1) O documento discute a origem e trajetória do samba paulista, que teve raízes rurais e foi trazido por escravos nordestinos para as fazendas de café no século XIX.
2) Esses escravos trouxeram consigo tradições culturais como o samba de roda e a umbigada, dançado originalmente em honra à deusa da fertilidade.
3) A fusão desse samba nordestino com a dança do jongo já praticada em São Paulo deu origem ao estilo do samba paul
1) O documento discute a origem e trajetória do samba paulista, que teve raízes rurais e foi trazido por escravos nordestinos para as fazendas de café no século XIX.
2) Esses escravos trouxeram consigo tradições culturais como o samba de roda e a umbigada, dançado originalmente em honra à deusa da fertilidade.
3) A fusão desse samba nordestino com a dança do jongo já praticada em São Paulo deu origem ao estilo do samba paul
1) O documento discute a origem e trajetória do samba paulista, que teve raízes rurais e foi trazido por escravos nordestinos para as fazendas de café no século XIX.
2) Esses escravos trouxeram consigo tradições culturais como o samba de roda e a umbigada, dançado originalmente em honra à deusa da fertilidade.
3) A fusão desse samba nordestino com a dança do jongo já praticada em São Paulo deu origem ao estilo do samba paul
1) O documento discute a origem e trajetória do samba paulista, que teve raízes rurais e foi trazido por escravos nordestinos para as fazendas de café no século XIX.
2) Esses escravos trouxeram consigo tradições culturais como o samba de roda e a umbigada, dançado originalmente em honra à deusa da fertilidade.
3) A fusão desse samba nordestino com a dança do jongo já praticada em São Paulo deu origem ao estilo do samba paul
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1
O SAMBA PAULISTA E SUAS HISTRIAS.
( Textos, depoimentos orais, msicas e imagens na reconstruo da trajetria de uma manifestao da cultura popular paulista.) Olga R. de Moraes von Simson. Centro de Memria/UNICAMP.
Samba de Abertura : MENINO GRANDE (Geraldo Filme) * Lembrar, deixa-me lembrar (Refro) La,la,ia, la,la,ia..... So Paulo menino grande Cresceu, no pode mais parar No Ptio do Colgio Que lhe viu nascer Um velho ip parece chorar No vejo sua me preta Na rua com seu prego Cafezinho quentinho, senhor Pipoca, pamonha e quento Lembrar , deixa-me lembrar
(Refro)
Agora que o menino cresceu Perdeu sua simplicidade No quer mais o seu amor perfeito E o cravo vermelho Seu amigo do peito So Paulo de Anchieta E de Joo Ramalho Onde esto seus bomios? A sua garoa? Cad seu orvalho?
Extrado do CD Geraldo Filme Memria Eldorado, distribudo pela Gravadora Eldorado 1980
O samba, como todos sabem, tem sua origem mais remota em frica. Em Angola h at hoje, uma dana originria da rea de Luanda na qual, ao som dos tambores, se d a umbigada. A palavra Samba na lngua quimbundo quer dizer umbigada Na lngua umbundo, samba significa estar animado, estar excitado. 2 No luba ou outras lnguas bantas, samba significa pular e saltar com alegria A alma do samba vem para o Brasil com os escravos nos navios negreiros e aqui ele se torna crioulo, adquirindo um corpo com caractersticas diversas, conforme a regio onde se desenvolve: No Nordeste ele ser, em geral chamado de Coco. No litoral norte de Pernambuco o denominam samba de matuto, e ser danado nos ranchos pastoris. Na Bahia, alm de ser danado nos ranchos pastoris do Ciclo Natalino ele ser chamado de samba de roda, apresentando forte influncia das religies africanas e estar carregado de ax. No Rio de Janeiro, trazido por migrantes baianos que se fixaram na cidade em meados do sculo dezenove, ele ser a princpio o samba de partido alto, muito prximo do batuque africano, uma dana de umbigada com ritmo marcado por palmas, pelo prato de cozinha raspado com faca, por chocalhos e outros instrumentos de percusso e, s vezes acompanhado pelo violo e pelo cavaquinho. Segundo velhos sambistas, a expresso partido alto provem da alta dignidade desse samba, cultivado por minorias negras. Mais tarde, no incio da dcada de 1930, surge no Rio de Janeiro o samba de breque no qual o cantor d uma, ou mais paradas sbitas (os breques) para encaixar frases curtas de cunho humorstico, marcando bem o carter carioca desse samba. Na dcada de 40, sob influncia de regulamentos impostos pela ditadura getulista, surgiu o samba-enrdo, especialmente composto para descrever o tema do enredo do desfile do ano, que necessariamente deveria ter fundo histrico-patritico. No Rio Grande do Sul conhecido como batuque e, em So Paulo a histria do samba, que vai se tornando crioulo, muito pouco conhecida. Vamos tentar reconstruir aspectos dessa trajetria baseados num dilogo intertextual entre farta documentao original fixada em diferentes suportes empricos Por longo tempo, as razes do samba paulista se mantiveram fortemente rurais e ele foi chamado ora de samba de roda, ora de samba de bumbo, ora de samba-leno ou ainda de samba rural, segundo os intelectuais que o estudaram nos anos 30, 3 como Mrio de Andrade e Mrio Wagner da Silva. O povo o chamava simplesmente de batuque. No incio, na ento Provncia de So Paulo, o samba se estruturou e se fortaleceu nas grandes fazendas para onde os negros foram levados como escravos para plantar primeiro a cana-de-acar e depois e com um nmero muito maior de cativos, para promover o lucrativo cultivo do caf. O samba era danado nas senzalas e nos terreiros, ao som de grandes bumbes, cavados com fogo nos troncos de rvores enormes. Essas concavidades cilndricas eram depois recobertas com couro de animais e produziam uma batida grave e profunda que se tornou a marca do samba