Yoga - A Arte Da Integracao - Parte I

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Yoga A Arte da Integrao


Vemos nesta obra um dos mais originais comentrios da traduo dos Yoga-Sutras de Patanjali,
obra clssica que codificou o Yoga no sculo VI A.C.
Rohit Mehta participou na campanha para independncia da ndia. Filiou-se a Sociedade Teosfica
na ndia em 1924. Foi profundamente influnciado por Jiddu Krishnamurti.
O estudo ser dividido em quatro sees:
1 seo O estado de Yoga ou Samadhi Pada
2 seo Os Instrumentos do Yoga ou Sadhana Pada
3 seo As aquisies do Yoga ou Vibhuti Pada
4 seo A realizao do Yoga ou Kaivalya Pada
A primeira seo dos Yoga-sutras serve como um mapa para o viajante que deseja empreender uma
viagem regio do Yoga. Na segunda e a terceira seo, Patanjali se ocupa com a prpria viagem
na nova terra. J a quarta seo contm a colheita da viagem.

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Primeira Seo
Samadhi Pada ou o Estado de Yoga

Captulo I A natureza Adquirida


Captulo II Os Centros do Hbito
Captulo III A Inrcia da Mente
Captulo IV A Natureza da Distrao
Captulo V A Investigao Profunda
Captulo VI A Memria Purificada
Captulo VII O Pensamento Semente

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Captulo I A natureza adquirida


O homem est hoje fragmentado em seu interior, e isto se reflete na desorganizao no nvel externo
ou social. O problema da integrao essencialmente psicolgico.
O sucesso da cincia exps o homem moderno ao impacto inexorvel de um emaranhado
psicolgico no resolvido, tanto individual quanto coletivo.
A psicologia tem ficado para trs, de modo que o instrumento subjetivo do homem totalmente
inadequado para tratar com eficcia os fenmenos em rpido movimento das condies objetivas.
A psicologia moderna parece estar se movendo apenas na periferia, desatenta ao prprio mago da
essncia psicolgica do homem. Ela estuda somente o comportamento do homem, e esquece a sua
essncia.
A essncia do homem no algo inerte, palpitante de vida e intensamente dinmica. A vida no
pode ser compreendida pela somatria de suas partes. A essncia do homem uma totalidade maior
que a soma de suas partes.
Sem dvida a essncia do homem reflete-se nos seus padres de comportamento, todavia o reflexo
no igual substncia. Seria o mesmo que entender uma pessoa olhando sua fotografia.
Os fatos relativos ao comportamento esto no presente, mas se olharmos para eles atravs das
lentes do passado (nossa memria), nossa interpretao fica longe da realidade.
Assim, preciso trazer para os fatos dos padres comportamentais uma percepo que seja livre
das normas de interpretao. Somente assim podemos saber o que indicam estes fatos.
Temos de admitir que os fatos reunidos por nossas mentes no so absolutamente fatos, foram
interpretados pela nossa mente. Uma mente interpretativa sempre seletiva em suas operaes.
Uma mente comprometida com esse processo de seletividade obviamente no livre. uma mente
acorrentada a certas concluses representadas por suas normas e modelos de interpretao.
Esta seletividade no mundo dos fenmenos pode no ter importncia, porm tem muita importncia
quando tratamos dos problemas psicolgicos.
No lado psicolgico, o campo de pesquisa muito fluido, no possvel trat-los com uma
abordagem esttica. Alm disso, h nosso envolvimento mental e emocional no prprio objeto de
percepo.
Isso nos impede de ver os homens e as coisas como de fato so. Para a reta percepo imperativo
uma completa eliminao do fator subjetivo oriundo de nossas interpretaes e selees.
A eliminao do fator subjetivo absolutamente essencial quando tratamos com fenmenos
psicolgicos dos relacionamentos humanos.
Na reta percepo, o importante no uma mudana na escala de observao, importante a
eliminao do prprio observador, que entra no quadro da observao como interprete e avaliador.
A eliminao do observador implica um ato de observao sem interpretao e sem avaliao.
Uma ao que no surge da reta percepo no tem absolutamente validade. No uma ao, mas
sim uma reao. A reta percepo deve proceder reta ao. A reta percepo precisa ser
completamente objetiva, e isso s possvel sem interpretao e sem avaliao.
A abordagem da psiquiatria e da psicoterapia modernas somente pode proporcionar um paliativo
para a vida psicolgica do homem, mas jamais pode ocasionar uma transformao fundamental no
reino psicolgico do individuo.
Elas podem retardar o crescimento da enfermidade, mas jamais trazer ao homem uma experincia
de verdadeira sade, lembrando que sade no apenas ausncia de enfermidade, algo positivo.
Para achar este lado positivo, precisamos explorar todo o problema da reta percepo. A Yoga
uma resposta a esta busca. no Yoga que o problema daquele que percebe e de quem percebido
discutido profundamente.
no Yoga que encontramos a maneira de eliminar aquele que percebe, de modo que a reta
percepo possa ocorrer.
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Estudando e praticando os Yoga-sutras de Patanjali, o homem torna-se capaz de ser independente


ao tratar com seus problemas psicolgicos simples ou complexos. No h necessidade de ir a algum
psiclogo, psicoterapeuta ou guru espiritual para resolver suas enfermidades psicolgicas.
O Yoga indica ao homem que ele pode ser uma luz para si mesmo. O Yoga nos convida para novas
dimenses da vida, onde a mente no absolutamente limitada por fronteiras.
Todo o assunto do Yoga foi apresentado por Patanjali na forma de sutras, contendo afirmaes
profundas, empregando um nmero mnimo de palavras, to mnimo que nem mesmo uma slaba
pode ser removida.
O primeiro sutra :
1. Agora comea uma discusso sobre o Yoga.
Isto sugere que o estudante tendo sido devidamente preparado, poderia estar habilitado para
compreender a discusso que se segue.
O instrutor no tem a inteno de dar instrues atravs da afirmao da lei, mas deseja seguir o
mtodo persuasivo do debate ao tratar do Yoga.
2. Yoga a dissoluo de todos os centros de reao da mente.
Yoga um estado de mente completamente livre de todas as tendncias reativas. A mente constri
certas tendncias que so tratadas como vrttis. Essas tendncias so os sulcos da mente nos quais
o fluxo do pensamento-emoo inevitavelmente flui, so os hbitos da mente.
Atravs desses hbitos a mente sempre reativa. Nossos pensamentos so nossas reaes a
impactos que colidem com nossa conscincia. Quando dizemos que estamos pensando, na verdade
estamos envolvidos em um processo de reao. Estas tendncias reativas se tornam nossos hbitos.
Esta a nossa natureza adquirida, contrada atravs de repetidas reaes no decorrer do tempo.
Patanjali diz que Yoga consiste em dissolver esses centros de reao. Yoga no significa criar novos
hbitos em oposio aos antigos, requer a dissoluo do prprio centro do hbito. Qualquer hbito,
bom ou mau, condiciona a mente.
Yoga indica um estado em que a conscincia pura e inocente, sem vestgio de condicionamento.
uma mente no corrompida e incorruptvel. Ter uma mente incorruptvel sugerir que no h centro
de reao ou hbito presente na mesma. uma mente que est sempre nova.
3. Neste estado, o vidente est estabelecido em sua prpria natureza original.
Vidente significa o indivduo humano. Yoga uma jornada da natureza adquirida para a natureza
original da conscincia. Se o vidente pudesse ver as coisas de maneira correta, ele se tornaria um
executor da reta ao.
A natureza adquirida construda a partir de resistncias e indulgncias, aceitaes e rejeies,
embates e persistncias. Isto so reaes, tanto positivas quanto negativas.
A natureza adquirida se torna um mecanismo de defesa, construda ao encontrar os desafios da vida.
A pessoa se identifica com esse modelo, e se torna incapaz de visualizar a vida sem esse modelo.
Yoga o modo de vida onde o homem est estabelecido em sua natureza original, e age a partir da
nos relacionamentos humanos. Yoga no uma fuga da ao, ela capacita o homem a descobrir o
ponto de partida correto da ao.
Libertar a mente no apenas de todas as modificaes, mas do prprio centro que pode dar origem a
futuras modificaes, o objetivo e propsito do Yoga.
4. Com os centros de reao no dissolvidos, o vidente permanece identificado com as tendncias
adquiridas da mente.
A dissoluo dos centros de reao um pr-requisito para chegar experincia do Yoga. A
natureza adquirida a maior barreira na senda do Yoga.
Agindo a partir da nossa natureza adquirida estar identificado com a nossa mente. Aquilo que
habitual considerado como natural, assim h uma completa identificao com essa natureza
adquirida.

