CARSON D.D, Os Perigos Da Interpretação Bíblica

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CARSON D.

D, Os perigos da interpretao bblica, Vida Nova, So Paulo: SP,


2007
INTRODUO
Enfocar falcia, exegtica ou de qualquer outro tipo, parece um pouco
enfocar o pecado: as partes culpadas talvez fiquem ressentidas e
detenham-se de maneira apenas breve para examinar seus erros, sem que
haja algo intrigante redentor nessa atitude Antes de prosseguir, quero expor
a importncia deste trabalho e riscos inerentes a ele, reconhecendo
abertamente as muitas limitaes por mim.
A importncia deste estudo
Este estudo importante porque, infelizmente, as falcias exegticas so
freqentemente entre ns, cuja graa e responsabilidade recebidas de Deus
so a fiel proclamao de Sua Palavra. A essncia de toda a crtica, no
melhor sentido dessa palavra to mal usada, a justificao de opinies.
Uma interpretao crtica das Escrituras aquela que possui justificao
adequada, em outras palavras, exegese crtica neste sentido aquela que
d boas razes para as escolhas que faz e as posies que adota. Uma
abordagem cuidadosa da Bblia capacitar-nos- a "ouvi-la" um pouco
melhor. A importncia deste tipo de estudo no pode ser superestimada se
pretendemos alcanar unanimidade nas questes de interpretao que
ainda nos dividem. Por outro lado, claro, os motivos nem sempre so
racionais ou podem ser corrigidos apenas com maior rigor exegticos.
Superficialmente, bvio que pode haver vrios obstculos de natureza
apenas prtica para serem transpostos. A princpio, evidentemente,
possvel que uma discusso aberta e extensa no consiga mais do que
expor a natureza das diferenas ou mostrar como elas esto entrelaadas
com questes mais amplas. No final, porm uma vez que todos esses
desvios tenham sido cuidadosa e humildemente examinados, cada um deles
tendo levantado difceis problemas exegticos, as discusses restantes
entre aqueles que possuem uma concepo elevada das Escrituras sero
apenas exegticas e hermenuticas. A ltima razo pela qual este estudo
tornou-se importante a mudana no ambiente teolgico do mundo
ocidental durante os ltimos trinta ou quarenta anos. Isso significa que em
tais casos uma apologtica tradicional irrelevante. Tendo sido atacados de
todos os lados pelas frentes hermenuticas e exegticas, e um dos passos a
serem dados para retornarmos a discusso examinar nossas ferramentas
exegticas e hermenuticas novamente.
Os riscos deste estudo
Se existe razes pelas quais um estudo das falcias exegticas
importante, h tambm razes pelas quais tal estudo arriscado. A primeira
delas o fato de que um negativismo contnuo espiritualmente perigoso.
Se a principal ambio da vida de algum descobrir tudo o que est
errado, essa pessoa est se expondo destruio espiritual. Por outro lado,
concentrar-se por muito tempo em erros e falcias pode produzir um efeito
bastante diferente em algumas pessoas. Para aqueles que j so inseguros
quanto a sim mesmo ou esto profundamente amedrontados pelas
responsabilidades que pesam sobre os ombros dos que foram

comissionados para pregar todo o desgnio de Deus, um estudo assim


poder lev-lo ao desnimo, at mesmo ao desespero. O perigo
fundamental em todo estudo crtico da Bblia encontra-se no que os
especialistas da hermenutica chamam "distanciamento". O distanciamento
um componente necessrio do trabalho crtico; contudo, uma tarefa
difcil e, s vezes, penosa. O distanciamento difcil e pode ser penoso. Mas
no posso deixar de enfatizar veementemente que ele no um fim em si
mesmo. Seu correlativo caracterstico a fuso de horizontes de
compreenso.
Os limites deste estudo
Esta no uma discusso altamente tcnica. Por no ser um estudo tcnico,
no forneo informaes bibliogrficas extensas. Inclu apenas as obras
realmente citadas ou referidas em minha apresentao. Est obra
concentra-se em falcias exegticas, no em falcias histricas e teolgicas.
Nestas pginas, no h nenhuma discusso sistemtica sobre o papel do
Esprito Santo em nosso trabalho exegtico.
1

FALCIAS VOCABULARES

Como as palavras so surpreendentes! Elas podem transmitir informaes e


expressar ou evocar emoes. So os veculos que nos capacitam a pensar.
As palavras esto entre os instrumentos bsicos de um pregador. Minhas
pretenses simplesmente a registras, descrever e exemplificar uma sria
de falcias comuns.
Falcias semnticas comuns
1

