Os Mestres do Yoga
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Os Mestres do Yoga - Carlos Alberto Tinoco
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2019 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
Ao meu muito querido filho, Arjan Goes Tinoco, cujo olhar espelha a candura e a mansidão dos olhos da sua mãe, Lucimar Paula de Goes Tinoco, minha falecida esposa. A vocês dedico este livro.
Curitiba, primavera de 2019.
GAIATRY MANTRA
ॐ भूर्भुवस्वः ।
तत् सवितुर्वरेण्यं ।
भर्गो देवस्य धीमहि ।
धियो यो नः प्रचोदयात् ॥
Om bhūr bhuva svar
tat savitur varenyam
bhargo devasya dhīmahi
dhiyo yo nah prachodayāt
Om, Terra, ar, éter,
Pensemos naquele ardor desejável
do deus Savita; que ele possa
impulsionar os nossos pensamentos
(Rig Vêda, III, 62, 10)
PREFÁCIO
As contribuições literárias do professor Carlos Alberto Tinoco ao Yoga no Brasil têm sido significativas para uma consciência da amplidão e singularidade do tema. As traduções de textos são de fundamental importância para uma compreensão mais profunda do Yoga. "As Upanishads,
As Upanishads do Yoga", Shiva Samhita
, "Gerandha Samhita" são demonstrações de um escritor comprometido em trazer à luz aspectos filosóficos e técnicos de uma senda espiritual ainda pouco conhecida em nosso país.
O professor Tinoco brinda-nos com textos, tais como "Contribuições do Yoga à educação no Brasil e
História das filosofias da Índia", que abordam o tema com abrangência e acurada pesquisa. Em suas obras, Tinoco preenche uma lacuna, contribuindo significativamente para que nossa visão do Yoga seja pautada por um olhar que possa perceber as diversas facetas que compõem o mosaico dessa senda espiritual, desde aspectos históricos e filosóficos até elementos técnicos e literários. Assim, apesar da abrangência do tema, podemos nos fundamentar com conhecimentos indispensáveis para uma prática e ensino do Yoga de forma consistente, clara e com consciência de seus diversos domínios. Toda essa contribuição do professor Tinoco é de grande importância para a solidificação do Yoga no Brasil e uma singular colaboração para o que necessitamos em termos de cura de nossos koshas ou envólucros, em busca de uma saúde mais plena, e principalmente para a elevação e expansão da consciência.
O Yoga tem como objetivo fundamental o estado de moksha ou kaivalya, a libertação dos ciclos de morte e renascimento e, para tanto, uma longa e árdua jornada se faz necessária. Conhecimentos da mesma natureza daqueles que o professor Tinoco nos traz são fundamentais para uma compreensão mais clara e profunda das etapas que compõem esse caminho e nos elucidam com elementos que podem dissipar as dúvidas e nos fazer perceber os procedimentos e soluções necessários dessas diversas etapas.
Na presente obra, o professor Carlos Alberto Tinoco presenteia-nos com um texto que trata sobre os grandes yogues e seus feitos. Envoltos na vida desses grandes expoentes do Yoga estão seus ensinamentos, de forma explícita ou implícita, em meio às entrelinhas. Os sadhanas desses grandes mestres, suas interpretações acerca da filosofia do Yoga, suas peregrinações, os relatos sobre como atingiram o dharma mega samadhi, como transmitiram seus ensinamentos, as instituições que fundaram, todas essas informações concisas e aprofundadas nesta obra são elementos que motivam e inspiram os yogues atuais a buscarem seus desenvolvimentos espirituais, sua jornada para tornar consciente e constante a união entre Jivatman e Paramatman. Os relatos nos fazem conhecer desde a vida cotidiana desses yogues até como acessaram Atman, a natureza divina que a tudo permeia.
O detalhamento da vida desses grandes mestres do Yoga nos inspira por mostrar como esses mantiveram o foco no Espírito nas mais diversas situações, como foi a dedicação de cada um para atingir estados elevados de consciência, como superaram dificuldades no caminho espiritual, como se deu o altruísmo em suas vidas – aspecto fundamental em uma vida espiritual madura.
A importância da obra de Tinoco está também no fato de reunir informações sobre grandes mestres do Yoga em um só texto, possibilitando uma visão mais ampla e profunda de suas vidas, e trazendo aspectos mais detalhados de suas experiências espirituais.