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preciso entender o processo pelo qual as modificaes da mente ocorrem para encontrar a
maneira de dissolv-las.
5. Os centros de reao so os causadores da dor ou do prazer, eles podem ser agrupados de uma
maneira quntupla.
Todas as reaes da mente esto enraizadas no principio do prazer e de evitar a dor. Prazer e dor
so inseparveis, onde h prazer, com certeza a dor est emboscada nas proximidades.
Enquanto a natureza adquirida persistir, estaremos presos ao funcionamento do prazer e da dor.
Sabemos que a alegria da vida no pode ser encontrada nem na procura do prazer nem em evitar a
dor.
Para acabar este problema, necessrio investigar a fonte de onde o prazer e a dor emerge. H
cinco regies de atividade mental onde a fonte das modificaes pode ser encontrada.
6. As tendncias de reao so formadas pela razo, irracionalidade, fantasia, sono e memria.
Elas esto tanto no consciente como no subconsciente. Ser necessrio entender as intimaes do
subconsciente e at mesmo do inconsciente, afinal a mente uma. Trataremos de cada uma das
tendncias nos prximos sutras.
7. A razo tem suas razes na cognio sensorial, na inferncia e no testemunho de autoridade
reconhecida.
O pensamento racional governado pelas leis da lgica. As linhas mestras so a cognio sensorial,
a inferncia e a autoridade reconhecida.
Aps ter coletado os dados sensoriais, inicia-se o processo do pensamento, e a inferncia o que d
mpeto. Inferncia um processo comparativo classificando semelhanas e dessemelhanas,
percebe-se isso quando a mente se move entre os dois opostos.
O pensamento racional para ter validade deve ser corroborado por alguma autoridade reconhecida,
escritura, especialista ou experincia passada. O mais determinante a experincia passada.
As concluses da mente so nossa autoridade mais elevada. Em todo pensamento racional, a mente
se move de concluso em concluso. Nunca conhecemos algo inteiramente novo atravs desse
processo.
O pensamento move-se em torno de um crculo, o contedo do centro est sempre intacto. O
pensamento lgico pode conhecer apenas uma modificao do antigo.
O movimento do pensamento racional no o movimento de uma mente livre, e isso que o torna um
fator gerador de tendncias reativas da mente (vrttis). A razo incapaz de mudar o contedo da
mente.
8. Quando os fatos so cobertos com as super-imposies da mente, o funcionamento da
irracionalidade visto.
Quando a percepo de algo no tem semelhana com a coisa que de fato , fica-se sob a influncia
da irracionalidade. o contrrio da razo. Confundir o projetado com o verdadeiro uma condio
desprovida de razo. Tal atividade surge dos centros de reao formados na mente.
O terceiro caminho, descoberto na Yoga, uma condio alm da razo e da irracionalidade.
Considerar aquilo que projetado como sendo verdadeiro cair em iluso ou maya. confundir o
reflexo com a realidade.
No pensamento racional o principio da seletividade que funciona, mas na irracionalidade o
principio da projeo que funciona. Ambas surgem das tendncias reativas da mente.
9. A fantasia a imagem evocada pelo estmulo de palavras sem qualquer realidade por trs de si.
Em vikalpa ou fantasia, o verdadeiro inexiste. a estimulao de uma imagem mental ao escutar-se
uma palavra. Pode-se escutar a palavra vaca e haver imediatamente a formao de uma imagem de
uma vaca.
Quando esta imagem que produto da mente tomada como realidade, cultiva-se uma fantasia.
Fantasia e imaginao no so idnticas. Na imaginao as imagens so baseadas em fatos, j na
fantasia no existem fatos. A fonte destas fantasias est nas camadas subconscientes da mente.

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Com este sutra, Patanjali indicou a existncia de centros reativos tambm no nvel subconsciente.
10. A atividade da mente que desprovida de significado e contedo semelhante condio de
sono.
Aqui sono deve ser entendido como uma condio de conscincia, e no no sentido fsico usual. A
mente simplesmente divaga, sem qualquer significado ou contedo. No h razo, irracionalidade ou
fantasia.
Esta divagao impelida por um movimento reativo que jaz profundamente na conscincia, seja no
subconsciente ou inconsciente. A investigao pode nos levar a centros ocultos de reao.
11. Uma tentativa de dar continuidade a uma experincia, mesmo depois que o acontecimento tenha
passado, memria.
Memria no apenas a lembrana de um acontecimento que tenha passado, esta lembrana a
memria de um acontecimento que passou. No a memria factual que produz tendncias reativas
na mente (vrttis), a memria psicolgica que os produz.
Memria psicolgica no se permitir abandonar uma experincia. dar continuidade a uma
experincia, mesmo aps o acontecimento pertencente a esta experincia ter passado. Esta
experincia permaneceu psicologicamente incompleta.
Permanece um desejo ou anelo de repetir-se a mesma experincia ou uma similar. A memria
psicolgica um dos centros mais poderosos de tendncias reativas.
A mente no deseja despojar-se do acontecimento. Se o evento que passou cronologicamente fosse
tambm psicologicamente completado, ento no seria formada uma tendncia reativa de memria.
A menos que haja um completo cessar das tendncias reativas, com a dissoluo do prprio centro
de modificao, no se pode chegar experincia do Yoga. No chegaremos reta percepo, e
consequentemente reta ao.

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Captulo II Os Centros do Hbito


No o surgimento de pensamentos que constitui um problema no campo do Yoga. Dar
continuidade ao pensamento o principal obstculo na senda do Yoga. Tendncias reativas (Vrttis)
so essencialmente continuidade de pensamento.
No momento em que ocorre a continuidade de pensamento, nasce na mente uma tendncia reativa.
Quando a mente oferece um habitat ao pensamento, os interesses adquiridos do pensamento
comeam a se estabelecer. Estes interesses adquiridos do pensamento so os Vrttis.
Se os pensamentos viessem e fossem sem formar qualquer centro permanente na mente, no
haveria qualquer dificuldade. Tal mente permaneceria livre e no comprometida.
Vimos que os centros geradores dos Vrttis so: razo, irracionalidade, fantasia, sono e memria. A
questo : Os pensamentos-emoes podem acalmar-se natural e espontaneamente aps
completarem suas funes?
Se no quisermos estender uma experincia, faz-se necessrio que este complemento psicolgico
seja sincronizado com seu completamento cronolgico.
Esta primeira seo dos Yoga-sutras de Patanjali chamada de Samadhi Pada e nos oferece uma
descrio abrangente do Yoga. como se Patanjali nos oferecesse um mapa de um novo pas que
aspiramos conhecer.
Estudar um pas pelos seus mapas completamente diferente de realmente percorr-lo, contudo
consultar um mapa previamente pode ajudar e muito.
A primeira seo dos Yoga-sutras serve como um mapa para o viajante que deseja empreender uma
viagem regio do Yoga. Na segunda e a terceira seo, Patanjali se ocupa com a prpria viagem
na nova terra. J a quarta seo contm a colheita da viagem.
12. A dissoluo dos centros reativos da mente alcanada pela prtica e pelo desapaixonamento.
A prtica (Abhyasa) e o desapaixonamento (Vairagya) devem sempre estar juntos, e no um aps o
outro. A prtica denota esforo enquanto o desapaixonamento denota o no esforo. O segredo da
libertao da mente de todos os Vrttis jaz em sua coexistncia.
S praticamos o desapaixonamento quando no existe mais paixo, j esgotamos toda a nossa
energia. Tal desapaixonamento no tem valor algum. O desapaixonamento deve ser praticado
durante a paixo, quando estamos repletos de energia.
13. Prtica denota um esforo com o propsito de se estar firmemente estabelecido em um estado
livre de todas as tendncias reativas.
preciso um tremendo esforo para se ter uma experincia espiritual como o Yoga. uma atividade
com propsito e que se move em uma direo particular.
14. A prtica deve ser prolongada, ininterrupta e plena de ardor ou entusiasmo.
No se pode esperar resultados rpidos nesse caminho. Deve haver veemncia ou entusiasmo.
Yoga no uma senda de pesar, na verdade um caminho de alegria. Deve haver alegria na prtica
do Yoga, o esforo precisa conter um elemento de paixo.
Sem essa paixo, o esforo prolongado e ininterrupto parecer exaustivo. Normalmente nosso
esforo torna-se mecnico ou montono, e a alegria do esforo desaparece. S continuamos a
pratica porque fizemos um compromisso ou um hbito.
Qualquer esforo por dever ou hbito frustrante. Somente com a qualidade da paixo superaremos
estas frustraes. Sem desapaixonamento existindo juntamente com a prtica, o esforo ser
sempre frustrante.

