Pressão Atmosférica

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4. PRESSO ATMOSFRICA


Denomina-se presso atmosfrica o resultado do peso exercido por uma coluna de
ar de base unitria que se encontra acima do observador, em um dado instante e
local. Fisicamente, a presso representa o peso que a atmosfera exerce sobre uma
unidade de rea.

O estudo da presso atmosfrica muito importante, bastando lembrar que, sendo o
ar um fluido, sua tendncia movimentar-se em direo s reas de menor presso.
Depreende-se da que o movimento do ar atmosfrico est intimamente relacionado
com a distribuio da presso atmosfrica, embora existam outras foras
intervenientes que modificam a tendncia inicial do ar em mover-se diretamente para
as regies onde a presso for mais baixa.

As variaes da presso atmosfrica no so perceptveis aos sentidos humanos,
entretanto constituem um aspecto importante do tempo pelas relaes que
apresentam com as mudanas das condies atmosfricas. Para a aviao, a
presso atmosfrica tem um significado especial, pois, sem o seu conhecimento a
navegao area teria srios problemas de segurana.

4.1 DETERMINAO DA PRESSO ATMOSFRICA

Em 1643, mediante uma simples experincia, Evangelista Torricelli mostrou que a
presso atmosfrica capaz de compensar a presso reinante na base de uma
coluna de mercrio, mantida em equilbrio. Estava, pois, inventado o barmetro,
instrumento que, com alguns melhoramentos, constitui, ainda hoje, o meio mais
preciso de se determinar o valor da presso atmosfrica.

Como a presso atmosfrica varia permanentemente, necessrio que seus valores
sejam devidamente medidos. Quanto a essa variao, h que distinguir duas
situaes: uma delas se refere s variaes locais, sem influncias externas, como
se a regio estivesse sob o domnio de determinada massa de ar. Neste caso,
ocorrem duas "ondas" na marcha da presso ao longo das 24 horas, com dois
"mximos" s 10:00 e 22:00 h e dois "mnimos" s 04:00 e 16:00 h. Esta
configurao conhecida como "mar baromtrica".


Figura 1.4 - Variao horizontal da presso atmosfrica ao longo da semana, em
milmetros de mercrio.

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A outra situao refere-se s variaes transientes, aquelas causadas por mudanas
das condies do tempo, muitas vezes em razo de causas externas, como os
movimentos de massas de ar. A observao e a anlise dessas variaes so muito
importantes para a previso do tempo. Por exemplo, se a presso cai
acentuadamente, independentemente da mar baromtrica, pode-se esperar alguma
mudana do tempo e, provavelmente, chuvas e tempestades. Entretanto, no fcil
distinguir as variaes locais da mar baromtrica, principalmente nas regies
tropicais, onde so pouco expressivas.

BARMETROS

Os barmetros se dividem em dois grupos, de acordo com o princpio de
funcionamento: o barmetro de mercrio e o de aneride.

BARMETRO DE MERCRIO

Um barmetro de mercrio constitudo de um tubo de vidro, com cerca de 90 cm de
comprimento, cuja extremidade aberta est situada no interior de uma cuba.

Quando o instrumento se encontra em perfeitas condies de operao, h vcuo na
parte superior do tubo e o mercrio ocupa sua poro inferior e grande parte da
cuba.

O tubo de vidro protegido por um cilindro metlico, acoplado a uma cuba e dotado
de um visor, atravs do qual pode ser vista a extremidade da coluna de mercrio, o
menisco.

Gravadas no cilindro, junto ao visor, h uma escala graduada em unidade de
presso. As fraes da presso so obtidas por meio de um vernier, cuja posio
pode ser ajustada de modo a tangenciar o menisco da coluna de mercrio,
permitindo leituras com aproximao decimal.

Finalmente, um termmetro acoplado ao corpo do instrumento colocado com a
finalidade de corrigir a dilatao do mercrio sofrida pelo calor do ambiente onde se
encontra o instrumento.

