O Sexo Do Capitalismo
O Sexo Do Capitalismo
O Sexo Do Capitalismo
O Sexo do Capitalismo
Teorias Feministas e Metamorfose Ps-Moderna
do Patriarcado
[Excertos]
HORLEMANN
edition krisis
NDICE
Introduo:
Sobre o problema da culturalizao do social desde os anos oitenta
Primeira Parte:
Sobre os conceitos de valor e de dissociao-valor
Segunda Parte:
Abordagens tericas feministas
I. Mulheres e desclassificao escala universal? (R. Becker-Schmidt)
Forma da mercadoria e forma do pensamento * Troca de mulheres e
lgica da identidade * O androcentrismo como fenmeno infra-estrutural
psicogentico
II. O sexo no patriarcado produtor de mercadorias
1. Profisso e trabalho domstico em E. Beck-Gernsheim/I. Ostner
Hipteses de base sociolgica * A construo da (dupla) sexualidade, o
inconsciente social androcntrico e a relativa legitimidade dos princpios de
Beck-Gernsheim/Ostner * Valor de uso / Valor de troca, masculinidade e
feminilidade.
2. A relao entre os sexos como conexo da estrutura social em R. BeckerSchmidt/G.-A. Knapp e U. Beer
a) O sexo como categoria social estrutural em R. Becker-Schmidt/G.-A.
Knapp
Dupla socializao e sexo como "categoria social estrutural" * Dupla
socializao como resistncia? * A crtica da lgica da identidade como
"mtodo" e a essncia do patriarcado produtor de mercadorias * O todo social
e a relao entre os sexos * Troca, trabalho, dinheiro e sexo.
b) Histria, estrutura e sexo em U. Beer
3. Relaes entre os sexos como relaes de produo em F. Haug
O patriarcado capitalista como modelo de civilizao * Trabalho remunerado /
trabalho domstico e a metafsica do trabalho em F. Haug * A lgica de poupar
tempo e a lgica de gastar tempo * A ordem simblica do patriarcado
capitalista
III. Notas a concluir sobre as diversas abordagens tericas
Terceira Parte:
A teoria da dissociao-valor modificada
Quarta Parte:
Relaes entre os sexos e ps-modernidade escala universal O
asselvajamento do patriarcado produtor de mercadorias na era da
globalizao
I. A "pequena trabalhadora autonnoma" (I. Schultz)
II. "Juchitan" um caso especial do patriarcado produtor de
mercadorias? Uma alternativa ao patriarcado produtor de mercadorias?
(V. Bennholdt-Thomsen & Co.)
III. Adeus ao patriarcado, alis, adeus heterossexualidade? (C.
Dormagen)
Introduo:
Sobre o problema da culturalizao do social desde os anos oitenta
A teoria de Marx no desempenha qualquer papel de relevo no feminismo,
pelo menos desde a queda do bloco de Leste. Parecem pertencer ao passado
questes que at meados dos anos oitenta ainda marcavam a discusso (por
exemplo: como se pode ligar organicamente com a concepo de Marx a
questo da mulher, a relao assimtrica entre os sexos? Como pode ser
rompida a neutralidade sexual das categorias marxianas? Que
desenvolvimentos tericos so para isso necessrios?). Precisamente numa
poca em que grandes crises sociais, econmicas e ecolgicas literalmente
abalam o mundo, em que inmeras guerras civis marcam o quotidiano global e
a situao social se agudiza cada vez mais, em que os fundamentalismos
tnicos e os nacionalismos h muito tempo vm dando que falar, em que
prossegue a destruio das bases naturais pela lgica dos custos da economia
empresarial e espreita a ameaa dum crash financeiro, precisamente nesta
poca, caram em descrdito as grandes teorias que poderiam aclarar
conceptualmente a situao de crise global.
A partir da decadncia do socialismo realmente existente tira-se
frequentemente a concluso ilusria de que a construo terica de Marx j
est toda quase no fim. Os anos noventa foram marcados por uma
culturalizao do social que seguindo as novas tendncias brbaras se
exprime, por exemplo, na re-etnicizao e tambm na moda das abordagens
(des)construtivistas; e no apenas no feminismo.
Mesmo entre no poucos dos restos de oposio, em vez de se procurar um
novo entendimento da totalidade, mais frutfero que o do velho marxismo e bem
necessrio para abordar os novos desenvolvimentos da crise no one world,
volta-se a agarrar os modelos culturalistas que constituram uma importante
tendncia na elaborao terica na dcada de noventa.
o que acontece, por exemplo, no apenas nos meios feministas e psmodernos, mas tambm nas posies de esquerda influenciadas pelo psestruturalismo, que contrapem ao ponto de vista desconstrutivista uma
(neo)construo de identidades, como o caso da identidade tnica. Deste
modo se procura fazer face nova barbrie, que radica numa reaccionria
ideologia comunitria, recorrendo diferena, particularidade do individual
etc.
Certamente que as intenes so boas. Apesar disso, as pessoas
movimentam-se na mesma base e no mesmo plano (tericos) que os prprios
fenmenos, situaes e ideologias objecto de censura, a saber, no plano
cultural. Para mais, no se reconhece aqui a dialctica entre a individualizao
amplamente desenvolvida na ps-modernidade, que corresponde teoria e
prtica neoliberais (mesmo que seja na variante social-democrata), e a
orientao para a comunidade simultaneamente manifestada; pois recorrendo
repetidamente ao diferente, ao individual, ao particular, contra a nao, a etnia,
entre outros, luta-se de facto pelo neoliberalismo, mesmo que isso no seja
subjectivamente pretendido. Em certo sentido, assim procura-se fatalmente
combater a situao dada com os seus prprios meios. Mesmo entre os
Portanto, no se pode homenagear a identidade moderna, nem a noidentidade ou as diferenas ps-modernas; nem a grande teoria, nem o registo
cientfico e/ou ps-moderno das diferenas, o espectculo do
individual/particular (porventura com muros subterrneos ps-estruturalistas).
Trata-se, sim, de aguentar a tenso entre ambos e torn-la teoricamente
frutuosa, situao em que tambm a localizao histrica de determinadas
questes (por exemplo, a questo das diferenas na ps-modernidade no
quadro duma reflexo crtica) poderia ser conseguida num metaplano de
grande teoria. Trata-se, portanto, duma elaborao terica que no se
esquiva grande narrativa, nem a aceitar uma essncia social, que no
marxismo tradicional vista na troca ou no valor (mais-valia). Neste contexto,
tambm devem ser tidas em conta as tendncias da globalizao dos ltimos
anos, incluindo as estratgias imanentes de pseudo-soluo que lhe esto
associadas; quer se trate, no caso, de redespertadas iluses neokeynesianas,
de planos de aco da sociedade civil / internacionalistas, ou at de vises
regressivas de subsistncia / de trabalho autnomo.
Perante o pano de fundo deste breve esboo do problema, gostaria agora de
tentar relacionar a temtica da relao hierrquica entre os sexos na sua
multidimensionalidade terica com as hipteses fundamentais da crtica do
valor, ou seja, ter teoricamente em considerao tanto o plano material como o
dos smbolos culturais e o da psicologia social. Aqui est no centro das minhas
reflexes a tese da dissociao-valor estabelecida j em artigos anteriores
(vd. sobre o assunto sobretudo Scholz, 1992). Na sequncia da minha
argumentao posterior, ser inevitavelmente evidenciado o questionamento
do (grande) conceito desde sempre inerente a este teorema, insistindo
simultaneamente na crtica radical da totalidade social.
A teoria crtica da Escola de Frankfurt no sentido de Adorno continua a ser
aqui um ponto de referncia central, pois tematizou em termos de filosofia
social o no idntico, a diferena que no cabe na dialctica hegeliana, o
particular etc., muito antes de se ouvir falar por todo o lado em feminismo e
ps-modernidade. Ao mesmo tempo, esta teoria adere intransigentemente
ideia de totalidade; e no fundamental criticamente, ao contrrio duma ideia de
mero reformismo social (por exemplo, keynesiana). Para esta teoria a
totalidade j per se totalidade negativa. Naturalmente que no se trata de
assumir a teoria crtica de modo dogmtico e sem qualquer alterao: este
pensamento tambm no pode permanecer completamente poupado crtica
por uma observao hodierna, uma vez que o desenvolvimento social tambm
continuou depois de Adorno & C.
