Teorias (Provisoria) Das Exposicoes de Arte Contemporanea
Teorias (Provisoria) Das Exposicoes de Arte Contemporanea
Teorias (Provisoria) Das Exposicoes de Arte Contemporanea
DAS EXPOSIÇÕES
DE ARTE CONTEMPORÂNEA
michelle farias sommer
T E O R I A ( P ROV I S ÓR I A )
DA S E X P O S I Ç ÕE S
D E A RT E C O N T E MP OR Â NE A
UNIVER S IDAD E FED ERA L DO RIO GRA NDE DO SU L
TEORIA (PROVISÓRIA)
DAS EXPOSIÇÕES
DE ARTE CONTEMPORÂNEA
michelle farias sommer
PORTO ALEG R E / R S
2016
imagem de capa
Permanências e Destruições (2016) na Torre H /
Da inevitabilidade de subir apenas para descer /
obra de Igor Vidor / curadoria de João Paulo
Quintella. Crédito da imagem: Igor Vidor
Orientadora
banca examinadora
Porto Alegre / RS
2016
Para os artistas
agradecimentos
À universidade pública.
Adauany Zimovski, Aleta Valente, André Parente, André Severo, Anton Steenbock,
Bruna Fetter, Cadu, Charles Esche, Cristina Ribas, Daniel Jablonski, Daniel
Steegmann Mangrané, Daniela Kern, Déborah Danowski, Eduardo Padilha,
Eduardo Saorin, Eduardo Viveiros de Castro, Fernando Cochiaralli, Fernando
Fuão, Florencia Puertocarrero, Gabriel Pérez-Barreiro, Gabriela Saenger Silva,
Gabriela Salgado, Galit Eilat, Gunter Weimer, Heloísa Espada, Igor Vidor, Jessica
Gogan, João Paulo Quintella, Jonas Arrabal, Kátia Maciel, Lisette Lagnado,
Lívia Flores, Lucas Parente, Lucy Steeds, Luis Guilherme Vergara, Luiz Camillo
Osório, Manoela Medeiros, Márcia Bianchi, Maria Helena Bernardes, Marina
Fraga, Mick Wilson, Mirtes Marins de Oliveira, Mônica Hoff, Monica Zielinsky,
Oren Sagiv, Pablo Lafuente, Paul Dieter Nygaard, Paul O’Neill, Paula Krause,
Pedro Urano, Peter Osborne, Renata Lucas, Renato Rezende, Ricardo Basbaum,
Rodrigo Nunes,Romain Dumesnil, Ronald Duarte, Rubens Pillegi, Sandrine
Teixido, Sérgio Martins, Sofía Hernandez Chong Cuy, Yaiza Hernández.
Robert Smithson
A provisional theory of non-sites (1968).
Não quero fazer história. […] Não me interessam talentos estou farto de que-
rer achar o novo no vestido de novo. […] O exercício experimental da liber-
dade evocado por Mário Pedrosa não consiste na “criação de obras”, mas na
iniciativa de assumir o experimental. […] O potencial experimental gerado no
Brasil é o único anticolonial não-culturalista nos escombros híbridos da “arte
brasileira”. […] O experimental não tem fronteiras para si mesmo é a metacrí-
tica da “produção de obras” dos artistas de produção.
HÉLIO OITICICA
Experimentar o Experimental (1972).
RESUMO
Situated within the realm of exhibition studies, this thesis focuses specifically on
those curatorial and artistic proposals which question the topos of contemporary
art exhibitions. The research was carried out between 2012 and 2016, visiting ex-
hibitions in different geographical locations: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio
de Janeiro, Berlin, Venice and London. The research methodology was built on the
experience at these exhibitions, through which the thesis’ case studies have been
configured. What are the limits of the Western canons, which reinforce particu-
lar trends and generate orthodoxies within exhibition studies? Between the ‘out
there’ and the ‘in here’, whether there resides the dichotomy, here lies hybridity,
as an experimental matrix for the making of exhibitions in Brazil. It is in this con-
text, here-and-now, that the thesis develops the concept of “counter-exhibition”,
redefining the exhibition space through direct experimentation in the investiga-
tion, production, presentation and documentation of curatorial and artistic pro-
posals in their public dimension. The thesis also takes into account the context
of mega-exhibitions, and specifically biennials, discussing the supposed crisis of
the model by mapping its recurring patterns, as a possible strategy to challenge
the hegemony of the current international format, and reinvent it. Among exhi-
bitions, mega-exhibitions and counter-exhibitions, the thesis explores attempts
to bring the subject of the exhibition experience to the fore, in this way directing
the debate towards what or on who the exhibitions are addressing, exhibition ap-
proaches, as well as on the associations between artworks and publics that they
(seek to) produce. In essence: either within cultural institutions – the exhibition
topos recognised as the place of art –, or other exhibition topos – that is, any-
where –, contemporary exhibitions are being constantly redefined.
127 3. Contraexposição
138 3.1. Situação artística: uma infiltração efêmera em espaços operantes
148 3.2. Evento singular one-time e on-time
166 3.3 Con-sentir, habitar
174 3.4 Impulso para cima e suspensão
Tudo em nós corresponde a uma causa interna, diria Balzac (2009, p. 97)1.
Essa investigação assenta-se em meio a uma prática em exposições2, um sa-
ber e, sobretudo, em meio a uma ignorância. A ignorância move-se por um
interesse. Aqui, um interesse geral sobre estudos expositivos que conectam
práticas curatoriais às práticas artísticas no espaço para materializações de
exposições; e um interesse particular acerca de propostas que escapam aos
códigos imediatamente reconhecíveis como pertencentes à família das expo-
sições. Uma inquietude gerada a partir de um ponto de vista de uma interiori-
dade acerca de práticas expositivas estanques e assertivas, fixas e repetíveis,
com afirmações – isto é uma exposição de arte contemporânea – e movem-
-se em direção à pergunta: o que é uma exposição de arte contemporânea?
1 BALZAC, Honoré. Tratados da Vida Moderna. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.
2 Entre 2007 e 2016, vínculos profissionais relativos à exposições, com atuações distintas, foram
estabelecidos com as seguintes instituições: Fundação Bienal do Mercosul (RS), Santander Cultural
(RS), Instituto Tomie Othake (SP), Museu Nacional Centro de Artes Reina Sofia (Madri, Espanha),
Fundação Bienal de São Paulo (SP), SESI (RS), Ministério da Cultura, Itaú Cultural (SP), Despina /
Largo das Artes (RJ), Centro Cultural Border (México, D.F), Escola de Artes Visuais Parque Lage
(RJ), Programa BBVA Bancomer / Museu Carrillo Gil (México, D.F) e Instituto Moreira Salles (SP/RJ).
Ainda, fui sócia das empresas Urbanauta (2007-2013) e Nau Produtora (2008-2010), com Bruna
Fetter, Eduardo Saorin, André Severo e Paula Krause; sendo ambas empresas dedicadas à propo-
sições e execução de projetos em artes visuais.
INTRODUÇÃO
A tese tem como objetivo configurar um estado da arte do topos expositivo contem-
porâneo, especificamente sobre proposições curatoriais e artísticas que questio-
nam, afetam, desestabilizam e redefinem o lugar de apresentação pública da arte.
Considera-se topos expositivo o espaço comum, lugar físico onde converge a rede
que configura a exposição – curadoria-artistas-obras-públicoS3 – que está em re-
lação entre si, independentemente de mensurações – medidas ou quantidades.
3 O S maiúsculo será adicionado ao final da palavra público como indicativo da diversidade de
públicoS que a tese aborda, considerando que públicoS, em seus plurais, estão intrínsecos à con-
dição expositiva.
4 A Teoria do Mover-se foi originalmente publicada nos jornais La Mode e L’Europe Littéraire, em
1833. A metodologia construída entre 2012-2016 levou à publicação do livro Práticas Contemporâneas
do Mover-se. O livro, publicado em 2015 pela Editora Circuito, é resultante de premiação Rumos
Itaú Cultural 2013-2014 e fruto de pesquisa curatorial que tomou o movimento como impulso
para proposições artísticas recentes na arte brasileira. Tendo como recorte temporal as produ-
ções iniciadas pós-2000 e, como recorte espacial, o Brasil como ponto geográfico de origem dos
artistas – e não necessariamente de permanência –, foram configuradas duplas de 10 artistas
e 10 pesquisadores/curadores (ou, eventualmente, trios no caso de duplas de artistas) para trocas
16
INTRODUÇÃO
poéticas. O ponto de partida da publicação foi: de que maneira o mover-se afeta a produção ar-
tística, a crítica e a vida das formas na arte contemporânea? Os integrantes da publicação são:
Cadu & Francisco Dalcol; Túlio Pinto & Caroline Menezes; Rodrigo Braga / Bruna Fetter; Distruktur
(Gustavo Jahn e Melissa Dullius) & Max Jorge Hinderer Cruz; Karim Aïnouz & Sérgio Martins; Vivian
Caccuri & Júlio Martins; Denis Rodriguez / Leonardo Remor & Rosana Pinheiro-Machado; Paulo
Nazareth & Cristina Ribas / A Economista; Letícia Ramos & Ivair Reinaldim; Areal (André Severo
e Maria Helena Bernardes) & Cristiana Tejo. Ver: SOMMER, Michelle. Práticas Contemporâneas do
Mover-se. Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2015.
17
INTRODUÇÃO
5 Estágio doutoral foi realizado de fevereiro à agosto de 2015 com financiamento da CAPES.
6 O primeiro curso formulado especialmente para curadorias contemporâneas foi criado em
1987 na França: Ecole do Magasin, em Grenoble e seguido pelo curso de pós-graduação do Royal
College of Arts em Londres, em 1992. No Brasil, a Escola São Paulo ministrou o curso “Curadoria:
História das Exposições”, em 2013. Ver: <http://www.escolasaopaulo.org/atividades/curadoria-
historia-das-exposicoes-1-sem-2013/curadoria-historia-das-exposicoes> Acesso em: 04 agosto 2016.
Em âmbito acadêmico, na PUC-SP, no curso de bacharelado “Arte: História, Crítica e Curadoria”, há
uma disciplina sobre “História dos museus, feiras, exposições, galerias e coleções”. Ver: <http://
www.pucsp.br/graduacao/arte-historia-critica-e-curadoria> Acesso em: 04 agosto Durante
a escrita dessa tese, publicou-se: CYPRIANO, Fabio e MARINS DE OLIVEIRA, Mirtes (org.). História
das Exposições – casos exemplares. São Paulo: Educ, 2016. Atualmente profileram-se cursos de
curadoria de curta duração, principalmente em instituições culturais.
7 O’NEILL (2007) debate sobre a interdependência entre as práticas curatoriais e as práticas artís-
ticas no campo de produção expositiva, apresentando uma história da profissionalização e conso-
lidação da curadoria que se deu, para o autor, com a ascensão do modelo bienal da grande escala.
Ver: Paul O’Neill, ‘The Curatorial Turn: From Practice to Discourse’, in Judith Rugg and Michèle
Sedgwick, eds., Issues in Curating Contemporary Art and Performance (Bristol: Intellect, 2007).
18
INTRODUÇÃO
8 Opto pela expressão decolonial como ênfase à inserção da América Latina de uma forma mais
radical e posicionada no debate pós-colonial. Ver: MIGNOLO, Walter. Desobediência epistémica.
Retórica de la modernidad, lógica de la colonialidad, y gramática de la descolonialidad. Buenos
Aires: Ediciones del Signo, 2010. Ver também: LAURIE, Timothy. ‘Epistemology as Politics and the
Double-Bind of Border Thinking: Levi-Strauss, Deleuze, Mignolo.’ Portal: Journal of Multidisciplinary
International Studies 9(2): 1-20, 2012. Disponível em: <https://www.academia.edu/2137504/
Epistemology_as_Politics_and_the_Double-Bind_of_Border_Thinking_L%C3%A9vi-Strauss_Deleuze_
and_Guattari_Mignolo>. Acesso em: 24 agosto 2016.
E entrevista disponível em<http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_
content&view=article&id=5258&secao=431> Acesso em: 24 agosto 2016.
19
INTRODUÇÃO
Entre site e non-site há uma relação um-para-um, mas ao mesmo tempo essa
equação um-para-um tende a fugir da conexão para que haja uma suspen-
são. Embora exista uma correspondência, o empate é sempre no sentido do
subvertido ou perdido, por isso é uma questão de perder o seu caminho, ao in-
vés de encontrar o seu caminho13. Ou seja, na transposição site para non-site
há sempre uma perda, na natureza do próprio movimento fora x dentro. Para
Smithson o site é desprovido de linguagem, em seu princípio organizacional,
9 Proposições coletivas foram realizadas, como exceção, com os casais como como Robert Smithson
e Nancy Holt (1938-2014) e Christo (1935) e Jeanne-Claude (1939-2009).
10 Cito aqui duas exposições no contexto institucional realiazadas do período: em 1968 a Dwan
Gallery, de New York, apresenta a exposição ‘Earth Works’ e em 1969, o Andrew Dickson White
Museum, também em New York, apresenta a exposição ‘Earth Art’.
11 SMITHSON, R. (1996, p. XVII)
12 SMITHSON, R. (1996, p. XVII)
13 Do original: “(...) there is a one-to-one relation, but at the same time that one-to-one equa-
tion tends to evade connection so that there’s a suspension. Although there’s a correspondence,
the equalizer is always in a sense the subverted or lost, so it’s a matter of losing your way rather
than finding your way”. SMITHSON, R. (1996, p. 218.)
20
INTRODUÇÃO
Sobre o lugar da arte, lá, em 1970, Robert Smithson afirma: eu penso que a pai-
sagem é co-existente com a galeria. Para mim, o mundo é um museu14. Aqui,
em 1966, Hélio Oiticica anuncia como ‘eureca’: O museu é o mundo!
21
INTRODUÇÃO
17 Expressão de Lygia Clark, em 1970. Ver: diários de Lygia Clark em: <http://www.cbp.org.br/
rev3105.htm>. Acesso em: 05 agosto 2016.
22
INTRODUÇÃO
O ponto de corte temporal é 1969, com “o cânone dos cânones expositivos” que
supostamente inaugura a era curatorial, com a exposição ‘When Attitudes Be-
come Form’, de Harald Szeemann (1933-2005) e institui o modelo expositivo do
curador-autor amplamente reproduzido internacionalmente. Quase meio século
depois, com a consolidação histórica da prática curatorial, a institucionalização
e profissionalização crescente dos estudos curatoriais, entre modelos diversos,
mais ou menos autorais e a adesão da prática curatorial às exposições, formatos
da prática são passíveis de questionamentos na era pós-legitimação curatorial.
23
INTRODUÇÃO
18 Entre essas, em duas bienais tive participação ativa: na 9ª Bienal do Mercosul / Porto Alegre
(2013) foi co-coordenadora de museografia e na 31ª Bienal de São Paulo (2014) participei do
“Workshop Ferramentas para Organização Cultural”, estruturado a partir de processo seletivo pú-
blico que integrou 15 curadores, críticos e agentes culturais para debates realizados ao longo do
ano acerca da edição.
24
INTRODUÇÃO
19 O conceito de presentidade (presentness) é abordado a partir de MORRIS (1978), JAY (2009),
BROUGH, John B.; BLATTNER, William (2009), WRATHALL, M; DREYFUS, H.A (2009) e FOSTER (2013).
20 BASBAUM, Ricardo. “Quem é que vê nossos trabalhos?”, In: Ferreira, Glória; pessOa, Fernando
(Orgs.) Criação e Crítica – Seminários Internacionais Museu Vale 2009, Vila Velha: Museu Vale,
Rio de Janeiro: Suzy Muniz Produções, 2009, p. 200-208.
25
INTRODUÇÃO
26
1. Exposição como cânone: reverência
ou devoração?
Nesse tópico, com ênfase no aqui, não objetivo discutir o universo da história
das exposições no Brasil, nem tampouco configurar uma genealogia das ex-
posições nacionais em relação aos seus referentes externos: considero essa
uma pesquisa de cunho histórico ainda a ser realizada e que extrapola os ob-
jetivos dessa tese3. A direção é visitar cânones expositivos para discutir o ex-
perimental como matriz da produção expositiva nacional.
28
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
5 AZEVEDO (2016, p. 16). Em: AZEVEDO, Beatriz. Antropofagia. Palimpsesto Selvagem. Prefácio de
Eduardo Viveiros de Castro. São Paulo: Cosac & Naify, 2016.
6 SHEIKH (2010, p. 13, tradução nossa). Do original: “A canon can be defined as a list of authori-
tative texts (or works) that constitute a principle or rule, originally in a religious sense and since
expanded to various fields of cultural production where this list sets a standard to which all new
works produced within the field must be measured”. SHEIKH, Simon. On the Standard of Standards,
or, Curating and Canonization. Manifesta Journal, No. 11, 2010/2012. Disponível em: <http://zs.
thulb.uni-jena.de/rsc/viewer/jportal_derivate_00233942/Manifesta_journal_11_2010_11_0008.
TIF>. Acesso em: 04 agosto 2016.
29
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
7 A Afterall é um centro de investigação da University of the Arts London / Central Saint Martins;
fundado em 1998 pelo curador Charles Esche e pelo artista Mark Lewis. A Afterall está centrada em
discussões sobre arte contemporânea e exposições e em sua relação com o contexto artístico, teó-
rico e social através de uma série de publicações físicas e virtuais. O departamento de Exhibition
Studies / Estudos Expositivos da University of the Arts London / Central Saint Martins, ao qual
a Afterall está vinculada, foi inaugurado em 2012 e é uma referência na área, sendo o único curso
de pós-graduação que se volta para estudos expositivos associando práticas curatoriais e práti-
cas espaciais. No ano de 2015, de fevereiro a agosto, estive vinculada ao departamento como pes-
quisadora visitante, como parte integrante do meu estágio doutoral, viabilizado através de bolsa
de doutorado sanduíche pela CAPES. Sobre as publicações da Afterall, ver: <http://www.afterall.
org/home>. Acesso em: 04 agosto 2016.