A falcia do radical

Pressupes que toda palavra realmente tem um sentido ligado sua forma
ou a seus componentes. O significado determinado pela etimologia, ou
seja, pela raiz ou razes de uma palavra. A busca de significados ocultos
associada etimologia torna-se ainda mais ridcula quando duas palavras
com significados totalmente diferentes compartilham da mesma etimologia.
Apresso-me em acrescentar trs advertncias. Em primeiro lugar, no estou
dizendo que qualquer palavra pode significar qualquer coisa. Normalmente,
observamos que cada palavra isolada tem um determinado campo
semntico restrito e, portanto, o contexto pode modificar ou adaptar o
significado de um termo somente dentro de certos limites. A segundo
advertncia que o sentido de uma palavra pode refletir os significas de
seus componentes. O significado de uma palavra pode refletir sua
etimologia; deve-se admitir que em lnguas sintticas como grego e alemo,
com suas porcentagens relativamente altas de palavras transparentes, isto
mais comum do que em uma lngua como o ingls, na qual as palavras
so "opacas". Finalmente, no estou sugerindo de forma alguma que o
estudo etimolgico intil.
2

Anacronismo semntico

Esta falcia ocorre quando um significado mais recente de certa palavra


transportado para a literatura antiga. Contudo, o problema apresenta um
segundo aspecto quando acrescentamos tambm uma mudana de lngua.
A terceira faceta do mesmo problema foi arduamente exemplificada em trs

artigos sobre o sangue, na revista Christianity Today. Os autores realizaram


um trabalho admirvel explicando as maravilhosas descobertas das cincias
sobre o que o sangue pode fazer em particular, sua funo purificadora na
medida em que lava as impurezas celulares e transporta alimento para
todas as partes do corpo.
3

Obsolescncia semntica

Em alguns aspectos, esta falcia a imagem refletida pelo anacronismo


semntico. Aqui, o intrprete atribui a certa palavra de seu texto um
significado que o termo em questo costumava ter em tempos passados,
mas que no mais encontrado dentro do atual campo semntico da
palavra; ou seja, o significado semanticamente obsoleto. evidente que
algumas palavras simplesmente perdem sua utilidade e desligam-se do uso
comum da lngua. Algumas mudanas deixam-se demarcar com bastante
facilidade. Podemos dizer que as palavras mudam de significado com o
decorrer do tempo. Conseqentemente, devemos suspeitar um pouco
quando algum trecho e exegese tenta estabelecer o significado de uma
palavra recorrendo, antes de tudo, o seu uso no grego clssico, em vez do
emprego no grego helenstico.
4

Reivindicao de significados desconhecido ou improvveis

Podemos continuar utilizando o exemplo anterior. Os Mickelsen no s


recorrem ao LSJ, mas tambm deixam de notar os limites que at o LSJ
impe evidncia. Eles do grande importncia idia de nascente de um
rio, como sendo a "fonte" do rio. Os Mickelsn esto tentando reivindicar um
significado desconhecido ou improvvel. Tudo isto serve apenas para
mostrar que esta quarta falcia pode ser obscurecida por uma razovel
habilidade exegtica; mas ainda assim continua sendo uma falcia.
5

Negligncia no uso de material de apoio

Aps considerar com o mximo cuidado possvel todas as opes das quais
tinha algum conhecimento, rejeitei as varias interpretaes sacramentais,
julgando-as anacrnicas, contextualmente improvveis e discordantes dos
temas. De fato, as analogias no so boas, mas minha hesitante defesa
desse ponto de vista tem se mostrado tanto inconvincente quanto
desnecessria. O segundo exemplo est em minha exposio de carter
popular sobre o Sermo do Monte. Nesta obra, expliquei a famosa
discrepncia entre a referncia de Mateus a um monte e a meno que
Lucas faz de uma planura minha apologtica tinha um padro mais ou
menos conservador: mesmo um monte possui lugares planos, e assim por
diante.
6

Paralelomania verbal

Samuel Sandmel cunhou o termo paralelomania para denominar a


tendncia que muitos estudiosos bblicos tem de citar "paralelismos" de
valor questionvel. Uma subdiviso de tal abuso a paralelomania verbal
a enumerao de paralelismo verbais de alguma obra literria como se
esses meros fenmenos demonstrassem elos conceituais ou mesmo
dependncia.
7

A associao entre lngua e mentalidade

H no muito tempo atrs esta falcia deu origem a vrias obras. Se for
mencionado um livro como Hebrew Thought Compared with Greek em uma
sala onde h muitas pessoas lingisticamente competentes, logo haver
diversas expresses de aborrecimentos e resmungos. A essncia desta
falcia a pressuposio de que qualquer lngua confina de tal forma os
processos mentais de seus falantes que as pessoas so foradas a ter certos
padres de pensamento e proteger-se de outros.
8

