gallery. From the itineraries that the artist followed in his journey, or
dures, the artist is increasingly dedicated to understanding contexts.12 Afterwards, the artist identifies
from the situations he witnessed, few documents remain in the exhibition. Actually, there are nearly
fields of action, perceives him or herself and perceives his or her statements of the work adhering and
no images, except for that which aligns the movement of his breathing with the horizon seen from the
In Objeto da Srie 2 Tempos, Rodrigo Torres addresses this driving force of resignifications by confronting
Instead of images, Jimson uses writing in notebooks, poetry made by tearing pages off books and affix-
the fictitious world of representation with the real world of presentation and experience. His work is made of
ing them to white walls. The design as an installation insinuates a new place, the ergonomics defining it
three objects (a chair, a fire-extinguisher and a ladder) installed in service areas of the gallery, with very little
exhibition signage, and treated with layers of spray paint that give the impression that they may have just
left a painted canvas. In a space historically built as an intermediary space between life and its archives, the
In A ltima Aventura, Romy Pocztaruk also uses no explicit references in the work resulting from her re-
invisibility of the common gestures and the emphasis given to some of these for being exemplary, 2 Tempos
search trip along a stretch of the Rodovia Transamaznica [Trans-Amazon Highway] from the states of
remains unstable. It plays with illusion but still clarifies, it is still, but indicates movement.
Par to Paraba. Even though resorting to photography to record her findings, the artists search for evidences of the current situation of the highway (which was planned to link the Atlantic and Pacific oceans;
Although based on objects, the project establishes a dialog with initiatives of an ephemeral nature, like
the construction works began back in the 1950s and remained discontinued for decades) eventually ends
that of the GIA collective.13 Created in Salvador, in 2002, the group uses itinerant elements and public
up in suspicions and gaps in the official developmentalist history. From the Transamaznica [Trans-Ama-
zon], its heroes and the eloquence of a conquest, the images shift to villages and humble homes and the
anonymity of their residents, to the history that evolved there regardless of a real project for integration.
In the week before the opening of Rumos Artes Visuais general exhibition, GIA took to the streets of So
Paulo a mobile unit, designed like the popular peddler carts found in Brazils Northeast, and a repertoire
Based on the material collected in the field, Romy interferes in the imagery of that place, as does
of urban interventions which are now commonly practiced in other places, mainly in the capital of Bahia
Claudia Herzs, in Scnes de la Vie aux Tropiques. By applying to gobelin tapestry and decorative
state. This repertoire encompassed the mobilization of passersby in samba circles, the distribution of
French porcelain icons from the Rio de Janeiro landscape and culture, the artist takes possession of
GIA beer, pamphleteering, simplicity, humor. In So Paulo, the action took on the connotation of an
a European matrix and, based on this, effects an inversion of the colonial logic. Claudia creates a col-
alternative to the dynamic pace of a metropolis that imposes rhythm, pragmatism and individualism on
lection of fallacious scenes of life in the tropics, benefitting from her technical dexterity in painting
and embroidery and the verisimilitude with antique objects. Amid the colors of a temperate climate,
forests and the original ladies of the imperial nobility, the hill of the Po de Acar [Sugar Loaf], the
While the group places its practice in a new context by wandering through different cities and con-
Praa da Apoteose [Plaza of Apotheosis] and the building of MAM [Museum of Modern Art] in Rio
fronting their logic of urbanity, the crossing that motivated Jimson Vilela, in the residency project that
11 Traveling to install and open exhibitions and the seasons in art residences is increasingly taking more time of the artists and curators routine. Due to these temporary trips, the inclusion of several geographic references in their biographies is increasingly common.
It is not rare to be born in one place, study in another, live and work in another or a few places.
12 The idea of site-specific, defined based on the practices of the 1960s and 1970s, is expanded today into ideas such
as context-specific, debate-specific, audience-specific, community-specific, project-based, according to Miwon Kwon.
(KWON, 2004, p. 2)
13 The members of GIA are Ludimila Britto, Cristina Llanos, Luis Parras, Mark Dayves, Tiago Ribeiro, Everton Marco and
Cristiano Piton.
subordination of the ex-colonies toward the former metropolises. This is not what happens in Eldorado, by Regina Parra: a journey without a beginning or end, an essay about utopia. The artist examines through painting and video the illegal migratory movement in various regions of the world. She
uses images of border crossings found on the internet, but hides any reference to their circumscriptions. She is interested in the state of the search, the suspension and the unbending feeling of nonfulfillment shared by the immigrants. She is interested in that which makes them as much a stranger
in their destination as in their place of origin, which places them between what they want to achieve
and everything they left behind. Finding is to search in relation to the center, which is the unfindable
254 | 255
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
per se,14 said Maurice Blanchot in the captions of the video Sobre la Marcha, an integral part of the
project. Certainty about an ideal place to be vanishes in the fog of Eldorado.
Regina Parra
Srie Eldorado, 2010
leo e cera sobre papel
Oil and wax on paper
32 x 47 cm
32 x 47 cm
It is up to art to scrutinize the world and amplify its symptoms. It should also analyze the world and
question its conventions. These attributes differentiate the realm of arts from any other. It is defined as
a language, a structure and logic of production. It is a sort of logic that moves closer to politics and is
likewise discursive and armed with the ability to generate misunderstandings,16 but which needs not
doing, it needs not a model of doing according to free choices.17
Instead of photographing rough soccer fields in longitudinal perspectives, which would show the area
covered, Fernando Ancil captures them from the front view behind the goal. Instead of visiting them
on game days, when he would have a chance to document their use, he chooses not to and capture
only voids and promises. In Contracampo, six large-sized photographs recreate the sensation of the real
space, but subvert its function and the customary narratives that unfold on top of it. In the video rea de
Efeito Sonoro,18 one of the fields is used at night by a fireworks display. The hypothesis of the counterusage is revealed in each burst, followed by a flash of light, which partially exposes the action.
While in this experience, but mainly in Contracampo, the assertiveness of the genre of the landscape
is challenged, in De Corpo Presente, by Grupo P.S., the target of the experimentation is the portrait.
In the performance documented in a slide-show of photos, the two members of the duo, Priscila dos
Anjos and Srgio Adriano, counter the stereotypes of the traditional representation of genders. In the
images, she is always carrying him, he admits fragility, both of them are nude, questioning not only the
anachronism of the models engraved in the history of art, but also the moral and aesthetic judgments
of the viewers.
Regina Parra
Srie Eldorado, 2010
leo e cera sobre papel
Oil and wax on paper
30 x 47 cm
30 x 47 cm
14 Excerpt from the text Falar, No Ver, from the book A conversa infinita. (BLANCHOT, Maurice. Ed. Escuta, 2010).
15 CORTZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos, 2008. p. 37.
16 Cf. RANCIRE, Jacques. O desentendimento. So Paulo: Editora 34, 1996.
17 ARGAN, Giulio Carlo. Histria da arte como histria da cidade. So Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 44.
18 This work was produced together with the artists Domingos Guimares and Jairomdos Santos Pereira.
256 | 257
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
Adriano Costa brings about similar uneasiness with his series of carpets.19 With these assemblages of
Ana Maria Maia graduated from Universidade Federal de Pernambuco [Federal University of Pernambuco]
fabrics, bits of cut-out paper and various scraps, organized on the floor of the exhibit space without any
(UFPE) in journalism in 2007 and holds a masters degree in art history from Faculdade Santa Marcelina [Santa
mechanism or form of attaching them, the artist matches colored shapes and textures that very likely
Marcelina College] (2012). She is a member of the Ncleo de Pesquisa e Curadoria [Center for Research and
would never turn out as such, or that would cease to exist with a simple touch. In the institutional envi-
Curatorship] of Instituto Tomie Ohtake [Tomie Ohtake Institute]. She was assistant curator to the XXIX Bienal de
ronment, these works confront countless possibilities of being dismantled, which makes them simultane-
So Paulo [29th So Paulo Art Biennial] (2009-2010) and created the Portal Dois Pontos Arte Contempornea
ously tense and delicate. Regardless of their fate, they stimulate the viewer to think of alternatives that
are always present in things and ideas. The premise of appropriation embedded in them enables us to
regard art as the beginning of new economies.
Without in this way incurring a commercial imperative of renovation or assimilating the politically correct
discourse of recycling, artists such as Adriano and also Pontogor investigate the use of obsolete artifacts
and their reinsertion in the society. In the performance Pedra, Pontogor presents himself playing broken
musical instruments or those adapted for specific purposes that he wants to achieve, also using a rudimentary sound system and wiring. The noise generates interferences in the video, which, once projected
on the background of the performance set, shows the repetitive movement of beating a stone on the
table. The artists performance on something that in and of itself is a metaphor of human work denotes
an interest in that element that drives the making of an artwork, its laboratory testing even before forwarding it to manufacturing.
The laboratory, in this case, can be thought of as a place for investigating hypotheses, but also for validating them as prototypes to be applied in some scale, whether restricted or massive, metaphorical or
concrete. The understanding that science or scientific theories contain ideological attributes and subtexts leads Michel Zzimo to materialize the Fluxorama project, a set of propositions based on the didactic of old almanacs and encyclopedias. By using these manuals and their credibility aged by decades,
the artist engages himself in raising doubts about what seems evident. Based on a photo published in
the 1940s to record the fall of a meteorite to Earth, Zzimo conceives a sculpture in real size (Meteorito,
1.8 x 3 x 2 m), a re-staging of the supposed event, a foreign body within the gallery.
The logic of Fluxorama assumes science as literary fiction and art as a means for investigating the limits
of any statement seeking an objective and absolute truth. By doing these inversions, this work and the
others presented here ultimately give rise to relative venues, both from a geographical as well as and
perhaps particularly epistemological perspectives, which refers to the understanding of the forms of
knowledge. The artistic knowledge is like a central framework, from where it is possible not only to recognize and question the facts of the world, but also to invent other worlds.
Regina Parra
19 In the installation in So Paulo, Adriano called his site-specific carpet Bero Esplndido. When installed again, the configuration of the work tends to change and the same applies to its name depending on the context.
258 | 259
recortes curatoriais
FELIPE SCOVINO
O que significa um mapeamento? Essa dvida me acompanhou ao longo do Rumos Ita Cultural Artes Visuais 2011-13. Mapear significaria uma cartografia que identificaria e reconheceria os detalhes das mais longnquas regies do pas, juntar partes que nunca completariam um todo e reunir diferenas que deveriam
ser mantidas como tal. E um mapeamento na rea da produo de artes visuais acarretaria um segundo
problema: o que seriam as prticas artsticas contemporneas? Como eleger essas obras? Foram perguntas que me acompanharam ao longo do Rumos. A insanidade que esse termo mapeamento trazia me
lembrava o projeto quixotesco de Douglas Hueber, de fotografar toda forma de vida humana (Variable
Piece: 70). Era um processo curatorial s avessas: se em um projeto expositivo, o curador geralmente parte
de um tema e elege um conjunto de obras, no Rumos os artistas e o tema ou temas para ser mais correto
com a pluralidade de linguagens e pesquisas que se apresentam surgem a posteriori.
Seria o papel do curador ser uma espcie de demiurgo ou simplesmente um viajante, aqui referenciado por mim como um curioso e atento personagem que fica estupefato quando se depara com a
diferena e a inveno? Se o convite viagem foi feito nos seminrios e encontros com artistas que
realizei no primeiro ano do Rumos, decidi que a minha viagem seria s escuras. A minha condio
era estar deriva. No esperava por nada porque utopicamente no queria ter prerrogativas ou imagens de cidades ou obras que nunca tinha visto. Simbolicamente, o que me guiava era o desespero
na obra de Bas Jan Ader, que se acentua indefinidamente quando ele se lana ao oceano em um
barco (na performance intitulada In Search of the Miraculous), em 1975, para nunca mais ser visto.
No queria encontrar o Hlio Oiticica do Sergipe ou um artista que se utilizasse de uma proposta
conceitual-poltica la Hans Haacke em alguma cidade de Minas Gerais, muito menos uma obra
que evidenciasse a nossa latente brasilidade. Enfim, no tinha interesse na cor local. O que norteou a
minha caminhada por essa imagem de deserto ou escurido, que quis aplicar ao processo de viagem,
troca com os artistas e a posterior seleo, foi compreender que a pesquisa do artista pudesse ser
percebida como um objeto mediador de experincias (sobre o corpo, o lugar, a poltica, os meios institucionais) e acima de tudo como territrio semntico atemporal e transnacional. Esse objeto deveria
se desvencilhar de seu tempo e lugar histrico e permanecer como um legado contnuo de inveno
e oferta de propagao de sensibilidades.
Cada vez mais percebemos na produo contempornea das artes visuais um esvaziamento de sintomas de identidades nacionais e a afirmao de experincias que anulam um lugar especfico, colocando-se como possibilidades de se refletir sobre o tempo presente e evidenciando uma relao de
foras complexas e contemporneas: o contexto da arte fora de um centro hegemnico. deriva, no
me interessavam o folclore ou o exotismo justamente porque o que o espectador espera, pensa ou
imagina do Brasil deveria estar muito longe das experincias evocadas por aquelas obras. Penso que o
tema local no deva estar em nenhuma representao, forma ou imagem, justamente porque ele j se
260 | 261
recortes curatoriais
dissolveu no mundo. Ele est nas estratgias de linguagem, nas articulaes com o sistema da arte, no
embate contra o provincianismo e os preconceitos. Foi por esse territrio que fiz questo de navegar.
Por outro lado, podemos entender o mapeamento e mais seguramente as reverberaes desse processo (a visita dos curadores-mapeadores aos atelis e centros culturais antes do processo de seleo, o
acompanhamento crtico antes da exposio, a exposio propriamente dita, os seminrios e os recortes) como um conjunto de relatos informais, ou no, sobre a condio do artista (brasileiro) na contemporaneidade. Mapeamento pode significar um pensamento crtico sobre essa apario do fazer artstico.
Nos ltimos 30 anos, houve um avano enorme no meio acadmico com a profissionalizao do artista,
o acesso a publicaes e o fomento aos debates e pesquisa. Apesar das conhecidas dificuldades,
digamos, tcnicas das universidades, h um caminho razoavelmente seguro para a insero no mercado
como artista (para no entrar na discusso mais central, que a produo de uma experincia esttica
por meio de um objeto ou de uma ideia). Contudo, a consolidao da academia como lugar de formao do artista no a torna a nica possibilidade. A formao do artista autodidata permanece, porm
cada vez mais frequente a associao deste com a universidade, centros culturais e demais instituies
de formao. H uma necessidade dupla de o artista deixar de ser um solitrio na sua produo e de a
instituio e, principalmente, de o crtico serem cmplices desse artista.
O Rumos expe um panorama bem significativo sobre o processo de formao mltiplo e ao mesmo
tempo incipiente em nosso pas. A curadoria estava diante dos chamados artistas emergentes (na falta
de um nome para definir esse vazio, utilizarei essa expresso) e, portanto, trajetrias razoavelmente distintas se colocavam, desde artistas que ainda cursavam a graduao at outros que tinham acabado de se
formar, outros tantos que estavam na ps-graduao, alguns com certa insero no mercado (at mesmo
tendo galerias que os representavam) e uma parcela imensa de autodidatas. Isso sem contar a discrepncia entre artistas que moravam em grandes cidades e tinham acesso informao (museus, galerias,
universidades, bibliotecas etc.) e outros que moravam em cidades que no tinham nem acesso internet.
Duas situaes srias se colocam de forma mais aguada: a primeira, em que momento h a separao entre estudante de artes e artista? E qual o momento em que se d o salto entre exerccio
e obra? So perguntas que giram em torno do chamado amadurecimento do trabalho artstico e
que no necessariamente constituem uma ligao direta com a idade do artista. So questes que
se constituem como pontos nodais do Rumos. Diante de um territrio que se notabiliza pela experincia esttica, as respostas para essas questes se agrupam num tensionamento reflexivo pelo qual
a arte vem passando. H muito tempo exposies como a Documenta de Kassel ou a Bienal de
Veneza deixaram de ser eventos experimentais, de emergncia de linguagens. H pelo menos duas
dcadas o museu vem se tornando o lugar do entretenimento e do consumo, e no da experincia
esttica. A especificidade do contexto brasileiro poderia ser uma oportunidade para se pensar que
tipo de instituio (acadmica e museolgica) deve ser formada, em vez de simplesmente copiar
Adriano Costa
262 | 263
recortes curatoriais
um modelo1. A nica soluo para a precariedade institucional (os acervos fraturados de nossos
museus, que condicionam uma histria da arte brasileira de igual intensidade) no pode ser desejar
o mesmo nvel de desenvolvimento e sucesso das instituies internacionais que crescentemente se apoiam no espetculo, especialmente agora que o rtulo arte brasileira serve a esse propsito, ainda mais quando se atrela a descoberta de Hlio Oiticica pelas instituies internacionais
nos anos 1990 emergncia da esttica relacional. Diante desses fatos, as passagens relatadas nas
duas perguntas se do de forma cada vez mais acelerada (principalmente por presso do mercado)
e nem sempre acontecem no mesmo instante em que o observador crtico tem a conscincia da
maturidade do trabalho do artista.
Vivemos em uma economia da ateno. A lgica do capital introduz incessantemente novos produtos
e rpidos descartes, manipulando ateno e distrao. As novas tecnologias nos assediam com informaes e imagens. A urbe cada vez mais saturada de estmulos2. Estamos diante de novos regimes
de disciplina, controle e classificao da ateno. Acrescenta-se a esse pensamento a pergunta que se
coloca como nodal para o recorte3 que eu e os curadores Jlio Martins e Sanzia Pinheiro realizamos:
Como viver em um mundo em que aquilo que compreendamos como cidadania e civilidade se v
confrontado com seus limites, com seu esgotamento? A escolha dos artistas passa pela discusso do
conceito de runa ou provocar a deriva. As obras selecionadas para o recorte no possuem suportes
ou poticas semelhantes, mas, quando colocadas em vizinhana, passam a ter uma contaminao inevitvel. Contextos e circunstncias tornam-se visveis e constroem uma rede de sentidos que desemboca
em uma discusso sobre a ideia de colapso na contemporaneidade. um tema, de certa forma, vago,
porque na histria no faltaram casos de colapso, transformao e reconfigurao. A discusso sobre
colapso na obra desses artistas de forma alguma pressupe uma ideia de fim da arte, mas afirma especialmente uma viso poltica e ideolgica do mundo, sem ser panfletria. No h uma clara definio de
lugar nessas obras, mas a transparncia de uma falncia de mundo, de uma vontade de expor o mundo
com uma perspectiva mais prxima ao confronto, a uma violncia (que passa pela conquista de territrios at certa impacincia e arrogncia que tendem a dominar as relaes afetivas e interpessoais),
o que no necessariamente impe uma ideia niilista s obras. O mastro em queda sustentando uma
bandeira feita de cobertor em Nova Repblica (2009-2011), de Adriano Costa, expe a ideia de falncia,
de demarcao de um no lugar. Com antecedentes em Invented Country (1976), de Antonio Dias, a
Gabriela Mureb
1 Ainda pensando as formas crticas de uma estrutura de mapeamento ou de insero educacional e cultural do Rumos,
importante relatar o quanto esse programa se constitui como uma plataforma de formao e discusso sobre curadoria no Brasil
e quanto especificamente essa edio foi democrtica, possibilitando que todos os 13 curadores votassem no processo de seleo
e participassem ativamente do modo como o catlogo foi concebido e dos recortes curatoriais.