paulista. Eram os mesmos tambores que serviam para embalar o jongo, uma dana religiosa de roda que s era danada a noite, no meio da mata. Nela os danarinos se movimentavam em sentido anti- horrio, acompanhados pela batida dos tambores jongueiros denominados Caxambu ou Candongueiro. A principal zona fornecedora de braos escravos para o Brasil foi o Centro-Oeste africano, onde se localizava a colnia portuguesa de Angola, que teria contribudo com 73% dos africanos enviados para o Brasil. L nessa regio havia o costume de se homenagear a deusa da fertilidade, atravs de uma dana ritual na qual acontecia a umbigada, que o encontro dos corpos do danarino e da danarina na regio do ventre. No era um ato licencioso, nem carregado de sensualidade, mas uma forma ritualizada de se louvar a fertilidade da natureza. Essa prtica foi conservada no jongo que uma dana com fundamento, isto , com fundo religioso. Nos sculos XVI e XVII, os africanos oriundos do Oeste da frica chegavam aos portos de Salvador e Recife para, em seguida serem vendidos aos proprietrios dos engenhos de cana-de-acar do Nordeste. Mais tarde, a decadncia da economia aucareira levou ao deslocamento da mo de obra escrava para as plantaes de caf que floresceram na Provncia de So Paulo no sculo XIX. 4 A partir de 1850 essa migrao interna de mo de obra escrava foi intensificada, pois no era mais possvel importar cativos diretamente da frica para manter o avano da cafeicultura, ento a explorao agrcola mais rentvel. Nossas pesquisas revelaram que os grandes fazendeiros campineiros, ante tal impossibilidade, voltaram antiga estratgia de buscar escravos em outras regies brasileiras, cujas culturas em crise, podiam liberar mo de obra. Passaram ento a comprar escravos jovens e fortes, cujo trabalho intenso permitia a constante ampliao de seus cafezais. Assim, de muitas provncias nordestinas como Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraba e at do Piau e Maranho desceram negros crioulos aps 1853, ao que parece fazendo a primeira parte da viagem por mar at o Rio de Janeiro e vindo em seguida por terra at os cafezais que necessitavam da sua fora braal para crescer. Para no serem confundidos com escravos fujes receberam salvos condutos que descreviam muito bem as caractersticas do escravo, sua origem e at os pertences que ele trazia consigo. Um nico fazendeiro campineiro, o Baro de Itatiba, cujo esplio foi localizado no Arquivo Histrico Municipal de Campinas, importou sessenta e um cativos em diferentes datas, entre 1853 e 1874. Eles eram provenientes de vrias provncias nordestinas, todos jovens e crioulos e vieram trabalhar nas fazendas do Baro, situadas muita prximas ao que hoje o centro da cidade, pois uma ficava onde atualmente funciona o Lar dos Velhinhos de Campinas e outra em terras dos distritos de Sousas e Joaquim Egdio. Ora, entre as bagagens trazidas pelos escravos crioulos, na longa viagem por mar e terra veio tambm o que hoje denominamos de patrimnio imaterial, isto , os saberes e os hbitos culturais que eles adquiriram na sua infncia e juventude vividas no Nordeste. Entre esses saberes culturais certamente chegou tambm o de cantar e danar o samba de roda, uma prtica j ento em ampla difuso por toda a regio nordestina e na qual tambm se inclua a umbigada, originada do antigo ritual religioso angolano em honra deusa da fertilidade. 5 por isso que ainda hoje encontramos l em Sousas, morando na favela do Beco o Seu Chico, que aos 94 anos se diz neto de escravo baiano e filho de sambadeira e narra com alegria e saudade as noitadas de samba que vivenciou desde a infncia, acompanhando a me, juntamente com seus irmos. Ela foi uma exmia sambadeira, diz ele, que sabia fazer voar as sete saias, um detalhe importante na criao coreogrfica do batuque ou samba de umbigada. Conta ele que para ir ao samba ela cuidava de levar tantos sacos de estopa, quantas eram as crianas que a acompanhavam. Conforme a dana prosseguia e os filhos iam ficando sonolentos, a me encontrava cantinhos mais abrigados onde estendia os sacos para que eles dormissem, enquanto ela continuava danando o batuque ou caiumba. Lembra Seu Chico que ao terminar a noitada, quando ela os acordava para voltarem para casa, ele notava a expresso de felicidade no rosto de sua me, enfeitado por uma cabeleira toda vermelha, porque coberta pela poeira que, na dana do samba, era levantada pelo vento das sete saias. Provavelmente foi a fuso do samba de roda nordestino, trazido pelos jovens escravos vindos do Nordeste, com a dana do jongo, bastante comum no interior paulista, que acabou dando origem ao samba rural paulista. Em Campinas esse encontro originou a manifestao do samba de bumbo, que tornaria nossa cidade nos anos 20 e 30 do sculo passado, uma fora legendria nas disputas sambsticas de Pirapora do Bom Jesus. Os testemunhos orais colhidos entre os descendentes dos sambadores do final do XIX e incio do XX nos permitiram localizar a existncia de trs grupos de samba de bumbo que, partindo de regies diversas do municpio de Campinas, se dirigiam todos os anos Pirapora, para participar das festas do So Bom Jesus. Um deles era dirigido por Dona Aurora e saa do Bairro da Capela, um bairro rural situado ao longo do caminho velho que ligava Campinas a So Paulo. Hoje esse bairro faz parte do municpio de Vinhedo e l os descendentes de Dona Aurora vem tentando recriar seu famoso samba, liderados por uma neta da antiga lder, Dona 6 Marisa Maral, que tem se esforado no intuito de recriar a dana, aps a reforma do bumbo Trovo e assim manter a tradio. Um outro grupo, que tambm ia todos os anos para Pirapora, era liderado