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15. O desapaixonamento uma condio livre de todos os motivos, sejam aqueles que surgem de
um desejo por alguma coisa que tenha sido experimentada ou por algo que ainda no foi
experimentado.
o motivo que introduz um sentimento de cansao em qualquer esforo. Tanto o dever quanto o
hbito surgem do funcionamento do motivo.
No dever encontra-se o intuito de alcanar algo que no se viu, mas apenas se ouviu falar a respeito.
No hbito encontra-se o intuito de fazer uma e outra vez aquilo que se est acostumado. Enquanto
houver qualquer um deles, o esforo ser frustrante.
Desapaixonamento um estado livre de todos os motivos. uma condio na qual no h motivo
para repetio do passado nem para antecipao do futuro. um estado de viver no presente.
Viver no presente no deixar-se levar pela corrente do tempo, o presente atemporal. No uma
passagem do passado para o futuro. Viver no presente descobrir nossa direo de momento a
momento.
O dinamismo da vida impede a existncia de uma direo esttica. Prtica um movimento bem
direcionado e desapaixonamento aquele estado dinmico de viver no presente, onde a direo
descoberta a cada momento. Por isso devem coexistir a pratica e o desapaixonamento.
16. No desapaixonamento, devido ao estado de percebimento, h um completo desapego das
atividades dos trs atributos ou gunas.
O caminho para o Yoga o percebimento do pensador e dos movimentos de seu pensamento. O
pensador e o pensamento no so duas entidades diferentes. Todas as atividades do pensador tm
o objetivo de dar continuidade ao pensamento.
Esta continuidade do pensamento ocorre atravs das atividades dos trs gunas ou atributos. Elas
so os atributos funcionais da vida.
Se permitirmos que as trs gunas funcionem sem impor qualquer continuidade a suas funes
especficas, nenhum problema psicolgico criado. quando o pensador interfere em seu
funcionamento que a corrente da vida fica obstruda.
O sutra diz que conscientes da mente e de suas atividades, chegamos a um estado de real
desapaixonamento (Vairagya), isso significa que a mente no interfere na ao das gunas. Deixar as
gunas agir sem interveno da mente a forma mais elevada de desapego.
No funcionamento normal das trs gunas, Tamas, Rajas e Sattva, o que se manifesta so as
caractersticas da estabilidade, mobilidade e harmonia, respectivamente.
Quando a mente interfere com as atividades das gunas, ocorrem distores, de forma que a
estabilidade torna-se estagnao, a mobilidade se torna atividade inquieta e a harmonia
transformada em autossatisfao.
So essas distores que criam na conscincia do homem vrios fatores condicionantes. No
funcionamento das gunas sem a interferncia da mente, ocorre a reta percepo das coisas, que o
ponto de partida para a reta ao.
O verdadeiro vairagya chamado de transcendncia das trs gunas, mas isso no significa que elas
deixem de agir. Se isso ocorresse, a vida cessaria de existir.
Transcender as trs gunas alcanar um estado onde a mente no interfere no funcionamento
normal delas. Desapegar a mente da ao das gunas o que descrito como vairagya.
As tendncias reativas (Vrttis) nascem quando, nas esferas de funcionamento das gunas, a mente
estabelece seus prprios centros, a estabilidade vira estagnao, a mobilidade vira inquietao, e a
harmonia ou repouso vira farisasmo.
Dissolver estes centros formados na regio das gunas o verdadeiro propsito do Yoga. Isso ser
feito na forma do triplo Samadhi, que se pode chamar de trplice natureza da experincia espiritual.

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Captulo III A Inrcia da Mente


Os diferentes estados de conscincia so: Jagrat ou desperto, Svapna ou sonho e Susupti ou sono
profundo. Somente aps o sono profundo chega-se ao estado transcendental que pode ser
comparado com Samadhi ou iluminao espiritual.
Estes trs estados tm a ver essencialmente com as atividades das trs gunas. Lembrando que nada
h de errado no funcionamento normal e natural das gunas. Tamas Rajas e Sattva so necessrios
para a emergncia e continuidade da vida.
Apenas quando interferimos no fluxo natural das gunas que surgem os problemas psicossomticos.
Esta interferncia feita pela mente, com o objetivo de seu prprio preenchimento psicolgico,
criando vrtices no fluxo das gunas, que deveria ser suave e tranquilo.
O Yoga objetiva liberar a corrente da vida presa nos vrtices das gunas, que foram criados pela
mente. So centros psicolgicos que precisam ser destrudos um por um. Estes centros so trplices,
um na regio de cada uma das gunas.
Jagrat ou o estado desperto aquela condio de conscincia onde as distores de Tamas so
removidas. J Svapna e Susupti (sono e sono profundo) so os estados de conscincia onde as
distores de Rajas e Sattva so removidas.
17. Pensamento dialtico, mentalizao ativa, abundancia de interesses e individualidade distintiva
so os fatores constituintes de Samprajnata Samadhi ou experincia com o pensamento-hbito
atuando como um centro.
Quando a atividade de Tamas distorcida, a estabilidade degenera em estagnao e indolncia. O
corpo e a mente se tornam lerdos. O Raja Yoga de Patanjali requer que a mente exercite sua
influncia sobre a matria, e no o contrario.
Podemos despertar a mente atravs de seu interesse intenso por tudo que existe ao seu redor. Uma
mente entorpecida dificilmente se interessa por alguma coisa. Precisamos descobrir nossas reas de
interesse.
O pensamento no pode iniciar-se a menos que se esteja interessado no objeto sobre o qual
pensar. Pode-se comear com um pensamento simples, que depois deve passar para o dialtico.
Pensamento dialtico o pensamento lgico onde os opostos pertencentes ao objeto de
pensamento so claramente definidos e percebidos.
O pensamento dialtico, a mentalizao ativa e a abundancia de interesse levam ao
desenvolvimento de Asmita ou individualidade distinta da mente.
verdade que Yoga um movimento alem das fronteiras da mente, mas intil falar em alem da
mente a menos que tenhamos desenvolvido a mente at suas ultimas possibilidades. Samprajnata
Samadhi a explorao dessas possibilidades. A mente se torna tremendamente ativa.
A mente em Tamas atua de seu centro de pensamento-hbito, que faz a estabilidade degenerar-se
em estagnao. Antes de dissolver este centro de pensamento-hbito, preciso criar uma atividade
nova dentro dele, de forma que a mente saia de seu estado de embotamento e lerdeza.
Este o propsito de Samprajnata Samadhi. Tentar romper o centro de pensamento-hbito
imediatamente, com a mente embotada seria uma tarefa impossvel. Primeiro temos que despertar a
mente de seu embotamento, do campo do pensamento-hbito.
Sairmos de uma mente entorpecida para uma mente dialeticamente ativa, este o caminho indicado
por Patanjali no Samprajnata Samadhi. Tamas no pode mais permanecer um fator estagnante, deve
se tornar um fator estabilizador da vida.
18. Quando a conscincia retm apenas impresses dos fatos sem suas associaes psicolgicas,
ento atinge-se Asamprajnata Samadhi ou uma experincia sem qualquer centro de pensamentohbito.
a memria retentiva que d estabilidade vida, sem ela a vida seria totalmente instvel. a
memria associativa que distorce o fator estabilizante da vida.