Falsa pressuposies sobre significados tcnicos

Nesta falcia, o intrprete supe erradamente que uma palavra sempre ou


quase sempre tem um determinado significado tcnico um sentido
geralmente derivado de uma subdiviso da evidncia ou da teologia
sistemtica pessoal desse estudioso. s vezes, a descoberta de um suposto
terminus technicus est ligada a argumentos perceptveis, mas complexos.
Um corolrio desta falcia que alguns intrpretes avanaro outro estgio
e reduziro uma doutrina inteira a apenas uma palavra que acreditam ser
um termo tcnico.
9

Problemas envolvendo sinnimos e anlise de componentes

H duas falcias principais e relacionadas que eu gostaria de abordar sob


esse ttulo. A primeira surge do fato de que os termos sinonmia e
equivalncia so to pouco compreendidos por muitos de ns que nem
sempre distines adequadas so mantidas. O ponto central desta prtica
to rdua no denegrir o trabalho de um erudito bblico, pois se pode
argumentar, por exemplo, que Sanders no pretende considerar a palavra
"sinonimicamente", semelhana da forma rigorosa exigida pelos lingistas
modernos. Para apresentar o segundo problema, devo falar um pouco sobre
a anlise de componentes. Este tipo de estudo tenta isolar os componentes
do significado. Por varias razes, duvido muito que haja uma distino
intencional. Se eu me dispusesse a provar esta questo, teria de discutir o
significado de "pela terceira vez", fazer uma exegese detalhada do texto,
rever a evidncia de que, em geral, introduz expresses sinnimas em
termos precisos ou gerais, e assim por diante.
10

Uso seletivo e preconceituoso das evidncias

Agora, proponho-me a descrever uma falcia um pouco diferente, que pode


estar relacionada a matrias de apoio, mas que com certeza no se
restringe a isso. Refiro-me a uma espcie de reivindicao de evidncias
seletivas, o que capacita o intrprete a dizer o que quer, sem realmente
ouvir o que diz a Palavra de Deus.
11

Disjunes e restries semnticas injustificadas

No so poucos os estudos vocabulares que oferecem ao leitor alternativa


do tipo "e/ou" e ento foram uma deciso. Em outras palavras, exigem
uma disjuno semntica, quando talvez a complementao fosse possvel.
12

Restrio injustificada do campo semntico

H muitas maneiras diferentes de se entender mal o significado de uma


palavra em determinado contexto, restringindo-se de forma ilegtima seu
campo semntico. Isto acontece se erroneamente a declaramos um

terminus technicus, recorrendo a disjunes semnticas ou usando de forma


inadequada algum material de apoio. s vezes, deixamos de notar o quanto
amplo todo o campo semntico de uma palavra; assim, quando nos
dispomos a fazer exegese de certa passagem, no consideramos a
apropriadamente as opes em potencial e, sem perceber, acabamos por
excluir algumas possibilidades dente as quais poderia estar a correta. Seja
como for, insisto em que restringir de forma injustificada e precipitada o
campo semntico de uma palavra um erro metodolgico. A falcia est na
crena de que em qualquer caso possvel ter a interpretao correta de
uma passagem; muitas vezes isso no possvel
13

Adoo injustificada de um campo semntico expandido

Neste caso, a falcia est na suposio de que o significado de uma palavra


em determinado contexto muito mais amplo do que o contexto em si
permite, podendo trazer consigo todo o campo semntico do termo em
questo. s vezes, esta medida chamada "transferncia ilegtima da
totalidade".
14

Problemas relativos ao contexto semtico do Novo Testamento grego

Os tipos de problemas que tenho em mente podem ser revelados fazendose algumas perguntas retricas: at que ponto o vocabulrio do Novo
Testamento grego configurado pelas lnguas semticas que, presume-se,
do-lhe a base de longos trechos? At que ponto o campo semntico normal
das palavras do Novo Testamento grego alterado pelo impacto dos
antecedentes semticos pessoais de algum escritor do Novo Testamento, por
sua leitura do Antigo Testamento hebraico, quando pertinente, ou pela
influncia indireta do Antigo Testamento hebraico sobre a Septuaginta, que
por sua vez influenciou o Novo Testamento?
15
Negligncia injustificada de particularidades distintivas de um grupo
de palavras
Neste caso, a falcia est na falsa suposio de que o uso predominante de
qualquer palavra em um dos escritores do Novo Testamento basicamente
o mesmo em todos os outros quase nunca isso acontece
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Associao injustificada de sentido e referncia

