Sobre Manuel Bandeira e o Último Poema
Sobre Manuel Bandeira e o Último Poema
Sobre Manuel Bandeira e o Último Poema
a preparao para a sua chegada. Um sentimento de completude da vida que s possvel com
o acolhimento do fato de que ela termina, mas que pode terminar calma e sutil tendo um
certo esforo para tal. Bandeira ainda reafirma esse sentimento nas linhas finais de seu livro
Itinerrio de Pasargada utilizando, tambm, Consoada.
Os versos 2 e 3 Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais/
Que fosse ardente como um soluo sem lgrimas so a representao de todo
sentimentalismo em sua obra, apesar de mais forte e cru nos primeiros livros por conta da
pouco idade e do inconformismo com a falta de horizonte de vida - os anos de vida e os
novos estilos de escrita o maturaram a ponto de ficar nesse misto equilibrado de realidade,
solido e melancolia.
O soluo sem lgrimas evoca uma imagem de grande sofrimento, mas tambm de
grande resignao. Um querer de chorar, mas sem essa possibilidade, como algum que j
passou por muitas coisas mas cada novo obstaculo traz sua dor e seu sofrimento. J o dizer
das coisas
sobre como a poesia pode estar em qualquer lugar. possvel ver isso nos versos 4 e 5 Que
tivesse a beleza das flores quase sem perfume . Uma flor quase sem perfume pode ser muito
bem dita como uma flor ordinria e sem valor , mas ao ser comparada com a poesia seu valor
aumenta e ela passa a ter um status elevado de beleza para quem consegue visualizar alm da
sua ordinariedade. J que para o poeta a poesia no est mais no mundo da lua, mas na terra
dos homens, no cho do cotidianao. 4( o humilde cotidianao)
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais lmpidos provoca uma
imagem paradoxal: diamantes so, na cultural ocidental, representaes do amor e da
eternidade por serem resistentes e formados a partir de altissima presso, mas eles tambm
no podem ser consumidos pelo fogo as chamas teriam que ser de uma temperatura maior
de 4000C, o que refora a ideia de chama pura.
Libertinagem, livro que encerrado pel'O ltimo poema, foi o primeiro livro modernista
de Bandeira, nele possvel ver a quebra com as escolas literarias anteriores (simbolismo
principalmente) atrves do uso simples da lngua e da tematica nova cotidiano, recordaes
da infncia e o lirismo da cidade. Esses elementos tambm esto presentes em larga escala
n'O timo poema com toda sua experimentao, simplicidade e lirismo melanclico.
Por fim, no ltimo verso A paixo dos suicidas que se matam sem explicao
Bandeira aproxima dois polos da sua criao potica: o amor paixo e a morte suicidas
que se matam.
O amor e a morte so trazidos ao nvel da experincia diria,
colorindo-se de uma ternura clida, dando fora comunicativa a um verso que nem
sempre fcil, mas que tranquiliza o leitor pela humanidade fraterna com que
organiza a desordem e o tumulto das paixes, conferindo-lhes uma gengeralidade
que transcende a condio biogrfica. (introduo)
Como dois conceitos necessarios e arraigados na vida do poeta, como o ar que respira,
o amor e a morte esto como em paralelos mas que se misturam e trazem imagens sublimes
das emoes humanas ao poema, sem nunca cair em clichs . So fortes, porm no
exagerados. Como uma pequena chama que traz calor e esperana na vida.
A morte ameaa de cada dia, se faz companheira cotidiana (o humilde cotidiano) do
poeta, por isso sempre to presente na sua poesia de circuntncia, poesia de poeta menor, de
quem aprendeu a se resignar da demora, de quem ao esperar sua hora viu a de tantos outros,
queridos e amados, chegar.