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Faa sua Doao: Ag. 0314 / Op. 013 / C.P. 119429-0 - Caixa E. Federal
Proibida a comercializao
Instituto Belm
Viso
O Instituto Belm pretende ser uma instituio de
ensino superior associada viso afetiva e comprometida
da nossa igreja que se esfora para proclamar uma men-
sagem centrada em Deus, que busca glorifcar a Cristo, e
ao Esprito Santo. Que se utiliza das Santas Escrituras para
auxiliar na formao espiritual de homens e mulheres eq-
uipando-os para cumprir os propsitos do Reino de Jesus
Cristo no sculo 21 e forjar discpulos fis para ele de toda
raa, tribo, lngua, povo e nao.
Propomos espalhar o conhecimento de Deus, que
desperta no apenas o intelecto, ou o conhecimento in-
telectual, mas principalmente o amor e o desejo de viver
numa intensa e apaixonante busca por Cristo. Esta a
razo da existncia da nossa escola. E esta a viso que
desejamos compartilhar com todos.
Autor
Moiss Carneiro
Voc pode fazer uma doao para ajudar a manter
esse projeto. Deposite o valor que desejar! Caixa E.
Federal - Ag. 0314 - Op. 013 - C.P. 119429-0
em nome de Moiss P. Carneiro
Direitos Reservados ao Instituto Belm
Profetas Maiores
Curso Bsico em Teologia
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Aplicao no estudo deste livro
Voc deve estar perguntando qual a melhor maneira de es-
tudar este livro e extrair o mximo possvel de proveito. Ao pensar
nisso, elaboramos alguns mtodos que podero lhe ser teis.
Seja Motivado
Motivao um princpio peculiar na vida de todos os que
anseiam alcanar um objetivo. impossvel algum atingir o pice
de um grande sonho sem ter em sua bagagem o item motivao.
Muitos j iniciaram alguma coisa, mas s obtiveram o xito aque-
les que se mantiveram motivados at o fnal.
Seja motivado para orar, para ler, para meditar, para pes-
quisar, para elaborar trabalhos e estudos bblicos. Se sentir-se sem
motivao busque-a atravs do Esprito Santo. Faa peties a
Deus e leia sua Palavra, pois so fontes inesgotveis para sua reno-
vao, e por fnal procure mant-la acesa at fndar o curso.
Se no existe esforo, no existe progresso. Fredrick Douglas
Seja Organizado e Disciplinado
a) Ore a Deus ao iniciar seus estudos e pea que lhe ajude a ter
um maior proveito do assunto em pauta.
b) Estude em lugares reservados.
c) Evite ambientes com sons, rudos e falatrios. Pois voc pode
perder sua concentrao no estudo.
d) Procure adicionar outros importantes materiais cada lio a
ser estudada, como por exemplo:
Bblias de Estudos: se possvel, com tradues que sejam difer-
entes.
Dicionrios.
Concordncia Bblica.
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Livros: cujos assuntos sejam relacionados ao tema de cada lio.
Lpis e bloco para anotaes.
e) Leia e estude cada matria durante a semana, reserve pelo
menos 1 hora por dia para fazer isso.
f) Faa anotaes, especialmente quelas que lhe causarem
dvidas.
g) Responda aos questionrios assim que terminar de es-
tudar cada lio. Eles iro fortalecer o assunto em sua mente.
h) Reserve perodos da semana para voc elaborar trabalhos
voltados matria estudada em cada ms.
i) Formule perguntas ao professor, assim tanto voc como ele f-
caro cada vez mais abalizados no aprendizado.
Em suma, todos esses itens elaborados cuidadosamente
pelo departamento de pedagogia do IB, so de um valor ines-
timvel para voc, desde que procure segui-los conforme se seg-
uem.
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ndice
Introduo
Lio 1
Isaas - O Profeta Messinico...........................................................06
Lio 2
Jeremias - O Profeta Choro............................................................38
Lio 3
Ezequiel - O Profeta das Vises.......................................................58
Lio 4
Daniel - O Profeta da Orao..........................................................77
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Isaas O profeta Messinico
Sua chamada e vocao (Isaas 1 a 6)
Pouco se sabe sobre a vida desse profeta, cujo nome sig-
nifca salvao de Jav, contudo, sabe-se que ele foi nascido de
uma nobre famlia, muito infuente por freqentar a corte e por
diversas vezes ter oportunidade de se envolver na diplomacia do
seu tempo (Is 7:3,4). Foi casado com uma profetiza (Is 8:3) e teve
pelo menos dois flhos. A tradio diz ter sido primo do rei Uzias.
O profeta messinico, como assim conhecido, desen-
volveu seu ministrio basicamente entre os anos 740 a 700 a.C.
Viveu a maior parte de sua vida em Jud, Reino do Sul, tendo sido
contemporneo da destruio de Israel, Reino do Norte, feita pe-
los assrios em 721 a.C. Essa tambm a poca da fundao de
Roma, Esparta e Atenas. Vale observar que Isaas foi contempor-
neo dos profetas Jeremias, Osias, Ams e Miquias.
Sua obra considerada uma Mini-Bblia, ou uma com-
pilao de divinas revelaes, profecias e relatos que procuram
exortar o povo a colocar sua confana em Deus para a as profe-
cias em geral que ocupam grande parte da Bblia e eventualmente,
predizem o futuro. Alis, prever o futuro no era exatamente a
misso principal do profeta, e sim revelar a palavra de Deus a
seus flhos o que, eventualmente, poderia conter elementos ref-
erentes ao futuro. Os profetas muitas vezes, eram vistos de forma
impopular porque tinham que exortar e repreender o povo o que
obviamente desagradava a muitos, especialmente quando estavam
se afastando de Deus. O prprio Isaas, possivelmente, terminou
seus dias sendo perseguido e talvez at morto por conta das ver-
dades que pregava.
Seu manuscrito pode ser separado em duas grandes
sees. O pano de fundo da primeira parte Jud nos dias da As-
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sria dominadora. J na segunda parte, o pano de fundo o fu-
turo cativeiro na Babilnia e o retorno do povo em dias que ainda
viriam.
Autoria
Pouca objeo se faz quanto pessoa do profeta Isaas
como o autor deste livro. Ainda que seja questionado por um
pequeno grupo o fato de sido escrito por mais de uma pessoa,
uma vez que se argumenta que uma s pessoa no poderia es-
crever com tanta preciso sobre ambas as libertao e salvao,
mostrando partes, tendo vivido apenas na primeira, historica-
mente o julgamento sobre os que no crem e as bnos sobre os
que crem. O povo vivia a realidade da destruio de Israel pelos
assrios e a expectativa da conquista de Jud pelos babilnicos, o
que viria efetivamente a acontecer cerca de 100 anos mais tarde,
em 606 a.C., conforme previsto por Isaas.
Geralmente os arautos profetas, eram chamados por Deus para
cuidar da vida moral e religiosa do povo. Eram homens corajosos
que falavam da parte de Deus ao povo e a governantes, denun-
ciando os pecados de seus dias e apontando para os demais que
haveriam de vir. Verifca-se que como foi o caso de Isaas. O as-
sunto da multiautoria na realidade, no relevante em presena
da unidade, contedo e mensagem do livro. Deus poderia ter us-
ado mais de um profeta para escrever o livro ou mesmo uma s
pessoa, nesse caso, dotando-a da viso de futuro sufcientemente
detalhada para exortar, mostrar os Seus propsitos para o povo
e por fm, autenticar a autoridade do profeta atravs de profecias
altamente precisas.
Esta primeira parte uma das principais apresentaes do
livro no estando em ordem cronolgica em relao ao captulo
6, por exemplo, onde se encontra a chamada de Isaas. H quem
diga que esse episdio no foi exatamente uma chamada para ser
um profeta de Deus, pois Isaas j o era, mas uma chamada para
redirecionar a sua misso.
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Ressalto quatro coisas importantes que esse texto de hoje nos trs,
e gostaria de nesta oportunidade destac-los, pontos que trazem
desdobramentos prticos para a nossa realidade atual:
1. Jeov se revelou ao profeta (6:1,4): a descrio de que
Deus sagrado uma constante no livro de Isaas. O que o profeta
procura mostrar que no h nenhum outro Deus como Jav em
todo o universo. Ele uma Pessoa que se relaciona com pessoas e
se preocupa com elas. Essa revelao apresenta-se de forma pro-
gressiva no Antigo Testamento. Inicia-se com Deus se revelando
mais diretamente e quase que exclusivamente aos seus profetas
e vai alcanar seu clmax quando Jav toma a forma de carne,
atravs do Messias, o Ungido Sofredor e Salvador, que veio para
se relacionar pessoalmente com cada um de ns, para carregar as
nossas iniqidades e sarar as nossas dores.
2. Sua revelao trouxe arrependimento ao profeta (6:5):
s conseguimos nos aproximar de Deus medida que ns nos
inspiramos com a viso da glria Dele. Precisamos perceber Deus
corretamente. Se isso ocorrer, Ele nos estar inspirando e nos
mostrando quo impuros so os nossos lbios e quo necessrio
mudarmos a nossa prpria vontade e talvez o rumo de nossa
vida. Ele nos estar dando direo e no medo.
3. Sua revelao mudou a vida do profeta (6:6,7): con-
hecereis a verdade, e a verdade vos libertar. O conhecimento da
verdade a revelao transformadora, na vida da pessoa. Quan-
do se recebe a revelao de Deus em sua majestade, soberania e
glria, a tendncia a pessoa se convencer de sua condio pec-
aminosa. Quando isso ocorre, ela encontra purifcao. E aps
isso, quando ela se prope a colocar a sua prpria vontade nas
mos de Deus, respondendo Sua chamada para o servio, Deus
passa a realizar Sua obra atravs daquela pessoa. Deus realiza coi-
sas no s atravs de grandes profetas como Isaas, mas atravs de
pessoas simples como ns.
4. Sua revelao convenceu o profeta de sua chamada
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(6:8): para que Isaas pudesse receber o chamado do Senhor ele
primeiro teve que ter sua iniqidade retirada e seus pecados per-
doados pelo toque da brasa em sua boca. O profeta s conseguiu
ouvir a voz de Deus porque se colocou disponvel. A vontade de
Deus se revela medida que ns nos predispomos a fazer a von-
tade de Deus que j conhecemos.
Esta cena da chamada do profeta Isaas, nos ensina tam-
bm que nunca estamos sufcientemente prontos para realizarmos
sua obra. necessrio, primeiro que Deus se revele a ns, que nos
mostre sua glria, seu respendlor, que toque em nossos lbios, em
nossa palavra, em nossa vida e em nossa vontade para que seja-
mos salvos e comissionados. Ele quem nos chama, nos perdoa
e nos convida a colocarmos nossa vontade disposio Dele. S
assim poderemos dizer: eis me aqui Senhor, envia-me a mim.
A vida no reino do Messias (Isaas 7 a 12)
Vislumbramos os esforos e a comoo mundial em prol da paz
neste sculo, contudo, percebe-se que esse anseio muito antigo e
que permanece insolvel para o homem. Em algumas regies do
globo, onde ocorrem guerras, este desejo de paz ansiosamente
buscado. Em outros lugares, onde no se tm tenses de ordem
poltica, encontram-se. Porm, confitos diversos, da violncia
urbana s crises nos relacionamentos interpessoais. O resultado
acaba sendo o mesmo: dor, s vezes medo, desconforto e inse-
gurana. O que se verifca na verdade, que os confitos, sejam
eles entre pases, faces ou pessoas, tm a sua origem vinculada
presena do mal.
Contra o pano de fundo de guerra e destruio do Reino
de Israel pelos Assrios, Isaas nos apresenta no captulo 9, uma
profecia sobre a vinda do Messias. O termo, de origem hebraica,
signifca o Ungido e tem a palavra Cristo no Novo Testamento,
como a traduo grega da palavra Messias.
O ponto central apresentado por Isaas que a paz com-
pleta e duradoura na vida da nao bem como na vida de cada
pessoa, s poder vir com o reino de justia do Messias divino. Ele
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Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade e
Prncipe da Paz.
Os versos 2 a 5 nos fazem observar dois pontos interessantes:
A luz raiou sobre um povo que andava em trevas: O povo
que andava em trevas viu uma grande luz. A linguagem potica
do verso 2 fala daqueles que andavam em trevas a qual nos traz a
idia de adversidade, de desespero e de tristeza. Fala em seguida
daqueles que viram uma grande luz que simboliza a paz, a alegria
e a salvao. O povo de Israel que estava sofrendo com o domnio
Assrio poderia enxergar frente um maravilhoso novo comeo.
Alegria e paz com o fm das guerras: nos versos 4 e 5 o
profeta prev um tempo em que o Senhor quebraria a opresso do
inimigo e faria cessar a guerra. Quando olhamos, porm a histria
poltica de Israel e dos demais povos nos anos subseqentes, bem
como a realidade de nosso sculo e da nossa vida cotidiana, vem-
nos a pergunta se efetivamente essa profecia de Isaas foi cum-
prida.
A profecia de Isaas vai apresentar no apenas um Messias
que traz a paz poltica, mas, sobretudo que Algum que promove
a paz dentro do corao do ser humano que, em conseqncia,
contribui para a paz poltica. O profeta fala que o governo estaria
sobre os ombros do Messias. A paz completa um dia seria trazida
a terra. Isaas previu com razovel preciso que o Messias seria
Jesus de Nazareth, como ser visto em estudo futuro desta srie.
interessante notar, porm que Isaas no chegou a ver que esse
tempo se completaria com duas vindas do Messias. Somente aps
a chegada histrica do Messias, Jesus de Nazareth, ocor-
rida 700 anos depois, que se compreendeu um pouco mais so-
bre o tempo de Deus e sobre a segunda vinda do seu Ungido. O
governo sobre seus ombros se completar na segunda vinda do
Messias, quando o mal ser vencido defnitivamente.
Se compreendermos que a natureza do Messias transcende
o papel poltico e ampliarmos nosso entendimento sobre Ele,
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como aquele que veio ao mundo para carregar sobre si as nossas
iniqidades e nos salvar, passamos a ter uma relao pessoal com
Ele e no apenas uma relao histrica. O Ungido pode fazer ces-
sar as guerras que cada pessoa trava dentro de seu corao, o dio,
as invejas, as discrdias, os cimes e toda sorte de sentimentos
negativos que traz a infelicidade. E isso pode ocorrer nesse tempo
e no apenas em um futuro distante. O Messias pode reinar hoje
no corao de qualquer pessoa que o reconhea e o aceite como
Salvador e Senhor, trazendo-lhe plenitude e vida.
O Prometido Ungido a nossa paz: o conceito de um Mes-
sias no apenas poltico e histrico mas de um Messias Salvador
e pessoal, vai progressivamente sendo revelado nas vrias profe-
cias de Isaas e em muitos outros textos da Bblia, tanto no Antigo
quanto no Novo Testamento. Em Efsios 2:14 a 17 por exemplo,
encontramos uma abordagem que nos ajuda a compreender o al-
cance da natureza do Ungido. Jesus, o Messias no traz apenas a
paz, mas Ele a paz (v14). O texto diz que ele tambm faz a paz
(v15) e tambm, que Ele proclama a paz. Ele nos d acesso ela.
Ele derruba as barreiras que nos impedem de encontr-la e de
permanecer nela.
A paz interior no remove simplesmente todas as difcul-
dades que temos nossa frente como se fosse um passe de mgica,
mas ela contribui para super-las e nos ensina a suport-las e viver
com elas se necessrio.
A vida de gozo no Reino pode ser alcanada integral-
mente quando algum resolve ter um encontro pessoal com Jesus,
o Messias de Deus, o Prncipe da Paz. Aceit-lo como Salvador
ter compromisso srio com Ele. renunciar a si mesmo, negar o
prprio eu e deixar que a prpria Paz dirija os prprios passos.
A Autoridade do Governo de Deus (Isaas 13 a 18)
descrito nos captulos a seguir (13 a 23) de Isaas o en-
frentamento das profecias e julgamentos contra as naes desafos
dos inimigos em um tempo anterior aos conquistadores seria es-
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tabelecimento do reinado do Messias. A poca histrica desses ju-
lgamentos corresponde s invases dos assrios e babilnicos, que
ocorreram durante os anos de vida de Isaas ou logo aps, dentro
de uma janela de 100 anos. importante notar porm, que apesar
do cumprimento dessas profecias terem ocorrido antes da vinda
do Messias histrico, Jesus de Nazareth, elas se aplicam tambm
a um tempo mais escatolgico, medida que espera-se haver uma
segunda vinda do Messias (no claramente prevista pelo profeta),
levando portanto, a aplicabilidade dessas profecias no s para os
tempos antigos mas tambm para aqueles ainda localizados em
nosso presente e em nosso futuro.
Louvor pela queda da Babilnia (Isaas 14)
O nosso texto comea com palavras de conforto e esper-
ana para o justo, que deve buscar foras para suportar o sofri-
mento e a opresso daqueles que dominam. O verso trs apresenta
promessa de livramento contra o cansao das lutas, contra as an-
gustias e contra a servido.
O cansao, resultante do trabalho de resistncia, da pre-
parao do campo e do enfrentamento dos desafos dos inimi-
gos conquistadores seria recompensada com o descanso. O termo
usado comum em vrias profecias e tem a ver com o shabat
de Gnesis 3, quando o descanso encontrado pelo Senhor
aps seu trabalho de seis dias de criao. Aqueles que confam
no Senhor podero encontrar descanso de suas lutas no Messias
libertador.
As angstias e a servido descritas neste verso tm a ver
com a agitao, a incerteza e a perda da liberdade advindas da
chegada dos invasores. Essas
seriam agonias que Israel ter que experimentar e somente
a interveno do Senhor poderia resolv-las. O profeta antecipa
o tempo em que no mais haveria motivo para tais angstias e
aprisionamentos e o povo poderia cantar um hino, ou um motejo
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contra a Babilnia opressora.
O verso 4 segue falando sobre esse motejo contra o colap-
so da Babilnia. Nesta oportunidade, vale destacar dois pontos:
1. Quem so os opressores do povo de Deus? A Assria era a maior
ameaa nos tempos iniciais do ministrio de Isaas, a partir de sua
chamada em 742 a.C. e at 721 a.C. quando o reino do Norte,
Israel, destrudo por
de resistncia, da preparao do Senaqueribe.
2. A restaurao no fcou restrita a um momento histrico. A
destruio de Jud pela Babilnia e o cativeiro do povo viria a
ser o caminho para a restaurao de Israel 70 anos depois, em
536 a. C. Nessa poca porm o Messias ainda no havia chegado.
Mais de 500 anos se passariam at que Jesus de Nazareth nascesse
em Belm da Judia, trazendo libertao e salvao. O Mes-
sias histrico se foi fsicamente da terra mas prometeu voltar uma
segunda vez. O motejo contra a Babilnia dever portanto, con-
tinuar a ser cantado por todo esse tempo, at que Ele volte. A
despeito da opresso continuar a existir, o livramento do Senhor
tambm continuar presente ao longo dos sculos.
Um dia cessar a opresso
O motejo ou hino de vitria continua com os versos 5 e 6 declar-
ando que Deus perodo de cativeiro. quebra a vara dos perver-
sos e o cetro interessante notar que a Histria sempre mostra que
a opresso se alterna no poder, mas o fato que ela est sempre
presente. Em nossas vidas hoje, talvez no tenhamos opresses
polticas como aquelas enfrentadas por Isaas e pelo povo de Deus
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mas continuamos a ter Assrias e Babilnias que continuam a nos
oprimir seja com a violncia urbana, a misria, as desavenas, os
falsos testemunhos, os enganos, os desentendimentos familiares,
o desemprego, a falta de oportunidades. Trazendo as palavras do
profeta para os nossos dias, somente a mo forte do Messias liber-
tador poder nos curar da fadiga, das angstias e da opresso dos
dominadores que feriam os povos com furor. O verso 7 afrma
que o julgamento dos opressores trar grande alegria para o povo
e o verso 8 fala da segurana restaurada a ponto de at as rvores
se alegrarem. Um ponto curioso que os versos 9 a 11 falam de
uma comoo no inferno pelo fato do opressor babilnico ter sido
atirado em suas profundezas.
