Galembeck, F.
Galembeck, F.
Galembeck, F.
INTRODUO
A adeso e a pintura de poliolefinas termoplsticas
uma notria fonte de problemas. Pela sua importncia e
freqncia, estes problemas so mais notados em polietileno e polipropileno (1). Entre os polietilenos, o de baixa
densidade (PESO) produzido pelo processo de alta presso
omais problemtico.
As causas destas dificuldades so mltiplas:
I) a baixa tenso superficial dos hidrocarbonetos saturados e, portanto, de muitas das poliolefinas;
11) abaixa coeso entre as camadas superficiais eas camadas sub-superficiais de poliolefinas.
A eliminao destas causas feita atravs de tratamentos de superfcie, cujo resultado nem sempre plenamente satisfatrio.
Neste artigo, sero apresentadas as caractersticas de
superfcies de poliolefinas e, em particular, do polietileno;
sero examinados os mtodos de modificao destas superfcies eas razes do seu eventual insucesso. Sero tambm examinadas algumas tcnicas que permitem avaliar o
grau de modificao de uma superfcie de polietileno.
A TENSO SUPERFICIAL(2)
Tenso superficial amedida do aumento de energia livre de uma fase, quando area da sua superfcie aumenta.
Todos os lquidos tm tenso superficial positiva, por isso
a forma de gotas de um aerosol sempre esfrica. Uma
substncia de tenso superficial elevada tende a contrair,
formando gotas esfricas, mais do que uma substncia de
tenso superficial baixa. Lquidos apoiares como os hidro-
Fernando Galembeck Instituto de Oumica da Universidade Estadual de Campinas - tel (0192) 39-7732
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SUBSTRATO
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SLIDO/
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terfacial entre adesivo epolmero. Se for possvel fazer todas as trs, melhor.
A esta altura, j possvel compreender porque so to
comuns tratamentos de superfcie oxidativos, em poliolefinas: eles geram na sua superfcie grupos polares, aumentando a tenso superficial do polmero e facilitando o espalhamento do adesivo ou da tinta. Alis, isto no especfico para poliolefinas: tratamentos de superfcies de outros polmeros, inclusive os muito "difceis", como os fluorados, frequentemente envolvem reaes qumicas de formao de grupos superficiais polares.
FILME LQUIDO
SUBSTRATO SOLlDO
,
I
C)
c::::=---
,
I
GOTAS
FILME
C)
ISUBSTRATO SOLlDO I
ISUBSTRATO SOLlDOI
o filme instvel;
parte-se em gotas
o sistema estvel
o filme fica estendido
240 Hz
ISO
200
240
WAVELENGHT (J,lm)
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pos oxidados, que o seu interior (vide a Figura 4). Por outro
lado, cadeias curtas e ramificadas so as menos vantajosas do ponto de vista de coeso do polmero e so as que
menos se prestam cristalizao. Portanto, no de se estranhar que a camada superficial do polietileno no seja
fortemente coesa.
Uma demonstrao da importncia da coeso das ca-
CADEIAS CURTAS
POUCO ENTRELAADAS
; CAMADA
SUPERFICIAL
CAMADAS
INTERIORES
CADEIAS LONGAS
ENTRELAADAS, CRISTAIS
madas superficiais para a adeso foi dada por Schonhorn(6), atravs de um experimento notvel. Ele bombardeou polietileno com um feixe de ions de argnio, em atmosfera inerte. Este bombardeio causa a reticulao da
superfcie do polmero, reunindo todas as cadeias, pequenas e grandes, em uma s rede tridimensional. Oproduto
deste tratamento mostrou propriedades de adeso muito
boas, com adesivos comuns.
Oexperimento de Schonhorn demonstra que o aumento da tenso superficial do polietileno pode ser uma condio suficiente para se conseguir um bom espalhamento do
adesivo ou da tinta, mas no uma condio necessria
para que seja obtida adeso a este polmero.
Pode-se agora colocar uma questo, que a seguinte:
as camadas superficiais do pol ieti leno, fracamente Iigadas, podem ser eliminadas por completo? Infelizmente,
a resposta negativa. Os oligmeros que formam estas
camadas existem tambm no interior do pol ieti leno e podem sempre difundir na massa polimrica. Mesmo que
uma superfcie tenha sido tratada para remov-los, eles
podero reaparecer, migrando para a superfcie, por difuso.
