Carta Da Educação Brasileira Democrática

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Carta da Educao Brasileira Democrtica

Em 1945 aprovou-se o documento Carta da Educao Brasileira Democrtica, que


apresentava o programa de poltica educacional dos liberais para o novo contexto,
associando intrinsecamente a possibilidade da restaurao da democracia no pas
educao escolarizada, mediante as estratgias de universalizao da escola elementar
gratuita e leiga e manuteno do ensino secundrio propedutico e profissional, sem o
dualismo estrutural da escola getulista, que separava a escola das elites da escola dos
trabalhadores.
A existncia de mais de 50% de analfabetos no pas, por exemplo, no foi considerada um
fator preocupante, caindo no vazio a fala do constituinte e diretor do IBGE, Teixeira de
Freitas, que provou com dados Tcnicos ser possvel o oferecimento pelo Estado de uma
escola primria de 3 anos para toda populao.
Desde o incio da dcada de 40 a sociedade brasileira passava por um processo muito
acentuado de industrializao de bens de consumo e de urbanizao, com altas taxas de
migrao interna da zona rural para as cidades, nas quais as ocupaes exigem outro estilo
de vida. Se a cultura urbano-industrial j era definida como escolar, isto , implicando em
relaes sociais e culturais letradas, o xodo rural de analfabetos trazia uma dificuldade
que parece no ter sensibilizado os constituintes para seu enfrentamento.
A LDB de 1961
Basicamente, dois grupos disputavam qual seria a filosofia que serviria como base para a
elaborao da LDB. De um lado estavam os estadistas, ligados principalmente aos partidos
de esquerda e do outro os liberalistas. Partindo do princpio que o Estado precede o
indivduo na ordem de valores e que a finalidade da educao preparar o indivduo para
o bem da sociedade, os estadistas defendiam que s o Estado deveria educar. Escolas
particulares podiam existir, mas to somente como uma concesso do poder pblico. O
outro grupo, denominado de liberalistas, e ligado aos partidos de centro e direita,
sustentava que a pessoa possua direitos naturais e que no cabia ao Estado garanti-los ou
neg-los, mas simplesmente respeit-los. A educao deveria ser um dever da famlia que
teria de escolher dentre uma variedade de opes de escolas particulares. Ao Estado
caberia a funo de traar as diretrizes do sistema educacional e garantir s pessoas
provenientes de famlias pobres o acesso s escolas particulares por meio de bolsas. Na
disputa que durou dezesseis anos, as ideias dos liberalistas se impuseram sobre as dos
estadistas, na maior parte do texto aprovado pelo Congresso.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei n 4.024, de 20/12/1961), nos termos
propostos de apoio a iniciativa privada sem alterar a Organizao existente desde 1942,
exceto pela proposio de currculos flexveis e de mecanismos democratizantes do tipo
possibilidade de aproveitamento de estudos entre ensino tcnico e acadmico. Ao facilitar
a expanso do ensino privado, principalmente para os nveis secundrios e superiores, ao
oferecer-lhes subsdios na forma de bolsas de estudos e auxlio na manuteno da
infraestrutura dessas escolas, ao tratar da expanso do ensino pblico, ficam evidente os
limites do liberalismo democrtico representado como inspirador na nova Lei, o qual
definia ideologicamente o perodo: do ponto de vista escolar, os anos de 1946 a 1964 so
conservadores.
O que inovador vem dos movimentos de bases popular, no institucionais dirigidos ao
povo trabalhador e organizados pela ao conjunta de populares e grupos de intelectuais.
Dentre eles esto movimentos de difuso da cultura popular, como Centros populares de
Cultura e as iniciativas de educao de adultos.
O Legislativo paulista
Ampliaram-se a oferta de vagas e, portanto a possibilidade de matrcula nas escolas
pblicas das pequenas cidades, e no na zona rural, menos assistida, e nos cursos
tradicionais dos ginsios e escolas normais, mais do que nas escolas tcnicas enfatizadas
como necessrias ao pas.
Passaram a criar pelo menos um estabelecimento oficial em todos os municpios, mesmo
que as concluses do curso primrio no alcanassem o nmero mnimo exigido por lei (60
alunos, em 1949), ou no houvesse infraestrutura material e de recursos para sustent-lo.
J os educadores, que ocupavam os rgos tcnicos do ensino e influenciavam a prpria
Comisso de Educao e Cultura da Assembleia Legislativa no queriam essa criao
desordenada de ginsios e escolas normais, preferindo abrir um estabelecimento por
regio, com o argumento que no havia professores habilitado para tantas escolas.
Foi observado tambm que os deputados apresentavam projetos de criao de escolas nas
pocas que precediam as eleies, ou seja, esses deputados agiam ampliando a oferta de
vagas por razes estranhas educao: se a abertura de escolas garantisse votos. Porm,
com essa atitude de levar em considerao o eleitorado, eles mostravam atentos s novas
exigncias da moderna sociedade urbana letrada (ainda que pouco industrializada), pois as
populaes j tinham interesse nessas escolas pblicas, do magistrio e da administrao
privada e obter a ascenso social. Pode-se concluir ento que os polticos de So Paulo
atuaram tambm como agentes do processo de democratizao.
Vagas nas escolas pblicas
Para atender demanda por mais vagas nas escolas pblicas, resultante do explosivo
crescimento urbano-industrial da capital paulista no perodo, Jnio aplicou, em relao
escola elementar, um conjunto de mecanismos apresentados como circunstancias e
provisrios, que incluam:
A reduo dos perodos letivos dos grupos escolares, que passaram a funcionar,
desde 1956/57, em 3 ou 4 turnos dirios, ou seja, com 2,20 horas-aula de durao;
A instalao das classes de emergncia : em 1959 havia 1.200 delas;
O aumento do n mdio de alunos por classe, que passou de 25, em 1935, para 40,
em 1959;
A construo de galpes de madeira, mobiliados com mveis feitos de caixotes,
para a instalao das escolas elementares.
Quanto ao ensino secundrio, Jnio adotou os mecanismos de:
aprovao compulsria de 80% dos alunos matriculados nos ginsios e nas
escolas normais, para desocupar as vagas para novos alunos;
Criao de escolas normais e ginsios noturnos;
Instalao de seces, ou seja, extenses dos ginsios tradicionais, que
passaram a funcionar em prdios de grupos escolares ou de escolas privadas.
Configurando um verdadeiro derramamento de escolas secundrias acadmicas em todo
Estado. O nmero dos ginsios pblicos no Estado passou de 3, em 1930, e 41, em 1940,
para 465, em 1962, sendo que apenas nos anos de 1956 e 1957, no governo de Jnio
Quadros, Foram criados 61 novos ginsios, 42 deles na forma de seces.
Com essas medidas ficava assegurada a matrcula de todos os egressos no curso primrio,
eliminando se na prtica a barreira seletiva entre o grupo escolar e o curso secundrio
representado pelo exame de admisso ao ginsio, que representava cerca de 50% dos
candidatos.
De fato os professores, medida que passaram a trabalhar nos ginsios noturnos, ou nas
seces, sem recursos adequados de infraestrutura, sem garantias trabalhistas e sem
concurso, vivenciaram um processo de proletarizao. A aprovao compulsria dos
alunos tambm foi apontada, poca, como fator de esvaziamento do trabalho docente.
Muitos educadores acusavam explicitamente o governo de Jnio de responder demanda
por mais vagas com a abertura de escolas ginasiais porque estas eram menos onerosas
que as escolas tcnicas. Tambm denunciaram a expanso da escolaridade elementar e do
ensino tcnico estimulava a procura por um diploma que era smbolo de prestgio social.
Alfabetizao e transformao da realidade
Alfabetizou-se pouco em relao s taxas de analfabetismo do perodo. A tabela , mostra
que nas dcadas de 1940 e 1950 a diminuio do analfabetismo foi de apenas 5,5%.
Metade da populao do pas com mais de 15 anos de idade continuava sem saber ler nem
escrever, ou seja, no conseguiram frequentar as quatro primeiras sries do ensino
primrio.
Tabela 1. Taxa de analfabetismo no Brasil entre pessoas de 15 anos ou mais
Ano Total Analfabetos %

