> A Ação Educativa da 4a Bienal do Mercosul tem como objetivo promover a mediação entre as obras de arte e o público visitante, especialmente estudantes e professores.
> O tema da mostra é "Arqueologias Contemporâneas", que investiga as origens e primeiras culturas dos povos da América Latina de diferentes perspectivas.
> O curador Nelson Aguilar organizou a mostra em diferentes seções que revelam faces pouco exploradas do passado e estabelecem diálogos entre arte, ciência e cultura.
> A Ação Educativa da 4a Bienal do Mercosul tem como objetivo promover a mediação entre as obras de arte e o público visitante, especialmente estudantes e professores.
> O tema da mostra é "Arqueologias Contemporâneas", que investiga as origens e primeiras culturas dos povos da América Latina de diferentes perspectivas.
> O curador Nelson Aguilar organizou a mostra em diferentes seções que revelam faces pouco exploradas do passado e estabelecem diálogos entre arte, ciência e cultura.
> A Ação Educativa da 4a Bienal do Mercosul tem como objetivo promover a mediação entre as obras de arte e o público visitante, especialmente estudantes e professores.
> O tema da mostra é "Arqueologias Contemporâneas", que investiga as origens e primeiras culturas dos povos da América Latina de diferentes perspectivas.
> O curador Nelson Aguilar organizou a mostra em diferentes seções que revelam faces pouco exploradas do passado e estabelecem diálogos entre arte, ciência e cultura.
> A Ação Educativa da 4a Bienal do Mercosul tem como objetivo promover a mediação entre as obras de arte e o público visitante, especialmente estudantes e professores.
> O tema da mostra é "Arqueologias Contemporâneas", que investiga as origens e primeiras culturas dos povos da América Latina de diferentes perspectivas.
> O curador Nelson Aguilar organizou a mostra em diferentes seções que revelam faces pouco exploradas do passado e estabelecem diálogos entre arte, ciência e cultura.
Baixe no formato PDF, TXT ou leia online no Scribd
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 19
Inventrio dos Achados
O olhar do professorescavador de sentidos
AO EDUCATIVA Quem pretende se aproximar do prprio passado soterrado deve agir como um homem que escava. Antes de tudo, no deve temer voltar sempre ao mesmo fato, espalh-lo como se espalha a terra, revolv-lo como se revolve o solo. Pois fatos nada so alm de camadas que apenas explorao mais cuidadosa entregam aquilo que recompensa a escavao. Ou seja, as imagens que, desprendidas de todas as conexes mais primitivas, ficam como preciosidades nos sbrios aposentos de nosso entendimento tardio... Walter Benjamin 1 Inventrio dos Achados O olhar do professorescavador de sentidos AO EDUCATIVA Sumrio Ao Educativa: territrio da mediao 5 Arqueologias Contemporneas: 6 revolvendo a exposio O olhar do professor-escavador de sentidos 7 Camadas de leitura que originam achados 10 Caligrafia da criao Materialidade/Matria Corpo movente Memria-(In)Temporalidade O p dos caminhos: rastros do saber-fazer do 26 professor e seus alunos Convites para novas expedies 30 Referncias Bibliogrficas e Sugesto de leituras 32 Encarte: Baralho das Arqueologias Contemporneas AO EDUCATIVA Superviso geral Mirian Celeste Martins Gisa Picosque Coordenao Geral Fbio Coutinho Coordenao de Formao Mnica Zielinsky Assistente da Coordenao de Formao Laura Cogo Coordenao Operacional Laura Fres Assitente da Coordenao Operacional Graziela Salvatori Coordenao de Relacionamento com o Pblico Emlia Viero Assistente da Coordenao de Relacionamento com o pblico Vivian Paulitsch Divulgadoras Ana Lgia Becker Fernanda Moscarelli Maria Helena Cunha Tatiana Praa Rodrigues Agendadoras Cristina F. Rocha Fernanda M. Hegner Joana Scalco Luciane Padilha Supervisora do Espao Arte-Educao-Cultura Ivone Rizzo Bins Supervisores de Mediadores Adriana Daccache Alice Bemvenuti Cludia Zanatta Ilana Peres Azevedo Letcia Lau Maria Helena Gaidzinski Maringela Felippe Michele Bohnenberger Mnica Hoff Nei Vargas Tania Bondarenco Viviane Gueller Inventrio dos achados: o olhar do professor- escavador de sentidos Mirian Celeste Martins Gisa Picosque Concepo e Criao textual 4Bienal do Mercosul Arqueologias Contemporneas Fundao Bienal de Artes Visuais do Mercosul Ao Educativa 4 de outubro a 7 de dezembro de 2003 Porto Alegre/RS A rte. Essa linguagem de fora estranha que ousa, se aventura a falar de tudo, do desconhecido, daquilo que percebido pelos sentidos, materializando os senti- mentos humanos ou os diferentes olhares que o ser huma- no pousa sobre as coisas. Tal qual a fotografia Novia em Mansin Montes (fig 1) de Martin Chambi, que abre os te- mas deste caderno. Um olhar sobre o velar e o desvelar, a figura destacada e a figura escondida 2 , o ritual de passa- gem do conhecido para o desconhecido, nos inquieta. A Arte no responde. Pergunta. O que perguntam os artistas, o que dizem as obras presentes nas Arqueologias Contemporneas da 4 a Bienal de Artes Visuais do Mercosul? Transformados em stios arqueolgicos para o nosso olhar, os espaos expositivos do Instituto Cultural Santan- der, do MARGS, do Memorial, da Usina do Gasmetro e dos quatro armazns do cais no porto, apresentam mos- tras especficas. Transformando tambm professores em arquelogos, a 4 a Bienal do Mercosul se oferece como territrio da mediao. Atravs do Programa de Ao Edu- cativa, responsvel por acionar processos de conhecimento e de pensamento em artes visuais, foram idealizadas e planejadas aes preocupadas com a qualidade de media- o e informao contextualizada a ser oferecida. Privile- gia-se, neste processo, o modo como so estabelecidos vnculos com os diferentes pblicos, visando sempre fertilizar modos de perceber. A provocao convoca o corpo. Com ele, o perceber, o sentir, o pensar. este o convite desta 4 a Bienal do Mer- cosul, que se prepara para que o visitante, especialmente aqueles das comunidades das escolas e das ONGs, possa compartilhar e ampliar seu modo singular de mergulhar na experincia esttica, por si, cultural e educativa. Dois verbos definem e articulam a proposta da Ao Educativa: Dialogar, porque entendemos o dilogo como um processo humano imediato gerador da comunicao necessria entre arte e pblico. Aproximar, porque, entre a arte e o pblico, h ainda fronteiras a serem ultrapassadas a fim de dinamizar a for- mao cultural como um bem simblico integrado a vida de crianas, adolescentes e adultos. Para dialogar e aproximar os conceitos de mediao e ex- pedio so ncora da proposta da Ao Educativa, concretizados atravs de: formao de media- dores e em seu trabalho durante as visitas, produo de materiais de apoio para os estudantes o catlogo: Aprendiz de arte na expedico s Arqueologias Contemporneas, encontros promovidos junto aos professores Camadas para escavar sentidos: o olhar do professor-pesquisador e deste material de apoio. A ao se complementa tambm atravs do Espao Arte-Educao-Cultura, especialmente criado para a continuidade de um atendimento aos educadores em suas pesquisas e planejamento de projetos, alm de saraus culturais. Como transformar visitas em expedies culturais? Como instigar um olhar investigativo dos grupos escolares visitantes, propondo a visita como possibilidade de pes- quisa e estudo sobre a arte contempornea? Como tra- balhar com o discurso expositivo na sala de aula e para alm da prpria exposio? So estas as questes que desenham o material aqui apresentado, como vestgios da exposio que visam a preservar sua memria para alm de seu espao e de seu tempo: > 17 pranchas para escavar sentidos tentam capturar o corpo/olhar pela reproduo da obra e por textos- suportes de possveis chaves de entrada que proble- matizam o olhar a obra reproduzida, trazem a fala do curador com sua viso geral sobre a mostra, oferecem informaes e sites complementares, propondo ainda conexes estticas e interdisciplinares. > um caderno que complementa estas pranchas, pro- pondo a entrada no territrio da mediao e a investi- gao do professor-escavador de sentidos pelas cama- das de leitura que originam achados. a partir destas camadas que chega-se aos rastros do saber-fazer do professor e seus alunos. O convite veio da curadoria e nos tornamos arque- logos para adentrar nos espaos desta 4 a Bienal do Mer- cosul. O convite se estende a todos os aprendizes de arte, ns dentre eles, como arquelogos-professores-pesqui- sadores, munidos de atitude potica reflexiva e crtica, como potenciais mediadores suprindo as dificuldades de envolvimento com a arte contempornea e, zelando pelas futuras ressonncias. Iniciemos a expedio, que pode se prolongar para alm do perodo da exposio, movidos pelos textos vi- suais e verbais e nossa prpria memria da 4 a Bienal do Mercosul visitada. 5 4 > Ao Educativa: territrio da mediao Martin Chambi Novia em Mansin Montes, 1930 Fotografia Cusco U ma palavra e seu sentido so fundamentais para uma exposio contempornea: curadoria fun- o normalmente exercida por especialistas na rea de arte, que propem, no processo de organizao de uma exposio, as formas de articulao entre os elemen- tos de uma mostra. A curadoria nasce da seleo e combi- nao de idias, promovendo um recorte potencializado, gerado pela figura do curador 3 . Como curador desta 4 a Bienal do Mercosul, reco- nhecendo-a como um prtico de entrada latino-america- no para todos os eventos internacionais, Nelson Aguilar 4 foi buscar nas questes sobre a origem o seu mote e na ar- queologia, sua porta de entrada. Recupera do p a palavra, que poderia parecer mofada em vitrines museificadas e a submete ao presente. Notcias recentes falam da desco- berta de fsseis humanos 5 e das novas possibilidades tec- nolgicas, reafirmando a condio contempornea dos estudos arqueolgicos. Aqui nos so reveladas faces pouco exploradas, produes exibidas na Mostra Histrica Ar- queologia das Terras Altas e Baixas. Da mesma forma, Nelson Aguilar subtrai o tempo das inovaes cientficas, que parecem demorar a ingressar no cotidiano, trazendo a Mostra Especial Arqueologia Gentica integrando DNAs e genomas, esteticizados, para um dilogo repleto de inter- conexes. O jogo da curadoria encontrou tambm parcei- ros curadores, responsveis por cada mostra, desvelando ricas camadas onde tempo e espao so vestgios do pre- sente assinalando o passado. A pergunta pelas origens permanece incandes- cente entre os povos da Amrica Latina, a tal ponto que se torna a marca da 4 a Bienal de Artes Visuais do Mer- cosul. No importa que seus indagadores sejam descen- dentes de africanos, amerndios, asiticos, europeus. Tudo conflui aos tempos mticos do engendramento, aos vestgios materiais das primeiras culturas, aferio cientfica que a biologia molecular lana chegada do homem no continente americano, agilidade com que os artistas contemporneos averiguam o comeo. Quando a velocidade em que se processa a infor- mao cresce em uma escala vertiginosa, cabe cura- doria de uma mostra artstica inquirir a respeito dos primrdios e compor um mosaico que repertoria a ar- queologia vista a partir de hoje.