Referncia ou denotao a representao de alguma entidade nolingstica por meio de um smbolo lingstico. Nem todas as palavras so
referenciais. Nomes prprios sem dvidas o so. Fica claro, portanto, que os
conceitos de sentido e referente podem ser distinguidos. Provavelmente,
porm, a maior parte dos eruditos bblicos usa essas categorias com menos
preciso do que os lingistas. A falta de compreenso destas questes foi
um dos impulsos que fez surgir o Theological Dictionary of the New
Testamente (dicionrio Teolgico do Novo Testamento), especialmente os
primeiro volumes.
A essncia da questo: o conflito com o contexto
Talvez a principal razo pela qual os estudos vocabulares constituem uma
fonte de falcias exegticas particularmente ricas seja o fato de que muitos
pregadores e professores bblicos conhecem a lngua grega apenas o

bastante para usar concordncia ou talvez um pouco mais. Avanar alm da


lista apresentada neste captulo e tentar fornecer algumas diretrizes
positivas seria modificar o propsito deste livro; assim, paro aqui.
2

FALCIAS GRAMATICAIS

Seria de esperar que uma lista de falcia exegticas encontradas no campo


gramatical inclusse exemplos muito mais numerosos e diversos do que a
relacionada a estudos vocabulares. Todavia, componho este captulo de
forma mais breve que o anterior. H diversas razes para este deciso. Em
primeiro lugar, os estudos vocabulares somam tantas falcias porque
muitos pastores formados em seminrios tm bagagem suficiente para
ger-las, mas, no para cometer alguns tipos de erros gramaticais. Em
segundo lugar, a anlise gramatical no tem sido popular nas ltimas
dcadas de estudo bblico. Muito mais tempo e esforos tm sido
consagrados semntica lxica do que gramtica.
A flexibilidade do Novo Testamento grego
Antes de comearmos este levantamento de algumas falcias gramaticais
elementares, importante lembrar que o princpio da entropia opera tanto
em lnguas vivas quanto em fsica. A importncia prtica deste fato que a
gramtica do perodo grego clssico, relativamente mais estruturada, no
pode ser aplicada de uma s vez de maneira legtima ao Novo Testamento
grego.
Falcias relacionadas a tempos e modos verbais diversos
1

O tempo aoristo

Frank Stagg escreveu um artigo sobre o uso inadequado do aoristo. Stagg


via um problema no fato de que, a partir da presena de um verbo no
aoristo, estudiosos competentes estavam deduzindo que a ao referida era
"definitiva" ou "completa". A dificuldade surge em parte porque o aoristo
freqentemente descrito como o tempo pontilear. Stagg no tem sido o
nico a advertir contra o mau uso do aoristo; mesmo assim, ainda possvel
encontrar no s pregadores, mas tambm competentes estudiosos
cometendo o erro de conferir-lhe peso excessivo. Contudo, possvel ir
longe demais com este tipo de crtica uma questo bem ilustrada em um
artigo sobre a obra de Stagg de Charles R. Smith. No s afirma que Stagg
tem sido ignorado, como tambm procura ir alm deste autor, insistindo em
que a evidncia requer que descartemos para sempre todas as
denominaes como aoristo global, constativo ingressivo e outras
semelhantes. Isso, porm, no lingisticamente ingnuo. Smith chega
sua concluso apresentando contra-exemplos bblicos para cada tipo de
classificao de aoristo mencionada pelos gramticos; mas tudo o que esses
contra-exemplos provam que nem todo aoristo usado daquela maneira e
no que nenhum aoristo empregado assim. Todavia, a principal razo pela
qual o tempo aoristo pode, em suas relaes com contextos especficos,
expressar uma imensa variedade de tipos de ao justamente o fato de
ser mais malevel que os outros tempos verbais. Em resumo, delineei duas
falcias. Na mais comum, sustenta-se erroneamente que o tempo aoristo
sempre traz um significado altamente especifico. Na segunda, afirma-se que
o tempo aoristo no pode carregar nenhum peso semntico alm do valor

semntico no-marcado do aoristo, mesmo quando est em um contexto


muito especfico.
2

A primeira pessoa do aoristo do subjuntivo

Gostaria de usar este item como um caso exemplar uma amostra do tipo
de questo levantada em estudos gramaticais mais avanados. O que
gostaria de abordar aqui no exatamente uma falcia, a menos que
possamos incluir sob esse ttulo aqueles rtulos gramaticais to
inadequados que ocultam mais do que revelam. A definio tpica de
subjuntivo deliberativo de fato abrange trs categorias bastante distintas. O
verdadeiro deliberativo, como o subjuntivo hortativo, intramural. A
segunda e terceira categorias so pseudodeliberaes. O sujeito na primeira
pessoa do subjuntivo no faz a pergunta para si mesmo. Meu argumento
triplo: existe ainda muito territrio gramatical a ser vencido, os resultados
podem ser exegeticamente proveitosos e, entretanto, no poucas categorias
gramaticais tanto ocultam quanto revelam.
3