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Quando a conscincia retm apenas as impresses dos fatos, sem suas associaes psicolgicas,
somos levados experincia de Asamprajnata Samadhi.
Se quisermos nos libertar das distores de Tamas, precisamos destruir o centro do pensamentohbito. Asamprajnata Samadhi nos leva Jagrat, o estado desperto.
Chega-se a este estado apenas quando se est livre das compulses do hbito. A cessao do
contedo pode ocorrer apenas quando o processo associativo do hbito rompido. Isto no cria uma
condio de amnsia ou perda de memria. A memria factual fortalece-se.
Em Samprajnata Samadhi h um esforo para estimular o processo associativo, para acabar com o
torpor da mente, j em Asamprajnata Samadhi objetiva-se cessar a memria associativa.
19. A mediunidade, seja natural ou causada por fatores materiais ou fsicos, no deve ser confundida
com Samadhi ou experincia espiritual.
A memria associativa parece conferir vida um certo colorido. Mas no a cor natural das coisas,
uma cor projetada pelo pensamento-hbito. Falta-lhe o frescor da novidade.
Quando a memria associativa desaparece, surge o colorido natural e novo das coisas e
acontecimentos. Assemelha-se com uma joia transparente que se funde com a cor da superfcie
onde est colocada. Tal transparncia s possvel com a dissoluo do pensamento-hbito.
Esta conscincia transparente negativa, mas nunca passiva. Por isso precisamos primeiro ativar
a mente, e somente aps isso, tornar a mente livre da memria associativa.
Somente uma mente passiva est aberta para as tendncias medinicas. Em Asamprajnata
Samadhi, a mente conduzida a um estado de pura vigilncia, nunca ser passiva. No h qualquer
perigo para a mediunidade.
A marca que distingue o espiritual do psquico que o espiritual nasce no campo de uma mente
negativa, o psquico o produto de uma mente passiva.
20. A experincia espiritual de natureza verdadeira surge quando a conscincia est impregnada de
f, energia, reminiscncia e inteligncia.
O homem espiritual um homem de inteligncia, no de mero intelecto. Reminiscncia quer dizer
aquele que possui reta memria, uma clara memria dos fatos, no de uma memria repleta de
associaes psicolgicas.
A memria psicolgica consume muita energia do homem, pois centra-se em torno de uma anelo.
sustentada por um desejo no preenchido que busca realizao. este desejo insano que consome
nossa energia.
Um homem inteligente inspirado pela f. F no uma crena cega. uma resposta sensvel s
intimaes do desconhecido, que s pode ser ouvido quando a mente est em completo silncio. Tal
silncio exige tremenda energia.
21. Tal experincia espiritual acontece com aquele que est ardente com intensidade.
Isto significa estar pleno de paixo, no no sentido comum, mas no sentido em que a paixo de
Cristo referida.
Devemos ir porta da realidade com intensidade de pensamento-emoo, pois se assemelha ao
amante encontrando o bem-amado.
22. a natureza da intensidade que determina o padro para que os meios empregados sejam
suaves, mdios ou fortes.
Patanjali diz que quando h primeiro o despertar da intensidade, o resto segue-se automaticamente.
Se estamos ardentes com intensidade, podemos empregar meios que confiram grande velocidade ao
nosso movimento. Desaparecem obstculos e dificuldades.
Esta intensidade ou energia surge quando h reta memria. a memria psicolgica que traz
estagnao estabilidade de Tamas. Esta intensidade no estimulada por fatores externos, ela
brota do interior.

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23. A verdadeira espiritualidade caracterizada por um sbito voltar-se para a direo de Deus ou
para a Realidade ltima.
a intensidade que determina os instrumentos de ao em suaves, mdios e fortes. H um
instrumento ainda mais intenso, que causa uma transformao instantnea.
chamado de Isvara-pranidhana, que significa voltar-se para Deus, no no sentido de um Deus
antropomrfico, nem de uma deidade pessoal. Isso significa voltar-se para uma nova direo no
curso de nossa busca espiritual.
24. Deus aquele principio distintivo que permanece intocado pelas aflies da vida, pelos frutos da
ao, ou por qualquer motivao.
Refere-se ao Ser Transcendental, e no ao Imanente. Est acima do tempo e do espao, no
pertence ao mundo da relatividade. Ele permanece no afetado por coisa alguma.
Uma entidade com atributos seria pela prpria natureza de sua existncia afetada por tudo que
pertence ao mundo relativo. Trata-se do principio transcendental da vida.
25. O Principio ltimo representa a qualidade insupervel de Oniscincia.
No Bhagavad Gita Sri Krishna descreve-se a si mesmo como a eterna semente de todos os seres.
Patanjali diz que Isvara, ou o Ser ltimo a prpria semente da oniscincia. Ele contm tudo o que
foi, e ser.
26. o antigo dos antigos, pois Ele realmente atemporal.
Isvara-pranidhana , portanto o voltar-se para aquele principio atemporal, sem inicio ou fim. O sbito
voltar-se para este Ser atemporal de fato o instrumento de transformao instantnea.
As aes que normalmente fazemos em nossa procura espiritual so destinadas apenas para uma
continuidade modificada. No h movimento dimensional.
Patanjali diz que o empenho espiritual verdadeiramente intenso aquele em que h movimento no
de extenso, mas de expanso. Voltar-se ao Ser Supremo um ato de expanso. Um salto nunca
pode ser gradual, pois um salto no caminhar rapidamente.
Precisamos realmente de nos voltar para uma direo totalmente nova, do mundo relativo para o Ser
Transcendental. Isso possvel ainda aqui no mundo imanente.
27. No campo do tempo, Ele simbolizado por OM ou Pranava.
As escrituras crists dizem No inicio era o Verbo. Os hindus se referem a manifestao como o
Alento Supremo.
O primeiro despertar do homem com relao ao mundo externo atravs da audio. Assim, o
Verbo a primeira causa em movimento no espao, e dele toda a manifestao vem existncia.
Esta palavra OM ou Pranava. O Transcendente pode ser reconhecido no mundo da manifestao
por meio do seu smbolo, que OM.
Assim, Isvara-pranidhana voltar-se para o Imanifesto no manifesto. Enquanto funcionamos apenas
no manifesto, estaremos agindo em uma dimenso inferior da vida. Quando nos voltarmos para o
Imanifesto no manifesto, teremos nos voltado para uma nova direo.
O Yoga ocupa-se fundamentalmente com a expanso da conscincia. O Yoga capacita-nos a
realizar uma mutao da mente.

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Captulo IV A Natureza da Distrao


OM a primeira indicao do Imanifestado no manifestado. como se fosse uma janela que d um
vislumbre do Imanifesto e Transcendental. verdade que o Imanifesto no pode ser visto, mas pode
ser experimentado, no pode ser apanhado, mas pode ser sentido.
Tal experincia no exige uma viso superfsica, mas como OM o sussurro do Esprito, precisamos
de uma grande sensibilidade da conscincia para escutar sua voz ainda baixa. Pranava representa a
Voz do Silncio, o Som Insonoro.
28. Na repetio de OM preciso haver reflexo em meio repetio.
A repetio de OM significa uma sintonizao com o Som Insonoro. Apenas quando o rudo da
mente aquieta-se, que uma sintonia com a Voz do Silncio possvel. Uma mera repetio sem esta
sintonia totalmente sem sentido. Deve haver uma total ateno no contedo do Som Insonoro.
29. o que capacita a conscincia a voltar-se para dentro, resultando na eliminao de todos os
obstculos.
A conscincia do homem tem dois aspectos, um voltado para dentro e outro para fora. Atualmente,
praticamente s usamos o aspecto para fora, o que nos d uma viso fragmentada da vida.
Uma sintonizao com a Voz do Silncio, nos indica que passamos ao aspecto voltado para dentro.
Alcanamos ento uma quietude completa. a viso do Todo, e no das partes integrantes, onde os
obstculos da vida so eliminados.
Refletir durante a repetio do OM remover este vu. Entrar em comunho com a Voz do Silncio,
chegar viso da prpria realidade.
Aps essa viso, quando nos voltamos para o reino do tempo, experimentamos a eliminao
daqueles obstculos que antes pareciam insolveis.
30. Os obstculos so distraes causadas por doena, entorpecimento, dvida, negligncia,
preguia, anelo, iluso, no atingimento do objetivo e instabilidade.
Obstculos s existem para uma mente distrada. Obstculos so aqueles fatores que causam
distrao mente.
Os obstculos: doena, entorpecimento, dvida, negligncia, preguia surgem da mente atrada por
Tamas. J os obstculos anelo, iluso, no atingimento do objetivo e instabilidade surgem da
condio de Rajas.
A condio puramente fsica de uma doena com certeza surge dos atributos tamsicos do corpo,
causados pelo funcionamento distorcido de Tamas.
Existem tambm obstculos que surgem de Sattva, porm so to sutis que Patanjali s se ocupa
com elas no final desta seo. Todos os obstculos indicam uma condio psicossomtica.
31. Os sintomas de uma mente distrada so a morbidade, o tdio, o nervosismo e a respirao
difcil.
Estar efetivamente cnscio das distraes muito difcil. Por exemplo, s vezes somos mrbidos
sem razo alguma.
A morbidade e o tdio surgem do funcionamento distorcido de Tamas. J o nervosismo e a
dificuldade de respirar so reflexos da atividade de Rajas.
por trs destas tendncias do corpo e da mente que surgem os nove obstculos do sutra anterior.
32. A remoo destes obstculos demanda ateno unidirecionada.
O tratamento meramente sintomtico no suficiente. Nos tratamentos tradicionais exige-se um
grande esforo para suprimir os sintomas, exercitando nossa vontade tomando uma atitude mental
resoluta. Este esforo seria to exaustivo que o tratamento seria pior que a doena.
Patanjali diz que apenas atravs da ateno unidirecionada podemos nos libertar da enfermidade e
tambm dos sintomas. No se trata de concentrao em um pensamento, mas uma investigao da
prpria condio de unidade.