por um grande sambador chamado Z Mundo e saa do distrito de Aparecidinha, um bairro rural situado tambm prximo estrada que de Campinas demandava o interior do Estado, j nas proximidades dos atuais municpios de Hortolndia e Sumar. Esse grupo, formado principalmente por mulheres, se desestruturou em meados dos anos 30, porque seu lder morreu atropelado no centro da cidade e as sambadeiras que o seguiam ficaram sem apoio para continuarem danando. O terceiro grupo, que parece ter sido o mais numeroso e organizado, era liderado por Ernesto Estevan e reunia os afro-descendentes que viviam mais prximos do centro urbano da cidade. Estevan parece ter sido o lder sambista mais atuante na cidade, pois como era chofer de profisso tinha mais facilidade de se locomover costumando visitar aos domingos os demais agrupamentos, mantendo as relaes entre eles e cultivando as tradies comuns. Todos os trs grupos se apresentavam em Pirapora danando uma variedade do samba rural que diferia do samba de umbigada ou batuque, pois nessa performance no acontecia a tradicional umbigada. Os depoimentos orais colhidos, assim como as crnicas jornalsticas do incio do sculo passado, apontam que o forte controle social, exercido pela Igreja Catlica e pelos senhores de escravos, sobre a numerosa escravaria, ainda no sculo XIX, e depois sobre o povo negro da cidade, nas dcadas iniciais do sculo vinte, fizeram com que os grupos de sambadores de Campinas, a princpio, proibissem as crianas de participarem do samba. Seu Alusio Geremias, artista plstico e dirigente de escola de samba relembrando sua infncia vivenciada nos cortios do Cambu, nos anos 40 do sculo passado, relata: ...a maior parte do tempo eu morei no Cambui...na Vila Sampainho, que na baixada, l pr lado da (Av.) Norte-Sul. L, nos cortios, se danava o samba de 7 roda. L eu participava vendo os meus parentes, mas o pessoal no deixava (criana) participar, criana entr(r) no meio, de jeito nenhum! Ele assim descreve o samba que assistia quando menino: Eles falavam que era samba de roda... Fazia uma roda assim, eu (me) lembro, o pessoal com uma zabumba, que no era nem bumbo, era zabumba e um repique que batia com duas baquetas, tinha mais alguma coisa, um chocalho... E a o pessoal ficava tocando naquela linha, naquela batida e a aquele desafio comea: um cara cantando alguma coisa, ou uma mulher l e os homens, os tocador(es) aqui, eles vinham, encontravam... era como se fosse um bumba-meu- boi, toreava(m). Os cara(s) do bumbo toreavam aquelas nega-via... as mulheres vestidas com aqueles vestid(es), tipo de baiana,...de saia rodada. Elas cantavam os desafios e eles desafiavam... Aquilo rolava a noite inteira, ia at o sol quente...as vezes o sol j estava queimando e sempre um, pr pode mexer com os outros,...usava aquilo e seguia naquele esquema. A represso s formas de divertimento negro foram to presentes na Campinas do incio do sculo XX, que os grupos de sambadores, para continuar realizando suas noitadas de samba, desenvolveram a estratgia de retirar a prtica da umbigada das suas performances, transformando o samba de roda no samba de bumbo, uma forma tipicamente campineira de danar o samba. Sendo a umbigada encarada pelos senhores como uma prtica licenciosa e carregada de sensualidade, deixaram de pratic-la, no havendo mais o encontro dos corpos dos danarinos, pois o que acontece no samba de bumbo o encontro da sambadeira com o bumbo, que posicionado frente do corpo do tocador. Dessa forma, se realmente no se dava mais o arremdo de intercurso sexual, forma como era vista a umbigada pelos representantes da oligarquia, simbolicamente a representao do ato de fertilizao se tornou ainda mais forte, dado o tamanho do bumbo que representaria o falo, em seu posicionamento frente do corpo do tocador. 8 Mrio de Andrade em seu livro Aspectos da Msica Brasileira falando de suas observaes do samba em 1931,33 e 34 durante o carnaval paulistano e em 1937 em Pirapora do Bom Jesus ressalta a sublime coreografia sexual do par que se formou de repente no centro da dana coletiva. Em seguida ele descreve magistralmente os avanos e recuos tpicos do samba de bumbo realizados pelo tocador, um negro esplendido e uma pretinha nova, de boa doura que vem pela primeira vez sambando em frente dele...e que entusiasmou o negro. Diz Mrio de Andrade mais adiante: Nunca senti maior sensao artstica de sexualidade, que diante daquele par cujo contacto fsico era no entanto realizado atravs dum grande bumbo. Era sensualidade? Deve ser isso que fez tantos viajantes e cronistas chamarem de indecentes os sambas de negros... Mas, se no tenho a menor inteno de negar haja danas sexuais e que muitas danas primitivas guardam um forte e visvel contingente de sexualidade, no consigo ver neste samba rural coisa que o caracterize mais como sensual Parece que essa estratgia foi bem sucedida, pois as pesquisas vm apontando que na Campinas do ltimo quartel do sculo dezenove, o samba j era aceito por alguns senhores de escravos mais benevolentes, sendo danado pelos negros em datas especiais, como no aniversrio de uma sinhzinha ou em dia de festa religiosa. o caso do Baro Geraldo de Rezende, grande cafeicultor que no s permitia, como apreciava o samba dos seus escravos, convidando amigos e parentes, para juntos assistirem ao sambas danados em dias de festa no terreiro de caf da famosa Fazenda Santa Genebra. Sua filha, uma musicista, ao escrever a biografia do pai, registrou a letra e a melodia dos sambas que eram cantados no terreiro da Santa Genebra, terreiro esse, que ainda se mantm intacto em frente casa da fazenda, bem ao lado da UNICAMP.