A voz mdia

A falcia mais comum ligada voz mdia a suposio de que


praticamente todo ponto em que ela ocorre reflexivo ou sugere que o
sujeito age por si s. claro que os gramticos competentes no so to
ingnuos, mas ainda assim esta falcia tem aparecido em muitas obras e,
normalmente, surge com o propsito de sustentar alguma doutrina
preferencial.
4

O perfeito perifrstico em Mateus 16.19

O problema to discutido aqui como o texto deve ser traduzido. Durante


os ltimos cinqenta anos, foram publicadas em peridicas discusses
calorosamente redigidas a respeito deste ponto. Quando passamos para
questes paradigmticas, contudo, pode-se progredir. Um exame preliminar
da evidncia sugere que a fora de futuro provvel nos caos onde o
particpio perfeito normalmente tem foras de presente, porque o verbo
defectivo. Estas questes no fornecem respostas absolutamente
incontestveis; mas neste caso, questes paradigmticas realmente
rompem barreiras. Evita-se assim a falcia de pressupor que todos os
problemas relativos ao significado dos tempos verbais podem ou devem ser
resolvidos recorrendo-se apenas a consideraes morfolgicas e
sintagmticas.
Falcias ligadas a vrias unidades sintticas
1

Condicionais

Trs falcias merecem ser mencionadas sob este titulo. A primeira comum.
Em condicionais de primeira classe, geralmente chamadas condicionais
"reais", com freqncia acredita-se que a prtase considerada verdadeira,
isto , a coisa suposta real. Em condicional de primeira classe, a prtase
considerada verdadeira por causa do argumento, mas a coisa realmente
suposta pode ser verdadeira ou no. Em segundo lugar, uma falcia
sustentar que condicionais de terceira classe tm alguma expectativa
implcita de cumprimento, seja ela duvidosa ou no. Em terceiro lugar,
porm, quando um argumento que no h uma "referncia temporal"

evidente na apdose futura em seu significado, seja o verbo um aoristo do


imperativo, um subjuntivo. Um presente do indicativo, um futuro do
indicativo, um aoristo do subjuntivo com na, ou alguma outra forma.
2

O artigo: consideraes preliminares

O artigo definido em grego extremamente difcil de ser classificado de


maneira exaustiva. Contudo, existem alguns princpios orientadores, e
aqueles que os ignoram ou deixam de entend-los acabam por cometer
muitos enganos. Os gramticos, claro, compreendem essas questes.
Contudo, espantoso como o mesmo no parece acontecer com muitos
comentaristas.
3

O artigo: a regra de Graville Sharp

Algumas gramticas apresentam a regra de forma bastante simplista. A


falcia est em considerar esta regra em termos absolutos demais; pois, na
verdade, certas condies so necessrias para que uma evidncia concreta
seja abrangida por esta regra. A falcia consiste em pressupor a validade
universal da forma estrita da regra de Granville Sharp.
4

O artigo: a regra de Colwell e questes relacionadas

Sabe-se bem agora que em uma orao como ka yev hn logov, o


substantivo com o artigo constitui o sujeito, ainda que esteja colocado
depois do verbo. Entretanto, alm dessas limitaes, a regra de Colwell
pode ser facilmente utilizada de forma inadequada. A falcia em muitas
reivindicaes populares de Colwell est na crena de que a parte de sua
regra que diz respeito a Joo 1.1 baseia-se em uma anlise de todos os
predicados anartros que precedem verbos de ligao. Em outras palavras,
baseando-se no fato de que um substantivo predicativo precedendo um
verbo de ligao anartro, uma falcia afirmar que muito provvel que
ele seja definido.
5

Relao entre tempos verbais

Falcias exegticas e teolgicas surgem nesta rea quando so tiradas


concluses sem se prestar a devida ateno s relaes entre uma orao e
outra, estabelecida pelas formas verbais.
O potencial para uma preciso renovada
Surpreendentemente, nas ltimas dcadas houve pouco progresso em
gramtica grega, refletindo em parte padres decadentes na educao
clssica e em parte um desvio de interesse para algum outro ponto. Esta
situao pode mudar de maneira bastante rpida com a chegada do
programa GRAMCORD, que um programa de computador que consiste de
um texto do Novo Testamento grego e um programa consideravelmente
sofisticado que capacita o usurio a buscar qualquer construo gramatical
de posicionalmente definida.
3

FALCIAS LGICAS

A natureza e a universalidade da lgica

A questo lgica no primeiro sentido natural. No deve ser descartada


como a peculiar e discutvel teoria de Aristteles. Antes a srie de
relaes que devem ser vlidas se qualquer conhecimento e qualquer
comunicao de conhecimento proposicional possvel.
Uma seleo de falcias lgicas
1