(Aguilar, 2003) Assim, a viso cartesiana de que o tempo se arrasta de forma linear, que se perpetua tambm na freqente perspectiva com que vista a Histria da Arte, encontra nesta 4 a Bienal um confronto instigador. A arte moderna rompeu com tradies, impulsionada tambm pela inves- tigao da prpria linguagem da arte, descoberta de outras culturas e outros modos de perceber o mundo. A gravura japonesa, a arte africana, a produo ocenica, a arte bruta, marcaram o impressionismo, o cubismo, o expressionismo, as produes do ps-guerra. Quando Nelson Aguilar articula mostras dentro da idia de arqueologia em um evento contemporneo questiona a concepo linear da histria e confirma que a arte toma o el de tempos e lugares diversos. Esta viso se desvela nas diversas mostras que compe a 4 a Bienal do Mercosul: As Mostras Icnicas focalizam um nico artista em destaque, celebrando os pases presentes: Antonio Berni da Argentina; Pierre Verger da Bolvia; Saint-Clair Cemin do Brasil; Roberto Matta do Chile;Lvio Abramo do Paraguai; Mara Freire do Uruguai e Jos Clemente Orozco, do Mxico, pas convidado. H uma prancha dedicada a cada um deles, com a reproduo de uma obra significativa. O olhar sobre as origens est representado nas pranchas pela imagem de uma obra da Mostra Histrica Arqueologia das Terras Altas e Baixas e pelo projeto da instalao da Mostra Especial Arqueologia Gentica. Dos artistas presentes na Mostra Transversal O delrio de Chimborazo, que atravessa todos os espaos trazendo na figura de Simon Bolvar a fora da liberdade e o desejo da unio latino-americana, foi selecionada uma obra de Martin Chambi. Para as pranchas das sete Represen- taes Nacionais, que exibem exclusivamente arte con- tempornea e envolvem vrios artistas, foram reproduzidas obras que tecem um dilogo com a proposta educativa. Em 4 de outubro de 2003, Arqueologias Contempo- rneas inaugurada, nos faz lembrar que em todos os ou- tubros, acontece a colheita. Tempo para a preservao que refaz a nossa sobrevivncia. Quais achados um professor- pesquisador de arte pode coletar na exposio para a so- brevivncia cultural de seus alunos? Quais obras podem ser escavadas para gerar nos alunos novas maneiras de olhar o mundo e preservar na imaginao? Por onde ento, comear? 7 6 > Arqueologias Contemporneas: revolvendo a exposio > O olhar do professor-escavador de sentidos Vinha eu envolto no manto de ris desde onde o caudaloso Orinoco paga seu tributo ao Deus das guas. Tinha visitado as encantadas nascentes amaznicas e quis escalar a atalaia do Universo. Resoluto, segui as pegadas de La Condamine e de Humboldt, e nada me deteve. Alcancei a regio glacial, o ter sufocava meu alento. Nenhum p humano havia calcado a coroa diamantina que as mos da Eternidade depuseram nas excelsas tmporas do dominador dos Andes. E disse comigo: este manto de ris, que me tem servido de estandarte, atravessou glebas infernais, sulcou os rios, os mares, galgou os ombros gigantescos dos Andes, e a terra abriu caminho Colmbia, sem que o tempo pudesse obstar a marcha da liberdade. Se Belona foi humilhada pelo resplendor de ris, acaso no posso eu assomar s cs do gigante da terra? Sim, eu posso! E arrebatado pelo mpeto de um esprito para mim desconhecido, que divino se me afigurava, deixo para trs os vestgios de Humboldt que empanam os cristais eternos volta do Chimborazo. Subo, compelido pelo animoso gnio, e quase desfaleo ao roar a cabea na copa do firmamento: aos meus ps, os umbrais do abismo Um delrio febril embargou-me a mente. Abrasava-me um fogo estranho e superior. Era o Deus da Colmbia que me possua.(...) O fantasma desapareceu. Quedei-me estendido sobre imenso diamante que de leito me valia, absorto, hirto e como sem sinais de vida. Ouo, ento, a tremenda voz da Colmbia a clamar por mim. Ressuscito, levanto-me, abro com as mos as pesadas plpebras. Volto a ser homem e descrevo meu delrio. Simn Bolvar, 1823 (traduo de Sergio Faraco) Francis Als Zapatos magnticos, La Havana 1994 1994-2003 Cartes postais, fotografias em cores, vdeo Representao Nacional/Mxico binadas para tematizar quatro investigaes estticas: Ca- ligrafia da criao; Materialidade/Matria; Corpo Movente e Memria-(In)Temporalidade. Tal qual o artista Als que, com sua curadoria da rua por meio de seu receptivo sapato, persegue sua inteno artstica/esttica, o professor-pesquisador com sua cura- doria educativa revela sua inteno pedaggica a ser perse- guida na sala de aula. Para isso, h que se convocar os olhos daqueles que pela primeira vez vo olhar/ler as imagens, seja para saborear ou estranhar o novo, o desconhecido. Mas de que modo convocar o olhar dos alunos para a visualidade das imagens achadas nas Arqueologias Contem- porneas? Como escavar sentidos atravs de um rico e frtil dilogo entre as imagens e os alunos? Mediao: espao cauteloso e tateante Tem de todas as coisas. Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, s a fazer maiores perguntas. Guimares Rosa N o contato com a arte, seja atravs da leitura de obras, seja atravs do fazer, como professores-pesquisa- dores nos movemos no territrio da mediao. Processo delicado que pede uma ateno especial revelada por uma atitude frente arte e ao outro, seja criana, jovem ou adulto conhecedor ou no do universo artstico. Novas perguntas surgem quando pisamos na seara da mediao. Acreditamos que o outro nossa frente tem um saber? Confiamos em seu potencial sensvel? Compreen- demos seus conceitos e pr-conceitos desvelados por sua fala, sua gestualidade? Cremos na multiplicidade de lei- turas da obra de arte? Sobre isso, Pareyson 10 ensina que a interpretao sempre, ao mesmo tempo, revelao da obra e expresso de seu intrprete. E, Panofsky 11 , diz que a experincia recriativa de uma obra de arte depende no apenas da sen- sibilidade natural e do preparo visual do espectador, mas tambm de sua bagagem cultural. No h espectador to- talmente ingnuo. Portanto, h marcas culturais tatuadas nas pupilas dos olhos dos alunos que no devem ser desprezadas, mas sim incorporadas e ampliadas durante a leitura para que novas interpretaes e construo de sen- tido possam ser desveladas. Nesse sentido, o professor-pesquisador enquanto mediador aquele capaz de alterar as fronteiras entre o que conhecido e o que ainda desconhecido, fazendo com que as informaes transitem acopladas aos valores de seu grupo de alunos. Mas qual procedimento pode auxiliar na leitura a fim de sacudir a percepo provocando um misto de incmodo e encantamento no olhar? Olhar, apreciar, uma imagem da linguagem da arte pede uma orientao aos olhos, de tal modo que todo o corpo possa olhar sentindo, escutando, tateando, pen- sando. uma tarefa que convoca o olhar a sair de uma ati- tude passiva para mergulhar numa atitude ativa, interro- gadora, atenta tanto as formas visuais da imagem como as conexes sociais e culturais que associamos a imagem. Nesse trabalho gerador de sentidos e significao, o professor um perguntador, aquele que sabe fazer per- guntas e levar o olhar a dialogar com a imagem, aguando a curiosidade e o desejo de olhar o que ainda no foi olhado. Para perguntar aos nossos alunos importante que antes ns mesmos nos deixemos capturar pela obra. S uma leitura pessoal da imagem pode nos levar a descobrir o qu perguntar, como perguntar, a fim de roteirizar uma pauta do olhar: uma listagem das hipteses de perguntas que possam provocar um dilogo dos alunos com a ima- gem, com eles prprios sobre a imagem e com o prprio professor. Cuidadoso, o professor procura no transfor- mar essa listagem num roteiro rgido como uma seqncia de perguntas tal qual um questionrio. Por isso ele tam- bm um leitor das respostas de seus alunos, acompanhan- do o percurso do olhar que esto fazendo, identificando como eles olham, sentem, pensam e interpretam o que vem na imagem ao mesmo tempo em que vo sendo enri- quecidos pela troca de pontos de vista de cada um do grupo. Provocar dilogo, assim, no fixar-se em perguntas que podem se tornar entendiantes ou persecutrias, mas perguntas que saibam puxar a prosa, desvelar os saberes e os no-saberes, os conceitos e os pr-conceitos, para que possamos trabalhar sobre eles, aliment-los, ampli-los e deixar que a experincia esttica se concretize. Como queria Dewey (1949) uma experincia esttica porque a vivemos de forma integral, completa seja uma experin- cia intelectual, prtica ou artstica. Ao, sentimento e significao so uma s coisa. 12 Claro que um professor-escavador de sentidos possui informao preciosa sobre as imagens e os artistas que apresenta aos alunos. O perigo fazer com que essas informaes sejam colocadas como a nica e correta in- terpretao da obra, fechando o sentido. Por isso, cada informao que seja adicionada ao dilogo vem para pro- vocar novos arranjos nos modos de perceber dos alunos. Buscando-se assim renovar o significado das interpreta- es anteriores, modificando o olhar de modo que cada um ganhe mais liberdade e autonomia para construir suas prprias interpretaes. Portanto, a informao se difere da interpretao, age como suaves sopros moventes no p das camadas interpretativas. Contudo, h que se ter delicadeza com o olhar. Antes de qualquer pergunta, a convocao se d pelo olhar si- lencioso que mergulha nas sensaes que a imagem vai doando ao corpo do leitor. Escavar essas sensaes tocar em camadas de coleta sensorial que gera o sentido doce. C omecemos no pelo olhar, mas pelos passos. E os passos so do artista Francis Als. Na Mostra: Re- presentao Nacional/Mxico, os rastros de seus passos e a matria de sua criao se revelam na sua ins- talao, composta por fotografias, vdeo e postais. Aqui, vemos o seu incomum par de sapatos magnticos. Als um andarilho de cidades que colhe com seus ps pelas ruas uma srie de objetos metlicos que passam despercebidos dos habitantes. A obra de Als construda pelos seus rastros e do que pode pegar com o p. Antes da matria se prestar metfora artstica, ela se mostra em si. Bruta. Lixo. Nessa aventura arqueolgica o artista soube cavar uma maneira pessoal de se apropriar dos restos, dos ind- cios do ambiente econmico e cultural de determinados lugares. como se Als fizesse uma curadoria da rua por meio de seu receptivo sapato que se deixa imantar pelo jogo do acaso aberto ao intencional do artista. O proce- dimento de andarilhar e coletar cede lugar ao processo, no que este ltimo pode revelar da inteno de arte perse- guida pelo artista: nos deixar pistas para que os olhos vejam vestgios da civilizao contempornea. A imantao potica dos passos do artista Francis Als pode nos conduzir a pisar na poeira do solo do vasto campo de Arqueologias Contemporneas desta 4 a Bienal. Se formos sensveis ao seu procedimento, o que calaramos para coletar/imantar as imagens de arte? Como andari- lhos da arte, quais imagens podem compor nossa