Este argumento justifica uma observao que feita
com freqncia, que a seguinte: superfcies de PEBO tratadas por flambagem ou outro mtodo oxidativo envelhecem, via de regra, mais rapidamente do que superfcies de
PEAO tratadas identicamente. Envelhecimento, no caso,
significa perder a capacidade de adeso. OPEBO envelhe36
IMAGEM
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---~-----~------AMOSTRA
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ANTEPARO
LENTE DE
PROJEO
tacto que elas so pouco informativas arespeito da natureza qumica do que existe na superfcie.
ESPECTROFOTOMETRlA DE REFLETNCIA
Usando-se acessrios de refletncia total ou difusa em
espectrofotmetros infravermelhos, pode-se obter espectros de uma camada superficial do material. A espessura da
camada amostrada depende de detalhes da metodologia utilizada, mas tipicamente de 1a 10 micrometros. Os espectros so interpretados da maneira usual. e revelam diferenas substanciais com os espectros dos mesmos filmes polimricos, mas obtidos por transmisso. Estas diferenas tm
algumas causas de natureza tica mas, na maioria das vezes,
so devidas a diferenas reais entre a estrutura qumica da
camada superficial eadas camadas profundas do polmero.
Por exemplo. os espectros de refletncia do polietileno mostram as bandas atribudas a grupos carbonila com maior intensidade que os espectros de transmisso (Figura 6).
ESCA
FONTE
formar uma gota de lquido (em geral, gua) sobre asuperfcie que se quer ensaiar e observar aforma da gota. lendo
oseu ngulo de contacto com asuperfcie na qual repousa.
A leitura do ngulo de contacto pode ser feita de vrias
maneiras:
I) projetando a imagem da gota em um anteparo (Figura 5),
traando oseu perfil e lendo o ngulo de contacto com um
transferidor;
11) observando o perfil da gota com uma objetiva montada
em um gonimetro ou transferidor. no qual feita diretamente a leitura do ngulo;
111) registrando a imagem da gota com um monitor de vdeo
e lendo o ngulo na tela de um televisor ou do monitor de
um microcomputador. Neste ltimo caso, um software
pode determinar ongulo, atravs da digitalizao da imagem do perfil da gota;
IV) fotografando agota com lente de aproximao. e lendo
ongulo na fotografia.
A determinao de ngulos de contacto extremamente sensvel a modificaes da superfcie. porque o ngulo
s depende do que existir em uma pelcula muito fina do
substrato, de ordem de 1 nanometro de espessura. Isto .
mudando-se esta pequena pelcula, por exemplo tornando-a polar. ongulo de contacto ser drasticamente mudado. Esta grande sensibilidade da tcnica tambm uma
desvantagem. j que no permite distinguir uma modificao muito superficial de outra. mais profunda. Por esta
mesma razo. as determinaes so muito sujeitas a pequenas quantidades de contaminantes.
Uma desvantagem sria das medidas de ngulo de conPolmeros: Cincia e Tecnologia - Nov/Dez-91
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1200
1000
800
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oprincpio fsicoa anlise o seguinte: um feixe de raios-X incide sobre aamostra, que mantida em alto-vcuo.
Em conseqncia, a amostra emite eltrons, cujas energias so caracters'ticas dos elementos que a constituem.
Estes eltrons so detectados, analisados eoresultado final do tratamento dos resultados experimentais um espectro, no qual cada pico atribuido a um elemento, e a
sua intensidade proporcional quantidade desse elemento na camada superficial.
MICROSCOPIA ELETRNICA DE VARREDURA,
ACOPLADA ESPECTROMETRlA DE RAIOS-X
CONCLUSO
As dificuldades de adeso em polietileno esto associadas acaractersticas intrnsecas do material (tenso superficial e existncia de material oligomrico). Estas dificuldades podem ser atenuadas por tratamentos de superfcie, que adequam o polietileno a um grande nmero de
adesivos etintas, dispensando a necessidade de produtos
especiais. A maior incidncia de problemas no PEBD est
associada maior proporo de oligmeros, que formam
na sua superfcie uma camada fracamente ligada. Existe
um nmero substancial de tcnicas que permitem avaliar o
grau de modificao introduzido por um tratamento de superfcie.
AGRADECIMENTOS