A Eficácia Horizontal Dos Direitos Fundamentais
A Eficácia Horizontal Dos Direitos Fundamentais
A Eficácia Horizontal Dos Direitos Fundamentais
1. INTRODUÇÃO
1
APOSTILA DE CONSTITUIÇÃO E RELAÇÕES JURÍDICAS PRIVADAS. Artigo Científico.
Disponível, pela diretoria de educação a distância da Universidade Estádio de Sá, da disciplina Teoria
Constitucional Contemporânea, do Curso de Pós-Graduação em Direito Constitucional, acesso em
20.02.2010. Aula 4.
2
ROCHA, Viviane Pereira. Eficácia Horizontal dos direitos fundamentais. Revista dos Estudantes da
Faculdade de Direito da UFC, a 1, v 2, mai/jul 2007.
3
ROCHA, op. Cit.
ser relativizados em favor da autonomia privada, podendo os indivíduos decidir
livremente entre si4.
Isso não significaria dizer, no entanto, que a liberdade dos cidadãos e
a autonomia do direito privado seriam absolutas. Segundo os que advogam a tese
da eficácia mediata (teoria dualista), para que houvesse uma aplicação das normas
fundamentais nas relações privadas após um processo de transmutação5. Tal
processo pressupõe a existência da Constituição como um sistema de valores,
centrada especialmente no princípio da dignidade da pessoa humana, valores esses
que se irradiam no âmbito das relações particulares por intermédio de suas
cláusulas gerais e conceitos indeterminados, comumente denominados de portas
de entrada.6
Caberia, assim, antes de tudo ao legislador privado a tarefa de
estabelecer uma “ponte” que tornasse os valores constitucionais compatíveis com
relações privadas. Ao judiciário, portanto, restaria a função de integrar as
cláusulas indeterminadas criadas pelo legislador e, apenas em casos excepcionais,
quando houvesse lacunas no ordenamento privado e inexistisse cláusula geral ou
de conceito indeterminado, é que seria permitida ao juiz a aplicação direta das
normas essenciais nas lides entre particulares7. Como exemplo de cláusulas gerais
a serem interpretadas, pode-se citar ”função social”, “boa-fé”, “bons costumes”.
A corrente monista, que defende a aplicação direta e imediata dos
direitos fundamentais na seara privada, argumenta que os particulares estão
vinculados diretamente aos direitos fundamentais em virtude dos mesmos
constituírem normas válidas para todo o ordenamento, gozando de força
normativa, não se podendo aceitar que o direito privado esteja à margem da ordem
constitucional8.
4
GONÇALVES FILHO, Edilson Santana. A eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Disponível
em http://www.lfg.com.br. Publicado em 09 de outubro de 2008. Acesso em 23.01.2010.
5
SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Uma Teoria Geral dos Direitos
Fundamentais na Perspectiva Constitucional. 10ed. Porto Alegre: Do Advogado, 2009, p. 379.
6
GONÇALVES FILHO, op. Cit.
7
Idem.
8
SARLET, , op. Cit., p.379.
De acordo com a mesma corrente, os efeitos dos direitos fundamentais
são imediatos e diretos, incidindo na situação em concreto sem necessidade de
cláusulas gerais ou portas de entrada. No entanto, mesmo os defensores da
aplicação direta reconhecem que verificação dessa aplicabilidade deve ser feita in
concreto, estando adstrita às peculiaridades de cada norma de cunho fundamental.
Ademais, admitem a existência de especificidades nesta incidência, assim como a
necessidade de ponderar o princípio aplicado com a autonomia privada dos
envolvidos9.
A proposta de STEINMETZ, comentada por SILVA, é a de
ponderação de princípios, recorrendo ao princípio da proporcionalidade. Sua
premissa é de que tanto os direitos fundamentais quanto a autonomia privada são
mandamentos de otimização, ou seja, têm estrutura de princípios nos termos
definidos por ALEXY, e que, portanto, deveria seguir a mesma linha mestra que
dirige a compatibilização de direitos fundamentais em caso de colisões entre
eles10.
Ao buscar aplicar os direitos fundamentais na esfera privada, é
importante observar que nesta ocorrem situações de desigualdade fática, não
podendo ser toleradas ações que atentem contra o conteúdo em dignidade da
pessoa humana dos direitos fundamentais11.
Na ausência de desigualdade, ou seja, tratando-se de particulares em
condições de relativa igualdade, em princípio prevalece a liberdade de contratar e
a autonomia privada, aceitando-se a eficácia direta somente em caso de violação
da dignidade da pessoa humana, ainda que seja para proteger a pessoa de si
mesma12.
Há de se ressaltar, ainda, que a aplicação direta dos direitos
fundamentais nas relações privadas não exclui os efeitos mediatos desses mesmos
direitos, através da ação do legislador.
9
GONÇALVES FILHO, op. Cit.
10
SILVA, Virgílio Afonso da. Direitos Fundamentais e Relações entre Particulares. Revista de Direito
GV, v1, n1, p. 173-180, Mai 2005.
11
SARLET, op. Cit., p.379.
12
SARLET, op. Cit., p.381-382.
O Supremo Tribunal Federal tem reconhecido a eficácia direta dos
direitos fundamentais às relações privadas, independentemente de qualquer
atividade legislativa, conclui LIMA13, após comparar as pesquisas
jurisprudenciais e comentários de SARMENTO, MENDES e GORZONI. O autor
observa, no entanto, que a Suprema Corte aplica a vinculação direta sem
aprofundar-se na fundamentação doutrinária.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
13
LIMA, Henrique. Efeitos horizontais dos direitos fundamentais . Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n.
1812, 17 jun. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11392>. Acesso em: 23
jan. 2010.
todo a liberdade de contratação e a autonomia privada, sem as quais a sociedade
civil se veria engessada em seu progresso.
4. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA