Apostila de Geografia
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Populao
Com extenso territorial de 43.780,157 quilmetros quadrados, o Rio de Janeiro o menor estado
da Regio Sudeste. Conforme contagem populacional realizada em 2010 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatstica (IBGE), a populao do estado totaliza 15.989.929 habitantes, sendo a
densidade demogrfica de 365,2 habitantes por quilmetro quadrado. Durante os anos 2000
experimentou um incremento populacional da ordem de 1,5 milhes de pessoas aproximadamente.
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Apesar de algumas mudanas, o peso da populao metropolitana no estado permanece bastante
elevado, 75,7% em 2000 e 74,2% em 2010.
O territrio que atualmente corresponde ao Rio de Janeiro era habitado por diversas tribos
indgenas: Tupinambs, Goitac, Guaians, Tamoios, Botocudo, Tupiniquins, entre outros. Durante
o processo de colonizao, o Rio de Janeiro recebeu portugueses, franceses, alm de africanos,
vtimas do trfico de escravos. Posteriormente, o estado tambm foi destino de fluxos migratrios
oriundos da Sua, Alemanha, Itlia, Espanha, etc.
O Rio de Janeiro obteve ao longo dos anos um aumento populacional extraordinrio e, atualmente,
o terceiro estado mais populoso do Brasil. Sua populao total, calculada pelo Censo IBGE 2010
somou 15.989. 929 habitantes, distribudos em 92 municpios. Com ndice de Desenvolvimento
Humano (IDH) de 0,832, o Rio de Janeiro ocupa o 4 lugar no ranking nacional de IDH. A taxa de
alfabetizao a terceira maior do pas (96%), atrs somente do Amap (97,2%) e do Distrito
Federal (96,6%). O Rio de Janeiro apresenta a segunda melhor mdia de escolaridade do Brasil:
45,6% de sua populao tm oito anos ou mais de estudos.
A maioria da populao reside em reas urbanas: 96,7%, o que faz do Rio de Janeiro um dos
estados mais urbanizados do Brasil. Os servios de saneamento ambiental atendem 84,6% das
residncias fluminenses. A taxa de mortalidade infantil de 18,3 bitos a cada mil nascidos vivos,
abaixo da mdia nacional, que de 22.
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Tabela 1. Populao residente com indicao da rea total e densidade demogrfica
Municpio
Populao total
rea total km
1. Rio de Janeiro
2. So Gonalo
3. Duque de Caxias
6.320.446
999.728
855.048
1200,3
247,7
467,6
Densidade
demogrfica Hab./
Km
5265,81
4035,90
1828,51
4. Nova Iguau
5. Niteri
6. Belford Roxo
7. Campos dos
Goytacazes
8. So Joo de
Meriti
9. Petrpolis
10. Volta Redonda
11. Mag
12. Itabora
13. Maca
14. Cabo Frio
15. Nova Friburgo
16. Barra Mansa
17. Angra dos Reis
18. Mesquita
796.257
487.562
469.332
463.545
521,2
133,9
77,8
4026,7
1527,60
3640,80
6031,38
115,16
458.673
35,2
13024,60
295.917
257.803
227.322
218.008
206.748
186.227
182.082
187.713
169.511
168.376
795,8
182,5
388,5
430,4
1216,8
410,4
933,4
547,2
825,1
39,1
371,85
1412,75
585,13
506,56
169,89
453,75
195,07
324,94
205,45
4310,48
Comparando a estrutura etria do Estado do Rio de Janeiro com a do Brasil, podemos notar que este
estado apresenta uma composio mais envelhecida do que o pas em geral. Apesar da reduo da
fecundidade j bastante acentuada em 2000, neste ano a faixa etria mais larga era a de 15 a 19 anos
no estado, revelando uma estrutura ainda jovem. Na dcada de 2000, o envelhecimento
populacional se acentua e a faixa mais larga para homens e mulheres em 2010 passa a ser a de 25 a
29 anos, cada vez mais a parte central da pirmide torna-se expressiva. At 24 anos, o processo de
estreitamento das faixas de idade; embora a faixa de 35 a 39 anos que tenha apresentado uma
reduo, no momento a populao em idade ativa que ganha maior participao. Os idosos
tambm seguem abarcando maior parcela populacional.
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Figura 3: Pirmide Etria: Estado do Rio de Janeiro: 2000/2010
3 Economia
A efetiva ocupao econmica do que conhecemos atualmente por Estado do Rio de Janeiro est
associada funo administrativa da Cidade do Rio de Janeiro. Por sua maior proximidade das
regies das minas, a metrpole carioca tornou-se a capital em 1763, de onde os representantes da
coroa portuguesa controlavam o escoamento do ouro. O Rio de Janeiro transformou-se tambm em
principal porto de desembarque de importaes, centro redistribuidor de manufaturas e de africanos
submetidos ao trabalho escravo. Essa atividade comercial consolidou a cidade como centro
econmico, alm de administrativo, do pas. A funo administrativa foi intensificada e
proporcionou ingresso substancial de recursos por ocasio da vinda da famlia real portuguesa, em
1808. Em 1815 o Brasil e elevado a reino unido com o reino de Portugal, sua metrpole soberana
ate ento e a Algarve, recebendo a designao oficial de Reino Unido de Portugal, Brasil e
Algarves As atividades comerciais se expandiram significativamente, ademais, com a abertura dos
portos s naes amigas, em particular Inglaterra.
A concentrao da atividade exportadora e importadora fez ingressar e circular na economia
fluminense elementos decisivos para a explorao da economia cafeicultora do pas, ou seja,
capitais e populao. Sem esses recursos, dificilmente essa cultura teria sido implantada no Rio de
Janeiro, pois a provncia no contava com condies de solo especialmente favorveis ao caf. O
incio do cultivo ocorreu na Cidade do Rio de Janeiro em meados do sculo XVIII, expandindo-se
em seguida para a Provncia Fluminense. Com a cultura cafeeira introduzida nas primeiras dcadas
do sculo XIX, organizou-se o espao econmico na provncia fluminense. O auge da economia
cafeeira ocorreria a partir do ltimo quartel do sculo XIX, quando o caf j se deslocara do Rio de
Janeiro em direo a So Paulo, ocupando mo de obra livre, responsvel pelo dinamismo de uma
rede de cidades que se consolidariam, tornando-se importantes centros regionais no interior paulista,
a
exemplo
de
Ribeiro
Preto. So Paulo passou a ocupar o posto de centro dinmico da economia do pas.
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O mesmo no aconteceu na economia fluminense: Cidades por onde passava o caf tornaram-se
locais sem dinamismo, que iam morrendo por falta de perspectiva para sua populao e
transformavam-se em fonte de emigrao.
Antes do caf, as atividades responsveis pelos principais ncleos ativos do interior fluminense
eram a produo de alimentos para a populao da capital e o cultivo da cana-de-acar, na plancie
do Norte-fluminense. A ocupao efetiva ocorria apenas no litoral, com algum destaque para Parati,
antigo porto que atendia ao movimento derivado da explorao do ouro, antes da abertura do
Caminho Novo, atravs de Juiz de Fora.
O acar foi responsvel pelo dinamismo da cidade de Campos, principal polo da regio norte do
estado. Esta atividade perde sua posio de destaque a partir da dcada de 1980 e Campos passou a
ser um importante centro regional de servios, beneficiando-se do impacto positivo da economia do
petrleo.
O surgimento dos primeiros focos da produo industrial comeou a se manifestar no Brasil a partir
do final do sculo XIX, apoiados pelo surgimento do mercado de mo de obra assalariada,
originada da imigrao em massa, da abolio da escravatura e da generalizao da economia
mercantil. Na passagem do sculo 19 para o 20, se identificou um retrocesso relativo da economia
do Rio. A indstria fluminense de ento comea a perder posio para a paulista. Em 1907, por
exemplo, a primeira detinha 37,6% do valor gerado pelo setor industrial brasileiro, enquanto a
segunda alcanava apenas 16,2%. Passada pouco mais de uma dcada, Rio e So Paulo
apresentavam, respectivamente, 28,5% e 31,5% de participao. Atualmente, as receitas geradas
pelo extrativismo mineral (leia-se petrleo e gs natural), tem um papel significativo na economia
fluminense.
Foi a partir da Grande Depresso de 1930 que a indstria brasileira se tornou o principal fator de
crescimento do pas. No Brasil, a crise de 1930 levou ao fim da supremacia da economia agrrioexportadora e expandiu a economia urbano-industrial. Sob o contexto do Estado Novo, situaram-se
no Rio de Janeiro, na dcada de 1940, as iniciativas da atuao do Estado como importante agente
promotor da industrializao.
A Companhia Siderrgica Nacional, ou CSN, criada em 1941, representou um estmulo produo
industrial fluminense convertendo o Vale do Paraba em um importante polo industrial. Tinha-se
como objetivo reforar a ao econmica estatal, criando uma infraestrutura para a industrializao.
Para isto, era indispensvel a siderurgia rea estratgica tanto no setor industrial quanto no
militar. Ao fim, um decreto-lei criou a Companhia Siderrgica Nacional em Volta Redonda, Rio de
Janeiro. Na poca, a comunidade contava cerca de 2.800 habitantes, a maioria dedicada a
atividades agropastoris. Uma dcada depois, j transformada em Cidade do Ao, sua populao
ultrapassava 39.000 pessoas.
A Regio do Mdio Vale do Paraba, com a Companhia Siderrgica Nacional em Volta Redonda, e
outras empresas como a Volkswagem em Resende e Peugeot-Citroen em Porto Real (instaladas nas
ltimas dcadas) so responsveis em grande medida pelo segundo centro populacional e por
grande parte da atividade econmica no interior. Num primeiro momento a interveno federal foi
decisiva para o desenvolvimento dessa Regio, com a prpria presena da siderrgica, assim como
um conjunto de incentivos estaduais e municipais colaborou para a instalao das indstrias
automobilsticas. Um pouco mais ao sul, Angra dos Reis vem se beneficiando da retomada da
indstria naval no estado, alm do turismo que uma atividade progressivamente em expanso na
da Baa da Ilha Grande.
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Tabela 2. Participao percentual e posio do Produto Interno Bruto das Unidades da
Federao que participaram com cerca de 80% do PIB do Brasil em 2011.
So Paulo
Rio de Janeiro
Minas Gerais
Rio Grande do Sul
Paran
Santa Catarina
Distrito Federal
Bahia
1 8 posio
Participao (%)
Posio
32,6
11,2
9,3
6,4
5,8
4,1
4
3,9
78,7
1
2
3
4
5
6
7
8
-
Tabela 3: PIB do Estado do Rio de Janeiro por setores econmicos (R$ milhes)
Fonte: Sistema Firjan. Nota: Industria engloba Industria Extrativa, Industria da Transformao,
Construo Civil, Servios Industriais de Utilidade Pblica.
- Diviso Regional
A diviso regional pode ser construda de diferentes maneiras, alm de poder e dever ser
alterada de acordo com os objetivos que se tm em vista e em funo das informaes disponveis.
inegvel que se constitui em vigoroso instrumento de anlise e ao com vistas ao planejamento.
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O Governo do Estado do Rio de Janeiro, aprovou, em 1987, pela Lei n 1.227, o Plano de
Desenvolvimento Econmico e Social 1988/1991, que dividiu o territrio fluminense em oito
Regies de Governo: Metropolitana, Noroeste Fluminense, Norte Fluminense, Baixadas Litorneas,
Serrana, Centro-Sul Fluminense, Mdio Paraba e Baa da Ilha Grande. Com o passar dos anos,
houve alteraes tanto na denominao quanto na composio de algumas. Hoje, a Regio da Baa
da Ilha Grande, com ampliao do nmero de municpios, denominada Regio da Costa Verde.
A Regio Metropolitana do Rio de Janeiro havia sido criada pela Lei Complementar n 20, de 1 de
julho de 1974, sendo composta, na poca, pelos seguintes municpios: Rio de Janeiro, Niteri,
Duque de Caxias, Itabora, Itagua, Mag, Maric, Nilpolis, Nova Iguau, Paracambi, Petrpolis
(incluindo So Jos do Vale do Rio Preto), So Gonalo, So Joo de Meriti e Mangaratiba. Desde
ento, sofreu inmeras alteraes em sua composio: A Lei Complementar n 97, de 2/10/2001,
retirou o Municpio de Maric da Regio Metropolitana, incluindo-o na Microrregio dos Lagos
(no confundir com as microrregies do IBGE), instituda pela mesma Lei e composta por mais oito
municpios da Regio das Baixadas Litorneas: Araruama, Armao dos Bzios, Arraial do Cabo,
Cabo Frio, Iguaba Grande, So Pedro da Aldeia, Saquarema e Silva Jardim (alm de Maric). Desta
forma, embora a Lei no especifique claramente, Maric passou a fazer parte da Regio das
Baixadas Litorneas.
A Lei Complementar n 105, de 4/07/2002, retirou os Municpios de Itagua e Mangaratiba da
Regio Metropolitana e juntou-os aos de Angra dos Reis e Parati numa nova Regio de Governo a
da Costa Verde -, determinando a extino da Regio da Baa da Ilha Grande. A Lei Complementar
n 133, de 15 de dezembro de 2009, retirou Maric da Regio das Baixadas Litorneas, incluindo-a
na Regio Metropolitana. Ao mesmo tempo, confirmou a composio da Microrregio dos Lagos,
porm sem o Municpio de Maric.
Figura 4: Regies de Governo do Estado do Rio de Janeiro. Fonte: CEPERJ
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Regio Norte Fluminense
A Regio Norte Fluminense desponta como uma das principais do estado em virtude da indstria
extrativa de petrleo e gs, sendo composta por nove municpios: Campos de Goytacazes,
Carapebus, Cardoso Moreira, Conceio de Macabu, Maca, Quissam, So Fidlis, So Francisco
de Itabapoana e So Joo da Barra. Produz 13% do PIB estadual e abriga 740.927 habitantes,
que corresponde 4% dos fluminenses.
Esta regio est situada na rea mais setentrional do litoral fluminense, nos baixos cursos dos rios
Maca e Paraba do Sul. Destaca-se o Delta do Paraba do Sul construdo pelos sedimentos do rio e
a ao das correntes marinhas. O predomnio de plancies como forma de relevo constitui a Baixada
dos Goytacazes ou Campista e favoreceu o desenvolvimento da atividade agrcola.
Atualmente, a cana de acar ainda tem um papel importante, mas no mais o principal setor,
perdendo dinamismo diante da produo do estado de So Paulo, mais mecanizada e com custos de
produo menores. Tal fato tem promovido um esvaziamento populacional das reas rurais de
Campos, Cardoso Moreira, So Fidlis e So Francisco de Itabapoana, com a populao se
dirigindo para outras reas, como Maca e Regio das Baixadas Litorneas.
Foi implantado no municpio de Campos o Projeto Frutificar, que busca dinamizar a atividade
agrcola com o beneficiamento de frutas cultivada na regio. Este programa conta com incentivos
dos governos estadual e federal e j atrai investimentos industriais externos. A atividade
agroindustrial passa por um processo de modernizao e est ligada aos incentivos governamentais.
Mesmo assim a agricultura perde espao para as atividades ligadas ao petrleo.
A indstria extrativa de petrleo na Bacia de Campos promove mudanas na economia agrcola
tradicional com o passar dos anos, pois a produo petrolfera apresenta crescimento exponencial. A
cidade de Maca, antiga localidade porturia, foi escolhida para sediar a estrutura operacional da
Petrobrs na regio. No seu porto e a rea adjacente foi instalada a Unidade de Negcios da Bacia
de Campos (UNBC), como centro administrativo e de abastecimento das plataformas martimas de
explorao de petrleo. Ao sul da cidade, a referida empresa implantou o Parque de Tubos e, mais
ao norte do municpio, o Terminal de Cabinas da subsidiria Transpetro. Esta instalao recebe o
petrleo e o gs das plataformas, os armazena e os transfere para a Refinaria Duque de Caxias
(Reduc). H ainda grandes plantas industriais de beneficiamento do gs.
O setor petrolfero promove mudanas significativas na regio como: a atrao de dezenas de
empresas nacionais e estrangeiras, a intensa atrao populacional e valorizao imobiliria na
cidade de Maca, a implantao de infraestrutura viria e intenso fluxo da mo de obra entre Maca
e os municpios vizinhos como Rio das Ostras, Casimiro de Abreu e Carapebus. Vale ressaltar que a
cidade de Campos a origem de maior parte da mo de obra do setor, pois trata-se de um
importante centro urbano regional, com estrutura educacional consolidada de nvel tcnico e
superior.
O municpio de Maca est atraindo cada vez mais empresas e mo de obra estrangeiras,
sobretudo dos Estados Unidos. Existe tambm a atrao populacional de outros municpios,
tratando-se de pessoas que esto em busca de emprego nestas novas indstrias, mas nem sempre
conseguem pela alta qualificao exigida. Com isso, est ocorrendo o aumento de excludos e de
moradias precrias em contraste com os bairros altamente valorizados.
As prefeituras da regio esto arrecadando um grande volume de recursos com os royalties do
petrleo. Os royalties so uma das formas mais antigas de pagamento de direitos e propriedade. A
palavra royalty vem do ingls royal, que significa da realeza ou relativo ao rei. Originalmente,
designava o direito que o rei tinha de receber pagamentos pelo uso de minerais em suas terras,
conceito este que se estendeu no sc. XX a outras atividades extrativas de recursos naturais no
renovveis, como o petrleo e o gs natural.
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No caso brasileiro, os royalties do petrleo podem ser divididos nos royalties propriamente ditos e
nas participaes especiais, que representam uma forma de compensao diferenciada, proporcional
produo e rentabilidade de cada campo de petrleo (A produo de petrleo no Brasil teve
incio na dcada de 1940, aps a descoberta do campo de Lobato, em 1939, no Recncavo Baiano BA, que, no entanto, foi considerado no comercial. Dois anos mais tarde, foi descoberto o primeiro
campo comercial no Brasil, em Candeias, tambm no Recncavo. Em 1954, primeiro ano da
existncia da Petrobras, a produo nacional atingia cerca de 2,7 mil barris por dia. O choque de
preos do petrleo em 1973 lanou o desafio Petrobras de ampliar a produo interna de leo e
gs natural para reduzir os impactos da importao de petrleo sobre a balana comercial. Os
investimentos em explorao possibilitaram a descoberta de petrleo na Bacia de Campos, em
1974. O desenvolvimento da produo na plataforma continental foi resultado de um grande esforo
da Petrobras, que acabou por consolidar a companhia no cenrio internacional. Assim, com as
novas descobertas, sobretudo na Bacia de Campos, a produo nacional atingiu em 2005 o nvel de
1,63 milho barris de petrleo por dia e 18 milhes de m3 de gs natural. O Estado do Rio de
Janeiro, embora tenha sediado a Petrobras desde a sua fundao, comeou a pesar na indstria
petrolfera nacional somente aps as primeiras descobertas na Bacia de Campos, em 1974, e o incio
da produo em Enchova, em 1977. O desenvolvimento dos campos offshore e, em particular, a
descoberta dos campos gigantes da Bacia de Campos transformaram o estado no principal produtor
de petrleo do pas). Cada governo municipal prioriza alguns setores para os investimentos em
detrimento de outros, o que tem causado muita polmica nas diversas instncias governamentais.
Estes recursos tm o carter de compensar os municpios pelos possveis transtornos causados pela
atividade do petrleo, como consequncias ambientais, alm de promover atividades produtivas que
garantam dinamismo econmico aps o trmino da extrao.
As cidades de Campos e Maca atuam como centros regionais que se complementam. A primeira,
polarizando inclusive a Regio Noroeste Fluminense, sempre foi uma grande cidade da regio
devido sua importncia administrativa, ao escoamento do caf, produo de acar e aguardente,
e posteriormente, do lcool combustvel. Com o declnio da atividade aucareira, houve,
paralelamente, o desenvolvimento da atividade do petrleo, impedindo que ocorresse a sua
estagnao econmica. As marcas da sua consolidao so os servios urbanos, com destaque para
a educao tcnica e superior com atividades de pesquisa e mais de vinte mil matrculas. Entre as
instituies mais importantes esto o CEFET, a UENF e a Cndido Mendes. Maca, por sua vez,
ascende rapidamente como centro urbano, com um dos maiores PIB per capita do estado e, ainda,
estende a sua atuao at Cabo Frio, em virtude da atividade do petrleo, que promove um intenso
fluxo de mo de obra.