O Senhor quebra a opresso do domnio do mal. Todo
aquele que o aceita como Salvador e Libertador poder ter restau-
rada sua segurana e alegria, mesmo em meio s adversidades que
fazem parte da realidade humana.
Que possamos ter o Senhor, Rei dos exrcitos conosco e
que possamos cantar como os antigos quando libertos da opresso
babilnica: ...como cessou o opressor ! Como acabou a tirania !
Quebrou o Senhor a vara dos perversos e o cetro dos domina-
dores ... J agora descansa e est sossegada toda a terra! Todos
exultam de jbilo.
A rebelio humana (Isaas 19 a 24)
Como aludido no estudo anterior, os captulos 13 a 23 de
Isaas apresentam um conjunto de profecias e julgamentos con-
tra as naes. Algumas delas so claramente nomeadas, tais como
Assria, Babilnia, Egito, Tyro, Moabe, Edom, Amom e Arbia.
Como ser visto ao longo desse estudo, o escopo dessas profecias,
entretanto, no se limita a essas naes ou povos mas alcanam
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dimenses maiores, tanto no tempo como geografcamente.
Passado ou futuro ?
Um dos desafos que encontramos ao estudar um texto
como o de Isaas, poder separar com clareza o que se refere a
acontecimentos j ocorridos na Histria e aqueles que pertencem
a um futuro mais escatolgico, isto , que tm a ver com o fnal
dos tempos. H vrios casos inclusive, em que a profecia se aplica
a ambos os casos, especialmente, quando se identifca signifcados
tambm simblicos para essas naes. o caso da Babilnia, por
exemplo, que alm de ter sido um imprio (e uma cidade fortif-
cada) tambm entendida como maldade espiritual e corrupo.
No livro do Apocalipse, so vrios os trechos que falam contra
a Babilnia, nesse caso, claramente uma meno no mais
Babilnia histrica. Outras cidades tambm tm seu signifcado
histrico ampliado nesses captulos de Isaas. o caso de Mo-
abe, Edom, Amom e a Arbia, que so vistas como sinnimo
de cime, luxria, raiva, inveja e todas as coisas que Glatas 5:19
menciona como as obras da carne. Uma outra associao que
vamos encontrar, aquela que se refere cidade de Tyro, antiga
capital da Fencia (hoje Beirute), que vista como um sinnimo
de materialismo. Finalmente, o Egito visto como sinnimo de
corrupo e profanao
Profecia contra o Egito (cap 19)
Verifca-se que os primeiros quinze versos deste captulo
19 de Isaas se referem a eventos j ocorridos. Mas a partir do
verso 16, encontramos uma predio sobre uma mudana futura
no Egito. Essa mudana parece ocorrer em seis Fases, todas elas
comeando com a expresso naquele dia. Ser que o fato de so-
mente o Egito, dentre as naes rabes, ter assinado at hoje um
tratado de paz com Israel tem alguma ligao com esse texto ? O
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fato que, de acordo com essa passagem, o Egito passaria a ser
uma nao temente Deus que, juntamente com a Assria, forma-
ria uma grande aliana com Israel no fnal dos tempos. Trata-se
de um caso histrico do futuro ou um caso simblico ? Ser que
a profecia no estaria apontando que povos, antes completamente
inimigos, poderiam vir a se unir tendo como elemento comum
a dependncia e o reconhecimento do Deus Jav como Senhor e
Salvador ?
As etapas da transformao (Isaas 19:16 a 25):
Reconhecimento (v16):O Egito parece ser a primeira
nao que, reconhece que a volta do Messias ir restaurar o seu
povo Israel.
Unifcao cultural (v18): naquele dia haver cinco ci-
dades do Egito que falaro a lngua de Israel.
Identidade religiosa (v19): naquele dia ser construdo um
altar no meio da terra do Egito. Os egpcios passaro a adorar o
Deus de Israel.
Salvao e livramento: A salvao no exclusiva de Israel.
Deus tambm enviar ao Egito um salvador e defensor que h de
livrar aquele povo.
Integrao geogrfca (23): naquele dia, haver uma estra-
da ligando o Egito e a Assria atravs de Israel, com livre trnsito
na regio.
Identidade religiosa ampliada (v24 e 25): naquele dia os
assrios tambm podero cultuar a Deus juntamente com Israel
e o Egito. Os povos e aqueles que forem tementes Deus sero
abenoados, independentemente de suas raas e de seus feitos ru-
ins do passado.
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As naes e as pessoas no mais estaro em guerra e a paz reinar
entre todos.
A humanidade no pode encontrar a paz em seus prp-
rios nveis de relacionamento porque a nossa luta no contra
o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades,
contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as foras
espirituais do mal, nas regies celestes (Efsios 6:12)
O fracasso histrico da Babilnia no signifcou a extino
do mal. A Babilnia ainda est presente hoje bem como as demais
naes com todo o mal e corrupo humana que elas represen-
tam, tais como o egosmo, o materialismo, o dio, a soberba e o se
achar to auto-sufciente que no mais se precisa de Deus.
S aqueles que admitem suas limitaes humanas e sua
dependncia de Deus podero sentir os efeitos da obra redentora
do Deus Jav em suas vidas. Com isso, podero se sentir includos
no refro de Isaas 19:25 porque o Senhor dos exrcitos os aben-
oar, dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assria, obra
das minhas mos, e Israel, minha herana.
O Senhor adorado por sua compaixo (Isaas 25 a 30)
O ttulo do nosso estudo de hoje anuncia dois dos atribu-
tos de Deus: justia e misericrdia. Nos captulos 23 a 35 de Isaas
so apresentados diversos julgamentos sobre a terra. So encon-
tradas tambm palavras de misericrdia, encorajamento e avisos.
Neste estudo e no prximo, estaremos identifcando algumas des-
sas palavras atravs das quais Deus mostra a Sua misericrdia.
No captulo 28, Isaas na qualidade de profeta de Deus,
introduz uma srie de seis Ais contra as naes. Eles funcionam
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como sinais mostrando alguns dos perigos que se seguem e as
oportunidades e formas de se evit-los. Neste estudo, estaremos
abordando trs desses seis Ais.
Alm do desafo j mencionado em estudo anterior, ref-
erente ao tempo correto da aplicao da profecia, se passado ou
futuro, h um outro, que a aplicabilidade do texto. Nesse caso,
busca-se entender se a profecia se aplica de forma literal a um
contexto histrico e geogrfco ou a um contexto mais amplo de
experincia de vida, onde todos estamos inseridos. O que literal
e fsico para Israel, para ns, uma fgura que se aplica aos aspec-
tos espirituais do nosso dia-a-dia. Esse ser o foco desse nosso
estudo.
O primeiro Ai prioridades erradas (28:1-3): Este
primeiro Ai se refere cidade de Samaria, a principal cidade da
tribo de Efraim e capital do Reino do Norte, Israel. Ela era bela e
cercada por um rico e frtil vale.
Era a glria, o orgulho e a alegria do povo daquele Reino.
Representa a condio moral daqueles que valorizavam os praz-
eres e a luxria em primeiro lugar. A profecia um aviso contra
priorizar as coisas materiais e os prazeres da vida, em detrimento
dos valores espirituais. A fgura usada pelo profeta, para descrever
esse tipo de vida, que acaba levando ao descontrole pessoal, a
do bbado. O bbado aquele que decide colocar a bebida como
a prioridade de sua vida, a ponto de perder o controle das de-
mais coisas. Adotar prioridades erradas, desprezando as coisas de
Deus, era uma constante naqueles dias de Isaas e continua a ser
hoje tambm.
Em Mateus 6:31-34 vamos encontrar Jesus exatamente
abordando esse mesmo tema de prioridades, quando ensina a
importncia de buscar primeiramente o Reino de Deus e a sua
justia para que as demais coisas nos possam ser acrescentadas.
O segundo Ai religio mecnica e formal (29:1): Era
esperado que Jerusalm, aqui representando o povo escolhido,
falasse ao mundo como conseqncia do seu relacionamento com
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Deus. Mas o que Israel fez e o que isso acarreta ? Nos versos 13 a
14 o texto afrma ...j que esse povo diz que meu mas no Me
obedece, j que o corao dessa gente est longe de Mim, j que a
sua religio no passa de um monte de leis feitas por homens, que
aprenderam de tanto repetir, Eu vou dar uma grande lio a esses
fngidos ... O problema de Israel era a religio externa, apenas
mecnica e ritualstica. Em nosso caso, como vemos as coisas de
Deus ? Como parte de nossa vida diria ou apenas como formali-
dades e rituais a serem cumpridos ?
O terceiro Ai Deus no se importa (29:15): O perigo
aqui se refere ao grave erro de pensar que Deus no v o que ac-
ontece em nossa vida. Pobres dos que procuram esconder os seus
planos de Deus, que tentam fazer tudo no escuro, pensando con-
sigo mesmo: Deus no vai nos ver. Deus no sabe nada do que est
acontecendo, diz o verso 15.
Muitos no crentes pensam que Deus apenas uma forma
de energia to distante que no tem tempo e nem capacidade de
olhar cada pessoa. Por outro lado, h alguns crentes, que tm um
relacionamento pessoal com Deus, mas acham que podem ter
pensamentos maus, praticar maledicncias, falso testemunho, in-
iqidades diversas, ter atitudes de dio ou simplesmente virar o
rosto para um outro crente e achar que Deus no v essas atitudes
ou as v, mas simplesmente no vai fazer nada respeito. No verso
16 o profeta reage dizendo Como vocs esto errados ! Como
so tolos ! Ser que o oleiro que faz os jarros no maior do que
o barro ? Ser que Deus no conhece em detalhes o que acontece
com cada um ?
O Deus de retido e de justia tambm um Deus de no-
vas oportunidades e de perdo. Nos versos 18 e 19 que se segue,
vemos uma mudana de atitude naqueles que viviam no erro.
Em vez da confana orgulhosa de que podem seguir suas
vidas impunemente, eles mudam. Os surdos passam a ouvir as
palavras do livro e os cegos, fcam livres da tristeza e da escurido,
passando a enxergar os planos de Deus. Esperamos que cada um
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de ns possamos ter sempre presente em nossas vidas o Deus de
paz, que est sempre pronto a nos perdoar, resgatar, salvar e aben-
oar desde que O procuremos de verdade.
Que possamos deixar de lado as prioridades erradas, a re-
ligio mecnica e formal e o pensamento de que podemos errar
vontade porque Deus pouco ou nada se importa.
A Viso do local do Reino do Messias (Isaas 31 a 36)
Como vimos um pouco antes em nossa lio, o profeta
Isaas introduz uma srie de seis Ais contra as naes comean-
do no captulo 28 e indo at o 35. Eles funcionam como sinais
mostrando alguns dos perigos que se seguem e as oportunidades
e formas de se evit-los. No Estudo 5, abordamos trs dos seis
Ais ou trs avisos contra as prioridades erradas, contra a religio
mecnica e formal e contra o pensamento de que podemos errar
vontade porque Deus pouco ou nada se importa. No presente
estudo, abordaremos os trs Ais restantes que nos so trazidos
por Isaas.
O quarto Ai a auto sufcincia (30:1-2): Este um aviso
ao perigo da auto confana daqueles que desprezam as coisas de
Deus de forma rebelde e arrogante. Esta tipicamente a condio
daqueles que no desejam ouvir a voz de Deus. So como fl-
hos mentirosos, que no querem ouvir a Lei do Senhor (v9).
a condio tambm de muitos crentes que esto no ambiente da
igreja mas relutam em deixar que o Esprito Santo guie suas vidas.
Acham-se muito bons e superiores aos seus irmos em Cristo. So
rebeldes em relao voz do Pastor e s vezes nem sequer do o
dzimo porque acham que a Igreja incompetente no uso dos re-
cursos do Senhor e por isso resolvem eles mesmos o que fazer
com o seu dinheiro. O verso 15 mostra o que necessrio: con-
verter a sua autoconfana em confana no Eterno Deus. Em se
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voltando para o Senhor, o crente achar sossego e tranqilidade.
Voltar-se para o Senhor signifca colocar a prpria vonta-
de nas mos Dele. O resultado da entrega poder sentir-se guiado
por Ele. A Palavra nos assegura no verso 21 que se entregarmos
nossa vida a Deus Ele nos estar orientando seja quando nos des-
viramos para a direita seja quando nos desviramos para a esquer-
da.
O quinto Ai os conselhos do mundo (31-1-2): O verso
1 exclama ai dos que descem ao Egito em busca de socorro. O
Egito neste contexto visto como smbolo da sabedoria do mun-
do. Aqui, o perigo no est na autoconfana como visto anteri-
ormente mas em colocar a confana e a soluo dos desafos em
coisas materiais ou pessoas que no so de Deus. No quer dizer
que no possamos depender de coisas e de pessoas mas a fonte da
nossa confana dever estar no Senhor e tais coisas e pessoas de-
vero estar primariamente alinhadas com a vontade de Deus para
nossas vidas ou simplesmente as deixaremos de lado. O que pre-
cisamos um Rei em nossas vidas de quem possamos depender e
em quem possamos confar. Esse Rei o Senhor Jeov em pessoa.
Ele quem reina com justia e retido como nos diz o verso 1 do
captulo 32.
O sexto Ai contra os destruidores (33:1): Este sexto
aviso diferente dos anteriores no sentido de que ele no con-
tra Jud, Jerusalm ou Israel, mas contra seus inimigos, especif-
camente aqueles da regio da Assria. Isaas 33:1 fala em per-
fdia que signifca deslealdade e traio. Tem a ver com o que
mente, que enganador e traioeiro. Senaqueribe, rei da Assria,
assolador de Jud e das naes vizinhas foi traioeiramente as-
sassinado pelos seus prprios flhos que desejavam usurpar seu
trono. Este aviso pode tambm se aplicar a muitos crentes que
tm atitudes de desamor atravs da maledicncia, do falso teste-
munho, do no perdo, do preconceito, do julgar o prximo, da
inveja, da raiva e at mesmo do dio. O que se pode fazer quanto
a isso ? Os versos 21 e 22 nos dizem que Deus ser o nosso refugio.
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Como um rio que protege uma cidade da invaso, Deus poder
nos proteger de cairmos no pecado de querermos destruir o nosso
prximo. O verso 24 fnaliza que o povo que habita Jerusalm, ou
seja, aquele que buscar habitar na presena do Senhor, ter as suas
iniqidades perdoadas.
Vimos como Isaas nos mostra seis avisos contra pecados
e atitudes erradas. O contexto histrico original considera o am-
biente de ameaa de invaso e conquista de Jud pelos Assrios.
A amplitude da profecia porm se estende no tempo alcanando
tambm o nosso contexto de hoje e o nosso futuro, medida que
o profeta sinaliza claramente para o tempo em que o Messias esta-
belecer o Seu Reino e ir restaurar a terra. O profeta nos fala con-
tra prioridades erradas, contra a religio mecnica e formal e con-
tra o pensamento de que podemos errar vontade porque Deus
pouco ou nada se importa. Ele nos alerta ainda contra a nossa auto
sufcincia, contra a seguirmos conselho do mundo e contra o fm
daqueles que tm no desamor uma prtica chegando mesmo at a
buscar a destruio do prximo. No captulo 35 o profeta aponta
claramente sobre o tempo quando o Eterno abrir os olhos dos
cegos e desimpedir os ouvidos dos surdos (v5); quando os coxos
saltaro como cervos e quando a lngua dos mudos cantar; pois
naquele tempo, guas arrebentaro no deserto e ribeiros surgiro
no descampado. Esse o tempo em que o Messias retornar para
estabelecer o Seu Reino. Ser um tempo em que a areia esbrase-
ada se transformar em lagos, e a terra sedenta em mananciais de
guas; onde outrora viviam os chacais, crescer a erva com canas
e juncos (Isaas 35:7). Possamos cada um de ns ter a terra sed-
enta de nossas vidas de imperfeies e pecados transformados em
mananciais de perdo e vitrias.
Infortuno Humano e Graa Divina (Isaas 37 a 42)
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Dentre os captulos propostos para essa lio, os de nmero 37
a 39 tm como pano de fundo o declnio do imprio assrio e o
surgimento do imprio babilnico como potncia dominadora.
A Assria havia sido a ameaa para o povo de Israel, dentro da
primeira metade do livro de Isaas, at o captulo 39. Foi ela quem
derrotou o Reino do Norte, cuja capital era Samaria. Na segunda
metade do livro, a Babilnia se torna por sua vez, o grande in-
imigo do Reino do Sul, cuja capital, Jerusalm, seria fnalmente
conquistada, conforme profecia de Isaas.
A poca do presente estudo exatamente aquela entre o
fm do domnio assrio e o incio do domnio babilnico. Ezequias,
rei de Jud encontra trs ameaas que comprometem sua situao
como lder do povo de Israel: sofre uma tentativa de invaso ainda
pelas foras assrias, acometido por uma doena de morte e
assediado por embaixadores babilnicos. Esses trs pontos sero
abordados no decorrer deste estudo.
Uma tentativa de invaso: de acordo com o relato bbli-
co ainda no captulo 36, Senaqueribe, rei da Assria j havia no
s conquistado todo o Reino do Norte mas j havia domina-
do todas as cidades fortifcadas do Reino do Sul, Jud. Em
uma manobra fnal, envia seu general Rabsaqu para sitiar e ata-
car Jerusalm. Ele anuncia seu intento de destruir a cidade e ainda
afronta a Ezequias e a Jeov, dizendo que o Deus de Israel no
seria poderoso o sufciente para impedir aquela conquista (36:4-
5).
Aqui encontramos um interessante paralelo com a vida de
hoje quando crentes sofrem ameaas seja no trabalho, na e s -
cola, ou em ambientes diversos. A f e as convices crists so
criticadas ou ridicularizadas, a ponto de trazerem ansiedade, in-
justias e sofrimento para o crente.
Quando o rei Ezequias ouve aquelas provocaes do gen-
eral assrio, ele se cobre com roupa de saco (37:1) e procura con-
selho com o profeta Isaas. O rei de Jud demonstra sua humildade
perante o Senhor Jeov, e seu reconhecimento de que aquela crise
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se devia grandemente a ele mesmo, que no estivera andando se-
gundo os caminhos do Senhor. A resposta de Deus vem atravs
de uma profecia de Isaas. Jud seria livrado e os assrios seriam
derrotados.
Senaqueribe havia no s desafado Jud mas havia de-
safado ao Senhor Jeov. O restante do captulo 37 mostra como
uma praga aniquilou o exrcito assrio e como Senaqueribe foi
assassinado pelos prprios flhos. A Assria nunca mais seria uma
potncia poltica.
Como refexo para nossas vidas, importante lembrar-
mos-nos que Deus no deseja que vivamos com medo, ameaados
e ansiosos. No pela nossa fora que iremos derrotar o exrcito
assrio que muitas vezes nos cerca, mas pelo poder do Senhor dos
Exrcitos.
Dentro dos Seus propsitos, poderemos ser livrados. Nos-
sa busca sincera do conselho de Deus e de sua presena em nossas
vidas ser a chave para a nossa vitria.
Uma doena mortal: o captulo 38 de Isaas apresenta um
novo teste ou desafo f de Ezequias. Os versos 1 a 3 informam
que ele fca doente ao ponto de quase morrer. Com cerca de 39
anos, o rei de Jud clama ao Senhor Jeov pela sua vida. Deus no
s lhe concede mais 15 anos como lhe assegura que defender Je-
rusalm dos assrios (38:4-6). Teria Deus livrado Ezequias apenas
para encoraj-lo e benefci-lo individualmente ? interessante
observar que este livramento de Deus foi autenticado por um
sinal em que a sombra do sol retrocedeu. Este fenmeno foi us-
ado por Deus para chamar a ateno dos babilnicos. A chegada
desses embaixadores seria o comeo da futura invaso babilnica.