curado ria do ensinar-aprender arte? Um professor que mantm vivo a curiosidade, que gosta de estudar, investigar imagens para sua prtica na sala de aula e levar seus alunos ao encontro com a lingua- gem da arte sem forar uma construo do sentido cor- reto ou nico, veste sandlias de professor-pesquisa- dor, envolvendo com a mais fina ateno sua pele pedag- gica, dando sustentao para pisar em terras ainda desco- nhecidas. No lida com as certezas, e com reducionismos simplistas, mas com a compreenso e a articulao da complexidade. Por isso mesmo, seu caminhar se d no fu- turo, no lugar da pergunta, da questo, da dvida, movido por passos de andar sinuoso que evitam os caminhos retos porque assim pode traar sua prpria trilha na escavao das Arqueologias Contemporneas. Nesse modo de caminhar, descobrindo quais trilhas so acessveis e outras no, o professor-pesquisador mais afeito formulao de perguntas do que elaborao de respostas diante de cada imagem que achar. Afinal, a arte no responde; pergunta! Nessa audaciosa empreitada, quais obras de arte po- deriam imantar as sandlias do professor-pesquisador? Seria essa coleta um jogo do acaso? Ou, o critrio de esco- lha as obras que agradam? Ou as obras que j conhece? Como fazer, porm, para que essa escolha ganhe uma am- plitude na inteno de sua coleta? Um conceito que pode orientar o professor-pesqui- sador de arte nessa coleta seria o de curadoria educa- tiva 6 . O conceito de curadoria aqui expandido para uma ao educativa que tem como preocupao explorar a potncia da arte pela ativao cultural de obras e artistas atravs da experincia e investigao esttica na sala de aula. Ativar culturalmente fazer circular, dar acesso, aproximar. impulsionar a potencialidade de obras e artistas submersos nos livros, nos museus, nos sites, nas reprodues esquecidas que fazem parte de nosso acervo de professores, para alm daquelas sempre escolhidas 7 . Reside nessa ao a formao cultural dos alunos. Forma- o esta que, enfatizando a habilidade perceptiva e cognitiva para interpretar obras de arte em termos de seu contexto social e cultural, possa ampliar o acervo imaginrio de tal modo que obras e artistas passem a integrar o patrimnio pessoal como um bem simblico interno, um repertrio co- nectado vida para a leitura do mundo, das coisas do mundo e da prpria Arte. Como em toda curadoria, a escolha das imagens faz trabalhar o olhar, um olhar escavador de sentidos. Olhar mais profundo e ao mesmo tempo sem pressa, ultrapas- sando o reconhecimento, o fim utilitrio das imagens, e que se torna um leitor de signos. Nesse movimento do olhar, segundo o filsofo francs Georges Didi-Huberman 8 , no s olhamos a obra como ela tambm nos olha. Atento aos sentidos das imagens, tal qual um arquelogo que escava procura do desconhecido, o professor-pesquisador um leitor de imagens que elege aquelas que vo adentrar na sala de aula para o deleite e investigao dos alunos. Nessa tarefa de leitura, as sandlias de professor- pesquisador imantam imagens para compor uma seleo, uma combinao de imagens. Seleo dizer sim e no, sempre nfase e excluso. Combinao recorte. Todo recorte comprometido com um ponto de vista que se elege, exercendo a fora de uma idia, de um contedo que desejo explorar ou de uma temtica possvel de desen- cadear um trabalho junto aos alunos. Selecionar e combinar so, ento, uma interpreta- o do professor-pesquisador. No uma interpretao que cria a armadilha de responder questes, mas a interpre- tao que vai propor aos alunos um processo instigante de novas e futuras escavaes de sentido. Interpretao enten- dida como um encontro entre um dos infinitos aspectos da forma e um dos infinitos pontos de vista da pessoa 9 Pontos de vista que, se socializados num grupo, proliferam em mltiplos sentidos. Foi assim, vestindo sandlias de professor-pesqui- sador, que realizamos uma curadoria educativa, imantando as 17 pranchas que reproduzem obras do discurso exposi- tivo e que aqui so re-apresentadas nas pginas centrais deste caderno. O mesmo procedimento norteou a seleo das imagens que esto reproduzidas no prximo captulo Camadas de leitura que originam achados e que foram com- 9 8 Um esboo experimenta idias no papel. No ras- cunho a ser passado limpo, mas obra. Sua fora est pre- sente, marcando algo que est na processualidade vivida intensamente por Orozco. O trao a lpis, diante do pa- pel em branco, limpo, sua escrita desenhante brinca de traos rpidos com a linha em volteios esboando o corpo de um homem em ao. Escrita cega de Arturo Herrera, no v bem a direo. O gesto da mo seu guia dando vol- tas no espao, embaraa a viso. Len Ferrari faz nossos olhos se perderem num labirinto. Os carrinhos, idnticos, se amontoam, presos como um Minotauro, correndo apres- sados em um viaduto de onde no possvel sair. Tambm no se encontra a sada do texto visual criado por Jos Damasceno. Suas vrgulas em mrmore, grafam a caligrafia da pedra, sobrecarregando o cho de intervalos incessantes. a mo trabalhadora, que faz da arte uma escrita. Textos visuais, tornados visveis pela caligrafia da criao. Na arte h criao, construo, inveno. Tal qual um jogo de armar, um quebra-cabea, a arte recria a matria ofe- recida pelo mundo da natureza e da cultura. Neste vir-a-ser, vrios caminhos so percorridos, vrias solues so experi- mentadas, hipteses so testadas. Nesse jogo as regras so inventadas enquanto se joga e por quem joga. A arte um tal fazer que enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer. 16 Desafios estticos para jogos de pesquisa O que voc percebe em seu percurso pessoal de cria- o? Com quais materiais voc trabalha? Quais artistas so referncia para o seu processo de criao? Como voc se v mergulhado no caos criador: conflito entre o impulso para criar e a forma desejada? Conflito entre a sua sub- jetividade e a objetividade da forma? Conflito entre senti- mento/pensamento e forma sgnica?. > Quais obras expostas na 4 a Bienal do Mercosul nos levam a perceber e refletir sobre os procedimentos ar- tsticos na criao? > Quais percursos criativos podem gerar a experimenta- o da gestualidade movida pelo lpis no papel, a tinta na tela, a goiva na madeira, o buril no metal, o ferro quente no plstico, o dedo na areia, a presso ou a de- licadeza no barro, a tesoura desenhante? Que outras experimentaes seriam possveis? > O registro fotogrfico pode ser um instrumento para a criao artstica? De que modo o artista Augusto Fer- rari, pai de Len Ferrari, no incio do sculo XX, utili- zou o registro fotogrfico de modelos vivos para estudo da composio de suas pinturas? Hoje, quais artistas fazem o mesmo no seu processo de criao? > Pensando na marca pessoal do artista que mostra sua potica na obra diferenciando-a de outras, o que nos faz identificar uma obra de Matta? De Orozco? De Los Carpinteros? De Chambi? De Berni? De Maria Freire? De Gabriela Zuccolillo? De tantos outros? > H uma inteno em cada gesto, em cada cor, movi- mento, postura; com alguma inteno, um compositor faz predominar os sons graves sobre os agudos em de- terminada composio. A ao intencional do autor/ artista que define seu trabalho, mesmo quando opta pela msica aleatria ou por jogar tinta sobre a tela. A letra em Macchi parece escrita l no alto de um prdio com as pontas dos dedos.Qual a inteno de Macchi transformando pequenos e rudimentares anncios em outdoor? Proponha que seus alunos inventem outdoors, pesquisando diferentes modos de escrita. O que escre- vero, oferecendo algo de si? > A escrita dos logos, dos convites de casamento, de for- matura, de cartes de visita, de diplomas, das fachadas de lojas. O que revelam? Proponha pesquisas para per- ceber semelhanas, diferenas e intenes. > A pesquisa pode comear com poesias concretas. Pro- ponha aos alunos uma escrita de palavras soltas, sem lgica aparente, como um procedimento para a criao de poesias visuais que podem ser trabalhadas a lpis no papel, com colagem ou mesmo criando no computa- dor. Aproveite o desafio para discutir e refletir sobre o que o imprevisvel e o acaso no processo de criao. > No jogo do fazer/construir da criao artstica, somos conduzidos e ficamos a merc da imaginao criadora que busca o depois, a mudana do que para o que ser, transformando, inventando. Por quais metamorfoses passam os pequenos seres que a artista Lia Menna Bar- reto submete vontade de sua criao? Que transfor- maes as mos de Maggi causam ao ferir com incises as pilhas do simples e comum papel branco, formato A4? Proponha que seus alunos brinquem de faz-de- conta, metamorfoseando diferentes coisas ou objetos. Em que pode se transformar um leno, um pau de vas- soura, uma cadeira, um abajur, um bon, uma luva ...? A partir do desenho de observao de um objeto, proponha aos alunos a criao de um outro desenho transformando o mesmo objeto. Simplesmente, inventar! O jogo, o mais ldico, envolve o processo de criao. Que outros desafios podem impulsionar nossos alunos percorrer um percurso de criao? Que outras obras podem ser selecionadas para gerar leitura e reflexo sobre os procedimentos artsticos na criao? Que sai dessa cavidade e voa. A sensao mergulha por- tanto no silncio, receptivo. Entendam isto como uma verdade sensvel, como a verdade dos sentidos. A mudez inunda nossos sentidos. O silncio constri o ninho, o ha- bitat da sensao. Sem ele, ela no existe. 13 Essa ao iniciadora do olhar silencioso frtil para gestar falas de interpretao e de (inter)penetrao entre a obra e o leitor. Em torno dos germes sensoriais da coleta, o leitor constri pouco a pouco um olhar do detalhe, da nuana, encontrando passagens que amaciam o (con)tato pela ime- diatez dos sentidos. Forma-se assim, uma parceria vibrante entre o corpo de quem l e as nervuras da carne da obra que se l, mesmo que o sentido revelado seja o no-sentido do que parece sem sentido. Propiciar momentos de silncio, para que cada aluno escreva suas impresses, sensaes, idias, uma ao de mediao especial que abre espao para am- pliaes futuras pelas interpretaes compartilhadas. Projetos: um vir-a-ser das conexes estticas e interdisciplinares Como pode se dar a ressonncia da leitura de ima- gens seja aquela leitura que aconteceu durante a visita a exposio ou a que se deu em sala de aula atravs das imagens que compem este material educativo? A leitura pode ter revelado uma riqueza infinita de coisas para investigao e, ao contrrio de se pensar em atividades isoladas, preciso re-qualificar as questes trazidas para gestar projetos em sala de aula. No cabe neste material de apoio aprofundar a din- mica de um trabalho com projetos 14 , mas cabe aqui con- sider-lo como uma atitude pedaggica. Um projeto uma inteno, que precisa ser continuadamente avaliada e replanejada. O escolher, propor, opinar, discutir, decidir, avaliar so aes desenvolvidas durante a processualidade do aprendizado em parceria com o grupo e com o profes- sor. A visita a um dos roteiros desta 4 a Bienal ou a leitura de algumas obras apresentadas nas pranchas, neste caderno ou no catlogo criado especialmente para os estudantes visitantes Aprendiz de arte na expedio s Arqueologias Contemporneas podem gerar projetos interdisciplinares ou no, que partem desta 4 a Bienal. Pensando o conhecimento como uma construo em rede, que se amplia, se clareia e se aprofunda pelas rela- es que so estabelecidas entre o que se sabe e o que ainda no se sabe, podemos partir para projetos que no cercam obras nicas, mas que tentam estabelecer dilogos entre duas ou mais obras, em novas curadorias educativas. A noo de teia, de rede, o conceito de rizomaxv, com suas possveis confluncias entre as imagens da exposio e o olhar de mltiplos leitores, alimenta o planejamento de projetos que geram frutos de conhecimento diversos, inter-relacionados e, ao mesmo tempo, autnomos e pro- dutores de novas conexes. O pensamento relacional, rizomtico, prope redes que se entrelaam e germinam novas conexes, novos links, instigando o olhar/corpo s camadas interpretativas, regidas por conexes estticas e interdisciplinares, j anunciadas nas pranchas que compem este material e ampliadas por novas e ricas configuraes de objetos de estudo. 