2 Comentrio retirado do texto Sobre Cortes e Delicadezas, de Marisa Flrido, publicado em O Globo, Rio de Janeiro, 20
de junho de 2011.
3 O recorte foi realizado no Museu de Arte de Joinville entre setembro e novembro de 2012 e teve o mesmo ttulo deste ensaio.
264 | 265
recortes curatoriais
obra de Costa sugere ausncia e falta (assim como o canto superior direito na obra/bandeira de Dias);
um incmodo irreparvel e difuso, a demarcao de uma geografia ou de uma fronteira esquecida ou
um lugar qualquer que nem sabemos se existe ou existiu.
As obras desse recorte atuam como se fossem um sussurro que no cessa de acontecer. Outro ponto
que h um dado jocoso nas obras selecionadas porque elas acabam criando uma imagem que alia o colapso (enquanto ideia de falha) a uma viso clich sobre os fundamentos da (chamada) inveno brasileira
nas artes visuais, que, a reboque, cria e sustenta conceitos como geometria sensvel e a fragilidade por
causa do uso de materiais frgeis e baratos em nosso modo de produo artstico. Esses artistas parecem
rebater essa ideia fortemente disseminada por uma parcela da crtica internacional. Eles nos lembram que
esses materiais realmente so usados nas artes visuais brasileiras, assim como em todo o mundo, e, portanto, a lgica da economia local no est diretamente ligada produo formal das obras daquele pas.
Esse estado da violncia aparece em situaes bem prprias e distintas, como o caso das obras de Carla
Evanovitch, Gabriela Mureb, Joo Castilho, Nara Amlia, Pontogor, Thiago Martins de Melo e Vijai Patchineelam. Em nsia (2010), de Mureb, concomitantemente ao fato de a artista lanar mo de tcnicas de
tortura, ela conhece muito bem o seu limite, e de forma alguma quer extrapol-lo. So aes que beiram
tanto a violncia quanto (mais fortemente) a inutilidade e o desnecessrio. Seu discurso no colocar o
corpo prova, na tentativa de ultrapassar limites, mas discutir poticas que envolvem o corpo na contemporaneidade, tais como a impotncia e o despropsito. No caso de Amlia, sua obra se situa entre o
onrico e o delrio. So imagens que nos proporcionam a visibilidade de um territrio que associa smbolos
ou dados concretos da natureza a uma fico fantasmagrica e, por vezes, sombria. Entre metamorfoses
e apropriaes que flertam com imagens perturbadoras, surgem cervos, pssaros e outros animais que
apaziguam ou relativizam essa transgresso. nesse ambiente de contradies, que remete s histrias e
s ilustraes da emergncia das literaturas de terror e fantstica na era moderna, que sua obra atravessa.
H certa circularidade do trao, como se as micronarrativas que acontecem, por vezes num s desenho, se
encaixassem sucessivamente, mas nesse percurso vo construindo significados diversos, opostos.
J a instalao malevichtiana de Patchineelam (Justaposio, 2012) promove um dilogo e no uma dependncia entre trs suportes distintos (pintura, fotografia e livro). Fala-se sobre pintura lendo as fotografias.
De certa forma, temas afeitos aos suportes esto presentes de maneira coesa: as quatro pinturas se aliam
repetio de gestos e a certa monotonia que tambm habita as aes documentadas no livro. Ademais,
a instalao constri uma possibilidade de radicalizao para a emergncia da pintura tendo o corpo como
imagem simblica: desde o livro, no qual o corpo se coloca como manobra para a ruptura do cavalete em
si uma referncia pintura , passando por uma metfora (mrbida) de um corpo monocromtico, at a
pintura/tatuagem/corpo sendo desmembrada como vigilncia na foto. A representao da vida contempornea ancora-se mais no sentido de viso do que na capacidade de escuta [e Moacir dos Anjos ao referir-se
produo do Chelpa Ferro esclarece que] a audio parece fragmentar, no espao e no tempo, os estmulos
Vijai Patchineelam
Justaposio, 2012
Instalao pinturas, fotografia e livro
Instalation paintings, photographies
and book
Dimenses variadas
Various sizes
266 | 267
recortes curatoriais
sensoriais que chegam ao ouvido, elegendo apenas alguns como relevantes e descartando a maior parte
dos sons como no significantes4. A performance de Pontogor e sua ininterrupta reproduo durante a
exposio, contaminando todo o espao, nos mostram que o resto, o rudo, o dissonante, o que dado como
ignorado, assumem um ndice de impreciso e transitoriedade, revelando a experincia urbana do mundo
atual, e encontra ressonncias, guardadas suas especificidades, em uma pesquisa que tem o manifesto The
Art of Noises (1913) e a produo de Luigi Russolo como pontos de partida. Abrindo um desvio nessa articulao entre som e artes visuais, a performance realizada por Guilherme Dable (Tacet, 2011-2012) expe o
desenho como prtica do acaso. Entre as cordas do baixo, os pratos da bateria e a percusso so colocados
os papis que documentam a imaterialidade: uma espcie de progresso do som no espao. Esse processo
resultado, por sua vez, da msica acidental ou de improviso que criada pelos msicos. O conceito de
deriva ganha nova dimenso nessa obra, sendo perspicaz a ambiguidade entre uma violncia na execuo
dos desenhos e o seu resultado final, pontuado por vazios e emergindo certa esttica da delicadeza.
A violncia assume outra conotao nas pinturas de Martins de Melo, que, por outro lado, revitalizam o
autorretrato, aplicando conceitos que interligam religio, mito, violncia e sonho s suas histrias. Nelas, o
artista um personagem de seu prprio delrio, e, na construo dessas paisagens, as histrias reveladas
guardam uma essncia de gnese seja em Seo Admica (2010) seja em A Herana de Iroco ou a Cama
de Ulisses (2010), em que o mito desse orix resgatado (Iroko foi a primeira rvore plantada e pela qual
todos os orixs restantes desceram Terra e simboliza o tempo) e transposto ao lado de Ulisses e Penlope,
respectivamente, o artista e sua prpria esposa. So tempos, territrios e mitos distintos que se confundem e
se complementam em pinturas que revelam um exibicionismo quase perverso, cru, e em parte um descomprometimento do artista com a prpria intimidade, pois esto ali revelados seus dramas, conflitos e dilemas.
Em tempos em que discute a relao (?) entre arte e vida, sua obra perversamente da ordem da catarse.
A violncia pode variar entre o pedido teatralizado mas sem deixar de ser real do artista humilde que
vem pedir ajuda aos senhores de bom corao para ajudar sua irm artista que precisa de ajuda para fazer
uma exposio em Performaes Urbanas (2011), de Evanovitch, e o quanto essa ao reporta, de modo
sarcstico, uma condio contempornea do artista marginalizado (por causa de sua situao geogrfica,
institucional e econmica) ao vigiar e punir de Morte Sbita (2011), de Joo Castilho. O painel de telas
de LCD nos revela um constrangimento do voyeurismo que cada vez mais praticado na contempoGuilherme Dable
raneidade, isto , uma posio de sermos extremamente vigiados e obcecados por tudo ver e deixar ser
Tacet, 2011
visto. A quantidade de aes (nove) sendo reproduzidas a princpio no nos revela uma coerncia, mas
Performance e registros
Performance and footage
4 DOS ANJOS, Moacir. O Barulho do Mundo. In: FERRO, Chelpa. Chelpa Ferro. So Paulo: Imprensa Oficial do Estado de
So Paulo, 2008, p. 165.
268 | 269
recortes curatoriais
270 | 271
recortes curatoriais
Carla Evanovitch
272 | 273
recortes curatoriais
Estar deriva tambm significa um dilogo com o incmodo. Em Sujeito da Transgresso #4 (2011),
de Fbio Baroli, o cruzamento entre imagens retiradas de sites pornogrficos, arquivos pessoais e histria da arte investiga um tema, digamos, delicado para a sociedade brasileira que o estar desnudo.
Sendo deslocada para uma instituio museolgica, a questo do nu nem sempre incorpora os efeitos
do chamado exerccio experimental de liberdade que supostamente a arte teria. Entre o voyeurismo e
o exibicionismo das cenas construdas por Baroli, o desconforto se faz presente, inclusive para avaliar
o estado da pintura na contemporaneidade e quanto a imagem e o contexto de sua apario podem
ser reveladores de uma moralidade oculta. Em Quando Todos Calam, de Berna Reale, a apario do
corpo nu e o oferecimento de sua carne aos urubus transformam esse ritual em estratgia de averso.
importante relatar que a performance foi realizada na zona porturia de Belm, um lugar tipicamente
masculino, e o quanto, portanto, a apario de uma mulher desnuda pode se converter em confronto.
Reale anuncia a pressuposio de que o lugar ser sempre outro lugar. Incmodo que se manifesta tambm no acidente provocado pelo vidro a se partir a qualquer momento na obra de Marilia Furman (em
Resistncia) ou na obra de Raquel Versieux, que envolve uma investigao sobre as aes da natureza,
e quanto a relao de tempo, desgaste e passagem pode ser absorvida como matria e conceito para
uma apropriao escultrica. O incmodo tambm aparece sob diversas camadas em Elegy To My Son
(Or What You Will), de Marcos Brias, numa quase impossibilidade de ler o texto, pelo fato de o artista
utilizar a construo das frases em lngua inglesa de forma pouco usual (com um sotaque interiorano),
de a serigrafia estar um pouco acima do que se costuma exibir usualmente e de ela ser impressa sobre
lixa (fatores de dificuldade e incmodo leitura da obra, na qual a palavra legenda e matria de sua
composio, alm de esse material criar uma ideia de tatilidade por causa da sua aspereza e, por conseguinte, identificar sintomas como repulsa ou tentativa de afastamento). Solido, isolamento e uma
atmosfera de western norte-americano formam os vrtices de sua obra, que parece nos empurrar para
uma zona de intervalo entre a espera e o esquecimento. De certa forma, essa atmosfera de silncio e
espera se apresenta no homem que atira a flecha a esmo em Mira, de Guilherme Teixeira. A flecha se
perde em um horizonte e origina um curso cuja trajetria ter o espao da dvida como destino. So
esses estranhamentos e fraturas que tais intervenes artsticas colocam em evidncia. Deixam-nos a
par de que preciso repensar as figuras do comum, as relaes e as projees de alteridade. Operando
em rede, eles interrogam os limites entre esttica, poltica, tica e pensamento, testando modos de
endereamento da arte, experimentando mundos que se abrem nessas fissuras e deslocamentos5.
O dilogo entre as obras de Jimson Vilela e Pablo Lobato cria a ideia de uma paisagem inventada, que
de alguma forma suscita a dvida sobre o que o mais verdadeiro, o mais real. H uma espcie de
reafirmao, algo como uma revalidao da realidade, enfim garantida pelo discurso esttico. O lugar
5 Este comentrio retirado do texto Nas Fraturas do Mundo, de Marisa Flrido, publicado em 24 de outubro de 2011 no
jornal O Globo.
Marilia Furman
Resistncia, 2011
Instalao chapas de vidro e holofote
Installation glass sheets and spotlight
274 | 275
recortes curatoriais
Berna Reale
276 | 277
recortes curatoriais
da paisagem no tem mais ligao com um objeto do mundo natural, mas com a investigao a respeito das prprias circunstncias que so mobilizadoras dessa transformao da paisagem. Em Enquanto
o Mar Esquecia, Palavras Paralelas se Encontravam no Infinito, de Vilela, nos deparamos com imagens
que so reveladas por meio da escrita (em seus apontamentos, dirios e anotaes) de um viajante.
A paisagem no visvel por imagens, mas por texturas, sons, odores e cores pr-fabricados por outra
qualidade de linha. Em Lobato, temos a desapario como mote: em Bronze Revirado6 (2011) ficamos
em estado de ateno por causa da dana hipnotizante do sineiro (profisso em extino), que mescla
fora, beleza e temor graas iminncia de um acidente, e em Expirao (2010) h o apagamento de
trechos selecionados do arquivo audiovisual do artista, at ento nunca reproduzido, e suas matrizes.
Com base nas determinaes do acaso, cada um dos seis vdeos escolhidos tem seu perodo de exibio
estabelecido por um software7. So imagens que se despedem indefinidamente; possuem um compromisso com a revelao e a inconcluso ao mesmo tempo; so imagens urgentes porque so conscientes
de seu desespero e relevncia.
Esse conjunto de artistas so exemplos de uma produo capaz de dialogar com o mundo de forma
profcua e intensa, mas que no o faz de forma ilustrativa, e sim atravessada pela capacidade potica
intrnseca arte de tornar o nosso olhar mais sensvel ao mundo, ou seja, fazer com que habitemos um
mundo regido por diferenas de outra forma.
Felipe Scovino professor da Escola de Belas Artes da UFRJ. Foi curador das exposies Lygia Clark: Pensamento Mudo (Dan Galeria, So Paulo, 2004), Dcio Vieira: Investigaes Geomtricas (Centro Universitrio Maria
Antonia, So Paulo, 2010), O Lugar da Linha (Pao das Artes, So Paulo; MACNI, 2010) e Entre Desejos e Utopias
(A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2010), entre outras. Publicou os livros Arquivo Contemporneo (Editora 7Letras:
Rio de Janeiro, 2009), Cildo Meireles (Azougue Editorial: Rio de Janeiro, 2009) e Carlos Zilio (MACNI, 2010).
Guilherme Teixeira
Mira, 2011
Vdeo
Video
Durao 1, em loop
Running time 1, in loop
6 A obra registra, desde os bastidores, e com um acento antropolgico e potico, a execuo de um toque de sino festivo
em uma igreja de So Joo del-Rey. Gestos annimos, organizados como em uma tensa coreografia, concorrem para criar uma
identidade coletiva.
7 Os vdeos variam de 24 horas data do trmino da mostra. Ao final desse prazo, todos tero sido apagados, restando apenas
seu primeiro frame, que permanece sob uma tela branca. A obra tambm consiste na publicao disponvel ao pblico.
278 | 279
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
felipe scovino
Adrift
What does a mapping mean? This doubt has never left me throughout Rumos Ita Cultural Artes Visuais 2011-13. Mapping would mean establishing a cartography that would identify and recognize details
of the remotest areas in the country, gathering parts that would never make up a whole and putting
together differences that should be kept as such. In the realm of visual arts output, cartography would
raise a second issue: what would contemporary artistic practices be? How to single out these works?
These were questions that have never left me throughout Rumos. The insanity this term mapping
would evoke reminded me of Douglas Huebers quixotic project of photographing all forms of human
life (Variable Piece: 70). This was an inside-out curatorial process: while in exhibition projects curators
usually start from a theme and then choose a set of works, in Rumos artists and theme or themes, to be
fairer to its plurality of languages and research come a posteriori.
Would curators role be that of a kind of demiurge or simply a traveler I here present as a curious and
attentive character who is appalled when faced with difference and invention? The invitation to this trip
was made in the seminars and meetings with artists I had during Rumos first year, so I decided that mine
would be a blind trip. The condition I imposed was being adrift. I had no expectations because, with a
utopic stance, I refused any prerogatives or images of cities or works I had never seen before. Symbolically, what guided me was despair in Bas Jan Aders work, which deepens indefinitely when he in 1975
sets out to sea in a boat (in the performance called In Search of the Miraculous), never to be seen again.
I did not wish to meet an Hlio Oiticica from Sergipe or an artist working with a political conceptual
proposal la Hans Haacke in some Minas Gerais town, and much less a work that would make our latent
Brazilianness evident. In short, I had no interest in local color. What guided my path through this image
of a desert or darkness, which I wished to apply to the traveling process, the exchange with artists and
subsequent selection, was understanding that artists research could be perceived as an experiencemediating object (of the body, the place, politics, institutional means) and, above all, as a timeless and
transnational semantic territory. This object should be freed from its historical time and place and stay as
a continuous invention legacy and an offer for disseminating sensitivities.
The emptying of national identities symptoms and the assertion of experiences that obliterate specific
places are increasingly perceptible in contemporary visual artworks, opening up possibilities for reflecting
on present time and revealing a correlation between complex and contemporary forces: the context of art
outside a hegemonic center. Adrift, I was not interested in folklore or exoticism, precisely because what the
viewer expects from, thinks or imagines about Brazil should be very far from experiences those works evoke.
I think that local theme should not be present in any representation, form or image, precisely because it
has already been dissolved in the world. It is to be found in language strategies, in articulations with the art
system, in the tussle against provincialism and prejudice. This was the territory I made a point of navigating.