Deus livrou Ezequias de dois problemas mas tanto o rei como
o povo no estavam mantendo sua fdelidade a Jeov. A provao
do cativeiro na Babilnia fnalmente acabaria por ser usada por
Deus como forma de correo e ensino do seu povo.
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A visita dos embaixadores: o captulo 39 nos informa que
Ezequias, ao contrrio do que ocorrera quando da ameaa dos as-
srios, ignora a palavra do profeta Isaas quanto forma de receber
esses embaixadores. Cheio de orgulho e autoconfana ele
simplesmente exibe seus tesouros e seus segredos militares (39:2).
Como conseqncia, Isaas profetiza nos versos 5 e 7 que tudo
aquilo seria levado para a Babilnia. Nada seria deixado.
Este episdio nos ensina que quando estamos em crise,
somos atacados ou ameaados, nossa tendncia buscarmos
o Senhor para que ele tenha misericrdia de ns e nos livre do
sofrimento. Quando porm, nos so oferecidas novas oportuni-
dades profssionais, um novo salrio, presentes ou benefcios ma-
teriais, tendemos a nos achar muito valiosos, orgulhosos e auto
sufcientes, a ponto de acharmos que podemos resolver o assunto
sem a ajuda ou o conselho de Deus.
No caso de Ezequias, onde houve sofrimento e onde houve
misericrdia ?
Vale ressaltar que a misericrdia de Deus caminha jun-
tamente com a sua justia e dentro de seus propsitos. Seria um
erro de nossa parte achar que nada de mal ocorrer conosco por
sermos crentes e por Deus ser misericordioso. Ezequias foi objeto
desta misericrdia quando Deus o livrou dos assrios e lhe deu
mais 15 anos de vida, mas no o manteve imune aos julgamentos
subseqentes. A rebeldia do povo e o orgulho e autoconfana de
Ezequias acabaram por levar os babilnios a destrurem Jud.
A despeito de nossos erros a misericrdia de Deus porm
sempre se mostrar disponvel Ele nos prov o conforto, a segu-
rana e a esperana de que poderemos ser mais do que vence-
dores no pela nossa fora mas pelo Seu poder.
Deus abenoa e guarda o seu povo (Isaas 43 a 48)
Deus Senhor da Histria
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A Babilnia viria conquistar Jerusalm e levar cativos seus
habitantes em 606 aC. Alm de profetizar esse fato histrico cerca
de 100 anos antes de sua ocorrncia, o profeta Isaas mostra de
forma precisa, que a Babilnia, um dia, tambm seria conquis-
tada. O captulo 45 inicia com uma declarao de Jav a Ciro, seu
ungido. Este comandaria as foras persas que derrubariam o im-
prio da Babilnia e libertaria o povo judeu cativo naquela terra.
O profeta aponta para a tragdia do cativeiro mas tambm aponta
para a esperana e a alegria da libertao do povo de Deus. Ciro
surge como um smbolo do Messias que haveria de vir e libertar
para sempre os oprimidos pelas foras do mal.
Em Isaas 45:4-5, a palavra nos diz que Ciro no conhe-
cia a Jav mas que Este o escolhera como um instrumento para
libertar Israel. interessante notar como em vrias circunstn-
cias, Deus realiza seu plano mesmo que seja atravs daqueles que
no O conhecem. No se trata de pr determinar que algum ser
usado para um dado papel, violando assim o livre arbtrio mas
sim, que Deus soberano quanto ao desenrolar da Histria. Caso
Ciro no respondesse escolha de Jav para aquela misso, Deus
haveria de realiz-la de alguma outra forma. Deus usa o seu povo
como instrumento para realizar seus planos mas se este estiver em
rebeldia, distante, impedido ou mesmo no estiver responsivo ao
seu chamado, Ele ter suas alternativas. Seus planos sero reali-
zados. Vale pena ressaltar porm, que, aqueles que so usados
por Deus, mas esto em sintonia consciente com Ele conhecendo
seus propsitos e seus planos, certamente experimentam grande
sentimento de realizao e contentamento.
Deus salva e abenoa o seu povo
Ciro e os persas acreditavam que havia um deus da luz e
um deus das trevas. No verso 7 do captulo 45, Jav afrma porm,
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que Ele mesmo forma a luz, cria as trevas e Senhor de todas as
coisas. No verso 9,
Jav fala contra aqueles que, orgulhosos e arrogantes, se
acham senhores do seu prprio destino. Na feitura de um vaso,
como poderia o barro questionar aquele que lhe d forma e defne
a sua utilidade ? Como o homem poderia se opor ao seu Criador
? Como poderia querer seguir seu prprio caminho?
No verso 22, Jav afrma olhai para mim, e sedes sal-
vos, vs, todos os termos da terra; porque eu sou Deus e no h
outro.A proteo e bno de Deus vm e so para todos mas
necessrio que olhemos para o Senhor, despojemo-nos do nosso
eu deixando que o Deus Criador dirija nossos planos, nossa
viso e nossa vontade.
Jav e os deuses da Babilnia
Um outro ponto a considerar que aqueles que leram ini-
cialmente as palavras do profeta sobre o cativeiro, talvez no ten-
ham compreendido como sua prpria divindade permitiria que
fossem conquistados e escravizados. A cultura da poca entendia
que os deuses estavam associados ao territrio ou regio geogr-
fca onde o seu povo habitava. Quando um povo conquistava a
terra de um outro povo, pressupunha-se que os deuses dos con-
quistadores derrotavam os deuses dos conquistados. Se o Povo de
Israel estava sendo derrotado pelos babilnicos Jav no estaria
tambm sendo derrotado?
Isaas mostra que despeito da derrota futura do Povo de
Israel, Jav continuaria soberano. No captulo 46 Isaas anuncia
que os deuses da Babilnia no apenas so falhos na salvao do
seu povo mas tm que ser resgatados e carregados por algum
pois eles no tm como andar sozinhos. Trata-se de uma meno
s imagens de tais deuses. Em contraste, Jav no precisa ser car-
regado em procisso pois Ele tem existncia prpria e se move de
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forma independente.
Apesar de permitir a derrota e o exlio do seu povo,Jav
no o abandonaria. Ele, seu tempo, salvaria seu povo. Apesar da
Assria e depois a Babilnia deterem o poder de conquista, seus
deuses no foram responsveis por isso. Jav, sim, foi Aquele
que concedeu esse poder a eles.
Jav livra seu povo do cativeiro
O profeta enfatiza no captulo 46 que o Povo de Deus, po-
deria ser conquistado e se tornar cativo apesar do poder soberano
de Jav. Na realidade, era o poder de Jav que permitiria que o
seu prprio povo fosse levado para a Babilnia. Seria um perodo
de castigo, de provao e de aprendizado. Fazendo um paralelo
com os nossos dias, pode-se afrmar que os crentes tambm po-
dem ser objeto de um exlio ou cativeiro em uma das Babilnias
da nossa atualidade, seja a Babilnia da falta de sade, falta de
emprego, de paz, de harmonia, de experincias duras oca-
sionadas por nossas prprias decises erradas e de tantas outras
crises que nos cercam. O texto porm rico no encorajamento
quanto ao livramento que Jav pode trazer a todos os que Nele
confam. No verso 13 Isaas anuncia que a salvao no tardar.
No verso anterior porm, o profeta fala daqueles que tm corao
obstinado. Como se estivesse vendo o futuro, Isaas fala daqueles
que recebendo o livramento de Jav permaneceriam no seu cati-
veiro. A Histria nos diz que, mesmo com a libertao que Ciro
trouxe ao Povo de Deus cativo na Babilnia, muitos permanecer-
am naquela terra recusando-se a voltar para Jerusalm. Como nos
dias de hoje, muitos crentes passam por crises, recebem
bnos e livramento de Deus mas parece que no se apropriam
delas permanecendo em seus exlios, distanciados da Jerusalm
que podemos simbolicamente associar
presena do Deus da salvao.
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Ns como crentes, vivemos em um mundo cercado por algum
tipo de paganismo com seus deuses e suas crenas muitas vezes
impositivas. fcil s vezes achar que o mal prevalece porque
as coisas de Deus so minoria. Este texto de Isaas nos desafa a
lembrar que Deus soberano e providencia livramento para o seu
povo. Poder haver derrotas e exlios mas haver tambm vitri-
as, no porque necessariamente as merecemos ou porque somos
fortes em ns mesmos mas porque o Deus soberano protege e
abenoa o Seu povo, segundo a Sua vontade. Que Deus possa nos
dar foras e a certeza de que podemos, como Seu povo, nos apro-
priar da proteo e das bnos que Ele nos concede.
A dor e sofrimento do Messias (Isaas 49 a 54)
Quando corremos nossos olhos pelo Antigo Testamento
encontramos vrias passagens que falam da esperana de um Mes-
sias Salvador. Verifcamos tambm que, mais do que algum que
viria libertar apenas o Povo de Israel, o Messias viria para todos
os povos atravs dos tempos. Ele haveria de nascer, crescer e, pelo
seu sofrimento, haveria de estabelecer um caminho de salvao
perfeito. Como um cordeiro que era sacrifcado nos rituais dos
antigos cultos, o Messias seria agora um Cordeiro de Deus que,
com um nico e sufciente sacrifcio, haveria de tirar o pecado de
todos aqueles que Nele cressem.
Qual a expectativa dominante quanto vinda do Messias?
O clima poltico da poca de Isaas era o da realidade do
domnio assrio sobre o Reino de Israel e o potencial domnio dos
babilnicos sobre o Reino de Jud. A expectativa que os judeus
tiveram ao longo de sua histria politicamente turbulenta foi a
de um Messias que alm de rei, restaurador, profeta e juiz, seria
um libertador poltico que levaria Israel a ser uma grande nao.
Essa viso tnica e poltica, juntamente com a tradio e os rituais
(mais facilmente visveis) explicam, de certa forma, porque Israel,
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no reconheceu Jesus de Nazareth como o Messias quando Ele
veio 7 sculos depois. Nessa poca, isso tudo foi ainda agravado
pelos contrastes que Jesus exps, entre os valores do Seu Reino e
os valores do mundo em geral.
Nesse caso o maior desses contrastes foi que Sua mais po-
derosa demonstrao de fora foi exatamente deixar-se crucifcar.
Como que um rei poderia ser preso, humilhado e crucifcado ?
Aos judeus, faltou-lhes a viso mais simblica de um Israel espir-
itual e de um Messias libertador sobre tudo dos pecados de todos
ns. O curioso que a despeito da reao do povo em geral, essa
percepo, de teor mais espiritual e universal, era de conhecimen-
to dos grandes profetas de Deus e em particular, de Isaas, como
pode ser demonstrado nas sees seguintes.
Como Isaas v o Messias
O profeta aponta para o Messias, suas aes, histria, mis-
so e universalidade em vrias partes do seu livro. Algumas das
lies anteriores exemplifcam a abrangncia da viso de Isaas
sobre o Messias. Nas referncias a seguir, entretanto, encontramos
com preciso notvel, profecias sobre eventos histricos que ha-
veriam de ocorrer cerca de 700 anos aps. Em Isaas 7:14 vemos
por exemplo, que o Messias nasceria de uma virgem. Em 40:3, que
Ele seria precedido por Joo Batista. Em 11:2, que Ele seria un-
gido pelo Esprito Santo. Em 42:2 que a humildade seria uma de
suas caractersticas. Em 8:14, que Ele seria pedra de escndalo
para os judeus. Em 53:4-6, que Ele sofreria em lugar dos outros.
Em 52:14, Isaas nos fala de sua aparncia, Em 50:6, que Ele seria
cuspido e fagelado. Em 53:9, que Ele seria sepultado com o rico.
Em 28:16, que Ele seria a pedra principal (sobre a qual sua Ig-
reja seria construda). Em Isaas 11:10 e 42:1 encontramos ainda
que o Messias viria tambm para a converso dos gentios. Em 9:7
encontramos que seu reino seria para sempre. No captulo 53, o
profeta nos oferece ainda uma viso do Messias como um Servo
sofredor que carregaria sobre si as nossas iniqidades para nos
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salvar. difcil entender como algum pode ler todas essas pas-
sagens e especialmente Isaas 53, e no ver nelas claramente Jesus
de Nazareth como o Messias de Deus.
O servo sofredor
Uma das perguntas que me vinha mente em minha ado-
lescncia inquiridora era por que era necessrio haver sacrifcio
de sangue no Antigo Testamento. Por que um cordeiro tinha que
ser sacrifcado e o seu sangue derramado? Por que lemos no livro
de Levtico que sem sangue, no h salvao ? Essas perguntas
fcaram sem resposta por um bom tempo. Alguns anos mais tarde,
porm, pude aprender que dentro da cultura do Antigo Testamen-
to, havia o entendimento de que a vida estava no sangue. Quando
algum se esvaia em sangue, perdia a sua vida. Pude aprender
tambm que em vrias culturas antigas a maneira da criatura
viver harmonicamente com a divindade era a criatura entregar a
sua vida divindade. Se a criatura pudesse entregar seu sangue
divindade, ou seja, sua prpria vida, estaria se harmonizando com
ela. Como porm entregar sua vida sem perecer ? O conceito do
sacrifcio substitutivo veio resolver essa questo. Um animal sem
mancha e perfeito seria sacrifcado em lugar da criatura e aquele
sangue derramado do animal, simbolizaria a entrega da vida da
criatura divindade. Portanto, ao se sacrifcar um animal em um
altar de culto, o que se estava fazendo simbolicamente, era entre-
gar a vida divindade.
O Messias de Deus apresenta-se como o Cordeiro perfeito
que veio substituir todos os cordeiros anteriores. De forma ni-
ca, completa e sufciente o Messias sofredor se deixou sacrifcar
para que nossa vida fosse salva. A nossa salvao porm, requer
que O aceitemos como salvador e que nossa vontade, intelecto e
emoes sejam entregues a Ele. dessa forma que conseguimos
desfrutar da presena e direo de Deus em nossas vidas. Isaas
53:13-14 descreve o aspecto desfguradodo Messias quando so-
brecarregado com os nossos pecados. Menciona tambm que Ele
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seria exaltado, numa possvel referncia sua ressurreio. Esse
seria um fato notrio e necessrio para que sua condio de Cord-
eiro nico e sufciente, prevalecesse. O Messias de Deus haveria de
vencer a morte.
Atravs da vinda do Messias, que carregou sobre si as nos-
sas iniqidades e dores, como Cordeiro que toma o nosso lugar,
Deus promoveu o milagre mais espetacular que se tem conheci-
mento: a possibilidade de um pecador arrependido poder alcan-
ar a vida eterna ao lado do Criador mediante e f no Messias, o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Um convite irresistvel (Isaas 55 a 60)
Nesta oportunidade, em que damos seqncia ao nosso
estudo sobre o livro do profeta Isaas, estaremos estudando o cap-
tulo 55, quando destacaremos quatro pontos que esperamos ser
de interesse dos nossos prezados leitores e ouvintes.
1. Vinde e comprai sem dinheiro
Esse captulo 55 de Isaas todo ele um apelo para que
busquemos a salvao. Ele inicia com um convite inusitado para
os dias de hoje vinde s guas ... vinde comprai e comei sem
dinheiro e sem preo, vinho e leite. A gua serve para desseden-
tar a sede da vida eterna. Esta a mesma gua que Jesus oferece
mulher samaritana em Joo 4:14 aquele, porm que beber
da gua que eu lhe der, nunca mais ter sede, para sempre, pelo
contrrio, a gua que eu lhe der ser nele uma fonte a jorrar para
a vida eterna.
O profeta anuncia que o vinho, representando a alegria,
o po e o leite, representando o alimento da Palavra de Deus, so
colocados gratuitamente pelo Senhor para todos aqueles que O
buscam.
Para aqueles que hesitam em vir beber est gua, este vinho e o
leite, bem como hesitam em aceitar o po oferecido gratuitamente,
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seja porque entendem em ser auto-sufcientes em seus caminhos,
seja porque acham que tm coisas mais importantes para fazer,
o Senhor lhes pergunta no verso 2 por que gastais o dinheiro
naquilo que no po: e o vosso suor naquilo que no satisfaz?
Escrita h 700 anos antes de Cristo esta pergunta permanece ainda
atual hoje. Aps dias e semanas de trabalho, s vezes nos achamos
perguntando: para que trabalhamos tanto ? Qual o nosso propsi-
to em levantarmos todos os dia se despendermos horas e horas
de nossa vida em uma roda viva de trabalho e atividades ? No h
dvida que o nosso sustento material deve vir de nosso trabalho,
mas ser que ele deve ser tal que consuma todas as nossas energias
fsicas, emocionais e espirituais? E ainda, o que fazer quando, aps
todo esse empenho, sentimos que no estamos satisfeitos ? E as
nossas dvidas quanto ao que devemos fazer ? E os nossos planos
para o futuro ? Temos algum ? E os nossos relacionamentos com
as pessoas ? Como devemos agir ? O que devemos fazer ? O Sen-
hor responde essas questes no verso 3 quando nos diz inclinai
os vossos ouvidos e vinde a mim, e a vossa alma viver, porque
convosco farei uma aliana perptua...
Tal aliana se completou 700 anos aps, atravs de Jesus, o
Messias de Nazareth, que at hoje, oferece vida abundante a todo
aquele que Nele cr e a Ele entrega suas decises e sua vida.
O verso 6, talvez um dos mais conhecidos da Bblia, com-
pleta o convite introduzindo uma dimenso de tempo de quando
fazer essa aliana perptua: Buscai o Senhor enquanto se pode
achar, invocai-o enquanto est perto.
2. Os propsitos e pensamentos de Deus
Uma das difculdades da vida crist o confito entre sab-
er que uma aliana com Deus subentende entregar nossos pla-
nos e nossa vida a Ele, e o efetivo entregar. A tendncia cada
um procurar estabelecer seus prprios planos e simplesmente ir
seguindo a vida respondendo sua prpria vontade. Quanto aos
planos de Deus, pensamos muitas vezes que nem sempre con-
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seguimos conhec-los. At mesmo nos revoltamos ou reclamamos
de certos desdobramentos ou acontecimentos. s vezes, dizemos
que entregamos, mas no o fazemos. Ou entregamos, mas no
confamos, o que o mesmo que no entregar. Pior ainda, muitas
vezes tentamos impor a Deus o que Ele deve fazer. Nos versos 8 e
9 de Isaas 55 encontramos Deus nos dizendo que ele no age da
mesma forma que ns. Por isso, no devemos nos surpreender
quando no conseguirmos entender os planos Dele ...os meus
pensamentos no so os vossos pensamentos, nem os vossos
caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.
3. A palavra que no volta vazia
Muitos crentes que costumam levar a palavra do Evangel-
ho para outros ou mesmo que assistem a um pregador fazer um
apelo e, em alguns casos, no encontram respostas visveis men-
sagem entregue, podem, por um instante, pensar que tudo aquilo
foi seus caminhos, seja porque acham que tm coisas mais im-
portantes para fazer, o Senhor lhes pergunta no verso 2 por que
gastais o dinheiro naquilo que no po: e o vosso suor naquilo
que no satisfaz? Escrita h 700 anos antes de Cristo esta pergun-
ta permanece ainda atual hoje. Aps dias e semanas de trabalho,
s vezes nos achamos perguntando: para que trabalhamos tanto ?
Qual o nosso propsito em levantarmos todos os dia se despend-
ermos horas e horas de nossa vida em uma roda viva de trabalho
e atividades ? No h dvida que o nosso sustento material deve
vir de nosso trabalho, mas ser que ele deve ser tal que consuma
todas as nossas energias fsicas, emocionais e espirituais? E ainda,
o que fazer quando, aps todo esse empenho, sentimos que no
estamos satisfeitos? E as nossas dvidas quanto ao que devemos
fazer?
E os nossos planos para o futuro?