8 Em 2010, a série Exhibition Histories foi lançada em colaboração com a Academia de Belas Artes
de Viena, o Van Abbemuseum, em Eindhoven – onde Charles Esche é atualmente diretor – e com
o apoio do Mudam, Luxemburgo. Atualmente, a série é publicada em associação com o Centro de
Estudos Curatoriais no Bard College, referência em estudos de curadoria, localizado em Nova Iorque.
9 RATTEMEYER, Christian and other authors. Exhibiting the New Art. “Op Losse Schroeven” and
“When Attitudes Become Form”, 1969. Exhibition Histories Series Editors, Afterall Books Editorial
Directors. 2010.
10 WEISS, Rachel and other authors. Making Art Global (Part 1). The Third Havana Biennial, 1989. Afterall
Books in association with the Academy of Fine Arts Vienna and Van Abbemuseum, Eindhoven, 2011.
11 BUTLER, Cornelia and other authors. From Conceptualism to Feminism: Lucy Lippard’s Numbers
Shows 1969–74. Afterall Books in association with the Academy of Fine Arts Vienna and Van
Abbemuseum, Eindhoven, 2013.
12 STEEDS, Lucy and other authors. Making Art Global (Part 2). Magiciens de la Terre, 1989. Afterall
Books in association with the Academy of Fine Arts Vienna and Van Abbemuseum, Eindhoven, 2013.
30
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
31
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
Andre, Giovanni Anselmo, Richard Artschwager, Thomas Bang, Jared Bark, Robert Barry, Joseph
Beuys, Alighiero Boetti, Mel Bochner, Marinus Boezem, Bill Bollinger, Michael Buthe, Pier Paolo
Calzolari, Paul Cotton, Hanne Darboven, Walter de Maria, Jan Dibbets, Ger van Elk, Rafael Ferrer,
Barry Flanagan, Ted Glass, Hans Haacke, Michael Heizer, Eva Hesse, Douglas Huebler, Paolo Icaro,
Alain Jacquet, Neil Jenney, Stephen Kaltenbach, Jo Ann Kaplan, Edward Kienholz, Yves Klein,
Joseph Kosuth, Jannis Kounellis, Gary B. Kuehn, Sol LeWitt, Bernd Lohaus, Richard Long, Roelof
Louw, Bruce McLean, David Medalla, Mario Merz, Robert Morris, Bruce Nauman, Claes Oldenburg,
Dennis Oppenheim, Panamarenko, Pino Pascali, Paul Pechter, Michelangelo Pistoletto, Emilio Prini,
Markus Raetz, Allen Ruppersberg, Reiner Ruthenbeck, Robert Ryman, Frederick Lane Sandback,
Alan Saret, Sarkis, Jean-Frédéric Schnyder, Richard Serra, Robert Smithson, Keith Sonnier, Richard
Tuttle, Frank Lincoln Viner, Franz Erhard Walther, William G. Wegman, Lawrence Weiner, William
T. Wiley, Gilberto Zorio. Disponível em: <http://www.contemporaryartdaily.com/2013/09/when-
attitudes-become-form-at-kunsthalle-bern-1969>. Acesso em: 04 agosto 2016.
17 Uma ampla discussão sobre essa exposição em específico pode ser acessada em: SOMMER,
Michelle Farias. Desafios contemporâneos no contexto expositivo: das lições da metodología cura-
torial de Harald Szeemann à espetacularização na cultura do mainstream. 22 Encontro Nacional da
ANPAP. Belém, 2013. Disponível em: <http://anpap.org.br/anais/2013/ANAIS/comites/c/Michelle%20
Farias%20Sommer.pdf>. Acesso em: 04 agosto 2016. O artigo identifica e discute a metodologia
da prática curatorial de Harald Szeemann, que, a partir de sua posição histórica no campo expo-
sitivo, tem sido associada à inauguração do modelo curador-autor.
32
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
No entanto, após ‘When Attitudes Become Form’ (1969), crescentes ajustes em re-
lação ao controle foram sendo feitos e já na ‘Documenta 5 – d5 – Questioning Rea-
lity – Image Worlds Today’ (Kassel / 1972), a prática curatorial consolida-se como
um modelo autoral de estruturação vertical, uma forma subjetiva de interpreta-
ção e apresentação de proposições artísticas. O nascimento do modelo curato-
rial europeu de prática curatorial emerge com vozes discordantes dos artistas, um
conflito que se manifesta a partir da discussão sobre a noção de autoria, a qual
33
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
O texto do artista Daniel Buren (1938), também de 1972, expressa igual insatis-
fação. O artista descreveu a d5 como um trabalho de arte de Harald Szeemann
e o próprio trabalho dos artistas como sendo pinceladas de cores usadas pelo
curador. Em uma crítica ácida, ele aponta que a exposição afirma seu próprio
assunto de forma equivalente a uma obra de arte, sendo a exposição um re-
ceptáculo valorizado em que a arte é jogada fora, servindo nada mais do que
um chamariz decorativo para a sobrevivência do museu como um quadro, um
quadro cujo autor é ninguém menos que o curador20.
19 Vários artistas convidados para integrar a d5 endereçaram críticas a Szeemann. Entre eles:
Carl Andre, Hans Haacke, Donald Judd, Barry Le Va, Sol LeWitt, Richard Serra e Robert Smithson.
20 Szeemann, H., op. cit., p. 92-93).
34
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
21 SMITHSON, Robert. The collected writings. New York: New York University Press, 1979. Cultural
Confinament, p. 154, tradução nossa. Texto disponível na íntegra em: <http://www.robertsmithson.
com/essays/cultural.htm>. Acesso em: 13 agosto 2016.
22 O colóquio “História da arte em exposições: modos de ver e exibir no Brasil” foi organizada
pelo Grupo de Pesquisa “História da Arte: modos de ver, exibir e compreender” e ocorreu entre
os dias 23 a 25 de maio de 2014, no Auditório do Instituto de Artes da Unicamp, em Campinas /
São Paulo. O evento reuniu 30 conferencistas/pesquisadores com motivação para a compreensão
do lugar das exposições para a história da arte. Participaram do evento, na qualidade de confe-
rencistas, professores/pesquisadores de diversas instituições de ensino superior do país – UFRJ,
UFMG, USP, Unifesp, UNICAMP, UFRGS, UnB, UFPR, entre outras. A conferência inaugural foi do pro-
fessor Jean-Marc Poinsot (Université HauteBretagne/ Université Rennes 2) O resumo completo das
conferências pode ser acessado em: <https://haexposicoes.wordpress.com/resumos/>. Acesso
em: 24 agosto 2016.
35
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
realizado até agora sobre história das exposições com enfoque nas proposições
expositivas nacionais. O encontro foi organizado pelo grupo de pesquisa “His-
tória da arte: modos de ver, exibir e compreender”, que congrega docentes de
cinco diferentes universidades brasileiras (Unicamp, UFRG, UFBA, UFRGS e UnB).
O grupo tem, como objetivo, pensar a arte, a história da arte e o objeto artís-
tico em suas várias dimensões e (i)materialidades, a partir de abordagens mul-
tidisciplinares, onde o modo de ver o objeto está intimamente imbricado com
o lugar de sua exibição e com o modo de situá-lo no espaço23. Na apresenta-
ção do anais do colóquio de 2014, lê-se:
36
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
passado”, os trabalhos de Renata Cardoso, Adriano Tomitão, Caroline Leite e Sylvia Furegatti inci-
diram sobre novas interpretações a respeito de eventos expositivos signifcativos para a arte brasi-
leira. Em seguida, os textos de Shannon Botelho, Fernanda Lopes, Nelyane Gonçalves e Francielly
Dossin, reunidos no segmento “Instituições, fronteiras e marginalidades”, discutiram os conflitos
internos entre a produção artística e as políticas culturais e institucionais. As pesquisas de Ana
Paula Nascimento, Ana Paula de Andrade, Bruno Sayão, Eric Lemos e Cíntia Moreira foram am-
paradas em uma investigação sobre modos de exibição a partir de práticas de colecionamento,
e reunidas sob o eixo “Inventários, coleções e arquivo(s)”. Ver: <https://haexposicoes.wordpress.
com>. Acesso em: 04 agosto 2016.
26 Na mesa voltada à discussão do experimental, nas comunicações pautadas em estudos de caso
contemporâneos, o único trabalho apresentado foi o de Fernanda Lopes: “Área Experimental –
Um estudo de caso sobre exposições nos anos 1970 no Brasil”. Ver: Anais do Colóquio História
da Arte em exposições: modos de ver e exibir no Brasil. Campinas: Unicamp, 2014, p. 169-176.
Disponível em: <https://haexposicoes.files.wordpress.com/2014/10/arquivo_completo.pdf>. Acesso
em: 04 agosto 2016.
27 O texto de Hélio Oiticica “Experimentar o experimental”, foi publicado na Revista Navilouca,
em 1974. O texto original é de 1972. Disponível em: <http://54.232.114.233/extranet/enciclopedia/
ho/index.cfm?fuseaction=documentos&cod=362&tipo=2>. Acesso em: 04 agosto 2016.
37
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
38
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
29 Documento de Ronaldo Brito (sem data) na tentativa de definir as diretrizes da política cultu-
ral do MAM-RJ para 1976. Em: LOPES (2013, p. 47).
30 Manifesto Antropofágico (1928), de Oswald de Andrade. Disponível em: <http://www.tanto.
com.br/manifestoantropofago.htm>. Acesso em: 04 agosto 2016.
31 Hélio Oiticica utiliza o termo propor propor em 1967 ao refererir-se ao parangolé: “Parangolé
coletivo (redundância, já que Parangolé desde o início propunha o), propor propor já em 1966-
1967 era a condição primeira de tudo (…)”. OITICICA, Hélio. Aspiro ao Grande Labirinto. Rio de
Janeiro, Editora Rocco, 1986, p. 117.
32 O MAM-SP foi fundado por Francisco “Ciccillo” Matarazzo Sobrinho, em 1948, e teve como mo-
delo o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA). Na história das exposições do MAM-SP,
o projeto de edição bienal “Panorama da Arte Brasileira”, iniciado em 1969, inseriu a instituição na
cena artística brasileira, além de contribuir para a reconfiguração do acerco da instituição. O pro-
jeto segue ativo em edições bienais.
39
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
33 O MAM-RJ foi fundado em 1948, a partir da iniciativa de um grupo de empresários presidido por
Raymundo Ottoni de Castro Maya e Gustavo Capanema; também tendo o MoMA como paradigma.
Na I Exposição Nacional de Arte Abstrata, em 1953, no MAM-RJ ainda instalado no Ministério de
Educação e Saúde (Palácio Gustavo Capanema), participaram artistas que integraram o Grupo
Frente, entre eles: Ivan Serpa, Abraham Palatinik, Antonio Bandeira, Décio Vieira, Fayga Ostrower,
Lygia Clark, Lygia Pape, Antonio Maluf, Aluísio Carvão, Anna Bella Geiger e Geraldo de Barros.
Em 1959, com as exposições de Alexander Calder, Georges Mathieu e a I Exposição Neoconcreta,
o MAM-RJ transformou-se em foco de transformação artística e sede do neoconcretismo. Sobre
a atual sede, o ano do projeto de Affonso Eduardo Reidy é de 1952, sendo que a conclusão completa
do museu deu-se somente em 1967. Sobre a instituição do MAM, sua história e natureza jurídica,
ver: <http://www.museusdorio.com.br/joomla/index.php?option=com_k2&view=item&id=95:museu-
de-arte-moderna-do-rio-de-janeiro-mam-rio>. Acesso em: 05 agosto 2016.
34 A primeira Bienal de São Paulo ocorreu em 1951 por iniciativa do mecenas Francisco “Ciccillo”
Matarazzo Sobrinho e sua esposa Yolanda Penteado, aplicando o modelo da Bienal de Veneza. A crono-
logia da história das exposições da bienal está repleta de edições seminais. A 1ª edição da Bienal traz ao
Brasil, pela primeira vez, obras de Picasso, Giacometti, Magritte, além de apresentar a produção bra-
sileira de Lasar Segall, Brecheret, Goeldi, tendo com premiadas a escultura Unidade Tripartida de Max
Bill e a tela Formas de Ivan Serpa. A 2ª edição da Bienal, em 1953, torna-se conhecida como a Bienal de
Guernica, com o presença da obra de Picasso, de 1937. A 6ª edição, de 1961, sob a incumbência geral
de Mário Pedrosa, combina obras contemporâneas de Kurt Schwitters com uma retrospectiva histórica
de Volpi. A oposição dos artistas à ditadura militar ganha expressão na 10ª Bienal, em 1969, a bienal do
boicote. A partir de 1980, a Bienal estrutura-se a partir de temas e inovações museográficas. A 16ª e 17ª
Bienais (1981 e 1983), sob a curadoria geral de Walter Zanini, apresenta o acervo do Museu de Imagens
do Inconsciente e reconquista a participação do artistas contemporâneos como Antonio Dias, Cildo
Meireles e Tunga. Sobre a história da Fundação Bienal de São Paulo, ver: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-883920010003000044>. Acesso em: 05 agosto 2016.
35 O MASP foi fundado em 1947, por Assis Chateaubriand, empresário e jornalista, e Pietro Maria
Bardi, jornalista e crítico de arte italiano. Desde 1968 está localizado na Avenida Paulista, em São
Paulo, em edifício projetado por Lina Bo Bardi. O MASP possui a mais importante e abrangente co-
leção de arte ocidental da América Latina e de todo o hemisfério sul, em que se notabilizam sobre-
tudo os consistentes conjuntos referentes às escolas italiana e francesa. Possui também extensa
seção de arte brasileira e pequenos conjuntos de arte africana e asiática, artes decorativas, peças
arqueológicas etc., totalizando aproximadamente 8 mil peças. O acervo é tombado pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Sobre a história do MASP, ver: <http://masp.
art.br/masp2010/sobre_masp_historico.php>. Acesso em 05 agosto 2016. PALMA, Adriana Amosso
Dolci Leme. Invenções Museológicas em Exposição: MAC DO ZANINI e MASP DO CASAL BARDI (1960-
1970).
Dissertação de mestrado. São Paulo: USP, 2014. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/
teses/disponiveis/93/93131/tde-24042015-171943/pt-br.php>. Acesso em: 05 agosto 2016.
36 O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo é instituído em 1963, quando
a Universidade de São Paulo recebeu o acervo do antigo MAM-SP, formado pelas coleções do ca-
sal de mecenas Yolanda penteado e Ciccillo Matarazzo, pelas coleções de obras adquiridas ou re-
cebidas em doação durante a vigência do antigo MAM e pelos prêmios das Bienais de São Paulo,
até 1961. De posso do acervo com obras como Modigliani, Picasso, Miró, Calder, Kandinsky, Miró,
Picasso, Volpi entre outros, o novo museu apresenta como missão atender aos principais objeti-
vos da Universidade de São Paulo: busca do conhecimento e sua disseminação na sociedade. Ver:
<http://www.mac.usp.br/mac/conteudo/institucional/institucional.asp>. Acesso em: 05 agosto 2016.
40
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
37 Sobre experimentações expositivas; em Porto Alegre / RS, destaco o Grupo Nervo Óptico, confi-
gurado pelos artistas Ana Alegria, Carlos Pasquetti, Clóvis Dariano, Mara Álvares, Carlos Asp, Carlos
Athanázio, Telmo Lanes, Romanita Disconzi, Jesus Escobar e Vera Chaves Barcellos. O grupo atuou
entre 1976 e 1978 e, em 1976, realizou o evento multimídia Atividades Continuadas, apresentando
performances, exposição de arte, instalações, projeções audiovisuais e debates. Ver: CARVALHO, Ana
Albani de. (Org.) Espaço N.O. Nervo Óptico. Coleção fala do artista. Rio de Janeiro: Funarte, 2004.
Ainda, destaco o evento Do corpo à terra, realizado entre 17 e 21 de abril de 1970, no Parque Municipal
de Belo Horizonte, em Minas Gerais, organizado por Frederico Morais. Entre happenings e ações, as
trouxas ensaguentadas de Artur Barrio e a queima de animais vivos de Cildo Meireles como crítica
à Ditadura Militar vigente no Brasil. Ver: Entrevista com Frederico Morais concedida à Marília Andrés
Ribeiro. Revista UFMG, Belo Horizonte, v. 20, n. 1, p. 336-351, jan./jun. 2013. Disponível em: <https://www.
ufmg.br/revistaufmg/downloads/20/18-entrevista_fredrico_morais.pdf>. Acesso em: 06 agosto 2016.
38 A mostra tem duração de um mês e ocorre entre 12 de agosto e 12 de setembro de 1965. A ex-
posição foi organizada pelo marchand e jornalista Ceres Franco e pelo galerista Jean Boghici.
O título da exposição revelava o caráter pluralista da mostra e uma vontade de dar voz a uma ju-
ventude que assumia um papel protagonista à frente dos acontecimentos. Entre os artistas par-
ticipantes estão: Jack Vanarsky, José Roberto Aguilar, Antônio Dias, Waldemar Cordeiro, Hélio
Oiticica, Carlos Vergara, Ivan Serpa.
41
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
Nesse mesmo ano, na conexão plena entre crítica de arte e prática artística, Mário
Pedrosa (1900-1981) chamou de “arte pós-moderna” o novo ciclo de vocação antiarte,
45 Texto “Programa ambiental”, de Hélio Oiticica, em 1966. OITICICA, H., op. cit., p. 79.
43
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
do qual o Brasil participaria não como modesto seguidor, mas como precursor46.