Pablo Lobato
280 | 281
invitation to a journey
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
On the other hand, we can understand the mapping and, most certainly, the reverberations of this pro-
precariousness (the fractured collections of our museums, which condition an equally intense history of
cess (the visit of curators-mappers to studios and cultural centers prior to the selection process, critical
the Brazilian art) cannot aim at attaining the same level of development and success of international in-
monitoring prior to the exhibition, the exhibition itself, the seminars and delimitations) as a set of nar-
stitutions that are increasingly based on the spectacle. This is especially the case now that the Brazilian art
ratives that are informal or otherwise, on (Brazilian) artists condition in contemporaneity. Mapping can
label is used to this purpose, even more so when the discovery of Hlio Oiticica by international institu-
mean critical thinking about this appearance of the artistic making. Over the last 30 years, there has
tions in the 1990s is connected with the emergence of relational aesthetics. In view of these facts, the transi-
been vast progress within academia with artists professionalization, access to publications, as well as
tions imparted in the two questions above are increasingly swift (mainly due to market pressure) and do not
encouragement to debate and research. Despite the well-known, lets say, technical difficulties facing
always coincide with the moment when critical observers become aware of the maturity of an artists work.
universities, there is a reasonably safe route for the insertion of artists in the market (leaving aside the
more crucial discussion, which is the production of an aesthetic experience by means of an object or
We live in an economy of attention. The logic of capital continuously rolls out new products and fast
idea). However, the consolidation of academia as the place where artists are trained does not make it
disposition, thus manipulating attention and distraction. New technologies bombard us with information
the only possibility to this end. There still are self-taught artists, but they are increasingly associated with
and images. Urban areas are increasingly saturated with stimuli2. We are facing new regimens of attention
universities, cultural centers, and other training institutions. Two different reasons require artists to stop
discipline, control and classification. Add to this thought the nodal question underlying the scope3 that cu-
making their works all on their own and institutions above all critics to be accomplices of these artists.
rators Jlio Martins and Sanzia Pinheiro and I chose: How should we live in a world in which what we used to
understand as citizenship and civility is confronted with its limits, its exhaustion? When choosing the artists,
Rumos exhibits a rather significant panorama of the training process, which in our country is manifold and,
we took into account the discussion of the concept of ruin or provoking drift. The works selected based on
at the same time, incipient. The curatorship dealt with the so-called emerging artists (in the absence
such scope do not resort to similar supports or poetics but, when placed next to each other, they convey an
of a name that would define this emptiness, I will use this expression). Therefore, reasonably different
inevitable contamination. Contexts and circumstances become visible and build a network of senses that
trajectories were on the table from artists who were still undergraduate students to others who had just
leads to a discussion about the idea of collapse in contemporaneity. This theme is, in a way, vague, because
graduated, others were graduate students, some of which established in the market to a certain extent
collapse, transformation and reconfiguration have really abounded in history. The discussion about collapse
(even represented by galleries); there were also a huge proportion of self-taught artists. And this without
in these artists work does not suppose an idea of the end of art; it rather states especially a world view
taking into account the discrepancy between artists living in large cities and having access to information
which, although political and ideological, is by no means pamphleteer. These works offer no clear definition
(museums, galleries, universities, libraries etc.) and others living in places without even internet access.
of place, but rather the transparency of a world failure, of a will to expose the world through a perspective
closer to confrontation, to violence (that goes from the conquest of territories to a certain impatience and
Two serious issues were most sharply raised. The first one: when does someone cease to be an art student
arrogance tending to dominate affective and interpersonal relationships). Yet this does not necessarily give
to become an artist? And when does the leap between an exercise and a work take place? These are
the works a nihilistic tone. The falling pole on which there us a flag made of a blanket in Nova Repblica
questions related to the so-called maturing of the artistic work, not necessarily and directly linked to the
(2009-11), by Adriano Costa, states the idea of failure, of signaling a non-place. Against the background of
artists age. These are nodal issues in Rumos. In the face of a territory that stands out for the aesthetic ex-
Invented Country (1976), by Antonio Dias, Costas work suggests absence and lack (as does the upper right
perimentation, the answers to these questions are clustered around the reflectional tension that art is going
corner in Dias work/flag); an irreparable and diffuse malaise, the demarcation of geography or of a forgot-
through. It has been a long time since exhibitions such as the Kassel Documenta and Venice Biennale were
ten boundary or of a nondescript place we do not even know whether exists or existed.
experimental events where languages would emerge. For at least two decades now, museums have become places of entertainment and consumption, rather than of aesthetic experience. The specificity of the
Within such scope, the works act as if they were an incessant whisper. Another point is that there is an
Brazilian context might offer an opportunity to consider what kind of institution (academic and museologi-
amusing side to the selected works, because they end up creating an image that combines collapse (as
cal) should be designed, rather than just copying an existing model1. The only solution for the institutional
an idea of failure) with a clich view of the foundations of the (so-called) Brazilian invention in visual
arts, that, in reverse, creates and sustains concepts such as sensitive geometry and frailty due to the
1 Still critically thinking of how to structure a mapping process or to incorporate the educational and cultural perspectives of
Rumos, it is important to point out that this program does leverage training in and discussion about curatorship in Brazil and more
particularly that this edition was developed in a quite democratic environment, which enabled all the 13 curators to cast their votes
in the selection process and actively take part in conceiving this catalog and establishing the curatorial scopes.
2 Comment taken from Sobre cortes e delicadezas, by Marisa Flrido, published in O Globo, Rio de Janeiro, June 20 2011.
3This scope was defined at Museu de Arte de Joinville [Joinville Art Museum] from September to November, 2012 and was
named after this paper.
282 | 283
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
Nara Amlia
Um Pressgio de Tristeza (srie A Natureza como Ambiente da
Clausura), 2011
gua-forte, aquarela, lpis de cor e dourao
Etching, watercolor, color pencil and gilding
35 x 30 cm
35 x 30 cm
Nara Amlia
Portador de Marcas (srie A Natureza como Ambiente da
Clausura), 2011
gua-forte, aquarela, lpis de cor e dourao
Etching, watercolor, color pencil and gilding
35 x 30 cm
35 x 30 cm
Nara Amlia
A Noite Salva (srie A Natureza como Ambiente da
Clausura), 2011
gua-forte, aquarela, lpis de cor e dourao
Etching, watercolor, color pencil and gilding
35 x 30 cm
35 x 30 cm
Nara Amlia
A Natureza como Ambiente da Clausura, 2011
gua-forte, aquarela, lpis de cor e dourao
Etching, watercolor, color pencil and gilding
35 x 30 cm
35 x 30 cm
284 | 285
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
use of fragile and inexpensive materials in our artistic mode of production. These artists seem to refute
urban experience of todays world, and find echoes, despite specificities, in a research project whose starting
this idea that has been widely disseminated by a part of the international community of critics. They
points are The Art of Noises (1913) manifesto and Luigi Russolos works. Departing from this articulation be-
remind us that these materials are really used in Brazilian visual arts, as well as all over the world, and,
tween sound and visual arts, Guilherme Dables (Tacet, 2011-12) performance exposes drawing as a chance
therefore, the logic of the local economy is not directly linked to the formal production of works in Brazil.
practice. Among bass strings, drum cymbals and percussion, papers documenting immateriality are placed:
a kind of progression of sound in space. This process, in turn, results from the accidental or improvised
This state of violence appears in quite specific and distinct situations, as in the case of the work by Carla
music created by musicians. The drift concept attains a new dimension in this work, with a smart ambiguity
Evanovitch, Gabriela Mureb, Joo Castilho, Nara Amlia, Pontogor, Thiago Martins de Melo and Vijai
between violence in the execution of drawings and final outcome, punctuated by blanks and allowing for
Patchineelam. In nsia (2010), Mureb resorts to torture techniques and, at the same time, is keenly aware
of its limit and by no means wants to overstep it. These are actions that border on both violence and
(more strongly) uselessness and needlessness. Her discourse does not consist in putting the body to the
Violence acquires a different connotation in Martins de Melos paintings, which, on the other hand, revi-
test in an attempt to go beyond limits, but rather to discuss contemporary poetics involving the body,
talize self-portrait through concepts that intertwine religion, myth, violence and dream with his stories. In
such as impotence and lack of purpose. Amlias work lies between an oneiric territory and delirium. These
the latter, the artist is a character in his own delirium. As these landscapes are raised, the stories revealed
are images that let us see a territory where symbols or concrete data from nature are associated with
present an essence of genesis in both Seo Admica (2010) and A Herana de Iroco ou a Cama de Ulisses
phantasmagorical, and sometimes grim, fiction. Among metamorphoses and appropriations that flirt with
(2010), wherein this Orishas myth is recovered (Iroko is the first tree to be planted and by which all the
disturbing images, one can see deer, birds and other animals that sooth or relativize such transgression. It
other Orishas came down to Earth; it symbolizes time) and placed next to Ulysses and Penelope, respec-
is in this environment full of contradictions, referring to stories and illustrations of the emergence of horror
tively the artist and his own wife. These are different times, territories and myths that mingle and comple-
and fantastic literature in modern times, that her work is developed. There is certain circularity in her lines
ment each other in paintings that show an almost perverted, crude exhibitionism and partly an indiffer-
of drawing, as if the micronarratives arising out of her works, sometimes in one single drawing, would suc-
ence of the artist toward his own privacy, as his dramas, conflicts and dilemmas are disclosed therein. In
cessively fit together, albeit building opposite, diverse meanings along this process.
times when the relationship (?) between art and life is discussed, his work perversely pertains to catharsis.
Patchineelams malevichtian installation (Justaposio, 2012), in turn, promotes dialog, not dependence,
Violence can range from the theatrical though not less real request of the humble artist who asks
between three different supports (painting, photography and book). One speaks about painting by read-
good-hearted gentlemen to help his artist sister in need of support to organize an exhibition in Perfor-
ing photographs. In a way, support-related themes are consistently present: the four paintings are com-
maes Urbanas (2011), by Evanovitch, and the extent to which this action sarcastically reports the con-
bined with the repetition of gestures and with a certain monotony also seen in actions documented in the
temporary condition of marginalized artists (owing to their geographical, institutional and economic sta-
book. Moreover, the installation builds a possibility of radicalization leading to the emergence of a painting
tus) to the watching and punishing depicted in Morte Sbita (2011), by Joo Castilho. The LCD screen
by using the body as a symbolic image: starting from the book, in which the body serves as a tool to a ma-
panel reveals the embarrassment of voyeurism, increasingly practiced in contemporary days, i.e., the
neuver to break away the easel in itself a reference to painting , moving on to the creation of a (morbid)
position of being extremely observed and obsessed with seeing and letting see everything. In principle,
the (nine) actions reproduced reveal, instead of consistency, a jumble of images that gradually demon-
vigilance in the photo. The representation of contemporary life is more anchored in the sense of sight,
strate the imminence of danger and, therefore, of death. These are actual, non-fictionalized kidnapping
rather than in the ability to listen [and Moacir dos Anjos, when referring to Chelpa Ferros works, clarifies
and ambush scenes. The fact is that, at the end of the action, the obvious shocks and disconcerts us.
that], hearing seems to fragment, in space and in time, sensory stimuli that reach the ear, choosing only a
few of these as relevant and dismissing most sounds as non-significant.4 Pontogors performance and its
Being adrift also means being in a dialog with discomfort. In Fbio Barolis Sujeito da Transgresso #4 (2011),
uninterrupted reproduction throughout the exhibition, contaminating the whole space, show us that the
the intersection of images from porn websites, personal archives and art history investigates a topic that is
rest, the noise, the dissonant, what is considered as ignored, become imprecise and transient, revealing the
sensitive, so as to say, to the Brazilian society: being naked. When moved to a museological institution, the
nude issue does not always incorporate the effects of the so-called experimental exercise of freedom that
art is supposed to perform. The voyeurism and exhibitionism of the scenes created by Baroli bring about
4 DOS ANJOS, Moacir. O barulho do mundo. In: FERRO, Chelpa. Chelpa Ferro. So Paulo: Imprensa Oficial do Estado de
So Paulo, 2008, p. 165.
discomfort, also when it is a matter of assessing the state of painting in contemporaneity and to what extent
the image and the context where it appears can expose a concealed morality. In Berna Reales Quando
286 | 287
invitation to a journey
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
Fbio Baroli
Sujeito da Transgresso #4, 2011
leo sobre tela
Oil on canvas
110 x 150 cm
110 x 150 cm
288 | 289
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
Todos Calam, the appearance of the naked body and the offer of its flesh to vultures transform this ritual in
matrices. The screening time of each one of the six videos is randomly determined by software.7 These
an aversion strategy. It is important to point out that this performance was carried out in Belms port area,
are images that are indefinitely saying goodbye; they are concurrently revealing and open-ended; these
a typically male place, and hence the appearance of a naked woman can turn out to be a confrontation.
are urgent images, because they are aware of their despair and relevance.
Reale announces the assumption that the place will always be another place. This malaise was also aroused
in the accident caused by glass that might break at any moment in Marlia Furmans work (in Resistncia) or
This group of artists provides examples of works that are able to establish a fruitful and intense dialog with
in Raquel Versieuxs work. The latter involves investigation into nature actions, as well as into how much the
the world. Yet they do not do this illustratively. Instead, they do it in a way that is permeated by the poetic
relation among time, wear and passage can be absorbed as matter and concept for a sculptural appropria-
ability, inherent to art, of making us cast a more sensitive look at the world, i.e., changing the way we inhabit
tion. Malaise also appears under several layers in Marcos Brias Elegy To My Son (Or What You Will), as a
near-impossibility to read the text due to a number of factors: the artist resorts to unusual English syntax
(with a peasant accent), the serigraphy is shown slightly higher than usually on the wall and printed on
sandpaper (all these make it hard and awkward to read the work, in which the words are subtitles and matter
in the composition; moreover, this material elicits a tactile idea due to its roughness and, as a consequence,
Felipe Scovino is a professor with Escola de Belas Artes (School of Fine Arts) at Universidade Federal do Janeiro
identifies symptoms such as rebuff or an attempt to move away from it). Loneliness, isolation and an at-
[Federal University of Rio de Janeiro] (UFRJ). He has curated, inter alia, the following exhibitions: Lygia Clark: Pensamento
mosphere of American western are the vertices of his work, which seems to push us into a zone between
Mudo (Dan Galeria, So Paulo, 2004), Dcio Vieira: Investigaes Geomtricas (Centro Universitrio Maria Antonia [Ma-
waiting and oblivion. In a way, this atmosphere made of silence and wait is presented in the man who shoots
ria Antonia University Center], So Paulo, 2010), O Lugar da Linha (Pao das Artes [Palace of the Arts], So Paulo; Museu
an arrow randomly in Mira, by Guilherme Teixeira. The arrow is lost in a horizon and generates a course
de Arte Contempornea [Museum of Contemporary Art], Niteri, 2010) and Entre Desejos e Utopias (A Gentil Carioca,
whose trajectory has as its destination the space of doubt. What these artistic interventions evidence is
Rio de Janeiro, 2010). He authored the books Arquivo Contemporneo (Editora 7Letras: Rio de Janeiro, 2009), Cildo
this strangeness and these fractures. These works let us know that commonness figures, relationships and
Meireles (Azougue Editorial: Rio de Janeiro, 2009) and Carlos Zilio (Museu de Arte Contempornea: Niteri, 2010).
otherness projections must be rethought. By operating in networks, they question the boundaries between
aesthetics, politics, ethics and thought, testing art modes of addressing, experimenting with worlds that
open themselves in these fissures and displacements5.
The dialog between Jimson Vilelas and Pablo Lobatos works creates the idea of an invented landscape,
which, in a way, raises doubt about what is more truthful, more real. There is a kind of reaffirmation,
something like a revalidation of reality, finally ensured by aesthetic discourse. The place of the landscape
is no longer connected with an object from the natural world, but rather with an investigation into the very
circumstances that mobilize these transformations of the landscape. In Vilelas Enquanto o Mar Esquecia,
Palavras Paralelas Se Encontravam no Infinito, we are confronted with images that are revealed by a travelers writings (in his notes and journals). The landscape is not visible in images, but rather through textures,
sounds, smells and colors prefabricated by a different quality of line. In Lobato, disappearance is a motto:
in Bronze Revirado6 (2011), we stay alert because of the hypnotic dance of the bell maker (endangered
trade), which combines strength, beauty and fear for being on the brink of an accident, and in Expirao
(2010) selected excerpts of the artists audiovisual archive, never shown before, are deleted as well as their
Raquel Versieux
Eroses de luz acontecem aqui entre 1817 e 2817 ao
meio - dia e dez de 21 de novembro a 22 de janeiro , em
Belo Horizonte, 2011
Instalao Tcnica mista
Installation Mixed techniques
180 x 410 x 160 cm
180 x 410 x 160 cm
5This comment is from Nas fraturas do mundo, by Marisa Flrido, published on October 24, 2011 in O Globo newspaper.
6This work records, from the backstage and with an anthropological and poetic accent, the festive sound of bells on a church tower
in So Joo del Rey. Anonymous gestures, organized as in a tense choreography, concur to create a collective identity.
7The videos are screened for 24-hour periods up to the last day of the exhibition, after which they will all have been deleted. The
only thing to remain will be their first frame to be kept under a white screen. The work also includes a book available for ditribution.
290 | 291
recortes curatoriais
GABRIELA MOTTA
A expresso que nomeia este texto (e este recorte curatorial) tenta dar conta do ponto limtrofe existente entre situaes antagnicas porm contguas. Cho e vo, vida e morte, passado e presente, amor
e dio, belo e feio, arte e no arte so pares antitticos mas cujo permetro tangente simultaneamente
nfimo e dotado de ampla potncia significante. Horizonte de ao de boa parte das experincias modernas, esses limiares configuram o lugar de excelncia da arte pois indicam a desarmonia, o risco, a
rachadura que marca a intruso do infortnio na beleza perfeita1.
A partir das conversas com a equipe curatorial desta exposio, Alejandra Muoz e Luiza Proena, escolhemos apresentar um recorte que contemplasse os trabalhos que, grosso modo, lidam com as noes de
limite, tenso, radicalismo e temporalidade irreversvel. Essas ideias pairam sobre as zonas limtrofes, sejam
elas geogrficas ou simblicas. Assim, as obras de Adriano Costa, Cristiano Lenhardt, Daniel Murgel, Fbio
Magalhes, Gabriela Mureb, ris Helena, Isabel Ramil, Joo Castilho, Luiz Roque, Marcos Brias, Maria Laet,
Naia Arruda, Pablo Lobato, Regina Parra, Rodrigo Torres e Rogrio Severo encontram-se reunidas sob um
olhar que as enxerga operando nessa seara, com todos os desvios que as obras lhe infligem.
O lugar simblico evocado em O Fio do Abismo abarca pelo menos trs leituras complementares: a ideia
de permeabilidade entre opostos; a noo de vertigem, mudana radical de um estado a outro; e o conceito de mise en abyme. Essas abordagens no so inditas nem excludentes, mas aparentemente existe
hoje um esgaramento, uma radicalizao das indeterminaes formais, conceituais, temporais, iniciadas
na arte moderna, que justificam o reexame dessas perspectivas. Assim, entendo-as como possveis chaves
para uma reflexo acerca da produo contempornea das artes visuais, portanto, das obras aqui referidas.
