Resenha Do Livro Ética e Moral - Leonardo Boff
Resenha Do Livro Ética e Moral - Leonardo Boff
Resenha Do Livro Ética e Moral - Leonardo Boff
Leitura Complementar:
BOFF, Leonardo. tica e moral: a busca dos fundamentos. Petrpolis, RJ: Vozes, 2003.
Por Raquel Alves Aluna do Mestrado Profissional em Organizaes Aprendentes da UFPB [email protected]
notvel que estamos vivenciando um tempo de grandes crises: econmica, poltica, social, como tambm no campo terico. As sequelas desse cenrio de transformaes consolidadas e abrangentes e as rupturas so to marcantes, que nenhum espao parece escapar ileso a essas mudanas. Dentro deste cenrio a tica tambm se transforma, ao passo que se relaciona com valores, hbitos e normas mutveis, que no permanecem os mesmos ao longo da histria, nem to pouco so formados da mesma forma pelas diferenciadas sociedades humanas. Nesse contexto, Boff, em seu livro tica e Moral, realiza alguns questionamentos relevantes e adequados aos nossos tempos e s nossas vidas. Com suas concepes, o autor descreve a tica e a moral de acordo com quatro pontos: a doena e seus remdios; genealogias da tica; virtudes cardeais de uma tica planetria; e
guerra e paz. Ao mesmo tempo, Boff busca tambm esclarecer onde e quando se deu o surgimento da tica, seus princpios e valores, bem como as suas implicaes no passado e na conjuntura atual. Com esta obra, o autor apresenta questes ticas e morais fundamentais para embasar as relaes humanas, o desenvolvimento da sociedade e do meio em que vivemos, incluindo
ainda, as relaes com o meio ambiente. E, ao mesmo tempo, inclui o pensamento em relao aos acontecimentos antiticos e imorais. Boff aborda que vivemos hoje grande crise mundial de valores. Afirma a dificuldade para a grande maioria da humanidade saber o que correto e o que no . Esse obscurecimento do horizonte tico redunda numa insegurana muito grande na vida e numa permanente tenso nas relaes sociais que tendem a se organizar ao redor de interesses particulares do que ao redor do direito e da justia. Coloca tambm que tal fato se agrava ainda mais por causa da prpria lgica dominante da economia e do mercado que se rege pela competio e cria oposies e excluses, e no pela cooperao que harmoniza e inclui. Tomando como ponto de partida essa crise tica e moral provocada pelo pluralismo histricocultural e o desenvolvimento das cincias, Boff trata de temas ligados evoluo do homem e a sua relao com a destruio do ecossistema, as revolues cientfica, industrial, do conhecimento e da comunicao causadas pelo homem, como fatos que provocam a destruio e desumanizam o homem. Define que, de certo modo, h um desenvolvimento material sem que haja um desenvolvimento humano. Com este entendimento o autor pressupe que o ser humano necessita resgatar as essncias espirituais e ter o mnimo de atitude tica, se quiser preservar a si e as geraes futuras. Para Boff, o ser humano vive e valoriza o desenvolvimento. Coloca que o desenvolvimento importante, porm que se deve considerar a existncia de valores e, principalmente, que estes devem guiar a busca de qualquer objetivo. Enfatiza tambm que essa perseguio pelo bemestar material, instaurada pelo capitalismo globalizado, que prega a ideologia poltica do neoliberalismo, provoca uma certa distoro na realidade do ser humano, por meio do individualismo, egosmo, o indivduo subestima o bem comum que a mola-mestra para uma convivncia pacfica e harmoniosa de todos os seres. Estamos diante de um momento crtico na histria da Terra, numa poca em que a humanidade deve escolher o seu futuro... Ou formar uma aliana global para cuidar da terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruio e da diversidade da vida. (BOFF, 2003, p.67). Face ao exposto, o autor enfatiza que o ser humano deve ter plenitude em suas relaes, com todas as formas de vida, cultura e consigo mesmo. Salienta que o homem no pode perder
seus valores e princpios devido a influncias da globalizao e do capitalismo, ele deve reforar suas relaes e interagir de uma maneira mais saudvel em busca de viver o bem comum. Assim, ao abordar a tica, Boff utiliza a definio do ethos, uma espcie de morada humana, abrigo permanente, o lugar onde se do todas as relaes e interaes do homem com ele mesmo e com o seu ambiente, e do daimon, o anjo bom, que protege, ou seja, uma espcie de conscincia do homem. por meio deles que pode acontecer uma construo tica consensual. A tica parte da filosofia. Considera concepes de fundo acerca da vida, do universo, do ser humano e de seu destino, institui princpios e valores que orientam as pessoas e sociedades. Uma pessoa tica quando se orienta por princpios e convices. Dizemos, ento, que tem carter e boa ndole (...) a moral parte da vida concreta. Trata da prtica real das pessoas que se expressam por costumes, hbitos e valores culturalmente estabelecidos. Uma pessoa moral quando age em conformidade com os costumes e valores consagrados. Estes podem, eventualmente, ser questionados pela tica. Uma pessoa pode ser moral (segue os costumes at por convenincia) mas no necessariamente tica (obedece a convices e princpios). (BOFF, 2003, p.37). A tica refere-se ao bem comum e pode ser exemplificada pelo acesso de todos aos bens bsicos, como tambm o direito dos indivduos ao reconhecimento, ao respeito e convivncia pacfica e solidria, descartando o individualismo provocado e imposto pelo capitalismo. A tica capitalista diz: bom o que permite acumular mais com menos investimento e em menos tempo possvel. A moral capitalista concreta reza: empregar menos gente possvel, pagar menos salrios e impostos e explorar melhor a natureza para acumular mais meios de vida e riqueza (BOFF, 2003, p.41). A tica e a moral, para o autor, so consideradas como um dos caminhos para o planeta no ser destrudo, enfatizando a concepo de que os costumes devem ser mudados para que o desenvolvimento, o progresso e a evoluo no representem mais destruio causada pelas pretenses do homem. Desta forma, aponta a necessidade de uma vasta mudana nas relaes humanas, como tambm na forma de pensar e agir do homem. Caso no haja essa mudana
de atitude, o autor coloca que o meio-ambiente e a Terra tero de arcar com as consequncias do individualismo e da falta de reconhecimento, por parte das pessoas. O homem vem pecando contra o meio, pois ele no reconhece mais a sua condio de criatura, no enxerga limites.