Seqncia de sambas recolhidos por Amlia de Rezende e recriados pelo Cupinzeiro. I 9 Quando o meu bem vaise embora, ai eu fico Panha laranja no cho tico-tico Panha laranja no cho. Panha laranja no cho tico-tico Panha laranja no cho. Minha toalha de renda Minha toalha de bico Panha laranja no cho tico-tico Panha laranja no cho. Panha laranja no cho tico-tico Panha laranja no cho.
II Minha cumadi, pelo amor de Deus ai, Minha cumadi, pelo amor de Deus ai, Me d meu leite, co a vaca me deu Me d meu leite, co a vaca me deu
III V cham Nhonh V cham Nhonh Mucama t brigando L no corredor
Oi viva Nenm Oi viva Nenm Viva Nenm crioula 10 Oi viva Nenm
Os velhos cronistas campineiros nos contam tambm que mais tarde o samba foi danado na cidade, com o nome de samba de terreiro ou caiumba, l para os lados do Cemitrio da Saudade ou ainda junto a um crrego que cortava a atual Avenida Moraes Salles. Essas danas aconteciam principalmente no dia 13 de maio, a grande data negra da cidade. Ruy Martins Ferreira, tendo suas memrias de infncia ativadas pela leitura das crnicas de Barbosa Pupo, reunidas no livro Oito bananas por um tosto, produziu um bico de pena mostrando o conjunto musical que animava uma festa de 13 de maio, em que a cayumba rolava solta. A semelhana de Campinas, o samba foi chegando ao territrio urbano e tomando seu lugar nas cidades interioranas paulistas, atravs de festas profano-religiosas, sendo cantado e danado na Festa de Coroao dos Reis do Congo, durante a fase da escravido e mais tarde na Festa de Santa Cruz ou na Festa de So Benedito. Essa foi uma estratgia desenvolvida pelas lideranas negras para que ele fosse aceito, at entre os senhores mais renitentes, pois danando o samba, louvava-se o santo homenageado naquele dia e assim, gradativamente ele ia se tornando uma dana cristianizada. Em Campinas, o samba de bumbo se tornou uma prtica to comum que inspirou o seu compositor maior, Carlos Gomes, a criar uma pea musical intitulada Quilombo, cujo subttulo : Quadrilha Brasileira sobre os Motivos dos Negros. Ela subdividida em movimentos denominados Cayumba, Bananeira, Quingob, Bamboula e Final. Alceu Maynard de Arajo, um importante estudioso do folclore paulista, dizia que o batuque no estado de So Paulo uma dana de terreiro, e que em Campinas ele era chamado de Cayumba. Esse autor explica tambm que nele devem estar presentes o tambu, o quinjengue ou molemba e o urucungo, definindo assim a percusso original para a realizao do samba de bumbo campineiro. 11 Foi esse samba de origem rural, praticado em muitas cidades interioranas, como It, Campinas, Capivari, Tiet, Piracicaba, que foi levado, a partir do final do sculo XIX e primeiros anos do XX, para a capital do estado de So Paulo pelos negros migrantes. Esses trabalhadores, libertos da escravido e expulsos das fazendas pelas sucessivas crises da cafeicultura, tiveram que buscar uma ocupao urbana na capital do estado, cidade que nesse perodo crescia e se industrializava rapidamente, atraindo por isso muitos migrantes provindos do interior. Ali esses migrantes interioranos se fixaram nas regies urbanas pouco valorizadas. Nelas, enchentes constantes ou encostas muito ngremes, dificultavam uma ocupao urbana pelas classes mais abastadas. Foram nesses espaos urbanos que se formaram os trs grandes territrios negros tradicionais da cidade de So Paulo: Barra Funda, Bexiga e Baixada do Glicrio. Aps a Segunda Guerra Mundial, bairros como Casa Verde, Peruche, Vila Matilde, ou Taboo se constituram tambm com grande concentrao de populao afro-brasileira, sendo locais onde o samba, at hoje, uma fora tradicional e agregadora.