Temos algum? E os nossos relacionamentos com as pes-
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soas? Como devemos agir ? O que devemos fazer ? O Senhor re-
sponde essas questes no verso 3 quando nos diz inclinai os
vossos ouvidos e vinde a mim, e a vossa alma viver, porque con-
vosco farei uma aliana perptua... Tal aliana se completou 700
anos aps, atravs de Jesus, o Messias de Nazareth, que at hoje,
oferece vida abundante a todo aquele que Nele cr e a Ele entrega
suas decises e sua vida.
A Grandeza da Salvao (Isaas 61 a 66)
Neste 11o Estudo de nossa srie sobre Isaas, estaremos
concentrando nossa ateno no captulo 65 do livro deste grande
profeta de Deus. Ao examinarmos o texto, verifcamos que ele se
desdobra em trs partes principais: a) o julgamento do Senhor so-
bre os rebeldes; b) O Senhor salva aqueles que O buscam e destri
aqueles que O rejeitam e c) O Senhor assegura um glorioso futuro
a seu povo em um novo mundo a ser criado por Ele.
O julgamento do Senhor sobre os rebeldes (Isaas 65:1-5)
No verso 1 Deus declara, atravs das palavras do profeta,
como Ele se manifestou a outros povos, alm do Povo de Israel
histrico. Isto nos mostra com clareza que a salvao para todas
as naes e no apenas para Israel. No verso 2, Jav chama a aten-
o daqueles que andam por seus prprios caminhos e por isso, se
tornam rebeldes. Nos versos 3 a 5, o Senhor condena aqueles que
praticam a superstio. O texto faz meno a jardins, onde adora-
dores dos desuses cananeus faziam alguns tipos de cultos e sacrif-
cios, todos condenados por Jav. O verso 4, se refere aqueles que
moram em sepulturas e passam a noite em lugares misteriosos,
numa aluso necromacia, outra prtica condenvel aos olhos do
Senhor. Este verso tambm menciona o comer carne de animais
considerados abominveis.
Povos pagos acreditavam que, ao comerem a carne de al-
guns desses animais, poderiam receber certas virtudes. Mais do
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que condenar tais carnes, sob o ponto de vista da sade, a palavra
do Senhor tinha como objetivo se contrapor idolatria pois es-
ses animais eram usados como forma de relacionamento com o
sobrenatural.
Aqueles que se opunham a um correto relacionamento
com o Deus criador, buscando em lugar disso, outras divindades,
estavam sendo objeto de julgamento de Jav. Em tempos moder-
nos, poderamos com certeza, identifcar essas outras divindades
no somente dentro das religies fetichistas mas tambm naque-
las prticas em que o Deus do dia-a-dia substitudo por coisas ou
pessoas tais como dinheiro, sexo, poder, dolos etc.
2. O Senhor salva aqueles que O buscam e destri aqueles que O
rejeitam (Isaas 65:6-10)
O verso 8 compara a nao a um cacho em que as uvas
esto bastante machucadas mas a existncia de suco em algumas
delas sufciente para evitar que todo o cacho seja desprezado.
Esta comparao nos permite constatar que Deus Algum que
nos restaura e sempre nos d oportunidades de um novo comeo.
necessrio porm, que estejamos prontos a aceit-lo como Sal-
vador e tambm como Senhor de nossas vidas. Neg-lo ou sub-
stitu-lo pelos nossos prprios deuses pessoais abrir caminho
para nosso afastamento do Deus verdadeiro, rumo nossa prpria
destruio. Os versos 11 e 12 ilustram bem as conseqncias
daqueles que abandonaram o Senhor para preparar uma mesa
para a deusa Fortuna e vinho para o deus Destino, ambos sim-
bolizando cultos, louvor ou dedicao a outros deuses, coisas ou
pessoas. Fortuna e Destino eram deuses associados s divindades
pags Gad e Menim para as quais, respectivamente, se faziam cul-
tos aos astros e onde se ofereciam alimentos em rituais de magia.
O verso 12 conclui que aqueles que participam de tais cultos e no
respondem ao chamado de Jav, so destinados espada.
3. O Senhor assegura um glorioso futuro a seu povo em um novo
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mundo a ser criado por Ele (Isaas 65:17-25)
A palavra de Deus trazida pelo profeta Isaas nos afrma
ainda que a natureza e amplitude da salvao que Jav promete
tal que uma completa transformao ocorrer em nossa realidade
fsica e espiritual. A salvao em si ocorre no presente tempo,
ao nvel individual de cada pessoa que aceita o Messias de Deus
como Salvador e Senhor. No fnal dos tempos, porm, o Senhor
haver de criar um novo cu e uma nova terra.
Isaas nos afrma que ela ser caracterizada pela seguran-
a, prosperidade e grande comunho com o Senhor. O profeta nos
descreve ainda a restaurao da sociedade humana, quando no
haver mais dor, tristezas, lgrimas e mesmo a morte, ser banida.
Enquanto esse tempo futuro no chega, cabe-nos porm, consid-
erar nossa f na soberania de Deus, na perfeio do seu plano de
restaurao e salvao e aceitar o convite desta salvao, que Ele
nos oferece atravs do Messias.
O Deus que o profeta Isaas nos apresenta Algum atento
ao ser humano. Ele nos mostra um Deus que julga aqueles que O
rejeitam. Mas mostra tambm, um Deus que oferece oportuni-
dade de salvao a todos que se dispuserem a aceitar o seu convite
de vida abundante com Ele. No se trata de vingana mas de con-
seqncia natural de causa e efeito. Deus luz. No estar na Luz,
permanecer nas trevas.
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Jeremias
Jud e Jerusalm tristes quadros Jeremias 1 a 10
Neste trimestre que hoje se inicia, estaremos conhecendo
um pouco melhor os livros de Jeremias, Lamentaes, Ezequiel e
Daniel. Espero que, contando com a graa de Deus e com o nosso
prprio esforo e reverncia, este trabalho no seja estril mas sim
frtil, rendendo muitos e variados frutos.
Para comearmos a pensar quem foi Jeremias, eu pro-
ponho que voc faa uma experincia: pea para algumas pessoas
definirem este profeta. Garanto que voc ouvir a l g u m a s
afrmaes como: Jeremias? Ah, ele fcou choramingando ao in-
vs de agir! ou Jeremias foi aquele que, quando Deus o chamou,
deu uma desculpa, dizendo ser ainda criana. Agora vamos refe-
tir um pouco sobre esta impresso: ser que se a vida de Jeremias
se resumisse mesmo a isso, teramos hoje um livro inteiro com o
seu nome em nossas Bblias? claro que no! Mas ento quem
ser este profeta?
Para responder esta pergunta, s mesmo buscando, com bastante
ateno, pistas no texto bblico. S l encontraremos a verdadeira
face de Jeremias, e assim poderemos sair de vez do campo das
impresses superfciais.
Eu mencionei o termo pistas, no foi mesmo? Pois , como
vocs j devem ter imaginado, o nosso trabalho ser bem parecido
com o de um detetive. Isso porque no possumos uma histria
completa da vida deste profeta, mas sim fragmentos isolados e
muitas peas perdidas. Mas no h razo para desanimarmos. Jer-
emias , talvez, o profeta cuja vida conhecemos melhor em todo
Antigo Testamento. Assim, mesmo que haja longos perodos de
sua vida sobre os quais no podemos dizer praticamente nada, h
tambm trechos muito bem conhecidos. Juntando estes perodos
mais conhecidos com algumas bem pensadas suposies, chega-
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mos histria que estaremos analisando nestas lies. Ento, sem
mais delongas, vamos a ela.
Dos primeiros trs versculos do livro aprendemos que Jer-
emias nasceu em Anatote, uma aldeia que fcava a seis quilmet-
ros de Jerusalm. Sua famlia pertencia tribo de Benjamim que,
apesar de ser parte do reino de Jud, ainda mantinha muitos laos
com as tribos do norte. Aprendemos tambm que ele era flho do
sacerdote Helcias. No h, contudo, nenhum indcio em todo o
livro de que Jeremias tenha desempenhado, ele mesmo, a funo
de sacerdote. Lemos que a palavra de Deus foi-lhe dirigida pela
primeira vez no 13 ano do reinado de Josias, rei de Jud. Este ano
foi o ano 627 a.C. Mais frente, neste mesmo captulo, encontra-
mos a descrio deste momento to importante e a to comen-
tada resposta de Jeremias: sou ainda uma criana. No podemos
saber, ao certo, o que o profeta quis dizer com isso, mas a maioria
dos estudiosos afrmaria que provavelmente ele no estaria muito
longe dos vinte anos. Com isso, podemos assumir que Jeremias
nasceu por volta do ano 645 a.C.
Passado o momento da sua vocao, a vida de Jeremias
pode ento ser dividida em quatro fases principais: a fase do re-
inado de Josias, a fase do reinado de Jeoaquim, a fase do reinado
de Zedequias e a fase posterior queda de Jerusalm. Hoje co-
briremos apenas a primeira fase, referente ao reinado de Josias,
j que os captulos que lemos esta semana parecem ser oriundos
principalmente dela.
O rei Josias, neto de Manasss e flho de Amon, chegou
ao trono atravs de uma contra-revoluo que derrotou aqueles
que haviam matado seu pai. Ele tinha apenas oito anos de idade
quando isso aconteceu, no ano 640 a.C., e, alm da grande insta-
bilidade poltica, ainda teve de lidar com o legado que seu av,
um rei mpio e cruel, deixou-lhe. Contudo, Josias soube vencer
estas difculdades e acabou tornando-se um dos reis mais impor-
tantes da histria de Jud. A sua poltica externa foi marcada pela
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crescente autonomia do estado de Jud perante a Assria. A sua
poltica interna, por outro lado, foi ainda mais crucial para a sub-
seqente histria do povo judeu. Josias, ainda no incio do seu
reinado, comeou uma reforma religiosa. Alguns dos obje-
tivos alcanados por esta reforma foram a purifcao do culto e a
restaurao da Pscoa, que havia sido esquecida pelo povo. Mas o
ponto alto foi, sem dvida, a descoberta do livro da lei. Hoje, estu-
diosos pensam que este livro se tratava de um rolo contendo parte
considervel do Deuteronmio. Esta descoberta motivou o rei a
patrocinar a redao de um outro livro, que se tornou o restante
do Deuteronmio e os livros de Josu, Juzes, I e II Samuel e I e II
Reis. Dessa forma, tudo parecia ir muito bem at que, de forma
trgica, Josias morreu combatendo os Egpcios em Meguido, no
ano de 609 a.C.
O reinado de Josias um daqueles perodos considerveis
da vida de Jeremias sobre os quais temos poucas informaes.
No sabemos se Jeremias, aps a sua vocao, foi imediatamente a
Jerusalm ou se permaneceu ainda por alguns anos em Anatote.
No sabemos se ele foi para o norte ou no. Contudo, por se tra-
tarem de 18 anos, provvel que ele tenha desempenhado, neste
perodo, um papel importante em Jerusalm e no antigo reino
de Israel tambm. Quanto ao prprio reinado Josias, parece que
Jeremias o apoiou em parte, elogiando-o quando era merecido e
criticando-o, sem meias palavras, quando era o caso. De qualquer
forma, a profunda corrupo do reinado de Jeoaquim, que suce-
deu Joacaz, o sucessor de Josias que foi deportado para o Egito,
no pode ter surgido apenas em alguns breves meses, mas deve ter
lanado as suas razes ainda no tempo de Josias.
Pois bem, espero no ter cansado ningum com este relato
um pouco longo, verdade, da histria de Jeremias e do seu povo!
Contudo, toro para que vocs tenham saboreado este conheci-
mento percebendo como ele enriquecedor paraa leitura do texto
bblico. Para mim, parece que ler a Bblia sabendo um pouco da
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histria por detrs do que eu estou lendo como ver um retrato
com cores mais vivas.
Mas no podemos nos despedir sem antes considerarmos
um trecho to importante e com tantas repercusses da leitura
desta semana como a vocao de Jeremias, que est em Jr 1.4-10. Se
compararmos este relato de vocao com os de Isaas e Ezequiel,
por exemplo, encontraremos muitas diferenas, como aquela ref-
erente ao encontro do profeta com Deus. Enquanto Isaas descreve
o trono de Deus rodeado de serafns e Ezequiel fala de uma estra-
nha viso, Jeremias limita-se a dizer: a palavra do Senhor veio
a mim. Fica claro como, para Jeremias, mais importante do que
tudo mais a Palavra de Deus. Diante da simples afrmao da sua
presena, elementos como o lugar e o modo parecem pequeni-
nos detalhes que no tm porque no serem omitidos. Com isto
em mente e levando em conta que Deus chama Jeremias para
ser profeta s naes, ou seja, o difusor desta Palavra, podemos
vislumbrar quem o profeta Jeremias: um homem chamado por
Deus para deixar de ser ele mesmo.
Essa afrmao de fato bastante estranha, mas pense
bem: se frente Palavra de Deus a prpria viso que Jeremias tem
do Senhor algo que no vale a pena levar tempo para descrever,
ser que Jeremias estaria disposto a dizer qualquer outra coisa que
no fosse a prpria Palavra de Deus? Eu penso que no. E parece
que o Senhor concordaria comigo! Afnal, Jeremias no estava di-
zendo justamente algo que vinha do seu prprio corao quando
afrmou ser jovem demais? E Deus no o corrige, dizendo: no
diga que muito jovem?
Desta forma podemos ver que Jeremias no tinha motivos
para ter medo porque, a partir daquele momento, ele deveria
passar a ser a prpria Palavra de Deus. Suas aes e as con-
seqncias delas no mais deveriam ser medidas por parmetros
humanos.
Mas claro que isto no foi fcil para Jeremias como no fcil
para mim e nem para voc. Pois , pensando bem, eu e voc no
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estamos to longe de Jeremias assim. O mesmo Deus que o cham-
ou para destruir e construir no nos chama hoje para a mesma
tarefa?
O anncio do castigo divino (Jeremias 11 a 20)
Nesta semana, lemos os captulos 11 a 20 do livro de Jer-
emias. Alguns dos eventos que so descritos nestes captulos ocor-
reram provavelmente no reinado de Jeoaquim. Observemos, en-
to, como foi o reinado deste flho de Josias e como este reinado
afetou a mensagem de Jeremias.
J no primeiro ano do reinado de Jeoaquim, Jeremias faz
um discurso contra a certeza que o povo de Jerusalm tem de que,
por serem habitantes da cidade onde est o Templo do Senhor,
no tm motivos para temer mal algum. O povo, preso ao seu
prprio pecado, recusa-se a escut-lo e ainda tenta mat-lo. Jer-
emias escapa, mas ali comeavam os tempos mais difceis de sua
vida.
Alguns anos depois, em 605 a.C., contra todas as expec-
tativas, Nabucodonosor, rei da Babilnia, derrota os Egpcios na
batalha pela fortaleza de Carquemis. A partir de ento, Jeremias
identifca o inimigo do norte com a Babilnia e, a fm de res-
saltar a funo que este inimigo poder ter nas mos do Senhor,
vai at o porto, quebra um jarro e discursa sobre o fm de Jud,
como vemos nos captulos 19 e 20. O comissrio do Templo ento
bate nele e prende-o. Quando isto acontece, Jeremias e Baruque
so obrigados a esconderem-se.
Leremos sobre estes acontecimentos no captulo 36.
Foi tambm provavelmente no reinado de Jeoaquim que o
Senhor enviou Jeremias at a casa do oleiro e tambm para junto
do Eufrates, onde ele deixou o seu cinto. De qualquer forma, no
h necessidade de detalharmos ainda mais este perodo se com-
preendermos o seu principal signifcado: Jeremias passara de um
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observador crtico do rei e do povo, como fora no reinado de Jo-
sias, para um inimigo ferrenho e perseguido. Assim, a pregao
dele tornou-se cada vez mais um anncio da destruio de Je-
rusalm e uma denncia dos pecados do povo. Contudo, Jeremias
no se limitou a expressar a Palavra de Deus. Em alguns momen-
tos, ele tambm virou-se e dialogou com o Senhor. Vemos isto
em algumas passagens muito famosas, chamadas as confsses de
Jeremias.
Voc ainda se lembra da fama de Jeremias? Pois , ela vem
principalmente daqui. As confsses podem ser encontradas nos
captulos 11, 12, 15, 17, 18 e 20.
Observemos, pelo menos, o trecho encontrado no cap-
tulo 20 mais especifcamente os versculos 14 a 18. Maldito seja
o dia em que eu nasci! diz o profeta. O seu rancor e a sua dor so
muito profundos. Ele afrma que gostaria de ter morrido no ven-
tre de sua me sem jamais ter visto a luz do dia. Afnal, pergunta
ele, Por que sa do ventre materno? S para ver difculdades e
tristezas, e terminar os meus dias na maior decepo? Por que
Jeremias disse estas coisas? De onde vem uma dor to profunda
e amarga? E seu contato direto com o Senhor, no seria este suf-
ciente para calar tais perguntas? Para responder estas indagaes,
s mesmo buscando entender o que , de fato, um profeta. To-
davia, mesmo levando estas diferenas em considerao, ainda
possvel traar as linhas gerais que fazem com que um homem
seja, reconhecidamente, um profeta? Penso que sim. Segundo Jos
Luis Sicre, existem quatro pontos principais que dis-
tinguem o profeta dos demais homens. Vejamos quais so estes
pontos. Primeiro, o profeta um homem inspirado. Ou seja, ele
tem plena convico de que a mensagem que tem a mensagem
do prprio Deus. Assim, ele no se baseia em documentos ou
mesmo puramente na experincia humana, mas diretamente na
Palavra de Deus que, segundo o prprio Jeremias, pode ser a sua
alegria e o seu jbilo (15.16) ou um fogo que ele no pode conter,
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por mais que tente (20.9). Segundo, ele um homem pblico. Isso
quer dizer que o profeta est inserido em uma comunidade e est
profundamente imerso em seus problemas e sonhos. Por mais que
o profeta seja um solitrio, ele no est completamente isolado, j
que a profecia no pode existir sem um contexto social. Terceiro,
o profeta recebeu um dom de Deus. Ele no precisa pertencer a
uma certa classe social ou ter recebido uma educao especial.
Basta que ele tenha sido escolhido por Deus.
Por fm, chegamos ao quarto item, justamente aquele que
mais nos ajudar a responder aquelas perguntas sobre a dor e a
atitude de Jeremias. O profeta um homem ameaado. Ameaado
pelas autoridades, pelo povo, pelos seus prprios parentes, como
Jeremias foi (11.18-23). Certo. Mas aqui temos de parar e pergun-
tar: se fosse apenas isto, ser que Jeremias teria se confessado
perante o Senhor daquela forma? Me parece que no. Portanto,
vemos que as ameaas no eram apenas estas. Temos que admitir
que a maior ameaa para o profeta no vem dos homens, mas do
prprio Deus. Leiamos Jr 20.7. O profeta diz: Senhor, tu me per-
suadiste, e eu fui persuadido; foste mais forte do que eu e preva-
leceste. Sou ridicularizado o dia inteiro; todos zombam de mim.
Vemos, desta forma, que o relacionamento entre o Senhor e o
profeta no era marcado apenas por carinhos e afagos. O profeta
tinha uma funo a desempenhar e o Senhor o empurrava con-
stantemente nesta direo, s vezes para o grande sofrimento do
profeta.
Foi assim com Jeremias. O Senhor o fez andar por camin-
hos difclimos e ele, no podendo compreender a razo daquilo,
perguntou-lhe: At quando? Mas Deus lhe disse que no con-
vinha que ele tivesse aquela resposta leia os primeiros seis ver-
sculos do captulo 12 e veja novamente como isto aconteceu.
Agora, coloque-se no lugar de Jeremias. Talvez voc sequer pre-
cise usar muito a sua imaginao talvez o Senhor tambm es-
teja empurrando voc por caminhos difceis para que a Palavra
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dele possa ser ouvida. D vontade de reclamar? Jeremias no s
teve vontade, como reclamou. E o Senhor, apesar de no lhe dar
uma resposta que o satisfzesse, escutou, consciente da dor do seu
servo.