Segundo PEDROSA (1981, p. 206): “Agora, nessa fase de arte na situação, de arte an-
tiarte, de “arte pós-moderna”, dá-se o inverso: os valores propriamente plásticos
tendem a ser absorbidos na plasticidade das estruturas perceptivas e situacionais.”
46 Texto “Arte ambiental, arte pós-moderna, Hélio Oiticica”, originalmente publicado em Correio
da Manhã, 26/06/1966. PEDROSA, Mario. Dos murais de Portinari aos espaços de Brasília. São
Paulo: Editora Perspectiva, 1981, p. 206.
47 Texto “Posição e programa”, de Hélio Oiticica, 1966. OITICICA, Hélio. Aspiro ao Grande Labirinto.
Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1986, p. 77.
48 Ver: Rivera, Tânia. O reviramento do sujeito e da cultura em Hélio Oiticica. Revista Artes e Ensaios.
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais EBA/UFRJ, n. 19, 2010. Disponível em: <http://www.
ppgav.eba.ufrj.br/producao/arte-ensaios-19/>. Acesso em: 06 agosto 2016.
49 Ferreira Gullar e Mário Pedrosa escrevem sobre a exposição, respectivamente, nos Cadernos
da Civilização Brasileira, n. 4, 1965, e no Jornal do Comércio, 1966.
50 Ver: Revista Manchete, n. 699, setembro 1965. Disponível em: <http://www.flavioimperio.com.
br/galeria/507621/518443>. Acesso em: 06 agosto 2016.
51 Exposição ocorrida no MAM-RJ, em 1966, com organização de Ceres Franco.
52 Exposição ocorrida no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado (MAB-
FAAP), em São Paulo, em 1966, com participação de Helio Oiticica e Ubirajara Ribeiro.
53 Exposição ocorrida na Reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo
Horizonte, em 1966, com organização de Frederico de Morais.
44
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
54 Artistas participantes: Alberto Aliberti, Aluísio Carvão, Antonio Dias, Carlos Vergara, Carlos Zílio,
Flávio Império, Geraldo de Barros, Glauco Rodrigues, Helio Oiticica, Ivan Serpa, Lygia Clark, Lygia
Pape, Marcello Nitsche, Maurício Nogueira Lima, Mona Gorovitz, Nelson Leirner, Pedro Escosteguy,
Roberto Magalhães, Rubens Gerchman, Sérgio Ferro, Sonia von Brüsky e Waldemar Cordeiro.
55 Texto “Posição e programa”, de Hélio Oiticica, 1966. OITICICA, Hélio. Aspiro ao Grande Labirinto.
Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1986, p. 85-98.
56 ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. Revista de Antropofagia, Ano 1, n. 1, Maio de
1928. Texto online disponível, na íntegra, em: <http://www.tanto.com.br/manifestoantropofago.
htm>. Acesso em: 04 agosto 2016.
57 O texto é assinado por Antonio Dias, Rubens Gerchamn, Lygia Clark, Lygia Pape, Helio Oiticica, Ana
Maria Maiolino, Frederico Morais, entre outros. Disponível em: <http://docslide.com.br/documents/
declaracao-dos-principios-basicos-da-vanguarda-1967.html>. Acesso em: 06 agosto 2016.
45
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
Creio não ser exagero afirmar que o traço decisivo que carac-
teriza o comportamento artístico de agora é a liberdade, ou
o sentimento de uma liberdade nova. Já faz bastante tempo
que, tentando analisar o fenômeno, defini a arte de nossos
dias como o exercício experimental da liberdade. (…) Trata-se
sem dúvida de um fenômeno cultural e social absolutamente
novo na história da civilização que chamamos de ocidental por
comodidade. De onde vem essa liberdade, de onde vem esse
fator que impeliu os artistas à necessidade daquele exercí-
cio, daquela experiência? É este hoje o problema fundamen-
tal da crítica. (PEDROSA, 2007, p. 110).62
47
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
Foi nesse evento de arte feita diante do povo, sem mistério, tudo isso grátis,
sem ingressos e sem inscrições que Hélio Oiticica comandou a manifestação
por ele batizada de Apocalipopótese – fusão das palavras apoteose, hipótese
e apocalypse –, da qual participaram Antonio Manuel (1947), Lygia Pape (1927-
2004) e Rogério Duarte (1939-2016).
64 Entrevista com Frederico Morais concedida à Marília Andrés Ribeiro. Revista UFMG, Belo
Horizonte, v. 20, n. 1, p. 336-351, jan./jun. 2013. Disponível em: <https://www.ufmg.br/revistaufmg/
downloads/20/18-entrevista_fredrico_morais.pdf>. Acesso em: 06 agosto 2016.
65 A X Bienal de São Paulo ficou conhecida como a bienal do boicote, financiada em grande parte
por recursos do governo federal, configurou-se como um polo de resistência à ditadura militar.
Cerca de 80% dos artistas brasileiros convidados – entre eles Carlos Vergara, Rubens Gerchman,
Roberto Burle Marx, Sérgio Camargo e Hélio Oiticica – não compareceram. No exterior, artistas
dos Estados Unidos, México, Holanda, Suécia, Argentina e França juntaram-se ao protesto. O boi-
cote como sintoma será discutido no Capítulo 2.
66 LOPES, Fernanda. Arte Experimental – lugar, espaço e dimensão do experimental na arte bra-
sileira dos anos 70. São Paulo, Prestígio Editorial, 2013. Disponível em: <http://www.tnpetroleo.
com.br/media/revista/area_final.pdf>. Acesso em: 06 agosto 2016.
50
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
Em paralelo, Anna Bella Geiger, Lygia Pape e Antônio Manuel ministram o curso
“Atividade-Criatividade”, realizado também no espaço extramuros da insti-
tuição. Frederico Morais realiza, ainda em 1970, no Rio de Janeiro, o projeto
“Agnus Dei” na Petit Galerie, com inovações em proposições expositivas: na ex-
posição, da qual participaram Cildo Meireles, Guilherme Vaz, Thereza Simões
e Guilherme Magalhães Bastros, a ideia era que a mostra tivesse três horas de
51
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
Figs. 07 a 11 Domingos da
Criação, 1971. Fonte: acervo
documental do MAM-RJ.
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
70 Revista RECIBO 80. Edições Traplev Orçamentos. Ano 13, número 18, 2015, p. 74. RECIBO é uma
publicação experimental impressa que cria e edita projetos e ações relacionadas às práticas artísti-
cas de análise crítica, circulação e dispersão de ideias e é editada pelo artista Traplev. Algumas edi-
ções encontram-se disponíveis online em: <https://issuu.com/recibo>. Acesso em: 08 agosto 2016.
71 Os artistas com exposições no período foram: Emil Forman, Sérgio Campos Mello, Margareth
Maciel, Bia Wouk, Ivens Machado, Cildo Meireles, Gastão de Magalhães, Anna Bella Geiger, Tunga,
Paulo Herkenhoff, Umberto Costa Barros, Rogério Luz, Wilson Alves, Letícia Parente, Carlos Zilio,
Mauro Kleiman, Lygia Pape, Yolanda Freire, Fernando Cocchiarale, Regina Vater, Waltercio Caldas,
Sonia Andrade, Amélia Toledo, João Ricardo Moderno, Ricardo de Souza, Luiz Alphonsus, Reinaldo
Cotia Braga, Jayme Bastian Pinto Junior, Dinah Guimaraens, Reinaldo Leitão, Lauro Cavalcanti, Dimitri
Ribeiro, Orlando Mollica e Essila Burello Paraíso, além de Beatriz e Paulo Emílio Lemos, Murilo Antunes
e Biiça, Luis Alberto Sartori, Jorge Helt e Maurício Andrés. Ver: LOPES, F. op. cit., p. 48. Disponível
em: https://www.academia.edu/5474984/%C3%81rea_Experimental_-_Lugar_espa%C3%A7o_e_di-
mens%C3%A3o_do_experimental_na_arte_brasileira_dos_anos_1970>. Acesso em: 04 agosto 2016.
72 O incêndio atingiu dois andares do MAM-RJ. Cerca de 200 obras em exposição na retrospectiva
do artista uruguaio Torres García e da exposição coletiva Geometria Sensível foram queimadas.
A biblioteca de 9 mil volumes e o arquivo com 14 mil pastas classificadas também foram consumi-
das pelo fogo. Da coleção com cerca de mil obras colecionadas ao longo de 20 anos, que incluía
trabalhos de Pablo Picasso, Constantin Brancusi, Giorgio Morandi, Jackson Pollock, Lucio Fontana
e Jean Dubuffet, apenas 50 peças sobreviveram. Os jornais da época classificaram o incêndio do
museu como um desastre sem precedentes na história das grandes coleções de artes plásticas
e o maior ocorrido no mundo desde 1966, quando uma enchente do rio Arno destruiu centenas de
obras em Florença, sem, contudo, atingir de maneira tão devastadora as peças de uma só coleção.
Ver: LOPES, F., op. cit., p. 70. Disponível em: <https://www.academia.edu/5474984/%C3%81rea_
Experimental_-_Lugar_espa%C3%A7o_e_dimens%C3%A3o_do_experimental_na_arte_brasileira_
dos_anos_1970>. Acesso em: 04 agosto 2016.
73 Walter Zanini, historiador da arte, professor universitário, crítico e curador foi o responsável
pela estruturação do recém-criado Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
(MAC-USP). Na direção do museu, entre 1963 e 1978, realizou exposições e pesquisas, transfor-
mando a instituição em um território livre e experimental em plena ditadura militar. Ver: FREIRE,
Cristina. Walter Zanini – Escrituras Críticas. São Paulo: Editora Annablume, 2014.
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
Fig. 12 e 13 Incêndio
no MAM-RJ, 1978.
Fonte: acervo documental
do MAM-RJ.
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
Fig. 15 Acontecimentos,
1972. Obra Cinética do ligadas à música, ao teatro, à dança, à poesia e ao cinema, além
Cotidiano, de Nelson Leirner. de, concomitantemente, debates e palestras sobre vários tipos
Fonte: acervo documental
do MAC-USP. de produções artísticas existentes no país naquele momento.
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
76 Freire, Cristina. Walter Zanini – Escrituras Críticas. São Paulo: Editora Annablume, 2014, p.
118 apud Zanini, 1973.
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
Voltando a Zanini, durante a sua gestão, foram criados dois espaços de pro-
dução artística no MAC-USP: o Espaço A, destinado às formas convencionais
de arte, e o Espaço B, destinado às novas linguagens; sendo que o Espaço B,
criado em 1976, abrigou o Núcleo de Video Tape, dando espaço para as propo-
sições artísticas experimentais de videoarte emergentes no período. Na cena
artística paulista, o experimental também ganha espaço dentro do museu, ca-
pitaneado pela experimentação curatorial de Zanini.
77 Prospectiva 74 foi uma proposição curatorial e artística conjunta de Walter Zanini e Julio Plaza.
Os artistas participantes foram: Amelia Toledo, Angelo de Aquino, Anna Bella Geiger, Antônio Celso
Sparapan, Artur Barrio, Bernardo Krasniansky, Carlos Zilio, Claudio Ferlauto, Claudio Tozzi, Evandro
Carlos Jardim, Fernando Cocchiarale, Gabriel Borba, Gastão de Magalhães, Genilson Soares, Geraldo
Porto, Gerson Zanini, Guilherme Vaz, Hermelindo Fiaminghi, Ivens Machado, José Francisco Arina
Inarra, Julio Plaza, Lydia Okumura, Mario Ishikawa, Paulo Herkenhoff, Regina Silveira, Roberto
Campadello, Roberto Keppler, Sérvulo Esmeraldo, Sonia Andrade, Ubirajara Ribeiro, Vera Chaves
Barcellos, Yutaka Matsuzawa.
78 Poéticas Visuais foi organizada por Walter Zanini e Júlio Plaza, sendo a maior exposição de arte
postal realizada no MAC-USP. Seu formato foi similar ao de Prospectiva 74, contando com mais de
duzentos artistas. Ver: Sayão, Bruno. Arte Postal no MAC USP: Precedentes da XVI Bienal de São
Paulo. Anais do Colóquio História da Arte em exposições: modos de ver e exibir no Brasil. Campinas:
Unicamp, 2014, p. 242-251. Disponível em: <https://haexposicoes.files.wordpress.com/2014/10/
arquivo_completo.pdf>. Acesso em: 04 agosto 2016.
79 O intercâmbio de trabalhos pela via postal era prática corrente entre os poetas desde o início
dos anos 1950. Para os artistas brasileiros, na década de 70, a experimentação de novos meios
como o xerox, pela sua possibilidade de reprodução rápida e fácil, aliou-se à abrangência e à uni-
versalidade da arte postal. Além da recusa às leis de mercado, a arte postal implica uma acele-
ração e abertura à propagação de conteúdos artísticos. Este sentido utópico de subverter as leis
do mercado para tornar a arte contemporânea mais próxima das pessoas seria o primeiro passo
para uma maior assimilação de seus conteúdos. FREIRE, Cristina. Poéticas do processo: arte con-
ceitual no museu. São Paulo: Iluminuras, 1999, p. 76.
80 No Brasil, o desenvolvimento da videoarte remete à expansão das pesquisas nas artes plás-
ticas e à utilização cada vez mais frequente, a partir dos anos 1960, de recursos audiovisuais por
artistas como Antonio Dias, Artur Barrio, Iole de Freitas, Lygia Pape, Rubens Gerchman, Agrippino
de Paula, Arthur Omar, Antonio Manuel e Hélio Oiticica. O uso do vídeo como meio de expres-
são estética por artistas brasileiros tem como marco a exposição de 1974 realizada na Filadélfia,
quando expõem Sônia Andrade, Fernando Cocchiarale, Anna Bella Geiger, Ivens Machado e Antonio
Dias. Na seqüência, outros artistas somam-se à primeira geração: Paulo Herkenhoff, Letícia
Parente e Miriam Danowski. Em São Paulo, as experiências com a videoarte são abrigadas pelo
MAC-USP. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3854/videoarte>. Acesso
em: 08 agosto 2016.
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1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
81 Cristina FREIRE. Museus em rede: a práxis impecável de Walter Zanini, 2003, p. 74.
61
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
82 A ideia “O dentro é o fora” está presente, além da obra de mesmo nome, em outras proposi-
ções de Lygia Clark do mesmo período: “O antes é o depois”,“Trepantes” (metálicos) e as “Obras
Moles”. Pode-se pensar aqui em “mostração” de continuidades a partir do termo utilizado por
Jacques Lacan em associação à objetos da topologia, tais como a banda de Moebius, para arti-
cular/mostrar a teoria psicanalítica.
83 Texto de Lygia Clark, Caminhando, 1963. Disponível em: <http://www.lygiaclark.org.br/arquivoPT.
asp>. Acesso em: 05 agosto 2016.
84 Manifesto Antropofágico (1928), de Oswald de Andrade. Disponível em: <http://www.tanto.
com.br/manifestoantropofago.htm>. Acesso em: 04 agosto 2016.
62
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
85 Reinaldim (2012, p. 241-269) apresenta, nos anexos de sua tese, uma tabela
com as exposições nacionais e internacionais dos e sobre os anos 1980. A tese
é ferramenta de pesquisa fundamental para a análise crítica dos anos 80, visto
que apresenta os discursos críticos da década. A pesquisa investiga os vínculos
entre o debate crítico internacional – centrado, sobretudo, em duas posições
dialéticas, assumidas, por um lado, pelos defensores da retomada da produção
pictórica, e por outro, pelos críticos que condenavam essa mesma produção,
a partir do projeto crítico-historiográfico da revista October – e o argumento
discursivo dos críticos brasileiros – cujas particularidades relacionavam-se, em
especial, com a problemática em torno do termo ‘Geração 80’ e com o modo como
este veio a ser considerado pela história da arte nacional. Ver: REINALDIM, Ivair.
Arte e crítica de arte na década de 1980: vínculos possíveis entre o debate teórico
internacional e os discursos críticos no Brasil. Tese apresentada ao PPGAV/EBA/
UFRJ. Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: <https://www.academia.edu/5422453/
Arte_e_cr%C3%ADtica_de_arte_na_d%C3%A9cada_de_1980_v%C3%ADnculos_
poss%C3%ADveis_entre_o_debate_te%C3%B3rico_internacional_e_os_discursos_
cr%C3%ADticos_no_Brasil>. Acesso em: 08 agosto 2016.
63
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
86 “Como vai você, Geração 80?” ocorreu na Escola de Artes Visuais do Parque Lage / Rio de
Janeiro, em julho de 1984. Os curadores da mostra foram Marcus de Lontra Costa, Paulo Roberto Leal
e Sandra Magger. A exposição contou com 126 participantes. “As grandes dimensões dos trabalhos,
quase sempre livres dos chassis, e a ênfase no gesto pictórico são marcas dessa produção, o que
leva alguns estudiosos a falar em um novo informalismo experimentado por toda a geração. O uso
de cores tradicionalmente incompatíveis, a pesquisa de novos materiais e o acabamento bruto
parecem ser outros elementos a aproximar parte significativa da produção da década. Alguns
artistas e grupos dialogam mais diretamente tanto com o neo-expressionismo – uma tendência
contemporânea – quanto com tendências modernas, como o expressionismo abstrato”. Disponível
em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento83465/como-vai-voce-geracao-80-1984-rio-
de-janeiro-rj>. Acesso em: 08 agosto 2016.
87 Sheila Leirner foi curadora-geral da 18ª Bienal de São Paulo / Grande Tela (1985). “Após passar
pelo núcleo histórico, localizado no primeiro pavimento do Pavilhão, o visitante chegava ao
setor principal do núcleo contemporâneo, no centro do segundo pavimento, compreendido por
três longos corredores, de 100 metros de extensão, por 6 metros de largura e 5 metros de altura.
Nessas paredes monumentais estavam expostas telas de grandes dimensões, com pequena
distância entre elas, de modo que cada uma sofresse interferência visual das outras duas que as
ladeavam, sugerindo ao observador, desse modo, a existência de uma única pintura interminável.”