Falsas disjunes: uso inadequado da lei do termo mdio excludo

So extraordinariamente comuns e potencialmente muito prejudiciais a uma


exegese justa e imparcial. Naturalmente, algumas disjunes formais so
apenas recursos estilsticos que no devem ser interpretados como
verdadeiras disjunes. A poesia hebraica tende a expor esses recursos e o
Novo Testamento tambm o faz.
2

Deixar de reconhecer distines

Um bom exemplo desta falcia aquela que argumenta que, por serem x e
y semelhantes em certos aspectos, eles so semelhantes em todos os
aspectos.
3

Uso de evidncia seletiva

Um exemplo simples o uso que alguns cristos muito conservadores


fazem de 1 Corntios 14.33-36 para argumentar que as mulheres devem
sempre manter silncio na igreja. Elas no devem orar em voz alta, oferecer
testemunho ou falar em circunstncia alguma. Admite-se que tais versculos
poderiam ser considerados dessa forma; mas uma interpretao assim
resulta em um conflito inevitvel com o que Paulo diz trs captulos antes,
onde ele permite que, sob certas condies, as mulheres orem e profetizem
na igreja.
4

Uso inadequado de silogismos

A falcia consiste em achar que certos argumentos so bons, quando uma


breve reflexo mostra que no tm valor algum. Um ensino ocasionado por
uma situao local no universalmente aplicvel. O ensino em questo
(em 1 Timteo 2.11-15) ocasionado por uma situao local. Portanto, o
ensino em questo no universalmente aplicvel. Neste caso, a forma do
argumento vlida, mas a primeira premissa esta muito generalizada para
que se possa acreditar nela.
5

Confuso de cosmovises

A falcia consiste em algum acreditar que a experincia e a interpretao


da realidade individuais de uma pessoa so a estrutura adequada para se
interpretar o texto bblico; na verdade, porm, se examinarmos alm do
nvel superficial, pode haver diferenas to profundas que descobrimos que
esto sendo usadas diferentes categorias, e a lei do termo mdio excludo
pode ser aplicada. A falcia em questo apresenta a necessidade mais
evidente de distanciamento por parte do intrprete. A menos que
reconheamos a distncia que nos separa do texto que est sendo
estudado, iremos negligenciar diferenas de perspectiva, vocabulrio e
interesse; e involuntariamente estaremos transferindo nossa carga mental
para o texto, sem nos determos para questionar se isso apropriado. Isso

no significa que o conhecimento real seja impossvel. Antes significa que o


conhecimento real quase impossvel se deixarmos de reconhecer nossas
prprias suposies, indagaes, interesse e procurarmos fazer concesses,
estaremos mais capacitado separa evitar a confuso de nossa prpria
cosmoviso com as dos escritores
6

Falcia de estrutura interrogativa

Esta uma subdiviso da falcia anterior. Ela faz uma pergunta que impinge
uma situao desconfortvel sobre o homem a quem a pergunta dirigida.
Todavia, antes que ns, telogos, agradeamos a Deus com presuno por
no sermos basicamente historiadores, precisamos reconhecer que ns
mesmos camos em muitas falcias devido forma em que estruturamos as
questes.
7

Confuso injustificada entre verdade e preciso

s vezes, a veracidade das Escrituras depreciada devido sua


demonstrvel impreciso. Contudo, uma falcia confundir essas duas
categorias ou achar que h algum tipo de vinculo entre os dois conceitos.
8

Apelo puramente emotivos

claro que no h nada intrinsecamente errado com a emoo. Contudo,


apelos emotivos s vezes mascaram as questes ou escondem as falhas do
argumento racional subjacente. Infelizmente, quando mais discutida a
questo, mais freqentes se tornam os apelos emocionais ilegtimos, e s
vezes estes aparecem entrelaados com o sarcasmo. O apelo a argumento
emocionais pode abranger os modos pelos quais os dados so
apresentados.
9

Generalizao e demasiada especificao injustificadas

Neste caso, a falcia consiste na crena de que uma proposio particular


pode ser generalizada apenas porque se adapta ao que queremos que o
texto transmita, ou na crena de que um texto diz mais do que na verdade
diz. Infelizmente, s vezes os evanglicos caem na mesma armadilha.
10

Influncias negativas

Se uma proposio verdadeira, isto no significa necessariamente que


uma inferncia negativa a partir dessa proposio tambm seja verdadeira.
A inferncia negativa pode ser verdadeira; mas isto no deve ser tomado
como certo, e em qualquer caso ela nunca verdadeira porque uma
inferncia negativa.
11

Inferncias injustificadas

Esta uma subdiviso particular da quinta falcia deste captulo. Ela ocorre
quando uma palavra ou expresso desencadeia uma idia, conceito ou
experincias associados que no tm nenhuma relao direta com o texto
em questo, mas mesmo assim so usados para interpret-lo. Este erro
surpreendente fcil de ser cometido na pregao textual, negligenciando a
velha mxima de que um texto fora de contexto torna-se pretexto para um
texto-prova.