Os barmetros de mercrio so fabricados de modo que forneam leituras corretas
apenas quando submetidos s condies de temperatura igual a 0C e gravidade
igual a 980,665 cm.s
-2
.

Figura 2.4 - A presso atmosfrica normal ao nvel mdio do mar sustenta uma
coluna de mercrio de 76 cm de altura por 1 cm de dimetro.
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BARMETRO ANERIDE

O barmetro aneride baseia-se na deformao que as variaes da presso
atmosfrica provocam em cpsulas metlicas de paredes onduladas e flexveis,
advindo da o nome aneride pelo qual conhecido. Ao se deformarem pela
variao da presso, essas cpsulas movimentam um sistema de alavancas que
aciona um ponteiro, o qual desliza sobre uma escala graduada, exibida num
mostrador.

Em geral, o sistema de alavancas inclui um compensador bimetlico, cuja finalidade
neutralizar os efeitos da dilatao devido temperatura ambiente. Quando esse
elemento est presente, a presso atmosfrica pode ser lida diretamente no
mostrador.

As cpsulas anerides constituem o elemento sensvel dos bargrafos. Nesses
instrumentos, o sistema de alavancas aciona uma haste em cuja extremidade
encontra-se uma pena, que se move sobre um cilindro rotativo recoberto por um
diagrama apropriado (figura 1.4).


Figura 3.4 - Esquema de um barmetro aneride.

Outra aplicao das cpsulas anerides na construo dos altmetros. O mesmo
sistema de alavancas aciona os ponteiros indicadores da altitude da aeronave, haja
vista a relao existente entre as variaes baromtricas verticais e a altitude.


Figura 4.4 - Esquema de funcionamento de um altmetro.




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4.2 PRESSO AO NVEL MDIO DO MAR

No correto comparar diretamente os valores da presso atmosfrica quando
medidos em locais com diferentes elevaes. Caso isso fosse feito, os valores de
presso referentes s localidades mais elevadas, sendo sempre menores que as
demais, conduziriam a resultados inverdicos. Por exemplo, dariam a falsa impresso
que o ar tenderia a se deslocar sempre dos locais de menor elevao (onde a
presso sempre mais alta) para os de maior. Neste caso, os ventos soprariam
permanentemente encosta acima. Essa concluso, por ser baseada numa premissa
falsa, iria ser contrariada pelas observaes da verdadeira direo do vento.

Para que possam ser comparados os valores de presso em superfcie, observados
em locais com elevaes distintas, necessrio que o efeito do relevo seja
eliminado. Isso feito aplicando-se uma correo aos valores observados da
presso atmosfrica, para que se ajuste a um dado nvel de referncia, normalmente
o nvel mdio do mar.

Em locais de elevaes positivas, essa correo consiste em se adicionar certo
incremento ao valor da presso observado em superfcie para compensar a camada
atmosfrica que passaria a existir sobre esse mesmo local. Em se tratando de
elevaes negativas, como o caso das regies situadas abaixo do nvel mdio do
mar, a presso observada sofreria uma diminuio para compensar a camada de ar
que, teoricamente, deixaria de existir acima deles.

Esse valor de presso que seria somado ou subtrado da presso medida em
superfcie corresponde a uma compensao baromtrica para se comparar os
valores de presso medidos em distintas localidades, porm ajustados ao nvel
mdio do mar (QFF).

A eliminao do efeito altitude, entretanto, um problema muito srio para a
meteorologia. De fato, quando o local considerado possui uma elevao positiva
muito grande, necessrio estimar as propriedades fsicas da atmosfera naquela
hipottica camada vertical, com vistas a quantificar o incremento a ser dado
presso observada em superfcie. Evidentemente, o erro cometido ser tanto maior
quanto mais elevado for o local em questo.