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Como fazer isso ser indicado na segunda seo dos Yoga Sutras. Nesta seo Patanjali explica o
que o Yoga, na prxima se ocupar com o como do Yoga.
Patanjali adianta que ateno unidirecionada uma ateno que total e no perturbada. Ele
adianta tambm que quando tivermos nos libertado da influncia das distraes, o homem ser
capaz de relacionar-se de forma correta com a vida sem qualquer esforo.
33. Quando os obstculos so removidos, uma nova abordagem do relacionamento humano
revelada e simbolizada pela amizade, compaixo, alegria e considerao para com a felicidade
ou sofrimento, virtude ou vicio do outro.
Yoga no um escape das obrigaes e responsabilidades da vida. Yoga nos capacita a retornar ao
mundo da cada dia com a aquisio do segredo do correto relacionamento com os homens e as
coisas.
muito comum que haja um sentimento de inveja pela prosperidade de outra pessoa. Quase
sempre, uma pessoa materialmente prospera no tem amigos verdadeiros. H uma relao de uso
com essa pessoa.
A capacidade de ser amigo, sem qualquer ideia de uso, a demonstrao de uma qualidade
extraordinria do relacionamento humano. Isso ser genuinamente amigo de algum, especialmente
de algum que tenha sucesso mundano.
Algum que demonstra verdadeira compaixo por aqueles que se encontram em situaes infelizes
na vida, tambm conhecem o segredo do reto relacionamento. Mas estar verdadeiramente pleno de
compaixo ainda uma qualidade rara no relacionamento humano.
Ser terno com algum que est infeliz de fato compreender o sofrimento do outro. Na ternura no
h demonstrao de pena ou generosidade, mas respeito pela outra pessoa. Na ternura no se
humilha o outro, nem de forma velada.
Patanjali diz que ficar realmente feliz ao encontrar uma pessoa que obteve sucesso espiritual algo
muito bonito. Deleitar-se com a viso do status moral e espiritual de outro demonstrar uma real
transparncia de nossa natureza.
Comumente toleramos nossas falhas, mas somos incapazes de tolerar mesmo a mais insignificante
falha dos outros. Fazer a pessoa que falhou sentir-se completamente vontade em nossa
companhia uma grande virtude espiritual.
Certamente no h falha maior que o farisasmo! Nada to imoral quanto o sentimento de
superioridade moral.
Amizade, compaixo, alegria e considerao no so produtos de cultivo consciente. Virtude
cultivada conscientemente no em absoluto virtude. As reais virtudes so o transbordamento de
nossa vida normal. E um transbordamento sempre natural e espontneo.

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Captulo V A Investigao Profunda


Ateno unidirecionada no deve ser confundida com concentrao. A ateno deve ocorrer em uma
situao de total relaxamento. Na concentrao h gerao de tenso. A totalidade de ateno um
dos pr-requisitos do Yoga.
Um estado de ateno aquela condio onde no existem tendncias reativas da mente (Vrttis).
um estado no qual o outro no existe. a presena do outro que cria uma sensao de temor. Num
estado de total solido no h medo em absoluto.
A totalidade de ateno uma experincia deste estado s, no de solido. O Yoga um voo do
solitrio para o Solitrio. Ateno o tema principal do Yoga.
34. A tranquilidade da ateno unidirecionada torna-se possvel, em parte, por meio de uma
respirao regular.
Patanjali diz que atravs da exalao e da reteno da respirao pode-se chegar tranquilidade. O
tema de controle de respirao parte de Pranayama, e ser discutido extensivamente na segunda
seo.
Lembremos que o crebro fsico e a mente no so idnticos, o crebro apenas um instrumento da
mente. Por meio de uma regulada respirao, o crebro torna-se livre de tenso e capaz de chegar a
um estado de quietude.
O crebro coordena os dados dos sentidos transformando-os em percepo, e ao mesmo tempo
deve responder s intimaes da mente. no intervalo entre estas duas funes que o crebro
alcana seu estado de maior eficincia.
A regularizao da respirao tende a criar este intervalo. O controle da respirao cria uma pausa
na atividade do crebro e o crebro se renova nesta pausa.
No momento de controle da respirao a porta de comunicao entre os sentidos e o crebro
temporariamente fechada.
No controle respiratrio, o crebro funciona com um suprimento limitado de oxignio. Em funo
disso ele no est pronto para receber novos dados dos sentidos. Esta pausa d um pequeno
descanso ao crebro.
35. A estabilidade da mente tambm possvel atravs da mudana dos sentidos do sensual para o
sensrio.
No sutra anterior falamos sobre como a porta de comunicao entre os sentidos e o crebro
fechada. Falaremos agora de uma nova porta que se busca fechar, a porta entre o crebro e a
mente.
uma pausa entre a formao de percepo e a formulao de conceitos. A mente quase sempre
interfere antes que o crebro tenha completado sua percepo, o que ocorre indulgncia dos
sentidos.
Aquilo que sensual o produto da indulgncia dos sentidos. Nesta autoindulgncia, o vilo a
mente, no os sentidos. a entrada da mente que induz a atividade de segurar ou aderir aos objetos
ou neles permanecer.
A mente assume as funes do crebro, no lhe permitindo completar sua ao de gerar a
percepo. Por isso o crebro fica agitado e excitado devido sua frustrao por ser interrompido
em sua atividade normal.
Como o crebro interrompido sem completar suas percepes, a formao de conceitos pela
mente tambm incompleta, equivocada e defeituosa. Quando os sentidos so levados realizao
de conceitos defeituosos, surge o estado de indulgncia.
A mente fora o crebro a dar instrues para a ao antes que a percepo seja completada. A
mente s deveria transmitir aps recepo do relato completo dos sentidos.
a transmisso prematura, realizada sob o comando da mente, que cria o problema da indulgncia
dos sentidos, trazendo o que conhecido como atividade sensual.

