Limpeza em Refrator de Greens Com Fungo

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Refrator de Greens - remoo de fungos

em lentes com amnia e gua oxigenada.


Por Guilherme Ditzel Patriota
06/09/2015
Palavras chaves: refrator de greens, fungo, lentes, manuteno corretiva, engenharia
clnica

manuteno em equipamentos pticos em unidades hospitalares tendem a ser

realizada pelos fabricantes devido grande complexidade e tempo do servio, porm em


muitos casos a manuteno exigida ao
equipamento apenas de limpeza interna,
sem troca de peas. O caso de aparecimento
de fungos nas lentes destes equipamentos
pode ser citado como um destes problemas
que demandam servios menos complexos,
porm de cuidados extras e tempo de longo
de execuo.
O custo deste tipo de servio, se
realizado externamente, pode tornar-se
invivel para algumas instituies.
Fungos em lentes de cmeras
fotogrficas um assunto muito conhecido e
discutido no mundo todo. Isto, pois o
equipamento perde sua capacidade de
Figura 1 - Lente de mquina fotogrfica com realizar fotos de qualidade profissionais
devido s manchas decorrentes dos fungos,
fungo.
Fonte: http://www.cameraclean.co.uk/MouldAndFungus.php, Imagem de
como exemplificado pela Figura 1.
John Banbury.
Profissionais da rea de fotografia possuem vasta literatura sobre o assunto, porm
para equipamentos mdicos dotados de lentes a bibliografia escassa no pas e em manuais
dos fabricantes raramente encontramos dicas de
como evitar o aparecimento dos fungos e menos
ainda de como solucionar o problema.
Buscando auxiliar colegas da sade, bem
como tcnicos, tecnlogos e engenheiros
atuantes na rea de manuteno de
equipamentos mdicos, apresentaremos aqui
uma soluo qumica de fcil aquisio,
preparao e manuseio para a desinfeco de
lentes com aparecimento de fungos e como evitar
o aparecimento de novos fungos.
Figura 2 - Refrator de Greens utilizado no estudo Topcon Visiontester VT-SE.

Como exemplo utilizaremos um refrator de greens ilustrado na Figura 2. Este


equipamento em particular possui 47 pares de lentes que possibilitam combinaes de
refrao tica para exame oftalmolgico e identificao da necessidade de lentes corretivas
e sua graduao.
No manual deste equipamento, o fabricante sugere cobrir o equipamento com sua capa
protetora sempre que no estiver em uso e uma limpeza externa semanal com gua e sabo

Figura 3 - Histrico de umidade relativa do ar de maro de 2015 na cidade de Curitiba


nos horrios locais 09h (12h UTC), 15h (18h UTC) e 21h (00h UTC).
Fonte: INMET 2015 - http://www.inmet.gov.br/sim/gera_graficos.php acessado em: 31/03/2015

de coco com um pano limpo para partes pintadas e lcool andrico com um pano macio de
algodo para as lentes com sujidades.
Infelizmente este procedimento no suficiente e tambm faltam explicaes para que
o proprietrio possa evitar o aparecimento de fungos nas lentes internas do equipamento,
pois as faixas de umidade relativa do ar suportadas pelo equipamento normalmente no so

Figura 4 - Faixa tima de umidade relativa do ar para minimizar efeitos adversos sade.
Fonte: GrundLagen der Luftbefeuchtung Systeme und Anwendungen (Bases de umidificao Sistemas e aplicaes, 2005
Iselt/Anrdt. C.F. Muller Verlag Heldenberg)

descritas nos manuais e a forma correta de controle de umidade no uso do equipamento


tambm no tratado na documentao.
Em cidades muito midas, como o caso de Curitiba, local onde este equipamento
encontra-se instalado, a Umidade Relativa do Ar (URA) fica em uma mdia de 75% o ano todo,
como exemplificado na Figura 3, o problema se agrava. Em estudos realizados por C.F. Muller
em 2005 a faixa de umidade para proliferao de fungos de 60% a 100% de URA, como
mostrado na Figura 4. Sendo assim, apenas cobrir o equipamento no evitar a proliferao
de fungos e a limpeza com gua e sabo apenas aumentar a exposio do equipamento
umidade.
Ainda, segundo a Japan Camera Industry Association, a faixa para proliferao de fungos
que atacam lentes ticas fica entre 61% e 95% de umidade relativa do ar, sendo a faixa de
80% a 95% tima para tal.
Desta forma, a primeira atitude a ser tomada com relao preveno de fungos em
equipamentos pticos so:

Climatizao do ambiente de instalao do equipamento com controle de


umidade ajustado para manter a URA entre 40% e 60%, alm do controle de
temperatura, conforme sugerido na NBR7256:2005 da ABNT;

Inspeo e limpeza diria do equipamento com o uso de flanela de algodo que


no solte resduos e lcool etlico ou isoproplico (isopropanol) com substituto
da gua com sabo indicada pelos fabricantes, evitando-se assim a umidificao
do equipamento pelo uso de gua.
Com as devidas alteraes de preveno feitas, passamos desinfeco dos
equipamentos j contaminados.

Para este estudo foi realizada a limpeza completa e recuperao das lentes do
equipamento ilustrado anteriormente na Figura 2. Um exemplo de fungo em uma das lentes
deste equipamento pode ser visto na Figura 5.