TRADIO. (Vai no Bexiga pra ver) Geraldo Filme Quem nunca viu o samba amanhecer Vai no Bexiga pra ver Vai no Bexiga pra ver (Quem nunca viu)
O samba no levanta mais poeira O asfalto hoje cobriu o nosso cho Lembranas eu tenho da Saracura Saudades tenho do nosso cordo
Bexiga hoje s arranha cu E no se v mais a luz da lua Mais o Vai-vai esta firme no pedao tradio e o samba continua
12 Extrado do CD Geraldo Filme Memria Eldorado, distribudo pela Gravadora Eldorado, 1980
NO MORRO DA CASA VERDE. (Adoniran Barbosa - 1975)
Silncio, madrugada No morro da Casa Verde a raa dorme em paz... L embaixo os meus colegas de maloca Quando comea a sambar no para mais. (Silncio)
Valdir, vai buscar o tambor... Larcio, traz o Agog... Que o samba na Casa Verde enfezou. (Silencio)
Extrado do CD Adoniran Barbosa Especial. EMI- ODEON BRASIL.
Campinas tambm teve, a partir do final do XIX e primeiras dcadas do XX, os seus redutos com maioria de populao afro-brasileira como os bairros Cambu, Ponte Preta, Vila Marieta e So Bernardo. Esses eram locais onde o samba de bumbo era danado nos cortios e nos terreiros, com grande animao dos danarinos que varavam as noites, seja cantando os estribilhos tradicionais ou fazendo versos de improviso. Nesses bairros paulistanos ou campineiros, onde viviam os negros e os brancos pobres, o samba foi aprendido e danado pelos imigrantes, fossem eles de origem portuguesa, italiana ou espanhola, pois sendo vizinhos e companheiros nas duras lidas cotidianas, eram tambm parceiros nos momentos de festa e congraamento. O samba ganha assim um carter integrador, pois atravs da msica e da dana, esses novos brasileiros, tambm pobres e migrantes, vo conseguindo seu lugar no espao econmico, mas tambm no espao cultural e de lazer das cidades que se desenvolviam. Adoniran Barbosa (que nasceu e cresceu em Valinhos e cujo nome de batismo era Joo Rubinato), Chico Pinga (fundador da E.S. Lavaps) e Tkio (dirigente de 13 Bateria da Nen de Vila Matilde), alm dos sambistas Germano Matias e Oswaldinho da Cuca, so exemplos de brancos, filhos de imigrantes, que muito contriburam para o samba paulista.
Aqui poderamos fazer uma pausa musical para ilustrar a condio do brasileiro pobre e operrio com mais um samba de Adoniran Barbosa.
TORRESMO A MILANESA(Adoniran Barbosa & Carlinhos Vergueiro, 1976) O enxado da obra Bateu onze horas Vamose embora Joo Vamose embora Joo
O que que voc trouxe... Na marmita Dito? Truxe ovo frito! Truxe ovo frito! E voc beleza... O que que voc trouxe? Arroz com feijo... E um torresmo a milanesa. (Da minha Tereza)
Vamos almoar Sentados na calada Conversar sobre isso e aquilo... Coisas que ns no entende nada, Depois puxar uma paia, Andar um pouco pra fazer o quilo ( dureza Joo)
O mestre falou, Que hoje no tem vale no Ele se esqueceu Que l em casa no sou s eu. (Se segura Maria) dureza Joo... dureza Joo... 14
Extrado do CD Adoniran Barbosa Especial- EMI ODEON BRASIL.
O samba, nas primeiras dcadas do sculo XX, passou a ganhar novas foras nas cidades paulistas, atravs do Carnaval. Nessa poca eram os cordes que faziam sucesso no carnaval negro, uma manifestao popular ainda em fase de consolidao. A princpio os cordes se apresentavam ao som de marchas sambadas compostas pelos prprios sambistas, pois esse ritmo permitia um desfile cheio de evolues, realizado para agradar um pblico ainda em fase de conquista e sempre sob a aprovao, cuidadosamente negociada, ano aps ano, com a polcia. Mas, esses sambistas negros e brancos no se esqueciam das suas razes interioranas. Pelo menos uma vez por ano, retornavam a So Bom Jesus de Pirapora para festejar com outros grupos vindos de Tiet, Capivari, Piracicaba, Campinas, So Roque e de lugares ainda mais distantes. Iam para louvar o Bom Jesus, mas tambm para participar das acirradas disputas de samba, realizadas noite nos barraces que serviam de alojamento para os romeiros. Era ali, nesses enormes barraces que os paulistanos se embebiam de suas razes e tradies afro-rurais para continuar montando seus cordes carnavalescos, manifestaes urbanas, mas com forte e decisiva influncia do jongo, do samba de roda, do samba de bumbo e do samba de batuque.