O Senhor de Jeremias o nosso Senhor muito sbio.
Quem sabe se no fundo, no fundo, o que Jeremias realmente pre-
cisava no era de uma resposta, mas sim de um Deus que o amasse
e que o escutasse. No fundo, no fundo, talvez ele j soubesse que
no poderia ter uma resposta. Mas o Senhor escutou, Jeremias
confou nele e foi o sufciente para que o profeta seguisse por seus
caminhos. Espero que a certeza de que temos um Deus que nos
ama e est sempre disposto a nos escutar tambm nos baste e as-
sim sigamos em frente, vivendo a cada instante a promessa que
em Jr 11.7: Bendito o homem cuja confana est no Senhor,
cuja confana nele est.
O cativeiro e a sua causa (Jeremias 21 a 30)
Hoje, continuando o nosso estudo do livro de Jeremias,
iremos rever o contedo dos captulos 21 a 30. Nestes captulos as
admoestaes e ameaas que Jeremias trouxe ao povo fnalmente
tomam forma atravs de Nabucodonosor.
Este rei da Babilnia derrota os Egpcios e, no reinado de
Jeconias, sucessor de Jeoaquim, chega at Jerusalm. Aps cercar
e invadir a cidade, ele leva para a Babilnia Jeconias, boa parte
dos poderosos de Jerusalm e muitos dos tesouros do Templo.
Zedquias ento coroado, tornando-se assim o terceiro dos flhos
de Josias a chegar ao trono.
Politicamente, os primeiros anos que se seguem sua coro-
ao, que ocorreu em 597 a.C., so bastante tranqilos para Zed-
equias. A Babilnia passara a ser inquestionavelmente o grande
poder da regio e quem pagasse os seus tributos em dia no teria
muito o que temer. Contudo, Zedequias e o povo agora tm um
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grande problema teolgico e social para resolver. Como explicar a
queda de Jerusalm e a profanao do Templo? O Templo no era
a casa do Senhor e Jerusalm a sua cidade? Assim, eles recebem
ainda mais uma chance para dar ouvidos a Jeremias e reconhecer
que o seu pecado anulou estas garantias. Mas, ao invs de fazerem
isto, eles colocam toda a culpa naqueles que haviam sido deporta-
dos.Opondo-seaeste posicionamento, Jeremias fala dos dois ces-
tos de fgos, no captulo 24.
Mas a mensagem de Jeremias no apenas para o povo
que permaneceu em Jud. Ele escreve uma carta para os exilados,
que encontramos no captulo 29, na qual os exorta a levarem uma
vida o mais normal possvel, j que o eles permaneceriam na Ba-
bilnia por longos anos. Contudo, os exilados tambm optam por
permanecer com seus pecados e no lhe do ouvidos, ansiando
acima de qualquer outra coisa pelo seu retorno a Jerusalm.
Alguns anos depois, em 593 a.C., Zedequias recebe, em
Jerusalm, embaixadores de diversos reinos da regio. O assunto
desta conferncia erauma possvel coalizo contra a Babilnia.
Jeremias contrrio a esta proposta e o demonstra colo-
cando um jugo sobre o seu prprio pescoo, como vemos nos
captulos 27 e 28. No se sabe ao certo se por prudncia poltica
ou se por haver ouvido, fnalmente, a mensagem de Jeremias, mas
o fato que Zedequias optou por permanecer subserviente Ba-
bilnia. Contudo, a sabedoria de Zedequias no durou muito e,
cinco anos mais tarde, ele cedeu s presses e se negou a pagar o
tributo. A partir de ento foram iniciados os eventos que levaram
segunda deportao e destruio de Jerusalm.
Para ns, hoje em dia, todos estes eventos e os que os
seguiram sejam de fcil explicao. No estamos satisfeitos em
dizer simplesmente que o povo pecou, no se arrependeu quando
teve a chance, e por isso o Senhor o levou cativo para a Babilnia?
Todavia, se pararmos um pouco para refetir, veremos que ler so-
bre este processo 2500 anos depois que ele aconteceu e chegar a
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algumas concluses uma coisa. Viv-lo outra, totalmente difer-
ente. No que os eventos que culminaram no exlio no tenham
tido causas e conseqncias bem visveis, mas ns jamais com-
preenderemos este processo completamente se assumirmos que o
povo tinha a mesma percepo dele que ns temos hoje. Portanto,
acho que vale a pena nos esforarmos um pouco observando de
que forma Jeremias expunha a sua mensagem ao povo. Quem sabe
assim possamos compreender melhor a perspectiva que aquele
povo tinha dos eventos que culminaram no exlio babilnico.
A linguagem proftica tem uma caracterstica que ao
mesmo tempo a sua grande fora e a sua grande fraqueza. Esta
caracterstica est na enorme capacidade do profeta de lanar mo
da cultura e dos valores do seu povo para falar de maneira vio-
lentamente clara e sincera. O profeta no apresentava uma lin-
guagem abstrata e conceitual, mas sim palavras absolutamente
concretas e de sentido inquestionvel. Quem o ouvisse no po-
deria fcar indiferente ou considerava-o um louco perigoso ou
permitia que aquelas palavras fortalecessem a sua conscincia de
uma forma surpreendente.Contudo, justamente a que tambm
est a grande fraqueza da linguagem proftica. Ser que palavras
construdas com tanto cuidado para impactarem as mentes dos
cidados da Jud do sculo VII a.C. tero o mesmo efeito sobre
mim, um brasileiro vivendo em pleno sculo XXI? claro que
no! Na verdade, este cuidado que o profeta teve para criar uma
linguagem to forte para o seu povo funciona de maneira inversa
comigo quanto mais claro ele for para o cidado de Jud, menos
claro ele ser para mim!
A fm de que possamos ver, na prtica, como isto funcio-
na, vamos adaptar os versos de Jr 22.20 para o nosso contexto. O
texto original diz: Jerusalm, suba ao Lbano e clame, Seja ouvida
a sua voz em Bas, Clame desde Abarim, Pois todos os seus alia-
dos foram esmagados. Se estivesse falando hoje, Jeremias poderia
muito bem estar dizendo: Washington, suba a Londres e implore,
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Que todos te vejam em Madri, Implore desde Roma, pois todos os
teus aliados foram esmagados.
Independente do sentido desta passagem pois o objetivo
aqui no dar-lhe um novo sentido estas palavras no ganham
uma nova vida ao serem adaptadas ao nosso mundo? E se conseg-
ussemos fazer o mesmo com todos os textos profticos, ser que
os livros profticos no teriam um apelo muito maior entre ns?
Ou ser que esta adaptao tornaria o texto to impactante que
muitos fugiriam dele, considerando-o, no mnimo, de mau gosto?
Mas os profetas, e Jeremias em especial, no falaram s atravs
de versos. Hoje em dia, quem no conhece aquele ditado que diz:
uma imagem vale mais do que mil palavras? Mas apesar de no
tempo de Jeremias provavelmente no ter sido assim, sem dvida
este profeta sabia disto. Lembremos dele andando pelos ptios do
templo com um jugo o aparato para prender o boi pelo pescoo
a um carro sobre os seus ombros, ou quebrando um vaso junto
ao porto da cidade, ou indo buscar um cinto podre junto ao Eu-
frates. Todas estas aes tinham signifcados clarssimos para os
seus espectadores. Mais uma vez, o profeta no deixava a possibi-
lidade de permanecer indiferente a ningum.
Dessa forma, podemos fnalmente chegar a uma con-
cluso: a grande diferena entre a nossa perspectiva destes acon-
tecimentos e a perspectiva daqueles que ouviram o prprio Jer-
emias proferir estas palavras a emoo. Ns observamos todos
estes eventos principalmente com a razo.
Aquele povo no podia fazer isto. Eles estavam to imer-
sos naquele processo que simplesmente no podiam abrir mo
dos seus sentimentos. Mas o profeta no considerava isto ruim
pelo contrrio, ele incentivava essa tenso emocional com o in-
tuito de derrubar todas as certezas daquele povo pecador e assim
faz-lo ver o quanto o seu Deus o amava.
A partir desta concluso, para mim fca difcil continuar
olhando para este povo unicamente atravs de um breve resumo
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da sua histria. Como poderamos continuar fazendo isto uma vez
que percebemos que se tratam de muito mais do que nomes em
um folha esse povo era feito de pessoas de carne e osso, como eu
e voc! Pessoas que podiam ser amveis ou indiferentes, generosas
ou mesquinhas. Assim, preciso que nos esforcemos mais na hora
de ler o texto bblico caso a sua mensagem no tenha superado
as barreiras que edifcamos em nossas mentes. preciso que esta
mensagem chegue aos nossos coraes, assim como as palavras de
Jeremias chegaram ao corao daquele povo, pois cabe ao corao
escolher o caminho que iremos seguir.
Por fm, como Jeremias sabia to bem, precisamos colocar
tanto as nossas emoes quanto a nossa razo diante do Senhor,
porque, como ele disse, vocs me procuraro e me acharo quan-
do me procurarem de todo o corao (29.13).
Deus revela o futuro (Jeremias 31 a 40)
Ao se recusar a pagar o tributo Babilnia, Zedequias,
Nabucodonosor age de imediato e poucos meses depois fecha o
cerco em torno de Jerusalm. Nesta semana lemos sobre alguns
dos principais eventos que ocorreram neste perodo to crucial da
histria de Jud, que vai do dia em que o cerco comea 5 de ja-
neiro de 587 a.C. at o dia da invaso da cidade 19 de julho de
586 a.C. Assim, vamos comear o nosso encontro revendo estes
acontecimentos.
J no incio do cerco, Jeremias anuncia ao rei que Je-
rusalm cair. Pouco depois, um pequeno exrcito egpcio chega
Judia e Nabucodonosor forado a levantar o cerco para lidar
com ele. O povo, e principalmente os poderosos, vem isso como
um timo sinal e resolvem at voltar atrs em sua promessa de
libertar os escravos hebreus. Jeremias ento denuncia esta atitude
como mais um enorme desrespeito para com o Senhor e anuncia
que os babilnios voltaro para terminar o que haviam comeado.
Ainda neste perodo em que o cerco havia sido levantado, Jer-
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emias tenta ir at a sua cidade natal, Anatote, para receber uma
herana, mas o chefe da guarda o v e o prende sob a alegao de
estar desertando.
Algum tempo depois, a profecia de Jeremias se concretiza e o ex-
rcito de Nabucodonosor retorna vitorioso da batalha com os egp-
cios para retomar o cerco. Zedequias ento manda buscar Jeremi-
as e pergunta-lhe se ele tem alguma palavra do Senhor para ele.
Jeremias novamente anuncia-lhe a queda de Jerusalm, mas
aproveita para pedir a sua transferncia para o ptio da guarda,
o que de fato acontece. Contudo, ao chegar l Jeremias comea a
exortar os guerreiros a se renderem, o que causa a ira dos prnci-
pes de Jud. Estes ento jogam-no dentro de uma cisterna, onde
o profeta certamente morreria se no tivesse sido salvo por Ebed-
Melec, que pedira a permisso do rei para libert-lo.
ento que acontece um fato muito interessante na vida
de Jeremias, justamente neste momento em que, quase sem es-
peranas e tendo sofrido tanto, ele havia literalmente tocado
o fundo do poo. Seu primo Hanameel vem at ele, no ptio da
guarda, e pede que ele compre um campo em Anatote. uma
proposta totalmente absurda; a cidade est cercada e a sua destru-
io j quase certa.
Jeremias defnitivamente poderia ter pensado que melhor
seria investir em terrenos na lua. Contudo, ele percebe que atravs
daquela situao Deus estava oferecendo-lhe mais uma chance de
ter e dar esperana. Assim ele compra o terreno para que to-
dos soubessem que de novo sero compradas propriedades nesta
terra, da qual vocs dizem: uma terra arrasada, sem homens
nem animais, pois foi entregue nas mos dos babilnios. (32.43)
Aps este evento Zedquias ainda vem falar com Jeremias mais
uma vez, e novamente Jeremias lhe repete que o nico caminho
a rendio. Mas mesmo assim o rei no lhe d ouvidos. Por fm,
aps seis meses de cerco, Jerusalm invadida e o rei foge, sendo
capturado prximo a Jeric. Ele ento levado para a presena de
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Nabucodonosor, que o julga e o condena a assistir morte de seus
flhos, a ter seus olhos furados e a ser levado, em correntes, para
a Babilnia.
Bem, agora que j cobrimos todos estes acontecimentos,
creio que podemos parar m pouco e refetir sobre uma pergunta
um pouco, digamos, diferente: Jeremias foi, ou no foi, um deser-
tor? Eu sei que esta questo deve soar muito estranha nos seus
ouvidos, apesar de voc saber que Jeremias foi, l no captulo 37,
acusado de tentar desertar quando saia da cidade. Mas uma coisa
o chefe da guarda suspeitar isso, outra coisa somos ns admitir-
mos esta hiptese! Mas, mesmo assim, sigamos em frente.
Quais so as acusaes que pesavam sobre ele? Bom, Jer-
emias antes mesmo de os babilnios chegarem j dizia que Je-
rusalm no tinha chance de escapar- lhes. Quando o cerco foi
estabelecido ento, essa mensagem no saia de seus lbios. Ele foi
capaz de exortar no s o rei a se entregar, mas tambm o seu
prprio exrcito. E Jeremias, ainda por cima, comprou um campo
em territrio dominado pelos inimigos que cercavam Jerusalm.
Para que possamos ver esta questo ainda com mais clareza, vamos
traz-la para os nossos dias. Imagine que o Brasil est totalmente
cercado por inimigos terrveis e sanguinrios. Ento aparece um
sujeito bem em frente do Palcio da Alvorada querendo falar com
o presidente. Quando este fnalmente o recebe, ele lhe diz que o
pas tem que se entregar. O presidente o manda embora, mas ele
insiste tanto que acaba preso em um quartel. L dentro, ele no
para de dizer para os soldados que eles tm que fugir! Quem
teria dvidas que este homem um traidor da ptria, e talvez at
mesmo um espio?
O julgamento de Jeremias por parte de muitos que viviam
em Jerusalm e que, com certeza, no tinham nem idia do que
viria a ser a liberdade de expresso no deve ter sido diferente.
Para eles, que, como ns, agiam e pensavam segundo suas leis e
costumes, Jeremias era de fato um desertor altamente subversivo.
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Mas ento, por que ser que as palavras de um homem consid-
erado um criminoso atravessaram 2500 anos e chegaram at ns?
A resposta simples e perturbadora: as palavras de Jeremias che-
garam at ns porque ele foi um homem que, como disse Sren
Kierkegaard, deu um salto de f, mesmo que isto signifcasse que-
brar a lei. No pense, contudo, que isto signifca que Jeremias de-
sprezava a lei de seu povo, mesmo que estejamos falando da lei
civil. Muito pelo contrrio. Ele provavelmente a amava e a respei-
tava mais do que todos os outros homens de sua poca. Porm,
Jeremias no amava a lei por qualquer qualidade sua em preservar
a ordem, ou qualquer coisa do gnero. Jeremias a amava por saber
que ela vinha do Deus que ele amava sobre todas as coisas. Portan-
to, a lealdade de Jeremias no estava com a lei, mas com o aquele
que criara a lei. E Jeremias sabia que se Deus criara a lei, ele pode-
ria muito bem abrir mo dela ordenando que seus servos fzessem
o mesmo. E foi exatamente isso que aconteceu! Mas sendo assim,
voc deve estar pensando que Jeremias tinha uma excelente justi-
fcativa! Sem dvida. Mas ser que ter uma justifcativa o mesmo
que ser justifcado? No. Apesar da sua justifcativa ser maior que
qualquer outra, ela era simplesmente intil para Jeremias, aos ol-
hos da lei. Aos olhos da lei nada poderia justifc-lo j que Deus
est alm da lei ela simplesmente no pode compreend-lo em
sua totalidade, sendo sua criatura. Mas mesmo sabendo disso Jer-
emias seguiu em frente por amor do seu criador.
O que ser que ns podemos aprender com esta sua ati-
tude hoje em dia?
Ns tambm servimos o mesmo Deus de Jeremias, o Deus
que criou os cus e a terra tudo mais que existe. De fato, foi ele
quem criou os nossos pais, o nosso pastor, a Igreja e a Bblia. Por
isso, ns amamos estas coisas: o nosso to grande Deus as criou
e entregou-as para nos servir de guia, auxlio e companhia. Mas
a nossa lealdade ltima no est com nenhuma delas ou mesmo
com qualquer outra coisa alm de com o prprio Deus.
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ele o motivo da nossa existncia. ele o nico digno
de toda glria, majestade, poder e autoridade. Quando estamos
diante dele, nada mais deve ter importncia.
Jeremias percebeu e viveu isso at as suas ltimas conse-
qncias. E por isso, at hoje as suas palavras tocam os coraes e
nos confrontam com a possibilidade de uma vida vivida perante
o Senhor. Mas ser que ns estamos nos abrindo para este con-
fronto ou ser que estamos nos escondemos por detrs de nossas
certezas? Ser que ns queremos
verdadeiramente ouvir a voz de Deus ou ser que desejamos ouvir
Deus dizer s aquilo que ns queremos ouvir?
S quem pode saber o que o Senhor dir o prprio Sen-
hor. Por isso, mais do que por qualquer outro motivo, ouvir a voz
de Deus no , nem nunca foi, fcil. Haja vista a vida do profeta
Jeremias. Mas se para isso que Deus nos chama, ento para isso
que Deus nos chama. Ouamos a sua voz.
O fm de outras naes (Jeremias 41 a 52)
Hoje chegamos ao fm dos nossos estudos sobre o livro de
Jeremias. Eu espero que vocs tenham aprendido tanto com eles
quanto eu penso ter aprendido. Contudo, antes de seguirmos adi-
ante, ainda h uma lio para se tirar deste livro to interessante.
Para chegarmos a ela, vamos retomar a histria de Jeremias do
ponto onde a deixamos.
Aps a queda de Jerusalm, Jeremias se viu envolto pela
confuso que veio logo em seguida. Por isso, ele acabou sendo
levado at Ram junto com os exilados onde aps ter comandado
a destruio da cidade de Jerusalm e do Templo, Nebuzarad f-
nalmente o encontrou. Este ofcial do exrcito Babilnico ento
colocou diante de Jeremias a seguinte escolha: seguir com os ex-
ilados at a Babilnia, ir para junto de Godolias, o novo governa-
dor de Jud, ou ir para qualquer outro lugar. Jeremias escolheu f-
car com Godolias. O profeta, porm, teve menos de dois meses de
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relativa tranqilidade antes que uma nova desgraa casse sobre
o seu povo. Esta desgraa foi o assassinato de Godolias. As con-
seqncias imediatas foram a perseguio do assassino, Ismael,
e a libertao do povo que ele tomara cativo. Mas mesmo tendo
tentado vingar a morte de Godolias, o povo temeu represlias da
parte da Babilnia e reuniu- se em Belm a fm de decidir qual
seria o seu futuro: permanecer na Judia e aguardar o juzo da
Babilnia, ou fugir para o Egito. Jeremias foi at consultado, con-
tudo, novamente a sua mensagem foi rejeitada e o povo resolveu
fugir levando-o o consigo.
Chegando a Tfnis, no Egito, Jeremias ainda teve que con-
frontar o povo que persistia na idolatria. E com esta triste con-
statao, de que, mesmo aps todas as suas palavras e toda a des-
graa que o Senhor trouxe sobre o ele, o povo no aprendeu a sua
lio, Jeremias se despede de ns. Os textos que vm a seguir so
anteriores a este perodo da vida do profeta.
Diante desse fnal, talvez voc esteja se perguntando, como
se estivesse em um cinema em que as luzes se acendem aps o ter-
mino de um flme: ento s isso?
No pode ser s isso! Mas no nosso caso, no s isso,
voc pode ter certeza!