11 10 > Camadas de leitura que originam achados A gente descobre que os tamanhos das coisas h que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Manoel de Barros D iante da riqueza arqueolgica que cada stio revela nesta 4 a Bienal do Mercosul e dentre mltiplas potencialidades, pode-se trabalhar com camadas de leitura, geradas pela seleo e agrupamento de imagens por temticas. Escovar cada temtica significa potenciali- zar investigaes estticas, que germinam projetos espe- cficos com a linguagem da arte ou projetos interdisci- plinares tendo a arte como fio gerador. Propomos quatro camadas de leitura: Caligrafia da criao; Materialidade/Matria; Corpo Movente e Memria- (IN)Temporalidade. No so receitas ou projetos para se- rem aplicados, mas para aguar o olhar de educadores e aprendizes e por isso so pretextos que vo alm de con- tedos a serem esmiuados e desenvolvidos analitica- mente. Cada temtica poder gerar projetos autnomos ou, a partir de suas possibilidades de agregao, mistura, contaminao com outra, ramificar novo caminho proces- sual de experincias poticas significativas. Ou mesmo, gerar conexes de carter interdisciplinar com outras reas de conhecimento. Para isso, propomos desafios estticos e jogos de pesquisa atravs de diferentes perguntas-senhas. Caligrafia/trao Para algo existir mesmo um Deus, um bicho, um universo, um anjo... preciso que algum tenha conscincia dele. Ou simplesmente que o tenha inventado. Mrio Quintana Materialidade / Matria Na lata do poeta tudonada cabe Pois ao poeta cabe fazer Com que na lata venha caber O incabvel Gilberto Gil O s pequenos pontos bordados petit-point de Carolina Ruff, fazem caber na trama um fingido extintor de incndio como kit de emergncia para espaos de arte. Os fios de cabelo da obra de Solange Pessoa, ganham aparncia de trama que escorrega e andarilha pelo espao como um labirinto. O tecido de Ugalde (prancha ), tramado pelos indgenas de diferentes grupos tnicos que habitam as terras dos andes bolivianos, escorrega pelo espao como um grande estandarte. O suave aroma de urucum, a penumbra, a fria palavra MET (morte) na en- trada para a sala aps o labirinto e a fora da palavra EMET (esperana, conforme citado no texto da curadora) na sada da instalao, em elegantes letras de alumnio, celebrando antepassados. O silncio dos objetos tocados, envoltos pela luz da fotgrafa-celebrante, Gabriela Zucollilo evocando os rastros de algum que por ali passou. Artistas-poetas fazem da vontade da matria um conduto da visualidade, forma e matria conjugadas, in- terdependentes aos desejos e intencionalidades do artis- ta. A inteno domina ento a matria, com persistncia, com cuidado, com apuramento tcnico. A matria deixa de ser simples matria, se tornando signo que carrega em si mesma a potncia da materialidade. Bordados, cabelos, sementes de urucum, letras de alumnio deixam de ser matrias ali presentes, para serem idias e sensaes, convites de aproximao ou de afastamento, brincando e iludindo nossas prprias percepes. A materialidade se dobra ao feitio do artista que encontra nela singularida- des especiais camufladas sobre sua aparncia. Desafios estticos para jogos de pesquisa A matria, por si mesma, j vem carregada de signi- ficaes. Hoje voc se sente gua, ar, terra ou fogo? Voc se sente papel de seda, papel vegetal, papel espelho, papel la- minado, papel sulfite, papel manufaturado, papel amas- sado? Voc se sente concreto, vidro, tela, argila, ferro, pe- dra, tecido, cristal,...? > Quais os diferentes materiais utilizados pelos artistas na 4 a Bienal do Mercosul? > O que pode acontecer quando a experimentao se d com a tinta? Pequenos e enormes trabalhos? Pincis finos e brochas? Gestos contidos para preencher espaos? Gestos que deixam suas marcas? Tintas prontas ou confeccio- nadas pelos alunos com aglu- tinantes diversos (cola bran- ca ou goma arbica, base de latex, mingau de maisena ou farinha) e pigmentos (legu- mes e verduras como beter- rabas e folhas esmagadas ou cozidas, terras, caf e chs)? > Sementes de urucum, de je- nipapo, flores e folhas, be- terraba e p de caf. Como os artistas produzem as cores? Como as cores so utilizadas? Como a fotossntese produz mudanas cromticas? Cores utilizadas diretamente dos potes, ou criadas por superposies, ampliando a sen- sibilidade para ver as sutis diferenas entre inten- sidade, brilho, saturao? O olhar tambm pode fo- calizar a prpria fatura das obras, percebendo as con- sistncias das tintas empregadas, as superposies, as transparncias e veladuras, a cor pura, as misturas pr- vias ou produzidas no ato de pintar, a economia de tons ou a exuberncia, os contrastes violentos ou a proxi- midade de nuances,... > Como a cermica tambm utiliza diferentes tonalidades de barro, provocando um novo modo de colorir, como as usadas pelos artesos do Vale do Jequitinhonha/MG? Por que h terras de diferentes cores? > Com quais fios j traaram linhas? Fios de cobre, de alumnio, de barbante, de nylon, fio eltrico, fio de cabelo, fios de corda? Fios, linhas, cordas, cordes.? No tecido, no bordado, tranado, tramado, costurado, suturado? Agulha de metal, agulha de croch, agulhas de tric, tear? O que podemos fazer com elas? > Luz do dia, luz da noite, luz de nen, luz negra, luz de outono, luz de inverno, a luz dos faris noturnos, a luz de velas, a luz das pequenas lmpadas que iluminam as bacias sobre os gros de arroz e de feijo, de Lygia Pape. Que cores e luzes transformam o Guaba? Por qu? Som- bras que fazem brilhar a luz? Filtros de luz transformam a obra de Ivens Machado noite. diferente olhar o mesmo labirinto de madeira e tijolo luz do sol... Quais as diferenas entre a luz solar, a luz da tv ou do monitor 14 Caligrafia/Trao Legendas das imagens das pginas 12 e 13. Len Ferrari Autopista Del Sur 1980 Copia heliogrfica 100 x 100 cm Representao Nacional/Argentina Jos Clemente Orozco El Hombre de Fuego 1938-39 Lpis sobre papel vegetal, 55,4 cm x 38 cm Mostra Icnica/Mxico Arturo Herrera Night before last 2002 Tintas s/parede 437 x 990 cm Mostra Transversal Jos Damasceno Entretanto 2003 Maquete Representao Nacional/Brasil 1 Vaso de caritides cultura tapajnica Regio de Santarm (PA) Ca. 1000-1600 d.C. Mostra Histrica, Arqueologia das Terras Altas e Baixas MARGS 2 Martin Chambi (1891-1973) El Gigante de Paruro Cuzco, 1925 Fotografia Mostra Transversal Memorial do RS 3 Jos Clemente Orozco (1883-1949) Piel em azul 1947 Piroxilina sobre masonite 172 x 122 cm Mostra Icnica, Mxico MARGS 6 Jorge Macchi (1963) Publicidad 2000 Instalao Representao Nacional, Argentina Armazm do Cais, A6 5 Antonio Berni (1905-1981) Inundaccin en el barrio de Juanito 1961 leo, metal e papelo sobre aglomerado 186 x 124 cm Mostra Icnica, Argentina Santander Cultural. 4 Francis Als (1959) Zapatos magnticos, La Havana 1994 1994-2003 Cartes postais, fotografias em cores, vdeo Representao Nacional, Mxico Armazm do Cais, A6 9 Saint-Clair Cemin (1951) Thin Chair 1987 Escultura em bronze com assento em alumnio Mostra Icnica, Brasil Usina do Gasmetro 8 Joaquin Snchez (1975) Tejidos 2002 Instalao Representao Nacional, Bolvia Usina do Gasmetro Gastn Ugalde (1946) Marcha por la vida 1992-2003 Tcnica mista 20 x 6 m Representao Nacional, Bolvia Usina do Gasmetro 7 Pierre Verger (1902-1996) Diablada, Oruro Bolvia, 1946 Fotografia Mostra Icnica, Bolvia Memorial do RS do computador, as cores da impressora? Como a luz transforma um objeto? > A escrita da luz, matria da fotografia, se fortifica no jogo de claro/escuro de Chambi. Imagens so recobertas de tinta pelo artista para deixar brilhar a luz. Como pode- mos criar espaos dramticos utilizando lanternas e transformando retro-projetores em fachos de luz, talvez coloridos? > Um objeto, como a lagartixa de plstico de Lia Menna Barreto, se transforma para alm de si mesmo, se moldando em outra forma pela ao do aquecimento, do esfriamento, da toro, do furar, do acoplar. Modelar, esculpir, talhar, cortar, dobrar, ferir, juntar, recortar, perfurar, repetir, modular, achatar ou dar volume? Ou o objeto lagartixa de plstico traz em si a referncia da produo em srie, industrializada, vendida nas lojas de R$1,99, indo alm do universo infantil e adentrando por discusses de globalizao, de merca- do, que movem a economia e o desejo do consumidor? Sua Fbrica (instalao) produz o que em ns? Quais outros objetos do cotidiano so apropriados pelos artistas? Quais outros objetos poderemos investigar? > As coisas tm Peso, Massa, Volume, Tamanho, Tempo, Forma, Cor, Posio Textura, Durao, Densidade, Cheiro, Valor, Consistncia, Profundidade, Contorno, Temperatura, Funo, Aparncia, Preo, Destino, Idade, Sentido. As coisas no tm paz. As coisas. A partir deste poema de Arnaldo Antunes, proponha aos seus alunos desenhos de observao onde estas qualidades estejam presentes. Num segundo momento, proponha a recriao dos objetos desenhados trabalhando a oposio da qualidade expressa. Como pode se dar a metamorfose do peso de um objeto em leveza? Assim como o poeta faz caber na lata o incabvel, o artista faz com que qualquer material venha dar corpo s suas perguntas, tornando visvel as suas invisveis idias artsticas. Que outros desafios podem impulsionar nossos alunos a tornarem visveis suas prprias idias? Que outras obras podem ser selecionadas para gerar leitura e reflexo sobre o dilogo entre matria e materialidade? Corpo Movente palavra l paisagem contempla cinema assiste cena v cor enxerga corpo observa luz vislumbra vulto avista alvo mira cu admira clula examina detalhe nota imagem fita olho olha Arnaldo Antunes O lhar fisgado pela miudeza revela uma imagem que nos parece gigante na fotografia. Frente obra de Rosana Paulino, o olhar fisgado pela multiplicidade de figuras