Quem É o Ser Humano - Breve Reflexão
Quem É o Ser Humano - Breve Reflexão
Quem É o Ser Humano - Breve Reflexão
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que deve conhecer o ser-cosmos para, em seguida, conhecer-se. Para Aristteles, por exemplo, o
ser se manifesta de diversas formas (legai pollakos): ser lgico, ser acidental, ser dinmico e ser
estrutural. Ao voltar-se para o cosmos (ser) o Homem grego fundamenta sua concepo acerca de
si, ao e seu sentido ltimo para vida.
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Conjunto de valores, princpios e inspiraes que do origem as atitudes e hbitos: viso de mundo.
Para Plato e Aristteles e Verdade objetiva, independente do ser humano. Ela est na Idia/Essncia.
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faz pela matematizao da natureza. No h uma ordem metafsica, pois a realidade est construda
matematicamente e provada empiricamente. No h mais um centro, pois tudo matemtica. O
sujeito Homem o objeto, ele ganha uma centralidade metafsica, mas cientfica. Por conseguinte, as
cincias querem responder: quem o Homem? Ento, o discurso cientfico tenta substituir o
discurso filosfico acerca da humanidade. Porque a fsica passa a ser o fundamento das cincias que
critica toda a filosofia ou antropologia que se fundamentam na metafsica. A cincia fsica tenta
explicar tudo acerca da humanidade e v o Homem como material, biolgico e natural.
Entretanto, essa explicao precria, pois a resposta do que o Homem est alm da
competncia das cincias. Ao interrogar sobre o seu ser (quid homo?), o ser humano se diferencia
e ultrapassa a condio natural (biolgica) e sua condio histrica (tempo e espao). Essa
intencionalidade de resposta do que o Homem, est alm do nvel natural. Ele faz cultura (ethos,
linguagem, smbolo, sociedade) e torna-se mais de que um objeto, torna-se sujeito de qualquer das
cincias modernas (nvel dos fenmenos).
Responder o que o Homem, no responder acerca do fenmeno humano em suas
diversificadas manifestaes. Desse modo a reflexo filosfica trata de investigar o que fundamenta
o ser humano enquanto ser humano. Responder ao ti est (qual a essncia?) , dessa maneira, o
desafio filosfico de buscar a ontologia (ser) da humanidade.
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Qual seria o paradoxo que emerge com a transformao do ser humano em objeto de
cincia (Antropologia por exemplo)?
PESSOA, Fernando. Poesia completa de Alberto Caeiro. So Paulo: Cia. das Letras, 2006. pp. 23-24.
Henrique Cludio de Lima Vaz (1938-2002), jesuta, foi professor de Filosofia na Universidade Federal de Minas Gerias
(UFMG), considerado um dos maiores estudiosos de Hegel e o mais expressivo filsofo Brasileiro. Escreveu dentre
outras coisas: Razes da Modernidade e Antropologia Filosfica.
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ambiente. Sua precariedade biolgica constantemente ameaada pela fria da natureza. Por isso,
o Homem no pode ser s natureza como querem conceber as cincias no seu nvel explicativo e
fenomenolgico acerca do Homem.
Assim, o Homem pela cultura intervm diretamente na natureza, cria por necessidade seu
ambiente para viver, ele se socializa, faz parte do ethos. na cultura que o Homem sobrevive e se
reconhece, interrogar-se para criar um discurso racional de si mesmo.
Desse modo, o ser humano est muito alm da natureza, ele anseia para alcanar a
realidade inteligvel. Ele interroga a si e ao ser transcendente. Ele se descobre como manifestao
do ser e pergunta por si e pelo ser, formando o discurso ontolgico que sustentar sua definio
antropolgica.
Ao negar tudo isso, a cincia tenta dizer o que o Homem parte. A essncia metafsica
paulatinamente substituda pela naturalizao de sua definio ontolgica e o Homem passa a ser
concebido como fsico ou no biolgico apenas. O fsico como paradigma ltimo pode responder ao
inqurito: quem o homem?
As cincias modernas ajudam na concepo materialista e que determina e alimenta uma
forma de vida e muitas vezes passam ignorar e desconhecem a dimenso intelectiva do ser humano.