Sambas com influncias rurais ou que fazem meno Pirapora. DITADO ANTIGO (Tuniquinho Batuqueiro e Osvaldinho da Cuca ) Mandei preparar o terreiro que j vem chegando o dia Eu vou encorar meu pandeiro para entrar na folia
Meu av preto de Angola me ensinava a cantoria Foi herana de um passado quando fez a travessia Na bagagem a esperana, conscincia e valentia Capoeira quilombola derrubava e no caia
E quando comear o pagode, Pego o pandeiro, caio na orgia 15 E quando comear o pagode, Pego o pandeiro, caio na orgia
Eh jongueiro Bate no couro que tem festa no terreiro (refro)
No dizer da minha av sambador no tem valia, Samba nunca deu camisa minha av sempre dizia... Sambador no ganha nada, vive na calada E no cuida da famlia...
E quando comear o pagode, Pego o pandeiro, caio na orgia E quando comear o pagode, Pego o pandeiro, caio na orgia
Extrado do CD: Osvaldinho da Cuca convida: Em referncia ao Samba Paulista. Rio 8 Fonogrfico SAMBA DE PIRAPORA (Geraldo Filme) Eu era menino... Mame disse vmo embora, Voc vai ser batizado No samba de Pirapora (Eu era menino)
Mame fez uma promessa... Para me vestir de anjo Me vestiu de azul celeste, Na cabea um arranjo. Ouviu-se a voz do festeiro No meio da multido, Menino preto no sai Aqui nessa procisso Mame mulher decidida... Ao santo pediu perdo Jogou minha asa fora, Me levou pro barraco
L no barraco tudo era alegria Negro batia na zabumba e o boi gemia 16 (l no barraco)
Iniciado o negrinho Num batuque de terreiro, Samba de Piracicaba, Tiet e campineiro... Os bambas da Paulicia No consigo me esquecer... Frederico na zabumba Fazia a terra tremer... Cresci na roda de bamba... No meio da alegria, Eunice puxava o ponto, Dona Olmpia respondia. Sinh entrava na roda Gastando a sua sandlia... E a poeira levantava No vento das sete saias
L no barraco tudo era alegria Negro batia na zabumba e o boi gemia (l no barraco)
Extrado do CD Histria do Samba Paulista, narrada e cantada por Oswaldinho da Cuca , participao de Aldo Bueno, Germano Matias e Tobias da Vai-Vai, Gravadora CDC UMES, distribudo pela Eldorado Fonogrfica, 1999
Foi esse intenso contato interior/capital que trouxe para So Paulo uma primeira leva de sambistas tradicionais, nascidos e formados no interior do Estado e que criaram e mantiveram os cordes com seus constantes e quase obrigatrios retornos anuais Pirapora, at os anos 50 do sculo passado. Tal fato nos permite dizer que o interior do Estado de So Paulo foi o bero e a grande fora alimentadora da tradio do samba paulista e nesse sentido dois exemplos precisam ser lembrados:
Dionsio Barbosa nascido em Itirapina, neto de um escravo baiano e de uma ndia da aldeia jesutica de Conceio dos Guarulhos, era filho de outro cativo, carapina de profisso e exmio danador de Caiap. Dionsio tambm foi um mestre 17 carapina, ou seja, mestre carpinteiro, que ao migrar de Itirapina para So Paulo, empregou-se em uma empresa moveleira do bairro do Bom Retiro. Devido qualidade do seu trabalho, foi mandado pela empresa ao Rio de Janeiro para trabalhar na filial carioca. L ficou de 1912 a 1914 hospedado em casa de famlia de sambistas e conheceu o apogeu dos ranchos carnavalescos cariocas, tendo tambm admirado as performances das Bandas Marciais da capital da Repblica. Retornando So Paulo, fundou o primeiro cordo denominado Grupo Carnavalesco da Barra Funda, que ele ensaiava no quintal da sua casa, situada no incio da Rua Conselheiro Brotero. Mais tarde, devido a grande popularidade alcanada, o Cordo foi cognominado pelo povo de Camisa Verde, recebendo o Branco em seu nome por imposio policial, para diferenci-los dos integralistas, um movimento poltico liderado por Plnio Salgado, cujos membros tambm usavam camisas verdes.
Geraldo Filme ou Geraldo da Barra Funda, nascido em So Paulo, mas batizado em So Joo da Boa Vista, era filho de uma empregada domstica que servia s famlias da aristocracia paulista. Sua me viajou a Europa com seus patres e de l trouxe a idia de fundar a primeira associao de domsticas de que se tem notcia no Brasil. Esse grmen de sindicato, entretanto, no prosperou e Dona Augusta se tornou dona de penso e fornecedora de marmitas que eram entregues por seu filho Geraldo. Por isso ele, desde moleque, cruzava diariamente a Barra Funda e os Campos Elseos, conhecendo assim os grupos de bambas do Largo da Banana, da Praa do Correio e do Largo da S e se tornando tambm um bamba, tanto no jogo da Tiririca (a famosa capoeira paulista), como na composio de sambas que com grande sabedoria contam a histria dos redutos negros paulistanos. Geraldo Filme foi fundador do Cordo Paulistano da Glria, participou dos carnavais do Bexiga e cantou com graa, propriedade e realismo a saga do negro paulista.