Tabela 4: Evoluo da populao de alguns municpios da Regio Norte Fluminense. Perodo 1991
2010
Municpio
1991
2000
Campos
Maca
376.306
100.895
406.989
132.461
Crescimento
(%) 1991 2000
8,15
31,28
2010
463.545
206.748
Crescimento
(%) 2000 2010
13,9
56,08
Fonte: Impactos regionais dos novos investimentos no Rio de Janeiro. Autor: Jos Lus Vianna da
Cruz, professor associado, UFF-Universidade Federal Fluminense
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Figura 5: No mapa acima, so apontados 16 municpios do Estado do Rio de Janeiro que recebem
royalties e participaes especiais. Ao todo, 85 dos 92 municpios deste estado se beneficiam destes
recursos. Fonte: Royalties do Petrleo e Desenvolvimento Municipal - Avaliao e Propostas de
Melhoria. Macroplan Prospectiva, estratgia e gesto, 2012.
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Figura 6: Participao dos Royalties nas Receitas Totais (2006)
Grfico 1: Evoluo do IDH para os municpios da Regio Norte Fluminense 1991/ 2000.
Fonte: Boletim n 10/ A evoluo do IDH Municipal nas Cidades da Regio Norte Fluminense no
perodo 1991-2000
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Regio Noroeste Fluminense
A Regio Noroeste Fluminense localiza-se na rea mais setentrional do interior fluminense.
composta por treze municpios: Itaperuna, Aperib, Bom Jesus de Itabapoana, Cambuci, Italva,
Itaocara, Laje do Muria, Miracema, Natividade, Porcincula, Santo Antnio de Pdua, So Jos do
Ub e Varre-Sai.
Atualmente a regio tem como atividade principal a agropecuria, sobressaindo a pecuria de
corte e leiteira. Esta ltima dinamizada pela indstria de laticnios, a multinacional italiana
Parmalat, que adquiriu a antiga fbrica do Leite Glria. O leite in natura fornecido por 1200
produtores da regio. Os produtos industrializados, leite pasteurizado em caixa, requeijo, doce de
leite etc. so distribudos em escala nacional.
A regio tambm a maior produtora de tomate do estado, com destaque para So Jos do Ub e
Itaperuna. A atividade cafeeira est sendo novamente inserida a partir de Minas Gerais, onde esto
localizadas as cooperativas que realizam as grandes vendas. Uma parte da produo destinada
exportao, sendo a principal rota o Porto de Vitria. Outra contribuio da regio a extrao de
rochas ornamentais em Santo Antnio de Pdua, que teve incio na dcada de 1950 e ganhou
projeo nos ltimos vinte anos.
O turismo da regio est em expanso e bem diversificado. Uma parte est voltada para a
memria da atividade cafeeira, com o turismo histrico e rural com os hotis-fazenda nas antigas
sedes. O turismo de aventura tem tambm o seu lugar, pois atrai pessoas que esto em busca de
serras, cachoeiras e rios que permitem a descida em botes. Porm, a localidade mais conhecida a
Estncia Hidromineral de Raposo, no municpio de Itaperuna.
O centro urbano regional Itaperuna, com 95.841 habitantes. Esta cidade est localizada num
entroncamento rodovirio, os setores de comrcio e de servios so dinmicos, com destaque para o
setor de sade, sobretudo na rea de cirurgia cardaca. As atividades tercirias de Itaperuna atendem
aos municpios da regio e ao sul de Minas, realizando, assim, uma polarizao regional que
ultrapassa os limites do estado.
No contexto fluminense, a regio do Noroeste Fluminense se insere como uma rea que teve o seu
auge econmico com o caf, nos sculos XVIII e XIX, e ainda sofre com a ausncia de atividades
dinmicas capazes de absorver grandes contingentes de mo-de-obra, e assim, fixar a populao.
Em algumas localidades observa-se o processo de xodo populacional (IBGE, censo de 2000), que
mesmo com o estmulo a novos negcios no est sendo freado.
Atualmente a regio responsvel por 1% do PIB estadual, sendo Itaperuna produtor de
34% do PIB regional (CEPERJ, 2004). Seu territrio composto por uma rede urbana bem
articulada, resultado do seu processo de ocupao efetiva mais recente, se comparada s demais
regies fluminenses. Este fato deve ser considerado na implantao de novos investimentos e de
polticas pblicas, que devem ter um carter cada vez mais regional.
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Grfico 2: Produto Interno Bruto da Regio Noroeste Fluminense (2008). Fonte: SEBRAE
Regio Serrana
A Regio Serrana marcada pela sua beleza e diversidade econmica no contexto do estado do Rio
de Janeiro, situando-se no interior deste. composta por quatorze municpios: Petrpolis, Nova
Friburgo, Terespolis, Bom Jardim, Cantagalo, Carmo, Cordeiro, Duas Barras, Macuco, Santa
Maria Madalena, So Jos do Vale do Rio Preto, So Sebastio do Alto, Sumidouro e Trajano de
Moraes.
A maior parte do seu territrio constituda pela formao geomorfolgica denominada escarpas e
reversos da Serra do Mar, que neste trecho recebe o nome de Serra dos rgos. Uma parte da regio
ainda apresenta cobertura florestal da Mata Atlntica.
A Serra do Mar responsvel pela diminuio das temperaturas e interfere na distribuio das
chuvas, contribuindo, assim, com a diversidade climtica do estado. Tal diversidade ambiental
potencializa o territrio da regio para diferentes usos, como nos setores agrcola, floricultura e
turstico. A criao de trutas, por exemplo, s possvel em rea de serra, pois as guas devem ser
limpas e muito frias, condies encontradas em Nova Friburgo. A regio serrana destaca-se no
contexto fluminense pelo seu perfil industrial e agrcola, pois sendo o quarto polo econmico,
responsvel por 2,2% do PIB estadual (IBGE, 2008). Abriga um significativo contingente
populacional, num total de 783.525 pessoas - 3% da populao do estado.
Nesta regio possvel perceber trs importantes processos: a consolidao e a diversificao da
atividade turstica, desenvolvimento da atividade agrcola e um novo dinamismo do setor industrial.
Embora as grandes indstrias txteis tenham fechado, ainda h as indstrias de gneros diversos,
como metalurgia, mecnica, matria-plstica, editorial e grfica, vesturio e txtil. Atualmente
existe uma especializao no setor de vesturio: em Friburgo h um grande nmero de fbricas de
lingerie, em Petrpolis prevalece o setor de confeces de roupa de tecido e em Terespolis
destacam-se fbricas de linha e de roupa de tric. As fbricas de lingerie trabalham em conjunto
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como um APL (Arranjo Produtivo Local), realizando compras e vendas de forma conjunta, alm de
exportar a produo para vrios pases.
Em Cantagalo a extrao de Calcrio e a produo de Cimento tiveram novos investimentos
de capital nacional e estrangeiro, mas o municpio foi desmembrado com a emancipao do distrito
de Macuco. O municpio de Petrpolis abriga vrias indstrias de alta tecnologia nas reas de
mecnica de avies e tica. Porm, nos ltimos anos ganhou importncia a produo de
equipamentos e programas de informtica (software). So empresas voltadas para o mercado
interno, mas exportam parte da produo. Na cidade encontra-se, ainda, um parque de alta
tecnologia, a FUNPAT, e, ainda, o Laboratrio Nacional de Computao Cientfica (LNCC) o
maior centro pblico de pesquisa e ensino neste setor. Esta atividade est sendo conduzida tambm
para Terespolis e Nova Friburgo. A Regio Serrana destaca-se atualmente pela produo agrcola,
principalmente de hortalias e legumes. A produo orgnica, hidropnica e de plantas medicinais
agregam mais valor s mercadorias. As reas de cultivo so os interiores dos municpios de Nova
Friburgo, Terespolis, Petrpolis, Duas Barras, Bom Jardim, Sumidouro, So Sebastio do Alto e
So Jos do Vale do Rio Preto. A maior parte dos alimentos comercializada em Nova Friburgo e
consumida nas regies Metropolitana e das Baixadas Litorneas.
Esta regio , ainda, a maior produtora estadual de flores, leite de cabra e truta. O municpio
de Nova Friburgo o maior produtor, encontrando-se ainda em suas terras a Queijaria Escola, que
transforma o leite de cabra em leite em p e em queijos mais sofisticados. O turismo sempre foi
uma atividade desenvolvida na regio, os atrativos so muitos: a bela paisagem da serra, a floresta
de encosta da Mata Atlntica preservada, o clima frio, os pratos culinrios de origem alem e sua
(com chocolates e queijos) e o comrcio de lingerie, roupa de tric e tecido. Porm, o ponto
turstico mais importante a cidade histrica de Petrpolis, com palcios, praas e igrejas da poca
em que o Brasil era um Imprio, alm da casa de Santos Dumont. A regio tambm possui vrios
pequenos centros urbanos tursticos como Itaipava (em Petrpolis), Muri, Lumiar e So Pedro da
Serra (em Nova Friburgo). Por tudo isto a regio apresenta muitos hotis, restaurantes e lojas que
atendem aos turistas e empregam a mo-de-obra local. As cidades de Petrpolis e Nova Friburgo
so as cidades mais importantes, com os maiores valores do PIB; logo a seguir vem Terespolis. O
comrcio e a prestao de servios (bancos, hospitais, escolas, escola agrcola e universidades)
atendem toda regio. O Mercado do Produtor em Friburgo serve para concentrar e vender a
produo agrcola de vrios municpios serranos. Alguns municpios, que at a crise do caf
estavam decadentes, esto crescendo com a agropecuria e o turismo histrico, com hotisfazendas.
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Grfico 3: Produto Interno Bruto da Regio Serrana Fluminense (2008). Fonte: SEBRAE
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Uma atividade que desponta como um importante gerador de postos de trabalho e renda o turismo.
Um dos principais fatores para o Centro Sul Fluminense ser considerado uma localidade turstica
tm muito a ver com a presena de antigas fazendas de caf no Vale do Paraba, que foram
transformadas em hotis-fazenda. Elas atraem os turistas que valorizam a histria do interior do
estado e a vida no campo. Outro elemento a condio climtica serrana, apresentando
temperaturas mais baixas do que as da Regio Metropolitana.