No campo da arte, o desprestgio das categorias binrias de raiz positivista, a desconfiana dos preceitos
filosficos deterministas, est na origem das proposies plsticas que so at hoje as referncias e as
bases da produo contempornea. As experimentaes estticas perpetradas pelos artistas do incio
da primeira metade do sculo XX problematizaram consideravelmente as diferenas entre arte e no
arte, belo e feio, alta cultura e baixa cultura, evidenciando a permeabilidade e a contaminao mtua
entre tais polos. Experincias como a proposio de uma obra por princpio incompleta (Merzbau, de
Kurt Schwitters, cuja primeira verso de 1923), objetos ordinrios como obra (Fontaine, de Marcel
Duchamp, de 1917), quadro-objeto (colagens cubistas de Picasso de 19131914), cultura de massa (Andy
Warhol na dcada de 1960), animais, vegetais, minerais, sangue, tiros, happenings, landart, tudo j foi
alado categoria de arte. Essas proposies sempre estiveram intimamente relacionadas aos contextos
de produo e circulao da arte, evidenciando em mais esta perspectiva a impureza como condio
292 | 293
recortes curatoriais
Rodrigo Torres
294 | 295
recortes curatoriais
permanente e universal. A instabilidade frtil que caracteriza o terreno contemporneo pode ser entendida, em parte, como decorrncia dessas experincias autctones.
Hoje, o reconhecimento de que qualquer coisa, ser vivo, objeto, ao, discurso, pode potencialmente
alcanar o status de arte no precisa mais ser defendido em todas as frentes. As instituies de ensino,
de exibio e circulao de arte, em sua maioria, j assimilaram os novos paradigmas estticos impostos
definitivamente a partir dos anos 1960. A questo atual parece localizar-se com mais nfase no como
e por que determinadas escolhas, certas operaes, podem causar infiltraes, desconcertos, desafios
para esse sistema to hbil em pasteurizar tudo o que se lhe apresenta. E, fundamentalmente, como
essa arte pode suspender certezas e produzir fascas incendirias internas e externas.
Trabalhos como os de Adriano Costa e Pablo Lobato operam diretamente nessas questes. Adriano, ao
pinar do submundo artefatos improvisados, objetos de meios sociais excludos (panos de cho, facas
adaptadas) e lan-los aos olhos e ambientes especializados renomeando-os (Tapetes e Faqueiro), provoca
um rudo marcante na esfera da arte. A quem pertencem aqueles objetos? Quais usos lhes so dados?
Como so ressignificados por nomes e contextos e arranjos? E tambm perguntas mais institucionais:
como exp-los sem estetiz-los? Como armazen-los? Pablo, da mesma forma, nos inflige problemas no
s estticos, como institucionais. A obra Expirao contm em si uma falncia, um fim. Como um ser vivo,
a partir do momento que passa a existir, tambm passa a morrer. No entanto, esse processo fsico de esvair-se a sobrecarrega de significados sobre memria, preservao, responsabilidade diante da arte, da vida,
do mundo. A publicao que o artista indica como parte da obra insiste em descolar-se do conjunto. Surge
como relquia, parte de um todo definitivamente perdido e permanentemente reconquistado.
Ainda lidando com essa problemtica da impreciso, contaminao de opostos e desafios institucionais,
porm de forma aparentemente mais sutil e delicada, temos os trabalhos de Rodrigo Torres e ris Helena. Rodrigo situa a sua obra num entre muito preciso: suas proposies no podem ser classificadas
nem como pintura nem como escultura, nem como instalao nem como objeto. So eminentemente
hbridas. O artista, contraditoriamente, lana mo de um domnio tcnico atilado para criar iluso, para
atuar no terreno da invisibilidade e do desaparecimento. ris Helena parte de um jogo semntico para
nomear e indicar os paradoxos do seu trabalho. A obra Notas Pblicas composta por um grande
painel de post-its. Sobre estas unidades de papel amarelo est impressa uma nica imagem fotogrfica de um lugar pblico qualquer, que no pode ser identificado como Porto Alegre, Belm ou Joo
Pessoa. Fixados como o objeto de origem, com uma cola ordinria, esse painel tende a desmantelar-se,
a desmanchar-se, a apagar-se como unidade, perdendo partes. O desaparecimento e a dissoluo da
imagem e do objeto so consequncias de um rigor e um controle absolutos.
A especulao sobre a falha, sobre a fenda, sobre o torto, como condio de toda atividade artstica
Adriano Costa
Faqueiro, 2009/2011
Madeira, metal, vidro, fitas adesivas e resina epxi
Wood, metal, glass, adhesive tapes and epoxy resin
44 x 79 x 95 cm
44 x 79 x 95 cm
o segundo ponto sobre o qual se acumula esta reflexo. a partir da noo de coincidncia de
296 | 297
recortes curatoriais
ris Helena
298 | 299
recortes curatoriais
contrrios que Michel Leiris, em 1938, articula todo um pensamento sobre esses pontos carregados
de ambiguidade, de pices envolvidos em uma latncia eminente de derrocada. O autor relaciona
tourada espanhola, seus rituais e riscos, a sexualidade e a arte. Ele afirma que a ao de todos esses
sujeitos (o amante, o toureiro, o artista) funda-se sobre a nfima, mas trgica rachadura por onde se
mostra o que h de inacabado (literalmente: de infinito) em nossa condio2. O caminho em direo ao
limite, ao pice; a busca pelo tensionamento mximo de uma situao, de uma experincia a busca por
essa rachadura sempre arriscada porque envolve desejo e frustrao, idealizao e decepo, meta
precisa e descontrole. do absurdo (aquilo que contrrio sensatez e ao bom senso), sua capacidade
de inebriar, de chocar, de revoltar, que se quer falar.
Algumas obras desta exposio parecem situar-se nessa labilidade, nessa alternncia de estados de esprito, em busca do ponto tangente entre as emoes. Gabriela Mureb, Isabel Ramil, Cristiano Lenhardt
e Naia Arruda partem do uso do vdeo e do seu prprio corpo (ou de um corpo que lhe significa, no
caso do Cristiano) para conformar seus trabalhos. Cada uma a seu modo, essas obras abordam, por um
lado, a performance na atualidade, inutilidades e pertinncias do sujeito-imagem presente na obra; por
outro, a violncia fsica e psicolgica, o deslocamento social e a solido, a ironia e a franqueza.
Gabriela Mureb, em seus vdeos, empreende aes que tangenciam seus limites fsicos. Se por um lado,
essas aes podem ser vistas como um enfrentamento histrico da artista com tudo o que j foi feito no
campo da performance, as noes de violncia e inutilidade tambm esto atualizadas nas imagens, que
no cessam de se repetir. O corpo que coordena a cena o mesmo que a vivencia, num jogo despropositado de submisso e controle absolutos, em que a cumplicidade condio fundamental. O pice
esperado no chega a realizar-se. Isso significaria o fim de algo que se quer imediatamente anterior a
esse momento. Isabel Ramil tambm lana mo do seu corpo, tensiona limites e smbolos em Das Felices e Coca-Cola ra ra. No primeiro vdeo, a artista ensaca a sua cabea, procedimento contrrio ao
da personagem da pea de Beckett (referida no ttulo da obra) que passa o tempo todo enterrada at
Isabel Ramil
o pescoo. O que se v um jogo de imagens acompanhadas pelo texto da pea em espanhol, instaurando em vdeo o absurdo beckettiano. J em Coca-Cola Isabel manipula som e imagem na construo
de uma cena hilria e cruel. Entre clichs gauchescos e femininos, o trabalho, de forma irnica, fala da
violncia e da misoginia que criam os esteretipos dos quais a artista se serve.
Miss Zebra, de Naia, se apresenta em um registro menos decodificvel, no entanto prenhe de sensaes
antagnicas. O vdeo composto por 15 esquetes em que a artista protagoniza cenas vestida com um
pijama zebrado. O absurdo dessas imagens regado de humor, sarcasmo e perspiccia visual. No h
encadeamento lgico nem narrativa presumida, sempre uma sucesso de inesperadas situaes que
300 | 301
recortes curatoriais
se acumulam como gritos afnicos diante do descompasso de um sujeito com o seu contexto. Ainda
operando nessa imprecisa zona de curtos-circuitos, Cristiano Lenhardt cria uma neblina de histrias.
Polvorosa faz parte de um projeto chamado Entredcada. Duas frgeis estruturas de madeira e papel
vegetal servem de suporte para projees de imagens. Nesses vdeos, personagens estranhos protagonizam fuses entre sujeito e contexto. De repente, a partir do contato entre as figuras, seus corpos contaminam-se por chuviscos, aquela quase esquecida imagem de dissintonia de um televisor. A palavra
polvorosa significa agitao, tumulto, mas tambm contm em sua prosdia ares de poeira, tempestade
de areia, algo que eclipsa em sua espessura uma possvel nitidez, sensaes que aderem ao trabalho.
O limite, a tangncia entre emoes e/ou situaes antagnicas como horizonte de ao da produo
atual de artes visuais tambm aparece em um sentido mais objetivo, o que no significa menos potente
ou desestabilizador. A nfase na materialidade de determinadas fronteiras fsicas ou simblicas por vezes
acentua a arbitrariedade de sua existncia e o conformismo com o qual so aceitas. Daniel Murgel, em
sua instalao (In)cmodo, apresentada na exposio geral do Rumos, joga com a gramtica e com a
lgica dos espaos arquitetnicos. Ao partir do que poderia ser a rea de uma quitinete, o artista prope
questes sobre a relao entre sujeito e espao, sobre habitar um lugar e ser contaminado por ele. Casa e
crcere confundem-se em uma operao que deixa exposta a pele da arquitetura e resguarda o processo
de esvaecimento de uma vida. J a fronteira da qual surgem e sobre a qual versam as obras de Regina
Parra exatamente aquela que significa limite geogrfico entre territrios polticos. As imagens do vdeo
Sobre La Marcha e da srie de pinturas Eldorado revelam imigrantes clandestinos atravessando fronteiras.
A baixa nitidez das imagens do vdeo, em funo da clandestinidade tambm desses equipamentos,
aliada ao texto de Blanchot3 e a tcnica de pintura utilizada pela artista reforam a fragilidade e a tenso
que pairam sobre esses limiares de excluso e poder. Ao mesmo tempo, o jogo entre imagens, texto e
textura apresenta aquelas pessoas como sujeitos prenhes de vontade, fora e pulso vital.
J Rogrio Severo aborda as questes de tenso e limite em uma perspectiva prioritariamente formal.
Equilbrio e risco sustentam no ar as instalaes do artista. No h projeto que guie essas formas, elas
surgem do improviso e da ateno devotada aos objetos e aos espaos que as abrigam. Utilizando
uma srie de objetos ordinrios fios, lminas, serras, pesos , Severo desenha no espao um volume
complexo e orgnico que reordena o uso desses elementos fazendo com que todos tenham a mesma
importncia, pois esto articulados para o mesmo fim. H uma circularidade no trabalho que movimenta
o olho e o corpo de quem o v e que coloca este sujeito diante de uma obra que pura apresentao,
no requisitando decodificaes e sim disponibilidade para uma experincia sensorial. Esse partido autorreferente sugerido nesta obra indica o prximo ponto sobre o qual se organiza este recorte curatorial.
3 O texto que aparece no vdeo extrado do livro A conversa infinita (So Paulo: Escuta, 2001), do escritor e crtico literrio
Maurice Blanchot. Esse trecho fala, grosso modo, sobre o que busca do ser humano, da capacidade fundamental de mover-se em
direo a essa busca, mesmo que no saiba precisamente o que quer encontrar.
Cristiano Lenhardt
302 | 303
recortes curatoriais
Daniel Murgel
(In)cmodo, 2011
Instalao
Installation
Dimenses variadas
Various sizes
304 | 305
recortes curatoriais
Rogrio Severo
Fundear, 2012
Instalao
Installation
Dimenses variadas
Various sizes
306 | 307
recortes curatoriais
O terceiro vrtice deste texto oriundo da literatura, mas caro a toda criao artstica. A expresso mise
en abyme refere-se a obras autorreferentes, que contm em si o tema mesmo da obra. Na literatura, essa
caracterstica pode expressar-se de trs formas: ora de modo vertiginoso, um fragmento, dentro de outro
fragmento, dentro de outro, infinitamente; ora paradoxalmente, quando indecifrvel o que fragmento e
o que obra; ora pela presena de apenas um fragmento que estabelece uma relao de similitude com a
obra que o inclui. Tal conceito correlato metalinguagem, partido autorreflexivo assumido como discurso
e prtica irrevogveis nas artes visuais. A capacidade reflexiva da arte confunde-se com um dever a partir
da sua autonomia, na medida em que no h possibilidade para a arte no ser tambm sobre arte.
Maria Laet, Luiz Roque, Joo Castilho, Marcos Brias e Fbio Magalhes, de modos absolutamente
diversos, enfatizam essa autorreflexividade em suas obras. Fbio lana mo de um dos mais tradicionais
suportes e tcnicas, leo sobre tela, para engendrar uma experincia sensorial em que tcnica e potica
so complementares. impossvel no se surpreender com a qualidade da pintura, impossvel no
reagir com o corao. O olho pulsa diante desse avesso do eu: vsceras, carnes expostas, conduzem a
paradoxos sensoriais em que razo e emoo alternam-se enquanto focos da percepo. O artista apresenta a pintura como possibilidade contempornea enfrentando os tabus da representao e do rigor
sem desvios. J nos trabalhos de Marcos Brias a prpria experincia do artista, suas percepes sobre
arte, cultura e sua trajetria que vm tona. Melancolia, solido, isolamento e o imaginrio do western
norte-americano formam os vrtices de objetos rigorosos e plenos de potncia interpretativa. Enquanto
All the Pretty Horses alude ironicamente a clichs e gneros cinematogrficos, Elegy to My Son indica a
linguagem, entre verbal e visual, como problema central. Os enigmas visuais so reforados pela opo
de um ingls nada bsico como legenda e matria das obras.
Maria Laet parece buscar um avesso de imagem a partir de um aparato de produo de imagem. Aps
realizar uma fotografia com uma cmera polaroide, a artista separa as pelculas que formam o positivo.
Desse procedimento surgem desenhos, manchas, que variam de acordo com a delicadeza ou aspereza
do seu gesto. Essas marcas nascem da destruio da imagem original, porm sugerem espaos que s
se revelam por essa separao. A escala ampliada das imagens e a verticalidade das mesmas refora a
relao que elas estabelecem com o corpo: so como espelhos cegos em que j no se veem reflexos,
mas os seus interiores. Ainda assumindo a imagem como problema central (e meio), Luiz Roque coloca
o espectador entre duas imagens anlogas, como se, em vez de olhar a paisagem, fosse ela que nos
observasse e sufocasse. Rodado com uma cmera que alcana 2500 frames por segundo (o usual so 24
frames por segundo), Projeo 0 e 1 versa sobre o estatuto da imagem e sobre o poder de acreditarmos
Marcos Brias
nela mesmo quando ela se revela um constructo. A verdade o seu dom de iludir4 e, diante do deleite
que ela nos proporciona, s nos resta fingir que acreditamos para retardar o real.
308 | 309
recortes curatoriais
Fbio Magalhes
sem ttulo
310 | 311
recortes curatoriais
Luiz Roque
Projeo 0 e 1, 2012
Videoinstalao
Video installation
Dimenses variadas
Various sizes
312 | 313
recortes curatoriais
Se o deleite e o prazer em Luiz Roque e o vazio e a ausncia em Maria Laet so os partidos assumidos
em suas obras a partir do tensionamento de tcnicas e conceitos, em Joo Castilho o esgar diante da
falncia do homem que sobrevm. Poucas vezes, como diante de Morte Sbita, somos surpreendidos
pelo uso to contundente de imagens obtidas na internet, recurso frequente na arte contempornea.
Castilho orquestra essas imagens num jogo entre o pictrico e o discursivo e diante do qual no samos
ilesos. So 3 minutos e alguns segundos que duram uma eternidade. O que se v so imagens turvas
e distorcidas que antecipam a indesejada sincronia da violncia, a inevitvel sincronia da morte. O que
choca o espelhamento que a obra capaz de refletir, da avidez pelo trgico em nossa sociedade.
Arte como espelho do mundo, do artista, de si mesma, todas essas possibilidades juntas, ou separadas, se fazem parte de toda obra interessante, tambm aparecem como acento especfico em uma
parcela da produo contempornea. A contaminao entre opostos, o limiar que os diferencia para
em seguida confundirem-se novamente, o abismo da descrena que faz o sujeito ver-se como parte
equivalente s demais, e no superior, so os vrtices que surgem do conjunto de obras aqui referidas. De forma irnica e no direta, de forma sarcstica e no debochada, de modo agressivo e no
violento, parece-me que em todas as obras referidas neste recorte a vertigem que se busca atingir,
sem ingenuidades totalizantes. No o novo, no o indito, no o nico, no o primeiro, no o mais;
nenhuma dessas conquistas que inebriaram a primeira metade do sculo passado faz sentido hoje.
Mas a latncia do presente, a sua redundncia sempre radicalizada em armas mais potentes, em
novos muros, em outras potncias econmicas; e principalmente na permanente possibilidade de
reorganizar esse presente a partir da criao artstica.
Gabriela Motta (Pelotas, RS, 1975) curadora, crtica e pesquisadora em artes visuais. Possui mestrado em
artes visuais pela UFRGS. Atualmente desenvolve pesquisa de doutorado em artes visuais na USP.