1920 17.557.282 11.401.715 64,9

1940 23.709.769 13.269.381 56

1950 30.249.423 15.272.632 50,5

1960 40.278.602 15.964.852 39,6

1970 54.088.604 18.146.977 33,6
Fonte: Censo IBGE

No Recife em 1960 mais de 90 mil crianas em idade escolar estavam fora da escola e
aproximadamente 200 mil adultos no tinham recebido o ensino elementar.
A educao e a escola brasileira foram severamente criticadas por Paulo Freire no Finas
dos anos 1950. A critica de Paulo Freire se estruturava com base na recusa a uma Tradio
verbalista, ornamental e literria, calcada sobre a memorizao e a servio do
bacharelismo, com carter acadmico e propedutico.
Sua proposta, ento, queria ser o antdoto ao modelo da educao bancria, propondo
uma educao problematizadora, de carter autenticamente reflexivo, disposta a
conduzir o educando ao desvendamento da realidade.





Josina Godoy e Norma Coelho, autoras do livro/ Cartilha, assinalavam que a equipe do
MCP havia arquitetado uma maneira de ensinar a ler que pudesse interessar ao homem a
mulher do nordeste. Pedagogicamente, essa nova maneira de ensinar convidava o
educador a abordar problemas de forma honesta e direta com seus alunos.
Nesse novo material didtico de alfabetizao foi reunido, pela primeira vez, um conjunto
de palavras associadas a uma mensagem poltica:
Lio 1- O voto do povo; Lio 2- O po d sade etc. A publicao desse livro cartilha
provocou reaes e foi denunciada como subversiva.
Era o ano de 1960, frtil em cometimentos dessa natureza em todo territrio
nacional. Visava o MCP (Movimento de Cultura Popular), agora alm da
alfabetizao, elevar o nvel cultural das massas, conscientizando-as
paralelamente. Ao ensinar a ler um adulto, no se recorria mais ao jogo
simblico de palavras e slabas, abstratamente situadas em seu universo
social, do ovo e da uva, do menino corre atrs da bola, da ave e da
ema. Pretendia-se alcanar uma meta mais ligada vida, o homem
reencontrando na escola as suas razes telricas e culturais adormecidas
dentro de um mundo social alienante, aprendendo a ler realisticamente, a
educao como fulcro para elevar e projet-la no seu meio. (CAVALCANTI,
1978, PP. 285-6 Apud BEISIEGEL 1992,P.120).

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