O turismo-veraneio em casas e stios ocorre, sobretudo, em Miguel Pereira, Mendes, Engenheiro
Paulo de Frontin e Vassouras. Alm disso, o turismo de aventura tem tambm o seu lugar, como por
exemplo nas descidas de rios (especialmente o rio Paraibuna) em botes e caminhadas em trilhas por
dentro da rea de floresta.
Todas essas atividades so facilitadas pela proximidade com a capital e pela estrutura viria da
regio, que servida por ferrovia e pelas rodovias BR-040 (Rio-Braslia), BR-116 e BR-393. A
primeira aproveitou alguns trechos da antiga Estrada Unio-Indstria. A ltima atravessa a regio
em vrios municpios, de forma paralela ao rio Paraba do Sul.
Os centros urbanos principais so Trs Rios e Vassouras, que apresentam comrcio (lojas e
mercados) e servios (banco, correio, servio mdico, escola e universidade), que atendem aos
demais municpios da regio. A cidade de Trs Rios um centro industrial e um importante
entroncamento rodovirio, ferrovirio e hidrovirio. Vassouras, uma cidade que foi muito prspera
no sculo XIX, em virtude do caf, hoje se destaca pelo turismo e o ensino universitrio de
qualidade.
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Grfico 4: Produto Interno Bruto da Regio Serrana Fluminense (2008). Fonte: SEBRAE
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Silva Jardim, Rio Bonito e Cachoeiras de Macacu. Estes se originaram do desmembramento do
antigo bloco poltico-territorial de Cabo Frio e ainda hoje so polarizados por esta cidade.
O litoral desta regio marcado por uma rea de baixa pluviosidade em torno de Araruama, Cabo
Frio e Arraial do Cabo, se assemelhando a um clima semirido. Trata-se de uma excepcionalidade
dentro do contexto de clima quente e mido do Sudeste. Entre os fatores para tal acontecimento
destacam-se o vento nordeste (NE) constante e o fenmeno de ressurgncia. Este fenmeno referese ao afloramento no local de guas martimas frias, de origem profunda. A gua fria interfere na
dinmica atmosfrica local, estabelecendo ventos e dificultando a formao de nuvens e chuva.
Alm disso, esta corrente martima fria traz plnctons organismos marinhos que servem de
alimento para vrios tipos de peixes proporcionando o aumento da diversidade e da quantidade da
fauna marinha, fato que explica a excelente piscosidade deste trecho do litoral fluminense.
A partir dos anos 1990, a regio das Baixadas Litorneas tem apresentado a maior taxa de
crescimento populacional, constituindo-se numa rea de chegada de migrantes oriundos da Regio
Metropolitana e do Norte Fluminense. No primeiro caso, a migrao est relacionada opo de
pessoas terem uma segunda residncia, possibilidade de trabalho na construo civil e/ou em
atividade terciria.
As pessoas oriundas da Regio Norte Fluminense tm se instalado principalmente em Rio das
Ostras, Cabo Frio e Casimiro de Abreu, atradas pelas atividades de turismo, de extrao e
beneficiamento do petrleo e do gs em Maca. Como este municpio prximo Regio das
Baixadas Litorneas e tem um custo de vida elevado, muitos trabalhadores escolheram os referidos
municpios como moradia pela sua infraestrutura e menores valores imobilirios.
A atividade de petrleo na plataforma de Campos tem proporcionado o recebimento de grande
volume de recursos de royalties para os municpios litorneos desta regio. No entanto, este volume
de capital no se traduz em grandes benefcios para os habitantes, observando-se o crescimento
exacerbado da rea urbana sem o planejamento adequado, e criando grandes demandas nos setores
de infraestrutura, sade, educao e segurana.
O aumento da poluio das guas na lagoa de Araruama to grave que j compromete a
balneabilidade nas praias lacustres e a produo de sal. O aumento do volume de gua doce jogado
na lagoa em virtude do crescente abastecimento de gua dos stios urbanos circunvizinhos diminuiu
a sua salinidade e compromete mais ainda este quadro.
fundamental salientar que a sociedade civil no est passiva diante deste quadro, desde os
anos 70 as associaes de moradores lutam para preservar as lagoas, os ecossistemas, expandir a
rede de abastecimento de gua e implantar todo o sistema de esgotamento sanitrio.
Tabela 6: Evoluo da populao de alguns municpios da Regio das Baixadas Litorneas. Perodo
1980 2010
Municpio
1980
1991
2000
Araruama
Cabo Frio
Rio das Ostras
49.827
70.961
-
59.024
84.915
-
82.803
126.828
36.419
Crescimento
(%) 2000 1980
66
78,72
-
2010
112.008
186.227
105.676
Crescimento
(%) 2010 2010
35,27
46,8
190,2
Fonte: Impactos regionais dos novos investimentos no Rio de Janeiro. Autor: Jos Lus Vianna da
Cruz, professor associado, UFF-Universidade Federal Fluminense
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Fonte: Impactos regionais dos novos investimentos no Rio de Janeiro. Autor: Jos Lus Vianna da
Cruz, professor associado, UFF-Universidade Federal Fluminense
Grfico 5: Produto Interno Bruto da Regio das Baixadas Litorneas (2008). Fonte: SEBRAE
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principais polos urbanos com atividades industriais, comerciais e de servios que atendem toda
regio.
A produo do espao geogrfico pela atividade do caf nos sculos XVIII e XIX transformou
profundamente o Vale do Paraba com os seguintes resultados: expulso das comunidades
indgenas, um intenso desmatamento, uma prtica de cultivo desordenada levando o caf para uma
constante migrao para novas reas e o esgotamento dos solos. Houve ainda a implantao de toda
uma estrutura com a implantao de latifndios escravocratas, estradas, ferrovias, portos e cidades.
Deve-se ao dinamismo gerado com o caf o intenso desmembramento municipal, com a criao dos
municpios de Valena, Barra Mansa, Pira e Rio Claro, na primeira metade do sculo XIX, e Barra
do Pira e Rio das Flores na ltima dcada.
O posterior declnio do caf deixa como herana, alm de solos desgastados, toda a estrutura
remanescente, como as antigas propriedades, as redes ferroviria e rodoviria e a rede de cidades.
Estes objetos geogrficos passam a exercer novas funes e representam infraestrutura para outras
atividades.
Aps a derrocada da economia cafeeira, desenvolveram-se a indstrias de produtos alimentares, de
maneira mais expressiva a de laticnios ligada pecuria leiteira. A economia do interior do estado
do Rio de Janeiro, em especial da Regio do Mdio Paraba permaneceu com pouca expresso na
Repblica Velha, at os anos 30, na Era Vargas. A implantao da indstria siderrgica foi um
importante marco na realizao do projeto urbano-industrial do governo, com destaque para a
Siderrgica Barra Mansa em 1937 e a Companhia Siderrgica Nacional (CSN), no distrito de Volta
Redonda, em Barra Mansa em 1946. O distrito de Volta Redonda foi emancipado em 1954.
A grande vantagem de Volta Redonda, era ser uma grande rea de convergncia de rodovias e
ferrovias, que facilitava o abastecimento de matrias-primas de Minas Gerais, o escoamento da
produo para So Paulo e Rio de Janeiro, alm de possuir grande oferta de recursos hdricos e
energia. No entorno da siderrgica CSN, articulam-se metalrgicas e outras indstrias que do
suporte atividade.
Nos anos 1990, a CSN foi privatizada, com o quadro de funcionrios cortado em dois teros. Porm
permanece at os dias de hoje como a maior siderrgica da Amrica Latina. Atualmente, produz
tambm para o exterior, arrendando, para tanto, o porto de Itagua, alm de utilizar os portos do Rio
de Janeiro e de Angra dos Reis para importao e exportao.
O setor de comrcio e servios est relacionado no s expanso industrial como s atividades de
lazer e turismo nas localidades de Penedo (colonizao finlandesa), Visconde de Mau, entre outras.
Esta atividade teve como importante vetor o estabelecimento do Parque Nacional de Itatiaia, o
primeiro do Brasil, criado em 1937.
O turismo da regio est voltado tambm para a memria da atividade cafeeira. As cidades de
Valena, Conservatria, Barra do Pira, Rio das Flores, entre outras, so chamadas de Vale do
Caf pela Turisrio. O forte o turismo histrico e rural, com hotis-fazenda (nas antigas sedes),
haras, serestas e pesque-pagues constituindo-se em novas funes para as antigas formas
geogrficas.
O Mdio Paraba apresentou um dos maiores ndices de crescimento econmico do pas nos
ltimos anos. O setor mais importante foi o industrial nos seguintes ramos: Siderrgico; qumico;
automotivo, pela presena das fbricas de caminhes da Volkswagem e a recente instalao da
Nissan, ambas em Resende e a francesa Peugeot-Citron e empresas fornecedoras que formam um
parque industrial em Porto Real; bebida (em Pira); mecnico, com destaque para a Xerox (em
Resende); alm do enriquecimento de urnio pela Fbrica de Combustvel Nuclear das Indstrias
Nucleares do Brasil - INB (Resende). A presena dos centros universitrios da UERJ e da UFF e de
escolas tcnicas so elementos fundamentais na qualificao da mo-de-obra e produo do
conhecimento. A prefeitura de Pira foi premiada e denominada cidade digital em virtude da
instalao de computadores com acesso internet para a populao em vrios locais pblicos.
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A regio em questo sofreu importantes transformaes: as privatizaes da CSN e da Light e a
implantao de novas estruturas industriais. Tais processos de modernizao ocorreram e ocorrem
sob a gide do Neoliberalismo e da Reestruturao Produtiva, que tem como uma das caractersticas
a descentralizao geogrfica da produo. Desta forma, a produo do espao geogrfico da
Regio do Mdio Paraba est inserida no recente processo de descentralizao produtiva do estado
do Rio de Janeiro.
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Grfico 6: Produto Interno Bruto da Regio do Mdio Paraba do Sul (2008). Fonte: SEBRAE
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Regio da Costa Verde
A regio est localizada na poro sul do estado e tem com centro regional a cidade de Angra
dos Reis, localidade que se desenvolveu, desde os primrdios do perodo colonial, em funo das
atividades aucareira, do cultivo da banana, e das atividades porturia, industrial e turstica. Os
municpios que fazem parte desta unidade do estado so, Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty.