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Para a experincia de quietude e tranquilidade, os sentidos deveriam mover-se do sensual para o


sensrio. O sensrio indica uma grande receptividade na esfera da atividade dos sentidos.
Na sensualidade o crebro fica indolente devido sua frustrao. No sensrio, o crebro se capacita
para assimilar mais e mais dados, exigindo que os sentidos no se fixem em parte alguma, mas
avancem no sentido de compreender cada vez mais os impactos dos sentidos.
Quando a mente projeta suas ideaes desejadas nas percepes incompletas dos sentidos, so
criados objetos que no possuem existncia intrnseca. Dessa forma os sentidos so possudos
pelos objetos da mente.
Patanjali desenvolve este tema ainda mais ao discutir Pratyahara (abstrao) na segunda seo.
36. Serenidade e uma percepo mental clara permite mover-nos para a ateno unidirecionada.
Clareza de percepo s se obtm com a prtica da respirao controlada e a mudana do sensual
para o sensrio. funo do crebro definir as formas, e cabe a mente a definio do nome da
forma. Se a forma no clara, o nome tambm ser defeituoso ou falso.
A forma s pode ser clara quando o crebro funciona com calma e clareza. O crebro se torna capaz
de funcionar sem a interveno da mente na tarefa de construir percepes. Com isso a mente
trazida condio de uma passividade alerta.
um estado de negatividade, necessrio para que um novo estado de conscincia possa ser
concebido.
37. Somos capazes de nos mover na direo da ateno unidirecionada, ao visualizarmos aquela
condio de mente que est livre das atraes dos opostos.
A experincia da mente livre das atraes dos opostos surge apenas durante a meditao.
Quando as distraes sensoriais no causam perturbaes no funcionamento suave do crebro,
possvel considerar-se a questo das distraes psicolgicas, que so de fato os dois opostos da
mente.
Os apegos da mente so de dupla natureza. No ser apegado a alguma coisa pode ser o resultado
de estar apegado ao seu oposto. Vitaraga o estado de no estar apegado a nem uma coisa nem
outra. Este estado s surge na meditao, mas pode-se visualiz-lo antes disso.
um reconhecimento intelectual do fato do desapego, no a mesma que a realizao de fato. Esta
percepo intelectual surge na calma e na claridade do funcionamento do crebro. Ao chegar a esta
percepo, uma associao com aqueles que j tiveram esta experincia real ajuda.
38. Isso requer uma inquirio sobre a atividade das camadas subconscientes e inconscientes da
mente.
A mente como um iceberg, apenas uma pequena poro de sua atividade est na superfcie, a
maior parte est abaixo dela. As camadas subliminares da mente revelam as reais motivaes da
mente consciente.
O sonho indica o funcionamento da mente logo abaixo do nvel consciente, enquanto o sono significa
a atividade da mente em uma camada mais profunda da conscincia.
A menos que se saiba o que ocorre nestes nveis, um mero padro externo de desapego ou Vitaraga
no tem qualquer significado.
o centro dos motivos que deve ser destrudo, tanto no consciente quanto no subconsciente e
inconsciente. Os motivos esto mais abaixo da superfcie que acima.
Quando estes centros de motivaes so rompidos surge naturalmente um estado de desapego, de
modo que a atrao pelos opostos desaparece sem qualquer luta.
Lutar para chegar a um estado de desapego algo totalmente sem sentido, pois a prpria existncia
da luta mostra que os centros do motivo esto intactos.
A menos que os ns do inconsciente sejam desatados, no h a possibilidade de corrigir nossa
natureza psicolgica. Este o problema fundamental do Yoga.

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39. Isso possvel apenas seguindo o caminho da meditao que se considerar mais conveniente.
Patanjali aqui indica que a meditao a nica forma de desenredar os segredos do inconsciente.
com o desenredo desses segredos que ficamos livres de todas as motivaes que so a fora
impulsionadora por trs do jogo dos opostos.
Meditao no seguir algum modelo particular, precisamos desenvolver nossa prpria abordagem
em relao meditao, de acordo com as nossas inclinaes. O que importa na meditao, em
ltima anlise, o estado daquele que medita. Descobriremos sozinhos, qual o nosso estado.
durante a meditao que podemos levar avante este inquirimento. No h caminho para a
meditao. Meditao mover-se em uma regio sem caminhos.
O fato que no conhecemos nossas prprias inclinaes e interesses. No conhecemos a ns
prprios como somos. No conhecemos sequer nossa prpria natureza adquirida, pela qual agimos
no dia a dia.
Precisamos nos conhecer como um fato e no como uma ideia ou um ideal. O autoconhecimento o
conhecimento de ns mesmos como somos em nossos relacionamentos dirios. O caminho da
meditao inicia aqui, e no em imaginar algum estado supremo.
Para ir longe preciso comear perto, e na meditao preciso irmos muito longe. Temos que
comear a trilhar o caminho da meditao do ponto de nossa prpria inclinao e interesse.

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Captulo VI A Memria Purificada


A meditao o mago da escola de Yoga chamada Raja Yoga, da qual Patanjali o grande
compilador e expositor.
A grandeza dos Yoga-Sutras de Patanjali est no fato de que todo o problema da meditao
colocado no plano de fundo geral da vida e busca o desenvolvimento harmnico de todas as partes
do ser humano. realmente a Yoga integral.
J que a mente o fator determinante, tornar a mente livre e incondicionada de importncia
fundamental nesta prtica. Todavia, antes que a mente possa se tornar livre necessrio conhecer
como ela condicionada.
40. Com a remoo dos obstculos surge o domnio da cognio e da ao que se estende do
menor at o maior.
Obstculos e obstrues so os fatores condicionantes da mente, que precisam ser eliminados. Ao
serem removidos atravs da meditao, ocorre uma tremenda liberao de energia da mente.
A mente alcana um estado onde no existem fronteiras para restringir seus movimentos.
41. No caso de algum cujas tendncias reativas (Vrttis) tenham sido quase completamente
eliminadas, surge uma fuso do conhecedor com o conhecido e com o conhecimento, do mesmo
modo que a joia transparente funde-se com a cor da superfcie em que repousa.
Quando h uma fuso do conhecedor com o conhecido e com o conhecimento, ocorre uma
experincia de absoluta no dualidade. O conhecimento de fato um relacionamento entre o
conhecedor e o conhecido.
Nessa experincia finda o conhecimento acumulado pelo conhecedor, finda tambm o conhecimento
acumulado sobre o conhecido. Neste estado h um conhecimento puro, conhecimento do que , no
o que parece ser ao conhecedor.
No h um relacionamento sujeito objeto, totalmente transparente e reflete o mundo como ele .
a natureza adquirida que busca permanecer invulnervel. A natureza intrnseca prefere
permanecer completamente vulnervel, pois nada tem a proteger porque no tem acumulaes ou
acrescentamentos.
A mente que livre de todas as acumulaes uma mente transparente. Nada adere a ela e ela no
adere a nada. A mente que teme tal fuso falta carter, uma vez que teme perder algo que tenha
adquirido.
Enquanto permanecer a dualidade do conhecedor e do conhecido, o conhecimento acumulado
totalmente corrompido. O observado que consideramos como nosso o produto de um
relacionamento sujeito objeto.
Deve-se lembrar que os trs fatores condicionantes da mente so Tamas, Rajas e Sattva. Somente
quando eles tornam-se inoperantes que pode surgir um estado de total liberdade.
42. No Savitarka Samadhi, uma experincia que tem como centro a modificao-pensamento,
observa-se uma confuso mental, porque a mente alterna-se entre pensamento verbal e
conceitual.
A mente alterna-se entre o pensamento verbal e o conceitual, o que gera muita confuso. O verbal
o tradicional e o conceitual o projetado. Consideramos a palavra ou a imagem como a coisa.
Ao mover-nos entre a palavra e a imagem, considerando s vezes uma como real e outras vezes a
outra, A mente perde o contedo real da coisa. A mente se move entre os significados habituais e
modificados das coisas.
Estes so os pontos de continuidade e continuidade modificada. O significado verbal aquele que
surge com o uso, mas o homem introduz no mesmo seus significados projetados afim de modificar
conotaes geralmente aceitas.