Por outro lado, adiro ao entendimento do valor crtico da economia da crtica
do valor fundamental que tem sido desenvolvida pela revista Krisis (1);
penso, no entanto, modificar este entendimento em termos de crtica do
patriarcado. A crtica do valor fundamental diferencia-se do marxismo do
movimento operrio sobretudo pelo facto de no se limitar a considerar
escandalosa a mais-valia, mas pr em questo a prpria forma da mercadoria
como princpio da socializao da moderna sociedade mundial. Isto inclui uma
demarcao dos marxismos tradicionais que fazem da categoria classe
operria o pivot numa reduo sociolgica e para os quais se trata apenas da
justia distributiva no interior do sistema produtor de mercadorias.
levou aos cenrios de crise e guerra civil dos anos noventa por todo o mundo.
Com o colapso da "modernizao atrasada", seguramente no se abriram
quaisquer "perspectivas de reforma", com a passagem "economia de
mercado e democracia" (como entretanto conhecido o capitalismo originrio
ocidental, at no jargo da esquerda conformista), mas, a ser mantido o
sistema produtor de mercadorias e seus critrios, apenas e ainda as
"perspectivas" da barbrie.
Desde os anos oitenta, dissiparam-se tambm no "Terceiro Mundo" as
esperanas de melhores condies de vida. A perspectiva do chamado
"desenvolvimento", pensado desde sempre de modo fetichista na forma da
mercadoria, que ainda tinha marcado o esprito do tempo at meados dos anos
setenta (ligado a uma euforia de modernizao), pareceu temporariamente
solucionvel atravs do crdito. Mas, nos anos oitenta, colapsou tambm este
conceito limitado ao quadro do sistema mundial capitalista e muitos pases do
Terceiro Mundo caram na misria, sob a presso neoliberal, que levou por
exemplo a um endividamento junto do FMI e do Banco Mundial. A pretexto do
reembolso do crdito junto destas instituies chegou-se aos eufemisticamente
chamados "processos de reajustamento estrutural" e degradao da situao
social da maior parte da populao. Entretanto previsvel que estas precrias
condies de vida se vo expandir, at nas mais industrializadas das naes
industriais ocidentais. O valor, o trabalho abstracto, a mediao da forma da
mercadoria na base do fim em si capitalista tornam-se completamente
obsoletos; o "colapso da modernizao" (Kurz, 1991) mostra-se cada vez mais
evidente.
O paradoxo da situao ps-moderna est em que o capitalismo, por um
lado, torna-se incapaz de assegurar a reproduo da humanidade (mesmo
segundo os seus prprios critrios, em todo o caso inaceitveis); por outro
lado, porm, os paradigmas habituais duma "crtica do capitalismo" truncada,
categorialmente presa s formas do sistema produtor de mercadorias (seja
essa crtica proveniente do velho marxismo do movimento operrio, do
keynesianismo ou do anti-imperialismo da "revoluo-nacional") simplesmente
no levam a nada. As disparidades sociais no desapareceram, pelo contrrio,
agravaram-se dramaticamente; mas j no podem ser representadas nos
conceitos da "mais-valia usurpada", ou seja, no sentido de um entendimento
meramente sociolgico das "relaes de classe" ou das relaes de
dependncia nacional.
Esta viso da "crtica do valor fundamental", por mais lgica que se apresente
e por mais plausvel que seja a sua explicao de muitos fenmenos da
presente crise mundial, permanece contudo, nesta sua lgica, indiferente face
relao entre os sexos. Percebe-se de imediato que aqui s o valor e o
"trabalho abstracto" deste contexto ascendem, de modo sexualmente neutro,
s honras da teoria, mesmo que apenas como objecto de uma crtica radical.
Continua a no se ter em conta que no sistema produtor de mercadorias
tambm tem de ser feita a lida da casa, tem de se educar os filhos, cuidar dos
doentes e incapazes etc., tarefas que habitualmente so atribudas s
mulheres (mesmo se elas tm actividade remunerada) e no podem ser, pelo
menos exclusivamente, tratadas de modo profissional (ver sobre o que segue
Kurz, 1992, p. 135 sg. e 155 sg; Scholz, 1992).
O conjunto do relacionamento social no capitalismo, contudo, no se
determina somente pelo automovimento fetichista do dinheiro e pelo carcter
mais ainda: elas sentem-se obrigadas a fazer frente com toda a fora a tal tipo
de argumentaes (cf. Gildemeister/Wetterer, 1992). Por isso considero que
no se justifica tomar a abordagem de Ostner por globalmente acabada, como
costume desde os anos oitenta na pesquisa sobre mulheres (estudos de
gnero), ainda que seja seguramente certo que a tese da capacidade feminina
de trabalho no sustentvel e que esta abordagem susceptvel de
modificao em muitos aspectos.