Joo Castilho
Morte Sbita, 2012
Videoinstalao com nove canais, em loop
Video installation with nine channels, in loop
342
342
314 | 315
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
gabriela motta
objects (Picassoss 1913-1914 cubist collages), mass culture (Andy Warhol in the 1960s), animals, vegetables, minerals, blood, shots, happenings, landart all have been elevated to the category of art. These
propositions have always been closely linked to the contexts of art output and circulation, once more
highlighting impurity as a permanent and universal condition. The fertile instability that characterizes
The title of this text (and this curatorial scope) is an attempt to account for the borderline between
the contemporary setting may be understood, in part, as a result of these autochthonous experiences.
antagonistic, but contiguous, situations. Ground and gap, life and death, past and present, love and hate,
beautiful and ugly, art and non-art are antithetic pairs whose tangent boundaries are at the same time
Today, it is no longer necessary to champion on all fronts the idea that anything living beings, objects,
minute and endowed with ample significant power. The action horizon of a good part of modern experi-
actions, discourse can potentially be recognized as having attained the status of art. Most art teaching,
ences, the thresholds which configure the locus par excellence of art because they indicate disharmony,
exhibiting and circulating institutions have already assimilated the new aesthetic paradigms definitively
risk, the fracture that signals the intrusion of misfortune into perfect beauty.1
imposed as from the 1960s. The current issue seems rather centered on how and why certain choices
and operations can give rise to infiltrations, disconcert and challenges to this system that is so good at
Following conversations with the curatorial team of this exhibition Alejandra Muoz and Luiza Pro-
pasteurizing all it is presented with. Basically, how this art can suspend certainties and produce internal
ena , we chose a scope that would include works which deal, broadly speaking, with the notions of
limit, tension, radicalism and irreversible temporality. These ideas hover in bordering zones, whether
geographical or symbolic. Hence, works presented by Adriano Costa, Cristiano Lenhardt, Daniel
Works such as Adriano Costas and Pablo Lobatos operate directly on these issues. By picking im-
Murgel, Fbio Magalhes, Gabriela Mureb, ris Helena, Isabel Ramil, Joo Castilho, Luiz Roque,
provised artifacts from the underworld, objects from excluded social strata (mops, adapted knives),
Marcos Brias, Maria Laet, Naia Arruda, Pablo Lobato, Regina Parra, Rodrigo Torres and Rogrio
renaming and offering these to our eyes in specialized settings (Tapetes and Faqueiro dos Caras),
Severo are put together with the eye that sees them operating in this area, with all the deviations
Costa generates a striking noise in the art sphere. Whom do those objects belong to? What uses
are they given? How are they resignified by names and contexts and arrangements? As well as more
institutional questions such as: How to showcase them without stheticizing them? How to store
The symbolic place evoked in The Edge of the Abyss encompasses at least three complementary
them? Likewise, Lobato raises not only aesthetic, but also institutional issues. The work Expirao
readings: the idea of permeability between opposites; the notion of vertigo, radical leap from one
contains a failure, an end. Like a living being, from the very moment it starts to live, it also starts to
state to another; and the concept of mise en abyme. These approaches are neither new nor mutually
die. Nevertheless, this physical process of fading away overloads it with meanings relative to mem-
exclusive, but todays formal, conceptual and temporal indeterminations started in modern art seem
ory, preservation, responsibility toward art, life and the world. The publication the artist refers to as
to be fraying, radicalizing, which justifies reviewing these perspectives. Thus, these are understood
part of his work insists on detaching itself from the rest. It appears as a relic, as part of a definitively
to be possible keys to reflect on the contemporary output of visual arts; and therefore, on the works
referred to here.
Also addressing these issues of imprecision, contamination of opposites and institutional challenges, but
In the field of art, the discredit of binary categories rooted in positivism and the mistrust in deterministic
in an apparently more subtle and delicate way, we have Rodrigo Torres and ris Helenas works. Torres
philosophical precepts are the origin of plastic propositions that are still the references and the founda-
situates his work in a very precise in between: his propositions cannot be classified either as paintings
tions of contemporary works. The aesthetic experiments artists carried out in the early 20th century
or sculptures, nor as installations or objects. They are eminently hybrid. In a contradictory way, the artist
considerably questioned the differences between art and non-art, beautiful and ugly, high and low cul-
resorts to witty technical mastery to create illusion, to work in the realm of invisibility and disappearance.
ture, thus highlighting mutual permeability and mutual contamination of such poles. Experiences such as
Using a semantic game as her starting point, ris Helena names and indicates paradoxes in her work.
proposing works that are incomplete as a matter of principle (Merzbau, by Kurt Schwitters, whose first
Notas Pblicas is made of a big panel of post-it notes. Those yellow paper units bear only a single pho-
version dates back to 1923), ordinary objects as works (Fontaine, by Marcel Duchamp, 1917), painting-
tographic image of a nondescript public place, which cannot be identified as any of the cities of Porto
Alegre, Belm or Joo Pessoa. Affixed as the object of origin with ordinary glue, this panel tends to
dismantle, to come apart, to fade out as a unit, losing its parts. The disappearance and dissolution of the
image and the object result from absolute rigor and control.
316 | 317
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
The speculation about the failure, about the gap, about the crooked as a condition for all artistic
Naias Miss Zebra is presented in a less decodable format but pregnant with contradictory sensations.
activity is the second point for consideration. It is from the notion of coincidence of contraries that
The video is made up of 15 sketches in which the artist acts out scenes dressed in zebra pajamas. The
Michel Leiris, in 1938, expresses his thoughts on these points that are loaded with ambiguity, with api-
absurdity of these images is full of humor, sarcasm and visual wit. There is neither a logical sequence
ces involved in a looming collapse. The artist associates sexuality and art with the Spanish bullfight, its
nor a supposed narrative, but rather a succession of unexpected situations that accumulate like voice-
rituals and risks. He states that all these subjects (the lover, the matador, the artist) actions are based
less screams in face of the discrepancy between a subject and his/her environment. Also operating in
on the tragic, albeit minute, fissure through which the incompleteness (literally: infinitude) of our con-
this fuzzy, short-circuit zone, Cristiano Lenhardt creates a haze of stories. Polvorosa is part of a project
dition is shown.2 The path toward the limit, the apex, the search for maximum tension in a situation,
called Entredcada. Two fragile wood-and-vellum-paper frameworks are used as props for image pro-
an experience the search for this fissure is always risky because it involves desire and frustration,
jections. In these videos, weird characters play out the fusions between subject and context. Suddenly,
idealization and disappointment, a precise target and lack of control. It is about the absurd (that which
as the figures touch each other, their bodies are contaminated by static, that almost forgotten image of
is contrary to reason and common sense), about its ability to inebriate, shock, and elicit rebellion that
an out-of-tune TV set. The word polvorosa means agitation, commotion, but its sound in Portuguese
evokes the idea of dust (poeira), sand storms, something whose thickness obscures a possible clarity,
sensations that adhere to this work.
A couple of works in this exhibition seem to fit in this labile position, in these alternating states of
spirit in search of the tangency point between emotions. Gabriela Mureb, Isabel Ramil, Cristiano
The limit, the tangency between antagonistic emotions and/or situations as the horizon for todays
Lenhardt and Naia Arruda resort to the use of video and of their own bodies (or a body which signifies
visual art production also appears in a more objective, but no less powerful or destabilizing, sense.
their own, as in Cristianos case) to give shape to their works. In their own way, each one of these works
Emphasis on the materiality of certain physical or symbolic boundaries sometimes stresses its arbi-
deals with, on the one hand, performance today, useless and relevant aspects of the image-subject in
trary character and the conformism with which these boundaries are accepted. In his (In)cmodo
the work and, on the other hand, physical and psychological violence, social displacement and loneli-
installation, displayed in the general Rumos exhibition, Daniel Murgel plays with grammar and the
logic of architectural spaces. Based on what could be the area of a studio apartment, the artist raises
questions about the relations between subject and space, about living in a place and being contami-
In her videos, Gabriela Mureb performs actions touching her physical limits. While these actions can
nated by it. House and prison are confounded in an operation that exposes the skin of the architec-
be regarded as a historic confrontation between the artist and all that has been previously done in
ture and protects the fading out of a life. The boundary from where Regina Parras works emerge and
the field of performance, the notions of violence and uselessness are refreshed in the unceasingly
which they address, on their turn, is exactly the one meaning a geographical limit between political
repeated images. The body coordinating the scene is the same one that experiences it in a senseless
territories. In the Sobre La Marcha video and the Eldorado series of paintings, the images show clan-
game of absolute submission and control in which complicity is a key condition. The expected apex
destine immigrants crossing borders. The low definition of the video images, a consequence of the
does not happen. This would mean the end of something that is supposed to exist immediately prior
equipments clandestinity as well, together with Blanchots3 text and the painting technique chosen
to this moment. Isabel Ramil also makes use of her body, stretches limits and symbols in Das Felices
by the artist stress the fragility and the tension hovering over these fringes of exclusion and power.
and Coca-Cola ra ra. In the first video, the artist puts her own head in a bag, which is the opposite
Concurrently, the interplay of images, text and texture depict those people as subjects pregnant with
of what Becketts character does in the play (referenced in the title of the work), who remains buried
up to her neck the whole time. What is seen is a combination of images with the text of the play in
Spanish, thus introducing the Beckettian absurd to the video format. In Coca-Cola, Isabel manipulates
Rogrio Severo, in turn, tackles issues of tension and boundary from a preeminently formal perspective.
sound and image to build a hilarious and cruel scene. Among gacho (from the state of Rio Grande
Balance and risk hold the artists installations in the air. There is no design guiding these shapes, they are
do Sul) and feminine clichs, this work ironically refers to violence and misogyny that create the ste-
born from improvisation and from the attention devoted to objects and spaces that shelter them. Using
a series of ordinary objects wire, blades, saws, weights Severo draws a complex and organic volume
3 The text included in the video was taken from A conversa infinita (So Paulo: Escuta, 2001), the Portuguese version of The
Infinite Conversation by writer and literary critic Maurice Blanchot. By and large, this passage is about what is sought of the human
being, of the primary ability to move toward that search even though one does not know exactly what he wants to find.
318 | 319
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
in the space that rearranges the use of these elements, thus ascribing all of them the same importance,
as they are directed to the same end. There is a circularity to this work that makes the viewers eyes and
bodies move and places the subject before a work that is pure presentation, not requiring decodification,
but availability to a sensory experience, instead. The self-referential choice suggested in this work points
to the next topic about which this curatorial scope is organized.
The third vertex in this text comes from literature, but is dear to all artistic creation. The expression mise
en abyme refers to self-referential works, which embed the very theme of the work. In literature, this feature can be expressed in three different ways: either vertiginously, a fragment inside another fragment,
inside another one indefinitely; or paradoxically, when fragment and work are indiscernible; or through
the presence of only one fragment that establishes a similitude relation with the work that encloses it.
Such a concept correlates with metalanguage, self-reflexive choice assumed as irrevocable discourse
and practice in visual arts. Art reflexive capacity mixes up with a duty based on its autonomy for it is
impossible for art not to be about art as well.
In absolutely diverse ways, Maria Laet, Luiz Roque, Joo Castilho, Marcos Brias and Fbio Magalhes
emphasize this self-reflexiveness in their works. Magalhes utilizes the most traditional support and technique, oil on canvas, to generate a sensory experience in which technique and the poetic complement
each other. It is impossible not to be amazed at the quality of his painting, it is impossible not to respond
whole-heartedly. The eyes pulse as they face this reverse of the self: entrails, exposed flesh, lead to
sensory paradoxes in which reason and emotion alternate as perception focuses. The artist presents
the painting as a contemporary possibility confronting the taboos of representation and the unrelenting
rigor. In Marcos Brias works, in turn, what surfaces is the artists experience itself, his perceptions about
art and culture, as well as his career. Melancholy, loneliness, isolation and the North American western
imagery are the vertices of objects that are rigorous and rich in interpretative power. While All the Pretty
Horses ironically alludes to cinematographic clichs and genres, Elegy to My Son brings language, between verbal and visual, as its core issue. The visual enigmas are strengthened by the use of a far-fromsimple English in the subtitles and as material for the works.
Maria Laet seems to be looking for the reverse of an image by using an image generating equipment.
After taking a photograph with a Polaroid camera, the artist separates the films that make up the positive. This procedure eventually produces drawings and stain-formed shapes, that vary depending on
how gently or roughly she does it. These marks arise from the destruction of the original image; noneIsabel Ramil
theless they suggest spaces that are only revealed by such separation. The larger scale and verticality
of the images enhance the relation they establish with the body: these images are like blind mirrors
Vdeo digital
Digital video
Durao 2 33
Running time 2 33
in which one no longer sees reflections, but rather the inside of them. Likewise, Luiz Roque treats the
image as his core issue (and medium) by placing viewers between two analogous images, as if the
viewers were being observed and suffocated by the landscape itself instead of looking at it. Shot with
320 | 321
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
a camera that films up to 2500 frames per second (the normal speed being 24 frames per second),
Projeo 0 e 1 is about the status of image and about believing in it even when it is a construct. Truth
is the gift of deception4 and, considering all the bliss it brings, all that is left is for us to pretend we
believe in order to postpone reality.
If the bliss and pleasure in Luiz Roques works and the emptiness and absence in Maria Laets are
their chosen approaches based on tensioning techniques and concepts, what surfaces in Joo Castilhos work is the grimace in view of mans failure. Seldom have we been taken aback by such a
powerful use of internet images a resource frequently used in contemporary art as shown in
Morte Sbita. Castilho orchestrates these images based on the interplay between the pictorial and
discursive, from which we do not escape untouched. These are 3 minutes and a few seconds that
last forever. The viewer sees blurred and distorted images that anticipate the unwanted synchronism
of violence, the inevitable synchronism of death. What is shocking is how this work can reflect our
societys thirst for the tragic.
Art as a mirror of the world, of the artist, of itself: while all these possibilities, together or individually,
are an integral element of every interesting work, they also appear as a specific feature in part of the
contemporary artworks. Contamination between opposites, the threshold that differentiates them
and lets them mingle once again, the abyss of disbelief that makes subjects see themselves as parts
equal to all others, and not superior to them, are the vertices that arise out of the group of works mentioned here. In an ironic and indirect way, in a sarcastic and not-scornful way, in an aggressive and nonviolent way, it seems to me that all the works included here tend towards vertigo, without absolute
naivet. Not the new, not the unprecedented, not the unique, not the first, not the most none of
these achievements that inebriated the first half of the last century makes any sense today. Instead,
the latency of the present, its redundancy always radicalized in more powerful weapons, in new walls,
in other economic powers; and particularly in the everlasting possibility of reorganizing the present
with artistic creations are what counts.
Pablo Lobato
Gabriela Motta (Pelotas, Rio Grande do Sul, 1975) Curator, critic and researcher in visual arts. She holds
an MA in visual arts from Universidade Federal do Rio Grande do Sul [Federal University of Rio Grande do Sul]
(UFRGS). She is currently working on her PhD research in visual arts at Universidade de So Paulo [University of
So Paulo] (USP).
322 | 323
recortes curatoriais
PAULO MIYADA
At que ponto a intuio preponderante na definio de caminhos a serem trilhados no campo vasto e
de limites incertos da arte contempornea? Enunciar essa pergunta algo penoso, em razo do descrdito
geral acerca do intuitivo e de outros procedimentos que ocupam lugares anlogos no discurso artstico e
com os quais usualmente confundido. Intuio, inconsciente, subjetividade, pressentimento, misticismo, irracionalidade e instinto, entendidos de forma indiscriminada, parecem hoje fadados a ser lidos como imprecises ou, pior, como subterfgios para a parcialidade e o gosto. Creio haver pouco interesse em reencenar
a polarizao em que razo e intuio apresentam-se como opostos separados e rivais, at mesmo porque
hoje entendemos que ambos no se podem excluir e trabalham sempre articulados. O que antes interessa
distinguir a intuio de sua acepo mais prosaica e assim identificar consequncias da parcela intuitiva do
pensamento artstico na produo recente destacada pelo programa Rumos Artes Visuais 2011-2013.
Por absurdo, possvel aceitar que se escamoteie em definitivo o pensamento intuitivo; teramos a
sobrevalorizao do mtodo, do clculo, da lgica e do pensamento analtico. Seria possvel ento hierarquizar produes contemporneas de acordo com sua coerncia interna e com a linearidade de seu
argumento. Ou ento reorganizar a histria da arte recente enfatizando seus momentos de transparncia e clareza. Por sorte, apareceria, nos casos mesmos de maior clareza metodolgica, uma forte
contradio. Pois justamente aqueles que seriam tomados como protagonistas da objetividade como
eixo do pensamento artstico deixaram explcita sua defesa de algo que se contrape racionalidade.
Para tanto, podemos lembrar de Marcel Duchamp, cujos ready-mades impactaram o circuito da arte norteamericana na dcada de 1950 (40 anos aps sua realizao), como eptome do enfrentamento do bom gosto
e das leituras simblicas como balizas para a validao de obras de arte. Com uma fonte que pouco mais
que um simples urinol de porcelana branca rotacionado, assinado e transladado a um salo de arte, Duchamp
havia deixado claro que no pretendia contar com o apoio do deleite visual, mas antes situar sua obra em um
lugar mental, estruturado em torno de deslocamentos semnticos e do acmulo intelectual de pontos de
vista. Ainda assim, quando tentou generalizar as premissas do fazer artstico, em O Ato Criador (1957)1, Duchamp saiu em defesa do inconsciente e do intuitivo como gestores inalienveis de suas cadeias de escolhas
e decises. Para ele, toda inteno do artista enfrenta uma distncia imensurvel que a afasta do que pode
alcanar efetivamente pelo seu trabalho. Com esse argumento, Duchamp assumiu uma posio: era necessrio reconhecer a ao do pblico como instncia constituinte do ato criador, instncia esta que atua no vazio
deixado pela incongruncia entre o que o artista de fato fez e o que ele pretendia fazer. De passagem, relegava
tambm as decises artsticas a um lugar aparentemente desconfortvel, o domnio da pura intuio.
1DUCHAMP, Marcel. O Ato Criador, 1957. In: BATTCOCK, Gregory. A Nova Arte. Coleo Debates, So Paulo: Perspectiva, 2008.
324 | 325
recortes curatoriais
Seguimos ento Sol Lewitt, artista sinttico do minimalismo norte-americano conjunto de iniciativas que
recuperam e extrapolam o legado dos ready-mades de Duchamp e suas discusses em torno do que chamava de perspectiva intelectual. Lewitt consolidou uma extensa srie de trabalhos baseados na formulao
rigorosa de projetos claros e coesos que consistem, por sua vez, em sries de aspecto matemtico, afim a
procedimentos de anlise combinatria. Sua metodologia garantia que elaborao mental e desenvolvimento material poderiam ocupar momentos diferenciados do processo criativo, distantes e passveis de
ser, at mesmo, separados em uma relao de trabalho. Assim, tanto por analogia quanto como prxis, a
pesquisa de Lewitt aproxima-se do raciocnio tecnocientfico da modernidade que permite a construo
de grandes pontes, sistemas de transporte intermodais e fluxo de informaes quase instantneos.
Ainda assim, quando instado a pensar nas constantes de sua arte, Lewitt elabora uma srie de sentenas
que, de forma surpreendente, comeam por afastar a hiptese de um pensamento artstico essencialmente racional: 1. Os artistas conceituais so msticos ao invs de racionalistas. Eles chegam a concluses que a lgica no pode alcanar. / 2. Julgamentos racionais repetem julgamentos racionais. / 3.
Julgamentos ilgicos levam a novas experincias. / [...] 5. Pensamentos irracionais devem ser seguidos
de maneira absoluta e lgica2.
Nesse pequeno conjunto de sentenas, sugerem-se equivalncias e contrastes: de um lado, misticismo e
julgamentos ilgicos; do outro, sequncia lgica e racionalismo. Apesar de soar dicotmico, seu argumento
encontra foras na inverso da polaridade entre pensamento lgico e desenvolvimento material. Explico:
as realizaes da engenharia pressupem um princpio claro, racional e comprovvel no campo do clculo,
ao que se segue uma realizao material que procura ater-se ao planejamento abstrato, mas invariavelmente acumula certo erro ou desvio anteriormente previsto em um coeficiente de margem de erro; por
outro lado, no mtodo de Lewitt, o fundamento assumido como algo ilgico e obscuro, mas que no
obstante deve ser desenvolvido de forma sistemtica e econmica, acumulando o mnimo desvio possvel.