12

Falsas declaraes

surpreendente a freqncia com que livros ou artigos do informaes


falsas; e se nos basearmos demais em tais obras, nossa exegese ser mal
direcionada. At mesmo eruditos que geralmente so cuidadosos cometem
erros, s vezes porque se baseiam em fontes secundrias incertas, outras
porque a prpria memria os enganou.
13

O non sequitur

Este caso diz respeito a concluses que "no seguem" da evidncia e dos
argumentos apresentados. H muitas formas, com freqncia facilmente
apresentadas pelo silogismo.
14

Rejeio arrogante

Neste caso, a falcia consiste em pensar que o argumento de um opositor j


foi realmente discutido, quando na verdade foi apenas colocado de lado.
15

Falcia baseadas em argumentao equvocas

Com este ttulo geral, refiro-me a argumentos que no podem ser


considerados errados, mas que mesmo assim so imperfeitos, equvocos,
insatisfatrios. Eles alegam proferir mais do que podem. H diversos tipos
de argumentaes equivocada. Um intrprete pode fazer a pergunta
retrica, contudo a pergunta retrica pode estar baseada na pressuposio
implcita, que o autor concluiu antecipadamente para si. Ainda menos
recomendvel aquela forma de argumenta que busca com determinao a
linguagem mais ambgua possvel a fim de assegurar a mais ampla
concordncia. Outro tipo de argumentao equivocada ocorre quando
consciente ou inconscientemente um comentarista expressa sua explanao
de forma tal que deixa duas ou mais opes abertas.
16

Analogia inadequadas

A falcia aqui esta na suposio de que determinada analogia esclarece um


texto ou tema bblico quando, na verdade, ela comprovadamente
inadequada ou imprpria. Analogias sempre incluem elementos tanto de
continuidade quanto de descontinuidade junto com o que se propem a
explicar; mas para que uma analogia seja de alguma forma vlida, os
elementos de continuidade devem predominar no momento da explicao.
17
Uso imprprio de expresses como "obviamente" e outras
semelhantes
perfeitamente adequado que um comentarista use expresses como
"obviamente", "nada pode ser mais evidente" ou algo assim, quando ele j
disps evidncias to irrefutveis que a grande maioria dos leitores
concordaria que o assunto evidente ou que o argumento logicamente
conclusivo. Contudo, imprprio usar tais expresses quando argumentos
opostos ainda no foram refutados definitivamente, e uma falcia achar
que as expresses em si acrescentam algo significativo argumentao.
18

Reivindicaes simplistas de autoridade

Pode-se reivindicar a autoridade de ilustres eruditos, pastores respeitados


ou autores clebres, a opinio da maioria e vrias outras. A falcia consiste
na crena de que recorrer autoridade de outros justifica determinada
interpretao de um texto; na verdade, porm, a menos que as razes de
tais autoridades sejam expostas, a nica coisa que tais reivindicaes
demonstram o que o escritor est sob a influncia daquela autoridade
importante.
4

FALCIAS HISTRICAS E DE PRESSUPOSTOS

A Bblia contm muitos dados histricos; e onde os seres humanos limitados


e decados lidam com a histria, falcias de historiadores sero
encontradas. A exegese envolve uma linha de pensamente e argumentao
sistematizadas, e onde houver tal raciocnio sistematizado, a tambm
encontraremos falcias de pressupostos.
A influncia da nova hermenutica
Nas atuais circunstncias, essencial mencionar a revoluo no
pensamento provocada pelo surgimento da "Nov hermenutica". A nova
hermenutica derruba a rigorosa disjuno sujeito / objeto caracterstica da
antiga teoria hermenutica. Em algumas exposies da nova hermenutica,
o significado real e objetivo em um texto uma miragem, e busc-lo algo
to til quanto procurar uma agulha em um palheiro. Escritores mais
sofisticados entendem que o crculo hermenutico no vicioso:
idealmente, mais uma espiral hermenutica. Se verdade que a nova
hermenutica pode nos ensinar a sermos cuidadosos e auto-conscientes de
nossas prprias limitaes e preconceitos quando abordamos a Palavra de
Deus teremos um grande proveito; mais ser prejudicial se servir como
fundamento para a "relativizao" de todas as opinies a respeito do que as
Escrituras esto dizendo.
Algumas falcias histricas e de pressuposto
1