O territrio da regio formado pela Serra do Mar, que nesse trecho se aproxima muito do mar
formando um litoral escarpado, com enseadas, praias em arco, plancies em pequenas extenses
cortadas por inmeros rios, que descem da serra. So identificadas duas baas: a baa da Ilha
Grande, com centenas de ilhas e a baa de Sepetiba, parcialmente fechada pela restinga de
Marambaia (esta ainda preservada pela ocupao do exrcito). um litoral com clima quente e
chuvoso a maior parte do ano. Nas encostas da serra so encontradas extensas pores de mata de
encosta do Bioma Mata Atlntica, atualmente preservadas devido implantao de diferentes
categorias de unidades de conservao ambiental: Parque Nacional da Serra da Bocaina, rea de
Proteo Ambiental (APA) de Mangaratiba, APA de Cairuu, Parque Estadual da Ilha Grande, entre
outros.
O espao geogrfico da regio foi produzido pelas atividades implantadas e as intervenes do
Estado, sobretudo da esfera federal. A atividade da cana-de-acar se desenvolveu nas plancies em
toda a regio no perodo colonial, seu dinamismo originou as grandes fazendas, os centros
comerciais e os portos.
Paraty teve seu perodo ureo no sculo XVIII, enquanto cidade porturia da rota do ouro que era
extrado das Minas Gerais. Novos traados no caminho entre a regio produtora e o porto do Rio de
Janeiro foram responsveis pela sua perda de dinamismo, pois excluram Paraty e passaram a
atravessar o Recncavo da Guanabara. A arquitetura e o tecido urbano permaneceram, agora com
novas funes ligadas ao turismo.
Os portos da regio tiveram papel importante no escoamento de mercadorias durante o perodo
do caf. Esta atividade desenvolvida principalmente no Vale do Paraba, foi responsvel pela
construo de estradas entre as reas produtoras e os portos e pelo crescimento das cidades da
regio, at a construo da malha ferroviria na segunda metade do sculo XIX.
A regio j foi a maior produtora de banana do pas nos anos 1950 e 1960, com produo para o
mercado interno e externo. As condies fsicas da regio so propcias para este cultivo, com
chuvas abundantes, poucos ventos e muitas encostas. A sua decadncia comeou com a construo
da BR 101 (Rodovia Rio - Santos) na dcada de 1970, que articulou esta rea com o centro
metropolitano e potencializou a sua insero no estado do Rio de Janeiro como rea turstica. A
valorizao das terras foi muito rpida assim como a disseminao de hotis, manses e
condomnios de elite. Outro fator importante foi o estabelecimento de vrias unidades de
conservao ambiental proibindo a prtica agrcola.
A atividade industrial muito importante na rea, destacando-se o setor naval, sobretudo o Estaleiro
Verolme, de grande porte. Recentemente este estaleiro foi arrendado pelo grupo de Cingapura Fels
Setal, inserindo-se na revitalizao da indstria naval, impulsionada pela atividade de extrao do
petrleo.
Os investimentos do Governo Federal na regio foram os responsveis pela implantao de
estruturas fundamentais: Como o Colgio Naval nos anos 1950, a estrada BR-101, a Usina Nuclear
de Angra dos Reis, nos anos 1970, e o Terminal porturio de petrleo da Petrobrs nos anos 1980.
Entre as grandes estruturas privadas dos anos 1970, esto o Terminal Porturio de minrio MBR em
Mangaratiba e o Estaleiro Verolme em Angra dos Reis.
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importante salientar que os Portos de Angra dos Reis e Itagua - Em 1973, o governo do ento
estado da Guanabara promoveu estudos para a implantao do porto de Itagua, destinado a atender,
principalmente, ao complexo industrial de Santa Cruz (RJ). Com a fuso dos estados da Guanabara
e do Rio de Janeiro, em 15 de maro de 1975, a implantao do porto ficou a cargo da Companhia
Docas do Rio de Janeiro. As obras de construo do per foram iniciadas em 1976, seguidas em
1977 pela dragagem, enrocamento e aterro hidrulico. O porto foi inaugurado em 7 de maio de 1982
- esto diretamente articulados atividade da CSN - Companhia Siderrgica Nacional sediada em
Volta Redonda, na Regio do Vale do Paraba. Estes portos so interligados s linhas frreas, que
so utilizadas pela usina para o abastecimento de minrio e o escoamento das bobinas de ao.
A regio se consolida com vrias atividades que promovem o desenvolvimento urbano-industrial e
turstico. Muitas delas entram em conflito direto com as atividades tradicionais na regio, como
pode ser visualizado a seguir.
- Ascenso do turismo - pode-se afirmar que uma atividade em pleno crescimento, com a presena
de inmeras pousadas, grandes redes nacionais e internacionais de hotis e condomnios de elite,
que fazem da regio um importante centro turstico nacional e internacional.
- Ampliao da indstria naval o dinamismo dos estaleiros ali instalados est articulado
expanso da indstria petrolfera brasileira na construo e reparo das plataformas e navios. uma
atividade que se caracteriza pelo uso de mo-de-obra em larga escala, so milhares de novos
empregos, promovendo assim o dinamismo e o crescimento das reas urbanas da regio.
- Agravamento dos conflitos de uso do territrio o crescimento dos nmeros de marinas para
aporte de barcos, a construo de novos condomnios e campings, os derrames de leo e minrio na
orla, alm do lanamento de esgoto domstico e rejeitos industriais pem em risco o meio ambiente
e a ocupao dos pescadores das inmeras colnias ali presentes. A atividade turstica voltada para
a elite convive de forma tensa com as reas ocupadas pelas classes de menor renda, como os
campings e os bairros de operrios e pescadores.
- Internacionalizao implantao de hotis de redes internacionais, a fama da Ilha Grande,
como rea de ecossistemas preservados do Bioma Mata Atlntica, e de Paraty, com eventos
literrios de abrangncia internacional.
Grfico 7: Produto Interno Bruto da Regio da Costa Verde (2008). Fonte: SEBRAE
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Regio Metropolitana
Hoje, a Regio Metropolitana do Rio de Janeiro composta por 21 municpios, dentre eles: Rio de
Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itabora, Japeri, Mag, Nilpolis, Niteri,
Nova Iguau, Paracambi, Queimados, So Gonalo, So Joo de Meriti, Seropdica, Mesquita e
Tangu. A Regio Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) concentra 74% da populao do estado
(40% na Capital), 76% do emprego do estado (57% na Capital) e 68% das empresas do estado (49%
na Capital).
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Grfico 8: Produto Interno Bruto da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro (2008). Fonte: SEBRAE
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regies fluminenses. Porto das Caixas, que at hoje mantm essa denominao, escoava a produo
agrcola local e das regies prximas, sendo o acar exportado em caixas, da a razo do nome.
Com a inaugurao da estrada de ferro Cantagalo, penetrando o serto fluminense, o porto
perdeu sua importncia comercial, refletindo o seu abandono na economia de Itabora. Houve,
ainda, uma febre endmica que grassava em toda a regio rural, dizimando parte da populao
escrava e acelerando o declnio da agricultura no municpio. Aps dcadas, algumas indstrias ali se
fixaram e os ruralistas passaram a dedicar-se cultura de ctricos. Itabora se destaca pela beleza e
imponncia de seus monumentos arquitetnicos, remanescentes do perodo colonial e imperial
brasileiro. A cidade-sede ainda hoje guarda recordaes daquelas pocas de prosperidade em
construes como a Cmara Municipal e o Teatro Joo Caetano, entre outras.
O municpio tem uma rea total de 430,4 quilmetros quadrados, correspondentes a 8,1% da
rea da Regio Metropolitana. Os limites municipais, no sentido horrio, so: Guapimirim,
Cachoeiras de Macacu, Tangu, Maric, So Gonalo e baa de Guanabara. Em 2010, de acordo
com o censo, Itabora tinha uma populao de 218.008 habitantes, correspondente a 1,8% do
contingente da Regio Metropolitana, com uma proporo de 95 homens para cada 100 mulheres. A
2
densidade demogrfica era de 506,5 habitantes por km , contra 2.221,8 habitantes por km de sua
regio. A taxa de urbanizao correspondia a 98% da populao. Em comparao com a dcada
anterior, a populao do municpio aumentou 16,3%, o 29 maior crescimento no estado.
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bilhes o maior atualmente em andamento no Brasil prev que sejam instaladas em Itabora uma
Unidade de Produo de Petroqumicos Bsicos UPB - e as Unidades de Petroqumicos
Associados UPAs -, bem como a Central de Utilidades UTIL, enquanto So Gonalo abrigar a
Central de Escoamento de Produtos Lquidos CEPL, e o Centro de Integrao, destinado a
implementao de programas de capacitao profissional. O investimento contar ainda
com a participao do BNDES e de scios privados, com incio da implantao no ano de 2008 e da
operao em 2015.
O COMPERJ se constitui de uma unidade petroqumica de refino de 1 gerao e um conjunto de
unidades de 2 gerao que funcionaro de forma integrada. A unidade de refino de 1 gerao,
denominada Unidade de Petroqumicos Bsicos - UPB refinar at 150 mil barris de petrleo
pesado produzido na Bacia de Campos (Campo de Marlim) e produzir eteno, benzeno, p-xileno e
propeno. Cerca de 40% da produo da UPB ser comercializada diretamente, inclusive para o
mercado externo. Nas unidades de 2 gerao, denominadas de Unidades de Petroqumicos
Associados UPAs, est prevista a transformao de parte desses insumos petroqumicos em
resinas termoplsticas. Est prevista tambm a construo de uma Central de Utilidades UTIL que
ser responsvel pelo fornecimento de gua, vapor e energia eltrica necessrios para a operao do
COMPERJ. A planta produtiva do COMPERJ ser erguida nos municpios de Itabora (UPB e
UPAs) e So Gonalo (Central de Escoamento de Produtos Lquidos - CEPL), ambos localizados na
Regio Metropolitana do Rio de Janeiro. Para a fase de implantao, dados da Petrobras apontam
para um horizonte de oito anos, com previso de finalizao da construo e incio da operao em
2015
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Figura 9: Em amarelo a rea de influncia direta do projeto. Composta pelos municpios citados
pela Petrobras como aqueles que sero diretamente impactados pelo empreendimento - considera
um universo de sete municpios. Em azul, a rea de influncia indireta. Adiciona relao de
municpios j citados aqueles que tambm foram includos no Estudo de Impacto Ambiental/
RIMA elaborado para obteno de licena ambiental e os que sero cortados pelo Arco
Metropolitano, infraestrutura logstica que agregar competitividade para atrao de
investimentos - considera um universo de vinte e trs municpios. Fonte: Estudos para o
Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro COMPERJ/ Potencial de Desenvolvimento
Produtivo. Sistema FIRJAN e Fundao Getlio Vargas. Nmero 1, maio 2008.