Lembremos que mesmo encontrando visões e práticas paradoxais entre esses grandes expoentes do Yoga, o que fundamenta as suas jornadas espirituais é o Sanatana Dharma, uma lei natural infinita sem começo. Em outras palavras, as verdades espirituais reveladas pelos grandes mestres já eram existentes nos registros akashicos antes de serem descobertas. Portanto a aparente diferença existente entre sendas e mestres espirituais são como corais de um imenso arrecife que o colorem e embelezam, mas o Sanatana Dharma é como o mar que a tudo permeia sempre existente, eterno e uno. Tudo o que estiver em harmonia com o Sanatana Dharma estará em comunhão com o Absoluto, Brahman, realizando o objetivo último da existência: Yoga ou a união da consciência individual com a consciência cósmica.
Manaus, 5 de julho de 2018.
Ricardo Berwanger Franco de Sá
Mestre em Antropologia Social pela UFAM e coordenador do Yoga Ashram Amazônia.
APRESENTAÇÃO
Este pequeno livro apresenta uma pesquisa sobre o Yoga e os seus principais mestres, do Oriente ao Ocidente, principalmente os da Índia.
Em essência, este livro não apresenta novidades. Destina-se aos professores e aos praticantes do Yoga interessados em rever os nomes e as biografias resumidas dos principais mestres do Yoga, estes escolhidos sem um critério, apenas seguindo a intuição deste autor que vos fala.
Mesmo que esses mestres sejam bastante conhecidos, creio que vale a pena escrever sobre eles, uma vez que militam ou militaram em vários ramos do Yoga, tais como: o Hatha Yoga, o Raja Yoga, o Kriyia Yoga e outras vias.
É importante assinalar que algumas das informações sobre alguns dos mestres aqui citados foram extraídas de dados encontrados na internet¹. Portanto, trata-se de uma compilação de nomes de mestres do Yoga constantes de fontes diversas. Os demais foram fruto de minhas pesquisas em outras fontes de informação, logo informo a você, leitor, que os dados constantes neste livro são de minha inteira responsabilidade.
Curitiba, inverno de 2017.
Carlos Alberto Tinoco.
Sumário
INTRODUÇÃO 17
1
Os Mestres do Yoga na Índia 21
Os Vratyas 21
Patañjali 23
Vyasa 27
Abhinava Gupta 28
Matsyendra Nath 32
Goraksha Nath 34
Rei Bhoja 38
Vijñana Bhiksu 40
Ramananda Sarasvatî 41
Svâtsmârâma Yogendra 41
Sri Tirumalai Krishnamacharya 43
Paramahansa Ramakrisna 47
Swami Vivekanada 55
Swami Harirananda Âranya 63
Sri Jnãnadeva 65
Paramahansa Harirananda 66
Shri Chinmoy 70
Swami Tilak 73
Ramana Mahashi 75
Mahavatar Bábaji 81
Paramahansa Yogananda 83
Sri Yukteswar Giri 87
Lahiri Mahasaya 89
Giri Bala 91
Nagendra Nath Baduri 92
Swami Kebalanada 93
B.K. S. Iyengar 94
Bhagavan Nityananda 96
Osho Rajneesh 99
Swami Satyananda Sarasvati 100
Dr. Manohar Laxman Gharote 101
Swami Muktanada 103
Gurumay Chidvilasanda 106
Swami Lakshman Jou 108
Swami Vishnu Devananda 111
Swami Rama 112
Swami Brahmanada 113
Swami Premanada 116
Swami Abhedanada 119
Mahashi Manesh Yogue 121
Shrii Shrii Anandamurti 124
Shri Aurobindo Ghose 126
Swami Pareshananda 128
Pattabhi Jois 129
Swami Shivananda 129
Bijoy Krishna Goswami 133
Swami Dayananda 135
Srila Prabhupada (Abhay Charanaravinda) 136
Jaiadeva 140
Swami Kuvalayananda 141
Swami Satchidananda Sarasvati 145
Jayadeva Yogendra 146
Gopi Krishna 149
2
Os Grandes Mestres do Yoga no Ocidente 153
Paul Brunton 153
David Frawley 155
Alain Danielou 159
Tara Michäel 162
Ram Dass 163
Swami Dharma Mitra 165
Arthur Avalon 166
Serge Raynaud de la Ferrière 167
Sharon Gannon e David Life 171
Donna Farhi 171
Ganga White 171
André Van Lysebhet 171
Alicia Souto 172
Indra Devi 173
Swami Shivanada Radha 176
Georg Feuerstein 178
3
Professores de Yoga no Brasil 181
Shotaru Shimada 181
Dr. Marcos Rojo Rodrigues 183
Paulo Murilo Rosas 184
Glória Arieira 184
Mestre DeRose 184
Monserrat Rosa Fernandes 188
Jean-Pierre Bastiou 189
Cláudio Duarte 191
Neusa Maria Kutiansky de Araújo Santos 191
Carlos Eduardo Gonzales Barbosa 191
José Hermógens de Andrade Filho 192
Maria Augusta Erich de Menezes 192
Horivaldo Gomes 194
Isaltina de Araújo e Silva 194
Caio Miranda 195
Sevanada Swami 197
Swami Sarvanada 199
Gilberto Gaertner 200
Pedro Kupfer 202
Danilo Forghuieri Santaella 203
REFERÊNCIAS 205
ANEXO 207
INTRODUÇÃO
²
ELEMENTOS FILÓFICOS DO YOGA CLÁSSICO
Para que se possa tratar de uma introdução aos aspectos filosóficos do Yoga Clássico, serão feitas abaixo algumas considerações sobre a divisão da sua filosofia.
