Artigo Sobre WINNICOTT

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Contempornea - Psicanlise e Transdisciplinaridade, Porto Alegre, n.07, J an/Fev/Mar 2009


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D. W. WINNICOTT: A Teoria dos Espaos A Zona Intermediria entre a Realidade
Interna e a Realidade Externa

Karla Ferraro
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Qualquer analista que se proponha a estudar a teoria winnicottiana, deve ter em mente que
a aparente simplicidade de sua linguagem encerra uma complexidade singular. Este autor retoma
a tradio psicanaltica com liberdade e criatividade, dando nfase ao pensar profundamente
humano que envolve a realidade e os problemas dos relacionamentos primitivos.
Mesmo que Winnicott no tenha utilizado em sua obra o termo Intersubjetividade e a
palavra Sujeito, no seja de uso corrente, parece-nos claro que construtos tericos como Objeto
Subjetivamente Concebido, Objeto Objetivamente Percebido e Espao e Objetos Transicionais,
contenham em sua histria a idia de um Sujeito e de um Outro (emprico, real) e de um Terceiro
Espao ou Zona de Experincia. J ao final dos anos 20, com os estudos de Ferenczi (autor muito
presente, embora nem sempre referido nominalmente, no desenvolvimento da obra
winnicottiana), os estudos sobre a Contratransferncia de Heimann, Hacker e do prprio
Winnicott, abrem caminho para a 3 bodies psychology, ou seja, as discusses a respeito do
terceiro espao e o campo de relao tridico na analise.
Ao longo dos anos, Winnicott trabalhou a questo de como o indivduo se desenvolve: do
caminho da dependncia absoluta para a dependncia relativa e desta rumo independncia
nunca realmente alcanada. Para percorrer esta linha da vida, e tornar-se um ser em
desenvolvimento, o autor enfatiza a presena da me suficientemente boa, que proporciona e
sustenta no tempo e no espao a experincia do beb de uma contnua integrao psicossomtica.
O autor examina a doena como uma inibio da espontaneidade potencial que caracteriza
a prpria substncia da vida da criana. Ento, estas quebras, distores causadas na relao
primitiva me-beb, provocam sensaes que a criana no consegue entender e processar de
maneira satisfatria, devido ao seu estado de imaturidade inicial. Conseqentemente, no

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Psicloga, Psicoterapeuta Especialista em Psicoterapia Psicanaltica de Adultos, Adolescentes e Crianas pela
PUC/RS. Especialista em Psicoterapia Psicanaltica da Infncia e Adolescncia pelo CIPT e Especialista em
Psicanlise das Configuraes Vinculares - Casal e Famlia - pelo CIPT. Professora e Supervisora do
Contemporneo - Instituto de Psicanlise e Transdisciplinaridade. Endereo para correspondncia:
[email protected]
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encontra um lugar dentro de si para tais experincias, o que as transforma em lacunas na
experincia do ser, vivncias de morte ou ausncia do objeto.
Aqui Winnicott trabalha com o valor positivo da iluso. Dito de outra forma, a me
atravs de sua adaptao ao beb oportuniza que o seio dela faa parte do beb. Neste sentido,
esta me dos estados tranqilos permite que seu beb dependa duplamente, pois este depende e
desconhece que depende. Observamos ai importncia de uma relao estvel com o ambiente: a
me est onde deveria estar e, ao mesmo tempo, o beb no-integrado, tem a oportunidade de
conceber naquele exato momento o objeto me-seio, que est ali para ser criado e encontrado,
estabelecendo uma primeira ponte com a realidade exterior.
Nestas idas e vindas, de criaes onipotentes e iluses, o simblico vai sendo encontrado
e, ao longo dos meses, atravs da tarefa gradativa da me de desiludir seu pequeno beb, o objeto
torna-se objetivamente percebido. Com isso criana vo adquirido condies de sobreviver a
destruio do objeto, porque tambm ele sobrevive a sua destruio, e tambm de reconstru-lo,
us-lo e destru-lo novamente como melhor lhe convir.
Como refere Winnicott (1951/1975):


Desde o nascimento, portanto, o ser humano esta envolvido com o
problema da relao entre aquilo que objetivamente percebido e
aquilo que subjetivamente concebido e, na soluo desse
problema, no existe sade para o ser humano que no tenha sido
iniciado pela me. A rea intermediria a que me refiro a rea
concedida ao beb, entre criatividade primria e a percepo
objetiva baseada no teste de realidade. Os fenmenos transicionais
representam os primeiro estdios do uso da iluso, sem os quais
no existe, para o ser humano, significado na idia de uma relao
com um objeto que por outros concebido como externo a esse
ser. (p.26)


Winnicott manteve-se sempre interessado nesta terceira zona, na zona intermediria, na
primeira possesso no-eu entre o subjetivo e aquilo que objetivamente percebido pelo
indivduo. Ensinou-nos, atravs de seus vrios relatos de casos clnicos, que o dilogo
transicional, o espao entre o analista e seu paciente, deve ter cuidado especial com o narcisismo
do mesmo, bem como manter a comunicao de ambos dentro da rbita de onipotncia do
individuo, ou como encontramos em suas prprias palavras:

[...] se a brincadeira no se acha nem dentro nem fora, onde que
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se acha? (Winnicott, 1967/1975, p.134)


REFERNCIAS


WINNICOTT, D. W. (1951/1975). Objetos Transicionais e Fenmenos Transicionais. In: ____ O
brincar e a realidade. Rio de J aneiro: Ed. Imago, 1975. P.13-44.

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