midas, dialogando entre si, dialogando conosco encasu- lando nosso corpo. A escuta fisgada pela musicalidade de um corpo sonoro. Diante da obra, ressoam em nosso cor- po contemplativo, o dilogo entre as imagens de vdeos que revelam os movimentos expressivos da dana do in- censo, da mo trabalhadora, da dana de lutas marciais em- baladas pela composio de Tato Taborda tocando sua Geralda. Olhar fisgado pela cor vermelha iluminada no con- traste da luz sobre as bacias brancas mergulhado na atmosfe- ra de penumbra do ambiente. Caminhando pela obra, sente- se os minsculos gros de arroz e de feijo que desenham e se avolumam danando em volta das bacias. Coreografia- denunciante de que em nosso corpo os traos genticos so contaminados pelas marcas das diferentes culturas. Olhar, pele, corpo. Corpo movente, corpo contem- plativo, corpo virtual, corpo bio-cultural. Corpo ps-or- gnico. Corpo-pele, dilogo entre interno e externo, sub- jetividades... O con-tato com a vida. Seria o corpo um mo- do de ser ou estar? Desafios estticos para jogos de pesquisa > O que voc percebe em seu corpo quando est diante de uma obra? Como ele reage s ressonncias visuais, so- noras, tteis? Calafrio, espanto, arrepio na espinha? Encantamento, estranheza, desconforto, respirao al- terada? Prazer, corao acelerado? O corpo responde aos desejos de aproximao ou de afastamento? Sen- tidos aguados, sensaes ... Como em voc se d essa coleta sensorial? > Em quais instalaes nossos alunos entraram na visita 4 a Bienal ou em outras exposies? Talvez tenham sido raras as oportunidades de penetrar nessas obras. Obras que nos envolvem, que nos provocam pleno en- 19 10 Lia Menna Barreto (1959) Fbrica 2003 Instalao Representao Nacional, Brasil Armazm do Cais, A5 11 Roberto Matta (1911-2002) El dia es un atentado 1942 leo sobre tela 76 x 91 cm Mostra Icnica, Chile Santander Cultural 12 Pablo Langlois (1936) La Lectura 2002-2003 Instalao Representao Nacional, Chile Armazm do Cais, A4 13 Lvio Abramo (1903-1992) Srie Paraguay 1957 Xilogravura 39 x 19,5 cm Mostra Icnica, Argentina MARGS 14 Jorge Senz (1958) Fotografio por necessidad 2002-2003 Fotografia direta em suporte Polaroid SX-70 70x65x6 cm Representao Nacional, Paraguai Usina do Gasmetro 15 Maria Freire (1917) Composicin V 1953 Esmalte sobre aglomerado 122 x 95 cm Mostra Icnica, Uruguai Santander Cultural 16 Marco Maggi (1957) Construccione y demoliciones 2003 Instalao, cortes e aberturas sobre papel Representao Nacional, Uruguai Armazm do Cais, A4 17 Ari Perez (1954) Projeto de Instalao 2003 Mostra Especial, Arqueologia Gentica Armazm do Cais, A7 4 Bienal do Mercosul Baralho das Arqueologias Contemporneas 20 Memria- (In)Temporalidade Tempo tempo tempo tempo Compositor de destinos Tambor de todos os ritmos Tempo tempo tempo tempo Entro num acordo contigo Tempo tempo tempo tempo Por seres to inventivo E pareceres contnuo Tempo tempo tempo tempo s um dos deuses mais lindos Caetano Veloso C apturada por um registro no dirio de Alexander von Humboldt, a artista Raquel Berwich, nos aproxima da lngua extinta dos maypure, preservada pela presena de dois papagaios numa instalao. Os pssaros aprenderam exclusivamente as palavras: yuvi = tempo; sonirri = bom, belo; vasuri = diabo; nunaunari = amigo. Capturando os contornos das paisagem do rio Orinoco, na Venezuela, o fotgrafo Michael Wesely nos apresenta quadros da natureza em elevado grau de abstrao que emerge pela prolongada exposio luz. Raspadas tbias de bovinos brotam do solo formando a escultura-instalao da artista Maria Fernanda Cardoso, fazendo referncia casa onde nasceu Simon Bolvar, em Caracas, cujo cho assentado por tijolos de barro entremeados por ossos bovinos. Um vaso, um recipiente, um animal. Um objeto que indica a identidade da cultura moche, que produziu belos exemplares de cermica e ourivesaria na Amrica pr- colombiana. De quantas camadas temporais se faz o tempo presen- te? De quantas camadas de lembranas se faz a memria? Ossos, palavras, paisagens, objetos marcam a durao do tempo em intemporalidades. No seria a obra de arte a pos- sibilidade humana de viver a intemporalidade do tempo? Cada obra nasce em contexto scio-histrico, mas descola- se dele no decorrer dos tempos. Torna-se intemporal. Desafios estticos para jogos de pesquisa A memria o registro dos tempos vividos. O que voc lembra de seu tempo de meninice? O que deste tem- po est presente em voc hoje? O medo? A curiosidade? A alegria? A ludicidade? O espanto? A magia? Liberdade ou confinamento? > Como a memria e a (in)temporalidade esto presen- tes nas obras da 4 a Bienal do Mercosul? > Qual tradio est presente nos hbitos e costumes de hoje? De que modo? > Investigar a prpria moradia nos seus aspectos ar- quitetnicos, mobilirio, objetos decorativos, os cos- tumes gastronmicos, os hbitos sociais... O que podem revelar sobre as tradies culturais? A qual memria cultura pertencem? > O que nossa memria captura dos tecidos tramados por Ugalde (prancha 8) e dos tecidos tramados por linhas nas xilogravuras de Lvio Abramo (prancha 13)? > A cena familiar pintada por Cosme San Martin (La lectura, 1874) citada e reciclada por Langlois (pran- cha12). Nela, a cena familiar se faz vestgio nos lugares vazios mesa, no corpo, na espacialidade, no clima da luz non. Assim tambm, a artista Laura Lima revitali- za o passado retirando de uma tela de autor desconhe- cido do sculo XVI a composio, os personagens, as vestimentas, o movimento do baile na corte de Henrique III. Que outras cenas da memria cultural poderiam ser escolhidas no acervo do MARGS? Como poderiam ser re-apresentadas na busca de uma trans- posio temporal? > Um fragmento do meu delrio sobre Chimborazo de Simon Bolvar: Sbito, apresenta o Tempo, com o ve- nervel semblante de um velho carregado de despojos das idades: taciturno, curvado, calvo, tez engelhada, uma folha na mo. A partir deste fragmento pesquise sobre a representao do Tempo em obras de arte, na cantamento ou muito estranhamento. Uma fotografia da obra no permite que as sensaes sejam vividas com a mesma intensidade. H de se imaginar dentro para tentar compreender as sensaes, a recepo de nosso corpo, de nossos sentidos.Quais lugares desper- tam sensaes? O ptio da escola? A sala da direo? O palco antes da apresentao para a classe? > Como o somcria sensaes? Pode-se pesquisar as m- sicas de cada personagem das novelas, de filmes. Qual clima provocam? Em que sentido expressam o pensar/ sentir dos personagens? Pesquisar obras que apresentam sonoridades pode nos levar a compreender mais as rela- es entre as linguagens. O que sabemos do repertrio musical de nossos alunos? O que aconteceria se cada aluno escolhesse uma obra ou um trabalho pessoal e o recriasse pela transposio em sons, rudos, silncio? Afinal, o que som? > Dizemos que na arte contempornea a presena e a interao do corpo do observador fundamental? Quais os artistas foram os pioneiros em fazer essa proposio? > No s pelos olhos que se entra na fruio da obra. Diz Ana Cludia de Oliveira: no mbito da recepo arts- tica, a zona privilegiada do visual em nossa cultura ocidental foi perdendo paulatinamente a sua exclusivi- dade. Para dar conta das obras atuais, exige-se do olhar uma articulao de alianas. Alianas com a percepo tambm do prprio caminhar, sentindo os ps. Alianas com o corpo que reage escurido, ao ambiente fechado. Alianas para ouvir sons, rudos, o silncio. Sentidos aguados. Sensaes. Mas, no s as instalaes aguam nossos sentidos, provocando vibraes muitas vezes in- quietantes. As obras bidimensionais de Matta e de Maria Freire, entre tantos outros, podem aflorar em ns vertigens, causando desequilbrio corporal enquanto olhamos a espacialidade contida pela moldura. Mesmo algumas obras que podem parecer em repouso na parede branca do espao museolgico nos enredam num labi- rinto, como se pudssemos nos perder num espao den- tro dela que no existe. > Quais obras presentes na 4 a Bienal do Mercosul trazem a representao do corpo humano? Como nas obras Piel en azul de Orozco (prancha 3) e Pesadilla de los injustos de Berni nos levam a sentir a emoo da dor e do sofrimen- to? O que podemos investigar sobre a gestualidade pre- sente nos corpos retratados por Chambi? O que podemos investigar no corpo-espetculo mostrado por Verger? > A linguagem do corpo dialoga com a linguagem do cor- po das coisas. De quais modos podemos sentar na Thin chair de Saint Clair Cemin (prancha 9)? Quais dilogos visuais, sonoros, cnicos podemos criar entre esta cadeira e tantas outras? Imagine famlias de objetos. Quem so as irms, avs, netas das cadeiras? Que res- sonncias causam em nossos corpos? > Para nascer, a espcie humana,soma material gentico herdado de dois genitores, um feminino e um masculi- no. O ovo-vulo da vida carrega nossa ancestralidade, invlucro das genunas clulas-corpo tecendo cada um de ns. Ovo-vulo. O enigma da vida decifrado. DNA. O cdigo gentico apenas um texto, codificado. Ins- crito em um suporte bioqumico vira informao. Digi- talizados aqui (prancha 17) estampam os artistas sul- americanos mapeando a Arqueologia Gentica da cria- o. Como pesquisar nossos ascendentes? De onde vieram? Como se chamavam? Uma pesquisa com pais, tios, avs pode levar a uma coleta de dados e de foto- grafias. Como criar uma rvore genealgica pelo olhar da arte? E pelo olhar da cincia? > O artista mexicano Richard Moszka, na obra Um ao de basura apresenta por projees de slides um ano de li- xos dirios guardados. O que o cheiro do lixo nos faz refletir sobre o modo como o tratamos? Como temos agido diante da poluio das cidades? Sobre a reciclagem de lixo? A sua escola tem participado de projetos com esse tema? O que essa obra pode gerar de discusso a respeito do lixo urbano? De que modo Francis Als (prancha 4) trabalha com este tema? Que outros ar- tistas trabalharam ou trabalham tendo essa questo como um dos focos de sua obra? Se no tivssemos ne- nhum problema tcnico ou financeiro, que jardim dos sentidos poderamos inventar? > O que sabemos sobre a segunda pele do ser humano, seus ornamentos? Quando teria ele iniciado suas cria- es para ornamentar-se? O que dizer do pensar/ sentir sobre tatuagens, esfoliaes, pinturas corporais, maquiagens? E sobre chapus, bons, ....O que a obra de Solange Pessoa pode nos levar a pensar sobre penteados e cortes de cabelo? E sobre brincos, pulseiras e tembets de vrios povos indgenas, assim como os grandes brincos que aparecem nas estatuetas de cermica da cultura tapajnica? E das bijuterias deste ano e dos anos setenta? O que diferente? O que semelhante? O que muda com o tempo?Por que no criar ornamentos para o corpo? Para tmidos, para aqueles que querem aparecer muito, para os bravos, para os loucos, para os idealistas, para os tristes, para os romnticos, para... po- dem ser bons, penteados, roupas, sapatos,... > A partir da criao e do enfoque esttico dos persona- gens Juanito e Ramona de Berni (prancha 5), que refle- xes podem ser geradas? Quais outros personagens po- demser pesquisados? Quais outros podem ser criados? O olho olha. O corpo-sentidos fisgado. O olho-corpo-pele tem algum como recheio, diz Arnaldo Antunes. Que outros desafios podem impulsionar nossos alunos a trabalhar com o corpo, sobre o corpo, a partir do corpo na arte? Que outras obras podem ser selecionadas para gerar leitura e reflexo sobre o corpo e a corporeidade? 