Para entender como a intuio pode emergir no seio mesmo da razo, seria pertinente pensarmos no
exemplo do homem cujo nome se confunde com a prpria histria do idealismo: Ren Descartes. Responsvel pela elaborao de um mtodo que liberaria o homem de todo compromisso com argumentos
dogmticos e ideias recebidas, Descartes procurou lidar com todos os aspectos da realidade como problemas passveis de interpretao racional e converso em uma relao de propores e medidas, o que
implicaria a mxima abrangncia dos princpios da geometria e, por consequncia, da lgebra, na qual
os dilemas so passveis de clculo e resoluo. O que curioso, e Paul Valry quem chama ateno
Maria Laet
para o episdio, que justo no momento em que Descartes vislumbrou os princpios de seu mtodo e
sem ttulo
a revoluo que poderiam provocar em todo o pensamento humano, o pensador imergiu num longo
326 | 327
recortes curatoriais
delrio. Aps um perodo de profunda excitao em torno da reflexo do que chamava cincia admirvel, deitou-se e sucumbiu a trs sonhos repletos de vises que atribui a um Gnio (um Daimon) criado
dentro dele e que em nada correspondia ao seu prprio esprito. Ao acordar, rezou Virgem Maria, fazendo um voto de que iniciaria uma peregrinao para dar conta da descoberta que ento se iluminava
sobre ele mas que ainda no tinha forma.
Ora, tais informaes advm dos escritos do prprio Descartes, que no sublinha nenhuma contradio
entre os movimentos de amadurecimento racional e de iluminao metafsica. No toa que o precursor da psicologia da arte, Rudolf Arnheim, encontra em Descartes uma das mais instigantes definies
do que seja a intuio: Por intuio no entendo o testemunho instvel dos sentidos, nem o julgamento
enganoso oriundo das elaboraes inexatas da imaginao, mas a concepo que uma mente lcida e
atenta nos d, to pronta e distintamente que no nos fica qualquer dvida a respeito daquilo que compreendemos, escreveu o pensador no sculo XVII e polarizou tal faculdade noo de deduo, por
sua vez definida como a capacidade de identificar as relaes de inferncia entre os fatos conhecidos e
tomados como certos3.
Da Arnheim elabora um entendimento da intuio como entendimento instantneo de um todo, que
por sua simultaneidade mais simples, menos detalhada que a deduo, mas tambm mais precisa
que esta. Gostaria de emprestar essa noo de intuio para a discusso da produo recente de arte
contempornea reunida na presente edio do projeto Rumos Artes Visuais. certo que, como acabou
de ser demonstrado, o pensamento intuitivo pode ser um dado de todo processo criativo, tanto na arte
como em outros campos de conhecimento; ainda assim, parece pertinente refletir sobre sua presena
em trajetrias que ainda percorrem seus primeiros anos de elaborao, testando hipteses, desenvolvendo tcnicas e partindo de lugares mais ou menos arbitrrios. Pois certo que no existe hoje no
campo da arte contempornea uma doutrina comum que preestabelea uma hierarquia entre tal e qual
ponto de partida. Poltica, memria, saber tcnico, improviso, rigor, violncia e delicadeza so motes to
bons quanto quaisquer outros, ou pelo menos esta foi a impresso que guardei durante os processos de
viagem, seleo e acompanhamento que constituram o primeiro ano de trabalho da equipe curatorial.
Conversando com os artistas, sempre uma curiosidade permaneceu como uma agulha no fundo da
ateno: o que fez com que essa pessoa escolhesse essas, entre tantas referncias possveis, como contexto de seus primeiros trabalhos? Quais as expectativas e quais as filiaes desejadas nessas escolhas
ainda no justificadas por todo um corpo de trabalhos resultante de uma vida?
Virgilio Neto
sem ttulo, 2011
Grafite, aquarela, guache e lpis
de cor sobre papel
Lead, watercolor, gouache and
color pencil on paper
74 x 100 cm
74 x 100 cm
Em alguns casos, possvel apontar um lugar preponderante da intuio; em outros, um papel mais discreto lhe reservado, mas nem por isso menos decisivo. O recorte de que parte este texto e tambm uma
3ARNHEIM, Rudolf. Intuio e intelecto na arte. Traduo: Jefferson Luiz Camargo. So Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 15.
328 | 329
recortes curatoriais
das exposies itinerantes do programa Rumos Artes Visuais 2011-2013 alimenta-se dessas nuances para
agrupar 19 dos artistas selecionados. Entre eles, h um eixo que atravessa trabalhos que a todo tempo
remetem seu processo criativo a uma viso de conjunto que em muito corresponde ao que entendemos
como pensamento intuitivo. o caso de Virgilio Neto, que sistematicamente coleciona fragmentos de
cenas encontrados na internet e outras referncias visuais, organizando um banco de imagens recortadas,
arquivadas ou esboadas em seu peculiar trao a lpis, reconhecvel pelo equilbrio entre a garatuja e o
desenho ilustrativo. Pois, desse arquivo, advm os cacos que so reunidos em grandes desenhos como os
presentes na exposio, os quais constituem-se como mapas mentais, campos brancos dos quais emergem figuras de escala e posicionamento variados, articuladas e sobrepostas de modo a delinear campos
de tenso visual. Sem hierarquia ou estrutura predeterminada, a composio no possui reta de chegada
predefinida, respondendo percepo intuitiva do todo a cada nova linha que lhe acrescentada. Tal
recurso reverbera na leitura desses desenhos, fazendo com que o pblico se aproxime dos detalhes para
perceb-los um a um, mas possa encontrar maiores reverberaes apenas se se mantiver disponvel a uma
leitura do conjunto, como diante de um caderno de notas cuja narrativa pudesse ser lida numa s visada.
De perto e de longe, tambm assim se inscreve a dramaticidade da obra Passagem Secreta (2011) de
Luciana Paiva. De posse de um livro acerca de instalaes eltricas, a artista seleciona pginas e, dentro
delas, trechos de frases que podem conectar-se aos de outras pginas, constituindo um texto que, transposto ao espao expositivo, conforma uma sequncia de folhas perpendiculares parede e atravessadas
por uma frgil tira de papel horizontal. Nela, os fragmentos selecionados articulam-se, ao mesmo tempo
desvinculados e prximos de seu contexto original, aos demais fragmentos numa orao longussima que
sugere ora humor, ora absurdo, suspense e drama. Novamente, as escolhas da artista e os caminhos do
pblico submetem-se conscincia de um panorama geral que no da ordem do projeto, mas, sim, da
percepo sincrnica intuitiva. O caso-limite desse procedimento talvez seja o de Vincius Guimares,
que em seus desenhos e pinturas procura sincronizar o tempo de feitura com o pensamento que dura
pouco mais de um instante. Em sua fala, o artista menciona o desejo de alcanar um estado mental zen,
no qual o raciocnio seria substitudo pela intuio com vistas a obter composies sem nenhuma justificativa argumentativa. Resulta da uma coleo abundante de arranjos que se assemelham a esboos.
Singelos, os desenhos s se oferecem a leituras de conjunto, pois aproximar-se deles revela linhas quase
sem espessura, de gestualidade apagada e que continuam iguais no importa a qual distncia, tais como
traos vetoriais feitos em programas de computador.
As escolhas de Jimson Vilela, por outro lado, alternam mergulhos em territrios de impresses intuitivas
com movimentos contidos em processos de edio e acabamento de partes isoladas. Numa visada geral, o conjunto de seus trabalhos apresenta uma imagem quase precria de acmulo de notas sem hierarquia ntida, arranjadas segundo critrios subjetivos. No caso desta edio do Rumos, seu procedimento
de anotao de ambincias e estados de esprito foi canalizado para apreenso da experincia do corpo
na cidade a partir de trs locais da cidade em relao a trs noes centrais em sua pesquisa: imagem,
Luciana Paiva
330 | 331
recortes curatoriais
Jimson Vilela
Enquanto voc tomava minhas
plpebras, 2011/2012
Instalao
Installation
Dimenses variadas
Various sizes
332 | 333
recortes curatoriais
texto e espao/no espao. Nesses locais, Jimson preencheu cadernos com croquis e breves textos
poticos, sem emular a atitude das disciplinas sociais ou das cincias humanas aplicadas. Ele apenas
caminhou, observou e tomou notas, em relao afetiva com os espaos. Em seguida, diante de cadernos
mais ou menos amarrotados, afastou-se de seu estado imersivo e passou a escolher nos conjuntos o que
lhe parecia mais apto a cativar o leitor para envolver-se com um lugar de compartilhamento de verdades e incertezas, lugar este que o artista apelida de sala de espera. Jimson passou ento a limpo esses
cadernos e levou-os ao espao expositivo, onde reiniciou o processo de relao afetiva na combinao
de textos com elementos grficos e de limpeza com conciso discursiva. Bem poderia se dizer, tambm,
que o que est em jogo justamente a gangorra entre pensamento intuitivo e dedutivo, como se d
tambm no trabalho de Dalton de Paula. Marcado pela necessidade de expressar as idiossincrasias de
sua subjetividade frente a sistemas lingusticos preestabelecidos, Dalton oscila entre a compreenso e
domnio desses sistemas e o desabafo de medos e fragilidades que lhe so prprios. Assim, o artista, desde muito jovem, j havia abordado a simbologia das pinturas de tema religioso, os incuos instrumentos
de trabalho do corpo de bombeiros, que recombinou em objetos delicados como um tapete de coturnos de couro descosturados. Em Corpo em Segredo (2011), Dalton superpe seu busto nu com o rosto
blindado por fitas adesivas aos muros e empenas cegas da cidade, que torna uma espcie de tela sobre
a qual ensaia os gneros do autorretrato e da paisagem. Tais composies advm da escolha objetiva de
trechos urbanos que se prestem a comportar-se como campos pictricos, mas tambm resulta de uma
ao performtica de roteiro aberto ao acaso dos deslocamentos do artista na cidade.
Em chave diversa encontram-se processos criativos que se estruturam por procedimentos e tcnicas articulados segundo uma cadeia coerente de produo de sentido, mas que passam por momentos-chave
em que o artista conta com percepes de conjunto baseadas na intuio. Nas gravuras de Rafael Pagatini predomina um sistema rigoroso no qual o artista seleciona fotografias tiradas das montanhas, casas
e estradas da regio de Caxias do Sul e as transcreve para uma matriz atravs de uma malha regular de
linhas ortogonais. Quanto mais largos os sulcos na madeira em uma rea da matriz, mais clara a mancha
percebida pelo olhar gravura impressa, esquema que pode ser laboriosamente controlado de forma a
alcanar uma representao notadamente nebulosa da paisagem preenchida pela neblina. O detalhe
que tal efeito de conjunto s pode ser obtido se o gesto atento ponta da goiva remeter a uma circunviso do conjunto e, em ltima instncia, a uma compreenso precisa da atmosfera daquela paisagem
que no se define pelos detalhes, mas pelo todo. Tambm o trabalho de Maria Laet pontuado por momentos de circunviso. Sua srie Polaroides estrutura-se por uma sequncia de operaes meticulosas
que, vistas fora de contexto, so afins a exames mdicos, testes de corpo de delito, atividades de percia
Luiza Baldan
e observao tcnica: uma polaroide usada rompida, revelando a imagem que se forma quando so
Petricor, 2011
separadas suas pelculas preparadas com qumicos diversos; ento, essa superfcie fotografada em alta
Videoinstalao
Video installation
Dimenses variadas
Various sizes
resoluo e ampliada, em preto e branco, sobre papel de algodo. O processo desencadeia a formao
de desenhos duplamente invisveis, primeiro porque se escondem num interior que transforma-se ao ser
dissecado, depois porque surgem de manchas informes e coloridas originalmente de escala diminuta.
334 | 335
recortes curatoriais
Rafael Pagatini
336 | 337
recortes curatoriais
Berna Reale
Berna Reale
338 | 339
recortes curatoriais
A intuio que aponta a presena dos desenhos diminutos evidenciados por Maria Laet pode tambm
consolidar-se em experincias fabuladas e em exerccios de observao aparentemente desinteressada.
Luiza Baldan muito j se dedicou a fotografar espaos em transio, como runas carregadas por sinais
de sua ocupao pregressa e futura, e, quando se lana em experincias de residncia artstica, assume o
seu prprio trnsito como parcela desses fluxos de ocupao de desocupao. A videoinstalao Petricor
(2011) resultado de uma dessas experincias, realizada no Edifcio Raposo Lopes, o Raposo, no Rio
de Janeiro, e apresenta uma alternativa conciso inerente aos instantes fotogrficos. Um conjunto de
imagens em movimento compe uma constelao de luzes e fragmentos sonoros, tomados com olhar
e escuta dilatados em direo empena de um prdio vizinho. Tal constelao no parece enfatizar nenhum evento especial alm da tessitura da vida cotidiana. como uma tela escura de projeo, sobre a
qual podemos projetar tanto desejos e paranoias, como faria o personagem vivido por James Stewart em
Janela Indiscreta, clebre filme de Hitchcock, quanto a surpresa com os lampejos cromticos e sonoros que
capturaram a ateno da artista e, nesse caso, rimaramos com Manoel de Barros, poeta que avisa que
preciso transver o mundo. J Naia Melo Arruda sobrepe uma mscara sua vida cotidiana, que acontece
entre a ustria e Manaus, inserindo a Miss Zebra em uma jornada de constante jet lag, entre frio e calor,
convivncia e solido, grito e sussurro. Sua vida faz-se fbula, experincia e metfora sobre um despertencimento imposto pela artista para si mesma a partir de um pijama de pelcia rajado de preto e branco.
Outras so as fbulas que interessam Berna Reale. Em sua srie Retratos tambm a figura da artista
que recebe ornamentos e mscaras, inserida no enquadramento de uma mise-en-scne detalhada. Embora resguardadas em um campo narrativo, tais vestimentas remetem ao espao cotidiano de onde se
destacam, transformando em cena o que usualmente se insinua por detrs de manchetes nos jornais,
sobretudo aquelas relacionadas violncia, corrupo e proteo de interesses corporativos. Como
comentrio social, cada elemento presente nas fotografias possui contedo metafrico, ao mesmo tempo em que apela a uma unidade narrativa em que gestos, feio, piso, cenrio e praticveis so percebidos como metonmias, partes de uma totalidade que no pode ser seccionada.
Pode-se tambm encarar a fabulao como geratriz de alternativas aparentemente ilgicas a impasses
construdos pela histria da arte. H, por exemplo, um longo arco que oscila entre a crena e a desiluso acerca da possvel conciliao entre o binmio arte e vida. Em um panorama internacional, as
vanguardas soviticas anunciaram no incio do sculo XX a possibilidade de um futuro de superao e
elevao do esprito humano por meio da revoluo paralela e articulada da arte e da vida em sociedade.
vista de tal ambio e diante da descrena geral na possibilidade de revoluo ampla, toda iniciativa
posterior que procurou aproximar a arte da vida cotidiana aparece j como esmaecida e resignada. O
trabalho de Guilherme Teixeira arrisca-se a cruzar esse estigma, tomando os princpios das vanguardas
soviticas ao p da letra e criando um suporte de jogo e brincadeira de forma anloga a composies
de Kazimir Malevich que se presta a, literalmente, propiciar uma experincia de elevao, superao e
transcendncia. J no panorama nacional, aproximaes de tal natureza esto diretamente associadas
Naia
Miss Zebra, 2011
15 vdeos
15 videos
Durao 14
Running time 14
340 | 341
recortes curatoriais
Guilherme Teixeira
342 | 343
recortes curatoriais
Ueliton Santana
sem ttulo,
2011
Fotografias
Fotographies
30 x 40 cm
30 x 40 cm
344 | 345
recortes curatoriais
Michel Zzimo
s experincias durante as dcadas de 1960 e 1970 dos artistas neoconcretos, como Lygia Clark, Lygia
Pape e Hlio Oiticica, as quais podem ser vulgarmente resumidas como uma extrapolao do plano da
pintura e subsequente ocupao do espao pela cor, movimento, corpo e, enfim, pelas relaes sensveis e comunicativas. Aqui tambm existe um repertrio cuja relativa frustrao lana uma sombra sobre
o presente. Toda tentativa de revisitar suas realizaes acaba por explicitar as rupturas que desconstruram o ambiente social em que elas foram inicialmente possveis. Pois bem, justamente da arte brasileira,
embora num local deslocado do eixo de produo carioca, aparece uma iniciativa em tudo dissonante
da experincia neoconcreta, a qual re-imagina o binmio arte-vida como se quisesse simplesmente passar ao largo da potncia e limite desse antecessor histrico. Ueliton Santana imagina que suas pinturas
respondem configurao do ambiente em que vive e, por isso, as instala como partes constituintes
da prpria paisagem, como segunda pele de rvores, casas e pontes. Sua aposta na correspondncia
de suas pinturas com o ambiente donde emergem chega a sugerir-lhe que, ao recobrir as paredes do
espao expositivo com suas telas, pode instaurar no museu uma outra ordem de espao, mais prxima
daquela que habita em Rio Branco, no Acre.
Michel Zzimo, por sua vez, elabora uma fico em que o conhecimento cientfico e o campo da arte
podem compartilhar meios e materiais. Ao se tornar obsoletos, catalogaes, manuais, frmulas e, por
que no, teorias, tanto da cincia como da arte, passam a parecer-se cada vez mais e comeam a ser intercambiveis. A srie Fluxorama aproveita essa identidade comum do obsoleto para transitar com imagens
e narrativas sugeridas por artigos cientficos atravs do campo de significados mltiplos da arte. Para dar
forma ao Meteorito que construiu para o programa Rumos, o artista procurou reconstituir a imagem que
lembrava haver encontrado no Livro da Natureza, de Fritz Kahn. Escrito na dcada de 1950, o livro, repleto
de ilustraes evocativas, trazia uma instigante foto do que seria o maior meteorito j encontrado na superfcie terrestre ao lado de uma cadeira, sobre uma plataforma. Ignorando o papel de referncia de escala
que a cadeira cumpria no jargo cientfico, Zzimo transviu (para voltar ao termo de Manoel de Barros)
tal composio como um dispositivo expogrfico provocador tanto como citao dos museus de histria
natural quanto como da histria da arte conceitual. Tal deslocamento por entre campos semnticos vem
se tornando estratgia comum na arte contempornea, mas o que a torna limtrofe aqui a disposio do
artista em dar concretude imagem que o intrigou, construindo uma rplica cenogrfica do meteorito
e instalando-o junto a uma cadeira, sobre um tablado de madeira. Em vez de simplesmente expor os
resduos documentais em um novo contexto, Zzimo resolveu infiltr-los no emaranhado de objetos que
constituem a realidade, o que se complexifica na medida em que ele comea tambm a tecer uma fico
sobre a origem do meteorito e um estudo sobre suas virtuais qualidades astrolgicas.