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O Arco Metropolitano
O Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, ou simplesmente Arco Metropolitano, teve suas obras
iniciadas no ano de 2009. Com uma extenso de 145 km, far a ligao entre outras principais
rodovias que cruzam os municpios litorneos do Rio de Janeiro: Via Dutra (BR - 116); BR 465;
Rodovia Rio - Santos (BR 101); Rodovia Rio Vitria (BR -101); Rodovia Rio Terespolis
(BR - 116) e Rodovia Washington Lus (BR 040), e entre uma ferrovia, com a finalidade de
interligar polos industriais de grande porte que sero implantados na Regio Metropolitana do Rio
de Janeiro.
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Figura 10 - Arco Rodovirio da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro Segmentos A, B, C, D
Fonte: RIMA Projeto de Implantao do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro BR 493/ RJ 109.
Do sculo XVI ao sculo XVII, a cidade do Rio de Janeiro se constitua basicamente num ponto
de defesa do litoral sudeste brasileiro. A estreita entrada da Baa de Guanabara servia para a defesa,
enquanto que o extenso litoral e as guas tranquilas da baa favoreciam a construo de diversos
portos e a pesca. O clima tropical mido, a Mata Atlntica e os macios litorneos constituam,
fonte de guas, madeira, rochas para construo civil e produtos para explorao extrativista. Tais
fatores ambientais mostraram-se extremamente favorveis instalao da cidade, inicialmente no
Morro Cara de Co, no lado oeste da entrada da baa, e posteriormente na altura da Praa XV, entre
os morros do Castelo, Santo Antnio, So Bento e da Conceio (rea hoje designada como o
Corredor Cultural do centro da cidade do Rio de Janeiro).
A transferncia da sede do poder poltico colonial brasileiro para o Rio de Janeiro em 1763, a vinda
da famlia real portuguesa para o Brasil em 1808 e a independncia em 1822 fizeram crescer a
importncia, a populao e os limites da cidade com o surgimento de novos bairros. A partir de
meados do sculo XIX, a urgncia em implantar meios de transporte para esses novos bairros levou
construo de ferrovias em direo Zona Norte (E.F. Leopoldina) e Zona Oeste (E.F. Central
do Brasil) onde surgiram diversos bairros populares. As reas mais prximas do Centro foram
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beneficiadas com a construo de bondes (bairros da Zona Sul, Santa Teresa, Tijuca e Mier, este
ltimo tambm atendido por ferrovias).
Cabe destacar que, historicamente, os bairros surgidos ao longo das redes ferrovirias foram menos
favorecidos pelos investimentos para a instalao de servios pblicos (como escolas e hospitais) e
infraestrutura (gua, saneamento, pavimentao, drenagem urbana etc.). Os bairros mais elitizados
(concentrando populao de renda mdia e alta), mais prximos ao centro, sempre foram priorizados neste aspecto, resultando em reas mais valorizadas e melhor atendidas pelo poder pblico.
O surgimento de novos bairros residenciais mais afastados levou a um esvaziamento de antigos
casares da rea mais antiga da cidade. Alguns foram convertidos em prdios comerciais e muitos
outros em casas de cmodos (cortios). As ruas estreitas, no pavimentadas, a ausncia de
saneamento bsico e a deficiente infraestrutura de transporte e energia transformaram o centro do
Rio em um espao insalubre e decadente ao fim do sculo XIX. A opo poltica feita para reverter
este aspecto foi a realizao de grandes reformas urbanas no centro da cidade, no incio do sculo
XX: alargamento de ruas (como a Av. Primeiro de Maro), a construo de novas avenidas, como a
Av. Rio Branco (inicialmente chamada de Avenida Central) e, posteriormente demolio de
diversos morros (como o do Senado, do Castelo e de Santo Antnio) e a realizao de grandes
aterros litorneos, a fim de ampliar a zona porturia e os acessos virios (Av. Beira Mar, Aterro do
Flamengo, aeroporto Santos Dumont etc.).
A demolio do casario antigo no centro da cidade deu lugar a grandes avenidas, a prdios pblicos
e privados. A implantao das redes de infraestrutura de transporte, saneamento bsico e energia
trouxe a esta regio central um aspecto mais civilizado, salubre e moderno. No entanto, tais
procedimentos foram extremamente criticados por terem negligenciado a populao de baixssima
renda que habitava os cortios. Grande parte dessa populao no dispunha de recursos para
comprar casas em outras reas ou no desejava morar nos bairros populares afastados do centro.
Estas pessoas tinham necessidade de morar em reas prximas ao mercado de trabalho e que
oferecessem benefcios pblicos (hospitais, escolas etc.). Muitos aproveitaram os restos de
demolies para construir residncias precrias nas encostas dos morros e macios da regio
central, o que resultou na consolidao do processo de favelizao dessas reas.
A partir da dcada de 1940, muitos novos elementos entraram em pauta para compreender os
processos urbanos no Rio de Janeiro. A industrializao intensificou-se no pas, sobretudo aps os
anos 1950. Este fato estimulou a construo de grandes rodovias na periferia da cidade, a fim de
criar eixos para implantao de infraestrutura que atrasse indstrias, como ocorreu ao longo da
Avenida Brasil e da Rodovia Presidente Dutra.
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Figura 11: Acima, local de fundao da cidade do Rio de Janeiro (Morro Cara de Co, local de transferncia da
cidade (Morro do Castelo) e direes de expanso da cidade. Fonte: CEPERJ, 2006.
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Figura 12: A fria demolidora nos planos de remodelao urbana do prefeito Pereira Passos. Um
barraco de menos. O Malho, 31.3.1903 K. Lixto.
Tabela 7: rea territorial e dimenses dos principais elementos da paisagem natural - Municpio
do Rio de Janeiro - 2009
rea (Km)
rea territorial
1 224,56
rea (Km)
152
105
35
Altitude (m)
2
1 025
1021
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Macio do Gericin-Mendanha (Ponto culminante
- Pico do Guandu)
974
rea
(Km)
Permetro (Km)
(2)
2,32
0,08
4,11
4,19
3,45
0,14
7,38
1,43
16,24
23,41
37,71
5,39
30
Imagem 13: Mapa com a diviso das Regies Administrativas do Municpio do Rio de janeiro. Fonte: IPP
Instituto Pereira Passos
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Imagem 14: O municpio do Rio de Janeiro detm parcela significativa da populao na RMRJ .
Fonte: A cidade do Rio de Janeiro no contexto demogrfico metropolitano em 2010. Notas Tcnicas
IPP/ Instituto Pereira Passos, Novembro de 2012. Nmero 10.
O Censo Demogrfico de 2010 visitou 2,1 milhes de domiclios, encontrando 6,3 milhes de
moradores na cidade, o que corresponde a um crescimento de 16,7% no nmero de domiclios e
7,8% da populao no perodo intercensitrio. J a taxa mdia geomtrica anual de crescimento
(0,76%) permaneceu praticamente no mesmo patamar da dcada anterior (0,74%).
Grfico 9: Caractersticas demogrficas do Municpio do Rio de Janeiro e suas Regies Administrativas -2010.
Notas Tcnicas IPP/ Instituto Pereira Passos, Setembro de 2013. Nmero 20.
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Principais intervenes:
a demolio do Elevado da Perimetral,
a transformao da atual Rodrigues Alves em via expressa
a construo da via Binrio do Porto, que cortar toda a regio da altura da Praa Mau at
a Rodoviria Novo Rio.
Sero reurbanizadas mais 5 milhes de m, 70 km de vias, reconstrudas 700 km de redes de
infraestrutura urbana (gua, esgoto, iluminao, drenagem e telecomunicaes), implementadas
17 km de ciclovias e 15.000 rvores plantadas. O cone da requalificao da rea a construo
do Museu do Amanh, com inaugurao prevista para 2014. Tambm na Praa Mau foi
inaugurado o Museu de Arte do Rio (MAR), que junto da Escola do Olhar, se tornar referncia
para a arte e o conhecimento.
Em conjunto com a transformao da rea de 5 milhes m vem a tarefa de preservar a identidade e
as caractersticas dessa regio. O Porto Maravilha quer garantir que a populao se beneficie da
requalificao para melhorar sua qualidade de vida sem sair da rea. Juntos, os programas Porto
Maravilha Cidado e Porto Maravilha Cultura complementam a operao urbana, mostrando que
vivel recuperar os espaos urbanos degradados para construir uma cidade que respeita cultura,
histria, e meio ambiente.
Cabe Companhia de Desenvolvimento do Porto (CDURP) a articulao entre os demais rgos
pblicos e privados e a Concessionria Porto Novo - que executa obras e servios nos 5 milhes m
da rea de Especial Interesse Urbanstico (AEIU) da Regio do Porto do Rio. Enquanto gestora da
operao, a CDURP presta contas Comisso de Valores Mobilirios (CVM) e participa da
aprovao de empreendimentos imobilirios em grupo tcnico da Secretaria Municipal de
Urbanismo (SMU). Tambm o rgo que tem a responsabilidade de disponibilizar parte dos
terrenos em sua rea para o mercado.
A demolio do Elevado da Perimetral, que tinha uma circulao diria de aproximadamente 40 mil
veculos, segundo a tica de um grupo de arquitetos soluciona um problema que afeta diretamente a
esttica da cidade e prejudicava demasiadamente a adequada utilizao da Avenida Rodrigues
Alves para o lazer dos moradores. A demolio da Perimetral foi custeada por verbas privadas
oriundas de Contrato de Parceria Pblico-Privada e a via ser substituda pelas 6 pistas que abrem
em leque na praa do pedgio (no constante no projeto) da nova Via do Binrio em construo.