4.3 PRESSO PARA FINS AERONUTICOS

A utilizao do altmetro como instrumento bsico das operaes areas tornou
necessria a criao de procedimentos de ajuste dos valores da presso como
referenciais de altura e de altitude. Vejamos as principais redues da presso em
uso aeronutico:

QFE

Este ajuste corresponde ao valor da presso atmosfrica ao nvel de uma pista de
pouso, utilizado como referncia de altura de uma aeronave. Por exemplo, utilizando-
se no altmetro o valor QFE, a indicao do instrumento ser a distncia vertical
entre a aeronave e o nvel do solo. Este ajuste conhecido, tambm, por "ajuste a
zero", pois, ao pousar, o altmetro da aeronave indicar "zero" de altura.
QNH
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Este ajuste corresponde ao valor da presso atmosfrica de uma pista de pouso
referenciada ao nvel mdio do mar. utilizado como referncia de altitude da
aeronave. Por exemplo, utilizando-se no altmetro o valor QNH, a indicao do
instrumento ser a distncia vertical entre a aeronave e o nvel mdio do mar. Esta
informao fornecida pela TWR momentos antes de o piloto iniciar o procedimento
de pouso ou decolagem.

QNE

Este ajuste, correspondente a 1013,2 hPa e padronizado para vos em rota,
conhecido por "ajuste padro". Uma aeronave em vo QNE acompanha as variaes
horizontais da presso ao longo da rota, de acordo com o comportamento da presso
nos nveis de vo.

4.4 UNIDADES DE PRESSO

As unidades de presso de interesse aeronutico so aquelas de uso nos boletins
meteorolgicos, nos altmetros das aeronaves e nas torres de controle de vo.

HECTOPASCAL

Esta unidade utilizada nos boletins meteorolgicos e nos altmetros das aeronaves.
No sistema CGS de unidades, 1 hPa corresponde a 1000 dinas/cm. Algumas
publicaes aeronuticas ainda fazem referncia ao milibar (mb), unidade
numericamente equivalente ao hectopascal. Entretanto, a Emenda 14 ao Anexo 5 da
ICAO substituiu o mb pelo hPa como unidade de medida de presso para fins
aeronuticos em 01.01.1986.

POLEGADAS DE MERCRIO

a medida da altura da coluna de mercrio do barmetro, em polegadas. Esta
unidade ainda muito utilizada nos pases de lngua inglesa, onde 1 pol.Hg = 33,86
hPa (aproximadamente). No Brasil, muitos altmetros ainda utilizam essa escala.

CENTMETROS DE MERCRIO

Analogamente, a medida da coluna de mercrio do barmetro, em centmetros. Isto
, 1 cm.Hg = 13,33 hPa (aproximadamente).

MILMETROS DE MERCRIO

a medida da coluna de mercrio do barmetro, em milmetros. 1 mm.Hg = 1,33hPa
(aproximadamente).

4.5 VARIAES DA PRESSO

Vrios so os fatores que contribuem para a mudana da presso atmosfrica. A
temperatura um deles. Quanto maior a temperatura, maior a dilatao; logo, o ar
torna-se mais leve. Se a temperatura diminui, torna-se mais denso. Esse o
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comportamento do ar atmosfrico, mas, para outros corpos, como a gua, essa
afirmao no sempre verdadeira.

Para a aviao, h grande interesse pelas variaes da presso atmosfrica em
outros aspectos.

VARIAO VERTICAL DA PRESSO

Pela prpria definio de presso, que o resultado do "peso de uma coluna de ar
sobre uma dada rea", percebe-se que a presso diminui medida que aumenta a
altura. Essa descoberta proporcionou um grande avano na navegao area, com a
criao do altmetro, uma das melhores aplicaes do barmetro aneride.

SUPERFCIE ISOBRICA

Considerando as variaes verticais da presso, os valores de presso podem
formar superfcies de presso constante, ou superfcie isobrica, que corresponde a
um plano imaginrio de mesmo valor de presso. Quando uma aeronave mantm a
mesma altitude aparente, ela est voando numa superfcie isobrica. Veja a figura
5.4.












Figura 5.4 - Uma aeronave em vo acompanha as flutuaes da superfcie isobrica
de referncia.