REINALDIM, Ivair. A Grande Tela: curadoria e discurso crítico da pintura na década de 1980. In: Anais
do II Seminário de Pesquisadores do PPGartes. Rio de Janeiro: PPGartes/Instituto de Artes-Uerj,
2008, p. 57. Disponível em: <http://www.ppgartes.uerj.br/seminario/2sp_artigos/ivair_reinaldim.
pdf>. Acesso em: 08 agosto 2016.
88 A exposição realizada em 1986 no Centro Empresarial Rio, no Rio de Janeiro. A curadoria foi de
Eduardo Kac e Flavio Ferraz. Os artistas participantes foram: Cristovão Baptista da Silva,
Eduardo
Kac, Fernando Catta-Preta,
Flávio Ferraz,
Gino Zaniboni Netto,
Júlio Plaza, Lino Ribolla,
Mário
Ramiro, Moysés Baumstein, Nelson das Neves,
Otávio Donasci, Rodolfo Cittadino, Rose Zangirolami.
64
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
Fig. 20 Como vai você, geração 80? Fig. 21 18ª Bienal de São Fig. 22 Brasil High Tech, 1986.
Fonte: <https://daniname.wordpress. Paulo / Grande Tela. Fonte: <http://www.ekac.org/
com/2014/07/20/geracao-80/>. Fonte: acervo documental exhibitionbrhightech.html>.
Acesso em: 08 agosto 2016. Bienal de São Paulo. Acesso em: 08 agosto 2016.
65
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
When Attitudes Become Form: Bern 1969 / Venice 2013 foi reeditada pela Fou-
ndazione Prada na edição bienal daquele mesmo ano90. A remontagem seguiu
as relações visuais e formais originais entre as obras a fim de criar um lugar
que refletisse exatamente as estruturas arquitetônicas da Kunsthalle, mas
também um espaço assimétrico com relação ao tempo presente e imbuído de
uma energia e tensão equivalente ao sentido em Berna91. A reprodução da ex-
posição na íntegra, com direito à reconstrução da Kunsthalle em Veneza, foi
duramente criticada pela imprensa especializada: a iniciativa chegou a ser cha-
mada de Bad Attitudes92.
89 KAC, Eduardo. Luz & Letra – Ensaios de arte, literatura e comunicação. Rio de Janeiro: Contra
Capa Livraria, 2004.
90 A exposição teve curadoria de Germano Celant, Thomas Demand e Rem Koolhaas.
91 Ver: <http://www.fondazioneprada.org/project/when-attitudes-become-form/?lang=en> e <http://
www.e-flux.com/announcements/when-attitudes-become-form-bern-1969venice-2013/>. Acesso
em: 08 agosto 2016. O catálogo, com mais de 600 páginas, faz um revisionismo histórico, inse-
rindo fotografias não publicadas e traz artigos assinados de “internacionalmente reconhecidos
historiadores, críticos, teóricos e curadores”, como Gwen L. Allen, Pierre Bal-Blanc, Claire Bishop,
Benjamin H.D. Buchloh, Charles Esche, Boris Groys, Jens Hoffmann, Chus Martínez, Glenn Phillips,
Christian Rattemeyer, Dieter Roelstraete, Anne Rorimer, Terry Smith, Mary Anne Staniszewski,
Francesco Stocchi, Jan Verwoert.
92 Ver: <http://artreview.com/reviews/september_review_when_attitudes_become_form/>;
<https://www.theguardian.com/artanddesign/2013/may/31/prada-venice-biennale-2013>; <http://
www.nytimes.com/2013/08/14/arts/design/prada-foundation-remounts-a-1969-exhibition.html?_
r=0>; <http://observer.com/2013/06/bad-attitudes-harald-szeemanns-landmark-exhibition-was-
a-scandal-in-its-day/>; <http://www.uncubemagazine.com/blog/9675267; https://www.frieze.
com/article/55th-venice-biennale-do-attitudes-still-become-form>. Acesso em: 08 agosto 2016.
66
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
No Brasil, em 2004, a exposição “Onde está você, geração 80?”, vinte anos de-
pois da exposição original e com assinatura do mesmo curador – Marcus Lon-
tra (1954), propôs-se a fazer um resgate histórico de um movimento cultural,
demonstrando o caráter “assertivo” das escolhas realizadas naquela ocasião
e revalidando, assim, a trajetória dos mesmos artistas93. À reedição, a crítica
de arte responde:
67
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
Mas, afinal, quem deve ou quem não deve pertencer ao cânone expositivo?
À questão, Sheikh (2010, p. 16) aponta que devemos redirecioná-la para além;
observando os mecanismos de inscrições – principalmente institucionais – que
permitem ou limitam a inscrição de cânones. Na configuração dessa rede de
canonizações expositivas, podemos ter em mente a produção e legitimação
68
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
99 Na inevitável e difícil citação de artistas-cânone, vamos pensar aqui a partir dos ismos da histó-
ria da arte. Para cada ismo está, no mínimo, um artista-cânone. Exemplos de associações imedia-
tas: Tristaz Tzara para o dadaísmo; Salvador Dalí para o surrealismo; Henri Matisse para o fauvismo;
Pablo Picasso para o cubismo; Mondrian para o abstracionismo; Edward Munch para o expressio-
nismo. Ainda, artistas-cânones que não estão associados a um movimento mas transcendem toda
e qualquer categoria de inscrição, onde Marcel Duchamp possivelmente seja o seminal.
100 Aqui, podemos recorrer às listas online de curadores-cânones que contemplam: Hans Ulrich
Obrist, Okwui Enwezor, Massimilliano Gioni, Carolyn Christov-Bakargiev Ver as listas anuais
de curadores-cânones em: <http://www.artspace.com/magazine/art_101/art_market/super_
curators-51006> e <http://artreview.com/power_100>. Acesso em: 08 agosto 2016.
101 No contexto internacional, recentemente Claire Bishop legitimou instituições-cânones para
exposições em seu livro Radical Museology. As instituições-cânones da museologia radical de
Bishop estão concentradas na Europa e são: o Van Abbemuseum, em Eindhoven, o Museu Nacional
de Reina Sofia em Madrid e o MSUM em Ljubljana. Ver: BISHOP, Claire. Radical Museology: or,
What’s Contemporary in Museums of Contemporary Art?. London: Koening Books, 2014.
102 STEINER (1996) utiliza a expressão open up.
69
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
103 SHEIKH (2010, p. 17-18, tradução nossa). Do original: “First, in terms of history writing: we know
from art history that only very little is won by trying to include the excluded in the canon, since it
works and mantains itself exactly through this inclusion/exclusion game. The inclusion of the ex-
cluded will again always be limited to only a selected few individuals from which ever chosen ex-
cluded group, who will then have to suffer the indignity of representation of this group forever. The
canon holds individuals, as works as subjects and not contexts and histories. Instead of trying to
expand the canon, we should dispose of it altogether, through epistemology as well as a what can
be termed a conceptual history of art and curating, drawing upon diverse ideas such as those of
Michael Foucault and Reinhart Koselleck, in which history is seen through ideas and concepts in
terms of periodization rather than events, individuals and, in our case, specific objects. Second,
curating within the contemporary: rather than following the canonization of institutions such as
biennials and the related maketization of art fairs, curatorial projects could select other artists and
work with them in ways other than representation style of one thing after another, one artist after
the other. such an approach could also show the formally outside – the artistic, cultural, and po-
litical context, not just the singular work and the artist individual. Finally, curators must begin to
think of themselves in terms of shared profession, not as separate networks and clubs, and to be-
gin to think of this as a political field with common interests and economies rather than as a field
of individual competitors and sometime allies. in other words, a politization that think in terms of
communality and rejects rather than accepts the neoliberal imperative, since where there is a ca-
non, generally we also find cannon fodder.”
70
1. Exposição como cânone: reverência ou devoração?
71
2. Megaexposições: a crise do modelo
hegemônico da grande escala?
Os anos 1990 e início dos anos 2000 são marcados pela ascensão
e consolidação dos modelos expositivos da grande escala (large scale exhi-
bitions): bienais, documentas, trienais e exposições itinerantes em formatos
blockbusters, configurando uma outra cartografia da arte em tempos de ca-
pitalismo cultural.
Com base nesse cenário, lanço um olhar crítico para o crescente exponen-
cial das megaexposições, a manutenção e a hegemonia do modelo expositivo
da grande escala. Concentrando-me especificamente em bienais ocorridas
no período concomitante a essa pesquisa (2012-2016), objetivo discutir se os
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
1 O Catch, na França é equivalente, de um modo geral, à luta livre no Brasil. (Nota do tradutor
em BARTHES, 2003, p. 11).
2 BARTHES (2003, p. 14).
3 PEDROSA (2007, p. 93).
4 PEDROSA (2007, p. 113).
73
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
5 Opto pela utilização do termo indústria de conteúdos frente ao termo indústria cultural em con-
cordância com Martel (2012, p. 15): “(…) indústrias criativas ou indústrias de conteúdos, expres-
sões que incluem os meios de comunicação e o universo digital, e às quais dou preferência sobre
indústrias culturais, forma por demais conotada, datada e já hoje imperfeita. Pois já não se trata
simplesmente de produtos culturais, mas também de serviços. Não só de cultura, mas também
de conteúdo e formatos. Não só de indústrias, mas também de governos em busca de soft power
e de microempresas atrás de inovações nas mídias e na criação desmaterializada”.
74
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
75
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
76
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
7 As exposições blockbusters são principalmente patrocinadas por instituições culturais capita-
neados por bancos públicos e privados. Ver tabela apresentada na sequência.
8 Disponível em: <http://theartnewspaper.com/reports/visitor-figures-2015/visitor-figures-2015-
top-10-shows/>. Acesso em: 10 agosto 2016.
9 Ver: MARTEL, Frédéric. Mainstream: a guerra global das mídias e das culturas. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2012.
10 Charles Esche (1962), curador da 31ª Bienal de São Paulo (2014), em conversa realizada durante
o “Workshop Ferramentas para Organização Cultural”. O workshop, do qual fui integrante, ocor-
reu em três módulos promovidos pela Fundação Bienal de São Paulo e foi estruturado a partir de
processo seletivo público. A proposição reuniu um grupo de 15 curadores, críticos e agentes cul-
turais para oportunizar intercâmbio sobre o estado atual da produção artístico-cultural, investi-
gando estratégias em diferentes contextos contemporâneos. Sobre o workshop, ver: <http://www.
bienal.org.br/post.php?i=425>. Acesso em: 10 agosto 2016.
11 Charles Esche assinou a curadoria ou a co-curadoria de várias bienais de arte contemporânea
internacionais, entre outras exposições de grande escala. Cito algumas a fim de contextualizar
o trânsito internacional do curador: 2012-2011 – It Doesn’t have to be Beautiful Unless it’s Beautiful,
realizada na National Gallery em Kosovo / Prishtinë; Strange and Close para CAPC, Bordeaux; An Idea
for Living, U3 Slovene Triennale, Moderna Galerija, Ljubljana. Em 2009 e 2007 foi co-curador da
2ª e 3ª RIWAQ Bienais, Ramallah, na Palestina. Em 2005, foi co-curador da 9ª Bienal Internacional
de Istambul; em 2002 foi co-curador da Bienal de Gwangju, na República da Coreia. Em 2000, foi
co-curador de Intelligence: Tate Triennial at Tate Britain e Amateur: Variable Research Initiatives,
em Göteborg, na Suécia. Entre 2000 e 2004, Charles Esche foi Diretor de Rooseum Centro de Arte
Contemporânea, em Malmo, na Suécia, e desde 2004, é director do Van Abbemuseum, Eindhoven, na
Holanda. O curador venceu o Bard Curatorial Award, 2014. Ver: <http://www.artinamericamagazine.
com/news-features/news/charles-esche-wins-bard-curatorial-award/>. Acesso em: 09 agosto 2016.
77
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
12 Destinada inicialmente às artes decorativas, a Bienal de Veneza teve seu foco alterado para a arte
moderna no início do século XX, valorizando a produção recente e internacional. Com a Segunda
Guerra Mundial, as exposições de caráter internacional ficaram interrompidas, e em 1948 a Bienal de
Veneza voltou com força total. Nessa ocasião, Francisco Matarazzo Sobrinho (1898-1977) levou uma
comitiva brasileira para visitar a exposição que se torna modelo para a 1ª Bienal de São Paulo, em 1951.
13 A lista completa de bienais vigentes pode ser encontrada em: <http://www.biennialfoundation.
org/about/>. Acesso: 10 agosto 2016.
14 A BiennaleOnline foi fundada por David Dehaeck & Nathalie Haveman em 2012. A próxima edi-
ção do evento web tem previsão de inauguração em 8 de dezembro de 2017.
78
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
Fig. 24 e 25 Imagem do
website 1ª Biennale Online,
2013. Fonte: <http://www.
biennaleonline.org/>. Acesso
em: 10 agosto 2016.
79
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
Jan Hoet (1936-2014)15, que assina o projeto como diretor artístico. A proposi-
ção apresenta-se como a primeira bienal exclusivamente online para um novo
mundo e uma nova arte16 e apresenta 180 trabalhos de artistas selecionados
por 30 curadores internacionais reconhecidos no campo da arte17. A Bienna-
leOnline é organizada e patrocinada pela ART+, uma plataforma para telefo-
nes móveis que serve de vitrine para artistas contemporâneos e está dirigida
aos colecionadores18. Para acessar a plataforma, é necessário adquirir uma en-
trada via contribuição espontânea19.
15 Jans Hoet (1936-2014) foi diretor artístico da Documenta IX (1992) e do Museu MARTa Herford,
Alemanha, e fundador do SMAK, na Bélgica.
16 Ver apresentação da proposta em: <www.artplus.com> e <http://en.wikipedia.org/wiki/
BiennaleOnline>. Acesso em: 10 agosto 2016.
17 Os curadores internacionais são ou foram filiados a reconhecidas instituições de arte, como:
Guggenheim Museums, Jewish Museum, Palais de Tokyo, Serpentine Gallery, entre outros. Integram
o time curatorial: Rodrigo Alonso (Argentina); Laurent Busine (Bélgica); Adriano Pedrosa (Brasil);
Iara Boubnova (Bulgária); Josée Drouin-Brisebois (Canadá); Gerardo Mosquera (Cuba); Rebecca
Lamarche-Vadel (França); Martin Germann (Alemanha); Katerina Gregos (Grécia); Chang Tsong-zung
(Hong Kong); Ranjit Hoskote (Índia); Gideon Ofrat (Israel); Vincenzo de Bellis (Itália); Yuko Hasegawa
(Japão); Hyunsun Tae (Coreia do Sul); Cuauhtémoc Medina (México); Lorenzo Benedetti (Holanda);
Joanna Mytkowska (Polônia); Elena Sorokina (Russia); Nataša Petrešin-Bachelez (Eslovênia); Javier
Hontoria (Espanha); Daniel Birnbaum (Suíça); Giovanni Carmine (Suíça); Manray Hsu (Taiwan);
Fulya Erdemci (Turquia); Catherine David (USA); Hans Ulrich Obrist (UK); Nancy Spector (USA East);
Jens Hoffmann (USA West).
18 Sobre expectativa de público da organização do evento, ver: <http://www.arteinformado.com/
Noticias/3315/la-primera-bienal-online-reunira-180-artistas-seleccionados-por-30-comisarios>.
Acesso em: 10 agosto 2016. Não foram encontradas informações sobre números relativos a pú-
blico após a edição do evento.
19 Os artistas emergentes participantes recebem 30% da venda das entradas para a exposição de
acordo com matéria publicada em: <http://www.excelsior.com.mx/2013/02/06/882901>. Acesso
em: 10 agosto 2016.
80
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
81
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
82
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
25 Na lista de bienais, está também inserido o Festival SESC_VideoBrasil. Ver: <http://www.biennialfoundation.
org/biennials/contemporary-art-festival-sesc_videobrasil/>. Acesso em: 10 agosto 2016.
26 Ver: <http://www.biennialforum.org/>. Acesso em: 09 agosto 2016.
27 Do original: “2014 has heralded what seems to be a reawakening of potential in international
art biennials. From Istanbul to Sydney and Saint Petersburg to São Paulo, an exhibition form that
83
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
was threatening to slide into neoliberal conformism has again become the site of conflict and con-
troversy”. Disponível em: <http://www.biennialforum.org/program/>. Acesso em: 09 agosto 2016.
28 A publicação, em inglês, encontra-se disponível em: <https://issuu.com/iccoart/docs/wbf_
book_r5_issuu>. Acesso em: 09 agosto 2016.
29 Ana Paula Cohen é curadora independente, editora e crítica de arte. Atualmente é professora
visitante do California College of the Arts, San Francisco, EUA, nos departamentos de mestrado
em Visual Arts e Curatorial Practice. Foi do comitê de seleção e de acompanhamento do Bolsa
Pampulha 2010/2011, em Belo Horizonte, além de curadora da exposição e editora do livro da
mesma edição. Foi co-curadora da 28ª Bienal de São Paulo, 2008, com Ivo Mesquita, e curadora-
-residente no Center for Curatorial Studies, Bard College, Nova York, EUA, 2009-2010.
30 Do original: “Would paying for an event of this scale with local public money to bring the ‘World
Biennial Forum’ to São Paulo be underestimating, by the local organizers themselves, the legiti-
macy, visibility, and repertoire that the Bienal de São Paulo Foundation conquered decades ago?”
COHEN, 2015, p. 157, tradução nossa. Disponível em: <https://issuu.com/iccoart/docs/wbf_book_
r5_issuu>. Acesso em: 09 agosto 2016.