18 Um outro cordo carnavalesco importante nessa histria o Vai-Vai, surgido nas ladeiras ngremes da Saracura, uma regio do Bexiga, em So Paulo. A Saracura era um local habitado por negros e imigrantes italianos muito pobres, mas que j possua nos anos 30 muitos times de futebol de vrzea. A turma do Vai-Vai, um dos times do bairro, resolveu criar um cordo-carnavalesco para poder danar um bom samba, aps as partidas futebolsticas do final de semana. Para frisar sua rivalidade com outro time do bairro chamado Cai-Cai, se auto denominou Vai-Vai. SAMBAS TRADICIONAIS DOS CORDES CAMISA VERDE E VAI-VAI. Camisa Verde e Branco
Vem,vem,vem, vem morena Brincar no nosso cordo Ns no podemos deixar O nosso Rei Momo na mo Camisa Verde a gloria Para alegrar os coraes La ia ra, la ia ra
Vai-Vai
Que barulho que barulho aquele Que barulho aquele que vem l o Vai-Vai Que vem brincar o carnaval Quem nunca sambou na vida Nem uma vez por ventura Vem pro Vai-Vai do Bexiga Orgulho da Saracura
Os cordes eram ensaiados e dirigidos pelos apitadores, que ao som de fortes silvos conseguiam as mais incrveis evolues, tanto dos membros da bateria como das amadoras, termo paulista para designar o grupo das pastoras. Um dos mais famosos apitadores do samba paulista foi Pato Ngua, cuja habilidade de dirigente sambista nunca foi suplantada. 19 Ele ensaiava por trs ou quatro anos o Vai-Vai do Bexiga e quando julgava que esse cordo j havia vencido um nmero suficiente de concursos carnavalescos, se bandeava para a Barra Funda, ensaiando ento o Camisa Verde, que assim se tornava campeo por quatro ou cinco anos consecutivos. Retornava ento Pato Ngua ao Bexiga, para atravs de sua liderana propiciar nova fase de sucesso ao Vai-Vai. Nesse perodo, os anos 40 e 50 do sculo passado, para fazer samba era preciso ser um bamba, isto , circular e viver entre a legalidade e a marginalidade, como mostra a composio de Geraldo Filme. Foi por isso, por esse carter marginal do samba que Pato Ngua, uma lenda entre os afro-brasileiros de So Paulo, apareceu um dia assassinado na periferia, fato que inspirou uma das mais belas composies desse sambista maior.
SILNCIO NO BEXIGA (Geraldo Filme) Silncio... O sambista est dormindo Ele foi, mas foi sorrindo A notcia chegou quando anoiteceu Escolas Eu peo o silncio de um minuto O Bexiga est de luto O apito de Pato ngua emudeceu
Partiu, no tem placa de bronze Nem fica na histria... Sambista de rua morre sem glria, Depois de tanta alegria que ele nos deu... Assim, o fato se repete de novo, Sambista de rua, artista do povo... E mais um que foi sem dizer adeus... (Silncio)
Extrado do CD Geraldo Filme Memria Eldorado, distribudo pela Gravadora Eldorado, 1980
20 Sambas como esse, tipicamente paulistas, resultam de uma tradio cultural que provinda com o povo negro do interior do Estado, se urbanizou e se fortaleceu na capital, tendo por base a manifestao carnavalesca dos Cordes e continuou ainda por algumas dcadas sendo mantida nas reunies realizadas nos dias de festas religiosas negras na Barra Funda ou no Jabaquara. Esse samba que, de rural se tornou urbano e carnavalesco, deixou marcas indelveis na histria do grupo afro-paulista. Ele comeou a perder fora, entretanto, quando em 1968 o carnaval foi oficializado por um prefeito carioca, Faria Lima, um engenheiro notvel, mas pouco enfronhado nos temas da cultura popular. Por isso solicitou a um carnavalesco, tambm carioca, que redigisse o regulamento que disciplinaria os desfiles de Momo, em So Paulo . Esse carnavalesco, apelidado Jangada, desconhecendo a realidade do samba paulista, redigiu um regulamento inteiramente baseado nas escolas de samba cariocas, forando assim todos os cordes, no curto perodo de quatro anos, de 1968 a 1972, a se transformarem em manifestaes assemelhadas s da antiga Capital da Repblica, apagando assim essa rica trajetria cultural que hoje estamos tentando reconstruir. Foi tentando recuperar essas histrias e mostrar sua importncia na formao cultural do povo paulista, j em risco de perder a rica memria do samba de So Paulo, que h mais de cinco anos um grupo de pessoas, das mais diferentes origens sociais e culturais de Campinas, criou o Ncleo de Samba Cupinzeiro. Esse ncleo, a semelhana de outros grupos da Capital como o Morro das Pedras, o Projeto Nosso Samba ou o Samba da Vela, vem dando novo alento ao samba de raiz produzido em So Paulo, atravs do esforo de comunidades, cada vez mais unidas e conscientes da fora transformadora dessa manifestao cultural de origem afro- brasileira. Eles realizam um trabalho importante de formao de pblico, tornando jovens, adultos e idosos que participam das rodas de samba, pessoas conscientes, atuantes e crticas em relao produo sambstica atual. So pessoas, que embora passando 21 a valorizar a ancestralidade e a tradio, apreciam tambm os novos sambas que, com razes fincadas no passado, falam de temas da contemporaneidade. O