A vida de Jeremias aqui se encerra, mas ela nunca foi o
tema central deste livro. Como ns aprendemos em nosso primei-
ro encontro, o livro de Jeremias , antes de mais nada, um relato
de como a Palavra de Deus foi levada at um povo atravs de um
homem. Portanto, esta histria ainda no acabou! Agora que en-
tendemos melhor como esta Palavra chegou at aquele povo, falta
entender como ela seguiu agindo at chegar forma em que ns
hoje a conhecemos.
O elemento fundamental de um livro proftico no po-
deria deixar de ser as palavras do profeta. Contudo, mesmo neste
aspecto, j temos que rever as nossas pressuposies. Jeremias no
andava por Jerusalm com um bloquinho no bolso para anotar
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tudo que dizia. No captulo 36 encontramos o profeta ditando
para Baruque, seu secretrio, todas as palavras que ele recebera do
Senhor.
Todas. Agora lembremo-nos que isto aconteceu no quarto ano de
Jeoaquim, isto , no ano 605 a.C., e as primeiras palavras que Jere-
mias recebeu vieram no ano 627 a.C. Ou seja, Jeremias s comeou
a botar tudo aquilo no papel 22 anos aps ter sido chamado para
ser profeta. Por mais que possamos exaltar a memria de Jeremias,
fca muito difcil pensar que ele no esqueceu-se ou alterou uma
s palavra. Mas mesmo que no queiramos admitir esta hiptese,
vejamos o que nos diz o ltimo versculo deste captulo:
Ento Jeremias pegou outro rolo e o deu ao escriba Ba-
ruque, flho de Nerias, para que escrevesse nele, conforme Jere-
mias ditava, todas as palavras do livro que Jeoaquim , rei de Jud,
tinha queimado, alm de muitas outras palavras semelhantes que
foram acrescentadas.
Com esta informao, de que os dois rolos no eram idn-
ticos mas que o primeiro era menos extenso do que o segundo,
no podemos deixar de observar um aspecto muito importante
do ministrio de Jeremias: a Palavra que ele recebia do Senhor no
era esttica.
Jeremias no pegava esta Palavra e a guardava em uma
caixinha para impedir que qualquer coisa acontecesse com ela.
Muito pelo contrrio, era uma Palavra dinmica que interagia
com os pensamentos e com os sentimentos do profeta, permean-
do-o de tal modo que, vendo-o e ouvindo-o, era impossvel saber
ao certo o que era Jeremias e o que era a Palavra de Deus. No
poderia ser diferente com as palavras que ele deixou. Bem, sabe-se
que as palavras do profeta eram mantidas por um pequeno grupo
de seguidores. S que, seguindo os passos de seu mestre, estes ho-
mens tambm no guardavam estas palavras em um caixinha!
Eles as usavam e as transformavam quase que com a mesma in-
tensidade que o prprio profeta. De fato, podemos perceber trs
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maneiras atravs das quais eles costumavam fazer isto: primeiro,
ele redigiam textos biogrfcos sobre o mestre. Difcilmente o
prprio Jeremias escreveria sobre si mesmo na terceira pessoa,
como nos captulos 34 e 35. Segundo, eles reelaboravam algumas
profecias. Isso podia acontecer a fm de dar um esclarecimento,
de adaptar a profecia a uma nova realidade, ou mesmo por outros
motivos. Terceiro, eles criavam novas profecias. Isso pode parecer
muito estranho, mas lembre-se, o elemento central deste livro a
Palavra de Deus, e no Jeremias.
Mas o processo de criao do texto ainda no est encer-
rado. Ainda falta uma ltima etapa, que o trabalho de agru-
pamento. A elaborao do texto que os seguidores fzeram s
se completou quando alguns deles resolveram fxar uma ordem
para as profecias e relatos. E eles fzeram isto de um jeito que ns,
hoje, provavelmente no faramos. Estes seguidores de Jeremias
no agruparam os textos em ordem cronolgica, mas sim prin-
cipalmente por temas. Da a nossa difculdade em tentar traar a
histria de Jeremias seguindo o texto.
Por fm, este processo no foi rpido. O texto que hoje te-
mos em nossas Bblias demorou pelo menos 300 anos para fcar
pronto. Assim, com este relato de como o ministrio do qual Jer-
emias fez parte continuou aps a sua morte, voltamos essncia
da vocao deste profeta, ao prprio incio dos seus trabalhos. A
Palavra do Senhor o que h de mais importante na Bblia. No
os homens, ou as mulheres, ou os acontecimentos. Estes so im-
portantes, mas no to importantes quanto a Palavra. A no ser,
claro, aquele homem que a prpria Palavra...
Com isso aprendemos que a Palavra nunca pode ser con-
tida por nada. Jeremias morreu e a Palavra seguiu em frente, mol-
dando pessoas, alterando eventos, e assumindo formas sempre
diferentes e imprevisveis. Me parece que no h lio maior a
aprender com este livro do que esta: a Palavra de Deus no pode
ser controlada. Por isso, temos que confar nela. Por isso, temos
que viv-la, e no apenas pens-la. Por isso, temos que respeit-la.
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Porque, assim como ela transformou este livro durante 300 anos,
assim como ela transformou todas as naes sobre as quais lemos
esta semana, ela continuar sempre nos transformando.
Cabe a ns nos entregarmos a ela para que ela possa fazer
de ns pessoas melhores, como Jeremias.
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Ezequiel
Um chamado especial (Ezequiel 1 a 10 )
Hoje iniciamos mais uma fase dos nossos estudos. Fare-
mos isto de uma forma um pouco diferente mas, espero eu, muito
interessante. De qualquer forma, espero que a memria de vocs
esteja boa, j que este livro tem bastante em comum com o livro
de Jeremias, que j estudamos. De fato, Ezequiel e Jeremias teste-
munharam os mesmos eventos da histria de Israel. Como j dis-
cutimos estes eventos com bastante cuidado, vamos apenas rev-
los brevemente para podermos entender de que forma Ezequiel se
encaixou neles.
Os anos de esplendor de Jud terminaram com a morte do
rei Josias. O reinado de Jeoaquim deixou isto muito claro. Aps
alguns percalos, este rei acabou optando por no pagar tributo
Babilnia e assim provocou o primeiro cerco a Jerusalm, no
ano 597 a.C. Aps este cerco um grupo de judeus foi levado
Babilnia. Neste grupo estava um jovem chamado Ezequiel. Mas
mesmo assim no houve paz duradoura em Jud. Zedequias, o
novo rei, s permaneceu leal Babilnia at o ano 588 a.C. Me-
diante a revolta, os exrcitos babilnicos novamente cercaram Je-
rusalm. Em julho de 586 a.C. a cidade se rendeu e um ms depois
foi arrasada, quando mais um grupo de judeus foi levado para o
exlio.
Ezequiel recebeu sua vocao na Babilnia sete anos antes
da queda de Jerusalm e continuou profetizando at que quinze
anos houvessem passado desde este evento. Agora que j situamos
Ezequiel historicamente, vamos nos dirigir a um trecho que lemos
esta semana: os captulos um a trs. Estes captulos funcionam
como uma introduo ao livro e muito importante que com-
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preendamos eles bem. Neles encontramos uma viso que Ezequiel
teve antes da destruio de Jerusalm e que foi dirigida ao primei-
ro grupo de exilados. Sendo assim, conheam o Quiel.
Quiel olhou pela janela e suspirou. Toda vez que ele passava por
ali era a mesma coisa: via todos aqueles edifcios iguais, lembrava-
se das casas da vila to diferentes, cada uma delas e suspirava,
triste.
que a antiga vila no existia mais. No dia em que o fun-
cionrio da prefeitura veio deixar as cartas, ningum deu muita
bola pra ele. As crianas nem pararam o seu jogo para olhar. Uma
meia hora depois eles fnalmente comearam a se dar conta do
terrvel signifcado daquela visita. Dona Marisa leu a carta, sentou
e fcou olhando para a parede. O Rui comeou a esbravejar soz-
inho, indignado.
A cidade crescera. O nmero de carros tambm. Ningum
estava satisfeito com o novo engarrafamento. Ento o prefeito en-
controu a soluo: uma nova rua, mais Mas j h algumas sema-
nas algo que primeiro lhe parecera esquisito vinha-lhe mente
constantemente. Ele sentia muita falta da antiga vila das casas,
do peque no jardim, da rua de paraleleppedos que o derrubara
tantas vezes quando criana mas mais do que dessa vila, ele
sentia falta mesmo era da vila de carne e osso. Como era bom
dar bom dia para a Dona Marisa e para o Luizinho quando eles
passavam por sua janela todas as manhs ela levando-o para
a escola, ele tentando no dormir em p! Como era bom passar
pela porta do Seu Joo e parar para ouvir uma de suas histrias...
larga, evitaria os trs cruzamentos e resolveria o problema. Mas
e a vila cuja extremidade estava bem no caminho dela? ... no
tinha jeito, pelo menos parte dela teria de ser demolida! Que
saudade da vila! Quiel falou pra si mesmo, baixinho. Cada casa,
cada canto, tinha a sua histria. Ele crescera naquele lugar junto
quelas pessoas e nunca imaginara que um dia teria de sair dali.
E agora aquela vila no existia mais. Metade dela havia sido de-
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molida a metade onde estivera a sua casa. Um alto muro cinza
cortava-a cruelmente. O barulho dos carros, que vinha do outro
lado, acabara com a tranqilidade.
Mas antes de concluir aquela sesso de nostalgia com mais um
suspiro, Quiel teve uma idia. Uma idia no, uma viso! A vila
de cimento e pedra rura, mas a de carne e osso no! Esta que
realmente importavaestava absolutamente intacta. A famlia do
Seu Joo vivia no mesmo edifcio que ele, dois andares abaixo. A
da Dona Marisa tambm, s que um pouco acima. E todas as pes-
soas que tiveram de deixar suas casas estavam ou naquele quar-
teiro, ou bem perto! Ezequiel estava resoluto: era hora de agir! A
semana seguinte foi bastante corrida para ele. Eram muitas visitas
para fazer! Mas sexta-feira noite ele pde jogar-se no seu sof e
sorrir, satisfeito com o que conseguira. Fora ver todo aquele pes-
soal. Convidara todos para se reunirem no jardim do seu edif-
cio amanh, no sbado. Para o seu espanto, ningum perguntou
o porqu daquilo. Todos concordaram e disseram que estariam
presentes.
No dia seguinte, todos estavam visivelmente contentes
de estar ali. Os adultos conversavam e as crianas corriam pela
grama. Mas algo no estava certo. Era como se, mesmo naquele
dia de sol to bonito, uma sombra pairasse sobre aquelas pessoas.
Todos estavam felizes por rever os velhos amigos, porm aquele
reencontro tambm trazia tona uma dolorosa mgoa. Ali no
era a vila.
Ezequiel tambm sentia isso. No lugar da velha mangue-
ira, aqueles arbustos infantis. No lugar das fachadas to partic-
ulares de cada casa, a padronizao de dois edifcios idnticos.
Mas Ezequiel estava feliz, e se havia uma sombra sobre ele, ela s
estava ali porque ele via que os outros no estavam plenamente
contentes.
A questo precisava ser resolvida. Ento ele juntou aquelas
pessoas e disse-lhes o que ele achava. Ezequiel falou que aquela
melancolia no tinha razo de ser. Disse que ele tambm sentia
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falta da vila, disse que ele tambm sentira muita dor ao deixar
aquele lugar para trs. Mas ento falou que o mais importante
para todos eles havia sobrevivido inalterado a todas aquelas mu-
danas. E o mais importante era a vila que estava dentro deles.
Esta vila no dependia de paredes para sobreviver! Ela s depend-
ia da disposio deles de no se deixarem levar pelas circunstn-
cias e continuarem frmes na maior verdade de todas: casas, vilas
e cidades vm e vo, mas a verdadeira amizade no passar. Quem
segurar frme nela jamais se ver perdido, sem rumo. Espero que
esta histria tenha ajudado vocs a compreender este trecho to
importante do livro de Ezequiel. A questo que Ezequiel viveu
uma situao muito parecida com a de Quiel.
Ele tambm tinha uma vila: Jerusalm e, mais precisa-
mente, o Templo do Senhor. Ele tambm tinha amigos: o povo
que viera para o exlio. Ele tambm sofria por estar separado
daquilo que ele mais amava: o seu Deus. E, o mais importante, ele
tambm teve uma viso. O profeta Ezequiel viu o seu Deus sobre
um carro muito complexo, mas que no deixava de ser apenas
isto: um carro! O signifcado disto para ele foi enorme. Se Deus
estava ali, na Babilnia, sobre um carro, isto queria dizer que para
encontrar-se com ele, o seu povo no precisava necessariamente
ir at o Templo, em Jerusalm. Deus, pelo menos em alguns ca-
sos, poderia vir at eles! Em outras palavras, o sofrimento daquele
povo no precisava ser to grande; o seu Deus ainda estava com
eles!
Mas como que o pessoal da vila recebeu as idias de
Quiel? Ser que eles gostaram? Ora, deixemos o Quiel seguir com
a sua vida. A nossa ateno tem que estar com Ezequiel.
A responsabilidade agora pessoal (Ezequiel 11 a 20)
Os captulos que estaremos discutindo hoje so profecias
contra Jud. Mas antes de considerarmos a mensagem propria-
mente dita, vamos rever uma pergunta que tem perturbado al-
guns estudiosos da Bblia.
Onde Ezequiel desempenhou o seu ministrio? Se o tex-
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to no d indcios de que ele tenha deixado a Babilnia, como
que ele teve informaes to precisas acerca do que se passava em
Jud? Muitas teoria j foram elaboradas para tentar resolver este
dilema, mas a opinio predominante continua sendo que Ezequiel
sendo um servo de Deus e um homem bem informado jamais
teve de deixar o exlio para saber daquelas coisas Ezequiel, portan-
to, sabia que aps o primeiro cerco e a primeira deportao na
qual ele estivera includo Zedequias tornara-se o rei de Jud. E
ele sabia que, infelizmente, estes eventos trgicos no haviam sido
sufcientes para que o rei e o povo se dessem conta do seu pecado.
Era como se o castigo terrvel que o Senhor enviara tivesse sido
em vo.
O profeta sabia que o Senhor no permitiria que esta situao per-
durasse. Ele sabia que Deus amava seu povo e no mediria esfor-
os para ensin-lo o caminho reto. Por isso, ele retomou a analo-
gia do casamento entre o Senhor e Israel para falar do que haveria
de acontecer. Ns faremos o mesmo.
Atolar o carro nunca bom, mas naquelas condies era
pssimo! Estava frio, chovia e, pior ainda, o sol acabara de se pr.
Dr. Ezequiel saltou e, olhando para a quantidade de lama na qual
seu carro afundara, viu que qualquer tentativa de resolver aquele
problema sem ajuda acabaria em fracasso. No muito longe dali,
havia uma casa bem humilde em meio ao mar de pasto. Resolveu
ir at l ver se encontrava uma alma caridosa ou pelo menos
uma p. Chegando mais perto, ele logo percebeu que pela peque-
na janela um homem o observava serenamente. Logo ele saiu da
casa e o saudou, estranhamente consciente dos seus pensamentos:
Ol. Hoje seu carro no sai mais daquele atoleiro. Mas amanh de
manh, se a chuva parar mesmo, outra histria. Se voc quiser,
pode passar a noite aqui. No tem muito conforto, mas melhor
que fcar no carro... O doutor fcou muito surpreso ao ouvir aq-
uilo. Mas o homem falara com tanta convico que ele nem quis
argumentar. Agradecendo, aceitou o convite a casa lhe parecia
estranhamente acolhedora.
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Sente-se, disse o homem, vou trazer um caf. Enquanto
esperava, Dr. Ezequiel passou os olhos pelo cmodo o nico da
pequena casa. Ele viu poucos mveis bem rsticos, o cho de terra
batida, e um retrato na parede. Era de uma jovem muito bonita.
Ela sorria, contente. Ele levantou-se e se aproximou para observ-
la melhor. Nesse momento o homem voltou e percebeu o que es-
tava acontecendo, mas no disse nada. Apenas sentou-se mesa e,
com um gesto, indicou que o doutor fzesse o mesmo.
Quando este j bebia o caf bem quente, ele olhou nos seus
olhos e, sem qualquer explicao, comeou a contar-lhe a histria.
Eu era s um rapaz quando a encontrei, e ela apenas uma cri-
ana. Estava chorando estava com fome. Imagino que seus pais
a haviam deixado beira da estrada. Dr. Ezequiel presumiu que
ele falava da moa na foto. Ele a levara para a sua casa. Seus pais
no queriam receb-la seria mais uma boca para alimentar e eles
eram realmente muito pobres. Mas ele insistiu.
Disse que daria um jeito de arcar com as despesas. Por fm
eles concordaram. Os anos se passaram e ela cresceu. Ele, con-
tudo, quase no pudera testemunhar isto. Por causa do seu com-
promisso, trabalhava incessantemente. A sua vida no fora fcil.
Mas e da? Ela se tornara uma jovem linda. Seu sorriso encantava
a todos e, por fm, acabou por encantar tambm a ele. Aps algum
tempo, no qual ele manteve o mais absoluto sigilo acerca do que
se passava no seu peito, ele resolveu perguntar-lhe se queria se
casar- se com ele. Para o seu espanto, ela disse que era o que mais
desejava.
Os primeiros anos de nosso casamento foram os mel-
hores da minha vida, ele disse. S que logo as coisas comearam
a dar errado. Ele foi o primeiro a perceber que ela deixara de lhe
ser fel. A princpio ele quis pensar que logo ela se daria conta do
tamanho do seu erro. Mas as suas escapadas persistiram e se tor-
naram cada vez mais freqentes. Todos j discutiam abertamente
a sua vida familiar. Apesar da vergonha, ele permaneceu em sua
casa a casa que a tanto custo haviam construdo juntos. At que
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um dia ele fnalmente se convenceu de que ela no abriria mo da
sua infdelidade daquela forma.
Ento, no dia seguinte, ele esperou que ela sasse de casa,
foi at a praa e trouxe de l alguns homens. Apontando para a sua
casa ele disse a eles: vocs esto vendo isso aqui? Tudo o que est
dentro mais o terreno de vocs desde que, at o anoitecer, no
sobre aqui pedra sobre pedra. Os homens fcaram surpresos com
a sua proposta, mas aquilo no deixava de ser um timo negcio.
Rapidamente eles levaram os mveis e tudo mais que estava den-
tro da casa e voltaram com suas ferramentas. Quando ela chegou,
noite, encontrou-o sentado sobre o monte de entulho em que a
sua casa se transformara. O seu desespero era evidente. Ele ento
olhou nos seus olhos e disse que estava indo para aquela casinha,
onde um de seus patres havia concordado em deixar-lhe morar.
Se voc se arrepender da vida que tem levado, pode vir tambm.
Ele chegara ali com a roupa do corpo e aquele retrato h alguns
dias. Ela no viera.
E assim, da mesma forma que ele comeou a histria,
ele terminou-a. Agora ele olhava para o retrato, tranqilamente,
como se nada tivesse acontecido. Mas... O doutor disse, como se
tivesse acabado de sair de um sonho, mas voc acha que ela vir?
Eu no sei. Ele respondeu, sem tirar os olhos do retrato. Acho
que ver a casa destruda daquela forma... Vi nos seus olhos que ela
fnalmente se deu conta de como ela me tratara. Mas tambm vi
a sua vergonha. Talvez ela pense que eu no irei perdo-la. Que
besteira...
Que besteira? Pensou Dr. Ezequiel. Que homem era
este que estava disposto a perdoar uma mulher destas? Mas an-
tes que ele pudesse perguntar mais qualquer coisa o homem tirou
os olhos do retrato e fxou-lhes novamente sobre ele. hora de
dormir. Amanh resolveremos o seu problema a chuva parou.
Ele apontou para a esteira no canto do cmodo e foi, ele mesmo,
para um pequeno e velho sof no outro canto. Em alguns minutos
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ele j ressonava lentamente.
A mensagem do profeta Ezequiel para Jud foi, em lin-
has gerais, esta que ns vimos: vocs so como a esposa infel e o
Senhor o marido trado. Ele ira castig-los cada vez mais feroz-
mente. Mas surpreendentemente, o profeta no disse apenas isto.