84
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
31 O link para a publicação resultante da segunda edição do World Biennal Forum foi
encontrado a partir de pesquisa online que direciona ao site ISSUU. Disponível em:
<http://www.biennialfoundation.org/2015/05/the-title-of-the-exhibition-so-much-
that-it-doesnt-fit-here-was-inspired-by-the-signs-seen-in-demonstrations-which-
took-place-in-brazils-capital-cities-in-june-of-2013/>. Acesso em: 09 agosto 2016.
85
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
32 Do original: “Modernity belongs to that small family of theories that both declares and desires
universal applicability for itself”. Appaddurai (1996, p. 1, tradução nossa).
33 A 9ª Bienal do Mercosul | Porto Alegre – Se o clima for favorável | Si el tiempo lo permite | Weather
Permitting – foi realizada de 13 de setembro a 10 de novembro de 2013, em Porto Alegre, Brasil.
A diretora artística e curadora geral da 9ª Bienal do Mercosul | Porto Alegre foi Sofía Hernández
Chong Cuy. A equipe curatorial incluía Raimundas Malašauskas, Mônica Hoff, Bernardo de Souza,
Sarah Demeuse, Daniela Pérez, Júlia Rebouças e Dominic Willsdon. A exposição é configurada por
uma lista de mais de 60 artistas, de 26 países. Sobre a exposição, ver: <http://www.fundacaobienal.
art.br/site/pt/bienais/9-bienal>. Acesso em: 09 agosto 2016.
34 A Bienal de Curitiba 2013 foi realizada de 31 de agosto a 01 de dezembro de 2013 com curado-
ria geral de Teixeira Coelho e Ticio Escobar. Aos curadores gerais somam-se a curadora adjunta
Adriana Almada, a curadora associada Tereza de Arruda e os curadores convidados Maria Amélia
Bulhões, Fernando Ribeiro, Ricardo Corona e Tom Lisboa. A coordenação curatorial é de Stephanie
Dahn Batista. Ao time curatorial adicionam-se, ainda, uma equipe de jovens curadores – formado
por Angelo Luz, Debora Santiago, Kamilla Nunes e Renan Araujo. A exposição apresentou mais de
150 artistas participantes provenientes dos cinco continentes.
Sobre a exposição, ver: <http://bienaldecuritiba.com.br/2013>. Acesso em: 09 agosto 2016.
35 A 31ª Bienal de São Paulo – Como (…) coisas que não existem – ocorreu de 06 de setembro a 07 de
dezembro de 2014. A exposição reuniu 250 obras de 100 artistas de 34 países, com curadoria de
Charles Esche, Galit Eilat, Nuria Enguita Mayo, Pablo Lafuente, Oren Sagiv, Luiza Proença e Benjamin
Sessoussi. Sobre a exposição, ver: <http://www.31bienal.org.br/>. Acesso em: 09 agosto 2016.
36 A 8ª Bienal de Berlim foi realizada de 29 de maio a 03 de agosto de 2014 com curadoria de
Juan A. Gaitán e equipe artística configurada por: Tarek Atoui, Natasha Ginwala, Catalina Lozano,
Mariana Munguía, Olaf Nicolai, Danh Vo. A exposição contou com 42 artistas. Sobre a exposição,
ver: <http://bb8.berlinbiennale.de>. Acesso em: 09 agosto 2016.
86
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
(2015)37. Entre essas, três delas – Veneza, São Paulo e Berlim – estão no ran-
king das vinte bienais mais importantes da atualidade38. Nas disputas por pro-
tagonismo histórico em bienais, conforme afirma Zizek (2011, p. 39), a guerra
cultural é uma guerra de classes deslocada.
37 A 56ª Bienal de Veneza – All the World’s Future – ocorreu de 9 de maio a 22 de novembro de
2015 com curadoria de Okwui Ewezor. A exposição reuniu 136 artistas de 53 países.
Sobre a exposição, ver: <http://www.labiennale.org/en/calendar/art.html?back=true>. Acesso
em: 09 agosto 2016.
38 Sobre o ranking das bienais, ver: <https://news.artnet.com/art-world/worlds-top-20-biennials-
triennials-and-miscellennials-18811>. Acesso em: 09 agosto 2016.
87
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
42 A primeira Bienal de Gwangju ocorreu em 1995 e foi o primeiro evento bienal realizado na Ásia.
Sobre a exposição, ver: <http://www.gwangjubiennale.org>. Acesso em: 09 agosto 2016.
43 Manifesta é a bienal europeia iniciada em Rotterdam em 1996. Ao contrário da maioria das bie-
nais, Manifesta é realizada em um local diferente a cada edição e configura-se como uma bienal
em projeto itinerante. Sobre a exposição, ver: <http://manifesta.org>. Acesso em: 09 agosto 2016.
44 A primeira Documenta ocorreu em Kassel em 1955 e, desde 1972, ela ocorre a cada cinco anos.
Sobre a exposição, ver: <http://d13.documenta.de>. Acesso em: 09 agosto 2016.
45 O conceito de habitus para Bourdieu consiste em um sistema aberto de disposições, ações
e percepções que os indivíduos adquirem com o tempo em suas experiências sociais; tanto na di-
mensão material, corpórea, quanto simbólica, cultural, entre outras. O habitus vai, no entanto,
além do indivíduo, diz respeito às estruturas relacionais nas quais está inserido, possibilitando
a compreensão tanto de sua posição num campo quanto seu conjunto de capitais. O habitus tra-
duz estilos de vida, julgamentos políticos, morais, estéticos. Ele é também um meio de ação que
permite criar ou desenvolver estratégias individuais ou coletivas. Bourdieu, Pierre. As Regras da
Arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo: Editorial Presença, 1996.
90
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
92
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
ou obras para uma Bienal (alguém deve fazê-lo), a única coisa que eventual-
mente precisam apresentar é uma justificativa para os seus critérios de escolha.
Frente ao modelo bienal, o curador paraguaio Ticio Escobar (1947) afirma que:
Enquanto Teixeira Coelho exime a curadoria das decisões acerca do formato ex-
positivo de uma bienal, reduzindo a prática curatorial à função passiva e exclu-
siva da justificativa de escolha de obras – já que alguém deve fazê-lo –, Ticio
Escobar enfatiza as possibilidades de expansão do formato para outras plata-
formas. Sob a assinatura curatorial de ambos, o critério de seleção de artistas
e obras participantes da edição escolhe negar a escolha de um tema para pôr
de lado o recurso habitual, quase um mandamento não mais discutido, quando
não simples recurso de marketing, que consiste na adoção de um título ou tema,
que ela recusa por serem mormente desinteressadas ou irrelevantes51. Os curado-
res, no entanto, ao arbitrarem um juízo de gosto para a seleção de proposições
artísticas, estão nomeando um tema, mesmo alegando não estar elegendo. En-
tre a negação e a afirmação do modelo bienal, ocorreu a Bienal de Curitiba 2013.
93
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
então foi designado como atividades simultâneas à exposição passa agora a ocor-
rer em nível de importância e atenção equivalente em relação à exposição em si.
Frente a essa questão, Lagnado (2015, p. 8) atenta para um desafio nessa ten-
dência da cultura geral curatorial de expansão de atividades de uma exposição,
englobando seminários e filmes, residências de artistas e workshops, interven-
ções públicas, realização de parcerias com escolas e universidades, projetos
educativos e publicações, entre outros: a possibilidade da perda de significân-
cia da condição sine qua non da exposição – a exposição em si.
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
59 Para cada uma dessas viagens de campo, um grupo de cerca de dez artistas,
intelectuais e educadores foi convidado a participar da discussão proposta no
encontro. Cada um dos convidados contribui com dois textos: um antes da via-
gem, denominado Percepções, e outro depois da viagem e da discussão reali-
zada, chamado Reflexões. Além desses textos, seis ensaios sobre ilhas e prisões
foram comissionados como Inflexões do programa onde seus autores são consi-
derados os capitães dos encontros. Por fim, em cada encontro um artista con-
tribui com suas impressões visuais sobre ilhas em geral e sobre um encontro em
particular. Todas as contribuições foram publicadas progressivamente no web-
site da 9ª Bienal com acessibilidade gratuita para download.
60 Entrevista com Sofía Hernández Chong Cuy conduzida por mim em outubro de
2013, para a Revista Porto Arte, do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais
97
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
Enquanto isso, a Bienal de Veneza, pioneira das bienais, em sua última edição
reitera a tradição e a perpetuação do seu modelo histórico. No texto institu-
cional de apresentação da 56ª edição, o presidente Paulo Baratta afirma estar
feliz em não ouvir as considerações expressas por aqueles que dizem que a no-
ção de uma exposição composta por pavilhões nacionais foi ultrapassada. Para
ele, a decisão de não substituir os pavilhões de representação nacionais sig-
nifica não aderir à ditadura do mercado61. A estrutura expositiva da Bienal de
Veneza é tão conservadora e tradicional na perpetuação do seu modelo histó-
rico que um pavilhão específico, à parte, foi criado para discutir pesquisa ar-
tística e experimentação.
98
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
Nem global, nem local: a palavra que define o padrão do ponto de partida dos
discursos curatoriais em bienais é “glocal”. No neologismo resultante da fusão
dos termos global e local, está a referência da presença da dimensão local na
produção artística de uma cultural global. Segundo O’Neill (2012, p. 53), o termo
“glocal” foi cunhado em 1980 para designar o ponto em que o local e o o global
se interseccionam através de uma rede de inter-relações, como parte de um
diálogo contínuo; sendo que o “glocal” pode ser descrito como uma sobrepo-
sição cada vez mais densa da interpenetração das forças político-econômicas
63 Os palestrantes do encontro foram Paul O’Neil (Bard Centre for Curatorial Studies, USA), Niclas
Östlind (Valand Academy), Mick Wilson (Valand Academy) e eu. Integraram o encontro alunos
da Universidade de Artes de Helsinki, Finlândia, e da Valand Academy, de Göteborgs, Suécia.
A programação completa pode ser acessada em: <http://www.uniarts.fi/en/newsroom/three-
dialogues-venice>. Acesso em: 13 agosto 2016.
99
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
Figs. 31 e 32 Exposição
Research Pavillion na 56ª
Bienal de Veneza, 2015.
Fonte: registros da autora.
100
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
como uma forma de dar maior pertencimento ao evento e aos envolvidos, rea-
lizando parcerias inéditas com instituições municipais, numa Bienal que, ao
mesmo tempo que se expande ao mundo, fortifica-se assim, em Porto Alegre,
extrapolando restrições de cunho econômico64. O nome da cidade marca o lo-
cal na escala pretensamente global dos eventos bienais.
101
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
Essas ações estão muito próximas do que Kwon (2004, p. 95) descreve como
community-based site specificity, onde um grupo de pessoas, anteriormente
distantes de processos artísticos, são convidadas a participar na criação de
uma obra de arte. As práticas artísticas orientadas ao contexto em bienais, na
fusão do global (artistas, curadores) com o local (público, instituições) geram
narrativas particulares “glocais”.
102
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
“O título da 31ª Bienal de São Paulo – Como (…) coisas que não existem – é uma
invocação poética do potencial da arte e de sua capacidade de agir e intervir
em locais e comunidades onde ela se manifesta”73. A ênfase do discurso cura-
torial dessa edição está no processo que acontece através de projetos colabo-
rativos “de pessoas que trabalham com pessoas”74. É na intenção curatorial de
explorar a habilidade da arte de interferir em diferentes contextos e impulsio-
nar o “glocal” que é estabelecida a colaboração entre Comboio / Favela Moinho
70 Os artistas que desenvolveram práticas artísticas orientadas ao contexto configuraram o programa
Máquinas da Imaginação. São eles: Bik Van der Pol (1959), Audrey Cottin (1984), Cinthia Marcelle
(1974), Luiz Roque (1979), Lucy Skaer (1975) e Daniel Steegmann Mangrané (1977). Entre as institui-
ções que colaboraram estavam a Irani, uma empresa de resina e celulose; as indústrias siderúrgi-
cas da Gerdau; centros e pesquisa em microgravidade e robótica, entre outros departamentos da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS em Porto Alegre; uma área de cons-
trução de plataformas petrolíferas de alto-mar, de propriedade da Petrobras; e a comunidade de
Porto Alegre diretamente envolvida na iniciativa pública de elaboração de orçamentos participativos.
71 Na exposição, foram apresentadas duas obras resultantes de comissionamentos históricos:
Mud Muse (1968-1971), de Robert Rauschenberg (1925-2008), e Bat Cave (1969-1971), de Tony Smith
(1912-1980). No caso de Smith, o contexto histórico remonta entre 1969 e 1971, quando o artista
trabalhou com a Container Corporation of America para desenvolver uma obra escultórica exe-
cutada em papelão e conhecida como Bat Cave. O trabalho de reconstituição para essa edição
da bienal foi estruturado com mais de 4 mil unidades de papelão e realizado em associação do
Tony Smith Estate, Lippincott LCC, Celulose Irani S.A e da 9ª Bienal do Mercosul – Porto Alegre.
72 Ver arquivos históricos disponíveis online em: A report of the art & technology program of the Los
Angeles County Museum of Art, 1967-1971. <https://archive.org/stream/reportonarttechn00losa_/
reportonarttechn00losa#page/n0/mode/2up>.
73 Catálogo 31ª Bienal de São Paulo (2014, p. 17).
74 Catálogo 31ª Bienal de São Paulo (2014, p. 25).
103
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
o coletivo vive na Favela Moinho desde 2012; sendo essa a última favela rema-
nescente do centro de São Paulo que se transformou em símbolo de resistên-
cia da luta por moradia na cidade mais populosa da América Latina77. Para as
ações na Favela Moinho, os artistas arbitraram como ponto de partida uma po-
lítica de microplanejamento urbano78, cujo principal objetivo é o fortalecimento
da relação de pertencimento territorial, criando espaços públicos interativos,
inclusivos e participativos dentro da comunidade. As ações processuais e co-
laborativas estabelecidas entre Comboio e Favela Moinho são duas: a cons-
trução da Casa Pública (fase 1)79 e a construção Parque Vermelhão (fase 2)80.
107
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
108
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
Fig. 42 Intervenções
realizadas por moradores da
Favela Moinho no pavilhão
da 31ª Bienal de São Paulo,
2013. Fonte: <https://m.
flickr.com/#/photos/
bienalsaopaulo/15405564824>.
Acesso em: 13 agosto 2016.
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
A decisão de expor (e como expor) dados do projeto na bienal coube aos mora-
dores – frente à indiferença dos artistas em participar da exposição no seu con-
texto físico, o que indica um gesto para a visibilidade através do sistema das artes.
110
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
83 Catálogo (2014, p. 41). Do original: “one of the most exciting challenges fa-
ced by the 8th Berlin Biennale and its team relates to the decision to invite such
a broad and international group of artists to take part in the exhibition an to de-
velop newly commissioned works”.
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
Na 56ª Bienal de Veneza – ‘All the World’s Future’ – residem paradoxos. No ca-
tálogo, o texto do presidente Paulo Baratta enfatiza a necessidade da criação
artística investigar utopias – já que estaríamos negociando hoje com a “era da
ansiedade”86. Nesse texto, a escolha curatorial de Okwuir Enwezor é justifi-
113
2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
Entre os projetos históricos, está o programa live readings, tendo como centro
o Das Kapital Oratorio, elaborado e dirigido pelo artista britânico Issac Julien
(1960), em formato de uma espetacular arena localizada dentro do pavilhão
central. O programa da bienal enfatiza que as leituras dos volumes de O Ca-
pital (1867-1894), de Karl Marx, serão os ativadores de cada dia da bienal, du-
rante os seus sete meses, ininterruptamente, e serão expandidas para outros
fomatos, como recitais, livros, discussões, plenarias etc., naquele mesmo lugar.
87 Catálogo 56ª Bienal de Veneza (2015, p. 19, tradução nossa). Do original: “will take the present
state of things as the ground for its dense, restless, and exploratory project that will be located in
a dialectical field of references and artistic disciplines. The principal question the exhibition will
pose is this: how can artists, thinkers, writers, composers, choreographeres, singers, and misi-
cians, through images, objects, words, movements, actions, lyrics, and sounds, bring together pu-
blics in acts of looking, listening, responding, engaging, and speaking in order to make sense of
the currrent upheaval? What material symbolic or aesthetic, politial or social acts will be produ-
ced in this dialectical field as references to give shape to an exhibition that refuses confinement
within the boundaries of conventional display models? (…) At the core of the project is the no-
tion of the exhibition as stage, where historical and counterhistorical projects will be explored.”
88 Catálogo 56ª Bienal de Veneza (2015, p. 17).
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
89 Lafuente, Pablo apud Cypriano, Fábio e Marins de Oliveira, Mirtes. História das exposições /
casos exemplares. São Paulo, Educ, 2016.
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
90 Entrevista com Sofía Hernández Chong Cuy conduzida por mim em outubro de 2013, para
a Revista Porto Arte, do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, no prelo.
91 Idem.
92 Ver: <http://bienalmercosul.siteprofissional.com/>. Acesso em: 13 agosto 2016.
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
Arquivo – Uma impressão freudiana (2001)93, que aponta para a noção de arquivo
que enfatizo aqui. Um arquivo não poder ser reduzido a uma massa documental
fixa e cristalizada, significando apenas referência temporal ao registro do pas-
sado, ou, no caso da bienal, do presente durante a ocorrência do evento. O ar-
quivo não é apenas reflexo do que ocorreu de fato, como experiência histórica
estanque, e não se reduz a um depósito de memórias sem rasuras, não lacunar,
sem esquecimento, bastando acioná-lo para que todas as representações ali guar-
dadas possam vir à tona. A criação de arquivos é um dispositivo curatorial deter-
minante para estudos expositivos. É através deles que se constroem narrativas
que contribuem para criar fricções diante de discursos hegemônicos nas histó-
rias das exposições. Cabe atentar que a memória de uma exposição tampouco se
encontra circunscrita à sua documentação: ela é, sobretudo, resultante da expe-
riência vivencial do evento. Porém, pensando em arquivos, não há memoria sem
suporte para a geração de materialidade que registra e produz conhecimento.