objetivo dessas associaes, a primeira vista to heterogneas, foi o de reconstruir e difundir a memria e a tradio do samba paulista. Assim, o pblico presente s rodas de samba conhece e canta os sambas tradicionais paulistas, mas tambm os inesquecveis sambas cariocas produzidos entre os anos 20 e 70 do sculo passado. Ouvem as histrias de vida e as composies, na prpria voz de sambistas tradicionais, que so especialmente convidados para essas reunies quinzenais. A educao noformal a metodologia utilizada para transmitir, na grande roda que se forma, os contedos que abordam a nossa histria comum e que so pesquisados pelos membros mais atuantes da comunidade. Atravs de estratgias envolventes e sedutoras ( em que a msica, a visualidade e o ritual se fazem presentes) eles enriquecem, com os dados da tradio, o capital cultural dos participantes, potencializando assim a inspirao dos jovens compositores que integram tais grupos, os quais passam ento a compor novos e inspirados sambas. Assim, ligando o passado ao presente, eles nos mostram a fora das nossas origens, a beleza da nossa memria comum e as possibilidades de sambar com alma, com prazer, mas tambm com conscincia. Seqncia de sambas compostos por integrantes do Ncleo de Samba Cupinzeiro. HOMENAGEM AO CUPINZEIRO (Anabela, Bruno, Edu e Enio)
No terreiro duas mangueiras Um cupinzeiro, muita gente e muito samba Assim, na batalha e na conquista Com graa e com malcia, Nessa vida de aprendiz Desse canto brasileiro, Tradio do meu pas. Aprendendo com meu povo Um modo de ser feliz. (no terreiro)
22 O samba uma festa brasileira, cultura verdadeira Que nunca vai ter fim... por isso que eu canto a noite inteira, Bem de baixo da mangueira Um refro que diz assim... Salve o samba brasileiro Abenoe esse terreiro De samba luar e cupim.
BAR DO PACHOLA (Edu de Maria e Bruno Ribeiro)
Dentro do Mercado Existe um pequeno botequim... Onde encontro cachaa da boa, Pimenta vermelha e aipim. Onde encontro a turma do samba, Cerveja gelada e camaro. Bacalhau e feijoada, Angu com rabada e agrio.
De p no balco, o Nelson Barriga Mastiga um torresmo com muito limo... Enquanto a Marilda prepara a comida para um batalho. Vem chegando o Vela Preta Com o Tni e a El... E o Wilson Perneta, desmente o que o presidente falou... No existe a democracia para alm do meu butiquim, S aqui come o rico e o pobre e at quem no gosta de mim. O Bar do Pachola uma escola Pra quem sabe aprender, Que a vida no da bola pra remandiola que est no poder.
BATUQUE BANTO NAS FAZENDAS DO BARO. (Anabela, Alice, Darco, Edu e Enio) O bloco do Cupinzeiro Vem rua, mente aberta ps no cho Mostrando a cultura do povo Em plenas terras de Baro
23 Nas terras do Baro Geraldo de Resende O rei caf, imponente floresceu... Sob a chibata um povo de real valor De pele negra, trabalhou e padeceu O mesmo povo, demonstrou sua bravura, Preservou sua cultura. Maior riqueza o Brasil no conheceu.
Batuque Banto nas fazendas de Baro O samba a minha herana E eu mantenho a tradio.
E hoje. Hoje, o imperador mudou de nome Impe a guerra e a fome Impede a liberdade cultural Por isso, solto a voz no Cupinzeiro Um canto forte e mensageiro Saudando a luta do negro ancestral Por isso, solto a voz no Cupinzeiro Um canto forte e mensageiro Sambando neste carnaval.
O boi falou pro batuque comear E o samba campineiro O meu bloco vem cantar.
HISTRIA E TRADIO. (Edu de Maria e Bruno Ribeiro)
Quem foi que disse, que o samba est morrendo Que ele j no o mesmo Que ningum lhe d valor Que aposentou-se a malandragem Que o samba vive margem E que a poeira baixou
O samba no se entrega facilmente, O samba um negro valente, Que rompe os grilhes do passado Lanando no presente esta lio: O povo que no tem memria um povo sem histria e tradio
24 Samba, solido sonhando Liras de recordao. Paixo de atemporal sentido O sambas um vestido pudo Pendurado no varal da solido.
Samba, solido sonhando Liras de recordao. Grito do meu peito mais aflito Quando cala, teu silncio como um grito. Meu samba imortaliza este momento Me desculpe Nelson Sargento, Mas o samba no agoniza o seu refro. Meu samba imortaliza este momento Me desculpe Nelson Sargento, Mas o samba no agoniza no.
FONTES UTILIZADAS NA PESQUISA Depoimentos orais depositados no LAHO: Laboratrio de Histria Oral- CMU/UNICAMP Para o samba paulistano: Dionsio Barbosa. Seu Zzinho do Morro da Casa Verde Geraldo Filme. Nen da Vila Matilde Para o samba campineiro: Seu Alusio Geremias Alceu Estevan Dona Marisa Maral Dona Sinh Ana Miranda Bibliografia: ANDRADE, Mrio. Samba rural paulista. In CARNEIRO, Edson (Org.). Antologia do Negro Brasileiro. 1933 _________________ASPECTOS DA MSICA BRASILEIRA. S. Paulo. Ed. MEC/Liv. Martins Ed. S/A, s/d. 25 ARAUJO, Alceu Maynard. Documentos Folclricos Paulistas. So Paulo: Prefeitura do Municipio, Dep. de Cultura, Diviso do Arquivo Histrico, 1952
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