23 22 Materialidade/Matria Legendas das imagens das pginas 20 e 21. Solange Pessoa Sem ttulo 1990/2003 Cabelos, couro, tecidos, cavalos 8 x 20 x 1.6m Representao Nacional/Brasil Ceclia Lampo Testigos del conocimiento 2003 Instalao Sementes de urucum, letras de alumnio Representao Nacional/Bolvia Gabriela Zuccolillo Sem Ttulo Veneza 1999 Sem Ttulo Nova York, 1999 Representao Nacional/Paraguai Carolina Ruff Srie Sistema de Equipamentos para Galerias, Extintor 2002 Bordado sobre esterilla, tcnica petit point 80,5 x 42cm Representao Nacional/Chile 27 Refletir sobre a trama dessa experincia um convite para pinar fios, investigar urdiduras estru- turais, criar novas texturas somando fios dispersos. Como leitores da experin- cia, podemos encontrar seus significados, nos rastros de nossa sandlia de professor- pesquisador, soprando o p dos caminhos percorridos antes, durante e depois da visita a exposio. Meme: herana cultural Para essa anlise refle- xiva, trazemos o conceito de meme, apresentado por He- lena Katz no curso de formao de monitores para a exposio Parade 17 . O autor desse conceito, o bilogo e etlogo Richard Dawkins 18 afirma que quando mor- remos h duas coisas que deixamos atrs de ns: genes e memes. Gene a unidade de transmisso gentica. Como mquinas gnicas, nos esquecemos dessa transmisso em trs geraes: pouco sabemos sobre o que herdamos fisi- camente de nossos tataravs. Por outro lado, os memes so unidades de transmisso cultural. Unidades replic- veis de conceitos e idias, um replicador de informao cultural, que os homens transmitem entre si num processo de simbiose com o ambiente, e que vo sendo repassados como cdigos genticos. As idias, assim, se propagam pulando de crebro em crebro, por con- taminao, e so replicadas e transformadas por nossas prprias maneiras de compreend-las e operar com elas. A inteno no a de aprofundar este conceito, mas apresent-lo como impulsionador da reflexo sobre quais memes foram propagados pela visita a 4 Bienal e nos projetos desencadeados em sala de aula. Pode ser que, a visita exposio tenha revelado o meme de excurso para os alunos. Entretanto, se com sandlias de professor-pesquisador preparamos a visita com uma pauta do olhar levantando questes para a investigao dos alunos, pode ser que tenhamos iniciado o contgio pelo meme da expedio. H uma essencial diferena entre eles podemos nos lembrar, por exemplo da expedio que trouxe Eckhout e outros estudiosos no perodo do Brasil Holands. Mas este meme foi provocado pela reflexo coletiva sobre a experincia vivida, pela retomada dos desafios que as questes iniciais propu- nham. E foi nesse momento particular que se revelaram as mltiplas possibilidades de continuidade desse projeto iniciado e deflagrado enquanto uma expedio, envolvendo o antes, o durante e o depois. Estar em frente s obras do roteiro escolhido ou mesmo diante da reproduo das obras capturando ima- gens, sons, gestos, podem fazer surgir outros memes: uma coleta sensorial. Impulsionados pela leitura, aprendizes e mestres percebem, registram, refletem, questionam, am- pliam a compreenso, fazem conexes, projetam... Como arquelogos, seja na expedio nos stios arqueolgicos da exposio ou mesmo na sala de aula, exercitamos o meme do olhar de escavador de sentidos que se amplia na vida de um grupo que generosamente convive, amorosamente compartilha, pacientemente aprende com o olhar/corpo do outro, com o seu prprio corpo/olhar, com o cor- po/olhar das obras que tambm nos olha. Olhar este que procura desenvolver uma leitura da obra com observao cuidadosa e atenta, construtora de sentidos, investigadora de conexes com a vida presente. Mas pode ser, infeliz- mente, que o meme que pegou, contaminou, foi o do olhar reducionista que se preocupa apenas em saber o que o artista quis dizer? possvel ler obras originais ou reprodues cuidado- sas junto com os alunos, sem ainda ter informaes, pois poderemos investigar depois. Desta forma, nosso aluno pode aprender a aprender. Potencializar o pensar sobre arte tambm trabalhar pesquisando processos de criao e a potica do artista que nos remetem prpria construo da linguagem da arte. Os projetos podem sair de redues como: sensibilizao com a obra, biografia e um trabalho expressivo, e gerar uma srie de propostas que acompa- nham o processo de criao do aluno na construo de conceitos, atitudes e procedimentos, ofertando tambm modelos opostos, complementares, semelhantes. Assim, contextualizar tambm refletir sobre a lin- guagem, como por exemplo, as preocupaes com a iluso de profundidade ao longo da histria da arte, ou as relaes entre matrias e suportes recheados de cargas sgnicas. As questes formais se conectam s de contedos; so sustentculos de possveis significaes. No preciso trabalhar apenas com uma obra de um nico artista (cor- rendo o risco de valorizar apenas a biografia do artista e no investigao de sua potica, de seus processos de criao), mas com muitos artistas buscando camadas in- terpretativas que possam conect-los. Entre muitos pos- sveis, nosso pensamento pode crescer como uma rede pu- xando fios, ligando artistas, idias, gneros, linguagens, tempos, espaos, culturas..., no exerccio de um pensar Corpo Movente Legendas das imagens das pginas 24 e 25. Tato Taborda Geralda Estrutura multinstrumental 1993 Representao Nacional/Brasil Tato Taborda Geralda Estrutura multinstrumental 1993 Representao Nacional/Brasil (detalhe) Lygia Pape DNA 2003 Instalao com bacias, arroz e feijo Representao Nacional/Brasil Rosana Paulino Tecels (detalhe) 2003 Instalao Terracota, faiana, algodo e fios diversos Representao Nacional/Brasil literatura, na mitologia. De que modo o tempo poderia gerar uma criao cnica, musical e/ou plstica? > Trilhar a cidade, observando as praas, igrejas, casa- rios, caladas, paisagismo dos jardins, os monumen- tos, podem nos aproximar da memria de nossos an- tepassados, daqueles que foram os pioneiros funda- dores. O que sabemos deles? O que as obras de arte revelam sobre eles? > Tijolos ou blocos de concreto? Telhas de barro ou de amianto? Cumieiras, esquadrias, marquises, assoa- lhos, escadarias, sto e poro, varandas e alpendres, colunas. P direito alto? Que p este? Que histrias nos contam? > Que registros fotogrficos, guardados por ns mostram nossa origeme a origem de nossa cidade? Fotos colo- ridas? Em branco e preto? Em lbuns? Fotografias em estdios ou nas cabines fotogrficas que rapidamente revelam nossa imagem em 3 x 4? Quais investigaes podemos fazer com esses registros? Que reflexo his- trica e social as obras dos uruguaios Juan Angel Urruzola e Patrcia Betancur e da paraguaia Claudia Casarino possibilitam? > Que relaes podem ser construdas a partir dos ves- tgios recolhidos visualmente de uma expedio ao Brique da Redeno? Vidros com botes antigos, cha- pus, luvas, bolsas, sapatos, lencinhos, fivelas, a moda, o que podem nos revelar sobre as questes de gnero, isto , o comportamento social de homens e mulheres atravs dos tempos? > Quais histrias, causos, lendas conhecemos? Como recri-los em forma de contos, de histrias em quadri- nhos, em livros de artista, em rodas de contao de histrias, em instalaes,...? > Qual o objeto mais antigo que temos em nossa casa? Quem o guardou? Por qu? > Com quais brinquedos e brincadeiras passvamos o tempo das frias? > O ato de colecionar uma atitude de preservao da memria, do passado? Por qu? Quem j no andou pela praia juntando conchinhas? Quem no guardou alguma pedrinha que lhe chamou a ateno? Ou deixou secando entre pginas de um livro uma flor? Colecio- nar, como todos ns fizemos em alguma momento de nossas vidas, sejam conchas ou latas de refrigerantes, caixinhas de fsforo, ou tantas outras quinquilharias, o que acontece com colecionadores que passam suas vi- das colecionando obras de arte, moedas, livros, ... criando acervo que permitem que a histria fique re- gistrada. Nossos alunos conhecem algum coleciona- dor? Fazem alguma coleo? Proponha uma exposio de colees na escola (dos alunos ou de pessoas na comunidade), relendo-as e estudando-as como fontes de informaes histricas e sociais. Quais obras da 4 Bienal do Mercosul pertencem a colecionadores? > Quais expresses idiomticas usamos no falar cotidia- no? Como elas surgiram? O que revelam de arcaico e como foram recriadas? > Como a arte contempornea incorpora o passado da Arte? E como nos incorporamos o passado que ela nos d a ver? Tempo. Deus inventivo da durao. Compositor da permanncia e da memria, fazendo vibrar a (in)temporalidade na vida humana. Que outros desafios podem impulsionar nossos alunos a trabalhar com imagens do tempo, da memria? Que outras obras podem ser selecionadas para gerar leitura e reflexo sobre o dilogo entre memria, temporalidade e intemporalidade? 26 Quem somos ns seno uma combinatria de experincias, informaes, de leitura, de imaginaes? Cada vida uma enciclopdia, uma biblioteca, um inventrio de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possveis. Italo Calvino Q uais vestgios a visita a 4 Bienal do Mercosul deixam em ns e em nosso alunos? Quais olhares as obras atiaram no cho da sala de aula? Olhar surpreso, de en- cantamento, de curiosidade? De estranhamento, estra- nhando o que era familiar e tornando familiar o que parecia estranho? Percebemos o rico conTATO com as obras seja nos espaos expositivos ou na sala de aula? Nosso olhar foi ampliado quando compartilhamos impresses, conheci- mentos e vises? Fomos desafiados pelas questes que pautaram a visita, a conversa posterior, a troca no grande grupo? Samos mais atentos vida, para o mundo e as coisas do mundo? O p dos caminhos: rastros do saber-fazer do professor e seus alunos 28 31 30 Museu Histrico Municipal de Dois Irmos Acervo: objetos de famlias de imigrantes e descendentes, abrangendo os sculos XIX e XX, fotografias, documentos, mveis, livros, instrumentos de trabalho, indumentria, quadros, objetos sacros, jornais, instrumentos de produo artesanal e instrumentos musicais / Av. So Miguel, 1658 Centro / Dois Irmos 93950-000 / [email protected] / (51) 564 1277 R212 Museu Municipal Casal Moschetti Acervo: mveis, obras de arte, quadros e pinturas, esculturas, fotografias, diplomas e homenagens, louas e porcelanas / Rua Rui Barbosa, 49 Centro / Farroupilha 95180-000 / [email protected] / (54)268 1611 R 182 Museu de Artes Dr Carlos Nelz Acervo: artes plsticas / Rua So Pedro, 369 Centro Municipal de Cultura / Gramado 95670-000 / [email protected] / (54) 286-4323 