93 Publicado na França em 1995, Mal d’Archive tem origem numa conferência pronunciada por
Derrida em junho de 1994 em Londres com um título distinto: “O conceito de arquivo. Uma im-
pressão freudiana”. DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo – uma impressão freudiana. Editora Relume
Dumará – Rio de Janeiro, 2001.
SOLIS, Dirce: Tela desconstrucionista: arquivo e mal de arquivo a partir de Jacques Derrida.
Paper in Revista de Filosofia: Aurora 26. December, 2013.
Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/rf?dd1=12731&dd99=view&dd98=pb>.
Acesso em: 13 agosto 2016.
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94 Ver: ZIZEK, Slavoj. “Como Marx inventou o sintoma?”. Introdução a Um mapa da ideologia. Org.
S. Zizek. Rio de Janeiro, Contraponto Editorial, 1994, p. 297-301.
95 A 10ª edição, em 1969, foi objeto de um dos primeiros boicotes a exposições de larga escala
frente à brutalidade do regime militar de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e, mais especifi-
camente, em resposta à violência contra a intelectualidade brasileira. O primeiro boicote foi se-
guido por uma segunda chamada para impugnar a bienal dois anos mais tarde, em sua 11ª edição,
em protesto organizado por um grupo de artistas latino-americanos exilados em Nova Iorque.
Em 2006, a 27ª Bienal de São Paulo teve uma série de embates geradores de debates públicos
acerca da retirada de Cildo Meireles da edição pela sua não concordância às posições políticas de
Edemar Cid Ferreira, então presidente da instituição; além do enfrentamento do grupo SuperFlex
com seu projeto Guarána Power que foi vetado pela instituição por infringir leis brasileiras, se-
guido da substituição de Lisette Lagnado, curadora daquela edição, por Jacopo Crivelli Visconti
para a assinatura da edição do pavilhão brasileiro da próxima edição da Bienal de Veneza de 2007.
Até então, tradicionalmente e como parte integrante dos contratos dos curadores das bienais de
São Paulo, a curadoria do pavilhão brasileiro da Bienal de Veneza, que ocorre no ano seguinte,
é parte integrante de suas responsabilidades. Sobre boicotes históricos à Bienal de São Paulo, ver:
Cypriano, Fábio. “How to escape formal representations with artists-activists?” em “How to make
biennials in contemporary times?”, 2015. P. 115-120. <https://issuu.com/iccoart/docs/wbf_book_
r5_issuu>. Acesso em: 09 agosto 2016.
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
FRASER (2012) aponta que a expansão do mercado de arte nos anos 2000 pa-
radoxalmente coincidiu com o surgimento de um discurso da arte politizada,
que utiliza a linguagem da esquerda radical em torno da natureza revolucioná-
ria da prática artística contemporânea. Nesse contexto, mesmo que artistas,
curadores, historiadores e críticos tentem elaborar as contradições existen-
tes entre o que a arte efetivamente faz em um perspectiva social e econômica,
e o que ela diz que faz em um nível discursivo, frequentamente encontram-se
falhas na oferta de ferramentas que provoquem significantes alterações nas
condições no qual o sistema das artes opera104.
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
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105 Cabe ressaltar que essa é a segunda bienal de São Paulo com curadoria internacional. A pri-
meira, ocorrida em 2012, foi curada por Luis Pérez-Oramas, o primeiro não brasileiro a curar o evento.
106 Sobre o tópico, ver a dissertação: Puertocarrero, Florencia. The Emancipatory Possibilities
of Conflict: the case of the 31st edition of the São Paulo Biennial “How to (…) about things that
don’t exist”. University of London, Goldsmiths, 2015.
107 Disponível em: <http://www.select.art.br/uma-bienal-outsider/>. Acesso em: 13 agosto 2016.
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
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2. Megaexposições: a crise do modelo hegemônico da grande escala?
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3. Contraexposição
1 Certeau, Michel de. Artes de Fazer: a Invenção do Cotidiano. Petrópolis: Editora Vozes, 1998, 3ª edição.
3. Contraexposição
2 A bolsa de estágio doutoral foi viabilizada através da CAPES para o período de fevereiro a agosto
de 2015. Mais informações sobre o departamento, disponíveis em: <http://www.arts.ac.uk/csm/
courses/postgraduate/mres-art-exhibition-studies/>. Acesso em: 25 agosto 2016.
3 LAGNADO, Lisette and other authors. Cultural Anthropophagy: The 24th Bienal de São Paulo 1998.
London: Afterall, 2015.
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
7 Nessa exposição, considerada a mais importante da sua carreira, Hélio Oiticica apresentou o pro-
jeto Éden – composto de Tendas, Bólides e Parangolés como proposições abertas para a partici-
pação e a vivência tanto individual como coletiva.
8 OITICICA, Hélio. The London Experience: Underground, 1970. Em: Exhibition / edited by Lucy
Steeds. Documents of contemporary art. Co-published by Whitechapel Gallery and MIT Press,
2014, p. 40-42, tradução nossa.
130
3. Contraexposição
9 Renata Lucas é artista graduada pela Universidade Estadual de Campinas com doutorado pela
ECA/USP em 2008. Sua primeira exposição individual foi no início de 2001, na galeria 10,20×3,60, em
São Paulo, uma galeria independente formada por um grupo de artistas. Participou de mostras co-
letivas e individuais em galerias, museus e instituições brasileiras e internacionais. Recebeu o prê-
mio SESI-CNI para as Artes em 2004. Foi contemplada pela Bolsa Marcelino Botín na Espanha, em
131
3. Contraexposição
do Rio de Janeiro / RJ. O projeto foi fruto de premiação no Absolut Art Award
2013, prêmio de arte contemporânea internacional concedido a artistas a cada
dois anos. Como vencedora, a artista recebeu um prêmio de 20 mil euros e um
montante de 100 mil euros para desenvolver e produzir um novo trabalho10.
‘Fumées’ (2015) é uma proposição dos artistas franceses radicados no Brasil Zoé
Dubus (1985) e Romain Dumesnil (1985)11, que ocorreu em janeiro de 2015 no
abandonado Hotel Paris, localizado na Praça Tiradentes, no centro do Rio de
Janeiro / RJ. O projeto foi viabilizado a partir de colaboração entre os artistas
participantes, apoio institucional do Consulado da França, apoio do grupo ho-
teleiro francês By Dussol e recursos próprios12.
2007. Recebeu o prêmio para produção de livro Dena Foundation Art Award, em Paris, que resultou
no livro Postpone the end, em 2009. Contemplada com o Ernest Schering Foundation Art Award na
Alemanha, em 2009, que resultou em uma exposição inaugurada em setembro de 2010 no KW Institute
for Contemporary Art, em Berlim. Em 2010, participou do programa Magnificent Seven, no Wattis
Institute for Contemporary Arts, em São Francisco, associado ao California College of Arts, USA, de-
senvolveu um projeto no Iaspis, em Estocolmo, e foi vencedora do PIPA 2010 (1ª Edição do Prêmio).
10 Sobre o prêmio ver: <http://www.absolut.com/au/Absolut-Art-Award/Previous-Awards/>. Acesso
em: 18 agosto 2016.
11 Zoé Dubus é uma artista francesa radicada no Rio de Janeiro. Romain Dumesnil, francês, é for-
mado em Ciências Políticas e Marketing. Em 2015, estudou no Programa Práticas Artísticas da
Escola Parque Lage.
12 Sobre o projeto ver: <http://fumees.squarespace.com/about>. Acesso em: 18 agosto 2016.
13 Manoela Medeiros estudou na École Des Beaux Arts, em Paris, e na Escola de Artes Visuais do
Parque Lage. Formou-se na PUC-Rio e, posteriormente, estudou fotografia na universidade IADE-
Creativy University, em Lisboa. Manoela Medeiros e Romain Dumesnil são gestores do espaço in-
dependente Átomos, localizado na região portuária do Rio de Janeiro e aberto em março de 2016.
14 Sobre o projeto ver: <http://www.premiopipa.com/2015/09/exposicao-experimento-o-tempo-
da-duracao-apresenta-trabalhos-de-oito-artistas-em-ocupacao/>. Acesso em: 18 agosto 2016.
15 João Paulo Quintella é mestre em Artes pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ),
formado na linha de Processos Artísticos Contemporâneos (2014). Foi redator da revista seLecT,
132
3. Contraexposição
Manen (2012, p. 11), em seu livro Salir de la exposición (si es que alguna vez
habíamos entrado)17, afirma que:
de São Paulo, produzindo textos e resenhas sobre exposições e artistas. Também colaborou com
o Canal Contemporâneo. Atualmente, volta a sua pesquisa e prática para a curadoria.
16 Sobre o projeto: http://www.permanenciasedestruicoes.com.br/sobre Acesso em: 18 agosto 2016.
17 Manen, Martí. Salir de la exposición (si es que alguna vez habíamos entrado). Bilbao: Consonni, 2012.
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
21 No recorte das contraexposições discutidas aqui: O Museu do Homem Diagonal teve patrocínio
da Absolut Art Award; Fumées teve patrocínio do grupo hoteleiro francês By Dussol, do Consulado
da França no Brasil e recursos próprios; O Tempo da Duração teve patrocínio do Consulado Francês
e recursos próprios e Permanências e Destruições foi patrocinado pela Secretaria de Cultura do
Estado do Rio de Janeiro com apoio cultural da Oi Futuro.
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
natureza e cultura nas estradas sobre o solo da cidade. No Instituto KW de Arte Contemporânea,
em Berlim, Lucas realizou duas intervenções que configuram o trabalho Kunst-Werke, 2010 (Cabeça
e cauda de cavalo). Na primeira, ela muda o posicionamento do pavimento e da soleira da porta
da frente do pátio central ajustando-o em um ângulo de 7,5%. Na segunda ação, Renata Lucas
realiza um corte circular no chão dentro do espaço de exposição para que a parede se torne uma
superfície giratória circular na qual os visitantes possam caminhar entre o interior e o exterior;
cruzando territórios. O seu trabalho Ontem, areias movediças (2012), realizado para a Documenta
13, consta de seis pontos com sinal gratuito de internet, delimitados por um quadrilátero no cen-
tro de Kassel, abrangendo o porão do Museu Friedericianum (o subsolo do prédio onde a curadora
Carolyn Cristov-Bakargiev estava hospedada), o piso inferior da loja de departamentos Kaufhof
e mais outra localidade em Friederichsplatz, possibilitando aos espectadores capturarem com
seus gadgets os vídeos que a artista produziu usando imagens artificiais da cidade sendo inva-
dida por tempestades de areia. Nesse mesmo trabalho, a artista esculpiu em madeira o que se-
riam os fragmentos de uma pirâmide nos quatro pontos que formam o quadrilátero de sua ação.
25 Entrevista de Renata Lucas para o Jornal O Globo, realizada em em 27/01/2011. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/cultura/dez-anos-apos-sua-primeira-individual-renata-lucas-se-firma-
como-uma-das-grandes-artistas-da-2832574>. Acesso em: 18 agosto 2016.
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
Figs. 54 e 55 Departamento
das Fachadas do Museu só. A presença do camelô também demarca a ausência de seus
do Homem Diagonal, 2014. antigos colegas de comércio ambulante.
Fonte: arquivo da artista
Renata Lucas.
Contíguo ao museu está o prédio da Justiça Federal, que man-
tém, em suas colunas, as mesmas pastilhas marrons que reves-
tiam o antigo terminal rodoviário destruído para a implantação
do MAR. Renata Lucas pinta parcialmente as colunas de branco,
expandindo a mesma referência das colunas brancas pintadas
para configurar o MAR, inaugurado em 2013. A ação de dar con-
tinuidade às colunas brancas, entre um prédio e outro, lança luz
às possibilidades de novas alterações de uso de espaço, no fu-
turo, em áreas do entorno.
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
Zizek, em sua publicação Event – philosophy in transit (2014), afirma que evento
é um conceito em trânsito entre as diversidades possíveis para sua definição.
Seguindo suas tentativas de contextualizar as significações para evento, no exer-
cício de enquadrá-lo e reenquadrá-lo conceitualmente29, o filósofo afirma que
um evento mina um método estável anterior30, implicando uma mudança na
forma da própria moldura através da qual percebemos o mundo e o praticamos31.
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3. Contraexposição
37 Em conversa informal com os organizadores, durante o evento, fui informada que a exposição não
tinha autorização formal de autoridades como Corpo de Bombeiros e Segurança Civil para ser realizada.
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38 Já no início do século XX Le Corbusier referia-se à promenade architecturale, ou, o ‘passeio ar-
quitetural’, no qual o espectador desvenda a arquitetura ao percorrê-la através de um conjunto de
propriedades materiais, elaborado com o propósito de realizar a ideia de variação do percurso.
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
41 FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecilia (orgs.). Escritos de artistas, anos 60/70. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2006, p. 401-409.
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3. Contraexposição
Sete meses após ‘Fumées’, ocorre o evento ‘O Tempo da Duração’ (2015). O evento
ocorreu na noite de 10 de setembro de 2015 e a visitação permaneceu aberta
até 13 de setembro; com curadoria de Manoela Medeiros e Romain Dumesnil
160
3. Contraexposição
43 CAMUS, Albert. Le Minotaure ou La Halte D’Oran, 1939 em L’eté (Paris: Gallimard, 1954).
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
47 Ver: <http://www.premiopipa.com/2015/09/exposicao-experimento-o-tempo-da-duracao-
apresenta-trabalhos-de-oito-artistas-em-ocupacao/>. Acesso em: 18 agosto 2016.
48 Brough, John B. and Blattner, William (2009, p. 127-134)
49 Texto sobre o grupo, encaminhado por e-mail pelo artista Lucas Parente durante trocas para
essa pesquisa.
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3. Contraexposição
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3. Contraexposição
51 O objeto utilizado em Você gostaria de participar de uma experiência artística? tem sua forma
estabelecida de acordo com o projeto NBP – Novas Bases para a Personalidade, um projeto em
desenvolvimento contínuo compreendendo desenhos, diagramas, objetos, instalações, textos
e manifestos, iniciado em 1990. O projeto NBP conecta práticas e conceitos da arte contempo-
rânea a estratégias comunicacionais, associando-se com alguns dos recentes desenvolvimentos
do campo das políticas da subjetividade. O projeto NBP busca deflagrar processos de transfor-
mação, na mesma medida em que assimila e incorpora transformações como resultado de sua
própria história e processo. Sobre o projeto, ver: <http://www.forumpermanente.org/rede/nbp>.
Acesso em: 19 agosto 2016.
52 Tomo a palavra a partir de Agamben, que realiza um jogo de significantes: consentir e com-sen-
tir, isto é, um dar consenso ou aprovação e um sentir outro. AGAMBEN (2014, p. 15).
53 Sobre a divulgação do evento, ver: <https://www.facebook.com/permanenciasedestruicoes/?fref=ts>
e <http://www.permanenciasedestruicoes.com.br/>. Acesso em: 19 agosto 2016.
166
3. Contraexposição
Fig. 83 Permanências
e Destruições, 2016.
Convite para as ações.
Fonte: <http://www.
permanenciasedestruicoes.
com.br/>. Acesso em:
24 agosto 2016.
54 O abandono gradual da realização dos happenings por Kaprow dá-se em fun-
ção da institucionalição da prática pelo sistema de artes. Ver: Nardim, Thaíse.
As atividades de Allan Kaprow: artes de agir, obras de viver. Revista Valise, Porto
Alegre, v. 1, n. 1 ano 1, julho de 2011. Disponível em: <http://www.seer.ufrgs.br/
RevistaValise/article/viewFile/19892/12804>. Acesso em: 19 agosto 2016.
167
3. Contraexposição
A Ilha do Sol é uma das vinte e três ilhas da Baía da Guanabara. Em 1954, Luz del
Fuego, nome artístico de Dora Vivacqua (1917-1967), mulher libertária e figura mí-
tica da cidade do Rio de Janeiro, que obtivera sucesso dançando sensualmente
com uma serpente enrolada em seu corpo nu, fundou o Clube Naturista Brasileiro,
estabelecendo na ilha a primeira área para a prática de naturismo no país. Luz del
55 Em março de 2016, durante ida à ilha para reconhecimento do lugar, o barco que incluía pro-
dutor executivo, arquitetos, artistas e outros convidados para a discussão do roteiro ficou à de-
riva por quatro horas na Baía de Guanabara, restringindo o tempo de permanência no espaço
específico para trinta minutos, em função da noite iminente e da ausência de luz elétrica no lugar.
Participei da ida à ilha a convite do curador a partir de trocas teóricas realizadas ao longo dessa
pesquisa e iniciadas após a primeira edição do projeto. Não houve remuneração para os convida-
dos que aderiram às discussões do roteiro pré-evento.
56 Durante a escrita dessa tese, a estruturação do catálogo estava sendo planejado.
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3. Contraexposição
Figs. 84 e 85 Permanências
e Destruições, 2016. Ilha Fuego foi assassinada, juntamente com seu caseiro, por dois pesca-
do Sol. Fonte: arquivo dores, na Ilha do Sol em 1967. Desde então a ilha está desabitada.
do projeto.
Em um final de semana no início de junho de 2016, dois barcos
diários, com capacidade para cinquenta pessoas, têm saída pro-
gramada da Urca à Ilha do Sol. O percurso dura, em média, duas
horas. No segundo dia da programação, um domingo, as navega-
ções foram canceladas devido à intempérie. Traída pelo tempo (eu
não pude ir) e atraída pela ilha e seu imaginário do que poderia
ter acontecido se eu tivesse experienciado a ação, essa é a única
exposição em discussão nessa tese que não foi uma experiência
vivencial. Já que o desafio da atividade está na sua própria rea-
lização, opto por não excluí-la mas sim discuti-la a partir dos re-
latos dos próprios artistas participantes.