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Outros recursos, tambm privados, advm da venda de Cepacs (Certificados de Potencial Adicional
Construtivo) aos interessados em construir alm do Gabarito previsto para a rea. Tal modalidade
de Concesso s foi possvel graas Constituio Federal de 1988, artigos 182 e 183, e iniciativa
da Prefeitura carioca em pr em prtica instrumentos recentes criados pela Lei n 10.257 de 2001, o
Estatuto das Cidades, dentre os quais a Operao Urbana Consorciada (art. 32), a criao das reas
de Especial Interesse Urbanstico, e os referidos Cepacs (art. 34); instituindo, assim, atravs da Lei
Complementar Municipal n 101 de 2009, a Operao Urbana Consorciada da rea de Especial
Interesse Urbanstico da Regio do Porto do Rio de Janeiro
O Projeto Porto Maravilha se divide em 2 Etapas: A 1 j foi concluda e levada a efeito pela
Secretaria Municipal de Obras e o Consrcio Sade-Gamboa com verbas pblicas no montante de
R$ 139 milhes. A 2 Etapa, no valor de R$ 7,6 bilhes custeada por capital privado, formada por
15 Fases executadas no mbito de um contrato de Parceria Pblico-Privada [PPP] celebrado entre
a Concessionria Porto Novo S/A [Norberto Odebrecht, Carioca Christian - Nielsen Engenharia e
OAS Engenharia] e a CDURP - Companhia de Desenvolvimento Urbano da Regio do Porto do
Rio de Janeiro S/A.
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Acima, imagens 15 e 16: Cenas da demolio do Elevado da Perimetral. Abaixo, rea de abrangncia das
intervenes do projeto Porto Maravilha.
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Tabela 8: Principais investimentos no Municpio do Rio de Janeiro, no perodo 2010 2012. Fonte: Deciso Rio
2010 2012. Sistema FIRJAN.
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O local que atesta a origem da favela , segundo o geografo Mauricio de Almeida Abreu, o morro
de Santo Antnio, que se localizava no Centro do Rio de Janeiro. Sua ocupao est vinculada a
tentativa de contornar o problema referente ao alojamento de tropas na cidade, na ltima dcada do
sculo XIX, que diante das crises polticas advindas com a Repblica, concentrou um maior nmero
de militares. Inicialmente foi autorizada a ocupao do Convento de Santo Antnio e
posteriormente foi concedida aos praas a autorizao para construrem barraces de madeira numa
das encostas daquele morro.
Com o passar do tempo, o nmero de barraces aumenta, como constatou um comissrio de
higiene, o que chama a ateno da imprensa que denuncia o surgimento de um bairro novssimo,
construdo sem licena das autoridades municipais e em terrenos do Estado...
Com as transformaes na forma urbana da capital do pas, levadas a cabo na primeira dcada do
sculo XX, a crise habitacional j instalada amplia-se, uma vez que um dos objetivos a serem
alcanados pela administrao pblica a poca, era a erradicao das habitaes coletivas (casas de
cmodos, estalagens e cortios) percebidos como os espaos responsveis pela disseminao de
epidemias e portanto, alvos preferenciais de denncia e condenaes pelo discurso mdicohigienista.
A populao alojada nestas habitaes buscou outras opes: uma parcela dirigiu-se para os
subrbios e, para aqueles que no podiam arcar com os gastos de transporte e necessitavam
permanecer nas proximidades de seus locais de trabalho a alternativa foi os cortios remanescentes.
Todavia o aumento do valor dos aluguis empurra esse contingente para as encostas dos morros da
cidade.
durante a reforma urbana que a favela se expande na cidade. E com o trmino desta reforma a
imprensa peridica destaca a presena de um novo elemento na fisionomia do Rio de Janeiro, uma
forma de habitao popular que a marcaria profundamente. A favela contrastava com as amplas
avenidas e novos edifcios e imprensa caberia papel crucial no processo de construo social
daquele espao na primeira dcada do sculo XX.
Data do perodo entre 1893/1894 a associao do termo favela s imagens de perigo e crime,
generalizadas pela imprensa constituindo-se nas primeiras representaes da favela como lugar
marcado pela violncia.
Alm da imprensa, cabe destacar o papel de profissionais de outras reas, como a Medicina e a
Engenharia que descrevem e propem intervenes nestes espaos. O papel de algumas entidades
na construo de um discurso sobre as favelas, como o Rotary Club do Rio de Janeiro, uma das
associaes profissionais da elite empresarial carioca, merece destaque. Um de seus membros, o
corretor imobilirio Joo A. Mattos Pimenta, empreende nos anos 1926-1927, uma bem articulada
campanha contra a favela junto imprensa e aos governos.
Bem sucedido na articulao dos discursos de duas categorias profissionais, o primeiro proveniente
dos mdicos higienistas que viam a cidade como um organismo atingido por molstias - e o
forjado pelos engenheiros que endossam o discurso mdico-higienista e apresentam-se como
portadores das solues. Os engenheiros sanitaristas, particularmente, simbolizariam os mdicos da
cidade e determinariam como profilaxia, acabar com as favelas.
A singularidade desta campanha residia na incorporao de um novo elemento no discurso que
caracterizava a favela: seu carter antiesttico. Mas as propostas de interveno naquele espao
suplantavam as aes pontuais, pois estavam inseridas numa nova concepo de cidade, agora
objeto de uma nova cincia, o urbanismo.
A campanha contou, inclusive, com a produo de um filme, como meio de influenciar a opinio
pblica. Nesta e nos jornais, a favela era denominada lepra da esttica, em aluso a uma doena
tida como uma das piores dos anos 20.
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Na histria da incluso da favela no imaginrio social, outro personagem merece ser citado, o
urbanista francs Alfred Agache. Convidado pelo prefeito Antnio Prado Jnior, Agache chega ao
Rio de Janeiro, em 1927, para elaborar aquele que seria o 1 plano diretor para a cidade.
Consolidada no espao urbano, e alvo de intenso debate sobre seus rumos, a favela reconhecida
oficialmente apenas em 1937, quando publicado o Cdigo de Obras. Contudo, este
reconhecimento possui um carter de condenao, uma vez que sua incluso no referido documento
dar-se- em um captulo que aborda as habitaes anti-higinicas, portanto, a favela torna-se objeto
de interveno do poder pblico.
No artigo 349, inclusive, temos a seguinte definio de favela:
A formao de favelas, isto , de conglomerados de dois ou mais casebres regularmente
dispostos ou em desordem, construdos com materiais improvisados e em desacordo com as
disposies deste decreto, no ser absolutamente permitida.
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Em 22/01/1947 criada a Fundao Leo XIII, que se constituir na 1 experincia de interveno
sistemtica e permanente nas favelas do Rio de Janeiro. Duas premissas bsicas orientavam suas
aes, a oferta de servios pblicos e equipamentos urbanos para assegurar a reproduo da fora de
trabalho e o exerccio do controle poltico e da formao de bases eleitorais junto a uma populao
com um enorme potencial de luta.
No segundo ponto fica patente a preocupao dos envolvidos na criao desta entidade de
neutralizar a mobilizao da populao favelada cuja liderana estabelece vnculos orgnicos com
os partidos. O temor das autoridades e dos membros da Igreja em perder uma importante base de
sustentao poltica estava explcita em seu lema: necessrio subir o morro antes que dele
desam os comunistas.
Ficaria ento, a Fundao Leo XIII dedicada assistncia moral e material dos habitantes dos
morros e favelas do Rio de Janeiro, oferecendo-lhes a cristianizao das massas; a persuaso e o
assistencialismo para suplantar a luta pelo acesso a bens pblicos.
O trabalho implantado pela Fundao, contudo, no foi capaz de inibir ligaes mais consistentes
entre a favela e a poltica. Portanto, Igreja e poder pblico aprofundam seu trabalho junto s favelas.
A primeira cria a Cruzada So Sebastio, posicionada como interlocutor das favelas junto ao
Estado, tendo realizado melhorias de servios bsicos em algumas favelas e a construo de um
conjunto habitacional que se constituiu na primeira experincia de alojamento de moradores nas
proximidades da prpria favela que habitavam, a Cruzada, localizado no Leblon.
O segundo cria em 1956 o SERFHA (Servio Especial de Recuperao de Favelas e Habitaes
Anti- Higinicas), que se limitaria a apoiar as instituies da Igreja. Em ambas as iniciativas,
buscava-se articular o controle poltico e uma pauta mnima de direitos sociais referente a
problemas de infraestrutura. Todavia, os moradores das favelas do mais uma demonstrao de sua
capacidade de articular-se politicamente atravs da criao de uma entidade autnoma para negociar
seus interesses, a Coligao dos Trabalhadores Favelados do Distrito Federal.
Tal fato denunciava que a pedagogia civilizatria levada a cabo pelas instituies da Igreja,
notadamente a Fundao Leo XIII, no assegurava o controle esperado. Em resposta, o poder
pblico revitaliza o Serfha, cuja proposta de trabalho nada mais que o conjunto de recomendaes
contidas no relatrio apresentado pela equipe de pesquisa da SAGMACS, publicada em dois
suplementos especiais do jornal O Estado de So Paulo. Trata-se da primeira grande investida de
trabalho de campo nas favelas do Rio de Janeiro. Tal documento faz uma crtica ao carter
assistencial-paternalista das aes desenvolvidas pelas instituies da Igreja Catlica e prope a
subordinao poltica dos habitantes moradores das favelas, atravs da criao de associaes de
moradores que em troca do reconhecimento pelo poder pblico, aceitam um acordo imposto pelo
Serfha, pelo qual sua identidade de representante dos moradores confunde-se com a de interlocutor
do Estado, assumindo, assim, um carter hbrido. Estabeleceu-se, desta forma, o controle poltico
das associaes pelo Estado, substituindo a Igreja, via cooptao de lideranas.
O perodo autoritrio das remoes (A poltica remocionista)
A periodizao das aes de remoo das favelas estabelecida obedecendo dois marcos polticos:
a ascenso ao poder no recm - criado estado da Guanabara, em 1962, de Carlos Lacerda,
subordinado aos interesses do capital imobilirio na apropriao das reas onde se situavam
diversas favelas - zona sul e da indstria da construo civil, que implicou na execuo de uma
nova poltica de habitao popular.