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O homem faz isso para escapar do mundo socialmente aceito para um mundo de suas prprias
projees. Este movimento chamado o processo do vir a ser. um processo de modificao da
natureza adquirida das coisas.
No se trata de um esforo para romper essa natureza, mas para modific-la de modo que outra
natureza adquirida possa vir existncia. Este o funcionamento de Rajas na conscincia humana.
Este processo do vir a ser est ocorrendo o tempo todo na natureza, a semente tornando-se uma
rvore, a criana crescendo, etc. Este vir a ser natural e no exige esforo, porque este o atributo
de Rajas agindo de uma maneira normal.
a mobilidade que a vida precisa para sua existncia e expresso. Enquanto Tamas necessrio
para a existncia da vida, Rajas necessrio para sua expresso e Sattva para sua exaltao.
Quando a mente do homem interfere na atividade normal das gunas, cria-se uma distoro. J vimos
que Tamas ou estabilidade degenera-se em estagnao. O mesmo ocorre com Rajas ou mobilidade.
A modificao da continuidade um movimento normal, a natureza est empenhada em continua
modificao. A distoro surge quando a mente interfere no movimento normal de modificao da
natureza.
A natureza produz mutaes o tempo todo, contudo o homem tambm produz mutaes atravs dos
processos cientficos, muitas vezes sem compreender a direo na qual a natureza deseja mover-se,
e produz distores horrendas.
Ao homem facultado apressar os processos da natureza, mas isso deve ser feito na direo na
qual a natureza objetiva mover-se. Quando a direo da natureza no respeitada, o esforo do
homem resulta em distores, tanto em relao evoluo biolgica quanto psicolgica.
H um processo natural de vir a ser, que a mobilidade da vida, o curso da vida que se move
continuamente. conhecido como o fluxo da vida. Esta velocidade pode ser alterada.
O propsito do Yoga promulgar esta acelerao no fluxo natural da vida no aspecto psicolgico.
Todavia tal acelerao no pode ir contra as inclinaes da natureza.
Podemos apenas nos tornar o que somos intrinsecamente, no podemos nos tornar o que no
somos. Enquanto agirmos dessa forma, os atributos de Rajas estaro funcionando de forma natural e
suave, sem absolutamente qualquer distoro.
Entretanto, quando a mente do homem entra em cena, buscando dar uma direo diferente ao curso
do vir a ser, comea o processo de distoro com referencia ao atributo Rajas.
Rajas por si mesmo um movimento sereno, a natureza no tem pressa, mas quando seu
funcionamento normal interceptado, surge uma atividade excitada e inquieta para vir a ser em
relao direo determinada pela mente.
O centro verbal o centro de Tamas, pois apenas outra palavra para hbito. O centro projetado o
de Rajas. Todo o movimento do vir a ser tende a mover-se em torno destes dois polos. O real nunca
conhecido.
No Savitarka Samadhi h uma experincia em torno do centro de modificao-pensamento. Nesta
experincia, a mente move-se entre os centros de continuidade e de continuidade modificada, este
centro a prpria base de Savitarka Samadhi.
A jornada para o Yoga exige que a mente esteja livre dos fatores condicionantes de Tamas e de
Rajas.
A liberdade das distores de Tamas foi discutida quando analisamos o tema de Asamprajnata
Samadhi. Com relao libertao de Rajas, Patanjali fala no prximo sutra.
43. Nirvitarka Samadhi, a experincia na qual no existe o centro da modificao-pensamento
alcanada quando, em virtude da purificao da memria, as projees subjetivas da mente so
abandonadas.
A associao de ideias atravs da qual a memria psicolgica funciona vista no nvel da mente
consciente. Um pensamento atrai outro pensamento por estimulo de associaes passadas.

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Esta associao emana do centro de pensamento-hbito, atravs do qual a estabilidade de Tamas


transformada em estagnao. As associaes induzidas pelo pensamento-hbito s podem ser
removidas pela purificao da memria.
Tamas, Rajas e Sattva no podem ser divididos em compartimentos estanques. Eles se sobrepem
e extravasam uns nos outros. Os problemas que surgem no nvel Tamas tm suas razes em Rajas.
O problema no nvel de Tamas o da memria psicolgica ou associativa, a qual reside nos centros
do pensamento-hbito.
Chega-se a experincia onde no existe centro de modificao-pensamento apenas pela purificao
da memria, que um estado em que as projees subjetivas da mente foram eliminadas.
Assim no h conflito na esfera do vir a ser, pois no se busca impor a vontade da mente sobre a
vontade da natureza. O esforo da mente para vir a ser cessa, isso no significa que no h vir a ser.
H apenas o natural, no o vir a ser da mente.
O centro de modificao-pensamento de fato o centro do esforo da mente na esfera do vir a ser.
Quando ele se torna inoperante h um cessar do esforo da mente em buscar sua realizao no
processo do vir a ser.
O fator subjetivo originado nas projees da mente existe como um centro-hbito (Tamas da mente),
como um centro de antecipao ou modificao-pensamento (Rajas da mente) e tambm como um
centro de identidade (Sattva).
O hbito busca sua prpria sustentao atravs da repetio do passado, enquanto a antecipao
encontra seu alimento atravs de um movimento para o futuro, porem este futuro a busca de
realizao do passado no consumado.
Em Asamprajnata Samadhi busca-se romper o centro da memria caracterizado pela associao
repetitiva. Neste sutra sugere-se a destruio do centro da memria que associativo em sua
natureza de antecipao.
A memria que busca uma realizao no futuro constitui um esforo da mente para o vir a ser
psicolgico. O centro da antecipao o prprio vir a ser psicolgico.
Mesmo quando o fator subjetivo do hbito e da antecipao removido, persiste um grande
problema, o centro da identidade. Ele ser tratado nos ltimos sutras.
A memria associativa possui duas bases funcionais, uma passada e outra futura. Ambos so
aspectos da memria psicolgica.
s vezes a memria pode ser retentiva sem influncia do passado, porem pode ter antecipaes do
futuro. Isso no ocorre no nvel consciente, mas nos subliminares.
Podemos fechar um capitulo de nosso passado de forma superficial, e ao abrir um novo capitulo
encontram-se fatores de antecipao relativos ao capitulo fechado superficialmente.
Como tratam do futuro, revestimos estes fatores com aparente nobreza e grandiosidade externa.
Todavia quando ansiamos por um futuro psicolgico, h sempre a atividade dos motivos que tem
sempre a base do autopreenchimento.
A menos que os motivos impregnados nos nveis subliminares sejam extirpados, o movimento para o
futuro nada mais que um processo de autossatisfao.
No Nirvitarka Samadhi h uma purificao de forma que no apenas a mete seja libertada da
influncia da memria repetitiva, mas tambm da influncia da antecipao, dos esforos do vir a ser
psicolgico.
No Asamprajnata Samadhi tenta-se a ativao da mente que est distorcida por Tamas, no Nirvitarka
Samadhi h um relaxamento do esforo que causado pelas distores de Rajas.
Estas purificaes da mente um trabalho rduo, pois os fatores que causam a corrupo da
memria esto profundamente arraigados.

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44. O problema do Savitarka e Nirvitarka Samadhi, uma experincia com ou sem centro de
modificao-pensamento, indica uma investigao nas camadas mais sutis e profundas da mente.
Isto ocorre porque tratamos no com os modelos da memria, mas com os motivos da memria. Os
modelos so retentivos e associativos, j os motivos so repetitivos ou de antecipao. nos
motivos que jazem os anseios do vir a ser psicolgico.
A mente consciente possui a tendncia de adornar os anseios do subconsciente e do inconsciente
com uma roupagem de respeitabilidade, de modo que paream nobres e elevados.
Precisamos compreender os motivos subjacentes a este movimento de vir a ser aparentemente
incuo. Nirvitarka Samadhi refere-se a esta condio em que o esforo da mente tenha chegado ao
fim, no s da mente concreta, mas tambm da abstrata.
45. At mesmo o pensamento mais abstrato no pode ir alem do campo de prakriti, ou seja, do
campo da manifestao.
A diferena entre o pensamento concreto e o abstrato jaz no tema sobre o qual se pensa. Ao mudar
de tema do pensamento, a qualidade do pensamento no muda, muda-se apenas o padro. No
pensamento abstrato tambm h o movimento da mente.
O fundamental a transformao da prpria qualidade da mente. O pensamento, seja concreto ou
abstrato, pode mover-se apenas no campo da manifestao. o imanifesto que d sentido
manifestao. A mente conhece apenas o sentido projetado das coisas.
A mente jamais ir conhecer o Desconhecido, o mximo que a mente faz ocasionar modificaes
no padro do conhecido.
Assim, em Nirvitarka Samadhi, mesmo o movimento da mente abstrata deve cessar. Vimos que
Asamprajnata Samadhi concerne a ativao da mente, j Nirvitarka Samadhi trata com a cessao
do esforo da mente.
Qual a utilidade, se um leva a ativao da mente e o outro leva a cessao do esforo da mente?
Patanjali diz que deve surgir um movimento totalmente diferente, de modo a no ficarmos nos
debatendo entre os dois polos.
Asamprajnata Samadhi e Nirvitarka Samadhi por si ss no conduzem a soluo dos problemas das
tendncias reativas da mente (Vrttis).
46. Mesmo este centro circunda uma semente-pensamento.
Mesmo aps Asamprajnata Samadhi e Nirvitarka Samadhi, quando os pensamento-hbito
(ocasionado por Tamas) e modificao-pensamento (ocasionado por Rajas) so eliminados,
permanece um centro que o pensamento-semente que o centro da identidade.
At agora procuramos destruir os centros do hbito e da antecipao. Ainda persiste o fator
condicionante de Sattva.
As distores na atividade de Sattva surgem quando a conscincia do homem est centrada na
identidade. Este o mais sutil dos fatores condicionantes, na maior parte das vezes negligenciado.
Sattva tambm pode ser distorcido, quando o centro de identidade estabelecido no interior de sua
esfera de atividade. O centro de identidade de fato o centro do eu.
Sattva tem uma qualidade de harmonia ou ritmo. Sua essncia a benevolncia, que por si s uma
grande virtude. Mas essa virtude corrompe-se quando h nela a presena da identidade ou do eu. A
identidade uma conscincia de separao.
O esforo deve cessar, mas enquanto aquele que faz o esforo permanecer persistiro o estresse e
a tenso do vir a ser psicolgico. O centro de identidade o centro onde aquele que faz o esforo
age. Isso pode gerar novos centros de antecipao e de hbito, enquanto a semente existir.
preciso haver Nirbija Samadhi, uma experincia em que no h semente, completamente livre do
centro de identidade. preciso haver existncia sem identidade, somente isso a purificao de
Sattva. Nirbija Samadhi o Samadhi sem centro de identidade.
Reteno sem repetio, modificao sem antecipao e existncia sem identidade, estas so as
caractersticas do triplo Samadhi ensinado por Patanjali.