169
3. Contraexposição
Fig. 86 Permanências
e Destruições, 2016. Ilha do
Sol. Registro da proposição
artística de Aleta Valente.
Fonte: Imagem do Facebook
de participante da ação /
autor não identificado.
170
3. Contraexposição
Fig. 88 Permanências
e Destruições, 2016. Ilha do que o espaço não tivesse nenhuma relação com algo reconhe-
Sol. Registro da proposição cido como espaço para arte. Na Ilha do Sol, o espaço – na sua
artística de Ronald Duarte.
Fonte: arquivo do artista. situação dada – é moldura natural para as ações ali desenvol-
vidas, no lugar não imediatamente reconhecido como espaço
Fig. 87 Permanências
e Destruições, 2016. Ilha do para arte: uma ilha.
Sol. Registro da proposição
artística de Jonas Arrabal. Aleta Valente habita o espaço; funda um lugar; expõe-se na ilha:
Fonte: arquivo do artista.
“estar em uma ilha abandonada não é um isolamento, na ver-
dade li a experiência como uma total exposição”57. A artista opera
a ressurreição momentânea da ilha morta no breve intervalo de
tempo no seu habitar de um dia. Convida o público a despir-se,
expor-se na exposição, estar nu no lugar de naturismo histórico.
Uma relação de cumplicidade é estabelecida na relação direta
entre artista e público, não mediada pela curadoria.
171
3. Contraexposição
Fig. 89 Permanências
e Destruições, 2016. Relato
da artista Aleta Valente,
por e-mail, em 22 de julho
de 2016.
172
3. Contraexposição
Fig. 90 Permanências
e Destruições, 2016. Aleta
Valente. Fonte: arquivo
da artista.
173
3. Contraexposição
Onde se habita também se come. Ronald Duarte compartilha uma refeição como
um ritual de oferenda aos orixás: no gesto reflexivo da ação de comer – uma das
referências mais ancestrais da familiaridade humana –, configura relações que sus-
tentam experiências subjetivas momentaneamente compartilhadas naquele lugar.
Habitar a ilha por 24 horas. Habitar a experiência no barco. O habitar como es-
paço medido emocionalmente, fenomenológico, que se opõe às medições físi-
cas, matemáticas do lugar construído e impulsiona um outro sentido de lugar
para além da materialidade. Esse habitar – habitar a exposição – resulta em uma
nova construção que não é física, mas sim de pensamento e está além de cons-
truir – já que construir já é em si mesmo habitar62. Habitar o espaço de produção
e apresentação pública de trabalhos de arte está no topos expositivo contempo-
râneo. Entre a materialidade e a imaterialidade do habitar residem possibilidades
de transição de mensurações de centímetros de espaço para as imensurações
de centímetros de espaço em exposições de arte contemporânea. Con-sentir.
No final dos anos 60, após o lançamento do Plano Piloto da Barra da Tijuca, um
projeto de Lúcio Costa, foi lançado o Centro da Barra, com previsão de cons-
trução de 76 torres residenciais cilíndricas de 37 andares, com desenho de
publicada originalmente em Vortäge und Aufsatze, G. Neske, Pfullingen, 1954. Tradução de Marcia
Sá Cavalcante Schuback. Texto disponível em: <https://www.scribd.com/doc/105768862/HEIDEGGER-
Martin-Construir-Habitar-Pensar>. Acesso em: 21 agosto 2016.
61 Heiddeger, M., op. cit.
62 Heiddeger, M., op. cit.
174
3. Contraexposição
63 Pedrosa, Mário (2015, p. 84-85) Introdução à arquitetura brasileira. Original Publicado no Jornal
do Brasil, 23, 24, 30 e 31 de maio de 1959.
64 Do texto de apresentação de Permanências e Destruições (2016) para a Torre H. Disponível
em: <http://www.permanenciasedestruicoes.com.br/noticias/torre-h>. Acesso em: 21 agosto 2016.
65 This Land Your Land é formado pela dupla de artistas Ines Linke e Louise Ganz. Tomando a Torre
H como um referencial e saindo dela para tentar entender a região, a dupla This Land Your Land
pesquisa a presença das águas que esculpem o bairro. Mar, restinga e esgoto, e a correlação entre eles
dá substância aos seus questionamentos frente ao preenchimento e à urbanização acelerados dessa
terra. Texto de apresentação da proposta disponível em: <http://www.permanenciasedestruicoes.
com.br/noticias/torre-h>. Acesso em: 21 agosto 2016.
66 As propostas tomam espaços distintos do prédio, do subsolo, térreo e topo a andares
intercalados. Ver matéria originalmente publicada no jornal Folha de S.Paulo em 17 de junho de
2016. Disponível em: <http://www.permanenciasedestruicoes.com.br/noticias/torre-h> e <http://m.
folha.uol.com.br/ilustrada/2016/06/1785381-nos-rastro-de-obras-olimpicas-artistas-ocupam-
espacos-abandonados-do-rio.shtml>. Acesso em: 21 agosto 2016.
175
3. Contraexposição
176
3. Contraexposição
177
3. Contraexposição
Fig. 94 Permanências
e Destruições, 2016. Torre H.
Fonte: a autora.
178
3. Contraexposição
Figs. 95 e 96 Permanências
e Destruições, 2016. Torre
H. Registro da proposição
artística de Anton Steenbock.
Fonte: arquivo do artista.
179
3. Contraexposição
Fig. 97 Permanências
e Destruições, 2016. Torre
H. Registro da proposição
artística de Igor Vidor. Fonte:
arquivo do artista.
180
3. Contraexposição
Subir 37 andares em uma escada circular, chegar ao topo, subir mais e alcan-
çar a base da cama elástica. Saltar. Ver de cima. “A inevitabilidade de subir
apenas para descer” é o título da proposição de Igor Vidor para a Torre H.
181
3. Contraexposição
182
3. Contraexposição
183
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
1 BASBAUM, Ricardo. “Quem é que vê nossos trabalhos?”, In: FERREIRA, Glória; PESSOA, Fernando
(Orgs.) Criação e Crítica – Seminários Internacionais Museu Vale 2009, Vila Velha: Museu Vale,
Rio de Janeiro: Suzy Muniz Produções, 2009, p. 200-208.
2 ARENDT, Hannah. “The public realm: the common”, The Human Condition (Chicago: University
of Chicago Press, 1958, p. 50-53). Situation / Documents on Contemporary Art. Edited by Claire
Doherty. ISBN: 9780262513050 | 238 pp. | 5.75 x 8.25 in | October 2009. P. 108-109.
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
Sobre públicoS, é importante esclarecer que não irei discutir o domínio das
diversas terminologias comumente utilizadas para designar público em expo-
sição – visitante-espectador-receptor-visitante-consumidor-usuário etc. Con-
sidera-se aqui um vocábulo geral e único – públicoS – como um guarda-chuva
3 Essa recomendação está presente em duas publicações recentes: Latour, Bruno. Reagregando
o social: uma introdução à teoria do Ator-Rede. Tradução Gilson César Cardoso de Souza. Salvador:
Edufba, 2012; Bauru, São Paulo: Edusc, 2012; e no prefácio de Bruno Latour em: Danowski, Déborah;
Viveiro de Castro, Eduardo. Há um mundo por vir? Ensaio sobre os medos e afins. Desterro –
Florianópolis, Cultura e Barbárie: Instituto Socioambiental, 2014.
185
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
Se é o fato da arte não ter função determinada o que justamente permite aos
públicoS livres interpretações, livres associações; não se pode atribuir à ex-
posição uma função determinada para construir uma espécie de material ou
domínio de conscientização, encarregando-a da tarefa de fornecer uma expli-
cação social de algum outro estado de coisas, ou, ainda, a tarefa de produ-
ção de discursos políticos ou morais. Ao contrário, a exposição pode desfazer
endereçamentos determináveis, gerando complexidades, atritos, consensos,
dissensos, impulsionando em direção a um sensível heterogêneo5 e obrigan-
do-nos a lidar com o que não está dado.
186
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
7 LUCAS, Renata. Visto de dentro, visto de fora. Tese apresentada ao Departamento de Artes
Plásticas da Escola de Comunicação e Artes de São Paulo como exigência parcial para obtenção
de título de doutor. Orientador: Carlos Alberto Fajardo. São Paulo, 2008.
187
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
No espaço público lá, Hans Haacke (1936) insere a obra The Gift Horse (2015)
em Trafalgar Square, local de manifestações políticas históricas em Londres.
Aqui, como parte do projeto Permanências e Destruições (2015), duas inter-
venções ocupam a Praça XV na área central em obras, no Rio de Janeiro: Cota
10 (2015) de Julio Parente e Pedro Varella, e Ação com Tijolos (2015), de Pris-
cila Fiszman (1989) e Kammal João.
Em tese, toda arte é pública, para todos, para todas. Se a obra de arte seria
pura generosidade ao receber tudo, todos e todas (Basbaum, 2009, p. 205),
a exposição seguiria a mesma direção. Lá e cá, a operação de alocação de tra-
balhos em espaço público garantiria à exposição a tarefa de produzir associa-
ções entre obra-públicoS?
Lá, a obra The Gift Horse, de Hans Haacke, foi instalada na quarta coluna de
Trafalgar Square, um dos espaços públicos mais importantes e fotografados
do Reino Unido, onde também se localiza a National Gallery, no período de
março a setembro de 2015, como parte integrante do projeto The Fourth Plinth8.
188
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
189
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
arte. Nas terras onde o cavalo significa as glórias do império britânico, sua re-
presentação no espaço público, através da ação de Hans Haacke, toma a forma
de um esqueleto de estrutura negra, morta, vazia e sem conteúdo, sujeito às
regulamentações do mercado. O presente (gift) para os britânicos é o veneno
(gift, em alemão, naturalidade do artista) ofertado por Hans Haacke.
Com ocupação anual, o projeto The Fourth Plinth contrói uma cultura para
a percepção da arte no espaço público, tornando-se um dos mais aguardados
11 As anotações desse tópico decorrem da minha participação no seminário do IAC, no dia 07 de
março de 2015. Sobre o seminário, ver: <https://www.ica.org.uk/whats-on/looking-gift-horse-
mouth-symposium-hans-haacke>. Acesso em: 28 agosto 2016.
12 Ver ensaio – Hans Haacke: Fourth Plint, Gift Horse: Is This Propaganda We Can All Agree With? –
originalmente publicado em 19 de março de 2015 em:<https://news.artnet.com/art-world/hans-
haacke-fourth-plinth-gift-horse-propaganda-279083>. Acesso em: 28 agosto 2016.
13 Ver matéria com Boris Jonhson originalmente publicada em 05 de março de 2015. Disponível
em: <http://www.theguardian.com/artanddesign/2015/mar/05/fourth-plinth-provocative-artwork-
gift-horse-hans-haacke-unveiled-in-london>. Acesso em: 28 agosto 2016.
14 Ver votação online em: <http://www.timeout.com/london/art/whats-londons-favourite-fourth-
plinth-artwork>. Acesso em: 28 agosto 2016.
190
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
15 Ver entrevistas com públicoS de Trafalgar Square logo após a inauguração da obra em: <https://
www.london.gov.uk/what-we-do/arts-and-culture/art-and-design/fourth-plinth> Acesso em:
28 agosto 2016.
16 BASBAUM, RICARDO. Bioconceitualismo: exercícios, aproximações e zonas de contato. (texto
no prelo, cedido pelo autor). Texto apresentado no III Simpósio Internacional LAVITS – Vigilância,
Tecnopolíticas, Território, Rio de Janeiro, maio 2015, p. 1. Sobre o simpósio, ver: <http://lavitsrio2015.
medialabufrj.net/>. Acesso em: 28 agosto 2016.
17 O projeto ocorreu em datas alternadas durante o mês de janeiro de 2015. Sobre a programa-
ção completa, ver: <http://www.permanenciasedestruicoes.com.br/2015/programacao.html>.
Acesso em: 28 agosto 2016.
191
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
com ações de Amalia Giacoini (1974), Floriano Romano (1969) e Miúda18; na Rua
do Verde, no Centro, com intervenção de Raquel Versieux (1984); na Estam-
paria Metalúrgica Victoria, em Benfica, com ações de Daniel de Paula (1987)
e Luísa Nobrega (1984) e na piscina do Edifício Raposo Tavares, em Santa Te-
resa, com ação de Pontogor (1981).
Sobre o lugar das intervenções em discussão aqui: a Praça XV, na área central
portuária do Rio de Janeiro. A derrubada do elevado da perimetral é uma das
mais representativas ações urbanas decorrentes do processo de transforma-
ção à qual a cidade é submetida como parte das obras de revitalização-higie-
nização para os dois megaeventos: a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas
(2016). Construído entre os anos 50 e 70, a estrutura existiu por meio século,
até que em abril de 2014 foi concluída a sua demolição. Apesar de sua destrui-
ção ter sido massivamente divulgada e amplamente usada como ferramenta
política, pouco se soube sobre o plano de requalificação dos espaços gerados
pela sua ausência. Menos de um ano depois da derrubada do viaduto, durante
um final de semana de janeiro de 201520, a Praça XV é ocupada pelas obras Cota
10 (2015), de Julio Parente e Pedro Varella, e Ação com Tijolos (2015), de Pris-
cila Fiszman e Kammal João.
18 Criado em 2009, no Rio de Janeiro, Miúda é um núcleo de pesquisa continuada em artes for-
mado por 15 artistas de diferentes áreas: teatro, dança, circo, performance, cinema e artes vi-
suais. Sobre o grupo: <http://miuda.art.br/sobre/>. Acesso em: 28 agosto 2016.
19 Catálogo da exposição ‘Permanências e Destruições’, 2015. Disponível online em: <http://www.
permanenciasedestruicoes.com.br/content/3-sobre/permanencias-catalogo-2015.pdf>. Acesso
em: 28 agosto 2016.
20 Os projetos foram realizados entre 09 e 11 de janeiro de 2015.
192
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
Já Ação com Tijolos cria uma situação indefinida na Praça XV: com
blocos de alvenaria, a ação realizada durante três dias, oito horas
por dia, consiste em um exercício operado por um grupo de ar-
tistas – com interferência de quem desejar juntar-se à ação – de
construção e destruição constante de formas escultóricas, dese-
nhos e empilhamentos. Na alternância de construir para destuir,
um trabalho em constante movimento entre a paisagem, em obras.
193
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
194
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
Fig. 105 Permanências
e Destruições, 2015.
Intervenções na Praça
XV. Ver: <http://www.
permanenciasedestruicoes.
com.br/2015/artistas.html>.
Acesso em: 28 agosto 2016.
22 Ver: BUREN, Daniel. A força de descer à rua, poderá a arte nela finalmente
subir? In DUARTE, Paulo Sergio (Org.) Daniel Buren: textos e entrevistas escolhi-
dos (1967-2000). Rio de Janeiro: Centro Arte Hélio Oiticica, 2001, p. 155-202.
23 Buren (2001, p. 176)
195
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
Configurar uma exposição na rua, espaço público por excelência, sem dúvida
amplia as possibilidades de aproximações e associações entre obra-públicoS.
Afinal, não é necessário vencer barreiras de entrada em espaços expositivos
institucionais; pois ela já está ali, inserida na rua, na praça, na cidade, em lu-
gares de passagem ou permanência. No entanto, a operação de alocação de
trabalhos em espaço público não garante, por si só, que barreiras simbólicas
de acesso à arte sejam vencidas, já que o campo social que recebe a cultura
não é homogêneo, como afirmam Guattari & Rolnik (1996, p. 20)24. Sobre esse
tópico, o artista Daniel Buren complementa:
Lá, o campo social que recebe a exposição na rua é estimulado para recebê-
-la através de um projeto público de longa duração, onde públicoS são des-
pertados para atentar (expectar) para a ação de ocorrência anual, que atrai
tanto os pares – nas discussões de público especializado como no seminário
realizado em torno da obra no Institute of Contemporary Art (ICA) – quanto os
outros – que se engajam nas discussões, em entrevistas, enquetes e depoimen-
tos a veiculos de comunicação de massa, debatendo sobre juízo de gosto em
relação àquela obra em específico e às exposições anteriormente realizadas.
A ocorrência de aproximações e associações entre obra-públicoS, pares e ou-
tros, é perceptível na emergência de vozes que debatem a ação, publicamente.
Durante essa pesquisa, localizei apenas uma única fala pública de Hans Haacke
sobre o projeto, que preferiu abster-de de interpretações acerca da obra,
assim como o fez durante a realização do seminário25. Na entrevista, ao ser
24 GUATTARI, Félix Guattari e ROLNIK, Suely. Micropolíticas: cartografias do desejo. Editora Vozes.
Petrópolis (1996, p. 20).
25 Entrevista concedida ao jornal online Hyperallergic em 23 de julho de 2015. Disponível em:
<http://hyperallergic.com/213069/hans-haacke-on-gift-horse-gulf-labor-and-artist-resale-royalties>.
Acesso em: 28 agosto 2016.
196
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
É possível especular que, aqui, frente a um deficitário campo social que re-
cebe a cultura, não vai ser simplesmente através do surgimento da obra que
a educação jamais fornecida, portanto jamais recebida, poderá da noite
para o dia se empreender. Assim, como estratégica de comunicação do pro-
jeto e atração de públicoS28, recorre-se à publicização. O termo publicização
26 Do original: “The meaning of a work is projected onto it by the viewer. There is no ultimate
authority controlling it forever. If you see it as such a critique, then that’s your interpretation.
You’re perfectly entitled to understand it that way.” Disponível em: <http://hyperallergic.
com/213069/hans-haacke-on-gift-horse-gulf-labor-and-artist-resale-royalties>. Acesso em:
28 agosto 2016.