Dito isto, gostaria agora de expor mais uma vez em grandes linhas, de certa
maneira numa segunda ronda, a teoria da dissociao-valor modificada, para
deixar claro o respectivo esboo, em linha com a passagem em revista crtica
das abordagens tericas feministas (de esquerda).
4. No difcil reconhecer que a psicologia da diferena sexual, que BeckerSchmidt cr ter de reconhecer ontolgica, em todo o caso uma questo da
modernidade (ainda que as suas razes vo certamente at antiguidade
ocidental, como j foi dito; contudo o sistema dos dois sexos foi construdo
apenas no contexto do capitalismo moderno). A moderna iluso de vencer a
morte, bem como as dicotomias especficas de sujeito-objecto, espritonatureza, dominao-submisso, homem-mulher, que vm de par tanto com a
dominao da natureza como com a submisso das mulheres a ela
equiparadas, devem ser vistas como marcas distintivas tpicas do patriarcado
produtor
de
mercadorias.
assim
evidente
que
a
dissociao/represso/rebaixamento do feminino constitui uma estrutura central
do patriarcado produtor de mercadorias, tambm no sentido de inconsciente
social. Haug no retira a consequncia de um inconsciente social
androcentricamente definido, se bem que esta ideia se imponha francamente
sua anlise.
5. Daqui no se pode concluir, segundo o tradicional esquema basesuperstrutura, que a diviso de funes sexualmente especificada na produo
da vida e dos alimentos representa o plano primrio, ao qual se ligaram
superficialmente significados culturais no decurso da histria, como o ponto
de vista de Haug. Em vez disso, o plano dos smbolos culturais, o da psicologia
social e o material devem ser estabelecidos nas suas relaes recprocas ao
mesmo nvel de relevncia, sem que nenhum tenha o primado. Assumo esta
perspectiva de Becker-Schmidt. De facto, s assim as relaes entre os sexos
so uma espcie de trabalho em rede, (...) que no tem nenhum lugar
determinado, mas atravessam todos os lugares, como diz a prpria Haug.
A dimenso dos smbolos culturais desenvolve-se, por exemplo, nas anlises
do discurso em ligao com Foucault (ver, por ex., Honegger, 1991; Landweer,
1990; Laqueur, 1996; e, considerando a vida corporal, Duden, 1987); o lado
psicolgico na socializao do indivduo do patriarcado capitalista pode ser
agarrado com um instrumental psicanaltico (cf. por exemplo Chorodow, 1985)
(5). O acesso ao plano material, ou seja, diviso de funes sexualmente
especificada, separao entre trabalho profissional e trabalho domstico,
possvel recorrendo criticamente, por exemplo, a Ostner e Haug.
Em geral, trata-se tanto de indicar as limitaes das diferentes abordagens
(por exemplo, a imagem no fundo behaviorista do ser humano, o seu
procedimento positivista e a ontologia do poder em Foucault e nas autoras a
ele ligadas), como tambm de, simultaneamente, fazer jus s justificaes
objectivas que tm na sociedade coisificada, dspar e fragmentada do
patriarcado produtor de mercadorias. Com isto no se pode chegar a um
processo de derivao lgica, ainda que as interdependncias entre os
em Adorno. Mas esta crtica, que ignora a relao entre os sexos, teria de
permanecer ela prpria na lgica formal. Pois o decisivo no apenas que o
terceiro comum abstraindo das qualidades , o tempo de trabalho social
mdio, trabalho abstracto, que est de certo modo atrs da forma de
equivalncia do dinheiro, mas que esta, por sua vez, tenha ainda precisado de
excluir e de considerar inferior o que conotado como feminino, a saber, o
trabalho domstico, o sensvel, o emocional, o no analtico, o no unvoco, o
no claramente compreensvel e localizvel com os meios da cincia.
Contudo, a dissociao do feminino de modo nenhum coincide com o no
idntico de Adorno; ela representa, pelo contrrio, o reverso oculto do valor.
Com isto, no entanto, a dissociao uma pr-condio para que o mundo da
vida, o contingente, o no analtico, mas tambm conceptualmente no
compreensvel, tenha sido desprezado e tenha ficado na penumbra por muito
tempo na modernidade, nos domnios da cincia, da economia e da poltica
dominados pelo homem. Importante tornou-se um pensar classificador, que no
pode examinar a qualidade particular, a prpria coisa, e no consegue
perceber as diferenas, as ambivalncias etc. que vm com ela ou, em todo o
caso, no consegue suport-las.