Ele disse tambm que, apesar de o juzo de Deus cair sobre a nao
inteira, mesmo assim cada pessoa teria o direito de escolher o seu
prprio caminho se os pais comem uvas verdes, os dentes dos
flhos no se embotam! Ou seja, ao mesmo tempo que a respon-
sabilidade pelos pecados da nao, ela tambm de cada um.
Cada um tem o direito agir corretamente e de ser declarado justo
pelo Senhor. Esta chamada para a responsabilidade pessoal que
encontrada to claramente neste livro uma grande novidade no
Antigo Testamento. Agora fcara claro que Deus estava de olho
em cada um. Esta mudana foi fundamental para a chegada do
evangelho, no mesmo?
As naes vizinhas (Ezequiel 21 a 30)
Muitas vezes temos a impresso de que o nico povo que
interessava a Deus no tempo do Antigo Testamento era o povo
judeu. Ele era, afnal de contas, o povo escolhido. Todavia, a Bblia
realmente no aponta nesta direo. O Senhor, de fato, se preocu-
pava com as demais naes. Estas profecias que lemos nesta se-
mana mostram isso claramente. Mas qual era a sua mensagem a
estas naes?
De que forma estas naes se encaixavam em seus planos para Is-
rael? E o profeta Ezequiel, o que que ele tinha a ver com isso? Ve-
jamos se conseguimos responder a estas e outras questes atravs
da histria de um outro Israel... Israel nunca fora um empregado
modelo.
Faltava bastante, s fazia as coisas do seu jeito, era irre-
sponsvel. Mas era aflhado do presidente da empresa. Por isso,
todos sabiam que por mais que ele aprontasse, no havia muito o
que fazer a seu respeito.
S que um dia, para o espanto de todos, Israel foi man-
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dado embora. O presidente o chamou em sua sala e cinco minutos
depois ele saiu de l com uma expresso de total surpresa no rosto.
Foi andando cambaleando talvez seja uma palavra melhor at
a porta e se foi. No voltou mais. A notcia logo se espalhou.
Muitos se alegraram com aquilo. Alguns poucos sentiram
pena. Era fato que Israel nunca fora particularmente simptico,
mas tambm no era m pessoa. Ento, alguns dias depois, alguns
de seus antigos colegas de trabalho saram juntos para almoar.
Conversa vai, conversa vem, e eles acabaram chegando ao assunto
em questo.
Ai, ai... disse Amom. Como eu ri daquele pobre coitado.
Vocs viram a cara dele na hora que ele saiu da sala? ... Bem
feito pra ele, Moabe concordou. Durante todo esse tempo ele
foi o protegido do presidente. Agora ele vai ter que aprender a ser
igual a todo mundo. Agora ele vai ver o que bom... Eu tambm
acho, disse Edom. Bem feito mesmo. Fiquei muito feliz ao saber
que ele estava saindo. Aquele sujeito s me arrumou encrenca.
Tiro escutava tudo aquilo com um sorriso nos lbios. Ele tambm
estava satisfeito com o que acontecera, mas no compartilhava da
alegria de seus colegas. que enquanto os outros s tinham a gan-
har com a demisso de Israel, Tiro j ganhara tudo o que queria.
Ele era o gerente da empresa e era muito bom no seu trabalho.
Seu salrio era excelente. Por mais que ele buscasse encontrar algo
que, no futuro, pudesse atrapalhar a sua carreira, no encontrava
nada que no fosse facilmente contornvel. Nada poderia impedi-
lo de crescer cada vez mais profssionalmente e de, provavelmente,
tornar-se ele mesmo um dia o presidente da empresa. Era uma
questo de tempo. Ento Moabe olhou para ele e perguntou: O
que voc acha, Tiro? Eu tambm achei engraado. Ele se limi-
tou a dizer.
Ezequiel escutou toda a conversa. Ele almoava sozinho
na mesa ao lado e,como eles falavam alto, simplesmente no tivera
como no escutar. Ezequiel havia sido a pessoa em toda a em-
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presa que mais se aproximara de Israel. Talvez seja justo dizer que
Ezequiel fora amigo de Israel, mesmo que Israel nunca houvesse
agido como amigo de Ezequiel.
De qualquer forma, Ezequiel sabia que a sua demisso fora
mais do que merecida. Mas aquela conversa estava deixando-o fu-
rioso. Quem eles pensavam que eram? Por fm, quando ouviu as
palavras de Tiro e percebeu como aquele homem se julgava supe-
rior a todos, Ezequiel no agentou mais.
Quem vocs pensam que so pra falar assim de outra
pessoa? Os quatro viraram-se instantaneamente para Ezequiel,
absolutamente surpresos. Mas ele sequer deu-lhes tempo para re-
sponder pergunta. E da que o Israel era um pssimo emprega-
do? E da que, durante todo o tempo em que ele foi funcionrio da
empresa ele usou o seu parentesco com o presidente para no ter
que trabalhar como os outros? E da que a sua demisso foi mais
do que merecida? Nada disso d a vocs o direito de falar assim
dele.
Assim como o dele, o emprego de vocs est nas mos do
presidente. Basta ele querer mesmo que sem causa aparente e
vocs tambm estaro no olho da rua. Ento ele olhou direta-
mente para Tiro, que j se recompora da surpresa e agora man-
tinha no seu rosto uma cnica expresso de seriedade, e disse: e
voc, que afnal de contas to capaz e efciente, o mais culpado
de todos. Voc acha que o mundo est aos seus ps, no mesmo?
O dia que voc fnalmente descobrir que as coisas no funcion-
am bem assim vai ser muito triste pra voc. Ezequiel ento se
levantou sem qualquer outra palavra. Enquanto pagava a conta no
caixa, um pouco afastado do grupo, ouvia Moabe, Amom e Edom
rindo e sentia o olhar de Tiro fxado nele. Sem dvida ganhara um
inimigo ferrenho. Mas no havia problema. O presidente confava
em Ezequiel e j compartilhara com ele o seu descontentamento
com os quatro. Mesmo com Tiro, em quem ele tanto investira. Em
algumas semanas eles tambm seriam mandados embora.
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Contudo, Ezequiel no sentia a mesma alegria que eles
sentiram com a derrota de Israel. Ele sentia pena. Coitados daque-
les homens. Por que as pessoas cismam em achar que o seu futuro
depende unicamente da sua capacidade de passar por cima dos
outros? Dentro daquela empresa, o futuro de todos dependia sem-
pre do presidente.
E ele observava tudo e todos. E era justo, sim, muito justo
e sbio. Se nem o seu prprio aflhado pde escapar do seu ju-
lgamento, como que esses quatro poderiam imaginar que es-
capariam?
... Disse Ezequiel para si mesmo. uma pena que eles
no iro se arrepender de ter agido como se o futuro deles es-
tivesse em suas prprias mos. Acho que se eles se arrependessem
agora, talvez o presidente mudasse de idia a seu respeito.
A mensagem de Deus para estas quatro naes e para a
Filstia , Sdom e Egito tambm certamente foi uma mensagem
de juzo. Estas naes que haviam sido criadas e fortalecidas pelo
Senhor esqueceram-se dele e passaram a julgar-se donas dos seus
prprios destinos. Em outras palavras, elas seguiram exatamente
os mesmos passos de Israel. Ao castig-las, portanto, o Senhor es-
tava mostrando a todos que os seus planos no se limitavam ao
seu povo escolhido, mas abrangiam toda a humanidade.
O que isso signifca para ns que vivemos em um tem-
po em que, para algum tornar-se parte do povo escolhido, s
preciso que ele aceite Jesus Cristo como seu senhor e salvador?
Penso que estas profecias nos ajudam a perceber como o Senhor
ama aqueles que ainda no o conhecem. Elas nos mostram como
Deus usa seus servos para ir at estas pessoas e como importante
servi-lo desta forma.
Haja vista Ezequiel. Hoje em dia falamos tanto de evan-
gelismo, de misses. Mas ser que realmente compreendemos a
lio que Ezequiel nos ensina? Levar a mensagem de Deus no
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mudar a vida das pessoas.
Levar a mensagem de Deus mostrar a todos que, que-
iram eles ou no, Deus que est no controle e que, se ele as-
sim quiser, ningum poder impedir que ele mude a sua vida por
completo.
Profetas e pastores infis (Ezequiel 31 a 40)
Esta semana lemos, entre outros, os captulos do livro de
Ezequiel que so profecias de salvao para Israel. As profecias de
salvao constituem o que muitos consideram ser uma segunda
fase do ministrio de Ezequiel. essencial que compreendamos
que esta fase se inicia no momento mais triste e sem esperana
que o povo j experimentara no exlio: a chegada da notcia de
que Jerusalm cara. At aquele dia, eles viveram em funo do
sonho de retornar cidade. Agora este sonho rura. Suas vidas,
aparentemente, perderam o sentido o mundo passara a ser to
desolado como um vale coberto por velhos ossos.
A imagem do vale dos ossos secos com certeza fortssi-
ma. Mas ser que, por estarmos to acostumados a ela, consegui-
mos alcanar o seu real signifcado? Ser que ela nos choca e nos
emociona como deveria? fato que, quanto mais ns nos acos-
tumamos com algo, mais perdemos a sua essncia de vista. Por
isso, que tal olharmos para a mensagem de salvao que o Senhor
proclamou para Israel por intermdio de Ezequiel por um ngulo
bem diferente? Ezequiel olhava para o horizonte. O mar estava
calmo, aparentemente desfrutando dos raios do sol que brilhava
forte no cu.
Ele parecia descansar de todo o esforo dos ltimos dias.
Que tempestade! Nem mesmo os mais velhos haviam vis-
to coisa igual em suas vidas. Ondas enormes abateram-se sobre
a costa por dias. O sal cobria tudo e todos. Mas ningum se im-
portava. Todos estavam preocupados demais com o Sio. Ezequiel
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recordava-se do que dissera sua tripulao no dia em que ele
deixou o cais. Cuidado. O tempo vai virar. No se brinca com o
mar. Eles pararam de carregar os suprimentos e de fazer os
ltimos preparativos e, durante alguns tensos segundos, olharam
para cima. O cu estava absolutamente limpo. Eles riram alivi-
ados.
Que isso, Ezequiel! Olhe em volta de si! O tempo est
timo. Um deles lhe disse.
E mesmo se no se no fosse assim, este barco forte!
No h tempestade neste mundo que afunde o Sio. Daqui a trs
semanas estaremos de volta com os pores abarrotados de peixe!
No h tempestade neste mundo que afunde o Sio. Es-
tas palavras ressoavam nos ouvidos de Ezequiel at agora.
No dia seguinte partida deles, o tempo virou, como
Ezequiel percebera que iria acontecer. E logo todos notaram que
uma tempestade de enormes propores estava se aproximando.
Todos os barcos estavam bem amarrados no cais, menos o Sio.
Ento, trs dias depois, justamente quando a tempestade
estava mais forte, algum o avistou. No era engano, l estava ele,
corajosamente lutando contra as enormes ondas, tentando voltar
para o cais. As horas se passavam e ele quase no saa do lugar.
Veio a noite e muitos permaneceram acordados, observando as
suas luzes sumindo e reaparecendo por entre as ondulaes. Cada
vez que elas reapareciam, todos respiravam aliviados aquele
povo sabia muito bem qual era a extenso do perigo que assolava
o Sio.
Durante a maior parte do dia seguinte ele continuou lu-
tando. Ento, fnalmente, a medida que a luz comeava a diminuir
novamente, ele aproximou-se do cais. S o que se ouvia em toda
a vila era o uivar do vento. Todos observavam atentamente o
barco, j que sabiam que agora aqueles homens teriam de tomar
a deciso mais importante de suas vidas. O cais fcava em uma
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pequena baa, bem protegida da fria do mar por uma parede de
rochas pontiagudas. A entrada para esta baa era bastante estreita
e, mesmo em dias de tempo bom, exigia cuidado dos pilotos. Um
erro de clculo signifcava srios danos embarcao e, com este
tempo, isto certamente levaria a um desastre. Um pouco mais a
frente as rochas davam lugar a uma enseada de areia bem branca.
Esta enseada, contudo, estava fora da baa e, por isso, desprotegida
do mar. A escolha deles era, portanto, a seguinte: arriscar as suas
vidas tentando entrar na baa a fm de salvar o Sio, ou encalhar
propositadamente na enseada e assim garantir a sua prpria segu-
rana, pagando por isso com o seu barco?
A tenso na pequena vila de pescadores era enorme, mas
apesar disso, todos j sabiam que caminho aqueles homens iriam
seguir. Eles confavam na sua embarcao. E alm disso, perder o
Sio signifcaria perder anos de suas vidas. Sonhos que agora pare-
ciam prximos talvez jamais seriam alcanados se o Sio se per-
desse. Por isso, ningum se surpreendeu quando a proa do barco
apontou na direo da entrada da baa. Nem mesmo Ezequiel.
A medida que ele se aproximava, todos puderam ver o es-
tado do barco. Certamente ele no duraria nem mais uma hora
naquele mar. As ondas cobriam-lhe de gua por todos os lados.
Todos pediam a Deus um milagre pois todos sabiam que s
por um milagre o Sio conseguiria passar pelas rochas. Ele foi se
aproximando. A sua direo estava correta, ligeiramente fora de
rumo para compensar a fora da corrente. Ele chegava mais perto.
Mais alguns metros e ele estaria em segurana...
Mas, de repente, uma forte rajada de vento o empurrou
contra as rochas. Todos ouviram o seu casco se partindo. O mar
ento caiu com toda a sua fora sobre ele. Quando a onda pas-
sou, lascas de madeira emergiram por todos os lados, em meio
espuma.
No dia seguinte, Ezequiel fora com mais alguns pescadores
at a enseada. Na areia estava boa parte dos destroos. Mas nen-
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hum dos tripulantes, vivo ou morto, encontrava-se naquele lugar.
E agora ele, Ezequiel, estava ali, observando o mar em toda a sua
tranqilidade e pensando sobre o que acontecera.
Por que os homens no escutam o mar? Ele pensava.
Ezequiel amava o mar. E como pescador que era, sabia que o mar
os amava. No era ele que dava-lhes o peixe em tanta abundncia?
E o peixe eles trocavam por todas as coisas que eles poderiam pre-
cisar. E o que ele cobrava em troca? Apenas respeito. Apenas isto,
nada mais. O Sio se perdera apenas porque aqueles homens no
souberam dar ao mar a nica coisa que ele pedia deles.
Mas enquanto se deixava levar por toda essa melancolia,
Ezequiel viu algo diferente na gua. Ele foi andando at mais perto
para ter certeza que no estava enganado. No estava! Era a quilha
do Sio! A quilha de um barco a grande pea que delineia o
casco da proa at a popa a sua alma. Com aquela pedao de
madeira, um novo Sio poderia ser construdo! Apesar da perda
irreparvel das vidas daqueles homens, Ezequiel estava contente.
O mar estava oferecendo-lhes uma nova esperana. Um novo Sio
seria construdo. O mar lhes daria os meios para isso, com a sua
generosidade de sempre. Eu s espero que ns tenhamos apren-
dido a nossa lio de uma vez por todas. Ele disse pra si mesmo.
Mas no fundo, Ezequiel no tinha muita certeza disso.
Eu espero que, atravs desta histria, vocs possam ter
compreendido como as profecias que Ezequiel trouxe at o povo
exilado aps a queda de Jerusalm foram absolutamente sur-
preendentes. Para muitos deles, a destruio daquela cidade fora
um sinal claro de que Deus os abandonara sua prpria sorte. E
agora este profeta vinha lhes dizer que o Senhor no apenas iria
reerguer Jerusalm, como tambm colocaria sobre ela um novo
rei, um novo Davi. Isto no fazia sentido. A no ser que se olhe
para tudo isso pelos olhos da f. Assim percebemos que desta
forma Ezequiel estava apenas divulgando uma velha mensagem
que encontramos tantas vezes na Bblia: nada o que parece ser.
O mundo e tudo que nele h no tem permanncia alguma.
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A nica coisa que constante em todo o universo o Senhor. Por
isso, confar em qualquer coisa que no seja o prprio Deus o
que realmente no faz sentido. Por isso, s h uma maneira de
compreender este mundo em que vivemos: pela f.
A viso da restaurao (Ezequiel 41 a 48)
Nessas ltimas quatro semanas temos estudado o livro
de Ezequiel. Considerando que, muitas vezes, estamos to acos-
tumados com o texto bblico que passamos por ele sem nos dar
conta do seu real signifcado, tentamos compreender as princi-
pais lies com as quais este livro nos confronta de uma maneira
um bastante diferente. Espero que esta mudana de estratgia no
tenha sido sem proveito. De qualquer forma, este o ltimo do-
mingo que estaremos lanando mo dela. A partir do domingo
que vem, estaremos discutindo o livro de Daniel da mesma ma-
neira que discutimos os livros de Jeremias e Lamentaes.
Hoje estaremos tratando dos ltimos quatro captulos do
livro de Ezequiel.
Neles, encontramos a descrio do novo Templo, de como
o culto dever ser prestado nele e de que forma a terra que o Sen-
hor devolver ao seu povo dever ser repartida. Boa parte desses
captulos so trechos de difcil leitura. Contudo, eles trazem um
signifcado muito especial, como o captulo 43 e o incio do 47
mostram com tanta clareza. A fm de compreendermos a pro-
fundidade deste signifcado, vamos passar para um outro tempo,
tambm descrito na Bblia.
De todos os seus discpulos, ele era um dos mais anti-
gos. Israel perdera a conta de quantas maravilhas vira Deus fazer
atravs dele. A mensagem que ele pregava quele povo to sofrido
permanecia em seu corao dia e noite. E foram apenas trs anos!
Parecia muito mais.
Como ele amava o Mestre! Ele mudara a sua vida por
completo. Antes de conhec-lo, Israel nem via muita graa nesta
vida.
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Mas agora... Agora a sua prpria histria adquirira um
brilho incrvel! O Reino de Deus estava ao seu alcance. Isto o
Mestre no s lhe ensinara, como tambm lhe mostrara muitas e
muitas vezes.
E agora ele estava morto. Israel no conseguia entender aquilo.
De fato, j fazia algumas semanas, ele estivera bastante confuso.
Desde que chagara em Jerusalm, o Mestre mudara bastante. A
profunda alegria que sempre jorrara dele cessara. Agora as suas
palavras eram duras e muito difceis de entender e todos perce-
biam que algo estava preocupando-o bastante. Por fm ele fora
preso. E torturado. E morto.
Israel no conseguia entender aquilo. Seu corao estava
partido pela dor e pela raiva por aqueles que haviam feito aq-
uilo. E, alm disso, como que ele encontraria o Reino agora?
Aparentemente, sua vida perdera todo o sentido. Naquele dia ele
acordou e caminhou sem rumo pela cidade. No tinha vontade
de ir para lugar nenhum, mas tambm no tinha vontade de pa-
rar. S queria entender. E se isso no fosse possvel, queria ento
esquecer toda aquela dor. Por fm, acabou saindo da cidade. An-
dou alguns minutos pela beira da estrada que descia at Betnia.
Quantas vezes passara por ali, com o Mestre, nos ltimos dias...
Mas agora aquele caminho lhe parecia vazio. Havia muitas pes-
soas indo e vindo, mas no o Mestre no estava mais l.
Israel ento parou beira do caminho e sentou-se so-
bre uma pedra. No queria pensar em nada. S ftava a cidade,
distncia. Por um instante toda a raiva e a angstia e a confuso
que castigavam o seu corao passaram e ele sentiu apenas uma
enorme e profunda saudade do Mestre.
Foi neste instante que Israel viu Ezequiel se aproximando.