Reconstruo histrica livre

A falcia est em enfatizar demais reconstrues especulativas da histria


judaica e crist do primeiro sculo na exegese de documentos do Novo
Testamento. O problema no temos quase nenhum acesso histria da
igreja primitiva durante suas primeiras cinco ou seis dcadas parte dos
documentos do Novo Testamento. O problema to endmico para a
erudio do Novo Testamento que muitas divises entre eruditos
conservadores e liberais podem ser determinadas em termos desta falcia
metodolgica. Ainda pior o fato de tal reconstruo histrica livre muitas
vezes estar ligada s abordagens mais extravagantes a fim de formular
crticas que geram obras duplamente livre.
2

Falcia de causalidade

Falcias de causalidade so explicaes falhas das causas dos eventos. No


difcil encontrar exemplos destas e de outras falcias nos escritos dos
eruditos do Novo Testamento.
3

Falcia de motivao

Falcias de motivao podem ser consideradas uma subdiviso das falcias


causais: "Uma explicao baseada na motivao pode ser entendida como
um tipo especial de explicao casual na qual o efeito um ato inteligente,
e a causa o pensamento por trs disso; ou pode ser concebida em termos
no-causais, como um paradigma de comportamento exemplar". A
proporo mais alta de falcia de motivao surge hoje em alguns estudos
radicais da crtica da redao do Novo Testamento.
4

Paralelomania conceitual

Esta uma rplica conceitual da paralelomania verbal abordada no capitulo


1. Em particular, a paralelomania conceitual atraente para aqueles que
fizeram estudo avanados em um campo especializado, mas que no tm
mais do que um srio conhecimento de escola dominical das Escrituras.
5
Falcia que surgem da falta de distanciamento no processo
interpretativo.
A mais bvia destas a transferncia de uma teologia pessoal para o texto.
Contudo, se s vezes transferimos nossa prpria teologia para o texto, a
soluo no est em retroceder para tentar a neutralidade, procurando
tornar a mente uma tbua rasa para que sejamos capazes de ouvir o texto
sem preconceitos.
5

REFLEXES FINAIS

Oportunidades para outras falcias


1

Problemas relativos ao gnero literrio

H muitos. Nossas definies modernas de "parbola" ou "alegoria" podem


no ser exatamente o que os escritores antigos queriam dizer com esses
termos. Como podemos estruturar nossas perguntas sobre gnero por meio
do gnero sendo estudado? Muitos entram em choque com a necessidade
de equilbrio entes vnculos e desconexes quando dois trechos literrios
esto sendo comparados.
2

Problemas relativos ao uso que o Novo Testamento faz do Antigo

Estes incluem a natureza da autoria do antigo Testamento quando a


correlao a tipolgica.
3

Argumentos a partir do silncio

Os eruditos geralmente reconhecem que os argumentos a partir do silncio


so fracos; mas so mais fortes se podemos alegar que, em qualquer
contexto particular, poderamos ter esperado comentrios adicionais por
parte do falante ou narrador.
4

Problemas relativos justaposio de textos

O problema que todas as associaes acabam produzindo um filtro que


afeta a interpretao de outros textos. Podem existir falcias relacionadas
no s AL modo pelo qual versculos isolados so interpretados, mas
tambm ao modo pelo qual diversas passagens so associadas.
5

Problemas relativos a argumentos estatsticos

Muitas avaliaes estatsticas so estruturadas em parte por decises da


crtica da redao que depende de nmeros. Contudo, h muitas falcias
metodolgicas ligadas a argumentos estatsticos, falcias das quais muitos
eruditos do Novo Testamento esto apenas vagamente conscientes. Ainda
mais grave o fato que foram feitos pouqussimos estudos em literatura
comparativa para sabermos se h padres tradicionais de variabilidade nos
escritos de um mesmo autor. Alem disso, muitas avaliaes da crtica da
redao tratam de palavras e frases "redacionais" e s vezes das passagens
em que aparecem, como acrscimos posteriores ou referncias a materiais
no-histricos
6

O surgimento do estruturalismo

Uma nova gerao de falcia vem sendo criada.


7

Problemas na distino entre o figurado e o literal

muito comum encontramos interpretaes que tomo o literal plo figurado


ou vice-versa. Mais quais so os princpios que regem a determinao de
distines entre figurado/literal? O problema oferece mais um campo frtil
para falcias de exegese
Ajuntando os pedaos
Necessariamente, esta discusso abordou as falcias em pedaos; todavia,
na real tarefa da exegese, por serem extremamente complexas, algumas
passagens provocam um infinidade de falcias ao mesmo tempo. Ento, no
auge das falcias estritamente exegticas, enfrentamos novos perigos
quando procuramos aplicar nossa vida o significado do texto que
descobrimos.
Pr. Anderson Roque

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