Preparao
Alguns cuidados devem ser tomados
para o incio da recuperao do equipamento:
1.
O equipamento s deve ser
aberto em local isolado, longe
da presena de outros
equipamentos que possam ser
contaminados. Isto inclui
equipamentos
mdicos,
mquinas
fotogrficas,
celulares com cmeras, entre
Figura 5 - Grande incidncia de fungos em uma das lentes
outros;
do refrator em estudo
2.
O ambiente de trabalho deve
ser arejado ou possuir exausto devido manipulao de produtos qumicos
volteis no processo;
3.
O uso de EPIs para execuo deste servio obrigatria devido natureza dos
produtos qumicos, incluindo luvas de PVC ou ltex e mscara facial simples
com cartucho de filtro qumico para amnia;

4.

Todo o material j deve estar preparado antes da abertura do equipamento


para se evitar exposio e manipulao desnecessrias;
Aps preparada a rea de trabalho e as ferramentas e EPIs a serem utilizadas, inicia-se
a preparao da soluo de limpeza e a desmontagem do equipamento.
Material e soluo de limpeza
Para esta limpeza utilizaremos quatros produtos:

gua destilada;

Isopropanol (lcool isoproplico);

Soluo de amnia 28%;

Perxido de hidrognio (gua oxigenada) soluo 3%;


Alm dos qumicos, sero necessrios:

Caixa de cotonetes;

2 flanelas de algodo que no soltem resduos (leno para lentes/culos);

Pacote de algodo;

Lmpada UV;

Conta gotas ou pipeta;

Copo ou Becker plstico ou de vidro;

Graduao em ml para medidas


O preparo da soluo deve ser feita com a utilizao da mscara descrita na preparao
e luvas de procedimento.

Desmontagem
Cada equipamento tem sua especificidade durante a desmontagem e o manual de
servio para esta atividade deve ser consultado sempre que possvel. No caso do
equipamento em questo, realizar a marcao de todas as posies das peas e seus vizinhos
pra que ao remontar as lentes permaneam em suas posies corretas com relao s
marcaes de graduao.
Sugere-se a desmontagem completa de um dos lados e somente aps a remontagem
completa, passa-se ao segundo lado.

Na Figura 6 vemos os passos de desmontagem realizados e os discos com as lentes


separados.

Figura 6 - Desmontagem do lado esquerdo de um refrator de greens e a separao dos discos de lentes

Limpeza
Aps a separao dos discos com as lentes, passamos um banho preliminar de raios
UV-C. Este banho poder ser realizado com a exposio das lentes uma lmpada de UV-C
ou uma prolongada exposio direta ao sol. Sugere-se aqui um tempo de 15-30 minutos
para a lmpada e de 2-3 horas ao sol. Salientamos que a eficincia da exposio das lentes ao
sol muito baixa, tendo em vista que os raios UV-C que so mais eficientes para este fim so
absorvidas completamente pela camada de oznio e oxignio e o UV-A e UV-B possuem
menor eficincia para este fim.
Decorrido o tempo de exposio radiao UV, passaremos para o preparo da soluo
de limpeza.
Esta soluo dever ser composta de:

10 partes de gua oxigenada (soluo 3%)

3 partes de amnia (soluo 28%)


Misturar as duas solues e com o auxlio de uma pipeta ou cotonete, espalhar na
superfcie de cada lente, deixando uma camada grossa do lquido agir por no mnimo 10
minutos.
Observar neste momento que a gua oxigenada pode reagir com alguns materiais
presentes nas vedaes dos equipamentos e poder ser identificado por grande surgimento
de bolhas na soluo ou alterao de cor e consistncia nos materiais. Caso isto acontea,
lavar o quanto antes a pea com gua destilada em abundncia e realizar o procedimento de
desinfeco com uma fina camada da soluo de limpeza, evitando-se o contato com os
materiais que podero reagir novamente.
Aps o tempo de ao da soluo, limpar as lentes com o pano para lentes e em seguida
realizar o enxgue das lentes com gua destilada em abundncia.

Por fim, secar com o pano para lentes seco, passar uma fina camada de lcool
isoproplico nas lentes e secar novamente com o pano seco.
Nota importante: Fungos que tenham permanecido por um longo tempo em uma lente
tendem a penetrar mais fundo no material e sua desinfeco poder no ser bem sucedida e
a troca da lente dever ser realizada. Neste caso, entrar em contato com o fabricante para
solicitar a pea danificada.
Antes de montar novamente o equipamento, sugerimos uma desinfeco completa do
equipamento, tanto interno quanto externo com o lcool isoproplico para minimizao dos
esporos dos fungos existentes no ar. Estes esporos podem causar novos aparecimentos de
fungos no futuro prximo aps a limpeza e esta desinfeco aumenta o tempo de garantia do
servio.

Resultado
Com o equipamento livre de fungos e esporos iniciamos a remontagem. Nesta etapa
um cuidado especial para no sujar as lentes que acabamos de limpar muito importante e
o uso de luvas limpas nesta etapa de grande importncia para evitar retrabalho.
Por fim, com o equipamento devidamente remontado, realiza-se a conferncia de seu
funcionamento e avaliao da limpeza realizada.
Recolocar o equipamento para uso e solicitar avaliao do profissional operador sobre
a limpeza da parte tica.
Por fim, este procedimento dever reduzir muito o custo de manutenes externas para
este tipo de problema e ainda dar uma maior qualidade no servio de manuteno
preventiva do setor de engenharia.
Caro amigo leitor. Espero que este artigo tenha contribudo para seu dia-a-dia e
crescimento profissional. At a prxima.
Eng. Guilherme.

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