Auto Retrato FT
Auto Retrato FT
Auto Retrato FT
AUTO-RETRATO
Dá-se o nome de auto-retrato, quando o retratista procura descrever o seu aspecto e o seu
carácter, revelando o que captou da expressão mais profunda de si mesmo. O auto-retrato
constitui um exercício que permite revelar traços do criador artista. O mestre da pintura
holandesa Rembrandt (1606-1669), através dos seus auto-retratos, permite, por exemplo,
conhecer o percurso da sua vida, desde a juventude à velhice, mostrando-nos o homem de
vontade indomável, mas solitário.
No auto-retrato, o artista procura mostra-se (ou descobrir-se) de uma forma mais nítida,
mais verdadeira e pode mesmo não gostar daquilo que vê, pode não aprovar, e, por isso,
pode modificar a imagem que de si encontrou.
Assim, um auto-retrato é um retrato, uma imagem, que o artista se faz de si mesmo. Muito
usado na pintura, na literatura ou na escultura, o auto-retrato nem sempre representa a
imagem real da pessoa, mas sim como o artista se vê: aceita e assume ou tenta mudar e isso
depende de cada pessoa ou mesmo de cada momento.
Alguns artistas afirmam que existe sempre algum temor em cada auto-retrato, pintura, foto-
grafia ou escultura. Teme-se a análise introspectiva, teme-se o conhecimento que ultrapasse
a barreira da fantasia, que faça desmoronar um ideal. Como não é um desafio fácil para o
artista, ele tende a esconder alguns traços físicos ou psicológicos. Por isso, o auto-retrato, tal
como a auto-biografia ou o livro de memórias, tende a ser uma mentira.
Actividade:
1. Fazer um poema auto-retrato apenas com adjectivos.
2. Redigir um pequeno texto de apresentação. Trata-se de um auto-retrato. Inspire-se,
por exemplo, em Bocage, Ary dos Santos, Natália correia ou Alexandre O’Neill.
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão de altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Natália Correia
1923-1993
Natália Correia nasceu na Ilha de São Miguel, nos Açores. Muito cedo iniciou a sua actividade
literária. Poetisa, ficcionista, ensaísta, tradutora, dividiu a sua criatividade pelo teatro e pela
investigação literária.Empenhada politicamente, viu vários dos seus livros serem apreendidos
pela censura, chegando a ser condenada a três anos de prisão com pena suspensa, acusada de
abuso de liberdade de imprensa.
O'Neill (Alexandre), moreno português,
cabelo asa de corvo; da angústia da cara,
nariguete que sobrepuja de través
a ferida desdenhosa e não cicatrizada.
Se a visagem de tal sujeito é o que vês
(omita-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada...)
No amor? No amor crê (ou não fosse ele O'Neill!)
e tem a veleidade de o saber fazer
(pois amor não há feito) das maneiras mil
que são a semovente estátua do prazer.
Mas sobre a ternura, bebe de mais e ri-se
do que neste soneto sobre si mesmo disse...
Alexandre O'Neill
1924-1986
Dedicou-se à publicidade e desde cedo se juntou às primeiras manifestações do Surrea-
lismo em Portugal. Afasta-se do grupo surrealista e colabora nos Cadernos de Poesia.