Museu e Arquivo Histrico Municipal de Guapor Acervo: objetos da colonizao italiana: arte sacra, indumentria, ferramentas picas, mobilirio, objetos de cozinha (o mais antigo de 1742), artesanato, documentos pessoais, fotografias e objetos histricos do municpio, joalheria, pipas, equipamentos industriais, peas de fundio, bancada de trabalho, banco de ourives / Av. Alberto Pasqualini, 931 Centro Guapor 99200-000 / (54) 443 4880 Museu de Cincias Naturais do Centro Universitrio Univates Acervo: botnica, paleobotnica,zoologia, ecologia, geologia, arqueologia, sensoriamento remoto / Rua Avelino Tallini, 171 CP 155 Universitrio / Lajeado 95900-000 / [email protected] www.univates.br / (51)3714 7000 R 504 Parque Aldeia do Imigrante Aldeia Histrica Alem Acervo: construo de antigos prdios histricos em estilo enxaimel removidos de diversas localidades do interior do municpio, demonstrando a estrutura e funcionamento de uma aldeia de imigrantes alemes entre os anos de 1875 e 1910 / Av XV de Novembro, 1966 Centro / Nova Petrpolis 95150-000 / [email protected] www.novapetrpolis.com.br / (54)281 1254 e (54)281 1222 Museu Arqueolgico do Rio Grande do Sul Acervo: artefatos e vestgios arqueolgicos, fragmentos cermicos, documentos arqueolgicos / Estrada RS 020 Km 58 Taquara 95600-000 / (51) 542 1553 Museu Municipal Padre Jernimo Martini Acervo: histrico (arte sacra, objetos relacionados agricultura, documentos e fotos) / Praa Trs de Maio, s/n Centro Fortaleza dos Valos 98125-000 / [email protected] / www.fortalezavalos.famurs.com.br / (55)3328 1133 e (55)3328 1145 Museu de Artes Visuais Ruth Schneider Acervo: arte gacha contempornea e brasileira / Av. Brasil Oeste, 758 Centro / Passo Fundo 99010-000 / (54) 312 3656 R 4 e (54) 316 8585 Museu Antropolgico Diretor Pestana Acervo: arqueolgico, material ltico e cermico, indgena: armas, artesanato, objetos rituais, msica, vesturio e uso domstico,imigrao/colonizao, agricultura, processos produtivos, transporte, comunicao, indstria e comrcio, energia, servios, msica, lazer, esportes, educao, religio, usos e costumes e moradia / Rua Germano Gressler, 96 So Geraldo / Iju 98700-000 / [email protected] www.unijui.tche.br/museu (55)3332 7063 e (55)3332 0243 Museu Pblico Municipal Acervo: arqueolgico, indgena e histrico / Rua Tiradentes, 264 Centro / Porto Lucena 98980-000 / (55)3565 1300 Museu Municipal Jos Olavo Machado Acervo: trabalho, educao, som e imagem, arte, mobilirio, poltico-administrativo, histria natural, artesanato, fotografia, numismtica, misses, vesturio, pr-histria, religio, filatelia, arquivo histrico, armamento, histria oral / Rua Antunes Ribas esquina A. Manoel Centro / Santo ngelo 98801-630 / (55)3312 0175 Museu das Misses Acervo: imagens sacras das Misses / Rua So Luiz s/n Centro / So Miguel das Misses 98865-000 / [email protected] / (55)3381 1291 Museu Municipal de Cachoeira do Sul Acervo: caa, guerra, artes visuais, cinematografia, objetos pecunirios, construo, trabalho, lazer, esporte, insgnias, objetos cerimoniais, comunicao, transporte, objetos pessoais, castigo, penitncia / Rua Dr. Silvio Scopel, 502 Centro Cachoeira do Sul 96506-630 / [email protected] / (51) 3722 2525 R 217 Museu de Arte Sacra de Rio Pardo Acervo: peas sacras, artesanato indgena, vestidos de noiva, paramentos, objetos religiosos / P. So Francisco, 277 Rio Pardo 96640-000 / [email protected] / www.riopardo.rs.gov.br / (51)3731 1225 R 220 Museu Colgio Mau Acervo: arqueolgico, histrico e etnogrfico / Rua Marechal Floriano, 274 Centro / Santa Cruz do Sul 96810-000 / (51)3715 0496 Museu de Artes de Santa Maria Acervo: artes plsticas, pintura, escultura, gravura, cermica, arte de artistas regionais, nacionais e latino-americanos / Av. Presidente Vargas (Centro Integrado Evandro Behr), 1400 Centro / Santa Maria 97015-030 / (55) 222 8300 R 29 Museu Educativo Gama DEa Acervo: artes, cincias, histria, paleontologia, arqueologia / Rua do Acampamento, 81 Centro / Santa Maria 97050-001 [email protected] www.ufsm.br/misc/museuedu / (55) 221 9693 Museu Municipal Aparcio Silva Rillo Acervo: antropolgico, arte missioneira, numismtico e tradio gacha / Travessa Albino Pfeifer, 84 Centro / So Borja 97670-000 / (55) 431 3839 Associao Vneta Acervo: documentos genealgicos, arte sacra, fotografias, mapas, utenslios histricos da imigrao italiana / Rua Vale Vneto / So Joo do Polesine 97230-000 / (55) 221 1651 Museu Paleontolgico e Arqueolgico Prof. Walter Ilha Acervo: arqueologia e fsseis animais e vegetais / Rua Fernando Ferrari, 164 / So Pedro do Sul 97400-000 / (55)3276 2955 Museu de Arqueologia e Artes Dr. Jos Pinto Bicca de Medeiros Acervo: pintura, desenho, escultura, gravura, artes grficas / Praa Getlio Vargas, 158 Centro / Alegrete 97542-570 / [email protected] / (55) 422 3318 / 422 3059 R 34 Museu da Gravura Brasileira Acervo: gravuras, fotografias, esculturas em bronze e cermica / Rua Coronel Azambuja, 18 Centro / Bag 96400-710 (53) 242 8244 R 225 Museu de Arte Didacta Acervo: reprodues de quadros e esculturas de artistas da antiguidade ao sc. XX, livros de arte e catlogo de artes, reprodues de esculturas das civilizaes maia, inca e asteca / Rua Santana esquina Duque de Caxias / Uruguaiana 97510-470 / (55) 412 1633 / 411 5720 Centro Cultural Pasquale Marchese Acervo:objetos, mveis, obras de artistas plsticos locais e regionais, documentos e pertences relativos histria de Pedro Osrio Praa Antonio Satte Alam, s/n Centro Pedro Osrio 96360-000 [email protected] ou [email protected] (53) 255 1332 / 255 1333 Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo Acervo: pintura, escultura, gravura, desenho, objetos e mveis do patrono do museu / Rua Flix da Cunha, 818 Centro / Pelotas 96010-000 / malg@ ufpel.tche.br www.ufpel.tche.br/ila/malg / (53) 225 9144 Museu do Charque Itinerante Acervo: desenhos e obras de Danbio Gonalves sobre as charqueadas, acervo Alvarino Fontoura Marques e fotos de Riopardense de Macedo e objetos de charqueadas / Bento Martins, 1639/ 201 / Pelotas 96010-430 / (53) 222 8117 Museu da Cidade do Rio Grande Acervo: mobilirio, fotografias, documentos, indumentria, armaria, artes grficas, artes plsticas, brinquedos, condecoraes, arquitetura, maquinaria, viaturas, montarias, peas aeronuticas, arqueologia / Rua Riachuelo, s/n Centro-Rio Grande 96200-390 / [email protected] / (53) 232 6111 Museu da Cidade de Rio Grande Coleo Arte Sacra Acervo: paramentos, alfaias religiosas, objetos de culto, mveis de devoo, esculturas religiosas / Rua Marechal Floriano, s/n Capela So Francisco de Assis / Rio Grande 96207-390 / (53) 231 1457 Museu Cel. Tancredo Fernandes de Mello Acervo: mamferos fsseis do quartenrio costeiro, material arqueolgico ltico, cermico e histrico / Rua Baro do Rio Branco, 760 esq. Campos Neutrais / Santa Vitria do Palmar 96230-000 / (53) 263 1400 R 2249 Museu Municipal de Tapes Acervo: objetos doados pela comunidade, fotos, obras de artistas locais,jornais antigos, instrumentos musicais, mveis, fsseis / Rua Joo Ataliba Wolff, 559 Centro / Tapes 96760-000 / (51) 672 1788 R 210 Fonte: Guia de Museus do Rio Grande do Sul/ Sistema Estadual de Museus da Secretaria Estadual da Cultura RS. Porto Alegre: SEMRS, 2002. por imagens que tenha o meme do rizoma. As conexes estticas e interdisciplinares constantes das pranchas, so um convite para novos rizomas, assim como o Baralho das Arqueologias Contemporneas. Nos paradigmas que transcendem a perspectiva car- tesiana ou a ambio pela originalidade modernista, h muito para citar, apropriar, recriar. No como algo novo, que supera o que ficou velho, mas como uma atitude investigativa capaz de perceber como aprendemos e ensinamos e perce- ber as teorias e prticas que, como memes, se incorporaram nossa prpria prtica e teoria. Capaz tambm de ver o enriquecimento de um trabalho que precisa compreender a vida de grupo como possibilidade de crescer e valorizar tam- bm o que diferente, seja oposto ou complementar. Como professor-pesquisador inquieto, continuamos aprendendo a ensinar com coerncia e competncia. Muitas vezes nos perdemos nessa tarefa e nos esquecemos que aprender se d em grupo, juntos. Quando no ouvimos, fa- lamos demais, propondo atividades isoladas em vez de desafiar, problematizar, gerar novos projetos, estamos contaminados pelo meme da escola autoritria onde a voz nica do professor silencia as vozes dos alunos. Escolhe- mos obras, mas nem sempre os critrios esto claros, nem sempre cuidamos para que as vrias linguagens da arte estejam presentes, incluindo as obras indgenas, africanas, orientais e as esquecidas manifestaes populares, produ- zidas por homens e mulheres em tem-pos e lugares muito distintos. Esquecemos que essa esco- lha pode ser movida pelo meme da curadoria educativa. Curadoria que, ao ativar culturalmente as obras de arte, estar contaminan- do os alunos com memes de ima- gens de arte que vo adentrar em seu acervo imaginrio, ampliando o repertrio e a formao cultural. Por isso mesmo, acredita- mos que desse rico conTATO com as obras presentes na 4 Bienal que rastros das sandlias de professor-pesquisador esto e continuaro deixando memes estticos no corpo sensvel de seus alunos atravs do corpo informe da arte que, como diz Claudia Amorin 19 um corpo sem sede forma ou verdade; um corpo menos especfico, sem gnero, etnia ou classe. Este seria o corpo da arte: um instrumento de pensar conciliador. Combinatrias de experincias compartilhadas, este o sonho desta Ao Educativa na expedio ao territrio da mediao. Memria (In)Temporalidade Legendas das imagens das pginas 28 e 29. Raquel Berwich may-por-e Instalao com papagaios, Amazona aestiva vivos Mostra Trasnversal Maria Fernanda Cardoso El mrmol americano (detalhe) 1992 Escultura-instalao com ossos Mostra Transversal Cultura Mochica ou Moche Recepiente 200 a.c. 700 d.c. Mostra Histrica: Arqueologia das terras altas e baixas Michael Wesely Srie Orinoco 2000 Fotografias 100 x 50 cm Mostra Transversal Convites para novas expedies Museu de Cincias Naturais da Ulbra Acervo: botnica, zoologia, paleontologia, geologia, mineralogia / Rua Miguel Tostes, 101, Canoas, [email protected] (51) 477 4000 R 2350 Memorial do Rio Grande do Sul Acervo: imagens virtualizadas, uma linha de tempo impressa em ploters, alm de colunas enfocando personagens da histria do Rio Grande do Sul / Rua 7 de Setembro, 1020 Centro, Porto Alegre 90010-191 / [email protected] www.memorial.rs.gov.br (51)3224 7159 Museu de Arte Contempornea do Rio Grande do Sul Mac Acervo: arte contempornea nacional e internacional / Casa de Cultura Mrio Quintana / Rua dos Andradas, 736-6 o andar / Porto Alegre 90020-004 / (51)3221 5900 Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli Margs Acervo: obras de arte / Praa da Alfndega, s/n Centro-Porto Alegre 90010-150 / [email protected] www.margs.org.br / (51)3227 2311 Museu de Cincia e Tecnologia Pucrs Acervo:cientfico, em torno de cinco milhes