VARIAO HORIZONTAL DA PRESSO

Se a atmosfera estivesse em repouso, predominariam sobre os continentes, durante
o vero, altas temperaturas e baixas presses e, sobre os oceanos, baixas
temperaturas e altas presses. No inverno, essas configuraes se inverteriam.

Em realidade, a situao um pouco mais complexa. Alm da periodicidade da
radiao solar, os ventos, quando associados topografia, desempenham importante
papel na distribuio dos campos de presso. No lado barlavento, o ar em
escoamento tende a represar-se, criando situaes de presso alta, enquanto a
sotavento ocorreriam formaes de baixa presso.

Alm disso, as perturbaes da atmosfera esto em permanentes alteraes, ora se
intensificando, ora se enfraquecendo, e deslocando-se horizontalmente. Assim,
torna-se clara a grande complexidade das variaes horizontais do campo de
presso, residindo a um desafio para a previso do tempo.
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LINHAS ISOBRICAS

Para uma anlise mais acurada das variaes horizontais da presso, torna-se
necessria a utilizao de linhas que possam representar a interseco das
superfcies isobricas com o plano imaginrio do nvel mdio do mar. Portanto, as
isbaras so linhas que unem os valores de mesma presso sobre o nvel mdio do
mar. Sua finalidade facilitar o trabalho de anlise meteorolgica, a fim de se realizar
os prognsticos do tempo. Veja a figura 6.4.














Figura 6.4 - Linhas isobricas numa carta de anlise meteorolgica de superfcie.

4.6 SISTEMAS DE PRESSO

Os sistemas de presso constituem reas bem definidas, em grande escala, nas
quais os ventos assumem configuraes tipicamente ciclnicas ou anticiclnicas, isto
, sopram para o interior ou para o exterior da referida regio.

SISTEMAS CICLNICOS

Os sistemas ciclnicos representam reas de presso baixa cujos ventos sopram do
exterior para o seu interior. Esses sistemas, em cujo interior predominam, quase
sempre, mau tempo, dividem-se em fechados e abertos.

SISTEMAS CICLNICOS FECHADOS

Um nico valor de presso baixa no constitui, por si s, um sistema de baixa
presso, ou ciclone, como tambm conhecido. O que define um sistema de baixa
presso um conjunto de isbaras em que os valores menores se encontram no
centro. Observe na figura 6.4 que essa configurao (L) fechada.

SISTEMAS CICLNICOS ABERTOS

As configuraes de um cavado so tipicamente ciclnicas, porm as isbaras no
se fecham. Logo, um cavado definido como uma regio alongada de presses
baixas. Veja as figuras 6.4 e 7.4.




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SISTEMAS ANTICICLNICOS

Os sistemas anticiclnicos representam reas de presso alta cujos ventos sopram
do seu interior para o exterior. Esses sistemas, em cujo interior predominam, quase
sempre, bom tempo, dividem-se em fechados e abertos.

SISTEMAS ANTICILNICOS FECHADOS

Um nico valor de presso alta no constitui, por si s, um sistema de alta presso,
ou anticiclone, como tambm conhecido. O que define um sistema de alta presso
um conjunto de valores de presso em que os mais elevados se acham no centro.
Observe na figura 6.4 que essa configurao (H) fechada.

SISTEMAS ANTICICLNICOS ABERTOS

As configuraes de uma crista (ou cunha) so tipicamente anticiclnicas, porm as
isbaras no se fecham. Logo, uma crista definida como uma regio alongada de
presses altas. Veja as figuras 6.4 e 7.4.

COLO

O campo de presso denominado "colo" (ou cela) formado por uma regio que
une dois ciclones e dois anticiclones conjugados. Em geral, os ventos predominantes
nessa regio so fracos e variveis. Veja as figuras 6.4 e 7.4.


Figura 7.4 - Configuraes isobricas tpicas.

4.7 CONCLUSO

A presso atmosfrica sempre significou um dado importante para os seres
humanos. Pode-se afirmar que, instintivamente, as pessoas preferem viver em
ambientes mais agradveis: Para alguns, o litoral; para outros, as montanhas.