Ezequiel era um outro antigo discpulo do Mestre. Israel o conhe-
cia h muito, mas os dois no eram muito prximos. A questo
era que, para Israel, era muito difcil conversar com Ezequiel. Ele
no conhecia ningum, alm do prprio Mestre, que conseguisse
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falar coisas to difceis de entender quanto Ezequiel. E l vinha
ele. Que hora para tentar decifrar os enigmas de Ezequiel! Pen-
sou Israel. Ele j tinha mais do que enigmas o sufciente para re-
solver.
Ezequiel sentou-se ao lado de Israel e tambm fcou ali ol-
hando para a cidade em silncio por alguns minutos. Foi o prprio
Israel que interrompeu aquele momento: Ele se foi, Ezequiel.
verdade, ele se foi. Concordou Ezequiel. Mas amanh ele estar
de volta. Israel deu um pequeno sorriso. O que Ezequiel acabara
de dizer no lhe era estranho. Qual discpulo no conhecia os
diferentes relatos sobre o que o Mestre dizia aos doze apenas? Mas
ele continuou.
Ele ir voltar da morte, Israel. Porque ele vencer a morte.
Ezequiel ento contou lhe como logo chegaria o momento em que
o Mestre estaria mais presente do que nunca em suas vidas. Ele
lhe contou como estes trs anos em que eles escutaram as suas
palavras foram apenas uma preparao para o que ainda estava
por vir. Ele lhe mostrou o que signifcava dizer que Jesus, o Naza-
reno, era o Cristo. Dessa forma, Israel fnalmente compreendeu.
Ezequiel esquadrinhara o seu futuro diante dele. A sua vida agora
fazia sentido, ele tinha esperanas novamente!
Como que ele pde passar tanto tempo com o Mestre
sem compreender o que ele vinha lhe dizendo? Mas graas a Deus,
agora Israel compreendera. Era por isso que Israel no conseguia
entender o que Ezequiel dizia! Se ele no entendia uma mensagem
que o prprio Mestre pregava, como que ele a entenderia vinda
da boca de outra pessoa? Foi necessrio que as coisas sobre as quais
o Mestre tanto falou comeassem a acontecer para que algo fnal-
mente mudasse na mente de Israel e assim ele compreendesse.
O prprio Senhor esteve ao meu lado durante todo aquele tempo
e eu no percebi... Pensou Israel. Aquilo era absolutamente in-
crvel, mas, ao mesmo tempo, fazia todo o sentido. Todo o sentido
do mundo.
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No a toa que o livro de Ezequiel termina com estas lon-
gas descries do Templo e de tudo o que lhe diz respeito. Como
ns j observamos por tantos ngulos diferentes, quando o povo
que estava no exlio recebeu a notcia da destruio de Jerusalm,
ele se sentiu como se o cho tivesse sido tirado de debaixo dos
seus ps. Hoje comparamos esta absoluta perda de referncias ao
que os discpulos experimentaram depois que Jesus morreu e an-
tes que ele ressuscitasse. Sendo assim, estes ltimos captulos so
o novo cho que foi colocado sob os ps daquele povo.
No s Ezequiel, como tambm muitos dos profetas, dedi-
caram boa parte dos seus ministrios tarefa de mostrar ao povo
que o Senhor o nico fundamento que todos ns precisamos.
Contudo, ele sabia que relacionamento nenhum pode ser con-
strudo sem que ambas as partes empenhem algo. Uma breve
leitura de praticamente qualquer livro proftico nos mostra que
se o povo insiste em no amar e respeitar o Senhor, por mais que
o Senhor o amasse e estivesse disposto a perdo-lo, jamais haveria
um verdadeiro relacionamento entre ambas as partes. S existir
um contato vazio e triste. Por outro lado, nem sempre percebemos
que, se o povo confasse em Deus mas Deus no cuidasse dele
por mais que ele no merecesse absolutamente nenhum cuidado
tambm no haveria um verdadeiro relacionamento entre o
Senhor e o seu povo.
Imagine se a histria de Jesus terminado no calvrio. O
que ser que Deus representaria para voc, hoje? Me parece que
as nossas vida perderiam o sentido. O mesmo Deus que no tinha
a menor necessidade ou obrigao de mostrar ao povo atravs
de Ezequiel o quanto ele o amava o mesmo Deus que no s
morreu na cruz por ns como tambm voltou para nos mostrar o
caminho.
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Daniel
A histria de Daniel e seus amigos (Daniel 1 a 6)
Hoje iniciamos a ltima fase deste trimestre. Nela, dis-
cutiremos o livro de Daniel. Gostei muito de saber que este livro
justamente o ltimo livro que estudaremos juntos: a sua men-
sagem de esperana e f um excelente assunto para com o qual
nos despedirmos. Sendo assim, sigamos em frente.
O livro de Daniel um livro bastante diferente dos de-
mais livros do Antigo Testamento por vrios motivos. Contudo,
a maior diferena entre ele e os outros livros geralmente passa to-
talmente despercebida por ns. Isso acontece porque em nossas
Bblias ns encontramos uma traduo extremamente trabalhada
desta obra. Se no fosse assim, perceberamos que o livro de Dan-
iel no foi escrito em uma nica lngua, como os outros livros do
Antigo Testamento, mas em trs. Isso mesmo, o livro de Daniel foi
originalmente composto em trs lnguas: o aramaico, o hebraico e
o grego. Existem muitas hipteses para tentar explicar porque isso
aconteceu, mas para ns no importante poder entender este
processo detalhadamente, mas sim apenas compreender que di-
vidindo o texto em blocos referentes s lnguas originais, obtemos
as diretrizes para uma diviso bastante adequada de todo o livro.
Esta diviso a seguinte: captulo um, introduo; captulos dois a
sete, narrativas; captulos oito a 12, vises; captulos 13 e 14, mais
narrativas. Aqui importante observar que em nossas Bblias, os
textos que foram escritos originalmente em grego foram removi-
dos por terem sido considerados adies posteriores s Escrituras.
Por isso, nossas Bblias no contm os versculos 24 a 90 do cap-
tulo trs e os captulos 13 e 14, como as Bblias catlicas, por ex-
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emplo.
De qualquer forma, segundo esta diviso, esta semana lemos a
introduo e a primeira parte do livro de Daniel. Esta primeira
parte contm as narrativas acerca de Daniel e seus amigos; histri-
as geis, interessantes e com profundo sentido teolgico. Toda-
via, antes de lidarmos com seu contedo, ainda preciso observar
uma outra igualmente profunda e sutil diferena entre o livro de
Daniel e os outros livros do Antigo Testamento.
Para compreender esta diferena, vamos partir de uma
pergunta crucial: qual o tema principal deste livro? Poderamos
sugerir inmeras respostas, mas sigamos pela que me parece a
melhor: a soberania de Deus sobre a histria. Contudo, voc po-
deria perguntar: no este o tema de todos os livros profticos?
Bem, este , de fato, um tema de grande parte dos livros profti-
cos, mas s em Daniel ele o tema. No livro de Daniel, a histria
passa a ser vista de uma perspectiva muito mais afastada. O autor
no proclama apenas a soberania de Deus sobre alguns eventos
relativos a uma situao, mas sim sobre a histria universal. Esta
mudana de perspectiva , em grande parte, nica nos livros bbli-
cos. Contudo, o contedo do livro de Daniel teria sido compro-
metido caso o autor no tivesse escolhido um ponto focal nessa
histria to vasta. E o ponto que ele escolheu foi justamente o seu
desenlace, o seu clmax. Este desenlace o momento crucial em
que o Senhor assumir o seu posto aos olhos de todos inclusive
os mortos, que tero ressuscitado. o momento que est sendo
preparado por todos os outros momentos.
Dessa forma, concluindo que o ponto focal deste livro a
resoluo de toda a histria, chegamos segundo grande diferen-
a entre Daniel e os demais livros do Antigo Testamento. O livro
de Daniel no faz parte do gnero proftico, como muitas vezes
estamos acostumados a pensar. Daniel um livro apocalptico.
Este gnero nasceu nos sculos posteriores ao exlio Babilnico,
quando a inspirao literria parecia estar esgotada, trazendo um
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novo mpeto criativo.
Contudo, no um gnero que brota do nada, mas herd-
eiro de outras formas de escrever que j estavam em uso h muitos
sculos. De fato, a apocalptica herdou da profecia a misso de
proclamar a ao de Deus na histria e a esperana que brota des-
ta constatao. Do gnero sapiencial, ela herdou o interesse pela
interpretao das antigas profecias, e do gnero narrativo, o uso
da fco. Isso mesmo, da fco.
aqui que fnalmente chegamos a um dos aspectos mais
controvertidos do livro de Daniel. Todavia, a nossa refexo sobre
a controvrsia ter de fcar para a semana que vem. Agora que j
isolamos o trecho que estamos estudando esta semana e j com-
preendemos o carter geral desta obra, vamos rever, mais especif-
camente, o que livro em si tem a nos ensinar. Tomemos como base
para esta anlise o primeiro sonho de Nabucodonosor, que est no
captulo dois. O que que o imperador da Babilnia viu neste son-
ho? Bem, uma enorme esttua com a cabea de ouro, o peito e os
braos de prata, o ventre e as coxas de bronze, as pernas de ferro
e os ps de ferro e argila. E, enquanto ele a observava, uma pedra
caiu sobre os ps dela e os destruiu, triturando tambm todo o
resto da esttua de tal forma que no sobrou nada dela. Ento a
pedra cresceu a ponto de ocupar a terra toda. A interpretao de
Daniel, que alis salva vida dos magos da corte, simples.
A cabea o imprio babilnico. As demais partes da esttua so
reinos que o sucedero e que sero cada vez mais fracos. Por fm,
vir um reino que destruir todos os que lhe precederam e que
no ter fm.
A mensagem clara: Deus o soberano sobre a histria.
No adianta reunir o maior e mais poderoso exrcito da terra,
no adianta organizar-se de maneira espantosa; quem decreta o
comeo e o fm dos imprios o Senhor. E ele j decretou que
todos os imprios passaro mediante a chegada de um reino que
jamais passar porque ele, o Senhor, assim o quer. E o interesse do
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autor deste livro na chegada deste reino o que faz desta obra um
livro apocalptico, um livro que lida com o desenlace da histria.
Mas tomemos um passo adiante. Qual reino veio aps o imprio
babilnico?
Ora, o imprio persa. E quem veio depois deles? Alex-
andre, o grande. E depois dele? Os seus generais, Seleuco, Pto-
lomeu... E depois? Bem, os seus descendentes. Pois . Est a a
esttua. A cabea o imprio babilnico, o peito e os braos so o
imprio persa, o ventre e as coxas so o imprio de Alexandre e as
pernas e os ps so os reinos de seus generais e seus descendentes.
Dessa forma acabamos dando uma meia volta que nos
trouxe de volta ao assunto da semana que vem. Porque, se o reino
que dura para sempre veio logo aps o reino dos selucidas e pto-
lomeus, ento ele chegou por volta do sculo II a.C. Mas a histria
no registra a existncia deste reino. O que ter acontecido?
Bem, isso ns veremos na semana que vem. Mas mesmo
sem a resposta para esta pergunta, ainda temos em mos uma
poderosa mensagem. Eu no sei quanto a vocs, mas depois de
ter comeado a estudar este livro, no consegui mais ler o jornal
da mesma forma. Eu abro aquelas pginas e vejo notcias tristes
e uma descrio minuciosa de uma sociedade doente que, em
sua desordem, acaba seguindo por um rumo bastante ruim. A
minha primeira reao sempre foi achar isso uma pena e ques-
tionar a possibilidade de se transformar esta situao para mel-
hor. Contudo, agora, conhecendo melhor a histria de Daniel,
mais fcil perceber que o Senhor est a par de tudo isso e est em
pleno controle da situao. Se as coisas chegaram a esse ponto, foi
porque ele permitiu que assim fosse. E se ele permitiu que assim
fosse, ainda h uma esperana. De fato, pela f, sigo os passos de
Daniel e creio que ainda haver um desenlace absolutamente sur-
preendente para todas essas coisas.
Saber que Deus soberano sobre a histria confar nele.
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Portanto, continuemos confando e vivendo em meio a tempos
difceis e cruis sabendo que a nossa esperana vem do nosso
Deus, e de nada mais.
As vises de Daniel (Daniel 7 a 12)
Hoje vamos tratar de um assunto um tanto complicado.
Vocs se lembram que semana passada eu mencionei uma grande
controvrsia acerca do livro de Daniel? Pois . Ser ela o assunto
de hoje se tudo correr bem, ser um fnal e tanto para os nossos
encontros!
A nossa Bblia contm 66 livros. Destes, 35 tm como ttu-
lo o nome do pressuposto autor daquela obra. Digo pressuposto
porque, ao contrrio do que muitos podem imaginar, o texto orig-
inal dos livros que esto na Bblia no continham ttulos. Por isso,
hoje, quando abrimos as nossas Bblias, batemos o olho no ttulo
de um livro e imediatamente fazemos a conexo assumindo que o
ttulo refere-se inequivocamente ao autor daquela obra, perdem-
os, no mnimo, uma grande oportunidade. E que oportunidade
essa? Ora, a oportunidade de refetir sobre a autoria daquela
obra e, assim, conhec-la mais profundamente. Mesmo que esta
refexo nos traga de volta para a nossa antiga pressuposio, ns,
sem dvida, teremos aprendido bastante com ela. Portanto, no
vamos deix-la escapar! Durante muitos e muitos anos teve-se
como certo que o autor do livro de Daniel era o prprio pro-
tagonista. O uso da primeira pessoa em alguns trechos do texto
apontavam para isto. Contudo, aos poucos foi-se percebendo que
a questo no era to simples assim. A partir de ento, comeou-
se a refetir mais profundamente sobre a questo.
Uma das primeiras concluses a que se chegou, atravs de
pesquisas paralelas, foi que houve um personagem na antigidade
famoso pela sua bondade e sabedoria chamado Daniel. Ns o en-
contramos l em Ez 14.14, vocs se lembram? O autor daquele liv-
ro o listava ao lado de No e J, o que signifca que ele difcilmente
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poderia ser considerado um contemporneo daquele profeta. Mas
alm deste Daniel mais antigo, tambm houve um outro Daniel
que viveu no exlio e que tambm fcou famoso por sua bondade
e sabedoria? A histria simplesmente no pode responder esta
questo. Contudo, tendo ele existido ou no, dois fatos so claros:
primeiro, com o tempo ele assumiu traos lendrios, segundo, ele
tornou-se realmente muito conhecido aps o exlio, a ponto de ser
o assunto de tradies muito diferentes.
Partindo dessas concluses, podemos tentar reconstruir o
processo de formao deste livro. A medida que os anos foram
passando aps o exlio e Daniel foi se tornando cada vez mais con-
hecido, muitas tradies histrias, mesmo comearam a ser
escritas sobre ele. Estas tradies eram bastante independentes at
que, no sculo II a.C. algum resolveu uni-las com um nico ob-
jetivo: tentar explicar para o povo judeu a razo dos sofrimentos
que ele vinha enfrentando.
Estes sofrimentos referiam-se perseguio de Antoco
Epfanes, s lutas internas e s guerras constantes que enfraque-
ciam este povo cada vez mais.
Assim, o autor fnal do livro de Daniel aparentemente
usou a popular fgura de Daniel para mostrar para aquele povo
como tudo acabaria, porque aquelas coisas estavam acontecendo e
qual era aatitude que eles deveriam tomar frente queles eventos.
Assim, conclumos que o livro de Daniel provavelmente obra de
um autor que reuniu diversas tradies acerca de um personagem,
as alterou e adicionou outros elementos a fm de passar adiante
uma mensagem. Mensagem esta cujo ncleo j observamos na se-
mana passada: a soberania de Deus sobre a histria.
Contudo, esta concluso no poder ser sequer consid-
erada sem que antes mergulhemos de cabea na grande pergunta
que dela brota: afnal, o livro de Daniel obra de um homem ou
de Deus?
As perguntas simples nem sempre tm respostas simples.
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Contudo, no vamos desistir de responder esta indagao sem an-
tes tentar. Quem sabe, mesmo que no cheguemos a uma resposta
fnal, no poderemos encontrar algo que justifque o esforo?
Voc se lembra que na semana passada nos discutimos o sonho de
Nabucodonosor e chegamos concluso que, segundo este sonho,
o reino eterno deveria ter chegado por volta do sculo II a.C.?
Pois . De fato, no s este trecho do livro que aponta esta data
para o desenlace da histria, mas tambm muitas das vises sobre
as quais lemos esta semana. Mas, como ns tambm j notamos,
no h marco histrico algum da chegada deste reino. E em se
tratando de um reino descrito como uma montanha que ocupa
toda a terra, isso , no mnimo, um pouco estranho, no mesmo?
Ao meu ver, essa situao s se explica de uma forma: o autor
do livro de Daniel cometeu um erro. Ele previu que o desenlace
da histria se daria nos seus dias e proclamou esta idia atravs
deste livro, mas isto simplesmente no aconteceu. Aps a morte
de Antoco Epfanes a histria continuou com seus altos e baixos,
caminhando para o seu fm, que permanece inalcanado.
A concluso de tudo isso? O livro de Daniel obra de um
homem. Deus no poderia errar desta forma. Mas antes de voc
desligar o seu rdio frente a tamanha blasfmia, escute! A questo
ainda no est resolvida.
O livro de Daniel no um mapa do tesouro. Seu propsi-
to no apontar a data do desenlace da histria. Este livro muito
mais do que isso. O livro de Daniel nos ensina como agir em tem-
pos maus.
Quem haver de se esquecer do comportamento de Daniel
e dos seus trs amigos em meio devassido da corte babilnica,
onde eles rejeitaram todos os prazeres que haviam sido colocados
diante deles em nome de uma vida reta? O livro de Daniel nos
ensina que tudo tem seu propsito nos planos do nosso Senhor.
Lembremo-nos das vises sobre as quais lemos esta semana. Qu-
antos detalhes! E tudo aquilo fazia parte de um plano maior que
estava se desenvolvendo, mesmo que atravs de atos maus. O livro
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de Daniel nos ensina como tudo h de terminar. Em Daniel 12.2-
3 lemos:Multides que dormem no p da terra acordaro: uns
para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno.
Aqueles que so sbios reluziro como o fulgor do cu, e aqueles
que conduzem muitos justia sero como as estrelas, para todo
o sempre. Tudo terminar maravilhosamente bem para aqueles
que amam a Deus!
A concluso de tudo isso? O livro de Daniel obra de
Deus. No creio que um homem poderia acertar desta forma. Mas
que resposta ambgua! Quer dizer que o livro de Daniel a obra de
um homem mas tambm a obra de Deus? E o mesmo tambm
se aplica para o restante da Bblia? A minha resposta para as duas
perguntas sim. A sua, por sua conta.
Contudo, antes de bater o martelo sobre esta questo, ob-
serve mais um ponto que brota desta controvrsia.
Qual so as implicaes deste conceito de dupla autoria para o
nosso dia-a-dia?
Bem, uma coisa certa, a Bblia nunca mais ser a mesma.
Mas de que forma? Ora, claro que voc poderia responder: de
uma forma terrvel. Mas eu vejo um outro caminho. Percebendo
que a Bblia um trabalho feito pelos homens e por Deus, fca
mais fcil constatar que a nossa vida tambm obra de dois au-
tores. Da mesma forma que o Senhor no forou a sua perfeio
sobre os autores Bblicos, ele no a fora sobre ns. E tambm, da
mesma forma que estes autores no puderam forar a sua imper-
feio sobre o Senhor, ns tambm no podemos forar a nossa
imperfeio sobre ele. Resumindo, vendo as coisas desta forma, a
Bblia nos ensina mais uma vez qual a nossa verdadeira natureza:
somos santos pecadores! Somos deste mundo e no somos deste
mundo! Assim, aps termos estudado juntos Jeremias, Lamen-
taes, Ezequiel e Daniel, nos despedimos. Espero que cada uma
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destas lies tenha levado vocs a considerar o que, para mim,
o maior apelo da Bblia: ela no um documento absolutamente
perfeito, mas exatamente como eu, carrega em si a infnitude do
nosso Senhor e a fnitude da sua criao.