de peas, e experimentos interativos / Av. Ipiranga, 6681- Porto Alegre -90690-000 / [email protected] / www.mct.pucrs.br / (51)3320 3597 ou (51)3320 3697 Museu de Paleontologia da Ufrgs Acervo: invertebrados, paleobotnica, vertebrados e micropaleontologia / Av. Bento Gonalves, 9500 Agronomia / Porto Alegre 91509-900 / (51)3316 7000 Museu Joaquim Jos Felizardo Acervo: objetos de uso cotidiano desde a ltima dcada do sc. XIX, acervo fotogrfico, acervo bibliogrfico (histria de Porto Alegre, museologia, arqueologia e coleo Walter Spalding), acervo arqueolgico fragmentos e peas coletadas atravs de pesquisa e escavao / Rua Joo Alfredo, 582 Cidade Baixa Porto Alegre- 90050-230 / [email protected] www.prefpoa.com.br/cmc/default.htm / (51)3221 6622 R 253 Museu Jlio de Castilhos Acervo: armaria, arquitetura, arreios, arte nutica, bandeiras, bibliografia, condecoraes, documentos, escravatura, etnologia, filatelia, herldica, iconografia, indumentria, numismtica, objetos decorativos, objetos de uso pessoal, regionalismo, sigilografia, tesserologia, utenslios domsticos e viaturas / Rua Duque de Caxias, 1205 / 1231 Centro Porto Alegre 90010-283 / (51)3221 3959 e (51)3221 5946 Museu Universitrio de Arqueologia e Etnografia Muae-Ufrgs Acervo: material ltico, cermica,mapas e fotos / Av. Bento Gonalves, 9600 Campus do Vale UFRGS Prdio 43 n 322 / Porto Alegre 90540-000 / (51) 3316 7169 e (51)3316 6860 Santander Cultural Acervo: obras de arte; cdulas e moedas nacionais e estrangeiras, documentos histricos / Rua Sete de Setembro, 1028 Centro / Porto Alegre 90010-191 / [email protected] www.santandercultural.com.br / (51)3287 5500 Museu do Instituto Anchietano de Pesquisas Acervo: arqueologia, estaturias missioneiras / Rua Brasil, 725 / So Leopoldo 93010-030 / [email protected] / (51) 590 8409 Museu Municipal de Caxias do Sul Acervo: peas referentes ao cotidiano dos colonizadores da regio, na maioria, imigrantes italianos e da aculturao com outros grupos vizinhos / Rua Visconde de Pelotas, 586 / Caxias do Sul 95020-180 / (54)221 2423 32 Referncias Bibliogrficas e Sugestes de leitura Los Carpinteros Edificio Retiro Mdico 2003 Escultura em madeira compensada laminada em cedro 280 x 60 x 84 cm AGUILAR, Nelson (org.) 4 a Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Porto Alegre: Fundao Bienal de Artes Visuais do Mercosul, 2003. BARBOSA, Ana Mae. Tpicos utpicos. Belo Horizonte: C/Arte, 1998. ____ (org) Arte-educao: leitura no subsolo. So Paulo: Cortez, 1997. ____ (org) Inquietaes e mudanas no ensino da arte. So Paulo: Cortez, 2002. BENJAMIN, Walter. Escavando e Recordando. In: - ___Obras Escolhidas II. So Paulo: Brasiliense, 2000. CHIARELLI, Tadeu. Grupos de Estudos emCuradoria. So Paulo, Museu de Arte Moderna de So Paulo, 1999. DAWKINS, Richard. O gene egosta. Belo Horizonte: Itatiaia, 2001. DELEUZE e GATTARI. Mil plats. So Paulo: Editora 34, 1995. DEWEY, J. El arte como experiencia. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1949. ____ Tendo uma experincia. In: VITOR CIVITA. Textos selecionados. So Paulo, Abril Cultural, 1974, p.247-263. (Col. Os Pensadores, vol. Xl) DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. So Paulo: 34, 1998. FERRAZ, Maria Helosa & FUSARI, Maria Felismina. Arte na educao escolar. So Paulo, Cortez, 1992. ___ Metodologia do ensino da arte. So Paulo, Cortez, 1993. FRANZ, Terezinha S. Educao para a compreenso da arte Museu Victor Meirelles. Florianpolis: Insular, 2001. GARDNER, Howard. Educacin artstica y desarrollo humano. Barcelona: Paids, 1994. ____ Mentes que criam. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1996. GREINER, Christine e AMORIM, Claudia. Leituras do Corpo. So Paulo: Annablume, 2003. HERNNDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudana Educativa e Projeto de Trabalho. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1999. MANGUEL, Alberto. Lendo imagens. So Paulo: Companhia das Letras, 2001. MARTINS, Mirian Celeste. Expedies Culturais. In: Guia Educativo de Museus do Estado de So Paulo. So Paulo: Secretaria de Educao do Estado de So Paulo, 2003. ___ e PICOSQUE, Gisa. Catlogo: Aprendiz de arte na expedio s Arqueologias Contemporneas. Porto Alegre: Fundao Bienal de Artes Visuais do Mercosul, 2003. ___ e GUERRA, M.Teresinha. Didtica do ensino de arte A lngua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. So Paulo: FTD, 1998. PILLAR, Analice Dutra (org). A educao do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediao, 1999. PAREYSON, Luigi. Os problemas da Esttica. So Paulo: Martins Fontes, 1989. PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. So Paulo: Perspectiva, 1979. ROSSI, Maria Helena Wagner Imagens que falam. Porto Alegre: Mediao, 2003. ____ A compreenso das imagens da arte. In: Arte & Educao emRevista. Porto Alegre. 1:27-35, 1995. SALLES, Ceclia Almeida. Gesto inacabado: processo de criao artstica. So Paulo: Annablume, 1998. SANTAELLA, Lcia. A percepo: uma teoria semitica. So Paulo: Experimento, 1993. ____ e NTH, Winfried. Imagem: cognio, semitica, mdia. So Paulo: Iluminuras, 1999. SCATAMACCHIA, Maria Cristina Mineiro. Arqueologia: 15.000 anos de artes visuais. In: AGUILAR, Nelson (org.). Mostra do Redescobrimento: arqueologia. So Paulo: Associao Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000, p.118-119. SEKEFF, Maria de Lourdes (org). Arte e Cultura: estudos interdisciplinares. So Paulo: Annablume: FAPESP, 2001. SERRES, Michel. Os cinco sentidos: Filosofia dos corpos misturados 1.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. TEIXEIRA COELHO, Jos. Dicionrio Crtico de Poltica Cultural. So Paulo: FAPESP e Iluminuras, 1999. VERGARA, Luiz Guilherme. Curadorias Educativas, A Conscincia do Olhar: Percepo Imaginativa Perspectiva Fenomenolgica aplicadas Experincia Esttica. In: Anais ANPAP 1996, Congresso Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas, p. 240-247. WOLFF, Theodore e GEAHIGAN, George. Art Criticism and Education: disciplines in Art Education contexts of undestanting. Chicago: University of Illinois Press, 1997. WOODFORD, Susan. A arte de ver a arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. YENAWINE, Philip. How to look at Modern Art. New York: Harry Abrams, 1991. Notas 1 BENJAMIN, Walter. Escavando e Recordando. In: - ___Obras Escolhidas II. So Paulo, Brasiliense, 2000, p.239. 2 Procure a figura quase escondida na fotografia de Chambi que est nesta pgina. 3 Embora nem sempre o grande pblico se d conta, por trs de uma exposio de arte existe todo um trabalho conceitual e operacional, envolvendo profissionais das mais diversas reas encabeados, costumeiramente, pela figura do curador. Em tese, o curador de qualquer exposio sempre o primeiro responsvel pelo conceito da mostra a ser exibida, pelas escolhas das obras, da cor das paredes, da iluminao, etc. No entanto, para que suas idias viabilizem-se de maneira satisfatria no espao de exposio, fundamental o dilogo intenso com outros profissionais que atuem na instituio onde ocorrer a mostra, sempre no sentido de tornar possvel, na realidade do espao disponvel, os conceitos que aquele profissional tem por objetivo apresentar. Tadeu Chiarelli. In: Grupos de Estudos emCuradoria. So Paulo, Museu de Arte Moderna de So Paulo, 1999, p.12. 4 Formado em Filosofia pela USP, com ps- graduao em Esttica e Histria da Filosofia Moderna em Paris, o tambm docente Nelson Aguilar (Usp e Unicamp), traz em sua bagagem fortes experincias como curador, como a Mostra do Redescobrimento/2002 em So Paulo e itinerncias, a 22a. e 23a. Bienal de So Paulo, Parade, 1901- 2001, alm de exposies no exterior. 5 Notcias recentes so divulgadas pelos jornais, evidenciando pistas sobre o povoamento das Amricas, entre ouros achados. 6 Este termo tem sido utilizado por Luiz Guilherme Vergara em seu trabalho frente ao Museu de Arte Moderna de Niteri, no Centro de Arte Helio Oiticica/RJ. Leia mais em: VERGARA, Luiz Guilherme. Curadorias Educativas, A Conscincia do Olhar: Percepo Imaginativa Perspectiva Fenomenolgica aplicadas Experincia Esttica. In: Anais ANPAP 1996, Congresso Nacional de Pesquisadores em Artes Plsticas, p. 240-247. 7 Nem sempre estamos atentos s reprodues de arte que esto entre nossos guardados. Como diz Perrenoud (In: Prticas Pedaggicas, Profisso Docente e Formao: perspectivas sociolgicas. Lisboa: Dom Quixote, 1993.) o educador um bricouleur que utiliza resduos e fragmentos de acontecimentos, o que tem mo, o que guarda em seu estoque e com eles cria novas situaes de aprendizagem. 8 DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. So Paulo: 34, 1998. 9 PAREYSON, Luigi. Os problemas da Esttica. So Paulo: Martins Fontes, 1989, p.167. 10 Idem, p.173. 11 PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. So Paulo: Perspectiva, 1979, p.36. 12 DEWEY, J. El arte como experiencia. Mexico: Fondo de Cultura Economica, 1949, 16. (H uma edio em portugus do terceiro captulo deste livro: Tendo uma experincia. In: VITOR CIVITA. Textos selecionados. So Paulo, Abril Cultural, 1974, p.247-263. Col. Os Pensadores, vol. Xl) 13 SERRES, Michel. Os cinco sentidos: Filosofia dos corpos misturados 1.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. 14 Sobre projetos leia, entre outros: HERNANDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudana Educativa e Projeto de Trabalho. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1999; MARTINS et al. Didtica do ensino de arte A lngua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. So Paulo: FTD, 1998 15 A idia de rizoma formulada por Deleuze e Guattari toma de emprstimo um termo do vocabulrio da botnica um processo de ramificao aberta, que se expande em direes mveis e indeterminadas. Num rizoma, cada trao no remete necessariamente a um trao lingstico: cadeias semiticas de toda a natureza so a conectadas a modos de codificao muito diversos, cadeias biolgicas, polticas, econmicas, etc., colocando em jogo no somente regimes de signos diferentes, mas tambm estatutos de estados de coisas. DELEUZE e GATTARI. Mil plats. So Paulo: Editora 34, 1995, p.15. 16 PAREYSON, Luigi. Os problemas da Esttica. So Paulo: Martins Fontes, 1989, p.32. 17 Parade o ttulo de uma pintura de Picasso um pano de boca para um espetculo de dana de 1917 e nomeou a exposio de cem anos de arte francesa na Oca, Parque do Ibirapuera, 2001-2. 18 DAWKINS, Richard. Memes: os novos replicadores. In: ______ O gene egosta. Belo Horizonte: Itatiaia, 2001, p. 211-222. 19 AMORIN, Cludia. A arte como territrio livre. In: GREINER, Christine e AMORIM, Claudia. Leituras do Corpo. So Paulo: Annablume, 2003, p.25. 4 a Bienal do Mercosul Ao Educativa Rua dos Andradas, 1234 10 andar Sala 1004 Centro 90020-008 Porto Alegre RS Brasil Telefone: (51) 3228 4074 Patrocinador Apoiadores Apoio Institucional Secretaria da Educao do Estado do Rio Grande do Sul Secretaria Municipal da Educao de Porto Alegre Patrocinadores Masters