Ao sentir-se um vazio transcendental e uma falta de sentido qualificveis, surgem certas anomalias
humanas: consumo, prazer, poder, riqueza; elas se tornam fim em si e para a existncia humana. H
ento um reducionismo incrvel. Sintetiza-se o valor da vida humana em meras mercadorias
possveis de serem compradas ou vendidas, ou em drogas a serem ingeridas, em prazer
momentneo, em status e lucro a serem alcanados uma guerra cuja lei a do mais forte.
As cincias se colocam como detentoras exclusivas das respostas humanas. Portanto,
esquece-se a busca pela filosofia primeira como conscincia doadora originria para sustentar a vida
humana. A cultura da alma e dos princpios esquecida e no se podem encontrar os fundamentos
primeiros que vo alm da ordinariedade do materialismo. Ento, h um declnio considervel da
humanidade. Ou seja, tira a dignidade da vida humana, seu carter de nimo e de vivacidade
metafsico. Ao esquecer o ser e o sentido inteligvel da vida, esgota-se a capacidade do Homem de
voltar e buscar um sentido de sua essncia.
Por fim, encontrar a completa fundamentao para a vida e o seu sentido o perfeito
restabelecimento do Homem para faz-lo agir em direo da esperana. Quem pode responder
com seu discurso, superando as cincias e a mentalidade tcnico-cientfica? Como estabelecer no
tempo contemporneo uma resposta sobre o Homem?
Em que sentido podemos dizer que h um fundamento ou uma origem antropolgica para a
prpria reflexo antropolgica? Por que a definio do Homem como um ser de cultura
implica no reconhecimento de sua complexidade psquica? Como voc caracterizaria essa
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complexidade psquica?
muito importante criar uma possibilidade de dilogo entre Filosofia e as cincias. Dado
que as cincias com suas possibilidades e fora racional podem contribuir bastante na grande
tentativa da Antropologia Filosfica de responder o grande enigma: Quem o Homem?
A relevncia da teoria evolucionista base para compreender o Homem como ser de
natureza. Na teoria evolucionista com sua relevncia concebe a sucessiva evoluo das espcies
animais e vegetais. E o Homem est no cume dessa evoluo. Evidncias, dados e provas cientficas
provam racionalmente tal teoria e fornece material suficiente para fechar a questo do que o ser
humano num fisicalismo radical:
Tudo o que existe no mundo feito de matria fsica diferentes combinaes dos
mesmos elementos qumicos. Por que no seria assim conosco tambm? Mediante
um complexo processo fsico, nosso corpo se desenvolve a partir da nica clula
produzida pela unio do espermatozide com o vulo no momento da concepo. 1
NAGEL, T. Uma breve introduo Filosofia. So Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 31.
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Dado isso, pode se dizer que o Homem um ser complexo, encerrado numa complexidade
psquica que se faz no interior da cultura. O Homem faz a experincia religiosa que fundamenta a
complexidade psquica: a) esprito de vida, princpio dinmico (pneuma); b) inteligncia (nous),
numa captao ntima do mundo; c) esprito como ordem racional e de linguagem (logos); d)
esprito como conscincia de si, auto-reflexo. O Homem um ser que interroga a si mesmo nessa
complexidade que ultrapassar sua condio natural (biolgico) e temporal (histrica). Isto prprio
do humano. Interrogar sobre seu ser humano.
do
do
do
ou
Assumir essa dialtica entender o Homem como sujeito de sua prpria definio. Ou seja,
alm de uma dimenso somtica3, alm de uma dimenso intelectualizada e cientfica.
Compreender-se como ser ontolgico, aberto ao transcendente, senhor da histria. Homem no
sentido mais eloqente do termo. O Homem que vai alm do limite de sua prpria definio.
Lembramos assim Willian Shakespeare:
Que obra-prima, o homem! Quo nobre pela razo! Quo infinito pelas faculdades!
Como significativo e admirvel na forma e nos movimentos! Nos atos, quo
semelhante aos anjos! Na apreenso, como se aproxima dos deuses, adorno do
mundo, modelo das criaturas! No entanto, que para mim essa quintessncia de p?
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