27 Entrevista com os artistas participantes da ação, disponível em: <http://www.
permanenciasedestruicoes.com.br/2015/artistas.html>. Acesso em: 28 agosto 2016.
28 Ver a ampla cobertura de mídia que potencializou o projeto em matérias disponíveis em: <http://
www.select.art.br/rio-efemero/>; <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/01/1577382-
mostra-no-rio-ocupa-lugares-abandonados-com-instalacoes.shtml> e <http://oglobo.globo.com/
cultura/artes-visuais/artistas-fazem-intervencoes-em-locais-esquecidos-do-rio-14991191>. Acesso
em: 28 agosto 2016.
197
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
Movimentar o topos expositivo para outros espaços além dos institucionais é uma
ação direta de abertura para públicoS, pares e outros, que podem vislumbrar
endereçamentos para um algo, um corpo, alguém. No terreiro de encontros,
na dimensão pública, na imprevisibilidade do endereçamento expositivo e na
incerteza da recepção, reside um vazio produtivo preenchido pela indetermi-
nação, que escapa ao que está dado e abre-se para o ajuizamento do novo em
exposições de arte contemporânea.
198
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
Em discussão nesse tópico estão três exposições. Lá, no topos expositivo reco-
nhecido como espaço para a arte, o Museu Nacional Centro de Artes Reina Sofia,
em Madri / Espanha, apresentou a exposição ‘La Invención Concreta / Coleção Pa-
tricia Phelps de Cisneros – Reflexões em torno da abstração geométrica latino-a-
mericana e seus legados’; em exibição de janeiro a setembro de 2013, expandindo
a experiência expositiva para o campo virtual. Essa foi a primeira vez que o mu-
seu abrigou componentes de programa multimídia no espaço físico expositivo31.
No topos expositivo outro, lá, Balin House Projects (BHP)32 é uma plataforma
para exposições e diálogos que está em um apartamento localizado em um
council estate33 no sul de Londres e abriga programações artísticas desde 2006.
31 A curadoria da exposição é assinada por Gabriel Pérez-Barreiro, diretor da Coleção Patricia
Phelps de Cisneros, e Manuel Borja-Villel, diretor do Museu Reina Sofia.
Sobre a exposição, ver:
<http://www.lainvencionconcreta.org/es>. Acesso em: 28 agosto 2016.
32 Sobre o projeto, ver: <https://balinhouseprojects.wordpress.com/>. Acesso em: 28 agosto 2016.
33 No Reino Unido e Irlanda, council houses são casas sociais construídas pelo governo destina-
das, em geral, às classes trabalhadoras e que se proliferaram especialmente entre 1919 e 1980.
Já council estate é um complexo de edifícios que contêm um grande número de casas populares
199
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
e outras comodidades como escolas e lojas. Tanto council houses quanto council estates seguem
rigidamente os padrões de construção do Estado.
34 SHEIKH (2008, p. 132).
200
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
201
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
Bishop (2013) aponta três instituições que seguem formatos radicais de modelos
de museus de arte contemporânea. Nessa exacerbada declaração, a autora afirma
que o Van Abbemuseum, em Eindhoven, na Holanda41, o Museu Nacional Centro de
Arte Reina Sofía, em Madri, na Espanha42, e o Muzej Sodobne Umetnosti Metelkova
(MSUM), em Ljubljana, na Eslovênia43, estão fazendo mais do que qualquer obra de
arte individual para mudar a sua percepção de instituições de arte e seu potencial44.
O Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia foi fundado em 1992 e é dirigido
por Manuel Borja-Villel (1957), que assumiu a instituição após dez anos como
diretor do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA). Bishop (2013,
p. 37) afirma que a coleção de obras-primas do Museu Reina Sofia e sua loca-
lização central garantem que nunca haja uma ansiedade sobre a visualização
de trabalhos; onde a questão é direcionada não para se o público irá visitar
o museu, mas como eles irão ver os trabalhos de arte.
202
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
203
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
204
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
205
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
Evoco Rancière (2013), citado por Bishop (2013), como o suposto modelo do
mestre ignorante adotado por instituições de museologia radical para práticas
com base numa presunção de igualdade de inteligência entre públicoS e a ins-
tituição. Jacotot (1770-1840), professor francês do início do século XIX que pro-
clamou a igualdade de inteligências52, é resgatado por RANCIÈRE (2013) para
o cerne das discussões sobre arte e política. Sendo a igualdade um ponto de
partida e não de chegada, na natureza imagética subjetiva de recepção da arte,
é tempo de reexaminar a rede de pressupostos, jogos de equivalência e opo-
sições que sustentam suas possibilidades. Na lógica da relação pedagógica,
o papel do mestre é o de reduzir/eliminar a distância entre o seu saber e a ig-
norância do ignorante, sendo que essa redução só pode acontecer com a con-
dição de recriá-la novamente, agora em outro formato.
206
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
Não há públicoS que não saibam uma infinidade de coisas, e é sobre este sa-
ber, sobre esta capacidade de fazer associações, em ato, que toda a relação
deve se fundar, como ponto de partida (e não de chegada). Na exposição em
que, pela primeira vez, o Museu Reina Sofia abrigou componentes de programa
multimídia no espaço físico expositivo, cabe observar que, diante da dispo-
nibilização das informações, onde residem os subsídios para a construção do
próprio poema no contexto expositivo com os elementos do poema que se tem
diante de si, oferta-se a públicoS autonomia em relação à interpretação no jogo
imprevisível de associações e dissociações. Se a emancipação expositiva dire-
ciona-se a públicoS que sejam também narradores e potenciais criadores de
outros endereçamentos expositivos, cabe questionar o pressuposto princípio
de igualdade para todos frente às ferramentas tecnológicas.
207
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
No topos expositivo outro, lá, Balin House Projects (BHP) instala-se, em 2006, em
um council estate de mesmo nome, a fim de estruturar uma plataforma para ex-
posições e diálogos, conectando artistas com os moradores das habitações po-
pulares do lugar, em grande parte oriundos da working class britânica. O espaço
está localizado em um apartamento próprio, de um quarto, do artista brasileiro
Eduardo Padilha (1964)54. O projeto propõe-se a criar situações no ambiente do-
méstico, da casa, em escala doméstica, para pequena quantidade de públicoS.
54 Eduardo Padilha (1964) é um artista brasileiro, nascido em Santana do Livramento / RS. No iní-
cio dos anos 90, Padilha muda-se para a Europa para estudar artes no Gerrit Rietveld Academie,
em Amsterdam / Holanda (1990-1995), dando seguimento a sua formação no Fine Art Exchange
Programme Carnegie Mellon University, em Pittsburg / EUA (1993) e no Fine Art Chelsea College of
Art & Design, em Londres / Reino Unido (1996-1997). Seu trabalho como artista incide na monta-
gem de materiais encontrados e remontados para refletir sobre a experiência urbana onde domí-
nios privado e público se entrecruzam. A apropriação, a implantação e o deslocamento de objetos
são os pontos de partida para novos modos de significação. A breve descrição do currículo foi in-
formada pelo artista, por e-mail, em conversas sobre o projeto BHP.
55 Ver texto de apresentação disponível em: <http://invisiblevenue.typepad.com/project_space_
survey/balin-house-projects-london.html>. Acesso: 28 agosto 2016.
208
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
209
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
59 A South London Gallery está localizada em Southwark e é uma das galerias
de arte mais importantes do sul de Londres. Sobre a galeria, ver: <http://
southlondongallery.org/>. Acesso em: 28 agosto 2016.
60 Do original: The room, originally constructed as a laundry room that had changed
its function as a storage room, has been a neglected corner of the building in the
last decades. Here The Laundry Room will be a space to exchange, provoke or evoke
thoughts, to rediscover old habits, to discuss the fast changing of technology and
the lost function of some devices that are still vivid in our memory by sound and
sight. The space will also let us reflect on the sudden effect of gentrification in its
neighbourhood and the consequences of the economical values imposed by it. Texto
de divulgação do projeto, disponível em: <https://balinhouseprojects.wordpress.
com/2013/05/30/the-laundry-room-201213/>. Acesso em: 28 agosto 2016.
210
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
211
4. Endereçamentos expositivos: para quem?
61 Participei da ação a partir de convite de Eduardo Padilha endereçado à curadora argentina ra-
dicada em Londres Gabriela Salgado, com quem compartilhei uma casa durante o meu estágio
doutoral no periodo de fevereiro a agosto de 2015. Entre 2006 a 2011, Gabriela Salgado foi respon-
sável pelos programas públicos da Tate Modern de Londres e atualmente trabalha como curadora
independente e consultora na Europa e na América Latina.
62 Disponível em: <https://balinhouseprojects.wordpress.com/>. Acesso em: 28 agosto 2016.
63 Do original: “Can a home negotiate the intimacy of domestic life yet be a civic/cultural asset
where the home owner becomes an active agent?” Disponível em: <http://www.publicworksgroup.
net/projects/balin-house-my-home-is-your-home>. Acesso em: 28 agosto 2016.
64 Do original: “Since multiple publics exists and one can belong to many diferente publics simul-
taneously”. Warner (2002, p. 71, tradução nossa).
65 WAINER (2002, p. 113).
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4. Endereçamentos expositivos: para quem?
Para Wainer, o contrapúblico é contra na medida em que ele tenta prover di-
ferentes maneiras de imaginar uma sociabilidade desconhecida. Se a clássica
noção burguesa de esfera pública exigia universalidade e racionalidade, o con-
trapúblico frequentemente exige o oposto, implicando uma subversão dos es-
paços existentes em outras identidades e práticas66, onde outros discursos
podem ser formulados e circular.
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4. Endereçamentos expositivos: para quem?
simultaneamente parte de sua casa e arena para debates, o artista relata ter ha-
vido uma ruptura: na passagem de inquilino a proprietário da antiga lavanderia
comum, ele passa a ser considerado pelos moradores também um agente gen-
trificador da área. Nesse momento de crise insuperável, segundo o artista, ele
busca o retorno a projetos suscintos tipo perguntas e respostas, com dinâmicas
de análise para enfoque nas questões sociais que brotam diariamente, e ques-
tiona-se acerca das falhas ocorridas durante a BHP. O artista especula se uma
mediação long-term realizada junto aos moradores teria evitado o enfraqueci-
mento do projeto. Nesse momento, em 2016, o projeto está em vias de extinção68.
Volto a WAINER (2002, p. 65-124), que realiza uma distinção entre “the public
(o público)” e “a public (um público)”. O primeiro – o público – é um tipo de
totalidade social, no sentido comum de pessoas, em geral. O segundo – um
público – é uma audiência concreta, visível. As pessoas – às quais se refere
o gestor –, participantes das ações de My Home is your Home, de BHP, são um
público de audiência concreta, visível: os pares, públicoS de museu, do circuito
da arte, que estão deslocados para o topos expositivo outro. O contrapúblico,
moradores do council estate, não configuram um público em BHP.
68 O trecho deriva de conversas realizadas por e-mail, entre julho de 2015 e julho de 2016, com
o artista-gestor do espaço, Eduardo Padilha. As trocas foram iniciadas a partir da minha visita ao
projeto “My home is your home”, realizada em julho de 2015.
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4. Endereçamentos expositivos: para quem?
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72 Deus | Diabo | Homem (2015), Piscina vazia, três caixas de som, áudio,
nuvens.
Duração: 3 horas e 30 minutos. Disponível em: <http://www.
permanenciasedestruicoes.com.br/artistas.html#>. Acesso em: 28 agosto 2016.
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4. Endereçamentos expositivos: para quem?
O catálogo de P&D (2015) apresenta quatro textos curatoriais que afirmam o in-
tuito do projeto de criar condições para que se desenvolvam ali novas relações77.
73 Catálogo da exposição Permanências e Destruições, 2015, p. 56. Disponível online em: <http://
www.permanenciasedestruicoes.com.br/content/3-sobre/permanencias-catalogo-2015.pdf>.
Acesso em: 28 agosto 2016.
74 Fundada anos antes do mercado, em 1933, funcionou até meados dos anos 1970. Até a sua desativa-
ção, o prédio passou por diversos usos. Duas estruturas compõem o edifício: um galpão com cobertura
de treliça de madeira e piso de taco; e um mezanino onde a vegetação cobre o azulejo hidráulico do chão.
Nos quatro pavimentos encontram-se vestígios do escritório da fábrica e barricadas de jogo de paintball.
75 A instalação se sustenta através do atravessamento de seus dois elementos constituintes. A caçamba
de um carro 4 x 4 e uma palmeira imperial. O processo de aquisição, negociação, tranºsporte
e posicionamento de ambos os objetos integram a obra em um debate expandido com a idade e a história.
A proximidade com a Cadeg, mercado municipal ativo e vibrante, acentua o questionamento da industria
e da matéria, da falência, de fluxos, de equilíbrios e durações. Catálogo da exposição Permanências
e Destruições, 2015, p. 94. Disponível online em: <http://www.permanenciasedestruicoes.com.br/
content/3-sobre/permanencias-catalogo-2015.pdf>. Acesso em: 28 agosto 2016.
76 Performance, estrutura em madeira, gravação em fita cassete. Duração: 30 horas.
77 Os textos dos catálogos são assinados pelo curador Joao Paulo Quintela, Paula Alzugaray,
Priscilla Menezes de Faria e Roberto Correa dos Santos; sendo todos com formação acadêmica
em artes. Catálogo da exposição Permanências e Destruições, 2015, p. 23. Disponível online em:
http://www.permanenciasedestruicoes.com.br/content/3-sobre/permanencias-catalogo-2015.
pdf Acesso em: 28 agosto 2016.
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83 Idibem.
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Tanto para BHP quanto para P&D, caso públicoS sejam vistos como uma tota-
lidade social (o público ao invés de um público), perpertua-se o mecanismo
de ação universalizante da cultura dominante, sempre genérico e, assim, ex-
cludente no nosso próprio discurso interno e em movimento circular da arte
para a arte (de nós para nós mesmos).
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4. Endereçamentos expositivos: para quem?
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Balzac (2009) propôs aforismos (irônicos) para a sua Teoria do Mover-se (1833);
na tese, proponho um exercício de experimentar o experimental, a partir do
movimento, aplicado aos estudos expositivos. Para os riscos do enfrentamento
do presente, oferta-se uma linguagem ensaística, resultante de pensamentos,
experiências e observações, que está disponível para reverência e/ou devo-
ração: teorias são provisórias e podem ser suspensas a qualquer momento.
Lá, leio em voz alta – “Against all importers of canned consciouness (...)
We were never catechised” – o intraduzível Manifesto Antropofágico (1928),
de Oswald de Andrade, na única aula do semestre que se voltou ao contexto
expositivo latino-americano, ao debater o lançamento da publicação Cultural
Anthropophagy: The 24th Bienal de São Paulo 1998 (2015) pela Afterall. Em ou-
tro momento, a partir de Mário Pedrosa (1900-1981)1, leio sobre Burle Marx
(1909-1994) e seu fascínio pela vegetação brasileira ao deparar-se com elas
em uma estufa do Jardim Botânico de Dahlem, em Berlim; onde o artista viveu
entre 1928-1929, daí sua contribuição no campo de uma arte que é comple-
mentar à arquitetura, o jardim: ele concedeu o direito de cidadania às plan-
tas plebeias2, tirou-as do exílio3. Ainda lá, estudam-se as negações ao modelo
do cubo branco, debatem-se as dicotomias dentro x fora, lugar x não lugar,
site x non-site; e entre experiências expositivas em instituições culturais, ga-
lerias e espaços independentes, encontro bichos da seda da produção em
1 A partir de pesquisas documentais sobre crítica de arte brasileira, delineou-se o convite para
a curadoria sobre o pensamento crítico de Mário Pedrosa, em conjunto com Gabriel Pérez-Barreiro,
para o Museu Nacional Centro de Artes Reina Sofia, com desdobramentos no México e no Brasil,
com previsão de ocorrência em abril de 2017.
2 Pedrosa, M. (2015, p. 37).
3 Pedrosa, M. (2015, p. 44).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aqui, onde o cubo branco são painéis de vidro; onde as instituições cultu-
rais são construídas nos anos 50 e já se conectam à potência do experimen-
tal que emerge das proposições artísticas e curatoriais nos anos 60; onde as
associações entre curador-artista tendem ao horizontal em direção ao desa-
fio para a ocorrência de exposições (da adversidade ainda vivemos!), onde há
propensão à coletividade colaborativa; onde os impulsos de salto para o es-
paço dos estímulos das proposições artísticas e experimentações curatoriais
levam à fusão de dois – dentroefora, criaçãoefruição –, na companhia oswal-
diana realiza-se uma imersão decolonial para os estudos expositivos. Aqui está
o habitat dos híbridos.
4 “Os artistas de hoje não só tomaram consciência, como os seus maiores, de que são bichos-
-da-seda, como tomaram consciência de um impulso novo que os impele ao uso da liberdade.
De onde vem esse impulso? Mas onde estão as condições sociais e culturais que permitam a es-
ses bichos continuar a produzir incessantemente a sua seda e a usar de seu dom natural em toda
liberdade? Como conservá-la em sua autenticidade originária e como distribuí-la, sem alterá-la
na sua existência intrínseca, ou como doá-la, trocá-la numa sociedade com sedas sintéticas em
abundância e entregue às mobilizações em massa e aos divertimentos em massa?” Pedrosa, M.
(2015, p. 404), originalmente publicado em: “O ‘bicho-da-seda’ na produção em massa”, 1967.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
ainda, como pauta para revisão dos modos de fazer. Entre consensos e dissen-
sos, o modelo da megaexposição reinventa-se: na operação de adição de outras
plataformas de discussão pública de trabalhos de arte à exposição, o próprio
conceito de exposição expande-se, como um guarda-chuva que passa a con-
ter outros programas, inclusive os alargamentos do modelo expositivo refe-
rente anterior. O topos expositivo em bienais está em incessante aceleração,
vive e sobrevive de e com contradições.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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