O filósofo Jacob Bazarian³ estabeleceu uma divisão da Filosofia:
ONTOLOGIA OU TEORIA DO SER
Estuda a origem, a essência e a causa do cosmo, da vida e do pensamento; e a relação entre o ser e o pensamento. Responde às perguntas: qual é a realidade essencial: o ser ou o pensamento? Qual a origem e a essência do cosmo e da vida humana? Quem somos? De onde viemos? Na Filosofia Clássica, essas questões eram estudados pela Metafísica Geral.
GNOSIOLOGIA OU TEORIA DO CONHECIMENTO
Estuda a origem, a essência e a validade do conhecimento. Responde às perguntas: o que podemos conhecer? O que é o conhecimento? Existe a Verdade? Como podemos conhecê-la? Qual é o critério da Verdade? Qual é o valor dos nossos conhecimentos?
AXIOLOGIA OU TEORIA DOS VALORES
Estuda a origem, a essência e a evolução dos valores existenciais e indica os princípios da ação. Responde às perguntas: qual o valor das coisas? Como devemos agir? O que devemos fazer? Como devemos nos comportar? O que devemos esperar? Para onde vamos? Qual é o sentido da vida? Qual é o destino da humanidade?
Essas três partes Filosofia estão intimamente relacionadas. Assim, para resolver problemas Ontológicos e Axiológicos (existenciais e metafísicos) precisa-se de uma Gnosiologia capaz de indicar o melhor caminho para se consegui o conhecimento verdadeiro sobre aquilo que se investiga. Para se resolver problemas Gnosiológicos, é necessário armar-se de uma Axiologia e de uma Ontologia capazes de enfrentar os problemas gnosiológicos. Para se enfrentar problemas Axiológicos, por sua vez, uma Gnosiologia e Ontologia claras são necessárias.
É importante salientar que o Yoga admite a existência de duas consciências: chitta e chit. Chitta é a consciência individual, o ego, aquilo que nos dá a ilusão de que somos um indivíduo. Chit é uma consciência transpessoal, uma consciência que somente é percebida quando chitta deixa de funcionar, quando param os pensamentos e emoções.
Quais as bases de uma Filosofia do Yoga Clássico?
Para responder a essa pergunta, alguns versos do Yoga Sutra de Patañjali⁴ são bem-vindos: I.2.Yoga é a inibição das modificações da mente (Yoga Chitta-Vritti Nirodhah)
. Nesse sutra, Patañjali deixa claro que o estado de Yoga começa quando as atividades da consciência individual são inibidas, ou seja, deixam de existir. Assim, para Patañjali, Yoga é um estado de consciência, um estado mental no qual a consciência individual, o Ego, tem suas atividades inibidas.
I.3. Então, o vidente está estabelecido em sua natureza essencial e fundamental. (Tada Drastuh Sraupe Vasthanam)
. Nesse sutra, Patañjali diz que quando cessa a atividade de chitta, o praticante do Yoga, chamado de vidente
, estabelece-se na sua natureza essencial ou fundamental.