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Captulo VII O Pensamento-Semente


Na psicologia moderna encontramos a expresso Experimentos em Profundidade. Indica a
existncia do que chamado de Psicologia Profunda, onde os temas estudados so os mitos e os
smbolos e os problemas do inconsciente.
Freud se preocupou com o subconsciente. Carl Jung se referiu ao inconsciente e ao inconsciente
coletivo.
O homem incapaz de entender o real significado dos mitos e dos smbolos, porque eles so
alterados no curso de sua passagem atravs das camadas do subconsciente individual e das
camadas do consciente.
O Yoga a psicologia profunda de Patanjali. O que nos impede de penetrar nas profundidades da
psique humana so os centros do hbito, da antecipao e a identidade.
A menos que o centro de identidade seja destrudo, no poderemos nos libertar do colorido da
interpretao que esta entidade proporciona. O ego ou o eu o interprete de todos os impactos da
vida.
Somente com o interprete inoperante o objeto pode ser visto em sua real natureza. Isso exige no
apenas a atividade interpretativa da mente, mas requer tambm a cessao do prprio intrprete.
Este o tema de Nirbija Samadhi.
A remoo das obstrues a funo do triplo Samadhi. As obstrues que surgem da atividade
distorcida de Tamas e Rajas forma tratadas no Asamprajnata Samadhi e Nirvitarka Samadhi.
Mas a causa raiz de todas as distores jaz no centro da identidade ou do eu. Nirbija Samadhi vai
nos conduzir destruio deste centro de identidade. Nirbija Samadhi um estado de percebimento
sem escolha, j que escolha indica um movimento do pensamento.
47. Na completa cessao do pensamento surge a preciosa ddiva da iluminao espiritual.
Quando a semente do pensamento destruda, no existe absolutamente a existncia de escolha.
Uma escolha implica em alternativas, uma condio de Savikalpa Samadhi, um percebimento com
escolha.
J percebimento sem escolha Nirvikalpa Samadhi, que idntico a Nirbija Samadhi, pois quando
no h semente de pensamento, tambm no pode haver um fator de escolha.
O pensamento o centro de identidade, pois ele separa ou divide. Este processo de identificao o
processo de nomear. O centro de identidade o nome. Reconhecemo-nos pelo nome que nos
damos. Toda a sensao de um eu centra-se em torno do nome.
funo do pensamento dar nome s coisas e situaes. A cessao do nome no significa a
cessao da existncia, h existncia sem identidade.
A iluminao espiritual no surge de qualquer esforo da mente, ela surge como uma ddiva, como
uma graa do alto. Somente quando h total cessao do pensamento esta graa pode acontecer.
Apenas quando o que faz esforo cessa que a prpria semente do esforo destruda. A esta
condio de inexistncia surge a graa da iluminao espiritual.
No podemos ir at a verdade. A verdade vem ao homem apenas quando a conscincia torna-se
completamente vazia. Uma pessoa iluminada um ser sem nome.
48. Somente ento a Sabedoria portadora da Verdade desponta na outrora limitada conscincia do
homem.
Sabedoria no uma continuao do conhecimento. O conhecimento reunido pela mente por
intermdio da memria, razo e imaginao. A reunio do conhecimento um processo gradual que
envolve tempo.
A sabedoria surge instantaneamente, pois no um produto do tempo. Assim que o processo de
reunir conhecimento cessa, ocorre o surgimento da sabedoria. A palavra verdade a mais prxima
do seu significado original.
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Verdade refere-se a uma experincia que no pode ser colocada na camisa de fora do tempo e do
espao, a verdade dinmica, nunca esttica. A verdade a existncia intrnseca das coisas, a
natureza original das coisas.
Aquele que dotado de sabedoria v todas as coisas como de fato so, e no atravs de lentes
coloridas (da mente).
Tal sabedoria surge apenas quando os trs atributos de Tamas, Rajas e Sattva so purificados. Isso
s ocorre quando em sua atividade no surge a interveno do pensamento.
49. O conhecimento direto totalmente diferente do conhecimento derivado da inferncia e do
testemunho, pois, enquanto o ultimo conhecimento generalizado, o primeiro o conhecimento
do nico e do particular.
Todo conhecimento generalizado relativo, governado por leis de probabilidade, baseados em
clculos estatsticos. Todas as leis cientificas so desta natureza.
Sabedoria no uma compreenso quantitativa das coisas, ela se ocupa com a qualidade essencial
das coisas. O nico incomparvel e no pode ser compreendido por qualquer processo de
comparao. Exige ver cada coisa como ela , no em comparao com outras.
No conhecimento direto no h rgua de mensurao. A sabedoria um estabelecimento de um
contato direto e imediato com o que , sem qualquer interveno da mente. Um conhecimento direto
completo, pois no depende de algo que foi ou ser.
uma compreenso no presente vivo, sem vestgios do passado nem do futuro. Os vestgios sutis
do passado e do futuro ocasionam uma distoro de Sattva.
50. Quando h um pensamento com um centro, as impresses, aderidas a este centro, impediro o
despontar de nova luz na conscincia.
A mente que reconhece guiada por inferncia e testemunho, e est enraizada no passado e no
futuro. A vida nova a cada momento, mas quando colocada na moldura do reconhecimento, a tela
do passado e do futuro lanada sobre ela.
Aquilo que conhecido pertence ao passado. Uma mente aberta aquela na qual no h centro de
reconhecimento psicolgico. Aquilo que reconhecido no novo, mas a vida real das coisas
sempre nova.
Este centro de reconhecimento psicolgico aquilo que chamamos de centro de identidade, ou o
ego, o eu. Este centro impede a percepo da vida, que nova momento a momento.
O rompimento deste centro de identidade a purificao de Sattva, a base de Nirbija Samadhi.
51. Quando o prprio ncleo de identidade destrudo, h uma completa cessao de todas as
tendncias reativas (Vrttis), trazendo assim existncia Nirbija Samadhi, ou uma experincia na
qual no h nem mesmo uma semente-pensamento agindo como um centro.
um estado de experincia sem acumulao. A mente nesta condio sempre nova e vital,
capaz de encontrar o novo da vida de momento a momento. No h a estagnao do hbito.
No h o movimento inquieto do vir a ser psicolgico, no h entidade para dar nomes s
experincias e acontecimentos. No h fator condicionante nem de Tamas, nem de Rajas nem de
Sattva.
Nesta seo, Patanjali esboou um quadro muito claro do estado do Yoga, especialmente do triplo
Samadhi, Asamprajnata, Nirvitarka e Nirbija.
Como explorar a senda do triplo Samadhi e quais so as condies exigidas para trilhar esta senda,
so as questes prticas do Yoga, e sero tratadas na segunda seo deste trabalho.

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