Para o aeronavegante, em especial, a presso atmosfrica uma preocupao
consciente, pois suas variaes, provocadas por constantes pousos e decolagens,
provocam significativos desgastes orgnicos ao longo dos anos de atividade area.
Para o servio de meteorologia, entretanto, as variaes da presso atmosfrica
podem significar mudanas nas condies do tempo.

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4.8 BIBLIOGRAFIA

VIANELLO, R.L. & ALVES, A.R. - Meteorologia Bsica e Aplicaes,
Universidade Federal de Viosa, 1991, 469p.

U.S.A. Department of The Air Force - Weather for Aircrews, volume 1, 1982,
145p.

VAREJO-SILVA, M.A. - Meteorologia e Climatologia, Instituto Nacional de
Meteorologia, 2001, 515p.

ANTAS, L.M. - Glossrio de Termos Tcnicos, Coleo Aeroespacial, Trao
Editora, 1979, 756p.












































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INTENCIONALMENTE EM BRANCO





























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LEITURA COMPLEMENTAR

EVANGELISTA TORRICELLI


Em 1608, o aparecimento da luneta nas mos pesquisadoras de Galileu abriu as
portas da cincia astronmica. Tornou-se possvel estudar as montanhas da Lua, os
satlites de Jpiter, as fases de Vnus e a variao do dimetro aparente dos
planetas. Caam por terra velhas doutrinas: passou a ser exigido de um cientista que
deixasse de procurar a verdade nas Sagradas Escrituras para olhar sua volta e
arranc-la do que observava.

Muitos ramos da cincia beneficiaram-se com o mtodo experimental de Galileu.
Colocou-se na ordem do dia a realizao de experincias e a construo de
aparelhos para a pesquisa. Comeava a nascer a idia da ligao ntima existente
entre teoria e prtica. Os estudiosos tinham, atrs de si, sculos de automistificao,
em que velhas e venerveis teorias permaneciam "oficiais", mesmo quando
afirmavam o contrrio do que ocorria realmente. O advento do mtodo cientfico, com
seu rigorismo e sua pouca propenso a aceitar argumentos no fundamentados na
experincia, foi uma injeo de vitalidade no edifcio cientfico medieval.

No ano de 1608, a 15 de outubro, nascia em Faenza, um futuro cientista, destinado a
desempenhar importante papel no desenvolvimento das idias de Galileu. Seu nome
era Evangelista Torricelli, o responsvel pela comprovao do peso do ar, tambm
conhecido como precursor de Newton e Leibniz no desenvolvimento do clculo
infinitesimal.

Para que o menino pudesse estudar, seu pai, homem humilde, decidiu confi-lo a um
tio, superior de uma ordem eclesistica. Foi esse o seu primeiro mestre, at que
atingiu a idade necessria para ser aceito numa escola de jesutas. Em 1627, com
dezenove anos, inscreveu-se na Universidade de Roma. A, estudou matemtica sob
a orientao de Benedetto Castelli. Tinha como colegas alguns futuros matemticos
de fama, como Cavalieri e Ricci. Entre o professor e o aluno estabeleceu-se profunda
identidade, a ponto de Castelli prop-lo a Galileu como secretrio. A essa altura,
Torricelli j havia adquirido slida fama cientfica. No era, portanto, um simples
desconhecido o homem que, em 1641, dirigiu-se a Florena, onde Galileu passava
os ltimos anos de sua vida em priso domiciliar.

Galileu j exercia influncia sobre seu jovem secretrio muito antes de conhec-lo
pessoalmente, desde a poca em que Torricelli estudara o Dilogo sobre os Dois
Mximos Sistemas. A permanncia na vila de Galileu e a convivncia com outros
discpulos (entre os quais Viviani) contriburam para intensificar essa influncia. Em
pouco tempo Galileu conseguira convert-lo para a causa do mtodo cientfico como
nico meio vlido para qualquer tipo de estudo.