Por fim, interessa olhar para um caso-limite do pensamento intuitivo, cuja atribuio reconheo ser de
responsabilidade da crtica posterior concluso das obras. H processos orientados a objetivos coesos que enfatizam decises coerentes e coordenadas segundo uma srie de parmetros e referncias
claramente associadas entre si. o que aproxima trabalhos muito diversos entre si, como os de Thiago
346 | 347
recortes curatoriais
Honrio, PirarucuDuo, Luiz Roque e Marlia Furman. A fruio de todos esses trabalhos perpassa a
ateno a significados que se reiteram a cada uma de suas partes, dos materiais aos meios tcnicos
de luz projeta-se sobre um vidro apoiado, transmitindo-lhe luz e, tambm, calor; ao lado, uma pilha de vidros
empregados, passando pela soluo expogrfica e pelo que se mostra e o que se esconde da primeira
oferece a possibilidade de substituir aquele em foco quando for necessrio; e, abaixo, acumulam-se os cacos
visada do pblico. No seio dessas concatenaes coesas, no entanto, possvel encontrar um ponto
j vencidos pelo holofote. Pois bem, cada um dos elementos mencionados pode ser lido como seco de
cego, uma deciso que, identificada retrospectivamente, no possui fundamento articulado como as
uma elaborada metfora, assim como as foras que operam entre eles. Qual seria essa metfora? H desafio,
demais. No se trata simplesmente de uma ponta solta na sintaxe dos trabalhos. Trata-se de algo central
para sua realizao, uma de suas decises primeiras, de onde partem inmeras outras. um fundamento
o e explorao no atual estgio do capitalismo, segundo tal ou qual leitura crtica vale dizer que, caso
sem fundamento, algo que possui consequncias mas omite suas causas.
questionada, a artista saber precisar seu ponto de vista. No entanto, a obra aparece despida de elementos
ostensivamente simblicos, de vnculos que fidelizariam sua leitura a algum imaginrio predefinido, pois
Em Imagem (2010), de Thiago Honrio, diversas instncias de desestabilizao do olhar subjetivo so con-
apresenta nada mais que uma coleo de materiais brutos, cujas reaes se definem por suas propriedades
catenadas, comeando pelo cubo espelhado que duplica o entorno da pea e o corpo de seu observador
fsicas. A multiplicidade de leituras que acaba por ensejar se d porque seu funcionamento no se justifica
at a linha do torso, suprimindo-lhe a cabea. As dimenses desse cubo advm do mximo aproveitamen-
inteiramente pelo pensamento crtico que move a artista ou pelo estudo da resistncia dos materiais, mas
to da pele animal que o recobre, a cpula de acrlico completa seu volume at a altura de uma pessoa, ao
apoia-se, antes, na imagem primeira de um vidro que se quebra pela luz que o ilumina.
mesmo tempo que enfatiza uma situao de display expositivo mas o ponto focal da pea, a cabea de
uma imagem de roca de tamanho prximo ao natural e com olhar fixo que encara quem a olha, transborda
Por extenso, possvel projetar o pensamento intuitivo para o momento de percepo do trabalho de arte, o
essa lgica. A escolha desse item estrutura e justifica os demais, mas no possui nenhuma garantia de
que na verdade inevitvel, dado que toda observao tambm est comprometida com a impossibilidade
realizao, j que a maioria das imagens de roca tem olhar de suplcio, voltado aos cus, e ligeiramente
de apagar tanto a intuio quanto a lgica. A videoinstalao de Cristiano Lenhardt explicita esse compro-
miniaturizada. Foram meses de pesquisa at encontrar esse item, imaginado pelo artista, mas que poderia
metimento, uma vez que h nela certo espelhamento do intuitivo no olhar do pblico e aquele no processo
muito bem no existir. J o jogo eletrnico Mario Bros. existe e de conhecimento geral, o que o torna uma
criativo do artista. Montada com duas projees em telas pequenas posicionadas lado a lado, a obra desdobra
citao arriscada para o PirarucuDuo. A presena de um smbolo to impregnado na cultura popular tende
uma narrativa de tons fantsticos em que dois indivduos de rostos e membros coloridos se encontram em um
a sobrepujar camadas menos eloquentes em uma obra e, ainda assim, tal foi o referente escolhido pelos
ambiente natural, interagindo com uma mancha informe composta do rudo eletrnico tpico de uma TV fora
artistas justamente em uma obra que transita pelas sintaxes da msica eletroacstica e do cinema experi-
de sintonia. Nessa interao, so percebidas gradaes entre diferentes estgios, com o rudo ora tomando
mental prximo literatura existencialista. Assim, toda uma pesquisa baseada em movimentos repetitivos,
a superfcie de uma tela dobrvel manuseada pelos personagens, ora confundindo-se com seus prprios
a propsito pouco carregados de tenso narrativa, acaba se reestruturando por um princpio pop que, sem
corpos, como um lquido em que estivessem mergulhados para isso, existe um esforo de concatenao e
sincronia na edio do vdeo, o que resulta numa narrativa na qual possvel at mesmo inferir uma cadeia
de causalidades, porm a percepo dessa linha de acontecimentos de maneira alguma resolve o sentido da
obra. Tal sentido ocupa um lugar de indeterminao, em que as duplicidades que caracterizam a videoinstala-
lncia possvel e pode fazer-se eixo de um trabalho, como o caso no vdeo Projeo 0 e 1 (2012), de Luiz
o personagem A e B, corpo e tela, rudo eletrnico e natureza, projeo da esquerda e da direita, imagem
Roque. Uma esfera metlica aproxima-se da cmera at penetrar num vidro que cobria sutilmente uma
e som convergem como alegoria de uma duplicidade de outra ordem, aquela entre pblico e artista, ou
paisagem ensolarada no lusco-fusco. O vidro se estilhaa ao mesmo tempo que, na projeo que ocupa a
melhor, entre percepo intuitiva do artista e do pblico, na forma de dois fluxos de conscincia.
parede oposta, ele se reconstri; e tudo numa arrastadssima cmera lenta que resulta da captao a 984
quadros por segundo e exibio a 24 quadros por segundo. Aqui, toda a percia e acabamento da realizao
Um ltimo caso conclui este texto. Uma parede cega, plano branco segundo o padro museogrfico que,
audiovisual contrasta com a quase total ausncia de motivo, como se num filme hollywoodiano que fosse
sutilmente, vibra com o som emitido por caixas acsticas escondidas em seu interior. Uma coleo de
simplesmente uma longa e intrincada cena de perseguio e exploso. H no seio da pesquisa do artista
fontes sonoras instaladas em meio ao espao de passagem entre a estao do metr e o Centro Cultural
um interesse pela seduo e pela agresso que a natureza pode carregar, mas o salto realizado na escolha
So Paulo (CCSP). Trata-se de resultados de uma reflexo de Allan de Lana acerca dos espaos residu-
de seu argumento permite que a obra acontea em paralelo com o discurso que constitui. Tal paralelismo
ais tpicos da urbanizao moderna brasileira estacionamentos, fundos de edifcios, lugares de transio
tem lugar tambm na instalao Resistncia (2012), de Marilia Furman. A obra consiste de um sistema em
despojados de grande significado que inserem no urbano a ampla extenso tpica de suas bordas. Sobre a
funcionamento contnuo, cujas partes se contrapem umas s outras de tal modo que se institua um ciclo
vastido, o artista prope um limite, uma segunda natureza de borda, agora instalada no espao expositivo.
348 | 349
recortes curatoriais
Sua voz quase surda, mas revela-se ao encostar-se nela: som de mata, natureza processada como
composio que se redefine conforme a posio de quem a escuta. No que tem de lrica, a obra ratifica as
mximas de Duchamp e Sol Lewitt a respeito do misticismo e da intuio. No que tem de discursiva, a obra
demonstra preciso tal que nos mostra que no h lugar para uma teoria da intuio, pois sua presena
no se pode desvincular em absoluto da razo analtica. A intuio como meio, como o som do natural no
miolo da parede de compensado. A intuio como borda, como a parede desnuda que escora o corpo que
ouve seu sussurro4. Mais ainda, a intuio como parcela que no pode ser contida, posto que transborda
tambm na dupla presena da obra, fraturada entre espao expositivo e trecho da cidade, entre a composio mimtica da natureza no ambiente museogrfico e infiltrao de sons artificiais na paisagem sonora
circunstancial que se renova a cada dia nas bordas na Avenida 23 de Maio.
Paulo Miyada arquiteto e urbanista pela FAU/USP, onde cursa mestrado. Assistente de curadoria da
29 Bienal de So Paulo, atualmente trabalha no ncleo de pesquisa e curadoria do Instituto Tomie Ohtake. Sua
pesquisa em curadoria, em alguma medida, decorre de trabalhos prticos e tericos sobre as representaes e os
projetos das cidades, os quais desenvolve desde sua graduao e dos quais se destacam o documentrio tododiafeira, a animao Platz na Cidade e a monografia Archigram: da Produo Grfica, Crtica e Conceitual.
Allan de Lana
Interveno sonora
Sound intervention
Dimenses variadas
Various sizes
4Os lugares de meio e de borda foram enfatizados com referncia s consideraes de Noemi Jaffe sobre o erro: No valorizar o erro to excessivamente a ponto de isso se tornar uma tirania, um outro tipo de acerto. Valoriz-lo s at onde ele ainda
apenas um erro, sem a mesquinhez de tornar-se uma teoria do errado. Errar pelas bordas, errar um pouco no meio, errar para no
saber nunca o final. (JAFFE, Noemi. Quando nada est acontecendo. So Paulo: Martins Fontes, 2011.)
350 | 351
Curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
paulo miyada
void left by the incongruity between what the artist actually did and what he intended to do. En passant,
he also relegated artistic decisions to an apparently uncomfortable place: the domain of pure intuition.
Intuition et cetera
So we follow Sol Lewitt, an artist who synthesized American minimalism a set of initiatives that reTo what extent does intuition prevail in defining the paths to be followed in the wide field with uncertain
covered and extrapolated the legacy from Duchamps ready-mades and the discussions about what he
boundaries that contemporary art is? The general discredit surrounding the intuitive procedure, as well as
called intellectual perspective. Lewitt consolidated a long series of works that were based on the rigorous
other procedures that hold similar places in the artistic discourse and which the former is usually mistaken
formulation of clear and cohesive projects which, in turn, consist of mathematical-looking series, akin
for, makes it distressful to pose this question. Indiscriminately understood, intuition, the unconscious, sub-
to combination analysis procedures. His methodology asserted that mental elaboration and material
jectivity, premonition, mysticism, irrationality and instinct today seem fated to be read as imprecisions, or
development would correspond to different moments of the creative process, far removed from each
worse, as subterfuges for bias and taste. I believe it is of little interest to once again bring to the stage the
other and even susceptible of being separated in a working relationship. Thus, in both analogy and praxis,
polarization presenting reason and intuition as separate and rival opposites, not least because today we
Lewitts research is akin to modern techno-scientific reasoning that allows building large bridges and
understand that they cannot exclude each other and always work articulately. What is of actual interest is to
distinguish intuition from its more trivial acceptation and thus identify consequences of the intuitive portion
of the artistic thinking in the recent output emphasized by the Rumos Artes Visuais 2011-13 program.
Notwithstanding this, when urged to think about constants in his art, Lewitt devises a series of sentences
that, surprisingly, start by doing away with the hypothesis of an essentially rational artistic thinking: 1.
It is possible to accept as absurd that intuitive thinking be definitely dismissed; this would amount to an
Conceptual artists are mystics rather than rationalists. They leap to conclusions that logic cannot reach.
overvaluation of method, of calculus, of logic and of analytic thinking. Then the contemporary output
/ 2. Rational judgments repeat rational judgments. / 3. Irrational judgments lead to new experience. / [...]
could be hierarchized according to its internal coherence and the linearity of its argument. Or recent
art history could be reorganized by stressing its moments of transparency and clarity. Luckily, a strong
contradiction would surface, even in the most methodologically clear cases. This is precisely because
In this small set of sentences, equivalences and contrasts are suggested: on the one hand, mysticism and
those who would be seen as protagonists of objectivity taken as the axis of artistic thinking would have
irrational judgments; on the other hand, logic sequence and rationalism. Although it sounds dichotomic,
his argument is strengthened by inverting the polarity between logical thinking and material development.
Let me explain: engineering achievements presuppose a clear, rational and provable principle in the field of
To this effect, we could think of Marcel Duchamp, whose ready-mades had an impact on the American
calculus, followed by a material realization that attempts to stick to an abstract planning but consistently ac-
art in the 1950s (40 years after they were made), as an epitome of the confrontation with good taste
cumulates a certain error or deviation previously forecast as a margin of error coefficient; Lewitts method,
and symbolic readings as references for validating artworks. With a fountain that is little more than a
on the other hand, assumes the foundation as something illogical and obscure, but that should nevertheless
mere rotated white porcelain urinal, signed and taken to an art salon, Duchamp had made it clear that
he did not intend to count on the aid of visual delight, but rather to situate his work in a mental space,
structured around semantic displacements and the accumulation of intellectual points of view. Even so,
In order to understand how intuition can emerge from the very heart of reason, it would be relevant
when he tried to generalize the premises of art making, in The Creative Act (1957)1, Duchamp took the
to think about the example of the man whose name is intertwined with history of idealism itself: Ren
defense of the unconscious and the intuitive as inalienable managers of his choice and decision chains.
Descartes. In order to set up a method that would free mankind from all engagement with dogmatic
For him, every artists intention faces an immeasurable distance that separates it from what he can ef-
arguments and generally accepted ideas, Descartes strived to deal with all aspects of reality as problems
fectively achieve through his work. Based on this argument, Duchamp took a stand: It was necessary to
susceptible to rational interpretation and conversion into relationships between proportions and mea-
recognize that the viewers play a constitutive role contributing to the creative act, a role that acts on the
sures. This would imply a maximum reach of geometry principles and, therefore, of algebra principles,
in which dilemmas are susceptible to calculus and solution. Curiously, and it was Paul Valry who drew
1DUCHAMP, Marcel. O ato criador, 1957. In: BATTCOCK, Gregory. A nova arte. Debates Collection, So Paulo: Perspectiva, 2008.
352 | 353
Curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
attention to this episode, is that right when Descartes started to envisage the principles of his method
to build the traveling exhibitions of the 2011-2013 Rumos Artes Visuais project feeds itself from those
and the revolution it could mean within human thought as a whole, he plunged into a long delirium. After
nuances to gather 19 of the artists selected. There is an axis crossing the works that, at all times, refer their
a period of deep excitement about his reflection on what he called admirable science, he lied down and
creative process to a common view corresponding, to a great extent, to what we understand as intuitive
dreamed three dreams full of visions he attributed to a Genius (a Daimon) created inside himself and
thinking. This is the case of Virgilio Neto, who systematically collects fragments of scenes found on the
that was not at all his own spirit. Upon waking up, he prayed to the Virgin Mary, vowed that he would go
web and other visual references and then organizes them in a bank of images clipped, filed or sketched
on a pilgrimage to fully understand the discovery that he saw in a burning flash but had not yet a form.
in his unique pencil traits, recognizable because of the balance between scribbling and illustration drawing. Well, from this file come the fragments that are put together in big drawings such as the ones in
Well, this information comes from texts written by Descartes himself, who does not stress any contradic-
this exhibition, which are like mental maps, white fields from where figures emerge in a variety of scales
tion between movements of rational maturing and metaphysical enlightenment. It is not for nothing that
and positions, articulated and overlapping so as to outline fields of visual tension. With no hierarchy or
the forerunner of art psychology, Rudolf Arnheim, finds in Descartes one of the most exciting definitions
predetermined structure, the composition has no predetermined ending line, responding to the intuitive
of intuition: By intuition I understand not the fluctuating testimony of the senses nor the misleading
perception of the whole when each new line is added to it. This practice reverberates in the reading of
judgment that proceeds from the blundering constructions of imagination, but the conception which
these drawings, enticing the audience to come closer to the details and perceive them one by one, but
an unclouded and attentive mind gives us so readily and distinctly that we are wholly freed from doubt
still being able to find greater reverberations when just staying available to reading the whole, like being
about that which we understand. Descartes wrote this definition in the 17th century, thus introducing a
polarization between intuition and the notion of deduction, in turn defined as the ability to identify inference relations between facts that are known and taken as certain3.