Inversamente, isto significa sem dvida para a sociedade socializada do
patriarcado produtor de mercadorias exactamente que os ditos momentos,
planos e domnios no apenas tm de ser irredutivelmente referidos uns aos
outros como reais, mas tambm devem ser considerados na sua unio
objectiva e intrnseca ao plano fundamental da dissociao-valor, como pano
de fundo da totalidade social, pelo qual constituda a sociedade em geral
como essncia (no sentido de meta-estrutura universal), e como cuja
manifestao aqueles momentos e domnios especficos se apresentam
realmente.
No se trata, assim, de modo simplista, de uma sntese interdisciplinar de tipo
eclctico, mas os diversos momentos tm de ser referidos uns aos outros
essencialmente desde o princpio, no sentido da dissociao-valor enquanto
totalidade, situao em que a categoria da dissociao-valor ao contrrio do
conceito de troca em Adorno e ao contrrio do conceito negativo de valor na
crtica do valor fundamental partida j sabe sempre da sua limitao, com
isso no se colocando tambm de certo modo como absoluta em nome do
plano abrangente, e nessa medida sabendo reconhecer a verdade prpria dos
planos e domnios particulares.
sempre a mesma. Na ps-modernidade, ela assume mais uma vez uma nova
face. As mulheres so agora duplamente socializadas, como assinala BeckerSchmidt, o que significa que elas so por igual responsveis pela famlia e pela
profisso. A novidade no caso no , porm, apenas este simples facto, como
j foi assinalado muitas vezes grande parte das mulheres j antes era
duplamente socializada, particularmente as mulheres da camada inferior mas
sim que esta factualidade e as contradies estruturais que a acompanham
dem nas vistas.
Desde logo, por princpio, tem de se partir duma dialctica entre os indivduos
e a sociedade por um lado, os indivduos nunca so absorvidos nas
estruturas objectivas nem nas representaes da ordem simblica, por outro
lado, contudo, tambm no se verifica a hiptese inversa, de que estas
estruturas e padres de significao simblica-cultural os defrontem de modo
meramente exterior; afinal os indivduos sociais constituem eles prprios estas
estruturas culturais da sociedade, ainda que elas os defrontem depois como
sistema autonomizado. Na verdade as contradies da dupla socializao das
mulheres, com uma diferenciao do papel das mulheres, apenas na psmodernidade do plenamente nas vistas, como Ostner assinalou
acertadamente.
NOTAS
(1) [Em 2004 a autora fundou a revista EXIT! juntamente com outras redactoras e redactores
com ela expulsos da Krisis N.Tr.]
(2) Adoptei esta formulao seguindo Barbara Duden, que uma vez, noutro contexto,
escreveu: No sou nenhum alfaiate m-m-m sujeito ao girar do moinho da desconstruo
(Duden, 1993, p. 29) [A expresso alfaiate m-m-m parece referir-se reaco do pacato
alfaiate perante a travessura das duas crianas, na obra de Wilhelm Busch Max und Moritz
[Juca e Chico] N.Tr.]
(3) Sem querer cair aqui numa postura construtivista vulgar, que no quer saber nada da
relao natural, mesmo mediada pela sociedade, preciso dizer que qualquer pulso j
sempre socio-culturalmente estruturada e nunca surge simplesmente directamente da
natureza.
(4) [A autora publicou em 2006 DIFFERENZEN DER KRISE KRISE DER DIFFERENZEN
[DIFERENAS DA CRISE CRISE DAS DIFERENAS] Horlemann-Verlag, ISBN 3-89502195-4 (N. Tr.)]
(5) Em todo o caso pode-se concordar com Mechthild Rumpf, quando ela objecta a Chorodow
(bem como a Jessica Benjamin) que os imperativos sistmicos, bem como as exigncias de
comportamento e desaforos socialmente mediados, se explicam psicogeneticamente. Com
razo ela insiste, com Adorno, numa dialctica entre o indivduo e a sociedade, em que esta se
apresenta como um aparelho autonomizado face aos indivduos. pena que no conjunto da
argumentao dela tal como no caso de Becker-Schmidt se continue a concluir que as
estruturas objectivas e os indivduos sociais se contrapem apenas exteriormente (Rumpf,
1989, pag. 84).
http://obeco.planetaclix.pt/
http://www.exit-online.org/