I.4. Nos outros estados existe assimilação (do vidente) com as modificações da mente (VrttiSarupyam Itaratra)
. Nesse sutra, Patañjali diz que, caso não sejam cessadas as atividades da mente ou de chitta, o praticante de Yoga confunde-se com os seus próprios pensamentos. Em outras palavras, o praticante de Yoga, quando não consegue parar as atividades da mente, confunde-se com elas, passa a admitir que são essas as atividades mentais.
Dessa forma, está clara uma posição ontológica do Yoga Clássico. Para Patañjali, o ser humano não é apenas o seu corpo ou os seus pensamentos. O ser humano, em essência, é o que se situa além dos pensamentos, além da atividade de chitta. Em outras palavras, a natureza do ser humano é metafísica.
Nos versos acima, também se pode perceber uma Gnosiologia. Para Patañjali, o conhecimento da Verdade acontece quando o praticante alcança a cessação da mente, de chitta. Cessada a atividade da mente ou da consciência pessoal, aparece chit, ou seja, uma consciência transpessoal. Nesse estado, o praticante conhece a Verdade.
Isto é uma Gnosiologia
II.29.Auto-restrições (Yamas), observâncias (Nyamas), posturas (Asanas), controle da Respiração (Pranayamas), abstração (Pratiaraha),concentração (Dharana), meditação (Dhyana) e êxtase (Samadhi), são as oito partes (da autodisciplina do Yoga) (Yama-Nyamasana-Pranayama-Pratyraha-Dharana-Dhyana-Samadhi Satv Angani)
. Nesses versos, Patañjali estabelece os seus oito passos do seu sistema de Yoga, também conhecido como Asthanga Yoga ou Yoga de oito passos.
II.30.Os votos de auto-restrições (Yamas), compreende a abstenção de violência (Ahimsa), de falsidade (Satya), de roubo (Asteya), de incontinência (Brahmacharya) e de cobiça (Apariigraha) (Ahimsa-Satyaasteya-BrahmacharyaparigrahaYamah)
. Como se pode perceber, o sutra descreve um verdadeiro código de ética, dizendo como o praticante de Yoga deve se comportar.
Isto é uma Axiologia
II.31.Estes (os cinco votos) independem de classe, lugar, tempo ou ocasião e, estendendo-se a todos os estágios, constituem o Grande Voto (Jati-Desa-Kala-SamayanavacchinnahSarvabhauma Maha Vrata)
. Aqui, Patañjali diz que o código de ética por ele estabelecido, constitui o que ele chama o Grande Voto, ou seja, a condição fundamental para qualquer pessoa ingressar no Yoga.
Pelo que foi visto até aqui, de modo muito resumido, os sutras escritos por Patañjali constituem elementos a uma Filosofia do Yoga Clássico.
1
Os Mestres do Yoga na Índia
Asatô Ma Sat Gamayâ
Tamasô Ma Jiotyr Gamayâ
Mrtior Mam’ritam Gamayâ
Om, Shanti, Shanti, Shanti
Do irrel, Conduza-me ao Real
Das trevas, Conduza-me à Luz
Da morte, Conduza-me à Imortalidade
(Brhadaranyaka Upanishad, I, 3, 28)
Os Vratyas
São citados no Atharva Vêda como místicos e andarilhos. Segundo estudiosos, eles praticavam uma espécie de retenção da respiração, visando a alcançar estados alterados de consciência. Eram Yogues primitivos que vagavam pela Índia antiga.
As pessoas que nasceram duas vezes (Brahmins, Kshatriyas e Vaisyas) engendram mulheres de suas próprias classes, mas que omitem os ritos prescritos e abandonaram o Gayatri, devem ser projetadas como Vratyas⁵.
Vratya⁶
Há referências aos Vratyas no Atharva Vêda (Atharva Vêda, livro XV, hino 1):
Havia um andarilho Vratya. Ele despertou Prajapati para a ação.
Prajapati viu ouro em si mesmo e o engendrou.
Esse tornou-se único, que se tornou distinto, que se tornou rico, que se tornou excelente, que se tornou Devoção, que se tornou o Santo Fervor, que se tornou a Verdade, uma vez que Ele era bom.
Ele cresceu, tornou-se grande, tornou-se Mahadeva.
Ele ganhou a devoção dos Deuses, Ele se tornou Senhor.
Ele se tornou Chefe Vratya. Ele segurou um arco, mesmo aquele arco de Indra.
Sua barriga é azul escuro, as costas dele são vermelhas.
Com azul escuro, ele envolve um rival detestado, com o vermelho afunda o homem que