Esta poltica estava calcada no autoritarismo com que o Estado atua sobre as camadas populares,
cujo recrudescimento se verificar no final da dcada de 1960 (edio do Ato Institucional n 5, o
AI 5, em 13/12/1968). E se materializar na maior ofensiva de remoo de moradores de favelas
do pas, com o seu posterior remanejamento para conjuntos habitacionais.
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A modelagem de uma base institucional para a execuo de uma estratgia de controle autoritrio
da populao favelada que quela altura avanou em sua estrutura organizativa, comprovada pela
fundao da FAFEG (Federao das Associaes de Favelas do Estado da Guanabara) durante o
governo Lacerda compreendeu a criao de algumas instituies, tais como a COHAB (Cooperativa
de Habitao Popular do Estado da Guanabara, fundada em 1962, responsvel pela construo de
conjuntos como a Vila Kennedy, Vila Aliana, Vila Esperana e a Cidade de Deus com
financiamento da USAID (Agncia para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos) e a
remoo de aproximadamente 42 mil pessoas e a destruio de mais de 8.000 barracos em 27
favelas).
O deslocamento para reas distantes dos locais de trabalho, a precariedade do sistema de
transporte, a ruptura dos laos de sociabilidade desenvolvidos na favela de origem e a pssima
qualidade das moradias oferecidas seriam as principais razes da reao dos favelados s remoes.
Outras instituies, por sua vez, foram definitivamente incorporadas ao Estado, como o caso da
Fundao Leo XIII, cuja experincia em favelas seria de grande valor para o exerccio de uma
vigilncia mais estreita da vida poltica daqueles espaos. Para tal, a Fundao pautaria sua ao por
uma leitura que via a favela como o lugar do vcio e da promiscuidade, refgio de criminosos.
Esta nova leitura sobre a favela, devolve a representao desta aos termos da dcada de 1940 (da
favela como habitat de indivduos pr-civilizados), enfatizada pela polarizao entre o mundo da
ordem e o lugar da desordem
Diante dessa reelaborao da identidade do favelado, a lgica da negociao posta em prtica no
incio dos anos 60 pelo Serfha, baseada no cooptao de lideranas, cede lugar a proposta de
expulso das entidades representativas dos moradores de favelas do debate acerca dos destinos dos
seus espaos de moradia.
Na esfera federal foi criada a CHISAM Coordenadoria da Habitao de Interesse Social da rea
Metropolitana do Rio de Janeiro, responsvel pelas grandes remoes de moradores a partir da
segunda metade da dcada de 60. O programa de remoo, a soluo proposta pelo rgo para um
espao por ele definido como deformado, arrasou mais de 62 favelas, obrigando o remanejamento
de 175.785 moradores, entre 1968 e 1975.
A histria das remoes ocorridas neste perodo, representa um dos captulos mais violentos da
longa histria de represso e excluso do Estado brasileiro. Apesar de tudo, os moradores das
favelas demonstraram enorme capacidade de resistncia como mostra a organizao do III
Congresso de Favelados do Estado da Guanabara, em 1972. O esvaziamento do programa de
remoes se verifica a partir de 1975, como resultado da emergncia de diversos fatores, tais como,
o deslocamento do pblico-alvo dos investimentos do BNH Banco Nacional da Habitao, pois
parte dos recursos destinados para a remoo das favelas (US$ 350 milhes) foi redirecionado para
o financiamento de imveis voltados para as classes mdia e alta; A concluso do desmonte da
organizao poltica dos excludos, em 1975, com a tortura e o assassinato das lideranas de favelas
(a exemplo do que ocorreu com alguns lderes sindicais e polticos), bem como, a fragmentao da
identidade dos excludos, baseada na condio de favelado, pela presena de uma nova categoria: o
morador de conjunto habitacional; O custo poltico das remoes, em virtude da mobilizao e
resistncia dos moradores das favelas.
Nos casos em que a remoo foi consumada, o sentimento de resistncia deu lugar a estratgias
alternativas de recusa s imposies decorrentes da nova condio de morador de conjunto
habitacional. Uma delas foi inadimplncia frente maneira forada da remoo e a pssima
qualidade das casas que lhes foi imposta.
Das propostas de urbanizao a luta pelo reconhecimento das favelas como partes integrantes
da cidade: Limites e possibilidades
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A desarticulao da estrutura poltica organizativa dos segmentos populares, decorrente das aes
do regime militar destruiu os vnculos estabelecidos desde a dcada de 50 e, ao subordinar as
associaes de moradores, o Estado impede a democratizao das relaes locais. Segundo Burgos
(1998:39) um vcuo deixado com a desconstruo do favelado como ator poltico, impondo-se
ento, duas lgicas distintas porm complementares: o ressentimento gerado pelo remocionismo
que distancia a vida social das favelas e dos conjuntos habitacionais da vida poltica da cidade e o
desenvolvimento de uma dinmica clientelista, que substitui a luta por direitos pela disputa por
pequenos favores. Ambas pautaro a relao dos moradores de favelas e conjuntos habitacionais
com o poder pblico, numa conjuntura de quase ausncia de iniciativas do Estado voltadas para
aqueles espaos.
Com a distenso relativa do regime militar, a partir de 1975, a via remocionista suplantada pela
proposta de urbanizao, como no programa Promorar (Este programa, organizado em 1979 pelo
BNH, tinha por objetivo recuperar reas alagadas habitadas, pretendendo, com a valorizao das
reas assim conquistadas, recuperar os investimentos feitos com a venda dos terrenos
remanescentes. O estado do Rio de Janeiro foi escolhido paras ser palco do primeiro programa a ser
executado pelo PROMORAR: o Projeto Rio, que seria desenvolvido em rea prxima ao aeroporto
internacional, alcanando seis favelas na rea da Mar: Parque Unio, Nova Holanda, Rubens Vaz,
Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau e Parque Mar) indicando que o eixo de discusso teria outra
direo: como integrar as favelas a cidade. Contudo resqucios do perodo autoritrio se faziam
sentir, durante o encaminhamento desta iniciativa, o que levou as lideranas comunitrias a criarem
a CODEFAM Comisso de Defesa das Favelas da Mar, onde expressaram seu desejo de intervir no
processo.
A vida associativa retomada e no caso das favelas um dado relevante o surgimento de uma
dissidncia da FAFERJ, que rejeita a tutela do Estado e passa a atuar como instrumento de presso
junto ao governo atravs da organizao em torno de reivindicaes estruturais.
Nas eleies de 1982, primeira oportunidade, desde 1965, de o eleitorado indicar o chefe do
Executivo estadual, os setores populares optam por Leonel Brizola, visto como alternativa
desvinculada da ditadura e da lgica clientelista construda durante o governo Chagas Freitas. A
agenda poltica de Brizola volta-se para as favelas, atuando na melhoria de infraestrutura. Outro
enfoque da gesto a sua poltica de direitos humanos, com a qual esperava definir uma nova forma
de atuao para o aparato policial perante os setores populares, baseada no respeito a seus direitos
civis. No entanto, o problema da distncia e do ressentimento no foi abordado. As lideranas da
FAFERJ dissidente e das associaes de moradores foram cooptadas pelo governo e a estrutura
clientelista tradicional (Estado Poltico bica dgua - Associaes) foi substituda pelo
clientelismo Brizola (Estado Associaes), onde estas ltimas exerceriam as funes do poder
pblico.
Na dcada de 1980, as favelas conhecem uma nova complexidade, com a emergncia de grupos
paraestatais os banqueiros do jogo do bicho e os grupos dedicados ao trfico de entorpecentes.
O efeito mais nocivo decorrente do desmonte das entidades representativas dos favelados e a
posterior desarticulao poltica dessa populao, durante a ditadura militar, foi o distanciamento da
esfera pblica, o que acarreta uma no adeso no processo de abertura poltica, que por seu turno
criar o vcuo onde se formam novas redes clientelistas. No tocante ao enfrentamento do trfico, a
estratgia adotada pelas foras de segurana centrou-se, exclusivamente, no aumento da ao blica,
de forma ostensiva e militar, o que encontra grande respaldo dos setores mais conservadores da
sociedade e dos grandes meios de comunicao.
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Ao mesmo tempo, ambos passaram a considerar a populao das favelas conivente com o trfico.
Dentre os desdobramentos verificados aps vinte e cinco da adoo desta estratgia podemos
destacar a diviso da cidade entre os territrios de reconhecimento da cidadania, o asfalto, e aqueles
nos quais so desprezados os direitos fundamentais como o direito vida, urge, portanto, uma nova
postura do Estado. Que a questo da segurana urbana no pode ser atribuio exclusiva do aparato
policial e a ruptura deste processo esteja atrelada a aes que priorizem o aumento da participao
social vinculada a uma poltica pblica distributiva de renda e novas estratgias de combate a
criminalidade.
Segurana pblica em pauta: A implantao da UPP
As polticas de segurana pblica implementadas recentemente em distintas favelas da
cidade do Rio de Janeiro fazem parte de projetos mais amplos de renovao urbana,
visando preparar a cidade para a realizao de importantes eventos internacionais, como
a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olmpicos de 2016. Assim, desde dezembro de
2008, comearam a ser instaladas em favelas cariocas as Unidades de Polcia
Pacificadora (UPPs), uma forma de ocupao por um determinado contingente policial
com a finalidade de garantir a segurana local e, sobretudo, o cessamento da
criminalidade violenta ligada ao trfico de drogas nesses espaos.
As UPPs pretendem ser, de acordo com o projeto apresentado pelo governo do estado,
um novo modelo de segurana pblica e de policiamento, que busca promover a
interao entre a populao e a polcia, aliada ao fortalecimento de polticas sociais nas
favelas. Orientam-se, segundo seus formuladores, pelos princpios da polcia
comunitria (ou polcia de proximidade), que tem como conceito e estratgia a parceria
da populao com as instituies da rea de segurana. Para a implantao do projeto
piloto das UPPs foi escolhida a favela Santa Marta, localizada no Morro Dona Marta,
entre os bairros de Laranjeiras e Botafogo, no corao da Zona Sul da cidade do Rio de
Janeiro. Segundo dados da Seseg, a favela tinha 6 mil moradores em 2008.
Imagem 17: Mapa com a localizao das UPPs instaladas at maro de 2014.
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