A morte do mestre, entretanto, poucos meses aps a chegada de Torricelli, fez com
que o grupo de discpulos se dispersasse rapidamente. Torricelli pretendia dirigir-se a
Roma, onde possua amizades e conhecimentos feitos durante o perodo de seus
estudos. Mas a fama alcanada em Florena, por ocasio de sua breve estada,
impediu-o de partir: o Gro-Duque da Toscana nomeou-o matemtico da corte.
Tornava-se, dessa maneira, sucessor de Galileu na ctedra de matemtica da
Universidade.
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Grande parte dos estudos matemticos de Torricelli no conseguiu sobreviver. Eram,
sobretudo, trabalhos efetuados em Roma, em poca precedente ao perodo toscano,
quando Torricelli publicou pouca coisa, e tudo sob a forma de apontamentos
desordenados, freqentemente incompreensveis e desconexos. Felizmente, sua
correspondncia com outros sbios permitiu reconstituir os problemas que atraam,
na poca, sua ateno.

At ento, os matemticos tinham, quase exclusivamente, aperfeioado e estendido
os estudos geomtricos dos gregos antigos e a cincia algbrica e trigonomtrica dos
rabes. O pice, neste trabalho de aperfeioamento, foi atingido nos sculos XV e
XVI. A geometria de figuras elementares, como o crculo, a esfera, o cone, as
superfcies e volumes gerados pela interseo dessas figuras, j havia sido
cuidadosamente estudada e investigada a fundo.

As novas cincias experimentais, como a fsica, a astronomia e suas aplicaes, a
hidrulica e a balstica, por exemplo, traziam aos estudiosos novos problemas.
Torricelli prosseguiu, ento, o estudo do movimento dos projteis, iniciado anos
antes por Tartaglia, elevando notavelmente o nvel de compreenso sobre o assunto.

Estudou ainda novos problemas de geometria, certas curvas especiais, como a
ciclide, desenhada no espao por um ponto da periferia de uma roda que gire, sem
escorregar, sobre um plano. Torricelli calculou o comprimento do arco da ciclide e a
rea compreendida entre a curva e o plano de apoio sobre o qual gira a geratriz. A
importncia prtica desses estudos, na realidade, muito escassa, mas a procura de
solues levou descoberta de novos mtodos matemticos, cuja importncia se
revelou muito grande.

No sculo XVII, de fato, difundiram-se mtodos derivados do processo de exausto
de Arquimedes (que permite calcular, de modo bastante aproximado, comprimentos,
reas e volumes de quaisquer corpos geomtricos) e que antecipavam o clculo
infinitesimal. Torricelli e Cavalieri foram os primeiros a fazer uso intensivo desses
mtodos. Conseguiram, assim, enfrentar problemas novos, a ponto de darem uma
fisionomia completamente diversa matemtica. Entre eles, um, cuja soluo s era
possvel para slidos: a determinao do baricentro dos corpos.

A palavra barmetro traz mente a imagem de um instrumento para previso das
condies meteorolgicas. Na poca de sua inveno, porm, foi considerado como
uma descoberta de excepcional importncia, autntica conquista da cincia e da
filosofia.

Galileu demonstrara que muitas das afirmaes aristotlicas eram falsas, abalando,
desse modo, todo o edifcio cientfico do filsofo grego. No tivera tempo, porm,
para edificar novos princpios cientficos sobre essas runas, porque parte desse
trabalho foi realizada por seus discpulos e seguidores.

Com a experincia do tubo que, cheio de mercrio e invertido num recipiente do
mesmo lquido, fica cheio s at um nvel de, aproximadamente, 76 centmetros,
Torricelli colocou em novas bases a afirmao aristotlica de que a "natureza tem
horror ao vcuo". Na verdade, o tubo de mercrio fica parcialmente cheio, no por
causa de razes misteriosas que levariam os corpos a preencher os vazios
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existentes, mas devido presso atmosfrica. A experincia de Torricelli serviu para
comprovar a sua existncia e, simultaneamente, medir o seu valor.