From afar and from close: this is also the way the dramatic quality of Luciana Paivas Passagem Secreta
(2011) is inscribed. From a book about electrical installations, Paiva selects a number of pages and, from
them, sentence excerpts that can be connected with those from other pages. She builds up a text that,
a whole which, by its simultaneity, is simpler, less detailed than deduction, but also more precise than
once transposed to the exhibition space, shapes a sequence of sheets that are perpendicular to the wall
the latter. I would like to borrow this notion of intuition to discuss the recent contemporary art output
and traversed by a frail horizontal stripe of paper. Around this stripe, the selected fragments are articu-
featured in the current edition of the Rumos Artes Visuais project. It is true, as it has just been demon-
lated, at the same time detached from and close to their original context, with the other fragments in an
strated, that intuitive thinking can be one feature of every creative process, in both art and other fields
extremely long sentence that suggests alternatively humor, absurd, suspense and drama. Once again,
of knowledge; it seems nevertheless relevant to ponder on its presence in artists careers still in their
underpinning Paivas choices and the audiences pathways, there is the awareness of a common view not
early years practising, testing hypothesis, developing techniques and starting from more or less arbitrary
pertaining to the project, but rather to the intuitive synchronic perception. The limit case in this proce-
points. It is true that today, in the field of contemporary art, there is no common doctrine pre-establishing
dure may well be Vincius Guimares, who intends to synchronize in his drawings and paintings the time
a hierarchy between this or that starting point. Politics, memory, technical knowledge, improvisation,
necessary to make a work with thought, which lasts little longer than one instant. In his talk, Guimares
rigor, violence and delicacy are as good leads as any other, or at least this was my impression during the
mentioned his wish to enter a Zen mental state, in which reasoning is replaced by intuition in order to
trips and selection and follow-up processes that made up the first year of work of the curatorial team. In
obtain compositions with no argumentative justification. From there stems an abundant collection of
conversations with the artists, a point of curiosity kept arousing in the background of my attention: what
arrangements that are akin to sketches. His drawings are simple and allow only a reading of the whole, as
was it that made this person choose this one, among so many other possible references, as the context
getting close to them reveals lines almost lacking thickness, of subdued gestures, and that stay the same
for his early works? What are the expectations and the desired affiliations behind these choices not yet
from whatever distance you look from, like vectorial traits developed by software.
constrained movements in editing processes and the finishing of separated portions. In a general view,
crete, albeit not less decisive, role. The approach behind this paper and also adopted as the foundation
his works present an almost precarious image of accumulation of notes without any apparent hierarchy,
arranged according to subjective criteria. In the case of the current edition of Rumos, his procedure of
notes on ambiances and moods was channeled into capturing the body experience in the city from three
3ARNHEIM, Rudolf. Intuio e intelecto na arte. Translation: Jefferson Luiz Camargo. So Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 15.
different places in the city in relation to three notions that are at the core of his research: image, text and
354 | 355
Curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
Vinicius Guimares
Vinicius Guimares
Vinicius Guimares
356 | 357
Curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
space/non space. In those locations, Vilela filled notebooks with sketches and brief poetical texts, without
The intuition that points to the presence of the minute drawings evinced by Maria Laet might also
emulating the posture of social or applied human sciences. He just walked, observed and took notes, in
an affective relationship with those spaces. Then, before his more or less wrinkled notebooks, he came
Baldan has extensively dedicated herself to photographing spaces in transition, such as ruins with
out of his immersion and started to choose, from these groups, those he felt were fit to captivate readers
heavy signs of their past and future occupations, and, when experiencing artistic residency, she as-
and involve them in a place of shared truths and uncertainties , a place the artist calls waiting room.
sumes her own transit as part of these occupation and evacuation flows. Her video installation Pet-
Vilela then copied out these notebooks and took them to the exhibition space, where he restarted the
ricor (2011) results from one of these experiences she went through in Raposo Lopes Building, or
affective relationship process in combining texts with graphic elements and the cleaning process with
Raposo, in Rio de Janeiro, and offers an alternative to the inherent concision of photographic mo-
discourse concision. One might as well say that what is at stake here is precisely a kind of seesaw having
ments. A set of images in movement composes a constellation of lights and sound fragments, taken
on one end intuitive thinking and on the other end deductive thinking, which also occurs in Dalton de
with wide open eyes and ears turned to the blind wall of a neighboring building. Such constellation
Paulas work. Marked by the need to express the idiosyncrasies of his subjectivity before preestablished
does not seem to emphasize any particular event other than everyday life. It is like a dark screen on
linguistic systems, de Paula swings between, on the one hand, understanding and mastering these sys-
which we can project both desire and paranoia, as would James Stewarts character in Hitchcocks
tems and, on the other hand, revealing fears and fragilities that are his own. Thus, since his early youth, de
famous Rear Window, as well as surprise before the color and sound flashes that captured Baldans
Paula had approached the symbolism of religious-themed painting, the innocuous firefighters working
attention and, in this case, we would say with poet Manoel de Barros that we have to trans-see the
tools, which he recombined in delicate objects like a carpet made of unstitched leather boots. In Corpo
world. Naia Melo Arruda, in turn, superimposes a mask onto her everyday life that unfolds between
em Segredo (2011), Dalton superimposes his bare chest and his face, the latter armored with adhesive
Austria and the Amazon (Manaus city), making Miss Zebra set off on a journey of constant jet lag,
tapes, onto the blind walls of the city, which he turns into a kind of canvas where he practices the genres
between cold and heat, togetherness and loneliness, cries and whispers. Her life becomes fable, ex-
of self-portrait and landscape. Such compositions derive from the objective choice of urban stretches
perience and metaphor about an unbelonging imposed by Arruda upon herself based on black and
that are fit to behave like pictorial fields, but are also the result of a performing action with a script that is
figure of the artist that receives ornaments and masks, framed into a detailed mise-en-scne. Albeit
ing to a coherent chain of meaning production, but that go through key moments in which the artist
enshrined in a narrative field, these gowns refer to the everyday life space from which they stand out,
relies on intuition-based perceptions of the whole. In Rafael Pagatinis prints, a rigorous system predomi-
changing into a scene what is usually suggested behind newspapers headlines, mainly those relating
nates according to which he selects photographs taken from mountains, houses and roads in the Caxias
to violence, corruption and the protection of the interests of certain groups. As a social comment,
do Sul area and transcribes them onto the wood block through a regular mesh of orthogonal lines. The
each element in the photographs has a metaphoric content and, at the same time, points to a narra-
wider the grooves on the wood in a given area of the block, the lighter the patch perceived on the print
tive unity in which gestures, traits, floor, background and props are perceived as metonyms, parts of a
a procedure that can be laboriously controlled so as to achieve a notably foggy representation of the
landscape filled with mist. But this overall effect can only be achieved if the gesture, attentive to the tip of
the gouge, refers to a circumvision of the whole and, ultimately, to a precise understanding of the atmo-
sphere of that landscape, which is not defined by details, but rather by the whole. Maria Laets work is also
built by art history. There is, for example, a long arch that goes between belief in and disappointment
over a possible reconciliation between the elements of the art and life binomial. In the international
operations which, seen out of context, are akin to physical exams, forensic medical examinations and
context, the soviet avant-gardes announced, in the early 20th century, the possibility of a future in
technical observations: a used polaroid is broken, thus revealing the image that is formed when its films,
which human spirit would be elevated through parallel and organized revolutions in art and societal
prepared with different chemicals, are separated; then, this surface is photographed in high resolution
life. In view of such an ambition and in the face of a general disbelief in the possibility of a wide revolu-
and enlarged, in black and white, on cotton paper. This process triggers the formation of doubly invisible
tion, all subsequent initiatives that tried to bring art closer to everyday life already arose faded and
drawings: firstly because they hide in an interior which changes when it is dissected; secondly because
resigned. Guilherme Teixeiras work takes the risk of challenging this stigma. He takes the soviet avant-
garde principles literally and creates a support of game and play, similar to Kazimir Malevichs compositions, that lends itself to literally allowing experiences of elevation, overcoming and transcendence.
358 | 359
Curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
In the domestic sphere, approaches of this nature are directly associated with the experiences of the
associated with each other. This is what approximates very diverse works, such as those by artists Thiago
neoconcrete artists such as Lygia Clark, Lygia Pape and Hlio Oiticica in the 1960s and 1970s,
Honrio, PirarucuDuo, Luiz Roque and Marlia Furman. The fruition of all these works is entwined with
which can be plainly summarized as an extrapolation from painting and a subsequent occupation of
the attention given to meanings reiterating each one of their parts from materials to technical media
space by color, movement, body and, eventually, by sensitive and communicative relationships. Here
employed, including the expographic solution and what is shown as well as concealed from the viewers
too there is a repertoire whose relative frustration casts a shadow on the present. Every attempt at
first sight. In the heart of this cohesive concatenation, it is, nevertheless, possible to find a blind spot, a
revisiting their achievements end up manifesting the ruptures that eventually deconstructed the social
decision that, retrospectively identified, has bedrock that does not match that of the others. It is not just
setting in which they were originally possible. Very well, precisely from Brazilian art, although coming
a loose end in the works syntax. It is something crucial to their creation, one of the artists early decisions
from a location outside the Rio de Janeiro art making setting, an initiative is born that is in all aspects
from which a number of other decisions ensue. It is a foundation without foundation, something that has
dissonant with the neoconcrete experience and one that re-imagines the binomial art-life as if it would
wish to just ignore the power and the limits of its historical predecessor. Ueliton Santana imagines that
his paintings respond to the configuration of the environment where he lives and, for this reason, he
In Imagem (2010), by Thiago Honrio, several instances of destabilization of the subjective eye are
installs them as constitutive parts of the landscape itself, as a second skin of trees, houses and bridges.
concatenated, starting from the mirrored cube that duplicates the room environment and reflects the
Stating that there is a correspondence between his paintings and the environment from where they
viewers body up to his torso, leaving his head out. The cube is as big as the hide covering it; the acrylic
emerge, he goes as far as to suggest that, by covering the walls of the exhibition space with his can-
dome completes its volume up to a persons height emphasizing, at the same time, an exhibition display
vasses, he can establish a new order of space in the museum, closer to the one where he lives in the
situation but the focus of this piece, the head of a baroque religious sculpture (roca image) close to life-
size and staring fixedly at those who look at it, goes beyond this logic. The choice of this item structures
and justifies the others, but offers no guarantee of realization, as most roca images have tortured eyes,
Michel Zzimo, in turn, creates a fiction in which scientific knowledge and the arts can share media and
looking upward to heaven, and are slightly smaller than life-size. It took months of research until this item
materials. Upon becoming obsolete, catalogs, manuals, formulas and, why not, theories, in both science
was found, imagined by the artist but that could as well not exist. The Mario Bros electronic game, in
and art, start to look more and more alike and become interchangeable. The Fluxorama series takes
turn, exists and is widely known, what thus puts the PirarucuDuo in a risky situation. The presence of a
advantage of this common identity of the obsolete to travel through arts multiple meaning field with
symbol that is so ingrained in pop culture tends to overpower less eloquent layers in a work. Yet, this was
images and narratives suggested by scientific papers. To shape the Meteorito he built for the Rumos pro-
the referent chosen by the artists precisely in a work that travels through the syntaxes of electroacoustic
gram, Zzimo aimed at reconstituting the image he remembered having found in The Book of Nature,
music and experimental cinema close to existentialist literature. Thus, a whole research based on repeti-
by Fritz Kahn. Written in the 1950s and full of evocative illustrations, this book includes a compelling
tive movements, by the way with little narrative tension, is ultimately restructured by a pop principle that,
photo of what should be the biggest meteorite ever found on Earth, placed beside a chair on a platform.
without any justification, contaminates it, associating it with the unmotivated video game repetition.
Ignoring the role of scale reference that the chair played in scientific jargon, Zzimo trans-saw (to go
back to Manoel de Barros term) such composition as a provocative expographic device as a quotation
Tension and dilation are not, therefore, necessarily mutually exclusive in the realm of the narrative. Some
of both natural history museums and conceptual art history. This shift across semantic fields is becoming
ambivalence is possible and might become the axis of a work, as is the case of the video Projeo 0 e 1
a common strategy in contemporary art, but what pushes it to a limit here is the willingness of the artist
(2012), by Luiz Roque. A metal sphere approaches the camera until it penetrates a glass that was subtly
to materialize the image that had intrigued him by building a scenographic replica of the meteorite and
covering a sunny landscape in the twilight. The glass shatters and, at the same time, it reassembles back
installing it next to a chair on a wooden platform. Instead of simply showing the documental residues
on the projection taking up the opposite wall; it all happens in a dragging slow motion obtained from
in a new context, Zzimo decided to dispose them amid the tangled objects that make up reality. This
shooting at 984 frames per second and projecting at 24 frames per second. Here, all the expertise and
becomes more complex because he also starts to weave fiction around the origin of the meteorite and
finishing of this footage contrasts with a virtually complete absence of a motive, as if in a Hollywood film
that would consist only of a lengthy and intricate chase and explosion scene. In the heart of this artists
research lies an interest in seduction and aggression that nature can hold, but the leap taken in choosing
Finally, it is interesting to consider a limit case of the intuitive thinking, a task that I acknowledge to
its argument allows the work to happen in parallel with the discourse that it builds. Such correspondence
be a responsibility of critics after the works are completed. There are processes which target cohesive
is also found in the installation Resistncia (2012), by Marlia Furman. The work consists of a continuous-
objectives that emphasize coherent decisions based on a series of parameters and references clearly
operation system whose parts oppose each other so as to create an uninterrupted, conflictive cycle based
360 | 361
invitation to a journey
Curatorial
scopes
recortes
curatoriais
PirarucuDuo
Golem e os Encanadores, 2011
Vdeo em loop em um canal e udio em loop em quatro canais
Video in loop in one channel and audio in loop in four channels
362 | 363
Curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
on the possibility of rupture of the glass in exhibition. A spotlight focuses on a square of glass leaning
almost a rumble, but it is revealed when you lean against it: it is a forest sound, nature processed as a
against the wall, transmitting light and also warmth to it; beside it, a pile of glass shards offers the possibility
composition that redefines itself according to the position of the listener. In its lyric content, this work
of substituting the square under the spotlight whenever needed; below this, shards already beaten by the
ratifies Duchamps and Sol Lewitts phrases about mysticism and intuition. In its discursive content, this
spotlight. Well, each of the elements mentioned above, as well as the forces acting among them, may be
work is precise to the point of showing that there can be no room for a theory of intuition, since its pres-
read as a section of an elaborate metaphor. What would this metaphor be? There is challenge, resistance,
ence can never be detached from analytical reason. Intuition as a medium, as the sound of nature in the
destruction, replenishment and repetition, features that are attributable to work, reward and exploitation
heart of the plywood wall. Intuition as an edge, as the naked wall propping up the body that listens to
conditions in the present stage of capitalism, according to this or that critical reading which means that,
its whispers4. And even more, intuition as the portion that cannot be contained, as it also overflows in
if questioned, the artist should be able to explain her point of view. However, this work is destituted of
the double presence of the work, fractured between exhibition space and city stretch, between a com-
ostensively symbolic elements, of ties that would attach its reading to a predefined imagery, for it shows
position that mimics nature in the museum environment and the infiltration of artificial sounds into the
nothing beyond a collection of raw materials whose reactions are defined by their physical properties.
circumstantial soundscape that is every day renewed at the edges of 23 de Maio Avenue.
The multiple readings that eventually arise out of it are possible because its operation cannot be entirely
explained neither by the critical thinking underpinning the artists decision nor by the study of material
resistance. Instead, they are based on the image of a piece of glass that is shattered by the light that hits it.
Paulo Miyada is an architect and city planner from FAU/USP [College of Architecture and City Planning/
By extension, the intuitive thinking can be projected to the moment when the artwork is perceived, what
University of So Paulo], where he is taking his masters degree course. Assistant curator of the 29 Bienal de So
is in fact inevitable given that every observation is also committed with the impossibility of erasing both
Paulo [29th So Paulo Art Biennial], he is currently working at the Instituto Tomie Ohtake [Tomie Ohtake Institute]
intuition and logic. The video installation by Cristiano Lenhardt makes this commitment explicit. To
curatorship and research center. His curatorship research, to a certain extent, derives from both practical and theo-
some extent, his work mirrors intuition in the viewers eye and that in the artists creative process. Com-
retical works on representations and city designs, on which he has been working since his undergraduate studies.
posed of two projections onto small screens placed side by side, the work unfolds a narrative of fantastic
Among them, attention is drawn to the documentary tododia-feira, the animation Platz na Cidade and the thesis
notes in which two individuals with colored faces and arms meet in a natural setting and interact with a
shapeless patch composed of an electronic sound typical of an untuned TV. In such interaction, transitions are seen between different stages, with the sound sometimes taking up the surface of the folding
screen handled by the characters, sometimes mingling with their own bodies like a liquid in which they
would be imersed for this, there is a linking and synchronization effort made in the video editing, which
results in a narrative where it is even possible to infer a chain of fortuitous events. Nevertheless, perceiving this line of events in no way leads to the meaning of the work. That meaning is undetermined, it is
in a place where duplicities characterizing the video installation character A and B, body and screen,
electronic sound and nature, projection from left and from right, image and sound converge like an allegory of a duplicity of a different type, that one between the audience and the artist, or rather, between
the intuitive perception of both the artist and the audience as two flows of conscience.
One last case concludes this text. A blind wall, a white plane according to the museographic pattern that
subtly vibrates to the sound from speakers concealed inside it. A collection of sound sources installed in
the midst of the passageway from the subway station to Centro Cultural So Paulo [So Paulo Cultural
Center]. It is the result of Allan de Lanas reflection about residual spaces that are typical of modern
Brazilian urban development parking lots, the back of buildings, passageways lacking significant meaning that incorporate into the urban space the wide extension typically present at its edges. To vastness,
the artist proposes boundaries, a second kind of edge, now installed in the exhibition space. Its voice is
4The middle and edge places were emphasized as a reference to Noemi Jaffes inputs about error: Do not value error excessively to the point it becomes a tyranny, another kind of correctedness. Value it as long as it still is just an error, not allowing pettiness to transform it into a theory of wrong. Error around the edges, a little error around the middle, error so as to never know the
endpoint. (JAFFE, Noemi. Quando nada est acontecendo. So Paulo: Martins Fontes, 2011.)
364 | 365
Curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
Allan de Lana
366 | 367
368 | 369
370 | 371
372 | 373
FICHA TCNICA
ITA CULTURAL
Arts Nucleus
Melissa Contessoto
Carmen Fajardo
Sofia Fan
Cristiane Zago
(catlogo/catalog)
rica Pedrosa
Presidente/President
Cooordenao/Coordinator
Mil Villela
Luciana Soares
Fabiana Kaibara
Atendimento ao pblico/Public service
Hugo Oliveira
Eduardo Saron
Beatriz Lindenberg
Juliana Bezerra
Lilian Sales
Nathalie Bonome
Superintendente administrativo/
Silvio de Santis
Consultancy
Administrative superintendent
Sergio Miyazaki
Gerncia do Ncleo de Comunicao e Relacionamento/
Duanne Ribeiro
Renato Corch
Daniel Loureno
Curatorial Committee
Agnaldo Farias
Curadores/Curators
Felipe Scovino
Jader Rosa
Gabriela Motta
Paulo Miyada
Claudiney Ferreira
Marina Chevrand
Alejandra Muoz
Coordenao/Coordinator
Kety Fernandes
Franzoi
Luiza Proena
(exhibition)
Jlio Martins
Yoshiharu Arakaki
Jahitza Balaniuk
Polyana Lima
75, 76, 78, 89, 93, 95, 98/99, 101, 133, 136/137, 144, 149, 155,
Srgio Lima
Marcelo Campos
Matias Monteiro
Sanzia Pinheiro
Vnia Leal
Reviso de textos/Proofreading of texts
374 | 375
Agradecimentos/Acknowledgments
Janana Melo
Adolfo Borges
Jos Marton
Affinite
Josiel Kanto
Mara Fainziliber
Caio Tarantino
Maxi udio
Milton Abirached
Carolina Zoli
Claudia Malaco
Pedro Teixeira
Euller Alves
Fernanda Marques
Renata Bittencourt
Fernando Marques
Rita Carneiro
Gabriella Marques
Geraldo Siqueira
Thiago Borazanian
376 | 377
378 | 379
Realizao