Mais tarde Pascal aprofundaria os estudos sobre o assunto, destruindo por completo
as concepes aristotlicas dos opositores de Torricelli. Em 1648, na experincia de
Puy-de-Dme, demonstrou a diferena da presso atmosfrica ao nvel do mar e nas
elevaes: "A natureza tem mais horror ao vcuo sobre as montanhas do que nos
vales? Que todos os discpulos de Aristteles acumulem o mais importante que haja
nos escritos de seu mestre e de seus comentadores para explicar essas coisas, se
puderem, pelo horror ao vcuo".

A inveno do barmetro no constituiu, porm, um fato isolado. Torricelli estudou
muitos problemas concernentes mecnica dos fluidos e hidrulica aplicada.
Conseguiu encontrar uma regra que permite avaliar a velocidade com que a gua sai
de um orifcio praticado na parede de um recipiente, quando conhecido o desnvel
que medeia entre o orifcio e a superfcie livre do lquido. A descoberta de que essa
velocidade igual que a gua adquiriria, se casse livremente no vazio de uma
altura igual ao desnvel, constitui, praticamente, uma conseqncia direta das
experincias de Galileu sobre os movimentos sujeitos ao da gravidade, mas
tambm representa uma intuio do princpio da conservao da energia.

Seus numerosos estudos de hidrulica no se limitaram unicamente teoria. De fato,
deve-se a ele o famoso estudo para o saneamento do vale do Chiana, contido no
trabalho intitulado Sobre o Curso do Chiana, publicado somente em 1768. A
publicao contm ainda diversas observaes sobre o movimento das guas.

Muitos afirmam que Torricelli sempre preferiu fazer outras pessoas trabalharem nas
suas experincias, quando estas requeriam manipulaes complicadas. De fato,
muitas das pesquisas a ele atribudas foram, na realidade, conduzidas por Viviani.
Isso, todavia, no diminui a personalidade do grande matemtico, que as idealizou e
dirigiu.

Sua "preguia" na realizao de experincias no abrangia os trabalhos na ptica.
Torricelli sabia construir instrumentos pticos perfeitos, embora, estranhamente,
nunca houvesse efetuado observaes astronmicas, muito em voga poca.
Assim, dizia que a sua residncia, na Praa do Duomo, no era, em absoluto,
adequada s observaes, uma vez que a cpula de Brunelleschi (da Igreja de Santa
Maria Del Fiore) lhe impedia a viso do cu.

Acredita-se que Torricelli tenha aprendido diretamente de Galileu a arte de fabricar
lentes. Alm disso, desenvolveu um sistema para controlar a perfeio das
superfcies obtidas. Suas peas se tornaram famosssimas em todos os crculos
cientficos da poca. Seus instrumentos pticos alcanaram tal perfeio que o
tornaram famoso por toda a Europa. O Gro-Duque da Toscana lhe deu trezentos
escudos de ouro por sua inveno.

No entanto, a "receita" da descoberta se perdeu. Em outubro de 1647 Torricelli foi
atacado por uma febre tifide que, a 25 do mesmo ms, o levou morte. O segredo,
regiamente comprado pelo duque, veio a ser confiado por sua vez a Viviani. Em
seguida, no houve mais informao alguma a seu respeito.

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A maior preocupao de Torricelli, s vsperas da morte, dirigiu-se para os seus
manuscritos. O moribundo recomendou a um amigo, Ludovico Serenai, que os
enviasse a Castelli, para sua impresso. Castelli, porm, faleceu aps trinta e cinco
dias. Como Ricci recusou o pesado encargo, Viviani o aceitou, porm no o cumpriu,
e por esse motivo foi acusado de querer sabotar o projeto. Finalmente, o fatigante
trabalho de transcrio foi iniciado por Serenai que, todavia, no chegou a v-lo
impresso. Na realidade, a edio integral das obras data de 1919.

FONTE http://www.saladefisica.cjb.net

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